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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS


DEPARTAMENTO DE GEOTECNIA

MECÂNICA DOS SOLOS


Vol. 1

Benedito de Souza Bueno

Orencio Monje Vilar

São Carlos/Viçosa - 1979

i
INTRODUÇÃO

A nova orientação para o ensino da Mecânica dos Solos, defendida pôr alguns dos maiores
centros de ensino e pesquisa do mundo, estabelece que se devem reforçar, com real ênfase, os conceitos
fundamentais da disciplina, tendo como respaldo uma bibliografia que os enfoque de forma simples e
objetiva.
Baseados no motivo acima e no fato de que há uma carência enorme de bibliografia de
Mecânica dos Solos de cunho didático, em língua portuguesa, resolvemos compilar uma obra, que
constitui a matéria da disciplina Mecânica dos Solos I.
Neste trabalho, selecionamos uma seqüência de capítulos que entendemos ser a mais didática
possível, procurando agrupar os conceitos universalmente conhecidos, às vezes, com forma de
tratamentos já apresentadas por outros autores.
Agradecemos ao Centro de Estudos Geotécnicos Arthur Casagrande - CEGAC, de quem
procuramos conservar o espírito de trabalho e pesquisa, em favor da Geotecnia, e a seus membros,
particulares amigos, pelo constante apoio.

Os Autores.

ALERTA

Esta apostila foi escrita em 1979/1980 e encontra-se esgotada. O aluno PAE Carlos Vinícius dos
Santos Benjamim providenciou esta versão após “escanear” os originais. Não foi possível fazer as
atualizações nem os ajustes que se desejava, porém algumas fórmulas foram reescritas. Em especial,
notar a diferença entre massa específica (ρ) e peso específico (γ), pois γ = ρ.g. Nas Figuras 10 e 11,
quando utilizadas para deduzir as fórmulas de correlação seguintes, substituir os γ por ρ.
Outras atualizações serão comunicadas oportunamente em classe.

São Carlos, março de 2003

Orencio Monje Vilar


Depto. de Geotecnia
EESC-USP

ii
ÍNDICE

I.A MECÂNICA DOS SOLOS E A ENGENHARIA……………....................... 1


1. Introdução………………………………………….....................……..........
2. Histórico………………………………………………..................................
3. A Mecânica dos Solos e as Obras Civis………………............................
II.O SOLO PARA O ENGENHEIRO............... ............................................................... 4
1. Conceituação..........................................................................................
2. Tipos de Solos Quanto à Origem............................................................
3. Tamanho e Forma das Partículas...........................................................
4. Descrição dos Tipos de Solos.................................................................
5. Identificação Visual e Táctil dos Solos...................................................
III. PROPRIEDADES ÍNDICES......................................................................... 10
1. Introdução...............................................................................................
2. índices Físicos ........ .........................................................................................
3. Granulometria…………………………………………….............................
4. Plasticidade e Estados de Consistência……………................................ 25
IV.ESTRUTURA DOS SOLOS.............. .........................................................................
1. Introdução......... ...............................................................................................
2. Estrutura dos Solos Grossos...................................................................
3. Estrutura dos Solos Finos.......................................................................
4. Amolgamento e Sensibilidade das Argilas..............................................
5. Tixotropia.................................................................................................
V.CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS.................................................................. 30
1. Introdução………………………………………………...............................
2. Classificação Dor Tipo de Solo……………………...................................
3. Classificação Genética Geral………………………..................................
4. Classificação Granulométrica……………………….................................
5. Classificação Unificada………………………………................................
6. Classificação HBR…………………………………..…...............................
VI. O PRINCÍPIO DAS TENSÕES EFETIVAS.................................................... 40
1. Definições................................................................................................
2. Implicações..............................................................................................
3. Massa específica Submersa....................................................................
VII.TENSÕES ATUANTES NUM MACIÇO DE TERRA…………...................... 43
1. Introdução...................................... …………………………………….................
2. Esforços Geostáticos ..................... ………………………………….....................
3. Propagação de Tensões no Solo…………………………........................
3.1. A Solução de Boussinesq………………………............................
3.2. Extensão da Solução de Boussinesq…………….........................
3.3.O Gráfico de Newmark……………………………..........................
3.4. A Solução de Westergaard..........................................................
3.5.Comparação entre as Soluções de Boussinesq e
Westergaard e Algumas Simplificações.......…………..................
3.6. Limitações da Teoria da Elasticidade......………..........................

VIII.PERMEABILIDADE DOS SOLOS............................................................... 61


1. Introdução...............................................................................................
2. Leis de Darcy e de Bernouilli..................................................................
3. Determinação do Coeficiente de Permeabilidade...................................
3.1. Métodos Diretos...........................................................................
3.2. Métodos Indiretos........................................................................
4. Fatores que Interferem na Permeabilidade.............................................
5. Forças de Percolação.............................................................................
iii
6. Areia Movediça........................................................................................
7. Filtros de Proteção..................................................................................
8. Capilaridade............................................................................................

IX.COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO............................................... 75
1. Introdução.…………………………………………………...........................
2. Analogia e Mecânica do Processo de Adensamento..............................
3. Teoria do Adensamento de Terzaghi......................................................
4. Solução da Equação Fundamental do Adensamento.............................
5. Porcentagem de Adensamento...............................................................
6. Ensaio de Adensamento.........................................................................
7. Tensão de Pré-Adensamento..................................................................
8. Determinação do Coeficiente de Adensamento......................................
9. Construção da Curva de compressão do Solo no Campo......................
10. Aplicação da Teoria do Adensamento……………………......................
11. Correções do Recalque de Adensamento……………….......................
12. Noções sobre a Compressão Secundária.............................................
13. Recalques por colapso..........................................................................

X.EXPLORAÇÃO DO SUBSOLO................................................................... 97
1 Introdução................................................................................................
2. Informações Exigidas num Programa de Prospecção……......................
3. Tipos de Prospecção Geotécnica...........................................................
4. Prospecção Geofísica.............................................................................
4.1. Processo da Resistividade Elétrica..............................................
4.2. Processos de Sísmica da Refração.............................................
5. Métodos Semidiretos...............................................................................
5.1. Vane Test.....................................................................................
5.2. Ensaio de Penetração Estática do Cone.....................................
5.3. Ensaio Pressiométrico.................................................................
6. Processos Diretos...................................................................................
6.1. Poços...........................................................................................
6.2. Trincheira ....................................................................................
6.3. Sondagens a Trado......................................................................
6.4. Sondagens a Percussão ou de Simples Reconhecimento...........
6.5. Sondagem Rotativa......................................................................
6.6. Sondagem Mista..........................................................................
7. Amostragem............................................................................................
7.1. Introdução....................................................................................
7.2. Amostras Indeformadas............................................................

XI.COMPACTAÇÃO......................................................................................... 117
1. Definição e Importância...........................................................................
2. Curva de Compactação...........................................................................
3. Ensaio de Compactação.........................................................................
4. Equipamentos de Compactação..............................................................
5. Controle de Compactação.......................................................................

BIBLIOGRAFIA............................................…………………………....................... 125

iv
CAPÍTULO I1

A MECÂNICA DOS SOLOS E A ENGENHARIA

1 - Introdução

A Engenharia Civil procurou sempre acompanhar a evolução científica. A dificuldade de um


conhecimento profundo e abrangente, em todo o seu campo de atuação, exigiu sua divisão em áreas
específicas, consoante, principalmente, aos materiais objetos de estudo. Estas áreas não tiveram um
desenvolvimento paralelo, e algumas evoluíram mais cedo que outras.
Historicamente, os ramos básicos que primeiro se desenvolveram e que foram, pôr isso mesmo,
os mais estudados e divulgados são a Teoria das Estruturas e a Hidráulica. O primeiro trabalha com
materiais selecionados, cujos comportamentos são bem conhecidos, entre os quais o concreto, o aço e a
madeira. Este campo utiliza, para solução dos seus problemas, modelos simples, passíveis de tratamento
matemático. A área da Hidráulica estuda os fluidos, em particular a água, principalmente em ambientes
naturais. Os fenômenos hidráulicos podem fugir a um tratamento matemático, mas a utilização de ensaios
em modelos reduzidos permite, quase sempre, uma adequada análise de seus comportamentos.
Um dos campos básicos da Engenharia Civil que por último se desenvolveu foi a Mecânica dos
Solos. Ela estuda o comportamento do solo sob o aspecto da Engenharia Civil. O solo cobre o substrato
rochoso e provém da desintegração e decomposição das rochas, mediante a ação dos intemperismos físico
e químico. Assim, de maneira geral, pôr causa da sua heterogeneidade e das suas propriedades bastante
complexas, não existe modelo matemático ou um ensaio em modelo reduzido que caracterize, de forma
satisfatória, o seu comportamento.
Para o engenheiro civil, a necessidade do conhecimento das propriedades do solo vai além do seu
aproveitamento como material de construção, pois o solo exerce um papel especial nas obras de
Engenharia porquanto cabe a ele absorver as cargas aplicadas na sua superfície, e mesmo interagir com
obras implantadas no seu interior.
De um modo geral, as características mecânicas do solo, em seu estado natural, devem ser aceitas
e só em casos particulares, com o auxílio de técnicas especiais, podem ser melhoradas.
Atualmente, a Mecânica dos Solos situa-se dentro de um campo mais envolvente que congrega
ainda a Engenharia de Solos (Maciços e Obras de Terra e Fundações) e a Mecânica das Rochas. Esta área
denominada Geotecnia tem como objetivo estudar as propriedades físicas dos materiais geológicos, solos,
rochas e suas aplicações em obras de Engenharia Civil, quer como material de construção, quer como
elemento de fundação.
A Mecânica dos Solos pode ser definida como uma aplicação das leis e princípios da Mecânica e
da Hidráulica aos problemas de Engenharia, que lidam com o solo e a Engenharia de Solos, como uma
utilização dos conceitos da Mecânica dos Solos aos problemas práticos de Engenharia. Assim, a
Engenharia de Solos abrange um campo mais amplo, pois é uma ciência aplicada e não apenas puramente
baseada em conceitos de Física e Matemática. Ela engloba disciplinas, tais como: mecânica e dinâmica
dos solos, geologia de engenharia, mineralogia das argilas e mecânica dos fluidos, entre outras.
Pode-se dizer também que a Mecânica dos Solos ocupa, em relação aos solos, posição análoga
àquela que a resistência dos materiais ocupa em relação aos outros materiais de construção.
Na prática usual, entretanto, os termos Mecânica dos Solos e Engenharia dos Solos geralmente se
confundem.

2 - Histórico

A Mecânica dos Solos surgiu como ciência em 1925, quando Karl Terzaghi publicou a sua
extraordinária obra "Erdbaumechanik Auf Bodenphysikalisher Grundlage", título este que pode ser
traduzido como "Mecânica das Construções de Terra Baseada na Física dos Solos". Nela, põe-se em

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Mecânica dos Solos - vol. 1 – Benedito de Souza Bueno & Orencio Monje Vilar – Depto de Geotecnia –
Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo
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evidência o papel desempenhado pela água, que preenche os poros, no comportamento dos solos.
Historicamente, porém, os precursores de Terzaghi remontam ao período neolítico (idade da pedra polida:
5000 a 2000 anos a.C.) quando, então, se formavam povoações lacustres apoiadas em estacas, as palafitas.
Estas povoações possuíam passarelas que permitiam a circulação das pessoas entre as habitações e faziam
contato com a terra firme. As passarelas tinham também a função de defesa da povoação em face dos
inimigos e animais vindos da terra, pois eram facilmente destruídas.
Deve-se ressaltar, também, o engenho e a arte encontrados, notadamente na área de fundações,
em obras monumentais executadas pôr povos das antigas civilizações. Nos palácios da Babilônia, nas
pirâmides do Egito, nos arquedutos romanos ou na muralha da China, o solo desempenhou um papel de
realce.
Durante muitos séculos, entretanto, o aproveitamento do solo, como elemento de fundação e
materiais de construção/seguiu dentro do empirismo racional, e da observação de métodos empregados
com êxito, em obras similares.
Embora já houvesse tentativas da criação de métodos e processos de dimensionamento,
principalmente em muros de arrimo (pode-se citar as contribuições de Vauban, Bullet, Couplet e Belidor),
porém, somente em 1776 apareceu a primeira obra de valor. Neste trabalho apresentado pelo engenheiro
francês Coulomb são referenciados os parâmetros de resistência dos solos (coesão e ângulo de atrito),e
foram também enunciados os princípios básicos da resistência ao cisalhamento dos solos. O trabalho de
Coulomb abrange ainda análise da estabilidade de taludes, escavações, barragens de terra e aterros e um
estudo da estabilidade de muros de arrimo. A teoria clássica de Coulomb é empregada ainda hoje em
problemas de Engenharia.
Pode-se enumerar ainda importantes contribuições de vários pesquisadores, em ordem
cronológica:
Cauchy (1822) apresentou um estudo sobre o estado de tensão e deformação, em torno de um
ponto no interior de um maciço. Esse trabalho deu outro aspecto ao desenvolvimento das análises de
estabilidade, que até então utilizavam apenas os princípios da estática.
Poncelet (1840) aplicou a teoria clássica de Coulomb a muros de arrimo com paramentos
inclinados.
Alexandre Colin (1846) publicou um livro que continha observações de campo sobre o
deslocamento de camadas de argilas e a descrição de um aparelho capaz de medir a sua resistência ao
cisalhamento.
A Mecânica dos Solos recebeu também contribuições de outras áreas. Em 1856, Darcy
estabeleceu a lei que define "o movimento da, água em meios porosos". Esta lei é de suma importância
no estudo da percolação da água através dos solos. Neste mesmo ano, surge a contribuição de Rankine.
Nela são aplicadas as equações desequilíbrio interno de maciços terrosos.
Atterberg (1908) estabeleceu os limites de consistência dos solos argilosos, com utilização na
Agronomia. Os limites de Atterberg, tais como são conhecidos na Mecânica dos Solos, foram
introduzidos, tempos depois, por Karl Terzaghi.
Otto Mohr (1914) aplicou aos solos a sua teoria de ruptura dos materiais. Esta teoria lança a idéia
das curvas envolventes, que associadas às proposições de Coulomb, segundo as quais a envoltória e uma
reta, estabeleceu o critério de resistência de Mohr-Coulomb, sem dúvida, o mais utilizado, ainda hoje, na
Mecânica dos Solos.
No inicio do século XX, graças ao avanço técnico alcançado peIa Engenharia Civil,
principalmente na área da teoria das estruturas, houve a necessidade de se estudar a Mecânica dos Solos
de maneira mais sistemática. As catástrofes ocorridas em obras projetadas com requinte em cálculo
estrutural tiveram, quase sempre, como causa o mau dimensionamento das fundações. Na Suécia e na
Holanda, países que possuíam estradas e cidades situadas sobre formações geológicas compressíveis, a
necessidade e o interesse peIa investigação geotécnica do subsolo aumentou de tal forma que, em 1913,
na Suécia, pôr exemplo, foi criada a famosa Comissão Geotécnica das Estradas de Ferro da Suécia.
Naquela ocasião, foi feita primeira alusão ao termo "geotécnico".
Entre 1918 e 1926, Fellenius, célebre engenheiro sueco, inventou o método de estudo de
estabilidade de taludes, em que se considera a superfície de escorregamento em forma cilíndrica. Houve,
nessa época, na Suécia, um admirável desenvolvimento na Mecânica dos Solos.
Neste clima de esforços isolados e das primeiras associações e comissões de estudo do
comportamento do solo, é que aparece Terzaghi.
2
Deve-se ressaltar, durante a fase inicial de desenvolvimento da Mecânica dos Solos, o trabalho
incansável de Terzaghi. Este trabalho não foi, só intenso, mas também original. Terzaghi preocupou-se
em enfatizar a importância do estudo das tensões e deformações nos solos. Estabeleceu a diferença entre
pressões totais efetivas e neutras. Criou a teoria do adensamento, aplicada a solos saturados. Concebeu e
esquematizou ensaios e a respectiva aparelhagem e, sobretudo, fez sugestões para a interpretação dos
resultados conseguidos e sua aplicação aos diferentes problemas práticos enfrentados pela Mecânica dos
Solos.
A Mecânica dos Solos apenas se impôs de forma definitiva a partir de 1936, época da realização
da I Conferencia de Mecânica dos Solos na Universidade de Harvard. A partir desta época os
fundamentos e diversos aspectos teóricos da disciplina começaram a ser enunciados, porém deve-se
ressaltar que, a despeito do intenso trabalho já desenvolvido pôr inúmeros pesquisadores, muito resta a ser
explicado adequadamente. Dessa forma, pôr ser uma ciência relativamente nova, a Mecânica dos Solos
encontra-se em continuo e intenso desenvolvimento.

3 - A Mecânica dos Solos

A Mecânica dos Solos foi estabelecida com o propósito de estudar o comportamento dos solos,
segundo formulações teóricas de embasamento científico. Procurou-se, a partir de bases físicas, modelos
reológicos e observações de campo, elaborar teorias explicativas desse comportamento. Algumas dessas
teorias possuem um cunho determinístico, e outras, probabilístico. Embora as teorias determinísticas se
prestem melhor à elaboração de doutrinas, que, sendo de fácil apreensão, fornecem fundamentos racionais
à explicação de fenômenos observados, a heterogeneidade dos solos com propriedades variáveis, de ponto
para ponto, tem conduzido a um uso acentuado de teorias probabilísticas.
No estudo do comportamento dos solos, duas linhas de conduta têm sido utilizadas. A primeira
preocupasse com as propriedades físico-qulmicas, forças intergranulares, efeito dos fluidos intersticiais,
para, a partir de tais fenômenos, explicar o comportamento dos solos. A segunda apoia-se na hipótese
que considera o solo como um meio contínuo, cuja relação tensão-deformação fornece subsídios para
previsão do comportamento do solo.
Nos problemas geotécnicos de ordem prática, o engenheiro civil deve ter consciência das
limitações das teorias utilizadas, e nunca esperar o valor exato nas grandezas obtidas, senão uma ordem
de grandeza.
Neste ponto, um recurso utilizado ria mecânica dos solos, como em todas as ciências é consultar
as soluções dadas a problemas análogos, como primeira referência à solução de um problema proposto.
Este recurso dá ao engenheiro a liberdade de escolha de soluções que deverão ser adaptadas ao problema
em estudo, pois nunca há repetição de condições anteriores. Os ensaios de campo e laboratórios serão,
portanto, necessários para fornecer as reais propriedades dos solos e os dados exigidos nos cálculos de
dimensionamento e verificação da solução adotada.
O QUADRO I a seguir fornece uma relação dos principais problemas pertinentes ao campo da
Mecânica dos Solos.

QUADRO I – ALGUMAS APLICAÇÕES DA MECÂNICA DOS SOLOS


Fundações rasas
O solo como fundações Fundações profundas
Fundações em solos moles
Fundações em solos expansivos
MECÂNICA DOS O solo como material de Barragens de terra e enrocamento
SOLOS construção Estradas e Aeroportos
Estabilidade dos solos Taludes e escavações
Suporte dos solos Estruturas de arrimo
Silos

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CAPÍTULO II2

O SOLO PARA O ENGENHEIRO

1 - Conceituação

A parte mais externa do globo terrestre, denominada crosta, é constituída essencialmente de


rochas que são agregados naturais de um ou diversos minerais, podendo, eventualmente, ocorrer vidro ou
matéria orgânica.
A ação contínua dos agentes atmosféricos e biológicos (intemperismo) tende a desintegrar e a
decompor essas rochas, dando origem ao solo.
O significado da palavra solo não é o mesmo para todas as ciências que estudam a natureza. Para
fins de Engenharia Civil, admite-se que os solos são misturas naturais de um ou diversos minerais (às
vezes com matéria orgânica) que podem ser separa pôr processos mecânicos simples, tais como agitação
em água ou manuseio. Numa conceituação mais simplista, o solo seria todo material que pudesse ser
escavado, sem o emprego de técnicas especiais, como, pôr exemplo, explosivos.
Esse material forma a fina camada superficial que recobre quase toda a crosta terrestre e no seu
estado natural apresentasse composto de partículas sólidas (com diferentes formas e tamanhos), líquidas e
gasosas. Os solos normalmente são caracterizados pela sua fase sólida, enquanto as fases líquida e gasosa
são consideradas conjuntamente como porosidade. Entretanto, na análise de comportamento real de um
solo, há necessidade de se levar em conta as porcentagens das fases componentes, bem como a
distribuição dessas fases através da massa de solo.

2 - Tipos de Solos Quanto à Origem

Ao ocorrer à ação dos mecanismos de intemperização, o material resultante poderá permanecer


ou não sobre a rocha que lhe deu origem.
No primeiro caso, temos os chamados solos residuais. Estes são bastante comuns no Brasil,
sobretudo no Centro-Sul. Como exemplo, cite-se a decomposição dos basaltos que origina as chamadas
"terras roxas" ou a decomposição de rochas cristalinas que originam espessas camadas de solo residual,
como acontece freqüentemente na Serra do Mar.
A separação entre a rocha matriz e o solo residual não é nítida, mas sim, gradual. Pode-se
distinguir, pelo menos, duas faixas distintas entre o solo e a rocha: a primeira, sobre rocha, denominada
rocha alterada ou rocha decomposta e a segunda, logo abaixo do solo, chamada de solo de alteração. A
Figura 1 ilustra um perfil de intemperização típico de rochas ígneas intrusivas.
Se, eventualmente, o produto de alteração for removido de sobre a rocha matriz pôr um agente
qualquer, teremos os chamados solos transportados. Segundo os agentes de transporte, os solos
transportados podem ser aluviais (água), eólicos (vento), coluviais (gravidade) e glaciais (geleiras).
A capacidade de transporte dos agentes determina o tamanho das partículas e a homogeneidade
dos solos transportados. Sirva de exemplo um curso de água que tenderá a selecionar o tamanho das
partículas depositadas. Assim, próximo da cabeceira, em que a velocidade das águas é maior, devem
depositar-se os grãos mais grossos, e as partículas mais finas poderão ser transportadas a longas
distâncias, até que a velocidade da água diminua consideravelmente, e permita que haja deposição.
Dessa forma, os depósitos de solos transportados apresentam geralmente maior
homogeneidade no tamanho das partículas constituintes, o que já não ocorre nos solos residuais, nos quais
aparece uma grande variedade de tamanho das partículas.
Os chamados solos orgânicos são formados pela mistura de restos de organismos (animais ou
vegetais) com sedimentos preexistentes. A ocorrência de solos orgânicos se dá em locais bem
característicos, tais como as áreas adjacentes aos rios, as baixadas litorâneas e as depressões continentais.

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Mecânica dos Solos - vol. 1 – Benedito de Souza Bueno & Orencio Monje Vilar – Depto de Geotecnia –
Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo
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3 - Tamanho e Forma das Partículas

Em função dos agentes de intemperismo e de transporte, os depósitos de solos podem estar


constituídos de partículas dos mais diversos tamanhos. Em termos qualitativos, deve-se frisar que o
intemperismo físico (desintegração) é capaz de originar partículas de tamanhos até cerca de 0,001 mm e
somente o intemperismo químico (decomposição) é capaz de originar partículas de diâmetro menor que
0,001 mm.
Solos cuja maior porcentagem esteja constituída de partículas visíveis a olho nu (φ > 0,074 mm)
são chamados de solos de grãos grossos ou solos granulados. As características e o comportamento
desses solos ficam determinados, em última analise, pelo tamanho das partículas, uma vez que as forças
gravitacionais prevalecem sobre as outras.
Os solos de granulação grossa apresentam-se compostos de partículas normalmente
equidimensionais, podendo ser esféricas (solos transportados) ou angulares (solos residuais).
A forma característica dos solos de granulação fina (↓ < 0,074 mm) é a lamelar, em que duas
dimensões são incomparavelmente maiores que a terceira. Aparece, às vezes, a forma acicular, em que
uma das dimensões prevalece sobre as outras duas. A Figura 2 mostra duas partículas de solo fino.

O mineral constituinte da partícula determina a sua forma, em quanto o comportamento desses


solos é determinado pelas forças de superfície (moleculares, elétricas e eletromagnéticas), uma vez que a
5
relação, entre a superfície da partícula e o seu volume é muito alta. Nos solos finos, a afinidade pela água
é uma característica marcante, e irá influenciar sobremaneira o seu comportamento.
Para descrever o tamanho das partículas, é usual citar a sua dimensão ou fazer uso de nomes
conferidos arbitrariamente a certa faixa de variação de tamanhos. Nesse sentido, existem escalas que
apresentam os nomes dos solos juntamente com a dimensão que eles representam. A Figura 3 apresenta
duas escalas elaboradas pôr duas instituições diferentes: ABNT e o MIT.
Os solos de grãos grossos são subdivididos em pedregulhos e areias, e os de granulação fina em
siltes e argilas. A seguir, apresenta-se uma breve descrição dos principais tipos de solos existentes,
procurando-se ressaltar algumas características que permitam uma fácil identificação desses solos.

4 - Descrição dos Tipos de Solos

PEDREGULHOS - Os pedregulhos são acumulações incoerentes de fragmentos de rocha, com


dimensões maiores que 2 mm (escala MIT). Normalmente, são encontrados em grandes extensões, nas
margens dos rios e em depressões preenchidas pôr materiais transportados pelos rios.

AREIAS - Tem origem semelhante à dos pedregulhos, entretanto, as suas dimensões variam entre
2 mm e 0,05 mm. As areias são ásperas ao tacto, e, estando isentas de finos, não se contraem ao secar,
não apresentam plasticidade e comprimem-se, quase instantaneamente, ao serem carregadas.

SILTES - Os siltes são solos de granulação fina que apresentam pouca ou nenhuma plasticidade.
Um torrão de silte seco ao ar pode ser desfeito com bastante facilidade.

ARGILAS - São solos de granulação muito fina que apresentam características mercantes de
plasticidade e elevada resistência, quando secas. Constituem a fração mais ativa dos solos.
As argilas, quando secas e desagregadas, dão uma sensação de farinha, ao tacto, e, quando
úmidas, são lisas.
Quanto à constituição química das argilas, pode-se dizer que elas se compõem de silicatos de
alumínio hidratados, podendo ocorrer eventualmente silicatos de magnésio, ferro ou outros metais,
também hidratados.
A estrutura desses minerais é bastante complexa, com seus tomos dispostos em forma laminar, a
partir de duas unidades cristalográficas básicas: uma silícica e uma alumínica.
A primeira consiste numa unidade tetraédrica, com um átomo de silício ao centro, rodeado pôr
quatro de oxigênio, conforme se mostra ira Figura 4. Aparece também nessa figura o símbolo utilizado
para representar essa unidade.

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As lâminas alumínicas formam uma unidade octaédrica, com um átomo de Al ao centro,
envolvido pôr seis átomos de oxigênio ou pôr hidroxilas, como se esquematiza na Figura 5.

De acordo com as associações que essas unidades venham a ter, podem formar-se vários tipos de
minerais argílicos, dos quais as caulinitas, as montmorilonitas e as ilitas constituem três grupos básicos.
As caulinitas estão formadas pela combinação alternada de uma lâmica silícica e de uma
alumínica, que se superpõem indefinidamente e com um vínculo tal entre suas retículas, que não é
possível a entrada de molécula de água entre elas. A Figura 6 esquematiza esse arranjo.

As montmorilonitas, grupo ao qual pertencem as bentonitas, são formadas pela superposição de


uma unidade alumínica, situada entre duas unidades silícicas, como se mostra esquematicamente na
Figura 7.

7
Diferentemente das caulinitas, a união entre os retículos é frágil, o que permite a penetração de
água com relativa facilidade. Assim, tais argilas, com presença de água, experimentam expansões, fonte
de inúmeros problemas para a engenharia de solos.
As ilitas apresentam um arranjo estrutural semelhante ao das montmorilonitas, entretanto, a
presença de íons não permutáveis faz com que a união entre os retículos seja mais estável, e não seja
afetada fortemente pela água. Tais argilas são bem menos expansivas que as montmorilonitas. A Figura
8 mostra o arranjo estrutural esquemático das ilitas.

A identificação dos minerais do tipo, argila, presentes num solo, é feita pôr meio de processos
bastante aprimorados, tais como a análise termodiferencial e a microscopia eletrônica.
Um processo de identificação bastante simples e expedito consiste na utilização de corantes
orgânicos, os quais mudam de coloração, quando em contato com a argila. Os corantes mais utilizados
são a benzidina, a safranina Y e o verde malaquita. Para maiores minúcias a respeito das técnicas de
identificação de minerais da espécie argila, consultar a referência 25.
Além desses quatro tipos fundamentais de solos existem outros com nomes característicos, tais
como: os loess, os saibros e as turfas, contudo, em verdade, nada mais são do que ocorrências particulares
ou combinações dos tipos já citados.
As turfas ou solos turfosos merecem realce, pôr serem depósitos de solos orgânicos bastante
compressíveis e que trazem problemas para a Engenharia de Solos. Consistem no primeiro estádio de
formação do carvão e iniciam-se pelo acúmulo de detritos vegetais em depressões, como, pôr exemplo,
num lago. A sua coloração varia, desde amarela até castanho-escura, e normalmente apresentam-se com
alto teor de umidade.

5 - Identificação Visual e Táctil dos Solos

8
Existem alguns testes rápidos que permitem, a partir das características apresentadas pelos solos,
a sua identificação. Como na natureza os solos normalmente são uma mistura de partículas dos mais
variados tamanhos, busca-se determinar qual o tamanho que ocorre em maior quantidade, e depois as
demais ocorrências. É usual também, na identificação de um solo, citar a sua cor. Assim, pôr exemplo,
alguns nomes que poderiam ocorrer seriam: argila arenosa vermelha; silte argiloso pouco arenoso
marrom; areia grossa, com pedregulhos, cinza etc.
Os testes mais comuns são:

a - Sensação ao tacto: esfrega-se uma porção de solo na mão, buscando sentir a sua aspereza. As areias
são bastante ásperas ao tacto, e as argilas dão uma sensação de farinha, quando seca ou de sabão,
quando úmidas.

b - Plasticidade: tenta-se moldar pequenos cilindros de solo úmido e em seguida, busca-se deformá-los.
As argilas são bastante moldáveis, enquanto as areias e, normalmente também os siltes não são
moldáveis.

c - Resistência do solo seco. Por causa das forças interpartículas que se desenvolvem nos solos finos,
um torrão de solo argiloso apresenta elevada resistência, quando se tenta desagregá-los com os
dedos. Os siltes apresentam alguma resistência, enquanto as areias, quando puras, nem formam
torrões.

d - Mobilidade da água intersticial: consiste em se colocar na palma da mão uma porção de solo úmido.
Fazendo-se bater essa mão fechada, com o solo dentro, contra outra, verifica-se o aparecimento da
água na superfície do solo. Nos solos arenosos, graças à sua alta permeabilidade, a água aparece
rapidamente na superfície. Ao abrir a mão, a superfície brilhante desaparece nesses solos arenosos, e
eles freqüentemente trincam. Nos solos argilosos, a superfície brilhante permanece pôr bastante
tempo e não ocorrem fissuras, quando se abre a mão.

e - Dispersão em água: coloca-se uma amostra de solo seco e desagregado numa proveta (100 ml) e, em
seguida, água, Agita-se a mistura e verifica-se o tempo para deposição das partículas. As areias
depositam-se rapidamente, enquanto as argilas tendem a turvar a suspensão e demoram bastante
tempo para sedimentar.

O Quadro Il procura sintetizar esses procedimentos comuns normalmente utilizados para


identificar os solos:

QUADRO II: IDENTIFICAÇÃO DOS SOLOS


Tipos de Solos Procedimentos e Características
Areias e solos arenosos Tacto (áspero), observação visual incoerente
Areias finas, siltes, areias Tacto-pequena resistência do torrão seco (esfarela facilmente), torrão
siltosas ou pouco argilosas seco desagrega rapidamente, quando submerso; dispersão em água
(sedimenta rápido e a água permanece turva, por pouco tempo)
Argilas e solos argilosos Tacto (úmidos: saponáceos; secas: farinhosas); torrão seco bastante
(com pouca areia ou silte) resistente, e não desagrega quando submerso; plasticidade; mobilidade da
água intersticial
Turfas e solos turfosos Cor: geralmente cinza, castanho-escura, preta;
(orgânicos) Partículas fibrosas, cheiro característico de matéria orgânica em
decomposição;
Inflamáveis, quando secos, e de pouca a média plasticidade

9
CAPÍTULO III3

PROPRIEDADES ÍNDICES

I - Introdução

Os solos em a natureza apresentam-se compostos pôr elementos das três fases físicas, em maior
ou menor proporção.
O arcabouço do solo, constituído do agrupamento das partículas sólidas, apresenta-se entremeado
de vazios, os quais podem estar preenchidos com água e ou ar. O ar é extremamente compressível, e a
água pode fluir através do solo, portanto, quando da avaliação quantitativa do comportamento do solo, há
necessidade de se levar em conta as ocorrências dessas fases físicas.
Para efeito dessa apostila, consideram-se como propriedades índices, determinadas
características, tanto da fase sólida, como das três fases, em conjunto, passíveis de mensuração, seja
mediante relações entre as fases ou pôr meio da avaliação do comportamento do solo, ante algum ensaio
convencional.
A determinação das propriedades índices aplica-se na classificação e identificação do solo, uma
vez que elas podem ser correlacionadas, ainda que grosseiramente, com características mais complexas do
solo, como, pôr exemplo, a compressibilidade.
Neste capítulo, descrevem-se as seguintes propriedades índices: Índices Físicos, Granulometria e
Estados de Consistência.

2 - Índices Físicos

Os Índices Físicos são relações entre as diversas fases, em termos de massas o volumes, os quais
procuram caracterizar as condições físicas em que um solo se encontra.
A Figura 9a apresenta um elemento de solo, constituído das três fases, tal como poderia ocorrer
em a natureza. Para melhor visualização e para facilitar as deduções referentes às relações entre os
diversos índices, o elemento de solo é mostrado esquematicamente, com divisão das três fases, na Figura
9b.
No lado esquerdo da Figura 9b, as fases estão separadas em volumes, e no lado direito, em
massas.

2.1 - Definições

As três relações de volumes mais utilizadas são: a porosidade, o índice de vazios e o grau de
saturação.

3
Mecânica dos Solos - vol. 1 – Benedito de Souza Bueno & Orencio Monje Vilar – Depto de Geotecnia –
Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo
10
A porosidade (n) é definida pela relação entre o volume de vazios e o volume total da amostra.

Vv
n=
V

O índice de vazios (e) é definido pela relação entre o volume de vazios e volume de sólidos isto é:

Vv
e=
Vs

O grau de saturação (Sr) representa a relação entre o volume de água e o volume de vazios, ou
seja:

Vw
Sr =
Vv

A relação entre as massas mais utilizadas é o teor de umidade (w), que é a relação entre a massa
de água e a massa de sólidos presentes na amostra:

Mw
w=
Ms

Esses índices físicos, como se vê, são adimensionais e, com exceção do índice de vazios (e),
todos os demais são expressos em termos de porcentagem.
As relações entre massas e volumes mais usuais são a massa específica natural, a massa
específica dos sólidos e a massa especifica da água.
A massa especifica natural (ρ) é a relação entre a massa do elemento e o volume desse elemento:

M
ρ=
V

Por sua vez, a massa específica dos sólidos (ρs) é determinada, dividindo-se a massa de sólidos
pelo volume ocupado por esses sólidos, ou seja:

Ms
ρs =
Vs w

e, por extensão, a massa específica da água (ρw) define-se como:

Mw
ρw =
Vw

que, na maior parte dos casos práticos, é tomada como ρw = 1,0 g/cm3.

O Quadro Ill apresenta os limites extremos de variação desses índices físicos.

11
QUADRO lll: LIMITES DE VARIAÇÃO DOS ÍNDICES FÍSICOS
1,0 < ρ < 2,5 g/cm3
2,5 < ρs < 3,0 g/cm3
0 < e < 20
0 < n < I00 %
0 ≤ Sr ≤ I00 %
0 < w < I500%

2.2 - Relações entre os diversos índices

Atribuindo ao volume de fase sólida o valor unitário (Vs = 1) é possível relacionar os diversos
índices físicos com o índice de vazios. Se Vs = 1, então, e = Vv e Vw = Sr.e, e dessa forma temos na
Figura 10, o elemento esquemático de solo, em que as massas agora são expressas em termos de produto
entre os volumes e as massas específicas das diversas fases.

A partir dos dados da Figura 10, é possível obter as novas expressões para os diversos índices
físicos, conforme as seguintes relações:

M w S r .e.ρ w
w= =
Ms ρs

Vv e
n= =
V 1+ e

M ρ s + S r .e.ρ w
ρ= = 4

V 1+ e

4
Lembrar que há diferenças entre massa específica (ρ) e peso específico (γ) e que γ = ρ.g. Nas Figuras 10 e 11,
quando utilizadas para deduzir as fórmulas de correlação seguintes, em lugar dos diversos γ deve-se ler ρ. Caso se
admita g=10 m/s2, para converter ρ, expresso em g/cm3, para γ, expresso em kN/m3, basta fazer γ =10ρ. Por
exemplo, ρ=1,75 g/cm3 equivale a γ = 17,5 kN/m3
12
Em função da quantidade de água presente no solo, podemos definir a massa específica saturada
(γsat), que ocorre quando todos os vazios do solo estão preenchidos com água, ou seja, Sr = l00%:

ρs + e ⋅ ρw
ρ sat =
1+ e

Da mesma forma, quando o solo se encontra completamente seco (Sr = 0%), sem nenhuma água
em seus vazios, temos a massa específica seca (ρd):

ρs
ρd =
1+ e

É importante notar que essas duas novas relações estão referidas ao volume natural da amostra (1
+ e), isto é, admite-se, quando se faz matematicamente Sr = 0% ou Sr = 100%, que o solo não sofra
variações de volume. Isto não é o que realmente ocorre em a natureza, pois os solos, ao serem secados ou
saturados normalmente passam por variações de volume. A massa especifica natural relaciona-se com a
massa específica seca pôr intermédio da seguinte expressão:

M ρs + Sr . e . ρ w ρ ρ .w
ρ= = = s + s
V 1+ e 1+ e 1+ e

ρ = ρ d (1 + w )

Tanto ρ, como ρd, estão referidos ao volume da amostra natural. Dessa forma é possível colocar a
expressão anterior, em termos de massas, o que é bastante útil, sobretudo em ensaios de laboratório.

M = M d (1 + w)

Para relacionar os índices com a porosidade, faz-se, para facilidade de cálculo, V = 1. Da mesma
forma que na Figura 10, temos agora na Figura 11 as massas e volumes para a nova situação. Como V =
1, tem-se n = Vv e Vw = Sr. n.

Assim, podemos colocar os índices físicos de acordo com novas relações:


13
Vv n
e= =
Vs 1 − n

M w Sr . n . ρ w
w= =
M s (1 − n ) ρ s

M
ρ= = (1 − n ) ρ s + S r . n . ρ w
V

2.3 - Determinação dos Índices Físicos

Os índices físicos são determinados em laboratório ou mediante formulas de correlação,


desenvolvidas no item anterior.
Em laboratório, são determinados a massa específica natural o teor de umidade e a massa
específica dos sólidos. A seguir, descrevesse resumidamente o procedimento, para determinação desses
três índices físicos.

a. Massa Específica Natural

Toma-se um bloco de solo de forma cúbica, tendo cerca de 8cm de lado e procura-se torneá-lo de
maneira que se transforme num cilindro. Para tanto, utilizasse um berço para alisar a base e o topo, e em
seguida o corpo de prova é levado a um torno, onde lhe dada a forma cilíndrica.
As determinações que se fazem são as medidas do diâmetro da altura do cilindro, para cálculo do
volume e a pesagem do corpo de prova.
Deve-se salientar que a massa especifica natural normalmente determinada em corpos de prova já
talhados para os ensaios usuais de Mecânica dos Solos, isto é, não se talha um corpo de prova para medir
unicamente a sua massa específica natural.

b. Teor de Umidade

Toma-se uma porção de solo (cerca de 50 g), colocando-a numa cápsula de alumínio com tampa:
O conjunto, solo úmido mais cápsula, é pesado com precisão de 0,01 g e, em seguida, a cápsula
destampada é levada a uma estufa até constância de peso. O tempo de permanência da cápsula varia em
função do tipo de solo; como ordem de grandeza, os solos arenosos necessitam de cerca de 6h e os solos
argilosos, às vezes, até de 24 horas.
Pesa-se o conjunto solo seco mais cápsula e, com a tara da cápsula, determinada de início, pode-
se calcular o teor de úmida de pôr meio da seguinte expressão:

M 2 − M1
w= x 100%
M1 − M 0

M2 = Massa do solo úmido mais cápsula

M1 = Massa do solo seco mais cápsula

M0 = Tara da cápsula

c. Massa Específica dos Sólidos

14
Este índice é determinado, usualmente, empregando um frasco de vidro chamado picnômetro
(balão volumétrico). Coloca-se uma porção de solo (cerca de 80g para solos argilosos e 150 para solos
arenosos) no picnômetro e, em seguida, preenche-se o frasco com água destilada até a marca de
referência.
Pesa-se o conjunto picnômetro, água e solo, determina-se a temperatura da suspensão e mediante
a curva de calibração do picnômetro, determinam-se o peso do picnômetro e a água para a temperatura do
ensaio.
A Figura 12 ilustra o cálculo da massa específica dos sólidos.

A massa de água correspondente ao volume deslocado pelos sólidos será:

M 1 − M 2 = M w − M 'w − M s ou

M w − M 'w = M 1 − M 2 + M s = ∆M w

Portanto, o volume dos sólidos corresponde a

Vs = ∆M w / ρ w

e, por fim, a massa específica dos sólidos pode ser assim obtida:

Ms Ms Ms
ρs = = . ρ w ; ρs = ρw
Vs ∆M w M1 − M 2 + M s

Deve-se frisar que normalmente são feitas de três a quatro determinações, fazendo variar a
temperatura e acertando o nível de água na marca de referência, com vistas à obtenção de um valor médio
consistente.
Embora a determinação da massa específica dos sólidos seja simples, muitas vezes adota-se um
valor médio para resolução de problemas, uma vez que a faixa de variação no caso de solos é bem
pequena. Para solos arenosos, pode-se tomar ρs=2,67 g/cm3 (correspondente ao quartzo) e para solos
argilosos, ρs = 2,75 - 2,90 g/cm3.

d. Demais índices
15
Como já foi salientado, os demais índices são determinados mediante fórmulas de correlação. O
Quadro III engloba as várias fórmulas de correlação.

3 - Granulometria

A medida do tamanho das partículas constituintes de um solo é feita pôr meio da granulometria e
a representação dessa medida se dá usualmente por intermédio da curva de distribuição granulométrica.
A Figura 13 apresenta curvas de distribuição granulométrica alguns solos. Pode-se notar que as
curvas são desenhadas em gráfico semilogarítmico. Nas abscissas tem-se o logaritmo do tamanho das
partículas e nas ordenadas, à esquerda, a porcentagem retida acumulada, ou seja, a porcentagem do solo
em massa, que é maior que determinado diâmetro: à direita, tem-se a porcentagem que passa, isto é, a
porcentagem do solo, em massa, que é menor que determinado diâmetro.

16
QUADRO III – FÓRMULAS DE CORRELAÇÃO PARA OS ÍNDICES FÍSICOS

ρ ρsal ρd ρ' ρs Sr e n w
0 < S r < 100% S r = 100% S r = 0% S r = 100%

ρs + Sr e ρ w ρs + e ρ w ρs ρs − ρ w ρ d (1 + e) w ρs ρs e Sr e ρ w
−1
1+ e 1+ e 1+ e 1+ e e ρw ρd 1+ e ρs

ρ s − (ρ s − S r ρ w ) n ρ s − (ρ s − ρ w ) n (1 − n ) ρ s (1 − n ) (ρ s − ρ w ) ρd 1 − n ρs n ρd nS r ρ w
w 1−
1− n n ρw 1− n ρs (1 − n ) ρ s

ρ d (1 + w ) ρ s (1 + w ) - ρ s (e − w ) Sr e ρ w ρ s ρ dw ρs w ρs w S r ρ w (ρ s − ρ d )
1+ e (1 + e) e w ρ w (ρ s − ρ w ) Sr ρ w Sr ρ w + ρs w ρs ρd

17
Como foi salientado, as partículas finas de solo têm formas bastante diferentes de uma
esfera. Assim, quando se utiliza alei de Stokes, as partículas finas têm suas dimensões
representadas pôr um diâmetro equivalente.
Para a determinação do tamanho dos grãos de um solo grosso, recorre-se ao ensaio de
peneiramento, no qual se faz passar pôr uma bateria de peneiras, de aberturas sucessivamente
menores, certa quantidade de solo, determinando-se as porções retidas em cada peneira. Para
um solo de graduação fina o peneiramento se torna impraticável. Neste caso, faz-se uso do
ensaio de sedimentação que consiste basicamente em medir indiretamente a velocidade de
queda das partículas em água.
O cálculo do tamanho das partículas finas é feito utilizando-se a lei de Stokes, que diz
ser a velocidade de queda de uma partícula esférica de massa específica ρ, num fluido de
viscosidade µ e massa específica ρw, proporcional ao quadrado do diâmetro dessas partículas, ou
seja:

ρs − ρw 2
v= D
18µ

Ressalta-se ainda que as partículas coloidais (diâmetro inferior a 0,0002 mm) não
sedimentam, por causa da ação de forças repulsivas entre elas, o que origina o movimento
browniano, de tratamento bastante complexo.
Como, freqüentemente, os solos são uma mistura de partículas dos mais diversos
tamanhos, costuma-se conduzir conjuntamente os ensaios de peneiramento e sedimentação ,ou
seja, faz-se uma análise granulométrica conjunta, para determinação dos diâmetros e das
respectivas porcentagens de partículas que ocorrem num solo.

3.1 - Noções sobre o Ensaio de Análise Granulométrica

A experiência tem mostrado que a amostra a ser ensaiada deve conter de 40 a 70g de
sólidos, passando na peneira #100. Como as partículas finas de solo tendem a aglutinar-se, há
necessidade de dispersá-las com o auxílio de um defloculante (silicato de sódio,
hexametafosfato de sódio etc.), para que o resultado de ensaio seja efetivamente representativo
dos tamanhos de partículas que ocorrem no solo.
A mistura solo e defloculante é peneirada, com o auxílio de lavagem, na peneira #100.
O material que passa é recolhido numa proveta graduada para 1000 ml e será destinada ao
ensaio de sedimentação.
O material retido, após secagem em estufa, é passado pôr uma bateria peneiras, com o
auxílio de vibração. Determina-se a massa retida em cada peneira e, em seguida, calculam-se as
porcentagens retidas e as acumuladas. Com esses valores pode-se determinar a parte da curva
granulométrica relativa à fração grossa do solo, utilizando o logaritmo de abertura da peneira e a
porcentagem retida acumulada nessa peneira.
No ensaio de sedimentação, a velocidade de queda da partícula é obtida indiretamente,
determinando-se densidade da suspensão, em intervalos de tempos espaçados. Agita-se a
suspensão contida na proveta para homogeneizá-la, em seguida, são feitas leituras periódicas de
densidades, ao longo do tempo. A leitura do densímetro (δi) é correlacionada com a queda da
partícula (z), ou seja, a distância entre a superfície da suspensão e o centro de volume do bulbo
(Figura 14).
Dessa forma, a velocidade de uma partícula de diâmetro D, que percorreu uma
distancia z, num tempo t, pode ser determinada pela lei de Stokes:

ρs − ρw 2 z
v= D =
18µ t

18
Resulta então, que:

18µ z
D= ⋅
ρs − ρw t

Se admitirmos a uniformidade da suspensão, é óbvio que, após o tempo t, todas as


partículas com diâmetro maior que D, dado pela fórmula anterior, deverão estar a uma
profundidade -abaixo de z ou, em outras palavras, acima de z não haverá partículas de diâmetro
maior que V. Chamando de N a porcentagem de partículas de diâmetro menor que D, pode-se
demonstrar que:

ρs V
N= (δi − δ w )
ρs − ρ w M

em que:

V - volume da suspensão (1000 ml, geralmente);


M - massa total de sólidos;
δi - leitura do densímetro;
δw - massa específica da água.

Se fizermos V = 1000 ml e ρw = 1g/cm3, teremos:

ρ s Lc
N= 100%
ρs − ρw M

em que Lc = 1000 (δi - 1).

Assim, com os valores de diâmetro D e N, porcentagem que passa (porcentagem de


partículas com diâmetro menor que D) é possível traçar a curva correspondente à fração fina do
solo e que complementa a curva obtida do peneiramento.

3.2 - Considerações sobre a Curva de Distribuição Granulométrica

19
A curva de distribuição granulométrica de um solo, freqüentemente, é representada pôr
dois parâmetros. São eles o diâmetro efetivo (De ou D10) e o coeficiente de não uniformidade
(Cu).
Dado que as partículas finas são as que mais interferem no comportamento do solo,
definiu-se o diâmetro no sentido de dar medida dessa característica do solo. Assim, o diâmetro
efetivo é õ diâmetro tal que I0% do solo, em massa, têm diâmetros menores que ele. A Figura
13 mostra quatro curvas granulométricas e para o solo representado pela curva 3, pode-se notar
que o diâmetro efetivo (De) é de 0,12 mm. O coeficiente de não uniformidade Cu dá uma idéia
da inclinação da curva granulométrica, e é definido como:

D60
Cu =
D10

sendo que D60 tem definição análoga ao diâmetro efetivo. Para a curva 2 da Figura 13,

0,12
Cu = = 46
0,0026

Um solo em que Cu = 1 está composto de partículas de mesmo tamanho (mal graduado).


Por outro lado, valores de Cu maiores do que a unidade indicam uma variedade no tamanho das
partículas, podendo o coeficiente de não uniformidade atingir valores da ordem de 300 ou 400,
no caso dos solos residuais, sem que isso signifique que o solo seja bem graduado. Um solo
bem graduado apresenta uma distribuição proporcional do tamanho de partículas, de forma que
os espaços deixados pelas partículas maiores sejam ocupados pelas menores. Tais solos,
quando bem compactados, normalmente apresentam alta resistência, o que é de bastante
interesse para aplicação, na prática.
Deve salientar-se que o diâmetro efetivo e o coeficiente de não uniformidade não são
suficientes para representar sozinhos a curva de distribuição granulométrica, uma vez que
curvas distintas podem ter os mesmos De e Cu, como facilmente é possível visualizar pelas
curvas 2 e 4 da Figura 13. Assim, resulta que somente a curva de distribuição granulométrica
pode identificar um solo quanto à sua textura.
A curva de distribuição granulométrica encontra aplicação prática na classificação do
solo quanto à textura, na estimativa do coeficiente de permeabilidade e no dimensionamento de
filtros de proteção.

4 - Plasticidade e Estados de Consistência

4.1 - Noções sobre a Plasticidade dos Solos

Desde épocas remotas, sabe-se que alguns solos, ao serem trabalhados, fazendo variar a
sua umidade, atingem um estado de consistência característico denominado estado de
consistência plástico. Em cerâmica, tais solos são chamados de argilas, palavra que foi
incorporada à Mecânica dos Solos com o mesmo significado.
Sabe-se também que a forma lamelar das partículas é a responsável pelas características
de plasticidade e de compressibilidade dos solos finos. Por sua vez, a forma dessas partículas
determinada, em última análise, pelo mineral argila, presente, ou seja, ela depende da estrutura
cristalina de cada argilo-mineral Como a estrutura cristalina é própria de cada mineral, seria
lícito supor, que, em função do argilo-mineral presente, cada sol apresentasse distintas
características de plasticidade.
Isso é o que realmente ocorre em a natureza, com os argilo-minerais de estrutura
cristalina mais complexa, tais como as montimorilonitas, apresentando maior plasticidade.

20
A plasticidade pode ser definida em Mecânica dos Solos, com a propriedade que um
solo tem de experimentar deformações rápidas, sem que ocorra variação volumétrica apreciável
e ruptura. Para que essa propriedades possa manifestar-se, compreendes que a forma
característica das partículas finas permita que ela deslizem, uma pôr sobre as outras, desde que
haja quantidade suficiente de água para atuar como lubrificante. Entretanto, se quantidade de
água for maior que a necessária para que tal ocorra, é evidente que se formara uma suspensão,
com característica de um fluido viscoso. Ocorreu, portanto, uma alteração do estado de
consistência do solo, assunto que será tratado no próximo item.
Em resumo, pode-se dizer que a plasticidade está associada aos solos finos, e depende
do argilo-mineral, e da quantidade de água no solo.

4.2 - Estados de Consistência

A plasticidade, portanto, é um estado de consistência circunstancial, que depende da


quantidade de água presente no solo.
Assim, em função da quantidade de água presente no solo, podem-se ter vários estados
de consistência, os quais, em ordem d crescente de teor de umidade, são:

a - estado liquido: o solo apresenta as propriedades e a aparência de uma suspensão e, portanto,


não apresenta nenhuma resistência ao cisalhamento;

b - estado plástico: no qual ele apresenta a propriedade de plasticidade;

c - estado semi-sólido: o solo tem a aparência de um sólido, entretanto, ainda passa pôr
variações de volume, ao, ser secado

d - estado sólido: não ocorrem mais variações de volume, peIa secagem do solo.

A Figura 15 ilustra os diversos estados de consistência de um solo.

4.3 - Limites de Consistência

A passagem de um estado para outro não é repentina, mas sim, gradual, o que torna
difícil estabelecer um critério, para demarcar os limites entre os diversos estados. De fato, esses
limites são estabelecidos arbitrariamente, a partir de ensaios padroniza dos. Os limites de
consistência são também conhecidos como limites de Atterberg, que foi quem primeiro se
preocupou em estabelecê-los. As idéias iniciais de Atterberg, baseadas em conceitos

21
estritamente empíricos permaneceram, entretanto, houve necessidade de realizar algumas
modificações na técnica de obtenção dos limites para que se tivesse um resultado padronizado.

a. Limite de Liquidez

A fronteira convencional entre o estado líquido e o estado plástico (teor de umidade – w1) foi
chamada pôr Atterberg de limite de liquidez (LL, ou wL) o a sua obtenção foi padronizado por
Casagrande. A Figura 16 mostra o aparelho de Casagrande, com as dimensões padrão, para
determinação do limite de liquidez.
A técnica do ensaio consiste em colocar na concha do aparelho uma pasta de solo, que
passou na peneira #40. Faz-se com o cinzel uma ranhura e, em seguida, gira-se a manivela, a
razão de duas revoluções, pôr segundo, fazendo com que a concha caia em queda livre e bata
contra a base do aparelho.
Conta-se o número de golpes para que a ranhura se feche, numa extensão de 12 mm, e,
em seguida, determina-se o teor de umidade do solo. O processo é repetido, para diferentes
teores de umidade. Os valores obtidos são lançados em um gráfico semilogarítmico em que as
ordenadas se têm os teores de umidade e nas abcissas o numero de golpes.
Traça-se a reta média, que passa pôr esses pontos, e determina-se o teor de umidade
correspondente a 25 golpes, o qual ser o limite de liquidez do solo. A Figura 17 ilustra a forma
de obtenção do limite de liquidez.

22
b. Limite de Plasticidade

O teor de umidade que determina a fronteira entre o estado plástico e o estado semi-
sólido é chamado de Limite de plasticidade (LP ou wp).
Para sua determinação, faz-se uma pasta com o solo que passa na peneira # 40, e em
seguida procura-se rolar essa pasta, com auxilio da palma da mão, sobre uma placa de vidro
esmerilhado, fim de formar pequenos cilindros. Quando o cilindro assim forma do atingir um
diâmetro de 3 mm, e começar a apresentar fissuras interrompe-se o ensaio e determina-se o teor
de umidade do sol formador do cilindro.
Repete-se a operação algumas vezes, para se obter um valor médio do teor de umidade,
o qual será o limite de plasticidade do solo.
Neste ensaio, se o solo estiver com muita água, obtêm-se cilindros com diâmetros
inferiores a 3 mm sem que ocorram fissura. Será necessário então remoldar o solo e rola-lo
novamente, par que só vão eliminando a água, até que se consiga o resultado desejado. Em caso
contrário (solo muito seco) é necessário acrescentar água e reiniciar o ensaio, até que se
consigam “rolinhos" de solo que fissurem com um diâmetro de 3 mm.

c. Limite de Contração

A fronteira convencional entre o estado de consistência semi-sólido e o sólido é


chamada de limite de contração (LC).
A observação de que a maior parte dos solos não apresenta redução de volume, quando
submetidos à secagem abaixo do limite d contração, permite determinar esse limite mediante
medida de massa e do volume de uma amostra de solo completamente seca. Quando tal ocorre,
o limite de contração corresponde ao teor de umidade que satura os vazios da amostra de solo.
A Figura 18 esquematiza determinação do limite de contração, nesse caso:

Mw  M 
LC = M w = V − s  ρ w
Ms  ρs 
 V 1 
LC = ρ w  − 
 M s ρs 

23
É óbvio que para tal determinação é necessário conhecer a massa específica dos sólidos
do solo. A determinação padronizada desse limite em laboratório é feita, partindo-se dê uma
pasta de solo (cujo teor de umidade (w) corresponde, geralmente, a 10 golpes no aparelho de
Casagrande) que e colocada num recipiente do qual se conhece o volume (V).
Em seguida, o solo é deixado secar lentamente, à sombra, e depois é levado à estufa até
constância do peso (Ms). Determinasse volume do solo seco (V1), utilizando o recipiente
esquematizado na Figura 19, em que se obtém o peso de mercúrio deslocado (MHg ):

MHg
V1 =
13,6

O limite de contração é obtido pôr meio da seguinte expressão:

V − V0
LC = w − ⋅ ρw
Ms

Como é possível observar, o LC assim determinado depende do teor de umidade inicial


(w) do ensaio.

24
4.4 - Índices de Consistência

A partir dos limites de consistência, são calculados vários índices, dentre os quais
sobressaem os índices de plasticidade (IP) e de consistência (IC) por causa de sua maior
utilização, na prática.
O índice de plasticidade é definido como a diferença entre o limite de liquidez e o de
plasticidade, ou seja:

IP = LL - LP

Tal índice tenta medir a maior ou menor plasticidade do solo, e fisicamente


representaria a quantidade de água que seria necessário acrescentar a um solo, para que ele
passasse do estado plástico ao líquido.
O índice de consistência procura colocar a consistência de um solo em função do teor
de umidade (w) e é definido como:

LL − w
IC =
LL − LP

Esse índice busca situar o teor de umidade do solo no intervalo de interesse para a
utilização na prática, ou seja, entre o limite de liquidez e o de plasticidade. Entretanto, tem-se
notado que tal índice não acompanha, com fidelidade, as variações de consistência de um solo,
fazendo com que esteja gradativamente caindo em desuso.

25
CAPÍTULO IV5

ESTRUTURA DOS SOLOS

1 - Introdução

Define-se a estrutura do solo como a forma pela qual estão dispostas as suas partículas,
formando um agregado. Na verdade a estrutura constituiria a propriedade que proporciona a
integridade do solo, o que torna o conceito mais amplo e abrangente. Dentre os principais
componentes da estrutura do solo, destacar-se-iam então: a mineralogia, o tamanho e arranjo
físico, bem como as proporções relativas das articulas tamanho dos poros e distribuição das
fases fluidas nesses poros; a química das três fases constituintes do solo, com ênfase nas forças
existentes entre as partículas.

2 - Estrutura dos Solos Grossos

No caso das areias, supondo-se formadas de grãos esféricos e uniformes, compreende-


se facilmente que a disposição dos grãos só poderá variar entre uma estrutura fofa e uma
estrutura compacta, conforme se vê na Figura 20.

Essas estruturas são chamadas do tipo intergranular e a força que atua (prevalece)
quando do processo da sedimentação, é a de gravidade (peso próprio dos grãos).
O comportamento mecânico desses solos grossos fica determina da fundamentalmente
pela condição de compacidade com que ele se encontra. Para medir essa condição foi
introduzido o conceito de compacidade relativa (Dr) e definida por:

emáx − enat
Dr = ⋅ 100%
emáx − emin

Nessa expressão:

emáx = Índice de vazios correspondente ao estado mais fofo possível.

emin = índice de vazios correspondente ao estado mais compacto possível.

enat = índice de vazios natural.

5
Mecânica dos Solos - vol. 1 – Benedito de Souza Bueno & Orencio Monje Vilar – Depto de
Geotecnia – Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo

26
A compacidade relativa pode ser obtida em laboratório, se bem que exista uma série de
divergências acerca da forma de executar o ensaio. Um dos mais utilizados métodos atualmente
é o D 2049-69 da ASTM (ASTM Test for the Relative Density of Cohesionless Soils - ref. 01).

3 - Estrutura dos Solos Finos

Em se tratando dos solos finos, a situação torna-se muito mais complexa, uma vez que
agora passa a interferir uma série de fatores, tais como as forças de superfície entre as partículas
e a concentração de íons, no líquido em que se deu a sedimentação.
As concepções clássicas acerca da estrutura dos solos finos devem-se a Terzaghi que
sugeriu a estrutura alveolar e a floculenta.
Na estrutura alveolar, característica de solos com partículas da ordem de 0,02 mm, a
força da gravidade e as forças de superfície quase se equivalem. As partículas sedimentando em
água ou em ar podem aderir-se tendendo a formar uma estrutura semelhante a um favo de
abelhas, conforme se mostra na Figura 21.

No caso de partículas menores que 0,02 mm, estas não sedimentam isoladamente por
causa do seu pequeno peso. Entretanto, estas partículas ainda -em suspensão podem vir a tocar-
se e unir-se, for mando grumos de peso maior que podem vir a sedimentar. Completada a
sedimentação, os diversos grumos formam a chamada estrutura floculenta, semelhante à
alveolar, mas agora os alvéolos são compostos por esses grumos, conforme se mostra na Figura
22.

27
Como em a natureza o processo de sedimentação envolve partículas dos mais diversos
tamanhos, as estruturas anteriormente descritas raramente ocorrem isoladamente.
A estrutura composta é formada por grãos grossos e por conjuntos de partículas finas
que proporcionam uma ligação entre as diversas partículas. A estrutura mostrada na Figura 23
ocorre, freqüentemente, quando a sedimentação se dá em ambiente marinho ou Iacustre, com
acentuada concentração de sais.

Interpretações mais recentes sugerem novas idéias sobre o mecanismo de formação da


estrutura floculada.
Imaginando partículas de solo fino sedimentado em meio aquoso, tem-se que essas
partículas carregadas negativamente podem estar envolvidas por cátions, os quais estarão livres
(os mais distantes) ou adsorvidos. Isso gera potenciais de atração e de repulsão que tendem a
variar com a distancia, com a concentração de íons e com a temperatura. Dessa forma, em
função desses potenciais de atração e repulsão, podem originar-se situações distintas, como a
que ocorre no estado disperso, em que as forças de repulsão fazem com que as partículas se
sedimentem separadamente, e adotem uma disposição paralela.
Quando os potenciais de atração prevalecem, as partículas tendem a aglutinar-se
formando o estado floculado. Tal pode se dar quando ocorre a sedimentação em água salgada,
pois a concentração de íons tende a aglutinar as partículas, formando os flóculos , que agora
sedimentam, sob a ação da gravidade, e originam a estrutura floculada.
Entretanto, como foi salientado, podem ocorrer situações intermediárias, em virtude da
concentração de íons. A Figura 24 mostra três estruturas que ocorrem por causa da
concentrarão de íons. No caso (a) tem-se uma estrutura floculada constituída em ambiente
salino de sedimentação (35 g/l de NaCl); em (b), a estrutura floculada constituída em ambiente
não salino e em (c) estrutura dispersa.
Como é fácil visualizar, nota-se que as estruturas dos solos finos, dada a forma e a
disposição das partículas que as compõem são bastante porosas, isto é, possuem um grande
volume de vazios o que confere a esses solos uma considerável compressibilidade. O aumento
de peso graças à disposição de novas camadas faz com que seja reduzido o volume de vazios,
com a conseqüente expulsão da água contida nesses vazios.
Compreende-se intuitivamente, que qualquer acréscimo de cargas (por causa de uma
construção por exemplo) sobre um solo desse tipo, tenderá a provocar uma diminuição do
volume de vazios dada a expulsão da água, uma vez que para a faixa de pressões normalmente

28
utilizadas na prática, as partículas sólidas do solo são praticamente incompreensíveis. Tal
fenômeno, de particular interesse para a Engenharia, constitui o fenômeno de adensamento do
solo, que será tratado futuramente (CAPÍTULO IX).

4 - Amolgamento e Sensibilidade das Argilas

Entende-se por amolgamento a operação de amassado da argila em todas as direções,


sem que ocorra alteração do teor de umidade. O amolgamento tende a destruir a estrutura
original do solo, isto é, elimina as ligações existentes desde a sua formação, e provoca uma
redução da resistência.
A maior ou menor perda de resistência de uma argila, que ocorre pelo amolgamento, é
medida pela sensibilidade dessa argila que é definida, como a relação entre resistências à
compressão simples (CAPÍTULO XIII) do estado indeformado e do estado amolgado, isto é:

Rc
St =
R'c

St - sensibilidade
Rc - amostra indeformada
R’c - amostra amolgada

As argilas, quanto à sensibilidade, classificam-se em:

St = 1 sem sensibilidade

2 < St < 4 pequena e média sensibilidade

29
St > 8 extra-sensíveis

Uma amostra amolgada comprime mais que a amostra indeformada, embora o seu
índice de compressão (CAPITULO IX) seja menor. O que realmente ocorre é que o
amolgamento elimina o pré-adensamento do solo e este passa agora a comprimir-se sob efeito
de seu próprio peso. Outra alteração importante é com referência à permeabilidade, que se torna
menor, quando o solo é amolgado.

5 - Tixotropia

A recuperação da resistência perdida pelo efeito do amolgamento recebe o nome de


tixotropia. Quando se revolve a argila, desequilibram-se as forças interpartículas, porém,
permanecendo a argila em repouso, gradualmente, os potenciais de atração e repulsão tendem a
um estado de equilíbrio mais estável, de maneira a recompor parte da resistência inicial.
O efeito da tixotropia é mais flagrante nas argilas montmoriloniticas. Tal propriedade
encontra grande utilização na prática como, por exemplo, na estabilização dos furos de paredes
diafragmáticas, dos furos de sondagens e de poços de petróleo por meio do emprego de lamas
bentoníticas.

30
CAPÍTULO V1

CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

1 - Introdução

Tem havido na Mecânica dos Solos um considerável esforço no sentido de criar um


sistema de classificação que, de fato, permita o agrupamento de solos dotados de
características similares, quer sob o aspecto genético, quer de comportamento. A grande
variedade de sistemas de classificação existente procura, quase sempre, em bases mais ou
menos arbitrárias, encontrar um princípio qualificador universal que possibilite agrupar a
grande variedade de solos existentes em classes, com o objetivo de não se facilitar os estudos
de caracterização, senão também antever o comportamento diante das solicitações, a que serão
submetidos.
Diferentemente das outras ciências, deve interessar à Mecânica dos Solos um sistema de
classificação que prefira o comportamento dos solos à 'sua constituição, à origem, à formação
etc. Não se quer, com isso, criar um desinteresse por estes ultimes aspectos. Eles terão uma
considerável importância, à medida que interferirem de forma significativa no comportamento
do solo.
Sob o aspecto mais prático pode-se dizer que e necessário lia ver várias classificações,
que possam atender mais especificamente aos vários campos da Geotecnia. Pode-se imaginar
que um sistema de classificação que atenda aos interesses da área de estradas não pode atender
com a mesma eficiência à área de fundações.
Em resumo, deve-se utilizar os sistemas de classificação existentes, com certa reserva,
tendo em conta para que fim o sistema foi proposto e sobre que solos o processo foi elaborado.
Ainda sob este último aspecto pode-se dizer que nós brasileiros devemos ter um cuidado
maior, visto que os países criadores destes sistemas de classificação possuem climas bem
diferentes do nosso, e portanto solos com condições particulares.
Vale ainda lembrar as palavras de Nogami, quando se refere aos sistemas de
classificação. Diz ele que nos países de origem, geralmente do Hemisfério Norte com climas
temperados, a fração areia e silte é quase totalmente composta por quartzo, enquanto nos solos
tropicais podem ocorrer minerais como feldspatos, micas, limonitas, magnetita, ilmenita etc.,
além de fragmentos de rochas e concreções lateríticas e que, por vezes, o mineral quartzo pode
mesmo estar ausente da fração areia de muitos destes solos.
De acordo com o que se espera dos sistemas de classificação, eles devem obedecer aos
seguintes quesitos.

a. ser simples, facilmente memorizável e permitir uma rápida determinação do grupo a que
o solo pertence, permitindo a classificação por meio de processos simples de análise
visual-táctil.

b. ser flexível, para tornar-se geral ou particular, quando o caso exigir.

c. ser capaz de permitir, uma expansão a "posteriori", permitindo subdivisões.

Dentre os vários sistemas de classificação existentes vale citar:

- classificação por tipos de solos;

- classificação genética geral;

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Mecânica dos Solos - vol. 1 – Benedito de Souza Bueno & Orencio Monje Vilar – Depto de
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- classificação granulométrica;

- classificação unificada (U.S. Corps of Engineers);

- classificação H.B.R. (Highway Research Board).

2 - Classificação Por Tipos De Solos

É um sistema classificação descritivo em que o reconhecido a que determinado grupo


pertence é baseado em análise visual-táctil (Capítulo II).

3 - Classificação Genética Geral

É um sistema de classificação também de natureza descritiva, sendo necessário para a


sua utilização um conhecimento da gênese dos solos, ou de uma forma que seja mais simples,
fazer uma análise de sua macroestutura da cor e da posição de coleta da amostra no perfil do
subsolo.
Foi proposta com a finalidade de ser usada em problemas de estradas: divide os solos
em três categorias, isto é:

a. Solo Superficial

Solo que constitui o horizonte superficial, normalmente contendo matéria orgânica.


Nesse horizonte concentra-se o campo de estudo da pedologia. Possui estrutura, cor e
constituição mineralógica diferentes das camadas inferiores. A espessura varia de alguns
decímetros a alguns metros.

b. Solo de Alteração

Solo proveniente da decomposição das rochas graças aos processos de jntemperismo.


Em condições normais, acha-se subjacente ao solo superficial. r um solo residual e pode,
freqüentemente, no Brasil, atingir até dezenas de metros. São solos de granulometria crescente
com a profundidade.

c. Solo Transportado

Solo originado do transporte e deposição de material, por meio dos processos


geológicos de superfície. A granulometria é mais ou menos uniforme, de acordo com o agente
transportador. Em condições normais, pode constituir as camadas aflorantes ou estar subjacente
ao solo superficial. Atinge, por vezes, espessuras de centenas de metros.

4 - Classificação Granulométrica

A composição granulométrica do solo, como foi visto no Capítulo lll, não só


corresponde à sua aparência visual e sensível, como determina, especialmente para os solos
grossos, as características de seu comportamento.

32
A determinação da curva granulométrica de um solo é tarefa simples e os métodos
atuais conduzem a uma exatidão razoável. NeIa os solos são designados pelo nome da fração
preponderante.
Esta última afirmação deve ser analisada com maior rigor, pois sabe-se que as
definições não deveriam ser baseadas simplesmente nas frações preponderantes, porquanto nem
sempre são elas que ditam o comportamento de um solo. Neste caso, preferindo-se agrupar os
solos quanto ao comportamento em detrimento das constituições, a classificação deveria
denominá-lo de acordo com a fração mais ativa, no seu comportamento.
Embora hoje recomendada mais para os solos grossos, a classificação granulométrica
tornou-se universalmente empregada. Não existe, entretanto uma concordância entre os
geotécnicos quanto ao intervalo de variação dos diâmetros de cada uma das frações que
compõem os solos. A Figura 25 dá uma idéia deste fato2.

Além das escalas granulométricas, foram grandemente utilizados no passado os


diagramas triangulares (triângulo de FERET), Figura 26, em que o solo era dividido em três
classes, isto é, areia, silte e argila. A soma das porcentagens destas três frações é 100%, e
conduzem a um ponto no interior do triângulo. Este ponto cai em áreas, nas quais o triângulo é
dividido, e que fornece a classificação do solo.

2
A faixa granulométrica especificada pela ABNT 6502/95 é diferente da antiga apresentada na Figura 26
e é semelhante à do MIT da mesma figura. Considerar, adicionalmente, que entre 0,06 e 0,2mm situam-se
as areias finas; entre 0,2 e 0,6mm, as areias médias e entre 0,6 e 2mm, as areias grossas.

33
5 - Classificação do U.S. Corps of Engineers (Unificada)

Esta classificação apresentada por Arthur Casagrande, em 1942, visava classificar os


solos com o propósito de utilizá-los na construção de aeroportos, razão pela qual é conhecida
também como classificação para aeroporto. Foi depois adotada pelo U.S. Corps of Engineers
que lhe deu o nome e a divulgou.
Além da granulometria, os limites de consistência são utilizados como elementos
qualificadores.
Cada solo é representado por duas letras: um prefixo e um sufixo. O prefixo é uma das
subdivisões ligada ao tipo; o sufixo, as características, granulométricas e à plasticidade.
Os materiais terrosos são divididos em duas grandes classes: material grosso (solos
tendo mais de 50% retidos na # 200) e material fino (solos tendo mais de 50% passando na #
200):
A classe dos materiais grosseiros foi dividida em dois grupos: pedregulhos e areias,
representados pelos prefixos G (gravel) e S (sand) - iniciais de suas classificações em Inglês,
respectivamente.
Cada um destes dois grupos foi dividido em quatro subgrupos, representados pelos seguintes
sufixos:

W (well) = material limpo, bem graduado


P (poor) = material limpo, mal graduado
C (clay) = material bem graduado com bom aglutinante argiloso
F (fine) = material com excesso de finos

Os materiais W possuem diferentes coeficientes de não uniformidade, com valores até


acima de 20 e os materiais P, geralmente inferiores a 5.
Podem-se obter por meio da combinação destas letras os seguintes subgrupos: GW; GP;
GC; GF; SW; SP; SC; SF.
A classe dos materiais finos foi dividida em três grupos: silte e areia muito fina, argila
inorgânica e silte e argilas orgânicas, representados pelo prefixo M (Mo) ; C (Clay) e O
(Organic) , respectivamente. Cada um destes grupos são subdivididos em dois subgrupos
representados pelos sufixos:

H (High) - solos com alta compressibilidade, apresentando LL acima de 50.


L (Low) - solos com baixa compressibilidade, apresentando LL abaixo de 50.

34
Podem-se obter com a combinação destas letras os seguintes subgrupos: ML; MH; CL;
CH; OF; e OH.
Além dos subgrupos já citados existe um outro tipo de solo que não se enquadra em
nenhum deles, e são os solos turfosos, constituídos pelo elevado teor de matéria orgânica, tendo
alta compressibilidade. Este subgrupo foi designado pela sua abreviatura em Inglês Pt (peat).
Para uma visualização mais fácil da classificação dos solos finos, pode-se lançar mão da
carta de plasticidade. Nela, apresenta-se uma variação do limite de liquidez, em abscissas, e, em
função do índice de plasticidade, em ordenadas. A carta 6 dividi da em regiões limitadas por
duas linhas. A primeira, linha A com a equação IP = 0,73 (LL-20) separa os solos orgânicos
dos inorgânicos. A segunda, linha B, paralela ao eixo das ordenadas, tem equação LL = 50. A
sua direita situam-se os solos de alta compressibilidade; à sua esquerda, os de baixa
compressibilidade.
Quando um material cai em uma zona fronteiriça, entre duas regiões, pode-se classificá-
lo com letras dobradas (como CL - ML, por exemplo), uma vez que ele não possui
características específicas de determinada região. Os Quadros IV, V e VI resumem a
classificação do U.S. Public Roads (Unificada) e a Figura 27 mostra a carta de plasticidade.

6 - Classificação HBR

A classificação HBR provém de uma adaptação da classificação do U.S. Public Roads.


Ela fundamenta-se na granulometria, limite de liquidez e índice de plasticidade dos solos. Tal
como a classificação do Public Roads, ela foi proposta com o objetivo de ser usada na área de
estradas. Algumas modificações foram introduzidas na classificação original, entre as quais a
criação do chama do índice de grupo, número inteiro com intervalo de variação entre 0 e 20.
O índice de grupo estabelece a ordenação dos solos dentro d um grupo, conforme suas
aptidões, sendo pior o solo que apresentar maior índice de grupo, como, por exemplo, o solo
A4(7) e melhor do que o solo A4(9).
Pode-se determinar o IG por meio da fórmula abaixo ou com uso dos gráficos da Figura
28.

35
Q U A D R O IV: Classificação Unificada - Guia Classificação do Solo
Critérios para determinação dos símbolos e no mes Grupo No me do Grupo
dos grupos usando ensaios de laboratório (2)
Pedregulhos CU ≥ 4, 1 ≤ Cc ≤ 3 GW Pedregulho bem
Pedregulhos: Limpos graduado (5)
mais que 50% Pp, 200 < 5% CU < 4, e/ou 1 > Cc > 3 GP Pedregulho mal
da fração (3) graduado (5)
grossa, re- Pedregulhos Finos clas ML, GM Pedregulho
Solos tido na com finos sificados MH siltoso (5, 6, 7)
grossos #4 Pp, 200 > 12% como CL GC Pedregulho
(3) CH argiloso (5, 6, 7)
Pr, 200 > 50% Areias lim- CU ≥ 6, 1 ≤ Cc ≤ 3 SW areia bem
Areias: pas (4) graduada (8)
mais que 50% Pp, 200 < 5% CU < 6, e/ou 1 > Cc > 3 SP areia mal
da fração graduada (8)
grossa passa Areias com Finos clas ML, SM areia siltosa
na # 4 finos (4) sificados MH (6, 7, 8)
Pp, 200 > 12% como CL, SC areia argilosa
CH (6, 7, 8)
IP >, 7 pontos sobre ou CL argila pouco plás-
Siltes e Inorgâ- acima da linha A (9) tica (10, 11, 12)
nicos IP < 4, pontos abaixo da ML silte (10, 11, 12)
argilas linha A (9)
OL argila orgânica (10,11,12,13)
LL < 50% Orgânicos (LL)s < 0,75 (LL)n
Solos silte orgânico (10, 11, 12, 14)
Pontos sobre ou acima CH argila muito plás-
Finos
Siltes e Inorgâ- da linha A tica (10, 11, 12)
Pp, 200 > 50% nicos Pontos abaixo da linha MH silte elástico (10,11,12)
argilas A
OH argila orgânica (10,11,12,15)
LL ≥ 50% Orgânicos (LL)s < 0,75 (LL)n
silte orgânico (10,11,12,16)
Solos altamente orgânicos Principalmente matéria orgânica, cor PT Turfa
escura e cheiro

36
1: Válido para material passando na peneira de 75mm abertura
2: Se contiver seixos e matacões acrescentar “com seixos e matacões”.
Solos com Pp, 200 entre 5-12% exigem símbolo duplo.
3: Pedregulhos 4: Areias
GW - GM: Pedregulho bem graduado com silte SW - SM: Areia bem graduada com silte
GW - GC: Pedregulho bem graduado com argila SW - SC: Areia bem graduada com
argila
GP - GM: Pedregulho mal graduado com silte SP - SM: Areia mal graduada com silte
GP - GC: Pedregulho mal graduado com argila SP - SC: Areia mal graduada com argila

5: Se % Areia ≥ 15, acrescentar “com areia”


6. Se finos: CL - ML, usar símbolo duplo: GC - GM; SC - SM
7: Se finos são orgânicos, acrescentar, “com finos orgânicos”
8. Se % Pedregulho ≥ 15, acrescentar “com pedregulho”
9: Se pontos estão na área hacgurada, é CL - ML (argila - siltosa)
10: Se Pr, 200 : 15-29%, por: “com areia” ou “com pedregulho”
Se Pr, 200 ≥ 30%: 11: % Pedregulho < 15%, acrescentar arenoso
12: % Areia < 15%, acrescentar pedregulhoso
13: Para IP > 4, e pontos sobre ou acima da linha A. 14: Para IP ≤ 4 ou pontos abaixo da linha
A. 15: Para pontos sobre ou acima da linha A. 16: Para pontos abaixo da linha A

Obs.: CU = D60/D10 Cc = D230/D10 x D60

37
38
IG = 0,2 a + 0,005 a.c + 0,01 b.d

a = porcentagem do solo que passa na malha 200 (ASTM) menos 35. Se a porcentagem for
menor do que 35, adota-se 35 e se for maior do que 75, adota-se 75. Desta forma,
estabelece-se um número inteiro cujo intervalo de variação é de 0 a 40.

a = (% φ < # 200) - 35

b = porcentagem do solo que passa na malha 200 (ASTM) menos de 15. Se a porcentagem for
menor do que 15, adota-se 15, e se for maior do que 55 adota-se 55. Desta forma, cria-se
um número inteiro com intervalo de variação entre 0 e 40.

b = (% φ < # 200) - 15

39
c = valor do limite de liquidez do material menos valor de LL for maior do que 60, adota-se 60 e
se for menor do que 40, adota-se 40. Assim, cria-se um número inteiro, variando de O a
20.

c = LL - 40

d = valor do índice de plasticidade do material menos 10. Se este valor for menor do que 10,
adota-se 10 e se for maior do que 30, adota-se 30. Estabelece-se, deste modo, um número
inteiro com intervalo de variação entre O e 20.

d = lP - 10

Os solos são classificados em 7 grupos, de acordo com a granulometria (# 10, 50, 100,
200) e de conformidade com os intervalos de variação dos limites de consistência e índice de
grupo.
O Quadro VII fornece um resumo das características de cada grupo. A classificação é
feita da esquerda para a direita do quadro.
Nele pode-se notar:

a. Os solos grossos foram divididos em três grupos, A1; A2 e A3.

Grupo A1: Pedregulho e areia grossa bem graduados, com pouca ou nenhuma plasticidade.

Grupo A2: Pedregulho e areia grossa bem graduados, com material cimentante de natureza
friável ou plástica.

Grupo A3: Areias finas não plásticas.

b. Os solos finos foram divididos em quatro grupos, A4, A5, A6 e A7.

Grupo A4: Solos siltosos com pequena quantidade de material grosso e de argila.

Grupo A5: Solos siltosos com pequena quantidade de material grosso e de argila, rico em mica e
diatomita.

Grupo A6: Argilas siltosas medianamente plásticas com pouco ou nenhum material grosso.

Grupo A7: Argilas plásticas com presença de matéria orgânica.

40
41
CAPÍTULO V3I

O PRINCÍPIO DAS TENSÕES EFETIVAS

1- Definições

O comportamento de um solo quando submetido a carregamentos, pode ser mais bem


visualizado, quando se imagina o solo composto das três fases físicas (sólida, líquida e/ou
gasosa ocupando os poros). De imediato, decorre que as tensões de cisalhamento induzidas pela
necessidade deverão ser suportadas pelo esqueleto sólido, uma vez que a água (ar) não oferece
resistência ao cisalhamento.
Por outro lado, as tensões normais, que se desenvolvem em qualquer plano, serão
suportadas, parte pelo esqueleto sólido e parte pela fase fluida. Particularmente, no caso dos
solos saturados, teríamos uma parcela da tensão normal atuando nos contatos interpartículas e a
outra parcela atuando como pressão na água situada nos vazios.
A pressão que atua na água intersticial é chamada de pressão neutra (u) e a sua origem
pode-se dar pelas mais variadas razões, algumas delas bastante complexas, como, por exemplo,
pelo cisalhamento ou adensamento do solo. A situação mais simples é que ocorre pela
submersão do solo (Figura 29).

Neste caso, como os poros se interligam, a água intersticial está em contato com a água
situada sobre o solo e, portanto, a pressão neutra em qualquer ponto do plano a-a será igual à
pressão hidrostática.

u = γw hw = γw (h1 + h2)

A pressão que atua nos contatos interpartículas é denominada tensão efetiva (σ’) e é a
que responde por todas as características de deformação e resistência do arcabouço sólido do
solo.
A seguinte relação constitui um princípio da Mecânica dos Solos e vale para qualquer
solo saturado, independente da área de contacto entre as partículas:

σ'= σ - u

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Mecânica dos Solos - vol. 1 – Benedito de Souza Bueno & Orencio Monje Vilar – Depto de
Geotecnia – Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo

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Portanto, a tensão efetiva (σ') corresponde à diferença entre a tensão total (σ) e a
pressão neutra (u).
Vale ressaltar ainda que as considerações, aqui feitas, se aplicam somente no caso em
que não haja movimento de água no solo, e que a pressão neutra, sendo hidrostática, num ponto
qualquer, tenha a mesma intensidade, em qualquer direção.

2 - lmplicações

As principais conseqüências da distinção entre as tensões to tais e as tensões efetivas


estão diretamente ligadas à compressão e à resistência do solo.
Seja o elemento de solo da Figura 30, comprimido por tensões iguais, em todas as faces.

A variação de volume a que o elemento de solo estará sujeito não fica determinada pela
tensão normal total (∆σ) aplicada, como poderia ser à primeira vista, mas sim pela tensão
efetiva. Isso pode ser exposto por meio da seguinte expressão:

∆V
= −C (∆σ − ∆u )
v

∆V /V - variação de volume
C - compressibilidade do esqueleto do solo

Como se pode notar, uma variação de volume pode ocorrer sem que haja aumento de
tensão total sobre o solo; basta que haja uma variação da pressão neutra. Tal conclusão permite
explicar os recalques a que estão sujeitas estruturas apoiadas sobre solos de baixa
permeabilidade, e que ocorrem ao longo do tempo. A tensão total aplicada pelo peso da
estrutura e suportada primeiramente pela água intersticial, e só à medida que esse acréscimo de
pressões na água for dissipado (pela expulsão da água dos vazios, que se dá lentamente) é que o
arcabouço sólido passa a suportar as tensões. Assim, ocorre uma variação na pressão neutra, o

43
que provoca uma variação de volume do solo e, conseqüentemente o recalque da estrutura
(Capítulo IX).
No tocante à resistência dos solos (Capítulo XIII), temos que ela é diretamente
influenciada pelo atrito que se desenvolve nos contatos interpartículas. Tal atrito, é obviamente
função das forças normais interpartículas, em vez de força normal total (que atua também na
água intersticial).

3 - Massa Específica Submersa

Seja o perfil de solo esquematizado na Figura 29. A tensão total (σ) no plano a-a se
deverá à contribuição do peso de água e do peso de solo:

σ = γw. h1 + γsat . h2

A pressão neutra (u) no plano considerado corresponde à pressão hidrostática:

u = γw (h1 + h2)

Dessa forma a tensão efetiva será:

σ‘ = σ - u = γw . h1 + γsat . h2 - γw (h1 + h2)

σ' = (γsat - γw) h2 = γ' h2

A massa específica submersa ou efetiva (γ'), que corresponde à diferença entre a massa
especifica saturada do solo e a massa específica da água, permite calcular a tensão efetiva, em
qualquer plano de um solo submerso.
O valor de γ‘ pode ser obtido, também, tendo em conta o Princípio de Arquimedes.
Veja a Figura 31 em que se fez o volume dá amostra igual a 1.

A massa de sólidos é (1 - n) ys e pelo volume de sólidos é (I - n) YW.

Dessa forma, temos, pelo Princípio de Arquimedes:

γ' = (l -n) γs - (l - n) - γw ou

γ' = (I -n) (γs - γw)

44
45
CAPÍTULO Vll4

TENSÕES ATUANTES NUM MACIÇO DE TERRA

l - Introdução

Os esforços no interior de certa massa de solo são produzidos, genericamente, pelas


cargas externas aplicadas ao solo o pelo peso do próprio solo. As considerações acerca dos
esforços introduzidos por um carregamento externo são bastante complexas e o seu tratamento,
normalmente se dá, a partir das hipóteses formuladas pela teoria da elasticidade, conforme se
verá no item 3.

2 - Esforços Geostáticos

No caso das tensões ocasionadas pelo peso próprio do solo (tensões geostáticas), é fácil
verificar que, se a superfície do terreno for horizontal, as tensões totais, a uma profundidade
qualquer, são obtidas considerando apenas o peso do solo sobrejacente (Figura 32.a).
Sendo a superfície do terreno, horizontal, não existem tensões de cisalhamento nos
planos horizontais, e dessa forma a tensão vertical total causada pelo solo é uma tensão
principal.
Freqüentemente, a massa específica varia com a profundidade. Se o solo é estratificado
e a massa específica de cada estreita é diferente (Figura 32.b), podem-se calcular as tensões
verticais totais da seguinte forma:

σv = ∑ γi . zi

O valor de γi a considerar será a massa específica natural ou a saturada dependendo das


condições em que o solo se encontre.
Estando o solo submerso, pode-se calcular a tensão total (σ), a pressão neutra (u) e a
tensão efetiva (σ') conforme se mostrou no item 3 do Capítulo VI.
Vale lembrar que a tensão efetiva (σ') num plano qualquer, poderá ser calculada
diretamente, utilizando as massas específicas submersas dos solos sobrejacentes ao plano
considerado.
E de fundamental importância notar que no elemento de solo (da Figura 3-'.a), além da
tensão vertical por causa do peso próprio, também ocorrem tensões horizontais, que são uma
parcela da tensão vertical atuante, ou seja:

σh = K . σv ,

na qual K é denominado coeficiente de empuxo.

Quando não ocorrem deformações na massa do solo, temos o coeficiente de repouso (K


= K0), que pode ser determinado pela Teoria da Elasticidade, admitindo o solo como
homogêneo e isótropo. Veja a Figura 32.a.
Se não ocorrem deformações horizontais, então podemos escrever, por exemplo:

4
Mecânica dos Solos - vol. 1 – Benedito de Souza Bueno & Orencio Monje Vilar – Depto de
Geotecnia – Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo

46
µσ v σ h σh
εx = − −µ =0
E E E

µ = coficiente de Poisson
E = módulo de Elasticidade
σ h = K0 ⋅ σ v

ou

σ v K 0σ v Kσ
µ − − µ 0 v = 0,
E E E

portanto,

µ
K0 =
1− µ

O conhecimento do coeficiente de empuxo é de fundamental importância para resolução


de muitos problemas da Engenharia de Solos (muros de arrimo, escavações, etc.), pois permite
determinar as tensões horizontais em massa de solo e, por extensão a resultante dessas tensões é
denominada empuxo. O estudo dos empuxos será efetuado em outro capítulo.
No caso de a superfície do terreno não ser horizontal, considerando o caso de um talude
infinito, como se mostra na Figura 33.a, tem-se que o peso da coluna de soIo (P) tem a mesma
linha de ação da resultante (R), uma vez que Fe e Fd são iguais, por estarem a mesma
profundidade, e têm a mesma linha de ação para que haja equilíbrio estático. Disso resulta que
R = P.
O valor de P, considerando largura infinita no plano normal ao papel, será:
P = γ b⋅h

Porém, como b = bo cos i, P = γ bo h cos i

Tem-se ainda que

N = P cos i e T = P sen i .

47
Tais forças agem numa seção igual a bo x 1 , portanto, (Figura 3.3.b):

P
σv = σv = γ h cos i
b0
N
σn = σn = γ h cos2 i
b0
T
τ= τ = γ h sen i cos i
b0

3 - Propagação de Tensões no Solo

Os carregamentos aplicados à superfície de um terreno induzem tensões que se


propagam no interior da massa de solo. A distribuição desses esforços é calculada, empregando
as soluções tidas a partir da Teoria da Elasticidade.
Conquanto sejam muitas as críticas que se levantem às hipóteses formuladas na T.E., a
sua aplicação aos casos práticos é bastante freqüente, dada a sua simplicidade, quando
comparadas a outros tipos de solução.
Existem soluções para uma grande variedade de tipos de carregamento, entretanto,
consideraremos apenas os casos mais freqüentes, sem nos preocuparmos com o seu
desenvolvimento matemático.

3.1- A Solução de Boussinesq

Os esforços induzidos por uma carga concentrada atuando na superfície horizontal de


um semi-espaço infinito homogêneo, isótropo e elástico linear foram calculados primeiramente
por Boussinesq, em 1885.
A Figura 34 representa a carga concentrada P, atuando num ponto O, que é a origem de
um sistema cartesiano ortogonal. O ponto A, em que se deseja calcular as tensões, tem

48
coordenadas x, y e z, sendo ainda r a distância radial de A'O; R o vetor posição de A, e θ o
ângulo entre R e z.
As tensões verticais, radiais e de cisalhamento serão:

5

3P   r  
2
3P cos θ 3P z
5 3 2
σz = = ⋅ = 1 +   
2π z 2 2π R 5 2πz 2   z  

P  r2z  R − z 
σr = 3 5 − (1 − 2µ ) 2 
2π  R  R ⋅ r 

É fácil verificar pela fórmula de σz, que há distribuição de tensões simétricas em cada
pIano horizontal, no interior da massa de solo. Em determinado pIano, a uma profundidade z, a
tensão máxima ocorre na mesma vertical de aplicação P (θ = 0o); por outro Iado, a medida que
nos distanciamos horizontalmente do ponto de aplicação de P (aumento de r) diminui a
intensidade das tensões aplicadas, até um ponto em a carga P, praticamente não exerce mais
influência. Essa situação é esquematizada na Figura 35, para alguns planos horizontais.

49
Unindo-se os pontos da massa de solo solicitadas por igual tensão, conforme vem
esquematizado na Figura 36, temos as ISÓBARAS. O corpo sólido constituindo de conjunto de
isóbaras forma o que se chama de bulbo de tensões.

As tensões se propagam até grandes profundidades, entretanto, para fins práticos,


costuma-se arbitrar que o solo é efetivamente solicitado até a profundidade delimitada, pela
isóbara de IO% dá carga aplicada à superfície.

3.2 - Extensão da Solução de Boussinesq

Além da carga concentrada, soluções para outros tipos de carregamentos, muito


freqüentes na prática, foram estipuladas a partir da solução proposta por Boussinesq.

a. Carregamento Uniformemente Distribuído sobre uma Placa Retangular

50
Para o caso de uma área retangular de lados a e b uniformemente carregada (Figura 37),
as tensões em ponto situado a uma profundidade z, na mesma vertical do vértice O são dadas
pela seguinte fórmula.

 
( ) ( )
1 1
P  2mn m 2 + n 2 + 1 2 m 2 + n 2 + 2 2mn m 2 + n 2 + 1 2 
σz = ⋅ + arctg 2
4π  m 2 + n 2 + m 2 ⋅ n 2 + 1 m 2 + n 2 + 1 m + n 2 − m 2 ⋅ n 2 + 1
 

a b
em que m = e n=
z c

A mesma expressão pode ser escrita adimensionalmente, resultando:

 
( ) ( )
1 1
σz 1  2mn m + n + 1
2 2 2 m +n +2
2 2
2mn m + n + 1 2 
2 2
= ⋅ + arctg 2
P 4π  m 2 + n 2 + m 2 ⋅ n 2 + 1 m 2 + n 2 + 1 m + n 2 − m 2 ⋅ n 2 + 1
 

Chamando o segundo termo dessa expressão de Iσ, a tensão vertical (σz) será:

σ z = P ⋅ Iσ

Os valores de Iσ podem ser determinados em um gráfico, em função de m e n. Esse


Gráfico é apresentado na Figura 38 e dessa forma, para calcular σ z em um ponto, sob um

51
vértice de uma área uniformemente carregada, basta determinar a e b e os valores de m e n, e
obter Iσ do gráfico.

É importante salientar que todas as deduções estão referenciadas a um sistema de


ordenadas, no qual o vértice O coincide com a origem. Para calcular o acréscimo de tensões em
um ponto que não passe pela vertical por O, deve-se adicionar e subtrair convenientemente
áreas carregadas ao problema em questão ' Uma situação desse tipo e esquematizada na Figura
39.
Seja calcular a tensão vertical no ponto R produzida pela placa carregada ABDE:

Iσ R = Iσ ACGR − Iσ BCHR − Iσ DFGR + Iσ EFHR

52
A Figura 40 mostra o bulbo de tensões para uma placa quadrada uniformemente
carregada.

b. Carregamento Uniforme Sobre uma Placa Retangular de Comprimento Infinito (Sapata


Corrida)

Em se tratando de uma placa retangular em que uma das dimensões é muito maior que a
outra (como, por exemplo, no caso das sapatas corridas, fundação bastante comum em
residências), os esforços introduzidos na massa de solo podem ser calculados por meio da
fórmula desenvolvida por Carothers e Terzaghi. Veja o esquema da Figura 41, em que a placa
tem largura 2 b, e está carregada uniformemente com p. As tensões num ponto A situado a uma
profundidade z e distante x do centro da placa são dadas pelas seguintes expressões:

53
P
σ = (α + sen α ⋅ cos 2 β )
π
P
σ x = (α − sen α ⋅ cos 2 β )
π
P
τ xy = (sen α ⋅ sen 2 β )
π

54
O bulbo de pressões correspondentes a esse tipo de carregamento é mostrado na Figura
42.

55
c. Carregamento Uniformemente Distribuído sobre uma Área Circular

Os esforços produzidos por uma placa uniformemente carregada, na vertical que passa
pelo centro da placa, podem ser calculados por meio da integração da equação de Boussinesq,
para toda a Área circular.
Tal integração foi realizada por Love, e na Figura 43 têm-se as características
geométricas da área carregada.
A tensão efetiva vertical produzida no ponto A, situado a uma profundidade z é dada
por:

 3

   2

  1  
σ z = p 1 −   
 1 +  r   
2

   z   
 

Essa expressão na prática é simplificada com a introdução de um fator de influência, o


qual é tabelado em função de r/z. Dessa forma, a expressão para cálculo de σ z fica:

σ z = p ⋅ Iσ
3
 2
 
1
sendo Iσ = 1 −  
  r 2 
1 +   
 z 

56
No Quadro Vlll têm-se alguns valores de Iσ para distintas relações r/z.

R/z 0,10 0,25 0,5 0,75 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00
Iσ 0,014 0,087 0,284 0,488 0,646 0,829 0,910 0,949 0,968
R/z 3,50 4,00 5,00 6,00 7,00 8,00 9,00 10,00 ∞
Iσ 0,979 0,986 0,992 0,995 0,997 0,9980 0,9986 0,999 1

d. Carregamento Triangular de Comprimento Infinito

A solução para este tipo de carregamento encontra grande aplicação na avaliação de


tensões produzidas interior de certa massa de solo por aterros, barragens etc. Conquanto
existam soluções para diversas formas geométricas de carregamento (triângulos retângulo,
escaleno; trapézios etc.), apontaremos a solução para o caso de carregamento em forma de um
triângulo isósceles e em forma de um trapézio retângulo A solução para esses casos foi proposta
Carothers, a disposição geométrica do carregamento triangular é mostrada na Figura 44.

P x 
σz = α1 + α 2 + (α1 − α 2 )
π b 

P x 2 z r1r2 
σx = α1 + α 2 + (α1 − α 2 ) − ln 2 
π b b ro 

A Figura 45 apresenta a geometria do carregamento, em forma de trapézio retângulo de


comprimento infinito. O acréscimo de tensão provocado pelo carregamento será:

57
P x z 
σz =  β + α − 2 ( x − b )
π a r2 

P x 2z r z 
σx = β + α + ⋅ ln o + 2 ( x − b )
π a a r1 r2 

3.3 - O Gráfico de Newmark

Baseado na equação de Love, que fornece o acréscimo de tensões ocasionadas por uma
placa circular uniformemente carregada, Newmark desenvolveu um método gráfico que permite
obter os esforços verticais produzidos por qualquer condição de carregamento uniforme,
atuando na superfície do terreno.

A aplicação desse gráfico é bastante útil e simples, sobretudo quando se tem várias
placas, de diferentes formas, as quais aplicam ao terreno diferentes carregamentos.

A equação de Love pode ser escrita da seguinte forma:

58
3
 2
 
σz  1  = Iσ
= 1− −
P  r 
2

 1+   
 z 

Para construir o gráfico de Newmark atribuem-se valores a Iσ , e calcula-se o raio da


placa necessário para produzir o acréscimo de pressões a profundidade z.
Exemplificando: Ao fazer Iσ = 0,1 , resulta que r/z = 0,27, ou seja, tendo-se um círculo
de raio r = 0,27 z (Figura 46) este produziria num ponto A, situado na vertical que passa pelo
centro, um acréscimo de tensão:

0,1 p
σz = = 0,005 p
20

Se o círculo de r = 0,27z for dividido em partes iguais (nas cartas de Newmark,


geralmente 20 partes), cada uma delas contribuíra com a mesma fração para o esforço final σ z ;
no caso de 20 partes, cada uma delas contribuirá com:

0,1 p
σz = = 0,005 p
20

Fazendo Iσ = 0,2 , resulta r/z = 0,40, ou seja, para que no ponto A haja uma tensão σ z
= 0,2 p é necessário que a area carregada tenha r = 0,4 z.
Na Figura 46, concêntrico com o círculo anterior, pode-se desenhar outro circulo de r =
0,40 z. Como o primeiro circulo produzia um acréscimo de 0,1p, é evidente que a coroa circular
agora gerada produz outro acréscimo igual a 0,1p: Prolongando-se os raios que dividiam o
primeiro círculo em partes iguais, teremos a coroa circular dividida em partes cuja influência 6
também 0,005 P.
A parcela de contribuição de cada uma das partes é chamada de unidade de influência, e
no exemplo dado vale 0,005.

59
Na Figura 47 , apresenta-se um gráfico de Newmark com a respectiva escala (z) a partir
do qual foi construído. Para calcular o acréscimo de tensões ocasionadas por placa
uniformemente carregada, faz-se coincidir o centro do gráfico de Newmark com o ponto em que
se deseja calcular esse acréscimo. A área carregada é desenhada numa escala tal que a
profundidade, em que se deseja conhecer o acréscimo, fique representada pelo valor de z, a
partir do qual foi elaborado o gráfico. Em seguida, contam-se as unidades de, influência
englobadas pelo contorno da área, e calcula-se a tensão vertical, que é dada por:

σz = p⋅ N ⋅I ,

em que: N - número de fatores de influência


T - unidade de influência (geralmente 0,005 )

60
3.4 A Solução de Westergaard

Nos depósitos sedimentares em que aparecem entre meadas camadas de material fino e
lentes de areia, a solução de Boussinesq não se aplica, uma vez que esses depósitos têm
capacidade de oferecer grande resistência a deformações laterais.
Para simular esta condição de anisotropia, Westergaard introduziu um novo modelo
matemático, baseado nas mesmas condições de carregamento de Boussinesq (Figura 48), e no
qual as deformações laterais são totalmente restringidas. Segundo Westergaard, a tensão vertical
a uma profundidade z é dada por:

p (1 − 2µ ) / (2 − 2µ )
σz =
2πz 2 3
 r
2
 2
(1 − 2µ ) / (2 − 2µ ) +   
 z 

em que µ é o coeficiente de Poisson.

Quando µ = 0, a equação se simplifica para:

p 1
σz =
πz 2 3
  r  2
2

 1 + 2  
  z  

61
Da mesma forma que ocorreu na solução de Boussinesq, a de Westergaard pode ser
estendida para outros tipos de carregamento. A Figura 49 mostra os bulbos de tensão para placa
quadrada e retangular de comprimento infinito, de acordo com Westergaard.

3.5 - Comparação entre as Soluções de Boussinesq e Westergaard e Algumas Simplificações.

Na comparação das duas soluções, para acréscimo de tensões verticais, pode-se concluir
que:

a. para pequenas relações r/z, a solução de Boussinesq fornece valores maiores;

b. para r/z, cerca de 1,8, as duas soluções fornecem valores aproximadamente iguais;

e. para r/z, maior que 1,8, a equação de Westergaard fornece valores maiores;

d. para uma placa retangular uniformemente carregada, quando a maior dimensão (l)
for maior que três vezes a menor dimensão (b) (l > 3b),pode-se considerar essa
placa como de comprimento infinito;

e. para uma profundidade (z) maior que três vezes a largura da placa uniformemente
carregada (z >3b), pode-se considerar a carga concentrada atuando no centro de
gravidade ela placa e calcular o acréscimo de tensões, aplicando a fórmula de
Boussinesq para carga pontual.

62
Para obtenção de estimativas de produção de tensões, ao longo da profundidade, pode-
se admitir que haja uma distribuição uniforme de tensões e arcas que aumentam
progressivamente com a profundidade.Costuma-se arbitrar que essas tensões se propagam
segundo uma inclinação de 2:1 ou segundo algum angulo (geralmente 30o). De acordo com a
Figura 50, teríamos, se admitirmos uma distribuição de 2:1:

P
q=
(B + z )(L + z )
No caso de placa de forma quadrada:

P
q=
( B + z )2

63
3.6 - Limitações da Teoria da Elasticidade

Ao tratar da aplicação das soluções da Teoria da Elasticidade ao problema de


propagações de tensões no solo, deve-se atentar para três discrepâncias que surgem das
hipóteses daquela teoria, quando se refere a solos:

a. O solo pode ser admitido como elástico somente para pequenas deformações. Dessa forma
não há proporcionalidade exata entre tensão e deformação, sobretudo quando as
deformações são grandes. Nesse caso, é necessário dividir o carregamento, que provoca a
deformação, em estádios sucessivos e obter para cada carregamento parâmetros elásticos
diferentes. Portanto, para a aplicação da Teoria da Elasticidade, necessário que os
acréscimos de tensão sejam pequenos e que o estado final de tensões esteja muito aquém da
ruptura.

b. O solo não apresenta um comportamento isótropo, conforme estipulado nas hipóteses da


Teoria da Elasticidade. Geralmente, os módulos de elasticidade são diferentes nas várias
direções, em se tratando de solos.
Essa anisotropia não se prende ao fato de o subsolo ser constituído por camadas de
diferentes solos, visto que solos essencialmente diferentes, como por exemplo, uma argila
rija e uma areia compacta podem apresentar um comportamento elástico semelhante.
A restrição que se faz à homogeneidade do solo é que nos solos arenosos, a resistência
aumenta com o confinamento (e portanto com a profundidade); o mesmo ocorre nas argilas
normalmente adensadas, e dessa forma é fácil notar que o módulo de elasticidade varia
com a profundidade, o que elimina as características de homogeneidade desses solos.

c. Segundo a Teoria da Elasticidade, o solo deve constituir um semi-espaço infinito


homogêneo. Essa condição pode ser satisfeita, quando o solo se apresenta uniforme
numa área compreendida por distâncias de cerca de quatro a cinco vezes a menor
dimensão da placa carregada.

64
CAPÍTUL0 VII1I

PERMEABILIDADE DOS SOLOS

l - Introdução

Como já se viu, o solo é constituído de uma fase sólida e de uma fase fluida (água e/ou
ar). A fase fluida ocupa os vazios deixados pelas partículas sólidas que compõem o esqueleto
do solo. Particularmente, em se tratando da água, esta pode estar presente no solo sob as mais
variadas formas.
Nos solos grossos, em que as forças de superfície são inexpressivas, essa água se
encontra livre entre as partículas sólidas, podendo estar sob equilíbrio hidrostático ou podendo
fluir. sob a ação da gravidade, desde que haja uma carga hidráulica.
Para os solos finos, a situação se torna mais complexa, uma vez que passam a atuar
forças de superfície de grande intensidade. Assim, nesses solos, existe uma camada de água
adsorvida, a qual pode estar sujeita a pressões muito altas., por causa das forças de atração
existentes entre as partículas. Próximo às partículas essa água pode se encontrar solidificada,
mesmo a temperatura ambiente, e, a medida que vai aumentando a distancia, a água tende a
tornar-se menos viscosa, graças ao decréscimo de pressões. Esses filmes de água adsorvida
propiciam um vinculo entre as partículas, de forma que lhes confira uma resistência intrínseca
chamada coesão verdadeira.
O restante de água existente nesses solos finos se encontra livre, podendo fluir por entre
as partículas, desde que haja um potencial hidráulico para tal.
A maior ou menor facilidade que as partículas de água encontram para fluir por entre os
vazios do solo, constitui a propriedade chamada permeabilidade do solo.

2 - Leis de Darcy e de Bernouilli

Existem dois tipos de escoamento para os fluidos reais, laminar e o turbulento, os quais
são regidos por leis diferentes da
Mecânica dos Fluidos.
No âmbito da Mecânica dos Solos, interessa apenas o escoamento laminar, no qual as
partículas do fluido se movem em camadas, segundo trajetórias retas e paralelas. O escoamento
laminar fica determinado por uma velocidade crítica, abaixo da qual toda a tendência à
turbulência é absorvida pela viscosidade do fluido. Verificou-se, experimentalmente, que a
velocidade crítica, para escoamento em tubos, corresponde a um número de Reynolds de cerca
de 2000.
A lei de Darcy, válida para escoamento laminar, pode ser expressa da seguinte forma
(Figura 51):

v = K ⋅i ,

na qual

v - velocidade de descarga
K - coeficiente de permeabilidade de Darcy
i = AH/L - gradiente hidráulico: representa a perda de carga (h) que decorreu da
percolação da água numa distancia L.

1
Mecânica dos Solos - vol. 1 – Benedito de Souza Bueno & Orencio Monje Vilar – Depto de
Geotecnia – Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo

65
Essa lei pode ser expressa, também, da seguinte forma:

Q = K ⋅i ⋅ A

na qual

Q - vazão

A - área normal (secção) à direita do escoamento.

É importante notar que a velocidade (v) da lei de Darcy representa a velocidade de


descarga e não a velocidade de percolação (vp) da água através dos poros do solo. Conquanto
haja algumas restrições quanto à sua aplicação, essa lei é utilizada, com muita freqüência, em
muitos tópicos da Mecânica dos Solos, dada a sua simplicidade e razoável precisão.
A lei de Bernouilli resulta da aplicação do principio de conservação de energia ao
escoamento de um fluido, e, em nosso caso a água. A energia que um fluido incompressível,
em escoamento permanente, possui, consiste em parcelas ocasionadas pela pressão
(piezométrica) , pela velocidade (cinética) e pela posição (altimétrica). Assim, na direção do
escoamento, é possível sintetizar o princípio de conservação da energia, por meio da seguinte
expressão, que constitui a lei de Bernouilli:

v12
u1 u2 v22
HT = + + z1 = + + z2 = cte .
γ 2g γ 2g

Nessa expressão, tem-se uma altura de carga de pressão (u/γw); uma carga cinética
2
v /2g e uma carga altimétrica (z).
A figura 52 mostra um esquema da carga total atuante em determinada secção de um
escoamento.
Nos solos, a velocidade de percolação da água é pequenas par cela de carga cinética é
quase desprezível, assim a carga total existente numa determinada seção é igual à soma das
parcelas de carga de pressão e de carga altimétrica:

66
u
H = +z
γw

Por outro lado, quando da percolação ocorre: uma perda de carga (∆H) por causa do
atrito viscoso da água com as partículas de solo. Esse atrito proporciona o aparecimento das
chamadas forças de percolação, ás quais serão ventiladas mais adiante. Assim a equação de
Bernouilli se resume a:

u1 u2
H = + z1 = + z2 + ∆H
γ γ

A Figura 53 mostra uma linha de fluxo de água através de um solo.


Dessa forma entre as duas secções (1),e (2) ocorre uma perde carga por causa do atrito
viscoso igual a:

u  u 
∆H =  1 + z1  −  2 + z2 
γ  γ 

3 - Determinação do Coeficiente de Permeabilidade

O coeficiente de permeabiIidade de um soIo pode ser obtido por meio de métodos


diretos e indiretos. Os métodos diretos baseiam-se em ensaios de laboratório sobre amostras
representativas ou em ensaios de campo. Os métodos indiretos se utilizam de correlações com
características do solo facilmente determináveis.
3.1 - Métodos Diretos

Dentre os métodos diretos, destacam-se os permeâmetros que são aparelhos destinados


a medir a permeabilidade dos solos, em laboratório e o ensaio de bombeamento, realizado "in
situ". Ambos utilizam a lei de Darcy, para o cálculo do Coeficiente de permeabilidade.
A Figura 54 mostra um esquema do ensaio de permeabilidade, a carga Constante: O
corpo de prova, convenientemente colocado no permeâmetro, e submetido a uma altura h de
carga (diferença de nível entre o reservatório e inferior e tem área A e largura L.

67
A água percolada pelo corpo de prova é recolhida numa proveta graduada, tomando-se
medida de tempo.

Pela lei de Darcy:

v h
Q= = K ⋅ i ⋅ A mas i = , então
t L

v h vL
= K ⋅ ⋅ A , donde K =
t L A⋅h⋅t

68
Este tipo de ensaio é empregado para solos de permeabilidade alta (areias e
pedregulhos), uma vez que nos solos pouco permeáveis, o intervalo de tempo necessário para
que percole uma quantidade apreciável de água e bastante grande. Neste caso, utiliza-se o
ensaio, à carga variável, que está esquematizado na Figura 55.

Anota-se o tempo necessário para o nível de água ir no tubo de área (a), de ho até h1.
O volume de água, em virtude de uma variação de nível (dh), será:
dv = −a ⋅ d ⋅ h

Pela Lei de Darcy, o volume correspondente à água que percolará pela amostra, será:

h
dv = K ⋅ i ⋅ A ⋅ dt onde i =
L

Dessa forma:

h
− a ⋅ dh = + K A ⋅ dt
L

Integrando entre (ho, to) e (h1, t1), tem-se:

h1 t
dh KA 1
− a∫
L t∫o
= dt
ho h

donde:

ho KA
a ⋅ ln = ∆t
h1 L

Assim,

69
a ⋅ L h0
K= ln
A ⋅ ∆t h1

Ou, como é mais freqüente:

a⋅L h
K = 2,3 log 0
A ⋅ ∆t h1

É freqüente, também obter o coeficiente de permeabilidade diretamente, em laboratório,


no ensaio de adensamento, obedecendo basicamente ao mesmo princípio, à carga variável.
Deve-se frisar que tais ensaios são realizados sobre amostras de pequenas dimensões, as
quais não representam as características gerais do solo no campo, com suas descontinuidades e
particularidades. A maneira mais realista de obter o coeficiente de permeabilidade é mediante
ensaios “in situ”, tais como o ensaio de perda de água sob pressão (bombeamento), que é
bastante utilizado para o estudo da permeabilidade de maciços rochosos que servirão de
fundação para barragens.
A descrição, mais pormenorizada de alguns métodos para obtenção do coeficiente de
permeabilidade “in situ” pode ser encontrada nas referências 7 e 15.

3.2 - Métodos Indiretos

Pode-se estimar o coeficiente de permeabilidade de areias por intermédio de diversas


fórmulas, como por exemplo, a desenvolvida por Hazen:

K = C ⋅ De2 (cm/s),

em que:

De - é o diâmetro efetivo do solo, em centímetros;


C - é um coeficiente que varia entre 90 e 120, sendo 100 um valor
frequentemente utilizado .

Uma restrição que se impõe para utilização dessa formula é a de que o coeficiente de
não uniformidade (Cu) seja menor que 5.
Em se tratando de siltes e argilas, pode-se obter o coeficiente de permeabilidade,
indiretamente, por meio de dados fornecidos pelo ensaio de adensamento(CAPÍTUL0 IX):

T ⋅ H d2
K= ⋅ mv ⋅ γ w ,
t

em que:

T - fator tempo, para a porcentagem de adensamento;


Hd - distância de drenagem;
t - tempo necessário para que ocorra a porcentagem de adensamento;
mv - coeficiente de deformação volumétrica;
γw - massa específica da água.

70
4 - Fatores que Interferem na Permeabilidade

Os fatores que exercem papel decisivo na permeabilidade de um solo estão ligados às


características do fluido, que está percolando e ao tipo de solo.
O peso especifico e a viscosidade (normalmente a água) são duas propriedades do
fluido que exercem influência significativa. Sabe-se que essas duas propriedades variam, em
função da temperatura, entretanto, a viscosidade é muito mais afetada. Quando se determina o
coeficiente de permeabilidade de um solo, costuma-se apresentá-lo em referência à temperatura
de 2OO°C, para padronizar o efeito da variação da viscosidade com a temperatura, por meio da
expressão:

µT
K 20 = ⋅ KT , em que:
µ 20

K20 - coeficiente de permeabilidade a 20°C;


KT - coeficiente de permeabilidade a T° C;
µT - viscosidade da água a T° C;

µ2O - viscosidade da água a 20°C.

As principais características do solo que afetam a permeabilidade são o tamanho das


partículas, o índice de vazios, o grau de saturação e a estrutura. Pode-se notar que qualquer
tentativa no sentido de procurar avaliar o efeito isolado de cada uma das características
enumeradas é difícil, porquanto elas, em geral, são interdependentes.
A titulo de informação vamos apresentar alguns aspectos qualitativos, referentes à
interferência das características citadas:

a. tamanho das partículas: a permeabilidade varia grosseiramente com o quadrado do


tamanho das partículas(K = f(D2)). Tal constatação apóia-se na lei de Poiseuille, e foi
utilizada por Hazen, para avaliar o coeficiente de permeabilidade das areias a contar do
diâmetro efetivo;

b. Índice de vazios: constatações experimentais e mesmo a equação de Kozeny-Carman


parecem mostrar que o coeficiente de permeabilidade pode ser colocado como uma reta,
em função do índice de vazios:

e3 e2
K =α K=β K = γ ⋅ e2
1+ e 1+ e

Tem-se notado que a relação e x logK aproxima-se bastante de uma reta, para quase todos
os tipos de solos;

c. grau de saturação: quanto maior o grau de saturação do solo que esta sendo ensaiado, maior
será a sua permeabilidade, pois a presença de ar nos vazios tende a impedir a passagem da
água;

d estrutura: amostra de mesmo solo, com mesmos índices de vazios tenderão a apresentar
permeabilidades diferentes, em função da estrutura. A amostra no estado disperso terá uma
Permeabilidade menor que a amostra de estrutura floculada.
Tal pode ser aplicado ao caso dos maciços compactados (barragens de terra, por ex.) em
que o arranjo das partículas condiciona a permeabilidade. Neste caso, verifica-se que a
permeabilidade na direção horizontal é maior que na vertical.

71
Finalizando este item, são apresentadas as equações de Poiseuille e de Kozeny-Carman, as
quais auxiliam a entender a influência das características citadas.
A lei de Poiseuille aplica-se ao escoamento através de ca pilares e foi estendida aos solos
por Taylor, com a fórmula:

γ e3
K = CDs2
µ 1+ e

em que:

K - coeficiente de permeabilidade de Darcy;


C - fator de forma;
Ds - um diâmetro efetivo das partículas;
γ - peso específico do fluido;
µ - viscosidade do fluido;
e - índice de vazios do solo.

A equação de Kozeny-Carman aplica-se à avaliação da permeabilidade dos meios porosos:

1 γ e3
K= , em que:
k0 ⋅ S 2 µ 1 + e

ko - fator que depende da forma dos poros e da tortuosidade da trajetória da linha de fluxo;
S - superfície específica.

5 - Forças de Percolação

Havendo um movimento de água através de um solo, ocorre uma transferência de


energia da água para as partículas sólidas do solo, por causa do atrito viscoso que se desenvolve.
A energia transferida é medida pela perda de carga e a força correspondente à essa energia é
chamada de força de percolação. Tal força transfere-se de grão a grão (é, portanto, uma força
efetiva) e tem o mesmo sentido do fluxo d água.
O conhecimento do mecanismo e a determinação do valor dessa força é de fundamental
importância para a Engenharia, uma vez que ela 6 responsável, muitas vezes, por problemas de
instabilidade em cortes, aterros e barragens. Deve-se ainda a essa força o aparecimento dos
fenômenos de "piping" e de areia movediça, bem como a instabilidade do fundo de escavações
em areias ("heive").
A Figura 56 permite visualizar como a energia se transmite para as partículas de solo.
A amostra de areia de comprimento (L) e de área (A) está submetida à força (P1) graças à carga
(h1) do reservatório da esquerda e a força (P2), em virtude de (h2).
As forças P1 e P2 serão:

P1 = γ w ⋅ h1 ⋅ A e P2 = γ w ⋅ h2 ⋅ A

A força resultante, que deve ser consumida por atrito, será:

F = P1 − P2 = γ w ⋅ A ⋅ (h1 − h2 )

Na Figura 56, o gradiente hidráulico é:

72
h1 − h2 ∆h
i= =
L L

Portanto a força de percolação será:

Fp = γ w ⋅ i ⋅ A ⋅ L = γ w ⋅ i ⋅ v ,

a qual é aplicada uniformemente num volume (V) igual a A x L. Dessa forma, a força por
unidade de volume corresponderá a:

γ w ⋅i ⋅ A⋅ L
fp = ou f p = i ⋅ γ w
A⋅ L

Surge agora uma nova alternativa para o calculo do equilíbrio estático de massa de solo
sujeita à percolação de água. Assim duas opções podem ser seguidas:

a. utilizar o peso total do elemento de solo combinado com força neutra atuante, na superfície
desse elemento;

b. utilizar o peso efetivo combinado com a força efetiva, por causa da percolação, aplicada ao
elemento de solo, no sentido do fluxo.

Essas duas alternativas serão utilizadas no capítulo seguinte, referente às areias


movediças.

6 - Areia Movediça

As tensões efetivas são as que realmente controlam todas as características de


deformação e resistência dos solos. No caso dos solos arenosos, é a tensão efetiva, atuando em
determinado plano, que determina a resistência ao cisalhamento desses solos (CAPÍTULO

73
XIII). Essa tensão efetiva (σ'), multiplicada pelo correspondente coeficiente de atrito (tg φ')
fornece a resistência do cisalhamento do solo (s).

s = σ‘ tg φ = (σ - u) tg φ‘

O fenômeno da areia movediça pode ocorrer sempre que a areia a submetida a um fluxo
ascendente de água, de forma que a força de percolação gerada venha a igualar ou superar a
força efetiva graças ao solo. A Figura 57 mostra um esquema explicando como isso poderá
ocorrer.

A areia está submetida a um fluxo ascendente de água, ou seja, a água percola do ramo,
da esquerda para a direita, em virtude da carga h, que é dissipada, por atrito, na areia.

A tensão total no ponto A é:

σ A = γ w ⋅ h1 + γ sat ⋅ L ,

e a pressão neutra vale:

u = γ w (h + h1 + L )

Ora, se a altura da carga (h) for aumentada até que a pressão neutra iguale a tensão total,
obviamente a tensão efetiva será zero (s = (σ - u) tg φ‘ = 0). A partir daí o solo terá as
propriedades de um líquido, não fornecendo condições de supor te, para qualquer sólido que se
venha a apoiar sobre ele.
O valor da carga h, nesse instante, é denominado de altura de carga crítica (hc), e para
sua obtenção basta igualar a tensão total e a pressão neutra:

γ w ⋅ h1 + γ sat ⋅ L = γ w (hc + h1 + L )

74
hc (γ sat − γ w ) γ '
ic = = =
L γw γw

O valor do gradiente hidráulico crítico (ic = hc/L) será, fazendo γw = 1 g/cm3,


numericamente igual à massa específica submersa.
O mesmo valor poderá ser obtido, pensando em termos de tensões efetivas, ou seja,
combinando a força efetiva graças ao solo, com a força de percolação atuando no sentido
ascendente:

F ' = (γ sat − γ w ) ⋅ A ⋅ L = γ '⋅v


F = i ⋅γ w ⋅ v
γ'
i = ic =
γw

A ocorrência da areia movediça pode ser evitada pela construção de algum elemento
que proporcione um acréscimo de tensões efetivas, sem que haja aumento das pressões neutras.
Tais elementos denominados filtros, são compostos, normalmente, por camadas de solos
granulares e devem alimentar a tensão efetiva e manter as partículas da areia em suas posições
originais.

7- Filtros de Proteção

Freqüentemente, há necessidade de drenar a água que percola através de, um solo, e isso
original forças de percolação, fonte de sérios problemas.
Dentre esses problemas, destaca-se a erosão que pode conduzir a situações catastróficas,
como no caso de ruptura de barragens por "piping". Portanto, quando da drenagem de solos
passíveis de erosão. há necessidade de protege-los fazendo construir camadas de proteção, que
permitam a livre drenagem de água, porém mantenham em suas posições as partículas de solo.
Tais camadas, denominadas filtros de proteção, deveria ser construídos com materiais
granulares (areia e pedregulho) e satisfazer duas condições básicas, a saber:

a. os vazios do material de proteção devem ser suficientemente pequenos, de forma que


impeça a passagem das partículas de solos a ser protegido.

b. os vazios do material devem ser suficientemente grandes de forma que propiciem a


livre drenagem das águas e o controle das forças de percolação, impedindo o
desenvolvimento de altas pressões hidrostáticas, isto é, a carga dissipada no) filtro
deve ser pequena.

Para atender a essas condições básicas, Terzaghi estipulou duas relações bastante
empregados para a escolha de um material de filtro.

A condição a é satisfeita por:

D15f < 4 a 5 D85s

e a combinação b por:

D15f > 4 a 5 D15s

Na Figura 58, tem-se um exemplo de como escolher a curva granulométrica de um


filtro, para proteger um solo, do qual se conhece a curva granulométrica.

75
Estabelecidos os limites para D15f (pontos A e B) devem-se desenhar curvas
granulométricas de coeficiente de não uniformidade, aproximadamente igual ao do solo a ser
protegido. Um solo que se situe nessa faixa assim determinada poderá servir de filtro para o solo
a ser protegido.
É importante notar que o critério de Terzaghi não fornece as dimensões do filtro, mas
apenas uma faixa de variação para a sua composição granulométrica. Para estabelecer as
dimensões, é necessário atentar para as condições hidráulicas: do problema.
A Figura 59 apresenta dois casos de utilização de filtros.

76
No caso a, temos uma barragem de terra através da qual há um fluxo de água, graças às
diferenças de carga entre montante e jusante. Com o intuito de proteger a barragem do
fenômeno de erosão interna (piping) e para permitir limei rápida drenagem da água que percola
através da barragem, usa-se construir filtros, como, por exemplo, o filtro horizontal
esquematizado no desenho.

No caso b, a água percola através do solo arenoso da fundação do reservatório. Pelo


desenho, pode-se notar que próximo a face de jusante das estacas-prancha, o fluxo é vertical e
ascendente, o que, pode originar o fenômeno de areia movediça. Para combater esse problema,
faz-se construir um filtro de material granular, que tenderá a contrapor-se às forças de
percolação, pelo aumento do peso efetivo, e que permitirá a livre drenagem das águas.
Após o critério de Terzaghi, foram estipulados outros critérios, alguns dos quais são
listados a seguir:

U.S. Army

D15f < 5 D85s

D50f > 25 D50s

Esse critério presta-se a qualquer tipo de solo, exceto para as argilas médias a altamente
plásticas. Para essas argilas D15f pode chegar até 0,4 mm, e o critério de D50 pode ser
desprezado. Entretanto, o material de filtro deve ser bem graduado para evitar segregação e
para tanto é necessário um coeficiente de não uniformidade menor que 20.

Sherard

Quando o material a proteger contiver pedregulhos, o filtro devera ser projetado com base na
curva correspondente ao material menor que 1".

Araken Silveira

Este critério, baseado numa concepção diferente das tradicionais, utiliza a curva de
distribuição de vazios do filtro, obtida estatisticamente a partir da curva de distribuição
granulométrica, para os estados fofo e compacto.
A partir da curva de vazios, determina-se a possibilidade de penetração das partículas
do solo no material de filtro. Estabelecidas as probabilidades de penetração, para determinados
níveis de confiança, é possível determinar sua espessura de filtro capaz de reduzir ao mínimo a
possibilidade de passagem das partículas do solo pelo material de filtro.
Atualmente, tem crescido a utilização de mantas sintéticas, como material de filtros,
sobretudo na execução de drenos longitudinais, em estradas, Figura 60. Em que pese não ter
havido tempo suficiente para um teste completo desse material, o comportamento tem sido
satisfatório e o seu uso tende a generalizar-se. É desnecessário frisar que, havendo necessidade
de o filtro ser construído por duas ou mais camadas de materiais diferentes, deve-se obedecer
aos critérios estabelecidos para duas camadas adjacentes.

77
8 - Capilaridade

Denomina-se capilaridade à propriedade que os líquidos apresentam de atingirem, em


tubos de pequeno diâmetro, pontos acima do nível freático. O nível freático é a superfície em
que atua a pressão atmosférica e, na Mecânica dos Solos, é tomada como origem do referencial,
para as pressões neutras, e no nível freático a pressão neutra e igual a zero.
Os fenômenos de capilaridade estão associados diretamente à tensão superficial, sendo a
que atua em toda a superfície de um líquido, como decorrência da ação da energia superficial
livre.
Um líquido, e no nosso caso a água, por causa da atração existente entre suas moléculas,
tende a atrair qualquer molécula que se encontro a superfície, para seu interior, originando uma
tendência para diminuir a sua superfície (e isso explica a forma esférica das gotas de líquido).
A energia superficial livre é definida como o trabalho necessário para aumentar a
superfície livre de um líquido em 1cm2. Quando em contato com um sólido, uma gota de líquido
tende a molhar o sólido, dependendo da atração molecular entre o líquido e o sólido. No caso da
água, esta molha o vidro, dando origem a meniscos Pode-se provar que, por força da tensão
superficial, a pressão no lado côncavo de um menisco é maior que a do lado convexo, e que a
diferença dessas pressões está relacionada com a tensão superficial, de acordo com a seguinte
expressão:

2Ts
∆p =
a

Ts - tensão superficial
a - raio de curvatura do menisco
Como decorrência dessa diferença de pressões, tem-se a ascensão de água, num tubo
capilar.

78
Segundo a Figura 61.a, para que haja equilíbrio, a água tem que se elevar no tubo
capilar até uma altura hc, tal que a pressão hidrostática equilibre a diferença de pressões:

2Ts
∆p = = γ w ⋅ hc
a
r
a=
cosθ
2 ⋅ Ts ⋅ cosθ
hc =
γw ⋅r

Para o caso de água pura e vidro limpo, o ângulo de contato (θ) é zero e a expressão
para a altura de ascensão capilar fica:

2 ⋅ Ts
hc =
γw ⋅r

A mesma expressão para hc pode ser obtida de outra forma. Consideremos a Figura
61.c: Fazendo o equilíbrio de forças verticais, e como pa, é o referencial para as pressões neutras
vem:

2π ⋅ r ⋅ Ts cosθ + π ⋅ r 2 ⋅ u = 0
− 2Ts ⋅ cosθ
u=
r

Veja o ponto a da Figura 61.c. As pressões têm que ser equilibradas, para que não haja
fluxo:

− 2Ts ⋅ cosθ
γ whc = = Patm = 0
r
2 ⋅ Ts ⋅ cosθ
hc =
γw ⋅r

Na Figura 61.b, tem-se o diagrama de pressões neutras e pode-se notar aí um importante


efeito por causa da capilaridade. A pressão neutra graças à ascensão capilar é negativa pois,
como atua Patm no lado côncavo do menisco, e esta e tomada como origem do referencial, para
medida das pressões neutras, decorre que u < O, porquanto as pressões no lado convexo são
menores que as do lado côncavo).

79
No caso dos solos, pode-se imaginar os seus poros interligados e formando canalículos,
que funcionam como tubos capilares. Assim, pode-se explicar, dentro da massa, a ocorrência de
zonas saturadas de solo, que estão situadas acima do lençol freático.
A água em contato com o solo também tenderá a formar meniscos. Nos pontos de
contacto dos meniscos com os grãos (Figura 62) evidentemente, agirão pressões de contacto,
tendendo a comprimir os grãos. Essas pressões de contato (pressões neutras negativas) somam-
se as tensões totais:

σ ‘ = σ - (-u) = σ +u,

fazendo com que a tensão efetiva realmente atuante seja maior que a total. Esse acréscimo de
tensão proporciona um acréscimo de resistência conhecido como coesão aparente, responsável,
por ex., pela estabilidade de taludes em areia úmida e pela construção de castelos com areia
úmida nas praias. Uma vez eliminada a ação das forças capilares (como, por exemplo, pela
saturação) desaparece a vantagem de coesão aparente.
Outra decorrência importante refere-se às argilas, quando submetidas à secagem. À
medida que se processa a secagem, diminui consideravelmente o raio de curvatura dos
meniscos, fazendo com que as pressões de contato aumentam e tendam a aproximar as
partículas, o que provoca uma contração do solo.

80
CAPÍTULO IX2

COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO

1. Introdução

Todos os materiais existentes em a natureza se deformam, quando submetidos a


esforços. A estrutura multifásica característica dos solos confere-lhe um comportamento
próprio, tensão-deformação, o qual normalmente depende do tempo.
Um esforço de compressão aplicado a um solo fará com que ele varie seu volume, o
qual poderá ser devido a uma compressão da fase sólida, a uma compressão da fase fluida ou a
uma drenagem da fase fluida dos vazios.
Ante a grandeza dos esforços aplicados na prática, e admitindo-se o solo saturado tem-
se que tanto a compressibilidade da fase sólida como a da fase fluida serão quase desprezíveis e
a única razão, para que ocorra uma variação de volume, será uma redução dos vazios do solo
com a conseqüente expulsão da água intersticial.
Evidentemente, a saída dessa água dependerá da permeabilidade do solo: no caso das
areias, em que a permeabilidade é alta, a água poderá drenar com bastante facilidade e
rapidamente; nas argilas, porém essa expulsão de agira dos vazios necessitara de algum tempo,
até que se conduza o solo a um novo estado de equilíbrio, sob as tensões aplicadas. Essas
variações volumétricas que se processam nos solos finos, ao longo do tempo, constituem o
fenômeno de adensamento, e são as responsáveis pelos recalques a que estão sujeitas estruturas
apoiadas sobre esses solos.
Na realidade, o recalque final que uma estrutura sofrerá será composto de outras
parcelas como por ex. o recalque imediato ou elástico, estudado na 'Teoria da Elasticidade.
Como não existe uma relação tensão-deformação-tempo capaz de englobar to das as
particularidades e complexidades do comportamento real do solo, as parcelas de recalque de um
solo são estudadas separadamente. Neste capítulo, serão apresentados os fundamentos das
variações volumétricas, que se processam no decorrer do tempo, e que se devem a uma
expulsão de água dos vazios do solo.
Para o cálculo do recalque total - ∆H - que uma camada de solo compreensível de
espessura - H - passou por uma variação do índice de vazios - ∆e - consideremos o esquema da
Figura 63.

2
Mecânica dos Solos - vol. 1 – Benedito de Souza Bueno & Orencio Monje Vilar – Depto de
Geotecnia – Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo

81
Admitindo que a compressão seja unidirecional e que os sólidos sejam incompressíveis,
tem-se:

∆V = V − V = Vv − Vv ,

porém,

Vv V
ei = e ef = v
Vs Vs
∆V = ei ⋅ Vs − e f ⋅ Vs = ∆e ⋅ Vs

e como a compressão só se dá na direção vertical, a área (A) da amostra de solo permanece


constante:

A ⋅ ∆H = ∆e ⋅ A ⋅ H s
∆H = ∆e ⋅ H s

contudo,

Vv H − H s
ei = = ,
Vs Hs

Assim,

∆e
∆H = ⋅H
1 + ei

2. Analogia e Mecânica do Processo de Adensamento

O processo de adensamento, entendido como a variação de volume que se processa num


solo, graças à expulsão gradual da água de seus vazios, pode ser bem visualizado, quando se
utiliza o modelo esquematizado na Figura 64.
Imaginando o solo saturado, teríamos que a mola representa o esqueleto sólido (que vai
suportar as tensões efetivas); a água, admitida incompressível, representará a água presente nos
vazios do solo (que vai suportar a pressão neutra) e a torneira representará a permeabilidade do
solo (a maior ou menor facilidade com que a água sairá dos vazios). O elemento de solo está
em equilíbrio, sob um carregamento σo' e nesse instante a pressão neutra vale uo e a tensão
efetiva σ' (Figura 64.a).
Ao aplicar um acréscimo de tensões - ∆σ' - (Figura 64.b), estando a torneira fechada,
todo o acréscimo será suportado pela água, porém, se a torneira for aberta, gradativamente, a
água começará a drenar, e ocorrera uma variação de volume. Quando isso ocorre, o acréscimo
∆σ' será suportado, parte pela água e parte pela mola, que agora é solicitada (Figura 64.c).
À medida que vai se dando o processo, mais água vai saindo, até um ponto em que toda
a sobrepressão na água é dissipada e o carregamento ∆σo' é suportado integralmente pela mola
(Figura 64.d). Nesse instante, completa-se o processo de adensamento, e o sistema novamente
fica em equilíbrio, com um volume menor. Por tanto, o processo de adensamento corresponde a
uma transferência gradual do acréscimo de pressão neutra (provocado por um carrega mente
efetivo) para tensão efetiva. Tal transferência se dá ao longo do tempo, e envolve um fluxo de
água com correspondente redução de volume do solo.

82
A Figura 65 representa, qualitativamente, as variações de tensões e de volume que, se
processam ao longo do fenômeno de adensamento.

O andamento do processo de adensamento pode ser acompanhado por meio da seguinte


relação, denominada porcentagem de adensamento:

∆Vt
Uz =
∆Vt = ∞

83
Nessa expressão, ∆V, representa a variação de volume após um tempo t; ∆Vt = ∞
representa a variação total de volume, após completado o adensamento e Uz é a porcentagem de
adensamento de um elemento de solo, situado a uma profundidade z, num tempo t.
A porcentagem de adensamento pode ser assim expressa:

∆Vt ∆ut u −u
Uz = = = i
∆Vt = ∞ ∆ut = ∞ ui − u0

em que ∆ut e ∆ut =∞ são as pressões neutras, após um tempo t e após t =∞ ; ui é a sobrepressão
hidrostática, logo após a aplicação do acréscimo de carga ∆σ‘; u é a sobrepressão num tempo t e
uo é a pressão neutra existente na água. Se uo for igual a zero,

u
Uz = 1−
ui

3. Teoria do Adensamento de Terzaghi

O estudo teórico do adensamento permite obter urna avaliação da dissipação das


sobrepressões hidrostáticas (e, conseqüentemente, da variação de volume) ao longo do tempo, a
que um elemento de solo estará sujeito, dentro de uma camada compressível. Tal estudo foi
feito inicialmente por Terzaghi, para o caso de compressão unidirecional, e constitui a base
pioneira, para afirmação da Mecânica dos Solos como ciência.
A partir dos princípios da Hidráulica, 'Terzaghi elaborou a sua teoria, tendo, entretanto,
que fazer algumas simplificações, para o modelo de solo utilizado.
As hipóteses básicas de Terzaghi são:

a. solo homogêneo e completamente saturado


b. partículas sólidas e água intersticial incompressíveis
c. adensamento unidirecional;
d. escoamento de água unidirecional e validez da lei de Darcy;
e. determinadas características, que, na realidade variam com a pressão, assumidas
como constantes.,
f. extensão a toda massa de solo das teorias que se aplicam aos elementos
infinitesimais;
g. relação linear entre a variação do índice de vazios e a das tensões aplicadas.

Ao admitir escoamento unidirecional de água, algumas imprecisões aparecem, quando


se tem o caso real de compressão tridimensional, entretanto, a hipótese condicionante de toda a
teoria é a que prescreve a relação linear entre índice de vazios e variação de pressões. Admitir
tal hipótese significa admitir que toda variação volumétrica se deve à expulsão de água dos
vazios, e que se afasta em muitos casos da realidade, pois ocorrem juntamente com o
adensamento, deformações elásticas e outras, sob tensões constantes, porém crescentes com o
tempo (creep). As demais hipóteses podem facilmente ser reproduzidas em laboratório ou se
aproximam bem da realidade.
Para a dedução da equação fundamental do adensamento, considere-se a massa de solo
representada na Figura 66.

84
Veja o elemento de solo situado à profundidade z. As equações regentes do processo de
adensamento serão:

a. equilíbrio estático:

σ v = γ ⋅ z + ∆σ '

b. relação tensão-deformação:

∂e
= − av
∂σ 'v

em que av é denominado coeficiente de compressibilidade e, de acordo com a hipótese de


Terzaghi:

∆e
av = −
∆σ 'v

c. equação de continuidade do fluxo unidirecional:

k ∂ 2u dV
− ⋅ =
γw ∂z 2 dt

A combinação dessas três equações permite obter a equação fundamental do


adensamento.
Considere-se a Figura 66. No instante de aplicação da carga, a sobrepressão
hidrostática, na face superior do elemento, será u, e na face inferior: u + ∂u / ∂z ⋅ dz .
O gradiente hidráulico é i = −∂h / dz , e a velocidade de fluxo será, pela Lei de Darcy:

∂h
v = k ⋅ i = −k ⋅
∂z

porém, a sobrepressão hidrostática (u) corresponde a u=γw.h, portanto:

85
k ∂u
dV = −
γ w ∂z

Para obter a variação de volume do elemento de solo, unitária, basta considerar a


diferença entre o volume de água que entra e o que sai, num intervalo de tempo dt:

k ∂u
entra (face inferior): dV1 = − ⋅ dt
γ w ∂z
k  ∂u ∂u 2 
sai (face superior): dV2 = −  + dz  ⋅ dt
γ w  ∂z ∂z 2 

k  ∂u 2 
dV1 − dV2 =  2 ⋅ dz  ⋅ dt = dV
γ w  ∂z 

Por outro lado, admitindo compressão unidirecional, essa mesma variação de volume
pode ser expressa da seguinte forma:

de
dV = ⋅ dz
1+ e

mas como

de
av = −
dσ 'v

av
dV = − dσ 'v ⋅dz
1+ e

Como a tensão total é constante, temos:

∆σ = σ’v + u = cte.

Diferenciando, tem-se

dσ’v = -du ,

o que nos permite obter:

av
dV = du ⋅ dz
1+ e

Igualando as expressões,

av k ∂ 2u k (1 + e ) ∂ 2u ∂u
⋅ du ⋅ dz = ⋅ 2 ⋅ dz ⋅ dt ⋅ ⋅ =
1+ e γ w ∂z av ⋅ γ w ∂z 2 ∂t

86
Esta é a equação fundamental do adensamento, que nos permite calcular a sobrepressão
hidrostática num ponto, dentro de massa de solo sujeita a um processo de adensamento
unidirecional.
Denomina-se coeficiente de adensamento (cv) à propriedade do solo, admitida como
constante para cada acréscimo de tensões, que reúne todas as características do solo que
interferem na velocidade de adensamento.

k (1 + e ) k
cv = = ,
av ⋅ γ w mv ⋅ γ w

em que mv = av / (1 + e ) é denominado coeficiente de deformação volumétrica.

A equação fundamental do adensamento pode ser assim expressa:

∂ 2u ∂u
cv =
∂z 2 ∂z

Para a resolução da equação fundamental, deve-se atentar para as condições de contorno


inerentes à camada de solo compressível e ao carregamento. Evidentemente, cada condição de
contorno particular afetará a solução.

4. Solução da Equação Fundamental do Adensamento

A solução que será apresentada refere-se às seguintes condições de contorno:

a. a camada compressível está entre duas camadas de elevada permeabilidade, isto é,


ela será drenada por ambas as faces. Definindo-se distância de drenagem (Hd)
como a máxima distância que uma partícula de água terá que percorrer, até sair da
camada compressível, teríamos, nesse caso (Figura 67.a), Hd = H/2.

No caso da Figura 67.b, Hd = H, pois uma partícula de água situada imediatamente


sobre a rocha teria que percorrer toda a espessura da camada de argila até atingir
uma face drenante;

b. a camada de argila receberá uma sobrecarga que se propagará linearmente, ao


longo da profundidade (como um carregamento ocasionado por um aterro extenso,
por exemplo);

c. imediatamente após a aplicação do carregamento, a sobrepressão hidrostática inicial,


em qualquer ponto da argila, será igual ao acréscimo de tensões (∆u = ∆σ'), tal
como se viu na analogia mecânica do adensamento.

87
Matematicamente, tais condições podem ser expressas da seguinte forma:

a. para z = 0, u = 0

b. para z = H = 2 Hd, u = 0

c. para t = 0, u = ui = ∆σ‘

Aplicando essas condições a equação fundamental, obtém-se o valor da sobrepressão


hidrostática, que resta dissipar em uma camada, em processo de adensamento. O
desenvolvimento matemático será aqui omitido, podendo-se consultar as referências 2 e 27, para
maiores minúcias.


 2ui Mz  − M 2Tv
u= ∑  M sen e
H d 
m=0 

π
Nessa expressão, m = ⋅ (2m + 1) , m é inteiro, e
2

cv ⋅ t
Tv =
H d2

é um fator adimensional, chamado de fator tempo. Tal fator excluída solução todas as
características do solo, que interferem no processo de adensamento.

5. Porcentagem de Adensamento

Para se obter a porcentagem de adensamento (Uz) de um elemento situado a uma cota z,


após decorrido um intervalo de tempo t, basta substituir na expressão de Uz o valor de u obtido:

ui − u u ∞
 2 M 
= 1 − = 1 − ∑  sen z e − M Tv
2
Uz =
ui ui m=0 M Hd 

Atribuindo valores a z/Hd e a Tv, pode-se construir um gráfico (Figura 68) que ilustra
bastante o processo de adensamento.

88
Pode-se notar que o processo de adensamento é simétrico com relação ao centro da
camada, e que ele se processa mais rapidamente junto às faces drenadas (topo e base da camada
compreensível).
Se quiser obter a porcentagem média de adensamento de toda a camada de argila, basta
integrar a porcentagem de adensamento, ao longo de toda a camada de solo:

2H d
1
U =
2 ⋅ Hd ∫U
0
z ⋅ dz

Substituindo o valor de Uz, obtém-se:


2 − M 2Tv
U = 1− ∑ 2
e
m=0 M

Na prática, interessa a determinação da porcentagem média de adensamento (ou


recalque) de toda a camada compreensível, para o cálculo das deformações a que determinada
obra estará sujeita, por efeito do adensamento. O Valor de U pode ser colocado ainda da
seguinte forma:

ρ
U = ρ - recalque parcial, após um tempo t.
∆H
∆H - recalque total que a camada sofrerá.

Como é possível verificar, a porcentagem média de adensamento de toda a camada é


apenas função do fator tempo. Pode-se, por tanto, a partir das condições de contorno de cada
situação, estabelecer U = f(Tv).
No caso da solução aqui apresentada, de sobrepressão hidrostática variando linearmente
com a profundidade, temos na Figura 69 - curva 1 - o gráfico U = f(Tv).

89
Os valores dessa função vêm apresentados no Quadro IX, a seguir.

QUADRO IX - Fator Tempo para o Caso l

U (%) 0 10 20 30 40 50

Tv 0,000 0,008 0,031 0,071 0,126 0,197

U (%) 60 70 80 90 95

Tv 0,287 0,403 0,567 0,848 1,127

Vale ressaltar que a equação teórica U = f(Tv) é expressa com bastante aproximação,
pelas seguintes relações empíricas:

2
π U 
Tv =   para U< 60%
4  100 

Tv = 1,781 - 0,933 log(100 - U) para U > 60%

Aparecem ainda na Figura 69 outras curvas U = f(Tv) para os casos de sobrepressão


inicial assinalados. A curva 2 representa o caso de sobrepressão inicial de forma senoidal, e a
curva 3 pode ser entendida como uma distribuição que combine os casos 1 2 2.

6. Ensaio de Adensamento

O ensaio de adensamento ou de compressão unidirecional confinada pretende


determinar diretamente os parâmetros do solo, necessários para o cálculo de recalques.
A realização do ensaio consiste basicamente em se instalar dentro de um anel de latão
(ou aço) uma amostra de solo de pequena espessura (geralmente 2,5 cm). O corpo de prova é

90
drenado, pelas faces superior e inferior, com o auxilio de pedras porosas, conforme se mostra na
Figura 70.

O conjunto é levado a uma prensa na qual são aplicadas tensões verticais ao corpo de
prova, em vários estádios de carregamento. Cada estádio permanece atuando até que cessem as
deformações originadas pelo carregamento (na prática, normalmente, 24 horas). Em seguida,
aumenta-se o carregamento (em geral, aplica-se o dobro do carregamento que estava atuando
anteriormente. Por exemplo: 1° estádio: 0,25 kgf/cm2; 2°: 0,50; 3°: I,00 e assim
sucessivamente).
As medidas que se fazem usualmente são as de deformação do corpo de prova (pela
variação de altura) ao longo do tempo, em cada estádio de carregamento. Pode ser determinado
ainda o coeficiente de permeabilidade do solo diretamente, fazendo percolar água através do
corpo de prova.
O resultado do ensaio, normalmente, é apresentado num gráfico semilogarítmico
(Figura 71) em que nas ordenadas se têm as variações de volume (representados pelos índices
de vazios finais em cada estádio de carregamento) e nas abscissas, em escala logarítmica, as
tensões aplicadas.

91
Podem-se distinguir nesse gráfico três partes distintas: a primeira, quase horizontal;
segunda, reta e inclinada e terceira parte ligeiramente curva.
O primeiro trecho representa uma recompressão do solo, até um valor característico de
tensão, correspondente à máxima tensão que o solo já sofreu em a natureza; de fato, ao retirar a
amostra indeformada de solo, para ensaiar em laboratório, estão sendo eliminadas as tensões
graças ao solo sobrejacente, o que permite à amostra um alívio de tensões e, conseqüentemente,
uma ligeira expansão.
Ultrapassado o valor característico de tensão, o corpo de prova principia a comprimir-
se, sob tensões superiores às tensões máximas por ele já suportadas em a natureza. Assim, as
deformações são bem pronunciadas e o trecho reto do gráfico que as representa é chamado de
reta virgem de adensamento. Tal reta apresenta um coeficiente angular denominado índice de
compressão (Cc).

e1 − e2 ∆e
Cc = =
log σ 2 − log σ 1 log σ 2
σ1

O índice de compressão é muito útil para o cálculo de recalque, em solos que se estejam
comprimindo, ao longo da reta virgem. O recalque total (∆H) por causa, de uma variação do
índice de vazios (∆e), numa camada de espessura - H - é dado por:

∆H =
∆e
H , porém
∆ e = C c ⋅ log
1 + ei
CH σ '

∆H = c log f'
1 + ei σi

Por último, o terceiro trecho corresponde à parte final do ensaio, quando o corpo de
prova é descarregado gradativamente, e pode experimentar ligeiras expansões.

7. Tensão de Pré-Adensamento

O valor característico de tensão, anteriormente citado, a partir do qual o solo principia a


comprimir-se, ao longo da reta virgem de adensamento, denomina-se tensão de pré-
adensamento (σa’) e representa a máxima tensão a que o solo já esteve submetido, em a
natureza.
Submetendo uma amostra de solo a ciclos sucessivos de carregamento e
descarregamento, tal qual se mostra na Figura 72, pode-se observar que a curva de
recompressão aproxima-se fielmente da curva inicial, e após ultrapassar um valor de tensão (σ1)
o solo volta a comprimir-se, ao longo da reta virgem. O valor σa’ obtido, quando se carrega o
corpo de prova pela primeira vez, é a tensão de pré-adensamento.
Fica patente que o conhecimento da tensão de pré-adensamento é de fundamental
importância para o cálculo de recalques, pois, para acréscimos de tensões, que não superassem
essa tensão, as deformações a se esperar seriam quase desprezíveis.
Os procedimentos mais utilizados para determinação da tensão de pré-adensamento se devem à
Casagrande e a Pacheco Silva (IPT) e são explicados a seguir, de acordo com o convencionado
na Figura 73.
A construção gráfica de Casagrande parte do ponto de maior curvatura (a) da curva e a;
por a traçam-se uma horizontal (h) e uma tangente (t) e em seguida determina-se a bissetriz (b)
do ângulo formado. A abscissa do ponto c, que é a intercessão entre a bissetriz (b) e a reta
virgem (v) é o valor da tensão de pré-adensamento.

92
Pelo processo de Pacheco Silva, prolonga-se a reta virgem(v) ate encontrar a horizontal
que passa pelo índice de vazios naturais do solo (eo), determinando o ponto p. A vertical por p
encontra a curva e O 11 em q; horizontal por q determina sobre a reta virgem (v) o ponto r, cuja
abscissa é a tensão de pré-adensamento.
Determinada a tensão de pré-adensamento, e comparando-a com a tensão que age na
atualidade sobre o ponto do qual foi retirada a amostra, podem-se ter três situações distintas. A

93
primeira delas ocorre, quando a tensão ocasionada pelo solo sobrejacente (σ0') ao local de onde
foi retirada a amostra é igual à tensão de pre-adensamento (σa’). Neste caso, diz-se que o solo é
normalmente adensado, isto é, a máxima tensão que o solo já suportou corresponde ao peso
atual do solo sobrejacente. A Figura 74.a, - esquematiza essa situação.
Pelo gráfico da Figura 74.a, pode-se notar que qualquer acréscimo de tensões fará com
que a argila normalmente adensada recalque, ao longo da reta virgem.
A segunda situação corresponde ao caso em que σ0’ < σa’ , isto é, o peso atual do solo
sobrejacente é menor que o máximo já suportado (Figura 74.b). Neste caso, diz-se que a argila
é pré-adensada e qualquer acréscimo de carga, sobre esse solo, de modo que

σ0’ + ∆σ‘ < σa’

implica recalques insignificantes, pois estamos no trecho quase horizontal da curva


e x log σ.

Muitos fatores podem tornar um solo pré-adensado, podendo-se destacar a erosão, que,
com a retirada de solo, diminui a tensão que age atualmente, bem como o seu ressecamento.
Por último, temos o caso em que σ0' > σa’, isto é, a argila ainda não terminou de
adensar, sob efeito de seu próprio peso. Quando isso ocorre, tem-se uma argila parcialmente
adensada (Figura 74.c).

8. Determinação do Coeficiente de Adensamento (Cv)

Quando, em caso de estádio de carregamento, registram-se as deformações do corpo de


prova, ao longo do tempo, busca-se determinar, por meio de analogia com as curvas teóricas U
= f(Tv), apresentadas na Figura 69 o coeficiente de adensamento.
Esse coeficiente, admitido constante para cada incremento de tensão, determina a
velocidade de adensamento.
No caso do ensaio de adensamento usual, temos duas faces drenantes (pedras porosas
no topo e base do corpo de prova); assim, as medidas realizadas durante o ensaio serão
comparadas com a curva I da Figura 69, que apresenta essas condições.
Os dois processos gráficos mais utilizados são os de Taylor e o de Casagrande.

a. Processo de Taylor

94
Este processo utiliza as medidas de deformação colocadas em função da raiz quadrada
do tempo. Isso deve-se ao fato de que, para porcentagens de adensamento (U) menores que
60%, a relação teórica U x Tv é, aproximadamente, parabólica e, de fato, há a relação empírica:
Tv = π/4. U2 , para (U < 60%), que é uma parábola. Trabalhando com a relação U x √Tv,
modificam-se as coordenadas obtendo-se uma relação linear. Por outro lado, observando-se a
curva teórica U x √Tv, nota-se que a reta unindo os pontos de 0% a 90% do recalque marcam, ao
longo do eixo Tv, valores 15% maiores que a reta que marca os pontos de 0 a 60% de U. O
processo consiste, basicamente, em determinar o ponto referente a 90% do recalque, e obter o
tempo t90 necessário para tal recalque. Isso é mostrado na Figura 75.

Tem-se nessa Figura o gráfico de deformações “versus" √t(min) , obtidos para


determinado estádio de carregamento, em que a leitura inicial do extensômetro era l0 e a final,
após completada toda a compressão do corpo de prova, foi de lf.
Busca-se o primeiro trecho reto da curva, marcando-se nela, a abscissa m, de um ponto
qualquer. Acrescenta-se ao valor de m, 0,I5 m, que fornecerão um ponto por onde passa a reta
que une os pontos de O a 90% de U. A intersecção dessa reta com a curva deformações x √t , dá
as coordenadas l90 e t90, que nos permitem calcular cv, para esse estádio de carregamento.

cvt H d2
Tv = cv = Tv 90
H d2 t90

Tv9O é o fator tempo (tabelado para 90% do adensamento); Hd é a distância de drenagem


(no ensaio de adensamento Hd = H/2, normalmente), e t90 é determinado no ensaio para cada
estádio.

H d2
cv = 0,848
t90

95
Alguns aspectos devem ainda ser observados na Figura 75. Pode-se notar que a reta de
0 a 60% de U, intercepta o eixo das ordenadas num ponto d0 diferente da leitura inicial - l0 -. Por
outro lado, a ordenada que corresponde a 100% (l100) do recalque teórico pode ser assim
determinada:

1
l100 = l90 − (d 0 − l90 )
9

Esta ordenada (l100) não coincide com a leitura final do estádio (lf).
A compressão que corresponde a (l0 - d0) é chamada de compressão inicial, e se dá
quase instantaneamente, quando da aplicação da carga; a compressão (do - l100), chamada de
primária, é a parcela de compressão estudada pela Teoria de Terzaghi e a compressão (l100 - lf ) é
chamada de secundária.
A rigor, essas parcelas, em determinadas etapas, ocorrem juntamente e não seguindo a
separação que se faz na Figura 75. A compressão inicial, decorre, por exemplo, da má colocação
do corpo de prova no anel, porém, acontece, normalmente, no caso dos solos não saturados, em
que ocorre uma parcela de compressão dos poros, sem expulsão de água dos vazios.

b. Processo de Casagrande

Utilizando um gráfico semilogarítmico, Casagrande admitiu encontrar a ordenada


correspondente a I00% do adensamento, pela intersecção entre a assíntota e a tangente da curva-
deformação x log t como se mostra na Figura 76.
A ordenada do correspondente ao inicio do recalque tratado por Terzaghi é obtida,
utilizando-se a relação parabólica da primeira parte da curva de adensamento. Busca-se
determinar tempos, na relação 1:4, e obtém-se a diferença de ordenadas desses pontos, a qual é
transferida para cima da curva. A reta média dos pontos assim determinado fornece a ordenada
do.
A partir das ordenadas d0 e l100 é possível obter a ordenada correspondente a 50% do
recalque (l50 ):

1
l50 = d 0 − (d 0 − l100 )
2

e, consequentemente, t50.

O coeficiente de adensamento é dado agora por:

H d2 H2
cv = Tv 50 ou cv = 0,197 d
t50 t50

Pode-se notar, também nessa construção, a presença da compressão inicial (l0 - d0); da
compressão primária de Tezaghi (d0 - l100) e da compressão secundária (l100 - lf)

96
9. Construção da Curva de Compressão do Solo no Campo

Para o cálculo de recalques, pode-se reproduzir a curva de adensamento virgem do solo


no campo, o que é feito a partir da curva obtida em laboratório, e seguindo-se a recomendação
Schmertmann.
Esta construção aplica-se ao caso dos solos normalmente adensados. Primeiramente,
determina-se a tensão de pré-adensamento (σa’) que corresponde ao peso do solo sobrejacente
ao ponto considerado no campo.
Na Figura 77, localiza-se o ponto B que corresponde às características do solo em suas
condições naturais, ou seja, e0 índice de vazios natural e σa’ = σ0’ - tensão de pré-adensamento
(σa’) igual à tensão ocasionada pelo solo sobrejacente (σ0’).
O ponto C, corresponde à intersecção da reta virgem obtida em laboratório com o valor
de índice de vazios igual a 0,42e0.
Desenha-se a curva BC, que corresponde à curva de adensamento do solo, no campo.
Para o caso de solos pré-adensados, essa construção passa por ligeiras modificações (ver ref.
31).

97
10. Aplicação da Teoria do Adensamento

As deduções efetuadas encontram grande aplicação na prática, pois possibilitam estimar


os recalques a que determinada estrutura estará sujeita, quando esta aplica um acréscimo de
tensões efetivas, numa camada de solo compressível.
Estabelecidos os parâmetros de compressibilidade (σa’ - tensão de pré-adensamento); Cc
- índice de compressão e cv - coeficiente de adensamento), podem-se calcular os recalques totais
e os recalques parciais da camada em causa.
Para uma camada de espessura H, uma variação do índice de vazios, ∆e provocará um
recalque total: ∆H, que é dado por:

∆e Cc H σ 2'
∆H = H = log '
1 + ei 1 + ei σ1

No caso das argilas normalmente adensadas, se o acréscimo sobre a tensão de pre-


adensamento for ∆σ', os valores σ1’ e σ2’ ficam:

σ‘1 = σ‘a

σ‘2 = σ‘a + ∆σ'

Evidentemente, torna-se necessário calcular o acréscimo ∆σ', ao longo de toda a camada


de solo, o que pode ser feito utilizando as fórmulas de propagação de tensões desenvolvidas na
Teoria da Elasticidade (CAPITULO Vll).
Tomando-se a variação linear do acréscimo de tensões ao longo da camada
compressível, costuma-se calcular o acréscimo na cota média e admiti-lo como representativo

98
de toda a camada. Conhecido o acréscimo Ao', pode-se calcular o recalque total da camada.
Havendo necessidade de calcular o recalque parcial, após determinado tempo t, deve-se avaliar
o fator tempo (Tv) correspondente.

t
Tv = cv ⋅
H d2

Com o valor de Tv, determinar a porcentagem média de recalque - U:

U = ρ/∆H

ρ - recalque parcial, após um tempo t

∆H - recalque total da camada

Para o cálculo de U, podem-se utilizar as relações empíricas apresentados no item 5.


Na avaliação da distância de drenagem da camada, pode-se considerar como camada
drenante a que apresentar coeficiente de permeabilidade acima de dez vezes o coeficiente da
camada compressível.
Por último, deve-se frisar que, no cálculo do recalque total, o valor de H a ser utilizado
é a espessura total da camada, quaisquer que sejam as faces drenantes, e na avaliação dos
recalques parciais, emprega-se a distancia de drenagem (Hd) que pode ser igual a H drenante),
ou a H/2 (duas faces drenantes).

11. Correções do Recalque de Adensamento

Em função das limitações próprias da teoria do adensamento, os valores de recalques


obtidos devem ser corrigidos para determinadas situações não previstas na teoria.

a. Recalques ocasionados por um carregamento lento.

Esta correção refere-se ao fato de que, na prática, nenhum carregamento e aplicado


instantaneamente, como se prescreve na teoria ou como se faz no ensaio de adensamento.
A rigor, qualquer construção vai carregando o terreno gradativaynente. Para levar em conta
tal efeito, existe uma construção gráfica (Gilboy) que permite obter a curva tempo-recalque
para o carregamento lento, a partir da curva de carregamento instantâneo.

A construção é baseada na hipótese de que o recalque, no final da construção (tempo - tc) é


igual ao recalque no tempo tc/2, quando se considera o carregamento aplicado
instantaneamente.

A variação do carregamento é linear com o tempo, e é dada por:

t
σ = σ0,
tc

em que σ0 é a tensão final originada pelo carregamento.


Nessa circunstância, a relação entre s recalques instantâneos e lentos será proporcional a t/tc.
A Figura 78 esquematiza a construção gráfica. Para se obter o recalque, num tempo t, basta
determinar o recalque instantâneo no tempo t/2, traçar uma horizontal que interceptará a
vertical por tc, no ponto A. Unindo-se A à origem O, esse segmento AO intercepta a vertical

99
em t, no ponto-B, que será o recalque ocasionado pelo, carregamento lento. Pelas hipóteses
formuladas:

MN = PQ

t t
σ = σ 0 ⋅ P'⋅Q' = M '⋅N '
tc tc

Após o tempo t = tc, os demais pontos são obtidos, deslocando a curva de carregamento
lento de tc /2.

b. Interferência de efeitos tridimensionais

As soluções apresentadas referem-se ao caso de compressão unidirecional. Há casos em que


a espessura da camada é muito maior que a área carregada, quando então os efeitos
tridimensionais podem afetar a velocidade e a magnitude do recalque.
Uma consideração semi-empírica, para levar em conta tais efeitos, foi proposta por
Skempton e Bjerrum e admite que a despeito dos efeitos tridimensionais o recalque é ainda
unidimensional.
Essa correção utiliza os parâmetros de pressão neutra A e B de Skempton (CAPITULO
XIII):

∆u = B ∆σ 3 + A (∆σ1 -∆σ 3)

A Figura 79 apresenta os valores do fator de correção (ψ) a serem multiplicados pelos


recalques obtidos, quando se considera compressão unidirecional:

H cor = ψ . ∆H

100
12. Noções sobre a Compressão Secundária

A compressão secundária corresponde à variação adicional de volume, que se processa


após a total dissipação da sobrepressão hidrostática. Conquanto nas construções gráficas de
Taylor e de Casagrande se separem as diversas parcelas de compressão, não e verdade que a
compressão secundaria principie logo após terminar a compressão primaria, pois uma parte
dessa compressão secundária deve ocorrer, enquanto se processa a parcela de compressão
tratada pela Teoria de Terzaghi.
Ainda que as leis que determinam o processo de compressão secundária sejam bastante
complexas, e não totalmente explicadas na atualidade, pode-se atribuir o fenômeno às
acomodações que ocorrem entre as partículas e suas interligações, sob efeito das tensões
impostas ao solo. Admite-se que na compressão secundária também chamada de "creep", as
acomodações interpartículas sejam originadas por deformações visco-elásticas da fase sólida. A
figura 80 mostra um esquema de um modelo reológico visco-elástico.
Na Figura 80.a, o comportamento elástico é representado pela mola, de constante
elástica E, a qual é acoplada em paralelo com um pistão que contém um fluido incompressível
de viscosidade n. O acréscimo de tensão ∆σ é suportado primeiramente pelo fluido
incompressível no pistão e, a medida que se processa o fluxo (viscosidade n), a mola passa a ser
solicitada. A deformação estabiliza-se, -quando todo o acréscimo de tensões (∆σ) passa a ser
absorvido pela mola.
A compressão secundaria normalmente se estende por um grande período de tempo
(compressão secular de Buissman) e não ocorre de maneira significativa, em todos os tipos de
solos, parecendo ser mais flagrante nas turfas e solos orgânicos.

101
13. Recalques por Colapso

Um pormenor curioso, que ocorre em vastas áreas da região Centro-Sul do Pais, refere-
se ao caso dos solos superficiais porosos. Tais solos, quando estão sujeitos a carregamentos e
por uma razão qualquer (infiltração de águas de chuva, rompimento de condutas de água ou
esgoto etc.) têm o seu grau de saturação aumentado, passam por uma repentina variação de
volume, manifestada por uma redução do índice de vazios.
O fenômeno deve-se ao fato de a entrada de água na estrutura instável desses solos,
tender a eliminar as causas do equilíbrio (pequena cimentação interpartículas; coesão aparente
ocasionada pela capilaridade), provocando um colapso da estrutura do solo, razão pela qual tais
solos são chamados de colapsíveis.
Residências com fundações diretas, apoiadas sobre esses solos na região de São Carlos -
Araraquara (SP), têm apresentado acentuadas trincas, quando ocorrem infiltrações sob as
fundações.

A Figura 81 mostra ensaios de adensamento, com inundação, realizados sobre amostras de


solo poroso de São Carlos.

Pode-se notar que a inundação provoca uma redução repentina do índice de vazios, sem
aumento de carga, o fenômeno parece desaparecer, após determinada tensão, quando então o
simples acres cimo de cargas 6 suficiente, para romper as ligações precárias interpartículas.

102
CAPITULO X1

EXPLORAÇÃO DO SUBSOLO

1. Introdução

As obras civis só podem ser convenientemente projetadas, depois de um conhecimento adequado


da natureza e da estrutura do terreno em que vão ser implantadas. Em obras nas quais os solos aparecem
como material de construção, como e o caso de aterros e barragens, há que se conhecer também as
características geotécnicas dos solos dos empréstimos.
As obras de maior porte e requinte de projeto exigem um melhor conhecimento dos solos
envolvidos. A história da Engenharia Civil registra casos em que a inobservância de certos princípios de
investigação ou mesmo a negligencia diante da obtenção de informações, acerca do subsolo tem
conduzido a ruínas totais ou parciais e, neste caso, a prejuízos incalculáveis, não só de tempo como de
recursos para a recuperação das obras.
O custo de um programa de prospecção bem conduzido situa-se entre O,5 a I% do valor da obra.
O engenheiro de solo deve ter uma consciência critica acentuada das limitações e um
conhecimento profundo dos instrumentos disponíveis para a prospecção geotécnica, de tal forma que
possa, mediante informações, obtidas por seu intermédio, realiza os projetos dentro dos padrões de
segurança e economia exigidos.

2. lnformações Exigidas num Programa de Prospecção

As informações básicas que se busca num programa de exploração do subsolo são:

a. a área em planta, profundidade e espessura de cada camada de solo identificado;

b. a compacidade dos solos granulares e a consistência dos solos coesivos;

c. a profundidade do topo da rocha e as suas características tais como: litologia, área em planta,
profundidade e espessura de cada estrato rochoso; mergulho e direção camadas, espaçamento de
juntas, planos de acabamento presença de falhas e ação do intemperismo ou estado de
decomposição;

d. a localização do nível d'água e a quantificação do artesianismo, se existir;

e. a colheita de amostras indeformadas, que possibilitem identificar as propriedades mecânicas do solo


com que trata a Engenharia: compressibilidade, permeabilidade e resistência ao cisalhamento.

3. Tipos de Prospecção Geotécnica

Os tipos de prospecção utilizados correntemente na Engenharia Civil são:

3.1 - Processos Indiretos

1
Mecânica dos Solos - vol. 1 – Benedito de Souza Bueno & Orencio Monje Vilar – Depto de Geotecnia –
Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo
103
Resistividade elétrica
Sísmica de refração

São processos de base geofísica. Não fornecem os tipo de solos prospectados, mas tão somente
correlações entre estes e suas resistividades elétricas ou suas velocidades de propagação de ondas sonoras.

3.2 - Processos Semidiretos

Vane test
Cone de penetração estática
Ensaio pressiométrico.

Fornecem apenas características mecânicas dos solos prospectados. Os valores obtidos, por-
meio de correlações indiretas, possibilitam informações sobre a natureza dos solos.

3.3 - Processos Diretos

Poços
Trincheiras
Sondagens e trado
Sondagens de simples reconhecimento Sondagens rotativas
Sondagens mistas

São perfurações executadas no subsolo. Nestas, pode-se fazer uma observação direta das
camadas, em furos de grandes diâmetros, ou uma analise por meio de amostras colhidas de furos de
pequenas dimensões.

4. Prospecção Geofísica

Dentre os vários processos geofísicos de prospecção existentes, o da resistividade elétrica e o da


sísmica de refração são os de uso mais freqüente, na Engenharia Civil. Estes processos de prospecção
apresentam a vantagem de serem rápidos e econômicos, principalmente em obras de áreas extensas ou de
grande comprimem to linear. Além disso, fornecem informações numa zona mais ampla e não apenas em
torno de um furo, como nos processos diretos, porém a interpretação destas informações exige, quase
sempre, que se levem a efeito as prospecções diretas.
Em geral, estes processos só propiciam resultados satisfatórios, se pretende determinar as
profundidades do substrato rochoso recoberto por solo, ou para descobrir descontinuidades e para
delimitar camadas de solo constituídas por materiais bem diferenciados.
As cartas geofísicas obtidas por um trabalho de prospecção facilitam o planejamento e
localização de furos de sondagens, pois evidenciam, com boa aproximação, a zona prospectada. O usa dos
processos indiretos na prospecção, no Brasil, encontram-se em franco desenvolvimento, podendo-se
prever sua grande utilização, num futuro próximo.

4.1 - Processo da Resistividade Elétrica

Este processo fundamenta-se no principio de que os diferentes materiais do subsolo possuem


valores característicos de resistividade elétrica.
Os dispositivos de medida na determinação da resistividade são constituídos de quatro eletrodos
colocados na superfície do terreno. Os dois eletrodos externos, de corrente, são conectados a uma bateria
e a um amperímetro. Os centrais, de potencial, são ligados a um voltímetro. As posições relativas entre
104
estes eletrodos conduzem a diversas técnicas de prospecção. Na configuração de Wenner, os eletrodos são
equiespaçados, e, na de Schlumberger, a distancia entre os eletrodos de potencial varia de 1/50 a 1/25 da
distancia entre os eletrodos de corrente.
A resistividade elétrica é medida a partir de um campo elétrico gerado artificialmente pela injeção
de uma corrente elétrica no subsolo, por meio dos eletrodos externos, cuja diferença de potencial é
detectada pelos eletrodos internos, Figura 82.

A área abrangida pelo campo elétrico induzido é função do espaçamento entre os eletrodos.
Quanto maior este espaçamento maior será a área e, conseqüentemente, maior será também a
profundidade atingida. Portanto, o perfil estratigráfico de um subsolo pode ser obtido, variando-se o
espaçamento L entre os eletrodos, continuamente, e registrando-se a resistividade elétrica.

4.2 - Processos de Sísmica de Refração

Os processos de geofísica à base de sísmica de refração apóiam-se no princípio de que a


velocidade de propagação de ondas sonoras em corpos elásticos é função, entre outros, do módulo de
elasticidade do material, de seu coeficiente de Poisson e de sua massa especifica. Produzindo-se uma
emissão sonora do terreno, por meio de explosivos ou pancadas, registra-se em geofones instalados, à
superfície, o tempo gasto entre a explosão e o da chegada das ondas aos geofones.
Existem três tipos de ondas sonoras: as diretas, as refratadas e as refletidas.
Quando uma se propaga com velocidade V1 em um meio a incide na interface, entre este e um meio b,
com uma velocidade V2 ≠ V1 e, em uma direção que depende do ângulo de incidência θ1 e das
velocidades V1 e V2 conforme a Figura 83.
Pela lei de Snell, pode-se notar que haverá um ângulo particular, chamado de ângulo critico de
incidência, para o qual θ2 = 90°, ou seja, a onda refratada propagar-se-á segundo uma direção coincidente
com a interface.

Para θ2 = 90°, e θcrit = V1/V2

105
Chamaremos de onda crítica a que se propaga segundo a interface, por ter incidido num ângulo
igual a θcrit. À medida que esta onda critica se propaga pela interface, novas ondas emergirão dela, em
direção à superfície, fazendo um ângulo θcrit. com a vertical, conforme a Figura 84.

Por meio de formulações matemáticas, consegue-se medir a espessura h da camada, conhecendo-


se o tempo gasto, para que as ondas de chegada direta e as refratadas atinjam os geofones instalados,
convenientemente, à superfície, conforme se mostra no gráfico da Figura 85.

1 1
t R = 2h 2
+ 2
V1 V2
l V2 − V1
h=
2 V2 + V1

106
5. Métodos Semidiretos

Os processos semidiretos de prospecção foram desenvolvidos por causa da dificuldade de


amestrar certos tipos de solos, como areias puras e argilas moles. Não fornecem o tipo de solo, tão
somente certas características de comportamento mecânico das camadas, obtidas mediante correlações,
com grandezas medidas em suas execuções. Em resumo, os processos semidiretos são ensaios "in situ".
As dificuldades de se dispor de amostras realmente indeformadas e a complexidade estrutural dos
maciços terrosos, quando comparados com as amostras, têm conduzido a uma utilização crescente desses
ensaios.

5.1 - Vane Test

O Vane test ou ensaio de palheta foi originalmente desenvolvido por engenheiros escandinavos,
para medir a resistência ao cisalhamento não drenada de argilas "in situ".
O ensaio consiste na cravação de uma palheta, Figura 86, e em medir o torque necessário para
cisalhar o solo, segundo uma superfície cilíndrica de ruptura, que se desenvolve ao redor da palheta,
quando se aplica ao aparelho uma velocidade constante e igual a é graus por minuto.
Algumas hipóteses devem ser feitas, a fim de que o valor medido possa representar a resistência
ao cisalhamento, rápida, não drenada do solo:

a. Drenagem impedida.

b. Ausência de amolgamento do solo, quando da operação de cravação do equipamento.

c. Coincidência de superfície de ruptura com a geratriz do cilindro, formado pela rotação da


palheta.
d. Uniformidade da distribuição de tensão, ao longo de toda superfície de ruptura, quando o
torque atingir o seu valor máximo;
e. lsotropia do solo.

O ensaio fornece também uma idéia de sensibilidade de argila. Pode-se lançar em um gráfico
torque x rotação os valores, em seus estados indeformado e amolgado, Figura 87. Para este caso,

107
considera-se o amolgamento do solo, após sua ruptura, quando se dão dez rotações no equipamento, a
uma velocidade bem rápida.

O aparelho pode ser cravado diretamente no solo ate a profundidade a ser ensaiada, ou em furos
de sondagens. Neste caso, é aconselhável que a sondagem se processe ate unia distancia de 0,50 m,
aproximadamente, acima da cota de ensaio.

108
Para cálculo de resistência não drenada da argila, considera-se a palheta esquematizada na Figura 86.b.
No instante de ruptura, o torque aplicado se iguala à resistência e ao cisalhamento de argila,
representada, pelos momentos resistentes do topo e da base do cilindro de ruptura e pelo momento
resistente desenvolvido, ao longo de sua superfície lateral, ou seja:

T = ML + 2MB ,

em que:

T = torque máximo aplicado à palheta;

ML = momento resistente desenvolvido ao longo da superfície lateral de ruptura;

MB = momento resistente desenvolvido no topo do cilindro de ruptura;

mas

1
M L = π ⋅ D 2 ⋅ H ⋅ Cu
2
2 ⋅ π ⋅ D3
MB = − Cu
12

em que :

Cu = resistência não drenada da argila;

D = diâmetro do cilindro de ruptura:

H = altura do cilindro de ruptura;

ou,

T
Cu = , se H = 2D
H D
D ⋅π ⋅  + 
2

2 6

Cu =
6
7
(
− T π ⋅ D3 )
O Vane test tem mostrado fornecer resultados bem próximos dos reais, embora haja necessidade
de usar fatores corretivos, em função das características plásticas do solo. Em argilas médias e duras, a
perturbação causada pela cravação do aparelho afeta sensivelmente a estrutura do solo e invalida os
resultados obtidos.

5.2 - Ensaio de Penetração Estática do Cone

O ensaio de penetração estática do cone, também conhecido como "deep-sounding" ou


"diepsoundering”, foi desenvolvido na Holanda com o propósito de simular a cravação de estacas.
O aparelho consta de um cone móvel, com um angulo no vértice de 60°, com área transversal de
10 cm2. O cone é acionado por hastes metálicas. O esforço estático de cravação é transmitido por

109
macacos hidráulicos, situados à superfície e ancorados no terreno. A Figura 88 mostra a forma
esquemática de aplicação e medição das cargas e um corte transversal do cone.
A resistência lateral é obtida pela diferença entre a resistência total, correspondente ao esforço
estático necessário, para penetração do conjunto, numa extensão de aproximadamente 25 cm, e a
resistência de ponta, quando se crava somente a ponta móvel do cone num comprimento de 4cm,
aproximadamente.

A cada 30 cm de profundidade, portanto, podem-se ter valores das resistências lateral e de ponta,
que, lançado em um gráfico, "versus" a profundidade toma o aspecto da Figura 89.
Analisando-se as variações relativas das resistências especificadas de ponta e lateral, pode-se ter
uma idéia da natureza dos solos prospectados. O Quadro X seguinte dá uma forma de interpretação dos
solos atravessados, pela cravação do penetrômetro.
No ensaio de cone, o processo de cravação cria em torno da ponta níveis de tensão muito
elevados e as tensões no císalhamento estão muito além dos níveis encontrados rotineiramente nas obras
civis. Neste processo, coexistem fenômenos de compressão e de ruptura por cisalhamento.
Os dados obtidos no ensaio do cone, quando usados em correlações, fornecem boas indicações
das propriedades do solo como: ângulo de atrito interno de areias, coesão e consistências das argilas. Tais
dados são facilmente utilizáveis no dimensionamento de estacas cravadas.

110
5.3 - Ensaio Pressiométrico

O ensaio pressiométrico foi desenvolvido pelo engenheiro francês Mernard, com o objetivo de
medir módulo de elasticidade e a resistência ao cisalhamento dos solos e rochas "in situ".
O aparelho compõe-se de uma célula que é introduzida em furos de sondagem, e está ligada a um
aparelho de medida de pressões e volume. A Figura 90 representa um esquema do pressiômetro de
Mernard.

111
A célula é constituída de três elementos metálicos vazados, cujas paredes são vedadas por uma
membrana de borracha. Mediante um dispositivo de injeção de água, situado na superfície do terreno, a
Membrana é solicitada, expande-se, e pode atingir até o dobro de seu volume inicial. Os elementos das
extremidades, chamados, de elementos de guarda, são inflados com gás carbônico, a uma pressão igual ao
do elemento central, para reduzir o efeito do topo. O elemento central recebe um volume aproximado de
cerca de 700 a 750 cm3 de água. O efeito da aplicação da água na célula central produz uma pressão
radial nas paredes do furo. A carga é aplicada em estádios, e, para cada um, registra-se a deformação
correspondente. O processo desenvolve-se até a ruptura do solo.
Pode-se, a partir dos pares de valores pressão aplicada "versus" variação de volume, traçar um
gráfico tendo o aspecto da Figura 91, em que é possível perceber os seguintes trechos:

1. intervalo da curva em que há reposição das tensões atuantes, na abertura do furo;


2. fase pseudo-elástica;
3. fase plástica;
4. fase de equilibro limite.

QUADRO X – Variações de Resistência no Ensaio de Penetração Contínua


112
O Atrito Lateral Diminui Atrito Lateral O Atrito Lateral Aumenta
Constante

A Resistência - A ponta entra numa camada - Solo siltoso, pouco A ponta penetra em um solo
de Ponta de solo solto, arrastando o solo compacto, reduzindo de menos compacto.
Diminui sobrejacente arenoso ou de compacidade.
argila mole.
- Areias e seixos pouco
- Efeito da anterior deslocação compactos.
de um bloco sólido

- A ponta entra numa argila


sensível, amostrando solo da
camada superior.

A Resistência Solo arenoso relativamente Turfas e siltes pouco - Argilas


de Ponta compacto, provocando a compactos, não
Constante formação de um bulbo cujas variando de - Areias compressíveis mas
linhas de deslizamento se viram consistência e não soltas (finas e
para a parte superior. compacidade. parcialmente saturadas).

A Resistência - Se moderadamente: idem Turfas e siltes pouco - Solos aumentando de


de Ponta anterior. compactos, não compacidade (argilosos e
Cresce variando de arenosos).
- Se muito rapidamente: blocos consistência e
colididos pela ponta, o que compacidade. - Placas ou bulbos roçando a
tende a criar um vazio, que se haste.
preenche naturalmente, se o
solo for coesivo. - Bulbos cujas curvas de
deslizamento se orientam
para cima, na vizinhança do
tubo.

O módulo de elasticidade é obtido na fase pseudo-elástica da curva pela expressão:

dv
E=K
dp

em que o quociente dv/dp expressa uma variação do volume da membrana com a pressão aplicada, e K e
uma constante que depende das dimensões da célula.
Com pressiômetros dotados de células normais, pode-se chegar a pressões de 45 kgf/cm2,
registrando um módulo de elasticidade da ordem de 104 Kgf/cm2.
O ensaio pressiométrico tem o inconveniente de medir a compressibilidade, somente segundo um
plano horizontal, mas, exatamente por isso, aparece como um bom equipamento, para medir as tensões
horizontais em repouso e logo o coeficiente K0.

6. Processos Diretos

Os métodos diretos de investigação permitem o reconhecimento do solo prospectado, mediante


analise de amostras provenientes de furos executados no terreno, por processos de perfuração expeditos.
As amostras deformadas fornecem subsídios para um exame visual-táctil das camadas, e sobre elas
podem-se executar ensaios de caracterização (teor de umidade, limites de consistência e granulometria).
113
Há casos em que é necessária a coleta de amostras indeformadas, para obter-se informações seguras
sobre o teor de umidade, resistência ao cisalhamento e compressibilidade dos solos.
Pode-se obter, com os processos diretos, a delimitarão entre as camadas do subsolo, a posição do
nível do lençol freático e informações sobre a consistência das argilas e compacidade das areias. Nota-
se então, que as principais características esperadas de um programa de prospecção são alcançadas com
o uso destes processos. Há, em todos eles, o inconveniente de oferecer uma visão pontual do subsolo.

6.1 - Poços

Os poços são perfurados manualmente, com o auxílio de pás e picaretas. Para que haja facilidade
de escavação, o diâmetro mínimo deve ser da ordem de 60 cm. A profundidade atingida é limitada pela
presença do N.A. ou desmoronamento, quando então se faz necessário revestir o poço.
Os poços permitem um exame visual das camadas do subsolo e de suas características de
consistência e compacidade, por meio do perfil exposto em suas paredes. Permitem também a coleta de
amostras indeformadas, em forma de blocos.

6.2 - Trincheiras

As trincheiras são valas profundas, feitas mecanicamente com o auxilio de escavadeiras.


Permitem um exame visual continuo do subsolo, segundo uma direção e, tal como nos poços, podem-se
colher amostras indeformadas.

6.3 Sondagens a trado

O trado é um equipamento manual de perfuração. Compõe-se de uma barra de torção horizontal


conectada por uma luva I' a um conjunto de hastes de avanço, em cuja extremidade se acopla uma
Lavadeira ou uma broca, geralmente em espiral.
A prospecção por trado é de simples execução, rápida e econômica. No entanto, as informações
obtidas são apenas do tipo de solo, espessura de camada e posição do lençol freático. As amostras
colhidas são deformadas e situam-se acima do N.A..
Por ser um processo geralmente manual (existem equipamentos mecânicos) e certos tipos de
solos serem de perfuração difícil, o uso do equipamento tem suas limitações. É o caso de areias
compactas, argila dura e pedregulho. A profundidade atingida e da ordem dos 10 m. É bastante usado em
reconhecimento preliminar, principalmente de áreas de empréstimo.

6.4 Sondagens a Percussão ou de Simples Reconhecimento

6.4.1 - Introdução

O método de sondagem, à percussão, é o mais empregado no Brasil, principalmente em


prospecção do subsolo para fins de fundação.
Dentre as vantagens que apresenta, podem-se enumerar: o seu baixo custo, a simplicidade de
execução, a possibilidade de colher amostras, a determinação da posição do lençol freático e a obtenção
de informações de consistência e compacidade dos solos.
A sondagem executada por meio de uma perfuração no terreno, acompanhada da extração de
amostras, permite, em geral, a obtenção do perfil estratigráfico do subsolo.

6.4.2 - O Equipamento

O equipamento de sondagem, à percussão, é composto de um tripé equipado com roldana e


sarrilho que possibilita o manuseio de hastes metálicas ocas, em cujas extremidades se fixa um trépano
biselado ou um amostrador-padrão Figura 92.
114
No processo de perfuração, as paredes de furo podem mostrar-se instáveis, havendo a necessidade
de revesti-Ias com tubos metálicos de diâmetro nominal superior ao da haste de cravação. Este tubo
metálico é denominado tubo de revestimento.
Na parte superior do conjunto haste-tubo de revestimento, há dispositivos de entrada e saída
d'água, conectada, por meio de mangueiras, a um reservatório e a um conjunto motor-bomba. Fazem
ainda parte do equipamento um martelo de cravação com peso padronizado (dotado, na base, de um
coxim de madeira), um mostrador de paredes grossas e trados-cavadeira e espiral.

6.4.3 Perfuração

A Perfuração é feita com um trado-cavadeira ate a profundidade do nível d'água ou até que seja
necessário o revestimento do furo, por causa da instabilidade de suas paredes. Embora existam em
diâmetros de 3", 4" e 6", é o -de 2” 1/2 que se usa com mais freqüência pelo fato de ser o mais econômico
e de fácil manuseio. A partir do ponto em que se introduz no furo o revestimento, a perfuração deve
prosseguir, com o uso de um trado espiral; a cota do N.A. será a profundidade limite desta técnica de
prospecção. Abaixo deste plano faz-se a perfuração por intermédio do processo de lavagem com
circulação d'água, que permite um avanço rápido do furo, sendo por isso preferido pelas equipes de
perfuração, em detrimento dos processos manuais. Nele, a água é bombeada, para o fundo do furo,
através da haste oca e retorna pelo espaço anelar existente entre a haste e o tubo de revestimento. O
trépano de lavagem biselado contém dois orifícios laterais, para a saída d'água e escava o furo nos
movimentos de percussão feitos na haste pelo sondador. Os detritos da escavação são carregados pela
água no seu movimento ascensional.
O processo de circulação de água dificulta a determinação da posição do N.A. e altera as
características geotécnicas dos solos. Por esta razão, os furos são abertos a trado, até, alcançar o N.A., e
as operações de amostragem exigem que o avanço dá furo por lavagem seja interrompido a cerca de O,5O
m de cota de colheita da amostra.

115
6.4.4 - A Amostragem

A cada metro de profundidade, são colhidas amostras pela cravação dinâmica de amostradores-
padrão. Estas amostras são deformadas e prestam-se à caracterização dos solos. os amostradores são tubos
metálicos de parede grossa com ponta biselada, constituídos de duas meia canas solidarizadas entre as
extremidades. Figura 93.
O sistema de percussão consiste na queda do peso padronizado de uma altura também
padronizada, de forma que a energia de cravação seja sempre constante, durante o processo de
amostragem.
No Brasil, existem três tipos de amostradores-padrão, distinguidos pelas diferentes dimensões do
tubo e pela energia de cravação empregada.

Deve-se ressaltar que a tendência atual é a adoção do amostrador tipo Terzaghi (Figura 93) com
vistas à obtenção da padronização das diversas fases da sondagem e dos equipamentos utilizados. Os
amostradores tipo Mohr-Geotécnica e IPT foram grandemente empregados no Brasil, porém hoje estão
quase em desuso.

Nome do amostrador Diâmetro Interno Diâmetro externo Massa (kg) Altura de


(polegadas) (polegadas) Queda (cm)
Terzaghi-Peck 2 3 65 75
SPT 1
8
Mohr-Geotécnica 5 1 65 75
IRP 1
8
IPT 13 1 60 75
1 1
16 2
6.4.5 - Índice de Resistência à Penetração

Paralelamente à amostragem do subsolo, pode-se obter o índice de resistência à penetração. Na


cravação dinâmica do amestrador, anota-se o número de golpes do martelo necessários, parae efetuar a
cravação de cada 15 centímetros do amostrador.
Para os amestradores tipo TERZAGHI, o índice de resistência à penetração refere-se ao numero de golpes
necessários, para a cravação dos últimos 30 centímetros do amostrador, desprezando-se os golpes
correspondentes à cravação dos 15 centímetros iniciais. Este índice é conhecido como SPT, iniciais de
sua designação em Inglês, "STANDARD PENETRATION TEST".
Para os amostradores Mohr-Geotécnica e IPT, o índice de resistência à penetração refere-se ao
número de golpes, para cravação dos 30 centímetros iniciais.
116
O índice de resistência à penetração, ou numero N, como é comumente chamado, ainda que não seja um
ensaio de campo preciso (ele é muitas vezes influenciado por fatores ligados à forma de execução e pelo
equipamento empregado), pode dar uma indicação razoável dos estados de compacidade e consistência
dos solos. Os Quadros a seguir fornecem a compacidade e a consistência dos solos, em função de N.

QUADRO XI – Compacidade das areias, de acordo com os resultados de SPT (NBR 7250/82)
Número de Golpes N Grau de Compacidade
0–4 fofa
5-8 Pouco compacta
9 - 18 Medianamente compacta
19 - 40 Compacta
> 40 Muito compacta

QUADRO XII – Consistência das argilas, de acordo com os resultados de SPT(NBR 7250/82)
Número de Golpes N Grau de Compacidade
0–2 Muito mole
3–5 Mole
6 – 10 Média
11 – 19 Rija
>19 Dura

As correlações existentes entre o índice de resistência à penetração e a consistência das argilas,


principalmente das argilas sensíveis, podem estar sujeitas a erros grosseiros, em razão da diferença de
comportamento da argila, em face de cargas estáticas e dinâmicas, e ainda pelo fato de o amolgamento da
argila destruir sua estrutura, e, consequentemente, modifica sua resistência à penetração. É importante
notar, como já foi dito, quê a resistência a penetração de uma camada pode apresentar diferentes valores,
se sobre ela forem executadas sondagens por firmas distintas. Há erros originados da carência de
normalização quando se executam sondagens, além dos advindos do estado de conservação dos
amestradores. Estes, por serem mais dificilmente controláveis, exigem, por parte do engenheiro, maior
atenção.

Fatores ligados à execução da sondagem:

- Erro na contagem do número de golpes.


- Má limpeza do furo.
- Furo não alargado suficientemente, para a livre passagem do amostrador.
- Variação da energia de cravação.
- Diferentes interações solo-amostrador.
- Emprego de técnica de avanço por circulação de água, acima do N.A..

Fatores ligados ao equipamento:

- Dimensões e estado de conservação do amostrador.


- Estado de conservação das hastes: uso de hastes de diferentes pesos.
- Martelo não calibrado ou sem coxim de madeira.

6.5 - Sondagem Rotativa

A sondagem rotativa é empregada na perfuração de rochas, de solos de alta resistência e de


matações ou blocos de natureza rochosa.

117
O equipamento compõe-se de uma haste metálica rotativa, dotada, na extremidade, de um amostrador,
que dispõe de uma coroa de diamante.
O movimento de rotação da haste é proporcionado pela sonda rotativa, que se constitui de um
motor, de um elemento de transmissão e um fuso que imprime às hastes os movimentos de rotação, recuo
e avanço. A haste é oca e, por injeção de água no seu interior, consegue-se atingir o fundo da escavação,
por meio de furos existentes no amestrador. Esta água tem a função de refrigerar a coroa e carrear os
detritos da perfuração no seu movimento ascensional.
Tal como no processo, à percussão, quando as paredes do furo mostrarem-se instáveis, pondo em
risco a coluna de perfuração, que poderia ficar presa, usa-se um tubo de revestimento metálico, com
diâmetro nominal superior ao das hastes. Em outras ocasiões emprega-se o revestimento do furo, quando,
atravessando camadas permeáveis ou bastante fraturadas, houver grande perda de água de circulação.
As coroas são peças de aço especial, com incrustações de diamante ou vidia nas suas
extremidades. O efeito abrasivo da coroa desgasta a rocha e permite a descida do furo de revestimento e
o alojamento do testemunho, no interior do amostrador.
Dentre os diâmetros mais utilizados em Engenharia Civil, podem-se enumerar:

Denominação φ do furo (mm) φ do testemunho (mm)


EX 38 20
AX 49 29
BX 60 41
NX 76 54

6.6 - Sondagem Mista

A sondagem mista é a conjugação do processo, à percussão, associado ao processo rotativo.


Quando, por exemplo, nas sondagens à percussão, os processos manuais forem incapazes de perfurar
solos de alta resistência, matacões ou blocos de natureza rochosa, usa-se o processo rotativo como
instrumento complementar. As sondagens mistas são, pois, associações dos dois métodos, não
importando a ordem de execução.

7. Amostragem

7.1 - Introdução

A Mecânica dos Solos teórica apoia-se em características de comportamento mecânico dos


maciços terrosos, medidas em averiguações experimentais em amostras representativas. A obtenção de
amostras de fato representativas tem sido uma preocupação de investigadores das mais diversas partes do
mundo.
No final da década de 5O, entre os congressos de Mecânica dos Solos de Londres (l957) e o de
Paris (l961), um grupo de pesquisadores começou a atuar no sentido de dar uma nova dimensão ao
problema da mostrarem Este grupo, o IGOSS - Internacional Group on SoilSampling, surgiu do esforço
de alguns pesquisadores que notaram um progresso acentuado nos métodos de calculo e nas técnicas
experimentais da Mecânica dos Solos, sem ter havido um progresso paralelo das técnicas de amostragem.
Aliás, este fato vem ressaltar uma importante conclusão a que deve chegar o principiante: De que adianta
possuir processos de cálculo e técnicas laboratoriais de alto requinte, se não e possível contar com boas
amostras? Toda a potencialidade dos métodos e das técnicas perdem-se diante de amostras pouco
representativas.
A nova tendência da Mecânica dos Solos, a partir do trabalho de IGOSS, é classificar as amostras
em cinco categorias, distintas:

CLASSE 1: Amostras que não passaram por distorção nem alteração de volume e que, portanto,
apresentam compressibilidade e características de cisalhamento inalteradas.

118
CLASSE 2: Amostras em que o teor de umidade e a compacidade não experimentaram alterações,
porem foram distorcidas e, portanto, as características de resistência ficaram alteradas.

CLASSE 3: Amostras em que a composição granulométrica, e o teor de umidade não experimentaram


alterações, mas a massa específica passou por alteração.

CLASSE 4: Amostras em que a composição granulométrica foi respeitada, mas o teor de umidade e a
massa específica experimentaram alteração.

CLASSE 5: Amostras em que até na composição granulométrica houve alteração, por causa da perda de
partículas finas ou por esmagamento das partículas maiores.
No decorrer do texto, notar-se-ão quais características dos solos são mais bem obtidas com as
diversas classes de amostra. Desde já, pode-se observar que amostras da classe 5 prestam-se apenas, para
dar uma idéia de seqüência das camadas.
Houve, em seguida, por parte dos investigadores, preocupação de conceber tipos diferentes de
mostradores de fato capazes de permitir amostras indeformadas. Está claro que além do tipo do
amostrador utilizado, a obtenção de amostras, dentro de determinada classe, e função de outros
parâmetros tais como: tipo do solo e de seus estados de compacidade e consistência, posição do lençol
freático , em relação à cota de coleta da amostra e dos fatores já citados, relativos à execução dá
sondagem.
No dizer de alguns autores, a mostrarem indeformada é um ideal almejado, porém jamais
alcançado, pois, ainda que se consiga uma amostra que tenha todas as características da camada, pelo
menos o estado de tensão da amostra retirada e sensivelmente diferente daquele que ela possuía, quando
pertinente ao maciço.
Folque afirma que a amostra indeformada não está sujeita ao mesmo estado de tensão que a
solicitava "in situ' e sugere um procedimento para quantificar esta alteração, o qual pode ser visto na ref.
9.

7.2 - Amostras Indeformadas

a. Blocos

A coleta de amostras indeformadas, para serem analisadas em laboratórios, será necessária,


quando os dados fornecidos pelos processos de investigação estudados mostrarem-se insuficientes na
análise do problema em foco. São colhidas em mostradores ou em caixas metálicas. As superfícies
expostas das amostras são parafinadas, e transferidos com cuidado, para os laboratórios e ali armazenadas
em câmaras úmidas, até o instante de serem ensaiadas.
Para as amostras superficiais, usa-se a forma de amostragem apresentada a seguir, na Figura 94.
Em camadas subsuperficiais, situados acima do N.A., os poços e as trincheiras permitem a coleta
de amostras indeformadas, em forma de blocos e anéis.
As sondagens de simples reconhecimento, quando executadas com diâmetro de 4" e 6", possibilitam tam
bem a coleta de amostras indeformadas. Exige-se, neste caso, o uso de mostradores especiais e
um processo de cravação em que o mostrador é forçado contra o terreno, num movimento contínuo e
rápido com o auxílio de um dispositivo de reação no revestimento ou com macaco hidráulico.

b. Amostras Especiais

Em solos coesivos e de consistência de mole a média o mostrador de paredes finas, tipo


SHELBY, é grande mente empregado. 5 composto de um tubo de latão ou de aço inoxidável de espessura
reduzida. Preferem-se os de latão aos de aço, por serem mais resistentes à corrosão. Quanto mais finas as
paredes do amostrador, menor será amolgamento da amostra, entretanto, deverá haver, em função do
diâmetro, uma espessura mínima, para que o amestrador não flambe ou amasse, durante a amostragem.
Este inconveniente é evitado, quando se têm amostradores, com relação de área inferior a 10%, Figura 95.

119
Para que haja uma redução do atrito entre a amostra e as paredes do tubo, projetam-se os
amostradores com uma folga interna de 1%, Figura 95.
Uma folga maior facilitaria a entrada da amostra no amostrador, mas aumentaria o risco de ela cair,
quando da operação de retirada da amostra do furo de sondagem. Uma quantificação do amolgamento
poderia ser dada pela porcentagem de recuperação da amostra: relação entre o comprimento cravado da
amostra e o comprimento cravado do amestrador, dado em percentagem. Quando esta relação for maior
do que 100% significa um deslocamento do solo, por causa da espessura das paredes do amestrador ou do
desenvolvimento de atrito lateral interno, insuficiente para resistir à tendência de incitamento da amostra,
resultante do alívio de tensões experimentadas por ela. Por outro lado, para porcentagens menores que
100%, a causa pode ser o atrito lateral interno excessivo. Uma porcentagem ideal seria um pequeno
intervalo, em torno de I00%.

120
Apesar de serem bastante empregados no Brasil, os amestradores de parede fina, tipo SHELBY,
não permitem um controle da porcentagem de recuperação. Dentre os tipos usuais surgidos nos Últimos
anos podem se enumerar:

- Amostradores de Pistão

A porcentagem de recuperação conseguida em amostradores de pistão, mesmo em solos de difícil


amostragem pode facilmente atingir 100%. O amestrador é um tubo de paredes finas, equipado com um
pistão que ocorre no seu interior. Este possui uma haste que se prolonga até a superfície do terreno, por
dentro da haste oca do amestrador. A presença do pistão favorece a amostragem, pois não permite o
encurtamento da amostra, por ação do atrito entre esta e as paredes do amestrador, sem que haja a criação
de vácuo, no topo da amostra. Além disso, este vácuo e capaz de reter a amostra de solos não coesivos,
na operação de retirada do amestrador do furo de sondagem, Figura 96.

- Amostrador Sueco

O amostrador sueco permite uma sondagem contínua do subsolo, não senso preciso retirar o
amestrador, a cada meio metro, aproximadamente. Possui um pistão que permanece fixo, durante o
processo de amostragem. Nele se fixam as pontas de tiras de papel de alumínio que são montadas em
carretéis, dentro de uma peça especial e que se distribuem ao longo de todo o perímetro do amostrador.
A presença do papel alumínio reduz o atrito entre a amostra e as paredes do tubo, e permite a obtenção de
amostras com vários metros de comprimento, Figura 97.

- Amostrador Deninson

O amostrador Deninson destina-se à amostragem de solos resistentes, em que não se consegue


uma amostragem por cravação. Pode ser fixado às sondas rotativas. O equipamento consiste em dois
cilindros, sendo um interno e um externo rotativo, dotados de sapata cortante. A amostra obtida pela
rotação do cilindro externo penetra no cilindro interno, sendo suportada pelo atrito das paredes e por mola
retentora. Para a perfuração, usa-se o processo de circulação de lama, que ainda estabiliza as paredes do
furo, Figura 98.

121
122
CAPITULO XI2

COMPACTAÇÃO

1. Definição e Importância

A compactação é entendida como ação mecânica por meio da qual se impõe ao solo uma redução
de seu índice de vazios. Embora seja um fenômeno similar ao adensamento, no uso diário dos termos,
tem-se-lhes dado conotações diferentes. Enquanto no adensamento a redução de vazios é obtida pela
expulsão da água intersticial, num processo natural ou artificial, que ocorre ao longo do tempo, e que
pode durar centenas de anos; na compactação esta redução ocorre, em geral, pela expulsão do ar dos
poros, num processo artificial de pequena duração.
O efeito da compactação resulta na melhoria das qualidades mecânicas e hidráulicas do solo, e
entre elas, o acréscimo de resistência ao cisalhamento e a redução da compressibilidade e dá
permeabilidade.
O índice final de vazios do solo é decorrente do tipo e esta do solo, antes da compactação e da
energia aplicada durante o processo.
Os tipos de compactação usuais podem ser manuais ou mecânicos. Nos processos manuais, utilizam-se
soquetes, em que a energia e aplicada mediante golpes sobre a camada. Nos processos mecânicos,
empregam-se soquetes mecânicos, rolos estáticos (lisos ou dentados) e vibratórios, em que a energia
aplicada depende da tensão aplicada e do número de passadas que se dá sobre a camada.
Historicamente, as técnicas de compactação evoluíram em face dos problemas de estabilidade e
estanqueidade de maciços de barragens e pela imposição da ausência de recalque em pavimentos
rodoviários. Nos dias atuais, é também usada como método de melhorar a capacidade de suporte dos
solos superficiais.

2. Curva de Compactação

A primeira contribuição significativa ao estudo da compactação foi dada por Ralph Proctor, em
1933. Ele descobriu a relação existente entre a massa específica seca, o teor de umidade e a energia de
compactação. Para uma energia fixa, a massa especifica seca aumenta com o teor de umidade até atingir
um valor máximo para decrescer daí por diante, Figura 99.
O teor de umidade, que proporciona a massa especifica máxima, é denominado teor ótimo.
Pode-se, de uma forma geral, explicar o fenômeno da compactação, levando em conta a grande
influência que a água intersticial exerce, principalmente, sobre o comportamento dos solos finos. No
ramo seco da curva de Proctor (à esquerda do teor ótimo de umidade tendo o solo baixo teor de umidade,
a água de seus vazios esta sob o efeito capilar. As tensões de capilaridade tendem a aglutinar o solo
mediante a coesão aparente entre suas partículas constituintes. Isto impede a sua desintegração e o
movimento relativo das partículas para um novo rearranjo. Este efeito é reduzido à medida que se
adiciona água ao solo, uma vez que ela destrói os benefícios da capilaridade, tornando este rearranjo mais
fácil. No ramo úmido da curva de Proctor, sendo eleva do o teor de água, ela, em forma de água livre,
absorve parte considerável da energia de compactação aplicada. Como a água é incompressível, parte
desta energia é dissipada.
A aplicação de energias de compactação maiores produz uma redução do teor ótimo de umidade e
uma elevação do valor da massa específica seca máxima. A Figura 100 dá uma idéia deste fato.
As curvas de compactação de materiais granulares bem graduados possuem um máximo bem
caracterizado e apresentam maior massa especifica máxima e menor teor ótimo de umidade do que os
solos de granulometria uniforme ou argilosos. Nestes, a curva não possui um máximo bem definido. Os
solos siltosos ocupam uma posição intermediária. A Figura 101 dá uma idéia deste fato.

2
Mecânica dos Solos - vol. 1 – Benedito de Souza Bueno & Orencio Monje Vilar – Depto de Geotecnia –
Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo
123
3. Ensaio de Compactação
124
O ensaio de compactação desenvolvido por Proctor foi normalizado, pela associação dos
departamentos rodoviários americanos A.A.S.H.O. (American Association of State Highway Officials) e
é conhecido como Ensaio de Proctor Normal ou como A.A.S.H.O. Standard. (Entre nós, ele foi
normalizado pela ABNT por meio da MB-33 e tomou o nome de Ensaio Normal de Compactação).
O ensaio consiste em compactar uma porção de solo em um cilindro de 1000 cm3 de volume, com
um soquete de 2,5 kg, caindo em queda livre de uma altura de 30 cm (Figura 102).

O solo é colocado dentro do cilindro, em três camadas. Sobre cada uma se aplicam 25 golpes do
soquete, distribuídos sobre a superfície do solo. As espessuras finais das três camadas devem ser quase
iguais. Após a compactação de cada uma delas, a superfície é escarificada com o propósito de dar uma
continuidade entre as camadas. O topo da terceira camada, após a compactação deverá estar rasante com
as bordas do cilindro.
A energia aplicada pelo ensaio normal de compactação é dada pela formula:

p⋅L⋅n⋅ N
E=
V
em que:

E = energia aplicada ao solo, por unidade de volume


p = peso do soquete
L = altura de queda do soquete
n = número de camadas
N = número de golpes aplicados a cada camada
V = volume do cilindro

Por causa do aparecimento de equipamentos de grande porte, dotados de elevada energia


específica de compactação, para diante dos grandes volumes dos aterros e da velocidade de construção
impostas, atender aos prazos de cronogramas, foi criado o ensaio de Proctor Modificado. Neste ensaio, a
energia de compactação foi aumentada; deixou-se constante o número de golpes por camada, e elevou-se
o peso do soquete para 4,5 kg, o número de camadas para 5 e a altura de queda para 45 cm.
O solo a ser ensaiado deverá apresentar um teor de umidade inferior ao ótimo previsto, ou seja,
em torno de 5%. Após a compactação, deve-se anotar a massa do corpo de prova para determinação da
massa especifica e retirar três porções do solo, colocá-las em cápsulas e levá-las à estufa para
determinação do teor de umidade. Em seguida, adiciona-se uma quantidade de água ao solo, suficiente
para elevar, em relação ao ponto anterior, o seu teor de umidade, em torno de 2%. Toda a técnica descrita
neste parágrafo deve ser repetida.
125
O ideal será tomar de 4 a 5 pontos de forma que se possam ter dois pontos abaixo e dois acima do
teor ótimo.
De posse dos pares de valores, massa especifica do solo e teor de umidade, pode-se calcular a
massa específica seca mediante a conhecida relação:

γ
γd =
(1 + w)
Com os pares de valores γd x w traça-se a curva de compactação e determina-se o teor ótimo e a
massa específica seca máxima (Figura 103). Traçam-se também as curvas de saturação, que podem ser
calculadas, a partir da fórmula:

Além da técnica de compactação com reuso do material, em que se utiliza apenas uma porção de
solo, que é destorroado e homogeneizado, após cada operação de compactação, pode-se também realizar
o ensaio, tomando amostras iguais com o mesmo teor de umidade inicial, para a determinação de cada
ponto da curva. Pode haver uma pequena variação no resultado obtido com os dois processos, sendo que
os solos mais argilosos são mais sensíveis ao fenômeno.

4. Equipamentos de Compactação

Pode-se classificar os equipamentos de compactação em três categorias:

a. Soquetes

- manuais
- mecânicos

b. Equipamentos estáticos

- rolos dentados
- rolos pneumáticos
- lisos

126
c. Equipamentos vibratórios

- placas
- rolos

Descreve-se a seguir os principais tipos de equipamentos e suas utilizações, tendo como base as
recomendações do NAVDOCKS DM-7 (Departament of the Navy, Bureau of Yards Docks).

a. Soquetes: São utilizados em locais de difícil acesso, como no apiloamento de valas e trincheiras etc.
Possuem um peso mínimo de 15 kg. A espessura da camada compactada, se em solos finos, deve ter
de 10 a 15 cm, e se em solos grossos, 15 cm. Os soquetes podem ser mecânicos ("sapos") ou manuais.

b. Rolos Estáticos

b.1 - rolo pé-de-carneiro.

É constituído de um tambor metálico em que são solidarizadas protuberâncias de forma tronco-


cônica com altura de 18 a 25 cm. Geralmente não autopropulsivos são arrastados por tratores.
Pela forma de aplicação das cargas, são recomendados para compactação de solos argilosos. São
particularmente empregados na compactação de núcleos de barragens, em que se exige um
perfeito entrosamento entre as camadas. A espessura da camada compactada deve situar-se em
torno de 15 cm. O número de passadas deve ser de 4 a 6, aproximadamente, para solos finos e de
6 a 8 para solos grossos.
As dimensões e o peso do equipamento devem ser tomados em relação ao tipo de solo.

Tipo de Solo Área de contato Pressão de contato da


da pata ( cm2) Pata (kg/cm2)
Solos finos 32 a 77 17 a 33
(IP < 30)
Solos finos 45 a 90 15 a 27
(IP > 30)
Solos grossos 64 a 90 10 a 17

Para maior eficiência na compactação dos solos, com teor de umidade situado acima do teor
ótimo, a pressão de contacto deve ser menor do que se estes solos estivessem situados abaixo do
teor ótimo.

b.2 Rolo liso

Compõe-se de um cilindro de aço oco, podendo ser preenchido com areia ou pedregulho, para
aumento da pressão aplicada. São apresentados com uma roda, duas rodas em tandem ou três.
Por causa de sua pequena superfície de contacto são utilizados na compactação do capeamento e
em base de estradas. São indicados também para compactar camadas finas de 5 a 15 cm.
Os rolos tipo tandem são indicados para a compactação de bases e subleitos de estradas em que as
espessuras a serem compactadas variam de 20 a 30 em. Em geral, 4 passadas são suficientes.
São apresenta dos nos pesos de l a 20 toneladas.
Os rolos com três rodas são utilizados para a compactação de solos finos. Os pesos
recomendados são de 6 a 7t para materiais de baixa plasticidade e de l0 t para materiais de alta
plasticidade. Em geral, 6 passadas são suficientes para compactar uma camada de 15 a 20 cm de
espessura.

b.3 - Rolos Pneumáticos

São eficientes para a compactação de capas asfálticas, e têm grande aplicabilidade em bases e
sub-bases de estradas. Aplicam-se também em solos grossos sem coesão, com 4 a 8%, passando
127
na malha 200, cuja espessura de camada deve estar em torno de 25 cm, dando-se de 3 a 5
passadas. Utilizam-se também em solos finos ou em solos grossos bem graduados que tenham
mais de 5%, passando na malha 200 em camadas de 15 a 20 cm de espessura, e aplicando-se de 4
a 6 coberturas. O uso de rolos com cargas elevadas proporciona bons resultados, entretanto, são
capazes de considerável penetração no solo, e isto gera grande deslocamento do solo superficial, e
pode causar o aparecimento de fendas de ruptura.

c. Placas e Rolos Vibratórios

São utilizados para compactar solos grossos com menos de 12%, passando na malha 200. São, no
entanto, mais adequados para solos com 4 a 8%, passando na malha 200. A espessura da camada
compactada deve situar-se em torno de 20 a 25 cm, e com cerca de três coberturas atinge-se uma boa
compactação.
De modo geral, podem ser empregados na compactação de solos granulares, uma vez que atuam
no sentido de destruir temporariamente a resistência ocasionada pelo ângulo de atrito interno do solo.

5. Controle de Compactação

O solo trazido das áreas de empréstimos deve ser espalhado uniformemente sobre a área a ser
aterrada, em espessuras tais que, após a operação de compactação, atinjam as especificadas. Geralmente,
quanto mais finas, haverá melhoria não só da compactação como também do controle. Uma faixa ideal
de espessura deve situar-se entre 20 a 30 cm, chegando a um máximo de 45 cm. A escolha do tipo de
equipamento e do número de passadas pode ser feita em aterros experimentais, os quais podem mesmo
ser as primeiras camadas da obra a ser construída.
Uma vez definidos a espessura da camada, o tipo de equipamento e o número de passadas,
restaria apenas manter o solo tanto quanto possível perto da unidade ótima, a fim de que se pudesse obter
uma alta eficiência na operação de compactação.
Tem repercussões bastante sérias, sob o aspecto de comportamento, o fato de a eficiência de
compactação não atingir as vizinhanças do ponto máximo. Ocorre, às vezes, que o par de valores
conseguido (γmáx, -w) situa-se muito à esquerda ou muito à direita do ponto máximo (γmáx, wot). No
primeiro caso, a deficiência de água faz com que a água absorvida encontre-se com elevadas tensões
neutras negativas. Estas tensões dão ao solo uma alta resistência e pequena deformabilidade. Entretanto,
a saturação do solo pode fazê-lo perder estas características de comportamento, passando a ter baixa
resistência e alta deformabilidade. Ela tem expressiva importância na estabilidade dos maciços, quer pelas
conseqüências geométricas, quer pela grandeza das tensões neutras induzidas. Portanto, este fato tem
grande significância em aterros de barragens. No segundo caso, não haverá uma diferença no seu
comportamento final, visto que inicialmente sua resistência ao cisalhamento será baixa e sua
deformabilidade alta. Diante disso, nota-se a importância de obter-se uma compactação de campo que se
aproxime da máxima especificada no laboratório, ou, em outros termos, mostra que se deve criar um
intervalo de variação para γd e para w, em função de γdmáx e wot , a ser conseguido em campo.

γd
GC =
γ d , máx
∆w = w - w ot

O coeficiente GC, chamado grau de compactação, é entre a massa específica seca do aterro
compactado e especifica seca máxima obtida no laboratório.
O coeficiente GC, chamado grau de compactação, é a relação entre a massa específica seca do
aterro compactado e a massa e específica seca máxima obtida no a laboratório.
O valor ∆w, conhecido como desvio de umidade, é a diferença entre o teor de umidade do aterro
compactado e o teor de umidade ótimo de laboratório.

128
Na pratica, o projetista, em face de sua experiência e das especificações existentes, estabelece
determinado grau de compactação e um desvio de umidade (GC = 95% do ensaio de Proctor Normal e
∆w = ± 2% em torno da umidade ótima, por exemplo) que devem ser conseguidos no campo.
A verificação das especificações estabelecidas é conhecida como controle de compactação. É
importante frisar que apenas possível lançar uma nova camada no aterro, após ter-se conseguido, na
camada anterior, os valores de GC e ∆w especificicados.
A obtenção da massa específica do aterro pode ser determinada, cravando-se no aterro um
cilindro biselado, de volume conhecido, registrando-se o seu peso, ou ainda, abrindo-se um furo sobre a
camada com a pesagem do material escavado e medição indireta do volume do furo aberto. Para isso
preenchesse o furo com areia de massa especifica conhecida ou com um líquido, introduzido no interior
de uma membrana deformável. A determinação do teor de umidade w, do aterro, com secagem do
material em estufa, pode exigir várias horas de espera, fato incompatível com o ritmo de trabalho das
grandes obras. Para superar este impasse, têm-se utilizado processos rápidos aproximados, como o de
secar o solo em uma frigideira ou o de atear fogo em uma mistura de solo e álcool, ou ainda, por meio do
"speedy moisture tester". Nele certa quantidade de solo é inserida no interior de uma garrafa, que
contenha carbureto. A água absorvida, reagindo com o carbureto, resulta numa pressão que atua em
membrana deformável, acionando um manômetro. Esta pressão é correlacionada com o teor de umidade.
Existem ainda equipamentos não destrutivos, que se utilizam da radiação y. Esta radiação difundida na
camada passará por uma dispersão proporcional ao número de partículas 11 existentes no meio. O
inconveniente destes aparelhos é a necessidade de contínuas calibrações.
Outro método de controle rápido aproximado foi desenvolvido por Jack Hilf. Permite obter
informações do grau de compactação e do desvio de umidade, sem a necessidade de secar o material. O
teor de umidade é calculado apenas como verificação posterior.
Para efeito ilustrativo do método, imagine-se uma camada de um aterro com massa específica
seca γda e teor de umidade wa. Se tomar uma porção deste solo, compactando-se no cilindro de Proctor,
obtém-se o valor de γd, que pode ser diferente do valor de γda, uma vez que as energias empregadas não
são, em geral, iguais.

γa = γda . (1 + wa) e γc = γdc . (1 + wa)

γ a γ da (1 + wa ) γ da
= = =E
γ c γ dc (1 + wa ) γ dc

O grau de compactação do solo pode ser encontrado de forma análoga, a partir das massas
específicas úmidas, se conhecer o valor de γdmáx - (1 + wa), pois, de fato:

γ da (1 + wa ) γ
GC = = da
γ d , máx (1 + wa ) γ d , máx

Pode-se converter o valor da massa especifica seca máxima γdmáx.(1 + wot) em uma expressão que
incorpore o teor de umidade do aterro γdmáx.(1 + wa), dividindo-se essa expressão por (1 + wot)/(1 + wa).
Assim:

γ d , máx (1 + wot )
= γ d , máx (1 + wa )
1 + wot
1 + wa

A expressão

1 + wot w − wa
= 1 + ot =1+ z
1 + wa 1 + wa
129
em que
wot − wa
Z=
1 + wa

representa uma quantidade de água adicionada à amostra, em relação ao seu peso, quando seu teor de
umidade era wa. Para dar-se conta deste fato, basta multiplicar ambos os membros de z pelo valor do peso
seco da amostra.
O gráfico da Figura 104 apresenta duas curvas. A superior, a das massas específicas úmidas,
representa o resultado de compactar-se, no cilindro de Proctor, amostras retiradas do aterro, com valores
crescentes do teor de umidade. A curva inferior resulta de uma conversão das massas especificas de
campo, colocadas em função do teor de umidade do aterro.

Sendo o valor de l + wa uma constante, o ponto de máximo da curva inferior será o valor de γdmáx,
uma vez que a única variável é γd. Portanto,

γ da (1 + wa ) γ
GC = = da
γ d , máx (1 + wa ) γ d , máx

Para a obtenção do grau de compactação pelo método de Hilf, determina-se em primeiro lugar, a
massa especifica do aterro. Em seguida, compactam-se, no cilindro de Proctor, amostras com valores
crescentes ou decrescentes de Z, sendo Z uma quantia de água fixa tomada em relação ao peso do inicial.
De posse de vários valores de Z e das massas especificas convertidas, obtém-se o valor de γdmáx.(1 + wa).
A obtenção do valor de ∆w é conseguida substituindo o valor da ordenada zm correspondente à
massa específica seca máxima de Proctor. Ou,

wot − wa = z m (1 + wa ) , mas
w − wa
1 + z m = 1 + ot , portanto
1 + wa
1 + wot
wot − wa = z m
1 + wa

130
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