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De Sousa, R.S.

apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

Sumário

1 TERMODINÂMICA................................................................................... 4
1.1 Conceitos fundamentais................................................................... 4
1.2 Lei dos gases ideais......................................................................... 6
1.3 Calor e energia interna..................................................................... 9
1.4 Trabalho de expansão e diagrama pV de um gás.............................. 10

2 A ENTALPIA........................................................................................... 13
2.1 Energia interna e entalpia para mudanças de temperatura............... 13
2.2 Energia interna e entalpia para mudanças de fases.......................... 14

3 EXPANSÃO ADIABÁTICA DE UM GÁS...................................................... 15


4 O EQUIVALENTE MECÂNICO DO CALOR.................................................. 16
5 A PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA................................................... 18

6 TRANSFERÊNCIA DE CALOR................................................................... 22
6.1 Condução térmica............................................................................ 22
6.1.1 Fluxo radial de calor...................................................................... 24
6.2 Convecção térmica........................................................................... 25
6.2.1 Transferência de calor por convecção de uma placa...................... 25
6.3 Radiação térmica............................................................................. 27
6.4 Transferência de calor em paredes compostas................................. 28

7 A SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA.................................................... 30


8 A ENTROPIA........................................................................................... 32
8.1 Entropia de substâncias puras.......................................................... 34
8.2 Aplicações da entropia..................................................................... 37
8.2.1 Turbinas e compressores ideais.................................................... 37
9 DO QUE TRATA AS LEIS DA TERMODINÂMICA........................................ 39

10 CICLOS TERMODINÂMICOS.................................................................... 40
10.1 O ciclo de Carnot e as máquinas térmicas....................................... 40
10.2 Diagrama T-s para o ciclo de Carnot............................................... 43

11 TIPOS DE MÁQUINAS TÉRMICAS............................................................ 45


11.1 Dispositivos de ciclo fechado.......................................................... 45
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11.2 Dispositivos de ciclo aberto............................................................ 45


11.3 Dispositivos a gás de ciclo aberto................................................... 45
11.4 Refrigeradores e bombas de calor.................................................. 46

12 CICLO DE RANKINE................................................................................ 47
13 CICLO DE RANKINE COM REAQUECIMENTO............................................ 50
14 CICLO DE REFRIGERAÇÃO POR COMPRESSÃO DE VAPOR........................ 51
14.1 Componentes básicos de um sistema de refrigeração..................... 52
14.2 Compressão.................................................................................... 52
14.3 Condensação.................................................................................. 54
14.4 Dispositivo de medida..................................................................... 54
14.5 Evaporação.................................................................................... 55
14.6 Controles e acessórios do sistema de refrigeração......................... 56
14.7 Diagrama Temperatura-entropia.................................................... 58
15 Exercícios de aplicação........................................................................... 60
16 CICLO DE BRAYTON............................................................................... 63

17 CALDEIRAS............................................................................................. 64
17.1 Introdução...................................................................................... 64
17.2 Classificação quanto à montagem................................................... 65
17.3 Classificação quanto à finalidade.................................................... 65
17.4 Classificação quanto à concepção................................................... 65
17.5 Elementos principais de uma caldeira aquatubular......................... 68
17.6 Sistema de distribuição de vapor.................................................... 70

18 PSICROMETRIA E AR CONDICIONADO.................................................... 72
18.1 Introdução...................................................................................... 72
18.2 Umidade absoluta e umidade relativa............................................. 72
18.3 Processos simples de condicionamento de ar................................. 75
18.4 Sistemas de expansão direta e indireta.......................................... 75
18.5 Carta psicrométrica........................................................................ 77
18.6 Aplicações...................................................................................... 78

19 CARGA TÉRMICA..................................................................................... 79
19.1 Cálculo simplificado da carga térmica............................................. 79

20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 80
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1 Termodinâmica

1.1 Conceitos fundamentais

Como ciência, a termodinâmica descreve a relação entre calor e trabalho - a habilidade


de mover coisa – e outras formas de energia. É a termodinâmica que está por trás da construção
de máquinas como geladeiras, ar-condicionados ou reatores nucleares, bem como o projeto de
usinas de geração de energia, refinarias, navios e aviões. A termodinâmica também explica as
variações climáticas, o congelamento dos lagos e porque o sorvete derrete no calor.
Mas como a termodinâmica “faz” tudo isto? Como qualquer ciência física, a termodinâmica
dispõe de quantidades que a auxiliam na descrição do mundo físico e dos fenômenos térmicos
em geral, tratando do que chamamos de sistemas, que são compostos por várias partículas.
Um sistema é definido como uma porção do espaço ou quantidade de matéria fixa que queremos
estudar. Exemplos destes sistemas são as substâncias sólidas, os líquidos, os gases, a radiação
(fótons de luz). Considera-se também que o sistema em estudo pode está isolado, fechado ou
aberto em relação àquilo que podemos chamar vizinhança. Num sistema isolado não há
entrada nem saída de energia ou massa pela fronteira. Para o sistema fechado nenhuma massa
entra ou sai do sistema considerado, entretanto, a energia (calor ou trabalho) pode cruzar a
fronteira entre o sistema e a vizinhança. Finalmente, em um sistema aberto é permitido troca
de massa e energia sem restrições. A figura 1 mostra estes conceitos.
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Figura 1. Conceito de sistema e vizinhança.

Podemos acrescentar ainda que, a vizinhança é tudo aquilo que não pertence ao sistema,
mas que exerce uma influência direta em seu comportamento. Fica evidente que, no estudo de
todos os fenômenos e processos, nós estamos tentando determinar o comportamento do sistema
e sua inter-relação com a vizinhança. Destaca-se um tipo específico de sistema, conhecido como
sistema térmico. Os sistemas térmicos experimentam interações de calor e/ou trabalho com a
vizinhança, e podem trocar massa com a vizinhança na forma de correntes quentes e frias.
O sistema também deve ser caracterizado pelo seu estado termodinâmico, ou seja, um
conjunto de propriedades (características do sistema), como a temperatura, pressão, volume,
energia e entropia. O estado é uma condição momentânea do sistema, onde somente pode ser
descrito enquanto as propriedades deste sejam imutáveis naquele momento, ou seja, enquanto
há o que chamamos de equilíbrio térmico.
A compreensão do conceito de equilíbrio térmico precisa ser construída. Sendo assim,
vamos a ele. Sabe-se que a temperatura, qualitativamente, está relacionada com a sensação de
quente ou frio. Se, por exemplo, dois objetos, um quente e um frio, são colocados em contato,
o objeto mais quente arrefece e o mais frio aquece, até o instante em que a sensação de quente
ou frio não puder ser distinguida. Quando isto se dá, dizemos que os dois objetos estão em
equilíbrio térmico. Para exemplificar este conceito, pense em como se faz para saber se uma
pessoa está ou não com febre. Normalmente, pega-se um termômetro e o coloca em baixo do
braço da pessoa, espera-se um tempo (se diz que 3 minutos são suficientes) e depois faz-se a
leitura da temperatura. O tempo esperado é exatamente para garantir que os dois objetos
(termômetro e pessoa) atinjam o equilíbrio térmico.
Se a experiência acima for feita com mais de dois sistemas, chega-se a conclusão que o
equilíbrio térmico pode ser estabelecido entre um número arbitrário de sistemas.
Adicionalmente, constatamos aquilo que é conhecido como lei zero da termodinâmica: Dois
sistemas em equilíbrio térmico com um terceiro estão em equilíbrio térmico entre si.
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1.2 Lei dos gases ideais

Quando os gases são comprimidos (ou expandidos), a relação entre a pressão e o volume
depende da natureza do processo. Se comprimirmos um gás, mantendo constante a sua
temperatura, a pressão aumenta. Analogamente, se o gás expande à temperatura constante,
sua pressão diminui. Com boa aproximação, o produto entre a pressão e o volume de um gás,
em densidade baixa, é constante quando a temperatura não muda. Este resultado foi descoberto
experimentalmente por Robert Boyle (1627-1691) e é conhecido como a lei de Boyle-Mariotte:

𝑝𝑉 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 [1]

Figura 2. Diagrama PV a uma temperatura constante.

A lei de Boyle é um caso particular da equação geral dos gases ideais:

𝑝𝑉 = 𝑛𝑅𝑇 [2]

Onde:
P = pressão absoluta em Pa;
V = volume em m3;
n = número de mols;
R = constante universal dos gases, R = 8,314 J/mol.K;
T = Temperatura absoluta, em Kelvin.

m
Onde, n , m e Mm são, respectivamente, a massa e a massa molar do gás.
Mm
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Uma forma bem usual (e técnica) para esta equação é:

𝑝𝑉 = 𝑚𝑅𝑔 𝑇 [3]

Onde, 𝑅𝑔 é a massa molar para um gás específico. Por exemplo, para o ar o 𝑅𝑔 = 0,287 𝑘𝐽⁄𝑘𝑔 𝐾 .
Então, inserindo energia na forma de calor em um gás sua temperatura aumenta e, pela
lei dos gases, a pressão do gás ou o volume ou ambos deve aumentar na mesma proporção. A
mudança do volume e/ou pressão pode ser usada para criar trabalho, por exemplo, movendo
um pistão ou as pás de uma turbina.
As variáveis P, V e T descrevem o estado macroscópico do gás num certo instante. A
equação dos gases ideais é uma equação de estado.

Exercício 1. Qual o volume ocupado por 1 mol de gás na temperatura de 0o C e sob pressão de
1 atm.

Exercício 2. Calcular o número de moles em 1 cm3 de um certo gás a 0o C e 1 atm.

Exercício 3. Um vazo de 10 L contém gás na temperatura de 0o C e na pressão de 4 atm.


Quantos mols do gás estão no vaso.

Exercício 4. Um pesquisador transferiu uma massa de gás perfeito à temperatura de 27 oC para


outro recipiente de volume 20% maior. Para que a pressão do gás nesse novo recipiente seja
igual à inicial, o pesquisador teve elevar a temperatura até quanto?

Exercício 5. Uma determinada massa gasosa, confinada em um recipiente de volume 6,0 L,


está submetida a uma pressão de 2,5 atm e sob temperatura de 27 o C. Quando a pressão é
elevada em 0,5 atm, nota-se uma contração de 1,0 L no volume. Qual a nova temperatura do
gás.

Exercício 6. Um balão esférico com diâmetro de 6 m é preenchido com Hélio à 20 o C e 200 kPa.
Determine o número de moles e a massa do balão?

Exercício 7. A pressão nos pneus de um automóvel depende da temperatura do ar nos pneus.


Quando a temperatura do ar é 25o C, o manômetro registra 250 kPa. Se o volume nos pneus é
0,025 m3, determine o aumento da pressão nos pneus quando a temperatura do ar nos pneus
aumenta para 50o C. Assumir que a pressão atmosférica é 100 kPa.
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Exercício 8. Um manômetro instalado em um tanque de O 2 registra 500 kPa. Determine a


quantidade de gás no tanque se a temperatura é 28o C e pressão atmosférica 100 kPa.

Exercício 9. Um tanque de 0,82 m3 foi projetado para suportar uma pressão de 10 atm. O
tanque contém 4,2 kg de N2 e se aquece lentamente a partir da temperatura ambiente. A que
temperatura (em o
C) ele se romperá?
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1.3 Calor e energia interna

Se ao tomarmos uma xícara de café e a deixamos por um tempo sobre uma mesa, e
sairmos, ao voltarmos, percebe-se que o café esfriou, ou seja, sua temperatura diminui até
atingir a chamada temperatura ambiente que é da ordem de 300 K (ou 27 oC). De maneira
semelhante, se colocamos em contato um corpo quente e outro frio, eles, depois de algum
tempo, atingirão uma temperatura comum, intermediária entre suas temperaturas iniciais.
Durante este processo, ocorre uma transferência de energia na forma de calor do corpo
mais quente para o mais frio. Que transformações este fluxo de calor provoca no interior de
cada corpo? Do ponto de vista microscópico, ou seja, em nível molecular, o que é o calor?
Sabemos que a temperatura de um corpo é uma medida da energia cinética das moléculas
deste corpo. Assim, quando dois corpos são postos em contato, dá-se o encontro, na superfície
que os separa, das moléculas velozes do corpo quente com as moléculas lentas do corpo frio.

Figura 3. Transferência de calor entre dois corpos.

O calor é, portanto, uma transferência de energia entre dois corpos que inicialmente
apresentavam temperaturas diferentes. Em outras palavras, o calor é energia em movimento.
É isto que acontece quando, por exemplo, num dia frio, atritamos uma mão contra a outra para
aquecê-las.
A energia que um corpo absorve sob a forma de calor permanece dentro dele e faz sua
energia interna aumentar. Mas o que é a energia interna de um corpo? A energia interna de
um sistema relaciona-se com as suas condições intrínsecas. Num gás corresponde,
principalmente, a energia térmica associada ao movimento de agitação térmica das moléculas,
ou seja, a energia cinética molecular. Outras contribuições como a energia potencial de
configuração, associada às forças internas conservativas e às energias cinéticas atômico-
moleculares, ligadas à rotação das moléculas, também compõem à energia interna. A energia
interna U inclui todas as formas de energia do sistema e está associada ao seu estado
termodinâmico.
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Apesar de ser complicado dizer o que é a energia interna, podemos medir sua variação
sem dificuldades. Por analogia, vamos perguntar quanto dinheiro há em um banco. É difícil dizer,
mas é fácil avaliar a diferença entre o que tem hoje e quanto tinha ontem. Com a energia interna
acontece o mesmo, mas a resposta para isto será dada quando avaliarmos a contabilidade de
energia de um sistema. O estudo da primeira lei da termodinâmica será útil e esclarece essa
questão.

1.4 Trabalho de expansão e diagrama pV de um gás

Em muitos tipos de motores, um gás se expande contra um pistão a fim de proporcionar


trabalho. Na máquina a vapor, por exemplo, aquece-se água numa caldeira até se transformar
em vapor. O vapor quente, então, efetua trabalho ao se expandir e empurra um pistão. No motor
de um automóvel, uma mistura de vapor de gasolina e de ar é inflamada, provocando uma
explosão. A elevada temperatura e a grande pressão atingida provocam a expansão rápida do
gás, que empurra um pistão e fornece trabalho.

Figura 4. Exemplo de trabalho efetuado pela expansão de um gás.

Considere um gás contido num cilindro com êmbolo, como mostrado na figura 4. O
trabalho realizado pelo sistema (gás) sobre a vizinhança é:

W  F .d , onde F  p.A . Em que p é a pressão no gás e A é a área do êmbolo. Então podemos


escrever que,

W  p .A.d [4]

O produto A.d constitui a variação do volume (ΔV) sofrida pelo gás, onde V  V2  V1 . Assim,
o trabalho realizado pelo sistema, à pressão constante, é:
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W  p (V2  V1 ) [5]

Observe que a eq. 5 só poderá ser usada se a pressão do sistema não variar, ou seja, p1= p2.

Pelo exame do diagrama p-V, é evidente que o trabalho realizado durante esse processo é
representado pela área sob a curva 1-2, na figura 5.

Figura 5. Diagrama pressão-volume mostrando o trabalho realizado pelo sistema devido ao


movimento da fronteira.

Exemplo 1. Consideremos como sistema um gás contido no conjunto cilindro-êmbolo. A pressão


3
inicial é de 200 kPa e o volume inicial do gás e de 0,04 m . Coloquemos um bico de Bunsen
3
embaixo do cilindro e deixemos que o volume aumente para 0,1 m , enquanto a pressão
permanece constante. Calcular o trabalho realizado pelo sistema durante esse processo.

Resolução. Sabemos que: W  p (V2  V1 ) . Substituindo os valores temos, W = 200 kPa (01 –
3
0,04) m = 12 kJ.

Exercício 10. Três litros de um gás ideal, sob pressão de 2 atm, são aquecidos de modo que se
expandem a pressão constante até atingir o volume de 5 L. Calcular o trabalho efetuado pelo
gás.

Exercício 11. Uma bexiga vazia tem volume desprezível, e cheia, o seu volume pode atingir
4.10-3 m3. O trabalho realizado pelo ar para encher essa bexiga, à temperatura ambiente,
realizado contra a pressão atmosférica, num lugar onde o seu valor é constante e vale 100 kPa,
é no mínimo de?
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Exercício 12. Gás inicialmente em alta pressão expande-se em cilindro, empurrando sem atrito
um pistão conectado a um eixo, transferindo dessa forma trabalho ao eixo e contra a atmosfera,
com pressão de 1 atm.

Em uma expansão, foram obtidos os seguintes dados:

Volume do gás Pressão do gás Diferença


no cilindro (L) no cilindro (atm) de pressão (atm)
2,0 12 11
2,4 10 9
3,0 8 7
4,3 6 5
7,6 4 3

Quanto trabalho, em joules, o gás transmite ao eixo em uma expansão?

Exercício 13. A tabela a seguir fornece dados medidos para a pressão versus o volume durante
a expansão dos gases no cilindro de um motor de combustão interna. Utilizando a integração
gráfica dos dados, calcule o trabalho realizado pelos gases, em kJ.

Ponto Pressão (bar) Volume (cm3)


1 15 300
2 12 361
3 9 459
4 6 644
5 4 903
6 2 1608
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2 A Entalpia

Uma balança de farmácia não pesa apenas a pessoa que subiu nela; pesa a pessoa e
mais suas roupas. De forma similar, quando avaliamos a energia em um objeto de volume V,
temos que lembrar que este objeto deve realizar trabalho para afastar seus arredores e ocupar
seu lugar no espaço, geralmente à pressão atmosférica. A uma pressão qualquer p, o trabalho
necessário para abrir o próprio espaço é: W  pV . Isso ocorre tanto com objeto quanto com

um sistema e esse trabalho não é desprezível. Lembre-se de que, à pressão de 1 bar (1 atm), a
atmosfera exerce por metro quadrado uma força exatamente igual ao peso de uma massa de
10 toneladas, o que não é nada desprezível.
Dessa forma, a energia total de um corpo (um gás, em seu recipiente) é sua energia
interna mais a energia extra, necessária, para abrir o espaço V que ele ocupa a pressão p. Vamos
chamar esse total de entalpia H, definida como:

H  U  pV [6]

e a diferença de entalpia entre os estados 1 e 2 é dada por:

H  H 2  H1  U   ( pV )  (U 2  p 2V2 )  (U1  p1V1 ) [7]

2.1 Energia interna e entalpia para mudança de


temperatura
Para um dado material à medida que a temperatura aumenta, U e H aumentam. Podemos
escrever para as várias transformações que:

U  mcv T [8]

H  mcp T [9]
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Onde o calor específico a volume constante cv é definido como sendo a energia requerida
para aumentar a temperatura de uma unidade de massa de uma substância de um grau quando
o volume é mantido constante. A energia requerida para fazer o mesmo quando a pressão é

mantida constante é o calor específico à pressão constante cp . Ambos são medidos em

unidades de J∕kg.K ou J∕kg.oC.


Lembre-se de que a diferença entre ∆H e ∆U é o trabalho necessário para empurrar a
atmosfera à medida que o material se aquece e expande. Para líquidos e sólidos, a mudança de
volume é muito pequena, de forma que U  H e c p  cv .

2.2 Energia interna e entalpia para mudança de fase

A energia necessária para ferver água e dessa forma gerar vapor tem que fazer duas
coisas. Tem que fazer com que as moléculas se tornem tão ativas e energizadas que elas voem
para longe uma das outras e vençam as forças que as mantinham próximas no líquido. Mas
também tem que fazer trabalho de empurrar a atmosfera e, dessa forma, abrir o espaço para o
vapor ocupar. A energia total necessária para essa transformação é chamada de calor latente
de vaporização, hlg (J∕kg).
Por exemplo, para 1 kg de água se tornando vapor a 100 oC e 1 atm:

1. Energia para manter as moléculas separadas: U lg  2087600 J (tabelado).


kg

2. Energia para empurrar a atmosfera e abrir espaço:

p (v g  vl )  101325 (1,673  0,001044 )  169400 J . Os valores de v g e vl são tabelados.


kg

Portanto o calor latente de vaporização é, hlg  2087600  169400  2257000 J kg .

Observe que a água líquida dá cerca de 1600 vezes o seu volume quando na forma de
vapor, e a energia para essa expansão é da ordem de 8% da total. Dessa forma, como não se
vai do líquido ao vapor sem alterar o volume, u lg não é uma medida útil e sempre se usa hlg .
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3 Expansão adiabática de um gás

Um processo em que não há troca de calor entre o sistema e a sua vizinhança é um


processo adiabático. Imaginemos uma expansão adiabática, quase-estática (muito lenta) de
um gás, num vaso termicamente isolado, que empurra lentamente um pistão móvel, efetuando
trabalho. Uma vez que não há trocas térmicas entre o gás e a vizinhança, o trabalho efetuado é
igual à diminuição da energia interna do gás e a temperatura do gás diminui. Como mostra a
figura 6, observe que em uma expansão (ou compressão) adiabática, p, v e T mudam.

Figura 6. Expansão adiabática de um gás ideal.

Muitos processos termodinâmicos acontecem em um tempo muito curto, como por


exemplo, a expansão em motores de combustão interna durante o curso de potência, que dura
aproximadamente 10x10-3 segundos, ou a expansão de gases quentes em uma turbina. Com
tais tempos curtos, uma significativa transferência de calor entre o gás e a vizinhança pode ser
desprezada e o processo pode ser considerado adiabático.
As relações entre a pressão p, o volume v e a temperatura T do gás em um processo
adiabático (e reversível) são obtidas combinando a lei de conservação da energia (forma
diferencial da equação) com a lei dos gases ideais. Resumidamente, teremos:

𝑘−1⁄
𝑇2 𝑝2 𝑘
=( )
𝑇1 𝑝1

𝑇2 𝑉 𝑘−1
= ( 1) [10]
𝑇1 𝑉2

𝑝2 𝑉1 𝑘
=( )
𝑝1 𝑉2
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𝑐𝑝
Onde, 𝑘= . Para gases monoatômicos k  1,67 e k  1,40 para gases diatômicos.
𝑐𝑣

Processos adiabáticos ocorrem no mundo real quando as mudanças de volume ou pressão


são muito rápidas e, deste modo, as trocas de energia durante este curto período de tempo é
desprezível.

4 O equivalente mecânico do calor

É possível aquecer certa quantidade de água simplesmente agitando-a, ou seja, sem


aquecê-la ou colocando-a em contato com um corpo mais quente do que ela. Neste caso, o
trabalho que a força realiza agitando a água procurando vencer o atrito interno do líquido faz
aumentar sua energia interna e eleva sua temperatura. Este tipo de experiência foi realizado
pela primeira vez em 1840 por James P. Joule (1818-1889) e ficou conhecida como experiência
de Joule. Ele a repetiu diversas vezes, com o intuito de demonstrar a conversão da energia
potencial dos pesos em trabalho feito sobre a água. Seu invento mais famoso foi um dispositivo
no qual duas massas presas por um fio passavam por duas roldanas. À medida que as massas
desciam, o sistema de aletas girava, fazendo aumentar a temperatura da água no interior do
recipiente cilíndrico. Conhecendo as massas e as distâncias de queda ele determinou o trabalho
feito; medindo com precisão o aumento da temperatura da água, ele determinou o calor
produzido. Joule pôde, então, estabelecer a relação entre o trabalho e a quantidade de energia
transferida na forma de calor.

Figura 7. Experiência de Joule.

Desta experiência resulta que, para se elevar de 1o C a temperatura de 1 kg de água, é


necessário 4186 J, ou seja, determinou que cada 4186 J de energia correspondem a 1000
calorias. Estes joules farão a energia interna da água aumentar, ou seja, a elevação de 1 o C na
temperatura da água revela que este afluxo de energia serviu para aumentar a energia cinética
com que as moléculas da água se movimentam.
Assim, podemos afirmar que, como o calor, o trabalho é também um modo de transferir
energia. Em outras palavras, o trabalho também é energia em movimento. Além disso,
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podemos dizer que o calor proveniente de um corpo mais quente e o trabalho realizado por uma
força externa sobre o sistema são duas formas diferentes de se aumentar a energia interna de
um sistema.

Exemplo 2. A fim de demonstrar a equivalência entre calor e a energia, deixa-se cair um vaso
termicamente isolado de uma altura h em relação ao solo. Se a colisão for perfeitamente
inelástica e se toda a energia se transformar na energia interna da água, qual deve ser a altura
h para a temperatura da água seja elevada de 1o C.

Resolução. A energia cinética da água, no instante em que atinge o solo, é igual à energia
potencial inicial, m.g.h . Durante a colisão, esta energia se converte em energia térmica Q que
provoca elevação de temperatura dada por Q  m.c p T , onde c p é o calor específico da água,

que vale 4,18kJ/kg.K.

c p T
Assim, m.g.h  m.c p T ou h ,
g

4,18kJ.(kg.K) -1 (1K )
h , h=426 m.
9,81N .kg 1
Veja que h não depende da massa de água. O valor achado é bastante grande, o que ilustra
uma das dificuldades da experiência de Joule, pois a quantidade de trabalho a ser feita tem que
ser elevada a fim de se ter variação apreciável da temperatura da água.

Exercício 14. Uma bala de chumbo, deslocando-se a 200 m/s, crava-se num bloco de madeira.
Admitindo que toda a variação de energia contribua para o aquecimento da bala, estimar a sua
temperatura, sendo de 20 o C a inicial. O calor específico (cp) do Chumbo é 0,13 kJ/kg oC.

Exercício 15. Um tanque rígido contém 3 m3 de hidrogênio a 250 kPa e 550 K. O gás é resfriado
até a temperatura cair a 350 K. Determine a (a) pressão final do gás e (b) a quantidade de calor
transferido.

Exercício 16. Uma sala de 4 x 5 x 6 m é aquecida por um aquecedor com resistência elétrica.
É desejado que o aquecedor seja capaz de aquecer o ar de 7 para 23 o C no intervalo de 15
minutos. Assumindo que não há perdas de calor da sala e que a pressão atmosférica local é 100
kPa, determine a potência requerida pelo aquecedor. Assuma que o calor específico do ar é
constante à temperatura ambiente.
Dados: A massa molecular do ar é 28,9 g∕mol e O cv do ar é 0,718 kJ∕kg K.
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5 A primeira lei da termodinâmica

Todo sistema físico apresenta uma energia interna bem definida, que depende do seu
estado termodinâmico, ou seja, das condições em que o sistema se encontra. O estado de um
gás aprisionado num recipiente, por exemplo, é descrito por meio dos valores de seu volume,
de sua temperatura e de sua pressão. Se aquecermos esse gás, seu estado mudará e,
consequentemente, sua energia interna também será alterada.
Analisemos a seguir um sistema termodinâmico simples. Uma porção de gás está contida
num cilindro com êmbolo móvel. O gás recebe ou cede calor através da parede do cilindro e
realiza trabalho quando o êmbolo se move. Fornecendo calor a esse sistema através da ação da
chama, o gás se expande e realiza trabalho.

Figura 8. Sistema cilindro-embôlo produzindo trabalho.

Mas sabia-se desde os primeiros estudos dos motores térmicos, que o trabalho realizado
durante a expansão do gás era menor que o calor recebido pelo sistema. Isto significava que,
durante a transformação, a temperatura do sistema aumentava, evidenciando um aumento de
energia interna. A primeira lei da termodinâmica (ou lei da conservação da energia) refere-
se a esta situação, e pode ser enunciada da seguinte forma: A variação líquida da energia
total do sistema durante um processo é igual à diferença entre a energia total que
entra e a energia total que sai do sistema durante esse processo. Algebricamente
podemos escrever:

U  Ec  E p  Q  W [11]

Onde, a variação da energia cinética, E c , deve-se a variação da velocidade do sistema. E p

é a variação da energia potencial do sistema, relaciona-se com a sua alteração em relação a um


De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

campo de força. Considerando que no sistema não houve variação das energias potencial e
cinética, a primeira lei pode ser enunciada como mostrada na equação da figura 9.

Figura 9. Convenção de sinais para a primeira lei da termodinâmica.

Q sendo o calor recebido pelo sistema durante a transformação e W o trabalho realizado pelo
sistema e sua variação ∆U da energia interna. Esta equação pode ser aplicada a qualquer
sistema, desde que se atribuam sinais algébricos ao calor e ao trabalho.

Q>0 - Quando o sistema recebe calor;


Q<0 - Quando o sistema fornece calor;
W>0 - Quando o sistema produz trabalho;
W<0 - Quando o sistema recebe trabalho.

Já a variação de energia interna (∆U) é positiva quando a temperatura aumenta e negativa


quando a temperatura do sistema diminui.

Quando um sistema evolui de um estado para outro, ele pode produzir trabalho para mover

um eixo, gerar eletricidade, e assim por diante. É o chamado trabalho de eixo, We . O sistema

pode inclusive expandir, como quando a água se torna vapor; é o chamado trabalho pV, W pV .

Então, o trabalho total produzido é de dois tipos:


W  We  W pV [12]

E, de forma geral, a primeira lei pode ser escrita como:


U  E c  E p  Q  We  W pV [13]

A partir desta equação dois casos usuais podem ocorrer:

 Processos sem escoamento (em muitas situações práticas o volume é mantido


constante),
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

U  Ec  E p  Q  We [14]

 Processos com escoamento,

U  Ec  E p  Q  We  ( pV )

U  Ec  E p  Q  We  p 2V2  p1V1

Que resulta em:

H  Ec  E p  Q  We [15]

Esta mesma equação também pode ser escrita em termos de fluxo de energia (ou potência):

. . .
m( h  ec  e p )  q  w e [16]

Exemplo 3. Faz um trabalho de 25 kJ sobre 3 kg de água agitando-se mediante uma roda de


palhetas. Durante a agitação removem-se da água 60 kJ de calor. Qual a variação da energia
interna do sistema.

Resolução. U  Q  W = (-60 kJ) – (-25 kJ) = - 35 kJ.

Exercício 17. Um gás diatômico efetua 300 J de trabalho e absorve 600 cal de calor. Qual a
variação da energia interna do gás.

Exercício 18. Um fluído contido num tanque é movimentado por um agitador. O trabalho
fornecido ao agitador é 5090 kJ e o calor transferido do tanque é 1500 kJ. Considerando o tanque
e o fluído como sistema, determine a variação da energia interna do sistema neste processo.

Exercício 19. Coloquei 1 litro de água na minha chaleira elétrica e liguei-a. Quanto tempo terei
que esperar pela fervura. Considerar que a chaleira é adiabática.
Dados: A capacidade calorífica do metal da chaleira equivale a 200 cm3 de água e a potência da
chaleira é 1250 W. No instante t=0, T=20o C.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

Exercício 20. Quanto tempo levará para que toda a água da chaleira, do exercício anterior,
evapore completamente.

Exercício 21. O estado inicial de 1 mol de uma gás ideal é P 1 = 3 atm, V1 = 1 L, U1 = 456 J e
U2 = 912 J. O gás se expande a pressão constante até o volume de 3 L. Depois é resfriado, a
volume constante, até a sua pressão cair a 2 atm. (a) Mostrar este processo no diagrama PV e
calcular o trabalho efetuado pelo gás. (b) Calcular o calor trocado durante o processo.

Exercício 22. Um ventilador consome 20 W de potência elétrica. A vazão de ar do ventilador é


de 1,0 kg∕s. A velocidade do ar no ventilador é 8 m∕s. Determine se isto é possível.

Exercício 23. Uma sala contém 40 pessoas e para ser refrigerada precisa de ar-condicionados
tipo janela com capacidade de refrigeração de 5 kW. Uma pessoa (em descanso) dissipa calor a
uma taxa de 360 kJ∕h. Existem 10 acesas na sala, cada uma dissipa 100 W de calor. A taxa de
transferência de calor para sala através das paredes e janelas é estimada ser de 15000 kJ∕h.
Nestas condições a temperatura do ar é mantida em 21 o C. Determine o número de aparelhos
de ar-condicionados necessários.

Exercício 24. Um sistema pistão-cilindro inicialmente contém 0,5 m 3 de N2 à 400 kPa e 27o C.
Um aquecedor elétrico dentro do dispositivo é ligado e deixa passar uma corrente de 2 A por 5
minutos de uma fonte de 120 V. O gás expande à pressão constante e libera 2800 J de calor.
Determine a temperatura final do gás.
Dados: O Rgás é 0,297 kJ.m3 ∕K e o cp é 1,039 kJ∕kg K.

Exercício 25. Um bloco de ferro de 50 kg e à 90 o C, é deixado cair em um tanque isolado que


contém 0,5 m3 de água à 20o C. Determine a temperatura quando o equilíbrio térmico é
alcançado.

Exercício 26. Um sistema cilindro e pistão contém 2 l de nitrogênio gasoso ( cp = 1,039 kJ∕kg K)
a 3 atm. O gás é aquecido a pressão constante, de 20 o C a 199o C. Quanto calor é necessário
para aquecer o gás? A massa molecular do nitrogênio é 28 g∕mol.

2) Uma bateria de 12 V recebe uma carga rápida de 50 A em 20 minutos. Nesse período, a


bateria esquenta e perde 120 kJ de calor para o ambiente. Calcule a variação de energia
interna da bateria.
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6 Transferência de calor

O calor é uma forma de energia em trânsito de um corpo para outro, desde que exista,
entre eles, uma diferença de temperatura. Nos estudos de transferência, é usual considerar três
modos distintos de transferência de calor: condução, convecção e radiação.
De um modo geral, a distribuição de temperatura em um meio é controlada pelos efeitos
combinados desses três modos de transferência de calor. Entretanto, para simplicidade de
análise, pode-se considerar, por exemplo, a condução separadamente, sempre que a
transferência de calor por convecção e radiação for desprezível.

Figura 10. Formas de transmissão de calor.

6.1 Condução térmica


Condução é o processo pelo qual o calor se transmite ao longo de um meio material,
como efeito da transmissão de vibração entre as moléculas.

Figura 11. Condução de calor em uma barra.

A lei de Fourier estabelece a relação entre o fluxo de calor (unidirecional) e os fatores


que o determinam.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

𝛥𝑇
𝑞𝑐𝑜𝑛𝑑 = −𝑘. 𝐴. [17]
𝐿

Onde:

𝑞𝑐𝑜𝑛𝑑 = Fluxo de calor em W;


k = Coeficiente de condutibilidade térmica em W/m oC;

A = Área transversal da superfície em m2;

T = Diferença de temperatura em oC;


L = Comprimento em m;

Figura 12. Condução de calor em um cilindro maciço.

A lei de Fourier evidencia que “o fluxo de calor por condução térmica em um material
homogêneo, após ter atingido um regime estacionário de escoamento, é diretamente
proporcional à diferença de temperatura entre os extremos e inversamente proporcional ao
comprimento do elemento em questão”.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

6.1.1 Fluxo radial de calor


Trataremos, agora, do fluxo de calor no qual o gradiente de temperatura não é
uniforme ao longo da direção do fluxo, mesmo sendo estacionário. A figura abaixo representa
um tubo de vapor envolvido por uma camada de material isolante.

Figura 13. Condução radial de calor em um tubo.

Sejam T1 e T2 as temperaturas das superfícies interna e externa do isolante e a e b os


respectivos raios. Se T1 for menor T2, o calor fluirá para fora e, no estado estacionário, o fluxo de
calor será o mesmo através de todas as superfícies dentro do isolante.
Se o comprimento do cilindro for L, a área lateral deste cilindro será 2rL e o fluxo de
calor será dado por:

2𝜋𝑘𝐿(𝑇2 −𝑇1 )
𝑞𝑟𝑎𝑑𝑖𝑎𝑙 = [18]
𝑙𝑛(𝑏⁄𝑎)

Exercício 27. Uma barra de aço de 10 cm de comprimento está soldada por suas extremidades
a uma barra de cobre de 20 cm de comprimento. Supondo que cada barra tenha uma secção
transversal quadrada de lado 2 cm, que o lado livre da barra de aço está em contato com vapor
na temperatura de 100oC e que o lado livre do cobre, com gelo em 0oC, vamos determinar a
temperatura de junção das duas barras e o fluxo de calor, quando o sistema estiver em regime
estacionário.

Exercício 28. Em uma refinaria de petróleo, o vapor de água em temperatura de 120 o C é


conduzido por uma canalização de raio igual a 30 cm. A canalização é envolvida por uma capa
cilíndrica de cortiça com raios internos e externos, respectivamente iguais a 30 cm e 50 cm. A
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

superfície externa está em contato com o ar em temperatura de 10 o C. O coeficiente de


condutibilidade térmica da cortiça é 0,04 W/m oC;

a) Qual a taxa de transmissão do calor para o exterior, supondo que a canalização tem 10 m de
comprimento?

6.2 Convecção térmica


A convecção térmica é o processo de transmissão de calor de um local para outro pelo
deslocamento de massa. Como exemplo, pode-se citar a troca de calor em forno de ar quente
ou em um aquecedor de água. Se o material for forçado a se mover por meio de uma bomba ou
um ventilador, o processo é chamado convecção forçada; se o faz por causa da diferença de
densidade, é chamado de convecção natural.

Figura 14. Convecção em uma placa plana.

6.2.1 Transferência de calor por convecção de uma


placa
A transferência de calor por convecção depende da viscosidade do fluido, bem como, das
propriedades térmicas do fluido (condutividade térmica, calor específico, densidade).
Se uma placa aquecida estiver exposta ao ar ambiente, sem uma fonte externa de
movimento de fluido, o movimento do ar será devido às diferenças de densidade nas
proximidades da placa, o efeito da convecção pode ser expresso por:

𝑞𝑐𝑜𝑛𝑣 = ℎ𝐴(𝑇𝑠 − 𝑇𝑣𝑖𝑧 ) [19]


De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

Onde:
𝑞𝑐𝑜𝑛𝑣 = Fluxo de calor em W;
h = Coeficiente de transferência de calor por convecção em W/m2.oC;

A = Área da superfície em m2;

Ts = Temperatura da superfície em oC;

𝑇𝑣𝑖𝑧 = Temperatura da vizinhança em oC.

O coeficiente de transferência de calor por convecção, h, não é propriedade


termodinâmica. Ao contrário, é um pDigite a equação aqui.arâmetro empírico que depende da
natureza do padrão de escoamento próximo à superfície, das propriedades do fluido e da
geometria envolvida no fenômeno. Valores típicos do coeficiente de transferência de calor por
convecção são mostrados na tabela abaixo.

Aplicação h (W/m2 oC)


Convecção livre
Gases 2 - 25
Líquidos 50 - 1000

Convecção forçada
Gases 25 – 50
Líquidos 50 – 20.000

Exercício 29. Uma chapa aquecida eletricamente dissipa calor por convecção a uma taxa de q
= 8000 W/m2, para ar ambiente a 25 oC. Se a superfície da chapa quente está a 125 oC, calcule
o coeficiente de transferência de calor por convecção entre a placa e o ar.

Exercício 30. O ar aquecido a 150 oC flui sobre uma placa lisa mantida a 50 oC. O coeficiente
de transferência de calor por convecção é 75 W/m2.oC. Calcule a taxa de transferência de calor
para a placa através de uma área de 2 m2.

Exercício 31.Um ventilador força o ar através de uma placa de circuito de computador com 70
cm2 de área de superfície para evitar o superaquecimento. A temperatura do ar é 27 oC, enquanto
a temperatura da placa de circuito é de 67oC. Utilizando os dados da tabela anterior, determine
a maior e a menor taxa de transferência de calor, em W, que poderiam ser encontradas para a
convecção forçada
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6.3 Radiação térmica


Todos os corpos emitem ondas eletromagnéticas, cuja intensidade aumenta com a
temperatura. Essas ondas propagam-se no vácuo e é dessa maneira, por exemplo, que a luz e
o calor são transmitidos do sol até a terra. Este modo de transferência de calor diz respeito à
radiação térmica emitida pelos corpos devido a sua temperatura. Ele difere de outras formas de
energia como raios-X, raios gama, micro-ondas que não estão relacionadas com a temperatura
do corpo. Todo corpo a uma temperatura acima do zero absoluto emite radiação térmica.
Se um objeto quente está irradiando energia para sua vizinhança, a perda líquida de
radiação pode ser expressa como:

4
𝑞𝑟 = 𝐴𝜀𝜎(𝑇𝑠4 − 𝑇𝑣𝑖𝑧 ) [20]

Onde:

qr = Fluxo de calor em W;

 = Emissividade da superfície, adimensional;


 = Constante de Stefan-Boltzmann (   5,6697 x 10-8 W/(m2.K4);

A = Área da superfície em m2;

Ts = Temperatura da superfície em K;

𝑻𝒗𝒊𝒛 = Temperatura da vizinhança em K.

Exercício 32. Uma placa aquecida, com 0,2 m de diâmetro tem uma de suas superfícies isolada
e a outra mantida a 550 K. Se a superfície quente tem emissividade 0,9 e está exposta a uma
superfície envolvente com temperatura de 300 K, calcule o calor por radiação da placa quente
para suas vizinhanças.

Exercício 33. Um tubo transporta água quente à água a 80 oC (=5 cm e L=10 m) pede calor
para o ar a 5 oC por convecção natural com coeficiente de transferência de calor 25 W/m 2 oC.
Determine a taxa de perda de calor do tubo, em kW.

Exercício 34. Um tubo de vapor com raio externo 4 cm, está recoberto por uma camada de
isolamento da amianto de espessura 1 cm, condutividade térmica k=0,15 W/m oC. A superfície
do tubo está a temperatura de 330 oC e a superfície externa do isolamento está a 30 o C.
Determine a taxa de transferência de calor por metro de comprimento do tubo.
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Exercício 35. Uma placa de circuito integrado com 10 cm de altura e 20 cm de largura abriga
em sua superfície 100 chips próximos uns dos outros, cada um gerando calor de 0,08 W e
transferindo calor para o ar ambiente a 25 oC. A transferência de calor a partir da superfície
traseira da placa é desprezível. Considerando que o coeficiente de transferência de calor por
convecção da superfície da placa é de 10 W/m 2 oC e a transferência de calor por radiação é
desprezível. Determine a temperatura de superfície dos chips.

Exercício 36.Uma resistência elétrica do tipo fio metálico com 50 cm de comprimento e


diâmetro de 0,2 cm submersa em água é usada para determinar experimentalmente o
coeficiente de transferência de calor na ebulição da água a 1 atm. A temperatura da superfície
do fio é 130oC quando um amperímetro indica um consumo de potência elétrica de 4,1 kW.
Determine o coeficiente de transferência de calor por convecção.

6.4 Transferência de calor em paredes compostas


Em muitas aplicações de engenharia, a transferência de calor se dá através de paredes
compostas, ou seja, parede formada por camadas de materiais diferentes.

Figura 15. Fluxo de calor em uma parede composta por dois materiais diferente

T1  TS1 TS1  TS 2 TS 2  TS 3 TS 3  T 2


q    [21]
Rconv1 Rcond1 Rcond2 Rconv2

Onde as várias resistências térmicas são definidas como


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1 L1 L2 1
Rconv1  Rcond1  Rcond2  Rconv2 
Ah1 Ak1 Ak 2 Ah2

Somando os numeradores e denominadores das razões individuais na eq. 26, obtém-se

T 2  T1
q [22]
R

Onde,

R  Rconv1  Rcond1  Rcond2  Rconv2


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7 A segunda lei da termodinâmica

A primeira lei da termodinâmica é na verdade uma generalização do princípio de


conservação da energia, incorporando no balanço energético a quantidade de energia trocada
entre o sistema e a vizinhança na forma de calor e trabalho.
Esta lei, no entanto, não contém restrições quanto à direção do fluxo de energia entre o
sistema e a sua vizinhança. Por exemplo, esta lei permite tanto a passagem de energia na forma
de calor de um corpo de temperatura maior a outro de temperatura menor quanto no sentido
inverso. Mas na natureza observa-se que é possível a passagem espontânea de energia na
forma de calor apenas de um corpo de temperatura maior a outro de temperatura menor, como
pode ser acompanhado da experiência descrita abaixo.
Imagine uma xícara contendo café quente colocada em um ambiente mais frio.
Intuitivamente, sabemos que o café esfriará até atingir a temperatura do ambiente. Poderíamos
imaginar a situação inversa? O café voltaria, espontaneamente, a esquentar, restabelecendo a
situação original? Será que isto acontece ou não? A primeira lei da termodinâmica não contém
qualquer restrição para esta impossibilidade, porque a quantidade de energia perdida pelo café
é igual à quantidade de energia ganha pelo ar.
Estamos em dúvida, não sabemos ao certo o que pode ocorrer neste caso, não é mesmo?
Para não termos mais dúvidas, vamos considerar outra experiência, para então poder responder
à questão anterior. Em uma caixa, de um lado há um gás e do outro, vácuo. Se retirarmos a
separação, veremos o gás se espalhar e ocupar todo o volume da caixa. Será que se você ficar
com a partição na mão, o gás voltará a se concentrar só de um lado da caixa? Quando isso
acontecer, você reporá a partição, restabelecendo a situação original. Mas será que isto de fato
acontece?

Figura 16. Expansão livre de um gás.

Podemos citar inúmeros processos como esses: copos que se quebram ao cair no chão,
pilhas de lanterna que se descarregam, gelo que se derrete dentro de um copo de refrigerante,
e muitos outros. O que todos esses processos têm em comum é que somente podem ocorrer
em uma direção, mas não ocorrem, espontaneamente, na direção oposta. A inversão de qualquer
processo acima viola a segunda lei. Em termos mais técnicos, eles são chamados de processos
irreversíveis, pois não revertem espontaneamente. A segunda lei descreve como uma sucessão
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

de estados de equilíbrio pode ser irreversível, de forma que o sistema não possa voltar ao seu
estado original sem cobrar um preço dos seus arredores. Um cubo de gelo derretido não se refaz
espontaneamente é preciso colocá-lo no freezer, a um determinado custo de energia.
A segunda lei da termodinâmica expressa essa tendência da natureza de estabelecer
uma direção para os processos naturais. Existem vários modos de enunciar essa lei. Uma delas,
é devida a Rudolph Clausius, estabelece que:
“É impossível haver transferência espontânea de calor de um objeto frio para outro
mais quente”.
Observe a condição do termo "espontânea". Em sua geladeira, por exemplo, a todo
instante passa calor de dentro para fora, resfriando o interior e aquecendo o exterior. Mas, isso
só acontece se a geladeira estiver ligada na tomada e funcionando, isto é, consumindo energia
elétrica. O processo, portanto, não é espontâneo, precisa ser induzido.
Mas como saber se um processo viola, ou não, a segunda lei da termodinâmica? Isto é,
como saber qual é a direção em que ele pode ou não ocorrer? O conceito da entropia nos dará
a resposta.
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8 A Entropia

Entropia, conceito chave na termodinâmica, é a proporção de energia térmica em dado


sistema que está indisponível para produzir trabalho útil devido ao movimento randômico das
moléculas que o compõe. Por exemplo, um motor a vapor recebe energia mecânica de um fluxo
de calor, entretanto, como o movimento individual das moléculas do vapor não é previsível, o
motor não é completamente eficiente. Ou seja, o motor não pode tirar toda energia daquelas
moléculas ativas para, por exemplo, levantar um peso.
A entropia, também pode ser descrita como o grau de desordem do sistema (desordem
molecular). Quando um sistema fica mais desordenado, as posições das moléculas tornam-se
menos previsíveis, a entropia aumenta. Assim, fica evidente que, a entropia de uma substância
no estado sólido é menor do àquela no estado gasoso, mostrado na figura abaixo.

Figura 17. Entropia em diferentes estados físicos.

A exemplo da pressão p, do volume v, da temperatura T e da energia interna U, a entropia

S é uma propriedade de estado de um sistema. Da mesma forma que temos ∆U para uma
transformação, encontrar a variação de entropia (∆S) é o que tem importância.
Em um sistema isolado, ou seja, um sistema que não troca massa nem energia com sua
vizinhança, a entropia sempre permanece a mesma ou aumenta, ou melhor, uma mudança pode
ocorrer, ou pelo menos não é proibida, desde que:

Ssistema  0 , para um sistema isolado qualquer (conhecido como, princípio do aumento de

entropia).
e
S sistema  Svizinhança  0 , para um sistema interagindo com sua vizinhança.
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Matematicamente, a entropia é a quantidade de calor trocada na fronteira do sistema,


dividido pela temperatura absoluta do sistema. Para um processo reversível, e que a
temperatura local onde ocorre a transferência de calor é constante, processos isotérmicos,
teremos:

Qrev
S sistema  [23]
Tsistema

O sub-escrito rev se refere a processos reversíveis.


Mas o que é um processo reversível? Chamamos de reversíveis os processos que
podem ser efetuadas nos dois sentidos, de modo que, na volta o sistema restitua o seu estado
original passando pelos os mesmos estados intermediários, sem que ocorram mudanças
definitivas no sistema e/ou na vizinhança. As transformações mecânicas que se realizam sem
atrito são reversíveis. Por exemplo, imagine um gás a alta pressão expandindo-se dentro de um
cilindro e, com isso, empurrando um pistão. Se isso ocorrer sem atrito e sem troca de calor com

a vizinhança (de forma adiabática), teremos: W realizado pela expansão do gás = W recebido pela

vizinhança. Mas, se o pistão estiver enferrujado e não muito bem lubrificado, raspando as paredes
do cilindro, seu movimento será feito com atrito e resultando calor. Portanto a vizinhança vai

receber menos trabalho do que aquele realizado pelo gás; portanto: W realizado pela expansão do gás

> W recebido pela vizinhança.


O conceito de processos reversíveis é muito útil na descrição de processos ideais. Por
exemplo, com o conhecimento da eficiência de um processo ideal podemos tirar conclusões a
respeito da eficiência do processo real. Além disso, muitos processos reais se aproximam
bastante dos processos ideais.

Exercício 37. Um sistema pistão-cilindro contém uma mistura líquido/vapor a 300 K. Durante
um processo à pressão constante, 750 kJ de calor é transferido para a mistura. Como resultado,
parte do líquido do cilindro vaporiza. Determine a mudança de entropia da água durante este
processo.

Exercício 38. A entropia de uma batata quente diminui quando ela esfria. Isto é uma violação
do princípio de aumento da entropia? Explique.

Exercício 39. Um dispositivo pistão-cilindro contém uma mistura líquido/vapor a 100 o C.


Durante um processo à pressão constante, 600 kJ de calor é transferido ao ar ambiente a 25 o C.
Como resultado, parte do vapor d´água contido no cilindro condensa. Determine (a) mudança
de entropia da água e (b) a mudança total da entropia devido a transferência de calor.

8.1 Entropia de substâncias puras


De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

As substâncias puras são aquelas que possuem composição química invariável e


homogênea, independente da fase que se encontra – sólida, líquida ou vapor.
A partir de um estado padrão arbitrário para a medida de entalpia, energia interna,
volume e para entropia foram preparadas tabelas termodinâmicas para todas as substâncias
úteis para a engenharia, em particular para a água em alta pressão (por exemplo, em uma
caldeira) e o HFC 134a, que parece ser o material para o futuro uso nas máquinas de
refrigeração. As curvas T-s são as mais usadas depois de diagrama de Mollier (curvas h-s).
Quando a água é aquecida, por exemplo, em uma caldeira, há uma elevação de
temperatura (trecho 1-2, figura 12). Quando isto ocorre, chama-se este calor de calor sensível.
Assim o calor sensível continua a ser transferido, até que a água atinja seu ponto de ebulição,
ponto 2 (o ponto de ebulição varia de acordo com a pressão com que a caldeira irá operar).
Quando o ponto de ebulição for atingido, o calor que continua sendo transferido, pára de
provocar um aumento de temperatura na água e passa a alterar as propriedades físicas da
mesma. A partir desse ponto a água começa a ser transformada do estado líquido para o gasoso,
que é conhecido como vapor. O calor acrescido para a conversão da água a mesma temperatura
é chamado calor latente. O trecho 2-3 representa a transição do líquido em ebulição para o
vapor saturado. Observe que, durante a mudança de fase a temperatura e a pressão
permanecem constantes. Se mais calor for introduzido, a temperatura do vapor se eleva ainda
mais e o vapor se torna superaquecido (trecho 3-4). Consequentemente, para transformar 1 kg
de água em 1 kg de vapor, é necessário adicionar tanto calor sensível como calor latente.
A água não entrará em ebulição a 100o C se a pressão for maior que a atmosférica. Por
conseguinte, a temperatura de ebulição aumentará com o aumento da pressão. A relação entre
a pressão e a temperatura do vapor saturado é bem conhecida e pode ser encontrada nas tabelas
de vapor. Por exemplo, se a água a que se está adicionando calor estiver a pressão de 1 MPa,
será necessário adicionar 762,8 kJ de calor sensível (para cada kg de água) afim de elevar sua
temperatura até o ponto de ebulição que é 179,9 o C. Ainda será necessário fornecer mais 2015,3
kJ de calor latente para transformá-la em 1 kg de vapor.
As tabelas de vapor evidenciam uma das maiores vantagens em se utilizar vapor em
processos de aquecimento. A temperatura necessária para o processo, crítica em muitos casos,
pode ser atingida pela simples escolha da pressão de vapor (ver tabela de vapor no final da
apostila).
A região de saturação (trecho 2-3 da figura 18, região de duas fases) é caracterizada por
um parâmetro útil que mede a quantidade vapor na mistura de vapor e líquido. Esse parâmetro,
conhecido como título (x) ou qualidade do vapor pode ser obtido, usando o diagrama T-S (figura
12), a partir de:
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

s  sl
x [24]
s v  sl

Sendo s a entropia específica, os sub-escritos v e l se referem a fase de vapor e a fase líquida,


respectivamente. No diagrama T-S o ponto 2 coincide com l e o ponto 3 com v.
Os geradores de vapor para injeção em poços de petróleo, geralmente, operam na região
de duas fases, produzindo vapor úmido de qualidade (ou título) de 80%, enquanto que as
caldeiras em usinas termoelétricas geram vapor superaquecido.

Figura 18. Diagrama Temperatura-Entropia para o vapor d’ água.

Exercício 40. Um cilindro com pistão contém 3 kg de água a 20 o C e 10 bar. Fornecendo calor,
a água aquece, ferve, transforma-se em vapor, e o pistão se move até a temperatura atingir
300o C; todo esse processo é conduzido a 10 bar. Para esses 3 kg de fluido, calcule:

a) U;
b) Quanto trabalho foi realizado pelo fluido;
c) Quanto calor o fluido recebeu.

Exercício 41. Calcule a temperatura e a entalpia de vapor d’água a 5 MPa com qualidade de
50%.
Exercício 42. Tenho aqui um recipiente de HFC-134a 20oC e 0,1 MPa. Qual será a energia
interna por quilo de conteúdo do recipiente?
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

Exercício 43. Um cilindro com pistão contém 2 kg de água a 20o C e 3 bar e nada mais. Com a
pressão constante em 3 bar, aquecemos até 300 oC. Calcule o trabalho realizado pela expansão
do conteúdo desse cilindro.

Exercício 44. Para aquecer 1 t de água inicialmente a 25 o C até ponto de ebulição e depois
aquecer o vapor a 500o C, sempre a pressão atmosférica, eu preciso de quantos joules de calor?
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

8.2 Aplicações da Entropia


8.2.1 Turbinas e compressores ideais

Exemplo 4. Calcule o trabalho necessário para comprimir adiabática e reversivelmente, a 1600


kPa, uma corrente saturada de R22 gasoso, a 4º C.

Resolução. Pela primeira lei, E k e E p desprezíveis, o trabalho necessário para a

compressão é:

 We  (h2  h1 )  q , onde q = 0 (adiabático).

Como o fluido que chega ao compressor está saturado (duas fases), somente com o valor de T1
= 4O C podemos obter todas as outras propriedades termodinâmicas do fluido na entrada do
compressor pelas tabelas do estado saturado. Assim, consultando as tabelas no final da apostila,
temos:

P1= 566 kPa


h1 = 251,34 kJ/kg
v1 = 0,0415 m3/kg
s1 = 0,9213 kJ/kg.K

Para o fluido que sai do compressor, temos apenas uma propriedade, a pressão. Essa informação
não é suficiente para obtermos todas as outras propriedades. O fluido que sai do compressor é
vapor superaquecido (única fase), precisamos de duas propriedades – portanto de mais uma.
Vamos buscá-lo com auxílio da segunda lei. Para uma compressão adiabática (q=0) e reversível,
podemos escrever:
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

Qrev.
S   0 , ou seja, s2 = s1
T

Isso é exatamente o que precisamos. Procurando nas tabelas as condições nas quais p2 = 1600
kPa e s2 = s1 = 0,9213 kJ/kg.K, encontramos

T2 = 60o C
v2 = 0,01634 m3/kg
h2 = 278,43 kJ/kg

Portanto, o trabalho de compressão é:

 We  (h2  h1 ) = 278,4 – 251,34 = 27,1 kJ/kg ou We = - 27,1 kJ/kg

Exercício 45. Vapor a 1 MPa e 600o C entra em uma turbina adiabática, reversível, em baixa
velocidade, e sai a 100 kPa e 200 m/s. Calcule o trabalho realizado.

Exercício 46. Uma grande turbina recebe 5 kg/s de vapor de água a 600o C e 12 bar e o libera
a 0,5 bar. Espera-se que produza 4 MW. Está parecendo muito... Isso é possível? Qual é sua
eficiência comparada a uma turbina adiabática reversível?
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

9 Do que trata as leis termodinâmicas

A primeira e a segunda lei da termodinâmica aplicam-se a um grande número de


processos na natureza. A primeira lei, por exemplo, estabelece que a energia de um sistema (e
sua vizinhança), em qualquer processo natural sempre se conserva.
Isto implica, por exemplo, que é impossível construir uma máquina que gere energia “do
nada”. Uma máquina que fizesse isto seria um moto perpétuo de primeira espécie, e que não
existe justamente porque contradiz a primeira lei da termodinâmica. Assim, esta lei regula nosso
mundo, nos informando sobre as máquinas que podem ser criadas, e os processos possíveis de
ocorrer com tais máquinas.
Já a segunda lei da termodinâmica nos revela a direção dos processos naturais, ou seja,
a direção na qual eles podem ocorrer, nos revelando também que é impossível transformar calor
totalmente em trabalho num sistema, e que, portanto é impossível um motor de automóvel
apresentar rendimento de 100%, o chamado motor perpétuo de segunda espécie. Assim, esta
lei nos informa, por exemplo, qual pode ser o rendimento máximo esperado de uma máquina
térmica ou de uma geladeira, além de permitir que saibamos quais processos podem ou não
podem ocorrer na natureza, o que nos possibilita desenvolver e testar hipóteses e modelos mais
coerentes no desenvolvimento de pesquisas nos mais variados campos do conhecimento.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

10 Ciclos termodinâmicos

Dizemos que um gás executa um ciclo termodinâmico quando ele é submetido a


sucessões repetitivas de transformações termodinâmicas. Na prática, os ciclos termodinâmicos
são usados para produzir trabalho (p. ex. motores e turbinas), aquecimento ou refrigeração.
Lembrar que não é necessário que a mesma massa de gás execute cada ciclo. O principal é que
os estados termodinâmicos sejam repetitivos. Exemplo: Em um equipamento de refrigeração
(circuito fechado), a mesma massa de gás retorna para o início de cada ciclo, mas em um motor
de combustão interna ela é renovada a cada ciclo.

Figura 19. Ciclo termodinâmico.

10.1 O ciclo de Carnot e as máquinas térmicas


Pela segunda lei da termodinâmica, sabemos que o rendimento térmico de toda máquina
térmica é inferior a 100% (conhecido como o enunciado de Kelvin-Planck). Então qual é o
ciclo de maior rendimento que podemos ter? Vamos responder essa questão para um motor
térmico que recebe calor de um reservatório térmico a alta temperatura e rejeita calor para um
a baixa temperatura, como mostrado na abaixo.

Figura 20. Máquina térmica


De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

Admitamos que esse motor térmico, que opera entre os dois reservatórios de calor,
funciona segundo um ciclo no qual todos os processos são reversíveis. Se cada processo é
reversível, o ciclo é também reversível e, se o ciclo for invertido, o motor térmico se transforma
em um refrigerador.
Este ciclo é conhecido como o ciclo de Carnot, em homenagem ao engenheiro francês
Nicolas Leonard Sadi Carnot (1796-1832) que estabeleceu as bases da segunda lei da
termodinâmica. O motor térmico de Carnot foi imaginado em 1824 e, supreendentemente,
Carnot foi capaz de analisar o desempenho desse tipo de máquina antes mesmo que a primeira
lei e o conceito de entropia tivessem sidos descobertos. A primeira e a segunda lei surgiram,
simultaneamente, nos anos de 1850 a partir de trabalhos de William Rankine, Rudolph Clausius
e Lord Kelvin.
O ciclo de Carnot é um ciclo reversível constituído por dois processos isotérmicos (1-2
e 3-4) e dois processos adiabáticos (2-3 e 4-1). Por questões didáticas, a figura 21 representa
o ciclo do motor de Carnot para um gás ideal, e percorrido no sentido horário, embora qualquer
substância possa ser levada a executar um ciclo de Carnot e o sentido possa ser invertido.

Figura 21. Ciclo de Carnot que opera com um gás ideal.

 1-2: Expansão isotérmica reversível (T1 constante). O sistema recebe a


quantidade de energia Q1 na forma de calor e realiza trabalho W12 contra a
vizinhança.
 2-3: Expansão adiabática reversível (T1 para T2). O sistema não troca energia na
forma de calor, mas realiza trabalho W23 contra a vizinhança.
 3-4: Compressão isotérmica reversível (T2 constante). O sistema perde a
quantidade de energia Q2 na forma de calor e recebe trabalho W34 da vizinhança.
 4-1: Compressão adiabática reversível (T2 para T1). O sistema não troca energia
na forma de calor, mas recebe trabalho W41 da vizinhança.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

É comum dizer-se que o sistema submetido ao ciclo de Carnot absorve a quantidade de


energia Q1 de uma fonte quente (reservatório térmico à temperatura T1) e perde a quantidade
de energia Q2 para uma fonte fria (reservatório térmico à temperatura T2). Para o ciclo completo

∆U = 0, ou seja, W = Q = Q1 + Q2. Como Q2 < 0, já que representa energia que sai do sistema
na forma de calor, explicita-se o sinal de Q2 substituindo-o por –Q2. Com este novo Q1>0. Assim,
escrevemos:

W = Q = |Q1|-|Q2|. Aqui, W é o trabalho total realizado pelo sistema contra a vizinhança,


e vale
W = W12 + W23 + W34 + W41

Nesta altura, é apropriado introduzir o conceito de eficiência térmica para um motor


térmico. Antes, faz-se necessário, definir máquina térmica como sendo um dispositivo que,
operando segundo um ciclo termodinâmico, realiza um trabalho líquido positivo a custa da
transferência de calor de um corpo a temperatura elevada para um corpo à temperatura baixa.
Em geral, dizemos que a eficiência é a razão entre o que éDigite a equação aqui. produzido
(energia pretendida) e o que é usado (energia gasta). Simplificadamente, a energia pretendida
é o trabalho e a energia gasta é o calor transferido da fonte a alta temperatura (por
exemplo, produtos da combustão numa câmara). A eficiência térmica, ou rendimento térmico
de um motor, é definido como:
𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑝𝑟𝑒𝑡𝑒𝑛𝑑𝑖𝑑𝑎
𝜂𝑡é𝑟𝑚𝑖𝑐𝑜 =
𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑔𝑎𝑠𝑡𝑎

|𝑊| |𝑄1 | − |𝑄2 | 𝑄2


𝜂𝑡é𝑟𝑚𝑖𝑐𝑜 = = = 1−
|𝑄1 | |𝑄1 | 𝑄1

Adicionalmente, Kelvin mostrou que para uma máquina térmica reversível, ou seja, uma
máquina ideal:
𝑄2 𝑇2
( )=
𝑄1 𝑇1

Essa escala de temperatura é chamada de escala Kelvin e as temperaturas nesta escala são
chamadas de temperaturas absolutas. Na escala kelvin, as razões entre temperaturas dependem
das razões entre a quantidade de calor trocada e são independentes das propriedades físicas da
substância.

Então, o rendimento térmico de um ciclo de Carnot pode ser expresso em função das
temperaturas absolutas dos reservatórios:
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

𝑇2
𝜂𝑡é𝑟𝑚𝑖𝑐𝑜 = 1 − [25]
𝑇1

Para o ciclo de Carnot, a eficiência depende somente da temperatura da fonte quente e da fonte
fria. A eficiência de Carnot é a eficiência máxima de um motor térmico.

10.2 Diagrama T-s para o ciclo de Carnot


Por definição, o motor de Carnot é um motor reversível, portanto em seu funcionamento
reverso é capaz de “bombear” calor de uma fonte fria para uma fonte quente. Mas, para fazer
isso, demanda que lhe seja fornecido trabalho.
O diagrama T-s mostrado nas figuras 22 e 23 representam o motor de Carnot e o
refrigerador de Carnot, respectivamente.

Figura 22. Motor de Carnot.

Figura 23. Refrigerador de Carnot.

Em um aparelho de ar-condicionado ou em um freezer, o calor é bombeado de um corpo


a baixa temperatura para outro a alta temperatura. Para esses aparelhos, o que nos interessa é
quanto calor pode ser removido da fonte fria por unidade de trabalho consumida. Essa relação
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

é chamada de coeficiente de desempenho, ou COP (abreviação da expressão inglesa


coefficient of performance). Observando a figura 17, o COP fica:

|𝑄2 | 𝑇2
𝐶𝑂𝑃 = = [26]
𝑊 𝑇1 −𝑇2

Exercício 47. Um grande reservatório de calor a 100o C fornece calor para uma fonte fria a 0o
C. Um motor de Carnot está operando entre a fonte quente e a fria. Calcule o rendimento desse
motor, admitindo que as temperaturas da fonte quente e fria não se alteram.

Exercício 48. Um motor de Carnot absorve continuamente de uma fonte a 227o C, fornece 400
W de potência e rejeita calor continuamente para uma fonte fria a 27 o C. Qual a mudança de
entropia:

a) para a fonte quente?


b) para a fonte fria?
c) para o sistema total, inclusive o motor?

Exercício 49. O refrigerador de Carnot do nosso laboratório, cuja temperatura ambiente é 300
K, tem um COP de 11. Qual a temperatura de nosso refrigerador?

Exercício 50. Um motor reversível recebe calor de uma fonte quente a 500 K e rejeita calor
para uma fonte fria a 300 K. Para obtermos uma potência mecânica de 10 kW desse motor, qual
deverá ser o fluxo de calor fornecido pela fonte quente?

Exercício 51. Uma máquina de refrigeração demanda 1 kW de potência por tonelada de


refrigeração.
a) Qual é o seu COP (coeficiente de desempenho)?
b) Quanto calor ela rejeita para o condensador?
c) Se o condensador operar a 15o C, qual será a mínima temperatura que esse refrigerador
conseguirá manter, admitindo-se que sua carga térmica seja de 1 t de refrigeração?
Observação: 1 tonelada de refrigeração vale 12000Btu/h (~3,52kW) de calor retirado da fonte
fria. Uma tonelada de refrigeração é definida como a capacidade de um sistema de refrigeração
que pode transformar 1 tonelada de água líquida em gêlo em um tempo de 24 horas.

Exercício 52. Uma máquina de ar condicionado deve ser utilizada para manter o ambiente a
24o C. A carga térmica a ser removida, deste ambiente, é igual a 4 kW. Sabendo que o ambiente
externo está a 35o C, estime a potência necessária para acionar o equipamento.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

11 Tipos de Máquinas térmicas

11.1 Dispositivo ciclo fechado


Esse dispositivo térmico faz um fluido circular, aquecendo-o e vaporizando-o a alta
pressão, expandindo-o e, então resfriando-o e condensando-o, tudo feito de tal modo que possa
gerar trabalho. Tais equipamentos necessitam tanto de uma caldeira como de um
condensador.

Figura 24. Esquema de uma instalação para gerar potência a partir do vapor, ciclo fechado

11.2 Dispositivo de ciclo aberto


Esse tipo de máquina comprime, aquece e vaporiza um líquido, expande-o para realizar
trabalho e finalmente, rejeita-o como vapor a baixa pressão.

Figura 25. Esquema de uma instalação para gerar potência a partir do vapor, ciclo aberto

11.3 Dispositivo a gás de ciclo aberto


O dispositivo a gás dispensa tanto a caldeira quanto o condensador. Ele gera o gás quente
a alta pressão por meio de reações químicas de combustão.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

Figura 26. Esquema simplificado de uma instalação para gerar trabalho a partir da combustão
de um gás

11.4 Refrigeradores e bombas de calor


Bombas de calor e refrigeradores têm muito em comum com os motores térmicos. A
diferença é que o ciclo é operado na direção oposta.
 O objetivo de uma bomba de calor é fornecer calor para um ambiente frio;
 O objetivo de um refrigerador é retirar calor de um ambiente quente.
Os dois processos são complementares e trabalham com o mesmo princípio. Ambos usam
uma fonte externa de energia para transferir calor de um ambiente frio para outro mais quente.
Para bombear calor de uma temperatura baixa para a temperatura ambiente, não se pode
usar água∕vapor. Deve-se empregar um fluido que evapora e condensa a baixas temperaturas.
Isso nos leva para a amônia, dióxido de enxofre, freons e, mais recentemente, os HFC’s. A
operação de um único passe não é prática com esses fluidos, de modo que temos de usar um
dispositivo que não descarta o fluido de trabalho, mas o evapore, e condense-o repetidas vezes.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

12 O Ciclo de Rankine

Vamos tentar operar um ciclo de Carnot com um fluido real, digamos a água-vapor.
Absorver ou rejeitar calor em temperatura constante (passo 2–3 e 4–1) só pode ser feito na
região de duas fases como mostrado na figura abaixo.

Fig. 27 – Ciclo de Carnot operando com fluido real (água/vapor)

Mas problemas como a cavitação e erosão das pás de turbinas tornam impossível operar
na região de duas fases. Então, somos forçados a operar a etapa de produção desses dispositivos
na região de uma fase de vapor. Isso é feito através do ciclo de Rankine.

Figura 28. Esquema simplificado de uma instalação para gerar trabalho a partir do vapor
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

O caminho 1-2-3-4-5-6-1 da figura abaixo representa o ciclo de Rankine ideal.

Figura 29. Ciclo ideal de Rankine.

Desprezando as contribuições de energia potencial e cinética, a eficiência desse ciclo (tal


como no ciclo de Carnot) é dada por:

|𝑄1 | − |𝑄2 | (ℎ5 − ℎ2 ) − (ℎ6 − ℎ1 )


𝜂𝑡é𝑟𝑚𝑖𝑐𝑜 = =
|𝑄1 | ℎ5 − ℎ2

Como h1  h2 (para se comprimir um líquido bem pouco trabalho é requerido) obtém-se:

ℎ5 −ℎ6
𝜂𝑡é𝑟𝑚𝑖𝑐𝑜 = [27]
ℎ5 −ℎ1

Vejamos algumas considerações de segurança. Para garantir que na expansão o vapor


não se condense na turbina e a arruíne, ou seja, de modo que o ponto 6 na figura 29 não caia
na região de duas fases, o vapor é em geral aquecido ligeiramente além do ponto 5, por exemplo,
no ponto 5’. Nessa situação, o ciclo se torna 1-2-3-4-5’-6’-1 nesse caso, a eficiência se torna
(com h1  h2 ):

ℎ5′−ℎ6′
𝜂𝑡é𝑟𝑚𝑖𝑐𝑜 = [28]
ℎ5′ −ℎ1

Mas note que, assim procedendo, a eficiência se reduz, como é mostrado na figura 24.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

Figura 30. Comparação da eficiência do ciclo de Rankine com o ciclo de Carnot.

Um parâmetro útil para avaliar a viabilidade prática de uma turbina é o valor do título do
vapor na saída da trubina, 𝑥. Em geral o título do vapor, 𝑥 = 𝑚𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟 ⁄𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 , mede a
quantidade de vapor numa mistura de vapor e líquido e, portanto, quanto menor for 𝑥 maior a
quantidade de líquido, ou seja, valores baixos do título significam vapor com umidade excessiva.
A água líquida acaba por formar gotas que ao se chocarem com as pás da turbina, que se move
a altas velocidades, causam graves problemas de erosão. Considerações práticas para evitar
erosão das pás da turbina impõem que o título do vapor na saída da turbina deve ser superior a
88%.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

13 O Ciclo de Rankine com reaquecimento

Para nos aproximarmos mais ainda do ciclo de Carnot e evitar temperaturas


extremamente altas do ponto 5’, façamos um ciclo com reaquecimento. A figura 30, mostra
esquematicamente, uma instalação de vapor com reaquecimento. Na figura 32 é apresentado o
ciclo ideal de Rankine com reaquecimento.

Figura 31. Esquema simplificado de uma instalação de vapor com reaquecimento.

Figura 32. Ciclo de Rankine com reaquecimento

Então, a eficiência do ciclo com reaquecimento fica:

(ℎ5 −ℎ6 )+(ℎ7 −ℎ8 )


𝜂𝑡é𝑟𝑚𝑖𝑐𝑜 = [29]
(ℎ5 −ℎ1 )+(ℎ7 −ℎ6 )

Muitas variações e ciclos alternativos foram propostos e estão em uso, como:


 Ciclos com múltiplos reaquecimentos;
 Ciclos regenerativos;
 Uso de aquecedores de água de alimentação.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

14 O ciclo de refrigeração por compressão de vapor

Ar condicionados que tornam nossas casas confortáveis, freezers que conservam nossos
alimentos e sistemas que mantém condições próprias em plantas industriais. Todos usam um
equipamento de refrigeração por compressão que remove calor usando evaporação.
Um dos fatores mais importantes na operação do sistema de refrigeração é a pressão. O
calor é removido e rejeitado baseado na pressão, alta pressão causa rejeição de calor e baixa
pressão permite absorção de calor. Nos sistemas de refrigeração existe um lado de baixa
pressão e um lado de alta pressão, figura 33. No ciclo de refrigeração, a saída do dispositivo
de medida, representado por uma válvula de expansão ou por um tubo capilar, é o início do lado
de baixa do sistema. O lado de baixa do sistema é onde o calor é absorvido e removido do
espaço refrigerado. O compressor serve como um divisor entre os lados de baixa e de alta do
sistema de refrigeração. O compressor faz a sucção do fluido refrigerante, comprime e o empurra
para o lado de alta pressão. O lado de alta do sistema é onde o calor é rejeitado para o meio
externo. As denominações usadas para se referir a estas pressões podem variar. O lado de baixa
pressão pode também ser chamado de pressão de sucção ou pressão do evaporador. O lado de
alta pressão é conhecido também como pressão de descarga ou pressão do condensador.

Figura 33. Esquema simplificado de um dispositivo de refrigeração por compressão de vapor


De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

14.1 Componentes básicos de um sistema de


refrigeração
Há quatro componentes básicos do sistemas de refrigeração. O compressor, o
condensador, o dispositivo de medida e o evaporador. Nas seções seguintes (14.2 até 14.5), há
uma breve descrição de que parte cada componente é responsável no ciclo de refrigeração. A
figura 34 mostra esquematicamente o arranjo de cada componente e suas linhas de conexão.

Figura 34. Componentes do sistema de refrigeração por compressão de vapor.

14.2 Compressão
O compressor é o “coração” do sistema de refrigeração por compressão de vapor e atua
como uma bomba no sistema. O compressor tem uma dupla função. Primeiro, ele cria uma
sucção para extrair o vapor refrigerante do evaporador. Segundo, comprime o vapor refrigerante
extraído do evaporador, e assim aumenta sua pressão e temperatura. A figura 35 mostra o
princípio de funcionamento de um compressor alternativo. O termo alternativo serve para
descrever o movimento primeiro em uma direção e depois na direção oposta. Os compressores
alternativos são usados em refrigeração doméstica, comercial e industrial.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

Figura 35. Compressor alternativo.

Outro tipo de compressor usado na refrigeração é o compressor scroll. Em lugar de


usar um movimento alternado, acionado por pistão para comprimir o vapor, o compressor scroll
usa duas peças precisamente fresadas, que tem o formato de uma “espiral” (scroll, em inglês).
Neste compressor, a secção superior é fixa; o scroll inferior move-se de forma orbital à medida
que o motor do eixo de manivela gira. O vapor de sucção entra na primeira das câmaras abertas,
formadas pelas bordas externas dos dois scrolls. À medida que o scroll que orbita move-se no
interior do scroll estacionário, forma-se uma série de bolsas ou câmaras de compressão seladas
em movimento. À medida que o scroll que continua a revolver, o vapor é comprimido no interior
de seções cada vez menores. Finalmente, o vapor é forçado para o interior da menor seção no
centro do scroll, onde atinge a sua pressão mais alta, quando é descarregado no condensador.
A vantagem mais importante dos compressores scroll em relação aos compressores alternativos
é a alta eficiência. O processo de compressão scroll é quase 100% volumetricamente eficiente
em bombear refrigerante.

Figura 36. Princípio de funcionamento do Compressor scroll.


De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

14.3 Condensação
O condensador é a parte do sistema de refrigeração por compressão de vapor que
rejeita calor do vapor refrigerante para o ar exterior e assim, permite que o vapor condense em
um líquido à medida que entra no condensador. O condensador é dimensionado de acordo com
o tamanho do compressor e do evaporador. O vapor superaquecido do compressor passa pela
linha de descarga até o condensador, em seguida o líquido refrigerante atravessa a linha de
líquido até o dispositivo de medida.
De um modo geral, os condensadores transferem calor para duas substâncias: Água ou
ar. Os Condensadores refrigerados a ar são resfriados por um fluxo forçado de ar. O vapor
refrigerante quente e a alta pressão flui no interior do tubo do condensador, o ar ao redor do
condensador absorve o calor da condensação do refrigerante. Os condensadores refrigerados a
ar possuem ventiladores que sopram ar sobre a serpentina para remover o calor mais
rapidamente. Então, unidades refrigeradas a ar dependem do ar exterior para transferir o calor
do interior do condensador para o ambiente externo.
Os condensadores refrigerados a água são fabricados em 3 tipos: casca e tubo, casca e
serpentina e tubo duplo. O condensador casca e tubo, utiliza um tanque (casca) com o
propósito de condensar e manter o refrigerante. O refrigerante quente entra no casco e faz
contato com os tubos por onde flui água fria. Os condensadores do tipo casca e tubo são usados
em grandes unidades de condensação e chillers centrífugos.
Os condensadores casca e serpentina tem uma serpentina de cobre encapsulada dentro
de uma carcaça de aço. Água flui através da serpentina e refrigerante quente é descarregado no
interior da casca. Os condensadores tubo duplo consiste de dois tubos, um tubo é localizado
dentro do outro. Água circula no interior do tubo interno em uma direção. No tubo externo, o
refrigerante flui na direção oposta do fluxo de água. Os condensadores tubo duplo são usados
em pequenas unidades de refrigeração e máquinas de produção de gelo.

14.4 Dispositivo de medida


O dispositivo de medida controla (ou mede) o fluxo de refrigerante que chega ao
evaporador. Este dispositivo reduz a pressão do líquido forçando-o através de uma pequena
abertura. Quando se diminui a pressão do refrigerante, permite-se que ele entre em ebulição a
uma temperatura mais baixa. Para que o refrigerante entre em ebulição de modo mais fácil, a
válvula ou tubo capilar muda a corrente do líquido para uma densa nuvem de gotículas de líquido
antes que ela entre no evaporador. Há vários tipos de dispositivos de medida. Os mais comuns
são: Válvula de expansão termostática (VET), tubo capilar e orifício fixo. O trabalho principal de
uma válvula de expansão é manter o superaquecimento. Com isso, a VET fornece a quantidade
correta de refrigerante para o evaporador, e ao mesmo tempo, protege o compressor do líquido
de retorno.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

Figura 37. Válvula de expansão termostática.

14.5 Evaporação
Nos sistemas de refrigeração, a evaporação é o processo onde ocorre a refrigeração. A
evaporação se dá quando um líquido absorve calor e transforma-se em vapor ou gás. Nestes
sistemas, o evaporador é o componente que auxilia um fluido refrigerante a absorver calor. O
processo se dá quando o ar do espaço a ser refrigerado (chamado, como ar de retorno) passa
através das aletas do evaporador. Estas aletas acrescentam área superficial para as serpentinas
do evaporador, aumentando a transferência de calor.
À medida que o ar do espaço a ser refrigerado passa sobre as serpentinas do evaporador,
o líquido refrigerante ferve enquanto absorve calor do ar. Essa ebulição aumenta muito a
transferência de calor, uma vez que ela faz com que o refrigerante absorva calor latente. A
temperatura do evaporador é a expressão usada para descrever a temperatura do refrigerante
no interior do evaporador. Para obter esta temperatura é necessário medir a pressão de sucção
e depois usar uma tabela pressão-temperatura para o fluido refrigerante específico.
Para ilustrar como a transferência de calor é aumentada pela evaporação, vamos analisar
o que acontece com a água quando é aquecida. Sabe-se que é necessário apenas 0,29 Watts de
calor para aumentar a temperatura de 0,453 kg de água de 99,4 oC para 100oC. No entanto, é
necessário a adição de 284 Watts para fazer a água a 100oC mudar do estado líquido para um
vapor a 100oC. O motivo é que a água deve absorver quase mil vezes mais calor (calor latente)
para ferver do que para simplesmente mudar de temperatura (calor sensível). Se o líquido que
entra no evaporador é convertido em um nuvem de pequenas gotículas, o processo de ebulição
é mais fácil de se completar. O dispositivo de medida muda, ou expande, a corrente de líquido
refrigerante quente transformando-a em uma mistura fria de gotículas de líquido e vapor.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

14.6 Controles e acessórios do sistema de


refrigeração

CONTROLES DE TEMPERATURA
O principal controlador de temperatura é um termostato. Em resposta à temperatura,
um circuito elétrico liga ou desliga, fazendo o compressor interromper ou dar partida. Os
termostatos de refrigeração comercial são voltagem de linha e usam bulbo sensor repleto de gás
ou líquido para monitorar a temperatura. A pressão do bulbo é transmitida por meio de um tubo
capilar ao diafragma no controle em resposta a uma das seguintes temperaturas:

-Temperatura do ar de retorno ou do espaço interno;


-Temperatura do ar de suprimento;
-Temperatura do evaporador;
-Temperatura da linha de sucção.

A maior parte dos termostatos monitora do ar de retorno, que é a média da temperatura


do espaço interno. Os termostatos são apresentados em muitos intervalos de sensor
temperatura e temperatura diferenciais (diferença entre ligar e desligar). Ao “sentir” a
temperatura do ar, o diferencial é de aproximadamente 1,7 oC a 2,7oC. Essa oscilação bastante
ampla de temperatura impede o ciclo curto do compressor.

SEPARADOR DE ÓLEO
Os compressores são lubrificados a óleo. O óleo é colocado no interior do compressor e
circula lubrificando seus componentes internos. Quando o compressor está em operação,
pequena quantidade de óleo é bombeada junto com o vapor refrigerante e circula por todo o
equipamento de refrigeração. Entretanto, muito óleo entrando no condensador, dispositivo de
medida, evaporador e filtros pode interferir no funcionamento destes componentes. O óleo pode
ser separado do refrigerante por um separador de óleo, dispositivo que fica localizado entre o
compressor e o condensador.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

Figura 38. Separador de óleo localizado na linha de descarga.

RECEPTOR DE LÍQUIDO
O receptor é um tanque de armazenamento para refrigerante. Todos os sistemas com
válvulas de expansão, principalmente, em aplicações de refrigeração comercial, devem ter
alguma capacidade de reserva para garantir refrigerante suficiente para a VET sob todas as
condições. O receptor fica localizado no lado de alta, entre o condensador e a linha de líquido.
Sistemas com tubo capilar não usam receptor de líquido.

Figura 39. Receptor de líquido.

FILTRO SECADOR
Todos os sistemas de refrigeração deve ter um filtro secador instalado na linha de
líquido. O filtro secador capta umidade, partículas e outros contaminantes que percorrem o
sistema. Um filtro secador possui telas e filtros de fibra. Além disso, ele possui dessecantes para
reter umidade. Esta umidade pode congelar e emperrar a válvula de expansão por gelo no
orifício. Quando a umidade se combina com o refrigerante, óleo e calor, forma lama e ácido que
provocam falhas no sistema. Sílica gel é um composto que absorve umidade e que constitui a
maioria dos dessecantes dos filtros secadores.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

ACUMULADORES
O fluido refrigerante na linha de sucção está no estado de vapor. Entretanto, vapor
refrigerante pode condensar antes de alcançar o compressor. Se refrigerante líquido entra no
compressor pode levar sérios danos a este dispositivo. Um acumulador junta, ou acumula,
refrigerante líquido da linha de sucção perto do compressor. Se o líquido estiver presente na
linha de sucção, ele descerá para o fundo do acumulador. O ar ambiente esquenta a superfície
externa do acumulador, que dirige o vapor em direção à válvula de sucção de serviço do
compressor.

14.7 Diagrama Temperatura-Entropia


No ciclo ideal de compressão de vapor, figura 40, o refrigerante entra no compressor no
estado 1 como vapor saturado e é comprimido, isentropicamente, até a alta pressão do
condensador, ponto 2. A temperatura do refrigerante aumenta durante a compressão isentrópica
para um valor acima da temperatura do meio. O refrigerante entra no condensador como vapor
superaquecido no estado 2 e deixa-o como líquido saturado no estado 3, como resultado da
perda de calor (Q1) para o ambiente. O refrigerante líquido saturado, estado 3, é estrangulado
para a pressão do evaporador passando através de uma válvula de expansão ou de um tubo
capilar. Quando a válvula de expansão está em equilíbrio, a proporção do fluxo de refrigerante
para o interior do evaporador é equilibrada com a quantidade de calor que o evaporador está
absorvendo mais algum superaquecimento. A temperatura do refrigerante cai abaixo da
temperatura do espaço refrigerado. O refrigerante entra no evaporador como uma mistura
líquido/vapor, estado 4, e finalmente volta ao compressor, completando o ciclo.

Figura 40. Diagrama Temperatura-entropia do ciclo de refrigeração.

O coeficiente de desempenho do ciclo de refrigeração por compressão de vapor pode ser


obtido combinando a primeira e segunda lei:
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

|𝑄2 | ℎ1 −ℎ4
𝐶𝑂𝑃 = |𝑊|
= [30]
ℎ2 −ℎ1

Quanto maior o coeficiente de desempenho, melhor é a operação do refrigerador. Ar-


condicionados tem COP de 2,3 até 3,5. O COP de refrigeradores diminui para menores
temperatura de refrigeração. Deste modo, não é econômico refrigerar a uma temperatura mais
baixa do que a necessária. Os COPs de refrigeradores estão na faixa de 2,3 – 2,6 para alimentos
em geral; 1,2 – 1,5 para congelados e 1,0 - 1,2 para unidades de sorvetes. Note que o COP de
freezers é praticamente a metade do COP de refrigeradores.
Atualmente, os seguintes refrigerantes são usados nos equipamentos de refrigeração:
R404 e R22 em câmaras frigoríficas; R134a, R404A e R22 em geladeiras comerciais e balcões
de supermercados; O R-410A e o R-407C são utilizados em ar condicionados.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

15 Exercícios de aplicações

Exercício 53. Nossa escola de engenharia desenvolve atualmente uma unidade compacta de
geração de energia, especialmente projetada para utilizar restos agrícolas e rejeitos de floresta
como combustível. O coração desse processo consiste numa caldeira de leito fluidizado para
gerar vapor de água. No protótipo mostrado na figura, a temperatura nos tubos é limitada a
300oC, enquanto que o condensador operará a 75 kPa.

Considerando um ciclo de Rankine ideal com uma turbina a vapor de exaustão saturado:

a) Num diagrama T-s esquematize seu ciclo;


b) Recomende uma pressão da caldeira razoável;
c) Determine a eficiência da transformação do calor que entra na caldeira em trabalho;
d) Ache a eficiência do ciclo de Carnot operando entre esses mesmos limites de temperatura.

Exercício 54. Calcular o rendimento de um ciclo de Rankine conhecendo-se a pressão da


caldeira, p3 = 5 MPa, e a do condensador, p4 = 50 kPa. Sabe-se que o vapor entra saturado na
turbina e que a água que sai do condensador está saturada.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

Exercício 55. Calcular o rendimento do ciclo do problema anterior adotando o vapor


superaquecido na entrada da turbina a 500o C, com as demais condições mantidas.

Exercício 56. Calcular o rendimento do ciclo do problema anterior, adotando uma pressão na
caldeira de 8 MPa e com as demais condições mantidas.

Exercício 57. Imaginemos um ciclo de Rankine com reaquecimento do vapor que passa pela
turbina do problema anterior na pressão de 7,5 MPa, ponto 4. Calcular o rendimento do ciclo
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

supondo que a temperatura de reaquecimento seja também de 500 o C e com as demais


condições mantidas.

Exercício 58. Em sua unidade de refrigeração, em Roraima, a FRIO-QUENTE usa um ciclo de


compressão a vapor com HFC-134a como fluido de trabalho. Fuçando dentro da unidade e
olhando os manômetros, notei que uma parte do ciclo deles opera perto de 50 kPa e outra opera
a 1,8 MPa. Também notei que uma válvula de expansão está presente como parte do sistema.
Pelo que foi descrito, você poderia determinar o coeficiente de performance dessa unidade de
refrigeração, se tudo opera idealmente?
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

16 O Ciclo de Brayton

As turbinas a gás retiram sua potência da queima de um combustível e usam o fluxo (a


alta velocidade) dos gases de combustão para mover o eixo da turbina do mesmo modo que a
alta pressão do vapor move a turbina a vapor.
Uma grande diferença é que a turbina a gás tem uma segunda turbina agindo como um
compressor de ar montada no mesmo eixo. O compressor drena o ar, comprimi-o e o alimenta,
a alta pressão, dentro de uma câmara de combustão. A figura 41 mostra os principais elementos
de uma turbina de combustão.

Figura 41. Turbina a gás

O processo termodinâmico usado pela turbina a gás é o ciclo de Brayton. Análogo ao


ciclo de Carnot em que a eficiência é maximizada pelo o aumento da diferença de temperatura
entre a entrada e a saída da máquina, a eficiência do ciclo de Brayton é maximizada pelo
aumento da diferença de pressão existente na máquina. A turbina a gás é composta por três
componentes principais: o compressor, a câmara de combustão e a turbina.
O fluido de trabalho, o ar, é comprimido no compressor (compressão adiabática, trecho
1-2), depois misturado com combustível e queimado sob pressão constante na câmara de
combustão (adição de calor a pressão constante, trecho 2-3). O gás quente resultante expande
através da turbina produzindo trabalho (expansão adiabática, trecho 3-4). Grande parte desse
trabalho é usada para movimentar o compressor (60%). A figura 33 mostra os diagramas ideais
p-v e T-s por mol de ar que passa pela turbina.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

17 Caldeiras

17.1 Introdução

A NR 13, redação aprovada pela portaria 23 de 26/04/95, define caldeira a vapor como
todo o equipamento destinado a produzir e acumular vapor sob pressão superior a atmosférica,
utilizando qualquer fonte de energia: térmica, nuclear, elétrica ou mesmo solar. Esta definição
abrange todos os tipos de caldeiras, sejam as que vaporizam água ou outros fluidos.
Atualmente, devido a todos os avanços industriais, os geradores de vapor fornecem o
vapor indispensável a muitas atividades, não só para gerar energia mas também para limpeza,
esterilização, aquecimento e participação direta no processo produtivo como uma verdadeira
matéria prima. Além da indústria, outras empresas utilizam cada vez mais vapor gerado pelas
caldeiras, como restaurantes, hotéis, hospitais e frigoríficos.
O vapor gerado na caldeira é transportado por tubulações até os pontos de utilização,
podendo haver uma ou mais tubulações de distribuição. A partir dessas tubulações, outras de
menor diâmetro transportam o vapor até os equipamentos de forma individual.
Dentro de uma unidade industrial, a caldeira é um equipamento de elevado custo e
responsabilidade, cujo projeto, operação e manutenção são padronizados e fiscalizados por uma
série de normas, códigos e legislações. No Brasil, o Ministério do trabalho é responsável pela
aplicação da NR-131, que regulamenta todas as operações envolvendo caldeiras e vasos de
pressão no território nacional.

Quanto à pressão de operação, podem ser classificadas como:

Caldeiras de baixa pressão O,69 a 1,4 MPa


Caldeiras de média pressão 1,4 a 4,8 MPa
Caldeiras de alta pressão 4,8 a 10 MPa
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

Para efeito da NR-13, as caldeiras são classificadas em categorias:

A – pressão de operação igual ou superior a 1998 kPa;


B – pressão de operação igual ou inferior a 599 kPa;
C – todas as outras não enquadradas nas categorias anteriores. Caldeiras mais comuns.

17.2 Classificação quanto à montagem

As caldeiras também podem ser classificadas quanto ao seu grau de pré-fabricação. Por
este critério, as caldeiras são agrupadas em:

- Caldeiras compactas;
- Caldeiras montadas parcialmente no local;
- Caldeiras montadas totalmente no local.
Considera-se uma caldeira como compacta quanto a mesma é embarcada pelo fornecedor
completamente montada com queimadores, ventiladores, controles e acessórios. Estas caldeiras
são mais baratas e mais fáceis de instalar. As caldeiras com capacidade acima de 250 ton. de
vapor/h são totalmente montadas no local, caldeiras na faixa de 100 a 250 ton./h são,
geralmente, montadas no local, embora tenham parte de seus componentes montados na
fábrica, já as caldeiras até 100 ton./h são, em geral, compactas.

17.3 Classificação quanto à finalidade

Caldeiras para centrais termoelétricas – São projetadas para produzir vapor com alta
pressão e temperatura, visando o melhor rendimento na geração de energia;

Caldeiras industriais – São projetadas para produzir vapor saturado ou levemente


superaquecido, empregado em aquecimento, evaporação e outros;

Caldeiras combinadas – Utilizadas para as duas finalidades.

17.4 Classificação quanto à concepção

As caldeiras podem ser agrupadas em:

- FLAMOTUBULARES
- AQUATUBULARES
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

CLADEIRAS FLAMOTUBULARES – Estas caldeiras caracterizam-se pela passagem dos gases


quentes por dentro de tubos, geralmente em dois ou três passes antes de saírem para a chaminé.
Todo este conjunto de tubos é por onde passam os gases e está imerso na água a ser vaporizada.
São empregadas para baixas pressões (até 1 MPa), baixas capacidades (até 15000 kg/h) e onde
possa ser utilizado vapor saturado (título 80 a 90%). São os equipamentos mais baratos,
compactos e que requerem menos cuidados de operação e manutenção.

Figura 42. Caldeira flamotubular esquemática.

Diferentes combinações nos layout de tubos são usadas em caldeiras flamotubulares,


envolvendo o número de passes que o calor dos gases quentes atravessa antes de sair para o
ambiente. A figura 43 mostra uma caldeira com 2 passes e na figura 44 vê-se uma caldeira com
3 passes.

Figura 43. Configuração de uma caldeira flamotubular de dois passes de gases.


De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

Figura 44. Configuração de uma caldeira flamotubular de três passes de gases.

CALDEIRAS AQUATUBULARES – Estas caldeiras caracterizam-se pela combustão em uma


câmara denominada fornalha enquanto a água a ser vaporizada circula no interior de tubos que
cobrem as paredes da fornalha. Nos modernos projetos industriais, são usadas, quase
completamente, caldeiras tipo tubo de água, dando ensejo, a que se produzam grandes
quantidades de vapor e elevadas pressões e temperaturas. Existem modelos com produção de
vapor superiores a 200 toneladas de vapor/hora e pressão de operação de 30 Mpa (caldeiras
supercríticas). A maioria da caldeira aquatubulares operam com o princípio da circulação natural
de água (conhecido, como efeito termossifão).

Figura 45. Caldeira aquatubular esquemática.


De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

Figura 46. Caldeira aquatubular e acessórios

17.5 Elementos principais de uma caldeira


aquatubular

As caldeiras aquatubulares têm como característica principal a formação do vapor no


interior dos tubos, por onde também circula a água. Os principais elementos que compõem o
corpo de uma caldeira aquatubular à combustão são:
- Tubulão superior;
- Tubos de circulação ascendente;
- Tubos de circulação descendente;
- Tubulão inferior;
- Fornalha (onde ocorre a queima do combustível).

Podem existir também:


- Superaquecedor;
- Pré-aquecedor de ar;
- Economizador;
- Bomba de circulação forçada.

As funções destes componentes são as seguintes:

Tubulão superior – É um vaso fechado, localizado no ponto mais alto da caldeira, onde se
encontra em equilíbrio água líquida e vapor. Tem a função de separar, coletar, acumular o vapor
d’água gerado e receber a água de alimentação;
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

Tubulão inferior – Fica localizado no ponto mais baixo do sistema de tubos e tem por finalidade
acumular lama, ferrugem e outros materiais. Fazendo-se periodicamente a descarga desses
materiais. Este tambor trabalha cheio d’água.

Tubos ascendentes – Gerar e conduzir o vapor ao tubulão superior;

Tubos descendentes – Conduzir a água líquida ao tubulão inferior;

Superaquecedor – Transformar o vapor proveniente do tambor em vapor superaquecido, ou


seja, com temperatura maior;

Economizador – Aumentar a temperatura da água de alimentação, às custas do calor residual


dos gases de combustão. Assim, consegue-se melhorar o rendimento da caldeira, e ainda evitar
possíveis choques térmicos no tambor de vapor.

Pré-aquecedor de ar – Tem por finalidade elevar a temperatura do ar de combustão. Com isto,


consegue-se melhor queima, aumentando o rendimento da caldeira.

Figura 47. Caldeira aquatubular com acessórios.


De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

17.6 Sistema de distribuição de vapor

O sistema de distribuição de vapor é a conexão essencial entre a caldeira e o usuário de


vapor. O vapor gerado na caldeira é transmitido por tubos até o ponto de uso do calor. O circuito
de vapor é formado por um ou mais tubos principal e por tubos secundários que carregam vapor
até os pontos de utilização nos equipamentos.
O fluxo de vapor em contato com os tubos começará a condensar e, na partida do sistema
a taxa de condensação é alta, pois existe a máxima diferença de temperatura entre o vapor e o
tubo. Quando os tubos já estão aquecidos, na condição normal de operação, a taxa de
condensação diminui mas esta condensação continua pois os tubos ainda transferem calor para
o ar da vizinhança.
O resultado da condensação (conhecido, como condensado) é água quente a uma
temperatura de 80 – 90oC. O condensado se acumula na parte inferior dos tubos e é arrastado
pelo fluxo de vapor e também auxiliado pela inclinação proposital da linha principal. O
condensado deve ser drenado em vários pontos localizados, estrategicamente, na linha.
Quando há um suprimento continuo de vapor da caldeira para os equipamentos ou
produtos, mais água (e combustível para aquecer a água) é necessário. O condensado formado
na tubulação e nos equipamentos de utilização é, convenientemente, retornado para caldeira
como água de alimentação.
O vapor ideal para um processo deve ser seco, livre de ar e outros gases incondensáveis
e está na pressão correta. Vapor úmido pode ser gerado devido a sobrecarga da caldeira,
ausência de isolamento térmico na tubulação e equipamentos, drenagem deficiente, baixa
pressão de trabalho ou tratamento inadequado da água de alimentação da caldeira.
Nenhum sistema está completo sem a presença de um componente crucial: o purgador
de vapor (ou purgador). O purgador é um dispositivo mecânico automático, que elimina, das
linhas de distribuição e de equipamentos, o ar, gases incondensáveis e condensado de vapor,
não permitindo a perda de vapor vivo. A produtividade de uma planta fabril pode ser muito
prejudicada pela presença de ar e outros gases incondensáveis nas tubulações e equipamentos,
onde se encontra o vapor.
Os purgadores ao removerem os condensados, bem como o ar e outros gases nas linhas
de vapor permitem a conservação da energia do vapor permitindo uma maior eficiência nos
equipamentos consumidores de vapor. A eliminação do condensado permite a diminuição das
vibrações e golpes de aríete nas tubulações.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

Figura 48. Sistema de distribuição de vapor.

Exercício 59. A água de uma caldeira aquatubular em uma usina termoelétrica deve receber
calor à taxa de 3 GW (fluxo de calor da fornalha). A água fervente passa através de tubos de
cobre, com paredes de 4,0 mm de espessura e área superficial de 0,12 m 2 por metro de
comprimento de tubo. Calcular o comprimento total do tubo que deve passar através da fornalha
para aquecer a água, sendo de 225o C a do vapor d’água e 600o C a temperatura externa dos
tubos. A condutividade térmica do cobre é 400 W/m.oC.
(sugestão: fluxo de calor por condução unidirecional).

Exercício 60. Vapor d’água a 120o circula através de tubos de cobre, com paredes de 4 mm de
espessura, para aquecer óleo cru a 100o C. Qual a diminuição relativa da transferência de calor
através dos tubos quando houver uma película de 0,025 mm de ar sobre as superfícies internas
dos tubos? A condutividade térmica do cobre e do ar é 400 W/m.oC e 0,025 W/m.oC,
respectivamente.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

Psicrometria

18 e Ar condicionado
18.1 Introdução

O objetivo da psicrometria é estudar as transferências de massa e de energia associadas


a processos envolvendo o ar úmido em condições ambientais. Em engenharia, a psicrometria
aplica-se a problemas de condicionamento de ar, com grande relevância para o conforto térmico
em habitações e ambientes industriais, e no armazenamento de produtos perecíveis ou outros
que requeiram condições ambientais específicas.
O ar úmido é uma mistura de ar seco e vapor d’água submetido a uma pressão total
próxima da pressão atmosférica. A faixa de temperatura típica em aplicações de
condicionamento de ar vai de -10 C a 50 C. Nestas condições, de baixa pressão e temperaturas
o o

moderadas, o ar seco e o vapor d’água comportam-se como gases ideais, assim como a sua
mistura, o ar úmido.

18.2 Umidade absoluta e umidade relativa

O ar úmido é considerado como uma mistura de ar seco e vapor d’água. Ambos são
considerados como gases ideais em condições atmosféricas porque se encontram em baixas
pressões.
A umidade absoluta é a razão entre a massa de vapor d’água e a massa de ar seco.

mv
 [31]
ma
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

O conceito de umidade relativa precisa de uma elaboração. Considere uma sala


contendo ar úmido não saturado. Se adicionarmos vapor d’água a essa sala, sem alterar a sua
temperatura, chegaremos à sua saturação. Isto significa que existe um limite de vapor que o ar
suporta e que esse limite depende da sua temperatura. Se este limite for ultrapassado, em
algum ponto da sala o excesso de vapor será condensado. A figura 39 mostra o aumento da
pressão parcial do vapor (do ponto A para o B), quando se eleva a sua massa. Se a temperatura
se mantém constante o ponto A tende para B, passando por A’, A’’. O ponto B indica a saturação
do ar e a pressão PS indica a pressão de saturação.

Figura 49. Interpretação da umidade relativa

A umidade relativa é a relação entre a massa de vapor contida no ar e a massa


necessária para provocar a sua saturação, sem alterar a temperatura.

𝑚𝑣
𝜙= [32]
𝑚𝑠

 = umidade relativa, em %;

mv = massa atual de vapor;

m s = máxima quantidade de vapor que o ar suporta a uma determinada temperatura.

A umidade relativa vem usualmente expressa em percentagem. Quando  é 100%, o ar

úmido está saturado com vapor d’água, à temperatura em consideração, e não é possível
acrescentar mais água à mistura.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

A umidade relativa do ar pode ser calculada em função da pressão parcial do vapor.


Assim, podemos escrever:

𝑝𝑣 𝑉 = 𝑚𝑣 𝑅𝑣 𝑇
𝑝𝑠 𝑉 = 𝑚𝑠 𝑅𝑣 𝑇

Se dividirmos as duas equações acima uma pela outra, encontramos:

𝑝𝑣 𝑚𝑣
=
𝑝𝑠 𝑚𝑠
Logo, a umidade relativa pode ser também definida por:

𝑝𝑣
𝜙= [33]
𝑝𝑠

pv = pressão do vapor;

p s = pressão de saturação.

Podemos também relacionar a umidade absoluta com a pressão. Sendo um ar úmido uma
mistura de gases perfeitos, tem-se para o vapor 𝑝𝑣 𝑉 = 𝑚𝑣 𝑅𝑣 𝑇 e para o ar seco 𝑝𝑣 𝑉 = 𝑚𝑣 𝑅𝑎 𝑇 ,
de modo que a umidade absoluta fica:

𝑚𝑣 𝑝𝑣 𝑉 ⁄𝑅𝑣 𝑇 𝑅𝑎 𝑝𝑣
𝜔= = =
𝑚𝑎 𝑝𝑎 𝑉 ⁄𝑅𝑎 𝑇 𝑅𝑣 𝑝𝑎

Como Ra= 0,287 kJ/kg K e para o vapor d’água Rv= 0,4615 kJ/kg K, usando 𝑝 = 𝑝𝑎 + 𝑝𝑣 onde p
é a pressão atmosférica, temos:

𝑣 𝑝
𝜔 = 0,622 𝑝−𝑝 [34]
𝑣

Exercício 61. Calcular a umidade relativa do ar de uma sala de 500 m 3 que contém 12 kg de
vapor à temperatura de 30o C.

Exercício 62. Obter a pressão de vapor e a umidade absoluta em condições de verão:


temperatura 34o C, umidade relativa de 45%, para uma pressão total de 1 atm.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

18.3 Processos simples de condicionamento de ar

O condicionamento de ar envolve quatro tipos de processos: aquecimento (aumento da


temperatura); resfriamento (diminuição da temperatura); umidificação (aumento da umidade
absoluta); desumidificação (diminuição da umidade absoluta). Na prática é usual ocorrerem dois
destes processos simultaneamente. 0 aquecimento implica usualmente umidificação (por
aumentar a umidade relativa) e o resfriamento muitas vezes é acompanhado por
desumidificação.
O estado do ar ambiente é caracterizado pela temperatura e pela umidade relativa.
Quando se fala de “temperatura”, sem qualquer outra especificação, refere-se a temperatura
de bulbo seco, medida por um termômetro normal. Existe outro tipo de medição que dá a
temperatura de bulbo úmido, que será definida posteriormente.

Ponto de orvalho (Tpo): é a temperatura a partir da qual o vapor de água existente no ar


úmido começa a condensar, quando este é resfriado a pressão constante.

Temperatura de bulbo úmido (Tbu): é a temperatura que resulta de um processo de saturação


adiabática. Pode-se dizer também que é a mínima temperatura possível quando se vai
fornecendo, adiabaticamente, vapor d’água ao ar úmido, até se atingir a situação de vapor
saturado. Ao contrário do ponto de orvalho, a pressão de vapor não é constante, mas vai
aumentando, uma vez que a umidade absoluta (a quantidade de água) aumenta. Assim,
Tbu>TPo.

Figura 50. Tpo e Tbu para o ar úmido.

Um psicrômetro é um aparelho que fornece, simultaneamente, a temperatura seca e a


temperatura úmida. Com estes dois valores pode obter-se, imediatamente, a umidade relativa.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

18.4 Sistemas de expansão direta e indireta

Uma maneira de classificar os sistemas de condicionamento de ar é quanto aos fluidos


utilizados para a remoção da carga térmica.
Um sistema é dito de expansão direta, quando o ar diretamente resfriado pelo fluido
refrigerante. Esse sistema predomina em instalações de pequena e média capacidade, onde são
usados em aparelhos de janela e splits. A expansão indireta é aquela em que o fluido usado
como refrigerante do ar é a água. Esta por sua vez é resfriada num circuito de compressão, por
um chiller.

Figura 51. Sistema de expansão indireta.

/
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

18.5 Carta psicrométrica

Existe um diagrama termodinâmico particularmente útil para resolução de problemas de


psicrometria, e que é utilizado por técnicos ou engenheiros projetistas de ar condicionado e
aquecimento: a carta psicrométrica.
A figura 52 mostra uma reprodução em escala reduzida de um diagrama psicrométrico,
válido para uma pressão total de 1 atm. O eixo vertical representa a umidade absoluta, e o
eixo horizontal à temperatura de bulbo seco, T. As linhas inclinadas para a esquerda dão a
entalpia e a temperatura de bulbo úmido. A linha arredondada (linha grossa), com curvatura
para a esquerda, na parte superior do diagrama, corresponde à linha de vapor saturado; linhas
arredondadas, no interior do diagrama, com andamento aproximadamente paralelo à curva de
saturação, são linhas de umidade relativa constante.

Figura 52. Diagrama psicrométrico


De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

18.6 Aplicações

63) Calcular o ponto de orvalho do ar atmosférico, cujo estado é definido pela temperatura de
35o C e umidade de 50%.

64) Calcular a umidade absoluta do ar atmosférico, sendo sua temperatura de 25 o C e umidade


relativa de 70%.

65) Calcular a temperatura de bulbo úmido, o ponto de orvalho, a entalpia e umidade absoluta
para o ar úmido, em condições de 28o C e 50% de umidade relativa.

66) Uma caixa com ovos é retirada do refrigerador a 4o C e colocada na cozinha (25o C, 40% de
umidade. Diga se haverá condensação sobre as paredes da caixa.

67) Calcular a potência de resfriamento necessária para manter o interior de uma sala a 20o C
e 70% de umidade, quando o exterior está nas condições de 32o C e 50% de umidade. A sala
tem uma área de 40 m2 e altura de 3 m e pretende-se fazer 3 renovações de ar interior, por
hora.

68) Um aparelho de ar condicionado processa 15 m 3/min de ar exterior a 36o C e 70% de


umidade, que é insuflado em condições de saturação a 15o C. Calcular a potência de refrigeração
e a quantidade de água extraída por minuto.

69) Em uma sala climatizada a temperatura dos vidros das janelas é de -2o C, o interior da sala
está a 23o C. Nestas condições, achar a umidade relativa da sala para que não ocorra
condensação sobre os vidros.

70) Uma tubulação de água a 5oC passa acima da superfície entre dois edifícios. O ar na
vizinhança está a 35oC. Qual é a umidade relativa máxima que o ar pode ter antes que a
condensação ocorra sobre a tubulação?

71) No diagrama psicrométrico, um processo de resfriamento e desumidificação aparece como


uma linha:
(a) horizontal para a esquerda
(b) vertical para baixo
(c) diagonal para cima à direita (direção NE)
(d) diagonal para cima à esquerda (direção NO)
(e) diagonal para baixo à esquerda (direção SO)
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

19 Carga térmica

Dá-se o nome de carga térmica de uma instalação de ar condicionado à quantidade de


calor que, por unidade de tempo, deve ser fornecida ou retirada do ar a ser introduzido nos
recintos condicionados, a fim de que os mesmos se mantenham nas condições de conforto
prefixadas.

19.1 Cálculo simplificado da carga térmica

Consiste em determinar a quantidade de calor que deverá ser retirada de um ambiente,


dando-lhe condições ideais para o conforto humano. Este cálculo é normalmente realizado
conforme a norma NB-158 da ABNT, a qual prevê uma forma simplificada e com as constantes
já definidas para os valores a serem considerados.
O preenchimento correto do formulário simplificado indicará o número de condicionadores
de ar a serem utilizados no recinto.
Para preencher o formulário simplificado, técnico precisa conhecer:

- As dimensões do ambiente a ser condicionado;


- As janelas, portas e os vãos livres com as respectivas dimensões;
- O tipo de parede (leve ou pesada);
- O piso;
- A indicação da parede voltada para o sul;
- O número de lâmpadas com a respectiva potência elétrica consumida;
- O número de aparelhos e as respectivas potências elétricas;
- Se o recinto está localizado sob telhados ou andares;
- Outros elementos que possam interferir na carga térmica.
De Sousa, R.S. apostila: Sistemas Térmicos, IFRN/CNAT, 2021

20 Referências bibliográficas

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Botelho, M. H. C.; Bifano, H. M. Operação de caldeiras–gerenciamento, controle e


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Rubí, J. M. O longo braço da segunda lei, Revista Scientific American Brasil, Editora Duetto,
São Paulo, n.79, p. 62-67, 2008.

Onofre, R. O uso do vapor para geração de energia e aquecimento, Revista Mecatrônica


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Ieno, G.; Negro L. Termodinâmica, São Paulo, Pearson Prentice Hall, 2004.

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Curitiba, 2002.

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