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povo-para-o-tribunal-2/

“Ouvi, agora, isto, vós, cabeças de Jacó, e vós, chefes da


casa de Israel, que abominais o juízo, e perverteis tudo o
que é direito” (Mq 3.9).

O profeta Miquéias confrontou os pecados da nação de


Israel e de Judá. Era um tempo de decadência dos valores
morais, uma época marcada pela opressão econômica,
pela corrupção política e pela desidratação da vida
religiosa. A crise mostrava sua carranca em todos os
setores da sociedade.

O Estado estava aparelhado para dar pleno curso à


corrupção. Os líderes maquinavam o mal e o praticavam
porque o poder estava em suas mãos (Mq 2.1,2). Não
havia apenas uma tolerância ao mal, mas uma
desavergonhada inversão de valores. O bem era
aborrecido e o mal era amado (Mq 3.2). Os líderes eram
descritos como cruéis e canibais, que devoravam o povo,
em vez de cuidarem do povo (Mq 3.3). O texto em
epígrafe mostra os cabeças de Jacó e os chefes de Israel
abominando o juízo e pervertendo tudo o que é direito (Mq
3.9). O poder judiciário estava, em grande parte,
mancomunado com os criminosos, para proteger-lhes nas
cortes. O profeta denuncia: “Os seus cabeças dão as
sentenças por suborno” (Mq 3.11). Havia, uma espécie de
conluio dos poderes constituídos para dar pleno curso ao
crime. Miquéias é enfático nessa denúncia: “As suas mãos
estão sobre o mal e o fazem diligentemente; o príncipe
exige condenação, o juiz aceita suborno, o grande fala dos
maus desejos de sua alma, e, assim, todos eles
juntamente urdem a trama” (Mq 7.3). A corrupção não
estava apenas nas casas de leis, nos palácios e nas cortes,
mas também na religião. O profeta Miquéias não poupa os
profetas e os sacerdotes. Sua denúncia é contundente:
“Os seus sacerdotes ensinam por interesse; e os seus
profetas adivinham por dinheiro” (Mq 3.11). A religião
estava tão adoecida pelo pecado, que esses líderes além
de terem vendido sua consciência ao esquema de
corrupção, ainda criavam falsos mecanismos teológicos
para justificarem sua desfaçatez: “… e ainda, se encostam
ao Senhor, dizendo: Não está o Senhor no meio de nós?
Nenhum mal nos sobrevirá” (Mq 3.11b).

Não bastasse as altas rodas do poder político estarem no


fundo do poço moral, a família, guardiã dos valores que
devem reger a sociedade, também estava navegando nas
águas turvas dos conflitos e das malquerenças. O profeta
ergue sua voz e denuncia: “Porque o filho despreza o pai,
a filha se levanta contra a mãe, a nova, contra a sogra; os
inimigos do homem são os da sua própria casa” (Mq 7.6).
A nação toda capitulou-se à impiedade e à perversão. O
profeta ergue sua trombeta e denuncia esse colapso
coletivo: “Pereceu da terra o piedoso, e não há entre os
homens um que seja reto; todos espreitam para
derramarem sangue; cada um caça a seu irmão com rede”
(Mq 7.2).

A liderança política da nação em vez de governar o povo


com sabedoria e probidade, explorou-o com voracidade.
Em vez de fazer cumprir as leis para o estabelecimento da
ordem, abominaram o juízo; em vez de serem exemplo de
retidão, perverteram tudo o que é direito (Mq 3.9). Longe
de serem paradigma para a nação, tornaram-se mestres
da ilicitude. Em vez de inspirar nobres atitudes em seus
súditos, tornaram-se na mais infame escola do crime. O
Brasil não se distancia tanto dessa triste realidade
denunciava pelo profeta Miqueias. Que Deus tenha
misericórdia de nossa nação, para que homens maus não
nos governem e que os criminosos não sejam tidos em
alta conta pelo nosso povo. É tempo de arrependimento! É
tempo de voltarmo-nos para o Senhor!

O Brasil está vivendo, possivelmente, a sua mais aguda e


agônica crise desde o seu descobrimento. A nação está
rubra de vergonha, diante da desfaçatez de políticos e
empresários que domesticaram os poderes constituídos,
para assaltarem a nação e sonegarem ao povo o direito de
viver dignamente. O profeta Miquéias, já no seu tempo,
identificou esse conluio do crime, quando escreveu: “As
suas mãos estão sobre o mal e o fazem diligentemente; o
príncipe exige condenação, o juiz aceita suborno, o grande
fala dos maus desejos de sua alma, e, assim, todos eles
juntamente urdem a trama” (Mq 7.3). A corrupção chegou
ao palácio, ao parlamento, às cortes e em setores
importantes do empresariado. Um terremoto devastador
atingiu as instituições, abalou a economia e enfraqueceu a
indústria e o comércio. A carranca da crise é vista na
desesperança dos mais de quatorze milhões de
desempregados em nosso país. A morte se apressa para
aqueles que não têm direito a uma assistência digna nos
hospitais, sempre lotados e desprovidos de recursos. Os
acidentes trágicos se multiplicam porque nossas estradas
estão sucateadas. A educação se enfraquece porque as
escolas públicas, em muitos lugares, estão entregues ao
descaso. Líderes com muito poder e apequenado caráter,
favorecem os poderosos e tiram o pão da boca dos
famintos, fazendo amargar a vida de um povo já
combalido pela pobreza e desesperança.

Nesse cenário cinzento, muitas igrejas, por terem se


afastado da sã doutrina e por terem tergiversado com a
ética, perderam a capacidade de exercer voz profética.
Não confrontam os pecados da nação, como consciência do
Estado, porque primeiro precisam embocar a trombeta
para dentro de seus próprios muros. Há um silêncio
gelado, um conformismo covarde, um torpor anestésico.
Há igrejas cheias de pessoas vazias de Deus. Há igrejas
onde os púlpitos já baniram a pregação fiel da palavra de
Deus. Há igrejas onde o antropocentrismo idolátrico
substituiu a centralidade de Cristo. Há igrejas mornas,
apáticas, amando o mundo, sendo amigas do mundo e
conformando-se com o mundo. Há igrejas que parecem
um vale de ossos secos. Perdeu-se a vitalidade. Perdeu-se
o vigor. Falta um sopro de vida!

É nesse momento de prognósticos sombrios, que devemos


nos humilhar sob a poderosa mão de Deus. É imperativo
converter-nos dos nossos maus caminhos e orarmos,
buscando a face do Senhor, a fim de que ele perdoe
nossos pecados, restaure a nossa sorte e sare a nossa
terra. O avivamento começa com a igreja e partir dela
reverbera para o mundo. O avivamento é uma obra
soberana do Espírito Santo que vem, como torrentes do
céu, sobre a terra seca. A água é derramada sobre o
sedento e as torrentes sobre a terra seca. O Espírito Santo
é derramado sobre um povo que anseia por Deus mais do
que pelas bênçãos de Deus. É quando decretamos nossa
falência, nos convertemos dos nossos maus caminhos e
nos prostramos diante de Deus, para desejarmos
ardentemente sua presença manifesta, é que ele traz
sobre nós o seu renovo. Então, a igreja florescerá como
salgueiros junto às correntes das águas. Então, os crentes
se levantarão para dizer: “Eu sou do Senhor”. Então, não
haverá mais abismo entre o que se prega e o que se vive,
porque os crentes escreverão na própria mão: “Eu sou do
Senhor”. Oh, que Deus levante sua igreja e restaure a
nossa nação! Oh, que nesse tempo de crise e sequidão
caia sobre nós as torrentes abundantes do Espírito Santo!
Uma nação torna-se decadente quando seus líderes civis e
religiosos se corrompem e abandonam os princípios
absolutos que deveriam regê-los. O profeta Miquéias ao
fazer um diagnóstico de sua nação, retrata a própria
decadência do Brasil. Vejamos:

Em primeiro lugar, ele denuncia o aparelhamento do


Estado para saquear o povo (Mq 2.1,2). Os líderes do povo
maquinavam o mal em seu leito e ao amanhecer já
colocavam em ação esses planos, porque o poder de fazer
o mal estava em suas mãos. Tudo quanto cobiçavam,
tomavam. Tudo quanto desejavam, extorquiam, porque o
Estado estava aparelhado para a roubalheira.

Em segundo lugar, ele denuncia a inversão de valores da


sociedade (Mq 3.2). Miquéias diz que o povo se corrompeu
a tal ponto de “aborrecer o bem e amar o mal”. Isso não é
apenas tolerância ao erro; é inversão de valores. É
aplaudir o que se deve repudiar e repudiar o que se deve
promover. A sociedade brasileira está assim também:
chama luz de trevas e trevas de luz.
Em terceiro lugar, ele denuncia o canibalismo dos líderes
políticos (Mq 3.1,3,9). Os líderes políticos em vez de servir
ao povo, serviam-se do povo. Em vez de atender às
necessidades do povo; exploravam o povo, arrancando sua
pele, esmiuçando seus ossos e devorando sua carne. Os
líderes longe de proteger o povo, faziam do povo sua
presa. Esses líderes chegaram ao extremo de abominar o
juízo e perverter tudo o que era direito (Mq 3.9). Os
líderes eram o maior problema da nação, o maior flagelo
para o povo.

Em quarto lugar, ele denuncia a corrupção do poder


judiciário (Mq 3.11). O profeta diz: “Os seus cabeças dão
as sentenças por suborno…”. Não havia qualquer
esperança de justiça. Os fracos eram esmagados pelos
fortes. Os pobres eram espoliados pelos ricos. As cortes
estavam rendidas ao esquema da corrupção. Estavam a
serviço do Estado para explorar a população. Os juízes que
deveriam fazer cumprir as leis e aplicar a justiça, por
dinheiro, condenavam os inocentes e inocentavam os
culpados.

Em quinto lugar, ele denuncia o conluio dos poderes


constituídos (Mq 7.3). Miquéias diz que o poder executivo
e o poder judiciário estavam mancomunados na prática do
crime: “… o príncipe exige condenação, o juiz aceita
suborno, o grande fala dos maus desejos de sua alma, e,
assim, todos eles juntamente urdem a trama”. Uma coisa
é um dos poderes constituídos se corromper; outra coisa é
quando os poderes se unem para a prática do mal. Havia
uma teia criminosa que sugava o Estado e oprimia o povo.

Em sexto lugar, ele denuncia a corrupção da religião (Mq


3.5,11). Os profetas deixaram de pregar a palavra de
Deus com fidelidade, para render sua consciência à
sedução do lucro: “… os profetas fazem errar o meu povo
e clamam: Paz, quando têm o que mastigar, mas
apregoam guerra santa contra aqueles que nada lhes
metem na boca”. Diz ainda: “… os seus sacerdotes
ensinam por interesse, e os seus profetas adivinham por
dinheiro…”. A igreja é a consciência do Estado, mas
quando sua liderança se corrompe e busca o lucro em vez
de proclamar a verdade, em vez de ser bênção torna-se
maldição.

Em sétimo lugar, ele denuncia a corrupção da família (Mq


7.6). A família é o último reservatório moral da nação. Se
ela cair, o povo se chafurda na lama. Como estava a
família? Responde o profeta: “Porque o filho despreza o
pai, a filha se levanta contra a mãe, a nora, contra a
sogra; os inimigos do homem são os da sua própria casa”.
Nenhuma nação é forte se as famílias que a compõe estão
fracas. O resultado dessa decadência é o caos da
sociedade: “Pereceu da terra o piedoso, e não há entre os
homens um que seja reto; todos espreitam para
derramarem sangue; cada um caça a seu irmão com rede”
(Mq 7.2). Miquéias está entre nós. Sua voz ecoa nos
palácios e nas ruas. É tempo dos líderes de nossa nação se
arrependerem. É tempo do povo voltar-se para Deus.
Quem sabe ainda haja esperança para o Brasil!

Quem, quando e onde atuou o Profeta Miqueias?


Em geral, os profetas se identificam com o nome de seus
pais. Já em Miqueias vemos ele destacar sua procedência
(Mq1,1). Miqueias de Morasti, ressalta também o período
histórico de seu ministério, entenda-se aqui, o tempo de
Joatão, de Acaz e de Ezequias, reis de Judá.

Isso aconteceu por volta dos anos 725 a 701 a.C., no reino
do Sul, interior de Judá a 35-33 km da capital Jerusalém,
entre a montanha e a costa, numa planície.

Esses dados geográficos e de tempo são indispensáveis


para que entendamos que ele está inserido no período de
opressão dos grandes proprietários de terra e do exército.
Outro ponto de relevância é que Morasti está na planície
de Séfela, a região mais fértil e produtiva de Judá. Essa
região com numerosa criação de ovelhas e grande
produção de trigo e cevada, sempre foi terra de conflito,
causando sérios problemas para os pequenos agricultores.

A cidade de Morasti era uma cidade que pertencia a um


conjunto de cidades que tinham a segurança reforçada
para proteger Jerusalém, esse grupo de cidades se
estendia por cerca de 10 km.

Morasti era marcada pela presença de funcionários e


pessoas da Corte de Jerusalém que cometiam crimes de
abuso de poder para cobrar impostos, recrutar
camponeses, extrair seus produtos agrícolas.

Em função de sua localização que era na fronteira de Judá


com a Filisteia, sofreu vários conflitos militares com os
filisteus e os assírios. Ou seja, guerras, violência e muito
sofrimento é a realidade de muitos camponeses que
Miqueias chama de meu povo.

O Império Assírio, a queda da Samaria e a Política de


Centralização
Sem dúvida, alguma as guerras marcaram demais essa
fase da história. Dentre as várias, destacamos:
Governo de Teglat Falasar III (745 a 727 a.C.). A Assíria
se tornou um império que sujeitou a região a altos
impostos e tributos na região até Jerusalém. A resistência
a essa dominação incluiu diversas guerras. Em 722 a.C.,
Assíria invadiu Israel e destruiu a Samaria, com esse fato
milhares de israelitas buscaram refúgio em Jerusalém e
Judá. Em números gerais, Jerusalém aumentou nesse
período sua população de 1 mil para 15 mil habitantes.

Os refugiados mais ricos pressionaram para ficar nas


melhores terras e aumentarem as cidades. Casas foram
derrubadas e terras foram tomadas e muitas famílias
ficaram sem a herança de seus antepassados. O aumento
da população gerou aumento de produção, o que
estimulou a ganância dos poderosos.

A religião foi afetada, pois, o rei Ezequias centraliza o culto


direcionando para Jerusalém todas as oferendas do país.
Destrói santuários do interior, enfraquece a organização e
a autonomia dos camponeses, fortifica as muralhas de
Jerusalém e das cidades da fronteira, invade a Filisteia e
entra em guerra contra Assíria.
Miquéias foi um profeta corajoso, fiel a Deus, defensor dos
pobres e fiel no seu comportamento de defender a prática:
“Por acaso, não é obrigação de vocês conhecer o direito”?
(Mq 3,1). Que esse espírito profético reacenda o nosso
compromisso com a construção do Reino da Vida, no qual
as pessoas reunidas em famílias, grupos, comunidades e
nações vivam na fraternidade, na solidariedade e na
justiça.
Miquéias é um dos profetas “escritores” de Judá, que fala e
age com base nas necessidades e expectativas de seu
povo. A Bíblia testemunha, na história do reino de Judá, as
atuações de outros profetas escritores, seus grupos de
sustentação e suas funções sociais.

Miquéias chama, carinhosamente, seu “grupo de apoio” de


meu “meu povo” e defende a vida deles contra a elite
governante: “vocês são gente que devora a carne do meu
povo e arranca suas peles; quebra seus ossos e os faz em
pedaços, como um cozido no caldeirão”. (Mq 3,3).
Miquéias pronuncia os gemidos e gritos dos camponeses
para produzir mudança da ordem social. (Mq 3,9-10.12;
cf. Jr 26,18).

O Capitulo 3º de Miquéias está dividido em três partes: 1-


contra os chefes que oprimem o povo; 2- contra os
profetas mercenários e 3- aos responsáveis: anúncio da
ruína de Sião.

1- Contra os chefes que oprimem o povo- (Mq 3,1-4) -


Existem vários crimes cometidos pelos governantes: a)
“voltar da guerra”: os camponeses são recrutados
constantemente, deixando o cultivo da terra na mão de
mulheres e crianças. Apesar disso, eles ainda são
obrigados a pagar os tributos pesados; b) “arrancar o
manto”: o direito dos pobres é violado (Dt 24, 10-13; Am
2,8); c) “expulsar as mulheres de casa”: a casa é o espaço
central da vida das mulheres no mundo patriarcal (Pr 31,
10-31); d) “tirar dos seus filhos a dignidade”: as crianças
têm seu direito à herança negado.

2- Contra os profetas mercenários- (Mq 3, 5-8) - Miquéias


não contesta a inspiração desses profetas, mas os acusa
de serem interesseiros. Os textos bíblicos sobre os
profetas da corte se multiplicam. Segundo esses textos,
podemos enumerar várias funções e características dos
profetas a serviço do Estado: a) viver sustentados e
subordinados à corte: “comem das mãos do ser”; b)
instruir o povo conforme as leis de Deus oficial do Estado;
c) instruir a vontade de Deus do rei diante da situação de
emergência. No caso de guerra, por exemplo, o profeta
justifica e declara a guerra santa, quase sempre
legitimando os interesses dos poderosos. Estes profetas
anunciavam o que as pessoas poderosas querem ouvir.
Esses mesmos profetas “declaram a guerra contra os que
nada lhes põem na boca” (Mq 3,5c). Miquéias afirma que
os profetas da corte “extraviam meu povo” (Mq 3, 5a),
provavelmente agricultores endividados e oprimidos,
chamados de “meu povo”, que perdem sua terra, família e
casa.

3- Aos responsáveis: anúncio da ruína de Sião- (Mq 3, 9-


12) - Acredita-se que Miquéias disse as palavras “no
tempo de Ezequias (Jr 26,18), um rei zeloso pela forma da
liturgia (2 Rs 18-20; 2 Cr 29,32), mas evidentemente cego
a outros abusos contra os pobres. Por causa da piedade de
Ezequias, os chefes proclamam: “o Senhor no meio de
nós” (Mq 3,11). Quando refletimos sobre os capítulos 2-3,
ponderamos o custo sobre a miséria humana por causa da
ganância e da sensualidade dos chefes, primeiro tirando as
pessoas das casas que residiam e finalmente reduzindo
Jerusalém a um monte de ruínas. O templo, o monte Sião,
a cidade de Jerusalém concentravam a presença de Deus
do Senhor: é contra eles que o castigo é dirigido. Jeremias
inspira-se neste oráculo para o seu discurso contra o
templo, e os juízes o citam no julgamento de Jeremias (7
e 26). Sobre a desolação em Sião, diz o profeta Miquéias
(3,12): Por isso, por culpa vossa, Sião será arada como
um campo, Jerusalém se tornará lugar de ruínas, e as
montanhas do Templo, cerro de brenhas”.

Ao ler este capítulo de Miquéias, podemos tirar de exemplo


para a nossa caminhada espiritual que muitas vezes
passamos por dificuldades e turbulências, que muitas
vezes aparecem em nossas vidas falsos pastores e outras
vozes querendo nos ludibriar para sairmos do caminho
verdadeiro de Deus. O nosso papel é o de mantermos
seguros no Senhor Deus.

I. A PRÁTICA DA JUSTIÇA

1. A palavra "justiça" vem do termo hebraico "jpvm –


mishpat", e significa "julgamento", "ordenação", "ato de
decidir um caso". No Dicionário Michaelis – UOL, temos as
seguintes definições: "virtude que consiste em dar ou
deixar a cada um o que por direito lhe pertence",
"conformidade com o direito", "direito, razão fundada nas
leis", "estado de graça; retidão da alma que a graça
vivifica; inocência primitiva, antes do pecado do primeiro
homem". Em contra partida, o oposto de justiça – a
"injustiça", significa perverter o direito, lesar, defraudar,
etc.

2. Ao olharmos com atenção para o conteúdo do livro de


Miquéias, podemos perceber claramente que os dias do
profeta foram caracterizados por uma onda devastadora
de injustiça social. Um dos trechos que retratam o terrível
quadro social vivenciado pelo profeta de Deus, e que
traduz a realidade daqueles dias é 2.1-2: "1 Ai daqueles
que nas suas camas maquinam a iniqüidade e planejam o
mal! quando raia o dia, põem-no por obra, pois está no
poder da sua mão. 2 E cobiçam campos, e os arrebatam, e
casas, e as tomam; assim fazem violência a um homem e
à sua casa, a uma pessoa e à sua herança".

3. O clamor do profeta por justiça se justifica ao se


defrontar com atitudes de homens malignos que em seu
leito, maquinam e planejam o mal contra o seu próximo.
Para consumar seus planos opressores, tais homens
promoviam uma onda de violência, onde casas, campos, e
outros bens familiares, eram tomados à força, arrancados,
sob a égide de uma cobiça sem limites! Somente a ação
divina poderia inibir tais práticas abusivas, violentas,
desumanas e cruéis!
4. Deus exige de seu povo a prática de uma justiça
verdadeira. Olhando para a Palavra de Deus, podemos
encontrar subsídios importantes que nos alertam e
conclamam para uma justiça não pervertida e agradável
ao Senhor:

a) Como filhos de Deus, somos considerados como "servos


da justiça", "e libertos do pecado, fostes feitos servos da
justiça", Rm 6.18.

b) Devemos apresentar nossos membros com


instrumentos da justiça divina, "nem tampouco
apresenteis os vossos membros ao pecado como
instrumentos de iniqüidade; mas apresentai-vos a Deus,
como redivivos dentre os mortos, e os vossos membros a
Deus, como instrumentos de justiça", Rm 6.13.

c) Somos aconselhados a "acordar para a justiça",


"Acordai para a justiça e não pequeis mais; porque alguns
ainda não têm conhecimento de Deus; digo-o para
vergonha vossa", 1 Co 15.34.

d) Para termos uma vida pautada pela justiça divina,


devemos usar a "couraça da justiça" como parte de nossa
armadura espiritual, "Estai, pois, firmes, tendo cingidos os
vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da
justiça", Ef 6.14.
e) Devemos ainda, apresentar o "fruto de justiça", "cheios
do fruto de justiça, que vem por meio de Jesus Cristo,
para glória e louvor de Deus", Fp 1.11.

5. Diante dos textos acima, não nos podem ficar quaisquer


dúvidas de que a vida de um servo de Deus deve ser
permeada pela justiça de Deus. Nossos atos devem
expressar de uma maneira clara, o verdadeiro "censo de
justiça". Deus exige de nós a prática da justiça!

II. O AMOR À MISERICÓRDIA

1. Começamos por definir misericórdia: A palavra vem do


hebraico "dox – checed", e significa "clemência",
"bondade", "compaixão". No Dicionário Michaelis UOL,
temos: "pena causada pela miséria alheia; comiseração",
"graça ou perdão". Em outras palavras significa o ato de
exercermos compaixão para com aquelas pessoas que
estão numa situação de miséria, desgraça, carecendo de
nossa ajuda.

2. O profeta Miquéias vivia inconformado, até mesmo


transtornado, com as atitudes mesquinhas de seu povo,
onde os mais ricos e abastados, ao invés de exercerem
misericórdia, pisoteavam os empobrecidos, os miseráveis,
que eram atingidos por uma avalanche de atos desumanos
e cruéis, que os levavam ao desespero! A injustiça social
caminhava a passos largos! Veja o lastimo do profeta: "1 E
disse eu: Ouvi, peço-vos, ó chefes de Jacó, e vós, ó
príncipes da casa de Israel: não é a vós que pertence
saber a justiça? 2 A vós que aborreceis o bem, e amais o
mal, que arrancais a pele de cima deles, e a carne de cima
dos seus ossos, 3 os que também comeis a carne do meu
povo e lhes arrancais a pele, e lhes esmiuçais os ossos, e
os repartis em pedaços como para a panela e como carne
dentro do caldeirão", 3.1-3.

3. Quando nos deixamos envolver pela influência


materialista de nossa sociedade consumista, perderemos o
censo de compaixão em relação àqueles que estão abaixo
de nós, e que carecem de atos de bondade de nossa parte.
Não podemos nos esquecer de que, se somos o que
somos, devemos à misericórdia de Deus, que a cada dia
nos envolve com seu manto protetor! Ao negligenciarmos
a prática da misericórdia, podemos perder o favor da
misericórdia divina. Observe a palavra de Jesus na
parábola do Credor Incompassivo: "não devias tu também
ter compaixão do teu companheiro, assim como eu tive
compaixão de ti?", Mt 18.33.

4. Podemos ver ainda outros textos da Palavra de Deus


sobre a prática da misericórdia:

a) É no exercício da misericórdia que alcançamos a


misericórdia divina, "Bem-aventurados os misericordiosos,
porque eles alcançarão misericórdia", Mt 5.7.
b) Pedro nos aconselha a sermos misericordiosos e
humildes, "Finalmente, sede todos de um mesmo
sentimento, compassivos, cheios de amor fraternal,
misericordiosos, humildes", 1 Pe 3.8.

c) Judas nos alerta a praticarmos uma misericórdia com


temor, "22 E apiedai-vos de alguns que estão na dúvida,
23e salvai-os, arrebatando-os do fogo; e de outros tende
misericórdia com temor, abominação até a túnica
manchada pela carne", Jd 22-23.

5. A ausência de misericórdia em nossos relacionamentos


pessoais, nos torna frios, calculistas, insensíveis, apáticos!
Cumpre-nos, resgatar o censo de compaixão pelas vidas
que estão vivendo no limiar da miséria, muitas vezes
vítimas de uma sociedade injusta que premia cada vez
mais os ricos e abastados, e tira o pão da boca dos
miseráveis! Não podemos nos esquecer que "as
misericórdias do Senhor são a causa de não sermos
consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim;
renovam-se a cada manhã", Lm 3.22-23.

III. O ANDAR HUMILDE


1. A palavra "humildemente" que aparece no texto, vem
do termo hebraico "enu - tsana", e nos traz a idéia de
"simplicidade", "modéstia". No Dicionário Michaelis UOL,
temos: "virtude que nos dá o sentimento de nossa
fraqueza", "modéstia", "demonstração de respeito, de
submissão". Diante destas definições podemos perceber
que a humildade é uma questão de comportamento e
caráter! Quando nosso caráter é devidamente trabalhado e
moldado pelo Senhor, certamente desenvolveremos um
espírito de humildade, de respeito e comiseração para
nossos semelhantes. Quando Deus nos molda certamente
nosso comportamento é alterado, não para o mal, mas
para o bem! Somos ensinados a respeitar aqueles com os
quais nos relacionamos!

2. Não nos ficam dúvidas sobre o fato de Miquéias notar


que a tendência de povo de Judá para a violência e
consequentemente para o desrespeito com o próximo, não
poderia ser proveniente de vidas humildes. Quase sempre
a violência, as ações desumanas, estão atreladas ao
pecado do orgulho. Atos de crueldade são predicativos de
pessoas orgulhosas, soberbas! Geralmente o que produz o
orgulho no coração do homem é a sensação de
autossuficiência, de dono-do-próprio-nariz. Esta tendência
é que nos leva à petulância, à rebeldia e ao destrato para
com aqueles que estão a nosso redor, e que muitas vezes
dependem de nós, até mesmo para sua sobrevivência.

3. O verdadeiro servo de Deus permitirá que o Espírito


Santo em seu íntimo, molde seu comportamento e suas
ações, criando nele um sentimento profundo de verdadeira
humildade, característico daqueles que levam uma vida
em Deus. A Palavra de Deus nos fala sobre as bênçãos de
possuir um espírito humilde, mas ao mesmo tempo nos
adverte sobre os perigos de uma vida recheada de
orgulho. Senão, vejamos:

a) O Senhor atenta para os humildes, porém não se


relaciona com os orgulhosos, "Ainda que o Senhor é
excelso, contudo atenta para o humilde; mas ao soberbo,
conhece-o de longe", Sl 138.6. Ver ainda Is 57.15,
"Porque assim diz o Alto e o Excelso, que habita na
eternidade e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar
habito, e também com o contrito e humilde de espírito,
para vivificar o espírito dos humildes, e para vivificar o
coração dos contritos".

b) Ser soberbo é viver na desonra, ser humilde é


mergulhar na sabedoria, "Quando vem a soberba, então
vem a desonra; mas com os humildes está a sabedoria",
Pv 11.2.

c) O orgulhoso é abatido, o humilde obterá honra, "A


soberba do homem o abaterá; mas o humilde de espírito
obterá honra", Pv 29.23.

d) Veja ainda outros textos:


- Lc 1.51-52, "51 Com o seu braço manifestou poder;
dissipou os que eram soberbos nos pensamentos de seus
corações; 52 depôs dos tronos os poderosos, e elevou os
humildes".

- Tg 4.6, "Todavia, dá maior graça. Portanto diz: Deus


resiste aos soberbos; dá, porém, graça aos humildes".

- Mt 5.3, "Bem-aventurados os humildes de espírito,


porque deles é o reino dos céus". Ver ainda: "Portanto,
quem se tornar humilde como esta criança, esse é o maior
no reino dos céus", Mt 18.4.

4. Precisamos aprender a bênção da humildade! Nosso


maior exemplo e aprendizado nos vem do próprio Senhor.
Observe o que Ele disse aos seus discípulos: "Tomai sobre
vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e
humilde de coração; e achareis descanso para as vossas
almas", Mt 11.29.

CONCLUSÃO:

1. Para desfrutarmos do melhor de Deus para nossas


vidas, não podemos permitir que a injustiça, a falta de
amor e o orgulho tenham permanência em nossos
corações. Para sermos abençoados, precisamos praticar a
justiça, amar os menos favorecidos, e nunca permitir que
o orgulho se acomode em nosso íntimo. Muitos crentes
estão sofrendo e perdendo o melhor de Deus, por levarem
uma vida contrária aos princípios divinos. É preciso fazer
uma correção de comportamento e estar disposto a
mudar.

2. Desta maneira teremos o iremos desfrutar da vida


abundante, juntamente com nossos irmãos de fé!

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