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ISSN: 2595-573X
RESUMO
A presente pesquisa tem como objeto as relações jurídicas decorrentes do §4º do Art. 225 da
Constituição Federal Brasileira, que assegura a proteção dos principais ecossistemas brasileiros. A
Constituição quis enfocar algumas partes do território brasileiro para concitar que devem ser
utilizadas de modo a assegurar a conservação do meio ambiente, por serem áreas frágeis e detentoras
de grande diversidade biológica. A necessidade de proteção ambiental nem sempre foi tratada no
Brasil como deveria ser e foi longa a jornada percorrida até o alcance do entendimento de que a
proteção ambiental é e sempre será necessária como forma de proteção do homem, atualmente, o
centro das atenções quanto a esse assunto. A regra consubstanciada no Art. 225, §4º da CF, inaugura,
no Direito Ambiental Brasileiro, um tipo de comando constitucional que necessita compreender o
Patrimônio Nacional. O texto é pedagógico ao dizer que essas áreas integram o Patrimônio Nacional
e indicam que os regionalismos não devem sobrepor-se aos interesses nacionais. O Cerrado, mesmo
sendo um dos biomas brasileiros, não foi mencionado no Texto Constitucional. O objeto desta
pesquisa é uma análise comparativa com o Bioma Floresta Amazônica, de modo a verificar qual a
diferença jurídica quanto à proteção entre esses dois biomas. Dentro dessa temática, este trabalho
tem por finalidade conceituar juridicamente o Art. 225, §4º da Constituição e apresentar critérios
objetivos capazes de melhor compreender essa regra constitucional especificamente sobre o meio
ambiente, embora se considere que o dispositivo constitucional citado não impede a utilização pelos
próprios particulares dos recursos naturais existentes nas áreas sujeitas ao domínio privado, desde
que observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias à conservação
ambiental. A pesquisa apresenta técnicas, critérios e métodos de decisão para se procurar entender
o objetivo almejado pela norma constitucional do Art. 225, §4º. A linha de pesquisa escolhida é a
de conservação dos recursos naturais e desenvolvimento sustentável. O método científico adotado
é o dedutivo e, quanto aos meios, a pesquisa foi a bibliográfica e documental com consulta à
doutrina, legislação, jurisprudência, periódicos, tratados internacionais, revistas e documentos
ostensivos, disponibilizados pelas autoridades federais, estaduais e municipais. Quanto aos fins, a
pesquisa é qualitativa.
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ABSTRACT
The present research has the objective of legal relations arising from §4o of Article 225 of the
Brazilian Federal Constitution, which ensures the protection of the main Brazilian ecosystems. The
Constitution wanted to focus on some parts of the Brazilian territory to encourage them to be used
in a way that ensures the conservation of the environment, because they are fragile areas and possess
great biological diversity. The need for environmental protection has not always been addressed in
Brazil in the way it should be and the journey has been long until the understanding that
environmental protection is and always will be necessary as a form of protection of man, attention
to this matter. The rule embodied in Article 225, §4o of the CF, inaugurates, in Brazilian
environmental law, a type of Constitutional command that needs to understand the National
Patrimony. The text is pedagogical in saying that these areas are part of the National Patrimony,
indicating that regionalisms should not overlap with national interests. The Cerrado, even being one
of the Brazilian biomes, was not mentioned in the Constitutional text, being the object of this
research a comparative analysis with the Amazon Forest Biome in order to verify what legal
difference as protection between these two biomes. Within this theme, the purpose of the work is to
legally define Art. 225, §4o of the Constitution, presenting objective criteria capable of better
understanding this constitutional rule specifically about the environment. Whereas the
aforementioned constitutional provision does not prevent the use by private individuals of the
natural resources existing in those areas which are subject to the private domain, provided that legal
requirements are observed and the conditions necessary for environmental conservation are
observed. The research presents techniques, criteria and methods of decision to try to understand
the objective sought by the Constitutional rule of Art. 225, §4º. The research line chosen is the
conservation of natural resources and sustainable development. The scientific method adopted is the
deductive; As for the means, the research was made available to the federal, state and municipal
authorities, with reference to the doctrine, legislation, jurisprudence, periodicals, international
treaties, magazines and ostensible documents. And the purpose of the research is qualitative.
Keywords: Amazon rainforest. Conservation of the Cerrado. National Patrimony. Protected Areas.
Socio-environmental patrimony.
1 INTRODUÇÃO
O Brasil é formado por seis biomas de características distintas: Amazônia, Caatinga,
Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal e cada um desses ambientes abriga diferentes tipos de
clima, de relevo, de solo, de vegetação e de fauna. A vegetação é um dos componentes mais
importantes, visto que seu estado de conservação e de continuidade definem a existência ou não de
habitats para as espécies, o fornecimento de bens essenciais à sobrevivência de populações
humanas e a manutenção de serviços ambientais.
A identificação dos biomas brasileiros, sua importância para o meio ambiente, seus
diferentes aspectos ambientais, as regiões de abrangência e a forma como o homem se relaciona
com esses ecossistemas são importantes para a estabilização e o equilíbrio ambiental e,
consequentemente, para a perpetuação da vida.
Dispõe o artigo 225 da Constituição Federal, em síntese, que todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
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limitam a problemática ambiental a uma determinada região geográfica e, sim, compreende que a
problemática ambiental se sobrepõe às fronteiras físicas e tem interesse nacional.
O Patrimônio Nacional, em linhas gerais, é um conjunto de bens que representam a história,
a geografia, a cultura, as tradições e a memória de um determinado país, bens que ajudam a formar
um sentimento nacional, um sentimento de brasilidade, que aglutina e orgulha esta Nação.
O dispositivo merece críticas como o fato de relacionar, indistintamente, os biomas (Floresta
Amazônica, Mata Atlântica, Pantanal Matogrossense) com os espaços de interação ambiental (Zona
Costeira) e com os acidentes geográficos (Serra do Mar). Importante destacar que nem todos esses
ecossistemas relacionados na CF/88 são biomas, porque, como mencionado, alguns são espaços de
interação ambiental e outros, acidentes geográficos.
Houve omissão, no texto constitucional, no tocante aos biomas Pampas, Cerrado e Caatinga,
entretanto, para os fins desta pesquisa, será analisado somente o Cerrado, dada a sua grande zona
de ecótono com a Floresta Amazônica e por ser o berço das águas que alimentam os principais rios
da hidrovia Amazônica. Ademais, o Cerrado poderá tornar-se Patrimônio Nacional, visto que
tramita, no Congresso Nacional, Proposta de Emenda à Constituição, PEC nº 504/2010, que
objetiva conferir esse status ao Cerrado.
Inegável ser a defesa jurídica do meio ambiente, ao considerar regras, princípios e interesse
acadêmico, uma tentativa de conciliar a progressiva realização dos direitos sociais, econômicos e
patrimoniais, numa dinâmica comum a todos os cidadãos sem qualquer distinção, com a
implantação estratégica de uma estrutura jurídica protetiva do meio ambiente.
Outro ponto de análise é sobre o direito de propriedade ou a implantação de projetos de
desenvolvimento nesses ecossistemas, considerando que o dispositivo constitucional citado não
impede a utilização, pelos próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que
estejam sujeitas ao domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as
condições necessárias à conservação ambiental.
Serão analisados, em capítulo próprio e em ordem cronológica, todos os julgados produzidos
pelo STF e pelo STJ que tenham como fundamento jurídico o art 225, §4º da CF, bem como os seus
reflexos para o mundo jurídico e ambiental.
A importância da pesquisa está na necessidade de discutir o tema referente à proteção
conferida pela Constituição Federal a macroecossistemas específicos. A análise do dispositivo faz-
se necessária, porque o bioma Cerrado foi excluído, de forma que é necessário compreender o que
o legislador quis proteger neste artigo, para verificar se essa proteção não deveria ser extensiva ao
Cerrado, por meio de uma comparação com o bioma Floresta Amazônica contemplado na norma.
Ao final da pesquisa, foram apresentadas as conclusões e os anexos.
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O conceito jurídico de meio ambiente é abrangente, com referências aos elementos biótipos,
os seres vivos, e abióticos, os não vivos, que permitem a vida em todos as suas formas, não
exclusivamente a vida humana.
Segundo Milaré (2010, p. 15):
Comumente são apontadas duas concepções distintas do que seja o meio ambiente:
uma ecocentrista (concepção estrita) e outra antropocentrista (concepção ampliada).
A ecocentrista (concepção estrita) do meio ambiente restringe-se ao meio ambiente
natural. Já a antropocentrista (concepção ampliada) do meio ambiente compreende
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para além do meio ambiente natural, o meio ambiente artificial e o meio ambiente
cultural. (g.n.)
A Lei nº 7.347/85, que disciplina a Ação Civil Pública de responsabilidade por danos
causados ao meio ambiente, a bens e a direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico, consagra uma concepção ampliada ou antropocentrista:
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
l - ao meio ambiente;
(...) omissis
III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
(...) omissis
VIII – ao patrimônio público e social.
(...) omissis
Art. 4º Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando, inclusive,
evitar dano ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à honra e
à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, à ordem urbanística ou aos bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
Art. 5º omissis
(...) omissis
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social,
ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos
de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico. (g.n.)
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compreendido como o conjunto de bens que representam a memória de um determinado país, bens
que ajudam a formar um sentimento nacional, um sentimento de brasilidade, de identidade nacional
que, relacionados ao meio ambiente, se referem aos elementos biótipos e abióticos que permitem a
vida em todos as suas formas, não exclusivamente a vida humana. No item 2.3, o assunto será tratado
com maior profundidade.
Para Silva (2004, p. 20), "o meio ambiente é a interação do conjunto de elementos naturais,
artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas
formas”. Nesse contexto, Silva (2004, p. 20):
Silva (2004, p. 21) “classifica o meio ambiente, em sentido amplo, em quatro componentes:
meio ambiente físico ou natural; meio ambiente cultural; meio ambiente artificial e meio ambiente
do trabalho”.
Essa classificação de Meio Ambiente proposta por Silva tornou-se uma referência acolhida
tanto pela Doutrina quanto pelos Tribunais e contribuiu para a compreensão da abrangência do meio
ambiente, que não se restringe ao natural, mas inclui os elementos culturais, artificiais e trabalhistas.
O meio ambiente físico ou natural é integrado pela flora, fauna, recursos hídricos, atmosfera,
estuários, mar territorial, solo, subsolo, elementos da biosfera, referenciado na CF:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º omissis
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico
das espécies e ecossistemas;
(...) omissis
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais a crueldade. (g.n.)
O meio ambiente cultural, por sua vez, constitui-se do patrimônio cultural, artístico,
arqueológico, paisagístico, etnógrafo, manifestações culturais, folclóricas e populares brasileiras. O
meio ambiente cultural é composto tanto pelo patrimônio cultural material quanto pelo patrimônio
cultural imaterial. Considera-se patrimônio cultural material os bens móveis e imóveis relevantes
no aspecto cultural, como imóveis tombados, obras de artes e outros.
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Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso
às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais.
§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-
brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.
(...) omissis
I defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;
(...)omissis
IV democratização do acesso aos bens de cultura;
V valorização da diversidade étnica e regional. (g.n.)
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Dessa forma, o Patrimônio cultural faz parte do Patrimônio Nacional brasileiro. Nesse ponto,
merece registro o novel §7º do art. 225 da CF, que pacificou o entendimento sobre a realização da
Farra do Boi em Santa Catarina (SC), um ritual típico, que consiste em soltar um boi em um local
ermo e fazê-lo correr atrás das pessoas que participam, e chegou a ser objeto de análise no STF por,
possivelmente, causar maus tratos aos animais:
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal,
conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.
(...)omissis
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída
no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não
edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado
aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios; (g.n.)
Art. 200. Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da
lei:
(...)omissis
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.
(g.n.)
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Além dele, outro artigo da CF dispõe sobre a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por
meio de normas de saúde, higiene e segurança:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria
de sua condição social:
(...)omissis
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene
e segurança; (g.n.)
Silva (2004, p. 22) comenta que “O meio ambiente do trabalho preocupa-se, assim, com o
obreiro em seu local de trabalho, por meio de prescrições de saúde, salubridade, condições
atmosféricas, ergonomia, etc”. Essa classificação foi citada no Superior Tribunal de Justiça com o
REsp 725.257/MG, em voto unânime da lavra do Ministro Relator José Delgado:
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Por essa classificação de Silva, veem-se compreendidos dentro da expressão meio ambiente
não apenas os aspectos naturais, mas também o homem como parte das interações e suas realizações,
sendo indissociáveis da compreensão de meio ambiente as questões relativas ao meio ambiente
artificial, cultural e do trabalho, têm-se, portanto, esses aspectos a serem considerados para uma
concepção de meio ambiente, a natureza em si e as realizações do homem.
Ainda nesse introito sobre o conceito de Patrimônio, o §4º do art. 225 da Constituição
Federal emprega a terminologia Patrimônio Nacional, para qualificar os ecssistemas lá inseridos, o
que permite que se busque fazer a definição das palavras Patrimônio e Nacional, separadamente,
pelos principais lexicógrafos da língua portuguesa.
Segundo Ferreira (2010, p. 1580), Patrimônio:
[Do lat. patrimoniu.] S.m. 1. herança paterna 2. bens de família 3. dote ordinário 4. Bem,
ou conjunto de bens culturais ou naturais, de valor reconhecido para determinada
localidade, região, país, ou humanidade, e que, ao se tornar (em) protegido (s), como,
p. ex. pelo tombamento, deve (m) ser preservado (s) para o usufruto de todos os
cidadãos: Os bens culturais e naturais de valor universal excepcional, como as cidades
de Ouro Preto, Olinda e o Parque Nacional do Iguaçu, são incluídos na lista do
Patrimônio mundial da Unesco; (...) termo patrimônio para designar o conjunto de
bens de valor cultural que passaram a ser propriedade da nação, ou seja, do conjunto
de todos os cidadãos.> omissis
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[na.cio.nal] [pl.:-ais] adj.2g. 1. que pertence a uma nação, por nela ter nascido ou por ter-
se naturalizado (diz-se de pessoa) ou por nela ter sido produzida (diz-se de coisa). 2.
relativo à nação, que é próprio de uma nação, que a caracteriza, que a distingue das demais.
3. que representa uma nação. 4. que diz respeito a uma nação em sua totalidade. 5.
substantivo masculino: o natural de um país.
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Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)omissis
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a
anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural,
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência; (g.n.)
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente
sobre:
(...)
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos
naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de
valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; (g.n.)
Art.225 omissis
(...)
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal
Mato-Grossense e a Zona Costeira são Patrimônio Nacional, e sua utilização far-se-á,
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Desse modo, o patrimônio histórico e artístico nacional é o conjunto dos bens móveis e
imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a
fatos memoráveis da História do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico,
bibliográfico ou artístico.
O Decreto-Lei nº 25/1937 menciona, no art. 4º, que os bens somente sejam considerados
parte integrante do patrimônio histórico o artístico nacional, depois de inscritos separadamente ou
em grupo num dos quatro Livros do Tombo:
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e Artístico Nacional (IPHAN), cuja atribuição, a partir do estudo da história e cultura brasileira, é
determinar os bens que devem ser considerados patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e
paisagístico.
Segundo o IPHAN (2018, p. p.), o conceito de patrimônio cultural:
A Lei nº 4.717/1965, que regula a ação popular, define o que seja patrimônio público:
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A Lei nº 7.347/85, que trata da ação civil pública, é outro exemplo de norma
infraconstitucional que define o patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico,
conforme se extraí dos seguintes artigos:
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
l - ao meio ambiente;
ll - ao consumidor;
III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
(...) omissis
VIII – ao patrimônio público e social.
(...) omissis
Art. 4o Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando, inclusive,
evitar dano ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à honra e à
dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, à ordem urbanística ou aos bens e direitos
de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
Art. 5o omissis
(...) omissis
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social,
ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de
grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico. (g.n.)
O patrimônio turístico é definido por Pinto (1998. p,49):“Entende-se por patrimônio turístico
o conjunto de bens naturais e culturais que, por suas características intrínsecas, possuem atratividade
para a visitação”.
O patrimônio paisagístico é definido por Fonseca (2005. p. 77):
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O Patrimônio Histórico pode ser definido como um bem material, natural ou imóvel que
possui significado e importância artística, cultural, religiosa, documental ou estética para a
sociedade. Esses patrimônios foram construídos ou produzidos pelas sociedades passadas, por isso
representam um importante acervo cultural. Castro (1991, p. 53) lista alguns patrimônios históricos
do Brasil:
Para Lorenzentti (2010, p. 26), “o meio ambiente é um Macrobem e, como tal, é um sistema,
o que significa que é mais que suas partes: é a interação de todas elas”. Cita-se como exemplo de
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Macrobem o conceito jurídico de meio ambiente da Lei n. 6.938/1981, que dispõe sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente:
O TRF da 5ª Região já consignou a leitura do meio ambiente como macrobem, ao concluir
que se deve atentar para a lógica da reparação do dano ao meio ambiente, considerado como
macrobem, incorpóreo e imaterial, visto como um conjunto de fatores que interagem e condicionam
a vida das pessoas, cuja reparabilidade é indireta no dizer da doutrina especializada, conforme se
extrai da leitura do Acórdão (AR 6.233/SE):
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Por macrobem, deve-se entender o meio ambiente em sua totalidade, portanto, o conjunto
de interações e elementos em sua máxima complexidade, em sua máxima extensão, em todas as
formas de vida interagindo entre si e com todas suas manifestações e criações. A proteção do
macrobem dá-se em nível igualmente amplo com o de sua concepção, considerando-se atentatória
ao macrobem toda e qualquer ação que prejudique o equilíbrio ecológico e, necessariamente,
danifique o meio ambiente. Desse modo, quaisquer ecossistemas perturbados são exemplos de
atividade destrutiva do macrobem ambiental.
O Macrobem ambiental não se confunde com o Microbem, que constitui a parte corpórea do
meio ambiente, tais como as florestas, os rios, a fauna, conforme Lorenzetti (2010, p. 26):
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titularidade pública ou privada, isso porque um recurso ambiental, como uma floresta, pode
ser de titularidade pública ou privada e passível de exploração. (g.n.)
Por esse entendimento, o proprietário do imóvel poderá utilizar, na forma da lei, dos recursos
ambientais, parte corpórea, embora isso não represente dispor de suas qualidades como Macrobem,
incorpóreo, ou seja, nos termos da legislação de proteção florestal, é possível a exploração de
recursos ambientais, mas o permissivo não conduz à possibilidade de dispor das qualidades do meio
ambiente enquanto bem de uso comum do povo.
Conforme Vulcanis (2008, p. 37):
Se o Microbem pode estar sob regime de apropriação individual, é necessário que esta
apropriação não se incompatibilize com o direito subjetivo fundamental que a
coletividade tem sobre esse Microbem, da mesma forma que esse regime de apropriação
não pode se incompatibilizar com o fato de que o Macrobem, que é o meio ambiente
ecologicamente equilibrado, seja o bem de uso comum do povo. (g.n.)
Todo bem socioambiental tem pelo menos duas expressões jurídicas e comporta,
assim, dupla titularidade. A primeira é do próprio bem, materialmente tomado; a
segunda é sua representatividade, evocação, necessidade ou utilidade ambiental e a
relação com os demais, compondo o que a lei brasileira chamou de meio ambiente
ecologicamente equilibrado. Esse direito é disposto como se estivessem em camadas:
na primeira camada, o direito de titularidade individual, que é o direito de
propriedade, (público e privado); na segunda camada, o direito coletivo, a sua
preservação para garantia socioambiental. Os dois não se excluem, ao contrário, se
completam e se subordinam na integralidade do bem, como se fosse em seu corpo e sua
alma. (g.n.)
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Assim, é possível tutelar o meio ambiente tanto como Macrobem quanto pelo regime
específico de seus Microbens, consistentes na proteção às áreas de preservação permanente, reservas
legais, fauna e flora, pois o Macrobem ambiental é incorpóreo, possui uma visão globalizada e
integrada e é um bem de uso comum do povo, enquanto o Microbem ambiental é corpóreo e pode
ser representado por florestas, fauna, flora e cuja titularidade é pública ou privada.
O entendimento do fenômeno ambiental no ordenamento jurídico brasileiro será tratado no
tópico seguinte, por meio da análise das primeiras previsões normativas relacionadas às questões do
meio ambiente até à Constituição Federal de 1988, com a finalidade de melhor compreender o
dispositivo constitucional, objeto desta pesquisa.
O que predominou no Brasil, durante muito tempo, foi a desproteção total do meio
ambiente, uma vez que a concepção privatista do direito de propriedade constituía forte
barreira à atuação do poder público na proteção do meio ambiente, que, necessariamente,
haveria e haverá de importar limitar aquele direito e a iniciativa privada.
Nada traziam especificamente sobre a proteção do meio ambiente natural. Das mais
recentes, desde 1946, apenas se extrai orientação protecionista do preceito sobre a proteção
da saúde sobre a competência da União para legislar sobre água, florestas, caça e pesca,
que possibilitavam a elaboração de leis protetoras, como o Código Florestal e os Códigos
de Saúde Pública, de Água e de Pesca. A Constituição de 1988 foi, portanto, a primeira a
tratar deliberadamente da questão ambiental do devido modo.
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Por outro lado, Padilha (2010, p. 101) afirma que tal normatividade fragmentada:
Para Mattos Neto (2010, p. 16), há uma justificativa histórica para essa desproteção
ambiental:
Para combater piratas estrangeiros e incrementar a receita da Coroa, foi instituído o regime
de sesmarias, que consistia na concessão de terras no novo território a nobres e a novos
ricos de Portugal, respectivamente homens de qualidade e homens de posse. As terras
eram concedidas a amigos do Rei, que viviam a decadência do feudalismo na Europa
e podiam reviver esse modelo no novo território, e à classe emergente formada por
mercadores, novos ricos. A concessão de terras tinha por objetivo a colonização, a
exploração econômica e o policiamento do litoral brasileiro .
Desse modo, o regime de sesmarias adotado no Brasil já havia sido instituído em Portugal,
onde todos os proprietários eram obrigados a cultivar suas terras, sob pena de ceder a quem decidisse
nelas trabalhar.
De acordo com Mattos Neto (2010, p. 16): “Era uma medida providencial para as terras
inaproveitadas, e que, transplantadas para o caso brasileiro, seriam, essas terras, transfiguradas pelas
terras virgens e inexploradas”.
E conclui Mattos Neto (2010, p. 20):
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No governo do Presidente Getúlio Vargas, em especial, a partir de 1930 com o Estado Novo,
surgiu um conjunto de normas ambientais, não sistematizadas, que tratavam de temas específicos,
como a fauna, a flora, as questões sanitárias, as questões rurais.
Foram produzidos os seguintes textos legislativos envolvendo questões ambientais a partir
da década de 1930: a) Decreto n. 23.793, de 23 de janeiro de 1934, que aprovou o primeiro Código
Florestal Brasileiro; b) Decreto n. 24.645, de 10 de julho de 1934, que coloca os animais sob tutela
do Estado; c) Decreto n. 24.643, de 10 de julho de 1934, que aprovou o Código de Águas; d)
Decreto-Lei n. 25, de 30 de novembro de 1937, que organiza a proteção do Patrimônio Histórico
Artístico Nacional; e) Decreto-Lei n. 1.985, de 29 de janeiro de 1940, que aprovou o Código de
Minas; f) Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940, que estabeleceu o novo Código Penal,
embora não se refira, especificamente, a crime algum contra o meio ambiente e, sim, a questões
sanitárias; g) Decreto-Lei n. 3.688, de 3 de outubro de1941, que dispõe sobre a Lei de Contravenções
Penais e trata de algumas condutas que atentam contra o meio ambiente; h) Decreto-Lei n. 7.841,
de 8 de agosto de 1945, que dispõe sobre o Código de Águas Minerais; i) Lei n. 4.771, de 15 de
setembro de 1965, que dispõe sobre o Código Florestal; j) Lei n. 5.197, de 3 de janeiro de 1967, que
dispõe sobre o Código de Fauna; l)Decreto-Lei n. 221, de 28 de fevereiro de 1967, que dispõe sobre
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o Código de Pesca; m) Decreto-Lei n. 227, de 28 de fevereiro de 1967, que dispõe sobre o Código
de Minas.
A citação desse conjunto de leis do início do Período Republicano revela a maneira
fragmentada como as questões ligadas ao meio ambiente eram tratadas, sem uma preocupação
especifica com a problemática ambiental.
O meio ambiente ecologicamente equilibrado é uma garantia disposta no art. 225 da
Constituição Federal, contudo tal direito foi elevado ao status constitucional após vários
movimentos ambientais internacionais e nacionais, que surgiram em resposta aos problemas
ambientais crescentes, como a escassez dos recursos naturais.
No plano internacional, em razão da desproporcionalidade entre o crescimento populacional
e a disposição dos bens ambientais, surgiram, na Idade Média, as primeiras leis criando reservas
florestais e punindo a caça e a pesca desordenadas, apesar de essa proteção ambiental atender apenas
aos interesses da Monarquia, que mantinha a visão utilitária do meio ambiente, sem preocupações
quanto à possibilidade de exploração dos recursos naturais pelas futuras gerações.
Após as constantes catástrofes ambientais, como tempestades e erosões, surgiram
movimentos sociais na Europa e nos Estados Unidos, voltados para a proteção do meio ambiente.
Assim, foi criada, em 1948, a União Internacional para a Proteção da Natureza - UIPN, que
sustentava a defesa do meio ambiente em seu estado primitivo e impulsionou o estabelecimento dos
primeiros parques nacionais dos Estados Unidos.
Nesse sentido, Leuzinger (2008, p. 8) destaca que “ Com base nesse pensamento, foi que os
EUA deram início, a partir de 1872, ao estabelecimento de parques nacionais, iniciando com
Yellowstone, no Estado de Wyoming”.
Posteriormente, em 1956, a UIPN foi transformada na União Internacional para a
Conservação da Natureza – UICN, que acreditava na proteção ambiental com base na utilização
racional dos recursos naturais e objetivava atuar numa perspectiva de conservação da natureza.
Foi, porém, com a publicação do livro “Primavera Silenciosa” em 1962, por Rachel Carson,
que apontava os efeitos nocivos que o inseticida DDT causava ao meio ambiente e à saúde humana,
que a polêmica em torno da proteção ambiental tomou proporção internacional e impulsionou
movimentos ambientais que objetivavam a conscientização pública quanto à vulnerabilidade do
meio ambiente natural.
Em 1968, foi criado o Clube de Roma, que consistia num centro de pesquisa formado por
grupo de cientistas, economistas, políticos, dentre outros pesquisadores, que analisavam os
problemas da crise ambiental mundial e publicaram, em 1972, o Relatório intitulado “Limites do
crescimento”, que apontava o aumento do crescimento populacional, a industrialização excessiva e
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a escassez dos recursos naturais, como as principais causas dos problemas ambientais. Diante disso,
acreditavam que o “crescimento zero” dos países desenvolvidos e em desenvolvimento seria a
solução para evitar o colapso do sistema econômico e ambiental.
No mesmo ano da publicação desse Relatório, as Nações Unidas promoveram, na cidade de
Estocolmo, a Conferência sobre o Meio Ambiente Humano, em que o direito ao meio ambiente
equilibrado foi declarado como direito fundamental no Princípio I da Declaração.
A Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Desenvolvimento Humano
em 1972, na Suécia, conhecida como Conferência de Estocolmo, é considerada o marco histórico
da construção normativa do Direito Internacional do Meio Ambiente. Segundo Padilha (2010, p. 1):
“Essa conferência provocou uma transformação da legislação ambiental pelo mundo e, em especial
no Brasil, sob a influência do fenômeno do ‘Espírito de Estocolmo’, as grandes questões ambientais
foram reveladas e discutidas".
A Declaração de Estocolmo consagrou solenemente a tendência contemporânea com as
questões relacionadas ao meio ambiente (ONU, 1972, p. 1):
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Tal legislação é anterior à Constituição de 1988 e teve sua redação alterada pela Lei Complementar
nº 140/2011. Ela é a referência mais importante na proteção ambiental, porque dá efetividade ao art.
225 da CF.
A proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado foi inserida constitucionalmente
em 1988, após o surgimento de movimentos ambientais internacionais, conferencias e relatórios
voltados para a defesa do meio ambiente.
Neste sentido, escalarece Milaré (1991, p. 3):
Essa previsão atual é um marco histórico de inegável valor, dado que as Constituições que
precederam as de 1988 jamais se preocuparam com a proteção do meio ambiente de forma
específica e global. Nelas sequer foi empregada a expressão "meio ambiente”, revelando
uma total despreocupação com o espaço em que se vive e com a preocupação em
conservação dos recursos ambientais.
Nesse sentido, quando o caput do art. 225 da CF dispõe ser garantia de todos o meio
ambiente ecologicamente equilibrado, consolida a ideia de que este se trata de direito difuso e,
portanto, de terceira dimensão, que abriga titularidade indeterminada, sem o qual não há
possibilidade de efetivação dos demais direitos. Registra-se que direitos fundamentas de primeira
dimensão são os relacionados à liberdade e direitos fundamentais de segunda dimensão objetivam
a igualdade.
Para Fiorillo (2010, p. 56), “o direito difuso apresenta-se como um direito transindividual,
tendo um objeto indivisível, titularidade indeterminada e interligada por circunstâncias de fato”.
Mas a proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado também está voltada para a garantia
da sadia qualidade de vida, objeto mediato do Direito Ambiental, a fim de proporcionar dignidade
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ao ser humano, visto que saúde não se resume à ausência de enfermidade, mas também se relaciona
com o bem-estar social e vida em condições dignas.
O texto constitucional consagrou como obrigação do Poder Público a defesa, a preservação
e a garantia do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à qualidade de vida, que suscita a utilização de todos os meios
legislativos, administrativos e judiciais necessários à sua efetiva proteção. Com bem diz Sirvinskas
(2008, p. 68):
A preocupação foi tanta com meio ambiente que o legislador constituinte resolveu
reservar-lhe um Capítulo inteiro na Constituição Federal, procurando disciplinar a matéria
diante de sua importância mundial, inseriu o Capítulo sobre meio ambiente Inseriu o
Capítulo sobre o meio ambiente em um único artigo, contendo seis parágrafos.
Analisando o texto da CF, observam-se outras passagens, além do Art. 225, que tratam do
meio ambiente. Pode-se citar: art. 5º, LXXIII; art. 23, VI; art. 24, VI e VIII; art. 129, III; art. 170,
VI; art. 174, §3º; art. 186, II; art. 200, VIII; art. 220, §3º, II; art. 225; art. 231, §1º.
Esse conjunto de artigos no texto constitucional é o reconhecimento da necessidade de
proteção desse patrimônio ambiental. A CF impôs ao Poder Público a incumbência de definir, em
todas as Unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem
sua proteção, obrigação que não tem sido cumprida à risca por boa parte dos entes federados.
Alguns pesquisadores apontam que é preciso tirar do papel a proteção do meio ambiente e
efetivamente implantar as políticas socioambientais, segundo Pimentel (2008, p. 36):
A maioria das Unidades de Conservação são parques de papel, existem tão somente na letra
fria do ato normativo que as criou e passam por uma situação de descaso e abandono cada
vez maior. Espera-se que o Poder Público mude essa realidade, implementando as Unidades
de Conservação e cumprindo a obrigação imposta pela Constituição de 1988.
A criação das Unidades de Conservação não se justifica por si mesma, vinculada que
se encontra a claros objetivos constitucionais e legais de proteção da Natureza. Por
isso, em nada resolve, freia ou mitiga a crise da biodiversidade – diretamente
associada à insustentável e veloz destruição de habitat natural –, se não vier
acompanhada do compromisso estatal de, sincera e eficazmente, zelar pela sua
integridade físico-ecológica e providenciar os meios para sua gestão técnica,
transparente e democrática. A ser diferente, nada além de um "sistema de áreas
protegidas de papel ou de fachada" existirá, espaços de ninguém, onde a omissão das
autoridades é compreendida pelos degradadores de plantão como autorização implícita para
o desmatamento, a exploração predatória e a ocupação ilícita. (g.n.)
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Portanto, merece uma reflexão sobre dar efetividade ao conjunto de normas, sejam elas
constitucionais e infraconstitucionais, a toda problemática socioambiental, para que a conservação
dos recursos naturais não se limite a simples pedaços de papel oficiais.
Mesmo com essa critica sobre a efetividade das questões socioambientias, merece destaque
que, a partir da CF, o meio ambiente passou a ser um bem juridicamente tutelado. Para Silva (2004,
p. 46), “A Constituição de 1988 foi, portanto, a primeira a tratar deliberadamente da questão
ambiental. Pode-se dizer que ela é uma Constituição eminentemente ambientalista”.
O dano ambiental possui uma conceituação ambivalente, por determinar não somente a
lesão que atinge o patrimônio ambiental em si, que constitui um patrimônio comum à
coletividade, mas, por intermédio do dano ricochete, os interesses pessoais também são
atingidos pelos danos. As questões ambientais, em muitos casos, não se circunscrevem
a uma determinada fronteira espacial, podendo atingir um determinado grupo ou
vários grupos em cadeia ou simultaneamente. (g.n.)
Verifica-se, desse modo, que o dano ambiental atinge de forma direta a coletividade quando
causa prejuízos ao meio ambiente e, de forma indireta, poderá atingir, eventualmente, a terceiros. A
Lei nº 6.938/1981 prevê, de forma expressa, as duas modalidades, no art. 14, §1º, ao dizer que é o
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.
Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e
municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos
inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os
transgressores:
(...) omissis
§1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor
obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério
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Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil
e criminal, por danos causados ao meio ambiente. (g.n.)
Assim, conforme Milaré (2007, p. 113), “a proteção do meio ambiente será alcançada quando
se proteger a interação entre os elementos bióticos e abióticos, uma vez que este bem é o responsável
pela conservação das formas de vidas”. Esse comentário é extraído da leitura do texto da CF:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
(...) omissis
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal
Mato-Grossense e a Zona Costeira são Patrimônio Nacional, e sua utilização far-se-á,
na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente,
inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. (g.n.)
Para Faria (2009, p. 2), nem todos esses ecossistemas são biomas, porque o termo “bioma
vem do grego bio = vida + oma = grupo ou massa e significa uma unidade biológica ou espaço
geográfico cujas características específicas são definidas pelo macroclima, a fitofisionomia, o solo,
a altitude, dentre outros critérios biológicos”, ou seja, são ecossistemas ou habitats biológicas com
certo nível de homogeneidade que podem ter zonas de contato, que se denominam ecótono.
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A Mata Atlântica é composta por formações florestais nativas, tais como a Floresta
Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila Mista, também denominada de Mata de Araucárias; Floresta
Ombrófila Aberta; Floresta Estacional Semidecidual; e Floresta Estacional Decidual, e demais
ecossistemas associados, como os manguezais, vegetações de restingas, campos de altitude, brejos
interioranos e encraves florestais do Nordeste (BRASIL, MMA ,2018).
Originalmente, o bioma ocupava mais de 1,3 milhões de km² em 17 Estados do território
brasileiro, estendendo-se por grande parte da costa do país, porém, devido à ocupação e às atividades
humanas na região, ja descritas no item 1.1, hoje restam cerca de 29% de sua cobertura vegetal
original (BRASIL, IBGE, 2018).
Mesmo assim, estima-se que existam na Mata Atlântica cerca de 20 mil espécies vegetais,
35% das espécies existentes no Brasil, incluindo diversas espécies endêmicas e ameaçadas de
extinção. Essa riqueza é maior que a de alguns continentes, a exemplo da América do Norte, que
conta com 17 mil espécies vegetais, e da Europa, que conta com 12,5 mil (BRASIL, IBGE, 2018).
Esse é um dos motivos que tornam a Mata Atlântica prioritária para a conservação da
biodiversidade mundial. Em relação à fauna, o bioma abriga, aproximadamente, 850 espécies de
aves, 370 de anfíbios, 200 de répteis, 270 de mamíferos e 350 de peixes e, além de ser uma das
regiões mais ricas do mundo em biodiversidade, a Mata Atlântica fornece serviços ecossistêmicos
essenciais para os 145 milhões de brasileiros que vivem nela (BRASIL, MMA, 2018).
As florestas e demais ecossistemas que compõem a Mata Atlântica são responsáveis pela
produção, regulação e abastecimento de água; regulação e equilíbrio climáticos; proteção de
encostas e atenuação de desastres; fertilidade e proteção do solo; produção de alimentos, madeira,
fibras, óleos e remédios; além de proporcionar paisagens cênicas e preservar um patrimônio
histórico e cultural imenso (BRASIL, MMA, 2018).
Nesse contexto, a conservação da áreas remanescentes de Mata Atlântica e a recuperação da
sua vegetação nativa tornam-se fundamentais para a sociedade brasileira, destacando-se, para isso,
as áreas protegidas como Unidades de Conservação (SNUC), previstas na Lei nº 9.985/2000, as
Terras Indígenas daquela área, previstas no Estatuto do Índio conforme a Lei nº 6001/1973, e as
Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal, previstas no Código Florestal, nos termos da
Lei nº 12.651/2012.
O bioma também é protegido pela Lei nº 11.428/2006, conhecida como Lei da Mata
Atlântica, regulamentada pelo Decreto nº 6.660/2008, segundo o WWF - Brasil (2018, p. 2):
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Outro ecossistema contemplado no §4º do art. 225 da CF foi a Serra do Mar, que é constituída
pela Mata Atlântica, integra o ecossistema costeiro e abrange os manguezais e as restingas. Nesse
sentido, Figueiredo (2010, p. 393) explica:
A Serra do Mar não como um bioma e, sim, como acidente geográfico, pois é composta por
uma cadeia montanhosa do relevo brasileiro, que se estende por, aproximadamente, 1.500
quilômetros ao longo do litoral leste/sul, indo desde o estado do Rio de Janeiro até o norte
do estado de Santa Catarina.
Em São Paulo, a Serra do Mar atravessa as três regiões litorâneas (Norte, Central e Sul) e
pertence ao Complexo Cristalino Brasileiro (BRASIL, MMA, 2018).
As formas atuais da Serra do Mar derivam de vários fatores: diferença de resistência das
rochas, falhamento do relevo e sucessivas trocas climáticas (BRASIL, MMA, 2018). O último
segmento de montanhas da Serra do Mar, no estado do Rio de Janeiro, recebe o nome local de Serra
dos Órgãos e possui os mais altos picos de toda a Serra do Mar, como a Pedra do Sino de
Teresópolis, 2.255 metros, o Pico da Caledônia 2.257 metros, em Nova Friburgo, e outros picos
maiores localizados no Parque Estadual dos Três Picos, onde se encontram os três picos, uma
formação rochosa de granito e gnaisse com mais de 2.300 metros de altura, o pico maior de Friburgo:
2.366 metros, ponto culminante da Serra do Mar no Brasil, que possui três picos ou "três agulhas"
na parte superior desta rocha (BRASIL, MMA, 2018).
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encontram-se protegidos por Unidades de Conservação, dos quais 2,9% correspondem a UCs de
proteção integral e 1,7% a UCs de uso sustentável (BRASIL, MMA, 2018).
A Zona Costeira Brasileira consta no §4º do art. 225 da CF, entretanto, como já mencionado,
não se trata de um bioma e, sim, de um espaço de interação ambiental, conforme definido na Lei no
7.661/1988, que institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro:
Art. 2º. Subordinando-se aos princípios e tendo em vista os objetivos genéricos da PNMA,
fixados, respectivamente, nos arts. 2º e 4º da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, o PNGC
visará especificamente a orientar a utilização nacional dos recursos na Zona Costeira, de
forma a contribuir para elevar a qualidade da vida de sua população, e a proteção do seu
patrimônio natural, histórico, étnico e cultural.
(...)
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, considera-se Zona Costeira o espaço
geográfico de interação do ar, do mar e da terra, incluindo seus recursos renováveis
ou não, abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre, que serão definidas pelo
Plano.
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Esses grandes ecossistemas foram inseridos da CF com a finalidade de dar maior proteção à
biodiversidade ali existente. Para Silva (2007, p. 844), o melhor entendimento é o de que:
Declara a Constituição que os complexos ecossistemas referidos no seu art. 225, §4º,
são Patrimônio Nacional. Isso não significa transferir para a União o domínio sobre
as áreas particulares, estaduais e municipais situadas nas regiões mencionadas. Na
verdade, o significado primeiro e político da declaração constitucional de que aqueles
ecossistemas florestais constituem Patrimônio Nacional está em que não se admite
qualquer forma de internacionalização da Amazônia ou de qualquer outra área. A
locução Patrimônio Nacional revela espécie de proclamação, concitando todos à defesa
de tais ecossistemas tão importantes para o Brasil, pois o bem ambiental não tem
fronteiras nem possui um único dono. (g.n.)
Segundo Barroso (2008, p. 168), o §4º do art. 225 da CF menciona que alguns biomas
brasileiros são patrimônio nacional:
Embora o conceito de “patrimônio nacional” não seja explorado pela doutrina, há
quem defenda que a expressão do §4º do art. 225 da CF tem mais valor simbólico do
que técnico, pois a enumeração das referidas áreas é exemplificativa e não numerus
clausus e, segundo esse entendimento, já estão inseridas no conceito de patrimônio
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Quanto ao aspecto material, dá-se o fato de que apenas matéria expressamente prevista
na Constituição Federal pode ser objeto de lei complementar, enquanto para a lei ordinária
poderá ser objeto qualquer matéria. Pode-se atentar que a própria Constituição Federal
prevê a regulamentação de determinada matéria por lei complementar, fazendo-o de forma
taxativa. Enquanto serão objeto de lei ordinária as matérias residuais, cuja expressão que a
identifica geralmente é “na forma da lei”. No tocante ao aspecto formal, diz respeito ao
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quórum de votação. A lei complementar para ser aprovada deverá apresentar quórum de
maioria absoluta, enquanto a lei ordinária exige o quórum de maioria simples. Entende-se
por maioria absoluta a metade dos parlamentares integrantes da Casa Legislativa mais um
e, por maioria simples, a metade dos parlamentares presentes na reunião ou sessão, mais
um. Ambas as leis seguem o mesmo processo legislativo, distinguindo-se apenas quanto ao
quórum para aprovação. (g.n.)
Assim, a expressão na “forma da lei” refere-se à Lei Ordinária, de forma que a utilização
desses grandes ecossistemas será regulamentada por meio de leis ordinárias. Em alguns casos, já
foram regulamentados por Lei Ordinária os seguintes ecossistemas: A Floresta Amazônica
brasileira, pelo art. 3º, I, da Lei nº. 12.651, de 25 de maio de 2012; a Mata Atlântica, pela Lei nº
11.428, de 22 de dezembro de 2006, e pelo Decreto nº 6.660/08; a Serra do Mar, o Pantanal Mato-
Grossense e a Zona Costeira pelas Leis nos 6.938/81, 6.902/81 e 7.661/88.
Entretanto, merece registro que, de acordo com a Constituição Federal, art. 23, parágrafo
único, caberia à Lei Complementar a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à
proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em
qualquer de suas formas e à conservação das florestas, da fauna e da flora:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
(...)omissis
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a
União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do
desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. (g.n.)
Nesse sentido, a Lei Complementar nº 140/2011, que fixa normas no parágrafo único do art.
23 da Constituição Federal, cumpriu esse comando da CF/88 e regulamentou a competência comum
entre União, Estados e Municípios para proteção do meio ambiente, com a finalidade básica de
proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado por meio de uma gestão
descentralizada, democrática e eficiente.
Com o advento da Lei Complementar nº 140/2011, as competências materiais comuns dos
entes federativos, antes estabelecidas na Resolução CONAMA nº 237/1997, foram ratificadas e
regulamentadas, mas permaneceu o sistema único de licenciamento pelos Órgãos executores do
Sistema Nacional de Meio Ambiente com a garantia de manifestação não vinculante dos Órgãos
ambientais das outras esferas federativas.
Houve a ratificação, também, do conceito de licenciamento ambiental já previsto na Lei da
Política Nacional do Meio Ambiente e na Resolução CONAMA 237/97 como destinado a
“atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente
poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental”.
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A Lei Complementar nº 140/2011 é, pois, uma “norma geral”, como enfatiza Machado
(2004, p. 323):
A Lei Complementar, contudo, não consegue, por ela mesma, evitar essa sobreposição,
isto é, a duplicidade ou até a intervenção tríplice, como se vê em matérias como
“controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente,
na forma da lei”. Essa competência está prevista para a União, art. 7°, XII; para os
Estados, art. 8°, XII; e para os Municípios, art. 9°, XII. Dessa forma, enquanto não vier
uma lei adequada para a matéria aludida, não pode vigorar o art. 13, caput, com a licença
ambiental ou a autorização ambiental somente por um único ente federativo, pelo menos,
no que concerne às matérias em que a delineação das atribuições administrativas não foi
feita. (g.n.)
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,
segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
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(...) omissis
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente; (g.n.)
A doutrina de Cavedon (2004, p. 64) “deduziu que com a tutela ao meio ambiente restou
estabelecida a função ambiental da propriedade, embora entenda que o texto constitucional não
utilize explicitamente essa terminologia”.
No aspecto legal, pode-se citar a Lei no 11.428/06, que dispõe sobre a utilização e proteção
da vegetação nativa do bioma Mata Atlântica, porque utiliza a expressão função socioambiental da
propriedade:
Art. 6º A proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica têm por objetivo geral o
desenvolvimento sustentável e, por objetivos específicos, a salvaguarda da biodiversidade,
da saúde humana, dos valores paisagísticos, estéticos e turísticos, do regime hídrico e da
estabilidade social.
Parágrafo único. Na proteção e na utilização do Bioma Mata Atlântica, serão
observados os princípios da função socioambiental da propriedade, da equidade
intergeracional, da prevenção, da precaução, do usuário-pagador, da transparência
das informações e atos, da gestão democrática, da celeridade procedimental, da
gratuidade dos serviços administrativos prestados ao pequeno produtor rural e às
populações tradicionais e do respeito ao direito de propriedade. (g.n.)
O art. 170 da CF, entre outros princípios da atividade econômica, busca assegurar a soberania
nacional, a propriedade privada, a livre concorrência, a defesa do consumidor, a defesa do meio
ambiente (art. 170, I a VI). Como se vê, trata-se de princípios distintos que se inter-relacionam. Caso
o meio ambiente (art. 170, VI), ou melhor, a função ambiental, integrasse a função social da
propriedade (art. 170, III), por uma atração de proximidade, não haveria necessidade de destacá-lo
em dispositivos apartados, visto que tais princípios seriam enumerados em conjunto no mesmo
inciso.
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A função, seja ela social ou ambiental, deve harmonizar-se com a propriedade, ou seja, a
propriedade vai além dos direitos de usar, gozar e dispor; passa, também, a tornar-se dever e tem
por referência outros interesses, além dos interesses individuais do proprietário.
Há na CF dois tipos de normas sobre o direito de propriedade: a) a que garante o direito de
propriedade como direito fundamental, conforme art. 5º, XXII, porque a propriedade privada foi
elevada a princípio da ordem econômica (art. 170, II); b) a que vincula a propriedade à função social,
além dos interesses individuais do proprietário e culmina com a função ambiental da CF. Nesse
sentido, são os art. 5º, XXIII e XXIV; art. 170, III, VI; art. 182, §2º; art. 184, §2º; art. 186, I, II, e,
quanto ao meio ambiente, especialmente o disposto no art. 225.
Além desses artigos, o art. 23, VI e VIII, confere ao legislador infraconstitucional a
competência para edição de leis que poderão restringir o direito de propriedade, como a Instituição
de Área de Preservação Permanente - APP (art. 2º, §2º, II, da Lei nº 12.651/2012); a Reserva legal
(Art. 2º, §2º, III, da Lei nº 12.651/2012 - novo Código Florestal Brasileiro), as terras indígenas e
quilombolas. Desse modo, tem-se a necessidade de melhor detalhar o conceito jurídico de
Patrimônio Nacional.
Os biomas são conjuntos de ecossistemas (vegetal e animal) com uma diversidade biológica
própria. Segundo o IBGE, no Brasil, há seis tipos de biomas continentais e um bioma marinho ou
aquático. Os biomas terrestres brasileiros são Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica,
Pantanal e Pampa.
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Assim, deduz-se que a expressão Patrimônio Nacional é qualificada e revela uma espécie de
enunciado, que convoca todos os brasileiros à defesa de tais ecossistemas tão importantes para o
Brasil, porque o bem ambiental não tem fronteiras nem possui um único dono.
A Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, apresenta
princípios e objetivos para a sua implantação com um inciso que trata sobre o princípio de que o
meio ambiente é um Patrimônio Público:
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Desse modo, o CONAMA pode determinar a realização de estudos das alternativas e das
possíveis consequências ambientais (EIA/RIMA), de projetos públicos ou privados e, assim,
requerer todas as informações necessárias, em especial, nas áreas consideradas Patrimônio
Nacional. As áreas consideradas Patrimônio Nacional são a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica,
a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira, conforme o disposto no art. 225, §4º,
da CF.
É importante, para o desenvolvimento desta pesquisa, falar sobre o alcance geográfico do
termo “nacional” e sobre o direito de propriedade nas áreas contempladas no §4º do art. 225, da CF.
Para tanto, este conteúdo será analisado nos tópicos A e B seguintes.
A - O alcance nacional e não regional das áreas que integram o “Patrimônio Nacional”
O alcance geográfico do §4º do artigo 225 da CF de 1988 merece ser analisado, uma vez que
a questão ambiental não se circunscreve a fronteiras físicas, um ecossistema não termina num
determinado lugar e deste lugar começa um outro ecossistema de modo exato, porque, entre o inicio
e o fim de um ecossistema, existem zonas de transição denominadas de ecótono. Além disso, os
ecossistemas relacionam-se, como no caso do Cerrado, que apresenta grandes reservas de água doce
que abastecem grandes aquíferos e bacias hidrográficas, entre elas, a Amazônica e a do São
Francisco.
Segundo Machado (2004. p. 173):
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voadores”, termo popularizado pelo Professor José Antônio Marengo Orsini, membro do Centro de
Previsão de Tempo e Estudos Climáticos - CPTEC.
Segundo Vêncio (2018, p. p):
Os rios voadores, também denominados rios aéreos ou rios flutuantes, são fluxos
concentrados de vapores atmosféricos formados por massas de ar, invisíveis em
determinada região da Amazônia e sobrevoam em meio à copa das árvores. Eles não têm
margens como os rios terrestres, porém realizam a mesma função de transportar umidade e
vapor de água, advindos da evapotranspiração das árvores, para outras regiões do Brasil,
como Sudeste, Sul e Centro-Oeste, porque a água que evapora do oceano cai em forma de
chuva na Amazônia. Posteriormente, a floresta evapotranspira formando os rios voadores
que são levados por massas de ar até chegar ao Sudeste e Centro-Oeste e cair em forma de
chuva. Para bombear a água, ela suga a umidade evaporada pelo Oceano Atlântico próximo
à Linha do Equador e carrega-a pelos ventos alísios, formando-se, assim, nuvens. Quando
chegam sobre a mata, com influência do calor e já "carregadas", ficam mais pesadas que o
ar e caem em forma de chuva. Posteriormente, as árvores evapotranspiram sob o sol e a
floresta devolve toda a água que absorveu para a atmosfera na forma de vapor de água.
Portanto, o ar é recarregado e continua sendo transportado rumo à curvatura do Acre, uma
vez que, por causa da Cordilheira dos Andes, não passa direto, seguindo pela Bolívia,
Paraguai e enfim os Estados brasileiros: MT, MS, MG, SP, PA, SC e RS. Antes precipita
levemente próximo às montanhas, dando origem aos rios amazônicos. A vazão dos rios
flutuantes é equivalente à vazão dos rios amazônicos, lançando cerca de 200.000 m3/s. Isso
acontece porque uma árvore bombeia para a atmosfera mais de 300 litros de água, em um
dia, sendo que uma árvore maior pode evapotranspirar mais de 1.000 litros por dia.
Imagina-se que haja 600 bilhões de árvores na Amazônia. (g.n.)
Os rios voadores são cursos de água atmosféricos, formados por massas de ar carregadas de
vapor de água, muitas vezes acompanhados por nuvens e propelidos pelos ventos. Essas correntes
de ar invisíveis passam em cima das nossas cabeças carregando umidade da Bacia Amazônica para
o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.
Essa umidade, nas condições meteorológicas propícias, como uma frente fria vinda do Sul,
por exemplo, se transforma em chuva. É essa ação de transporte de enormes quantidades de vapor
de água pelas correntes aéreas que recebe o nome de rios voadores, termo que descreve,
perfeitamente, um fenômeno real e cujo impacto é significante na vida de todos os habitantes da
região.
A Floresta Amazônica funciona como uma bomba d’água: puxa para dentro do continente a
umidade evaporada pelo Oceano Atlântico e carregada pelos ventos alíseos. Ao seguir terra adentro,
a umidade cai como chuva sobre a floresta. Pela ação da evapotranspiração da árvores sob o sol
tropical, a floresta devolve a água da chuva para a atmosfera na forma de vapor de água. Dessa
forma, o ar é sempre recarregado com maior umidade, que continua a ser transportada rumo ao
Oeste para cair novamente como chuva mais adiante.
Os rios voadores, massas de ar, recarregados de umidade, boa parte dela proveniente da
evapotranspiração da floresta, encontram a barreira natural formada pela Cordilheira dos Andes.
Eles precipitam-se parcialmente nas encostas leste da cadeia de montanhas, formam as cabeceiras
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dos rios amazônicos, porém, barrados pelo paredão de 4.000 metros de altura, os rios voadores,
ainda transportando vapor de água, fazem a curva e partem em direção ao Sul, rumo às regiões do
Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil e aos países vizinhos (CPTEC, Brasil, 2018).
É assim que o regime de chuva e o clima do Brasil devem muito a um acidente geográfico
localizado fora do país. A chuva, claro, é de suma importância para nossa vida, nosso bem-estar e
para a economia do país. Ela irriga as lavouras, enche os rios terrestres e as represas que fornecem
nossa energia (CPTEC, Brasil, 2018)
O exemplo do fenômeno dos “rios voadores” é pertinente para demostrar que uma questão
ambiental não se limita a um bioma, ou ecossistema, ou região, ou apenas diz respeito a um povo.
Ao contrário, eles estão interligados com relação de interdependência. Nas palavras de Machado
(2004. p. 173):
Nesse contexto, o Cerrado necessita ser inserido no rol do §4º do art. 225, para se assegurar
a sua conservação como bioma de interesse público nacional. O Cerrado é o bioma típico do Planalto
Central, embora seja encontrado também em meio à Amazônia, nos Estados de Roraima, Amapá,
Amazonas e Pará.
O Cerrado abrange dez Estados e o Distrito Federal do território nacional brasileiro e ocupa
uma área de 2.034.448 km. Os chapadões ocupados pelo Cerrado constituem a cumeeira do Brasil
e distribuem água que alimenta as principais bacias hidrográficas do continente, onde nascem os
rios Araguaia e Tocantins e vários outros que se encaminham para a Bacia Amazônica. Nelas nascem
os principais formadores da Bacia do Paraná, de cujo potencial hidráulico vem a maior parte da
energia elétrica que consumimos em nosso País.
No Cerrado, estão as nascentes de vários rios que formam o complexo hidrográfico do
Pantanal Mato-Grossense, cujas águas garantem as inundações cíclicas que mantêm, nesse bioma,
uma riqueza ecológica ímpar no mundo. O ciclo hidrológico de quase metade de nosso País depende
do Cerrado.
A ocupação do Cerrado tem-se efetivado de forma violentamente agressiva em relação ao
meio ambiente, com desmatamento intenso de sua vegetação; implantação de grandes extensões de
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O §4º do artigo 225 da CF confere, em relação aos ecossistemas Floresta Amazônica, Mata
Atlântica, Serra do Mar, Pantanal Mato-Grossense e Zona Costeira, a qualidade de Patrimônio
Nacional, devendo a lei infraconstitucional disciplinar as condições de utilização e de uso dos
recursos naturais, de modo a garantir a conservação do meio ambiente. Resta saber se esses
ecossistemas integram os bens públicos pertencentes à União ou não.
Denominam-se bens públicos todos aqueles que pertencem às pessoas jurídicas de Direito
Público, ou seja, União, Distrito Federal, Municípios, Autarquias e Fundações Públicas. Para Melo
(1998, p. 779):
Bens Públicos são todos os bens que pertencem às pessoas jurídicas de Direito Público, isto
é, União, Estados, Distrito Federal, Municípios, necessários ao desempenho das funções
públicas, submetidos a um regime jurídico de direito público.
Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de
direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que
pertencerem.
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equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitar a poluição do ar e das
águas:
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de
reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
§1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades
econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o
estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o
patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. (g.n.)
Propter rem, que significa por causa da coisa, é uma obrigação real, que decorre da relação
entre o devedor e a coisa, assim, o direito de que se origina é transmitido. As obrigações
propter rem são denominadas como obrigações híbridas, ou ambulatórias por se manterem
entre os direitos patrimoniais e os direitos reais, perseguindo a coisa onde quer que ela
esteja.
Descabe falar em culpa ou nexo causal como fatores determinantes do dever de recuperar
a vegetação nativa e averbar a Reserva Legal por parte do proprietário ou possuidor, antigo
ou novo, mesmo que o imóvel já estivesse desmatado quando de sua aquisição. Sendo a
hipótese de obrigação propter rem, desarrazoado perquirir quem causou o dano
ambiental, in casu, se o atual proprietário ou os anteriores, ou a culpabilidade de quem
o fez ou deixou de fazer. Precedentes do STJ” (RESp nº 948.921, 2ª Turma, rel. Min.
Herman Benjamin, DJe 11/11/2009). (g.n.)
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Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis,
enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar. (g.n.)
(...) omissis
Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for
estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem. (g.n.)
Já os bens de uso especial são bens públicos, cuja função, por título especial e na forma da
lei, é atribuída a determinada pessoa, bem como aqueles utilizados pelo próprio poder público para
a realização dos serviços públicos, conforme dispõe o art. 99, II, do CBB, como o caso dos prédios
onde funcionam escolas públicas, repartições públicas, hospitais públicos, são inalienáveis,
conforme dispõe o art. 100 do CCB anteriormente mencionado.
Por sua vez, os bens dominicais são bens públicos não afetados à utilização direta e imediata
do povo, nem aos usuários de serviços, mas que pertencem ao patrimônio estatal, conforme dispõe
o art. 99, III, do CCB. É o caso dos títulos pertencentes ao Poder Público, dos terrenos de Marinha
e das terras devolutas, e são alienáveis, conforme o CCB:
Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências
da lei. (g.n.)
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Desse modo, por exclusão, o que não pertencer ao domínio federal ou estadual ingressa no
patrimônio público municipal. O Código Civil Brasileiro, seguindo diretriz consagrada no Direito
Administrativo brasileiro, proíbe o usucapião de bens públicos:
As terras devolutas são terras públicas sem destinação pelo Poder Público e que, em nenhum
momento, integraram o patrimônio de um particular, ainda que estejam irregularmente sob sua
posse, segundo dispõe a CF:
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No tocante à questão fundiária, a destinação de terras devolutas deve ser compatível com a
política agrícola e com o Plano Nacional de Reforma Agrária, nos termos da CF:
Art. 188. A destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada com a política
agrícola e com o plano nacional de reforma agrária.
§1º A alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras públicas com área superior a
dois mil e quinhentos hectares, à pessoa física ou jurídica, ainda que por interposta pessoa,
dependerá de prévia aprovação do Congresso Nacional.
§2º Excetuam-se do disposto no parágrafo anterior as alienações ou as concessões de
terras públicas para fins de reforma agrária. (g,n.)
Quanto ao aspecto ambiental, o art. 225, §5º da CF, determina que as terras devolutas
necessárias à proteção dos ecossistemas naturais, assim como as arrecadadas pelos Estados por
ações discriminatórias, são indisponíveis.
Art. 43. O Poder Público fará o levantamento nacional das terras devolutas, com o objetivo
de definir áreas destinadas à conservação da natureza, no prazo de cinco anos após a
publicação desta Lei.
Isto se deve ao fato de que o §4º do art. 225 da CF, em exame, não tornou permissiva a
legislação ambiental nas áreas não contempladas no texto.
Conforme Machado (2004, p. 173):
O Supremo Tribunal Federal entende que essas áreas não se transformaram em bens
da União por serem chamadas de Patrimônio Nacional. Além disso, nada impede a
utilização, pelos próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas
que estejam sujeitas ao domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e
respeitadas as condições necessárias à preservação ambiental. (g.n.)
Assim, a essência do entendimento do STF pode ser compreendida no sentido de que o §4º
do art. 225 da CF deve ser interpretado de modo harmonioso com o direito de propriedade
consagrado pelo art. 5º, XXII, da Constituição, que garante o direito de propriedade em todas as
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suas projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira devida pelo Poder Público
ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal.
O §4º do art. 225 da CF não converteu em bens públicos os imóveis particulares abrangidos
pelas florestas e pelas matas nele referidas: Mata Atlântica, Serra do Mar e Floresta Amazônica
brasileira. Também não impede, desde que cumpra a função social contida nos arts. 5º e 186 da CF,
a sua utilização, pelos próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que
estejam sujeitas ao domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as
condições necessárias à conservação ambiental, porque a ordem constitucional consagra tutela
efetiva ao direito de propriedade.
O objetivo da tutela constitucional é proteger a qualidade do meio ambiente em sua
totalidade, em função da qualidade de vida, da saúde, do bem-estar e da segurança da população. A
qualidade do meio ambiente converte-se, desse modo, em um bem que o Direito reconhece e protege
como patrimônio ambiental, no direito que se tem ao equilíbrio ecológico do meio ambiente.
Essa proteção outorgada pela Constituição Federal estende sua incidência para tutelar, em
favor do dominus, da garantia de compensação financeira, sempre que o Estado, mediante atividade
que lhe seja juridicamente imputável, atingir o direito de propriedade em seu conteúdo econômico,
ainda que o imóvel esteja localizado em qualquer das áreas referidas no §4º do art. 225 da CF. Esse
entendimento se extrai do Julgado do Supremo Tribunal Federal, RE 134.297-8/SP:
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Dos cinco ecossistemas contemplados no §4º do art. 225 da CF, o Bioma Mata Atlântica é o
único que possui uma lei infraconstitucional que disciplina as condições de utilização e de uso dos
recursos naturais, de modo a garantir a conservação do meio ambiente.
Trata-se da Lei nº 11.428/2006, que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa
do Bioma Mata Atlântica:
Art. 6º A proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica têm por objetivo geral o
desenvolvimento sustentável e, por objetivos específicos, a salvaguarda da
biodiversidade, da saúde humana, dos valores paisagísticos, estéticos e turísticos, do regime
hídrico e da estabilidade social.
Os recursos naturais do Bioma Mata Atlântica podem ser explorados, desde que respeitadas
as prescrições da legislação, necessárias à salvaguarda da vegetação nativa, na qual se encontram
várias espécies da flora e fauna ameaçadas de extinção.
Assim, o art. 225, § 4º, da CF, além de não haver convertido em bens públicos os imóveis
particulares abrangidos pelas florestas e pelas matas nele referidas (Mata Atlântica, Serra do Mar,
Floresta Amazônica brasileira), também não impede a utilização, pelos próprios particulares, dos
recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio privado, desde que
observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias à conservação ambiental.
O comando constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade, art. 5º, XXII,
cuja proteção se estende na abrangência normativa de sua incidência tutelar, ao reconhecimento, em
favor do dominus, da garantia de compensação financeira, sempre que o Estado, mediante atividade
que lhe seja juridicamente imputável, atingir o direito de propriedade em seu conteúdo econômico,
ainda que o imóvel esteja localizado em qualquer das áreas referidas no art. 225, § 4o, da
Constituição.
3 BIOMAS BRASILEIROS
Os Biomas são conjuntos de ecossistemas formados pelo solo, recursos hídricos, fauna e
flora, que possuem características biológicas e climáticas próprias. No Brasil, são encontrados seis
biomas continentais: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa.
Segundo Ferreira (2010, p. 317):
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[De Bio = vida + Oma = grupo ou massa]. S.m. Ecol. Grande comunidade, ou conjunto de
comunidades [v. comunidade (11) distribuída numa extensa área geográfica, caracterizada
por um tipo de vegetação dominante, conjunto dos seres vivos de uma área, é entendido
também como o conjunto de ecossistemas terrestres, e em que os organismos que nela
vivem são adaptados às condições climáticas a ela associados. [ São exemplos de bioma a
floresta tropical, a tundra, etc.]
Segundo MMA (Brasil, 2018, p. 1): “É na biosfera que se encontram os biomas, associações
relativamente homogêneas de plantas, animais e outros seres vivos com equilíbrio entre si e com o
meio físico”.
O termo bioma, segundo MMA (Brasil, 2018, p. 1), “foi criado por um ecólogo americano,
Frederic Clements, que definiu bioma como uma comunidade de plantas e animais, geralmente de
uma mesma formação”. Assim, desde a sua criação, bioma vem sofrendo algumas modificações e
muitas definições.
Os biomas apresentam tipos fisinômicos semelhantes de vegetação, os mesmos fatores
ecológicos e estão estreitamente relacionados às faixas de latitude, por conseguinte, ao clima. Por
exemplo: Nas áreas de baixa latitude ou de clima tropical, predominam as florestas tropicais; nas
áreas de média latitude, surgem as florestas temperadas. (BRASIL, MMA, 2018)
O bioma é um conjunto de diferentes ecossistemas: são as comunidades biológicas,
organismos da fauna e da flora, como florestas tropicais úmidas, tundras, savanas, desertos árticos,
florestas pluviais, subtropicais ou temperadas, biomas aquáticos, como recifes de coral, zonas
oceânicas, praias e dunas (BRASIL, MMA, 2018).
Os biomas terrestres constituem-se por três grupos de seres, aqueles que produzem, os
vegetais; aqueles que consomem, os animais; e os decompositores, os fungos e as bactérias. Um
conjunto de ecossistemas constitui um bioma, e o conjunto de todos os biomas da terra constitui a
biosfera da terra (BRASIL, MMA, 2018).
O Brasil apresenta seis tipos de biomas: Amazônia: ocupa cerca de 50% do país (Noroeste);
Cerrado: ocupa, aproximadamente, 24% do país (Centro-Oeste); Mata Atlântica: presente em cerca
de 13% do país (Sul e Sudeste); Caatinga: presente em mais ou menos 10% do país (Nordeste);
Pampa: ocupa cerca de 2% do país (Sul) e o Pantanal: extensão de mais ou menos 2% do país
(Centro-Oeste). No item seguinte, será feita uma abordagem sobre o bioma Floresta Amazônica
(BRASIL, MMA, 2018).
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território de 4.196.943 de km2, crescem 2.500 espécies de árvores (ou um terço de toda a madeira
tropical do mundo) e 30 mil espécies de plantas das 100 mil da América do Sul (BRASIL, IBGE,
2004).
Segundo Sioli (1985, p. 11):
Há duzentos anos, a Amazônia vem atraindo naturalistas europeus, a cujo fascínio científico
pelo desconhecido, aliado a um espírito de aventura, devemos as primeiras noticias e
conhecimentos fidedignos de múltiplos aspectos deste mundo novo. (…) A Amazônia
desperta muitos enigmas, sobretudo em relação aos processos vitais, tanto na floresta como
nos corpos d'água dessa região tremendamente rica em espécies de organismos, que
representa um clímax no desenvolvimento dos seres vivos sobre a Terra. Valores
insubstituíveis, tanto espirituais como materiais, cuja origem data de muitos milhões de
anos, serão para sempre destruídos pelo atual "desenvolvimento" da região, que implica,
sobretudo o desmatamento de imensas áreas. (g.n.)
A Bacia Amazônica é a maior bacia hidrográfica do mundo, cobre cerca de 6 milhões de km2
e tem 1.100 afluentes. Seu principal rio é o Amazonas, corta a região para desaguar no Oceano
Atlântico e lança ao mar cerca de 175 milhões de litros d’água a cada segundo (BRASIL, MMA,
2018).
Esse grande potencial hidrológico foi assim descrito por Ab`saber (2002, p. 02):
No que se refere às planícies aluviais, a variedade dos ecossistemas é muito grande, tal é o
dédalo do mosaico terra-água, sobretudo no caso do médio e baixo Amazonas. Na larga
planície de 14 a 35 quilômetros de largura, sucedem-se e repetem-se faixas
anastomosadas de ecossistemas no meio dos numerosos setores deprimidos ou
ligeiramente "altos" da rasa planície. Pouca gente sabe que o rio Amazonas, nos
setores considerados, é um dos cursos d'água que transporta a maior carga de
sedimentos finos em solução, acrescidos de minitouceiras de vegetação flutuante, na
face da Terra. O contraste entre as águas escuras do rio Negro em face das águas
amarelo-pardacentas do Solimões/Amazonas indica atributos hidrobioquímicos e
hidrogeomorfológicos. (g.n.)
As estimativas situam a região como a maior reserva de madeira tropical do mundo. Seus
recursos naturais, que, além da madeira, incluem enormes estoques de borracha, castanha, peixe e
minérios, por exemplo, representam uma abundante fonte de riqueza natural. A região abriga
também grande riqueza cultural, incluindo o conhecimento tradicional sobre os usos e a forma de
explorar esses recursos naturais sem esgotá-los nem destruir o habitat natural (BRASIL, MMA,
2018).
A Região Amazônica constitui uma província botânica bem individualizada e é caracterizada
pela fisionomia, isto é, pela paisagem apresentada pela floresta tropical úmida de grande biomassa
e heterogeneidade. Outra de suas características é a grande variação de local para local e essa
variação é tanto maior quanto mais se distanciam as áreas entre si (INPA, Brasil, 2018).
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Toda essa grandeza não esconde a fragilidade do escossistema local, porém a floresta vive a
partir de seu próprio material orgânico, e seu delicado equilíbrio é extremamente sensível a
quaisquer interferências. Os danos causados pela ação antrópica são muitas vezes irreversíveis
(BRASIL, MMA, 2018).
Ademais, a riqueza natural da Amazônia contrapõe-se dramaticamente aos baixos índices
socioeconômicos da região, de baixa densidade demográfica e crescente urbanização. Dessa forma,
o uso dos recursos florestais é estratégico para o desenvolvimento da região. No item seguinte, será
feita uma abordagem sobre o Cerrado (BRASIL, IBGE, 2004).
A CF/88 consignou que a Floresta Amazônica é um Patrimônio Nacional, porque esse
Bioma compõe um conjunto de ecossistemas interligados pela Floresta Amazônica e pela Bacia
Hidrográfica do rio Amazonas. É a mais densa de todo o Planeta, caracteriza-se pela sua elevada
extensão, que ocupa quase a metade do território do Brasil. A Floresta Amazônica possui a maior
biodiversidade do mundo: nela encontram-se milhares de espécies animais, vegetais e micro-
organismos. A região conta com muitos rios, os quais formam a maior reserva de água doce de
superfície disponível no mundo.
O Legislador Constituinte reconheceu a expressiva diversidade ambiental e a fragilidade
deste bioma. Assim, quis enfocar a necessidade de sua proteção e a sua utilização dentro de
condições que assegurem a conservação ambiental, já que a destruição da floresta estancará o
processo evolutivo da natureza vegetal e prejudicará a evolução da biosfera em sua totalidade.
3.2 CERRADO
O Cerrado é o bioma onde nascem e crescem os principais rios brasileiros e, por estar numa
região de platô elevado, é considerada a caixa d’água do Brasil. É o segundo maior bioma da
América do Sul, ocupando uma área de 2.036.448 km2, cerca de 22% do território nacional
(BRASIL, MMA, 2018).
O Cerrado, de modo contínuo, abrange os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito
Federal, além do Amapá, Roraima e Amazonas (BRASIL, MMA, 2001).
Esse ecótono entre a Floresta Amazônica e o Cerrado, em conjunto com porções na
Amazônia de áreas de cerrado, denominados de campos gerais, são assim descritos por Ab`saber
(2002, p. 02):
Para quem faz pesquisas nos confins de Mato Grosso, no extremo Norte de Tocantins ou
no Centro do Maranhão, é fácil saber onde começa a Amazônia. Quando as florestas deixam
de ser apenas galerias amarradas ao fundo aluvial dos vales; quando as matas sobem e
fecham as vertentes e interflúvios das colinas onduladas, onde antes, para o Sul, o Sudeste
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e o Leste existiam extensos cerrados; ou, ainda, quando cerrados e matas secas cedem lugar
para intermináveis florestas de "terra firme": aí começa a Amazônia. Em várias faixas de
contato entre cerrados e matas na periferia da Amazônia, ocorrem mosaicos
complexos de paisagens de retalhos de chapadões ou baixos platôs com cerrados, e
colinas onduladas e serrinhas com matas de "terra firme" ou orográfica. Maior
complexidade ainda ocorre quando existem campestres pontilhados de arboretos dos
cerrados (Roraima), passando gradualmente para matas de terra firme (Mucapai,
Caracas) ou campos cerrados transicionando para matas orográficas (Centro-Oeste
de Roraima, Centro-Sul do Amapá). A rigor, em todas as grandes manchas de
campestres ou cerrados que se estendem ao norte do rio Amazonas — a saber, campos
de Boa Vista, cerrados de Monte Alegre, cerrados naturalmente degradados do
Amapá — ocorrem contatos complicados entre as formações abertas e o início das
grandes matas que as envolvem. (g.n.)
Nesse espaço territorial, encontram-se as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da
América do Sul: Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata, o que resulta em um elevado
potencial aquífero que favorece a sua biodiversidade (BRASIL, MMA 2001).
O Cerrado é uma região biogeográfica, que é, simultaneamente, uma reserva de
biodiversidade e uma área em constante ameaça de destruição, ou seja, é uma região com grande
diversidade biológica endêmica, mas que se encontra em alto grau de destruição com cerca de 75%
de sua biodiversidade originária. O Cerrado apresenta extrema abundância de espécies e sofre uma
excepcional perda de habitat (BRASIL, MMA, 2001).
Do ponto de vista da diversidade biológica, o Cerrado brasileiro é reconhecido como a
savana mais rica do mundo, abriga 11.627 espécies de plantas nativas já catalogadas, com uma
grande diversidade de habitats, que determinam uma notável alternância de espécies entre diferentes
fitofisionomias (BRASIL, MMA, 2018).
Cerca de 199 espécies de mamíferos são conhecidas e a rica avifauna compreende cerca de
837 espécies. Os números de peixes (1200 espécies), répteis (180 espécies) e anfíbios (150 espécies)
são elevados. O número de peixes endêmicos não é conhecido, porém os valores são bastante altos
para anfíbios e répteis: 28% e 17%, respectivamente. De acordo com estimativas recentes, o Cerrado
é o refúgio de 13% das borboletas, 35% das abelhas e 23% dos cupins dos trópicos (BRASIL, MMA,
2018).
Além dos aspectos ambientais, o Cerrado tem grande importância social. Muitas populações
vivem de seus recursos naturais, inclusive etnias indígenas, quilombolas, geraizeiros, ribeirinhos,
babaçueiras, vazanteiros e comunidades quilombolas, que, juntas, fazem parte do patrimônio
histórico e cultural brasileiros e detêm um conhecimento tradicional de sua biodiversidade. Mais de
220 espécies têm uso medicinal e mais 416 podem ser usadas na recuperação de solos degradados,
como barreiras contra o vento, proteção contra a erosão, ou para criar habitat de predadores naturais
de pragas. Mais de 10 tipos de frutos comestíveis são regularmente consumidos pela população local
e vendidos nos centros urbanos, como os frutos do Pequi Caryocar brasiliense, Buriti Mauritia
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flexuosa, Mangaba Hancornia speciosa, Cagaita Eugenia dysenterica, Bacupari Salacia crassifolia,
Cajuzinho do cerrado Anacardium humile, Araticum Annona crassifolia e as sementes do Baru
Dipteryx alata (BRASIL, IBGE, 2018).
Contudo, inúmeras espécies de plantas e animais correm risco de extinção. Estima-se que
20% das espécies nativas e endêmicas já não ocorram em áreas protegidas e, pelo menos, 137
espécies de animais que ocorrem no Cerrado estão ameaçadas de extinção. Depois da Mata
Atlântica, o Cerrado é o bioma brasileiro que mais sofreu alterações com a ocupação humana. Com
a crescente pressão para a abertura de novas áreas, a fim de incrementar a produção de carne e grãos
para exportação, tem havido um progressivo esgotamento dos recursos naturais da região. Nas três
últimas décadas, o Cerrado tem sido degradado pela expansão da fronteira agrícola brasileira. Além
disso, o bioma Cerrado é palco de uma exploração extremamente predatória de seu material lenhoso
para produção de carvão (BRASIL, MMA, 2018).
Apesar do reconhecimento de sua importância biológica, o Cerrado possui a menor
porcentagem de áreas sob proteção integral. O Bioma apresenta 8,21% de seu território legalmente
protegidso por Unidades de Conservação; desse total, 2,85% são Unidades de Conservação de
Proteção Integral e 5,36% de Unidades de Conservação de Uso Sustentável, incluindo RPPNs
(0,07%) (BRASIL, MMA, 2018).
O Cerrado é um importante bioma que deve ser protegido, porque exerce um papel basilar
para o equilíbrio dos demais biomas brasileiros. O seu comprometimento gera implicações negativas
para a Amazônia, para a Mata Atlântica e para a Caatinga, entre outros ecossistemas, porque, no
Cerrado, estão as nascentes de vários dos rios que formam o complexo hidrográfico do Pantanal
Mato-Grossense.
No Cerrado, nascem águas que abastecem três importantes aquíferos: o Guarani, o Bambuí
e o Urucuia, responsáveis pela formação e alimentação de importantes rios do continente.
Segundo Barbosa ( 2016, p. 14):
O Cerrado é como uma floresta ao contrário: as raízes são profundas, maiores que as
copas. Elas são responsáveis por absorver a água da chuva e depositá-la em reservas
subterrâneas; os aquíferos, com o desmatamento e a diminuição da vegetação nativa,
responsável por levar a água para regiões mais profundas, os aquíferos chegaram ao nível
de base, ou seja, deixaram de abastecer diversas nascentes. A quantidade de água
existente nesses aquíferos já chegou ao seu nível mínimo. É como se fosse uma caixa
d'água com vários furos. Os furos são as nascentes. Quando ela está cheia, a água sai
por muitos furos. Conforme vai esvaziando, vai saindo nos furos mais inferiores, até
chegar ao último furo e há um momento em que não sai mais. Estamos em um momento
em que a água está saindo, mas de maneira muito rudimentar, menor do que saía há 20, 40
anos, por esse motivo cerca de dez rios desaparecem na região anualmente. (g.n.)
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A região do Cerrado é conhecida como o berço das águas do Brasil, porque nessa região se
concentra grande parte das nascentes de importantes bacias hidrográficas, como a Amazônica, a
Araguaia-Tocantins, a do Prata, a Atlântico Norte-Nordeste, a Atlântico Leste, a do São Francisco e
a Paraná-Paraguai. Esta última está intimamente ligada à sobrevivência do Pantanal, maior planície
alagável do Planeta.
As águas desses rios garantem as inundações cíclicas que mantêm esses biomas. O ciclo
hidrológico de quase metade do território brasileiro depende do Cerrado, que desempenha papel
fundamental no processo de captação e distribuição das águas pelo País, sendo uma região
estratégica. A não proteção das nascentes dos rios, bem como da mata ciliar das margens dos
mesmos, podem diminuir a quantidade de águas dessas importantes bacias, porque os efeitos do uso
inadequado dessa água podem ser propagados por grandes extensões do território brasileiro,
O Cerrado é uma área de expansão da agricultura extensiva no Brasil. Pode-se dizer que é a
região brasileira do agronegócios, que têm sido sistematicamente destruídos para dar lugar a
lavouras, a pastagens e a grandes plantações, Daí a necessidade de se buscar a sua inclusão como
Patrimônio Nacional, para conferir maior proteção a esse importante bioma.
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O Cerrado não se recupera totalmente; também é difícil cultivá-lo. Das 13 mil espécies
vegetais catalogadas, apenas 180 são produzidas em viveiro. O Cerrado é diferente da
Amazônia e da Mata Atlântica, por exemplo. Enquanto esses biomas têm 3 mil e 7 mil
anos, o Cerrado tem mais de 45 milhões de anos que se completou totalmente. Como
ele é muito antigo, evolutivamente, já chegou ao seu clímax. Uma vez degradado, não
se recupera jamais na plenitude de sua biodiversidade. (g.n.)
Assim, considerando a área original de 204 milhões de hectares, o bioma Cerrado já perdeu
47,84% de sua vegetação nativa (BRASIL, MMA, 2018). A contextualização do atual estágio
ambiental da Floresta Amazônica e do Cerrado é necessária, porque o desmatamento na Amazônia
e do Cerrado se deve a diversas causas, cujos impactos diretos e indiretos são propulsionados por
processos nacionais e globais.
Pra Sawyer (2009, p. 1747):
Segundo Müeller (1995, p. 36), “Os padrões mais comuns são o da cana substituir a soja e o
da soja substituir a cobertura natural. No entanto, a pecuária é a principal causa imediata do
desmatamento nos dois biomas”.
Sawyer (2009, p. 1747):
Mesmo quando as lavouras ocupam áreas já desmatadas, podem deslocar a pecuária para
novas áreas na fronteira distante, onde o preço da terra é dez vezes menor do que no Sudeste
Assim, a pecuária não só se desloca, como também multiplica a sua área, não apenas pelo
retorno econômico da atividade em si, como também pela valorização das terras na fronteira
e outras vantagens financeiras. As emissões do desmatamento provocadas por esse processo
de efeito dominó levam muitas décadas para serem compensadas por meio de emissões
menores do biocombustível, se comparadas com as do petróleo.
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Embora faltem ainda quantificações precisas, é evidente que o agronegócio gera emissões
de carbono incomparavelmente maiores do que as da agricultura familiar, não só no interior
dos estabelecimentos, mas, principalmente, quando se leva em conta o ciclo de vida global,
com os diversos fluxos de energia, insumos, máquinas, beneficiamento, transporte etc.
Para Sawyer (2009, p. 83), “Além das emissões e da perda direta e indireta de biodiversidade,
por causa de eliminação de populações, habitat e incêndios, o desmatamento na Amazônia e no
Cerrado prejudica os ciclos hidrológicos”.
O Cerrado é onde nascem os principais rios brasileiros. É a caixa-d’água do Brasil, de forma
que o desmatamento acelera o escoamento superficial, reduz a evapotranspiração que gera novas
chuvas pelo transporte transcontinental de umidade e prejudica a formação dos rios voadores.
A umidade atmosférica flui do Norte para o Sul e os rios fluem para Norte, Sul, Leste e Oeste
e alcançam todos os biomas. As monoculturas e as pastagens favorecem enchentes no período
chuvoso, contribuem para a erosão e o assoreamento, reduzem a infiltração e aceleram a evaporação
de açudes e pivôs centrais, o que pode levar à escassez de água nas bacias do Amazonas, Tocantins-
Araguaia, São Francisco e Paraná no período seco.
Machado (2004, p. 172): “O §4º do art. 225 da CF quis enfocar algumas partes do território
para insistir que devam ser utilizadas dentro de condições que assegurem a conservação do meio
ambiente”. O Legislador assim o fez, porque se reconheceu que são áreas frágeis e possuidoras de
expressiva diversidade biológica.
Ainda segundo Machado (2004, p. 173), “houve omissão no texto constitucional, porque se
deixou de incluir o Cerrado e a Caatinga, mas essa omissão não impede de não se proteger o Cerrado,
onde nascem e crescem os principais rios brasileiros”.
O Cerrado e a Floresta Amazônica têm uma relação ecológica de proximidade e
interdependência ambiental. Há que se questionar por que o legislador constituinte não incluiu no
texto constitucional o Cerrado como Patrimônio Nacional, uma vez que o Cerrado exerce um papel
estratégico para o equilíbrio ambiental dos demais biomas brasileiros, cujo comprometimento gera
implicações negativas para a Amazônia, a Mata Atlântica, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona
Costeira.
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Figura 2 – Cerrado
Fonte: Embrapa, em 23 de agosto de 2011. Referente ao texto "Recursos naturais na rota da violência", de Raimunda
Monteiro. (Em Debate, edição 92)
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O Cerrado é a segunda maior formação vegetal da América do Sul, com dois milhões de
quilômetros quadrados. Ele só perde em tamanho para a Amazônia. Originalmente, cerca de um
quarto do território brasileiro era dominado por essa vegetação distribuída em campos naturais,
veredas, florestas e savana de raízes profundas. Tal variedade de ambientes, associada a diferentes
tipos de solos e à fartura de água, explica a riqueza em vida do Cerrado.
As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do §3° do art. 60 da
Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional: Altera o §4°
do art. 225 da Constituição Federal, para incluir o Cerrado e a Caatinga entre os biomas
considerados Patrimônio Nacional. Art. 1o O §4° do art. 225 da Constituição Federal passa
a vigorar com a seguinte redação: “Art. 225. §4° A Floresta Amazônica, a Mata Atlântica,
a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense, o Cerrado, a Caatinga e a Zona Costeira são
Patrimônio Nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que
assegurem a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida da
população.” (NR) Art. 2° Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua
publicação. Senado Federal, em 13 de julho de 2010. Senador José Sarney Presidente do
Senado Federal (g.n.)
Foi proferido o seguinte voto do Relator Deputado Ricardo Tripoli junto à Comissão de
Constituição e Justiça:
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Consta apensa a PEC n° 115/1995, do Deputado Gervásio Oliveira, que justifica a inclusão
da Caatinga e do Cerrado com biomas a serem considerados Patrimônio Nacional nos seguintes
termos:
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para esta área, a Amazônia possui 4,1% de seu território como áreas protegidas de uso
indireto e 3,5% de uso direto. É, hoje, fundamental a reversão do quadro de degradação
ambiental na região do Cerrado. Para tal, tem-se que lutar pelo estabelecimento de
programas de reflorestamento com espécies nativas; de preservação e recuperação dos
recursos hídricos; de identificação de áreas nativas remanescentes com potencial para
criação de novas unidades de conservação, de controle da erosão, entre outros. O
reconhecimento na Constituição Federal do Cerrado como Patrimônio Nacional, no mesmo
status da Amazônia, Mata Atlântica, Serra do Mar e Zona Costeira, assume papel vital na
criação de um ambiente político que garanta a consecução de programas desse tipo. Os
brasileiros precisam assumir responsabilidades com a conservação dos recursos do
Cerrado, sob pena de as futuras gerações serem privadas da utilização de um patrimônio
natural de importância ímpar. O primeiro passo nesse sentido deve ser a fixação em letras
constitucionais da vedação de práticas predatórias na região, em favor da adequada gestão
dos recursos naturais, da. conservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico.
Contamos, assim, com a mobilização de nossos ilustres Pares para a aprovação desta
emenda ao texto constitucional. Deputado Gervásio Oliveira. (g.n.)
Essa proposta apresenta uma justificativa que traz a preocupação com a atual situação do
Cerrado, onde menos de 0,1% do território desse bioma é reservado à área de proteção ambiental,
sendo que, no Cerrado, considerada a savana com a flora mais rica no mundo, encontram-se 5% de
toda a biodiversidade do planeta. É o bioma do Brasil com grande importância social, visto que
muitas populações sobrevivem de seus recursos naturais, incluindo etnias indígenas, comunidades
quilombolas e povos tradicionais, que, juntos, formam o patrimônio histórico e cultural brasileiro e
detêm um conhecimento tradicional de sua biodiversidade.
Foram apensadas à PEC n° 115/1995 outras seis propostas, a saber:
a) PEC n° 150, de 1995, de autoria do Deputado Pedro Wilson e outros, que "inclui o Cerrado
e a Caatinga nos biomas considerados Patrimônio Nacional”;
b) PEC n° 60, de 1999, de autoria da Deputada Maria de Lourdes Abadia e outros, que "dá
nova redação ao §4° do art. 225, incluindo o Cerrado entre os biomas considerados Patrimônio
Nacional";
c) PEC n° 131, de 1999, da Deputada Nair Xavier Lobo e outros, que "modifica o §4° do
artigo 225 da Constituição Federal, incluindo o Cerrado na lista dos biomas considerados
Patrimônio Nacional";
d) PEC n° 100, de 2003, da Deputada Raquel Teixeira e outros, que "dá nova redação ao §4°
do art. 225 da Constituição Federal, incluindo o Cerrado e a Caatinga nos biomas considerados
Patrimônio Nacional";
e) PEC n° 131, de 2003, de autoria da Deputada Terezinha Fernandes e outros, que "inclui o
Cerrado e a Caatinga nos biomas considerados Patrimônio Nacional, dando nova redação ao §4° do
artigo 225 da Constituição Federal”; e
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f) PEC n° 188, de 2003, do Deputado Sandes Júnior e outros, que "modifica o §4° do artigo
225 da Constituição Federal, incluindo o Cerrado na lista dos biomas considerados Patrimônio
Nacional".
Consta anexa a esta Proposta a PEC n° 150/1995, do Deputado Pedro Wilson, que justifica
a inclusão da caatinga com bioma a ser considerado Patrimônio Nacional nos seguintes termos:
Em seu art. 225, §4° , a Constituição Federal determina que a Floresta Amazônica, a Mata
Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são Patrimônio
Nacional e que sua utilização garantirá a preservação do meio ambiente. Pode-se afirmar
que o legislador constituinte pretendeu realçar a importância desses biomas para o País
como um todo e diferenciar o seu tratamento no contexto do território nacional, vedando
práticas predatórias. Em nosso entender, faz-se essencial a inclusão na relação dos
biomas considerados Patrimônio Nacional do Cerrado e da Caatinga. A não inserção
destes biomas no texto desse dispositivo constitucional ocorreu, com certeza, pelo
desconhecimento de sua importância ecológica, não encontrando qualquer
sustentação científica. Ocupando cerca de 25% do território nacional, o Cerrado exibe
uma enorme variedade de solos, relevo e climas, que se refletem numa impressionante
diversidade de espécies. Infelizmente, sua ocupação vem ocorrendo de forma
intensivamente desordenada e predatória, antes mesmo do potencial de seus recursos
naturais serem verdadeiramente estudados. A vegetação do Cerrado é formada por
um grande mosaico de paisagens. Podem-se distinguir a savana típica, que recebe a
denominação geral de cerrado; a savana arbórea densa, ou cerradão; a savana
arbórea aberta ou campo cerrado; e a savana-parque, formação essencialmente
campestre. O Cerrado possui mais de 700 espécies de plantas lenhosas de ocorrência
restrita à região, abriga 935 espécies de aves, 298 espécies de mamíferos e 268 espécies
de répteis, além de incontáveis insetos e animais invertebrados. A falta de preocupação
com a conservação ambiental do bioma Cerrado fica bem caracterizada pelo ínfimo
percentual de áreas protegidas na forma de Unidades de Conservação: 0,1% de seu
território é constituído por Unidades de uso indireto (parques nacionais, reservas
biológicas e estações ecológicas) e 0,2% por Unidades de uso direto (florestas
nacionais, áreas de proteção ambiental e reservas extrativistas). O processo intensivo
de ocupação agrícola e a rápida expansão das áreas urbanas na região têm causado inúmeros
e graves problemas ambientais: compactação do solo e erosão, poluição dás águas,
desmatamentos excessivos e dilapidação do patrimônio genético nativo. É premente a
adoção ampla de medidas voltadas à proteção ambiental, entre elas: intensificação da
fiscalização florestal; alerta permanente contra a erosão; estímulo ao aumento racional da
produção agropecuária para que não se faça somente à custa de maiores desmatamentos e
do uso abusivo de agrotóxicos; reflorestamento, sobretudo nas cabeceiras e margens dos
relevos dissecados e áreas próximas às cidades; vedação à prática de queimadas sucessivas;
e exploração de madeiras segundo critérios que garantam a perpetuidade das espécies.
Destaque-se que o Cerrado exerce um papel basilar para o equilíbrio dos demais biomas
brasileiros. O seu comprometimento gera implicações negativas para a Amazônia, a Mata
Atlântica, a Caatinga e a Região da Araucária. A Caatinga, por sua vez, ocupa cerca de
850.000km2, 110 semiárido nordestino; talvez seja o bioma brasileiro mais severamente
devastado pela ação atrófica. A ideia de que a Caatinga apresenta uma paisagem homogênea
é incorreta: os elementos da sua fauna e da sua flora variam muito. O modelo de ocupação
da região tem originado diversos problemas de degradação ambiental. Em área
significativa, os solos encontram-se abandonados por fatores como dos nutrientes pelo uso
intensivo, instalação de processos erosivos resultantes da retirada da cobertura vegetal e
salinização. O relatório "O Desafio do Desenvolvimento Sustentável", publicado pelo
Governo Brasileiro na época da Rio-92, destaca, sobre a região da Caatinga, que "vários
estudos constatam a existência de núcleos de desertificação onde a degradação da cobertura
vegetal e do solo atingiu uma condição de irreversibilidade, apresentando-se como
pequenos "desertos" dentro do ecossistema primitivo. (...) Na Bahia, já se registram áreas
que abrangem 52,5 mil km2, onde a vegetação está tornando-se escassa e o solo,
desprotegido, tem indícios de erosão acelerada. Em Pernambuco, a área identificada
corresponde a um polígono de, aproximadamente, 25 mil km2, ou seja, 28% da superfície
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Consta apenso à PEC n° 60/1999, da Deputada Maria de Lourdes Abadia e outros, que
justifica a inclusão do Cerrado com bioma a ser considerado Patrimônio Nacional nos seguintes
termos:
O Cerrado, bioma típico do nosso Planalto Central, já constituiu cerca de 25% do território
brasileiro. Possui uma grande diversidade de fisionomias, como 5 campos ralos ou campos
cerrados, os cerradões e as matas de galerias, que acompanham as nascentes e os cursos de
água. Por se constituírem de solos de formação muito antiga, as terras dos Cerrados são de
baixa fertilidade apresentando, no entanto, topografia geralmente suave, o que tem
facilitado a expansão da agricultura mecanizada e extensiva. A multiplicidade de
fisionomias vegetais, por outro lado, confere ao Cerrado uma enorme riqueza em termos
de patrimônio biológico e genético. Seu aspecto, muitas vezes árido, com árvores retorcidas
e predominantemente de pequeno porte, esconde a riqueza em termos de flora e fauna, de
que é dotado esse bioma. A vegetação do Cerrado, dada sua diversidade, produz uma vasta
gama de frutos, grãos e folhas que permitem alimentar uma fauna variada, perfeitamente
ajustada aos seus rigorosos ciclos anuais de chuvas e secas. O regime pluviométrico da
região do Cerrado é bastante regular com média de sete meses chuvosos a cada ano. Por se
situar no coração do Planalto Central, na região do Cerrado nascem alguns dos maiores e
mais importantes rios brasileiros. Em área recoberta por Cerrados, na Serra da Canastra,
nasce o rio São Francisco. Também nos Cerrados mineiros, goianos e do oeste baiano
nascem seus maiores tributários, como os rios Paracatu das Velhas, Paraopeba, Verde
Grande, Carinhanha e Grande. O rio São Francisco, lembremos, atravessa uma das regiões
mais áridas do Brasil e suas águas têm sido fundamentais para a sobrevivência e para o
desenvolvimento de uma parte considerável da Região Nordeste do Brasil. Em regiões de
Cerrado, nascem os rios Araguaia e Tocantins e vários outros, que se encaminham para a
Bacia Amazônica. Nelas nascem os principais formadores da Bacia do Paraná, de cujo
potencial hidráulico vem a maior parte da energia elétrica que consumimos em nosso País.
No Cerrado, estão as nascentes de vários rios que formam o complexo hidrográfico do
Pantanal Mato-Grossense. São as águas desses rios que garantem as inundações cíclicas
que mantêm, nesse bioma, uma riqueza ecológica ímpar no mundo. O ciclo hidrológico de
quase metade de nosso País depende do Cerrado. Do Cerrado provêm as águas do grande
São Francisco e sua florescente agricultura do Paraná com suas hidrelétricas, do Tocantins-
Araguaia e do Pantanal. No entanto, nós, brasileiros, não temos encarado esse bioma com
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a seriedade que ele merece e com o cuidado correspondente à sua importância. A região do
Cerrado foi eleita como área de expansão da agricultura extensiva no Brasil. Os Cerrados
têm sido sistematicamente destruídos para dar lugar a lavouras, a pastagens e a grandes
plantações de eucaliptos. Eles foram e continuam sendo derrubados para produzir carvão
vegetal para siderúrgicas. E o pior de tudo é que seu solo frágil, altamente susceptível à
erosão, não é manejado adequadamente, deixando levar a cada ano milhões de toneladas
de terra para os rios que o cortam, assoreando-os, acabando com a vida de que sempre
foram pródigos, aumentando suas enchentes e reduzindo assustadoramente suas vazantes.
A expansão da agricultura trouxe consigo a urbanização e a industrialização. Hoje, as
concentrações urbanas no entorno de cidades como Brasília, Goiânia, Cuiabá e Campo
Grande são altamente danosas ao sistema solo-água do Cerrado, com processos erosivos
acentuados e a poluição das águas por esgotos sanitários e industriais e pelo lixo de várias
origens. A devastação inconsequente do Cerrado é responsável por problemas gravíssimos,
como o assoreamento dos rios do Pantanal e do rio São Francisco. Se ela não for controlada,
os prejuízos futuros, tanto econômicos como ambientais, serão irreparáveis. Nossa proposta
de emenda à Constituição visa a corrigir esse equívoco enquanto é tempo, enquanto ainda
resta uma porção considerável de Cerrado para ser preservada ou, pelo menos, utilizada
com os cuidados mínimos que a natureza merece. Em nome de nosso futuro, contamos,
pois, com o apoio dos ilustres Pares do Congresso Nacional, para sua tramitação e
aprovação. (g.n.)
Consta apensa a PEC n° 131/1999, da Deputada Nair Xavier Lobo e outros, que justifica a
inclusão do Cerrado com bioma a ser considerado Patrimônio Nacional nos seguintes termos:
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Consta apensa a PEC n° 100/2003, da Deputada Raquel Teixeira e outros, que justifica a
inclusão do cerrado com bioma a ser considerado Patrimônio Nacional nos seguintes termos:
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Em seu art. 225, §42, a Constituição Federal diz que a Floresta Amazônica, a Mata
Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são Patrimônio
Nacional e que sua utilização será feita de forma sustentável. É legítimo perguntar por que
o legislador constituinte não incluiu nessa relação o Cerrado e a Caatinga. A não inserção
desses biomas no texto constitucional ocorreu, com certeza, pelo desconhecimento de sua
importância ecológica, não encontrando quaisquer sustentações científicas. Ocupando
cerca de 25% do território nacional, o Cerrado exibe uma enorme variedade de solos, relevo
e climas, que se refletem numa impressionante diversidade de ecossistemas e espécies.
Infelizmente, sua ocupação vem ocorrendo de forma desordenada e predatória. A vegetação
do Cerrado é formada por um grande mosaico de paisagens. Podem-se distinguir a savana
típica, que recebe a denominação geral de cerrado; a savana arbórea densa, ou cerradão; a
savana arbórea aberta ou campo cerrado; e a savana parque, formação essencialmente
campestre. O Cerrado possuí mais de 700 espécies de plantas lenhosas de ocorrência
restrita à região, abriga 935 espécies de aves, 298 espécies de mamíferos e 268 espécies
de répteis, além de incontáveis insetos e animais invertebrados. A falta de preocupação
com a conservação ambiental do bioma Cerrado fica bem caracterizado pelo ínfimo
percentual de áreas protegidas na forma de Unidades de Conservação. O processo intensivo
de ocupação agrícola e a rápida expansão das áreas urbanas na região têm causado inúmeros
e graves problemas ambientais: compactação do solo e erosão, poluição das águas,
desmatamentos excessivos e dilapidação do patrimônio genético nativo. Destaque-se que o
Cerrado exerce um papel chave para o equilíbrio ambiental dos demais biomas brasileiros.
O seu comprometimento gera implicações negativas para a Amazônia, a Mata Atlântica e a
Caatinga. Caatinga, por sua vez, ocupando cerca de 850 mil quilômetros quadrados no
semiárido nordestino, talvez seja o bioma brasileiro mais severamente devastado pela ação
antrópica. A ideia de que a Caatinga apresenta uma paisagem homogênea é incorreta: os
elementos da sua fauna e da sua flora variam muito. O modelo de ocupação da região tem
originado diversos problemas de degradação ambiental. Em área significativa, os solos
encontram-se abandonados por fatores como o esgotamento dos nutrientes pelo uso
intensivo, instalação de processos erosivos resultantes da retirada da cobertura vegetal e
salinização. Vários estudos constatam a existência de núcleos de desertificação, onde a
degradação da cobertura vegetal e do solo atingiram uma condição de irreversibilidade
apresentando-se como pequenos "desertos" dentro do ecossistema primitivo. A importante
fauna regional está hoje desfalcada de inúmeras espécies e mesmo aquelas que ainda
permanecem formam populações muito reduzidas. Eram comuns na Caatinga grandes
predadores como o jaguar e a suçuarana, que hoje estão praticamente extintos. No que diz
respeito às Unidades de Conservação, a situação é ainda mais preocupante. A Caatinga
possui apenas 0,1% de sua extensão protegido na forma de parques e reservas. Vigora no
Brasil uma concepção distorcida de que é mais importante a proteção da Amazônia, da
Mata Atlântica e do Pantanal do que dos demais biomas. Na verdade, é necessário assegurar
a conservação da maior variedade possível de ecossistemas naturais. O reconhecimento do
Cerrado e da Caatinga como Patrimônio Nacional vai sanar uma omissão inaceitável da
Constituição Federal e, certamente, servirá de base para políticas de desenvolvimento
sustentável para essas regiões. (g.n.)
Consta apenso à PEC n° 131/2003, da Deputada Terezinha Fernandes e outros, que justifica
a inclusão do Cerrado com bioma a ser considerado Patrimônio Nacional nos seguintes termos:
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permite deduzir do texto constitucional que esses bens ambientais interessam a todos os
brasileiros. No caso, houve uma preocupação do constituinte em assegurar a preservação
desses espaços, em função de sua diversidade, porque representam importante reservatório
natural, entre os quais, os recursos hídricos e genéticos de incalculável valor monetário. O
manejo adequado pode ser um importante fator para a contribuição de desenvolvimento
para o Brasil. Como visto, a não inclusão do Cerrado e da Caatinga incorre numa omissão
imperdoável, sobretudo pelo desconhecimento da sua importância ecológica. Assim, faz-
se essencial a sua inclusão como sendo Patrimônio Nacional. Trata-se, sobretudo, de
proteger a vida em qualquer forma que ela se apresente. São extremamente relevantes os
argumentos para a proteção desses biomas. Ao cortar o Brasil de Norte a Sul, o Cerrado
pode ser representado como uma verdadeira coluna vertebral que propicia equilíbrio
ambiental aos demais ecossistemas brasileiros. Essa posição geográfica, somada à sua
altitude em relação aos demais ecossistemas, representa um fator para a distribuição de
água que alimenta as principais bacias hidrográficas do Brasil. Na sua composição, é
possível observar uma diversidade de ecossistemas e espécies, que compõem a sua
paisagem, descritos de forma maravilhosa por Guimarães Rosas em "Grande Sertão
Veredas". Ocorre que o Cerrado vem sendo utilizado de forma predatória por diversos
grupos econômicos, em consonância com políticas públicas equivocadas, que se ocupam
com intensificar o processo de expansão da agricultura, especificamente, monocultura de
exportação. A lógica desse processo tem sido a lógica do agronegócios em detrimento das
diversas populações de trabalhadores agroextrativistas e grupos indígenas, os chamados
"povos dos cerrados". Trata-se de violação aos direitos desses grupos sociais. No caso,
estamos diante de dois modelos de desenvolvimento: um orientado por uns poucos, que não
levam em consideração o meio ambiente, colocam em risco todo o patrimônio natural e
cultural; outro, orientado pelos chamados "povos do cerrados", que se preocupam em
manejar adequadamente os recursos naturais para conservar toda a biodiversidade
existente. A Caatinga, por sua vez, é o bioma brasileiro mais severamente devastado pela
ação antrópica, que data desde o período do Brasil-Colônia, com o regime de terras que
criou condições para a concentração fundiária na região. Num relatório publicado pelo
governo brasileiro à época da Rio-92, intitulado "O Desafio do Desenvolvimento
Sustentável”, destaca-se em vários estudos que a região da Caatinga vem apresentando
"núcleos de desertificação", onde a degradação da cobertura vegetal e do solo atingiram
urna condição de irreversibilidade, apresentando-se como pequenos desertos dentro do
próprio ecossistema, diferentemente do que anunciam de que a Caatinga apresenta uma
paisagem homogênea é incorreta. A Caatinga, apesar de estar localizada numa região
semiárida, é rica em recursos genéticos dada sua alta biodiversidade, apresenta grande
variedade de paisagens, relativa riqueza biológica e endemismo, isto é, com muitas espécies
que não são encontradas em nenhum outro lugar do Planeta. A diversidade biológica do
Cerrado e Caatinga é riquíssima e com um potencial muito pouco estudado, de modo que
não se pode permitir que todo esse patrimônio natural seja destruído. O princípio da
"prudência" ou da "cautela" do Direito Ambiental é imperativo, ao informar que, havendo
dúvidas, incertezas ou mesmo desconhecimento científico a respeito de determinado
ambiente, não se deve praticar determinadas ações, sobretudo a fim de evitar a ocorrência
de danos que possam tomar-se irreparáveis num futuro próximo. Trata-se, ainda, de
preservar um patrimônio genético inexplorado e desconhecido. O olhar indiferente a
respeito desses biomas pode ser observado pelas poucas áreas especialmente protegidas.
Há uma necessidade de que esses biomas sejam ocupados de forma que se leve em
consideração o meio ambiente natural e cultural para proteger a vida e garantir um padrão
de existência digno para os seres humanos desta e das gerações futuras. Nesse sentido, faz-
se necessária a adoção de medidas legais que possam dar tratamento diferenciado a esses
espaços. O reconhecimento do Cerrado e da Caatinga como patrimônio natural a ser
protegido pelo texto constitucional tem como objetivo suprir uma omissão inaceitável na
Constituição Federal de 1988 e, dessa forma, corroborar com a formulação de políticas
públicas adequadas, no sentido de garantir às populações que lá se encontram condições
para a sua exploração, sendo que não podemos perder de vista que, no Cerrado e na
Caatinga, há gente que tem cultura própria e de que não há defesa do Cerrado e da Caatinga
sem os povos de lá advindos. Portanto, contamos com o total apoio de nossos Pares na
aprovação desta Proposta de Emenda à Constituição. (g.n.)
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Consta apensa a PEC n° 188/2003, do Deputado Sandes Júnior e outros, que justifica a
inclusão do Cerrado com bioma a ser considerado Patrimônio Nacional nos seguintes termos:
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Segundo consulta realizada no site do Senado Federal, foi aprovada no Senado e, agora, a
matéria será examinada pela Câmara dos Deputados e, caso aprovada, transformará o Cerrado e a
Caatinga em patrimônio natural do Brasil, corrigindo a lacuna existente na Constituição Federal que
não os incluiu na lista de biomas assegurados por lei, com o seguinte despacho:
A PEC n° 51/2003 foi encerrada com a aprovação pelo Senado Federal, mas está parada na
Câmara do Deputados e aguarda a criação de Comissão Temporária. A PEC n° 504/2010, absorveu
a PEC n° 115/1995 e está pronta para ser incluída na pauta do Plenário e ser votada, e só não ocorreu
em 08/08/2017, porque a Sessão Plenária foi encerrada sem analisar a matéria.
As Propostas de Emenda Constitucional, ora analisadas, são uma forma de se entender como
os congressistas pensam sobre a problemática ambiental, especificamente sobre o conteúdo
normativo do §4°do artigo 225 da CF, já que se objetiva incluir o Cerrado entre os biomas
considerados Patrimônio Nacional.
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jurisprudência relacionada ao Art. 225, §4º da CF, perante o Supremo Tribunal Federal (STF) e
perante o Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O STF é o Órgão máximo do Poder Judiciário. O Supremo é composto por onze Ministros,
competindo ao STF julgar as chamadas ações diretas de inconstitucionalidade, instrumento jurídico
próprio para contestar a constitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual; apreciar
pedidos de extradição requerida por Estado estrangeiro; e julgar pedido de habeas corpus de
qualquer cidadão brasileiro.
O STJ é a última instância da Justiça brasileira para as causas infraconstitucionais,
responsável por uniformizar e padronizar a interpretação da Constituição em todo o Brasil. É
composto por 33 Ministros nomeados pelo Presidente da República com base em lista tríplice
elaborada pelo próprio STJ. Como Órgão, o STJ aprecia os recursos vindos da Justiça comum
(Estadual e Federal). Sua competência está prevista no art. 105 da Constituição Federal, que
estabelece quais podem ser os processos iniciados no STJ (originários) e aqueles em que o Tribunal
age como Órgão de revisão, inclusive nos julgamentos de Recursos Especiais.
Nos dois itens seguintes, foram relacionados, seguindo uma ordem cronológica, todos os
julgados, com inteiro teor dos Acórdãos, das decisões que utilizaram, como base direita das
respectivas decisões, o Art. 225, §4º da CF.
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Amazônica brasileira), também não impede autorização, pelos povos particulares, dos recursos
naturais existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio privado, desde que observadas
as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias à preservação ambiental.
Também em 1995, uma segunda decisão do Supremo Tribunal Federal foi prolatada e teve
novamente como Relator o Ministro Celso de Mello, nos Autos do Mandado de Segurança nº 22164-
0 SP134.297, em que figura como Impetrante Antônio de Andrade Ribeiro Junqueira e Impetrado
o Sr. Presidente da República, que, por decisão unânime, deferiu o Mandado de Segurança, em cujo
bojo debateu a reforma agrária e o devido processo legal, a função social da propriedade e a vistoria
efetuada pelo Incra, a notificação prévia e pessoal da vistoria, no bioma Pantanal Mato-Grossense,
a possibilidade jurídica de expropriação de imóveis rurais nele situados para fins de reforma agrária
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O Supremo Tribunal Federal afirmou, nos dois Julgados acima relatados pelo Ministro Celso
de Mello, o conceito de “meio ambiente como patrimônio público”, destacou que, dentro desse
contexto, emerge com nitidez a ideia de que o meio ambiente constitui patrimônio público a ser
necessariamente assegurado e protegido pelos organismos sociais e pelas instituições estatais, sem
sofrer qualquer mitigação no direito de propriedade, caso cumpra os ditames constitucionais e
legais.
No ano de 1997, foi proferida uma terceira decisão, dessa vez, pelo Ministro Sydney
Sanches, na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.516, proposta pela Mesa Diretora da
Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia em face do Sr. Presidente da República, que, por
maioria de votos, indeferiu medida cautelar, por entender que, embora válido o argumento de que
medida provisória não pode tratar de matéria submetida pela Constituição Federal a lei
complementar, é de se considerar que, no caso, a CF não exige lei complementar para alterações no
Código Florestal, ao menos as concernentes à Floresta Amazônica, visto que a ausência de lei, a que
se refere o §4º do art. 225 da CF, não afronta o comando constitucional.
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Esse julgado se reveste de grande importância, porque trouxe uma interpretação pontual do
disposto no §4º do art. 225 da CF, no que se refere ao tipo de lei de que trata o parágrafo em estudo.
Com efeito, o §4 º do art. 225 da Constituição Federal assim dispõe: A Floresta Amazônica
brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona costeira são
patrimônio nacional, cuja utilização se fará, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
conservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais”.
A Lei a que se refere o parágrafo é a Ordinária, já que não exige Lei Complementar.
Dessa feita, a matéria de Lei Ordinária pode ser tratada em Medida Provisória, em face do que
estabelece o art. 62 da CF: "Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República
poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso
Nacional. §1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: (...) III – reservada a lei
complementar”.
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Em 2006, o Ministro Sepúlveda Pertence julgou a quarta decisão com base no §4o do art.
225 da Constituição Federal, em sede de Recurso Extraordinário, proposto pelo Estado de São Paulo
em face do Espólio de Luciana Castro Gonzalez, que, por decisão unânime, negou provimento ao
agravo regimental no recurso extraordinário, por entender cabível indenização em imóvel situado
na Reserva Florestal Serra do Mar, por ser pacífica a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
de que é devido indenização pela desapropriação de área pertencente à Reserva Florestal Serra do
Mar, independentemente das limitações administrativas impostas para proteção ambiental dessa
propriedade.
Dessa forma, mesmo que o Bioma Serra do Mar tenha sido contemplado no texto do §4o do
art. 225 da Constituição Federal, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que
é devido indenização pela desapropriação de área pertencente à reserva florestal Serra do Mar,
independentemente das limitações administrativas impostas para proteção ambiental dessa
propriedade. A norma inscrita no art. 225, §4º, da Constituição deve ser interpretada de modo
harmonioso com o sistema jurídico consagrado pelo ordenamento fundamental, notadamente com
a cláusula proclamada pelo art. 5º, XXII, da Carta Política, que garante e assegura o direito de
propriedade em todas as suas projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira
devida pelo Poder Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal.
O preceito consubstanciado no art. 225, §4º, da CF, além de não haver convertido em bens
públicos os imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas matas nele referidas (Mata
Atlântica, Serra do Mar, Floresta Amazônica brasileira), também não impede a utilização, pelos
próprios particulares, dos recursos naturais existentes nas áreas que estejam sujeitas ao domínio
privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias à
conservação ambiental. A ordem constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade
(CF/88, art. 5º, XXII). Essa proteção outorgada pela CF estende-se, na abrangência normativa de
sua incidência tutelar, ao reconhecimento, em favor do dominus, da garantia de compensação
financeira, sempre que o Estado, mediante atividade que lhe seja juridicamente imputável, atingir o
direito de propriedade em seu conteúdo econômico, ainda que o imóvel particular afetado pela ação
do Poder Público esteja localizado em qualquer das áreas referidas no art. 225, §4º, da Constituição.
Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado: a consagração constitucional de um típico
direito de terceira geração (CF, art. 225, caput).
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No ano de 2017, o Supremo Tribunal Federal novamente instado julgou o quinto processo,
dessa vez, em sede de Controle de Constitucionalidade, na ADI nº 4269/DF, cujo Relator foi o
Ministro Edson Fachin. Julgamento realizado em 18.10.2017, tendo como base o §4º do art. 225 da
Constituição Federal, porque conheceu, em parte, na ação direta de inconstitucionalidade e, por
maioria, julgou parcialmente procedente o pedido para aplicar a técnica da interpretação conforme
a Constituição, sem redução de texto.
O Supremo Tribunal Federal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, conheceu
da ação quanto aos arts. 4º, §2º, e 13 da Lei nº 11.952/2009, assentando o prejuízo da pretensão
relativa ao art. 15, I, §§2º, 4º e 5º da mesma Lei.
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Na parte conhecida, o Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou
parcialmente procedente a ação para: i) que se confira ao artigo 4º, §2º, da Lei nº 11.952/2009
interpretação conforme a Constituição, sem redução de texto, a fim de afastar qualquer interpretação
que permita a regularização fundiária das terras públicas ocupadas por quilombolas e outras
comunidades tradicionais da Amazônia Legal em nome de terceiros ou de modo a descaracterizar o
modo de apropriação da terra por esses grupos; ii) que se confira interpretação conforme o disposto
no artigo 13 da Lei nº 11.952/2009, de modo a afastar quaisquer interpretações que concluam pela
desnecessidade de fiscalização dos imóveis rurais de até quatro módulos fiscais, de forma que o ente
federal deve utilizar-se de todos os meios referidos em suas informações para assegurar a devida
proteção ambiental e a concretização dos propósitos da norma, para, somente então, ser possível a
dispensa da vistoria prévia, como condição para a inclusão da propriedade no Programa de
Regularização Fundiária de Imóveis Rurais de domínio público na Amazônia Legal.
Vencidos o Ministro Marco Aurélio, que acompanhava o Relator quanto ao conhecimento
da ação, mas, na parte conhecida, julgava-a improcedente e, em parte, o Ministro Alexandre de
Moraes, quanto à parte do voto do Relator referente ao art. 13 da Lei nº 11.952/2009, ao entender
pela presunção iuris tantum da boa-fé da declaração do ocupante do imóvel, no que foi
acompanhado, no ponto, pelo Ministro Gilmar Mendes. Impedido o Ministro Dias Toffoli. Falou
pelo Presidente da República e pelo Congresso Nacional a Ministra Grace Maria Fernandes
Mendonça, Advogada-Geral da União. Presidiu o julgamento a Ministra Cármen Lúcia. Plenário,
18.10.2017. A ação foi proposta pela Procuradoria-Geral da República, em face do Sr. Presidente da
República e do Congresso Nacional, contendo a seguinte ementa:
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O Supremo Tribunal Federal entende que essas áreas não se transformaram em bens da
União por serem chamadas de patrimônio nacional. Além disso, nada impede utilização,
pelos próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam
sujeitas ao domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as
condições necessárias à preservação ambiental.
O Supremo Tribunal Federal, com base nesses Julgados, reconheceu o direito ambiental
como um instrumento finalístico de proteção aos ecossistemas que foram referenciados na CF/1988.
A norma inscrita no art. 225, §4º, da Constituição, deve ser interpretada de modo harmonioso com
o sistema jurídico consagrado pelo ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula que,
proclamada pelo art. 5º, XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de propriedade em
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todas as suas projeções, inclusive a concernente à compensação financeira devida pelo Poder
Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal.
O preceito consubstanciado no art. 225, §4º, da CF, além de não haver convertido em bens
públicos os imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas matas nele referidas, Mata
Atlântica, Serra do Mar, Zona Costeira e Floresta Amazônica brasileira, também não impede a
utilização, pelos próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam
sujeitas ao domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as condições
necessárias à conservação ambiental.
A ordem constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade (CF/88, art. 5º,
XXII). Esses julgados são importantes, porque mostram como o Supremo Tribunal Federal
interpreta o dispositivo objeto desta pesquisa.
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edição de ato normativo stricto sensu (Decreto Federal), de observância universal para
todos os proprietários rurais inseridos no Bioma da Mata Atlântica. 3. As restrições ao
aproveitamento da vegetação da Mata Atlântica, trazidas pelo Decreto nº 750/93,
caracterizam, por conta de sua generalidade e aplicabilidade a todos os imóveis incluídos
no bioma, limitação administrativa, o que justifica o prazo prescricional de cinco anos, nos
moldes do Decreto nº 20.910/1932. Precedentes do STJ. 4. Hipótese em que a Ação foi
ajuizada somente em 21.3.2007, decorridos mais de dez anos do ato do qual originou o
suposto dano (Decreto 750/1993), o que configura a prescrição do pleito do recorrente. 5.
Assegurada no Código Civil de 2002 (art. 1.228, caput), a faculdade de "usar, gozar e dispor
da coisa", núcleo econômico do direito de propriedade, está condicionada à estrita
observância, pelo proprietário atual, da obrigação propter rem de proteger a flora, a fauna,
as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como
evitar a poluição do ar e das águas (parágrafo único do referido artigo). 6. Os recursos
naturais do Bioma Mata Atlântica podem ser explorados, desde que respeitadas as
prescrições da legislação, necessárias à salvaguarda da vegetação nativa, na qual se
encontram várias espécies da flora e fauna ameaçadas de extinção. 7. Nos regimes
jurídicos contemporâneos, os imóveis - rurais ou urbanos - transportam finalidades
múltiplas (privadas e públicas, inclusive ecológicas), o que faz com que sua utilidade
econômica não se esgote em um único uso, no melhor uso e, muito menos, no mais lucrativo
uso. A ordem constitucional legal brasileira não garante ao proprietário e ao empresário o
máximo retorno financeiro possível dos bens privados e das atividades exercidas. 8.
Exigências de sustentabilidade ecológica na ocupação e utilização de bens econômicos
privados não evidenciam apossamento, esvaziamento ou injustificada intervenção pública.
Prescrever que indivíduos cumpram certas cautelas ambientais na exploração de seus
pertences não é atitude discriminatória, tampouco rompe com o princípio da isonomia,
mormente porque ninguém é confiscado do que não lhe cabe no título ou senhorio. 9. Se o
proprietário ou possuidor sujeita-se à função social e à função ecológica da propriedade,
despropositado alegar perda indevida daquilo que, no regime constitucional e legal vigente,
nunca deteve, isto é, a possibilidade de utilização completa, absoluta, ao estilo da terra
arrasada, da coisa e de suas virtudes naturais. Ao revés, quem assim proceder estará
apoderando-se ilicitamente (uso nocivo ou anormal da propriedade) de atributos públicos
do patrimônio privado (serviços e processos ecológicos essenciais), que são "bem de uso
comum do povo", nos termos do art. 225, caput, da Constituição de 1988. 10. Finalmente,
observe-se que há notícia de decisão judicial transitada em julgado, em Ação Civil Pública,
que também impõe limites e condições à exploração de certas espécies da Mata Atlântica,
consideradas ameaçadas de extinção. 11. Recurso Especial parcialmente conhecido e não
provido. Acórdão Vistos, relatados e discutidos os Autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça:
"Prosseguindo-se no julgamento, após o voto-vista da Sr.a Ministra Eliana Calmon,
acompanhando o Sr. Ministro Herman Benjamin, a Turma, por unanimidade, conheceu em
parte do recurso e, nessa parte, negou-lhe provimento, nos termos do voto do (a) Sr (a).
Ministro (a)-Relator (a)." Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Eliana Calmon
(voto-vista), Castro Meira e Humberto Martins votaram com o Sr. Ministro Relator. (g.n.)
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O terceiro Acórdão examinado foi o do Recurso Especial nº 769753 / SC, julgado pela
Segunda Turma em 8 de setembro de 2009, tendo como Relator o Ministro Herman Benjamin, cujo
objeto foi uma Ação Civil Pública, impetrada proposta pela União com a finalidade de
responsabilizar o Município de Porto Belo-SC e o particular ocupante de terreno de marinha e
promontório, por construção irregular de hotel de três pavimentos com, aproximadamente, 32
apartamentos. Merece destaque a menção da Zona Costeira, bioma contemplado no texto do artigo
225, §4º, da Constituição Federal, importante percepção jurisprudencial, porque os problemas
ambientais têm a especial característica de impactarem uma grande número de pessoas, merecendo
atenção por parte dos Poderes Públicos e de todos os indivíduos:
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O quarto Acórdão analisado foi o Recurso Especial nº 1090622 /SC, julgado pela Segunda
Turma em 25 de agosto de 2009, tendo como Relator o Ministro Herman Benjamin, cujo objetivo
foi analisar a ocorrência de prescrição quinquenal referente às restrições ao aproveitamento da
vegetação da Mata Atlântica, trazidas pelo Decreto nº 750/1993, que caracterizam limitação
administrativa e não desapropriação indireta e, assim, verificar se aplica o prazo prescricional de
cinco anos, nos moldes do Decreto nº 20.910/1932. Por isso, não trouxe maiores elementos teóricos
úteis aos objetivos desta pesquisa.
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Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Eliana Calmon, Castro Meira e Humberto
Martins votaram com o Sr. Ministro Relator. Notas Tema: meio ambiente. Discussão
doutrinária: Proteção da Mata Atlântica, segundo o Decreto 750/1993 e legislação
superveniente. Informações Complementares: PROIBIÇÃO, EXPLORAÇÃO E
SUPRESSÃO, MATA ATLÂNTICA, EM RECUPERAÇÃO, COM EXCEÇÃO,
HIPÓTESE, UTILIDADE PÚBLICA, E, INTERESSE SOCIAL / OBSERVÂNCIA,
ARTIGO, DECRETO, 1993. POSSIBILIDADE, EXPLORAÇÃO FLORESTAL,
COM SELEÇÃO, FLORA NATIVA, MATA ATLÂNTICA / OBSERVÂNCIA,
ARTIGO, DECRETO, 1993, SOBRE NECESSIDADE, PRESERVAÇÃO, MEIO
AMBIENTE E ARTIGO, LEI FEDERAL, 2006, SOBRE PREENCHIMENTO,
REQUISITO, ÓRGÃO PÚBLICO AMBIENTAL, ÂMBITO, ESTADO. (g.n.)
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particular, área que já pertenceu - hoje não mais - a Parque Estadual, não há se falar em
lesão a bem da União. Ademais, como o delito não foi praticado em detrimento do IBAMA,
que apenas fiscalizou a fazenda do réu, ausente prejuízo para a União. 2. Conflito conhecido
para julgar competente o JUÍZO DE DIREITO DA 1a VARA DE CEREJEIRAS - RO,
suscitante. Acórdão Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça: A
Seção, por unanimidade, conheceu do conflito e declarou competente o Suscitante, Juízo
de Direito da 1a Vara de Cerejeiras - RO, nos termos do voto da Sr.a Ministra Relatora.
Votaram com a Relatora os Srs. Ministros Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi, Og
Fernandes, Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP), Haroldo Rodrigues
(Desembargador convocado do TJ/CE), Nilson Naves, Félix Fischer e Arnaldo Esteves
Lima. Presidiu o julgamento a Sr.a Ministra Laurita Vaz. Cuida-se de conflito negativo de
competência suscitado pelo JUÍZO DE DIREITO DA 1a VARA DE CEREJEIRAS - RO,
nos Autos da ação penal promovida contra ROBERTO DE MÁRIO CALDAS, pela suposta
prática do delito de desmatamento, em face do JUÍZO FEDERAL DA VARA DE JI-
PARANÁ - SJ/RO. O Ministério Público do Estado de Rondônia ofereceu denúncia, pois
o acusado teria, no ano de 2004, anteriormente a 17 de setembro, destruído 2.705 hectares
de floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da autoridade
competente. Ainda segundo a incoativa, os fiscais do IBAMA, ao procederem à fiscalização
de rotina na fazenda do réu, constataram que as vegetações nativas referidas foram
destruídas a "corte raso". A exordial foi recebida, o réu interrogado e concluída a instrução.
Na fase das alegações finais, o juiz estadual declinou da competência, nos seguintes termos:
O auto de fl. 09 dos Autos descreve que o réu desmatou floresta nativa de preservação
permanente sem autorização do IBAMA e o auto de fl. 13 informa que o réu utilizou fogo
para o desmate sem obediência às determinações legais. Desse modo, o fato ensejador da
persecução penal foi a constatação do IBAMA de que o acusado inobservou regulamentos
administrativos daquele Órgão, relativos à utilização de fogo para queimadas (artigo 70 da
Lei n. 9.605/98), sendo que deste descumprimento também originou um ilícito penal. Tem-
se que, inobstante a competência da Justiça Estadual para processar e julgar os crimes
ambientais, as ações penais que forem geradas por meio de acusação apurada e investigada
pelo IBAMA, o qual fiscalizou o réu, autuou e lavrou contra o mesmo autos de infração,
devem ser processadas e julgadas pela Justiça Federal, em razão do interesse da autarquia
federal na solução do processo criminal. (...) Dessa forma, patente a ofensa aos interesses
da Autarquia Federal que teve suas determinações desconsideradas pelo réu. (...) É inegável
o relevante interesse federal, isso porque a área em questão consiste na caracterização
do Bioma Amazônia (Floresta Amazônica), que compreende 98,8% (noventa e oito
vírgula oito por cento) do Estado de Rondônia, considerado patrimônio nacional pelo
artigo 225, § 4.o, da Constituição Federal. (...) O patrimônio nacional é aquele de
interesse de toda a nação. A preservação da Floresta Amazônica é medida que
transcende o interesse do próprio Estado, que inegavelmente também o tem, passando
a interessar a toda a Federação, representada pela União Federal. (...) Assim sendo,
inequívoca a ofensa a interesse de autarquia federal, o que, por consequência, resulta
em atrair a competência da Justiça Federal. (fls. 310-313). Aportando os Autos na
Justiça Federal, o Ministério Público manifestou-se pela competência da Justiça Estadual.
O Juiz Federal, então, proferiu decisão no seguinte sentido: Às fls. 322/325, o Procurador
da República requer o declínio da competência em favor da Justiça Estadual, tendo em
conta que o dano ambiental ocorreu em propriedade particular (Fazenda Mequéns). Com
razão, o representante do Órgão ministerial, pois a prática delituosa não se enquadra na
regra de competência definida no artigo 109, IV, da Constituição da República, já que os
fatos apurados não atraem a competência da Justiça Federal, uma vez que o ilícito foi
praticado em propriedade particular, de acordo com o Laudo de Exame Pericial em local
de constatação de desmatamento e degradação ambiental de fls. 205/221, mais
especificamente a fl. 213, item 3.9, segundo parágrafo, não se verificando, assim, danos a
bens da União. Desse modo, por medida de economia e celeridade processual, deixo de
suscitar conflito de competência e determino a devolução dos Autos ao Juízo da Comarca
de Cerejeiras/RO, com a respectiva baixa. (fl. 327). Repisando os termos da manifestação
anterior (transcrita acima), o juiz estadual suscita o conflito negativo de competência. O
Ministério Público Federal apresentou parecer, fls. 341-343, da lavra do Procurador
Regional da República convocado, Maurício Azevedo Gonçalves, opinando pela
competência do JUÍZO FEDERAL DA VARA DE JI-PARANÁ - SJ/RO, suscitado. É o
relatório. CONFLITO DE COMPETÊNCIA No 99.294 - RO (2008/0220610-5) EMENTA
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Atlântica, Serra do Mar, Floresta Amazônica brasileira), também não impede a utilização, pelos
próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao
domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias
à conservação ambiental.
A ordem constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade (CF/88, art. 5o,
XXII). Essa proteção outorgada pela CF estende-se, na abrangência normativa de sua incidência
tutelar, ao reconhecimento, em favor do dominus, da garantia de compensação financeira, sempre
que o Estado, mediante atividade que lhe seja juridicamente imputável, atingir o direito de
propriedade em seu conteúdo econômico, ainda que o imóvel esteja localizado em qualquer das
áreas referidas no art. 225, § 4º, da Constituição. (...)" (RE 134.297-8/SP, 1a Turma, Rel. Min. Celso
de Mello, DJ 22/09/95), com a seguinte Ementa:
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REsp nº. 439192 / SP RECURSO ESPECIAL 2002/0062295-6 Relator (a) Ministro TEORI
ALBINO ZAVASCKI (1124) Relator (a) p/ Acórdão Ministro LUIZ FUX (1122) Órgão
Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento 07/12/2006 Data da
Publicação/Fonte DJ 08/03/2007 p. 160 Ementa PROCESSUAL CIVIL.
ADMINISTRATIVO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA.
DESAPROPRIAÇÃO. CRIAÇÃO DE LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. MATÉRIA
FÁTICO-PROBATÓRIA. ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM E JUSTA
INDENIZAÇÃO. SÚMULA N. 07/STJ. PRESCRIÇÃO VINTENÁRIA. SÚMULA
119/STJ. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. CRIAÇÃO DE ÁREA DE PROTEÇÃO
AMBIENTAL. DIREITO À INDENIZAÇÃO. ESVAZIAMENTO ECONÔMICO DO
DIREITO À PROPRIEDADE. PRECEDENTES DO STF E DO STJ. LEI ESTADUAL N.
5.598, DE 06.02.1987. JUROS COMPENSATÓRIOS E MORATÓRIOS. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. 1. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC, quando o Tribunal de origem,
embora sucintamente, pronuncia-se de forma clara e suficiente sobre a questão posta nos
Autos. Ademais, o magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos
pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes para embasar a
decisão. 2. O reexame de matéria fático-probatória não habilita a interposição de Recurso
Especial, ante a incidência, inarredável, do Verbete Sumular n. 07/STJ: "A pretensão de
simples reexame de provas não enseja recurso especial.” 3. A verificação da ilegitimidade
ativa ad causam, cuja existência restou reconhecida pelo Tribunal a quo, sob o fundamento
de que não restou comprovado nos Autos que os demandantes eram legítimos proprietários
da área em litígio, demanda a análise de matéria de fato, cuja cognição é vedada ao STJ. 4.
Os critérios de aferimento da Justa Indenização para fixação do quantum indenizatório
estão adstritos às instâncias ordinárias, ante a necessária análise do conjunto fático-
probatório atraindo a incidência da Súmula 07/STJ. 5. Consoante o princípio da actio nata,
o direito de ação de indenização por desapropriação indireta nasce no momento em que a
área é esbulhada pelo poder público. 6. O prazo prescricional da ação de desapropriação
indireta é vintenário, não se aplicando a prescrição qinqenal do Decreto-Lei n. 20.910/32,
matéria que, ademais, restou sumulada no verbete n. 119, do STJ, que assim dispõe, in
verbis: "A ação de desapropriação indireta prescreve em vinte anos." Precedentes do STJ:
RESP 591948/SP; deste Relator, DJ de 29.11.2004; REsp 259.948, Rel. Min. Eliana
Calmon, DJ de 12/04/2004; REsp 535535, Rel. Min. José Delgado, DJ de 22/03/2004; REsp
443.852, Rel. Min. José Delgado, DJ de 10/11/2003; REsp 243833, Rel. Min. Franciulli
Netto, DJ de 19/12/2003; REsp 258021, Rel Min. Peçanha Martins, Rel. p/ Acórdão Eliana
Calmon, DJ de 08/09/2003; RESP 94152, Rel. Min. Peçanha Martins, DJ de 23/11/1998.
7. In casu, a Lei Estadual n. 5.598, foi editada em 06.02.1987 e a ação de indenização por
desapropriação indireta foi ajuizada em 22.09.1999, portanto, antes de expirado o prazo
prescricional vintenário. 8. Controvérsia gravitante em torno da indenizabilidade ou não de
área atingida por limitação administrativa advinda da criação de Área de Proteção
Ambiental. 9. A questão inerente à indenizabilidade da área atingida pela criação de
Parques Estaduais e de Áreas de Proteção Ambiental, tout court, é matéria de mérito e tem
sido decidida positivamente pelo Pretório Excelso, sob o enfoque de que limitação legal ou
física encerra expropriação, a qual, no nosso sistema constitucional, que também protege a
propriedade, gera indenização. 10. A distinção que se impõe é a de que a indenização pelo
preço de mercado abarca todo o imóvel sem indagação de sua exploração econômica ex
abundantia; ao passo que, comprovada a utilidade econômica da cobertura vegetal com
novel impedimento de explorações outras, acresce-se um plus à indenização em prol da
cláusula da justeza da reposição patrimonial. Precedentes: STF: RE n.o 134.297-8/SP, Relo.
Celso Mello, 1a T., DJ de 22.09.1995; RE n. 267.817/SP, Rel. Min. Maurício Corrêa, 2a T,
DJ de 29.11.2002; STJ: RESP n.o 401.264/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, 2a T, DJ de
30.09.2002; RESP n. 209.297/SP, Rel. Min. Paulo Medina, 2a T. DJ de 10.03.2003. 11. É
assente no Pretório Excelso que: " (...) o Poder Público ficará sujeito a indenizar o
proprietário do bem atingido pela instituição da reserva florestal, se, em decorrência de sua
ação administrativa, o dominus viera a sofrer prejuízos de ordem patrimonial. A instituição
de reserva florestal - com as consequentes limitações de ordem administrativa dela
decorrentes - e desde que as restrições estatais se revelem prejudiciais ao imóvel abrangido
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pela área de proteção ambiental, não pode justificar a recusa do Estado ao pagamento de
justa compensação patrimonial pelos danos resultantes do esvaziamento econômico ou da
depreciação do valor econômico do bem. (...)" (Recurso Extraordinário n. 134.297/SP, Rel.
Min. Celso de Mello)
12. Destarte, a essência do entendimento jurisprudencial emanado do STF, no
julgamento do RE 134.297-8/SP, Relator Ministro Celso de Mello, DJ 22.098.95, está
assim sintetizado: " (...) - A norma inscrita no art. 225, §4o, da Constituição deve ser
interpretada de modo harmonioso com o sistema jurídico consagrado pelo
ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula que, proclamada pelo art. 5o,
XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de propriedade em todas as suas
projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira devida pelo Poder
Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal. - O preceito
consubstanciado no art. 225, §4o, da Carta da República, além de não haver
convertido em bens públicos os imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas
matas nele referidas (Mata Atlântica, Serra do Mar, Floresta Amazônica brasileira),
também não impede a utilização, pelos próprios particulares, dos recursos naturais
existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio privado, desde que
observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias à preservação
ambiental. - A ordem constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade
(CF/88, art. 5o, XXII). Essa proteção outorgada pela Lei Fundamental da República
estende-se, na abrangência normativa de sua incidência tutelar, ao reconhecimento,
em favor do dominus, da garantia de compensação financeira, sempre que o Estado,
mediante atividade que lhe seja juridicamente imputável, atingir o direito de
propriedade em seu conteúdo econômico, ainda que o imóvel esteja localizado em
qualquer das áreas referidas no art. 225, §4o, da Constituição. (...)" (RE 134.297-8/SP,
1a Turma, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 22/09/95). 13. Os juros compensatórios
destinam-se a compensar o que o desapropriado deixou de ganhar com a perda antecipada
do imóvel, ressarcir o impedimento do uso e gozo econômico do bem, ou o que deixou de
lucrar, motivo pelo qual incidem a partir da imissão na posse do imóvel expropriado,
consoante o disposto no verbete sumular n. 69 desta Corte ("Na desapropriação direta, os
juros compensatórios são devidos desde a antecipada imissão na posse e, na desapropriação
indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel.), sendo irrelevante, portanto, a
produtividade do imóvel. 14. O fundamento da incidência dos juros compensatórios é o
desapossamento do imóvel e não a sua produtividade, o que, aliás, se verifica pela leitura
das Súmulas n.os 12, 69, 113, 114, do STJ e 164 e 345, do STF. Entendimento pacificado
pela Primeira Seção em recente Julgado no ERESP 453.823/MA, Relator originário
Ministro Castro Meira e Relator para Acórdão Ministro Teori Albino Zavascki, DJ de
17.05.2004. 15. In casu, a despeito de respeitáveis opiniões acerca da inexistência de
efetivo apossamento administrativo da área, ao fundamento de que a Lei Paulista n.
5.598/87, apenas, criou limitação administrativa ao uso da propriedade, a referida limitação
administrativa ocasionou o esvaziamento econômico do direito de propriedade, consoante
se infere da sentença às fls. 784/786, verbis: " (...) Pela Lei Estadual n. 5.598, de fevereiro
de 1987, o imóvel dos autores foi incluído em 'Área de Proteção Ambiental', implicando
com isso as seguintes restrições: Art. 3o Ficam proibidos, salvo quando vier a ser indicado
quando da regulamentação da presente Lei: I - o parcelamento do solo para fins urbanos; II
- a implantação de indústrias ou a expansão daquelas existentes; III - a realização de obras
de terraplanagem e a abertura de canais que importem sensível alteração das condições
ecológicas locais; IV - o uso de técnicas de manejo do solo capazes de provocar erosão das
terras ou assoreamento das coleções hídricas; V-- a remoção da cobertura vegetal natural.
Tais restrições são ainda mais explicitadas no Decreto 42.837/98, que a regulamentou: Art.
22. Na zona de cinturão meândrico... § 1o São vedadas novas instalações, obras ou
empreendimentos: 1. Destinados à atividade industrial.; 2. Destinados à atividade
minerária; 3. Destinados a necrópoles; 4. Destinados à disposição de resíduos sólidos; 5.
Destinados a fins habitacionais (loteamentos); 6. Outras que, comprovadamente,
comprometam o disposto no art. 2o. Como se vê, as restrições são de tal ordem que
inviabilizam completamente qualquer forma de exploração econômica da área,
especialmente segundo a sua natural vocação em temos de realidade econômica. Isso
significa que, manietada a utilidade econômica da área por força de tantas restrições, houve
total esvaziamento do seu valor econômico, que se assenta no binômio escassez-utilidade.
Sem o elemento utilidade, o valor econômico é nenhum. Nem importa perquirir se os
autores tinham planos para efetiva exploração econômica da área, bastando para ensejar o
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direito à indenização o fato de um bem econômico, que antes tinha valor de mercado,
deixou de tê-lo porque o elemento utilidade foi completamente esvaziado por força de
restrições legais baixadas pelo Estado. E, como tais restrições são justificadas por interesses
ambientais de índole coletiva, os ônus correspondentes devem ser igualmente 'coletivados',
indenizando com dinheiro público o sacrifício imposto ao particular. Está justificado,
portanto, o critério adotado pela perícia de estimar o montante da indenização pelo valor
total da área em termos de realidade econômica, segundo a sua melhor vocação, de
loteamento para fins urbanos. (...)” 16. Os juros moratórios têm por finalidade ressarcir o
expropriado pela mora no pagamento da indenização. 17. À luz do Princípio tempus regit
actum aplicam-se os juros moratórios à lei vigente a lei nova às desapropriações em curso,
tanto mais à luz da novel jurisprudência do STJ e do STF, que estabelecem a incidência dos
juros moratórios em precatório complementar somente quando ultrapassado o prazo
constitucional, isto é, a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o
pagamento deveria ser feito, consoante a MP n. 2.027-39, de 01.06.2000, haja vista que
vigente à época do decisum ora atacado, e que modificou o art. 15-B, do Decreto-Lei n.
3.365/42, motivo pelo qual se afasta a incidência da Súmula n. 70/STJ: "Os juros
moratórios, na desapropriação direta ou indireta, contam-se desde o trânsito em julgado da
sentença". Precedentes da 1a e 2a Turmas: RESP n. 443414/CE, deste Relator, julgado em
05.08.2004 e RESP n. 519.384/RN, Rel. Min. Franciulli Netto, DJ de 19.12.2003. 18.
Hipótese em que a sentença foi proferida em 12.12.2000 (fls. 780/790), e publicada no
mesmo dia (fl. 791). 19. A sucumbência nas ações expropriatórias rege-se pela lei vigente
à data da sentença que a impõe, devendo ser observado o art. 27, §1o, do Decreto-Lei n.
3.365/41, com a modificação introduzida pela MP n. 1.997-37 de 11.04.2000, (originária
MP n. 1.577/97, cuja última edição de 24.08.2001, é a MP n. 2.183/56), observando-se o
limite máximo de 5% (cinco por cento). Precedentes: RESP 644747 / RN; Rel. Min.
FRANCIULLI NETTO, DJ de 11.04.2005; AgRg no RESP 596868 / SP; Rel. Min.
FRANCISCO FALCÃO, de DJ 21.03.2005; EDcl no AgRg no RESP 576717 / RN; Rel.
Min. ELIANA CALMON, DJ de 13.12.2004; AgRg no RESP 648759 / RS; deste Relator,
DJ de 30.09.2004; RESP 426453/SP, deste Relator, DJ de 04.11.2002; RESP 416998/SP;
Rel. Min. FRANCIULLI NETTO, DJ 23/09/2002. 20. Voto divergente do Relator para dar
parcial provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Pública do Estado de São Paulo,
apenas para afastar a aplicação da Súmula 70/STJ e dar parcial provimento ao recurso
apresentado por Michel Amin Cury e Outro para reconhecer a aplicação do juros
compensatórios e moratórios, nos termos da fundamentação. Acórdão Vistos, relatados e
discutidos estes Autos, os Ministros da PRIMEIRA TURMA do Superior Tribunal de
Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, após o voto-
vista da Sr.a Ministra Denise Arruda, por maioria, vencido o Sr. Ministro Relator, dar
parcial provimento aos recursos especiais, nos termos do voto-vista do Sr. Ministro Luiz
Fux, que lavrará o Acórdão. Votaram com o Sr. Ministro Luiz Fux (voto-vista) os Srs.
Ministros Denise Arruda (voto-vista), José Delgado (voto-vista) e Francisco Falcão (voto-
vista). Ausentes, justificadamente, nesta assentada, os Srs. Ministros José Delgado e
Francisco Falcão. (g.n.)
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a cláusula que, proclamada pelo art. 5º, XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de
propriedade em todas as suas projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira
devida pelo Poder Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal.
O preceito consubstanciado no art. 225, §4 º, da CF, além de não haver convertido em bens
públicos os imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas matas nele referidas (Mata
Atlântica, Serra do Mar, Floresta Amazônica brasileira), também não impede a utilização, pelos
próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao
domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias
à conservação ambiental. A ordem constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade
(CF/88, art. 5º, XXII).
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não de madeira do tipo Imbuia, retirada do imóvel por posseiros, posteriormente à imissão
do INCRA na posse. 4. A questão da indenizabilidade de cobertura vegetal, tout court, é
matéria de mérito e tem sido decidida positivamente pelo Pretório Excelso, sob o enfoque
de que a limitação legal ou física encerra expropriação, que nosso sistema constitucional,
que também protege a propriedade, gera indenização, condicionando-a, apenas, à prova da
exploração econômica da área. 5. A distinção que se impõe é a de que a indenização pelo
preço de mercado abarca todo o imóvel sem indagação de sua exploração econômica ex
abundantia; ao passo que, comprovada a utilidade econômica da cobertura vegetal com
novel impedimento de explorações outras, acresce-se um plus à indenização em prol da
cláusula da justeza da reposição patrimonial. 6. Precedentes: STF: RE n.o 134.297-8/SP,
Relo. Celso Mello, 1a T., DJ de 22.09.1995; RE no 267.817/SP, Rel. Min. Maurício Corrêa,
2a T, DJ de 29.11.2002; STJ: RESP no 401.264/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, 2a T, DJ de
30.09.2002; RESP no 209.297/SP, Rel. Min. Paulo Medina, 2a T. DJ de 10.03.2003. 7. É
assente no Pretório Excelso que:" (...) o Poder Público ficará sujeito a indenizar o
proprietário do bem atingido pela instituição da reserva florestal, se, em decorrência de sua
ação administrativa, o dominus viera a sofrer prejuízos de ordem patrimonial. A instituição
de reserva florestal - com as consequentes limitações de ordem administrativa dela
decorrentes - e desde que as restrições estatais se revelem prejudiciais ao imóvel abrangido
pela área de proteção ambiental, não pode justificar a recusa do Estado ao pagamento de
justa compensação patrimonial pelos danos resultantes do esvaziamento econômico ou da
depreciação do valor econômico do bem. (...)" (Recurso Extraordinário no 134.297/SP, Rel.
Min. Celso de Mello) 8. Destarte, a essência do entendimento jurisprudencial poderia,
assim ser sintetizada: " (...) - A norma inscrita no art. 225, §4o, da Constituição, deve
ser interpretada de modo harmonioso com o sistema jurídico consagrado pelo
ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula que, proclamada pelo art. 5o,
XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de propriedade em todas as suas
projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira devida pelo Poder
Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal. - O preceito
consubstanciado no art. 225, §4o, da Carta da República, além de não haver
convertido em bens públicos os imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas
matas nele referidas (Mata Atlântica, Serra do Mar, Floresta Amazônica brasileira),
também não impede a utilização, pelos próprios particulares, dos recursos naturais
existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio privado, desde que
observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias à preservação
ambiental. - A ordem constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade
(CF/88, art. 5o, XXII). Essa proteção outorgada pela Lei Fundamental da República
estende-se, na abrangência normativa de sua incidência tutelar, ao reconhecimento,
em favor do dominus, da garantia de compensação financeira, sempre que o Estado,
mediante atividade que lhe seja juridicamente imputável, atingir o direito de
propriedade em seu conteúdo econômico, ainda que o imóvel esteja localizado em
qualquer das áreas referidas no art. 225, § 4o, da Constituição. (...)" (RE 134.297-8/SP,
1a Turma, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 22/09/95) 9. Os juros compensatórios destinam-
se a compensar o que o desapropriado deixou de ganhar com a perda antecipada do imóvel,
ressarcir o impedimento do uso e gozo econômico do bem, ou o que deixou de lucrar,
motivo pelo qual incidem a partir da imissão na posse do imóvel expropriado, consoante o
disposto no verbete sumular no 69 desta Corte (Na desapropriação direta, os juros
compensatórios são devidos desde a antecipada imissão na posse e, na desapropriação
indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel.) 10. Em assim sendo, devem ser fixados
segundo a lei vigente à data da imissão na posse do imóvel ou do apossamento
administrativo. 11. Consequentemente, nas ações de desapropriação posteriores à edição
da MP no 1.577/97, aplica-se o percentual de 6% (seis por cento) ao ano. Precedentes da
Corte: (RESP 591656 / PA; Rel. MIN. TEORI ALBINO ZAVASCKI, DJ de 30.08.2004;
RESP 613401/SC; Rel. MIN. CASTRO MEIRA, DJ de 16.08.2004;RESP 517870 / PB;
Rel. MIN. LUIZ FUX, DJ de 31.05.2004). Aplicação in casu do percentual de 12% (doze
por cento), porquanto a ação de desapropriação foi ajuizada em 16/02/1995. 12. Recurso
especial conhecido parcialmente e, nessa parte, desprovido. Acórdão. Vistos, relatados e
discutidos estes Autos, acordam os Ministros da PRIMEIRA TURMA do Superior Tribunal
de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade,
preliminarmente, acolher questão de ordem suscitada pelo Sr. Ministro Relator no sentido
de deferir requerimento do recorrido para expedição de alvará de levantamento de 80%
(oitenta por cento) do valor inicialmente depositado pelo INCRA. No mérito, também à
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são partes as acima indicadas, retificando decisão proferida em sessão do dia 2.6.2005,
prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro TEORI ALBINO
ZAVASCKI, decide a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
negar provimento ao Recurso Especial, na forma do relatório e notas taquigráficas
constantes dos Autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Os Srs.
Ministros TEORI ALBINO ZAVASCKI (voto-vista), DENISE ARRUDA e JOSÉ
DELGADO votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausentes, justificadamente, o Sr. Ministro
FRANCISCO FALCÃO, Relator e, ocasionalmente, o Sr. Ministro LUIZ FUX. (g.n.)
O décimo segundo Acórdão analisado foi o do Recurso Especial nº 675049- RN, julgado
pela Primeira Turma em 16 de março de 2006, tendo como Relator o Ministro Luiz Fux (BRASIL,
2006). Controvérsia gravitante em torno da indenizabilidade ou não de mata nativa e cobertura
vegetal em separado.
A questão da indenizabilidade de cobertura vegetal, tout court, é matéria de mérito e tem
sido decidida positivamente pelo Pretório Excelso, sob o enfoque de que a limitação legal ou física
encerra expropriação, que nosso sistema constitucional, que também protege a propriedade, gera
indenização, condicionando-a, apenas, à prova da exploração econômica da área.
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se, em decorrência de sua ação administrativa, o dominus viera a sofrer prejuízos de ordem
patrimonial. A instituição de reserva florestal - com as conseqüentes limitações de ordem
administrativa dela decorrentes - e desde que as restrições estatais se revelem prejudiciais
ao imóvel abrangido pela área de proteção ambiental, não pode justificar a recusa do Estado
ao pagamento de justa compensação patrimonial pelos danos resultantes do esvaziamento
econômico ou da depreciação do valor econômico do bem. (...)" (Recurso Extraordinário
no 134.297/SP, Rel. Min. Celso de Mello) 8. Destarte, a essência do entendimento
jurisprudencial poderia assim ser sintetizado: " (...) - A norma inscrita no art. 225,
§4o, da Constituição, deve ser interpretada de modo harmonioso com o sistema
jurídico consagrado pelo ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula
que, proclamada pelo art. 5o, XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de
propriedade em todas as suas projeções, inclusive aquela concernente à compensação
financeira devida pelo Poder Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à
atividade estatal. - O preceito consubstanciado no art. 225, §4o, da Carta da República,
além de não haver convertido em bens públicos os imóveis particulares abrangidos
pelas florestas e pelas matas nele referidas (Mata Atlântica, Serra do Mar, Floresta
Amazônica brasileira), também não impede a utilização, pelos próprios particulares,
dos recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio
privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as condições
necessárias à preservação ambiental. - A ordem constitucional dispensa tutela efetiva
ao direito de propriedade (CF/88, art. 5o, XXII). Essa proteção outorgada pela Lei
Fundamental da República estende-se, na abrangência normativa de sua incidência
tutelar, ao reconhecimento, em favor do dominus, da garantia de compensação
financeira, sempre que o Estado, mediante atividade que lhe seja juridicamente
imputável, atingir o direito de propriedade em seu conteúdo econômico, ainda que o
imóvel esteja localizado em qualquer das áreas referidas no art. 225, §4o, da
Constituição. (...)” (RE 134.297-8/SP, 1a Turma, Rel. Min. Celso de Mello, DJ
22/09/95). 9. Os juros compensatórios destinam-se a compensar o que o desapropriado
deixou de ganhar com a perda antecipada do imóvel, ressarcir o impedimento do uso e gozo
econômico do bem, ou o que deixou de lucrar, motivo pelo qual incidem a partir da imissão
na posse do imóvel expropriado, consoante o disposto no verbete sumular no 69 desta Corte
("Na desapropriação direta, os juros compensatórios são devidos desde a antecipada
imissão na posse e, na desapropriação indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel.)10.
Em assim sendo, devem ser fixados segundo a lei vigente à data da imissão na posse do
imóvel ou do apossamento administrativo. 11. Consequentemente, nas ações de
desapropriação posteriores à edição da MP no 1.577/97, aplica-se o percentual de 6% (seis
por cento) ao ano. Precedentes da Corte: (RESP 591.656/PA, Rel. Min. TEORI ALBINO
ZAVASCKI, DJ de 30.08.2004; RESP 613401 / SC, Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJ de
16.08.2004; RESP 517870 / PB, Rel. Min. LUIZ FUX, DJ de 31.05.2004). Aplicação, in
casu, do percentual de 6% (seis por cento), porquanto a imissão do INCRA na posse do
imóvel se deu em 1o de julho de 1997. 12. Os juros moratórios têm por finalidade ressarcir
o expropriado pela mora no pagamento da indenização. 13. À luz do princípio tempus regit
actum, aplica-se, quanto aos juros moratórios, a lei nova às desapropriações em curso, tanto
mais que a novel jurisprudência do STJ e do STF estabelecem a incidência dos juros
moratórios em precatório complementar somente quando ultrapassado o prazo
constitucional. Por isso, determina-se que a incidência dos juros moratórios somente se
opere a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser
feito, consoante a MP no 2.027-39, de 01.06.2000, haja vista que vigente à época do decisum
ora atacado e que modificou o art. 15-B, do Decreto-Lei n.o 3.365/42, motivo pelo qual se
afasta a incidência da Súmula no 70/STJ ("Os juros moratórios, na desapropriação direta ou
indireta, contam-se desde o trânsito em julgado da sentença"). Precedentes da Primeira e
da Segunda Turmas: RESP 443.414/CE, desta Relatoria, DJ de 20.09.2004; RESP
519.384/RN, Rel. Min. FRANCIULLI NETTO, DJ de 19.12.2003. 14. Recurso especial
conhecido em parte e provido nas questões referentes aos juros compensatórios e
moratórios. Acórdão Vistos, relatados e discutidos estes Autos, acordam os Ministros da
PRIMEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer parcialmente do recurso especial
e, nessa parte, dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs.
Ministros Teori Albino Zavascki, Denise Arruda, José Delgado e Francisco Falcão votaram
com o Sr. Ministro Relator. (g.n.)
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situar-se em local de proteção ambiental, revela-se inviável a alegada ofensa ao art. 535, I e II, do
CPC.
O décimo quinto Acórdão foi prolatado no Recurso Especial nº 468405-SP, julgado pela
Primeira Turma no dia 20 de novembro de 2003, em que foi Relator o Ministro José Delgado.
Recurso Especial contra o Acórdão que apreciou Ação de Indenização por Desapropriação Indireta
contra o Estado de São Paulo, referente a imóvel localizado no Parque Serra do Mar.
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O décimo sexto Acórdão foi prolatado no Recurso Especial nº 123835- SP, julgado pela
Primeira Turma no dia 6 de junho de 2000, em que foi Relator o Ministro Milton Luiz Pereira. Neste
caso, o julgado concluiu que não é devido indenização pela cobertura vegetal de imóvel
desapropriado se já anteriormente à dita desapropriação, configurada estava a impossibilidade de
sua exploração econômica. Não resta, deste modo, caracterizado o prejuízo a ensejar a indenização.
Ademais, deve-se salientar que o imóvel expropriado se insere naqueles do artigo 225, §4º, da
Constituição Federal.
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Finalmente, o décimo sétimo Acórdão foi prolatado no Recurso Especial nº 89779- PR,
julgado pela Segunda Turma no dia 21 de março de 2000, em que foi Relator o Ministro Francisco
Peçanha Martins. O IBDF aprovou o Plano de Exploração Florestal apresentado pela Empresa,
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deferindo a sua execução, cabe-lhe responder pelos possíveis danos causados em razão da suspensão
da execução dele, assim como lhe cumpre apreciar e discutir o direito de a Empresa apresentar novo
projeto econômico e realizá-lo.
As limitações no uso da propriedade subsumen-se às regras ditadas pela necessidade e
conveniência sociais e não à vontade do proprietário, possuidor ou detentor, e não podem, por isso,
conduzir à expropriação indireta. O Estado é parte ilegítima em ação a que não deu causa, por isso
que o ato de suspensão de plano de exploração das florestas se deu por decisão do IBDF:
Após a análise dos dezessete Acórdãos do Superior Tribunal de Justiça, acima elencados,
referentes ao artigo 225, §4º, da Constituição Federal, pode-se dizer que tais decisões trazem
substancial contribuição para o tema objeto desta pesquisa, visto que a interpretação jurídica acerca
do que seja Patrimônio Nacional, em especial, se há mitigação ou não ao direito de propriedade, o
STJ afirmou que o artigo 225, §4º, da Constituição Federal, não mitigou o direito de propriedade,
tampouco reduziu a proteção aos direitos reais, seja para o uso, o gozo e o direito à justa indenização
decorrentes de desapropriação direito ou indireta; o tratamento que se deve entender sobre o
comando contido no artigo 225, §4º da CF; a imprescritibilidade da pretensão indenizatória; do
comando contido no artigo 225, §4º, da Constituição Federal, conclui-se que não há de se confundir
patrimônio nacional com bem da União, sendo inegável o relevante interesse federal, porque a área
em questão consiste na caracterização do Bioma Amazônia (Floresta Amazônica); enfim, a noção
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consolidada sobre a decodificação e o alcance da norma artigo 225, §4º, da Constituição Federal,
com base nos julgados diante de casos concretos.
De todos os Acórdãos examinados, o que mais chamou a atenção para os objetivos da
presente pesquisa foi o quinto Acórdão pesquisado, que trata sobre o Conflito de Competência nº
99294/RO, julgado pela Terceira Seção em 12 de agosto de 2009, tendo como Relatora a Ministra
Maria Thereza de Assis Moura.
Nesse Acórdão, debateu-se com profundidade sobre o Direito de Propriedade e o que seja
Patrimônio Nacional, comando contido no artigo 225, §4º, da Constituição Federal, donde se
concluiu que não há de se confundir patrimônio nacional com bem da União e é inegável o relevante
interesse federal, porque a área em questão consiste na caracterização do Bioma Amazônia (Floresta
Amazônica), que compreende 98,8% do Estado de Rondônia, considerado patrimônio nacional pelo
artigo 225, §4º, da Constituição Federal.
Ademais, o patrimônio nacional é de interesse de toda a nação. A conservação da Floresta
Amazônica é medida que transcende o interesse do próprio Estado, que, inegavelmente, também o
tem, e passa a interessar a toda a Federação, representada pela União Federal, ou seja, essa questão
transcende ao interesse regional e deve ser analisada no plano nacional, como afirma Machado
(2010, p. 173): "O texto é pedagógico ao dizer que essas áreas integram o patrimônio nacional,
indicando que os regionalismos não se devem sobrepor aos interesses nacionais”.
5 CONCLUSÕES
As Constituições brasileiras, anteriores ao texto constitucional de 1988, não lograram dar
destaque algum ou importância à questão ambiental, não fizeraam referência ao meio ambiente de
forma direta, tampouco demostraram preocupação quanto à utilização irracional e degradadora dos
recursos ambientais e não dedicaram ao meio ambiente, enquanto bem jurídico autônomo, qualquer
proteção jurídica específica.
Por falta de tratamento próprio, a defesa do meio ambiente fazia-se apenas pela via indireta
da proteção da saúde, bem como não havia preocupação com a degradação ambiental, mas, sim,
com a degradação sanitária. As leis produzidas referiam-se a alguns elementos integrantes do meio
ambiente, como a água, as florestas, os minérios, a caça e a pesca, sempre de forma fragmentada e
isolada.
A CF de 1988 é um marco histórico de inegável valor dada a sua preocupação com a
proteção do meio ambiente de forma específica e global, adotando-se uma tendência contemporânea
de preocupação com os interesses difusos e, em especial, com o meio ambiente, com forte influência
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A norma inscrita no art. 225, §4º, da Constituição, deve ser interpretada de modo harmonioso
com o sistema jurídico consagrado pelo ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula
que, proclamada pelo art. 5º, XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de propriedade
em todas as suas projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira devida pelo
Poder Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal.
O preceito consubstanciado na CF, além de não haver convertido em bens públicos os
imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas matas nele referidas (Mata Atlântica, Serra
do Mar, Floresta Amazônica brasileira), também não impede a utilização, pelos próprios
particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio
privado, desde que observadas as prescrições legais e respeitadas as condições necessárias à
preservação ambiental.
A ordem constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade e essa proteção,
outorgada pela Lei Fundamental da República, estende-se, na abrangência normativa de sua
incidência tutelar, ao reconhecimento, em favor do dominus, da garantia de compensação financeira,
sempre que o Estado, mediante atividade que lhe seja juridicamente imputável, atingir o direito de
propriedade em seu conteúdo econômico, ainda que o imóvel particular afetado pela ação do Poder
Público esteja localizado em qualquer das áreas referidas no art. 225, §4º da CF, além de a norma
inscrita nesse dispositivo constitucional não atuar como impedimento jurídico à efetivação de
atividade expropriatória, por parte do ente público, destinada a promover e a executar projetos de
reforma agrária nas referidas áreas.
A classificação entre Marcobem ambiental e Microbem ambiental é importante para se
compreender os comandos normativos da norma constitucional em análise, bem como o modo de
utilização do bem ambiental. Coube à doutrina criar uma forma de proteger não apenas as interações
e elementos em sua totalidade, mas também cada elemento individualmente considerado. Assim,
dissociou-se o meio ambiente, enquanto bem jurídico, em Macrobem ambiental e Microbem
ambiental.
A tutela do meio ambiente ocorre como Macrobem por ser ele incorpóreo, imaterial e
indisponível e, como Microbem, por meio dos seus elementos corpóreos. O §4° do art. 225 da CF
cuida do Macrobem ambiental quando elege ecossistemas com status de Patrimônio Nacional e, ao
mesmo tempo, cuida do Microbem quando dispõe que a utilização se fará na forma da lei, dentro de
condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos
naturais, porque, na abordagem como Microbem, o regime jurídico é de titularidade pública ou
privada passível de exploração. Por sua vez, como Macrobem, o regime jurídico é de bem de uso
comum do povo. Isso significa que o titular não poderá dispor da qualidade do meio ambiente
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entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes
do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção
do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas,
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3 Relator (a) Ministro HERMAN BENJAMIN: (1132) Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento 25/08/2009.
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2 Relator (a) Ministro HERMAN BENJAMIN: (1132) Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento 10/11/2009.
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Relator (a) Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS (1094) Órgão Julgador T2 - SEGUNDA
TURMA Data do Julgamento 21/03/2000 .
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constituindo autêntica obrigação de fazer a prestação de segurança à população, que pode e deve
ser prestada jurisdicionalmente, no caso de omissão do Poder Público”. 4. Recurso Especial provido
para admitir a legitimidade do Ministério Público para propor ação civil pública na defesa da
segurança do trânsito, matéria relativa à ordem urbanística, com vistas à proteção de direitos difusos
e coletivos, devendo o Juízo recorrido julgar o mérito como entender de direito. ACÓRDÃO Vistos,
relatados e discutidos os Autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da
Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar provimento ao recurso
Especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Francisco Falcão, Luiz Fux,
Teori Albino Zavascki e Denise Arruda votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília (DF), 10 de
abril de 2007 (Data do Julgamento) MINISTRO JOSÉ DELGADO Relator RECURSO ESPECIAL
Nº 725.257 - MG (2005/0022690-5) RELATÓRIO O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO (Relator):
Trata-se de Recurso Especial interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS
GERAIS com fulcro no art. 105, III, a, da Constituição da República, contra Acórdão proferido
pelo TJ/MG, assim ementado (fl. 273): "AÇÃO CIVIL PÚBLICA PEDIDO PARA ADOÇÃO DE
MEDIDAS DE SEGURANÇA E PROTEÇÃO NO TRÂNSITO PROPOSITURA PELO ÓRGÃO
DO MINISTÉRIO PÚBLICO NAO ENQUADRAMENTO EXPLÍCITO NA LEI DE REGÊNCIA
ILEGITIMIDADE AD CAUSAM. Não constando expressamente na lei de regência, como proteção
ao meio ambiente artificial, a adoção de medidas protetivas e de segurança ao tráfego ou trânsito
de composições ferroviárias, em passagens de níveis existentes pela zona urbana, o Órgão
ministerial é parte ilegítima para a proposição da ação civil pública. EXTINÇÃO DO PROCESSO
SEM O JULGAMENTO DE MÉRITO QUANTO A ESTE PEDIDO QUE SE DECRETA DE
OFÍCIO.” Foram opostos Embargos de Declaração (fls. 285/297), cujo Acórdão recebeu o seguinte
resumo (fl. 300): EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - INEXISTÊNCIA DE CONTRADIÇAO
ENTRE A FUNDAMENTAÇÃO E A PARTE DISPOSITIVA DO ACÓRDÃO - PRETENSÃO
DE REEXAME DA MATÉRIA - IMPOSSIBILIDADE. Não havendo contradição entre a
fundamentação e a parte dispositiva do acórdão hostilizado deixando claro o Embargante que a sua
pretensão é de reexame da matéria, porque sustenta em última análise o desacerto ou equívoco da
decisão, pretensão defesa para os estritos limites dos embargos de declaração é de se rejeitar os
embargos. REJEIÇÃO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO QUE SE IMPÕE. “Tratam os
autos de ação civil pública ambiental, com pedido de liminar, ajuizada pelo Ministério Público do
Estado de Minas Gerais em desfavor do município de Divinópolis e da empresa FCA - Ferrovia
Centro Atlântica S/A - objetivando corrigir a atividade da empresa ferroviária no sentido de fazer
cessar a emissão de ruídos em desobediência aos parâmetros legais e garantir a proteção e segurança
em passagens de níveis - trechos dentro do município em que há tráfego férreo. Requereu também
a condenação dos requeridos a pagar indenização pelos prejuízos morais sofridos pelos habitantes
da vizinhança das referidas passagens. Decisão de fls. 196/197, deferindo parcialmente a liminar
pleiteada, determinando que a empresa cesse imediatamente a emissão de ruídos, sob pena de
cominação de multa diária pelo descumprimento, devendo adotar outras medidas de segurança e
proteção nas passagens de níveis. Contra o decisório, foram opostos embargos declaratórios pelo
Ministério Público (fls. 203/207), os quais foram rejeitados (fl. 208). Irresignado, o parquet mineiro
interpôs Agravo de Instrumento, com pedido de antecipação de tutela, alegando, em síntese, que:
a) O pedido relativo à alocação de pessoas capacitadas para garantir a segurança nos locais onde
haja passagem de nível estendia-se, não só ao município, mas também à empresa ferroviária; b) É
possível juridicamente a determinação de obrigação de fazer em sede de antecipação de tutela
perante ente político; c) Deve ser imposta à empresa a obrigação de colocar pessoas capacitadas
para operarem os dispositivos de proteção e segurança, 24 horas por dia, tal como requerido na
petição inicial. Contrarrazões ao recurso de agravo oferecidas pelo Município de Divinópolis e pela
Ferrovia Centro Atlântica S/A às fls. 232/235 e 254/258, respectivamente. Sobreveio Acórdão (fls.
273/280) que, por maioria, extinguiu o feito sem resolução de mérito, entendendo impróprio o uso
da ação civil pública pelo órgão ministerial para se impor, a quem quer que seja, a adoção de
medidas ligadas à segurança pública e ao trânsito ou tráfego de veículos ferroviários ou
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automobilísticos, porque tal objeto não vem explicitado em lei como proteção ao meio ambiente
artificial. Contra o Acórdão, foram opostos Embargos de Declaração pelo parquet (fls. 285/297)
rejeitados à unanimidade por Acórdão de fls. 300/302. Inconformado, o Ministério Público de
Minas Gerais interpôs recurso especial (fls. 307/326) apontando mau-trato dos seguintes
dispositivos legais: a) Lei 6.938/81: "Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população.” “b) Decreto
Federal 1.832/96.” “Art. 12. A Administração Ferroviária deverá implantar dispositivos de proteção
e segurança ao longo de suas faixas de domínio. Art. 13. A Administração Ferroviária é obrigada a
manter a via permanente, o material rodante, os equipamentos e as instalações em adequadas
condições de operação e de segurança, e estar aparelhada para atuar em situações de emergência,
decorrentes da prestação do serviço de transporte ferroviário.”
c) Lei 8.625/93: "Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei
Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público: IV - promover o inquérito civil e
a ação civil pública, na forma da lei: a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados
ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico
e paisagístico, e a outros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;”
d) Lei 8.078/90: "Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este Código são
admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.” e)
Código de Processo Civil "Art. 535. Cabem Embargos de Declaração quando: I - houver, na
sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradição; II - for omitido ponto sobre o qual devia
pronunciar-se o juiz ou tribunal. “O recorrente sustenta, em síntese, que: a) o Acórdão incorreu em
omissão quando deixou de enfrentar a questão relativa à arguição de legitimidade do Ministério
Público para defesa da ordem urbanística de patente interesse social; b) o Órgão ministerial está
legitimado, dentre outras hipóteses, a propor ação civil pública objetivando defender e assegurar a
segurança do trânsito, matéria de ordem urbanística, com vistas à proteção de direitos difusos e
coletivos. Ao final, pugna pelo provimento do recurso a fim de que se reconheçam as violações dos
dispositivos legais supracitados e, por conseguinte, seja admitida a legitimidade do Ministério
Público e a propriedade da ação civil pública proposta. Recurso Extraordinário às fls. 330/345.
Contrarrazões ao Recurso Especial pela Ferrovia Centro Atlântica S/A (fls. 351/358) alegando
ausência de prequestionamento e ilegitimidade ad causam da recorrente. Juízo de admissibilidade
positivo para o recurso especial e extraordinário (fls. 370/373). Parecer ministerial acostado às fls.
380/384, opinando pelo conhecimento parcial e, nesta parte, pelo provimento do apelo especial no
sentido de ser legítima a atuação do parquet mineiro no caso em apreço. É o relatório RECURSO
ESPECIAL Nº 725.257 - MG (2005/0022690-5) EMENTA RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA AMBIENTAL ADOÇÃO DE MEDIDAS PROTETIVAS E DE SEGURANÇA NO
TRÂNSITO. PROPOSITURA PELO ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INTELIGÊNCIA
DOS ARTIGOS 3º, I DA LEI 6.938/81, 5º DA LEI N. 7.347/85, 25 DA LEI 8.625/93.
LEGITIMIDADE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Cuidam os Autos de ação civil pública
proposta pelo Ministério Público de Minas Gerais visando à condenação da empresa Ferrovia
Centro Atlântica à obrigação de não fazer consistente em não produzir poluição sonora mediante a
emissão de ruídos acima do permitido pela legislação pertinente e a condenação desta e do
Município de Divinópolis a implantarem dispositivos de segurança em todas as passagens de nível
e a colocação de pessoal habilitado a operá-los durante 24h, assim como manter as instalações em
condições de funcionamento e de segurança, tendo em vista a apuração, em inquérito civil, da
ocorrência de sinistros, inclusive com a morte de pessoas ocorrida em face das precárias condições
de segurança nessas passagens e da perturbação produzida pelo barulho acima do tolerado.
Apreciando Agravo de Instrumento interposto pelo Ministério Público contra decisão que apreciou
pedido de antecipação de tutela, o TJMG extinguiu o feito sem apreciação do mérito. Foram opostos
Embargos de Declaração que foram rejeitados. Os Acórdãos receberam ementas do seguinte teor:
"AÇAO CIVIL PÚBLICA PEDIDO PARA ADOÇÃO DE MEDIDAS DE SEGURANÇA E
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ampliaram a galeria de situações jurídicas nas quais a atuação ministerial se faz não apenas possível,
mas necessária, incluindo-se a ação civil pública e o campo de legitimidade do Ministério Público
nela implicado. Assevera que a jurisprudência deste Sodalício, corroborando os mais modernos
entendimentos doutrinários, tem firmado jurisprudência acerca da legitimidade do Ministério
Público para a proposição de ações civis públicas na defesa de interesses sociais, inclusive de
direitos individuais homogêneos disponíveis, elencando, às fls. 318/320, os seguintes precedentes
jurisprudenciais: "a) Ressarcimento de resíduo inflacionário em contrato de financiamento
imobiliário ( REsp 182556/RJ, 4ª Turma, Rel. Min. César Asfor Rocha, dj 20/05/02); b) Discussão
de cláusulas de contratos bancários de adesão (REsp 175645/RS, 4ª Turma, Rel. Min. Ruy Rosado
de Aguiar, DJ 30/04/01) c) Ressarcimento de taxa imobiliária nos contratos de locação (Emb. Div.
Resp 114908/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Corte Superior, DJ 20/05/02); d) Reajuste de
mensalidades de plano de saúde (REsp 177965/PR, 4ª Turma, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j.
18/5/99, DJ de 23/8/99, p. 130); e) Reparação civil aos trabalhadores submetidos a condições
insalubres de trabalho (REsp 58682/MG, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 16/12/96);
f) Direito ao salário mínimo dos servidores municipais (REsp 95347/SE, 5ª Turma, Rel. Min. Edson
Vidigal, DJ 01/02/99; g) Interesses coletivos de comunidade de pais e alunos (REsp 168881/DF, 4ª
Turma, Rel. Min. Barros Monteiro, j. 21/5/98 e REsp 94810/MG, 4ª Turma, Rel. Min. Ruy Rosado
de Aguiar, j. 17/6/97); h) Reajuste de mensalidades escolares (REsp 89646/PR, 4ª Turma, Rel. Min.
Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 10/12/96); i) Direitos dos assinantes de televisão por assinatura
(REsp 308486/MG, 3ª Turma, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 02/09/02); j)
Atualização de benefícios previdenciários (AGRAG 422659/RS, 5ª Turma, Rel. Min. Gilson Dipp,
DJ 05/08/02); l) Reintegração de agentes sanitários (REsp 177883/PE, 6ª Turma, Rel. Min. Vicente
Leal, DJ 01/04/02); m) Aplicadores dos títulos de capitalização lesados pela atuação irregular da
sociedade de capitalização (REsp 311492/SP, 3ª Turma, Rel. Min.ª Nancy Andrighi, DJ 08/04/02).
Realmente, temos observado que a legislação tem outorgado uma abrangência maior às áreas de
atuação do Ministério Público especialmente por meio da ampliação dos conceitos atinentes aos
bens a serem protegidos, tais como meio ambiente, direitos homogêneos individuais,
transindividuais, segurança. Em artigo intitulado AÇÃO CIVIL PÚBLICA E DIREITO DIFUSO
À SEGURANÇA PÚBLICA, (http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4079), J. E. Carreira
Alvim discorre relativamente à legitimidade do Ministério Público para a propositura da ação civil
pública com o objetivo de adoção de medidas protetivas do meio ambiente e entre essas aquelas
que se destinam à segurança física e bem-estar dos cidadãos. Diz o renomado autor: “(...) As ações
coletivas são o mais eficaz instrumento concebido pela moderna ordem jurídica de acesso à Justiça,
e, nesse universo, a ação popular, a ação civil pública e o mandado de segurança coletivo ocupam
posição de destaque na proteção dos direitos de primeira, segunda, terceira e quarta gerações. A
exigibilidade e a acionabilidade dos direitos fundamentais, como, aliás, de todo e qualquer direito
--"Art. 75 (Cód. Civil). A todo direito corresponde uma ação, que o assegura", já não pode mais ser
negado, ante o disposto no art. 5º, XXXV, da Constituição, - "A lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito"-, e no reconhecimento de um direito processual
constitucional, enquanto "reunião de princípios para o fim de regular a denominada jurisdição
constitucional". SCHWAB, Karl Heinz, Divisão de funções e o juiz natural, in RePro n. 48, 1987,
p. 125 (tradução de Nelson Nery Júnior). NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na
Constituição Federal, 2ª ed. São Paulo: Ed. RT, 1995, p. 19. Seria, aliás, um contrassenso que a
Constituição garantisse o gozo de todos os demais direitos subjetivos e interesses legítimos, e não
garantisse aqueles que, justo por serem o que são, recebem a denominação de direitos fundamentais
(dentre eles, os direitos à vida, à liberdade e à segurança). O direito à segurança tem as
características de um direito difuso, como traçadas pelo art. 81, I, do CDC: transindividual, de
natureza indivisível, de que são titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato
(residir numa favela), e encontra sua garantia no art. 129, III, da Constituição, enquanto é também
expressão de um interesse coletivo. Portanto, pode o direito à segurança ser objeto de ação civil
pública, nos termos do art. 1º, IV, da Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985, segundo o qual se regem
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pelas disposições desta Lei as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados
"a qualquer outro interesse difuso ou coletivo”. Se o Estado, como tal considerado o representativo
das esferas federal e estadual de poder, não adota medidas concretas para assegurar a inviolabilidade
do direito à segurança, no cumprimento do seu dever de (prestar) segurança, pode ser demandado
para esse fim, sendo "admissíveis todas as espécies de ações capazes de proporcionar sua adequada
e efetiva tutela" (art. 83, CDC). A ação civil pública, no particular, poderá ter por objeto a
condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer (art. 3º, ACP),
constituindo autêntica obrigação de fazer a prestação de segurança à população, que pode e deve
ser prestada jurisdicionalmente, no caso de omissão do Poder Público. A prestação dessa segurança
cabe ao Estado-Membro (inclusive o Distrito Federal), à medida que a ameaça de lesão à liberdade
(caso de sequestro) e à vida (caso de morte) por falta de segurança atinja a população da Unidade
Federativa, e à União Federal, na medida em que afetadas são as instituições públicas, como, v.g.,
o funcionamento da Polícia e da Justiça. Na cidade do Rio de Janeiro, onde os oficiais de Justiça
não podem fazer citação nos morros, porque são confundidos com policiais, correndo risco de
morte, e os policiais não podem portar qualquer documento de identificação, ou mesmo andarem
fardados em coletivos, fica a nu que a instituição "Polícia e Justiça" estão comprometidas pela
atuação de um poder paralelo, o que justifica a ação civil pública contra o Estado do Rio de Janeiro
e contra a União Federal, em litisconsórcio passivo, para que cumpram o seu dever de garantir a
incolumidade do direito à liberdade (evitando sequestros) e à vida (evitando mortes), mediante
segurança pública adequada à proteção desses direitos e interesses. Portanto, os legitimados
passivos são, conforme a hipótese, ou o Estado-membro (inclusive o Distrito Federal), ou a União,
isoladamente, ou todos, em conjunto, se a falta de segurança atingir as instituições nacionais, ou
mesmo municipais ou estaduais, mas com repercussão nacional. (...). Os legitimados para a
propositura da demanda para tutela do direito à segurança são os elencados no art. 5º da Lei n.
7.347/85, compreendendo o Ministério Público, a União, os Estados (o Distrito Federal), os
Municípios, autarquias, empresas públicas, fundações, sociedades de economia mista ou
associação, que, para este fim, não estão sujeitas às exigências do item I (esteja constituída há pelo
menos um ano, nos termos da lei civil) desse artigo. Apesar de a Lei n. 8.884/94, art. 88, parágrafo
único (Lei Antitruste), ao dar nova redação ao inciso II da Lei n. 7.347/85, não mais mencionar a
expressão "ou qualquer outro interesse difuso ou coletivo", que fora acrescentada ao dispositivo
pelo art. 111 do CDC, o princípio continua em vigor, porque estes outros interesses difusos ou
coletivos são objeto de proteção pelo art. 129, III, da Constituição, e pelo inciso IV do art. 1º da Lei
n. 7.347/85. Assim, podem os Estatutos da Associação Civil conter a
previsão de que uma das finalidades institucionais da entidade seja a defesa de outros interesses
difusos ou coletivos, para os fins de que trata a legitimação para a causa regulada nesse preceito
NERY JÚNIOR, Nelson. ANDRADE NERY, Rosa Maria. Código de Processo Civil Comentado.
São Paulo: RT, 2001, p. 1.532. A União pode ter interesse em mover a ação civil pública contra o
Estado-membro, quando o dever de prestar segurança caiba a estes, e o Estado-membro (o Distrito
Federal), contra a União, quando esse dever caiba a esta. Podem, também, os demais legitimados
demandar contra todos, em litisconsórcio passivo, ou, isoladamente, contra um ou contra outro. . A
legitimação do Ministério Público, Federal ou Estadual, por si ou em litisconsórcio, decorre do art.
129, III, da Constituição, sendo suas funções institucionais:"promover o inquérito civil e a ação
civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos”. Embora se tenha considerado a legitimação do Ministério Público
para a ação civil pública como extraordinária (substituição processual), ou de condutor autônomo
do processo, trata-se, na verdade, de legitimação ordinária constitucional, que brota diretamente da
Constituição (art. 129, III). A ação civil pública foi proposta com o fim de que a empresa Ferrovia
Centro Atlântica fosse condenada à obrigação de não fazer consistente em não produzir poluição
sonora mediante a emissão de ruídos acima do permitido pela legislação pertinente, e a condenação
desta e do Município de Divinópolis para implantarem dispositivos de segurança em todas as
passagens de nível e a colocação de pessoal habilitado a operá-los durante 24h, assim como manter
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