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Tópicos Especiais

em Engenharia
Ambiental I
Umidade, nebulosidade e precipitação

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Carlos Eduardo Martins

Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
Umidade, nebulosidade e precipitação

• Introdução
• Estados ou fases da água na superfície terrestre
• Umidade
• Nuvens, nevoeiro, neblina, orvalho e geada
• Pluviometria ou medida de precipitação ou de chuva
• Comportamento das chuvas no Brasil

· Esta unidade, tem por objetivo a análise do comportamento da água e


seus diferentes estados físicos na atmosfera e na superfície terrestre, no que
tange à caracterização, estruturação e morfologia dos climas.

Nesta unidade, em que trataremos sobre umidade, nebulosidade e precipitação, você terá
acesso a diversos recursos.
Veja o mapa mental que sintetiza a estrutura do assunto tratado neste módulo.
Fique atento aos prazos das atividades que serão colocadas no ar.
Recorra, sempre que possível, às videoaulas e ao PowerPoint narrado para tirar eventuais
dúvidas sobre o conteúdo textual.
Participe do fórum de discussão proposto para o tema.
No seu tempo livre, procure pesquisar as fontes do material complementar.
Além disso, procure pesquisar o máximo que puder sobre o tema “Umidade, nebulosidade
e precipitação”. Há inúmeros conteúdos na internet que são bastante úteis para o seu estudo
e para a sua formação profissional.

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Unidade: Umidade, nebulosidade e precipitação

Contextualização

Para começarmos esta unidade, acesse o link abaixo e saiba mais sobre os Fenômenos dos
rios voadores:

Fenômeno dos rios voadores


Os rios voadores são “cursos de água atmosféricos”, formados por massas de
ar carregadas de vapor de água, muitas vezes acompanhados por nuvens, e
são propelidos pelos ventos. Essas correntes de ar invisíveis passam em cima
das nossas cabeças carregando umidade da Bacia Amazônica para o Centro-
Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.
Leia o artigo completo em: http://riosvoadores.com.br/o-projeto/fenomeno-dos-rios-voadores/.
Acessado em 12/08/15.

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Introdução

Dos elementos que compõem a atmosfera, a água é um dos mais importantes na


produção das condições de tempo e de clima. Tal como o ar, a água apresenta um fluxo
bastante dinâmico na superfície terrestre. Além disso, a água alterna entre as fases ou
estados gasoso, líquido e sólido regularmente e, como tudo o que há na natureza, não se
perde, mas se transforma.

Estados ou fases da água na superfície terrestre

A água é um composto extremamente dinâmico que atua no sistema que combina a


superfície da crosta terrestre e a atmosfera. Essa dinâmica é basicamente determinada pelo
Sol, que aquece de forma diferenciada a superfície, tornando-se, então, a energia necessária
para que a água mude de um estado para outro. As mudanças de estado da água podem ser
observadas na Figura 1.

Figura 1. Estados físicos da água

Aumento de temperatura ou diminuição de pressão

SUBLIMAÇÃO

Fusão Vaporização

Sólido Líquido Gasoso

Solidificação Condensação

RESSUBLIMAÇÃO

Diminuição de temperatura ou aumento de pressão

Fonte: Elaborado pelo autor

A conversão do estado líquido da água em gás é denominada de vaporização ou


evaporação. Para converter um grama (g) de água para vapor são necessárias 600
calorias (cal) a fim de que as moléculas possam, ao entrar em movimento, “escapar” do
líquido e se tornar um gás ou vapor.

A condensação é o nome dado ao processo que leva o vapor d’água a


converter-se em líquido novamente. Nesse caso, a mesma quantidade de energia
armazenada (calor latente) na evaporação (600 cal) é liberada para o ambiente.

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Unidade: Umidade, nebulosidade e precipitação

Esse processo tem grande importância para a climatologia, pois a liberação de


energia provoca distúrbios atmosféricos consideráveis já que resfria o ambiente
em que a evaporação ocorreu. Além disso, compensa a baixa frequência de
radiação solar nas zonas polares, por meio da transferência de calor latente das
zonas intertropicais para aquelas.

Nos casos em que a água sólida converte-se em líquido (fusão), há uma absorção
de cerca de 80 calorias por grama de água (cal/g). No reverso desse processo,
denominado de solidificação, a energia liberada para o ambiente é a mesma, ou
seja, 80 cal/g.

Na sublimação, quando a água no estado sólido é convertida instantaneamente na


sua forma gasosa e na ressublimação, considerada o processo inverso, a quantidade
de energia envolvida é da ordem de 680 cal/g. Isso porque ao passar do estado sólido
para o gasoso e vice-versa, as moléculas tiveram que atingir a temperatura da água
líquida, mesmo que não tenham se liquefeito.

Em condições de baixas temperaturas conforme a altitude, a saturação, devido à


elevação da temperatura do ambiente ou à suspensão provocada por massas de ar
frio, pode resultar na precipitação da umidade em forma de chuva. Esta reinicia o
processo, gerando um ciclo hidrológico. Antes disso, a água permeia diversos ambientes
superficiais como lagos, rios e oceanos, podendo evaporar novamente ou, ainda, pode
ser absorvida pelas plantas e depois devolvida à atmosfera por meio da transpiração.
Quando consideramos os dois processos de liberação de vapor de forma integrada,
denominamos isso de evapotranspiração.

É nas nuvens e nas zonas polares ou montanhosas que o vapor d’água solidifica-
se se transformando em cristais de gelo. Esses cristais podem precipitar sobre o
solo na forma de neve ou derreterem e virar chuva ou mesmo serem sublimados
ou vaporizados antes mesmo de chegarem ao solo e converterem-se em vapor
novamente. Nas regiões polares ou montanhosas, pode ocorrer a sublimação do gelo
liberando, assim, o vapor atmosférico.

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Umidade

A umidade é o volume de vapor retido da atmosfera e pode conter até 2% de vapor d’água
na sua massa e 4% deste no seu volume total. No entanto, esses valores variam no espaço e no
tempo. Nas zonas áridas (desérticas), a porcentagem de umidade pode ser próxima de zero e
nas zonas intertropicais, pode chegar próximo de 4%. Esses valores podem sofrer alternâncias
significativas ao longo das estações do ano.

Uma das características mais importantes do vapor d’água é o fato de absorver tanto a
radiação solar, como a terrestre (radiação infravermelha ou calor) na passagem para a
fase gasosa. Ao condensar e precipitar na forma de chuva, libera o calor latente, gerando
perturbações atmosféricas. Portanto, a umidade é um importante transmissor de umidade e
calor entre os ambientes e um dos componentes essenciais dos climas.

Umidade absoluta e relativa


Quando a água converte-se em vapor passando para o estado gasoso, as moléculas de água
misturam-se com os outros gases passando a compor a atmosfera. Entretanto, há limites para
a quantidade de vapor na atmosfera, pois esta já contém os outros gases e compreende uma
camada da estrutura da Terra comprimida entre a superfície e o espaço sideral. Então, quanto
de água o ar pode conter?

Umidade Absoluta
Antes de responder à questão anterior, é importante salientar que, embora não pareça,
a parte que nos interessa da atmosfera é limitada pela superfície terrestre e pelo topo da
troposfera a cerca de 32 km. Isso quer dizer que o vapor que entra na atmosfera aumenta
a pressão desta dependendo da sua capacidade de absorvê-lo, isto é, de saturar-se de vapor
d’água. A esta propriedade de saturação máxima de saturação de vapor d’água damos o nome
de Umidade Absoluta - UA, que é definida como a massa de vapor de água (em gramas – “g”)
por unidade de volume (em metros cúbicos – “m3”).
Conceitos associados:
• Umidade específica: é a razão entre o peso do vapor de água e o peso do ar em gramas (g),
ou seja, quantidade em gramas de vapor d’água existente em cada quilograma de ar úmido.
• Razão de mistura: é a relação entre a quantidade de vapor em gramas (g) existente em um
quilograma de ar, sem contar o peso do próprio vapor, ou seja, a mistura do vapor no ar seco.
• Pressão de vapor: é o peso do vapor dado pela pressão exercida sobre uma superfície ao nível
do mar, medido em milibar (mb) ou hectopascal (hPa).

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Unidade: Umidade, nebulosidade e precipitação

Do ponto do vista quantitativo, um metro cúbico (1 m3) de ar poderia conter até 4% do seu
volume total de água, expresso em grama por metro cúbico (g/m3). A UA, ou saturação de
vapor d’água, não é igual em toda a superfície, pelo contrário, ela depende essencialmente da
distribuição da radiação solar. No Quadro 1, podemos observar os vários índices de UA para
as várias classes de temperatura da superfície terrestre.

Quadro 1. Índices de Umidade Absoluta conforme a temperatura

Temperatura Conteúdo de umidade (g/m3)


-15 1,6
-10 2,3
-5 3,4
0 4,8
10 9,4
15 12,8
20 17,3
25 22,9
30 30,3
35 39,6
40 50,6
Fonte: Ayoade (1975, p. 144)

Cada uma das temperaturas observadas no Quadro 1 é denominada Ponto de Orvalho (Td), isto
é, a temperatura limite para cada taxa de saturação de vapor d’água possível. Note que para cada
Ponto de Orvalho, teremos uma taxa de saturação específica. É importante salientar que as taxas
de saturação não aumentam nas mesmas proporções que as temperaturas do Ponto de Orvalho.
Em relação à afirmação anterior, note no Quadro 1, enquanto que para uma temperatura
de 35 °C a saturação corresponde a 39,6 g/m³, a 40 °C, apenas cinco graus Celsius a mais,
a saturação pula para a casa dos 50,6 g/m³. Quer dizer que o ar um pouco mais quente tem
capacidade de reter bem mais vapor.
Isso se deve ao fato que a definição das taxas de saturação implica considerar uma série de
parâmetros atmosféricos que vão muito além da aritmética pura.
Suponha que haja um aquecimento do ar que eleva a temperatura de 25 para 30 °C.
Imediatamente, a mudança térmica do ar, a taxa de saturação aumenta de 22,9 g/m3 para
30,3 g/m3, o que quer dizer que o ar pode reter mais vapor d’água. Se ocorrer o oposto, o
ar perde capacidade de reter vapor, ou seja, a saturação diminui. A diminuição da saturação
implica na necessidade imediata de eliminar o excedente em g/m3, o mecanismo para isso é
a condensação e, consequentemente, a precipitação, ou seja, a chuva.
Toda chuva, portanto, pode ser considerada o excedente da saturação de uma determinada
porção da atmosfera que passou por uma diminuição de temperatura e, em consequência
disso, teve diminuída a sua capacidade de reter aquele excedente de vapor que precipitou em
forma de chuva.
Mas como quantificar a umidade existente no ar? Através de uma medida denominada de
Umidade Relativa.

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Umidade relativa
Uma coisa que devemos considerar é que há 4% de vapor por unidade de ar, mas esse
é um valor absoluto; portanto, impossível de ser medido, pois esse é o valor de saturação
e toda vez que o ar atinge esse índice ocorre a precipitação do excedente. Assim, nunca
podemos identificar o valor absoluto, embora possamos supor a sua ocorrência quando
chove. Isso quer dizer que, instantes antes e/ou durante o início da chuva, houve queda de
temperatura e, consequentemente, no Ponto de Orvalho, a umidade ultrapassou o volume
em g/m³ e/ou saturou o ar a ponto de promover a precipitação do excedente de vapor
para a nova situação térmica.
Assim, a medida possível de ser feita para se saber a quantidade de umidade no ar é a
que denominamos de Umidade Relativa – UR. A taxa de UR é medida em porcentagem
(%) em relação à Umidade Absoluta – UA.
Hipoteticamente, se admitirmos o Ponto de Orvalho em 25 °C, a saturação admitida
equivale a 22,9 g/m3 de vapor d’água, o que equivale a 100% de umidade possível
de ser retida no ar. Teoricamente, admitimos que caso ocorra queda na temperatura
a UR ultrapassaria 100% e ocorreria chuva para a nova condição térmica com taxas
inferiores de UA.
Por outro lado, ao medir a umidade do ar em certo instante do dia constatou-se que, na
mesma temperatura, a taxa de vapor existente foi de 11,45 g/m3, ou, 50% de UR. Isso
poderia significar, teoricamente, uma probabilidade de chuva bem abaixo do caso anterior.
E, finalmente, caso constatássemos, ao medir novamente o ar que a quantidade de
vapor é da ordem de 5,72 g/m3, podemos dizer que a UR seria de 25%. As chances de
chuva seriam, hipoteticamente, remotas se considerada a mesma temperatura inicial.
É importante salientar que pequenas variações térmicas implicam em grandes alterações
no percentual de UR.
Deixemos claro que todas as suposições feitas acima são hipotéticas, pois a passagem
de uma massa de ar polar pode produzir redução drástica nas médias térmicas fazendo
precipitar mesmo aquelas pequenas quantidades de vapor no ar, dado que o Ponto de
Orvalho também pode cair drasticamente.

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Unidade: Umidade, nebulosidade e precipitação

O registro da Umidade Relativa – UR


Registramos a UR utilizando um instrumento denominado de Psicrômetro. O Psicrômetro
é, na verdade, a combinação de dois termômetros. Um dos termômetros tem o bulbo coberto
pela extremidade de uma fibra natural absorvente que tem a outra extremidade mergulhada em
água. O que mantém o bulbo sempre úmido. Por esse motivo denominamos esse instrumento
de termômetros de bulbo úmido. O outro termômetro é mantido com o bulbo seco (Figura 1).

Figura 1. Psicrômetro

O funcionamento do Psicrômetro é muito simples. Como a fibra


Seco Úmido umedecida ao máximo (saturação máxima) é exposta ao ar livre, ela
expõe a água que encharca a fibra e recobre o bulbo à evaporação,
o que leva ao consumo de calor (600 cal/g) para que a evaporação
seja possível. Com isso, o mercúrio do termômetro registra esta
queda da temperatura por perda de calor, ou seja, ele identifica que
o consumo de caloria implica que o ar esteja secando e se contrai.
Logo, quanto maior a diferença entre o termômetro de bulbo
Bulbo
úmido
úmido em relação ao de bulbo seco, menor a UR e vice-versa.
Recipiente
com água

Fonte: adaptado de i00.i.aliimg.com

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Nuvens, nevoeiro, neblina, orvalho e geada

A condensação do vapor d’água produz uma série de fenômenos atmosféricos. Dependendo


da sua localização ou das condições térmicas, as quais se formam podem ser denominados de
nuvem, nevoeiro, orvalho e geada. Independentemente da classificação, o essencial para que
ocorra a condensação é que o ambiente esteja saturado de umidade, o que, no geral, acontece
quando o ar é resfriado.

Nuvens
Chamamos de nuvem as aglomerações de gotículas de condensação e deposição de vapor
d’água e/ou de cristais de gelo na atmosfera. As nuvens também podem conter partículas
sólidas (“poeira”) e outros gases sobre os quais as gotículas aglomeram-se em um fenômeno
denominado de coalescência. Nesse caso, tanto os gases como os particulados sólidos
funcionam como núcleos de condensação das gotículas de água. Os sais (Cloreto de Sódio
- NaCl, Sulfato de Cálcio - CaSO4, Sulfato de Magnésio - MgSO4 e Cloreto de Magnésio -
MgCl2, por exemplo) suspensos no ar, têm importância redobrada quanto ao fato de serem
especialmente atraentes às moléculas de água por afinidade química sendo, por esse motivo,
denominados de Núcleos Higroscópicos.

A diferenciação das nuvens pode ser baseada na sua forma. Nesse caso, as nuvens são
classificadas em:

Cirrus nuvens fibrosas, altas, brancas e finas;

Stratus camadas que cobrem grande parte ou todo o céu;

massas individuais globulares de nuvens, com aparência de dômica


Cumulus desenvolvidas devido à convecção ascendente.

Além da distinção morfológica, as nuvens podem ser caracterizadas pela sua altura. Assim,
temos quatro classes:

Altas nuvens nas quais a base ewwwncontra-se acima de 6.000 m.

Médias nuvens nas quais a base encontra-se entre 2.000 e 6.000 m.

Baixas nuvens nas quais a base encontra-se até 2.000 m.

Nuvens com geralmente, estão associadas ao aumento diário de temperatura, isto é, à


desenvolvimento convecção ascendente.
vertical

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Unidade: Umidade, nebulosidade e precipitação

A Figura 2 apresenta a representação da classificação das nuvens.

Figura 2. Classificação de nuvens

Fonte: zeus.iag.usp.br

O Quadro 2 apresenta a classificação mais detalhada e algumas especificidades de cada


agrupamento de nuvem.

Quadro 2. Classificação de nuvens


Tipos Básicos de Nuvens
Família de nuvens e Tipo de Características
altura nuvem
Cirrus Nuvens finas, delicadas, fibrosas, formadas de cristais de
(Ci) gelo.
Nuvens finas, brancas, de cristais de gelo, na forma
Nuvens altas Cirrocumulus de ondas ou massas globulares em linhas. É a menos
(acima de 6000 m) (Cc) comum das nuvens altas.
Camada fina de nuvens brancas de cristais de gelo
Cirrostratus que podem dar ao céu um aspecto leitoso. As vezes
(Cs) produz halos em torno do sol ou da Lua.
Altocumulus Nuvens brancas a cinzas constituídas de glóbulos
Nuvens médias (Ac) separados ou ondas.
(2000 - 6000 m) Altostratus Camada uniforme branca ou cinza, que pode produzir
(As) precipitação muito leve.

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Stratocumulus Nuvens cinzas em rolos ou formas globulares, que
(Sc) formam uma camada.
Camada baixa, uniforme, cinza, parecida com
Nuvens baixas Stratus nevoeiro, mas não baseada sobre o solo. Pode
(abaixo de 2000 m) (St) produzir chuvisco.
Nimbostratus Camada amorfa de nuvens cinza escuro. Uma das
(Ns) mais associadas à precipitação.
Nuvens densas, com contornos salientes, ondulados e
Cumulus bases frequentemente planas, com extensão vertical
(Cu) pequena ou moderada. Podem ocorrer isoladamente
Nuvens com ou dispostas próximas umas das outras.
desenvolvimento vertical
Cumulonimbus Nuvens altas, algumas vezes espalhadas no topo
de modo a formar uma ‘‘bigona’’. Associadas com
(Cb)
chuvas fortes, raios, granizo e tornados.
Fonte: Adaptado de Grimm (1999)

Nevoeiro e neblina
Em certos casos, esse fenômeno pode ocorrer, devido ao resfriamento noturno do ar de
gotículas de água ou cristais de gelo entrar em suspensão, mas manterem-se próximas do
solo. Além disso, é mais comum em noites de céu limpo, ventos fracos e umidade relativa
razoavelmente alta. Nessas condições, um pequeno resfriamento que seja já é capaz de
condensar o vapor que paira próximo à superfície no fim da madrugada. Se tal condensação
for fraca e permitir a visibilidade superior a um km, chamamos esse fenômeno de neblina.
Caso a condensação seja intensa e diminua a visibilidade para menos de um km, tal fenômeno
é chamado de nevoeiro (Figura 3).

Figura 3. Neblina no vale do rio Pelotas, Bom Jesus-RS

Fonte: elaborado pelo autor

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Unidade: Umidade, nebulosidade e precipitação

Orvalho e geada
Assim como o caso anterior, o orvalho e a geada também ocorrem devido ao resfriamento
noturno do ar, igualmente em noites de céu limpo, ventos fracos e umidade relativa
razoavelmente alta. Nesses casos, os elementos existentes na superfície terrestre emitem mais
radiação que recebe da atmosfera. Por esse motivo, a superfície daqueles elementos torna-se
mais fria que o ar do entorno, esfriando-o e este se torna saturado.
Se a temperatura do ar, ainda que este tenha esfriado devido ao fato de ter transferido seu
calor para o elemento da superfície, ainda permanecer acima do ponto de congelamento,
o vapor presente é depositado na forma de orvalho. Caso a temperatura do ar tenha ficado
abaixo ou igual à do ponto de congelamento o vapor é depositado na forma de geada (Figura
4). Utilizamos o termo deposição e não precipitação porque o vapor não caiu do céu, mas já
estava presente no ambiente, sendo apenas depositado sobre a superfície.

Figura 4. Cristais de gelo remanescentes de geada sobre os campos naturais. Bom Jesus-RS

Fonte: elaborado pelo autor

A deposição é um fenômeno bastante comum sendo observado em garrafas de líquidos


gelados que são expostas ao ar livre fora da geladeira. O lado externo da garrafa fica coberto
com gotículas de água cada vez maiores até que escorrem pelo corpo da garrafa.

Precipitação ou chuva
Embora possa não parecer, a chuva é um fenômeno excêntrico. Dizemos isso porque para
que haja chuva, as partículas de água têm que vencer uma série de obstáculos que a maior
parte dos vapores não consegue ultrapassar.
As gotículas de água das nuvens têm dimensões bastante reduzidas em torno de 20 microns.
Para se ter uma ideia, um fio de cabelo tem um diâmetro de 75 microns.
Devido às suas pequenas dimensões, as gotículas de água das nuvens não conseguem cair
no solo, mesmo considerando que a força da gravidade as atrai para baixo. Isso acontece em
decorrência do fato de as correntes de ar ascendentes empurrarem-nas de volta para cima.

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As múltiplas barreiras só são ultrapassadas nos casos em que as gotículas crescem o
suficiente para alcançarem o solo na forma de chuva. O tal crescimento esperado para que as
gotículas transformem-se em chuva é chamado de coalescência ocasionado pelo choque entre
moléculas de água. A Figura 5 representa o processo de crescimento de gotículas de água e a
formação de chuva.

Figura 5. Coalescência de gotículas de vapor e formação de chuva

Fonte: Adaptado de Grimm

Analisando a Figura 5, podemos observar que a gotícula em queda através da atmosfera,


já envolvendo um núcleo de condensação (“a”), ajunta-se a outras gotículas (“b”), tornando-se
bastante pesada, aumentando a velocidade da queda (“c”). A certa altura, devido ao atrito com
o ar, a gota de chuva inicia um processo de divisão em pleno ar (“d”). A partir daí, gotas de
chuva continuam a cair em alta velocidade até alcançarem o solo na forma de chuva (“e”). A
partir daí, basta medir a quantidade de chuva precipitada.

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Unidade: Umidade, nebulosidade e precipitação

Pluviometria ou medida de precipitação ou de chuva

Figura 6. Pluviômetro do tipo Ville Medimos a precipitação com o emprego de um pluviômetro


(Figura 6). O instrumento consiste de um coletor côncavo com
diâmetro de 20 cm, interligado a um recipiente de armazenamento
cilíndrico, com área equivalente a um décimo da área do coletor.
O funcionamento do pluviômetro é bastante simples. Ele deve
ser deixado a céu aberto para coletar a água ou o gelo precipitado
para o solo. A quantidade de chuva precipitada é resultado de
uma fórmula dedutiva também bastante simples: um milímetro de
água de chuva capturada pelo coletor equivale a um litro de chuva
precipitada sobre 1 m² no solo. Portanto, 1 mm de água captada
pelo pluviômetro equivale a 1 litro de chuva por metro quadrado.
Hipoteticamente, se após uma chuva forte o tubo de
armazenamento contiver 60 mm de água, isso quer dizer que
choveu 60 litros por metro quadrado.
A chuva também pode ser medida por pluviógrafos (Figura 7).
Esses aparelhos têm a vantagem de, além de serem um registro
contínuo, permitem saber o ponto de início, as variações e o fim
de um evento de chuva.
Fonte: p1.storage.canalblog.com.

Figura 7. Pluviógrafo

Fonte: Wikimedia Commons

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Tipos de precipitação ou chuva
A chuva pode ser classificada segundo a sua gênese em: orográfica, frontal e convectiva.

Chuva orográfica
A chuva orográfica, como o próprio nome indica, é aquela que tem sua gênese associada
às encostas das elevações topográficas. É importante lembrar que, durante o processo de
convecção, o ar, antes de ascender a baixas pressões e grande volume de vapor proveniente
de evaporação das águas e da transpiração vegetal, cumpre uma trajetória horizontal rente à
superfície antes de ganhar altura.
Ao encontrar uma barreira topográfica, o ar úmido é “forçado” a subir pela encosta e a resfriar
adiabaticamente. Como o processo de convecção é ininterrupto, mais ar quente e úmido é produzido
em sequência, empurrando o volume anterior contra a barreira orográfica, obrigando-a a subir
rente à encosta. É claro, que, ao longo do deslocamento horizontal, pode ocorrer precipitação
devido à saturação de vapor conjuntamente às eventuais reduções térmicas adiabáticas.
As chuvas orográficas são bastante comuns na faixa costeira leste do Brasil. Como o ar
é forçado a subir desde o nível do mar até o topo da Serra do Mar que varia entre 1.000 a
2.000 m de altitude, ocorre o resfriamento adiabático e, consequentemente, quedas sucessivas
no ponto de orvalho. Esse processo promove a condensação e subsequente precipitação da
umidade existente na chamada face de sotavento, isto é, a que está voltada para a origem do
ar em movimento ou da brisa marinha. Quando termina a escalada pela encosta, as taxas de
umidade já são bem mais baixas e a condensação e a precipitação bem mais modestas, ou, a
“sombra de chuva” na face de barlavento, aquela que está voltada para a direção do destino
do ar em movimento. O esquema da Figura 8 apresenta esse processo.
Figura 8. Esquema explicativa para a chuva orográfica
O ar que atinge
O ar úmido que
a face oposta da
vem do mar, ou à
mesma elevação,
Barlavento, ao
desce seco e
subir, resfria
aquecendo
adiabaticamente,
adiabaticamente
ou seja, por
à Sotavento.
mudança de
pressão. Isso
produz a Chuva
Orográfica ao
longo da encosta.

Fonte: elaborado pelo autor

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Unidade: Umidade, nebulosidade e precipitação

Conceito associado:
• Vento Foehen: é o vento frio e seco (mais frio e mais seco que a sua origem a barlavanto) que
descem as vertentes de sotavento.

Como exemplo desse processo, no Quadro 3, podemos comparar os dados pluviométricos


desde a baixada santista até o planalto paulista, no Estado de São Paulo.

Quadro 3. Totais de chuva para localidades selecionadas

LOCALIDADE ALTITUDE (M) TOTAL DE CHUVA (mm/ano)


Santos 9 2.153 m
Cubatão 8 2.530 m
Serra do Mar 350 3.151 m
Serra do Mar 500 3.387 m
Serra do Mar 850 3.874 m
São Caetano do Sul 760 1.289 m
Fonte: Adaptado de Galvani (2014)

A Figura 9 mostra a localização dos pontos amostrados no exemplo do fenômeno


pluviométrico orográfico.

Figura 9. Localização dos pontos amostrais de dados de precipitação orográfica

Fonte: DATA Sio, NOAA, NGA, GEBCO, Digital Globe, CNES/Astrium, Google (2015)

Se observarmos as localizações dos pontos amostrais, notaremos que a sequência do


Quadro 3 obedece a uma distribuição no sentido Sudeste-Noroeste, a mesma da direção da
brisa marinha. Assim, de Santos a São Caetano do Sul há um afastamento em relação à faixa
costeira. Santos e Cubatão, além de mais próximas ao mar, encontram-se nas altitudes mais
modestas quando comparadas aos outros pontos amostrais.

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No geral, este tipo de chuva apresenta uma distribuição espacial bastante concentrada,
embora apresente grande variabilidade locacional. A intensidade vai de fraca a forte,
dependendo da velocidade do vento que acompanha o resfriamento adiabático e sua duração
é curta indo de alguns minutos a poucas horas.
A análise dos dados e informações de localização permite afirmar que as taxas anuais
de precipitação têm uma origem moderada em Santos, elevam-se de Cubatão ao topo da
Serra do Mar e diminuem significativamente no planalto, caracterizando a chuva orográfica de
forma muito concreta.

Chuva Frontal
As chuvas frontais têm sua gênese associada aos choques entre massas de ar em movimento
na superfície terrestre.
As massas de ar são porções de ar de grandes dimensões que apresentam certa
homogeneidade em termos de temperatura e umidade.
O avanço de massas de ar sobre superfícies de características diferentes provoca o surgimento
de frentes, que são áreas de baixa pressão entre essas massas de ar, causando instabilidade
atmosférica, muita nebulosidade e precipitação. As frentes estão, portanto, na transição de
massas de ar diferentes.
O estudo das frentes trás consigo alguns conceitos como:

Frontogênese: processo de formação ou regeneração de uma frente.


Frontólise: processo de dissipação de uma frente.
Linha de Instabilidade: faixa de nebulosidade e mau tempo, com até 60
km de largura. Forma-se nas latitudes temperadas e subtropicais antes da
chegada de uma frente fria de rápido deslocamento.

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Unidade: Umidade, nebulosidade e precipitação

A gênese da chuva frontal


O encontro das massas de ar promove a ascensão forçada da massa mais quente e úmida
sobre a massa de ar fria e seca, levando ao resfriamento acompanhado de condensação e
subsequente precipitação da umidade pré-existente na primeira (Figura 10).

Figura 10. Esquema explicativo de chuva frontal


A massa de ar frio O choque de
e seco, mais densa, frente fria promove a
que vem de regiões “ascensão forçada”
polares se choca de da massa de ar
frente com uma quente e úmido
massa de ar quente quando há
e úmida existente condensação e
em regiões chuva por
subtropicais e, resfriamento
ou, tropicais. adiabático.

Fonte: elaborado pelo autor

A chuva frontal tem uma distribuição local a regional, podendo se estender por centenas
de milhares de km². A intensidade é muito variável podendo apresentar-se forte a muito forte,
como as chuvas frontais que atingem à região Sul a moderadas e fracas, como os chuviscos
que são comuns no sudeste, particularmente em São Paulo. A temporalidade desses tipos de
chuva pode ir de algumas horas a até algumas semanas, sendo bem distribuídas ao longo do
ano embora sejam mais frequentes no inverno.

O Brasil tem boa parte dos seus climas significativamente influenciados pela frente fria que
tem origem na zona polar antártica, denominada massa Polar antártica ou atlântica, que tem
como característica o fato de ser fria, úmida, instável e profunda, ou seja, estende-se através
da troposfera.

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Chuva de convecção ou convectiva
As chuvas de convecção ou convectivas são as que se formam a partir de nuvens de grande
desenvolvimento vertical e resfriamento adiabático. O esquema da Figura 11 representa o
processo que leva à formação de chuvas convectivas.

Figura 11. Esquema de representação do processo de formação de chuvas de convecção

Fonte: elaborado pelo autor

Essas chuvas, apesar de ocorrerem de forma bem concentrada têm sua distribuição bastante
irregular. Sua intensidade pode ser considerada moderada a muito forte, embora a duração seja curta
em termos de minutos a horas. Isso vai depender do desenvolvimento vertical da nuvem (Figura 12).

Figura 12. Nuvem do tipo Cumulonimbus com grande desenvolvimento vertical, sobre a cidade de São Paulo

Fonte: ebc.com.br

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Unidade: Umidade, nebulosidade e precipitação

Comportamento das chuvas no Brasil

O Brasil compreende um território de grandíssimas dimensões. Trata-se de um território com


uma extensão de 8.514.876,599 km2 sendo que o comprimento longitudinal (Oeste-Leste) é da
ordem de 4.319,4 km e o comprimento latitudinal (Norte-Sul) é de 4.394,7 km. Além disso, o país
apresenta um dos maiores litorais do mundo com 7.367 km e uma das maiores faces de sotavento
do mundo, correspondente à faixa oriental dos Andes, com 15.719 km (IBGE, 2015)1 .
Os dados supracitados são a prova cabal de que o Brasil é um país de diversidades e os
seus climas são prova disso. A Figura 13 a seguir apresenta esta diversidade do ponto de vista
pluviométrico. Trata-se dos pluviogramas de cidades brasileiras selecionadas.

Figura 13. Pluviogramas de cidades selecionadas

Fonte: inmet.gov.br

Na análise comparativa dos quatro gráficos de precipitação das cidades brasileiras


selecionadas, podemos observar algumas nuances. A cidade de Boa Vista, capital do
Estado de Roraima, situa-se ao Norte do Equador. Assim, o regime de chuvas que
alimenta o sistema clima-terra desta localidade é proveniente de chuvas de verão no
hemisfério Norte.

1 Disponível em http://teen.ibge.gov.br/mao-na-roda/posicao-e-extensao. Acessado em 20/03/2015

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Já a cidade de Aracaju, capital do Estado de Sergipe, apresenta um gráfico
morfologicamente similar ao anterior. Entretanto, quando observamos o período de maior
ocorrência de precipitação, vemos que os índices revelam outros fatores de controle
climático. A cidade de Aracaju encontra-se às margens do Oceano Atlântico. O que leva
a crer que as chuvas se devam a algum fato essencialmente devido à proximidade com
a costa e, em particular, ao deslocamento para o Sul da ZCIT. Contudo, as taxas de
precipitação não se devem a apenas à sua localização privilegiada, mas pelo contrário, as
chuvas representadas no pluviograma são originadas no Sul. É a massa Polar atlântica,
mais atuante em junho e julho, que leva à formação de chuvas.
O pluviograma da cidade de Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina, é de
grande valia para os estudos climáticos. Se observarmos bem os dados do gráfico, poderemos
perceber que a cidade apresenta uma boa regularidade na ocorrência de chuvas. Isso pode
ser explicado pela constante produção da brisa marinha sobre a cidade, situada em uma
ilha junto à costa, resfriada pelas constantes massas de ar frio que vem do sul.
O pluviograma da cidade de Teresina apresenta um longo período de estiagem que vai
de junho a outubro. A cidade em questão recebe influências da maritimidade, embora não
seja uma cidade costeira. E também recebe influências do nordeste setentrional semiárido.
Assim, é um clima de contrastes hidrográficos muito significativos.
A diversidade observada nos resultados das amostras obtidas para análise demonstra que
o Brasil é um país de contrastes e principalmente no que diz respeito ao âmbito natural.

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Unidade: Umidade, nebulosidade e precipitação

Material Complementar

Sites sobre a água atmosfera

Sites:
CPTEC – Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos: www.cptec.inpe.br
INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais: www.inpe.br
INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia: www.inpa.gov.br
LBA – Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia: lba.inpa.gov.br/lba/
IMAZON – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia: www.imazon.org.br

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Referências

AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. Bertrand Brasil, Rio de


Janeiro, 1996.

GRIMM, A. M. Meteorologia básica: notas de aulas. Versão eletrônica. Disponível em


http://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo/. Acessado em 18/03/2015.

VAREJÃO-SILVA, M. A. Meteorologia e Climatologia. Versão eletrônica disponível


em http://www.icat.ufal.br/laboratorio/clima/data/uploads/pdf/METEOROLOGIA_E_
CLIMATOLOGIA_VD2_Mar_2006.pdf. Acessado em 18/03/2015.

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Unidade: Umidade, nebulosidade e precipitação

Anotações

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