Você está na página 1de 12

0

Memorando nº 73/2022

Assunto: Resolução ANM nº 122/2022 | Infrações, sanções e valores das multas


aplicáveis pela Agência Nacional de Mineração | Mudanças relevantes com
impactos financeiros graves para o minerador.

Breve histórico das normas associadas ao assunto

Em 01/10/2020, foi publicada a Lei nº 14.066/2020, que alterou a Política Nacional de


Segurança de Barragens (Lei nº 12.334/2010) e o Código de Mineração (Decreto-lei nº
227/1967), definindo, dentre outras questões, que as multas aplicadas em razão de
descumprimento das obrigações minerárias poderiam variar de R$ 2.000,00 (dois mil reais) a
R$ 1.000.000.000,00 (um bilhão de reais).
Em 14/02/2022, foi publicado o Decreto Federal nº 10.965/2022, que alterou o
Regulamento do Código de Mineração (RCM – Decreto nº 9.406/2018) parar determinar,
entre outras coisas, que a Agência Nacional de Mineração teria o prazo de 180 dias para editar
norma definindo as sanções e os valores das multas aplicáveis. Em 16/09/2022, foi publicado
o Decreto nº 11.197/2022, que (i) reestabeleceu temporariamente a redação anterior dos
artigos do RCM alterados pelo Decreto nº 10.965/2022, e (ii) trouxe novas modificações para
o RCM, as quais entraram em vigor em 30/11/2022 e indicaram a necessidade de as sanções
previstas no Regulamento serem dispostas em Resolução.
Nesse cenário, em 01/12/2022, foi publicada no Diário Oficial da União a Resolução
ANM nº 122/2022, que dispõe sobre os procedimentos para apuração das infrações, sanções
e os valores das multas aplicáveis em decorrência do não cumprimento das obrigações
previstas na legislação do setor mineral. A norma entrou em vigor no dia de sua publicação e
pode ser acessada em sua integralidade no site da ANM (disponível aqui).
As mudanças são relevantes e causam impactos financeiros graves no setor mineral.

1
Tipos de sanções

Conforme definido no art. 6º da Resolução, o descumprimento das obrigações


minerárias sujeitará o infrator a uma ou mais das seguintes penalidades: (1) advertência; (2)
multa; (3) caducidade do título; (4) nulidade ex officio de alvará de pesquisa; (5) cancelamento
do título; (6) multa diária; (7) suspensão temporária, total ou parcial, das atividades de
mineração; (8) apreensão de minérios, bens e equipamentos; (9) embargo de obra ou
atividade; (10) demolição de obra; (11) interdição; (12) sanção restritiva de direitos. O quadro
abaixo traz um exemplo para cada hipótese sancionatória:

2
As infrações passíveis de sanção pecuniária, por sua vez, foram divididas em oito
grupos distintos, a depender de sua natureza, sendo que cada conduta poderá ser classificada
em cinco níveis distintos de gravidade.

Quantificação dos valores das multas


Base de cálculo

As multas, cujo valor poderá ser fixado entre R$2.000,00 e R$1.000.000.000,00, serão
quantificadas considerando (i) a gravidade da conduta, (ii) os danos resultantes da infração,
(iii) a capacidade econômica do infrator, (iv) os antecedentes, (v) as circunstâncias atenuantes,
e (vi) as circunstâncias agravantes.

A base de cálculo variará conforme a fase do processo minerário e considerará a


capacidade econômica do infrator da seguinte forma:

a. Para infrações relacionadas à pesquisa, será adotado o Valor do Orçamento


Previsto (VOP), apurado a partir do somatório dos orçamentos dos trabalhos de
pesquisa indicado nos Alvarás de Pesquisa ativos de titularidade do infrator,
obtidos via Sistema de Cadastro Mineiro (SCM) e Sistema do Requerimento
Eletrônico de Pesquisa Mineral (REPEM), sendo apurado em 31 de dezembro do
ano anterior ao da autuação.

b. Para infrações relacionadas à lavra e às barragens de mineração, será


considerado o Valor da Produção Mineral (VPM), apurado a partir das informações
constantes no Relatório Anual de Lavra e utilizando-se como referência o valor
correspondente ao último ano-base anterior à abertura do processo
administrativo sancionador. Conforme definição do VPM dada no art. 2º, XXV, da
Resolução, ele será obtido a partir da soma das receitas com vendas,
transferências e consumo apuradas no último RAL.

Quando não for possível determinar a base de cálculo nos termos acima, devido à
ausência de declarações do administrado, a ANM poderá arbitrá-la. Nessa hipótese, o infrator
poderá, no decorrer do prazo para defesa, apresentar documentos comprobatórios para a
correção do seu enquadramento. Para infrações relacionadas à Compensação Financeira pela
Exploração Mineral (CFEM), a multa terá valor máximo de até 30% do valor apurado de CFEM
ou de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), o que for maior, conforme a infração. Para esses casos, a
porcentagem aplicável pode ser verificada no art. 22 da Resolução.

3
Quantificação dos valores das multas
Gravidade, antecedentes, agravantes e atenuantes

A Resolução não traz critérios objetivos para a definição da gravidade para as multas
dos Grupos II e VIII, apenas indicando que a gradação da gravidade da conduta, que será
levada em consideração para definição do valor-base da multa, passará pela análise da
proporcionalidade entre a natureza da infração e a intensidade da penalidade, podendo ser
adotados pisos e tetos.
Os fatores de gravidade, indicados abaixo, também foram divididos de acordo com a
fase do processo minerário:

Fator gravidade
Fator gravidade
(infrações relacionadas à lavra
Nível de gravidade (infrações relacionadas à
ou às barragens de
pesquisa)
mineração)

1 0,0250 0,0852930

2 0,0500 0,0947700

3 0,1000 0,1053000

4 0,2000 0,1170000

5 0,4000 -

Além disso, o valor final da multa também deverá considerar os antecedentes do


infrator, os agravantes e os atenuantes, assim definidos pela Resolução:

▪ Antecedente: registro de qualquer penalidade imposta pela Agência ao infrator,


nos últimos cinco anos anteriores à lavratura do Auto de Infração, contra as quais
não caiba contestação (defesa ou recurso) na esfera administrativa.
▪ Agravantes: circunstâncias legais, não integrantes da estrutura do tipo infracional,
mas que a ele se ligam com a finalidade de majorar o valor de sanção pecuniária,
tomando-se como referência a reincidência genérica.

4
o Reincidência genérica: o cometimento, em até cinco anos, de nova infração
enquadrada em tipo infracional distinto das penalidades anteriores contra as
quais não caiba contestação (defesa ou recurso) na esfera administrativa.
o Reincidência específica: o cometimento, em até cinco anos, de nova infração
enquadrada no mesmo tipo infracional de penalidade anterior contra a qual não
caiba contestação (defesa ou recurso) na esfera administrativa.
▪ Atenuantes: circunstâncias legais, não integrantes da estrutura do tipo
infracional, mas que a ele se ligam com a finalidade de diminuir o valor de sanção
pecuniária, desde que esta não tenha sido aplicada o valor mínimo.

A reincidência infracional genérica será considerada como agravante e contabilizada


nos antecedentes, majorando o valor-base da multa da seguinte forma:

i. Em 0,1 (um décimo), quando constatadas de 1 a 5 sanções definitivas nos últimos


cinco anos.
ii. Em 0,2 (dois décimos), quando constatadas de 6 a 10 sanções definitivas nos
últimos cinco anos.
iii. Em 0,3 (três décimos), quando constatadas 11 ou mais sanções definitivas nos
últimos cinco anos.

É importante ressaltar que, enquanto a reincidência genérica é considerada como


agravante e será contabilizada nos antecedentes, a reincidência específica levará à aplicação
da multa em dobro.
Além disso, é estabelecido que os danos resultantes da infração serão caracterizados
e utilizados como agravantes, situação que, ao que tudo indica, será variável de acordo com
cada caso concreto. No Anexo V da Resolução1, é possível verificar quais serão os danos
analisados pela ANM e os fatores agravantes de cada um, que podem variar de 0,1 (um
décimo) a 20 (vinte). A título de exemplo, situações que causem danos a animais de criação
terão fator agravante 0,2, enquanto grandes desastres ambientais (como o rompimento de
barragens) terão fato agravante 20.
No âmbito dos atenuantes, a Resolução ANM nº 122/2022 previu apenas duas
hipóteses:

1
São exemplos do mencionado anexo V: desestabilização de taludes naturais, danos a animais de criação,
impacto ambiental local ou regional, acidente com ou sem afastamento, danos à bens móveis, danos a imóveis
públicos e privados, abandono de mina sem o adequado descomissionamento, comprometimento temporário
do direito de ir e vir, impacto em lençol freático/aquífero, comprometimento do abastecimento de água,
surgimento de trincas, subsidência, destruição de cavernas, grandes desastres com mortes de trabalhadores,
etc.
5
i. Reconhecimento do cometimento da infração e renúncia ao direito de recorrer,
situação que reduzirá em 60% o valor da multa.
ii. Adoção voluntária de providências eficazes para evitar ou amenizar as
consequências da infração antes de proferida a decisão em primeira instância,
situação que reduzirá em 25% o valor da multa.

Diante das diversas variáveis apresentadas na norma, não é possível definir de forma
objetiva e inteiramente previsível qual será o valor final de uma multa apenas com base no
dispositivo legal descumprido, considerando que a definição da sanção pecuniária passará a
ser feita caso a caso.

Quantificação dos valores das multas


Cálculos exemplificativos

Considerando todos os novos aspectos trazidos pela Resolução ANM nº 122/2022, e


tendo por base a Nota Técnica nº 3702/2022-GT-SANCOES/SPM-ANM/DIRC, é esperado que
a seguinte equação seja adotada pela ANM quando da aplicação de sanções pecuniárias:

Imagem disponibilizada pela Agência Nacional de Mineração na Audiência Pública nº 3/2022

Em um cenário amostral de três infrações, é possível calcular, de forma


exemplificativa, genérica e aproximada, o valor das multas:

6
Cenário 1 – Pagar a Taxa Anual por Hectare fora do prazo legal – art. 20, II, do Código de
Mineração
Enquadramento: Grupo II
Valor do Orçamento Previsto (base de cálculo): R$ 3.000.000,00
Percentual de referência em cima do VOP: até2 74,2500%.
Sem atenuantes e agravantes (não há, portanto, reincidência genérica ou específica,
sendo a primeira infração cometida pelo minerador nos últimos 5 anos).
Valor de referência: R$ 2.227.500,00
Nível de gravidade: 1
Fator de gravidade: 0,0852930
Valor final da multa: R$ 2.227.500,00 x 0,0852930 = R$ 189.990,16

Cenário 2 – Lavrar a jazida em desacordo com o plano de aproveitamento econômico


aprovado pela ANM – art. 47, II, do Código de Mineração

Enquadramento: Grupo V
Valor da Produção Mineral (base de cálculo): R$ 15.000.000.000,00
Percentual de referência em cima do VMP: 5,06250%.
Sem atenuantes e agravantes (não há, portanto, reincidência genérica ou específica,
sendo a primeira infração cometida pelo minerador nos últimos 5 anos).
Valor de referência: R$ 759.375.000,00
Nível de gravidade: 4
Fator de gravidade: 0,2000
Valor final da multa: R$ 759.375.000,00 x 0,2000 = R$ 151.875.000,00.

2
Para este cenário, considerou-se o valor máximo.
7
Cenário 3 – Deixar de entregar Extrato de Inspeção Regular para barragem de mineração
inserida na Política Nacional de Segurança de Barragens – art. 19, II, da Resolução ANM nº
95/2022

Enquadramento: Grupo VIII-A


Valor da Produção Mineral (base de cálculo): R$ 3.000.000.000,00
Percentual de referência em cima do VMP: até3 7,59375%.
Sem atenuantes e agravantes (não há, portanto, reincidência genérica ou específica,
sendo a primeira infração cometida pelo minerador nos últimos 5 anos).
Valor de referência: R$ 227.812.500,00.
Nível de gravidade: 3
Fator de gravidade: 0,1000
Valor final da multa: R$ 227.812.500,00 x 0,1000 = R$ 22.781.250,00

Comunicação dos atos

As intimações relacionadas ao processo administrativo sancionador deverão conter,


dentre outras coisas, o teor da decisão exarada e o prazo para apresentação de manifestação,
sendo consideradas válidas e efetuadas aquelas entregues:

a. Por meio de sistema eletrônico, na data em que for registrada a ciência;


b. Por via postal, na data do seu recebimento, devidamente aposta no Aviso de
Recebimento (AR) ou documento equivalente, emitido pelo serviço postal;
c. Pessoalmente, na data da ciência do notificado; ou
d. Por intimação via Diário Oficial da União, na data de sua publicação.

A intimação por via postal com aviso de recebimento é considerada válida quando:

i. A devolução indicar a recusa do recebimento pelo autuado;

3
Para este cenário, considerou-se o valor máximo.
8
ii. Recebida no mesmo endereço do autuado;
iii. Recebida por funcionário da portaria responsável pelo recebimento de
correspondência, nos condomínios edifícios ou loteamentos com controle de
acesso; e
iv. Enviada para o endereço atualizado da pessoa jurídica.

Também é considerada válida a intimação na pessoa do representante legal,


formalmente constituído, ou de preposto do autuado. Como definido pela norma, é
responsabilidade do interessado manter atualizados os dados cadastrais junto aos sistemas
da ANM.
A intimação publicada no Diário Oficial da União, nos casos de tentativas frustradas de
intimação por outros meios ou de autuados com domicílio indefinido, deve conter as
seguintes informações: (i) identificação do intimado, (ii) número do processo administrativo,
(iii) número do Auto de Infração e unidade emissora, (iv) sanção aplicável, (v) disposição legal
infringida, e (v) prazo e local para apresentação de defesa ou recurso.

Além disso, o comparecimento do autuado no processo sancionador supre eventual


falta ou irregularidade da intimação.

Prazos para defesas, recursos e pagamento das multas

Lavrado o Auto de Infração, o administrador terá o prazo de 20 dias, contados da


intimação, para apresentar defesa. Proferida decisão em primeira instância que negue
provimento à defesa, eventual recurso deverá ser interposto também em até 20 dias,
contados da ciência da decisão.
Confirmada a sanção pecuniária no âmbito administrativo, a multa deverá ser paga em
até 10 dias, a contar da data de ciência da decisão que a tiver fixado. O não pagamento da
multa sujeitará o infrator a (i) juro de mora de 1% ao mês ou fração, (ii) multa de mora de 2%
ao mês ou fração, (iii) inscrição do débito no Cadastro Informativo de Créditos não quitados
do setor público federal - CADIN, (iv) inscrição na Dívida Ativa, e (v) ação de execução fiscal.

9
Como mencionado anteriormente, caso o autuado opte por reconhecer o ato
infracional e abdique do direito de recorrer, ele fará jus à aplicação de redução de 60% do
valor da multa. Essa opção é irrevogável e irretratável, devendo a multa (já reduzida) ser paga
em até 10 dias após a disponibilização do documento de cobrança. Não sendo realizado o
pagamento dentro do prazo de 10 dias4, a cobrança do débito prosseguirá quanto a seu valor
originário, acrescido de juros de mora.
O pagamento das sanções pecuniárias poderá ser parcelado, conforme Manual de
Parcelamento de Débitos da ANM, aprovado pela Portaria DNPM nº 366/2010.

Relevância, gravidade e disposições finais relevantes

A Resolução nº 122/2022 representa uma alteração extrema a respeito do processo


administrativo sancionatório na ANM e merece ser tratada com máxima atenção pelos
titulares de direitos minerários.
As empresas deverão reforçar a gestão de seus ativos e majorar o nível de
conformidade legal de suas operações para minimizar o risco de estarem sujeitas à sanções
pecuniárias que poderão atingir valores exorbitantes.
Em que pese a Resolução esteja em vigor desde 01/12/2022, acredita-se que a norma
continuará sendo questionada pelo setor, seja pelo fato dela ter passado a produzir efeitos
sem a Análise de Impacto Regulatório reputada como obrigatória pelas Leis nº 13.575/2017 e
13.848/2019 e pelo Decreto nº 10.411/2020 ou, por exemplo: (i) por autorizar a imposição de
sanções pecuniárias em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento
do interesse público; (ii) por permitir a imposição de sanções pecuniárias com base em
critérios subjetivos e abstratos sem a anterior e completa regulamentação por meio de
critérios claros, objetivos e previsíveis; (iii) por potencialmente majorar o valor das sanções
pecuniárias com base em situações que fogem da competência de atuação da agência; (iv) por
permitir a aplicação da sanções pecuniárias a partir da eleição de uma base de cálculo que, ao
contrário do determinado pelo Decreto nº 9.406/2018, definitivamente não representa a
capacidade econômica do infrator e outros questionamentos relevantes.

4
Ou, tendo o autuado optado pelo parcelamento, este ser cancelado a qualquer tempo.
10
Registramos, por fim, que a Resolução determinou que até 31/05/2023 as bases de
cálculo das sanções dos Grupos I e II serão reduzidas em 60%, desde que a gravidade seja de
nível quatro ou inferior. Além disso, foi estabelecido que a Diretoria Colegiada irá reavaliar os
procedimentos para valoração de multas, realizando as eventuais adequações cabíveis até
01/05/2024.

A equipe de Direito Minerário do William Freire Advogados Associados está à


disposição para prestar quaisquer esclarecimentos adicionais sobre o tema.
Belo Horizonte, 13 de dezembro de 2022.

William Freire – william@williamfreire.com.br


Tiago de Mattos – tiago@williamfreire.com.br
Bruno Costa – bruno@williamfreire.com.br
Danilo Resende Soares – danilo@williamfreire.com.br
Ana Clara Teixeira – anaclarateixeira@williamfreire.com.br
Ana Letícia Lanzoni Moura – analeticia@williamfreire.com.br
Giovanna Carvalho – giovannacarvalho@williamfreire.com.br
Caio Figueiredo – caiogomes@williamfreire.com.br
Maria Cecília de Castro – mariacecilia@williamfreire.com.br
Maycon Nunes – mayconnunes@williamfreire.com.br

11

Você também pode gostar