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Brazilian Journal of Animal and Environmental Research 3848

ISSN: 2595-573X

Patrimônio nacional socioambiental: reflexões sobre a proteção do bioma


cerrado e seus impactos na floresta Amazônica

National socio-environmental heritage: reflections on the protection of the


cerrado biome and its impacts on the Amazon forest
DOI: 10.34188/bjaerv4n3-091

Recebimento dos originais: 04/03/2021


Aceitação para publicação: 30/06/2021

Fernando Figueiredo Prestes


Doutorando em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR
Universidade de Fortaleza – UNIFOR
Endereço: Av. Dr. Theomario Pinto da Costa n. 450 casa 33, CEP 69050-055 Manaus Amazonas
Brasil
E-mail: fernandofprestes@hotmail.com

RESUMO
A presente pesquisa tem como objeto as relações jurídicas decorrentes do §4º do Art. 225 da
Constituição Federal Brasileira, que assegura a proteção dos principais ecossistemas brasileiros. A
Constituição quis enfocar algumas partes do território brasileiro para concitar que devem ser
utilizadas de modo a assegurar a conservação do meio ambiente, por serem áreas frágeis e detentoras
de grande diversidade biológica. A necessidade de proteção ambiental nem sempre foi tratada no
Brasil como deveria ser e foi longa a jornada percorrida até o alcance do entendimento de que a
proteção ambiental é e sempre será necessária como forma de proteção do homem, atualmente, o
centro das atenções quanto a esse assunto. A regra consubstanciada no Art. 225, §4º da CF, inaugura,
no Direito Ambiental Brasileiro, um tipo de comando constitucional que necessita compreender o
Patrimônio Nacional. O texto é pedagógico ao dizer que essas áreas integram o Patrimônio Nacional
e indicam que os regionalismos não devem sobrepor-se aos interesses nacionais. O Cerrado, mesmo
sendo um dos biomas brasileiros, não foi mencionado no Texto Constitucional. O objeto desta
pesquisa é uma análise comparativa com o Bioma Floresta Amazônica, de modo a verificar qual a
diferença jurídica quanto à proteção entre esses dois biomas. Dentro dessa temática, este trabalho
tem por finalidade conceituar juridicamente o Art. 225, §4º da Constituição e apresentar critérios
objetivos capazes de melhor compreender essa regra constitucional especificamente sobre o meio
ambiente, embora se considere que o dispositivo constitucional citado não impede a utilização pelos
próprios particulares dos recursos naturais existentes nas áreas sujeitas ao domínio privado, desde
que observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias à conservação
ambiental. A pesquisa apresenta técnicas, critérios e métodos de decisão para se procurar entender
o objetivo almejado pela norma constitucional do Art. 225, §4º. A linha de pesquisa escolhida é a
de conservação dos recursos naturais e desenvolvimento sustentável. O método científico adotado
é o dedutivo e, quanto aos meios, a pesquisa foi a bibliográfica e documental com consulta à
doutrina, legislação, jurisprudência, periódicos, tratados internacionais, revistas e documentos
ostensivos, disponibilizados pelas autoridades federais, estaduais e municipais. Quanto aos fins, a
pesquisa é qualitativa.

Palavras-chave: Áreas Protegidas. Conservação do Cerrado. Floresta Amazônica. Patrimônio


Nacional. Patrimônio Socioambiental.

Brazilian Journal of Animal and Environmental Research, Curitiba, v.4, n.3, p. 3848-3989 jul./set. 2021.
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ABSTRACT
The present research has the objective of legal relations arising from §4o of Article 225 of the
Brazilian Federal Constitution, which ensures the protection of the main Brazilian ecosystems. The
Constitution wanted to focus on some parts of the Brazilian territory to encourage them to be used
in a way that ensures the conservation of the environment, because they are fragile areas and possess
great biological diversity. The need for environmental protection has not always been addressed in
Brazil in the way it should be and the journey has been long until the understanding that
environmental protection is and always will be necessary as a form of protection of man, attention
to this matter. The rule embodied in Article 225, §4o of the CF, inaugurates, in Brazilian
environmental law, a type of Constitutional command that needs to understand the National
Patrimony. The text is pedagogical in saying that these areas are part of the National Patrimony,
indicating that regionalisms should not overlap with national interests. The Cerrado, even being one
of the Brazilian biomes, was not mentioned in the Constitutional text, being the object of this
research a comparative analysis with the Amazon Forest Biome in order to verify what legal
difference as protection between these two biomes. Within this theme, the purpose of the work is to
legally define Art. 225, §4o of the Constitution, presenting objective criteria capable of better
understanding this constitutional rule specifically about the environment. Whereas the
aforementioned constitutional provision does not prevent the use by private individuals of the
natural resources existing in those areas which are subject to the private domain, provided that legal
requirements are observed and the conditions necessary for environmental conservation are
observed. The research presents techniques, criteria and methods of decision to try to understand
the objective sought by the Constitutional rule of Art. 225, §4º. The research line chosen is the
conservation of natural resources and sustainable development. The scientific method adopted is the
deductive; As for the means, the research was made available to the federal, state and municipal
authorities, with reference to the doctrine, legislation, jurisprudence, periodicals, international
treaties, magazines and ostensible documents. And the purpose of the research is qualitative.

Keywords: Amazon rainforest. Conservation of the Cerrado. National Patrimony. Protected Areas.
Socio-environmental patrimony.

1 INTRODUÇÃO
O Brasil é formado por seis biomas de características distintas: Amazônia, Caatinga,
Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal e cada um desses ambientes abriga diferentes tipos de
clima, de relevo, de solo, de vegetação e de fauna. A vegetação é um dos componentes mais
importantes, visto que seu estado de conservação e de continuidade definem a existência ou não de
habitats para as espécies, o fornecimento de bens essenciais à sobrevivência de populações
humanas e a manutenção de serviços ambientais.
A identificação dos biomas brasileiros, sua importância para o meio ambiente, seus
diferentes aspectos ambientais, as regiões de abrangência e a forma como o homem se relaciona
com esses ecossistemas são importantes para a estabilização e o equilíbrio ambiental e,
consequentemente, para a perpetuação da vida.
Dispõe o artigo 225 da Constituição Federal, em síntese, que todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de

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vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as


presentes e as futuras gerações.
O §4º apresenta uma comando normativo em que afirma serem a Floresta Amazônica
brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira
patrimônio nacional e cuja utilização se fará na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
A presente pesquisa propõe analisar o artigo 225, §4º da Constituição Federal, seus aspectos
jurídicos e socioambientais, a possível relação entre proteção do patrimônio nacional com o direito
de propriedade, a análise comparativa entre o bioma Cerrado não inserido no dispositivo
constitucional com o bioma Floresta Amazônica, que possui o status, no texto constitucional, de
Patrimônio Nacional.
O bioma Floresta Amazônia caracteriza-se por seus rios, mata fechada e diversidade
biológica insuperável. Considerado o maior bioma brasileiro e a maior reserva de diversidade
biológica do mundo, o bioma Amazônia corresponde à quase metade do território nacional.
Abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima, parte de Rondônia, Mato Grosso,
Maranhão e Tocantins. O clima dessa região é quente e úmido e sua densa vegetação é caracterizada
pela Floresta Amazônica com árvores de grande porte.
O Cerrado brasileiro só perde para a Amazônia em termos de diversidade natural,
considerado a “caixa d'água do Brasil”, porque a sua área abriga nascentes ou leitos de rios de oito
bacias hidrográficas dentre as doze que existem no país, o que revela a importância socioambiental
de suas composições.
Dois grandes fatores geográficos contribuem para que o Cerrado apresente essa importância
ambiental: posição e relevo. O Cerrado é considerado o segundo maior bioma do Brasil em
extensão. Ele abrange o Distrito Federal e os estados de Maranhão, Goiás, Mato Grosso do Sul,
Minas Gerais e Tocantins. Além disso, ocupa uma pequena área de outros seis Estados. O clima
predominante no Cerrado é tropical sazonal, com períodos de chuvas e de secas. Já a sua vegetação,
é caracterizada por árvores de troncos retorcidos, gramíneas e arbustos.
O tema apresenta relevância, porque a norma constitucional contém um comando legal de
valor jurídico e ambiental, que merece ser estudado e compreendido. Há de se indagar qual a
importância de serem qualificados como Patrimônio Nacional a Floresta Amazônica, a Mata
Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira, em detrimento de outros
biomas brasileiros não previstos na norma, como o Cerrado.
O texto constitucional, ao dizer que essas áreas integram o “Patrimônio Nacional”, indica
que os regionalismos não devem sobrepor-se aos interesses ambientais nacionais, ou seja, não

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limitam a problemática ambiental a uma determinada região geográfica e, sim, compreende que a
problemática ambiental se sobrepõe às fronteiras físicas e tem interesse nacional.
O Patrimônio Nacional, em linhas gerais, é um conjunto de bens que representam a história,
a geografia, a cultura, as tradições e a memória de um determinado país, bens que ajudam a formar
um sentimento nacional, um sentimento de brasilidade, que aglutina e orgulha esta Nação.
O dispositivo merece críticas como o fato de relacionar, indistintamente, os biomas (Floresta
Amazônica, Mata Atlântica, Pantanal Matogrossense) com os espaços de interação ambiental (Zona
Costeira) e com os acidentes geográficos (Serra do Mar). Importante destacar que nem todos esses
ecossistemas relacionados na CF/88 são biomas, porque, como mencionado, alguns são espaços de
interação ambiental e outros, acidentes geográficos.
Houve omissão, no texto constitucional, no tocante aos biomas Pampas, Cerrado e Caatinga,
entretanto, para os fins desta pesquisa, será analisado somente o Cerrado, dada a sua grande zona
de ecótono com a Floresta Amazônica e por ser o berço das águas que alimentam os principais rios
da hidrovia Amazônica. Ademais, o Cerrado poderá tornar-se Patrimônio Nacional, visto que
tramita, no Congresso Nacional, Proposta de Emenda à Constituição, PEC nº 504/2010, que
objetiva conferir esse status ao Cerrado.
Inegável ser a defesa jurídica do meio ambiente, ao considerar regras, princípios e interesse
acadêmico, uma tentativa de conciliar a progressiva realização dos direitos sociais, econômicos e
patrimoniais, numa dinâmica comum a todos os cidadãos sem qualquer distinção, com a
implantação estratégica de uma estrutura jurídica protetiva do meio ambiente.
Outro ponto de análise é sobre o direito de propriedade ou a implantação de projetos de
desenvolvimento nesses ecossistemas, considerando que o dispositivo constitucional citado não
impede a utilização, pelos próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que
estejam sujeitas ao domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as
condições necessárias à conservação ambiental.
Serão analisados, em capítulo próprio e em ordem cronológica, todos os julgados produzidos
pelo STF e pelo STJ que tenham como fundamento jurídico o art 225, §4º da CF, bem como os seus
reflexos para o mundo jurídico e ambiental.
A importância da pesquisa está na necessidade de discutir o tema referente à proteção
conferida pela Constituição Federal a macroecossistemas específicos. A análise do dispositivo faz-
se necessária, porque o bioma Cerrado foi excluído, de forma que é necessário compreender o que
o legislador quis proteger neste artigo, para verificar se essa proteção não deveria ser extensiva ao
Cerrado, por meio de uma comparação com o bioma Floresta Amazônica contemplado na norma.
Ao final da pesquisa, foram apresentadas as conclusões e os anexos.

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2 PATRIMÔNIO NACIONAL AMBIENTAL CONSTITUCIONAL


O Patrimônio Ambiental de uma determinada região são áreas escolhidas por conta de suas
características ecológicas, naturais ou científicas para figurarem como prioritárias em processos de
conservação para as gerações futuras. Taís áreas podem identificar determinados países, seja por sua
fauna, seja por sua flora, daí se qualificarem como Patrimônio Nacional Ambiental. Também podem
ser reconhecidas no texto constitucional, como ocorre na Constituição Federal do Brasil e, assim,
serem denominadas de Patrimônio Nacional Ambiental Constitucional.
Esse Patrimônio ambiental é caracterizado por um conjunto de bens naturais que, dada a sua
riqueza, seja em biodiversidade, economia, paisagem, história ou cultura, merece ser protegido pela
estrutura jurídica em prol da coletividade.
É um conceito amplo e inclui aspectos materiais e imateriais dos bens ambientais, que devem
ser protegidos para que possam ser transmitidos entre as gerações, em que são corresponsáveis o
poder público, o cidadão e as instituições privadas, visto que a natureza difusa da titularidade desse
patrimônio, muitas vezes, dificulta sua proteção, que se traduz em benefícios para toda a sociedade.
Segundo Young (2005, p. 1):

A biodiversidade brasileira tem sofrido perdas significativas e só será preservada


através da proteção de grandes áreas que possibilitem a manutenção de ecossistemas
e dos processos evolutivos, apesar de representarem esforços em favor da conservação,
o número de áreas protegidas ainda é insuficiente para uma proteção eficaz do
patrimônio nacional ambiental. (g.n.)

A legislação existente no Brasil apresenta um conjunto de conceitos e definições.


Inicialmente, a Lei nº 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, e
considera-o como:

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem
física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;
(g.n.)

O conceito jurídico de meio ambiente é abrangente, com referências aos elementos biótipos,
os seres vivos, e abióticos, os não vivos, que permitem a vida em todos as suas formas, não
exclusivamente a vida humana.
Segundo Milaré (2010, p. 15):

Comumente são apontadas duas concepções distintas do que seja o meio ambiente:
uma ecocentrista (concepção estrita) e outra antropocentrista (concepção ampliada).
A ecocentrista (concepção estrita) do meio ambiente restringe-se ao meio ambiente
natural. Já a antropocentrista (concepção ampliada) do meio ambiente compreende

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para além do meio ambiente natural, o meio ambiente artificial e o meio ambiente
cultural. (g.n.)

No Brasil, há unanimidade da doutrina em adotar a concepção ampliada de meio ambiente,


que se compreende em natural, artificial e cultural. O meio ambiente artificial compreende o espaço
construído, ou seja, espaço urbano aberto e espaço urbano fechado. O meio ambiente cultural é
integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico e turístico e o meio
ambiente natural é constituído pelos elementos, como solo, água, ar, flora e fauna.
Esse também é o entendimento do STF, conforme julgado na ADIn: 3540-1, DJ 03/02/2006:
“A ‘defesa do meio ambiente’ (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções
de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e
de meio ambiente laboral”.
Nesse mesmo sentido, é o julgado do Superior Tribunal de Justiça (STJ), REsp n. 115.599,
DJ 02/09/2002:

MEIO AMBIENTE. Patrimônio cultural. Destruição de dunas em sítios arqueológicos.


Responsabilidade civil. Indenização. O autor da destruição de dunas que encobriam
sítios arqueológicos deve indenizar pelos prejuízos causados ao meio ambiente,
especificamente ao meio ambiente natural (dunas) e ao meio ambiente cultural
(jazidas arqueológicas com cerâmica indígena da Fase Vieira). (g.n.)

A Lei nº 7.347/85, que disciplina a Ação Civil Pública de responsabilidade por danos
causados ao meio ambiente, a bens e a direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico, consagra uma concepção ampliada ou antropocentrista:

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
l - ao meio ambiente;
(...) omissis
III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
(...) omissis
VIII – ao patrimônio público e social.
(...) omissis
Art. 4º Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando, inclusive,
evitar dano ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à honra e
à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, à ordem urbanística ou aos bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
Art. 5º omissis
(...) omissis
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social,
ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos
de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico. (g.n.)

A referida Lei amplia a definição sobre Patrimônio ao subdividir em Patrimônio histórico,


cultural, artístico, turístico e paisagístico. Assim, o Patrimônio Nacional ambiental pode ser

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compreendido como o conjunto de bens que representam a memória de um determinado país, bens
que ajudam a formar um sentimento nacional, um sentimento de brasilidade, de identidade nacional
que, relacionados ao meio ambiente, se referem aos elementos biótipos e abióticos que permitem a
vida em todos as suas formas, não exclusivamente a vida humana. No item 2.3, o assunto será tratado
com maior profundidade.
Para Silva (2004, p. 20), "o meio ambiente é a interação do conjunto de elementos naturais,
artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas
formas”. Nesse contexto, Silva (2004, p. 20):

O meio ambiente é, assim, a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e


culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas
formas. A interação busca assumir uma concepção unitária do ambiente,
compreensiva dos recursos naturais e culturais. Por isso é que a preservação, a
recuperação e a revitalização do meio ambiente hão de constituir uma preocupação
do Poder Público e, consequentemente, do Direito, porque ele forma a ambiência na
qual se move, desenvolve, atua e se expande a vida humana. (g.n.)

Silva (2004, p. 21) “classifica o meio ambiente, em sentido amplo, em quatro componentes:
meio ambiente físico ou natural; meio ambiente cultural; meio ambiente artificial e meio ambiente
do trabalho”.
Essa classificação de Meio Ambiente proposta por Silva tornou-se uma referência acolhida
tanto pela Doutrina quanto pelos Tribunais e contribuiu para a compreensão da abrangência do meio
ambiente, que não se restringe ao natural, mas inclui os elementos culturais, artificiais e trabalhistas.
O meio ambiente físico ou natural é integrado pela flora, fauna, recursos hídricos, atmosfera,
estuários, mar territorial, solo, subsolo, elementos da biosfera, referenciado na CF:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º omissis
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico
das espécies e ecossistemas;
(...) omissis
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais a crueldade. (g.n.)

O meio ambiente cultural, por sua vez, constitui-se do patrimônio cultural, artístico,
arqueológico, paisagístico, etnógrafo, manifestações culturais, folclóricas e populares brasileiras. O
meio ambiente cultural é composto tanto pelo patrimônio cultural material quanto pelo patrimônio
cultural imaterial. Considera-se patrimônio cultural material os bens móveis e imóveis relevantes
no aspecto cultural, como imóveis tombados, obras de artes e outros.

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O patrimônio cultural imaterial é constituído pelos saberes, lugares, celebrações e de


expressão cultural, de que são exemplos as festas religiosas, como Terreiros baianos em Salvador
(BA), Romaria de Nossa Senhora da Aparecida (SP), Círio de Nazaré em Belém (PA), Festa do
Divino Espírito Santo em Paraty (RJ), as danças típicas, como frevo pernambucano, samba de roda
do Recôncavo Baiano e as manifestações do samba carioca. As manifestações folclóricas regionais,
como Farra do Boi de Santa Catarina (SC), Festa do Boi de Parintins (AM), Bumba meu boi de São
Luiz (MA), Festa junina em Campina Grande (PB) e os saberes na elaboração de algumas comidas
típicas, como queijo minas, tacacá amazônico, tapioca, acarajé, entre outros.
Nesse sentido, a CF estabelece:

Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso
às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais.
§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-
brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.
(...) omissis
I defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;
(...)omissis
IV democratização do acesso aos bens de cultura;
V valorização da diversidade étnica e regional. (g.n.)

A CF também define e classifica o patrimônio cultural brasileiro:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e


imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:
(...) omissis
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o
patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância,
tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.
(...) omissis (g.n.)

O Patrimônio material consiste, segundo o Decreto-Lei nº 25/1937, no conjunto de bens


culturais móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por
sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil por seu excepcional valor arqueológico ou
etnográfico, bibliográfico ou artístico.
Já o Patrimônio imaterial, por sua vez, é definido pela UNESCO como as práticas,
representações, expressões, conhecimentos e técnicas – com os instrumentos, objetos, artefatos e
lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos os
indivíduos, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural.

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Dessa forma, o Patrimônio cultural faz parte do Patrimônio Nacional brasileiro. Nesse ponto,
merece registro o novel §7º do art. 225 da CF, que pacificou o entendimento sobre a realização da
Farra do Boi em Santa Catarina (SC), um ritual típico, que consiste em soltar um boi em um local
ermo e fazê-lo correr atrás das pessoas que participam, e chegou a ser objeto de análise no STF por,
possivelmente, causar maus tratos aos animais:

Art. 225. (...) omissis


§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do §1º deste Artigo, não se
consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam
manifestações culturais, conforme o §1º do art. 215 desta Constituição Federal,
registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural
brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos
animais envolvidos. (g.n.)

Seguindo a classificação de Silva, o meio ambiente artificial decorre das intervenções


antrópicas, ao contrário do meio ambiente natural, que existe por si só. O artificial é o espaço urbano,
as cidades com os seus espaços abertos, com as ruas, praças e parques, e os espaços fechados, com
as edificações, os equipamentos públicos urbanos, como o de abastecimento de água, serviço de
esgotos, energia elétrica, coleta de águas pluviais, rede telefónica e gás canalizado, ou seja, a
infraestrutura urbana.
Para Silva, (2004, p. 21): “É necessário atenção com as edificações, uma vez que, se forem
destinadas às manifestações artístico-culturais ou forem objeto de tombamento, a melhor
classificação é como meio ambiente cultural”.
A CF assim dispõe sobre o meio ambiente artificial:

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal,
conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.
(...)omissis
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída
no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não
edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado
aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios; (g.n.)

O meio ambiente do trabalho possui vinculação com a saúde e a segurança do trabalhador.


A CF cuida das competências do Sistema Único de Saúde, dentre as quais a de colaborar na proteção
do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho, nos seguintes termos:

Art. 200. Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da
lei:
(...)omissis
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.
(g.n.)

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Além dele, outro artigo da CF dispõe sobre a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por
meio de normas de saúde, higiene e segurança:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria
de sua condição social:
(...)omissis
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene
e segurança; (g.n.)

Silva (2004, p. 22) comenta que “O meio ambiente do trabalho preocupa-se, assim, com o
obreiro em seu local de trabalho, por meio de prescrições de saúde, salubridade, condições
atmosféricas, ergonomia, etc”. Essa classificação foi citada no Superior Tribunal de Justiça com o
REsp 725.257/MG, em voto unânime da lavra do Ministro Relator José Delgado:

RECURSO ESPECIAL Nº 725.257 - MG (2005/0022690-5) EMENTA RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL ADOÇÃO DE MEDIDAS
PROTETIVAS E DE SEGURANÇA NO TRÂNSITO. PROPOSITURA PELO ÓRGÃO
DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 3º, I, DA LEI 6.938/81,
5º DA LEI N. 7.347/85, 25 DA LEI 8.625/93. LEGITIMIDADE. RECURSO ESPECIAL
PROVIDO. Com a Constituição Federal de 1988, passou-se a entender também que o
meio ambiente divide-se em físico ou natural, cultural, artificial e do trabalho. Meio
ambiente físico ou natural é constituído pela flora, fauna, solo, água, atmosfera etc,
incluindo os ecossistemas (art. 225, 1º, I, VII). Meio ambiente cultural constitui-se pelo
patrimônio cultural, artístico, arqueológico, paisagístico, manifestações culturais,
populares, etc. (art. 215, §§ 1º e 2º). Meio ambiente artificial é o conjunto de
edificações particulares ou públicas, principalmente urbanas (art. 182, art. 21, XX, e
art. 5º, XXIII), e meio ambiente do trabalho é o conjunto de condições existentes no
local de trabalho relativas à qualidade de vida do trabalhador (art. 7º, XXXIII, e art.
200). (g.n.)

No mesmo sentido, o Supremo Tribunal Federal, na ADIn n. 3.540, acolheu a classificação


proposta por Silva, ao consignar que a defesa do meio ambiente traduz conceito amplo e abrangente
das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial e de
meio ambiente laboral, nos seguintes termos:

E M E N T A: MEIO AMBIENTE - DIREITO À PRESERVAÇÃO DE SUA


INTEGRIDADE (CF, ART. 225) - PRERROGATIVA QUALIFICADA POR SEU
CARÁTER DE METAINDIVIDUALIDADE - DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO
(OU DE NOVÍSSIMA DIMENSÃO) QUE CONSAGRA O POSTULADO DA
SOLIDARIEDADE - NECESSIDADE DE IMPEDIR QUE A TRANSGRESSÃO A ESSE
DIREITO FAÇA IRROMPER, NO SEIO DA COLETIVIDADE, CONFLITOS
INTERGENERACIONAIS - ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE
PROTEGIDOS (CF, ART. 225, §1º, III) - ALTERAÇÃO E SUPRESSÃO DO REGIME
JURÍDICO A ELES PERTINENTE - MEDIDAS SUJEITAS AO PRINCÍPIO
CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE LEI - SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO EM
ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - POSSIBILIDADE DE A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, CUMPRIDAS AS EXIGÊNCIAS LEGAIS,
AUTORIZAR, LICENCIAR OU PERMITIR OBRAS E/OU ATIVIDADES NOS
ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS, DESDE QUE RESPEITADA, QUANTO A
ESTES, A INTEGRIDADE DOS ATRIBUTOS JUSTIFICADORES DO REGIME DE
PROTEÇÃO ESPECIAL - RELAÇÕES ENTRE ECONOMIA (CF, ART. 3º, II, C/C O

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ART. 170, VI) E ECOLOGIA (CF, ART. 225) - COLISÃO DE DIREITOS


FUNDAMENTAIS - OS DIREITOS BÁSICOS DA PESSOA HUMANA E AS
SUCESSIVAS GERAÇÕES (FASES OU DIMENSÕES) DE DIREITOS (RTJ 164/158,
160-161) - A QUESTÃO DA PRECEDÊNCIA DO DIREITO À PRESERVAÇÃO DO
MEIO AMBIENTE: UMA LIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL EXPLÍCITA À
ATIVIDADE ECONÔMICA (CF, ART. 170, VI) - DECISÃO NÃO REFERENDADA -
CONSEQUENTE INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR. A
PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE: EXPRESSÃO
CONSTITUCIONAL DE UM DIREITO FUNDAMENTAL QUE ASSISTE À
GENERALIDADE DAS PESSOAS. - A incolumidade do meio ambiente não pode ser
comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de
índole meramente econômica, ainda mais se tiver presente que a atividade econômica,
considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros
princípios gerais, àquele que privilegia a "defesa do meio ambiente" (CF, art. 170,
VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, de
meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio
ambiente laboral. Doutrina. Os instrumentos jurídicos de caráter legal e de natureza
constitucional objetivam viabilizar a tutela efetiva do meio ambiente, para que não se
alterem as propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que provocaria
inaceitável comprometimento da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem-estar da
população, além de causar graves danos ecológicos ao patrimônio ambiental,
considerado este em seu aspecto físico ou natural. (g.n.)

Por essa classificação de Silva, veem-se compreendidos dentro da expressão meio ambiente
não apenas os aspectos naturais, mas também o homem como parte das interações e suas realizações,
sendo indissociáveis da compreensão de meio ambiente as questões relativas ao meio ambiente
artificial, cultural e do trabalho, têm-se, portanto, esses aspectos a serem considerados para uma
concepção de meio ambiente, a natureza em si e as realizações do homem.
Ainda nesse introito sobre o conceito de Patrimônio, o §4º do art. 225 da Constituição
Federal emprega a terminologia Patrimônio Nacional, para qualificar os ecssistemas lá inseridos, o
que permite que se busque fazer a definição das palavras Patrimônio e Nacional, separadamente,
pelos principais lexicógrafos da língua portuguesa.
Segundo Ferreira (2010, p. 1580), Patrimônio:

[Do lat. patrimoniu.] S.m. 1. herança paterna 2. bens de família 3. dote ordinário 4. Bem,
ou conjunto de bens culturais ou naturais, de valor reconhecido para determinada
localidade, região, país, ou humanidade, e que, ao se tornar (em) protegido (s), como,
p. ex. pelo tombamento, deve (m) ser preservado (s) para o usufruto de todos os
cidadãos: Os bens culturais e naturais de valor universal excepcional, como as cidades
de Ouro Preto, Olinda e o Parque Nacional do Iguaçu, são incluídos na lista do
Patrimônio mundial da Unesco; (...) termo patrimônio para designar o conjunto de
bens de valor cultural que passaram a ser propriedade da nação, ou seja, do conjunto
de todos os cidadãos.> omissis

Para Houaiss (2015, p. 712), Patrimônio:

1. herança familiar. 2. conjunto dos bens familiares. 3.fig. riqueza, preciosidade.


“patrimônio moral”. 4. bem ou conjunto de bens naturais ou culturais de importância
reconhecida, que passa (m) por um processo de tombamento para que seja (m)
protegido (s) e preservado (s). 5. jur conjunto dos bens, direitos e obrigações

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economicamente apreciáveis, pertencentes a uma pessoa ou a uma empresa.(g.n.)

Patrimônio refere-se ao conjunto de bens próprios, entretanto, para os objetivos desta


pesquisa, Patrimônio exprime a ideia de um conjunto de bens naturais ou culturais de importância
reconhecida, que passam por um processo de reconhecimento formal para que sejam protegidos e
preservados, segundo Fonseca (2005, p. 58):

A ideia de posse coletiva como parte do exercício da cidadania inspirou a utilização


do termo patrimônio para designar o conjunto de bens naturais ou culturais de
importância reconhecida, que passam por um processo de tombamento para que sejam
protegidos e preservados. A principal característica de um patrimônio é o fato de que a sua
conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da
história do lugar e de seu povo, quer por seu excepcional valor arqueológico, etnográfico,
ambiental, bibliográfico ou artístico, que passaram a ser propriedade da nação, ou seja,
do conjunto de todos os cidadãos. (g.n.)

Quanto à palavra Nacional, segundo define Ferreira (2010, p. 1448):

[De nacional + ismo.] S.m. 1 Exaltação do sentimento nacional; preferência marcante


por tudo quanto é próprio da nação à qual se pertence; patriotismo..> omissis

Para Houaiss (2015, p. 659):

[na.cio.nal] [pl.:-ais] adj.2g. 1. que pertence a uma nação, por nela ter nascido ou por ter-
se naturalizado (diz-se de pessoa) ou por nela ter sido produzida (diz-se de coisa). 2.
relativo à nação, que é próprio de uma nação, que a caracteriza, que a distingue das demais.
3. que representa uma nação. 4. que diz respeito a uma nação em sua totalidade. 5.
substantivo masculino: o natural de um país.

Sobre Patrimônio Nacional, Silva (2004, p. 47) comenta:

A primeira referência expressa ao meio ambiente ou a recursos ambientais na


Constituição vem logo no Art. 5º, LXXIII, que confere legitimação a qualquer
cidadão para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural. Em seguida, o art. 20, II, considera, entre os bens da
União, as terras devolutas indispensáveis à preservação do meio ambiente. Segue-se o art.
23, onde se reconhece a competência comum da União, Estados, Distrito Federal e
Municípios para “proteger as paisagens naturais notáveis e o meio ambiente”, “combater
a poluição em qualquer de suas formas”e “ para preservar as florestas, a fauna e a flora”.
O art. 24, VI, VII e VIII, por seu lado, dá competência concorrente à União, aos
Estados e ao Distrito Federal para legislar sobre “florestas, caça, pesca, fauna,
conservação da Natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção ao meio
ambiente, controle da poluição”, sobre “proteção ao patrimônio histórico, cultural,
artístico, turístico e paisagístico”, bem como sobre “responsabilidade por dano ao
meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico”. (g.n.)

Os dispositivos citados por Silva (2004, p. 47) apresentam a seguinte redação:

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Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)omissis
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a
anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural,
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência; (g.n.)

Art. 20. São bens da União:


(...) omissis
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e
construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental,
definidas em lei;

Art. 23 É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos


Municípios:
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e
conservar o patrimônio público;
(...)
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural,
os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens
de valor histórico, artístico ou cultural; (g.n.)

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente
sobre:
(...)
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos
naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de
valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; (g.n.)

A CF faz menção ao Patrimônio em alguns artigos específicos:

Art. 30. Compete aos Municípios:


(...)
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a
legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. (g.n.)

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que
acarretem encargos ou compromissos gravosos ao Patrimônio Nacional; (g.n.)

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e


imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem: (g.n.)

Art. 219. O mercado interno integra o Patrimônio Nacional e será incentivado de


modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e socioeconômico, o bem-estar da
população e a autonomia tecnológica do País, nos termos de lei federal. (g.n.)

Art.225 omissis
(...)
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal
Mato-Grossense e a Zona Costeira são Patrimônio Nacional, e sua utilização far-se-á,

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na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente,


inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. (g.n.)

Constata-se que o legislador constituinte originário, em várias passagens, ao longo do corpo


normativo da CF, empregou o termo Patrimônio Nacional, ou somente Patrimônio, e qualificou o
contexto dos referidos artigos.
Nas normas infraconstitucionais brasileiras, dois Decretos, ambos em vigor, fazem
referências a patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico. O primeiro é o Decreto-
Lei nº 25/1937, que organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional; o segundo é o
Decreto nº 3.551/2000, que instituiu o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, que
constituem patrimônio cultural brasileiro e cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial.
O Decreto-Lei nº 25/1937 estabelece que:

Art. 1º Constituem o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens


móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer
por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional
valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.
§ 1º Os bens a que se refere o presente artigo só serão considerados parte integrante do
patrimônio histórico o artístico nacional, depois de inscritos separada ou
agrupadamente num dos quatro Livros do Tombo, de que trata o art. 4º desta Lei.
§ 2º Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são também sujeitos a
tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que importem
conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela natureza ou
agenciados pelo indústria humana. (g.n.)

Desse modo, o patrimônio histórico e artístico nacional é o conjunto dos bens móveis e
imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a
fatos memoráveis da História do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico,
bibliográfico ou artístico.
O Decreto-Lei nº 25/1937 menciona, no art. 4º, que os bens somente sejam considerados
parte integrante do patrimônio histórico o artístico nacional, depois de inscritos separadamente ou
em grupo num dos quatro Livros do Tombo:

Art. 4º O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional possuirá quatro Livros


do Tombo, nos quais serão inscritas as obras a que se refere o art. 1º desta Lei, a saber:
1) no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, as coisas pertencentes
às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e popular, e bem assim as
mencionadas no § 2º do citado art. 1º.
Por fim, merece registro que o Decreto-Lei nº 25/1937 reconhece como atentado os atos
cometidos contra os bens considerados Patrimônio Nacional:
Art. 21. Os atentados cometidos contra os bens de que trata o art. 1º desta Lei são
equiparados aos cometidos contra o Patrimônio Nacional. (g.n.)

O Decreto nº 3.551/2000 menciona que o órgão responsável pela determinação do


patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico é o Instituto do Patrimônio Histórico

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e Artístico Nacional (IPHAN), cuja atribuição, a partir do estudo da história e cultura brasileira, é
determinar os bens que devem ser considerados patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e
paisagístico.
Segundo o IPHAN (2018, p. p.), o conceito de patrimônio cultural:

É o conjunto dos bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou


em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira. Entre os bens que compõem o patrimônio
cultural brasileiro, destacam-se: a) as formas de expressão; b) os modos de criar, fazer e
viver; c) as criações científicas, artísticas e tecnológicas; d) as obras, objetos, documentos,
edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; e) os
conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico. (g.n.)

A Lei nº 4.717/1965, que regula a ação popular, define o que seja patrimônio público:

Art. 1º: omissis


§ 1º - Consideram-se patrimônio público, para os fins referidos neste artigo, os bens e
direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico. (g.n.)

O patrimônio de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico tem proteção


legal e possibilita a qualquer cidadão, no gozo dos seus direitos políticos, propor ação judicial, com
o objetivo de anular qualquer ato lesivo ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao
meio ambiente, ao patrimônio histórico e cultural.
A Lei nº 6.513/77, que dispõe sobre a criação de áreas especiais e de locais de interesse
turístico, também contribui para definir o conceito de patrimônio turístico, histórico, artístico,
arqueológico e pré-histórico:

Art. 1º - Consideram-se de interesse turístico as Áreas Especiais e os Locais instituídos


na forma da presente Lei, assim como os bens de valor cultural e natural, protegidos
por legislação específica, e especialmente:
I - os bens de valor histórico, artístico, arqueológico ou pré-histórico;
Il - as reservas e estações ecológicas;
III - as áreas destinadas à proteção dos recursos naturais renováveis;
IV - as manifestações culturais ou etnológicas e os locais onde ocorram;
V - as paisagens notáveis;
VI - as localidades e os acidentes naturais adequados ao repouso e à pratica de
atividades recreativas, desportivas ou de lazer;
VII - as fontes hidrominerais aproveitáveis;
VIII - as localidades que apresentem condições climáticas especiais;
IX - outros que venham a ser definidos, na forma desta Lei.
(...) omissis
Art. 3º - Áreas Especiais de Interesse Turístico são trechos contínuos do território
nacional, inclusive suas águas territoriais, a serem preservados e valorizados no
sentido cultural e natural, e destinados à realização de planos e projetos de
desenvolvimento turístico.
Art. 4º - Locais de Interesse Turístico são trechos do território nacional,
compreendidos ou não em Áreas especiais, destinados por sua adequação ao

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desenvolvimento de atividades turísticas e à realização de projetos específicos, e que


compreendam:
I - bens não sujeitos a regime específico de proteção;
Il - os respectivos entornos de proteção e ambientação.
§ 1º - Entorno de proteção é o espaço físico necessário ao acesso do público ao Local de
Interesse Turístico e à sua conservação, manutenção e valorização.
§ 2º - Entorno de ambientação é o espaço físico necessário à harmonização do local de
Interesse Turístico com a paisagem em que se situar. (g.n.)

A Lei nº 7.347/85, que trata da ação civil pública, é outro exemplo de norma
infraconstitucional que define o patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico,
conforme se extraí dos seguintes artigos:

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
l - ao meio ambiente;
ll - ao consumidor;
III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
(...) omissis
VIII – ao patrimônio público e social.
(...) omissis
Art. 4o Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando, inclusive,
evitar dano ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à honra e à
dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, à ordem urbanística ou aos bens e direitos
de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
Art. 5o omissis
(...) omissis
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social,
ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de
grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico. (g.n.)

O patrimônio turístico é definido por Pinto (1998. p,49):“Entende-se por patrimônio turístico
o conjunto de bens naturais e culturais que, por suas características intrínsecas, possuem atratividade
para a visitação”.
O patrimônio paisagístico é definido por Fonseca (2005. p. 77):

É um conceito sintético, pois resulta do somatório de deferentes elementos, isolados ou


integrados, de visões analíticas que resultam em uma configuração maior sobre a paisagem.
Este patrimônio é tratado por um dos quatro livros tombos, segundo Decreto-Lei nº
25/1937, cujo título é o livro de tombo arqueológico, etnográfico e paisagístico.

Ainda segundo Fonseca (2005, p. 134):

A constituição de patrimônios históricos e artísticos nacionais é uma prática característica


dos Estados modernos que, através de determinados agentes recrutados entre os intelectuais
e com base em instrumentos jurídicos específicos, delimitam um conjunto de bens no
espaço público. Pelo valor que lhes é atribuído enquanto manifestações culturais e enquanto
símbolos da nação esses bens possam a ser merecedoras de proteção, visando à sua
transmissão para as gerações futuras. Nesse sentido, as políticas de preservação se propõem
a atuar basicamente no nível simbólico, tendo como objetivo reforçar uma identidade
coletiva, a educação e a formação de cidadãos.

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O Patrimônio Histórico pode ser definido como um bem material, natural ou imóvel que
possui significado e importância artística, cultural, religiosa, documental ou estética para a
sociedade. Esses patrimônios foram construídos ou produzidos pelas sociedades passadas, por isso
representam um importante acervo cultural. Castro (1991, p. 53) lista alguns patrimônios históricos
do Brasil:

Cidade Histórica de Ouro Preto (Minas Gerais), de Olinda (Pernambuco), Pelourinho,


Estação da Luz, Ruínas de São Miguel das Missões (Rio Grande do Sul), Cristo Redentor
(Rio de Janeiro), Conjunto Urbanístico de Brasília, Palácio do Catetinho (Brasília).

A relação que se estabelece entre o Patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e


paisagístico e o título deste trabalho reside objetiva melhor compreensão do contexto normativo em
que é inserido o Patrimônio Nacional, tanto no texto constitucional quanto nas normas
infraconstitucionais. Esse conjunto de bens representa um sentimento de brasilidade que merece
especial atenção, por serem bens de natureza pública e bens que ajudam a formar um sentimento
nacional.

2.1 MACROBEM E MICROBEM AMBIENTAL


O meio ambiente como macrobem e microbem ambiental é uma classificação que será
analisada, visto que o meio ambiente adquiriu relevância no momento em que passou ao mundo
jurídico e se tornou um bem a ser protegido e a sua proteção, uma das finalidades da norma
ambiental.
Coube à doutrina criar uma forma de proteger não apenas as interações e os elementos em
sua totalidade, mas também cada elemento individualmente considerado. Desse modo, dissociou-se
o meio ambiente, enquanto bem jurídico, em macrobem ambiental e microbem ambiental, que serão
analisados neste momento, com o fito de, ao fim desta pesquisa, melhor compreender o comando
normativo do dispositivo constitucional em análise.
Nas palavras de Leite (2003, p. 83):

Como macrobem, o meio ambiente é incorpóreo e imaterial e, dessa forma,


insuscetível de apropriação. Meio ambiente como um macrobem, que, além de
incorpóreo e imaterial, se configura como bem de uso comum do povo. Isso significa
que o proprietário, público ou particular, não poderá dispor da qualidade do meio ambiente
ecologicamente equilibrado, devido à previsão constitucional, considerando-o macrobem
de todos. (g.n.)

Para Lorenzentti (2010, p. 26), “o meio ambiente é um Macrobem e, como tal, é um sistema,
o que significa que é mais que suas partes: é a interação de todas elas”. Cita-se como exemplo de

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Macrobem o conceito jurídico de meio ambiente da Lei n. 6.938/1981, que dispõe sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente:

Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem
física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;
(g.n.)

O TRF da 5ª Região já consignou a leitura do meio ambiente como macrobem, ao concluir
que se deve atentar para a lógica da reparação do dano ao meio ambiente, considerado como
macrobem, incorpóreo e imaterial, visto como um conjunto de fatores que interagem e condicionam
a vida das pessoas, cuja reparabilidade é indireta no dizer da doutrina especializada, conforme se
extrai da leitura do Acórdão (AR 6.233/SE):

AÇÃO RESCISÓRIA No 6.233-SE Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL MANOEL


DE OLIVEIRA ERHARDT Autores: CONSTRUTORA CUNHA LTDA. E JOSÉ
FRANCISCO DA CUNHA Réu: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Advs./Procs.: DRS.
ANDRÉ LUÍS SANTOS MEIRA E OUTRO (AUTORES) EMENTA: AÇÃO
RESCISÓRIA. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. ADMISSIBILIDADE.
RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO AMBIENTAL. MANGUEZAL. ÁREA DE
PRESERVAÇÃO PERMANENTE. MEIO AMBIENTE COMO MACROBEM. DANO
DE REPARABILIDADE INDIRETA. RECOMPOSIÇÃO DA ÁREA.
COLABORAÇÃO ANTRÓPICA COMPROVADA. RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. REDUÇÃO DA INDENIZAÇÃO. RESCISÓRIA
PARCIALMENTE PROCEDENTE. - Deve-se atentar para a lógica da reparação do
dano ao meio ambiente, considerado como macrobem, incorpóreo e imaterial, visto
como um conjunto de fatores que interagem e condicionam a vida das pessoas, cuja
reparabilidade é indireta no dizer da doutrina especializada. - O método adotado nos
Autos para estimar o valor do dano, em números absolutos, se propõe a majorá-lo,
conforme a nocividade da ação predatória, mediante multiplicação por um fator
numérico (fator de multiplicação), este obtido a partir da qualificação dos agravos
perpetrados. - Através de um juízo de valoração acerca do impacto ambiental causado
na área do manguezal atingido, devem-se considerar os seguintes fatores comprovados
nos autos: a) a área era passível de recuperação; e b) o local ter sido recomposto devido
à contribuição dos autores, ou seja, ação antrópica juntamente com a natureza,
demonstrando que os agentes alcançaram um novo patamar de educação e
consciência ambiental. (g.n.)

O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial, REsp 1711009 MG


2017/0277127, distinguiu os conceitos de direito ambiental relacionados ao macrobem, entendido
o meio ambiente em sua totalidade, sua harmonia global e o equilíbrio ecológico, e o microbem,
com os elementos ambientais considerados de forma isolada, como a fauna, a flora e a água.

Processo QO no REsp 1711009 MG 2017/0277127-0 Órgão Julgador CE - CORTE


ESPECIAL Publicação DJe 23/03/2018 Julgamento19 de Dezembro de 2017 Relator
Ministro MARCO BUZZI Ementa QUESTÃO DE ORDEM NO RECURSO ESPECIAL -
AUTOS DE AGRAVO DE INSTRUMENTO NA ORIGEM NO BOJO DE CAUTELAR
PREPARATÓRIA DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA - ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE
FUNDÃO EM MARIANA/MG DA MINERADORA SAMARCO - OBRIGAÇÕES DE
FAZER - FORNECIMENTO DE ÁGUA POTÁVEL - MATÉRIA DE CARÁTER

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EMINENTEMENTE PÚBLICO - QUESTÃO DE ORDEM ACOLHIDA PARA


DECLARAR COMPETENTE PARA O JULGAMENTO DO PRESENTE FEITO UMA
DAS TURMAS DA PRIMEIRA SEÇÃO DO STJ. Controvérsia: Questão de Ordem
submetida a julgamento pela Corte Especial em razão da relevância do caso e da
questão jurídica subjacente, bem ainda com vistas a prevenir possível divergência
entre as Seções acerca da competência para a análise de demanda afeta à tragédia
envolvendo o rompimento das barragens da mineradora Samarco, no município de
Mariana/MG, ocorrida em 05/11/2015.1. O procedimento de remessa da questão
incidente para a deliberação da Corte Especial está amparado nos ditames expressos do
RISTJ (art. 11, XI, combinado com o art. 16, IV), não havendo que falar em inadequação
procedimental, tampouco em supressão ou subversão de ritos. 2. A competência interna
das Seções desta Corte Superior para a análise da questão afeta aos efeitos
reparatórios e minimizadores de danos decorrentes do acidente/dano ambiental é
aferida pela análise da natureza da relação jurídica litigiosa e dos conceitos de
macrobem e microbem, pois as reparações de dano ao macrobem terão sempre uma
preponderância de direito público enquanto aquelas atinentes ao dano microbem
ambiental serão eminentemente de direito privado.2.1 A atribuição da Segunda Seção
fica limitada às demandas nas quais o pleito reparatório esteja vinculado ao microbem
ambiental, ou seja, à salvaguarda dos direitos individualmente considerados (de
natureza eminentemente privada), sem a responsabilização do Estado ou nos quais a
restauração do meio ambiente de forma global não seja o ponto principal da
pretensão. 2.2 De sua vez, nas hipóteses em que se visualizar a pretensão de
restauração/recomposição do meio ambiente em geral (macrobem), nele incluindo
todos ou a maior parte dos bens em si, onde não só a reparação individual ou em
menor proporção seja o foco, a natureza publicista da demanda fará preponderar a
competência da Primeira Seção desta Corte Superior para o trato da questão, nos
termos da previsão constante do art. 9º, § 1º, XIV, do RISTJ, haja vista que a análise
da matéria controvertida perpassa o enfrentamento do direito público em geral
(direito difuso). 2.3 A presente contenda, oriunda de cautelar preparatória de ação civil
pública (cuja natureza é de tutela de urgência, requerida em caráter antecedente), manejada
pelo Município de Tumiritinga, na qual pretende mitigar as consequências advindas do
evento danoso ambiental no que se refere à regularização do fornecimento de água potável
à população em geral, serviço público esse de caráter essencial e no qual não está em foco
a questão acerca de eventual indenização das pessoas eventualmente atingidas pelo
acidente, atrai a norma inserta no art. 9º, §1º, XIV, do RISTJ e, consequentemente, a
competência das Turmas integrantes da Primeira Seção desta Corte Superior. 3. Questão de
Ordem acolhida para declarar competente para o julgamento do presente feito uma das
Turmas componentes da Primeira Seção, determinando-se a sua redistribuição.

Por macrobem, deve-se entender o meio ambiente em sua totalidade, portanto, o conjunto
de interações e elementos em sua máxima complexidade, em sua máxima extensão, em todas as
formas de vida interagindo entre si e com todas suas manifestações e criações. A proteção do
macrobem dá-se em nível igualmente amplo com o de sua concepção, considerando-se atentatória
ao macrobem toda e qualquer ação que prejudique o equilíbrio ecológico e, necessariamente,
danifique o meio ambiente. Desse modo, quaisquer ecossistemas perturbados são exemplos de
atividade destrutiva do macrobem ambiental.
O Macrobem ambiental não se confunde com o Microbem, que constitui a parte corpórea do
meio ambiente, tais como as florestas, os rios, a fauna, conforme Lorenzetti (2010, p. 26):

Os Microbens são partes do meio ambiente, que em si mesmas, têm a característica


de subsistemas, que apresentam relações internas entre suas partes e relações externas
com o Macrobem. Na abordagem como Microbem, é possível falar em regime jurídico de

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titularidade pública ou privada, isso porque um recurso ambiental, como uma floresta, pode
ser de titularidade pública ou privada e passível de exploração. (g.n.)

O microbem ambiental é todo e qualquer elemento constituinte e integrante do meio


ambiente. Os microbens, ao interagirem, formam o meio ambiente e, consequentemente, o
macrobem ambiental. Por serem individualmente considerados, muitos possuem tratamentos
legislativos próprios, tornando-os verdadeiros bens ambientais individuais.
A tutela do meio ambiente ocorre tanto como Macrobem (incorpóreo, indisponível) quanto
como Microbem (os elementos corpóreos). Nesse sentido, são as palavras de Cappelli (2007, p. 16):

A consequência da autonomização jurídica do bem ambiental é a possibilidade de sua


tutela como bem independentemente dos diversos elementos corpóreos que o
integram, versando a proteção jurídica sobre qualidade ambiental e sobre as
características físicas, químicas e biológicas do ecossistema. Trata-se de um Macrobem
jurídico, incorpóreo, inapropriado, indisponível e indivisível, cuja qualidade deve ser
mantida como íntegra a fim de propiciar a fruição coletiva. Apropriáveis são os elementos
corpóreos e, mesmo assim, conforme limitações e critérios previstos em lei, e desde que
essa utilização não conduza à apropriação individual e exclusiva do meio ambiente, como
bem imaterial. (g.n.)

Por esse entendimento, o proprietário do imóvel poderá utilizar, na forma da lei, dos recursos
ambientais, parte corpórea, embora isso não represente dispor de suas qualidades como Macrobem,
incorpóreo, ou seja, nos termos da legislação de proteção florestal, é possível a exploração de
recursos ambientais, mas o permissivo não conduz à possibilidade de dispor das qualidades do meio
ambiente enquanto bem de uso comum do povo.
Conforme Vulcanis (2008, p. 37):

Se o Microbem pode estar sob regime de apropriação individual, é necessário que esta
apropriação não se incompatibilize com o direito subjetivo fundamental que a
coletividade tem sobre esse Microbem, da mesma forma que esse regime de apropriação
não pode se incompatibilizar com o fato de que o Macrobem, que é o meio ambiente
ecologicamente equilibrado, seja o bem de uso comum do povo. (g.n.)

No mesmo sentido, Souza Filho (2008, p. 41):

Todo bem socioambiental tem pelo menos duas expressões jurídicas e comporta,
assim, dupla titularidade. A primeira é do próprio bem, materialmente tomado; a
segunda é sua representatividade, evocação, necessidade ou utilidade ambiental e a
relação com os demais, compondo o que a lei brasileira chamou de meio ambiente
ecologicamente equilibrado. Esse direito é disposto como se estivessem em camadas:
na primeira camada, o direito de titularidade individual, que é o direito de
propriedade, (público e privado); na segunda camada, o direito coletivo, a sua
preservação para garantia socioambiental. Os dois não se excluem, ao contrário, se
completam e se subordinam na integralidade do bem, como se fosse em seu corpo e sua
alma. (g.n.)

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Assim, é possível tutelar o meio ambiente tanto como Macrobem quanto pelo regime
específico de seus Microbens, consistentes na proteção às áreas de preservação permanente, reservas
legais, fauna e flora, pois o Macrobem ambiental é incorpóreo, possui uma visão globalizada e
integrada e é um bem de uso comum do povo, enquanto o Microbem ambiental é corpóreo e pode
ser representado por florestas, fauna, flora e cuja titularidade é pública ou privada.
O entendimento do fenômeno ambiental no ordenamento jurídico brasileiro será tratado no
tópico seguinte, por meio da análise das primeiras previsões normativas relacionadas às questões do
meio ambiente até à Constituição Federal de 1988, com a finalidade de melhor compreender o
dispositivo constitucional, objeto desta pesquisa.

2.2 HISTÓRIA DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL


A Constituição Brasileira de 1988 foi a primeira a destinar um capítulo próprio ao meio
ambiente,Título VIII, Capítulo VI, contemplando o conjunto de comandos, obrigações e
instrumentos para efetivação do meio ambiente ecologicamente equilibrado, como dever do poder
público e de toda a coletividade.
Para Silva (2004, p. 35):

O que predominou no Brasil, durante muito tempo, foi a desproteção total do meio
ambiente, uma vez que a concepção privatista do direito de propriedade constituía forte
barreira à atuação do poder público na proteção do meio ambiente, que, necessariamente,
haveria e haverá de importar limitar aquele direito e a iniciativa privada.

As Constituições anteriores, diferentemente da atual CF/88, nunca destinaram um artigo ao


meio ambiente, porque, como já mencionado, a atual destinou um Capítulo para sua proteção. Silva
(2004, p. 46) esclarece que as Constituições Brasileiras anteriores à de 1988:

Nada traziam especificamente sobre a proteção do meio ambiente natural. Das mais
recentes, desde 1946, apenas se extrai orientação protecionista do preceito sobre a proteção
da saúde sobre a competência da União para legislar sobre água, florestas, caça e pesca,
que possibilitavam a elaboração de leis protetoras, como o Código Florestal e os Códigos
de Saúde Pública, de Água e de Pesca. A Constituição de 1988 foi, portanto, a primeira a
tratar deliberadamente da questão ambiental do devido modo.

As Constituições anteriores à de 1988 não se preocuparam com a proteção do meio ambiente.


Para Padilha (2010, p. 101):

A Legislação Ambiental brasileira anterior à Constituição Federal de 1988 não logrou


produzir um Microssistema jurídico próprio para proteção do meio ambiente, mas, sim,
legislações esparsas, numa dispersão normativa apenas a elementos setoriais do meio
ambiente (florestas, águas, fauna, solo), ou seja, de forma fragmentada e desarticulada, sem
a concepção holística de meio ambiente e a visão de inter-relação de ecossistemas e
equilíbrio ecológico.

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Por outro lado, Padilha (2010, p. 101) afirma que tal normatividade fragmentada:

Foi profundamente influenciada pela conotação privatista de regimes de mera


apropriação, pública ou privada, de recursos naturais, sob a forte influência do direito
tradicional de cunho civilista, não se tutelando do meio ambiente de modo autônomo.
Diz respeito à legislação infraconstitucional, anterior à Constituição Federal de 1988, em
que há alguns textos normativos que contribuíram, de forma importante, para
sistematização do direito ambiental, mas a grande maioria espelhou apenas uma
preocupação de apropriação privada dos recursos ambientais, ou seja, sem qualquer
intenção de uma sistematização para construção teórica do sistema de juridicidade
ambiental de interesse coletivo. (g.n.)

Para Mattos Neto (2010, p. 16), há uma justificativa histórica para essa desproteção
ambiental:

Este sentimento privatista é um reflexo do que aconteceu no Brasil desde o ano de


1500, pois, logo após o descobrimento do Brasil, a Coroa Portuguesa buscou garantir
a conquista do novo território e, para ter proveito econômico com ele, concedeu a
exploração da terra a particulares. Esse é o período da exploração do pau-brasil, a
primeira riqueza brasileira. A exploração extrativista desenvolvida nessa época era
desorganizada e, por isso, resultou em um grande fracasso econômico, social e, porque
não, ambiental. A Coroa Portuguesa não tinha o controle sobre a sua extração e sofria
constantemente com a atuação de corsários. (g.n.)

E prosseguindo na história da linha do tempo das questões ambientais do Brasil Império,


Mattos Neto (2010, p. 16) comenta:

Para combater piratas estrangeiros e incrementar a receita da Coroa, foi instituído o regime
de sesmarias, que consistia na concessão de terras no novo território a nobres e a novos
ricos de Portugal, respectivamente homens de qualidade e homens de posse. As terras
eram concedidas a amigos do Rei, que viviam a decadência do feudalismo na Europa
e podiam reviver esse modelo no novo território, e à classe emergente formada por
mercadores, novos ricos. A concessão de terras tinha por objetivo a colonização, a
exploração econômica e o policiamento do litoral brasileiro .

Desse modo, o regime de sesmarias adotado no Brasil já havia sido instituído em Portugal,
onde todos os proprietários eram obrigados a cultivar suas terras, sob pena de ceder a quem decidisse
nelas trabalhar.
De acordo com Mattos Neto (2010, p. 16): “Era uma medida providencial para as terras
inaproveitadas, e que, transplantadas para o caso brasileiro, seriam, essas terras, transfiguradas pelas
terras virgens e inexploradas”.
E conclui Mattos Neto (2010, p. 20):

A Coroa Portuguesa, insatisfeita com o retorno econômico do sistema de sesmarias, onde


ainda havia terras improdutivas, decidiu suspendê-lo mediante a Resolução Imperial de 17
de julho de 1822. Com isso, o acesso à terra rural passou a ser operado simplesmente pela
posse. Houve um vácuo legislativo, de modo que, até à edição da Lei n. 601/1850,

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chamada Lei de Terras, nenhuma lei regulando a propriedade rural ou questões


ambientais foi promulgada no Brasil naquela época.

Durante a época do Império, a legislação portuguesa fazia menção a situações peculiares


envolvendo alguns elementos da fauna e flora brasileira, sempre no interresse da Coroa. Nesse
sentido, Padilha (2010, p. 103) afirma que:

As Ordenações Afonsinas proibiam o corte deliberado de árvores frutíferas (Livro V,


Título LVIII), e nas Ordenações Manuelinas, havia um dispositivo que vedava a caça de
perdizes, lebres e coelhos por meios ou instrumentos capazes de causar dor e sofrimento
(Livro V, Título LLXXVIII). As Ordenações Filipinas, por sua vez, previram proteção às
águas contra sujeira e causa de mortandade de peixes, tipificando a conduta com pena de
multa (Livro LV, Título LXXXVIII), fizeram referência, ainda, ao conceito de poluição e
previram a quem matasse animais por simples malícia, bem como a quem praticasse corte
de árvores com frutos, a pena de degredo definitivo para o Brasil (Livro V, Título LXXV).

No Período Republicano, ainda prevaleceu o contexto da legislação fragmentada e


desarticulada, sem que as sucessivas Constituições Federais mencionassem, direta ou indiretamente,
o tema meio ambiente. Para Padilha (2010, p. 103):

No período compilado, ainda prevalece o contexto da legislação fragmentada e


desarticulada, referida como elementos setoriais do meio ambiente, com destaque para as
seguintes legislações infraconstitucionais, provenientes, principalmente, a partir da década
de 1930.

No governo do Presidente Getúlio Vargas, em especial, a partir de 1930 com o Estado Novo,
surgiu um conjunto de normas ambientais, não sistematizadas, que tratavam de temas específicos,
como a fauna, a flora, as questões sanitárias, as questões rurais.
Foram produzidos os seguintes textos legislativos envolvendo questões ambientais a partir
da década de 1930: a) Decreto n. 23.793, de 23 de janeiro de 1934, que aprovou o primeiro Código
Florestal Brasileiro; b) Decreto n. 24.645, de 10 de julho de 1934, que coloca os animais sob tutela
do Estado; c) Decreto n. 24.643, de 10 de julho de 1934, que aprovou o Código de Águas; d)
Decreto-Lei n. 25, de 30 de novembro de 1937, que organiza a proteção do Patrimônio Histórico
Artístico Nacional; e) Decreto-Lei n. 1.985, de 29 de janeiro de 1940, que aprovou o Código de
Minas; f) Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940, que estabeleceu o novo Código Penal,
embora não se refira, especificamente, a crime algum contra o meio ambiente e, sim, a questões
sanitárias; g) Decreto-Lei n. 3.688, de 3 de outubro de1941, que dispõe sobre a Lei de Contravenções
Penais e trata de algumas condutas que atentam contra o meio ambiente; h) Decreto-Lei n. 7.841,
de 8 de agosto de 1945, que dispõe sobre o Código de Águas Minerais; i) Lei n. 4.771, de 15 de
setembro de 1965, que dispõe sobre o Código Florestal; j) Lei n. 5.197, de 3 de janeiro de 1967, que
dispõe sobre o Código de Fauna; l)Decreto-Lei n. 221, de 28 de fevereiro de 1967, que dispõe sobre

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o Código de Pesca; m) Decreto-Lei n. 227, de 28 de fevereiro de 1967, que dispõe sobre o Código
de Minas.
A citação desse conjunto de leis do início do Período Republicano revela a maneira
fragmentada como as questões ligadas ao meio ambiente eram tratadas, sem uma preocupação
especifica com a problemática ambiental.
O meio ambiente ecologicamente equilibrado é uma garantia disposta no art. 225 da
Constituição Federal, contudo tal direito foi elevado ao status constitucional após vários
movimentos ambientais internacionais e nacionais, que surgiram em resposta aos problemas
ambientais crescentes, como a escassez dos recursos naturais.
No plano internacional, em razão da desproporcionalidade entre o crescimento populacional
e a disposição dos bens ambientais, surgiram, na Idade Média, as primeiras leis criando reservas
florestais e punindo a caça e a pesca desordenadas, apesar de essa proteção ambiental atender apenas
aos interesses da Monarquia, que mantinha a visão utilitária do meio ambiente, sem preocupações
quanto à possibilidade de exploração dos recursos naturais pelas futuras gerações.
Após as constantes catástrofes ambientais, como tempestades e erosões, surgiram
movimentos sociais na Europa e nos Estados Unidos, voltados para a proteção do meio ambiente.
Assim, foi criada, em 1948, a União Internacional para a Proteção da Natureza - UIPN, que
sustentava a defesa do meio ambiente em seu estado primitivo e impulsionou o estabelecimento dos
primeiros parques nacionais dos Estados Unidos.
Nesse sentido, Leuzinger (2008, p. 8) destaca que “ Com base nesse pensamento, foi que os
EUA deram início, a partir de 1872, ao estabelecimento de parques nacionais, iniciando com
Yellowstone, no Estado de Wyoming”.
Posteriormente, em 1956, a UIPN foi transformada na União Internacional para a
Conservação da Natureza – UICN, que acreditava na proteção ambiental com base na utilização
racional dos recursos naturais e objetivava atuar numa perspectiva de conservação da natureza.
Foi, porém, com a publicação do livro “Primavera Silenciosa” em 1962, por Rachel Carson,
que apontava os efeitos nocivos que o inseticida DDT causava ao meio ambiente e à saúde humana,
que a polêmica em torno da proteção ambiental tomou proporção internacional e impulsionou
movimentos ambientais que objetivavam a conscientização pública quanto à vulnerabilidade do
meio ambiente natural.
Em 1968, foi criado o Clube de Roma, que consistia num centro de pesquisa formado por
grupo de cientistas, economistas, políticos, dentre outros pesquisadores, que analisavam os
problemas da crise ambiental mundial e publicaram, em 1972, o Relatório intitulado “Limites do
crescimento”, que apontava o aumento do crescimento populacional, a industrialização excessiva e

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a escassez dos recursos naturais, como as principais causas dos problemas ambientais. Diante disso,
acreditavam que o “crescimento zero” dos países desenvolvidos e em desenvolvimento seria a
solução para evitar o colapso do sistema econômico e ambiental.
No mesmo ano da publicação desse Relatório, as Nações Unidas promoveram, na cidade de
Estocolmo, a Conferência sobre o Meio Ambiente Humano, em que o direito ao meio ambiente
equilibrado foi declarado como direito fundamental no Princípio I da Declaração.
A Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Desenvolvimento Humano
em 1972, na Suécia, conhecida como Conferência de Estocolmo, é considerada o marco histórico
da construção normativa do Direito Internacional do Meio Ambiente. Segundo Padilha (2010, p. 1):
“Essa conferência provocou uma transformação da legislação ambiental pelo mundo e, em especial
no Brasil, sob a influência do fenômeno do ‘Espírito de Estocolmo’, as grandes questões ambientais
foram reveladas e discutidas".
A Declaração de Estocolmo consagrou solenemente a tendência contemporânea com as
questões relacionadas ao meio ambiente (ONU, 1972, p. 1):

PRINCÍPIOS Expressa a convicção comum de que: Princípio 1 O homem tem o direito


fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas
em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar
de bem-estar, tendo a solene obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para
as gerações presentes e futuras. A esse respeito, as políticas que promovem ou
perpetuam o apartheid, a segregação racial, a discriminação, a opressão colonial e
outras formas de opressão e de dominação estrangeira são condenadas e devem ser
eliminadas. Princípio 2 Os recursos naturais da terra, incluídos o ar, a água, a terra, a
flora e a fauna e, especialmente, amostras representativas dos ecossistemas naturais
devem ser preservadas em benefício das gerações presentes e futuras, mediante uma
cuidadosa planificação ou ordenamento. Princípio 3 Deve-se manter, e sempre que
possível, restaurar ou melhorar a capacidade da terra em produzir recursos vitais
renováveis. Princípio 4 O homem tem a responsabilidade especial de preservar e
administrar judiciosamente o patrimônio da flora e da fauna silvestres e seu habitat,
que se encontram atualmente, em grave perigo, devido a uma combinação de fatores
adversos. Consequentemente, ao planificar o desenvolvimento econômico, deve-se
atribuir importância à conservação da natureza, incluídas a flora e a fauna silvestres.
(g.n.)

No plano nacional, em meio às perspectivas de proteção do meio ambiente, entrou em vigor


a Lei Federal nº 6.938, de 1981, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, que apresentou como
objetivo geral o desenvolvimento econômico e social com a conservação ambiental, principalmente
com a criação de instrumentos de avaliação de impactos ambientais.
Também foi na década de 1980 e, especificamente, em 1986, que se elaborou a Declaração
do Direito ao Desenvolvimento, que destacou a melhoria da qualidade de vida com o avanço social,
econômico, cultural e político.

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No ano seguinte, a expressão “desenvolvimento sustentável” tornou-se mundialmente


conhecida, com a elaboração do Relatório “Our future common”, que defende a possibilidade de
desenvolvimento econômico com o progresso social e a proteção do meio ambiente. Fiorillo (2010,
p. 90) conceitua-o como “aquele capaz de satisfazer as necessidades presentes sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades”.
Diante disso, Fiorillo (2011, p. 90) destaca que, para o desenvolvimento sustentável, “A
preservação ambiental e o desenvolvimento econômico devem coexistir, de modo que aquela não
acarrete a anulação deste”.
Importante ressaltar que o meio ambiente ecologicamente equilibrado se caracteriza como
direito difuso, portanto de natureza transindividual e de titularidade indeterminada. A respeito disso,
a Constituição de 1988 estabelece que esse direito pertence a todos, considerado também como
indivisível, por ser bem de uso comum do povo e condição imprescindível para a sadia qualidade
de vida.
Adotou-se, portanto, uma tendência de preocupação com os interesses difusos e, em especial,
com o meio ambiente, nos termos propostos pela Declaração de Estocolmo. Desse marco histórico,
pode-se destacar que a legislação brasileira, produzida a partir da década de 1970, consagrou como
obrigação do poder público a defesa, preservação e garantia de efetividade do direito fundamental
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e constituiu, assim, um início da transformação
normativa em prol do meio ambiente.
Nesse sentido, merecem destaque os seguintes textos normativos: a) Decreto-Lei n. 1.413,
de 14 de agosto de 1975, dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente provocada por
atividades industriais; b) Lei n. 6.453, de 17 de outubro de 1977, dispõe sobre a responsabilidade
civil por danos nucleares; c) Lei n. 6.513, de 20 de dezembro de 1977, dispõe sobre criação de áreas
especiais e de locais de interesse turístico; d) Lei n. 6.766, de 19 de dezembro de 1979, dispõe sobre
o parcelamento do solo urbano; e) Lei 6.894, de 16 de dezembro de 1980, dispõe sobre inspeção e
fiscalização da produção do comércio de fertilizantes; f) Lei n. 6.803, de 2 julho de 1980, dispõe
sobre as diretrizes básicas para zoneamento industrial; g) Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que
dispõe, pela primeira vez, sobre formulação, aplicação, mecanismos e fins da Política Nacional do
Meio Ambiente; h) Decreto n. 89.336, de 31 de janeiro de 1984, dispõe sobre a reserva ecológica e
áreas de relevante interesse ecológico; i) Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985, Lei de Ação Civil
Pública; e j) Lei n. 7.661, de 16 de maio de 1988, que instituiu a Política Nacional de Gerenciamento
Costeiro.
Deve-se registrar que a Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA, Lei nº 6.938, de 31
de agosto de 1981, define os mecanismos e instrumentos de proteção do meio ambiente no Brasil.

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Tal legislação é anterior à Constituição de 1988 e teve sua redação alterada pela Lei Complementar
nº 140/2011. Ela é a referência mais importante na proteção ambiental, porque dá efetividade ao art.
225 da CF.
A proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado foi inserida constitucionalmente
em 1988, após o surgimento de movimentos ambientais internacionais, conferencias e relatórios
voltados para a defesa do meio ambiente.
Neste sentido, escalarece Milaré (1991, p. 3):

Essa previsão atual é um marco histórico de inegável valor, dado que as Constituições que
precederam as de 1988 jamais se preocuparam com a proteção do meio ambiente de forma
específica e global. Nelas sequer foi empregada a expressão "meio ambiente”, revelando
uma total despreocupação com o espaço em que se vive e com a preocupação em
conservação dos recursos ambientais.

No Brasil, existiram encontros e movimentos ambientais, que sustentavam o


desenvolvimento econômico e social com a exploração indiscriminada dos recursos naturais.
Portanto, no contexto da preocupação com a escassez dos recursos naturais e do crescimento
populacional, a Constituição de 1988 foi a primeira a dedicar um Capítulo para o meio ambiente,
previsto a partir do art. 225, considerado como um direito fundamental de terceira dimensão e
incluído no título da Ordem Social.
Segundo Padilha (2010, p. 114):

O grande marco jurídico de gestão ambiental sustentável foi a constitucionalização da


proteção ambiental pela Magna Carta brasileira de 1988, por meio de um Capítulo
dedicado ao meio ambiente, inaugurando as bases fundamentais do Direito Constitucional
Ambiental, com o objetivo de se alcançar uma gestão ambiental sustentável integral, com
a incorporação de princípios fundamentais, respeito intergeracional, regimes jurídicos
específicos para proteção de ecossistemas, fauna, flora, biomas e recursos ambientais
específicos.

Nesse sentido, quando o caput do art. 225 da CF dispõe ser garantia de todos o meio
ambiente ecologicamente equilibrado, consolida a ideia de que este se trata de direito difuso e,
portanto, de terceira dimensão, que abriga titularidade indeterminada, sem o qual não há
possibilidade de efetivação dos demais direitos. Registra-se que direitos fundamentas de primeira
dimensão são os relacionados à liberdade e direitos fundamentais de segunda dimensão objetivam
a igualdade.
Para Fiorillo (2010, p. 56), “o direito difuso apresenta-se como um direito transindividual,
tendo um objeto indivisível, titularidade indeterminada e interligada por circunstâncias de fato”.
Mas a proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado também está voltada para a garantia
da sadia qualidade de vida, objeto mediato do Direito Ambiental, a fim de proporcionar dignidade

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ao ser humano, visto que saúde não se resume à ausência de enfermidade, mas também se relaciona
com o bem-estar social e vida em condições dignas.
O texto constitucional consagrou como obrigação do Poder Público a defesa, a preservação
e a garantia do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à qualidade de vida, que suscita a utilização de todos os meios
legislativos, administrativos e judiciais necessários à sua efetiva proteção. Com bem diz Sirvinskas
(2008, p. 68):

A preocupação foi tanta com meio ambiente que o legislador constituinte resolveu
reservar-lhe um Capítulo inteiro na Constituição Federal, procurando disciplinar a matéria
diante de sua importância mundial, inseriu o Capítulo sobre meio ambiente Inseriu o
Capítulo sobre o meio ambiente em um único artigo, contendo seis parágrafos.

Analisando o texto da CF, observam-se outras passagens, além do Art. 225, que tratam do
meio ambiente. Pode-se citar: art. 5º, LXXIII; art. 23, VI; art. 24, VI e VIII; art. 129, III; art. 170,
VI; art. 174, §3º; art. 186, II; art. 200, VIII; art. 220, §3º, II; art. 225; art. 231, §1º.
Esse conjunto de artigos no texto constitucional é o reconhecimento da necessidade de
proteção desse patrimônio ambiental. A CF impôs ao Poder Público a incumbência de definir, em
todas as Unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem
sua proteção, obrigação que não tem sido cumprida à risca por boa parte dos entes federados.
Alguns pesquisadores apontam que é preciso tirar do papel a proteção do meio ambiente e
efetivamente implantar as políticas socioambientais, segundo Pimentel (2008, p. 36):

A maioria das Unidades de Conservação são parques de papel, existem tão somente na letra
fria do ato normativo que as criou e passam por uma situação de descaso e abandono cada
vez maior. Espera-se que o Poder Público mude essa realidade, implementando as Unidades
de Conservação e cumprindo a obrigação imposta pela Constituição de 1988.

Nas palavras do Ministro do STJ, Herman Benjamin, quando do julgamento do REsp


1.071.741 – SP:

A criação das Unidades de Conservação não se justifica por si mesma, vinculada que
se encontra a claros objetivos constitucionais e legais de proteção da Natureza. Por
isso, em nada resolve, freia ou mitiga a crise da biodiversidade – diretamente
associada à insustentável e veloz destruição de habitat natural –, se não vier
acompanhada do compromisso estatal de, sincera e eficazmente, zelar pela sua
integridade físico-ecológica e providenciar os meios para sua gestão técnica,
transparente e democrática. A ser diferente, nada além de um "sistema de áreas
protegidas de papel ou de fachada" existirá, espaços de ninguém, onde a omissão das
autoridades é compreendida pelos degradadores de plantão como autorização implícita para
o desmatamento, a exploração predatória e a ocupação ilícita. (g.n.)

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Portanto, merece uma reflexão sobre dar efetividade ao conjunto de normas, sejam elas
constitucionais e infraconstitucionais, a toda problemática socioambiental, para que a conservação
dos recursos naturais não se limite a simples pedaços de papel oficiais.
Mesmo com essa critica sobre a efetividade das questões socioambientias, merece destaque
que, a partir da CF, o meio ambiente passou a ser um bem juridicamente tutelado. Para Silva (2004,
p. 46), “A Constituição de 1988 foi, portanto, a primeira a tratar deliberadamente da questão
ambiental. Pode-se dizer que ela é uma Constituição eminentemente ambientalista”.

2.3 O §4º DO ARTIGO 225 DA CF DE 1988


A questão central desta pesquisa está em compreender a mens legis do §4º do art. 225 da
Constituição Federal, para assimilar se o legislador quis proteger ecossistemas de interesse nacional
de maneira fragmentada, ou de forma integrada e global, uma vez que as questões ambientais não
têm fronteiras físicas.

Art. 225. omissis


(...) omissis
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal
Mato-Grossense e a Zona Costeira são Patrimônio Nacional, e sua utilização far-se-á,
na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente,
inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. (g.n.)

Nesse sentido, Millaré (2007, p. 811) afirma que:

O dano ambiental possui uma conceituação ambivalente, por determinar não somente a
lesão que atinge o patrimônio ambiental em si, que constitui um patrimônio comum à
coletividade, mas, por intermédio do dano ricochete, os interesses pessoais também são
atingidos pelos danos. As questões ambientais, em muitos casos, não se circunscrevem
a uma determinada fronteira espacial, podendo atingir um determinado grupo ou
vários grupos em cadeia ou simultaneamente. (g.n.)

Verifica-se, desse modo, que o dano ambiental atinge de forma direta a coletividade quando
causa prejuízos ao meio ambiente e, de forma indireta, poderá atingir, eventualmente, a terceiros. A
Lei nº 6.938/1981 prevê, de forma expressa, as duas modalidades, no art. 14, §1º, ao dizer que é o
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.

Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e
municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos
inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os
transgressores:
(...) omissis
§1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor
obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério

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Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil
e criminal, por danos causados ao meio ambiente. (g.n.)

Assim, conforme Milaré (2007, p. 113), “a proteção do meio ambiente será alcançada quando
se proteger a interação entre os elementos bióticos e abióticos, uma vez que este bem é o responsável
pela conservação das formas de vidas”. Esse comentário é extraído da leitura do texto da CF:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
(...) omissis
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal
Mato-Grossense e a Zona Costeira são Patrimônio Nacional, e sua utilização far-se-á,
na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente,
inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. (g.n.)

Nesse sentido, Machado (2004, p. 172) esclarece que:

A Constituição quis enfocar algumas partes do território, para insistir na sua


utilização dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente. Há de
se reconhecer que são áreas frágeis e que são possuidoras de expressiva diversidade
biológica, entretanto houve omissão no texto constitucional, pois se deixou de incluir
os Pampas, o Cerrado e a Caatinga, que são importantes biomas brasileiros. O texto
é pedagógico, no dizer que essas áreas integram o “Patrimônio Nacional”, indicando
que os regionalismos não se devem sobrepor aos interesses ambientais nacionais. O
§4o, em exame, não enseja uma menor exigência na legislação ambiental nas áreas não
contempladas no texto. (g.n.)

A primeira crítica ao dispositivo reside no fato de ele relacionar, indistintamente, os biomas


(Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Pantanal Mato-Grossense), com espaço de interação
ambiental (Zona Costeira) e acidentes geográficos (Serra do Mar). Quanto ao tema, a posição de
Figueiredo (2010, p. 393):

Este dispositivo constitucional relaciona indistintamente biomas (Floresta Amazônica,


Mata Atlântica, Pantanal Mato-Grossense), espaço de interação ambiental (zona
costeira) e acidentes geográficos (Serra do Mar). Ora, grande parte da Mata Atlântica
está localizada na Zona Costeira e na Serra do Mar, pois a Serra do Mar não é um
bioma, é um acidente geográfica e a Zona Costeira Brasileira é uma unidade
territorial, definida em legislação para efeitos de gestão ambiental, que se estende por
17 Estados e acomoda mais de 400 Municípios, distribuídos do Norte equatorial ao Sul
temperado do Brasil. (g.n.)

Para Faria (2009, p. 2), nem todos esses ecossistemas são biomas, porque o termo “bioma
vem do grego bio = vida + oma = grupo ou massa e significa uma unidade biológica ou espaço
geográfico cujas características específicas são definidas pelo macroclima, a fitofisionomia, o solo,
a altitude, dentre outros critérios biológicos”, ou seja, são ecossistemas ou habitats biológicas com
certo nível de homogeneidade que podem ter zonas de contato, que se denominam ecótono.

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O Brasil é formado por seis biomas de características distintas: Amazônia, Caatinga,


Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Cada um desses ambientes abriga diferentes tipos de
vegetação, solo, altitude e fauna (BRASIL, MMA, 2018). Para melhor compreensão do §4º do Art.
225 da CF, será analisada cada palavra do referido parágrafo.
O primeiro ecossistema relacionado no §4º do artigo 225 da CF é a Floresta Amazônica,
composta de um verde e vasto mundo de águas e florestas, onde as copas de árvores imensas
escondem o úmido nascimento, reprodução e morte de mais de um terço das espécies que vivem
sobre a Terra (BRASIL, MMA, 2018).
A Amazônia é o maior bioma do Brasil, com um território de 4.196.943 milhões de km2
(BRASIL, IBGE, 2018). Nela crescem 2.500 espécies de árvores ou um terço de toda a madeira
tropical do mundo e 30 mil espécies de plantas das 100 mil da América do Sul (INPA, Brasil, 2018).
A Bacia Amazônica é a maior bacia hidrográfica do mundo (BRASIL, IBGE, 2018), cobre
cerca de 6 milhões de km2 e possui 1.100 afluentes. Seu principal rio, o Amazonas, corta a região
para desaguar no Oceano Atlântico, lançando ao mar cerca de 175 milhões de litros d’água a cada
segundo. As estimativas situam a região como a maior reserva de madeira tropical do mundo, seus
recursos naturais, que, além da madeira, incluem enormes estoques de borracha, castanha, peixe e
minérios, por exemplo, e representam uma abundante fonte de riqueza natural (BRASIL, MMA,
2018).
A região abriga também grande riqueza cultural, incluindo o conhecimento tradicional sobre
os usos e a forma de explorar esses recursos naturais sem esgotá-los nem destruir o habitat natural
(BRASIL, MINC, 2018).
Toda essa grandeza não esconde a fragilidade do escossistema local, porém a floresta vive
de seu próprio material orgânico e seu delicado equilíbrio é extremamente sensível a quaisquer
interferências. Os danos causados pela ação antrópica são, muitas vezes, irreversíveis. Ademais, a
riqueza natural da Amazônia contrapõe-se dramaticamente aos baixos índices socioeconômicos da
região: baixa densidade demográfica e crescente urbanização. Dessa forma, o uso racional dos
recursos florestais é estratégico para o desenvolvimento da região (BRASIL, MMA, 2018).
O clima da região amazônica é tropical, quente e úmido, com alto índice pluviométrico. Suas
florestas avançam por sobre quase toda a área da Amazônia Legal e compreendem os Estados do
Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso e as regiões situadas ao Norte
do paralelo 13° S, dos Estados de Tocantins e Goiás, e a Oeste do meridiano de 44° W, do Estado
do Maranhão, conforme se extrai do Art. 3o, I, da Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, in verbis:

Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

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I - Amazônia Legal: os Estados do Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá


e Mato Grosso e as regiões situadas ao norte do paralelo 13° S, dos Estados de
Tocantins e Goiás, e a oeste do meridiano de 44° W, do Estado do Maranhão; (g.n.)

A Mata Atlântica é composta por formações florestais nativas, tais como a Floresta
Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila Mista, também denominada de Mata de Araucárias; Floresta
Ombrófila Aberta; Floresta Estacional Semidecidual; e Floresta Estacional Decidual, e demais
ecossistemas associados, como os manguezais, vegetações de restingas, campos de altitude, brejos
interioranos e encraves florestais do Nordeste (BRASIL, MMA ,2018).
Originalmente, o bioma ocupava mais de 1,3 milhões de km² em 17 Estados do território
brasileiro, estendendo-se por grande parte da costa do país, porém, devido à ocupação e às atividades
humanas na região, ja descritas no item 1.1, hoje restam cerca de 29% de sua cobertura vegetal
original (BRASIL, IBGE, 2018).
Mesmo assim, estima-se que existam na Mata Atlântica cerca de 20 mil espécies vegetais,
35% das espécies existentes no Brasil, incluindo diversas espécies endêmicas e ameaçadas de
extinção. Essa riqueza é maior que a de alguns continentes, a exemplo da América do Norte, que
conta com 17 mil espécies vegetais, e da Europa, que conta com 12,5 mil (BRASIL, IBGE, 2018).
Esse é um dos motivos que tornam a Mata Atlântica prioritária para a conservação da
biodiversidade mundial. Em relação à fauna, o bioma abriga, aproximadamente, 850 espécies de
aves, 370 de anfíbios, 200 de répteis, 270 de mamíferos e 350 de peixes e, além de ser uma das
regiões mais ricas do mundo em biodiversidade, a Mata Atlântica fornece serviços ecossistêmicos
essenciais para os 145 milhões de brasileiros que vivem nela (BRASIL, MMA, 2018).
As florestas e demais ecossistemas que compõem a Mata Atlântica são responsáveis pela
produção, regulação e abastecimento de água; regulação e equilíbrio climáticos; proteção de
encostas e atenuação de desastres; fertilidade e proteção do solo; produção de alimentos, madeira,
fibras, óleos e remédios; além de proporcionar paisagens cênicas e preservar um patrimônio
histórico e cultural imenso (BRASIL, MMA, 2018).
Nesse contexto, a conservação da áreas remanescentes de Mata Atlântica e a recuperação da
sua vegetação nativa tornam-se fundamentais para a sociedade brasileira, destacando-se, para isso,
as áreas protegidas como Unidades de Conservação (SNUC), previstas na Lei nº 9.985/2000, as
Terras Indígenas daquela área, previstas no Estatuto do Índio conforme a Lei nº 6001/1973, e as
Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal, previstas no Código Florestal, nos termos da
Lei nº 12.651/2012.
O bioma também é protegido pela Lei nº 11.428/2006, conhecida como Lei da Mata
Atlântica, regulamentada pelo Decreto nº 6.660/2008, segundo o WWF - Brasil (2018, p. 2):

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A Mata Atlântica apresenta, hoje, a área de vegetação nativa brasileira mais


devastada do País. Reduzida a apenas 27% de sua cobertura original, ainda é uma
das regiões do mundo mais ricas em diversidade biológica, embora dados apresentados
pela SOS Mata Atlântica assegurem que apenas 7,26% de seus remanescentes permanecem
bem conservados. Sua manutenção e preservação deixou de ser uma prioridade
restrita aos ambientalistas. Agora, depende do envolvimento de todos os setores
produtivos, econômicos e sociais do Brasil, uma vez que, em seus limites, vivem 123
milhões de pessoas – 67% de toda a população brasileira. Esse número expressivo de
habitantes necessita da preservação dos remanescentes de vegetação nativa, dos quais
depende o fluxo de mananciais de águas que abastecem pequenas e grandes cidades. As
áreas de cobertura vegetal nativa que ainda restam prestam serviços ambientais
importantes, como a proteção de mananciais hídricos, a contenção de encostas, a
temperatura do solo e a regulação do clima, já que regiões arborizadas podem reduzir
a temperatura em até 2º C. Segundo um estudo da entidade WWF, mais de 30% das 105
maiores cidades do mundo dependem de Unidades de Conservação para garantir seu
abastecimento de água. As matas ciliares, nome dado ao conjunto de vegetação localizada
às margens dos cursos de água, foram avaliadas como comprometidas na Mata Atlântica.
São fundamentais para a proteção e preservação da diversidade da flora e fauna, pois além
de evitar o agravamento de secas e o aumento das enchentes, também funcionam como
corredores para que animais e sementes possam transitar entre as áreas protegidas e garantir
a alimentação e a variabilidade genética das mais diferentes espécies. As áreas bem
conservadas e grandes o suficiente para garantir a biodiversidade e manutenção da
Mata Atlântica a longo prazo não chegam a 8% de sua cobertura vegetal original. A
região continua a sofrer sérias ameaças, que podem se agravar caso o Código Florestal
brasileiro sofra alterações que não garantam a utilização responsável e sustentável de
seus recursos naturais. (g.n.)

Outro ecossistema contemplado no §4º do art. 225 da CF foi a Serra do Mar, que é constituída
pela Mata Atlântica, integra o ecossistema costeiro e abrange os manguezais e as restingas. Nesse
sentido, Figueiredo (2010, p. 393) explica:

A Serra do Mar não como um bioma e, sim, como acidente geográfico, pois é composta por
uma cadeia montanhosa do relevo brasileiro, que se estende por, aproximadamente, 1.500
quilômetros ao longo do litoral leste/sul, indo desde o estado do Rio de Janeiro até o norte
do estado de Santa Catarina.

Em São Paulo, a Serra do Mar atravessa as três regiões litorâneas (Norte, Central e Sul) e
pertence ao Complexo Cristalino Brasileiro (BRASIL, MMA, 2018).
As formas atuais da Serra do Mar derivam de vários fatores: diferença de resistência das
rochas, falhamento do relevo e sucessivas trocas climáticas (BRASIL, MMA, 2018). O último
segmento de montanhas da Serra do Mar, no estado do Rio de Janeiro, recebe o nome local de Serra
dos Órgãos e possui os mais altos picos de toda a Serra do Mar, como a Pedra do Sino de
Teresópolis, 2.255 metros, o Pico da Caledônia 2.257 metros, em Nova Friburgo, e outros picos
maiores localizados no Parque Estadual dos Três Picos, onde se encontram os três picos, uma
formação rochosa de granito e gnaisse com mais de 2.300 metros de altura, o pico maior de Friburgo:
2.366 metros, ponto culminante da Serra do Mar no Brasil, que possui três picos ou "três agulhas"
na parte superior desta rocha (BRASIL, MMA, 2018).

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Na Serra do Mar, encontram-se as maiores altitudes do Paraná, destacando-se os seguintes


picos: Paraná 1.922 metros; Caratuva 1.856 metros; Siririca 1.740 metros; e Marumbi 1.551 metros
(BRASIL, MMA, 2018).
Dirigindo-se mais para o Sul, aparecem outras serras marginais, tais como Castelhanos,
Araraquara, Araçatuba e Iquiririm, esta última já na divisa do Paraná com Santa Catarina, também
marginais os ramais que se dirigem para o litoral, como as Serras da Igreja, Canavieiras e da Prata
(BRASIL, MMA, 2018).
Outro bioma mencionado no §4º do art. 225 da CF é o Pantanal Mato-Grossense, descrito
por Sirvinskas (2008, p. 91) como um "ecossistema de transição entre as formações típicas do
Cerrado e a hileia com sua exuberante floresta tropical. É formado por grandes áreas inundadas, por
brejos permanentes, possuindo um clima tropical”.
O Pantanal é considerado uma das maiores extensões úmidas contínuas do Planeta. Esse
bioma continental é considerado o de menor extensão territorial no Brasil, embora esse dado em
nada desmereça a exuberante riqueza que o referente bioma abriga (BRASIL, MMA, 2018).
A sua área aproximada é 150.355 km², e ocupa, assim, 1,76% da área total do território
brasileiro. Em seu espaço territorial, o bioma, que é uma planície aluvial, é influenciado por rios
que drenam a Bacia do Alto Paraguai (BRASIL, IBGE, 2018).
O Pantanal sofre influência direta de três importantes biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado
e Mata Atlântica. Além disso, sofre influência do bioma Chaco, nome dado ao Pantanal localizado
no norte do Paraguai e leste da Bolívia (BRASIL, MMA, 2018).
Uma característica interessante desse bioma é que muitas espécies ameaçadas em outras
regiões do Brasil persistem em populações avantajadas na região, como é o caso do tuiuiú, ave
símbolo do Pantanal (BRASIL, MMA, 2018).
O bioma abriga os seguintes números de espécies catalogadas: 263 espécies de peixes, 41
espécies de anfíbios, 113 espécies de répteis, 463 espécies de aves e 132 espécies de mamíferos,
sendo 2 endêmicas. Segundo a Embrapa Pantanal, quase duas mil espécies de plantas já foram
identificadas no bioma e classificadas de acordo com seu potencial, e algumas apresentam vigoroso
potencial medicinal (EMBRAPA, Brasil, 2018).
Apesar de sua beleza natural exuberante, o bioma vem sendo muito impactado pela ação
humana, principalmente pela atividade agropecuária nas áreas de planalto adjacentes do bioma.
Assim como a fauna e a flora da região são admiráveis, há de se destacar a rica presença das
comunidades tradicionais, como as indígenas, quilombolas, os coletores de iscas ao longo do rio
Paraguai, comunidade Amolar e Paraguai-Mirim, dentre outras. Apenas 4,6% do Pantanal

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encontram-se protegidos por Unidades de Conservação, dos quais 2,9% correspondem a UCs de
proteção integral e 1,7% a UCs de uso sustentável (BRASIL, MMA, 2018).
A Zona Costeira Brasileira consta no §4º do art. 225 da CF, entretanto, como já mencionado,
não se trata de um bioma e, sim, de um espaço de interação ambiental, conforme definido na Lei no
7.661/1988, que institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro:

Art. 2º. Subordinando-se aos princípios e tendo em vista os objetivos genéricos da PNMA,
fixados, respectivamente, nos arts. 2º e 4º da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, o PNGC
visará especificamente a orientar a utilização nacional dos recursos na Zona Costeira, de
forma a contribuir para elevar a qualidade da vida de sua população, e a proteção do seu
patrimônio natural, histórico, étnico e cultural.
(...)
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, considera-se Zona Costeira o espaço
geográfico de interação do ar, do mar e da terra, incluindo seus recursos renováveis
ou não, abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre, que serão definidas pelo
Plano.

A Zona Costeira é constituída pela junção da faixa marítima, da faixa continental e do ar e


possui grande variedade biológica. Há, nesse ecossistema, restingas, bancos de areia, lagunas,
manguezais. É uma unidade territorial que se estende, na sua porção terrestre, por mais de 8.500
km, abrangendo 17 Estados e mais de quatrocentos Municípios, distribuídos do Norte equatorial ao
Sul temperado do país. Inclui, ainda, a faixa marítima formada por mar territorial, com largura de
12 milhas náuticas a partir da linha da costa (BRASIL, IBGE, 2018).
Possuí uma das maiores faixas costeiras do mundo, entre a foz do rio Oiapoque, no Amapá
e Chuí, no Rio Grande do Sul. A Zona Marinha tem início na região costeira e compreende a
plataforma continental marinha e a Zona Econômica Exclusiva – ZEE, que, no caso brasileiro,
alonga-se até 200 milhas da costa (BRASIL, MMA, 2018).
Além de toda essa área, segundo os preceitos da Convenção das Nações Unidas sobre os
Direitos do MAR-CNUDM, o Brasil pleiteou, junto à Organização das Nações Unidas-ONU, um
acréscimo de 900 mil km2 a essa área, em pontos onde a Plataforma Continental vai além das 200
milhas náuticas, segundo a CNUDM, e pode ir até um máximo de 350 milhas. O pleito foi aceito e
aumentou a área das águas jurisdicionais brasileiras para, aproximadamente, 4,5 milhões de km2,
cuja área total está sendo chamada pela Comissão Interministerial sobre os Recursos do Mar –
CIRM de Amazônia Azul (BRASIL, MMA, 2018).
Os sistemas ambientais costeiros no Brasil são diversos. O litoral é composto por águas frias,
no Sul e Sudeste, e águas quentes, no Norte e Nordeste, e dá suporte a uma grande variedade de
ecossistemas, que incluem manguezais, recifes de coral, dunas, restingas, praias arenosas, costões
rochosos, lagoas, estuários e marismar, que abrigam inúmeras espécies de flora e fauna, muitas das
quais só ocorrem em nossas águas e algumas estão ameaçadas de extinção. Desses ecossistemas,

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destacam-se os manguezais, berçários de diversas espécies marinhas e de água doce e os recifes de


coral, aclamados como os mais diversos habitats marinhos do mundo (BRASIL, MMA, 2018).
Assim, constata-se que, dos seis biomas brasileiros, somente a Floresta Amazônica, a Mata
Atlântica e o Pantanal Mato-Grossense foram inseridos nesse dispositivo e ficaram de fora a
Caatinga, o Cerrado e o Pampa. Devido a essa omissão constitucional, encontram-se em tramitação
no Senado Federal propostas de emenda à Constituição, conforme será detalhado nesta pesquisa no
item 2.4, que se limitará a analisar os aspectos relacionados ao Cerrado.
Na análise de Sirvinskas (2008, p. 91):

Esses grandes ecossistemas foram inseridos na Constituição Federal com a finalidade de


dar maior proteção à biodiversidade ali existente, pois protege esses biomas de interesse
nacional de maneira fragmentada, devendo a problemática ambiental da região ser resolvida
ou tratada de forma integrada e global.

Os ecossistemas mencionados no §4º do art. 225 da CF são qualificados como Patrimônio


Nacional, cujo sentido foi objeto de estudo no início deste Capítulo. Dessa forma, abaixo, o
entendimento de Cretella Júnior (1993, p. 4521) sobre o o conceito de Patrimônio Nacional:

A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-


Grossense e a Zona Costeira integram o Patrimônio Nacional. São bens da União, bens
federais. Somente poderão ser utilizados na forma da lei, sendo, pois, essa utilização
realizada dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, incluindo-
se o uso dos recursos naturais.

Esses grandes ecossistemas foram inseridos da CF com a finalidade de dar maior proteção à
biodiversidade ali existente. Para Silva (2007, p. 844), o melhor entendimento é o de que:

Declara a Constituição que os complexos ecossistemas referidos no seu art. 225, §4º,
são Patrimônio Nacional. Isso não significa transferir para a União o domínio sobre
as áreas particulares, estaduais e municipais situadas nas regiões mencionadas. Na
verdade, o significado primeiro e político da declaração constitucional de que aqueles
ecossistemas florestais constituem Patrimônio Nacional está em que não se admite
qualquer forma de internacionalização da Amazônia ou de qualquer outra área. A
locução Patrimônio Nacional revela espécie de proclamação, concitando todos à defesa
de tais ecossistemas tão importantes para o Brasil, pois o bem ambiental não tem
fronteiras nem possui um único dono. (g.n.)

Segundo Barroso (2008, p. 168), o §4º do art. 225 da CF menciona que alguns biomas
brasileiros são patrimônio nacional:

Embora o conceito de “patrimônio nacional” não seja explorado pela doutrina, há
quem defenda que a expressão do §4º do art. 225 da CF tem mais valor simbólico do
que técnico, pois a enumeração das referidas áreas é exemplificativa e não numerus
clausus e, segundo esse entendimento, já estão inseridas no conceito de patrimônio

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comum previsto no caput do mencionado Artigo (bem de uso comum). Quanto ao


sentido exemplificativo, não restam dúvidas. Mas isso não serve como justificativa
para afirmar o caráter simbólico do §4o do art. 225. Cada uma dessas realidades são
consideradas como conjuntos orgânicos distintos (biomas), com características próprias,
homogêneas ou semelhantes em sua extensão territorial, como relevo, solo, fauna e flora,
regime de chuvas, clima, etc. (como se fossem realidades coletivas), que compõem, como
elementos, o macrobem ambiental, de uso comum de todos (art. 225, caput). (g.n.)

Afirmar o simbolismo da norma seria considerar que essas universalidades, de fato,


poderiam, em tese, ser desconstituídas pela vontade de seu titular. Mas tal desconstituição é
rejeitada, em decorrência da tutela constitucional à integridade orgânica desses biomas,
constituindo-se, também, em universalidades de direito. Isso não impede a utilização de seus
recursos, desde que respeitadas as diretrizes constitucionais de proteção e defesa do meio ambiente.
Tanto assim que o bioma Mata Atlântica mereceu do legislador infraconstitucional especial
atenção, conforme a Lei nº 11.428/06, que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa
do Bioma Mata Atlântica.
Outro aspecto a ser estudado é relativo à parte final do §4º do art. 225 da CF, quando ele
menciona sobre a utilização desses ecossistemas, uma vez que a CF aponta que se fará na forma da
lei. Assim, será analisado que tipo de lei quis o legislador constituinte - se lei Ordinária ou
Complementar.
Para Moraes (2006, p. 624), “a Lei Complementar é espécie normativa diferenciada em
relação à Lei Ordinária, que apresenta matéria distinta e processo legislativo próprio”, ou seja,
procurou o legislador constituinte estabelecer um procedimento mais severo à Lei Complementar
em relação à Lei Ordinária e, com isso, tornar possível o resguardo de determinadas matérias de
caráter infraconstitucional.
O Art. 59 da CF de 1988 relaciona a Lei Ordinária e a Complementar como integrantes do
processo legislativo pátrio:

Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:


(...)
II - leis complementares;
III - leis ordinárias; (g.n.)

A diferenciação entre as Leis Ordinárias e as Leis Complementares reside nos aspectos


formal e material. Moraes (2006, p. 625) explica:

Quanto ao aspecto material, dá-se o fato de que apenas matéria expressamente prevista
na Constituição Federal pode ser objeto de lei complementar, enquanto para a lei ordinária
poderá ser objeto qualquer matéria. Pode-se atentar que a própria Constituição Federal
prevê a regulamentação de determinada matéria por lei complementar, fazendo-o de forma
taxativa. Enquanto serão objeto de lei ordinária as matérias residuais, cuja expressão que a
identifica geralmente é “na forma da lei”. No tocante ao aspecto formal, diz respeito ao

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quórum de votação. A lei complementar para ser aprovada deverá apresentar quórum de
maioria absoluta, enquanto a lei ordinária exige o quórum de maioria simples. Entende-se
por maioria absoluta a metade dos parlamentares integrantes da Casa Legislativa mais um
e, por maioria simples, a metade dos parlamentares presentes na reunião ou sessão, mais
um. Ambas as leis seguem o mesmo processo legislativo, distinguindo-se apenas quanto ao
quórum para aprovação. (g.n.)

Assim, a expressão na “forma da lei” refere-se à Lei Ordinária, de forma que a utilização
desses grandes ecossistemas será regulamentada por meio de leis ordinárias. Em alguns casos, já
foram regulamentados por Lei Ordinária os seguintes ecossistemas: A Floresta Amazônica
brasileira, pelo art. 3º, I, da Lei nº. 12.651, de 25 de maio de 2012; a Mata Atlântica, pela Lei nº
11.428, de 22 de dezembro de 2006, e pelo Decreto nº 6.660/08; a Serra do Mar, o Pantanal Mato-
Grossense e a Zona Costeira pelas Leis nos 6.938/81, 6.902/81 e 7.661/88.
Entretanto, merece registro que, de acordo com a Constituição Federal, art. 23, parágrafo
único, caberia à Lei Complementar a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à
proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em
qualquer de suas formas e à conservação das florestas, da fauna e da flora:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
(...)omissis
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a
União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do
desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. (g.n.)

Nesse sentido, a Lei Complementar nº 140/2011, que fixa normas no parágrafo único do art.
23 da Constituição Federal, cumpriu esse comando da CF/88 e regulamentou a competência comum
entre União, Estados e Municípios para proteção do meio ambiente, com a finalidade básica de
proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado por meio de uma gestão
descentralizada, democrática e eficiente.
Com o advento da Lei Complementar nº 140/2011, as competências materiais comuns dos
entes federativos, antes estabelecidas na Resolução CONAMA nº 237/1997, foram ratificadas e
regulamentadas, mas permaneceu o sistema único de licenciamento pelos Órgãos executores do
Sistema Nacional de Meio Ambiente com a garantia de manifestação não vinculante dos Órgãos
ambientais das outras esferas federativas.
Houve a ratificação, também, do conceito de licenciamento ambiental já previsto na Lei da
Política Nacional do Meio Ambiente e na Resolução CONAMA 237/97 como destinado a
“atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente
poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental”.

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A Lei Complementar nº 140/2011 é, pois, uma “norma geral”, como enfatiza Machado
(2004, p. 323):

A Lei não é de competência privativa da União, assinalando-se que fazem parte da


competência concorrente as ‘florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa
do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição.

Já em relação à sobreposição de atuação entre os entes federativos, Machado (2004, 184)


explica:

A Lei Complementar, contudo, não consegue, por ela mesma, evitar essa sobreposição,
isto é, a duplicidade ou até a intervenção tríplice, como se vê em matérias como
“controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente,
na forma da lei”. Essa competência está prevista para a União, art. 7°, XII; para os
Estados, art. 8°, XII; e para os Municípios, art. 9°, XII. Dessa forma, enquanto não vier
uma lei adequada para a matéria aludida, não pode vigorar o art. 13, caput, com a licença
ambiental ou a autorização ambiental somente por um único ente federativo, pelo menos,
no que concerne às matérias em que a delineação das atribuições administrativas não foi
feita. (g.n.)

A Lei Complementar nº 140/2011 estabelece, também, a competência fiscalizatória dos entes


federativos e permence a atribuição comum de todos esses entes para a adoção de medidas urgentes
a fim de se evitar o dano ambiental, embora a competência para lavrar auto de infração e
procedimento administrativo seja do órgão licenciador.
O §4º do art. 225 da Constituição menciona sobre o uso desses ecossistemas dentro de
condições que assegurem a conservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais. A proteção do meio ambiente mereceu atenção da CF, tanto que lhe reservou o art. 225,
além de outros dispositivos constitucionais, que fazem menção, explícita ou implicitamente, às
questões ambientais.
Dentre esses, merecem destaque o art. 170, VI, que eleva a defesa do meio ambiente como
princípio da ordem econômica, e o art. 186, II, que estabeleceu a utilização adequada dos recursos
naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente como um dos requisitos necessários para a
propriedade rural cumprir sua função social.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios:
(...) omissis
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme
o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação; (g.n.)

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,
segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

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(...) omissis
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente; (g.n.)

A doutrina de Cavedon (2004, p. 64) “deduziu que com a tutela ao meio ambiente restou
estabelecida a função ambiental da propriedade, embora entenda que o texto constitucional não
utilize explicitamente essa terminologia”.
No aspecto legal, pode-se citar a Lei no 11.428/06, que dispõe sobre a utilização e proteção
da vegetação nativa do bioma Mata Atlântica, porque utiliza a expressão função socioambiental da
propriedade:

Art. 6º A proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica têm por objetivo geral o
desenvolvimento sustentável e, por objetivos específicos, a salvaguarda da biodiversidade,
da saúde humana, dos valores paisagísticos, estéticos e turísticos, do regime hídrico e da
estabilidade social.
Parágrafo único. Na proteção e na utilização do Bioma Mata Atlântica, serão
observados os princípios da função socioambiental da propriedade, da equidade
intergeracional, da prevenção, da precaução, do usuário-pagador, da transparência
das informações e atos, da gestão democrática, da celeridade procedimental, da
gratuidade dos serviços administrativos prestados ao pequeno produtor rural e às
populações tradicionais e do respeito ao direito de propriedade. (g.n.)

O art. 170 da CF, entre outros princípios da atividade econômica, busca assegurar a soberania
nacional, a propriedade privada, a livre concorrência, a defesa do consumidor, a defesa do meio
ambiente (art. 170, I a VI). Como se vê, trata-se de princípios distintos que se inter-relacionam. Caso
o meio ambiente (art. 170, VI), ou melhor, a função ambiental, integrasse a função social da
propriedade (art. 170, III), por uma atração de proximidade, não haveria necessidade de destacá-lo
em dispositivos apartados, visto que tais princípios seriam enumerados em conjunto no mesmo
inciso.

Art. 170. (...) omissis


I - (...);
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme
o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação; (g.n.)

Com isso, embora se inter-relacionem, trata-se de princípios distintos, cuja autonomia é


reconhecida pela doutrina. Portanto, o art. 170 materializa-se na integração da propriedade privada,
da função social e do meio ambiente e deve ser observado pela ordem econômica, o que não
significa, necessariamente, a junção da função social com a função ambiental.

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A função, seja ela social ou ambiental, deve harmonizar-se com a propriedade, ou seja, a
propriedade vai além dos direitos de usar, gozar e dispor; passa, também, a tornar-se dever e tem
por referência outros interesses, além dos interesses individuais do proprietário.
Há na CF dois tipos de normas sobre o direito de propriedade: a) a que garante o direito de
propriedade como direito fundamental, conforme art. 5º, XXII, porque a propriedade privada foi
elevada a princípio da ordem econômica (art. 170, II); b) a que vincula a propriedade à função social,
além dos interesses individuais do proprietário e culmina com a função ambiental da CF. Nesse
sentido, são os art. 5º, XXIII e XXIV; art. 170, III, VI; art. 182, §2º; art. 184, §2º; art. 186, I, II, e,
quanto ao meio ambiente, especialmente o disposto no art. 225.
Além desses artigos, o art. 23, VI e VIII, confere ao legislador infraconstitucional a
competência para edição de leis que poderão restringir o direito de propriedade, como a Instituição
de Área de Preservação Permanente - APP (art. 2º, §2º, II, da Lei nº 12.651/2012); a Reserva legal
(Art. 2º, §2º, III, da Lei nº 12.651/2012 - novo Código Florestal Brasileiro), as terras indígenas e
quilombolas. Desse modo, tem-se a necessidade de melhor detalhar o conceito jurídico de
Patrimônio Nacional.

Figura 1 – Biomas Brasileiros - São seis os grandes Biomas Brasileiros (continentais).

Fonte: IBGE, 2018, p. 01.

Os biomas são conjuntos de ecossistemas (vegetal e animal) com uma diversidade biológica
própria. Segundo o IBGE, no Brasil, há seis tipos de biomas continentais e um bioma marinho ou
aquático. Os biomas terrestres brasileiros são Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica,
Pantanal e Pampa.

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2.4 CONCEITO JURÍDICO DE PATRIMÔNIO NACIONAL


O Patrimônio é o conjunto de bens de determinada pessoa, seja ela, física ou jurídica, de
direito público ou privado. O Patrimônio Nacional é um conjunto de bens que representam a história
e a memória de um determinado país e são esses bens que ajudam a formar um sentimento nacional,
que nos faz sentir brasileiros. No caso específico dos biomas brasileiros, busca-se entender o porquê
de o legislador eleger alguns ecossistemas brasileiros como Patrimônio Nacional, ao destinar um
parágrafo na Constituição para essa finalidade, em detrimento de outros ecossistemas que não foram
assim considerados.
Segundo Fonseca (2005, p. 15):

Patrimônio é tudo o que criamos, valorizamos e queremos preservar: são os monumentos e


obras de arte, e também as festas, músicas e danças, os folguedos e as comidas, os saberes,
fazeres e falares. Tudo enfim que produzimos com as mãos, as ideias e a fantasia.

Assim, deduz-se que a expressão Patrimônio Nacional é qualificada e revela uma espécie de
enunciado, que convoca todos os brasileiros à defesa de tais ecossistemas tão importantes para o
Brasil, porque o bem ambiental não tem fronteiras nem possui um único dono.
A Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, apresenta
princípios e objetivos para a sua implantação com um inciso que trata sobre o princípio de que o
meio ambiente é um Patrimônio Público:

Art. 2º A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação,


melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando a assegurar,
no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança
nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio
ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido,
tendo em vista o uso coletivo; (g.n.)

Silva (2004, p. 213) comenta esse inciso:

Os Princípios estão relacionados no Art. 2º e consideram o meio ambiente um


Patrimônio Público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o
uso coletivo. Tal princípio significa que a qualidade do meio ambiente e o equilíbrio
ecológico são valores preponderantes que se elevam acima de quaisquer outras
considerações, como as de desenvolvimento, as de propriedades, as de iniciativa
privada, por sua natureza de bem de interesse público (patrimônio público), cuja
proteção não é mera faculdade da ação governamental, mas imperativo imposto pela lei
com a expressão “necessariamente assegurado e protegido”, não no interesse particular,
mas tendo em vista o uso coletivo. (g.n.)

Mais adiante, encontra-se, na Lei nº 6.938/81, que compete ao CONAMA a realização de


estudos e das possíveis consequências ambientais nas áreas consideradas Patrimônio Nacional:

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Art. 8º Compete ao CONAMA:


(...) omissis
II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e
das possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando
aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as
informações indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e
respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação
ambiental, especialmente nas áreas consideradas Patrimônio Nacional. (g.n.)

Desse modo, o CONAMA pode determinar a realização de estudos das alternativas e das
possíveis consequências ambientais (EIA/RIMA), de projetos públicos ou privados e, assim,
requerer todas as informações necessárias, em especial, nas áreas consideradas Patrimônio
Nacional. As áreas consideradas Patrimônio Nacional são a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica,
a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira, conforme o disposto no art. 225, §4º,
da CF.
É importante, para o desenvolvimento desta pesquisa, falar sobre o alcance geográfico do
termo “nacional” e sobre o direito de propriedade nas áreas contempladas no §4º do art. 225, da CF.
Para tanto, este conteúdo será analisado nos tópicos A e B seguintes.

A - O alcance nacional e não regional das áreas que integram o “Patrimônio Nacional”

O alcance geográfico do §4º do artigo 225 da CF de 1988 merece ser analisado, uma vez que
a questão ambiental não se circunscreve a fronteiras físicas, um ecossistema não termina num
determinado lugar e deste lugar começa um outro ecossistema de modo exato, porque, entre o inicio
e o fim de um ecossistema, existem zonas de transição denominadas de ecótono. Além disso, os
ecossistemas relacionam-se, como no caso do Cerrado, que apresenta grandes reservas de água doce
que abastecem grandes aquíferos e bacias hidrográficas, entre elas, a Amazônica e a do São
Francisco.
Segundo Machado (2004. p. 173):

O §4º do artigo 225 da CF de 1988 cuida da problemática ambiental, o texto é pedagógico


no dizer que essas áreas integram o "Patrimônio Nacional”, indicando que os
regionalismos não se devem sobrepor aos interesses nacionais. (g.n.)

Desse modo, os problemas ambientais da Floresta Amazônica brasileira, da Mata Atlântica,


da Serra do Mar, do Pantanal Mato-Grossense e da Zona Costeira não devem restringir-se a
problemas regionais ou serem tratados como tais.
Como forma de exemplificar a relação de interdependência dos ecossistemas, já que as
questões ambientais não se limitam a fronteiras físicas, será analisado o fenômeno dos “rios

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voadores”, termo popularizado pelo Professor José Antônio Marengo Orsini, membro do Centro de
Previsão de Tempo e Estudos Climáticos - CPTEC.
Segundo Vêncio (2018, p. p):

Os rios voadores, também denominados rios aéreos ou rios flutuantes, são fluxos
concentrados de vapores atmosféricos formados por massas de ar, invisíveis em
determinada região da Amazônia e sobrevoam em meio à copa das árvores. Eles não têm
margens como os rios terrestres, porém realizam a mesma função de transportar umidade e
vapor de água, advindos da evapotranspiração das árvores, para outras regiões do Brasil,
como Sudeste, Sul e Centro-Oeste, porque a água que evapora do oceano cai em forma de
chuva na Amazônia. Posteriormente, a floresta evapotranspira formando os rios voadores
que são levados por massas de ar até chegar ao Sudeste e Centro-Oeste e cair em forma de
chuva. Para bombear a água, ela suga a umidade evaporada pelo Oceano Atlântico próximo
à Linha do Equador e carrega-a pelos ventos alísios, formando-se, assim, nuvens. Quando
chegam sobre a mata, com influência do calor e já "carregadas", ficam mais pesadas que o
ar e caem em forma de chuva. Posteriormente, as árvores evapotranspiram sob o sol e a
floresta devolve toda a água que absorveu para a atmosfera na forma de vapor de água.
Portanto, o ar é recarregado e continua sendo transportado rumo à curvatura do Acre, uma
vez que, por causa da Cordilheira dos Andes, não passa direto, seguindo pela Bolívia,
Paraguai e enfim os Estados brasileiros: MT, MS, MG, SP, PA, SC e RS. Antes precipita
levemente próximo às montanhas, dando origem aos rios amazônicos. A vazão dos rios
flutuantes é equivalente à vazão dos rios amazônicos, lançando cerca de 200.000 m3/s. Isso
acontece porque uma árvore bombeia para a atmosfera mais de 300 litros de água, em um
dia, sendo que uma árvore maior pode evapotranspirar mais de 1.000 litros por dia.
Imagina-se que haja 600 bilhões de árvores na Amazônia. (g.n.)

Os rios voadores são cursos de água atmosféricos, formados por massas de ar carregadas de
vapor de água, muitas vezes acompanhados por nuvens e propelidos pelos ventos. Essas correntes
de ar invisíveis passam em cima das nossas cabeças carregando umidade da Bacia Amazônica para
o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.
Essa umidade, nas condições meteorológicas propícias, como uma frente fria vinda do Sul,
por exemplo, se transforma em chuva. É essa ação de transporte de enormes quantidades de vapor
de água pelas correntes aéreas que recebe o nome de rios voadores, termo que descreve,
perfeitamente, um fenômeno real e cujo impacto é significante na vida de todos os habitantes da
região.
A Floresta Amazônica funciona como uma bomba d’água: puxa para dentro do continente a
umidade evaporada pelo Oceano Atlântico e carregada pelos ventos alíseos. Ao seguir terra adentro,
a umidade cai como chuva sobre a floresta. Pela ação da evapotranspiração da árvores sob o sol
tropical, a floresta devolve a água da chuva para a atmosfera na forma de vapor de água. Dessa
forma, o ar é sempre recarregado com maior umidade, que continua a ser transportada rumo ao
Oeste para cair novamente como chuva mais adiante.
Os rios voadores, massas de ar, recarregados de umidade, boa parte dela proveniente da
evapotranspiração da floresta, encontram a barreira natural formada pela Cordilheira dos Andes.
Eles precipitam-se parcialmente nas encostas leste da cadeia de montanhas, formam as cabeceiras

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dos rios amazônicos, porém, barrados pelo paredão de 4.000 metros de altura, os rios voadores,
ainda transportando vapor de água, fazem a curva e partem em direção ao Sul, rumo às regiões do
Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil e aos países vizinhos (CPTEC, Brasil, 2018).
É assim que o regime de chuva e o clima do Brasil devem muito a um acidente geográfico
localizado fora do país. A chuva, claro, é de suma importância para nossa vida, nosso bem-estar e
para a economia do país. Ela irriga as lavouras, enche os rios terrestres e as represas que fornecem
nossa energia (CPTEC, Brasil, 2018)
O exemplo do fenômeno dos “rios voadores” é pertinente para demostrar que uma questão
ambiental não se limita a um bioma, ou ecossistema, ou região, ou apenas diz respeito a um povo.
Ao contrário, eles estão interligados com relação de interdependência. Nas palavras de Machado
(2004. p. 173):

O Constituinte de 1988, ao pontuar os ecossistemas do §4º do art. 225, ele o fez


indicando a preocupação nacional que tais ambientes têm para vida de todos os
brasileiros, e que o debate que envolva esses lugares deve ter alcance nacional e não
regional. A CF protege esses biomas de interesse nacional de maneira não
fragmentada, para que a problemática ambiental das regiões seja resolvida de forma
integrada e global. Os Biomas de interesse nacional, o legislador constituinte optou por
classifica-los como macroecossistemas, abrangendo a Floresta Amazônica brasileira, a
Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira, elevando-
os à categoria de Patrimônio Nacional, sendo também conhecidos por biomas de interesse
nacional. (g.n.)

Nesse contexto, o Cerrado necessita ser inserido no rol do §4º do art. 225, para se assegurar
a sua conservação como bioma de interesse público nacional. O Cerrado é o bioma típico do Planalto
Central, embora seja encontrado também em meio à Amazônia, nos Estados de Roraima, Amapá,
Amazonas e Pará.
O Cerrado abrange dez Estados e o Distrito Federal do território nacional brasileiro e ocupa
uma área de 2.034.448 km. Os chapadões ocupados pelo Cerrado constituem a cumeeira do Brasil
e distribuem água que alimenta as principais bacias hidrográficas do continente, onde nascem os
rios Araguaia e Tocantins e vários outros que se encaminham para a Bacia Amazônica. Nelas nascem
os principais formadores da Bacia do Paraná, de cujo potencial hidráulico vem a maior parte da
energia elétrica que consumimos em nosso País.
No Cerrado, estão as nascentes de vários rios que formam o complexo hidrográfico do
Pantanal Mato-Grossense, cujas águas garantem as inundações cíclicas que mantêm, nesse bioma,
uma riqueza ecológica ímpar no mundo. O ciclo hidrológico de quase metade de nosso País depende
do Cerrado.
A ocupação do Cerrado tem-se efetivado de forma violentamente agressiva em relação ao
meio ambiente, com desmatamento intenso de sua vegetação; implantação de grandes extensões de

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pastagens homogêneas e monoculturas de exportação com uso indiscriminado de agrotóxicos e


fertilizantes e emprego de maquinaria pesada, que contribuem para a aceleração de processos de
erosão e esterilização do solo, poluição das águas e expansão descontrolada dos garimpos.
As políticas governamentais relacionadas ao Cerrado têm reafirmado a opção pelo modelo
de ocupação predatória com foco exclusivo no agronegócios. Canalizam-se para a região do Cerrado
pressões econômicas e sociais do País, sem se levar em consideração a questão do manejo sustentado
dos recursos naturais. Inexiste o planejamento do ordenamento territorial calcado em
potencialidades e limitações ecológicas.

B - O Direito de propriedade nas áreas chamadas de “Patrimônio Nacional”

O §4º do artigo 225 da CF confere, em relação aos ecossistemas Floresta Amazônica, Mata
Atlântica, Serra do Mar, Pantanal Mato-Grossense e Zona Costeira, a qualidade de Patrimônio
Nacional, devendo a lei infraconstitucional disciplinar as condições de utilização e de uso dos
recursos naturais, de modo a garantir a conservação do meio ambiente. Resta saber se esses
ecossistemas integram os bens públicos pertencentes à União ou não.
Denominam-se bens públicos todos aqueles que pertencem às pessoas jurídicas de Direito
Público, ou seja, União, Distrito Federal, Municípios, Autarquias e Fundações Públicas. Para Melo
(1998, p. 779):

Bens Públicos são todos os bens que pertencem às pessoas jurídicas de Direito Público, isto
é, União, Estados, Distrito Federal, Municípios, necessários ao desempenho das funções
públicas, submetidos a um regime jurídico de direito público.

Assim dispõe o CCB sobre os bens públicos:

Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de
direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que
pertencerem.

Quanto à titularidade do domínio, os bens poderão ser públicos ou particulares. Os bens


particulares definem-se por exclusão, ou seja, são os não pertencentes ao domínio público, mas, sim,
à iniciativa privada, cuja disciplina interessa, em especial, ao Direito Civil, por tratar-se basicamente
de questões envolvendo particulares.
Os bens privados têm assegurada pelo Código Civil Brasileiro a faculdade de usar, gozar e
dispor da coisa, núcleo econômico do direito de propriedade, condicionada à estrita observância,
pelo proprietário atual, da obrigação propter rem de proteger a flora, a fauna, as belezas naturais, o

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equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitar a poluição do ar e das
águas:

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de
reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
§1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades
econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o
estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o
patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. (g.n.)

O Conceito de obrigação propter rem, segundo Gagliano (2008, p. 281):

Propter rem, que significa por causa da coisa, é uma obrigação real, que decorre da relação
entre o devedor e a coisa, assim, o direito de que se origina é transmitido. As obrigações
propter rem são denominadas como obrigações híbridas, ou ambulatórias por se manterem
entre os direitos patrimoniais e os direitos reais, perseguindo a coisa onde quer que ela
esteja.

De acordo com o STJ, RESp nº 948.921, a responsabilidade civil ambiental no tocante à


obrigação de recompor a violação perpetrada ao meio ambiente, transmite-se ao adquirente de uma
área degradada, ou seja, este assume a obrigação de recompor o meio ambiente e restituir a higidez
ambiental do local, mesmo que quem tenha feito a degradação tenha sido o alienante. Assim decidiu
o STJ:

Descabe falar em culpa ou nexo causal como fatores determinantes do dever de recuperar
a vegetação nativa e averbar a Reserva Legal por parte do proprietário ou possuidor, antigo
ou novo, mesmo que o imóvel já estivesse desmatado quando de sua aquisição. Sendo a
hipótese de obrigação propter rem, desarrazoado perquirir quem causou o dano
ambiental, in casu, se o atual proprietário ou os anteriores, ou a culpabilidade de quem
o fez ou deixou de fazer. Precedentes do STJ” (RESp nº 948.921, 2ª Turma, rel. Min.
Herman Benjamin, DJe 11/11/2009). (g.n.)

Assim, a jurisprudência consolidada a respeito da obrigação proter rem em degradação


ambiental, foram incorporados no novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012):

Art. 2o As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação nativa,


reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os
habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações que a
legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem.
(...)
§2o As obrigações previstas nesta Lei têm natureza real e são transmitidas ao sucessor,
de qualquer natureza, no caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural.
(g.n.)

Assim, as leis brasileiras asseguram a faculdade de usar, gozar e dispor da propriedade


privada, devendo-se respeitar a função social da propriedade e as prescrições legais em matéria
ambiental.

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O Código Civil de 2002 divide os bens públicos em:

Art. 99. São bens públicos:


I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;
II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou
estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de
suas autarquias;
III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público,
como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.
Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens
pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de
direito privado. (g.n.)

Os bens de domínio público, em razão de sua grande importância para o Direito


Administrativo, subdividem-se em bens de uso comum do povo ou de Domínio Público, bens de
uso especial ou do Patrimônio Administrativo Indisponível e bens dominicais do Patrimônio
Disponível.
Os bens de uso comum do povo são bens públicos e cuja utilização não se submete a qualquer
tipo de discriminação ou ordem especial de função, como praias, estradas, ruas e praças, art. 99, I,
do CCB, sendo inalienáveis:

Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis,
enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar. (g.n.)
(...) omissis

Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for
estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem. (g.n.)

Já os bens de uso especial são bens públicos, cuja função, por título especial e na forma da
lei, é atribuída a determinada pessoa, bem como aqueles utilizados pelo próprio poder público para
a realização dos serviços públicos, conforme dispõe o art. 99, II, do CBB, como o caso dos prédios
onde funcionam escolas públicas, repartições públicas, hospitais públicos, são inalienáveis,
conforme dispõe o art. 100 do CCB anteriormente mencionado.
Por sua vez, os bens dominicais são bens públicos não afetados à utilização direta e imediata
do povo, nem aos usuários de serviços, mas que pertencem ao patrimônio estatal, conforme dispõe
o art. 99, III, do CCB. É o caso dos títulos pertencentes ao Poder Público, dos terrenos de Marinha
e das terras devolutas, e são alienáveis, conforme o CCB:

Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências
da lei. (g.n.)

A CF elenca os bens pertencentes à União:

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Art. 20. São bens da União:


I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções
militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei;
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem
mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território
estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas;
as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios,
exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as
referidas no art. 26, II;
V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva;
VI - o mar territorial;
VII - os terrenos de Marinha e seus acrescidos;
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. (g.n.)

Os bens de domínio do Estado estão previstos na CF:

Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:


I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas,
neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas
aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros;
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União. (g.n.)

Desse modo, por exclusão, o que não pertencer ao domínio federal ou estadual ingressa no
patrimônio público municipal. O Código Civil Brasileiro, seguindo diretriz consagrada no Direito
Administrativo brasileiro, proíbe o usucapião de bens públicos:

Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.

As terras devolutas são terras públicas sem destinação pelo Poder Público e que, em nenhum
momento, integraram o patrimônio de um particular, ainda que estejam irregularmente sob sua
posse, segundo dispõe a CF:

Art. 20. São bens da União:


(...)
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e
construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental,
definidas em lei;

Segundo Melo ( 2007, p. 132).

O termo devoluta relaciona-se ao conceito de terra devolvida ou a ser devolvida ao Estado,


assim, as terras devolutas são terras públicas sem destinação pelo Poder Público e que em
nenhum momento integraram o patrimônio de um particular, ainda que estejam
regularmente sob sua posse.

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No tocante à questão fundiária, a destinação de terras devolutas deve ser compatível com a
política agrícola e com o Plano Nacional de Reforma Agrária, nos termos da CF:

Art. 188. A destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada com a política
agrícola e com o plano nacional de reforma agrária.
§1º A alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras públicas com área superior a
dois mil e quinhentos hectares, à pessoa física ou jurídica, ainda que por interposta pessoa,
dependerá de prévia aprovação do Congresso Nacional.
§2º Excetuam-se do disposto no parágrafo anterior as alienações ou as concessões de
terras públicas para fins de reforma agrária. (g,n.)

Quanto ao aspecto ambiental, o art. 225, §5º da CF, determina que as terras devolutas
necessárias à proteção dos ecossistemas naturais, assim como as arrecadadas pelos Estados por
ações discriminatórias, são indisponíveis.

Art. 225. (...) omissis


§5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações
discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. (g.n.)

As terras devolutas situadas na Floresta Amazônica brasileira, na Mata Atlântica, na Serra


do Mar, no Pantanal Mato-Grossense e na Zona Costeira, a partir da edição da Lei nº 9985/2000,
que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, passaram a ser
consideradas Unidades de Conservação de uso sustentável, devendo a lei especificar as regras de
ocupação humana nesses ambientes:

Art. 43. O Poder Público fará o levantamento nacional das terras devolutas, com o objetivo
de definir áreas destinadas à conservação da natureza, no prazo de cinco anos após a
publicação desta Lei.

Isto se deve ao fato de que o §4º do art. 225 da CF, em exame, não tornou permissiva a
legislação ambiental nas áreas não contempladas no texto.
Conforme Machado (2004, p. 173):

O Supremo Tribunal Federal entende que essas áreas não se transformaram em bens
da União por serem chamadas de Patrimônio Nacional. Além disso, nada impede a
utilização, pelos próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas
que estejam sujeitas ao domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e
respeitadas as condições necessárias à preservação ambiental. (g.n.)

Assim, a essência do entendimento do STF pode ser compreendida no sentido de que o §4º
do art. 225 da CF deve ser interpretado de modo harmonioso com o direito de propriedade
consagrado pelo art. 5º, XXII, da Constituição, que garante o direito de propriedade em todas as

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suas projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira devida pelo Poder Público
ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal.
O §4º do art. 225 da CF não converteu em bens públicos os imóveis particulares abrangidos
pelas florestas e pelas matas nele referidas: Mata Atlântica, Serra do Mar e Floresta Amazônica
brasileira. Também não impede, desde que cumpra a função social contida nos arts. 5º e 186 da CF,
a sua utilização, pelos próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que
estejam sujeitas ao domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as
condições necessárias à conservação ambiental, porque a ordem constitucional consagra tutela
efetiva ao direito de propriedade.
O objetivo da tutela constitucional é proteger a qualidade do meio ambiente em sua
totalidade, em função da qualidade de vida, da saúde, do bem-estar e da segurança da população. A
qualidade do meio ambiente converte-se, desse modo, em um bem que o Direito reconhece e protege
como patrimônio ambiental, no direito que se tem ao equilíbrio ecológico do meio ambiente.
Essa proteção outorgada pela Constituição Federal estende sua incidência para tutelar, em
favor do dominus, da garantia de compensação financeira, sempre que o Estado, mediante atividade
que lhe seja juridicamente imputável, atingir o direito de propriedade em seu conteúdo econômico,
ainda que o imóvel esteja localizado em qualquer das áreas referidas no §4º do art. 225 da CF. Esse
entendimento se extrai do Julgado do Supremo Tribunal Federal, RE 134.297-8/SP:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO. INTERESSE


SOCIAL. REFORMA AGRÁRIA. INDENIZAÇÃO DA COBERTURA VEGETAL EM
SEPARADO À TERRA NUA. JUROS COMPENSATÓRIOS. VIOLAÇÃO DO ART.
535, DO CPC. INEXISTÊNCIA. 1. A indenização da cobertura vegetal deve ser calculada
em separado ao valor da terra nua, quando comprovada a exploração econômica dos
recursos vegetais. Precedentes: (REsp 880.271/DF, DJ 28.09.2007; REsp 930.957/PA, DJ
17.09.2007) 4. É assente no Pretório Excelso que :" (...) o Poder Público ficará sujeito
a indenizar o proprietário do bem atingido pela instituição da reserva florestal, se, em
decorrência de sua ação administrativa, o dominus vier a sofrer prejuízos de ordem
patrimonial. A instituição de reserva florestal - com as consequentes limitações de
ordem administrativa dela decorrentes - e desde que as restrições estatais se revelem
prejudiciais ao imóvel abrangido pela área de proteção ambiental, não pode justificar
a recusa do Estado ao pagamento de justa compensação patrimonial pelos danos
resultantes do esvaziamento econômico ou da depreciação do valor econômico do
bem. (...)" (Recurso Extraordinário no 134.297/SP, Rel. Min. Celso de Mello) 5.
Destarte, a essência do entendimento jurisprudencial poderia, assim ser sintetizada: " (...) -
A norma inscrita no art. 225, §4o da Constituição deve ser interpretada de modo harmonioso
com o sistema jurídico consagrado pelo ordenamento fundamental, notadamente com a
cláusula que, proclamada pelo art. 5o, XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito
de propriedade em todas as suas projeções, inclusive aquela concernente à compensação
financeira devida pelo Poder Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à
atividade estatal.

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Dos cinco ecossistemas contemplados no §4º do art. 225 da CF, o Bioma Mata Atlântica é o
único que possui uma lei infraconstitucional que disciplina as condições de utilização e de uso dos
recursos naturais, de modo a garantir a conservação do meio ambiente.
Trata-se da Lei nº 11.428/2006, que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa
do Bioma Mata Atlântica:

Art. 6º A proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica têm por objetivo geral o
desenvolvimento sustentável e, por objetivos específicos, a salvaguarda da
biodiversidade, da saúde humana, dos valores paisagísticos, estéticos e turísticos, do regime
hídrico e da estabilidade social.

Parágrafo único. Na proteção e na utilização do Bioma Mata Atlântica, serão observados


os princípios da função socioambiental da propriedade, da equidade intergeracional, da
prevenção, da precaução, do usuário-pagador, da transparência das informações e atos, da
gestão democrática, da celeridade procedimental, da gratuidade dos serviços
administrativos prestados ao pequeno produtor rural e às populações tradicionais e do
respeito ao direito de propriedade. (g.n.)

Os recursos naturais do Bioma Mata Atlântica podem ser explorados, desde que respeitadas
as prescrições da legislação, necessárias à salvaguarda da vegetação nativa, na qual se encontram
várias espécies da flora e fauna ameaçadas de extinção.
Assim, o art. 225, § 4º, da CF, além de não haver convertido em bens públicos os imóveis
particulares abrangidos pelas florestas e pelas matas nele referidas (Mata Atlântica, Serra do Mar,
Floresta Amazônica brasileira), também não impede a utilização, pelos próprios particulares, dos
recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio privado, desde que
observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias à conservação ambiental.
O comando constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade, art. 5º, XXII,
cuja proteção se estende na abrangência normativa de sua incidência tutelar, ao reconhecimento, em
favor do dominus, da garantia de compensação financeira, sempre que o Estado, mediante atividade
que lhe seja juridicamente imputável, atingir o direito de propriedade em seu conteúdo econômico,
ainda que o imóvel esteja localizado em qualquer das áreas referidas no art. 225, § 4o, da
Constituição.

3 BIOMAS BRASILEIROS
Os Biomas são conjuntos de ecossistemas formados pelo solo, recursos hídricos, fauna e
flora, que possuem características biológicas e climáticas próprias. No Brasil, são encontrados seis
biomas continentais: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa.
Segundo Ferreira (2010, p. 317):

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[De Bio = vida + Oma = grupo ou massa]. S.m. Ecol. Grande comunidade, ou conjunto de
comunidades [v. comunidade (11) distribuída numa extensa área geográfica, caracterizada
por um tipo de vegetação dominante, conjunto dos seres vivos de uma área, é entendido
também como o conjunto de ecossistemas terrestres, e em que os organismos que nela
vivem são adaptados às condições climáticas a ela associados. [ São exemplos de bioma a
floresta tropical, a tundra, etc.]

Segundo MMA (Brasil, 2018, p. 1): “É na biosfera que se encontram os biomas, associações
relativamente homogêneas de plantas, animais e outros seres vivos com equilíbrio entre si e com o
meio físico”.
O termo bioma, segundo MMA (Brasil, 2018, p. 1), “foi criado por um ecólogo americano,
Frederic Clements, que definiu bioma como uma comunidade de plantas e animais, geralmente de
uma mesma formação”. Assim, desde a sua criação, bioma vem sofrendo algumas modificações e
muitas definições.
Os biomas apresentam tipos fisinômicos semelhantes de vegetação, os mesmos fatores
ecológicos e estão estreitamente relacionados às faixas de latitude, por conseguinte, ao clima. Por
exemplo: Nas áreas de baixa latitude ou de clima tropical, predominam as florestas tropicais; nas
áreas de média latitude, surgem as florestas temperadas. (BRASIL, MMA, 2018)
O bioma é um conjunto de diferentes ecossistemas: são as comunidades biológicas,
organismos da fauna e da flora, como florestas tropicais úmidas, tundras, savanas, desertos árticos,
florestas pluviais, subtropicais ou temperadas, biomas aquáticos, como recifes de coral, zonas
oceânicas, praias e dunas (BRASIL, MMA, 2018).
Os biomas terrestres constituem-se por três grupos de seres, aqueles que produzem, os
vegetais; aqueles que consomem, os animais; e os decompositores, os fungos e as bactérias. Um
conjunto de ecossistemas constitui um bioma, e o conjunto de todos os biomas da terra constitui a
biosfera da terra (BRASIL, MMA, 2018).
O Brasil apresenta seis tipos de biomas: Amazônia: ocupa cerca de 50% do país (Noroeste);
Cerrado: ocupa, aproximadamente, 24% do país (Centro-Oeste); Mata Atlântica: presente em cerca
de 13% do país (Sul e Sudeste); Caatinga: presente em mais ou menos 10% do país (Nordeste);
Pampa: ocupa cerca de 2% do país (Sul) e o Pantanal: extensão de mais ou menos 2% do país
(Centro-Oeste). No item seguinte, será feita uma abordagem sobre o bioma Floresta Amazônica
(BRASIL, MMA, 2018).

3.1 FLORESTA AMAZÔNICA


A Amazônia é um ecossistema verde, com vasto mundo de águas e florestas, onde as copas
de árvores imensas escondem o úmido nascimento, reprodução e morte de mais de um terço das
espécies que vivem sobre a Terra (BRASIL, MMA, 2018). Esse é o maior bioma do Brasil: num

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território de 4.196.943 de km2, crescem 2.500 espécies de árvores (ou um terço de toda a madeira
tropical do mundo) e 30 mil espécies de plantas das 100 mil da América do Sul (BRASIL, IBGE,
2004).
Segundo Sioli (1985, p. 11):

Há duzentos anos, a Amazônia vem atraindo naturalistas europeus, a cujo fascínio científico
pelo desconhecido, aliado a um espírito de aventura, devemos as primeiras noticias e
conhecimentos fidedignos de múltiplos aspectos deste mundo novo. (…) A Amazônia
desperta muitos enigmas, sobretudo em relação aos processos vitais, tanto na floresta como
nos corpos d'água dessa região tremendamente rica em espécies de organismos, que
representa um clímax no desenvolvimento dos seres vivos sobre a Terra. Valores
insubstituíveis, tanto espirituais como materiais, cuja origem data de muitos milhões de
anos, serão para sempre destruídos pelo atual "desenvolvimento" da região, que implica,
sobretudo o desmatamento de imensas áreas. (g.n.)

A Bacia Amazônica é a maior bacia hidrográfica do mundo, cobre cerca de 6 milhões de km2
e tem 1.100 afluentes. Seu principal rio é o Amazonas, corta a região para desaguar no Oceano
Atlântico e lança ao mar cerca de 175 milhões de litros d’água a cada segundo (BRASIL, MMA,
2018).
Esse grande potencial hidrológico foi assim descrito por Ab`saber (2002, p. 02):

No que se refere às planícies aluviais, a variedade dos ecossistemas é muito grande, tal é o
dédalo do mosaico terra-água, sobretudo no caso do médio e baixo Amazonas. Na larga
planície de 14 a 35 quilômetros de largura, sucedem-se e repetem-se faixas
anastomosadas de ecossistemas no meio dos numerosos setores deprimidos ou
ligeiramente "altos" da rasa planície. Pouca gente sabe que o rio Amazonas, nos
setores considerados, é um dos cursos d'água que transporta a maior carga de
sedimentos finos em solução, acrescidos de minitouceiras de vegetação flutuante, na
face da Terra. O contraste entre as águas escuras do rio Negro em face das águas
amarelo-pardacentas do Solimões/Amazonas indica atributos hidrobioquímicos e
hidrogeomorfológicos. (g.n.)

As estimativas situam a região como a maior reserva de madeira tropical do mundo. Seus
recursos naturais, que, além da madeira, incluem enormes estoques de borracha, castanha, peixe e
minérios, por exemplo, representam uma abundante fonte de riqueza natural. A região abriga
também grande riqueza cultural, incluindo o conhecimento tradicional sobre os usos e a forma de
explorar esses recursos naturais sem esgotá-los nem destruir o habitat natural (BRASIL, MMA,
2018).
A Região Amazônica constitui uma província botânica bem individualizada e é caracterizada
pela fisionomia, isto é, pela paisagem apresentada pela floresta tropical úmida de grande biomassa
e heterogeneidade. Outra de suas características é a grande variação de local para local e essa
variação é tanto maior quanto mais se distanciam as áreas entre si (INPA, Brasil, 2018).

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Toda essa grandeza não esconde a fragilidade do escossistema local, porém a floresta vive a
partir de seu próprio material orgânico, e seu delicado equilíbrio é extremamente sensível a
quaisquer interferências. Os danos causados pela ação antrópica são muitas vezes irreversíveis
(BRASIL, MMA, 2018).
Ademais, a riqueza natural da Amazônia contrapõe-se dramaticamente aos baixos índices
socioeconômicos da região, de baixa densidade demográfica e crescente urbanização. Dessa forma,
o uso dos recursos florestais é estratégico para o desenvolvimento da região. No item seguinte, será
feita uma abordagem sobre o Cerrado (BRASIL, IBGE, 2004).
A CF/88 consignou que a Floresta Amazônica é um Patrimônio Nacional, porque esse
Bioma compõe um conjunto de ecossistemas interligados pela Floresta Amazônica e pela Bacia
Hidrográfica do rio Amazonas. É a mais densa de todo o Planeta, caracteriza-se pela sua elevada
extensão, que ocupa quase a metade do território do Brasil. A Floresta Amazônica possui a maior
biodiversidade do mundo: nela encontram-se milhares de espécies animais, vegetais e micro-
organismos. A região conta com muitos rios, os quais formam a maior reserva de água doce de
superfície disponível no mundo.
O Legislador Constituinte reconheceu a expressiva diversidade ambiental e a fragilidade
deste bioma. Assim, quis enfocar a necessidade de sua proteção e a sua utilização dentro de
condições que assegurem a conservação ambiental, já que a destruição da floresta estancará o
processo evolutivo da natureza vegetal e prejudicará a evolução da biosfera em sua totalidade.

3.2 CERRADO
O Cerrado é o bioma onde nascem e crescem os principais rios brasileiros e, por estar numa
região de platô elevado, é considerada a caixa d’água do Brasil. É o segundo maior bioma da
América do Sul, ocupando uma área de 2.036.448 km2, cerca de 22% do território nacional
(BRASIL, MMA, 2018).
O Cerrado, de modo contínuo, abrange os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito
Federal, além do Amapá, Roraima e Amazonas (BRASIL, MMA, 2001).
Esse ecótono entre a Floresta Amazônica e o Cerrado, em conjunto com porções na
Amazônia de áreas de cerrado, denominados de campos gerais, são assim descritos por Ab`saber
(2002, p. 02):

Para quem faz pesquisas nos confins de Mato Grosso, no extremo Norte de Tocantins ou
no Centro do Maranhão, é fácil saber onde começa a Amazônia. Quando as florestas deixam
de ser apenas galerias amarradas ao fundo aluvial dos vales; quando as matas sobem e
fecham as vertentes e interflúvios das colinas onduladas, onde antes, para o Sul, o Sudeste

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e o Leste existiam extensos cerrados; ou, ainda, quando cerrados e matas secas cedem lugar
para intermináveis florestas de "terra firme": aí começa a Amazônia. Em várias faixas de
contato entre cerrados e matas na periferia da Amazônia, ocorrem mosaicos
complexos de paisagens de retalhos de chapadões ou baixos platôs com cerrados, e
colinas onduladas e serrinhas com matas de "terra firme" ou orográfica. Maior
complexidade ainda ocorre quando existem campestres pontilhados de arboretos dos
cerrados (Roraima), passando gradualmente para matas de terra firme (Mucapai,
Caracas) ou campos cerrados transicionando para matas orográficas (Centro-Oeste
de Roraima, Centro-Sul do Amapá). A rigor, em todas as grandes manchas de
campestres ou cerrados que se estendem ao norte do rio Amazonas — a saber, campos
de Boa Vista, cerrados de Monte Alegre, cerrados naturalmente degradados do
Amapá — ocorrem contatos complicados entre as formações abertas e o início das
grandes matas que as envolvem. (g.n.)

Nesse espaço territorial, encontram-se as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da
América do Sul: Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata, o que resulta em um elevado
potencial aquífero que favorece a sua biodiversidade (BRASIL, MMA 2001).
O Cerrado é uma região biogeográfica, que é, simultaneamente, uma reserva de
biodiversidade e uma área em constante ameaça de destruição, ou seja, é uma região com grande
diversidade biológica endêmica, mas que se encontra em alto grau de destruição com cerca de 75%
de sua biodiversidade originária. O Cerrado apresenta extrema abundância de espécies e sofre uma
excepcional perda de habitat (BRASIL, MMA, 2001).
Do ponto de vista da diversidade biológica, o Cerrado brasileiro é reconhecido como a
savana mais rica do mundo, abriga 11.627 espécies de plantas nativas já catalogadas, com uma
grande diversidade de habitats, que determinam uma notável alternância de espécies entre diferentes
fitofisionomias (BRASIL, MMA, 2018).
Cerca de 199 espécies de mamíferos são conhecidas e a rica avifauna compreende cerca de
837 espécies. Os números de peixes (1200 espécies), répteis (180 espécies) e anfíbios (150 espécies)
são elevados. O número de peixes endêmicos não é conhecido, porém os valores são bastante altos
para anfíbios e répteis: 28% e 17%, respectivamente. De acordo com estimativas recentes, o Cerrado
é o refúgio de 13% das borboletas, 35% das abelhas e 23% dos cupins dos trópicos (BRASIL, MMA,
2018).
Além dos aspectos ambientais, o Cerrado tem grande importância social. Muitas populações
vivem de seus recursos naturais, inclusive etnias indígenas, quilombolas, geraizeiros, ribeirinhos,
babaçueiras, vazanteiros e comunidades quilombolas, que, juntas, fazem parte do patrimônio
histórico e cultural brasileiros e detêm um conhecimento tradicional de sua biodiversidade. Mais de
220 espécies têm uso medicinal e mais 416 podem ser usadas na recuperação de solos degradados,
como barreiras contra o vento, proteção contra a erosão, ou para criar habitat de predadores naturais
de pragas. Mais de 10 tipos de frutos comestíveis são regularmente consumidos pela população local
e vendidos nos centros urbanos, como os frutos do Pequi Caryocar brasiliense, Buriti Mauritia

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flexuosa, Mangaba Hancornia speciosa, Cagaita Eugenia dysenterica, Bacupari Salacia crassifolia,
Cajuzinho do cerrado Anacardium humile, Araticum Annona crassifolia e as sementes do Baru
Dipteryx alata (BRASIL, IBGE, 2018).
Contudo, inúmeras espécies de plantas e animais correm risco de extinção. Estima-se que
20% das espécies nativas e endêmicas já não ocorram em áreas protegidas e, pelo menos, 137
espécies de animais que ocorrem no Cerrado estão ameaçadas de extinção. Depois da Mata
Atlântica, o Cerrado é o bioma brasileiro que mais sofreu alterações com a ocupação humana. Com
a crescente pressão para a abertura de novas áreas, a fim de incrementar a produção de carne e grãos
para exportação, tem havido um progressivo esgotamento dos recursos naturais da região. Nas três
últimas décadas, o Cerrado tem sido degradado pela expansão da fronteira agrícola brasileira. Além
disso, o bioma Cerrado é palco de uma exploração extremamente predatória de seu material lenhoso
para produção de carvão (BRASIL, MMA, 2018).
Apesar do reconhecimento de sua importância biológica, o Cerrado possui a menor
porcentagem de áreas sob proteção integral. O Bioma apresenta 8,21% de seu território legalmente
protegidso por Unidades de Conservação; desse total, 2,85% são Unidades de Conservação de
Proteção Integral e 5,36% de Unidades de Conservação de Uso Sustentável, incluindo RPPNs
(0,07%) (BRASIL, MMA, 2018).
O Cerrado é um importante bioma que deve ser protegido, porque exerce um papel basilar
para o equilíbrio dos demais biomas brasileiros. O seu comprometimento gera implicações negativas
para a Amazônia, para a Mata Atlântica e para a Caatinga, entre outros ecossistemas, porque, no
Cerrado, estão as nascentes de vários dos rios que formam o complexo hidrográfico do Pantanal
Mato-Grossense.
No Cerrado, nascem águas que abastecem três importantes aquíferos: o Guarani, o Bambuí
e o Urucuia, responsáveis pela formação e alimentação de importantes rios do continente.
Segundo Barbosa ( 2016, p. 14):

O Cerrado é como uma floresta ao contrário: as raízes são profundas, maiores que as
copas. Elas são responsáveis por absorver a água da chuva e depositá-la em reservas
subterrâneas; os aquíferos, com o desmatamento e a diminuição da vegetação nativa,
responsável por levar a água para regiões mais profundas, os aquíferos chegaram ao nível
de base, ou seja, deixaram de abastecer diversas nascentes. A quantidade de água
existente nesses aquíferos já chegou ao seu nível mínimo. É como se fosse uma caixa
d'água com vários furos. Os furos são as nascentes. Quando ela está cheia, a água sai
por muitos furos. Conforme vai esvaziando, vai saindo nos furos mais inferiores, até
chegar ao último furo e há um momento em que não sai mais. Estamos em um momento
em que a água está saindo, mas de maneira muito rudimentar, menor do que saía há 20, 40
anos, por esse motivo cerca de dez rios desaparecem na região anualmente. (g.n.)

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A região do Cerrado é conhecida como o berço das águas do Brasil, porque nessa região se
concentra grande parte das nascentes de importantes bacias hidrográficas, como a Amazônica, a
Araguaia-Tocantins, a do Prata, a Atlântico Norte-Nordeste, a Atlântico Leste, a do São Francisco e
a Paraná-Paraguai. Esta última está intimamente ligada à sobrevivência do Pantanal, maior planície
alagável do Planeta.
As águas desses rios garantem as inundações cíclicas que mantêm esses biomas. O ciclo
hidrológico de quase metade do território brasileiro depende do Cerrado, que desempenha papel
fundamental no processo de captação e distribuição das águas pelo País, sendo uma região
estratégica. A não proteção das nascentes dos rios, bem como da mata ciliar das margens dos
mesmos, podem diminuir a quantidade de águas dessas importantes bacias, porque os efeitos do uso
inadequado dessa água podem ser propagados por grandes extensões do território brasileiro,
O Cerrado é uma área de expansão da agricultura extensiva no Brasil. Pode-se dizer que é a
região brasileira do agronegócios, que têm sido sistematicamente destruídos para dar lugar a
lavouras, a pastagens e a grandes plantações, Daí a necessidade de se buscar a sua inclusão como
Patrimônio Nacional, para conferir maior proteção a esse importante bioma.

3.3 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A FLORESTA AMAZÔNICA E O CERRADO


A Floresta Amazônica, ao contrário do senso comum, não é constituída por um único tipo de
floresta ou por um único bioma em toda sua vastíssima extensão. Ela possui diferentes tipos de
biomas: a) floresta de terra-firme, um bioma de floresta tropical pluvial, que predomina; b) floresta
de igapó, inundável, um bioma de floresta pluvial tropical; as caatingas do rio Negro, um bioma de
savana arenosa, distrófica, inundável; c) os campos rupestres, como os dos picos das serras, nas
fronteiras com países vizinhos (BRASIL, MMA, 2018).
De acordo com a Lei 12.651/2012, todo imóvel rural deve manter uma área de vinte por
cento com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal. Na Amazônia, esta área
subdivide-se em três: a) oitenta por cento no imóvel situado em área de florestas; b) 35% no imóvel
situado em área de cerrado; c) vinte por cento no imóvel situado em área de campos gerais. O
domínio amazônico não é, portanto, um bioma único, mas um mosaico de bioma e, por essa
heterogeneidade, sua riqueza biológica é incalculável (BRASIL, MMA, 2018).
O Cerrado é considerado a savana com a flora mais rica no mundo, onde estão cerca de 5%
de toda a biodiversidade do Planeta. O segundo maior bioma do Brasil com grande importância
social, porque muitas populações sobrevivem de seus recursos naturais, inclusive etnias indígenas,
comunidades quilombolas e povos tradicionais, que, juntos, fazem parte do patrimônio histórico e

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cultural brasileiro e detêm um conhecimento tradicional de sua biodiversidade (BRASIL, MMA,


2018).
No entanto, apesar de toda a riqueza, o Cerrado também é um dos biomas mais ameaçados
do País. Segundo resultados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros
por Satélite, entre 2002 e 2008, o Cerrado teve a sua cobertura vegetal suprimida em 85.074 km², o
que representa uma taxa, nesse período, de, aproximadamente, 14.200 km²/ano (BRASIL, MMA,
2008).
Segundo Barbosa ( 2016, p. 15):

O Cerrado não se recupera totalmente; também é difícil cultivá-lo. Das 13 mil espécies
vegetais catalogadas, apenas 180 são produzidas em viveiro. O Cerrado é diferente da
Amazônia e da Mata Atlântica, por exemplo. Enquanto esses biomas têm 3 mil e 7 mil
anos, o Cerrado tem mais de 45 milhões de anos que se completou totalmente. Como
ele é muito antigo, evolutivamente, já chegou ao seu clímax. Uma vez degradado, não
se recupera jamais na plenitude de sua biodiversidade. (g.n.)

Assim, considerando a área original de 204 milhões de hectares, o bioma Cerrado já perdeu
47,84% de sua vegetação nativa (BRASIL, MMA, 2018). A contextualização do atual estágio
ambiental da Floresta Amazônica e do Cerrado é necessária, porque o desmatamento na Amazônia
e do Cerrado se deve a diversas causas, cujos impactos diretos e indiretos são propulsionados por
processos nacionais e globais.
Pra Sawyer (2009, p. 1747):

Os principais elementos socioeconômicos relevantes do Cerrado neste momento são os


biocombustíveis. A expansão da área plantada com soja para a produção de biodiesel e
cana-de-açúcar para a produção de etanol provoca fluxos de carbono na Amazônia e no
Cerrado. (g.n.)

Segundo Müeller (1995, p. 36), “Os padrões mais comuns são o da cana substituir a soja e o
da soja substituir a cobertura natural. No entanto, a pecuária é a principal causa imediata do
desmatamento nos dois biomas”.
Sawyer (2009, p. 1747):

Mesmo quando as lavouras ocupam áreas já desmatadas, podem deslocar a pecuária para
novas áreas na fronteira distante, onde o preço da terra é dez vezes menor do que no Sudeste
Assim, a pecuária não só se desloca, como também multiplica a sua área, não apenas pelo
retorno econômico da atividade em si, como também pela valorização das terras na fronteira
e outras vantagens financeiras. As emissões do desmatamento provocadas por esse processo
de efeito dominó levam muitas décadas para serem compensadas por meio de emissões
menores do biocombustível, se comparadas com as do petróleo.

Sawyer (2009, p. 212):

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Embora faltem ainda quantificações precisas, é evidente que o agronegócio gera emissões
de carbono incomparavelmente maiores do que as da agricultura familiar, não só no interior
dos estabelecimentos, mas, principalmente, quando se leva em conta o ciclo de vida global,
com os diversos fluxos de energia, insumos, máquinas, beneficiamento, transporte etc.

Para Sawyer (2009, p. 83), “Além das emissões e da perda direta e indireta de biodiversidade,
por causa de eliminação de populações, habitat e incêndios, o desmatamento na Amazônia e no
Cerrado prejudica os ciclos hidrológicos”.
O Cerrado é onde nascem os principais rios brasileiros. É a caixa-d’água do Brasil, de forma
que o desmatamento acelera o escoamento superficial, reduz a evapotranspiração que gera novas
chuvas pelo transporte transcontinental de umidade e prejudica a formação dos rios voadores.
A umidade atmosférica flui do Norte para o Sul e os rios fluem para Norte, Sul, Leste e Oeste
e alcançam todos os biomas. As monoculturas e as pastagens favorecem enchentes no período
chuvoso, contribuem para a erosão e o assoreamento, reduzem a infiltração e aceleram a evaporação
de açudes e pivôs centrais, o que pode levar à escassez de água nas bacias do Amazonas, Tocantins-
Araguaia, São Francisco e Paraná no período seco.
Machado (2004, p. 172): “O §4º do art. 225 da CF quis enfocar algumas partes do território
para insistir que devam ser utilizadas dentro de condições que assegurem a conservação do meio
ambiente”. O Legislador assim o fez, porque se reconheceu que são áreas frágeis e possuidoras de
expressiva diversidade biológica.
Ainda segundo Machado (2004, p. 173), “houve omissão no texto constitucional, porque se
deixou de incluir o Cerrado e a Caatinga, mas essa omissão não impede de não se proteger o Cerrado,
onde nascem e crescem os principais rios brasileiros”.
O Cerrado e a Floresta Amazônica têm uma relação ecológica de proximidade e
interdependência ambiental. Há que se questionar por que o legislador constituinte não incluiu no
texto constitucional o Cerrado como Patrimônio Nacional, uma vez que o Cerrado exerce um papel
estratégico para o equilíbrio ambiental dos demais biomas brasileiros, cujo comprometimento gera
implicações negativas para a Amazônia, a Mata Atlântica, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona
Costeira.

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Figura 2 – Cerrado

Fonte: WWF-Brasil, 2012, p. 2.

Figura 3 – Quadro comparativo Unidade de conservação e terras indígenas

Fonte: Embrapa, em 23 de agosto de 2011. Referente ao texto "Recursos naturais na rota da violência", de Raimunda
Monteiro. (Em Debate, edição 92)

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O Cerrado é a segunda maior formação vegetal da América do Sul, com dois milhões de
quilômetros quadrados. Ele só perde em tamanho para a Amazônia. Originalmente, cerca de um
quarto do território brasileiro era dominado por essa vegetação distribuída em campos naturais,
veredas, florestas e savana de raízes profundas. Tal variedade de ambientes, associada a diferentes
tipos de solos e à fartura de água, explica a riqueza em vida do Cerrado.

3.4 PEC DO CERRADO


No âmbito do Senado Federal, em pesquisa realizada no seu acervo legislativo, foram
encontradas três Propostas de Emenda à Constituição, que fazem referências à proposta para nova
redação do §4º do artigo 225 da Constituição Federal, com o objetivo de incluir o Cerrado entre os
biomas considerados Patrimônio Nacional.
Compõem este acervo as seguintes PECs: Proposta de Emenda à Constituição n° 51, de
2003, de autoria do Senador Demóstenes Torres (PFL/GO); Proposta de Emenda à Constituição n°
5, de 2009, de autoria do Senador Paulo Paim (PT/RS), e Proposta de Emenda à Constituição n° 53,
de 2009, de autoria do Senador Marcelo Crivella (PRB/RJ).
Constam, ainda, as seguintes propostas apensadas: PEC n° 115/1995, PEC n° 504/2010, PEC
n° 60/1999, PEC n° 131/1999, PEC n° 150/1995, PEC n° 131/2003, PEC n° 100/2003 e PEC n°
188/2003.
O objetivo dessas PECs é tornar o bioma Cerrado Patrimônio Nacional com a Floresta
Amazônica, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira. Essas
propostas serão analisadas seguindo a ordem cronológica de suas apresentações.
A Primeira PEC foi apresentada no ano de 2003, Proposta de Emenda à Constituição n° 51,
de autoria do Senador Demóstenes Torres (PFL/GO). Nessa PEC, foram anexados as PECs nos
05/2003 e 53/2009, que propõem a nova redação para Constituição Federal:

As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do §3° do art. 60 da
Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional: Altera o §4°
do art. 225 da Constituição Federal, para incluir o Cerrado e a Caatinga entre os biomas
considerados Patrimônio Nacional. Art. 1o O §4° do art. 225 da Constituição Federal passa
a vigorar com a seguinte redação: “Art. 225. §4° A Floresta Amazônica, a Mata Atlântica,
a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense, o Cerrado, a Caatinga e a Zona Costeira são
Patrimônio Nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que
assegurem a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida da
população.” (NR) Art. 2° Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua
publicação. Senado Federal, em 13 de julho de 2010. Senador José Sarney Presidente do
Senado Federal (g.n.)

Foi proferido o seguinte voto do Relator Deputado Ricardo Tripoli junto à Comissão de
Constituição e Justiça:

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COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA I - RELATÓRIO A


proposta de emenda à Constituição em epígrafe, oriunda do Senado Federal, pretende
alterar o §4° do art. 225 da Constituição Federal, para incluir o Cerrado e a Caatinga entre
os biomas considerados Patrimônio Nacional. A matéria, nos termos do art. 202, caput, do
Regimento Interno, foi distribuída a esta Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania
para análise de sua admissibilidade. É o relatório. II - VOTO DO RELATOR Os
pressupostos de admissibilidade da proposição em exame são os prescritos no art. 60, I, §§
1° a 4°, da Constituição Federal, e no art. 201, I e II, do Regimento Interno. Assim,
analisando-a sob o ponto de vista formal, constato que não há, no momento, embargo
circunstancial que impeça a alteração da Carta Política, visto que o País passa por período
de normalidade jurídico-constitucional, não se encontrando na vigência de intervenção
federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. No que concerne à análise material da
proposição em comento, isto é, a sujeição de seu objetivo às cláusulas constitucionais
imutáveis – as chamadas cláusulas pétreas – verifico que a alteração projetada na Proposta
de Emenda à Constituição n° 504, de 2010, não pretende abolir a forma federativa do
Estado e o voto direto, secreto, universal e periódico, tampouco atingir a separação dos
Poderes e os direitos e garantias individuais. Ante o exposto, opino pela admissibilidade
da Proposta de Emenda Constitucional n° 504, de 2010. Sala da Comissão, em 12 de
junho de 2013. Deputado RICARDO TRIPOLI Relator III – PARECER DA COMISSÃO
A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, em reunião ordinária realizada hoje,
opinou pela admissibilidade da Proposta de Emenda à Constituição n° 504/2010, nos
termos do Parecer do Relator, Deputado Ricardo Tripoli. (g.n.)

Consta apensa a PEC n° 115/1995, do Deputado Gervásio Oliveira, que justifica a inclusão
da Caatinga e do Cerrado com biomas a serem considerados Patrimônio Nacional nos seguintes
termos:

A Constituição Federal, ao definir como Patrimônio Nacional os biomas da Floresta


Amazônica, da Mata Atlântica, da Serra do Mar, do Pantanal Mato-Grossense e da Zona
Costeira, consagra a sua preservação como de interesse público. Este dispositivo
constitucional não é, por si só, suficiente para evitar a prática de atividades que degradem
o meio ambiente, mas funciona como uma importante afirmação 'do princípio de que devem
ser envidados todos os esforços possíveis para que a ocupação destas regiões se norteie por
critérios que garantam o desenvolvimento sustentável. O texto de nossa Carta Magna, no
entanto, incorre em inaceitável omissão, ao deixar de incluir o Cerrado na lista dos
biomas considerados Patrimônio Nacional. São extremamente significativas as razões
para que o Cerrado conste do §4° do art. 225 da Constituição: (1) O Cerrado
apresenta uma diversidade biológica importantíssima, que, em relação a alguns
grupos taxonômicos, é até maior do que a da Amazônia. (2) O equilíbrio ambiental no
domínio do Cerrado tem implicações em praticamente todos os ecossistemas do País.
Os chapadões ocupados pelo Cerrado constituem a cumeeira do Brasil, distribuindo
água que alimenta as principais bacias hidrográficas do continente. (3) A ocupação do
Cerrado tem-se efetivado de forma violentamente agressiva em relação ao meio
ambiente, com desmatamento intenso de sua vegetação; implantação de grandes
extensões de pastagens homogêneas e monoculturas de exportação com uso
indiscriminado de agrotóxicos e fertilizantes, e emprego de maquinaria pesada,
contribuindo para a aceleração de processos de erosão e esterilização do solo; poluição
das águas; expansão descontrolada dos garimpos, etc. As políticas governamentais
relacionadas ao Cerrado têm reafirmado a opção pelo modelo de ocupação
predatória. Canalizam-se para a região do Cerrado pressões econômicas e sociais do
País como um todo, sem se levar em qualquer consideração a questão do manejo
sustentado dos recursos naturais. Inexiste o planejamento do ordenamento territorial
calcado em potencialidades e limitações ecológicas. A visão distorcida de que os
ecossistemas naturais do domínio do Cerrado têm importância ecológica menor fica bem
caracterizada pelo ínfimo percentual de seu território delimitado na forma de áreas
especialmente protegidas. O Cerrado tem protegidos apenas 0,1% de seu território como
Unidades de Conservação de uso indireto e 0,2% como Unidades na categoria de uso direto.
Como comparação, mesmo com todas as dificuldades de obtenção de recursos públicos

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para esta área, a Amazônia possui 4,1% de seu território como áreas protegidas de uso
indireto e 3,5% de uso direto. É, hoje, fundamental a reversão do quadro de degradação
ambiental na região do Cerrado. Para tal, tem-se que lutar pelo estabelecimento de
programas de reflorestamento com espécies nativas; de preservação e recuperação dos
recursos hídricos; de identificação de áreas nativas remanescentes com potencial para
criação de novas unidades de conservação, de controle da erosão, entre outros. O
reconhecimento na Constituição Federal do Cerrado como Patrimônio Nacional, no mesmo
status da Amazônia, Mata Atlântica, Serra do Mar e Zona Costeira, assume papel vital na
criação de um ambiente político que garanta a consecução de programas desse tipo. Os
brasileiros precisam assumir responsabilidades com a conservação dos recursos do
Cerrado, sob pena de as futuras gerações serem privadas da utilização de um patrimônio
natural de importância ímpar. O primeiro passo nesse sentido deve ser a fixação em letras
constitucionais da vedação de práticas predatórias na região, em favor da adequada gestão
dos recursos naturais, da. conservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico.
Contamos, assim, com a mobilização de nossos ilustres Pares para a aprovação desta
emenda ao texto constitucional. Deputado Gervásio Oliveira. (g.n.)

Essa proposta apresenta uma justificativa que traz a preocupação com a atual situação do
Cerrado, onde menos de 0,1% do território desse bioma é reservado à área de proteção ambiental,
sendo que, no Cerrado, considerada a savana com a flora mais rica no mundo, encontram-se 5% de
toda a biodiversidade do planeta. É o bioma do Brasil com grande importância social, visto que
muitas populações sobrevivem de seus recursos naturais, incluindo etnias indígenas, comunidades
quilombolas e povos tradicionais, que, juntos, formam o patrimônio histórico e cultural brasileiro e
detêm um conhecimento tradicional de sua biodiversidade.
Foram apensadas à PEC n° 115/1995 outras seis propostas, a saber:
a) PEC n° 150, de 1995, de autoria do Deputado Pedro Wilson e outros, que "inclui o Cerrado
e a Caatinga nos biomas considerados Patrimônio Nacional”;
b) PEC n° 60, de 1999, de autoria da Deputada Maria de Lourdes Abadia e outros, que "dá
nova redação ao §4° do art. 225, incluindo o Cerrado entre os biomas considerados Patrimônio
Nacional";
c) PEC n° 131, de 1999, da Deputada Nair Xavier Lobo e outros, que "modifica o §4° do
artigo 225 da Constituição Federal, incluindo o Cerrado na lista dos biomas considerados
Patrimônio Nacional";
d) PEC n° 100, de 2003, da Deputada Raquel Teixeira e outros, que "dá nova redação ao §4°
do art. 225 da Constituição Federal, incluindo o Cerrado e a Caatinga nos biomas considerados
Patrimônio Nacional";
e) PEC n° 131, de 2003, de autoria da Deputada Terezinha Fernandes e outros, que "inclui o
Cerrado e a Caatinga nos biomas considerados Patrimônio Nacional, dando nova redação ao §4° do
artigo 225 da Constituição Federal”; e

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f) PEC n° 188, de 2003, do Deputado Sandes Júnior e outros, que "modifica o §4° do artigo
225 da Constituição Federal, incluindo o Cerrado na lista dos biomas considerados Patrimônio
Nacional".
Consta anexa a esta Proposta a PEC n° 150/1995, do Deputado Pedro Wilson, que justifica
a inclusão da caatinga com bioma a ser considerado Patrimônio Nacional nos seguintes termos:

Em seu art. 225, §4° , a Constituição Federal determina que a Floresta Amazônica, a Mata
Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são Patrimônio
Nacional e que sua utilização garantirá a preservação do meio ambiente. Pode-se afirmar
que o legislador constituinte pretendeu realçar a importância desses biomas para o País
como um todo e diferenciar o seu tratamento no contexto do território nacional, vedando
práticas predatórias. Em nosso entender, faz-se essencial a inclusão na relação dos
biomas considerados Patrimônio Nacional do Cerrado e da Caatinga. A não inserção
destes biomas no texto desse dispositivo constitucional ocorreu, com certeza, pelo
desconhecimento de sua importância ecológica, não encontrando qualquer
sustentação científica. Ocupando cerca de 25% do território nacional, o Cerrado exibe
uma enorme variedade de solos, relevo e climas, que se refletem numa impressionante
diversidade de espécies. Infelizmente, sua ocupação vem ocorrendo de forma
intensivamente desordenada e predatória, antes mesmo do potencial de seus recursos
naturais serem verdadeiramente estudados. A vegetação do Cerrado é formada por
um grande mosaico de paisagens. Podem-se distinguir a savana típica, que recebe a
denominação geral de cerrado; a savana arbórea densa, ou cerradão; a savana
arbórea aberta ou campo cerrado; e a savana-parque, formação essencialmente
campestre. O Cerrado possui mais de 700 espécies de plantas lenhosas de ocorrência
restrita à região, abriga 935 espécies de aves, 298 espécies de mamíferos e 268 espécies
de répteis, além de incontáveis insetos e animais invertebrados. A falta de preocupação
com a conservação ambiental do bioma Cerrado fica bem caracterizada pelo ínfimo
percentual de áreas protegidas na forma de Unidades de Conservação: 0,1% de seu
território é constituído por Unidades de uso indireto (parques nacionais, reservas
biológicas e estações ecológicas) e 0,2% por Unidades de uso direto (florestas
nacionais, áreas de proteção ambiental e reservas extrativistas). O processo intensivo
de ocupação agrícola e a rápida expansão das áreas urbanas na região têm causado inúmeros
e graves problemas ambientais: compactação do solo e erosão, poluição dás águas,
desmatamentos excessivos e dilapidação do patrimônio genético nativo. É premente a
adoção ampla de medidas voltadas à proteção ambiental, entre elas: intensificação da
fiscalização florestal; alerta permanente contra a erosão; estímulo ao aumento racional da
produção agropecuária para que não se faça somente à custa de maiores desmatamentos e
do uso abusivo de agrotóxicos; reflorestamento, sobretudo nas cabeceiras e margens dos
relevos dissecados e áreas próximas às cidades; vedação à prática de queimadas sucessivas;
e exploração de madeiras segundo critérios que garantam a perpetuidade das espécies.
Destaque-se que o Cerrado exerce um papel basilar para o equilíbrio dos demais biomas
brasileiros. O seu comprometimento gera implicações negativas para a Amazônia, a Mata
Atlântica, a Caatinga e a Região da Araucária. A Caatinga, por sua vez, ocupa cerca de
850.000km2, 110 semiárido nordestino; talvez seja o bioma brasileiro mais severamente
devastado pela ação atrófica. A ideia de que a Caatinga apresenta uma paisagem homogênea
é incorreta: os elementos da sua fauna e da sua flora variam muito. O modelo de ocupação
da região tem originado diversos problemas de degradação ambiental. Em área
significativa, os solos encontram-se abandonados por fatores como dos nutrientes pelo uso
intensivo, instalação de processos erosivos resultantes da retirada da cobertura vegetal e
salinização. O relatório "O Desafio do Desenvolvimento Sustentável", publicado pelo
Governo Brasileiro na época da Rio-92, destaca, sobre a região da Caatinga, que "vários
estudos constatam a existência de núcleos de desertificação onde a degradação da cobertura
vegetal e do solo atingiu uma condição de irreversibilidade, apresentando-se como
pequenos "desertos" dentro do ecossistema primitivo. (...) Na Bahia, já se registram áreas
que abrangem 52,5 mil km2, onde a vegetação está tornando-se escassa e o solo,
desprotegido, tem indícios de erosão acelerada. Em Pernambuco, a área identificada
corresponde a um polígono de, aproximadamente, 25 mil km2, ou seja, 28% da superfície

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do Estado. ( ... ) O Piauí, em função da retirada devastadora da cobertura vegetal para


implantação de grandes projetos agropecuários, a partir da década de 1970, apresenta-se
com intensos processos erosivos, que, por sua vez, provocaram redução na produtividade
dos solos, bem como o assoreamento dos principais corpos d'água. "A importante fauna
regional está hoje desfalcada de inúmeras espécies e mesmo aquelas que ainda permanecem
formam populações muito reduzidas. Eram comuns na Caatinga grandes predadores, como
o jaguar e a suçuarana, que hoje estão praticamente extintos. No que pertine às Unidades
de Conservação, a situação é ainda mais preocupante. A Caatinga possui apenas 0,1% de
sua extensão protegido na forma de parques e reservas. A diversidade biológica do
Cerrado e da Caatinga é riquíssima e com um potencial muito pouco estudado. Não
podemos aceitar a dilapidação desse imenso patrimônio natural. Vigora no Brasil uma
concepção distorcida de que se faz mais importante a proteção da Amazônia, da Mata
Atlântica e do Pantanal do que dos demais biomas. Na verdade, é necessário
assegurar, de forma ampla, a conservação da maior variedade possível de ecossistemas
naturais. Não se está aqui a propugnar, de forma simplista, pela não ocupação das
áreas com remanescentes preservados de Cerrado e Caatinga. O que precisa ser
urgentemente modificado é a forma como a ocupação desses biomas está sendo
efetivada. Sua utilização precisa pautar-se pelo fundamento da defesa do meio
ambiente; fazem-se necessários o respeito às suas limitações ecológicas e o
aproveitamento racional de suas potencialidades. O reconhecimento do Cerrado e da
Caatinga como Patrimônio Nacional vai suprir omissão inaceitável na Constituição
Federal e, certamente, servirá de base para políticas de desenvolvimento sustentável
para essas regiões. Contamos, assim, com o total apoio de nossos Pares na aprovação
desta Proposta de Emenda à Constituição. (g.n.)

Consta apenso à PEC n° 60/1999, da Deputada Maria de Lourdes Abadia e outros, que
justifica a inclusão do Cerrado com bioma a ser considerado Patrimônio Nacional nos seguintes
termos:

O Cerrado, bioma típico do nosso Planalto Central, já constituiu cerca de 25% do território
brasileiro. Possui uma grande diversidade de fisionomias, como 5 campos ralos ou campos
cerrados, os cerradões e as matas de galerias, que acompanham as nascentes e os cursos de
água. Por se constituírem de solos de formação muito antiga, as terras dos Cerrados são de
baixa fertilidade apresentando, no entanto, topografia geralmente suave, o que tem
facilitado a expansão da agricultura mecanizada e extensiva. A multiplicidade de
fisionomias vegetais, por outro lado, confere ao Cerrado uma enorme riqueza em termos
de patrimônio biológico e genético. Seu aspecto, muitas vezes árido, com árvores retorcidas
e predominantemente de pequeno porte, esconde a riqueza em termos de flora e fauna, de
que é dotado esse bioma. A vegetação do Cerrado, dada sua diversidade, produz uma vasta
gama de frutos, grãos e folhas que permitem alimentar uma fauna variada, perfeitamente
ajustada aos seus rigorosos ciclos anuais de chuvas e secas. O regime pluviométrico da
região do Cerrado é bastante regular com média de sete meses chuvosos a cada ano. Por se
situar no coração do Planalto Central, na região do Cerrado nascem alguns dos maiores e
mais importantes rios brasileiros. Em área recoberta por Cerrados, na Serra da Canastra,
nasce o rio São Francisco. Também nos Cerrados mineiros, goianos e do oeste baiano
nascem seus maiores tributários, como os rios Paracatu das Velhas, Paraopeba, Verde
Grande, Carinhanha e Grande. O rio São Francisco, lembremos, atravessa uma das regiões
mais áridas do Brasil e suas águas têm sido fundamentais para a sobrevivência e para o
desenvolvimento de uma parte considerável da Região Nordeste do Brasil. Em regiões de
Cerrado, nascem os rios Araguaia e Tocantins e vários outros, que se encaminham para a
Bacia Amazônica. Nelas nascem os principais formadores da Bacia do Paraná, de cujo
potencial hidráulico vem a maior parte da energia elétrica que consumimos em nosso País.
No Cerrado, estão as nascentes de vários rios que formam o complexo hidrográfico do
Pantanal Mato-Grossense. São as águas desses rios que garantem as inundações cíclicas
que mantêm, nesse bioma, uma riqueza ecológica ímpar no mundo. O ciclo hidrológico de
quase metade de nosso País depende do Cerrado. Do Cerrado provêm as águas do grande
São Francisco e sua florescente agricultura do Paraná com suas hidrelétricas, do Tocantins-
Araguaia e do Pantanal. No entanto, nós, brasileiros, não temos encarado esse bioma com

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a seriedade que ele merece e com o cuidado correspondente à sua importância. A região do
Cerrado foi eleita como área de expansão da agricultura extensiva no Brasil. Os Cerrados
têm sido sistematicamente destruídos para dar lugar a lavouras, a pastagens e a grandes
plantações de eucaliptos. Eles foram e continuam sendo derrubados para produzir carvão
vegetal para siderúrgicas. E o pior de tudo é que seu solo frágil, altamente susceptível à
erosão, não é manejado adequadamente, deixando levar a cada ano milhões de toneladas
de terra para os rios que o cortam, assoreando-os, acabando com a vida de que sempre
foram pródigos, aumentando suas enchentes e reduzindo assustadoramente suas vazantes.
A expansão da agricultura trouxe consigo a urbanização e a industrialização. Hoje, as
concentrações urbanas no entorno de cidades como Brasília, Goiânia, Cuiabá e Campo
Grande são altamente danosas ao sistema solo-água do Cerrado, com processos erosivos
acentuados e a poluição das águas por esgotos sanitários e industriais e pelo lixo de várias
origens. A devastação inconsequente do Cerrado é responsável por problemas gravíssimos,
como o assoreamento dos rios do Pantanal e do rio São Francisco. Se ela não for controlada,
os prejuízos futuros, tanto econômicos como ambientais, serão irreparáveis. Nossa proposta
de emenda à Constituição visa a corrigir esse equívoco enquanto é tempo, enquanto ainda
resta uma porção considerável de Cerrado para ser preservada ou, pelo menos, utilizada
com os cuidados mínimos que a natureza merece. Em nome de nosso futuro, contamos,
pois, com o apoio dos ilustres Pares do Congresso Nacional, para sua tramitação e
aprovação. (g.n.)

Consta apensa a PEC n° 131/1999, da Deputada Nair Xavier Lobo e outros, que justifica a
inclusão do Cerrado com bioma a ser considerado Patrimônio Nacional nos seguintes termos:

O bioma Cerrado constitui, sob todos os aspectos, histórico, cultural, econômico e


ecológico, um patrimônio e uma riqueza de valor imensurável para o Brasil e os brasileiros
e, por que não dizer, de toda a humanidade. O Cerrado ocupa nada menos do que um quarto
do território nacional. Constitui a segunda maior formação vegetal brasileira, superada
apenas pela Floresta Amazônica. São 2 milhões de km2 distribuídos por 10 Estados. Devido
à sua vasta extensão territorial, posição geográfica, heterogeneidade vegetal, e por ser
cortado pelas três maiores bacias hidrográficas da América do Sul, o Cerrado destaca-se
por sua biodiversidade. A flora do Cerrado é considerada a mais rica dentre as savanas do
mundo. Sua riqueza de 429 espécies de árvores e arbustos é muito superior ao número de
espécies das savanas do Suriname ou da Venezuela. Estima-se que a flora do Cerrado
possui entre 4 e 10 mil espécies de plantas vasculares, superior ao de grande parte de outras
floras mundiais. Muitas espécies são utilizadas localmente na alimentação, medicina,
produção de cortiça, fibras, óleos, artesanato e decoração. A fauna de vertebrados do
Cerrado é rica, apesar de haver um baixo endemismo de espécies. São conhecidas mais de
400 espécies de aves, 67 gêneros de mamíferos não voadores e 30 espécies de morcegos,
somente no Distrito Federal. A exploração da fauna de vertebrados é intensa na região,
principalmente como alimento e no comércio ilegal de peles. Os invertebrados são menos
conhecidos, mas sabe-se que o endemismo ê bastante grande e a riqueza elevada,
especialmente de insetos. Conhecem-se 27 espécies de lavadeiras, 90 espécies de cupins,
1000 espécies de borboletas, e 550 espécies de abelhas e vespas, apenas no Distrito Federal
Ao avaliarmos, hoje, a importância do Cerrado, é preciso ter em mente o valor dos recursos
genéticos para a agricultura e as indústrias química, farmacêutica e alimentícia. A
agricultura e a indústria moderna dependem em escala crescente das modernas técnicas da
biotecnologia, especialmente da engenharia genética. Os produtos e processos baseados na
engenharia genética estão revolucionando a produção e o mercado, com negócios
envolvendo bilhões de dólares. Ora, a matéria-prima desses novos produtos e processos é
o material genético das plantas, animais e micro-organismos silvestres, que estão
concentrados nos biomas de elevada biodiversidade, como é o caso do Cerrado. Outro
aspecto importante frequentemente desconsiderado é o papel do Cerrado como reservatório
hídrico das demais regiões brasileiras. Como a cota pluviométrica do Cerrado é superior à
da maioria dos nossos ecossistemas, a região é a maior dispenseira de águas do Brasil,
alimentando 6 das 8 maiores bacias hidrográficas brasileiras. Isso significa que qualquer
agressão ao Cerrado tem resposta imediata nos demais ecossistemas. Esse importante papel
do Cerrado há muito é compreendido pelos que conhecem a região, como pode se
depreender desse texto de Guimarães Rosa em "Ave palavra": "Sendo, se diz, que minha

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terra, representa o elevado reservatório, a caixa d'água, o coração branco, difluente,


multivertente, que desprende e deixa para tantas direções, formadas em caldas as enormes
vias, o São Francisco, o Paranaíba e o Grande que fazem o Paraná, o Jequitinhonha, o Doce
o Pardo, os afluentes para o Paranaíba, o Mucuri, o Amazonas, ou ainda. - e que, desde a
meninice de seus olhos d'água, da discrição dos brejos e minadouros, e desses montes de
riachinhos com subterfúgios, minha terra é doadora plácida...” Além de uma reserva de
material genético de valor incalculável e reservatório hídrico do Brasil, a região do Cerrado
é uma das principais regiões produtoras de grãos e de produtos pecuários do Brasil. As
lavouras mais importantes da região são a soja, o milho, o arroz, o café, o feijão e a
mandioca. A soja foi a cultura que experimentou o maior crescimento nos últimos anos,
representando, hoje, um quarto da produção nacional. O milho representa 16% da produção
nacional, o arroz 13%, o café 8%, o feijão 11% e a mandioca 5'%. Apesar da sua
importância científica, ecológica e econômica, o Cerrado vem sendo ocupado sem os
necessários cuidados ambientais. Depois da Mata Atlântica, o Cerrado é o ecossistema
brasileiro que mais alterações sofreu com a ocupação humana. Um dos impactos ambientais
mais graves na região foram causados pelos garimpos, que contaminaram os rios com
mercúrio e provocaram o assoreamento dos cursos de água. A erosão causada pela atividade
mineradora tem sido tão intensa que, em alguns casos, chegou até mesmo a impossibilitar
a própria extração do ouro rio abaixo. Nos últimos anos, contudo, a expansão da agricultura
e da pecuária representa o maior fator de risco para o Cerrado. O uso de técnicas de
aproveitamento intensivo dos solos tem provocado o esgotamento de seus recursos. A
utilização indiscriminada de agrotóxicos e fertilizantes tem contaminado os solos e as
águas. Paralelamente, cresce o número de novas pragas e doenças nas monoculturas. O
resultado é que o Cerrado está acabando, metade da sua área já foi desmatada e, se esse
ritmo continuar até o ano 2000, o desmatamento vai chegar a 70%. Essa situação está
causando a fragmentação de áreas e comprometendo seriamente os processos mantenedores
da biodiversidade do Cerrado. São necessárias medidas rápidas e decididas pare reverter
essa tendência e assegurar a conservação dos remanescentes do Cerrado e garantir o
desenvolvimento das atividades agropecuárias em bases sustentáveis. Nesse sentido,
entendemos que uma medida importante, tanto em termos psicológicos e culturais, quanto
em termos práticos, é introduzir o Cerrado na lista dos biomas considerados Patrimônio
Nacional. A elevação do "status jurídico" do Cerrado vai ajudar a mudar a ideia de que o
bioma, em função da sua aparência, possui uma importância ecológica menor e que, por
isso, prescinde de maiores cuidados com a sua conservação. Em termos práticos, vai
oferecer ao Poder Público um melhor instrumento legal para coibir a devastação e
disciplinar a ocupação e o uso dos recursos naturais da região. Esse portanto, o nosso
propósito com a apresentação desta proposta de Emenda Constitucional. Aproveitamos a
oportunidade para corrigir e atualizar a redação do §4° do art. 225 do texto constitucional.
Assim, estamos excluindo, por desnecessário, a palavra "brasileira" após "Floresta.
Amazônica", já que, evidentemente, a Constituição Federal brasileira não poderia regular
a conservação e o uso da Floresta Amazônica fora dos limites territoriais pátrios; estamos
excluindo da relação dos biomas considerados Patrimônio Nacional a Serra do Mar, já que,
primeiro, Serra do Mar não é um bioma, é um acidente geográfico e, segundo e mais
importante, a Mata Atlântica, que consta da relação, inclui a Serra do Mar, estamos
substituindo a expressão "preservação do meio ambiente" por "conservação da natureza",
já que preservar tem um sentido técnico especifico e significa manter intocado, sem
qualquer alteração causada por ação humana. Conservação, por seu turno, tem um sentido
mais geral e abrangente, mais apropriado aos objetivos do texto constitucional; estamos
substituindo a obscura sentença "inclusive quanto ao uso dos recursos naturais" por uma
redação atualizada, ou seja, "que assegurem o uso sustentável dos recursos naturais”,
finalmente, estamos acrescentando a frase "e que assegurem a melhoria da qualidade de
vida do povo." Com a seguinte redação: "§ 4° A Floresta Amazônica. a Mata Atlântica, a
Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense, o Cerrado e a Zona Costeira são Patrimônio
Nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
conservação da natureza, o uso sustentável dos recursos naturais e a melhoria da qualidade
de vida do povo." (g.n.)

Consta apensa a PEC n° 100/2003, da Deputada Raquel Teixeira e outros, que justifica a
inclusão do cerrado com bioma a ser considerado Patrimônio Nacional nos seguintes termos:

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Em seu art. 225, §42, a Constituição Federal diz que a Floresta Amazônica, a Mata
Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são Patrimônio
Nacional e que sua utilização será feita de forma sustentável. É legítimo perguntar por que
o legislador constituinte não incluiu nessa relação o Cerrado e a Caatinga. A não inserção
desses biomas no texto constitucional ocorreu, com certeza, pelo desconhecimento de sua
importância ecológica, não encontrando quaisquer sustentações científicas. Ocupando
cerca de 25% do território nacional, o Cerrado exibe uma enorme variedade de solos, relevo
e climas, que se refletem numa impressionante diversidade de ecossistemas e espécies.
Infelizmente, sua ocupação vem ocorrendo de forma desordenada e predatória. A vegetação
do Cerrado é formada por um grande mosaico de paisagens. Podem-se distinguir a savana
típica, que recebe a denominação geral de cerrado; a savana arbórea densa, ou cerradão; a
savana arbórea aberta ou campo cerrado; e a savana parque, formação essencialmente
campestre. O Cerrado possuí mais de 700 espécies de plantas lenhosas de ocorrência
restrita à região, abriga 935 espécies de aves, 298 espécies de mamíferos e 268 espécies
de répteis, além de incontáveis insetos e animais invertebrados. A falta de preocupação
com a conservação ambiental do bioma Cerrado fica bem caracterizado pelo ínfimo
percentual de áreas protegidas na forma de Unidades de Conservação. O processo intensivo
de ocupação agrícola e a rápida expansão das áreas urbanas na região têm causado inúmeros
e graves problemas ambientais: compactação do solo e erosão, poluição das águas,
desmatamentos excessivos e dilapidação do patrimônio genético nativo. Destaque-se que o
Cerrado exerce um papel chave para o equilíbrio ambiental dos demais biomas brasileiros.
O seu comprometimento gera implicações negativas para a Amazônia, a Mata Atlântica e a
Caatinga. Caatinga, por sua vez, ocupando cerca de 850 mil quilômetros quadrados no
semiárido nordestino, talvez seja o bioma brasileiro mais severamente devastado pela ação
antrópica. A ideia de que a Caatinga apresenta uma paisagem homogênea é incorreta: os
elementos da sua fauna e da sua flora variam muito. O modelo de ocupação da região tem
originado diversos problemas de degradação ambiental. Em área significativa, os solos
encontram-se abandonados por fatores como o esgotamento dos nutrientes pelo uso
intensivo, instalação de processos erosivos resultantes da retirada da cobertura vegetal e
salinização. Vários estudos constatam a existência de núcleos de desertificação, onde a
degradação da cobertura vegetal e do solo atingiram uma condição de irreversibilidade
apresentando-se como pequenos "desertos" dentro do ecossistema primitivo. A importante
fauna regional está hoje desfalcada de inúmeras espécies e mesmo aquelas que ainda
permanecem formam populações muito reduzidas. Eram comuns na Caatinga grandes
predadores como o jaguar e a suçuarana, que hoje estão praticamente extintos. No que diz
respeito às Unidades de Conservação, a situação é ainda mais preocupante. A Caatinga
possui apenas 0,1% de sua extensão protegido na forma de parques e reservas. Vigora no
Brasil uma concepção distorcida de que é mais importante a proteção da Amazônia, da
Mata Atlântica e do Pantanal do que dos demais biomas. Na verdade, é necessário assegurar
a conservação da maior variedade possível de ecossistemas naturais. O reconhecimento do
Cerrado e da Caatinga como Patrimônio Nacional vai sanar uma omissão inaceitável da
Constituição Federal e, certamente, servirá de base para políticas de desenvolvimento
sustentável para essas regiões. (g.n.)

Consta apenso à PEC n° 131/2003, da Deputada Terezinha Fernandes e outros, que justifica
a inclusão do Cerrado com bioma a ser considerado Patrimônio Nacional nos seguintes termos:

Esta proposta de Emenda Constitucional havia sido apresentada em legislaturas passadas


e, no entanto, foi arquivada por força regimentaL A necessidade de recuperá-la vem ao
encontro do esforço coletivo de diversos trabalhadores e organizações que ocupam e
trabalham no Cerrado e Caatinga brasileiros e que continuam acreditando na necessidade
de se criar instrumentos legais para garantir a preservação desses biomas, que se encontram
ameaçados. Nesse sentido, ressaltamos as manifestações públicas que vêm ocorrendo como
a "Carta do Maranhão"- Povos do Cerrado expõem seus pleitos e visão de mundo",
publicada em novembro de 2002. Mais do que isso, representa uma espécie de reparo a uma
injustiça que fora cometida pela Constituição de 1988 ao não incorporar esses biomas como
Patrimônio Nacional a ser preservado. O §4° do artigo 225 da Constituição Federal de 1988
determina que a Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal
MatoGrossense e a Zona Costeira são Patrimônio Nacional a serem preservados, o que

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permite deduzir do texto constitucional que esses bens ambientais interessam a todos os
brasileiros. No caso, houve uma preocupação do constituinte em assegurar a preservação
desses espaços, em função de sua diversidade, porque representam importante reservatório
natural, entre os quais, os recursos hídricos e genéticos de incalculável valor monetário. O
manejo adequado pode ser um importante fator para a contribuição de desenvolvimento
para o Brasil. Como visto, a não inclusão do Cerrado e da Caatinga incorre numa omissão
imperdoável, sobretudo pelo desconhecimento da sua importância ecológica. Assim, faz-
se essencial a sua inclusão como sendo Patrimônio Nacional. Trata-se, sobretudo, de
proteger a vida em qualquer forma que ela se apresente. São extremamente relevantes os
argumentos para a proteção desses biomas. Ao cortar o Brasil de Norte a Sul, o Cerrado
pode ser representado como uma verdadeira coluna vertebral que propicia equilíbrio
ambiental aos demais ecossistemas brasileiros. Essa posição geográfica, somada à sua
altitude em relação aos demais ecossistemas, representa um fator para a distribuição de
água que alimenta as principais bacias hidrográficas do Brasil. Na sua composição, é
possível observar uma diversidade de ecossistemas e espécies, que compõem a sua
paisagem, descritos de forma maravilhosa por Guimarães Rosas em "Grande Sertão
Veredas". Ocorre que o Cerrado vem sendo utilizado de forma predatória por diversos
grupos econômicos, em consonância com políticas públicas equivocadas, que se ocupam
com intensificar o processo de expansão da agricultura, especificamente, monocultura de
exportação. A lógica desse processo tem sido a lógica do agronegócios em detrimento das
diversas populações de trabalhadores agroextrativistas e grupos indígenas, os chamados
"povos dos cerrados". Trata-se de violação aos direitos desses grupos sociais. No caso,
estamos diante de dois modelos de desenvolvimento: um orientado por uns poucos, que não
levam em consideração o meio ambiente, colocam em risco todo o patrimônio natural e
cultural; outro, orientado pelos chamados "povos do cerrados", que se preocupam em
manejar adequadamente os recursos naturais para conservar toda a biodiversidade
existente. A Caatinga, por sua vez, é o bioma brasileiro mais severamente devastado pela
ação antrópica, que data desde o período do Brasil-Colônia, com o regime de terras que
criou condições para a concentração fundiária na região. Num relatório publicado pelo
governo brasileiro à época da Rio-92, intitulado "O Desafio do Desenvolvimento
Sustentável”, destaca-se em vários estudos que a região da Caatinga vem apresentando
"núcleos de desertificação", onde a degradação da cobertura vegetal e do solo atingiram
urna condição de irreversibilidade, apresentando-se como pequenos desertos dentro do
próprio ecossistema, diferentemente do que anunciam de que a Caatinga apresenta uma
paisagem homogênea é incorreta. A Caatinga, apesar de estar localizada numa região
semiárida, é rica em recursos genéticos dada sua alta biodiversidade, apresenta grande
variedade de paisagens, relativa riqueza biológica e endemismo, isto é, com muitas espécies
que não são encontradas em nenhum outro lugar do Planeta. A diversidade biológica do
Cerrado e Caatinga é riquíssima e com um potencial muito pouco estudado, de modo que
não se pode permitir que todo esse patrimônio natural seja destruído. O princípio da
"prudência" ou da "cautela" do Direito Ambiental é imperativo, ao informar que, havendo
dúvidas, incertezas ou mesmo desconhecimento científico a respeito de determinado
ambiente, não se deve praticar determinadas ações, sobretudo a fim de evitar a ocorrência
de danos que possam tomar-se irreparáveis num futuro próximo. Trata-se, ainda, de
preservar um patrimônio genético inexplorado e desconhecido. O olhar indiferente a
respeito desses biomas pode ser observado pelas poucas áreas especialmente protegidas.
Há uma necessidade de que esses biomas sejam ocupados de forma que se leve em
consideração o meio ambiente natural e cultural para proteger a vida e garantir um padrão
de existência digno para os seres humanos desta e das gerações futuras. Nesse sentido, faz-
se necessária a adoção de medidas legais que possam dar tratamento diferenciado a esses
espaços. O reconhecimento do Cerrado e da Caatinga como patrimônio natural a ser
protegido pelo texto constitucional tem como objetivo suprir uma omissão inaceitável na
Constituição Federal de 1988 e, dessa forma, corroborar com a formulação de políticas
públicas adequadas, no sentido de garantir às populações que lá se encontram condições
para a sua exploração, sendo que não podemos perder de vista que, no Cerrado e na
Caatinga, há gente que tem cultura própria e de que não há defesa do Cerrado e da Caatinga
sem os povos de lá advindos. Portanto, contamos com o total apoio de nossos Pares na
aprovação desta Proposta de Emenda à Constituição. (g.n.)

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Consta apensa a PEC n° 188/2003, do Deputado Sandes Júnior e outros, que justifica a
inclusão do Cerrado com bioma a ser considerado Patrimônio Nacional nos seguintes termos:

O bioma Cerrado constitui, sob todos os aspectos, histórico, cultural, econômico e


ecológico, um patrimônio e uma riqueza de valor imensurável para o Brasil e os brasileiros
e, por que não dizer, de toda a humanidade. O Cerrado ocupa nada menos do que um quarto
do território nacional. Constitui a segunda maior formação vegetal brasileira, superada
apenas pela Floresta Amazônica. São 2 milhões de km2 distribuídos por 10 Estados. Devido
à sua vasta extensão territorial, posição geográfica, heterogeneidade vegetal e, por ser
cortado pelas três maiores bacias hidrográficas da América do Sul, o Cerrado destaca-se
por sua biodiversidade. A flora do Cerrado é considerada a mais rica dentre as savanas do
mundo. Sua riqueza de 429 espécies de árvores e arbustos é muito superior ao número de
espécies das savanas do Suriname ou da Venezuela. Estima-se que a flora do Cerrado
possui entre 4 e 10 mil espécies de plantas vasculares, superior ao de grande parte de outras
floras mundiais. Muitas dessas espécies são utilizadas localmente na alimentação,
medicina, produção de cortiça, fibras, óleos, artesanato e decoração. A fauna da vertebrados
do Cerrado é rica, apesar de haver um baixo endemismo de espécies. São conhecidas mais
de 400 espécies de aves, gêneros de mamíferos não voadores e 3 espécies de morcegos,
somente no Distrito Federal. A exploração da fauna de vertebrados é intensa na região,
principalmente como alimento e no comércio ilegal de peles. Os invertebrados são menos
conhecidos, mas sabe-se que o endemismo é bastante grande e a riqueza elevada,
especialmente de insetos. Conhecem-se 27 espécies de lavadeiras, 90 espécies de cupins,
1000 espécies de borboletas e 550 espécies de abelhas e vespas, apenas no Distrito Federal.
Ao avaliarmos a importância do Cerrado, é preciso ter em mente, hoje, o valor dos recursos
genéticos para a agricultura e as indústrias químicas, farmacêuticas e de alimentos. A
agricultura e a indústria moderna dependem em escala crescente das modernas técnicas da
biotecnologia, especialmente da engenharia genética. Os produtos e processos baseados na
engenharia genética estão revolucionando a produção e o mercado, com negócios
envolvendo bilhões de dólares. Ora, a matéria-prima desses novos produtos e processos é
o material genético das plantas, animais e micro-organismos silvestres que estão
concentrados nos biomas de elevada biodiversidade, como é o caso do Cerrado. Outro
aspecto importante frequentemente desconsiderado é o papel do Cerrado como reservatório
hídrico das demais regiões brasileiras. Como a cota altimétrica do Cerrado é superior à da
maioria dos nossos ecossistemas. a região é a maior dispenseira de águas do Brasil,
alimentando 6 das 8 maiores bacias hidrográficas brasileiras. Isso significa que qualquer
agressão ao Cerrado tem resposta imediata nos demais ecossistemas. Apesar da sua
importância científica, ecológica e econômica, o Cerrado vem sendo ocupado sem os
necessários cuidados ambientais. Depois da Mata Atlântica, o Cerrado é o ecossistema
brasileiro que mais alterações sofreu com a ocupação humana. Um dos impactos ambientais
mais graves na região foram causados pelos garimpos, que contaminaram os rios com
mercúrio e provocaram o assoreamento dos cursos de água. A erosão causada pela atividade
mineradora tem sido tão intensa que, em alguns casos, chegou até mesmo a impossibilitar
a própria extração do ouro rio abaixo. Nos últimos anos, contudo, a expansão da agricultura
e da pecuária representa o maior fator de risco para o Cerrado. O uso de técnicas de
aproveitamento intensivo dos solos tem provocado o esgotamento de seus recursos. A
utilização indiscriminada de agrotóxicos e fertilizantes tem contaminado os solos e as
águas. Paralelamente, cresce o número de novas pragas e doenças nas monoculturas. Essa
situação está causando a fragmentação de áreas e comprometendo seriamente os processos
mantenedores da biodiversidade do Cerrado. São necessárias medidas rápidas e decididas
para reverter essa tendência e assegurar a conservação dos remanescentes do Cerrado e
garantir o desenvolvimento da atividades agropecuárias em bases sustentáveis. Nesse
sentido, entendemos que uma medida importante, tanto em termos psicológicos e culturais,
quanto em termos práticos, é introduzir o Cerrado na lista dos biomas considerados
Patrimônio Nacional. A elevação do "status jurídico" do Cerrado vai ajudar a mudar a ideia
de que o bioma, em função da sua aparência, possui uma importância ecológica menor e,
por isso, prescinde de maiores cuidados com a sua conservação. Em termos práticos, vai
oferecer ao Poder Público um melhor instrumento legal para coibir a devastação e
disciplinar a ocupação e o uso dos recursos naturais da região. Esse portanto o nosso

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propósito com a apresentação desta proposta de Emenda Constitucional. (g.n.)

Segundo consulta realizada no site do Senado Federal, foi aprovada no Senado e, agora, a
matéria será examinada pela Câmara dos Deputados e, caso aprovada, transformará o Cerrado e a
Caatinga em patrimônio natural do Brasil, corrigindo a lacuna existente na Constituição Federal que
não os incluiu na lista de biomas assegurados por lei, com o seguinte despacho:

PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO N. 504-A, DE 2010 (Do Senado Federal).


Atualizada em 03/04/2014, para inclusão de apensados que Altera o § 4° do art. 225 da
Constituição Federal, para incluir o Cerrado e a Caatinga entre os biomas considerados
Patrimônio Nacional; tendo parecer da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania,
pela admissibilidade (Relator: DEP. RICARDO TRIPOLI), da Comissão de Constituição e
Justiça e de Redação, pela admissibilidade das de nos 115/95, 150/95, 60/99 e 131/99, com
substitutivo (Relator: DEP. ANTONIO CARLOS BISCAIA); e da Comissão Especial, pela
aprovação das de nos 115/95, 150/95, 60/99, 131/99, 100/03, 131/03 e 188/03, com
substitutivo (Relatora: DEP. NEYDE APARECIDA). PARECER DA COMISSÃO: A
Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, em Reunião Ordinária realizada hoje,
opinou pela admissibilidade da Proposta de Emenda à Constituição n° 504/2010, nos
termos do Parecer do Relator, Deputado Ricardo Tripoli. (g.n.)

A PEC n° 51/2003 foi encerrada com a aprovação pelo Senado Federal, mas está parada na
Câmara do Deputados e aguarda a criação de Comissão Temporária. A PEC n° 504/2010, absorveu
a PEC n° 115/1995 e está pronta para ser incluída na pauta do Plenário e ser votada, e só não ocorreu
em 08/08/2017, porque a Sessão Plenária foi encerrada sem analisar a matéria.
As Propostas de Emenda Constitucional, ora analisadas, são uma forma de se entender como
os congressistas pensam sobre a problemática ambiental, especificamente sobre o conteúdo
normativo do §4°do artigo 225 da CF, já que se objetiva incluir o Cerrado entre os biomas
considerados Patrimônio Nacional.

4 PATRIMÔNIO NACIONAL NA VISÃO DOS TRIBUNAIS


Os Tribunais Superiores no Brasil funcionam tanto como instância originária como instância
recursal. Nesse caso, são considerados a terceira instância, apesar de esse grau de hierarquia não
existir formalmente no Poder Judiciário. As decisões tomadas em Primeira e Segunda Instâncias
podem ser revistas pelos Tribunais Superiores por meio de recurso. Há quem se refira ao Supremo
Tribunal Federal (STF) como Instância Extraordinária, por se tratar da Corte máxima do Judiciário,
cujas decisões finais não podem ser recorridas a nenhum outro Órgão.
Funcionam como Tribunais Superiores, no ordenamento jurídico brasileiro, o Supremo
Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça (STJ), Tribunal Superior do Trabalho (TST),
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Superior Tribunal Militar (STM). Os juízes que atuam nos
Tribunais Superiores são chamados de Ministros e todos eles são nomeados pelo Presidente da
República e previamente aprovados pelo Senado Federal. Para esta pesquisa, só iremos analisar a

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jurisprudência relacionada ao Art. 225, §4º da CF, perante o Supremo Tribunal Federal (STF) e
perante o Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O STF é o Órgão máximo do Poder Judiciário. O Supremo é composto por onze Ministros,
competindo ao STF julgar as chamadas ações diretas de inconstitucionalidade, instrumento jurídico
próprio para contestar a constitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual; apreciar
pedidos de extradição requerida por Estado estrangeiro; e julgar pedido de habeas corpus de
qualquer cidadão brasileiro.
O STJ é a última instância da Justiça brasileira para as causas infraconstitucionais,
responsável por uniformizar e padronizar a interpretação da Constituição em todo o Brasil. É
composto por 33 Ministros nomeados pelo Presidente da República com base em lista tríplice
elaborada pelo próprio STJ. Como Órgão, o STJ aprecia os recursos vindos da Justiça comum
(Estadual e Federal). Sua competência está prevista no art. 105 da Constituição Federal, que
estabelece quais podem ser os processos iniciados no STJ (originários) e aqueles em que o Tribunal
age como Órgão de revisão, inclusive nos julgamentos de Recursos Especiais.
Nos dois itens seguintes, foram relacionados, seguindo uma ordem cronológica, todos os
julgados, com inteiro teor dos Acórdãos, das decisões que utilizaram, como base direita das
respectivas decisões, o Art. 225, §4º da CF.

4.1 O ART. 225, §4º DA CF PARA O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


No âmbito da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, por ordem cronológica, até a
data da digitação desta pesquisa, foram cinco Acórdãos que fazem referência ao Art. 225, § 4º da
CF, conforme busca realizada em sua página eletrônica.
A primeira vez que o Art. 225, §4º da CF apareceu em uma decisão daquele Tribunal foi em
1995, na decisão proferida pelo Ministro Celso de Mello no Recurso Extraordinário nº 134.297,
proposta pelo Estado de São Paulo em face de Paulo Ferreira Ramos e cônjuge, que, por decisão
unânime, não conheceu o RE-140224 E RTJ-108/1314.
Essa decisão inaugurou o estudo naquela Corte sobre a compreensão do disposto no art. 225,
§4º, da Constituição Federal, ao afirmar que a norma deve ser interpretada de modo harmonioso
com o sistema jurídico consagrado pelo ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula
que, proclamada pelo art. 5º, XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de propriedade
em todas as suas projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira devida pelo
Poder Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal.
Ademais, o dispositivo em apreço não converteu em bens público os imóveis particulares
abrangido pelas florestas e pelas matas neles referidas (Mata Atlântica, Serra do Mar, Floresta

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Amazônica brasileira), também não impede autorização, pelos povos particulares, dos recursos
naturais existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio privado, desde que observadas
as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias à preservação ambiental.

STF - RECURSO EXTRAORDINÁRIO RE 134297 SP (STF) Data de publicação:


22/09/1995 Ementa: RECURSO EXTRAORDINÁRIO - ESTAÇÃO ECOLÓGICA -
RESERVA FLORESTAL NA SERRA DO MAR - PATRIMÔNIO NACIONAL ( CF ,
ART. 225, §4o) - LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA QUE AFETA O CONTEÚDO
ECONÔMICO DO DIREITO DE PROPRIEDADE - DIREITO DO PROPRIETÁRIO À
INDENIZAÇÃO - DEVER ESTATAL DE RESSARCIR OS PREJUÍZOS DE ORDEM
PATRIMONIAL SOFRIDOS PELO PARTICULAR - RE NÃO CONHECIDO . - Incumbe
ao Poder Público o dever constitucional de proteger
a flora e de adotar as necessárias medidas que visem a coibir práticas lesivas ao equilíbrio
ambiental. Esse encargo, contudo, não exonera o Estado da obrigação de indenizar os
proprietários cujos imóveis venham a ser afetados, em sua potencialidade econômica, pelas
limitações impostas pela Administração Pública . - A proteção jurídica dispensada às
coberturas vegetais que revestem as propriedades imobiliárias não impede que o dominus
venha a promover, dentro dos limites autorizados pelo Código Florestal, o adequado e
racional aproveitamento econômico das arvores nelas existentes. A jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais em geral, tendo presente a garantia
constitucional que protege o direito de propriedade, firmou-se no sentido de proclamar a
plena indenizabilidade das matas e revestimentos florestais que recobrem áreas dominiais
privadas, objeto de apossamento estatal ou sujeitas a restrições administrativas impostas
pelo Poder Público. Precedentes . - A circunstância de o Estado dispor de competência para
criar reservas florestais não lhe confere, só por si - considerando-se os princípios que
tutelam, em nosso sistema normativo, o direito de propriedade -, a prerrogativa de subtrair-
se ao pagamento de indenização compensatória ao particular, quando a atividade pública,
decorrente do exercício de atribuições em tema de direito florestal, impedir ou afetar a
válida exploração econômica do imóvel por seu proprietario . A norma inscrita no art.
225, §4º, da Constituição deve ser interpretada de modo harmonioso com o sistema
jurídico consagrado pelo ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula
que, proclamada pelo art. 5º, XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de
propriedade em todas as suas projeções, inclusive aquela concernente à compensação
financeira devida pelo Poder Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à
atividade estatal. O preceito consubstanciado no art. 225, §4º, da Carta da República,
além de não haver convertido em bens públicos os imóveis particulares abrangidos
pelas florestas e pelas matas neles referidos este (Mata Atlântica, Serra do Mar,
Floresta Amazônica brasileira), também não impede autorização, pelos povos
particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao
domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as
condições necessárias à preservação ambiental" [RE 134.297, Rel. Min. Celso de Mello,
j. 13-6-1995, 1ª T, DJ de 22-9-1995.] (gn)

Também em 1995, uma segunda decisão do Supremo Tribunal Federal foi prolatada e teve
novamente como Relator o Ministro Celso de Mello, nos Autos do Mandado de Segurança nº 22164-
0 SP134.297, em que figura como Impetrante Antônio de Andrade Ribeiro Junqueira e Impetrado
o Sr. Presidente da República, que, por decisão unânime, deferiu o Mandado de Segurança, em cujo
bojo debateu a reforma agrária e o devido processo legal, a função social da propriedade e a vistoria
efetuada pelo Incra, a notificação prévia e pessoal da vistoria, no bioma Pantanal Mato-Grossense,
a possibilidade jurídica de expropriação de imóveis rurais nele situados para fins de reforma agrária

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e a questão do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, direito de terceira geração e o


princípio da solidariedade.
Nesse Julgado, foi debatido se o direito patrimonial de imóvel rural sofre mitigação quando
inserido no bioma Pantanal Mato-Grossense, uma vez que esse ecossistema é considerado
Patrimônio Nacional pela Constituição Federal.
O bioma Pantanal Mato-Grossense foi inserido na Constituição Federal, no seleto grupo de
ecosistemas considerados patrimônio nacional, inteligência do art. 225, §4º. Sobre a possibilidade
jurídica de expropriação de imóveis rurais nele situados, para fins de reforma agrária., a Norma
Constitucional em análise não atua como impedimento jurídico à efetivação, pela União Federal, de
atividade expropriatória destinada a promover e a executar projetos de reforma agrária nas áreas
referidas nesse preceito constitucional, notadamente nos imóveis rurais situados no Pantanal Mato-
Grossense.
A própria CF, ao impor ao poder público o dever de fazer respeitar a integridade do
patrimônio ambiental, não o inibe, quando necessária a intervenção estatal na esfera dominial
privada, de promover a desapropriação de imóveis rurais para fins de reforma agrária, especialmente
porque um dos instrumentos de realização da função social da propriedade consiste, precisamente,
na submissão do domínio à necessidade de o seu titular utilizar adequadamente os recursos naturais
disponíveis e de fazer preservar o equilíbrio do meio ambiente (CF, art. 186, II), sob pena de, em
descumprindo esses encargos, expor-se à desapropriação-sanção a que se refere o art. 184 da Lei
Fundamental.

REFORMA AGRÁRIA - IMÓVEL RURAL SITUADO NO PANTANAL MATO-


GROSSENSE - DESAPROPRIAÇÃO-SANÇÃO (CF, ART. 184) - POSSIBILIDADE -
FALTA DE NOTIFICAÇÃO PESSOAL E PRÉVIA DO PROPRIETÁRIO RURAL
QUANTO À REALIZAÇÃO DA VISTORIA (LEI N. 8.629/93, ART. 2º, §2o) - OFENSA
AO POSTULADO DO DUE PROCESS OF LAW (CF, ART. 5o., LIV) - NULIDADE
RADICAL DA DECLARAÇÃO EXPROPRIATÓRIA - MANDADO DE SEGURANÇA
DEFERIDO. REFORMA AGRÁRIA E DEVIDO PROCESSO LEGAL. - O
POSTULADO CONSTITUCIONAL DO DUE PROCESS OF LAW, EM SUA
DESTINAÇÃO JURÍDICA, TAMBÉM ESTÁ VOCACIONADO À PROTEÇÃO DA
PROPRIEDADE. NINGUÉM SERÁ PRIVADO DE SEUS BENS SEM O DEVIDO
PROCESSO LEGAL (CF, ART. 5o, LIV). A UNIÃO FEDERAL - MESMO TRATANDO-
SE DE EXECUÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA DE REFORMA
AGRÁRIA - NÃO ESTÁ DISPENSADA DA OBRIGAÇÃO DE RESPEITAR, NO
DESEMPENHO DE SUA ATIVIDADE DE EXPROPRIAÇÃO, POR INTERESSE
SOCIAL, OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS QUE, EM TEMA DE
PROPRIEDADE, PROTEGE0M AS PESSOAS CONTRA A EVENTUAL EXPANSÃO
ARBITRÁRIA DO PODER ESTATAL. A CLÁUSULA DE GARANTIA DOMINIAL
QUE EMERGE DO SISTEMA CONSAGRADO PELA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA TEM POR OBJETIVO IMPEDIR O INJUSTO SACRIFÍCIO DO DIREITO
DE PROPRIEDADE. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE E VISTORIA
EFETUADA PELO INCRA. A VISTORIA EFETIVADA COM FUNDAMENTO NO
ART. 2o, §2o , DA LEI N. 8.629/93 TEM POR FINALIDADE ESPECÍFICA VIABILIZAR
O LEVANTAMENTO TÉCNICO DE DADOS E INFORMAÇÕES SOBRE O IMÓVEL
RURAL, PERMITINDO À UNIÃO FEDERAL - QUE ATUA POR INTERMÉDIO DO

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INCRA - CONSTATAR SE A PROPRIEDADE REALIZA, OU NÃO, A FUNÇÃO


SOCIAL QUE LHE E INERENTE. O ORDENAMENTO POSITIVO DETERMINA QUE
ESSA VISTORIA SEJA PRECEDIDA DE NOTIFICAÇÃO REGULAR AO
PROPRIETÁRIO, EM FACE DA POSSIBILIDADE DE O IMÓVEL RURAL QUE LHE
PERTENCE - QUANDO ESTE NÃO ESTIVER CUMPRINDO A SUA FUNÇÃO
SOCIAL - VIER A CONSTITUIR OBJETO DE DECLARAÇÃO EXPROPRIATÓRIA,
PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA. NOTIFICAÇÃO PRÉVIA E PESSOAL DA
VISTORIA. A NOTIFICAÇÃO A QUE SE REFERE O ART. 2o, §2o, DA LEI N. 8.629/93,
PARA QUE SE REPUTE VÁLIDA E POSSA, CONSEQUENTEMENTE, LEGITIMAR
EVENTUAL DECLARAÇÃO EXPROPRIATÓRIA PARA FINS DE REFORMA
AGRÁRIA, HÁ DE SER EFETIVADA EM MOMENTO ANTERIOR AO DA
REALIZAÇÃO DA VISTORIA. ESSA NOTIFICAÇÃO PRÉVIA SOMENTE SE
CONSIDERARÁ REGULAR, QUANDO COMPROVADAMENTE REALIZADA NA
PESSOA DO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL RURAL, OU QUANDO EFETIVADA
MEDIANTE CARTA COM AVISO DE RECEPÇÃO FIRMADO POR SEU
DESTINATÁRIO OU POR AQUELE QUE DISPONHA DE PODERES PARA
RECEBER A COMUNICAÇÃO POSTAL EM NOME DO PROPRIETÁRIO RURAL,
OU, AINDA, QUANDO PROCEDIDA NA PESSOA DE REPRESENTANTE LEGAL
OU DE PROCURADOR REGULARMENTE CONSTITUÍDO PELO DOMINUS. O
DESCUMPRIMENTO DESSA FORMALIDADE ESSENCIAL, DITADA PELA
NECESSIDADE DE GARANTIR AO PROPRIETÁRIO A OBSERVÂNCIA DA
CLÁUSULA CONSTITUCIONAL DO DEVIDO PROCESSO LEGAL, IMPORTA
VÍCIO RADICAL, QUE CONFIGURA DEFEITO INSUPERÁVEL, APTO A
PROJETAR-SE SOBRE TODAS AS FASES SUBSEQUENTES DO PROCEDIMENTO
DE EXPROPRIAÇÃO, CONTAMINANDO-AS, POR EFEITO DE REPERCUSSÃO
CAUSAL, DE MANEIRA IRREMISSÍVEL, GERANDO, EM CONSEQUÊNCIA, POR
AUSÊNCIA DE BASE JURÍDICA IDÔNEA, A PRÓPRIA INVALIDAÇÃO DO
DECRETO PRESIDENCIAL CONSUBSTANCIADOR DE DECLARAÇÃO
EXPROPRIATÓRIA. PANTANAL MATO-GROSSENSE (CF, ART. 225, §4o ) -
POSSIBILIDADE JURÍDICA DE EXPROPRIAÇÃO DE IMÓVEIS RURAIS NELE
SITUADOS, PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA. - A NORMA INSCRITA NO
ART. 225, §4o DA CONSTITUIÇÃO, NÃO ATUA, EM TESE, COMO IMPEDIMENTO
JURÍDICO À EFETIVAÇÃO, PELA UNIÃO FEDERAL, DE ATIVIDADE
EXPROPRIATÓRIA DESTINADA A PROMOVER E A EXECUTAR PROJETOS DE
REFORMA AGRÁRIA NAS ÁREAS REFERIDAS NESSE PRECEITO
CONSTITUCIONAL, NOTADAMENTE NOS IMÓVEIS RURAIS SITUADOS NO
PANTANAL MATO-GROSSENSE. A PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA,
AO IMPOR AO PODER PÚBLICO O DEVER DE FAZER RESPEITAR A
INTEGRIDADE DO PATRIMÔNIO AMBIENTAL, NÃO O INIBE, QUANDO
NECESSÁRIA A INTERVENÇÃO ESTATAL NA ESFERA DOMINIAL PRIVADA,
DE PROMOVER A DESAPROPRIAÇÃO DE IMÓVEIS RURAIS PARA FINS DE
REFORMA AGRÁRIA, ESPECIALMENTE PORQUE UM DOS INSTRUMENTOS DE
REALIZAÇÃO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE CONSISTE,
PRECISAMENTE, NA SUBMISSÃO DO DOMÍNIO À NECESSIDADE DE SEU
TITULAR UTILIZAR ADEQUADAMENTE OS RECURSOS NATURAIS
DISPONÍVEIS E DE FAZER PRESERVAR O EQUILÍBRIO DO MEIO AMBIENTE
(CF, ART. 186, II), SOB PENA DE, EM DESCUMPRINDO ESSES ENCARGOS,
EXPOR-SE À DESAPROPRIAÇÃO - SANÇÃO A QUE SE REFERE O ART. 184 DA
LEI FUNDAMENTAL. A QUESTÃO DO DIREITO AO MEIO AMBIENTE
ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO - DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO -
PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE. - O DIREITO À INTEGRIDADE DO MEIO
AMBIENTE - TÍPICO DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO - CONSTITUI
PRERROGATIVA JURÍDICA DE TITULARIDADE COLETIVA, REFLETINDO,
DENTRO DO PROCESSO DE AFIRMAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS, A
EXPRESSÃO SIGNIFICATIVA DE UM PODER ATRIBUÍDO, NÃO AO INDIVÍDUO
IDENTIFICADO EM SUA SINGULARIDADE, MAS, NUM SENTIDO
VERDADEIRAMENTE MAIS ABRANGENTE, A PRÓPRIA COLETIVIDADE
SOCIAL. ENQUANTO OS DIREITOS DE PRIMEIRA GERAÇÃO (DIREITOS CIVIS
E POLÍTICOS) - QUE COMPREENDEM AS LIBERDADES CLÁSSICAS,
NEGATIVAS OU FORMAIS - REALÇAM O PRINCÍPIO DA LIBERDADE E OS
DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO (DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E

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CULTURAIS) - QUE SE IDENTIFICAM COM AS LIBERDADES POSITIVAS, REAIS


OU CONCRETAS - ACENTUAM O PRINCÍPIO DA IGUALDADE, OS DIREITOS DE
TERCEIRA GERAÇÃO, QUE MATERIALIZAM PODERES DE TITULARIDADE
COLETIVA ATRIBUÍDOS GENERICAMENTE A TODAS AS FORMAÇÕES
SOCIAIS, CONSAGRAM O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE E CONSTITUEM UM
MOMENTO IMPORTANTE NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO, EXPANSÃO
E RECONHECIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS, CARACTERIZADOS,
ENQUANTO VALORES FUNDAMENTAIS INDISPONÍVEIS, PELA NOTA DE UMA
ESSENCIAL INEXAURIBILIDADE. CONSIDERAÇÕES DOUTRINÁRIAS. Pantanal
Mato-Grossense (CF, art. 225, § 4º) – Possibilidade jurídica de expropriação de imóveis
rurais nele situados, para fins de reforma agrária. A norma inscrita no art. 225, §4º, da
Constituição, não atua, em tese, como impedimento jurídico à efetivação, pela União
Federal, de atividade expropriatória destinada a promover e a executar projetos de reforma
agrária nas áreas referidas nesse preceito constitucional, notadamente nos imóveis rurais
situados no Pantanal Mato-Grossense. A própria Constituição da República, ao impor ao
poder público o dever de fazer respeitar a integridade do patrimônio ambiental, não o inibe,
quando necessária a intervenção estatal na esfera dominial privada, de promover a
desapropriação de imóveis rurais para fins de reforma agrária, especialmente porque um
dos instrumentos de realização da função social da propriedade consiste, precisamente, na
submissão do domínio à necessidade de o seu titular utilizar adequadamente os recursos
naturais disponíveis e de fazer preservar o equilíbrio do meio ambiente (CF, art. 186, II ).
A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo
critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: (...) II -
utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente), sob
pena de, em descumprindo esses encargos, expor-se à desapropriação-sanção a que se refere
o art. 184 da Lei Fundamental (Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social,
para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social,
mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de
preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano
de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei). (STF - MS: 22164 SP, Relator:
CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 30/10/1995, TRIBUNAL PLENO, Data de
Publicação: DJ 17-11-1995 PP-39206 EMENT VOL-01809-05 PP-01155). (gn)

O Supremo Tribunal Federal afirmou, nos dois Julgados acima relatados pelo Ministro Celso
de Mello, o conceito de “meio ambiente como patrimônio público”, destacou que, dentro desse
contexto, emerge com nitidez a ideia de que o meio ambiente constitui patrimônio público a ser
necessariamente assegurado e protegido pelos organismos sociais e pelas instituições estatais, sem
sofrer qualquer mitigação no direito de propriedade, caso cumpra os ditames constitucionais e
legais.
No ano de 1997, foi proferida uma terceira decisão, dessa vez, pelo Ministro Sydney
Sanches, na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.516, proposta pela Mesa Diretora da
Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia em face do Sr. Presidente da República, que, por
maioria de votos, indeferiu medida cautelar, por entender que, embora válido o argumento de que
medida provisória não pode tratar de matéria submetida pela Constituição Federal a lei
complementar, é de se considerar que, no caso, a CF não exige lei complementar para alterações no
Código Florestal, ao menos as concernentes à Floresta Amazônica, visto que a ausência de lei, a que
se refere o §4º do art. 225 da CF, não afronta o comando constitucional.

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Esse julgado se reveste de grande importância, porque trouxe uma interpretação pontual do
disposto no §4º do art. 225 da CF, no que se refere ao tipo de lei de que trata o parágrafo em estudo.
Com efeito, o §4 º do art. 225 da Constituição Federal assim dispõe: A Floresta Amazônica
brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona costeira são
patrimônio nacional, cuja utilização se fará, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
conservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais”.
A Lei a que se refere o parágrafo é a Ordinária, já que não exige Lei Complementar.
Dessa feita, a matéria de Lei Ordinária pode ser tratada em Medida Provisória, em face do que
estabelece o art. 62 da CF: "Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República
poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso
Nacional. §1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: (...) III – reservada a lei
complementar”.

DIREITO CONSTITUCIONAL E CIVIL. MEIO AMBIENTE: FLORESTA


AMAZÔNICA. CÓDIGO FLORESTAL. ÁREAS FLORESTAIS. ÁREAS AGRÍCOLAS.
DIREITO DE PROPRIEDADE. MEDIDA PROVISÓRIA: URGÊNCIA. AÇÃO DIRETA
DE INCONSTITUCIONALIDADE DA MEDIDA PROVISÓRIA N 1.511, DE
22.08.1996, E DE SUAS SUCESSIVAS REEDIÇÕES, QUE DERAM NOVA REDAÇÃO
AO ART. 44 DA LEI N 4.771/1965 (CÓDIGO FLORESTAL) E DISPUSERAM SOBRE
A PROIBIÇÃO DO INCREMENTO DA CONVERSÃO DE ÁREAS FLORESTAIS EM
ÁREAS AGRÍCOLAS NA REGIÃO NORTE E NA PARTE NORTE DA REGIÃO
CENTRO-OESTE. MEDIDA CAUTELAR. 1. A jurisprudência do STF tem considerado
da competência da Presidência da República e do Congresso Nacional a avaliação subjetiva
da urgência da Medida Provisória. 2. É de se excetuar, apenas, a hipótese em que a falta de
urgência possa ser constatada objetivamente. E, no caso, não há evidência objetiva da falta
de urgência, sendo a relevância da Medida Provisória incontestável. 3. Embora válido o
argumento de que M. P. não pode tratar de matéria submetida pela Constituição Federal a
Lei Complementar, é de se considerar que, no caso, a Constituição Federal não exige Lei
Complementar para alterações no Código Florestal, ao menos as concernentes à Floresta
Amazônica. 4. Dispõe, com efeito, o §4o do art. 225 da CF: A Floresta Amazônica
brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona costeira
são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que
assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais."
5. A lei a que se refere o parágrafo é a Ordinária, já que não exige Lei Complementar. E
matéria de Lei Ordinária pode ser tratada em Medida Provisória, em face do que estabelece
o art. 62 da CF. 6. Embora não desprezíveis as alegações da inicial, concernentes a possível
violação do direito de propriedade, sem prévia e justa indenização, é de se objetar, por outro
lado, que a Constituição deu tratamento especial à Floresta Amazônica, ao integrá-la no
patrimônio nacional, aduzindo que sua utilização se fará, na forma da lei, dentro de
condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos
recursos naturais. 7. Assim, a um primeiro exame, o texto da MP impugnada não parece
afrontoso a esse §4º do art. 225 da CF, que regula, especificamente, a utilização da terra na
Floresta Amazônica. 8. Os fundamentos jurídicos da ação estão, portanto, seriamente
abalados (fumus boni iuris). 9. Ausente, por outro lado, o requisito do "periculum in mora".
É que as informações da Presidência da República evidenciaram a necessidade e a urgência
da M. P. Ademais, perigo maior estaria no deferimento da cautelar, pois poderia tornar
irreparáveis os danos ao Meio Ambiente e à Floresta Amazônica, que a M. P. visou a evitar.
10. Medida cautelar indeferida. Plenário: Decisão por maioria de votos. (STF - ADI-MC:
1516 UF, Relator: SYDNEY SANCHES, Data de Julgamento: 06/03/1997, Tribunal Pleno,
Data de Publicação: DJ 13-08-1999 PP-00004 EMENT VOL-01958-01 PP-00032). (gn)

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Em 2006, o Ministro Sepúlveda Pertence julgou a quarta decisão com base no §4o do art.
225 da Constituição Federal, em sede de Recurso Extraordinário, proposto pelo Estado de São Paulo
em face do Espólio de Luciana Castro Gonzalez, que, por decisão unânime, negou provimento ao
agravo regimental no recurso extraordinário, por entender cabível indenização em imóvel situado
na Reserva Florestal Serra do Mar, por ser pacífica a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
de que é devido indenização pela desapropriação de área pertencente à Reserva Florestal Serra do
Mar, independentemente das limitações administrativas impostas para proteção ambiental dessa
propriedade.
Dessa forma, mesmo que o Bioma Serra do Mar tenha sido contemplado no texto do §4o do
art. 225 da Constituição Federal, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que
é devido indenização pela desapropriação de área pertencente à reserva florestal Serra do Mar,
independentemente das limitações administrativas impostas para proteção ambiental dessa
propriedade. A norma inscrita no art. 225, §4º, da Constituição deve ser interpretada de modo
harmonioso com o sistema jurídico consagrado pelo ordenamento fundamental, notadamente com
a cláusula proclamada pelo art. 5º, XXII, da Carta Política, que garante e assegura o direito de
propriedade em todas as suas projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira
devida pelo Poder Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal.
O preceito consubstanciado no art. 225, §4º, da CF, além de não haver convertido em bens
públicos os imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas matas nele referidas (Mata
Atlântica, Serra do Mar, Floresta Amazônica brasileira), também não impede a utilização, pelos
próprios particulares, dos recursos naturais existentes nas áreas que estejam sujeitas ao domínio
privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias à
conservação ambiental. A ordem constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade
(CF/88, art. 5º, XXII). Essa proteção outorgada pela CF estende-se, na abrangência normativa de
sua incidência tutelar, ao reconhecimento, em favor do dominus, da garantia de compensação
financeira, sempre que o Estado, mediante atividade que lhe seja juridicamente imputável, atingir o
direito de propriedade em seu conteúdo econômico, ainda que o imóvel particular afetado pela ação
do Poder Público esteja localizado em qualquer das áreas referidas no art. 225, §4º, da Constituição.
Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado: a consagração constitucional de um típico
direito de terceira geração (CF, art. 225, caput).

RE 471110 AgR / SP - SÃO PAULO, AG. REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO


Relator (a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Julgamento: 14/11/2006 Órgão Julgador:
Primeira Turma, Publicação DJ 07-12-2006 PP-00048 EMENT VOL-02259-05 PP-00842,
RT v. 96, n. 860, 2007, p. 176-179 Parte (s) AGTE. (S) : ESTADO DE SÃO PAULO ADV.
(A/S): PGE-SP - BEATRIZ ARRUDA DE OLIVEIRA MARIANTE ADV. (A/S): PGE-
SP - PAULA NELLY DIONIGI AGDO. (A/S): ESPÓLIO DE LUCIANO CASTRO

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GONZALEZ ADV. (A/S): MARCELO GUIMARÃES DA ROCHA E SILVA E OUTRO


(A/S) EMENTA: 1. Reserva Florestal Serra do Mar: indenização. É da jurisprudência do
Supremo Tribunal que é devido indenização pela desapropriação de área pertencente à
reserva florestal Serra do Mar, independentemente das limitações administrativas impostas
para proteção ambiental dessa propriedade. Precedentes. 2. Indenização: redução do
quantum: inviabilidade, no recurso extraordinário: Súmula 279. É inviável modificar o
quantum indenizatório fixado pelo Tribunal a quo com base nos laudos periciais
apresentados pelas partes, que demandaria o reexame de fatos e provas, ao que não se presta
o recurso extraordinário (Súmula 279). 3. Juros compensatórios e moratórios: recurso
extraordinário: inadmissibilidade: questão decidida pelo Acórdão recorrido com base em
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, fundada em legislação infraconstitucional:
incidência da Súmula 636. Decisão: A Turma negou provimento ao agravo regimental no
recurso extraordinário, nos termos do voto do Relator. Unânime. Não participou,
justificadamente, deste julgamento o Ministro Marco Aurélio. Ausente, justificadamente, o
Ministro Carlos Britto. 1ª Turma, 14.11.2006. Reserva Florestal Serra do Mar: indenização.
É da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que é devido indenização pela
desapropriação de área pertencente à Reserva Florestal Serra do Mar, independentemente
das limitações administrativas impostas para proteção ambiental dessa propriedade.
DECISÃO: RE, contra Acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que julgou
procedente ação de indenização por apossamento administrativo decorrente da criação do
Parque Estadual da Serra do Mar - Decreto 10.251/77 -, acrescentando ao valor da
condenação, correção monetária, juros compensatórios de 12% a.a., a partir da edição do
referido Decreto, e, cumulativamente, juros moratórios de 8% a.a. Alega o RE violação dos
artigos 5º, II, XXII, XXIII, XXIV; 170, III; e 225, da Constituição Federal. Aduz o Estado
não ser devida a indenização, uma vez que não houve apossamento físico da área, mas,
apenas, limitação administrativa, com o objetivo de preservar o meio ambiente e, ainda,
que os autores não teriam provado que faziam uso econômico da área, não havendo falar
na ocorrência de prejuízo. Pede, alternativamente, a redução do valor da indenização
determinada pelo perito judicial, por ser “exorbitante” e não refletir os “preços vigentes por
imposição das leis de mercado locais, consoante preconiza a Medida Provisória nº 1.997/97
(artigo 12)”. Afirma que o valor correto seria aquele determinado pelo Assistente Técnico
do Estado e pede que seja realizada nova prova técnica “para que seja excluída toda e
qualquer vegetação protegida pelo Código Florestal, Código de Águas e Constituição
Federal”. Alega, também, não ser devido o pagamento de juros compensatórios, seja em
razão de que sua cumulação com a indenização geraria “duplicidade de condenação por um
mesmo fato”, seja pela “inexistência de previsão legal para a sua fixação”, ou, ainda, caso
seja admitida sua incidência, pede sua redução para 6% a.a., com base na Medida Provisória
1.577/97. Por fim, insurge-se contra a condenação em juros moratórios. Decido. O Acórdão
recorrido harmoniza-se com a jurisprudência deste Tribunal de que a área referente à
reserva florestal Serra do Mar deve ser indenizada, não obstante a limitação administrativa
inerente a tal propriedade v.g., RE 267.817, Corrêa, RTJ 184/322; e RE 134.297, Celso,
RTJ 158/205, assim ementado: RECURSO EXTRAORDINÁRIO - ESTAÇÃO
ECOLÓGICA - RESERVA FLORESTAL NA SERRA DO MAR - PATRIMÔNIO
NACIONAL (CF, ART. 225, §4º) - LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA QUE AFETA O
CONTEÚDO ECONÔMICO DO DIREITO DE PROPRIEDADE - DIREITO DO
PROPRIETÁRIO À INDENIZAÇÃO - DEVER ESTATAL DE RESSARCIR OS
PREJUÍZOS DE ORDEM PATRIMONIAL SOFRIDOS PELO PARTICULAR - RE NÃO
CONHECIDO. - Incumbe ao Poder Público o dever constitucional de proteger a flora e de
adotar as necessárias medidas que visem a coibir práticas lesivas ao equilíbrio ambiental.
Esse encargo, contudo, não exonera o Estado da obrigação de indenizar os proprietários
cujos imóveis venham a ser afetados, em sua potencialidade econômica, pelas limitações
impostas pela Administração Pública. - A proteção jurídica dispensada às coberturas
vegetais que revestem as propriedades imobiliárias não impede que o dominus venha a
promover, dentro dos limites autorizados pelo Código Florestal, o adequado e racional
aproveitamento econômico das árvores nelas existentes. A jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal e dos Tribunais em geral, tendo presente a garantia constitucional que
protege o direito de propriedade, firmou-se no sentido de proclamar a plena
indenizabilidade das matas e revestimentos florestais que recobrem áreas dominiais
privadas, objeto de apossamento estatal ou sujeitas a restrições administrativas impostas
pelo Poder Público. Precedentes - A circunstância de o Estado dispor de competência para
criar reservas florestais não lhe confere, só por si - considerando-se os princípios que

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tutelam, em nosso sistema normativo, o direito de propriedade -, a prerrogativa de subtrair-


se ao pagamento de indenização compensatória ao particular, quando a atividade pública,
decorrente do exercício de atribuições em tema de direito florestal, impedir ou afetar a
válida exploração econômica do imóvel por seu proprietário. - A norma inscrita no art. 225,
§4º, da Constituição, deve ser interpretada de modo harmonioso com o sistema jurídico
consagrado pelo ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula que, proclamada
pelo art. 5º, XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de propriedade em todas
as suas projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira devida pelo
Poder Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal. O preceito
consubstanciado no art. 225, §4º, da Carta da República, além de não haver convertido em
bens públicos os imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas matas nele referidas
(Mata Atlântica, Serra do Mar, Floresta Amazônica brasileira), também não impede a
utilização, pelos próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que
estejam sujeitas ao domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e
respeitadas as condições necessárias à preservação ambiental. - A ordem constitucional
dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade (CF/88, art. 5º, XXII). Essa proteção
outorgada pela Lei Fundamental da República estende-se, na abrangência normativa de sua
incidência tutelar, ao reconhecimento, em favor do dominus, da garantia de compensação
financeira, sempre que o Estado, mediante atividade que lhe seja juridicamente imputável,
atingir o direito de propriedade em seu conteúdo econômico, ainda que o imóvel particular
afetado pela ação do Poder Público esteja localizado em qualquer das áreas referidas no art.
225, §4º, da Constituição. - Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado: a
consagração constitucional de um típico direito de terceira geração (CF, art. 225,
caput).”No tocante à redução do quantum indenizatório, este foi fixado com base na análise
do laudo técnico, realizado pelo perito judicial, sendo que o Estado também apresentou
“laudo técnico divergente e complementar”. A esse respeito, lê-se no Acórdão recorrido (f.
931): “A indenização foi fixada com critério, sustentando-se, à larga, no laudo do perito
cuja validade técnica e específica não chegou a ser infirmada ou mesmo discutida de forma
convincente (R$ 13.199.765,27 - XII/96, sendo R$ 779. 483,65 pela terra nua e R$
12.420.281,62 pela vegetação que a recobre. (...) Ainda no que tange ao preço, é de ficar
consignado que não há falar em ilegitimidade da parte ativa, quanto à parcela relativa às
margens dos rios Branco e Cambory (Decreto 24.643, de 1.934 e Súmula nº 479 do STF)
que banham o imóvel, à míngua de prova de que sejam navegáveis, conforme asserto do
poder público que o perito e as fotos que instruem o laudo em absoluto confirmam (fls. 338
e 343)”. Para divergir do Tribunal a quo e reduzir o valor da indenização, seria necessário
o reexame de fatos e provas, ao que não se presta o RE (Súmula 279). Quanto à condenação
aos juros compensatórios e moratórios, o Acórdão recorrido decidiu com base na
jurisprudência do STJ, baseada em legislação infraconstitucional: Incide, no ponto, a
Súmula 636. Nego seguimento ao Recurso Extraordinário (art. 557, caput, C. Pr.
Civil).Brasília, 23 de agosto de 2006. Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE - Relator [RE
471.110 AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 14-11-2006, 1ª T, DJ de 7-12-2006.] (gn)

No ano de 2017, o Supremo Tribunal Federal novamente instado julgou o quinto processo,
dessa vez, em sede de Controle de Constitucionalidade, na ADI nº 4269/DF, cujo Relator foi o
Ministro Edson Fachin. Julgamento realizado em 18.10.2017, tendo como base o §4º do art. 225 da
Constituição Federal, porque conheceu, em parte, na ação direta de inconstitucionalidade e, por
maioria, julgou parcialmente procedente o pedido para aplicar a técnica da interpretação conforme
a Constituição, sem redução de texto.
O Supremo Tribunal Federal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, conheceu
da ação quanto aos arts. 4º, §2º, e 13 da Lei nº 11.952/2009, assentando o prejuízo da pretensão
relativa ao art. 15, I, §§2º, 4º e 5º da mesma Lei.

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Na parte conhecida, o Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou
parcialmente procedente a ação para: i) que se confira ao artigo 4º, §2º, da Lei nº 11.952/2009
interpretação conforme a Constituição, sem redução de texto, a fim de afastar qualquer interpretação
que permita a regularização fundiária das terras públicas ocupadas por quilombolas e outras
comunidades tradicionais da Amazônia Legal em nome de terceiros ou de modo a descaracterizar o
modo de apropriação da terra por esses grupos; ii) que se confira interpretação conforme o disposto
no artigo 13 da Lei nº 11.952/2009, de modo a afastar quaisquer interpretações que concluam pela
desnecessidade de fiscalização dos imóveis rurais de até quatro módulos fiscais, de forma que o ente
federal deve utilizar-se de todos os meios referidos em suas informações para assegurar a devida
proteção ambiental e a concretização dos propósitos da norma, para, somente então, ser possível a
dispensa da vistoria prévia, como condição para a inclusão da propriedade no Programa de
Regularização Fundiária de Imóveis Rurais de domínio público na Amazônia Legal.
Vencidos o Ministro Marco Aurélio, que acompanhava o Relator quanto ao conhecimento
da ação, mas, na parte conhecida, julgava-a improcedente e, em parte, o Ministro Alexandre de
Moraes, quanto à parte do voto do Relator referente ao art. 13 da Lei nº 11.952/2009, ao entender
pela presunção iuris tantum da boa-fé da declaração do ocupante do imóvel, no que foi
acompanhado, no ponto, pelo Ministro Gilmar Mendes. Impedido o Ministro Dias Toffoli. Falou
pelo Presidente da República e pelo Congresso Nacional a Ministra Grace Maria Fernandes
Mendonça, Advogada-Geral da União. Presidiu o julgamento a Ministra Cármen Lúcia. Plenário,
18.10.2017. A ação foi proposta pela Procuradoria-Geral da República, em face do Sr. Presidente da
República e do Congresso Nacional, contendo a seguinte ementa:

DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO -


DOMÍNIO PÚBLICO - AMAZÔNIA LEGAL E REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA. O
Plenário conheceu em parte de ação direta de inconstitucionalidade e, por maioria, julgou
parcialmente procedente o pedido para aplicar a técnica da interpretação conforme a
Constituição, sem redução de texto: a) ao §2º (1) do art. 4º da Lei 11.952/2009, a fim de
afastar qualquer entendimento que permita a regularização fundiária das terras públicas
ocupadas por quilombolas e outras comunidades tradicionais da Amazônia Legal em nome
de terceiros ou de forma a descaracterizar o modo de apropriação da terra por esses grupos;
e b) ao art. 13 (2) do mesmo diploma, a fim de afastar quaisquer interpretações que
concluam pela desnecessidade de fiscalização dos imóveis rurais até quatro módulos
fiscais, devendo o ente federal utilizar-se de todos os meios referidos em suas informações
para assegurar a devida proteção ambiental e a concretização dos propósitos da norma, para,
somente então, ser possível a dispensa da vistoria prévia, como condição para a inclusão da
propriedade no programa de regularização fundiária de imóveis rurais de domínio público
na Amazônia Legal. De início, o Colegiado assentou o prejuízo da pretensão relativa ao art.
15, I, §§ 2º, 4º e 5º, da Lei 11.952/2009 por perda do objeto, tendo em vista a superveniência
da Lei nº13.465/2017, que alterou substancialmente o inciso I e o § 2º do art. 15 e revogou
os §§ 4º e 5º. Assim, conheceu do pleito apenas no tocante ao §2º do art. 4º e ao art. 13 da
Lei 11.952/2009. Reportou-se à jurisprudência do Supremo Tribunal no sentido de que
incumbe ao Estado e à própria coletividade a especial obrigação de defender e preservar,
em benefício das presentes e futuras gerações, o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado. A correta política pública procura reduzir a desigualdade social e promover o

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desenvolvimento sustentável da região, possibilitando o acesso às políticas de moradia,


crédito rural, assistência técnica e extensão rural, dependentes da regularização do título ou
da posse ou da propriedade para se concretizar. Relativamente ao §2º do art. 4º, o Plenário
entendeu que se abriu a possibilidade para exegese que permita a terceiros - não integrantes
dos grupos identitários de remanescentes de quilombos e comunidades tradicionais - ter
acesso a essas terras, se comprovados os demais requisitos para a regularização fundiária.
A Constituição, nos arts. 216 (4) do texto permanente e 68 (5) do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT), defere especial proteção aos territórios ocupados
pelas comunidades com modos tradicionais de criar, fazer e viver e pelos remanescentes
quilombolas. Extraiu a conceituação de comunidade quilombola do art. 2º do Decreto nº
4.887/2003 e a das comunidades tradicionais do art. 3º do Decreto 6.040/2007 — que
instituiu a Política de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades
Tradicionais. Ambas as regras se encontram no âmbito de tutela especial abarcado pela
Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho sobre Povos Indígenas e Tribais,
internalizada pelo Decreto nº 5.051/2004. A questão central, no que concerne à
caracterização das comunidades tradicionais e de sua espécie quilombola, é a terra. Eles
mantêm uma relação com a terra que é mais do que posse ou propriedade. É uma relação
de identidade entre a comunidade e sua terra, que recebe especial atenção na Constituição
e nos compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro. Essa tutela,
entretanto, não se verifica no dispositivo legal em análise. Mostra-se deficiente a proteção
conferida pelo §2º do art. 4º da Lei nº 11.952/2009, sendo preciso dar à norma interpretação
de acordo com os ditames constitucionais de forma a assegurar, em sua correta e máxima
efetividade, a garantia dos direitos territoriais dessas comunidades. A respeito das
comunidades remanescentes de quilombos, a Constituição assegura-lhes a propriedade das
terras que ocupam tradicionalmente. O Decreto 4.887/2003, apontado pela União como
norma específica em relação aos quilombolas, não trata de procedimento de regularização
fundiária de terras da União. Sobre as demais comunidades tradicionais, não há norma
específica para a regularização de terras públicas por elas ocupadas, porque o Decreto nº
6.040/2007 não dispõe sobre a delimitação e demarcação de terras a essa população. Logo,
a Lei nº 11.952/2009, que seria de aplicação apenas subsidiária a esses grupos, passava a
ser de aplicação cogente, porquanto não era derrogada por qualquer outra, colocando em
risco o exercício dos direitos a eles resguardados constitucionalmente. Além disso, o
estatuto legal impugnado destina-se a promover a titulação de terras a proprietários
individuais, consoante se infere de seu art. 5º, que cuida da regularização da ocupação ao
próprio ocupante, seu cônjuge ou companheiro. Acontece que a propriedade de terras
ocupadas pelas citadas comunidades é de feição coletiva e, sem a garantia de um tratamento
específico, possibilita-se a não observância dessa característica. Noutro passo, quanto ao
art. 13 da Lei nº 11.952/2009, o Colegiado compreendeu que o direito ao meio ambiente
equilibrado foi garantido a todos, de modo difuso, pelo texto constitucional, em seu art.
225, caput. Sendo assim, deve o legislador tornar certa a máxima efetividade dos direitos
fundamentais, vedado, de toda maneira, proteção insuficiente à segurança desses direitos.
Os direitos fundamentais não podem ser tidos somente como proibições de intervenção,
expressam, ainda, um postulado de proteção. Pode-se dizer que os direitos fundamentais
expressam não apenas uma proibição do excesso, como também podem ser traduzidos
como proibições de proteção insuficiente ou imperativos de tutela. A tutela desse direito
seria fragilizada diante da simples dispensa da vistoria prévia nos imóveis de até quatro
módulos fiscais, se apenas essa medida fosse eleita para a verificação do cumprimento dos
requisitos legais para a titulação do domínio ou concessão de direito real de uso. Um exame
mais aprofundado da questão posta desautorizaria simples conclusão pela retirada da norma
do ordenamento jurídico. O Tribunal conjugou os interesses sensíveis que o problema da
dispensa da vistoria prévia colocou. A ausência do laudo de vistoria assumiu maior
gravidade após a Lei nº 13.465/2017, que modificou vários dispositivos da Lei nº
11.952/2009. Com efeito, se antes a União se ancorava também na realização de vistoria
final para a concessão definitiva do título de domínio ou do termo de concessão de uso,
agora, a nova redação conferida ao art. 16 não mais previa referida exigência,
comprovando-se o cumprimento das cláusulas resolutivas pela juntada de documentação
pertinente, ou seja, os imóveis de até quatro módulos fiscais, via de regra, não passariam
por qualquer vistoria no processo de regularização fundiária. O reconhecimento de sua
inconstitucionalidade, contudo, não podia levar ao comprometimento dos propósitos dessa
legislação. Foi necessário encontrar um ponto de equilíbrio entre a eficiência na
fiscalização dessas pequenas propriedades a serem regularizadas e a proteção do meio

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ambiente amazônico, de forma a assegurar a real possibilidade de melhoria na qualidade de


vida das pessoas que retiravam da floresta seu sustento e colaboravam para a manutenção
do desenvolvimento sustentável da região. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que
acompanhou o Relator quanto ao conhecimento da ação, mas, na parte conhecida,
considerou-a improcedente. Vencido, em parte, o Ministro Alexandre de Moraes, com
relação ao decidido sobre o art. 13, ao entender pela presunção iuris tantum da boa-fé da
declaração do ocupante do imóvel, no que foi acompanhado pelo Ministro Gilmar Mendes.
(1) Lei nº 11.952/2009: “Art. 4o Não serão passíveis de alienação ou concessão de direito
real de uso, nos termos desta Lei, as ocupações que recaiam sobre áreas: (...) §2o As terras
ocupadas por comunidades quilombolas ou tradicionais que façam uso coletivo da área
serão regularizadas de acordo com as normas específicas, aplicando-se-lhes, no que couber,
os dispositivos desta Lei.” (2) Lei nº 11.952/2009: “Art. 13. Os requisitos para a
regularização fundiária dos imóveis de até 4 (quatro) módulos fiscais serão averiguados por
meio de declaração do ocupante, sujeita à responsabilização nas esferas penal,
administrativa e civil, dispensada a vistoria prévia. Parágrafo único. É facultado ao
Ministério do Desenvolvimento Agrário ou, se for o caso, ao Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão determinar a realização de vistoria de fiscalização do imóvel rural na
hipótese prevista no caput deste artigo.” (3) CF/1988: “Art. 225. Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (...) §4º A Floresta Amazônica brasileira,
a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são
patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que
assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.”
(4) CF/1988: “Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira,
nos quais se incluem: (...) II - os modos de criar, fazer e viver;” (5) ADCT: “Art. 68. Aos
remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é
reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.”
ADI 4269/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 18.10.2017. (ADI-4269) (gn)

A Suprema Corte brasileira analisou, em cinco ocasiões especificas, questões que


envolviam o direito ambiental, o direito de propriedade, as possíveis limitações administrativas ao
direito de propriedade, tendo como referência o comando normativo inserto no §4º do art. 225 da
CF, para análise e efetivação das controvérsias jurídicas em julgamento.
De acordo com Machado (2008, p. 173):

O Supremo Tribunal Federal entende que essas áreas não se transformaram em bens da
União por serem chamadas de patrimônio nacional. Além disso, nada impede utilização,
pelos próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam
sujeitas ao domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as
condições necessárias à preservação ambiental.

O Supremo Tribunal Federal, com base nesses Julgados, reconheceu o direito ambiental
como um instrumento finalístico de proteção aos ecossistemas que foram referenciados na CF/1988.
A norma inscrita no art. 225, §4º, da Constituição, deve ser interpretada de modo harmonioso com
o sistema jurídico consagrado pelo ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula que,
proclamada pelo art. 5º, XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de propriedade em

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todas as suas projeções, inclusive a concernente à compensação financeira devida pelo Poder
Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal.
O preceito consubstanciado no art. 225, §4º, da CF, além de não haver convertido em bens
públicos os imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas matas nele referidas, Mata
Atlântica, Serra do Mar, Zona Costeira e Floresta Amazônica brasileira, também não impede a
utilização, pelos próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam
sujeitas ao domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as condições
necessárias à conservação ambiental.
A ordem constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade (CF/88, art. 5º,
XXII). Esses julgados são importantes, porque mostram como o Supremo Tribunal Federal
interpreta o dispositivo objeto desta pesquisa.

4.2 O ART. 225, §4º DA CF PARA O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA


No âmbito do Superior Tribunal de Justiça, após pesquisa realizada em sua página eletrônica,
até a data da digitação desta pesquisa, foi constatado um número total de dezesseis Acórdãos fazendo
referência ao artigo 225, §4º da Constituição Federal. O ano de 2002 é o marco histórico a partir do
qual o dispositivo aparece pela primeira vez na Jurisprudência do STJ.
Trata-se do Recurso Especial nº 1109778/SC, cujo Relator foi o Ministro Herman Benjamin.
O artigo 225, § 4º da Constituição Federal é citado como base legal para fundamentar que os
recursos naturais do Bioma Mata Atlântica podem ser explorados, desde que respeitadas as
prescrições da legislação, necessárias à salvaguarda da vegetação nativa, na qual se encontram
várias espécies da flora e fauna ameaçadas de extinção, porque o direito de propriedade é assegurado
no Código Civil de 2002 (art. 1.228, caput), por contemplar a faculdade de "usar, gozar e dispor da
coisa", núcleo econômico do direito de propriedade, condicionada à estrita observância, pelo
proprietário atual, da obrigação propter rem de proteger a flora, a fauna, as belezas naturais, o
equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, assim como evitar a poluição do ar e das
águas.

REsp 1109778 / SC RECURSO ESPECIAL 2008/0282805-2 Relator (a) Ministro


HERMAN BENJAMIN (1132) Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA Data do
Julgamento 10/11/2009 Data da Publicação/Fonte DJe 04/05/2011 RSTJ vol. 237 p. 164
Ementa PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE PRÉ-
QUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. MATA ATLÂNTICA. DECRETO 750/1993.
LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. ART. 1.228,
CAPUT E PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. 1. É inadmissível
Recurso Especial quanto à questão que, a despeito da oposição de Embargos Declaratórios,
não foi apreciada pelo Tribunal de origem. Incidência da Súmula 211/STJ. 2. Ressalte-se,
inicialmente, que a hipótese dos Autos não se refere a pleito de indenização pela criação de
Unidades de Conservação (Parque Nacional ou Estadual, p. ex.), mas em decorrência da

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edição de ato normativo stricto sensu (Decreto Federal), de observância universal para
todos os proprietários rurais inseridos no Bioma da Mata Atlântica. 3. As restrições ao
aproveitamento da vegetação da Mata Atlântica, trazidas pelo Decreto nº 750/93,
caracterizam, por conta de sua generalidade e aplicabilidade a todos os imóveis incluídos
no bioma, limitação administrativa, o que justifica o prazo prescricional de cinco anos, nos
moldes do Decreto nº 20.910/1932. Precedentes do STJ. 4. Hipótese em que a Ação foi
ajuizada somente em 21.3.2007, decorridos mais de dez anos do ato do qual originou o
suposto dano (Decreto 750/1993), o que configura a prescrição do pleito do recorrente. 5.
Assegurada no Código Civil de 2002 (art. 1.228, caput), a faculdade de "usar, gozar e dispor
da coisa", núcleo econômico do direito de propriedade, está condicionada à estrita
observância, pelo proprietário atual, da obrigação propter rem de proteger a flora, a fauna,
as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como
evitar a poluição do ar e das águas (parágrafo único do referido artigo). 6. Os recursos
naturais do Bioma Mata Atlântica podem ser explorados, desde que respeitadas as
prescrições da legislação, necessárias à salvaguarda da vegetação nativa, na qual se
encontram várias espécies da flora e fauna ameaçadas de extinção. 7. Nos regimes
jurídicos contemporâneos, os imóveis - rurais ou urbanos - transportam finalidades
múltiplas (privadas e públicas, inclusive ecológicas), o que faz com que sua utilidade
econômica não se esgote em um único uso, no melhor uso e, muito menos, no mais lucrativo
uso. A ordem constitucional legal brasileira não garante ao proprietário e ao empresário o
máximo retorno financeiro possível dos bens privados e das atividades exercidas. 8.
Exigências de sustentabilidade ecológica na ocupação e utilização de bens econômicos
privados não evidenciam apossamento, esvaziamento ou injustificada intervenção pública.
Prescrever que indivíduos cumpram certas cautelas ambientais na exploração de seus
pertences não é atitude discriminatória, tampouco rompe com o princípio da isonomia,
mormente porque ninguém é confiscado do que não lhe cabe no título ou senhorio. 9. Se o
proprietário ou possuidor sujeita-se à função social e à função ecológica da propriedade,
despropositado alegar perda indevida daquilo que, no regime constitucional e legal vigente,
nunca deteve, isto é, a possibilidade de utilização completa, absoluta, ao estilo da terra
arrasada, da coisa e de suas virtudes naturais. Ao revés, quem assim proceder estará
apoderando-se ilicitamente (uso nocivo ou anormal da propriedade) de atributos públicos
do patrimônio privado (serviços e processos ecológicos essenciais), que são "bem de uso
comum do povo", nos termos do art. 225, caput, da Constituição de 1988. 10. Finalmente,
observe-se que há notícia de decisão judicial transitada em julgado, em Ação Civil Pública,
que também impõe limites e condições à exploração de certas espécies da Mata Atlântica,
consideradas ameaçadas de extinção. 11. Recurso Especial parcialmente conhecido e não
provido. Acórdão Vistos, relatados e discutidos os Autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça:
"Prosseguindo-se no julgamento, após o voto-vista da Sr.a Ministra Eliana Calmon,
acompanhando o Sr. Ministro Herman Benjamin, a Turma, por unanimidade, conheceu em
parte do recurso e, nessa parte, negou-lhe provimento, nos termos do voto do (a) Sr (a).
Ministro (a)-Relator (a)." Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Eliana Calmon
(voto-vista), Castro Meira e Humberto Martins votaram com o Sr. Ministro Relator. (g.n.)

O segundo Acórdão, examinado no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, cuida do Agravo


Regimental nº 1119468/SP, julgado pela Primeira Turma em 22 de setembro de 2009, tendo como
Relator o Ministro Luiz Fux e cujo objeto foi Agravo Regimental ao Recurso Especial, que discutiu
a criação do Parque Estadual da Serra do Mar, por intermédio do Decreto nº 10.251/77, do Estado
de São Paulo, por não ter acrescentado qualquer limitação àquelas preexistentes engendradas em
outros atos normativos (Código Florestal, Lei do Parcelamento do Solo Urbano), que já vedavam a
utilização indiscriminada da propriedade. O Acórdão faz uma breve menção sobre o Bioma Serra
do Mar, apenas de forma esparsa e a título de reprodução do disposto no artigo 225, §4º, da
Constituição Federal, de forma que, por isso, se faz necessário citar a sua Ementa.

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AgRg no REsp 1119468 / SP AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL


2009/0013752-9 Relator (a) Ministro LUIZ FUX (1122) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA
TURMA Data do Julgamento 22/09/2009 Data da Publicação/Fonte DJe 14/10/2009
Ementa AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL.
ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DESAPROPRIAÇÃO
INDIRETA. PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO MAR (DECRETO ESTADUAL
10.251/77). LIMITAÇÕES ADMINISTRATIVAS DE CARÁTER GERAL. FUNÇÃO
SOCIAL DA PROPRIEDADE. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. IMPOSSIBILIDADE DE
INDENIZAÇÃO. PRECEDENTES DO STJ - ERES P. 209297/SP, DJ. 13.08.2007. 1. A
criação do Parque Estadual da Serra do Mar, por intermédio do Decreto 10.251/77, do
Estado de São Paulo, não acrescentou qualquer limitação àquelas preexistentes
engendradas em outros atos normativos (Código Florestal, Lei do Parcelamento do Solo
Urbano), que já vedavam a utilização indiscriminada da propriedade. Precedentes: RESP
257.970/SP, Relator Ministro Francisco Falcão, DJde 13.03.2006; AgRg no RESP
610158/SP, Relatora Ministra Denise Arruda, DJ de 10.04.2006 e RESP 442.774/SP,
Relator Ministro Teori Zavascki, DJ de 20.06.2005. 2. Consectariamente, à luz do
entendimento predominante desta Corte, revela-se indevida indenização em favor dos
proprietários dos terrenos atingidos pelo ato administrativo sub examine - Decreto nº
10.251/77, do Estado de São Paulo, que criou o Parque Estadual da Serra do Mar -
salvo comprovação pelo proprietário, mediante o ajuizamento de ação própria, em
face do Estado de São Paulo, que o mencionado Decreto acarretou limitação
administrativa mais extensa do que aquelas já existentes à época da sua edição. 3. É
inadmissível a propositura de ação indenizatória na hipótese em que a aquisição do imóvel
objeto da demanda tiver ocorrido após a edição dos atos normativos que lhe impuseram as
limitações supostamente indenizáveis, como ocorrera, in casu, com os Decretos Estaduais
n. 10.251/1977 e n. 19.448/1982 de preservação da Serra do Mar. Precedente: EREsp n.o
254.246-SP, Primeira Seção, Rel. Min. Eliana Calmon, Rel. para Acórdão Min. João Otávio
Noronha, julgados em 13/12/2006. 4. Recurso especial a que se nega seguimento,
porquanto manifestamente improcedente (art. 557 do CPC). 5. Agravo regimental
desprovido. Acórdão Vistos, relatados e discutidos estes Autos, os Ministros da
PRIMEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos
e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao Agravo
Regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Teori Albino
Zavascki, Benedito Gonçalves e Hamilton Carvalhido votaram com o Sr. Ministro Relator.
Licenciada a Sr.a Ministra Denise Arruda. (g.n.)

O terceiro Acórdão examinado foi o do Recurso Especial nº 769753 / SC, julgado pela
Segunda Turma em 8 de setembro de 2009, tendo como Relator o Ministro Herman Benjamin, cujo
objeto foi uma Ação Civil Pública, impetrada proposta pela União com a finalidade de
responsabilizar o Município de Porto Belo-SC e o particular ocupante de terreno de marinha e
promontório, por construção irregular de hotel de três pavimentos com, aproximadamente, 32
apartamentos. Merece destaque a menção da Zona Costeira, bioma contemplado no texto do artigo
225, §4º, da Constituição Federal, importante percepção jurisprudencial, porque os problemas
ambientais têm a especial característica de impactarem uma grande número de pessoas, merecendo
atenção por parte dos Poderes Públicos e de todos os indivíduos:

REsp 769753 / SC RECURSO ESPECIAL 2005/0112169-7 Relator (a) Ministro


HERMAN BENJAMIN (1132) Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA Data do
Julgamento 08/09/2009 Data da Publicação/Fonte DJe 10/06/2011 Ementa
:PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. RESPONSABILIDADE POR DANO CAUSADO AO MEIO AMBIENTE.
ZONA COSTEIRA. LEI 7.661/1988. CONSTRUÇÃO DE HOTEL EM ÁREA DE
PROMONTÓRIO. NULIDADE DE AUTORIZAÇÃO OU LICENÇA URBANÍSTICO-

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AMBIENTAL. OBRA POTENCIALMENTE CAUSADORA DE SIGNIFICATIVA


DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO
AMBIENTAL - EPIA E RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL - RIMA.
COMPETÊNCIA PARA O LICENCIAMENTO URBANÍSTICO-AMBIENTAL.
PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR (ART. 4°, VII, PRIMEIRA PARTE, DA LEI
6.938/1981). RESPONSABILIDADE OBJETIVA (ART. 14, §1°, DA LEI 6.938/1981).
PRINCÍPIO DA MELHORIA DA QUALIDADE AMBIENTAL (ART. 2°, CAPUT, DA
LEI 6.938/1981). 1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública proposta pela União com a
finalidade de responsabilizar o Município de Porto Belo-SC e o particular ocupante de
terreno de marinha e promontório, por construção irregular de hotel de três pavimentos
com, aproximadamente, 32 apartamentos. 2. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por
maioria, deu provimento às Apelações da União e do Ministério Público Federal para julgar
procedente a demanda, acolhendo os Embargos Infringentes, tão só para eximir o
proprietário dos custos com a demolição do estabelecimento. 3. Incontroverso que o hotel,
na Praia da Encantada, foi levantado em terreno de marinha e promontório, este último um
acidente geográfico definido como "cabo formado por rochas ou penhascos altos"
(Houaiss). Afirma a União que a edificação se encontra, após aterro ilegal da área,
"rigorosamente dentro do mar", o que, à época da construção, inclusive interrompia a livre
circulação e passagem de pessoas ao longo da praia. 4. Nos exatos termos do Acórdão da
Apelação (grifo no original): “O empreendimento em questão está localizado, segundo
consta do próprio laudo pericial às fls. 381-386, em área chamada promontório. Esta área
é considerada de preservação permanente pela legislação do Estado de Santa Catarina por
meio da Lei n° 5.793/80 e do Decreto n° 14.250/81, bem como pela legislação municipal
(Lei Municipal n° 426/84)”. 5. Se o Tribunal de origem se baseou em informações de fato
e na prova técnica dos Autos (fotografias e laudo pericial) para decidir a) pela
caracterização da obra ou atividade em questão como potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente - de modo a exigir o Estudo Prévio de Impacto
Ambiental (Epia) e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) - e b) pela natureza nona
edificandi da área em que se encontra o hotel (fazendo-o também com fulcro em norma
municipal, art. 9°, item 7, da Lei nº 426/1984, que a classifica como "Zona de Preservação
Permanente", e em legislação estadual, Lei nº 5.793/1980 e Decreto nº 14.250/1981),
interditado está ao Superior Tribunal de Justiça rever tais conclusões, por óbice das
Súmulas 7/STJ e 280/STF. 6. É inválida, ex tunc, por nulidade absoluta decorrente de vício
congênito, a autorização ou licença urbanístico-ambiental que ignore ou descumpra as
exigências estabelecidas por lei e atos normativos federais, estaduais e municipais, não
produzindo os efeitos que lhe são ordinariamente próprios (quod nullum est nullum producit
effectum), nem admitindo confirmação ou convalidação. 7. A Lei 7.661/1988, que instituiu
o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, previu, entre as medidas de conservação e
proteção dos bens de que cuida, a elaboração de Estudo Prévio de Impacto Ambiental –
Epia, acompanhado de seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental - Rima. 8. Mister
não confundir prescrições técnicas e condicionantes que integram a licença urbanístico-
ambiental (= o posterius) com o próprio Epia/Rima (= o prius), porquanto este deve,
necessariamente, anteceder aquela, sendo proibido, diante da imprescindibilidade de
motivação jurídico-científica de sua dispensa, afastá-lo de forma implícita, tácita ou
simplista, vedação que se justifica tanto para assegurar a plena informação dos interessados,
inclusive da comunidade, como para facilitar o controle administrativo e judicial da decisão
em si mesma. 9. Indubitável que seria, no plano administrativo, um despropósito
prescrever que a União licencie todo e qualquer empreendimento ou atividade na
Zona Costeira nacional. Incontestável também que ao Órgão ambiental estadual e
municipal falta competência para, de maneira solitária e egoísta, exercer uma
prerrogativa - universal e absoluta - de licenciamento ambiental no litoral, negando
relevância, na fixação do seu poder de polícia licenciador, à dominialidade e
peculiaridades do sítio (como áreas representativas e ameaçadas dos ecossistemas da
Zona Costeira, existência de espécies migratórias em risco de extinção, terrenos de
marinha, manguezais), da obra e da extensão dos impactos em questão,
transformando em um nada fático-jurídico eventual interesse concreto manifestado
pelo Ibama e outros Órgãos federais envolvidos (Secretaria do Patrimônio da União,
p. ex.). 10. O Decreto Federal nº 5.300/2004, que regulamenta a Lei nº 7.661/1988, adota
como "princípios fundamentais da gestão da Zona Costeira" a "cooperação entre as esferas
de governo" (por meio de convênios e consórcios entre União, Estados e Municípios, cada
vez mais comuns e indispensáveis no campo do licenciamento ambiental), bem como a

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"precaução" (art. 5°, XI e X, respectivamente). Essa postura precautória, todavia, acaba


esvaziada, sem dúvida, quando, na apreciação judicial posterior, nada mais que o fato
consumado da degradação ambiental é tudo o que sobra para examinar, justamente por
carência de diálogo e colaboração entre os Órgãos ambientais e pela visão monopolista-
exclusivista, territorialista mesmo, da competência de licenciamento. 11. Pacífica a
jurisprudência do STJ de que, nos termos do art. 14, § 1°, da Lei nº 6.938/1981, o
degradador, em decorrência do princípio do poluidor-pagador, previsto no art. 4°, VII
(primeira parte), do mesmo Estatuto, é obrigado, independentemente da existência de culpa,
a reparar - por óbvio que às suas expensas, - todos os danos que cause ao meio ambiente e
a terceiros afetados por sua atividade, sendo prescindível perquirir acerca do elemento
subjetivo, o que, consequentemente, torna irrelevante eventual boa ou má-fé para fins de
acertamento da natureza, conteúdo e extensão dos deveres de restauração do status quo ante
ecológico e de indenização. 12. Ante o princípio da melhoria da qualidade ambiental,
adotado no Direito brasileiro (art. 2°, caput, da Lei nº 6.938/81), inconcebível a proposição
de que, se um imóvel, rural ou urbano, se encontra em região já ecologicamente deteriorada
ou comprometida por ação ou omissão de terceiros, dispensável ficaria sua preservação e
conservação futuras (e, com maior ênfase, eventual restauração ou recuperação). Tal tese
equivaleria, indiretamente, a criar um absurdo cânone de isonomia aplicável a pretenso
direito de poluir e degradar: se outros, impunemente, contaminaram, destruíram, ou
desmataram o meio ambiente protegido, que a prerrogativa valha para todos e a todos
beneficie. 13. Não se pode deixar de registrar, em obiter dictum, que causa no mínimo
perplexidade, o fato de que, segundo consta do Aresto recorrido, o Secretário de
Planejamento Municipal e Urbanismo, Carlos Alberto Brito Loureiro, a quem coube assinar
o Alvará de Construção, é o próprio engenheiro responsável pela obra do hotel. 14. Recurso
Especial de Mauro Antônio Molossi não provido. Recursos Especiais da União e do
Ministério Público Federal providos. Acórdão Vistos, relatados e discutidos os Autos em
que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior
Tribunal de Justiça: "A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso do
particular e deu provimento aos recursos da União e Ministério Público Federal, nos termos
do voto do (a) Sr (a). Ministro (a) Relator (a)." Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques,
Eliana Calmon, Castro Meira e Humberto Martins votaram com o Sr. Ministro Relator.
(g.n.)

O quarto Acórdão analisado foi o Recurso Especial nº 1090622 /SC, julgado pela Segunda
Turma em 25 de agosto de 2009, tendo como Relator o Ministro Herman Benjamin, cujo objetivo
foi analisar a ocorrência de prescrição quinquenal referente às restrições ao aproveitamento da
vegetação da Mata Atlântica, trazidas pelo Decreto nº 750/1993, que caracterizam limitação
administrativa e não desapropriação indireta e, assim, verificar se aplica o prazo prescricional de
cinco anos, nos moldes do Decreto nº 20.910/1932. Por isso, não trouxe maiores elementos teóricos
úteis aos objetivos desta pesquisa.

REsp 1090622 / SC RECURSO ESPECIAL 2008/0213981-3 Relator (a) Ministro


HERMAN BENJAMIN (1132) Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA Data do
Julgamento 25/08/2009 Data da Publicação/Fonte DJe 31/08/2009 Ementa PROCESSUAL
CIVIL E ADMINISTRATIVO. MATA ATLÂNTICA. DECRETO 750/1993.
LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. 1. As restrições ao
aproveitamento da vegetação da Mata Atlântica, trazidas pelo Decreto 750/1993,
caracterizam limitação administrativa e não desapropriação indireta, razão pela qual se
aplica o prazo prescricional de cinco anos, nos moldes do Decreto 20.910/1932.
Precedentes do STJ. 2. Hipótese em que a Ação foi ajuizada somente em 27.2.2007,
decorridos mais de dez anos do ato do qual se originou o suposto dano (Decreto 750/1993),
o que configura a prescrição do pleito dos autores. 3. Recurso Especial provido. Acórdão.
Vistos, relatados e discutidos os Autos em que são partes as acima indicadas, acordam os
Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça: "A Turma, por unanimidade,
deu provimento ao recurso, nos termos do voto do (a) Sr (a). Ministro (a)-Relator (a)." Os

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Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Eliana Calmon, Castro Meira e Humberto
Martins votaram com o Sr. Ministro Relator. Notas Tema: meio ambiente. Discussão
doutrinária: Proteção da Mata Atlântica, segundo o Decreto 750/1993 e legislação
superveniente. Informações Complementares: PROIBIÇÃO, EXPLORAÇÃO E
SUPRESSÃO, MATA ATLÂNTICA, EM RECUPERAÇÃO, COM EXCEÇÃO,
HIPÓTESE, UTILIDADE PÚBLICA, E, INTERESSE SOCIAL / OBSERVÂNCIA,
ARTIGO, DECRETO, 1993. POSSIBILIDADE, EXPLORAÇÃO FLORESTAL,
COM SELEÇÃO, FLORA NATIVA, MATA ATLÂNTICA / OBSERVÂNCIA,
ARTIGO, DECRETO, 1993, SOBRE NECESSIDADE, PRESERVAÇÃO, MEIO
AMBIENTE E ARTIGO, LEI FEDERAL, 2006, SOBRE PREENCHIMENTO,
REQUISITO, ÓRGÃO PÚBLICO AMBIENTAL, ÂMBITO, ESTADO. (g.n.)

O quinto Ácórdão pesquisado foi o Conflito de Competência nº 99294/RO, julgado pela


Terceira Seção em 12 de agosto de 2009, tendo como Relatora a Ministra Maria Thereza de Assis
Moura. Trata-se de conflito negativo de competência que declarou competente o Suscitante, Juízo
de Direito da 1a Vara de Cerejeiras - RO.
Nesse Acórdão, conclui-se que não há de se confundir patrimônio nacional com bem da
União. Tem-se que, inobstante a competência da Justiça Estadual para processar e julgar os crimes
ambientais, as ações penais que forem geradas por meio de acusação apurada e investigada pelo
IBAMA, o qual fiscalizou o réu, autuou e lavrou contra ele os Autos de Infração, devem ser
processadas e julgadas pela Justiça Federal, em razão do interesse da Autarquia Federal na solução
do processo criminal.
Dessa forma, patente a ofensa aos interesses da Autarquia Federal que teve suas
determinações desconsideradas pelo réu. É inegável o relevante interesse federal porque a área em
questão consiste na caracterização do Bioma Amazônia (Floresta Amazônica), que compreende
98,8% (noventa e oito vírgula oito por cento) do Estado de Rondônia, considerado patrimônio
nacional pelo artigo 225, §4º, da Constituição Federal.
O patrimônio nacional é aquele de interesse de toda a nação. A conservação da Floresta
Amazônica é medida que transcende o interesse do próprio Estado, que, inegavelmente, também o
tem, passando a interessar a toda a Federação, representada pela União Federal. Assim sendo,
inequívoca a ofensa a interesse de autarquia federal, o que, por consequência, resulta em atrair a
competência da Justiça Federal. Aquela locução revela proclamação de defesa de interesses do
Brasil diante de eventuais ingerências estrangeiras conforme o seguinte trecho da ementa:

CC 99294 / RO CONFLITO DE COMPETÊNCIA 2008/0220610-5 Relator (a) Ministra


MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (1131) Órgão Julgador S3 - TERCEIRA SEÇÃO
Data do Julgamento 12/08/2009 Data da Publicação/Fonte DJe 21/08/2009 Ementa
PROCESSO PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA.
DESMATAMENTO. FLORESTA AMAZÔNICA. DANO OCORRIDO EM
PROPRIEDADE PRIVADA. ÁREA DE PARQUE ESTADUAL. COMPETÊNCIA
ESTADUAL. 1. Não há que se confundir patrimônio nacional com bem da União. Aquela
locução revela proclamação de defesa de interesses do Brasil diante de eventuais
ingerências estrangeiras. Tendo o crime de desmatamento ocorrido em propriedade

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particular, área que já pertenceu - hoje não mais - a Parque Estadual, não há se falar em
lesão a bem da União. Ademais, como o delito não foi praticado em detrimento do IBAMA,
que apenas fiscalizou a fazenda do réu, ausente prejuízo para a União. 2. Conflito conhecido
para julgar competente o JUÍZO DE DIREITO DA 1a VARA DE CEREJEIRAS - RO,
suscitante. Acórdão Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça: A
Seção, por unanimidade, conheceu do conflito e declarou competente o Suscitante, Juízo
de Direito da 1a Vara de Cerejeiras - RO, nos termos do voto da Sr.a Ministra Relatora.
Votaram com a Relatora os Srs. Ministros Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi, Og
Fernandes, Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP), Haroldo Rodrigues
(Desembargador convocado do TJ/CE), Nilson Naves, Félix Fischer e Arnaldo Esteves
Lima. Presidiu o julgamento a Sr.a Ministra Laurita Vaz. Cuida-se de conflito negativo de
competência suscitado pelo JUÍZO DE DIREITO DA 1a VARA DE CEREJEIRAS - RO,
nos Autos da ação penal promovida contra ROBERTO DE MÁRIO CALDAS, pela suposta
prática do delito de desmatamento, em face do JUÍZO FEDERAL DA VARA DE JI-
PARANÁ - SJ/RO. O Ministério Público do Estado de Rondônia ofereceu denúncia, pois
o acusado teria, no ano de 2004, anteriormente a 17 de setembro, destruído 2.705 hectares
de floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da autoridade
competente. Ainda segundo a incoativa, os fiscais do IBAMA, ao procederem à fiscalização
de rotina na fazenda do réu, constataram que as vegetações nativas referidas foram
destruídas a "corte raso". A exordial foi recebida, o réu interrogado e concluída a instrução.
Na fase das alegações finais, o juiz estadual declinou da competência, nos seguintes termos:
O auto de fl. 09 dos Autos descreve que o réu desmatou floresta nativa de preservação
permanente sem autorização do IBAMA e o auto de fl. 13 informa que o réu utilizou fogo
para o desmate sem obediência às determinações legais. Desse modo, o fato ensejador da
persecução penal foi a constatação do IBAMA de que o acusado inobservou regulamentos
administrativos daquele Órgão, relativos à utilização de fogo para queimadas (artigo 70 da
Lei n. 9.605/98), sendo que deste descumprimento também originou um ilícito penal. Tem-
se que, inobstante a competência da Justiça Estadual para processar e julgar os crimes
ambientais, as ações penais que forem geradas por meio de acusação apurada e investigada
pelo IBAMA, o qual fiscalizou o réu, autuou e lavrou contra o mesmo autos de infração,
devem ser processadas e julgadas pela Justiça Federal, em razão do interesse da autarquia
federal na solução do processo criminal. (...) Dessa forma, patente a ofensa aos interesses
da Autarquia Federal que teve suas determinações desconsideradas pelo réu. (...) É inegável
o relevante interesse federal, isso porque a área em questão consiste na caracterização
do Bioma Amazônia (Floresta Amazônica), que compreende 98,8% (noventa e oito
vírgula oito por cento) do Estado de Rondônia, considerado patrimônio nacional pelo
artigo 225, § 4.o, da Constituição Federal. (...) O patrimônio nacional é aquele de
interesse de toda a nação. A preservação da Floresta Amazônica é medida que
transcende o interesse do próprio Estado, que inegavelmente também o tem, passando
a interessar a toda a Federação, representada pela União Federal. (...) Assim sendo,
inequívoca a ofensa a interesse de autarquia federal, o que, por consequência, resulta
em atrair a competência da Justiça Federal. (fls. 310-313). Aportando os Autos na
Justiça Federal, o Ministério Público manifestou-se pela competência da Justiça Estadual.
O Juiz Federal, então, proferiu decisão no seguinte sentido: Às fls. 322/325, o Procurador
da República requer o declínio da competência em favor da Justiça Estadual, tendo em
conta que o dano ambiental ocorreu em propriedade particular (Fazenda Mequéns). Com
razão, o representante do Órgão ministerial, pois a prática delituosa não se enquadra na
regra de competência definida no artigo 109, IV, da Constituição da República, já que os
fatos apurados não atraem a competência da Justiça Federal, uma vez que o ilícito foi
praticado em propriedade particular, de acordo com o Laudo de Exame Pericial em local
de constatação de desmatamento e degradação ambiental de fls. 205/221, mais
especificamente a fl. 213, item 3.9, segundo parágrafo, não se verificando, assim, danos a
bens da União. Desse modo, por medida de economia e celeridade processual, deixo de
suscitar conflito de competência e determino a devolução dos Autos ao Juízo da Comarca
de Cerejeiras/RO, com a respectiva baixa. (fl. 327). Repisando os termos da manifestação
anterior (transcrita acima), o juiz estadual suscita o conflito negativo de competência. O
Ministério Público Federal apresentou parecer, fls. 341-343, da lavra do Procurador
Regional da República convocado, Maurício Azevedo Gonçalves, opinando pela
competência do JUÍZO FEDERAL DA VARA DE JI-PARANÁ - SJ/RO, suscitado. É o
relatório. CONFLITO DE COMPETÊNCIA No 99.294 - RO (2008/0220610-5) EMENTA

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PROCESSO PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA.


DESMATAMENTO. FLORESTA AMAZÔNICA. DANO OCORRIDO EM
PROPRIEDADE PRIVADA. ÁREA DE PARQUE ESTADUAL. COMPETÊNCIA
ESTADUAL. 1. Não há de se confundir patrimônio nacional com bem da União. Aquela
locução revela proclamação de defesa de interesses do Brasil diante de eventuais
ingerências estrangeiras. Tendo o crime de desmatamento ocorrido em propriedade
particular, área que já pertenceu - hoje não mais - a Parque Estadual, não há se falar em
lesão a bem da União. Ademais, como o delito não foi praticado em detrimento do IBAMA,
que apenas fiscalizou a fazenda do réu, ausente prejuízo para a União. 2. Conflito conhecido
para julgar competente o JUÍZO DE DIREITO DA 1a VARA DE CEREJEIRAS - RO,
suscitante. VOTO MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (Relatora): Como
se trata de conflito de competência entre juízes vinculados a Tribunais diversos, nos moldes
do art. 105, I, d, da Constituição Federal, é o caso de se conhecer do presente feito. A
questão trazida a deslinde diz com a competência para processar e julgar o crime de
desmatamento de árvores da Floresta Amazônica, constantes de terreno objeto de
propriedade particular. A fim de se defender a competência da Justiça Federal, apontou-se
o desrespeito a determinações do IBAMA, Autarquia Federal. Ademais, a Floresta
Amazônica, compondo o patrimônio nacional, a teor do §4.o da Constituição Federal,
implicaria bem da União. Por outro lado, com o fito de se determinar a competência da
Justiça Estadual, foram trazidos à colação precedentes do Tribunal Regional Federal da
Primeira Região e do Pretório Excelso, apontando que: a) o envolvimento do IBAMA na
fiscalização do fato em tese criminoso não induz o reconhecimento da competência federal;
e, b) o delito de desmatamento praticado no âmbito de propriedade privada indicaria a
competência estadual. O suscitante transcreveu os seguintes precedentes: PENAL. CRIME
AMBIENTAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. POSSÍVEL LESÃO A
INTERESSE DE AUTARQUIA FEDERAL. - Este Superior Tribunal de Justiça já
consolidou o entendimento no sentido de que os crimes ambientas devem ser julgados, em
regra, pela Justiça Estadual, surgindo a competência da Justiça Federal apenas quando
houver configurado, em tese, violação a bens, serviços e interesses da União ou de suas
entidades autárquicas ou empresas públicas. - Instaurada a ação penal com base em auto de
apreensão lavrado por agentes do IBAMA, sendo autuados o paciente e sua empresa pelo
transporte de madeira sem a devida autorização da Autarquia Federal, resulta presente a
possível ofensa a interesse da mesma entidade pública, o que atrai a competência da Justiça
Federal para processamento do feito. – Habeas Corpus denegado. Liminar revogada. (HC
18366/PA, Rel. Ministro VICENTE LEAL, SEXTA TURMA, julgado em 05/03/2002, DJ
01/04/2002 p. 224) PENAL. CRIME AMBIENTAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
FEDERAL. POSSÍVEL LESÃO A INTERESSE DE AUTARQUIA FEDERAL. - Este
Superior Tribunal de Justiça já consolidou o entendimento no sentido de que os crimes
ambientais devem ser julgados, em regra, pela Justiça Estadual, surgindo a competência da
Justiça Federal apenas quando houver configurado, em tese, violação a bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas. - Instaurada a
ação penal com base em Auto de Apreensão lavrado por agentes do IBAMA, sendo
autuados o paciente e sua empresa pelo transporte de madeira sem a devida autorização da
autarquia federal, resulta presente a possível ofensa a interesse da mesma entidade pública,
o que atrai a competência da Justiça Federal para processamento do feito. – Habeas Corpus
denegado. Liminar revogada. (HC 18366/PA, Rel. Ministro VICENTE LEAL, SEXTA
TURMA, julgado em 05/03/2002, DJ 01/04/2002 p. 224) Já o suscitado, reportando-se à
promoção ministerial, colacionou os seguintes julgados: STF: 1. O recurso extraordinário
criminal cuida de questão que já passou pelo crivo de ambas as Turmas desta Corte, quando
se firmou o entendimento de que os crimes ambientais - no caso, o desmatamento, sem
autorização, de 2ha (dois hectares) em área de preservação permanente, de propriedade
particular (Lei nº 9.605/98, art. 38), fl. 23 - devem ser processados e julgados perante a
Justiça Estadual. O interesse genérico, mediato ou indireto da União, não é o bastante para
atrair a competência da Justiça Federal. Nesse sentido, o HC nº 81.916, rel. Min. Gilmar
Mendes, 2.a Turma, unânime, DJ de 11.10.02, assim ementado: " (1) Habeas Corpus. Crime
previsto no art. 46, parágrafo único, da Lei nº 9.605, de 1988 (Lei de Crimes Ambientais).
Competência da Justiça Comum. (2) Denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal
perante a Justiça Federal com base em auto de infração expedido pelo IBAMA. (3) A
atividade de fiscalização ambiental exercida pelo IBAMA, ainda que relativa ao
cumprimento do art. 46 da Lei de Crimes Ambientais, configura interesse genérico, mediato
ou indireto da União, para os fins do art. 109, IV, da Constituição. (4) A presença de

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interesse direto e específico da União, de suas entidades autárquicas e empresas públicas -


o que não se verifica, no caso -, constitui pressuposto para que ocorra a competência da
Justiça Federal prevista no art. 109, IV, da Constituição. (5) Habeas Corpus conhecido e
provido. Na mesma linha, pela competência da Justiça Comum Estadual, o RE 300.244,
rel. Min. Moreira Alves, 1a Turma, unânime, DJ de 19.12.2001: "Competência. Crime
previsto no artigo 46, parágrafo único, da Lei nº 9.605/98. Depósito de madeira nativa
proveniente da Mata Atlântica. Artigo 225, §4º da Constituição Federal. - Não é a
Mata Atlântica, que integra o patrimônio nacional a que alude o artigo 225, §4º, da
Constituição Federal, bem da União. - Por outro lado, o interesse da União para que
ocorra a competência da Justiça Federal prevista no artigo 109, IV, da Carta Magna
tem de ser direto e específico, e não, como ocorre no caso, interesse genérico da
coletividade, embora aí também incluído genericamente o interesse da União. -
Consequentemente, a competência, no caso, é da Justiça Comum estadual. - Recurso
extraordinário não conhecido." 2. O Acórdão recorrido (fls. 54-58) está em conformidade
com esse entendimento, razão por que nego seguimento ao recurso (RISTF, art. 21, § 1 º).
(RE 458227, Relator (a): Min. ELLEN GRACIE, julgado em 12/12/2005, publicado em DJ
15/02/2006 PP-00138) STJ: PENAL. RECURSO ESPECIAL. CRIME AMBIENTAL.
COMPETÊNCIA PARA O PROCESSO E O JULGAMENTO. NÃO CONHECIMENTO
PELO FUNDAMENTO DA VIOLAÇÃO DE LEI FEDERAL (ART. 19 DA LEI nº
4.771/65). CONHECIMENTO PELO FUNDAMENTO DA EXISTÊNCIA DE DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. RECURSO
IMPROVIDO. (...) 3. A simples circunstância de se tratar de área de preservação
permanente não tem o condão de deslocar a competência para a Justiça Federal, pois,
constituindo propriedade particular, não há interesse direto e específico da União. 4.
Recurso conhecido em parte e, nessa, improvido. (REsp 592012/TO, Rel. Ministro
ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 12/04/2005, DJ 20/06/2005
p. 344) Para se definir a competência no caso presente, acredito ser importante
precisar qual é o conceito de patrimônio nacional, contido no §4º do art. 225 da
Constituição Federal: (...) §4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a
Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional
e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. Sobre
o tema, ensina JOSÉ CRETELLA JÚNIOR: A Floresta Amazônica brasileira, a Mata
Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira integram o
patrimônio nacional. São bens da União, bens federais. Somente poderão ser
utilizados na forma da lei, sendo, pois, essa utilização realizada dentro de condições
que assegurem a preservação do meio ambiente, incluindo-se o uso dos recursos
naturais. (Comentários à Constituição brasileira de 1988, Forense Universitária, 1993,
v. 8, p. 4521). Por outro lado, de modo mais comedido, JOSÉ AFONSO DA SILVA -
Declara a Constituição que os complexos ecossistemas referidos no seu art. 225, §4.o,
são patrimônio nacional. Isso não significa transferir para a União o domínio sobre as
áreas particulares, estaduais e municipais situadas nas regiões mencionadas. Na
verdade, o significado primeiro e político da declaração constitucional de que aqueles
ecossistemas florestais constituem patrimônio nacional está em que não se admite
qualquer forma de internacionalização da Amazônia ou de qualquer outra área.
(Comentário contextual à Constituição. 4.a ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 844).
Acredito que a razão esteja com este último autor, bem como com os argumentos
lançados pelo suscitado. A locução patrimônio nacional revela espécie de
proclamação, concitando todos à defesa de tais ecossistemas tão importantes para o
Brasil. Todavia, tal não conduz, ipso iuris, à competência da Justiça Federal. Até
mesmo porque, como salientado por JOSÉ AFONSO DA SILVA, haverá casos em
que o particular será dono de parcelas de tais trechos geográficos. Logo, no caso
presente, não se está diante de bem da União, mas do próprio réu, sobre o qual vige
significativa limitação do exercício do domínio. Pontue-se, ademais, que, a despeito de
a Floresta Amazônica ser patrimônio nacional, em cujo bojo foram constituídos
parques nacionais e estaduais. Por exemplo, sendo praticado o crime de
desmatamento no Parque Estadual de Nhamundá, situado no Estado do Amazonas,
dúvidas não há de que a competência para apreciar o feito é da Justiça Estadual do
Amazonas. Ao passo que, sendo praticado delito semelhante no Parque Nacional do
Jaú, também situado no Estado do Amazonas, a competência, aí sim, seria da Justiça
Federal. Recordo-me, inclusive, de habeas corpus julgado pela colenda Sexta Turma,

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de minha relatoria, no qual também se cuidava do crime de desmatamento,


perpetrado em área de propriedade do réu, relativamente à vegetação da Serra do
Mar, igualmente patrimônio nacional, a teor do art. 225, § 4.o, da Constituição
Federal, todavia Documento: 4600139 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - situado na
área de Parque Estadual, tramitando o feito perante, de maneira incontestada (o que lá se
debatia era matéria de tipicidade), na Justiça Estadual: HC 52.722/SP, SEXTA TURMA,
julgado em 25/03/2008, DJe 12/05/2008. Ressalte-se, ainda, a menção no laudo do Instituto
de Criminalística que a Fazenda, sítio dos acontecimentos, está localizada em área que já
pertenceu - hoje não mais (fl.213) - ao Parque Estadual de Corumbiara, ou seja, claramente
não se trataria de bem da União, sendo, portanto, inaplicável o art. 109, IV, da Constituição
Federal. Por fim, é importante consignar que a simples atuação do IBAMA, fiscalizando o
comportamento do réu, não traz a competência federal para o caso. O crime em questão,
destaque-se, não foi praticado contra tal Autarquia. Portanto, penso, na linha do precedente
do Pretório Excelso (RE 458227, ementa transcrita acima), que a competência não é da
Justiça Federal. Não é possível deixar de mencionar o recente precedente desta Seção:
CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. CRIME AMBIENTAL. EXISTÊNCIA DE
INTERESSE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. A conduta foi
praticada, em tese, na Área de Proteção Ambiental do Cairuçu criada pelo Decreto Federal
n. 89.242/83, integrante, portanto, de Unidades de Conservação, da qual faz parte a Reserva
Ecológica da Joatinga, criada por decreto estadual. 2. Os critérios e normas para a criação,
implantação e gestão das Unidades de Conservação estão previstas na Lei n. 9.985/2000,
que estabelece que a Área de Preservação Ambiental pode ser instituída tanto em
propriedade pública quanto em particular, sendo que nestas podem ser estabelecidas normas
e restrições para sua utilização. 3. Uma vez que o crime tenha ocorrido em área sujeita à
restrição administrativa ao uso da propriedade privada, subsiste, assim, o interesse direto e
específico da União na causa, a atrair a competência da Justiça Federal para o deslinde do
feito. 4. Patente o interesse do IBAMA na preservação da área atingida, mormente a
informação trazida aos Autos de que a Autarquia federal foi a responsável pela concessão
da licença para as ações ali desenvolvidas, posteriormente revogada por ter sido
reconhecida ilegal. 5. O crime teria provocado também alterações nas características
naturais da zona costeira que, a teor do art. 225, §4o da Constituição Federal, é patrimônio
nacional a merecer guarida perante a Justiça Federal, ex vi do art 109, IV, da Constituição
Federal. 6. Conflito conhecido para determinar competente o Juízo Federal da 1a Vara de
Angra dos Reis/RJ, anulados os atos decisórios do Juízo Estadual. (CC 80905/RJ, Rel.
Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/06/2009, DJe
24/06/2009) Todavia, penso que não seria de caso de aplicá-lo, pois, in casu, não se está
Documento: 4600139 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - a cuidar de Parque criado por
Decreto Federal. Atualmente, sequer há de se falar em área própria de Parque Estadual.
Ante o exposto, julgo competente o JUÍZO DE DIREITO DA 1a VARA DE CEREJEIRAS
- RO, suscitante.

O sexto Acórdão examinado, em continuação ao presente item, é o também Conflito Positivo


de Competência nº 80905 / RJ, julgado pela Terceira Seção em 10 de junho de 2009, tendo como
Relator o Ministro OG Fernandes. Seu objeto cuida de crime ambiental decorrente de
desmatamento. Aqui houve referência, apenas esparsa, ao crime que teria provocado também
alterações nas características naturais da zona costeira que, a teor do art. 225, §4º da Constituição
Federal, é patrimônio nacional a merecer guarida perante a Justiça Federal. O intuito do Acórdão
foi mais de transcrever textos normativos do que propriamente fazer análises teóricas, não havendo
maiores elementos de interesse para o presente estudo.

CC 80905 / RJ CONFLITO DE COMPETÊNCIA 2007/0044774-3Relator (a) Ministro OG


FERNANDES (1139) Órgão Julgador S3 - TERCEIRA SEÇÃO Data do Julgamento
10/06/2009 Data da Publicação/Fonte DJe 24/06/2009 Ementa CONFLITO POSITIVO DE
COMPETÊNCIA. CRIME AMBIENTAL. EXISTÊNCIA DE INTERESSE DA UNIÃO.

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COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. A conduta foi praticada, em tese, na Área


de Proteção Ambiental do Cairuçu, criada pelo Decreto Federal n. 89.242/83, integrante,
portanto, de Unidades de Conservação, da qual faz parte a Reserva Ecológica da Joatinga,
criada por decreto estadual. 2. Os critérios e normas para a criação, implantação e gestão
das Unidades de Conservação estão previstas na Lei no 9.985/2000, que estabelece que a
Área de Preservação Ambiental pode ser instituída tanto em propriedade pública quanto em
particular, sendo que nestas podem ser estabelecidas normas e restrições para sua utilização.
3. Uma vez que o crime tenha ocorrido em área sujeita à restrição administrativa ao uso da
propriedade privada, subsiste, assim, o interesse direto e específico da União na causa, a
atrair a competência da Justiça Federal para o deslinde do feito. 4. Patente o interesse do
IBAMA na preservação da área atingida, mormente a informação trazida aos A utos de que
a Autarquia Federal foi a responsável pela concessão da licença para as ações ali
desenvolvidas, posteriormente revogada por ter sido reconhecida ilegal. 5. O crime teria
provocado também alterações nas características naturais da zona costeira que, a teor
do art. 225, §4o da Constituição Federal, é patrimônio nacional a merecer guarida
perante a Justiça Federal, ex vi do art 109, IV, da Constituição Federal. 6. Conflito
conhecido para determinar competente o Juízo Federal da 1.a Vara de Angra dos Reis/RJ,
anulados os atos decisórios do Juízo Estadual. Acórdão Vistos, relatados e discutidos os
autos em que são partes as acima indicadas, prosseguindo no julgamento, após o voto-vista
do Sr. Ministro Nilson Naves, acompanhando o Relator, acordam os Ministros da Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do conflito e declarar
competente o Suscitado, Juízo Federal da 1a Vara de Angra dos Reis - SJ/RJ, nos termos
do voto do Sr. Ministro Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Celso Limongi
(Desembargador convocado do TJ/SP), Nilson Naves, Félix Fischer, Laurita Vaz, Arnaldo
Esteves Lima, Maria Thereza de Assis Moura, Napoleão Nunes Maia Filho e Jorge Mussi.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Paulo Gallotti. Notas Tema: Meio Ambiente
Informações Complementares COMPETÊNCIA, JUSTIÇA FEDERAL/HIPÓTESE,
EVENTUALIDADE, OCORRÊNCIA, CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE, COM
COMPROVAÇÃO, PREJUÍZO, BEM PÚBLICO OU INTERESSE PÚBLICO, UNIÃO
FEDERAL, AUTARQUIA, E, EMPRESA PÚBLICA, OU PREJUÍZO, ÂMBITO
REGIONAL E ÂMBITO NACIONAL / OBSERVÂNCIA, JURISPRUDÊNCIA, STJ, EM
DECORRÊNCIA, LEI FEDERAL, 1998, NÃO PREVISÃO EXPRESSA,
COMPETÊNCIA, JUSTIÇA FEDERAL. (g.n.)

O sétimo Acórdão, relativo ao Recurso Especial nº 978.558-MG, julgado pela Primeira


Turma em 04 de dezembro 2008, tendo como Relator o Ministro Luiz Fux, trata-se de Recurso
Especial interposto pelo INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA
AGRÁRIA - INCRA, com fulcro no art. 105, III, a e c, do permissivo constitucional, em face do
Acórdão prolatado pelo Tribunal Regional Federal da 1a Região.
Mais uma vez, a referência ao art. 225, §4 º da Constituição Federal teve como base o voto
proferido no Recurso Extraordinário nº 134.297/SP, Rel. Min. Celso de Mello, que trata do assunto,
ou seja, a essência do entendimento jurisprudencial poderia, assim, ser sintetizada: " (...) - A norma
inscrita no art. 225, §4 º, da Constituição, deve ser interpretada de modo harmonioso com o sistema
jurídico consagrado pelo ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula que, proclamada
pelo art. 5º, XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de propriedade em todas as suas
projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira devida pelo Poder Público ao
proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal.
O preceito consubstanciado no art. 225, §4 º, da CF, além de não haver convertido em bens
públicos os imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas matas nele referidas (Mata

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Atlântica, Serra do Mar, Floresta Amazônica brasileira), também não impede a utilização, pelos
próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao
domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias
à conservação ambiental.
A ordem constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade (CF/88, art. 5o,
XXII). Essa proteção outorgada pela CF estende-se, na abrangência normativa de sua incidência
tutelar, ao reconhecimento, em favor do dominus, da garantia de compensação financeira, sempre
que o Estado, mediante atividade que lhe seja juridicamente imputável, atingir o direito de
propriedade em seu conteúdo econômico, ainda que o imóvel esteja localizado em qualquer das
áreas referidas no art. 225, § 4º, da Constituição. (...)" (RE 134.297-8/SP, 1a Turma, Rel. Min. Celso
de Mello, DJ 22/09/95), com a seguinte Ementa:

REsp 978558 / MG RECURSO ESPECIAL 2007/0193964-9 Relator (a) Ministro LUIZ


FUX (1122) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 04/12/2008
Data da Publicação/Fonte DJe 15/12/2008 Ementa PROCESSUAL CIVIL.
ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO. INTERESSE SOCIAL. REFORMA
AGRÁRIA. INDENIZAÇÃO DA COBERTURA VEGETAL EM SEPARADO À TERRA
NUA. JUROS COMPENSATÓRIOS. VIOLAÇÃO DO ART. 535, DO CPC.
INEXISTÊNCIA. 1. A indenização da cobertura vegetal deve ser calculada em separado
ao valor da terra nua, quando comprovada a exploração econômica dos recursos vegetais.
Precedentes: (REsp 880.271/DF, DJ 28.09.2007; REsp 930.957/PA, DJ 17.09.2007) 2. A
indenizabilidade de cobertura vegetal, tout court, é matéria de mérito e tem sido decidida
positivamente pelo Pretório Excelso, sob o enfoque de que a limitação legal ou física
encerra expropriação, que nosso sistema constitucional, que também protege a propriedade,
gera indenização, condicionando-a, apenas, à prova da exploração econômica da área. 3. A
indenização sobre se a mata vegetal deveria ter sido incluída ou não à parte, posto
explorável economicamente, é matéria adstrita ao laudo e à instância local, diverso do
enfoque acerca da legalidade, que somente ocorreria acaso afrontando-se a lei, sem
motivação, se superasse o preço de mercado do imóvel. 4. É assente no Pretório Excelso
que :" (...) o Poder Público ficará sujeito a indenizar o proprietário do bem atingido pela
instituição da reserva florestal, se, em decorrência de sua ação administrativa, o dominus
viera a sofrer prejuízos de ordem patrimonial. A instituição de reserva florestal - com as
consequentes limitações de ordem administrativa dela decorrentes - e desde que as
restrições estatais se revelem prejudiciais ao imóvel abrangido pela área de proteção
ambiental, não pode justificar a recusa do Estado ao pagamento de justa compensação
patrimonial pelos danos resultantes do esvaziamento econômico ou da depreciação do valor
econômico do bem. (...)" (Recurso Extraordinário n.o 134.297/SP, Rel. Min. Celso de
Mello) 5. Destarte, a essência do entendimento jurisprudencial poderia, assim ser
sintetizado: " (...) - A norma inscrita no art. 225, § 4o, da Constituição, deve ser
interpretada de modo harmonioso com o sistema jurídico consagrado pelo
ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula que, proclamada pelo art. 5 o,
XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de propriedade em todas as suas
projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira devida pelo Poder
Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal. - O preceito
consubstanciado no art. 225, §4 o, da Carta da República, além de não haver
convertido em bens públicos os imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas
matas nele referidas (Mata Atlântica, Serra do Mar, Floresta Amazônica brasileira),
também não impede a utilização, pelos próprios particulares, dos recursos naturais
existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio privado, desde que
observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias à preservação
ambiental. - A ordem constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade
(CF/88, art. 5o, XXII). Essa proteção outorgada pela Lei Fundamental da República

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estende-se, na abrangência normativa de sua incidência tutelar, ao reconhecimento,


em favor do dominus, da garantia de compensação financeira, sempre que o Estado,
mediante atividade que lhe seja juridicamente imputável, atingir o direito de
propriedade em seu conteúdo econômico, ainda que o imóvel esteja localizado em
qualquer das áreas referidas no art. 225, § 4o, da Constituição. (...)" (RE 134.297-8/SP,
1a Turma, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 22/09/95) 6. In casu, o Tribunal Regional Federal
da 1a Região afastou a indenização da cobertura vegetal em separado à terra nua, sob o
fundamento de que não seria a hipótese de pagamento em separado. Não obstante,
acrescentou ao valor da terra nua o percentual de 20% (vinte por cento), o que, por via
obliqua, acabou por indenizar novamente a cobertura vegetal e, a fortiori, contrariar o
próprio entendimento, bem aquele firmado por esta e. Corte, conforme se colhem das razões
do v. Acórdão proferido pelo Tribunal a quo, verbis: "Como explicitado no exame dos
embargos dos expropriados, o acréscimo de 20% ao valor da terra nua, para a fixação do
valor indenizatório, teve por justificativa compensar os expropriados da supressão do valor
da cobertura florística que seria pago em separado, que o Acórdão entendeu ser indevido
senão integrado ao valor da terra. Se a sentença considerou as parcelas distintamente e o
Acórdão as agregou no valor unitário da terra nua, com o acréscimo percentual, é lógico
que ela não integrava o valor da terra nua encontrado pela perícia, como afirma a
embargante”. 7. Os juros compensatórios destinam-se a compensar o que o desapropriado
deixou de ganhar com a perda antecipada do imóvel, ressarcir o impedimento do uso e gozo
econômico do bem, ou o que deixou de lucrar, motivo pelo qual incidem a partir da imissão
na posse do imóvel expropriado, consoante o disposto no verbete sumular n. 69 desta Corte
("Na desapropriação direta, os juros compensatórios são devidos desde a antecipada
imissão na posse e, na desapropriação indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel.). 8.
Os juros compensatórios são devidos mesmo quando o imóvel desapropriado for
improdutivo, justificando-se a imposição pela frustração da "expectativa de renda",
considerando a possibilidade de o imóvel "ser aproveitado a qualquer momento de forma
racional e adequada, ou até ser vendido com o recebimento do seu valor à vista" (Eresp
453.823/MA, Relator para o Acórdão Min. Castro Meira, DJ de 17.05.2004). 9. Os juros
compensatórios fundam-se no fato do desapossamento do imóvel e não na sua
produtividade, consoante o teor das Súmulas n. os 12, 69, 113, 114, do STJ e 164 e 345, do
STF. Precedentes: EREsp 519365/SP, DJ 27.11.2006; ERESP 453.823/MA, DJ de
17.05.2004, RESP 692773/MG, desta Relatoria, DJ de 29.08.2005. 10. Com efeito, os juros
compensatórios incidem ainda que o imóvel seja improdutivo, mas suscetível de produção.
11. A análise da viabilidade futura de exploração econômica do imóvel expropriado
importa sindicar matéria fático-probatória, insuscetível nesta via especial. Incidência da
Súmula 07/STJ. 12. Os Embargos de Declaração que enfrentam explicitamente a questão
embargada não ensejam recurso especial pela violação do artigo 535, II, do CPC. 13.
Ademais, o magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela
parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes para embasar a decisão.
14. Recurso Especial parcialmente provido. Acórdão Vistos, relatados e discutidos estes
Autos, os Ministros da PRIMEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça acordam, na
conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar parcial
provimento ao Recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs.
Ministros Denise Arruda (Presidenta), Benedito Gonçalves e Francisco Falcão votaram
com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Teori Albino
Zavascki. (g.n.)

O oitavo Acórdão a ser examinado é referente ao Recurso Especial nº 439192-SP, julgado


pela Primeira Turma em 07 de dezembro de 2006, tendo como Relator o Ministro Luiz Fux e como
Co-Relator o Ministro Teori Albino Zavascki. Seu objeto envolveu matéria relacionada ao direito
de propriedade, processo civil e administrativo com violação ao Art. 535 do CPC.
INOCORRÊNCIA. DESAPROPRIAÇÃO. CRIAÇÃO DE LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA.
Controvérsia gravitante em torno da indenizabilidade ou não de área atingida por limitação

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administrativa advinda da criação de Área de Proteção Ambiental. Assim, se repetiu o mesmo


entendimento dissecado no Acordão anterior:

REsp nº. 439192 / SP RECURSO ESPECIAL 2002/0062295-6 Relator (a) Ministro TEORI
ALBINO ZAVASCKI (1124) Relator (a) p/ Acórdão Ministro LUIZ FUX (1122) Órgão
Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 07/12/2006 Data da
Publicação/Fonte DJ 08/03/2007 p. 160 Ementa PROCESSUAL CIVIL.
ADMINISTRATIVO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA.
DESAPROPRIAÇÃO. CRIAÇÃO DE LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. MATÉRIA
FÁTICO-PROBATÓRIA. ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM E JUSTA
INDENIZAÇÃO. SÚMULA N. 07/STJ. PRESCRIÇÃO VINTENÁRIA. SÚMULA
119/STJ. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. CRIAÇÃO DE ÁREA DE PROTEÇÃO
AMBIENTAL. DIREITO À INDENIZAÇÃO. ESVAZIAMENTO ECONÔMICO DO
DIREITO À PROPRIEDADE. PRECEDENTES DO STF E DO STJ. LEI ESTADUAL N.
5.598, DE 06.02.1987. JUROS COMPENSATÓRIOS E MORATÓRIOS. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. 1. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC, quando o Tribunal de origem,
embora sucintamente, pronuncia-se de forma clara e suficiente sobre a questão posta nos
Autos. Ademais, o magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos
pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes para embasar a
decisão. 2. O reexame de matéria fático-probatória não habilita a interposição de Recurso
Especial, ante a incidência, inarredável, do Verbete Sumular n. 07/STJ: "A pretensão de
simples reexame de provas não enseja recurso especial.” 3. A verificação da ilegitimidade
ativa ad causam, cuja existência restou reconhecida pelo Tribunal a quo, sob o fundamento
de que não restou comprovado nos Autos que os demandantes eram legítimos proprietários
da área em litígio, demanda a análise de matéria de fato, cuja cognição é vedada ao STJ. 4.
Os critérios de aferimento da Justa Indenização para fixação do quantum indenizatório
estão adstritos às instâncias ordinárias, ante a necessária análise do conjunto fático-
probatório atraindo a incidência da Súmula 07/STJ. 5. Consoante o princípio da actio nata,
o direito de ação de indenização por desapropriação indireta nasce no momento em que a
área é esbulhada pelo poder público. 6. O prazo prescricional da ação de desapropriação
indireta é vintenário, não se aplicando a prescrição qinqenal do Decreto-Lei n. 20.910/32,
matéria que, ademais, restou sumulada no verbete n. 119, do STJ, que assim dispõe, in
verbis: "A ação de desapropriação indireta prescreve em vinte anos." Precedentes do STJ:
RESP 591948/SP; deste Relator, DJ de 29.11.2004; REsp 259.948, Rel. Min. Eliana
Calmon, DJ de 12/04/2004; REsp 535535, Rel. Min. José Delgado, DJ de 22/03/2004; REsp
443.852, Rel. Min. José Delgado, DJ de 10/11/2003; REsp 243833, Rel. Min. Franciulli
Netto, DJ de 19/12/2003; REsp 258021, Rel Min. Peçanha Martins, Rel. p/ Acórdão Eliana
Calmon, DJ de 08/09/2003; RESP 94152, Rel. Min. Peçanha Martins, DJ de 23/11/1998.
7. In casu, a Lei Estadual n. 5.598, foi editada em 06.02.1987 e a ação de indenização por
desapropriação indireta foi ajuizada em 22.09.1999, portanto, antes de expirado o prazo
prescricional vintenário. 8. Controvérsia gravitante em torno da indenizabilidade ou não de
área atingida por limitação administrativa advinda da criação de Área de Proteção
Ambiental. 9. A questão inerente à indenizabilidade da área atingida pela criação de
Parques Estaduais e de Áreas de Proteção Ambiental, tout court, é matéria de mérito e tem
sido decidida positivamente pelo Pretório Excelso, sob o enfoque de que limitação legal ou
física encerra expropriação, a qual, no nosso sistema constitucional, que também protege a
propriedade, gera indenização. 10. A distinção que se impõe é a de que a indenização pelo
preço de mercado abarca todo o imóvel sem indagação de sua exploração econômica ex
abundantia; ao passo que, comprovada a utilidade econômica da cobertura vegetal com
novel impedimento de explorações outras, acresce-se um plus à indenização em prol da
cláusula da justeza da reposição patrimonial. Precedentes: STF: RE n.o 134.297-8/SP, Relo.
Celso Mello, 1a T., DJ de 22.09.1995; RE n. 267.817/SP, Rel. Min. Maurício Corrêa, 2a T,
DJ de 29.11.2002; STJ: RESP n.o 401.264/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, 2a T, DJ de
30.09.2002; RESP n. 209.297/SP, Rel. Min. Paulo Medina, 2a T. DJ de 10.03.2003. 11. É
assente no Pretório Excelso que: " (...) o Poder Público ficará sujeito a indenizar o
proprietário do bem atingido pela instituição da reserva florestal, se, em decorrência de sua
ação administrativa, o dominus viera a sofrer prejuízos de ordem patrimonial. A instituição
de reserva florestal - com as consequentes limitações de ordem administrativa dela
decorrentes - e desde que as restrições estatais se revelem prejudiciais ao imóvel abrangido

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pela área de proteção ambiental, não pode justificar a recusa do Estado ao pagamento de
justa compensação patrimonial pelos danos resultantes do esvaziamento econômico ou da
depreciação do valor econômico do bem. (...)" (Recurso Extraordinário n. 134.297/SP, Rel.
Min. Celso de Mello)
12. Destarte, a essência do entendimento jurisprudencial emanado do STF, no
julgamento do RE 134.297-8/SP, Relator Ministro Celso de Mello, DJ 22.098.95, está
assim sintetizado: " (...) - A norma inscrita no art. 225, §4o, da Constituição deve ser
interpretada de modo harmonioso com o sistema jurídico consagrado pelo
ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula que, proclamada pelo art. 5o,
XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de propriedade em todas as suas
projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira devida pelo Poder
Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal. - O preceito
consubstanciado no art. 225, §4o, da Carta da República, além de não haver
convertido em bens públicos os imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas
matas nele referidas (Mata Atlântica, Serra do Mar, Floresta Amazônica brasileira),
também não impede a utilização, pelos próprios particulares, dos recursos naturais
existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio privado, desde que
observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias à preservação
ambiental. - A ordem constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade
(CF/88, art. 5o, XXII). Essa proteção outorgada pela Lei Fundamental da República
estende-se, na abrangência normativa de sua incidência tutelar, ao reconhecimento,
em favor do dominus, da garantia de compensação financeira, sempre que o Estado,
mediante atividade que lhe seja juridicamente imputável, atingir o direito de
propriedade em seu conteúdo econômico, ainda que o imóvel esteja localizado em
qualquer das áreas referidas no art. 225, §4o, da Constituição. (...)" (RE 134.297-8/SP,
1a Turma, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 22/09/95). 13. Os juros compensatórios
destinam-se a compensar o que o desapropriado deixou de ganhar com a perda antecipada
do imóvel, ressarcir o impedimento do uso e gozo econômico do bem, ou o que deixou de
lucrar, motivo pelo qual incidem a partir da imissão na posse do imóvel expropriado,
consoante o disposto no verbete sumular n. 69 desta Corte ("Na desapropriação direta, os
juros compensatórios são devidos desde a antecipada imissão na posse e, na desapropriação
indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel.), sendo irrelevante, portanto, a
produtividade do imóvel. 14. O fundamento da incidência dos juros compensatórios é o
desapossamento do imóvel e não a sua produtividade, o que, aliás, se verifica pela leitura
das Súmulas n.os 12, 69, 113, 114, do STJ e 164 e 345, do STF. Entendimento pacificado
pela Primeira Seção em recente Julgado no ERESP 453.823/MA, Relator originário
Ministro Castro Meira e Relator para Acórdão Ministro Teori Albino Zavascki, DJ de
17.05.2004. 15. In casu, a despeito de respeitáveis opiniões acerca da inexistência de
efetivo apossamento administrativo da área, ao fundamento de que a Lei Paulista n.
5.598/87, apenas, criou limitação administrativa ao uso da propriedade, a referida limitação
administrativa ocasionou o esvaziamento econômico do direito de propriedade, consoante
se infere da sentença às fls. 784/786, verbis: " (...) Pela Lei Estadual n. 5.598, de fevereiro
de 1987, o imóvel dos autores foi incluído em 'Área de Proteção Ambiental', implicando
com isso as seguintes restrições: Art. 3o Ficam proibidos, salvo quando vier a ser indicado
quando da regulamentação da presente Lei: I - o parcelamento do solo para fins urbanos; II
- a implantação de indústrias ou a expansão daquelas existentes; III - a realização de obras
de terraplanagem e a abertura de canais que importem sensível alteração das condições
ecológicas locais; IV - o uso de técnicas de manejo do solo capazes de provocar erosão das
terras ou assoreamento das coleções hídricas; V-- a remoção da cobertura vegetal natural.
Tais restrições são ainda mais explicitadas no Decreto 42.837/98, que a regulamentou: Art.
22. Na zona de cinturão meândrico... § 1o São vedadas novas instalações, obras ou
empreendimentos: 1. Destinados à atividade industrial.; 2. Destinados à atividade
minerária; 3. Destinados a necrópoles; 4. Destinados à disposição de resíduos sólidos; 5.
Destinados a fins habitacionais (loteamentos); 6. Outras que, comprovadamente,
comprometam o disposto no art. 2o. Como se vê, as restrições são de tal ordem que
inviabilizam completamente qualquer forma de exploração econômica da área,
especialmente segundo a sua natural vocação em temos de realidade econômica. Isso
significa que, manietada a utilidade econômica da área por força de tantas restrições, houve
total esvaziamento do seu valor econômico, que se assenta no binômio escassez-utilidade.
Sem o elemento utilidade, o valor econômico é nenhum. Nem importa perquirir se os
autores tinham planos para efetiva exploração econômica da área, bastando para ensejar o

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direito à indenização o fato de um bem econômico, que antes tinha valor de mercado,
deixou de tê-lo porque o elemento utilidade foi completamente esvaziado por força de
restrições legais baixadas pelo Estado. E, como tais restrições são justificadas por interesses
ambientais de índole coletiva, os ônus correspondentes devem ser igualmente 'coletivados',
indenizando com dinheiro público o sacrifício imposto ao particular. Está justificado,
portanto, o critério adotado pela perícia de estimar o montante da indenização pelo valor
total da área em termos de realidade econômica, segundo a sua melhor vocação, de
loteamento para fins urbanos. (...)” 16. Os juros moratórios têm por finalidade ressarcir o
expropriado pela mora no pagamento da indenização. 17. À luz do Princípio tempus regit
actum aplicam-se os juros moratórios à lei vigente a lei nova às desapropriações em curso,
tanto mais à luz da novel jurisprudência do STJ e do STF, que estabelecem a incidência dos
juros moratórios em precatório complementar somente quando ultrapassado o prazo
constitucional, isto é, a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o
pagamento deveria ser feito, consoante a MP n. 2.027-39, de 01.06.2000, haja vista que
vigente à época do decisum ora atacado, e que modificou o art. 15-B, do Decreto-Lei n.
3.365/42, motivo pelo qual se afasta a incidência da Súmula n. 70/STJ: "Os juros
moratórios, na desapropriação direta ou indireta, contam-se desde o trânsito em julgado da
sentença". Precedentes da 1a e 2a Turmas: RESP n. 443414/CE, deste Relator, julgado em
05.08.2004 e RESP n. 519.384/RN, Rel. Min. Franciulli Netto, DJ de 19.12.2003. 18.
Hipótese em que a sentença foi proferida em 12.12.2000 (fls. 780/790), e publicada no
mesmo dia (fl. 791). 19. A sucumbência nas ações expropriatórias rege-se pela lei vigente
à data da sentença que a impõe, devendo ser observado o art. 27, §1o, do Decreto-Lei n.
3.365/41, com a modificação introduzida pela MP n. 1.997-37 de 11.04.2000, (originária
MP n. 1.577/97, cuja última edição de 24.08.2001, é a MP n. 2.183/56), observando-se o
limite máximo de 5% (cinco por cento). Precedentes: RESP 644747 / RN; Rel. Min.
FRANCIULLI NETTO, DJ de 11.04.2005; AgRg no RESP 596868 / SP; Rel. Min.
FRANCISCO FALCÃO, de DJ 21.03.2005; EDcl no AgRg no RESP 576717 / RN; Rel.
Min. ELIANA CALMON, DJ de 13.12.2004; AgRg no RESP 648759 / RS; deste Relator,
DJ de 30.09.2004; RESP 426453/SP, deste Relator, DJ de 04.11.2002; RESP 416998/SP;
Rel. Min. FRANCIULLI NETTO, DJ 23/09/2002. 20. Voto divergente do Relator para dar
parcial provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Pública do Estado de São Paulo,
apenas para afastar a aplicação da Súmula 70/STJ e dar parcial provimento ao recurso
apresentado por Michel Amin Cury e Outro para reconhecer a aplicação do juros
compensatórios e moratórios, nos termos da fundamentação. Acórdão Vistos, relatados e
discutidos estes Autos, os Ministros da PRIMEIRA TURMA do Superior Tribunal de
Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, após o voto-
vista da Sr.a Ministra Denise Arruda, por maioria, vencido o Sr. Ministro Relator, dar
parcial provimento aos recursos especiais, nos termos do voto-vista do Sr. Ministro Luiz
Fux, que lavrará o Acórdão. Votaram com o Sr. Ministro Luiz Fux (voto-vista) os Srs.
Ministros Denise Arruda (voto-vista), José Delgado (voto-vista) e Francisco Falcão (voto-
vista). Ausentes, justificadamente, nesta assentada, os Srs. Ministros José Delgado e
Francisco Falcão. (g.n.)

O nono Acórdão abordado é o do Recurso Especial nº 786658/AC, julgado pela Primeira


Turma em 18 de maio de 2006, cujo Relator foi o Ministro José Delgado e Correlator o Ministro
Luiz Fux. A sua controvérsia gravita em torno da indenização ou não de mata nativa.
A questão da indenizabilidade de cobertura vegetal, tout court, é matéria de mérito e tem
sido decidida positivamente pelo Pretório Excelso, sob o enfoque de que a limitação legal ou física
encerra expropriação, que nosso sistema constitucional, que também protege a propriedade, gera
indenização e condiciona-a, apenas, à prova da exploração econômica da área.
A referência feita neste Acórdão é a essência do entendimento jurisprudencial, assim
sintetizado: " (...) - A norma inscrita no art. 225, §4 º, da Constituição, deve ser interpretada de modo
harmonioso com o sistema jurídico consagrado pelo ordenamento fundamental, notadamente com

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a cláusula que, proclamada pelo art. 5º, XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de
propriedade em todas as suas projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira
devida pelo Poder Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal.
O preceito consubstanciado no art. 225, §4 º, da CF, além de não haver convertido em bens
públicos os imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas matas nele referidas (Mata
Atlântica, Serra do Mar, Floresta Amazônica brasileira), também não impede a utilização, pelos
próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao
domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias
à conservação ambiental. A ordem constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade
(CF/88, art. 5º, XXII).

REsp 786658 / AC RECURSO ESPECIAL 2005/0163385-7 Relator (a) Ministro JOSÉ


DELGADO (1105) Relator (a) p/ Acórdão Ministro LUIZ FUX (1122) Órgão Julgador T1
- PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 18/05/2006 Data da Publicação/Fonte DJ
04/12/2006 p. 270 LEXSTJ vol. 209 p. 186 Ementa PROCESSUAL CIVIL E
ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL. RESERVA
EXTRATIVISTA CHICO MENDES. INDENIZAÇÃO DA COBERTURA VEGETAL.
MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA N. 07/STJ. JUROS
COMPENSATÓRIOS. IMISSÃO NA POSSE ANTERIOR À MEDIDA PROVISÓRIA
1.577/97. MP N. 1.774-26, QUE INTRODUZIU O ART. 15-A, NO DECRETO-LEI N.
3.365-41. JUROS MORATÓRIOS. TERMO A QUO. LEI VIGENTE À ÉPOCA DO
TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA N.
70/STJ. 1. Os critérios de aferimento da Justa Indenização para fixação do quantum
indenizatório estão adstritos às instâncias ordinárias, ante a necessária análise do conjunto
fático-probatório, atraindo a incidência da Súmula 07/STJ. 2. Controvérsia gravitante em
torno da indenizabilidade ou não de mata nativa. 3. A questão da indenizabilidade de
cobertura vegetal, tout court, é matéria de mérito e tem sido decidida positivamente pelo
Pretório Excelso, sob o enfoque de que a limitação legal ou física encerra expropriação,
que nosso sistema constitucional, que também protege a propriedade, gera indenização,
condicionando-a, apenas, à prova da exploração econômica da área. 4. A questão sobre se
a mata vegetal deveria ter sido incluída ou não à parte, posto explorável economicamente,
é matéria adstrita ao laudo e à instância local, diverso do enfoque acerca da legalidade,
acaso afrontando-se a lei, sem motivação, superar o preço de mercado do imóvel pela
existência daqueles. 5. É assente no Pretório Excelso que:"(...) o Poder Público ficará
sujeito a indenizar o proprietário do bem atingido pela instituição da reserva florestal, se,
em decorrência de sua ação administrativa, o dominus viera a sofrer prejuízos de ordem
patrimonial. A instituição de reserva florestal - com as consequentes limitações de ordem
administrativa dela decorrentes - e desde que as restrições estatais se revelem prejudiciais
ao imóvel abrangido pela área de proteção ambiental, não pode justificar a recusa do Estado
ao pagamento de justa compensação patrimonial pelos danos resultantes do esvaziamento
econômico ou da depreciação do valor econômico do bem. (...)" (Recurso Extraordinário
n. 134.297/SP, Rel. Min. Celso de Mello) 6. Destarte, a essência do entendimento
jurisprudencial poderia, assim, ser sintetizada: " (...) - A norma inscrita no art. 225,
§4o, da Constituição, deve ser interpretada de modo harmonioso com o sistema
jurídico consagrado pelo ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula
que, proclamada pelo art. 5o, XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de
propriedade em todas as suas projeções, inclusive aquela concernente à compensação
financeira devida pelo Poder Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à
atividade estatal. - O preceito consubstanciado no art. 225, §4o, da Carta da República,
além de não haver convertido em bens públicos os imóveis particulares abrangidos
pelas florestas e pelas matas nele referidas (Mata Atlântica, Serra do Mar, Floresta
Amazônica brasileira), também não impede a utilização, pelos próprios particulares,
dos recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio

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privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as condições


necessárias à preservação ambiental. - A ordem constitucional dispensa tutela efetiva
ao direito de propriedade (CF/88, art. 5o, XXII). Essa proteção outorgada pela Lei
Fundamental da República estende-se, na abrangência normativa de sua incidência
tutelar, ao reconhecimento, em favor do dominus, da garantia de compensação
financeira, sempre que o Estado, mediante atividade que lhe seja juridicamente
imputável, atingir o direito de propriedade em seu conteúdo econômico, ainda que o
imóvel esteja localizado em qualquer das áreas referidas no art. 225, § 4o, da
Constituição. (...)" (RE 134.297-8/SP, 1o Turma, Rel. Min. Celso de Mello, DJ
22/09/95) 7. Os juros compensatórios destinam-se a compensar o que o desapropriado
deixou de ganhar com a perda antecipada do imóvel, ressarcir o impedimento do uso e gozo
econômico do bem, ou o que deixou de lucrar, motivo pelo qual incidem a partir da imissão
na posse do imóvel expropriado, consoante o disposto no verbete sumular n. 69 desta Corte
(Na desapropriação direta, os juros compensatórios são devidos desde a antecipada imissão
na posse e, na desapropriação indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel.). 8. Em assim
sendo, devem ser fixados segundo a lei vigente à data da imissão na posse do imóvel ou do
apossamento administrativo. 9. Consequentemente, nas ações de desapropriação
posteriores à edição da MP n. 1.577/97, aplica-se o percentual de 6% (seis por cento) ao
ano. Precedentes da Corte: (RESP 591.656/PA, Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI,
DJ de 30.08.2004; RESP 613401/SC, Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJ de 16.08.2004;
RESP 517870 / PB, Rel. Min. LUIZ FUX, DJ de 31.05.2004). Aplicação, in casu, do
percentual de 12% (seis por cento), porquanto a imissão do INCRA na posse do imóvel se
deu em 10 de março de 1992. 10. Os juros moratórios têm por finalidade ressarcir o
expropriado pela mora no pagamento da indenização. 11. À luz do princípio tempus regit
actum, aplica-se, quanto aos juros moratórios, a lei nova às desapropriações em curso, tanto
mais que a novel jurisprudência do STJ e do STF estabelece a incidência dos juros
moratórios em precatório complementar somente quando ultrapassado o prazo
constitucional. Por isso se determina que a incidência dos juros moratórios somente se
opere a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser
feito, consoante a MP n. 2.027-39, de 01.06.2000, haja vista que vigente à época do decisum
ora atacado e que modificou o art. 15-B, do Decreto-Lei n. 3.365/42, motivo pelo qual se
afasta a incidência da Súmula n. 70/STJ ("Os juros moratórios, na desapropriação direta ou
indireta, contam-se desde o trânsito em julgado da sentença"). Precedentes da Primeira e
da Segunda Turmas: RESP 443.414/CE, desta Relatoria, DJ de 20.09.2004; RESP
519.384/RN, Rel. Min. FRANCIULLI NETTO, DJ de 19.12.2003. 12. Recurso Especial
conhecido parcialmente e, nessa parte, provido parcialmente. Acórdão. Vistos, relatados e
discutidos estes Autos, os Ministros da Egrégia Primeira Turma do Superior Tribunal de
Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas, por maioria, vencido
parcialmente o Sr. Ministro Relator, conhecer parcialmente do Recurso Especial e, nessa
parte, dar-lhe parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Luiz Fux. Votaram
com o Sr. Ministro Luiz Fux os Srs. Ministros Teori Albino Zavascki e Denise Arruda.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Francisco Falcão. Notas Tema: Meio Ambiente.
Resumo Estruturado NÃO CONHECIMENTO, PARTE, RECURSO ESPECIAL, COM
PEDIDO, AFASTAMENTO, INDENIZAÇÃO, POR DESAPROPRIAÇÃO,
REFERÊNCIA, COBERTURA FLORÍSTICA, PROPRIEDADE/HIPÓTESE,
TRIBUNAL A QUO, CONSIDERAÇÃO, NECESSIDADE, REALIZAÇÃO,
AVALIAÇÃO, VALOR, INDENIZAÇÃO, COBERTURA FLORÍSTICA, COM
TOTALIDADE, ÁREA, PROPRIEDADE, APÓS APRECIAÇÃO, LAUDO PERICIAL E
SITUAÇÃO FÁTICA/DECORRÊNCIA, NECESSIDADE, COMPROVAÇÃO,
EXPLORAÇÃO, ATIVIDADE ECONÔMICA, REFERÊNCIA, ÁREA, COBERTURA
FLORÍSTICA, OBJETIVO, SEPARAÇÃO, INDENIZAÇÃO; IMPOSSIBILIDADE,
REEXAME, MATÉRIA DE FATO, EM RECURSO ESPECIAL. INCIDÊNCIA, JUROS
COMPENSATÓRIOS, PERCENTUAL, 12%, ANO, COM TERMO INICIAL, DATA,
IMISSÃO NA POSSE/HIPÓTESE, DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL,
ANTERIOR, INÍCIO, VIGÊNCIA, MEDIDA PROVISÓRIA, 1997, PREVISÃO,
REDUÇÃO, TAXA DE JUROS, PERCENTUAL, 6% ANO / OBSERVÂNCIA,
SÚMULA, STF E STJ E, JURISPRUDÊNCIA, STJ. INCIDÊNCIA, JUROS DE MORA,
A PARTIR DO PRIMEIRO DIA, EXERCÍCIO FINANCEIRO SEGUINTE, DATA,
PREVISÃO, PAGAMENTO, INDENIZAÇÃO/HIPÓTESE, PROLAÇÃO, SENTENÇA
JUDICIAL, DETERMINAÇÃO, INDENIZAÇÃO EM AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO,
APÓS INÍCIO, VIGÊNCIA, MEDIDA PROVISÓRIA, 1997, ALTERAÇÃO, DECRETO-

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LEI, 1941; IRRELEVÂNCIA, EXISTÊNCIA, SÚMULA, STJ, DETERMINAÇÃO,


TRÂNSITO EM JULGADO, SENTENÇA JUDICIAL, COMO TERMO INICIAL,
INCIDÊNCIA, JUROS DE MORA/ DECORRÊNCIA, OBSERVÂNCIA, PRINCÍPIO,
TEMPUS REGIT ACTUM, PARA APLICAÇÃO LEI NOVA, ANTES
ENCERRAMENTO, DESAPROPRIAÇÃO; OBSERVÂNCIA, JURISPRUDÊNCIA,
STJ. (VOTO VENCIDO EM PARTE) (MIN. JOSÉ DELGADO) INCIDÊNCIA, JUROS
DE MORA A PARTIR DA DATA, TRÂNSITO EM JULGADO, SENTENÇA
JUDICIAL/HIPÓTESE, AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO, DESAPROPRIAÇÃO POR
INTERESSE SOCIAL, ANTERIOR, VIGÊNCIA, MEDIDA PROVISÓRIA, 1997,
DETERMINAÇÃO, COMO TERMO INICIAL, PRIMEIRO DIA, EXERCÍCIO
FINANCEIRO SEGUINTE, DATA, PREVISÃO, PAGAMENTO/DECORRÊNCIA,
APLICABILIDADE, MEDIDA PROVISÓRIA, 1997, APENAS, SITUAÇÃO FÁTICA,
OCORRÊNCIA, APÓS INÍCIO VIGÊNCIA; OBSERVÂNCIA, JURISPRUDÊNCIA E
SÚMULA, STJ.

O décimo Acórdão examinado é o do Recurso Especial nº 573.829/PR, julgado pela Primeira


Turma em 20 de abril de 2006, tendo por Relator o Ministro Luiz Fux. Controvérsia reside na
indenização ou não de madeira do tipo Imbuia, retirada do imóvel por posseiros, posteriormente à
imissão do INCRA na posse.
Novamente há referência à essência de o entendimento jurisprudencial assim ser sintetizado:
" (...) - A norma inscrita no art. 225, §4 º, da Constituição, deve ser interpretada de modo harmonioso
com o sistema jurídico consagrado pelo ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula
que, proclamada pelo art. 5o, XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de propriedade
em todas as suas projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira devida pelo
Poder Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal.
O preceito consubstanciado no art. 225, §4 º, da CF, além de não haver convertido em bens
públicos os imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas matas nele referidas (Mata
Atlântica, Serra do Mar, Floresta Amazônica brasileira), também não impede a utilização, pelos
próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao
domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias
à conservação ambiental.

REsp 573829 / PR RECURSO ESPECIAL 2003/0117925-0 Relator (a) Ministro LUIZ


FUX (1122) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 20/04/2006
Data da Publicação/Fonte DJ 22/05/2006 p. 150 Ementa PROCESSUAL CIVIL E
ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA.
VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA. INDENIZAÇÃO DA
COBERTURA VEGETAL EM SEPARADO. NECESSÁRIA COMPROVAÇÃO DA
EXPLORAÇÃO ECONÔMICA DA ÁREA. INTERPRETAÇÃO DO ART. 12 DA LEI
No 8.629/93. MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA No 07/STJ. 1. Inexiste
ofensa ao art. 535 do CPC, quando o Tribunal de origem, embora sucintamente, pronuncia-
se de forma clara e suficiente sobre a questão posta nos Autos. Ademais, o magistrado não
está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os
fundamentos utilizados tenham sido suficientes para embasar a decisão. 2. Os critérios de
aferimento da Justa Indenização para fixação do quantum indenizatório estão adstritos às
instâncias ordinárias, ante a necessária análise do conjunto fático-probatório, atraindo a
incidência da Súmula 07/STJ. 3. Controvérsia gravitante em torno da indenizabilidade ou

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não de madeira do tipo Imbuia, retirada do imóvel por posseiros, posteriormente à imissão
do INCRA na posse. 4. A questão da indenizabilidade de cobertura vegetal, tout court, é
matéria de mérito e tem sido decidida positivamente pelo Pretório Excelso, sob o enfoque
de que a limitação legal ou física encerra expropriação, que nosso sistema constitucional,
que também protege a propriedade, gera indenização, condicionando-a, apenas, à prova da
exploração econômica da área. 5. A distinção que se impõe é a de que a indenização pelo
preço de mercado abarca todo o imóvel sem indagação de sua exploração econômica ex
abundantia; ao passo que, comprovada a utilidade econômica da cobertura vegetal com
novel impedimento de explorações outras, acresce-se um plus à indenização em prol da
cláusula da justeza da reposição patrimonial. 6. Precedentes: STF: RE n.o 134.297-8/SP,
Relo. Celso Mello, 1a T., DJ de 22.09.1995; RE no 267.817/SP, Rel. Min. Maurício Corrêa,
2a T, DJ de 29.11.2002; STJ: RESP no 401.264/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, 2a T, DJ de
30.09.2002; RESP no 209.297/SP, Rel. Min. Paulo Medina, 2a T. DJ de 10.03.2003. 7. É
assente no Pretório Excelso que:" (...) o Poder Público ficará sujeito a indenizar o
proprietário do bem atingido pela instituição da reserva florestal, se, em decorrência de sua
ação administrativa, o dominus viera a sofrer prejuízos de ordem patrimonial. A instituição
de reserva florestal - com as consequentes limitações de ordem administrativa dela
decorrentes - e desde que as restrições estatais se revelem prejudiciais ao imóvel abrangido
pela área de proteção ambiental, não pode justificar a recusa do Estado ao pagamento de
justa compensação patrimonial pelos danos resultantes do esvaziamento econômico ou da
depreciação do valor econômico do bem. (...)" (Recurso Extraordinário no 134.297/SP, Rel.
Min. Celso de Mello) 8. Destarte, a essência do entendimento jurisprudencial poderia,
assim ser sintetizada: " (...) - A norma inscrita no art. 225, §4o, da Constituição, deve
ser interpretada de modo harmonioso com o sistema jurídico consagrado pelo
ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula que, proclamada pelo art. 5o,
XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de propriedade em todas as suas
projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira devida pelo Poder
Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal. - O preceito
consubstanciado no art. 225, §4o, da Carta da República, além de não haver
convertido em bens públicos os imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas
matas nele referidas (Mata Atlântica, Serra do Mar, Floresta Amazônica brasileira),
também não impede a utilização, pelos próprios particulares, dos recursos naturais
existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio privado, desde que
observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias à preservação
ambiental. - A ordem constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade
(CF/88, art. 5o, XXII). Essa proteção outorgada pela Lei Fundamental da República
estende-se, na abrangência normativa de sua incidência tutelar, ao reconhecimento,
em favor do dominus, da garantia de compensação financeira, sempre que o Estado,
mediante atividade que lhe seja juridicamente imputável, atingir o direito de
propriedade em seu conteúdo econômico, ainda que o imóvel esteja localizado em
qualquer das áreas referidas no art. 225, § 4o, da Constituição. (...)" (RE 134.297-8/SP,
1a Turma, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 22/09/95) 9. Os juros compensatórios destinam-
se a compensar o que o desapropriado deixou de ganhar com a perda antecipada do imóvel,
ressarcir o impedimento do uso e gozo econômico do bem, ou o que deixou de lucrar,
motivo pelo qual incidem a partir da imissão na posse do imóvel expropriado, consoante o
disposto no verbete sumular no 69 desta Corte (Na desapropriação direta, os juros
compensatórios são devidos desde a antecipada imissão na posse e, na desapropriação
indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel.) 10. Em assim sendo, devem ser fixados
segundo a lei vigente à data da imissão na posse do imóvel ou do apossamento
administrativo. 11. Consequentemente, nas ações de desapropriação posteriores à edição
da MP no 1.577/97, aplica-se o percentual de 6% (seis por cento) ao ano. Precedentes da
Corte: (RESP 591656 / PA; Rel. MIN. TEORI ALBINO ZAVASCKI, DJ de 30.08.2004;
RESP 613401/SC; Rel. MIN. CASTRO MEIRA, DJ de 16.08.2004;RESP 517870 / PB;
Rel. MIN. LUIZ FUX, DJ de 31.05.2004). Aplicação in casu do percentual de 12% (doze
por cento), porquanto a ação de desapropriação foi ajuizada em 16/02/1995. 12. Recurso
especial conhecido parcialmente e, nessa parte, desprovido. Acórdão. Vistos, relatados e
discutidos estes Autos, acordam os Ministros da PRIMEIRA TURMA do Superior Tribunal
de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade,
preliminarmente, acolher questão de ordem suscitada pelo Sr. Ministro Relator no sentido
de deferir requerimento do recorrido para expedição de alvará de levantamento de 80%
(oitenta por cento) do valor inicialmente depositado pelo INCRA. No mérito, também à

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unanimidade, conhecer parcialmente do Recurso Especial e, nessa parte, negar-lhe


provimento, tudo nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Teori
Albino Zavascki, Denise Arruda, José Delgado e Francisco Falcão votaram com o Sr.
Ministro Relator. Resumo Estruturado (QUESTÃO DE ORDEM) POSSIBILIDADE,
DESAPROPRIADO, LEVANTAMENTO, 80% VALOR, DEPÓSITO INICIAL,
INDENIZAÇÃO / HIPÓTESE, AÇÃO DE INDENIZAÇÃO, DESAPROPRIAÇÃO POR
INTERESSE SOCIAL PARA REFORMA AGRÁRIA, COM AUTOR, INCRA
/DECORRÊNCIA, CERTEZA, DOMÍNIO E DIREITO REAL, DESAPROPRIADO;
EXISTÊNCIA, REGULARIDADE FISCAL, IMÓVEL DESAPROPRIADO;
OBSERVÂNCIA, LEI COMPLEMENTAR, 1993. (VOTO DE MÉRITO) CABIMENTO,
ÂMBITO, AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO, DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE
SOCIAL, PAGAMENTO, INDENIZAÇÃO PELA COBERTURA FLORÍSTICA, COM
SEPARAÇÃO, VALOR TERRA NUA / HIPÓTESE, RECONHECIMENTO,
EXISTÊNCIA, ATIVIDADE ECONÔMICA, EXPLORAÇÃO FLORESTAL, PARTE,
ÁREA APROVEITÁVEL, IMÓVEL DESAPROPRIADO / DECORRÊNCIA,
OBSERVÂNCIA, LEI FEDERAL 1993 E JURISPRUDÊNCIA, STJ; RESSALVA,
IMPOSSIBILIDADE, APRECIAÇÃO, MATÉRIA DE PROVA PELO STJ.
CABIMENTO, CONDENAÇÃO, INCRA, PAGAMENTO, JUROS
COMPENSATÓRIOS, INDEPENDÊNCIA, IMÓVEL IMPRODUTIVO / HIPÓTESE,
DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL, PROPRIEDADE RURAL, PARA
REFORMA AGRÁRIA/DECORRÊNCIA, NECESSIDADE, INDENIZAÇÃO,
PROPRIETÁRIO PELA PERDA, POSSE; NECESSIDADE, GARANTIA, DIREITO,
JUSTA INDENIZAÇÃO, PREVISÃO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL;
OBSERVÂNCIA, PRECEDENTE, STJ. INCIDÊNCIA, JUROS COMPENSATÓRIOS,
PERCENTUAL, 12%, ANO, COM TERMO INICIAL, DATA, IMISSÃO NA POSSE /
HIPÓTESE, OCORRÊNCIA, IMISSÃO NA POSSE, ANTES VIGÊNCIA, MEDIDA
PROVISÓRIA, 1997, REDUÇÃO, TAXA DE JUROS PARA 6% / DECORRÊNCIA,
IRRETROATIVIDADE DA LEI; OBSERVÂNCIA, JURISPRUDÊNCIA, STJ. (g.n.)

O décimo primeiro Acórdão a ser examinado refere-se ao Recurso Especial nº 628698-SP,


julgado pela Primeira Turma em 21 de fevereiro de 2006, cujo Relator foi o Ministro Francisco
Falcão. Cuida-se de Ação de Indenização por Desapropriação que atestou a impossibilidade de
exploração econômica da propriedade dos autores, em face das dificuldades existentes, de modo a
impor a conclusão de que, da ausência de qualquer prejuízo, decorre a impossibilidade de
indenização. O ato administrativo que criou o Parque Estadual da Serra do Mar não impôs aos
proprietários outras restrições, exceto as decorrentes da legislação constitucional e
infraconstitucional.

REsp 628698 / SP RECURSO ESPECIAL 2004/0017279-3Relator (a) Ministro


FRANCISCO FALCÃO (1116) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do
Julgamento 21/02/2006 Data da Publicação/Fonte DJ 13/03/2006 p. 195 Ementa
ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DESAPROPRIAÇÃO
INDIRETA. PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO MAR. LIMITAÇÕES
ADMINISTRATIVAS DE CARÁTER GERAL. FUNÇÃO SOCIAL DA
PROPRIEDADE. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. IMPOSSIBILIDADE DE
INDENIZAÇÃO. I - O exame do conjunto fático-probatório exposto nos Autos atestou a
impossibilidade de exploração econômica da propriedade dos autores, em face das
dificuldades existentes, de modo a impor a conclusão de que da ausência de qualquer
prejuízo decorre a impossibilidade de indenização. II - O ato administrativo que criou o
Parque Estadual da Serra do Mar não impôs aos proprietários outras restrições que não
aquelas decorrentes da legislação constitucional e infraconstitucional, sendo certo que essas
limitações administrativas, de caráter geral, não constituem direito que ampare qualquer
indenização. Precedente: REsp no 468.405/SP, Rel. Min. JOSÉ DELGADO, DJ de
19/12/2003. III - Recurso Especial improvido. Acórdão Vistos e relatados os autos em que

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são partes as acima indicadas, retificando decisão proferida em sessão do dia 2.6.2005,
prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro TEORI ALBINO
ZAVASCKI, decide a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
negar provimento ao Recurso Especial, na forma do relatório e notas taquigráficas
constantes dos Autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Os Srs.
Ministros TEORI ALBINO ZAVASCKI (voto-vista), DENISE ARRUDA e JOSÉ
DELGADO votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausentes, justificadamente, o Sr. Ministro
FRANCISCO FALCÃO, Relator e, ocasionalmente, o Sr. Ministro LUIZ FUX. (g.n.)

O décimo segundo Acórdão analisado foi o do Recurso Especial nº 675049- RN, julgado
pela Primeira Turma em 16 de março de 2006, tendo como Relator o Ministro Luiz Fux (BRASIL,
2006). Controvérsia gravitante em torno da indenizabilidade ou não de mata nativa e cobertura
vegetal em separado.
A questão da indenizabilidade de cobertura vegetal, tout court, é matéria de mérito e tem
sido decidida positivamente pelo Pretório Excelso, sob o enfoque de que a limitação legal ou física
encerra expropriação, que nosso sistema constitucional, que também protege a propriedade, gera
indenização, condicionando-a, apenas, à prova da exploração econômica da área.

REsp 675049 / RN RECURSO ESPECIAL 2004/0107249-0 Relator (a) Ministro LUIZ


FUX (1122) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 16/02/2006
Data da Publicação/Fonte DJ 20/03/2006 p. 199 Ementa ADMINISTRATIVO.
DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA. INDENIZAÇÃO DA
COBERTURA VEGETAL EM SEPARADO. NECESSÁRIA COMPROVAÇÃO DA
EXPLORAÇÃO ECONÔMICA DA ÁREA. INTERPRETAÇÃO DO ART. 12, DA LEI
No 8.629/93. MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA No 07/STJ. JUROS
MORATÓRIOS. JUROS COMPENSATÓRIOS. 1. Os critérios de aferimento da Justa
Indenização para fixação do quantum indenizatório estão adstritos às instâncias ordinárias,
ante a necessária análise do conjunto fático-probatório atraindo a incidência da Súmula
07/STJ. 2. O malferimento do artigo 436, do CPC, não se verifica se o magistrado, à luz do
Artigo 131, elege essa prova (laudo pericial) para firmar o seu convencimento. Isso porque,
a interpretação do art. 436, do CPC, no sentido de que o juiz não está vinculado ao laudo
pericial, porquanto super peritorum, não significa que, ao adotá-lo, o magistrado viole essa
norma in procedendo, tanto mais que, na aplicação da lei processual, vigora o princípio da
persuasão racional, mediante o qual o juiz aprecia livremente a prova, atendendo aos fatos
e circunstâncias constantes dos Autos, ainda que não alegados pelas partes, indicando, na
sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento (art.131 do CPC). 3. Controvérsia
gravitante em torno da indenizabilidade ou não de mata nativa e cobertura vegetal em
separado. 4. A questão da indenizabilidade de cobertura vegetal, tout court, é matéria de
mérito e tem sido decidida positivamente pelo Pretório Excelso, sob o enfoque de que a
limitação legal ou física encerra expropriação, que nosso sistema constitucional, que
também protege a propriedade, gera indenização, condicionando-a, apenas, à prova da
exploração econômica da área. 5. A distinção que se impõe é a de que a indenização pelo
preço de mercado abarca todo o imóvel sem indagação de sua exploração econômica ex
abundantia; ao passo que, comprovada a utilidade econômica da cobertura vegetal com
novel impedimento de explorações outras, acresce-se um plus à indenização em prol da
cláusula da justeza da reposição patrimonial (precedentes: STF: RE No 134.297-8/SP, Relo.
Celso Mello, 1a T., DJ de 22.09.1995; RE no 267.817/SP, Rel. Min. Maurício Corrêa, 2a T,
DJ de 29.11.2002; STJ: RESP no 401.264/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, 2a T, DJ de
30.09.2002; RESP no 209.297/SP, Rel. Min. Paulo Medina, 2a T. DJ de 10.03.2003). 6. A
questão sobre se a mata vegetal deveria ter sido incluída ou não à parte, posto explorável
economicamente, é matéria adstrita ao laudo e à instância local, diverso do enfoque acerca
da legalidade, acaso afrontando-se a lei, sem motivação, superar o preço de mercado do
imóvel pela existência daqueles. 7. É assente no Pretório Excelso que:" (...) o Poder Público
ficará sujeito a indenizar o proprietário do bem atingido pela instituição da reserva florestal,

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ISSN: 2595-573X

se, em decorrência de sua ação administrativa, o dominus viera a sofrer prejuízos de ordem
patrimonial. A instituição de reserva florestal - com as conseqüentes limitações de ordem
administrativa dela decorrentes - e desde que as restrições estatais se revelem prejudiciais
ao imóvel abrangido pela área de proteção ambiental, não pode justificar a recusa do Estado
ao pagamento de justa compensação patrimonial pelos danos resultantes do esvaziamento
econômico ou da depreciação do valor econômico do bem. (...)" (Recurso Extraordinário
no 134.297/SP, Rel. Min. Celso de Mello) 8. Destarte, a essência do entendimento
jurisprudencial poderia assim ser sintetizado: " (...) - A norma inscrita no art. 225,
§4o, da Constituição, deve ser interpretada de modo harmonioso com o sistema
jurídico consagrado pelo ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula
que, proclamada pelo art. 5o, XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de
propriedade em todas as suas projeções, inclusive aquela concernente à compensação
financeira devida pelo Poder Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à
atividade estatal. - O preceito consubstanciado no art. 225, §4o, da Carta da República,
além de não haver convertido em bens públicos os imóveis particulares abrangidos
pelas florestas e pelas matas nele referidas (Mata Atlântica, Serra do Mar, Floresta
Amazônica brasileira), também não impede a utilização, pelos próprios particulares,
dos recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio
privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as condições
necessárias à preservação ambiental. - A ordem constitucional dispensa tutela efetiva
ao direito de propriedade (CF/88, art. 5o, XXII). Essa proteção outorgada pela Lei
Fundamental da República estende-se, na abrangência normativa de sua incidência
tutelar, ao reconhecimento, em favor do dominus, da garantia de compensação
financeira, sempre que o Estado, mediante atividade que lhe seja juridicamente
imputável, atingir o direito de propriedade em seu conteúdo econômico, ainda que o
imóvel esteja localizado em qualquer das áreas referidas no art. 225, §4o, da
Constituição. (...)” (RE 134.297-8/SP, 1a Turma, Rel. Min. Celso de Mello, DJ
22/09/95). 9. Os juros compensatórios destinam-se a compensar o que o desapropriado
deixou de ganhar com a perda antecipada do imóvel, ressarcir o impedimento do uso e gozo
econômico do bem, ou o que deixou de lucrar, motivo pelo qual incidem a partir da imissão
na posse do imóvel expropriado, consoante o disposto no verbete sumular no 69 desta Corte
("Na desapropriação direta, os juros compensatórios são devidos desde a antecipada
imissão na posse e, na desapropriação indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel.)10.
Em assim sendo, devem ser fixados segundo a lei vigente à data da imissão na posse do
imóvel ou do apossamento administrativo. 11. Consequentemente, nas ações de
desapropriação posteriores à edição da MP no 1.577/97, aplica-se o percentual de 6% (seis
por cento) ao ano. Precedentes da Corte: (RESP 591.656/PA, Rel. Min. TEORI ALBINO
ZAVASCKI, DJ de 30.08.2004; RESP 613401 / SC, Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJ de
16.08.2004; RESP 517870 / PB, Rel. Min. LUIZ FUX, DJ de 31.05.2004). Aplicação, in
casu, do percentual de 6% (seis por cento), porquanto a imissão do INCRA na posse do
imóvel se deu em 1o de julho de 1997. 12. Os juros moratórios têm por finalidade ressarcir
o expropriado pela mora no pagamento da indenização. 13. À luz do princípio tempus regit
actum, aplica-se, quanto aos juros moratórios, a lei nova às desapropriações em curso, tanto
mais que a novel jurisprudência do STJ e do STF estabelecem a incidência dos juros
moratórios em precatório complementar somente quando ultrapassado o prazo
constitucional. Por isso, determina-se que a incidência dos juros moratórios somente se
opere a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser
feito, consoante a MP no 2.027-39, de 01.06.2000, haja vista que vigente à época do decisum
ora atacado e que modificou o art. 15-B, do Decreto-Lei n.o 3.365/42, motivo pelo qual se
afasta a incidência da Súmula no 70/STJ ("Os juros moratórios, na desapropriação direta ou
indireta, contam-se desde o trânsito em julgado da sentença"). Precedentes da Primeira e
da Segunda Turmas: RESP 443.414/CE, desta Relatoria, DJ de 20.09.2004; RESP
519.384/RN, Rel. Min. FRANCIULLI NETTO, DJ de 19.12.2003. 14. Recurso especial
conhecido em parte e provido nas questões referentes aos juros compensatórios e
moratórios. Acórdão Vistos, relatados e discutidos estes Autos, acordam os Ministros da
PRIMEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer parcialmente do recurso especial
e, nessa parte, dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs.
Ministros Teori Albino Zavascki, Denise Arruda, José Delgado e Francisco Falcão votaram
com o Sr. Ministro Relator. (g.n.)

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Continuando a análise da série de Acórdãos do Superior Tribunal de Justiça, chega-se ao


décimo terceiro, referente ao Recurso Especial no 149746-SP, julgado pela Primeira Turma no dia
12 de abril de 2005, em que foi Relator o Ministro Francisco Falcão. A temática desse Recurso gira
em torno de ser ou não devida indenização pela cobertura vegetal de imóvel desapropriado se, já
anteriormente à dita desapropriação, configurada estava a impossibilidade de sua exploração
econômica.
Não resta, desde modo, caracterizado o prejuízo a ensejar a indenização. Ademais, deve-se
salientar que o imóvel expropriado se insere naqueles do artigo 225, §4º, da Constituição Federal.
A referência que esse Acórdão fez ao Patrimônio Nacional, apenas transcrito o artigo 225, §4 º da
Constituição Federal, sem maiores repercussões teóricas.

REsp 149746 / SP RECURSO ESPECIAL 1997/0067875-0 Relator (a) Ministro


FRANCISCO FALCÃO (1116) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do
Julgamento 12/04/2005 Data da Publicação/Fonte DJ 30/05/2005 p. 212 RNDJ vol. 68 p.
80 Ementa PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO
DIRETA. IMÓVEL SITUADO NA ESTAÇÃO ECOLÓGICA JUREIA-ITATINS.
INDENIZAÇÃO PELA TERRA NUA E PELA COBERTURA FLORÍSTICA. TERMO A
QUO DOS JUROS COMPENSATÓRIOS. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. I -
Impossível a apreciação do quantum indenizatório da terra nua, porquanto não estão
prequestionados os artigos indicados como violados (Súmula 211 do STJ) e porque
não se examina violação à lei municipal em sede de recurso especial (Súmula 280 do
STF). II - "Não é devido indenização pela cobertura vegetal de imóvel desapropriado
se já anteriormente à dita desapropriação, configurada estava a impossibilidade de
sua exploração econômica. Não resta, destarte, caracterizado o prejuízo a ensejar a
indenização. Ademais, deve-se salientar que o imóvel expropriado se insere naqueles
do artigo 225, §4o, da Constituição Federal." (REsp no 123.835/SP, Relator p/ Acórdão
Min. JOSÉ DELGADO, DJ de 01/08/2000) III - "Os juros compensatórios, de acordo com
a jurisprudência, têm por termo inicial a data da imissão na posse. Não havendo imissão e
não sendo possível determinar a data do apossamento irregular, toma-se como termo a quo
a data do decreto expropriatório (Precedentes do STJ)". (REsp no 408.172/SP, Rel. Min.
ELIANA CALMON, DJ de 24/05/2004) IV - Os honorários advocatícios foram arbitrados
em 10% sobre a diferença entre a oferta para a área e a indenização fixada, com observância
do disposto no §1o do art. 27 do Decreto-Lei no 3.365/41, na redação vigente na data da
sentença (1995). A fixação de outro percentual ensejaria a análise do conjunto fático-
probatório, obstada pela Súmula no 7 deste Tribunal. V - Recurso Especial dos
expropriados parcialmente provido, para que os juros compensatórios sejam contados a
partir do decreto expropriatório, e Recurso Especial da Fazenda do Estado de São Paulo
parcialmente provido, para excluir da condenação o valor referente à cobertura florística.
Acórdão Vistos e relatados os Autos em que são partes as acima indicadas, decide a
Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar parcial provimento
aos recursos especiais, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos Autos,
que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Os Srs. Ministros LUIZ FUX,
TEORI ALBINO ZAVASCKI, DENISE ARRUDA e JOSÉ DELGADO votaram com o
Sr. Ministro Relator (g.n.)

O décimo quarto Acórdão refere-se ao Agravo Regimental no Recurso Especial no 380271-


SC, julgado pela Primeira Turma em 7 de dezembro de 2004, cujo Relator foi o Ministro Francisco
Falcão. Cuida notadamente de questão jurídica que concluiu pela impossibilidade de ser renovada
a autorização para se explorar área florestal de propriedade da Agravante, em face de a referida área

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situar-se em local de proteção ambiental, revela-se inviável a alegada ofensa ao art. 535, I e II, do
CPC.

AgRg no REsp 380271 / SC AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL


2001/0149395-4 Relator (a) Ministro FRANCISCO FALCÃO (1116) Órgão Julgador T1 -
PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 07/12/2004 Data da Publicação/Fonte DJ
07/03/2005 p. 140 Ementa ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO
ESPECIAL. EXPLORAÇÃO DE PROPRIEDADE. MATA ATLÂNTICA. VIOLAÇÃO
AO ART. 535, I e II, DO CPC. INOCORRÊNCIA. REEXAME DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 07/STJ. I - Tendo o aresto
recorrido solucionado todas as questões pertinentes à composição da controvérsia,
notadamente para concluir pela impossibilidade de ser renovada autorização para se
explorar área florestal de propriedade da Agravante, em face de a referida área situar-se em
local de proteção ambiental, revela-se inviável a alegada ofensa ao art. 535, I e II, do CPC.
II - Impossibilidade de se rever o conjunto fático-probatório, a fim de verificar a eventual
possibilidade da concessão da autorização pleiteada, em face do óbice imposto pela Súmula
07/STJ. III - Agravo regimental improvido. Acórdão Vistos e relatados os autos em que são
partes as acima indicadas, decide a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, negar provimento ao agravo regimental, na forma do relatório e notas
taquigráficas constantes dos Autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.
Os Srs. Ministros LUIZ FUX e DENISE ARRUDA votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausentes, ocasionalmente, os Srs. Ministros TEORI ALBINO ZAVASCKI e JOSÉ
DELGADO. Resumo Estruturado IMPROVIMENTO, AGRAVO REGIMENTAL,
IMPUGNAÇÃO, DECISÃO MONOCRÁTICA, NEGAÇÃO, SEGUIMENTO,
RECURSO ESPECIAL, FUNDAMENTAÇÃO, NÃO OCORRÊNCIA, VIOLAÇÃO,
ARTIGO, CODIGO DE PROCESSO CIVIL, REFERÊNCIA, EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO, DECORRÊNCIA, AGRAVANTE, PRETENSÃO, NOVO
JULGAMENTO, CONTROVÉRSIA. DESCABIMENTO, ÂMBITO, RECURSO
ESPECIAL, DISCUSSÃO, ILEGALIDADE, DECISÃO. Página 1 de 2
Jurisprudência/STJ - Acórdãos ADMINISTRATIVA, IBAMA, NEGAÇÃO,
PEDIDO, RENOVAÇÃO, AUTORIZAÇÃO, EXPLORAÇÃO FLORESTAL,
PROPRIEDADE, LOCALIZAÇÃO, ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL, MATA
ATLÂNTICA, FUNDAMENTAÇÃO, DECRETO FEDERAL, 1993, CÓDIGO
FLORESTAL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988, DECORRÊNCIA,
NECESSIDADE, REEXAME, MATÉRIA DE FATO, MATÉRIA DE PROVA,
PROIBIÇÃO, SÚMULA, STJ. (g.n.)

O décimo quinto Acórdão foi prolatado no Recurso Especial nº 468405-SP, julgado pela
Primeira Turma no dia 20 de novembro de 2003, em que foi Relator o Ministro José Delgado.
Recurso Especial contra o Acórdão que apreciou Ação de Indenização por Desapropriação Indireta
contra o Estado de São Paulo, referente a imóvel localizado no Parque Serra do Mar.

REsp 468405 / SP RECURSO ESPECIAL 2002/0109926-7 Relator (a) Ministro JOSÉ


DELGADO (1105) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento
20/11/2003 Data da Publicação/Fonte DJ 19/12/2003 p. 328 Ementa ADMINISTRATIVO.
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. PARQUE SERRA
DO MAR. INDENIZAÇÃO. INOCORRÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS DA AÇÃO.
INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZOS. PROPRIEDADE VINCULADA À FUNÇÃO
SOCIAL. MATA ATLÂNTICA. PRESERVAÇÃO. 1. Recurso Especial contra v.
Acórdão que apreciou Ação de Indenização por Desapropriação Indireta contra o
Estado de São Paulo, referente a imóvel localizado no Parque Serra do Mar. 2. Do
exame dos Autos, verifica-se que estão comprovados os seguintes aspectos: a) O Estado de
São Paulo, em nenhum momento, apossou-se dos imóveis dos recorridos; b) As certidões
imobiliárias não identificam, com clareza, os imóveis objeto da indenização, pois há
descrições nas referidas certidões que excluem parcelas de imóveis, fazendo-se menção a

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outra transcrição, conforme documento acostado; c) Há dificuldades para se identificar se


os imóveis mencionados na inicial se constituem num imóvel contíguo ou não. 3. A
presente ação não pode ser enquadrada como uma expropriatória indireta, visto que não
estão presentes os pressupostos que orientam tal espécie de ação. Inexiste apossamento
administrativo por parte do Estado, nem este praticou, com relação à propriedade discutida,
qualquer esbulho ou ilícito que causasse prejuízo aos autores. Em nenhum momento, os
autores provaram haver apossamento, esbulho ou qualquer outro ilícito por parte do Estado
ou seus pressupostos com relação à propriedade. O imóvel sempre permaneceu no mesmo
estado, ou seja, intocado, quer pelos autores, seus antecessores, ou mesmo pelo poder
público, quer por força da legislação federal, quer em face da legislação municipal que
orienta o uso e ocupação do solo local. 4. Nenhuma indenização é devida, pelo fato de
nenhum prejuízo terem sofrido os recorridos. O uso da propriedade está vinculado à sua
função social. Esta se tornou presente com a necessidade de preservar-se, para o bem da
humanidade, os recursos naturais da Mata Atlântica. Não exploravam qualquer atividade
comercial ou industrial no imóvel, dele não obtendo renda de qualquer limite. Não há de se
chancelar indenização no valor de mais de 4,5 milhões de reais, fixada em 1995, acrescido
de juros de mora, juros compensatórios, correção monetária e honorários, para cobrir
alegadas limitações administrativas em 112ha de terra sem qualquer exploração econômica.
5. Recurso provido. Acórdão Vistos, relatados e discutidos os Autos em que são partes as
acima indicadas, acordam os Ministros da PRIMEIRA TURMA do Superior Tribunal de
Justiça, prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Teori Albino
Zavascki, por maioria, vencidos os Srs. Ministros Luiz Fux e Humberto Gomes de Barros,
dar provimento ao recurso, com a inversão dos ônus sucumbenciais, nos termos do voto do
Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Francisco Falcão (ausente, justificadamente, nesta
assentada) e Teori Albino Zavascki (voto-vista) votaram com o Sr. Ministro Relator. Notas
Tema: Meio ambiente. Resumo Estruturado DESCABIMENTO, FAZENDA PÚBLICA
ESTADUAL, INDENIZAÇÃO, PROPRIETÁRIO, IMÓVEL, HIPÓTESE, DECRETO
ESTADUAL, CRIAÇÃO, PARQUE ESTADUAL, SERRA DO MAR, DECORRÊNCIA,
AUTOR, FALTA, DESCRIÇÃO, INTEGRALIDADE, ÁREA, IMÓVEL, OBJETO,
INDENIZAÇÃO, INEXISTÊNCIA, DEMONSTRAÇÃO, PREJUÍZO, EXPLORAÇÃO,
ATIVIDADE ECONÔMICA, PROPRIEDADE RURAL, ANTERIORIDADE, EDIÇÃO,
DECRETO ESTADUAL, OBSERVÂNCIA, PRINCÍPIO, FUNÇÃO SOCIAL DA
PROPRIEDADE, NÃO CARACTERIZAÇÃO, DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA.
(VOTO-VISTA) (MIN. TEORI ALBINO ZAVASCKI) DESCABIMENTO, FAZENDA
PÚBLICA ESTADUAL, INDENIZAÇÃO, PROPRIETÁRIO, IMÓVEL, HIPÓTESE,
INEXISTÊNCIA, AGRAVAÇÃO, SITUAÇÃO JURÍDICA, IMÓVEL, MOTIVO,
CÓDIGO FLORESTAL, DETERMINAÇÃO, PRESERVAÇÃO, FLORESTA,
ANTERIORIDADE, PUBLICAÇÃO, DECRETO ESTADUAL, CRIAÇÃO, PARQUE
ESTADUAL, SERRA DO MAR, NÃO OCORRÊNCIA, ESBULHO POSSESSÓRIO,
NÃO CARACTERIZAÇÃO, DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA, CARACTERIZAÇÃO,
LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. (VOTO VENCIDO) CABIMENTO, REMESSA,
AUTOS, TRIBUNAL A QUO, DETERMINAÇÃO, RENOVAÇÃO, PERÍCIA,
OBJETIVO, ESCLARECIMENTO, DÚVIDA, REFERÊNCIA, ÁREA, IMÓVEL,
NECESSIDADE, FIXAÇÃO, VALOR, INDENIZAÇÃO, OBSERVÂNCIA, PRINCÍPIO
CONSTITUCIONAL, JUSTA INDENIZAÇÃO. (g.n.)

O décimo sexto Acórdão foi prolatado no Recurso Especial nº 123835- SP, julgado pela
Primeira Turma no dia 6 de junho de 2000, em que foi Relator o Ministro Milton Luiz Pereira. Neste
caso, o julgado concluiu que não é devido indenização pela cobertura vegetal de imóvel
desapropriado se já anteriormente à dita desapropriação, configurada estava a impossibilidade de
sua exploração econômica. Não resta, deste modo, caracterizado o prejuízo a ensejar a indenização.
Ademais, deve-se salientar que o imóvel expropriado se insere naqueles do artigo 225, §4º, da
Constituição Federal.

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REsp 123835 / SP RECURSO ESPECIAL 1997/0018428-5 Relator (a) Ministro MILTON


LUIZ PEREIRA (1097) Relator (a) p/ Acórdão Ministro JOSÉ DELGADO (1105) Órgão
Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 06/06/2000 Data da
Publicação/Fonte DJ 01/08/2000 p. 194 Ementa DESAPROPRIAÇÃO. INDENIZAÇÃO.
COBERTURA VEGETAL. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. IMPOSSIBILIDADE DE
EXPLORAÇÃO ECONÔMICA PREEXISTENTE AO ATO EXPROPRIATÓRIO.
IMÓVEL QUE SE ENCONTRA SITUADO NO PERÍMETRO DA MATA ATLÂNTICA.
APLICAÇÃO AO MESMO DO ARTIGO 225, §4o, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
JUROS COMPENSATÓRIOS. INCIDÊNCIA A PARTIR DA DATA EM QUE FOI
PROPOSTA A AÇÃO DIRETA DE DESAPROPRIAÇÃO. VALOR DA TERRA NUA
FIXADO COM BASE NAS PROVAS, PELO QUE INCIDE A SÚMULA 07/STJ.
IMPOSSIBILIDADE DE INDENIZAÇÃO DA COBERTURA VEGETAL DE ÁREA
CONSIDERADA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. RECURSO ESPECIAL DO
ESTADO DE SÃO PAULO PARCIALMENTE PROVIDO E RECURSO DO
EXPROPRIADO DESPROVIDO. 1. Não é devido indenização pela cobertura vegetal
de imóvel desapropriado se já anteriormente à dita desapropriação, configurada
estava a impossibilidade de sua exploração econômica. Não resta, destarte,
caracterizado o prejuízo a ensejar a indenização. Ademais, deve-se salientar que o
imóvel expropriado se insere naqueles do artigo 225, §4o, da Constituição Federal. 2.
Inexistindo a possibilidade de se determinar o momento de imissão na posse, os juros
compensatórios devem ser contados a partir da propositura da Ação Direta de
Desapropriação. 3. O valor da terra nua foi fixado pelo Acórdão com base em laudo técnico,
de maneira que a reavaliação desse critério se torna inviável em sede de Recurso Especial,
pelo óbice da Súmula 07/STJ. 4. Não é devido indenização da cobertura vegetal
considerada de preservação permanente. 5. Recurso Especial do Estado de São Paulo
parcialmente provido e Recurso Especial do Expropriado, desprovido. Acórdão Vistos,
relatados e discutidos estes Autos, acordam os Ex.mos Srs. Ministros da Primeira Turma do
Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir,
prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Exmo. Sr. Ministro José Delgado, por
maioria, vencido o Ex.mo Sr. Ministro Milton Luiz Pereira, dar parcial provimento ao
recurso do Estado de São Paulo e negar provimento ao recurso do expropriado. Votaram
com o Relator os Ex.mos Srs. Ministros Francisco Falcão e Garcia Vieira. Ausente,
justificadamente, o Ex.mo Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros. Notas Tema: Meio
Ambiente. Resumo Estruturado IMPOSSIBILIDADE, PAGAMENTO, INDENIZAÇÃO,
DESAPROPRIAÇÃO DIRETA, ESTADO SP, REFERÊNCIA, COBERTURA
FLORÍSTICA, MATA ATLÂNTICA, HIPÓTESE, ANTERIORIDADE, LEGISLAÇÃO,
CÓDIGO FLORESTAL, DETERMINAÇÃO, PROIBIÇÃO, DESMATAMENTO, NÃO
OCORRÊNCIA, PREJUÍZO, DESAPROPRIADO, CARACTERIZAÇÃO, ÁREA DE
PROTEÇÃO AMBIENTAL, PATRIMÔNIO NACIONAL, PREVISÃO EXPRESSA,
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988. LEGALIDADE, ACÓRDÃO, TRIBUNAL DE
JUSTIÇA, SP, REDUÇÃO, VALOR, INDENIZAÇÃO, REFERÊNCIA, TERRA NUA,
OBJETO, DESAPROPRIAÇÃO DIRETA, FUNDAMENTAÇÃO, LAUDO DE
AVALIAÇÃO, ASSISTENTE TÉCNICO, DETERMINAÇÃO, COMPATIBILIDADE,
PREÇO DE MERCADO, IMPOSSIBILIDADE, REVISÃO, CRITÉRIO, AVALIAÇÃO,
ÂMBITO, RECURSO ESPECIAL, INCIDÊNCIA, SÚMULA, STJ. TERMO INICIAL,
INCIDÊNCIA, JUROS COMPENSATÓRIOS, 12%, ANO, DATA, AJUIZAMENTO,
AÇÃO JUDICIAL, DESAPROPRIAÇÃO DIRETA, DECORRÊNCIA, FALTA, AUTOS,
PROVA, MOMENTO, OCORRÊNCIA, IMISSÃO NA POSSE, IMÓVEL
DESAPROPRIADO. (VOTO VENCIDO) (MIN. MILTON LUIZ PEREIRA) TERMO
INICIAL, INCIDÊNCIA, JUROS COMPENSATÓRIOS, 12% ANO, INDENIZAÇÃO,
DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA, DATA, PUBLICAÇÃO, DECRETO,
DESAPROPRIAÇÃO, CRIAÇÃO, PARQUE ESTADUAL, ÁREA, PRESERVAÇÃO
PERMANENTE, HIPÓTESE, FALTA, AUTOS, PROVA, MOMENTO, OCORRÊNCIA,
IMISSÃO NA POSSE, IMPOSSIBILIDADE, DETERMINAÇÃO, MOMENTO,
OCORRÊNCIA, PREJUÍZO, DESAPROPRIADO. (g.n.)

Finalmente, o décimo sétimo Acórdão foi prolatado no Recurso Especial nº 89779- PR,
julgado pela Segunda Turma no dia 21 de março de 2000, em que foi Relator o Ministro Francisco
Peçanha Martins. O IBDF aprovou o Plano de Exploração Florestal apresentado pela Empresa,

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deferindo a sua execução, cabe-lhe responder pelos possíveis danos causados em razão da suspensão
da execução dele, assim como lhe cumpre apreciar e discutir o direito de a Empresa apresentar novo
projeto econômico e realizá-lo.
As limitações no uso da propriedade subsumen-se às regras ditadas pela necessidade e
conveniência sociais e não à vontade do proprietário, possuidor ou detentor, e não podem, por isso,
conduzir à expropriação indireta. O Estado é parte ilegítima em ação a que não deu causa, por isso
que o ato de suspensão de plano de exploração das florestas se deu por decisão do IBDF:

REsp 89779 / PR RECURSO ESPECIAL 1996/0013816-8 Relator (a) Ministro


FRANCISCO PEÇANHA MARTINS (1094) Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento 21/03/2000 Data da Publicação/Fonte DJ 05/06/2000 p. 136 RSTJ vol.
136 p. 164 Ementa ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL - AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO POR DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA - IMÓVEL LOCALIZADO
NA SERRA DO MAR - LIMITAÇÃO DE USO DA PROPRIEDADE -
ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DO ESTADO - CÓDIGO FLORESTAL,
LEI nº 4.771/65 - LEGITIMIDADE PASSIVA DO INSTITUTO BRASILEIRO DE
DESENVOLVIMENTO FLORESTAL (IBDF) - C.F., ART. 170, III, PARÁGRAFO
ÚNICO. - Tendo o IBDF aprovado o Plano de Exploração Florestal apresentado pela
empresa, deferindo a sua execução, cabe-lhe responder pelos possíveis danos causados em
razão da suspensão de sua execução, assim como lhe cumpre apreciar e discutir o direito
da Empresa de apresentar novo projeto econômico e realizá-lo. - As limitações no uso da
propriedade subsumem-se às regras ditadas pela necessidade e conveniência sociais e não
à vontade do proprietário, possuidor ou detentor, e não podem, por isso, conduzir à
expropriação indireta. - O Estado é parte ilegítima em ação a que não deu causa, por isso o
ato de suspensão de plano de exploração das florestas se deu por decisão do IBDF. -
Recurso não conhecido. Acórdão Vistos, relatados e discutidos estes Autos, acordam os
Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com
o Relator os Ministros Eliana Calmon, Paulo Gallotti, Franciulli Netto e Nancy Andrighi.
Resumo Estruturado ILEGITIMIDADE PASSIVA, ESTADO, AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO, DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA, PROPRIEDADE, HIPÓTESE,
OCORRÊNCIA, TOMBAMENTO, ÁREA, OBJETIVO, RESERVA FLORESTAL,
INEXISTÊNCIA, ATO ADMINISTRATIVO, ESTADO, CARACTERIZAÇÃO,
LEGITIMIDADE PASSIVA, IBDF. (g.n.)

Após a análise dos dezessete Acórdãos do Superior Tribunal de Justiça, acima elencados,
referentes ao artigo 225, §4º, da Constituição Federal, pode-se dizer que tais decisões trazem
substancial contribuição para o tema objeto desta pesquisa, visto que a interpretação jurídica acerca
do que seja Patrimônio Nacional, em especial, se há mitigação ou não ao direito de propriedade, o
STJ afirmou que o artigo 225, §4º, da Constituição Federal, não mitigou o direito de propriedade,
tampouco reduziu a proteção aos direitos reais, seja para o uso, o gozo e o direito à justa indenização
decorrentes de desapropriação direito ou indireta; o tratamento que se deve entender sobre o
comando contido no artigo 225, §4º da CF; a imprescritibilidade da pretensão indenizatória; do
comando contido no artigo 225, §4º, da Constituição Federal, conclui-se que não há de se confundir
patrimônio nacional com bem da União, sendo inegável o relevante interesse federal, porque a área
em questão consiste na caracterização do Bioma Amazônia (Floresta Amazônica); enfim, a noção

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consolidada sobre a decodificação e o alcance da norma artigo 225, §4º, da Constituição Federal,
com base nos julgados diante de casos concretos.
De todos os Acórdãos examinados, o que mais chamou a atenção para os objetivos da
presente pesquisa foi o quinto Acórdão pesquisado, que trata sobre o Conflito de Competência nº
99294/RO, julgado pela Terceira Seção em 12 de agosto de 2009, tendo como Relatora a Ministra
Maria Thereza de Assis Moura.
Nesse Acórdão, debateu-se com profundidade sobre o Direito de Propriedade e o que seja
Patrimônio Nacional, comando contido no artigo 225, §4º, da Constituição Federal, donde se
concluiu que não há de se confundir patrimônio nacional com bem da União e é inegável o relevante
interesse federal, porque a área em questão consiste na caracterização do Bioma Amazônia (Floresta
Amazônica), que compreende 98,8% do Estado de Rondônia, considerado patrimônio nacional pelo
artigo 225, §4º, da Constituição Federal.
Ademais, o patrimônio nacional é de interesse de toda a nação. A conservação da Floresta
Amazônica é medida que transcende o interesse do próprio Estado, que, inegavelmente, também o
tem, e passa a interessar a toda a Federação, representada pela União Federal, ou seja, essa questão
transcende ao interesse regional e deve ser analisada no plano nacional, como afirma Machado
(2010, p. 173): "O texto é pedagógico ao dizer que essas áreas integram o patrimônio nacional,
indicando que os regionalismos não se devem sobrepor aos interesses nacionais”.

5 CONCLUSÕES
As Constituições brasileiras, anteriores ao texto constitucional de 1988, não lograram dar
destaque algum ou importância à questão ambiental, não fizeraam referência ao meio ambiente de
forma direta, tampouco demostraram preocupação quanto à utilização irracional e degradadora dos
recursos ambientais e não dedicaram ao meio ambiente, enquanto bem jurídico autônomo, qualquer
proteção jurídica específica.
Por falta de tratamento próprio, a defesa do meio ambiente fazia-se apenas pela via indireta
da proteção da saúde, bem como não havia preocupação com a degradação ambiental, mas, sim,
com a degradação sanitária. As leis produzidas referiam-se a alguns elementos integrantes do meio
ambiente, como a água, as florestas, os minérios, a caça e a pesca, sempre de forma fragmentada e
isolada.
A CF de 1988 é um marco histórico de inegável valor dada a sua preocupação com a
proteção do meio ambiente de forma específica e global, adotando-se uma tendência contemporânea
de preocupação com os interesses difusos e, em especial, com o meio ambiente, com forte influência

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da Declaração sobre o Ambiente Humano, realizada na Conferência das Nações Unidas em


Estocolmo, Suécia, em julho de 1972.
O Comando Constitucional Brasileiro, consagrou solenemente a obrigação do Poder Público
e da sociedade, a defesa, a preservação e a garantia de efetividade do direito fundamental ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida. O conteúdo normativo do Direito Ambiental Constitucional encontra-se destacado no Capítulo
VI do Título VIII, que contém como base o Art. 225, com seus parágrafos e incisos, além de outros
dispositivos constitucionais que tratam do Direito Ambiental.
O art. 225 da CF contempla três conjuntos de normas: norma-princípio, reveladora do direito
de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado; normas como instrumento de garantia da
efetividade; e normas caracterizadas por um conjunto de determinações particulares, no qual se
insere o §4º da CF, objeto desta pesquisa.
Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é a consagração constitucional de um
típico direito de terceira geração, tendo em vista que o Direito Ambiental é o conjunto de condições,
leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida
em todas as suas formas.
O conceito de Patrimônio Nacional, contido no §4 º do art. 225 da CF diz que a sua
utilização se fará na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio
ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais, ou seja, a Floresta Amazônica brasileira, a
Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira, que integram o
patrimônio nacional.
Somente poderão ser utilizados na forma da lei, sendo, pois, essa utilização realizada dentro
de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, incluindo-se o uso dos recursos
naturais. Na forma da lei a que se refere o parágrafo, é matéria reservada à Lei Ordinária, uma vez
que não se exige a Lei Complementar.
A Constituição, ao declarar os ecossistemas com status de Patrimônio Nacional, não
transferiu para a União o domínio sobre as áreas particulares, estaduais e municipais situadas nas
regiões mencionadas, porque o significado da declaração constitucional, de que aqueles
ecossistemas constituem Patrimônio Nacional, é político, seja para dar uma dimensão nacional a
todos sobre a problemática socioambiental, seja para afirmar que não se admite qualquer forma de
internacionalização da Amazônia ou de qualquer outra área. A locução Patrimônio Nacional revela
uma espécie de proclamação e concita todos à defesa de tais ecossistemas tão importantes para o
Brasil.

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A norma inscrita no art. 225, §4º, da Constituição, deve ser interpretada de modo harmonioso
com o sistema jurídico consagrado pelo ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula
que, proclamada pelo art. 5º, XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de propriedade
em todas as suas projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira devida pelo
Poder Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal.
O preceito consubstanciado na CF, além de não haver convertido em bens públicos os
imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas matas nele referidas (Mata Atlântica, Serra
do Mar, Floresta Amazônica brasileira), também não impede a utilização, pelos próprios
particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio
privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias à
preservação ambiental.
A ordem constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade e essa proteção,
outorgada pela Lei Fundamental da República, estende-se, na abrangência normativa de sua
incidência tutelar, ao reconhecimento, em favor do dominus, da garantia de compensação financeira,
sempre que o Estado, mediante atividade que lhe seja juridicamente imputável, atingir o direito de
propriedade em seu conteúdo econômico, ainda que o imóvel particular afetado pela ação do Poder
Público esteja localizado em qualquer das áreas referidas no art. 225, §4º da CF, além de a norma
inscrita nesse dispositivo constitucional não atuar como impedimento jurídico à efetivação de
atividade expropriatória, por parte do ente público, destinada a promover e a executar projetos de
reforma agrária nas referidas áreas.
A classificação entre Marcobem ambiental e Microbem ambiental é importante para se
compreender os comandos normativos da norma constitucional em análise, bem como o modo de
utilização do bem ambiental. Coube à doutrina criar uma forma de proteger não apenas as interações
e elementos em sua totalidade, mas também cada elemento individualmente considerado. Assim,
dissociou-se o meio ambiente, enquanto bem jurídico, em Macrobem ambiental e Microbem
ambiental.
A tutela do meio ambiente ocorre como Macrobem por ser ele incorpóreo, imaterial e
indisponível e, como Microbem, por meio dos seus elementos corpóreos. O §4° do art. 225 da CF
cuida do Macrobem ambiental quando elege ecossistemas com status de Patrimônio Nacional e, ao
mesmo tempo, cuida do Microbem quando dispõe que a utilização se fará na forma da lei, dentro de
condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais, porque, na abordagem como Microbem, o regime jurídico é de titularidade pública ou
privada passível de exploração. Por sua vez, como Macrobem, o regime jurídico é de bem de uso
comum do povo. Isso significa que o titular não poderá dispor da qualidade do meio ambiente

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ecologicamente equilibrado, em virtude de a previsão constitucional considerá-lo Macrobem de


todos.
A forma de utilização do Microbem ambiental é possível com a exploração de recursos
ambientais na forma da lei infraconstitucional. Em relação ao Macrobem, a sua utilização não
conduz a uma utilização individual exclusiva do meio ambiente, por ser indisponível e cuja
qualidade deve ser mantida íntegra a fim de propiciar a fruição coletiva, protegido pelo texto
constitucional.
A redação do §4º do art. 225 da CF é objeto de várias Propostas de Emenda à Constituição,
no âmbito do Congresso Nacional, porque os legisladores reconhecem a importância do comando
constitucional e objetivam a inclusão de outros ecossistemas brasileiros, como o Cerrado, os Pampas
e a Caatinga no mesmo status da Amazônia, Mata Atlântica, Serra do Mar e Zona Costeira.
As Pecs também objetivam corrigir e atualizar a redação do §4° do art. 225 da CF, porque
entende ser desnecessário o emprego da palavra "brasileira" após “Floresta Amazônica", uma vez
que, evidentemente, a Constituição Federal brasileira não poderia regular a conservação e o uso da
Floresta Amazônica fora dos limites do território nacional.
A exclusão da Serra do Mar da relação dos biomas considerados Patrimônio Nacional, visto
que esse ecossistema não é um bioma, mas um acidente geográfico pertencente à região da Mata
Atlântica. Outra crítica reside no fato de substituir a expressão "preservação do meio ambiente" por
"conservação da natureza", já que preservar tem um sentido técnico-específico, o de manter
intocado, sem qualquer alteração causada por ação humana. Por sua vez, a conservação tem um
sentido mais geral e abrangente, mais apropriado aos objetivos do texto constitucional.
Ademais, as PECs objetivam substituir a obscura redação do dispositivo, quando este
menciona "inclusive quanto ao uso dos recursos naturais" por uma redação mais atualizada, ou seja,
"que assegurem o uso sustentável dos recursos naturais” e, finalmente, com o acréscimo da frase "e
que assegurem a melhoria da qualidade de vida do povo."
No caso do Cerrado, que apresenta grande zona de ecótono com a Floresta Amazônica, é
fundamental a reversão do quadro de degradação ambiental daquela região, que tem sobre si uma
grande pressão exercida pelo agronegócio. São necessárias medidas rápidas e decididas para reverter
a tendência de desproteção ambiental e assegurar a conservação dos remanescentes do Cerrado, bem
como garantir o desenvolvimento das atividades agropecuárias em bases sustentáveis.
A elevação do status jurídico do Cerrado pode possibilitar a implementação de um controle
mais efetivo da problemática sociambiental dessa região, começando por realçar a importância
ecológica que o Cerrado tem para o Brasil, por ser berço das águas, abrigar três grandes aquíferos e
ser a nascente das principais bacias hidrográficas do país.

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ISSN: 2595-573X

REFERÊNCIAS

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ISSN: 2595-573X

entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes
do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção
do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas,
da fauna e da flora; e altera a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, 8 dezembro 2011. Seção 1.

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______. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 1119468 / SP AGRAVO REGIMENTAL NO


RECURSO ESPECIAL 2009/0013752-9 Relator (a) Ministro LUIZ FUX (1122) Órgão Julgador
T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 22/09/2009.

______. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 1119468 / S P. AGRAVO REGIMENTAL


NO RECURSO ESPECIAL 2009/0013752-9 Relator (a) Ministro LUIZ FUX (1122) Órgão
Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 22/09/2009.

______. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 380271 / SC AGRAVO REGIMENTAL NO


RECURSO ESPECIAL 2001/0149395-4 Relator (a) Ministro FRANCISCO FALCÃO (1116)
Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 07/12/2004.

______. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no REsp 380271 / SC. AGRAVO REGIMENTAL NO
RECURSO ESPECIAL 2001/0149395-4 Relator (a) Ministro FRANCISCO FALCÃO (1116)
Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 07/12/2004.

______. Superior Tribunal de Justiça. CC 99294 / RO CONFLITO DE COMPETÊNCIA


2008/0220610-5 Relator (a) Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (1131) Órgão
Julgador S3 - TERCEIRA SEÇÃO Data do Julgamento 12/08/2009.

______. Superior Tribunal de Justiça. CC 99294 / RO. CONFLITO DE COMPETÊNCIA


2008/0220610-5 Relator (a) Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (1131) Órgão
Julgador S3 - TERCEIRA SEÇÃO Data do Julgamento 12/08/2009.

______. Superior Tribunal de Justiça. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. CRIME


AMBIENTAL. EXISTÊNCIA DE INTERESSE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
FEDERAL. Relator (a) Ministro OG FERNANDES (1139) Órgão Julgador S3 - TERCEIRA
SEÇÃO Data do Julgamento 10/06/2009 Data da Publicação/Fonte DJe 24/06/2009.

______. Superior Tribunal de Justiça. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. CRIME


AMBIENTAL. EXISTÊNCIA DE INTERESSE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
FEDERAL. Relator (a) Ministro OG FERNANDES (1139) Órgão Julgador S3 - TERCEIRA
SEÇÃO Data do Julgamento 10/06/2009 Data da Publicação/Fonte DJe 24/06/2009.

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1090622 / SC RECURSO ESPECIAL 2008/0213981-


3 Relator (a) Ministro HERMAN BENJAMIN: (1132) Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento 25/08/2009.

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1090622 / SC. RECURSO ESPECIAL 2008/0213981-
3 Relator (a) Ministro HERMAN BENJAMIN: (1132) Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento 25/08/2009.

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1109778 / SC RECURSO ESPECIAL 2008/0282805-


2 Relator (a) Ministro HERMAN BENJAMIN: (1132) Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento 10/11/2009.

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1109778 / SC. RECURSO ESPECIAL 2008/0282805-
2 Relator (a) Ministro HERMAN BENJAMIN: (1132) Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento 10/11/2009.

Brazilian Journal of Animal and Environmental Research, Curitiba, v.4, n.3, p. 3848-3989 jul./set. 2021.
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______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 123835 / SP RECURSO ESPECIAL 1997/0018428-5


Relator (a) Ministro MILTON LUIZ PEREIRA (1097) Relator (a) p/ Acórdão Ministro JOSÉ
DELGADO (1105) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 06/06/2000 .

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 123835 / S P. RECURSO ESPECIAL 1997/0018428-


5 Relator (a) Ministro MILTON LUIZ PEREIRA (1097) Relator (a) p/ Acórdão Ministro JOSÉ
DELGADO (1105) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 06/06/2000 .

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 439192 / SP RECURSO ESPECIAL 2002/0062295-6


Relator (a) Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI (1124) Relator (a) p/ Acórdão Ministro LUIZ
FUX (1122) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 07/12/2006.

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 439192 / S P. RECURSO ESPECIAL 2002/0062295-


6 Relator (a) Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI (1124) Relator (a) p/ Acórdão Ministro LUIZ
FUX (1122) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 07/12/2006.

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Relator (a) Ministro JOSÉ DELGADO (1105) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do
Julgamento 20/11/2003 .

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 468405 / S P. RECURSO ESPECIAL 2002/0109926-


7 Relator (a) Ministro JOSÉ DELGADO (1105) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do
Julgamento 20/11/2003 .

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Relator (a) Ministro LUIZ FUX (1122) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do
Julgamento 20/04/2006 .

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 573829 / PR RECURSO ESPECIAL 2003/0117925-0,


Relator (a) Ministro LUIZ FUX (1122) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do
Julgamento 20/04/2006 .

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 628698 / SP RECURSO ESPECIAL 2004/0017279-3


.Relator (a) Ministro FRANCISCO FALCÃO (1116) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA
Data do Julgamento 21/02/2006 .

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 628698 / SP RECURSO ESPECIAL 2004/0017279-3,


Relator (a) Ministro FRANCISCO FALCÃO (1116) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA
Data do Julgamento 21/02/2006 .

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 675049 / RN RECURSO ESPECIAL 2004/0107249-0.


Relator (a) Ministro LUIZ FUX (1122) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do
Julgamento 16/02/2006 .

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 769753 / SC RECURSO ESPECIAL 2005/0112169-7


Relator (a) Ministro HERMAN BENJAMIN: (1132) Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento 08/09/2009.

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 786658 / AC RECURSO ESPECIAL 2005/0163385-7


Relator (a) Ministro JOSÉ DELGADO (1105) Relator (a) p/ Acórdão Ministro LUIZ FUX (1122).
Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 18/05/2006.

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______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 89779 / PR RECURSO ESPECIAL 1996/0013816-8


Relator (a) Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS (1094) Órgão Julgador T2 - SEGUNDA
TURMA Data do Julgamento 21/03/2000 .

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 89779 / PR. RECURSO ESPECIAL 1996/0013816-8
Relator (a) Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS (1094) Órgão Julgador T2 - SEGUNDA
TURMA Data do Julgamento 21/03/2000 .

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 978558 / MG RECURSO ESPECIAL 2007/0193964-


9 Relator (a) Ministro LUIZ FUX (1122) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do
Julgamento 04/12/2008.

______. Superior Tribunal de Justiça. REsp 978558 / MG. RECURSO ESPECIAL 2007/0193964-
9 Relator (a) Ministro LUIZ FUX (1122) Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do
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<http://www.academia.edu/21781905/Or%C3%A7amento_p%C3%BAblico_para_gest%C3%A3
o_ambiental_uma_an%C3%A1lise_voltada_para_as_%C3%A1reas_protegidas>. Acesso em: 09
mai. 2018.

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ANEXOS A - RECURSO ESPECIAL Nº 725.257 - MG (2005/0022690-5


ANEXO I
RECURSO ESPECIAL Nº 725.257 - MG (2005/0022690-5) EMENTA RECURSO ESPECIAL.
AÇAO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL ADOÇAO DE MEDIDAS PROTETIVAS E DE
SEGURANÇA NO TRÂNSITO. PROPOSITURA PELO ÓRGAO DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 3º, I DA LEI 6.938/81, 5º DA LEI N. 7.347/85, 25 DA LEI
8.625/93. LEGITIMIDADE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Cuidam os autos de ação civil
pública proposta pelo Ministério Público de Minas Gerais visando à condenação da empresa
Ferrovia Centro Atlântica à obrigação de não fazer consistente em não produzir poluição sonora
mediante a emissão de ruídos acima do permitido pela legislação pertinente e a condenação desta e
do Município de Divinópolis a implantarem dispositivos de segurança em todas as passagens de
nível e a colocação de pessoal habilitado a operá-los durante 24h, assim como manter as instalações
em condições de funcionamento e de segurança, tendo em vista a apuração, em inquérito civil, da
ocorrência de sinistros, inclusive com a morte de pessoas ocorrida em face das precárias condições
de segurança nessas passagens e da perturbação produzida pelo barulho acima do tolerado.
Apreciando agravo de instrumento interposto pelo Ministério Público contra decisão que apreciou
pedido de antecipação de tutela, o TJMG extinguiu o feito sem apreciação do mérito. Foram opostos
embargos de declaração que foram rejeitados. Os Acórdãos receberam ementas do seguinte teor:
"AÇÃO CIVIL PÚBLICA PEDIDO PARA ADOÇAO DE MEDIDAS DE SEGURANÇA E
PROTEÇAO NO TRÂNSITO PROPOSITURA PELO ÓRGAO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
NAO ENQUADRAMENTO EXPLÍCITO NA LEI DE REGÊNCIA ILEGITIMIDADE AD
CAUSAM. Não constando expressamente na lei de regência, como proteção ao meio ambiente
artificial, a adoção de medidas protetivas e de segurança ao tráfego ou trânsito de composições
ferroviárias, em passagens de níveis existentes pela zona urbana, o Órgão Ministerial é parte
ilegítima para a proposição da ação civil pública. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM O
JULGAMENTO DE MÉRITO QUANTO A ESTE PEDIDO QUE SE DECRETA DE OFÍCIO."
(fl. 273): EMBARGOS DE DECLARAÇAO - INEXISTÊNCIA DE CONTRADIÇÃO ENTRE A
FUNDAMENTAÇÃO E A PARTE DISPOSITIVA DO ACÓRDÃO - PRETENSÃO DE
REEXAME DA MATÉRIA - IMPOSSIBILIDADE. Não havendo contradição entre a
fundamentação e a parte dispositiva do Acórdão hostilizado, deixando claro o embargante que a
sua pretensão é de reexame da matéria, porque sustenta em última análise o desacerto ou equívoco
da decisão, pretensão defesa para os estritos limites dos embargos de declaração é de se rejeitar os
embargos. REJEIÇÃO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO QUE SE IMPÕE." (fl. 300).
Descontente, o Parquet interpôs recurso especial pela letra a da permissão constitucional, alegando
violação dos artigos 535 do Código de Processo Civil; 3º, III, a, da Lei 6938/81; 12 e 13 do Decreto
Federal 1.832/96; 25, IV, a, da Lei 8.625/93, e 83 da Lei 8078/90, por entender que: a) O Acórdão
incorreu em omissão quando deixou de enfrentar a questão relativa à arguição de legitimidade do
Ministério Público para defesa da ordem urbanística de patente interesse social; b) O Òrgão
ministerial está legitimado, dentre outras hipóteses, a propor ação civil pública, objetivando
defender e assegurar a segurança do trânsito, matéria de ordem urbanística, com vistas à proteção
de direitos difusos e coletivos. Contrarrazões ao Recurso Especial pela Ferrovia Centro Atlântica
S/A (fls. 351/358), alegando ausência de prequestionamento e ilegitimidade ad causam da
recorrente. 2. Não merece a pecha de omisso o Acórdão que não deixou de fundamentar as razões
que levaram às conclusões por ele firmadas. O fato de não ter abordado um a um os temas suscitados
pela parte não conduz à sua anulação por violação do artigo 535 do Código de Processo Civil. 3. O
direito à segurança pode ser objeto de ação civil pública ambiental nos termos do art. 1º, IV, da Lei
n. 7.347/85; 83 do CDC, e 3º, I, a, da Lei 6938/81, e figura entre os chamados direitos humanos
fundamentais ou direitos de quarta geração. Se o Estado não toma as medidas necessárias a
assegurar a proteção desse direito, cumprindo com o seu dever institucional, o Ministério Público,
no exercício da sua atribuição legal, está legitimado para propor ação civil pública, objetivando "a
condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer (art. 3º ACP),

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constituindo autêntica obrigação de fazer a prestação de segurança à população, que pode e deve
ser prestada jurisdicionalmente, no caso de omissão do Poder Público”. 4. Recurso Especial provido
para admitir a legitimidade do Ministério Público para propor ação civil pública na defesa da
segurança do trânsito, matéria relativa à ordem urbanística, com vistas à proteção de direitos difusos
e coletivos, devendo o Juízo recorrido julgar o mérito como entender de direito. ACÓRDÃO Vistos,
relatados e discutidos os Autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da
Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar provimento ao recurso
Especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Francisco Falcão, Luiz Fux,
Teori Albino Zavascki e Denise Arruda votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília (DF), 10 de
abril de 2007 (Data do Julgamento) MINISTRO JOSÉ DELGADO Relator RECURSO ESPECIAL
Nº 725.257 - MG (2005/0022690-5) RELATÓRIO O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO (Relator):
Trata-se de Recurso Especial interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS
GERAIS com fulcro no art. 105, III, a, da Constituição da República, contra Acórdão proferido
pelo TJ/MG, assim ementado (fl. 273): "AÇÃO CIVIL PÚBLICA PEDIDO PARA ADOÇÃO DE
MEDIDAS DE SEGURANÇA E PROTEÇÃO NO TRÂNSITO PROPOSITURA PELO ÓRGÃO
DO MINISTÉRIO PÚBLICO NAO ENQUADRAMENTO EXPLÍCITO NA LEI DE REGÊNCIA
ILEGITIMIDADE AD CAUSAM. Não constando expressamente na lei de regência, como proteção
ao meio ambiente artificial, a adoção de medidas protetivas e de segurança ao tráfego ou trânsito
de composições ferroviárias, em passagens de níveis existentes pela zona urbana, o Órgão
ministerial é parte ilegítima para a proposição da ação civil pública. EXTINÇÃO DO PROCESSO
SEM O JULGAMENTO DE MÉRITO QUANTO A ESTE PEDIDO QUE SE DECRETA DE
OFÍCIO.” Foram opostos Embargos de Declaração (fls. 285/297), cujo Acórdão recebeu o seguinte
resumo (fl. 300): EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - INEXISTÊNCIA DE CONTRADIÇAO
ENTRE A FUNDAMENTAÇÃO E A PARTE DISPOSITIVA DO ACÓRDÃO - PRETENSÃO
DE REEXAME DA MATÉRIA - IMPOSSIBILIDADE. Não havendo contradição entre a
fundamentação e a parte dispositiva do acórdão hostilizado deixando claro o Embargante que a sua
pretensão é de reexame da matéria, porque sustenta em última análise o desacerto ou equívoco da
decisão, pretensão defesa para os estritos limites dos embargos de declaração é de se rejeitar os
embargos. REJEIÇÃO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO QUE SE IMPÕE. “Tratam os
autos de ação civil pública ambiental, com pedido de liminar, ajuizada pelo Ministério Público do
Estado de Minas Gerais em desfavor do município de Divinópolis e da empresa FCA - Ferrovia
Centro Atlântica S/A - objetivando corrigir a atividade da empresa ferroviária no sentido de fazer
cessar a emissão de ruídos em desobediência aos parâmetros legais e garantir a proteção e segurança
em passagens de níveis - trechos dentro do município em que há tráfego férreo. Requereu também
a condenação dos requeridos a pagar indenização pelos prejuízos morais sofridos pelos habitantes
da vizinhança das referidas passagens. Decisão de fls. 196/197, deferindo parcialmente a liminar
pleiteada, determinando que a empresa cesse imediatamente a emissão de ruídos, sob pena de
cominação de multa diária pelo descumprimento, devendo adotar outras medidas de segurança e
proteção nas passagens de níveis. Contra o decisório, foram opostos embargos declaratórios pelo
Ministério Público (fls. 203/207), os quais foram rejeitados (fl. 208). Irresignado, o parquet mineiro
interpôs Agravo de Instrumento, com pedido de antecipação de tutela, alegando, em síntese, que:
a) O pedido relativo à alocação de pessoas capacitadas para garantir a segurança nos locais onde
haja passagem de nível estendia-se, não só ao município, mas também à empresa ferroviária; b) É
possível juridicamente a determinação de obrigação de fazer em sede de antecipação de tutela
perante ente político; c) Deve ser imposta à empresa a obrigação de colocar pessoas capacitadas
para operarem os dispositivos de proteção e segurança, 24 horas por dia, tal como requerido na
petição inicial. Contrarrazões ao recurso de agravo oferecidas pelo Município de Divinópolis e pela
Ferrovia Centro Atlântica S/A às fls. 232/235 e 254/258, respectivamente. Sobreveio Acórdão (fls.
273/280) que, por maioria, extinguiu o feito sem resolução de mérito, entendendo impróprio o uso
da ação civil pública pelo órgão ministerial para se impor, a quem quer que seja, a adoção de
medidas ligadas à segurança pública e ao trânsito ou tráfego de veículos ferroviários ou

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automobilísticos, porque tal objeto não vem explicitado em lei como proteção ao meio ambiente
artificial. Contra o Acórdão, foram opostos Embargos de Declaração pelo parquet (fls. 285/297)
rejeitados à unanimidade por Acórdão de fls. 300/302. Inconformado, o Ministério Público de
Minas Gerais interpôs recurso especial (fls. 307/326) apontando mau-trato dos seguintes
dispositivos legais: a) Lei 6.938/81: "Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população.” “b) Decreto
Federal 1.832/96.” “Art. 12. A Administração Ferroviária deverá implantar dispositivos de proteção
e segurança ao longo de suas faixas de domínio. Art. 13. A Administração Ferroviária é obrigada a
manter a via permanente, o material rodante, os equipamentos e as instalações em adequadas
condições de operação e de segurança, e estar aparelhada para atuar em situações de emergência,
decorrentes da prestação do serviço de transporte ferroviário.”
c) Lei 8.625/93: "Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei
Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público: IV - promover o inquérito civil e
a ação civil pública, na forma da lei: a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados
ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico
e paisagístico, e a outros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;”
d) Lei 8.078/90: "Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este Código são
admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.” e)
Código de Processo Civil "Art. 535. Cabem Embargos de Declaração quando: I - houver, na
sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradição; II - for omitido ponto sobre o qual devia
pronunciar-se o juiz ou tribunal. “O recorrente sustenta, em síntese, que: a) o Acórdão incorreu em
omissão quando deixou de enfrentar a questão relativa à arguição de legitimidade do Ministério
Público para defesa da ordem urbanística de patente interesse social; b) o Órgão ministerial está
legitimado, dentre outras hipóteses, a propor ação civil pública objetivando defender e assegurar a
segurança do trânsito, matéria de ordem urbanística, com vistas à proteção de direitos difusos e
coletivos. Ao final, pugna pelo provimento do recurso a fim de que se reconheçam as violações dos
dispositivos legais supracitados e, por conseguinte, seja admitida a legitimidade do Ministério
Público e a propriedade da ação civil pública proposta. Recurso Extraordinário às fls. 330/345.
Contrarrazões ao Recurso Especial pela Ferrovia Centro Atlântica S/A (fls. 351/358) alegando
ausência de prequestionamento e ilegitimidade ad causam da recorrente. Juízo de admissibilidade
positivo para o recurso especial e extraordinário (fls. 370/373). Parecer ministerial acostado às fls.
380/384, opinando pelo conhecimento parcial e, nesta parte, pelo provimento do apelo especial no
sentido de ser legítima a atuação do parquet mineiro no caso em apreço. É o relatório RECURSO
ESPECIAL Nº 725.257 - MG (2005/0022690-5) EMENTA RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA AMBIENTAL ADOÇÃO DE MEDIDAS PROTETIVAS E DE SEGURANÇA NO
TRÂNSITO. PROPOSITURA PELO ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INTELIGÊNCIA
DOS ARTIGOS 3º, I DA LEI 6.938/81, 5º DA LEI N. 7.347/85, 25 DA LEI 8.625/93.
LEGITIMIDADE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Cuidam os Autos de ação civil pública
proposta pelo Ministério Público de Minas Gerais visando à condenação da empresa Ferrovia
Centro Atlântica à obrigação de não fazer consistente em não produzir poluição sonora mediante a
emissão de ruídos acima do permitido pela legislação pertinente e a condenação desta e do
Município de Divinópolis a implantarem dispositivos de segurança em todas as passagens de nível
e a colocação de pessoal habilitado a operá-los durante 24h, assim como manter as instalações em
condições de funcionamento e de segurança, tendo em vista a apuração, em inquérito civil, da
ocorrência de sinistros, inclusive com a morte de pessoas ocorrida em face das precárias condições
de segurança nessas passagens e da perturbação produzida pelo barulho acima do tolerado.
Apreciando Agravo de Instrumento interposto pelo Ministério Público contra decisão que apreciou
pedido de antecipação de tutela, o TJMG extinguiu o feito sem apreciação do mérito. Foram opostos
Embargos de Declaração que foram rejeitados. Os Acórdãos receberam ementas do seguinte teor:
"AÇAO CIVIL PÚBLICA PEDIDO PARA ADOÇÃO DE MEDIDAS DE SEGURANÇA E

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PROTEÇÃO NO TRÂNSITO PROPOSITURA PELO ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO


NAO ENQUADRAMENTO EXPLÍCITO NA LEI DE REGÊNCIA ILEGITIMIDADE AD
CAUSAM. Não constando expressamente na lei de regência, como proteção ao meio ambiente
artificial, a adoção de medidas protetivas e de segurança ao tráfego ou trânsito de composições
ferroviárias, em passagens de níveis existentes pela zona urbana, o Órgão Ministerial é parte
ilegítima para a proposição da ação civil pública. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM O
JULGAMENTO DE MÉRITO QUANTO A ESTE PEDIDO QUE SE DECRETA DE OFÍCIO."
(fl. 273): EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - INEXISTÊNCIA DE CONTRADIÇÃO ENTRE A
FUNDAMENTAÇÃO E A PARTE DISPOSITIVA DO ACÓRDÃO - PRETENSÃO DE
REEXAME DA MATÉRIA - IMPOSSIBILIDADE. Não havendo contradição entre a
fundamentação e a parte dispositiva do Acórdão hostilizado deixando claro o embargante que a sua
pretensão é de reexame da matéria, porque sustenta, em última análise, o desacerto ou equívoco da
decisão, pretensão defesa para os estritos limites dos Embargos de Declaração é de se rejeitar os
embargos. REJEIÇÃO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO QUE SE IMPÕE." (fl. 300).
Descontente, o Parquet interpôs Recurso Especial pela letra “a” da permissão constitucional
alegando violação dos artigos 535 do Código de Processo Civil; 3º, III, a, da Lei 6938/81; 12 e 13
do Decreto Federal 1.832/96; 25, IV, a, da Lei 8.625/93, e 83 da Lei 8078/90, por entender que: a)
o Acórdão incorreu em omissão quando deixou de enfrentar a questão relativa à arguição de
legitimidade do Ministério Público para defesa da ordem urbanística de patente interesse social; b)
o Órgão ministerial está legitimado, dentre outras hipóteses, a propor ação civil pública, objetivando
defender e assegurar a segurança do trânsito, matéria de ordem urbanística, com vistas à proteção
de direitos difusos e coletivos. Contrarrazões ao Recurso Especial pela Ferrovia Centro Atlântica
S/A (fls. 351/358), alegando ausência de prequestionamento e ilegitimidade ad causam da
recorrente. 2. Não merece a pecha de omisso o Acórdão que não deixou de fundamentar as razões
que levaram às conclusões por ele firmadas. O fato de não ter abordado um a um os temas suscitados
pela parte não conduz à sua anulação por violação do artigo 535 do Código de Processo Civil. 3. O
direito à segurança pode ser objeto de ação civil pública ambiental nos termos do art. 1º, IV, da Lei
n. 7.347/85; 83 do CDC, e 3º, I, a, da Lei 6.938/81 e figura entre os chamados direitos humanos
fundamentais ou direitos de quarta geração. Se o Estado não toma as medidas necessárias a
assegurar a proteção desse direito, cumprindo com o seu dever institucional, o Ministério Público,
no exercício da sua atribuição legal, está legitimado para propor ação civil pública objetivando "a
condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer (art. 3º, ACP),
constituindo autêntica obrigação de fazer a prestação de segurança à população, que pode e deve
ser prestada jurisdicionalmente, no caso de omissão do Poder Público “. 4. Recurso Especial
provido para admitir a legitimidade do Ministério Público para propor ação civil pública na defesa
da segurança do trânsito, matéria relativa à ordem urbanística, com vistas à proteção de direitos
difusos e coletivos, devendo o Juízo recorrido julgar o mérito como entender de direito. VOTO O
SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO (Relator): Conheço do Recurso Especial. Embora nem todos os
preceitos ditos vulnerados tenham sido mencionados, ocorreu o debate sobre a matéria federal neles
tratada. Ab initio, examino o reclamo recursal de afronta ao artigo 535, II, do Código de Processo
Civil, para afastá-lo. Não merece a pecha de omisso o decisório reprochado, pois não deixou de
fundamentar as razões que levaram às conclusões por ele firmadas. O fato de não ter abordado um
a um os temas suscitados pela parte não conduz à sua anulação por violação do artigo 535 do Código
de Processo Civil. Passo ao mérito. Debate-se, como já relatado, acerca da legitimidade do
Ministério Público para propor ação civil pública ambiental, objetivando alcançar dos recorridos -
Município de Divinópolis e Ferrovia Centro Atlântica S.A. - adoção de medidas protetivas e de
segurança ao tráfego ou trânsito de composições ferroviárias em passagens de níveis existentes pela
zona urbana. O v. Acórdão impugnado estabeleceu que, não constando expressamente da lei de
regência a tutela desse tipo de direito pelo Ministério Público, este não detém legitimidade ativa
para propor ação civil pública para defendê-lo. As razões recursais tecem considerações no sentido
do incremento das atribuições funcionais do Parquet, com a edição de vários Diplomas legais que

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ampliaram a galeria de situações jurídicas nas quais a atuação ministerial se faz não apenas possível,
mas necessária, incluindo-se a ação civil pública e o campo de legitimidade do Ministério Público
nela implicado. Assevera que a jurisprudência deste Sodalício, corroborando os mais modernos
entendimentos doutrinários, tem firmado jurisprudência acerca da legitimidade do Ministério
Público para a proposição de ações civis públicas na defesa de interesses sociais, inclusive de
direitos individuais homogêneos disponíveis, elencando, às fls. 318/320, os seguintes precedentes
jurisprudenciais: "a) Ressarcimento de resíduo inflacionário em contrato de financiamento
imobiliário ( REsp 182556/RJ, 4ª Turma, Rel. Min. César Asfor Rocha, dj 20/05/02); b) Discussão
de cláusulas de contratos bancários de adesão (REsp 175645/RS, 4ª Turma, Rel. Min. Ruy Rosado
de Aguiar, DJ 30/04/01) c) Ressarcimento de taxa imobiliária nos contratos de locação (Emb. Div.
Resp 114908/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Corte Superior, DJ 20/05/02); d) Reajuste de
mensalidades de plano de saúde (REsp 177965/PR, 4ª Turma, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j.
18/5/99, DJ de 23/8/99, p. 130); e) Reparação civil aos trabalhadores submetidos a condições
insalubres de trabalho (REsp 58682/MG, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 16/12/96);
f) Direito ao salário mínimo dos servidores municipais (REsp 95347/SE, 5ª Turma, Rel. Min. Edson
Vidigal, DJ 01/02/99; g) Interesses coletivos de comunidade de pais e alunos (REsp 168881/DF, 4ª
Turma, Rel. Min. Barros Monteiro, j. 21/5/98 e REsp 94810/MG, 4ª Turma, Rel. Min. Ruy Rosado
de Aguiar, j. 17/6/97); h) Reajuste de mensalidades escolares (REsp 89646/PR, 4ª Turma, Rel. Min.
Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 10/12/96); i) Direitos dos assinantes de televisão por assinatura
(REsp 308486/MG, 3ª Turma, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 02/09/02); j)
Atualização de benefícios previdenciários (AGRAG 422659/RS, 5ª Turma, Rel. Min. Gilson Dipp,
DJ 05/08/02); l) Reintegração de agentes sanitários (REsp 177883/PE, 6ª Turma, Rel. Min. Vicente
Leal, DJ 01/04/02); m) Aplicadores dos títulos de capitalização lesados pela atuação irregular da
sociedade de capitalização (REsp 311492/SP, 3ª Turma, Rel. Min.ª Nancy Andrighi, DJ 08/04/02).
Realmente, temos observado que a legislação tem outorgado uma abrangência maior às áreas de
atuação do Ministério Público especialmente por meio da ampliação dos conceitos atinentes aos
bens a serem protegidos, tais como meio ambiente, direitos homogêneos individuais,
transindividuais, segurança. Em artigo intitulado AÇÃO CIVIL PÚBLICA E DIREITO DIFUSO
À SEGURANÇA PÚBLICA, (http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4079), J. E. Carreira
Alvim discorre relativamente à legitimidade do Ministério Público para a propositura da ação civil
pública com o objetivo de adoção de medidas protetivas do meio ambiente e entre essas aquelas
que se destinam à segurança física e bem-estar dos cidadãos. Diz o renomado autor: “(...) As ações
coletivas são o mais eficaz instrumento concebido pela moderna ordem jurídica de acesso à Justiça,
e, nesse universo, a ação popular, a ação civil pública e o mandado de segurança coletivo ocupam
posição de destaque na proteção dos direitos de primeira, segunda, terceira e quarta gerações. A
exigibilidade e a acionabilidade dos direitos fundamentais, como, aliás, de todo e qualquer direito
--"Art. 75 (Cód. Civil). A todo direito corresponde uma ação, que o assegura", já não pode mais ser
negado, ante o disposto no art. 5º, XXXV, da Constituição, - "A lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito"-, e no reconhecimento de um direito processual
constitucional, enquanto "reunião de princípios para o fim de regular a denominada jurisdição
constitucional". SCHWAB, Karl Heinz, Divisão de funções e o juiz natural, in RePro n. 48, 1987,
p. 125 (tradução de Nelson Nery Júnior). NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na
Constituição Federal, 2ª ed. São Paulo: Ed. RT, 1995, p. 19. Seria, aliás, um contrassenso que a
Constituição garantisse o gozo de todos os demais direitos subjetivos e interesses legítimos, e não
garantisse aqueles que, justo por serem o que são, recebem a denominação de direitos fundamentais
(dentre eles, os direitos à vida, à liberdade e à segurança). O direito à segurança tem as
características de um direito difuso, como traçadas pelo art. 81, I, do CDC: transindividual, de
natureza indivisível, de que são titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato
(residir numa favela), e encontra sua garantia no art. 129, III, da Constituição, enquanto é também
expressão de um interesse coletivo. Portanto, pode o direito à segurança ser objeto de ação civil
pública, nos termos do art. 1º, IV, da Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985, segundo o qual se regem

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pelas disposições desta Lei as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados
"a qualquer outro interesse difuso ou coletivo”. Se o Estado, como tal considerado o representativo
das esferas federal e estadual de poder, não adota medidas concretas para assegurar a inviolabilidade
do direito à segurança, no cumprimento do seu dever de (prestar) segurança, pode ser demandado
para esse fim, sendo "admissíveis todas as espécies de ações capazes de proporcionar sua adequada
e efetiva tutela" (art. 83, CDC). A ação civil pública, no particular, poderá ter por objeto a
condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer (art. 3º, ACP),
constituindo autêntica obrigação de fazer a prestação de segurança à população, que pode e deve
ser prestada jurisdicionalmente, no caso de omissão do Poder Público. A prestação dessa segurança
cabe ao Estado-Membro (inclusive o Distrito Federal), à medida que a ameaça de lesão à liberdade
(caso de sequestro) e à vida (caso de morte) por falta de segurança atinja a população da Unidade
Federativa, e à União Federal, na medida em que afetadas são as instituições públicas, como, v.g.,
o funcionamento da Polícia e da Justiça. Na cidade do Rio de Janeiro, onde os oficiais de Justiça
não podem fazer citação nos morros, porque são confundidos com policiais, correndo risco de
morte, e os policiais não podem portar qualquer documento de identificação, ou mesmo andarem
fardados em coletivos, fica a nu que a instituição "Polícia e Justiça" estão comprometidas pela
atuação de um poder paralelo, o que justifica a ação civil pública contra o Estado do Rio de Janeiro
e contra a União Federal, em litisconsórcio passivo, para que cumpram o seu dever de garantir a
incolumidade do direito à liberdade (evitando sequestros) e à vida (evitando mortes), mediante
segurança pública adequada à proteção desses direitos e interesses. Portanto, os legitimados
passivos são, conforme a hipótese, ou o Estado-membro (inclusive o Distrito Federal), ou a União,
isoladamente, ou todos, em conjunto, se a falta de segurança atingir as instituições nacionais, ou
mesmo municipais ou estaduais, mas com repercussão nacional. (...). Os legitimados para a
propositura da demanda para tutela do direito à segurança são os elencados no art. 5º da Lei n.
7.347/85, compreendendo o Ministério Público, a União, os Estados (o Distrito Federal), os
Municípios, autarquias, empresas públicas, fundações, sociedades de economia mista ou
associação, que, para este fim, não estão sujeitas às exigências do item I (esteja constituída há pelo
menos um ano, nos termos da lei civil) desse artigo. Apesar de a Lei n. 8.884/94, art. 88, parágrafo
único (Lei Antitruste), ao dar nova redação ao inciso II da Lei n. 7.347/85, não mais mencionar a
expressão "ou qualquer outro interesse difuso ou coletivo", que fora acrescentada ao dispositivo
pelo art. 111 do CDC, o princípio continua em vigor, porque estes outros interesses difusos ou
coletivos são objeto de proteção pelo art. 129, III, da Constituição, e pelo inciso IV do art. 1º da Lei
n. 7.347/85. Assim, podem os Estatutos da Associação Civil conter a
previsão de que uma das finalidades institucionais da entidade seja a defesa de outros interesses
difusos ou coletivos, para os fins de que trata a legitimação para a causa regulada nesse preceito
NERY JÚNIOR, Nelson. ANDRADE NERY, Rosa Maria. Código de Processo Civil Comentado.
São Paulo: RT, 2001, p. 1.532. A União pode ter interesse em mover a ação civil pública contra o
Estado-membro, quando o dever de prestar segurança caiba a estes, e o Estado-membro (o Distrito
Federal), contra a União, quando esse dever caiba a esta. Podem, também, os demais legitimados
demandar contra todos, em litisconsórcio passivo, ou, isoladamente, contra um ou contra outro. . A
legitimação do Ministério Público, Federal ou Estadual, por si ou em litisconsórcio, decorre do art.
129, III, da Constituição, sendo suas funções institucionais:"promover o inquérito civil e a ação
civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos”. Embora se tenha considerado a legitimação do Ministério Público
para a ação civil pública como extraordinária (substituição processual), ou de condutor autônomo
do processo, trata-se, na verdade, de legitimação ordinária constitucional, que brota diretamente da
Constituição (art. 129, III). A ação civil pública foi proposta com o fim de que a empresa Ferrovia
Centro Atlântica fosse condenada à obrigação de não fazer consistente em não produzir poluição
sonora mediante a emissão de ruídos acima do permitido pela legislação pertinente, e a condenação
desta e do Município de Divinópolis para implantarem dispositivos de segurança em todas as
passagens de nível e a colocação de pessoal habilitado a operá-los durante 24h, assim como manter

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as instalações em condições de funcionamento e de segurança, tendo em vista a apuração, em


inquérito civil, da ocorrência de sinistros, inclusive com a morte de pessoas ocorrida em face das
precárias condições de segurança nessas passagens, e da perturbação produzida pelo barulho acima
do tolerado. O artigo 3º, I, da Lei 6.938/81 definiu meio ambiente como o conjunto de condições,
leis, influências e interações de ordem física, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas
formas, "e o seu inciso III, letra d , conceitua poluição como "a degradação da qualidade ambiental
resultante de atividades que, direta ou indiretamente afetem as condições estéticas ou sanitárias do
meio ambiente”. Com a Constituição Federal de 1988, passou-se a entender também que o meio
ambiente se divide em físico ou natural, cultural, artificial e do trabalho. Meio ambiente físico ou
natural é constituído pela flora, fauna, solo, água, atmosfera etc., incluindo os ecossistemas (art.
225, 1º, I, VII). Meio ambiente cultural constitui-se pelo patrimônio cultural, artístico,
arqueológico, paisagístico, manifestações culturais, populares, etc (art. 215, §§1º e 2º). Meio
ambiente artificial é o conjunto de edificações particulares ou públicas, principalmente urbanas (art.
182, art. 21, XX e art. 5º, XXIII), e meio ambiente do trabalho é o conjunto de condições existentes
no local de trabalho relativas à qualidade de vida do trabalhador (art. 7º, XXXIII, e art. 200). Tendo
em vista o acima exposto e o fato de que o direito à segurança figura entre os chamados direitos
humanos fundamentais, ou direitos de quarta geração e, ainda, que o Estado não tomou as medidas
necessárias a assegurar a proteção desse direito, cumprindo com o seu dever institucional, o
Ministério Público, no exercício da sua atribuição legal, está legitimado para propor ação civil
pública, visando "à condenação em dinheiro ou ao cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer
(art. 3º, ACP), constituindo autêntica obrigação de fazer a prestação de segurança à população, que
pode e deve ser prestada jurisdicionalmente, no caso de omissão do Poder Público”. Destarte, dou
provimento ao Recurso Especial para que, nos termos do pedido recursal de fl. 326 "... seja admitida
a legitimidade do Ministério Público e a propriedade da ação civil pública para a defesa da
segurança do trânsito, matéria relativa à ordem urbanística, com vistas à proteção de direitos difusos
e coletivos", devendo o Juízo recorrido pronunciar-se sobre o mérito. É como voto. (g.n.)

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ANEXO B - ADI 3540 MC

E M E N T A: MEIO AMBIENTE - DIREITO À PRESERVAÇÃO DE SUA INTEGRIDADE


(CF, ART. 225) - PRERROGATIVA QUALIFICADA POR SEU CARÁTER DE
METAINDIVIDUALIDADE - DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO (OU DE NOVÍSSIMA
DIMENSÃO) QUE CONSAGRA O POSTULADO DA SOLIDARIEDADE - NECESSIDADE
DE IMPEDIR QUE A TRANSGRESSÃO A ESSE DIREITO FAÇA IRROMPER, NO SEIO DA
COLETIVIDADE, CONFLITOS INTERGENERACIONAIS - ESPAÇOS TERRITORIAIS
ESPECIALMENTE PROTEGIDOS (CF, ART. 225, § 1º, III) - ALTERAÇÃO E SUPRESSÃO
DO REGIME JURÍDICO A ELES PERTINENTE - MEDIDAS SUJEITAS AO PRINCÍPIO
CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE LEI - SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO EM ÁREA DE
PRESERVAÇÃO PERMANENTE - POSSIBILIDADE DE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA,
CUMPRIDAS AS EXIGÊNCIAS LEGAIS, AUTORIZAR, LICENCIAR OU PERMITIR OBRAS
E/OU ATIVIDADES NOS ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS, DESDE QUE
RESPEITADA, QUANTO A ESTES, A INTEGRIDADE DOS ATRIBUTOS JUSTIFICADORES
DO REGIME DE PROTEÇÃO ESPECIAL - RELAÇÕES ENTRE ECONOMIA (CF, ART. 3º, II,
C/C O ART. 170, VI) E ECOLOGIA (CF, ART. 225) - COLISÃO DE DIREITOS
FUNDAMENTAIS - CRITÉRIOS DE SUPERAÇÃO DESSE ESTADO DE TENSÃO ENTRE
VALORES CONSTITUCIONAIS RELEVANTES - OS DIREITOS BÁSICOS DA PESSOA
HUMANA E AS SUCESSIVAS GERAÇÕES (FASES OU DIMENSÕES) DE DIREITOS (RTJ
164/158, 160-161) - A QUESTÃO DA PRECEDÊNCIA DO DIREITO À PRESERVAÇÃO DO
MEIO AMBIENTE: UMA LIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL EXPLÍCITA À ATIVIDADE
ECONÔMICA (CF, ART. 170, VI) - DECISÃO NÃO REFERENDADA - CONSEQUENTE
INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR. A PRESERVAÇÃO DA
INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE: EXPRESSÃO CONSTITUCIONAL DE UM DIREITO
FUNDAMENTAL QUE ASSISTE À GENERALIDADE DAS PESSOAS. - Todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado. Trata-se de um típico direito de terceira geração (ou de
novíssima dimensão), que assiste a todo o gênero humano (RTJ 158/205-206). Incumbe, ao Estado
e à própria coletividade, a especial obrigação de defender e preservar, em benefício das presentes e
futuras gerações, esse direito de titularidade coletiva e de caráter transindividual (RTJ 164/158-
161). O adimplemento desse encargo, que é irrenunciável, representa a garantia de que não se
instaurarão, no seio da coletividade, os graves conflitos intergeneracionais marcados pelo
desrespeito ao dever de solidariedade, que a todos se impõe, na proteção desse bem essencial de
uso comum das pessoas em geral. Doutrina. A ATIVIDADE ECONÔMICA NÃO PODE SER
EXERCIDA EM DESARMONIA COM OS PRINCÍPIOS DESTINADOS A TORNAR EFETIVA
A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE. - A incolumidade do meio ambiente não pode ser
comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole
meramente econômica, ainda mais se tiver presente que a atividade econômica, considerada a
disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que
privilegia a "defesa do meio ambiente" (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente
das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço
urbano) e de meio ambiente laboral. Doutrina. Os instrumentos jurídicos de caráter legal e de
natureza constitucional objetivam viabilizar a tutela efetiva do meio ambiente, para que não se
alterem as propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que provocaria inaceitável
comprometimento da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população, além de causar
graves danos ecológicos ao patrimônio ambiental, considerado este em seu aspecto físico ou natural.
A QUESTÃO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL (CF, ART. 3º, II) E A NECESSIDADE
DE PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE (CF, ART. 225): O
PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO FATOR DE OBTENÇÃO DO
JUSTO EQUILÍBRIO ENTRE AS EXIGÊNCIAS DA ECONOMIA E AS DA ECOLOGIA. - O
princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente

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constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo


Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia
e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação
de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância
não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos direitos
fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da
generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações. O ART. 4º
DO CÓDIGO FLORESTAL E A MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.166-67/2001: UM AVANÇO
EXPRESSIVO NA TUTELA DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. - A Medida
Provisória nº 2.166-67, de 24/08/2001, na parte em que introduziu significativas alterações no art.
4o do Código Florestal, longe de comprometer os valores constitucionais consagrados no art. 225
da Lei Fundamental, estabeleceu, ao contrário, mecanismos que permitem um real controle, pelo
Estado, das atividades desenvolvidas no âmbito das áreas de preservação permanente, em ordem a
impedir ações predatórias e lesivas ao patrimônio ambiental, cuja situação de maior vulnerabilidade
reclama proteção mais intensa, agora propiciada, de modo adequado e compatível com o texto
constitucional, pelo diploma normativo em questão. - Somente a alteração e a supressão do regime
jurídico pertinente aos espaços territoriais especialmente protegidos qualificam-se, por efeito da
cláusula inscrita no art. 225, § 1º, III, da Constituição, como matérias sujeitas ao princípio da reserva
legal. - É lícito ao Poder Público - qualquer que seja a dimensão institucional em que se posicione
na estrutura federativa (União, Estados-Membros, Distrito Federal e Municípios) - autorizar,
licenciar ou permitir a execução de obras e/ou a realização de serviços no âmbito dos espaços
territoriais especialmente protegidos, desde que, além de observadas as restrições, limitações e
exigências abstratamente estabelecidas em lei, não resulte comprometida a integridade dos atributos
que justificaram, quanto a tais territórios, a instituição de regime jurídico de proteção especial (CF,
art. 225, § 1º, III). (ADI 3540 MC, Relator (a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado
em 01/09/2005, DJ 03-02-2006 PP-00014 EMENT VOL-02219-03 PP-00528) (STF - ADI: 3540
DF, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 03/02/2015, Data de Publicação: DJe-
025 DIVULG 05/02/2015 PUBLIC 06/02/2015) (g.n.)

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ANEXO C - AÇÃO RESCISÓRIA Nº 6.233-SE

AÇÃO RESCISÓRIA No 6.233-SE Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL MANOEL DE


OLIVEIRA ERHARDT Autores: CONSTRUTORA CUNHA LTDA. E JOSÉ FRANCISCO DA
CUNHA Réu: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Advs./Procs.: DRS. ANDRÉ LUÍS SANTOS
MEIRA E OUTRO (AUTORES) EMENTA: AÇÃO RESCISÓRIA. LIQUIDAÇÃO DE
SENTENÇA. ADMISSIBILIDADE. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO AMBIENTAL.
MANGUEZAL. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. MEIO AMBIENTE COMO
MACROBEM. DANO DE REPARABILIDADE INDIRETA. RECOMPOSIÇÃO DA ÁREA.
COLABORAÇÃO ANTRÓPICA COMPROVADA. RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. REDUÇÃO DA INDENIZAÇÃO. RESCISÓRIA PARCIALMENTE
PROCEDENTE. - Cabível a ação rescisória para desconstituir a decisão homologatória de cálculos
em ação rescisória, notadamente quando o argumento utilizado para rescisão é a desconformidade
da decisão com a sentença condenatória no processo de cognição. Precedente do STJ: (AR 489/PR,
Rel. Ministro DEMÓCRITO REINALDO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 23/04/1997, DJ
26/05/1997 p. 22465). - Fase de liquidação de sentença condenatória por dano ambiental em
manguezal, em que fora apresentado laudo pericial inicialmente fixando o valor da indenização em
R$ 175.017,73 (cento e setenta e cinco mil dezessete reais e setenta e três centavos). Posteriormente,
referido laudo foi retificado, atendendo à impugnação do Ministério Público, majorando o valor
para R$ 5.616.976,64 (cinco milhões seiscentos e dezesseis mil novecentos e setenta e seis reais e
sessenta e quatro centavos), sendo este valor homologado pelo Juízo. - Constatada a violação à
coisa julgada, pois a decisão homologatória do laudo pericial, conquanto tenha observado os limites
postos na sentença quanto à extensão do prejuízo causado ao meio ambiente, se excedeu na fixação
dos valores, pois acolhendo laudo retificador que adotou um fator de multiplicação de 17,6,
majorando-os em mais de 1600% o valor da condenação, o que se afigura nitidamente
desproporcional. - Deve-se atentar para a lógica da reparação do dano ao meio ambiente,
considerado como macrobem, incorpóreo e imaterial, visto como um conjunto de fatores que
interagem e condicionam a vida das pessoas, cuja reparabilidade é indireta no dizer da doutrina
especializada. - O método adotado nos Autos para estimar o valor do dano, em números absolutos,
se propõe a majorá-lo, conforme a nocividade da ação predatória, mediante multiplicação por um
fator numérico (fator de multiplicação), este obtido a partir da qualificação dos agravos perpetrados.
- Através de um juízo de valoração acerca do impacto ambiental causado na área do manguezal
atingido, devem considerar-se os seguintes fatores comprovados nos Autos: a) a área era passível
de recuperação; e b) o local ter sido recomposto devida à contribuição dos autores, ou seja, ação
antrópica com a natureza, demonstrando que os agentes alcançaram um novo patamar de educação
e consciência ambiental. - Embora não se possa afastar totalmente o fator de multiplicação, pois
necessário para verificar a gradação do dano dentro do método adotado, impõe-se sua redução para
o índice numérico mínimo diante dos fatores já apresentados, em homenagem à proporcionalidade,
fixando- se a condenação em R$ 1.190.058,00 (hum milhão, cento e noventa mil e cinquenta e oito
reais), conforme cálculo realizado no presente voto, devendo a correção monetária incidir a partir
da presente decisão. - Destacada a necessidade de se exercer o juízo rescisório, neste caso, haja
vista o processo estar devidamente instruído com provas periciais, bem como ser forma de dar
eficácia ao art. 5o, LXXVIII da Constituição Federal, que garante às partes a razoável duração do
processo, pois, a sentença liquidada transitou em julgado em 1997, tendo a ação civil pública que
lhe deu origem sido proposta em 17/06/1990, ou seja, temos 20 anos de trâmite de processo sem a
integral satisfatividade do direito material, o que não se afigura razoável. - Ação rescisória
parcialmente procedente. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de AR 6233-SE,
em que são partes as acima mencionadas, acordam os Desembargadores Federais do Tribunal
Regional Federal da 5a Região, por unanimidade, admitir o cabimento da ação rescisória, e, no
mérito, por maioria, julgar parcialmente procedente a ação, nos termos do relatório, voto e notas
taquigráficas constantes dos Autos, que ficam fazendo parte do presente julgado. Recife, 2 de junho

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de 2010 (data do julgamento). DESEMBARGADOR FEDERAL MANOEL DE OLIVEIRA


ERHARDT - Relator RELATÓRIO O SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL MANOEL DE
OLIVEIRA ERHARDT: 1. Trata-se de ação rescisória com pedido de antecipação de tutela
proposta pela Construtora Cunha e José Francisco da Cunha contra o Ministério Público Federal,
em razão do trânsito em julgado da decisão que, em liquidação de sentença proferida em ação civil
pública, homologou o laudo retificador apresentado pela perita nomeada pelo Juízo, fixando a
indenização por dano ambiental em R$ 5.616.976,64 (cinco milhões seiscentos e dezesseis mil
novecentos e setenta e seis reais e sessenta e quatro centavos). 2. Os Autores fundamentam a
demanda no artigo 485, IV, V e IX do Código de Processo Civil, aduzindo que a decisão impugnada
ofendeu a coisa julgada e violou literal disposição de lei, argumentando, em síntese articulada, o
seguinte: a) que a sentença condenatória determinou a indenização restrita aos prejuízos já
causados, tendo o laudo pericial, homologado pelo Juízo, calculado o valor com base na perda total
da área do manguezal, desconsiderando a recuperação do meio ambiente promovida pelos autores;
b) que a metodologia utilizada para aferição do valor da indenização é inadequada ao presente caso,
haja vista que o método adotado pela perita é destinado à parte ex adversa, ou seja, destina-se ao
Ministério Público para quantificar o dano ambiental e, assim, instruir a ação civil pública, quando
ainda não existira composição dos danos; c) por violação ao art. 248 do CPC, o fato de a magistrada
ter considerado alguns dados do laudo pericial que fora anulado pelo magistrado que presidira o
feito anteriormente, concluindo que, se a decisão está fundamentada em prova nula, também será
nula. d) por fim, requerem os Autores, liminarmente, a antecipação parcial da tutela, no sentido de
suspender os efeitos da decisão rescindenda; e, quanto ao mérito, a desconstituição da decisão,
determinando a produção de nova prova pericial; ou, alternativamente, que profira novo julgamento
da causa fixando o valor da indenização. 3. À fl. 1253, foi concedida medida liminar para suspender
o cumprimento da decisão rescindenda até o final do processo. 4. O Ministério Público Federal
apresentou contestação aduzindo o seguinte: a) o não cabimento da ação rescisória, pois, pretendem
as partes utilizar a ação como sucedâneo recursal, pretendendo discutir questões decididas na
instância inferior, o que é vedado pelo §2o do art. 485 do CPC; b) intuito procrastinatório da
rescisória, pois a execução da decisão condenatória “se arrasta por vários anos, sem que os réus,
condenados em 17/11/199 tenham cumprido o comando decisório; c) respeito pela decisão de
liquidação, às garantias do devido processo legal, do contraditório, da ampla defesa e da coisa
julgada, porquanto a liquidação de sentença deve ser respeitada por não admitir cognição, sendo
regular o arbitramento do valor da indenização pecuniária. 5. Concluindo a contestação, requer a
Procuradoria da República, preliminarmente, o não conhecimento da ação rescisória, e, no mérito,
a improcedência dos pedidos formulados. 6. Contra decisão liminar o Ministério Público interpôs
agravo regimental, julgado improvido à unanimidade pelo Tribunal Pleno, sendo mantida, assim, a
suspensão da execução da decisão impugnada. 7. Em seguimento, o Parquet apresenta razões finais
alegando em sede preliminar o não cabimento da ação rescisória; quanto ao mérito, dizem que a
decisão condenatória transitou em julgado desde 28/04/1997, sendo que os autores não pagaram a
indenização e promoveram poucas ações tendentes a recuperar o dano ambiental, o que só restou
recuperado na inspeção judicial realizada em 14/02/2008, que, enfim, a ação é procrastinatória, pelo
que requer sua improcedência. 8. Instado a se pronunciar, a parte autora quedou inerte, conforme
Certidão constante à fl. 1305. 9. É o Relatório. (g.n.)

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