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HAGIOGRAFIA E HISTÓRIA

DAS LINHAS DIVISÓRIAS ÀS UNIFICADORAS.

A busca por significativos conceitos acerca dos vocábulos supracitados refere-se,


primeiramente, a ida ao encontro da história de ambos, pois, tais elementos acompanham a
dinâmica de uso académico que ganharam ou vêm ganhando ao longo dos tempos.
Estamos diante de um conflito de conceitualização e uso de um ao outro conceito e o seu
ideal enquadramento no tempo e no espaço, a isso, convidamos o caro leitor a nossa
abordagem revestida de argumentos baseados nas fontes que consultamos para dar vida a este
trabalho:

Na visão de António Manuel Ribeiro Rebelo, no seu artigo Da


Literatura Clássica a Hagiografia Medieval pág.1, afirma que: ao
falemos de Hagiografia e História, estaríamos diante de dois conceitos
que balançam entre a crítica dos textos e o seu valor histórico, a escrita
e a oralidade, o valor literário e o valor espiritual … e assim
poderíamos continuar enumerando os pares dilemáticos de atributos
que distinguem esses dois conceitos e exercem entre si forças de tensão
que ora os atraem, ora os afastam um do outro, num fascínio que
atravessa os séculos.
A hagiografia visa primordialmente glorificar a Deus através da
narração e enaltecimento da vida e obra do santo. A estes juntam-se
outros objectivos, que podem ser morais, catequéticos, parenéticos,
apologéticos, dogmáticos, eclesiásticos, pastorais, políticos… tanto
numa perspectiva pessoal ou individual, como num enquadramento
social ou colectivo
Ainda sobre a Hagiografia, vimos que ela apresenta certos fin que estão
panteteados no prefácio da antiga Passio SS. Perpetuae et Felicitatis
que sao
a) honrar a Deus (Deus honoretur);
b) confortar o homem (homo confortetur);
c) conciliar os uetera fidei exempla do Antigo e Novo Testamentos
com os noua documenta do Cristianismo;
d) servir de testemunho para os não-crentes (non credentibus in
testimonium);
e) ser um benefício para os crentes (credentibus in beneficium).
Neste período Medieval, o da Hagiografia, o santo caracteriza-se por praticar as virtudes em
grau heróico. Virtudades são vários, a seguir:
A) primeiro lugar, as virtudes cardeais;
B) iustitia,
C) prudentia,
D) fortitudo
E) moderatio (ou temperantia).

Estas virtudes foram referenciadas por Cícero qual retoma apenas as quatro virtudes
enunciadas por Platão (Respublica 4.6). Já. Santo Ambrósio recupera estas virtudes
clássicas, emanadas da natura e que ele qualifica de cardeais. As virtudes que a alma
gera a partir da graça divina - e não a partir da natura - são as teologais: a fé, a
esperança e a caridade. Às sete virtudes opõem-se sete pecados capitais (uitia), alguns
dos quais com antecedentes na antiga filosofia estóica. Além de os autores sagrados
perspectivarem a caracterização dos santos pela positiva, alternam este modelo com
uma exaltação pela negativa, reafirmando os pecados capitais evitados pelos santos.

Nesses famosos catálogos, além das virtudes e devoções, assume ainda igual
importância o cumprimento do Decálogo, da prática das obras de misericórdia, do
cumprimento dos preceitos estabelecidos pela Igreja, enfim, dos princípios definidos
pela doutrina cristã e pelos Evangelhos. Não esqueçamos, por outro lado, que o
catálogo de virtudes, já existia na literatura panegírica e foi daí que os hagiógrafos o
importaram
. Nesse diálogo incessanJá Néri de Barros Almeida, em seu livro Hagiografia Propa e
Memória Histórica o Monascticismo na Legenda Aurea de Jacopo de Varraze,
apresenta uma realidade da História e os seus textos e a Hagiografia juntamente dos
seus textos, trabalho este que, para o autor, os textos de história, na Idade Média
serviam apenas como fontes de busca.
A história, nesta época, não tinha um pendor elevado pois os seus textos eram subordinados
ao plano divino.

Os textos de história escritos na Idade Média por muito tempo foram


vistos pelos historiadores apenas como fonte. Retirava-se deles datas,
fatos e personagens. As dúvidas em relação à sua qualidade documental
fazia com que os dados “objetivos” (sobretudo relacionados a
acontecimentos reais relativos a sucessões dinásticas e a conflitos)
fossem separados dos dados “não objetivos” (o prodigioso, o
improvável, o milagroso) e só aos primeiros era atribuído algum valor.
Dessa forma, os textos de história escritos na Idade Média eram vistos
como defeituosos e imperfeitos.
De realçar ainda que, apesar dewta posição que estes textispossuiam ou
então que lhes era atribuída, há, hoje pessoas que vêm a subordinação
destes textos como não seja bastante ou totalitária para se negar um
lugar na história escrita da escrita da história aos textos produzidos na
Idade Média.
Hoje nem todos pensam que a subordinação da história ao plano divino
seja bastante para negarmos um lugar na história da escrita da história
aos textos produzidos na Idade Média porque Podemos avaliar que
esses textos de história tiveram um impacto se pensarmos em outros
gêneros produzidos no período. De fato, é improvável que tenham
conhecido muitos leitores. O mesmo não é tão simples de afirmar no
que se refere à concepção de história que veiculavam. As histórias e a
esmagadora maioria dos demais textos eram produzidas em ambientes
similares, todos se encontravam ligados às engrenagens eclesiásticas e
às formas de concepção da história cristã que eram aí cultivadas. Isso
sugere que a história da escrita histórica medieval possa ser em parte
iluminada por registros de historicidade veiculados por outros textos
que alcançaram maior divulgação, sobretudo, textos memorialísticos,
como a hagiografia.

No entanto, Néri de Barros Almeida algumas linhas que são UNIFICADORAS e divisórias
quando não referimos a História e Hagiografia dizendo:
_ Embora convergissem em certos pontos, no que se refere às formas de divulgação, textos de
história e hagiografia seguiam caminhos um pouco diferentes. Os textos de história
produzidos circulavam pouco, ficando a divulgação de seu conteúdo restrita à leitura direta .
Cabia, portanto, a outros textos o papel de formadores de uma memória histórica comum.
Desempenhavam melhor essa função os textos voltados para usos diversificados, para a
leitura privada ou pública, mas, também, para usos na prática oral, sobretudo na pregação e
na exortação pastoral. Entre esses textos, inclui-se a hagiografia. Os objetivos particulares
desses textos evidentemente não são os mesmos da narrativa histórica, no entanto, o
cristianismo como religião que se pretende histórica, lança mão permanentemente da
perspectiva histórica. Pensamos que a hagiografia possa ser incluída em uma reflexão sobre a
formação da memória histórica na medida em que veiculava formas de percepção histórica da
realidade.
Verificado que, a Hagiografia, refere-se às vidas dos frades, aos milagres, martírio dos santos,
etc são escritas para durar. A memória sobre um santo deve encerrar a verdade dos fatos de
sua vida terrena, bem como o testemunho da eficácia de sua intervenção sobrenatural. A
tradição narrativa pertinente à memória de um santo.
Ao lidar com este problema, é preciso acentuar que para além da questão de interligação da
Hagiografia a História, veremos, mais adiante, a outra área a que tem sido associada a Hagiografia
que é a Biografia.

HAGIOGRAFIA A BIOGRAFIA
DAS LINHAS ADITIVAS:
À primeira vista podemos dizer que a hagiografia está mais próxima da biografia do que da história.
De fato, a biografia identifica pessoas especiais pela excelência de seu legado que pode ser de ordem
moral, pia, artística, política, intelectual, militar, etc. São consideradas dignas de registro biográfico
vidas que se tornaram de alguma maneira exemplares, seja o seu exemplo imitável ou não. Os santos
correspondem a esse perfil, com algumas ressalvas importantes. Em primeiro lugar sua
excepcionalidade reside em um ponto preciso e único; o conjunto formado por piedade e renúncia
cristãs perfeitas. Os gestos exemplares do santo também não apontam para um âmbito terreno
específico, mas para a salvação ultraterrena do homem. Como notou Peter Brown 7 , o santo é um
morto especial. Porta de contato entre o mundo terreno e o ultraterreno. Por fim, o exemplo do santo,
em princípio, é adequado a todos os homens, do presente, do passado e do futuro, qualquer que seja
sua posição social – incluindo aqueles que ainda não se tornaram cristãos. O lugar ideal dessa figura
exemplar é a memória histórica universal. Temos aqui alguns argumentos para pensar que, na Idade
Média, os pontos de contato entre narrativa hagiográfica e história 8são tão ou mais importantes que
aqueles entre hagiografia e biografia. Os religiosos cristãos empenharam-se para que tanto a
concepção cristã de história quanto os exemplos de santidade se incorporassem à memória comum.
Néri de Barros Almeida, p

Fontes: ALMEIDA, Beri de Barros. Hagiografia, Propaganda e Memória Histórica. O Monascticismo


na Lage da Áurea de Jacopo de Varraze
REBELO, António Manuel Ribeiro. Da Literatura Clássica à Hagiografia Medieval

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