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CAPÍTUWUM u
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Pc-restrolka: Origens, Conteúdo, Canitér E
ou
Revolucionário · CC
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CC
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C')
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O QUB PERBSTROIKA? O que levou à idaa de reestruturnçlo?- i:5
Qual scú significndo nà história do socialismo? O que prenun-
cia pruu os povos da URSS? Como poderá influcnclnr o mun-
' .. do lá fora? Todas estas questões dizem respeito à opinlllo p\l•
blica mundial e tem sido ntivamcnte discutidas. Vnrnos comc-
t
çnr pc_la primeira.

l'en!Slroika: uma n«eSSidadc urrente

Acho que devemos ter cm mente um ponto cm especial quando
estudamos ns origens e a subst~ncla da perestroika m, URSS.
Ela não e um capricho de um punhado de indivíduos amblclo-
sos ou de um grupo de líderes. Se o fosse. nenhuma. cxorução.
reunião plenária ou mesmo congresso do pnrtldo poderia ter
reunido o povo para o trabalho que estamos fazendo e que en-
volve cada vez mais soviéticos, todos O$ dias.
A pcrcstroika e uma necessidade urgente que suraiu da pro- f
fundidade dos processos de desenvolvimento cm nossa socie-
dade soclruistn. Estn cncontm~sc prontn para ser mudada e hli
muito tempo que nnscla por mudnnças. Quruqucr dcmoru para 1
implnntnr n pcrcstroikn podcrin lcvnr. num futuro pr~mo. a
uma situnç1\o interna c.uccrbnda que, cm termos claros. cons-
tituiria um terreno fútil para uma grnve crise socl&ll, cconOml• ij
t cn e politlca.
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 I
por nosso povo. Em sua base encontram-se as proeza~ de no~- ,_
Chegamos a essas conclusões depois de uma análise ampla (l)
e objetiva da situação que se desenvolveu em nossa sociedade sos pais e avós, de milhões de trabalhadores: o~erários, agn- e
cultores e intelectuais, que há setenta anos asswruram a respon- e
em meados dos anos 80. Essa situação e os problemas decor- ro
rentes na época foram enfrentados pela liderança do país, na sabilidade direta pelo futuro. do país. . , u
(J')
qual novas figuras têm surgido gradualmente durante os últi- Gostaria que o leitor refletisse sobre tudo isso; caso contra•
rio, será muito difícil compreender o que aconteceu e está _aco~-
E
mos anos. Gostaria, de examinar aquL os principais resultados ro
dessa análise, na qual tivemos de reavaliar muitos pontos e re- tecendo em nossa sociedade. Retomarei aos aspectos histón• u
ver nossa história recente, e a menos recente também. cos de nosso desenvolvimento mais adiante. Deixe-me primeiro E
A Rússia, onde uma grande revolução1 ocorreu há setenta explicar a situação nada simples que se desenvolveu no país n~s 1 ou
anos, é um país antigo, com uma história singular repleta de anos 80 e que fez: com que a peres~ç,jklje_to_rnasse..nec~ária -._ ro
buscas, conquistas e eventos trágicos, que deu ao mundo mui- e inevitável. - - - - ···· - --· · · \ '"C
ro
tas descobertas e personalidades ilustres. .
,Num-certo momento, e isto ficou bastante claro..na .
. segunda \:1 -<. N
No entanto, a URSS é um Estado jovem sem equivalentes metade dos anos 70, aconteceu algo que à pnme1ta VlS~ pa- ro
:t=
na história do mundo moderno. Durante as últimas sete déca• recíã "inexplicável.; o país começou a perder impulso. Os insu- ·! C)
das, um
curto período de tempo em relação à história da civili- cessos econômicos eram mais freqüentes, as dificuldades co- i:5
,t<i, zação humana, nosso país percorreu uma distância equivalente meçaram a se acumular e deteriorar, e os problemas nã?•~olu-
Q, a séculos. Transformou-se numa das potências mais fortes do cionados multiplicaram-se. Começaram a aparecer na vida so-
mundo em substituição ao império russo atrasado, semicolo- cial elementos do que chamamos c!t estagnaçã<? e outros fe-
nial e semifeudal. Forças produtivas imensas, um vigoroso po- nômenos estranhos ao socialismo. Formou-se uma espécie de
tencial intelectual, uma cultura altamente avançada, uma co- f freio qÜe.. afetou o desenvolvimento sócio-econômico. E tudo
1
munidade única com mais de 280 milhões de pessoas, ocupan- "'
i_; isso aconteceu numa época em que a revolução científica e tec-
do um território igual a um sexto' da Terra: estas são, as grandes nológica abria novos horizontes para o progresso econômico
e incontáveis conquistas do povo soviético, que com toda a ra- e social.
zão se orgulha delas. Estava ocorrendo algo estranho: a enorme roda de uma po-
Não digo isso para que meu país pareça melhor do que era tente máquina entrava em ação, porém a energia gerada se per-
ou é. Não desejo que me tomem por um apologista para quem dia nos canais transmissores ou o acionamento destes era frouxo.
o meu significa' o melhor e indiscutivelmente o superior. O que Analisando a situação, primeiro descobrimos uma diminui- \
acabei de dizer constitui a realidade, fatos autênticos, o produ• ção do crescimento econômico. Nos últimos quinze anos, a ta- ',
to visível do trabalho de várias gerações de nosso povo. Fica xa de crescimento da renda nacional caíra para mais da metade '
igualmente claro que o progresso do país só foi possível graças e, no início dos anos 80, chegara a um nível próximo da estag- 1
~à revolução, é o resultado dela. É fruto do social~~mo: o no~o nação econômica. Um país que antes estivera alcançando rapi-
.:J sistema social;· e o · resultado de uma escolha h1stónca feita damente as nações mais avançadas do mundo, agora começava
.J a perder posição. Além disso, o hiato existente na eficiência da
/ ' 1:. ' produção, na qualidade dos produtos, no desenvolvimento cien-
/ 1 De acordo~ o cal~1dário juliano, que foi usado atê fevereiro de 1918, a ~lu• •
ção Russa.começou an 2$ de.outubro de 1917, imedias antes ~ue no ,calendário grc-
l
.,
"\ tifico e tecnológico, na geração da tecnologia avançada e em
joriano,' jd-almmte'a'.dotado. ~ por i550 que oomemoramos o an1vtrsáno da revolução
seu uso começou a se alargar, e não a nosso favor.
no dia 7 de nowmbro.
\ 17
16 r.··

J
i
.
'

... , ...
 . .-A _politica d~ crescimento do produto bruto. principalmente
rta,. íridústria pesada•. passou a ser tarefa de máxima prioridade
euinfün ems1.·Aconteceu o mesmo com.a alocação de verbas.
onde uma porção considerável da riqueza nacional transfonnou-
/ se em capitàl ocioso. Havia projetos caros que nunca atingiram
os mais altos padrões científicos ou tecnológicos. O trabalha-
" dor,..ou a empresa, que.tinha empregado a maior quantidade
\ de trabalho. matma-pri.ma ou dinheiro. era considerado o me-
)
~ \ lhor.-É normal.que o produtor _q ueira agradar o consumidor,
digamos; todavia. entre nós, este viu-se totalmente à mercê da-
quele. tendo de se contentar com o que o produtor escolhia dar-
lhe. Isto também era uma conseqüência da política de cresci-
mento do produto bruto.
Tomou-se característica de muitos de nossos dirigentes eco-
nômicos pensar nas mais diversas maneiras de usar mais mate-
e rial e horas de trabalho num item, para vende-lo por um preço
i-
mais elevado, em yez de se dedicarem a promover o crescimen-
r to. efetivo da economia nacional. Conseqüentemente, mesmo
1' com todo o rendimento bruto, havia falta de bens. Gastamos.
e na verdade ainda estamos gastando. muito mais cm matérias-
primas, energia e outros recursos por unidade produzida do que
outras nações desenvolvidas. A riqueza de nosso país em ter-
mos de recursos naturais e de mão-de-obra nos viciou e pode-
"' mos até dizer que nos corrompeu. Na verdade, esta é a princi-
pal razão que possibilitou o desenvolvimento amplo de nossa
economia durante décadas.
-· J Estando acostumados a dar prioridade ao fator quantitativo
·: da produção, tentamos controlar as taxas decrescentes do cres-
' cimento mas o fizemos principalmente aumentando os gastos
\ de mod~ continuo. Expandimos as indústrias de combustíveis
\ e energéticas, e aumentamos o uso dos recursos naturais na
produção.
Com o tempo. as reservas começaram a escassear e a ficar
mais caras. Por outro lado, os métodos amplos de expansão do
q1pital fixo _causaram u~a ~ e z artificial de rnão-de-ob~.
Numa tentativa de corrigir tal situação, começamos a pagar bo-
18
nus altos e injustificáveis, porque de fato imerecidos, e foram ....
QJ
introduzidos todos os tipos de incentivo injusto devido à pres- e
são dessa escassez. Mais tarde. isso conduziu à prática de se ' ·i e
ro
colocar itens falsos nos relatórios-só para auferir ganhos. Ocom- / u
(J)
portamento parasitário aumentava e o prestigio do trabalho cons- E
ciencioso e de alta qualidade começou a diminuir, espalhando- ro
se a mentalid;\de do nivelamento de salários. O desequilíbrio O o
entre a quantidade de trabalho e de consumo, que se transfor- E
mara cm al6o parecido a uma trava de freio. não só obstruiu o
u
o crescimento da produtividade do trabalho como também le- ro
vou à distorção do princípio de justiça social. Deste modo, a -e
ro
inércia do desenvolvimento econômico extensivo conduzia-nos N
a um beco sem saída e à estagnação. ro
.-t=
Cada vez mais a economia era pressionada em termos finan- C>
ceiros. A venda de grandes quantidades de petróleo, outros com- .
bustíveis, recursos energéticos e matérias-primas no mercado (i
o
mundial não ajudou em nada, só agravou a situação. Os ga-
nhos em moeda foram utilizados predominantemente no ata-
que imediato dos problemas, em vez de ser empregados na mo- >
demização econômica ou para diminuir o hiato tecnológico.
A queda das taxas de crescimento e a estagnação econômica
acabaram por influenciar outros aspectos da sociedade soviéti-
ca. A esfera social foi seriamente afetada por tendências nega-
tivas, o que levou ao aparecimento do chamado prindpio resi-
dual, de acordo com o qual os programas sociais e culturais re- :.,
cebiam o que sobrava do orçamento depois da alocação de re-
cursos para a produção. Parecia que éramos insensíveis aos pro-
blemas sociais. A esfera social começou a ser relegada a posi-
ções inferiores em relação a outras em termos de desenvolvi-
mento tecnológico, know-how, pessoal e, principalmente. qua-
lidade do trabalho.
Aqui encontramos mais paradoxos. Nossa sociedade tinha ga-
rantido empregos para todos e proporcionado garantias sociais ;
fundamentais. Todavia, ao mesmo tempo, deixamos de utilizar
o potencial do socialismo em sua totalidade para satisfazer as
exigências crescentes (habitação; qualidade e. algumas vezes,
19
 quantidade de alimentos; organização adequada dos servfços
de transporte~ assistência médica; educação e a busca de solu-
ção de outros problemas que surgiram no curso do desenvolvi-
mento social)._, .
!:5tava-s~ desenvolvendo uma situação absurda: a URSS, 0
maior ~rodutor mundial de aço, matérias-primas, combusúveis
/ ~ en~a, apresentava es~ssez de tais recursos devido ao uso
1
. 1 mefiaente ou ao desperdí~o. Apesar de ser um dos maiores pro-
/ dutores de grãos para alimentação, tinha de comprar milhões
/ de toneladas por ano para forragem. Possuímos o maior nú-
/ mero de médicos e leitos hospitalares para cada 1 000 habitan-
tes, e, ao mesmo tempo, existem claras deficiências em nossos
serviços de saúde. ~o~sos~foguetes conseguem encontrar o co-
meta de Halley e atmgir Venus com uma precisão surpreenden-
\ bilitação pós-guerra estava enfraquecendo..O alcoolismo, o con-
\ te, m~ ao !ªd~ desse.s triunfos ~ientíficos e tecnológicos existe
; uma ineficiência óbvia para aphcar nossas conquistas científi-
j cas às necessidades econômicas, e muitos dos eletrodomésticos
j na URSS apresentam uma qualidade sofrivel.
Infelizmente; isso não é tudo. Iniciou-se uma gradual erosão
de valores ideológicos e morais de nosso povo. . em alguns dos processos sociais vitais. Todos começaram a no-
Ficou claro que a taxa de crescimento caía rapidamente e que
todo o mecanismo de controle de qualidade não estava funcio-
1nando de forma adequada. Havia falta de receptividade com
, · relação aos ~vanços cie~tí~co_s e tecnol~gicos, a melho~j~ do
padrão de VIda estava dimmumdo e haV1a dificuldade no for-
necimento de alimentos, habitação, bens de consumo e serviços.
'Iàmbém no campo ideológico, o mecanismo paralisante criou
maior resistência às tentativas de examinar construtivamente os
problemas emergentes e as novas idéias. A propaganda do su-
cesso, real ou imaginário, estava ganhando terreno. Os elogios
e o servilismo foram encorajados; as necessidades e opiniões
dos trabalhadores comuns, geralmente ignoradas. Nas ciências
sociais, a teoria _escoJástica foi estimulada e desenvolvida; o pen-
1
l; samento criativo, expulso, declarando-se juízos voluntaristas e
supérfluos como verdades incontestáveis. As discussões cientí-
j.. ficas e teóricas, indispensáveis ao desenvolvimento do pensa-
t 20
1
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mento e ao esforço criativo, foram emasculadas. 'Jendências ne- ,_
(l)
gativas semelhantes também influenciaram a cultura, as artes e
e
e o jornalismo, bem como os métodos de ensino e a medicina, ro
onde a mediocridade, o formalismo e o panegírico retumbante u
(J')
vieram à tona. E
A apresentação de uma realidade sem problemas foi um tiro , ro
que saiu pela culatra: havia uma cisão entre palavras e atos que '. . u
gerou uma passividade no público e a descrença nos lemas pro- E
clama~os. Era apenas natural que essa situação criasse um hiato ou
de credibilidade: tudo o que era proclamado nas tribunas e im- ro
presso nos jornais e livros foi posto em dúvida. Começou a de- "C
ro
cadência da moral pública: o forte sentimento de solidariedade N
forjado durante os tempos heróicos da revolução, dos primei- ro
.t=
ros planos qüinqüenais, da Grande Guerra Patriótica e da rea- C')
i:5
sumo de drogas e o crime aumentavam. A penetração de este-
reótipos da cultura de massa estranha à nossa gerou vulgarida-
de e mau gosto, aumentando a aridez ideológica.
A liderança do partido estava frowca e perdeu-se a iniciativa
tar a estagnação da liderança e as violações de seus processos
naturais de mudança. A certa altura, isso contribuiu para uma
atuação insatisfatória do Politburo1 e do Secretariado2 do Co-
mitê Central do Partido Comunista da União Soviética, do go-
verno e do Comitê Central inteiro e de toda a máquina do
partido.
A sedução política e a distribuição indiscriminada de prêmios, ,
títulos e bonificações freqüentemente substituíram uma preo- d
cupação genuína para com o povo, suas condições de vida e
1 Politburo do Comitê Central do Partido Comunista da União Sovi~úca: ór1ão cole-
giado de liderança do Comitê Central do PCUS. Seus membros são eleitos numa reu-
nião plenária do Comitê Central para dirigir o trabalho do panido no intmalo entre
as reuniões plenárias do Comitê Central.
2 Secretariado do Comitê Central do PCUS; órgão cujos membros são eleitos numa
reunião plenária do Comitê Central para supervisionar os trabalhos do dia-a-dia do
panido, principalmente a seleçao dos quadros e a organização do controle do cumpri•
mcnto das decisões adotadas.
21
 I
l 1
dc·trabalho, e uma atmosfera social favorável. Surgiu um cli-
q µia·de va1.~tudo e começou-se a negligenciar a disciplina e a
responsabilidade. lentou-se esconder isso tudo com campanhas
pom~, empreendimentos e comemorações de numerosos ani-
versários, ta!lto nacionais como locais. O mundo do dia-a-dia
e o ~ falsa pr~speridade ficaram cada vez mais separados.
· ·Várias orgaruzaç~es ~gionais do partido viram-se incapazes
de def~der seus prmdp1os ou atacar com determinação as más
tendênCJas, os comportamentos negligentes, a prática de aco-
bertamento m~tuo e a falta de disciplina. O princípio de igual-
Odade_ entre os membros do partido foi freqüentemente violado
e mtutos membros; ocupando postos de liderança, ficaram além
do·controle e ·da crítica, o que provocou falhas no trabalho e
malversações gravcs.-
.Em alguns.níveis da administração surgiu o desrespeito pela
lei e o cncoraJamento de trapaças e suborno, servilismo e glori-
ficação. Os trab~dores sentiam-se justificadamente indignados
com o comportamento de pessoas que, gozando de confiança
e_~~~ab~~àde, abusavam do poder, suprimiam a crítica,
~ -q u.~am-sc e, em alguns casos, até se transformavam em
cúmplices, se"não organizadores, de atos criminosos.
Para sermos justos, devemos·dizer que durante aqueles anos
ó) muitos problemas de vital importância também foram de al-
gum modo resolvidos. Porém, em primeiro lugar, eram proble-
mas que exigiam atenção há muito tempo; em segundo lugar,
quando se tomaram decisões, estas foram apenas parcialmente
1 ,·. implementadas, ou nem isso: simplesmente influenciaram al-
.. ;: guns aspectos 'da vida social, deixando o mecanismo paralisan-
te intacto.
É claro que as organizações do partido fizeram seu trabalho
'i e que a grande maioria dos comunistas cumpriu seu dever para
1 com o povo com sinceridade e desinteresse. Mas devemos reco-
nhecer que não houve um esforço real para impedir a ação de
O indivíduos desonestos, atrevidos e interesseiros. Geralmente as
medidas práticas tomadas pelo partido e órgãos do Estado fi-
caram aquém das exigências dos tempos e da própria vida. Os
1
22
..... . ..
problemas acumulavam-se mais rapidamente do que eram re- ....
(1)
solvidos. Em seu todo, a sociedade estava ficando cada vez mais e:
ingovernável. Pensávamos estar no controle. porém o que esta-
e:
(Q
va realmente acontecendo era algo que dizia respeito ao que ~ u
(/)
nin tinha prever.ido: o carro não estava indo na direção imagi- E
nada pelo condutor. (Q
Não se uata de ver aquele período só com tons escuros: a u
grande maioria do povo soviético trabalhou honestamente. As ~ E
ciências, c: economia e a cultura continuaram a se descn~lver. ' o
u
Por isso mesmo, os fenômenos negativos eram ainda mai.1 inad- • (Q
missíveis e dolorosos. "C
(Q
Penso ter dito o suficiente para que se possa entender a gra- .!::!
vidade da situação e a urgência de uma mudança total. O par~ (Q
tido encontrou força e coragem para aquilatar seriamente'a si-{) -~
O')
tuação e reconhecer que mudanças e transfonnações fundamen-
tais eram·indispensáveis. ·· i5
Um exame imparcial e honesto levou-nos à única conclusão
lógica: o país estava à beira de uma crise. Isto foi anunciado
na reunião plenária do Comit! Central1 em abril de 1985, que
inaugurou a nova estratégia da perestroika, formulando seus 1
princípios básicos.
Gostaria de ressaltar que essa análise começou muito antes !·
e, por isso mesmo, suas conclusões foram muito bem estuda-
das. Não foi algo que surgiu do nada, mas uma avaliação equi-
librada. Seria um erro pensar que apenas um mês depois da reu-
nião plenária do Comitê Central na qual fui eleito secretário-ge- ....
ra1 (março de 198S), tenha.aparecido de repente um grupo de
pessoas que entendiam e conheciam tudo e que tivessem res-
postas definidas para todas as perguntas. 1àis milagres não
acontecem.
A necessidade de mudança estava ganhando corpo não so-
mente no campo materia! da vida, mas também na consciên- f:
1 A reunião plen4ria do Comiti Central do PCUS propõs e deu forma conac1.1 ao con-
ceito de desenvolvimento sócio-econõmico acelerado para a URSS, o qual faz pane da
base da n<M ediçlo do programa do partido e foi endossado mau tarde pelo 27• Con•
a,esso do partido como uma diretiva fwidamental do mesmo.
23
 .,[/ eia do povo. Pessoas.com experiência prática, senso de justiça
e.empenho para com os ideais do bolchevismo criticavam a prá-
tica estabelecida de agir e notavam com preocupação os sinto•
mas da degradação moral e da erosão dos ideais revolucioná-
rios e valores socialistas.
. ~adores; agricultores e intelectuais, funcionários do par-
tido a nível central e local começaram a analisar a situação do
~afs,-:Havià ~a ércsc·ente conscientização de que não se ·podia
con~uar daquele ·modo por muito tempo: A perplexidad·e e
indignação jorraram quando se percebeu que os nobres valores
nascido~ com a Revolução de Outubro e a luta heróica pelo so-
cialismo estavam sendo pisoteados.
·Todas as pessoas honestas viam com amargura que o povo
es~ya perdendo seu interesse nos assuntos.sociais, que o traba-
lho não mais possuía seu status de respeitabilidade, que o po-
vo. principalniente os jovens, perseguia o_lucro a qualquer custo.
Nosso povo sempre teve uma capacidade intrínseca de enxer-
gar a difcrença entre palavras e atos. Não é de espantar que as
lendas folclóricas estejam repletas de escárnio dirigido contra
aqueles que apreciam a pompa e os ornamentos. Nossa litera-
tura, que sempre teve um papel importante na vida espiritual
do país, é impiedosa para com qualquer manifestação de in-
justiça·ou abuso de poder. Os escritores, produtores de filmes
e de teatro e os atores, em suas melhores obras, tentaram enco-
rajar a crença popular nas conquistas ideológicas do socialis-
mo e a esperança de um renascimento espiritual da sociedade
e, apesar das proibições burocráticas, e até mesmo perseguições,
prepararam moralmente o povo para a perestroika.
Mencionei isso tudo para que o leitor entenda que a energia
necessária à' ínÚdança··revolucionária vinha se acumulando há
'Ô algum tempo ci:n nosso povo·e no partido. As idéias contidas
na perestroika foram induzidas não somente por interesses e con-
& sideraçóes pragmáticos mas também por nossa consciência pe-
sada, pelo compromisso indomável para com os ideais que her-
damos da revolução e como resultado da busca teórica que
24
nos proporcionou um conhecimento melhor da sociedade e re-
forçou nossa determinação de avançar. ....
QJ
e
Voltando a Lênin,, fonte ideo/6gica da perestroika 9 :f e
ro
O impulso que inspirou nossa grande revolução era poderoso u
(J)
demais para qu~ o partido e o povo pudessem se resignar e acei-
tar os fenômenos que estavam ameaçando dissipar sua
E
CC
prosperidade. ·· o
As obras de Unin e seus ideais socialistas pennancccram co- E
nosco como fonte inesgotável de pensamento dialético_ériâti• o
u
vo, riqueza teórica e sagacidade política. Sua própria. ~agem ro
1
constitui um exemplo imortal de força moral grandiosa;cultu- "O
CC
ra espiritual versátil e devoção desprendida à causa p~pular e N
ao socialismo. Lênin contÍnua a viver nas mentes- e coraçõés de ro
milhões de pessoas. À méclida- que os fenômenos negativos se
.-t=
C>
acumulavam na sociedade, o interesse pelo leninismo e a sede f; o
de conhecê-lo mais profundamente no original cresceram, rom-
pendo todas as barreiras erigidas pelos escolásticos e dogmáticos.
Voltar-se para Lênin estimulou grandemente o partido e a so-
ciedade em sua busca de explicações e respostas às questões que
surgiam. Foram seus trabalhos, durante os últimos anos de vi-
da, que chamaram mais a atenção, e desejo citar minha pró-
pria experiência para confirmar esse fato. Em meu comunica-
do de 22 de abril de 1983, durante a reunião festiva dedicada
ao 113~ aniversário do nascimento de Lênin, eu me referi a suas
opiniões com relação à necessidade de se considerar as exigên-
cias das leis econômicas objetivas no planejamento e sistema
de computação de custos 1 e o uso inteligente das relações mer-
cadoria/dinheiro, além dos incentivos materiais e morais.
1
Slsttma dt computaç4o dt natos: o mf1odo de trabalho de uma empresa dcn1ro da
estrutwa do plano econômico nacional. Destina-se a empresas que usam meios de pro-
dução de propritdade pública e que pagam todos os seus C11S1os e débitos ao lbouro
Nadonal usando os lucros obtidos com a venda do, produt0s, de id&s dcnúfacas e
tecnologias, de serviços etc. Todavia, o Estado füaancia os programas de expansao e
modernização das cmp~. Com o sistema de computação aJoba1 de custos, inuodu•
zido cm 1987, uma tmprc5a fmal\Cia suas próprias despesas, e seus papmentOS ao le-
souro do Estado são reduzidos proporcionalmente àqueles.
25
 ,_
(l)
e
reunião plenária de abril, um grupo formado por lfd~res do Es-
e
•.::A. platéia -apoiou.-.entusiasticamente:a- referência às. idéias ro
leninistas. Senti, uma vez-mais, que minhas reflexões coinci- tado e do partido iniciou uma análise profunda da s1~ação da u
(J')
diam com os.sentimentos de meus companheiros de partido economia, que se transformou na base da do~~ntaçao d~ pe·
restroika. Utilizando as recomendações de cientistas e_ pe~tos, E
e de muitos daqueles que estavam seriamente preocupados com ro
nossos problemas e desejavam sinceramente solucioná-los. Na de nosso potencial total, do melhor que a filosofia social tinha u
criado, elaboramos as idéias básicas e redigimos um esboço do
vt:idàêfe,"militds'de' meus companheiros de partido sentiam ne-
programa de ação que em seguida c~m~ar!amos ~ executar. ;:-:-: E
.ééssiàifde preníénte dê renovaçãb social;' dé mudanças. Toda- :~r?, ou
,via, devo dizer que nem todos gostaram do comunicado, pór- Assim, acumulou-se um arsenal de 1dé1as construtivas-~ por
s!i ro

~r1
qtlé ífeiiihanlque"iiãô'"era' tão.otiriti~ta quanto os dos últimos conseguinte, na reu.nião plenária de abril de 1985, conseguUnos
"O
tênil)(is:· · ,·, 1" ' ,,• •-: : propor um progrnma sistemático, razoavelmente bem fo!111ula· ro
.. l
,, ... (O
· • • ..

,'. Hóje 'em diá;':entendemos melhor os úÍtimos trabalhos de Lê- do, e delineamos nm a estratégia concreta para o desenvolvtm.ento " > N
'1 ulterior do país e u m plano de ação. Estava.claro que-reparos r{I ro
niµ: '_qué cori.stit~em seu legado político, e compreendemos mais
e remendos não serviam: era preciso fazer uma revisão geral. yt~>
.,
❖/•!
:t=
claràmente a razão. dessas obras. Lênin estava gravemente doente ... C')
Tumbém não era possível esperar, pois muito tempo já tinha
e müíto preocÍÍpado com o futuro do socialismo. Ele enxergou
......,. 'j i:5
sido desperdiçado. . _ ~ .
os perigos que ameaçavam o novo sistema, e nós também deve-
A primeira questão foi como melhorar a s1tuaçao econorm- ~~~t:
mos compreender_essa preocupação. Ele viu que o socialismo 0
~·
Y
• r,._.-;.
~
;t
estava encontrando problemas imensos e que era preciso lutar
U contra muita coisa que a revolução burguesa tinha falhado em
ca, estancando e invertendo as tendências desfavoráveis naque-
le campo. A prioridade mais imediata dizia respeito a colocar ~~~-,J
·,m.··t
'
1
1

um pouco de ordem na economia, endurecendo a disciplina para

conseguir. Daí o emprego de métodos que não pareciam ser in-
:í~"#s'
aumentar o nível de organização e responsabilidade e poder re-
:::>.í'.' ro trínsecos ao socialismo ou que ao menos divergiam em alguns cuperar o atraso nas áreas em que ficamos para trás. Trabalha- ·~···
~f, ,._....·i
aspectos das noções clássicas geralmente aceitas de desenvolvi- ,i l //.••./.
mos duramente e ainda continuamos a fazê-lo. Como era espe-
:;t::-'(-:. 1

l
mento socialista.
~-·t:-tc rado, este empenho produziu seus primeiros resultados. A taxa 'i •'I: ,•:
1 " •· · O período leninista é, na verdade, muito importante. É es- de crescimento econômico parou de cair e está até mostrando l~:·<--~
::,
clarecedor porque provou a força da dialética marxista-leninista,
~
tmt· ~
cujas conclusões baseiam-se na análise de uma situação histó•
rica real. Muitos de nós já tinham percebido, muito antes da
alguns sinais de avanço.
Sem dúvida percebemos que· estes meios, sozinhos, não iriam
conferir um grande dinamismo à economia. Sabe-se que as prin-
~

~-. ~;'-í.
i
reunião plenária de abril, que tudo o que se referia a econo-
"l l.
1
cipais prioridades se encontram alhures: numa profunda reor-
...\,. t:
,- '
'~l •~ mia, cultura, democracia, política externa, em todos os cam- ganização estrutural da economia, na reconstrução de sua ba-
~3:
~~
pos, tinha de ser reavaliado. Era importante traduzir isso tudo se material, nas novas tecnologias, nas mudanças dos progra-
numa linguagem simples.

' ' 1 Um programa preparado com cuidado, não uma declaração

1
1
1.
mas de investimentos e em altos padrões de capacidade admi-
nistrativa. Tudo isso somado significa uma coisa.apenas: a ace-
leração d.9_ progresso científico e tecnológico.
:!-1 ~
~
-
.,-.
r'~~
.(J. !
pomposa E, certamente, não foi por acaso que, depois da reunião ple-
·~:i\J 1 O conceito de'reestruturação, com todos os problemas decor- nária de abril, o primeiro ato da nova liderança da URSS tinha ·1
1
1 -
'. rentes, tinha se desenvolvido gradualmente. Muito antes da sido discutir esses temas numa importante conferência do Co- '
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26 27
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:::·•·····;~:;::::::d.. , ::::.:." .'~'ê::J.~ :_ ; •. .:: ~..~~~
~tê. Centrai,do PCUS, em junho de 1985. Não foi o tipo de
discussão com,a :qual. estávamos acostumados durante tantos
anps! foram feitas.muitas críticas, amargas, mas veementes. To-
davia, aaminaram-sc principalmente modos e meios específi.
cos· e adequados para se passar para uma economia intensiva,
para um novo.tipo de crescimento econômico.
Durante aquele ano foram desenvolvidos programas essen-
ciais nas mais importantes áreas da ciência e tecnologia, cuja
finalidade é obter um grande avanço, de maneira a alcançar o
nível:mundial até o fim deste século. De fato, temos um novo
programa estrutural e de investimento: a ênfase está no reequi-
pamento técnico das empresas, em vez de construir novas, eco-
nomizando os recursos e melhorando consideravelmente a qua-
lidade da produção. Ainda nos preocupamos bastante com o
desenvolvimento das indústrias de mineração, mas o suprimento
da economia com matérias-primas, combustíveis e energia será
agora enfatizado com a adoção de tecnologias que economi-
zem os recursos e os utilizem racionalmente.
Foi desenvolvido um programa especial para a moderniza-
ção da engenharia industrial, que fora negligenciada. O pro-
grama visa renovar completamente os produtos e alcançar o nível
mundial no começo dos anos 90. Naturalmente, o programa in-
clui uma transformação radical do mecanismo econômico, que,
como bem sabemos, é essencial para o avanço no progresso tec-
nológico e o aumento do rendimento econômico. Esta questão
é tão importante que deverei retomá-la várias vezes no decorrer
desta narrativa. · tir o sucesso, é acordar aqueles que adormeceram, fazendo com ~
A economia foi e continua sendo nossa principal preocupa-
·r ção. Todavia, iniciamos, ao mesm~ tempo, uma mudança d_a
1 Isto é o principal.
1 situação moral e psicológica da soCJeda~c. Já nos anos 70 mui-
tos perceberam que não poderíamos _deOOU: de operar ~udan-
i ças drásticas no pensamento e na psicologia, na orgaru.zação,
no estilo e nos métodos de trabalho em todos os lug_ares - ~o
artido na máquina do Estado e nos escalões supenores. E JS•
1 :'o se ddu no Comitt Central do partido, no governo ~ ~bém
em·ouuos campos. Mudanças de pessoal em todos os mveis eram
28
' J!~::}füf r-~·~!'t·; ~1f
ut::t" 'i•1tf~ '-:
• , • , 1. . • S-'
1t~-~
~~:f
1!:·
necessárias e novos indivíduos assumiram posições de lideran-
ça - pessoas que compreenderam bem a situação e tinham
idéias do que e como fazer.
Foi iniciada uma luta sem trégua contra as violações dos prin-
cípios socialisL1s de justiça, sem levar em conta quem cometeu
tais infrações. f .:i ;:,:oclamada uma política de abertura. Aque-
les que se manifestavam a favor do partido, do governo, dos
setores ecor,ômicos e das organizações públicas e conduziam
suas atividades abertamente puderam dar suas opiniões; limi-
tações e proibiçõts injustificadas foram removidas.
Chegamos à conclusão de que sem acionar o fator humano,
isto é, sem levar em consideração os diversos interesses das pes-
soas, tanto as unidades de trabalho (os "coletivos") como os
órgãos públicos e os vários grupos sociais, sem contar com eles
e sem atraí-los para se empenharem ativa e construtivamente,
será impossível completar qualquer das tarefas fixadas ou mu-
dar a situação.
Sempre gostei da famosa fórmula sugerida por Unin: o so- .
cialismo é a criatividade viva das massas. O socialismo não é (!'
um sistema teórico que a priori divide a sociedade em dois grU·
pos: aqueles que dão as instruções e os que as seguem. Sou to-
talmente contrário a um entendimento tão simplista e mecâni-
co do socialismo. O povo, os seres humanos, com toda a sua
diversidade criativa, é quem faz a História. Logo, a primeira
tarefa da reestruturação, a condição indispensável para garan-
que fiquem ativos e atentos; é assegurar que cada um se sinta
como dono do país, de sua empresa, escritório ou instituição. t'
Envolver o individuo em todos os processos constitui o as-
pecto mais importante do que estamos fazendo. A perestroika
deve contribuir para elevar o nível da sociedade e, acima de tu-
do, do próprio indivíduo. O trabalho que começamos tem essa
seriedade e constitui algo bastante difícil. Mas a vitória v~e a
pena.
"
29

, Tudo aquilo que. estamos fazendo pode ser interpretado e ava-
liado de outro.modo. Há uma história antiga que diz que um
viajante se aproximou de algumas pessoas que estavam cons-
truindo,uma obra e perguntou a cada um: •"O que está fazen-
do?~'~ Um deles respondeu, irritado: "Ora,·veja, carregamos estas
m~ditas pedras dia e noite. ..". Um outro ergueu-se, endireitou
os ombros e disse orgulhosamerite: "Veja, estamos construin-
do,uurtemploW. Logo, se essa meta grandiosa for vista como
um~ .templo magnífico numa colina verdejante, então a·pedra
mais pesada será leve, o trabalho mais exaustivo, um prazer.
Para fazer algo melhor, é preciso trabalhar um pouco mais.
Gosto desta frase: trabalhar um pouco mais. Para mim não é
apenas um slogan, mas um estado de espírito favorável, uma
disposição. Qualquer trabalho que se faça deve ser agarrado e
sentido com a alma, a mente e o coração: só assim se trabalha-
rá um pouco mais.
~
Uma pessoa desanimada não trabalhará um pouco mais. AIJ
contrário, desistirá diante das-dificuldades, pois elas a domi-
narão. Mas se uma pessoa é forte em suas convicções e conhe-
1
1
cimentos, é forte moralmente, não pode ser domada: agüenta-
i rá qualquer tempestade. Sabemos disso graças à nossa história.
Atualmente, nossa tarefa principal é erguer o indivíduo espi-
ritualmente, respeitando seu mundo interior e dando-lhe apoio
moral. Nós procuramos fazer com que todo o potencial inte-
lectual da sociedade e todas as forças da cultura ajam para mol-
dar um ser social ativo, espiritualmente rico, justo e conscien-
cioso. O indivíduo precisa sentir e saber que necessitamos de
sua contribuição, que sua dignidade não está sendo prejudica-
da, que está sendo tratado com confiança e respeito. Quando
enxerga tudo isso, é capaz de realizar muito mais.
É claro que a perestroika afeta de algum modo a todos. Ela
sacode as pessoas de seu habitual estado de calma e satisfação
com relação ao modo de vida eristente. Penso que aqui seja ade-
(.,.. quado destacar uma característica especial do socialismo: o al-
'1 to grau de proteção social. De um lado, é sem dúvida um
30
' \
,I
' "t :., ...
benefício e uma grand~ conquista, mas, de outro, faz de algu- ~
mas pessoas uns parasitas. • . , ....
Q.)
Na realidade, não existe desemprego: o Estado encarregou- e:
se de assegurar a ocupação; Mesmo uma pessoa dispensada por
indolência ou violação da disciplina de trabalho tem de ter ou-
t e:
ro
u
Cf)
tro emprego. O nivelamento de salários também se transformou Ô E
numa característica de nosso. dia-a-dia: mesmo que seja um mau ro
trabalhador, ganhará o 1mficiente para viver com bastante con- u
forto. Os filhos de parasitas-totais não ficarão à mercê do;des-; E
o
tino. Turnos enonnes somas concentradas nos fundos sociai.s:.dos u
quais os indivíduos recebem.assistência financeira. Esses.mes- ro
"O
mos fundos fornecem subsídios para a manutenção de.jardins ro
de infância, orfanatos, lares de jovens pioneiros 1 e outras ins- .!:::!
ro
tituições relacionadas com a criatividade da criança e os espor- -~
tes. A assistência médica é grátis, bem como a educação... Os O>
indivíduos são protegidos dos reveses da vida e sentem-se orgu- a
lhosos disso.
Mas constatamos também que pessoas desonestas tentam ex-
plorar essas vantagens do socialismo. Conhecem apenas seus t;
direitos, mas não querem saber de seus deveres. 1rabalham mal,
11 esquivam-se do trabalho e bebem demais. Há uni grande nú- ti
! mero de indivíduos que adaptou as leis e costumes vigentes pa-
!
1
ra servir seus próprios interesses egoístas. Dão pouco à socie-
'
dade mas conseguem, apesar disso, obter tudo que é possível
dela, e até mesmo o que parece ser impossível: vivem de rendas
imerecidas.
A política da reestruturação coloca tudo em seu devido lu-
gar, pois estamos restaurando o princípio socialista: de cada um
de acordo com sua capacidade, a cada um de acordo com seu '.!-' ·
trabalho. Procuramos também assegurar a justiça social para
todos, iguais direitos, uma única lei, um só tipo de disciplina
e altas responsabilidades para todos. A perestroika elevou o
j
1 Lares e centros de jOffllS pioneiros: instituições cxtracurriculues que incentivam nos
educ:andos o amor e o interesse por trabalho e ciblcia aiativo,, desenvolvendo a capa-
cidade aiatfva, dando orientação vocacional e cuidando da atividade social da nova
1 geração.. .Y, : _. ,
31
 nível de responsabilidade social e de C.'{pectativas. Os únicos in-
divíduos a ressentir-se das mudanças são os que acreditam já pos-
suir.o que precisam; logo, por que deveriam se reajustar? Mas,
se eles têm consciência, se não se.esquecem do bem de seu povo,
não podem.e não· devem raciocinar de tal modo. E a g/asnost,
ou transparência; revela os privilégios ilegais gozados por esses
indivíduos. Não· podemos maiS' tolerar a estagnação.
Colocamos o problema da seguinte maneira: o operário e o
gcrcn~ o opcrador·de máquinas agrícolas e o diretor de uma
agremiação, o jornalista e o político, todos têm de rever algo
cm seu estilo· e .métodos de trabalho e precisam avaliar critica-
mente suas próprias posições. Propusemo-nos a tarefa de ven-
cer a. inércia e o conservadorismo rapidamente. de modo a in-
citar o orgulho de todos. Isso atinge muitas pessoas, a maioria,
embora algumas reajam negativamente. principalmente as que
têm consciência de seu apego ao antigo. Thmbém precisamos
olhar para nós mesmos, analisar se vivemos e agimos de acor-
do com nossa consciência. Em algumas coisas talvez tenhamos
errado o caminho, adotando padrões estranhos aos nossos, co-
mo, por exemplo; uma ·mentalidade consumista filistéia. ·se
aprendermos a trabalhar mclhor,-a sermos mais honestos e de-
centes, então ''criaremos um estilo de vida verdadeiramente
socialista.
É ·essencial que olhemos para a frente. Precisamos ter sufi-
ciente experiência política, perspectiva teórica e coragem cívica
para obter sucesso, para garantir que a perestroika satisfaça os
altos padrões. morais do socialismo.
Precisamos do funcionamento saudável e vigoroso de todas
as organizações públicas, grupos de produção e sindicatos cria-
tivos, formas novas de atividades dos cidadãos e o renascimen-
to daqueles que foram esquecidos. Em resumo, precisamos da
,[; ampla democrati~ção de todos os aspectos da sociédade. Esta
:.>' democratização é também a principal garantia de irreversibili-
dade do curso atual.
Sabemos hoje que poderíamos ter evitado muitos problemas
se o processo democrático tivesse se desenvolvido normalmen-
32
r. te. Aprendemos essa Üção de nossa história e não a esquecere- '-
<1.>
mos. Agora vamos nos ater firmemente à idéia de que só pode- e
e
mos ter progresso na produção, ciência, tecnologia, cultura e arte. ro
e em todos os campos sociais, se promovennos o desenvolvimento u
U')
constante das fórmulas democráticas inerentes ao socialismo e E
da expansão da autogestão. Este é o único modo de garantir uma ro
disciplina consciente. A própriá perestroika só pode ser consu- (j u
mada através da d emocracia. Já que vemos nossa tarefa como E
a liberatão e o uso do potencial socialista através da intensifica-
o
u
ção do fator humano, não pode haver outro caminho senão o ro
-o
democrático, incluindo a reforma do mecanismo econômico e ro
da administração. uma reforma cujo principal elemento é a pro• -~
moção do papel dos coletivos de trabalho.
Exatamente porque enfatizamos o desenvolvimento da dano-
-~ro
O)
cracia socialista é que prestamos tanta atenção ao camPo inte- i:3
lectual, à conscientização do povo e a uma política social ati-
va. Desse modo, poderemos revigorar o fator humano.
No Ocidente. Lênin é muitas vezes retratado como defensor
t
de métodos autoritários de administração. Sinal não só de to-
tal ignorância mas, e não raro, de deliberada distorção de suas
idéias. Na verdade. de acordo com Lênin, o socialismo. e a de- 1
mocracia são inseparáveis. As massas trabalhadoras chegam ao
poder quando obtêm liberdades democráticas. É também so-
mente em situações de expansão da democracia que podem con-
solidar e exercitar seu poder. Há mais uma idéia leninista notá-
vel: quanto mais ampla a meta do trabalho e mais profunda
a reforma, maior é a necessidade de aumentar o interesse por
elas e convencer milhões e milhões de indivíduos de sua neces-
sidade. Isto significa que, se nos lançamos para fazer uma rees-
truturação total e radical, precisamos também desenvolver com-
pletamente o potencial da democracia.
É essencial aprender a ajustar o programa de acordo com o
modo como é recebido pelas massas e. para assegurar sua rege-
neração, absorver idéias, opiniões e conselhos provenientes do
povo. As massas podem sugerir muitas coisas úteis e interes-
1
1 santes que nem sempre são vistas claramente "do topo", razão
ll 33
1
1
 ~la qual devemos evitar a todo custo uma atitude de arrogân-
.
cia cm relação ao que o povo diz. No fim das contas o mais .
llllportantc para o·sucesso da pcrestroika é a reação do povo.
.i1Foi-por isso;·bascados não somente na teoria, mas na reali-
dade dos processos .cm curso, que embarcamos num programa
demudan~democráticas cm todos.os s~ores da vida.públi-
~ :aprcsentado durante a reunião plenária do Comitê Central
do1PCUS .em,janciro.dc 1987... · ., ; .,, 1 .,.
· ··A rcuniãofplcnária envidou•amplos esforços no sentido de
fortalecer a base.democrática da sociedade soviética, desenvol-
ver-a autonomia e .estender a g/asnost, ou seja, a transparên-
cia; a toda a estrutura administrativa. Podemos ver agora quão
estimulante aquele impulso foi para a nação. Mudanças demo-
cráticas têm acontecido em cada organização pública e estatal
e no interior do partido. Mais abertura, controle genuíno vin-
do .de baixo e maior-iniciativa e arrojo -no trabalho agora fa-
zem parte .de .nossas vidas.
·O processo democrático fomentou toda a perestroika, elevou
suas metas e,fez com que nossa sociedade entendesse melhor
seus problemas. Este processo permitiu-nos ter uma visão mais
ampla das dificuldades econômicas e lançou um programa de
reformas radicais. O mecanismo econômico agora se ajusta ade-
quadamente ao sistema social global, já que este se baseia em
1
_ princípios democráticos reformulados.
Esse trabalho foi feito na reunião plenária do PCUS de ju-
...:. nho de 1987 e foi chamado de Fundamentos da Reestruturação
,Radical da Administração Econômica. 1àlvez este seja o pro-
. grama de reforma mais importante e radical que nosso país já
teve desde que·Lênin introduziu sua Nova Polltica Econômica,
em 1921. A atual reforma tem como finalidade enfatizar a mu-
dança de métodos de direção, de primordialmente administra-
tivos-para primordialmente econômicos, e exige uma demo-
cratização ampla da direção, bem como a ativação total do fa-
, tor humano. ·
' A reforma tem como base a ampliação considerável da inde-
pendência das empresas e associações, sua transição para o sis-
34
tema de total autocomputação de custos e autofinanciamento
e a con~ssão de todos os direitos apropriados aos coletivos de
trabalho. De agora em diante eles serão totalmente responsá-
"-
Cl)
e
e
veis por uma administração eficiente e resultados finais. Os lu- ro
(J
cros do~ coletivos, ou seja, das unidades de trabalho, serão.di- U)
reta.mente proporcicuais à sua eficiência. E
ro
Ao mesmo tempo, pretende~se fazer uma reorganização ra- u
dical da administração ecqnômica centralizada para beneficio ,· E
das empresas. Libertaremos a administração central das fun- ~ o(J
ções opera.danai., na direção das empresas, e ela poderá . ro
concentrar-se nos processos-chave para determinar a estratégia.~ -o
ro
do crescimento econômico. Para transformar isso em realida- N
de, lançamos uma reforma séria e radical no planejamento, for-
mação de preços, mecanismos financeiros e de crédito, na rede
de fornecimento de tecnologia e materiais, na administração do
-
ro
O)
o
progresso científico e tecnológico, no trabalho e no campo so-
cial. A finalidade desta reforma é garantir, no prazo de dois., ,
a três anos, a transição de um sistema de direção c:xcessivamente'!,..
centralizado e dependente de ordens superiores para um siste-
ma democrático baseado na combinação de centralismo demo-
crático e autogestão.
A adoção dos princípios fundamentais para uma mudança
radical na administração econômica constituiu um grande avanço
· no programa da perestroika. Ela agora abrange virtualmente
qualquer aspecto da vida pública. É claro que nossas noções
a respeito de conteúdo, métodos e formas da perestroika serão
desenvolvidos, clarificados e corrigidos mais tarde. Isso é ine-
vitável e normal, por ser um processo ativo. Sem dúvida, as mu-
danças proporão novos problemas importantes que exigirão so-
luções não-ortodoxas. Mas o conceito e plano gerais da pcres-
troika são claros, não só sob o ponto de vista do conteúdo co-
mo também de suas partes integrantes.
A perestroika significa vencer o processo de estagnação, do-
minar o mecanismo paralisante, criar um sistema eficaz e segu-
ro para acelerar o progresso social e econômico e dar-lhe um
dinamismo maior.
35
 pl ·:Perestroika signifi~ iniciativa de massa: é o total desenvol-
Vl~~t? ~a democracia, autogestão socialista, encorajamento
da lllletaUva e empenho criativo, disciplina e ordem melhora-
das, mais gl~nóst, críticas e autocríticas cm todos os campos
de,nossa soaedade. É também.extremo respeito pelo indivíduo
e consideração pela dignidade pessoal;,·
l\ Pe~troika é a intensificação total da economia soviética, o
renascunento e desenvolvimento dos princípios do centralismo
. democrático na direção da economia nacional, a introdução sem
i. exceções de ?1~tod~s econômicos, a renúncia ao gerenciamento
1 baseado em lDJunçoes e métodos burocráticos e o encorajamento
l).. geral. de inovações na empresa socialista.
P.crestroika significa mudança firme para métodos científi-
cos, capacidade de fornecer uma base científica sólida para ca-
da nova iniciativa. É a combinação das conquistas da revolu-
ção científica e tecnológica com uma economia planejada.
Perestroika quer dizer desenvolvimento prioritário do cam-
po social para aumentar a satisfação dos segmentos do povo
soviético em relação a boas condições de vida e trabalho, re-
pouso confortável e recreação, educação e assistência à saúde.
Diz respeito a uma preocupação constante com a riqueza cul-
turaLe .espiritual, com a cultura de cada indivíduo e da socie-
dade como um todo.
Perestroika é a eliminação das distorções da ética socialista
da sociedade, a implementâção constante dos princípios de jus-
tiça social. Significa a unidade da palavra e dos atos, direitos
e deveres. É a exaltação do trabalho honesto, altamente quali-
ficado, o triunfo sobre tendências niveladoras e o consumismo.
É assim que vemos a perestroika, como encaramos nossa ta-
refa, a substância e o conteúdo de nosso trabalho no próximo
período. É difícil dizer neste momento qual sua duração. É cla-
ro que será muito mais que dois ou três anos. Estamos prontos
para um trabalho sério, árduo e exaustivo para assegurar que
nosso país atinja novas alturas antes do fim do século 20.
Muitas vezes ·nos perguntam o que desejamos da perestroi-
t!/ ka. Quais são suas metas finais? Dificilmente poderíamos dar
36
uma resposta exata e minuciosa. Não costumamos profetizar ....
e tentar predestinar todos os elementos arquitetônicos do edifí- (l)
e
cio público que eriji.remos no curso da perestroika. Mas, em prin- e
(O
cípio, posso dizer que o resultado final é bastante claro: a re- u
novação total de todos os aspectos da vida soviética; dar ao so-
'8 (/J
cialismo as formas de organização social mais modernas; a to- E
ro
tal revelação da natureza humanista de nosso sistema social em u
seus aspectos decisivos, ou seja, econômico, social, político e
E
moral. o
Desejo salientar mais uma vez que a perestroika não é uma
espécie de iluminação ou revelação. Reestruturar nossa vida quer
u
ro
"'O
dizer compreender a necessidade objetiva de renovação e acele- ro
.t::!
ração. Essa necessidade emerge do âmago da sociedade. A es- ro
sência da percstroika está no fato de que une o socialismo com :::
O')
a democracia e revive o conceito leninista de construção socia-
lista na teoria e na prática. Esta é a essência da perestroika, aqui- i5
lo que é responsável por seu espírito revolucionário genuíno e
seu campo de ação totalmente abrangente.
A vitória vale o empenho e temos certeza de que nossos es-
forços serão uma contribuição valiosa para o progresso social
da humanidade.
Mais socialismo e mais democracia
A perestroika, como sistema, está intimamente ligada ao so- .,
cialismo. Este aspecto da questão tem sido amplamente discu- t
tido, especialmente no exterior, e nosso discurso sobre a peres-
troika não seria inteiramente claro se não tocássemos nele.
A perestroika significa que estamos desistindo do socialismo
ou ao menos de alguns de seus fundamentos? Alguns fazem (Y
esta pergunta esperançosos; outros, receosos.
No Ocidente há indivíduos que gostariam de nos dizer que
o socialismo se encontra numa crise profunda e que conduziu .\:
nossa sociedade a um beco sem saída. É assim que interpretam·
nossa análise crítica da situação no fim dos anos 70 e começo
dos 80. Dizem que temos apenas uma chance: adotar os méto-
dos de administração econômica e os padrões sociais do capi-
37
 taJfsmo,_ sermos levados pelas circunstâncias. Dizem que nada
vai surgir da pcrestroika dentro da estrutura de nosso sistema.
Deverí~mos mu~á-lo e nos apropriarmos da experiência de
outro sistema sócio-político. Acrescentam ainda que, se a URSS
ado~ esse caminho e desistir de sua escolha socialista, laços
estreitos com o Ocidente seriam possíveis. Chegam ao pon-
to de alegar que a Revolução de Outubro de 1917 foi um erro
que quase separou totalmente nosso país do progresso social
mundial.
Para colocar ~m fim a todos os rumores e especulações que
.. abundam no Oetdente, gostaria de salientar mais uma vez que
(..:.\cs~~s conduzindo todas as reformas de acordo com a opção
\ -.15oc1absta. Estamos olhando para dentro do socialismo e não
~ para fora dele, à procura das respostas para todas as pc;guntas
que surgem. Avaliamos igualmente nossos sucessos e erros por
padrões socialistas. Aqueles que esperam que nos afastemos des-
C{; se ~nho ficarão muito desapontados. Cada etapa da peres-
1 trodca, e o programa como um todo, está totalmente baseada
no principio de mais socialismo e mais democracia.
Mais socialismo significa um ritmo mais dinâmico, um es-
forço mais criativo, mais organização, lei e ordem, mais méto-
dos científicos e iniciativas no gerenciamento econômico, efi-
ciência cm administração e uma vida melhor e materialmente
mais rica para o povo.
Mais socialismo significa mais democracia, abertura e cole-
tivismo na vida diária, mais cultura e humanismo na produ-
ção, relações sociais e pessoais mais intensas, mais dignidade
e respeito próprio para com o indivfduo.
Mais socialismo quer dizer mais patriotismo e aspirar a ideais
nobres, mais preocupação cívica ativa com relação aos assun-
tos internos do país e a sua influência positiva nos assuntos
internacionais.
Em outras palavras, mais daquelas coisas inerentes ao socia-
lismo e aos preceitos teóricos que o caracterizam como uma es-
trutura sócio-econômica difercnciada.•
Seguiremos para um socialismo melhor em vez de nos afas-
38
tarmos dele. Dizemo, i'lso com honestidade. sem tentar enga-
nar nosso próprio povo ou o mundo. Todas as esperança., de
...
(1)
que começaremos. a construir uma sociedade diferente, não- :(, e
e
socialista, e que pas'larcmos para o outro lado são irrealisw .,, / (tJ
e fútci'I. Aq11cle, que no Ocidente esperam que desistamos do
u
(/)
socialismo vão fi car desapontado,. É preciso que entendam i.1- E
(tJ
so e, ainda mú1, que partam desse entendimento nas relaçôe,
(.)
práticas com :i. U R~S.
Gosta.ria qu, ficasse claro que, embora o povo soviético seja E
o
a favor do socialismo - e c,cpliquci antes o porquê-, nós não i. , u
(tJ
estamos impondo r:o~so, po ntos de vista a ninguém. Cada um
-o
deve fazer sua própria escolha e a História o colocará em seu (tJ
N
lugar. Atualmente, como disse a um grupo de figuras públicas
americanas (Cyrus Va ncc, Henry Kissinger e outros), sentimos
(tJ
-~
claramente, como n unca antes, que, devido ao sistema socialis- O)
ta e à economia planejada, as mudanças cm nossa poUtica es- i:5
trutural surgem muito mais facilmente do que se estivéssemos
em regime de iniciativa privada. ainda que tenhamos nossas pr~
prias dificuldades.
Queremos mais socialismo e, por isso, mais democracia. f
Conforme nosso entendimento, as dificuldades e problemas
dos ános 70 e 80 não significaram nenhum tipo de crise do so- ,
cialismo como sistema político e social, mas eram mais o resul- ':7'
! tado de insuficiente consistência na aplicação de seus prind- •'
! pios, de afastamento e até de distorções, sornados à adoção con-
í tínua de métodos e formas de condução social que surgiram
1
sob condições históricas particulares nos primeiros estágios do /
t desenvolvimento socialista.
1 Pelo contrário, o socialismo como um sistema social jovem,
1
\ como um estilo de vida, possui grandes possibilidades de auto-
! desenvolvimento e auto-aperfeiçoamento, que ainda devem ser
l revelados para a solução de problemas fundamentais da socie-
dade contemporânea para o progresso cientifico, tecnológico.
econômico, cultural e intelectual e para o desenvol\'imento d,,
homem. Isto é demonstrado pelo caminho que no~~" oaís per-
correu desde outubro de 1917, uma trajetória que tem sido rc -
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