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Literatura Poesia
Patativa do Assaré: 8 poemas analisados
Laura Aidar Laura Aidar Arte-educadora, fotógrafa e artista visual
O poeta Patativa do Assaré (1909-2002) é um dos maiores nomes da poesia nordestina
no Brasil.
Reconhecido internacionalmente, sua obra conta sobre a vida do povo sertanejo, suas
dores e lutas através de uma linguagem informal, com as palavras do homem simples
da roça.
1. A terra é nossa
A terra é um bem comum
Que pertence a cada um.
Com o seu poder além,
Deus fez a grande Natura
Mas não passou escritura
Da terra para ninguém.
O grande latifundiário,
Egoísta e usurário,
Da terra toda se apossa
Causando crises fatais
Porém nas leis naturais
Sabemos que a terra é nossa.
Nesse poema, Patativa do Assaré expõe seu ponto de vista a favor do uso social da
terra. É um texto que carrega forte carga política, defendendo que todos os
camponeses devem ter seu pedaço de chão para plantar e colher.
O poeta critica os donos de enormes áreas, utilizadas para fins pouco sustentáveis
(damos como exemplo a monocultura e o pasto) com o objetivo de enriquecer ainda
mais, enquanto os trabalhadores do campo ficam sem terrar para tirar seu sustento.
Podemos perceber também a ideia de que, para ele, no campo da espiritualidade Deus
não aprova esse sistema baseado na propriedade privada e desigualdades.
Patativa nos apresenta aqui uma reflexão na qual exibe um lamento por conta de
escolhas infelizes de representantes políticos, eleitos pelo povo.
Com isso, consegue-se criar um elo entre a vida pessoal e a vida pública, pois, de
fato, é necessário o entendimento de que as coisas estão interligadas e a sociedade
é um organismo integral.
3. O agregado e o operário
Sou matuto do Nordeste
criado dentro da mata
caboclo cabra da peste
poeta cabeça chata
por ser poeta roceiro
eu sempre fui companheiro
da dor, da mágoa e do pranto
por isto, por minha vez
vou falar para vocês
o que é que eu sou e o que canto.
Procurando resolver
um espinhoso problema
eu procure defender
no meu modesto poema
que a santa verdade encerra
os camponeses sem terra
que o céu deste Brasil cobre
e as famílias da cidade
que sofrem necessidade
morando no bairro pobre.
Operário da cidade
se você sofre bastante
a mesma necessidade
sofre o seu irmão distante
levando vida grosseira
sem direito de carteira
seu fracasso continua
é grande martírio aquele
a sua sorte é a dele
e a sorte dele é a sua.
Associa a vida no sertão com a dor e o pranto e declara seu apoio aos sem terra e
aos trabalhadores das classes baixas, assim como aos demais excluídos da sociedade,
como o povo em situação de rua.
O poema em questão exibe uma narrativa em primeira pessoa onde ficamos sabendo
sobre os acontecimentos na vida de um sujeito que vivia no campo e tinha sua terra
e seus animais, que lhe provinham sustento.
Por conta da seca, tal sujeito tem sua terra arrasada e perde seus animais. Assim,
o poema é um lamento e uma denúncia sobre os males da seca no nordeste.
Esse poema integra o álbum fonográfico A terra é Naturá, gravado em 1981. O disco
tem vários textos recitados pelo poeta e contou com a participação de nomes da
música como Nonato Luiz e Manassés no violão, Cego Oliveira na rabeca e Fagner na
voz.
Aqui, Patativa faz uma crítica ao sistema eleitoral da forma como ele ocorre, no
qual as pessoas são ludibriadas pelos candidatos no momento da campanha, mas depois
deixadas ao léu, sem assistência e tendo que arcar com grande carga tributária.
O peixe no seu habitat vive tranquilamente, sem saber que a morte o espera na ponta
do anzol do pescador, assim como a população, que, inocente, não percebe as reais
intenções dos candidatos a cargos públicos.
6. O Poeta da Roça
Sou fio das mata, cantô da mão grosa
Trabaio na roça, de inverno e de estio
A minha chupana é tapada de barro
Só fumo cigarro de paia de mio
Mais uma vez, Patativa exalta o lugar de onde veio e sua história, deixando claro
que a poesia que produz é sobre as coisas que conhece, as coisas simples da vida
comum.
Assim, finaliza dizendo que seus versos são feitos para as pessoas humildes como
ele.
7. Autobiografia
Mas porém como a leitura
É a maió diciprina
E veve na treva iscura
Quem seu nome não assina,
Mesmo na lida pesada,
Para uma escola atrasada
Tinha uma parte do dia,
Onde estudei argum mês
Com um veio camponês
Que quase nada sabia.
Em Autobiografia, Patativa do Assaré nos conta um pouco como foi sua vida e
formação. Quando menino chegou a frequentar a escola, mas apenas por alguns meses,
nunca deixando a lida na roça de lado.
8. Eu e o Sertão
Sertão, argúem te cantô,
Eu sempre tenho cantado
E ainda cantando tô,
Pruquê, meu torrão amado,
Munto te prezo, te quero
E vejo qui os teus mistéro
Ninguém sabe decifrá.
A tua beleza é tanta,
Qui o poeta canta, canta,
E inda fica o qui cantá.
No belo poema acima, Patativa nos brinda com uma homenagem à sua terra natal e suas
raízes. O sertão é retratado de maneira misteriosa e idílica, como uma inspiração
para o poeta.
Aqui ele também utiliza a linguagem simples, com a gramática "incorreta", para
garantir a identificação do povo sertanejo com sua arte.
patativa do assaré
Capa de O sertão dentro de mim (2010), de Tiago Santana e Gilmar de Carvalho. O
livro presta homenagem ao centenário de nascimento do poeta
O escritor teve uma infância difícil, com muito trabalho e pouco estudo. Aos 16
anos começa a fazer repentes, mais tarde passa a publicar poemas no jornal Correio
do Ceará.
Depois, o poeta e cantador viaja pelo nordeste apresentando sua poesia ao som da
viola.
Em 1956 publica seu primeiro livro Inspiração Nordestina, no qual estão presentes
muitos textos escritos anos antes. Oito anos depois, em 1964, tem seu poema Triste
Partida gravado pelo cantor Luiz Gonzaga, o que lhe confere maior projeção.
Patativa sempre deixou evidente seus posicionamentos políticos em sua obra, tecendo
críticas inclusive ao período da ditadura militar (1964-1985) e sendo perseguido na
época.
Alguns livros de destaque do escritor são: Cantos da Patativa (1966), Canta lá Que
Eu Canto Cá (1978), Aqui Tem Coisa (1994). Gravou ainda dois discos: Poemas e
Canções (1979) e A Terra é Naturá (1981), que contou com a produção do cantor
Fagner.
Patativa do Assaré perdeu a visão e a audição nos últimos anos de vida e faleceu em
8 de julho de 2002, por falência múltipla de órgãos.