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Kant
Sobre
a Pedagogia
70 —
Immanuel
Kant
Sobre
a Pedagogia
Pôr o leitor directam ente em contacto
acompanhadas de introduções
e notas explicativas -
fo i o ponto de partida
e estilos de filosofia,
1
perante a d ência
o problema do homem
e do mundo.
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Título original:
Ober die Pedagogik
Tradução e notas:
João Tiago Proença
Capa:
FBA
CDU 37.01
ISBN: 978-972-44-2126-1
Fevereiro de 2017
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2 4 0 -F a x : 2 1 3 1 9 0 249
e-mail: geral@edicoes70.pt
w w w .edicoes70.pt
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índice
Nota prévia
Introdução
Dissertação
Da educação física
Da educação prática
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Nota prévia
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Introdução
Os anim ais utilizam as suas forças de modo regular logo que as têm , quer
dizer, de modo a não serem prejudiciais a si próprios. É, com efeito, digno
de admiração ver como as crias das andorinhas, m al se arrastando para fora
do ovo e ainda cegas, nem por isso deixam de saber fazer os excrem entos
cair fora do ninho. Os anim ais não precisam , por isso, de cuidados, quando
m uito de alim ento, calor e orientação, ou de um a certa protecção. A m aioria
dos anim ais necessita de alim entação, m as não de cuidados. Por cuidados
entende-se a previdência dos pais para que as crias não façam um uso
prejudicial das suas forças. Se um anim al, por exemplo, gritasse ao vir ao
mundo, com o as crianças o fazem , tom ar-se-ia fatalm ente presa dos lobos e
de outros anim ais selvagens atraídos pelos seus gritos.
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A disdplina transform a a animalidade em humanidade. Um anim al é já
tudo m ediante o instinto; um a razão alheia já lhe dispensou tudo de que
ele precisa. O homem, porém, tem precisão de um a razão própria. Não tem
instinto e tem de se dotar do plano do seu com portam ento. Mas, porque não
está desde logo em condições de o fazer, antes vem ao mundo em estado
rude, assim outrem tem de o fazer por ele.
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Isto tem , contudo, de acontecer cedo. Assim, por exemplo, as crianças são
enviadas à escola, de início, não com o propósito de aprenderem lá alguma
coisa, mas para que se consigam habituar a estar sentadas em silêncio e a
observarem pontualm ente o que lhes é prescrito, para que no futuro não
possam tam bém pôr em prática, real e im ediatam ente, tudo o que lhes
passa pela cabeça.
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modo sentirá ainda m ais resistências de todos os lados e por toda a parte
sofrerá revezes, assim que entrar nos negócios do mundo.
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motivo de grande admiração o facto de cada espécie de aves conservar, ao
longo de todas as gerações, um certo canto principal, e a tradição do canto é
a m ais fiel no mundo.
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Não existe ninguém que, desprovido de cuidados na sua juventude, não
veja por si, na idade madura, onde fo i negligenciado, seja na disciplina,
seja na cultura (como tam bém se pode designar a instrução). Quem não
é cultivado é rude, quem não é disciplinado é selvagem. O descuido da
disciplina é um m al m aior que o descuido da cultura, pois esta pode ser
recuperada posteriorm ente; o elem ento selvagem, porém, não pode ser
removido, e um engano na disciplina nunca pode ser reparado. Talvez
que a educação se tom e sempre m elhor e que cada geração subsequente
dê um passo em direcção ao aperfeiçoam ento da humanidade; pois, por
detrás da educação, aloja-se o grande segredo da perfeição da natureza
humana. De agora em diante, tal pode acontecer. Pois só agora se com eça a
avaliar correctam ente e a ver com nitidez o que pertence intrinsecam ente
a um a boa educação. É encantador im aginar que a natureza hum ana se
desenvolverá cada vez m elhor através da educação e que se pode levar esta
a um a form a que seja adequada à humanidade. Isto abre-nos o prospecto de
um género humano vindouro m ais feliz.
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Uma ideia nada m ais é que o conceito de um a perfeição que ainda não
se encontra na experiência. Por exemplo, a ideia de um a república perfeita,
governada segundo as regras da ju stiça! Será por isso impossível? Primeiro,
a nossa ideia tem de ser correcta e então, por m ais obstáculos que surjam
no cam inho da sua execução, não é de todo impossível. Se, por exemplo,
alguém m entisse, dizer a verdade passaria a ser um m ero capricho? E a ideia
de um a educação que desenvolva todas as disposições naturais no homem é,
sem dúvida, verdadeira.
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Existem m uitos germes na humanidade, e é tarefa nossa desenvolver
proporcionadamente as disposições naturais e desenvolver a humanidade
a partir dos seus germes e fazer que o homem alcance a sua destinação.
Os anim ais realizam -na por si e sem a conhecerem . O homem tem
prim eiro de procurar alcançá-la, m as tal não pode suceder, se não tiver
um conceito da sua destinação. É totalm ente impossível atingir tal
destinação, considerando apenas o indivíduo. Se supusermos um primeiro
casal humano realm ente formado, queremos ver com o educa ele os seus
educandos. Os prim eiros pais dão logo aos filhos um exemplo que os
filhos im itam , e assim desenvolvem-se algumas disposições naturais. Mas
nem todas podem ser form adas deste modo, pois é sobretudo em ocasiões
circunstanciais que os filhos vêem exemplos. Antigam ente, os hom ens não
tinham um conceito da perfeição que a natureza hum ana pode alcançar.
Nós próprios ainda não clarificám os totalm ente ta l conceito. Mas já se sabe
certam ente o suficiente para afirm ar que não é o homem individualm ente,
na form ação dos seus educandos, que pode levá-los a alcançarem a sua
destinação. Não é o hom em individualm ente, m as o género humano que
deve te r êxito nessa tarefa.
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desenvolva propordonadam ente e de modo conform e ao seu fim todas as
disposições naturais do homem, e assim conduzir todo o género humano à
sua destinação. A Providênda quis que o hom em deva sempre produzir o
bem a partir de si próprio e dirigiu-se, por assim dizer, ao homem: - vai para
o mundo - o Criador poderia porventura te r falado aos hom ens deste modo!
- Equipei-te com todas as disposições para o bem . Cabe-te desenvolvê-las e,
por isso, a tu a feliddade ou infelicidade depende de t i próprio.
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clarificám os inteiram ente. Deve a educação no indivíduo im itar a form ação
da humanidade em geral, ao longo das suas diferentes gerações?
Duas invenções dos hom ens podem ser consideradas como sendo as
m ais difíceis, a saber, a arte de governar e a arte de educar, e, no entanto, as
ideias de ambas ainda são controversas.
Posto que, nos hom ens, o desenvolvimento das disposições naturais não
ocorre por si, então toda a educação é um a arte. A natureza não depositou
nele nenhum instinto para tal. A origem bem com o a continuação desta arte
ou é m ecânica, sem plano, ordenada segundo as circunstâncias dadas, ou
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ju d iciosa. A arte da educação nasce m ecanicam ente nas m eras ocasiões que
vão surgindo, onde experim entam os se algo é prejudicial ou ú til ao homem.
Toda a arte da educação que brota de modo m eram ente m ecânico tem de
com portar em si m uitos erros e lacunas, porquanto não tem nenhum plano
na sua base. A arte da educação ou pedagogia tem de se tom ar, portanto,
judiciosa, se quiser desenvolver a natureza hum ana de tal modo, que esta
alcance a sua destinação. Os pais já educados são exemplos segundo os
quais os filhos se form am para se guiarem. Mas, se estes se devem tom ar
melhores, a pedagogia tem de se tom ar um a disciplina autónom a, senão
nada há a esperar dela, e alguém já estragado na educação educa outros
em vão. O m ecanism o na arte da educação deve transform ar-se em ciência,
senão nunca se tom ará um esforço com nexo, e um a geração poderia arrasar
o que outra já edificara.
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que um estado futuro m elhor possa desse modo ser produzido. Mas aqui
deparamos com dois obstáculos:
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Mas donde deve provir o estado m elhor do mundo? Dos príncipes ou
dos súbditos? a saber, que apenas estes se aperfeiçoem e vão ao encontro,
a m eio cam inho, de um bom governo? Se tal houver de ser fundado pelos
príncipes, a educação dos príncipes tem de ser prim eiro melhorada, esta
incorreu sempre no grande erro, ao longo de um vasto período de tempo,
de não se lhes oferecer resistência na sua juventude. Uma árvore, porém,
que se ergue isoladam ente no campo cresce retorcida e estende os seus
ramos bem longe; um a árvore, pelo contrário, que esteja no m eio de um a
floresta, dado que as árvores em seu redor lhe oferecem resistência, cresce
a direito, e procura ar e sol acim a de si. O mesmo se passa com os príncipes.
É ainda melhor, porém, que sejam educados por alguém do número dos
súbditos que serem educados por algum dos seus pares: só podemos esperar
que o bem venha de cim a no caso da educação ser ali m ais aprimorada!
Daí que o im portante aqui seja prindpalm ente os esforços privados e não
a intervenção dos príncipes, como o pretendiam Basedow ( ’) e outros, pois
a experiência ensina que aqueles, a fim de alcançarem os seus fins, têm
como propósito não tanto a perfeição do mundo quanto apenas o bem do
seu Estado. Além de que, se forem eles a contribuir com o dinheiro para tal,
os planos terão tam bém de ficar sujeitos ao seu parecer. E assim acontece
em tudo o que respeita à form ação do espírito humano, ao alargamento
dos conhecim entos humanos. O poder e o dinheiro não o realizam , quando
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m uito fadlitam -no. Mas poderiam realizá-lo, se a econom ia do Estado não
capitalizasse de antem ão os im postos para os cofres do reino. Também as
academias não o fizeram até ao presente, e que ainda o venham a fazer,
sobre isso nunca houve m enos ilusões que actualm ente.
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Na educação, o homem tem de ser 1) disciplinado. Disciplinar significa
procurar im pedir que a animalidade prejudique a humanidade, tanto no
homem individual como no social. A disciplina é, pois, a m era doma da
condição selvagem.
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gosto m utável de qualquer época. Assim, ainda há algumas décadas eram
apreciadas cerim ónias no trato.
4) Tem de se velar pela m oralização. O hom em não deve estar apto pura
sim plesm ente a todos os fins, m as deve tam bém ser dotado de consciência,
de molde a eleger de preferência apenas bons fins. Fins bons são aqueles
que são necessariam ente aprovados por todo o homem e que podem ser
sim ultaneam ente os fins de cada qual.
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por conta dos clérigos. Mas quão infinitam ente im portante não é ensinar
os filhos a aborrecerem o vício desde a juventude, não apenas pela razão de
Deus o te r justam ente proibido, mas sim porque é digno de aborrecim ento
em si próprio. No caso contrário, chegam facilm ente ao pensam ento de
que o poderiam praticar a seu bel-prazer e, aliás, seria de facto permitido,
se Deus o não tivesse proibido, e que Deus poderia, por isso, abrir um a
excepção só por um a vez. Deus é o ser m ais sagrado e só quer aquilo que é
bom , e exige que devamos praticar a virtude apenas por causa do seu valor
íntim o, e não porque ele o exija.
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podem ser um m ero arrazoado, devem ser, de certa m aneira, tam bém um
m ecanism o. Na Áustria havia m aioritariam ente escolas norm ais que foram
edificadas segundo um plano, contra o qual m uito se disse, e com razão, e
ao qual se poderia censurar, em particular, o m ecanism o cego(*). Todas as
outras escolas tinham de se regular por estas, e chegava-se ao pondo de
recusar emprego a pessoas que não tivessem frequentado estas escolas. Tais
preceitos m ostram o elevado grau em que o governo se im iscui nisto, e, com
um tal constrangim ento, é de facto impossível que m edre algo de bom.
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e planos próprios, e onde estavam em ligação entre si, como tam bém com
todos os eruditos na Alemanha.
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instituto educativo. Tais institutos não podem ser numerosos, e o número
de educandos neles não pode ser grande, porquanto são m uito dispendiosos
e a sua m era edificação requer desde logo m uito dinheiro. Passa-se com eles
o mesmo que se passa com os asilos e hospitais. Os edifícios requeridos
para isso, os salários dos directores, bedéis e contínuos levam logo metade
do dinheiro que lhes estava destinado e é certo que, se se rem etesse este
dinheiro aos pobres nas suas casas, eles seriam m uito m ais bem tratados.
Daí que seja igualm ente difícil que outras crianças além das de pessoas ricas
possam frequentar esses institutos.
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dos pais. É necessário que num a tal educação os pais cedam toda a sua
autoridade aos preceptores.
Mas quanto tem po deve a educação durar? Até à época em que a própria
natureza determ ina o homem a conduzir-se a si próprio, até que o instinto
para o sexo se desenvolva nele, até que ele possa ser pai e deva ele próprio
educar - aproximadamente, até aos dezasseis anos. Depois desta idade, bem
se pode utilizar os expedientes da cultura e exercer um a disciplina oculta,
mas já não se educa com a necessária regularidade.
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Um dos m aiores problemas da educação é saber com o se pode unir a
sujeição sob a coacção de leis com a capacidade de se servir da sua liberdade.
Pois é necessário que h aja coacção! Como cultivo eu a liberdade na coacção?
Devo habituar o meu educando a tolerar um a coacção da sua liberdade e
devo levá-lo sim ultaneam ente a fazer um bom uso da sua liberdade. Sem
isto, tudo é m ero m ecanism o, e aquele que completou a sua educação não
se sabe servir da sua liberdade. Tem de sentir m uito cedo a inevitável
resistência da sociedade, para se fam iliarizar a passar pela dificuldade de se
sustentar e de adquirir o necessário à sua independência.
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tardia. Pois, nas crianças, a consideração de que, por exemplo, têm de cuidar
do seu sustento só surge tardiam ente. Julgam que as coisas serão sempre
como na casa dos pais, onde têm de com er e beber, sem que tenham de
se preocupar com isso. Sem aquele tratam ento, as crianças, em particular
as de pais ricos e os filhos de príncipes, bem com o os habitantes do Taiti,
continuam a ser crianças durante toda a sua vida. É aqui que a educação
pública tem as suas vantagens m ais evidentes, pois nela aprende-se a m edir
as suas forças, aprende-se as suas lim itações através do direito dos outros.
Aqui não gozamos de vantagens, porquanto sentim os resistência por toda
a parte e porque é som ente através desta que nos tom am os cientes de que
só nos distinguim os pelo m érito. Tal apresenta o m elhor modelo do futuro
cidadão.
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concepções pedagógicas expostas na sua obra principal, publicada em 1769, Elementarwerk.
(N . T )
(-) Kant refere-se ao regulam ento escolar de Johann Ignaz von Felbiger (1 7 2 4 -8 8 ), de 1774.
Felbiger estudou Teologia em Breslau, foi preceptor privado e ordenado Padre em 1 7 4 8 . Em
1774 foi cham ado a Viena pela Im peratriz Maria Teresa e nom eado Comissário Geral da
Educação para todas as regiões alem ãs do Im pério. A prim eira escola norm al austríaca foi
fundada em 1 7 7 1 . (N. 7 )
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Dissertação
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confere-lhe um valor em atenção a si próprio enquanto indivíduo. Através
da form ação para a pru dên cia, porém, é formado para cidadão, adquire
então um valor público. Aprende então tanto a dirigir a sociedade civil para
as suas intenções com o a adaptar-se à sociedade civil. Por fim , m ediante a
form ação m oral, recebe um valor em atenção a todo o género humano.
A form ação escolástica é m ais tem porã e a prim eira. Pois toda a
prudência pressupõe a aptidão. Prudência é a faculdade de usar a sua
aptidão de modo a que aproveite aos outros. A form ação m oral, na medida
em que assenta em princípios que o próprio hom em deve reconhecer, é a
m ais tardia; conquanto assente apenas no são entendim ento humano, tem
de ser observada de início, desde logo na educação física tam bém , pois, em
caso contrário, arreigam -se facilm ente erros em que toda a arte da educação
labora posteriorm ente debalde. Em atenção à aptidão e à prudência tudo
tem de ir sucedendo com os anos. Na infância, ser hábil, prudente e de boa
índole, sem m atreirice, à m aneira dos adultos, serve de tão pouco como um a
m entalidade infantil num adulto.
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Da educação física
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é um m ero preconceito. É m ais benéfico à m ãe e ao filho que a própria
m ãe am am ente. É claro que, em casos extrem os, h aja excepções a isto, por
motivos de doença. Há m uito tem po, acreditava-se que o prim eiro leite que
se encontra na m ãe depois do parto e é seroso seria prejudicial à criança, e
que a m ãe teria de o expelir prim eiro, antes de poder am am entar o filho. Foi
R ousseau o prim eiro a cham ar a atenção dos médicos para o facto de este
leite poder ser benéfico à criança, já que a natureza nada dispôs em vão.
E tam bém se chegou realm ente à opinião de que este leite seria o m elhor
para expelir as impurezas, que se encontram nos recém -nascidos, que os
médicos designam como m ecónio, e que, portanto, seria altam ente benéfico
às crianças.
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seria melhor, e m ais benéfico à criança, que a m ãe ou as amas comessem
carne durante o período de amamentação. Pois, quando as crianças bolçam
o leite, vê-se que coalhou. Os ácidos do estômago das crianças têm de
fom entar ainda m ais que os outros ácidos o coalhar do leite, porque o leite
humano não pode ser levado a coalhar de nenhum outro modo. Quão pior
seria, portanto, se se desse à criança leite que já coalha por si. Mas que isto
não é tudo o que im porta vê-se nas outras nações. Os Tungueses(*), por
exemplo, quase nada m ais com em a não ser carne, e são pessoas fortes e
saudáveis. Todos esses povos, contudo, tam bém não vivem m uito tempo,
e pode-se levantar no ar com pouco esforço um rapaz já crescido que não
dá a ideia de ser m uito leve. Os suecos, ao invés, mas principalm ente as
nações nas índias, quase não com em cam e de todo e, no entanto, as pessoas
desenvolvem-se bem . Parece, portanto, que o im portante é sim plesm ente
aquilo a que as amas se adaptam e que o m elhor alim ento é aquele que lhes
cai bem .
Mas pergunta-se então: com que se alim enta a criança, quando o leite
m aterno cessar? Desde há algum tem po experim entou-se todo o tipo
de papas. Não é bom , porém, alim entar a criança desde logo com tais
refeições. Em particular, é de sublinhar que não se dê às crianças nada de
estim ulante, com o vinho, especiarias, sal, etc. Mas é, sem dúvida, singular
que as crianças tenham um tão grande desejo por todas as coisas desse
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género! A causa disso reside no facto de ta l proporcionar um estím ulo e
um a anim ação às suas sensações ainda embotadas, o que lhes é agradável.
As crianças, na Rússia, recebem , claro que das suas m ães, aguardente, que
estas bebem com assiduidade, e coisas do género, e nota-se que nisso os
russos são pessoas sadias, fortes. É claro que aquelas que resistem a isso são
de boa constituição física; m as tam bém m orrem m uitas que bem podiam
te r sobrevivido. Pois um ta l estím ulo precoce nos nervos produz m uitas
desordens. Até das refeições ou bebidas demasiado quentes tem os de
guardar cuidadosamente as crianças, pois tam bém elas causam fraquezas.
Além disso, deve-se notar que as crianças não devem ser m antidas muito
quentes, pois o seu sangue já é em si m uito m ais quente que o de um
adulto. O calor do sangue nas crianças m onta, em term óm etros Fahrenheit,
a 110«, e o sangue do adulto apenas a 96a graus. A criança sufoca no
calor em que os m ais velhos se sentem bem . Aposentos frescos tom am em
geral as pessoas m ais fortes. E tam bém não é bom nos adultos vestirem -se,
agasalharem -se em excesso, e habituarem -se a bebidas demasiado quentes.
Daí que a criança deva te r um local fresco e rigoroso. Também os banhos
frios são bons. Não se deve adm itir nenhum m eio para estim ular o apetite
nas crianças, antes este deve ser sempre a consequência da actividade e da
ocupação. Não se deve, porém, deixar que a criança se habitue a nada que
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acabe por se lhe to m ar um a necessidade. Até m esm o coisas boas não se lhe
devem tom ar um hábito através da arte.
É de notar em geral que a prim eira educação deverá ser m eram ente
negativa, quer dizer, não é necessário acrescentar nada de novo, nem um a
só coisa, à providência da natureza, m as perm itir apenas que a natureza
não estorve. Se alguma arte for perm itida na educação só pode ser a do
fortalecim ento. Também por isso é de rejeitar os cueiros. Se se quiser
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observar, no entanto, alguma precaução, o m ais adequado é um a espécie
de caixa m unida na parte de cim a com correias. Os italianos usam -na e
cham am -lhe arcuccio. A criança perm anece sempre nesta caixinha e é lá
colocada para a am am entação. Assim, fica protegida, de modo a que, ainda
que a mãe adormeça à noite enquanto am am enta, a criança, porém, não
possa ser esmagada a ponto de morrer. Entre nós, todavia, m orrem m uitas
crianças desta m aneira. Esta precaução é, portanto, m elhor que os cueiros,
pois as crianças têm aí m ais liberdade e protegem -se das deformações; ao
passo que se tom am disform es m uitas vezes através dos próprios cueiros.
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em ajuda da criança, quando ela grita, cantar-lhe qualquer coisa, com o é
hábito das amas, ou fazer qualquer desse género, é m uito prejudicial. Isso
é habitualm ente a prim eira coisa a estragar a criança, pois, ao ver que tudo
acorre ao seu cham am ento, repete os seus gritos com m ais frequência.
Bem se pode dizer com verdade que as crianças das pessoas com uns são
m ais estragadas com mimos do que as das pessoas distintas. Pois as pessoas
com uns brincam com elas como com m acacos. Cantam-lhes, acariciam -
nas, beijam -nas, dançam com elas. Pensam fazer algo de bom à criança,
quando, logo que ela grita, acorrem a brincar com ela, etc. Mas assim gritam
m ais frequentem ente. Se, pelo contrário, não nos voltarm os ao seu choro,
acabam por parar de chorar. Pois nenhum a criatura se dá a trabalhos vãos.
Se as habituarm os, contudo, a verem todos os seus caprichos satisfeitos,
o quebrar da vontade chega depois demasiado tarde. Mas se as deixarmos
gritar, acabam por se fartar. Se satisfizerm os, na prim eira infância, porém,
todos os seus caprichos, estragam os-lhes o coração e os costum es.
É claro que a criança ainda não tem um conceito de costum es, mas
estraga-se-lhe as suas disposições naturais pelo facto de se te r de aplicar
castigos m uito duros depois, a fim de reparar os estragos. Depois, quando
se quer desabituá-las de nos apressarmos às suas exigências, as crianças
m anifestam um a fúria tão grande nos seus gritos de que apenas os adultos
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são capazes, só que àquelas faltam as forças para passar a vias de facto.
Enquanto só tiverem de cham ar para que tudo em seu redor lhes acorra,
dominam, por conseguinte, despoticam ente. Ora, quando esta dominação
cessa, aborrecem -se com isso naturalm ente. Pois até a grandes hom ens que
tenham detido um poder, durante algum tem po, lhes custa sempre muito
desabituarem -se rapidam ente dele.
As crianças não conseguem ver correctam ente nos prim eiros tem pos,
aproximadamente nos três prim eiros meses. É certo que têm a sensação
da luz, m as não distinguem os objectos entre si. Podemos veriíicá-lo da
seguinte m aneira: se lhes pusermos algo brilhante à frente, não o seguem
com os olhos. Com a visão dá-se tam bém a faculdade de rir e chorar. Quando
a criança chega então a este estado, chora reflectidam ente porque não
está tão escuro com o queria. Significa sempre, então, que se lhe provocou
algum sofrim ento. Rousseau diz que se se bater n a m ão de um a criança
de aproximadamente seis m eses, ela grita tanto com o se lhe tivesse caído
um tição nas mãos(-). A isto já se liga realm ente o conceito de ofensa. Os
pais m uito falam ordinariam ente do quebrar da vontade nas crianças. Não
é necessário quebrar-lhes a vontade, se ela não tiver sido anteriorm ente
estragada. O prim eiro estrago, contudo, consiste em anuirm os à vontade
despótica das crianças, ao deixarm os que elas consigam tudo o que querem
com base na gritaria. Além de que é extrem am ente difícil reparar isso
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depois, e raram ente se tem êxito. Pode-se conseguir, com efeito, que a
criança fique calada, m as ela engole a bílis em si e nutre um a fu ria interior
tanto maior. Habitua-se assim a criança à dissim ulação e a movim entos
interiores do ânim o. É m uito estranho, por isso, que, por exemplo, os
pais exijam que as crianças, depois de terem apanhado com o açoite, lhes
beijem as mãos. Desse modo habituam o-las à dissim ulação e à falsidade.
Pois o açoite não é precisam ente um presente assim tão belo que se fique
agradecido por ele, e facilm ente se im agina com que coração a criança
beijará um a tal mão.
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Por precaução, pode-se equipar o aposento com tapetes de lã, para que não
espetem picos e tam bém não caiam tão duramente.
Diz-se vulgarm ente que as crianças caem m uito pesadam ente. Mas, além
de nem sequer poderem cair pesadam ente, não lhes vem grande m al por
caírem um a vez por outra. Aprendem a distribuir m elhor o peso e a virarem -
se de modo a que a queda não lhes faça mal. Também se lhes coloca amiúde
o chamado gorro acolchoado, tão proem inente que a criança nunca pode
cair de cara no chão. Mas isto é apenas um a educação negativa, empregando
m eios artificiais quando a criança os tem naturais. Os instrum entos
naturais são aqui as mãos que a criança, ao cair, põe logo à frente. Quantos
m ais instrum entos artificiais se usar, m ais dependente de utensílios se
to m a o homem.
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pão ou um a pedra: então tentaria em seguida desenhar o P, etc. e assim a
criança inventaria para si o seu próprio ABC, que depois só teria de trocar
por outros sinais.
Algumas crianças vêm ao mundo com aleijões. Não se tem m eios para
corrigir novam ente esta figura defeituosa, como que estragada? Chegou-
se à opinião, m ediante os esforços de m uitos e sábios escritores, de que os
espartilhos de nada servem aqui, pelo contrário, ainda aum entam o mal,
na medida em que obstam à circulação do sangue e dos humores, bem
como à altam ente necessária expansão das partes internas e externas do
corpo. Quando se deixa a criança à vontade, ela exercita m ais o seu corpo,
e um hom em que usa um espartilho, estará, quando o tirar, m uito m ais
fraco que outro que nunca o tenha posto. Pode-se talvez ajudar aqueles que
nasceram com aleijões, colocando m ais peso no lado em que os músculos
são m ais robustos. Mas isto tam bém é m uito perigoso: pois que homem
pode estipular o equilíbrio? O m elhor é que a criança se exercite a si m esm a
e adquira um a posição, ainda que lhe seja custosa, pois aqui nenhum a
m áquina rem edeia a coisa.
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a utilizar as suas forças. Na educação, deve-se im pedir som ente que as
crianças se tom em m oles. E o fortalecim ento é o oposto da moleza. É
arriscar demasiado querer habituar a criança a tudo. A educação dos Russos
vai m uito longe a este respeito. Mas, por isso, m orre um inacreditável
número de crianças. A habituação, através de um a repetição m ais frequente
do m esm o gozo ou acção, tom a-se em necessidade do gozo ou da acção. A
nada as crianças se habituam m ais facilm ente e nada se deve dar menos
às crianças do que coisas estim ulantes, por exemplo, tabaco, aguardente e
bebidas quentes. A desabituação depois é m uito difícil e, de início, im plica
queixas, porque através do prazer m ais frequente ocorreu um a modificação
nas funções do nosso corpo.
Muitos pais querem que os seus filhos se acostum em a tudo. Isto, porém,
de nada serve. Pois a natureza hum ana em geral, e em parte a própria
natureza do sujeito individual, não lhe perm ite habituar-se a tudo, e m uitas
crianças quedam-se pelas prim eiras lições. Assim, querem, por exemplo,
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que as crianças durmam e se levantem a qualquer altura do dia ou que
devam com er quando eles lho exigem. Mas, para aguentar isso, requer-se
um modo de vida peculiar, um modo de vida que robustece o corpo e que
restaura o que o deteriorou. Mas na natureza tam bém encontram os m uita
coisa periódica. Os anim ais tam bém têm o seu tem po certo para dormir. O
homem deve habituar-se igualm ente a um tem po certo, para que o corpo
não seja perturbado nas suas funções. No que diz respeito ao facto de
as crianças deverem com er a qualquer hora, não podemos invocar aqui o
exemplo dos anim ais. Pois, por exemplo, todos os anim ais que se alim entam
de erva ingerem com ida pouco rica, por isso, com er é um assunto
corriqueiro. Mas é m uito saudável para o hom em com er sempre num a
determ inada altura. Assim, alguns pais querem que os seus filhos consigam
suportar grandes frios, o fedor, todo e qualquer ruído, e coisas do género.
Mas isso de modo nenhum é necessário, se eles a nada se acostum arem . E,
para tal, é de grande préstim o que se transponha as crianças para diferentes
estados.
45
No que diz respeito à form ação do ânim o, que realm ente e em
certa medida tam bém se pode designar por física, é necessário observar
principalm ente que a disciplina não seja servil, m as que a criança
tenha sempre de sentir a sua liberdade, só que de tal modo que não
perturbe a liberdade dos dem ais; daí que tenha de encontrar resistência.
Alguns pais cerceiam tudo aos seus filhos, a fim de exercitarem a sua
paciência, e exigem, por conseguinte, m ais paciência aos filhos do que
aquela que eles próprios têm . Isto, no entanto, é cruel. Dê-se à criança
tanto quanto lhe serve e depois diga-se-lhe: tens o suficiente! Mas é, sem
dúvida, necessário que tal seja então irrevogável. Atenda-se aos gritos das
crianças e condescenda-se com elas som ente se elas não quiserem forçar a
algum a coisa através da gritaria: m as conceda-se-lhes aquilo que pedirem
amavelmente, se lhes for de préstim o. Assim, habitua-se tam bém a criança
a ser sincera e a não se tom ar im pertinente através da sua gritaria, e desse
modo todos serão tam bém afáveis com ela. A Providência parece te r dado
um sem blante afável às crianças, para que possam inspirar sim patia às
pessoas e obterem vantagens. Nada é m ais prejudicial que um a disciplina
trocista, servil, para quebrar o egoísmo.
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que se envergonhar, não se deve envergonhar e, deste modo, tom a-se
sim plesm ente acanhada. Fica embaraçada assim que vê outrem e esconde-
se de bom grado perante outras pessoas. Nasce assim um a reserva e um a
dissim ulação prejudiciais. Já não se atreve a pedir o que quer que seja, e
deveria, contudo, poder pedir tudo; dissim ula a sua disposição e parece
sempre diferente do que realm ente é, em lugar de te r de lhe ser permitido
dizer tudo com sinceridade. Em vez de estar sempre n a proximidade dos
pais, evita-os e lança-se nos braços da criadagem condescendente.
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isto nada m ais é que um certo olhar insolente a que se habituaram desde a
juventude, porque não se lhes opôs resistência.
Tudo isto ainda se pode contar som ente na form ação negativa. Pois
m uitas fraquezas do hom em não provêm frequentem ente do facto de não
se lhes te r ensinado nada, m as m ais do facto de se lhes te r ensinado
impressões falsas. Assim, por exemplo, as amas passam para as crianças o
medo das aranhas, sapos, etc. As crianças poderiam certam ente apanhar as
aranhas da m esm a m aneira em que agarram outras coisas. Mas, porque as
amas, assim que vêem um a aranha, m ostram a sua repugnância através de
caretas, isso acaba por influenciar a criança através de um a certa simpatia.
Muitas conservam este medo por toda a sua vida, e, a esse respeito,
perm anecem sempre pueris. Pois as aranhas são de facto perigosas para as
m oscas, e a sua mordedura é-lhes venenosa, m as não são prejudiciais ao
homem. E um sapo é um anim al tão inocente como um a bela rã verde ou
qualquer outro anim al.
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das faculdades do ânim o. Por isso, os pais têm de proporcionar aos filhos as
oportunidades para que ta l suceda. A prim eira e m ais im portante regra para
isso é que se prescinda, tanto quanto possível, de todos os instrum entos.
Assim, presdnda-se, de início, das andadeiras e dos andarilhos, e deixe-se a
criança gatinhar no chão até que aprenda a andar por si própria, pois assim
andará com m aior segurança. É que os instrum entos apenas arruinam o
jeito natural. Pode-se utilizar um fio para m edir um a dada extensão, mas
pode-se fazê-lo igualm ente bem a olho; um relógio para determ inar o
tem po, m as pode-se fazê-lo através da posição do sol; um a bússola para nos
orientarm os na floresta, m as pode-se fazê-lo tam bém através da posição do
sol, de dia, e da posição das estrelas, à noite. Até se pode dizer que em vez de
precisar de um batel para avançar sobre as águas, se pode nadar. O célebre
FranklinO admira-se que haja alguém que o não aprenda, visto que é tão
agradável e útil. M enciona igualm ente um modo fácil de cada qual aprendê-
lo por si. Coloque-se um ovo no fundo de um ribeiro onde se tenha pé de
modo a que, pelo m enos, a cabeça fique à tona. Procure-se então agarrar o
ovo. Ao inclinarm o-nos, os pés sobem e, para que não entre água na boca,
giraremos logo a cabeça no sentido da nuca e assim obtém -se a posição
correcta que é necessária para podermos nadar. Pode-se, nessa altura,
trabalhar com as m ãos, e assim já estam os a nadar. O que im porta é cultivar
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a aptidão natural. Ora se requer inform ação para tal, ora a própria criança
tem inventiva quanto baste, ou descobre instrum entos por si própria.
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Tais feitos nas crianças não são realm ente m uito perigosos. Pois as
crianças têm um peso de longe m ais escasso em proporção às suas forças
que as outras pessoas e, por isso, não lhes custa tanto. Além disso, os ossos
não são nelas tão rígidos e quebradiços com o vêm a ser com a idade. As
crianças tam bém experim entam por si as suas forças. Por isso as vemos,
às vezes, por exemplo, a escalarem sem que tenham um qualquer desígnio.
Correr é um movim ento saudável e fortalece o corpo. Saltar, a elevação,
carregar, a fisga, o tiro ao alvo, a luta, a corrida e exercícios sem elhantes são
m uito bons. A dança, na medida em que for artística, parece precoce para
crianças em sentido próprio.
51
floresta, nomeadam ente através do facto de se ter reparado nas árvores
pelas quais já se passou. O m esm o sucede com a m em ória localis, que se
saiba, por exemplo, não só em que livro se leu algo como tam bém o seu
preciso local no mesmo. Assim, o m úsico tem as teclas na cabeça de tal
modo que já não precisa de as procurar com o olhar. A cultura da audição é
igualm ente precisa para se saber através dela se algo está longe ou perto e de
que lado está.
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desse modo tom am -se maçadoras para os outros. Já seria melhor, no
entanto, que aprendessem a cortar um a cana de tal modo que pudessem
tocar m úsica com ela.
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rapaz vivo um bom homem do que de um im pertinente um m oço prudente
e trabalhador. A criança não só não pode ser enfadonha na sociedade como
tam bém não pode ser insinuante. Deve ser fam iliar com quem frequenta
sem ser indiscreta; sincera sem ser im pertinente. O m eio para isso é: nada
se corrompa, não se lhe ensine conceitos de decoro, através dos quais se
to m e acanhada e receosa dos hom ens, ou, por outro lado, seja levada à
ideia de se querer fazer valer. Nada é m ais ridículo do que o recato precoce
ou a presunção im pertinente da criança. No últim o caso, tanto m ais tem os
de fazer sentir à criança as suas fraquezas, m as não em dem asia a nossa
superioridade e domínio, para que se form e de facto a partir de si mesma,
como um hom em que deve viver em sociedade, onde o mundo tem de ser
suíicientem ente grande para ela própria, m as tam bém para os outros.
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Chegamos agora à cultura da alm a, que tam bém podemos designar em
certa medida como física. Tem de se distinguir, porém, entre natureza e
liberdade. Dar leis à liberdade é algo com pletam ente diferente de form ar a
natureza. A natureza do corpo e da alm a concordam no facto de se procurar
impedir um a corrupção, aquando da sua form ação recíproca, e no facto de
a arte acrescentar então algo àquela bem como a esta. Pode-se igualm ente
designar a form ação da alma, portanto, em certa medida, por física, tal
como a form ação do corpo.
Esta form ação física do espírito distingue-se da m oral, contudo, por esta
visar apenas a liberdade e aquela apenas a natureza. Uma pessoa pode ser
fisicam ente m uito cultivada; pode te r um espírito m uito formado, m as ser
em sim ultâneo m al cultivada m oralm ente, ser um a criatura má.
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tam bém se pode estar ocupado sob coacção, e a isso cham a-se trabalhar. A
form ação escolástica deve ser trabalho para a criança; a livre, jogo.
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sociedade que lá se encontra, ou qualquer outra coisa, é o propósito do nosso
passeio, preferim os escolher o cam inho m ais curto. O mesmo se passa com
os jogos de cartas. É realm ente notável vermos hom ens razoáveis sentados,
frequentem ente durante horas, a baralharem cartas. Donde se depreende
que os hom ens não deixam de ser crianças assim tão facilm ente. Pois em
que é que ta l jogo é m elhor do que o jogo da bola das crianças? Os adultos
não andam em cavalos de batalha, m as não deixam de te r as suas m anias.
57
O homem tem de estar de ta l modo ocupado, que, com o propósito
que tem em vista realizar dessa m aneira, não se sinta a si m esm o e que
o seu m elhor repouso seja aquele que se segue ao trabalho. A criança tem
de ser, pois, habituada a trabalhar. E onde a não ser na escola se deve
cultivar a inclinação para o trabalho? A escola é um a cultura por coação.
É extrem am ente nocivo que a criança seja habituada a considerar tudo
como jogo. Tem de ter tem po para se recrear, m as tam bém tem de haver
tem po em que trabalha. Ainda que a criança não vislum bre logo qual seja a
utilidade dessa coacção: descobrirá no futuro o m aior proveito disso. Seria
am im alhar excessivam ente a curiosidade indiscreta da criança responder
sempre às suas perguntas: para que serve isto? e aquilo? A educação tem de
se conform ar à coacção, m as nem por isso lhe é perm itido ser servil.
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As faculdades inferiores não têm por si só nenhum valor, por exemplo,
um hom em com um a grande m em ória, m as sem faculdade de ajuizar.
Um tal hom em é um a enciclopédia viva. Tais burros de carga do Pamasso
tam bém são necessários, ainda que não consigam realizar nada de
brilhante, pois carreiam consigo m ateriais para que outros possam realizar
algo de bom a partir disso. A argúcia dá puras tolices, quando não se lhe
acrescenta a faculdade de julgar. O entendim ento é o conhecim ento do
geral. A faculdade de julgar é a aplicação do geral ao particular. A razão é
a faculdade de apreender a ligação do geral ao particular. Esta cultura livre
abre o seu cam inho desde a in fan d a até à época em que o adolescente
com pleta toda a educação. Quando um adolescente, por exemplo, invoca
um a regra geral, pode-se fazê-lo indicar casos da história, das fábulas em
que esta regra está mascarada, passagens dos poetas, onde já se encontra
expressa, e assim dar-lhe ensejo de exerd tar a sua argúcia, a sua m em ória,
etc.
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Aprender os vocábulos é realm ente im portante, mas o que de m elhor há
a fazer é aprender aquelas palavras que aparecem no autor que se está
precisam ente a ler com o adolescente. Os jovens têm de ter o seu programa
certo e determinado. Assim, a geografia tam bém se aprende m elhor
m ediante um certo m ecanism o. A m em ória gosta preferencialm ente deste
m ecanism o, que tam bém é m uito ú til num a série de casos. Para a história
ainda não se inventou até ao presente um m ecanism o adequado; é certo que
já se tentou com tabelas, m as parece que, ainda assim , as coisas tam bém
não correram lá m uito bem . A história, porém, é um excelente m eio para
exercitar o entendim ento no juízo. A memorização é m uito necessária, mas
de nada serve como m ero exercício, por exemplo, aprender discursos de cor.
Em todo caso, ajuda com o fom ento da ousadia, e, além disso, o declam ar é
assunto de homens. Têm aqui lugar todas as coisas que se aprendem apenas
para um futuro exame ou em referência ao fu tu ram oblivionem . Deve-se
ocupar a m em ória apenas com assuntos que tem os interesse em conservar
e que têm um a relação com a vida real. Nas crianças, o m ais nocivo é a
leitura de rom ances, visto que não farão outro uso deles a não ser o de se
divertirem no m om ento em que os lêem . A leitura de rom ances enfraquece
a m em ória. Pois seria ridículo fixar rom ances e querer contá-los a outrem.
Daí que se tenha de tirar todos os rom ances das m ãos das crianças. Ao lê-
los, im aginam , por seu turno, um novo rom ance no rom ance, dado que
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im aginam as circunstâncias diferentem ente, devaneiam e ficam sentadas,
absortas.
61
vantajoso no prim eiro ensino científico é versar a geografia, a m atem ática
bem com o a física. As narrativas de viagens, ilustradas com gravuras e
mapas, levam então à geografia política. Do estado actual da superfície do
globo rem onta-se ao estado anterior, passa-se então à descrição da terra
antiga, à história antiga, etc.
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preceder apenas in abstracto ou devem as regras ser aprendidas apenas
depois de se te r feito uso delas? Ou devem a regra e o uso andar a par
e passo? Só este últim o caso é de aconselhar. No outro caso, demora-
se tanto até chegar às regras que o uso é m uito inseguro. As regras têm
de ser oportunam ente enquadradas em classes, pois não se fixam , se não
estiverem em ligação entre si. Nas línguas, a gram ática tem , portanto, de ter
algum a precedência.
Temos agora de dar tam bém um conceito sistem ático do fim to tal da
educação e do modo como se pode alcançá-lo.
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b) ou m oral. Assenta então não na disciplina, m as em máximas.
Está tudo estragado, quando se quer fundam entá-la em exemplos,
ameaças, castigos, etc. Nesse caso, seria um a m era disciplina. Deve-
se velar aí para que o educando aja bem a partir das suas próprias
m áxim as, não por hábito, que ele não se lim ite a fazer o bem , m as sim
que o faça porque é bom. Pois todo o valor m oral das acções consiste
nas m áxim as do bem . A educação física distingue-se da m oral por
ser passiva para o educando, ao passo que esta é activa. Ele tem de
vislum brar sempre o fundam ento e a derivação da acção a partir dos
conceitos do dever.
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Os mapas têm em si algo que encanta todas as crianças, inclusive as
m ais pequenas. Quando já estão saturadas de tudo, ainda aprendem m ais
qualquer coisa, se utilizarm os mapas. E é um bom divertim ento para
crianças, onde a sua im aginação não pode devanear, m as como que tem de
se ater a um a certa figura. Poder-se-ia realm ente com eçar nas crianças com
a geografia. Pode-se com binar com ela, em sim ultâneo, figuras de anim ais,
plantas, etc.; estas devem dar vida à geografia. A história, porém, deveria ser
introduzida som ente m ais tarde.
No que diz respeito ao fortalecim ento da atenção, deve-se notar que esta
tem de ser fortalecida em geral. Um vínculo rígido dos nossos pensamentos
a um objecto não é tanto um talento, m as antes um a fraqueza do nosso
sentido interno, já que, neste caso, é inflexível e não se pode aplicar a nosso
belo talante. A distracção é inim iga de toda a educação. A m em ória, porém,
assenta na atenção.
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compreender o que se aprende ou se diz, e para não repetir nada
sem o compreender. Como alguns que lêem e escutam algo sem o
compreenderem, ainda que acreditem que o compreendem. Para tal requer-
se im agens e objectos.
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exemplos, nos seus diálogos que Platão em certa medida nos conservou,
de como, mesmo no caso de pessoas já de idade, se pode extrair m uita
coisa da sua própria razão. A razão não precisa, em m uitos assuntos, de ser
exercitada pelas crianças. Não têm de arrazoar acerca de tudo. Não precisam
de saber os fundam entos daquilo que os faz bem-educados, m as, assim
que concerne ao dever, têm de ser fam iliarizadas com esses fundamentos.
Deve-se velar, no entanto, para que os conhecim entos racionais não lhes
sejam introduzidos a partir de fora, m as sim que elas os hauram em
si m esm as. O método socrático devia constituir a regra no catecism o. É
claro que é aborrecido, e é difícil organizá-lo de tal m aneira que, enquanto
se faz sair os conhecim entos de um , os outros tam bém aprendam em
sim ultâneo algum a coisa. O m étodo m ecânico-catedsta é igualm ente bom
em algumas ciências; por exemplo, na exposição da religião revelada. Na
religião universal, pelo contrário, tem de se utilizar o método socrático.
Atendendo àquilo que tem de ser aprendido historicam ente, recomenda-se
de preferência o método m ecânico-catecista.
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estragadas com mimos, gostam realm ente dos prazeres que se associam às
canseiras, das ocupações que requerem as suas forças. No que diz respeito
à alim entação, não se deve deixar que se tom em gulosas e não se pode
deixá-las escolher. Geralmente, as m ães estragam os filhos com mimos
neste particular e am im alham -nos em geral. E, no entanto, nota-se que as
crianças, prindpalm ente os rapazes, gostam m ais dos pais que das mães.
Isto provém do facto de as m ães não os deixarem andar aos pinotes, a
correr, etc., com medo de que se possam magoar. O pai, ao invés, que é quem
repreende e tam bém lhes bate, se forem m alcriados, leva-os de quando em
quando ao campo e aí deixa-os correrem , brincarem e folgarem à medida da
idade.
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Também não se pode tom ar as crianças acanhadas. Isso acontece
principalm ente quando usamos de injúrias com elas e as envergonhamos
reiteradam ente. Aqui entra, em particular, a exclam ação dos pais: que
porcaria, não ten s vergonha! Não se deve de modo nenhum fazer vista
grossa àquilo de que a criança deveria realm ente ter vergonha, por exemplo,
quando põe o dedo na boca, etc. Isso não se faz, não é bonito! pode-se
dizer-lhe, mas nunca gritar-lhe um “que porcaria, que vergonha!”, a não ser
no caso de m entirem . A natureza deu ao homem a pudicícia para que se
traia assim que m entir. Por isso, nunca os pais dêem às crianças sermões
sobre a vergonha, a não ser que m intam , assim elas conservarão, por toda
a sua vida, o m bor de vergonha no que diz respeito à m entira. Se são
envergonhadas sem cessar, isso provoca um acanham ento que se lhes cola
de longe m ais im utavelm ente.
A vontade da criança não tem , como já foi dito atrás, de ser quebrada,
mas apenas de ser conduzida de modo a que ceda aos obstáculos naturais.
É claro que, de início, a criança tem de obedecer às cegas. Não é natural
que a criança comande através da sua gritaria e que o forte obedeça ao
fraco. Daí que nunca se possa condescender à gritaria das crianças, inclusive
na prim eira infância, e perm itir-lhes que se im ponham . Geralmente, os
pais erram aqui e querem em seguida reparar a situação de ta l modo, que
cerceiam posteriorm ente tudo o que as crianças pedem. Mas cercear-lhes
69
sem causa aquilo que esperam da bondade dos pais, pura e sim plesm ente
para oferecer resistência e poder fazer sentir aos m ais fracos a supremacia
dos m ais velhos, é o inverso do que deve acontecer.
70
agir em sentido contrário, deve-se aceder ao pedido da criança. Se se
encontrar um a causa para não o aceitar, tam bém não nos podemos deixar
mover pelo pedinchar reiterado. Toda a resposta negativa tem de ser
irrevogável. O seu prim eiro efeito é o de que não é preciso estar sempre a
negar.
71
castigar a criança, quando faz o m al, e for recompensada, quando faz o bem ,
fará o bem para ter o bem . E se depois entrar no mundo, onde ta l não sucede,
onde pode agir bem sem receber recom pensa e m al sem receber um castigo,
tom ar-se-á um a pessoa que vê apenas como pode vingar no mundo e será
boa ou m á consoante lhe for m ais propício.
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se amplie ta l tempo. Em coisas indiferentes, deixe-se a escolha às crianças,
têm apenas de seguir sempre posteriorm ente aquilo que de início quiseram
como lei. Nas crianças deve-se form ar não o carácter de um cidadão, mas
sim o carácter de um a criança.
Pessoas que não se propuseram certas leis não são de fiar, não as
compreendemos, porque nunca sabemos ao certo o que havemos de esperar
delas. É certo que hoje se censura frequentem ente as pessoas que agem
sempre segundo regras, por exemplo, o homem que estabeleceu um tempo
certo pelo relógio para cada acção, m as esta censura é amiúde injusta, e esta
exactidão, ainda que pareça penosa, é um a disposição para o carácter.
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na escola. O professor não pode m ostrar predilecção entre os vários alunos,
nem um a afeição preferencial por um a criança em particular. Pois senão a
lei cessa de ser geral. Assim que a criança repara que todos os demais não
têm de se sujeitar à m esm a lei, tom a-se insubordinada.
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se envergonha a criança, quando a tratam os com um a frieza glacial. Estas
inclinações têm de ser conservadas tanto quanto possível. Por isso, este
modo de castigar é o m elhor; porque vem em socorro da moralidade,
por exemplo, quando um a criança m ente, um olhar de desprezo é castigo
quanto baste e é o castigo m ais adequado.
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bom . De início, porém, a coacção física substitui a falta de reflexão da
criança.
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nos prim eiros anos da adolescência. É que só pode ter lugar, quando o
conceito de honra já lançou raízes.
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Os castigos tam bém se deixam dividir em negativos e positivos, dos quais
os prim eiros têm de entrar nos casos de preguiça ou imoralidade, por
exemplo, na m entira, na falta de obsequiosidade, na falta de civilidade. Os
castigos positivos, porém, valem para a maldade. Mas devemos, sobretudo,
precatarm o-nos de guardar rancor às crianças.
As crianças tam bém têm de ser francas e tão alegres no seu olhar como
o sol. Só o coração alegre é capaz de sentir comprazimento no bem . Uma
religião que to m a os hom ens lúgubres é falsa, pois eles devem servir a Deus
com um coração alegre e não por coacção. O coração alegre não tem de se
m anter sempre rigorosam ente sob coação escolar, pois neste caso em breve
fica abatido. Se tiver liberdade, recupera rapidam ente. Para isso servem
certos jogos em que tem liberdade e onde a criança se esforça por exceder
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outrem a propósito de alguma coisa. A alm a tom a-se logo novamente
alegre.
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cabelo arranjado, com pulseiras, ou m esm o possuir um a bolsa de tabaco
sua. Tom a-se um ser afectado, o que não convém a um a criança. Um
m eio educado tom a-se-lhe um fardo e, por fim , falta-lhe com pletam ente
a desenvoltura de um homem. Justam ente por isso, deve-se contrariar
tam bém desde cedo a vaidade, ou, m ais bem dito, não se lhe deve dar azo a
que se to m e vaidosa. Isso acontece, porém, quando se impinge às crianças
m uito cedo quão belas são, ou quão amoroso é este ou aquele enfeite, ou
quando este lhe é prometido e dado com o recompensa. Os adornos não
servem às crianças. As suas vestes lim pas ou sujas devem-lhe ser dadas
como necessidade. Mas os pais tam bém não devem valorizar tais coisas, não
se devem m irar ao espelho, pois, aqui como em todo o lado, o exemplo é
todo-poderoso, e consolida ou aniquila a boa doutrina.
(*) Rousseau, Em ílio, Livro I: “Tenho a certeza de que um pedaço de carvão em brasa que
tivesse caído em cim a da m ão daquela criança a teria feito sofrer m enos que aquela palmada
assaz ligeira, m as dada com a intenção m anifesta de a ofender.” Publicações Europa-América,
Vol. 1 ,1 9 9 0 , trad. de Pilar Delvaulx. (N. T.)
(-) Kant refere-se ao m atem ático Johann Andreas Segner (1 7 0 4-77), professor em lena,
Gotinga e Halle, onde sucedeu a C. W olf em 1758.
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(-) Rousseau, op. d t , livro II, Vol. I, p. 117. (N. T.)
(-) Laurence Stem e, A vida e opiniões de Tristram Shandy, Lisboa, Antígona, 1998, vol. I.
Trad. de Manuel Portela, p. 1 91. A versão que Kant apresenta não confere textualm ente com a
tradução portuguesa.
(-) O texto de Lichtenberg tin h a por títu lo Antwort a u f das Sendschreiben eines Ungennanten,
e foi publicado no núm ero 4 do terceiro ano do magazine de Gotinga. (N. I )
(-) Título da obra de Jan Amos Komensky (1 5 9 2 -1 6 7 1 ), pedagogo checo m ais conheddo
pela designação latina de Comenius, intitulada, em alem ão, O mundo vísivel das coisas que
apresentava im agens legendadas e constituiu o modelo para inúm eras obras entre as quais a
Elementarwerk de Basedow. (N. T.)
(-) Muito fez e suportou desde menino, suou, sofreu, verso 4 1 3 da Epistola ad Pisones m ais
conhedda, desde Q uintiliano, como Arte poética. A passagem com pleta reza: “O atleta que
forceja por atingir na corrida a m eta desejada, m uito fez e suportou desde m enino, suou, sofreu
e absteve-se do vinho e de Vénus...” in Horácio, Arte poética, Lisboa, Editorial Inquérito, 2 0 0 14,
trad. de Rosado Fernandes, p. 105. (N. T )
81
Da educação prática
No que diz respeito kpru dên cia m undana: esta consiste na arte de utilizar
a nossa aptidão entre os hom ens, quer dizer, o modo em que nos podemos
servir dos hom ens para os nossos propósitos. Para ta l requer-se várias
coisas. Na verdade, trata-se do m ais im portante no hom em ; mas, segundo o
valor, ocupa o segundo lugar.
82
No caso de a criança ficar entregue à prudência m undana, tem de
disfarçar e de se tom ar impenetrável, m as tem de poder sondar os outros.
Tem de disfarçar prindpalm ente no atinente ao seu carácter. A arte da
aparência externa é o decoro. E deve-se possuir esta arte. Sondar os outros é
difícil, mas tem de se compreender necessariam ente esta arte para se tom ar
a si próprio, ao invés, im penetrável. Para isso requer-se dissim ulação, quer
dizer, a reserva dos seus erros, e aquela aparência exterior. A dissimulação
nem sempre é disfarçar, e pode de vez em quando ser perm itida, m as roça a
desonestidade. O disfarce é um m eio desesperado. É preciso, na prudência
mundana, não nos em pertigarm os; não podemos, porém, ser de modo
nenhum demasiado negligentes. Não devemos, portanto, ser impetuosos,
mas antes voluntariosos. O voluntarism o é distinto da impetuosidade.
Voluntarioso (strennus) é aquele que tem prazer no querer. A isto pertence
moderação do afecto. A prudência m undana diz respeito ao temperamento.
83
Requer-se força de ânim o e inclinação, se se quer aprender a passar por
carências. Temos de nos habituar a respostas demolidoras, resistência, etc.
84
que de tudo saiba algo fundamentado, pois senão engana e confunde os
outros com os seus conhecim entos aprendidos pela rama.
85
se tom ar de um a só vez igual àquele que se aplicou bem toda a sua vida
e que sempre pensou integram ente. Justam ente por isso tam bém nada há
a esperar de peregrinações, m ortificações e jeju n s; pois não se vê em que é
que as peregrinações e outros rituais podem contribuir para fazer de um a
penada de um homem vicioso um homem nobre.
86
antes, no facto de o homem te r no seu íntim o um a certa dignidade que o
enobrece perante todas as criaturas, e o seu dever é não negar esta dignidade
da humanidade na sua própria pessoa.
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b) Deveres para com os outros. A veneração e respeito pelo direito dos
hom ens têm de lhe ser ensinados m uito cedo, e tem de se velar muito
para que os ponha em prática; por exemplo, se um a criança encontrar um a
outra criança pobre e a empurrar orgulhosam ente para fora do cam inho ou
sim plesm ente a afastar de si com um ta l empurrão, ou lhe bater, etc., não
se lhe deve dizer: não faças isso, isso dói, sê compassivo! é um a criança
pobre, etc., deve-se antes fazer-lhe o mesmo tão orgulhosamente e com a
m esm a força, porquanto a sua conduta repugna ao direito da humanidade.
As crianças, porém, não possuem intrinsecam ente qualquer generosidade.
Pode-se verificá-lo, por exemplo, no facto de que, quando os pais lhes
mandam dividir m etade do seu pão-de-leite com outra criança, sem que,
contudo, receba posteriorm ente desta por isso um a parte igual, ou pura e
sim plesm ente não o fazem , ou só m uito raram ente e contrariadas. Também
não se pode sem m ais arengar-lhes m uito sobre a generosidade, um a vez
que elas nada têm que seja seu.
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anos cresce, quando a inclinação para o sexo se com eça a agitar, então é o
m omento crítico em que apenas a dignidade do hom em está em condições
de conter o jovem dentro de lim ites. É necessário, com antecedência,
adverti-lo de como se precatar diante deste ou daquele.
Falta às nossas escolas, quase sem excepção, algo que fom entaria muito
a form ação das crianças para a integridade, nomeadam ente um catecism o
do direito. Este deveria conter casos populares que sucedem na vida comum
e nos quais se levanta sem querer a questão de saber se algo será ou não
ju sto. Por exemplo, se alguém que deve pagar hoje ao seu credor for tocado
pela visão de um indigente e lhe entregar a som a em dívida, e que deveria
pagar: isso é ju sto ou não? Não! é injusto, pois tenho de ser livre, se quiser
ser beneficente. E, se eu der o dinheiro ao pobre, faço um a obra m eritória;
mas, se pagar a m inha dívida, faço um a obra devida. Além disso, seria
perm itida um a m entira por necessidade? Não! não é pensável um único
caso em que aquela m ereça desculpa, m uito m enos por parte de crianças,
que, aliás, consideram toda a m inudência um caso de necessidade, e se
perm itiriam m entir reiteradam ente. Se já existisse um ta l livro, poder-se-
ia, com m uito proveito, achar que dizer diariam ente durante um a hora para
que as crianças conhecessem e aprendessem a levar a peito o direito dos
homens, essa m enina dos olhos de Deus na terra.
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No que diz respeito à obrigação de beneficência: é um a obrigação
apenas im perfeita. Não se tem tanto de am olecer o coração das crianças,
de modo a que sejam afectadas pelo infortúnio dos outros, como de
o tom ar voluntarioso. Que ele não esteja repleto de sentim entos, mas
sim com a ideia do dever. Muitas pessoas tom aram -se, com efeito, de
coração empedernido, porquanto, dado que haviam sido anteriorm ente
compassivas, se viram amiúde intrujadas. É vão querer fazer compreender
a um a criança o m érito das acções. Os clérigos erram com m uita frequência
ao representarem as obras de beneficência como algo m eritório. Sem
pensarem no facto de que, em referência a Deus, nunca podemos fazer
m ais que aquilo que devemos, tam bém é apenas nosso dever fazer bem
ao pobre. Pois a desigualdade da prosperidade dos hom ens provém apenas
de circunstâncias fortuitas. Se possuo um pecúlio, tam bém devo agradecê-
lo apenas ao partido que eu próprio ou o m eu antepassado tirám os de
determ inadas circunstâncias, e a referência ao todo permanece sempre a
mesma.
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humilde, porquanto ele tem de se comparar, de acordo com aquela, com o o
supremo modelo da perfeição. É um a com pleta inversão fazer da humildade
um a avaliação de si inferior à de outrem. Vê com o esta e aquela criança se
comporta! e coisas do género, um a exclam ação deste tipo suscita apenas
um modo de pensar m uito vulgar. Se o homem avalia o seu valor segundo
outrem , ou procura elevar-se acim a dos outros ou então am esquinhar o
valor de outrem. Este últim o facto, porém, constitui a inveja. Procura-se
sempre, então, atribuir um a falta ao outro; pois se ele não existisse, tam bém
não se poderia ser comparado com ele, e assim ser-se-ia o melhor. Através
de um espírito de emulação m al apresentado apenas se provoca inveja. O
caso em que a em ulação ainda poderia servir para algum a coisa seria aquele
em que, para convencer alguém da exequibilidade de algo, por exemplo, ao
requerer de um a criança que aprenda um a certa m atéria, lhe m ostro que
outros o conseguem fazer.
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Todos os desejos do hom em ou são form ais (liberdade e capacidade)
ou m ateriais (referidos a um objecto), desejos do capricho ou do prazer,
ou acabam por se referir à m era duração de ambos como elem entos da
felicidade.
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Mas é o homem, por natureza, m oralm ente bom ou mau? Nem um a coisa
nem outra, pois não é um ser m oral por natureza; só se to m a um ser moral,
se a sua razão se elevar aos conceitos de dever e de lei. Pode-se dizer, no
entanto, que tem em si originariam ente estím ulos para todos os vícios, pois
tem inclinações e instintos que o incitam , como se a razão já se exercesse
como contraponto. Por isso, só se pode to m ar m oralm ente bom através da
virtude, ou seja, coagindo-se a si mesmo, se bem que pudesse ser inocente
sem estím ulos.
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alegria e piedade com bom humor, em vez da devoção rabugenta, tem erosa
e lúgubre.
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assim abrir-lhes então o conceito de um ser supremo, de um legislador. Mas,
um a vez que isto não é possível na nossa situação actual, se se quisesse
ensinar-lhes só m uito tardiam ente algo acerca de Deus, acabariam por
ouvir alguém a nom eá-lo e veriam o chamado culto para com ele, o que ou
lhes provocaria indiferença ou suscitaria nelas um conceito invertido, por
exemplo, um tem or perante o seu poder. Mas, dado que se tem de cuidar
que este não se possa anichar na im aginação das crianças: é necessário, para
evitá-lo, procurar m inistrar-lhes desde cedo conceitos religiosos. Isto não
pode ser, porém, um trabalho de memorização, m era im itação e apenas um
macaquear, m as antes o cam inho que se escolhe deve ser sempre adequado
à natureza. As crianças compreendem, m esm o sem conceitos abstractos do
dever, das obrigações, do bom e m au com portam ento, que existe um a lei do
dever, que a comodidade, o ú til e coisas do género não deviam determ iná-
las, m as sim algo universal, que não se pauta pelo hum or dos hom ens. O
próprio professor, porém, tem de estar munido deste conceito.
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O conceito de Deus deveria ser m ais bem clarificado, de in íd o, em
analogia com o de pai sob cujo cuidado nos encontram os, com o qual
se pode reladonar vantajosam ente a unidade dos hom ens, como num a
fam ília.
Em prim eiro lugar, deve-se com eçar, na criança, com a lei que ela tem
em si. Se for vidoso, o homem é em si digno de desprezo. Isto fundam enta-
se nele próprio, e não som ente porque Deus proibiu o m al. Pois não é
necessário que o legislador seja tam bém o autor da lei. Assim, um príndpe
pode proibir o roubo nos seus domínios, sem por isso poder ser chamado
o autor da proibição do roubo. A partir daqui, o hom em aprende a ver que
som ente o seu bom com portam ento o to m a digno da felicidade. A lei divina
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tem de aparecer como um a lei da natureza, pois não é arbitrária. Daí toda a
moralidade requerer religião.
Não se deve, porém, com eçar com a teologia. A religião que se constrói
m eram ente sobre a teologia nunca pode conter nada de m oral. Neste caso,
só se tem temor, por um lado, e intenções e disposições que buscam
recompensa, por outro, ora isso vem a ser um m ero culto supersticioso. A
moralidade tem , portanto, de te r a precedência, a teologia segue-a então, é
isto a religião
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que positivos. Fazer que as crianças repitam fórm ulas m aquinalm ente
não serve de nada e produz apenas um conceito invertido da piedade. A
verdadeira veneração de Deus consiste em agir segundo a vontade de Deus,
e é isto que deve ser ensinado às crianças. Tem de se velar nas crianças, bem
como em si mesmo, para que o nom e de Deus não seja invocado em vão
com tan ta frequência. Se se o utilizar nos desejos de felicidade, mesmo com
intenção piedosa, trata-se de um abuso. O conceito de Deus deveria instilar
no homem reverência de cada vez que se pronunciar o seu nom e e, por isso,
raram ente deveria ser utilizado, e nunca de modo leviano. A criança tem de
aprender a sentir reverência perante Deus, como perante o senhor da vida e
de todo o mundo; além disso, como perante o protector dos hom ens, e, em
terceiro e últim o lugar, como perante o ju iz deles. Diz-se que Newton sempre
que pronunciava o nom e de Deus recolhia-se um m om ento e meditava.
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Deve-se tam bém ensinar às crianças alguns conceitos do ser supremo,
para que, quando virem outrem a orar, etc., possam saber a quem e por
que acontece isso. Estes conceitos, porém, devem ser poucos em número e,
como já foi dito, apenas negativos. Deve-se com eçar a ensinar-lhos desde
tenra juventude, velando para que vejam aí que os hom ens não se avaliam
pela sua observância religiosa, pois, a despeito da m ultiplicidade religiosa,
há por toda a parte unidade da religião.
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indiscretas aos adultos, como por exemplo, donde vêm os bebés? mas não
se dão por satisfeitas facilm ente, se se lhes der respostas absurdas que
nada significam ou se forem despedidas com a resposta de que se trata de
perguntas de crianças.
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form ada, e a natureza já as preparou de molde a que se possa falar com eles
sobre isso.
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questão de saber se seria proibido um adolescente te r relações sexuais com
o sexo oposto. Se se tiver de escolher um a das duas coisas, esta últim a é,
sem dúvida, melhor. Naquela, o adolescente age contra a natureza, m as aqui
não. A natureza chama-o à virilidade, logo que se to m a adulto, e tam bém ,
por isso, à propagação da espécie; as necessidades, porém, que o homem
necessariam ente tem num estado cultivado fazem que ele nem sempre
possa educar os seus filhos. Comete aqui um a falta contra a ordem civil. O
m elhor é, portanto, ou antes, o dever é que o adolescente espere até estar
em condições de se casar devidamente. Age assim não só com o um homem
bom , m as tam bém como um bom cidadão.
Uma segunda distinção que o adolescente com eça a fazer pela época em
que entra n a sociedade consiste no conhecim ento da diferença dos estados
e da desigualdade dos hom ens. Enquanto criança, não se pode deixá-la
aperceber-se desta últim a. Não se pode sequer adm itir que dê ordens à
criadagem. Se ela vir que os pais dão ordens à criadagem, pode-se dizer-lhe
em todo o caso: dam os-lhes pão e por isso obedecem-nos, tu não o fazes, por
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isso tam bém não têm de te obedecer. As crianças tam bém nada sabem disto,
se os pais não lhes ensinarem tal ilusão. Deve-se m ostrar ao adolescente
que a desigualdade dos hom ens é um a instituição que nasceu porque
um hom em procurou adquirir vantagens perante outro. A consciência da
igualdade dos hom ens na desigualdade civil pode ser-lhe ensinada a pouco
e pouco.
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do humor. Pode-se atingir através do exercido o ponto de se poder m ostrar
sempre um participante bem -disposto da sodedade.
Deve-se ainda cham ar a sua atenção para que considere m uitas coisas
sempre como dever. Uma acção tem de te r valor para m im não porque
concorde com a m inha inclinação, m as sim porque cumpro o meu dever.
Para que atribua um valor dim inuto à fruição dos divertim entos da
vida. O tem or pueril da m orte desvanecer-se-á então. Deve-se m ostrar ao
adolescente que a fruição não proporciona o que o prospecto promete.
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(-) Citação da ode de H orádo cuja prim eira estrofe é “O hom em ju sto e tenaz no seu
propósito/em sua firm e m ente não se perturba/com o furor dos cidadãos impondo a in ju stiça/
nem com o vulto do am eaçador tirano”. Horácio, Odes, III, 3 , Livros Cotovia, Lisboa, 2 0 0 8 , trad.
de Pedro Braga Falcão.
(-) Kant refere-se a M artin Crugot (1 7 2 5 -9 0 ), teólogo de Bremen, cuja obra principal é Der
Christ in der Einsamkeit. (N. T.)
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