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2022
Introdução à termodinâmica clássica
Instituto de Química
i
Índice
1 Fundamentos da termodinâmica 2
1.1 Temperatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Gases ideais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2.1 Lei de Dalton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2.2 Escala dos gases ideais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.3 Gases reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3.1 Equação de van der Waals . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.3.2 Equações cúbicas de estado (explícitas em pressão) . . . . . . . . . . . . . . 6
1.4 Misturas de gases . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.5 Fator de compressibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.6 Teorema dos estados correspondentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.7 Funções residuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Capítulo 1
Fundamentos da termodinâmica
Sistemas termodinâmicos correspondem àquela porção de matéria do mundo físico que está em
estudo. Por sua vez, as porções de matéria imediatamente próximas do sistema são chamadas de
vizinhanças. Sistemas e vizinhanças podem interagir de diversas formas dependendo do tipo de
fronteira que os separa: rígida ou móvel, permeável ou impermeável e adiabática ou diatérmica.
Assim, um sistema é isolado, se a fronteira não permitir trocas de calor e matéria. Similarmente,
um sistema é fechado, se a fronteira permitir apenas trocas de calor. Além disso, um sistema é
aberto, se a fronteira permitir trocas de calor e matéria.
Um sistema isolado está em equilíbrio termodinâmico quando suas propriedades macros-
cópicas permanecerem constantes no tempo. Um sistema fechado ou aberto estará em equilíbrio,
somente quando (a) as propriedades macroscópicas do sistema permanecerem constantes no tempo
e (b) as propriedades do sistema e das vizinhanças não forem modicadas quando as caracterís-
ticas da fronteira forem alteradas (por exemplo, a troca de uma fronteira diatérmica por uma
adiabática). Se apenas a condição (a) for satisfeita, o sistema estará em estado estacionário.
Equilíbrio pode ser dividido em três tipos: (a) equilíbrio mecânico (quando apenas forças
balanceadas atuam no sistema), (b) equilíbrio material (quando não há reações químicas, nem mu-
danças de fase ocorrendo no sistema e as concentrações das espécies são constantes no tempo) e (c)
equilíbrio térmico (não há gradientes de temperatura no sistema). Para equilíbrio termodinâmico,
é necessário que o sistema se encontre simultaneamente em equilíbrio mecânico, material e térmico.
As propriedades do sistema também podem ser caracterizadas em propriedades extensivas
(dependem das dimensões do sistema) e intensivas (independem das dimensões do sistema). A
razão entre duas propriedades extensivas resulta em uma propriedade intensiva.
1.1 Temperatura
Temperatura é uma quantidade termodinâmica primitiva, a qual é matematicamente representada
por uma escala numérica ordenada que expressa o quão quente ou frio é um corpo. Há diferentes
escalas de temperatura possíveis: (a) as escalas empíricas que se baseiam em medidas diretas de
algumas propriedades termométricas de um material especíco (por exemplo, a altura de uma
coluna de mercúrio em um tubo de vidro depende da temperatura; assim, a altura da coluna
de mercúrio é medida nos pontos de congelamento e ebulição da água e a diferença de altura
observada é dividida em cem partes iguais, de modo a estabelecer uma relação linear entre a
temperatura θ medida e a altura h da coluna de mercúrio) e (b) as escalas teóricas que se baseiam
em conceitos fundamentais da termodinâmica. Aqui, destacam-se a escala de gases ideais e a
escala de temperatura absoluta, onde ambas são matematicamente equivalentes, apesar de serem
derivadas de princípios diferentes.
3
Lei de Boyle: A pressão exercida por dada massa de gás é inversamente proporcional ao
volume que ele ocupa, se a temperatura e a massa de gás permanecerem constantes.
Lei de Charles: Quando a pressão exercida por uma amostra de gás for mantida constante,
a temperatura e o volume serão diretamente proporcionais.
onde pk = pyk . Assim, a lei de Dalton indica que cada gás da mistura se comporta de forma
independente, como se não houvesse outros gases constituintes na mistura.
T ≡ BV tr = 273, 16 K , (1.1)
273, 16 K
B= ,
V tr
V
T ≡ 273, 16 K lim ,
p→0 V tr
que é a denição da temperatura na escala dos gases ideais. Note que o símbolo T tem sido
usado aqui porque a temperatura na escala dos gases ideais é equivalente à temperatura na escala
absoluta.
Figura 1.3: Isoterma de um gás real. As curvas em azul escuro referem-se a isotermas abaixo da
temperatura crítica. As áreas verdes das curvas representam os estados metastáveis. As regiões à
esquerda do ponto F indicam as regiões onde o estado líquido é mais estável. As linhas FG indicam
o equilíbrio entre as fases líquida e vapor. Os segmentos FA e F'A representam respectivamente o
líquido superaquecido e o líquido estirado (p < 0). O segmento AC indica a região de instabilidade
termodinâmica. O segmento CG representa o vapor superesfriado. As regiões à direita do ponto
G representam as regiões onde o estado vapor é mais estável. As áreas FAB e GCB são iguais,
conforme a regra de Maxwell. A isoterma em vermelho representa a isoterma crítica e o ponto K
indica o ponto crítico.
As áreas FAB e BCG são iguais. Para uma substância pura, a condição de equilíbrio de
fases é µl = µv . Em termos da energia de Helmholtz, al + pv l = av + pv v ou ainda p v v − v l =
da = −pdv . Portanto,
av − al = − pEOS dv , (1.2)
onde a fórmula acima é conhecida como regra de Maxwell, a qual arma que em certa temperatura
o equilíbrio entre líquido e vapor é alcançado na pressão de vapor p = p∗ , onde as fugacidades das
espécies nas fases líquida e vapor são iguais. Assim, é possível encontrar a pressão de vapor de
saturação de uma substância na temperatura T , variando-se a pressão do sistema até que as áreas
FAB e BCG sejam iguais.
RT a
p= − . (1.4)
v − b v2
Basicamente, a equação de van der Waals pode ser considerada uma lei dos gases ideais
modicada, onde moléculas são tratadas como partículas não pontuais que estão sujeitas às intera-
ções intermoleculares atrativas e repulsivas. Desta forma, o volume disponível para o movimento
molecular e a pressão exercida pelo gás tendem a ser menores do que aqueles esperado para o caso
ideal.
RT a
p= − , (1.5)
v − b v 2 + δv + ϵ
onde ϵ é um fator que descreve a forma das moléculas e δ é um parâmetro relacionado às interações
intermoleculares.
Resolvendo-se as equações cúbicas para v a temperatura e pressão constantes, três raízes
serão obtidas, as quais podem ser reais ou complexas dependendo dos valores de p e T . Para
T < Tc , três soluções reais são obtidas, v1 < v2 < v3 . Porém, apenas v1 e v3 têm signicado
7
∂2p
∂p
=0 = 0. (1.6)
∂v T ∂v 2 T
Além das equações cúbicas de estado, a literatura também apresenta equações de estado
de alta precisão. Estas equações foram desenvolvidas para problemas muito especícos, onde a alta
precisão das propriedades físico-químicas é fundamental. De modo geral, estas equações de estado
foram derivadas empiricamente e contêm um grande número de parâmetros, os quais precisam ser
encontrados através do t de dados experimentais. Uma das equações de estado de alta precisão
mais conhecidas é a equação BWR que necessita de oito parâmetros e é aplicada em cálculos pV T
para gases não polares.
onde zk pode ser a fração molar na fase vapor ou a fração molar na fase líquida.
Quando os componentes da mistura têm propriedades químicas muito diferentes, é melhor
não desprezar δ nas equações cúbicas de estado. Assim, para espécies químicas k e i muito similares,
δki ≈ 0. Por sua vez, para espécies químicas k e i muito diferentes, δki ̸= 0. Desta forma, a regra
de mistura apresentada na Equação (1.7) é modicada para
X XX
b= zk bk a= zk zi (aki ) , (1.8)
√
onde aki = (1 − δki ) ak ai para k ̸= i, aii = ai , akk = ak e δkk = δii = 0.
Figura 1.4: Representação gráca do comportamento de gases e como o comportamento dos gases
está relacionado ao fator de compressibilidade.
B C D
Z =1+ + 2 + 3 + ··· , (1.9)
v v v
onde os coecientes de virial descrevem as interações entre grupos de partículas sucessivamente
maiores. Por exemplo, o coeciente B descreve interações binárias, o coeciente C descreve as
interações ternárias e assim por diante. A ideia por trás da equação de virial é descrever os
desvios da idealidade em termos de uma série matemática cujo ponto de referência é o gás ideal.
Assim, como os coecientes de virial para um uido puro só dependem da temperatura, em baixas
temperaturas o coeciente B é geralmente negativo, o que implica que o volume molar do gás é
menor do que do correspondente gás ideal devido às interações intermoleculares atrativas. Contudo,
à medida que a temperatura aumenta, o coeciente B se torna menos negativo até que ele se torna
igual a zero na temperatura de Boyle. Acima da temperatura de Boyle, B é positivo.
A principal vantagem da equação de virial é seu background teórico, visto que cada
coeciente da equação está relacionado a um potencial de interações intermoleculares. Porém, em
termos práticos, a equação de virial não tem muita utilidade, pois ela é válida apenas para gases
com densidades baixas ou moderadas. Além disso, tal como as equações cúbicas de estado, ela
também é aplicável a misturas, desde que os coecientes de virial sejam expressos como funções
da temperatura e composição.
Considerando o comportamento de Z para o gás nitrogênio na gura abaixo, em baixas
temperaturas (∼ 100 K), Z tem uma queda abrupta e, logo em seguida, aumenta quase linearmente
com a pressão. Na temperatura de 160 K, o descréscimo de Z com a pressão é mais suave,
embora em altas pressões Z volte aumentar quase linearmente com a pressão. Finalmente, a altas
temperaturas, Z > 1 em todas as pressões. Para todas as curvas, Z → 1 em baixas pressões e
9
O fator de compressibilidade Z denido acima não deve ser confudido com as propriedades
de compressibilidade térmica/adiabática e expansão térmica. A compressibilidade β descreve a
inuência das variações de pressão no volume do sistema. Por sua vez, a expansão térmica α
descreve a inuência das variações de temperatura no volume do sistema:
1 ∂V
βT = − , (1.10)
V ∂p T
1 ∂V
βS = − ,
V ∂p S
1 ∂V
αT = .
V ∂T p
Em geral, funções residuais são determinadas através de uma equação de estado, a qual pode ser
explícita em volume v = v (p, T, n1 , n2 , · · · , nk ) ou explícita em pressão p = p (v, T, n1 , n2 , · · · , nk ).
Além disso, para o cálculo das funções residuais, as equações de estado devem ser contínuas e
bem-denidas nos intervalos ∞ ≤ v ≤ v ′ e 0 ≤ p ≤ p′ .
Como a maioria das equações de estado são da forma p = p (v, T, n1 , n2 , · · · , nk ), é mais
conveniente expressar as funções residuais como uma função do volume. Por exemplo,
V
∂p R
s − sid = − dv + R ln z , (1.12)
∞ ∂T v v
V
∂p
h−h id
= T − p dv + pv − RT . (1.13)
∞ ∂T v
Uma exceção, no entanto, é a energia de Gibbs residual, a qual adquire uma forma matematica-
mente mais simples, se uma equação de estado explícita em volume for usada,
p
RT
g−g id
= v− dp , (1.14)
0 p
onde a representação gráca de g − g id é dada abaixo.
p
fk RT
RT ln (φk ) = RT ln = v− dp , (1.16)
p 0 p
ou ainda
p
fk z−1
RT ln (φk ) = RT ln = dp , (1.17)
p 0 p
onde φk = fk /p é o coeciente de fugacidade, o qual dá uma medida dos desvios da idealidade
de um gás real. Das equações acima, segue que o coeciente de fugacidade φk está relacionado à
energia de Gibbs residual por
g res = RT ln φk . (1.18)
Até o momento, a discussão tem focado apenas nas propriedades de gases reais. Para um
líquido, o coeciente de fugacidade pode ser calculado separando-se a integral da Equação (1.16)
em duas partes,
p∗ p
fkl
RT RT
RT ln = v− dp + vl − dp , (1.19)
p 0 p p∗ p
onde o primeiro termo do lado direito fornece a fugacidade do vapor saturado em T e p∗ e o segundo
termo considera as alterações no coeciente de fugacidade devido à compressão da fase condensada
até a pressão p. Então, como na pressão de saturação p∗ , a fugacidade do vapor saturado é igual
à fugacidade do líquido saturado porque ambas as fases estão em equilíbrio, tem-se que
p
fkl fk∗
p
RT ln = RT ln + v l dp − RT ln , (1.20)
p p∗ p∗ p∗
a qual pode ser rearranjada para
p
vl
fkl = p∗ φ∗k exp dp , (1.21)
p∗ RT
onde o termo exponencial é conhecido como correção de Poyinting. Se a pressão p não for muito
maior do que a pressão de saturação, o termo exponencial é desprezível e a Equação (1.21) simplica
para
Além disso, se na pressão de saturação o vapor se comportar como um gás ideal, φ∗k ≈ 1, 0 e
fkl ≈ p∗ .
12
Capítulo 2
∆E = K + V + ∆U , (2.1)
Trabalhos externos: trabalho associado a outros tipo de força não mencionados anterior-
mente.
O experimento de Joule com um sistema de pás agitando um uido demonstrou que a energia
interna de um sistema pode ser alterada de várias formas. No experimento de Joule, o sistema
estava isolado das vizinhanças e apenas trabalho mecânico adiabático era realizado. Joule percebeu
que as mesmas alterações na energia do sistema causadas por transferências de calor poderiam ser
realizadas através de trabalho mecânico, isto é, as transferências de calor e trabalho poderiam levar
aos mesmos valores de ∆U . Estas observações mais tarde abririam caminho para a formulação da
primeira lei da termodinâmica: a energia de um sistema pode ser alterada por calor e/ou trabalho
e a energia de um sistema isolado é conservada.
14
Para um sistema aberto, a formulação matemática da primeira lei pode ser deduzida
considerando-se um elemento de controle. Neste caso, considere que o sistema encontra-se envolto
por uma superfície σ , a qual apresenta partes que são diatérmicas e exíveis. Além disso, esta
superfície σ também apresenta uma região permeável através da qual massa pode entrar ou sair
do sistema. Por simplicidade, considere também que o input de massa no sistema está associada
a uma pressão pin , volume V in e energia E in , todos constantes. Assim, segue que
onde pin V in dnin é o trabalho volumétrico necessário para permitir o uxo de massa para o in-
terior do sistema e dE = E2 − E1 , tal que E2 and E1 são as energias nal e inicial do sistema,
respectivamente. Se houver múltiplos uxos de massa, a Equação (2.2) pode ser generalizada para
X in X out
Uiin + pin in
Uj + pout out
(2.3)
out
dU =dq + dw + i Vi dni − j Vj dnj ,
X X
dU =dq + dw + Hiin dnin
i − Hjout dnout
j ,
dE dq dw X in dnin X dnout
j
= + + Hi i
− Hjout . (2.4)
dt dt dt dt dt
Todavia, considerando-se uxos estacionários de matéria e de energia, a Equação (2.4) simplica
para
dq dw X in X out dN
+ = Hi − Hj , (2.5)
dt dt dt
onde a condição dN/dt = j /dt = 0 foi usada.
P in
dni /dt − dnout
P
dE dq dw
= + , (2.6)
dt dt dt
que é a formulação matemática da primeira lei da termodinâmica para sistemas fechados. Por sua
vez, se o sistema for isolado, a superfície σ é adiabática e rígida. Portanto,
dE
= 0, (2.7)
dt
que é a formulação matemática da primeira lei da termodinâmica para sistemas isolados, a qual
indica que a energia é conservada.
Por exemplo, considere um recipiente com paredes diatérmicas contendo certa quantidade
de gás no estado (p1 , T1 , V1 ), o qual está imerso em um banho de água. O recipiente possui um
pistão móvel ideal, o qual pode ser deslocado verticalmente sem atrito. Além disso, sobre o pistão
deposita-se certa quantidade de areia, a qual é constituída de centenas de milhares de pequenos
grãos de massa m. Inicialmente, o pistão está em repouso, pois a pressão exercida pelo gás é
igual à pressão exercida pelo monte de grãos de areia. Porém, imagine que um grão de areia
seja removido. Nestas condições, a pressão exercida pela areia sobre o pistão é innitesimalmente
menor do que aquela exercida pelo gás, fazendo com que o pistão se desloque verticamente para
cima por uma quantidade dx. Se este procedimento for repetido centenas de milhares de vezes até
que todos os grãos de areia sejam removidos, o gás no interior do recipiente terá se expandido de
forma muito lenta até o volume nal V2 , sem que ocorra um movimento brusco e nito do pistão.
Em vista disto, é bastante razoável admitir que durante o processo de expansão o gás sempre
esteve innitesimalmente próximo do equilíbrio mecânico e térmico. Além disso, se o processo for
revertido através de uma mudança innitesimal das condições, sistema e vizinhanças retornarão
aos seu estados iniciais e o trabalho será calculado por
w=− pdV . (2.9)
2.3 Entalpia
Como mencionado anteriormente, entalpia é um potencial termodinâmico denido por H ≡ U +pV ,
o qual consiste na soma da energia interna e do trabalho de escoamento que acompanham um uxo
de matéria para o interior ou exterior de um sistema.
Ao contrário do que muitos livros de físico-química armam, a quantidade H pode ser
denida para qualquer sistema, mas apenas para sistemas capazes de realizar trabalho volumétrico
reversível durante um processo isobárico ∆H = qp , onde qp é o calor trocado a pressão constante.
Para um sistema capaz de realizar somente trabalho volumétrico reversível durante um processo
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isocórico, ∆U = qV .
Armação 2.1. Apenas para sistemas fechados capazes de realizar trabalho volumétrico reversível
durante um processo isobárico ∆H = qp .
Demonstração.
∆U = q + w ,
U2 − U1 = q − pV2 + pV1 ,
U2 − U1 = q − p2 V2 + p1 V1 p = p1 = p2 ,
U2 + p2 V2 − U1 + p1 V1 = q ,
| {z } | {z }
H2 H1
H2 − H1 = ∆H = q .
Armação 2.2. Apenas para sistemas fechados capazes de realizar trabalho volumétrico reversível
durante um processo isocórico ∆U = qV .
Demonstração.
∆U = q + w ,
U2 − U1 = q w = 0,
U2 − U1 = qV ,
∆U = qV .
Como calor está relacionado a uma variação de temperatura, segue imediatamente das
relações acima que:
∂H
dH = Cp dT = Cp , (2.10)
| {z } ∂T p
qp
∂U
dU = CV dT = CV , (2.11)
| {z } ∂T V
qV
∂H ∂U ∂V ∂p
= +p +V ,
∂T
p ∂T p ∂T p ∂T p
∂H ∂U ∂V
= +p ,
∂T p ∂T p ∂T p
∂U ∂U ∂U ∂U ∂V ∂U
dU = dV + dT = + ,
∂V T ∂T V ∂T p ∂V T ∂T p ∂T V
∂H ∂U ∂V ∂U ∂V
= + +p ,
∂T p ∂V T ∂T p ∂T V ∂T p
∂H ∂U ∂U ∂V ∂V
− = +p ,
∂T p ∂T V ∂V T ∂T p ∂T p
∂V ∂U
Cp − CV = +p .
∂T p ∂V T
∂T ∂V ∂U
= −1 , (2.12)
∂V U ∂U T ∂T V
∂T ∂U ∂T
=− ,
∂V U ∂V T ∂U V
∂U 1
η=− .
∂V T CV
∂T ∂p ∂H
= −1 , (2.13)
∂p H ∂H T ∂T p
∂T ∂H ∂T
=− ,
∂p H ∂p T ∂H p
∂H 1
µJT = − .
∂p T Cp
19
Ur − Ul = wl + wr q=0 w = wl + wr ,
wl = −pl (0 − Vl ) = pl Vl ,
Ur − Ul = pl Vl − pr Vr ,
Ur + pr Vr = Ul + pl Vl ,
Hr = Hl .
o estado inicial destes gases coincidir com a temperatura e pressão ambientes. No entanto, se estes
gases forem resfriados abaixo de suas temperaturas de inversão máxima, o processo Linde pode ser
explorado na produção de hélio, hidrogênio e neônio líquido.
Armação 2.5. Para um processo adiabático, as variáveis volumétricas de um gás ideal estão
relacionadas por
p2 V2γ = p1 V1γ ,
− nR
Cp − nR
Cp
T2 p2 = T1 p1 .
Demonstração.
dU = dq + dw ,
CV dT = −pdV dU = CV dT dw = −pdV ,
nRT
CV dT = − dV pV = nRT ,
V
CV nR
dT = − dV ,
T V
wT2 dT wV2 dV
CV = −nR ,
T V
T1 V1
T2 V2
CV ln = −nR ln ,
T1 V1
− CnR
T2 V2 V p2 V2 T2
ln = ln = ,
T1 V1 p1 V1 T1
21
CnR
p2 V2 V1 V
= Cp − CV = nR ,
p1 V1 V2
nR nR
1+ C 1+ C
p2 V2 V
= p1 V1 V
,
Cp Cp
CV CV
p2 V2 = p1 V1 ,
p2 V2γ = p1 V1γ .
Demonstração.
dU = dq + dw dq = 0 ,
CV dT = V dp − nRdT ,
(CV + nR) dT = V dp ,
nRT
Cp dT = dp Cp = CV + nR ,
p
Cp nR
dT = dp ,
T p
wT2 dT p2
dp
Cp = nR ,
T p1 p
T1
T2 p1
Cp ln = −nR ln ,
T1 p2
T2 nR p1
ln =− ln ,
T1 Cp p2
− nR
T2 p1 Cp
ln = ln ,
T1 p2
− nR
T2 p1 Cp
= ,
T1 p2
− nR
Cp − nR
Cp
T2 p2 = T1 p1 .
Considere que um gás no estado (p1 , V1 ) se submeta a uma expansão isotérmica reversível
e a uma expansão adiabática reversível, tal que os volumes nais V2 são os mesmos. Além disso,
sejam piso e padi as pressões nais nos processos isotérmico e adiabático, respectivamente. Para
uma expansão isotérmica, tem-se que p1 V1 = piso V2 e para uma expansão adiabática, segue que
p1 V1γ = padi V2γ . Como V2 > V1 e γ > 1, obtém-se
γ
V2 V2 p1 p1
> > . (2.14)
V1 V1 padi piso
Logo, padi < piso . A gura abaixo mostra que o trabalho envolvido em uma expansão isotérmica
é maior do que em uma expansão adiabática. Isto segue do fato de que em uma expansão adiabá-
tica a temperatura diminui, ao passo que em uma expansão isotérmica a temperatura permanece
constante. Então, como os volumes nais são os mesmos, segue da lei de Charles que padi < piso .
22
Agora, considere o caso em que as pressões nais são as mesmas e os volumes nais nas
expansões isotérmica e adiabática são Viso e Vadi , respectivamente. Para uma expansão isotérmica,
p1 V1 = p2 Viso e para uma expansão adiabática, segue que p1 V1γ = p2 Vadi
γ
. Comparando-se as duas
expressões, tem-se que
γ
Vadi Viso
= . (2.15)
V1 V1
Porém, como γ > 1, obtém-se que Viso > Vadi . Este resultado também segue do fato de que em
uma expansão adiabática a temperatura diminui, mas em uma expansão isotérmica a temperatura
permanece a mesma. Então, segundo a lei de Charles, Viso > Vadi . Novamente, a gura abaixo
mostra que o trabalho envolvido em uma expansão isotérmica é maior do que em uma expansão
adiabática.
Armação 2.6. Para um gás ideal, a inclinação de adiabatas é maior do que de isotermas.
Demonstração.
dU = dq + dw ,
CV dT = V dp − nRdT ,
(CV + nR) dT = V dp ,
Cp dT = V dp ,
(
Cp dT = V dp ,
CV dT = −pdV
dp pCp Cp
=− γ= ,
dV V CV CV
dp pγ
=− .
dV V
dp dV dT
V +p = nR ,
dV T dV T dV T
dp
V + p = 0,
dV T
dp p
=− .
dV T V
2.6 Termoquímica
Termoquímica trata das transferências de calor entre um sistema químico e suas vizinhanças quando
uma mudança de fase ou reação química ocorrer no sistema. Dependendo das condições em que a
reação for realizada, a quantidade de calor transferido está relacionada às variações de entalpia ou
energia interna do sistema. Contudo, como a maioria das reações químicas ocorre em condições de
pressão constante, o calor transferido é igual à variação da entalpia do sistema.
A entalpia molar de uma substância é uma função da temperatura e da pressão. Todavia,
a dependência da entalpia molar com a pressão pode ser suprimida, se um estado padrão for
denido:
Para uma substância gasosa em dada temperatura, o estado padrão é o gás ideal hipotético
a pressão de 1,00 bar;
Para uma substância líquida, o estado padrão em dada temperatura é o líquido puro a 1,00
bar;
Para uma substância cristalina, o estado padrão em dada temperatura é a substância crista-
lina pura a 1,00 bar;
Para uma substância ou íon em solução, o estado padrão em dada temperatura refere-se à
espécie química em uma solução ideal com concentração unitária a 1,00 bar.
Não é possível determinar o valor absoluto da entalpia molar de uma substância, mas com base na
convenção abaixo os valores relativos das entalpias padrão molar de formação de várias substâncias
podem ser estimados.
qR = − (qH2 O + qB ) . (2.16)
O calor absorvido pela água e bomba calorimétrica é determinado pelos respectivos calores espe-
cícos. Por denição, o calor especíco de uma substância é o calor necessário para aumentar
a temperatura de 1,00 g da substância em 1,00o C. Se q for o calor necessário para aumentar a
temperatura de uma massa m pela quantidade ∆T , então
q = mc∆T , (2.17)
onde C = mc é a capacidade caloríca da substância. Desta forma, o calor de combustão pode ser
calculado, como explicado abaixo.
Exemplo. Para uma reação heterogênea onde a fase nal é a fase vapor, a relação entre ∆R H e
∆R U é obtida pelas etapas a seguir.
X
∆R H = νk ∆f Hk ,
X
∆R H = νk [Uk + pVk ] ,
X X
∆R H = νk Uk + νk pVk pVk ≫ pVk−1 ,
X
∆R H ≈ ∆R U + RT νk ,
qR
∆R U = ,
nk
com qR = − (qH2 O + qC ) ou simplesmente qR = − (mH2 O cH2 O ∆T + CC ∆T ).
Demonstração.
∂∆R H ∂
= [d∆f H o (D) + c∆f H o (C) − b∆f H o (B) − a∆f H o (A)] ,
∂T p ∂T
Capítulo 3
w qH − qC qC
η= = =1− . (3.1)
qH qH qH
Teorema. Nenhuma máquina de Carnot irreversível pode ser mais eciente do que uma máquina
de Carnot operando entre os mesmos reservatórios.
Demonstração. Considere uma máquina de Carnot reversível e outra irreversível trabalhando entre
os mesmos reservatórios, tal que ambas as máquinas têm o mesmo output de trabalho |w|. Além
disso, assuma que a eciência da máquina de Carnot irreversível é maior do que da máquina
reversível, η I > η R . Desta forma, tem-se que:
|w| |w| R I
I
> R ∴ qH > qH .
qH qH
Agora, assuma que a máquina irreversível faça a máquina de Carnot reversível operar
como um refrigerador. Assim, a máquina irreversível acoplada a um refrigerador de Carnot re-
versível constitui uma máquina térmica auto-suciente, visto que todo trabalho necessário para
a operação do refrigerador é fornecido pela máquina irreversível. Em vista disto, o calor líquido
extraído do reservatório frio é:
R I R I
qH − |w| − qH − |w| = qH − qH > 0.
dU = dq + dw ,
dU = −pdV dU = CV dT ,
CV dT = −pdV ,
TH V2
CV nR
dT = − dV ,
TC T V1 V
TH V2
CV ln = −nR ln ,
TC V1
TH V1
CV ln = nR ln .
TC V2
Etapa 2. Expansão isotérmica.
V3
|qH | = pdV pV = nRT ,
V2
V3
nRTH
|qH | = dV ,
V2 V
V3
|qH | = nRTH ln .
V2
Etapa 3. Expansão adiabática.
TC V4
CV nR
dT = − dV ,
TH T V3 V
TC V4
CV ln = −nR ln ,
TH V3
29
TH V4
CV ln = nR ln .
TC V3
Etapa 4. Compressão isotérmica.
V4
|qC | = pdV pV = nRT ,
V1
V4
nRTC
|qC | = dV ,
V1 V
V4
|qC | = nRTC ln .
V1
Considerando os resultados das etapas isotérmicas,
V3
nRTH ln
|qH | V
= 2 ,
|qC | V4
nRTC ln
V1
e das etapas adiabáticas,
TH V1 V4
CV ln = nR ln = nR ln ∴ V1 V3 = V2 V4 ,
TC V2 V3
|qH | TH
= ,
|qC | TC
|qH | TH
η =1− =1− .
|qC | TC
Corolário. O trabalho reversível é o trabalho máximo que uma máquina térmica pode realizar sobre
as vizinhanças. Se uma máquina térmica irreversível operar em um ciclo, o output de trabalho será
menor do aquele de uma máquina de Carnot.
Demonstração. Considere duas máquinas térmicas de mesmo uido e operando entre os mesmos
reservatórios térmicos. Uma das máquinas térmicas opera ciclica e reversivelmente, ao passo que a
outra opera ciclica e irreversimente. As temperaturas dos reservatórios quente e frio são respecti-
vamente TH e TC , tal que TH > TC . Além disso, assuma que o uido das duas máquinas térmicas
receberam a mesma quantidade de calor qH do reservatório quente. Comparando-se as eciências
das duas máquinas térmicas, segue do teorema de Carnot que:
−wI −wR
ηI ≤ ηR ≤ ∴ wI ≤ wR .
qH qH
se e somente se as razões q1′ /q3′ , q1′′ /q3′′ e q1′′′ /q3′′′ forem funções de θ1 e θ3 ,
|q1 |
= f (θ1 , θ2 ) , (3.4)
q2
|q2 |
= f (θ2 , θ3 ) ,
q3
|q1 |
= f (θ1 , θ3 ) .
q3
ϕ (θ1 )
= f (θ1 , θ2 ) , (3.6)
ϕ (θ2 )
ϕ (θ2 )
= f (θ2 , θ3 ) ,
ϕ (θ3 )
ϕ (θ1 )
= f (θ1 , θ3 ) .
ϕ (θ3 )
|q1 | ϕ (θ1 ) θ1
= = , (3.7)
|q2 | ϕ (θ2 ) θ2
onde ϕ (θi ) é diretamente proporcional a θi , ϕ = θi .
Para completar a denição da escala absoluta de temperatura, assuma que θ1 = 273, 16 K
e q1 é medido no ponto triplo da água. Então, tem-se que
|q2 | 273, 16 K
θ2 = , (3.8)
|q1 |
onde a escala absoluta de temperatura pode ser entendida como a razão entre os calores trocados
entre o sistema e os reservatórios térmicos de uma máquina de Carnot, sendo que um dos reserva-
tórios encontra-se na temperatura do ponto triplo da água. Note que, se o sistema for submetido
a um processo reversível sem transferências de calor, a temperatura em que este processo ocorre é
o zero absoluto.
T1
η =1− . (3.9)
T2
Porém, sabe-se também que a eciência da mesma máquina térmica pode ser escrita como
|q1 | θ1
η =1− = . (3.10)
q2 θ2
Igualando-se as duas expressões, obtém-se que
θ1 T1
= , (3.11)
θ2 T2
o que implica que a razão das temperaturas é a mesma nas duas escalas. Se θ1 e T1 forem associados
à temperatura do ponto triplo da água, então as escalas de temperatura absoluta e de gás ideal
são equivalentes.
nRT
CV dT = dq − dV . (3.12)
V
Dividindo-se a Equação (3.12) por T e integrando todos os termos sobre o ciclo de Carnot, tem-se
CV dq nR
dT = − dV . (3.13)
T T V
Porém, note que cada integral da Equação (3.13) é, na verdade, a soma de quatro integrais de
linha, ou seja, uma para cada etapa do ciclo. Por exemplo,
dq
dS ≡
. (3.17)
T
Segundo Clausius, variações de entropia estão relacionadas às variações de calor pela
desigualdade
dq
dS ≥ , (3.18)
T
onde o sinal de igualdade se mantém para processos reversíveis, ao passo que a desigualdade
aplica-se a processos irreversíveis. Se um sistema for do estado 1 para o estado 2 por um processo
irreversível, os estados intermediários não são estados de equilíbrio e, consequentemente, algumas
quantidades podem ser indenidas. Contudo, desde que a entropia é uma função de estado, não
importa como o sistema foi do estado 1 para o estado 2. Aqui, ∆S é o mesmo quaisquer que sejam
os processos que conectam os estados 1 e 2.
Demonstração. Considere duas máquinas de Carnot I e II, sendo que uma delas funciona como
uma máquina térmica, enquanto a outra funciona como um refrigerador. O uido de cada uma
das máquinas pode ser diferente, mas ambas as máquinas operam entre as mesmas temperaturas
TH e TL . Além disso, o trabalho produzido por uma máquina é consumido pela outra. Assim, a
máquina térmica absorve calor qH na temperatura TH e cede calor qC na temperatura TL .
Inicialmente, as duas máquinas de Carnot são tratadas como máquinas reversíveis e
realizam um número igual de ciclos, de modo que nenhum trabalho seja desperdiçado. Desta
forma, comparando-se os calores trocados em TH e TL , segue que
−wI = qC
I I
− qH <0 − wII = qH
II II
− qC > 0,
I I II II I II I II
qC − qH = qC − qH qC − qC = qH − qH .
Todavia, agora, considere que a máquina II não opera mais como uma máquina reversível
e que a máquina I absorve mais calor na temperatura TH do que a máquina II é capaz de entre-
gar nesta mesma temperatura. Neste caso, as relações obtidas anteriormente continuam válidas,
mas calor ui do reservatório frio para o reservatório quente em clara violação à segunda lei da
termodinâmica.
Alternativamente, pode-se conceber que, na verdade, a máquina I absorve menos calor
em TC do que a máquina II é capaz de entregar. Se isto for verdade, então calor ui do reservatório
quente para o frio, o que é permitido pela segunda lei da termodinâmica. Portanto, tem-se que
I II I II
qC − qC = qH − qH < 0,
wI wII
I
> II
.
qH qH
O resultado acima conrma que máquina reversíveis são mais ecientes do que máquinas
irreversíveis. Usando as relações anteriores e −wII = qH
II II
− qC , pode-se ainda escrever
34
TC q II
ηI = 1 − >1− CII
,
TH qH
II
qH q II
+ C < 0,
TH TC
que pode ser generalizada para qualquer ciclo irreversível como
dq
< 0.
T
Dando sequência às etapas acima, o ciclo irreversível considerado na integral anterior
pode ser decomposto em uma etapa reversível e outra irreversível,
w2 dq w1 dq
+ < 0.
T T
1 2
| {z } | {z }
reversı́vel irreversı́vel
w1 dq
S2 − S1 + < 0,
T
2
w1 dq
S1 − S2 > ,
T
2
ou simplesmente
dq
∆S > .
T
Exemplo. Cálculo da variação de entropia no processo de mistura isotérmica de dois gases ideais.
Solução. O processo de mistura é irreversível. Porém, ∆S para este processo pode ser deter-
minado imaginando-se duas etapas reversíveis, como indicado a seguir. Na primeira etapa, cada
gás é colocado em um recipiente de temperatura constante e, em seguida, os gases são expandidos
35
reversível e isotermicamente até um volume nal V . Nesta etapa, o processo não é adiabático e
∆S deve-se ao processo de expansão isotérmica.
V V
∆SI = ∆Sa + ∆Sb = na R ln + nb R ln .
Va Vb
A segunda etapa consiste na mistura isotérmica e reversível dos gases expandidos. Isto
pode ser feito da seguinte maneira: considere duas membranas semipermeáveis, tal que uma das
membranas é permeável ao gás a e e a outra é permeável ao gás b. Inicialmente, os gases não
estão misturados. Há ainda uma terceira membrana impermeável aos gases a e b e não há atrito
no sistema, isto é, as membranas são ideais e podem ser deslocadas vagarosamente sem dissipar
trabalho.
Considerando que os gases se comportam idealmente, a energia interna só depende de T .
Então, como T é constante ao longo do processo, ∆U = 0. Além disso, como as membranas são
ideais e não houve realização de trabalho, w = 0. Portanto, q = 0 e ∆S = 0, o que indica que a
segunda etapa é adiabática.
A variação total de entropia para o processo é
0
∆Stotal = ∆SI +
∆SII = ∆SI ,
1 1
∆SI = na R ln + nb R ln ,
xa xb
a qual se deve exclusivamente à variação de entropia ocorrida na primeira etapa.
S = kB ln (p) , (3.19)
onde estados com maior probabilidade de ocorrência são aqueles com o maior número possível de
microstados compatíveis. Assim, quando o equilíbrio for atingido, o sistema alcançou o estado
com o maior número possível de microstados, isto é, para um sistema isolado, a maximização da
entropia está diretamente relacionada ao aumento do número de microstados do sistema.
Note que não é impossível que um sistema isolado evolua espontaneamente para um
estado de baixa probabilidade, mas tal ocorrência é improvável. De fato, a segunda lei é uma lei
de probabilidades e há uma chance muito pequena de que o sistema não evolua para o estado mais
estável.
36
∂∆Go
lim = lim ∆S o = 0 , (3.22)
T →0 ∂T p
T →0
0 0
∆S o (0) = SH
o
2O
(0) − o
SH2
− 1/2S o
(0) O2 (0)
= 0,
o
SH 2O
(0) = 0 .
wT C
o o p
SH 2O
(T ) − SH 2O
(0) = dT .
T
0
38
Capítulo 4
Potenciais termodinâmicos e
equilíbrio
Equilíbrio material implica que, em cada fase do sistema, a quantidade de matéria de cada espécie
química permanece constante no tempo. O equilíbrio material é subdividido em equilíbrio de
reação (equilíbrio em relação à conversão de um conjunto de espécies em outro) e equilíbrio de
fases (equilíbrio em relação à transferência de matéria entre as fases do sistema). Para discutir
equilíbrio material de um sistema, dois novos potenciais termodinâmicos são introduzidos: a energia
de Helmholtz e a energia de Gibbs. Contudo, as condições para equilíbrio material são melhor
formuladas em termos do potencial químico.
dU − dw = dq dq ≤ T dS dw = −pdV , (4.1)
dU + pdV ≤ T dS d (T S) = T dS + SdT ,
dU + ≤ d (T S) −
pdV SdT
,
d (U − T S) ≤ 0 ,
dA ≤ 0 ,
onde A é a energia de Helmholtz. A desigualdade obtida acima simplesmente indica que a energia
de Helmholtz de um sistema fechado quando submetido a um processo irreversível isotérmico e
isocórico deverá diminuir até que o estado de equilíbrio seja alcançado.
Por sua vez, agora considere o mesmo sistema, porém submetido a um processo irrever-
sível isotérmico e isobárico. Neste caso, tem-se que
39
dU − dw = dq dq ≤ T dS dw = −pdV , (4.2)
dU + pdV ≤ T dS d (T S) = T dS + SdT d (pV ) = pdV + V dp ,
dU + d (pV ) − ≤ d (T S) −
V dp SdT
,
d (U − T S + pV ) ≤ 0 ,
d (H − T S) ≤ 0 ,
dG ≤ 0 ,
onde G é a energia de Gibbs. A desigualdade obtida acima simplesmente indica que a energia de
Gibbs de um sistema fechado quando submetido a um processo irreversível isotérmico e isobárico
deverá diminuir até que o estado de equilíbrio seja alcançado.
Equação de Gibbs-Helmholtz:
∆G =∆H − T ∆S , (4.8)
∆G ∆H
= − ∆S ,
T T
∂ (∆G/T) ∂ (∆H/T) ∂∆S
= − ,
∂T p ∂T p ∂T p
∂ (∆G/T) −∆H
= .
∂T p T2
∂2z ∂2z
∂M ∂N
= = .
∂x y ∂y x ∂x∂y ∂y∂x
Uso das derivadas parciais mistas nas relações de Gibbs resulta em
∂T ∂p ∂T ∂V
=− = , (4.9)
∂V S ∂S V ∂p S ∂S p
∂S ∂p ∂S ∂V
= =− . (4.10)
∂V T ∂T V ∂p T ∂T p
ou simplesmente
X
dG = V dp − SdT + µk dnk , (4.12)
X ∂G X ∂G XX ∂G
dG = dp + dT + dnα
k , (4.13)
α
∂p T,nk α
∂T p,nk α
∂nk p,T,nk̸=i
k
X X XX
dG = Vα dp − Sα dT + µk dnα
k . (4.14)
α α α k
G
gk = ,
nk
gk nk = G ,
nk
dg
k + gk dnk = dG ,
∂G
µk = gk = .
∂nk p,T,nk̸=i
& %
' $
dgk = vk dp −
sk
dT
,
dgk = vk dp pvk = RT ,
RT
dgk = dp ,
p
2 2
RT
dgk = dp ,
1 1 p
pk
µk − µok = RT ln .
po
& %
X X XX
dG = Vα dp − Sα dT + µk dnα
k ≤ 0. (4.15)
α α α k
Porém, se o processo ocorre a pressão e temperatura constantes, a equação anterior simplica para
XX
dG = µk dnα
k ≤ 0, (4.16)
α k
o que implica que µδk ≤ µβk . De fato, a desigualdade obtida mostra que o uxo de matéria entre
as fases β e δ persistirá, enquanto o potencial químico da espécie k na fase β for maior do que
o potencial químico de k na fase δ . Em outros termos, o uxo de matéria ocorre no sentido da
minimização do potencial químico da espécie. Quando o potencial químico de k na fase β for igual
ao potencial químico de k na fase δ , o sistema atingiu o equilíbrio material.
O raciocínio desenvolvido acima também se aplica a reações químicas. Todavia, neste
caso, pode ser mais interessante usar o conceito de grau de avanço da reação ξ , o qual indica o
quanto uma reação avança. Se ξ = 0, nenhuma conversão de reagentes a produtos é observada.
Por sua vez, se 0 < ξ < 1, há conversão parcial de reagentes em produtos. Porém, se ξ = 1, a
reação avançou até sua completude.
O grau de avanço da reação está relacionado às variações da quantidade de matéria de
uma substância por dnk = νk dξ , onde νk é o coeciente estequiométrico da espécie k na reação.
Considerando um sistema reacional monofásico e substituindo a relação dnk = νk dξ na Equação
(4.12), obtém-se
X
dG = µk dnk ≤ 0 , (4.18)
X
dG = µk νk dξ ≤ 0 ,
∂G X
= µk νk ≤ 0 .
∂ξ p,T
Para uma reação em uma mistura de gases ideais do tipo cC ⇌ aA, a Equação (4.12)
pode ser reescrita da seguinte forma:
43
∂G
=aµa − cµc ≤ 0 , (4.19)
∂ξ p,T
∂G pa pc
=a µoa + RT ln − c µo
c + RT ln ≤ 0,
∂ξ p,T po po
a
pa
∂G po
=(aµoa − cµoc ) + RT ln
∂ξ c
pc ≤ 0,
p,T | {z }
∆R Go
po
| {z }
Qo
p
∂G
=∆R Go + RT ln Qop ≤ 0 .
∂ξ p,T
A Equação (4.19) mostra que a energia de Gibbs da mistura reacional diminui à medida que a
reação avança e quando o equilíbrio químico for atingido, a energia de Gibbs da mistura reacional
atinge seu valor mínimo. Neste caso, ∆R Go = −RT ln Kpo . Além disso, o primeiro termo do lado
direito da Equação (4.19) é a energia de Gibbs padrão da reação, ao passo que o segundo termo
vem da mistura ideal formada por reagentes e produtos. Isto pode ser demonstrado como segue.
∂G
Armação. O termo mostra como a energia de Gibbs de uma mistura de reagentes e
∂ξ p,T
produtos varia durante a reação.
Demonstração. Considere a reação I2 (g) ⇌ 2I (g), onde todas as espécies se comportam como
gases ideais. Suponha também que a reação ocorre a uma temperatura constante T . No equilíbrio,
deverá ser formada uma mistura de n1 moles de I2 (g) e n2 moles de I (g).
A reação em questão pode ser visualizada como um processo em duas etapas. Inicial-
mente, n′1 = 1 moles de I2 (g) em seu estado padrão se decompõem em n2 moles de I (g) também
em seu estado padrão. Em seguida, o restante dos n′1 moles de I2 (g)serão misturados com n2
moles de I (g). Para a primeira etapa, tem-se simplesmente ∆R GI = ∆R Go ξ . Por outro lado, para
a segunda etapa, tem-se que ∆mix H = 0 e ∆mix S = −Rn1 ln (y1 ) − Rn2 ln (y2 ), donde se obtém
n1 n2
∆mix S = −Rn1 ln − Rn2 ln n1 = n′1 − ξ n2 = 2ξ ,
n1 + n2 n1 + n2
n′1 − ξ
2ξ
∆mix S = −R (n′1 − ξ) ln − 2Rξ ln ,
n′1 − ξ + 2ξ n′1 − ξ + 2ξ
1−ξ 2ξ
∆mix S = −R (1 − ξ) ln − 2Rξ ln ,
1+ξ 1+ξ
1−ξ 2ξ
∆mix G = RT (1 − ξ) ln + 2RT ξ ln ∆mix G = ∆mix H − T ∆mix S ,
1+ξ 1+ξ
o 1−ξ 2ξ
∆G = ∆R G ξ + RT (1 − ξ) ln + 2RT ξ ln .
1+ξ 1+ξ
Tirando a derivada de ∆G em relação a ξ , segue que
44
∂∆G o 2ξ 1−ξ 1−ξ 2ξ
= ∆R G + 2RT ln − RT ln y1 = y2 = ,
∂ξ p,T 1+ξ 1+ξ 1+ξ 1+ξ
y22
∂∆G
= ∆R Go + RT ln .
∂ξ p,T y1
∂ ln K o 1 ∂ (∆R Go /T )
∂ (∆G/T) −∆H
=− = , (4.20)
∂T p R ∂T p ∂T p T2
d x−1
∂ ln K o ∆R H o
1
= 2
=− 2,
∂T p RT dx x
∂ ln K o ∆R H o
= − ,
∂ (1/T ) p R
∂ ln K o ∂∆R Go
1
=− dG = V dp − SdT , (4.21)
∂p RT ∂p
o
T o
T
∂ ln K ∆V
=− .
∂p T RT
Se o estado padrão for denido na pressão de 1,00 bar, K o independe da pressão. Porém, se o
estado padrão for denido na pressão do sistema, a dependência de K o com p está relacionada à
variação de volume que acompanha a reação. Para fases condensadas, ∆V o ≈ 0 e K o independe
da pressão. Para reações em fase gasosa, Kpo e Kco também independem da pressão. Kx de uma
reação na fase gasosa só depende de p, se νk ̸= 0.
P
Como fko e µok são arbitrários, ambos não podem ser escolhidos independentemente, isto é, quando
um for escolhido, o outro automaticamente estará denido. Isto evidencia a importância da de-
nição de estados padrão em termodinâmica.
Para um gás ideal puro, a fugacidade é igual à pressão e para uma componente k de
uma mistura de gases ideais, a fugacidade é igual à pressão parcial de k na mistura, fk = yk p.
Então, visto que todos os gases se aproximam do comportamento ideal em pressões muito baixas,
a denição de fugacidade deve ser completada pelo limite:
fk
lim = 1. (4.23)
p→0 yk p
Desta forma, fugacidade pode ser interpretada como uma pressão corrigida pelos desvios da idea-
lidade.
Lewis chamou a razão fk /fko de atividade ak . A atividade de uma substância dá uma
indicação de quão ativa uma substância é em relação ao seu estado padrão. Em outros termos, a
atividade fornece uma medida da diferença entre o potencial químico da substância no estado de
interesse e o potencial químico da substância no estado padrão. O mesmo pode ser dito para a
fugacidade, pois os valores numéricos de fk são sempre relativos àqueles de um gás ideal (estado
padrão) cuja fugacidade é unitária. Como a variação µk −µok foi obtida para um processo isotérmico,
note que a temperatura do estado padrão deve ser a mesma do estado de interesse. Todavia, as
composições e pressões dos dois estados não precisam ser as mesmas.
Para as fases β e δ , a variação µk − µok é respectivamente dada por
!
fkβ
µβk − µβo
k =RT ln , (4.24)
fkβo
fkδ
µδk − µδo
k =RT ln .
fkδo
Então, se os estados padrão de k forem os mesmos nas fases β e δ , tem-se que fkβo = fkδo e a
condição de equilíbrio material resume-se a fkβ = fkδ . Contudo, note que esta relação só é válida,
se os estados padrão de k forem os mesmos em todas as fases. Alternativamente, assuma que os
estados padrão para as fases β e δ estão na mesma temperatura, mas não na mesma pressão e
composição. Neste caso, segue que
!
fkβo
µβo
k − µδo
k = RT ln , (4.25)
fkδo
e, consequentemente,
!
fkβ fkδ
µβo
k +RT ln = µδo
k + RT ln , (4.26)
fkβo fkδo
!
fkδ fkβo
µβo
k − µδo
k = RT ln ,
fkβ fkδo
!
fkδ fkβo δo
fk
0 = RT ln ,
fkβ δo βo
fk fk
fkδ = fkβ .
46
da escolha do estado padrão, K o também dependerá desta escolha. Aqui, ao contrário das reações
que ocorrem em fase gasosa, Kx , Kco e Km o
estão diretamente associados a ∆Gox , ∆Goc e ∆Gom ,
respectivamente. Para reações em fase gasosa, como o estado padrão é denido a 1,00 bar, ∆Go
está diretamente relacionado a Kpo , mas está apenas indiretamente relacionado a Kco e Kx . Então,
ao usar dados tabulados da energia de Gibbs para calcular as composições do equilíbrio, o estado
padrão usado deve estar claro.
A relação entre Kpo e Kco e Kpo e Kx é respectivamente dada por
P νk
RT co
Kpo = Kco , (4.27)
po
P νk
p
Kpo = Kx , (4.28)
po
onde Kpo , Kco e Kx são adimensionais. As relações acima indicam que se Kpo for conhecido, Kco e
Kx podem ser facilmente determinados, visto que co e po são constantes.