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Alberto Brum Novaes
Antônio Fernando Guerreiro de Freitas
Armindo Jorge de Carvalho Bião
Evelina de Carvalho Sá Hoisel
Cleise Furtado Mendes
Maria Vidal de Negreiros Camargo
Trânsitos na cena
latino-americana contemporânea
Salvador | 2008
© 2008, by R
Revisão final
Ana Lígia Leite e Aguiar
Editora da UFBA
Rua Barão de Jeremoabo,
s/n – Campus de Ondina
40170-115 – Salvador – BA
Tel: +55 71 3283-6164
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SUMÁRIO
Prefácio: |7
Diálogos que Alargam Fronteiras
Raimundo Matos de Leão
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ou de esquerda, tensionados pelas questões que afloram desde a Guerra
Fria. Se por um lado, a defesa dos princípios conservadores ou progressis-
tas fratura a vida cultural e artística pondo em risco a liberdade de criação,
por outro lado anima a gente de teatro. As narrativas revelam as tensões
provocadas por essas quebras, mas os artistas encontram meios para agen-
ciar suas propostas na cena em transe latino-americana, como aponta Inés
Pérez-Wilke em A Cena Híbrida Contemporânea na Venezuela, ao dizer que
“propostas híbridas, além do texto, plenas de recursos, corajosas, vão para
o palco, não sem dificuldades, mas decididas”.
O que se pode apurar é que os artistas, ainda que reprimidos, reagiram
ao sistema supressor da liberdade, continuando o trabalho criador, que veio
a se ampliar sensivelmente por ocasião da redemocratização, como apon-
tam os textos Teatro Argentino Contemporâneo, de Paula Fernández e Pulsões
Cênicas do Teatro Chileno Contemporâneo, de Héctor Briones. Nesse apa-
nhado histórico da realidade teatral portenha e chilena, pode-se apreciar o
cunho das experiências e dos fluxos inovadores que animam a cena nos dois
países. Esse pulsar está presente também no olhar que Angela Reis lança
sobre o teatro de grupo no Brasil. Em seu texto Breve Reflexão Sobre o
Teatro de Grupo no Brasil, a autora toma como referência os grupos Arena
e Oficina, surgidos em São Paulo, na década de 50, para discorrer sobre
essa prática em várias capitais do país nas décadas seguintes.
De maneira geral, depreende-se, da leitura dos artigos, que a atividade
artística, mesmo perseguida e sem o apoio estatal ou privado, encontrou ca-
minhos e se renovou a cada década, amenizando o fechamento das fronteiras.
Os respiradouros foram encontrados, idéias e pessoas circularam e
intercambiaram-se, proporcionando entrelaçamentos que se refletiram na
dramaturgia, na encenação e, em especial, no trabalho para e com os atores.
Esse deslocamento imposto ou prazerosamente desejado/realizado diminui
sensivelmente as distâncias. Assim, podemos conhecer os teatros locais e
também a atuação dos que se deslocam para fora de suas fronteiras, parti-
lhando experiências e contribuindo para o desenvolvimento do teatro, como
atesta o artigo Fronteiras de Areia, de Leonardo Sebiani, ao afirmar que a
imigração de “irmãos latino-americanos” para a Costa Rica em desenvolvi-
mento e livre de conflitos bélicos contribuiu para que o teatro fosse animado
pelo trabalho de artistas descendentes de outras regiões do continente.
O alargamento das fronteiras possibilitou também o contato dos artis-
tas latino-americanos com o teatro mundial, dando-se a interlocução entre
artistas de diversas procedências e estéticas, resultando desse diálogo as
8
Prefácio
9
um Teatro “Político”, cujo texto descreve com bastante lucidez o
enfrentamento dessas questões pelos artistas cubanos, transitando entre a
censura e a utopia, em uma demonstração das tensões que balizam esse
estado fronteiriço e a complexidade entre o real e o imaginário.
Por esses motivos, entre tantos que os artigos iluminam, é que esta
publicação é construtiva e pertinente, pois reúne distante-próximos; um
passo significativo para tornar real o desejo do poeta Jorge Debravo: “Gos-
taria de ter mãos enormes / violentas e selvagens / para arrancar fronteiras
uma a uma / e deixar de fronteiras só o ar.” Assim, poderemos conhecer de
fato o que se faz em cada centro produtor e intercambiar experiências tea-
trais, experiências de vida.
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A CENA HÍBRIDA CONTEMPORÂNEA
NA VENEZUELA
Inés Pérez-Wilke
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Inés Pérez-Wilke
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A cena híbrida...
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Inés Pérez-Wilke
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A cena híbrida...
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El relato histórico heredado es una secuencia de eventos, un relato de ficciones de los hombres,
cuentos inanimados en donde no podemos relacionarnos emocionalmente, en donde se manipula la
memoria del pasado para manipular el relato de la actualidad. Pero el relato cultural histórico es otra
cosa, estas ficciones que son las obras de arte contienen energías históricas vivas, haciendo trascender
aspectos verdaderos del hombre del pasado, ayudándole a conectarse y arraigarse en el presente para
poder construirse su futuro. (BARNSLEY, sem número de página, 2006) OBS: As citações dessa
obra não contam com número de página, porque foram tomadas de fragmentos enviados pela própria
Barnsley, a autora deste artigo, via e-mail: inespw@gmail.com
2
“Para ella, la danza ha sido, ante todo un inaplazable proceso a través del cual ha profundizado con
dolor y con negro humor en la interioridad humana, así como en los grandes mitos de la sociedad
contemporánea occidental” (PAOLILLO, sem número de página, 2006)
3
“Pocos proyectos artísticos irrumpieron con la voracidad de Acción Colectiva en los sediciosos años
80 de Venezuela… – poca o ninguna adhesión a los códigos formales de la danza o el teatro como
veredas separadas – … una labor cimentada en el pulso del cuerpo, materia del inconciente, cauce de
oscuras y potentes fuerzas… (un punto referencial de la creación en nuestro país)… ahora cuando los
espectáculos de teatro físico/danza son comunes y casi una moda, Acción Colectiva conserva su
estatus de visionaria en este particular territorio… maestra interprete de profunda versatilidad y
creadora indiscutible, Julie Barnsley no cesa en abrir caminos a sus necesidades vitales.” (BLASCO,
sem número de página, 2007)
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Inés Pérez-Wilke
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A cena híbrida...
4
“Cada personaje revela una terrible y debilitante dicotomía en donde no hay relación entre los
impulsos físicos corporales y los ideales mentales, no obstante, mi propio cuerpo dentro de cada rol
es una verdadera y organizada unidad integrada.” (BARNSLEY, sem número de página, 2006)
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“Lo que me asombra no es que todo se esté derrumbando, sino la gran cantidad de cosas que todavía
siguen de pie.” (Holzer, 1999, sem número de página)
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Dramo
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“cuerpo producto de las modas predominantes, cuerpo fashion, cuerpo drogado, cuerpo tecno, un
cuerpo con una estructura y una musculatura suelta, que se moldea a todas las tendencias sin ser capaz
internamente de conectarse con alguna”. (BARNSLEY, 2006, sem número de página)
7
En esta obra, somos testigos de los devastadores efectos de los distintos espacios e ideologías sobre
los cuerpos/espíritus de los diferentes personajes. Cuando estos se comprometen con ideas y
comportamientos que van en contra de los impulsos y energías naturales de sus cuerpos, se debilitan
no sólo sus capacidades físicas, sino también sus capacidades mentales, llevándolos hasta la enfermedad,
la inercia y quizás hasta la locura. (Barnsley, 2006, sem número de página)
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ências que somam sempre, que integram sempre e que avivam uma paixão
que aniquila qualquer crise de nossa mutante realidade” (DRAMO, ar-
quivo, tradução nossa)8. A partir de 1996 não têm parado de produzir:
em 1996 estréiam duas peças, Gastone e Meraviglioso. Em 1997, também
duas, Ella Maria Callas e Nosferatu, ladrón de cuerpos. Em 1998 apresen-
tam Medea Material, de Heiner Mûller. Em 1999 trazem El Divino Narci-
so de Sor Juana Inés de la Cruz e Pascua. No ano 2000 trazem a Divina
Comédia dirigida a quatro mãos. Em 2001 apresentaram Canción de los
niños muertos. Em 2002, R.S.V.P., versão de Esperando Godot, de Samuell
Beckett e Chez Raimunda. No ano de 2003 estréiam El Mistral. Em 2004,
La Gata Cenicienta. Em 2005, Café inmigrantes. Em 2006, Esperando a
los dos e La Zaranda, e sua última produção, El vuelo del ilusionista,
estreou em 2007.
Desde a sua fundação, DRAMO desenvolveu uma face própria. Cada
espetáculo tem sido um convite a uma dimensão na qual, por meio da poe-
sia e de uma pesquisa técnica e estética própria, se toca muitas vezes, de
maneira tragicômica, em temas sensíveis à nossa sociedade atual. Nesse
caminho, seguindo as apresentações de DRAMO, fui, um dia, surpreendi-
da por uma peça que guardava singularidades: a entrada em cena de um
risco vinculado a uma estética que me parecia um pouco mais austera em
relação ao seu jogo conhecido, mas frágil. Era como se o trabalho deles,
neste caso, sob direção de Leyson Ponce, tivesse entrado em um outro es-
paço mais delicado e, também, mais perigoso. A implicação pessoal dos
intérpretes, assim como a delicadeza do tema, fez dele um trabalho, em
muitos sentidos, diferente. Refiro-me a Canción de los niños muertos (2001).
O crítico René Sirvin, no Le Fígaro, o expressou desta maneira:
8
De esta travesía creativa hemos recogido experiencias que suman siempre, que integran siempre y que
avivan una pasión que aniquila cualquier crisis de nuestra cambiante realidad. (DRAMO, arquivo)
9
De Venezuela viene el obra contemporánea más extraña “canción de los Niños Muertos” inspirada
por el kindertotenlieder de Mahler. Los siete bailarines de la compañía de Dramo participan en la
creación mencionando cada uno un recuerdo de infancia inquietante ya que están cargados de símbo-
los que se nos escapan” (SIRVIN, sem número de página, 2002)
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*(DRAMO: Espectáculo Canción de los niños muertos. 2001. Foto: Arquivo DRAMO.)
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Pero este personaje de alguna manera era la suma de recuerdos infantiles muy propios, muy ocultos,
y no dichos. (PONCE, 2008, sem número de página).
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“Son estos rituales de “angelitos” una gran fiesta de cuerpo y espíritu. (PONCE, 2008, sem número
de página)
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Teatro La Bacante
No ano de 1992 aparece no cenário um grupo que hoje tem uma traje-
tória e forte presença na cena Venezuelana. O grupo Teatro La Bacante é
uma particularidade em nosso panorama artístico. Foi fundado por Diana
Peñalver que é docente no Instituto Universitario de Teatro (IUDET), já o foi
no Instituto Universitário de Danza e tem ditado oficinas para o Teatro de La
Sombra, TNJ, Taller del Actor e no Programa de Formación da Compañía
Nacional de Teatro (CNT) a cargo da cátedra de Actuación.
Para seguir as influências artísticas na estética do grupo, temos que
falar do trabalho da sua diretora junto ao Taller experimental de teatro
(TET), que é um dos grupos mais importantes e de longa trajetória na
Venezuela no que se refere à pesquisa em teatro de grupo. Também deve
ser considerada a passagem que essa atriz e diretora fez no Odin Teatret.
No importante grupo Danes, teve contato com as pesquisas de antropolo-
gia teatral e o teatro físico, ambos com o acompanhamento da atriz Roberta
Carreri e que marcaram seu trabalho. Segundo ela mesma, o Odin lhe
dera uma técnica clara e tangível que lhe permite desenvolver uma lingua-
gem própria e autonomia criativa para contextualizar elementos diversos
fora do texto.
Dá-se, no trabalho desta diretora, uma singular mistura de pesquisas
das formas tradicionais antigas com um diálogo frutífero com a
contemporaneidade, ou seja, o estudo da tradição grega do teatro e as
suas releituras e versões contemporâneas, a pesquisa sobre tradições cê-
nicas populares da Venezuela que incluem cantos e danças, assim como a
incorporação da realidade urbana. Esse apelo ao passado ocidental antigo
para dar conta de assuntos contemporâneos, junto à valorização do popu-
lar latino-americano (a dança, a música, a máscara) se misturam dando
como resultado uma dramaturgia que se alimenta de diversos tipos de
textos e de materiais para o processo de criação na procura de um teatro
para além do texto.
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*(Foto 3: Grupo Teatro La Bacante. Espectáculo La casa rota. 2002. Foto: Arquivo Teatro La
Bacante)
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“En este recorrido, donde va reconociendo al mundo y al ser humano en él, descubre la locura del
hombre, sus flaquezas, su gran sombra y a la par advierte la belleza que el alma humana encierra, que
la naturaleza ofrece y que en definitiva esa gran contradicción que somos, sólo espera una inspiración
para rehacer lo que destruye.” (Diana Peñalver, 2002, programa da peça)
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¡Hay Puentes!” (PEÑALVER, 2001, sem número de página)
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“Reconocemos que somos una agrupación con cierto carácter mutante. Cada montaje, cada propuesta,
cada puesta en escena representa para nosotros una nueva aventura, una experiencia retadora que
invita a incorporar lenguajes y experimentar códigos estéticos.” (RIOTEATROCARIBE, página da
WEB, 2008)
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“En el fondo los significados se repiten, la incapacidad de encontrar la mañana de los hombres, las
baratas imágenes de felicidad con que nos alimentamos. Y esto lo hacemos de buen humor y una gran
ironía.” (Idem)
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Inés Pérez-Wilke
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*(foto 4 Rio Teatro Caribe. Espectáculo El temblor de la sonrisa. 2005. Foto: Arquivo Rio Teatro
Caribe)
Tecnicamente o que vemos é uma grade imensa feita com uma malha
metálica, com polias e braços na parte superior. E três bancos móveis na
parte inferior. Então, vemos três espaços cênicos importantes: o chão, onde
os personagens andam e que inclui as cenas sobre os bancos, a superfície da
malha metálica, onde as personagens também andam ajudadas por cordas,
e o espaço tridimensional, onde, através do sistema de polias, eles conse-
guem fazer uma dinâmica acrobática que evoca imagens futuristas.
As leituras políticas possíveis para esta peça são tão inevitáveis quanto
plurais. Ecoa na história contemporânea da América Latina, sem nenhuma
concessão a leituras dialéticas, consciente de entrar em um território caóti-
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El espectador tiene la sensación de que algunos conceptos son lanzados como dados, lo cual crea
inusitadas combinaciones, polifónicas, equivocas y capaces de abrir campos de sentido innovadores y,
digamos la palabra manida, poéticos –ese signo que alude y esquiva sus referentes. Del aparente caos
sale la inquietud y el asombro. (DENIS, 2008, sem número de página)
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Inés Pérez-Wilke
E depois?
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BIBLIOGRAFIA
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Inés Pérez-Wilke
LINKS RELACIONADOS
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TEATRO ARGENTINO CONTEMPORÂNEO
Paula Fernández
O teatro argentino das últimas duas décadas (1990 e 2000) foi renova-
do e enriquecido pelas obras de um grupo de artistas, entre os quais se
destacam: Rafael Spregelburd, Ricardo Bartís, Daniel Veronese, Alejandro
Tantanian, Javier Daulte, Lola Arias, Patricia Zangaro, Vivi Tellas, Mariano
Pensotti, Ignacio Apolo, Luciano Suardi, Pompeyo Audivert e Federico León,
entre outros. O trabalho destes autores foi objeto de inúmeros estudos teó-
ricos e de diversas denominações, como por exemplo: Teatro Novo ou Nova
Dramaturgia Argentina, Teatro Underground, Teatro da Desintegração, Te-
atro Off Corrientes, Teatro Pós-moderno, etc.
A produção destes criadores pode ser lida como a manifestação mais
recente de um fenômeno de transformação da cena nacional que começou
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El arte es ante todo un problema de amor; si queremos conocer la verdadera posición del artista
debemos preguntar: ¿de qué está enamorado? (GOMBROWICZ, 1968)
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Paula Fernández
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Este canon se caracteriza por la atomización, la diversidad y la coexistencia pacífica, solo excepcio-
nalmente beligerante, de micropoéticas y microconcepciones estéticas. […] El canon de la multiplicidad
aparece con el debilitamiento de las polémicas de oposición cerradas (realismo-absurdismo, tradición-
vanguardia, izquierda-derecha); con lo cual ya no se piensa dentro de los límites de un discurso
ideológico rígido (como el comunismo o el socialismo) o científico (como el psicoanálisis). (DUBATTI,
1999, p. 13)
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Teatro argentino...
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Mauricio Kartun é dramaturgo e diretor argentino, representante – quase por excelência – da geração
de dramaturgos anteriores aos chamados “novos”; foi também mestre da maioria deles. Entre suas
últimas peças figuram La madonnita (2006) e El niño argentino (2007).
4
Mi generación ha tenido una enorme brecha generacional producto de la dictadura, y los grandes
maestros de la dramaturgia en este país suelen estar en la generación de nuestros a buelos, no de
nuestros padres. Ha habido un corte muy grande en el pasaje de la tradición, del conocimiento, de la
técnica, y a los autores de mi generación no nos interesa nada de lo que esa otra generación estaba
escribiendo, de su experiencia y saber, y la generación intermedia estaba prácticamente desaparecida,
sin representantes. Kartun es uno de ellos. Por todo esto creo que somos una generación que no se
acercó al teatro tratando de continuar la línea de una tradición previa. Y nuestras influencias más
directas vinieron de otros lugares. En mi caso fundamentalmente del cine. Pero en el caso de otros
autores, las influencias también son casi siempre muy alejadas del teatro: la música, la política, etc.
(GARDEY, 2005, p. 46)
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Paula Fernández
ção cênica. Quase todos atuam, dirigem e escrevem; alguns também tradu-
zem suas obras em diversas línguas (R. Spregelburd), cantam (A. Tantanian),
trabalham com bonecos e objetos (D. Veronese), ou escrevem roteiros e
dirigem filmes (F. León). Para referir-se aos criadores que somam na sua
atividade teatral o manejo de praticamente todos os ofícios da arte do espe-
táculo, a crítica especializada, e os mesmos artistas, costumam utilizar a
palavra teatrista.
O trabalho destes teatristas implica em uma forma diferente de produ-
ção, onde se privilegia a criação grupal. O texto dramático se escreve a
partir do trabalho do ator. A fidelidade ao texto – a pièce bien faite – é
substituída pelo texto tomado como roteiro, ou diretamente por improvisa-
ções definidas a partir dos interesses do grupo. Assim, a função do drama-
turgo é suprida em grande parte pelo trabalho dos atores e do diretor.
Federico León é verdadeiramente paradigmático quando afirma:
Não concebo a escrita separada da direção, quer dizer, sempre escrevo para
mim e é uma escrita muito ligada ao trabalho cênico […] Comecei atuando e
construindo espetáculos grupais, nos quais todos nós tomávamos conta da
direção, da dramaturgia, da luz, da cenografia, etc. Atores que escrevem e
organizam um material para se criar um espaço de atuação. (LEÓN, 2005, p.
19, tradução nossa)5
5
No concibo la escritura separada de la dirección, es decir que siempre escribo para mí y es una
escritura muy ligada al trabajo escénico […] Empecé actuando y construyendo espectáculos grupales,
en los cuales todos nos hacíamos cargo de la dirección, de la dramaturgia, de la luz, de la escenografía,
etc. Actores que escriben y organizan un material para crearse un espacio de actuación. (LEÓN, 2005,
p. 19)
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Teatro argentino...
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Paula Fernández
juízo’ que tem como objetivo perceber o não percebido, descobrir o que
está escondido, tornar visível o invisível” (BONFITTO, 2002, p. 122).
A materialidade textual e cênica surge dos procedimentos que se utili-
zam nos ensaios. O ator funciona ao mesmo tempo como origem e destina-
tário de uma multiplicidade de propostas que vão construindo sentidos e
definindo um tipo de atuação que assume as ressonâncias associativas do
grupo como totalidade.
O ator se transforma no principal elemento de composição. Sua pre-
sença física e mental é orientada à criação de formas e intensidades que
transcendem a linguagem verbal: trabalha na construção do não dito; da-
quilo que não pode se verbalizar, mas que se manifesta de forma concreta
na potência de uma ação ou um impulso físico; na manipulação – absoluta-
mente pessoal – do tempo e do espaço, e na condensação de energias e
estados emocionais.
Na dramaturgia de direção, a organização formal do texto escrito fica
totalmente subordinada à linguagem de atuação e de encenação que se gera
no processo de ensaios. No prólogo de Fractal, peça criada por Rafael
Spregelburd junto com quatorze atores, o diretor assinala:
Os atores e eu escrevemos Fractal no palco. […] Cada ator teve que se imbuir
da idéia de que a atuação não é uma segunda representação de uma idéia
literária, a atuação é operar sobre a situação, para fabricar, além disso, como
um resíduo, essa literatura tão especial que é a que se “vê” e não a que se
“lê” (SPREGELBURD, 2001, p. 8, tradução nossa)6.
6
Los actores y yo escribimos Fractal sobre el escenario. […] Cada actor tuvo que hacerse cargo de que
la actuación no es representación segunda de una idea literaria, la actuación es operar sobre la
situación, para fabricar además, como un residuo, esa literatura tan especial que es la que se “ve” y no
la que se “lee”. (SPREGELBURD, 2001, p. 8)
7
Como actores, nuestro objetivo principal es ser productores de sentido. Escribir con nuestros
cuerpos. Ser autores. Los textos que van a leer son producto de probar y errar, pero no en términos
literarios, sino en los ensayos sobre el escenario. No son textos representados por nosotros, sino que
son producto del descarte, el reciclaje y el accidente que tiene lugar en el ensayo. Entendemos que
cada vez más es ese el trabajo que concierne al actor, y no otro. Allí radica la especificidad de la
creación literaria en el teatro. (SPREGELBURD, 2001, p. 13)
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Teatro argentino...
8
Yo siento que mi trabajo es ir diciendo los textos de todos los personajes todo el tiempo. Porque yo
no puedo decir solo en mi casa los textos. Yo tengo que ver una mirada que hace un actor y decirle:
“claro, Germán te está pasando esto, decíle; decíle tal cosa”. “Paula: ¿entendés lo que te dijo Germán?
No lo estas entendiendo. Te dijo “esto”; respondele”; “Jimena ¿ves lo que está pasando?, te dejan
afuera, reaccioná…” Entiendo con ellos; pero en término de escritura, muchas veces, yo lleno los
espacios. El sentido de actuación se va armando ahí, entre ellos; pero el texto (LEÓN apud
FERNÁNDEZ, 2006).
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Paula Fernández
9
Texto proto-escénico (escrito en, con y durante lo ensayos), texto escénico (el texto dramático que
se manifiesta en el texto espectacular), y texto post-escénico (resultado de la notación a posteriori del
texto escénico). (DUBATTI, 2005, p 213)
10
Los dramaturgos ya no escriben desde un discurso hegemónico internacional, ya no se reúnen en la
abstracción de una superestructura sino que trabajan desde la propia visión molecular, desde la
subjetividad individualista o de tribu. (DUBATTI, 1999, p. 22)
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Es un teatro que opera, no sobre los temas de lo coyuntural, sino sobre la manera que tenemos de
percibir lo real. (GARDEY, 2005, p. 52)
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En Mujeres soñaron caballos, Daniel Veronese presenta a tres ridículos hermanos tratando de
desarmar la empresa familiar, llevada a la ruina por malos y secretos manejos, mientras la mujer de uno
de ellos describe con lujo de detalles el guión de una película que nunca filmará, la segunda de las
mujeres llora amargamente la misteriosa desaparición de un pony […], y una tercera mujer, la más
joven, descubre que esta familia no es la suya sino que ha sido robada en la cuna de sus padres, en
misteriosas circunstancias, y -arma en mano- acaba con la vida de todos ellos. El argumento, que
suena absurdo, tal vez “mágico” a los ojos europeos, es presentado como si se tratara del realismo más
crudamente verosímil, seco y contundente. […] En Cine quirúrgico, el autor Alejandro Tantanian
recrea la figura del Doctor Alejandro Posadas, un visionario cirujano argentino que, a los dos años de
aparecido en Francia el invento de los hermanos Lumière, corre a París a comprar una cámara, con la
que filmaría sus operaciones en el patio del Hospital Municipal […] La obra desanda con desopilante
humor y extravagante crueldad el camino hacia el olvido que este ilustre personaje […] ha transitado
en un país que condena a sus grandes hombres y premia con guiño cómplice, argentino, a sus criminales
y mediocres. En El pecado que no se puede nombrar, el director Ricardo Bartís rearma la monumen-
tal obra de Roberto Arlt. Aquí, un grupo muy anómalo y extremadamente reducido de revolucionarios
(son siete) planea derrocar al capitalismo mundial, para lo cual comienzan por intentar conseguir el
dinero que necesitan para su organización subversiva mediante el regenteo de un burdel. Pero a falta
de mujeres confiables, a las que poder explotar para esta faena, deciden prostituirse ellos mismos,
según un sorteo en el que determinan quiénes harán de hombres y quiénes de mujeres, y haciendo del
hermafroditismo psíquico la clave ideológica de la revolución. De toda revolución. […] No hago más
que repasar en mi cabeza y encontrar que las obras más interesantes que han dado nuestros escenarios
en estos últimos años de confusión, de caos cultural, y de depresión económica, son monstruos
indomables, bizarros, de incierto comportamiento y de muy dudoso buen gusto. Esto hace que sea
posible pensar en todos estos ejemplos que he dado como un mecanismo de conocimiento de lo que
ocurre en nuestro país. Pero como se ha visto, es un mecanismo no periodístico, siempre sujeto a la
interpretación. Y la interpretación es privada. La interpretación es la más divertida de las formas que
cobra la libertad. (SPREGELBURD, 2001, p. 12).
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La risa es un reflejo que libera una tensión. Esa tensión es la necesaria para que se produzca el
pensamiento lúdico, artístico, el arte es el lugar donde hay tensiones indisolubles que la razón no
puede comprender. (GARDEY, 2005, p. 52)
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Después de casi dos décadas de simulacros y simulaciones lo que vuelve es la idea de que todavía hay
experiencia y de que el arte debe inventar alguna forma nueva de entrar en relación con ella. La
tendencia, que es mundial, comprende desde fenómenos de cultura de masas como los reality shows
hasta expresiones más avanzadas del arte contemporáneo, pasando por la resurrección de géneros
hasta ahora considerados menores como el documental, el testimonio o la biografía. El retorno de la
experiencia es también el retorno de lo personal, vuelve el yo, si, pero es un yo cultural, social e incluso
político. (DURÁN, 2005, p. 15)
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La intención del espectáculo es ir mezclando esos distintos niveles hasta que uno no sepa quién
habla […] Pero aclaro que no se trata de una obra sobre la vida de los actores o la mía. Se trata de un
espectáculo cuyo eje narrativo es El idiota, en una versión mínima, pero con un límite muy impreciso
entre lo biográfico y lo ficcional, entre la presentación y la representación, entre lo que muestro y lo
que soy. (CRUZ, 2005, p. 17).
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El efecto es difícil de describir; la ausencia de ficción parece autorizar las identificaciones más
brutales. El público […] ríe y llora como y con las protagonistas. […] El teatro renuncia a la
representación para recuperar una función comunitaria mítica: purgar y crear lazos. Todo resulta
catártico y, a la vez, maravillosamente reconciliatorio. […] ¿Cómo llamar a este puñado de rodajas de
vida cruda? ¿Happening familiar? ¿Neopsicodrama? ¿Autobiografía étnica? ¿Y qué estatuto darle?
¿Es arte? ¿Es un ritual privado? Y si fuera así, ¿por qué produce un efecto de comunión tan
inapelable? ¿O se trata acaso de un reality teatral? (SOSA, 2004, p. 13)
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Teatro argentino...
De tudo o que minha mãe e minha tia me contavam, por exemplo, eu lhes
pedia que repassássemos as mortes, as traições, as mentiras e todas as
histórias familiares que venho escutando, contadas sempre da mesma maneira,
desde que tenho seis anos. Neste caso, a repetição é o que ativa a teatralidade,
e isso é o que eu chamo o mínimo teatral. (…) Algo que me interessa muito
é a falta de solvência cênica das pessoas com que trabalho: o que se vê na
cena é algo frágil, com muitos erros: o tempo todo se produzem imprevistos
que me hipnotizam. Não são experiências fechadas, como quando há uma
destreza ou um ofício no palco. (SOSA, 2004, p. 13, tradução nossa)17
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De todo lo que me contaban mi mamá y mi tía, por ejemplo, yo les pedía que repasáramos las
muertes, las traiciones, las mentiras, y todas las historias familiares que vengo escuchando, contadas
siempre de la misma manera, desde que tengo 6 años. En este caso, la repetición es lo que pone en
marcha la teatralidad, y eso es lo que yo llamo el mínimo teatral. […] Algo que me interesa mucho es
la falta de solvencia actoral de las personas con las que trabajo: lo que se ve en escena es algo frágil, con
muchos errores: todo el tiempo se producen imprevistos que me hipnotizan. No son experiencias
cerradas, como cuando hay una destreza o un oficio en escena. (SOSA, 2004, p. 13)
18
En una biografía encontré una frase suya: “Si algo me pasara durante este fin de semana, nadie se
enteraría. Mi mucama no viene durante el fin de semana”. Me conmovió cómo ella, la “divina”, podía
morir tan sola, como tantos que estuvimos tan solos en un fin de semana. (DURÁN, 2005, p. 23)
45
Paula Fernández
19
Crear una experiencia de razas cruzadas […] Establecer cartográficamente en la representación,
líneas de flotación de lo imaginario. […] Teatro de la otra realidad. Teatro de una realidad develada,
degradada, que abra, que descomponga los límites de lo real. (DUBATTI, 2005, p. 217)
20
Entre las cosas no designa una relación localizable que va de la una a la otra y recíprocamente, sino una
dirección perpendicular, un movimiento transversal que arrastra a la una y a la otra, arroyo sin principio
ni fin que socava las dos orillas y adquiere velocidad en el medio. (Deleuze- Guatarri, 2004, p. 29)
46
Teatro argentino...
21
[…] Cuestiona la relación entre persona y personaje, entre actor y espectador, entre autor y
narrador, entre imagen y concepto, entre verdad e invención, entre lo relevante y lo trivial, entre
tradición e innovación, entre integridad y fragmento, entre lo individual y lo social, entre lo público
y lo privado. Pone en crisis los límites y los alcances de los géneros y las categorías, sus posibles
rupturas, sus quiebres, sus fisuras, sus transformaciones, pero también pone en crisis al teatro como
lenguaje estético, como acto creativo, como práctica espectacular, como despliegue de estrategias
escriturales, como espacio de encuentro y confrontación. (TRASTOY, 2007)
22
Por teatro comercial entendemos o teatro que é financiado por fundos privados de empresários que
concebem a produção teatral, principalmente como atividade (ou inversão) lucrativa /rentável.
47
Paula Fernández
Estas peças são um espelho côncavo do lugar (in)visível que para nosso
Estado e nossa sociedade ocupa a criação artística: um espaço reduzido a
nada. Todas elas desenvolvem-se em âmbitos mínimos, cantos, palcos ínfimos,
interstícios aos quais se chega como atravessando um labirinto. […]
Geralmente, as obras não duram mais que uma hora, apenas o tempo
necessário para tolerar o desconforto transformado em recurso. Este teatro
se constitui no anti-espaço, na anti-declamação, o anti-corpo ainda resistente
de uma sociedade devastada pela cultura do mega-espetáculo. (MASSUH,
2000, p. 5, tradução nossa)24
23
O insistente trabalho desta entidade contribuiu para que em 1997 fosse aprovada a Lei Nacional del
Teatro, que tinha sido vetada pelo presidente Menem. Mediante esta lei criou-se o Instituto Nacional
del Teatro: um organismo destinado a financiar projetos teatrais (salas, espetáculos, turnês, capacitações)
em todo o país.
24
Estas obras son un espejo cóncavo del lugar (in) visible que para nuestro Estado y nuestra sociedad
ocupa la creación artística: un espacio reducido a la nada. Todas ellas se desarrollan en ámbitos
mínimos, recovecos, escenarios ínfimos, intersticios a los cuales se accede como atravesando un
laberinto iniciático. […] Por lo general las obras no duran más que una hora, apenas el tiempo
necesario para tolerar la incomodidad transformada en recurso. Este teatro se constituye en el anti-
espacio, en la antideclamación, el anticuerpo todavía resistente de una sociedad devastada por la
cultura del megaespectáculo. (MASSUH, 2000, p. 5)
48
Teatro argentino...
Off Corrientes tem lugar em salas ou lugares alternativos (casas antigas res-
tauradas, centros culturais, bares, porões, etc.) que funcionam como espa-
ços onde se realizam diversas atividades como por exemplo: obras de tea-
tro, ensaios, oficinas, seminários, concertos, encontros literários, recitais,
exposições pictóricas e fotográficas, exibição de filmes, palestras, entre
outras atividades.25
Muitos destes espaços gestaram-se como cooperativas e foram consoli-
dando seu funcionamento através de atividades pagas (principalmente ofici-
nas de atuação, direção e dramaturgia) e, em menor medida, de subsídios ou
apoios provenientes do Estado (tal é o caso do Instituto Nacional del Teatro).
Mediante o teatro de câmara, os novos diretores lograram transformar
as limitações e condicionantes materiais em um eficaz instrumento de cria-
ção. A utilização deste tipo de espaço implica em uma escolha estética-
ideológica que se posiciona distante das modalidades de produção e recep-
ção vigentes nos teatros oficiais e comerciais. O diretor Federico León ex-
prime-o com clareza quando diz:
25
Alguns destes espaços são: Andamio 90, El Sportivo Teatral, El Kafka, El callejón de los deseos, El
portón de Sánchez, El Camarín de las Musas, El Club del Vino, Centro Cultural Ricardo Rojas, etc.
26
El teatro que hago es un teatro íntimo, en el cual es importante la cercanía: que el público tenga la
sensación de que está casi dentro de la escena, que se produzca una interacción real con los actores
[…] Por otro lado me interesa que las obras propongan un “volumen bajo” y que el espectador tenga
que acercarse, hacer un trabajo para acceder al material. Algo que no ocurre en teatros grandes
donde el espectador está totalmente separado de la escena y no puede participar de esa interacción.
Donde la obra va hacia los espectadores, que no tienen que hacer ningún tipo de trabajo porque la
obra “se les presenta”. El “volumen alto” es también una historia demasiado clara, un mensaje gritado.
A diferencia de un teatro que no señala lo que hay que ver, donde uno elige las líneas y hace su propio
recorrido. (LEÓN, 2001, p. 13).
49
Paula Fernández
50
Teatro argentino...
27
Las devoluciones [de los dramaturgos jóvenes] eran muy buenas y muy técnicas. […] Con la
generación que nos apadrinaba había un problema real: toda discusión técnica solía conducir a
dogmas, a afirmaciones axiomáticas sobre el funcionamiento del drama. A los dos meses de estar
trabajando nos pidieron nuestros borradores y nosotros nos negamos: no estaban listos, no eran
totalmente legibles y nos propusieron “resuman lo que falta” Eso ya hablaba de una forma de escribir
que no era la nuestra, yo no empiezo las piezas por el comienzo y las termino por el final […] Nuestros
borradores -con la dudosa “síntesis de lo que faltaba”- fueron a parar al escritorio de Gené, y el
director dijo que el taller se disolvía porque las obras no tenían valor […] No convenía invertir dinero
en eso. Dinero que por otra parte no iba a nosotros: solo cobraban los coordinadores. […] Una
generación que está en uso de los espacios públicos, juzga a la siguiente para darle cabida o no.
(GARDEY, 2005, p. 49)
51
Paula Fernández
28
Disolvernos fue una decisión inteligente, porque no queríamos repetir la experiencia de la generación
previa, que - merced a su talento y su tesón - se había llamado a representar al teatro argentino en su
totalidad. (GARDEY, 2005, p. 50)
29
Ao final da apresentação aparecem primeiro os atores “secundários” de “menor importância”, o
público aplaude e eles ficam do lado do palco, por último aparecem os atores “principais”, o público
aplaude mais alto e durante um tempo maior, e eles ficam no centro do palco.
30
Aggiornar: Do italiano “renovar, modificar externamente”.
31
[Los coordinadores] Estaban buscando generar nuevas obras para un medio. El malentendido
trágico era que las obras que se iban a generar no se correspondían con las necesidades de ese medio.
[…] Hay materiales que son atípicos en los teatros, que no parecen estar hechos para ese teatro y el
teatro los expulsa totalmente o peor, los aggiorna o los domestica, se los comen las alfombras
coloradas del teatro. Esa fue la gran crisis, el teatro que ellos producían no se correspondía a los
modelos del teatro San Martín […] El Caraja-ji fue el catalizador de un montón de cosas que
andaban dando vueltas. Y por otro lado, fue un punto de despegue de hijos que se transformaban en
padres. En alumnos que se transformaban en maestros. Empezaban a pensar lo suyo como modélico.
En ese momento fue extraordinariamente rico. (BAYER, 2007)
52
Teatro argentino...
32
O Teatro General San Martín é um prédio de cinco andares que conta com três salas: Martín
Coronado, Casacuberta e Cunill Cabanellas. Esta última é a menor das três e se localiza no subsolo
do prédio, abaixo da linha do metrô. O tamanho da sala é de 10 metros de largura por 20 de
cumprimento e 2,70 metros de altura até o teto. Não há palco fixo. Tem uma arquibancada separada
em dois módulos de dois metros cada um. Utilizada de maneira frontal tem capacidade para 120
espectadores. Neste lugar funcionava o bar do teatro, até que em 1979 o diretor do teatro - Kive Staiff
– decidiu transformá-la em um espaço de experimentação.
33
Kive Staiff foi Diretor Geral e Artístico do Teatro San Martín entre os anos 1971-1973, 1976-
1989, e de 1998 até hoje. Segundo Martín Rodríguez sua gestão caracteriza-se pelo “manejo limitado
da utopia da modernidade, o progresso ideológico, o cosmopolitismo e o culto à originalidade”.
(1999, p. 23)
34
El teatro oficial está absolutamente perdido porque quiere competir en términos de mercado. […]
El teatro oficial siempre ha sido vampírico, un teatro que nunca pudo pensar una línea propia. A
diferencia de Francia o Alemania donde el teatro oficial establece el eje y las contestaciones son a ese
eje. Como el Estado funciona como tal, tienen políticas para ver qué es lo oficial. En Argentina no,
como el Estado es un disparate siempre, el teatro oficial es un vampiro. Ha tomado de lo culto que se
hacía fuera de lo oficial y lo vuelve oficial o el gran proyecto “Kive Staiff” que es el reciclado con
medios del teatro independiente. […] Ese modelo está en crisis. Se permite tomar la Nueva Dramaturgia
pero no hay nada propio. (BAYER, 2007)
53
Paula Fernández
Eu queria ser um nexo, mas cheguei a dizer a Tito [Cossa]: “Você não sabe
ver nem ler as coisas novas, mas sinto que confia em mim. Então, deixe que
eu te diga o que é que vale a pena e o que não”. Porque acho que uma sala
dedicada ao autor nacional não pode ignorar certas expressões atuais. O
Teatro Del Pueblo só casualmente tinha sido sede de alguns experimentos
interessantes, como Mil quinientos metros sobre el nivel de Jack [de F. León],
por exemplo. Mas continuava a faltar uma apropriação consciente das novas
dramaturgias. (CONSENTIDO, 2004, p. 17, tradução nossa)36
35
La convocatoria (SOMI) fue “finalmente no intervenimos pero no hacemos nada con ustedes” o sea
“compartimos sala, compartimos el entorno y les ponemos el marco pero no […] Pero advertimos que
somos cosas muy diferentes y que no hay posibilidades de trabajo en común”. (PELLETIERI, 1999,
p. 38)
36
Yo quería ser un nexo, pero llegué a decirle a Tito [Cossa]: “Vos no sabés ver ni leer las cosas nuevas,
pero siento que tenés confianza conmigo. Entonces, dejame que te diga qué es lo que vale la pena y
lo que no”. Porque me parece que una sala dedicada al autor nacional no puede ignorar ciertas
expresiones actuales. El Teatro del Pueblo sólo casualmente había sido sede de algunos experimentos
interesantes, como 1.500 metros sobre el nivel de Jack [de F. León], por ejemplo. Pero faltaba una
apropiación a conciencia de las nuevas dramaturgias.(CONSENTIDO, 2004, p. 17)
54
Teatro argentino...
37
[El artista] no escribirá porque está maduro y ya consiguió la forma, sino justamente porque es
todavía inmaduro y sólo en la humillación, ridiculez y sudor se esfuerza por atraparla, porque es él
quien trepa, pero no ha subido todavía, y es él quien se hace, pero todavía no se ha hecho.
(GOMBROWICZ, 1968, p. 105)
38
[El artista] Comprendería que el único modo de liberarse de aquella presión [cultural] formidable
es reconocerla; y trataría de que en su mismo estilo, su actitud, su tono, su forma, tanto artística como
cotidiana, se notase con toda evidencia esa vinculación con lo bajo. (GOMBROWICZ, 1968, p. 108)
55
Paula Fernández
Salvador, 2007
39
[Sus obras] surgen con el encanto […] de lo inacabado, de lo imperfecto, de lo joven, que no es ya
ni el balbuceo tímido de la infancia ni el anquilosamiento de la madurez. (Ferrari – Lavatelli, 2001,
p. 165)
40
Podemos hablar de formas dramáticas débiles cuando no hay intento de construcción de un modelo
dramatúrgico, cuando deliberadamente se evita fundar una forma dramática estable y firme: cuando
se escapa al arduo honor de lo superior, de lo perdurable, cuando en lugar de romper radicalmente con
los lenguajes teatrales precedentes, se los retoman distorsionados, confusos y relativos, cuando se
apuesta al conflicto: de lo tradicional y de lo moderno, de lo privado y lo público, de lo épico y lo
dramático, de lo profesional y de lo amateur, de lo nacional y de lo foráneo… Cuando se solicitan los
recursos, los materiales y los discursos en función de las demandas del acto creador, es decir, según las
circunstancias de la práctica escénica. (FERRARI e LAVATELLI, 2001, p. 165)
56
Teatro argentino...
BIBLIOGRAFIA
57
Paula Fernández
MASSUH, Gabriela. El teatro de la pobreza. Diário Página 12. Buenos Aires: junho de
2000.
PELLETIERI, Osvaldo. Mesa redonda: Ha muerto el realismo y todo lo demás. Tea-
tro XXI. Buenos Aires, Ed. GETEA, Año V, Nº 8, 1999.
SOSA, Cecilia. Cuéntame tu vida. Diário Página 12. Buenos Aires: 17 de octubre de
2004, p. 13.
SPREGELBURD, Rafael. Fractal: una especulación científica. Buenos Aires: Ed.
Libros del Rojas, 2001.
SPREGELBURD, Rafael. Un momento argentino. Buenos Aires: Ed. Eudeba, 2001.
TRASTOY, Beatriz. La escritura autobiográfica en el escenario y en la pantalla: una
cuestión de estilos. Disponível em: <www.telondefondo.org>; Acesso em: 12 dez 2006.
58
PULSÕES CÊNICAS DO TEATRO
CHILENO CONTEMPORÂNEO
Radiografando uma virada estética
Héctor Briones
1
Texto original em espanhol: […] buscando en otras esferas del sentido, explorando, desde el trabajo
teatral mismo […] en una gran ambigüedad de las situaciones y de los personajes: todo está flotante,
está en recomposición, no hay protagonistas ni antagonistas definidos. Las lecturas que permite, por
tanto, son muy diversas y abiertas. (HURTADO, 1987, p. 105)
2
Texto original em espanhol: Tu teatro misterioso devela a medias lo que no sé nombrar. (LORCA,
1999, p. 45)
59
Héctor Briones
Ester, da companhia Gran Circo Teatro, pela intensa repercussão que pro-
vocou no seu meio teatral e na sociedade chilena, na época de sua estréia,
no final dos anos 80. A proposta cênica desse espetáculo levou inclusive a
alguns críticos proporem a existência nesse país de um teatro pré- e outro
pós- La Negra Ester.3 Esta afirmação, do ponto de vista da sua inovação
cênica, não é de todo errada, mas seria algo injusto. Já em 1985, peças
como Cinema Utoppia, da companhia Teatro Fin de Siglo (com uma poética
cênica radicalmente diferente do Gran Circo Teatro), tinham impactado
fortemente o meio teatral chileno, em plena clandestinidade durante a dita-
dura militar no Chile (1973 – 1988). Porém, do ponto de vista de sua reper-
cussão popular, de notoriedade pública, La Negra Ester foi, sem dúvida, um
fenômeno nunca antes visto no Chile. Sua estréia ocorreu poucos meses
depois do plebiscito que levou a ditadura de Pinochet ao seu fim (1988), o
que implicou uma abertura democrática muito favorável aos artistas tea-
trais chilenos. Neste sentido, La Negra Ester pode ser tomada como exem-
plo emblemático da legitimação artística de todo um movimento teatral que
vinha modificando a maneira de se entender e realizar teatro no Chile, em
um processo artístico que ainda influencia a cena atual. Em que consiste
esse processo? Somente em inovações do ponto de vista formal, ou há tam-
bém variantes de porte sócio-político? Quais são os grupos mais significati-
vos deste movimento? Quais são os grupos jovens que reprocessam hoje
essas influências? Há que se começar pela peça La Negra Ester.
O Gran Circo Teatro foi formado por um grupo de atores reunidos
pelo diretor teatral chileno Andrés Pérez (1951 – 2002)4. O primeiro espe-
táculo dessa companhia, e que lhes deu reconhecimento artístico tanto na-
cional como internacional, foi La Negra Ester, estreado em uma lona de
circo instalada em um bairro marginal da cidade de Santiago, capital do
Chile, em dezembro de 1988. Havia nessa época, no Chile, um clima festi-
vo, a estréia da peça ocorreu, como já foi dito, poucos meses depois do
plebiscito que significou o final da ditadura; e também um pouco antes das
eleições do primeiro presidente depois de restaurada a democracia (1989).
Um aspecto muito surpreendente da peça, significativo para pensar no tea-
3
Dentre eles o dramaturgo chileno Marco Antônio de la Parra (1989), posição que foi asseverada
também por investigadores chilenos como Maria de la Luz Hurtado (2001) e Sérgio Pereira Poza
(1998).
4
O diretor chileno Andrés Pérez faleceu no ano 2002. A direção da companhia Gran Circo Teatro foi
assumida pela sua esposa, a atriz Rosa Ramírez, que foi a protagonista da peça La Negra Ester. A
companhia funciona de forma independente até os dias de hoje.
60
Pulsões cênicas...
tro chileno atual, é que pela primeira vez no Chile, depois de 15 anos de
ditadura, uma montagem não falava de temas diretamente políticos e, de
fato, a peça retratava uma história de amor entre dois seres marginais. Isso,
justo em um momento em que já se podia começar a falar mais abertamente
de política, de temas como a configuração econômica abertamente neoliberal
que começara a tomar o país, a desigualdade social, os direitos humanos,
entre outros temas. E algo mais inusitado ainda: foi justamente uma peça
considerada apolítica que provocou a maior afluência de público que o tea-
tro chileno viu até os dias de hoje.5
O espetáculo La Negra Ester se originou de um pequeno livro de poe-
mas em décimas homônimo, de um poeta popular do Chile, chamado
Roberto Parra. O texto conta a história de seu próprio autor com uma pros-
tituta, da qual provém o nome do pequeno livro e, portanto, da peça. Roberto
Parra narra uma história de amor, de encontros e desencontros, onde ela, a
prostituta Negra Ester, quer casar com ele. Mas ele, sempre confuso, nun-
ca quer assumir esse amor; de fato, vai embora buscar não se sabe o que,
nem ele mesmo sabe. Ele, na sua covardia, abandonando-a, mas voltando
vez por outra para tentar reconquistar esse amor, em uma de suas voltas
descobre que La Negra Ester já não está mais. A Negra Ester tinha morrido
de amor por ele. Este é o fim trágico dessa história de amor popular.
A montagem contou com um intenso tom melodramático.6 Seu univer-
so ficcional estava repleto de personagens populares constituídos por pros-
titutas, cafajestes, gigolôs, chineses, etc. Sua estética aproveitava elemen-
tos circenses, figurino trabalhado com exuberância, uma gestualidade que
intensificava os movimentos corporais dos atores, com deslocamentos cê-
nicos extremamente calculados, acompanhados de maneira muito precisa
por sons, ruídos, onomatopéias. Um trabalho musical, ao vivo, que acom-
5
Segundo Hurtado, o espetáculo, pelo menos até as temporadas que se deram de forma intermitente
até o ano 2000, no país e no estrangeiro, tinha contado com um público aproximado de cinco milhões
de pessoas (2001, p. 158). Leve-se em conta que, como se trata de um teatro popular, era apresentado
geralmente em espaços abertos ou muito amplos, como lonas de circo, onde cabem pelo menos 800
ou 1000 pessoas.
6
Uma investigadora que vem pensando com sistematicidade os caminhos do melodrama na história do
teatro chileno é Maria De La Luz Hurtado. A respeito de alguns dos espetáculos do Gran Circo
Teatro, entre eles La Negra Ester, a pesquisadora vai comentar justamente que possuem uma forte
carga melodramática. Para ela, o melodrama se opõe a um teatro exclusivamente racional e medido.
Frente aos versos renascentistas de um Racine ou um Corneille, ou frente aos já instituídos teatros à
italiana, o melodrama opõe uma carga espetacular “extravagante, hiperbólica, de recursos cênicos
múltiplos e atrativos espaços teatrais para públicos massivos.” (HURTADO, 2001, p. 157) Todos
estas são também características existentes em La Negra Ester.
61
Héctor Briones
7
Um tipo de jazz chileno que se origina no Chile, criado por Roberto Parra, o mesmo autor das
décimas de La Negra Ester. Os músicos da peça aproveitaram esta modalidade crioula de jazz e
fizeram toda a trilha neste estilo.
62
Pulsões cênicas...
8
Existem vários estudos, principalmente europeus, também alguns latino-americanos, que teorizam
sobre essas características na cena contemporânea, entre eles se pode consultar o estudo dos seguintes
autores europeus: Patrice Pavis, Anne Ubersfeld, Hans-Thies Lehmann, Roland Barthes, Marcos de
Marinis, José A. Sánchez, entre outros. Também pode-se consultar os seguintes teóricos teatrais
latino-americanos: Alfonso De Toro, Fernando De Toro, Magaly Muguercia, Fernando Peixoto, Juan
Villegas, Lola Proaño-Gómez, Ramón Griffero, Walter Lima Torres, Renato Cohen, entre outros.
9
Na década de 40, no Chile, surgem os teatros universitários, momento importante de profissionalização
do trabalho teatral nesse país. Entre os mais importantes teatro/escola universitárias se tem o Teatro
Experimental da Universidade do Chile, criado em 1941, e o Teatro de Ensayo da Universidade
Católica, criado em 1943. Eles foram exemplos de renovação da cena chilena, montando diversos
clássicos da literatura universal e também contemporâneos de sua época. Conectaram-se, também,
com as técnicas de atuação de Stanislavski, depois de Brecht, entre outros. Inclusive, geraram um
grupo de dramaturgos que ficou conhecido como ‘a geração dos anos 50’, onde se destacaram
Alejandro Sievekig (realismo costumbrista), Isidora Aguirre (teatro de denúncia social), Jorge Díaz
(teatro do absurdo), Egon Wolff (realismo-psicológico), entre outros.
63
Héctor Briones
pular. Por outro lado, em uma visão positiva desse aspecto apolítico da
peça, existem comentários do próprio diretor Andrés Pérez, quando, por
exemplo, a trupe se apresentou em Glascow, no Reino Unido, em 1989.
Glascow, cidade acostumada naquela época a receber chilenos exilados da
ditadura de Pinochet, e acostumada também a receber grupos teatrais des-
se país cujas peças se caracterizavam por um intenso discurso político
contestatório, ficou perplexa com o espetáculo do Gran Circo Teatro
(BOYLE, 1989, p.16). Sara Hemmig, crítica teatral escocesa, perguntou a
Andrés Pérez sobre o que o tinha levado a escolher “[...] uma peça tão
obviamente apolítica” (BOYLE, 1989, p.18, tradução nossa)10, ao que ele
respondeu falando da necessidade que existia naquele momento no Chile,
depois de uma longa ditadura, de realizar uma história de amor.
Dentro de toda a festa comunitária que significou La Negra Ester para
o Chile do final dos anos 80, do seu caráter circense e cômico, dois fatos
chamam a atenção. O primeiro é que no decorrer da peça, a briga de alguns
gigolôs vai provocar a morte de um travesti e de uma prostituta chamada
Esperança. O segundo, é que a peça vai terminar com o seu protagonista,
Roberto, pedindo um minuto de silêncio pela morte da Negra Ester. Im-
portante notar que esse ato é pedido não só aos personagens da peça, Roberto
o pede a toda a platéia, é ela quem realiza esse silêncio. Desta maneira, tem-
se: que a peça começa com a música do hino nacional, no meio morre uma
prostituta chamada Esperança, e no final, se termina pedindo um minuto de
silêncio por um amor que já não está. Que reflexões se podem realizar a
partir daqui sobre La Negra Ester, considerando também que foi vista como
apolítica, para pensar o teatro chileno contemporâneo? De La Parra, im-
portante dramaturgo chileno, vai comentar na época que:
10
Do texto em espanhol: “[...] uma obra tan obviamente apolítica” (BOYLE, 1989, p.18)
11
Do texto em espanhol: La historia de Roberto Parra es una tragedia: la tragedia de Chile, la
incapacidad de alcanzar lo sublime […] Si el teatro chileno debe hacerse cargo de algo en estos
tiempos de prensa abierta y televisión que abre poco a poco los ojales, es de revisar un duelo
inmensamente pendiente, el de los sueños rotos de Chile […] Andrés [Pérez] nos ha dado nuevas
posibilidades. (DE LA PARRA, 1989, p. 26)
64
Pulsões cênicas...
Como essa peça despertou tantas sensações diferentes? Por que al-
guns a consideraram apolítica? E por que uns viam essa característica de
forma negativa e outros de forma positiva? E como De La Parra pôde
realizar uma leitura do espetáculo que, a notar pelo seu comentário, se
poderia considerar política? O que significou para cada um dos especta-
dores dessa época, por exemplo, no final de um espetáculo intensamente
festivo, esse minuto de silêncio? Um espetáculo circense, cômico, festivo,
que finaliza com um silêncio trágico? Interessa aqui ressaltar não a
linearidade de uma festa que termina triste, como se dissesse que tudo não
passa na realidade de uma tragédia, não, o que interessa e comentar a
simultaneidade desses dois sentimentos no espetáculo, onde se instaurou
a perplexidade, a ambivalência. Esse minuto de silêncio pode ser conside-
rado, então, uma pergunta aberta ao público, onde cada um poderá elabo-
rar sua resposta, seduzidos por todo um sentir comunitário de festa, de
comunhão. Pode-se falar aqui de uma qualidade tátil12 que opera La Negra
Ester, sendo “...atraente para o olhar e sedutor para o ouvido” (BENJA-
MIN, 1993, p.191), o que impediu uma apreensão unilateral do discurso
cênico, permeado de ambigüidades, despertando os mais inusitados senti-
mentos, fantasias e fantasmagorias próprias do espectador ao defrontar-
se com essa obra. Esta abertura à polissemia da cena é algo pelo qual já
vinha lutando, em plena ditadura, a companhia Teatro Fin de Siglo (1984),
dirigida por Ramón Griffero.
Em 1973, Griffero estava estudando sociologia na Universidade do
Chile, momento no qual essa escola foi enclausurada pela ditadura. Ele
opta por um auto-exílio na Europa, onde termina seus estudos de socio-
logia e também estuda teatro e cinema, três áreas de estudos que Griffero
vai aproveitar para produzir um teatro que remexerá o ambiente teatral
chileno nos inícios da década de 80, quando regressa a esse país. Na
Europa, na Bélgica, Griffero escreveu e montou duas peças, Ópera pour
un Naufrage (1980) e Altazor, Equinoxe (1981), esta última foi montada
em um espaço alternativo, uma igreja abandonada. Griffero, talvez in-
fluenciado por um sentimento europeu de desconfiança pós-moderna
para com os sistemas totalitários, fossem estes de esquerda ou de direi-
12
Benjamin aponta essa ‘qualidade tátil’, em seu ensaio (1935/1936), sobre os espetáculos dadaístas,
mas é de utilidade para explicar o que acontece em La Negra Ester. Os dadaístas, segundo Benjamin,
inauguram na cena algo que o teatro do século XX vai considerar fortemente: que este é uma arte
eminentemente cênica, cujo impacto se dirige à sensorialidade do espectador. (BENJAMIN, 1993,
p.164-196)
65
Héctor Briones
ta, vai comentar que, com essas peças, queria dar conta do naufrágio das
utopias. Mas não havia nessas peças uma irrisão paródica (pós-moder-
na, falsamente alegre, celebrando o fim da história e do pensamento13)
frente a esse fim das utopias, senão que a possibilidade de evidenciar de
outra maneira esse aniquilamento utópico, por meio de imagens ambí-
guas, personagens esquizofrênicos, mundos grotescos. Griffero, como
ele mesmo conta, percebeu que na realidade ele estava na Europa reali-
zando um teatro diretamente contra um ditador e que era no Chile onde
seu teatro poderia cumprir a “[...] função de ser efetivamente uma arma
de resistência” (GRIFFERO, 2000b, p. 133, tradução nossa).14 Um te-
atro pós-moderno de resistência? É com esta idéia que Griffero decide
voltar a um Chile, em 1982, quando o país estava imerso em uma de
suas mais violentas ditaduras.
O teatro foi uma das poucas artes que durante a ditadura chilena (1973
– 1988) ergueu, com suas peças, uma resistência dissidente ao poder; e viu-
se obrigado a trabalhar de forma independente frente à negação, por parte
do governo, de qualquer apoio econômico.15 Além disso, a ditadura impôs
aos grupos de teatro, e à arte chilena em geral, elevados impostos (dos
quais o governo anterior16 os tinha isentado), promovendo a cultura so-
mente nos seus aspectos nacionalistas e folclóricos, apoiando qualquer
manifestação artística que fosse condescendente com ele. É neste contexto
que surge Ramón Griffero na cena teatral chilena, depois do seu longo
auto-exílio. Em 1984, junto com um grupo de amigos artistas, Griffero alu-
ga um galpão em uma zona marginal da cidade, em um bairro decadente de
prostitutas e gigolôs, o qual ficou conhecido como El Trolley. Era um galpão
abandonado e que estes artistas transformaram em um centro cultural al-
13
Como aconteceu nas mais ortodoxas manifestações artísticas pós-modernas, desenvolvidas por
países europeus altamente desenvolvidos, numa diminuição ou perda de orientação utópica, que por
desconfiar dos perigos de um sentir político transcendente (que tinha gerado, por exemplo, o fascis-
mo), terminou caindo também numa intranscendência muito próxima a banalidade (MUGUERCIA,
1987, p. 88-100)
14
Tradução do texto original em espanhol: “[...] función de ser efectivamente un arma de resistencia.”
(GRIFFERO, 2000, p.133)
15
Estes foram grupos que na sua maioria já estavam constituídos antes da ditadura e, uma vez que esta
se instaura no poder, rearticulam seu fazer teatral para resistir a Pinochet. Entre os grupos mais
destacados se encontram: El Aleph, ICTUS, Teatro La Comedia, El Riel, La Feria, Teatro Imagen,
entre outros.
16
Isto, no governo socialista de Salvador Allende, que chegou o poder presidencial por voto popular
em 1970. (GONZÁLES, 199?)
66
Pulsões cênicas...
17
No El Trolley também se desenvolveram outros artistas que, como Griffero, indagavam outras
possibilidades de exploração cênica, dentre eles: Vicente Ruiz, Juan Andrés Penha e Octávio Meneses.
Eles seguiram as idéias propostas por Griffero, mas nenhum teve a continuidade de trabalho que este
alcançou, mantendo-se em atividade até hoje.
18
Tradução do texto original em espanhol: “El teatro de ‘izquierda’ había perdido su verdad escénica
por ende la capacidad de asombrar. Era necesario reelaborar una poética política, que volviera a
remecer a los espectadores, en medio de una realidad estremecedora. “ (GRIFFERO, 2000b, p.134)
67
Héctor Briones
19
Tradução do texto em espanhol: “¿Por qué no confiar en la estructura y expresividad teatral
contenedora de las propuestas, y en la capacidad de comprensión (incluso intuitiva) de ellas por el
público?“ (HURTADO, 1987, p. 105)
68
Pulsões cênicas...
subúrbios de Paris dos anos 80, aqui personagens em um estilo realista con-
tavam a história dramática daquele exilado. Também havia um terceiro pla-
no de profundidade, dado pela janela do fundo do apartamento, que dava
para às ruas de Paris. Griffero criou aqui uma temporalidade impossível,
personagens dos anos 40 assistindo a um filme dos anos 80, filme que não
entendiam. Estava, na realidade, sugerindo que o Chile assistia a um filme
que lhe era dolorosamente incompreensível.
Com sua trilogia, e Cinema Utoppia é exemplo disto, a companhia de
Teatro Fin de Siglo radiografou os pesadelos e sonhos ocultos da população
chilena, apontando um presente em que “[...] os sonhos da utopia tinham
sido estilhaçados. As obras não podiam se erguer [portanto] como defenso-
ras de um futuro sob este ou outro regime.” (GRIFFERO, 1990, tradução
nossa).20 As peças se mostram como um jogo de perspectivas, como um
quadro cubista acerca da realidade chilena, elaborando uma visão crítica
em constante tensão com a oficial. Nelas Griffero “[…] potencializa os es-
paços visuais, sugere atmosferas de pesadelo e terror, e apela ao espectador
a outras cordas de sua sensibilidade, se libertando da razão como único
fator para compreender um espetáculo” (PIÑA, 1998, p. 218).21 Griffero
montaria outras peças no período ditatorial chileno, antes e depois da trilogia,
como foram Historias de Un Hombre com su Tortuga (1982) e Santiago-
Bauhaus (1987).
Uma vez chegada a democracia no Chile (1988), Griffero e outros
artistas muito ativos na época da repressão passaram por um recesso criati-
vo, não tinham mais um inimigo claro contra quem resistir. Griffero só
montaria sua primeira peça, em tempos democráticos, em 1994 e esta foi
Extasis, o La Senda de la Santidad. Dos grupos de teatro de esquerda,22 um
dos poucos que se mantiveram, tentando modificar seu fazer cênico, ade-
quando suas temáticas ao tempo democrático, foi o ICTUS. Juan Radrigán,
importante dramaturgo durante a ditadura pelas suas peças de contestação
política, e que também passou alguns anos sem escrever, o faria em 1996
20
Tradução do texto original em espanhol: “[…] donde los sueños de la utopía habían sido rotos. Las
obras no podían erigirse en defensor de un futuro bajo tal o cual régimen.” (GRIFFERO, 1990)
21
Tradução do texto original em espanhol: “[…] potencia los espacios visuales, sugiere atmósferas de
pesadilla y terror, y apela en el espectador a otras cuerdas de su sensibilidad, liberándose de la razón
como único factor para comprender un espectáculo.” (PIÑA, 1998, p. 218)
22
Os pricipais grupos teatrais reconhecidos como de esquerda seriam: ICTUS, La Feria, El Riel, entre
outros.
69
Héctor Briones
23
A companhia já não possui o mesmo elenco. Griffero mantém o nome como uma marca, porém não
constitui um grupo estável de atores, estes mudam a cada montagem nova.
70
Pulsões cênicas...
24
Tradução do texto original em espanhol: “En los ‘90 se hace público el teatro “artístico clandestino”
de los ’80 y es el gran referente para el movimiento artístico creacional hasta ahora.” (GRIFFERO,
2002)
25
Tradução do texto original em espanhol: “cultivar el impresionismo de la imagen sensitiva sin rigor
conceptual […] la emoción como única prueba de verdad y autenticidad” (HURTADO, 1990, p. 111)
71
Héctor Briones
26
Na companhia francesa Andrés Pérez teve uma destacada participação como ator, chegando até
mesmo a protagonizar uma peça, como foi a L’Indiade ou a India de Nossos Sonhos, no papel de
Gandhi. Peça estreada em 1987.
27
Ver nota n° 4.
72
Pulsões cênicas...
tica na Academia de Mimos del Teatro Petropol (1975) dirigida, pelo mímico
chileno Enrique Noisvander, depois estudaria na Europa, na Escola interna-
cional de mimodrama de Marcel Marceau e também mímica corporal dramá-
tica com Etienne Decroux. Outra influência no seu teatro é, como em Andrés
Pérez, o Théâtre du Soleil, onde participou como ator.
Celedón chama os espetáculos de sua companhia de mimodramas, nos
quais não utiliza palavras, explorando neles intensamente a potencialidade
visual e sonora da cena. Isto, por meio da gestualidade dos atores, assim
como da relação espacial entre eles, onde existe um diálogo sinestésico pre-
ciso entre música e gestualidade, entre música e movimentos corporais
grupais (ao modo de um coro). A trilha musical (sempre ao vivo) é de
capital importância, responsável pelos climas emotivos que vão se criando
nas suas peças, passando de um momento a outro, de uma musicalidade
rock-punk a um pequeno e delicado som contínuo, o que provoca mudan-
ças rítmicas e contrastantes. Também amplifica a densidade e violência de
seus espetáculos ao utilizar elementos de sonoplastia, tais como: ruídos,
expressões guturais, gritos e lamentos. São espetáculos de uma impactante
beleza visual, cujas ressonâncias são decididamente políticas, tornando-se
uma reflexão estética sobre os excluídos da história, dos outsiders, abordan-
do e propondo pontos de vista sobre os desastres provocados pelas lutas de
poderes na sociedade ocidental dos séculos XX e XXI.
A primeira peça do Teatro del Silencio foi Transfusión (1989), apresen-
tadas nas ruas de Santiago (capital do Chile), cuja temática foi a das gran-
des migrações que povoaram o continente latino-americano. Transfusión se
refere às diversas transfusões de sangue que o povo deste continente tem
vivenciado na sua história a partir da colônia. Neste espetáculo, realizado
na rua, por meio de vários carrinhos de hospital, doentes mentais iam tendo
sonhos que narravam episódios históricos, utilizando gestos e movimentos
corporais. Depois montaria Ocho horas (1991), Malasangre (1991) e Taca-
Taca mon amour (1993), peças que lhe renderam o reconhecimento inter-
nacional, ganhando, inclusive, uma residência na França, onde atualmente
trabalha com seu grupo. Entre essas peças se destaca Malasangre, cujo per-
sonagem principal foi o poeta maldito Arthur Rimbaud (1854 – 1891).
Segundo Celedón, neste espetáculo a poesia desse autor foi realizada com o
silêncio (GUERRERO, 2007, p. 181). Taca-Taca mon amour aconteceu
em uma gigantesca instalação cenográfica que representava uma mesa de
totó, onde o mundo era uma esfera metálica (referência a Leonardo Da
Vinci) manipulada por diversos personagens. Estes eram os grandes
73
Héctor Briones
74
Pulsões cênicas...
diálogos surdos entre esses seres cênicos, criados a partir de relatos autobio-
gráficos, provenientes de livros, artigos de jornais, observações in situ, entre
outros. Castro prioriza, sobretudo, o trabalho do ator e a sua emoção, em
uma gestualidade despojada, sem configurar o personagem e o que o ator
mostra em cena é assumidamente a sua própria emoção em ressonância com
aqueles testemunhos reais. Seu teatro é de corte testemunhal, o que se mos-
tra em cena são símbolos do real, processados pelo registro intuitivo e afetivo
dos atores, o que influencia a encenação, a configuração do espaço, a música
e a direção geral dos espetáculos de Castro.
La Manzana de Adán, por exemplo, parte do livro homônimo da jorna-
lista Claudia Donoso e da fotógrafa Paz Errázuriz, que retrata a vida de tra-
vestis chilenos marginais, abordando algo inusitado no Chile até aquele mo-
mento: uma marginalidade erótica. Castro opera na atuação um travestismo
das emoções, que apontam os desejos, os sonhos quebrados, as discrimina-
ções sofridas por essa parte esquecida do corpo social da nação, sem cair na
caricatura paródica, lugar comum ao tratar este tema. Historia de La Sangre
parte de jornais da crônica vermelha, falando de seres excluídos por assassi-
natos, por crimes passionais, focando principalmente no testemunho de Rosa
Faúndez, vendedora de jornais que em 1923, esquartejou o seu marido. São
seis histórias de sangue que se entrecruzam, produzindo um texto também
esquartejado, pulverizado na boca dos atores. A encenação foi elaborada a
partir de uma estética Kitsh, de cores fortes, em contradição irônica àqueles
seres em plena desolação, sentimento dado pelo trabalho emocional intenso e
violento dos atores. Los Días Tuertos, em uma encenação que opera com uma
estética próxima ao luxo televisivo e dos programas estelares, aborda seres de
diversos âmbitos da marginalidade: vagabundos, mágicos de rua, lutadores
clandestinos (luta livre), anciãos, guardas de cemitérios, entre outros. São
fragmentos de textos, cuja dramaturgia e encenação se interessam mais pelos
seus alcances poéticos do que pela sua veracidade testemunhal. Essa caracte-
rística vale para toda esta trilogia com a qual Teatro La Memória reflete sobre
estes desconhecidos do país.
Outras peças da companhia de Alfredo Castro são: Hombres Oscuros/
Pies de Mármol (1997), Patas de Perro (2000), Las Sirvientas, de Jean Genet
(2002), Mano de Obra (2004), Casa de Bonecas, de Ibsen (2006), entre
outras. Dentro destas últimas peças vale destacar Mano de Obra, monta-
gem realizada a partir do livro homônimo da escritora chilena Diamela Eltit,
onde se retrata a vida de funcionários de um hipermercado que moram
juntos. Eles vão sendo despedidos e substituídos aos poucos em seu traba-
75
Héctor Briones
lho, sem nada para fazer que remedie essa situação. A cenografia desse
espetáculo consistiu no interior de uma casa de classe média, em um estilo
não-realista ao ser elaborada em diferentes níveis de altura, uma cozinha
dentro de um buraco feito no chão, uma sala de estar no nível dos especta-
dores e no fundo do palco, e em um nível sobre os espectadores estava a
entrada da casa: um porta de meio porte, onde todos os personagens se
curvavam para poder passar por ela. Essas diferentes perspectivas, ângulos
de observação estranhos ou incômodos para o espectador, falavam também
da convivência completamente anormal e violenta entre esses funcionários.
Mano de Obra retrata a vida em um sistema de trabalho cujas relações se
estabelecem a partir do desamparo, da incomunicação e da violência, sinto-
mas de um fracasso político que corroeu a representatividade social desses
trabalhadores. É a evidência da ferocidade de um sistema de trabalho (onde
o hipermercado é utilizado de forma metonímica) que permite entrever,
diante de um problema laboral, problemáticas existenciais e afetivas com-
plexas que são os fragmentos de testemunhos perdidos de uma nação. Esta
é a memória com a qual opera poeticamente esta companhia.
Outro grupo teatral significativo, que tem contribuído com toda esta
transformação estética do teatro chileno que aqui vem se descrevendo, e sen-
do também um dos mais joviais grupos desta marejada poética iniciada na
década de 80, é o grupo La Troppa. Eles iniciaram sua atividade artística em
1987, quando se chamavam Los Que No Están Muertos, montando espetácu-
los como El Santo Patrono (1987), Salmón-Vudú (1988) e El Rap del Quijote
(1989). Nestas peças, o grupo começa a experimentar um teatro que parte de
textos não dramatúrgicos, com uma forte influência do cartoon, do comics e
do cinema, o que desenvolveriam em suas peças cada vez com maior refina-
mento. Foi tal o impulso e necessidade criativa que vivenciou este grupo que,
com pouco tempo de formado e criticando a insuficiência que significou para
eles o aprendizado na escola de teatro, se declararam “sem mestres”
(HURTADO, 1999, p. 9). Eles partem com sua proposta poética de se re-
pensar todos os âmbitos do ofício teatral, operando um sistema de criação
coletiva, mas não em seu sentido usual, em que, por meio de improvisações
feitas por atores se construía um espetáculo. Os três artistas deste grupo,
Laura Pizarro, Jaime Lorca e Juan Carlos Zagal, improvisam, indagam, não
só como atores, mas em todos os âmbitos da prática teatral (dramaturgia,
direção, cenário, trilha musical) levando os seus papéis enquanto artistas e a
sua variante da criação coletiva, ao extremo de seu potencial cênico, em uma
revolta inventiva que impactou o teatro do Chile.
76
Pulsões cênicas...
28
Hoje seus integrantes formaram dois grupos separados: Jaime Lorca funda a companhia Viaje
Inmóvil, contando até a data com dois espetáculos: Gulliver (2006) e El Último Heredero (2008);
Laura Pizarro junto a Juan Carlos Zagal fundam a companhia Teatro-Cinema, sendo sua primeira
peça Sin Sangre (2007).
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Héctor Briones
78
Pulsões cênicas...
79
Héctor Briones
29
Elas ganharam o prêmio Altazor de teatro, um dos prêmios nacionais mais importantes do Chile,
dado pelos próprios artistas, no ano de 2003.
80
Pulsões cênicas...
81
Héctor Briones
BIBLIOGRAFIA
BRIONES, Héctor. Para Não Falar Como Eles Falam, Para Não Ver Como Eles
Vêem: A poética do encenador chileno Ramón Griffero. Dissertação (Mestrado),
PPGAC-UFBA, Salvador, 2006.
BOYLE, Catherine M. La Negra Ester, Cuerpo y Alma em Glascow (Escocia). Revista
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CARVAJAL, Fernanda e VAN DIEST, Camila. Nomadismos y Ensamblajes: Cuatro
compañias de teatro y sus recorridos por el campo teatral. Disponível em: <http://
www.teatrolamaria.cl/escritos/nomadismos.html>; Acesso em: 02 out 2008.
DE LA PARRA, Marco A. Los Secretos de La Negra Ester. Revista Apuntes de Teatro,
Santiago-Chile, Ed. PUC de Chile, 1989, n° 98. p. 23 – 26.
DE LA PARRA, Marco A. A Propósito de La Negra Ester. Comentário no Programa
da peça em 1989.
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textos. Revista Apuntes de Teatro, Santiago – Chile, Ed. Pontificia Universidad Católi-
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GRIFFERO, RAMÓN. Movimientos Autonomos Y Post Modernidad. [1990] Na se-
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GRIFFERO, Ramón. La Esquizofrenia de la Verdad Escénica. Revista Apuntes de
Teatro, Santiago-Chile, Ed. PUC de Chile, 1994, n° 107, p. 88 - 90.
GUERRERO, Eduardo. Criação Teatral no Chile nos últimos Vinte Anos. Revista
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HURTADO, María de la Luz (edição e coordenação). En Torno ao Teatro Chileno
Atual. Revista Apuntes de Teatro, Santiago de Chile, Ed. PUC, Primavera de 1987, nº
95, p. 87 - 105.
82
Pulsões cênicas...
83
BREVE REFLEXÃO SOBRE O
TEATRO DE GRUPO NO BRASIL
Angela Reis
85
Angela Reis
86
Breve reflexão...
não há autor nem diretor. [...] O grupo realizou, entre 1972 e 1980, sete
espetáculos em criação coletiva sem que o texto, à exceção dos dois últimos,
jamais fosse escrito: em cada apresentação, o roteiro de ações criado a
partir das improvisações permitia que a palavra se mantivesse permeável ao
imprevisto. (TROTTA, 2006, p. 102)
87
Angela Reis
88
Breve reflexão...
89
Angela Reis
BIBLIOGRAFIA
90
FRONTEIRAS DE AREIA:
Perspectivas do acontecer cênico costarriquenho contemporâneo
Leonardo Sebiani
Fronteiras de areia
91
Leonardo Sebiani
1
Original em espanhol: Un acontecimiento importante para el desarrollo del teatro costarricense sin
duda lo constituye la llegada en 1967 de grupo de teatro de los 21, de Santa Fé, Argentina, conforma-
do por Carlos, Alfredo y Gladis Catania, vinieron a ofrecer talleres […] en 1968 fundaron su escuela
de teatro. (GUILLEN, 2006, p. 76)
2
Original em espanhol: En 1968, después de realizar estudios de danza en México, Francia, Alemania
y los Estados Unidos, e de haber desarrollado una labor como bailarina, Mireya Barboza regresó al
país para incorporarse al incipiente ambiente cultural. (ÁVILA, 2006, p. 97)
92
Fronteiras de areia...
3
Original em espanhol: Los años 70, se han denominado como la época de oro del teatro costarricense,
período que se extiende hasta inicio de los años 80. Con añoranza se recuerdan muchos espectáculos
de la Cía. Nacional de Teatro, algunas bajo la dirección de figuras emblemáticas como Atahualpa del
Cioppo. (GUILLEN, 2007, p. 40)
93
Leonardo Sebiani
94
Fronteiras de areia...
Diversidade Cênica
95
Leonardo Sebiani
Porém, no ano de 1993, Anna Kisselgoff do New York Times esboçou uma
definição: “inovadores miniaturistas teatrais”. No ano de 1996, Irene Sieben
no Tanz Actuel/ Ballet Internacional escreveu que são criadores de “algo
desconhecido e até agora indescritível no reino da mística arlequinesca”.
(DIQUIS TIQUIS, 2008, tradução nossa)4.
4
Original em espanhol: Sin embargo, en 1993 Anna Kisselgoff del New York Times esbozó una
definición: “innovadores miniaturistas teatrales.” En 1996 Irene Sieben en Tanz Actuel/ Ballet Inter-
nacional escribió que son creadores de “algo desconocido y hasta ahora indescriptible en el reino de
mística arlequinesca.” (DIQUIS TIQUIS, 2008)
96
Fronteiras de areia...
97
Leonardo Sebiani
6
Nascido em Santiago de Chile, Patricio Bunster (1923-2006), iniciou sua carreira na dança com os
mestres Ernst Uthoff, Lola Botka e Rudolph Pescht, fundadores da escola de dança na Universidad
de Chile. No ano de 1951 tomou parte no Ballet Jooss e atuou como solista da companhia nas suas
turnês. No ano de 1954, regressou a sua pátria para trabalhar com o Ballet Nacional. Durante vários
anos, desempenhou um papel de professor das escolas de Dança e de Teatro da Universidad de Chile,
participando ativamente nos movimentos da reforma desta instituição educativa. Depois de seu exílio
na ex-República Democrática da Alemanha, regressou novamente a sua pátria. No ano de 1984 foi
nomeado para o Prêmio Nacional de Arte e, no ano de 2004, recebeu o Prêmio Altazor como melhor
ator de cinema chileno pelo filme Subterra.
98
Fronteiras de areia...
7
Original em espanhol: Dentro de los componentes que conforman el lenguaje coreográfico, está la
temática; y en la obra de Cristina Gigirey ha sido interesante su manejo. Ella ha dedicado espacio para
la reflexión de varios temas que van desde los autobiográficos hasta los de carácter general. Ha
trabajado con obras de denuncia, alternándolas con creaciones líricas. (ÁVILA, 1999, p. 96)
99
Leonardo Sebiani
100
Fronteiras de areia...
Cremos, hoje mais que nunca, na importância de ter uma posição ideológico-
estética nas produções interdisciplinares que enfrentarmos, posição que
reconhece sua função social no planteamento de problemas nacionais, como
espaço de debate, na revelação de novas perspectivas ante os problemas que
sofre a sociedade costarriquenha. (TEATRO UBU, 2008)8
8
Original em espanhol: Creemos, hoy más que nunca, en la importancia de tener una posición
ideológico-estética en las producciones interdisciplinarias que enfrentamos, posición que reconoce su
función social en el planteamiento de problemas nacionales, como espacio de debate, en la develación
de nuevas perspectivas ante los problemas que sufre la sociedad costarricense. (TEATRO UBU,
2008)
101
Leonardo Sebiani
102
Fronteiras de areia...
Acontecer Contemporâneo
103
Leonardo Sebiani
balham sob a direção de intérpretes com uma grande experiência. Mas tam-
bém os mais jovens têm formado agrupações para poder pesquisar e produ-
zir espetáculos de maneira independente. Alguns exemplos são: Danzasí,
Arrendajos, Cuatro Pelos, Las Hijas de Otro, Los que somos, Los Tres Tris-
tes Tigres, Desterrados Danza-Teatro, Las Tres Marías, Tomahawktheatre, Ex-
Ánima e Danza Grafitti.
Durante a última década, com vários esforços e projetos, tem-se unido
a classe artística, criando assim uma cena nacional mais democrática e uni-
da. Um deles foi o projeto do Carromato, patrocinado pela Agência de
Cooperação Sueca, que gerou uma série de capacitações no âmbito teatral
centro-americano (Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua, Costa
Rica e Panamá). Esse projeto gerou uma comunicação maior com os ir-
mãos de teatro centro-americanos – na dança esta relação já tinha sido feita
através da Red Centroamericana de Danza – mas como produto do
Carromato, cria-se nacionalmente, a Red Costarricense de las Artes Escénicas.
Nasce, no ano de 2006, a Red Costarricense de las Artes Escénicas que reúne
várias organizações que aglutinam distintos setores das artes cênicas:
Anatradanza (Associação Nacional de Trabalhadores da Dança), Agitep
(Associação Nacional de Grupos Independentes de Teatro Profissional),
Educarte (Teatro Infantil) e o ITI-UNESCO (Centro Costarriquenho do
Instituto do Teatro), assim como também inicialmente a UTI (União de
Teatros Independentes). Esta rede nasceu com o fim de unir esforços para
construir um espaço plural, abrangente e democrático que concentre a maior
parte dos artistas cênicos do país, que repercute na divulgação, promoção,
legislação e capacitação do setor artístico e nas políticas culturais, legislação
e articulação do setor cênico. (GUILLEN, 2007, p. 53, tradução nossa)9
Essas políticas de união dos profissionais das artes cênicas fez com
que, no ano de 2007, a Assembléia Legislativa aprovasse o Estatuto do
Artista, que eleva o trabalho artístico à categoria profissional dentro do
Serviço Civil, gerando uma reivindicação do profissional das artes,
potencializando e dignificando o ofício.
9
Original em espanhol: Nace en 2006, la Red Costarricense de las Artes Escénicas que reúne a varias
organizaciones que aglutinan distintos sectores de las artes escénicas: Anatradanza (Asociación Naci-
onal de Trabajadores de la Danza), Agitep (Asociación Nacional de Grupos Independientes de Teatro
Profesional), Educarte (Teatro Infantil) y el ITI-UNESCO (Centro Costarricense del Instituto del
Teatro) e inicialmente la UTI (Unión de Teatros Independientes). Esta Red nació con el fin de unir
esfuerzos para construir un espacio plural, incluyente y democrático que agrupe a mayor parte de los
artistas escénicos del país, que incida en la divulgación, promoción, legislación y capacitación del
sector artístico y en políticas culturales, legislación y articulación del sector escénico. (GUILLEN,
2007,p. 53)
104
Fronteiras de areia...
Sem Fronteiras
BIBLIOGRAFIA
105
Leonardo Sebiani
SITES
106
OS REFLEXOS DE UM PRISMA
Considerações sobre o fazer teatral contemporâneo no Equador
1
Latino-americanização do teatro Latino-Americano. (tradução nossa)
107
Consuelo Maldonado
2
Cabe destacar o trabalho realizado pela instituição cubana Casa de las Américas, fundada em 1959.
3
[...] son muy importantes los avances realizados dentro de la “Historia de las Ideas” por filósofos
como Leopoldo Zea, Arturo Ardao, Arturo Andrés Roig, Abelardo Villegas, Augusto Salazar Bondi
y tantos otros que en América Latina vienen laborando en torno a un discurso filosófico latinoamericano
que exprese la especificidad del “ser” latinoamericano. (RODRÍGUEZ, 1990, p. 191)
4
Termo usado em espanhol para denominar as pessoas que fazem teatro.
5
Dramaturga, diretora de teatro e fundadora do grupo La Candelária (Colômbia).
6
[…]el trabajo de grupo (de los años 70) permitió construir un nosotros, pero al hablar de teatro
actual necesitamos hablar de una matriz mayor. (ARIZA, 2001, p. 32)
7
¿Qué nos puede contener a todos? ¿Dónde está la cultura que nos puede contener y que nos vuelve
diversos? (ARIZA, 2001, p. 34)
108
Os reflexos de...
8
Fundador e diretor do grupo La Candelária (1966), é uma referência para o Teatro Moderno da
América Latina, contribuiu para a difusão da criação coletiva como método de pesquisa de uma
dramaturgia nacional, crítica e popular.
9
[...] el punto de partida se deriva de una actitud que el grupo, como célula viva, tiene en relación con
el universo exterior en el que se inserta. (GARCIA apud GARCIA E., 2001, p.58)
10
Mestre em Teatro pela Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Atriz/pesquisadora do
Grupo Porto Cênico da cidade Itajaí SC, docente da Universidade do Vale do Itajaí, membro da
Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas ABRACE.
11
cf. p. 2
12
Fundador, dramaturgo e diretor do Teatro Experimental de Cali, Colômbia.
109
Consuelo Maldonado
ria do fazer teatral que permita os erros, os fracassos e as tentativas que todo
novo modo de produzir sentido deve necessariamente afrontar para expressar
uma nova época, uma nova vida.”13 (BUENAVENTURA, 1985, p.1, tradução
nossa.) Se pensarmos na consideração de Oliveira, podemos ampliar esta refle-
xão para o âmbito de teatro de grupo. Assim, a pesquisa do grupo, que se
depara com descobertas, mas também com fracassos e erros, está inserida num
território de risco, dúvidas, crise e contradições que suscitam novos modos de
produzir sentido para expressar uma nova época, uma nova vida.
Estamos em época de mudanças e profundas controvérsias. Beatria
Risk, no seu estudo sobre pós-modernismo e teatro na América Latina,
estabelece a impossibilidade de realizar a análise de qualquer sociedade
dada, sem levar em consideração o elemento de mobilidade “[...] do seu
estado perene de evolução que se define em termos de processo e não como
estrutura fixa ou estável.”14 (RISK, 2001, p. 26, tradução nossa.) Territóri-
os sinuosos de risco e dúvida, adaptações inevitáveis, cultura para conter e
não para segregar, são expressões que advertem novos olhares diante do
trabalho de teatro contemporâneo na América Latina.
Diante do reflexo desse prisma que se descompõe em milhares de fra-
ções, por onde podemos começar? Na necessidade de sintetizar costurei
um denominador comum, mas não único dentro do teatro na América La-
tina. Usarei como coluna vertebral o teatro de grupo dos anos 90 no Equa-
dor, já que muitos deles vivenciaram as mudanças sociais, políticas e econô-
micas e como células vivas reformularam seus questionamentos gerando
novas formas de fazer. Intuo que a dita análise permitirá criar
horizontalidades para outras formas de criação do teatro equatoriano con-
temporâneo.
É necessário esclarecer que meu olhar está guiado pelas inquietações
artísticas, vivências grupais e percepções singulares que, definitivamente,
nortearam este artigo. Desde minha prática como atriz, meu interesse em
refletir sobre as formas que o ator encontra para se articular dentro do
grupo e a partir da minha experiência, que acredito se constituir em um
saber prático, falo, ou melhor, tentarei explicar o que pode caracterizar um
teatro constituído por uma multiplicidade de poéticas e estéticas.
13
[…] revolución en la materia del quehacer teatral que permita los errores, los fracasos y los tanteos
que todo nuevo modo de producir sentido debe necesariamente afrontar para expresar una nueva
época, una nueva vida. (BUENAVENTURA, 1985, p. 1)
14
[…] de su estado perenne de evolución que se define en términos de proceso y no como estructura
fija o estable. (RISK, 2001, p. 26)
110
Os reflexos de...
Imagens do Prisma
15
[…] espectáculos que permitan la creación de un espacio de reflexión desde la práctica teatral, con
temáticas vinculadas a la exploración en lo que se considera como el “ser ecuatoriano”. (CALLEJÓN
DEL AGUA, 2008)
16
[…] de crear un espacio experimental de investigación y práctica escénica donde desarrollar una
actividad artístico – social […] integró variadas técnicas teatrales y artísticas […] para ir encontrando
una auténtica forma de crear ilusiones, de contar historias de nuestro pueblo […](ESPADA DE
MADERA, 2008)
17
Coletivo que nasce 1979. Em 1989 cria o Laboratório Teatral Permanente e em 1998 inaugura a
Casa Malayerba onde o grupo desenvolve seus trabalhos artísticos e pedagógicos. Em 2001 nasce a
Revista Hoja de Teatro, um lugar de reflexão sobre o fazer teatro no Equador, que conta com 12
edições.
111
Consuelo Maldonado
O teatro é para nós a procura de uma linguagem que expresse a vida, o ser
humano e seus conflitos, para enfrentá-los, para tentar compreendê-los e
assumir uma posição crítica, ativa e construtiva diante dos processos sócio-
políticos de nossa realidade. (GRUPO MALAYERBA, 2007, p.1, tradução
nossa) 18
Espelhos: O Laboratório
112
Os reflexos de...
20
[…] nosotros creemos en el [estilo] medieval, tener un aprendiz que se vincule con el maestro y
aprenda el oficio […] lo que nos preocupa es ser independientes y autosuficientes para irte desligando
del mecanismo exterior que te controla y te condiciona. (MONCAYO apud HOJA DE TEATRO,
2004, p.21)
21
O coletivo nasce em 1991, dirigido por Patricio Vallejo. Se define como um espaço de experimen-
tação da Arte do Ator. Mantém um laboratório de formação em Quito desde 1996.
22
El Laboratorio de Experimentación Teatral es un espacio de investigación en los ámbitos del arte del
actor, la dramaturgia del actor, la puesta en escena, la teoría y la historia del teatro, y cualquier
inquietud individual o grupal referida al mundo del teatro. (Contraelviento, 2006, p.8)
23
El laboratorio es un espacio y un tiempo para practicar la libertad, la pregunta; para buscar una ética
y ejercerla; para devolvernos el sentido de ser individuos dentro del colectivo, condiciones que
creemos necesarias para sustentar una técnica teatral. (GRUPO MALAYERBA, 2004)
113
Consuelo Maldonado
114
Os reflexos de...
26
Palavra usada em espanhol para fazer referência a mise-en-scène.
115
Consuelo Maldonado
27
A partir dos recentes avanços nas pesquisas das ciências cognitivas, novas perspectivas aparecem
para refletir sobre o funcionamento do corpo-mente. Por um lado, sabemos agora que a mente não
está separada do corpo nem funciona como um piloto. Isso implica em pensar que o funcionamento
do corpo não é uma resposta à mente, ou seja, não corresponde a uma modus operandi linear. Nosso
corpo não funciona como um conjunto de causas-efeitos e se revela como uma organização muito
mais complexa.
28
Estreada em Quito, o dia 13 de abril de 2006. Dirigida e escrita por Patricio Vallejo.
29
Da tradição indígena, mulher que cuida da saúde da sua comunidade a partir de medicina natural e
saber ancestral.
30
Gênero musical muito popular na América Latina.
31
La obra es un diálogo interior. Un tránsito por lo vivido. El recuerdo de una noche o muchas noches
que son la misma. Eva es hija de las sucesivas debacles que van hundiendo a una sociedad que pierde
la esperanza. Espectadora de primera fila de la diáspora en la que se diluye un país, una nación, un
pueblo que no termina de nacer cuando pareciera que prefiere ya morir. (CONTRAELVIENTO,
2006, p. 6)
116
Os reflexos de...
32
Le asesinaron los abuelos y los hijos, le arrebataron la memoria y le frivolizaron los sueños. Anclada
en un presente reducido a un valor en dinero, es una sobreviviente. (CONTRAELVIENTO, 2006,
p.6)
33
[…] un tanto distorsionada pues ahora se trata de espejos cóncavos y convexos […] En un mundo
dominado por las apariencias, el espejo a vedes produce imágenes que no fueron reflejadas; copias sin
original. (RISK, 2001, p.39)
34
El origen de la ironía es el hecho de que toda actualidad conlleva en sí misma la semilla de su propia
disolución. (KIERKEGAARD apud RISK, 2001, p.41)
117
Consuelo Maldonado
[...] Só sei que um bom dia acordei e as coisas não tinham nome, era um
mundo vazio de rótulos e pintado com uma cor só. [...] Agora sonharei o
último sonho, o sonho remoto, e que estranhamente sentirei que avanço,
para trás de forma estranha; os sonhos são o raio infinito da memória.36
(VARGAS, 1992, p.15, tradução nossa)
Essa ambigüidade, que segundo Risk, cria uma “distância crítica auto-
reflexiva própria da arte da nossa época, é, entre outras coisas, o produto
da ironia [...]”37 (2001, p. 40, tradução nossa). Ironia e ambigüidade que
não pretende se tornar superficial ou incursionar em um subjetivismo abs-
trato, mas pelo contrário, propõe um território para a memória e novas
utopias. No início do texto, Vargas salienta: “Jardin de Pulpos é uma obra
contra o esquecimento, que aqueles que desapareceram imaginando um
mundo mais justo não sejam reduzidos à crônica policial de uma época,
para que vivam no jardim das utopias, felizes para sempre.”38 (VARGAS,
1992, p.1, tradução nossa)
As temáticas que Vargas aborda nos seus textos reconstroem univer-
sos de ausência, olvido e memória. Por um lado, usando uma ironia desen-
volve uma visão crítica do que significa ser cidadão, pertencer a uma nação,
fazer parte de uma sociedade. Por outro, surge uma possibilidade de cons-
truir um continente que nos abarque, uma experiência que nos narre para
35
Dirigida e escrita por Arístides Vargas. Estreada em Quito, 1992.
36
[…] Sólo sé que un buen día desperté y las cosas no tenían nombre, era un mundo vacío de rótulos
y pintado de un solo color. […] Ahora he de soñar el último sueño, el sueño remoto, y extrañamente
sentir que avanzo, hacia atrás de manera extraña; los sueños son el rayo infinito de la memoria.
(VARGAS, 1992, p.15)
37
[…] distancia crítica autorreflexiva propia del arte de nuestra época, es entre otras cosas el producto
de la ironía […]. (RISK, 2001, p.40)
38
Jardín de Pulpos es una obra contra el olvido, que aquellos que desaparecieron imaginando un
mundo más justo no sean reducidos a la crónica policial de una época, para que vivan en el jardín de
las utopías, felices para siempre.
118
Os reflexos de...
BIBLIOGRAFIA
119
Consuelo Maldonado
120
O GRUPO DE TEATRO NO PERU:
A transformação dessa prática cênica nos últimos trinta anos
Manuel Guerrero
Sala de ensaios do espaço Xisto Bahia, Salvador. Como uma das ativi-
dades programadas dentro do Festival Latino-Americano de Teatro da Bahia,
em setembro de 2008, aconteceu um debate do qual participaram atores,
diretores e pesquisadores de teatro de diversos países da América Ibérica.
1
En cuanto a mis queridas Micaelas: Uds. en su tiempo y yo en el mío. Tiempo de mierda éste, pero
es el único que tengo y hay que vivirlo (ARRAU, 2006, p. 382) Frase extraída da peça Micaelas.
2
Para ser artista hay que tener ganas de joder (DE MARIA, 2008)
121
Manuel Guerrero
3
Voz em língua quéchua – idioma andino pré-Inca- que significa Estou lembrando ou estou pensando.
4
“el teatro nos lo podemos inventar [...] el proyecto de teatralidad puede ser inventado por cualquier
grupo”.
122
O grupo de teatro...
123
Manuel Guerrero
7
Palavra quéchua que significa Vale dos mortos. Foi a capital do império Wari, anterior aos Incas.No
século XVI surgira aí o primeiro movimento armado contra a conquista espanhola, o Taki Onkoi.
Nessa cidade também ficaria selada a independência das colônias espanholas na América do Sul. Em
Ayacucho formou-se, coincidentemente, o movimento terrorista Sendero Luminoso.
8
Tarefa, encargo.
124
O grupo de teatro...
9
Sigla que serve para denominar o conjunto das Forças Armadas do Peru: Exército, Marinha e
Aviação.
125
Manuel Guerrero
126
O grupo de teatro...
13
Apelido dado aos seguidores de Milton Friedman, da Escola de Economia da Universidade de
Chicago.
127
Manuel Guerrero
14
El sistema de producción ha cambiado y el hambre es mayor. En los 60 y 70 un grupo no tenía
mucho que ganar en dinero. Iba a ser pobre de todas maneras, pero ser pobre en esa época no era tan
letal como ser pobre actualmente. Entonces se trabajaba por ideales y por el placer de verse juntos en
escena, pensando en un futuro común. Hoy, cuando un grupo de actores pone una obra, lo único que
los reúne es el afán de montarla: se renuncia a la idea de formar un grupo, una familia, porque para
asumir un compromiso así hay que querer algo indefinible y abstracto que no te dará de comer.
Renunciando a la “familia“ se renuncia también a la posibilidad de dejar una “descendencia”, a la
capacidad de formar, de “crear” a otros, a los que consideras familia. La economía actual diluye a la
familia al grito de “sálvese quien pueda”. (DE MARIA, 1999, p. 1)
15
Instituição de ensino superior fundada em 1962 para satisfazer as necessidades das classes dominan-
tes do Peru.
16
Transformação da palavra inglesa clown que empregará a diretora para denominar os seus atores.
128
O grupo de teatro...
129
Manuel Guerrero
130
O grupo de teatro...
23
Conflito militar entre os movimentos subversivos e as forças militares do Estado. O assalto e
incêndio à delegacia de polícia do povo de Chucchis, Ayacucho, na serra central do Peru, em maio de
1980, é considerado o início deste conflito.
24
Bairro com muita população na zona norte da capital.
131
Manuel Guerrero
132
O grupo de teatro...
Mais uma vez, José Luis Urteaga e Roly Dávila (atores em Palintrópolis) nos
presenteiam com uma contundente dupla na qual, ao contrário da realidade
que nos retratam, o equilíbrio, a sobriedade, a ação-reação e, sobretudo, a
capacidade de escuta recíproca, conseguem um resultado interpretativo
excelente, tanto no que diz respeito à técnica vocal quanto à corporal.
Definitivamente, Interruptor é um novo olhar, crítico e certeiro, para um
mundo que, aos poucos, se encontrará envolvido na total descomposição e
incomunicação. E não será num futuro muito distante. Está mais próximo
do que parece. (VELARDE, 2008, p. 1, tradução nossa) 25
25
Luego de la genial “Palintrópolis” (en la que se retrataba a nuestra ciudad como un verdadero
infierno en la tierra), los CUER2 arremeten contra la globalización que, lejos de lograr una mejoría
en la intercomunicación, produce un completo aislamiento en el ser humano, preso de un monitor,
audífono o pantalla, en el que la realidad aparece tan desfigurada como lejana. Y todo matizado con
irreverente humor, que vuelve el montaje mucho más directo y perturbador. Nuevamente José Luis
Urteaga y Roly Dávila (actores en “Palintrópolis”) nos regalan una contundente dupla en la que, a la
inversa de la realidad que nos retratan, el equilibrio, la sobriedad, la acción-reacción y sobre todo, la
capacidad de escucharse mutuamente, consiguen un resultado actoral excelente, tanto en la parte
vocal como corporal. Definitivamente, “Interruptor” es una nueva mirada, crítica y certera, hacia un
mundo que poco a poco se verá envuelto en la total descomposición e incomunicación. Y no será en
un futuro muy lejano, está más cerca de lo que parece. (VELARDE, 2008, p. 1)
133
Manuel Guerrero
BIBLIOGRAFIA
ARRAU, Sergio. Teatro Peruano. Lima: Fondo Editorial Universidad Inca Gracilazo
de la Vega, 2006, p. 382.
DELGADO, Mario. Justificación histórica para los Encuentros de Ayacucho Disponí-
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acesso em: 12 out 2008.
DE MARIA, César. Hemos pactado con los chanchos. Entrevista com o autor em
1999. Disponível em: http://www.andes.missouri.edu/andes/Cronicas/
MIG_DeMaria.html; acesso em: 14 Out 2008.
JOFRÉE, Sara. Críticos, comentaristas y divulgadores. Lima: Lluvia Editores, 1993.
MUGERCIA, Magali. Lo antropológico en el discurso escénico latinoamericano
Em: Revista Apuntes de Teatro N101 Primavera-Verano 1991, p. 88-100.
PEIRANO, Luis. Una visión del teatro peruano en la década de los ochenta Em:
Textos de teatro peruano N3 Diciembre de 1995 Instituto Nacional de Cultura p. 45-56.
SALAZAR DEL ALCÁZAR, Hugo. Teatro y Violencia: una perspectiva del Teatro
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SALAZAR DEL ALCÁZAR, Hugo. Marcas de la historia y la violencia de estos
días: el teatro peruano de los ochentas Em: Márgenes: Encuentro y Debate Nº 5-6
(Dic 1985) p. 63-83.
SÁNCHEZ PIÉROLA, Roberto. Respuestas de Cuer2 Guerrero.
alphaguerrero@aol.com 23 sep 2008.
VELARDE, Sergio. Interruptor, la globalización em el tapete Disponível em: http://
eloficiocritico.blogspot.com/2008/06/interruptor.html; El oficio crítico acesso em: out
de 2008.
134
A POÉTICA DO OCULTO
O teatro cubano como forma de expressão de
uma ilha cercada pela Utopia e Censura.
Carta ao Leitor
135
Luis Alberto Alonso
não era parte da elite capitalista daquele tempo. A cultura cubana começa-
va a ter seus maiores frutos. Filhos de uma conquista que provocou uma
rica miscigenação entre europeus e negros africanos, com uma herança
neocolonial norte-americana, a Cuba que nascia era plena de força e vigor
em tempos de referenciais comunistas. A União de Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS) era a nossa mãe nos ideais e na economia. Foi o
dogmatizado pensar bolchevique que levantou bandeiras com fervor na
Revolução Russa. Tudo parecia perfeito aos olhos dos mais comuns dos
cubanos. Um mundo novo estava nascendo: Chegou a Utopia! Era o nosso
lema ante tanta aparente perfeição que não era mais que espelhismos1 de
um comunismo nascente. A explosão demográfica avançou, os jovens como
eu, nascidos nos anos 60 e 70, fizeram parte da juventude cubana prepara-
da, com diplomas e estudos. Um arsenal humano inquestionável.
Criamos ídolos, sem capacidade de destruí-los, pois eles eram parte da
nossa consciência coletiva, a qual gerou certa sublimação de virtudes que
serviram posteriormente para a manipulação. Foi derrubado o muro de
Berlim. No início dos 90, um país que não tinha desenvolvido economia
alguma entrou em colapso, era a ruína, o fim dos nossos dias, mas a resis-
tência nos fez vencer. E aí está, Cuba, bela ilha, semeada no centro do mar
do Caribe, sem possibilidades de escape, pois a ilha já tem a sua natural
condição isolada.
Gerou-se em Cuba uma natureza confusa, cheia de contradições, que
nem o próprio Hamlet poderia mostrar, “Ser ou não ser? Eis a questão”.
No final das contas o cubano se sentiu privilegiado ante o mundo desconhe-
cido que ele olhava. Grande paradoxo, em que muitos diziam: Meu filho,
não reclame, há outros no mundo que estão pior do que nós. E aos poucos
foi gerando um sentido de precariedade e conformismo no pensamento do
cubano, uma alma precária em destruição, onde admitimos tudo o que acon-
tece e não fazemos, contra o que nos reprime, absolutamente nada.
Gerou-se então um “intelectual engajado”, digo entre aspas, pois a
maioria dos intelectuais, nos quais incluo dramaturgos, diretores e atores,
tentavam e tentam dizer com sua obra sem parecerem óbvios, gerando uma
espécie de obra dramática onde os significados ocultos cobram vida daque-
les espectadores mais hábeis, onde não dá para dizer assim, direto, nem
1
Neologismo criado pelo autor na língua portuguesa. Já existente em espanhol como espejismos.
Palavra que designa a existência de um estado ilusório que provem do encontro de imagens recorren-
tes na mente de um povo acostumado à Utopia, a viver dentro de um sistema ilusório, imaginado,
sonhado. Também pode ler-se como multiplicidade de imagens.
136
A poética do...
com meias palavras. Há que dizer, mas sem ser dito. Uma poética que cha-
mo Poética do Oculto2, uma poética teatral com significados divergentes
entre versos e prosas. Uma poética que se faz cada vez mais rica, pois pro-
picia a multiplicidade de leituras e a universalidade de grande parte da arte
cubana. Isso em um povo cercado por fronteiras de censura que não permi-
tem a entrada de informações divergentes vindas do exterior, pois deve pre-
valecer o sentido unidirecional do pensamento oficial sem possibilidades de
oposição de idéias ou confronto destas.
A cultura teatral cubana é influenciada por vários fatores. Primeiro,
aqueles anteriormente explicitados, que formam parte da realidade na qual
nos inserimos como cubanos, realidade geo-política-social. A outra é a rea-
lidade cultural, sendo filhos da mistura de raças e crenças, dos costumes
negros e brancos, temos frutos como batucadas, os cultos iorubás, os rit-
mos caribenhos, la rumba, el guaguancó, el bembé, solares3, comparsas, as
danças nascidas dos crioulos cubanos, o gesto exacerbado de paixões e sen-
sualidade. Por outro lado forma parte da nossa cultura o idolatrar imagens
vivas fundadas no poder através de marchas patrióticas e passeatas de mul-
tidões desesperadas pela dicotomia de um discurso fervoroso em favor de
quem se está contra. Somos seres esquisitos, mas cheios de humanidade,
pois pelo menos algo de herança ficou em todos estes anos e foi o sonho por
alcançar um mundo ideal, um mundo melhor, uma Utopia. Podemos nos
considerar, em alguma medida, verdadeiros e autênticos humanistas.
Na Escola
137
Luis Alberto Alonso
4
Mario Rodriguez Alemán, Isaac Nicole, Enrique Monet, Argeliers León, Harold Gramatges Leite-
Vidal, Rine Leal, Fernando Alonso, Alberto Alonso e Adigio Benítez. Outros acompanharam o
desenvolvimento docente, grandes artistas de renome como Raquel Revuelta Planas, Ramiro Guerra
Suárez, Rogelio Martínez Furé, Leo Brouwer Mesquida, Alfredo Guevara Valdés, Graziella Pogolotti
Jacobson, Jesús Ortega Hirsuta, María Teresa Linares, Rita Longa Arostegui, Domingo Aragú Rodríguez
e Juan Jorge Junco Hortelano, entre outros.
138
A poética do...
fia (com quatro semestres), História da Arte (com seis semestres), etc. Nas
matérias práticas tem-se Interpretação, Voz e Dicção, Direção, Desenho,
Acrobacia, Dança Folclórica, Técnicas de Dança Moderna, Ballet, Canto e
também algo de Cultura Oriental como o Tai Chi Chuan.
Essa explicação é necessária para que se possa compreender o univer-
so teatral do meu país, as suas tendências e o artista cubano atual. Toda essa
verdade sem disfarces me ajuda a sentar as bases para eu poder escrever
sobre o teatro cubano que vivi, estudei e do qual sou fruto como criador.
Ação!
5
Quando triunfou a Revolução (1959), se criou no Teatro Nacional de Cuba o Seminário de Dramaturgia
para formar jovens amantes da cena, atores, diretores e dramaturgos. José Ramon Brene ingressou
nesse Seminário aos 34 anos, quando começou a sua vida como criador e artista de teatro.
6
La Noche de los Asesinos foi montada em diversos países da America Latina e em diferentes idiomas.
Foi estreada em países como Inglaterra, França e Estados Unidos. As obras de Triana têm sido
traduzidas para o inglês, francês, italiano, português, alemão, húngaro, polaco, sueco, fines, danes,
holandês, húngaro, hebreu e Catalão. Atualmente vive fora de Cuba.
139
Luis Alberto Alonso
140
A poética do...
141
Luis Alberto Alonso
VOZ: Eu não sou Polônio, astuto anão filho meu. Que palavras?
VOZ: E dizer que você ama o seu pai e que o seu pai é imortal te parecem
orações insignificantes?
7
Texto cedido pelos atores, ainda não publicado. Tradução para o português: Um Anão na Garrafa.
8
Veo, en cambio, pensamientos, recuerdos, obsesiones, terrores –sobre todo terrores-, lo que antes de
vivir en la botella yo llamaba cómodamente de “subjetividades”. Me convertí en un hombre subjetivo,
que es la mejor forma de vivir dentro de una botella. (ESTÉVEZ)
142
A poética do...
VOZ: Vai para o teu quarto. Não comerás por vários dias. Também não
verás a luz. Estás castigado. (ESTÉVEZ, tradução nossa)9
É evidente nos diálogos que compõem este trecho que o autor deixa
claro a magnificência do poder e a manipulação que este exerce, uma vez
que foi levantado como ídolo e sublimado. O autor também faz recorrências
durante o percurso do texto ao mito de Sísifo, como símbolo do nunca
acabar, um recurso intertextual que mostra o castigo por burlar as leis “di-
vinas” e o cíclico fechado como algo sem saída e sem progresso. No final,
aparece Aladim, a personagem mais aclamada pelo Anão, associando este
ao gênio que resolveria os seus problemas. Aladim lhe dá a oportunidade de
sair da garrafa, de viver uma nova vida. Destampa a garrafa. O anão, não
acostumado à luz, fecha o seu monólogo dizendo:
A luz! Eu não resisto à luz! Já não posso viver no ar nem na luz! Já não
saberia caminhar pela terra! Esqueci o que é uma flor, uma árvore, um rio,
um luar, uma montanha! Esqueci de falar do esquecimento, porque a sorte
do esquecimento se esquece. Não quero lembrar! Aprendi a viver preso. A
liberdade poderia me matar. Diga-me que faria eu? Aonde iria? A quem
contaria esta história sem começo e fim? Que faria com a liberdade? Não
quero viver num outro lugar. Preciso permanecer na garrafa onde aprendi
muitas coisas doces e amargas. Vá salvar outros Aladim! Me deixe, já não sei
viver no mundo! Meu mundo é a garrafa e eu quero que seja também o meu
sepulcro. E quiçá, algum dia dentro de milhões de anos – se é verdade que os
anos passam – alguém encontre a garrafa e um montinho de pó que serei e
diga comovido: “Aqui viveu um anão que enfrentou a vida nesta garrafa”. E
a jogue no mar. E então quem sabe possa chegar ao fim na Polinésia, na
África, na China, aos mares do sul. E, feito cinzas, terei cumprido o meu
sonho. (ESTÉVEZ, tradução nossa)10
9
ENANO: Bien, palabras, palabras, palabras. VOZ: Yo no soy Polonio, astuto enano hijo mío.
Cuales palabras? ENANO: Oraciones insignificantes. Por ejemplo: “Mi papá me ama, yo amo mi
papá”, o esta otra: “Un enano es un hombre que muere, mi papá es inmortal”. VOZ: Y decir que tu
amas a tu papá y que tu papá es inmortal te parecen oraciones insignificantes? (Pausa. El enano no
sabe qué decir) Ve para tu cuarto. No comerás por varios días, también no verás la luz. Estás castigado.
(ESTÉVEZ)
10
La luz! Yo no resisto a la luz! Ya no puedo vivir en el aire ni en la luz! Ya no sabría caminar por la
tierra! Me olvidé de lo que es una flor, un árbol, un río, un claro de luna, una montaña! Se me olvidó
hablar de el olvido, porque la suerte del olvido se olvida. No quiero recordar1 Aprendí a vivir preso .
La libertad podría matarme. Que haría yo? Adonde iría? A quien contaría esta historia sin comienzo
ni fin? Que haría con la libertad? No quiero vivir en otro lugar. Necesito permanecer dentro de la
botella donde viví cosas dulces y amargas. Vete a salvar a otros Aladino! Déjame, yo no sé vivir en el
mundo! Mi mundo es la botella y también quiero que sea mi sepulcro. Y tal vez, algún día, dentro de
millones de años –si es verdad que los años pasan- alguien encuentre la botella y un montoncito de
polvo que seré y diga conmovido: “Aquí vivió un enano que enfrentó la vida en esta botella”. Y la tire
al mar. Y entonces, quien sabe, pueda llegar al fin a la Polinesia, al África o a la China, a los mares del
sur. Y hecho cenizas habré cumplido mi sueño. (ESTÉVEZ)
143
Luis Alberto Alonso
Os sistemas políticos que o homem tem inventado não são perfeitos, e por
isto terão que ser sempre renovados e existirá a necessidade de fazer uma
revolução. Talvez não seja violenta no futuro, mas sim democrática. Isto
talvez seja uma ilusão. Mas o homem tem necessidade tanto da Ilusão quanto
da Utopia. (1994, tradução nossa)11
11
Los sistemas políticos que el hombre ha inventado no son perfectos y por eso tendrán que ser
siempre renovados y existirá la necesidad de hacer una revolución. Tal vez no sea violento en el futuro,
mas sí democrática. Esto tal vez sea una ilusión. Mas el hombre tiene necesidad tanto de la Ilusión
cuanto de la Utopia. (ARRUFAT, 1994)
144
A poética do...
que foi eixo fundamental neste tema do Teatro “Político”, em Cuba, dirigida
pelo também autor teatral Victor Varela anteriormente mencionado, é o
Teatro Obstáculo, que na sua curta história de vida na ilha conseguiu produ-
zir peças de um alto nível profissional e investigativo, com um discurso de
conceitos profundos, estilo renovado e alta precisão.
Sendo o Teatro Buendia uma agrupação com vinte anos de existência,
quero me deter em um dos seus espetáculos mais significativos, Otra
Tempestad, uma versão de Raquel Carrió e Flora Lauten do clássico A Tem-
pestade, de William Shakespeare, com direção de Flora Lauten.
“Outra Tempestade” estreou no ano 1997 e tem no seu currículo uma longa
viagem que levou Buendia à Austrália, África, quase toda Europa, América e
Ásia. Não só por conter nas suas bases de pesquisa a cultura afro-cubana iorubá
e arará, mas pela apoteose de ilusionismo teatral que este espetáculo cria.
O discurso deste espetáculo está construído sobre as bases de uma
intertextualidade inimaginável, pois gira em volta desta produção uma pes-
quisa com dezenove fontes escritas, desde William Shakespeare até José
Martí. Proximidades orais através de entrevistas, conferências e palestras.
Além de um cabedal de informação já registrado no corpo dos atores atra-
vés de treinamentos que configuraram espetáculos anteriores. Toda uma
erudição de conhecimento, no sentido lato da palavra, que precisou de toda
uma perícia para conduzir este processo investigativo da cena e fixar suas
imagens teatrais e a sua dramaturgia. “Outra Tempestade” tem também a
seu favor a reflexão sobre a nossa formação como nação cubana e as
enramações culturais que entreteceram nosso etnos-nação, um resultado
de um longo, conturbado e contínuo processo de transculturação.
O espetáculo começa no cenário do Velho Mundo, onde, depois de um
naufrágio, passa ao Novo Mundo. Mediante um processo vai-se avistando o
encontro entre os protagonistas de ambos os contextos e como vão se sen-
tando as bases para um futuro projeto no mundo americano. Acabando
num mar de sangue. Tudo resumido às diversas lutas que o nosso continen-
te americano teve que empreender e continua empreendendo contra os
massacres coloniais e as suas sangrentas ditaduras.
Cito um trecho de Raquel Carrió que serve como sinopse e estudo do
intertextual no espetáculo.
145
Luis Alberto Alonso
12
Estructurado en quince cuadros, la Otra Tempestad narra la historia de los encuentros (imaginarios
y soñados) entre personajes de Shakespeare y de la mitología africana en el Caribe. Del retablo del
Viejo Mundo como una representación de la época salen Macbeth, Hamlet, Shylock y Otelo. El Mago
Próspero y su hija Miranda en un juego de representaciones que los caracteriza. Paralelamente,
Sicorax, en la isla, convoca al Oraculo. Madre de Ochun, diosa de los rios, de Elegguá, que abre y
cierra los caminos, de Oyá, reina de los muertos y de Calibán, hijo de Changó. Sicorax desata la
tempestad por una acción ritual. La expedición de Próspero al nuevo mundo naufraga en las costas de
una isla y los navegantes son rescatados por las hijas de Sicorax. (continua...)
146
A poética do...
A Utopia
Finalmente, qual é a força que a Utopia como eixo central do pensa-
mento de uma nação tem sobre a formação teatral cubana e qual é o legado
que a censura e a repressão têm deixado nesta formação? Um teatro sem
fronteiras, no que diz à sua expressão e à leitura das suas obras? Parece
uma conclusão paradoxal, mas o artista cubano se move dentro do parado-
xo da sua própria existência e isso gera, por conseqüência, uma obra para-
Como en un laberinto, donde los personajes “no saben si están muertos o dormidos” ocurren los
encuentros y hechizos provocados por Sicorax. Próspero confunde Elegguá de los montes cubanos
con Ariel de su reino perdido; Hamlet sufre la alucinación de Ochun Con Ofelia, Otelo reencuentra
a Desdémona, Shylock cree estar en la tierra prometida y retorna a los días de su juventud. Oyá seduce
a Macbeth a través de su mutación en Lady Macbeth, y Miranda y Calibán encuentran el amor en una
curiosa subversión de la fábula.
Se trata de mutaciones y visiones que subvierten el orden lógico-causal de los relatos y transgreden los
límites de los personajes y de la acción. Pero en el cruce de referencias, sonoridades e imágenes
europeas y africanas, no hay “vencedores” ni “vencidos” sino el intercambio de ritos y acciones que
caracterizan el sincretismo cultural propio de América Latina y el Caribe. El “Laboratorio de Próspe-
ro” es el reino de la Utopia americana; el sueño de la República Ideal y el universo de contradicciones
que se desatan en un espacio mítico donde todos están condenados a representar una y otra vez sus
visiones. Por eso las muertes rituales y el uso simbólico de las máscaras-tipos en un final que nos
advierte: “Heredé una tierra arrasada por la Utopia y la Sangre”. Sin embargo el espectáculo rompe lo
trágico implícito en sus referentes apelando a la figuración de una mascarada que crea la posibilidad
de las mutaciones, el juego inter-textual, la mezcla, la ironía, la parodia y la hibridación de los géneros.
Es este contrapunto que hace de “La Otra Tempestad“ una reflección sobre la herencia y la apropiación
cultural. Pero también una “fiesta del alma y del cuerpo”, un extraño ritual carnavalesco y autofagico.
(CARRIÓ, 1997, p. 18)
147
Luis Alberto Alonso
La Habana, 2003.
Atualização, tradução e revisão. Salvador, 2008.
13
Neologismo do autor criado a partir do substantivo gesto, transformando-se em particípio que
significa palavra transformada em gesto, palavra gestuada.
148
A poética do...
BIBLIOGRAFIA
REVISTAS
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SOBRE OS AUTORES
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Venezuela
Paula Fernández
Argentina
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Héctor Andrés Briones Vásquez
Chile
Brasil
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Equador
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Peru
Cuba
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COLOFÃO
Formato 17 x 24 cm
Tipologia Dutch801 Rm BT
154