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A obtenção dos dados de radiação solar deveria ser feita por medições, já separando a
radiação em suas parcelas direta e difusa. Estes valores podem ser medidos diretamente para
as superfícies verticais e horizontais (o ideal) ou medidos apenas para as superfícies
horizontais, sendo corrigidos posteriormente para as verticais através de métodos de cálculo.
Porém, o que se utiliza normalmente no Brasil são as normais climatológicas (valores médios
de horas de sol) ou estimativas feitas a partir dos valores de nebulosidade do Ano Climático
de Referência. A medição da radiação solar poderia evitar toda a imprecisão de se trabalhar
com os dados de nebulosidade, que são registrados de forma visual (sem instrumentos),
ficando à mercê da sensibilidade do olho de quem faz a observação. Infelizmente ainda são
poucas as estações que medem a radiação solar instantânea (W/m 2) no Brasil. Entre outras,
pode-se destacar a estação do Labsolar da UFSC, que está integrada a uma rede internacional
de medições (BSRN - Base Line Surface Radiation Network).
ATLAS DE IRRADIAÇÃO SOLAR NO BRASIL
Todas as fontes de energia, como a hidráulica, a biomassa, a eólica, os combustíveis fósseis e
a energia dos oceanos, são formas indiretas de energia solar. Porém, a radiação solar também
pode ser utilizada diretamente como fonte de energia térmica, para aquecimento de fluidos e
ambientes e para geração de potência mecânica ou elétrica. Dentre os diversos processos de
aproveitamento da energia solar, atualmente os mais utilizados são o aquecimento de água e
a geração fotovoltaica de energia elétrica. No Brasil, o aquecimento solar de água é bastante
difundido nas regiões Sul e Sudeste, embora estas apresentem os menores níveis de radiação
solar. Já a geração fotovoltaica se concentra mais nas regiões Norte e Nordeste, em
localidades isoladas. A iniciativa para o emprego de geração fotovoltaica tem ocorrido em
algumas edificações comerciais, residenciais e em pesquisas em instituições em diversas
regiões do país, como a Casa Eficiente (Eletrosul e outros 2006) e o prédio do curso de
Engenharia Mecânica e o Centro de Eventos da Universidade federal de Santa Catarina
(LabSOLAR 2006), mas esse cenário ainda não faz parte do cotidiano da arquitetura,
representando uma tímida realidade, dificultada pelo alto custo de aquisição inicial dos
equipamentos e pela falta de subsídios econômicos.
O Atlas de Irradiação Solar no Brasil (Colle e Pereira 1998) apresenta o índice médio anual de
radiação solar no país. Os maiores índices são verificados na região Nordeste e os menores no
litoral Sul-Sudeste.
3.1.3 TEMPERATURA
É a variável climática mais conhecida e de mais fácil medição. A variação da temperatura na
superfície da Terra resulta basicamente dos fluxos das grandes massas de ar e da diferente
recepção da radiação do sol de local para local (Figura 3-10).
Tabela 3-1: Tabela de Ventos Ausentes (%), extraída do programa Analysis SOL-AR
P V O I
Madrugada 28,7 28,8 38,7 33,3
Manhã 18,9 19,3 31,2 24,6
Tarde 5,7 4,7 6,3 8,6
Noite 18,0 21,2 30,1 26,0
As condições do vento local (tanto velocidade quanto direção) podem ser alteradas com a
presença de vegetação, edificações e outros anteparos naturais ou artificiais. Pode-se tirar
partido do perfil topográfico de um terreno para canalizar os ventos, desviando-os ou
trazendo-os para a edificação. O sexto capítulo deste livro discutirá com maiores detalhes a
ventilação natural em edificações, relacionando estas variáveis.
3.1.5 UMIDADE
A pressão de vapor é a variável climática mais estável ao longo do dia. A umidade do ar
resulta da evaporação da água contida nos mares, rios, lagos e na terra, bem como da
EVAPOTRANSPIRAÇÃO dos vegetais.
O ar a certa temperatura pode conter uma determinada quantidade de água. Quanto maior a
temperatura do ar, menor sua densidade e, em consequência, maior quantidade de água
poderá conter. Se o conteúdo de água evaporada no ar é o maior possível para aquela
temperatura, diz-se que o ar está SATURADO. Nesta condição, qualquer quantidade de água a
mais em estado de vapor condensará. Deste fenômeno se originam a névoa, o orvalho e a
chuva. Quando o conteúdo de vapor de água no ar é menor que o máximo possível para
aquela temperatura, diz-se que esta proporção (em percentual) é a umidade relativa do ar.
A umidade relativa tende a
aumentar quando há diminuição
da temperatura e a diminuir
quando há aumento da
temperatura (Figura 3-14).
3.4 MICROCLIMA
Chegando mais próximo ao nível da edificação, tem-se a escala microclimática. É aqui que
variáveis como a vegetação, a topografia, o tipo de solo e a presença de obstáculos naturais
ou artificiais irão influenciar nas condições locais de clima. O microclima pode ser concebido
e alterado pelo arquiteto (Figura 3-16). O estudo das variáveis desta escala é fundamental
para o lançamento do projeto, pois uma série de particularidades climáticas do local pode
induzir a soluções arquitetônicas mais adequadas ao bem-estar das pessoas e à eficiência
energética. Embora o estudo do microclima ainda seja uma realidade pouco documentada,
existem alguns trabalhos de interesse que tratam desse tema, como o de Romero (2001a e
2001b), o de Lombardo e Quevedo Neto (2001), o de Monteiro e Mendonça (2003) e o de Assis
(2005).
Tabela 3-2: Estratégias de controle climático a serem adotadas no projeto arquitetônico, adaptada de
Watson e Labs (1983)
Minimizar fluxo
Minimizar fluxos de ar externo
Resistir às perdas de calor por
condução Minimizar
infiltração de ar
condução evaporativo
Promover Promover
Promover Perdas resfriamento Promover resfriamento
através do solo ventilação radiativo
As soluções arquitetônicas mais utilizadas para cada uma destas estratégias são fartamente
ilustradas em diversas fontes, como: Anderson e Wells 1981; Commission of the European
Communities 1992; Gonzalez e outros 1986; Watson e Labs 1983; Brown e DeKay 2004;
Corbella e Yannas 2003; Roaf e outros 2004.
Tabela 3-3: Percentuais das estratégias bioclimáticas indicados pelo programa Analysis-BIO para
Florianópolis
CONFORTO 21
ventilação 35,5
resfriamento evaporativo 0,0
inércia térmica para resfriamento 0,0
ar condicionado 1,7
CALOR
DESCONFORTO
umidificação 0,0 38
ventilação e inércia para resfriamento 0,0
79
ventilação, inércia para resfriamento e resfriamento
0,9
evaporativo
inércia para resfriamento e resfriamento evaporativo 0,0
aquecimento solar com inércia térmica 35,4
FRIO
Figura 3-30: Procedimento para fazer a análise bioclimática pelas Normais Climatologicas
Figura 3-31: Carta bioclimática para Florianópolis com os dados das Normais Climatológicas
Comparando os valores de percentuais obtidos pelas Normais com os obtidos pelo TRY
constata-se que, a partir das Normais, tende-se a superestimar o conforto e a subestimar as
estratégias bioclimáticas em Florianópolis. Mesmo assim percebe-se que as estratégias de
Figura 3-33: TRY X Normais em cidades com pouca variação climática anual
Partindo-se das análises das catorze cidades, algumas conclusões podem ser destacadas.
Primeiramente quanto ao uso do ar condicionado, que se mostra imprescindível apenas em
algumas cidades das regiões Norte e Nordeste, enquanto nas outras regiões seu uso
geralmente pode ser substituído por alternativas mais econômicas, como a ventilação ou a
inércia térmica para resfriamento.
Em todo o Brasil, a estratégia que mais se destaca é a ventilação, seguida pela inércia
térmica com aquecimento solar passivo, indicada para os períodos frios na maioria das
cidades. Em muitos casos, ambas as estratégias são indicadas, devendo-se tomar cuidados
com a execução das aberturas, pois as mesmas devem permitir a ventilação nos períodos
quentes, embora devam ser estanques nos períodos frios.
Quanto ao aquecimento solar e artificial, só foram sugeridos em poucos casos. Deve-se
considerar, entretanto, que o TRY só foi obtido para um número limitado de cidades
(catorze). As cidades mais frias do Brasil não aparecem, e certamente indicariam maiores
percentuais dessas estratégias ao longo do ano.
Também se deve observar que boa parte das horas mais frias do ano se apresenta em horários
noturnos, quando o nível de atividade das pessoas é bem reduzido e a tolerância a
3.7.2
ZONA 2
A Zona Bioclimática 2 tem as mesmas diretrizes construtivas da zona 1, porém inclui a
necessidade de ventilação cruzada no verão. Inclui as cidades de Laguna, Uruguaiana,
Pelotas, Ponta Grossa e Piracicaba.
3.7.3
ZONA 3
A Zona Bioclimática 3 inclui as cidades de Florianópolis, Camboriú, Chapecó, Porto Alegre, Rio
Grande, Torres, São Paulo, Campinas, Pindamonhangaba, Sorocaba, Belo Horizonte, Foz do
Iguaçu, Jacarezinho, Paranaguá e Petrópolis e recomenda como diretrizes construtivas o
mesmo que a zona 2, incluindo paredes externas leves e refletoras a radiação solar.
3.7.4
ZONA 4
Na Zona Bioclimática 4 tem como principais recomendações construtivas o uso de aberturas
médias, sombreamento necessário nas aberturas durante todo o ano, paredes pesadas e
cobertura leve com isolamento térmico.
As principais estratégias bioclimáticas para esta zona são o resfriamento evaporativo, a
inércia térmica para resfriamento e a ventilação seletiva no verão e o aquecimento solar e a
grande inércia térmica das vedações internas para o período frio. As cidades de Brasília,
Franca, Limeira, Ribeirão Preto e São Carlos se situam nesta zona.
3.7.5
ZONA 5
A Zona Bioclimática 5 inclui as cidades de Niterói, São Francisco do Sul e Santos. Suas
principais recomendações construtivas são janelas de tamanho médio com sombreamento,
paredes leves e refletoras, coberturas leves isoladas termicamente, uso de ventilação cruzada
no verão e de vedações internas pesadas (com grande inércia térmica) no inverno.
3.7.6
ZONA 6
A Zona Bioclimática 6 inclui as cidades de Goiânia, Campo Grande e Presidente Prudente e
tem como principais diretrizes bioclimáticas construtivas o uso de aberturas médias
sombreadas, paredes pesadas, coberturas leves com isolamento térmico, uso de resfriamento
evaporativo e de ventilação seletiva no verão e uso de vedações internas pesadas no inverno.
3.7.7
ZONA 7
A Zona Bioclimática 7 inclui como recomendações construtivas o uso de aberturas pequenas e
sombreadas o ano todo, o uso de paredes e de coberturas pesadas e o uso de resfriamento
evaporativo, de inércia para resfriamento e de ventilação seletiva no verão. Inclui as cidades
de Cuiabá e Teresina
Tabela 3-5: Resumo das diretrizes construtivas definidas pela Norma NBR 15220-3, adaptado de
Lamberts e Triana (2006)
ventilação sombreamento
A (em % da área das aberturas
de piso)
Figura 3-36: Imagem do programa Analysis-BIO com análise dos dados das Normais
O programa Analysis-BIO (2006) foi desenvolvido no Laboratório de Eficiência Energética da
Universidade Federal de Santa Catarina e pode ser obtido gratuitamente em
http://www.labeee.ufsc.br.
Existem também outros programas de análise climática, como o The Weather Tool, o Climate
Consultant e o ABC (Architectural Bioclimatic Classification), da Universidade de São Carlos.
REFERÊNCIAS
ABNT (2005). NBR 15220-3 - Desempenho térmico de edificações - Parte 3:
Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações
unifamiliares de interesse social.
ANALYSIS-BIO (versão 2.1, 2006). Programa Analysis-BIO: módulo bioclimatologia.
Laboratório de Eficiência Energética em Edificações, Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis. Disponível para download em:
http://www.labeee.ufsc.br, Acesso em: 13 fev. 2006.
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