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Caio Bianchi
2021
2
Sumário
1 Calor 5
1.1 Energia térmica, calor, equilı́brio térmico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2 Quantidade de calor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2.1 Calor Sensı́vel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.2 Calor Latente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.3 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.4 Sistemas fı́sicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.4.1 Trocas de calor em sistemas isolados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.4.2 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2 O gás ideal 13
2.1 Definições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2 Estado de um gás . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3 1a lei da Termodinâmica 15
3.1 Energia interna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3.2 Transferência de energia: calor e trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.3 Primeira lei da Termodinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.3.1 Convenção de sinais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.4 Reversibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.5 Capacidade térmica molar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.5.1 Diagramas de estado, capacidades térmicas especı́ficas . . . . . . . . . . . . . 18
3.6 Processos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.6.1 Transformação isovolumétrica, isocórica ou isométrica . . . . . . . . . . . . . 19
3.6.2 Transformação isobárica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.6.3 Transformação isotérmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.6.4 Transformação adiabática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.6.5 Expansão livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3
4 SUMÁRIO
Capı́tulo 1
Calor
1 Mais tarde veremos que o contato em si não é de fato necessário, mas vamos tomá-lo como exemplo inicial
2 Para sistemas que não realizam trabalho e que não têm trabalho realizado sobre eles, como veremos no capı́tulo
de 1a lei da termodinâmica.
5
6 CAPÍTULO 1. CALOR
Qs = mc∆θ
Substância c (cal/gºC)
Água 1
Álcool 0,6
Gelo 0,5
Alumı́nio 0,21
Vidro 0,16
O calor especı́fico é uma grandeza intensiva, isto significa que ela não depende da extensão do
sistema. Em outras palavras, 1 kg de água ou 1000 kg de água têm o mesmo calor especı́fico (como
já citado, este só depende da substância). Uma quantidade extensiva análoga ao calor especı́fico é a
capacidade térmica, definida como:
C = mc
Esta grandeza é definida não mais para substâncias, mas sim para corpos. Um copo de água e uma
piscina, embora sejam constituı́dos da mesma substância, têm capacidades térmicas diferentes pois
têm massas diferentes. A unidade de capacidade térmicas é cal C . Observe que a expressão do calor
sensı́vel pode ser reescrita em função da capacidade térmica:
Qs = C∆θ
Fisicamente pode-se entendê-la como a quantidade de calor necessária para elevar de 1ºC a tempe-
ratura de um corpo.
1.3. APLICAÇÕES 7
Ql = mL
Onde m é a massa que mudou de estado de agregação e L é o chamado calor latente especı́fico e
depende da substância e do tipo de transformação (fusão-solidificação, vaporização-liquefação, etc).
Segue uma tabela com os calores latentes especı́ficos de algumas substâncias.
1.3 Aplicações
(a) Qual a quantidade de calor necessária para transformar 100 g de gelo a -20ºC em água fervente?
Use os dados das tabelas.
Para resolver esse tipo de questão, precisamos entender todas as etapas pelas quais nossa substância
vai passar. Inicialmente, o gelo a -20ºC precisa elevar sua temperatura (calor sensı́vel Q1 ) até 0ºC,
para em seguida fundir (calor latente Q2 ) se transformando em água a 0ºC (lembre-se que não há
variação de temperatura em mudanças de fase). A água a 0ºC por sua vez precisa se aquecer (calor
sensı́vel Q3 ) até 100ºC (o enunciado informa que a água deve estar fervente). Temos 3 etapas e,
consequentemente, 3 quantidades de calor envolvidas.
Q = Q1 + Q2 + Q3 = mg cg ∆θg + mg Lf u + ma ca ∆θa
Onde o ı́ndice (g) se refere ao gelo e o ı́ndice (a) se refere à água. Note que ma =mg , pois todo o
gelo derrete e vira água. O gelo vai de -20ºC até 0ºC e a água vai de 0ºC até 100ºC.
∆θg = θf g − θig = 0 − (−20) = 20
∆θa = θf a − θia = 100 − 0 = 100
Substituindo os dados:
(b) Na questão anterior, imagine que o processo foi realizado sob uma chama de fogão de potência
térmica constante 152 cal/s. Em quanto tempo a água estará fervendo?
Pela definição de potência:
∆Q ∆Q
P ≡ ⇒ ∆t =
∆t P
8 CAPÍTULO 1. CALOR
19000
∆t = = 125 s = 2 min 5 s
152
(c) Em meados do século XIX, o cientista amador inglês James Prescott Joule conduziu uma série
de experimentos com o intuito de estabelecer uma conexão entre a caloria e seu equivalente
mecânico, o joule. Seu mecanismo mais conhecido consistia em um recipiente isolante térmico
cheio de água, em contato com um conjunto de pás. Dois corpos presos a fios ligados a um
eixo central podiam mover-se verticalmente, fazendo que as pás girassem. O atrito das pás com
o lı́quido faz com que ele se aqueça de uma certa temperatura, que pode ser medida com um
termômetro. A imagem a seguir mostra a montagem experimental de Joule:
Cada queda dos corpos corresponde a uma variação de energia potencial gravitacional dada por
∆E = 2mgh. Como os blocos são postos para cair N = 15 vezes, a variação de energia potencial
gravitacional total é:
∆Etotal = N · 2mgh = 15 · 2 · 5 · 10 · 2 = 3000J
E o calor recebido pela água para variar sua temperatura é dado por:
Mas a energia potencial perdida pelos blocos é convertida integralmente (por aproximação) em calor,
ou seja:
3000
Qs = ∆Etotal ⇒ 700cal = 3000J ⇒ 1cal = J ∴ 1cal ≈ 4, 29J
700
Que é uma boa aproximação, com menos de 3% de erro.
de uma garrafa de vidro bem vedada); e sistemas isolados bloqueiam tanto o fluxo de energia quanto
de matéria (com boa aproximação podemos considerar uma garrafa térmica um sistema isolado).
Em situações cotidianas, ao deixar um copo de água gelada sobre a mesa, este vai, após determinado
perı́odo, atingir a temperatura ambiente. No entanto, em alguns casos podemos evitar a troca de
calor entre o sistema e o meio externo. Quando isso acontecer, dizemos que o sistema é termicamente
isolado. Podemos construir esse tipo de sistema através de um calorı́metro que é um recipiente de
paredes adiabáticas (que não permite a propagação do calor). Um exemplo de calorı́metro é a ja
citada garrafa térmica.
1.4.2 Aplicações
(a) Troca de calor sem mudança de fase
Em uma garrafa térmica ideal mistura-se 200 mL de café a 90 ºC com 500 mL de leite à 20 ºC.
Determine a temperatura final da mistura. Considere que o calor especı́fico e a densidade do
café e do leite são iguais a, respectivamente, 1 cal/gºC e 1 g/mL.
Usando a equação das trocas de calor em sistemas isolados:
Qcedido + Qrecebido = 0
O calor vai fluir do café (corpo de maior temperatura) para o leite (corpo de menor temperatura),
e esse fluxo só cessará quando toda a mistura atingir uma temperatura de equilı́brio θeq
mc cc (θeq − θic ) + ml cl (θeq − θil ) = 0
Os ı́ndices (c) e (l) representam, respectivamente, café e leite. Substituindo os valores:
200 · 1 · (θeq − 90) + 500 · 1 · (θeq − 20) = 0 ∴ θeq = 40C
(Exercı́cio para o leitor) Mostre que a temperatura de equilı́brio da mistura de dois lı́quidos A
e B de massas, calores especı́ficos e temperaturas iniciais dados por (mA , cA , θA ) e (mB , cB , θB ) é
dada por:
mA cA θA + mB cB θB
θeq =
mA + mB
(b) Troca de calor com mudança de fase completa
Considere um contato térmico de 200 g de água a 50 o C com 100 g de gelo a –10 o C. Supondo
que as trocas de calor se processem apenas entre a água e o gelo, qual será a temperatura final
de equilı́brio térmico? Dados: ca = 1 cal/gºC, cg = 0,5 cal/gºC e Lfu = 80 cal/g.
10 CAPÍTULO 1. CALOR
Nesse caso, nós sabemos que a água vai ceder calor para o gelo, mas não temos como saber qual é o
estado final do sistema: será que o calor foi suficiente para derreter todo o gelo? Ou será que apenas
uma parte do gelo sofreu fusão? Antes de começar a solucionar o problema, essa é uma preocupação
relevante. Para responder a esta pergunta, vamos ver qual o calor máximo que a água pode fornecer
ao gelo (Qmáx ). Este calor corresponde ao caso em que a água chega a 0 ºC.
Agora calculemos o calor necessário para que todo o gelo se funda (Qfu . Para calcular este calor
precisamos somar duas parcelas: uma referente ao calor sensı́vel necessária para elevar a temperatura
do gelo de -10 ºC ao ponto de fusão (0 ºC) e outra latente responsável por de fato performar a fusão.
Como |Qmáx | > |Qf u |, sabemos que a água tem energia térmica suficiente para ceder a ponto de
fazer com que todo o gelo derreta e ainda variar a temperatura da água proveniente da fusão do
gelo (θeq > 0). Agora que sabemos o estado final do sistema, podemos usar a lei das trocas de calor,
considerando os seguintes calores:
* Q1 relacionado à variação de temperatura da água lı́quida;
* Q2 relacionado à variação de temperatura do gelo até 0 ºC;
* Q3 relacionado à fusão completa do gelo;
* Q4 relacionado à variação de temperatura da água proveniente da fusão do gelo – lembre-se que a
temperatura inicial desta porção de água é 0 ºC
θeq = 5C
O calor necessário para que o gelo inteiro chegasse à temperatura de fusão (0 ºC) é:
A água tem energia térmica suficiente para levar o gelo até 0 ºC. Mas será que ela consegue fundi-lo?
Vamos checar:
Qf u2 = mg Lf u = 200 · 80 = 16000 cal
Qf u = Qf u1 + Qf u2 = 16000 + 4000 = 20000 cal
Ou seja, a água consegue levar o gelo até 0 ºC mas não tem energia suficiente para derreter TODA
a massa de gelo. Como no final há gelo e água em equilı́brio, a temperatura de equilı́brio deve ser
1.4. SISTEMAS FÍSICOS 11
Resolvendo:
mderreteu m0g 50
m0g = 50g ⇒ %g = = = = 25%
mtotal mg 200
Resposta final: Resta gelo no equilı́brio térmico, apenas 25% dele derreteu e a temperatura de
equilı́brio é 0 ºC.
12 CAPÍTULO 1. CALOR
Capı́tulo 2
O gás ideal
2.1 Definições
Um gás ideal é o modelo teórico segundo o qual considera-se que as partı́culas de um gás não
interagem umas com as outras e que o volume das partı́culas gasosas é desprezı́vel (dessa forma cada
partı́cula de gás tem todo o volume do recipiente disponı́vel para se movimentar). Esse modelo,
embora irreal, é importante pois observa-se experimentalmente que sob certas condições (baixas
pressões e altas temperaturas) todos os gases se aproximam do comportamento de gás ideal - essa
observação foi, inclusive, primordial para a construção inicial da escala Kelvin.
pV = nRT
p0 V0 pV
=
T0 T
13
14 CAPÍTULO 2. O GÁS IDEAL
Capı́tulo 3
1a lei da Termodinâmica
U = U (n, T )
É possı́vel se demonstrar, através da teoria cinética dos gases, que a energia interna para um gás de
modelo qualquer é dado por:
f
U= nRT
2
Onde f é o número de graus de liberdade das partı́culas. Gases monoatômicos (nobres) têm 3
graus de liberdade (podem transladar ao longo dos 3 eixos x, y e z ); gases diatômicos (hidrogênio,
nitrogênio, etc) têm 5 graus de liberdade (além do movimento de translação ao longo do espaço xyz,
também têm liberdade de rotação ao longo de 2 planos)2 .
3
Umono = nRT
2
5
Udi = nRT
2
1 Diz-se função de estado aquela função que não depende do caminho tomado; indo de um certo estado inicial
15
16 CAPÍTULO 3. 1A LEI DA TERMODINÂMICA
Transferimos calor ao sistema por meio de uma fonte de calor (uma chama, por exemplo). Ao
receber esta energia (Q) pelo mecanismo calor, ela poderá ter dois destinos: variar sua temperatura
(o sistema, ao final, está a uma temperatura T2 ) e variar seu volume de um certo ∆V = A · x.
A variação de temperatura está relacionada com a variação de energia interna (∆U ) e a variação
de volume pressupõe que a força de pressão do gás deslocou o êmbolo de um certo x, portanto
está relacionada com a realização de trabalho (W ). Como não há dissipação de energia, toda a
energia fornecida ao sistema foi aproveitada das duas formas citadas anteriormente, de tal forma
que podemos escrever:
Q = ∆U + W
Ou, ainda:
∆U = Q − W
0
∆U = Q −
W
>∴ ∆U = Q
Se o calor entra no sistema, a variação de energia interna é positiva (pois a temperatura aumenta).
Se o calor sai do sistema (na imagem anterior você pode imaginar que afogamos o recipiente em um
balde com água fundente) a temperatura diminui, e consequentemente, a variação de energia interna
é negativa. Baseado nisto, para o calor, usaremos a seguinte convenção:
* Se o calor entra no sistema, Q > 0
* Se o calor sai do sistema, Q < 0
Agora tomemos uma transformação em que não ocorrem trocas de calor (chamamos de adiabática).
Nesse caso:
0
∆U = Q7− W ∴ ∆U = −W
Se um sistema realiza trabalho (no caso de um gás, se ele se expande contra uma atmosfera) ele
perde energia, portanto, sua energia interna deve diminuir (a variação de energia interna deve ser
negativa). Se o trabalho é realizado sobre o sistema (no caso de um gás, ele é comprimido), este
recebe energia, portanto sua energia interna deve aumentar (variação de energia interna positiva).
Para casar estas interpretações com a expressão mostrada, a convenção usada será a seguinte:
* Se o sistema realiza trabalho (se expande), W > 0
* Se o trabalho é realizado sobre o sistema (compressão), W < 0. Em resumo:
3.4 Reversibilidade
Um processo que leva um sistema termodinâmico de um estado i a um estado f através de um
caminho bem definido é dito reversı́vel quando se é possı́vel realizar o caminho exatamente inverso
e retornar ao estado inicial. Para que o caminho seja bem definido, o processo deve ser realizado de
forma quase-estática, isto é, muito lentamente, de tal forma que o sistema termodinâmico passe por
uma sucessão de estados de equilı́brio bem definidos.1
Q
C=
∆T
1 Para maior teoria ler o capı́tulo 2 do livro CURSO DE FÍSICA BÁSICA; Moysés Nussenzveig vol. 2, Seção 8.6.
18 CAPÍTULO 3. 1A LEI DA TERMODINÂMICA
Q = nC∆T
As linhas Ti e Tf são chamadas isotermas, e qualquer ponto sobre elas possui a mesma temperatura.
Ao ir da isoterma Ti para a Tf , a variação de energia interna é a mesma independente do caminho
tomado (lembre-se que esta é uma função exclusiva da temperatura); no entanto ambos calor e
trabalho mudam de acordo com o caminho, por isso são chamados funções de caminho. O caminho
AB é um processo chamado isocórico, e ocorre a volume constante. O caminho AC representa um
processo chamado isobárico pois ocorre a pressão constante. Naturalmente, se o calor depende do
caminho, a capacidade térmica também depende. Portanto, vamos definir as chamadas capacidades
térmicas especı́ficas.
∆U = Qp − W
O trabalho da isobárica é dado por P ∆V = nR∆T (na imagem da seção 3, que é uma transformação
isobárica, basta fazer W = F.x, com F sendo a força de pressão exercida pelo gás, dada por F =
pA, onde A é a área do êmbolo. Combinando as duas relações, chegamos ao resultado desejado). A
variação de energia interna e o calor são análogos ao caso da seção 5.1.1.
f − ⇒ Cp = f R + R
nR
∆T
=
nCp
∆T nR
∆T
2
2
Mas (f /2)R é a capacidade térmica molar a volume constante (Cv ). Portanto, chegamos à Relação
de Mayer :
C p = Cv + R
Para gases monoatômicos e diatômicos, as capacidades térmicas especı́ficas são dados por:
Atomicidade Cv Cp
Monoatômico (3/2) R (5/2) R
Diatômico rı́gido (5/2) R (7/2) R
3.6 Processos
3.6.1 Transformação isovolumétrica, isocórica ou isométrica
São transformações que acontecem a volume constante. Para performá-las, basta trocar calor com
um sistema formado envolto em um recipiente ou ambiente inexpansı́vel, como uma garrafa ou um
recipiente como o da figura na seção 3 com o êmbolo preso por presilhas, por exemplo (assim ele
não teria liberdade de movimento e o gás não se expandiria). Em um diagrama de Clapeyron, uma
transformação isocórica entre dois pontos A e B é uma linha vertical.
20 CAPÍTULO 3. 1A LEI DA TERMODINÂMICA
Uma vez que não há variação de volume, o trabalho da isocórica é nulo (lembre-se que um gás realiza
trabalho se expandindo).1
Wv = 0
Pela primeira lei da termodinâmica, o calor trocado e a variação de energia interna deverão ser
iguais.
∆U = Qv − Wv ⇒ ∆Uv = Qv
O calor pode ser dado pelo produto da capacidade térmica a volume constante pela diferença de
temperatura entre os estados inicial e final. De tal forma que chegamos, conforme esperado em2 :
Qv = ∆U = nCv ∆T
O calor trocado é dado, tipicamente, pelo produto da capacidade térmica a pressão constante pela
diferença de temperatura entre os estados inicial e final:
Qp = nCp ∆T
Para qualquer transformação, como já mostrado, a variação de energia interna é dada por nCv ∆T .
Usando a primeira lei da Termodinâmica:
Wp = nR∆T
Wp = p∆V
Note que podı́amos simplesmente ter partido do resultado de que o trabalho da transformação é a
área abaixo da curva.
Wp = p∆V
∆V > 0 (EXP AN S ÃO) ⇒ Wp > 0 (T rabalho realizado P ELO gás)
∆V < 0 (COM P RESS ÃO) ⇒ Wp < 0 (T rabalho realizado SOBRE o gás)
Dizer que o processo ocorre à temperatura constante equivale a dizer que não há variação de tem-
peratura durante o processo. Portanto, é imediato inferir que, se não há variação de temperatura,
também não há variação de energia interna.
(∆U )isotérmica = 0
QT = WT
À priori esta parece ser a única relação que conseguimos extrair desse processo. E de fato, o é, ao
menos no nı́vel de ensino médio. Há ainda, o fato de que o trabalho pode ser calculada como a área
abaixo da curva; no entanto veja que não é uma tarefa fácil calcular esta área, uma vez que não
nos deparamos com uma figura cuja área é conhecida (como trapézios, losangos ou triângulos, por
exemplo). Para computar esta área, portanto, utilizaremos um instrumento de ensino superior - o
cálculo. A área abaixo de uma curva no diagrama PV entre dois pontos A e B é dada pela integral:4
Z VB
WT = pdV
VA
Observe que pA e VA são valores fixos (as condições iniciais da transformação), então podem sair
da integral.
Z VB
dV
WT = pA VA
VA V
4 Não se assuste com a matemática aqui utilizada. Caso ainda não esteja familiarizado com ela, apenas memorize
o resultado final.
3.6. PROCESSOS 23
Usando a regra de integração5 e substituindo pA VA por nRT (equação dos gases ideais). Finalmente:
VB
WT = nRT `n = QT
VA
Na transformação isotérmica para que o sistema mantenha sua temperatura constante ele não pode
“acumular” energia na forma de energia interna, portanto, todo a energia que “entra” na forma de
calor deve “sair” na forma de trabalho, e vice-versa.
p0 V0γ = pV γ
Cp
γ= >1
Cv
Como não há troca de calor (Q = 0 ), podemos reescrever a primeira lei da Termodinâmica na
forma7 :
∆U = −Wa
Podemos escrever a variação de energia interna da mesma forma que fizemos anteriormente, em
função da capacidade térmica a volume constante e da variação de temperatura.
∆U = nCv ∆T = −Wa
Agora, antes de continuarmos, veja que podemos escrever as capacidades térmicas molares em função
do expoente de Poisson, resolvendo o seguinte sistema de equações:
(
(i) Cp − Cv = R
Cp
(ii) γ = Cv
⇒ Cp = γCv
Wa = −nCv ∆T
Pela equação de Clapeyron, veja que podemos substituir n∆T da seguinte forma:
pV pB VB pA VA ∆(pV )
T = ⇒ ∆T = TB − TA = − ⇒ n∆T =
nR nR nR R
Substituindo esse resultado em Wa :
∆(pV )
Wa = −Cv (n∆T ) ⇒ Wa = −Cv
R
1
Mas Cv /R é igual a γ−1 (veja a equação de Cv em função de γ deduzida anteriormente). Sabendo
disso:
1
Wa = − ∆(pV )
γ−1
Finalmente:
∆(pV ) pB VB − pA VA
Wa = =
1−γ 1−γ
Ou, ainda:
pV γ = constante
9 βlogx = log(xβ )
26 CAPÍTULO 3. 1A LEI DA TERMODINÂMICA
Nesse tipo de processo, o gás se expande sem realizar trabalho 10 . Além disso, por acontecer em um
sistema adiabático, a quantidade de calor trocada é zero. Pela primeira lei da termodinâmica:
Q W
∆U = 0 − 0 ⇒ ∆U = 0
Se a variação de energia interna é zero então a diferença entre as temperaturas final e inicial também
é; isto é, o gás começa e termina na mesma temperatura. No entanto, não podemos dizer que se
trata de uma transformação isotérmica pois os estados intermediários não são estados de equilı́brio
termodinâmico.
10 O trabalho de expansão de um gás está relacionado com a necessidade que o gás tem de “expulsar” as partı́culas
do gás que inicialmente ocupavam o volume. Isto é, a expansão de um gás só tem um trabalho não-nulo associado
quando ela ocorre contra uma pressão externa.