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COMENTÁRIO

BÍBLICO DE

MARCOS
versículo p o r versículo

Fenkall
COMENTÁRIO
BÍBLICO DE

MARCOS
versículo p o r versículo
© 2022 Livrarias Família Criftã LTDA.
Toda e$ta publicação foi desenvolvida pela Editora Penkal
Edição Exclusiva Livrarias Eamília Criátã

Autor: John Gill

Direção: Rebeca Louzada Macedo

Tradução: Daniel Sotelo

Coordenação de revisão: Frederico Alves Manhães Slonski

Revisão: Giovana Bazoni, Frederico Alves Manhães Slonski & Bárbara Ondei

Revisão teológica: Kennedy Carvalho

Projeto gráfico e diagramação: Dayane Germani

Capa: Dayane Germani

Todas as referências bíblicas desde livro eátão presentes na versão Almeida Reviáta Fiel e
Almeida Revisada Fiel

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

Gill, John, 1697-1771


Comentário bíblico Marcos / John Gill. —
Londrina, PR : Livrarias Família Criátã, 2023.
ISBN 978-65-5996-803-9
1. Bíblia. N.T. Marcos - Comentários
2. Cristianismo 3. Sermões I. Título.

INDICES PARA CATALOGO SISTEMÁTICO:

1. Evangelho de Marcos : Comentários 226.307


Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415

23-154196 CDD-226.307

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deáta publicação pode ser reproduzida, arquivada
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encapada de maneira diátinta daquela em que foi publicada, ou sem que as mesmas condições
sejam impostas aos compradores subsequentes.
Sumário

Introdução a Marcos.................................................................7

Capítulo 1................................................................................... 7

Capítulo 2................................................................................. 32

Capítulo 3..................................................................................54

Capítulo 4.................................................................................69

Capítulo 5 ................................................................................. 91

Capítulo 6............................................................................... 131

Capítulo 7............................................................................... 161

Capítulo 8............................................................................... 191

Capítulo 9............................................................................... 210

Capítulo 10.................................... 233

Capítulo 11.............................................................................238

Capítulo 12.............................................................................272

Capítulo 13.............................................................................29.5

Capítulo 14.............................................................................308

Capítulo 1.5.............................................................................332

Capítulo 16.............................................................................34,5
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 1

Introdução a Marcos
Este é o título do livro, cujo tema é o Evangelho: um relato
alegre do ministério, milagres, ações e sofrimentos de Cristo. O es-
critor não foi um dos doze apóstolos, mas um evangelista; o mesmo
que João Marcos, ou João, cujo sobrenome era Marcos: João era
seu nome hebraico e Marcos seu nome gentio (Atos 12.12). Era
filho da irmã de Bamabé (Colossenses 4.10), o nome de sua mãe
sendo Maria (Atos 12.12). O apóstolo Pedro o chama de filho (1
Pedro 5.13), se for o mesmo. Acredita-se que ele tenha escrito seu
Evangelho para ele e por sua ordem, por quem também foi depois
examinado e aprovado. E tido como escrito originalmente em latim
ou na língua romana, como é apontado nas versões árabe e persa no
início, e na versão siríaca no final, mas disso não há mais evidên-
cias, como também não há de Mateus escrevendo seu Evangelho
em hebraico. A antiga cópia latina é uma versão do grego, sendo o
original mais provavelmente escrito em grego, como o restante do
Novo Testamento.

Capítulo 1
1.1. Princípio do Evangelho de Jesus Cristo. Não que o
Evangelho comece a ser pregado nessa época, pois foi pregado
por Isaías e outros profetas antes; e muito antes disso, foi pregado
a Abraão; sim, foi pregado desde os tempos de nossos primeiros
pais, no jardim do Éden; e é de fato aquele mistério que estava
escondido em Deus antes da criação do mundo, sendo ordena-
do antes disso para a glória dos santos. Mas o sentido é que esta
narrativa que Marcos estava prestes a escrever começou com o
ministério de João Batista e de Cristo, que era o do Evangelho,
e o começo de sua dispensação, em distinção da legal: a lei e os
J o h n Gill

profetas foram até João, cessaram e terminaram nele; quando o


jab h Mlwe, “o mundo vindouro”, o reino de Deus, ou estado do
Evangelho, aconteceu.
O desígnio deste evangelista não deve dar conta da genealo-
gia de Cristo, de Sua concepção e nascimento, do que aconteceu
em Sua infância, ou de quaisquer ações e palavras d ’Ele desde
então, até a Sua aparição em Israel. Mas para dar conta de Seu mi-
nistério e milagres, sofrimentos e morte, o que é introduzido com
a pregação e o batismo de João, Seu precursor, e que ele entende
principalmente pelo “início do Evangelho”. Ele primeiro aponta
Cristo como seu autor e substância, bem como o Grande Prega-
dor do Evangelho; a soma disso é que Ele é Jesus, o Salvador e
Redentor dos pecadores perdidos; o Cristo, o Messias que havia
de vir; o Mediador entre Deus e o homem, o Profeta que declarou
toda a mente e vontade de Deus; o Grande Sumo Sacerdote, que se
ofereceu como sacrifício por Seu povo, fez a paz, obteve perdão,
trouxe justiça eterna e obteve redenção eterna, e agora vive para
interceder por eles; e Rei dos santos, que reina sobre eles, os pro-
tege e os defende, e não é outro senão o Filho de Deus; igual a Seu
Pai; da mesma natureza que Ele, possuidor das mesmas perfeições
e desfrutando da mesma glória; o que é um grande artigo do Evan-
gelho, e sem o qual ele não poderia ser um Salvador capaz, nem o
verdadeiro Messias.
Marcos começa seu relato do Evangelho, ao que chama de
seu início, com o mesmo artigo da filiação divina de Cristo, com o
qual o apóstolo Paulo iniciou seu ministério (Atos 9.20). Mateus
começou seu Evangelho com a humanidade, já Marcos, com a di-
vindade de Cristo: um O chama de filho de Davi, o outro de Filho
de Deus, ambos verdadeiros: Cristo é filho de Davi segundo sua
natureza humana, o Filho de Deus conforme sua natureza divina;
assim, um testemunho é prestado à verdade de ambas as nature-
zas, que estão unidas em uma pessoa.

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C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 1

1.2. Como está escrito nos profetas. Malaquias e Isaías; para


passagens de ambos segue, embora as versões da vulgata latina,
siríaca e persa digam, “como está escrito no profeta Isaías”; e as-
sim é em algumas cópias gregas: mas a primeira parece ser a me-
Ihor leitura, já que dois profetas são citados, e Isaías é o último;
concordando as versões árabe e etíope e o maior número de cópias
gregas. As citações a seguir são feitas para mostrar que, conforme
os escritos do Antigo Testamento, João Batista deveria ser o pre-
cursor de Cristo, vir antes d ’Ele e preparar Seu caminho; e tam-
bém a propriedade do método que o evangelista adota, ao iniciar
seu Evangelho com o relato do ministério e batismo de João. O
primeiro testemunho está em Malaquias 3.1, e as palavras são as
palavras do Pai ao filho, a respeito de João, destacando seu caráter
e sua obra: “EIS que eu envio o meu mensageiro, que preparará
o caminho diante de mim". João Batista é aqui chamado de men-
sageiro, e a mensagem com a qual ele foi enviado e veio foi do
maior momento e importância, e exigiu uma maior atenção a ela;
portanto, esta passagem é introduzida com um “eis!” Significando
que algo importante, e o que deveria ser estritamente considerado,
estava prestes a ser entregue.
De fato, o trabalho deste mensageiro não era outro senão
declarar que o tão esperado Messias havia nascido; que ele rapida-
mente faria sua aparição pública em Israel; que o reino dos céus,
ou o reino do Messias, estava próximo; e vindo os judeus se arre-
penderíam de seus pecados e acreditariam em Cristo. E chamado o
mensageiro de Deus, “meu mensageiro”; porque ele foi enviado e
santificado por Deus. Foi chamado e qualificado para seu trabalho
por Ele (João 1.6). seu pai Zacarias diz, ele deveria ser chamado
de profeta do Altíssimo (Lucas 1.76). A razão de ele ser chama-
do de mensageiro de Deus pode ser observada no próprio texto:
“EIS que eu envio": as palavras em Malaquias são traduzidas por
nós, “EIS que eu envio" (Malaquias 3.1): porque este, na época
em que o profeta escreveu algo futuro, nos tempos do evangelista

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J o h n Gill

este algo foi feito. E, de fato, é uma versão mais literal do texto
hebraico, para traduzi-lo como “eu envio” ou “estou enviando”; e
é assim expresso para denotar a certeza disso, e porque em pouco
tempo seria feito; as palavras “diante da tua face” não estão no
texto original de Malaquias, nem na versão da septuaginta, mas
são inseridas pelo evangelista.
Quem podería fazê-lo com autoridade, uma vez que Cristo
o havia feito antes dele (Mateus 11.10), e que, como Surenhusius
observa, é para maior elucidação do assunto. O profeta não diz
diante de quem ele deve ser enviado, embora esteja implícito na
próxima cláusula, aqui está expresso. Além disso, este mensageiro
agora apareceu diante da face de Cristo, preparou Seu caminho no
deserto e havia batizado-0 na Jordânia; tudo o que é designado
nas seguintes palavras: “que preparará o teu caminho diante de
ti”, por sua doutrina e batismo. No texto em Malaquias é “diante
de mim” (Malaquias 3.1), o que se tornou uma dificuldade para os
intérpretes, se as palavras do profeta são as palavras de Cristo a
respeito de si mesmo, ou de Seu Pai a respeito d ,Ele. Mas enviar
este mensageiro antes de Cristo pode ser um chamado do Pai, en-
viando-o antes de Si mesmo e preparando o caminho diante d ’Ele,
pois Cristo é o brilho de Sua glória e a imagem expressa de Sua
pessoa, o anjo de Sua presença ou face.
Além disso, Jeová, o Pai, estava muito preocupado, e a gló-
ria de Suas perfeições, na obra que o Messias deveria fazer, cujo
caminho João veio preparar. Que a profecia em Malaquias aqui ci-
tada é uma profecia do Messias, é propriedade de vários escritores
judeus; que dizem expressamente que as palavras que se seguem,
“o Senhor a quem buscais”, devem ser entendidas do rei Messias, e
embora estejam divididas entre si, quem deve ser entendido por este
mensageiro, (veja Gill em Mateus 11.10), ainda alguns deles são
de opinião que Elias é pretendido, até mesmo o próprio Abarbinel,
pois embora em seu comentário ele interprete as palavras do pró-
prio profeta Malaquias, ainda em outros lugares permite que Elias

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C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 1

possa ser pretendido. De fato, ele e a maioria dos que seguem esse
caminho significam Elias, o profeta, o Tisbita, quem eles supõem
que virá pessoalmente, antes que o Messias apareça: ainda não ele,
mas alguém em seu espírito e poder é designado; e não é, além de
João Batista, em quem a passagem teve sua plena realização.
1.3. Voz do que clama no deserto. Este é o outro testemunho
em prova do mesmo, e pode ser lido em Isaías 40.3 (Veja Gill em
Mateus 3.3).
1.4. Apareceu João batizando no deserto. Da Judeia (Ma-
teus 3.1), onde ele apareceu pela primeira vez como pregador; e é
o mesmo deserto a que Isaías se refere na profecia acima (Isaías
40.3). As palavras são melhor traduzidas nas versões vulgata la-
tina e siríaca: “João estava no deserto, batizando e pregando o
batismo de arrependimento, para remissão dos pecados”; segundo
o qual o relato do Batista começa com seu nome, João. Descreve
o lugar onde fez sua primeira aparição, continuando no deserto;
que não era um lugar selvagem, desabitado e sem pessoas, mas
tinha muitas cidades, vilas e aldeias; e também declara sua obra
e ministério ali, que era pregar e batizar. Pois, embora o batismo
seja colocado aqui antes da pregação, é certo que ele primeiro
veio pregar nestas partes; e lá batizou tal, a quem sua pregação
foi útil. Batismo é aqui chamado o batismo de arrependimento,
porque João exigia arrependimento antecedente a ele, e o admi-
nistrou mediante profissão de arrependimento e como um teste-
munho aberto dele. E isso para, ou na remissão dos pecados; não
para obter a remissão dos pecados, como se o arrependimento ou
o batismo fossem suas causas de perdão. Mas o sentido é que João
pregou que os homens deveríam se arrepender de seus pecados e
acreditar em Cristo, que estava por vir, e mediante seu arrependí-
mento e fé, fossem batizados; em qual ordenança, eles podem ser
levados a uma nova visão do perdão gratuito e completo de seus
pecados, por meio de Cristo, cujo sangue deveria ser derramado
por muitos, para obtê-lo (Atos 2.38).

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.John Gill

1.5. E toda a província da Judeia e os de Jerusalém iam


ter com ele\ O povo desta terra, um grande número deles, e os de
Jerusalém. Os habitantes de Jerusalém, ouvindo sobre este novo
pregador, a nova doutrina que ele ensinou e a nova ordenança que
ele administrou: e todos foram batizados por ele no rio Jordão,
confessando seus pecados; isto é, quantos deles foram levados a
ver e sentir seus pecados, e fizeram uma confissão deles, estes ele
batizou ou imergiu no rio Jordão. E é certo que muitos fariseus e
saduceus vieram, a quem ele rejeitou (Veja Gill em Mateus 3.5-7).
1.6. E João andava vestido de pelos de camelo. Esta é uma
descrição de João por suas roupas (veja Gill em Mateus 3.4), ao
qual pode ser acrescentado que era comum para os penitentes, ho-
mens de vida austera e da primeira classe de santidade e religião,
viver em desertos, passar mal e usar vestuário grosseiro. Menção
é feita de um homem, que é chamado atyuw ud Ntn , porque ele
usava uma vestimenta de pelo de cabra, que cortava sua carne para
que pudesse fazer expiação por ele, pois era um penitente com um
cinto ou pele em torno de seus lombos: um de couro, como em
Mateus 3.4, não de ouro, como o sumo sacerdote usava, embora
os judeus chamem João de sumo sacerdote. Ele era de fato de
herança sacerdotal: seu pai era sacerdote, mas ele não usava um
cinto sacerdotal, nem nenhuma das vestes do sacerdote, e comeu
gafanhotos e mel silvestre. A versão etíope traduz “mel de abelhas
da terra”: na Etiópia havia uma espécie de abelhas, pouco maiores
que moscas, e sem ferrão, que tinham suas colmeias na terra, onde
produziam mel de cor branca, muito agradável e saudável; e isso
é pensado pelos etíopes para ser o mel que João comeu; mas en-
tão deve ter havido o mesmo na Judéia, o que não aparece. Além
disso, na terra da Judéia, havia M yrm t lv vbd, “o mel das palmei-
ras”, tido como o melhor mel; a Escritura chama, portanto, ao mel
das palmeiras de mel; e as palmeiras que crescem nas planícies
e vales são abundantes; portanto, havia muito disso sobre Jerico,
a cidade das palmeiras. Elavia também M ynyat lv vbd, “mel de

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C o m en tário bíblico de M arcos - Cap. 1

figos”; que em alguns lugares estava em grande abundância; ra-


bino Jacob ben Dosthai diz, “são três milhas de Lode a Ono (ver
Esdras 2.33) uma vez eu caminhei antes do raiar do dia e subi até
os tornozelos em mel de figos”. Doutor Lightfoot pensa que este
era o mel do qual o evangelista fala, e João comeu. Observei em
Mateus 3.4 que, para os judeus, era lícito comer o mel das abelhas,
embora as próprias abelhas não o fossem. Assim, Jonathan ben
Uzziel parafraseia: “Todo o inseto que voa, que anda sobre quatro
pés, será para vós uma abominação” (Levítico 11.20), elas sendo
contadas entre os répteis que voam. E pode-se observar ainda que,
de acordo com eles, o mel de vespas e marimbondos era lícito para
ser comido, assim como o mel de abelhas, e isso pode ser verda-
deiramente chamado, como aqui, mel silvestre; pelo que eles dão
estas razões, porque não é da substância de seus corpos, mas eles
colhem de ervas; e porque, da mesma maneira que as abelhas, o
levam para seus corpos mas não o produzem; embora alguns dos
médicos discordem e pensem que não é lícito.
1.7. E pregava, dizendo: Após mim vem aquele que é mais
forte do que eu. De onde parece que João era um pregador de
Jesus Cristo: da dignidade de Sua pessoa, da excelência de Seu
ofício e da natureza e importância de Seu trabalho, do qual eu
não sou digno de desatar-lhe a correia da sandália (João 1.27);
expressando a grande veneração que tinha por Ele, e o grande
senso que tinha de sua própria indignidade, de se preocupar com o
serviço mais baixo e mesquinho da vida para Ele; e que ele estava
longe de ser digno da grande honra que lhe foi prestada, para ser
Seu mensageiro e precursor (veja Gill em Mateus 3.11).
1.8. Eu, em verdade, tenho-vos batizado com água. Isso foi
dito às pessoas batizadas, em parte para tirar sua dependência dele e
de seu batismo; e em parte para direcionar seus pontos de vista para
Cristo, de Quem os dons e graças do Espírito são os únicos: “ele, po-
rém, vos batizará com o Espirito Santo” (veja Gill em Mateus 3.11).
Uma cópia acrescenta: “e com fogo”; um escritor judeu diz, “o santo
J o h n Gill

e abençoado Deus batiza com fogo”, e os sábios entenderão rabino


Menachem em Levítico 8, apud Ainsworth em Gênesis 17.12.
1.9. E aconteceu naqueles dias. Enquanto João estava pre-
gando e batizando no deserto, e havia grandes multidões acor-
rendo-lhe, para ver sua pessoa, ouvir sua doutrina e ser batizado
por ele, Jesus veio de Nazaré da Galiléia, lugar onde foi criado,
viveu e habitou desde a infância até hoje, e foi batizado por João
no Jordão, sendo a razão de Sua vinda de Nazaré para ele (veja
Mateus 3.13). Em alguns versículos a seguir, é feito um relato do
que aconteceu entre Cristo e João, nesta ocasião.
1.10. E, logo que saiu da água. Não João, como muitos pen-
sam; embora fosse verdade para ele, que ele saiu da água, como o
administrador da ordenança do batismo para Cristo. Mas o próprio
Cristo que, tendo descido à água, o rio Jordão, e sendo batizado
por imersão nele por João, de lá saiu. Não do lado do rio, e subin-
do o declive até ele, mas do próprio rio. Quando ele viu os céus
abertos; ou “dividido” ou “emprestado”; isso pode ser entendido,
seja por João, o espectador de tudo isso, tudo feito para a mani-
festação do Messias a ele, e a confirmação de sua fé n ’Ele, para
que pudesse dar testemunho d ’Ele; e assim a versão persa diz:
“João viu” (veja João 1.30). Ou do próprio Jesus Cristo, que saiu
da água; e quando o fez, viu os céus se abrirem, e o Espírito como
uma pomba descendo sobre Ele.
A posição dessas palavras aqui é um pouco diferente daque-
la em Mateus 3.16, que traz, “o Espírito de Deus descendo como
uma pomba”; o que parece indicar mais a maneira de Sua descida
do que a forma em que Ele desceu; aqui é colocado “o Espírito
como uma pomba descendo sobre ele”; o que parece inclinar-se
a tal sentido, que o Espírito apareceu na forma de uma pomba,
bem como desceu como uma; e ambos podem ser projetados, e
de fato o último segue o primeiro: se era a forma de uma pomba
na qual o Espírito de Deus desceu, era muito adequado: a pomba

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é um emblema muito apropriado do Espírito de Deus; “a voz da


tartaruga”, em Sofonias 2.12, é interpretada pelo Targum a voz do
Espírito Santo.
Ele pode ser comparado a uma pomba por Sua simplicida-
de e sinceridade; Ele guia em toda a verdade como é em Jesus, e
ensina a falar a palavra com toda clareza, franqueza e sincerida-
de, preservando os santos na simplicidade do Evangelho; e por
Sua brandura e mansidão: um dos frutos do Espírito de Deus é a
mansidão (Gálatas 5.23). E isso é produzido nas pessoas conver-
tidas, tornando-as mansas, humildes e gentis; e também por sua
inofensividade e inocência, que aparece, ou pelo menos deveria,
naqueles que se preocupam com as coisas do Espírito. Daí aquele
conselho de Cristo, “sede inofensivos como as pombas" (Mateus
10.16). Da mesma forma, por Sua pureza e limpeza: o Espírito
de Deus é Espírito de santidade, é o autor da santificação; os que
são lavados, santificados e justificados, o são em nome do Senhor
Jesus e pelo Espírito de nosso Deus (1 Coríntios 6.11). A pomba
é uma criatura triste e lamentosa; e o Espírito de Deus intercede
pelos santos, com gemidos inexprimíveis (Romanos 8.26).
Ao que se pode acrescentar que a pomba de Noé trazendo a
folha de oliveira em sua boca, como um sinal de paz e reconcilia-
ção, assemelhava-se adequadamente ao Espírito Santo, de cujos
frutos um é a paz (Gálatas 5.22), e que Ele produz por levar ao
sangue a justiça e o sacrifício de Cristo, pelo qual a paz é feita e
a reconciliação obtida. A Sua descida sobre Cristo aqui aponta-O
como o pacificador, por meio de quem veio a paz na terra, boa
vontade para com os homens e glória para Deus. Cristo, sobre
quem pousou, é comparável a uma pomba: diz-se que Ele tem
olhos de pomba (Sofonias 5.12), e Ele tem todos os frutos e gra-
ças da pomba como o Espírito de Deus, que repousou sobre Ele.
Como a pomba, Ele é humilde, manso e modesto, em quais per-
sonalidades Ele deve ser seguido e imitado por Seu povo. Como
essa criatura é muito amorosa com seu companheiro, Cristo tam­
J o h n Gill

bém é com Sua igreja, a quem Ele amou tanto que se entregou por
ela; Ele é totalmente adorável, especialmente seus olhos de amor,
pois estão fixos e finnes em Sua igreja e povo. Com esta descida
do Espírito como pomba sobre Cristo, compare Isaías 11.2 (veja
Gill em Mateus 3.16).
1.11. E ouviu-se uma voz dos céus. O que os judeus chamam
de “Bath Kol”, dizendo: “tu és o meu Filho amado, em quem me
comprazo”, está em Mateus: “este é o meu Filho amado” (3.17),
como se as palavras fossem ditas a outros: a João, o administrador
de Seu batismo, e para aqueles que eram espectadores, dirigindo-
-as a Cristo, sobre quem o Espírito agora desceu, e testificando a
eles quão grande pessoa Ele era: quão quase relacionado a Deus,
quanto era o objeto de seu amor e que prazer e deleite sentia n’Ele.
Mas aqui elas são entregues como um endereço imediato ao pró-
prio Cristo: “tu és meu Filho amado'” (Lucas 4.22). Cristo, como
Ele era o Filho unigênito de Deus desde a eternidade, então sua fi-
liação foi reconhecida e declarada a Ele desde cedo (Salmos 2.7).
Esta, portanto, não foi a primeira vez, nem foi apenas por causa
d ’Ele que isso foi dito a ele, mas também por causa daqueles que
estavam por perto. Pode-se observar que ele não é apenas chama-
do de seu Filho, mas de seu “Amado filho”; o que pode ser neces-
sário dizer a ele em seu estado de humilhação, enquanto ele estava
obedecendo à vontade de Deus e cumprindo toda a justiça; e quan-
do ele estava prestes a ser, como logo depois disso foi, tentado por
Satanás no deserto, por quem sua filiação foi questionada. Agora,
essas palavras, sendo dirigidas a Cristo, mostram que as primeiras
são faladas d ’Ele e aplicáveis a Ele, assim como a João (veja Gill
em Mateus 3.17).
1.12. E logo o Espirito o impeliu. Assim que Ele foi batiza-
do, e o testemunho foi dado de Sua filiação divina, no mesmo dia
o Espírito o leva ao deserto, a uma parte mais remota e desolada
dele, pois foi no deserto que João estava batizando e pregando,
quando Cristo veio a ele e teve a ordenança do batismo adminis­

líi
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 1

trada por ele; e foi o mesmo Espírito que desceu sobre Ele em Seu
batismo, que permaneceu com Ele; por cujo impulso foi movi-
do, embora não contra Sua vontade, a entrar neste lugar deserto e
abandonado. Pois este não era o espírito maligno de Satanás, por
quem Ele foi tentado; pois Mateus diz expressamente que ele foi
‘fo i conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado
pelo diabo” (Mateus 4.1), onde o diabo que O tentou é manifesta-
mente distinto do Espírito por quem foi guiado, e o mesmo Espíri-
to é significado aqui, como lá. Além disso, em uma das cópias de
Beza, a sua mais antiga, e em uma de Stephens, lê-se: “o Espírito
Santo o conduz” (veja Gill em Mateus 4.1).
1.13. E ali esteve no deserto quarenta dias. As versões da
Vulgata Latina, árabe e etíope acrescentam, “e quarenta noites”:
por tanto tempo Ele esteve lá, tentado por Satanás: as várias ten-
tações de Satanás, e como elas foram vencidas por Cristo, são
particularmente relatadas pelo Evangelista Mateus (4.3), que aqui
são omitidas; e o que não é mencionado lá, está aqui registrado.
Estava com os animais selvagens, o que mostra que Ele estava
agora em uma parte inculta e desabitada do deserto pelos homens,
e onde habitavam apenas as criaturas mais ferozes e selvagens;
ainda estava tão seguro e ileso por eles, sendo o Senhor deles,
como Adão no jardim do Éden, ou Daniel na cova dos leões. Esta
circunstância é relatada apenas pelo evangelista Marcos, e é o que
aumenta a situação incômoda em que Cristo estava, quando ten-
tado por Satanás; e não sendo ferido por eles, pode declarar, em
parte, sua inocência como homem, sendo tão puro e santo quanto
o primeiro homem em seu estado de integridade, quando todas
as criaturas foram trazidas diante dele para dar-lhes nomes. E em
parte o poder de Deus, que calou a boca dessas criaturas para que
não Lhe fizessem mal; pode também significar a admiração que
tinham por Ele que, como Deus, é o Senhor de todos. Essas cria-
turas foram mais gentis com Cristo e o usaram melhor do que os
judeus perversos, entre os quais Ele habitou, que são comparados

17
J o h n Gill

a leões, cães e “touros” de Basã (Salmos 22.12). E os anjos o


serviam depois que as tentações terminaram e Satanás O deixou,
preparando-() e trazendo-Lhe comida adequada, depois de tanto
tempo de jejum; esperando por Ele e servindo-0 como seu grande
Senhor e mestre (veja Gill em Mateus 4.11).
1.14. E, depois que João fo i entregue à prisão no castelo de
Macherus, por Herodes, ao repreendê-lo por tomar a esposa de seu
irmão Filipe. Veio Jesus para a Galileia, novamente, de onde Ele
veio para ser batizado por João. Pregando o evangelho do reino
de Deus: as boas novas e bem-aventuranças do reino do Messias,
ou dispensação do Evangelho; que não reside em pompa e esplen-
dor mundanos, em observâncias externas, em ritos e cerimônias
legais, mas em retidão, paz e alegria; em paz e perdão pelo sangue
de Cristo; em justificação por Sua justiça e em salvação livre e
completa por Ele.
1.15. E dizendo: O tempo está cumprido. Ou aquilo que foi
fixado para o fim da lei e dos profetas, a dispensação legal e mo-
saica, e o estado da igreja judaica; ou a plenitude do tempo para
a aparição do Messias no mundo, acordado entre o Pai e o Filho,
foi predito em várias profecias, e o povo dos judeus estava em
uma expectativa geral. E o reino de Deus está próximo: o mesmo
com o reino dos céus, em Mateus 3.2 (veja GUI em Mateus 3.2 e
Mateus 4.17). Arrependei-vos e crede no Evangelho. Ele os cha-
mou ao arrependimento, não apenas de seus pecados anteriores e
curso vicioso de vida, mas de seus maus princípios e dogmas, a
respeito de um reino temporal do Messias; sobre mérito e livre ar-
bítrio, justificação pelas obras da lei e salvação por sua obediência
às cerimônias dela e às tradições dos anciãos: estes ele os exorta
a mudar seus sentimentos, abandoná-los e ceder o esquema do
Evangelho, que proclama liberdade da lei, paz, perdão e justiça
por Cristo, e salvação e vida eterna pela livre Graça de Deus.

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C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 1

1.16. E, andando junto do mar da Galileia. O mesmo com o


mar de Tiberíades (João 6.1), viu Simão, cujo sobrenome era Pe-
dro, filho de Jonas; e André, seu irmão — irmão de Simão — que
lançavam a rede ao mar, da Galiléia, para pescar: pois eram pes-
cadores: por ocupação, esse era o seu ofício e negócio, pelo qual
obtinham seu sustento (veja Gill em Mateus 4.18).
1.17. E Jesus lhes disse: Vinde após mim. Deixem seus em-
pregos mundanos e tomem-se meus discípulos, e eu farei que se-
jais pescadores de homens‫׳‬, o que será ura emprego muito mais
excelente e honroso, pois os homens e as almas dos homens são
mais excelentes e de mais valor do que os peixes (veja Gill em
Mateus 4.19).
1.18. is, deixando logo as suas redes, o seguiram. Que talvez
fossem tudo; (veja Mateus 19.27). O seguiram tanto no sentido
corporal quanto no espiritual (veja Gill em Mateus 4.20).
1.19. E, passando dali um pouco mais; do lugar onde Simão
e André lançavam as redes, embora ainda à beira-mar, viu Tiago,
filho de Zebedeu, e João, seu irmão. O primeiro foi quem depois
Herodes matou com a espada, e o último o discípulo amado; estes
também eram pescadores, que também estavam no barco conser-
tando suas redes: como os outros dois discípulos estavam a bordo
do barco, lançando suas redes ao mar para pescar; estes também
estavam em um navio, consertando suas redes, a fim de usá-las da
mesma maneira e para o mesmo fim (veja Gill em Mateus 4.21).
1.20. E logo os chamou, assim que os viu, pois estava cuidan-
do deles, tendo-os designado muito antes para o serviço para o qual
agora os chamava; e eles, deixando o seu pai Zebedeu no barco com
os empregados, foram após ele. Pode parecer antinatural se eles ti-
vessem deixado o pai sozinho no navio, para cuidar e administrá-lo
e, portanto, acrescenta-se “com os empregados contratados”, que
foram contratados para esse fim, para ajudar a consertar as redes,
lançá-las, administrar o navio e conduzi-lo de um lugar para outro

19
J o h n Gill

e, portanto, não deveríam ser acusados de falta de humanidade. Tal


foi o poder que acompanhava o chamado de Cristo, que, apesar da
afeição natural por seus pais e do ganho que poderíam obter com
esses servos e seu comércio, eles alegremente abandonaram tudo e
seguiram a Cristo (veja Gill em Mateus 4.22).
1.21. Entraram em Cafarnaum. Jesus e seus quatro disci-
pulos que Ele acabara de chamar, Simão e André, Tiago e João;
embora as versões árabe e persa digam “ele foi”, isto é, Cristo; e
assim Beza diz que foi lido em uma certa cópia; e, logo no sábado,
indo ele à sinagoga, ali ensinava; isto é, imediatamente, assim
que ele entrou na cidade, sendo então dia de sábado; ou, assim que
chegou o dia de sábado, ele foi à sinagoga de Cafarnaum e seus
discípulos com Ele, onde o povo costumava se reunir semanal-
mente para ouvir a leitura da lei e ser instruído nas coisas divinas;
qual oportunidade Cristo aproveitou para pregar o Evangelho a
eles e ensinar-lhes coisas relativas ao reino de Deus.
1.22. E maravilharam-se da sua doutrina. A natureza e im-
portância dela, sendo o que eles não estavam acostumados a ou-
vir; na melhor das hipóteses, a doutrina da lei, e às vezes apenas
as tradições dos anciãos, ou um sentido alegórico e tradicional
das Escrituras, e coisas muito insignificantes e nada edificantes;
e também ficaram maravilhados com a maneira de sua pregação,
que dava com tanta graciosidade, gravidade e majestade, acompa-
nhado com tanta evidência e poder; porque os ensinava como ten-
do autoridade, e não como os escribas; ou “seus escribas”, como
dizem as versões siríaca, persa e etíope. Ele não estabeleceu o
que disse pela autoridade dos rabinos, como faziam os escribas,
dizendo Hilel diz assim, ou Shammai diz assim, ou tal médico diz
assim e assim; mas Ele falou por Si, como alguém enviado por
Deus, que tinha a autoridade d ’Ele e era independente do homem;
e isso foi o que eles não observaram em outros, e se maravilham
com isso (veja Gill em Mateus 7.28-29).

20
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 1

1.23. E estava na sinagoga deles. Na sinagoga dos Cafamai


tas, ao mesmo tempo que Jesus estava ensinando ali, um homem
com um espírito imundo, não com um coração impuro, pois sem
dúvida havia muitos deles lá, mas que tinha um demônio; pois em
Lucas 4.33 é dito: “ele tinha um espírito de um demônio imundo”,
assim chamado, porque ele é impuro em si mesmo, sendo a causa
da impureza nos homens, nos quais ele se deleita, e tais espíritos
às vezes são onde as pessoas religiosas se reúnem, mas sem bom
propósito; seja para perturbar o pregador ou para desviar o ouvin-
te, para que a palavra seja infrutífera e inútil. O qual exclamou:
ou o homem, ou melhor, o espírito imundo nele, que possuía seu
corpo e fez uso dos seus órgãos, gritou com medo da majestade de
Cristo, cuja presença ele não podia suportar; e pela tristeza e inve-
ja pelo sucesso de Seu ministério e pela influência que teve sobre
as mentes dos homens; e pelo medo de ser despojado do homem
em quem ele estava.
1.24. Dizendo; deixe-nos em paz, etc. Significando consigo
mesmo o resto dos espíritos imundos, que possuíam corpos de
homens na Galileia e em toda a Judeia, sabendo que Cristo tinha
poder para desalojá-los, e temendo que o fizesse, suplica-Lhe que
os deixasse em paz, para silenciosamente habitar em suas ama-
das habitações. Que temos contigo; eles nada tinham a ver com
Cristo, como Salvador; eles não tinham interesse n’Ele, nem em
Sua redenção, mas Ele tinha algo a ver com eles, para mostrar
Seu poder sobre eles e para livrar os homens de suas mãos; Jesus
Nazareno? Chamando-o assim, do lugar em que Ele foi educado
e viveu a maior parte de Sua vida, embora soubesse ter nascido
em Belém; mas isso Ele disse conforme a noção comum do povo,
e sendo a denominação usual dele. Vieste para nos destruir? Não
para aniquilá-los, mas para expulsá-los dos corpos dos homens,
0 que para eles era uma espécie de destruição, e era realmente
a destruição daquele poder que eles haviam exercido por algum
tempo sobre os homens; ou trancá-los na prisão do inferno e

21
J o h n Gill

infligir-lhes aquele castigo total, que está lhes reservado. Bem sei
quem és: o Santo de Deus; aquele a quem Deus chamou de Seu
Santo (Salmos 16.10), e quem é assim, tanto em Sua natureza di-
vina, como o Filho de Deus, o Santo de Israel; e como o Filho
do homem, sendo a coisa santa nascida da virgem, e sem a me-
nor mancha de pecado original ou mancha de transgressão atual;
e também como Mediador, a quem o Pai santificou e enviou ao
mundo, o verdadeiro Messias. E tudo isso o diabo sabia por Sua
maravilhosa encarnação, pela voz do céu em Seu batismo, pela
conquista sobre ele no deserto e pelos milagres que já havia reali-
zado: na mitra do sumo sacerdote estava escrito hwhyl vdwq, que
pode ser traduzido como “o Santo do Senhor”: o sumo sacerdote
era um tipo eminente d ’Ele.
1.25. E repreendeu-o Jesus, refletindo sua insolência, des-
prezando sua bajulação e recusando-se a receber um testemunho
dele; o que ele não queria, para que não se pensasse que tinha fa-
miliaridade e confederação com ele, dizendo: Cala-te; cale a boca,
não preciso de testemunho como o seu, nem de seus louvores; não
devo ser acalmado por tua iisonja, nem minha boca deve ser inter-
rompida ou meu poder restringido por tais métodos. Ele, portanto,
acrescenta: e sai dele: não te deixarei sozinho, teus elogios a mim
não prevalecerão para te deixar na posse tranquila do homem; da-
rei testemunho de quem Eu sou, desapropriando-te deste homem.
Imitando esse poder autoritário de Cristo, os exorcistas judeus,
em suas pretensões de expulsar demônios, usam uma forma seme-
lhante: então eles nos dizem que rabino Simeon ben Jochai expul-
sou um demônio da filha de César, dizendo , “Ben Talmion (que
era o nome do diabo) au”, “saia, Ben Talmion, saia”; e ele saiu
dela (veja Gill em Mateus 12.27).
1.26. Então o espírito imundo, convulsionando-o, Não que
ele tivesse arrancado algum membro d ’Ele, ou tivesse feito alguma
ferida em qualquer parte de Seu corpo; pois Lucas diz (4.35) que
ele “não o machucou”, mas o sacudiu; e como Lucas diz, “jogou-o

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C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 1

no meio”, do povo ou sinagoga; e assim as versões siríaca, persa


e etíope dizem aqui, “ele o lançou” ou “jogou-o no chão”: ele o
jogou em convulsões e o deitou prostrado no chão. E dam an-
do com grande voz, saiu dele; embora dolorosamente, contra sua
vontade, como mostrava seu alto grito, e sendo obrigado a isso por
um poder superior.
1.27. E todos se admiraram. As pessoas que estavam na si-
nagoga, reunidas para adoração divina, ficaram maravilhadas, não
apenas com sua doutrina, como antes, mas com esse milagre e
poder d ’Ele em lançar fora demônios. A ponto de perguntarem en-
tre si, dizendo: Que é isto? Eles falaram entre si, como diz Lucas,
(4.36); perguntaram um ao outro, conferenciaram, conversaram
sobre o assunto e discutiram entre si, tanto a respeito da doutrina
quanto do poder de Cristo, o que e quão maravilhosos eles eram.
Que nova doutrina é esta? Isso eles disseram, não como fixando
uma marca de novidade sobre ela, como os atenienses fizeram na
doutrina de Paulo (Atos 17.19), mas como admirando-a; sendo o
que era raro e incomum, e do qual eles nunca tinham ouvido falar
com seus rabinos e escribas, o que foi confirmado por milagres;
pois com autoridade Ele comanda até os espíritos imundos, e eles
O obedecem: eles não apenas observaram a autoridade com a qual
ele transmitiu Sua doutrina, mas a autoridade com a qual expulsou
demônios por uma palavra falada; Ele não apenas ordenou que
saíssem, mas eles imediatamente saíram; seus exorcistas tomaram
autoridade sobre eles para comandar, mas não podiam obrigar os
demônios a obedecer; esses homens perceberam que tal era a au-
toridade de Cristo em comandar, que os espíritos imundos eram
obrigados a obedecer, e o fizeram.
1.28. E logo correu a sua fama. Não apenas na cidade de
Cafarnaum, onde essas coisas foram feitas, e onde Sua fama foi
espalhada pela primeira vez, mas também por toda a província
da Galileia: e não apenas em toda a Galiléia, mas em todo o país
J o h n Gill

que fazia fronteira com ela e a ela adjacente (veja Mateus 4.23). A
versão persa diz: “através de todas as províncias”.
1.29. E logo, saindo da sinagoga. Cristo tendo operado este
milagre, e terminado Seu sermão, e todo o serviço da sinagoga ter-
minado, quando era comum cada um ir para suas próprias casas;
ou seus amigos, para se refrescar; Ele e os que estavam com Ele
partiram dela, e diretamente, não estando longe dela, oram à casa
de Sirnão e de André; que, sendo irmãos, moravam juntos em uma
casa em Cafarnaum, onde parece que agora eram habitantes, em-
bora sua terra natal fosse Betsaida (João 1.44); com Tiago e João,
a quem levaram consigo, sendo condiscípulos de Cristo.
1.30. E a sogra de Si mão estava deitada com febre. “Uma
grande febre”, diz Lucas (4.38); uma muito violenta, que ameaça-
va de morte, e devia ser muito perigosa para um velho (veja Gill
em Mateus 8.14). E logo lhe falaram dela ela; ao que parece não
assim que Ele entrou na casa, mas algum tempo depois, pois Ele
se sentou por um tempo e descansou após o cansaço da pregação;
eles O familiarizaram com o caso dela e imploraram que a olhasse
e a restaurasse: isso foi feito por Simão e André, ou por alguns
outros de seus amigos que estavam na casa; quem, tendo visto ou
ouvido falar de Sua desapropriação do espírito imundo, pode con-
cluir com razão que tinha poder para remover a febre.
1.31. Então, chegando-se a ela, tomou-a pela mão. Ele en-
trou no quarto onde ela estava deitada, e segurou sua mão; não
sentiu seu pulso e, assim, julgou pela natureza e a força o seu dis-
túrbio, como fazem os médicos; nem apenas de maneira amigável,
como é de costume, mas para restaurá-la: e levantou-a; sentou-a
ereta na cama, sobre a qual estava antes deitada, tão fraca que não
conseguia se virar, muito menos sentar-se por qualquer ajuda: e
imediatamente a febre a deixou: e não havia o menor sintoma dela,
nem nenhum dos efeitos que costuma deixar; tal foi a virtude que
saiu de Cristo ao tocá-la, e tal o Seu grande poder; e servia-os: ela

24
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 1

imediatamente se levantou da cama e vestiu suas roupas, estando


então em perfeita saúde e força; e, em gratidão a seu Salvador e
médico, ela ajudou a preparar comida para Ele e seus discípulos,
e serviu à mesa para eles.
1.32. E, tendo chegado a tarde, quando já se estava pondo o
sol. Hora em que o sábado dos judeus havia terminado (veja Gill
em Mateus 8.16), pois este era um dia de sábado (Marcos 1.21),
quando, segundo eles, não era lícito curar; nem se ofereciam para
levar seus enfermos a Ele naquele dia; mas o último dos dois dias
da tarde chegou e o sol se pôs, o sábado acabou; e, portanto, não
estando sob nenhuma restrição por causa disso, trouxeram-Lhe to-
dos os que estavam enfermos; com qualquer tipo de doença, mes-
mo todos os que estavam em sua cidade; também os que estavam
possuídos por demônios. A versão persa os torna “epilépticos”,
como aqueles que sofriam com a doença da queda, como muitos
daqueles cujos corpos os demônios possuíam.
1.33. E toda a cidade se ajuntou àporta. Ou seja, os habitantes
da cidade de Cafamaum, pelo menos um número muito grande deles,
que tendo ouvido falar ou visto a desapropriação do espírito imundo
no sinagoga durante o dia; e desejando ver que curas milagrosas po-
deriam ser operadas por Cristo sobre os enfermos e endemoninhados
que lhe eram trazidos, reuniram-se em grandes multidões perto da
porta da casa de Simão e André, onde Jesus estava agora.
1.34. E curou muitos que se achavam enfermos de diversas
enfermidades. Não que houvesse alguns, que tinham alguns tipos
de doenças, a quem Ele não curou; mas Ele curou todos os que
vieram, ou foram-Lhe trazidos, que eram muitos, de todo tipo de
doença, que eram diversos, com os quais estavam aflitos; e expul-
sou muitos demônios; até tantos quantos foram trazidos a Ele, ou
estavam possuídos por qualquer um; porém não deixava falar os
demônios, ou para Ele, ou contra Ele, demonstrando Seu grande
poder sobre eles ,porque o conheciam, ou “que eles o conheciam”.
J o h n Gill

Não permitiría que dissessem uma palavra sobre Ele, pois sabia que
eles sabiam Ele ser o Cristo, o Filho de Deus, ou Ele não permitiría
que dissessem quem O era; porque tinha outros para testemunhar
por Ele, e testemunhos melhores que os deles, para que Seus inimi-
gos não o censurassem com um acordo e familiaridade com eles.
1.35. E, levantando-se de manhã, muito cedo, fazendo ain-
da escuro. No dia seguinte ao sábado, no primeiro dia da manhã,
apesar do cansaço do dia anterior, através da pregação e da ope-
ração de milagres, se levantou muito cedo, enquanto já era tarde
da noite, quando a luz e o dia estavam chegando, e antes de seu
raiar; embora possa ser dia antes que Ele saísse de casa, como Lu-
cas sugere, (4.42), saiu da casa de Simão e André, e da cidade de
Cafamaum, deixando para trás Seus discípulos e amigos: saiu, e
fo i para um lugar deserto, e ali orava, como homem, a Seu Deus
e Pai; ou para para Seus discípulos, que escolheu recentemente;
para Si mesmo, como homem, para poder ser fortalecido como
tal para o serviço; e para o sucesso em Seu ministério, bem como
para Seu Evangelho ser executado e glorificado. Ele escolheu um
lugar deserto e solitário, devido a Sua retirada da multidão de pes-
soas que comparecia à porta de Pedro; onde Ele não podería es-
tar sozinho e em particular, nem como o mais adequado para o
exercício da oração. Sua devoção inicial e privada pode ser um
exemplo para nós.
1.36. E seguiram-no Simão e os que com ele estavam. Pe-
dro e seu irmão André, juntamente a Tiago e João, seguiram atrás
d ’Ele algum tempo depois que Ele se foi, pois Ele se retirou deles
em particular, para que não soubessem quando partiu, nem sou-
bessem de Sua partida por um tempo considerável; que quando
eles foram, partiram em busca diligente e ansiosamente perse-
guindo-O, até que O encontraram.
1.37. E, achando-o, no lugar solitário e deserto em que esta-
va orando, e lhe disseram, a fim de contratá-Lo para ir com eles, e

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C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 1

como a razão pela qual o procuraram com tanta ansiedade e diligên-


cia: Todos te buscam; não todos os homens do mundo, nem, talvez,
todos os habitantes de Cafarnaum, mas um grande número deles,
que estavam perguntando por Ele, alguns por uma coisa, outros por
outra; alguns para vê-Lo, que tipo de homem Ele era, e alguns para
ouvi-Lo, qual tipo de doutrina Ele pregou; e outros para ver Seus
milagres, ou para curar a si mesmos ou a seus enfermos; e os disci-
pulos detestavam que tal oportunidade de fazer o bem fosse perdi-
da, portanto procuraram por Ele, até que O encontraram.
1.38. E ele lhes disse: Vamos às aldeias vizinhas. Em vez
de voltar com seus discípulos para Cafarnaum, como eles espe-
ravam que Ele fizesse, e especialmente porque havia tal concurso
de pessoas reunidas, Ele propõe ir para “às aldeias vizinhas”; ou
“cidades de aldeia”; cidades que não eram aldeias, nem aldeias
que fossem cidades, mas entre ambas, como a palavra significa.
Daí as versões da Vulgata Latina, siríaca e persa a traduzem como
“aldeias e cidades”, projetando essas cidades nas quais haviam
sinagogas. Os judeus distinguem entre cidades muradas, aldeias e
grandes cidades. Eles perguntaram, “o que é uma cidade grande?”
Cada uma com dez homens de lazer, e “todo lugar em que havia
dez israelitas, eles eram obrigados a providenciar uma casa para
onde pudessem ir orar a cada hora de oração, e esse lugar é cha-
mado de sinagoga”. Esses foram os lugares que Cristo julgou con-
veniente ir. Ele já havia pregado em Cafarnaum no dia anterior, e
confirmado Sua doutrina por milagres, o que era suficiente para o
presente, portanto considerava adequado ir para outro lugar, orde-
nando que Seus discípulos da mesma forma fossem, pois a versão
siríaca a traduz: “vá para as próximas cidades”; e da mesma forma
leia as versões árabe e persa.
Para que eu ali também pregue‫׳‬, assim como em Cafarnaum,
para que o Evangelho se espalhe e tenha sua utilidade em outras
partes, assim como lá. A versão árabe a traduz “para que possa-
mos pregar”, Eu e vocês, isso sem qualquer fundamento, nem o

27
J o h n Gill

motivo a seguir se adequa a essa versão. Porque para isso vim, ou


seja, não da casa de Simão, nem de Cafamaum, embora possa ha-
ver uma verdade nisso; pois Cristo pode vir dali, com essa visão,
para pregar o Evangelho em outro lugar; mas de Deus, seu Pai, de
quem Ele veio e por quem foi enviado para pregar o Evangelho
também a outras cidades, tanto na Galileia quanto na Judeia, sim,
a todos os habitantes daquele país, a todas as ovelhas perdidas da
casa de Israel; de modo que isso foi apenas respondendo ao fim de
Sua vinda e agindo conforme a comissão que lhe foi dada.
1.39. E ele pregava em suas sinagogas, que estavam nas ci-
dades vizinhas, nas aldeias e por toda a Galileia. Tomando to-
das as vilas e cidades em Seu circuito, Ele continuou pregando
o Evangelho do Reino em um lugar e outro, até que percorresse
todo o país, e expulsou demônios fora de almas, assim como fora
dos corpos dos homens, por meio dos quais confirmou a doutrina
que pregou.
1.40. E aproximou-se dele um leproso após ter descido de
uma certa montanha na Galileia onde havia pregado ao povo (Ma-
teus 8.1), e quando Ele estava em uma certa cidade (Lucas 5.12),
Cafamaum ou alguma outra cidade da Galileia. Este homem es-
tava cheio de lepra, como diz Lucas, e muito provavelmente con-
siderado incurável; da natureza e sintomas da lepra (veja Gill em
Lucas 5.12), implorando a Ele para curá-lo dela, rogando-lhe, e
pondo-se de joelhos diante dele em sinal de submissão, respeito e
reverência, adorando-O, lhe dizia: Se queres, bem podes limpar-
-me (veja Gill em Mateus 8.2). Marcos omite a palavra “Senhor”.
1.41. E Jesus, movido de grande compaixão. No caso triste
e deplorável em que se encontrava o pobre homem, sendo um
misericordioso sumo sacerdote, e não com desejo de aplausos po-
pulares e vã glória; estendeu a mão, e tocou-o, embora a lepra
estivesse espalhada por ele todo e não houvesse lugar limpo, e

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tocá-Lo fosse proibido por lei, e disse-lhe: Quero, sê limpo (veja


Gill em Mateus 8.3).
1.42. E assim que ele falou as palavras acima, logo a lepra de-
sapareceu, e ficou limpo por Ele, o que pareceu ser feito não por to-
cá-10, mas pelas palavras faladas, que foram acompanhadas com tal
poder e efetuaram a cura em um instante (veja Gill em Mateus 8.3).
1.43. E, advertindo-o severamente, ou do pecado que ha-
via sido a causa dessa lepra, para cuidar de que ele não pecasse
mais para que um mal pior não lhe acontecesse; pois o pecado
geralmente era a causa da lepra, como mostram os casos de Mi-
riã, Geazi e Uzias, sendo dita vir sobre os homens por sete coi-
sas. As sete abominações mencionadas em Provérbios 6.16 são
ditas pelos escritores judeus, como sendo as razões das pessoas
serem atingidas pela lepra: “um olhar orgulhoso”, como apare-
ce no exemplo das filhas de Sião (Isaías 3.16), cujas cabeças fo-
ram feridas com uma crosta e providas com fedor, desassombro e
queimação. “Uma língua mentirosa”, como no caso de Miriã, que,
com Arão, falou contra Moisés; sobre o qual a nuvem partiu do
tabernáculo, e Miriã ficou leprosa, branca como a neve (Números
12.1). “E mãos que derramam sangue inocente”, o que é provado
por Joabe, em cuja cabeça voltou o sangue de Abner e Amasa; e
devido ao qual um leproso não deveria faltar em sua casa (veja 1
Reis 2.31, em comparação com 2 Samuel 3.29). “Um coração que
concebe imaginações perversas”, o que foi cumprido em Uzias,
que buscou desprezar o sumo sacerdócio e, portanto, foi atingido
pela lepra, surgida em sua testa enquanto tinha o incensário nas
mãos e estava lutando com os sacerdotes, e continuou leproso até
a morte (2 Crônicas 26.18). “Pés que são rápidos em correr para
0 mal”; o que aconteceu com Geazi, que correu atrás de Naamã, o
sírio, e recebeu dele um presente que não deveria; e a lepra da qual
Naamã foi curado, então agarrou-o e se apegou a ele (2 Reis 5.20).
“Uma falsa testemunha que fala mentiras”; disso nenhuma instân-
cia é dada. “E aquele que semeia discórdia entre irmãos”; como

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Faraó entre Abraão e Sara; portanto o Senhor atormentou o Faraó


(Gênesis 12.17). O que os judeus entendem da praga da lepra.
Essas sete coisas são, em outro lugar, ditas como uma língua
má, derramamento de sangue, juramento vão, impureza, espírito
orgulhoso, roubo e inveja. Em outro lugar é dito que por onze
coisas vem a lepra; por amaldiçoar a Deus, por impureza, por ho-
micídio, por dizer do próximo algo que não há nada nisso, por
orgulho, por entrar em fronteira que não é do homem, por língua
mentirosa, por furto, por falso juramento, por profanar o nome
de Deus, por idolatria; e rabino Isaac diz: por mau-olhado; e os
rabinos também dizem que recai sobre aquele que despreza as pa-
lavras da lei: o primeiro é provado por Golias (1 Samuel 17.26); o
segundo das filhas de Jerusalém (Isaías 3.16); o terceiro de Caim
(Gênesis 4.15) e de Joabe (2 Samuel 3.29); o quarto de Moisés,
(Êxodo 4.5); o quinto de Naamã, (2 Reis 5.1); o sexto de Uzias, (2
Crônicas 26.16); o sétimo de Miriam, (Números 12.10); o oitavo
e o nono de Zacarias (5.4; em comparação com Levítico 14.45); o
décimo de Geazi, (2 Reis 5.20); o décimo primeiro dos filhos de
Israel quando eles fizeram o bezerro (Êxodo 32.25; em compa-
ração com Números 5.2). Mas se o pecado deste homem foi um
desses, ou o que foi, não é certo; no entanto ele foi, por esta cura,
colocado sob a obrigação, para o futuro, de evitá-lo, e a todos os
outros pecados. Ou melhor, a acusação não deveria contar a nin-
guém sobre sua cura antes que ele viesse ao sacerdote: nem a ele,
ou a qualquer outro, como ele a obteve e por quem foi curado; e
imediatamente o mandou embora; ao padre, com toda pressa; e
parece que o homem não estava disposto a se afastar d’Ele, mas
preferiu continuar com seu bom benfeitor: pois a palavra significa
que Ele logo o despediu: o expulsou dali, então o obrigando a ir
sem demora.
1.44. E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém. A pro-
pósito, até que ele veio ao sacerdote; porém vai, mostra-te ao sa-
cerdote: as versões siríaca e persa dizem “aos sacerdotes”; e a

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C o m en tário bíblico de M arcos - Ca]). 1

Vulgata Latina a traduz como “ao sumo sacerdote”, mas qualquer


sacerdote pode julgar a purificação de um leproso; e oferece pela
tua purificação o que Moisés determinou, para lhes servir de tes-
temunho (veja Gill em Mateus 8.4).
1.45. Mas ele saiu. Ou fora da sinagoga, pois em Marcos
1.39 diz-se que Cristo pregou em suas sinagogas; e em Marcos
1.40: “aproximou-se dele um leproso”; Lucas sugere claramente
que Ele estava na cidade (Lucas 5.12), e poderia esta, e isso foi
permitido a um leproso, conforme os cânones judaicos, desde que
algumas regras fossem observadas, que segue: “se um leproso en-
tra em uma sinagoga, eles fazem para ele uma divisória de dez
palmos de altura e quatro côvados de largura; ele entra primeiro
e sai por último”; ou, pode ser, ele saiu da casa onde estava para
a cidade e partes adjacentes; pois parece que a cura foi feita em
particular: e ainda assim um leproso não tinha permissão para en-
trar em uma casa; “se ele o fizesse, todos os vasos que estavam
lá, ou seja, todos os bens da casa estavam contaminados, até as
próprias vigas. Rabino Simeon diz que de até quatro côvados. Ra-
bino Judah diz que se ele ficasse tanto tempo quanto a ilumina-
ção de uma lâmpada”. E começou a publicá-lo muito e a divulgar
o assunto, contrário à acusação que Cristo lhe deu, embora isso
possa ser feito por ele, não por desobediência a Cristo, mas por
um transporte de alegria pela misericórdia recebida. E talvez com
uma boa intenção de espalhar a fama e a glória de seu Salvador,
de modo que Jesus não podia mais entrar abertamente na cidade
de Cafamaum, ou qualquer cidade que fosse, onde essa cura foi
realizada, sem uma multidão de pessoas ao seu redor, e com medo
deles, pelo menos de seus inimigos, que invejavam seus aplausos
e glória. Mas estava fora em lugares desertos; desprovido de habi-
tantes, onde passava o Seu tempo em oração. Então vinham a Ele
de todos os cantos, sempre que as pessoas pudessem saber onde
Ele estava; tão agradável era a Sua doutrina para alguns, e tão útil
Seu trabalho milagroso de cura para os outros.

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J o h n Gill

Capítulo 2
2.1. E ALGUNS dias depois entrou outra vez em Cafarnaum,
e soube-se cpie estava em casa‫׳‬, espalhou-se por toda a cidade a
notícia de que Ele estava na casa de Simão e André, onde estivera
antes e onde costumava estar quando estava em Cafarnaum.
2.2. E logo se ajuntaram tantos. De todas as partes da cida-
de, tanto que não havia espaço para recebê-los na casa, o qual de-
veria parecer grande, embora não grande o suficiente para manter
uma companhia tão numerosa quanto a reunida; que nem ainda
nos lugares junto à porta cabiam, ou os lugares diante da porta,
da varanda, da quadra ou do pátio. A multidão era tão grande que
nem a casa, nem os lugares externos da frente podiam contê-los,
nem eles podiam chegar perto da porta; e anunciava-lhes a pa-
lavra. A versão etíope traduz: “Ele falou Sua própria palavra aos
que Lhe vieram”; Ele pregou o Evangelho, a palavra da Graça e
da Verdade, da vida e da salvação, para todos quantos podiam se
aproximar d ’Ele e estavam ao Seu alcance. Para mim, parece que
nosso Senhor subiu a um cenáculo e, pela janela, pregou ao povo,
que estava em grande número porta a fora; e a narrativa a seguir
parece confirmar essa conjectura.
2.3. E vieram ter com ele. Um corpo considerável de pes-
soas, cidadãos, amigos e parentes da pessoa mencionada a seguir:
conduzindo um paralítico, trazido por quatro‫׳‬, carregado por qua-
tro homens nos ombros, como se fosse uma carcaça morta; ele
estava tão fraco e debilitado por sua doença que não conseguia an-
dar ou ser trazido de outra forma; ou melhor, sobre uma cama que
quatro homens, nos quatro cantos dela, carregavam em suas mãos;
e assim a versão etíope traduz: “quatro homens o carregaram em
uma cama”. E certo, pelo que se segue, que ele foi trazido para
uma cama. O caso desse homem parece ser muito grave, e o que
parece ser incurável pela arte da medicina, não foi um leve toque

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C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 2

de paralisia, mas uma paralisia geral, que o privou de movimento


e sensação.
A paralisia é uma doença pela qual o corpo, ou algumas de
suas partes, perde o movimento e, às vezes, a sensação ou o senti-
mento: as causas são um influxo impedido dos espíritos nervosos
nas vilosidades, nos músculos ou no sangue arterial em seus va-
sos, o que pode acontecer por alguma falha no cérebro, nos ner-
vos, nos músculos ou em seus vasos. A paralisia é dita “perfeita”,
ou completa, quando há privação de movimento e sensação ao
mesmo tempo; “imperfeita” quando um dos dois é destruído, per-
manecendo o outro. A paralisia é, novamente, “universal, lateral”
ou “parcial”.
A paralisia “universal”, também chamada de “paraplegia”
ou “paraplexia”, é uma imobilidade geral de todos os músculos
que recebem nervos do cérebro, ou cerebelo, exceto os da cabeça;
geralmente se supõe que sua causa resida nos ventrículos do cére-
bro, ou na raiz da medula espinhal. A paralisia “lateral”, chamada
também de “hemiplegia”, é a mesma doença da “paraplegia”, só
que afeta apenas um lado do corpo. Sua causa é a mesma, ape-
nas restrita a um lado do cérebro, ou medula espinhal. A paralisia
“parcial” ocorre quando apenas uma parte ou membro específico é
afetado; como, por exemplo, onde o movimento do braço ou perna
é destruído.
Ora, a doença desse homem parece ser a paralisia perfeita e
geral, que afeta todo o corpo, ou a “paraplegia”, que atinge todas as
partes menos a cabeça; pelo qual todos os sentidos, assim como o
movimento, são destruídos, e às vezes apenas um deles, mas neste
caso parece que ambos foram perdidos. Que ele estava imóvel fica
claro por ser carregado por quatro pessoas; e parece que ele per-
deu o sentimento, já que ele não disse ser gravemente atormenta-
do, como se diz ser o servo do centurião (Mateus 8.6), cuja doença
parece ter sido do tipo parcial ou imperfeito; ou, embora o privasse
J o h n Gill

de movimento, ainda não de sensação; pode ser uma espécie de pa-


ralisia escorbútica. Este homem é um emblema de um pecador em
estado de natureza, que é insensível à sua condição, à excessiva pe-
caminosidade do pecado, ao perigo e à miséria a que está exposto;
ao seu estado perdido e arruinado, à necessidade de o novo nasci-
mento e a necessidade da salvação por Jesus Cristo; e quem, como
ele é destituído de vida espiritual, não pode ter nenhum movimento
espiritual para vir a Cristo para vida e salvação, ou qualquer força
espiritual e atividade para se mover, ou realizar qualquer coisa que
seja espiritualmente boa; e como amigos deste o homem o pegaram
e o trouxeram a Cristo, o deitando diante d’Ele, esperando que pu-
desse receber uma cura d ’Ele, embora ao que pareça não sendo dele
uma questão, como ele poderia fazer; assim, tornam-se os amigos
e parentes de pessoas não regeneradas, que receberam a graça de
Deus e estão em um estado sólido e seguro para se preocupar com
eles, para trazê-los sob os meios da graça, onde eles podem ser le-
vados a um senso de seus pecados e a uma visão confortável de seu
perdão livre e completo como este homem. E isso deve ser feito,
mesmo que possa haver dificuldades na sua realização, como houve
neste caso, como se evidencia a seguir.
2.4. E, não podendo aproximar-se dele, do quarto onde Jesus
estava, nem à casa, nem mesmo à porta, por causa da multidão,
descobriram o telhado onde estava. A versão árabe diz: “eles su-
biram ao telhado”; e os persas assim: “eles o carregaram para o
telhado”. O lugar onde Cristo estava parece ser um cenáculo, pois
em um tal os médicos judeus costumavam se encontrar e con-
versar sobre assuntos religiosos (veja Atos 1.13). Embora alguns
pensem que esta era uma casa mesquinha em que Cristo estava,
não havendo cenáculo, mas o andar térreo estava aberto para o
telhado, através do qual o homem, doente de paralisia, foi descido
em sua cama para Cristo; e antes, porque as pessoas se aglome-
raram na porta para entrar, e não havia espaço para recebê-las.
Mas mesmo, a partir dessa circunstância, parece mais razoável
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 2

que houvesse um cenáculo no qual Cristo estava, e em uma janela


na qual ele poderia pregar ao povo, com muito mais conveniência,
do que na porta ou perto da porta, onde eles estavam pressionan-
do, pois com certeza Ele pregou a palavra a eles (Marcos 2.2),
e muitos exemplos podem ser dados dos médicos mencionados
acima, cujos usos, quando indiferentes e não pecaminosos, po-
dem ser cumpridos por Cristo, como estes de se encontrarem e
conversarem nos quartos superiores. Em vez de muitos, pegue os
seguintes: aconteceu com Rabban Gamaliel e os anciãos que esta-
vam sentados hyyleb, “em um cenáculo em Jerico”, que eles trou-
xeram tâmaras e as comeram. Novamente, “estas são algumas das
tradições que eles ensinaram”, tyyleb, “no cenáculo” de Hananiah
ben Ezekiah ben Garon. Assim também é dito que rabino Tarphon,
ou Tryphon, e os anciãos, estavam sentados “na câmara” da casa
de Nithzah, em Lydda, e esta pergunta foi feita diante deles: a
doutrina é maior ou a prática é maior? Mais uma vez os anciãos da
casa de Shammai e os anciãos da casa de Hillell subiram, tyylel,
“ao cenáculo” de Jochanan ben Bethira, e disseram que os Tsitzi-
th, ou franjas, não tinham medida.
Agora, sobre esta sala superior, havia um telhado plano, com
ameias sobre ele; pois assim os judeus foram obrigados a construir
suas casas, (Deuteronômio 22.8), para o qual eles tinham um ca-
minho de ir e vir, dentro e fora de suas casas (veja Gill em Mateus
24.17). Por isso lemos freqiientemente de twgg Krd, “o caminho
dos telhados”, em distinção de Myxtp Krd, “o caminho das por-
tas”, pelo qual eles entravam em suas casas, e por meio dos quais
as coisas podiam ser transportadas de um pátio para um telhado e
de um telhado para um pátio. Sobre o que os médicos discutem,
dizendo que em um dia de sábado, “é proibido subir e descer dos
telhados para a quadra, e da quadra para os telhados; e os vasos,
cuja morada é na quadra, é lícito movê-los na quadra, e que estão
nos telhados, é lícito movê-los nos telhados”. Diz o rabino, quan-
do estávamos aprendendo a lei com rabino Simeon em Tekoah,
J o h n Gill

trouxemos óleo e uma confecção de vinho velho, água e bálsamo,


de telhado em telhado, e do telhado ao pátio, e do pátio ao pátio, e
do pátio ao fechamento, e de um próximo ao outro, até chegarmos
às fontes, nas quais eles se lavaram. Diz rabino Judá, “aconteceu
em um tempo de perigo, e levamos o livro da lei de tribunal a te-
lhado, e de telhado a tribunal, e de tribunal a fim, para lê-lo”. Ago-
ra, nesses telhados havia uma porta que a que chamam, twgg xtp,
“a porta dos telhados”; agora, quando eles trouxeram o homem
doente para o telhado da casa, por uma escada presa do lado de
fora, que era comum, eles pegaram esta porta e o deixaram em sua
cama no quarto onde Jesus estava: e porque eles abriram a porta
do telhado com violência, portanto, é dito: e, fazendo um buraco,
baixaram o leito em que jazia o paralítico, abrindo a porta, e tal-
vez levantando a moldura dela e removendo algumas telhas sobre
ela para tornar o caminho mais largo, eles abaixaram com cordas,
a cama e o homem sobre ela, juntos. A versão persa traduz assim:
“e o paralítico sendo colocado em uma cama, nos quatro cantos da
cama tantas cordas sendo amarradas, eles o baixaram por uma ja-
nela até Jesus, no lugar onde ele estava sentado”; que é mais uma
paráfrase ou exposição das palavras do que uma tradução.
2.5. E Jesus, vendo a fé deles. A fé do homem doente e d
seus amigos, que pareciam confiantes em poderem chegar a Cristo
e uma cura ser operada: a fé do homem aparece em sofrer ele mes-
mo para ser trazido de tal maneira, sob tanta fraqueza e com tantos
problemas; e do outro em trazê-lo e superar tantas dificuldades
para levá-lo a Cristo. Disse ao paralítico: Filho, perdoados estão
os teus pecados, apontando e atingindo a raiz de sua desordem:
seus pecados. Cristo o chama de filho, embora nessa condição afli-
ta uma pessoa possa ser um filho de Deus e, ainda assim, muito
afligido por Ele; as aflições não são argumentos contra, mas sim
pela filiação: “porque qual é o filho a quem o Pai não corrige?” Ele
açoita todo filho que recebe e, castigando-o, trata -0 como a filhos;
e os que estão sem castigo são bastardos, e não filhos (Hebreus

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C o m en tário bíblico de M arcos - Ca!). 2

12.6). Sim, Ele o chama de filho, embora uma criatura pecamino-


sa, e que ainda não tinha, até que estas palavras fossem ditas por
Cristo, qualquer descoberta e aplicação de graça perdoadora a ele.
Ele era um filho de Deus por predestinação divina, sendo predesti-
nado à adoção de filhos; Ele era um filho em virtude da aliança da
Graça, estando interessado, como aparece, por desfrutar do per-
dão do pecado, uma bênção d ’Ele, que funciona assim: “Eu serei o
Pai deles, e eles serão meus filhos e filhas” (2 Coríntios 6.18). Ele
foi um dos filhos que foram dados a Cristo como em tal relação: e
por causa de quem Cristo era agora um participante da carne e do
sangue, e em pouco tempo morrería por eles, a fim de reuni-los,
que estavam espalhados no exterior. A bênção que Cristo conferiu
a este pobre homem é da maior consequência e importância, o
perdão dos pecados: é o que brota da graça e da misericórdia de
Deus e é fornecido em uma promessa no pacto da Graça. Cristo
foi enviado para derramar Seu sangue para obtê-lo de maneira
consistente com a santidade e a justiça de Deus. Isto sendo feito,
é publicado no Evangelho, e é um artigo muito considerável nele,
e do que nada pode ser mais desejável para um pecador sensato;
e bem-aventurados os que são participantes d’Ele, seus pecados
nunca serão imputados a eles; eles nunca serão mais lembrados;
eles são apagados do livro de dívidas de Deus; eles são cobertos
fora de Sua vista e removidos tanto quanto o leste está do oeste,
até mesmo todos os seus pecados, originais e reais, secretos ou
abertos, de omissão ou comissão (veja Gill em Mateus 9.2).
2.6. E estavam ali assentados alguns dos escribas. No cená-
culo onde Jesus estava, para observar e observar o que Ele dizia e
fazia: que arrazoavam em seus corações, dizendo, sobre as palavras
acima de Cristo, da seguinte maneira:
2.7. Por que este homem assim fala blasfêmias? Com suas
palavras, e maravilhar-se com sua arrogância, ficando cheio de
indignação e ressentimento contra Ele. Dizendo: Quem pode per-
doar pecados, senão só Deus? Esta era uma máxima geralmente

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J o h n Gill

aceita por eles, e muito justa. A paráfrase de Chaldee de Jó 14.4


funciona assim: “quem pode dar um homem puro de um homem
que está contaminado com pecados, mas Deus, que é o único, hyl
qwbvy yd, ‘que pode perdoá-lo?’” Eles até negam que Metatron,
assim eles chamam o anjo em Êxodo 23.20, de quem dizem, que
seu nome é como o nome de seu mestre, tem poder de perdoar pe-
cados; por qual razão os israelitas o rejeitaram como mensageiro.
Eles estavam certos ao dizer que ninguém além de Deus poderia
perdoar o pecado, contra quem é cometido; mas errado em acusar
Cristo de blasfêmia por esse motivo; porque Ele é verdadeiramen-
te Deus, assim como homem, como Sua onisciência e onipotência
manifestadas a seguir mostraram abundantemente. Que nenhuma
mera criatura pode perdoar o pecado, é certo: homens bons podem
e devem perdoar uns aos outros, e até mesmo seus próprios ini-
migos; mas então eles só podem perdoar o pecado como um dano
feito a si mesmos, não como cometido contra Deus.
Pode-se dizer que os ministros do Evangelho perdoam os pe-
cados ministerialmente, ou declarativamente, pregando a doutrina
do perdão, declarando que os que crêem em Cristo receberão a re-
missão dos pecados; mas para qualquer homem assumir tal poder
para si mesmo, a ponto de conceder indulgências e indulgências,
para absolver pecados, é anticristão, em que se leva para si mesmo
o que é peculiar a Deus, de modo que Ele, como Deus, senta-se no
templo de Deus, mostrando-se que Ele é Deus (2 Tessalonicenses
2.4). Tampouco qualquer homem pode obter o perdão de seus pe-
cados por qualquer coisa que tenha ou possa fazer; não por suas
riquezas, que não aproveitarão em um dia de ira, não sendo um
preço de resgate suficiente para si mesmo ou para qualquer um de
seus irmãos e amigos; nem por seu arrependimento, pois embora
isso e a remissão dos pecados andem juntos na graça e na expe-
riência, o arrependimento não é a causa da remissão dos pecados,
mas sim o efeito da remissão aplicada; nem por sua fé, porque a fé
não obtém, mas recebe esta bênção; e muito menos por boas obras,

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C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 2

pois então o perdão dos pecados não seria conforme as riquezas da


Graça. Um homem seria salvo por suas obras, uma vez que a parte
principal da salvação reside no perdão do pecado; e além disso,
o sangue de Cristo seria derramado em vão. Que somente Deus
pode perdoar o pecado é evidente, porque é contra Ele, e somente
contra Ele, que os homens pecam. O pecado é uma transgressão
de Sua lei, uma contrariedade à Sua natureza e uma contradição de
Sua vontade. Uma afronta à sua justiça e santidade, um desprezo
daquele que é o legislador, que pode salvar e destruir; é da nature-
za de uma dívida, da qual só ele pode saldar.
Além disso, se houvesse alguém além d ’EIe que pudesse per-
doar pecados, Ele teria um igual ou semelhante a Ele. Considerando
que “quem é um Deus como tu, que perdoa a iniquidade?'" (Mi-
quéias 7.18). Esta é uma prerrogativa peculiar a Ele, que desafia
a Si mesmo: "Eu mesmo sou aquele que apaga as tuas transgres-
soes”, (Isaías 43.25). Mas então isso é comum a todas as três pes-
soas divinas na Divindade: Pai, Filho e Espírito. O Pai, Ele prepa-
rou esta graça em Seu próprio coração, pois a causa motriz disso é
Sua Graça e misericórdia soberanas; Ele prometeu e garantiu isso
na aliança de Sua Graça; Ele partiu e enviou Seu Filho para obtê-lo,
pelo derramamento de Seu sangue, para que Sua justiça pudesse
ser satisfeita. E é por amor de Cristo que Ele perdoa todas as ofen-
sas. O Filho de Deus está preocupado com isso como homem, Seu
sangue foi derramado por isso; e sendo o sangue, não de um mero
homem, mas daquele que é Deus, assim como o homem, foi eficaz
para esse propósito; é em seu nome que é pregado, e ele é exaltado
como Salvador para dá-lo; e como advogado de seu povo, ele pede
isso e o exige; e como ele é verdadeira e propriamente Deus, ele tem
igual poder para concedê-lo e aplicá-lo como seu Pai. O Espírito
Santo, ao tornar os homens sensíveis à sua necessidade, mostra-o
a eles e ao seu interesse nele; ele asperge o sangue de Cristo sobre
suas consciências e os declara perdoados por meio dele; ele dá tes­

39
J o h n Gill

temunho da verdade disso a eles e os sela; para que seja totalmente


de Deus.
2.8. E Jesus, conhecendo logo em seu espírito. “Seu próprio
Espírito”, como dizem as versões Vulgata Latina, siríaca, árabe e
etíope; não Sua alma humana, nem o Espírito Santo de Deus, embo-
ra ambos possam ser considerados Seu Espírito; mas Sua natureza
divina, na qual e pela qual Ele conhecia todas as coisas, até mesmo
os pensamentos mais sagrados dos corações dos homens: e assim
que os pensamentos acima foram concebidos nas mentes dos escri-
bas e fariseus, foram percebidos por e contados para eles, que as-
sim arrazoavam entre si; então disse-lhes: Por que arrazoais sobre
estas coisas em vossos corações? Assim reprovando-os, não por
raciocinar e concluir em suas próprias mentes que ninguém além de
Deus pode perdoar pecados, mas por imputar blasfêmia a Ele, por
pronunciar os pecados deste homem perdoados; Ele ser Deus tanto
quanto homem, conhecendo os pensamentos e raciocínios de suas
mentes, pode ter sido uma prova convincente.
2.9. Qual é mais fácil? Dizer ao paralítico. Esta pergunta foi
feita a eles por Cristo, a fim de provar sua divindade e se livrar da
acusação de blasfêmia; pois aquele que podia curar o enfermo da
paralisia por uma palavra falada tinha poder para perdoar seus pe-
cados, portanto propõe a eles o que era mais fácil de dizer: Estão
perdoados os teus pecados; ou dizer-lhe: Levanta-te, e toma o teu
leito, e anda? Ambos eram fáceis de dizer, mas não com poder e
efeito; ambos eram exemplos de poder divino e provas de divin-
dade; e somente aquele que podia fazer um, poderia fazer o outro,
e um era tão fácil de ser executado por uma pessoa divina quanto
o outro. Embora possa ser difícil dizer qual é a maior instância de
poder, ou a prova mais forte de divindade: perdoar um pecador
ou curar um paralítico por uma palavra falada; talvez o perdão
do pecado seja a maior evidência do poder e bondade divinos. E
certo que é uma bênção maior ser perdoado do que ser curado de
uma paralisia; contudo, a cura de uma paralisia, da maneira como

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C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 2

Cristo o fez, era uma prova mais sensata de Sua divindade para os
escribas e fariseus do que declarar os pecados de um homem per-
doados; porque isso era visível e não podia ser negado; conside-
rando que o outro, embora pronunciado, eles poderíam questionar
se teve seu efeito: mas por aquele, que eles veriam feito diante de
seus olhos, não haveria espaço para eles duvidarem da realidade
do outro (veja Gill em Mateus 9.5).
2.10. Ora, para que saibais que o Filho do homem. Signi-
ficando a Si mesmo, que era realmente homem e o verdadeiro
Messias, sentido em que esta frase foi usada nos escritos do An-
tigo Testamento (vejo Salmos 80.17), e embora por causa de sua
forma externa e aparência mesquinha Ele pudesse ser pensado por
eles como sendo apenas um mero homem, não tendo direito ou
autoridade para dizer o que tinha para convencê-los, Ele afirma
possuir poder na terra para perdoar pecados. Como há uma ênfase
na frase “o filho do homem”, sugerindo que Seu ser não contradi-
zia Sua divindade, nem impedia o exercício de Seu poder. Então
há outra nessas palavras: na terra; insinuando que, embora Ele
estivesse na terra em um estado muito baixo em um estado de
humilhação, Ele tinha o mesmo poder para perdoar pecados que
no céu. Sua humilhação na natureza humana não o tirou de Suas
perfeições, poder e prerrogativa como Deus, e se ele tinha poder
na terra para perdoar pecados, não poderia haver espaço para du-
vidar disso agora que Ele está no céu, já que como Mediador Ele
é “exaltado para ser um príncipe e um Salvador, para dar a Israel
o arrependimento e a remissão dos pecados” (Atos 5.31). E para
parecer que Ele tinha tal poder na terra, disse ao paralítico, vol-
tando-se para ele e dirigindo-se a ele nas seguintes palavras, com
grande majestade, autoridade e poder (veja Gill em Mateus 9.6):
2.11. A ti te digo: Levanta-te, toma o teu leito. Sobre seus
ombros, diretamente, e na face de todas as pessoas, leve -0 embo-
ra; e vai para tua casa: para mostrar-se inteiro para sua família e
amigos e cuidar de seus negócios (veja Gill em Mateus 9.6).

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2.12. E levantou-se e, tomando logo o leito. Podendo ir junto


às palavras de Cristo, ele se achou perfeitamente bem, e imediata-
mente saltou de sua cama, pegou sua cama sobre os ombros, com
toda a facilidade imaginável, e saiu diante de todos eles: os escri-
bas e fariseus, e toda a multidão do povo, que foram testemunhas
oculares desta cura maravilhosa; ou “contra todos eles”, por ser
forte e robusto, abrindo caminho no meio da multidão com a cama
às costas; de sorte que todos se admiraram no poder de Cristo e
na força do homem; e glorificaram a Deus, dizendo: Nunca tal
vimos; ou qualquer coisa assim em nossos dias. Eles perceberam
facilmente que era uma ação sobrenatural, e o que nunca pode-
ria ser feito por um mero homem; eles, portanto, atribuem isso a
Deus e dão a Ele a glória disso; celebraram as perfeições de Deus,
particularmente Seu poder e Sua bondade, muito visíveis nesse
caso. Eles o elogiaram e a Suas obras, e deram graças a Ele por
esta cura maravilhosa que foi operada, e que Ele havia dado tal
poder a Cristo, a quem eles consideravam ser apenas um homem,
embora concluíssem daí que Ele era Deus para realizar tais obras
poderosas. E aqueles que glorificaram a Deus e expressaram sua
gratidão por este exemplo de Sua bondade para com os homens,
não eram os escribas e fariseus que acusaram Cristo de blasfêmia
pois os milagres de Cristo raramente, ou nunca, tiveram tanto efei-
to sobre eles a ponto de reconhecer que eram de Deus e que Cristo
os realizou por um poder divino, mas por uma influência diabóli-
ca. Nunca lemos sobre eles louvando a Deus e glorificando-o por
qualquer coisa feita por Cristo. Mas por fim foram embora, após
o milagre, endurecidos e cheios de rancor e malícia, indo e con-
sultando juntos como tirar Sua vida. Esta era a “multidão”, como
diz Mateus, que assistia ao ministério de Cristo e O seguia de
um lugar para outro, tendo uma opinião elevada d ’Ele, como um
grande e bom homem; embora eles não acreditassem n ’Ele como
o Messias, e não soubessem que Ele era o Filho de Deus (veja Gill
em Mateus 9.8).

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2.13. E tornou a sair para o mar. O mar da Galileia, onde se


encontrara, e chamara Pedro e André, Tiago e João; e não muito
longe de onde estava o lugar solitário e os lugares desertos onde Ele
estava antes de entrar em Cafarnaum; e toda a multidão recorreu a
Ele; os que estiveram com Ele na casa de Pedro e à porta, e os que
não puderam aproximar-se d ’Ele, e os ensinou a Palavra de Deus, o
Evangelho e suas doutrinas.
2.14. E, passando, ao sair da casa de Simão, e da cidade de
Cafarnaum, para ir à beira-mar; viu Levi, filho de Alfeu‫׳‬, o mesmo
com Mateus (Mateus 9.9), e filho do mesmo Alfeu que Tiago foi
(Mateus 10.3). A cópia mais antiga de Beza lê “Tiago” em vez de
“Levi”, muito erroneamente; mas ele era irmão de Tiago, e tam-
bém de Simão e Judas, de modo que havia quatro irmãos deles
apóstolos: e se José, chamado Barsabás, era o mesmo José que
era irmão deles, como parece provável, fosse um quinto colocado
como apóstolo, embora o lote recaísse sobre Matias. Tiago, José,
Simão e Judas são mencionados juntos (Mateus 13.55), porque
viviam juntos e eram homens de religião e seriedade, conheci-
dos de seus vizinhos; mas Mateus, ou Levi, não é mencionado:
é considerado provável por alguns que ele era um jovem solto e
extravagante e, portanto, poderia se afastar da família de seu pai e
entrar neste escandaloso emprego de publicano; e aqui contrariou
a vontade de seu pai, Cleofas, ou Alfeu, que era o marido da irmã
de Maria, a mãe de nosso Senhor. Sentado no recebedoria, a cabi-
ne de pedágio, ou alfândega, onde ele se sentava para cobrar o pe-
dágio dos passageiros que vinham ou iam em navios ou barcos. A
versão siríaca a traduz “sentado entre os coletores de pedágio”; e
a persa, “entre os publicanos”; não apenas significando o negócio
em que ele estava, mas a empresa em que estava; o que torna a gra-
ça de Cristo mais ilustre e distinta, ao olhar para ele e chamá-lo. E
disse-lhe: Segue-me. E, levantando-se, o seguiu. Cristo, o grande
pastor das ovelhas, que veio buscar a fim de salvar o que se havia
perdido, estava agora encerrando Sua ovelha perdida; e Mateus,

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ou Levi, sendo um deles, Ele o encontra e o chama por Sua Graça.


Cristo está sempre em primeiro lugar com Seu povo; Ele primeiro
os procura, e então eles O procuram; Ele primeiro os encontra, e
então eles O encontram; sim, Ele é encontrado por aqueles que
não O buscavam. Levi não O notou, não perguntou sobre Ele e
não pensou em deixar seu emprego, indo atrás d ’Ele, mas Cristo
o conhecia. Seus olhos estavam sobre ele enquanto passava, e Seu
tempo era um tempo de amor, portanto um tempo de vida. Olhou
para ele e disse-lhe: vive o poder vivificador que acompanha Mi-
nhas palavras; e ele se levantou, deixou tudo e O seguiu. Cristo,
como o Bom Pastor, foi adiante; e Levi, pela Graça que agora lhe
foi dada, como uma de Suas ovelhas, ouviu e reconheceu Sua voz
e, sem a menor hesitação ou relutância, abandonou seus negócios
e tornou-se um seguidor d ’,Ele. Quão poderosa é a Graça eficaz!
O que é, e não se pode fazer! Transforma o coração de um pecador
de uma só vez, inclina -0 para Cristo e faz com que ele deixe tudo
por Sua causa; imediatamente enche a alma de amor a Cristo, fé
n’Ele e obediência a Ele; funciona poderosamente, mas livremen-
te; sempre obtém e efetua o que projeta, mas não impõe força à
vontade. Levi, sob os desenhos da graça divina, seguiu a Cristo
com muita boa vontade e alegria (veja Gill em Mateus 9.9).
2.15. E aconteceu que, estando sentado à mesa em casa des
te. Na casa de Levi; não na alfândega ou cabine de pedágio, pois
já havia saído; mas em sua casa na cidade de Cafarnaum, onde
ele O tinha, e fez um entretenimento para Ele, em sinal de grati-
dão pelo alto favor concedido. Também estavam sentados à mesa
com Jesus e seus discípulos muitos publicanos e pecadores; sendo
convidados por Levi, e não contestados por Cristo (veja Gill em
Mateus 9.10). Porque eram muitos, e eles o seguiram; ou Cristo,
a quem eles observaram ter chamado Mateus, e ouviram pregar à
beira-mar; ou então Mateus, e assim a versão persa a traduz, “pois
muitos seguiram Mateus”. A versão etíope lê as palavras “e eram
muitos”, isto é, publicanos e pecadores, “e os escribas e fariseus o
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 2

seguiram”, mencionados no próximo versículo, de onde parece ter


sido tirado; embora seja verdade que não apenas um grande nú-
mero de publicanos e pecadores seguiram a Cristo, mas também
muitos dos escribas e fariseus; ainda com uma visão diferente da
anterior, não para obter nenhuma vantagem para si mesmos, mas,
se pudessem, uma vantagem contra Cristo.
2.16. E os escribas e fariseus, vendo-o comer. Eles se ofen-
deram com o fato de Ele comer e beber, embora com moderação,
porque Ele não jejuou como eles e Seus discípulos; e principalmen-
te por Ele comer com os publicanos e pecadores, homens de caráter
muito infame e vidas ruins, com quem os fariseus desdenhavam
manter a companhia: disseram a seus discípulos: Por que come e
bebe ele com os publicanos e pecadores? As versões da Vulgata La-
tina, árabe, persa e etíope dizem: “seu mestre” (veja Gill em Mateus
9.11); também algumas cópias gregas.
2.17. E Jesus, tendo ouvido isto, disse-lhes. Cristo, ou ouviu
0 que eles disseram a Seus discípulos, ou Ele ouviu da relação
dos discípulos; e quando o fez, voltou-se para os escribas e fari-
seus e disse-lhes as seguintes palavras: Os sãos não necessitam
de médico, mas, sim, os que estão doentes; o que parece ser uma
expressão proverbial, significando que Ele era médico, e que es-
ses publicanos e pecadores eram pessoas doentes e precisavam de
sua companhia e assistência; mas que eles, os escribas e fariseus,
estavam inteiros e com boa saúde em sua própria estima, portanto
não queriam alívio e não deveríam levar a mal que Ele atendeu a
um, e não ao outro. Essas palavras dão uma visão geral da huma-
nidade em seus diferentes sentimentos de si mesmos e de Cristo; e
da utilidade de Cristo para um tipo, e não para outro.
Há alguns que exaltam o poder da livre agência do homem,
defendendo a força e a pureza da natureza humana e exaltando
suas excelências e habilidades; e não é de admirar que estes não
vejam necessidade de Cristo, seja para si mesmos ou para os ou-
J o h n Gill

tros; portanto, os pregadores dessa aparência deixam Cristo fora


de seu ministério na maior parte, e de um modo geral diminuem a
Glória e a dignidade de Sua pessoa, depreciam Seus ofícios, rejei-
tam Sua justiça e negam Sua satisfação e expiação; e tais se consi-
deram os favoritos do céu e estão prontos para dizer: a quem Deus
se deleitará em honrar, mas nós, que somos tão puros e santos?
Eles então confiam em sua própria justiça, desprezam os outros e
não se submetem à justiça de Cristo; eles fazem de suas próprias
obras seus salvadores e, assim, negligenciam a grande salvação
por Cristo.
Há outros que estão doentes, e estão muito cansados de si
mesmos; eles veem a impureza de sua natureza, como são doen-
tios e insalubres; que desde o topo da cabeça até a sola do pé não
há neles nada são, nada além de machucados, contusões e feridas
putrefatas: seus lombos estão cheios da repugnante doença do pe-
cado; eles são sensíveis à sua incapacidade de se curar e nenhu-
ma mera criatura pode ajudá-los; e que todos, exceto Cristo, são
médicos sem valor, se aplicando a Ele, cujo sangue é um bálsamo
para todas as feridas e um remédio para todas as doenças e enfer-
midades, e que purifica de todo pecado, considerando que tais e
tais apenas veem a necessidade de Cristo como médico, somente a
estes Ele atende sob tal caráter (veja Gill em Mateus 9.12).
Adicionando isso como um motivo: eu não vim chamar os
justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento. Essas palavras
explicam o que é expresso de maneira mais obscura e figurativa
no primeiro; parece daí que por “os justos” se entende pessoas
“justas”; não aqueles que são justificados pela justiça de Cristo
imputada a eles, mas aqueles que eram exteriormente justos diante
dos homens, que confiavam em si mesmos como justos, depen-
diam de sua própria justiça e se imaginavam com respeito à justiça
de uma lei irrepreensível; e assim, em suas próprias apreensões,
não precisavam de Cristo e de sua justiça; sim, nem precisavam
de arrependimento conforme seus próprios pensamentos sobre as

46
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 2

coisas, não sendo chamados para isso, mas deixados à sua própria
estupidez e cegueira; estes eram os escribas e fariseus.
E por “doentes” entende-se os “pecadores”, aqueles que se
tomam sensíveis ao pecado e, portanto, à sua necessidade de Cris-
to como Salvador, que têm o arrependimento evangélico dado a
eles, e são chamados ao Seu exercício e profissão; e Cristo, cha-
mando os pecadores ao arrependimento e concedendo essa Graça
junto à remissão de pecados que a acompanha, está fazendo Seu
trabalho e ofício como “médico”. Este evangelista não menciona
a passagem de Oséias 6.6, com a qual essas palavras são introdu-
zidas em Mateus. As últimas palavras para “arrependimento” são
omitidas pelas versões Vulgata Latina, siríaca, persa e etíope, e
estão faltando em algumas cópias antigas; mas são mantidos na
versão árabe e na maioria das cópias, como em Mateus 9.13 (veja
Gill em Mateus 9.13).
2.18. Ora, os discípulos de João e os fariseus jejuavam, ou
“estavam jejuando”, talvez naquele mesmo dia, e por isso ficaram
mais descontentes com esse entretenimento que Mateus havia fei-
to para Cristo e Seus discípulos, por eles estarem nisso; ou o jejum
era comum com eles: jejuavam com frequência, tanto os discípu-
los de João quanto os discípulos dos fariseus, ou os próprios fari-
seus. A Vulgata Latina diz: “de seu jejum frequente” (veja Gill em
Mateus 9.14), e foram : tanto os discípulos de João (Mateus 9.14),
como os escribas e fariseus (Lucas 5.30), e dissercim-lhe: Por cpie
jejuam os discípulos de João e dos fariseus, e não jejuam os teus
discípulos? (Veja Gill em Mateus 9.14).
2.19. E Jesus disse-lhes, tanto aos discípulos de João como
aos fariseus: Podem porventura os filhos das bodas jejuar enquanto
está com eles o esposo? Sugerindo que Ele era o noivo, como João,
Seu mestre, O havia chamado (João 3.29), e que Seus discípulos
eram os filhos das bodas; e era muito inadequado e muito irracional
para eles desejar que jejuassem em tal momento e sob tal caráter;

17
J o h n Gill

portanto, a resposta devolvida pelo próprio Cristo à pergunta é: En-


quanto têm consigo o esposo, não podem jejuar, tudo o que a ver-
são siríaca expressa por al, “não” (veja Gill Mateus 9.15).
2.20. Mas os dias virão. Como eles estavam em certo sentido,
agora vieram para os discípulos de João, seu mestre sendo levado
por Herodes e confinado na prisão, e por isso foi um tempo de luto
para eles. Em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão naque-
les dias, referindo-se ao tempo dos sofrimentos e morte de Cristo,
que seria e foi uma época de tristeza para seus discípulos.
2.21. Ninguém deita remendo de pano novo. As tradições
dos anciãos são destinadas, particularmente a respeito de comer,
beber e jejuar, coisas antes mencionadas; e que ocasionou esta
parábola, e que eram coisas novas em comparação com os man-
damentos de Deus: algumas sendo de muito curta duração, conce-
bidas naquela época; e a maioria, se não todos, desde os tempos
de Esdras. Em uma roupa velha‫׳‬, a retidão moral e cerimonial dos
judeus, em obediência à lei de Deus, significando que os primeiros
não deveríam se unir a estes para constituir uma justiça justifica-
dora diante de Deus, que não eram suficientes para tal fim, indivi-
dualmente ou os dois juntos; doutra sorte o mesmo remendo novo
rompe o velho, e a rotura fica maior, pois pelo atendimento às
tradições dos anciãos, os judeus foram afastados e negligenciaram
os mandamentos de Deus. Não, muitas vezes os mandamentos de
Deus foram anulados por essas tradições, de modo que a velha
vestimenta de Sua própria justiça, que era muito esfarrapada e
imperfeita por si mesma, em vez de ser mais pura e perfeita, tor-
nou-se muito pior, mesmo para o propósito a que se destina (veja
Gill em Mateus 9.16).
2.22. E ninguém deita vinho novo em odres velhos. Por “odres
velhos” entende-se os escribas e fariseus, todos que não precisavam
de médico, e os justos que Cristo não veio chamar; e por “vinho
novo”, ou o amor de Deus, que não é derramado no coração de tais

48
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 2

pessoas; ou as bênçãos da nova aliança, que não são concedidas a


eles; ou o Evangelho, que traz relato de ambos e não é recebido por
homens carnais. Doutro sorte, o vinho novo rompe os odres e entor-
na-se o vinho, e os odres estragam-se; o Evangelho apenas os en-
cherá de raiva e fúria, e eles o desprezarão e o deixarão ir; o que será
um agravamento de seu pecado e miséria, e assim provará o cheiro
da morte para a morte para eles. O vinho novo deve ser deitado
em odres novos; nos corações dos pecadores, que são chamados ao
arrependimento e renovados no Espírito de suas mentes; são bebês
recém-nascidos, que desejam o leite sincero da palavra e o vinho
do Evangelho; nestes o amor de Deus é extremamente abundante, e
vem com plenos fluxos em suas almas; toda graça é abundante para
eles, e a palavra de Cristo habita ricamente neles; em quem estas
coisas permanecem, e eles mesmos são salvos com uma salvação
eterna (veja Gill em Mateus 9.17).
2.23. E aconteceu que. A Vulgata Latina acrescenta, “nova-
mente”; e assim Beza diz que foi lido em uma de suas cópias.
Passando ele num sábado pelas searas, os seus discípulos, ca-
minhando, começaram a colher espigas, esfregá-las, tirar o grão
delas e comê-las (veja Gill em Mateus 12.1).
2.24. E os fariseus lhe disseram. A Cristo, o mesmo disse-
ram aos Seus discípulos (Lucas 6.2). Vês? Por que fazem no sába-
do o que não é lícito? Veja como eles colhem as espigas de milho
e as esfregam, e comem coisas que pela lei, especialmente pelas
tradições dos anciãos, não era lícito fazer no dia de sábado (veja
Gill em Mateus 12.2).
2.25. Mas ele disse-lhes. Como resposta à sua pergunta, e
que foi completa e suficiente para silenciá-los: Nunca lestes o que
fez Davi; referindo-se à história em 1 Samuel 21.1, quando estava
em necessidade, estava em grande escassez e na maior angústia,
e teve fome, ele e os que com ele estavam? Uma razão justificável
para o que Ele e sua companhia fizeram, como foi pela ação dos
J o h n Gill

discípulos, estando em um caso semelhante, portanto muito apro-


priado para o propósito (veja Gill em Mateus 12.3).
2.26. Como entrou na casa de Deus. O tabernáculo, pois o
templo ainda não foi construído, lá Davi foi buscar pão para si e
seus homens, estando com fome. E então, em um sentido espiri-
tual, para onde deveríam ir aqueles que têm fome e sede de justi-
ça, senão para a casa de Deus? Aqui há pão suficiente e de sobra;
aqui há uma mesa mobiliada com excelentes provisões; aqui é
dispensado o Evangelho, que é leite para bebês e carne para ho-
mens fortes; aqui é apresentado Cristo, o pão da vida, cuja carne é
verdadeiramente comida e cujo sangue é verdadeiramente bebido;
aqui são administradas as ordenanças, estas seios de consolação
para os filhos de Deus; aqui está um banquete de coisas gordas,
todas as coisas estão prontas e as almas são bem-vindas, e assim
deve ser correto comparecer aqui. E foi no dia de sábado que Davi
entrou na casa de Deus, quando os pães da proposição foram re-
movidos e divididos entre os sacerdotes, e novos foram colocados
em seu quarto. Assim, sob a dispensação do Evangelho, no dia do
S enhor, o dia separado para o culto público, tornam-se os santos
que sobem à casa do Senhor e se alimentam de suas provisões, são
de um sacerdócio real, são sacerdotes e também reis para Deus, e
o negócio deles é na casa do Senhor, para oferecer-lhe sacrifícios
espirituais. E como a bondade e a plenitude de Sua casa pertencem
a eles, fazem bem em partilhar e participar dela.
Nos dias de Abiatar, o sumo sacerdote: e ainda assim, pela
história, fica claro que foi nos dias de Aimeleque, o sumo sacer-
dote, pai de Abiatar; portanto, o judeu acusa Marcos de erro, e
Mateus e Lucas também, enquanto os dois últimos não mencio-
nam o nome de nenhum sumo sacerdote, e pode-se observar que
na versão persa de Marcos é traduzida como “sob Abimeleque, o
sumo sacerdote”; e em uma cópia antiga de Beza, toda a cláusula
é omitida, embora deva ser admitido que assim é lido em outras

50
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 2

cópias gregas e nas versões antigas, como a Vulgata Latina, siría-


ca, árabe e outras.
Observe-se ainda que o fato referido foi feito nos dias de
Abiatar, embora antes de ser sumo sacerdote; e a partícula epi
pode ser traduzida assim, sobre ou “antes de Abiatar ser sumo
sacerdote”, como em Mateus 1.11. Além disso, Abiatar era filho
de um sumo sacerdote e sucedeu a seu pai no cargo, podendo ser
neste momento seu substituto, atuando por ele, ou tido para conse-
lhos; e conforme uma regra os próprios judeus dão, “o filho de um
sumo sacerdote, que é nomeado por seu pai em seu lugar”, rwma
lwdg Nhk yrh, “10! ele é chamado de sumo sacerdote”, para que
Abiatar pudesse ser chamado neste momento de sumo sacerdote;
este é o caso mais mencionado, porque ele era o homem mais emi-
nente e famoso, e a quem os judeus chamam Urim e Tumim, pois
houve muita indagação feita por eles; nos dias dele e de seu pai,
e muito pouco depois, ao que se pode acrescentar que os nomes
do pai e do filho às vezes são alterados: Aimeleque é chamado
Abiatar, e este Abiatar é chamado Aimeleque, filho de Abiatar (2
Samuel 8.17), e Abimeleque, filho de Abiatar (1 Crônicas 18.16).
Parece que pai e filho tinham dois nomes e às vezes eram
chamados por um, vezes pelo outro; como o pai às vezes é cha-
mado de Abiatar, o filho é chamado de Aimeleque ou Abimele-
que, como nos lugares mencionados e que se referem aos tempos
em que Davi era rei de Israel, e muito depois da morte de Saul,
consequentemente, muito depois de Aimeleque e o restante dos
sacerdotes em Nob serem mortos por ordem de Saul. Portanto Ai-
meleque, ou Abimeleque, nos referidos lugares, deve ser filho de
Abiatar; e que depois foi expulso do sacerdócio por Salomão por
se juntar a Adonias em sua usurpação (1 Reis 1.25). De onde tam-
bém parece que seu pai também se chamava Abiatar, e que alguns
consideram ser o nome de família; e se assim for, então não há
dificuldade, e o evangelista diz com razão que esse caso ocorreu
nos dias de Abiatar: mas seja ele pretendendo o filho, o que foi
J o h n Gill

observado antes é uma solução suficiente dessa dificuldade; pois o


evangelista não diz que Abiatar era sumo sacerdote, quando Davi
veio e comeu os pães da proposição, mas diz apenas: “foi nos dias
de Abiatar, o sumo sacerdote”; com certeza é que isso aconteceu
em seus dias, e ele era certamente um sumo sacerdote.
Marcos poderia com grande propriedade chamá-lo assim,
embora ele não fosse estritamente um, até que este negócio termi-
nasse. Além disso, ele não era apenas o filho de um sumo sacerdo-
te, podendo ser seu substituto. Alguns pensaram que oficiou desta
vez porque seu pai estava doente ou enfermo devido à velhice;
mas visto que seu pai foi morto diretamente pela ordem de Saul,
ele escapou por pouco, imediatamente o sucedendo no cargo de
sumo sacerdócio. Sendo, pois, um sumo sacerdote tão próximo
ao momento dessa ação, sem nenhuma impropriedade e imperti-
nência, e especialmente sem incorrer na acusação de falsidade, o
evangelista pode se expressar como o faz.
E comeu os pães da proposição, dos quais não era lícito
comer senão aos sacerdotes, dando também aos que com ele esta-
vam? Quem não apenas comeu os pães da proposição, que foram
colocados diante do Senhor e eram sagrados, e dos quais ninguém,
exceto os sacerdotes, podiam comer depois de retirados da mesa.
Mas Davi fez isso no dia de sábado, não apenas comendo dele,
mas também dando aos soldados que estavam com ele, e tudo isso
com o conhecimento e permissão do sumo sacerdote. Os judeus
não têm razão para acusar este evangelista e os outros com um
erro, que outros, além de Davi, comeram dos pães da proposição,
pedindo que ele viesse sozinho a Aimeleque, uma vez que é evi-
dente em 1 Samuel 21.2 que Davi tinha servos em sua companhia
quando fugiu, embora eles não estivessem com ele quando foi
ao sumo sacerdote. E que ele pediu pão, sendo dado a ele, não
apenas para si, mas para os jovens que ele havia designado para
estar em tal lugar. Assim, se isso fosse permitido a Davi e seus ho-
mens, quando famintos, não deveria ser cobrado como um mal aos

,‫)־׳‬2
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 2

discípulos por arrancar e esfregar algumas espigas de milho para


satisfazer sua fome, mesmo que em um dia de sábado, especial-
mente quando Ele, que era o Senhor do sábado, estava presente e
0 admitiu (veja Gill em Mateus 12.4).

2.27. E disse-lhes. Continuando a sua resposta a eles, e


acrescentando, em confirmação do que havia dito, e para posterior
justificação de Seus discípulos, O sábado fo i feito por cansa do
homem‫׳‬, para o seu bem, e não para o seu mal. Tanto para o bem
de sua alma, para que ele tenha a oportunidade de assistir ao cul-
to divino, tanto em público quanto em particular; quanto para o
bem de seu corpo, para que ele possa descansar de seu trabalho.
E este foi o fim da instituição original e sua nomeação, portanto
trabalhos de necessidade não são proibidos neste dia, tais como o
necessário conforto, apoio e preservação da vida. De outra forma
seria aparente que o sábado não foi designado para o bem, mas
para o mal dos homens. Por “homem” não se entende toda a hu-
manidade, pois o sábado nunca foi designado para toda a humani-
dade, nem obrigatório para todos, apenas os judeus enfaticamente
chamados “homem” ou “homens”; (veja Ezequiel 34.30), sobre
0 qual os escritores judeus comentam, que “eles são chamados,
Mda, “homem”; e os gentios idólatras e as nações do mundo não
são chamados de “homens”, mas de cães, animais, etc.
Pode-se pensar que nosso Senhor aqui fala na língua deles,
como ele faz em Mateus 15.26 (veja Gill em Mateus 15.26); que
a observação do sétimo dia foi designada apenas para os filhos de
Israel, parece manifesto em Êxodo 31.16, “portanto os filhos de
Israel guardarão o sábado, para observar o sábado nas suas ge-
rações, por uma aliança perpétua; é um sinal entre mim e os filhos
de Israel”; e não entre ele e o resto do mundo; e em Êxodo 31.14,
ííguardareis o sábado, porque é santo para vós”, sobre o qual os
judeus fazem esta observação, Nymme ravl alw Mkl, “para você,
e não para o resto das nações”; nem pensaram que os gentios eram
obrigados a observar seu sábado, apenas aqueles que se tornaram
J o h n Gill

prosélitos de sua religião; mesmo aqueles que eram prosélitos da


justiça, pois um prosélito do portão não era obrigado a observá-lo.
E assim diz Maimônides “aqueles que tomam sobre si apenas os
sete mandamentos de Noé, ora, eles são como um prosélito do
portão, sendo livres para trabalhar no dia de sábado para si mes-
mos, abertamente, como um israelita em um dia comum”. Sim,
eles não apenas dizem que não eram obrigados a guardar o sába-
do, mas que não era lícito observá-lo; e que era até punível com a
morte para eles considerá-lo; pois assim eles dizem, “o gentio que
guarda o sábado antes de ser circuncidado, é culpado de morte,
porque não lhe é ordenado”. Eles os julgaram indignos de ter este
preceito ordenado a eles, como sendo não homens, mas animais, e
piores do que eles, e não tinham o privilégio que o burro tem. Daí
um de seus comentaristas diz: “sobre o descanso de um jumento,
tu (ó israelita!) és comandado; mas sobre o descanso de um gen-
tio, tu não és comandado”. E não o homem por causa do sábado,
que já existia muito antes disso ser nomeado e ordenado.
2.28. Assim o Filho do homem até do sábado é Senhor. Refe-
rindo-se a si mesmo, que tinha o poder não apenas de dispensá-lo,
mas de revogá-lo como ele fez, com o restante dos rituais da lei ceri-
monial (veja Gill em Mateus 12.8), de modo que não lhes convinha
criticar o que seus discípulos faziam, com sua licença e aprovação.

Capítulo 3
3.1. E OUTRA vez entrou na sinagoga. Talvez em Cafar-
naum, onde antes havia expulsado o espírito imundo, mas não no
mesmo dia, nem naquele dia ele teve o debate com os fariseus
sobre seus discípulos colherem espigas no dia de sábado, mas em
outro sábado, talvez no próximo (veja Lucas 6.6). E estava ali um
homem que tinha uma das mãos mirrada‫׳‬, quem veio lá para uma

34
C o m en tário bíblico de M arcos - Ca!). 3

cura, sabendo que Cristo estava na sinagoga, ou devido à adoração


(veja Gill em Mateus 12.10).
3.2. E estavam observando-o. O chefe da sinagoga e os prin-
cipais homens nela; particularmente os escribas e fariseus, que O
seguiam aonde quer que Ele fosse; eles O observaram diligente-
mente e mantiveram os olhos n ’Ele; estando este coxo na sinagoga
para ver se curaria no sábado, o que, conhecendo sua prontidão
para fazer o bem, eles poderíam esperar que fizesse. Para o acusa-
rem\ como eles haviam acusado Seus discípulos antes da violação
do sábado. Segundo o evangelista Mateus, eles O perguntaram se
era lícito curar no dia de sábado. Com essa visão, eles podem, de
uma forma ou de outra, ter algo para acusá-lo, seja para o povo ou
para o sinédrio (veja Gill em Mateus 12.10).
3.3. E disse ao homem que tinha a mão mirrada. Depois de
ter argumentado com eles, do menor ao maior, sobre seus próprios
princípios e práticas, ao socorrer e tirar uma ovelha caída em uma
vala, em um dia de sábado (Mateus 12.10), e conhecendo “seus
pensamentos”, como diz Lucas (6.8), seus raciocínios e desígnios;
e como a versão persa aqui, a partir daí “compreendendo sua cons-
piração”, volta-se para o coxo e o convida: Levanta-te e vem para
o meio, ou, como em Lucas, “levante-se e fique de pé no meio”
(Lucas 6. 8), ordenando que ele se levantasse de seu assento e se
posicionasse no meio da sinagoga; isso Ele disse, em parte, para
chamar a atenção do povo para o seguinte milagre; e em parte
para mover comiseração ao ver o objeto, e para agravar a dureza
de coração dos fariseus; como também para que fosse manifesto
a todos que a mão do homem estava realmente murcha, e que não
houve fraude na cura seguinte.
3.4. Eperguntou-lhes. Ou a toda a multidão, a toda a assem-
bleia na sinagoga; e assim a versão persa a traduz, “novamente
ele disse à multidão”; ou melhor, aos escribas e fariseus, que o
observavam e lhe fizeram uma pergunta, que ele responde por ou-
J o h n Gill

tra: É lícito no sábado fazer bem, ou fazer mal? Salvar a vida, ou


matar? As versões da Vulgata Latina, siríaca, árabe e persa dizem,
ou “destruir”, como em Lucas 6.9. Fazer o mal, matar ou destruir
não é lícito a qualquer momento; e fazer o bem e salvar vidas deve
estar certo o tempo todo. Nosso Senhor tem uma visão particular
à dos escribas e fariseus, e a questão é colocada em suas próprias
consciências, cujos corações e pensamentos, desígnios e pontos
de vista, estavam todos abertos a Cristo; e que agora estavam ob-
servando para fazer o mal a Ele, e até mesmo para destruir e tirar
Sua vida: pois a violação do sábado era a morte pela lei, e era
disso que eles procuravam acusá-Lo.
Agora ele faz a pergunta a eles, e os toma juizes que devem
parecer mais corretos e justos aos olhos de Deus e dos homens,
para ele curar este pobre homem de sua mão ressequida, embora
que no dia de sábado, o que seria fazer uma ação boa e benéfica
para ele, por meio da qual sua vida seria salva e preservada com
conforto e utilidade, e ele estaria em condições de obter seu sus-
tento; ou para que acalentem uma má intenção contra Ele e pro-
curem causar-Lhe travessuras; e não apenas destruiu seu caráter e
utilidade tanto quanto neles, mas também tirou sua própria vida.
Deixa para eles considerar o que era mais agradável à lei de Deus:
a natureza de um sábado e o bem da humanidade. E eles calaram-
-se; ou “ficaram em silêncio”, não podendo retornar uma resposta,
mas o que deveria ter sido a seu favor e para sua própria confusão,
portanto optaram por não dizer nada.
3.5. E, olhando para eles em redor com indignação. Nas
várias partes da sinagoga; pois havia muitos deles em todos os
lados; o que ele podería fazer, para observar seus semblantes, que
poderíam cair com justiça, sobre uma pergunta tão próxima feita
a eles, e que resposta retomariam a Ele. E Seu olhar sobre eles era
com raiva, com um semblante severo, que mostrava indignação
contra eles, embora sem pecado ou qualquer desejo de vingança,
pelo mal que eles estavam meditando contra ele. Tinha mesmo

.56
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 3

tempo pena e compaixão por eles, condoendo-se da dureza do seu


coração, ou “a cegueira de seus corações”, como as versões da
Vulgata Latina, árabe e etíope a traduzem; sendo perturbado em
sua alma humana, tanto por sua desumanidade quanto por cruel-
dade para com um objeto miserável, cuja cura, na opinião deles,
teria sido uma violação do sábado.
Tendo um desígnio malicioso contra Ele, deveríam executá-
-Lo; e em sua estupidez e ignorância da lei de Deus, a natureza e
desígnio do sábado, e de seu dever para com Deus e seus seme-
lhantes. Portanto, como alguém que não deve ser intimidado por
seus desígnios malignos contra Ele, ou impedido por isso de fa-
zendo bem, ele disse ao homem: Estende a tua mão; isto é, o coxo;
e tal poder acompanhou suas palavras, como uma vez efetivada
uma cura. E ele a estendeu, e foi-lhe restituída a sua mão, sã como
a outra. Esta última cláusula, “inteira como a outra”, não está na
Vulgata Latina, nem nas versões siríaca, árabe, persa e etíope, po-
dendo ser adicionado de Mateus 12.13, uma vez que está faltando
na cópia alexandrina, na cópia mais antiga de Beza e em outras.
3.6. E, tendo saído os fariseus fora da sinagoga, sendo ter-
rivelmente irritado com os raciocínios de Cristo, com o silêncio e
confusão em que foram colocados, e com o milagre que ele rea-
lizou, para desmascará-los, e estabelecendo seu próprio crédito;
tomaram logo conselho com os herodianos contra ele (veja Gill
em Mateus 22.16). Procurando ver como o matariam: persistindo
ainda em suas más intenções, embora Cristo tenha exposto tão
completa e claramente a maldade deles. E deve-se observar que
aqueles homens que pensavam que não era lícito curar um coxo
no dia de sábado, mas não tinham escrúpulos em se encontrar e
consultar naquele dia, e mesmo com homens profanos, quais me-
didas e métodos seriam melhores para destruir a vida de uma pes-
soa inocente.
J o h n Gill

3.7. E retirou-se Jesus com os seus discípulos para o mar.


Conhecendo seus maus desígnios contra Ele, saiu da sinagoga e
da cidade de Cafamaum, levando consigo os Seus discípulos, indo
à praia do mar da Galiléia; não por medo, mas porque Sua hora
ainda não havia chego e Ele tinha mais obras a fazer. E seguia - 0
uma grande multidão da Galiléia, das várias partes dela, no país
em que Ele estava agora; e da Judeia, aquela parte da terra de ls-
rael que era particularmente chamada e pertencia à tribo de Judá.
3.8. E de Jerusalém. A metrópole do país da Judeia, e da
Idumeia, ou Edom, como a versão siríaca a lê. Um país que ficava
ao sul da Judeia, anteriormente habitado pelos filhos de Edom,
sendo agora pelos judeus; ou pelo menos seus habitantes eram
prosélitos da religião judaica. Menção é feita das planícies de
Idumeia, juntamente com Gazera, Azoto e Jâmnia, como em 1
Macabeus: “ Todavia, todos os que estavam na retaguarda foram
mortos à espada: pois os perseguiram até Gazera, e até as plant-
cies de Iduméia, Azoto e Jâmnia, de modo que foram mortos três
mil homens” (1 Macabeus 4.15). Plínio fala da Idumeia e Judeia
juntas, como uma parte da Síria; e Ptolomeu diz que este país fica
a oeste do rio Jordão, sendo adicionado, e de além do Jordão; o
país de Peraea, no leste da Jordânia; e de perto de Tiro e de Sidom,
ou os habitantes desses lugares, como as versões siríaca, árabe,
persa e etíope favorecem, lendo “uma grande companhia de Tiro
e Sidom”; e aqueles que viviam perto das fronteiras e nos confins
dessas cidades da Fenícia: uma grande multidão; quando todos se
reuniram, dessas várias partes; que, ouvindo quão grandes coisas
fazia, vinha ter com ele‫׳‬, porque a Sua fama corria por todas as ter-
ras pelos sinais que fazia, atraindo este vasto concurso de pessoas
atrás d ’Ele; e quem, perguntando onde Ele estava, veio a Ele no
mar da Galiléia.
3.9. E ele disse aos seus discípulos, de uma forma autoritá-
ria, que tivessem sempre pronto um barquinho junto dele, que um
barco deveria estar pronto, estar próximo e atendê-lo, que estava

,58
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 3

em terra, para que pudesse entrar, em alguma ocasião para isso,


e dali pregar ao povo. Por causa da multidão; que veio das par-
tes acima, e todos juntos formaram um corpo muito numeroso
de pessoas; para que não o oprimissem; multidão que O aperta,
aflige e angustia, o deixando inquieto, e Ele não poderia ficar de
pé convenientemente e pregar para eles, de modo que, se fosse
esse o caso, como era muito provável que acontecesse, tendo uma
pequena embarcação perto da costa, ele poderia entrar nela e se
livrar de tal inconveniente.
3.10. Porque tinha curado a muitos. De várias doenças, e a
fama disso trouxe ainda mais para Ele, de tal maneira que todos
quantos tinham algum mal se lançavam sobre ele; ou empurraram
sobre Ele com grande avidez e violência; a versão árabe traduz:
“eles correram sobre ele, de modo que caíram”: eles empurraram
e pressionaram tanto para chegar até Ele que caíram um sobre o
outro, e sobre Ele; a versão persa traduz: “eles lançaram-se sobre
ele, com o objetivo de tocá-lo”; o que deve ser muito problemático
mesmo. Embora alguns pensem que a frase não significa mais do
que eles caindo diante d’Ele, a Seus pés, de maneira submissa e
suplicante, suplicando que pudessem ter o favor para lhe tocarem;
qualquer parte de Seu corpo ou Suas roupas, até a bainha delas; e
assim a versão etíope traduz as palavras: “eles rezaram para que
pudessem tocá-lo” (veja Mateus 6.56). Quantos tinham pragas;
de lepra e outras doenças, que foram infligidas a eles por Deus,
como flagelos e castigos por seus pecados, como a palavra signifi-
ca, e que responde a Myegn, “Negaim” — a respeito disso, há um
tratado inteiro no Misna — , e que leva esse nome e diz respeito
particularmente às pragas da lepra. Algumas versões juntam isso
com o início do próximo verso. A versão siríaca diz assim, “que
tinha pragas de espíritos imundos”, como se essas pragas fossem
possuídas por espíritos imundos. A versão persa, portanto, “tendo
pragas de espíritos imundos”; como se essas pragas lhes fossem
infligidas por eles, o que às vezes acontecia. A versão árabe desta
J o h n Gill

maneira, “que tinha doenças e espíritos imundos”; tanto um quan-


to o outro.
3.11. E os espíritos imundos vendo-o. Ou seja, como as ver-
sões siríaca e árabe dizem, “aqueles que tinham espíritos imun-
dos”: ou, como o etíope, “aqueles que estavam possuídos por espí-
ritos imundos”; assim que viram Cristo, embora nunca o tivessem
visto antes, e Ele era um estranho para eles ,prostravam-se diante
dele‫׳‬, dizia-se que os espíritos imundos faziam o que os que esta-
vam possuídos por eles faziam; e que, apesar de possuí-los, eles
não puderam impedir, mas foram obrigados a admitir, como um
sinal de sua sujeição a Cristo: e até os próprios demônios nos ho-
mens, e clamavam, dizendo: Tu és o Filho de Deus; uma pessoa
divina, igual a Deus; e tal era o Seu poder sobre eles, e Sua cura de
todos os tipos de doenças, por uma palavra ou toque, mostrando
Quem era.
3.12. E ele os ameaçava muito. Ou os repreendeu veemente-
mente, como as versões siríaca e árabe traduzem; ou os ameaçou
muito e com veemência, como a Vulgata Latina e etíope. A ver-
são persa a traduz como “muitos ameaçados”; tanto os demônios
que o confessaram, como os muitos que foram curados de suas
doenças. Ele lhes dera uma ordem estrita e severa, que eles não
deveríam tomá-lo conhecido, ou a “sua obra”, como o árabe, seus
milagres. Ele não buscou glória vã e aplausos populares, nem pre-
cisou do testemunho de homens ou demônios; e especialmente
não escolheu o último, para que seus inimigos não O traíssem,
como tendo familiaridade com eles.
3.13. E subiu ao monte, e chamou. Perto de Cafarnaum,
sendo solitário, e um lugar de recesso e retiro, “para orar”, como
Lucas diz (6.12), que acrescenta, “e continuou a noite toda em
oração a Deus”, apesar do grande cansaço do dia anterior. Sua
oração, como é muito provável, era principalmente sobre a gran-
de e importante obra que estava em Sua mente, e que Ele estava

60
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 3

prestes a realizar; a criação e constituição de doze de Seus disci-


pulos como Seus apóstolos, para pregar em Seu nome e realizar
milagres; e chama a quem Ele quer; isto é, “quando era dia”, como
observa o evangelista acima; quando Ele chamou Seus discípulos
por algum tempo Seus seguidores, tantos quantos Ele achava ade-
quados. Pois parece, pelo mesmo evangelista, que outros foram
chamados a Ele além dos doze; e, dentre eles, Ele os escolheu. A
frase “a quem ele faria”, na versão árabe traduzida, “a quem ele
amava”, é uma observação comum dos expositores que a escolha
e o chamado dos apóstolos para o cargo não foram de acordo com
sua vontade, obras e méritos, mas segundo a soberana vontade e
graça de Cristo, que os escolheu, e não eles a Ele. Para mim não
parece haver fundamento para tal observação aqui, embora seja
uma verdade; porque isso diz respeito não apenas ao chamado dos
doze, e muito menos deles para o cargo, mas a um chamado de
muitos dos seguidores de Cristo para virem a Ele na montanha:
e eles vieram, tantos quantos ele chamou da multidão; e dentre
estes, Ele fez a seguinte escolha.
3.14. E nomeou doze. Ou fez, constituiu e nomeou doze ho-
mens, daqueles que chamou para Si. A versão árabe acrescenta,
“e os chamou de apóstolos”, que parece ter sido retirado de Lucas
6.13. Que deveríam estar com Ele; constantemente, em privado e
em público; ser levado para suas família e considerado como tal;
ser Seu familiar e estar a par de todos os Seus assuntos; ouvir to-
dos os Seus discursos e observar Seus milagres, para poderem ser
treinados e preparados para a grande obra à qual Ele os projetou. E
para que Ele pudesse enviá-los a pregar o Evangelho, primeiro na
Judeia, e depois em todo o mundo, pois Ele não os enviou a pregar
neste momento, apenas escolheu, chamou e os nomeou. E após
terem estado com Ele algum tempo, e mais qualificados para tal
serviço, Ele os enviou, como em Mateus 10.1, pois esta constitui-
ção deles era anterior àquela missão, e estava em ordem para ela.

61
J o h n Gill

3.15. E para que tivessem o poder de curar. Toda sorte de


doenças corporais que acometem homens e mulheres, e para ex-
pulsar demônios daqueles que estavam possuídos por eles; isto é,
Ele os escolheu e os designou para serem seus apóstolos, com o
objetivo de conferir tais poderes a eles no futuro; pois ainda não
foram investidos deles, nem enviados para exercê-los; não, não
até quase doze meses depois.
3.16. E a Simão ele deu o sobrenome de Pedro. Ou Cefas,
que significa uma rocha, ou pedra, por causa de sua coragem e
constância, sua força e firmeza, estabilidade e solidez de espírito.
Esse nome foi imposto a ele, não no momento de sua missão como
apóstolo; nem quando ele fez aquela nobre confissão de sua fé em
Cristo, como o Filho do Deus vivo, momento em que esse nome
foi notado, mas quando Cristo o chamou pela primeira vez para
ser seu discípulo e apóstolo (veja João 1.42).
3.17. E a Tiago, filho de Zebedeu, e a João, irmão de Tia-
go. Estes são mencionados a seguir, como sendo chamados pela
primeira vez depois de Pedro e André; e deu-lhes o sobrenome
de Boanerges, isto é, os filhos do trovão; ou por causa de sua voz
alta e sonora; ou seu caloroso zelo por Cristo e fervor em seu mi-
nistério; ou por sua coragem em se opor aos inimigos de Cristo
e o poder que acompanhava suas palavras, que causa confusão e
silêncio, ou resulta em convicção e conversão. A versão siríaca diz
“Benai Regesh” e a persa, “Beni Reg’sch”. Os judeus, como nos-
so erudito compatriota senhor Broughton observou, às vezes pro-
nunciam “Scheva por on”, como “Noabyim”, para “Nebyim”; en-
tão aqui, “Boanerges” para “Benereges” ou “Benerges”. Há uma
cidade que estava na tribo de Dã, mencionada em Josué 19.45,
que se chama “Bene-berak, os filhos do relâmpago”, mencionada
nos escritos judaicos como um lugar onde vários dos rabinos se
encontraram e conversaram juntos. A razão desse nome pode ser
investigada depois.

62
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 3

3 .1 8 . E a André. O irmão de Pedro e Filipe, que era de Bet-


saida e Bartolomeu, a quem doutor Lightfoot pensa ser o mesmo
com Natanael: o nome pode ser o mesmo com Nwymlt rb, “Bar
Talmion”, com os judeus (veja Gill em Mateus 10.3 e João 1.41).
E Mateus, o publicano, chamado Levi; e Tomé, que se chamava
Dídimo, por ser um gêmeo; e Tiago, filho de Alfeu, para distingui-
-10 do outro Tiago, filho de Zebedeu, e que às vezes é chamado de
“0 menor”; e Tadeu, cujo nome era Lebeus e também Judas, o au-
tor da Epístola que leva esse nome; e Simão, o cananeu, ou zelote;
desses homens e seus vários nomes (veja Gill em Mateus 10.2-4).
3.19. E a Judas Iscariotes. Assim chamado para distingui-10
dos outros Judas; mencionado por último pelo seguinte motivo:
que também o traiu; e qual ação dele jamais tomará seu nome
infame entre os homens. Este homem, com o resto, nosso Se-
nhor escolheu para ser um apóstolo d’Ele, embora soubesse que
0 trairia; a fim de cumprir os propósitos de Deus, as profecias do
Antigo Testamento e realizar a obra da redenção do homem, que
Ele veio ao mundo para realizar. E eles foram para uma casa em
Cafamaum, a casa de Simão e André, onde Jesus costumava estar
quando lá. Voltaram para casa com Ele da montanha, e a partir
desse momento tornaram-se seus empregados domésticos, e fo-
ram considerados por Ele como Sua família, sendo admitidos na
maior proximidade e intimidade com ele.
3.20. E afluiu outra vez a multidão. Ou a multidão que esta-
va perto da porta desta casa; de modo que não havia espaço nem
ninguém perto dele (Marcos 2.2), ou a multidão que veio de dife-
rentes partes, e se aglomerou ao redor dele no lado do mar, antes
que ele subisse à montanha. Estes entendendo que Ele desceu dali
e voltou para Cafarnaum, e estavam na casa de Simão, reunindo-
-se lá, em grande número, para ver Sua pessoa, ouvir Suas doutri-
nas e observar Seus milagres, para que eles não pudessem comer
pão. A pressão era tão grande e suas importunidades tão urgentes,
seja para ouvi-lo pregar ou para curar seus enfermos, que Cristo

63
J o h n Gill

e seus discípulos não tiveram espaço nem oportunidade de comer


algum alimento para o refrigério da natureza; embora fosse mui-
to necessário, e muito tempo eles tinham, especialmente Cristo,
que havia passado a noite acordado em oração, e estivera muito
ocupado naquela manhã chamando e nomeando seus apóstolos, e
instruindo-os sobre o que deveriam fazer.
3.21. E, quando os seus ouviram isto. Não seus amigos espi-
rituais, seus discípulos e seguidores, que acreditaram n ’Ele; mas
seus parentes, como as versões siríaca e etíope traduzem as pa-
lavras, que o eram segundo a carne; quando souberam onde Ele
estava e que multidão havia em torno d ’Ee, de modo que Ele não
podia nem mesmo tirar o necessário da vida para Seu descanso e
sustento, saíram para prendê-Lo; ou saíram de suas casas em Ca-
farnaum, ou saíram de Nazaré, onde moravam, para Cafarnaum,
para tirá-Lo desta casa, onde ele estava aglomerado e pressionado
junto a eles, onde Ele pudesse se refrescar sem ser incomodado e
descansar um pouco, o que parecia muito necessário, de modo que
isso foi feito com bondade para com Ele, a quem não se designou
nenhuma ação violenta contra, a fim de levá-Lo para casa com
eles e confiná-Lo como um louco.
Embora as palavras a seguir pareçam inclinar-se para esse
sentido, pois disseram que Ele estava fora de si, alguns dizem que
“ele saiu”, isto é, fora da casa, para pregar novamente ao povo, o
que eles poderiam temer que seria muito prejudicial à Sua saúde,
pois não havia dormido na noite anterior; havia estado muito can-
sado durante toda aquela manhã, e para a multidão do povo não
podia comer, de modo que, por esse motivo, vieram levá-lo con-
sigo, para suas próprias habitações, para evitar as más consequên-
cias de tal exercício constante sem descanso. Além disso, embora
este possa não ser o sentido da palavra, ainda assim não deve ser
entendido como loucura e distração completas, mas como algu-
ma perturbação da mente, que eles imaginaram ou ouviram sobre
a qual Ele estava; e responde a uma frase frequentemente usada

fit
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 3

pelos judeus, que tal pessoa, wted hprjn, “seu conhecimento é ar-
rebatado”, ou sua mente é perturbada; que às vezes era ocasionado
por desordem do corpo.
Assim é dito, “Mulher surda”, ou insensata, ou cega, hted
hprjnvw, ou “cuja mente está perturbada”; e se há mulheres sábias,
elas se preparam e comem da oblação’. Nessa frase, “cuja mente
está perturbada”, a nota de Maimônides é: “significa uma pessoa
doente, cuja compreensão é perturbada pela força da doença”, e às
vezes era o caso de uma pessoa que estava perto da morte. Era co-
mum dar a uma pessoa condenada a morrer e a ser executada um
grão de incenso em um copo de vinho, wted Prjtv ydk, “para que
assim seu conhecimento possa ser arrebatado”, ou sua mente per-
turbada, e estar intoxicado. Para que ele não seja sensível à sua dor
ou sinta sua miséria; em todos os casos, não havia nada de loucura
adequada, e assim os parentes e amigos de Cristo, tendo ouvido
falar da situação em que Ele se encontrava, disseram um ao outro:
Ele está em um transporte e excesso de espírito; Seu zelo O leva
além dos limites devidos; Ele certamente se esqueceu de Si; Sua
compreensão é perturbada; Ele não se preocupa Consigo mesmo;
não cuida de Sua saúde; Ele certamente a prejudicará muito se con-
tinuar nesse ritmo, orando a noite toda e pregando o dia todo, sem
descansar ou comer. Por isso eles saíram, a fim de dissuadí-Lo de
tais trabalhos excessivos e contratá-Lo para ir com eles, para que
pudesse descansar e se refrescar, se recompor e se aposentar.
3.22. E os escribas, que tinham descido de Jerusalém. Ou,
“mas os escribas”, que tinham aversão a Cristo e uma opinião
diferente sobre Ele. Estes foram eles, que tendo ouvido muito da
doutrina e dos milagres de Cristo, desceram de Jerusalém, que
ficava na parte superior e mais alta da terra de Israel, na Galiléia,
um país baixo, para fazer suas observações sobre Ele, e tiraram
todas as vantagens que puderam contra ele, sendo homens, à sua
maneira, letrados, astutos e atentos. Estes disseram, Ele tem Bel-
zebu. Ou, como as versões siríaca e persa traduzem, “Belzebu está
J o h n Gill

nele”: às vezes eles O chamam de Belzebu; às vezes dizem que


Ele expulsou demônios por ele; e aqui, que Ele o tinha, ou estava
n ’Ele; Belzebu O possuiu e O ajudou, e havia uma confederação e
familiaridade entre eles, e pelo príncipe dos demônios Ele expulsa
os demônios; pois assim eles consideravam Belzebu (veja Gill em
Mateus 10.25 e 12.24).
3.23. E, chamcmdo-os. Os escribas de Jerusalém, para se apro-
ximarem d ,Ele e prestarem atenção ao que Ele tinha a dizer em
defesa de Seu caráter e milagres; e disse-lhes em parábolas, simili-
tudes e expressões proverbiais, como o seguinte parece ser, como
Satanás pode expulsar Satanás? Ou um demônio expulsa outro?
Quão irracional é supor isso? Pode-se pensar que tais, cujo interes-
se é unir, jamais se oporiam e se despojariam? Se, portanto, como
se Ele dissesse: Eu sou Belzebu, ou O tenho, e Ele está em mim, e
Eu estou em confederação com ele; fosse esse o caso, alguém pode
pensar que eu deveria expulsá-lo dos outros, como faço?
3.24. E, se um reino se dividir contra si mesmo. Qualquer
um dos reinos deste mundo, e o reino de “Satanás”, esse reino não
pode subsistir, não por muito tempo; suas turbulências e divisões
internas logo o levarão à desolação (veja Gill em Mateus 12.25).
3.25. E, se uma casa se dividir contra si mesma. Qualquer famí-
lia, pequena ou grande, aquela casa não pode subsistir; suas contendas
e discórdias logo o levarão de uma situação confortável e próspera a
uma situação muito angustiante (veja Gill em Mateus 12.25).
3.26. E, se Satanás se levantar contra si mesmo. Como ele
deve fazer em um caso como este, se demônios são expulsos por
Belzebu, o príncipe dos demônios; e ser dividido, um demônio
contra o outro, como supõe a calúnia acima; ele não pode durar,
mas tem um fim; seu reino não pode durar muito, mas logo che-
gará ao fim; seu poder e autoridade logo serão destruídos, tanto
sobre sua própria espécie quanto entre os homens (veja Gill em
Mateus 12.26).

66
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 3

3.27. Ninguém pode roubar os bens do valente. Esta é pro-


priamente uma parábola; o outro parece ser provérbios ou ditados
comumente usados para mostrar as más consequências de discór-
dias, facções e divisões, como é explicado na nota sobre (veja Gill
em Mateus 12.29).
3.28. Na verdade vos digo. Aos escribas e fariseus, que não
só blasfemaram contra Ele, mas também o Espírito de Deus: todos
os pecados serão perdoados aos filhos dos homens e blasfêmias
com que blasfemarem; Deus, ou o Filho de Deus, anjos e homens,
e isso através do sangue de Cristo, e quando levados a perceber o
mal deles; pois, embora o perdão seja obtido antes, não é aplicado
até então (veja Gill em Mateus 12.31).
3.29. Qualquer, porém, que blasfemar contra o Espírito San-
to. Contra sua pessoa e as obras realizadas por Ele, atribuindo-as
ao poder e à influência diabólicos, como os escribas fizeram, nun-
ca terá perdão. Não há perdão fornecido no pacto da Graça, nem
obtido pelo sangue de Cristo para tais pessoas, ou jamais aplicado
a elas pelo Espírito; mas está em perigo de condenação eterna. A
Vulgata Latina o lê, e assim é lido em uma cópia antiga de Beza,
culpado de um pecado eterno; um pecado que nunca pode ser apa-
gado e nunca será perdoado, mas será punido com a destruição
eterna (veja Gill em Mateus 12.32).
3.30. (Porque diziam: Tem espírito imundo). Eles acusaram
Cristo de ter um demônio, e Seus milagres de serem realizados
pela ajuda do demônio; quando, ao mesmo tempo, eles sabiam em
suas próprias consciências que eram obras feitas pelo dedo e pelo
Espírito de Deus, e assim eram culpados do pecado contra o Espí-
rito Santo; o pecado imperdoável, para o qual não há remissão, e
isso é mencionado como uma razão pela qual nosso Senhor disse
o que fez a respeito desse pecado; porque eles eram culpados dis-
so e, portanto, estavam sujeitos ao castigo eterno por causa disso.

67
J o h n Gill

3.31. Chegaram, então, sens irmãos e sua mãe. Ao mesmo


tempo, ele estava falando com os escribas, que parecem ser pes-
soas diferentes de seus amigos e parentes (Marcos 3.21), e, estan-
do fora, pois Cristo estava dentro da casa falando com os escribas
e fariseus, e pregando ao povo; e a multidão era tão grande que
não podiam entrar na casa; mandaram-no chamar: eles não apenas
enviaram alguém para deixá-Lo saber quem eram, e que estavam
sem portas, desejosos de falar com Ele; mas também, com uma
voz tão alta quanto podiam, eles mesmos O chamavam (veja Gill
em Mateus 12.46).
3.32. E a multidão estava assentada ao redor dele. Em um
círculo, ao redor d ’Ele, para ouvi-Lo pregar; de modo que não
havia tal coisa como o mensageiro chegando perto d’Ele; mas a
mensagem sendo sussurrada de um para outro, veio para aqueles
que se sentaram mais perto, e disseram-Lhe: Eis que tua mãe e
teus irmãos te procuram, em cinco das cópias antigas de Beza, e
em sua mais antiga, são adicionados, e Tuas irmãs: agradavelmen-
te, Cristo a seguir faz menção de irmã, também como mãe e irmão
(veja Gill em Mateus 12.47), e assim é lido na cópia alexandrina.
3.33. E ele lhes respondeu. A multidão que estava sentada ao
seu redor, e informando-() de que Sua mãe e irmãos estavam fora,
e desejosos de falar com Ele, dizendo: quem é minha mãe ou meus
irmãos? O que é dito não por ignorância ou desprezo, mas tam-
bém por desagrado com a interrupção que Lhe foi dada; ou com
o objetivo de aproveitar a partir daí a oportunidade de expressar
Seu valor superior às suas relações espirituais; que não vê nenhum
aspecto favorável nas noções supersticiosas e na veneração da vir-
gem Maria entre os papistas (veja Gill em Mateus 12.48).
3.34. E, olhando em redor para os que estavam assentados.
Para descobrir Seus discípulos entre eles, e apontá-los particular-
mente, estendendo a mão para eles; e disse: eis minha mãe e meus
irmãos, não no sentido natural, mas no sentido espiritual; sua mãe,

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C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 4

porque, na regeneração, foi formado neles; seus irmãos, porque,


por adoção, Seu Deus era o Deus deles, Seu Pai, o Pai deles (veja
Gill em Mateus 12.49).
3.35. Porquanto, qualquer que fizer a vontade de Deus.
Crendo em Cristo, recebendo-0 como Salvador e Redentor, e sub-
metendo-se a Ele em todas as suas ordenanças, como Rei dos san-
tos; esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe, tais são aberta
e manifestamente relacionados a Cristo em um sentido espiritual;
e são tão queridos para Ele, e mais do que as pessoas que mantêm
tal relação com os outros, ou fizeram com Ele segundo a carne.
E isso mostra não apenas a relação próxima e a forte afeição que
Cristo tem por Seu povo, mas que ele não se envergonha deles; e
pode-se concluir que Ele se ressentirá da maneira mais aguda de
todo dano que lhes for causado (veja Gill em Mateus 12.50).

Capítulo 4
4.1. E OUTRA vez começou a ensinar junto do mar. Ele sai
da casa onde estava em Cafamaum, no mesmo dia em que teve
o discurso acima com os escribas e fariseus, e no qual sua mãe e
irmãos vieram falar com ele; e dali Ele foi para onde estivera antes
e ensinou o povo; ou seja, para o lado do mar, a costa do mar da
Galiléia, ou Tiberíades, e ajuntou-se a ele grande multidão, que O
seguiram da casa, e de outras partes da cidade, e talvez dos lugares
adjacentes, de sorte que ele entrou e assentou-se num barco, sobre
o mar; no barco no mar, a uma pequena distância da costa; o mar
de Tiberíades sendo um lago, e dentro da terra não havia maré, e
por isso estava calmo e quieto: e toda a multidão estava em terra
junto do mar, ficando na terra, ao longo da costa do mar (veja Gill
em Mateus 13.1-2).

69
J o h n Gill

4.2. E ensinava-lhes muitas coisas por parábolas enquanto


estava sentado no barco, e eles parados na praia; e lhes dizia na
sua doutrina, como Ele os estava ensinando e entregando-lhes a
doutrina que Ele havia recebido de Seu Pai, embora os judeus
digam, que “os israelitas não terão necessidade” xyvm Klm lv
wdwmltl, “da doutrina do rei Messias, no tempo vindouro”; por-
que é dito, “a ele os gentios buscarão, e não os israelitas”. Mas
parece daqui, e de muitos outros lugares, que os israelitas pre-
cisavam de Sua doutrina e a buscavam; e muito excelente foi a
doutrina e a Graça de Deus; e foi falado com autoridade, de uma
maneira que nenhum homem jamais falou, e que Ele transmitiu a
Seus apóstolos: se os ministros não trouxerem com eles, não se
deve pedir a Deus que acelere.
4.3. Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear. Por quem se
entende Jesus Cristo, que veio de Deus como um mestre, e saiu
para a terra da Judeia para pregar o Evangelho, que é semear coi-
sas espirituais entre os homens; e isso também pode ser aplicável
a qualquer fiel ministro da palavra.
4.4. E aconteceu que semeando ele. Enquanto ele estava pre-
gando o Evangelho, lançando a preciosa semente da palavra, ele
foi carregado com: alguns caíram à beira do caminho; o cami-
nho batido comum: a palavra foi dispensada entre alguns homens
comparáveis a ela, sobre os quais iluminou, mas não causou im-
pressão; ali ficou, embora não por muito tempo, e não foi recebido
interiormente, e não criou raízes e, consequentemente, não teve
efeito; e vieram as aves do céu, e a comeram; os demônios, com
sua morada no ar, especialmente o príncipe do bando deles; e a
versão siríaca o lê no número singular, “e a ave veio”; aquela ave
de rapina voraz, Satanás, que anda procurando o que pode devo-
rar; e para esse propósito atende onde a palavra é pregada, para
impedir sua utilidade tanto quanto nela reside.

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C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 4

4.5. E outra caiu sobrepedregais. A palavra foi pregada a al-


gumas pessoas que tinham corações de pedra, e que assim perma-
neceram: onde não tinha muita terra; e assim podería ser recebido
apenas de maneira fictícia e superficial, mas não podería ocorrer,
de modo a produzir qualquer bom efeito. E imediatamente surgiu,
uma profissão repentina e apressada da palavra foi feita, sem uma
experiência poderosa dela, porque não tinha profundidade de ter-
ra; se tivesse, demoraria mais para surgir; mais trabalho teria sido
feito por Ele, o que exigiría mais tempo, antes que uma profissão
fosse feita.
4.6. Mas, saindo o sol, queimou-se. Quando a perseguição
surgiu devido à palavra, e isso se tornou muito quente e veemente,
ela tentou e perfurou este fino conhecimento especulativo da pa-
lavra, que não podia suportar diante d ’Ele, e suporte o Seu calor:
e porque não tinha raiz, secou-se; a palavra tinha apenas um lugar
na cabeça, e não no coração; portanto, a profissão logo foi aban-
donada e deu em nada.
4.7. E outra caiu entre espinhos. A palavra foi ministrada a
alguns que estavam consumidos pelos cuidados do mundo e pela
sedução das riquezas, e outras concupiscências; e, crescendo os
espinhos, a sufocaram; a palavra não ocorreu para derrubar, ven-
cer e erradicar essas coisas, nem mesmo para enfraquecer, manter
sob controle e impedir a influência delas; mas estes obtiveram o
ascendente da palavra e prevaleceram sobre ela, tornando-a to-
talmente inútil e malsucedida, pois enquanto era administrada,
as mentes dessas pessoas estavam atrás de suas riquezas e coisas
mundanas, e não deram atenção à palavra; e os últimos foram per-
suadidos a não comparecer a ela, mas abandonar a profissão dela.
E não deu fruto; não foi o meio da Graça; a fé não veio por ela,
nem por qualquer outra graça; nem produziu boas obras na vida e
na conversa.

71
J o h n Gill

4.8. E outra caiu em boa terra. A palavra foi pregada a alguns


cujos corações estavam dispostos pelo Espírito e pela graça de Deus
a recebê-la; e seus entendimentos foram iluminados por ela; e eles
tiveram uma experiência saborosa e confortável das verdades disso,
vindo com poder para eles; foi uma boa palavra para eles, e pela
graça de Deus eles se tornaram bons por ela; uma boa obra de gra-
ça foi operada em suas almas, e eles foram preenchidos com toda
a bondade e retidão; e deu frutos que brotaram e cresceram; eles
não apenas apareceram e fizeram uma profissão externa da palavra,
produzindo uma pequena demonstração de frutos que não dão em
nada, como em outros; mas eles foram preenchidos com os frutos
da justiça e aumentaram com o aumento de Deus, e cresceram na
Graça e no conhecimento de Cristo Jesus, continuando a produzir
frutos até o fim de suas vidas. E produziu uns trinta, e uns sessenta,
e uns cem. Em alguns a palavra de Deus produziu efeitos cada vez
maiores; a graça de Deus estava mais em exercício em alguns do
que em outros, e alguns eram mais frutíferos e úteis; ainda assim,
em todos eles havia verdadeira Graça, e uma medida dela; algum
grau de exercício animado e alguma utilidade.
4.9. E disse-lhes. A multidão de ouvintes que estavam na
praia atendendo à palavra pregada, e entre os quais, sem dúvida,
havia todos os tipos de ouvintes mencionados nesta parábola: aque-
le que tem ouvidos para ouvir, ouça: observe e note o que foi dito,
como sendo do maior momento e importância. Para uma explicação
e ilustração maiores desta parábola, veja Gill em Mateus 13.3.
4.10. E, quando se achou só. Depois que a multidão foi dis-
pensada e Ele permaneceu no barco, ou O deixaram, e Ele se re-
tirou para algum lugar privado, que pode ser a casa de Si mão em
Cafamaum. As versões siríaca, persa e etíope dizem “quando esta-
vam sozinhos”; significado da seguinte forma que os que estavam
com Ele eram com os doze; isto é, tais discípulos d'Ele, que, além
dos doze, constantemente o atendiam; talvez aqueles que agora
eram, ou no futuro seriam, os setenta discípulos. A Vulgata Lati­

72
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 4

na diz: “os doze que estavam com ele”. Na cópia mais antiga de
Beza, lê-se “seus discípulos”; e com isso concorda a versão persa;
e assim os outros evangelistas, Mateus e Lucas, relatam que Seus
discípulos vieram e perguntou-lhe a parábola; o significado disso
e por que Ele escolheu essa maneira de falar ao povo (Mateus
13.10), embora essa palavra possa incluir outras além dos doze.
4.11. E ele disse-lhes, a Seus discípulos; A vós vos é dado
saber os mistérios do reino de Deus; ou os mistérios do Reino dos
Céus, os segredos da dispensação do Evangelho, as misteriosas
doutrinas da Graça (veja Gill em Mateus 13.11), mas aos que es-
tão de fora; “para estranhos”, como as versões siríaca e árabe tra-
duzem, que não eram discípulos de Cristo, nem admitiram qual-
quer intimidade com Ele; que vieram apenas para se divertir com
a visão de Sua pessoa e milagres: ttodas estas coisas se dizem por
parábolas, estão envoltas em ditos sombrios e expressões figurati-
vas, cujo som eles ouviram e podem ficar satisfeitos com os belos
símiles usados, mas não entenderam o significado espiritual deles.
4.12. Para que, vendo, vejam, e não percebam; e, ouvindo,
ouçam, e não entendam; para que não se convertam, e lhes sejam
perdoados os pecados. O fim e a razão de Ele falar com eles em
parábolas. A passagem mencionada está em Isaías 6.9 (veja Gill
em Mateus 13.14-15).
4.13. E disse-lhes: Não percebeis esta parábola? Tão fácil de
entender, tirada das coisas comuns, e que caem sob a observação de
todos: e como então você conhecerá todas as parábolas? Se não esta
única, que é tão clara, como você poderá entender as numerosas pa-
rábolas a serem relatadas a seguir, e quais serão muito mais difíceis?
4.14. O que semeia, semeia a palavra; embora nosso Senhor
tenha achado adequado dar a gentil repreensão acima a Seus disci-
pulos por sua estupidez; no entanto, Ele condescende em favorecê-
-los com uma interpretação da parábola acima, que aqui começa:
com isso, parece que a semente da parábola, antes entregue e caída
J o h n Gill

em diferentes tipos de solo, é a palavra de Deus, pregada a ouvintes


de diferentes disposições; a palavra é a palavra da vida e da ver-
dade; a palavra de paz e reconciliação; a palavra de fé e justiça; a
palavra da salvação; a palavra que publica e declara que tudo isso
está em e por Jesus Cristo.
4.15. E, os que estão junto do caminho são aqueles em quem
a palavra é semeada. Tais ouvintes são representados à beira do
caminho, onde a semente caiu; que, chegando onde o Evangelho
é pregado, param um pouco e ouvem, e assim são apenas ouvintes
casuais e acidentais d'Ele. Mas, tendo-a eles ouvido; e, de fato,
enquanto eles estão ouvindo, e antes que eles tenham saído do lu-
gar de audição, vem logo Satanás e tira a palavra que foi semeada
nos seus corações. O diabo, representado pela ave, ou aves do ar,
imediatamente percebe tais ouvintes e está muito ocupado com
eles; preenchendo suas mentes com outras coisas adequadas às
suas disposições e colocando diante deles outros objetos, pelos
quais suas mentes são, de uma só vez, afastadas do que ouviram;
de modo que tudo o que eles observaram e guardaram em suas
memórias é perdido de uma vez e nunca mais pensado.
4.16. E da mesma form a os que recebem a semente sobre
pedregais. Esse tipo de ouvintes da palavra são representados pelo
solo pedregoso, no qual a semente foi semeada, que são ouvintes
constantes da palavra, com algum compreensão disso, e algum
tipo de afeição por isso, e ainda assim seus corações não estão
verdadeiramente partidos por isso; eles não são levados a uma vi-
são completa e senso de pecado, ou de sua necessidade de Cristo
e salvação por Ele; seus corações de pedra não são tirados, e cora-
ções de carne dados a eles, que, quando ouvem a palavra, imedia-
tamente a recebem com alegria; parecem muito satisfeitos e muito
satisfeitos com isso, como sendo um esquema bem conectado; e
que declara coisas, como o céu e a felicidade eterna, que eles, a
partir de um princípio de amor próprio, desejam desfrutar.

74
C o m en tário bíblico de M arcos - Ca]). 4

4.17. Mas não têm raiz em si mesmos. A palavra não tem


raiz em seus corações, somente em suas afeições naturais: nem
está a raiz da graça neles; não há trabalho do coração, apenas no-
ções especulativas e afetos chamativos; antes são temporários:
eles continuam ouvintes e professores do Evangelho, mas por um
pequeno período; como os judeus, que se alegraram com o minis-
tério de João Batista por um tempo e depois o deixaram. Depois,
sobrevindo tributação ou perseguição, por causa da palavra, logo
se escandalizam. Assim que qualquer pequeno problema lhes so-
brevém, especialmente quando há uma forte perseguição aos pro-
fessores de religião, devido ao Evangelho que eles abraçaram; tais
ouvintes tropeçam nessas coisas e não podem suportar a perda de
nada, ou suportar qualquer coisa severa por causa da palavra na
qual professam ter prazer, portanto, em vez de sofrer, abandonam
imediatamente sua profissão.
4.18. E outros são os que recebem a semente entre espinhos.
Tais ouvintes da palavra são designados pelo solo espinhoso, sobre
o qual outras sementes caíram, como foram semeadas, sendo de
disposições mundanas; são imoderadamente cuidadosos e ansiosos
com as coisas desta vida, e estão empenhados em adquirir riquezas
terrenas e gratificar seus apetites carnais e sensuais. Os quais ouvem
a palavra e, não obstante, são persuadidos pelo costume, ou pelos
ditames de suas consciências, a participar do ministério da palavra.
4.19. Mas os cuidados deste mundo. Os cuidados desconcer-
tantes e angustiantes deles para obter o máximo que puderem para
si e para suas famílias enchem suas mentes e possuem suas almas,
mesmo quando e enquanto estão ouvindo a palavra; e os enga-
nos das riquezas, ou riquezas que são enganosas, especialmente
quando confiadas e obtidas, não dão a satisfação que prometem; e
as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica
infrutífera; estes sendo mais atendidos do que a palavra é, isso é
completamente perdido e se torna inútil.
J o h n Gill

4.20. E estes são os que foram semeados em boa terra. Esses


ouvintes intencionados pela boa terra em que outra semente caiu,
são aqueles que se tornaram bons homens pela Graça de Deus;
pois não há ninguém bom naturalmente, nem que faça o bem, nem
ninguém; todos que ouvem a palavra e a recebem como a palavra
de Deus, em cujos corações ela opera efetivamente; que O rece-
bem não apenas em suas cabeças, mas em seus corações; e, tendo-
-O recebido, segura com firmeza e aperta-0 nos piores momentos.
E dão fruto, um trinta, e outro sessenta, e outro cem; todos pro-
duzem bons frutos da mesma qualidade, embora não da mesma
quantidade: para uma exposição mais ampla dessa explicação da
parábola, veja Gill em Mateus 13.19-23.
4.21. E disse-lhes. Ao mesmo tempo, após ter explicado a
parábola do semeador; pois, embora as seguintes expressões pa-
rabólicas e proverbiais tenham sido proferidas por Cristo em ou-
tros momentos diferentes, e algumas deles duas vezes, conforme
relatado por outros evangelistas, todos elas podem ser expressas
ou repetidas neste momento por nosso Senhor, mostrando por que
Ele explicou a parábola acima a Seus discípulos. E que, embo-
ra Ele entregasse os mistérios do Evangelho em parábolas para
aqueles que estavam fora, ainda não era Seu objetivo que essas
coisas fossem sempre mantidas em segredo, e isso de todos os
homens; pois como o Evangelho pode ser comparado à semente,
da mesma forma para uma vela, cujo desígnio e uso é iluminar os
homens; por isso ele pergunta: vem porventura a candeia para se
meter debaixo do alqueire, ou debaixo da cama? Quando uma vela
é trazida para uma sala, à noite, onde as pessoas estão juntas para
conversar, ler ou trabalhar; é apropriado que seja coberto com um
alqueire ou qualquer outro vaso oco? Ou quando trazido para um
quarto de dormir, é correto colocá-lo debaixo da cama? Não vem
antes para se colocar no velador? Para então ser útil para todos na
sala? Assim o Evangelho, a vela do Senhor, Ele acendeu na noite
do mundo judeu, na terra da Judeia; não era sua vontade que fosse

76
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 4

sempre, e completamente, e de todos os homens, coberto de pará-


bolas e ditados sombrios, sem qualquer explicação deles; mas que
a luz disso deve ser comunicada, especialmente para eles, disci-
pulos, que deveríam ser as luzes do mundo e que deveríam brilhar
abertamente diante dos homens, para o bem deles e para a glória
de seu Pai celestial (veja Mateus 5.14).
4.22. Porque nada há encoberto. Nestas parábolas e expres-
sões figuradas usadas por Cristo, que não será manifesto, mais
cedo ou mais tarde, aos seus discípulos; e nada se faz para ficar
oculto, qualquer doutrina do Evangelho, ou mistério do reino; mas
para ser descoberto, planejado para ser publicado em toda a Judeia
e, posteriormente, em todo o mundo, para o benefício dos escolhi-
dos de Deus, para sua conversão, conforto e edificação. Portanto,
é dos ministros do Evangelho não reter nada que possa ser provei-
toso para as igrejas, nem se esquivar de declarar todo o conselho
de Deus; mas fielmente distribuir os mistérios da graça e recomen-
dar a verdade à consciência de cada homem, sem nenhum medo
dos homens, ou temendo os efeitos e consequências das coisas;
uma vez que nada é declarado na palavra, ou dado a conhecer, mas
com um desígnio de ser publicado para outros, para responder a
algum fim e propósito divino (veja Gill em Mateus 10.26).
4.23. Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça. O que agora
é entregue, sendo muito importante e imprescindível (veja Ma-
teus 11.15).
4.24. E disse-lhes. Ao mesmo tempo, embora ele tivesse dito
0 que se segue em outro momento, ainda continuando Seu discur-
so com Seus discípulos. Atendei ao que ides ouvir, preste atenção
diligentemente, procure entendê-lo e guarde-0 em suas mentes e
memórias para ser útil para você no futuro e você poder útil em co-
municá-10 a outros. Com a medida com que medirdes vos medirão
a vós; um provérbio comum entre os judeus, usado em várias oca-
siões e para diferentes propósitos (veja Gill em Mateus 7.2). Aqui

77
J o h n Gill

parece íntimo que, se os discípulos ouvissem cuidadosamente o que


ouviram de Cristo, e trabalhassem diligentemente para entendê-Lo,
fielmente o dispensando a outros, em troca uma medida maior e um
grau maior de conhecimento espiritual seriam concedidos a eles;
e ser-vos-á ainda acrescentada a vós que ouvis; isto é, que ouvem
para entender, guardar e fazer bom uso do que ouvem, e mais lhes
será comunicado; eles terão um aumento de conhecimento nas dou-
trinas da graça e nos mistérios do Evangelho.
4.25. Porque ao que tem, ser-lhe-ά dado. Aquele que tem
a luz e o conhecimento do Evangelho, e faz uso adequado dela,
terá mais; seu caminho será como o caminho do justo, que brilha
mais e mais até o dia perfeito; os meios de Graça e conhecimento
serão abençoados, Ele constantemente presente, para que chegue
a tal conhecimento do Filho de Deus, que seja um homem perfeito
em comparação com outros, que estão em uma classe inferior; e
chegará à medida da estatura da plenitude de Cristo, crescerá até
a maturidade e será um homem de entendimento; humilde, como
sempre, ele terá mais Graça, ou seja, abrirá e ampliará em suas
ações e exercícios; sua fé crescerá extraordinariamente, ele trans-
bordará de esperança por meio do poder do Espírito Santo; e seu
amor a Deus, a Cristo e aos santos será cada vez maior; aumentará
em humildade, paciência, abnegação, etc., e assim aquele que tem
dons para utilidade pública e não os negligencia, mas os estimula
para o lucro de outros, terá um aumento deles; brilhará como uma
estrela na mão direita de Cristo e aparecerá cada vez mais brilhan-
te no firmamento da igreja.
E, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado; ou parecia
ter, ou pensava que tinha (Lucas 8.18), um ditado frequentemente
usado por Cristo, tanto com respeito aos judeus ignorantes quanto
aos cristãos professos; e até mesmo, como aqui, aos próprios dis-
cípulos, respeito talvez sendo necessário a Judas. Aquele que tem
apenas uma noção especulativa do Evangelho, e não tem nenhu-
ma experiência e prática dele, com o passar do tempo sua vela se

7K
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 4

apaga; sua luz se torna escuridão; ele abandona e nega as verdades


que sustentava, e abandona a profissão delas: e aquele que tem
apenas uma graça falsa, uma fé fingida, uma falsa esperança e um
amor dissimulado, no devido tempo estes serão descobertos, e o
nome deles, o caráter que tinha, por causa deles, o será tirado: pois
a verdadeira Graça nunca é tirada, nem perdida; é uma coisa só-
lida e permanente, inseparável da glória e felicidade eternas. Mas
noções nuas do Evangelho, e uma mera demonstração de Graça,
são coisas instáveis e transitórias; como também são os maiores
presentes sem a Graça de Deus. Judas tinha sem dúvida toda a
aparência de um verdadeiro cristão; tinha o Evangelho a ele con-
fiado, o conhecimento dele e dons que o qualificavam para pregá-
-10, e uma comissão de Cristo para isso, sim, até mesmo o poder
de operar milagres para confirmar o que pregava; no entanto, não
tendo a verdadeira Graça, tudo lhe foi tirado e não lhe foi útil no
negócio da salvação; e às vezes acontece que, mesmo nesta vida,
0 pastor ocioso e inútil tem o braço direito totalmente seco, e seu
olho direito totalmente escurecido; sua luz e habilidades ministe-
riais são tiradas dele, estes não sendo usados por ele, ou usados
para propósitos ruins (veja Mateus 12.12).
4.26. E dizia. Ele continuou dizendo a seguinte parábola
que foi contada ao mesmo tempo que a parábola do semeador,
embora omitida por Mateus; e está aqui colocado entre isso e o
outro a respeito do grão de mostarda; que mostra a hora em que
foi falado. O objetivo é estabelecer a natureza da palavra e o mi-
nistério dela; a conduta dos ministros do Evangelho, quando o dis-
pensaram; a imperceptibilidade de seu surgimento e crescimento;
a fecundidade dela, quando criou raízes, sem a ajuda do homem; o
aumento gradual da graça sob a instrumentalidade da palavra; e a
reunião de almas graciosas, quando a graça é trazida à maturidade.
0 reino de Deus é assim; tal é a natureza da dispensação do Evan-
gelho; e tais são as coisas que são feitas nele, como podem ser
adequadamente representadas pelo seguinte: como se um homem

79
J o h n Gill

lançasse semente à terra: por “o homem” não se entende Cristo,


pois ele não dorme — além disso, Ele sabe como a semente bro-
ta e cresce — mas qualquer ministro do Evangelho enviado por
Cristo, levando a semente preciosa; e por semente se destina não
pessoas graciosas, os filhos do reino, como na parábola do joio;
nem a Graça de Deus neles, embora seja uma semente incorruptí-
vel e permanente; mas a palavra de Deus, ou Evangelho de Cristo,
assim chamada por sua pequenez, o caráter diminuto que carrega
e o desprezo tido por alguns; por sua escolha e excelência em si e
na conta dos outros; e por sua virtude geradora sob uma influência
divina: pois o Evangelho é como o maná, que era uma pequena
coisa redonda, como uma semente de coentro; e como isso era
desprezível aos olhos dos israelitas, a pregação do Evangelho é,
para os que perecem, tolice; no entanto, é semente escolhida e
preciosa em si mesma, e para aqueles que conhecem o seu valor,
por quem é preferida a milhares de ouro e prata; e, por mais inútil
e pouco promissora que possa parecer, tem uma virtude divina co-
locada nela; sob a influência da graça poderosa e eficaz, é o meio
de regenerar as almas e produzir nelas frutos, que permanecerão
para a vida eterna: embora, como a semente não tem utilidade
dessa maneira, a menos que seja semeada no terra e lá coberta, da
mesma forma o Evangelho não tem utilidade para a regeneração, a
menos que seja pelo poder de Deus deixado no coração e recebido
lá, onde, por meio desse poder, ele opera efetivamente.
Ao “lançá-lo” na terra, a pregação da palavra é projetada;
que, como lançar sementes na terra, é feito apenas com o mesmo
tipo de semente, e não com tipos diferentes, com abundância e no
tempo apropriado, quaisquer que sejam os desânimos que possam
existir, e com grande habilidade e julgamento, cometendo a Deus
para ressuscitá-lo: pois os fiéis dispensadores da palavra não es-
palham doutrinas diversas e estranhas; seu ministério é todo de
cada um; eles sempre semeiam o mesmo como semente preciosa,
sem qualquer mistura do joio do erro e da heresia; e eles não lidam

80
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 4

com isso de maneira estreita e mesquinha; eles não restringem e


ocultam qualquer parte da verdade, mas a distribuem abundan-
temente e declaram todo o conselho de Deus; embora possa ha-
ver muitos desânimos, muitas tentações que surgem para adiar a
semeadura da palavra; o tempo está ruim, surgem tempestades e
intempéries, reprovações e perseguições vêm pesadas e rápidas,
mas continua-se; usando toda aquela habilidade celestial, prudên-
cia e discrição que Deus lhes deu, pregando a palavra no tempo e
fora dele; quando terminam, deixam seu trabalho com o Senhor,
sabendo que Paulo pode plantar e Apoio regar, mas é somente
Deus que dá o crescimento; e por “solo”, no qual é lançado, signi-
ficava os ouvintes da palavra, de diferentes tipos; alguns gostam
da beira do caminho, outros gostam do solo pedregoso, outros da
terra espinhosa, e alguns gostam de um bom terreno, como aqui;
cujos corações são quebrantados pelo Espírito de Deus, a pedra
deles foi tirada e eles foram susceptíveis à boa palavra.
4.27. E dormisse. Ou seja, o homem que lança a semente,
que representa os ministros do Evangelho: e, como aplicado a eles,
não deve ser entendido como sono natural e entregando-se a isso;
muito menos de preguiça espiritual e indolência, como se eles não
se importassem com o que aconteceu com a semente semeada, se
ela brotou e deu em alguma coisa ou não; pois nenhum deles per-
tence ao caráter dos verdadeiros ministros da palavra, embora o
sono corporal neles, como em outros homens, seja necessário para
0 sustento da natureza e para colocá-los na capacidade de cumprir
seu trabalho; no entanto, talvez ninguém tenha menos do que pre-
gadores estudiosos e laboriosos do Evangelho; e muito menos eles
se entregam a um sono espiritual e preguiça; embora às vezes isso
possa atendê-los, assim como outros.
Mas então, enquanto dormem, nesse sentido, o joio é semea-
do e brota, e não a boa semente da palavra, como nesta parábo-
la; além disso, à medida que trabalham na palavra e na doutrina,
estudando e pregando-a, seguem suas ministrações com orações

81
J o h n Gill

incessantes para que sejam bem-sucedidas na conversão dos pe-


cadores e conforto dos santos; nem podem ser fáceis, a menos que
tenham alguns selos de seu ministério: mas, sim, isso pode ser
entendido do sono da morte; pois muitas vezes é que a semente
semeada por eles não aparece nos frutos dela para as igrejas de
Cristo, entre as quais eles ministraram, até depois de terem ador-
mecido em Jesus: embora pareça melhor entendê-lo de sua santa
segurança, confiança e satisfação em suas próprias mentes, que se
transformarão em lucro e vantagem, tanto para o bem das almas
quanto para a glória de Deus, sem desesperar do sucesso; tendo
deixado seu trabalho com seu Senhor, eles se sentam tranquilos
e satisfeitos, acreditando que a palavra prosperará para a coisa à
qual é enviada.
E se levantasse de noite ou de dia; o que mostra sua dili-
gência e laboriosidade, e sua presença constante em outras partes
de seu trabalho, levantando-se cedo e sentando-se tarde, para se
preparar e cumprir seu trabalho ministerial; e sua expectativa con-
tínua do surgimento da semente semeada, que, portanto, ocorre no
devido tempo. E a semente brotasse e crescesse, não sabendo ele
como; é um mistério na natureza como a semente, sob os torrões
onde morre antes de ser vivificada, deve brotar e crescer e dar fru-
tos; e assim é na Graça, como a palavra de Deus primeiro opera no
coração de um pecador e se torna a palavra enxertada ali; o tempo
em que, e muito menos a maneira como, a graça, por esse meio, é
implantada no coração, não são conhecidos por uma alma em si,
e menos ainda pelos ministros da palavra, que às vezes nunca sa-
bem nada disso; e quando o fazem, não é até algum tempo depois.
Esse trabalho é feito secreta e poderosamente, sob a influência da
Graça divina, sem o conhecimento deles, embora por eles como
instrumentos; de modo que, embora a semeadura e o plantio sejam
deles, todo o aumento é de Deus. Isso pode incentivar a participa-
ção no ministério da palavra e nos ensinar a atribuir o trabalho de
conversão inteiramente ao poder e à Graça de Deus.
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 4

4.28. Porque a terra por si mesma frutifica. Sem qualquer


ajuda adicional, ou cultivo do lavrador; embora sob a influência
do sol, orvalho e chuvas do céu: isso é dito, não para denotar que
0 homem, por si mesmo, ao ouvir a palavra, pode produzir o fruto
da Graça em si; ele não pode se regenerar, nem vivificar, nem se
converter; ele não pode acreditar em Cristo, nem amar o Senhor
por si mesmo; nem se arrepender de seu pecado, nem começar
ou continuar a boa obra; ele não pode santificar seu coração, nem
mortificar as ações do corpo; ou mesmo produzir frutos de boas
obras, quando convertido. Pois todas essas coisas são devidas ao
Espírito, poder e Graça de Deus: os homens são regenerados se-
gundo a abundante misericórdia d’Ele, da água e do Espírito, pela
palavra da verdade, pela soberana vontade e prazer de Deus. E
foram vivificados, os quais antes estavam mortos em delitos e pe-
cados, e estavam tão secos ossos, pelo Espírito de Deus soprando
sobre eles. Conversão na primeira produção é obra do Senhor;
“converte-me, e serei convertido”: a fé em Cristo não é de nós
mesmos, é dom de Deus; e assim é o arrependimento para a vida;
0 amor é um dos frutos do Espírito e, em resumo, toda a obra da
Graça não é por força, nem pelo poder do homem, mas pelo Espí-
rito do Senhor dos Exércitos; quem começa e continua, e realiza
até o dia de Cristo a obra de santificação, que é, portanto, chama-
da de santificação do Espírito. E é por meio dele que as obras do
corpo são mortificadas; de fato, sem Cristo, os próprios crentes
não podem fazer nada; nem mesmo podem realizar boas obras,
ou fazer qualquer ação que seja verdadeira e espiritualmente boa.
Mas o objetivo é mostrar que, como a terra sem poder huma-
no, sem o lavrador, sob a influência dos céus, produz frutos, assim,
sem poder humano, sem o ministro do Evangelho, a palavra tendo
se enraizado sob a influência divina através do sol da justiça, do
orvalho da Graça divina e das operações do bendito Espírito, ela
se levanta e produz frutos: primeiro a erva, depois a espiga, por úl-
timo o grão cheio na espiga; que descreve muito apropriadamente

83
J o h n Gill

o progresso da semente do começo ao fim, portanto representa


muito bem o aumento gradual da obra da Graça, sob a instrumen-
talidade da palavra, acompanhada do Espírito e poder de Deus. A
Graça à primeira vista é muito pequena, como o pequeno pináculo
verde, quando brota da terra pela primeira vez: luz no eu de um
homem, seu coração, seu estado e condição, no conhecimento de
Cristo e nas doutrinas do Evangelho, é muito pequeno; ele é um de
pouca fé, fraco em seu exercício. A fé é apenas, a princípio, uma
pequena visão vislumbrada de Cristo, uma aventura sobre Ele; em
ma aventura pode haver vida e salvação para tal pessoa n’Ele;
finalmente chega a confiar e se apoiar n ’Ele; e leva algum tempo
até que a alma possa andar sozinha pela fé n’Ele: sua experiência
do amor de Deus é pequena, mas com o passar do tempo há um
crescimento e um aumento: aumenta a luz, que brilha mais e mais
até o dia perfeito; a fé se torna cada vez mais forte; a experiência
do amor de Deus é ampliada; e o crente nada nestas águas do san-
tuário, não apenas como no início, até os tornozelos, mas até os
joelhos e lombos, quando finalmente são um rio largo para nadar
e que não pode ser atravessado.
4.29. E, quando já o fruto se mostra. Até a perfeição, e to-
talmente maduro; significando que quando a Graça é trazida à
maturidade, a fé é realizada com poder, e a boa obra iniciada é
aperfeiçoada; então, como o lavrador, mete-se-lhe logo a foice, e
corta-o e recolhe-o; porque está chegada a ceifa, na morte ou no
fim do mundo, que a colheita representa; quando todos os eleitos
de Deus são chamados pela Graça, e a Graça neles é trazida à Sua
perfeição, e eles produziram todos os frutos ordenados a produzir,
sendo então todos reunidos, ou pelo próprio Cristo, que entra em
seu jardim e reúne seus lírios pela morte; ou pelos anjos, os ceifei-
ros, no final do tempo, que reunirão os eleitos dos quatro ventos;
ou pelos ministros do Evangelho, que voltarão com alegria, tra-
zendo seus feixes com eles, sendo capazes de observar com prazer

84
C o m en tário bíblico de M arcos - Cap. 4

um aumento maior e mais frutos de seus trabalhos do que sabiam


ou esperavam.
4.30. E dizia. Ainda continuando seu discurso sobre este as-
sunto, e a fim de transmitir às mentes de seus discípulos idéias mais
claras sobre a dispensação do Evangelho, seu sucesso e a utilidade
de seu ministério, por seu encorajamento; como as coisas podem
ser pouco promissoras, a que devemos comparar o reino de Deus,
ou com que comparação devemos tê-lo? Era comum entre os mé-
dicos judeus, quando estavam prestes a ilustrar qualquer coisa de
maneira parabólica, começar com perguntas semelhantes; como,
hmwd rbdh hml, “como é essa coisa?” Quando a resposta é tal ou
tal coisa, como aqui.
4.31. E como um grão de mostarda. Ou seja, o reino de Deus
mencionado no versículo anterior é semelhante a um grão de mos-
tarda; pelo que se entende, ou o Evangelho, ou o estado da igreja
do Evangelho, ou a Graça de Deus no coração de Seu povo, e
pode incluir todos eles. O Evangelho é assim chamado porque
trata dos dois últimos; mas, mais especialmente, porque traz vida
e imortalidade à luz, ou aponta para o reino dos céus, direciona
0 caminho para ele e mostra o que qualifica as pessoas para isso,
dando-lhes uma reivindicação. O estado da igreja evangélica pode
ser assim chamado porque aqui Cristo habita e governa como rei;
os membros dela são seus súditos, e suas ordenanças são suas leis,
às quais eles são obedientes. A graça de Deus no coração de Seu
povo pode ser assim chamada, porque é um princípio governante
neles; reina pela justiça para a vida eterna, e por ela Cristo reina
neles e sobre eles.
Agora, o reino de Deus em cada um desses sentidos pode ser
comparado a um grão de mostarda por sua pequenez, como segue:
que, quando se semeia na terra, é a menor de todas as sementes
que há na terra. O Evangelho foi pregado pela primeira vez por
muito poucas pessoas, e estas sem figura e conta, especialmente
J o h n Gill

em sua primeira apresentação. João Batista veio pregando o reino


de Deus, vestido com uma vestimenta de pelos de camelo e com
um cinto de couro em torno de seus lombos; nosso próprio Se-
nhor não fez nenhuma aparição pomposa, não havia forma nem
beleza n’Ele; era um homem de dores, familiarizado com as dores
e de descendência e ocupação enfadonhas; Seus discípulos eram
pescadores e analfabetos; aqueles a quem foi pregado e por quem
foi recebido a princípio eram poucos, e estes eram os pobres e os
indoutos, os publicanos e os pecadores.
O estado da igreja evangélica, a princípio, consistia em mui-
to poucas pessoas, de Cristo e Seus doze apóstolos; e em Sua mor-
te, o número de discípulos em Jerusalém, homens e mulheres, era
de apenas cento e vinte; as várias igrejas evangélicas formadas no
mundo gentio surgiram de pequenos começos; da conversão de
muito poucas pessoas, e estas sendo a sujeira do mundo e a escó-
ria de todas as coisas. A graça de Deus no coração de Seu povo, a
princípio, é muito pequena; dificilmente pode ser discernida e está
pronta para ser desprezada por outros; sua luz e conhecimento,
sua fé e experiência são extremamente pequenas.
4.32. Mas, tendo sido semeado, cresce. Assim o Evangelho,
quando foi pregado, espalhou-se, apesar de toda a oposição feita
contra ele por judeus e gentios; não havia como impedi-lo, embo-
ra o sinédrio judeu exortasse os apóstolos a não mais falarem em
nome de Jesus, eles não os consideraram; embora Herodes tenha
estendido as mãos contra a igreja, matado um apóstolo e colocado
outro na prisão, ua palavra de Deus crescia e se multiplicava”
(Atos 12.24), e as igrejas evangélicas, quando estabelecidas, fosse
na Judeia ou entre os gentios, atualmente tiveram adições feitas
a elas e “cresceram” como templos sagrados do Senhor. E onde
quer que a Graça de Deus é realmente implantada, há um cresci-
mento nela e no conhecimento de Cristo Jesus, e faz-se a maior de
todas as hortaliças; o Evangelho excede as tradições dos judeus
e a filosofia dos gentios, e qualquer esquema humano, seja qual

86
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 4

for, em sua natureza, utilidade e amplitude de sua propagação; e o


estado da igreja do Evangelho em breve enche o mundo, e todas as
nações fluirão para ele; quando os judeus se converterem e a ple-
nitude dos gentios vier, será um reino maior do que qualquer um
dos reinos da terra jamais foi; e a Graça de Deus no coração está
muito acima da natureza, e não aquilo que a natureza nunca pode
realizar; e que se espalha e aumenta, e finalmente resulta em glória
eterna. E cria grandes ramos, de tal maneira que as aves do céu
podem aninhar-se debaixo da sua sombra: por quem se entende
os santos, aqueles a quem o Evangelho veio em poder, e que têm
a Graça de Deus operada em seus corações, que são participam
tes do chamado celestial: estes vêm onde o Evangelho é pregado,
e onde almas graciosas se encontram, mesmo nas várias Igrejas
evangélicas; onde eles não apenas vêm e vão, mas onde se alojam,
permanecem e continuam, à sombra do Evangelho e de suas or-
denanças, isso com grande deleite e prazer; cantando canções de
louvor a Deus, por seu amor eletivo e redentor, por chamar a graça
e por todas as bênçãos espirituais e privilégios do Evangelho. Para
uma explicação e ilustração maiores desta parábola, veja Gill em
Mateus 13.31-32.
4.33. E com muitas parábolas. Como as do joio, do fermento
em três medidas de farinha, do tesouro escondido no campo, da pé-
rola de grande valor, da rede lançada ao mar e do Escriba instruído
no reino de Deus; que, embora não sejam relatadas em detalhes
aqui, são do evangelista Mateus, em 13.24, junto a outras, em outros
lugares. Tais lhes dirigia a palavra; pregou o Evangelho à multidão,
como eles puderam ouvi-Lo; significando que Ele condescendeu
com a fraqueza deles, acomodou-se às suas capacidades e fez uso
dos símiles mais claros; tirou sua comparação das coisas da nature-
za, as mais conhecidas e óbvias, para que o que ele pretendia pudes-
se ser mais facilmente compreendido; ou melhor, ele falou a palavra
para eles em parábolas, como eles podiam ouvir, sem entendê-las; e
de tal maneira, de propósito para que eles pudessem não entender;

87
J o h n Gill

pois se Ele tivesse expressado mais claramente as coisas relaciona-


das a si mesmo, como o Messias, e à dispensação do Evangelho, de
modo que pudessem entender seu significado, tal seria o orgulho,
a maldade e o rancor de suas mentes, que eles teriam se levantado
imediatamente e tentado destruí-Lo.
4.34. E sem parábolas nunca lhes falava. Pela razão acima,
bem como para o cumprimento das Escrituras (veja Gill em Ma-
teus 13.34-35). E quando eles estavam sozinhos, Ele expôs todas
as coisas a seus discípulos; depois que eles voltaram com Ele do
lado do mar para a casa em Cafarnaum, onde Ele costumava estar
quando lá (veja Mateus 13.36). A multidão sendo dispensada, Ele
desdobrou e explicou todas essas parábolas a Seus discípulos, e
os conduziu a um amplo conhecimento de si e dos mistérios do
Reino dos Céus, pelo qual foram fornecidos ao trabalho ao qual
Ele os chamou e os projetou.
4.35. E, naquele dia, sendo já tarde,. Depois que ele terminou
suas parábolas entre a multidão, e as explicou a Seus discípulos,
disse a eles, Seus discípulos: Passemos para o outro lado, isto é, do
mar da Galileia, ou lago de Genesaré, para a terra dos gadarenos e
gergesenos; com vistas ao recolhimento e descanso, após o cansaço
do dia; e para a prova da fé de Seus discípulos, por uma tempestade
que Ele sabia que surgiría, enquanto eles estavam no mar; e por um
milagre ele deveria trabalhar do outro lado após relatado.
4.36. E eles, deixando a multidão. Que o havia atendido o
dia todo na praia do mar; embora pareçam ter sido dispensados
por Cristo, quando ele entrou em casa e interpretou em particular
as parábolas para seus discípulos (veja Mateus 13.36), portanto é
possível que, quando Cristo for à praia novamente, a fim de pegar
um barco para o outro lado, eles podem ter reunido os discípulos,
informando-os de que Ele não estava prestes a pregar mais para
eles, mas estava indo para o outro lado do lago; sobre o qual eles
partiram e O levaram enquanto Ele estava no navio; o que pode

88
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 4

ser entendido por Ele ser levado e carregado no navio, no qual


pregou o dia todo, sem ser transferido para outro; embora isso não
concorde tão bem com Ele desistir disso e ir para sua casa em Ca-
famaum; onde, estando sozinho com os discípulos, Ele lhes abriu
as parábolas. Alguns pensam que se refere à situação e postura
em que Ele se colocou assim que entrou no navio, colocando-se
na popa e deitando a cabeça sobre um travesseiro ali, e assim o
carregaram; outros que o levaram para o barco, como Ele estava
sozinho sem a multidão, que foi despedida, apenas os discípulos
com Ele, o que parece melhor; e havia também com Ele outros
barquinhos, ou barcos, que estavam em companhia daquele em
que Cristo estava; e tinham neles marinheiros a negócios, pescan-
do ou transportando passageiros; ou poderia ter neles pessoas que
estavam indo junto a Cristo para o outro lado: estes parecem ser
ordenados pela providência para estarem em Sua companhia, para
poderem ser testemunhas do milagre posterior.
4.37. E levantou-se grande temporal de vento. Chamada
Laelaps, um vento que repentinamente girou para cima e para bai-
xo, dito ser uma tempestade, ou tempestade de vento com chuva;
foi uma espécie de furacão, e as ondas batiam no barco, de modo
que se enchia de água, assim pronto para afundar. Beza diz em
uma cópia que dizia, buyizesyai, e assim em uma das de Stephens.
Estava imerso, totalmente coberto de água e descia imediatamente
para o fundo; de modo que eles estavam em perigo iminente, no
limite extremo (veja Gill em Mateus 8.24).
4.38. E ele estava na popa. Isto é, Cristo estava na popa
do navio: a versão persa traduz, “ele estava no fundo do navio,
em um canto”, mas muito erradamente; dormindo sobre uma al-
mofada, que alguns dizem ser de madeira, emoldurado na popa;
porém dormia profundamente sobre ele, estando muito cansado
com o trabalho do dia (veja Gill em Mateus 8.24). E despertaram-
-no, dizendo-lhe: Mestre, não se te dá que pereçamos? Os disci-
pulos aproximaram-se d ,Ele e correram com Ele, o despertaram

89
J o h n Gill

do sono, dizendo: Mestre, levanta-te e salva-nos, senão estamos


perdidos; não te preocupas conosco? Como podes dormir aqui,
quando corremos tanto perigo? Nossas vidas não têm importância
para ti? E uma questão de nenhum momento para ti, se estamos
salvos ou perdidos? Eles parecem dizer isso, não tanto orando e
interrogando, mas reclamando e reprovando.
4.39. E ele, despertando, repreendeu o vento. Ele se levantou
de Sua almofada e se levantou; e de maneira majestosa e autoritá-
ria reprovou o vento, como se fosse um servo que havia excedido
Sua comissão, a quem Ele mostra algum ressentimento; e disse ao
mar: Cala-te, aquieta-te, como se aquilo que era muito tumultuado
e turbulento, e ameaçado de naufrágio e perda de vidas, tivesse
durado muito e por muito tempo. E o vento se aquietou, e houve
grande bonança; o que era muito incomum e extraordinário, pois
depois que o vento cessou e a tempestade acabou, as águas do mar,
sendo agitadas, continuam furiosas e em movimento violento por
um tempo considerável; considerando que aqui, assim que a pa-
lavra foi dita, imediatamente o vento cessou e o mar se acalmou:
uma prova clara disso, de que Ele deve ser o Deus Altíssimo, que
reúne os ventos em Seus punhos e acalma o barulho dos mares e
suas ondas.
4.40. E disse-lhes, Seus discípulos, Por que estais tão teme-
rosos? Como Ele estava pessoalmente com eles, cujo poder de
mantê-los e preservá-los eles não tinham espaço para questionar
quando refletiam sobre os milagres que haviam visto tão recente-
mente realizados por Ele. Como não tendes fé? Isto é, em exercí-
cio, a fé que eles tinham era muito pequena e dificilmente poderia
ser chamada de fé; eles de fato pediram a Ele para salvá-los, o que
mostrou alguma fé n ’Ele, mas então eles temeram que fosse tarde
demais, e que haviam perdido toda a esperança e estavam apenas
perecendo (veja Gill em Mateus 8.26).

90
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 5

4.41. E sentiram nm grande temor. Isto é, os homens no na-


vio, os marinheiros a quem o navio pertencia, e quem tinha o ge-
renciamento dele; e diziam uns aos outros: Mas quem é este, como
pessoas no maior espanto, que até o vento e o mar lhe obedecem?
Certamente essa pessoa não deve ser um mero homem; ele deve
ser mais do que um homem; ele deve ser verdadeiramente Deus,
que tem tanto poder sobre o vento e o mar. Isso combina melhor
com os marinheiros, pois os discípulos devem ter sabido antes
quem e o que Ele era; embora possam estar mais estabelecidos e
confirmados na verdade da divindade de Cristo, por este maravi-
lhoso exemplo de Seu poder.

Capítulo 5
5.1. E CHEGARAM ao outro lado do mar. Da Galileia, ou
Tiberíades; no país dos gadarenos; no evangelista Mateus é cha-
mado “o país dos gergesenos”, como é aqui nas versões árabe e
etíope. A Vulgata Latina diz “dos gerasenos” e, portanto, algumas
cópias de Gerasa, um lugar no mesmo país; mas as versões siría-
ca e persa dizem “gadarenes”, assim como a maioria das cópias;
assim chamada de Gadara, uma cidade adjacente, ou dentro do
país dos gergesenos, que foi chamado por ambos os nomes, des-
ses lugares diferentes. Não ficava longe de Tiberíades, o lugar de
onde este mar tem seu nome, sobre o qual Cristo e Seus discípulos
passaram (João 6.1). Chammath estava a uma milha de Tibería-
des, e este Chammath estava tão perto do país de Gadara, que é
frequentemente chamado, rdgd tmx, “Chammath de Gadara”; a
menos que deva ser traduzido como “os banhos quentes de Gada-
ra”, pois assim é dito que em Gadara estão os banhos quentes da
Síria, que pode ser o mesmo com os banhos quentes de Tiberíades,
tantas vezes mencionados nos escritos judaicos; portanto, a cidade
de Chammath teve seu nome, que estava tão perto de Tiberíades,

91
J o h n Gill

e às vezes é considerado o mesmo, Plínio coloca este Gadara em


Decapolis e Ptolomeu em Coelo, Síria; e Meleager, o coletor de
epigramas, que é chamado sírio, é dito ser um gadareno, um na-
tivo desta Gadara. Menção é feita do redemoinho de Gadara, que
permaneceu desde o dilúvio. Parece ser um país pagão, tanto por
sua situação quanto pelos costumes do povo.
5.2. E, saindo ele do barco. Assim que Ele desembarcou,
imediatamente saiu-Lhe ao encontro dos sepulcros um homem
possesso de um espírito imundo. Os judeus têm a noção de que um
homem, por habitar entre as tumbas, fica possuído por um espírito
imundo, por isso dizem que aquele que procura os mortos, ou um
necromante, é ele que passa fome, vai “e aloja-se nos túmulos”,
hamwj xwr wyle hrvtv ydk, “para que um espírito imundo possa
habitar sobre ele”; noção essa que pode surgir de espíritos imun-
dos apressando pessoas possuídas por eles para tais lugares; em
parte pelo terror, tanto de si mesmos quanto dos outros; e em parte
para possuir as mentes dos homens com a persuasão de que eles
têm poder sobre os mortos, o que é muito grande em tais lugares.
Este caso é o mesmo que é mencionado em Mateus 8.28,
como aparece em parte após a tempestade, da qual os discípulos
tiveram uma libertação notável; e em parte do país em que este
caso aconteceu; pois o país dos gergesenos e dos gadarenos é o
mesmo, como foi observado; somente é chamado por nomes di-
ferentes, de dois lugares principais n ’Ele; como também de várias
circunstâncias nesta relação, como o caráter do possuído sendo
extremamente feroz, habitando entre as tumbas e saindo de lá; a
exposição do diabo a Cristo e a adjuração para não atormentá-lo;
sua súplica para entrar no rebanho de porcos e a permissão que
ele teve; a destruição dos porcos no mar; o medo e a fuga dos re-
banhos suínos; o relatório que fizeram a seus mestres e outros; e
o pedido do povo em geral a Cristo, para que ele partisse de suas
costas. E embora Mateus faça menção de dois que estavam possuí-
dos, e Marcos de um, não há contradição de um para o outro; pois

92
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. ,5

Marcos não diz que não havia mais de um; se ele tivesse, teria sido
uma flagrante contradição com o outro evangelista; mas como ele
disse, não há nenhum, isso não cria dificuldade. Portanto, o judeu
não tem razão para objetar isso como ele faz, como se os evan-
gelistas entrassem em conflito uns com os outros; e Marcos só
pode notar este, porque ele era o mais feroz dos dois e tinha mais
demônios nele, tendo uma legião deles; porque a conversa passou
principalmente entre Cristo e ele; e porque o poder de Cristo foi
mais manifestamente visto na desapropriação dos demônios dele.
5.3. O qual tinha a sua morada nos sepulcros. Qual é um dos
personagens de um louco entre os judeus; quem diz que é “o sinal
de um louco, que ele sai à noite”, tw rbqh tybb Nlhw, “e se aloja
entre as tumbas, rasga suas vestes e perde o que lhe foi dado”.
0 mesmo dizem, no mesmo lugar, de um homem hipocondríaco
e melancólico; e de Kordiacus, que eles dão é um demônio que
possui e tem poder sobre algum tipo de pessoa, e nenhum homem
poderia prendê-lo, não, não com correntes, de modo a segurá-lo
por qualquer período; não apenas as cordas eram insuficientes
para segurá-lo, mas também correntes de ferro; tão forte ele era
através da possessão; pois isso não poderia ser por sua própria
força natural.
5.4. Porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e
cadeias. O julgamento foi feito várias vezes, sem propósito; seus
braços foram amarrados com correntes e seus pés com grilhões, o
que era muito apropriado para evitar ferir a si mesmo e aos outros;
as cadeias foram por ele feitas em pedaços, e os grilhões em mi-
galhas, como se fossem fios de barbante; tal era a sua força, atra-
vés da força da loucura e a possessão de Satanás, e sua influência
diabólica; e ninguém o podia amansar, por qualquer método que
seja; mesmo aqueles que empreendiam a cura da loucura ou exor-
cizavam os possuídos: esse homem era tão furioso e ultrajante que
não deveria ser controlado de maneira alguma, nem pela arte, nem
pela força.
J o h n Gill

5.5. E andava sempre, de dia e de noite, clamando pelos


montes. Estando em um país pagão, o tomaria uma pessoa impu-
ra se ele não tivesse sido possuído por um espírito imundo; pois
assim corre um dos cânones judaicos: “aquele que anda em terra
pagã, sobre montanhas e rochas, é impuro”. E pelos sepulcros,
que muito provavelmente estavam nas montanhas, e cortando-as,
sendo comum cortar seus sepulcros nas rochas. E ferindo-se com
pedras; com pedaços de pedra pontiagudos, que ele apanhava en-
tre as lápides quebradas, ou das montanhas, onde ele passava noite
e dia; e além de pegar pedras com as mãos e se cortar com elas, ele
pode cortar os pés com as pedras afiadas das montanhas, nas quais
ele correu; essas montanhas eram aquelas que cercavam o mar de
Tiberíades; pois dele é htwa Nypyqm M yrhv, “que as montanhas
o cercam”: pois o lugar onde este homem estava era perto do mar
de Tiberíades, sobre o qual Cristo acabara de chegar; e assim que
Ele chegou à praia, o encontrou nessa condição.
Este homem era um emblema vivo de um homem em estado
de natureza e não regenerado; tinha “um espírito imundo”, como
todo homem natural tem; sua alma ou espírito contaminado pelo
pecado, particularmente sua mente e consciência; essa poluição
é natural para ele; o traz ao mundo com ele; é muito universal,
espalhou-se por todos os poderes e faculdades de sua alma, e é
do que ele não pode se purificar: “Quem poderá dizer: Purifiquei
o meu coração, limpo estou de meu pecado?‫( ״‬Provérbios 20.9)
Nada que ele possa fazer, ou possa ser feito por ele por uma mera
criatura, pode livrá-lo disso; nada senão o sangue de Cristo, que
purifica de todo pecado. Este homem, pela possessão de Satanás,
era um louco, extremamente feroz e furioso; há um espírito de
loucura em todos os homens não regenerados; eles estão extre-
mamente enlouquecidos contra Deus, Cristo e os santos, como
Saulo estava antes da conversão (Atos 26.9). Pois quem, senão
os loucos, estendería as mãos contra Deus, se fortalecería contra
o Todo-Poderoso, correría sobre Ele, em seu pescoço e sobre os

94
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 5

grossos chefes de Seus escudos? (Jó 15.25) Quem senão tais se


oporiam ao Filho de Deus, ou desprezariam o Espírito da Graça,
sendo iguais em poder e glória a Deus Pai? Ou chutar contra as pi-
cadas, perseguindo os membros de Cristo? Quem, senão homens
fora de si, procuraria arruinar e destruir a si próprio, tanto a alma
quanto o corpo? Este homem estava completamente sob o poder e
influência de Satanás, tendo uma legião de demônios dentro dele.
Satanás está em todo homem não convertido, em todo filho
da desobediência, operando eficazmente nele e o levando cativo
à sua vontade. Este homem tinha sua morada entre as tumbas,
onde jaziam os mortos; assim os homens não regenerados habi-
tam entre os pecadores mortos, conversam entre os homens do
mundo, que estão mortos em delitos e pecados, e segundo o curso
deles; e como este homem não podiam ser presos com correntes
e grilhões, pois estas seriam quebrados por eles; assim os homens
perversos não devem ser limitados, restringidos e governados pe-
las leis e ordenanças de Deus; eles as desprezam, as rompem e
não podem estar sujeitos a elas, sua linguagem é: “Rompamos as
suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas” (Salmos 2.3).
E como nenhum homem poderia domar este, então não está no
poder dos homens, pela força da persuasão moral, por todos os ar-
gumentos, expostulações, exortações, promessas ou ameaças que
eles possam usar para influenciar a mente carnal dos homens, ou
fazer qualquer mudança real neles; ou trazê-los em sujeição à lei
de Deus, ou Evangelho de Cristo, e remover deles o espírito de
loucura e oposição a tudo o que é bom; e dizer: não mais, como
este homem era travesso consigo mesmo e se cortava com pedras,
os homens carnais são os piores inimigos de si próprios: eles se
cortam e se ferem com seus pecados, embora, como o louco, não
sejam sensíveis a isso; e se a graça não impedir, eles se destruirão,
tanto a alma quanto o corpo, com suas transgressões.
5.6. E, quando viu Jesus ao longe. Pois parece que os túmu-
los entre os quais este homem habitava estavam a alguma distân­
J o h n Gill

cia da praia do mar; portanto, quando é dito (Marcos 5.2) que este
homem encontrou Jesus assim que ele saiu do navio; o significa-
do de que ele então saiu para encontrá-lo, como faria ao avistar
pessoas pousando ao longe; embora ele pudesse não saber então
quem era Jesus: mas aproximando-se e percebendo quem Ele era,
tal era o poder de Cristo sobre os demônios nele, que embora feri-
dos contra suas vontades, o obrigaram a se mover rapidamente em
direção a ele: de modo que correu e adorou-o; ele fez toda a pressa
imaginável para Ele; e quando se aproximou d’Ele, caiu a seus
pés reconhecendo Sua superioridade e poder, a quem nenhuma
corrente ou grilhão podería prender, nem nenhum homem domar;
nem se atreveu a passar por aquele caminho por medo d ’Ele. E
ainda assim, ao ver Cristo, sem uma palavra dita a Ele, correu e
se prostrou diante d ’Ele. Este é um exemplo da superioridade de
Cristo sobre os demônios, que, sabendo quem Ele é, ficam hor-
rorizados, caem diante d ’Ele e, à sua maneira, O homenageiam.
Embora seja impossível que sejam adoradores espirituais d'Ele,
a menos que isso deva ser entendido do próprio homem, que, ao
ver Cristo, pode ter seus sentidos restaurados no presente e um
conhecimento de Cristo dado; a quem ele correu rapidamente e se
jogou a Seus pés, esperando alívio d ’Ele; no entanto, pode ser um
emblema de um pobre pecador acordado, tendo uma visão distan-
te de Cristo, que, sobre ele, se apressa e se prostra diante d'Ele,
acreditando que Ele é capaz, se quiser, de salvá-lo do poder de
Satanás, do mal do pecado e da ruína e condenação eternas.
5.7. E, clamando com grande voz. O homem endemoninha-
do; ou o diabo nele, fazendo uso de sua voz, expressando grande
medo, pavor e horror na aparição de Cristo nestas partes; disse:
Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Os demô-
nios no homem possuem o ser de um Deus e seu governo supremo
sobre todos, sob o título de Altíssimo. A palavra aqui usada res-
ponde à palavra hebraica Nwyle, “Elion”, um nome de Deus co-
nhecido pelos antigos cananeus; daí Melquisedeque, um rei cana-

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C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 5

neu, é chamado de sacerdote do Deus Altíssimo, (Gênesis 14.18).


E entre os fenícios, ele é chamado Elion, que um escritor fenício
diz significar “o Altíssimo”; portanto, em Plauto, ele atende pelo
nome de Alon, que é a mesma palavra pronunciada de maneira
um pouco diferente; e pelo mesmo nome ele pode ser conhecido
entre outras nações vizinhas dos judeus e dos gadarenos. O Diabo
estando agora em um gadareno faz uso desse nome. Os demo-
nios acreditam que existe um Deus e tremem diante d’Ele; e eles
confessam que Jesus de Nazaré, nascido da virgem conforme a
natureza humana, é o Filho de Deus, de acordo com sua natureza
divina; e enquanto eles não tinham interesse n ’Ele como Salvador,
desejavam poder que não tivesse nada a ver com Ele como Deus;
e como não tiveram participação nas bênçãos de Sua Graça, im-
pioraram não sentir o poder de Sua mão.
Na verdade, eles escolhem não ter nada a ver com o próprio
Deus; rejeitaram a lealdade e se rebelaram contra Ele; deixaram
sua propriedade e partiram d ’Ele; e ainda menos eles se importam
em ter algo a ver com Seu Filho; realmente parece ter sido o de-
ereto e conselho de Deus, dado a eles, que o Filho d ’Ele deveria
assumir a natureza humana, e nela ser o chefe dos principados e
potestades, bem como dos homens, o que os ofendeu, sobre o que
apostataram de Deus, não querendo estar sob sujeição ao homem
Cristo Jesus. E queiram ou não, são obrigados a isso, pois, embora
não desejem ter nada a ver com Cristo, Cristo tem algo a ver com
eles; ele teve quando estava aqui na terra, e quando foi pendurado
na cruz, e terá quando voltar para julgar os vivos e os mortos: eles
podem ficar felizes, alguém pensaria, por ter a ver com ele como
um Redentor; mas isso eles não são, seu pecado sendo o mesmo
contra o Espírito Santo: eles são maliciosos, obstinados e inflexí-
veis, eles não podem se arrepender; e não há perdão, nem houve
nenhum provido para eles; eles foram ignorados no conselho e
propósitos da graça de Deus, e não foram notados no pacto da gra-
ça: Cristo não tomou sobre si a natureza deles, mas a natureza dos

97
J o h n Gill

homens; sim, ele veio para destruí-los e suas obras; de modo que,
de fato, eles não tinham nada a ver com ele como Salvador, em-
bora ele tivesse algo a ver com eles como juiz, o que eles temiam.
Eles o possuem e o reconhecem como o Filho do Deus Altíssimo;
conhecem e confessam tanto d’Ele, e mais do que alguns que se
chamam cristãos, esperando ser salvos por Cristo; e, ao mesmo
tempo, eles próprios não tinham nada a ver com Ele.
Os homens podem conhecer muito de Cristo teoricamente;
podem saber e confessar que Ele é Deus, o Filho de Deus, no
sentido mais elevado e verdadeiro da frase; ser o Messias, ter en-
carnado, ter sofrido, morrido e ressuscitado; ter ascendido ao céu,
de onde voltará; e ainda não tem mais a ver com Ele, ou não tem
mais interesse n ’Ele do que os próprios demônios; e, no último
dia, serão convidados a se afastar d ’Ele. Conjuro-te por Deus que
não me atormentes; mas ele implorou com muita sinceridade e
insistência em nome de Deus (veja Lucas 8.28), que não o desa-
propriaria do homem e o enviaria para fora daquele país, para seu
próprio lugar, para suas correntes e prisão; mas permite que ele se
hospede no homem, ou ande procurando, como um leão que ruge,
à sua presa, pois é um tormento para um demônio ser expulso de
um homem, ou ter seu poder reduzido, ou ser confinado a um poço
sem fundo por fazer mal aos homens (veja Gill em Mateus 8.29).
5.8. Porque lhe dizia. Ou disse a ele, assim que a ele che
gou e caiu diante dele; mesmo antes de confessar e conjurá-lo; e
que de fato extraiu dele a confissão de que era superior e, portan-
to, tornou-se seu suplicante. Sai deste homem, espírito imundo;
o que foi dito com tanta autoridade e poder, que não havia como
resistir; o diabo sabia que não era páreo para Ele, que devia, a
Seu comando, abandonar sua posse e, portanto, caiu em confissão
e súplica. Cristo não habitará onde Satanás habita; quando, por-
tanto, Ele está prestes a estabelecer sua residência no coração de
qualquer um, sai com Satanás; Ele amarra o homem forte e arma-
do e o desapropria; faz com que o espírito de impureza se afaste;

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C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 5

santifica o coração por Sua graça e Espírito, e assim torna uma


habitação adequada para Ele habitar pela fé; e isso é feito por um
grande poder. Um homem não pode se livrar das mãos de Satanás,
ou fazer com que ele abandone seu domínio sobre ele, ou que o
espírito imundo se afaste; nem pode santificar-se e purificar-se,
tomando-se adequado para o uso do mestre; tudo isso se deve à
Graça eficaz.
5.9. Eperguntou-lhe: Qual é o teu nome? Pois Ele não igno-
rava seu nome, nem o número dos espíritos imundos que estavam
no homem; mas em parte para que se soubesse em que condição
miserável esse pobre homem estava, sendo infestado e atormen-
tado por uma companhia tão grande de demônios; e em parte para
que Sua própria piedade e poder em libertá-lo pudessem ser mais
manifestos. E lhe respondeu, dizendo: Legião é o meu nome, por-
que somos muitos; a versão siríaca a traduz como “nosso nome é
Legião”; o motivo pelo qual o nome é dado, pois somos muitos:
como uma legião romana consistia em muitos, embora seu núme-
ro nem sempre fosse igual; no tempo de Rômulo, uma legião con-
sistía em três mil pés e trezentos cavalos; depois, quando a cidade
aumentou, de seis mil pés e seiscentos cavalos; às vezes eram seis
mil e duzentos pés e trezentos cavalos; às vezes quatro mil pés e
trezentos cavalos; às vezes cinco mil pés e trezentos cavalos. Al-
guns fazem uma legião consistir em seis mil seiscentos e sessenta
e seis; e outros o tomam muito maior, até doze mil e quinhentos:
no entanto, o número de uma legião era grande; portanto, a pa-
lavra é mantida entre os judeus e usada para um grande número,
seja de pessoas ou coisas; como, Mytyz !vm dxa Nwygl, “uma
legião de azeitonas”, isto é, um grande número delas; embora às
vezes seja usado para uma única pessoa, com outras sob ela, como
0 general de um exército. Assim é dito que um homem deve dizer
a outro, “De onde és tu?” E ele responde, “De tal ‘legião’ eu sou”;
0 homem foi para a legião; a legião ouviu e teve medo; o homem
disse: “Ai de mim! Agora a legião me matará; a legião ouviu”.

99
J o h n Gill

E novamente, “uma certa legião perguntou ao rabino Abba, não


está escrito”. Mais uma vez, “Eis que tal legião irá contigo para te
guardar”. Sobre o qual a glosa é, abuh rv, “o general de um exér-
cito”; assim chamado porque ele tinha uma legião, ou um grande
número de soldados sob seu comando; às vezes é usado apenas
para uma única pessoa, como para um servo do rei enviado a um
país estrangeiro para coletar seu imposto; uma legião era consi-
derada impura e contaminada pelos judeus em qualquer lugar em
que entrassem; quanto mais impuro deve ser este homem, que ti-
nha uma legião de espíritos imundos nele!
Daí parece que os demônios são muito numerosos; pois se
havia uma legião deles em um homem, quantos devem haver em
todos os filhos da desobediência, para manter sua posição e apoiar
seu interesse entre eles? Como há uma companhia inumerável
de santos anjos para acampar sobre os santos, e fazer-lhes todo
o serviço que puderem, com machados designados; portanto, há
indubitavelmente uma companhia inumerável de demônios, que
fazem todo o mal que podem, ou têm permissão para fazer, aos
filhos dos homens. Eles, portanto, são expressos por palavras, que
significam número e também poder; como principados e potesta-
des, os governantes das trevas deste mundo, a maldade espiritual
nos lugares celestiais, o poder ou posse do ar, os anjos de Satanás,
os anjos que pecaram e deixaram suas habitações. Como também
eles estão em um corpo e na forma de um exército; com um ge-
neral à frente deles, o príncipe dos demônios e rei do abismo. Há
esquadrões inteiros e regimentos deles, sim, até mesmo legiões,
formadas em ordem de batalha e fazendo guerra contra Cristo, a
semente da mulher; como fizeram quando Ele estava no jardim e
pendurado na cruz, que era a hora e o poder das trevas; e contra
seus membros, como fizeram na Roma pagã contra a igreja cristã,
e na Roma papal contra a mesma (Apocalipse 12.7); e que mise-
ricórdia é para os santos, que além de doze legiões de anjos bons
e mais, que estão prontos para ajudar e protegê-los, eles têm Deus

100
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 5

ao seu lado e, portanto, não significa quem está contra eles; e têm
Cristo com eles, que despojou principados e potestades; e maior é
0 Espírito Santo que está neles, do que aquele que está no mundo.

5.10. E rogava-lhe muito. O diabo que estava à frente desta


legião, que tinha o resto sob seu comando, ele, em seu nome e em
nome deles, suplicou a Jesus com grande seriedade. Isso mostra
a autoridade que Cristo tem sobre os demônios e sua sujeição a
Ele; eles não são apenas obrigados a abandonar sua posse anterior,
quando Ele dá ordens, mas também não podem ir a nenhum outro
lugar, ou aonde gostariam, sem Sua permissã; embora o homem
em que estavam não pudesse ser amarrado e mantido com corren-
tes e grilhões de ferro, pela grande força que eles colocaram nele;
no entanto, estes mesmos estão presos em correntes, e não podem
se mover sem a permissão de Cristo, ou se Ele quiser estender a
corrente para eles; e embora eles não sejam humildes suplicantes a
Ele por graça e misericórdia, eles podem continuar onde estão, ou
sofrer para estar em outro lugar, para fazer mal às almas e corpos
dos homens; e embora sejam espíritos tão orgulhosos, estão muito
dispostos a se humilhar, e da maneira mais submissa e urgente
pedir um favor, mesmo d ’Aquele a quem eles odeiam, quando têm
de responder prejudicando os outros; e nisso, assim como em mui-
tas outras coisas, eles são imitados por aqueles que são verdadei-
ramente chamados de filhos do diabo e fazem as concupiscências
dele, seu pai. Que ele não os mandaria embora do país; que se ele
achasse adequado desapossá-los daquele homem, no entanto, ele
permitiría que eles permanecessem naquele país, e não os expul-
saria totalmente de lá; e do qual eles poderíam ser mais desejosos,
porque era um país pagão, habitado por gentios cegos, que não co-
nheciam a Deus, nem judeus apóstatas, ou ambos; entre os quais
seu poder e autoridade eram muito grandes; e onde eles estiveram
por muito tempo, e tiveram uma grande experiência dos tempera-
mentos e disposições dos homens, e souberam como atrair suas
tentações com sucesso.

101
J o h n Gill

5.11. E andava ali pastando no monte. Onde este homem


costumava estar (Marcos 5.5), de acordo com Beza, as monta-
nhas de Galaad, que com am por aquele país, ou as montanhas que
cercavam Tiberíades. Algumas cópias, como a cópia alexandrina
e outras, leem “na” ou “sobre a montanha”, no número singular.
As versões latina e árabe da Vulgata dizem “sobre a montanha”.
O siríaco e o etíope, “na montanha”; assim em Lucas 8.32, uma
grande manada de porcos; de um lado da montanha, ou monta-
nhas; pode ser chamado de grande, pois havia cerca de dois mil
porcos nele.
5.12. E todos aqueles demônios lhe rogaram. Toda a legião
deles, não apenas seu chefe, em nome do resto, mas todos eles
sinceramente o imploraram; todos eram suplicantes humildes, não
por amor, mas por medo, e com o objetivo de fazer travessuras,
embora a palavra “todos” seja omitida em algumas cópias, como
nas versões da Vulgata Latina, siríaca e persa; nenhum dos etíopes
tem a palavra demônios, mas ambos são mantidos na versão ára-
be; dizendo: Manda-nos para aqueles porcos, para que entremos
neles. A versão persa a traduz: “vendo que você nos expulsa do
homem, dê licença para que possamos entrar nos porcos”: o que é
mais uma paráfrase do que uma versão, expressando muito bem o
sentido. Eles escolheram estar em qualquer lugar em vez de partir
do país; e especialmente do que serem enviados para as profunde-
zas, o abismo ou poço sem fundo; e eles escolheram ser enviados
aos porcos, como sendo criaturas impuras como eles; e sem dúvi-
da com o objetivo de destruí-los para que pudessem se satisfazer o
máximo que pudessem em fazer travessuras; embora não naquele
grau eles o fariam, nem para aquelas pessoas que eles desejavam;
e assim trazer tanto ódio e reprovação quanto podiam a Cristo, que
lhes deu licença. Os demônios não se cansam de fazer travessuras,
eles não podem descansar a menos que estejam por perto; e eles
escolhem se preocupar em fazê-lo de uma maneira menor, se não
tiverem permissão para fazê-lo tão amplamente quanto o fariam;

102
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 5

se eles não sofrem para tocar a vida dos homens, ou arruinar suas
almas, é uma satisfação para eles sofrer para ferir seus corpos;
e se isso não for mais permitido, em vez de não fazer nada, eles
desejam prejudicar criaturas irracionais, propriedade dos homens;
tudo o que mostra a malícia e maldade desses espíritos malignos
(veja Gill em Mateus 8.31).
5,13. E Jesus logo Ihopermitiu. Por causa disso (veja Gill em
Mateus 8.32). E, saindo aqueles espíritos imundos, do homem em
quem eles haviam morado por algum tempo; entraram nos porcos,
de acordo com a licença que lhes foi dada por Cristo. Isso mostra
não apenas a existência de espíritos, mas sua passagem de um para
outro mostra que eles são circunscritos pelo espaço; que eles estão
aqui, e não ali, ou lá e não aqui; existe um “ubi”, ura lugar onde
eles estão; e enquanto lá, não estão em outro lugar. E a manada
se precipitou por um despenhadeiro no mar. As versões siríaca e
árabe dizem: “o rebanho correu para a rocha”, ou “promontório”,
e “caiu no mar”. A etíope, o “rebanho enlouqueceu e foi levado de
cabeça para o mar”; o sentido é que os demônios, tendo entrado
neles, tiveram um efeito semelhante sobre eles, como no homem
possuído: enlouqueceram e foram levados pelos demônios para as
rochas à beira-mar, onde, caindo no precipício, todos se perderam;
e uma perda considerável foi para seus proprietários, pois eram
quase dois mil, um rebanho muito grande, mas havia demônios
suficientes naquele homem para possuir todos eles e jogá-los no
mar; e afogaram-se no mar, não afogados pelos demônios, mas
afogados nas águas do mar, ou lago, como Lucas o chama; o lago
de Genesaré, ou mar de Tiberíades e da Galileia; que, como fre-
quentemente observado, eram os mesmos. Embora alguns pensem
que não era este lago ou mar, mas algum outro lugar de água perto
de Gadara. Estrabão diz que no país de Gadara havia uma água
laky muito ruim, da qual, se o gado provasse, eles lançavam seus
cabelos, cascos e chifres; que talvez seja o mesmo que os talmu-
distas chamam, rdgd hewlb, “o redemoinho de Gadara”; disse

103
J o h n Gill

ser da época do dilúvio, e assim chamado de engolir tudo o que


entrou nele; mas o mar de Tiberíades parece ser o lugar onde esse
rebanho pereceu.
O judeu se opõe à destruição deste rebanho de porcos como
uma ação injusta, sendo um grande prejuízo para os proprietários,
e procura diminuir o caráter de Cristo no que diz respeito a ele;
mas, como o bispo Kidder bem observa, não parece que Jesus o
destruiu; foram os demônios que fizeram isso: Ele realmente per-
mitiu que eles entrassem nisso, e não restringiu o poder natural
que eles tinham; nem Ele achou adequado fazê-lo ou foi obrigado
a isso; mas Ele mesmo o destruiu, já que Ele é o Senhor de tudo,
o proprietário de todas as criaturas, que tem tudo sob Ele e à Sua
disposição, pode dar e tirar como quiser, nenhuma acusação de
mal e injustiça pode ser feita contra Ele. Isso deve ser satisfatório
para um cristão, que acredita que Ele é Deus sobre todos, aben-
çoado para sempre, embora não seja para um judeu. Que seja,
portanto, mais observou que os donos desses suínos eram judeus
ou gentios; se eles fossem judeus e criassem esses porcos para
comê-los eles mesmos, destruí-los era uma punição justa, por sua
violação da lei de Deus (Deuteronômio 14.8). E se eles os criavam
para vender a outros, isso era contrário aos seus próprios cânones
(veja Gill em Mateus 8.30), para as regras e costumes de seu pró-
prio país, feitos como uma cerca para impedir a violação da lei
acima; e tal prática só podería proceder de uma disposição avaren-
ta, da qual esta era uma repreensão apropriada. Ou se eram gentios
os donos deles, eram pessoas idólatras, adoradores de demônios;
e era apenas uma coisa justa permitir que os demônios, a quem
eles adoravam, fizessem esse dano à sua propriedade, a quem eles
se devotavam de corpo e alma; e um judeu não pode encontrar
falhas nisso, que acredita que os idólatras não podem ser punidos
com muita severidade; acrescente a isso o que o prelado erudito
acima observa; essa prática dos gentios na criação de porcos era
uma tentação para os judeus de seguir o mesmo negócio, e até de

104
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 5

provar a carne proibida, de modo que, para usar suas palavras, foi
na verdade um ato de Graça e favor para os judeus remover deles
uma armadilha tão perigosa e um exemplo tão ruim.
Pode-se acrescentar, ao permitir que os demônios entrassem
no suínos, vários fins valiosos foram atendidos, infinitamente pre-
feríveis ao rebanho de suínos; como evidenciar a veracidade da
desapropriação; mostrando a grandeza da misericórdia para com
os despossuídos, o poder de Cristo sobre os demônios, e fazendo
para a propagação da fama deste milagre ainda mais. Bem como
dar mais provas da malignidade, disposição e ações maliciosas
desses espíritos malignos, pelo que os habitantes dos lugares ad-
jacentes podem aprender, quão prejudiciais foram para eles, e que
bênção foi se livrar deles: portanto, deveríam ser gratos a Cristo
por essa desapropriação, apesar da perda de seus porcos; mas tal
efeito não teve sobre eles, mas o contrário, como mostram as pa-
lavras a seguir.
5.14. £ os que apascentavam os porcos, não os donos, mas os
guardas deles, dos rebanhos de porcos, fugiram, ficando surpresos
com 0 poder de Cristo, assustados com o barulho dos demônios e
aterrorizados com a visão e perda dos porcos; e o anunciaram na ci-
dade e nos campos, ou “no campo”. Eles foram à cidade de Gadara
e contaram a história da desapropriação dos demônios do homem,
que havia sido problemática por algum tempo naquelas partes; e de
sua entrada nos porcos, e a destruição deles; e foram para os cam-
pos, ou país adjacente; eles foram para as “aldeias” por ali, como as
versões siríaca e etíope traduzem a palavra; ou para aquelas casas
que estavam nos campos, espalhadas aqui e ali, e onde talvez mo-
rassem os donos do rebanho; e eles não apenas correram para os do-
nos dos porcos para informá-los sobre o que havia acontecido, a fim
de remover toda a culpa de si mesmos e qualquer suspeita de negli-
gência neles, para fazer parecer que não foi culpa deles, ou devido a
qualquer descuido deles, os porcos pereceram; pois eles permitiram
que eles chegassem muito perto do mar, e não mantiveram uma boa
J o h n Gill

vigilância, e não estavam como deveríam estar, entre eles e o mar,


para evitar tal acidente; isso eles não apenas fizeram, mas o caso,
em todas as suas circunstâncias, sendo tão incrível como a desapro-
priação dos demônios do homem. A saúde, a calma e a condição fe-
liz em que se encontravam os despossuídos; a entrada dos demônios
nos porcos; sua loucura, precipitada correndo para o mar e seu afo-
garnento ali; que eles contaram a todos que encontraram, seja nos
campos pertencentes a Gadara ou na própria cidade; o que atraiu
um grande concurso de pessoas para ver o que foi feito ao homem
que havia sido possuído e aos porcos, e também para ver a pessoa
que havia feito tudo isso, o que tornou o milagre mais notório; de
modo que, como diz Mateus, “toda aquela cidade saiu ao encontro
de Jesus” (8.34); e Lucas observa que “toda a multidão da terra
dos gadarenos ao redor lhe rogou que se retirasse deles” (8.37).
Assim, às vezes lemos nos escritos judaicos dos homens ou habi-
tantes do campo, em oposição aos homens ou habitantes da cidade,
que diferiam tanto em suas roupas quanto em sua dieta. “As roupas,
azwxm ynbd, ‘das crianças’, ou ‘habitantes da cidade’, que vivem
deliciosamente e não trabalham, são largas, como as das mulheres;
mas as roupas, atylqx ynbd, ‘dos filhos do campo’, como de fazer
negócios no campo, são curtas”; e assim de sua comida, observa-se,
que o pão, yalqxd, “dos homens do campo”, que a glosa explica
por rpk ynb, “as crianças”, ou “habitantes de uma aldeia”, é no que
eles colocam muita farinha; mas o pão, azwxmd, “de uma cidade”,
que a glosa interpreta de Krk ynb, “as crianças”, ou “habitantes de
uma cidade murada”, ou “cidade”, é o que eles não colocam muita
farinha. E saíram a ver o que era aquilo que tinha acontecido: isto
é, os habitantes da cidade de Gadara, e aqueles que habitavam nas
aldeias, e em casas isoladas nos campos, saíram para os lugares
onde o homem possuído costumava usar para estar, e onde Jesus e
ele estavam agora, e onde os porcos costumavam se alimentar, para
ver com seus próprios olhos e se certificar da verdade da narração
que os criadores de porcos lhes deram.

106
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 5

5.15. Eforam ler com Jesus. Quem havia operado este mila-
gre, e de quem os guardas dos porcos lhes haviam dado algum re-
lato. E viram o endemoninhado, o que tivera a legião. As versões
Vulgata Latina e etíope deixam de fora a última cláusula, “e tinha
uma legião”, e assim a antiga cópia de Beza; a versão persa traduz,
“a legião saindo dele”: eles viram, junto com Jesus, o homem que
havia sido possuído por uma legião de demônios, que eles sabiam
muito bem ser o mesmo homem, assentado, vestido e em perfeito
juízo, e temeram; não do homem como era antes, quando estava
possuído, não ousando vir assim por causa dele; mas de Cristo e
seu incrível poder, capaz de desapropriar uma legião de demônios
e restaurar um homem a seus perfeitos sentidos, a tal compostura
e decência, que antes estava em uma condição tão terrível e tão
extremamente furioso e ultrajante; eles viram que o homem es-
tava quieto e inofensivo; eles não tinham nada a temer dele; mas
eles não sabiam o que fazer com Cristo. Poderíam considerá-lo
um exorcista ou um mágico, e temer que Ele exercesse Sua arte
para a ruína e destruição deles; não O temiam e O reverenciavam
como uma pessoa divina, mas apenas o temiam, como alguém que
possuía o poder de ferir; eles estavam conscientes de seus pecados
e de que mereciam os justos julgamentos de Deus sobre eles; e
temiam que Cristo fosse enviado para executá-los sobre eles. E
observável que não dizem uma palavra a Ele, a título de reclama-
ção pela perda de seus porcos; mas pensavam estar bem, poderíam
se livrar d’Ele.
Houve uma estranha mudança e alteração no homem; ele, que
antes corria entre os túmulos e sobre as montanhas, e raramente
ficava parado, mas estava sempre em movimento, como as pessoas
distraídas geralmente estão, agora estava sentado aos pés de Jesus,
seu bondoso benfeitor (Lucas 8.35), e aquele que antes estava nu, e
sempre que alguma roupa era colocada sobre ele arrancava-a nova-
mente e em pedaços, como costumam fazer os loucos, agora estava
“vestido”, talvez com alguns dos rebanhos de porcos tivessem dei­

107
J o h n G ill

xado para trás, em seu medo, ou os discípulos tivessem com eles.


E aquele que antes estava completamente fora de si, que não sabia
o que dizia ou fazia, agora estava “em sã consciência”, de mente
sã, de bom entendimento; sóbrio, modesto e sábio. Este homem,
enquanto estava sob a posse de Satanás, era um emblema de um
homem em estado natural; então, sendo agora despojado, ele repre-
sentou muito apropriadamente um homem convertido; que, sendo
tirado de um estado de natureza, de um poço horrível, um poço
onde não há água, está “sentado” aos pés de Jesus, onde ele se co-
loca implorando Sua Graça e misericórdia, suplicando-Lhe que o
receba e salve; resolvendo, caso pereça, ele perecerá ali; e onde
ele está, como um estudioso aos pés de seu Mestre, ouvindo Suas
palavras e recebendo instruções d’Ele; e que também é expressivo
de sua submissão ao Seu Evangelho e ordenanças, de prazer e conti-
nuidade sob eles; bem como daquela calma e serenidade mental que
atendem a um senso de justificação, perdão, reconciliação e adoção,
e esperança de glória: e considerando que antes ele estava nu e sem
justiça, ou, o que não era melhor do que trapos imundos; ele agora
está “vestido” com o manto da justiça e as vestes da salvação, com
linho fino, limpo e branco, a justiça dos santos, com mudas de rou-
pas de ouro lavrado.
A justiça de Cristo não foi apenas imputada a ele pelo Pai,
mas revelada no Evangelho, aproximada pelo Espírito, colocada
sobre ele e recebida pela fé; além de ter vestido o novo homem e
estar vestido com humildade e outras graças do Espírito, e com as
vestes de uma conduta santa. E assim finalmente será vestido com
as vestes brilhantes da imortalidade e glória. Tal pessoa, que antes
não era ela mesma, está agora “em seu juízo perfeito”; voltou a si
como o filho pródigo; tornou-se sensível ao mal do pecado e foi
levado ao verdadeiro arrependimento por ele; e de seu estado e
condição perdidos, de sua necessidade de Cristo e da salvação por
Ele, tem seus sentidos espirituais exercidos sobre Cristo; contem-
pia a beleza e adequação d ’Ele como um Salvador, ouve Sua voz,

108
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 5

lida com Ele a palavra da vida, prova a doçura que há n’Ele e em


Seu Evangelho, e saboreia as coisas de seu Espírito; cujos senti-
dos também são exercitados para discernir entre o bem e o mal, e a
verdade e o erro; que também tem um novo coração e um Espírito
correto criado nele; com a mesma mente nele, como estava em Je-
sus Cristo, para humildade, e cuja mente está firme e confia n’Ele.
5.16. E os que aquilo tinham visto contaram-lhes. Não os
guardas dos porcos, porque fugiram e se foram; mas outros que fo-
ram testemunhas oculares de todo o caso, que moravam em casas
próximas ou trabalhavam nos campos; ou os discípulos de Cristo;
contou-lhes como aconteceu com aquele que estava possuído pelo
demônio; deu um relato particular de como, ao ver Cristo pela
primeira vez, ele correu para encontrá-Lo, prostrou-se e O adorou;
como Cristo ordenou que o espírito imundo saísse dele; e como
ele foi despojado de uma legião de demônios por uma palavra
falada. E também sobre os suínos; como, a pedido dos demônios
e com a permissão de Cristo, entraram neles; sobre os quais eles
enlouqueceram e, dirigindo-se às rochas à beira-mar, caíram no
precipício e morreram afogados no mar.
5.17. E começaram a rogar-lhe. Isto é, os habitantes da ci-
dade de Gadara, e das aldeias ao redor, muito insistentemente O
importunaram a partir de suas costas, temendo que, por seus peca-
dos, algum julgamento mais severo caísse sobre eles do que a per-
da de seus porcos, desde que perceberam que Ele era uma pessoa
de grande poder e autoridade, o que mostra grande ignorância e
mentalidade mundana. Eles não sabiam quão grande era a pessoa
que tinham entre eles; que Ele era o Filho de Deus e 0 Salvador do
mundo. Poderíam saber pelos milagres realizados que Ele era uma
pessoa maravilhosa e extraordinária; mas então o consideraram
como alguém dotado de grande poder, antes para prejudicá-los
do que para beneficiá-los. Como alguém antes enviado para açoi-
tá-los por seus pecados, do que para salvá-los deles. Tais noções
muito contrárias têm homens carnais de Cristo; eles têm medo de

10! )
J o h n Gill

serem sofredores ou perdedores por Ele. Não se importam em se


separar de seus desejos suínos por Ele; estes preferem a um Salva-
dor e amam o mundo e as coisas dele mais do que Ele e, portanto,
não são dignos d'Ele (veja Gill em Mateus 8.34).
5.18. E, entrando ele no barco. Pois a pedido desses homens,
que eram indignos de Sua presença e de qualquer favor d ’Ele, seja
por Sua doutrina ou milagres, Ele voltou para o lado do mar no-
vamente; e quando estava prestes a embarcar, aquele que estava
possuído pelo demônio rogou-lhe que pudesse estar com Ele. Pois
quando Jesus deu as costas aos gadarenos e voltou para a praia,
este pobre homem, que havia recebido tão grande benefício d ’Ele,
ressuscitou, levantou-se e O seguiu. E quando percebeu estar en-
trando a bordo do navio, a fim de ir para outro país, implorou sin-
ceramente que pudesse ir com Ele no navio, e continuar com Ele;
o que fez, em parte para testemunhar seu grande amor por Ele, e
o sentimento de gratidão que ele teve da misericórdia que recebeu
d’Ele; e em parte para desfrutar de Sua presença e ter Sua prote-
ção, pois ele pode temer que, quando se for e permanecer naquele
país, os demônios o reassumissem com maior raiva e fúria. Por-
tanto, almas graciosas que conhecem a Cristo e receberam de sua
plenitude e Graça desejam sinceramente estar com Ele, desfrutar
da comunhão com Ele, receber instruções d’Ele e estar sempre
sob Seus cuidados, influência e proteção. Pois estar com Cristo é
ter sua presença graciosa; ter proximidade com Ele e comunhão
com Ele; ter familiaridade com Ele, ainda mais e mais; ser guiado
com Seu conselho e sustentado pela mão direita de Sua justiça; do
que nada pode ser mais desejável para aqueles que o conhecem es-
piritual salvificamente; pois tais desejos surgem do conhecimento
que eles têm de Suas glórias e excelências pessoais, como o Filho
de Deus e como Mediador? Ele tem todo o poder para protegê-los,
toda a força para apoiá-los, toda a Graça para supri-los, toda a
sabedoria para dirigi-los, todas as provisões para alimentá-los e
todas as bênçãos de Graça e glória para conceder-lhes.

110
C o m en tário bíblico de M arcos - Cap. 5

Pela experiência graciosa que tiveram de Seu favor e benig-


nidade, que é melhor que a vida; e pelo senso que eles têm de sua
necessidade d’Ele; pois sem Ele nada podem fazer; não podem
cumprir nenhum dever corretamente, nem resistir a nenhuma ten-
tação, ou suportar qualquer aflição: eles são sensíveis aos efeitos
abençoados de Sua presença; sabem que traz luz para suas almas
na escuridão; que os vivifica quando mortos e sem vida em seus
quadros e deveres, e anima seus espíritos quando entorpecidos e
pesados; que conforta e alegra seus corações, e coloca mais alegria
neles do que qualquer bênção externa; que remove seus medos e
os encoraja contra seus inimigos, e é sua segurança e defesa; que
torna as ordenanças agradáveis e prazerosas, e dá contentamento no
estado mais mesquinho; não há nada desfrutado por eles nesta vida
que lhes dê o prazer e a satisfação que dão: e, portanto, é que muitas
vezes desejam até mesmo partir deste mundo, para poderem estar
com Cristo, o que é muito melhor. De fato, se a presença de Cristo
é tão doce e desejável agora, qual será o gozo eterno e ininterrupto
de Sua presença no mundo vindouro? Porque na Sua presença há
fartura de alegrias, e à Sua direita há delícias perpetuamente.
5.19. Jesus, porém, não lho permitiu. Ele sendo capaz de
preservá-lo daqueles espíritos malignos, quando ausente, como
presente; e, além disso, levá-lo junto com Ele parecería ostenta-
ção e vangloria, às quais Cristo era avesso; e mais especialmente,
como fica claro a seguir, ele escolheu ficar para trás porque tinha
trabalho para fazer naquelas partes, o que seria para a glória de
Deus, a propagação do conhecimento de si mesmo e de Seu Evan-
gelho, entre seus amigos, parentes e compatriotas. Mas disse-lhe:
Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão grandes coisas
o Senhor te fez, e como teve misericórdia de ti; Ele o manda ir para
sua “própria casa”, como está em Lucas 8.39, para o local de sua
antiga morada; para a vila ou cidade onde antes morava, e onde
seu pai e mãe, irmãos e irmãs, esposa e filhos poderíam morar; e
relate a eles quais grandes coisas o Senhor, ou Deus, como diz a
J o h n Gill

versão etíope, havia feito por ele; expulsando dele uma legião de
demônios, restaurando-o a seus perfeitos sentidos e saúde, e teve
compaixão dele, tanto de sua alma quanto de seu corpo, operando
uma grande salvação para ele.
Assim como são chamados pela Graça e convertidos das tre-
vas para a luz, e do poder de Satanás para Deus, devem ir para
seus amigos cristãos e para a igreja de Deus, e declarar em Sião
as grandes coisas que Deus fez por suas almas; em iluminá-los,
vivificá-los, convertê-los e confortá-los, para a glória de Sua rica
misericórdia e Graça abundante. Essas são “grandes coisas”, de
fato, que o Senhor fez por Seu povo; Ele fez grandes coisas por
eles na eternidade; amou então com um amor eterno; os escolheu
em Seu Filho para a santidade e a felicidade; fez uma aliança com
Ele, para eles, cheia de bênçãos e promessas espirituais; O proveu
como um Salvador para eles, e O designou e chamou para esse
trabalho; tudo o que lhes é mais ou menos conhecido no chamado
eficaz, quando recebem o Espírito de Deus, para poderem conhe-
cer as coisas que lhes são dadas gratuitamente por Deus. O Senhor
Jesus Cristo fez grandes coisas por eles, como antes, comprome-
tendo-se por eles como fiador; assim, com o tempo, tomando so-
bre Si a natureza deles, levando seus pecados e sofrendo em seu
lugar, operando assim uma grande salvação que, na conversão, é
trazida para perto e aplicada a eles.
E o Senhor, o Espírito, faz grandes coisas por eles quando os
chama por Sua Graça, e depois, ao abrir os olhos dos que nasce-
ram cegos e que, de outra forma, devem tê-los levantado no infer-
no; e em trazê-los para a maravilhosa luz do Evangelho ao vivifi-
cá-los, quando mortos em ofensas e pecados, que de outra forma
deveríam ter morrido a segunda morte; ao fazê-los ouvir a voz de
Cristo no som alegre da palavra, que de outra forma deveria ter
ouvido as maldições de uma lei justa; tirando seus corações de
pedra e dando-lhes corações de carne; em resgatá-los das mãos de
Satanás; em conduzi-los a Cristo para justiça, vida e salvação; ao

112
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 5

descobrir graça perdoadora e misericórdia para com eles, através


do sangue de Cristo; na libertação de muitas e grandes tentações;
na aplicação de grandes e preciosas promessas, de forma adequada
e oportuna; e em restaurá-los quando desviados, falando conforta-
velmente com eles; ao testemunhar a seus espíritos, sua adoção; e
selando-os até o dia da redenção; e tudo isso flui da “compaixão”
divina, e não de qualquer motivo e mérito na criatura.
Foi soberana piedade e compaixão; o Senhor ‘Compadecer-
-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu
tiver misericórdia” (Romanos 9.15). Foi uma misericórdia discri-
minatória: este homem não foi apenas despojado de Satanás, mas
possuidor de uma graça especial, que o levou a desejar estar com
Cristo quando seus compatriotas desejavam que Ele se afastas-
se deles; foi mostrado a ele, quando não teve pena de si mesmo,
quando se cortou e se feriu; sendo concedido a ele, quando seus
compatriotas desejaram que ele se afastasse deles; tendo sido con-
cedido a ele, quando não podia evitar, quando tinha uma legião de
demônios dentro de si; e agora essas grandes coisas, que brotam
de grande amor e misericórdia, devem ser contadas a outros, es-
pecialmente àqueles que temem o Senhor e às igrejas de Cristo:
esta é a vontade de Deus e tem sido a prática dos santos em épocas
anteriores; alegra os corações das pessoas de Deus ouvirem essas
coisas, e aumenta a glória da Graça de Deus; e o que pode servir
para encorajar as almas, para tal obra que é para seus “amigos”,
que eles devem declarar essas coisas; que estão bem dispostos
a regozijar-se com sua conversão, simpatizar com eles em seus
problemas, saber o que significam as coisas de que falam e alegre-
mente recebê-los em suas afeições e companheirismo.
5.20. E ele foi, e começou a anunciar em Decápolis. Ele se
submeteu à vontade de Cristo, embora pudesse alegremente ter
ido com Ele; ouviu Suas instruções, seguiu Seu conselho e obe-
deceu a Seus comandos, como todo aquele que recebeu favores
d’Ele deveria fazer, e ele não foi apenas para a sua casa ou para
J o h n Gill

a casa de seu pai e familiarizou seus amigos mais próximos e pa-


rentes com o que havia acontecido com ele, mas publicou o relato,
como Lucas diz (8.39), em toda a cidade, muito provavelmente
em Gadara, onde ele devia ser um nativo; e que, como Plínio re-
lata, estava em Decapolis, concordando com os relatos de ambos
os evangelistas; aqui ele publicou, como Cristo o havia ordenado,
quão grandes coisas Jesus havia feito por ele; só que em vez de
dizer que o Senhor as havia feito por ele, as atribuiu a Jesus, que
é Senhor e Deus; e por esse milagre, como por muitos outros, deu
plena prova de sua divindade, também como Messias.
Este é um exemplo da obediência da fé e é um ramo con-
siderável dela; pois, como com o coração, os homens creem em
Cristo para a justiça, assim com a boca a confissão deve ser feita
para a glória daquela salvação que Cristo realizou. Muitos estão
atrasados para esta parte do serviço da fé, por medos, através da
incredulidade e das tentações de Satanás. Mas este homem, em-
bora continuar com Cristo fosse muito desejável para ele, ainda
assim se submeteu à Sua vontade e prazer, sendo obediente às
Suas ordens. E isso de uma vez, imediatamente abandonando seu
terno por Ele, não mais insistindo em estar com Ele; pois ele era
sensível às grandes obrigações que lhe eram impostas e via ser seu
dever observar tudo o que lhe ordenava.
Isso era de fato apenas um serviço razoável, e se ele não
tivesse sido ordenado a fazer, alguém pensaria que ele não pode-
ria ter feito de outra forma; pelo menos, se não tivesse, ele não
teria desempenhado a parte agradecida e generosa; e, de fato, se
aqueles por quem o Senhor fez grandes coisas como essas se man-
tivessem em paz, as pedras até clamariam. E todos os homens
se maravilharam no poder de Jesus, no milagre operado por Ele
e no benefício que o homem havia recebido, que todos sabiam
estar em uma condição tão deplorável. Não é apenas maravilhoso
para as próprias pessoas, para quem grandes coisas são feitas pelo
Senhor; mas é surpreendente para outros, para anjos e homens,

114
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 5

quando se considera quem eles são, por conta de quem são forja-
dos; grandes pecadores, muito indignos de tão altos favores, sim,
merecedores da ira de Deus e da condenação eterna; e também,
quem é que fez essas coisas por eles, o Senhor do céu e da terra;
Aquele contra quem pecaram, e é capaz tanto de salvar como de
destruir; Aquele que é o grande Deus, é o Salvador deles, ao qual
pode ser acrescentada a consequência dessas coisas, que resultam
em glória e felicidade eternas.
5.21. E, passando Jesus outra vez num barco. Sobre o mar
de Tiberíades, a parte dele que era necessário passar do país de
Gadara para Cafarnaum por navio, ou “barco”, até o outro lado.
Isso pode parecer desnecessário para alguns; e pode-se perguntar:
de que maneira, senão por navio ou barco Ele podería ter ido para
o outro lado do mar da Galileia? Ao que se pode responder, havia
uma ponte em Chammath de Gadara, sobre um braço deste mar,
sobre a qual Cristo e Seus discípulos poderíam ter passado e ido
por terra para Cafarnaum; de modo que esta frase é muito necessá-
ria e significativamente usada. Ajuntou-se a ele uma grande mui-
tidão; que antes havia participado de Seu ministério nestas partes,
e visto Seus milagres, como a expulsão de um espírito imundo de
um homem, a cura do servo do centurião, a cura do homem para-
lítico e a mãe da esposa de Simão de uma febre, e de um homem
que tinha uma mão ressequida. E ele estava junto do mar; Ele pa-
rece ter estado em Cafarnaum, que ficava perto do mar, e na casa
de Mateus ou Levi, a quem ele havia chamado à beira-mar desde
o recebimento da alfândega (veja Mateus 9.9).
5.22. E eis que chegou um dos principais da sinagoga, ten-
do ouvido falar de Sua volta, e onde estava (veja Gill em Mateus
9.18). Por nome Jairo; em hebraico ryay, “Jair”; e Jerom diz sig-
nifica “iluminado”; derivando-o de rwa, “ser luz”; sem dúvida é
um nome judaico, já que ele era um governante da sinagoga; além
disso, é frequentemente mencionado no Antigo Testamento, parti-
cularmente em Ester 2.5, onde, na Septuaginta, é lido lairov, Jairo.
Jo h n (Jill

Mateus não menciona seu nome, mas tanto Marcos quanto Lucas
mencionam (Marcos 5.22). E, vendo-o, prostrou-se aos seus pés,
assim que Ele entrou em sua presença. Embora ele fosse uma pes-
soa de tal autoridade; ainda tendo ouvido muito da doutrina e mi-
lagres de Cristo, e acreditando que n'Ele como um grande profeta
e homem de Deus; embora não soubesse que Ele era o Messias e
verdadeiramente Deus, jogou-se a Seus pés; e, como diz Mateus,
“adoraram-ηυ” (9.18). Mostrou grande reverência e respeito a
Ele, rendeu-Lhe homenagem, pelo menos de maneira civilizada,
embora ele pudesse não adorá-Lo como Deus.
5.23. E rogava-lhe multo. Usava muita importunaçâo com
Ele, sendo muito insistente em seus pedidos. Dizendo: Minha fi-
lha está à morte; ou “está no último extremo”; apenas exalando
seu último suspiro, pois ela não estava realmente morta quando
ele a deixou, embora estivesse antes de ele voltar, e neste mo-
mento, como se podería esperar, expirando ou realmente se ido
(veja Gill em Mateus 9.18). Rogo-te que venhas e lhe imponhas
as mãos, para que sare, e viva; expressando fé no poder de Cris-
to para restaurar sua filha, embora na extremidade; ainda parecia
pensar que Sua presença e a imposição de Suas mãos eram neces-
sárias para isso.
5.24. E fo i com ele. Imediatamente, sem objetar a fraqueza
de sua fé; e seguia -0 uma grande multidão, para ver o milagre rea-
lizado, do qual eles gostavam muito; que o apertava; de modo que
foi com alguma dificuldade que Ele passou pelas ruas até a casa
do governante.
5.25. E certa mulher que, havia doze anos, tinha um fluxo
de sangue. Veja Gill em Mateus 9.20. Esta mulher estava no meio
da multidão que apertava Jesus, quando eíe passava pelas ruas
de Cafarnaum. Eusébio relata que essa mulher era de Cesaréia
de Filipe, onde sua casa deveria ser vista e existiam alguns mo-
numentos maravilhosos dos benefícios que lhe foram conferidos

I 1Ú
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 5

por Cristo; corno aquela na porta de sua casa havia uma efígie de
uma mulher em bronze, colocada sobre uma pedra alta de joelhos
dobrados e braços esticados como um suplicante; e em frente a
ela, outra efígie de um homem, do mesmo metal, em pé, e de-
centemente vestido com uma túnica, e sua mão estendida para a
mulher, a cujos pés, sobre o pilar, surgiu uma estranha forma de
planta, chegando até a orla da túnica de bronze, que é um remédio
contra todas as doenças; e ele diz que permaneceu em seu tempo,
e foi então visto; Teofilato diz que, nos tempos de Juliano, o após-
tata, foi quebrada em pedaços. Mas essa mulher parece ser uma
habitante de Cafarnaum, em cujas ruas foi feita a cura posterior;
portanto, que crédito deve ser dado às contas acima, deixo para
ser julgado. Pode seja mais útil observar que essa mulher pródiga
é um emblema de uma pecadora em estado de natureza; como sua
doença era em si uma impureza e a tornava impura pela lei, pela
qual ela era inadequada para a companhia e sociedade de outras
pessoas; assim, a doença do pecado, com a qual todos estão infec-
tados, é uma poluição em si e de natureza contaminante; todos os
membros do corpo e todos os poderes e faculdades da alma são
poluídos com ele, e todo o homem é imundo aos olhos de Deus,
declarado impuro por Sua lei. Tais pessoas são muito impróprias
para a sociedade dos santos na terra, e muito menos para estar com
os que estão no céu, nem mesmo para estar com pessoas moral i-
zadas; pois más comunicações corrompem as boas maneiras. Pe-
cadores abertamente profanos e impuros são infecciosos e devem
ser evitados. Da mesma forma, como a doença dessa mulher era
de longa data, ela a teve por doze anos, e tornou-se inveterada e
teimosa, difícil de ser removida. Então tal é a doença do pecado,
e de fato é muito pior; é o que é trazido ao mundo com os homens
e é tão antiga quanto eles; é natural para eles e não pode ser re-
movido por nenhum método comum e natural, mas requer poder
e graça sobrenaturais; e é em tal caso e condição que o Espírito de
Deus encontra seu povo, quando ele os viviííca, santifica e purifi­

117
J o h n G ill

ca: “e quando passei por ti, e te vi poluído em teu próprio sangue,


disse a tu, quando estavas no teu sangue, vive” (Ezequiel 16.6).
5.26. E que havia padecido muito com muitos médicos. Ela
tomou muitos remédios para náuseas e passou por cursos de me-
dicina com vários médicos; pois havia muitos entre os judeus que
pretendiam a cura de fluxos; e várias são as prescrições que os
médicos judeus dão para tal distúrbio, como pode ser visto em seu
Talmud; e muitos dos quais o doutor Lightfoot transcreveu. Entre
o resto, eles direcionam para o uso de goma de Alexandria, alume,
açafrão, cebola persa, cominho e faenum graecum, colocados no
vinho e bebidos. E despendido tudo quanto tinha; desperdiçou sua
substância e se tornou pobre, seguindo as instruções que lhe foram
dadas, de modo que ela não estava em condições de contratar um
médico; e nada melhorou, mas piorou, os vários remédios que ela
havia tomado não lhe fizeram bem, nem ao menos restringiram e
controlaram o distúrbio, mas aumentaram-no com isso.
Este é frequentemente o caso de pessoas que são, em certa
medida, sensíveis à doença do pecado, mas ignoram os métodos
adequados a serem adotados para a cura. Eles se aplicam às suas
próprias obras de retidão, moral e civil, aos deveres da religião,
privados e públicos, a um arrependimento legal, humilhação ex-
terna e lágrimas, e uma reforma externa da vida, esperando por
meio disso, com o passar do tempo, ser livrados de sua desordem
e estar em boa saúde; considerando que estes são médicos sem
valor e serviço real em seu caso. Eles estão tão longe de serem
os melhores, que são cada vez piores, havendo tanta impureza,
imperfeição e pecado em todas essas coisas, aumentada pela de-
pendência deles, que suas iniquidades crescem sobre eles, e a pon-
tuaçào de suas transgressões se torna maior, seu temperamento
mais inveterado e menos fácil de ser curado. Sim, eles não apenas
gastam seu dinheiro com aquilo que não lhes traz uma cura e es-
gotam todo o estoque de poder da natureza sem propósito, mas
também sofrem muito com isso.

I IS
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 5

Para tal curso de ação, tal conduta e métodos como estes


os levam a um espírito de escravidão; pois quando eles falham
em seus deveres, não cumprem as regras prescritas para eles, que
terror mental os possui! Que horror e ira a lei opera em suas cons-
ciências! Que terrível procura há de indignação ardente para con-
sumi-los! Não pode ser expresso o que alguns sofreram ao seguir
tais prescrições.
5.27. Ouvindo falar de Jesus. Dos muitos milagres que Ele e
curas que realizou, em casos tão difíceis e desesperados quanto o
dela, ou mais, e que Ele agora estava passando pelas ruas, veio na
imprensa atrás; embora ela estivesse tão fraca e muito debilitada,
como deveria estar por causa de tal e tão longa desordem; veio por
detrás, entre a multidão, que estava empurrando e pressionando
atrás de Cristo; e levantou-se para ele, atrás dele, com vergonha
de contar seu caso, e desejar uma cura; e tocou na sua veste, a bai-
nha ou borda dela, com a mão, muito suavemente, e de maneira
reservada, para não ser observada por ninguém. Cristo é a última
mudança do pecador; Ele tenta cada um primeiro antes de vir a
Ele; gasta todo o seu dinheiro, força e tempo com os outros, sem
propósito; e achando que todos são inúteis, se dirigem a Ele, que
é o único médico que pode dar alívio neste caso.
Como esta mulher, tendo ouvido falar de Sua capacidade de
salvar ao máximo aqueles que O procuram; e sendo encorajado
pelas muitas curas dos piores pecadores, daqueles que estavam na
condição mais desesperada, pressiona a multidão através de mui-
tas tentações, dificuldades e desencorajamentos lançados no cami-
nho por Satanás e seu próprio coração maligno de incredulidade, e
que surgem de um sentimento de vileza e indignidade. De maneira
modesta e tímida, temendo que se pensasse em presunção n ’Ele,
e ainda convencido de que é o único caminho para uma cura, e
que deve ser obtido dessa maneira, apega-se ao manto da justiça
de Cristo e às vestes de sua salvação. Ou, em outras palavras,
raciocina consigo mesmo: embora eu seja uma criatura tão vil,
J o h n Ciill

pecadora, injusta e impotente, certamente no Senhor há justiça e


força se eu puder pela fé me apegar a elas, mesmo que de maneira
fraca, apenas por um toque e de maneira trêmula, serei justificado
de todas as coisas, não podendo ser justificado por todas as obras
de justiça que tenho feito, e isso de forma evidente e confortável.
Portanto, me aventurarei e me aproximarei d'Ele e, mesmo que
Ele me mate, confiarei n’Ele; jogarei fora meus próprios trapos
imundos de justiça; farei menção e me apegarei à Sua justiça, e
somente ela; Ele será a minha salvação. E tal pessoa encontra,
como esta mulher depois, uma cura perfeita, purificação de todo
pecado, um perdão livre e completo, e justificação completa dele.
5.28. Porque dizia. Dentro de si, tais eram seus pensamen-
tos, e tão grande sua fé; Se tão somente tocar nas suas vestes,
sararei (veja Gill em Mateus 9.21).
5.29. E logo se lhe secou a fonte do seu sangue. Era co-
mum entre os judeus chamar o útero, no qual a criança é forma-
da, rvvqm, “uma fonte”; e porque a partir daí saiu o sangue em
uma pessoa menstruada e pródiga, eles o chamaram, como aqui,
hymd rvvqm, “a fonte de seu sangue”; e às vezes usam a mes-
ma frase da secagem, como neste lugar; eles dizem, quando uma
mulher é revistada e considerada pura, ela é proibida de ficar em
casa, hnyyem bgntyv, “até que sua fonte seja seca”; de modo que,
como nenhum sangue saiu dele, não havia nenhum nele, e que
agora era o caso desta mulher, como ela descobriu. E sentiu no
seu corpo estar já curada daquele mal; ela não apenas descobriu
por aquela rápida alteração que havia em seu espírito animal, que
agora estava livre e vigoroso, mas percebeu naquela parte de seu
corpo, de onde surgiu o problema, que ela estava perfeitamente
bem e que o distúrbio havia desaparecido completamente, o que
havia sido por tantos anos uma aflição dolorosa para ela, e uma
severa correção e castigo dela, como a palavra usada implica. Sig-
nifica propriamente um “flagelo”, como toda aflição, um flagelo

120
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 5

pelo pecado; e muito provavelmente a doença desta mulher foi na


mesma conta.
As vezes as aflições são flagelos de Deus de uma forma de
ira. e às vezes de uma forma paternal, no amor: “Porque o Senhor
corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe” (Hebreus 12.6);
e que, ao ferir, Ele cura, o que é sensivelmente percebido por Seu
povo. A palavra “praga” carrega algo mais terrível e expressa ade-
quadamente a natureza do pecado, que é uma doença pestilenta; a
corrupção da natureza, o pecado interior, é chamado “chaga cio seu
coração” (1 Reis 8.38). E uma doença repugnante e, sem a Graça
de Deus, mortal; o corpo do pecado, é um corpo de morte; e todo
pecado é da mesma natureza e tipo; o fim disso é destruição e mor-
te; a cura disso é o perdão do pecado, que é por meio do sangue
de Cristo, e a aplicação d ’Ele à alma; que, quando feito, é sentido
sensivelmente, pois imediatamente produz alegria espiritual, paz e
conforto. Isso faz com que os ossos, que foram quebrados, se re-
gozijem; isso ordena que todo filho e filha do Senhor Deus Todo-
-Poderoso tenham bom ânimo; faz com que os habitantes de Siào
se calem e não digam mais que estão doentes, porque seus pecados
foram perdoados. E um homem pode facilmente perceber quando
suas doenças espirituais são curadas dessa maneira, como quando
ele é curado de qualquer distúrbio corporal.
5.30. E logo Jesus, conhecendo que poder de si mesmo sai
ra. Assim que a mulher tocou em Suas vestes e teve uma cura,
Cristo, que sabia todas as coisas em Seu Espírito, ou na natureza
divina que habitava n’Ele, sabia o que foi feito, que a mulher O
tocou e foi curada por isso, embora, não sem Seu conhecimento,
nem sem Sua vontade, mas inteiramente por Seu poder. Aquela
virtude havia saído dele para a cura de alguma pessoa, embora não
para a diminuição daquela virtude, que permaneceu tão poderosa
e eficaz nela como sempre. Isso mostra que havia uma virtude
essencial interna em Cristo para curar doenças: não era o que Ele
derivava de outro ou exercia sob a influência de outro; mas o que
J o h n Gill

era d'Ele, e que Ele apresentou como o Senhor Deus onipotente.


Os apóstolos de Cristo curaram doenças, mas não por seu próprio
poder e santidade, por qualquer virtude inata neles; mas em nome
de Cristo, e pelo poder derivado e recebido d'Ele. Mas Cristo, sen-
do Deus, tinha infinita virtude dentro de si mesmo, que saía d ’Ele
quando Lhe agradava para a cura de qualquer doença que julgasse
adequada; o que não foi diminuído pelos esforços frequentes, não
mais do que a luz e o calor do sol pelas emanações contínuas de-
les. Somente existe esta diferença entre a emissão de luz e calor
do sol, e o envio da virtude de Cristo, que um é pela necessidade
da natureza, sem conhecimento ou vontade, mas o outro volunta-
riamente, e quando, e como ele agrada.
O mesmo vale com relação à cura de doenças espirituais:
Cristo tem um poder dentro d'Ele para perdoar todas as ofensas; e
pode-se dizer que a virtude sai d'Ele para esse propósito, quando
é Sua vontade aplicar a misericórdia perdoadora ao Seu povo; o
que requer um esforço de poder, bem como uma demonstração de
graça. Voltou-se para a multidão, e disse: Quem tocou nas minhas
vestes? Isto é, virou-se para a mulher atrás d'Ele, embora a multi-
dão fosse tão grande sobre Ele, e perguntou quem tocou em Suas
roupas; não por si mesmo, que sabia muito bem quem o havia fei-
to, mas para a cura ser conhecida por outros; não por ostentação e
aplausos populares, mas para a manifestação de Sua glória, para
a glória de Deus e para fortalecer a fé de Jairo, que estava com
Ele, e com quem Ele iria criar sua filha para a vida; e também para
que Ele pudesse ter a oportunidade de mostrar e elogiar a fé desta
pobre mulher, de confirmar a cura realizada e despedi-la com o
maior prazer e alegria.
5.31. E d i sseram-lhe os seus discípulos. Pedro e os que es-
tavam com ele; depois que a multidão que estava ao redor dele
negou que algum deles o tivesse tocado (veja Lucas 8.45). Vês
que a multidão te aperta, e dizes: Quem me tocou? Eles pareciam
surpresos com Sua pergunta e responderam com algum grau de
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 5

calor, quase prontos para acusá-la de fraca e impertinente, visto


que, como havia tanta multidão ao Seu redor, pressionando-0 por
todos os lados, Ele não podia deixar de ser tocado por muitos,
portanto perguntar quem O tocou, quando era esse o caso, eles
achavam uma pergunta muito estranha e desnecessária.
5.32. E ele olhava em redor; à multidão de pessoas, em todos
os lados d'Ele; embora Ele soubesse muito bem onde ela estava,
quem havia feito a coisa e recebido a cura, ver aquela que tinha fei-
to esta coisa, como ela parecia, e se seu semblante e a confusão em
que ela foi lançada pela pergunta não a traíam, embora Ele próprio
não quisesse tais sinais, pelos quais descobri-la. Cristo, como Deus,
sendo onisciente, sabia quem ela era e onde ela estava; e, como ho-
mem, não queria vê-la para satisfazer sua curiosidade, nem era Sua
intenção repreendê-la pelo que ela havia feito, mas expressar Sua
satisfação em sua fé e ações, e observá-la para os outros a cura que
ela teve; não de maneira ostensiva, para obter glória para Si, mas
para elogiar a fé dela e encorajar outros a exercê-la n’Ele, especial-
mente Jairo, o chefe da sinagoga que estava com Ele, e em grande
angústia por sua filha, a quem Cristo iria ressuscitar dos mortos.
5.33. Então a mulher, que sabia o que lhe tinha acontecido,
temendo e tremendo. Para que ela não fosse reprovada e sofresse
as penalidades da lei por aparecer em público durante o tempo de
sua impureza (Levítico 15.25), ou que Cristo estivesse desconten-
te com ela por adotar um método impróprio para obter sua cura;
ou temendo que Ele se lembrasse disso, ou estivesse zangado com
ela por esconder isso e tentar ir embora sem ser descoberta, sem
ao menos agradecê-Lo por isso. Após a conversão, depois que as
almas se apegam a Cristo para a justiça e a vida; depois de rece-
berem o perdão de seus pecados e serem curadas de suas doenças,
elas não ficam sem temores e tremores, embora não haja razão jus-
ta para isso. Temem onde não há medo; isto é, onde não há verda-
deira causa de medo; qual era a facilidade dessa mulher, às vezes
têm medo de não ter interesse em Cristo e em Seu amor; que são
J o h n Gill

hipócritas; que a verdade da Graça não está neles; que nunca resis-
tirão até o fim; que perecerão e carecerão da glória eterna, apesar
de saberem, como esta mulher, o que foi feito neles e por eles.
Sabendo o que foi feito nela e por ela, estando consciente para si
mesma de que ela era a pessoa que O havia tocado, e que sobre
isso a fonte de seu sangue secou, e ela foi completamente curada
de sua doença: aproximou-se, e prostrou-se diante dele, e disse-
-lhe toda a verdade. Cristo não a apontou, embora a conhecesse;
ou chamá-la por seu nome, embora Ele pudesse ter feito isso e
ter ordenado que ela viesse até Ele, e contasse por sua conduta.
Ele havia dito o suficiente para trabalhar com ela e contratá-la
para vir; que veio por si mesma, e com a maior reverência à Sua
pessoa e senso de sua própria indignidade, jogou-se aos pés d’Ele
e deu-lhe uma relação de todo o assunto, com a maior verdade e
exatidão; qual tinha sido seu caso, qual era sua fé, o que ela havia
feito e que cura ela havia recebido; e que ela reconheceu com a
maior gratidão.
Em algumas cópias é adicionado, “antes de tudo”; diante de
Cristo e Seus discípulos, e a multidão que estava com Ele: ela
que veio atrás de Cristo, e em particular segurou a bainha de suas
vestes, sua fé secretamente saindo para Ele; agora aparece aber-
tamente diante d ’Ele, não podendo mais se esconder. Ela também
não teve vergonha de contar o que fez e o que foi feito nela: a ver-
dade deve ser dita, sim, toda a verdade; ninguém tem razão para se
envergonhar disso, e especialmente da verdade da Graça, verdade
nas partes interiores; isso é o que Deus requer, dá e deleita-se.
As experiências secretas da graça em nossas almas não devemos
ter vergonha de relatar aos outros; isso contribui para a glória da
Graça divina e para o bem dos outros. Em algumas cópias é lido,
“e contou a ele toda a sua causa antes de tudo”, todo o seu caso,
como tinha sido com ela, e agora era, e qual foi a causa de ela
adotar tal método que ela fez.
C o m en tário bíblico cie M arcos ‫ ־‬C ap. 5

5.34. E ele lhe disse: Filha. Em vez de repreendê-la ou mos


trar qualquer raiva ou ressentimento contra ela, como ela temia,
fala com ela de uma maneira muito suave, gentil e terna, chaman-
do-a Sua “filha”, que não era apenas uma expressão de afeto e
civilidade, sendo esta uma maneira afável e cortês de falar usada
pelos judeus; mas pode significar sua relação espiritual através
d’Ele, sendo uma filha de Deus adotando a Graça. Ela era filha
de Abraão por descendência natural, assim como a mulher presa
por Satanás dezoito anos (Lucas 13.16), e assim ela também era
espiritualmente, sendo alguém que andou nas pisadas da sua fé,
acreditando na esperança contra a esperança; e ela também era
filha do Senhor Deus Todo-Poderoso, como sua fé mostrou que
era (Gálatas 3.26), e a isso nosso Senhor pode se referir principal-
mente. Ela foi uma daquelas que foram predestinadas à adoção de
filhos, dadas a Cristo como tal; e que são evidentemente filhos de
Deus pela fé n'Ele; e ter um testemunho de adoção do Espírito de
Deus e da boca do próprio Cristo, como esta mulher teve; quão
grande é a bênção!
A tua fé te salvou; pela fé em Cristo ela recebeu d ’Ele a cura;
pois não foi o ato de fé dela que o mereceu ou o adquiriu, mas
seu poder, e ele próprio o objeto de sua fé que o efetuou: embora
Ele tenha o prazer de não prestar mais atenção à virtude que saiu
d’Ele; mas elogia sua fé, por seu encorajamento adicional e futuro
no exercício dela, e pelo encorajamento de outros a acreditarem
n'Ele. No texto grego é: “tua fé te salvou”; tanto de sua doença
corporal quanto de seus pecados. Não que haja uma virtude intrín-
seca na fé que a liberte; pois certo é que não foi a virtude que saiu
de sua fé, mas a virtude que saiu de Cristo que a curou de seu pro-
blema; embora a fé fosse o meio de extraí-lo; ou foi isso, por meio
do qual a virtude de Cristo se exerceu e produziu tal efeito; é certo
que não a fé, mas Cristo é o autor e a causa da salvação espiritual.
A fé olha para Cristo em busca de salvação e recebe d ’Ele todas
as bênçãos, como justiça, paz, perdão, adoção e vida eterna, para
Jo h n Gill

os crentes serem salvos pela Graça por meio da fé; pelo exercício
dessa Graça eles têm a alegria e o conforto da salvação agora; e
por meio dela eles são guardados, pelo poder de Deus, para a ple-
na posse dela futuramente.
Vai em paz; para sua casa, toda a saúde e felicidade te acom-
panham; que nenhum pensamento inquieto, sobre o que passou
habite em sua mente; seja alegre e grata pela misericórdia rece-
bida, e nunca tema, ou tema, um retorno da desordem. A paz é
o efeito da fé em Cristo, do perdão por meio de Seu sangue e da
salvação nele; a paz verdadeira, espiritual e sólida é desfrutada
em modo de crer; é fruto de uma visão de interesse na justificação
pela fé na justiça de Cristo; e nada o produz e assegura com mais
eficácia do que uma sensação de cura de todas as doenças espiri-
tuais, ou uma aplicação de graça perdoadora e misericórdia, por
meio do sangue de Cristo, que em si fala coisas melhores do que
a de Abel, mesmo perdão, e assim paz. Aqueles abençoados dessa
maneira e que andam sob a visão e o senso dessas coisas vão em
paz todos os seus dias, e finalmente entram em paz, mesmo na ale-
gria de seu Senhor. E sê curada deste teu mal. Ela já estava assim;
mas isso foi uma confirmação disso, e o que poderia assegurar a
ela, que ela deveria permanecer assim, e não mais ser afligida por
aquele castigo. O pecado perdoado, embora procurado, não será
encontrado; nem condenação vem sobre o pecador perdoado; ele
está são e não ficará mais doente, e muito menos morrerá a segun-
da morte.
5.35. Estando ele ainda falando as coisas acima para a pobre
mulher, em elogio à sua fé e para seu futuro encorajamento, paz e
conforto na alma e no corpo: chegaram alguns do principal da si-
nagoga, a quem disseram. A Vulgata Latina a traduz como “do go-
vemante da sinagoga”, e que é de fato a versão literal da frase; mas
eles não podiam vir dele pessoalmente, pois ele estava com Jesus,
portanto, algumas versões, como a árabe e a etíope, dizem: “chegou
ao chefe da sinagoga”; mas o sentido é fácil, fornecendo a palavra

12(i
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 5

casa, como fazemos, e como também fazem as versões siríaca e


persa. Lucas fala apenas de “um” que veio (Lucas 8.49), enquanto
este evangelista sugere que havia mais, o que não é uma contradi-
ção, pois Lucas não diz que havia apenas um. Pode haver mais que
veio com a notícia, embora apenas um a tenha relatado como a boca
do resto; ou eles podem vir um após o outro com ele. A tua filha está
morta; para que enfadas mais o Mestre? Estes trouxeram-lhe o rela-
to de que sua filha estava realmente morta, o que ele mesmo temia
antes; portanto pensaram ser em vão dar a Cristo mais problemas
para se arrastar por uma multidão de pessoas que O pressionavam,
a quem eles consideravam uma pessoa muito digna, um eminen-
te médico e profeta, um mestre em Israel que havia feito grandes
curas em pessoas vivas em perigo; no entanto, imaginou que estava
totalmente fora de Seu poder ressuscitar alguém dentre os mortos,
dos quais, até então, eles não haviam tido nenhuma instância, a me-
nos que a ressurreição da viúva do filho de Nairn fosse antes disso,
como de fato parece ser; mas talvez as pessoas, que eram parentes
ou domésticas do governante, não tivessem ouvido falar disso; pois,
se tivessem, poderíam ter esperado que Ele exercesse Seu poder na
da filha do governante, bem como do filho da viúva.
5.36. E Jesus, tendo ouvido estas palavras, por aqueles que
vieram da casa do chefe; como se sua filha estivesse morta, e
não havia propósito em causar-Lhe mais problemas, já que toda
a esperança de recuperação havia acabado; disse ao principal da
sinagoga, que estava sobrecarregado com problemas e bastante
desanimado e pronto para desmaiar e morrer: Não temas, crê so-
mente, não desanime com essas notícias, nem desconfie do Meu
poder para ajudá-lo, apenas acredite que posso ressuscitá-la, mes-
mo dentre os mortos; e não temas, mas assim será feito. Se um
homem pode apenas acreditar, ele não tem motivos para temer;
pois o que é que o poder onipotente não pode fazer? Pode res-
suscitar os mortos; não há nada que possa atrapalhar Seu cami-
nho ou interromper seu curso; e a fé nela supera as dificuldades
J o h n (nil

insuperáveis para o sentido e a razão carnais: esse foi o apoio e o


fundamento da fé de Abraão; portanto, ele foi forte no exercício
dela e acreditou na esperança contra a esperança, porque estava
totalmente convencido de que Deus era capaz de cumprir o que
havia prometido (Romanos 4 .18).
Considerando que o governante havia expressado alguma fé
em Cristo, que sua filha, embora à beira da morte, seria curada por
Ele e vi veria, contanto que Ele viesse e impusesse as mãos sobre
ela; e Cristo concordou em acompanhá-lo e deu-lhe uma indica-
ção de que a restauraria; ele não tinha nada a fazer senão acreditar
n’Ele, que embora ela estivesse morta, Ele seria capaz de ressus-
citá-la dos mortos, bem como recuperá-la no momento da morte,
e que faria isso, mas, ah! Esta coisa, “crê somente”, quão difícil é,
embora haja tanto encorajamento para isso, tanto no poder quanto
na vontade de Cristo! A fé não é do homem a princípio; é o dom de
Deus e a operação de Seu Espírito; o exercício vivo e confortável
disso é devido à influência da Graça eficaz.
Mas se Cristo, o autor e consumador da fé, diz “crê" ou “crê
somente”, tal poder acompanha Suas palavras, como sem dúvida
fez neste momento, fazendo com que as almas exerçam fé n'Ele; e
quanto mais fé, menos medo; e tais andam mais confortavelmente
em si mesmos, e mais para a glória de Cristo, que andam pela fé
n’Ele. Esta palavra “somente” não exclui o exercício de outras
graças, mas sim o implica, pois onde a Graça está em exercício, de
um modo geral, outras estão; nem a realização de boas obras, que
são frutos e efeitos da verdadeira fé, e sem as quais a fé é morta;
mas se opõe aos medos e dúvidas, e a todos os raciocínios carnais,
bem como a toda confiança em outros objetos além de Cristo.
5.37. E não permitiu que alguém o seguisse. Para a casa do
governante, mas dispensou a multidão, não desejando a honra e
o aplauso dos homens: provavelmente o que Ele disse ao gover-
nante foi em particular e em voz baixa, para que a multidão não

128
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 5

O ouvisse; e o entendimento peios mensageiros de que a criam


ça estava morta foi mais facilmente persuadido a partir, pois eles
poderíam concluir que não havia nada a ser feito agora,a não ser
Pedro, Tiago, e João, irmão de Tiago: os três discípulos favoritos,
que foram um número suficiente de testemunhas, e foram levados
sozinhos com Cristo em algumas outras ocasiões, como em sua
transfiguração, e quando no jardim.
5.38. tendo chegado à casa do principal da sinagoga. Jun-
to a ele e os três discípulos acima mencionados; e as versões da
Vulgata Latina, siríaca, árabe e persa dizem: “e eles vieram”, as
pessoas acima; viu o alvoroço: uma multidão de pessoas, paren-
tes, amigos, vizinhos conhecidos, nesta ocasião, todos com pressa,
e em um movimento ou outro, expressando sua preocupação por
palavras e gestos. E os que choravam muito e pranteavam; as enlu-
tadas, as mesmas dos preficae dos romanos, que cantavam canções
fúnebres e faziam barulhos hediondos, sendo contratadas para esse
fim; como também aqueles que tocavam melodias tristes em instru-
mentos musicais (veja Gill em Mateus 9.23).
5.39. E, entrando. Dentro da casa, na porta de um dos quar-
tos, e onde a companhia de enlutados, flautistas e das mulheres
enlutadas, cantando e dizendo suas tristes cantigas. Disse-lhes:
Por que vos alvoroçais e chorais? Por que todo esse tumulto e
barulho? Esta dor e luto, seja real ou artificial? A menina não está
morta, mas dorme; não que ela estivesse realmente morta, mas
não para permanecer sob o poder da morte. Ela era como uma
pessoa em um sono, que em pouco tempo seria despertada dele. E
que foi tão facilmente realizado por Cristo, como se ela estivesse
apenas em um sono natural (veja Gill em Mateus 9.24).
5.40. E riam-se dele, os servos da casa que a haviam deixa-
do; e os vizinhos e parentes que vieram nesta ocasião, e se con-
venceram de que ela estava morta; e os tocadores de flauta, com as
mulheres enlutadas, que assim ganhavam seu sustento (veja Gill
J o h n Gill

em Mateus 9.24); porém ele, tendo-os feito sair, da casa ou da


parte dela onde Ele estava; isto é, ordenou que partissem, com a
licença e consentimento do dono da casa; tomou consigo o pai e
a mãe da menina, e os que com ele estavam, ou com Jairo, que o
acompanhou a Cristo e voltou com Ele; a versão etíope diz “com
eles”, que estavam com o pai e a mãe da donzela, seus parentes
próximos e amigos íntimos; ou melhor, com Cristo, ou seja, os
três discípulos, Pedro, Tiago e João; e entrou onde a menina esta-
va deitada; para um quarto interno, onde a criança estava deitada
em uma cama.
5.41. E, tomando a mão da menina (veja Gill em Mateus 9.25)
disse-lhe; na língua siríaca, que era então comumente falada pelos
judeus e bem compreendida, portanto expressando as seguintes pa-
lavras sem interpretação: Talita cumi. A versão etíope diz: “Tabitha
Cumi”; e também algumas cópias gregas e versões latinas, consi-
derando-a a mesma palavra de Atos 9.36, enquanto isso significa
“Dorcas, uma ova”; mas esta palavra tem outro significado, como
aqui explicado, que é, sendo interpretado: Menina, a ti te digo, le-
vanta-te. A frase “a ti te digo” não faz parte da interpretação das
palavras siríacas acima; mas é acrescentada pelo evangelista como
o que foi expresso por Cristo ao mesmo tempo, significando Sua
autoridade e poder sobre a morte; apenas “menina, levanta-te” é a
interpretação deles, ylj, “Tali”, significa um “menino”, e atvlj, “Ta-
lita”, uma “menina”; e assim eles são frequentemente usados nos
Targums e no Talmud: um é usado para um menino de dezessete
anos de idade, e o outro para uma menina de dezesseis ou dezessete
anos de idade, de modo que esta criança pode muito bem ser cha-
mada por este nome, já que ela tinha apenas doze anos; e ymwq,
“cumi”, é o imperativo Mwq, “surgir”.
5.42. E logo a menina se levantou, e andava. Assim que as
palavras acima foram pronunciadas por Cristo, tal poder divino as
acompanhou, que a criança voltou à vida; e levantou-se da cama,
saiu dela e caminhou pelo quarto em perfeita saúde e força; pois já

1:50
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 6

tinha doze anos; e assim, quando viva e bem, foi capaz de andar;
embora um desta idade tenha sido chamado de pequenino, como
esta é por outro evangelista (veja Gill em Mateus 9.18); e assom-
braram-se com grande espanto, ficaram extremamente surpresos
com um exemplo tão marcante do poder de nosso Senhor, tanto os
pais da criança quanto os discípulos de Cristo.
5.43. E mandou-lhes expressamente que ninguém o sonhes-
se. Deles, imediatamente, e enquanto Ele estava no local; por isso
a coisa poder ser por um tempo oculta, não era razoável supor.
Essa acusação que Ele deu para mostrar Sua aversão à ostenta-
ção e aplausos populares, evitar a inveja dos escribas e fariseus,
e impedir que o povo fizesse qualquer tentativa de proclamá-Lo
rei; ainda não chegou a hora de morrer, tendo Ele algum outro
trabalho a fazer; e uma manifestação mais completa d’Ele sendo
reservada para outra hora e para ser feita de outra maneira. E disse
que lhe dessem de comer; o que seria uma evidência não apenas
de que ela estava realmente viva, mas de que foi restaurada à saú-
de perfeita: ela foi ressuscitada dos mortos e totalmente libertada
da doença sob a qual trabalhava antes de sua morte; a morte a
curou disso, como faz com todas as doenças: ela não se levantou
com ela, mas estava livre dela; e agora era como alguém que ha-
via dormido por um tempo e estava com fome; como as crianças
dessa idade geralmente estão ao acordar do sono.

Capítulo 6
6.1. E. PARTINDO dali. De Cafarnaum, entrando em Se
próprio país, ou “cidade”, como dizem as versões siríaca, árabe,
persa e etíope, a cidade de Nazaré, assim chamada porque foi o
lugar onde Cristo foi concebido e onde foi educado, pelo qual
Ele tinha consideração e estava disposto a participar do benefício
de Sua doutrina e milagres: e Seus discípulos O seguem; como
J o h n (n il

faziam onde quer que Ele fosse; e que é uma verdadeira caracte-
rística de um discípulo de Jesus.
6.2. E, chegando o sábado. Pois parece que foi em um dia
de semana, ou em um dos dias comuns da semana, que Ele entrou
na cidade, onde permaneceu sem se dar a conhecer, até que che-
gou o dia de sábado; e então Ele começou a ensinar na sinagoga;
isto é, em Nazaré; onde Ele expôs a lei e os profetas, e pregou o
Evangelho, e muitos que O ouviram ficaram admirados. A Vulga-
ta Latina acrescenta, “em sua doutrina‫ ; ״‬e assim é lido na cópia
mais antiga de Beza; dizendo: Donde lhe vêm estas coisas? Essa
habilidade de explicar as Escrituras, essa doutrina que Ele ensina
e esses milagres que dizem que Ele opera? Eles preferiram fazer
essa pergunta porque O conheciam desde o início, visto que havia
vivido muito entre eles e, eles sabiam que Ele não havia aprendí-
do com os homens, portanto se perguntavam como Ele conseguiu
coisas como estas; e que sabedoria é esta que lhe é dada, que até
tais obras poderosas são feitas por suas mãos, outrora empregadas
em trabalhos servis e operações mecânicas.
6.3. Não é este o carpinteiro. Algumas cópias dizem “o filho
do carpinteiro”, como em Mateus 13.55, e também nas versões
árabe e etíope; mas todas as cópias antigas, versões da Vulgata
Latina, siríaca e persa, leem “o carpinteiro”; pode-se pensar que
Cristo seja razoavelmente, já que Seu pai era; e que negócio Ele
podería seguir, em parte pela humildade e pobreza de Seus pais;
e em parte para que Ele pudesse dar um exemplo de indústria e
diligência; e principalmente suportar aquela parte da maldição do
primeiro Adão, que era comer seu pão com o suor de seu rosto;
nem isso deveria ter sido contestado a Ele pelos judeus, com quem
era comum que seus maiores médicos e rabinos serem de algum
comércio ou emprego secular; então rabino Jochanan era sapatei-
ro, rabino Isaac era ferreiro, rabino Juda era alfaiate, Abba Saul e
rabino Jochanan eram agentes funerários; rabino Simeão era um
vendedor de algodão, rabino Neemias era um escavador, rabino

1 ;52
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 6

Jose bar Chelphetha era um esfolador; e outros deles eram de ou-


tros ofícios, e alguns excessivamente medíocres; o famoso rabino
Hilel era um talhador de madeira, e Carna, um juiz em Israel, era
um tirador de água; e assim Maimônides diz, “os grandes sábios
de Israel eram alguns deles cortadores de madeira e tiradores de
água”. Eles dizem, “um homem é obrigado a ensinar a seu filho
um ofício honesto e fácil”; há alguns negócios que eles excluem,
mas este de um carpinteiro não é um; sim, eles dizem, “se um ho-
mem não ensina um ofício a seu filho, é como se ele o ensinasse
a roubar”. Eles também não achavam isso inconsistente com o
aprendizado; pois eles têm um ditado, que “belo é o aprendizado
da lei junto a um ofício”.
Os judeus não deveríam ter zombado de Cristo com esse
ofício de carpinteiro, pois, segundo eles, era necessário que um
carpinteiro, em alguns casos, fosse um sacerdote regular; como na
reparação do templo, especialmente o santo dos santos. Assim diz
Maimônides: “havia um alçapão, ou um lugar aberto no chão da
câmara, aberto para o santo dos santos, para que os trabalhadores
pudessem entrar no santo dos santos quando houvesse necessida-
de de consertar qualquer coisa; e desde que fazemos menção de
trabalhadores, pode-se observar aqui, quando há necessidade de
construir no meio do templo, grande cuidado deve ser tomado,
rvk Nhk Nmwah hyhyv, ‘que o trabalhador, ou carpinteiro, seja
um bom sacerdote’”. Sim, eles dizem expressamente que o Mes-
sias é um dos quatro carpinteiros em Zacarias 1.20. “E o Senhor
me mostrou quatro carpinteiros”; e eles perguntam: “Quem são
os quatro carpinteiros?” Diz rabino Ghana bar Bizna; e o rabino
Simeão: “O santo. Messias, filho de Davi, Messias, filho de José, e
Elias, e sacerdote da justiça”. Isso é, com alguma variação, em ou-
tro lugar expresso assim: “E o Senhor me mostrou quatro carpin-
teiros; e estes são Elias, o rei Messias, Melquisedeque e o ungido
para a guerra”. E um de seus comentaristas no mesmo texto diz,
“nossos rabinos de abençoada memória, expliquem este versículo
Jo h n Gill

dos dias do Messias”, então eita a passagem acima do Talmude;


e outro refere-se a ele (veja Gill em Mateus 13.55). Os habitantes
de Nazaré continuam, a fim de reprovar Jesus, chamando-o filho
de Maria, uma mulher pobre de sua cidade, e talvez agora uma
viúva, já que nenhuma menção é feita a José; e irmão de Tiago,
de José, e de Judas e Simão? Que eram todos filhos de Alfeu, ou
Cleofas, que era irmão, ou sua esposa, ou irmã, de José ou Ma-
ria; de modo que Cristo era o parente próximo desses seus filhos.
Era comum entre os judeus chamar tal de irmão, e até mesmo em
uma relação mais distante. As versões Vulgata Latina e etíope, em
vez de José, leem Josá. E não estão aqui conosco suas irmãs? E
escandalizavam-se nele; ou pela maneira como Ele veio, ou por
Sua sabedoria, com a qual transmitiu tal doutrina; e por Seu poder,
através do qual realizou Suas obras poderosas, ou milagres. Eles
suspeitavam que Ele os procurava de maneira ilegal, por fami-
liaridade com o diabo, que às vezes o acusavam de ter; ou pela
pobreza de Seu comércio e emprego; eles não podiam de forma
alguma pensar n'Ele como o Messias, que fez uma figura tão des-
prezível e foi criado em um modo de vida tão baixo; e melhor, já
que um de seus reis em comum não era mecânico, ou pelo menos
de qualquer ocupação pobre; de seus cânones corre assim; “eles
não designam para ser rei, ou sumo sacerdote, alguém que tenha
sido açougueiro, ou barbeiro, ou banhista, ou curtidor; não porque
eles eram incapazes, mas porque seu negócio era medíocre, e as
pessoas sempre os desprezariam”. Outros ofícios são menciona-
dos em outro lugar, entre os quais um rei ou um sumo sacerdote
nunca foram tomados como fundadores, penteadores, perfurado-
res de moinhos manuais, farmacêuticos, tecelões, tabeliães, lava-
dores, uma carta de sangue ou um cirurgião, particularmente as
relacionadas com os negócios das mulheres. Agora, como não era
comum escolher alguém para ser um rei que trabalhava em um
comércio, eles não podiam suportar que o Rei Messias fosse um;
e porque Jesus era, eles ficaram ofendidos com Ele e o rejeitaram

13 I
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. b

como o Messias. Ou eles ficaram ofendidos com a insignificância


de Sua extração e descendência, Seu pai, mãe, irmãos e irmãs,
sendo todas pessoas em condições de vida baixa; considerando
que eles esperavam que o Messias nascesse e fosse criado como
um príncipe temporal, em grande riqueza e esplendor (veja Gill
em Mateus 13.5557‫)־‬.
6.4. E Jesus lhes dizia o seguinte provérbio; Não há profeta
sem honra senão na sua pátria, entre os seus parentes, e na sua
casa (veja Gill em Mateus 13.57). Apenas a frase “entre seus pró-
prios parentes” é adicionada aqui; muito provavelmente alguns
daqueles que fizeram essas reflexões eram alguns parentes dis-
tantes de José ou Maria; pois como Jesus estava agora em Seu
próprio país e cidade, e em Sua terra natal, também entre Seus
parentes e parentes que invejavam Seus dons e realizações, e se
opunham a Ele por sua ascensão daquele ramo de Sua família, que
era o mais medíocre e abjeto.
6.5. E não podia fazer ali nenhuma obra maravilhosa ou
milagre. Não que Cristo não tivesse poder n’Ele mesmo para fa-
zer milagres, embora a incredulidade e o desprezo deles por Ele
fossem muito grandes. Mas não era adequado e apropriado que
fizesse algo ali, uma vez que tais eram os preconceitos deles con-
tra Ele. E uma maneira usual de falar com os hebreus, quando não
é “adequado” e apropriado que algo seja feito, ou que eles “não
farão” isso, para dizer que não pode ser feito (veja Gênesis 19.22);
e até mesmo é dito do próprio Deus: “Para que o Senhor não
pudesse mais suportar, por causa de suas más ações” (Jeremias
44.22). Não, mas Ele podería se quisesse, e ainda assim não faria;
nem era adequado e apropriado que Ele devesse; aqui no mesmo
sentido. Além disso, em Mateus 13.58 é dito, “ele não fez muitas
obras poderosas ali”; e assim a árabe versão aqui, “e ele não fez
muitas obras poderosas lá”; Ele não achou apropriado fazer nada
de grande importância.
J o h n Gill

Portanto, o judeu não tem razão para objetar isso à divinda-


de de Cristo, como se houvesse uma falta de poder n’Ele. Cristo
é onipotente e deu prova de Seu poder onipotente pelos milagres
que realizou; e embora Ele não tenha realizado nenhum trabalho
poderoso “lá”, operou muitos em outros lugares, o que atesta su-
ficientemente a verdade de Sua própria divindade; a ênfase está
na palavra ali, embora Ele não tenha feito nenhum milagre consi-
derável naquele lugar, o fez em outros; o que mostra que não era
um defeito de poder n’Ele, que não era a razão disso, mas outra
coisa. E Mateus dá a razão disso e diz que foi “por causa da incre-
dulidade deles”. Não que a incredulidade deles fosse uma supe-
ração para o Seu poder; Ele poderia ter removido isso, se achasse
adequado, mas não o fez. Ele, que é o autor e consumador da fé,
poderia ter tirado a incredulidade deles, como concluiu o homem
que trouxe seu filho mudo a Cristo, e disse a Ele: “Senhor, ajude
minha incredulidade''’ (Marcos 9.24). As vezes Cristo exigia das
pessoas que estava prestes a curar fé n ’Ele, para que pudesse curá-
-las; e também Seus apóstolos (Mateus 9.28). Não que a fé tenha
contribuído em alguma coisa para a cura, mas foi o meio pelo qual
Cristo teve o prazer de comunicar Sua virtude curadora.
Além disso, quando as pessoas se dirigiam a Ele para a cura
e expressavam sua fé n’Ele, isso Lhe dava uma oportunidade de
operar um milagre para esse propósito; mas agora essas pessoas não
pediram tal favor a Ele e, portanto, não lhe deram oportunidade de
fazer nenhum trabalho poderoso. Por essa razão pode-se dizer que
Ele não pôde recusar nenhuma oportunidade; e, além disso, vis-
to que eles não acreditaram n ’Ele e O rejeitaram como o Messias,
eram indignos de ter algo forjado entre eles, sendo justo e correto
não fazer nada. Não, era um exemplo de bondade não fazer nada
entre eles, desde que ele tivesse, e eles permaneceram impenitentes
e incrédulos, como Ele sabia que aconteceria, e esses teriam sido
agravos de Sua condenação. Exceto que Ele impôs as mãos sobre
um povo doente e os curou. Havia alguns poucos enfermos que ti­

13()
C o m en tário bíblico de M arcos - Ca}), b

nham fé n’Ele e vinham até Ele, implorando-Lhe que os curasse; e


assim Ele impôs suas mãos sobre eles e os curou, que era uma ma-
neira que Ele às vezes usava. Essas curas Ele operou para mostrar
seu poder, o que Ele podia fazer e quais benefícios eles poderíam ter
desfrutados por Ele, para deixá-los indesculpáveis.
6.6. E estava admirado da incredulidade deles. Apesar do
que ele fez, o que foi motivo de admiração para ele; portanto, se
despediu deles como um povo ingrato e indigno; e nunca mais é
observado que ele voltou para lá. Foi uma surpresa para Cristo,
como homem, que os homens de seu país não acreditassem n’Ele,
mas o rejeitassem como o Messias, devido às coisas acima. Uma
vez que conheciam Sua linhagem e educação, e mal empregavam
entre eles, mesmo quase àquela época. No entanto, tais eram Seu
ministério e milagres, e tais eram Sua sabedoria e poder que Ele
possuía e eles não podiam explicar. Eles poderíam pelo menos
concluir, visto estar claro para eles que Ele não os recebera de ho-
mens, que tinha uma missão e comissão de Deus e foi qualificado
por Ele para tal serviço e obra; embora eles pudessem ter levado
seus raciocínios adiante, e era maravilhoso que eles não o fizes-
sem, acreditando que Ele era mais do que um homem, uma pessoa
divina e o verdadeiro Messias. As provas da divindade e messiani-
dade de Cristo são tão claras e incontestáveis que é surpreendente
que haja alguém que as tenha lido ou ouvido falar, que seja deísta
ou continue incrédulo. Tal incredulidade deve ser devida a uma
estupidez miserável e a uma cegueira mental judicial. E ele per-
corria as aldeias ensinando; percorria todas as pequenas cidades e
aldeias ao redor de Nazaré, instruindo o povo ignorante do campo
nas coisas concernentes ao reino de Deus.
6.7. Chamou a si os doze. “Seus doze discípulos”, como al-
gumas cópias dizem. A quem Ele já havia chamado por Sua Gra-
ça, e os havia designado e ordenado seus apóstolos, mas ainda
não havia enviado publicamente. Para isso, Ele agora os chamou
e deu-lhes sua comissão, qualificações e instruções, e começou a
J o h n Gill

enviá-los a dois e dois: primeiro enviou uma dupla, depois outra; a


razão de Ele enviá-los aos pares foi em parte devido à companhia
e para que pudessem ser úteis auxiliando um ao outro; e em parte
para mostrar sua concordância na doutrina, para que pudessem
ser testemunhas adequadas e suficientes disso, por meio das quais
seriam estabelecidos; e, ao contrário, sendo assim enviados por
pares para diferentes partes, sua mensagem seria despachada mais
cedo do que se todos tivessem ido juntos. E deu-lhes poder so-
bre os espíritos imundos; isto é, expulsá-los (veja Gill em Mateus
10.1); e que é aqui adicionado nas versões siríaca e persa. Muitas
coisas são omitidas por este evangelista que são mencionadas por
Mateus; ele não nos dá os nomes dos doze apóstolos; a razão dis-
so pode ser porque eles são relatados por ele em Marcos 3.16, e
ele escolheu não repeti-los aqui; nem presta atenção aos lugares
para onde os apóstolos deveriam ir e para onde não; como não no
caminho dos gentios, nem em nenhuma das cidades dos samari-
tanos, mas para as ovelhas perdidas da casa de Israel; nem ele diz
nada sobre o assunto de Seu ministério, ou o que eles tinham a
cargo de publicar; como que o Reino dos Céus está próximo, ou
a dispensação do Evangelho. Nem ele observa as várias coisas
que eles deveriam fazer na confirmação de Sua doutrina e missão;
como curar os enfermos, limpar os leprosos, ressuscitar os mortos
e expulsar demônios. Ele apenas relata as instruções dadas a eles
com relação à jornada nos versículos seguintes; a razão de tudo,
ao que parece ser, é porque ele não se refere ao mesmo tempo que
Mateus, à nomeação e ordenação deles; mas ao momento em que
foram enviados e prosseguiram em sua jornada.
6.8. E ordenou-lhes que nada tomassem para o caminho
Para acomodá-los nele; senão somente um cajado; um único,
pois pautas no número plural são proibidas (veja Gill em Mateus
10.10). Nem alforje, nem pão, nem dinheiro no cinto. Os viajantes
costumavam colocar seu pão, ou qualquer outro tipo de comida,
em seus alforjes, e seu dinheiro em seus cintos. Mas os discípulos

138
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. (i

também não foram autorizados a carregar, porque deveríam ser


feitas provisões para eles onde quer que viessem sem custo, sendo
que Seu trabalho era digno (veja Gill em Mateus 10.9-10).
6.9. Mas que calçassem sandálias. Que eram diferentes dos
sapatos, e mais adequadas para viajar, portanto permitidos quando
os sapatos eram proibidos (veja Gill em Mateus 10.10), embora
alguns pensem que não havia diferença entre sapatos e sandálias,
e que Cristo, em Mateus 10.10, não proíbe levar sapatos, mas dois
pares de sapatos; como não duas túnicas, nem duas pautas, mas
apenas um de uma espécie. E que não vestissem duas túnicas; isto
é, de cada vez; um interno e um externo; ou um em um momento,
e outro em outro; proibiam a mudança de vestimenta; para as ra-
zões disso, veja Gill em Mateus 10.10.
De tudo o que parece, um ministro do Evangelho não deve
ser um homem de mentalidade mundana, que se preocupa com a
terra e as coisas terrenas, procurando acumular riquezas para si e
pregando um lucro imundo. Nem ser homem sensual e voluptuoso,
servindo ao seu próprio ventre, e não ao Senhor Jesus Cristo, ali-
mentando-se, e não ao rebanho. Então ele também não deve estar
cheio de preocupações mundanas, sobrecarregado com os negócios
mundanos e envolvido com os assuntos desta vida. Ele deve ter
sua mente livre de toda solicitude e preocupação ansiosa sobre uma
subsistência para si e para os seus, para poder, com maior atenção,
ao seu ministério, aos preparativos para isso e ao desempenho dele.
E entregar-se inteiramente à palavra e à oração, não tendo sua men-
te distraída com outras coisas. Por isso é altamente necessário que
as pessoas a quem ele ministra cuidem que uma provisão suficiente
seja feita para ele; para que ele possa viver sem nenhum cuidado e
pensamento ansioso sobre tais coisas, e sua mente esteja mais atenta
ao trabalho ao qual é chamado. E é o que nosso Senhor principal-
mente projeta por tudo isso, que ordenou que aqueles que pregam
o Evangelho devem ser confortavelmente providos e viver disso; e
Jo h n Gill

que, como traz paz de espírito para o ministro, resulta em vantagem


para aqueles a quem é ministrado.
6.10. E dizia-lhes. Ele continuou dando ordens e orientações
a eles, dizendo: Na casa em que entrardes, ficai nela até partirdes
dali; isto é, em qualquer cidade ou vila para onde eles vierem, a
primeira casa em que entrarem, eles devem continuar durante sua
estada naquela cidade ou vila, e não mudar de casa em casa (veja
Gill em Mateus 10.11).
6.11. £ tantos quantos vos não receberem, nem vos ouvirem
Que não os acolhesse em suas casas, nem ouvisse o que eles ti-
nham a dizer-lhes; saindo dali, sacudi o pó que estiver debaixo dos
vossos pés, em testemunho contra eles; que eles estiveram com
eles e tentaram pregar o Evangelho para eles, mas o desprezaram e
rejeitaram; portanto partiram deles como um povo indigno, contra
quem a poeira de seus pés se levantaria como testemunho, no dia
do julgamento (veja Gill em Mateus 10.14). Em verdade vos digo
que haverá mais tolerância no dia de juízo para Sodoma e Gomor-
ra, do que para aquela cidade. Esta cláusula é omitida em algumas
cópias e, portanto, no versão latina da Vulgata, e talvez possa ser
transcrita de Mateus 10.15 (veja Gill em Mateus 10.15); embora
esteja na maioria das cópias e seja lido nas versões siríaca, árabe,
persa e etíope. E certo que haverá um dia de julgamento; é fixo,
Deus o designou, embora não seja conhecido por homens ou an-
jos: isso será universal; todos devem comparecer diante de Deus,
o juiz de todos, judeus e gentios; aqueles que viveram nas eras
anteriores, bem como aqueles que viverão mais perto desse dia;
aqueles que tiveram apenas a luz fraca da natureza para guiá-los,
e também que foram favorecidos com a revelação do Evangelho.
Os habitantes de Sodoma e Gomorra, embora tenham tido os jul-
gamentos de Deus sobre eles neste mundo, não escaparão ao justo
julgamento de Deus a seguir; as coisas não terminaram com eles,
ainda há um ajuste de contas a ser feito, uma conta a ser passada;
sua punição total ainda não foi executada, embora tenham sofri­

I 10
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 6

do a vingança do fogo eterno; seus corpos devem ser levantados


e eles devem receber pelas coisas que fizeram neles, e das quais
abusaram de maneira tão terrível e artificial; e, no entanto, por
mais vis pecadores que tenham sido, e por mais doloroso que seja
o castigo do qual são dignos, seu castigo será mais brando e tole-
rável do que o dos habitantes de tais lugares, onde o Evangelho foi
pregado, e que eles têm desprezado e rejeitado. Que os habitantes
de nossa terra, especialmente de algumas partes dela, como de
Londres e outras, considerem isso!
6.12. E, saindo eles. Daquela parte do país onde eles esta-
vam, alguns de um lado, e outros de outro, dois a dois, de acordo
com estas instruções, a fim de pregar a palavra e fazer milagres
nas várias partes para onde foram enviados; pregavam que se ar-
rependessem, tanto das más práticas das quais eles eram culpados,
quanto dos maus princípios que haviam absorvido, e mudaram
seus sentimentos e sua conduta. A isso os exortaram, como João
Batista e Cristo haviam feito antes, que estabeleceram fora em
seu ministério da mesma maneira; e estes, como eles também pre-
garam o Evangelho e as coisas pertencentes ao Reino de Deus e
à dispensação do Evangelho, e exortaram os homens a acreditar
neles. Pois fé e arrependimento andaram juntos no ministério de
Cristo (Marcos 1.15), e assim eles fizeram no ministério de João,
o Batista (Atos 19.4), e no ministério dos apóstolos, (Atos 20.21).
Quando eles pregaram que os homens deveríam se arrepender,
não se segue daí que eles tinham o poder de se arrepender por si
mesmos, pois tal é a condição dos homens por natureza, que eles
não veem sua necessidade de arrependimento, e seus corações
são tão duros e obstinados que eles não podem se esforçar para
isso, ou trabalhar neles e exercê-lo; isso requer a graça poderosa
e eficaz de Deus para produzi-lo, e é um dom de Sua Graça; e se
Ele der os meios, e não a Graça do arrependimento em si, nunca
aparecerá; mas os apóstolos pregando que os homens deveríam
se arrepender mostram que eles estavam em tal estado que preci­
J o h n Gill

savam disso; e quão necessário era para eles tê-lo, visto que sem
ele todos deveríam perecer; e tal ministério é apropriado para des-
pertar as mentes dos homens para o senso de sua necessidade e
encaminhá-los a Cristo, o Salvador, que é exaltado a dá-lo, bem
como à remissão dos pecados.
6.13. E expulsavam muitos demônios. O que lhes fora dado
poder para fazer; e isso eles fizeram, em confirmação de sua mis-
são e doutrina, para o benefício de criaturas miseráveis que esta-
vam possuídas por eles; e para mostrar seu poder sobre os demô-
nios, como um prelúdio do que eles deveríam ser instrumentos
expulsando Satanás das almas dos homens, judeus e gentios; es-
pecialmente na expulsão dele do mundo gentio. E ungiam muitos
enfermos com óleo, e os curavam; isso eles foram indubitavel-
mente direcionados por Cristo como um sinal externo de cura;
mas não como remédio; caso contrário, não teria havido milagre
na cura: embora seja certo que os judeus usaram a unção com
óleo medicinalmente em muitos casos, como meio de cura, mas
nem sempre tiveram sucesso como os apóstolos tiveram. No dia
da expiação, “não era lícito” ungir “parte do corpo, como todo o
corpo; mas se um homem estivesse doente ou tivesse úlceras na
cabeça, ele podería ungir conforme sua maneira usual, e nenhum
aviso foi levado a isso”. Novamente, “um homem não pode un-
gir com vinho ou vinagre, mas pode ungir com óleo; aquele que
tem dor de cabeça ou tem úlceras sobre ele, Nmv Ko, "ele pode
ungir com óleo’, mas não pode ungir com vinho e vinagre; vinho
do segundo dízimo, que eles misturam, é proibido ungir; óleo do
segundo dízimo, que eles misturam, é lícito ungir”. E é dito em
outro lugar que “Rabino Meir permitiu a mistura de óleo e vinho,
hlwxl Kvvol, ‘para ungir os enfermos’ em um sábado; mas quan-
do ele estava doente e procuramos fazer isso com ele, ele não
nos permitiu”. Mas que esse óleo foi usado pelos apóstolos como
remédio para a cura de doenças não pode ser pensado; já que o
óleo, embora possa ser útil em alguns casos, não é um remédio

112
C o m en tário bíblic o de M arcos - C ap. b

universal, próprio de todos; nem os apóstolos foram instruídos


por Cristo na arte da física, mas foram possuídos por Ele com
dons extraordinários para curar as desordens do corpo para a con-
firmação do Evangelho que pregavam. E fácil observar que curar
os enfermos ungindo com óleo está associado ao extraordinário
poder de expulsar demônios; e foi o mesmo poder pelo qual eles
realizaram um, como o outro (veja Lucas 9.1). Portanto, parece
que esta passagem não dá nenhum apoio ao uso de tal prática em
nossos dias; uma vez que estes eram apenas apóstolos que o usa-
vam, que eram pessoas extraordinárias e cujo ofício na igreja era
extraordinário, e agora cessou; a cura dessa maneira foi por um
poder extraordinário concedido a eles, que cessou; e, portanto, o
rito, ou cerimônia de unção com óleo, para tal propósito, deve ser
descontinuado; no entanto, não pode ser apoiado por este exemplo
qualquer que seja o semblante que pareça ter de Tiago 5.14, pois
deve ser admitido: há alguma diferença nas passagens, as pessoas
que ungiram aqui eram apóstolos, ali os anciãos do igreja; as pes-
soas ungidas lá eram boas pessoas, os membros da igreja, mas
aqui qualquer tipo de pessoa, e principalmente, se não totalmente
incrédulos; a cura deles é atribuída à oração da fé em Tiago, mas
aqui ao extraordinário poder dos apóstolos, ungindo com óleo;
embora possa ser, a cura foi igualmente milagrosa em um, como
no outro; mas seja como for, nada pode ser concluído a partir daí
em favor do sacramento da extrema unção usado pelos papistas,
que administram isso a pessoas apenas no momento da morte, e
isso para a remissão de seus pecados e a salvação de suas almas;
considerando que o óleo era usado pelos apóstolos para pessoas
doentes e para a recuperação de sua saúde corporal. Mas como
eram curas extraordinárias que eles faziam dessa maneira por que
eles faziam uso do óleo, visto que a virtude da cura não vinha dis-
so, e eles poderiam tanto curar doenças sem ele quanto com ele?
Ao que se pode responder que nem sempre fizeram uso dela; às
vezes apenas palavras eram expressas, às vezes apenas as mãos
Jo h n (nil

eram impostas aos enfermos, e às vezes os enfermos eram curados


com lenços e aventais tirados deles; o que mostra que a virtu-
de de “cura” não estava nos meios, nem estava ligada a nenhum.
Além disso, isso foi usado apenas como um sinal externo de cura
e pode ter algum significado espiritual; pode mostrar que eles fo-
ram enviados por Cristo, o ungido, que é ungido com o óleo da
alegria acima de seus companheiros; pode ser simbólico da graça
do Espírito, que é frequentemente comparada ao óleo, que eles
próprios possuíam em grande medida, e é comunicado através da
ministração do Evangelho, podendo ser significativo do próprio
Evangelho, que traz luz e alegria, saúde e conforto junto a ele para
as almas dos homens, dos quais eles eram os felizes mensageiros.
6.14. E ouviu isto o rei I !erodes. “De Jesus”, como a versão
siríaca fornece; ou "os milagres de Jesus”, como a versão persa.
Este Herodes aqui chamado de rei, como ele pode ser por seus
cortesãos e pelas pessoas comuns, é o mesmo com o Tetrarca em
Mateus 14.1, pois ele era apenas Tetrarca da Galileia. Este era
Herodes Antípatro, filho de Herodes, o Grande; a fama de Jesus
chegou aos seus ouvidos, sendo ele governador daquelas partes
que eram mais visitadas por Cristo: pois Seu nome foi espalhado
no exterior; por meio de Seu ministério e milagres, e por meio de
Seus discípulos, os quais Ele havia enviado dois a dois a todas as
partes do país: e ele disse que João Batista ressuscitou dos mortos,
portanto obras poderosas se manifestam n'Ele; pois Herodes ha-
via algum tempo antes matado João; e ouvindo essas coisas mara-
vilhosas feitas por Cristo, sua consciência o feriu pelo assassinato
de João; e tal pensamento surgiu em sua mente que ele ressuscitou
dos mortos e fez esses milagres. Quanto mais ele pensava nisso,
mais fortemente ele era persuadido disso; e disse a seus cortesãos
com muita segurança, que certamente era ele (veja Gill em Ma-
teus 14.2).
6.15. Outros diziam: É Elias. Esta era a opinião de muitos
dos judeus que esperavam que Elias, o tisbita, viesse pessoalmen­

111·
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. b

te, antes da vinda do Messias; e pensou pela aparência e pelas


obras maravilhosas de Jesus que ele agora havia chegado; ou dos
cortesãos de Herodes, que disseram isso para desviá-lo de sua no-
ção de João Batista, que eles poderíam perceber que era muito an-
gustiante para ele; embora o primeiro pareça ser o sentido. Outros
disseram que é um profeta: ou “o profeta” que estava por vir, de
quem Moisés havia falado e os judeus esperavam; esta era a opi-
nião de outros deles; ou como um dos profetas. A palavra h, “ou”,
é omitida em algumas cópias; e assim é nas versões Vulgata Lati-
na, siríaca, árabe, persa e etíope; e então o sentido é que esse novo
profeta recentemente levantado é como um dos antigos profetas,
Isaías, Jeremias e outros; ou um deles se levantara.
6.16. Herodes, porém, ouvindo isto. Ou de Cristo, ou me-
lhor, das diferentes opiniões sobre Ele, ele disse: Este é João, ao
qual eu degolei; o pensamento ficou perto dele e continuou com
ele; ele não conseguia se livrar disso, nem se persuadir do con-
trário; nem nenhum de seus servos conseguiu tirá-lo disso, mas
ele o afirmou com a maior segurança imaginável. Esses diferentes
sentimentos das pessoas em relação a Jesus deixaram a mente de
Herodes muito perplexa, como aparece em Lucas 9.7, pois foi di-
vulgado primeiro por outros, e não por Herodes, que João Batista
havia ressuscitado dos mortos; o que ele ouviu, deu-lhe grande
inquietação: considerou cuidadosamente o assunto; lembrou-se de
como o havia usado, aprisionado e condenado à morte. A princí-
pio, ele não pôde aceitar que, uma vez decapitado por ele, deveria
ser restaurado à vida; mas ouvindo os milagres que foram feitos
por ele, sua consciência o acusou, sua fantasia trabalhou, e por fim
ele acreditou firmemente que deveria ser ressuscitado; e esse sen-
timento que ele mesmo finalmente cedeu, o afligiu acima de tudo.
O resto, por causa de sua preocupação da morte, temendo que ele
tivesse voltado à vida para se vingar dele. pode não ser muito fácil
em sua mente suportar que Elias tivesse aparecido, o precursor do
Messias, o rei dos judeus; quem podería ser esperado rapidamen-
J o h n Gill

te, e quem ele podería temer, se apoderaria e tiraria aquela parte


do reino que ele possuía; e até mesmo para ser informado de que
um dos profetas ressuscitou dos mortos podería seja chocante para
ele; imaginando que algo de considerável momento deveria ser
feito, alguma revolução a ser feita; que o povo seria incitado por
ele a tentar uma mudança de governo. Mas o primeiro deles cau-
sou a maior impressão nele, e o que ele não conseguiu, mas cedeu
totalmente, como algo inquestionável. Ele reconhece que decapi-
tou João; ele estava consciente do pecado e o confessou; ele não o
atribui a Herodias e sua filha, embora o tenham solicitado; a culpa
disso pairava sobre sua consciência, e ele temia essa aparição de
João como ele imaginava. E se ele era um saduceu antes, como
se pensava, agora mudou de ideia e acreditou na ressurreição dos
mortos. Assim os homens podem ser convencidos do pecado e
entreter outras e melhores noções de religião, e ainda assim não
serem pessoas convertidas.
6.17. Porquanto o mesmo Herodes mandara alguns de sua
guarda, um destacamento de soldados, prender a João; que o agar-
raram e o levantaram: e encerrá-lo amarrado no cárcere, no cas-
telo de Machaerus; por causa de Herodias, mulher de Filipe, seu
irmão, porquanto tinha casado com ela; enquanto seu irmão estava
vivo e teve filhos com ela (veja Gill em Mateus 14.3).
6.18. Pois João dizia a Herodes. Esteve pessoal mente com
ele e lhe contou clara e livremente sobre seu pecado, o reprovando
fielmente por isso; alegando que o que ele havia feito era contrário
à lei de Deus: Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão (veja
Gill em Mateus 14.4).
6.19. E Herodias o espiava, e queria matado. Irou-se com
ele, concebeu a cólera e odiou-o, sendo sua adversária; tal é o
sentido das versões orientais. Ela guardou rancor por ele e ficou à
espreita para aproveitar a primeira oportunidade de despachá-lo; e
o teria matado, mas não podia; sendo impedida por Herodes, que

1 K)
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. b

ainda não o iria ferir; em parte pelo medo do povo e em parte pelo
respeito que ele tinha por João.
6.20. Porque IIerodes temia a João. O tinha em grande res
peito; tinha uma grande veneração por ele; essa foi a razão pela
qual Herodias ainda não conseguiu cumprir seu desígnio contra
ele e descarregar sua raiva sobre. Embora alguns entendam isso
não por reverência, mas por medo dele; sabia que ele era um ho-
mem exemplar em justiça e santidade, o que lhe rendeu grande
estima entre o povo; e embora Herodes, assim como Herodias, pu-
dessem voluntariamente matá-lo, como Mateus diz, querendo
matá-lo, temia o povo" (14.5); quem. em geral, tinham uma opi-
nião elevada de João como um profeta e um homem bom e santo;
temeu, portanto, tirar sua vida, para que não se levantassem e se
rebelassem contra ele; nem permitiría que Herodias o fizesse, pelo
mesmo motivo. Sabendo que era homem justo e santo; pelo que
ouviu dele, por sua própria conversa com ele e pela observação
que fez sobre seus princípios e conduta. Ele era um homem “j us‫־‬
to” no sentido civil, legal e evangélico: fazia o que era justo, entre
homem e homem; ele fez aos outros, como faria por si mesmo; era
publicamente justo diante dos homens, viveu de maneira sóbria e
justa; nem foi ele responsável por qualquer violação notória da lei;
sua conversa era estritamente moral, sendo justo e reto diante de
Deus, pela justiça de Cristo imputada a ele.
Em quem ele acreditou e para quem ele olhou como o Cor-
deiro de Deus, que tira o pecado do mundo; mas foi no primeiro
sentido que Herodes o reconheceu como um homem justo; quem
só podería fazer tal julgamento sobre ele, por sua conduta externa
e modo de vida; e assim como tinha verdadeiros princípios de san-
tidade interna forjado nele pelo Espírito de Deus, com o qual ele
foi preenchido desde o ventre de sua mãe; ele era publicamente
santo em sua caminhada e conversa, que era visível para os ou-
tros, sendo notado por este príncipe perverso; o primeiro desses
personagens pode considerar sua justiça, retidão e integridade en-
J o h n (;ill

tre os homens; o último, sua piedade e devoção a Deus; e o todo


concorda com o relato que o historiador judeu dá dele, que era
“um excelente homem bom, que incitou os judeus ao estudo da
virtude, e especialmente da piedade e da justiça”. Eram epítetos
que costumavam ser dados a homens famosos por sua religião e
piedade; assim lemos de Simeon, qydu, “o justo”, e de rabino Si-
meon, adyox, “o Santo”.
E guardava -0 com segurança, ou “o manteve” sob custódia,
na prisão, como a Vulgata Latina, siríaca e etíope traduzem; e não
o matou, mas o preservou dos desígnios de Herodias contra ele.
Ou antes observou e notou o que o ouviu dizer em seu ministério;
o colocou e o manteve em sua mente e memória; cuja lembrança
o deixou em temor, e ele não ousou, e não podia no momento, dar
ouvidos às solicitações de Herodias, ou permitir que ela tirasse
sua vida; e ele também observou sua vida e conversa exemplares,
sendo tão justo e reto que sua consciência não o admitiría entregá-
-10 à vontade e prazer dela.

E fazia muitas coisas, atendendo-o, e de boa mente o ouvia:


quando ouvia João explicar a lei e os profetas, abrir os escritos do
Antigo Testamento, pregar a doutrina do arrependimento para com
Deus e da fé no Messias que viria; expôs o mal, o perigo e a puni-
ção do pecado, exortando a uma vida e conversa santas; ensinou a
doutrina do batismo para a remissão dos pecados por Cristo, e falou
das glórias e felicidade de um estado futuro, e da natureza da dis-
pensação do Evangelho, que está começando agora; Herodes, como
um dos ouvintes do solo pedregoso, recebeu a palavra com alegria,
ficou satisfeito com ela e em algumas coisas se reformou publica-
mente; mas a palavra não se enraizou em seu coração e, portanto,
os efeitos públicos que ela produziu não deram em nada; nem foi
capaz de resist!!‫ ־‬às concupiscências e corrupções de seu coração.
O sentido parece ser que, enquanto ouvia João, suas afeições
naturais foram tocadas e ele teve uma espécie de prazer nas coisas

I l,S
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. b

que entregou; assim como os judeus por um tempo se regozijaram


em sua luz (João 5.35), sua consciência natural ditando a ele que
as coisas faladas eram certas, justas e boas; e eles foram proferi-
dos de maneira tão solene e impressionante, que atraíram atenção
e admiração; e eram coisas de tal natureza e importância que, a
partir de um princípio de amor-próprio, ele não podia deixar de
se interessar por elas; e até agora elas tiveram tal influência sobre
ele, que o obrigaram a fazer muitas coisas em um maneira pública,
que tinha a aparência de bem, pelo menos de bem moral; de modo
que é manifesto a partir daí que as pessoas podem ter uma afeição
natural pelo ministério da palavra e parecerem encantadas com ela
por um tempo.
Sim. pode fazer muitas boas ações, que parecem ser tais; e,
no entanto, a palavra vem somente em palavra, e não em poder:
pode haver tudo isso, e ainda assim a verdadeira graça pode não
ser operada, e a palavra não ser a palavra enxertada, capaz de sal-
var. Em uma das cópias de Beza, e também em uma de Stephens,
e na versão copta, em vez de “ele fez muitas coisas”, lê-se “ele he-
sitou muito”; estava perplexo e angustiado, não sabia o que fazer
consigo mesmo; sua consciência estava inquieta, algumas coisas
lhe agradavam e outras o afligiam muito; sua mente estava distraí-
da, ele não sabia o que pensar, dizer ou fazer: isso teve, no entanto,
tanto efeito sobre ele, que construiu algum respeito por João; uma
veneração por ele; pelo menos algum medo e pavor dele, que o
impediu de tirar sua vida ou de permitir que outros o fizessem.
6.21, E, chegando uma ocasião favorável. Para Herodias; que
há muito procurava e esperava uma oportunidade de se vingar de
João, e tal momento o aniversário de Herodes proveu; embora al-
guns pensem que esta frase é a mesma com bvvj Mwy, “um bom
dia”; frequentemente usado pelos judeus para um festival, qualquer
um de seus dias de festa; existe um trato em seu Misna que leva este
nome; e que tal dia era este. Mas nenhuma das festas dos judeus era
essa, como a páscoa, pentecostes ou festa dos tabernáculos, que He-
J o h n Gill

rodes não considerava; mas seu próprio aniversário, que ele man-
tinha como um festival, comendo, bebendo e dançando; e assim foi
um momento muito oportuno para Herodias tirar vantagem de He-
rodes quando de bom humor, em meio a sua companhia e em seus
copos, para solicitar aquilo, o que ela costumava fazer sem sucesso;
e assim foi agora, que Herodes em seu aniversário fez uma ceia para
seus senhores, altos capitães e principais propriedades da Galileia.
Este aniversário era o dia de seu nascimento natural ou civil; o dia
em que ele nasceu no mundo, ou de sua ascensão ao trono; (veja
Gill em Mateus 14.6), quando fez um grande entretenimento à noite
para seus nobres e os oficiais do exército, os capitães de milhares e
os principais homens, aqueles de primeira categoria e qualidade na
Galileia, dos quais ele era Tetrarca.
6.22. Entrou a filha da mesma Herodias ao salão, onde He-
rodes e seus convidados estavam, depois que a ceia terminou, ou
melhor, em seu momento; ela é chamada filha de Herodias, e não
de Herodes; ela a teve não por ele, mas por seu irmão Filipe; acre-
dita-se que seu nome seja Salomé (veja Gill em Mateus 14.6), e
dançou, e agradou a Herodes e aos que estavam à mesa; na ceia,
seus senhores, capitães e principais homens de seus domínios
(veja Gill em Mateus 14.6). Disse então o rei à menina: Pede-me
o que quiseres, e eu to darei; o que mostra como ele estava extre-
mamente satisfeito, e ainda mais porque ela dava um prazer geral
a toda a companhia dele.
6.23. E jurou-lhe. Ele acrescentou um juramento ao que ele
havia dito antes, reafirmando-se, de modo a encorajá-la em seu pe-
dido, e que ele repetiu em linguagem mais forte: Tudo o que me pe-
dires te darei, até metade do meu reino (veja Gill em Mateus 14.7).
6.24. E. saindo ela, perguntou a sua mãe. Tendo o rei fei-
to tal promessa a ela, e anexado seu juramento a ela, ela achou
apropriado, antes de pedir qualquer coisa a ele, retirar-se do salão
e companhia, e refletir consigo mesma, e consultar sua mãe, que

1.70
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. (j

não estava no entretenimento, não sendo comum naqueles países


orientais que as mulheres se sentassem à mesa em qualquer grande
festival; a quem ela relatou a oferta que o rei havia feito e desejou
que ela tivesse o prazer de orientá-la, que pedido fazer, dizendo:
Que pedirei? Ao que sua mãe respondeu, sem pensar mais nisso,
estando preparada para isso, e decidida em sua mente, sempre que
tivesse oportunidade de pedir um favor ao rei, qual deveria ser: E
ela disse: A cabeça de João o Batista. Tão doce é a vingança, que
ter sua vontade sobre aquele grande e bom homem era mais para
ela do que ter metade dos domínios do rei.
6.25. E, entrando logo, apressadamente, pediu ao rei. Ten-
do ouvido o conselho de sua mãe e sendo apressada por ela, ela
imediatamente voltou ao salão, onde o rei e seus convidados es-
tavam, com muita preocupação, ansiedade e diligência, e pediu,
dizendo: Quero que imediatamente me dês num prato a cabeça
de João o Batista; sua petição procedendo de uma promessa com
juramento, é apresentada por meio de demanda; insistindo nisso,
que em muito pouco tempo, "esta hora”, como a versão siríaca a
traduz, dentro de uma hora ou menos; e "aqui”, como diz Mateus
(14.8), naquele mesmo lugar, e enquanto a companhia estava lá;
que deveríam ser dadas ordens para cortar a cabeça de João Batis-
ta, a ser trazida em um prato grande para ela; e isso era o que ela
tinha a pedir, e insistiu na execução imediata e pontual (veja Gill
em Mateus 14.8).
6.26. E o rei entristeceu-se muito (veja Gill em Mateus
14.9); todavia, por causa do juramento e dos que estavam com ele
à mesa; como Mateus acrescenta, “na carne” (Mateus 14.9); pois
parece que a ceia não acabara quando tudo isso estava aconteceu-
do. Não lha quis negar; negar-lhe o pedido ou mandá-la embora
sem concedê-lo, o que não podería acontecer sent entristecê-la,
tratá-la com desprezo e defraudar-lhe a promessa; todas as idéias
que são expressas por algumas versões.
Jo h n Gill

6.27. E, enviando logo o rei o executor (veja Gill em”Mateus


14.10), mandou que lhe trouxessem ali a sua cabeça; ordenou-lhe
que cortasse a cabeça na prisão e a trouxesse imediatamente em
um prato para ele. E ele foi, e degolou-o na prisão; de acordo com
suas ordens.
6.28. E trouxe a sua cabeça num prato. Em um grande prato,
para Herodes, e deu-a à menina, como ela havia pedido; e a menina
a deu a sua mãe; quem a instigou a isso (veja Gill em Mateus 14.11).
6.29. E os seus discípulos, tendo ouvido isto. Isto é, quando
os discípulos de João souberam dessa bárbara execução de seu
mestre, foram, para a prisão no castelo de Machaerus, tomaram o
seu corpo; o tronco de seu corpo; pois sua cabeça foi levada, para
saciar a vingança de Herodias; e o puseram num sepulcro (veja
Gill em “Mateus 14.12” ).
6.30. E os apóstolos ajuntaram-se. Os doze apóstolos de
Cristo, a quem Ele havia enviado, dois a dois, em diferentes par-
tes, tendo passado por eles e terminado a embaixada, foram en-
viados e reuniram-se em um só lugar, vindo juntos em um corpo,
a Jesus, seu Senhor e mestre, que os enviou e a quem eles presta-
ram contas, como todos os ministros do Evangelho; e contaram-
-Lhe todas as coisas, tanto o que tinham feito como o que tinham
ensinado; eles Lhe deram um relato exato e completo de quais
milagres foram realizados por eles, quais doenças eles curaram e
quantos demônios eles expulsaram; e também que doutrinas pre-
garam e que sucesso em tudo o que tiveram; assim, todo ministro
do Evangelho deve prestar contas de seus ministérios a Cristo.
6.31. E ele disse-lhes. Depois de ouvir o relato deles, ficou
satisfeito com eles e aprovou o que disseram e fizeram; Vinde vós,
aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco, onde eles
possam estar livres de barulho e pressa, e descansar e se refrescar
após sua jornada cansativa, trabalhos árduos e grande fadiga na pre-
gação e na operação de milagres; que mostra a grande compaixão,

l.? 2
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. (i

ternura e cuidado de Cristo por Seus discípulos. Porque havia mui-


tos que iam e vinham, e não tinham tempo para comer; as pessoas
estavam indo e vindo continuamente; assim que uma companhia se
foi, que veio com seus enfermos para serem curados, ou por uma
conta, outra veio, de modo que não houve oportunidade de medita-
ção e oração privada, nem de conversa espiritual juntos; nem mes-
mo conter uma refeição de carne para refrescar a natureza.
6.32. E foram sós num barco, em particular, para um lugar
deserto. Que pertencia à cidade de Betsaida (Lucas 9.10), de navio
em particular; sobre alguma parte do mar de Tiberíades, este lugar
situado em um lado mais remoto.
6.33. E a multidão viu-os partir. A multidão que vinha de
um lado para o outro viu Cristo e Seus discípulos embarcando
e partindo; pois, embora fossem tão privados quanto possível, e
pretendiam ter ido de uma maneira muito privada, ainda assim as
pessoas os observaram; e muitos o conheceram, Jesus; algumas
cópias leem “eles”; e também as versões siríaca e etíope; eles co-
nheciam Cristo e Seus discípulos, embora estivessem no navio e
a alguma distância; e correram para lá, a pé, de todas as cidades,
e ali chegaram primeiro do que eles, e aproximavam-se dele; eles
foram a pé, como poderíam de Cafarnaum, Nazaré e as partes ad-
jacentes, pela ponte em Chammath de Gadara, até este lugar, que
pertencia a Betsaida; para onde perceberam que se dirigiam e fi-
zeram tanta pressa que chegaram lá antes deles; e as pessoas que
afluíam de várias cidades se reuniram e vieram a Jesus, para ouvir
sua doutrina e ver seus milagres.
6.34. E Jesus, saindo do navio, desembarcou; e viu uma grau-
de multidão; que veio em parte dos lugares de onde ele veio, e em
parte das cidades e vilas adjacentes; e teve compaixão deles (veja
Gill em Mateus 14.14); a razão segue: porque eram como ovelhas
que não têm pastor. Cristo observou que eles estavam famintos e
sedentos da palavra da justiça e não tinham pastores espirituais
Jo h n Gill

fiéis para alimentá-los com conhecimento e entendimento; pois


os escribas e fariseus eram guias cegos e pastores que nào podiam
entender; de modo que as pessoas estavam prestes a perecer por
falta de conhecimento, não tendo nenhum conforto espiritual e re-
frigério sob seu ministério; portanto seguiram a Cristo, onde quer
que ele fosse, com grande zelo e fervor, desejando sinceramente
o pão da vida. Isso moveu Sua compaixão, de modo que, embora
Sua visão de vir a este lugar fosse a aposentadoria, e que Seus
discípulos pudessem descansar, se refrescar e se consolar em con-
versas particulares com Ele e uns com os outros; contudo, adiando
a vantagem privada para o bem público, em vez de repreendê-los
por lhe causarem esse novo problema, gentil e ternamente os rece-
beu, e começou a ensinar-lhes muitas coisas, relativas ao reino de
Deus, a dispensação do Evangelho, suas doutrinas e ordenanças;
coisas relativas ao seu bem-estar espiritual e eterno, o conforto e a
salvação de suas almas imortais; bem como curou todas as doen-
ças corporais que precisavam disso; do que Mateus apenas toma
conhecimento (Mateus 14.14); como Marcos apenas da doutrina;
mas Lucas menciona tanto a doutrina quanto os milagres de cura
(Lucas 9 .11).
6.35. E, como o dia fosse já muito adiantado. Ou “muito tem-
po se passou”, ensinando o povo e curando os enfermos; os seus
discípulos aproximaram-se dele; mais perto d’Ele, enquanto estava
pregando ou curando os enfermos; e lhe disseram: O lugar é deser-
10, e o dia está já muito adiantado (Veja Gill em Mateus 14.15).

6.36. Despede-os. Deixe de pregar, dispense a assembléia


(veja Mateus 14.15); para que vão aos lugares e aldeias circun-
vizinhas; ou "nos campos”, isto é, para as casas ímpares, que es-
tavam aqui e ali nos campos (veja Gill em Marcos 5.14); e nas
aldeias, as pequenas cidades do interior que estavam por perto.
E comprem pão para si; porque não têm o que comer; pois não
trouxeram provisões com eles, não havia nenhum naquele lugar
deserto, e já era hora de eles tomarem um refresco; pois a hora

1. ) 1
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. b

habitual do jantar havia passado, a primeira noite havia chego e o


dia estava declinando, já adiantado.
6.37. Ele, porém, respondendo, lhes disse: Dai-lhes vós de
comer. Isso ele disse para provar a fé deles e abrir caminho para
o seguinte milagre. E eles disseram-lhe: Iremos nós, e comprare-
mos duzentos dinheiros de pão para lhes darmos de comer? Isso
pode ser apenas a soma de dinheiro que eles agora tinham na boi-
sa, como Grotius e outros conjectural‫ ;!־)־‬e o sentido é: devemos
distribuir os duzentos pence, que é tudo o que temos em mãos,
para comprar pão para esta multidão? É apropriado que devamos?
É Tua vontade que assim seja? E se o fizéssemos, como sugere
Filipe (João 6.7), não seria suficiente dar um pouco a cada um?
Portanto dizem isso maravilhados por Ele propor tal coisa a eles,
ou a razão de mencionar tal quantia, como observa o doutor Ligh-
tfoot, pode ser porque essa era uma soma notável e celebrada entre
os judeus, e frequentemente mencionada por eles. O dote de uma
virgem, no casamento, era “duzentos pence”; e também o de uma
viúva ou uma que fosse divorciada, se insistisse nisso e pudesse
fazer valer sua reivindicação; esta era a multa de um homem adul-
to que se deitava com uma menor de idade; e de um homem menor
de idade que se deitou com uma mulher adulta; e de um homem
que deu um tapa na cara de outro.
6.38. E ele disse-lhes: Quaníos pães tendes? Isso ele dis-
se, não como ignorante, mas como disposto a provar sua fé ain-
da mais, e que o milagre posterior pudesse ser mais manifesto e
ilustre. Ide ver, significando que eles deveríam examinar sua pró-
pria loja, se tivessem alguma; ou melhor, vá e veja o que podería
ser obtido no local, entre a empresa, por dinheiro. E, sabendo-o
eles, disseram: Cinco pães e dois peixes; quando eles pergunta-
ram quais provisões havia, e o máximo que podería ser obtido de
qualquer maneira, disseram a ele, André, irmão de Simão Pedro,
particularmente, que havia um menino entre a multidão que tinha

1.3.·)
J o h n Gill

cinco pães de cevada e dois peixinhos; e, ao mesmo tempo, sugere


que eles não eram nada para uma multidão tão grande.
6.39. E ordenou-lhes que fizessem assentar a todos, como
fazem à mesa quando estão prestes a tomar uma refeição, e como
eles não tinham uma diante deles, nem camas ou sofás para sentar
ou deitar, Ele os instruiu a colocá-los em ranchos, sobre a erva
verde; para que houvesse alguma ordem entre eles, como em uma
refeição; e que seu número pudesse ser mais facilmente conhe-
cido; e que todos eles pudessem ver mais claramente o milagre
que deveria ser realizado, e a provisão fosse mais ordenadamente
distribuída a eles.
6.40. E assentaram-se repartidos. Ou “camas”, na forma
como pequenas camas são colocadas em um jardim, ou como fi-
leiras de vinhas em uma vinha, na qual os estudiosos dos sábios
se sentavam em suas escolas; diz-se, “Rabino Eliezer ben Azarias
expôs perante os sábios na vinha (ou seja, a universidade) de Jab-
neh: embora houvesse uma vinha lá. Mas estes são os discípulos
dos sábios, que são feitos ou colocados, twrwv twrwv, ‘fileiras,
fileiras’, ou ‘em fileiras’, como um vinhedo”. De cem em cem, e
de cinquenta em cinquenta; isto é, cem em “cada” cama, ou fileira,
e cinquenta em “cada” cama, ou fileira, como a palavra significa:
cada cama ou fileira distinta tinha cem ou cinquenta nela.
6.41. E. tomando ele os cinco pães e os dois peixes. Das
mãos daqueles que os trouxeram para as suas; levantou os olhos
ao céu, abençoou e partiu os pães (veja Gill em Mateus 14.19), e
deu-os aos seus discípulos para que os pusessem diante deles à
multidão, a fim de que comessem. E repartiu os dois peixes por
todos; para que cada um tivesse uma parte. As versões siríaca e
persa lidas, elas se dividiram; isto é, os apóstolos.
6.42. E repartiu os dois peixes por todos (Veja Gill em Ma-
teus 14.20).

l,)(i
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. b

6.43. E levantaram doze cestos cheios de pedaços de pão.


Dos pedaços de pão, depois que todos comeram e ficaram satisfei-
tos; e dos peixes, o que restava deles, pois, embora houvesse ape-
nas um pão para mil pessoas e mais, e dois peixinhos para serem
divididos entre cinco mil e mais, ainda assim, pelo maravilhoso
poder de Cristo aumentando a ambos, enquanto eles distribuíam e
comiam, havia o suficiente de ambos para todos eles, e uma quan-
tidade de cada sobrava para encher doze cestos.
6.44. E os que comeram os pães. E também dos peixes; por-
que todos comeram de ambos; eram cerca de cinco mil homens;
a palavra wsei, “sobre”, é omitida nas versões Vulgata Latina,
siríaca, árabe, persa e etíope, lendo cinco mil homens certos. O
evangelista Mateus acrescenta, '”‘ao lado de crianças e mulheres”
(Mateus 14.21).
6.45. E logo obrigou os seus discípulos. As razões disso po-
dem ser vistas em Gill em Mateus 14.22; a subir para o barco, em
que chegaram a este lugar, e que os esperava; e passar adiante,
para o outro lado, a Betsaida; ou melhor, “ir para o outro lado
contra Betsaida”, pois agora estavam em um deserto pertencente
àquela cidade, portanto receberam ordens de ir e foram para o ou-
tro lado do mar de Tiberíades, ou Galileia, até Cafarnaum, como
aparece em João 6.17; enquanto ele despedia a multidão (veja Gill
em Mateus 14.22).
6.46. E, tendo-os despedido. Ou Seus discípulos, ou melhor,
a multidão; foi ao monte a orar, depois que Seus discípulos se fo-
ram, e Ele despediu o povo, saiu do deserto onde estivera, subiu a
uma montanha, sendo um lugar retirado, para passar algum tempo
em oração privada a Deus (veja Gill em Mateus 14.23).
6.47. E, sobrevindo a tarde. A segunda noite, e era propria-
mente noite, estava o barco no meio do mar, da Galileia, cerca de
vinte e cinco ou trinta estádios da costa (veja Jó 6.19); e ele, so-
zinho, na terra, sobre a montanha. Isso é observado em parte para
John (iill

mostrar em que angústia os discípulos estavam no meio do mar,


tendo um forte vendaval, e seu mestre não estava com eles; e em
parte para mostrar que não havia maneira, humanamente falando,
de Cristo chegar ao navio, a fim de passar; e é uma ilustração do
seguinte milagre, de caminhar tantos estádios, quanto Ele deve,
sobre a água, em uma noite tempestuosa, para chegar lá.
6.48. E vendo que sefatigovam a remar. Ele os viu com Seu
olhos corporais da montanha em que Ele estava; ou Ele percebeu
em seu Espírito, Ele sabia, em virtude de sua onisciência como
Deus, em que angústia Seus discípulos estavam; sendo agitados
pelas ondas do mar, e trabalhando com todas as suas forças contra
o vento; e foram vexados e torturados, como a palavra significa;
eles estavam na maior dor e inquietação da mente, bem como fa-
diga do corpo, ajudando os homens a remar; pois o navio em que
estavam não era outro senão um navio conduzido por remos; e
trabalho árduo foi para evitar que fosse exagerado. Porque o vento
lhes era contrário; soprava do outro lado para o qual eles estavam
indo, bem na cara deles, forte contra eles; de modo que foi com
grande esforço e dificuldade que eles avançaram. Perto da quarta
vigília da noite; ou três horas da manhã, de modo que é muito pro-
vável que, como a noite em que embarcaram no navio estava se
pondo, ou por volta das seis horas, eles estiveram nove horas no
mar e conseguiram apenas vinte cinco ou trinta estádios da costa
(veja Gill em Mateus 14.25); aproximou-se deles, andando sobre
o mar: estando nessa angústia, Cristo desceu da montanha para o
lado do mar; e então, por Seu poder divino, como o Deus pode-
roso que pisa nas ondas do mar, Ele caminhou sobre a superfície
das águas; “como em terra seca’’, como acrescenta a versão persa;
e queria passar-lhes adiante; isto é, Ele fez como se quisesse (veja
Lucas 24.28). Pelo curso que Ele dirigiu, pela rapidez de Seu mo-
vimento e Sua aparente negligência para com eles, parecia que
Ele pretendia passar por eles e não dizer-lhes nada, embora isso
estivesse longe de seu verdadeiro objetivo.

1,‫־‬.s
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 6

6.49. Mas. quando eles o viram andar sobre o mar (veja Gill
em Mateus 14.26); cuidaram que era um fantasma; um espírito,
um espectro, uma aparição, um demônio noturno; e deram gran-
des gritos, como homens assustados com a visão, e temendo que
fossem feridos por ela, ou que isso pressagiasse algum mal para
eles (Veja Gill em Mateus 14.26).
6.50. Porque todos o viam, eperturbaram-se. Se tivesse sido
visto apenas por um, podería ter sido considerado uma fantasia e o
efeito de mera imaginação; mas como todos viram, estava fora de
dúvida que assim era, e isso os preocupava mais; mas logo falou
com eles, assim que o viram, “naquele exato momento”, como o
siríaco o traduz; para que, ao ouvir sua voz, seus medos fossem
dissipados; e disse-lhes: Tende bom ânimo; sou eu, não temais
(Veja Gill em Mateus 14.27).
6.51. E subiu para o barco. Isto é, depois que Pedro desejou
que fosse convidado a ir até Ele na água e, tendo permissão, fez um
ensaio; mas o vento sendo forte e começando a diminuir, gritou por
socorro; quando Cristo estendeu a mão e o salvou, e então ele, junto
com Pedro, subiram ao barco para o resto dos discípulos, como é
relatado por Mateus (14.28), embora omitido por este evangelista; e
o vento se aquietou, de soprar; foi colocado de uma vez, assim que
Cristo entrou no navio, e eles ficaram muito surpresos consigo mes-
mos, além da medida, e se perguntaram. A versão etíope acrescenta
“para ele”; ficaram surpresos quando descobriram que era Cristo, e
não um espírito; e eles ficaram mais maravilhados com sua cami-
nhada sobre o mar; e eles se maravilharam ainda mais abundante-
mente ao observar que o vento cessou quando Ele entrou no navio;
seu espanto estava além da expressão e, portanto, muitas palavras
são usadas para significar isso.
6.52. Pois não tinham compreendido o milagre dos pães.
Que eles tinham visto no dia anterior; não prestaram atenção a
isso, nem aprenderam com isso como poderíam, a maravilhosa
J o h n G ill

glória de Cristo e a grandeza de seu poder; o que foi tanto um ato


de onipotência quanto caminhar sobre a água ou fazer com que o
vento cessasse, ou ainda mais. Pois o coração deles estava endure-
cido; ou “cego”; não pelo pecado, ou contra Cristo, muito menos
de maneira judicial; mas havia muita estupidez e falta de atenção
neles. A glória de Cristo, que Ele manifestou e mostrou em Seus
milagres, não foi tão clara e totalmente discernida, atendida e re-
conhecida por eles, como se podería razoavelmente pensar que
seria; pois, apesar desses milagres, que eles viam diariamente,
eles precisavam de iluminações divinas, para que as trevas de suas
mentes fossem removidas, eles pudessem contemplar a glória de
Cristo, como a glória do unigênito do Pai.
6.53. E, quando já estavam no outro lado. O lago de Genesa-
ré, ou mar da “Galiléia”, eles chegaram à terra de Genesaré (veja
Gill em Mateus 14.34); para Cafarnaum, como aparece em João
6.17, pois Cafarnaum ficava na terra de Genesaré; ao que concor-
da o que Josefo diz, que a terra de Genesaré foi regada com uma
fonte muito excelente, que os habitantes daquele lugar chamavam
de Cafarnaum: e puxou para a costa: isso é omitido nas versões
siríaca e persa, e o árabe diz: “e lançaram âncoras”.
6.54. E. saindo eles do barco. Cristo e Seus discípulos, e
estavam em terra, logo O conheceram; isto é, os homens daquele
lugar, como em Mateus 14.35 (veja em Gill); e assim as versões
siríaca, árabe e persa leem aqui, “os habitantes daquele país”, o
país de Gennesaret; eles o conheciam, tendo visto e ouvido antes.
6.55. E, correndo toda a terra em redor. Isto é, os habitantes
daquela parte do país onde Cristo desembarcou, correram muitos de-
les eles mesmos, e outros enviaram mensageiros a todas as partes
dela, por todos os lados; começaram a trazer em leitos, aonde quer
que sabiam que ele estava, os que se achavam enfermos; ou coxos,
ou tão desordenados que não podiam andar, ou suportar qualquer ou-
tra maneira de serem carregados: estes trouxeram-Lhe, onde ouviram

160
C o m en tário bíblico rie M arcos - C ap. 7

que ele estava; em qualquer parte dei país em que souberam que Ele
estava; pois ele andava de um lugar para outro fazendo o bem.
6.56. E, onde quer que entrava, ou em cidade, ou aldeias, ou no
campo. Seja em cidades menores, ou cidades maiores, ou nos cam-
pos, onde havia casas, aqui e ali uma; apresentavam os enfermos nas
praças; ou “mercados”, em quaisquer lugares públicos; e rogavam-
-lhe que os deixasse tocar ao menos na orla da sua roupa; se eles não
pudessem tocar sua pessoa, ou ele não escolhesse impor as mãos so-
bre eles: e todos os que lhe tocavam; ou “isso”, a borda de sua roupa,
como eles desejavam; saravam de qualquer doença ou enfermidade
com a qual foram afligidos (veja Gill em Mateus 14.36).

Capítulo 7
7.1. E AJUNTARAM-SE a ele os fariseus. Tendo ouvido falar
de seus milagres, e que Ele havia chegado à terra de Genesaré;
consultaram um ao outro e se reuniram a Jesus para observar o
que era dito e feito por Ele, e tirar o máximo de proveito que
pudessem contra Ele. Estes não eram daquele país, mas eram de
Jerusalém, assim como seus companheiros, os escribas; e alguns
dos escribas que tinham vindo de Jerusalém; pois a fama de Cristo
havia alcançado a metrópole da nação; e esses homens, sendo os
mais astutos de toda a seita, vieram por si mesmos ou foram en-
viados pelo sinédrio para fazer observações sobre Sua doutrina e
conduta (veja Gill em Mateus 15.1).
7.2. E, vendo que alguns dos seus discípulos. Uma oportuni-
dade logo se ofereceu para dar-lhes uma alça contra Ele, por ob-
servarem alguns de Seus discípulos sentarem-se para comer, eles
notaram que eles comiam pão com as mãos impuras, isto é, por
lavar, os repreendiam; os acusando de violar as tradições dos an-
ciãos, e aproveitaram a ocasião para brigar com Cristo. Os judeus
J o h n G il l

usam a mesma frase que o evangelista aqui usa, e a interpretam


da mesma maneira: assim, falando de coisas comidas, twbawom
Mydyb, “com mãos contaminadas”; isto é, diz o comentarista, é
tudo como se fosse dito, Mydy tlyjn alb, “sem lavar as mãos”;
que foi considerado um crime muito grande, e especialmente se
feito de forma desdenhosa, pois eles dizem, “aquele que despreza
a lavagem das mãos será extirpado do mundo; pois nele está o se-
gredo do decálogo”; e particularmente comer com as mãos sujas
era imperdoável em um discípulo de um homem sábio, pois eles
consideraram isso a característica de uma das pessoas vulgares,
um homem comum e analfabeto, pois eles perguntam, “quem é
um dos povos da terra, ou um plebeu? aquele que não come sua
comida comum com pureza”. Por isso também eles distinguiam
um judeu de um gentio; se ele lavasse as mãos e abençoasse, ele
era conhecido como um israelita, mas se não, um gentio (veja Gill
em Mateus 15.2).
7.3. Porque os fariseus, e Iodos os judeus. A maior parte de
les; todos, exceto os saduceus; e especialmente os fariseus, eram
muito tenazes com essa tradição de lavar as mãos antes de co-
mer; portanto, os fariseus são descritos como tal, hrhjb Nhylwx
ylkwa, “q ue comem sua comida comum com pureza”, isto é, das
mãos; conservando a tradição dos antigos, não comem sem lavar
as mãos muitas vezes; ou exceto que eles lavam com muito cuida-
do, diligência e exatidão, como sugere a versão siríaca; e sobre o
qual existem várias regras dadas a serem observadas com grande
rigor. Alguns traduzem as palavras “eles lavam as mãos até o co-
tovelo”; e esta é uma regra com os judeus, que deve ser seguida de
perto, que a lavagem das mãos deve ser, qrp de, “para a articula-
ção”, que une a mão e o braço juntos; particularmente, observa-se
que “O lavar das mãos para comer a oferta é até os cotovelos, e
para as comidas comuns, até as juntas dos dedos; quem come com
um ancião e não lava as mãos até os cotovelos, não pode comer
com ele”. Bem, pode-se acrescentar, mantendo a tradição dos mais

162
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 7

velhos; nem os judeus pretendem que a autoridade das Escrituras


os obrigue a tais regras; pois, dizem eles, o comando relativo à Ia-
vagem das mãos é Myrpwo yrbdm, “das palavras dos escribas”;
e é Mymkx twum, “uma ordem dos sábios”. A tradição é esta:
“eles lavam as mãos para a comida comum, mas para o dízimo, e
para a primeira oferta, e para o que é santo, eles as molham, e para
a oferta pelo pecado; porque se as mãos estão contaminadas, o
corpo está contaminado”. E esta tradição dos anciãos, os escribas
e fariseus, estritamente observada.
7.4. E, (/iianc/o voltam do mercado. Na cópia mais antiga
de Beza, e em uma das de Stephens, é lido como fornecemos,
“quando eles vêm”; portanto, isso não diz respeito a coisas com-
pradas no mercado, um sentido favorecido por todas as versões
orientais, pois muitas delas não podiam ser lavadas; mas as pes-
soas dos escribas e fariseus, que quando vinham do mercado, ou
de qualquer tribunal, imergiam-se totalmente na água, conforme
o verdadeiro sentido da palavra aqui usada; pois, “se os fariseus
tocassem apenas nas vestes das pessoas comuns, eles seriam con-
taminados, todos como se tivessem tocado uma pessoa proflúvia,
hlybj Nkyruw, 4e precisassem de imersão’”; e foram obrigados a
isso, portanto, quando andavam pelas ruas, andavam nas laterais
do caminho, para que não se contaminassem ao tocar nas pessoas
comuns; se não se lavarem, não comem, ou mergulham na água,
assim como usam, Mydy tlybj, “imersão das mãos”, ou lavagem
das mãos por imersão; e que, se apenas pretendido, é suficiente
para apoiar o sentido primário da palavra “baptizo”. E muitas ou-
tras coisas há que receberam para observar, pela tradição dos mais
velhos, como a lavagem de xícaras e potes, bronze, vasos e mesas;
e aqui a palavra baptismov, “batismo”, é usada corretamente em
seu significado próprio e primário; pois todas essas coisas foram,
conforme as tradições dos anciãos, lavadas por imersão “em uma
pia, (eles dizem) que contém quarenta mares de água, que não são
drenados, todo homem impuro mergulha, exceto um homem pro-
Jo h n Gill

flúvio; e nele Nyamjh Mylkh Ik ta Nylybjm, ‘eles mergulham


todos os vasos impuros’”; como lavar os copos, e os jarros, e os
vasos de metal, vasos estes muito partieularmente mencionados,
porque os de barro que eram impuros deveriam ser quebrados; que
foram todos lavados antes de serem comidos, mesmo em um dia
de sábado, e isso por imersão; pratos em que eles comem à noite
(isto é, do sábado), eles os lavam para comer pela manhã; pela
manhã eles os lavam para comer ao meio-dia; ao meio-dia eles os
lavam para comer no “minchah”; e do “minchah” e para a fren-
te, eles não lavam novamente; mas ”copos”, “jarros” e “panelas”
eles lavam, e passa o dia todo; para não há hora certa para beber.
Todos esses vasos, fossem de um gentio, ou de um israelita, ou
mesmo de um homem sábio, deveriam ser imersos antes de serem
usados. “Aquele que compra um vaso para o uso de um banquete
de gentios, sejam vasos fundidos ou vasos de vidro, Nlybjm, ‘eles
os mergulham’ nas águas da pia; e depois disso eles podem comer
e beber neles, e como eles usam para coisas frias, como ‘xícaras’,
‘panelas’ e ‘jarros’, eles os lavam, Nlybjmw, ‘e os mergulha’, e
eles são livres para uso; e como eles usam para coisas quentes,
como ‘caldeirões’ e ‘caldeirões’ (‘vasos de bronze’), eles os aque-
cem com água quente e os esfregam , Nlybjmw, ‘e os mergulha’,
e eles estão aptos para serem usados; e coisas que eles usam no
fogo, como espetos e grelhas, eles os aquecem no fogo até que a
crosta (a cobertura de ferrugem ou sujeira) caia desligado, Nlyb-
jmw, ‘e os mergulha’, e eles podem ser legalmente usados. Esta
é a imersão com a qual eles mergulham os vasos para uma festa,
comprados dos gentios; e depois disso eles estão livres para co-
mer e beber; pois o negócio de impureza e purificação é apenas
das palavras dos eseribas; e ninguém é obrigado a esta imersão,
mas vasos fundidos para um banquete, comprados de gentios; mas
se ele pede emprestado de gentios, ou um gentio deixa em vasos
fundidos de peão (feitos de latão fundido ou ferro), ele lava, ferve
ou aquece no fogo, mas não precisa mergulhá-los; e assim, se ele

Ki t
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. /

compra vasos de madeira 011 de pedra, ele os lava 011 ferve, mas
não precisa mergulhá-los; e assim vasos de barro não precisam ser
imersos; mas aqueles que estão cobertos com chumbo, são como
vasos derretidos, hlybj Nykyruw, le precisam de imersão'”. E
não apenas os que foram comprados dos gentios, mas também os
feitos por judeus, e estudiosos também, deveríam ser imersos na
água. “Vasos”, eles dizem, “que são acabados em pureza, mes-
mo que um discípulo de um homem sábio os faça, cuidado deve
ser tomado sobre eles, eis! estes devam ser imersos”; e as camas,
nas quais comem; e porque a postura deles estava deitada, recli-
nada ou inclinada; daí a palavra klinwn, é usada para eles aqui;
estes eram capazes de contaminação em um sentido cerimonial,
segundo as tradições dos judeus; uma de suas regras é esta: “todo
vaso de madeira, que é feito para o uso de vasos e de homens,
como, Nxlwvh, uma ‘mesa’, uma cama, etc. recebe impureza”.
E havia vários tipos de mesas que, por suas leis, eram impuras
ou poderiam ser contaminadas pelo toque de pessoas ou coisas
impuras: assim eles dizem, “uma mesa e aparador, que são feitos
de menos, ou cobertos com mármore, se houver um espaço deixa-
do, no qual os copos possam ser colocados, eles podem ser con-
taminados. Rabino Judah diz, se houver um espaço deixado, no
qual podem ser colocados pedaços, ou seja, de pão ou carne: uma
mesa da qual o primeiro de seus pés é removido está limpa; se o
segundo é removido, está limpo; se o terceiro é removido, pode
ser contaminado”. Novamente, todo vaso de madeira, dividido em
duas partes, é limpo, exceto uma mesa dupla, etc., ou seja, uma
mesa que consistia em várias partes e eram dobradas juntas quan-
do eram removidas, estas eram lavadas, cobrindo-as com água;
e eles foram muito bons em lavá-las, para que a água chegasse a
todas as partes e pudessem ser cobertas por toda parte; para que
não haja nada que possa separar entre eles e a água, e impedir sua
chegada a eles; como, por exemplo, o piche estar sobre uma mesa,
seja dentro ou fora, dividido entre ela e a água; e quando este foi
Jo h n Gill

o caso, não foi devidamente lavado; mas para lavar as mesas por
imersão, não há objeção; portanto, para confundir este assunto e
causar mais problemas, insiste-se que a palavra deve ser traduzida
como “camas”; e deve-se reconhecer que é assim traduzido nas
versões siríaca, persa e etíope (na versão árabe, a cláusula é omi-
tida) e em muitas traduções modernas: e estamos contentes que
seja assim traduzido. E essas camas projetam os sofás em que se
deitam ou se apoiam nas refeições; ou as camas em que dormiam
à noite: estas podiam ser poluídas, num sentido cerimonial; pois
de tal poluição e lavagem devemos entender essas tradições: pois
essas coisas não consideram a simples lavagem delas quando na-
turalmente impuras, quando deveríam ser lavadas; e é costume
de todas as pessoas lavá-los quando for o caso. Eles também não
precisam recorrer a uma leitura variada, fornecida por um dos ma-
nuscritos da Biblioteca Bodleiana, ou seja, a menos que sejam
aspergidos; cuja leitura deve estar errada, não apenas porque, ao
contrário de todas as outras cópias, mas também pelos usos dos
judeus na lavagem de si mesmos.
7.5. Depois perguntaram-lhe os fariseus e os escribas. Nã
os discípulos, mas o próprio Cristo; pois a visão principal deles era
encontrar falhas e brigar com Ele; Por que não andam os teus dis-
cípulos conforme a tradição dos antigos, mas comem o pão com as
mãos por lavar? Ou “com comum”, isto é, “mãos” contaminadas,
como em Marcos 7.2. Portanto, as palavras são lidas na cópia mais
antiga de Beza, em uma das cópias de Stephens e na versão lati na
da Vulgata. A palavra “comum” é usada para aquilo que é impu-
ro ou profano (Atos 10.14), e assim significa mãos não lavadas,
como lemos e traduzimos; além disso, “mãos comuns” podem
ter algum respeito pelas mãos de pessoas comuns, os vulgares e
analfabetos, que não respeitavam esta tradição, mas comiam a sua
comida comum sem lavar as mãos. Em vez de “a tradição dos
anciãos”, a versão etíope diz, “a constituição dos escribas e fari-
seus”; e que às vezes são chamados pelos judeus, Myrpwo yrbd,

1 (i(i
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 7

“as palavras”, ou “ditos dos escribas”, e são preferidos por eles


à lei escrita; e os mesmos são comumente chamados de twkylh.
“caminhos”, nos quais um homem deve andar e de acordo com os
quais deve orientar seu curso de vida; e a qual referência é feita
aqui na palavra “andar”, usada pelos fariseus; que sugerem que
essas decisões, constituições e tradições dos anciãos eram a regra
segundo a qual os homens deveríam ordenar seu modo de vida e
conversa; culpando os discípulos por não se conformarem com
eles, e particularmente no caso de comer pão, o que eles faziam
sem lavar as mãos, o que era estritamente prescrito entre esses
cânones; e eles queriam para saber o sentido de Cristo sobre ele.
Embora eles pudessem saber das Escrituras, particularmente de
Ezequiel 20.18, que era seu dever, assim como os discípulos de
Cristo, não andar nos estatutos de seus pais, nem observar seus
julgamentos, as leis e ordenanças instituído por eles; mas andar
nos estatutos do Senhor, guardar seus julgamentos e cumpri-los;
não as tradições dos homens, mas a palavra de Deus deve ser a
regra de caminhada e conversa; e todos os que andarem conforme
esta regra, a paz estará com eles; mas aqueles que andam segundo
os mandamentos dos homens merecem justamente o caráter dado
pelo profeta Isaías, cujas palavras nosso Senhor produz nos versí-
culos seguintes.
7.6. E ele, respondendo, disse-lhes. Mateus adia a seguinte
citação e aplicação da profecia de Isaías ao relato do mandamen-
to de Deus sendo quebrado pela tradição de Corban; com o qual
Marcos faz a resposta de Cristo para começar; Bem profetizou
Isaías acerca de vós, hipócritas; que em Mateus se lê: "hipócritas,
hem profetizou Isaías a vosso respeito” (Mateus 15.7), no mesmo
sentido que aqui: pois a profecia de Isaías não apenas descrevia
os hipócritas de seu tempo, mas dizia respeito principalmente aos
judeus nas eras seguintes, nos tempos de Cristo, e antes, e depois;
quando eles, como o fizeram, degeneraram muito e perderam o
poder e a espiritualidade da religião, tendo apenas a sua forma;
J o h n Gill

deixaram a palavra de Deus pelas tradições dos homens e foram


entregues à grande estupidez e à cegueira judicial: a isso o após-
tolo Paulo se refere a uma passagem no mesmo capítulo (Isaías
29.10), e a aplica aos judeus em seu tempo (Romanos 11.8; veja
Gill em Mateus 15.7); como está escrito em Isaías 29.13: Este
povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de
mim. No Profeta Isaías, mais é dito do que aqui citado; e assim em
Mateus mais é produzido, e o todo é expresso assim: "estepovo se
aproxima de mim com a boca e me honra com os lábios, mas seu
coração está longe de mim” (Mateus 15.8). Eles apresentavam
seus corpos diante do Senhor nas sinagogas ou no templo, e ora-
vam a Ele com ar de devoção e fervor, oferecendo-Lhe seus lou-
vores, por seus privilégios e bênçãos públicos; mas, infelizmente,
tudo isso foi trabalho labial; não havia como levantar o coração
com as mãos para Deus; estes não estavam unidos para temer Seu
nome, mas foram distraídos em sua adoração e levados dele para
outros objetos (veja Gill em Mateus 15.8).
7.7. Em vão, porém, me honram. Esta é a continuação da
citação de Isaías, como também é o que segue: ensinando doutri-
nas que são mandamentos de homens. Como todas essas tradições
mencionadas eram tais; como lavar as mãos antes de comer pão, e
todo o corpo quando vinham do mercado; ou de qualquer tribunal
judicial, ou concurso de homens, onde haviam sido tocados por
pessoas comuns, e a lavagem de xícaras, potes, vasos de bronze e
mesas ou camas; estes eles ensinaram ao povo e ordenaram-lhes
a observância, em vez de instruí-los nas doutrinas da Bíblia, res-
peitando o Messias e a salvação por Ele; o temor correto e a ver-
dadeira adoração a Deus, Suas ordenanças e estatutos; portanto,
sua adoração a Ele, embora acompanhada de uma grande demons-
tração de santidade e religião, era uma coisa vã, uma mera coi-
sa vazia, desprovida de vida, poder e espiritualidade, inaceitável
para Deus e sem uso real, lucro e vantagem. Para si mesmos: não
resultou na glória de Deus, nem trouxe nenhum prazer verdadeiro

l(i8
C o m en tário bíblico de M arcos - Ca]). 7

ou paz sólida para si mesmos; e eles descobriríam, por triste expe-


riência, que sua esperança de estar no favor de Deus e de desfrutar
a felicidade eterna por causa disso provaria ser uma vã esperança
(veja Gill em Mateus 15.9).
7.8. Porque, deixando o mandamento de Deus. Significando
não qualquer mandamento particular, mas todos os mandamentos
de Deus, toda a lei escrita; sobre qual eles preferiram a lei oral,
ou as tradições dos anciãos, bem como as decisões de seus mé-
dicos. Assim, as versões siríaca, árabe, persa e etíope dizem “os
mandamentos de Deus”. Retendes a tradição dos homens, muito
significativamente sendo os anciãos, a quem os judeus reveren-
ciavam, e cujas tradições e constituições eles exaltavam acima
das Escrituras, chamados de “homens”, em distinção a “Deus”,
cujos mandamentos eles negligenciavam; o que expõe e agrava
o pecado deles, para que eles deixem aquele, que tinha o selo da
autoridade divina sobre eles, e mantenham o outro, que era apenas
os artifícios do cérebro dos homens; conto a lavagem de panelas
e copos. A versão árabe acrescenta “e vasos”, de Marcos 7.4, e a
versão etíope entre "cálices” e "copos” coloca "dinheiro”; como
se eles também contraíssem impureza em alguns casos e preci-
sassem ser lavados, de fato havendo uma tradição para tal pro-
pósito, “lopnv rnyd, ‘tint centavo que é rejeitado’ (isto é, como
dizem os comentaristas, que um reino ou província anulou, ou que
quer peso), se alguém o preparar para pendurar no pescoço de um
criança, é 'im puro’; e assim um 'sela' (que era o valor de quatro
pence) e é preparado para pesar com ele, é 'im puro”’. E fazeis
muitas outras coisas semelhantes a estas; tantas, que é quase infi-
nito calcular. O tratado "Celim”, ou “dos vasos”, na Misna, está
cheio de regras, a respeito da pureza e impureza, de quase todas
as coisas em uso pelos homens; e assim do que fazer e do que
não precisa ser lavado. E essas coisas eles fizeram, não de acordo
com o mandamento de Deus, nem fingiram; mas de acordo com
as palavras dos escribas e as tradições dos anciãos, que atingiram
Jo h n Gill

todos os tipos de vasos: sua regra é esta; “vasos feitos de madei-


ra, e de pele, e de osso, e de vidro, se forem lisos, estão limpos;
mas se forem ocos (ou feitos para conter coisas), estão sujeitos à
poluição”. Qual Maimônides explica assim: “vasos de madeira, e
de pele, e de osso, se ocos, recebem impurezas pelas palavras da
lei; mas se forem lisos como mesas, um assento, uma pele sobre a
qual comem, não recebem impureza, mas, Myrpwo yrbdm, "das
palavras dos escribas’”. E esta lavagem de vasilhas não apenas
dizia respeito às que eram de uso privado, mas também às vasilhas
do santuário; assim é dito: “depois de uma festa, no final de um
bom dia, ou festival, ‘eles mergulham todos os vasos no santuá-
rio’; porque as ‘pessoas comuns’ os ‘tocaram’ na festa, na hora
de guardá-la; portanto eles dizem, não toquem na mesa (a mesa
dos pães da proposição), quando a mostram aos que sobem para
a festa, para que não seja contaminada por tocá-la; e se depois da
festa for encontrada (poluída), deve ser mergulhado e todos os
vasos são obrigados a imersão, exceto o altar de ouro, e o altar
de bronze”. Para que nosso Senhor possa dizer: “e muitas coisas
semelhantes vocês fazem”.
7.9. E dizia-lhes. Ele continuou Seu discurso, dizendo: Bem
invalidais, ou “razoavelmente”, o mandamento de Deus para
guardardes a vossa tradição; essas palavras podem ser conside-
radas como ditas ironicamente, assim, como homens piedosos e
excelentemente bons, vocês de uma maneira muito justa e bonita,
rejeitam e invalidam os mandamentos e as leis de Deus; e é muito
adequado que assim seja, a fim de preservar suas próprias tradi-
ções, para que nada falte para manter a honra delas e o devido
respeito por elas. A versão árabe lê as palavras por meio de inter-
rogatório: “é adequado que você omita os mandamentos de Deus
e guarde seus próprios estatutos?” E assim o etíope, “você anula
corretamente o mandamento de Deus, para que possa guardar seu
próprio mandamento?” O que os aproxima da passagem em Ma-
teus (veja Gill em Mateus 15.3).

170
C o m en tário bíblico de M arcos - Ca{). 7

7.10. Porque Moisés disse. Ou seja, Deus por Moisés, pois o


seguinte preceito foi dito por Deus, e escrito por Ele em uma das
tábuas de pedra, entregue nas mãos de Moisés para ser dado aos
filhos de Israel: Honra a teu pai e a tua mãe (Êxodo 20.12), cuja
sanção é a lei, e quem maldisser, ou o pai ou a mãe, que morra a
morte (Êxodo 21.17). Como o primeiro desses mandamentos deve
ser entendido, não apenas honrar os pais em pensamento, palavra
e ação, mas também prover-lhes quando em necessidade e angús-
tia, ao longo da pobreza e da velhice; portanto, o último deve ser
interpretado não apenas por desejar ou imprecar as coisas mais
terríveis sobre os pais, das quais alguns podem não ser culpados e,
no entanto, transgredir esse comando; mas também de todo des-
respeito a eles e negligência deles, quando em circunstâncias ne-
cessarias; e ambas as leis foram quebradas pelos judeus por meio
de sua tradição mencionada a seguir (veja GUI em Mateus 15.4).
7.11. Vós, porém, dizeis. Seus anciãos, doutores e sábios, em
oposição a Deus e Moisés: Se um homem disser ao pai ou à mãe:
Aquilo que poderías aproveitar de mim é Corbâ, isto é, oferta ao
Senhor; da mesma maneira é esta palavra interpretada por Josefo,
que falando de alguns que se chamam Corbã para Deus, diz na lín-
gua grega, dwron de touto semainei, “isto significa um presen-
te”: agora, segundo as tradições dos anciãos, quem fez uso dessa
palavra para seu pai ou sua mãe, significando assim que poderíam
esperar alívio de suas mãos, ele a havia dedicado; ou era como se
fosse dedicado a usos sagrados, adicionando: por tudo o que tu
podes ser beneficiado por mim, ele será livre e não sob nenhuma
obrigação de considerar e aliviar seus pais; deixe seu caso e cir-
cunstâncias serem o que eles fariam. Esta é a forma de um voto
que um homem, tendo feito de propósito, para se livrar do encargo
da manutenção de seus pais, quando reduzido, repete a eles; ou
que faz mediante solicitação a ele; várias formas desse tipo de vo-
tos são produzidas na nota Mateus 15.5, que vemos: essa não era
a forma de um juramento, ou juramento por Corbã, ou o sagrado
Jo h n (;ill

da tesouraria no templo, mencionada em Mateus 27.6, da qual não


me lembro de nenhuma ocorrência; nem foi uma dedicação de sua
substância para usos sagrados e religiosos; ao serviço de Deus e
do templo; mas foi um voto que ele fez, que o que ele tinha, deve-
ria ser como Corbã, como um presente dedicado a usos sagrados.
Como isso não podería ser apropriado para nenhum outro uso, en-
tão sua substância, após tal voto, não podería ser aplicado ao alí-
vio de seus pais; embora ele não fosse obrigado a dá-lo para o uso
do templo, mas pudesse mantê-lo para si mesmo ou concedê-lo a
outros. L. Capellus escreveu uma dissertação muito erudita sobre
este voto, no final de seu Spicilegium sobre o Novo Testamento;
muito e nosso erudito compatriota, doutor Pocock, disse muitas
coisas excelentes sobre isso, nas notas diversas em seu Poria Mo-
sis\ ambos que devem ser lidos e consultados por aqueles que têm
aprendizado e lazer.
7.12. Nada mais lhe deixais fazer por seu pai ou por sua mãe
Conforme os cânones judaicos, se um homem fez una voto contrário
a um mandamento, ele foi obrigado a manter seu voto e quebrar o
mandamento; assim, se um homem jurou que seu pai ou sua mãe
nunca receberíam qualquer beneficio do que ele tinha, mas que sua
substância era como “Corbã”, ou como qualquer coisa dedicada ao
serviço divino, ele era obrigado a manter seu voto; depois disso, ele
não teve permissão para fazer nada por seu pai ou mãe, por mais
pobres ou desamparados que fossem, a menos que tivesse pedido a
um homem sábio para revogar seu voto, ou para lhe dar liberdade
em fazê-lo; pois ele não podería fazer isso por si mesmo, por mais
perverso que fosse; e embora ele pudesse se arrepender sinceramen-
te disso e estivesse sempre tão disposto a torná-lo nulo e sem efeito;
e embora uma dissolução por um homem sábio fosse permitida,
ainda assim eles estabelecem seu próprio poder e autoridade contra
Deus e sua lei; eles não rescindiram o voto, porque era contrário ao
mandamento de Deus, pois, apesar de ser contrário ao mandamento
de Deus, deveria ser observado; pelo que eles estabeleceram seu

I 72
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 7

poder e autoridade magistral, sem qualquer consideração pela honra


e glória de Deus; portanto o que se segue é justamente observado
por nosso Senhor (veja Gill em Mateus 15.5).
7.13. Invalidando assim a palavra de Deus pela vossa tra
dição. Beza diz, em sua cópia mais antiga: “sua tradição tola”; e
era de fato que um voto feito precipitadamente e com paixão, ou
se celebrado deliberadamente, deveria ser mais obrigatório para
um homem do que a lei de Deus; que, em vez de quebrar isso,
ele deveria transgredir um mandamento divino, e embora pudesse
ver sua loucura e se arrepender de seu pecado ao fazer um voto
tão perverso, não podería voltar sem a permissão de um homem
sábio; se seus pobres pais angustiados viessem a ele em busca de
ajuda, ele era obrigado a respondê-los, assim se comprometen-
do por um voto que eles não deveríam receber vantagem alguma
de sua substância; deveríam protestar contra ele o mandamento
de Deus, para honrá-los e cuidar deles, e observar que esse co-
mando é reforçado por promessas e ameaças; ele tinha isso para
responder, sendo instruído a fazê-lo, que era o senso dos sábios
e médicos, e segundo as tradições dos anciãos, aos quais deveria
atender mais do que às palavras da lei, deve manter e cumprir seu
voto, seja qual for o comando negligenciado ou quebrado por ele.
Que vós ordenastes,;eles a receberam de seus antepassados e a
entregaram a seus discípulos; e é assim que todas as suas tradições
foram transmitidas; dizem que “Moisés recebeu a lei (a lei oral)
no Sinai, hromw, ke a entregou’ a Josué; e Josué aos anciãos, e
os anciãos aos profetas; e os profetas aos homens da grande si-
nagoga; o último dos quais era Simeão, o justo; e Antígono, um
homem de Socho, recebeu dele; e José ben Joezer, um homem de
Tzeredah, e José ben Jochanan, um homem de Jerusalém, recebeu
de Antígono; e Joshua ben Perachiah (que disse ser o mestre de
Jesus Cristo), e Nitthai, o arbelita, recebeu deles; e Judah ben Ta-
bai e Simeon ben Shetach receberam deles; e Shemaiah e Abtalion
receberam deles; e deles Hilel e Shammai”. Quem eram agora os
J o h n G ill

chefes das duas grandes escolas dos judeus, recebendo e transmi-


tindo tais tradições aos escribas e fariseus, e eles aos seus discípu-
los. E muitas coisas fazeis semelhantes a estas, significando que
havia muitas outras tradições além desta agora mencionada; pelo
que, em vez de preservar a lei escrita que pretendiam, era uma
proteção para eles, e em muitos casos a anularam.
7.14. E, chamando a si toda a multidão. A Vulgata Latina e
as versões etíope, em vez de “todos”, relidas, e também algumas
cópias; tendo dito o que era suficiente para fechar as bocas dos
escribas e fariseus sobre suas tradições injustificáveis; Ele se volta
para as pessoas comuns, que ficaram a alguma distância, por cau-
sa desses veneráveis médicos, e os chamou para se aproximarem
d ’Ele, dizendo-lhes: cada um de vós, ouça-me e entenda; signifi-
cando que Ele tinha algo de momento para dizer a eles, ao qual
eles fariam bem em atender, e o que eles deveríam estar desejosos
de entender corretamente, sendo isso o que preocupava cada um
deles (veja Gill em Mateus 15.10).
7.15. Nada há, fora do homem. Como qualquer tipo de co-
mida e bebida, seja recebida com ou sem lavar as mãos, que entrar
nele pode contaminá-lo; em um sentido moral, ou torná-lo repug-
nante e inaceitável aos olhos de Deus; mas as coisas que saem
dele; a versão árabe diz: “da boca do homem”, como em Mateus
15.11, pois as coisas são todas as palavras pecaminosas que proce-
dem das imaginações e concupiscências do coração; como todas
as palavras e expressões ociosas, impuras, blasfemas e coléricas,
podendo incluir maus pensamentos, palavras e ações; quais ações
primeiro em pensamento surgem do coração corrupto do homem;
e em palavra, saia da boca; e em ação, são realizados por um ou
outro dos membros do corpo: estes são aqueles que contaminam o
homem; sua mente e consciência, as faculdades de sua alma e os
membros de seu corpo; e torna-o abominável aos olhos de Deus,
expondo-o à Sua ira e desagrado (veja Gill em Mateus 15.11).

17 1
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 7

O sentido do todo não é o que um homem come e bebe, e de


qualquer maneira que ele faça, embora ele possa comer e beber com
as mãos sujas, ou em xícaras, potes e travessas não devidamente
lavados conforme as tradições dos anciãos, o tornam una homem
pecador e poluído aos olhos de Deus; ou alguém cuja companhia e
conversa devem ser evitadas por homens bons; mas que é pecado
no coração e o que procede dele; como todos os maus pensamen-
tos, palavras perversas e ações impuras que denominam um homem
imundo e impuro, e o expõem à aversão de Deus e de seu povo, as
palavras podem ser traduzidas: “não há nada de fora do homem
que possa torná-lo comum”; isto é, como um plebeu, um homem
comum e vulgar, um homem pecador e perverso, como eram as pes-
soas comuns, ou pelo menos que eram tão estimados pelos fariseus;
nada que ele ingerisse em seu corpo, comendo ou bebendo, podería
colocá-lo na classe de tais pessoas: “mas as coisas que saem dele”,
de seu coração, por seus lábios; “esses são os que tornam o homem
comum”, ou um homem perverso vulgar. A versão etíope traduz:
“não é o que entra de fora na boca do homem que pode contaminá-
- 10; mas apenas o que sai do coração do homem, isso o contamina”;
a versão persa acrescenta: “e é o pecado de morte”; ou pecado para
a morte, um pecado mortal.
7.16. Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça. Veja Gill em
Mateus 11.15.
7.17. Depois, quando deixou a multidão. Muito provável-
mente em Cafamaum, e pode ser a casa de Simão e André, onde
Ele costumava estar quando lá; do povo, sendo separado deles,
despedindo-os e deixando-os quando Ele e Seus discípulos esta-
vam sozinhos; Seus discípulos lhe perguntaram sobre a parábola,
aquele ditado d'Ele para o povo que era um tanto obscuro e intrin-
cado para eles; que nada sem um homem entrando nele o contain!-
non, mas o que sai dele; isso foi perguntado por Pedro, em nome
do resto (veja Gill em Mateus 15.15).
John Gill

7.18. £ ele disse-lhes. Com algum calor de espírito e ressen-


timento, em sua estupidez: também estais vós sem entendimento?
Assim como outros, e em tal grau; e “ainda”, como Mateus o ex-
pressa (Mateus 15.16), tào miseravelmente estúpido, e tão longo,
tanto quanto os outros: não percebes? O bom senso lhe dirá, que
tudo o que de fora entra no homem não pode contaminá-lo (veja
Gill em Mateus 15.16).
7.19. Porcine não entra no sen coração. Que é a sede e fonte
de toda poluição moral; e se isso não for contaminado, nenhuma
outra parte pode ser; e que isso não é contaminado por comer
e beber, a menos que em caso de intemperança, é claro; porque
comida e bebida não entram nele, mas em sua barriga; é ingerido
pela boca, desce pela garganta e é recebido no estômago, e daí
passa pelos intestinos, e vai para a corrente, aokh tyb, “a casa
particular”, como os judeus a chamam, sem entrar no coração;
purgar todas as carnes, o que deixa para trás é puro e nutritivo; e
tudo o que é grosseiro e impuro é levado com ele para a corrente
de ar, para nada permanecer no homem que esteja contaminando.
7.20. E dizia: () c/ne sai. Continuou a dizer em seu discurso;
embora isso seja deixado na versão siríaca; o que sai do homem,
isso o contamina; ou seja, não seus excrementos, que eram impu-
ros pela lei (Deuteronômio 23.13), mas o que sai de seu coração,
por sua boca; ou é expresso em ação, como aparece a seguir (veja
Gill em Mateus 15.18).
7.21. Porque do interior do coração dos homens. (3 interior
do homem é muito mau, seu interior não é apenas perverso, mas
a própria maldade, sim, muita maldade (Salmos 5.9) nele habita,
nada de bom natural mente, seu coração é perverso, e desesperado;
está cheio de maldade; e da abundância dele procedem as coisas
más mencionadas a seguir; todos os seus poderes e faculdades es-
tão viciados, não há lugar limpo; o entendimento e o julgamento
estão terrivelmente corrompidos; a mente e a consciência estão

17(!
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. /

contaminadas; as afeições são desordenadas; não apenas o pensa-


mento, mas toda imaginação do pensamento do coração é má, e
isso continuamente; que coisa boa é, portanto, pode sair de uma
Nazaré como esta? Nada, mas o que se segue, pois daqui pro-
cedem maus pensamentos, adultérios, fomicações, assassinatos;
quais várias coisas estão relacionadas em Mateus 15.19 (veja a
nota em Mateus 15.19); apenas a ordem aqui é um pouco diferen-
te: “assassinatos”, aqui mencionados por último, são colocados
depois de “maus pensamentos”.
7.22. Os furtos. Estes também são mencionados em Mateus,
mas Marcos omite “testemunhas falsas” e acrescenta o seguinte:
que, exceto “blasfêmia”, não são notados pelos outros evange-
listas cobiça, maldade, engano, lascívia, mau-olhado, blasfêmia,
orgulho, tolice (veja Gill em Mateus 15.19).
7.23. Todos estes males procedem de dentro. Todos os maus
pensamentos, palavras e ações surgem das partes internas do ho-
mem; de seu coração, que está tristemente corrompido e é a fonte
de onde fluem todas essas correntes impuras. E se estes vêm de
dentro, então não de fora; eles não são por imitação, ou são meros
efeitos do exemplo em outros, o exemplo pode de fato, e frequen-
temente o faz, extrair o mal que está dentro; mas não o produz lá;
se não estivesse lá antes, não podería extraí-lo de lá, e se todos
esses males vêm de dentro, então a parte interior do homem deve
ser pecaminosa e poluída antes da comissão dessas coisas más;
e de onde brota então essa poluição interna? E fruto do pecado
original, da transgressão de Adão; cuja consequência é uma na-
tureza corrupta, derivada para toda a sua posteridade; pois sua
natureza foi corrompida pelo pecado, e ele tendo toda a natureza
humana nele, os indivíduos dela não poderíam ser propagados por
geração comum, sem a poluição do pecado se apegando a eles;
“quem pode tirar uma coisa limpa de uma impura? Nem uma"
(Jó 14.4). Nem nunca houve qualquer instância em contrário, se-
não o homem Cristo Jesus, cuja natureza humana era santa, não

177
J o h n (nil

descendendo de Adão por geração ordinária; caso contrário, todos


os homens, são conto Davi: “e/77 iniquidade fu i formado, e em pe-
cado me concebeu minha mãe” (Salmos 51.5), e esta é a fonte de
toda ação pecaminosa, interna e externa. E contaminar o homem;
alma e corpo; todos os poderes e faculdades da alma e todos os
membros do corpo; ou “tornar um homem comum”; isso mostra
que ele é uma pessoa comum, um homem muito pecador; como
tais foram considerados e, portanto, são chamados enfaticamente
de “pecadores”, e se juntam aos “publicanos”, que eram conside-
ratios os piores dos pecadores; de tudo o que parece, esse pecado
em pensamento, palavra e ação é a contaminação da coisa, e é o
que deve ser cuidadosamente evitado; e não carnes, ou a maneira
de comê-las, desde que sejam usadas com moderação.
7.24. E, levantando-se dali. Da terra de Genesaré, ou de Ca-
farnaunt, que estava nela; foi para os termos de Tiro e de Sidom,
duas cidades da Fenícia, não nelas, mas em suas fronteiras, na-
quelas partes da Galileia que faziam fronteira com a Fenícia (veja
Gill em Mateus 15.21). E, entrando numa casa, em alguma das
vilas ou cidades daquelas partes; uma casa que podería ser para
o entretenimento e hospedagem de estranhos; não queria que al-
guém o soubesse, tomando todas as devidas precauções como ho-
ntern para que ninguém soubesse quem Ele era e onde Ele estava;
que os gentios, em cujas fronteiras Ele estava, não se reunissem
a Ele, o que criaria inveja e repulsa nos judeus; mas não pôde es-
conder-se, tendo realizado tantos milagres na Galileia, e sua fama
sendo tão espalhada, que foi visto e conhecido por tantas pessoas
e, humanamente falando, era quase impossível que Ele fosse des-
conhecido por muito tempo em tal lugar.
7.25. Porque uma mulher. Uma maneira e meio pelo qual foi
descoberto mais amplamente quem Ele era, foi aqui; uma mulher
por aquelas bandas, cuja filha tinha um espírito imundo, um de-
mônio pelo qual ela estava possuída; ouvindo falar dele, ouvindo
falar de alguns milagres que Ele havia feito curando os enfermos

I 7S
C o m en tário bíblico de M arcos - Ca]). 7

e expulsando demônios, entendendo que Ele estava em tal lugar


correu para lá; foi e lançou-se aos seus pés, e com grande respeito
e reverência a uma pessoa tão venerável, jogou-se a seus pés e
implorou sinceramente misericórdia por sua filha, acreditando que
ele tinha poder para expulsar o demônio dela, mesmo que distante.
7.26. E esta mulher era grega. Ou gentia, uma mulher paga,
o que a tomava fé o menos notável. Assim, as versões siríaca, per-
sa e etíope a chamam; o que ela podería ser, e era, embora fosse
uma mulher de Canaã, como é dito em Mateus 15.22, pois embora
a terra de Israel em geral fosse chamada de terra de Canaã, ainda
assim havia uma parte específica que a princípio foi habitada pelo
próprio Canaã, que levava esse nome; e é o mesmo com a Fenícia,
da qual esta mulher era habitante e, portanto, ela é posteriormente
chamada de siro-fenícia (veja Gill em Mateus 15.22). E este lu-
gar agora era habitado por gentios, portanto os judeus costumam
distinguir entre um servo hebreu e um cananeu; dos quais pegue
uma instância ou duas: “um servo hebreu é obtido por dinheiro, e
por escrito, um servo cananeu é obtido por dinheiro, e por escrito,
e por posse”. Novamente, “aquele que fere um servo hebreu, está
obrigado a tudo isso (ou seja, fazer compensação por perda, dor,
cura, cessação de negócios e reprovação), exceto cessação de ne-
gócios — mas aquele que fere um servo cananeu, aquele pertence
a outros, está ligado a todos eles”. E por um servo cananeu eles
entendem qualquer um que não seja israelita; pois um hebreu e um
cananeu são manifestamente opostos um ao outro. Pode-se dizer
que essa mulher da Fenícia, como aparece a seguir, que às vezes
era chamada de Canaã, era uma mulher de Canaã e também uma
gentia. Siro-fenícia de nação. As versões siríaca e persa dizem que
ela era “da Fenícia da Síria”; e o último, a título de explicação, “da
Emisa”. A versão árabe acrescenta, “sua origem era de Ghaur”; e a
versão etíope diz que ela era “a esposa de um homem siro-fenício”
(veja Gill em Mateus 15.22). E rogava-lhe que expulsasse de sua
filha o demônio; ao que ela foi persuadida pelo que ouviu d’Ele,
Jo h n Gill

e o que Ele foi capaz de fazer, por uma palavra, embora sua filha
nào estivesse presente.
7.27. Mas .Jesus disse-lhe. Não direta e imediatamente, em
seu primeiro pedido; pois Ele não respondeu uma palavra a isso;
mas antes d’Ele, Seus discípulos desejaram que ela fosse mandada
embora, seus gritos sendo problemáticos para eles; e depois ela
renovou seu pedido a Ele (veja Mateus 15.23). Deixa primeiro
saciar os filhos, de acordo com este método, nosso Senhor dirigiu
Seus apóstolos, e eles procederam; como Ele próprio foi enviado
às ovelhas perdidas da casa de Israel, ordenou que Seus discípulos
fossem até eles e lhes pregassem o Evangelho, fazendo milagres
entre eles; e não irem pelo caminho dos gentios, nem entre em
nenhuma das cidades dos samaritanos; mas quando passaram pe-
Ias cidades da Judeia os ordenou que depois de Sua ressurreição
fossem por todo o mundo e pregassem o Evangelho a todas as
nações, começando por Jerusalém; e esta ordem eles observaram
em outros lugares, onde havia judeus; eles primeiro pregaram para
eles e depois para os gentios, sabendo que era necessário que a
palavra de Deus fosse falada primeiro a eles; e foi o poder de
Deus primeiro para o judeu e depois para o gentio; a expressão
aqui usada, embora dê preferência ao judeu, não exclui o gentio;
antes, supõe-se que, depois que os judeus tiveram as doutrinas de
Cristo confirmadas por Seus milagres, suficientemente ministra-
das a eles para a reunião dos escolhidos entre eles, e para deixar
o resto indesculpável; e contanto que eles O desprezem e O afas-
tem, julgando-se indignos d ’Ele; que então os gentios deveríam
ter muitas provisões do Evangelho diante deles, e deveríam comê-
-las e serem satisfeitos; e deveria ter um grande número de mila-
gres operados entre eles, e uma plenitude das bênçãos da Graça
concedidas a eles.
Os judeus são significados como filhos de Deus por adoção
nacional, pois foram os primeiros a serem preenchidos com as
doutrinas e milagres de Cristo, antes que os gentios O tivesse en-

ISO
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 7

tre eles; como eles eram, mesmo com aversão e desprezo por Eles;
porque não convém tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorri-
nhos; por “filhos” se entendem os israelitas, que não eram apenas
filhos de Abraão por descendência natural, mas filhos de Deus, a
quem pertencia a adoção em virtude do pacto nacional feito com
eles; assim, por “os cachorrinhos” entendem-se os gentios, que
foram considerados como tais pelos judeus; e pelo “pão”, que não
era adequado e apropriado que se devesse ser tirado de um para
o presente e lançado para o outro, é designado o ministério do
Evangelho; que é como pão, sólido, substancial, saudável e nutri-
tivo; e as curas milagrosas operadas nos corpos de todos os que O
acompanhavam; agora não era adequado e conveniente ainda que
essas coisas fossem retiradas da nação judaica, até que tivessem
respondido aos tins para os quais foram projetadas e os judeus
expressassem sua aversão a Ele; quando o fizeram, foram tirados
deles e ministrados às nações do mundo, os chamaram com des-
dém de cães (veja Gill em Mateus 15.26).
7.28. Ela, porém, respondeu, e disse-lhe: Sim, Senhor. Con
cordando com o que ele disse, que ela parecia ter entendido, em-
hora transmitida de maneira proverbial; e responde muito apro-
priadamente: mas também os cachorrinhos comem, debaixo da
mesa, as migalhas dos filhos, que eles deixam cair; significando
que ela não invejava as bênçãos dos judeus, ou desejava que qual-
quer coisa pudesse ser prejudicial a eles; apenas para que este fa-
vor lhe fosse concedido, do qual ela era indigna, para que sua filha
pudesse ser curada. Ela possui tacitamente que o caráter dos cães
pertencia aos gentios, e a ela entre os demais; que eles eram vis
e baixos em si mesmos, inferiores aos judeus, quanto aos privilé-
gios, como cães debaixo da mesa; que as provisões com as quais
a mesa do ministério do Evangelho foi fornecida não eram para
eles; pelo menos, que eles eram bastante indignos deles; mas, no
entanto, enquanto os cães podiam comer migalhas, que de vez em
quando caíam da mesa ou das mãos e colo das crianças; portanto.
J o h n Gill

gentios indignos como ela poderíam receber um pequeno benefí-


cio ou favor a propósito, quando não tirasse e não fosse uma des-
vantagem para os judeus (veja Gill em Mateus 15.27).
7.29. Então ele disse-lhe: Por essa palavra. Ou palavra de fé,
em que ela expressou uma fé tão grande rfEle; a versão persa diz:
“siga o teu caminho; porque com a bênção desta palavra, o demônio
saiu de tua filha”, como se tal ditado se referisse à palavra Cristo e
o poder divino que O acompanhava para expulsão de demônios;
quando se refere ao dito da mulher, e não às palavras de Cristo, que
se seguem: vai, segue o teu caminho; em paz, teu pedido é atendido;
é como tu queres: o demônio já saiu de tua filha. Cristo, que como
Deus está em todos os lugares e cujo poder divino alcança todos os
lugares, pessoas e coisas de maneira secreta e poderosa, expulsou o
demônio da filha desta mulher; sem ir até ela ou falar com ele, seu
poder operou o milagre com eficácia.
7.30. E, indo ela para sua casa. Pois com aquelas palavras
de Cristo ela ficou abundantemente satisfeita e foi embora com
uma fé tão grande e uma persuasão tão forte da desapropriação
quanto a que ela trouxe, de que Cristo foi capaz de efetuá-la; por-
tanto, ela descobriu que o diabo havia saído de sua filha; que ela
foi totalmente despossuída dele, e não mais irritada e atormen-
tada com ele, mas em perfeita facilidade e em repouso. Achou a
filha deitada sobre a cama, sem quaisquer movimentos violentos,
convulsões e movimentos de um lado para o outro, como antes,
mas composta e quieta, descansando um pouco, tendo estado por
algum tempo muito cansada com a possessão. A versão etíope
diz: “ela encontrou sua filha vestida e sentou-se na cama”, pois as
pessoas nessas posses costumavam tirar as roupas e rasgá-las em
pedaços; eram raramente compostas e raramente ficavam muito
tempo sentados em um lugar ou postura; mas agora era diferente
com ela.

182
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 7

7.31. E ele, tornando a sair dos termos de Tiro e de Sidom A


versão da Vulgata Latina diz: “e saindo novamente das fronteiras
de Tiro, ele passou por Sidon”; e assim duas cópias de Beza; a
versão árabe, da qual De Dieu fez uso, diz “para Sidon”; embora
a versão na Bíblia poliglota de Walton leia, Nym, “de Sidon”;
mas o maior número de cópias, e as versões siríaca e persa, leem
como nós, e qual é a mais correta, visto que não parece que Cristo
saiu da terra de Israel para qualquer cidade pagã; portanto não é
provável que ele passe por aquela cidade para ir até ela. A versão
etíope diz: “e saindo novamente de Tiro, ele passou por Sidon”:
ambos os lugares estavam na Fenícia, e é provável que a mulher
antes mencionada possa pertencer a um ou outro deles. De acordo
com esta versão, pode-se pensar que ela seja de Tiro, e que foi lá
onde o discurso acima passou entre Cristo e ela; embora algumas
imagens holandesas, como doutor Lightfoot observa, a represen-
tem como orando por sua filha no portão de Sidon; e Borchard, o
monge, como é dele relatado, diz que antes do portão de Sidon, a
leste, há uma capela construída no local onde a mulher cananeia
orou ao nosso Salvador por sua filha.
Mas Cristo, pela razão antes dada, não podería estar em ne-
nhum desses lugares, estando fora da terra de Israel; além disso, o
texto expressa que foi para as fronteiras deste país que Ele veio, e
dali Ele foi; e para, ou de, ou através de qualquer um desses luga-
res. Foi até ao mar da Galileia; ou Tiberíades, o mesmo com o lago
de Genesaré; Ele chegou àquelas partes da Galileia, que ficavam
perto de onde estivera, antes de passar pelas fronteiras de Tiro e
Sidom; pelo meio das terras de Decápolis (deste lugar, veja Gill
em Mateus 4.25). Era um país que consistia em dez cidades, de
onde tinha seu nome; agora não no meio dessas cidades, ou deste
país, como diz a versão etíope; mas pelo meio das fronteiras dela
passou Cristo, que estava em seu caminho desde as costas de Tiro
e Sidom até o mar da Galileia. As versões siríaca e persa traduzem
as palavras “até as fronteiras de Decápolis, ou as dez cidades”; e
J o h n (nil

a versão árabe, “até o meio das costas das dez cidades” (veja Gill
em Mateus 15.29).
7.32. E trouxeram-lhe um surdo. Havia dois tipos de pessoas
que eram chamadas de surdas entre os judeus; uma que não podia
ouvir nem falar, sendo os que nasceram surdos e, portanto, nun-
ca tendo ouvido nada, era impossível que falassem; o outro tipo
eram aqueles que podiam falar, mas não ouviam, que perderam a
audição por algum desastre ou outro, mas mantiveram a fala; do
último tipo parece ser este homem, que embora tivesse alguma
dificuldade, ainda podia falar um pouco, tendo um impedimento
na fala; ou "mal podia falar”, como a palavra significa; embora às
vezes seja usado pela Septuaginta para alguém que era totalmente
burro, como em Isaías 35.6 e, portanto, aqui é traduzido como
“burro”, pela Vulgata Latina e outras versões; no entanto, parece
projetar alguém que gaguejava e não conseguia falar claramente e
sem grande dificuldade: ele estava com a língua presa, como deve-
ria parecer em Marcos 7.35. Este homem, os habitantes das partes
onde Cristo agora estava, seus parentes ou amigos, trazem a Ele,
tendo ouvido falar de Sua fama, e talvez tenham visto milagres
realizados por Ele; e imploram que Ele coloque a mão sobre o sur-
do, acreditando firmemente que, ao fazê-lo, a audição do homem
lhe chegaria, e ele falaria sem dificuldade; muito provavelmente
haviam visto curas realizadas por Cristo dessa maneira, ou pelo
menos ouvido, que impondo as mãos em pessoas desordenadas
elas foram restaurados ao uso correto de seus sentidos ou rnern-
bros; portanto imploraram sinceramente que Ele tivesse o prazer
de fazer o mesmo favor a este pobre homem.
O caso desse homem muito se assemelha ao de um pecador
em estado de natureza, que é surdo à voz, tanto da lei quanto do
Evangelho; ele não dá ouvidos à voz dominante da lei, nem atende
a seus preceitos, nem pode ele esteja sujeito a isso; nem ele ouve
suas ameaças e maldições, ou é afetado e perturbado por essas
coisas; e, como o somador surdo, ele tapa o ouvido para a voz en-

LSI
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 7

cantadora do Evangelho; a despreza e a tem com a maior aversão:


ele é surdo a todas as instruções, direções, advertências e exorta-
ções dos ministros da palavra, e mesmo de seus melhores amigos,
parentes e conhecidos; ele não pode falar a língua de Canaã, é uma
língua estranha para ele; ele não pode falar por si mesmo, nem
entender-se nos outros, pois, como não tem experiência da Graça
de Deus nele, deve ser mudo e não pode falar do que não tem
conhecimento; e de fato pode-se observar daqueles que estão sob
as primeiras obras do Espírito de Deus sobre a alma, que muitas
vezes estão com a língua presa por medo ou timidez, ou as tenta-
ções de Satanás cuidam para não falar; ou com grande dificuldade
são levados a falar do que Deus fez por eles; e a princípio é apenas
de maneira balbuciante que falam dessas coisas; e como amigos e
parentes desse homem, tendo uma grande opinião de Cristo e uma
persuasão de sua capacidade de aliviá-lo e curá-lo, trazem-no a
Ele para que pudesse impor suas mãos sobre o homem; o mesmo
acontece com aqueles que conhecem a si mesmos em Cristo e
sentem o poder de Sua Graça sobre suas próprias almas, trazendo
seus surdos e mudos, suas relações em um estado de natureza, sob
os meios da Graça, estando muito desejosos de que Cristo os des-
nudasse e estendesse Seu poderoso braço de Graça, se apoderando
deles, e fizesse uma boa obra neles, e lhes desse ouvidos para ou-
vir Sua voz e uma língua para falar de Seu louvor.
7.33. E, tirando-o à parte, de entre a multidão, para evitar
toda aparência de ostentação e vã glória; pôs-lhe os dedos nos ou-
vidos, o dedo da mão direita na orelha esquerda e o dedo da mão
esquerda na orelha direita; e, cuspindo, tocou-lhe na língua; isto
é, ou Ele cuspiu na língua, pois assim a Vulgata Latina a traduz:
“cuspindo, ele tocou a língua”; e a versão persa assim, “ele lançou
sua saliva em sua língua”; ou melhor, ele cuspiu no dedo e tocou a
língua com ele. Essas ações não foram feitas como meio de cura,
ou como tendo qualquer virtude natural, ou tendência nelas, para
efetuar uma cura; mas para mostrar o poder de Cristo, que pelo
Jo h n Gill

mero toque de seu dedo e pela saliva de sua boca, bem como pela
imposição de mãos, como era desejado, e por uma palavra falada,
ele podería imediatamente remover esse ou qualquer outro dis-
túrbio. A separação desse homem da multidão é um emblema do
Senhor separando Seu povo do resto do mundo, quando Ele os
chama por Sua Graça; pois como eles se distinguem dos outros na
escolha deles em Cristo e na redenção por Ele, assim, no chamado
eficaz são convidados a sair do meio deles e, pelo poder da Graça
divina, são tirados do meio deles e se entregam a Cristo e às Suas
igrejas; e Cristo colocando seus dedos nos ouvidos deste homem
representa o esforço de Seu poder e a remoção pelo dedo de Seu
Espírito das obstruções da audição espiritual; ou melhor, plantar o
ouvido espiritual, ou formar um princípio de aproximação espiri-
tual na alma; e tocar a língua com a saliva da boca pode nos levar
a observar a aplicação de Sua palavra, através da eficácia de Sua
Graça como forma de soltar a língua e abrir os lábios para elogiar.
7.34. E, levantando os olhos ao céu. Para seu Pai, por quem
Ele foi enviado, e de quem, como homem, recebeu Sua autorida-
de e poder; embora isso não fosse para ajudar na operação desse
milagre, que ele tinha poder para fazer por si próprio; nem desco-
brimos que Ele fez qualquer pedido a Seu Pai, mas parece ter feito
uso desse movimento, não por si mesmo, mas para o homem, para
ensiná-lo que todo bom presente, bênção, misericórdia e favor, e
assim ele estava prestes a participar, era de cima; suspirou, não tão
desigual para o trabalho de curar o homem, ou desesperado em
fazê-lo, mas como comiserando o caso do pobre homem e refle-
tindo com preocupação sobre seu pecado, essa foi a ocasião para
isso. Essas ações de olhar para o céu e suspirar, como podem ser
entendidas em um sentido espiritual, ou em relação à cura espiri-
tual de um pecador, podem mostrar que tal bênção vem de cima: é
recebida do céu; é Deus quem dá o ouvido que ouve, assim como
o olho que vê, e isso em um sentido espiritual, bem como em um
sentido natural, portanto direciona a aplicação a Deus por isso.

l«(i
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 7

seja para si mesmo ou para outros; e quando desfrutado, olhar


novamente para o céu e agradecer por isso: e também que tal fa-
vor flui da misericórdia e compaixão divinas, Cristo compadecen-
do-se do caso de pessoas em tal condição, e Ele sendo um sumo
sacerdote que pode ter compaixão daqueles que estão em perigo,
e tendo habilidade para ajudá-los, faz uso disso e expressa tanto
sua piedade quanto seu poder da seguinte maneira; e disse; na
língua siríaca, que ele então falou, xtpta, Efatá, ou “Ephphatha”;
isto é, sendo interpretado, Abre-te, tanto os ouvidos como a boca.
E esta maneira de falar é usada pelos judeus, de um surdo sendo
restaurado à audição, como de um cego sendo restaurado à visão;
dos quais, considere a seguinte instância: “um menor que recebe
(isto é, um divórcio) e depois se torna adulto, ou um homem sur-
do, xqptnw, ‘e é aberto' (isto é, seus ouvidos são abertos ou sua
audição é restaurada), ou um homem cego, xtptnw, ‘e é aberto’
(recuperou a visão), ou um tolo, e ele é restaurado à sua razão,
ou um gentio, e ele se torna um prosélito, é impróprio ou ilegal
(transmitir o divórcio de um homem para sua esposa), mas xqp,
‘aquele que está aberto’, e depois se torna surdo, e então nova-
mente ‘aberto’; xwtp, ou ‘aberto’, e depois fica cego, e novamente
‘aberto’; ou um tolo, e é restaurado aos seus sentidos, novamente
tornando-se um tolo, ele está certo ou apto” (para o efeito acima).
E comum com eles chamar aquele que ouve bem, em distinção de
um surdo, “aquele que está aberto”. Este é um exemplo do poder
de Cristo em curar distúrbios, apenas por uma palavra falada, sem
o uso de meios; pois o que Ele fizera antes não era como meio de
cura, mas significativo de Seu poder, que agora acompanhava Sua
palavra, esta expressa com grande majestade e autoridade; e tal
poder acompanha a palavra de Sua Graça para a abertura do cora-
ção, para dar atenção às coisas que são faladas; e ao abrir o ouvido
para a disciplina, e selar a instrução para ele, terra para a abertura
da boca e lábios, em louvor e gratidão.

187
J o h n Gill

7.35. E logo se abriram os seus ouvidos. Está no texto grego,


“suas audiências”; os instrumentos de sua audição, e tão correta-
mente traduzidos, “seus ouvidos”: a versão persa diz “ambos os
ouvidos”; mas a palavra “ambos” é desnecessária, pois a palavra
“orelhas” abrange ambos. Tal poder acompanhava as palavras de
Cristo, quando Ele disse: “abre-te”; que imediatamente, assim que
as palavras foram pronunciadas, a audição do homem veio a ele,
e ele ouviu tão rápido quanto antes de perdê-la, ou como qualquer
outro homem; e a prisão de sua língua, o que o fez grudar em suas
mandíbulas, ou no céu da boca, o impedindo de falar claramente,
se desfez, e ele falou claramente; tyaqyvp, “facilmente”, como
a versão Siríaca traduz; sem qualquer dificuldade, e de modo a
ser prontamente compreendido pelos outros. Assim, aqueles cujos
ouvidos estão abertos e cujas línguas são liberadas de maneira
espiritual por Cristo, falam claramente do que ouviram, viram e
sentiram; eles podem dar um relato claro da obra de Deus em suas
almas; como eles foram convencidos da impureza de sua natureza,
da corrupção de seus corações e da excessiva pecaminosidade do
pecado no coração, nos lábios e na vida; como eles viram Cristo
como um Salvador todo suficiente e adequado, e foram direciona-
dos e encorajados a ir a Ele para cura, perdão, justiça e salvação
eterna; eles podem dizer quais promessas foram aplicadas a eles
e quais confortos eles desfrutaram; quão ocupado Satanás tem es-
tado com eles; e de quais tentações dele eles foram libertos, e
por quais meios; em uma palavra, eles podem falar claramente do
amor de Deus para eles; das glórias e excelências de Cristo; de sua
fé e esperança n’Ele, e amor a Ele; e das operações do Espírito de
Deus em seus corações; e das glórias do mundo vindouro, eles
estão na expectativa, na medida em que são ensinados por Deus.
7.36. E ordenou-lhes. O homem que teve sua audição e fala
restauradas e aqueles que o trouxeram, e todos os que foram teste-
munhas do milagre; que a ninguém o dissessem, da cura que foi
operada, não desejando o aplauso dos homens; e sabendo que isso

l <S8
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 7

traria sobre ele a inveja dos escribas e fariseus; e ser um meio de


colocar as pessoas comuns em estabelecê-lo como um rei tempo-
ral, como eles esperavam que o Messias fosse; mas, quanto mais
lhos proibia, tanto mais o divulgavam; ou “falavam dele”, como
diz a versão etíope; pois eles consideravam Sua responsabilidade
meramente proceder da modéstia, e isso os tornava mais avan-
çados para falar de Sua grandeza e em Seu louvor, para publicar
Suas obras poderosas e espalhar a fama de Seus milagres por toda
parte. Assim, aqueles que receberam a graça de Deus se familiari-
zaram com Cristo, e têm uma experiência real das coisas divinas,
não podendo deixar de falar delas; são como vinho novo que não
tem respiradouro, e estão prestes a estourar como garrafas novas;
abster-se de falar é uma dor e um cansaço para eles; não, eles pen-
sam, se eles se calassem, as pedras nas paredes clamariam. Por-
tanto, em parte para a glória de Deus, a magnifieação das riquezas
de Sua Graça e a honra de Cristo, e o bendito Espírito; e em parte
para mostrar seu próprio senso das coisas, a gratidão de suas men-
tes e a gratidão de seus corações, bem como para o uso, conforto,
edificação e instrução de outros, eles devem falar e não podem
ficar calados, independentemente das restrições postas sobre eles.
7.37. E, admirando-se sobremaneira. O homem curado, os
homens que o trouxeram e toda a multidão ficaram extremamente,
além de qualquer expressão, maravilhados com o que foi feito, nes-
te caso e em muitos outros; pois outros milagres também foram rea-
lizados nessa época (veja Mateus 15.30). A graça de Deus ao abrir
os ouvidos e o coração de um pecador e fazer com que a língua do
mudo cante seu louvor é muito surpreendente para homens e anjos;
às próprias pessoas que dele participam; e a todos os santos que
ouvem falar disso; é incrível que tal Graça seja concedida; e é mais
ainda que deva ser comunicada a pessoas tão indignas que é; como
também deve produzir os efeitos que produz, que deveria fazer uma
mudança tão surpreendente e ser atendida com consequências tão
abençoadas; dizendo que Ele tem feito bem todas as coisas; não por
J o h n Gill

Belzebu, o príncipe dos demônios, como diziam os escribas e fari-


seus; nem de maneira ostensiva, pela honra e aplausos dos homens,
como eles viram claramente; mas para o bem da humanidade e para
a Glória de Deus; e como todas as obras milagrosas que Cristo fez
foram bem feitas por Ele, todas as outras obras d ’Ele, tudo o que
fez na eternidade antes que o mundo existisse, Ele fez bem; o que
Ele fez no conselho e convênio da Graça, ao defender as pessoas
e a causa de Seu povo, e em todas as Suas transações federais e
compromissos de fiança para eles; Ele se aproximou de Deus por
conta deles; concordou alegremente com o que Seu Pai propôs; fez
um convênio com Ele e assumiu o cuidado e a responsabilidade de
todo o Seu povo e de todas as promessas e bênçãos de Graça para
eles; e tudo o que Ele fez a tempo é bem feito, como sua suposição
da natureza humana; assumindo uma natureza, e não uma pessoa,
esta de uma natureza virgem e santa, embora sujeita a enfermida-
des sem pecado, e isso no devido e apropriado tempo; também Sua
sujeição à lei moral, civil e cerimonial, pois Lhe convinha cumprir
toda a justiça; e Sua pregação do Evangelho, que Ele fez com au-
toridade, e que falou como nunca o homem fez, que confirmou por
Seus milagres; mas especialmente a grande obra de redenção que
Ele realizou foi bem feita por Ele: isso fez completamente; Ele redi-
miu Seu povo da lei, maldição e condenação; os resgatou das mãos
de Satanás; os salvou de todos os seus pecados; obteve a remissão
deles, fez a reconciliação para eles e trouxe uma justiça eterna; Ele
fez tal trabalho para a satisfação de todas as partes, para a glória de
todas as perfeições divinas, de justiça, bem como de Graça e mise-
ricórdia; para o contentamento e prazer de todas as pessoas divinas,
seu Pai, Ele mesmo e o abençoado Espírito; e para a alegria dos
anjos e homens; e tudo o que Ele fez, ou está fazendo agora no céu
como advogado e intercessor, é bem feito; e podemos ter certeza de
que tudo o que Ele fará a seguir como juiz dos vivos e mortos, será
feito da mesma maneira. Ele faz os surdos ouvirem e os mudos, ou

190
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 8

aqueles que não podem falar, pelo menos sem muita dificuldade,
falar; um exemplo de ambos que havia no caso deste único homem.

Capítulo 8
8.1. Naqueles dias. A versão etíope diz, “naquele dia”; como
se fosse no mesmo dia em que o surdo foi curado, e assim pode
ser; e no terceiro dia da vinda de Cristo para aquelas partes; e
assim é expresso muito apropriadamente, “naqueles dias” (veja
Marcos 7.31), em comparação com o seguinte versículo; havendo
uma grande multidão, pois o número de homens que comeram
quando o seguinte milagre foi feito era de cerca de quatro mil
(veja Marcos 8.9). As versões da Vulgata Latina, árabe e etíope
acrescentam “novamente”, referindo-se ao antigo milagre dos cin-
co mil alimentados com cinco pães e dois peixes (Marcos 6.44).
E não tendo o que comer; o que eles poderíam ter trazido com
eles sendo gasto, e eles em um deserto, onde nada havia para ser
obtido ou comprado por dinheiro; Jesus chamou a si os seus disci-
pulos, e disse-lhes (veja Gill em Mateus 15.32).
8.2. Tenho compaixão da multidão. Cristo é um Salvador
compassivo tanto dos corpos quanto das almas dos homens; Ele
teve compaixão das almas dessa multidão e, portanto, os ensinou
a sã doutrina e teve compaixão dos corpos de muitos deles, e os
curou de suas doenças; e Suas entranhas ansiavam por todos eles,
porque, diz Ele, há já três dias que estão comigo, e não têm o que
comer; pois se eles trouxessem comida, tudo seria gasto e eles
estariam em um deserto, onde nada podería ser obtido; onde eles
não tinham casa para entrar, nem cama para deitar, e nenhuma
provisão para comprar; e, neste caso, foram duas noites e três dias
que demonstraram grande afeto e zelo por essas pessoas, e um
apego íntimo a Cristo, expondo-se a todas essas dificuldades e
sofrimentos, que pareciam suportar com muita paciência e des-

1ÍM
J o h n Gill

preocupação. As versões da Vulgata Latina, siríaca, persa e etiope


prefixam a palavra “eis” a esta cláusula, expressando admiração
por sua permanência com ele por tanto tempo em tal lugar.
8.3. E, se os deixar ir em jejum, para suas casas. No gre-
go, “para sua própria casa”, ou lar; mas todas as versões orientais
a traduzem como no plural, “suas próprias casas” ou habitações;
e parece daí que eles estavam agora provando, e pelo menos não
comeram durante todo aquele dia, o que quer que tenham comido
no dia anterior, o que não é certo. Vão desfalecer no caminho; por
falta de comida, suas forças se esgotarão, seus animais, os espíritos
falharão, seus nervos serão afrouxados, eles não poderão realizar
sua jornada, ou chegar ao fim dela; porque alguns deles vieram de
longe; talvez alguns O tenham seguido desde as costas de Tiro e Si-
dom, de onde Ele veio por último; e outros de Decápolis, por meio
das fronteiras das quais Ele passou para cá; e outros de diferentes
partes, que ouviram falar de Sua vinda (veja Gill em Mateus 15.32).
8.4. E os seus discípulos responderam-lhe. A versão siríaca
a traduz, “disseram a ele”; a persa e a etíope, “disse a ele”; esque-
cendo o último milagre de alimentar cinco mil com cinco pães e
dois peixes, quando eles tinham agora um número menor e mais
provisões; De onde poderá alguém satisfazê-los com pão aqui no
deserto? De que lugar, e por que meios e maneiras pode-se pensar
que tal quantidade de pão pode ser obtida de qualquer maneira
em um deserto, de modo a satisfazer um número tão grande de
homens famintos? (Veja Gill em Mateus 15.33)
8.5. E perguntou-lhes: Quantos pães tendes? (Veja Gill em
Mateus 15.34); e eles disseram, sete. Mateus acrescenta “e alguns
peixinhos”, que são mencionados aqui posteriormente.
8.6. E ordenou à multidão que se assentasse no chão (veja
Gill em Mateus 15.35-36). E, tomando os sete pães, e tendo dado
graças, partiu-os, e deu-os aos seus discípulos, para que os pu-
sessem diante deles, e puseram-nos diante da multidão; em que
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 8

eles foram obedientes aos mandamentos de seu Senhor, embora


fossem tão esquecidos, incrédulos e estúpidos.
8.7. Tinham também alguns peixinhos. Os quais eles tam-
bém concederam a Cristo e trouxeram para Ele; e Ele os abençoou
e ordenou que também os apresentassem. Parece, por esta conta,
como se os peixes fossem abençoados, freados e distribuídos se-
paradamente, alteram a bênção, quebra e distribuição do pão; e as-
sim a versão siríaca a traduz, “sobre quem ele também abençoou”;
e a persa assim, “e ele também abençoou os peixes”; mas, de acor-
do com Mateus, ambos foram abençoados, freados e distribuídos
juntos, pois é altamente razoável supor que ambos foram comidos
juntos (veja Gill em Mateus 15.36).
8.8. E comeram, e saciaram-se. Foi surpreendente que pu-
desse ser dividido assim, e que cada um deveria ter um pouco;
mas que todos eles devem ser satisfeitos ao máximo, é incrível; e
dos pedaços que sobraram levantaram sete cestos; tantos quantos
os pães (veja Gill em Mateus 15.37).
8.9. E os que comeram eram quase quatro mil. Ou seja, ho-
mens, além de mulheres e crianças, como Mateus observa (veja
Gill em Mateus 15.38). E despediu-os; alguns que ficaram mudos
com sua fala, e surdos com sua audição; outros que foram mutila-
dos, com cura perfeita de suas feridas e com seus membros sãos
e inteiros; outros que vieram coxos, Ele dispensou saltando; e ou-
tros que eram cegos, com a visão restaurada, e todos eles cheios.
8.10. E, entrando logo no barco, com os seus discípulos. As-
sim que Ele despedira a multidão, embarcou com Seus discípulos;
pois Ele estava no mar da Galileia, em um lugar próximo a ela, ou
em sua costa (veja Marcos 7.31); foi para as partes de Dalmanuta;
que Mateus chama de “as costas de Magdala” (veja Gill em Ma-
teus 15.39). A versão árabe diz: “Magdal”; e em duas cópias de
Beza lê-se, “Madegada”; mas a versão siríaca diz: “Dalmanutha”;
e a persa, “Dalmanuth”; a etíope, “Dalmathy”; era uma cidade
.John Gill

nas costas de Magdala, e é considerada por doutor Lightfoot ser ο


mesmo com Tzalmon, ou Salmon, una lugar frequentemente men-
cionado nos escritos judaicos.
8.11. E saíram os fariseus. Fora de suas casas, que habita-
vam nas costas de Magdala e partes de Dalmanuta, e vieram a
Jesus, sabendo que Ele havia chego em sua vizinhança; e come-
çaram a disputar com ele; sendo sua maneira de realizar disputas
por perguntas e respostas. A versão persa tem a pergunta que eles
fizeram, e sobre a qual eles discutiram, “se tu és o Cristo”; em
prova de que eles exigiam um sinal, pedindo-lhe, para o tentarem,
um sinal do céu (veja Gill em Mateus 16.1).
8.12. E, suspirando profundamente em seu espírito. Em sua
alma humana; e o que mostra que Ele tinha um e estava sujeito a
tristeza, e todas as paixões e enfermidades, exceto o pecado. Esse
suspiro profundo foi devido à dureza de seus corações, à malig-
nidade de suas mentes e à falta de sinceridade de suas intenções;
que não tinha como objetivo chegar à verdade por meio desta in-
vestigação, mas para enganá-lo; disse: Por que pede esta geração
um sinal? Quando tantos foram mostrados entre eles, e eles não
acreditaram. Em verdade vos digo que a esta geração não se dará
sinal algum, como eles desejaram; ou seja, um do céu. O Evange-
lista Mateus acrescenta, “mas o sinal do Profeta Jonas” (veja Gill
em Mateus 12.40 e Mateus 16.4).
8.13. E, deixando-os. Como uma geração perversa e endured-
da de homens, e como tal com quem não valia a pena discursar; tor-
non a entrar no barco, que O trouxe e esperou por Ele; e foi para o
outro lado do mar da Galileia, em direção a Betsaida (Marcos 8.22).
8.14. E eles se esqueceram de levar pão e, no barco. Em
Dalmanutha, ou Magdala, ou em qualquer lugar naquelas par-
tes em que estivessem antes de embarcarem, como era o método
usual. Não tinham consigo senão um pão para treze passageiros.
A versão persa reza o todo assim: “e eles se esqueceram de levar

191
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 8

pão com eles, nem mesmo um pão, e não havia pão com eles no
navio” (veja Gill em Mateus 16.5).
8.15. E ordenou-lhes. Quando eles estavam no navio e ti-
nham acabado de se recompor, que não tiveram o cuidado de tra-
zer quaisquer provisões com eles, dizendo: Olhai, guardai-vos do
fermento dos fariseus e do fermento de !!erodes; em Mateus, em
vez de “o fermento de Herodes”, lê-se “o fermento dos saduceus”,
que são os mesmos, Herodes e seus cortesãos sendo saduceus, ou
favorecidos por eles; ou os saduceus sendo defensores de Herodes
e seu governo, sobre os quais os fariseus não tinham boa opinião;
ou então distintos um do outro; e assim Cristo adverte contra as
doutrinas dos fariseus, que consideravam as tradições dos anciãos,
e dos saduceus, a respeito da ressurreição, e dos herodianos, que
pensavam que Herodes era o Messias; e contra o pedido irracional
e a exigência de todos eles de terem um sinal do céu como prova
de Seu próprio messianismo (veja Gill em Mateus 16.6).
8.16. £ arrazoavam entre si. Sobre Cristo dando esta adver-
tência, e lembrando consigo mesmos que haviam esquecido de
comprar quaisquer provisões para levar com eles; dizendo: é por-
que não temos pão que Ele diz essas palavras repreendendo-nos
e reprovando-nos tacitamente por nossa falta de consideração e
cuidado (veja Gill em Mateus 16.7).
8.17. E Jesus, conhecendo isto. disse-lhes. Como Ele fez ime-
diatamente, por Sua onisciência; pois assim como Ele conhecia os
pensamentos e raciocínios dos escribas e fariseus (Mateus 9.4), as-
sim conhecia os de Seus próprios discípulos; disse-lhes: Por que
arrozais, que não tendes pão? Ou imagine que eu lhe dei esse avi-
so por causa disso; ou estão angustiados porque este é o seu caso,
como se devessem ser reduzidos a grandes dificuldades em razão
de seu esquecimento e negligência. Não considerastes, nem com-
preedestes ainda? O significado das expressões parabólicas, para
as quais Ele as havia usado; ou Seu poder em fornecer comida para
J o h n Gill

eles e sustentar um grande número de pessoas com muito pouca


comida, dos quais tiveram alguns exemplos muito tardios; Tendes
ainda o vosso coração endurecido? Como depois do primeiro mila-
gre (veja Marcos 6.52), pois era de se esperar que, por um segundo
milagre dos pães, seus entendimentos fossem mais iluminados e sua
fé aumentada, e que eles teriam abandonado suas noções grosseiras,
suas ansiedades, dúvidas, e incredulidade.
8.18. Tendo olhos, não vedes? Significando talvez tanto os
olhos de seus corpos quanto de seus entendimentos; eles tinham
olhos corpóreos e com eles viam os milagres que Ele operava, mas
pouco os notavam; e os olhos de seus entendimentos foram ilumi-
nados por Cristo, e ainda assim viram as coisas, mas muito obs-
curamente; e tendo ouvidos, não ouvis? Eles tinham sua audição
natural e, no entanto, faziam pouco uso dela, não prestando aten-
ção tão diligentemente ao som das palavras de Cristo; e embora
tivessem ouvidos espirituais dados a eles para ouvir, ainda assim
eram muito estúpidos em entender e absorver as coisas; e não vos
lembrais a interpretação das parábolas dadas anteriormente e os
milagres dos pães recentemente realizados.
8.19. Quando parti os cinco pães entre os cinco mil. Isto,
com o que se segue, diz respeito principalmente à última pergun-
ta; quantos cestos cheios de pedaços levantastes? Vocês não se
lembram? Esqueceram do que foi feito tão recentemente? Cer-
tamente vocês não podem. Disseram-lhe: doze; suas memórias
foram atualizadas, e eles lembraram o número exato de cestos de
fragmentos que foram recolhidos, que estavam acima do dobro do
número de pães com os quais a multidão foi alimentada.
8.20. E, quando parti os sete entre os quatro mil. Isto é,
quando sete pães foram partidos entre quatro mil homens, quan-
tos cestos cheios de pedaços levantastes? Isso certamente vocês
devem se lembrar, sendo uma ação tão recente, mas apenas feita,
por assim dizer; e disseram-lhe: sete; pois isso, por enquanto, não

lú(i
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 8

podería ter escapado de suas memórias; embora tivessem argu-


mentado entre si por causa de sua escassez de provisões, como se
essas coisas nunca tivessem sido feitas.
8.21. E ele lhes disse. Uma vez que este era o caso, e eles
tão bem se lembravam dos milagres que Ele havia feito, e as suas
circunstâncias; como não entendeis ainda? Minhas palavras sobre
o fermento dos fariseus, dos saduceus e de Herodes, como para
imaginar que falei de pão, tomado em sentido literal; ou que Me
preocupei com a escassez de suas provisões, quando você podería
ter aprendido com Meus últimos milagres, como Sou capaz de
sustentá-lo se você não tivesse nem mesmo um pão com você;
portanto, argumenta grande necessidade de ambos compreensão e
fé, e mostra grande estupidez, ignorância e incredulidade para dar
tal sentido às Minhas palavras e preocupar-se ansiosamente com o
resultado de suas provisões.
8.22. E chegou a Betsaida. A cidade de André, Pedro e Filipe
(João 1.44); uma cidade de pescadores, situada junto ao mar da Ga-
lileia. A cópia antiga de Beza e a versão gótica diziam erroneamen-
te “Betânia”. As versões da Vulgata Latina, árabe e etíope dizem:
“eles vieram”; Cristo e seus doze apóstolos, que desembarcaram
neste lugar. E trouxeram-lhe um cego; pois Cristo já havia estado
aqui antes e era conhecido pelos habitantes do lugar; os quais, as-
sim que souberam de Sua chegada, e sabendo que milagres foram
feitos por Ele, trouxeram um pobre cego de sua cidade até Ele para
ser curado; e rogaram-lhe que o tocasse; tendo ouvido falar ou visto
curas realizadas por Ele dessa maneira. Este homem é um emblema
daqueles que são espiritualmente cegos: ele não tinha nenhuma vi-
são natural; ele não conseguia ver nada; não teve o menor vislumbre
de qualquer coisa, até que foi tocado por Cristo, assim os homens,
em um estado de natureza, estão até a própria escuridão, até que se-
jam iluminados pelo Senhor; eles não têm visão, nem sentido de si
mesmos, de seu estado e condição pecaminosa, perdida e perigosa
em que se encontram; eles não sabem porque são cegos, que são
Jo h n Gill

miseráveis, pobres, miseráveis e nus; eles não têm visão de Cristo,


nem da glória de Sua pessoa, nem da plenitude de Sua Graça, nem
da natureza, necessidade e adequação de Sua salvação; eles são bas-
tante cegos quanto a qualquer conhecimento salvador de Deus em
Cristo, o caminho de vida e paz por Ele e a obra do Espírito de Deus
sobre a alma; ou com relação a qualquer experiência espiritual do
poder das verdades do Evangelho, ou visões das glórias de outro
mundo; e como este homem parecia despreocupado com a cura de
sua cegueira, apenas seus amigos foram afetados com seu caso e
trouxeram ele a Cristo, solicitando uma cura; assim é com os ho-
mens não regenerados, eles são insensíveis ao seu caso, e tão indite-
rentes e não afetados por ele, que não buscam, por si uma libertação
dele; nem fazem uso de meios para esse fim; mas tornam-se seus
amigos, parentes e conhecidos, que são espirituais, que conhecem
seu caso e sua necessidade de Cristo e de Sua Graça, trazê-los a
Ele sob os meios e orar a Ele, para que exponha o poderoso poder
de Sua Graça sobre eles, e dá-lhes visão espiritual para ver em que
condição perdida eles estão, e sua necessidade d ’Ele.
8.23. E, tomando o cego pela mão. Não para tocá-lo, a fim
de curá-lo, como eles desejavam, mas para ser seu guia; levou-
-o para fora da aldeia, para evitar toda aparência de vã glória e
aplauso popular, estando disposto a fazer o milagre de maneira
privada, e por causa da obstinação e incredulidade dos habitantes
deste lugar, que não eram dignos de serem testemunhas de tal cura
(veja Mateus 11.21); e, cuspindo-lhe nos olhos, não como causa
de curá-lo, pois qualquer que seja o uso que a saliva possa ter para
aqueles que têm olhos fracos, ela não pode ter nenhuma influência
causai sobre, ou ser de qualquer serviço, de uma maneira natural,
para um cego restaurar sua visão; e impondo-lhe as mãos, como
Ele às vezes fazia quando curava pessoas de qualquer doença;
perguntou-lhe se via alguma coisa, qualquer objeto que pudesse
perceber, se ele tinha alguma visão. O fato de Cristo pegar o cego
pela mão e conduzi-lo para fora da cidade, cuspir em seus olhos,

198
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 8

colocar as mãos sobre ele e depois perguntar se ele viu alguma


coisa é emblemático do que Ele faz na conversão espiritual, quan-
do ele transforma os homens das trevas em luz; Ele os pega pela
mão, o que expressa Sua condescendência, Graça e misericórdia, e
se torna Seu guia e líder; e um guia melhor e mais seguro eles não
podem ter; Ele os leva por um caminho que eles não conhecem e
os conduz por caminhos que eles não conheciam antes; torna as
trevas claras diante deles, e as coisas tortas se endireitam, e não
as abandona; Ele as separa do resto do mundo; os chama dali para
irem com Ele, ensinando-os que, quando iluminados por Ele, não
devem ter comunhão com as obras infrutíferas das trevas e com os
que as praticam; pois que comunhão tem luz com Trevas? Colo-
car saliva nos olhos pode significar os meios da Graça, a pomada
para os olhos da palavra, que, quando acompanhada de um poder
divino, ilumina os olhos; e qual poder pode ser representado aqui
por Cristo colocando as mãos sobre o homem; pois o Evangelho,
sem o poder de Cristo, é insuficiente para produzir tal efeito; mas
quando é acompanhado disso, sempre é bem-sucedido.
8.24. E, levantando ele os olhos. Isso é omitido nas versões
árabe e persa. A sensação é que ele abriu as pálpebras e levantou
os olhos, para tentar ver se podia ver, e podia, e viu novamente;
sua visão foi devolvida novamente, embora ainda muito imper-
feitamente; disse: Vejo homens; pois os vejo como árvores que
andam; ele viu alguns objetos a uma pequena distância dele, que,
por seu movimento, ele supôs serem homens; caso contrário, sua
visão era tão imperfeita que ele não podería distingui-los das ár-
vores; ele era capaz de discernir a maior parte de seus corpos e
que eles andavam ou avançavam, mas não conseguia distinguir as
partes específicas de seus corpos; pareciam troncos de árvores, em
postura ereta, e que ele teria tomado por isso não fosse por anda-
rem. Como este homem imediatamente após Cristo colocar saliva
em seus olhos e impor Suas mãos sobre ele, a visão lhe foi dada,
embora fosse muito obscura e brilhante; assim que o Evangelho
J o h n Gill

chega com poder, Ele dissipa as trevas da mente e introduz a luz;


embora a princípio seja muito pequeno, é permitido gradualmen-
te; o pecador é primeiro convencido do mal de suas ações e depois
da pecaminosidade de sua natureza; ele primeiro vê a habilidade
e adequação de Cristo como um Salvador, e depois disso sua dis-
posição e seu interesse n'Ele como tal; e tudo isso é comumente
antes que ele esteja tão bem familiarizado com a dignidade e infi‫־‬
nitude de Sua pessoa como o Filho de Deus; e leva algum tempo
antes que ele tenha seus sentidos espirituais exercitados para dis-
cernir entre o bem e o mal, entre a verdade e o erro; ou chega a um
conhecimento claro e distinto das verdades do Evangelho e a uma
estabilidade nelas. Por isso é que tais são grandemente assediados
com as tentações de Satanás; estão inquietos em suas almas; estão
cheios de dúvidas e medos, e correm o risco de serem enganados
por falsos mestres.
8.25. Depois disto, tornou a pôr-lhe as mãos sobre os olhos.
Pelo relato anterior, não aparece em que parte Ele colocou as
mãos; mas isso o determina; e daí parece claro que Ele primeiro
cuspiu nos olhos, depois os fechou e colocou as mãos sobre eles;
qual última ação Ele repetiu, embora não a primeira; e o fez olhar
para cima. Isso é omitido nas versões siríaca, persa e etíope. A
Vulgata Latina diz; “ele começou a ver”; e assim a cópia antiga de
Beza; mas isso Ele fez antes, na primeira imposição de mãos sobre
ele. A versão árabe traduz “ele viu bem”; isso é expresso depois.
As palavras são uma ordem ou comando de Cristo para o homem
levantar os olhos e tentar novamente como ele podería ver, e se
algo melhor do que antes, o que ele fez; e ele ficou restaurado, sua
visão foi restaurada para ele como antes, e ele foi perfeitamente
curado de sua cegueira; e viu a todos claramente; ou “todas as
coisas”, como dizem as versões da Vulgata Latina, siríaca, árabe,
persa e etíope: ele viu cada objeto distintamente e de longe, como
a palavra usada também significa; ele podia distinguir homens de
árvores e árvores de homens. Este homem, como observado an-

200
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 8

teriormente, era um emblema muito vivo de alguém que é espiri-


tualmente iluminado pela graça de Deus; Cristo primeiro separou
este homem do resto da multidão; e tais são primeiro distinguidos
dos outros na eleição, redenção e chamado, que são iluminados
pelo Espírito de Deus; meios foram usados por Cristo para curar
este homem, embora as ações nuas, sem um poder divino, fossem
insuficientes, como a saliva de sua boca e a imposição de suas
mãos; e, de um modo geral, na iluminação de um pecador, a pa-
lavra da boca de Cristo é um meio; embora isso, sem a eficácia
de Sua Graça, não seja suficiente por si só. Este homem, em sua
primeira recepção de visão, tinha uma visão muito fraca, obscura
e imperfeita das coisas; não conseguia distinguir bem uma coisa
da outra, embora ele visse. Como na primeira conversão, a alma
iluminada tem apenas uma visão muito brilhante das coisas, par-
ticularmente de Cristo, a glória e a plenitude de Sua pessoa, a
eficácia de Seu sangue, a excelência de Sua justiça, de Sua habili-
dade, disposição e adequação como um Salvador; e especialmente
daquelas doutrinas do Evangelho, as mais sublimes e distintivas.
Mas como esse homem depois teve uma visão mais clara e distinta
dos objetos, assim é com os verdadeiros crentes em Cristo; sua
luz brilhante aumenta e brilha mais e mais até o dia perfeito. Pois
a luz do Evangelho no presente não é perfeita para quem tem as
visões mais claras das coisas, tem alguma escuridão e imperfeição
nelas; embora se possa dizer que eles veem todas as coisas clara-
mente em comparação com o que às vezes fizeram e outros fazem;
particularmente os santos, sob a dispensaçâo do Evangelho, veem
mais claramente do que aqueles sob a dispensaçâo legal; o objeto
estava a uma distância maior deles; eles viram as promessas de
longe; e o meio de sua visão ou através do qual eles viam eram
tipos obscuros, sombras e sacrifícios e profecias sombrias. Moisés
e sua lei tinham um véu sobre eles; mas os santos do Novo Tes-
tamento, com rosto aberto, sem véu, contemplam como em um
espelho a glória do Senhor Jesus e as verdades do Evangelho; de

201
Jolm Gill

fato, aqueles que mais sabem, veem as coisas com mais clareza, e
falam delas com mais clareza, mas em parte profetizam, e em par-
te em comparação com a visão beatífica; quando os santos verão
face a face e conhecerão, como são conhecidos; eles agora veem,
mas através de um vidro escuro. Quão claramente todas as coisas
serão vistas no novo estado de Jerusalém, quando não haverá ne-
cessidade da luz do sol ou da lua para as ordenanças; mas Cristo,
o Cordeiro, será a sua luz eterna na qual as nações daqueles que
são salvos andarão!
8.26. E mandou-o para sua casa. Que parece ter sido em
uma das aldeias vizinhas ou era uma das casas espalhadas pelos
campos para a conveniência dos negócios rurais. Dizendo: Nem
entres na aldeia; ou “aquela cidade”, como o siríaco, a cidade de
Betsaida; nem o digas a ninguém na aldeia; a qualquer um dos ha-
bitantes da aldeia com quem se encontrasse em qualquer lugar ou
a qualquer momento; a razão disso não era apenas porque Cristo
teria o milagre oculto; mas principalmente porque os habitantes
deste lugar eram notórios por sua impenitência e incredulidade.
Cristo havia feito muitas obras maravilhosas entre eles e, no en-
tanto, eles não se arrependeram; nem eles acreditaram n'Ele; mas
O desprezaram, a Sua doutrina e Seus milagres; e, portanto, por
sua negligência e desprezo por tais meios, Ele estava determinado
a retirá-los deles. Assim, às vezes, Cristo lida com cidades e vi-
las de nações que não acreditam, rejeitam e desprezam seu Evan-
gelho; Ele tira deles, ordena que Seus servos ministradores não
preguem mais para eles; não mais para lhes contar as boas novas
de vida e salvação por Ele; assim Ele lidou com os judeus que se
contradiziam, blasfemavam e se julgavam, ou por sua conduta se
faziam parecer indignos das palavras da vida eterna; Ele tirou o
reino de Deus ou o Evangelho deles e os enviou entre os gentios;
e assim ele ameaçou a igreja de Efeso por deixar seu primeiro
amor para remover o castiçal de seu lugar em caso de não arre-
pendimento; e um julgamento doloroso é sobre um lugar e um

20 2
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 8

povo quando Deus ordena que as nuvens não chovam sobre eles
( Isaias 5.6); ou, em outras palavras, quando Ele ordena que Seus
ministros não falem mais ou publiquem Seu Evangelho para eles;
Ele está determinado a se afastar deles e não ter mais nada a ver
com eles; então Cristo e Seus discípulos partiram deste lugar, de-
clarados no versículo seguinte.
8.27. E saiu Jesus, e os seus discípulos. De Betsaida, e até da
Galileia, nas cidades de Cesareia de Filipe; na jurisdição de Filipe,
tetrarca de Iturea e Traconitis; pois esta Cesareia foi reconstruída
por ele e assim chamada em homenagem a Tibério César; e as
cidades e aldeias adjacentes a ela são aqui pretendidas (veja Gill
em Mateus 16.13); e pelo caminho perguntou aos seus discípulos,
enquanto iam da Galileia para aquelas partes, dizendo: Quem di-
zem os homens que eu sou? Não que Ele precisasse de qualquer
informação sobre isso, pois sabia não apenas o que era dito pelos
homens, mas o que havia neles; mas Ele fez essa pergunta a fim
de trazer à tona seu senso e fé n ’Ele, e transmitir-lhes algo que era
necessário que conhecessem. Veja Gill em Mateus 16.13, onde se
lê, “Quem dizem os homens ser o Filho do homem?'1
8.28. E eles responderam. Que alguns disseram que ele era
João Batista; qual era a opinião de Herodes e outros; mas alguns
dizem Elias, que é o “Tishbite”, que os judeus em geral espera-
vam pessoalmente antes da vinda do Messias e imaginavam que
Jesus era ele; e outros um dos profetas, como Jeremias ou Isaías,
ou algum outro. A Vulgata Latina diz, “como um dos profetas”; e
assim a cópia antiga de Beza como em Marcos 6.15. Todos fala-
vam d'Ele de maneira elevada e honrosa: as pessoas em comum
não o viam como uma pessoa mesquinha; eles perceberam por
Sua doutrina e, mais especialmente, por Seus milagres que Ele
era extraordinário; as várias pessoas que eles diferentemente o
consideravam e mencionavam eram de grande reputação; como
João Batista, que ultimamente estivera entre eles e a quem todos
consideravam um profeta, e de fato era mais do que um profeta;

208
J o h n Gill

e Elias, que era tão zeloso pelo Senhor dos Exércitos, e realizou
muitos milagres em seus dias; e cuja vinda os judeus esperavam
para introduzir 0 Messias; e ninguém o considerou menos do que
um dos profetas; e todos concordaram que Ele era um homem in-
comum; mesmo um ressuscitado dentre os mortos como deve ser,
se Ele foi João Batista ou Elias, ou um dos antigos profetas; mas
eles O conheciam, pelo menos não O confessaram ser o Messias,
Ele não aparecendo como um príncipe temporal, como eles foram
ensinados a acreditar que Ele seria (veja Gill em Mateus 16.14).
8.29, E ele lhes disse: Mas vós, quem dizeis que eu sou? Foi
por causa desta questão que Ele colocou a primeira (veja Gill em
Mateus 16.15); e Pedro, respondendo, disse-lhe: Tu és o Cristo, o
Filho do Deus vivo, o Messias que há muito foi prometido e tantas
vezes profetizado nos livros de Moisés e dos profetas; e quem os
judeus há tanto esperavam. Esta confissão de Pedro na qual todos
os apóstolos concordaram com ele fala o que Jesus realmente era
e excede os sentimentos mais exaltados que o povo tinha d’Ele:
Ele não era o arauto do Messias, mas o próprio Messias; não Elias,
em cujo Espírito seu precursor viria e veio; nem qualquer um dos
profetas; mas aquele de quem foi falado por todos os santos profe-
tas; que existem desde o princípio do mundo. Nenhuma das várias
opiniões do povo sendo justa e respondendo ao verdadeiro caráter
de Jesus, Ele exige 0 sentido de Seus discípulos que aqui é dado
por Pedro em Seu nome, e que estava certo; e por causa disso
Ele declarou Pedro abençoado e atribuiu seu conhecimento d ’Ele
não à carne e ao sangue, mas à revelação de Seu Pai. As versões
siríaca e persa, como essa, acrescentam: “o Filho do Deus vivo”;
e então Beza o encontrou em uma cópia antiga; mas pode ser que
seja retirado apenas de Mateus 16.16 (veja Gill em Mateus 16.16).
8.30. E admoestou-os. Seus discípulos, depois que Ele de-
clarou Sua aprovação da confissão de fé de Pedro, e indicou que
edificaria Sua igreja sobre aquela rocha, e as portas do inferno não
prevaleceríam contra ela; e prometeu Pedro as chaves do Reino

20 I
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 8

dos Céus; e que tudo o que fosse ligado ou desligado por ele na
terra, deveria ser ligado e desligado no céu; que são omitidos por
Marcos, mas relatados por Mateus (Mateus 16.17); depois disso
Ele deu uma carga estrita e severa que eles não deveríam contar a
ninguém sobre Ele, que era o Messias e o Filho de Deus (veja Gill
em Mateus 16.20).
8.31. E começou a ensinar-lhes. Pois até então ele não ha-
via dito nada a eles sobre seus sofrimentos e morte, pelo menos
em termos expressos; mas agora que eles estavam firmemente
estabelecidos na fé d ’Ele como o Messias, Ele achou apropria-
do informá-los que o Filho do homem deve sofrer muitas coisas;
significando que Ele deveria ser traído, apreendido e amarrado,
deveria ser ferido, cuspido, esbofeteado e açoitado; e quais coisas
devem ser feitas, e File as sofrerá, porque assim foi determinado
por Deus e predito nas Escrituras; e seja rejeitado pelos anciãos e
pelos principais sacerdotes e escribas que compunham o grande
sinédrio da nação, sendo os construtores profetizados por quem
Ele deveria ser rejeitado (Salmos 118.22) e morto de forma vio-
lenta; sua vida tirada à força, sem lei ou justiça; mas que depois de
três dias ressuscitaria, não depois que três dias terminassem, e no
quarto dia, mas depois que o terceiro dia chegasse; isto é, “no ter-
ceiro dia”, como dizem as versões siríaca, árabe, persa e etíope; e
até os próprios fariseus assim entenderam Cristo (Mateus 27.63),
então a frase “depois de oito dias” é usada para o oitavo dia, che-
gando, ou no mesmo dia uma semana depois (veja Lucas 9.28 em
comparação com Mateus 17.1).
8.32. E dizia abertamente estas palavras. A respeito de Seus
sofrimentos, morte e ressurreição dentre os mortos. Ele não ape-
nas falou diante de todos eles, mas em palavras simples, sem uma
figura, para que pudesse ser, e foi claramente entendido por eles; e
Ele falou como a palavra também suportará não apenas muito livre-
mente, mas também com ousadia, com uma coragem destemida,
com intrepidez de espírito; não estando nem um pouco desanima-
Jo h n Gill

do, nem mostrando qualquer preocupação ou medo sobre o que iria


acontecer com Ele; e Pedro o agarrou e começou a repreendê-lo.
Pedro podería estar mais especialmente preocupado com esse relato
livre e aberto que Cristo deu de Seus sofrimentos e morte, porque
Ele acabara de conhecê-lo, para que Ele tivesse as chaves do Reino
dos Céus; pelo qual ele pode entender algum posto alto no reino
temporal do Messias que esperava; e imediatamente ao saber de
Seus sofrimentos e morte, amorteceu seu espírito e destruiu suas
esperanças, e o lançou em tais dificuldades que ele não foi capaz
remover; e, portanto, ele leva Cristo de lado e expõe calorosamente
com Ele sobre o que havia dito, e o repreende por isso, e implora
que ele não pense ou fale de coisas semelhantes; as palavras de Pe-
dro são registradas por Mateus (veja Gill em Mateus 16.22).
8.33. Mas ele, virando-se. Sobre Pedro, e mostrando rápido
ressentimento com o que ele disse; e olhando para seus discípulos;
Ele olhou para eles ao mesmo tempo e expressou a eles o mesmo
desagrado em Seu semblante, pois tinham a mesma opinião; ele
repreendeu a Pedro, dizendo: Retirate-te de mim, Satanás, porque
não sabes as coisas que são de Deus; coisas que estavam segundo
a vontade de Deus, como foram os sofrimentos de Cristo, estavam
conforme o conselho determinado de Sua vontade; o que Ele ha-
via determinado em seus propósitos e conselho deveria ser; e o
que Ele havia declarado nas Escrituras da verdade, a revelação de
Sua vontade, seria; e no qual, segundo eles, Ele próprio deveria
ter uma grande preocupação (isaías 53.6), pelo que todas as Suas
perfeições divinas seriam glorificadas e, portanto, pode-se dizer
que são as coisas de Deus; e que devem ser saboreadas, pensadas
e atendidas como coisas de maior importância; e que, embora o
apóstolo tenha lido frequentemente nos livros do Antigo Testa-
mento, ainda assim não tinha uma compreensão clara deles como
sendo a vontade de Deus; ou, no entanto, estavam muito fora de
sua visão neste momento, sua mente sendo possuída por noções
de um reino temporal e de honra e grandeza mundanas, portanto

20( i
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 8

segue-se: mas as coisas que são dos homens; como eram as no-
ções de Cristo ser um príncipe temporal, que estabelecería um
reino mundano, libertaria os judeus do jugo romano e faria seus
súditos felizes, com uma afluência de todas as coisas mundanas;
e particularmente Seus favoritos, como eram os discípulos; esses
eram esquemas da invenção dos homens e eram adequados à na-
tureza corrupta e às inclinações carnais dos homens; e essas coisas
no momento possuíam demais a mente de Pedro; portanto, o Se-
nhor o repreendeu de maneira muito severa, embora justa; sendo
tocado em Sua parte mais terna e dissuadido daquilo em que Seu
coração estava, e Ele veio ao mundo para isso, cujo ressentimento
agudo é visto usando uma frase que Ele nunca fez, mas para o
próprio diabo (Mateus 4.10; veja Gill em Mateus 16.23).
8.34. E chamando a si a multidão. Quem, ao que parece, o
seguiu para fora da Galileia, de Betsaida e destas partes; pois foi
no caminho de Cesareia de Filipe que Cristo teve essa conversa
com Seus discípulos; que caminhavam juntos e sozinhos, a multi-
dão seguindo a alguma distância; e a conversa privada terminada,
Cristo chamou e acenou para o povo para se aproximar d'Ele; com
os seus discípulos, pois o que Ee estava prestes a dizer preocupava
a ambos: Se alguém quiser vir após mim, em um sentido espiri-
tual, como esta multidão fez em um sentido natural, e que é o mes-
mo que ser um discípulo d ’Ele; negue-se a si mesmo, e tome a sua
cruz, e siga-me, significando que seus seguidores devem negar a
si mesmos as vantagens mundanas e sofrer muitas coisas, assim
como Ele havia sido pouco antes de familiarizar Seus discípulos
(veja Gill em Mateus 16.24).
8.35. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida. A vida
é uma coisa valiosa, e tudo o que um homem tem, ele dará por
ela; a autopreservação é um princípio da natureza; e toma-se de
todo homem tomar todos os métodos legais para salvar sua vida
quando ela está ameaçada ou em perigo; e, em vez de abandoná-
-la, negará a Cristo e desistirá de uma profissão d’Ele e de Seu

207
J o h n Gill

Evangelho, deve perdê-Lo; ele não deve desfrutá-lo com honra


e conforto agora, e muito menos com paz, prazer e felicidade no
futuro, mas estará sob o poder da segunda morte; mas, qualquer
que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, isto é, se
separará voluntariamente quando for chamado, em vez de negar
a Cristo e Seu Evangelho, esse a salvará, embora ele a perca ago-
ra, a encontrará novamente na ressurreição da vida; porque ele
ressuscitará para a vida eterna, quando tais que apostataram de
Cristo se levantarão para vergonha e desprezo eterno; esse homem
terá grande vantagem sobre tais; eles morrerão a segunda morte,
ou serão destruídos de corpo e alma no inferno; e ele viverá para
sempre com Cristo, em prazer e glória sem fim (veja Gill em Ma-
teus 16.25).
8.36. Pois, cjiie aproveitaria ao homem. A longo prazo, na
questão das coisas, que negando a Cristo e Seu Evangelho pode
não apenas salvar sua vida no presente, mas obter para si grandes
riquezas se ganhar o mundo inteiro; se isso fosse possível de ser
feito, e que o homem ambicioso e mundano deseja; ainda supondo
que ele tivesse seu desejo, de que valor isso seria no resultado das
coisas, se o seguinte fosse seu caso, como será perder sua própria
alma? Que é imortal e eterna, quando o mundo e a glória dele pas-
sarem, e assim é mais valioso do que o mundo inteiro. O mundo só
pode ser desfrutado por uma temporada, e isso com muito cansaço
e problemas; mas a alma continua para sempre; e se está perdido
e condenado, seu tormento sempre permanece, e sua fumaça sobe
para sempre, seu verme nunca morre e seu fogo nunca se apaga
(veja Gill em Mateus 16.26).
8.37. Ou, que daria o homem pelo resgate da sua alma? Para
livrá-lo de seu estado miserável e condição; todas as riquezas do
mundo, e o próprio mundo inteiro, não são equivalentes a ele, ou
um resgate suficiente por ele; as riquezas não trarão proveito no
dia da ira, nem livrarão uma alma da condenação e ruína; portan-
to, se ele tivesse o mundo inteiro, não podería redimir sua alma; e

208
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 8

ele não tem mais nada para dar por isso e, portanto, já passou de
toda recuperação (veja Gill em Mateus 16.26).
8.38. Porquanto, qualquer que, entre esta geração adultera
e pecadora, se envergonhar de mim. Como sofredor, crucificado
e morto; coisas que Ele havia falado antes; quem, pelo escânda-
10 da cruz e medo dos homens, se envergonhará de Cristo e não
ousará professar fé n ’Ele, mas o esconderá e guardará para si; e
das minhas palavras, as doutrinas do Evangelho, da remissão de
pecados por Seu sangue, da justificação por Sua justiça e da sal-
vação somente por Ele, com todas as outras verdades relacionadas
a Ele ou relacionadas a elas; nesta geração adúltera e pecadora, o
que era tanto no sentido moral quanto no espiritual; pois o adulté-
rio corporal e espiritual prevaleceu entre eles, particularmente os
escribas e fariseus adulteraram a palavra de Deus por suas falsas
glosas, nas quais eles desempenharam um papel muito pecamino-
so; e tal era a autoridade deles, que poucos ousaram contradizê-los
ou professar doutrinas que eram o contrário da deles. Portanto,
nosso Senhor assegura a Seus discípulos e seguidores que eles
deveríam ser dissuadidos por esses homens de uma profissão li-
vre e aberta d'Ele e de Seu Evangelho, pelo qual parece que eles
tinham vergonha de ambos; também o Filho do homem se enver-
gonhará dele, não possuirá tal pessoa para ele; Ele não o notará;
Ele não confessará seu nome; mas, como alguém de quem Ele se
envergonha, se afastará; nem mesmo olhar para ele, ou dizer uma
palavra favorável a ele, ou para ele; mas manda que ele se afaste,
como um trabalhador da iniquidade; isso Ele fará quando vier na
glória de Seu Pai; a mesma que o Pai tem; sendo Seu Filho, da
mesma natureza que Ele, e igual a Ele; e como mediador, dotado
de poder e autoridade d ’Ele para julgar o mundo; e quando Ele for
acompanhado com os santos anjos, descerá do céu com Ele e será
empregado na terra por Ele (veja Gill em Mateus 16.27).

20 9
J o h n Gill

Capítulo 9
9.1. DIZIA-LHES também. Tanto aos Seus discípulos como
à multidão: Em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns
há que não provarão a morte sem que vejam chegado o reino de
Deus com poder. Quando Jesus foi declarado Senhor e Cristo, pela
maravilhosa efusão do Espírito Santo, e o Evangelho difundido
no mundo entre judeus e gentios, apesar de toda oposição, sob
o poder e influência da Graça de Deus, para a conversão de mi-
lhares de almas; e aquele ramo do poder real de Cristo exercido
na destruição da nação judaica (veja Gill em Mateus 16.28). Este
versículo pertence apropriadamente ao capítulo anterior, ao qual
é colocado na versão da Vulgata Latina; e assim conclui um em
Mateus, e não deveria começar um novo capítulo.
9.2. Eseis dias depois. Seis dias depois deste discurso com Seus
discípulos, a caminho de Cesareia de Filipe, e após chegarem àquelas
partes: Jesus tomou consigo a Pedro, a Tiago, e a João; discípulos fa-
voritos, e em numero suficiente, para serem testemunhas de sua trans-
figuração; e os levou sós, em particular, a uni alto monte. Este não
era o Monte Tabor, como geralmente se diz, mas a montanha onde
Cesareia estava ao pé; ou pode ser o Monte Líbano. E transfigurou-se
diante deles; os três discípulos acima (veja Gill em Mateus 17.1-2).
9.3. E as suas vestes tornaram-se resplandecentes. Com os
raios de glória e esplendor que saíam de Seu corpo através de
suas vestes, e as tomavam tão brilhantes quanto a luz do sol ao
meio-dia; extremamente brancas como a neve; do que nada é mais
branco, tais como nenhum lavadeiro sobre a terra as podería bran-
quear. A versão siríaca a traduz, “como os homens não podem ser
brancos na terra‫ ; ״‬e o persa assim, “para que os homens não pu-
dessem vê-lo”. Assim como os israelitas não podiam contemplar
firmemente a face de Moisés, devido à glória de seu semblante,
quando Ele desceu do monte (veja Gill em Mateus 17.2).

210
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 9

9.4. E apareceu-lhes Elias, com Moisés. Ou Moisés e Elias,


como todas as versões orientais leem, como em Mateus 17.3 (veja
Gill em Mateus 17.3): e falavam com Jesus; sobre Sua morte e
o que ele deveria fazer e sofrer em Jerusalém, e sobre o qual Ele
próprio havia falado recentemente com Seus discípulos; de modo
que isso pode ter sido uma confirmação dessas coisas para eles
(veja Gill em Mateus 17.3).
9.5. E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus. Dirigiu-se
a Ele, como estando mais familiarizado; como também porque
ele era a pessoa principal; portanto, dizendo: Mestre, é bom que
estejamos aqui; a companhia e a conversa foram extremamente
agradáveis para ele e seus condiscípulos; e a glória em que Cristo
apareceu superou tudo o que eles haviam visto antes; e façamos
três cabanas; ou, como dizem as versões siríaca, árabe e etíope, “e
faremos”, expressando não uma petição, mas uma resolução; para
o que a versão Persa premissa, “se tu nos deste mandamento”;
submetendo-o à vontade de Cristo; uma para ti, outra para Moisés,
e outra para Elias (veja Gill em Mateus 17.4).
9.6. Pois não sabia o cpte dizia. Ele não sabia o que deveria
dizer, ou o que deveria ser dito por Ele, em tal momento, em tais
circunstâncias, e diante de tais pessoas; porque estavam assom-
brados. A versão persa diz: “ele era”, portanto a tradução latina do
siríaco, embora seja “eles eram”; pois todos os três ficaram cons-
ternados com o que viram e ouviram; de modo que mal eram eles
mesmos e não sabiam bem o que diziam ou faziam.
9.7. E desceu uma nuvem que os cobriu com sua sombra. Je-
sus, Moisés e Elias, e também os discípulos; quem, de acordo com
Lucas, entrou nele e, portanto, foi coberto por ele. E saiu da nuvem
uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado; a ele ouvi. Esta foi a
voz de Deus Pai, dando testemunho da filiação de Cristo; o que foi
dirigido, não a Moisés e Elias, mas aos discípulos, ordenando-lhes
que ouvissem e obedecessem a Ele, que era o fim da lei e dos profe-
Jo h n Gill

tas; era o grande profeta de quem Moisés havia talado e deveria ser
ouvido, e de quem todos os profetas haviam testificado e em quem
todos eles se centravam (veja Gill em Mateus 17.5).
9.8. E. subitamente, tendo olhado em redor. Ao ouvir a voz,
para ver se eles podiam observar qualquer outro objeto, por quem
foi pronunciado, e se o mesmo que eles viam continuou; ninguém
mais viram, nem Moisés, nem Elias, nem naquele tempo, nem
depois; senão só Jesus com eles; a voz apenas o considerou e foi
direcionada a eles (veja Gill em Mateus 17.8).
9.9. E, descendo eles do monte. Cristo e seus três discípulos,
Pedro, Tiago e João, a quem Ele conduziu até lá; ordenou-lhes que
a ninguém não contassem o que tinham visto; no monte, como
a transfiguração de si mesmo, as pessoas de Moisés e Elias, e a
nuvem brilhante de onde veio a voz, que deu testemunho da filia-
ção de Cristo; ele ordenou manter tudo isso em segredo de todo
homem, mesmo de seus condiscípulos, até que o Filho do homem
ressuscitasse dentre os mortos (veja Gill em Mateus 17.9).
9.10. E eles retiveram o caso entre si. “Eles o retiveram em
suas próprias mentes”, como a versão persa traduz; “eles mantive-
ram [isso] perto”, como Lucas diz (9.36), entre si, e não conheciam
ninguém com isso: e que se refere a toda a carga de Cristo, relacio-
nada à visão no monte; ou então apenas ao que Ele disse sobre Sua
ressurreição dentre os mortos; e que eles notaram particularmente
e se apegaram, como a palavra suportará ser traduzida; e assim a
versão etíope a traduz, “e eles observaram suas palavras”; o que Ele
disse pela última vez sobre a ressurreição do Filho do homem den-
tre os mortos; perguntando uns aos outros o que seria aquilo, res-
suscitar dentre os mortos, eles indagaram, disputaram e argumen-
taram entre si qual deveria ser o significado de tal expressão; não
que eles ignorassem a ressurreição geral dos mortos; pois esta era
a esperança de Israel, e o sentido geral da nação judaica, mas eles
não sabiam o que ele queria dizer com Sua particular ressurreição

212
C o m en tário bíblico de M arcos - Cap. 9

dos mortos: se ele quis dizer isso no sentido literal, o que supôs Sua
morte; e que, embora Ele lhes tivesse falado recentemente, eles não
sabiam como se reconciliar com as noções que tinham de um longo
e florescente reino temporal do Messias; ou se Ele quis dizer de um
interesse, da maneira que eles esperavam.
9.11. E interrogaram-no, dizendo. Tendo isso em mente, ao
ver Elias no monte, ou então pelo que Cristo havia dito sobre Sua
ressurreição, ou ambos; Por que dizem os escribas, acrescenta a
Vulgata Latina, “e fariseus”, que é necessário que Elias venha pri-
meiro? Antes que o Messias venha, ou antes de estabelecer Seu
reino em maior glória (veja Gill em Mateus 17.10).
9.12. E, respondendo ele, disse-lhes. Admitindo que sua ob-
servaçâo estava correta, que este era o sentido dos escribas, e que
havia algo de verdade nisso, quando corretamente compreendido:
Em verdade Elias virá primeiro, e todas as coisas restaurará (veja
Gill em Mateus 17.11); e, como está escrito do Filho do homem,
que ele deva padecer muito e ser aviltado. O sentido de Cristo é
que João Batista, a quem Ele quer dizer por Elias, vem primeiro
e restaura todas as coisas, e entre as demais coisas que ele corri-
ge, esta é uma, e não a menor; a saber, que ele dá o verdadeiro
sentido de tais passagens dos escritos sagrados, relacionados ao
uso desdenhoso, rejeição e sofrimentos do Messias; pois neles Ele
era o Cordeiro de Deus tipificado nos sacrifícios da lei, que por
Seus sofrimentos e morte tira o pecado do mundo; e, portanto, Ele
exortou e dirigiu aqueles a quem ministrou para olhar para Ele e
acreditar n ’Ele (veja João 1.29).
9.13. Digo-vos, porém, c/ne Elias já veio. Ou seja, João Ba-
tista, que na profecia é designado por ele. E eles fizeram-lhe tudo
o que quiseram (veja Gill em Mateus 17.12); quais palavras de-
vem ser lidas entre parênteses, como estão na versão da Vulgata
Latina; para o que segue: como dele está escrito, não respeita o
que os escribas e fariseus, e o povo dos judeus fizeram a João a seu

2 1;·‫׳‬,
Jo h n (hll

bel prazer; desprezando seu ministério e mensagem, rejeitando o


conselho de Deus entregue por ele e permanecendo impenitente e
incrédulo, apesar de seu ministério poderoso e despertador, com
muitas outras coisas que não estão escritas sobre ele; mas as pa-
lavras dizem respeito à sua vinda, e as profecias a respeito dele,
e particularmente, sob o nome de Elias, em Malaquias 4.5, e que
tiveram sua realização.
9.14. E, quando se aproximou dos discípulos. Os outros
nove, que ficaram no sopé da montanha, e estavam esperando por
Ele; viu ao redor deles grande multidão, pois havia uma multidão
que o seguia de Betsaida para cá; e que muito provavelmente au-
mentou com a chegada de Cristo nessas partes, e as pessoas que
ouviram isso; e alguns escribas que disputavam com ele; dispu-
tando e discutindo com eles sobre Seu mestre, Suas doutrinas e
milagres, e Sua missão e autoridade; insultando-os devido a sua
incapacidade de desapropriar um espírito mudo, relatado a seguir.
9.15. E logo toda a multidão, vendo-o. Assim que o viram,
muitos dos quais, especialmente aqueles que o seguiram desde a
Galiléia, ele era conhecido pessoalmente. Ficou espantada; ou que
Ele deveria vir naquele momento, para ajudar e aliviar Seus disci-
pulos quando os escribas estavam triunfando sobre eles, como al-
guns pensam; ou melhor, como outros, por causa daquele brilho
e glória remanescentes que estavam em Seu semblante, por meio
de sua transfiguração, e ainda não totalmente eliminados; como o
que estava no rosto de Moisés, quando desceu do monte Sinai; e,
correndo para ele, o saudaram; desejando-Lhe toda a paz e prospe-
ridade, expressando sua grande alegria em Sua vinda para eles; o
que era muito desejável e extremamente agradável para eles, espe-
cialmente neste momento, como mostravam suas palavras e gestos.
9.16. E ele perguntou aos escribas. A Vulgata Latina tra-
duz isso, “ele perguntou a eles”; e a versão etíope, “ele disse a
eles”; significando que Ele perguntou aos discípulos quando veio

I
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 9

até eles, ou então às pessoas que correram para saudá-Lo; mas as


versões siríaca, árabe e persa dizem “os escribas”; vendo-os sobre
Seus discípulos, em debate próximo com eles, e sendo duros com
eles, lhes pergunta: Que é que discutis com eles? O que buscam e
exigem deles? Qual a sua disputa com eles? Sobre o que é o seu
debate? A versão da Vulgata Latina diz: “que pergunta vós entre
vós?” Entre si e uns com os outros; e assim a cópia mais antiga
de Beza.
9.17. E um da multidão, respondendo, disse. Os escribas não
responderam, com medo de se envolver com Ele, a quem muitas
vezes achavam difícil demais para eles; e os discípulos, se fos-
sem interrogados, ficavam em silêncio, de vergonha, porque não
haviam conseguido curar a pessoa trazida a eles, o que deu a seus
inimigos uma arma contra eles; portanto, o pai da criança aflita
respondeu, dizendo que a ocasião deste debate entre os escribas e
teus discípulos era a seguinte: Mestre, trouxe-te o meu filho, que
tem um espírito mudo; significando que tinha ouvido falar muito
d ’Ele, como um homem muito importante, e acreditava que Ele
era um Mestre em Israel, famoso tanto pela doutrina quanto pelos
milagres, portanto trouxe seu filho para Ele para ser curado, mas
Cristo não estando no caminho, ele o propôs a Seus discípulos,
que tentaram sem sucesso. O caso de seu filho era que ele tinha
um “espírito mudo”. O evangelista Mateus diz que ele era “111-
nático” (Mateus 17.15); e por seu relato dele, parece que teve a
"epilepsia”, ou doença de queda; e que, quando sobre ele, tirou
o uso de sua fala. E assim os judeus atribuem mudez à violência
de uma doença: assim eles perguntam “o que é ‘Cordiacus’ (kar-
diakov)? Aquele que tem um distúrbio que afeta o coração e causa
um delírio (desmaio), mas um homem, Mia hvenv, "que se tornou
mudo’, pela força de uma doença”; que foi o caso desta criança,
embora esta doença não tenha surgido de causas naturais, mas de
uma possessão diabólica; pois ele tinha um espírito, um espírito
J o h n (;!11

imundo, um demônio, como é chamado; alguns relatos adicionais


são dados sobre esse caso infeliz, no próximo versículo.
9.18. E este, onde quer que o apanhe. O espírito, ou demônio,
seja perto do fogo, ou da água, qualquer perigo ou lugar perigoso,
despedaça-o; ou o joga nele, ou o arremessa contra ele; ou interior-
mente o atormenta, tortura e convulsiona; e ele espuma, na boca,
como um louco; e range os dentes, pela dor excessiva que sente; e
vai definhando, sua carne murcha, seca e consumida. Este foi o caso
triste e deplorável em que esta criança estava, que era o único filho
de seu pai e, portanto, sua saúde e vida eram muito desejáveis; agora
ele observa ainda a Cristo, dizendo; e disse aos teus discípulos que o
expulsassem, e não puderam. Estando Cristo ausente, ele implorou
aos discípulos, que tinham poder contra os espíritos imundos, que
os expulsassem; que eles fariam uso dele e desapropriariam esse es-
pírito mudo e maligno; e quem tentaram expulsá-lo, mas não foram
capazes de efetuá-lo (veja Gill em Mateus 17.16).
9.19. E ele. respondendo-lhes, disse. O pai da criança, incluí-
do na repreensão depois dada por sua incredulidade, e tomando
parte com os escribas contra seus discípulos; embora as versões da
Vulgata Latina, árabe, persa e etíope leiam “eles”; não significam
do seus discípulos, mas os escribas e fariseus, com o pai da criam
ça; O geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando
vos sofrerei ainda? Trazei-mo (veja Gill em Mateus 17.17).
9.20. E trouxeram-lho. O pai da criança, e os que eram com
ele, trouxeram a criança a Jesus, em Sua presença, diante d’Ele; e
quando ele o viu, isto é, quando Jesus viu a criança, ou a criança
viu Jesus; ou o espírito maligno nele, e por ele que eram todos
de uma vez; logo o espírito o agitou com violência, lançou-o em
um ataque violento, sacudiu -0 e convulsionou-o de maneira ter-
rível; sabendo que seu tempo era curto e cheio de indignação e
raiva, que deveria ser obrigado, como sabia que deveria, a deixar a
criança muito rapidamente; e foi, portanto, resolvido a fazer todo

?Hi
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 9

o mal e colocá-lo em toda a dor que pudesse: e, caindo o endemo-


ninhado por terra, aos pés de Jesus, não podendo ficar de pé pelos
violentos movimentos e convulsões em que o lançava; resolvia-
-se, espumando; rolou de um lado para o outro, espumando pela
boca e na mais requintada tortura.
9.21. E perguntou ao pai dele. Enquanto ele jazia rolando
nesta condição miserável, que a duração e teimosia de seu dis-
túrbio pudessem ser conhecidas, e assim a cura fosse mais notá-
vel e aparecesse mais expressiva de Seu divina poder e bondade;
Quanto tempo há que lhe sucede isto? Desde quando esse espírito
maligno entrou nele, e essas desordens o acompanharam? E ele
disse-lhe: Desde a infância; ou “desde criança”; de modo que não
foi por nenhum pecado real que ele havia cometido que essa do-
lorida aflição veio sobre ele; no entanto, ele não podería estar sem
pecado, uma vez que não era agradável à justiça, misericórdia e
bondade de Deus afligir, ou sofrer para ser afligido, alguém que
é inocente; portanto, deve estar maculado com o pecado original,
que é a fonte de todas as aflições, calamidades e julgamentos.
9.22. E muitas vezes o tem lançado no fogo. Quando ele está
perto dele, de modo que uma parte ou outra de seu corpo foi cha-
muscada ou queimada, e sua vida está em perigo; e na água para
o destruir, quando ele esteve perto de qualquer riacho ou rio, ele
o jogou nele, a fim de afogá-lo, como no fogo para queimá-lo.
A versão etíope antes do fogo e da água diz: “nas profundezas”,
significando o mar ou algum poço profundo, ou fora de um pre-
cipício. Tudo isso é dito para agravar o caso e mostrar a condição
miserável em que a criança se encontrava, pela frequência dos
ataques e pelo perigo a que estava exposta; mas, se tu podes fazer
alguma coisa. A fé desse homem era muito fraca, e talvez mais
fraca do que quando ele voltou de casa com seu filho. Ele o trouxe
aos discípulos de Cristo, e eles não puderam curá-lo; o espírito
maligno era tão forte, ou mais forte nele do que nunca; ele agora
estava em um ataque violento e em uma condição miserável; de

217
Jo h n Gill

modo que ele estava quase pronto para se desesperar com a cura;
algumas pequenas esperanças ele tinha de que Cristo pudesse ali-
viar neste caso; mas ele coloca um se em seu poder, e sincera-
mente implora a ele, se ele tivesse algum, ele o apresentaria; tem
compaixão de nós, e ajuda-nos, a seu filho que jazia em condição
tão deplorável, rolando no chão a seus pés; e ele mesmo, que foi
muito aflito por isso; ele tenta, em linguagem muito comovente,
tanto 0 poder quanto a piedade de Cristo; e implora que, se ele
tivesse, ele os exercería nesta ocasião.
9.23. E Jesus disse-lhe: Se tu podes crer. Assim como o ho-
mem põe um ",se” no poder de Cristo, Cristo põe um “se” na fé
do homem; e sugere tacitamente que o poder não estava faltando
em si, mas a fé nele; e se essa cura não fosse realizada, não seria
devido a alguma incapacidade d'Ele, mas à sua própria incredu-
1idade. A versão em árabe traduz: “o que é isso: dizendo, se você
pode fazer alguma coisa?” O que você quer dizer com isso? Tu
não deves duvidar do meu poder; não há razão para isso, depois
de tantos milagres realizados, repreendendo o homem com sua
incredulidade; e a versão etíope a traduz assim: “porque tu dizes,
se podes” : portanto, para mostrar que o poder não estava faltando
n’Ele, desde que ele tivesse apenas fé, segue-se: tudo é possível ao
que crê; isto é, “para ser feito” a ele, como fornecem as versões si-
ríaca e etíope; pois nem todas as coisas podem ser feitas pelo pró-
prio crente, mas todas as coisas podem ser feitas por ele, por Deus
ou por Cristo, ou o Espírito de Deus; assim, nosso Senhor, como
em outros lugares, atribui isso à fé, feita por um poder divino.
9.24. E logo o pai do menino, clamando. Assim que ele des-
cobriu que isso era colocado em sua fé, e que o resultado das coisas
seria de acordo com isso, ele se expressou com muita veemência,
estando em grande angústia; em parte com indignação por sua des-
crença, e em parte por medo de perder uma cura, por causa disso;
com lágrimas, disse; arrependido de sua incredulidade e triste com
a atual fraqueza de sua fé, que ele muito ingenuamente confessa,

218
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 9

dizendo: Eu creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade; não para a


frente, mas fora do caminho; ele encontrou em si um pequeno grau
de fé no poder de Cristo, mas estava misturado com muita incredu-
1idade, devido à grandeza da desordem da criança; e, portanto, dese-
ja que isso fosse removido dele, e pudesse ser ajudado contra isso;
ele viu que não estava em seu próprio poder acreditar; nem ele tinha
força em si para se opor à sua incredulidade; mas que tanto a fé deve
ser dada a ele quanto o poder contra a incredulidade. A versão siría-
ca a traduz como “ajuda, ytwnmyh twryoxl, ‘o defeito da minha
fé’, até o que falta nela, é muito deficiente, Senhor, aumente-a”; e a
árabe e a etíope traduzem assim: “ajudem a fraqueza da minha fé”.
Ele achou sua fé muito fraca, ele deseja que ela seja fortalecida para
que possa ser forte na fé e dar glória a Deus; e desta forma a crença
é ajudada, ou os homens são ajudados contra ela: todo crente, mais
ou menos, em um momento ou outro, encontra-se no caso deste
homem; e também que é necessário fazer uso da mesma petição;
pois a fé é apenas imperfeita nesta vida, e muitas vezes muito fraca
e defeituosa em seu exercício.
9.25. E Jesus, vendo que a multidão concorria; hytwl, “para
ele”, como acrescenta a versão siríaca, e assim a persa; ao ouvir o
grito veemente do pai da criança, e as solicitações sinceras que ele
fez, esperando que algo fosse feito; repreendeu o espírito imundo;
que trouxe essa desordem à criança, continuou por tanto tempo e
com tanta violência. Mateus chama esse espírito imundo, “o dia-
bo” (veja Gill em Mateus 17.18); dizendo-lhe: Espírito mudo e
surdo; chamando-o assim não porque o espírito era mudo e surdo,
mas porque ele havia sido a causa da mudez e surdez na criança;
ele às vezes havia tirado tanto a fala quanto a audição; eu te orde-
no: Sai dele, e não entres mais nele. Cristo, de maneira autoritária,
ordenou ao espírito imundo que deixasse sua posse e nunca mais
tentasse recuperá-la. Isso ele disse, em parte com relação ao dia-
bo, que desejaria a reintegração de posse; e em parte com relação
à doença, que tinha seus intervalos e voltava em determinados
J o h n (nil

momentos; e também em relação ao pai da criança, para confirmar


sua fé na cura e para que ele não sofresse com o retorno da doença.
9.26. E ele, clamando, e agitando-o. Nós, corretamente,
dispomos “o espírito”, bem como nas versões siríaca e persa; “o
demônio”, e não a criança que chorou e fez um barulho horrível ao
ser expulsa, estando cheio de ira, abandonou a posse que manteve
por tanto tempo e, portanto, apesar da malícia, antes que a deixasse,
sacudiu-a e a causou terríveis convulsões; contra a sua vontade,
ela era como uma pessoa morta: isto é, a criança, quando o Diabo
a deixou, ficou imóvel, como se não tivesse fôlego, tampouco
vida. Muitos disseram: ela está morta; realmente morta: não havia
vida nela nem esperanças de que voltasse a si.
9.27. Mas Jesus, tomando-o pela mão. A versão persa tra-
duz “pegou a mão da criança” e a levantou do chão, a qual foi
lançada pelo espírito e ela ressuscitou: isso é omitido nas versões
siríaca e árabe, embora, em uma edição desta última, de acordo
com De D ieu, seja traduzido como “e ele se levantou”, ao qual se
acrescenta “e entrou em sua própria casa”. A versão persa, em vez
desta cláusula, diz: “e a criança foi curada”; todas as expressões
mostram que o menino estava perfeitamente bem.
9.28. E. quando entrou em casa. Na casa do homem, cujo
filho o Senhor Jesus havia curado, seus discípulos Lhe pergunta-
ram em particular: por que não pudemos nós expulsá-lo? Os nove
discípulos, que estavam preocupados com este assunto, temendo
que eles tivessem perdido o poder de expulsar demônios, pergun-
taram isso a Jesus, pois, anteriormente, eles expulsaram espíritos
imundos de muitos outros (veja Gill em Mateus 17.19).
9.29. E disse-lhes. Mateus, além desta seguinte razão, atribui
outra, conforme dada por nosso Senhor, sobre o porquê eles não
podiam expulsar o espírito imundo, visto que ainda havia incre-
dulidade, pela qual eles eram culpados de alguma forma, assim
como os judeus e o pai da criança; mas Marcos a omite e apenas

22 0
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 9

relata este motivo. Esta casta não pode sair com coisa alguma, a
não ser com oração e jejum (veja Gill em Mateus 17.21).
9.30. E, tendo partido dali, da costa de Cesaréia de Fili-
pe, daquela parte do país onde estava a montanha na qual Cristo
foi transfigurado, próxima do milagre realizado acima. Tal fato
é compreendido sobre Cristo e seus doze discípulos, embora as
versões siríaca, árabe e etíope sejam lidas na pessoa singular: “ele
saiu”, não sozinho, mas com seus discípulos, como mostra o se-
guinte relato: e passou pela Galileia, a fim de ir para as costas da
Judéia e, portanto, para Jerusalém, onde logo sofreria; estava com
os apóstolos, ensinando e fazendo milagres entre eles. Jesus pas-
sou pelo país da maneira mais privada possível: e Ele não queria
que ninguém soubesse disso; em parte pelo motivo que acabamos
de mencionar e para que Ele pudesse ter a oportunidade de con-
versar a sós com seus discípulos, lembrá-los e informá-los sobre
algumas coisas importantes, as quais eram necessárias que eles se
familiarizassem e observassem.
9.31. Porque ensinava os seus discípulos, e Lhes dizia o que
Ele havia pouco antes sugerido a eles (ver Marcos 8.31). O Fi-
lho do Homem é entregue nas mãos dos homens em uma das có-
pias de Beza; lê-se, “homens pecadores”, como em Lucas 24.7 e,
assim, a versão persa acrescenta “rebeldes”. Isso é representado
como se já tivesse sido realizado, porque foi determinado e acor-
dado que deveria; e também, em pouco tempo, o Filho do Homem
seria entregue nas mãos de homens perversos, segundo a vontade
de Deus com seu próprio consentimento por meio de Judas, dos
judeus e de Pilatos: e eles O condenaram à morte de forma vio-
lenta, contrariando toda a lei e justiça. Depois disso, Ele é morto;
isso é omitido na versão árabe, lendo-se: “Ele será colocado em
um sepulcro”, sendo isso o que se seguiu após a sua morte. Ele
ressuscitará no terceiro dia. Este Cristo sempre se preocupou em
mencionar isto para o conforto de seus discípulos quando Lhes
fala de sua morte.
Jo h n (Jill

9.32. Mas eles não entendiam esta palavra. Significando, as-


sim, tudo o que ele havia dito a respeito de sua entrega, morte e
ressurreição e que, então, deve ser interpretado com alguma limita-
ção; pois eles devem entender o sentido de suas palavras, que eram
claras e expressas, especialmente, em relação a sua morte, afetando
as suas mentes com problemas e tristezas. Mateus diz: “eles ficaram
muito tristes com isso” (veja Gill em Mateus 17.23); mas eles não
podiam entender como podería ser e para que fim um homem tão
santo, bom e inocente como Ele podería ser morto, nem como isso
podería consistir em seu caráter como o Filho de Deus, o Messias
e rei de Israel. De acordo com as noções que eles tinham da per-
manência do Messias para sempre e da criação de um reino tempo-
ral na terra, poderíam se referir apenas a sua ressurreição dentre os
mortos, que era para ser tomada em sentido literal ou místico. Esta-
vam com medo de perguntar a Ele para que não fossem repreendí-
dos por sua ignorância e estupidez, como haviam sido recentemente
advertidos por sua incredulidade e negligência de seu dever; e como
Pedro havia sido severamente repreendido por expor sobre as mes-
mas coisas entregues por Jesus a eles.
9.33. E Ele chegou a Cafarnaum, onde se encontrou com os
cobradores do dinheiro do tributo e os pagou, conforme relatado
por Mateus (Mateus 17.24), embora Marcos não dê atenção a isso.
As versões Vulgata Latina e Siríaca leem no plural: “eles vieram”,
Cristo e seus doze apóstolos; qual é o sentido das palavras lidas
no singular? Pois Cristo não veio sozinho, mas com seus disci-
pulos: estava na casa de Simão e de André, provavelmente, onde
ele costumava estar quando em Cafarnaum. Ele perguntou-lhes, o
que é que discutistes entre vós pelo caminho? Enquanto viajavam
de Cesaréia de Filipe para a Galileia; ou enquanto viajavam pelas
partes da Galiléia até Cafarnaum. Cristo fez essa pergunta, não
como ignorante do que havia acontecido entre eles, mas para que
o caso fosse apresentado; para que Ele os reprovasse por seu orgu-
Iho e ambição, tivesse a oportunidade de ensiná-los a humildade

?22
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 9

e de informá-los sobre a natureza de seu reino e súditos; a respei-


to disso, eles tinham noções muito erradas. A frase “entre vós” é
omitida nas versões Latina e Árabe da Vulgata, mas permanece
nas versões Siríaca, Persa e Etíope.
9.34. Mas eles calaram-se, temendo uma repreensão por
suas vaidades e grandezas mundanas: porque pelo caminho ha-
viam disputado entre si qual seria o maior; isto é, quem deveria ser
promovido ao posto mais alto e ter o maior lugar de autoridade,
honra e dignidade no reino temporal do Messias; eles esperavam
que tal fato fosse estabelecido em pouco tempo, pois, apesar do
que Cristo lhes havia dito a respeito de sua entrega ao poder dos
homens e sobre a sua morte e ressurreição, eles ainda retinham o
seu princípio anterior, o qual não sabiam como reconciliar a sua
morte. Portanto, Jesus preferiu deixar seu significado em suspen-
se e permanecer ignorante sobre isso, ao notar que: sem dúvida,
essa disputa foi ocasionada pelo que Cristo havia dito a eles; pois,
depois, ficando sozinhos, falaram sobre isso, o que levou a uma
disputa calorosa sobre a precedência em seu reino.
9.35. E ele, assentando-se como seu mestre, tal qual alguém
que tem autoridade, a fim de examinar este assunto e julgá-lo: cha-
mou os doze; todos os discípulos que, embora não estivessem todos
envolvidos nessa disputa, nem eram igualmente criminosos, ainda
assim, eram possuidores da mesma noção. Portanto, Cristo os cha-
ma, pois o assunto se estabeleceu pertinente a todos eles e disse-
-lhes: se alguém deseja ser o primeiro, ter a preeminência e estar
no lugar principal no reino do Messias, o mesmo será o último de
todos e servo de todos; o seu orgulho e vaidade serão reprimidos,
as suas visões ambiciosas serão frustradas; em vez de ter reverência
e respeito superiores, ele será rebaixado e tratado com negligên-
cia e desprezo; e em vez de ser o mestre dos outros, será o servo
de todos. Algumas cópias dizem: “deixe-o estar”; e assim a versão
Persa, “deixe-o ser o último e ministrar a todos”; e a versão Etíope,
“deixe-o sujeitar-se a todos e ser servo de todos”; pois o único ca­

22;■]
J o h n G ill

minho para a preferência no reino de Cristo ou na dispensação do


Evangelho é a humildade e a mansidão ao realizar os serviços mais
baixos para todos, com diligência e alegria.
9.36. E, lançando mão de um menino que estava em casa, Ele
o chamou e o colocou junto d ’Ele; como os outros evangelistas
observam: ponha-o no meio deles; seus discípulos, para que todos
possam ver e aprender com este exemplo. Quando Ele o tomou em
seus braços e o abraçou para mostrar sua grande consideração pela
humildade e pelas pessoas bondosas, disse as seguintes palavras:
9.37. Qualquer que receber um destes meninos, isto é, qual-
quer crente, que é semelhante a tal criança em humildade, mansidão
e leveza de espírito, assim a versão Siríaca traduz, aylj anh Kya,
“alguém como esta criança”, de mesma forma, relatam as versões
Árabe e Persa; não se pode pensar que Cristo abraça e observa a
criança de forma desagradável, mas aquele que mostra respeito e
executa o mínimo de amor e bondade para com o crente mais me-
díocre, comparável a uma criança pequena, pelas excelentes quali-
dades acima, diz Cristo: “em meu nome”, por pertencer a Cristo, é
um dos Seus, carrega Sua imagem, participa de Sua graça, é amado
por Ele e será glorificado com Ele. Tal é a grande consideração de
Cristo por seus humildes seguidores: Ele me recebe, este humilde
crente, sendo um membro d’Ele, sendo respeitado por Ele. Quem
receber a Cristo, qualquer um de seus membros, não O recebe; isto
é, não O obtém apenas; significando que recebemos tanto o Pai
quanto o Filho, e qualquer que a mim me receber, recebe, não a
mim, mas ao que me enviou; pois mostrar respeito a um dos mem-
bros de Cristo é mostrar respeito a Ele; portanto, reverenciar a Cris-
to é reverenciar a seu Pai, de onde Ele veio, por quem foi enviado,
em cujo nome Ele agiu e em cuja obra estava envolvido.
9.38. E João lhe respondeu, dizendo. Tomando nota do que
Cristo acabou de dizer, e observando quão agradável era receber
de maneira mansa e humilde o menor crente em Seu nome; refle­

221
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 9

tindo sobre uma ação, na qual ele e alguns de seus condiscípulos


estavam envolvidos, em que ele percebeu não ser tão agradável a
esta regra de Cristo, achou apropriado relatá-la a Ele, para que pu-
desse compreender e lhe dar a oportunidade de ampliar o assunto,
tão adequado ao temperamento e disposição deste amado discípu-
10. Mestre, vimos alguém expulsando demônios em teu nome: pro-
vavelmente, ele O chamou de Rabi, como a versão siríaca traduz,
ou Raboni, como João 20.16, um título comumente dado a Cristo,
tanto por seus discípulos quanto por outros. O caso relatado, acon-
teceu quando os discípulos, sendo enviados por Cristo para pregar
o Evangelho e expulsar demônios, fizeram uma viagem pela Ju-
déia e Galiléia, onde viram este homem. João não estava sozinho;
havia outros com ele, pelo menos outro, que era uma testemunha
ocular; os apóstolos foram enviados dois a dois: não é dito o nome
daquele homem, não é mencionado, talvez fosse desconhecido
dos apóstolos; embora Beza diga em um exemplar antigo, “nós
conhecíamos um”. Essa pessoa não apenas tentou expulsar demô-
nios, mas realmente o fez, mais de uma vez; em qual dos nomes de
Cristo ele o fez, não é expressado, podería ser em nome do Mes-
sias. A conjectura do doutor Lightfoot pode estar certa, de que ele
era um dos discípulos de João e havia sido batizado em nome do
Messias. Esperava-se que o dom viesse a quem, como os outros
de seus discípulos, foi dado o poder de expulsar demônios para
tornar mais claro o caminho do Messias; portanto, a razão pela
qual ele não expulsou demônios em nome de Jesus, mas em nome
do Messias, e não o seguiu, nem a seus discípulos, não foi por
desprezo, mas por ignorância, por não saber que Jesus de Nazaré
era o Messias: ou se ele expulsou demônios em nome de Jesus, o
que parece mais provável, ele pode ser, como outros pensam, um
discípulo de João, que realmente acreditava em Jesus, embora não
se associasse com seus discípulos, mas continuou com os discípu-
los de João. Por isso, se diz: e ele não nos segue; não era nenhum
dos doze apóstolos, nem um dos setenta discípulos, nem mesmo
J o h n Gill

alguém da classe inferior dos discípulos professos de Jesus. Esta


cláusula é omitida nas versões Siríaca, Árabe, Persa e Etíope: e
nós o proibimos; continuando assim, expulsando mais demônios,
porque ele não nos segue; não era um deles, nem nenhum dos
discípulos de Cristo; não havia recebido autoridade e comissão de
Cristo para fazer o que ele fez. Eles temiam que, por uma manei-
ra irregular de proceder, a dignidade de Cristo fosse diminuída e
houvesse alguma desonra e reprovação refletida sobre Ele. Além
da honra de Cristo, eles podem consultar os seus; o caso deles é
muito parecido com o de Josué, quando Eldad e Medad profetiza-
ram no acampamento. Esta cláusula é deixada de fora na Vulgata
Latina, mas permanece em todas as versões orientais.
9.39. Jesus, porém, disse: Não Iho proibais, nem ele, nem
qualquer outro que eles encontrariam no futuro que pudesse ex-
pulsar demônios em Seu nome; porque não há homem que faça
milagre em meu nome, ou “milagres”, como a versão Siríaca re-
vela, como expulsar demônios ou curar qualquer doença e enter-
midade, que possa falar mal de mim levianamente. Tal homem
nunca pode reprovar e blasfemar aquele nome que ele usa e pelo
qual ele faz obras maravilhosas; nenhum homem pode chamar Je-
sus de maldito, expulsando demônios em Seu nome (veja 1 Co-
ríntios 12.3). Se este falou de forma negativa sobre Jesus, ele não
pode fazê-lo “de novo”, como a versão Persa traduz, ou ele não
pode fazê-lo “rapidamente, imediatamente”, como as versões da
Vulgata Latina, Siríaca, Árabe e Etíope interpretam. Deve haver
algum tempo antes que tal pessoa renegue, se é que o faz, mas
ele não pode facilmente blasfemar esse nome, pelo qual Jesus faz
suas obras poderosas: sua consciência não o admitirá; além disso,
seria contrário ao seu interesse; o crédito do homem, se ele perder
a estima e o aplauso dos homens, ele ganhou por seus milagres,
pois desonrar esse nome seria reprovar a si.
9.40. Porque quem não é contra nós, é por nós. Muitas có-
pias dizem: “aquele que não é contra você, é por você”; como este

2 2 (i
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 9

homem, ele não era contra Cristo ou seus discípulos; ele estava
fazendo o mesmo trabalho, promovendo o mesmo interesse e des-
truindo o reino de Satanás; portanto, embora ele não os seguisse
e não tivesse sua comissão imediatamente de Cristo, no entanto,
na medida em que ele se opunha ao mesmo inimigo comum e não
fazia nada contra eles, ele deveria ser considerado um deles. O
versículo é uma expressão proverbial, significando que todos os
que não são contra um homem e não são seus inimigos devem ser
considerados seus amigos.
9.41. Porquanto, qualquer que vos der a beber. Não apenas
aquele que faz um milagre em nome de Cristo, mas o que mostra
o mínimo de respeito ou faz a menor bondade para qualquer um
dos seus - veja Gill em Mateus 10.42 - deve ser considerado ami-
go e, assim, também é por Cristo; e será mais cedo ou mais tarde
notado por Ele, especialmente, se o que ele fizer, mesmo que seja
pouco, for realizado por sua conta: em meu nome, porque sois de
Cristo; ou como a versão Siríaca traduz, “porque sois de Cristo”;
os Seus discípulos são chamados pelo nome e são participantes de
sua Graça, carregam Sua imagem e semelhança, são amados por
Ele, interessados e ligados ao Senhor; redimidos e dispostos por
Sua Graça; eles estarão com Ele: em verdade vos digo que ele não
perderá sua recompensa (veja Gill em Mateus 10.42).
9.42. E qualquer que escandalizar um destes pequeninos que
creem em mim. Qualquer que fizer o menor dano à pessoa mais
indigente que crê em Cristo, que é mesquinho aos seus próprios
olhos e aos olhos dos outros. Cristo não está falando de crian-
ças pequenas, que não são capazes de crer em Cristo, nem estão
prontas para se ofender, mas daqueles que pertencem a Ele, seus
discípulos e seguidores, de quem está falando no versículo ante-
rior: melhor seria que lhe pendurassem ao pescoço uma pedra de
moinho, e que fosse lançado ao mar, se afogando ali. A alusão é
ao afogamento de malfeitores, amarrando uma pedra ou qualquer
coisa pesada em seus pescoços e lançando-os ao mar. Casaubon

2 27
J o h n Gill

e outros mostraram, através de escritores pagãos, que essa tem


sido uma prática de algumas nações, particularmente dos gregos.
Jerom diz: Cristo fala de acordo com o costume do país, sendo
este um castigo dos maiores crimes entre os judeus. O sentido de
Cristo é que aqueles que ofendem qualquer um de seus ministros
ou pessoas, por mais mesquinhos que pareçam, sofrerão o castigo
mais severo (veja Gill em Mateus 18.6).
9.43. E, se a tua mão te escandalizar, corta-a. Observei em
Mateus 5.30 que, pelos cânones judeus, cortar a mão foi uma or-
denação para alguns casos ali mencionados, os quais, embora lite-
ralmente prescritos, não devem ser entendidos, como se o sinédrio
judeu tivesse o poder de infligir tal punição às pessoas considera-
das culpadas das ocorrências instanciadas, ou que era necessário
que eles fizessem isso consigo mesmos; tais regras foram profe-
ridas em tal linguagem, para mostrar a hediondez dos crimes co-
metidos, para expressar uma aversão a eles e para dissuadir as
pessoas deles; mostrando que a desaprovação sentencia a mão, a
fim de ser cortada. Deveria ser mais elegível para a própria pessoa
cortá-la, do que ser culpada de tal mal e, da mesma maneira, Cris-
to direciona para o que é mais apropriado e adequado a ser feito;
até mesmo para se separar do que é tão próximo e querido, em vez
de ser atraído para o mal por isso. Seu sentido neste lugar é que os
amigos e conhecidos mais queridos, embora sempre tão próximos
e queridos, como uma mão direita, o instrumento de ação, que
obstrui o bem-estar espiritual dos homens, deve ser renunciado
e separado, tratado como verdadeiros inimigos, e da mais perni-
ciosa consequência (veja Gill em Mateus 5.29-30). E melhor para
você entrar na vida mutilado: não que haja tal coisa, como na res-
surreição, ir para o céu sem um membro; pois as palavras devem
ser entendidas, não literalmente, mas figurativamente; é melhor se
separar de tudo o que é prejudicial para o homem fazer ou desfru-
tar do que é espiritualmente bom e entrar na Vida Eterna, do que
ter duas mãos, ir para o inferno; do que desfrutar de tais pessoas e

22K
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 9

coisas agradáveis à carne, para a ruína da alma, e ser lançado no


inferno; no fogo que nunca se apagará. Esta é uma perífrase do
inferno e uma alusão ao vale de Hinom, de onde o inferno tem seu
nome, aqui e em outros lugares; onde um fogo constante foi man-
tido, para a queima de coisas poluídas: um dos escritores judeus
diz, que "era um lugar na terra perto de Jerusalém, e era um lugar
desprezível: onde lançavam coisas impuras e carcaças; e havia ali,
dymt va, “um fogo contínuo”, para queimar coisas e ossos poluí-
dos; e, portanto, a condenação dos ímpios, de forma parabólica,
é chamada de “Gehinnom”. E diz outro deles, “Gehinnom é um
lugar conhecido, perto de Jerusalém, e um vale, tybkn vah Nyav,
“cujo fogo nunca se apaga”; e no qual eles queimam ossos de im-
purezas, carcaças e outras coisas poluídas” . Toda esta cláusula é
deixada de fora nas versões siríaca, persa e etíope; e a frase “que
nunca se apagará” não está na versão árabe.
9.44. Onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apa-
ga. A passagem mencionada está em Tsaías 66.24 e, como lá, as
palavras são transgredidas contra o Senhor; então, aqueles que
ofenderam qualquer um dos pequeninos de Cristo ou foram ofen-
didos por uma mão, um pé, um olho e os retiveram: por seu ver-
me se entende sua consciência, pois como um verme que está
continuamente roendo as entranhas de um homem, causando-lhe
dor intensa, desta maneira, as consciências dos pecadores estarão
continuamente pairando em seus rostos, trazendo seus pecados
à lembrança, acusando-os deles, repreendendo-os, agravando-
-os, atormentando-os por eles, enchendo-os de terrível angústia
e miséria, com remorsos agudos e reflexões severas que nunca
terão fim. Este será sempre o caso; a consciência estará sempre
angustiando, atormentando e torturando-os; nunca cessará, nem
terminará de exercer este ofício; a paráfrase de Chaldee, 1saias
66.24, traduz esta frase, Nwtwmy al Nwhtmvn, “suas almas não
morrerão”, mas sempre continuarão nos terríveis tormentos e hor-
rores indescritíveis de uma consciência corroída; “o fogo” pode

229
J o h n G ill

ser entendido como o fogo da ira divina deixado em suas almas,


que nunca será extinto; e assim Jarchi interpreta a frase em Isaías
66.24, “seu fogo", M nhygb, “no inferno”. É uma tradição para
os judeus obterem a luz, o fogo criado por Deus, no segundo dia,
“não há como apagá-lo para sempre”; como é dito “porque o seu
verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará” (Isaías 66.24).
A passagem aqui mencionada diz respeito à razão que eles dão ao
fogo do inferno, cujo sentido às vezes é exposto pelos médicos
judeus: “seu verme não morrerá” do corpo, “e o fogo não se apa-
gará” da alma.
9.45. E se o teu pé te escandalizar, corta-o. Tais que são para
os homens, como o pé é para o corpo, o sustento deles através de
quem eles têm sua manutenção e subsistência; e, no entanto, se
eles são um meio de fazê-los tropeçar e cair, ou de conduzi-los
para fora dos caminhos de Cristo, sua companhia deve ser evitada;
é melhor para você. A versão da Vulgata Latina diz “Vida Eterna”,
a qual, sem dúvida, é entendida por “existência”. A cópia de Cam-
bridge de Beza revela o significado de que a solidão é mais quista
sem uma má companhia para o céu, bem como ter dois pés para
você ser, ao fim, lançado no inferno, no fogo que nunca se apagará
(veja Gill em Marcos 9.44).
9.46. Onde o seu verme não morre, e o fogo não se apaga.
A versão persa traduz “porque daí não pode haver libertação”: o
que é uma boa interpretação dessas expressões figurativas, já que
eles projetam a eternidade dos tormentos do inferno, bem como
apontam para a angústia e miséria deles.
9.47. E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora. Nada é
mais custoso ao homem, sendo muito terno e extremamente útil:
esta metáfora que o Senhor às vezes usa, para mostrar o quão que-
rido é o seu povo para Ele, e que a terna preocupação que o Senhor
tem por eles (Deuteronômio 32.10). Pode-se designar aqueles que
são mais amados pelos homens, são seus amigos íntimos, no en­

230
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 9

tanto, estes devem ser separados quando provam armadilhas e pe-


dras de tropeço ou nos ofendem, tentando atrair para o pecado e
para longe de Cristo: é melhor para você entrar no reino de Deus
com um olho; aquele reino que Deus preparou para seu povo desde
a fundação do mundo e de Sua rica Graça. Os escolhidos desfru-
tarão por toda a eternidade, o que é melhor do que ter dois olhos e
ser lançado no fogo do inferno. E “isso nunca será extinto”.
9.48. Onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga.
Isso é repetido novamente, não apenas para assegurar a verdade,
mas para chamar a atenção da mente, fixando uma impressão ter-
rível sobre ela: a versão persa traduz “de onde você nunca encon-
trará redenção”. Não há redenção do inferno, como Orígenes e
outros pensaram.
9.49. Porque cada um será salgado com fogo, isto é, cada
um daqueles que transgridem a lei de Deus, ofendem qualquer um
que crê em Cristo, retém seus pecados e possui companheiros pe-
caminosos; cada um daqueles que são lançados no inferno, onde
o verme da consciência está sempre roendo, e o fogo da ira divina
está sempre queimando, com esse fogo cada um deles será salga-
do: ele será para eles como o sal é à carne; visto que isso mantém
a carne da putrefação e da corrupção, assim o fogo do inferno, ao
queimar, torturar e afligir os pecadores rebeldes, os preservará em
seus seres; eles não serão consumidos por ele, mas continuarão
queimando, de modo que estas palavras provam que a alma em
tormento nunca morrerá ou perderá qualquer um de seus poderes e
faculdades e, particularmente, não ocultará a sua consciência ator-
mentadora e torturante; o fogo do inferno é inextinguível, pois,
embora os pecadores sejam inexprimivelmente atormentados
por ele, não serão consumidos; mas a fumaça de seus tormentos
ascenderá para todo o sempre e eles estarão tão longe de serem
aniquilados pelo fogo do inferno que serão preservados em seus
seres, como a carne é preservada pelo sal: e todo sacrifício será
salgado com sal, referindo-se a Levítico 2.13. “Com todas as tuas
J o h n Gill

ofertas tu deves oferecer sal‫׳״‬, não apenas as ofertas de carne, mas,


também, os holocaustos e todos os outros sacrifícios deveríam ser
oferecidos com sal; dos quais, os judeus dizem as seguintes coi-
sas: é um preceito afirmativo salgar todos os sacrifícios, antes de
subirem ao altar, como está dito (Levítico 2.13). Com todas as
tuas ofertas oferecerás sal e não há nada trazido ao altar sem sal,
exceto o vinho das libações, o sangue e a madeira, isto é uma tra-
dição; não há Escritura para apoiá-la, pois o mandamento é salgar
muito bem a carne, como se salga a carne para assar; se ele sal-
gar o todo, mesmo com um grão de sal, está correto; aquele que
oferece a carne sem sal algum deve ser atacado; como é dito: “tu
não deves deixar o sal da aliança do teu Deus faltar”, ainda que
ele deva ser atacado, a oferta é correta e aceitável, exceto a oferta
de alimentos. Uma pessoa não traz sal ou madeira para a oferta da
sua própria casa: em três lugares colocam sal, na câmara de sal,
sobre a subida do altar e sobre o topo do altar. Na câmara de sal,
eles salgam as peles das coisas sagradas; na subida do altar, eles
salgam as partes do sacrifício; e sobre o topo do altar, salgam o
punhado, o incenso e as ofertas de cereais, que são queimadas, e
os holocaustos das aves”. Algo desse tipo também foi obtido entre
os pagãos, os quais pensavam que seus sacrifícios não eram ofere-
cidos corretamente, nem aceitáveis a Deus, a menos que o sal fos-
se usado com estes. Neste momento, o nosso Senhor tem respeito
pelas mesmas pessoas como antes; significa por meio deste que os
ímpios no inferno serão vítimas da justiça divina, obtendo sacri-
fícios para sua ira e vingança; e como os sacrifícios da lei foram
salgados, estes terão o fogo do inferno e nunca serão totalmente
destruídos, mas sempre permanecerão os objetos do desagrado de
Deus e da indignação ardente: ou ele pode ter respeito por um tipo
diferente de pessoa, até mesmo pelos santos e pelo povo de Deus,
que são um sacrifício santo, vivo e aceitável. Na profecia referida
no contexto (Isaías 66.20), diz-se que eles são trazidos para “uma
oferta ao Senhor - como os filhos de Israel trazem uma oferta

232
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 10

em um vaso limpo à casa de Deus”. Assim como os sacrifícios


dos judeus eram salgados e tomaram-se aceitáveis a Deus, aque-
les que são temperados com a Graça de Deus são preservados das
corrupções do mundo e são aceitáveis aos olhos de Deus ao serem
mantidos a salvo em seu reino e glória.
9.50. Bom é o sal para tomar a carne saborosa e evitar que se
coiTompa; assim é a Graça de Deus para temperar os corações dos
homens, tomar seu discurso saboroso e preservá-los da corrupção
do pecado: desta forma, os homens se tomaram participantes da
Graça de Deus; são bons e úteis aos outros, tanto pelas suas palavras
como pelas suas ações e, sobretudo, ministros do Evangelho, os
quais são “o sal da terra” (veja Gill em Mateus 5.13); Cristo pode
tencionar principalmente os seus apóstolos: se o sal for insípido,
com que o temperareis? Não há como recuperá-lo, ele se toma inútil
(veja Gill em Mateus 5.13); tende sal em vós mesmos na doutrina
da Graça e na palavra de Cristo, obtendo prudência no falar e na
conversa, possuindo santidade de coração e vida, de modo a com-
portar-se com sabedoria para os que estão de fora. Tenham paz uns
aos outros, pois o Deus da paz chama; o Evangelho da paz exige e a
Graça de Deus ensina. O sal é um emblema de firme união, concor-
dância e acordo: portanto, o pacto de paz é chamado de pacto de sal,
Números 18.19, em comparação ao livro de Números 25.12. Essa
exortação segue apropriadamente a menção do sal em diferentes
sentidos; especialmente, essa exortação era a mais necessária para
os discípulos naquele momento, uma vez que eles estavam discutin-
do calorosamente o ponto entre si de quem deveria ser o maior no
reino do Messias, o qual ocasionou esse discurso de Cristo.

Capítulo 10
10.1. E, LEVANTANDO-SE dali, da Galiléia e, particular-
mente, de Cafarnaum, chegando às costas da Judéia; nos lugares

233
J o h n Gill

que faziam fronteira com aquela parte da terra de Israel chamada


Judéia, distinta da Galiléia, “para” o outro lado do Jordão, cruzan-
do na ponte de Chammath: o lugar específico para o qual ele veio
era Bethabara (veja João 10.40), onde João anteriormente pregou
e batizou, e o povo recorreu a ele novamente. Grandes multidões
o seguiram para fora da Galiléia e, sem dúvida, reuniram-se com
ele desde as partes adjacentes quando souberam que ele voltaria.
Como de costume, ele os ensinou novamente: era seu costume an-
tes e, assim, por onde fosse, pregava a palavra de Deus e ensinava
aos homens o que era proveitoso e útil para o bem de seus almas
imortais; desta maneira, neste momento, ele realizou o mesmo,
não apenas isso, mas curou muitos deles de seus distúrbios corpo-
rais, como Mateus relata (Mateus 19.2).
10.2. E, aproximando-se dele os fariseus, como eles faziam
em todos os lugares; não para serem instruídos por Ele, mas para
enredá-lo, perguntaram-lhe: é lícito ao homem repudiar sua mu-
lher? Isto é, como Mateus acrescenta, “por toda causa”, (veja Gill
em Mateus 19.3); um divórcio pode ser feito legalmente por um
motivo, por exemplo, ocorrendo um adultério, mas não por qual-
quer ou toda causa; não há razão aparente para essa pergunta dos
fariseus, pois estão tentando-o; fazendo-o enredar, opondo-se à
autoridade de Moisés, caso Ele negue a legalidade dos divórcios
ao objetar a sua doutrina anterior (Mateus 5.32), expondo o Se-
nhor como um pregador inconsistente, caso Ele permita que a
separação seja legalizada por todos os motivos. Esta cláusula é
colocada nas versões Siríaca, Árabe e Persa antes da pergunta.
10.3. Mas ele, respondendo, disse-lhes com muita prudência e
sabedoria; o que Moisés lhe ordenou? De acordo com Mateus, Ele
fez outra pergunta (veja Mateus 19.4); sem dúvida, depois de terem
instado a autoridade e a lei de Moisés, Jesus os colocou para repeti-
-la, a fim de que o sentido dela possa ser examinado e considerado.

234
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 10

10.4. E eles disseram, como resposta, Moisés permitiu es-


crever uma carta de divórcio e repudiá-la, Moisés não ordenou
que eles se divorciassem de suas esposas, apenas permitiu que o
fizessem: deu ordens para que, se não pudessem suportar, deve-
riam viver com elas, mas podiam se divorciar e, depois, mandá-las
para fora de suas casas, livres para se casar com outros homens;
esta lei, ou permissão, está em Deuteronômio 24.1, na forma de
carta de divórcio (veja Gill em Mateus 5.31).
10.5. E Jesus, respondendo, disse-lhes com respeito a este co-
mando, a tolerância de Moisés, que eles pediram: pela dureza do
teu coração te escreveu este preceito, não porque era cometo em sua
própria natureza, ou de acordo com a vontade original de Deus, mas
porque os judeus eram homens tão cruéis e de coração duro, que se
isso não tivesse sido permitido, alguns deles, que tinham esposas
não tão agradáveis, as teriam usado de maneira desumana, podendo
até haver morte; portanto, para evitar maiores problemas, Moisés os
concedeu tal preceito (veja Gill em Mateus 19.8).
10.6. Porém, desde o princípio da criação do mundo e do
homem: Mlwe lv wtyyrb tlxtm, “desde o início da criação do
mundo”, é uma maneira de falar frequentemente usada pelos ju-
deus; a expressão “da criação” é omitida nas versões Siríaca e
Persa; e assim aconteceu na cópia mais antiga de Beza, sendo lido
apenas “desde o princípio”, como em Mateus 19.4-8 (veja Gill
em Mateus 19.4-8). Deus os fez homem e mulher, bem como os
primeiros que foram criados, Adão e Eva, os primeiros pais da
humanidade e o primeiro casal que se uniu, de modo que não po-
deria haver poligamia ou divórcio: Adão não poderia ter mais es-
posas do que uma, nem poderia repudiar Eva e casar com outra;
nenhuma provisão foi feita para tais usos e práticas (veja Gill em
Mateus 19.4). Na edição Complutense, acrescenta-se “e disse” às
seguintes palavras.
J o h n Gill

10.7. Por esta causa, o homem deixará seu pai e sua mãe;
em qualquer cópia do evangelista: e apegar-se a sua esposa (veja
Gill em Mateus 19.5).
10.8. Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e
unir-se-ά a sua mulher Esta é a parte restante da citação de Gêne-
sis 2.24, (veja Gill em Mateus 19.5); então, eles não são mais dois,
mas uma só carne; como Adão e Eva foram ambos por criação e
casamento: assim, duas pessoas, um homem e uma mulher, sendo
legalmente casados, tornam-se uma só carne ou “um corpo”, tal
qual as versões Árabe e Persa traduzem a frase. Portanto, a esposa
deve ser amada pelo marido como este ama o próprio corpo, não
sendo cogitada a separação até a morte, exceto, em caso de adul-
tério (veja Gill em Mateus 19.6).
10.9. Portanto, o que Deus ajuntou. Veja Gill em Mateus 19.6.
10.10. E em casa, para a qual Cristo se retirou, depois de
calar os fariseus e despedir a multidão, seus discípulos pergunta-
ram-lhe novamente sobre o mesmo assunto. Apesar da discussão
com os fariseus, houve algumas coisas ditas com as quais eles não
estavam acostumados e que não entendiam completamente; por-
tanto, optaram por conversar em particular com Ele acerca disso
para obterem mais informações.
10.11. E ele lhes disse as mesmas coisas que em Mateus 5.32
e Mateus 19.9 (veja Gill em Mateus 5.32; veja, também, Gill em
Mateus 19.9). Aquele que repudiar sua mulher e casar com outra,
quando não há impureza no caso e quando a sua antiga astúcia não
o prejudicou ao violar o leito conjugal, este comete adultério con-
tra ela, causando o prejuízo de sua esposa legal; ou “sobre ela”,
“com ela”, em relação à pessoa com quem se casa. As versões
Siríaca e Persa omitem a frase “contra ela”.
10.12. E se a mulher deixar a seu marido. Não que houvesse
a mesma lei, ou a mesma tolerância pela lei de Moisés para uma
mulher repudiar seu marido, bem como para o marido repudiar a

236
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 10

esposa; tal ação era pouco praticada entre os judeus, a menos em


um estado de declínio, tendo-a retirado dos gentios, os quais “se
divorciam um do outro”, diz rabino Jochanan, wtvrgm wtva, “sua
esposa se divorcia dele” e lhe dá o dote. Então, Salomé, irmã de
Herodes, o Grande, enviou uma carta de divórcio a seu marido,
Costobarus, porém, ela foi seguida por Herodias, filha de Aristó-
bulo, como Josephus relata, evidenciando que esta também o fez.
Devido a tais exemplos, a prática pode prevalecer entre os judeus:
temos uma história sobre um homem santo e um santo yeoman, os
dois eram casados com outras mulheres e não tinham filhos, hz ta
hz wvrgw, “e eles se divorciaram”; um destes se casou com uma
mulher perversa, e ela o tornou perverso; e uma mulher se casou
com um homem perverso, e ela o tornou justo, mas não acho que
essa prática tenha sido aprovada ou estabelecida por qualquer re-
gra ou cânone. Eles permitem que, de fato, uma mulher escreva
o divórcio de seu marido com testemunhas adequadas; e também
obrigam aquela que foi desposada em menoridade e recusa o ma-
rido quando adulta a redigir uma carta de renúncia; as regras so-
bre isso são as seguintes: “eles não permitem que alguém se case
com uma pessoa menor de idade; aquele que se casa com uma
adolescente que é órfã de pai, e ela não está satisfeita com seu
marido, eis que ela pode ir embora, mas não precisa se divorciar
dele, porque os esponsais de um menor de idade não são perfeitos,
como explicamos: sendo assim, se ela ficar viúva ou se divorciar
enquanto é nova, eis que ela é tal qual uma órfã de pai. Não gosto
dos casamentos com os quais o meu pai e o meu irmão arranjaram.
Os dois, diante dos quais a menor se recusa, escrevem por ela; em
tal dia, uma destas recusou, diante de nós, o seu marido. Sendo
assim, selam a carta de renúncia e a entregam. Este é o corpo e a
substância de uma carta de recusa: em tal semana, em tal dia do
mês, em tal ano, filha de tal recusou-se diante de nós, e disse que
minha mãe e meu irmão me forçaram a me casar. Eu, menor de
idade, desposada com tal, filho de tal; agora, revelo minha mente

23 7
J o h n Gill

diante de vocês: não gosto do meu marido e não vou ficar com
ele. “Nós temos procurado por ela e isso é manifesto para nós.
Sabemos que ela ainda é menor de idade, por isso, nós escreve-
mos, selamos e demos a ela uma carta para a sua justificação com
respaldo”. “Tal, filho de tal, testemunha. Tal, filho de tal, testemu-
nha”. Este tipo de escrita foi chamada de Nwaym jg, “uma carta
de recusa” e, às vezes, Nynwaym yrjv, “cartas de recusa”; bem
como uma carta de divórcio dada por uma mulher casada a seu
marido. Não encontrei com Justino Mártir uma fala sobre uma
mulher cristã que, repudion dousa, “deu carta de divórcio” ao
marido: tais coisas, portanto, foram feitas e podem ser feitas no
tempo de Cristo, ao qual ele se refere; e sobre o que ele diz, se
uma mulher realizar isso e for casada com outro, comete adultério
com o homem com quem se casa, contra e para prejuízo de seu
ex-marido, injustamente deixado por ela.
10.13. E traziam-lhe meninos. Os pais, amigos ou amas das
crianças daquela região, ouvindo falar da fama de Jesus e nutrindo
uma opinião sólida sobre este grande profeta, levavam enfermos
para que o Senhor tocasse, sendo assim, um homem santo e bom
trouxe os seus filhos nos braços, dizendo que Ele deveria tocá-los;
de mesma forma quando ele curou pessoas doentes em outra épo-
ca, mas os seus discípulos repreenderam aqueles que trouxeram
pessoas (veja Gill em Mateus 19.13).
10.14. Jesus, porém, vendo isto, observou que seus disci-
pulos repreendiam aqueles que traziam seus filhos a Ele e ficou
descontente com os seus enviados, pois eles deveríam primeiro
conhecer a vontade de seu Mestre; é o Seu prazer conceder o favor
desejado para essas crianças, e não proibi-las de si. Não obstante,
Ele disse aos discípulos, segundo a versão persa: deixai vir a mim
as criancinhas e não as impeçais, porque delas é o reino de Deus;
ou “daqueles que” são, Nylh Kya, “como estes”, como a versão
Siríaca traduz as palavras, ou como o Árabe, “são como estes”, e

238
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 10

os Persas, “tal como essas criancinhas” na inocência e humildade


(veja Gill em Mateus 19.14).
10.15. Em verdade vos digo. Essa expressão é uma forma de
dizer quando nosso Senhor estava prestes a afirmar algo e revelar,
também, a sua importância, ao qual Ele teria atendido. Todo aque-
le que não receber o reino de Deus, o Evangelho e os mistérios
d’Ele como uma criança pequena, deixando de lado todo orgulho
e preconceito, atendendo a isso com humildade e mansidão, não
entrará no reino de Deus; não alcançará nenhum conhecimento
espiritual verdadeiro do Evangelho; nem deve ser admitido nas
ordenanças em uma igreja evangélica.
10.16. E tomando-os nos seus braços. “Em seus braços”, diz
a versão Siríaca; “ele os colocou em seu seio”, de acordo com o
Etíope; e o Persa traduz: “ele os tomou em seu seio”; tudo isso
expressa grande ternura e afeição por estes: pôs as mãos sobre
eles e os abençoou. A versão Etíope transpõe essas cláusulas e
coloca a bênção em primeiro lugar, contrariando a ordem natural
das palavras e coisas, pois ele primeiro colocou as mãos sobre as
crianças, de acordo com o costume dos judeus, e depois orou por
elas, desejando-lhes toda a felicidade e prosperidade (veja Gill em
Mateus 19.15).
10.17. E, pondo-se a caminho, depois de abençoar as crian-
ças, ele partiu das costas da Judéia, do outro lado do Jordão, e
dirigiu seu curso em direção a Jerusalém (Marcos 10.32); quan-
do ele estava na estrada, veio um jovem correndo em sua reta,
um governante entre os judeus, muito rico, uma pessoa de grande
dignidade e grande riqueza; este homem, ao ouvir que Cristo es-
tava indo àquela parte, correu com grande pressa a Ele para ter
alguma conversa, antes que se fosse completamente, se ajoelhou,
como um símbolo de grande respeito e civilidade: algumas ver-
sões, como a Persa e a Etíope, traduzem “e o adorou”, o que deve
ser entendido não de maneira religiosa, mas de maneira civil. As
J o h n Gill

palavras podem ser traduzidas literalmente como “e o ajoelhou”;


o doutor Lightfoot suspeita que isso significa mais do que dobrar
os joelhos a Cristo, para que ele também pudesse segurar os joe-
lhos de Cristo e beijá-los, como era de costume com os rabinos
judeus, ilustrados por vários exemplos. O homem perguntou-Lhe:
bom Mestre, o que devo fazer para herdar a Vida Eterna? Este
homem, embora jovem e rico, pensava no mundo vindouro e em
sua vida posterior, ele acreditava que havia uma Vida Eterna após
esse estado de coisas e, portanto, não havia saduceu; ele tinha 110‫־‬
ções erradas sobre o caminho e a maneira de alcançá-Lo; pensava
que seria resgatado pelas obras da lei, o que mostra que ele é um
fariseu, considerando que a Vida Eterna é dom de Deus, por meio
do Messias, a pessoa a quem ele agora se candidatou e que tinha
as palavras da Vida Eterna. Para uma pessoa mais adequada, Ele
não podería ter feito a pergunta, sendo Ele mesmo o caminho, a
Verdade e a Vida, o verdadeiro caminho para a Vida Eterna: e se
ele tivesse prestado atenção em suas próprias palavras, que suge-
rem a herança da eternidade, ele deve ter aprendido que esta não
deve ser adquirida pela indústria e obras dos homens; mas que é
o legado de nosso Pai celestial a seus filhos vem por vontade, por
promessa e como um presente gratuito; de modo que não é da lei;
nem são os herdeiros da lei dela, observando Romanos 4.14 (veja
Gill em Mateus 19.16).
10.18. E Jesus lhe disse. O mesmo que em Mateus 19.17
(veja Gill em Mateus 19.17). Por que me chamas de bom? Isto é
dito sem negar que ele era generoso, mesmo que tenha se zangado
com ele por chamá-lo assim, mas para levar este jovem a um ver-
dadeiro conhecimento dele, e de sua bondade, e até mesmo de sua
própria divindade: não há nenhum bom, senão um, Deus; alguns o
traduzem como “mas um Deus”, como as versões Vulgata Latina,
Siríaca e Árabe; assim, as palavras são uma prova da unidade do
ser divino, e concordam com Deuteronômio 6.4, mas não devem
ser entendidas com a exclusão do Filho e do Espírito, os quais,

240
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 10

com o Pai, são o único Deus: nem essas palavras militam contra a
divindade de Cristo, ou provam que Ele não é Deus, como o judeu
objeta vendo que isso não deve ser entendido da pessoa do Pai,
em oposição ao Filho e ao Espírito, que são igualmente bons: nem
Cristo, nessas palavras, nega a si mesmo ser Deus, mas sugere
isso tacitamente; já que ele é bom no mesmo sentido em que Deus
é bom: em Mateus é acrescentado, “mas se queres entrar na vida,
guarda os mandamentos” (Mateus 19.17). Este Cristo disse que o
caminho para a Vida Eterna está em guardar ps mandamentos da
lei, mas ele fala na língua dos fariseus e deste homem; e seu ponto
de vista é trazê-lo a um senso da impossibilidade de obter a Vida
Eterna por essas coisas, como mostra a sequência: portanto, o ju-
deu acima não tem razão para confrontar os seguidores de Jesus
com esta passagem, como se fosse uma concessão dele, visto que
é impossível alguém ser salvo sem guardar os mandamentos da lei
de Moisés.
10.19. Tu sabes os mandamentos. Deus os deu a Moisés no
Monte Sinai; os judeus os ensinaram aos seus filhos para que pu-
dessem pensar que esse jovem sabia o que e quantos eram, embora
este ignorasse a extensão e a espiritualidade deles: não cometa
adultério, não mate, não roube, não dê falso testemunho, não de-
fraude, honre seu pai e sua mãe. No que pode ser observado, a
ordem estrita em que os mandamentos estavam não é mantida; o
sétimo mandamento “não cometerás adultério” é colocado antes
do sexto, “não matarás”, a versão Árabe coloca em sua ordem, e
o quinto mandamento “honra teu pai e tua mãe” é colocado por
último: mas um judeu não tem razão para objetar a isso quando
é uma regra para eles, pois hrw tb rxwamw M dqwm Nya, não
há primeiro nem último na lei; isto é, a ordem não é estritamen-
te atendida; mas às vezes, o que é primeiro é mencionado por
último e o que está em último lugar é visto antes. Há o preceito
“não defraude”, visto que nenhum dos outros evangelistas pos-
suem erros com a sua propriedade, seja pela força ou por fraude.
J o h n G ill

Doutor Hammond e outros pensam que é uma explicação do dé-


cimo comando “tu não cobiçarás”; significando que um homem
deve estar tão satisfeito com sua própria condição, a ponto de não
desejar os bens de outra pessoa ou, por qualquer meio, procurar
diminuí-los para aumentar os seus. Um certo judeu objeta, contra
nosso Senhor Jesus, que ele não mencionou os outros preceitos
em Êxodo 20.3, pelos quais ele parece significar os elementos da
primeira mesa, que respeitam a unidade de Deus e a sua adoração;
ao que se pode responder, que nosso Senhor sugere a unidade do
Ser Divino e sua bondade essencial, infinita e independente, que
são a base e o fundamento de seu medo e adoração no versículo
anterior; além disso, como o bispo Kidder observa, nada é mais
comum do que colocar alguns princípios para o todo (veja Mi-
queias 6.8). Para que Jesus possa ser justificado pelo Antigo Tes-
tamento neste método, como no Salmo 15.1, onde uma pergunta,
muito parecida com esta do jovem, é feita, no entanto, em resposta
a ela, não encontramos nada mencionado além da obediência à
segunda mesa: a qual resposta do prelado erudito pode ser acres-
centada, que Cristo instancia nos mandamentos da segunda mesa,
como sendo mais conhecido e melhor compreendido por este ho-
mem jovem, “tu conheces os mandamentos”; isto é, ele menciona:
além disso, o argumento é forte do menor para o maior, o que está
implícito nos mandamentos da segunda mesa, os quais respeitam
o próximo e são necessários para serem observados, bem mais
dos que dizem respeito ao próprio Deus; se os homens falham em
cumprir os mandamentos menores, dificilmente, se pode pensar
que eles devem ser perfeitos na observância dos maiores e, assim,
consequentemente, a intenção de nosso Senhor, a Vida Eterna,
nunca deve ser obtida pelas obras da lei.
10.20. Ele, porém, respondendo, lhe disse com muita perti-
nência: Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juven-
tude (veja Gill em Mateus 19.20). Em uma certa cópia, diz Beza,

212
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 10

é acrescentado: “o que me falta ainda?”, também, assim, em uma


das cópias de Stephens.
10.21. Então Jesus, olhando para ele, o amou. A Graça legi-
tima por sua justiça, perdoa suas iniquidades e, finalmente, glori-
fica: mas, como homem, ele tinha uma afeição humana; na medida
em que havia alguma aparência de bem moral e era agradável; Ele
ama a justiça e odeia a iniquidade. Embora o jovem manifestasse
muita vaidade, orgulho e presunção, ele não os usava rudemente;
com gentileza e ternura, Jesus o viu e olhou melancolicamente
para ele. Quando ele disse as palavras acima; o que parece insi-
nuado era que ele não podia acreditar que havia guardado perfei-
tamente e completamente todos os mandamentos; no entanto, ele
não escolheu censurá-lo com uma mentira e acusá-lo de orgulho e
arrogância, mas deu-lhe boas palavras e se dispôs amigavelmen-
te; tanto quanto pôde, elogiou-o por sua diligência em observar
os mandamentos: nesse sentido, observa-se que a palavra é usada
pelos iniérpretes da Septuaginta, como quando se diz de Acabe (2
Crônicas 18.2), que ele “o persuadiu” (Jeosafá), eles o traduzem,
hgapa, “ele o amou para subir a Ramote de Gileade”: ele lhe deu
boas palavras, falou amigavelmente e, por discursos justos, pre-
valeceu sobre ele: desta forma, quando disse sobre os israelitas,
(Salmos 78.36) “eles o lisonjearam”, e traduzem, hgaphsan, “eles
o amaram com a boca”; falaram muito bem com ele e dele, elo-
giaram-no e, também, as suas obras; expressaram afeição a ele,
embora fosse apenas com suas bocas. Além disso, Cristo pode não
apenas falar gentilmente com esse jovem, mas também fazer uso
de algum gesto externo: que mostrava afeição humana e respeito
por ele. O doutor Lightfoot conjectura que poderia ser um beijo
em sua cabeça, o que pode ser feito convenientemente, já que ele
estava de joelhos; e como isso era frequentemente usado pelos
médicos judeus, como uma expressão de respeito, da qual ele dá
vários exemplos, mais pode ser acrescentado, especialmente do li-
vro do Zohar, onde frequentemente lemos sobre um rabino beijan-

243
J o h n Gill

do a cabeça de outro, ou de seu aluno. Mas o sentido dessa frase,


que mais me agrada, é o que pode ser coletado do uso dela entre
os “setenta” intérpretes, que frequentemente traduzem o hebraico
Mxr, com o sentido de “ter compaixão” ou “mostrar pena “, pela
palavra aqui usada: então Provérbios 28.13, “quem confessar e
abandonar, terá misericórdia”, eles interpretam agaphyhsetai,
“será amado” e Oséias 2.23, “terei misericórdia dela que não teve
misericórdia obtida”, eles traduzem agaphsw, “eu amarei aquela
que não foi amada”; mais uma vez, Zacarias 10.6. “Eu os trarei
novamente para colocá-los, pois tenho misericórdia deles”, eles
traduzem oti hgaphsa autouv, “porque os amei”, (veja também
Isaías 60.10) e, então, de acordo com esse uso da palavra, o sen-
tido é que Jesus olhou para ele quando se expressou de maneira
tão convencida e teve uma preocupação compassiva; teve pena
dele por sua ignorância da lei, em sua espiritualidade e grande
extensão; por seu orgulho e vaidade, sua presunção e glória em si:
portanto, a fim de mortificá-lo e diminuir esses pensamentos cres-
centes de si; disse-lhe: falta-te uma coisa; antes da última cláusu-
la, a versão Etíope coloca isso “se tu queres ser perfeito“ (Mateus
19.21) e, também, a versão Copta. Duas das cópias de Stephens
expõem a versão: vai, vende tudo o que tens, dá -0 aos pobres e
terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz e segue-me. O pecado
reinante desse jovem parece ter sido uma afeição arrogante pelas
coisas deste mundo; suas riquezas eram seu ídolo, no qual seu
coração estava posto e ele confiava: porém, ele estava tão longe
de guardar todos os mandamentos, pois ainda não havia guardado
o primeiro; “não terás outros deuses diante de mim”: havia mais,
mas Cristo percebe esse como o primeiro; e não havia necessi-
dade de mencionar nenhum outro; isso o tocou de forma sensata,
totalmente testada e foi suficientemente exposta a vaidade de sua
perfeição vangloriada. Essa cláusula, “tome a cruz”, é omitida na
versão da Vulgata Latina, pois não é mencionada por Mateus. A
versão Etíope diz “a cruz da tua morte” e a coloca antes de “venha

211·
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 10

e siga-me”; assim como as versões Siríaca e Persa, mas o Árabe o


lê por último (veja Gill em Mateus 19.21).
10.22. Mas ele, pesaroso desta palavra, ficou triste, pois lhe
faltava uma coisa e, especialmente, deveria ser convidado a ven-
der tudo o que tinha e doá-lo; o que pode aumentar a sua tristeza
é que ele deve carregar a cruz da reprovação, aflição, perseguição
e morte; seu semblante caiu sobre isso, e foi embora triste: desco-
brindo que deveria se separar de duas coisas em que seu coração
estava, seu ídolo de justiça própria e seu mamom de injustiça; a
bexiga de seu orgulho foi picada, sua vaidade e presunção foram
expostas; e ele foi chamado a se desfazer de seus bens; tudo o que
era tristemente mortificante e extremamente desagradável para
ele: pois ele tinha grandes posses (veja Gill em Mateus 19.22).
10.23. Então Jesus, olhando em redor para ver o efeito do
discurso que ele teve com o jovem e a consequência disso, chamou
a atenção deles para o que estava prestes a dizer, e disse aos seus
discípulos: quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm
riquezas! A dispensação do Evangelho, abraçando as doutrinas e
submetendo-se às suas ordenanças (veja Gill em Mateus 19.23).
10.24. E os discípulos se admiraram destas suas palavras,
pois eles esperavam, em pouco tempo, que o reino do Messias
fosse estabelecido em grande pompa e grandeza mundanas; e que
todos os homens ricos da nação entrariam nele, se tomariam seus
súditos e se uniríam para sustentar a glória e o esplendor dele:
mas Jesus respondeu novamente, dizendo-lhes: filhos; era comum
entre os judeus chamar os discípulos, ou estudiosos dos sábios,
de “filhos”; daí, surge aquele ditado, M ynb M ywrq M ydymlth,
“os discípulos são chamados filhos”, o que eles provam em 2 Reis
2.3 e Isaías 8.18. Quão difícil é para os que confiam nas riquezas
entrar no reino de Deus! Isso ele disse em parte para confirmar o
que havia dito antes, o que deixou seus discípulos surpresos; e em
parte para explicá-lo, pois ele deveria ser entendido por aqueles
J o h n Gill

que confiavam em suas riquezas, colocavam seus corações nelas e


depositavam a sua esperança e felicidade: e a grande dificuldade,
ou melhor, impossibilidade de tal, entrando no reino de Deus, é
ainda mais fortemente expressa nas seguintes palavras.
10.25. E mais fácil passar um camelo (veja Gill em Mateus
19.24).
10.26. E eles ficaram extremamente surpresos. Eles ficaram
ainda mais surpresos, o espanto aumentou excessivamente quando
nosso Senhor usou a comparação acima; a qual, em sua apreensão,
mostrou ser total mente impossível para um homem rico entrar no
reino de Deus; e eles expressaram seu espanto, dizendo, entre si,
quem então pode ser salvo, no reino do Messias, se não houver
ricos? (veja Gill em Mateus 19.25). A versão Persa traduz: “como
este homem pode ser salvo?” de forma que as palavras tivessem
um respeito particular pelo jovem, que tinha grandes posses; ele
partiu triste.
10.27. Jesus, porém, olhando para eles. E por seus semblan-
tes viu a surpresa e ansiedade de espírito em que estavam, bem
como por sua onisciência, sabia seus raciocínios particulares entre
si e diz: para os homens é impossível, mas não para Deus; pois
com Deus todas as coisas são possíveis; até mesmo para reduzir
um camelo a um tamanho tão pequeno, a ponto de passar pelo
buraco de uma agulha; e trabalhar no coração de um homem rico,
de modo a tirá-lo de sua confiança em suas riquezas mundanas, e
trazê-lo ao cumprimento de sua vontade e ao seu reino; e também
para proteger e salvar seus pobres e mesquinhos seguidores, ape-
sar de todas as dificuldades, perigos e oposições que eles encon-
tram (veja Gill em Mateus 19.26).
10.28. Então Pedro começou a dizer-lhe, observando apenas
que Cristo prometeu um tesouro no céu ao jovem, contanto que
ele vendesse tudo o que tinha e o desse aos pobres; mas sendo, em
certa medida, libertado daquela surpresa que se apoderou dele e de

2E i
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 10

seus condiscípulos, na representação da dificuldade de um homem


rico entrar no reino de Deus pelas últimas palavras; tomando cora-
gem a partir disso, começou a observar o seguinte caso, como um
exemplo e ilustração do que Cristo havia dito, pois esse mesmo
poder que os levou a abandonar toda a sua substância mundana
por Cristo, embora fosse pequena, também poderia produzir um
efeito semelhante no coração de um homem sempre tão rico: eis!
Nós deixamos tudo e lhe seguimos; em Mateus é acrescentado: “o
que teremos, portanto?” (veja Gill em Mateus 19.27).
10.29. E Jesus, respondendo, disse: Em verdade vos digo. Este
evangelista omite o que Mateus relata; pois enquanto Pedro e seus
condiscípulos haviam seguido a Cristo no tempo presente, a seguir,
quando Ele aparecesse em sua glória, eles deveríam se sentar em
doze tronos e julgar as doze tribos de Israel (veja Mateus 19.28),
onde é adicionado o mesmo sentido que aqui; não há homem que
tenha deixado a sua casa, irmãos, irmã, pai, mãe, esposa, filhos ou
terras por minha causa e do Evangelho; por uma questão de pregar,
ou professar a Cristo e seu Evangelho. A palavra “esposa” é deixada
de fora na versão latina da Vulgata, talvez, porque não seja repetida
no versículo seguinte; mas todas as cópias e outras versões o pos-
suem (veja Gill em Mateus 19.29).
10.30. Que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, não
que ele deva ter cem casas, irmãos, etc., mas que ele desfrute disso
mesmo nesta vida presente, cem vezes melhor do que qualquer
uma das coisas mencionadas; nomeadamente, casas, irmãos, ir-
mãs, mães, filhos e terras (veja Gill em Mateus 19.29), adicionado
aqui com perseguições. As versões Siríaca e Etíope são lidas no
singular, “com perseguição”, significando que isso deve ser espe-
rado em meio à felicidade e aos maiores prazeres desta vida; em-
bora, muitas vezes, até aquilo que os santos desfrutam, enquanto
são, da maneira mais severa, perseguidos por Cristo, é cem vezes
melhor do que tudo o que eles se separam ou perderam por causa
d’Ele; e assim é uma ampla compensação para todos, porém, não
J o h n G ill

é tudo o que eles terão, pelo que se segue no mundo vindouro pela
Vida Eterna: para que sejam duplamente recompensados, uma vez
nesta vida e novamente no outro mundo. No Targum em Sofonias
8.7 há uma passagem mais ou menos como esta, onde o Senhor do
mundo é representado, dizendo “se um homem der todos os bens
de sua casa para obter sabedoria no cativeiro, eu voltarei para ele”,
ytad amlel lwpk, “o dobro no mundo vindouro”.
10.31. Porém muitos primeiros serão derradeiros (veja
Gill em Mateus 19.30).
10.32. E iam no caminho, tendo deixado as costas da Judéia
do outro lado do Jordão: subindo para Jerusalém, para a páscoa
que aconteceria em pouco tempo, e onde Cristo sofreria e mor-
reria; pois esta foi a última viagem que ele fez, e a última páscoa
que ele deveria comer. Jesus ia adiante deles, como seu precur-
sor, seu guia e líder, com despreocupação e intrepidez; embora ele
soubesse o que aconteceria com Ele, e quais desígnios estavam se
formando contra Ele: e isso fez para inspirar seus discípulos com
coragem, e deixar-lhes um exemplo que eles deveríam seguir: e
eles ficaram maravilhados, em sua prontidão para subir a Jerusa-
lém, e o Espírito alegre que Ele descobriu, quando tinha tantos ini-
migos tão poderosos naquele lugar, indo para os quais ele se expôs
aos maiores perigos. Como eles seguiram, não escolheram deixá-
-io, mas estavam determinados a continuar em todos os eventos,
embora, estavam com medo; qual seria a consequência disso para
eles mesmos, assim como para Ele por serem seus seguidores, não
podiam esperar nada além de mau uso de seus inimigos. Ele to-
mou novamente os doze; os discípulos, como ele havia feito antes
(Marcos 8.31), e começou a lhes contar o que aconteceria com ele,
sendo o que foi determinado por Deus, acordado por Ele e predito
nas Escrituras; pois estes não eram eventos casuais e contingentes.
10.33. Dizendo: Eis que nós subimos a Jerusalém. Eles esta-
vam, agora, na estrada. O filho do homem, significando Ele mes­

248
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 10

mo, será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas, pelo


conselho determinado e presciência de Deus, por meio de um dis-
cípulo traiçoeiro, Judas. A versão Vulgata Latina acrescenta “e aos
anciãos”, mas isso não está em nenhuma das cópias, nem em ou-
tras versões: e o condenarão à morte, como faziam no palácio do
sumo sacerdote “nemine contradicente” (veja Marcos 14.64), e o
entregará aos gentios; os romanos, a Pôncio Pilatos, o governador
romano; tudo isso porque eles não tinham poder para matá-lo ou
porque desejavam que ele morresse na cruz, um castigo romano.
10.34. E o escarnecerão, e açoitarão os gentios, como os
soldados romanos fizeram; aquele por conivência, e o outro por
ordem de seu governador: e cuspirão n ’Ele, em seu rosto, como as
versões Siríaca e Persa o traduzem, e como o fizeram (veja Mar-
cos 15.19). Esta cláusula é colocada pelas versões Vulgata Latina,
Árabe e Etíope, entre as duas primeiras; embora, de acordo com
a ordem em que essas coisas foram executadas, ele foi primeiro
açoitado, escarnecido e depois cuspido: tudo o que expressa tanto
o uso cruel quanto o indecente que ele enfrentaria. O matarão e,
no terceiro dia, ele ressuscitará. A versão Persa entre essas duas
cláusulas diz: “e o colocará em uma sepultura”; que não está em
nenhuma cópia deste texto, nem em qualquer outra versão; nem
de fato isso foi feito pelos gentios, mas por José de Arimatéia.
10.35. E aproximaram-se dele Tiago e João, filhos de Zehe-
deu, junto com sua mãe, que era sua boca, e falava por eles, e eles
por ela, dizendo: mestre, gostaríamos que você fizesse por nós
tudo o que desejamos, isto é, desejamos sinceramente que, embo-
ra tenhamos um favor a pedir a você, que você não nos negue, seja
o que for (veja Gill em Mateus 20.20).
10.36. E ele lhes disse: e, também, a sua mãe, e a eles por
ela, o que queres que eu faça por ti? Cristo insiste em que lhe di-
gam o que eles queriam fazer, antes que Ele lhes desse qualquer
promessa, embora soubesse muito bem o que desejavam.
J o h n G ill

10.37. E eles lhe disseram por sua mãe, apoiando o seu movi-
mento: concede-nos que nos assentemos, um à tua direita e outro à
tua esquerda, na tua glória, ou reino glorioso, que eles esperavam
que fosse estabelecido rapidamente, os quais podem concluir por
ele ter prometido recentemente a todos os doze que, quando ele
se sentasse em seu trono, eles deveriam se sentar em doze tronos,
julgando as doze tribos de Israel. Jesus havia acabado de mencio-
nar a sua ressurreição dentre os mortos, o que eles podem entender
de algum avivamento ou irromper desse estado glorioso (veja Gill
em Mateus 20.21).
10.38. Mas Jesus lhes disse: não concedendo-lhes o que de-
sejavam, mas observando sua ignorância para com eles; vós não
sabeis o que pedis: porque às vezes os homens bons são supli-
cantes e ignorantes no trono da Graça. Eles estão sob a influência
de seus próprios espíritos, e não do Espírito de Deus; eles são
levados a pedir coisas de um princípio egoísta, e não com vistas
à glória de Deus e seu próprio bem-estar espiritual e dos outros
e, de fato, o melhor dos santos não sabe pelo que eles deveriam
orar como deveriam, pois sempre precisam da ajuda, assistência
e intercessão do Espírito de Deus; que é um Espírito de Graça,
súplica e pesquisa às coisas profundas de Deus; ele conhece sua
mente e vontade, o que é adequado e conveniente para seu povo.
Sempre que oram sem ele, há muita escuridão e ignorância neles
e em suas petições. Em particular, esses discípulos não sabiam o
que estavam pedindo; eles não tinham noção verdadeira de Cristo,
de seu reino e glória, eles estavam pedindo os lugares principais;
eles sonhavam com glória e grandeza mundanas, nas quais imagi-
navam que o reino do Messias aparecería rapidamente: enquanto
o reino d ’Ele, no estado atual das coisas, não é deste mundo, mas
de natureza espiritual; a saber, a dispensação do Evangelho, que
reside no ministério de sua palavra e ordenanças, e na distribuição
de seus dons e Graça; seu reino e glória no mundo vindouro são
coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram. Eles falaram

2.50
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 10

de coisas que nunca aconteceriam, nem no reino de Cristo, na ter-


ra ou no céu, imaginando que havería cargos de honra e lucro,
para os quais alguns seriam promovidos, representado por sentar-
-se à sua direita e à esquerda; considerando que no estado da igre-
ja evangélica, os apóstolos, governadores e oficiais da igreja eram
iguais e não tinham superioridade uns sobre os outros, mas eram
todos irmãos, tendo um mestre. Cristo e os membros das igrejas
são do mesmo corpo e membros uns dos outros; e na glória final,
não haverá graus, mas todos os santos compartilharão a mesma
felicidade: você pode beber do cálice que eu bebo e ser batizado
com o batismo com que eu sou batizado? Do qual Cristo fala no
tempo presente, em parte porque suas dores e sofrimentos já ha-
viam começado: Ele já havia bebido do cálice das dores, sendo um
homem de dores e familiarizado com elas todos os seus dias; e ele
estava vadeando nas águas da aflição, embora ainda não tivessem
entrado em sua alma, ele estava imerso nelas; ele ainda não foi
batizado com o batismo sangrento pelo qual veio a este mundo, e
ele desejava (Lucas 12.50), em parte por causa da certeza dessas
coisas; o cálice não passaria dele, e o batismo de seus sofrimentos
seriam certamente realizados (veja Gill em Mateus 20.22).
10.39. E eles lhe disseram: podemos beber do cálice de Cris-
to e sermos batizados com o seu batismo, que é outro exemplo de
sua ignorância, pois como eles não conheciam o estado glorioso
das coisas e a natureza delas, desejavam lugares em que não es-
tavam familiarizados consigo mesmos; eles eram ignorantes de
sua própria fraqueza, bem como da grandeza dos sofrimentos que
Cristo deveria suportar ou, até mesmo, para os quais deveríam ser
chamados: se tivessem uma noção justa de qualquer um deles,
não teriam se expressado dessa maneira, sem qualquer menção à
Graça de Deus ou a qualquer dependência da força de Cristo (veja
Gill em Mateus 20.22). Jesus lhes disse; na verdade, bebereis do
cálice que eu bebo; e com o batismo com que fui batizado, vós
sereis batizados; ou seja, não que eles devam passar pelos mesmos
J o h n G ill

sofrimentos que ele sofreu e muito menos pelo mesmo fim e pro-
pósito: ele pisou o lagar sozinho e suportou todo o castigo devido
aos pecados de seu próprio povo; e deles não havia ninguém com
ele para tomar parte, mas deveríam suportar os sofrimentos seme-
lhantes aos d ’Ele por sua causa, como ambos fizeram depois (veja
Gill em Mateus 20.23).
10.40. Mas, o assentar-se à minha direita, ou à minha es-
querda, não me pertence. Não havendo tais lugares em seu reino
no sentido que eles pediram; e quanto às glórias do estado celestial
ou Vida Eterna, o dom destes não deveria ser estabelecido agora
que foi realizado, embora ele tivesse o poder de oferecê-los apenas
àqueles que foram dados a ele por seu Pai, sendo ordenados a tal
felicidade, como segue: mas será entregue àqueles que estão pre-
parados; isto é, através de seu Pai, conforme expresso em Mateus
20.23, que não deve ser entendido como a exclusão dessas duas
pessoas, mas incluindo todos os outros para quem o reino foi pre-
parado antes da fundação do mundo: a versão Etíope, portanto,
erroneamente traduz as palavras ‘1mas sentar à minha direita e à
minha esquerda, eu não lhe concedo, pois o lugar está preparado
para outro”. O judeu conclui inadequadamente daqui contra a di-
vindade de Cristo e sua unidade com o Pai; Ele não tem poder para
fazer isso, considerando que Cristo não diz que não tinha poder
para dar essa honra, mas apenas descreve as pessoas a quem Ele
deveria dar; e sendo essas pessoas para quem é preparado por seu
Pai, em vez de destruir, Ele prova sua unidade.
10.41. E os dez, tendo ouvido isto. O pedido foi realizado
pelos filhos de Zebedeu; os dez que estavam lá começaram a ficar
muito descontentes com Tiago e João; Mateus diz que ",'eles fica-
ram indignados contra eles” (Mateus 20.24). Ficaram cheios de
ira e muito zangados; o que eles mostraram em seus semblantes e
por seu comportamento em relação a eles, bem como por palavras:
as versões Siríaca e Árabe traduzem “eles começaram a murmu­
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 10

rar contra eles”. Tiago e João ressentiram e estavam prontos para


começar uma briga aberta sobre isso (veja Gill em Mateus 20.24).
10.42. Mas Jesus, chamando-os, pois estavam a uma peque-
na distância d’Ele, tão perto, que Ele podia discernir o calor e
a paixão em que estavam, sabendo que eles tinham as mesmas
visões ambiciosas que os dois irmãos, disse-lhes: para conter seu
orgulho e vaidade, e repreendê-los por seus ambiciosos desejos de
superioridade e preeminência uns sobre os outros; mostrando-lhes
que esta era uma parte que os pagãos que não conheciam a Deus
agiam e, portanto, era imprópria para eles: você sabe que os que
são contabilizados “parecem” ou, melhor, “fazem” o governo dos
gentios; são considerados dignos do governo que têm, Mybwvx,
homens de honra, reputação e estima, os quais, por nascimento ou
mérito, são considerados merecedores de altos cargos: estes exer-
cem domínio sobre eles ao governá-los de maneira senhorial, tirâ-
nica e arbitrária. Seus nobres e seus senhores exercem autoridade
sobre ele; os gentios possuem um poder delegado por aqueles que
têm o governo supremo (veja Gill em Mateus 20.25).
10.43. Mas entre vós “assim não seja”, como em muitas có-
pias, em que a versão Persa traduz “não deveria ser assim entre
vocês”; tal espírito senhorial não combina com você; isso é pagão:
mas, quem quiser ser grande entre vós, será, como em Mateus
“deixe-o” ser seu ministro (Mateus 20.26). Isso era exatamente
o contrário do que os dois discípulos estavam procurando; eles
queriam, de fato, se tomar ministros, mas, então, seriam primei-
ros-ministros de estado; e teriam todo o resto sujeito a eles, bem
como atendentes sobre eles para serem enviados e empregados
como eles julgassem adequado: considerando que o único cami-
nho para a preferência e a grandeza no reino de Cristo, ou melhor,
no estado da igreja evangélica, é trabalhar, no empenho do minis-
tério mais abundantemente do que outros, deviam suportar gran-
des dores e sustentar grandes dificuldades, a fim de trazer grande
J o h n Gill

glória a Deus e fazer grande bem às almas dos homens (veja Gill
em Mateus 20.26).
10.44. E qualquer que dentre vós quiser ser o primeiro, de-
seja o lugar mais alto e a maior honra terá de ser servo de todos,
porque os ministros do Evangelho não são apenas servos de Cristo
Jesus, mas, também, das igrejas por causa d’Ele; e ao servi-los,
eles servem a Cristo. Não quer dizer que eles devam ser servos
de homens, receber instruções deles e agirem de acordo com as
regras prescritas por eles; procure agradar aos homens, pois eles
não seriam servos de Cristo; mas eles se tornam servos de todos
para que possam ganhar almas para Cristo, aumentar suas igrejas
e o seu interesse; os que são mais úteis, dessa maneira, são os prin-
cipais no estado da igreja evangélica; eles são honrados por Cristo
e estimados por seu povo (veja Gill em Mateus 20.27).
10.45. Porque o Filho do homem, ou seja, o próprio Cristo; um
nome pelo qual ele frequentemente usa tanto no Antigo quanto no
Novo Testamento para os argumentos antes produzidos. Ele acres-
centa seu próprio exemplo para ensinar humildade de espírito aos
seus discípulos a fim de verificar suas visões e desejos ambiciosos:
não veio para ser servido, mas para ser servir; quem o ministrou no
deserto, depois de ter sido tentado por Satanás também foi ministra-
do por algumas mulheres de seus bens; mas estes mostram o baixo
estado em que estava. Ele não apareceu como um príncipe terreno,
com uma bela equipagem, uma grande comitiva e atendimento, mas
para ministrar; para ser um servo, como ele está em seu ofício e
capacidade de mediador. Ele foi enviado, sendo servo do Senhor; e
ministrou, em seu ofício profético, o Evangelho aos homens; andou
na forma de um servo, fazendo o bem, ministrando remédios tanto
para a alma quanto para o corpo dos homens; mas a grande obra
que ele realizou foi a obra da redenção do homem, que ele volun-
tária e alegremente empreendeu, diligente e fielmente processou, e
terminou completamente. A respeito do que é tido na próxima cláu-
sula, entregou a sua vida em resgate por muitos, mesmo para todos

254
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 10

os eleitos de Deus, para redimi-los do pecado, de Satanás e da lei;


proteja-os da ira de Deus e da morte etema; isso Ele fez, dando sua
vida como preço de resgate por eles (veja Gill em Mateus 20.28).
10.46. E vieram para Jerico, Cristo e seus discípulos, das
costas da Judéia, além do Jordão, a caminho de Jerusalém; onde
Cristo se encontrou com Zaqueu e o converteu e, depois de uma
curta estadia em sua casa, partiu dali; e quando ele saiu de Jerico
com seus discípulos, estava um grande número de pessoas que
o seguiram daquela cidade para ir com ele a Jerusalém; estando
apenas dez milhas de distância: o cego Bartimeu, filho de Timeu,
que estava sentado à beira do caminho, mendigando; um dos dois
cegos que Mateus menciona (veja Gill em Mateus 20.30).
10.47. E, ouvindo que era Jesus de Nazaré, “isso passou”,
como diz a versão Persa; ele pode aprender, indagando o signifi-
cado de tal multidão de pessoas e o barulho; ou ele pode ouvir seu
nome frequentemente mencionado, e dizer que ele estava vindo ou
passando. Ele começou a gritar, em voz alta e com grande veemên-
cia, muitas vezes, repetindo: diga, Jesus, filho de Davi, tem miseri-
córdia de mim. Ele não o chamou de Jesus de Nazaré, como o povo
comum fazia, mas Jesus, filho de Davi, um título do Messias; não
pediu dinheiro, mas misericórdia (veja Gill em Mateus 20.30).
10.48. E muitos o repreendiam, para que se calasse. Se cale,
e não o chame de filho de Davi, pelo menos; nem lhe pergunte
nada; ele chorou ainda mais: levantou a voz mais alto e repetiu as
mesmas palavras com rapidez e frequência, e com maior veemên-
cia e importunação: filho de Davi, tem piedade de mim (veja Gill
em Mateus 20.31).
10.49. E Jesus, parando, ouvindo sua voz, e sabendo que
acusações e repreensões lhe foram dadas para ficar em silêncio,
ordenou que ele fosse chamado, conduzido e trazido a Ele: esta
ordem foi dada para seus discípulos e para alguns da multidão.
Chamaram o cego, dizendo-lhe: tem bom ânimo, levanta-te, ele
J o h n Gill

te chama; ou “porque ele te chama”, como a versão Árabe traduz;


sugerindo que algumas esperanças poderíam ser concebidas a par-
tir daquilo, que algo seria feito ao seu favor. A versão Persa traduz
“nosso mestre te chama”; o intérprete pensou que os discípulos
eram as pessoas que receberam ordens e chamaram o cego. A pa-
lavra “levantar” é deixada de fora no Persa e na versão Etíope.
Pode-se observar a quem Cristo efetivamente chama por sua Gra-
ça, a qual este exemplo é emblemático e têm motivos para ser de
bom conforto; ou que o chamado eficaz é uma base de aconchego:
os chamados podem se consolar com isso e ter certeza de que são
amados por Deus, visto que é um fruto, efeito e evidência do amor
eterno de Deus por eles; estes são os escolhidos de Deus, pois, a
quem Ele predestinou, Ele chama; eles são de Cristo e são redimi-
dos por Ele, visto que Ele os chamou pelo nome. Podem esperar
todas as coisas boas d’Ele, visto que eles são chamados de acordo
com a Graça, concedida antes do mundo começar, e são chamados
à participação das bênçãos da Graça; afirma-se que todas as coi-
sas cooperam para o bem deles. Portanto, eles podem viver na fé
da glória e felicidade eternas; visto que os que são chamados são
justificados e serão glorificados.
10.50. E ele, lançando de si a sua capa, sua roupa superior
que, sem dúvida, valia pouco; embora isso ele tenha feito, para
que pudesse fazer o despacho mais rápido para Cristo. “Surgiu”,
como a Vulgata Latina, e a cópia antiga de Beza liam, com gran-
de agilidade e pressa, veio a Jesus, sendo conduzido pelas pes-
soas que foram enviadas para chamá-lo. Pode-se observar, a partir
disso, os que são efetivamente chamados pela Graça de Cristo,
da qual este homem era um emblema, odeiam a roupa manchada
com a carne. Quanto à conversa anterior, sendo chamado por um
Deus santo, com um chamado santo, à santidade no coração e na
vida; e isso pelo Evangelho, que ensina a negar o pecado e viver
uma conversa santa, estes também lançam fora as vestes de sua
própria justiça, as quais são: folhas de figueira, teias de aranha,

25a
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 10

trapos imundos e um manto miserável, como o deste homem era;


e vêm nus a Cristo, por justiça, e renunciam a seus próprios pontos
de justificação, sendo isso um obstáculo para que eles venham a
Ele. O Evangelho revela uma justiça melhor e mais adequada para
eles, que são chamados do monturo, para sentar-se entre os prínci-
pes e herdar o trono da glória; e então tais pessoas se levantam na
força da Graça e se aproximam de Cristo em busca de justiça, paz,
perdão, vida e salvação.
10.51. E Jesus, respondendo, disse-lhe, chegando a ele, e pon-
do-se diante dele: 0 que queres que eu te faça? O que significa esse
grito veemente? O que você designou por misericórdia? Você pede
dinheiro para aliviar as suas necessidades, ou é para que a tua visão
seja restaurada? O cego disse-lhe: Senhor; “Rabboni”, ou, como a
versão Siríaca lê; “Rabino”; tu, grande mestre em Israel, e Senhor, de
todo o mundo, meu pedido a ti, e que tu, és, capaz de efetuar; é, para
que eu pudesse receber minha visão; (veja Gill em Mateus 20.33).
10.52. E Jesus lhe disse. A versão Siríaca lê, azx, “ver”; recebe
a tua visão, seja feito como desejas; qual é o sentido de “siga o seu
caminho”: para a sua própria casa ou local de residência; e sobre o
teu negócio; teu pedido é concedido: tua fé te salvou, e respeitou não
apenas o poder de Cristo em restaurar sua visão, mas sua fé em Jesus
como o Messias, filho de Davi: de modo que, por Cristo, o objeto de
sua fé, ele foi salvo, tanto na alma quanto no corpo; e obteve a aber-
tura de sua visão espiritual, antes que ele abrisse a sua visão corpo-
ral. Imediatamente, ele recuperou a visão e enxergou tão bem quanto
antes, ou como outros homens, e seguiram Jesus no caminho, isto é,
para Jerusalém. As versões da Vulgata Latina, Árabe e Etíope leem
“ele”, em vez de “Jesus”; mas as versões Siríaca e Persa não leem ne-
nhuma delas. Este homem era um emblema do povo de Deus, antes,
durante e depois da conversão. Antes da conversão, pois, como ele
era cego, eles também o são; eles estão sem nenhuma visão espiritual
e discernimento de Deus, como em Cristo, o Deus de toda a Graça, o
Pai da Aliança; estão sem perspectivas sobre si, sem qualquer visão

2,57
J o h n Gill

verdadeira do pecado ou senso de seu estado e condição; e não veem


a Cristo, o caminho da paz, vida e salvação, não vendo nenhuma be-
leza n’Ele, nem qualquer necessidade que eles tenham d’Ele e do
Espírito, de sua pessoa, Graça e operações, das coisas do Espírito que
eles não conhecem, porque são discernidas espiritualmente. Na con-
versão, quando eles recebem a visão de Cristo, como ele recebeu, são
iluminados no Senhor e se tomam os filhos do dia; quando os olhos
de seus entendimentos são iluminados, para ver seu estado triste e
minoso, a poluição de seus corações, a pecaminosidade de seus pen-
sarnentos, bem como de suas ações; a imperfeição e insuficiência de
sua justiça, para justificá-los diante de Deus; a amabilidade de Cristo,
a plenitude de sua graça e justiça; a adequação, habilidade e dispo-
sição dele, como Salvador; e essa salvação por ele é toda de Graça
gratuita; e essa glória e felicidade eternas são garantidas por ele e para
eles. Toda a luz que eles têm, não de si mesmos, nem de qualquer
mera criatura, mas de Cristo; e que recebem como benefício e favor;
eles o têm como um presente e uma forma de receber, e isso de uma
vez, repentinamente e imediatamente: após a conversão, pois, como
este homem, quando recebeu a visão de Cristo, o seguiu no caminho;
assim o povo de Deus, sendo iluminado por Cristo, segue-0 como seu
líder e comandante, o capitão de sua salvação, o pastor do rebanho;
como seu guia e precursor, seu padrão e exemplo, e a luz do mundo.
A Ele seguem e imitam, nos deveres da moralidade, no caminho da
adoração pública instituída e nas ordenanças do Evangelho; como o
batismo e a ceia do Senhor. Segui-lo no caminho do dever é seguro,
honrado, agradável, confortável e lucrativo, resultando em benefício
e felicidade no futuro.

Capítulo 11
11.1. E quando eles se aproximaram de Jerusalém. As ver
sões Siríaca e Etíope dizem: “quando ele se aproximou”, isto é, Je­
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 11

sus; embora nâo sem seus discípulos, nem a multidão: até Betfagé
e Betânia, dois lugares assim chamados, perto de Jerusalém. Betfa-
gé começava onde Betânia terminava e chegava à própria cidade.
A Vulgata Latina apenas menciona Betânia (veja Gill em Mateus
21.1). No Monte das Oliveiras, perto do qual, os lugares acima fo-
ram: Ele envia dois de seus discípulos, talvez Pedro e João.
11.2. E disse-lhes: Ide à aldeia, de Betânia ou de Nobe. A
versão Etíope traduz como “a cidade”, e assim lê uma cópia de
Stephens: alguns pensaram que a cidade de Jerusalém era um des-
tino contra ele (veja Gill em Mateus 21.9). As versões Siríaca e
Persa dizem “contra nós”: o sentido é o mesmo, pois Cristo e seus
discípulos estavam juntos: isso combina com qualquer um dos 111-
gares mencionados acima; e assim que você entrar nele, chegará
ao fim da cidade e, em uma das primeiras casas, encontrareis um
jumentinho amarrado. Mateus diz: ',duna jum enta amarrada e um
jumentinho com ela” (Mateus 21.2); ambos, sem dúvida, verda-
deiros: onde nunca o homem se sentou, nunca foi apoiado e que-
brado; o que torna ainda mais maravilhoso o fato de que Cristo es-
colha alçar este jumento; que isso o leve silenciosamente: solte-o
e traga-o, isto é, longe de mim.
11.3. E se alguém vos disser, como provavelmente fariam;
seria estranho se eles não dissessem algo, especialmente aos do-
nos dele: por que você faz isso? Por que você desamarra o burro
e tenta carregá-lo embora, quando não é seu e pertence a outro
homem? Dizei que o Senhor precisa dele; nosso Senhor e vosso,
o Senhor do céu e da terra, e de todas as coisas nela; parece que
esse título, “o Senhor”, era pelo qual Jesus era bem conhecido
(veja João 11.28), a menos que se possa pensar que os donos do
potro eram os que acreditavam em Cristo, o que não é imprová-
vel; então, entendería imediatamente pela linguagem para quem
ele era, e deixaria ir: imediatamente, ele o enviará para cá; assim
que ele ouve que o Senhor, por quem ele atualmente entendería
J o h n Gill

Jesus, queria -0 para seu propósito atual; ele o enviará com toda a
prontidão e alegria, sem a menor hesitação ou disputa sobre isso.
11.4. E foram , os dois discípulos para a aldeia, onde Cris-
to os enviou, sem objetar quaisquer dificuldades que pudessem
apresentar, na execução destas ordens: e encontrou o jumentinho
amarrado na porta do lado de fora; na rua, preso à porta da casa
do dono, no fim da vila: em um lugar onde dois caminhos se en-
contravam; o local era público e tal assunto não poderia ser nego-
ciado sem ser visto: eles o soltam; assim que chegaram ao local,
começaram imediatamente a desamarrar o jumentinho e partiram
com ele.
11.5. E alguns dos que ali. A versão Etíope diz: quem andou
por lá; os quais estavam parados ou andando pelo local, sendo habi-
tantes dele; e os donos do potro, seus servos ou ambos, disse-lhes:
Que fazeis soltando o jumentinho? O que você quer dizer com isso?
Você pretende levar o potro embora? O que você tem com isso?
Que direito você tem de fazer isso? Qual é o seu fim nisso?
11.6. Eles, porém, disseram-lhes. As próprias palavras ex-
pressas assim como Jesus havia ordenado: não que essas fossem
as palavras que eles disseram, mas “o Senhor precisa dele” : e eles
não disseram mais nada, ficaram satisfeitos e contentes, pois de-
veriam desamarrar o jumentinho e levá-lo com eles. Os dois os
deixaram ir; e o potro saiu com eles, livremente (veja Gill em
Mateus 21.6).
11.7. E levaram o jumentinho a Jesus, onde estava, e lança-
ram sobre Ele as suas vestes; suas roupas eram, no lugar de uma
sela, algo para Cristo se sentar: e Ele se sentou. “Jesus montou
nele”, como a versão Siríaca traduz. A versão Etíope diz: “eles o
fizeram para montá-lo”; isto é, os discípulos o ajudaram a subir
nele e, depois de montá-lo, ele se sentou nele sem nenhum proble-
ma, embora nunca tivesse sido apoiado antes, e cavalgou a cami-
nho de Jerusalém (veja Gill em Mateus 21.7).

26 0
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 11

11.8. E muitos estendiam as suas vestes pelo caminho. Em


vez de tapetes para andar, e em honra a Ele como um rei: outros
cortaram galhos das árvores e espalharam-nos pelo caminho; em
sinal de alegria, como na festa dos tabernáculos; (veja Gill em
Mateus 21.7).
11.9. E aqueles que iam adiante, e os que seguiam. Os que
vieram de Jerusalém para encontrá-lo, e os que o seguiram desde
Jerico e outras partes clamavam, dizendo: Hosana, bendito o que
vem em nome do Senhor (veja Gill em Mateus 21.9).
11.10. Bendito o reino do nosso pai Davi. Era mais comum
entre os judeus chamar Abraão de pai; mas, porque o Messias era
filho de Davi, portanto, com relação a ele, eles aqui o chamam
de pai; o significado deles é: o reino prometido a nosso pai Davi
e a sua descendência para sempre, que vem em nome do Senhor,
agora está chegando e aparece no reinado auspicioso do governo
de seu filho, o Messias, que está vestido com majestade e autori-
dade; seja próspero e bem-sucedido; seja estabelecido e perdure
para sempre, para a glória e felicidade dele como rei e de todos
os seus súditos. A menos que as palavras devam ser traduzidas
em uma situação geral, elas podem ser assim “abençoado seja o
reino que vem em nome do Senhor, de nosso pai Davi”; o sentido
é que o reino do Messias, que agora chegou e está estabelecido em
seu nome, como Deus é o Senhor de Davi, floresça grandemente
e continue por muito tempo; que seu rei seja abençoado e todos
os seus súditos fiquem felizes. As versões Vulgata Latina, Siríaca,
Árabe e Persa deixam de fora a cláusula “em nome do Senhor”;
também, é deixada de fora na cópia antiga de Beza e em outra;
mas a versão Etíope a mantém, lendo-a “em nome de Deus”. Ho-
sana nas alturas (veja Gill em Mateus 21.9).
11.11. E Jesus entrou em Jerusalém, de maneira pública,
montado em um jumento, com a multidão atendendo a Ele, alguns
indo antes e outros depois, clamando: “Hosana” para ele: no tem-

261
J o h n Gill

pio, para onde ele montou diretamente, as versões da Vulgata La-


tina, Siríaca, Persa e Etíope omitem o copulativo “e”; sua grande
preocupação era estar lá; e tendo desmontado e dispensado o ju-
mentinho enviado por pessoas adequadas ao seu dono, ele entrou
no templo, na corte dos gentios; onde achou e derrubou as mesas
dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas, curou alei-
jados e cegos. Quando ele olhou em volta para todas as coisas,
isto é, no templo, como o Senhor e proprietário dele; o visitou
minuciosamente, investigou-o e corrigiu o que estava errado. No
momento em que o entardecer havia chegado, ele saiu para Be-
tânia com os doze; tendo passado grande parte do dia corrigindo
abusos no templo, curando doenças e discutindo com os principais
sacerdotes e escribas: chegando a noite, ele não achou adequado,
por alguns motivos, ficar na cidade; mas foi para Betânia, que
ficava a cerca de duas milhas de distância, e se hospedou ali (veja
Gill em Mateus 21.17).
11.12. E, no dia seguinte, de manhã cedo, quando eles vie-
ram de Betânia; Cristo e seus doze discípulos. As versões Siríaca
e Persa dizem: “quando ele saiu de Betânia”; embora, não tenha
sido sozinho, mas com os doze discípulos, que foram com ele até
lá e voltaram, como aparece em Marcos 11.14, quando eles saíram
daquele lugar de manhã cedo, sem terem comido nada; antes de
chegarem, Ele estava com fome (veja Gill em Mateus 21.18).
11.13. E, vendo de longe uma figueira, à beira do caminho,
com alguma distância dele, observou as folhas, que eram grandes
e espalhadas; olhou-as como se pudesse haver frutas: Ele veio;
para ele; ou ele se esforçou para alcançá-lo ou, tendo-o visto a
uma boa distância, finalmente chegou a ele se por acaso ele pudes-
se encontrar alguma coisa ali; isto é, qualquer fruta; pois ele viu à
distância, havia folhas sobre ela; e o que era mais notável, já que
era a época em que a figueira apenas produzia seus tenros ramos,
folhas e frutos: e quando chegou lá, não encontrou nada além de
folhas; nenhum fruto nela, ao contrário de sua expectativa como

262
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 11

homem, e a aparência promissora que a árvore fez: porque ainda


não era o tempo dos figos; ou, “pois não era tempo de figos”; pois
a palavra “ainda” não está no texto; não veio; e como, portanto,
eles não foram reunidos, ele pode esperar encontrar alguns nele;
ou porque não era uma boa estação para figos, um bom ano para
figos; e esta árvore aparecendo em uma condição tão florescente
pode aumentar sua expectativa de encontrar frutos, mas ele não
encontrou nada além de folhas apenas; porque era uma estação tão
ruim para os figos, que mesmo as árvores mais promissoras não
tinham sobre elas: ou esta, sendo a árvore de um tipo incomum,
embora Cristo esperasse não encontrar frutos em outras árvores,
porque o tempo comum: figos era não veio, mas ele pode esperar,
encontrar alguns sobre isso. Alguns críticos, negligenciando os
acentos, traduzem as palavras “onde ele estava, era a estação dos
figos” (veja Gill em Mateus 21.19).
11.14. E Jesus, falando, disse-lhe: a figueira; uma maneira
judaica de falar, frequentemente usada quando nada antes é dito;
as versões Siríaca, Árabe e Persa omitem a palavra “respondeu”,
como, também, a palavra “Jesus”; o que é igualmente omitido pela
Vulgata Latina, embora o outro seja mantido: nenhum homem co-
merá o fruto de ti para sempre; o que é um, como se ele tivesse
dito e como o outro evangelista faz; que nenhum fruto cresça em
ti; pois onde não há fruto, nenhum pode ser obtido ou comido.
Esta árvore pode não ser apenas um emblema do povo judeu, que
fez uma grande demonstração de religião e desfrutou de muitos
privilégios; e de quem, falando à maneira dos homens, os frutos
das boas obras, retidão e santidade, poderíam ter sido esperados
e procurados; quando, em vez disso, não havia nada além de con-
versas sobre eles e a observância de alguns ritos e tradições insig-
nificantes dos “anciãos”; por conta disso, ruína e destruição com-
pletas se seguiram; mas também de qualquer professor externo de
religião, que desfruta dos meios da graça e faz grandes pretensões
de devoção e piedade, pode-se esperar que ele faça boas obras,
J o h n Gill

agradando a Deus e produzindo frutos para a glória de seu nome:


considerando que ele só fala de boas obras, mas não faz nada; pelo
menos, nenhum fruto de graça e justiça pode ser encontrado nele;
e no último dia, ele será lançado como madeira seca, como um
galho seco, nas chamas eternas, sendo combustível adequado para
elas. E seus discípulos ouviram isso; “este ditado”, como acres-
centa a versão Persa, percebendo isso na companhia d ’Ele.
11.15. Evieram a Jerusalém. Aversão Etíope diz: “ele veio”
isto é, Cristo; mas não sozinho, pois seus discípulos estavam com
ele: Beza acrescenta “novamente”, e assim uma das cópias de Ste-
phens, pois eles estavam lá no dia anterior. Jesus entrou no tem-
pio: as versões Siríaca e Persa acrescentam “de Deus”. No pátio
dos gentios, como fez no dia anterior, Jesus começou a expulsar
os que compravam e vendiam no templo, derrubou as mesas dos
cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas; o que foi feito,
como relata Mateus, no mesmo dia em que Ele fez sua entrada
pública em Jerusalém: portanto, é altamente provável que, após
a saída de Cristo da cidade, eles voltaram “de novo” e estavam
na manhã seguinte sentados, fazendo negócios no templo como
antes; e foram expulsos novamente por Cristo, que, ao retornar, os
encontrou lá. Eles “que compravam e vendiam no templo”, eram
aqueles que compravam e vendiam cordeiros para a páscoa, que
estava próxima; e as ovelhas e bois para a “Chagiga”, ou festa do
dia seguinte; assim como as pombas mencionadas a seguir para as
novas mães e aquelas que tinham fluxos: aquela parte do templo
onde este negócio era realizado ficava em um grande espaço den-
tro da área do templo, onde lojas eram construídas para esse fim: e
“os cambistas”, cujas “mesas” são ditas “derrubadas”, entende-se,
como se sentar às mesas para receber o meio siclo, que trocou
aqueles que trouxeram siclos inteiros ou dinheiro estrangeiro: e
quem o fez muito para mudar, que foi chamado de “Kolbon”; de
onde eles tiveram o nome de “Collybistae” no texto: e “pombas”,
como antes observado, eram a oferenda do tipo mais pobre de

264
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 11

mulheres após o nascimento, no momento de sua purificação, e de


pessoas prósperas; dos quais muitos vieram de todas as partes na
época da páscoa: por causa disso, houve uma grande demanda por
essas criaturas; e muitos sentaram-se em assentos para vendê-los,
os quais Cristo derrubou (veja Gill em Mateus 21.12).
11.16. E não consentia. Ele foi mais rigoroso e severo do
que no dia anterior e deu ordens para que eles ficassem tão longe
de serem autorizados a sentar e negociar naquele lugar sagrado,
que nenhum homem deve carregar qualquer vaso pelo templo; de-
veriam fazer uma via de passagem, transportando para qualquer
outro lugar, qualquer embarcação que fosse de uso comum ou tipo
de carga: e isso eles não poderíam criticar, nem reclamar, uma vez
que era agradável um de seus próprios cânones; pois eles dizem
“um homem não pode entrar na montanha da casa, com seu cajado
(nas mãos); nem com sapatos (nos pés); nem com seu cinto e seu
dinheiro nele; nem com uma bolsa jogada sobre os ombros; nem
com pó sobre os pés; nem pode fazer dele, ayrdnpq, “uma passa-
gem”, e muito menos cuspir nele”.
11.17. E os ensinava, dizendo: não está escrito. Referência
a ísaías 56.7. Minha casa será chamada, por todas as nações, casa
de oração? Pois não apenas os judeus subiam ao templo para orar
(veja Lucas 18.10), mas, também, os gentios, que se tornaram da
religião judaica, e construíram um tribunal para esse fim; e assim
todo o templo foi chamado de casa de oração: significando que
não apenas deveria ser chamado assim pelos gentios, mas que te-
ria de ser assim para eles e usado como tal. A nota de Jarchi sobre
a cláusula em ísaías 56.7 é “não apenas para Israel, mas também
para os prosélitos”. Mas vocês fizeram dela um covil de ladrões;
pois, nenhum outro, na estima de nosso Senhor, eram os compra-
dores e vendedores de ovelhas, bois e pombas; os cambistas e os
sacerdotes que os encorajavam e lucravam com eles: agora estes
tinham seus assentos, lojas, e mesas, dentro do monte da casa; e
mesmo naquela parte, que foi designada aos gentios, se tornaram
J o h n Gill

prosélitos e subiram a Jerusalém para adorar naquele espaço em


determinados momentos (veja Gill em Mateus 21.13).
11.18. E os escribas e principais sacerdotes, tendo ouvido
isto. Ele deu a repreensão aos cambistas, compradores e vende-
dores no templo e sua estrita proibição de que ninguém carregaria
qualquer embarcação por ele; o argumento que ele usou foi o da
profecia de Isaías, bem como a severa repreensão que ele deu para
a profanação do lugar santo. Procuraram como poderíam destruí-
- 10: eles se aconselharam a tirar sua vida, pois odiavam a reforma,
porque eles o temiam para que não fizesse grandes mudanças e
alterações entre eles, o que afetaria seu crédito e caráter e, tam-
bém, os seus ganhos, atraindo o povo após Ele; todo o povo ficou
maravilhado com a sua doutrina, tanto quanto ao assunto, pois fo-
ram palavras como nunca o homem falou; quanto à maneira disso,
sendo com tal majestade, poder e autoridade, como os escribas
e fariseus não ensinavam; também, nos milagres pelos quais foi
confirmado, bem como na reforma e disciplina que Ele estava in-
troduzindo; realizando com tanto ar de soberania e poder, que se
tomou incrível.
11.19. E, sendo já tarde, saiu para fora da cidade. De Jeru-
salém, como fez na noite anterior, e pelas mesmas razões: prova-
velmente ele foi para Betânia, onde havia se hospedado na última
noite, com Lázaro, Marta e Maria; ou para o Monte das Olivei-
ras, onde às vezes ele passava a noite em oração: a versão Siríaca
traduz: “eles saíram”; pois Cristo levou seus discípulos com ele,
como fica evidente no versículo seguinte.
11.20. E eles, passando pela manhã. A figueira, quando vol-
taram na manhã seguinte de Betânia, ou do Monte das Oliveiras,
ou de onde fosse que eles estiveram naquela noite: viram a figuei-
ra seca desde as raízes; eles não a viram murchar imediatamente
como aconteceu, nem puderam vê-lo, quando foram de Jerusalém
para este lugar, porque já era tarde; mas pela manhã, quando eles

266
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. i 1

chegaram, eles observaram: não apenas os galhos tenros dela, mas


o tronco e o corpo da árvore, e até as raízes dela, estavam todos
secos; de modo que estava totalmente morto, e não havia espaço
para esperar que revivesse e desse mais frutos.
11.21 .E Pedro, lembrando-se, não tanto a árvore, suas folhas
espalhadas, a grandeza dela, a condição florescente em que estava
outro dia, mas a imprecação de Cristo sobre ela, disse: Mestre,
eis que a figueira que amaldiçoaste secou; observando como uma
questão de espanto e como um exemplo do surpreendente poder e
autoridade de Cristo (veja Gill em Mateus 21.20).
11.22. E Jesus, respondendo, disse-lhes. A todos os discípu-
los, pois o que Pedro disse foi em nome de todos eles e, de acor-
do com Mateus, os discípulos explicitaram: “em quanto tempo a
figueira secou?” Para o qual esta é uma resposta; embora a ver-
são Árabe a traduza como “para ele”; como se as palavras fossem
dirigidas particularmente a Pedro: tenha fé em Deus, ou “a fé de
Deus”, de acordo com as versões Vulgata Latina, Siríaca, Persa e
Etíope, isto é, exercite e faça uso daquela fé que tem Deus como
seu autor, que é a obra de Deus e de sua operação, um dom gratui-
to de Graça d ’Ele e que tem Deus como seu objeto; é apoiado por
seu poder e encorajado por sua bondade, verdade e fidelidade. A
versão Árabe traduz “acredite em Deus”; não apenas para que tais
coisas possam ser feitas, como secar uma figueira, mas para que
aquelas maiores se cumpram.
11.23. Porque em verdade vos digo que qualquer que disser
a este monte. O Monte das Oliveiras, perto de onde eles estavam
agora; retira-te e lança-te no mar, isto é, da Galiléia, que era a mais
próxima, no entanto, com muitos quilômetros de distância: não du-
vidará em seu coração, mas acreditará que as coisas que ele diz
acontecerão; não apenas como remover uma montanha e jogá-la no
mar, mas qualquer coisa igualmente difícil; ele terá tudo o que dis-
ser: tudo o que ele ordenar será feito (veja Gill em Mateus 21.21).

267
J o h n Gill

11.24. Por isso vos. Para encorajamento na oração, sem a


qual nada deve ser tentado, especialmente, acima do poder da na-
tureza; ela é de um tipo milagroso: tudo o que deseja quando ora,
isto é, de acordo com a vontade revelada de Deus, é para a confir-
mação de seu Evangelho e para a glória de seu nome. Crede que
os recebereis e os tereis; as petições que são desejadas e as coisas
pedidas nelas: isto é, tenha tanta certeza de tê-las, como se você
já as tivesse recebido, e você as terá; pois o sentido nunca pode
ser que eles acreditem que os receberam antes de tê-los; seria uma
contradição em termos, a cópia antiga de Beza e uma das cópias
de Stephens dizia: “acredite que você receberá”, como em Mateus
21.22, e assim a versão da Vulgata Latina; com as quais concor-
dam as versões Árabe e Etíope, que traduzem “acredite que você
desfrutará” ou “obterá”; e a versão Siríaca “acredite que você está
prestes a receber”; grande fé é acreditar, e esta é a oração da fé
(veja 1 João 5.14).
11.25. E quando estiverdes orando. Estão prestes a se enga-
jar nesse trabalho, ou estão engajados nele, realizando-o em tal
postura; pois ficar de pé era uma postura usual na oração (veja Gill
em Mateus 6.5); perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém,
para que também vosso Pai que está nos céus vos perdoe as vos-
sas ofensas. Enquanto um homem está orando, vem a sua mente
que tal pessoa cometeu uma transgressão contra ele, causou-lhe
um dano, do qual ele tem motivos para reclamar; mas, em vez de
reclamar disso diante de Deus e invocá-lo a vingar sua causa, ele
deve perdoá-lo imediatamente em seu coração e de coração, mes-
mo que ele não esteja presente para reconhecer seu pecado e pedir
perdão; e tal pessoa pode esperar o perdão de Deus e uma mani-
festação disso para sua alma; que é uma das coisas pelas quais ele
está constantemente orando, pois seu caso diário torna necessário:
não que deva ser entendido como se seu favor, dando à pessoa
que o ofendeu, seja a causa, ou condição, de receber a remissão
do pecado nas mãos de Deus; pois então não seria pelo sangue de

268
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 11

Cristo e de acordo com as riquezas de sua Graça, mas isso aponta


para um temperamento e disposição mental que agradam a Deus,
e descreve as pessoas que podem esperar esse favor dele (veja Gill
em Mateus 6.14).
11.26. Mas, se vós não perdoardes livre e plenamente aque
les que te ofenderam, perdoando o que devem e ignorando as
ofensas e injúrias feitas a ti, ao suportarem toda afronta e indig-
nidade: nem vosso Pai celestial perdoará vossas ofensas; isto é,
essas pessoas não parecem ter noções verdadeiras ou corretas de
perdão, nem há qualquer evidência de que seus corações sejam
devidamente afetados, ou verdadeiramente impressionados com o
sentido disso; nem podem, com base em seus próprios princípios e
conduta, esperar isso: não, mas para quem quer que Deus esteja na
relação de um Pai, e eles são seus filhos adotando a Graça, destes
Ele se compadece e perdoa, pelo amor de Deus; a mesma aliança
que contém a bênção da adoção, prevê o perdão da misericórdia e
a não lembrança do pecado; as mesmas pessoas que são predesti-
nadas à adoção de filhos por Cristo, a quem Ele redimiu, para que
pudessem recebê-Lo, tenham o perdão de seus pecados, de acordo
com as riquezas da graça de Deus; pois a redenção e o perdão dos
pecados andam juntos; e todos quantos são filhos de Deus pela
fé em Cristo, pela mesma fé recebem a remissão dos pecados.
Sem uma visão de perdão através do sangue de Cristo, um filho
de Deus não pode se aproximar de seu Pai celestial, com aquela
ousadia, alegria e temor filial que deveria; mas há perdão com ele,
para que seja temido; para quem quer que Deus esteja na relação
de um Deus e Pai da Aliança, para estes, Ele se manifesta como
um Deus que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado: a
menos que a palavra “pai’’ aqui não deva ser tomada como uma
relação especial de Graça, mas apenas tão expressivo dele quanto
o Deus da natureza e da providência, que o criou; e cuida de todas
as suas criaturas; em que sentido ele é o Pai de todos: como é dito
'"Não temos nós todos um mesmo Pai? Não nos criou um mesmo

269
Jo h n Gill

D eus?” (Malaquias 2.10); e assim “nosso Pai celestial”, ou “nosso


Pai” que está no céu, pode ser chamado apenas do lugar onde ele
habita; e não da Graça que ele concede aos homens, tornando-os
participantes de seus dons e chamados celestiais, e abençoando-os
nos lugares celestiais, ou coisas em Cristo Jesus: a visão anterior
d ’Ele não necessariamente se seguirá, pois Ele perdoa pecados,
considerando que, sob a última consideração, será; pois o perdão é
um dos dons celestiais com os quais Ele abençoa seus filhos (veja
Gill em Mateus 6.15).
11.27. E tornaram a Jerusalém. As versões Persa e Etíope
dizem: “ele veio”, que deve ser entendido com os seus discípulos,
pois eles nunca se separaram d ’Ele até a prisão no jardim. Lucas
diz (Lucas 20.1) que foi “num daqueles dias”; e a versão Persa
aqui diz “em outro dia”: foi um dia após a maldição da figueira, e
dois dias após sua entrada pública em Jerusalém e, no momento
que ele estava andando no templo, não sozinho, mas com os seus
discípulos e uma multidão de pessoas em que ele estava ensinando
e pregando o Evangelho; enquanto caminhava de um lado para o
outro, vêm a ele os principais sacerdotes, os escribas e os anciãos:
o sinédrio judeu; pois destes consistia aquele grande conselho da
nação (veja Gill em Mateus 21.23).
11.28. E lhe disseram: Com que autoridade fazes tu estas
coisas? Entra no templo, como se ele fosse o Senhor dele; e corri-
ge de maneira tão magistral tudo o que ele considerava um abuso:
os milagres que Ele fez, como curar os coxos e cegos; assumindo
a responsabilidade de instruir o povo, um trabalho no qual Ele
agora estava engajado; quem te deu autoridade para fazer estas
coisas? (veja Gill em Mateus 21.23).
11.29. Mas Jesus, respondendo, disse-lhes. Não sendo nem
um pouco intimidado por tal grupo de homens: também farei uma
pergunta a você; “uma palavra”, ou “uma coisa”; logov, aqui res-
ponde à palavra hebraica rbd, que significa tanto “palavra” quan­

270
C o m en tário bíblico de M arcos - Ca!). 11

to “coisa”: e responde-me, e eu te direi com que autoridade faço


estas coisas (veja Gill em Mateus 21.24)
11.30. O batismo de João. A doutrina da qual ele foi o pri-
meiro pregador, e a ordenança da qual ele foi o primeiro admi-
nistrador: era do céu ou dos homens? Foi de instituição divina ou
humana? Responda-me; direta e claramente, sem qualquer emba-
ralhamento ou evasão: é uma pergunta justa e pode ser respondida;
e a resposta sugerida por nosso Senhor levaria naturalmente a uma
resposta adequada à pergunta deles (veja Gill em Mateus 21.25).
11.31. E eles arrazoavam entre si, dizendo, em particular; tal-
vez, eles se afastaram um pouco por um curto período de tempo e
consultaram entre si que resposta retornar; a quantidade de seus ra-
ciocínios foi esta: se dissermos do céu, ele dirá: por que então você
não acreditou nele? Isto é, se eles dissessem que João tinha uma
comissão divina para o que ele disse e fez, eles sabiam que Cristo
respondería: por que você não deu crédito a ele? Se você tivesse fei-
to isso, visto que ele testificou de mim, você não teria oportunidade
de fazer a pergunta acima (veja Gill em Mateus 21.25).
11.32. Se, porém, dissermos: Dos homens que o batismo
de João foi uma invenção humana, e ele não tinha autoridade de
Deus para pregar e administrá-lo; eles temiam o povo. Para que
não fiquem enfurecidos, eles devem, de uma só vez, se levantar
e destruí-los: pois todos os homens contavam com João, pois ele
era um profeta, de fato; um verdadeiro profeta, alguém verdadei-
ramente enviado por Deus, o qual recebeu d’Ele a sua comissão
e credenciais; esse era o sentimento geral do povo (veja Gill em
Mateus 21.26).
11.33. E, respondendo, disseram a Jesus. Sendo reduzido por
este dilema à maior tensão e dificuldade; não podemos dizer: eles
poderíam, se quisessem, mas não se importaram em contar; eles
sabiam que se o fizessem, deveríam se expor de uma forma ou de

271
J o h n Gill

outra: e Jesus, respondendo, disse-lhes: nem eu vos digo com que


autoridade faço estas coisas (veja Gill em Mateus 21.27).

Capítulo 12
12.1. COMEÇOU a falar-lhes por parábolas. Quanto aos
dois filhos, o pai pediu que fossem trabalhar na vinha e, da plan-
tação de uma vinha, deixando-a para lavradores, embora o último
seja relatado apenas por este evangelista, ambos são de Mateus.
Esta não foi a primeira vez que ele falou por parábolas ao povo,
embora possa ser a primeira vez que ele falou dessa maneira aos
principais sacerdotes e anciãos, que são particularmente proje-
tados em tais. Certo homem plantou uma vinha. A versão Persa
acrescenta “com muitas árvores” : isto é, com videiras, embora,
às vezes, outras árvores, como figueiras, fossem plantadas em vi-
nhedos (veja Lucas 13.6). Este homem é, pelo evangelista Ma-
teus, chamado de “chefe de família”: por quem se entende Deus,
o Pai, como distinto de seu Filho: e pela “vinha”, plantada por
ele, entende-se a vinha do Senhor dos Exércitos; os homens de
Israel (Isaías 5.1), colocando uma cerca viva sobre ele, ou “pare-
de”, como a versão Persa traduz, significando a lei, não a lei oral
dos judeus ou as tradições dos anciãos, que não eram do cenário
de Deus, mas a lei cerimonial e moral; ou o muro de proteção pelo
poder divino, que foi colocado em torno da nação judaica, espe-
cialmente, quando eles subiam para suas festas solenes. Cavou um
lugar para o lagar. As versões Siríaca e Árabe acrescentam “nela”;
e a versão Persa “na vinha”, pois isso se realizou na vinha, onde
eles pisaram e espremeram as uvas quando colhidas; ao projetar o
altar na casa do Senhor, onde as libações, ou libações, foram der-
ramadas; e construiu uma torre. As versões Siríaca, Árabe e Etío-
pe acrescentam “nela”; pois isso também foi construído na vinha e
pode significar a cidade de Jerusalém; ou o templo, a casa de vigia

272
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 12

onde os sacerdotes faziam o seu serviço, dia e noite. Entregue -0


aos lavradores, ou “trabalhadores”, como a versão Árabe traduz,
que trabalhavam nela e cuidavam das vinhas. A versão Etíope tra-
duz “e põe sobre ela um trabalhador e guardador da vinha”; por
quem se entendem os sacerdotes e levitas, a quem foi confiado o
cuidado do povo, com respeito às coisas religiosas, e foi para um
país distante, deixou o povo dos judeus para esses lavradores, ou
governantes, sejam civis ou eclesiásticos, mas, principalmente, os
últimos, para serem instruídos e dirigidos por eles, de acordo com
as leis e regras que lhes foram dadas pelo Senhor (veja Gill em
Mateus 21.33).
12.2. E, chegado o tempo, mandou um servo. O Evangelista
Mateus diz “quando o tempo do fruto se aproximava”, Mateus
21.34, da mesma forma, diz a versão Persa. As versões Siríaca e
Etíope dizem “em seu próprio tempo” ou “temporada”, que foi o
quarto ano desde o plantio e, então, era santificado para o Senhor;
e não pode ser alimentado até o quinto ano (Levítico 19.23). De
acordo com os cânones judaicos, uma vinha do quarto ano era
marcada com torrões de terra, para mostrar que não era para ser
comida; este fruto foi levado a Jerusalém, de todos os lugares que
ficavam a apenas um dia de viagem dali, para serem resgatados.
Nem pelo “servo” se destinam os profetas do Antigo Testamento,
que foram enviados aos judeus para invocá-los a produzir frutos
de justiça; pois nem uma única pessoa, mas um conjunto de ho-
mens, é aqui designado; e o evangelista Mateus o expressa no
plural, “servos”: para que recebesse dos lavradores o fruto da vi-
nha, pelas mãos de seus servos; pois em Mateus é “para que eles
recebam”, etc. como justiça e julgamento, verdade e santidade, de
modo a prestar contas deles, o que se poderia esperar de um povo
sob tais vantagens, Isaías 5.7 (veja Gill em Mateus 21.34).
12.3. Mas estes, apoderando-se dele. Esta cláusula é deixada
de fora nas versões Siríaca e Persa, embora pareça apropriado ser
mantida; e denota a grosseria e violência com que os profetas do

273
J o h n Gill

Senhor foram usados pela nação judaica. O espancaram com os


punhos, com varas e açoites, até que a pele fosse esfolada, e o des-
pediu, vazio, sem nenhum fruto para levar consigo ou para prestar
contas ao dono da vinha.
12.4. E tornou a enviar-lhes outro servo. Outro grupo de 110‫־‬
mens bons para instruí-los, aconselhá-los e exortá-los a seus de-
veres; tais como Isaías, Zacarias e outros: e atiraram-lhe pedras e
feriram-no 11a cabeça; pois destes foram apedrejados, bem como
serrados em pedaços e mortos à espada, embora pareça que este ser-
vo, ou este grupo de homens, não foi apedrejado até a morte, porque
depois foi dito que ele foi mandado embora: nem o apedrejamento
poderia ter ocorrido pela ordem do sinédrio, o qual foi feito deixan-
do uma pedra pesada sob o coração; mas isso foi feito por todo o
povo, pelos fanáticos ultrajantes, da maneira como Estêvão foi ape-
drejado. O doutor Lightfoot explicita que o sentido usual da palavra
grega pode ser mantido, que significa “reduzir” ou “reunir em uma
certa quantia”: e, assim, como este servo foi enviado para fazer con-
tas com esses lavradores sobre o fruto da vinha, alguém atirou uma
pedra nele, dizendo: há frutas para você; e um segundo atirou outra
pedra, dizendo a mesma coisa; assim, eles continuaram um após o
outro, até que finalmente disseram, de uma forma irônica: agora a
soma está feita com você, e mandou-o embora vergonhosamente
maltratado; com grande ignomínia e reprovação.
12.5. E tornou a enviar-lhes outro, ou seja, outro servo, ou
grupo de homens, nos tempos dos Macabeus, que foram usados
de maneira desumana (veja Hebreus 11.37); e eles mataram, seja
com a espada ou infligindo alguma pena de morte, como apedreja-
mento, estrangulamento, etc.; isto é, o dono da vinha enviou mui-
tos outros servos; os lavradores usaram malignamente muitos que
foram enviados a eles: batendo em alguns, com as mãos ou com
flagelos; e matando, em uma ou outra forma acima.

274
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 12

12.6. Tendo ele, pois, ainda um seu filho amado. O Messias,


o Senhor Jesus Cristo, que é o único Filho de Deus, seu Pai, seu
Filho unigênito, pois Ele não tem outro Filho da mesma maneira;
seu querido Filho, o Filho de seu amor, que foi amado por Ele
antes da fundação do mundo; e a quem Ele declarou ser seu Fi-
lho querido, tanto em seu batismo quanto em sua transfiguração
no monte por uma voz do céu: tendo este Filho consigo, em seu
seio, como alguém criado com Ele, e regozijando-se diante d’Ele,
também O enviou por último a eles. Depois que todos os profetas
estiveram com eles, quando chegaram os últimos dias, ao fim do
estado judeu, civil e eclesiástico, (veja Hebreus 1.1) dizendo, eles
irão reverenciar meu filho. As versões Siriaca, Árabe e Persa di-
zem: “talvez eles reverenciem meu filho”, como em Lucas 20.13
(veja Gill em Mateus 21.37).
12.7. Mas aqueles lavradores disseram entre si. Esta parte,
na versão Persa, é introduzida assim, “quando os viticultores vi-
ram o filho do senhor da vinha”, de acordo com Mateus 21.38. A
versão Etíope traduz “e os servos disseram”; não os servos que
foram enviados, mas os trabalhadores da vinha: este é o herdeiro,
isto é, “da vinha”, como a versão Persa expressa; eles o conhe-
ceram pelas profecias do Antigo Testamento que O descreveram
e pelos milagres que foram realizados por Ele; os lavradores não
podiam negar que a vinha da casa de Judá pertencia a Ele, sendo
O herdeiro legítimo do trono de Israel, embora eles se recusassem
a abraçá-Lo e confessá-Lo, mas, por outro lado, disseram: vinde,
matemo-Lo, e a herança será nossa; isto é, “a vinha”, como a ver-
são Persa lida. Os sacerdotes, escribas e anciãos do povo consul-
taram juntos uma forma de tirar a sua vida, com este objetivo: que
eles pudessem continuar na posse tranquila de sua nação, templo e
adoração, no ofício que exerciam e nos privilégios que possuíam,
a fim de que os romanos não venham e tirem seu lugar e nação,
João 11.47 (veja Gill em Mateus 21.38).
J o h n Gill

12.8. E, pegando dele, o mataram, e o lançaram fora da


vinha. Eles enviaram seus oficiais e servos, e O prenderam no
jardim; eles O entregaram aos gentios, que estavam sem a vinha,
e por quem, por instigação deles, Ele foi maltratado até a morte
de cruz. A versão Etíope lê na mesma ordem de Mateus: “eles O
expulsaram da vinha e O mataram” (veja Gill em Mateus 21.38).
12.9. Que fará, pois, o senhor da vinha? As versões Árabe
e Etíope acrescentam, isto é, aos lavradores, conforme expresso
em Mateus 21.40 (veja Gill em Mateus 21.40). Ele virá e destruirá
os lavradores, e dará a vinha a outros. Como a cláusula anterior
contém uma pergunta feita por Cristo ao terminar a parábola, esta
é uma resposta a ela, dada pelos principais sacerdotes, escribas
e anciãos, cuja presença e para quem foi entregue (veja Gill em
Mateus 21.41).
12.10. Ainda não lestes esta Escritura. Referência a Salmos
118.22. Estas são as palavras de Cristo dirigidas às pessoas aci-
ma, os mestres do povo e, portanto, deveríam ter lido as Escritu-
ras, observado e considerado mais especial mente as pessoas que
diziam respeito ao Messias, como esta passagem fez, o que foi
apropriado para o caso da parábola que Cristo se referiu: a pedra
que os construtores rejeitaram tornou-se a cabeça da esquina: por
“a pedra” entende-se o mesmo com o filho e herdeiro na parábola,
ele mesmo, o verdadeiro Messias; e pelos “construtores”, os prin-
cipais sacerdotes, escribas e anciãos, o mesmo com os lavradores,
cuja rejeição da pedra, ou do Messias, é significada por agarrá-lo,
expulsá-lo da vinha e matá-lo; e ainda assim, apesar de tudo isso,
de acordo com esta Escritura, ele deveria ser, e agora se tomou, a
cabeça da esquina, exaltado acima dos anjos e homens, à direita
de Deus (veja Gill em Mateus 21.42).
12.11. Isto fo i feito pelo Senhor e é coisa maravilhosa aos
nossos olhos? A exaltação do Messias, depois de ter sido tão mal­

276
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. í!2

tratado e morto pelos judeus. Estas palavras são uma continuação


da passagem citada de Salmos 118.22.
12.12. E buscavam prendê-lo, ou seja, os principais sacer-
dotes, escribas e anciãos, depois de terem ouvido as parábolas
que Ele lhes contou, ficaram muito irritados e provocados, sen-
do assim, o prenderam, o levaram embora, o deixaram perante o
tribunal e o condenaram: mas Ele temeu o povo, para que não se
levante em sua defesa e caia sobre os sacerdotes. Muitos estavam
ligados ao seu ministério; e outros receberam favores por meio de
seus milagres, pois sabiam que ele havia falado a parábola contra
eles: e que eles eram os lavradores planejados, que não trouxeram
0 fruto da vinha a seu senhor, mas maltrataram seus servos e tra-
taram seu filho. Eles O deixaram no templo, não ousando fazer
coisa alguma: e seguiram seu caminho, à câmara do conselho para
consultar quais medidas tomar e como destruí-lo.
12.13. E enviaram-lhe. Isto é, os principais sacerdotes, es-
cribas e anciãos, que estiveram com Jesus no templo, e foram si-
lenciados por seus raciocínios e provocados por suas parábolas;
portanto, o deixaram e foram juntos consultar quais métodos de-
veríam tomar para colocá-lo em suas mãos e se vingar dele; cujo
resultado foi, eles enviaram a ele alguns dos fariseus. As versões
Siríaca e Persa dizem “escribas'’, que eram a parte mais habilido-
sa e erudita daquele corpo de homens, sem escrúpulos em pagar
tributo a César, sendo ele um príncipe pagão, e eles o povo livre
do Senhor: e dos herodianos; que eram, como dizem as versões
Siríaca e Persa, “da casa de Herodes”; seus servos e cortesãos
e, consequentemente, no interesse de César, sob quem Herodes
manteve seu governo, e deve prestar homenagem a ele: essas duas
partes de sentimentos tão diferentes, eles enviaram a ele, pegá-lo
em suas palavras; ou “em palavra”, ou discurso; ou com a palavra
deles, a pergunta que eles deveríam fazer a ele, ou com a palavra
dele, a resposta que ele deveria retornar: e assim a versão etíope
fornece, lendo-a, “com sua própria palavra”; eles pensaram que

277
J o h n Gill

deveríam inevitavelmente pegá-lo, de um jeito ou de outro; assim


como uma presa é caçada e capturada em uma rede ou armadilha,
como significa a palavra usada: pois se ele declarasse contra dar
tributo a César, os herodianos teriam do que acusá-lo, e os fariseus
seriam testemunhas contra ele; e se ele fosse a favor, este último o
exporia entre o povo, como um inimigo de suas liberdades civis,
e alguém que os submetia ao jugo romano e, consequentemente,
não podería ser o Messias e libertador que eles esperavam (veja
Gill em Mateus 22.16).
12.14. E, chegando eles a Jesus no templo, disseram-lhe:
Mestre; eles o saudaram da mesma maneira, como fizeram com
seus médicos e rabinos, chamando-o de “Rabino”, embora não
fossem seus discípulos, pois uma parte deles era composta pelos
discípulos dos fariseus, e a outra tinha Herodes como seu mestre:
sabemos que tu és verdadeiro, um homem honesto, sincero e justo,
e não te importas com ninguém, porque não consideras a pessoa
dos homens, mas ensina o caminho de Deus na verdade, instrui os
homens na palavra, vontade e adoração a Deus, com toda integri‫״‬
dade e fidelidade; responda, portanto, a esta pergunta: é lícito dar
tributo a César ou não? As versões Siríaca e Persa dizem “dinheiro
de cabeça”; assim é lido na cópia mais antiga de Beza; um impos-
to cobrado dos chefes de família, ou para cada chefe particular de
uma família (veja Gill em Mateus 22.17).
12.15. Então ele, conhecendo a sua hipocrisia, disse-lhes:
Por que me tentais? Estas palavras são omitidas nas versões Vul-
gata Latina, Árabe, Persa e Etíope: mas, conhecendo a hipocrisia
deles, expressa em seus títulos lisonjeiros e nos seus personagens,
que estavam escondidos em seus desígnios secretos contra ele, os
quais são completamente conhecidos, disse-lhes: por que me ten-
tais? Trazei-me um denário, para que eu o veja, o necessário para
o tributo (veja Gill em Mateus 22.19).

278
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 12

12.16. E eles lha trouxeram. O centavo, que era romano, e va-


lia sete centavos e meio do nosso dinheiro, e disse-lhes: de quem é
esta imagem e inscrição, pois tinha a cabeça de um imperador sobre
ela, provavelmente, a imagem do imperador reinante Tibério, com
uma inscrição nela, expressando seu nome e um lema junto. Eles
disseram-Lhe: de César, um dos imperadores romanos, Augusto e
Tibério; provavelmente, o último (veja Gill em Mateus 22.21).
12.17. E Jesus, respondendo, disse-lhes: com muita sabedo-
ria e pertinência, entregue a César as coisas que são de César; ou
“ao rei, o que é do rei”, como as versões Árabe e Etíope traduzem:
e a Deus as coisas que são de Deus (veja Gill em Mateus 22.21);
e eles se maravilharam d ’Ele, por sua sabedoria e prudência em
retomar tal resposta.
12.18. Então, os saduceus, no mesmo dia, imediatamente
depois que Ele silenciou os fariseus e herodianos (estes eram um
grupo de homens distintos dos primeiros, em relação aos seus sen-
timentos e, especialmente, em suas religiões). Por conseguinte,
disseram que não há ressurreição dos mortos, em um sentido lite-
ral, geral ou particular (veja Gill em Mateus 22.23); e pergunta-
ram-Lhe, dizendo, como no próximo versículo.
12.19. Mestre, Moisés nos escreveu. Ele deixou por escrito
para nós o seguinte preceito para observar; pois eles reconhece-
ram os escritos de Moisés e, de fato, todas as Escrituras do An-
tigo Testamento; aderindo ao sentido literal deles e rejeitando a
interpretação tradicional pelos rabinos: se o irmão de um homem
morrer e não deixar filhos, que seu irmão tome sua esposa e dê
descendência a seu irmão; estabelecendo o sentido da lei em Deu-
teronômio 25.5 (Veja Gill em Mateus 22.24).
12.20. Ora, havia sete irmãos em certa família e em certo
lugar; talvez em Jerusalém; eles eram irmãos por parte do pai, e
somente isso esta lei obrigou: o primeiro casou-se e, ao morrer,
não deixou descendência, nenhum filho. Portanto, é claro que os

279
J o h n Gill

antigos judeus usavam a palavra semente, de uma única pessoa,


como faziam esses saduceus; embora os modernos neguem tal uso
em atuais controvérsias sobre o sentido de Gênesis 3.15 (veja Gill
em Mateus 22.25 ).
12.21. E o segundo também a tomou como esposa, casou-se
com ela, por ser o próximo irmão mais velho, pois, pela lei acima,
foi obrigado: e, assim, o cânone judaico sobre ele funciona; a or~
dem é, lwdgb, “para o mais velho” se casar com a esposa de seu
irmão: se ele não quiser, eles vão a todos os irmãos; se não quise-
rem, eles voltam ao mais velho e dizem: a ordem está sobre ti, ou
tira o sapato, ou casa”. Maimonides relata desta maneira “se um
homem morre e deixa muitos irmãos, a ordem recai sobre o mais
velho para casar, ou tirar o sapato; como é dito em Deuteronômio
25.6, “e será o primogênito que ela der à luz”. A tradição revela
que o mais velho dos irmãos sucederá em nome de seu irmão que
está morto: “ela deu à luz”: o sentido é que a mãe deu à luz, e não
que a esposa do irmão deu à luz. O segundo não deixou semente
e, o terceiro, igualmente casou-se com ela e morreu sem descen-
dência, como o restante. A versão Persa acrescenta, “e o quarto e
o quinto”; pois assim todos eles o fizeram.
12.22. E tomaram-na os sete, sem, contudo, terem deixado des-
cendência. Todos os sete irmãos se casaram com ela, um após o ou-
tro, e nenhum deles teve filhos: por último, a mulher também morreu,
depois de todos os sete irmãos com quem ela havia se casado.
12.23. Na ressurreição, pois, quando ressuscitarem. Esta úl-
tima cláusula, “quando ressuscitarem”, é omitida em duas cópias
de Beza e nas versões siríaca, árabe, persa e etíope, talvez por-
que possa ser considerado supérfluo; mas esta é agradavelmente
a maneira de falar e escrever com os judeus. A questão colocada
sobre a suposição de uma ressurreição, e que esses sete irmãos e
a esposa que todos eles tiveram deveríam ressuscitar, então é: de
qual destes será a mulher? Dos sete irmãos. Porque os sete a tive­

280
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 12

ram por mulher. Ela era, segundo a lei, a legítima esposa de todos
os sete; que reivindicação particular e especial alguém poderia ter
sobre ela acima do resto? (veja Gill em Mateus 22.28)
12.24. Jesus, respondendo, disse-lhes, o que eles pensaram
que ele não era capaz de fazer, mas teria sido imediatamente si-
lenciado por eles, como muitos de seus antagonistas haviam feito:
Porventura não errais vós em razão de não saberdes as Escrituras
nem o poder de Deus? O que é expresso em Mateus afirmativa-
mente, é aqui colocado a título de interrogatório, o que, com os
judeus, era uma forma mais veemente de afirmar (veja Gill em
Mateus 22.29).
12.25. Porquanto, quando ressuscitarem dentre os mortos.
Estes sete innãos, e a mulher; e assim qualquer um e todos os ou-
tros; nem casarão, nem se darão em casamento, não haverá tal rela-
ção natural subsistente, nem qualquer necessidade disso; mas serão
como os anjos que estão nos céus (veja Gill em Mateus 22.30).
12.26. E, acerca dos mortos que houverem de ressuscitar.
Para a prova da doutrina da ressurreição dos mortos; não tendes
lido no livro de Moisés, isto é, na lei de Moisés; pois embora
estivesse dividido em cinco partes, era apenas um livro; assim
como os Salmos são chamados de Livro dos Salmos (Atos 1.20),
e os Profetas, o Livro dos Profetas (Atos 7.42). O livro de Êxodo
é particularmente pretendido; pois a passagem mencionada está
em Êxodo 3.6: como Deus lhe falou na sarça, ou “fora da sarça”,
como dizem as versões siríaca e persa; dizendo: Eu sou o Deus
de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? (veja Gill em
Mateus 22.31-32)
12.27. Ele não é o Deus de mortos. Este é o raciocínio de nos-
so Senhor sobre a passagem, mostrando a partir daí que, uma vez
que Deus é o Deus dessas pessoas, elas devem estar agora vivas em
suas almas, pois Deus não é o Deus dos mortos; e que seus corpos
devem ressuscitar, ou ele não será o Deus de todas as suas pessoas;

281
J o h n Gill

mas Deus de vivos, a palavra “Deus” nesta cláusula é omitida nas


versões Vulgata Latina, siríaca e árabe, mas mantida nas versões
persa e etíope; (veja Gill em Mateus 22.32). Por isso vós errais mui-
to; significando que não foi um pequeno erro, um erro de pequena
importância, mas muito grande; na medida em que era contrário
às Escrituras, derrogou o poder de Deus e destruiu o interesse da
aliança que Deus tem em seu povo, e particularmente nos principais
homens de sua nação, que foram seus pais e fundadores.
12.28. E aproximando-se um dos escribas. Mateus o chama
de advogado (22.35), um intérprete da lei, como um escriba era; que
os tinha ouvido disputar, estando presente na disputa entre Cristo
e os saduceus, que ele diligentemente atendeu; sabendo que lhes
tinha respondido bem, da maneira mais bonita. Os judeus adotaram
a própria palavra grega usada aqui e fazem uso dela no mesmo sen-
tido de Mwlaq hyl rm a, “ele respondeu bem”: ou, como o glosa,
“louvou dignamente”, de uma maneira que mereça elogios; e é o
mesmo com trm aq rypv, “tu disseste bem”, ou lindamente; e as-
sim a resposta aqui foi com grande solidez, julgamento e força de
argumento, para sua total confusão e silêncio; pelo que ele entendeu
que tinha um conhecimento considerável da lei e, no entanto, estava
disposto a tentar confundi-lo com uma questão relacionada a ela:
perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos? De
todos os mandamentos da lei, moral e cerimonial.
12.29. E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os man-
damentos é. Cristo respondeu de uma vez, sem tomar qualquer
tempo para considerá-lo: O primeiro de todos os mandamentos é:
Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. As versões da
Vulgata Latina e árabe dizem “um Deus”; mas a siríaca e a etíope o
traduzem como “um Senhor”; e isso corretamente de acordo com
o texto grego e com Deuteronômio 6.4, de onde isso é tirado. Esta
passagem da Escritura, até o final do nono versículo, é a primeira
das seções que foram colocadas em seus filactérios (veja Gill em
Mateus 23.5); e foi repetido duas vezes por dia, de manhã e à noi­

28 2
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 12

te, chamado pelos judeus desde a primeira palavra emv tayrq, “a


leitura do Shemá”, a respeito da hora exata da recitação disso, ma-
nhã e noite, e da postura em que eles o fazem, reclinados à noite, e
de pé pela manhã, e das orações antes e depois dela, várias regras
são dadas em sua Misna, ou lei oral; é um preceito de grande esti-
ma e veneração para eles, atendido com muita solenidade. A conta
que Maimônides dá é esta: “duas vezes por dia eles lêem Keriath
Shema (isto é, ‘ouve, ó Israel’, etc.), à noite e pela manhã, como é
dito em Deuteronômio 6.7. ‘Quando te deitares e quando te levan-
tares’; na hora é o costume dos homens deitar, e esta é a noite; e
11a hora é o costume dos homens ficar de pé, e este é o dia; e o que
ele lê? Três seções; que são essas: ‘ouvir (Deuteronômio 6.4), e
acontecerá "se ouvirdes’ (Deuteronômio 11.13), ‘e Moisés disse’
(Êxodo 13.3); e eles leram a seção, ‘ouve, ó Israel’ primeiro, por-
que nele há a unidade de Deus, e o amor d ’Ele e de Sua doutrina;
pois é lwdgh rqeh, ‘a grande raiz’, ou ‘fundação’, da qual tudo
depende”. É observável que a última letra da palavra “ouvir” e a
última da palavra “um” estão escritas em caracteres muito grandes
na Bíblia Hebraica, para denotar a grandeza do comando e chamar
a atenção para isso. Os judeus procuram mistérios nestas letras e
pensam que o tamanho incomum delas aponta para algumas coi-
sas muito grandes; eles observam que a primeira dessas letras é
numericamente “setenta” e direciona para os setenta nomes da lei
e as setenta maneiras pelas quais pode ser interpretada, e as se-
tenta nações do mundo, das quais os israelitas se distinguem por
sua crença no único Deus; e que a última representa o número
“quatro” e mostra que o Senhor é o único Deus, no céu e na terra,
em todo o mundo e nas quatro partes dele; e que ambas as le-
tras juntas formam uma palavra, que significa “uma testemunha”,
mostrando que tal passagem é um testemunho glorioso da unidade
de Deus, e que os israelitas são testemunhas disso, acreditando e
professando; e se eles se afastassem da fé disso, Deus seria uma
testemunha contra eles; e agora, embora não haja fundamento só-
J o h n Gill

lido para tais interpretações, isso mostra que opinião eles tinham
sobre a grandeza desse mandamento; ao qual, pode ser adicionado
que eles perguntam “por que ‘ouça, ó Israel’, vá antes dessa pas-
sagem em Deuteronômio 11.13: ' E será que, se diligentemente
obedecerdes a meus mandamentos’. E porque um homem deve
tomar sobre si primeiro o jugo do Reino dos Céus, e depois disso
deve tomar sobre si o jugo dos mandamentos”. O sentido é que
ele deve primeiro fazer uma confissão de sua fé em Deus, que está
contida em Deuteronômio 6.4, e então ele deve obedecer a seus
mandamentos, de modo que eles claramente consideraram isso
como o primeiro e o maior de todos. Essas palavras são frequen-
tes na boca dos judeus modernos, em prova da unidade de Deus
e contra a pluralidade na Deidade; mas os antigos não apenas os
consideram como uma prova boa e suficiente, que existe apenas
um Deus, mas como expressivos de uma Trindade na Divindade:
para este texto, eles observam que “Jeová”, “nosso Deus, Jeová”,
são, Nygrd tlt, “três graus” (ou pessoas) com respeito ao mistério
sublime, “no princípio, Deus”, ou “Elohim, criou”. E novamente,
“há uma unidade chamada Jeová o primeiro, nosso Deus, Jeová;
eis que todos eles são um e, portanto, chamados um; eis que esses
três nomes são como um; e embora os chamemos de três, e eles
são um; mas pela revelação do Espírito Santo é dado a conhecer, e
eles são conhecidos pela visão do olho, que esses três são um (veja
1 João 5.7), e esse é o mistério da voz que se ouve; a voz é uma; e
há três coisas, fogo, vento e água, e todos eles são um no mistério
da voz, e eles não são senão um: então aqui, Jeová, nosso Deus,
Jeová, estes Nynwwg atlt, ‘três modos, formas’, ou ‘coisas’, são
um”. Mais uma vez eles dizem, “há dois, e um se juntou a eles,
e eles são três; e quando eles são três, eles são um: estes são os
dois nomes de ouvir, ó Israel, que são Jeová, Jeová e Elohenu, ou
nosso Deus está unido a eles; e é o selo do anel da verdade”. Ao
qual acrescentarei mais uma passagem, onde rabino Eliezer está
perguntando a seu pai rabino Simeon ben Jochai, por que Jeová

284
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 12

às vezes é chamado de Elohim, ele responde, entre outras coisas:


‘venha ver, há Nygrdg, «três graus» (ou pessoas), e cada grau é
um por si mesmo, embora sejam todos um, e unidos em um, e
um não esteja separado do outro’”. Acreditar nisso é o primeiro e
principal mandamento da lei e o principal artigo da fé cristã; ou
seja, acreditar que existe um Deus e que existem três pessoas, Pai,
Filho e Espírito na Divindade.
12.30. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus. O que deve ser en-
tendido do único Deus, Pai, Filho e Espírito, pois todas as três pes-
soas divinas devem ser igualmente amadas, possuindo as mesmas
perfeições e excelências, tendo feito as mesmas obras e concedido
benefícios e favores semelhantes aos homens; e embora agora não
haja princípio de amor a Deus em homens; mas, pelo contrário, os
homens são inimigos de Deus em suas mentes, o que aparece por
suas obras perversas; no entanto, este mandamento ainda está em
vigor e a obrigação para com ele é a mesma; a queda do homem,
a corrupção da natureza e a impotência, e até mesmo a aversão do
homem em observar este mandamento, não o tornam nulo e sem
efeito; e 11a regeneração, quando Deus coloca suas leis no coração
e as escreve no coração da mente; o amor é produzido em tais pes-
soas, a Deus Pai, que os gerou de novo conforme a sua grande mi-
sericórdia; e a Cristo, que os salvou de seus pecados; e ao bendito
Espírito, que os vivificou e os confortou, e esse amor é, em certa
medida, exercido como deveria ser, e como aqui dirigido, de todo
o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento,
isto é, com todos os poderes e faculdades da alma; ou com os afetos,
como sob a influência e orientação das faculdades mais nobres da
alma, a mente, o entendimento, o julgamento e a vontade; é acres-
centado aqui, que não está em Mateus: e de todas as tuas forças, que
responde à frase em Deuteronômio 6.5: ue de todas as tuas forças”;
isto é, com a maior veemência de afeto, nas expressões mais fortes
dele, e com toda a força da Graça que um homem possui. Esta pas-

285
J o h n Gill

sagem segue a anterior em Deuteronômio 6.5 e é a única citada no


Evangelho (veja Gill em Mateus 22.37).
12.31. E o segundo, semelhante a este. “A ele”, como em
Mateus 22.39, e assim é lido aqui em duas cópias antigas de Beza,
e nas versões Vulgata Latina, siríaca, árabe, persa e etíope; é:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Este mandamento está
em Levítico 19.18 e não respeita apenas um israelita, ou alguém
da mesma religião que o homem, ou seu amigo íntimo e conhe-
cido, ou alguém que mora na mesma vizinhança, mas qualquer
homem, seja qual for, a quem se deva demonstrar afeição e o bem
lhe seja feito e por ele, como um homem teria feito por si mesmo;
tanto quanto está em seu poder, tanto nas coisas temporais quanto
nas espirituais (veja a nota em Mateus 22.39). Não há outro man-
damento maior do que estes; em toda a lei, moral ou cerimonial;
nem o sábado, nem a circuncisão, nem os filactérios, nem as fran-
jas nas orlas das vestes, nem qualquer outra.
12.32. E o escriba lhe disse. Esta resposta do Escriba não
é relatada por Mateus: Muito bem, Mestre, e com verdade dis-
seste, o que disseste é a verdade, e tu a expressaste da maneira
mais bela; o Escriba ficou encantado com sua resposta e não pôde
deixar de elogiá-la, e mesmo ante a multidão e aos de sua própria
seita; esse foi um caso raro e incomum; não era comum entre os
escribas e fariseus, quaisquer que fossem as convicções sob as
quais foram colocados, seja pelos milagres ou discursos de Cristo,
possuir qualquer coisa, ou fazer quaisquer concessões em seu fa-
vor, ou falar em seu louvor; mas tal homem não apenas o elogia,
mas dá razões para isso e confirma a doutrina que ele ensinou com
suas próprias palavras: que há um só Deus, e que não há outro
além dele. As versões siríaca, persa e etíope omitem a palavra
“Deus”; mas está nas cópias gregas e corretamente retido em ou-
tras versões, pois o sentido é que existe um Deus e apenas um; e
que está perfeitamente de acordo com a doutrina cristã, de uma
Trindade de pessoas na Divindade; pois embora o Pai seja Deus,

286
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 12

o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus, ainda assim não há três


Deuses, mas um só Deus. Tampouco devemos imaginar que este
homem disse ou pensou algo em contrário, ou teve em mente se
opor à doutrina da Trindade; que, embora mais claramente revela-
do no Novo Testamento, não era desconhecido dos antigos judeus
e pode ser aprendido com os escritos do Antigo Testamento; mas
isso ele disse em oposição aos muitos ídolos e divindades fictícias
dos gentios; e se ele falasse em hebraico, como é provável que ele
tenha feito, deve haver uma bela “paranomácia” em suas palavras;
“pois há”, dxa, “Achas, um Deus; e não há nenhum”, rxa, “Achar,
outro senão ele”; e é observado por um escritor judeu, que a razão
pela qual a última letra de, dxa, “um”, é maior que o resto, como
observado anteriormente em Marcos 12.29.
12.33. E que amá-lo de todo o coração. Ou seja, o único
Deus, com amor e afeição sinceros; e de todo o entendimento de
seu ser, perfeições e obras, que servirão para atrair as afeições
para ele; esta cláusula responde a isso “com toda a tua mente” em
Marcos 12.30; e de toda a alma, com todos os poderes e faculda-
des dele; e de todas as forças, que um homem tem, ou é dado a
ele; com toda a veemência e fervor da alma ele é o mestre de amar
o próximo como a si mesmo, quais são os dois grandes manda-
mentos da lei; é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios;
isto é, mais excelentes em sua natureza, mais aceitáveis a Deus e
mais úteis entre os homens, do que todos os rituais da lei cerimo-
nial, do que qualquer sacrifício, pois as duas palavras aqui usadas,
“holocaustos e sacrifícios”, incluem todos ofertas, como aqueles
que foram totalmente consumidos no altar e aqueles cuja parte foi
dada aos sacerdotes; e todas as ofertas pelo pecado, ofertas de car-
ne e ofertas pacíficas, e tudo o mais. Este homem tinha agora pelo
menos um sentido diferente das coisas, do resto de seus irmãos;
que colocou a religião principalmente na observância dos rituais
da lei e das tradições dos anciãos; e negligenciou o deveres da lei
moral, respeitar a Deus e ao próximo: coisas que devem ser pre­

287
J o h n Gill

feridas e atendidas, antes de quaisquer instituições cerimoniais,


e especialmente as invenções dos homens. Isso concorda intei-
ramente com o sentido da passagem em Oseias 6.6: “Porque eu
quero a misericórdia, e não o sacrifício”, isto é, desejou e exigiu
que os homens mostrassem misericórdia uns para com os outros;
ou que cada um devesse amar seu próximo como a si mesmo, e
atender a isso em vez de oferecer qualquer sacrifício cerimonial;
isso é mais agradável e agradável a Deus do que: “e o conheci-
mento de Deus”; de sua unidade, perfeições e glória: “mais do que
holocaustos”; que foram inteiramente dedicados a ele: e também
concorda com os antigos sentimentos do povo de Deus; então Sa-
muel diz a Saul: “Tem porventura o Senhor [tão grande] prazer
em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra
do Senhor? Eis que o obedecer [é] melhor do que sacrifícios, [e]
o atender melhor é do que a gordura de carneiros” (1 Samuel
15.22). E, no entanto, pode-se observar que há alguma semelhan-
ça entre essas coisas, holocaustos e sacrifícios, e o amor de Deus
e o amor ao próximo; embora os últimos sejam muito preferíveis
aos primeiros; o verdadeiro amor a Deus não é outro senão a ofer-
ta da alma, como um holocausto a Deus, nas chamas do amor a
Ele; e o amor ao próximo, ou fazer o bem e comunicá-lo, é um
sacrifício agradável a Deus.
12.34. E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente.
Com sabedoria e prudência, como homem de bom senso e enten-
dimento; tomando as várias partes da resposta de nosso Senhor
muito distintamente, raciocinando sobre elas e confirmando-as;
disse-lhe: Não estás longe do reino de Deus, o que não significa
do céu e da felicidade eterna, pois noções corretas e distintas dos
mandamentos acima, e mesmo a execução dos mandamentos por
uma criatura pecaminosa e imperfeita, não podem nem dar a um
homem um título, nem aproximá-lo, nem introduzi-lo na glória
celestial, que é um puro dom da Graça de Deus; mas o sentido
de nosso Senhor é que ele não estava longe do Evangelho e da

288
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 12

dispensação, e estava em um caminho justo para entrar nele; seus


sentimentos eram muito próximos daqueles que se tornaram se-
guidores de Cristo, abraçaram Suas doutrinas e se submeteram
às ordenanças do estado do Evangelho, uma vez que ele preferia
aquelas coisas relacionadas ao conhecimento do ser e perfeições
de Deus, ao amor, adoração a Deus e ao bem do próximo, antes
das cerimônias da lei; que seriam rapidamente abolidos e abriríam
caminho para o estabelecimento do reino de Deus, ou do Messias,
de uma maneira mais gloriosa e visível. De fato, existem algumas
pessoas que não parecem muito longe do reino de Deus, no outro
sentido da frase, pois pode respeitar a glória e a felicidade eternas,
que nunca entrarão nele; há alguns que parecem muito devotos e
religiosos, ouvem a palavra, atendem a todas as ordenanças, jun-
tam-se a uma igreja, submetem-se ao batismo e sentam-se à mesa
do Senhor, vivem uma vida e conversa moral, e ainda assim são
destituídos da graça de Deus; sim, há alguns que têm noções cia-
ras do Evangelho, fazem uma brilhante profissão dele, e ainda não
têm experiência do poder dele em seus corações, e não têm o óleo
da graça nele, e até mantêm essa profissão até o fim, carecendo do
Reino e da glória de nosso Senhor Jesus; tais são quase cristãos,
mas não totalmente; virgens, mas tolas; tem lâmpadas, mas não
óleo; chegam até a porta, mas ela está fechada sobre eles. E já
ninguém ousava perguntar-lhe mais nada, em qualquer assunto
capcioso para enredá-lo, descobrindo que eles não poderíam obter
vantagem ou ocasião contra Ele dessa maneira, tendo Ele silencia-
do os herodianos, saduceus, escribas e fariseus.
12.35. E, falando Jesus, dizia. Aos fariseus que estavam reu-
nidos em tomo d’Ele; (veja Gill em Mateus 22.41). Ensinando
no templo; enquanto Ele estava no templo, e enquanto ensinava
as pessoas de lá, entre outras coisas em Sua doutrina, Ele colo-
cou essa questão: Como dizem os escribas que o Cristo é filho
de Davi? Não que Cristo pretendesse negar ou invalidar a verda-
de disso, pois o Messias certamente seria filho de Davi, e o era;

28!)
Jo h n Gill

mas Ele queria saber em que medida eles comumente diziam e


instruíam o povo a acreditar, e em geral acreditavam que Ele era
filho de Davi, e como poderíam reconciliar isso com o fato de Ele
ser o Senhor de Davi; ou como eles poderíam revelar que Ele era
apenas e meramente o Filho de Davi, quando Ele era o Senhor de
Davi. Mateus relata o assunto assim, que Cristo primeiro fez essas
perguntas a eles, o que eles pensavam do Messias e de quem Ele
era filho; e responderam imediatamente, Ele era filho de Davi;
portanto, esta pergunta parece ser colocada sobre isso, com outra
junto a ela, como então Davi em espírito o chama de Senhor?
(veja Gill em Mateus 2 2 .4 2 4 3 ‫)־‬
12.36. Porque o próprio Davi disse pelo Espírito Santo. Em
Salmos 110.1, sendo inspirado pelo Espírito de Deus; O Senhor
disse ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita até que eu ponha
os teus inimigos por escabelo dos teus pés. Esta é uma prova de
que Davi chamou Cristo de seu Senhor, e que ele o chamou assim
em espírito, visto que tais palavras foram proferidas por ele sob a
inspiração do Espírito Santo; que o salmo foi escrito por Davi, o
título mostra; e que ele falou quando foi influenciado pelo Espírito
Santo, nosso Senhor declara; a passagem se refere ao que Deus
Pai disse a Cristo ao ressuscitar dos mortos, subiu ao alto e entrou
no lugar santíssimo; Ele pediu que se sentasse à Sua direita pois,
tendo feito a obra da salvação do homem, Ele foi enviado para a
plena satisfação; e como uma marca de afeição e honra conferidas
a Ele na natureza humana, onde deveria continuar até que todos os
Seus inimigos, judeus, pagãos, papistas e maometanos, bem como
Satanás, e todos os Seus principados e potestades, estivessem tão
subjugados a Ele, a ponto de serem como um escabelo de seu tro-
no; e quando Davi fala profeticamente disso, ele chama o Messias
de seu Senhor dizendo, o “Senhor disse ao meu Senhor”, em que
conta a profecia é citada; quem era assim, como ele é Deus, e seu
Criador e Redentor. Que esta profecia é uma profecia do Messias

290
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 12

e não é aplicável a nenhum outro senão a Ele, portanto pertinen-


temente citado e aplicado a ele aqui (veja Gill em Mateus 22.44).
12.37. Pois, se Davi mesmo lhe chama Senhor. Davi, cujo íi-
lho você diz que o Messias é, fala dele como alguém superior a si
mesmo; como Senhor, e como seu Senhor: como é logo seu filho?
De que passagem da Escritura parece que Ele é seu filho? E como
esses dois personagens diferentes d ,Ele podem ser feitos para con-
cordar n’Ele? Nosso Senhor quis dizer com isso e observar para
eles, que o Messias era Deus, assim como homem; que Ele não era
apenas o filho de Davi, como era comumente recebido, ou um mero
homem, mas que tinha uma natureza superior, na qual era o Senhor
de Davi e até o Senhor de todos. Esta é uma maneira talmúdica de
falar, frequentemente usada quando uma prova das Escrituras, ou
razão, é exigida para apoiar qualquer opinião ou artigo de fé; como
arbo yah Nyynm, “de onde é esta opinião”? Que prova há disso? E
novamente é dito, Mytmh tyyxtl Nyynm, “de onde”, é a prova da
ressurreição dos mortos fora da lei? Diz-se, “e também estabelecí”
(Êxodo 6.4), etc. As vezes é expresso assim, Nnyedy :mm. “de onde
sabemos que é assim?” E às vezes a palavra é dobrada; diz rabino
Simeon ben Lekish, há uma intimação fora da lei, sobre o que é ras-
gado, Nyynm Nyynm, “de onde? de onde?”; “não comereis carne
despedaçada” (Êxodo 22.31). Mas os escribas não produziram Es-
critura nem razão para apoiar sua afirmação, embora fosse verdade;
porque eles não podiam reconciliá-lo com a passagem citada por
Cristo. E a grande multidão; ou a “multidão inteira”, como as ver-
sões siríaca e persa a traduzem; ou “e as pessoas comuns”, como
as versões Vulgata Latina e árabe; ou “todas as pessoas”, como a
etíope; todos menos os escribas e fariseus, a população em geral, o
ouvia de boa vontade; com grande prazer e satisfação, observando
que sua doutrina era superior à de qualquer uma das seitas entre
eles; particularmente seu raciocínio sobre o Messias foi ouvido com
grande atenção e quem, sem dúvida, podería ter ouvido com prazer
como essas coisas poderíam ser reconciliadas; mas não lemos que

29 1
J o h n Gill

nenhuma resposta foi devolvida às perguntas de nosso Senhor, por


Ele mesmo ou por qualquer outro.
12.38. E dizia-lhes em sua doutrina. Enquanto Ele estava
pregando não aos escribas e fariseus, mas à multidão e aos Seus
discípulos particularmente; e para eles na audiência do povo,
como aparece em Mateus 23.1. Guardai-vos dos escribas; pois,
embora Ele tivesse acabado de falar favoravelmente de um de-
les, este era apenas um único homem, uma instância singular, um
corpo daquele conjunto de homens que eram muito ruins em seus
princípios e práticas, portanto deveriam ser evitados, e isso pe-
las seguintes razões: que gostam de andar com vestes compridas;
a versão persa a traduz, “quem afeta andar em casacos e roupas
visíveis e em longas túnicas”, tais como eram muito particulares
e diferentes dos outros, e fora do modo de vestir comum; e as-
sim foram observados e notados por outros, muito provavelmente
podendo ter referência ao comprimento comum de suas franjas
nas bordas de suas vestes externas, que eles ampliaram além dos
outros (veja Gill em Mateus 23.5); e das saudações nas praças, ou
“ruas”, como as versões siríaca e árabe o traduzem, em qualquer
local público, onde houvesse um recurso de homens, e eles fossem
notados com respeito, de maneira pública. O persa siríaco fornece
a palavra “amor”, como fazemos em Mateus 23.6 (veja Gill em
Mateus 23.6-7).
12.39. E das primeiras cadeiras nas sinagogas, onde se sen-
tavam os principais da sinagoga e os anciãos do povo (veja Gill em
Mateus 23.5). E dos primeiros assentos nas ceias; ou os primeiros e
principais lugares onde se sentavam, ou melhor, se deitavam no en-
tretenimento público (veja Gill em Mateus 23.6).
12.40. Que devoram as casas das viúvas. Veja Gill em Ma-
teus 23.14.
12.41. E, estando Jesus assentado defronte da arca do tesou-
ro. A versão árabe diz, “na porta do tesouro”; o lugar onde ficavam

292
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 12

os baús, onde o dinheiro era colocado para vários usos, havendo


treze baús no templo, seis deles eram, hbdnl, para oblações vo-
luntárias, ou ofertas voluntárias, pelo que restou da oferta pelo
pecado, e da oferta pela culpa, para as que tinham fluxos e para as
novas mães; e dos sacrifícios do nazireu, e da oferta da culpa pelo
leproso; e o último foi para uma oferta voluntária como um todo;
e em um desses baús, ou em todos eles, foi lançado o dinheiro,
depois falado. A versão etíope a traduz “contra o baú de esmo-
las”, mas essa contribuição no templo não era para a manutenção
dos pobres, mas para o suprimento de sacrifícios e outras coisas,
conforme mencionado. Tendo Jesus pregado, e tendo-se deixa-
do os escribas e fariseus, e despedida a multidão, assentou-se,
cansado, e repousou neste lugar, e contemplou com prazer como
as pessoas, de todos os tipos, ricos e pobres, lançavam dinheiro
no tesouro, em um ou outro dos baús acima; a palavra traduzida
como “dinheiro” significa “bronze”, que os judeus chamam dois,
pois eles tinham siclos de bronze, bem como de prata; e pence de
bronze, bem como pence de prata; e também “prutas”, ou ácaros
de latão; e muitos ricos deitavam muito, eles deram muito gene-
rosa e amplamente, pois estavam possuídos com muita substância
mundana; embora a religião estivesse em baixa com eles, tiveram
0 cuidado de apoiar a parte externa e ritual dela.

12,42. Vindo, porém, uma pobre viúva. Entre os muitos que


vieram para oferecer seus dons livremente, veio um que foi par-
ticularmente notado por Cristo; e ela era uma “viúva”, não tinha
marido para sustentá-la, e era uma “pobre”, não tinha nenhuma
substância deixada por seu marido; muito provavelmente ela era
uma habitante de Jerusalém; deitou duas pequenas moedas, que
valiam meio centavo, um “quadrante”, que era a quarta parte do
assis romano, ou centavo; que parece ser o mesmo com o tetar-
thmorion dos gregos, que é dito ser “a quarta parte de um óbolo
(a menor moeda ateniense), ou seja, duas peças de latão”. Esses
ácaros parecem ser o mesmo que os “prutas”, dos quais os judeus

293
J o h n G ill

costumam falar; que dizem que uma “pruta” é a oitava parte de


um centavo italiano; embora alguns o façam ser o sexto; daí a ver-
são siríaca aqui traduz, “dois menin, isto é, oitavos”; e o Talmud
de Jerusalém diz expressamente que, ojnydrq twjwrp ynv, “dois
prutas formam um quadrante”, a mesma palavra usada aqui; e que
os judeus aceitavam as ofertas voluntárias tanto dos pobres quanto
dos ricos, embora sempre assim pouco, está claro neste cânone
deles; “o pobre que dá uma ‘prata’, ou ácaro, no prato de esmola,
ou uma ‘prata’ no peito do pobre, eles tiram dele; mas se ele não
der, eles não o obrigam a dar”. Nem foram obrigados a lançar
no tesouro; mas, se o fizeram, receberam, seja menos ou mais; e,
de fato, os ricos podem jogar o pouco que quiserem; como, por
exemplo, no baú por ouro eles podem jogar tão pouco quanto o
peso de um grão de cevada de ouro; e no baú para incenso, tão
pouco quanto o peso de um grão de cevada de incenso. A versão
persa aqui, diferente de todas as outras, em vez de “dois ácaros”,
a traduz como “dois fundos de linha” ou “fio”.
12.43. E, chamando os seus discípulos, disse-lhes. Que es
tavam a uma pequena distância d ’Ele, tendo Ele terminado Seus
discursos; e disse-lhes: Em verdade vos digo, uma maneira de fa-
lar que Ele costumava usar quando estava prestes a entregar algo
importante e não tão fácil de acreditar, que exigia atenção, e o que
Ele afirmava solenemente; que esta pobre viúva, apontando para
ela, deitou mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro;
não que ela tenha lançado mais, ou tanto quanto qualquer um de-
les em valor e substância, muito menos mais do que todos juntos;
mas que ela havia lançado mais na proporção do que ela tinha,
do que eles na proporção de sua substância; e que o dela, embora
muito pequeno em si, e podendo ser desprezível para os outros,
ainda assim foi mais na conta de Deus e Cristo, e mais altamente
valorizado e estimado por eles, do que tudo o que os homens ri-
cos colocaram; o que ela deu, ela deu com fé, e por um princípio
de amor, e com vistas à glória de Deus, quando o deles foi dado
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 13

apenas em hipocrisia, para fazer uma exibição externa e ser visto


pelos homens.
12.44. Porque todos ali deitaram do que lhes sobejava. Ou
“superabundância”, como a versão árabe a traduz; ou “superflui-
dade”, como os etíopes; eles abundavam nas coisas do mundo,
das quais davam apenas uma parte; e embora eles pudessem dar
muito, poderíam facilmente poupar e ainda sobraria o suficien-
te; mas esta, da sua pobreza, ou “,penúria”, como em Lucas 21.4
(veja 2 Coríntios 8.2), deitou tudo o que tinha, todo o seu sustento;
toda a sua substância, tudo o que ela tinha no mundo, com o que
deveria ter comprado sua comida para aquele dia; ela não deixou
nada para si mesma, mas deu tudo e confiou na providência para
suprimento imediato.

Capítulo 13
13.1. E, SAINDO ele do templo. A versão etíope diz, “quan-
do eles saíram”, Cristo e Seus discípulos, pois quando Cristo saiu
do templo, os discípulos saíram com Ele; ou pelo menos O se-
guiram muito rapidamente e vieram até Ele, como se vê a seguir,
embora a verdadeira leitura seja “quando ele saiu”; e as versões
siríaca e persa são mais expressas ao ler “quando Jesus saiu”; por
ter feito tudo o que pretendia fazer ali, Ele deixou o templo para
nunca mais para voltar; um de Seus discípulos, pode ser Pedro,
que geralmente era bastante atrevido e a boca do resto, como esse
discípulo era, quem quer que fosse; a versão persa diz “os disci-
pulos’’; e Mateus e Lucas os representam em geral, observando a
Cristo a beleza e a grandeza do templo, como este discípulo fez.
Mestre, olha que pedras, e que edifícios [estão aqui]. O templo,
reparado por Herodes, era um edifício muito bonito, segundo o
relato dos judeus, e suas pedras eram de uma magnitude muito
grande (veja Gill em Mateus 24.1).
J o h n Gill

13.2. E, respondendo Jesus, disse-lhe. A versão persa diz:


“para eles”, e assim a cópia mais antiga de Beza; mas como essa
pergunta é feita por alguém, a resposta é dada a ele: Vês estes
grandes edifícios? Como são lindos e fortes. As versões Vulga-
ta Latina e etíope adicionam a palavra tudo, e o sentido é; você
faz uma pesquisa de todos esses edifícios, e deste, imponente? E
não admiras a força e a grandeza deles? Você não acha que eles
serão de longa duração e que a demolição deles dificilmente será
possível? Não ficará pedra sobre pedra. As versões siríaca e árabe
acrescentam “aqui”, como em Mateus 24.9, e assim é lido em qua-
tro das cópias de Beza, e em outras; que não seja derrubada (veja
Gill em Mateus 24.2).
13.3. E, assentando-se ele no Monte das Oliveiras, no leste
de Jerusalém; defronte o templo, onde Ele podería ter uma visão
completa dele, a parede oriental do templo sendo mais baixa que
as demais (veja Gill em Mateus 24.3). Pedro, João, e Tiago e An-
dré perguntaram-lhe em particular, além do resto dos discípulos,
sendo eles, em especial esses três primeiros, seus favoritos e mui-
to familiarizados com Ele.
13.4. Dize-nos, quando serão essas coisas. Quando o templo
for destruído e esses belos edifícios forem demolidos e nenhuma
dessas grandes pedras for deixada sobre outra; e que sinal haverá
quando todas elas estiverem para se cumprir; e qual é o sinal de
sua vinda e do fim do mundo, como Mateus relata (veja Gill em
Mateus 24.3).
13.5. E Jesus, respondendo-lhes. A seus quatro discípulos, Pe-
dro, João, Tiago e André; “começou a dizer”; ou “disse”, modo de
falar frequente com tais evangelistas: cuidado para que ninguém
vos engane (veja Gill em Mateus 24.4).
13.6. Porque muitos virão em meu nome. Tomando sobre si
o nome do Messias; dizendo: Eu sou o Cristo; a palavra “Cristo”
é corretamente fornecida de Mateus 24.5; caso contrário, no ori­

296
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 13

ginal seria apenas “eu sou”, o que a versão persa duplica, lendo:
“Eu sou, de fato, eu sou”, aquele que foi prometido e esperado, o
verdadeiro Messias; aquele que estava por vir; e enganarão a mui-
tos (veja Gill em Mateus 24.5).
13.7. E, quando ouvirdes de guerras e de rumores de guerras.
Entre os próprios judeus e com os romanos; não vos perturbeis,
guardai-vos no vosso lugar, cumpri o vosso trabalho, continuai
a pregar o Evangelho, sem vos afligirdes com o desenrolar das
coisas; porque assim deve acontecer, sendo decretadas por Deus,
preditas por Cristo e tomadas necessárias pelos pecados do povo;
mas ainda não será o fim, do templo, de Jerusalém e do estado e
nação judaica (veja Gill em Mateus 24.6).
13.8. Porque se levantará nação contra nação. As nações
do mundo uma contra a outra, e os romanos contra os judeus, e os
judeus contra eles; e reino contra reino; que é uma frase sinônima
da primeira, e o que os judeus chamam de twnwv twlm, “palavras
diferentes” expressando a mesma coisa, frequentemente usadas
em seus comentários; e haverá terremotos em diversos lugares do
mundo; e haverá fome, especialmente na Judeia, como nos tempos
de Cláudio César, e no cerco de Jerusalém; e problemas públicos
de vários tipos, como tumultos, sedições, assassinatos, etc. Esta
palavra é omitida nas versões Vulgata Latina e etíope. Estes são
os primórdios das dores, como de uma mulher grávida, como a
palavra significa, cujas dores anteriores, embora sejam o começo
e a promessa do que virá, não devem ser comparadas àquelas que
precedem imediatamente e acompanham o nascimento da crian-
ça; e assim todos aqueles problemas, que devem ocorrer algum
tempo antes da destruição de Jerusalém, seriam apenas pequenas,
mas leves aflições, o começo das dores em comparação com o
que deveria acontecer imediatamente antes e acompanhar aquela
desolação (veja Gill em Mateus 24.8).

297
J o h n Gill

13.9. Mas olhai por vós mesmos. Isso não dizendo respeito
tanto à sua doutrina e conversa, eles deveríam prestar atenção,
no sentido que essa frase às vezes é usada; mas a segurança de
suas pessoas e vidas; e o conselho é cuidarem de si, como eles
caíram nas mãos dos judeus perseguidores e se expuseram ao pe-
rigo, quando a qualquer momento isso poderia ser evitado; porque
vos entregarão aos concílios, seu sinédrio maior e menor, aquele
consistindo de setenta e uma pessoas, o outro de vinte e três, e o
menor de três apenas; e ante ao maior deles, Pedro e João foram
trazidos rapidamente após a ascensão de Cristo; e às sinagogas;
e sereis açoitado com quarenta chicotadas, exceto uma, como o
apóstolo Paulo foi cinco vezes; e sereis apresentados perante pre-
sidentes, governadores das províncias romanas, como o mesmo
apóstolo foi antes de Gálio, Festo e Félix; e reis, por amor de mim,
por professar a Cristo e pregar Seu Evangelho; como alguns dos
apóstolos foram, antes de Flerodes, Agripa, Nero, Domiciano e
outros; para lhes servir de testemunho, tanto contra os goveman-
tes e reis diante dos quais eles deveriam ser trazidos para dar teste-
munho de Cristo, quanto contra os judeus, que deveriam trazê-los
para lá (veja Gill em Mateus 10.18).
13.10. Mas importa que o evangelho seja primeiramente
pregado entre todas as nações. A versão Siríaca diz, “meu Evan-
gelho”; o Evangelho do qual Cristo foi o autor, sujeito e pregador;
este “deve ser publicado”. Havia a necessidade de sua promulga-
ção pela vontade de Deus, ordem e comissão de Cristo; e para a
reunião dos judeus, que eram os eleitos de Deus “entre todas as
nações” do mundo, especialmente no império romano; e aquele
“primeiro”, ou antes da destruição de Jerusalém (veja Gill em Ma-
teus 24.14).
13.11. Quando, pois, vos conduzirem e vos entregarem. Le-
varem a conselhos e tribunais de justiça e entregarem a reis e go-
vernantes, ao magistrado civil, para ser punido pelo braço secular;
não pense de antemão, não fique previamente ansioso e cuidado-

298
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 13

samente solícito, de uma forma angustiante; o que falareis a reis


e governantes, a título de desculpas por vós mesmos, e por vossa
própria inocência, e em defesa do Evangelho; nem premediteis,
ou “meditar”, como a generalidade das cópias lê; Beza diz em
uma cópia, “premeditar”, e assim em uma das de Stephens, como
a traduzimos; esta cláusula é omitida na Vulgata Latina, árabe e
etíope; mas o que quer que seja dado a você naquela hora, o que
quer que seja imediatamente sugerido aos seus pensamentos, seja
colocado em suas mentes e colocado em seus corações; que falais,
livre e corajosamente sem o medo dos homens; porque não sois
vós que falais, mas o Espírito Santo; eles eram apenas os instru-
mentos do Espírito Santo, falaram quando foram movidos por ele;
daí sua sabedoria e eloquência em sua autodefesa serem surpreen-
dentes, e seus argumentos fortes e irrespondíveis (veja Gill em
Mateus 10.20).
13.12. E o irmão entregará à morte filhos de carne e osso,
filhos dos mesmos pais, traiam-se e entregam-se mutuamente nas
mãos do magistrado civil para serem condenados à morte; e o pai
o filho; e os filhos se levantarão contra seus pais e os farão morrer;
coisas não naturais e chocantes (veja Gill em Mateus 10.21).
13.13. E sereis odiados por todos. Não apenas por seus ami-
gos e parentes de seus compatriotas, os judeus; mas de todos os ho-
mens, a generalidade dos homens, em todas as nações do mundo, de
onde quer que eles venham; por amor do meu nome, por causa de
Cristo e Seu Evangelho, eles professaram e pregaram; mas aquele
que perseverar censuras, aflições e perseguições pacientemente; ou
perseverar na fé de Cristo, na profissão de Seu nome e na pregação
de Seu Evangelho; até o fim de tais problemas, e da vida, 0 mesmo
será salvo, se não com uma salvação temporal, com uma salvação
eterna (veja Gill em Mateus 10.22 e 24.13).
13.14. Ora, quando vós virdes a abominação do assolamento.
O exército romano cercando Jerusalém, que era uma abominação

2!)!)
J o h n Gill

para os judeus e um “sinal impuro” de sua destruição, como as ver-


sões siríaca e persa o traduzem; e um desolador para sua nação,
cidade e templo, falado por Daniel, o profeta (9.27). Esta cláusula
é omitida na Vulgata Latina e não foi encontrada por Beza em duas
de suas cópias, acreditando-se que tenha sido transcrita de Mateus;
estando onde não deveria, ao redor da cidade, no meio dela, e até no
templo; em um dos exemplares de Beza é acrescentado, “no lugar
santo”, como em Mateus; e assim é lido na versão etíope; quem lê
entenda, ou a passagem em Daniel, ou a citação dela pelo evange-
lista quando ele vê isso acontecer; isso parece ser mais as palavras
do evangelista do que de Cristo, uma vez que isso não foi escrito
(e, portanto, não deve ser lido), mas falado por Cristo; e como Sua
frase usual era: “quem tem ouvidos, ouça”, e a mesma exortação
esteja em Mateus e possa ser entendida por Cristo, pois pode se re-
ferir à profecia escrita em Daniel e, de fato, ao Evangelho, que pode
ser lido antes deste evento acontecer (veja Gill em Mateus 24.15).
Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes; os que
estiverem em Jerusalém, ou em qualquer urna das cidades e vilas
da Judeia, fujam o mais rápido possível para as partes montanhosas
do país; onde eles podem estar mais protegidos das devastações do
exército romano (veja Gill em Mateus 24.16).
13.15. E o que estiver sobre o telhado não desça para casa.
Nas ameias da casa, seja para diversão ou devoção; não desça para
dentro de casa, no caminho interno pelas escadas, ou na escada
dentro das portas; nem entre, sendo descido do alto da casa, por
escada; a tomar coisa alguma de sua casa, cuidar de seus bens, ou
levar consigo qualquer coisa que possa ser útil em sua fuga, jorna-
da e permanência no exterior (veja Gill em Mateus 24.17).
13.16. E o que estiver no campo. No trabalho, em qualquer
tipo de negócio ali; não volte atrás, ou para sua própria casa, ou
melhor, para aquela parte do campo onde colocou suas roupas;
para tomar as suas vestes, mas deixe-o fugir sem elas, ou de outra
forma estaria em grande perigo (veja Gill em Mateus 24.18).
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 13

13.17. Mas ai das grávidas. Que devido a seus fardos, se-


riam muito inadequadas e muito incapazes de fugir com pressa; e,
portanto, muito sujeitas a cair nas mãos do inimigo e se tornarem
sua presa; e das que criarem naqueles dias, que não suportariam
deixar seus filhos para trás, e portanto não seriam capazes de car-
regá-los com elas; pelo menos não sem grandes problemas, que
retardariam muito sua fuga e colocariam em risco sua tomada pelo
inimigo (veja Gill em Mateus 24.19).
13.18. Orai, pois, para que a vossa fuga não suceda no in-
verno. Quando os dias são curtos, as estradas ruins, o tempo in-
clemente, e se hospedar nas montanhas é muito inconveniente e
desconfortável. A versão persa acrescenta, “nem no dia de sába-
do” (veja Gill em Mateus 24.20).
13.19. Porque naqueles dias haverá uma aflição. Com o cer-
co dos romanos; a fúria dos fanáticos e sediciosos; a raiva de di-
ferentes partidos entre os próprios judeus; a devastação da espada,
por dentro e por fora, junto a terríveis pragas e fomes; qual nunca
houve desde o princípio da criação, que Deus criou, até agora, nem
jamais haverá; do qual nunca houve igual em nenhuma época, e
não pode ter paralelo em nenhuma história, desde o início dos
tempos, ou o mundo foi feito, ou qualquer coisa nele, até aquele
período; nem jamais acontecerá algo semelhante a qualquer nação
em particular sob os céus, até o fim do mundo (veja Gill em Ma-
teus 24.21).
13.20. E , se o Senhor não abreviasse aqueles dias. Deter-
minou que aqueles dias de aflição seriam poucos e não durariam
muito; que o cerco não deve continuar por mais tempo, e as de-
vastações internas e externas devem ser prolongadas; nenhuma
carne se salvaria, não teria sobrado um judeu; mas, por causa dos
eleitos que escolheu, em Cristo, para a salvação eterna; que esta-
vam então no local, chamados ou não chamados, ou que surgiríam
em tempos sucessivos; abreviou aqueles dias; ele determinou que
Jo h n Gill

seriam poucos, para que um remanescente pudesse ser salvo, e


entre eles seus eleitos; ou de quem deveria descer, como ele ha-
via escolhido, quem deveria ser salvo com uma salvação eterna:
embora as pessoas em geral tenham sido entregues à cegueira e à
incredulidade, ainda assim são preservadas como um povo distin-
to no mundo; e nos últimos dias serão chamados e convertidos, e
todo o Israel será salvo, portanto foi a vontade de Deus abreviar
aqueles dias de aflição, para que não fossem totalmente elimina-
dos, mas para que alguns fossem deixados como um estoque para
as eras futuras (veja Gill em Mateus 24.22).
13.21. E então, se alguém vos disser. Durante aqueles dias
de tribulação e aflição, ou quando abreviados e no fim; Eis aqui o
Cristo; ou: Ei-10 ali, o Messias apareceu em tal ou tal lugar para
livrá-lo de suas angústias e calamidades nacionais, e do jugo e
escravidão romana; não acrediteis, não dê crédito a tal relatório,
pelo motivo a seguir (veja Gill em Mateus 24.23).
13.22. Porque se levantarão falsos cristos, e falsos profetas.
Como aconteceu antes e depois da destruição de Jerusalém; e farão
sinais e prodígios, como eles fingiram fazer, e fizeram, pelo menos
para a aparência das pessoas; para enganarem, se for possível, até
os escolhidos; que foram escolhidos em Cristo para a vida eterna;
em consequência disso, eles realmente acreditavam n ’Ele e eram
Seus seguidores constante; mas isso não era possível, embora tal
fosse a força de seu engano, que havia perigo aparente disso, não
fosse pelo poder e graça de Deus (veja Gill em Mateus 24.24).
13.23. Mas vós vede. A versão persa acrescenta, “deles”,
dos falsos cristos e falsos profetas; pois, embora os propósitos de
Deus, concernes à salvação de Seus eleitos, sejam insustentáveis,
Suas promessas são sim e amém; Sua Graça é eficaz e irresistível,
Seu poder é incontrolável, e a salvação de Seus escolhidos certa;
no entanto, toma-se para eles estar em guarda contra todo engano
e tentação, e fazer uso de todos os meios para sua perseverança;

302
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 13

eis que vos tenho predito todas as coisas; relativo à destruição


do templo, cidade e nação dos judeus; os sinais que viriam antes
disso, como os discípulos desejavam; as misérias e calamidades
que os acompanhariam e o perigo a que seriam expostos por meio
de falsos cristos e falsos profetas; e, portanto, seria indesculpável
se não observassem a cautela que Ele agora lhes dava; o que seria
uma prova de Sua onisciência e, portanto, um estabelecimento de-
les em Sua verdade como o Messias (veja Gill em Mateus 24.25).
13.24. Ora, naqueles dias, depois daquela aflição. Isto é,
depois da destruição da cidade e do templo de Jerusalém, e das
misérias e calamidades que a acompanhavam, nos tempos ime-
diatamente seguintes (veja Mateus 24.20); o sol escurecerá: então
a Shekinah, ou glória da majestade divina, foi retirada, e todos os
símbolos da presença divina se foram quando o templo foi des-
truído; e a lua não dará a sua luz, a lei cerimonial, que embora
abolida pela morte de Cristo, foi observada pelos judeus enquanto
o templo existisse; mas agora cessou, particularmente aquele seu
ramo principal: o sacrifício diário (veja Gill em Mateus 24.20).
13.25. E as estrelas cairão do céu. Os rabinos e doutores
judeus, que abandonaram a palavra escrita e compilaram seu
“Misna”, ou lei oral, seu livro de tradições, e o colocaram acima
do Bíblia, cujo fundamento foi lançado imediatamente após sua
dispersão. E os poderes que estão no céu serão abalados; as or-
denanças da dispensação legal, que foram abaladas antes, agora
sendo tão abaladas que foram removidas (compare Ageu 2.6 com
Hebreus 12.26; veja Gill em Mateus 24.29).
13.26. E então verão vir o Filho do homem nas nuvens.
Não pessoalmente, mas no poder de Sua ira e vingança, dos quais
os judeus então tinham uma evidência convincente e uma prova
completa; e até de Ele ter vindo em carne, como se o tivessem
visto pessoalmente; isso mostra que o sinal do filho do homem,
em Mateus 24.30, é o mesmo com o filho do homem vindo nas nu­
John GUI

vens com grande poder e Glória, não para julgamento, mas tendo
se vingado da nação judaica para estabelecer Seu Reino e Glória
no mundo gentio (veja Gill em Mateus 24.30).
13.27. E ele enviará os seus anjos, os ministros do Evangelho,
para pregá-lo e plantar mais igrejas entre os gentios, desde que a em
Jerusalém foi totalmente quebrada; e ajuntará os seus escolhidos,
isto é, Ele, o filho do homem, ou Cristo, os reunirá pelo ministério
de Seus servos; ou “eles os reunirão”, como diz a versão etíope; e
como Beza diz que é lido em uma certa cópia: esses ministros serão
o meio de reunir aqueles a quem Deus escolheu desde toda a etemi-
dade para obter a salvação por Cristo, fora do mundo e para Cristo,
e em um estado de igreja do Evangelho; desde a extremidade da
terra até a extremidade do céu, estejam onde quiserem, na terra e
sob todos os céus (veja Gill em Mateus 24.31).
13.28. Aprendei, pois, a parábola da figueira. Nosso Senhor
estava agora no Monte das Oliveiras, em uma parte da qual as
figueiras cresciam em abundância, e uma ou mais poderíam estar
próximas e à vista; e uma época do ano com a páscoa estando
próxima para ser realizada. Quando já o seu ramo se toma tenro;
suave e abrindo através da seiva agora em movimento; e brota
folhas dos ramos; bem sabeis que já está próximo o verão, de tal
aparência na figueira (veja Gill em Mateus 24.32).
13.29. Assim também vós. Esta é uma acomodação da pará-
bola para o presente caso: quando virdes sucederem estas coisas,
os sinais que precedem a destruição de Jerusalém, e especialmente
a abominação da desolação, ou o exército romano que a cerca,
sabei que já está perto, às portas; ou que a destruição de Jerusalém
está próxima, ou que o Filho do homem está pronto para se vin-
gar, ou, como em Lucas 21.31, o reino de Deus está próximo; ou
uma exibição mais gloriosa do poder real de Cristo na destruição
de Seus inimigos e uma maior divulgação de Seu Evangelho no
mundo gentio (veja Gill em Mateus 24.33).
C o m en tário bíblico cie M arcos - C ap. 13

13.30. Na verdade vos digo que não passará esta geração.


Não a geração dos homens em geral, ou dos judeus em particular,
nem dos cristãos; mas essa geração atual de homens, eles não de-
vem todos sair do palco da vida até que todas essas coisas sejam
feitas, que agora foram preditas por Cristo a respeito da destruição
de Jerusalém, os sinais dela e o que deveria segui-la imediatamen-
te (veja Gill em Mateus 24.34).
13.31. Passará o céu e a terra. O que pode ser entendido
afirmativamente, como o que acontecerá na segunda vinda de
Cristo; ou comparativamente, em vez do que qualquer coisa dita
por Cristo deveria; e assim mostra a certeza e irreversibilidade de
Suas previsões, como segue: mas as minhas palavras não passa-
rão; o que é verdade para todas as palavras já ditas por Cristo, aqui
se referindo particularmente àquelas que Ele acabara de entregar a
respeito das calamidades que deveríam cair sobre a nação judaica
(veja Gill em Mateus 24.35).
13.32. Mas daquele dia e hora. Da destruição de Jerusalém,
pois de nada mais Cristo estava falando; e, é claro, as palavras
são anafóricas e se relacionam com o que vem antes; ninguém
sabe, nem aqueles que viveram para vê-lo e falaram sobre isso
concordam sobre o dia específico em que ocorreu; muito menos
eles sabiam disso de antemão, ou podiam falar sobre isso e dar a
conhecer a outros; nem os anjos que estão no céu, que estão fami-
liarizados com muitos dos segredos divinos e têm se empenhado
em transmiti-los a outros e na execução de propósitos divinos;
nem o Filho, Cristo, como o Filho do homem, embora o conheces-
se como o Filho de Deus, que conhece todas as coisas, mas como
filho do homem, e de sua natureza humana, ele não tinha conhe-
cimento de nada futuro; o conhecimento que tinha de coisas fu-
turas em sua humanidade, Ele tinha de Sua divindade; nem como
homem ele teve qualquer comissão para dar a conhecer, nem deu
a conhecer o dia da vingança de Deus sobre os judeus; senão o
Pai, que tem os tempos e as estações em Seu próprio poder, para
J o h n G ill

a execução de qualquer julgamento particular sobre uma nação


(veja Gill em Mateus 24.36).
13.33. Olhai, vigiai e orai. Esta parece ser a principal razão
pela qual o dia e a hora da destruição de Jerusalém, embora co-
nhecidos pelo Pai, não foram revelados a nenhum homem, nem
aos anjos, nem por eles; nem ao Filho do homem nos dias da Sua
carne, nem por Ele quando na terra, para que Seu povo esteja em
guarda contra falsos cristos e profetas e seus enganos; e vigiem
em oração, e nela, para que não caiam em tentação, e aquele dia
venha sobre eles de surpresa; porque não sabeis quando será o
tempo, o tempo exato e preciso, pois, embora o povo de Deus
tivesse notado isso e fosse sensível, estava próximo e escapou de
Jerusalém; no entanto, eles não sabiam a hora exata, mas que po-
deria ser mais cedo ou mais tarde; e os judeus incrédulos foram
postos no escuro até o fim (veja Gill em Mateus 24.24).
13.34. E como um homem que, partindo para fora da terra,
deixou a sua casa. Ou este caso do filho do homem vindo para se
vingar da nação judaica é como um homem que faz uma jorna-
da para um lugar distante. Isso me faz lembrar de uma pergunta
feita pelos judeus: “o que hqwxr Krd, ‘uma jornada distante’ de
Modiim”. Modiim, de acordo com a Gemara e comentaristas nesta
passagem, era um lugar a quinze milhas de Jerusalém, de modo que,
de acordo com eles, quinze milhas foram consideradas uma longa
jornada. Deixou a sua casa, e seus bens nela, ao cuidado e admi-
nistração de outros durante sua ausência, e deu autoridade aos seus
servos para governar sua casa e exercer poder um sobre o outro, de
acordo com suas diferentes posições; e a cada um a sua obra, o que
deveríam fazer enquanto ele estava fora, para darem conta até que
voltasse; e mandou ao porteiro que vigiasse, sua casa, e tomasse
cuidado para que ela não fosse arrombada por ladrões e saqueada
da substância que estava nela. Então Cristo, quando ascendeu ao
alto, foi para o céu, a terra distante, e deixou Sua casa, Sua igreja,
particularmente na Judeia e em Jerusalém, aos cuidados de Seus

ID6
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 13

apóstolos, dando-lhes autoridade para governá-la segundo as leis,


regras e instruções prescritas por Ele, e designou a cada homem
seu trabalho particular, para os quais deu dons e habilidades apro-
priados; e ordenou ao porteiro que vigiasse, não apenas Pedro, mas
todos os apóstolos e ministros, cuja função era cuidar de si e das
almas dos homens confiados aos seus cuidados.
13.35. Vigiai, pois, contra falsos cristos e falsos profetas;
sobre vós mesmos e toda a igreja; pois as palavras são particular-
mente dirigidas aos discípulos de Cristo; porque não sabeis quan-
do virá o senhor da casa, quando Cristo, de quem toda a família
nos céus e na terra toma o nome, o qual é Filho em Sua própria
casa, é o Sumo Sacerdote da casa de Deus e Senhor da Sua igreja
e do Seu povo, a quem comprou com Seu sangue, e provê com
Sua Graça e por Seu Espírito quando vier para romper as relações
domésticas com os judeus, e trazer Sua ira sobre eles ao máximo;
se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã.
Isso está conforme a divisão da noite entre os judeus, que falam da
primeira vigília, do meio da noite, do canto do galo e da manhã,
como distintos um do outro. Os três primeiros deles nós temos em
uma passagem: “todos os dias eles tiram as cinzas do altar, rbgh
tayrqb, ‘no canto do galo’, ou perto dele, antes ou depois dele; e
no dia da expiação, twuhm, ‘à meia-noite’; e nos dias de festa, ‘à
primeira vigília” ’, o mesmo com a noite aqui, e em outros lugares
a manhã e o canto do galo são distinguidos; “para o último da
congregação, quanto tempo um homem pode comer e beber? Até
que a coluna da manhã suba (ou até que seja manhã)”, as palavras
de Rabino Eliezer ben Jacob; Rabino Simeon diz, “até o canto do
galo”. E assim a frase do canto do galo até a manhã é usada por
eles. Os romanos também dividiram a noite da mesma maneira: em
tarde, a calada da noite ou meia-noite, canto do galo e manhã. A
alusão parece ser ao tempo em que o presidente do templo entrou
nele, tendo a administração de seus assuntos, e de nomear a cada
sacerdote seu trabalho; diz-se: “quem quer remover as cinzas do

807
J o h n Gill

altar, levantou-se cedo e lavou-se antes que o presidente chegasse;


mas a que horas o presidente vem? Nem sempre a mesma, às vezes
ele vem, rbgh tayrqm , ‘no canto do galo’, ou perto dele, antes
ou depois dele; e o presidente vem e bate para eles, e eles abrem
para ele; e ele lhes diz: Quem se lavou, venha e lance a sorte; eles
lançam a sorte, e ele é digno quem ele considera digno”. Aqueles
que entendem essas palavras da vinda de Cristo pela morte, ou no
julgamento, aplicam essas estações às várias idades dos homens,
como infância, juventude, masculinidade e velhice.
13.36. Para que, vindo de improviso, impensado e inespera-
do, de surpresa; não vos ache dormindo, inativo no exercício da
Graça e negligente no cumprimento do dever; despreparado para
sua vinda e impróprio para o serviço.
13.37. E as coisas que vos digo. Os quatro discípulos, Pedro,
Tiago, João e André, que vieram a Ele em particular e Lhe fizeram as
perguntas que ocasionaram esse longo discurso (vejo Marcos 13.3).
Digo-as a todos; as versões siríaca e persa dizem “todos vocês”,
significando todo o resto de Seus apóstolos, e todos os Seus disci-
pulos e seguidores, em Jerusalém e em toda a Judeia, que estavam
preocupados com essas coisas, e a quem veio: Vigiai, e vigiai-os, e
rejeitai toda a preguiça e negligência; visto que eles não sabiam que
o filho do homem viria em breve, e todas essas coisas más seriam
trazidas sobre a nação, cidade e templo judaicos; e a mesma exorta-
ção é adequada aos santos em todas as épocas, tempos e lugares, por
causa das várias armadilhas, tentações e males aos quais estão su-
jeitos, a rapidez da morte e a incerteza da segunda vinda de Cristo.

Capímlo 14
14.1. E DALI a dois dias era a páscoa. Ou seja, dois dias de-
pois de Cristo ter proferido o discurso anterior sobre a destruição
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 14

do templo em Jerusalém, foi a festa da páscoa; que foi mantida


em comemoração à passagem de Deus pelas casas dos israelitas,
quando Ele destruiu os primogênitos do Egito e abriu caminho
para a libertação dos filhos de Israel dali; que foi mantido cornen-
do o cordeiro pascal; e que, propriamente falando, é a festa da
páscoa e de pão ázimo, o mesmo banquete com o outro, chamado
assim o pão sem fermento que era então comido; embora com
essa diferença, o cordeiro pascal só foi comido na primeira noite,
mas 0 pão ázimo foi comido por sete dias juntos. As versões siría-
ca, persa e etíope a traduzem como “a páscoa dos pães ázimos”,
deixando de fora o copulativo “e”. E os principais sacerdotes e os
escribas procuravam como o prenderíam com dolo; isto é, Jesus,
e O matariam, para qual propósito eles se reuniram no palácio do
sumo sacerdote de Caifás, e ali tomaram conselho sobre como
realizá-lo (veja Mateus 26.2).
14.2. Mas eles diziam: Não na festa. A festa da páscoa e dos
pães ázimos, que estava próxima, e seria dois dias depois, quando
haveria uma grande multidão de pessoas de todas as partes para
mantê-Lo lá: portanto não escolheram prendê-Lo e matá-Lo na-
quele momento, para não haver alvoroço do povo, ou entre eles,
para que não se levantassem a Seu favor e O resgatem de suas
mãos (veja Gill em Mateus 26.5).
14.3. E, estando ele em Betânia. Um lugar a cerca de três
quilômetros de Jerusalém, para onde Ele se retirou após se des-
pedir do templo e predizer sua destruição; um lugar para onde
Ele costumava ir e voltar na última semana de Sua vida; ter al-
guns amigos queridos, e familiares lá, como Lázaro e suas duas
irmãs, Marta e Maria, e a próxima pessoa mencionada; na casa
de Simão, o leproso; assim chamado porque ele tinha sido um, e
para distingui-lo de Simão, o fariseu, e Simão Pedro, o apóstolo,
entre outros (veja Gill em Mateus 26.6); enquanto Ele estava
sentado à mesa, veio uma mulher; geralmente pensado para ser
Maria Madalena, ou Maria, a irmã de Lázaro; tendo um vaso de
J o h n Gill

alabastro com unguento de nardo; ou “nardo puro”, não mis-


turado e genuíno; ou nardo líquido, que era potável e fácil de
ser derramado; ou Pistic nard, assim chamado, ou de “Pista”, o
nome de um lugar de onde foi trazido, ou de “Pistaca”, que, com
os rabinos, significa “maste”; dos quais, entre outras coisas, esta
pomada foi feita. Além disso, a pomada de nardo era feita tanto
das folhas de nardo, chamadas de nardo folheado, quanto de suas
pontas, e chamadas, como aqui, de nardo. Agora o unguento fei-
to de nardo era, como diz Plínio, o principal entre os unguentos.
O siríaco é, por ele, considerado o melhor; isso aqui é dito ser
muito precioso, caro e valioso. E quebrando o vaso; as versões
siríaca e etíope traduzem “ela abriu”; e a versão persa, “ela abriu
a cabeça”, ou “tampa da garrafa”, ou “frasco”; e derramou sobre
sua cabeça; na cabeça de Cristo, como a mesma versão o pres-
siona (veja Gill em Mateus 26.7).
14.4. E alguns houve que em si mesmos se indignaram. A
versão siríaca diz, “alguns dos discípulos”, concordando com Ma-
teus 26.8; particularmente Judas, e outros podem se irritar com
Seus meios; e disseram: Para que se fez este desperdício de un-
guento? (eja Gill em Mateus 26.8).
14.5. Porque podia vender-se por mais de trezentos dinhei-
ros. Que, para o valor do nosso dinheiro, nove libras, sete xelins
e seis pence; e dá-lo aos pobres, que se pensava ser uma maneira
melhor de gastá-lo do que derramá-lo na cabeça de Cristo. E mur-
muraram contra ela, que não deveria esbanjar tanto dinheiro de
maneira tão imprudente; eles a reprovaram por isso, expressaram
muito ressentimento e ficaram muito zangados com ela por causa
disso (veja Gill em Mateus 26.8-9).
14.6. Jesus, porém, disse: Deixai-a. Jesus conhecendo a
indignação secreta de alguns de seus discípulos, suas murmu-
rações privadas contra a mulher e suas contínuas provocações
devido ao gasto do unguento, disse a eles, como dizem as ver­
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 14

sões árabe e etíope; ou “para os discípulos”, como a persa, deixe


a mulher em paz, pare de repreendê-la pelo que fez; por que a
molestais? Por que você a entristece, acusando-a de imprudência
e extravagância, como se ela fosse culpada de um crime muito
grande? Ela está tão longe disso, pois fez um bom trabalho em
mim; ela fez-me boa obra; expressou fé e demonstrou amor por
mim, que devem ser elogiados, e não reprovados (veja Gill em
Mateus 26.10).
14.7. Porque sempre tendes os pobres convosco (veja Gill
em Mateus 26.11); e podeis fazer-lhes bem, quando quiserdes, ali-
mentando-os quando famintos, vestindo-os quando nus e suprin-
do-os com as necessidades da vida; mas a mim nem sempre me
tendes; ou seja, com relação à presença corporal d ’Ele que, em
pouco tempo, seria removida deles, e eles não teriam oportunida-
de de mostrar-Lhe pessoalmente nenhum respeito público (veja
Gill em Mateus 26.11).
14.8. Esta fe z o que podia. O que ela tinha em seu coração e
no poder de suas mãos para fazer; ela fez de acordo com sua capa-
cidade e sua boa vontade; e se ela não tivesse feito isso agora, ela
não poderia ter feito isso de forma alguma. Antecipou-se a ungir
o meu corpo para a sepultura; ou “como se fosse para me enter-
rar”, como a versão siríaca a traduz. Cristo significa com isso que
Ele deveria morrer em breve, e que essa mulher veio antes para
ungi-Lo e, por assim dizer, realizar os ritos funerários antes que
Ele morresse; sendo revelado a ela pelo Espírito que Jesus mor-
reria. rapidamente, e ela não seria capaz de realizar esta boa obra
quando morto e, portanto, veio fazê-la antes; ou foi pelo menos
dirigida pelo Espírito de Deus, porque seria impedida de fazê-lo
depois (veja Gill em Mateus 26.12).
14.9. Em verdade vos digo. E podeis assegurar-vos da ve-
racidade disto; em todas as partes do mundo onde este evange-
lho for pregado, da morte e ressurreição de Cristo, também o
J o h n Gill

que ela fez será coutado para sua memória, em memória dela
e de seu trabalho, e em elogio à sua fé, amor e dever (veja Gill
em Mateus 26.13).
14.10. E Judas Iscariotes, um dos doze. Apóstolos de
Cristo; que foi a principal pessoa que se indignou com a mu-
lher e murmurou contra ela pela profusão do unguento; foi ter
com os principais sacerdotes, assim que esse caso terminou,
e Cristo defendeu a conduta da mulher para sua vergonha e
silêncio; imediatamente saiu de casa onde eles estavam e par-
tiu de Betânia para Jerusalém; e entendendo que os principais
sacerdotes estavam em consulta na casa de Caifás, sobre como
prender Jesus e matá-lo, foi diretamente a eles, sem ser envia-
do e sem pensar neles; para lho entregar, o que Satanás havia
colocado em seu coração, e o que sua avareza e vingança pela
ação tardia da mulher e a defesa de Cristo a ela o levaram (veja
Gill em Mateus 26.14).
14.11. E eles, ouvindo-o, folgaram. Que tal oportunidade
oferecida, e de tal quarto, por um de seus próprios discípulos;
para que isso possa ser feito de forma mais secreta e eficaz, e
com menos culpa para si mesmos; e prometeram dar-lhe dinheiro,
qualquer soma que ele quisesse pedir; e o que foi acordado foram
trinta moedas ou siclos de prata; e assim a versão etíope aqui, em
vez de dinheiro, diz “trinta moedas de prata” (veja Gill em Mateus
26.15). E buscava como o entregaria em ocasião oportuna; após
esta promessa, e sobre este acordo; daí em diante ele buscou a
oportunidade mais adequada e o melhor momento para entregar
seu Mestre nas mãos desses homens, quando estivesse sozinho e a
multidão ausente, e não houvesse perigo de um tumulto ou resgate
(veja GUI em Mateus 26.16).
14.12. E, no primeiro dia dos pães ázirnos. Tendo chego,
que era o dia catorze de Nisan; quando sacrificavam a páscoa;
isto é, “os judeus”, como fornecem as versões siríaca e persa;

312
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 14

para qualquer israelita que não seja um sacerdote, podendo ma-


tá-la; seu cânon corre assim, “um israelita mata (a páscoa), e
um sacerdote recebe (o sangue) e dá a seu próximo, e seu pró-
ximo a seu próximo, e ele recebe (a bacia) cheia, e a devolve
vazia; o sacerdote perto do altar asperge -0 em uma aspersão,
sobre o seu fundo”. Sobre o que os comentaristas observam
o sacrifício da páscoa por estranhos, isto é, como não são sa-
cerdotes legais. E então Filo, o judeu, falando da páscoa, diz:
“momento em que as pessoas comuns não trazem seus sacrifí-
cios ao altar, e os sacerdotes matam; mas pelo comando da lei,
sumpan to evnov, ‘toda a nação’, faz o trabalho de um sacer-
dote; cada um trazendo particularmente os sacrifícios para si,
e então matando-os com suas próprias mãos” ; mas sempre era
sacrificado no pátio do templo e depois do meio-dia (veja Gill
em Mateus 26.17). Disseram-lhe os discípulos: Aonde queres
que vamos fazer os preparativos para comer a páscoa? Porque
já era quinta-feira de manhã, e a Páscoa devia ser imolada após
o meio-dia, entre as duas tardes, e comida em Jerusalém à noi-
te; e eles estavam agora em Betânia, perto de duas milhas da
cidade; e era comum os servos prepararem a páscoa para seus
senhores (veja Gill em Mateus 26.17).
14.13. E enviou dois dos seus discípulos. Pedro e João, como
aparece em Lucas 22.8; e disse-lhes: Ide à cidade; a cidade de
Jerusalém, pois somente ali a Páscoa pode ser comida (Deute-
ronômio 26.2); e um homem, que leva um cântaro de água, vos
encontrará, um servo do dono da casa que foi enviado para buscar
água, para misturar com o vinho na páscoa; segui-0 na casa para
onde vai.
14.14. E, onde quer que entrar. Em qualquer casa que ele
entrar, vão atrás dele; dizei ao senhor da casa, seu proprietário
e mestre, que pode ser Nicodemos, ou José de Arimateia, ou
algum homem notável e rico em Jerusalém, que pode ter algum
conhecimento de Cristo e fé n ’Ele, embora não a professasse
J o h n Gill

abertamente; já que, apenas dizendo o que se segue, os direcio-


naria imediatamente, como fez para uma sala adequada e con-
veniente. O Mestre diz; as versões siríaca e persa dizem, “nosso
mestre diz”; aquele que é seu e nosso Mestre Jesus, embora isso
não seja expresso, foi entendido pelo mestre da família; o que
confirma a conjectura acima, de que ele era um discípulo se-
ereto de Cristo. Onde está o aposento, a câmara fornecida para
convidados que poderíam ser esperados na páscoa; em que hei
de comer a páscoa com os meus discípulos? Em que isso possa
ser feito convenientemente e de maneira adequada e confortável
(veja Gill em Mateus 26.18).
14.15. E ele vos mostrará um grande cenáculo. Um quarto
na parte mais alta da casa, suficientemente grande para tal com-
panhia, para treze pessoas, que era o número de Cristo e Seus
discípulos; mobiliado e preparado, com uma mesa e um número
suficiente de lugares para sentar ou deitar, e com todos os uten-
sílios apropriados necessários em tal ocasião: ali preparai-a para
nós, a páscoa.
14.16. E, saindo os seus discípulos. Os dois discípulos,
como diz a versão árabe, Pedro e João, partiram diretamente de
Betânia para Jerusalém; foram à cidade, a cidade de Jerusalém; e
acharam como lhes tinha dito, um homem carregando um cânta-
ro de água, a quem eles seguiram até a casa em que entrou, e se
dirigiram ao dono da casa, como Jesus havia ordenado; quando
ele lhes mostrou um cenáculo muito espaçoso e adequado para o
propósito, como Cristo havia dito; que é uma prova considerável
da presciência de Cristo; e prepararam a páscoa, compraram um
cordeiro, o mataram no templo conforme a regra, trouxeram-no
para a casa onde iriam cear, e assaram-no; e providenciaram pão
sem fermento, vinho e ervas amargas, e tudo o que era apropriado
para o banquete (veja Gill em Mateus 26.19).
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 14

14.17. E, chegada a tarde, fo i com os doze. A tarde, como


é bastante razoável supor, Cristo partiu de Betânia com o restan-
te dos doze, com os outros nove, e chegou a Jerusalém; onde se
juntaram a eles Judas, que havia feito convênio com os principais
sacerdotes para traí-Lo, e Pedro e João, que haviam sido enviados
antes para preparar a páscoa; e quando anoiteceu, quando a segun-
da noite aconteceu, Ele foi com todos os doze para a casa, onde a
provisão para comer a páscoa juntos foi feita para eles (veja Gill
em Mateus 26.20).
14.18. E, quando estavam assentados a comer. Ou “enquan-
to se deitavam”; pois essa era a postura deles ao comer a páscoa
(veja Gill em Mateus 26.20); disse Jesus: Em verdade vos digo
que um de vós, que comigo come, há de trair-me (veja Gill em
Mateus 26.21).
14.19. E eles começaram a entristecer-se. E ficaram assim,
todos menos Judas, com esta palavra de Cristo; e a dizer-lhe um
após outro, mesmo até chegar ao próprio Judas: Sou eu? Isso o
trairia; e outro disse: Sou eu? Esta cláusula está faltando nas ver-
sões Vulgata Latina, siríaca, árabe, persa e etíope, e em duas das
cópias de Beza; e de fato parece redundante, uma vez que se diz
que os discípulos se expressaram dessa maneira, um após o outro
(veja Gill em Mateus 26.22).
14.20. Mas ele, respondendo, disse-lhes. A fim de aliviar
suas mentes e apontar a pessoa em particular. E um dos doze, que
põe comigo a mão no prato (veja Gill em Mateus 26.23).
14.21. Na verdade o Filho do homem vai fora deste mundo
pela morte, como está escrito; tanto no livro dos decretos de Deus
quanto nas Escrituras do Antigo Testamento; mas ai daquele ho-
mem por quem o Filho do homem é traído! Cujo pecado não será
desculpado, nem diminuído pelo cumprimento dos decretos de
Deus e pelo cumprimento das profecias da Bíblia; Bom seria para

31.5
J o h n Gill

o tal homem não haver nascido, tão agravante sendo seu crime,
tão terrível sua punição (veja Gill em Mateus 26.24).
14.22. E, comendo eles. O cordeiro pascal e o pão ázimo,
apenas na conclusão daquela festa; tomou Jesus pão e, aben-
çoando-o, o partiu, começando e instituindo uma nova festa a ser
mantida posteriormente em respeito a seus sofrimentos e morte,
agora próximos; e deu-lho, aos discípulos, e disse: Tomai, co-
mei, a palavra comer não está nas versões da Vulgata Latina,
siríaca, árabe, persa e etíope, e está faltando em algumas cópias;
isto é o meu corpo, uma figura e representação dele (veja Gill em
Mateus 26.26).
14.23. E, tomando o cálice, e dando graças. Sobre ele, e
por ele, abençoando-o e apropriando-se dele para o presente uso e
serviço; deu-lho, a Seus discípulos, e todos beberam dele; Judas,
assim como o resto, como ele ordenou que fizessem (veja Gill em
Mateus 26.27).
14.24. E disse-lhes. Não após terem bebido, mas antes, e
quando deu a eles; Isto é o meu sangue, o sangue do novo testa-
mento, que por muitos é derramado; em Mateus é acrescentado,
“para a remissão dos pecados” (veja Gill em Mateus 26.28).
14.25. Em verdade vos digo. Isso parece ter sido dito após
comerem a páscoa, de acordo com Lucas 22.18, mas foi, na rea-
lidade, não até depois que a ceia do Senhor terminou, e o último
copo foi bebido, que era para ser bebido na páscoa; que não be-
berei mais do fruto da vide, isto é, o vinho, até àquele dia em que
o beber, novo, em sentido figurado e místico, pelo qual se enten-
dem as alegrias do céu; no reino de Deus; Pai, Filho e Espírito na
ressurreição geral dos mortos, quando o reino do Mediador for
entregue e não houver distinção de governo; mas Deus Pai, Filho
e Espírito será tudo em todos, e reinará nos santos e com eles por
toda a eternidade (veja Gill em Mateus 26.29).

316
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 14

14.26. E, tendo cantado o hino. O Hillel, usado na páscoa;


saíram para o Monte das Oliveiras, Cristo e onze de Seus discípu-
los, pois Judas agora se separou deles e foi aos principais sacerdotes
para informá-los de como estavam as coisas, para onde Jesus estava
indo e onde eles poderíam prendê‫־‬L0 (veja Gill em Mateus 26.30).
14.27. E disse-lhes Jesus. Enquanto iam para o Monte das
Oliveiras. A versão persa lê, neste lugar, significando o Monte das
Oliveiras. Todos vós esta noite vos escandalizareis em mim (veja
Gill em Mateus 26.31); pois está escrito em Zacarias 13.7. Ferirei o
pastor, e as ovelhas se dispersarão; Cristo é entendido como pastor,
e os apóstolos como ovelhas. A versão siríaca diz “suas ovelhas”.
14.28. Mas, depois que eu houver ressuscitado. Dos mor-
tos, que, para seu conforto, Ele os assegura; embora ficassem
ofendidos e desencorajados ao apreendê-Lo, condená-Lo e cru-
cificá-Lo; irei adiante de vós para a Galileia, o local de sua na-
tividade e onde Ele frequentemente conversava com eles (veja
Gill em Mateus 26.32).
14.29. E disse-lhe Pedro. Muito comovido com o que Cristo
havia dito, que todos eles se escandalizariam com Ele naquela
noite, fugiríam d’Ele e se espalharam dele e uns dos outros. Ain-
da que todos se escandalizem, nunca, porém, eu; embora todo o
resto dos discípulos, os outros dez, fizessem o que Judas havia
feito, caíssem de Cristo e o traíssem ou negassem, ou, pelo menos,
virassem as costas para Ele, Pedro não faria nada (veja Gill em
Mateus 26.33).
14.30. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo. Tão confian-
te como estás de estar e habitar Comigo; que hoje, que foi então
iniciado, pois os judeus contavam seus dias desde a noite, como
em Gênesis 1.5; nesta noite, esta para ser observada, esta noite
da páscoa, antes que passe; antes que o galo cante duas vezes,
pois houve um primeiro e um segundo canto do galo, um à meia-
-noite e outro perto do raiar do dia, e o último é propriamente

317
J o h n Gill

o canto do galo; a palavra “duas vezes” é deixada de fora na


versão etíope; três vezes me negarás, como ele fez (veja Gill em
Mateus 26.34).
14.31. Mas ele disse com mais veemência. Com uma voz
mais alta; com mais espírito e entusiasmo; de forma mais pe-
remptória e autoconfiante. Ainda que me seja necessário morrer
contigo, de modo nenhum te negarei. A versão siríaca acrescen-
ta: “Ó meu Senhor”, meu querido Senhor, nunca te negarei sob
qualquer consideração; e a versão persa, “ó Senhor”. E da mes-
ma maneira diziam todos também, como ele disse, assim disse
“todos os discípulos”, como diz a versão siríaca (veja Gill em
Mateus 26.35).
14.32. E foram a um lugar chamado Getsêmani. Ao pé do
Monte das Oliveiras, onde as azeitonas, que cresciam em grande
abundância no monte, eram esmagadas; e onde nosso Senhor co-
meçou a ser esmagado por nossos pecados; e disse aos seus disci-
pulos, a oito deles: Assentai-vos aqui, enquanto eu oro; a alguma
distância dali (veja Gill em Mateus 26.36).
14.33. E tomou consigo a Pedro, e a Tiago, e a João. Os
quais foram testemunhas de Sua transfiguração no monte, e agora
de Suas dores no jardim; e começou a ter pavor, e a angustiar-se;
estar em grande consternação e espanto ao ver todos os pecados
de Seu povo caindo sobre Ele na tempestade negra de ira que es-
tava se acumulando; na espada da justiça que foi brandida contra
Ele; e nas maldições da lei justa que, como tantos raios de vingan-
ça, foram dirigidas a Ele; não é de admirar que deva ser acrescen-
tado ser muito pesado, ambos com pecado e tristeza (veja Gill em
Mateus 26.37).
14.34. E disse-lhes, aos três discípulos citados acima: A
minha alma está profundamente triste até a morte; Ele estava
cercado de tristeza, e isso O pressionava com tanta força por
todos os lados, que Ele estava pronto para morrer com ela; ficai
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 14

aqui, e vigiai; em Mateus é acrescentado: “comigo” (veja Gill


em Mateus 26.38).
14.35. E, tendo ido um pouco mais adiante. Na distância de
uma pedra (Lucas 22.41), prostrou-se em terra; e orou; ele caiu de
cara no chão, o que era uma postura de oração. Um dos cânones
judaicos a respeito disso é este: “Adoração, como é feita? Depois
que um homem levantou a cabeça; ele a curvou cinco vezes, sen-
tou-se no chão e ‘caiu sobre o rosto’, hura, ‘no chão’, e súplica
com qualquer súplica ele agrada; adorar, ou curvar-se, é estender
as mãos e os pés até que um homem seja encontrado prostrado
com o rosto no chão” (veja Gill em Mateus 26.39). A súplica que
Cristo fez nesta postura foi para que fosse possível, a hora passaria
por Ele; o tempo fixado e acordado para Seus sofrimentos e morte;
isto é, que podería passar sem que Ele os suportasse caso houvesse
alguma possibilidade de desculpá-Lo, e de Seu povo ser salvo sem
eles (veja Gill em Mateus 26.39).
14.36. E disse: Aba, Pai. No texto original, o primeiro deles
é uma palavra siríaca, e o último grego, explicativo do primeiro,
como em Romanos 8.15 e Gálatas 4.6, ou a repetição é feita para
expressar a veemência de Sua afeição e Sua forte confiança em
Deus como Seu Pai, em meio a Sua angústia, como a versão siría-
ca a traduz, yba aba, “Abba, meu Pai”; ou “meu Pai, meu Pai”; e
assim a versão etíope; todas as coisas te são possíveis; então Filo,
o judeu, observando a pergunta de Isaque sobre o holocausto e a
resposta de Abraão a ela, representa o último como acrescentando,
em confirmação disso, “todas as coisas são possíveis para Deus,
e são difíceis e impossíveis de serem feitas pelos homens”, suge-
rindo que Deus poderia facilmente fornecer um cordeiro para um
sacrifício; e Cristo aqui sugere que todas as coisas consistentes
com Suas perfeições, conselhos e aliança eram possíveis de serem
feitas por Ele; e até que ponto o que Ele ora era agradável a estes,
se submete a Ele e à Sua vontade soberana; afasta de mim este
J o h n Gill

cálice; não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres (veja
Gill em Mateus 26.39).
14.37. E, chegando, achou-os dorm indo. Seus três disci-
pulos, Pedro, Tiago e João; e disse a Pedro, particularmente, ele
tendo afirmado recentemente, com tanta confiança, seu amor a
Cristo e apego próximo a Ele: Simão, dormes? Cristo 0 chama
pelo nome pelo qual ele passou pela primeira vez, e não pelo
que Ele lhe dera, Cefas ou Pedro; ele agora não tinha aquela
firmeza e constância, embora se gabasse disso, o que responde a
esse nome. Não podes vigiar uma hora? As versões árabe e persa
acrescentam, comigo; assim como a edição Complutense (veja
Gill em Mateus 26.40).
14.38. Vigiai e orai, p a r a que não entreis em tentação. De
negar a Cristo e cair d ,Ele, o que rapidamente oferecería a eles
quando O vissem preso, amarrado e levado embora. O espírito
realmente está pronto. A versão persa a traduz como “minha
mente”; como se o Espírito ou alma de Cristo fosse significado;
considerando que deve ser entendido pelo espírito maligno, Sa-
tanás, que estava disposto a atacá-los, e especialmente a Pedro,
a quem ele desejava ter e peneirar como trigo; ou então o espí-
rito dos discípulos, seu espírito renovado, que estava pronto e
disposto, vigiando e orando disposto a permanecer em Cristo;
mas a carne é fraca; eles eram apenas carne e sangue e, por-
tanto, não eram páreo para um adversário tão poderoso quanto
Satanás, precisavam vigiar e orar; ou “seu corpo”, como as ver-
sões siríaca, árabe e persa o traduzem, era fraco e sujeito à so-
nolência e ao sono; e especialmente eles eram fracos e débeis, e
muito desiguais de si mesmos para exercícios espirituais, pois
tinham a carne ou uma natureza corrupta neles (veja Gill em
Mateus 26.41)
14.39. E fo i outra vez e orou. Para o mesmo lugar, ou a uma
distância muito maior deles, como antes; dizendo as mesmas pa­

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C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 14

lavras, ou palavra, isto é, o mesmo assunto; pois logov, aqui, res-


ponde a rbd, que significa uma coisa ou matéria, bem como pa-
lavra; Cristo orou com o mesmo efeito, por matéria e substância
como antes, embora não nas mesmas palavras expressas, como
fica claro em Mateus 26.39.
14.40. E, voltando, achon-os outra vez dorm indo. Não obs-
tante a advertência que Ele usou com eles, a exortação que lhes
deu e o perigo que os sugeriu; pois seus olhos estavam pesados
com sono e tristeza, nem sabiam o que responder-Lhe; em parte
por confusão e vergonha, não sabendo como se desculpar; e em
parte por estarem estupefatos com o sono e a dor.
14.41. E voltou terceira vez. Após ter orado pela terceira vez,
com o mesmo significado de antes; e disse-lhes: Dormi agora, e
descansai, quais palavras são ditas ironicamente é o suficiente;
ou “chegou o fim”, como as versões siríaca e árabe traduzem de
vigiar e orar. Basta; é chegada a hora. Eis que o Filho do homem
vai ser entregue nas mãos dos pecadores; judeus e gentios, por um
de seus próprios discípulos (veja Gill em Mateus 26.45).
14.42. Levantai-vos, vam os. Para enfrentar o inimigo e o pe-
rigo; pois não há como escapar; eis que está perto o que me trai,
Judas, que havia insinuado no jantar que deveria traí-Lo, agora
estava prestes a fazê-lo; e agora estava vindo sobre ele, a fim de
entregá-lo nas mãos dos judeus e do bando de soldados romanos
(veja Gill em Mateus 26.46).
14.43. E logo, fa la n d o ele a in d a as palavras acima, veio
Judas, que era um dos doze apóstolos de Cristo, e que foi um
agravamento de sua maldade; as versões da Vulgata Latina,
siríaca, árabe, persa e etíope acrescentam “Iscariotes”; e assim
é lido em uma das cópias de Beza; a versão etíope diz, “um dos
dez”, muito erradamente. E com ele uma grande multidão; um
grupo de homens e oficiais, com muitos dos principais sacer-
dotes e capitães do templo, e anciãos do povo, que se mistura-
J o h n Gill

ram com a multidão, para ver como as coisas iriam acontecer;


com espadas e varapaus; que eles pretendiam fazer uso, caso
houvesse qualquer resistência em prendê-Lo ou qualquer ten-
tativa de resgatá-Lo; dos principais sacerdotes, dos escribas e
dos anciãos; do sinédrio judeu, que consistiam eles (veja Gill
em Mateus 26.47).
14.44. Ora, o que o traía, tinha-lhes dado um sinal. Um sinal
comum, no qual eles concordaram; e assim esta mesma palavra
grega é usada pelos judeus, “disse rabino Phinehas, em nome de
Rabino Reuben, você já viu um homem sair do norte, e outro do
sul, e se encontrarem, exceto que eles fizeram, anmyo, ‘um sinal
comum’, entre eles”; a tal o traidor deu sua companhia; dizendo:
Aquele que eu beijar, esse é Jesus de Nazaré, quem deveria ser
entregue a eles; prendei-o, e levai-0 com segurança, com cuidado
e cautela, para que Ele não escapasse de suas mãos, como às vezes
fazia; as palavras “com segurança” são omitidas nas versões ára-
be, persa e etíope. A Vulgata Latina as traduz “cautelosamente”,
assim como a versão siríaca, que a une às palavras “leve-o” (veja
Gill em Mateus 26.48).
14.45. E, logo que chegoiq ao lugar onde Jesus estava; apro-
ximou-se dele, sozinho, como se ele não tivesse nada a ver com a
multidão por trás, e como se fosse Seu amigo e preocupado com
Sua segurança; e disse-lhe: Rabi, Rabi, expressando grande afei-
ção e respeito por Ele, repetindo esta palavra. A versão etíope tem
apenas uma vez e, portanto, dois exemplares de Beza; e a Vulgata
Latina diz: “salve, Mestre”, como em Mateus 26.49. E beijou-o
(veja Gill em Mateus 26.49).
14.46. E lançaram suas m ãos sobre ele, e o p re n d e ra m .
Depois que Cristo disse a Judas: “A m ig o , a que v ie ste ?” Como
em Mateus 26.50; e também: “J u d a s, com um beijo trais o F ilho
do h o m em ? '’’ Como em Lucas 22.48 (veja Gill em Mateus 26.50).

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C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 14

14.47. E um dos que ali estavam presentes. Um dos discípu-


los que estavam com Jesus, quando Judas o estava traindo, e os
soldados o prenderam, por nome Pedro, puxando da espada, feriu
o servo do sumo sacerdote, e cortou-lhe uma orelha; sua orelha di-
reita, e o nome do servo era Malchus (veja Gill em Mateus 26.51).
14.48. E. respondendo Jesu s , disse-lhes. Aos principais sa-
cerdotes, capitães do templo e anciãos, que vieram com o bando e
oficiais, como aparece em Lucas 22.52; a versão persa diz, “para
a multidão”. Saístes com espadas e varapaus a prender-me, como
a um salteador? (Veja Gill em Mateus 26.55)
14.49. Todos os dias estava convosco ensinando no templo.
Isto é, por vários dias passados, desde que ele fez sua entrada pú-
blica em Jerusalém, ensinou o povo, de forma pública; e não me
prendestes, não tentaram colocar as mãos n ’Ele, agarrá-Lo e levá-
-Lo embora; o que significa que poderia ter sido feito facilmente
(veja Gill em Mateus 26.55). Mas isto é para que as Escrituras se
cumpram, que falavam da traição por Judas; e de levá-lo dessa
maneira privada e secreta; e da fuga dos discípulos mencionada
em seguida (veja Gill em Mateus 26.56).
14.50. Então, deixando-o, todos fu g ira m . Ou seja, seus dis-
cípulos, como leem as versões Vulgata Latina, siríaca, árabe, per-
sa e etíope; e parecem tê-lo transcrito de Mateus, e para que não
se pense que a multidão a quem Cristo se dirigiu foi pretendida.
14.51. E certo jo v e m o seguia. Alguns pensam que este era
João, o discípulo amado, e o mais jovem dos discípulos; outros,
que era Tiago, irmão de nosso Senhor; mas não parece ser ne-
nhum dos discípulos de Cristo, uma vez que se distingue mani-
festamente deles, que todos o abandonaram e fugiram; alguns
pensaram que ele era um jovem da casa onde Cristo e Seus dis-
cípulos comeram sua páscoa, que o seguira até o jardim, e ainda
o seguia, para ver qual seria o problema; mas parece mais prová-
vel que ele fosse alguém que morava em uma casa no Getsêma-
J o h n Gill

ni, dentro ou perto do jardim; que sendo acordado do sono com


o barulho de um bando de soldados e outros com eles, saltou da
cama, correu e os seguiu, para saber o que estava acontecendo;
envolto em um lençol sobre o corpo nu; que era sua camisa,
com a qual estava deitado, ou um dos lençóis que ele pegou e se
envolveu, não ficando para vestir suas roupas; embora a palavra
“Sindon” seja usada tanto pelos Targumistas quanto pelos Tal-
mudistas para uma roupa de linho; e às vezes até para a roupa
exterior, à qual as franjas foram presas; e ele pode pegar isso
com pressa e colocá-lo, sem colocar nenhuma roupa inferior; a
palavra “corpo” não está no texto, e a frase epi gum nou pode ser
traduzida como “sobre sua nudez”; e responde a dois, em Gêne-
sis 9.23; Levítico 20.11, e o significado é que ele tinha apenas
um pedaço de linho enrolado no meio, para cobrir sua nudez;
e neste traje saiu correndo para ver o que estava fazendo. E os
jovens lançaram-lhe a mão; os soldados romanos, que eram co-
mumente chamados; então os soldados de Davi são chamados de
“jovens”, que estavam com ele (1 Samuel 21.4); estes tentaram
se apoderar desse jovem, tomando-o por um discípulo de Cristo,
ou pelo menos afetado por ele, e se apoderaram de seu pano de
linho. As versões da Vulgata Latina, siríaca, árabe e persa dei-
xam de fora as palavras “os jovens”. O objetivo de Marcos ao
relatar esse incidente é mostrar a raiva e a fúria desses homens;
que não pouparam ninguém que parecesse ser ou fosse conside-
rado o seguidor de Cristo; de modo que a preservação dos dis-
cípulos foi inteiramente devida ao maravilhoso poder de Cristo.
14.52. Mas ele, largando o lençol, “nas mãos deles”, assim a
versão persa traduz; assim como José deixou sua roupa nas mãos
de sua amante (Gênesis 39.12); e fugiu deles nu, para a casa de
onde ele veio. As versões siríaca, árabe, persa e etíope omitem as
palavras “deles”.
14.53. E levaram Jesus ao sumo sacerdote, Caifás, como
é acrescentado nas versões siríaca, árabe e persa. Isso foi feito
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ״‬C ap. 14

depois que eles pegaram Jesus e O amarraram, e depois que O le-


varam a Anás, que O enviou amarrado a Caifás (veja João 18.12);
e com ele, o sumo sacerdote Caifás, ajuntaram-se todos os princi-
pais sacerdotes, e os anciãos e os escribas; até que todo o sinédrio
se reuniu na casa de Caifás, e ali esperava Jesus, a quem Judas,
com seu bando de soldados e outros, foram proteger e trazê-Lo
diante deles (veja Gill em Mateus 26.57).
14.54. E Pedro o seguiu de longe. E o fez outro discípulo,
talvez João (18.15), que, tendo se recuperado um pouco do medo,
voltaram e seguiram Jesus e a companhia que O levou embora;
mantendo-se a alguma distância, para que não fossem vistos e
expostos ao perigo; e prosseguiram até chegarem a Jerusalém e
ao local onde o sinédrio estava reunido, e o outro discípulo en-
trou com Jesus; e Pedro depois, por meio dele, entrou até dentro
do pátio do sumo sacerdote, sendo deixado entrar por aquela
que guardava a porta a pedido do outro discípulo, e sentou-se
com os servos como se fosse um deles, e não tivesse nenhuma
preocupação com Jesus, se aquecendo ao fogo, ou “luz”, como
significa a palavra grega, e responde à palavra hebraica rwa,
pela qual ambos luz e fogo são expressos; dos quais, de uma ou
duas instâncias, na sala de muitos: “um assassino que golpeia
seu vizinho com uma pedra, ou com ferro, e o mergulha na água,
ou em rwah, “fogo”, de modo que ele não possa sair, e morra, é
culpado”. Novamente, um “livro que rwah, ‘fogo’, pega de um
lado, ele coloca água do outro; e se for apagado, é apagado; se
o ‘fogo’ pegar dos dois lados, ele o abre e lê; e se for extinto, é
extinto; um manto que ‘fogo’ pega de um lado, ele coloca água
do outro lado; e se for extinto, é extinto; se o ‘fogo’ pega -0 de
ambos os lados, pega -0 e envolve-se nele, e se for apagado, é ex-
tinto”. Então lemos de Mnhyg Iv rwa, “o fogo do inferno”; e Ur
dos caldeus tem o nome do fogo, que era adorado lá, como um
símbolo do sol; e o fogo era o rwa, ou “luz”, criado no primeiro
dia (Gênesis 1.3; veja Gill ern Mateus 26.58).

323
J o h n G ill

14.55. E os p r in c ip a is sa cerd o tes e todo o con cilio . Espe-


cialmente os primeiros, que eram de Iodos os mais ocupados e
ativos neste assunto; buscavam algum testemunho contra Je-
sus, para o matar, em que eles foram determinados certos ou
errados; nisso eles foram contrários a um de seus próprios câ-
nones, que funciona assim: “nas causas pecuniárias, começam
pela absolvição ou condenação; mas nas causas capitais, co-
meçam pela absolvição, e não pela condenação”. Ou seja, eles
começaram com as evidências que tendiam a absolver um ho-
mem, e não com as que serviam para condená-lo; considerando
que este tribunal estava apenas procurando por tais evidências
para começar, para que eles pudessem condenar Jesus à morte;
e não o achavam, isso respondendo ao seu propósito (veja GUI
em Mateus 26.59).
14.56. P orque m uitos testificavam fa lsa m en te contra ele
muitas coisas a Seu cargo; mas os testemunhos não eram coe-
rentes; o que mostrou que era falso e, portanto, não deveria ser
admitido; pois as testemunhas deveríam ser como uma em seu
testemunho, ou não serem recebidas; as regras a respeito delas
com os judeus são estas: “a tradição é, para sempre, que seu
testemunho não seja unido, a menos que ambos vejam, dxak,
‘como um’; diz Rabino Joshua ben Korcha, mesmo um após o
outro; e seu testemunho não é ratificado no conselho, até ambos
testemunham ‘como um ”’. Embora esse não seja o sentido da
passagem aqui; não foi a falsidade de seu testemunho, com a
qual este concilio não se preocupou, ou a contradição que havia
nele, que não aparece; mas seus testemunhos não foram, isai,
“iguais”, ou responsáveis pelos desejos do conselho; não eram
suficientes para provar um crime capital contra Ele, a fim de
condená-Lo à morte, que era o que eles queriam; eles apenas
respeitavam alguns assuntos leves e triviais, e não constituíam
acusação de blasfêmia ou sedição.
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 14

14.57. E, levantando-se alguns. Duas testemunhas falsas,


como em Mateus 26.60, que se levantou no tribunal; pois as teste-
munhas eram obrigadas a permanecer em pé enquanto davam seu
depoimento; “diz Rabino Bo, em nome de Rabino Fiona, as tes-
temunhas devem permanecer, ‘ficar de pé’, enquanto prestam tes-
temunho; como é dito (Deuteronômio 19.17). ‘Ambos os homens
permanecerão’, etc.”. Testificaram falsamente contra ele, dizendo,
como segue.
14.58. N ós ouvim o s-lh e dizer, em um discurso d ’Ele, re-
gistrado em João 2.19: Eu derrubarei este templo, construído
por mãos de homens, e em três dias edificarei outro, não feito
por mãos de homens; que foi um testemunho muito falso, pois
Cristo não disse que destruiría nenhum templo, apenas colocaria
os judeus para fazê-lo; muito menos ele apontou ou projetou o
templo de Jerusalém, mas Seu próprio corpo; nem Ele usou a
distinção de um templo, feito com e sem mãos; nem afirmou que
construiría outro; apenas disse que levantaria em três dias aquilo
que eles deveríam destruir. Por esse testemunho, essas testemu-
nhas sugeriríam que Cristo tinha um desígnio em seu templo
para demoli-lo, e que Ele deveria ser um feiticeiro ou mágico
para fingir construir um templo sem mãos em três dias (veja Gill
em Mateus 26.61).
14.59. E nem assim o seu testem unho era coerente. O tes-
temunho deles concordou, pois ambos testemunharam a mesma
coisa; mas não de modo a fundamentar a acusação de um crime
capital contra Ele; seu testemunho não era assim, ish, “igual”, não
respondia aos seus desejos, nem era suficiente para condená-Lo
por um crime capital, pelo qual eles poderíam condená-Lo à mor-
te, como antes observado em Marcos 14.56.
14.60. E, levantando-se o sum o sacerdote no Sinédrio. Do
sinédrio do qual ele agora era presidente; ele se sentou à frente
deles, e Ab Beth Din, ou o pai do conselho, à sua mão direita;
J o h n G ill

e o resto do conselho sentou-se diante dele, em forma semicir-


cular, como a metade de um chão de milho redondo, para que ο
presidente e o pai do conselho pudessem vê-los; pois todos esta-
vam diante dele, estando ele situado no meio, bem contra eles; de
modo que, quando ele se levantou, pode-se dizer que ele estava
no meio deles; perguntou a Jesus, dizendo: Nada respondes? Pois
Ele não havia respondido às várias testemunhas, que vieram con-
tra Ele: Que testificam estes contra ti? Isso e verdadeiro ou falso?
(Veja Gill em Mateus 26.62).
14.61. M as ele calou-se, e nada respondeu. Sabendo que se-
ria inútil, e significando por meio deste que as coisas alegadas
contra Ele eram indignas de uma resposta; O sumo sacerdote lhe
tornou a perguntar, e disse-lhe: Es tu o Cristo, Filho do Deus Ben-
dito? A Vulgata Latina acrescenta, “Deus”; em Mateus é “Deus”
somente (Mateus 26.63). Este é um dos nomes e epítetos de Deus
com os judeus; nada é mais comum em seus escritos do que esta
abreviatura, hbqh, que é, awh Kwrb vwdqh, “o santo abençoa-
do”; que é abençoado em si mesmo, e a fonte de todas as bênçãos
para suas criaturas; e é abençoado e louvado por anjos e santos
(veja Gill em Mateus 26.63).
14.62. E Jesus disse-lhe: E u o sou. Isto é, o Filho de Deus;
em prova do que Ele acrescenta: e vereis o Filho do homem as-
sentado à direita do poder de Deus, que é todo o poder, o Senhor
Deus Todo-Poderoso; e vindo sobre as nuvens do céu, seja na des-
truição de Jerusalém ou no último dia, referindo-se à profecia em
Daniel 7.13 (veja Gill em Mateus 26.64).
14.63. E o sum o sacerdote, rasgando as suas vestes. Como
era de costume ao ouvir blasfêmia, o que ele agora supunha ser
o caso, ou pelo menos assim pensaria; disse: Para que necessi-
tamos de mais testemunhas? Ou nos preocupamos em ver mais,
ou ouvir e tomar os depoimentos de quaisquer outros (veja Gill
em Mateus 26.65).

328
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 14

14.64. Vós ouvistes a blasfêm ia. A blasfêmia “manifesta”,


como a versão árabe a traduz; e “de sua própria boca”, como
acrescenta a versão siríaca, de acordo com Lucas 22.71. Que vos
parece? Que sentença deve ser proferida sobre Ele? E todos o
consideraram culpado de morte, exceto José de Arimateia (Lucas
23.51; veja Gill em Mateus 26.66).
14.65. E alguns com eçaram a cu sp ir nele. Os homens que
o seguravam (Lucas 22.6), cumprindo a profecia em Isaías 50.6;
e a cobrir-lhe o rosto, com um véu, ou pano de linho para vendá-
-Lo, como uma pessoa indigna de contemplar a luz, ou melhor, a
fim de brincar com Ele; e a dar-lhe punhadas, com seus punhos
duplos; e a dizer-lhe: Profetiza. A versão árabe acrescenta: “para
nós, ó Cristo, quem é que te esbofeteou agora?” Que te deu o
último golpe? E para o mesmo propósito a etíope; a versão persa
acrescenta, “e livra-te”. E os servidores davam-lhe bofetadas. A
versão siríaca a traduz como “nas bochechas”: eles lhe deram
tapas no rosto. Estes eram os oficiais do sumo sacerdote, que
o usaram dessa maneira indecente. Esta cláusula é omitida na
versão etíope.
14.66. E, estando P edro em baixo, no átrio. Não na extre-
midade inferior e mais distante da sala, mas na parte inferior
dela; aquela parte em que Jesus e o sinédrio estavam, estando
em um terreno avançado, com degraus subindo para ele; chegou
uma das criadas do sumo sacerdote; a mesmo que guardava a
porta e o deixou entrar. A versão etíope a traduz como “uma filha
do sumo sacerdote”.
14.67. E, vendo a Pedro, que se estava aguentando. Na vida
que estava no meio do corredor; olhou para ele muito sinceramen-
te, sabendo que ele era o mesmo que deixara entrar no movimen-
to, que era conhecido na família do sumo sacerdote; e suspeitando
dele, por ser um estranho, e por sua aparência; Tu também estavas

329
J o h n Gill

com Jesus, o Nazareno; isto é, um de seus discípulos (veja Gill em


Mateus 26.69)
14.68. Mas ele negou-o. Que estava com Jesus, ou fosse
um discípulo d ’Ele; dizendo: Não o conheço, nem sei o que di-
zes, sobre Ele e de estar com Ele; a última frase, “nem sei o
que dizes”, é omitida nas versões siríaca e persa. E saiu fora ao
alpendre junto ao palácio, para ponderar o que fazer, surpreen-
dendo-se e confundindo-se com tal desafio; e o galo cantou, a
primeira vez, por volta da meia-noite; e, no entanto, ele não deu
atenção a isso, nem se lembrou do que Cristo havia dito a ele
apenas algumas horas antes; ou, se o fizesse, poderia esperar não
enfrentar outro ataque, ou deveria ter mais coragem e força do
que negar uma segunda vez.
14.69. E a criada, vendo-o outra vez. Ou a mesma donzela,
como dizem as versões siríaca e persa, “aquela donzela”; aquela
mesma donzela, como antes, ou outra, como em Mateus 26.71,
e assim a versão árabe lê aqui; mas a etíope, como antes, “uma
filha”, isto é, do sumo sacerdote; começou a dizer aos que ali es-
tavam, ao fogo, junto a Pedro, se aquecendo: Este é um dos tais;
este homem é um dos discípulos e seguidores de Jesus de Nazaré;
ele é dessa seita, certamente pertence a eles e veio aqui apenas
como espião.
14.70. Mas ele o negou outra vez, ser um dos discípulos
de Jesus; e um pouco depois; cerca de uma hora depois (Lucas
22.59); E pouco depois os que ali estavam disseram outra vez a
Pedro: Verdadeiramente tu és um deles; um afirmou com con-
fiança que ele estava com Jesus, e outro disse vê-lo no jardim
com Ele (Lucas 22.59), e em geral eles eram de opinião que ele
deveria ser um daquela seita, dando isso como uma razão: por-
que és também galileu, como eles supunham que Jesus fosse;
e sabendo que na Galileia Ele havia pregado principalmente e
feito Seus milagres, tendo lá um grande número de seguidores;

330
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 14

e tua fala é semelhante; ele usou palavras e frases peculiares aos


galileus, e pronunciou como eles (veja Gill em Mateus 26.73).
Esta cláusula é omitida na Vulgata Latina e está faltando na có-
pia mais antiga de Beza; mas está nas outras cópias e em todas
as versões orientais.
14.71. E ele começou a praguejar, e a jurar. Desejar as coi-
sas mais terríveis para si mesmo, e jurar pelo Deus vivo; [dizendo]
Não conheço este homem de quem falais (veja Gill em Mateus
26.74).
14.72. E o galo cantou segunda vez. Imediatamente, as-
sim que ele disse e jurou, como leem as versões Vulgata Lati-
na, siríaca e etíope, e como é lido em uma das cópias de Beza;
que eram cerca de três horas da manhã, e é o que é chamado
apropriadamente de canto do galo; e Pedro lembrou-se, ao ouvir
o galo cantar uma segunda vez, da palavra que Jesus lhe tinha
dito: Antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás.
E, pensando nisso; nas palavras de Cristo e em seu pecado em
negá-lo, e nas circunstâncias agravadas disso. A versão árabe
traduz: “ele se virou para chorar”; ele se afastou da companhia,
atirou-se para fora dela e saiu de casa o mais rápido que pôde,
e explodiu em um violento ataque de choro. As versões siríaca,
persa e latina da Vulgata traduzem: “ele começou a chorar”; essa
frase é omitida na versão etíope; alguns optam por traduzi-la
como “olhou para ele”, isto é, para Cristo; como Cristo olhou
para ele; o que produziu verdadeiro arrependimento evangélico
nele, então Pedro olhou para seu querido Senhor com preocupa-
ção, a quem ele havia negado vergonhosamente; olhou para ele
e lamentou, olhou para ele com os olhos da fé e lamentou seu
pecado de uma maneira piedosa; mas o verdadeiro sentido da
palavra é: “ele se cobriu”; ele jogou sua roupa sobre a cabeça,
velou-se como os enlutados, que cobriram suas cabeças, rostos
e até lábios. Então Maimônides: “de onde”, diz ele, “está des-
cobrindo a cabeça, proibido um enlutado? Pois, eis! E dito em
J o h n ( h ll

Ezequiel 24.17, 'não cubras os teus lábios’ de forma alguma,


pois o resto dos enlutados é obrigado a cobrir a cabeça; o pano
de linho, ou véu, com o qual ele cobre a cabeça, cobre com uma
parte dele, um pouco sobre a boca; como é dito (Levítico 13.45):
‘Ele colocará uma cobertura sobre o lábio superior’: e Onkelos
parafraseia, Pjety Albak, ‘como um enlutado, ele se cobrirá’”.
E assim é dito de Hainan, “que ele foi para sua casa, e chorou
por sua filha, albak hyvyr le Pjetmw, ‘e cobriu sua cabeça como
um enlutado’; por sua filha e por sua reprovação”. E isso, ao que
parece, era o costume dos ismaelitas: daí aquele ditado, “todo
véu (no luto) que não é como o véu dos ismaelitas (que cobrem
todo o rosto), não é véu?” E assim Pedro, envergonhado e como
sinal de tristeza e luto por seu pecado, jogou suas vestes sobre
ele, chorou; como Mateus diz, “amargamente”, estando total-
mente convencido de seu pecado, e sinceramente arrependido
(veja Gill em Mateus 26.75).

Capítulo 15
15.1. E , LOGO ao amanhecer. Assim que raiava o dia, ou
a luz do dia aparecia; os principais sacerdotes, com os anciãos, e
os escribas, e todo o Sinédrio, tiveram conselho; que, nesta oca-
sião extraordinária, foi convocado; o resultado disso foi amarrar
Jesus e entregá-Lo ao governador romano para ser morto por
ele, como uma pessoa sediciosa e um inimigo de César, e assim
o fizeram: e, amarrando Jesus, o levaram e entregaram a Pilatos.
As versões siríaca e persa acrescentam “o governador” (veja Gill
em Mateus 27.1 -2).
15.2. E Pilatos lhe perguntou: Tu és o Rei cios Judeus? Ou
foi o que os judeus agora sugeriram a Ele como seu crime, que
eles desejavam que a sentença de morte pudesse passar sobre Ele.
E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes; que é tudo como se Ele

;‫־;!־‬5 2
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ״‬C ap. 15

tivesse dito: Eu sou (veja Gill era Mateus 26.25); pois assim ele
era em certo sentido, no qual Ele se explicou para a satisfação de
Pilatos (João 18.36; veja Gill em Mateus 27.11).
15.3. E os p r in c ip a is sa cerd o tes o a cu sa va m de m u itas
coisas. Como que Ele era um mágico e um blasfemador, e deu
que Ele era o Filho de Deus; e que Ele se fez rei, e até proi-
biu o povo de pagar tributo a César, promovendo discórdia,
sedição e rebelião por toda a terra; porém ele nada respondia.
Esta cláusula está faltando nas versões Vulgata Latina, siríaca,
árabe e persa; mas está no texto grego da edição Complutense,
na versão etíope, e concorda com Mateus 27.12 (veja Gill em
Mateus 27.12).
15.4. E P ila to s o interrogou outra vez. Na presença dos prin-
cipais sacerdotes, que lhe imputaram tantas coisas; pois a pergun-
ta anterior foi feita quando Jesus e ele estavam sozinhos na sala
de julgamento, onde os judeus não entrariam por medo de serem
contaminados (veja João 18.28); dizendo: Nada respondes? Vês
quantas coisas testificam contra ti? As acusações eram muitas e
muito hediondas, e Pilatos pensou que exigia legítima defesa (veja
Gill em Mateus 27.13).
15.5. M as Jesu s nada m ais respondeu, de m aneira que
P ilatos se m aravilhava. Qual deveria ser o significado de Seu
silêncio quando era tão capaz de se defender e era tão inocen-
te, como o próprio Pilatos estava pronto para acreditar; e, no
entanto, as coisas pelas quais Ele foi acusado eram da mais alta
natureza e por pessoas da maior figura da nação; de modo que
seu silêncio O expôs a um grande perigo, que Pilatos pensou que
podería ser facilmente evitado respondendo por si mesmo (veja
Gill em Mateus 27.14).
15.6 Ora, no dia da fe sta . A festa da Páscoa, que era naquele
instante (veja João 18.39). As versões siríaca, árabe, persa e etíope
dizem “em todas as festas”; como se o seguinte costume fosse usa-
J o h n Gill

do em todas as festas do ano, nas festas de Pentecostes e tabemácu-


10s, bem como na páscoa; costumava soltar-lhes um preso qualquer
que eles pedissem (desse costume, veja Gill em Mateus 27.15).
15.7. E havia um chamado Barrabás. Um prisioneiro com
esse nome em Jerusalém; que, preso com outros amotinadores;
ele estava à frente de uma multidão sediciosa, e ele e seus cúm-
plices foram levados e colocados na prisão; tinha num motim
cometido uma morte, que pode estar conectada com Barrabás
e lida no número singular, como na versão da Vulgata Latina,
“ele cometeu”; ou com as pessoas sediciosas com as quais ele
estava vinculado, e lido no número plural, “eles cometeram as-
sassinato”, como está nas versões siríaca, árabe e persa, e assim
nas cópias antigas; e o etíope traduz: “ele estava preso a pessoas
sediciosas e assassinos”; embora, sem dúvida, ele fosse culpado
de assassinato, assim como eles; e então Pedro o chama de as-
sassino (Atos 3.14). Nessa época, assassinatos eram cometidos
com muita frequência; os judeus dizem que “desde o momento
em que os assassinos aumentaram, a matança da novilha verme-
lha cessou (a razão que os comentaristas dão é porque eles eram
conhecidos por estarem acostumados a cometer assassinato); e
isso foi desde o tempo em que Eleazar ben Dinai veio, e Techi-
nah ben Perishah foi chamado; e eles o chamaram novamente de
filho de um assassino” (veja Gill em Mateus 27.16).
15.8. E a multidão, dando gritos. As versões Vulgata Latina
e etíope leem, e quando a “multidão”, ou “pessoas subiam”, ao
lugar chamado pavimento, onde ficava o tribunal; e assim é lido
na cópia mais antiga de Beza; mas a leitura anterior deve ser pre-
ferida. Começou a pedir que fizesse como sempre lhes tinha feito;
isto é, libertar um prisioneiro para eles, como fazia em todas as
páscoas, desde que era governador sobre eles.
15.9. E Pilatos lhes respondeu, dizendo: estando satisfeito
com a inocência de Jesus, e estando disposto a dispensá-lo. Que-
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 15

reis que vos solte o Rei dos Judeus? Aquele que é chamado assim;
e que ele disse por meio de escárnio de Cristo e deles; ou então, a
fim de convencê-los a pedir Sua libertação, sendo escandaloso e
reprovador matar seu rei.
15.10. P orque ele bem sabia que p o r inveja os principais
sacerdotes o tinham entregado. A versão persa lê no singular, “o
chefe dos sacerdotes”, ou o sumo sacerdote, Caifás; em Sua popu-
laridade por meio de Sua doutrina e milagres, e não de qualquer
princípio de equidade e justiça, ou de qualquer consideração a
César; (veja Gill em Mateus 27.18).
15.11. M as os principais sacerdotes incitaram a m ultidão.
Muito os solicitaram e os persuadiram, tanto pessoalmente quanto
por meio de seus oficiais que eles empregaram e dispersos entre
eles, para fazer uso de argumentos com eles para convencê-los:
que ele deveria liberar Barrabás para eles; do que Jesus de Naza-
ré; preferindo ter um assassino concedido a eles, do que o santo e
justo. A versão Persa, como antes, diz, "‘0 chefe dos sacerdotes”;
mas todos eles estavam preocupados e eram os homens mais ati-
vos em provocar a morte de Cristo; embora Caifás não estivesse
atrás de nenhum deles em inveja, raiva e malícia; (veja Gill em
Mateus 27.20)
15.12. E P i latos, respondendo, lhes d isse o u tra vez. Es-
pantados de que pedissem a libertação de uma pessoa tão infa-
me; e desejando muito salvar Jesus: que quereis então que eu
faça a ele, a quem chamais rei dos judeus? pelo menos muitos
de vocês; você gostaria que eu o matasse? certamente isso nun-
ca pode ser desejado; ou você quer que eu inflija alguma puni-
ção leve a ele, como açoitá-lo, e assim demiti-lo? (veja Gill em
Mateus 27.22).
15.13. E eles tornaram a clam ar: Crucifica-o. Pois eles já
haviam chorado uma vez antes, embora Mateus e Marcos não o
relatem, mas Lucas o faz, (Lucas 23.21).
J o h n G ill

15.14. M as P ilatos lhes disse. Pela terceira vez, (Lucas


23.22); por que, que mal ele fez? digno de morte. Eles o acusaram
de muitas coisas, mas nada provaram contra ele. Pilatos não en-
controu nenhuma falha nele e o julgou inocente e, portanto, relu-
tou em condená-lo: e clamaram ainda mais; com vozes mais altas
e maior veemência, mais eles descobriram que ele estava inclina-
do a salvá-lo: crucifique-o; nada menos que a morte os satisfaria,
e nenhuma outra morte senão a da cruz; (veja Gill em Mateus
27.22-23).
15.15. E ntão Pilatos, querendo sa tisfa zer a m ultidão. Para
satisfazê-los e acalmá-los, que se tornaram muito barulhentos e
tumultuados, e temendo as consequências de seu ressentimento
caso ele não concordasse, o que ele havia anteriormente expe-
rimentado; portanto, para agradá-los e manter-se em seu favor,
após lavar as mãos para testemunhar sua inocência no assun-
to, soltou-lhe Barrabás, a pessoa sediciosa, ladrão e assassino,
como eles desejavam; e, açoitado Jesus, por isso ele havia feito
antes, esperando que os judeus ficassem satisfeitos com isso e
não tivessem insistido em mais punições. A versão árabe traduz
erroneamente as palavras “e entregou-lhes Jesus, para que fosse
açoitado”; como se isso fosse feito posteriormente pelos judeus
ou soldados romanos; considerando que ele o havia açoitado an-
tes; o entregou para ser crucificado, como eles desejavam; em
que ele agiu contrário à lei e à justiça, à violação de sua própria
consciência e apenas para gratificar o humor do povo (veja Gill
em Mateus 27.26).
15.16. E os soldados o levaram dentro à sala. Do lugar cha-
mado pavimento, onde ficava o banco do juiz, de onde pronunciava
a sentença sobre Cristo, para uma grande sala, chamado pretório,
ou sala de julgamento; que é a da audiência, ou sala, onde o pretor,
ou magistrado romano, mantinha seu tribunal judicial; e é o mes-
mo lugar em que os judeus não entrariam, para que não fossem
contaminados e se tomassem impróprios para comer o Chagigah
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 1 5

naquele dia; e na qual Pilatos teve Jesus mais de uma vez sozinho
(João 18.28), mas agora tinha uma grande companhia com Ele; e
convocaram toda a coorte, muito provavelmente os soldados sob
cuja custódia Jesus foi colocado e que O levaram embora, eram
os quatro soldados que assistiram à Sua crucificação e separaram
Suas vestes; mas para maior diversão eles reuniram toda a corte a
que pertenciam (veja Gill em Mateus 27.27).
15.17. E vestiram-no de púrpura. Mateus chama isso de um
manto “escarlate”; e a versão persa aqui a torna uma “roupa ver-
melha”; era de uma cor que lembrava o roxo; que é o que os reis
costumavam usar, e assim, para Seu escárnio, como um rei ves-
tiu-0 com esta falsa túnica púrpura; e que muito provavelmente
era um dos velhos casacos dos soldados. E tecendo uma coroa de
espinhos, lha puseram na cabeça; por uma coroa e também uma
cana na mão, em vez de um cetro, como Mateus relata (veja Gill
em Mateus 27.28-29).
15.18. E começaram a saudá-lo, dizendo: Salve, Rei dos Ju-
deus! De forma zombeteira, desejando-lhe longa vida e prospe-
ridade, como se fosse um rei recém-chegado ao seu trono, e este
fosse o dia de sua coroação.
15.19. E feriram -no na cabeça com uma cana. Ou bengala,
uma bengala que eles colocaram em Suas mãos como um cetro;
eles pegaram novamente e bateram na cabeça d ’Ele, o que era-
vou os espinhos pontiagudos em suas têmporas; e cuspiram nele,
“em seu rosto”, como dizem as versões siríaca, árabe e persa; e,
postos de joelhos, como a um príncipe soberano, o adoraram;
dizendo as palavras acima, salve, rei dos judeus? (veja Gill em
Mateus 27.29-30)
15.20. E, havendo-o escarnecido. Para sua satisfação, e se
cansaram desse tipo de diversão; despiram-lhe a púrpura, e as-
sim, à sua maneira, o destituíram do rei; e o vestiram com as suas
próprias vestes; tanto para que Ele pudesse ser conhecido como a
J o h n (?ill

mesma pessoa, quanto para que os quatro soldados, que estavam


encarregados d ,Ele, pudessem ter os privilégios de Suas roupas
em Sua execução; e o levaram para fora a fim de o crucificarem,
eles O levaram para fora do “pretório”, ou sala de julgamento, e
pela cidade, sem os portões dela, até o local habitual de crucifi-
cação; Ele carregando Sua própria cruz, quando conduzido pela
primeira vez.
15.21. E constrangeram um certo Sirnâo, cireneu (veja Gil
em Mateus 27.32); pai de Alexandre e Rufo, que eram homens
bem conhecidos quando Marcos escreveu seu Evangelho, e mui-
to provavelmente homens de eminência entre os cristãos; é feita
menção de Alexandre em Atos 19.33, e de Rufo em Romanos
16.13, que alguns pensaram serem os mesmos que aqui, mas se
são ou não, não é certo quem passou; enquanto levavam Jesus
para ser crucificado, saindo do país de alguma aldeia do interior,
segundo as versões siríaca e a latina da Vulgata; ou fora do cam-
po, como o persa e o etíope; vindo do campo, tratando de algum
negócio rural; ou, como o doutor Lightfoot conjectura, buscar
madeira dali, o que era lícito de ser feito em um dia de festa,
com algumas ressalvas conforme o cânon judaico, que funciona
assim: “eles podem trazer madeira do campo (ou seja, em um dia
de festa, como este foi) daquilo que está reunido, de um lugar
cercado e até mesmo daquilo que está espalhado; o que é um
lugar cercado? Tudo o que está perto de uma cidade, as pala-
vras de rabino Judá. Rabino José diz, tudo o que eles entram por
uma porta, e até mesmo dentro da fronteira do sábado”. Portanto
mandaram a “Simão” que levasse a sua cruz: a cruz de Cristo,
depois d ’Ele (veja Gill em Mateus 27.32).
í 5.22. E levaram-no ao lugar do Gólgota. Um famoso, ou
melhor, um infame, e muito conhecido pelas várias execuções ali;
que se traduz por lugar da Caveira, porque os crânios de homens
que haviam sido executados e enterrados lá, sendo desenterrados
novamente, estavam espalhados (veja Gill em Mateus 27.33).
Comentário bíblico de Marcos - Cap. L5

15.23. E deram-lhe a beber vinho com mirra. Vinho mis-


turado com incenso era o que geralmente era dado pelos judeus
às pessoas que iriam morrer: “aquele que vai ser executado eles
misturam para ele, Nyy lv owk hnwbl lv jrwq, ‘um grão de
incenso em uma taça de vinho’, para que sua mente seja per-
turbada ou não sensível; como é dito '"Dai bebida fo rte ao que
está prestes a perecer, e o vinho aos amargurados de espírito’
(Provérbios 31.6): e a tradição é que as mulheres honradas em
Jerusalém deram isso livremente e trouxeram para eles; e se não
o fizeram, foi fornecido pela congregação”, às custas do público;
o objetivo era intoxicar, para que não sentissem sua dor e misé-
ria; mas nem as mulheres ricas em geral, nem o público estavam
tão dispostos a Cristo a ponto de fornecer tal poção para ele; é
mais provável, portanto, que isso foi preparado por Seus amigos,
como Maria Madalena, Marta e outros, a fim de animar e refres-
car Seu espírito; e era diferente do que os soldados lhe deram,
que era vinagre misturado com fel, embora a versão persa o diga
aqui; mas ele não o tomou, nem Ele iria provar isso, como fez
do outro, para mostrar que não precisava de tais meios externos
para sustentar Seus espíritos, nem desejava qualquer alívio para
Suas tristezas, e não tinha medo de encontrar a morte em todos
os seus terrores; e além disso, Ele havia dito que não beberia
mais do fruto da videira até que o bebesse novo no Reino de Seu
Pai Mateus 26.29; veja Gill em Mateus 27.34).
15.24. E, havendo-o crucificado, o prenderam na cruz, e a
ergueram, e Ele estava pendurado nela; repartiram as suas vestes,
lançando sobre elas sortes, para saber o que cada um levaria. Esta
última cláusula, “o que todo homem deve levar”, é omitida na
versão árabe. Suas vestes foram divididas em quatro partes; e cada
soldado, como eram quatro, participou; e sobre Sua vestimenta,
ou túnica sem costura, porque não a rasgariam, lançaram sortes
sobre quem deveria tê-la, e assim cumpriram uma profecia em
Salmos 22.18 (veja Gill em Mateus 27.35).

339
J o h n (Jill

15.25. E era a hora terceira . e o crucificaram . A hora do


sacrifício diário da manhã, em que os sacerdotes deveríam estar;
e a hora em que o sinédrio geralmente começava a se sentar; para
“o grande sinédrio sentava-se desde o sacrifício diário da manhã
até o sacrifício diário da tarde”; mas sendo este um caso ex-
traordinário, e eles com pressa de matar Jesus, ficaram sentados
a noite toda; e no início da manhã haviam obtido a sentença de
morte sobre Ele, que iriam executar na hora em que costumavam
se sentar; isso era por volta das nove horas da manhã e levava o
tempo entre isso e o meio-dia. A versão etíope diz: “e era a hora
sexta”, para concordar com João 19.14, e para a reconciliação
desses dois lugares (veja Gill em João 19.14).
15.26. E p o r cim a dele estava escrita a sua acusação. Ou “a
causa de sua morte”, como dizem as versões siríaca e persa; o crime
pelo qual sofreu foi escrito sobre a Sua cabeça, na cruz à qual foi
preso, cuja soma foi: o Rei dos judeus (veja Gill em Mateus 27.37)
15.27. E crucificaram com ele dois salteadores. Para Sua
maior reprovação; um à direita e outro à esquerda; como se ele
fosse um deles, e um principal entre eles; (veja Gill em Mateus
27.38).
15.28. E cum priu-se a escritura que d iz , em Isaías 53.12:
E com os malfeitores foi contado; Ele não era transgressor da
própria lei de Deus, mas estava perfeitamente de acordo com ela
em Sua natureza santa, conversa inofensiva e obediência com-
pleta; Ele não conheceu pecado, nem cometeu nenhum em pen-
sarnento, palavra, ou ação, nem podería ser encontrado n ’Ele
por homens ou demônios; e ainda assim Ele foi difamado como
um pecador, e acusado de muitas coisas imundas, nenhuma das
quais poderia ser provada sobre Ele, ou colocada sobre Ele com
Seu próprio consentimento; Ele foi tratado pela justiça de Deus
como se fosse um transgressor, sendo considerado como tal; do
que o fato de Ele ser colocado entre dois ladrões era um símbolo
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 15

e uma representação, por isso foi atingido e ferido, e morreu pe-


los pecados daqueles em cujo lugar Ele estava. O capítulo quin-
quagésimo terceiro de Isaías, onde vemos esta passagem, é uma
profecia manifesta do Messias, como vários dos próprios escri-
tores judeus, antigos e modernos, reconhecem; embora alguns o
apliquem a outras pessoas.
15.29. E os que passavam blasfem avam dele. A versão árabe
acrescenta, “diante dele”, Cristo, pendurado na cruz, insultaram-
-no, abanando a cabeça; meneando as suas cabeças, e dizendo:
Ah! Tu que derrubas o templo; a versão da Vulgata Latina acres-
centa, “de Deus”; e em três dias o edificas, Você, pobre e miserá-
vel criatura, que se vangloriava de Seu poder, onde está agora? E
o que pensas de Si mesmo?
15.30. Salva-te a ti mesmo, e desce da c m 2 . Sugerindo que, se
Ele fosse o que fingia ser e pudesse fazer o que fez, podería facil-
mente se libertar da cruz e escapar (veja Gill em Mateus 27.39-40).
15.31. E da m esm a m aneira tam bém os principais sacerdo-
tes, com os escribas, diziam uns p a ra os outros, zom bando. Ou
“riam uns dos outros”, como a versão siríaca traduz, tendo ganho
seu ponto e saciado sua vingança contra ele; disseram entre si com
os escribas; que também eram seus inimigos implacáveis. Salvou
os outros, e não pode salvar-se a si mesmo (veja Gill em Mateus
27.41-40).
15.32. O Cristo, o Rei de Israel. Que estabelece para o Mes-
sias, e cujos seguidores o chamam de rei de Israel, a quem a nação
esperava; e se ele é assim, desça agora da cruz, para que o vejamos,
veja-0 descer e seja testemunha ocular de seu poder; e acreditemos,
que ele é o Messias que foi profetizado e pelo qual tem esperado;
e aqueles que foram crucificados com Ele o injuriaram; isto é, os
ladrões, pelo menos um deles (veja Gill em Mateus 27.44).
15.33. E, chegada a hora sexta. Ou doze horas ao meio-dia,
tendo sido pendurado na cruz por volta da hora terceira, ou nove
J o h n G ill

horas da manhã; houve trevas sobre toda a terra até a hora nona,
ou três horas da tarde. A versão etíope traduz o todo assim, “e
quando era meio-dia, o sol escureceu e o mundo inteiro escureceu
até a nona hora” (veja Gill em Mateus 27.45).
15.34. E, à hora nona, Jesus exclam ou com grande voz (veja
Gill em Mateus 27.46); dizendo: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? Em
Mateus é, “Eli, E li”; ambos “E li” e “E loi ”, são palavras hebraicas
e significam o mesmo; e ambos são usados em Salmos 22.1, de
onde o todo é tirado. Que, traduzido, é: Deus meu, Deus meu, por
que me desamparaste? (veja Gill em Mateus 27.46)
15.35. E alguns dos que ali estavam, na cruz, ouvindo isto, a
alta voz de Jesus, e as palavras que ele pronunciou diziam: Eis que
chama Elias; a quem eles, ignorante ou intencionalmente, tomaram
por Eloi (veja Gill em Mateus 27.47).
15.36. E um deles correu a em beber um a esponja em vi-
nagre. Cristo, ao mesmo tempo, dizendo: Tenho sede (veja
João 19.28); e, pondo-a numa cana, um talo de hissopo (João
19.29); deu-lho a beber, e assim cumpriu uma profecia de Sal-
mos 69.21); dizendo, ou “eles disseram”, como a versão Siríaca
lê, não aquele que pegou a esponja, mas os outros que estavam
com ele, e que concorda com Mateus 27.27; muito menos como
o proibindo de chegar perto d ’Ele e oferecer-Lhe qualquer coisa
para beber: Deixai, vejamos se virá Elias tirá-lo; da cruz (veja
Gill em Mateus 27.49).
15.37. E Jesus, dando um g ra n d e brado, expirou. Pela se-
gunda vez, e disse as palavras que estão em Lucas 23.46 e em
João 19.30, desistindo do fantasma. A versão siríaca a traduz “e
terminou”, Sua vida, Seus dias, Sua raça, Seu ministério e o tra-
balho que Lhe foi dado para fazer (veja Gill em Mateus 27.50).
15.38. E o véu do tem plo se rasgou em dois, de alto a baixo.
Nesse momento também houve um terremoto, e as rochas se par­
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 15

tiram, e as sepulturas foram abertas, como relata Mateus (veja Gill


em Mateus 27.51-52).
15.39. E o centurião, que estava defronte dele, para vigiá-
-Lo, que ninguém O soltasse, e que Ele mesmo não descesse da
cruz; vendo que assim clamando expirara, que ele gritou com uma
voz tão alta e forte, e no momento seguinte expirou; disse: Verda-
deiramente este homem era o Filho de Deus, e assim disseram o
resto dos soldados que estavam com eles, como aparece em Ma-
teus (veja Gill em Mateus 27.54).
15.40. E tam bém a li esta va m a lg u m a s m ulheres, olhando
de longe. A alguma distância da cruz, observando o que foi
dito e feito; entre as quais também Maria Madalena, que havia
recebido grandes favores de Cristo; e Maria, mãe de Tiago,
o menor, ou “pequeno”, assim chamado para distingui -10 de
Tiago, filho de Zebedeu, e porque ele podería ser de pequena
estatura; não era incomum entre os judeus distinguir pessoas
dessa maneira, assim lemos de rabino Jesa, aryez, “o peque-
no”, e de Samuel, Nwjqh, “o pequeno”, que alguns pensaram
ser o apóstolo Paulo, assim chamado pela pequenez de sua es-
tatura; e de José, ou “Josés”, como dizem as versões Vulgata
Latina e etíope; e Salomé, a mãe dos filhos de Zebedeu, Tiago
e João (veja Gill em Mateus 27.56). Este era um nome comum
entre os judeus; Herodes tinha uma irmã e uma filha com esse
nome; e a filha de Herodias, que exigiu a cabeça de João, o Ba-
tista, tinha esse nome; e é o mesmo com Shalom: lemos de uma
Imme Shalom, ou mãe Shalom, esposa de rabino Eliezer e irmã
de Rabban Gamaliel. Salomé, com os etíopes, é considerada a
parteira de Maria que acompanhou Cristo, com Maria e José,
quando eles fugiram para o Egito.
15.41. A s quais tam bém o seguiam , e o serviam , quando es-
tava na Galileia. Onde quer que ele fosse na Galileia, e dali para
Jerusalém; e o serviam de sua substância mundana (Lucas 8.3); e
J o h n G ill

muitas outras, que tinham subido com ele a Jerusalém, das mes-
mas partes (veja Gill em Mateus 27.55).
15.42. E, chegada a tarde. “Da preparação”, como diz a ver-
são siríaca; ou “a noite do sexto dia”, como a versão persa traduz,
“sexta-feira” à noite; porquanto era o dia da preparação, da páscoa
e do sábado, quando preparavam a comida, e também a prepara-
vam para o sábado seguinte, no qual não era lícito vestir ninguém;
isto é, a véspera do sábado; isto é, sexta-feira, em que dia, é claro,
Cristo sofreu, morreu e foi sepultado.
15.43. C hegou J o sé de A rim a te ia , co n selh e iro honrado.
Um homem de boa aparência e bem-vestido, que se portava
bem e honradamente em seu ofício como conselheiro; ele pa-
rece ter sido um sacerdote, e um do banco dos sacerdotes que
se sentavam na câmara do sumo sacerdote, chamada, yjwwlb
tkvl, “a câmara dos conselheiros”, com quem ele lá aconse-
lhou em questões de momento; que também esperava o reino
de Deus pela vinda e reino do Messias. Pela dispensação do
Evangelho, o mundo vindouro os judeus esperavam tanto. E
ousadamente foi a Pilatos, e agora não se envergonha de Cris-
to, ou tem medo de aparecer abertamente em sua causa, e se
declara um adorador e discípulo d'Ele, e um crente n ’ele e um
discípulo dele, embora ele anteriormente fosse: e pediu o corpo
de Jesus, desejando licença para retirá-lo da cruz e enterrá-lo
(veja Gill em Mateus 27.58).
15.44. E Pilatos se m aravilhou de que j á estivesse morto. Pois
a morte por crucificação era uma morte lenta e demorada; pessoas
que estavam em plena força penduradas muito tempo antes de ex-
pirarem; e os dois ladrões, crucificados com Cristo, não estavam
mortos quando Ele estava. E, chamando o centurião, designado
para vigiá-lo, perguntou-lhe se já havia muito que tinha morrido;
perguntou-lhe se estava morto e há quanto tempo estava morto.

344
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 16

15.45. E, tendo-se certificado pelo centurião. Quem poderia


informá-lo de Sua entrega do espírito depois que Ele gritou em
alta voz, o que tanto o afetou; e como Ele foi encontrado realmen-
te morto quando eles vieram quebrar as pernas dos malfeitores;
e como aquele dos soldados perfurou Seu lado com uma lança,
de onde saiu sangue e água; de modo que não havia espaço para
duvidar de que Ele estava realmente morto; com o que Pilatos,
estando satisfeito, deu o corpo a José, ordenando que fosse dado
a ele, e dando-lhe permissão para retirá-Lo da cruz e enterrá-Lo.
15.46. O q u a l com prara um len ço l fin o . Ou seja, José,
como é expresso nas versões Vulgata Latina, siríaca e persa; que,
quando ele o fez, como é altamente provável, na cidade de Jeru-
salérn, foi para o Monte Calvário e o derrubou; e, tirando-o da
cruz, embora, sem dúvida, com a ajuda de outros, ou por outros,
e não ele mesmo, pelo menos não sozinho; envolveu-o no lençol,
como era o costume dos judeus (veja Gill em Mateus 27.59); e
o depositou num sepulcro lavrado numa rocha; e revolveu uma
pedra para a porta do sepulcro (veja Gill em Mateus 27.60).
15.47. E M aria M adalena e M aria, m ãe de José. Ou José,
como dizem as versões Vulgata Latina e etíope; observavam
onde o punham, muito provavelmente viram José e seus homens
tirá-Lo da cruz, e eles o seguiram e observaram onde O coloca-
ra; ou, como diz a versão etíope, “onde o enterraram”; colocan-
do-se, como sugere Mateus, “defronte do sep u lcro ” (27.61); de
modo que foram testemunhas de Sua morte e de Seu sepulta-
mento, como depois foram de Sua ressurreição dentre os mortos.

Capítulo 16
16.1. E, P A SSA D O o sá b a d o . “No final dele”, como Ma-
teus diz (28.1); não “quando era sábado”, como diz a versão
J o h n G ill

árabe; pois não era lícito comprar especiarias e ungir no dia de


sábado (veja Gill em Mateus 28.1). Maria Madalena, e Maria,
mãe de Tiago, e Salomé, que era a esposa de Zebedeu, e a mãe
dos outros, Tiago e João; compraram aromas, ou “trouxeram”,
como a Vulgata Latina e todas as versões orientais lidas; pois,
embora as mulheres pudessem ter comprado alguns no dia da
preparação, um dia antes do sábado, na mesma noite em que
Cristo foi sepultado (Lucas 23.56), ainda assim eles poderíam
comprar mais para o mesmo propósito, depois que acabasse o
sábado; para isso havia um mercado particular em Jerusalém,
pois nos é dito, que “havia três mercados, um ao lado do outro;
no primeiro vendiam-se todos os tipos de coisas preciosas, se-
das e bordados; no segundo, vários tipos de frutas e ervas; e no
terceiro, todos os tipos de especiarias”. Para irem ungi-lo com
aquelas especiarias doces, como era a maneira dos judeus; daí
lemos de Mytm lv Mymvbh, “as especiarias dos mortos”, que
foram usados para expelir um sabor ingrato; isso eles fizeram
por afeição a Cristo, mas pareciam não ter fé em Sua ressurrei-
ção, embora Ele os tivesse contado, o que eles haviam esque-
cido. A Vulgata Latina diz: “para que unjam Jesus”; a versão
etíope, “ungir seu corpo”; mas o árabe assim, “ungir o sepul-
cro”; Seu corpo sendo ungido antes e enrolado por José e Nico-
demos, portanto eles vieram espalhar o sepulcro com especia-
rias e unguentos para dar-lhe um doce perfume. Embora pareça
mais provável que foram ungir Seu corpo; pois esta era uma
das coisas que era costume em Israel fazer aos homens mortos,
como M aimônides observa, Mymvb ynmb wtwa Nyko, “eles
o ungem com vários tipos de especiarias”.
16,2. E, η o primeiro dia da semana (veja Gill em Mateus
28.1). Foram ao sepulcro, de manhã bem cedo, ao nascer do sol;
do sol da justiça, como observa o senhor Mede; ou melhor, do sol
natural, pois embora estivesse escuro quando partiram e quando
amanheceu no primeiro dia, ainda assim, quando todos chegaram

3 Ifi
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 16

ao sepulcro, o sol estava nascendo; os judeus dizem que “desde o


nascer da manhã, ou raiar do dia, até o nascer do sol, é uma hora e
meia”. E tanto tempo pode muito bem ser concedido às mulheres
desde a partida até a chegada ao sepulcro. Além disso, eles dizem,
que “desde o final da manhã, até o momento em que o Leste é ilu-
minado, um homem pode caminhar quatro milhas, e a partir do mo-
mento em que o leste é iluminado, hmxh Untv de, ‘até que o sol
nasça’, quatro milhas”. Mas não se deve pensar que as mulheres
andam tão rápido; observe-se que Cristo, que é chamado o Cervo
da manhã (Salmos 22.1), e a Estrela da manhã (Apocalipse 22.16)
levantou-se neste momento.
16.3. E diziam umas às outras, antes de partirem, ou en-
quanto avançavam: Quem nos revolverá a pedra da porta do
sepulcro? O que eles viram foi colocado lá por José, ou sob
suas ordens; essa era a única dificuldade que tinham, da qual
estavam cientes, pois eles parecem não saber nada sobre o se-
lamento da pedra e sobre a patrulha colocada para guardar o
sepulcro; coisas feitas no dia de sábado, no qual eles descan-
saram; pois se eles, com toda a probabilidade, nunca teriam
tentado ir até lá; a guarda de soldados teria sido um desânimo
suficiente; mas toda a preocupação deles era como e por quem
deveria ser removida a pedra que estava na porta do sepulcro;
e talvez a preocupação deles pudesse ser não apenas devido à
grandeza da pedra, como sendo demais para eles removerem,
mas porque tal pedra a contaminou ao tocá-la, segundo as tra-
dições judaicas.
16.4. E, olhando, em direção ao sepulcro, ao se aproxima-
rem dele: viram que já a pedra estava revolvida; perceberam que
estava a alguma distância da porta do sepulcro, o que sem dúvida
era muito grato e motivo de alegria para eles, pois era muito gran-
de; essas palavras devem ser lidas em conexão com o versículo
anterior; pois não são uma razão pela qual, quando olharam para
o sepulcro, viram a pedra rolada, porque era muito grande e tão
J o h n (nil

facilmente vista à distância; mas uma razão pela qual eles estavam
tão pensativos e preocupados, quem deveria rolar para eles, sendo
tão grande, que eles não podiam pensar que seriam capazes de
fazê-lo sozinhos.
16.5. E, entrando no sepulcro. Pois os sepulcros dos judeus
foram feitos tão grandes que as pessoas podiam entrar neles; a re-
gra para fazê-los é esta: “aquele que vende terreno ao seu próximo
para fazer uma sepultura, ou que recebe do seu próximo para fazer
uma sepultura, deve fazer o interior da caverna quatro côvados por
seis, e abrir nela oito sepulturas; três aqui, e três lá, e duas contra
elas, e as sepulturas devem ter quatro côvados de comprimento,
sete de altura e seis de largura. Rabino Simeon diz, ele deve tomar
o interior da caverna seis côvados por oito e abrir treze sepulturas:
quatro aqui, e quatro ali, e três contra elas; um à direita da porta,
um à esquerda; e ele deve fazer, rux, “um pátio” na entrada da
caverna, seis por seis segundo o esquife, e aqueles que enterram;
e ele deve abrir no meio dele duas cavernas, uma aqui e outra
ali. Rabino Simeon diz, quatro nos quatro lados; rabino Simeon
ben Gamaliel diz, tudo está conforme à natureza da rocha”. Ago-
ra era no pátio que as mulheres entravam, onde o caixão deveria
ser colocado pelos carregadores; e onde eles poderíam olhar para
o sepulcro, e as várias cavernas e sepulturas nele, e o que havia
neles. Então Maimônides diz, “eles cavam cavernas na terra, e fa-
zem uma sepultura ao lado da caverna, e a enterram”. E havendo
uma porta para uma dessas cavernas, as pessoas podiam entrar e
ver onde estavam as sepulturas e os corpos jaziam. Eles viram um
jovem; um anjo, como os anjos costumavam aparecer na forma
de homens; nem isso é uma contradição ao relato de João, que diz
que havia dois anjos, um na cabeça e outro nos pés (João 20.12);
já que Marcos não diz que não havia mais de um; além disso, João
relata o que Maria Madalena viu, quando sozinha, e Marcos o que
todas as mulheres viram; assentado à direita, de onde aprendemos
de que lado da porta do sepulcro Cristo foi colocado, de acordo
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 16

com a descrição acima; vvestido de uma roupa comprida, branca


(veja Gill em Mateus 28.3), que era branca como a neve; e ficaram
espantadas ao vê-lo, não esperando tal visão, mas ter visto o corpo
de seu Senhor.
16.6. Ele, porém, disse-lhes: Não vos assusteis. Veja Gill em
Mateus 28.5-6, em que as mesmas coisas, e quase nas mesmas
palavras, são ditas aqui.
16.7. Mas ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro. Pedro é
particularmente mencionado, não como distinto dos apóstolos, ou
como se ele não fosse um deles, tendo pecado da maneira que
havia feito; muito menos porque ele era o chefe deles; mas para
confortá-lo em sua grande tristeza, devido a sua queda; e encora-
já-10 a encontrar Cristo com o resto de Seus discípulos, que po-
dem estar com medo e envergonhados, porque Ele o havia negado
de maneira tão vil; esta é uma sugestão gentil em favor de Pedro;
nenhum dos outros evangelistas o observa; mas sendo este Evan-
gelho publicado, como alguns pensam, sob a direção e exame do
próprio Pedro, ele teve o cuidado de relatar tudo o que agravou
seu próprio crime ou ilustrou a graça de Deus e o amor de Cristo
por ele. A versão persa coloca Pedro em primeiro lugar, traduzin-
do-o, “diga a Cefas e ao resto dos discípulos”; todas as cópias e
outras versões o colocam por último. Que ele vai adiante de vós
para a Galileia; ali o vereis (veja Gill em Mateus 28.7); como Ele
vos disse (14.28).
16.8. E, saindo elas apressadamente. Fora do sepulcro,
em que eles tinham estado, para ver onde Cristo jazia, como
convidados pelo anjo (Marcos 16.6). A palavra “rapidamente”
não é lida nas versões Vulgata Latina, siríaca, árabe, persa e
etíope: “que quando ouviram” ; isto é, quando ouviram as ins-
truções do anjo, imediatamente saíram; fugiram do sepulcro,
surpresos e assustados; porque estavam possuídas de temor e
assombro com o que viram e ouviram, e ainda assim esse pavor
J o h n Gill

e medo foram misturados com alegria com a notícia da ressur-


reição de Cristo, como Mateus relata (Mateus 28.8). E nada
diziam a ninguém porque temiam encontraram-se no caminho,
até chegarem aos discípulos, a quem eles contaram tudo, caso
contrário não teriam agido de acordo com as ordens do anjo
porque eles estavam com medo; não apenas assustados com o
que tinham visto e ouvido, mas tinham medo de contar a qual-
quer um, exceto aos discípulos, por medo dos judeus; para que
não se pense que eles roubaram o corpo de Cristo e, portanto,
sejam levados por essa conta e punidos.
16.9. E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primei-
ro dia da semana. Assim a versão persa fornece “Messias” ou
“Cristo”; que Jesus ressuscitou dos mortos no primeiro dia da
semana, concorda com os relatos de todos os evangelistas e é
aqui expressamente afirmado; a frase “o primeiro dia da sema-
na” é realmente colocada, de modo que pode ser considerada
relacionada às seguintes palavras, como é por alguns imagi-
nando que de outra forma havería um desacordo com Mateus
28.1, ao passo que não há (veja Gill em Mateus 28.1), embora
também seja verdade que ele apareceu primeiramente a Ma-
ria Madalena, sendo o mesmo dia em que ele ressuscitou dos
mortos. Mas a verdadeira leitura e apontamento são como aqui
colocados; e a frase pertence e aponta o dia da ressurreição de
Cristo dentre os mortos; e cuja ambiguidade é removida na ver-
são siríaca, que a traduz, “agora no primeiro dia da semana ele
ressuscitou” ; e assim a versão persa, “o M essias”, ou “Cristo,
portanto, na manhã do primeiro dia, ressuscitou de os mortos”;
e que Ele ressuscitou cedo naquele dia é claro pelas mulhe-
res, que partiram no final do sábado, quando já havia passado,
e chegaram ao sepulcro na hora em que o dia amanheceu; e
um deles, enquanto estava escuro, e todos eles ao raiar do dia,
pelo menos ao nascer do sol, e Ele então ressuscitou. Apareceu
primeiramente a Maria Madalena nas vestes de jardineiro, por

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C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. l(i

quem ela O tomou a princípio; e isso foi no sepulcro, onde ela


ficou depois que os discípulos foram embora. Que ela foi a pri-
meira pessoa a quem Cristo se mostrou após Sua ressurreição,
pode ser concluído a partir daqui e do relato que o evangelista
João deu (20.14), nem há razão para pensar que antes disso Ele
apareceu para Sua mãe, da qual os evangelistas são totalmente
silenciosos. Este foi um grande favor e uma grande honra que
lhe foi concedida; e que havia recebido grandes favores dele
antes. Da qual tinha expulsado sete demônios (veja Lucas 8.2).
E se ela fosse uma pessoa muito perversa, como geralmente se
pensa ser, e muito provavelmente ela foi, já que Satanás tinha
tanto poder sobre ela, a ponto de alojar sete demônios nela, é
um exemplo de Graça abundante que Cristo deveria acumular
favores sobre tal pessoa; e ela deveria ser a primeira a quem
Ele deveria aparecer e conversar após Sua ressurreição.
16.10. E, partindo ela, anunciou-o àqueles que tinham
estado com ele. Não “com ela”, como diz a versão persa, mas
“com ele”; isto é, com Cristo; ela foi como mandada por Cristo,
e contou a Seus discípulos o que tinha ouvido e visto; mesmo
aqueles que estiveram com Ele desde o princípio, ouviram Suas
doutrinas e viram Seus milagres, tiveram comunhão com Ele e
realmente acreditaram n’Ele, e foram Seus seguidores constan-
tes e verdadeiros discípulos; não apenas Pedro, Tiago e João,
que estavam com Ele particularmente na criação da filha de Jai-
ro, em Sua transfiguração no monte, e quando em Suas dores no
jardim; mas o restante dos onze, e não somente eles, mas outros
que estavam com eles (veja Lucas 24.9). Os quais estavam tris-
tes, e chorando, inconsoláveis pela morte de seu Senhor e pela
perda de Sua presença; e também por Sua carga em direção a
eles, que um entre eles O traísse, outro O negasse e todos O
abandonassem; assim eles eram como pombas do vale, lamen-
tando por seu Senhor ausente e por suas próprias iniquidades; e
J o h n Gill

nessa condição eles estavam quando Maria lhes trouxe a alegre


notícia da ressurreição de Cristo dentre os mortos.
16.11. E, ouvindo eles que vivia. Isto é, os apóstolos e os que
estavam com eles; quando ouviram o relato de Maria Madalena,
que Cristo ressuscitou dentre os mortos e certamente estava vivo;
ou de todas as mulheres, pois a versão siríaca diz: “quando os
ouviram dizer que ele estava vivo”, não apenas Maria Madalena,
mas Joana, e Maria, mãe de Tiago, e outras mulheres; pois todas
relataram isso aos apóstolos e ao resto (vejo Lucas 24.9). E que
tinha sido visto por ela; por Maria Madalena, ou “dela”, como diz
a versão siríaca e como é lido em uma das cópias de Beza; não o
creram; as palavras de Maria e das outras mulheres, pois pareciam
histórias ociosas para elas (Lucas 24.11), imaginando que foram
enganadas com a visão de um espectro ou aparição; e temendo que
as notícias fossem boas e grandes demais para serem verdadeiras,
esquecendo as palavras de seu Senhor, que Ele deveria ressuscitar
no terceiro dia, e que tantas vezes lhes haviam sido repetidas; e
tudo isso por estupidez de espírito, ocasionada pelos problemas e
consternação em que estavam.
16.12. E depois. Um pouco de tempo, ou algumas horas de-
pois, no mesmo dia; (veja Lucas 24.13); manifestou-se de outra
forma; parece ter sido na forma ou vestes de um jardineiro que
Ele apareceu para Maria, desde que ela pensou que Ele fosse
um jardineiro que pertencia ao jardim no qual o sepulcro esta-
va; mas agora foi em outra forma, ou vestes, que Ele apareceu;
muito provavelmente no hábito de um escriba ou médico; desde
que Ele assumiu a responsabilidade de expor as Escrituras às
pessoas a quem apareceu; como também tomou pão e o aben-
çoou quando jantou com eles (Lucas 24.27). De acordo com os
cânones judaicos, “se duas pessoas comem juntas, e uma delas
é um Escriba, e a outra um homem sem instrução, K rbm rpwo,
'0 Escriba abençoa’, e o homem sem instrução é dispensado”.
Isso não deve ser entendido como nenhuma mudança na forma

3 52
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 16

de Seu corpo ou nas características de Seu rosto; pois assim que


seus olhos foram abertos, que antes estavam presos, O conhece-
ram perfeitamente bem; ao passo que, se houvesse tal alteração
feita n ’Ele, que não pudesse ser reconhecido, não havería neces-
sidade de segurar seus olhos para que não O conhecessem (Lu-
cas 24.16). Essa aparência foi a dois deles; um deles era Cleofas,
ou Alphaeus, que é o mesmo (Lucas 24.18); o outro é por alguns
pensado ser Simão Pedro, do que é dito em Lucas 24.34, embora
outros pensem que foi Natanael, e outros Lucas, o evangelista,
que esconde seu próprio nome quando ele menciona o outro;
e alguns que seu nome era Amaon, o que talvez possa ser por
engano do lugar, Emaús, para onde estavam indo, pois o nome
de um deles, e a aparência para eles era, enquanto caminhavam
e iam ao campo, para uma vila rural chamada Emaús, a cerca
de sessenta estádios, ou sete milhas e meia de Jerusalém (veja
Lucas 24.13).
16.13. E, indo estes, anunciaram-no aos outros. Ao retor-
narem a Jerusalém, na mesma noite, eles foram aos onze após-
tolos e aos outros discípulos que estavam com eles, e relataram
todo o caso para eles; como Jesus se juntou a eles no caminho,
falou muito com eles sobre Si e expôs as Escrituras na estrada;
e quando eles chegaram ao fim de sua jornada, sentou-se à mesa
com eles, quando Ele foi claramente discernido e conhecido por
eles, e então desapareceu (veja Lucas 24.33); mas nem ainda
estes creram. “Estes dois”, como diz a versão árabe; embora fos-
sem homens e condiscípulos; e este foi um testemunho repetido
e um segundo conjunto de testemunhas da ressurreição de Cristo
para eles; tudo o que agrava sua incredulidade; ao vê-los, eles
disseram: “Ressuscitou verdadeiramente o Senhor, e já apareceu
a Simão” (Lucas 24.34); a razão pela qual o doutor Lightfoot
pensa é esta; que Pedro, ouvindo que Cristo ressuscitou e foi
adiante deles para a Galileia, estava ansioso para vê-lo e, portan-
to, fez esta jornada junto a Cleofas, que o resto dos discípulos
J o h n Gill

conhecia; e voltou tão cedo, que concluíram que O tinha visto:


mas quando ele e Cleofas contaram todo o caso, continuaram
incrédulos como sempre.
16.14. Finalmente apareceu aos onze apóstolos; pois este
era agora o número deles, Judas havia saído e estava morto; e
eles foram chamados, embora Tomé não estivesse agora com
eles, porque toda a companhia consistia neste número; esta apa-
rição de Cristo para eles foi no mesmo primeiro dia da semana,
à noite (João 20.19), embora deva ser muito tarde da noite; pois
foi depois que os dois discípulos acima retornaram de Emaús,
onde Cristo e eles haviam ceado juntos (veja Lucas 24.29); en-
quanto eles se sentavam à mesa; ou “sentados juntos”; sendo
reunidos, e as portas fechadas por medo dos judeus (João 20.19),
e assim o árabe traduz, “enquanto eles estavam reunidos”; e a
versão persa, “que estavam reunidos estavam sentados”; nem a
palavra significa necessariamente sentado à mesa; nem é muito
provável que eles comam tão tarde da noite, embora seja prová-
vel que eles estivessem comendo, como parece em Lucas 24.41;
e lançou-lhes em rosto a sua incredulidade e dureza de coração,
não, mas seus corações estavam muito contritos por sua con-
duta pecaminosa para Cristo; e ficaram muito humilhados sob
a presente dispensação; seus corações foram muito afetados e
eles ficaram cheios de tristeza e angústia pela perda de Cristo;
mas neste ponto sua incredulidade aumentou por seus medos, e
tanto prevaleceu, que tudo o que foi dito por um e outro não os
impressionou, e um grande agravamento de sua incredulidade, e
uma razão de Cristo repreendê-los neste maneira foram por não
acreditarem naqueles que O viram depois que Ele ressuscitou,
como Maria Madalena e as outras mulheres, e Cleofas, e o outro
discípulo que estava com ele, os quais foram testemunhas ocula-
res de que Ele ressuscitou dos mortos.
16.15. E disse-lhes. Não ao mesmo tempo e lugar, como
antes; não no primeiro dia da semana, em que Ele ressuscitou
C o m en tário bíblico de M arcos - Ca!). 16

dos mortos, mas quarenta dias depois, logo após Sua ascensão
ao céu (veja Marcos 16.19); nem em Jerusalém, mas na Galileia,
onde foi designado para encontrar Seus discípulos, e o fez quan-
do lhes deu a seguinte comissão (veja Mateus 28.16): Ide por
todo o mundo, não apenas para a Judeia e por todas as suas ci-
dades, onde antes estavam confinados, nem apenas no Império
Romano, que às vezes é chamado, porque grande parte do mun-
do estava sob tal governo; mas em todas as partes conhecidas e
habitáveis de todo o universo, para todas as nações do mundo
sob o céu; e deve-se observar que esse mandamento não é im-
posto a cada apóstolo separadamente, como se cada um deles
fosse entrar em todo o mundo e viajar por todas as partes; mas
daqueles deveria ir um para um lado e outro para outro, cada um
em sua linha, ou aquela parte do mundo marcada para ele, para
onde deveria seguir seu curso e onde deveria cumprir e terminar
seu ministério; e, além disso, esta comissão não apenas incluía
os apóstolos, mas alcançava todos os ministros do Evangelho
nas eras seguintes, até o fim do mundo; e desde então uma parte
do mundo, que não era conhecida, agora é descoberta; e a ordem
inclui isso, assim como as partes então conhecidas do mundo, e
o Evangelho foi enviado a elas. Pregai o evangelho a toda cria-
tura, não para criaturas inanimadas e irracionais, como estoques
e pedras, os animais do campo, etc. nem a todas as criaturas
racionais, como anjos, bons ou maus; o primeiro não precisa
da pregação do Evangelho, e ao segundo é negada a bênção;
mas os homens, a descendência de Adão caído, os objetos da
boa vontade de Deus, estes são denominados “as criaturas”, por-
que o chefe da criação de Deus na terra. Agora, para os gentios,
Cristo teria o Evangelho pregado, assim como para os judeus;
realmente para todos, sem qualquer distinção de pessoas, judeus
e gentios, bárbaros, citas, escravos e livres, homens e mulheres,
ricos e pobres, maiores ou menores pecadores, até mesmo para
toda a humanidade; do que isso nada era mais provocado!‫ ־‬para
J o h n Gill

os judeus, quem teria, se pudessem, revogado e anulado esta co-


missão de Cristo (veja 1 Tessalonicenses 2.16). Era o Evangelho
que Ele teria pregado, a palavra de paz e reconciliação por Seu
sacrifício expiatório; a doutrina do perdão livre e total por Seu
sangue; e da justificação por Sua justiça; e da salvação completa
por ele; mesmo toda doutrina relacionada à Sua pessoa, como
Deus e homem, a todos os ofícios d ’Ele, como profeta, sacerdote
e rei; à Sua encarnação, sofrimentos e morte, Sua ressurreição,
ascensão, lugar à direita de Deus e intercessão por Seu povo; e
a segunda vinda para julgamento, com toda doutrina relativa à
graça de Deus, do Pai na eleição e da aliança de paz, do Filho na
redenção e do Espírito na regeneração e santificação; tudo o que
Ele teria publicado e declarado da maneira mais livre, maneira
simples e aberta, com toda a ousadia, fidelidade e constância.
Um compêndio e resumo do qual é dado nas próximas palavras.
16.16. Quem crer. Não apenas de forma teórica, ou que dá
um simples assentimento à verdade do Evangelho; mas espiri-
tualmente, quem vê Cristo, sua necessidade d ’Ele, e o valor e
excelência, adequação e plenitude d’Ele, que vem a Ele como
um pobre pecador que perece, e se aventura n ’Ele, e se compro-
mete com Ele, e vive d ’Ele; acreditando somente n ’Ele, e espe-
rando vida e salvação somente por Ele, e é batizado; a fé deve
preceder o batismo, como mostram essas palavras de Cristo e os
exemplos das Escrituras; e os que o têm, devem fazer uma pro-
fissão e ser batizados; e de que maneira é que a fé se descobre e
opera por amor a Cristo; ou seja, em observar seus comandos, e
isso entre os demais; serão salvos, receberão a remissão de seus
pecados, uma justiça justificadora, o privilégio da adoção, um
direito e adequação para o céu agora, e serão salvos em Cristo,
com uma salvação eterna; não que a fé ou o batismo sejam as
causas da salvação, não a fé, pois Cristo é o autor da salvação; e
a fé é a Graça que espera por ele, recebe a garantia disso agora,
e esse será o fim dela no futuro; a fé e a vida eterna estão tão co­

356
C o m en tário bíblico de M arcos - C ap. 16

nectadas que aquele que tem uma, terá a outra; e é descritivo da


pessoa que o desfrutará; e o batismo, embora se diga que salva
pela ressurreição de Cristo, pois é um meio de levar a fé à res-
surreição d ’Ele para justificação, mas não tem influência casual
sobre a salvação; não é essencial para Ele; o ladrão na cruz foi
para o céu sem ela, e Simão, o Mago, para o inferno com ela;
mas é dever de todo aquele que crê, e aquele que verdadeira-
mente crê, dever ser batizado e provar a verdade de sua fé, por
sua obediência a Cristo, e tal será salvo; mas aquele que não crer
será condenado, tais são aqui principalmente concebidos que são
favorecidos com a revelação do Evangelho; mas ou negam, re-
jeitam e desprezam, ou negligenciam e são desobedientes a ela;
cuja culpa é maior e cujo castigo e condenação serão os mais
intoleráveis; ainda mais do que Sodoma e Gomorra, Tiro e Si-
dom, ou qualquer um dos gentios que perecem sem a lei e o co-
nhecimento do Evangelho; e também aqueles que são finalmente
incrédulos, que vivem e morrem em um estado de impenitência e
incredulidade; caso contrário, aquele que não acredita hoje, pode
acreditar amanhã e ser salvo.
16.17. E estes sinais seguirão aos que crerem. Não todos eles,
mas alguns; e nem sempre, apenas por um tempo; e que eram ne-
cessários para a confirmação do Evangelho e o estabelecimento do
cristianismo no mundo, e não apenas os ouvintes crentes, mas os
ministros crentes da palavra são principalmente designados; e isso
é dito para encorajamento tanto daqueles que pregam o Evangelho,
quanto daqueles que ouvem, creem e obedecem. A versão persa,
ao contrário de todas as outras, diz: “mostrareis sinais e maravilhas
aos incrédulos” (veja 1 Coríntios 14.22). Em meu nome expulsa-
rão os demônios; então o apóstolo Paulo desapossou a donzela que
tinha um espírito de adivinhação, ordenando ao espírito, em nome
de Jesus Cristo, que saísse dela, e saiu; e espíritos malignos tam-
bém saíram de outros por meio dele, pelo poder de Cristo (Atos
16.18); e esse poder continuou por um tempo considerável entre os

357
J o h n G ill

santos; a frase “em meu nome” está, na versão árabe, unida à pala-
vra “crer”, na cláusula anterior; e é omitido na versão persa, mas é
corretamente retido por todos os outros neste lugar; pois pelo poder
e autoridade de Cristo, e não deles, e invocando e fazendo uso de
Seu nome, tais operações milagrosas foram realizadas pelos após-
tolos; falarão em novas línguas, não como as feitas de novo e nunca
foram ouvidas e conhecidas antes; mas línguas estrangeiras, como
nunca aprenderam ou foram capazes de falar, ou entenderam antes;
e isso não apenas os apóstolos no dia de pentecostes, mas também
os crentes comuns em outras épocas (Atos 2.4; 10.45).
16.18. Pegarão nas serpentes. A versão árabe acrescenta
“em suas próprias mãos”; e em um antigo manuscrito de Beza
lê-se “nas mãos”; assim o apóstolo Paulo tinha uma víbora, que
prendeu e pendurou em sua mão, e sacudiu sem receber nenhum
dano dela (Atos 28.3). E, se beberem alguma coisa mortífera,
não lhes fará dano algum, não que eles fossem autorizados a be-
ber veneno para mostrar que poder eles tinham, mas se eles aci-
dentalmente bebessem, ou melhor, se forem forçados a isso por
seus inimigos a fim de destruí-los, eles não deveríam se machu-
car com isso; e Papias relata de Barsabás, de sobrenome Justo,
que foi tolerado por Matias para o apostolado (Atos 1.23), que
ele bebeu um gole venenoso e, pela Graça do Senhor, não rece-
beu nenhum dano; e os próprios judeus relatam que “um filho do
rabino Joshua ben Levi engoliu algo doloroso, e alguém veio e
sussurrou para ele em nome de Jesus, o filho de Pandira (assim
eles chamam nosso Senhor), e ele se saiu bem”. Segue-se: e po-
rão as mãos sobre os enfermos, e sararão, como o apóstolo Paulo
fez com o pai de Publius, que foi assim curado de uma febre e
de um fluxo de sangue, e também de outros (Atos 28.8); não, al-
guns foram curados pela sombra de Pedro (Atos 5.15), e outros
por lenços e aventais retirados do corpo de Paulo (Atos 19.12).
A versão persa acrescenta, sem qualquer autoridade, “tudo o que
pedirdes em meu nome, vos será dado”.
C o m en tário bíblico de M arcos ‫ ־‬C ap. 16

16.19. Ora, o Senhor. As versões da Vulgata Latina e siríaca


acrescentam: “Jesus”; e a versão etíope diz, “nosso Senhor, o Se-
nhor Jesus”; e tanto o siríaco quanto o persa leem “nosso Senhor”,
o que é comum nessas versões, onde a palavra “Senhor” é usada;
depois de lhes ter falado, aos discípulos, as palavras acima, que
os comissionaram para onde ir, o que fazer e o que dizer; e o que
deve segui-los, para a confirmação de sua missão e doutrina; foi
recebido no céu, em uma nuvem, anjos o atendendo e demônios
levados cativos por Ele, e com boas-vindas à presença de Seu Pai;
e assentou-se à direita de Deus; a versão etíope acrescenta “seu
próprio pai”, o que é uma evidência de que Ele fez Seu trabalho, e
isso com plena satisfação; e é uma honra nunca conferida a anjos,
ou qualquer mera criatura; e é uma dignidade peculiar conferida
à natureza humana de Cristo, em união com Sua pessoa divina; e
aqui Ele permanecerá, até Sua segunda vinda.
16.20. E eles, tendo partido. Depois disso, os apóstolos
partiram da Galileia para Jerusalém; e no dia de pentecostes
eles apareceram publicamente e pregaram o Evangelho em vá-
rias línguas; e após a morte de Estêvão e a perseguição susci-
tada por isso, eles saíram de Jerusalém (veja ísaías 2.3). Pre-
garam por todas as partes, não apenas na Judeia e nos países
vizinhos, mas em todo o mundo no decorrer do tempo; coope-
rando com eles o Senhor, tornando seu ministério útil, para a
convicção e conversão de grandes multidões, para formar e es-
tabelecer abundância de igrejas evangélicas, e para o conforto
e edificação dos santos; tudo o que foi feito, pelo poder e graça
de Cristo, sem o qual nada poderíam fazer (veja 1 Coríntios
3.9). E confirmando a palavra com sinais a seguir; a versão
árabe acrescenta “eles”; ou “o que eles fizeram”, como as ver-
sões siríaca e persa traduzem; não por seu próprio poder, mas,
como acrescenta a última dessas versões, “pela ajuda de nosso
Senhor” (veja Hebreus 2.4); a tudo o que o evangelista põe seu
homem: assim seja, assim será, e assim foi.

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