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CINEMA NA ESCOLA: aproximações e possibilidades no uso do filme “Rango”

Bárbara Matos da Cunha Guimarães1


bmatoscg@gmail.com
Bolsista - PIBID Interdisciplinar Subprojeto Saúde e Meio Ambiente
Universidade Federal de Uberlândia

Frederico Augusto Tavares Amaro


frederico_amaro@hotmail.com
Bolsista – PIBID Interdisciplinar Subprojeto Saúde e Meio Ambiente
Universidade Federal de Uberlândia

Ínia Franco de Novaes


inianovaes@yahoo.com.br
Supervisora- PIBID Interdisciplinar Subprojeto Saúde e Meio Ambiente
Escola de Educação Básica /Universidade Federal de Uberlândia

Izabel Leopoldino
izabel_leopoldino@hotmail.com
Bolsista - PIBID Interdisciplinar Subprojeto Saúde e Meio Ambiente
Universidade Federal de Uberlândia

Jéssica Pinheiro dos Santos


jessica_jps29@hotmail.com
Bolsista - PIBID Interdisciplinar Subprojeto Saúde e Meio Ambiente
Universidade Federal de Uberlândia

Karine de Oliveira Sousa


karine.3103@hotmail.com
Bolsista - PIBID Interdisciplinar Subprojeto Saúde e Meio Ambiente
Universidade Federal de Uberlândia

Maria Beatriz Junqueira Bernardes


mariabeatrizjunqueira@gmail.com
Coordenadora - PIBID Interdisciplinar Subprojeto Saúde e Meio Ambiente
Universidade Federal de Uberlândia

“A função do audiovisual não é agir como mero suporte na


transmissão tradicional do saber. É preciso pensar os meios
de comunicação como fonte válida de pesquisa, auxiliar

1
Trabalho desenvolvimento com o apoio e financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) por meio da concessão de bolsas do Programa Instituicional de Bolsas de Iniciação da
Docência (PIBID) a todos os discentes.
importante da investigação científica. Desconsiderá-los é
subestimar seu valor informativo e, por que não,
pedagógico. Um erro tão fatal quanto confiar em uma
possível neutralidade dos mesmos e deles fazer uso sem
considerações críticas.”

Freire & Caribé, 2004

Introdução

Para o processo de ensino e aprendizagem é fundamental o uso de múltiplas


linguagens pelo professor, e o cinema pode ser caracterizado como mais uma possibilidade de
mobilização do pensamento e de abertura para outros olhares. O uso de filmes tem se tornado
uma prática comum entre professores, se apresentando como algo prazeroso no espaço
escolar, são ferramentas que podem ser utilizadas para que os alunos possam visualizar a
escola como lugar de construção de conhecimentos e não somente absorção destes,
aproximando a escola com a vida e o cotidiano dos alunos. Acreditamos assim como Duarte
(2002, p.17) que “ver filmes, é uma prática social tão importante, do ponto de vista da
formação cultural e educacional das pessoas, quanto a leitura de obras literárias, filosóficas,
sociológicas e tantas mais”.
Nesse sentido, Bernardet (2006, p.104-105) aponta que:

Os filmes não são concebidos como meros divertimentos, mas


procuram levar ao público uma informação, quer seja a respeito do
assunto de que tratam, quer sejam pela linguagem a que recorrem
que tende a se diferenciar nitidamente do espetáculo tradicional.

A escrita aqui apresentada é o resultado de atividades realizadas na Escola de


Educação Básica da Universidade Federal de Uberlândia – (ESEBA/UFU), decorrente de
ações desenvolvidas pelos bolsistas, coordenadora e supervisora do Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID) – Subprojeto Interdisciplinar Umuarama de saúde e
meio ambiente, da Universidade Federal de Uberlândia. O “Cinema na Escola” foi uma
atividade proposta aos alunos, que tem por objetivo a utilização de filmes e documentários
como linguagem nas aulas sendo uma atividade diferenciada, que possibilite não só o
aprendizado, mas a interação dos alunos com outras linguagens e possibilidades com a
intenção de não só contribuir para uma maior aprendizagem dos alunos. A mesma contribui
também na formação acadêmica dos bolsistas integrantes do subprojeto, possibilitando aos
mesmos o contato com outras linguagens e técnicas de ensino diferenciadas que possam atrair
maior atenção dos alunos e como elas devem ser aplicadas.
Nesta atividade apresentamos o filme “Rango” para os alunos dos 5º anos A, B e C do
período matutino com o intuito de discutir sobre os problemas relacionados a crise hídrica
brasileira, de uma forma interativa e diferenciada, visando chamar mais a atenção dos alunos
com relação ao desperdício de água, a necessidade de mudança de hábitos e de preservarmos
esse recurso natural essencial para a sobrevivência da vida no planeta, bem como facilitar a
compreensão sobre este tema e despertar maior interesse e participação nas aulas. O filme
possui duração de 96 minutos e é uma animação gráfica que retrata uma cidadezinha desértica
em que seus habitantes, animais típicos de regiões áridas, sofrem com a escassez da água.

Utilizamos o laboratório de ensino de geografia para apresentação do filme. A


atividade foi realizada nos seguintes momentos: exibição do filme “rango” para os alunos;
debate e confecção de cartazes; revisão das atividades e reflexão sobre o filme e exposição
dos cartazes.

Cinema e Educação: algumas reflexões


A utilização dos filmes possibilita trabalhar inúmeros conteúdos e estimulam o debate
em sala de aula, podendo ainda estimular a formação critica dos alunos em relação à imagem
e a arte cinematográfica.

Do mesmo modo como temos buscado criar, nos diferentes níveis de


ensino, estratégias para desenvolver o interesse pela literatura,
precisamos encontrar maneiras adequadas para estimular o gosto
pelo cinema. Nesse caso, gostar significa saber apreciar os filmes no
contexto em que eles foram produzidos. Significa dispor de
instrumentos para avaliar, criticar e identificar aquilo que pode ser
tomado como elemento de reflexão sobre o cinema, sobre a própria
vida e a sociedade em que vive. Para isso é preciso ter acesso a
diferentes tipos de filmes, de diferentes cinematografias, em um
ambiente em que essa prática seja compartilhada e valorizada.
(DUARTE, 2002, p.89).

O cinema possibilita aos alunos o acesso a conhecimentos e informações que não se


esgotam apenas nos filmes. Os filmes despertam o interesse e estimulam a curiosidade em
torno de temas e problemas que muitas vezes não seriam considerados. Ao trabalhar
determinado filme, um mesmo tema pode ser visto e compreendido de formas diferentes
propiciando debates sobre os problemas cotidianos.

Para Rodriguez (2009, p. 139) citado por Vieira e Rosso (2011, p.552) o cinema atinge
de forma bastante plena suas possibilidades educativas:
1) [...] educa na contemporaneidade, nas questões que nos ocupam e
nos preocupam; 2) ativa o conhecimento, descobrindo de maneira
lúdica aquilo que antes não havíamos reparado; 3) estabelece
relações com a realidade que resultam mais imediatas, porém,
igualmente, com aquelas que estão distantes; 4) [... obtém-se] ao
invés de respostas um sem número de perguntas, sendo o motivo
para aprender; 5) [capacita] pensar e contribuir em um novo discurso
inspirado no diálogo e na necessidade de seguir aprendendo através
da investigação.

Ao utilizar o cinema como recurso pedagógico tornando a atividade produtiva é


necessário que o professor veja o filme antes de exibi-lo selecionando informações e
elaborando um roteiro de discussão, ou seja, é preciso que o plano da atividade seja
elaborado. O tema abordado no filme escolhido deve aproximar com o conteúdo de ensino. É
importante também que seja observado a linguagem do filme, a classificação da faixa etária,
para facilitar aos alunos a compreensão, e o enredo do filme. A exibição do filme sem a
problematização e o debate com os alunos não torna a atividade prática educativa, é
importante a mediação do professor através do desafio aos alunos, fazendo perguntas,
debatendo e buscando questões sobre o filme.

[...] A participação e envolvimento dos alunos a partir das imagens


assistidas é fundamental na superação do conhecimento cotidiano
pela construção de conhecimentos cada vez mais complexos e com
características mais científicas. Dito isso, o cinema na sala de aula
não pode ter a função meramente de ilustrar, mas de permitir ao
aluno construir leituras e possibilidades por meio dos filmes que
assiste. (VIEIRA; ROSSO, 2011, p.551)

O debate e a discussão do filme entre os alunos e o professor são importantes para o


processo de ensino e de aprendizagem, devendo permitir aos alunos novas interpretações em
relação ao tema. A seguir, apresentamos os passos seguidos para a realização da atividade.

Primeiro Momento: o contato com o filme “Rango”

Exibimos o filme “Rango” aos alunos do 5º ano matutino da ESEBA/UFU com o


objetivo de realizar discussões sobre as questões relativas à escassez e ao monopólio da água.
O filme foi exibido, individualmente, para cada turma no Laboratório de Geografia da escola,
foram necessários três horários para a exibição completa.

Deixamos os alunos livres no momento da exibição do filme, não demos roteiros e não
os orientamos a observar algo específico. Os deixamos também livres, fugindo daquela
organização espacial da escola tradicional. Os alunos podiam sentar no chão, nas cadeiras,
próximos, distantes, da forma que preferissem e se sentissem a vontade. As turmas se
mostraram receptivas à atividade, demonstrando um grande interesse ao que foi exibido
“momento de descontração que foge a tradição da cultura escrita da escola” (Almeida, 2004),
a cultura oral, a nova cultura oral, inundada por imagens e sons faz-se presente.

Ao contrário do esperado, os alunos se mostraram a vontade com a liberdade oferecida


durante a exibição do filme, os que “dão mais trabalho” participaram ativamente das
atividades e discussões realizadas.

O filme Rango não possui teor científico explicito, trata-se de uma animação feito para
o cinema, não de um documentário criado para fins educativos. Mas assim como diversos
filmes comerciais, Rango carrega informações implícitas que podem (e devem) ser
trabalhadas em sala de aula. Exigindo apenas um olhar crítico do professor voltado a despertar
o mesmo olhar em seus alunos.

Ouvem-se relatos de professores que afirmam que não exibem filmes no espaço
escolar, pois os alunos não saberiam aproveitar o momento, ao fugir do tradicional o professor
perderia o controle da turma. Com a nossa experiência, observamos que ao dar liberdade para
os alunos em sala de aula, eles tiveram responsabilidade e respeito suficientes para lidar com
ela.

Segundo Momento: debate e confecção de cartazes

Após a exibição do “Rango” foi realizado um debate sobre o contexto abordado no


filme e sua importância. Este debate foi feito com o objetivo de observarmos quais os
principais pontos analisados pelos alunos e o que mais chamou a atenção, enfatizando sobre a
importância da preservação e a economia da água para o mundo.

Posteriormente, os alunos foram orientados a elaborar cartazes apresentando o que foi


visto no filme. Os mesmos foram divididos em grupos, com aproximadamente cinco
integrantes em cada um, cada grupo abordou aquilo que achou mais importante no filme.
Orientamos aos grupos que a confecção destes cartazes tinha como intuito de apresentar,
registrar por meio de imagens o que foi importante no filme rango. Para esta atividade, os
alunos utilizaram cartolinas, lápis de cor, revistas para recortes, cola e giz de cera.
Imagem 1: Produção coletiva do cartaz sobre o filme Rango.

Fonte: Acervo PIBID Interdisciplinar Saúde e Meio Ambiente -ESEBA/UFU (2015)

Terceiro Momento: atividades e reflexão sobre o filme “Rango”

Após a exibição do filme e a confecção dos cartazes, foi entregue para os alunos uma
atividade escrita com algumas perguntas que abordagem, de maneira interdisciplinar, questões
tratadas no filme, para que os alunos pudessem refletir mais a respeito do tema discutido na
escola. A atividade foi corrigida com a turma na semana seguinte o que possibilitou ampliar
as discussões a dos principais pontos observados, possibilitando perceber os diferentes pontos
de vista e as potencialidades do filme, gerou uma discussão que proporcionou a construção do
conhecimento, e atraiu a atenção dos alunos.
Imagem 2 - Alguns cartazes prontos a serem discutidos

Fonte: Acervo PIBID Interdisciplinar Saúde e Meio Ambiente -ESEBA/UFU (2015)

Assim que os alunos concluíram a atividade, a mesma foi corrigida em sala de aula
juntamente com alunos do PIBID e a professora supervisora, gerando uma discussão sobre os
pontos analisados a respeito do problema de abastecimento hídrico e com relação à fauna e
flora observada no filme, que também foi debatida juntamente com os membros do PIBID do
curso de biologia, gerando uma discussão ainda mais ampla e positiva com os alunos em sala
de aula. Percebemos que o conhecimento transpôs as barreiras dos componentes curriculares,
houve uma mistura de geografia e ciências (biologia), ouvimos de uma aluna a seguinte frase
“isso é geografia ou ciências (biologia)? então, é biografia?”. O que nos deixou bastante
motivados, a interdisciplinaridade fez-se presente na atividade, pois tudo estava entrelaçado e,
o mais importante, os alunos perceberam que a fragmentação pode e deve ser esquecida,
conseguiram estabelecer relações entre os diferentes conhecimentos.

Quarto Momento: exposição dos cartazes sobre o filme “Rango”

No quarto momento da atividade “Cinema na Escola” foi realizado a exposição dos


cartazes, finalizando assim a atividade “Cinema na Escola”.
Os filmes podem ser vistos como uma ferramenta pedagógica, ou
seja, para ensinar e ampliar a visão do seu espectador. A utilização
de filmes para o entendimento de alguns conceitos construídos pelas
sociedades é de grande valia. O cinema proporciona a produção de
saberes, conhecimentos diversificados por representar elementos
socioculturais que talvez não pudessem ser acessados por algumas
pessoas se não fosse pela arte do cinema. (PIOVESAN et al, 2010,
p.7)

Assim, ao trabalhar o conceito de água e utilizando o tema da necessidade de


preservação e da mudança de hábitos, o filme rango serviu como uma linguagem para a
professora, os alunos da educação básica, assim como os alunos do PIBID, futuros
professores. Além da temática abordando a questão da água, o filme abordou temas como a
camuflagem e adaptações dos animais em ambientes desérticos com pouca biodiversidade,
com pouca água e elevadas temperaturas, também a questão da distribuição dos recursos
naturais e questões relacionadas às relações sociais.

Imagem 3 - Exposição dos cartazes na escola.

Fonte: Acervo PIBID Interdisciplinar Saúde e Meio Ambiente -ESEBA/UFU (2015).

A atividade foi finalizada com a exposição dos cartazes com o intuito de mostrar aos
demais estudantes e funcionários da escola o trabalho realizado pelos alunos, assim como
provocar em quem para, em quem olha e em quem vê a reflexão da importância das questões
relacionadas á água. Além de evidenciar a presença do cinema na educação e como o cinema
pode ser abordado nas atividades escolares.

Considerações Finais

O filme é uma linguagem que pode e deve fazer-se presente no espaço escolar que
motiva e possibilita a análise, o debate e a reflexão de diversos temas presentes no dia a dia,
além de mobilizar outras sensações e sentimentos que contribuem tanto quanto a escrita para a
construção do conhecimento.

A exibição do filme “Rango” como recurso didático pedagógico possibilitou que os


alunos desenvolvessem um senso crítico sobre suas atitudes em relação ao meio ambiente
principalmente na questão da preservação e consumo da água. Além disso, percebemos que
durante a atividade houve uma socialização da turma e ao elaborar os cartazes a turma foi
divida em grupos o que possibilitou a troca de conhecimentos. A partir da elaboração dos
cartazes os alunos representaram por meio de desenhos e colagens o que entenderam sobre o
filme, tornando o processo de ensino e de aprendizagem múltiplo. Durante a atividade os
alunos participaram, debateram cenas do filme, relacionando as cenas do filme com
conhecimentos.

A utilização do cinema durante a atividade do não foi de forma ilustrativa para ilustrar
o conteúdo em sala de aula, mais sim como recurso para gerar problematizações e discussões
que produziram o conhecimento.

Para o PIBID a atividade proporcionou aos bolsistas do Subprojeto o conhecimento de


novas linguagens e técnicas de ensino, contribuindo para a formação docente.

Referências

ALMEIDA, M. J. de. Imagens e sons: a nova cultura oral. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2004.
110p
BERNARDET, Jean-Claude. O que é cinema. São Paulo: Brasiliense, 2006. 117 p. (Coleção
primeiros passos; 9).
DUARTE, Rosália. Cinema e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. 128 p.
FREIRE, L. M.; CARIBÉ, A. L., O filme em sala de aula: como usar. Revista Eletrônica O
Olho da História - www.oolhodahistoria.ufba.br, 2004.
PIOVESAN, Angélica.; BARBOSA, Lívia.; COSTA, Sara B. Cinema e Educação. In: I
SIMPÓSIO REGIONAL CINEMA/ COMUNICAÇÃO, 1.,2010, Aracaju. Anais Eletrônicos I
Simpósio Regional Cinema/Comunicação.Aracaju,SE:2010, p.1-10. Disponível em:
<http://geces.com.br/simposio/anais/wp-
content/uploads/2014/04/CINEMA_E_EDUCACAO.pdf >. Acesso em: 06 ago.2015.
RANGO. Direção: Gore Verbinski. Estados Unidos: Paramount Pictures, 2011. 1 Filme
Animação (107 min), son.,color.
VIEIRA, F.Z.; ROSSO, A.J. O cinema como componente didático da educação ambiental.
Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v.11, n.33, p.547-572, maio/ ago.2011. Disponível
em: < http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/dialogo?dd1=5067&dd99=view&dd98=pb >.
Acesso em: 06 ago. 2015.

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