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Análise e Gerenciamento de Risco

Todos os dias fazemos análises de risco. O simples


ato de pegar ou não um casaco ou um guarda-chuva
para sair de casa já é uma análise de risco. Na vida, mes-
mo sabendo ou conhecendo um risco, por vezes, decidi-
mos aceitá-lo, por uma ação deliberada ou desconheci-
mento. Nesse sentido, este livro volta-se ao estudo do
risco especificamente no ambiente de trabalho: como
identificá-lo e evitá-lo, como ele afeta nossa vida, e
como reduzir seu desgaste.

Colaborar com a mitigação e o tratamento de riscos é


responsabilidade de todos no ambiente de trabalho,
mas identificar riscos e dimensionar proteções é atri-
buição de profissionais habilitados e especializados.
Desse modo, vale destacar que esta obra não se tra-
duz em um certificado de habilitação profissional para
análise e tratamento de risco, pois não se trata de uma
formação específica. Contudo, certamente, este livro

Análise
oportunizará que você tenha uma mentalidade pre-
vencionista, beneficiando a cultura de segurança pes-
soal e institucional.

e Gerenciamento
Rodrigo Almeida Freitas
de Risco
Fundação Biblioteca Nacional Código Logístico
ISBN 978-85-387-6624-7

9 788538 766247 59348


Rodrigo Almeida Freitas
Análise e
gerenciamento
de risco

Rodrigo Almeida Freitas

IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A.
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
F938a

Freitas, Rodrigo Almeida


Análise e gerenciamento de risco / Rodrigo Almeida Freitas. - 1. ed. -
Curitiba [PR] : IESDE, 2020.
154 p.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6624-7

1. Avaliação de riscos. 2 Segurança do trabalho. 3. Empresas - Medi-


das de segurança. I. Título.
CDD: 363.11
20-64399
CDU: 331.45

Todos os direitos reservados.

IESDE BRASIL S/A.


Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Rodrigo Almeida Doutorando em Segurança aos Incêndios na
Universidade de Coimbra (Portugal). MBA em
Freitas Foundations for Public Sector na Universidade Haia
(Holanda). Especialista em Administração Corporativa
pelo Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal
(CBMDF), em Educação Continuada a Distância pela
Universidade de Brasília (UnB) e em Execução e
Controle de Estruturas e Fundações pelo Instituto de
Pós-graduação e Graduação (IPOG). Graduado em
Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Goiás
(UFG). Bacharel em Letras pela UnB e em Engenharia de
Incêndio pelo CBMDF . É major combatente do Corpo de
Bombeiros Militar do Distrito Federal. Tem experiência
na área de segurança contra incêndio e pânico, engenharia
civil e gestão pública.
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SUMÁRIO
1 Risco das atividades laborais 9
1.1 O que é risco? 9
1.2 Risco e ambiente de trabalho 15
1.3 Falácias do risco no ambiente de trabalho 17
1.4 Soluções de segurança 23
1.5 Tipos de riscos 26

2 Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 39


2.1 Legislação brasileira de Segurança do Trabalho 39
2.2 Documentos da Segurança do Trabalho 49
2.3 Programas de Segurança do Trabalho 53
2.4 EPI 60
2.5 EPC 64

3 CIPA 68
3.1 O que é uma CIPA? 68
3.2 Aspectos legais da CIPA 70
3.3 Organização e funcionamento da CIPA 76
3.4 Atribuições da CIPA 78
3.5 Mapa de risco 81

4 Análise de risco 89
4.1 Análise de risco 89
4.2 Análise preliminar de risco 93
4.3 Análise What if 96
4.4 HAZOP 101
4.5 Análise de modos de falha e efeitos 107

5 Medidas de controle 117


5.1 Inspeções, vistorias e perícias de risco 117
5.2 Mitigação e intervenção no risco 123
5.3 Sinalização de segurança 131
5.4 Manutenção das medidas de controle de risco 135
5.5 Investigação de incidentes e acidentes 140

6 Gabarito 147
APRESENTAÇÃO
Todos os dias fazemos análises de risco. O simples ato de pegar ou não
um casaco ou um guarda-chuva para sair de casa já é uma análise de risco.
Na vida, mesmo sabendo ou conhecendo um risco, por vezes, decidimos
aceitá-lo, por uma ação deliberada ou desconhecimento. Nesse sentido, este
livro volta-se ao estudo do risco: como identificá-lo e evitá-lo, como ele afeta
nossa vida, e como reduzir seu desgaste.
Inicialmente, é necessário estabelecer um contexto para a análise de
risco. Por isso, no primeiro capítulo, explicamos o que é o risco e optamos
por estudá-lo no ambiente de trabalho. Apesar de esse ser o foco, sabemos
que um acidente de trabalho não afeta somente o ambiente de trabalho
em si, mas pode ter efeitos danosos em localidades diferentes ao longo do
tempo. Inclusive, este é um paradigma a ser quebrado: entender que o risco
afeta diversas pessoas e comunidades além do que se imagina inicialmente.
Além disso, esse capítulo apresenta as falácias relacionadas ao ambiente de
trabalho e as soluções para combatê-las, provendo uma cultura de segurança
e pensando no conforto e na higiene desse ambiente.
Cabe ressaltar que não são ações aleatórias que garantem a mitigação
de risco. Então, é necessário conhecer e aplicar as legislações que abordam
o risco no ambiente de trabalho, desde a Constituição Federal até as normas
internas. Portanto, esse é o tema do segundo capítulo. Apresentamos, ainda
nesse capítulo, os aspectos relacionados aos programas e documentos
que influenciam diretamente a Segurança do Trabalho, bem como os
equipamentos de proteção individual (EPI) e coletiva (EPC).
No terceiro capítulo, damos uma atenção especial à Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes (CIPA), pois, geralmente, suas funções e atribuições
são confundidas com as dos Serviços Especializados em Engenharia de
Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT). Dessa forma, discutimos
o conceito da CIPA, seus aspectos legais, organização, funcionamento e
atribuições, para evitar dúvidas. Por fim, demonstramos como elaborar e colocar
em funcionamento o mapa de risco, um dos produtos da CIPA.
O quarto capítulo dedica-se ao estudo do risco propriamente dito.
Analisamos como identificá-lo e tratá-lo, especialmente por meio das análises
e avaliações de risco. Por haver diversas possibilidades de análise, focamos
no estudo de quatro delas, com mais detalhes: análise preliminar de risco
(APR), What-if, HAZOP e FMEA (análise de modos de falhas e efeitos). Exemplos
práticos de cada análise são providos para que você compreenda corretamente
a extensão e as oportunidades de cada técnica.
Por fim, o último capítulo aborda a prevenção do acidente. O termo chave
desse capítulo é medidas de controle. Portanto, analisamos como prover essas
medidas, dimensioná-las, fazer sua manutenção e estudar suas potenciais e
reais vulnerabilidades. Não há como tratar de todas as medidas de controle
possíveis, mas uma é especialmente descrita e abordada: a sinalização de
risco. Além disso, esse capítulo final visa apresentar um ciclo para a eficácia
das medidas de controle de riscos, composto pelas seguintes etapas: projeto,
execução, inspeção, manutenção e revisão.
Colaborar com a mitigação e o tratamento de riscos é responsabilidade
de todos no ambiente de trabalho, mas identificar riscos e dimensionar
proteções é atribuição de profissionais habilitados e especializados. Desse
modo, vale destacar que esta obra não se traduz em um certificado de
habilitação profissional para análise e tratamento de risco, pois não se trata
de uma formação específica. Contudo, certamente, este livro oportunizará
que você tenha uma mentalidade prevencionista, beneficiando a cultura de
segurança pessoal e institucional.
Bons estudos!
1
Risco das atividades laborais
Todos nós fazemos análise de risco diariamente sem perceber.
É nos pequenos atos do dia a dia que tomamos decisões, avaliando
cenários de acordo com nossa experiência de vida e conhecimento
das coisas. Por vezes, acredita-se que a análise de risco deve ser
tida como um processo extraordinário e não tão simples de ser de-
senvolvido. Porém, na verdade, ela é uma rotina na vida de todos
os animais.
Um exemplo prático disso é o simples uso de um casaco. Uma
pessoa, ao sair para trabalhar, levanta a necessidade de levar consi-
go um casaco. Usualmente, ela vai observar as condições climáticas
do dia para avaliar a necessidade do uso. Se estiver em um local em
que há grande variação climática ao longo do dia, certamente estará
inclinada a levá-lo. Se for um local quente, a necessidade do casaco
é quase zero. Se ela retornar para casa tarde da noite, o uso de um
casaco já é levado em consideração. Isso é uma análise de risco.

1.1 O que é risco?


Vídeo Todos nós temos uma definição própria de risco e cada um apli-
ca sua experiência no entendimento desse conceito. Entretanto, é
necessário ampliar o debate e abrir a mente para todos os aspectos
envolvidos no risco, para que essa palavra não seja confundida com ou-
tras, como perigo, impacto, vulnerabilidade, exposição, ameaça, dano etc.
Não há uma teoria que consolida totalmente o conceito de risco e, por
isso, aqui se expõem diversas definições e aspectos relacionados a ele.

1 9
Saiba mais A OHSAS 18001 (apud CAMARGO, 2016, p. 38) cita como definição de
A sigla OHSAS significa risco a “combinação de fatos que possibilitam a ocorrência de um even-
Occupational Health and Safety
to perigoso ou a exposição(s) e severidade de danos ou doenças que
Assessments Series (ou, em por-
tuguês, Série de Avaliação de Se- podem ter sido causados por um evento ou exposição(s)”. Observe que
gurança e Saúde Ocupacional). esse conceito apresenta dois aspectos: evento perigoso e exposição e
Trata-se de uma série de normas
desenvolvidas pela Instituição severidade de danos.
de Normas do Reino Unido. A definição de risco na Norma Regulamentadora (NR) 01 também
A OHSAS 18001 apresenta as
orientações e requisitos mínimos traz uma definição semelhante, mas, dessa vez, o risco é relacionado ao
para um sistema de gestão e ambiente de trabalho, sendo também chamado de risco ocupacional:
certificação da Segurança e
“combinação da probabilidade de ocorrência de eventos ou exposições
Saúde do Trabalho.
perigosas a agentes nocivos relacionados aos trabalhos e da gravidade
das lesões e problemas de saúde que podem ser causados pelo evento
ou exposição” (BRASIL, 2019a, p. 8).

Ainda, segundo o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado


de São Paulo (CBPMESP), o risco é uma medida ligada à probabilidade e
à sua respectiva consequência, sendo a relação entre essas duas partes
(SÃO PAULO, 2011). Ele se origina da frequência de um perigo incerto
e da quantificação do dano desse perigo. Percebe-se, assim, que há
um caráter mais quantitativo nessa visão. Pode-se ilustrar um exemplo
dessa abordagem de risco com uma fictícia análise de risco de acidente
envolvendo um ônibus de uma linha de viagens interestadual:

Probabilidade de um perigo X Consequência de um perigo X Risco

Constantes ocorrências O itinerário do ônibus não


adversas meteorológicas 100% envolve trechos dessa 0% 0%
na rodovia rodovia

O itinerário do ônibus
Sem registros de ocorrências
meteorológicas adversas 0% possui maior parte do 90% 0%
trajeto nessa rodovia

O itinerário do ônibus
Algum registro de ocorrên-
25% possui maior parte do 90% 22,5%
cia meteorológica adversa
trajeto nessa rodovia

10 Análise e gerenciamento de risco


Atente que esse conceito trabalha a dualidade da probabilidade,
ou frequência, de o perigo ocorrer com a sua respectiva consequên-
cia. A conclusão é que se não há probabilidade de um perigo acon-
tecer ou não há consequência em sua ocorrência, o risco é zero ou,
simplesmente, não há risco. Portanto, quanto maior for a possibilida-
de da ocorrência de um perigo e quanto maior for o impacto causado
por ele, maior será o risco.

Essa abordagem apresenta algumas limitações em seu uso. Inicial-


mente, por vezes, é difícil quantificar a possibilidade da ocorrência de
um perigo (há 78% de chance de chover amanhã?), o impacto (há 55%
de chance de o sistema de drenagem pluvial do bairro não funcionar?)
e, por fim, o risco (há 42,9% de chance de haver inundação no bairro
em caso de chuva?). Em alguns casos, essa abordagem pode ser aplica-
da observando-se as limitações de cada caso. Utiliza-se frequentemen-
te tal análise para justificar, por exemplo, que há mais riscos em viajar
por meio rodoviário do que por meio aéreo. Apesar da queda eventual
de um avião ser muito danosa (analisando-se um único acidente), o
número de ocorrências (frequência) de acidentes em rodovias é muito
maior, acarretando, por exemplo, um número muito maior de feridos
em meio rodoviário do que em aéreo.

Esse exame inicial é importante para demonstrar que o risco não é a


análise de um único fator, pois ele traz mais de um aspecto envolvido;
no caso, a possibilidade de ocorrência de um perigo e suas consequên-
cias (danosas). Nesse caso, o risco envolve, então, um conceito duplo: a
ocorrência de um perigo e seus danos.

Conforme explicado, há vários conceitos de risco. Uma visão que


permite a análise com menos limitações, de ordem qualitativa e de
1
1
modo mais prático e direto, é a da ABNT NBR ISO/IEC 27001 , a
A norma técnica ABNT NBR ISO/
qual associa a ocorrência de falha aos conceitos de ameaça e de
IEC 27001 trata dos requisitos
vulnerabilidade: para estabelecer, implementar,
manter e melhorar um sistema
d) Identificar os riscos.
de gestão de segurança em
[...] organizações, além de abordar
2) Identificar as ameaças a esses ativos. a avaliação e o tratamento de
3) Identificar as vulnerabilidades que podem ser exploradas riscos de segurança.
pelas ameaças.
[...]
e) Analisar e avaliar os riscos.
[...]

Risco das atividades laborais 11


2) Avaliar a probabilidade real da ocorrência de falhas de segu-
rança à luz de ameaças e vulnerabilidades prevalecentes, e
impactos associados a estes ativos e os controles atualmente
implementados.
3) Estimar os níveis de riscos. (ABNT, 2006, p. 5, grifos nossos)

Então, novamente, há dois aspectos envolvidos no risco: ameaça e


vulnerabilidade. A ameaça é de aspecto externo a um sistema e di-
nâmico, um evento adverso e potencialmente desastroso. Por vezes,
a ocorrência dela não depende do sistema (exemplo: chuva intensa
ou meteoro). Já a vulnerabilidade é de aspecto interno, passivo, re-
lacionado às capacidades do sistema de receber danos e intrínseco à
capacidade de resposta do sistema. A seguir, é ilustrado um exemplo
hipotético da relação entre ameaça, vulnerabilidade e risco:

Ameaça X Vulnerabilidade X Risco

A análise do risco é
Evento adverso, externo, Exposição, interna, passiva função da ameaça e
ativo e danoso diante da ameaça do risco, diretamente
proporcional a ambas

Trabalhador limpando janela dentro de


Altura Risco desprezível
um ambiente seguro

Trabalhador limpando janela em pé no


Altura batente da janela, pelo lado de fora, sem Risco altíssimo
segurança

Trabalhador limpando janela em cadeira


Altura Risco aceitável
suspensa, com uso de segurança

Trabalhador limpando janela em pé,


Altura no piso térreo com uso de alavanca Risco desprezível
telescópica

Observa-se que, com a descrição da ameaça e da vulnerabilidade,


pode-se estabelecer um resultado sintético do grau do risco. Nesse
sentido, o risco exacerbado possui consequências significativas e pode

12 Análise e gerenciamento de risco


ser classificado como alto, elevado, altíssimo, intolerável, inadmissível,
grave etc. O risco aceitável seria aquele que possui alguma medida
de proteção que o atenuou, podendo ser considerado tolerável. Já o
risco desprezível é aquele que apresenta uma combinação de amea-
ça e vulnerabilidade que não gera perdas (ou, eventualmente, perdas
não relevantes). Essa análise de risco apresenta um determinado grau
de subjetividade e aplicabilidade que pode trazer limitações a sua
implantação.

Além disso, o risco pode variar de desprezível até inadmissível, de-


pendendo da amostra que é analisada. Por exemplo, em um teste de
armas nucleares em local isolado de pessoas, usualmente, o Estado
que o desenvolve argumenta que não há riscos à espécie humana. Sen-
do assim, o risco aos humanos é desprezível. Contudo, tal teste terá
profundo impacto no meio ambiente (animais e vegetais). Por isso,
sempre que se realiza uma análise de risco, deve-se direcioná-la a to-
das as partes envolvidas: às pessoas, ao meio ambiente (fauna e flora),
ao patrimônio, à imagem (da instituição) etc.

Foram estudadas, então, duas análises que trabalham com binô- Glossário

mios (probabilidade x consequência e ameaça x vulnerabilidade). Per- mitigar: suavizar; tornar menos
intenso.
cebe-se que, até aqui, apenas se pensou nos aspectos envolvidos no
risco, mas não no processo de mitigação deste. Avançando para uma
análise mais abrangente e moderna, pode-se incluir algo relacionado
a esse aspecto. Figura 1
Modelo do queijo suíço
O modelo de Reason, ou modelo do queijo suíço, tem ori- ou modelo das múltiplas
causas
gem no Departamento de Psicologia da Univer-

Iesde Brasil
sidade de Manchester e foi elaborado
Alguns furos devido a
pelo professor James Reason (2000).
falhas ativas
É um modelo muito favorável para
Perigos
a análise de risco e funciona de
acordo com barreiras de prote-
ção (já existentes ou a serem
implementadas). Elas seriam
proteções naturais ou pro-
jetadas de modo a impedir
que uma ameaça continue Outros furos devido a
Perdas
condições latentes
caminhando pelo sistema, o
que resultaria em um aciden- Camadas sucessivas de defesa, barreiras e salvaguardas.
te e em possíveis perdas. Fonte: Adaptada de Reason, Hollnagel e Paries, 2006, p. 10.

Risco das atividades laborais 13


Essa visão de análise de risco é favorável, como primeira vantagem,
pois apresenta uma análise de mitigação de risco. Ou seja, insere-se
na análise a existência, oportunidade e conveniência das barreiras ao
perigo. Além disso, ilustra bem que um perigo (ameaça) é um aspecto
dinâmico, e se ele alcançar uma vulnerabilidade, forma-se o dano e,
consequentemente, o acidente. Desse modo, estar exposto a riscos é
estar vulnerável a acidentes, e a melhor forma de evitar o encontro da
ocorrência do perigo com a vulnerabilidade (e a consequente ocorrên-
cia de danos) é por meio de barreiras.

Um segundo aspecto positivo dessa análise é a representação visual


do incidente. Uma possibilidade de ilustração de incidente seria quan-
do o perigo avança parcialmente pelas barreiras de proteção, mas não
atinge uma amostra vulnerável. Em outras palavras, há um quase aci-
dente, pois alguma barreira funciona de maneira adequada para blo-
quear a ocorrência do perigo. Uma marca do incidente é que ele é um
evento não desejado, em que há a manifestação de uma ameaça sem o
registro de perdas ou impactos negativos. Já o acidente é marcado por
perdas, impactos e consequências negativas.

Um terceiro destaque favorável sobre o modelo de Reason é a


possibilidade de uma análise mais contemporânea, pois esse modelo
afirma que o erro humano é impossível de ser evitado. Ele prevê que
sempre haverá um perigo, uma possibilidade de perda (vulnerabilida-
de) e que as barreiras sempre terão furos (inconformidade ou inade-
quabilidade). Não há como impedir sua existência, mas sempre será
possível acrescentar mais barreiras para impedir o avanço da ocorrên-
cia do perigo.
Defesas, barreiras e salvaguardas ocupam uma posição chave
na abordagem do sistema. Sistemas de alta tecnologia tem múl-
tiplas barreiras de defesa: algumas tecnológicas (alarmes, barrei-
ras físicas, desligamentos automatizados etc.) e outras confiadas
a pessoas [...]. Suas funções são de proteger vítimas e bens po-
tenciais de riscos locais. A maioria realmente são muito efetivas,
mas sempre haverá fraquezas nestas barreiras. (REASON, 2000,
p. 2, tradução nossa)

As barreiras possuem duas características: quantidade e adequabi-


lidade. Pode-se aumentar o número de barreiras conforme a situação
demandar. Além disso, elas podem conter mais ou menos furos (imper-
feições). A análise de risco sempre envolverá adicionar mais barreiras

14 Análise e gerenciamento de risco


ou prover algumas menos imperfeitas. A cada barreira acrescentada
ou a cada nível de exigência de conformidade dela, há um impacto eco-
nômico. Portanto, o rigor na seleção de barreiras pode tornar o projeto
processo ou negócio antieconômico.

Em suma, esse modelo destaca que o estabelecimento de um risco


nunca pode ser atribuído somente à ocorrência de um perigo e às per-
das derivadas dele. O acidente nunca será decorrente de um fator ou
aspecto, mas sim do encadeamento de uma série de fatores que contri-
buíram para o acidente. Assim, de maneira ampla, foram apresentados
diversos conceitos e formas de ilustrar o risco. Cabe ressaltar que há
outras possibilidades e interpretações e que as noções apresentadas
nesta seção sempre serão merecedoras de críticas e passíveis de aper-
feiçoamento. Aqui, buscou-se trazer uma noção geral de risco.

1.2 Risco e ambiente de trabalho


Vídeo É notório que as atividades de trabalho podem usualmente acarre-
tar danos e morte ao trabalhador ou ao universo em que elas estão
sendo desenvolvidas (empreendimento, pessoas, fauna e flora). Além
de danos reais, existe o potencial dano, geralmente associado ao risco
– quando se diz que algo ou alguém está em risco, associa-se isso a um
perigo que potencialmente poderá causar danos.

Em ambientes de lazer, eventualmente,


algumas pessoas se expõem a riscos. Entre- Curiosidade
tanto, ninguém quer se expor a riscos injus- De acordo com a Organização
tificáveis de maneira voluntária e consciente, Internacional do Trabalho (OIT),
há mais mortes por trabalho do
ainda mais no ambiente de trabalho. Na que pela guerra. Aproximada-
verdade, o trabalho é uma das formas de as mente 5 mil pessoas morrem
pessoas buscarem segurança (financeira) na por dia devido a acidentes no
trabalho e doenças profissionais
vida. Assim, a estabilidade nesse local é uma – isso corresponde a uma
das metas na vida de um indivíduo. vida a cada 17 segundos. Todo
ano, há quase 270 milhões de
O objetivo sempre será evitar estar sujei- acidentes pelo mundo, sendo
to a qualquer tipo de acidente, e não estar 350 mil fatais (SOUZA; BARROS;
FILGUEIRAS, 2017).
sujeito a acidentes envolve também não es-
tar sujeito a riscos. Entretanto, viver é estar
constantemente sujeito a esses perigos. Dessa forma, busca-se minimi-
zar os riscos inerentes à vida, ou seja, fazer com que eles alcancem um

Risco das atividades laborais 15


padrão aceitável para nós, o qual pode ser muito subjetivo no cotidia-
no, mas no local de trabalho não deve ser.
O ambiente de trabalho não deve proporcionar apenas segurança,
mas também conforto e condições de higiene. Por exemplo, um leve
Livro ruído de um aparelho de ar condicionado que vibra em seu suporte
O livro Higiene e segurança metálico aparentemente não causa ferimentos de maneira direta a um
do trabalho foi elaborado trabalhador. Entretanto, pode deixar facilmente uma pessoa mal hu-
por vários especialistas,
entre eles, engenheiros,
morada ao longo do dia, não somente diminuindo sua produtividade
médicos, enfermeiros, (pelo desconforto), mas também deixando-a mais vulnerável a erros e
bombeiros militares e
mais propícia a diversos tipos de falha.
professores universitá-
rios. Em seu prefácio, Viu-se, na seção anterior, que há diversas formas de estudar e concei-
a obra apresenta o
seguinte lema: “Com-
tuar o risco. Além das possibilidades já vistas, é necessário também apre-
bater o risco, respeitar sentar um conceito de risco que se relacione ao acidente de trabalho. De
quem trabalha, atender
acordo com Souza, Barros e Filgueiras (2017, p. 35), “o conceito de risco
às vítimas”. O livro é
um rico material para em segurança e saúde do trabalhador [...] pode ser entendido como a
aqueles que desejam chance ou possibilidade de consequências negativas para a saúde e a
se aprofundar no tema
Segurança do Trabalho.
integridade física ou moral do trabalhador, relacionadas ao trabalho”.

MATTOS, U. A. O.; MÁSCULO, F. S. O artigo 19 da Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, que trata dos
(orgs.). 2. ed. revista e ampliada. Rio Planos de Benefícios da Previdência Social e outras providências, apre-
de Janeiro: Elsevier, 2019.
senta uma definição de acidente de trabalho que vai ao encontro dessa
ideia: “é o que ocorre pelo exercício do trabalho [...], provocando lesão
corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda
ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o tra-
balho” (BRASIL, 1991, grifos nossos).
Tal definição merece críticas, pois foca no impacto/consequência.
Além disso, a análise aparenta ser direcionada apenas ao trabalhador.
Conforme visto na primeira seção, riscos de acidente são uma compo-
sição de fatores especialmente relacionados a uma ameaça ou perigo,
e não somente a uma consequência; além disso, não são somente pes-
soas que estão sujeitas a risco, mas também comunidades, bens, fauna e
flora, que não estão diretamente ligados ao ambiente de trabalho.
Vidal apresenta uma definição “científica”, que se julga mais conve-
Glossário niente e mais adequada, indo ao encontro do modelo de James Reason.
modus operandi: expressão Ela coloca o acidente como “o resultado de todo um processo de deses-
do latim que significa modo de truturação na lógica do sistema de trabalho que, nessa ocasião, mostra
operação.
suas insuficiências ao nível de projeto, de organização e de modus ope-
randi” (VIDAL, 1989 apud MATTOS; MÁSCULO, 2019, p. 4).
Assim, crê-se que o risco do ambiente de trabalho não está apenas
relacionado ao ambiente de trabalho, mas a qualquer sistema que ele

16 Análise e gerenciamento de risco


possa afetar. É o exemplo do caso de Brumadinho, Saiba mais
que afetou de inúmeras maneiras sistemas a quilô-
O desastre de Brumadinho ocorreu em 25 de janeiro de 2019.
metros de distância da origem do acidente. Não foi uma fatalidade; foi uma tragédia anunciada e repetida,
pois, em 2015, um desastre similar ocorreu em Mariana. Am-
É também notória a importância do estudo dos
bos, entre outros fatores diversos, derivaram do rompimento de
riscos no ambiente de trabalho, pois a realização barragens de rejeitos. Em Brumadinho, o acidente se originou
desse tipo de estudo conduz à prevenção de aciden- do processo produtivo de mineração. A lama proveniente do
tes de trabalhos. Mas será que os acidentes se mos- rompimento afetou de maneira extensiva a fauna e flora de
locais a quilômetros de distância, incluindo porções de águas
tram realmente impactantes no Brasil? Qual deveria
oceânicas. Certamente, os impactos dessas duas grandes
ser o nível de ocorrências de acidentes de trabalho tragédias não cessarão durante os próximos anos, afetando
no Brasil para que se possa dar (ou não) uma aten- especialmente as comunidades menores que possuem pouca
ção especial à análise de risco? ou nenhuma resiliência a um desastre dessa magnitude. Essa
repercussão se dará principalmente na forma de problemas de
No anuário estatístico de acidentes do trabalho saúde, poluição, desemprego e moradia.
de 2017, registraram-se 2.096 óbitos e 549.405 aci-
dentes de trabalho naquele ano no Brasil (BRASIL,
Curiosidade
2017). Esse número certamente está subdimensio-
O anuário estatístico de acidentes do trabalho é uma ferra-
nado, pois não inclui os números de acidentes de menta interessante para se conhecer os acidentes operacionais
trabalho do emprego informal, aqueles não notifica- no Brasil. Ele é elaborado pelo Governo Federal e pode ser
dos ou aqueles não englobados na definição legal de facilmente encontrado na internet. Seguem alguns dados que
estão presentes no anuário: número de acidentes do trabalho
acidente de trabalho. Assim, acidentes operacionais
no Brasil e nas unidades da federação, número de acidentes por
aparentam ser uma preocupação deveras relevante. município, Classificação Estatística Internacional de Doenças
O estudo de risco no ambiente de trabalho não é e Problemas Relacionados com a Saúde (CID) e Classificação
apenas critério de preservação da vida, mas de con- Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), número de óbitos,
definições legais, entre outros.
forto e bem-estar necessários à dignidade humana.

1.3 Falácias do risco no ambiente de trabalho


Vídeo Estudou-se até aqui o risco e como ele ocorre, e também se ponde-
rou que ele pode levar ao acidente. Continuando, atestou-se que o aci-
dente no ambiente de trabalho no Brasil é algo relevante e que demanda
preocupações. Antes de entrar de modo direto no estudo do risco, é ne-
cessário ainda continuar uma abordagem geral sobre a cultura do risco.

Viu-se que o acidente no ambiente de trabalho deve ser tratado,


e a melhor forma de fazer isso é mitigando riscos. Uma das etapas
fundamentais para isso é não os ignorar. A palavra ignorância é usa-
da atualmente em duas vertentes: uma tem como característica a falta
de conhecimento, de estudo e/ou de habilidade; a outra leva a uma
ideia de deixar de estar a par, desconsiderar fatos, deixar de se aten-
tar, desprezar. O primeiro significado parece apresentar uma noção de
passividade, algo involuntário, em que não se pode optar. Já o outro

Risco das atividades laborais 17


transparece uma noção de voluntariedade, de decisão própria e inten-
cional, uma atitude deliberada, proposital e premeditada. Assim, é a
opção de estar vulnerável a risco.

Dessa forma, pode-se citar que há dois aspectos na exposição a risco:


um se refere àqueles que se colocam (ou são colocados) sob risco por
falta de conhecimento, e o outro, àqueles que se colocam (ou são colo-
cados) por opção. Ambos os casos estão sob domínio do empregador.
Ele é quem tem autonomia, controle e gestão sobre aqueles que estão
vulneráveis ao risco, mesmo quando ele não tem ciência do risco ou não
fez o suficiente e o adequado para ter ciência dele, ou quando opta por
desprezá-lo (ignorá-lo). Portanto, todos os fatos ocorridos ao trabalha-
dor no ambiente de trabalho são de responsabilidade do empregador.

Esta seção busca apresentar situações e argumentações infelizes,


denominadas falácias, que demonstram diversas formas de ignorância
quanto ao risco no ambiente de trabalho. Expõem-se usos comuns (e
não normais/legais) de tratamentos inadequados de risco. Além disso,
explora-se o fato de que todas essas falácias ocorrem sob o domínio
do empregador.

O acidente foi fatalidade.

Uma falácia muito comum, por exemplo, é o uso da palavra fa-


talidade. Ao buscar o significado da palavra falácia no dicionário,
são encontradas as seguintes ideias: consequência inevitável do desti-
no; desastre; algo impossível de ser evitado. Muitos também tratam os
acidentes por esse termo. Por que será?

O uso da palavra fatalidade para justificar acidentes, em especial no


ambiente de trabalho, é muito confortável. Ora, se acontece uma fa-
talidade, dá-se a noção de que era algo inevitável; logo, não há como
estar nos domínios do empregador. A responsabilidade é jogada para
o destino. De certa forma, atualmente, até a queda de meteoros pode
Glossário ser prevista ou estimada por agências de alguns países. Mas mesmo
SPDA: sistema de proteção um evento considerado inevitável, como o raio, pode contar com me-
contra descargas atmosféricas.
canismos que, apesar de não o evitarem diretamente, minimizem seus
efeitos; por exemplo: o para-raios ou SPDA.

18 Análise e gerenciamento de risco


Não se pôde/pode fazer nada.

Neste ponto, pode-se inserir outra falácia frequente. Aqui, há


novamente uma evasão de responsabilidade. Retornando ao caso
do raio, por exemplo, dificilmente se consegue impedir a ocorrência
da descarga atmosférica (ameaça ou evento danoso). O que se pode Importante

fazer, então, é mitigar os seus impactos negativos (danos) e dimi- O crime de fraude para
recebimento de indenização
nuir a vulnerabilidade de um sistema. Por exemplo, pode-se impe-
ou de valor do seguro pode
dir a descarga de alcançar elementos internos de uma edificação ser enquadrado no artigo 171,
e/ou conduzir a descarga para a terra de modo a haver o mínimo parágrafo 2º, capítulo V, do
Código Penal, podendo também,
dano a instalações prediais. por exemplo, configurar crime de
Sempre há alguma ação possível a ser tomada. Realmente, em uma incêndio. Como este livro não é
direcionado ao estudo do Direito,
análise superficial, o empregador pouco pode fazer diretamente para os elementos do crime não serão
impedir a criminalidade ou a existência de um vetor (por exemplo, mos- aqui analisados. Entretanto, em
uma análise simples, nesse tipo
quito) de uma doença parasitária/infectológica. Mas, conforme visto na
de crime, produz-se uma ação
primeira seção, pode-se tratar a vulnerabilidade e posicionar barreiras (ou omissão) no sentido de pro-
de proteção. No caso da criminalidade, cercamento e circuito fechado duzir (ou deixar ocorrer) inten-
cionalmente e deliberadamente
de TV diminuem a exposição; na presença de mosquito no ambiente
o evento danoso e materializar o
de trabalho, a colocação de telas em janelas e medidas de combate risco estimado na apólice.
são formas de mitigar riscos. Assim, julga-se que sempre é possível ao No caso do veículo que entra na
empregador fazer algo para diminuir riscos. enchente, o dono do carro não
deseja o evento danoso ou pro-
duzir o impacto negativo, mas,
Caso aconteça algo, temos seguro. estando ciente do risco, aceita-o
e abraça-o, esperando que não
faça mal algum, em uma espécie
Outra falácia é que riscos podem ser favorecidos ou cobertos de aposta macabra. Apesar de
de modo financeiro. Assim, busca-se legitimar correr riscos sobre a não se configurar crime, tal
aceitação de risco certamente
eventual, por exemplo, proteção de um seguro. É sabido que o seguro não está coberta pelo seguro.
existe para cobrir eventos não desejados. Quando há uma expectati-
va de desejo da ocorrência do evento para uma casual indenização,
configura-se a aceitação do risco, ignorando as atitudes preventivas e
barreiras de proteção. Glossário
O seguro lida com a noção de um certa previsibilidade ou imprevisi- caso fortuito: evento inevitável
e imprevisível causado por
bilidade do evento danoso. Por exemplo, em caso de alagamento de via
ato humano que interfere na
pública, o seguro certamente analisará se um veículo foi tomado pela conduta e nas obrigações de
inundação ou se avançou em área inundada de modo deliberado. O pri- indivíduos; por exemplo: guerra.
meiro caso exemplificaria um caso fortuito; já o segundo, a aceitação
dos riscos, o que não justifica indenizações. Observa-se ainda que a aná-

Risco das atividades laborais 19


lise da aceitação do acidente em ambiente de trabalho pode gerar ou-
tros desdobramentos, como talvez a tentativa de fraude e outros crimes.
Por fim, o seguro pode restabelecer situações físicas e compensar danos
financeiros, mas nunca restituir a qualidade e o status de vida de alguém.

Não faz mal.

Uma falácia grosseira é o famoso “não faz mal”. Além de haver nela
uma noção extremamente subjetiva de dano, que despreza o dano
oculto (que não se pode ver ou sentir), analisa-se, nessa construção,
apenas o momento atual. Não há avaliação de danos ao longo do tem-
po e do espaço. Talvez um vazamento de combustível em lençol freá-
tico não faça mal em noção de dias, mas certamente o fará em termos
de semanas. Além disso, em alguns dias, não será possível visualizar os
danos desse mesmo vazamento em relação ao espaço, mas, em ques-
2
tão de semanas, pode haver danos em sistemas e comunidades distan-
Lembre-se do caso de Brumadinho, tes da origem do vazamento .
2

citado anteriormente.

A produção não pode parar.

Continuando o rol de falácias, há ainda esse bordão. Um dos aspec-


tos mais ignorados nessa afirmação é que, se o risco se transformar
em um acidente, haverá interrupção obrigatória da produção, além de
prejuízos derivados do acidente. Ou seja, em uma análise sintética e
superficial, melhor seria ter apenas o “prejuízo” da interrupção da pro-
dução do que ambos. Além disso, a noção de que a interrupção da
produção para mitigação de riscos gera prejuízo é um grande equívoco,
pois, na verdade, tal atitude demonstra ser um grande investimento na
estrutura do ambiente de trabalho.

Foi apenas um incidente.

Essa é uma velha frase conhecida no ambiente de trabalho e é usa-


da para justificar a aceitação de riscos. Todo acidente ocorre de um
ou mais incidentes, sendo que o incidente é o anúncio do acidente. A
manifestação do incidente é um sinal de que o ambiente de trabalho
demanda um tratamento dos riscos existentes.

20 Análise e gerenciamento de risco


O custo é muito alto.

Essa frase também é frequente em processos decisórios na mitiga-


ção de riscos. Nesse caso, usualmente, há uma noção pontualmente
financeira dominando o debate, em detrimento de um foco de segu-
rança, conforto e higiene do ambiente de trabalho e de sistemas e
comunidades dependentes dele. Em uma análise superficial, por exem-
plo, mesmo um grande montante de custo justificaria uma ação na bar-
ragem que acarretou o incidente de Brumadinho. Quando ocorre um
acidente, os danos não se compõem apenas dos prejuízos diretos, mas
dos indiretos também, ou seja, daqueles que se prolongam no tempo
e no espaço. Sempre que se lida com a noção de custo alto, pode-se
refletir o quanto vale a vida de uma pessoa.

Isso nunca aconteceu.

Essa é outra falácia comum, também expressa como “em tantos


anos de experiência profissional, isso nunca ocorreu”. Essas frases, em
uma vertente mais formal e com tentativa de impregnar um caráter
científico, também podem ser manifestadas como “não há registro es-
tatístico que justifique”. O que se pretende (quase que criminalmente),
nesse caso, é justificar a aceitação de risco com base em experiências
limitadas e pessoais.

Por exemplo, é possível que nunca se tenha ouvido dizer sobre incên-
dios em boates com uso de artefatos de pirotecnia no Brasil. Mas não
é porque não se conhece os registros que eles não existem. O incêndio
da boate Kiss pode parecer inédito no Brasil, mas, em 2005 e em 2003,
ocorreram incêndios extremamente semelhantes em, respectivamente,
Buenos Aires (Argentina) e West Warwick (Estados Unidos). A dinâmica é
idêntica nos três casos: ambiente com concentração de público, uso
irregular de artefato de pirotecnia em ambiente interno, problemas de
lotação, inadequação da edificação e número elevado de óbitos e feridos.

Sempre foi assim.

Ainda, há uma situação em que o risco é ignorado, a qual envolve o


“sempre foi assim”. As análises de Mattos e Másculo (2019) ilustram bem

Risco das atividades laborais 21


a equivocada e inconsciente motivação de manter um risco adormecido
e constante no ambiente de trabalho, sem ser mitigado. De acordo com
os autores, o empregado (envolvido no trabalho) é quem conhece a si-
tuação de risco, mas o empregador, que poderia corrigi-la, não entende
o grau de necessidade. Assim, o risco é incorporado à rotina e continua
ocorrendo. Além disso, mesmo que o empregador conheça a situação
de risco, ele, por vezes, não sente que é responsável por sua correção.

A fiscalização veio aqui e não falou nada.

Inicialmente, cabe dizer que qualquer fiscalização atua sempre


sob uma condição visível. Aquilo que está oculto ou que é modifica-
do após a fiscalização não foi/é objeto de verificação de conformidade.
Além disso, a responsabilidade das condições de segurança, conforto,
bem-estar e higiene no ambiente de trabalho estão sob domínio e res-
ponsabilidade do empregador, sendo a fiscalização externa (usualmen-
te estatal) um parâmetro mínimo.

A direção não aprova [o aspecto que no julgamento dela gerou o


acidente] e sempre primou pela segurança.

Aprofundando a questão da responsabilidade do empregador ou


seu preposto na exposição a riscos, por vezes ainda há essa desastrosa
declaração. Ora, ela é um tanto vazia, pois se não havia a aprovação de
tal atitude, por que se permitiu? Por que não se coibiu? Por que não se
vigiou? Por que não se tratou antecipadamente? Na verdade, tudo que
ocorre no domínio do empregador é de responsabilidade dele.

Ato inseguro.

Por fim, dentro dessa perspectiva de que tudo que ocorre no am-
Glossário biente de trabalho é de responsabilidade do empregador, refuta-se o
ato inseguro: ações e atitudes ato inseguro do empregado. Por vezes, há a justificação de um aciden-
que conduzem a riscos atribuídas te com base na argumentação de que um empregado cometeu um ato
aos empregados, de modo a
dessa natureza, levando à exposição do risco ou ao acidente. Nesse
responsabilizá-los.
caso, direciona-se, de maneira tendenciosa, a responsabilização ao em-
pregado, mas será que ele age por vontade própria, direcionando ele
mesmo ou outros ao acidente?

22 Análise e gerenciamento de risco


De acordo com Oliveira, o empregado faz aquilo que lhe foi demanda-
do, e não apenas aquilo que quer, inclusive no que diz respeito a compare-
cer ao ambiente de trabalho. Ele age conforme “a vontade do empregador
(e seus prepostos), inclusive por desídia, falta de vigilância, negligência, au-
sência de gerenciamento, descuido com a coisa privada, descaso com o
lucro, periclitação com o patrimônio do patrão” (OLIVEIRA, 20--, p. 56).

Em um paralelismo, seria algo próximo a dizer que uma máquina


gerou o acidente, que ela optou por praticar uma operação insegura.
Em ambos os casos, o empregador aparenta ser um espectador passivo,
sendo o empregado (ou máquina) o único possuidor de vontade pró-
pria. Parece, por vezes, que até mesmo o sistema ou a organização do
ambiente de trabalho possui vontade própria em detrimento do em-
pregador, como se este fosse impossibilitado ou estivesse prejudicado
de fazer intervenções.

Os acidentes ocorrem por erros sistêmicos organizacionais. A orga-


nização e o gerenciamento providos pelo empregado permitem uma
condição insegura que o abarca, especialmente por ignorância ou libe-
ralidade do empregador. As condições organizacionais seguras são a
base do conforto, da higiene e do bem-estar do empregado.

Nesta seção, buscou-se demonstrar algumas concepções errôneas


sobre a exposição ao risco, o qual decorre fundamentalmente de um
ambiente de trabalho planejado, estruturado, avaliado, sistematizado,
revisado, organizado, manutenido e aperfeiçoado de maneira insufi-
ciente e inadequada. Qualquer argumentação que não busque enten-
der o risco e o acidente fora da perspectiva da responsabilidade do
empregador não é satisfatória ou justa.

1.4 Soluções de segurança


Vídeo Levantar críticas é sempre mais confortável do que se engajar em
soluções. Contudo, este capítulo visa não apenas levantar problemas,
mas também apresentar algumas propostas de intervenções para im-
plementar uma cultura de segurança, conforto, bem-estar e higiene
no ambiente de trabalho. Conforme visto na seção anterior, as ações
devem prioritariamente ser providas na organização e no sistema
pelo empregador.

Risco das atividades laborais 23


Tratamento imediato

Inicialmente, cabe destacar que o tratamento imediato de ameaças


é fundamental para um ambiente de trabalho seguro. Por exemplo,
se determinado equipamento ou instalação está dando choque, isso
demonstra que há algo errado ali. Uma das atitudes erradas possíveis
é haver apenas um alerta verbal entre colegas do setor. Deve-se ime-
diatamente alertar sobre a ameaça descarga elétrica, não prevista, de
modo oficial a todos os trabalhadores do setor. Essa ameaça também
deve ser isolada e rapidamente tratada, seja pela manutenção ou pelos
responsáveis pela segurança do trabalho local.

Certa vez, em determinado ambiente de trabalho, ocorreu um aci-


dente fatal envolvendo empregados e choque elétrico. Em investigação,
diversas pessoas declaram que as instalações sempre davam choques.
A cultura organizacional falhou em não prover tratamento imediato da
ameaça, como instalar dispositivos de segurança contra fuga de cor-
rente elétrica ou prover aterramento adequado.

Nesse mesmo caso, citou-se que o risco não foi tratado porque a
fonte da descarga não era conhecida. Caso houvesse uma cultura or-
ganizacional de segurança bem estabelecida, os responsáveis teriam
a consciência de que, não se podendo eliminar a ameaça, a vulnerabi-
lidade de um grupo pode ser sempre mitigada. Um exemplo simples
de atitude mínima de segurança poderia ser isolar a área e impedir a
aproximação de pessoas à instalação que oferecia a ameaça. Assim,
mesmo que houvesse uma ameaça, a eliminação do contato do grupo
vulnerável impediria a concretização do risco.

Eliminar a rotina do risco

Tratar ameaças e reduzir a vulnerabilidade são ações generalistas


básicas que devem sempre ser adotadas. Em outras palavras, deve-se
eliminar a rotina do risco, o que envolve ter aversão firme ao risco co-
nhecido e notório e não permitir, caso ele ocorra, a sua permanência
ou repetição. Portanto, se eventualmente um risco aparecer, a cultu-
ra organizacional deve empreender um combate imediato, público e
enérgico ao risco. Como já foi mencionado, não se pode haver a fami-
liarização com o risco.

24 Análise e gerenciamento de risco


Todo incidente é um anúncio de acidente

Na verdade, entender que todo incidente é um anúncio de aci-


dente é fundamental para quebrar a rotina do risco. A ocorrência do
incidente demonstra, conforme explicado na primeira seção, que há
manifestações de ameaças ativas passando por barreiras de proteção.
Por exemplo, usualmente, antes de um incêndio, há princípios de in-
cêndios; antes de uma máquina apresentar um defeito que a imobili-
ze completamente, há manifestações de defeito em menor escala. Tal
ideia é ilustrada na figura a seguir.

Figura 2
Pirâmide de acidentes da Insurance Company of North America (ICNA)

1 Acidente com lesão incapacitante

10 Acidentes com lesões não incapacitantes

30 Acidentes com danos à propriedade

600
Acidentes sem lesão ou danos
visíveis (quase acidente)

Fonte: Elaborada pelo autor com base em Mattos e Másculo, 2019, p. 4.

Não há fatalidade no ambiente de trabalho, mas sim tragédias anun-


ciadas. Como já foi explicado, quando se fala em fatalidades, adota-se
uma postura de tratamento impossível, de inevitabilidade do risco; e
isso de fato não ocorre. O que acontece é o mau planejamento e a má
sistematização do ambiente de trabalho disponibilizado pelo emprega-
dor, que não teve a capacidade de prever determinado risco.

Falar em fatalidades é negar toda a teoria de Segurança do Traba-


lho, é dizer que a teoria de análise de risco é insuficiente e não pode
ser aplicada em um determinado ambiente de trabalho. Por vezes,
uma análise de risco pode até ser insuficiente, por consequência da
pouca atenção para executá-la. Por isso, toda e qualquer análise de

Risco das atividades laborais 25


risco sempre deve ser formal e executada por um profissional com-
petente, o que impede a ocorrência de riscos equivocadamente cha-
mados de ocultos.

Segurança não é custo

Lembra-se ainda que segurança não é custo, mas sim investimen-


to, e deve ser um valor disponibilizado pelo empregador. Além disso,
em um simples estudo de caso, pode-se verificar que o acidente sem-
pre custará mais caro que o investimento em seguro. Ou seja, a ve-
lha máxima “prevenir é melhor que remediar” permanece válida. Os
custos envolvidos com acidente envolvem não apenas perdas diretas,
mas também danos à imagem, dias parados de produção, ações ju-
diciais etc.

Verificações internas

A fiscalização não deve ser somente externa (de caráter estatal). Ve-
rificações internas de conformidade devem ser incentivadas e promo-
vidas. Além disso, não se deve ter aversão ou receios de fiscalizações e
auditorias; elas devem ser vistas como oportunidades de tratamento e
aperfeiçoamento de mitigação de risco.

Então, por fim, afirma-se novamente que o acidente provém da con-


dição insegura proporcionada pela má sistematização do ambiente de
trabalho disponibilizado. A segurança do ambiente de trabalho (bem
como o acidente) tem cunho organizacional, e não individual. Tudo do
ambiente de trabalho procede do empregador e da sistematização que
ele prove, em especial a segurança, o bem-estar e a higiene das condi-
ções do ambiente de trabalho.

1.5 Tipos de riscos


Vídeo Estudar risco não é uma tarefa tão simples e fácil. Há diversos aspec-
tos envolvidos e variadas formas de visualizar um risco. Dessa forma,
apresenta-se uma proposta entre as inúmeras existentes. A classifica-
ção feita nesta seção, em risco físico, químico e biológico, atende a uma
necessidade legal de caracterizar a insalubridade, mas já se sabe que a
análise de risco vai além de uma demanda legal. A NR 09 diz que:

26 Análise e gerenciamento de risco


9.1.5 Para efeito desta NR, consideram-se riscos ambientais os
agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes
de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou
intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos
à saúde do trabalhador. (BRASIL, 2019b, p. 1)

Sempre haverá possibilidade de imperfeições diante de uma pro-


posição de classificação do risco. É importante lembrar que essas clas-
sificações são falíveis, pois aqui não se tem uma ciência puramente
exata, mas sim uma necessidade de visão técnica, social e econômica.
Segue a exposição de uma proposta clássica de classificação de risco,
que vai um pouco além do proposto pelas Normas Regulamentadoras
do Brasil (NRB).

1.5.1 Risco físico


Ao imaginar o risco físico, pode-se pensar inicialmente e equivoca-
damente em algo relacionado a um risco palpável, conectado ao atrito
ou ao contato, mas não é bem assim. Em um aspecto geral, os riscos
físicos estão relacionados ao conteúdo que se estuda em Física no en-
sino médio. Veja a seguir os exemplos de riscos físicos previstos na
NR 09, que os relaciona à exposição a diversos tipos de energia:
9.1.5.1 Consideram-se agentes físicos as diversas formas de
energia a que possam estar expostos os trabalhadores, tais
como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extre-
mas, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, bem como
o infrassom e o ultrassom. (BRASIL, 2019b, p. 2)

Mattos e Másculo (2019) trazem uma definição também relevante,


além de apresentarem algumas características e citarem exemplos.
Eles creem que os riscos físicos proporcionam a alteração das caracte-
rísticas físicas do ambiente de trabalho, causando agressões. Esse tipo
de risco exige um meio de transmissão, age sobre pessoas sem a ne-
cessidade de um contato direto e ocasiona lesões imediatas a crônicas.

A seguir, são apresentadas as exposições a risco, seguidas de exem-


plos de atividades laborais em que o risco pode ocorrer e os danos e
doenças consequentes:

Risco das atividades laborais 27


Siberian Photographer/Kilroy79/ NazArt/ kornn/ Luchenko Yana/ Vector Icon Flat/Shutterstock
RISCO EXEMPLOS DANOS E DOENÇAS

Altas temperaturas Desidratação, palidez, dor de ca-


Trabalhadores que lidam com
beça, confusão mental, câimbras,
alimentação de fornos, forjas, co-
queda de pressão, enfraquecimen-
lheita de cana de açúcar, lavande-
to dos dentes, insolação, choque
rias e tinturarias
térmico, convulsões, óbito.

Baixas temperaturas Dormência, urticária, congela-


mento da epiderme, ulcerações,
frieiras, doenças nos pés (pé de
Interior de câmaras frigorificas.
imersão), predisposição para
doenças respiratórias, hipóxia, fe-
nômeno de Raynaud, hipotermia.

Vibrações Dores, transtornos circulatórios


Operadores de máquinas e ferra-
periféricos, redução da força, os-
mentas pneumáticas, condutores
teoporose, fenômeno de Raynaud,
de caminhão, rolo compactador,
doenças degenerativas, lesões
tratores e compressores.
localizadas ou de corpo inteiro.

Ruídos
Operadores de máquinas e Fadiga nervosa, hipertensão, da-
ferramentas, trabalhadores de nos temporários ou permanentes
aeroporto, construção civil. no aparelho auditivo.

Pressões anormais Dores abdominais, irritação nos


Atividades sob ar comprimido,
pulmões, barotrauma, tontura,
tubulões, locais de trabalho de alta
rompimento de vasos, perda da
altitude e mergulhadores.
consciência.

Iluminância inadequada Atividades em que podem ocorrer


ofuscamento, estar exposto à luz
Mal humor, estresse, dor de cabe-
intensa solar de modo contínuo,
ça, perda da capacidade visual.
iluminação natural ou artificial em
níveis muitos altos ou baixos.

Radiações ionizantes Técnicos de radiologia, mineração


Dermatites, queimaduras na pele,
de urânio, usinas com reatores
efeitos sobre sistema circulatório,
nucleares e fontes radiativas,
catarata, conjuntivite, lesões na
fábrica de alimentos e bebidas,
pele, câncer.
laboratórios.

Saiba mais
O fenômeno de Raynaud é uma condição decorrente, entre outros fatores, da excessiva exposição ao frio. As
manifestações visíveis desse agravo são a palidez nas extremidades do corpo (nariz, orelhas, dedos, mãos e pés),
acompanhada de dor, úlceras, lesões maiores e outras consequências.

28 Análise e gerenciamento de risco


Logicamente, não é qualquer ruído ou patamar de temperatura que
causará prejuízos ao trabalhador; tudo dependerá da intensidade e do
tempo de exposição. A NR 15 apresenta valores para fins de pagamen-
to de adicional de insalubridade, lidando com parâmetros como nível
do ruído e máxima exposição diária permissível. Ela usa parâmetros
avaliativos como: se é um ruído contínuo ou de impacto, o tempo da
jornada de trabalho, o nível de exposição, a dose diária de ruído e a
quantidade de anos de permanente exposição ao ruído (BRASIL, 2019c).

Desse modo, conforme definição prevista na NR 09, os riscos físicos


são formas de transferência de energia do ambiente para o corpo de
pessoas, implicando alguma alteração ou prejuízo fisiológico, podendo
ser visível e imediata (ou não). Dessa forma, somente avaliações oficiais
e profissionais são suficientes e adequadas para verificar a exposição a
o risco físicos em ambiente de trabalho.

1.5.2 Risco químico


Talvez seja mais simples conceituar e apontar exemplos de riscos
químicos ao se lembrar, de modo semelhante ao risco físico, do que se
estuda na Química do ensino médio. Basicamente, de maneira simpli-
ficada, pode-se dizer que o risco químico envolve estar exposto a um
agente químico. Segundo a NR 09:
9.1.5.2 Consideram-se agentes químicos as substâncias, com-
postos ou produtos que possam penetrar no organismo pela
via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas,
gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposi-
ção, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo atra-
vés da pele ou por ingestão. (BRASIL, 2019b, p. 2)

A seguir, são apresentados alguns meios de transporte de risco quí-


mico, além de seus conceitos e alguns exemplos de casos em que eles
podem ser encontrados:

Risco das atividades laborais 29


kornn/Cube29/Shutterstock
MEIO CONCEITO EXEMPLO

Poeira Partícula sólida dispersa no ar, Corte de pedras na marmoraria,


proveniente de ruptura mecânica cimento, britagem, terraplana-
de um sólido. Partículas sólidas de gem, demolição, peneiramento,
diâmetro de até 50/100μm. fabricação de vidros; usualmente
proveniente de processo de tritu-
*1 μm = 0,000001 metro
ração ou lixamento.

Fumo Partícula sólida dispersa no ar,


Soldagem, fundição, volatização
proveniente de condensação de
de metais, fumo de chumbo;
vapores de substância. Partícu-
proveniente de processo de aque-
las sólidas de diâmetro de até
cimento.
0,5/1μm.

Névoa
Partícula líquida dispersa no ar,
Pintura com pistola de tinta, spray
proveniente de ruptura mecânica
(tinta, desodorante), aplicação de
de líquidos. Gotículas líquidas com
lubrificação e agrotóxicos.
diâmetro entre 0,1 e 100μm.

Neblina Partícula líquida dispersa no ar,


proveniente de condensação do Neblina vista em estradas; usual-
vapor de uma substância. Gotícu- mente proveniente de processo
las líquidas com diâmetro entre 1 de evaporação.
e 50μm.

Gases
Substância naturalmente em esta-
Oxigênio, metano, hidrogênio,
do gasoso nas condições normais
butano, monóxido de carbono.
(de temperatura e pressão).

Vapor Substância naturalmente em


Vapor d’água, ácidos, vapor de
estado diferente do gasoso nas
gasolina, querosene, álcool, sol-
condições normais, mas eventual-
ventes de tintas, éter, vapores de
mente presente em fase gasosa
aplicação de manta asfáltica.
no ambiente.

Fumaça
Produtos da combustão (queima) Fumaça de incêndios, sejam em
incompleta de materiais orgânicos. edificações ou em vegetações;
Diâmetros inferiores a 1μm. contém diversos contaminantes.

30 Análise e gerenciamento de risco


A NR 09 foca no meio em que o agente químico pode se deslocar
ou ser transportado: poeiras, névoas, fumos, gases etc. Via de regra,
quanto menor a partícula, mais ela poderá afetar o corpo humano e
mais potencialmente danosa será. Qualquer forma de contato, mesmo
o direto, constitui uma preocupação e é um dos focos de estudo com
relação aos agentes químicos.

De maneira simples, agentes químicos podem ser classificados como:


•• irritantes, por exemplo, ácidos e cloro;
•• anestésicos, por exemplo, butano e propano (componentes do
gás de cozinha);
•• asfixiantes simples, por exemplo, dióxido de carbono, que reduz
a concentração do oxigênio local, reduzindo ou impedindo a ofer-
ta à respiração animal/humana;
•• asfixiantes químicos (tóxicos), por exemplo, cianeto e monóxido
de carbono, que impedem a utilização bioquímica do oxigênio,
mesmo com oferta deste.

Alguns agentes de risco são apresentados a seguir, bem como exem-


plos para cada um e possíveis danos e doenças:

Migren art/ shmai/ /Shutterstock


RISCO EXEMPLOS DANOS E DOENÇAS

Agentes corrosivos
Irritação da pele, queimaduras,
Locais em que há armazenamento
problemas de diversas ordens na
e manuseio de ácidos e álcalis.
pele, olhos e sistema digestório.

Agentes asfixiantes
Tanques, porões de navios, silos,
minas e locais que podem ter re- De mal estar a óbito.
dução da concentração do oxigênio.

Agentes cancerígenos Carvoarias, locais em que há ar-


mazenamento e manuseio de pro-
dutos químicos, como benzeno, De irritações a câncer em órgãos.
amianto, benzidina (relacionado a
corantes), entre outros.

Agentes tóxicos
Locais em que há armazenamento
e manuseio de solventes, chumbo, De irritações a doenças em siste-
mercúrio, manganês, pó de carvão, mas completos.
amianto, sílica, entre outros.

Risco das atividades laborais 31


No entanto, não existem apenas esses tipos de danos. Por exem-
Glossário
plo, as fibras podem causar doenças fisiológicas diversas. Em especial,
asbestose: doença causada
pela aspiração de pó de cita-se a asbestose e os cânceres no pulmão e mesotélio, causados
amianto/asbesto. por aspiração de pó de asbesto/amianto. Tem-se ainda a lã de rocha,
mesotélio: tecido que reveste que pode causar irritação na pele, nos olhos e na garganta. Frisa-se que
as cavidades do corpo.
o risco químico usualmente é invisível aos olhos humanos e, por isso,
demanda uma avaliação formal por um profissional habilitado para
identificar, tratar e mitigar esse tipo de risco.

1.5.3 Risco biológico


Entre todos os riscos, o biológico talvez seja um dos mais simples de
se prever o conceito. Basicamente, esse risco se relaciona aos agentes
biológicos que trazem impactos, prejuízos e doenças ao trabalhador.
Esses agentes podem ser parasitas, bacilos, bactérias, vírus, fungos,
protozoários etc. (BRASIL, 2019b).

Segundo Mattos e Másculo (2019, p. 39), os riscos biológicos “são


aqueles introduzidos nos processos de trabalho pela utilização de se-
res vivos (em geral, micro-organismos) como parte integrante do pro-
cesso produtivo, tais como vírus, bacilos, bactérias etc., potencialmente
nocivos ao ser humano”.

Apesar de a NR 09 não citar os riscos biológicos diretamente (tam-


bém se aplicando aqui uma visão mais abrangente do risco e dos
acidentes de trabalhos), apontam-se animais que possam ser eventual-
mente danosos ao trabalhador, diretamente ou não; por exemplo: ra-
tos, mosquitos, cobras, escorpiões, lacraias, peixes, entre outros.

A seguir, são apresentados alguns riscos biológicos, seus exemplos


e alguns danos e doenças consequentes deles: davooda/ gomolac/ Artem Stepanov /Shutterstock

RISCO EXEMPLOS DANOS E DOENÇAS

Vírus
Trabalhadores de hospitais e
Síndrome da imunodeficiência
laboratórios em acidentes com
adquirida (SIDA).
agulhas.

Bactéria
Trabalhadores de silos (bagaço de
Doenças respiratórias diversas.
cana e cereais).

(Continua)

32 Análise e gerenciamento de risco


davooda/ gomolac/ Artem Stepanov /Shutterstock
RISCO EXEMPLOS DANOS E DOENÇAS

Fungo
Trabalhadores de arquivos, mu-
Doenças respiratórias diversas.
seus e bibliotecas.

Protozoários Trabalhadores de laboratórios,


estação de tratamento de esgoto,
Doenças diversas.
estação de tratamento de água,
plantações de arroz.

Aranhas
Trabalhadores da silvicultura e Picadas e contato podem causar
agricultura. envenenamento.

Escorpião
Trabalhadores da construção civil. Picadas causam envenenamento.

Carrapato A atividade parasitaria do carra-


Trabalhadores da silvicultura, pato pode causar febre maculosa
pecuária e agricultura. e outras doenças, além de lesões
na pele.

Rato
Mordidas e contato com urina
Trabalhadores de limpeza predial. podem causar diversas enfermi-
dades.

Cobras
Trabalhadores de jardins botâni- Picadas causam envenenamento e
cos ou zoológicos mordidas podem causar infecções.

De modo similar aos demais riscos, é fundamental a identificação e


avaliação do ambiente de trabalho para a prevenção de riscos biológicos.
São diversos os fatores envolvidos em relação a esses riscos: localização
geográfica do ambiente de trabalho, característica do trabalho desempe-
nhado, formas e fontes de exposição, vias de transmissão, persistência do
risco biológico, patogenicidade etc. Riscos biológicos podem causar desde
simples lesões e infecções superficiais e sistêmicas até doenças diversas
e óbitos. Por isso, novamente, avaliações profissionais devem ser execu-
tadas antes e durante a atividade profissional, sendo que também devem
sempre haver revisões para aperfeiçoamento das medidas protetivas.

Risco das atividades laborais 33


1.5.4 Risco ergonômico
Apesar de o risco ergonômico não estar incluso na NR 09, ele se con-
figura como um importante fator a ser estudado, avaliado e mitigado.
Cita-se que a palavra ergonomia é de origem grega e une dois significa-
dos: ergon (trabalho, esforço, ocupação, ação) e nomos (ordenamento,
leis, regras, normas). Em outras palavras, de modo simples, a ergono-
mia pode ser entendida como a organização do trabalho.

Atualmente, a ergonomia física costuma estar em debates no am-


biente de trabalho, especialmente em temas sobre postura, manuseio
e manipulação de cargas, repetição de movimentos, características de
mobiliário, entre outros tópicos. Além da preocupação com ao aspecto
físico do trabalhador, há também a ergonomia organizacional, que
estuda a ordenação, as estruturas políticas e os processos organiza-
cionais envolvidos no ambiente de trabalho. Há ainda a ergonomia
cognitiva, que visa ao estudo da engenharia cognitiva envolvida no
ambiente de trabalho, com foco nos processos mentais, por exemplo,
tomada de decisões e desempenho de habilidades. Assim, podemos
entender melhor os riscos ergonômicos.

Há diversas situações possíveis que causam riscos ergonômicos. En-


tre elas, encontram-se (MATTOS; MÁSCULO, 2019):
•• inadequações do espaço de trabalho, como mesa pequena, am-
biente apertado, limitação de espaço;
•• altura inadequada da cadeira, da tela do computador, do teclado,
do mouse etc.;
•• maquinário sem regulagem de altura;
•• execução de tarefa de trabalho permanentemente em pé ou
sentada;
•• fluxo de trabalho inadequado, gerando repetição de tarefas já
realizadas;
•• postura de trabalho viciosa devido ao uso de equipamentos que
não consideram os dados antropométricos dos usuários;
•• dimensionamento inadequado da estação de trabalho, o que faz
com que haja movimentação corpórea excessiva;
•• conteúdo mental do trabalho não adequado ao trabalhador, o
que pode gerar sobrecarga (estresse) ou monotonia.

34 Análise e gerenciamento de risco


A figura a seguir ilustra um risco ergonômico comum: a postura ina-
dequada. Essa conduta no ambiente de trabalho pode causar diversos
danos à saúde do trabalhador, como dores de cabeça e nas costas.

Figura 3
Ilustração de alguns riscos ergonômicos e eventuais consequências

Jehsomwang/Shutterstock
POSTURA
INCORRETA
SÍNDROME DO ESCRITÓRIO

MÁ POSTURA AO
SENTAR-SE DOR DE CABEÇA DOR NO DOR NAS DOR NO
OMBRO COSTAS PESCOÇO

Assim, observa-se que o risco ergonômico também é um fator pertinen-


Livro
te a ser considerado no ambiente de trabalho. Sua avaliação e mitigação,
O livro Pontos de verificação
igualmente ao que acontece com os demais riscos, não são voluntárias ou ergonômica: soluções
práticas e de fácil aplicação
opcionais ao empregador. Existe a NR 17 (BRASIL, 2018, p. 1), que “visa a para melhorar a segurança,
estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de tra- a saúde e as condições de
trabalho foi elaborado pela
balho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a pro- Organização Internacional
do Trabalho (OIT) com a
porcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente”. Associação Internacional
de Ergonomia (IEA). É uma
Alguns autores também citam outras classificações de riscos. Ini- obra muito rica em conteú-
do e imagens que explora
cialmente, há os riscos mecânicos: aqueles que somente se manifes-
condições de ambientes de
tam com contato do trabalhador, por exemplo, materiais cortantes e trabalho com enfoque no
processo, levantando riscos
aquecidos, buracos etc.; nesses riscos, também entrariam os riscos de situações variadas.
Destaca-se a sua relevância,
de incêndio. Também há os riscos sociais (ou psicossociais): aqueles
pois normalmente a ergo-
que ocorrem pela inadequada organização do trabalho, por exemplo, nomia é desprezada como
elemento de segurança no
escala de trabalho inconstante ou assédios, tendo efeitos negativos a processo produtivo.
nível psicológico para o trabalhador, especialmente o estresse, em suas OIT - Organização Internacional
diversas formas. Pode-se citar ainda a tipificação risco de acidentes, uti- do Trabalho. 2. ed. São Paulo:
Fundacentro, 2018.
lizada por alguns autores.

Risco das atividades laborais 35


É importante lembrar que o risco nem sempre é visível. Além dis-
so, por vezes, o risco não causa sensibilização no corpo humano; por
exemplo: radiação ou aspiração de poeira de fibras. Ele também pode
ter efeito em outros locais do ambiente de trabalho, pois seus efeitos
potenciais podem superar o tempo e espaço originais de um even-
tual acidente. Ainda, o risco não leva somente a lesões visíveis, mas
a doenças e outros agravos de caráter inicialmente oculto. A nomen-
clatura e classificação facilita que alguns riscos sejam mais facilmente
identificados, seja na fonte ou nos efeitos, facilitando um tratamento
mais adequado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A identificação é fundamental para o tratamento, mas é apenas uma
etapa da mitigação do risco. Tendo em vista a complexidade da identifi-
cação e do tratamento do risco, estabeleceram-se diferentes formas de
conceituá-lo e classificá-lo. Por vezes, o contato com o risco pode levar a
interpretações e atitudes erradas, algumas manifestadas neste capítulo.
O ideal é o estabelecimento de uma cultura da segurança no ambiente de
trabalho, não apenas com atitudes responsivas, mas com muito planeja-
mento e revisão contínua do ambiente de trabalho. Assim, destaca-se que
se preocupar apenas com aspectos, prescrições e exigências legais não é
suficientemente adequado, pois legislações por vezes são antigas, desa-
tualizadas e incompletas, não sendo totalmente abrangentes.
Entende-se que a origem de todo acidente é um incidente. Dessa for-
ma, tratando-se devidamente os incidentes, há como se prevenir os aci-
dentes e as perdas. O estudo de caso de acidentes de outros ambientes
de trabalho também é fundamental, uma vez que, além de ser possível
aprender com seus eventuais erros, há como aprender com os erros dos
outros. Assim, todo incidente não avaliado e não tratado é um anúncio do
acidente que há por vir.
Por fim, é importante que você, leitor, tenha de modo consolidado,
ao terminar de estudar este capítulo, que um acidente é decorrente da
exposição a perigos e, por isso, é muito importante estudar os aspectos
envolvidos no risco. Além disso, o risco e o acidente sempre existem pela
ocorrência de diversos fatores, e nunca devido a uma única causa.

36 Análise e gerenciamento de risco


ATIVIDADES
1. Em um determinado acidente, justificou-se que a queda de um
operário da frente de trabalho localizada no segundo pavimento da
construção de uma obra vertical foi causada pela falta de uso de cinto
de segurança. Por que tal afirmação é inadequada do ponto de vista
de segurança?

2. O acidente de trabalho afeta apenas trabalhadores. Tal afirmação é


adequada? Por quê?

3. Fenômenos da natureza são riscos inevitáveis e fatais. Tal afirmação é


adequada? Por quê?

REFERÊNCIAS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO/IEC 27001: Tecnologia da
informação – Técnicas de segurança – Sistemas de gestão da segurança da informação –
Requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2006.
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Fazenda, 2017. Disponível em: http://sa.previdencia.gov.br/site/2018/09/AEAT-2017.pdf.
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Gerais. Brasília: MTE, 2019a. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/
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de Prevenção de Riscos Ambientais. Brasília: MTE, 2019b. Disponível em: https://enit.
trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-09-atualizada-2019.pdf. Acesso
em: 12 mar. 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-15: Atividades
e Operações Insalubres. Brasília: MTE, 2019c. Disponível em: https://enit.trabalho.
gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-15-atualizada-2019.pdf. Acesso em:
12 mar. 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-17: Ergonomia.
Brasília: MTE, 2018. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_
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Risco das atividades laborais 37


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prático. Brasília: ESMPU, 2017. Disponível em: http://escola.mpu.mp.br/publicacoes/
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mar. 2020.

38 Análise e gerenciamento de risco


2
Legislação brasileira de
Segurança do Trabalho e EPI
Neste capítulo, busca-se expor a legislação e os documentos
relativos à Segurança do Trabalho e ao risco. Certamente, ambos
os objetos de estudo são extensos e complexos e, por isso, as
ideias aqui argumentadas estão longe de esgotar o assunto. Além
disso, também serão apresentados o equipamento de proteção
individual (EPI) e o equipamento de proteção coletiva (EPC), bem
como a forma de utilizá-los corretamente.

2.1 Legislação brasileira de


Segurança do Trabalho
Vídeo A exposição da base legal de qualquer tema é fundamental para es-
tabelecer o alicerce de seu estudo. A apresentação das técnicas, ferra-
mentas e estratégias de algum assunto será mais bem compreendida
se feita com a respectiva exposição das legislações que as justificam e
motivam. Assim, esta seção visa expor as leis e normas da Segurança
do Trabalho, especialmente no tocante ao risco.

Antes de conhecer as leis e demais regulamentações, é necessário


sempre se lembrar da hierarquia das leis. A maior lei do ordenamen-
to jurídico brasileiro é a Constituição Federal (CF) e suas emendas;
posteriormente, tem-se as leis complementares; e, logo após, leis or-
dinárias, tratados internacionais, medidas provisórias, leis delegadas,
decreto-lei, decreto legislativo, decreto, instrução normativa, resolu-
ção, portaria, entre outros.

Quanto à prevenção de acidentes e doenças no trabalho, pode-se


utilizar a ilustração de Mattos e Másculo (2019, p. 98), a fim de tornar
este estudo legal mais objetivo. Os autores apontam que são exigências

Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 39


legais para a preservação no ambiente de trabalho os preceitos ordiná-
rios (Consolidação das Leis do Trabalho – CLT) e os preceitos específicos
(Normas Regulamentadoras de Segurança e Saúde no Trabalho – SST),
que têm como base a Constituição Federal de 1988 (Figura 1).

Figura 1
Estrutura da legislação brasileira para prevenção de acidentes e doenças do trabalho

Constituição Federal Brasileira

Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT)

Normas Regulamentadoras de Segurança e


Saúde no Trabalho (SST)

Fonte: Mattos e Másculo, 2019, p. 126.

Como lei maior do Brasil, a CF de 1988 garante aos cidadãos brasi-


leiros direitos sociais fundamentais e intrínsecos à Segurança do Traba-
lho, como saúde, previdência social, trabalho e segurança. Além disso,
ela também impõe, como direitos fundamentais, a redução de riscos
do trabalho e seguro contra acidentes.

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais,


além de outros que visem à melhoria de sua condição
social:
[...]
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por
meio de normas de saúde, higiene e segurança;
[...]
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo
do empregador, sem excluir a indenização a que este
está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.
(BRASIL, 1988, grifos nossos)

Com foco na palavra risco, a Constituição ainda aborda algumas pres-


crições de aspecto geral para sua identificação, sua mitigação e seu trata-

40 Análise e gerenciamento de risco


mento. Aqui, destacamos dois artigos da CF: o primeiro cita diretamente
os riscos de doenças e agravos. Em especial, o artigo 196 apresenta o
dever do Estado em fomentar políticas públicas de proteção: “a saúde é
direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988, grifos nossos).

Um segundo artigo em que a CF aborda o risco é o artigo 225, o


qual envolve o dever de proteger o meio ambiente com o objetivo de
preservar a qualidade de vida. Apesar de não ser algo específico ao pro-
cesso de trabalho, tal preceito constitucional faz da prevenção de risco
ao meio ambiente um dever do Estado, deixando clara a obrigação de
fomento ao processo de análise e mitigação de riscos.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologi-


camente equilibrado, bem de uso comum do povo e es-
sencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preser-
vá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe
ao Poder Público:
[...]
V - controlar a produção, a comercialização e o empre-
go de técnicas, métodos e substâncias que compor-
tem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio
ambiente;
[...]
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei,
as práticas que coloquem em risco sua função ecoló-
gica, provoquem a extinção de espécies ou submetam
os animais a crueldade. (BRASIL, 1988, grifos nossos)

Assim, de maneira geral e conforme a CF, afirma-se novamente que


a Segurança do Trabalho deve ser promovida pelo Estado, com preven-
ção e mitigação de riscos às pessoas, aos bens e ao meio ambiente. Ain-
da, a Constituição estima que os riscos podem eventualmente não ser
contidos e prevê a condição de seguro contra acidentes de trabalho.
Entre várias conclusões decorrentes da exposição legal apresentada,
percebe-se que a análise e gerenciamento de risco é um assunto tão
relevante à sociedade que os legisladores consolidaram o tema na CF.

Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 41


Além disso, também é importante pontuar que somente a União
pode legislar sobre alguns temas relativos ao trabalho. Isso visa asse-
gurar um padrão mínimo, universal, uniforme, harmonioso e igualitário
de política pública do trabalho no vasto território do Brasil, prevenindo
insuficiência ou excessos nas relações de trabalho. Essa condição é fun-
damental para se entender a organização das normas de prevenção,
mitigação e tratamento de riscos relativas ao trabalho.

Art. 21. Compete à União:


[...]
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do
trabalho;
[...]
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
[...]
XVI - organização do sistema nacional de emprego e
condições para o exercício de profissões;
[...]
XXIII - seguridade social. (BRASIL, 1988, grifos nossos)

Vencidas algumas prescrições que a Constituição nos apresenta,


passa-se a analisar algumas legislações que colaboram para a identi-
ficação, a mitigação e o tratamento de riscos. Crê-se ser importante
tratar da Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, que apresenta “as
condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a orga-
nização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras
providências” (BRASIL, 1990). Essa lei traz algumas afirmações que pos-
suem impacto direto na prevenção de riscos relacionados ao trabalho:

Art. 2º.
[...]
§ 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins
desta lei, um conjunto de atividades que se destina,
através das ações de vigilância epidemiológica e vigi-
lância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos
trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabi-
litação da saúde dos trabalhadores submetidos aos
riscos e agravos advindos das condições de trabalho,
abrangendo:

42 Análise e gerenciamento de risco


I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de tra-
balho ou portador de doença profissional e do trabalho;
II - participação, no âmbito de competência do Sistema
Único de Saúde (SUS), em estudos, pesquisas, ava-
liação e controle dos riscos e agravos potenciais à
saúde existentes no processo de trabalho;
III - participação, no âmbito de competência do Sistema
Único de Saúde (SUS), da normatização, fiscalização e
controle das condições de produção, extração, armaze-
namento, transporte, distribuição e manuseio de subs-
tâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos
que apresentam riscos à saúde do trabalhador;
IV - avaliação do impacto que as tecnologias provocam
à saúde;
V - informação ao trabalhador e à sua respectiva
entidade sindical e às empresas sobre os riscos de
acidentes de trabalho, doença profissional e do tra-
balho, bem como os resultados de fiscalizações, ava-
liações ambientais e exames de saúde, de admissão,
periódicos e de demissão, respeitados os preceitos da
ética profissional;
VI - participação na normatização, fiscalização e con-
trole dos serviços de saúde do trabalhador nas insti-
tuições e empresas públicas e privadas;
VII - revisão periódica da listagem oficial de doenças ori-
ginadas no processo de trabalho, tendo na sua elabora-
ção a colaboração das entidades sindicais; e
VIII - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de reque-
rer ao órgão competente a interdição de máquina, de
setor de serviço ou de todo ambiente de trabalho, quan-
do houver exposição a risco iminente para a vida ou
saúde dos trabalhadores. (BRASIL, 1990, grifos nossos)

Dessa forma, a Lei n. 8.080/1990 aborda com detalhes a saúde do


trabalhador. Entre os vários pontos favoráveis que essa legislação traz
à prevenção de riscos, destacam-se alguns: a redução de riscos é dever
do Estado; o foco não se direciona somente à prevenção de riscos, e
deve haver uma preocupação quanto à recuperação e reabilitação da-
queles que já foram ou estão submetidos ao risco não mitigado; a par-
ticipação englobante e inclusiva, na elaboração e na revisão de normas,
deve ser oportunizada e promovida; e a ampla informação ao trabalha-
dor deve ser fomentada. Nessa lei, também há um forte movimento

Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 43


afirmativo de que a prevenção de risco não é de idealização exclusiva
do Estado ou do empregador, mas deve contar com todas as formas
possíveis de participação do trabalhador e seus representantes.

Ao abordar o trabalho no Brasil, é fundamental falar da Consolida-


ção das Leis do Trabalho (CLT) – Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de
1943. Essa legislação reúne prescrições sobre direitos relativos ao tra-
balho de grande parte dos empregados brasileiros. Cabe ressaltar que
o enfoque aqui promovido será a análise e gerenciamento de riscos.
Especialmente com início no artigo 162, em que há uma primeira cita-
ção direta à previsão de normas de Segurança do Trabalho, com foco
às Normas Regulamentadoras (NR).

Art. 162 - As empresas, de acordo com normas a serem


expedidas pelo Ministério do Trabalho, estarão obriga-
das a manter serviços especializados em segurança e
em medicina do trabalho.
Parágrafo único - As normas a que se refere este artigo
estabelecerão:

a. classificação das empresas segundo o número de


empregados e a natureza do risco de suas ativida-
des. (BRASIL, 1943, grifos nossos)

A contar do artigo 182, a CLT cita diretamente diversos tópicos que


devem ser tratados por meios de normas de segurança. Praticamente,
cada artigo dá motivação para a elaboração de uma NR; por exemplo,
o artigo 193 fundamenta a proposição da NR 15 (Atividades e operações
insalubres). É importante a exposição desses artigos para demonstrar
que as NR possuem um forte embasamento legal.

Art.182 - O Ministério do Trabalho estabelecerá normas


sobre:
I - as precauções de segurança na movimentação de
materiais nos locais de trabalho, os equipamentos a
serem obrigatoriamente utilizados e as condições espe-
ciais a que estão sujeitas a operação e a manutenção
desses equipamentos, inclusive exigências de pessoal
habilitado;
[...]

44 Análise e gerenciamento de risco


Art.184 - As máquinas e os equipamentos deverão ser
dotados de dispositivos de partida e parada e outros que
se fizerem necessários para a prevenção de acidentes do
trabalho, especialmente quanto ao risco de aciona-
mento acidental.
[...]
Art.186 - O Ministério do Trabalho estabelecerá normas
adicionais sobre proteção e medidas de segurança na
operação de máquinas e equipamentos, especialmente
quanto à proteção das partes móveis, distância entre
estas, vias de acesso às máquinas e equipamentos de
grandes dimensões, emprego de ferramentas, sua ade-
quação e medidas de proteção exigidas quando motori-
zadas ou elétricas.
[...]
Art. 193 - São consideradas atividades ou operações
perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo
Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas que, por sua
natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco
acentuado em virtude de exposição permanente do tra-
balhador a:
I - inflamáveis, explosivos ou energia elétrica;
II - roubos ou outras espécies de violência física nas ativi-
dades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial.
[...]
Art. 200 - Cabe ao Ministério do Trabalho estabelecer dis-
posições complementares às normas de que trata este
Capítulo, tendo em vista as peculiaridades de cada ativi-
dade ou setor de trabalho. (BRASIL, 1943, grifos nossos)

Conforme observado, a CLT é uma legislação bem abrangente, vis-


to que expõe prescrições de caráter geral, mas também legisla sobre
pontos bem específicos, como dispositivos de segurança de máquinas
e equipamentos. Algumas observações da CLT são:
•• atribui ao empregador o risco da atividade econômica;
•• estabelece que o empregador tem a responsabilidade de cum-
prir, instruir e fazer os empregados cumprirem as regras de Se-
gurança do Trabalho;
•• prevê uma gradação e classificação de risco na atividade
econômica;
•• estima que alguns riscos não podem ser mitigados;

Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 45


•• obriga o empregador a prover equipamento de proteção
individual;
•• estabelece que o Ministério do Trabalho (ou outro que vier a
substitui-lo) deve estabelecer regramentos técnicos específicos
de proteção e medidas de segurança no ambiente de trabalho;
•• abre possibilidade ao trabalhador de ele estar exposto a um risco
que traz agravos à saúde.

Certamente, você deve ter visto ou ouvido falar de complexas dis-


cussões avaliativas da CLT. Qualquer obra não conseguirá esgotar as
possibilidades e os desdobramentos possíveis decorrentes dessa lei.
Aqui, não se busca fazer um juízo crítico dela, mas expor o amplo es-
pectro de prescrições que a CLT aborda, desde um caráter generalista
de todo um sistema e organização do trabalho até questões pontuais
de máquinas e equipamentos. Mesmo assim, não é possível executar a
análise e gerenciamento de risco apenas com o escopo previsto na lei,
demandando-se outras normas para continuar a formar a base legal de
prevenção, mitigação e tratamento de riscos no ambiente de trabalho.

Chega-se, então, às Normas Regulamentadoras do trabalho. A CLT,


especialmente no Capítulo V (Da segurança e da medicina do trabalho),
prevê o estabelecimento das NR, tal como explicitado nos artigos 155,
182, 184, 186 e 200. Essas normas possuem prescrições de caráter espe-
cífico a um tema ou uma área, podendo haver quantas forem necessárias
ou demandadas pela sociedade. São estabelecidas por meio de portarias
e, assim, apresentam maior liberdade para revisão e atualização, quan-
Saiba mais
do comparadas a uma lei ou um decreto. Possuem caráter orientativo,
Atualmente, as 35
Normas Regulamen- regulamentar e de aplicação compulsória no ambiente de trabalho.
tadoras (NR) em vigor
podem ser consultadas As NR são elaboradas e revisadas por um comitê técnico multidis-
no site da Escola Nacional
ciplinar, sob gerenciamento indicado na lei do Ministério do Trabalho,
da Inspeção do Trabalho
(Enit). Observa-se que as e deve haver ampla participação de todos os envolvidos no processo
NR rurais estão revogadas.
de trabalho, especialmente de empregados. Recentemente, o governo
Disponível em: https://enit.
trabalho.gov.br/portal/index.php/
federal optou por não ter um ministério exclusivo do trabalho, mas sim
seguranca-e-saude-no-trabalho/ uma estrutura organizacional do trabalho no Ministério da Economia,
sst-menu/sst-normatizacao/
sst-nr-portugues?view=default. que reúne as antigas estruturas do Ministério da Fazenda, do Planeja-
Acesso em: 19 mar. 2020. mento, do Desenvolvimento e Gestão, da Indústria, do Comércio Exte-
rior e dos Serviços.

46 Análise e gerenciamento de risco


Figura 2
Normas Regulamentadoras (NR)
NR 01 – Disposições gerais

NR 03 – Embargo ou Interdição

NR 04 – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho

NR 05 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

NR 06 – Equipamentos de Proteção Individual - EPI

NR 07 – Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional

NR 08 – Edificações

NR 09 – Programas de Prevenção de Riscos Ambientais

NR 10 – Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade

NR 11 – Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais

NR 12 – Máquinas e Equipamentos

NR 13 – Caldeiras, Vasos de Pressão e Tabulações e Tanques Metálicos de Armazenamento

NR 14 – Fornos

NR 15 – Atividades e Operações Insalubres

NR 16 – Atividades e Operações Perigosas

NR 17 – Ergonomia

NR 18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção

NR 19 – Explosivos

NR 20 – Segurança e Saúde no Trabalho com Inflamáveis e Combustíveis

NR 21 – Trabalhos a Céu Aberto

NR 22 – Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração

NR 23 – Proteção Contra Incêndios

NR 24 – Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho

NR 25 – Resíduos Industriais

NR 26 – Sinalização de Segurança

NR 28 – Fiscalização e Penalidades

NR 29 – Segurança e Saúde no Trabalho Portuário

NR 30 – Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário

NR 31 – Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura

NR 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde

NR 33 – Segurança e Saúde no Trabalho em Espaços Confinados

NR 34 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção, Reparação e Desmonte Naval

NR 35 – Trabalho em Altura

NR 36 – Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento de Carnes e Derivados

NR 37 – Segurança e Saúde em Plataformas de Petróleo

Fonte: Elaborado pelo autor com base nas Normas Regulamentadoras da Escola Nacional da Inspeção do Trabalho (Enit), 2020.

Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 47


É importante destacar que muitas dessas NR demandam uma re-
visão global e pontual. Há anacronismos a serem corrigidos, é necessá-
ria a implementação de proteções recentemente dimensionadas e,
especialmente, adoção de parâmetros mais seguros e apropriados à
saúde do trabalhador. Destaca-se ainda que as NR são um parâmetro
legal e mínimo. Além disso, essas normas não abordam todos os ris-
cos existentes nos diversos ambientes de trabalho. Nesse sentido, o
empregador deve promover e implementar ações de reconhecimento,
avaliação, mitigação e tratamento de riscos além dos previstos nas NR,
para o bem da sua própria atividade econômica e de toda a sociedade,
especialmente o trabalhador.

Ainda, ao abranger outras normalizações, é possível verificar a apli-


cação de algumas normas estrangeiras em organizações de trabalho no
Brasil. Usualmente, pode-se observar empregadores adotando padrões
Saiba mais
da National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) ou mes-
A National Institute for Occu-
mo aplicando as normas BS 8800 e OHSAS 18001 para a Saúde e Segu-
pational Safety and Health (em
português, Instituto Nacional de rança do Trabalho. Por vezes, referências externas apresentam padrões
Segurança e Saúde Ocupacional) mais seguros e atualizados para o trabalhador; entretanto, é importante
é uma agência do governo esta-
dunidense focada na segurança deixar claro que normas internacionais somente podem ser estabeleci-
e na saúde do trabalhador, com das como padrão normativo se houver prescrição legal expressa.
o objetivo de desenvolver novos
conhecimentos no campo da Da mesma forma, funcionam as normas da Associação Brasileira de
Saúde e Segurança Ocupacional.
Suas normas são usualmente Normas Técnicas (ABNT). As Normas Brasileiras (NBR) da ABNT somen-
adotadas como padrão de seguran- te podem ser exigidas como padrão de segurança caso haja prescri-
ça em detrimento aos parâmetros
ção legal determinada para sua adoção. Tal situação pode ocorrer para
previstos em normas brasileiras.
As normas BS 8800 e a OHSAS sistemas estruturais (pilares de concreto), instalações prediais (instala-
18001 são de origem britânica ções elétricas) e equipamentos de segurança contra incêndio (chuvei-
e abordam de maneira mais
genérica e detalhada, respecti- ros automáticos). Lembre-se de que a ABNT é uma entidade de direito
vamente, sistemas de gestão da privado; logo, não compõe a estrutura de fiscalização de Segurança do
Saúde e Segurança do Trabalho.
Trabalho do Estado. Contudo, seus padrões podem ser eventualmente
São usualmente adotadas como
parâmetros de um sistema de adotados pelo Estado como referência para identificação, mitigação e
Segurança do Trabalho.
tratamento de riscos.

Nesta seção, foram referenciadas algumas legislações que funda-


mentam a análise e gerenciamento de risco. Como sempre, o assunto
não foi esgotado, pois ainda poderiam ser citadas diversas legislações

48 Análise e gerenciamento de risco


que podem auxiliar na tarefa de controle de riscos, Livro
como convenções coletivas de trabalho, leis e pres- O livro Segurança e saúde no trabalho: NRs 1 a 36
comentadas e descomplicadas é um dos melhores
crições de conselhos profissionais (de arquitetos, compêndios existentes que abordam as NR.
Não é somente uma exposição do texto cru das
engenheiros, médicos, enfermeiros etc.), prescrições
normas, mas se trata, na verdade, de comentá-
do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e rios explicativos sobre cada prescrição, além de
quadros, discussões, ilustrações e questões de
Tecnologia (Inmetro), regulamentos das Superinten- provas e concursos.
dências Regionais do Trabalho, vigilâncias sanitárias, CAMISASSA, M. Q. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015.
órgãos de proteção do meio ambiente, entre outros.

2.2 Documentos da Segurança do Trabalho


Vídeo Exposta a base legal, torna-se necessário pontuar alguns documen-
tos decorrentes das prescrições legais e do know-how da análise e ge-
renciamento de riscos. Alguns são bem formais, obrigatórios e rígidos,
enquanto outros podem ser mais subjetivos, faculta-
tivos e sem um formato legalmente instituído. Con- Glossário
tudo, no fim, todos contribuem para identificação, know-how: quer dizer “saber
mitigação e tratamento de riscos no ambiente de fazer” e significa o conjunto de
conhecimentos adquiridos por
trabalho. Com o intuito de tornar o estudo mais pessoas e corporações.
pragmático, é apresentada, a seguir, uma lista de al-
guns exemplos de documentos que podem contri-
buir para a Saúde e Segurança do Trabalho.

Documento Motivação e exemplos

O contrato social apresenta as regras e condições básicas de funcionamento


de um estabelecimento comercial ou assemelhado. Além da qualificação dos
sócios ou pessoas responsáveis pelo estabelecimento, ele sempre apresentará
Contrato social as atividades e serviços desenvolvidos no local, em especial a Classificação
Nacional de Atividade Econômica (CNAE). Por meio da CNAE, pode-se dimen-
sionar o grau de risco (GR) – classificação do risco de uma atividade comercial,
produtiva ou econômica –, conforme a NR 04.

O CNPJ também discrimina informações importantes de um estabelecimento,


em especial, o código e a descrição das atividades econômicas principais e se-
Cadastro Nacional da
cundárias, além do endereço e outras informações relevantes. Tais atividades
Pessoa Jurídica (CNPJ)
direcionam o dimensionamento do risco e devem estar semelhantes àquelas
previstas no contrato social e na licença de funcionamento.

(Continua)

Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 49


Documento Motivação e exemplos

De maneira semelhante aos documentos anteriores, a licença ou o alvará de


funcionamento é o documento que demonstra que o município (Estado ou Dis-
Alvará ou licença de trito Federal) licenciou ou permitiu o funcionamento do estabelecimento. Nesse
funcionamento documento, também se pode encontrar as atividades principais e secundárias,
além de ser possível consultar as atividades licenciadas e quais órgãos registra-
ram a aprovação ou limitação da atividade.

Por meio do contrato social ou de outro documento, o empregador ou seu prepos-


Corpo de diretores to (representante oficialmente nomeado do empregador) é sempre identificado.
ou sócios Assim, pode-se saber quem é o responsável pela organização e sistematização do
trabalho em determinado estabelecimento, sede ou filial.

Crê-se que o risco não decorre de um único fator, mas da sistematização


adequada ou não do trabalho. Apesar de não ser um documento oficial ou
obrigatório, um organograma ou fluxograma de funcionamento pode favorecer
Organograma o entendimento de como se opera a sistematização e organização do trabalho
em determinado estabelecimento. Assim, pode-se verificar de maneira abran-
gente, ou até mesmo detalhada, as estruturas e os processos previstos (ou
não) para a segurança, o bem-estar e a higiene do trabalho.

Crê-se que o risco no ambiente de trabalho está sempre nos domínios do


empregador. Como este não detém todos os tipos de conhecimento, ele busca
assessoria para a realização de tarefas de mitigação de todo tipo de risco. Por
exemplo, ao engenheiro ou aos arquitetos, podem ser atribuídas as respon-
Responsabilidade
sabilidades técnicas (RT) de Segurança do Trabalho; ao médico ou enfermeiro,
técnica
podem ser atribuídas as RT de Saúde do Trabalho. Usualmente, há documen-
tos formais em que as RT são registradas, como a Anotação de Responsabi-
lidade Técnica (ART), para os engenheiros, e o Registro de Responsabilidade
Técnica (RRT), para os arquitetos.

Há diversos programas para promover a segurança e a saúde no ambiente de


trabalho. Pode-se citar o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
(PCMSO), o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), o Progra-
Programas
ma de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção
(PCMAT), o Programa de Conservação Auditiva (PCA), entre outros. Alguns deles
serão estudados na próxima seção.

As normatizações existentes geralmente não contemplam todos os processos


e procedimentos envolvidos na Segurança do Trabalho de um estabelecimen-
to. Assim, devido a algumas particularidades e especificidades de um processo
Normas internas de trabalho, por exemplo, o empregador decide implementar prescrições em
uma quantidade maior ou em uma qualidade melhor do que o previsto nas
normas existentes. Dessa forma, normas internas desempenham um impor-
tante papel na mitigação de riscos em um ambiente de trabalho.

(Continua)

50 Análise e gerenciamento de risco


Documento Motivação e exemplos

Os projetos usualmente descrevem a montagem, composição e demais


elementos e detalhes de um sistema ou equipamento. Por exemplo, em geral,
há o projeto de equipamento de proteção coletiva (EPC) do tipo bandeja de
Projetos proteção contra quedas (barreiras de proteção contra queda de objetos e
pessoas, instaladas na fachada de obras verticais). Outro exemplo é o projeto
de instalações contra incêndios, que demonstra a localização e as condições
de instalação de extintores, saídas de emergência, chuveiros automáticos etc.

Geralmente, os memoriais acompanham o projeto. O memorial de cálculo,


memorial descritivo, memorial de dimensionamento ou, simplesmente, memo-
rial é um documento que indica quais são as considerações, os cálculos e os
detalhes ponderados em determinada estrutura ou em um projeto executivo.
Memoriais O memorial pode conter os detalhes não representados no projeto. Por exem-
plo, no projeto, há a especificação do volume de determinada caixa d’água,
enquanto, no memorial, há a especificação de como foi alcançado o valor do
volume ou quantas pessoas e equipamentos foram levados em consideração
para esse dimensionamento.

O laudo é um documento que descreve uma situação ou ocorrência em que


o autor geralmente posiciona-se emitindo uma opinião de caráter técnico
(parecer). Há diversos tipos de laudos, bem como motivações e objetivos.
Laudos Cita-se como exemplo o Laudo Técnico das Condições Ambientais de Trabalho
(LTCAT), que pode apontar agentes nocivos, riscos e condições do ambiente de
trabalho. Outro exemplo são os laudos para caracterização e classificação da
insalubridade e da periculosidade, previstos no artigo 195 da CLT.

A FISPQ disponibiliza diversas informações de determinado produto consi-


Ficha de Informações
derado perigoso. Ela identifica o produto, respectivos perigos, as medidas de
de Segurança de Pro-
controle para derramamento e vazamento, além de medidas de primeiros
duto Químico (FISPQ)
socorros.

Um POP, como seu próprio nome indica, designa tarefas e procedimentos


a serem executados em uma rotina. Ele é um instrumento de padronização
Procedimento Opera- importante, pois minimiza variações de comportamento em determinado pro-
cional Padrão (POP) cesso que demanda rigor, precisão e segurança na sua execução. Um exemplo
é o POP de como realizar abastecimento de uma central de gás de cozinha
(Gás Liquefeito de Petróleo – GLP) por meio de um caminhão tanque.

Em inglês, usa-se comumente a palavra handbook para designar um manual;


em tradução literal, handbook seria um “livro de mão”. Os manuais possuem
exatamente esse aspecto: um guia para ser consultado facilmente. Eles
Manuais expõem as diretrizes de instalação, uso, manutenção e forma de reparo de um
equipamento, um insumo ou uma estrutura. Por exemplo, manuais de utiliza-
ção de varandas indicam a carga máxima de peso ou de pessoas que podem
permanecer ali. Não cumprir a orientação do manual é estar exposto ao risco.

Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 51


Essa lista contempla todas as possibilidades de documentos favo-
ráveis à identificação, à mitigação e ao tratamento de riscos. Há mais
documentos que podem auxiliar nesses processos, como o contrato de
trabalho ou o exame médico anterior à execução do trabalho. Por vezes,
a simples descrição apresentada pode não deixar claro a utilidade de
cada documento e, por isso, expõem-se algumas possibilidades a seguir.

O contrato social, alvará/licença de funcionamento e CNPJ podem


ajudar a identificar os riscos inerentes à determinada atividade comer-
cial. Por exemplo, uma empresa que tenha uma CNAE de atividades de
limpeza em prédios e domicílios, certamente deve se preparar para lidar
com riscos de agentes nocivos à saúde, especialmente em banheiros ou
depósitos. Um exemplo de atitude errada são empresas que lidam com
serviços de alimentação em eventos e recepções e começam a também
operar serviços de brigadistas, manobristas ou segurança privada, sem
atualizar o CNAE em seus documentos e sem preparação adequada.
Certamente, caso um desses profissionais execute uma tarefa de ma-
neira inadequada, ocasionando riscos a si ou a outros, uma das diligên-
cias possíveis da investigação será verificar se a empresa tinha em seu
rol de documentos o CNAE de atividades de segurança privada.

Portanto, caso uma empresa permita que determinada tarefa seja


executada em seus domínios sem a previsão em seus documentos de
Glossário habilitação, já há uma negligência de riscos. Outra situação quanto aos
diligência: zelo; cuidado apli- documentos: caso um aparelho, um equipamento ou uma instalação
cado para executar uma tarefa. gere risco que ocasione acidente, uma diligência provável a ser tomada
é estudar seu projeto ou manual. Logo, se verificado que sua instrução
de uso não foi seguida, pode haver a responsabilização do empregador.
Por isso, o projeto deve ser rigorosamente seguido e deve ser promovi-
do um amplo treinamento com base em instruções de manuais.

Por fim, argumenta-se que há diversos documentos que podem au-


xiliar na identificação e no tratamento de riscos, desde os mais formais
e obrigatórios até os de formato mais livre e de iniciativa do emprega-
dor. Apesar de estar claro que eles podem ser utilizados para subsidiar
uma investigação pós-acidente, o correto é pensar que esses documen-
tos devem ser amplamente empregados para a promoção da Seguran-
ça do Trabalho, de modo a prevenir acidentes (“pré-acidente”).

52 Análise e gerenciamento de risco


2.3 Programas de Segurança do Trabalho
Vídeo Conforme a NR 01, cabe ao empregador: cumprir as normas de Saú-
de e Segurança do Trabalho; informar ao trabalhador os riscos ocupa-
cionais, as medidas de controle adotadas e os resultados de exames
médicos; implementar medidas de prevenção; adotar medidas de pro-
teção individual; entre outras obrigações (BRASIL, 2019a). Nesse sentido,
são necessários estudos formais para levantamento de riscos, avaliações
da saúde dos trabalhadores e métodos de aplicação das diversas estra-
tégias de segurança geral do ambiente de trabalho. Por isso, programas
devem ser planejados e executados com o objetivo de promover a prote-
ção à saúde do trabalhador e a redução de acidentes de trabalho.

Apesar de haver outros programas, ou estratégias, envolvidos na


Segurança do Trabalho, nesta seção, será atribuída atenção especial
ao Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), ao Programa
de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e ao Programa de
Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção
(PCMAT). Faz-se essa escolha porque esses são programas exigidos pelo
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), sendo os dois primeiros obriga-
tórios para todos aqueles que empreguem trabalhadores CLT, e o último
particular àqueles que estejam ligados à construção civil – e admitam
trabalhadores em regime CLT (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

2.3.1 PPRA
Com início no Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA),
esse documento foca basicamente a identificação, a mitigação e o tra-
tamento dos riscos ambientais, incluindo aqueles ergonômicos e ou-
tros não citados na NR 09. Por meio desse programa, um engenheiro
de Segurança do Trabalho estuda a atividade da instituição e aponta
riscos e formas de avaliá-los. Consequentemente, é necessário tornar
esses riscos conhecidos a todos os trabalhadores e divulgar interna-
mente como eles serão tratados. Por fim, deve haver uma avaliação
contínua e o programa deve ser revisado e aperfeiçoado anualmente.

Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 53


Quadro 1
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA)

garagestock/ RedlineVector/ davooda/ Macrovector/ valeriya kozoriz/ SurfsUp/ Max Grig/ Rashad Ashur/ Art work/ NikWB/Shutterstock
Norma de referência

NR 09 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.

Objetivo
Ter um ótimo padrão de higiene ocupacional ou antecipar, reconhecer,
avaliar e controlar riscos ambientais (físico, químico, biológico etc.) para
preservação da saúde e integridade do trabalhador.

Objeto

Riscos ambientais.

Custo

Empregador.

Abrangência
Se houver mais de um estabelecimento (sede ou filial), cada um deve ter
um PPRA próprio e específico. Não se pode elaborar um geral para toda a
empresa e seus estabelecimentos.

Validade
Não tem validade, pois é de execução permanente (apesar de ter a obriga-
ção da análise global anual).

Responsável pela elaboração


Especialista em Segurança do Trabalho; preferencialmente, engenheiro
de Segurança do Trabalho. O trabalhador pode apresentar propostas de
contribuição.

Responsável pela implementação


Empregador e seus prepostos. O trabalhador também deve colaborar e
participar da implantação e execução do PPRA.

(Continua)

54 Análise e gerenciamento de risco


Obrigatoriedade
Para todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores

! como empregados vinculados à CLT.

Etapas/fases/desenvolvimento • Antecipar e reconhecer os riscos.


• Estabelecer prioridades e metas de avaliação e controle.
• Avaliar os riscos e a exposição dos trabalhadores.
• Implantar medidas de controle e avaliar sua eficácia.
• Monitorar a exposição aos riscos.
• Registrar e divulgar dados.

Estrutura
• Planejamento anual com estabelecimento de metas, prioridades e
cronograma.
• Estratégia e metodologia de ação.
• Forma do registro, da manutenção e da divulgação dos dados.
• Periodicidade e forma de avaliação do desenvolvimento do PPRA.

Documentos relacionados

Todos os documentos citados na seção 2.2.

Periodicidade

Revisão anual.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 2019b.

Pode ocorrer do PPRA acabar sendo um documento “para inglês


ver”, isto é, que não é executado na prática. O correto é o PPRA ser
um ciclo contínuo e permanente na instituição: o empregador designa
alguém para avaliar a instituição, levantar riscos, aferir o grau do risco,
levantar estratégias de redução dos riscos, projetar proteções aos ris-
cos que não podem ser eliminados, promover a divulgação do PPRA,
executar o PPRA de modo integral e revisar esse documento anualmen-
te. Porém, por vezes, ele é apenas um documento escrito e arquivado,
mas não implementado ou revisado periodicamente. Essa situação fa-
vorece a exposição a riscos e a ocorrência de acidentes.

Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 55


2.3.2 PCMSO
Ao partir para o próximo programa, tem-se o Programa de Controle
Glossário Médico de Saúde Operacional (PCMSO), que tem como base a medici-
epidemiologia: estudo dos na ocupacional, especialmente com dois focos: prevenção e epidemio-
aspectos e fatores das doenças logia. Ele também se volta à saúde do trabalhador. Como o PMCSO
para a sua respectiva prevenção
é desenvolvido tendo em vista o ambiente de trabalho, é necessário
em uma comunidade.
haver uma interação entre este e o PPRA. Uma das ferramentas para a
avaliação da saúde do conjunto dos trabalhadores de um ambiente de
trabalho são as avaliações clínicas e os exames médicos ocupacionais.

Quadro 2
Programa de Controle Médico de Saúde Operacional (PCMSO)

Telman Bagirov /garagestock/ RedlineVector/ davooda/ Macrovector/ valeriya kozoriz/ SurfsUp/ Max Grig/ Rashad Ashur/ Art work/ NikWB/Shutterstock
Norma de referência

NR 07 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional.

Objetivo

Promover e preservar a saúde do conjunto dos trabalhadores.

Objeto

Saúde do conjunto dos trabalhadores.

Custo

Empregador.

Abrangência
Pode ser elaborado para toda a empresa, e não apenas para um único
estabelecimento, desde que envolva todos os fatores de riscos e todas as
funções existentes.

Validade
Não tem validade, pois é de execução permanente (apesar de ter a obriga-
ção da elaboração de um relatório anual).

(Continua)

56 Análise e gerenciamento de risco


Responsável pela elaboração

Médico, preferencialmente com especialização em Medicina do Trabalho.

Responsável pela implementação Empregador e seus prepostos. Em caso de haver subcontratação, a


empresa contratante de mão de obra prestadora de serviços permanece
com o dever de auxiliar na elaboração e implementação do PCMSO. Por
exemplo, em subcontratação de empresa que presta serviços de limpeza
ou vigilância de instalações, a elaboração do PCMSO cabe à empresa
contratada.

Obrigatoriedade
Todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como
! empregados.

Etapas/fases/desenvolvimento Realização obrigatória (mas não exaustiva) dos exames médicos:


• admissional;
• periódico;
• de retorno ao trabalho;
• de mudança de função;
• demissional.

Estrutura
Não há uma estrutura formal prevista na norma, mas, basicamente, deve
haver no PCMSO um planejamento em que estejam previstas as ações
de saúde a serem executadas durante o ano, devendo ser produzido um
relatório anual com base no modelo de relatório da NR 07.

Documentos relacionados

Todos os documentos citados na seção 2.2.

Periodicidade Para exame médico periódico: anual, bienal ou de acordo com a periodici-
dade especificada no Anexo n. 6 da NR 15 para os trabalhadores expostos
a condições hiperbáricas.
Para monitorização da exposição ocupacional aos riscos: variada, pode ser
de semestral a trienal.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 2018b.

Os exames médicos que devem avaliar a saúde dos trabalhadores


são decididos pelo médico coordenador do programa, após o levanta-
mento de riscos e a avaliação das funções desempenhadas. Entretanto,
o PCMSO não é apenas um programa de execução de exames, mas sim
um planejamento de caráter amplo e prevencionista para apontamen-
tos de ações de saúde. Os resultados devem ser compilados estatistica-
mente em um relatório anual de modo a promover uma discussão na
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) e a fomentar ações

Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 57


para aperfeiçoamento de medidas de controle de riscos. Dessa forma, é
muito importante que o PCMSO não seja um programa de abordagem
individual, mas de saúde coletiva do conjunto de trabalhadores.

2.3.3 PGR ou PCMAT


Por fim, temos o Programa de Condições e Meio Ambiente de
1
Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT), o qual é voltado à se-
A NR 04 está disponível em: gurança, ao conforto, à higiene e ao bem-estar geral nos canteiros de
https://enit.trabalho.gov.br/
portal/images/Arquivos_SST/ obra. Gomes, Domingues Jr. e Dias (20--, p. 9) afirmam que “o PCMAT é
SST_NR/NR-04.pdf. Acesso em: abordado como o PPRA dos canteiros de obra, pois nele se insere a va-
16 mar. 2020. riabilidade e a temporalidade de sua existência, pois ele somente existe
enquanto existir o canteiro de obras”.
2 O PCMAT deve ser elaborado antes do início das obras, e todas as
O estudo do PCMAT aqui reali- atividades com mais de vinte trabalhadores do grupo F – Construção do
zado deriva da NR 18, atualizada 1
Quadro I da NR 04 devem possuir o PCMAT . Em 2020, o PCMAT teve o
em 11 de fevereiro de 2020.
seu nome alterado para Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).

Quadro 3
Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), ou antigo Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indús-
2
tria da Construção (PCMAT).

musmellow /garagestock/ RedlineVector/ davooda/ Macrovector/ valeriya kozoriz/ SurfsUp/ Max Grig/ Rashad
Ashur/ Art work/ NikWB/Shutterstock
Norma de referência
NR 18 – Condições de Segurança e Saúde no Trabalho na Indústria da
Construção.

Objetivo
Planejar e organizar a implementação de medidas de controle e sistemas
preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio am-
biente de trabalho na indústria da construção.

Objeto

Segurança, conforto, higiene e bem-estar geral no canteiro de obras.

Custo

Empresa principal responsável pela obra, empregador ou condomínio.

Abrangência

Deve ser específico para cada obra.

(Continua)
58 Análise e gerenciamento de risco
Validade
Não tem validade, pois é de execução permanente, podendo sofrer modifi-
cações conforme o desenvolvimento da obra.

Responsável pela elaboração


Profissional legalmente habilitado na área de Segurança do Trabalho;
preferencialmente, um engenheiro de Segurança do Trabalho.

Responsável pela implementação


A organização da obra; as empresas subcontratadas ou terceirizadas não
têm prioritariamente responsabilidade final na implementação, mas sim na
tomada de conhecimento, colaboração na elaboração e no cumprimento
do PCMAT conforme o caso.

Obrigatoriedade
Indústria da construção constantes da seção F da CNAE e atividades e
serviços de demolição, reparo, pintura, limpeza e manutenção de edifícios
! em geral e de manutenção de obras de urbanização.

Etapas/fases/desenvolvimento Não há um padrão formal estabelecido. Porém, Gomes, Domingues Jr. e


Dias (20--) sugerem:
• identificação e reconhecimento dos riscos (documento-base);
• avaliação quantitativa de exposição;
• medidas de controle propostas;
• monitoramento da exposição aos riscos ambientais e avaliação da
eficácia das medidas de controle implantadas.

Estrutura Além de atender às prescrições da NR 01, deve conter:


• projeto da área de vivência do canteiro de obras e de eventual frente
de trabalho;
• projeto elétrico das instalações temporárias;
• projetos dos sistemas de proteção coletiva elaborados por profissional
legalmente habilitado;
• projetos dos Sistemas de Proteção Individual contra Quedas (SPIQ) e
relação dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI).

Documentos relacionados
Todos os documentos citados na seção 2.2, além daqueles de capacitação
dos trabalhadores que exercem determinada função.

Periodicidade

Não há, varia conforme início e término das atividades da obra.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 2020; Gomes; Domingues Jr.; Dias, 20--.

Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 59


O PPRA, PCMSO e PCMAT foram os três programas analisados nesta
seção. Apesar de não serem um programa propriamente dito, cabe citar
ainda a existência dos Serviços Especializados em Engenharia de Segu-
rança e em Medicina do Trabalho (SESMT). Os SESMT são previstos na
NR 04, possuem a finalidade de promover a saúde e proteger a integri-
dade do trabalhador no local de trabalho e são formados por médicos
do trabalho, engenheiros de Segurança do Trabalho, técnicos de Segu-
rança do Trabalho, enfermeiros do trabalho e auxiliares ou técnicos em
enfermagem do trabalho, conforme prescrições da NR 04 (BRASIL, 2016).

2.4 EPI
Vídeo Ao se falar de riscos, naturalmente, aborda-se o assunto equipa-
3
mento de proteção individual (EPI) . A norma de referência do EPI é a
NR 06 (Equipamento de Proteção Individual – EPI), inicialmente publicada
em 1978 e, após várias revisões, com sua última atualização em 26 de
outubro de 2018. Essa NR diz que o EPI é “todo dispositivo ou produ-
3 to, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção
Muitos são os tópicos relaciona- de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho”
dos ao EPI, sendo um tema por
(BRASIL, 2018a, p. 1).
vezes polêmico e com algumas
incongruências de aplicação. Si- É muito importante estabelecer que o EPI é uma medida de caráter
milarmente aos demais assuntos
ativo e individual. Em outras palavras, o uso desse equipamento de-
deste livro, não se planeja aqui
esgotar as possibilidades desse pende do trabalhador, de sua ação e da sua voluntariedade em cum-
assunto, mas sim fazer uma prir a determinação de usá-lo. Além disso, o EPI possui a abrangência
abordagem geral e especialmen-
te desenvolver uma mentalidade e cobertura de um único indivíduo e, por vezes, um único espectro do
prevencionista aplicada ao EPI. corpo humano (por exemplo, proteção apenas das mãos).

A questão fundamental desse tipo de equipamento é quando ele


deve ser usado. Na verdade, o EPI é uma medida de proteção precária,
especialmente por não prover proteção de acidentes, mas sim preven-
ção de lesões. Assim, o EPI não é uma barreira de proteção contra aci-
dentes. Por exemplo, o capacete não protege o trabalhador da queda
de objetos ou de impactos do corpo contra estruturas, apenas impede
a lesão na cabeça derivada de um risco latente ou existente.

A NR 06 prevê que o EPI deve ser empregado “a) sempre que as me-
didas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos
de acidentes do trabalho ou de doenças profissionais e do trabalho; b)
enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implanta-
das; e, c) para atender a situações de emergência” (BRASIL, 2018a, p. 1).

60 Análise e gerenciamento de risco


O que muito ocorre é o planejamento e dimensionamento errado
do EPI. Por exemplo, é necessário executar determinada tarefa que en-
volve um risco; então, estuda-se o melhor EPI para a execução dessa
tarefa. Conforme visto, o EPI é uma medida precária, que não trata o
risco ou o acidente, mas apenas tenta prevenir uma eventual lesão ou
agravo no trabalhador. Por isso, antes de utilizar esse equipamento em
uma tarefa, deve-se seguir uma hierarquização de medidas de identifi-
cação e mitigação de risco:

Eliminação da ameaça

•• A preocupação imediata é eliminar a fonte de um risco.


•• Exemplo: impedir a formação de fumaça tóxica em processo produtivo.

Projeto das condições de trabalho

•• Caso não seja possível evitar o risco, deve-se projetar o ambiente de tra-
balho para mitigar o risco, afastando o perigo para outro local que não
afete comunidades.
•• Exemplo: prover aberturas para a exaustão natural da fumaça tóxica do
ambiente de trabalho.

Isolamento da vulnerabilidade

•• Caso não seja possível evitar o perigo, deve-se afastá-lo da comunidade


vulnerável ou evitar seu deslocamento até uma comunidade eventual-
mente vulnerável.
•• Exemplo: isolar a fumaça tóxica de alcançar ambientes em que haja
pessoas.

Implementar proteção coletiva

•• Caso não seja possível mitigar o risco, deve-se adotar proteção passiva
para todos.
•• Exemplo: instalar sistema de exaustão e/ou ventilação artificial.

Implementar proteção individual

•• Diante da impossibilidade plena de mitigar o risco, deve-se adotar pro-


teção individual ativa.
•• Exemplo: disponibilizar filtros ou respiradores para os trabalhadores.

Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 61


Assim, conforme explicado, não se trata apenas de “pagar” o EPI aos tra-
balhadores, mas planejar de modo eficiente o ambiente de trabalho.
Demanda-se limpar ou pintar determinadas janelas ou paredes a
mais de dois metros de altura; logo, é uma atividade com risco de que-
da. A ideia inicial é prover escada com um cinturão ou outro EPI do tipo
trava-quedas ao trabalhador. Mas por que não utilizar, por exemplo,
alavancas telescópicas ou extensores para os equipamentos de limpe-
za ou pintura? Dessa forma, mesmo sem o EPI, o risco de queda do
trabalhador é integralmente eliminado. Essa opção é a correta a ser
dimensionada, e não simplesmente a implementação do EPI.
Processo semelhante pode ser aplicado ao ruído ou à poeira. Deve-
-se projetar e dimensionar um processo produtivo que não favoreça a
produção desses riscos. A adoção de filtros, máscaras ou protetores
auriculares deve ser a última opção, quando não há realmente como
impedir o risco. Por exemplo, em aeroportos, deve haver o máximo de
preparação para bloquear o ruído de aeronaves ou a aproximação do
trabalhador ao avião. Ele deve usar o EPI somente quando for estrita-
mente necessário, devido à impossibilidade de mitigar o risco.
Conforme previsto pela NR 06, o EPI deve ser atrelado ao risco iden-
tificado antes de o processo de trabalho se iniciar. Nesse sentido, para
cada risco impossibilitado de ser mitigado, deve ser dimensionado um
determinado EPI. Compete prioritariamente ao SESMT e, de modo cola-
borativo, à CIPA e aos trabalhadores, a prescrição do EPI adequado ao
risco de determinada atividade.
Cabe obrigatoriamente ao empregador, conforme a NR 06, pro-
porcionar gratuitamente aos trabalhadores o EPI adequado ao risco,
o qual deve estar em perfeito estado de conservação e funcionamento.
Além disso, o empregador deve seguir estas ações:
a) adquirir o adequado ao risco de cada atividade;
b) exigir seu uso;
c) fornecer ao trabalhador somente o aprovado pelo órgão nacio-
nal competente em matéria de segurança e saúde no trabalho;
d) orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, guarda
e conservação;
e) substituir imediatamente, quando danificado ou extraviado;
f) responsabilizar-se pela higienização e manutenção periódica;
g) comunicar ao MTE qualquer irregularidade observada;
h) registrar o seu fornecimento ao trabalhador, podendo ser ado-
tados livros, fichas ou sistema eletrônico. (BRASIL, 2018a, p. 2)

62 Análise e gerenciamento de risco


Dessa forma, é importante que o empregador disponibilize, além da
provisão do EPI, treinamento a respeito do seu uso. Um dos tópicos re-
levantes do treinamento, por exemplo, é fazer com que o trabalhador
saiba reconhecer o desgaste do EPI para solicitar a sua substituição.

De acordo com a NR 06, cabe as seguintes responsabilidades ao em-


pregado: “a) usar [o EPI], utilizando-o apenas para a finalidade a que se
destina; b) responsabilizar-se pela guarda e conservação; c) comunicar
ao empregador qualquer alteração que o torne impróprio para uso; e,
d) cumprir as determinações do empregador sobre o uso adequado”
(BRASIL, 2018a, p. 2).

O EPI também deve ser projetado, dimensionado e atestado na fun-


ção para qual foi idealizado. Assim, a NR exige que o EPI seja testado,
ensaiado e aprovado. Esses equipamentos devem possuir um Certifica-
do de Aprovação (CA), o qual pode ser verificado por qualquer pessoa
no Sistema Certificado de Aprovação de Equipamentos de Proteção In-
dividual (Caepi).

Ainda, segundo a NR 06, “todo EPI deverá apresentar em caracteres


indeléveis e bem visíveis, o nome comercial da empresa fabricante, o lote
de fabricação e o número do CA, ou, no caso de EPI importado, o nome do
importador, o lote de fabricação e o número do CA” (BRASIL, 2018a, p. 3).

O Anexo I da NR 04 ainda organiza os EPI em uma lista de acordo


com a proteção prevista para o corpo:

Melamorry/Shutterstock
Equipamentos de proteção da
Equipamentos de proteção dos
cabeça; por exemplo, capacete Equipamentos de proteção
olhos e da face; por exemplo, óculos,
e capuz. auditiva; por exemplo, concha
protetor facial e máscara de solda.
ou plug.

Equipamentos de proteção
respiratória; por exemplo, Equipamentos de proteção de Equipamentos de proteção de
respirador purificador de ar não tronco; por exemplo, vestimentas de membros superiores; por exemplo,
motorizado, respirador purificador proteção, colete à prova de balas, de luva, creme contra agentes químicos,
de ar motorizado etc. uso permitido para vigilantes. manga, braçadeira e dedeira.

(Continua)

Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 63


Equipamentos de proteção contra
Equipamentos de proteção dos Equipamentos de proteção
queda de diferença de nível; por
membros inferiores; por exemplo, do corpo inteiro; por exemplo,
exemplo, cinturão com dispositivo
calçado, meia, perneira e calça. macacão e vestimenta de corpo
trava-queda e cinturão de segurança
inteiro.
com talabarte.

Como foi citado no início desta seção, não se esgota o assunto aqui e
ainda há muitos pontos de estudo sobre o EPI. Uma das ideias primor-
diais que deve ser entendida é a de que o EPI é uma medida precária de
proteção que não previne acidentes, mas sim lesões. Além disso, ele é
uma medida de proteção ativa, dependendo da ação e voluntariedade do
usuário para que tenha os efeitos esperados. A sua não utilização ou má
utilização compromete seriamente a proteção esperada; por isso, sempre
será uma opção menos prioritária à implementação de proteção coletiva.

2.5 EPC
Vídeo Os equipamentos de proteção coletiva (EPC) são formados por sis-
temas, equipamentos, partes de equipamentos, dispositivos ou com-
ponentes que visam mitigar riscos ou prevenir lesões em um conjunto
de trabalhadores. Assim como o EPI, o EPC precisa ser projetado e di-
mensionado de maneira formal, necessitando por vezes de um projeto.
Além disso, ele precisa estar previsto no PPRA e/ou no PCMAT.
Conforme visto na seção anterior, o EPC tem prioridade de instala-
Figura 3
Bandeja, ou bandejão, con- ção em detrimento do EPI. Os EPC possuem a característica de serem
jugada à proteção de rede, passivos, ou seja, não dependem da ação ou da vontade do trabalha-
para prevenção de queda
de objetos. dor. Esse é um dos grandes benefícios dos EPC; por exemplo, as ban-
dejas, ou bandejões, de proteção contra a
queda de objetos protegem o trabalhador de
Aisyaqilumaranas/Shutterstock

maneira passiva, mesmo que este se coloque


em local de risco de queda de objetos.
Mais uma vantagem é que, mesmo diante
da involuntariedade de alguns trabalhadores
em aderir às medidas protetivas recomenda-
das, a proteção é efetiva. Por exemplo, em
ambientes com alguma partícula perigosa,
mesmo que o trabalhador se coloque negli-

64 Análise e gerenciamento de risco


gentemente em ambiente com risco de contaminação respiratória, um
sistema de ventilação pode oferecer proteção a ele sem a aderência
deste e sem ele estar plenamente ciente de que está sendo protegido.
Além disso, outro ganho do EPC é que ele oferece uma proteção
coletiva, visto que é planejado para oferecer proteção a um grupo de
Livro
trabalhadores. Novamente, pode-se ilustrar tal condição com a ban-
O livro EPI e EPC é um ma-
deja e o capacete: enquanto ela protege o corpo todo de um grupo de terial de estudo bem com-
trabalhadores contra a queda de objetos, o capacete pode proteger pleto que trata da higiene e
da segurança do trabalho.
somente a cabeça de um único trabalhador. Logo, demonstra-se a me- Ele foi elaborado com um
lhor eficácia e eficiência do EPC diante do EPI. texto direto, objetivo, bem
organizado e que aborda
Também não há uma norma específica de EPC. A NR 9 e a NR 18 apre- de maneira abrangente o
assunto EPI e EPC. Além
sentam algumas prescrições quanto a esse equipamento, especialmen-
disso, a obra está disposta
te no que diz respeito ao dimensionamento, ao projeto e à instalação. em uma forma bem didáti-
ca, com textos que motivam
A implementação de EPC envolve três medidas, em hierarquia: eliminar
o leitor a revisar o conteúdo
ou reduzir a utilização ou a formação de agentes prejudiciais à saúde; e verificar a aprendizagem,
prevenir a liberação ou disseminação desses agentes no ambiente de além de possuir diversos
exemplos ilustrados de EPI
trabalho; e reduzir os níveis ou a concentração deles nesse ambiente. e EPC.

Ainda, a implementação de EPC deve ser precedida de treinamento BELTRAMI, M.; STUMM, S. Curitiba:
Instituto Federal Do Paraná –
aos empregados, de modo que o EPC sirva eficientemente ao propósito
Educação a Distância, 2018.
para o qual foi projetado. Por fim, esses equipamentos devem ser pro- Disponível em: http://proedu.
jetados por um profissional legalmente habilitado, e os desenhos e pro- rnp.br/handle/123456789/1428.
Acesso em: 19 mar. 2020.
jetos devem estar sempre à disposição para a consulta (BRASIL, 2019b;
BRASIL, 2020). Ilustram-se a seguir alguns exemplos de EPC.

FishCoolish/Motorama/Milta/ nanmulti/Shutterstock
Umidificação artificial em Sistema de detecção de incêndio ou
ambientes com presença de detecção de gases perigosos, como Sinalização de perigos ou de
exacerbada de poeira. vazamento de gás cloro. saídas de emergência.

Proteção de aberturas verticais ou Bloqueio de disjuntores, para Proteção em máquinas que


horizontais, como rede e outros evitar ativamentos inadequados e envolvem cortes ou eventuais
fechamentos. acidentais durante a manutenção. esmagamentos.

(Continua)

Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 65


Ventilação ou exaustão
contra temperaturas altas ou Sistema de aterramentos em
contaminantes em ambiente de instalações elétricas.
trabalho.

Uma situação rotineira e errada é a indicação imediata de EPI pelo


empregador ou responsável pela tarefa de trabalho a ser realizada. Por
vezes, o EPI é fundamental, mas cabe relembrar que seu emprego não
é a medida de proteção primária. O objetivo de qualquer análise de
risco é identificar, mitigar e tratar o risco, e o EPI somente é um meio
de prevenir lesões ou agravos ao trabalhador. Por isso, o EPC se mostra
como medida antecessora à aplicação do EPI.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No caminho do estudo dos riscos inerentes ao ambiente de trabalho,
foram verificados a legislação brasileira, os principais documentos e os
programas de Segurança do Trabalho. Ainda, pontuaram-se os principais
programas para saúde do trabalhador e mitigação de riscos. Por fim, os
EPI e EPC foram apresentados, lembrando sempre de que EPI não é a so-
lução para tratamento de riscos, mas apenas uma forma de evitar lesões.
Dessa forma, acredita-se que você será capaz, após estudar este capítulo,
de pontuar os aspectos básicos da Segurança do Trabalho, especialmente
formas de identificar, mitigar e tratar riscos.

ATIVIDADES
1. Em determinado ambiente de trabalho, atestou-se um barulho
exacerbado devido à proximidade a uma oficina de veículos. De
modo a reduzir o estresse causado por esse ruído nos trabalhadores,
optou-se por implementar protetor auditivo de inserção para proteção
do sistema auditivo (plugs). A decisão foi correta?

2. Em determinado ambiente de trabalho, incomodado pela luz solar que


passa pela janela e incide sobre seus olhos, e após crises constantes
de dor de cabeça, um trabalhador decidiu comprar óculos escuros
para usar durante o trabalho. Ele agiu assim por entender que os
óculos não poderiam ser considerados equipamento de proteção

66 Análise e gerenciamento de risco


individual (EPI). Avalie essa situação e responda: os óculos podem ser
vistos como um EPI? Foi o procedimento correto?

3. Uma empresa denominada Valix Serviços de Limpeza não possui, em


seu rol de atividades previstas no CNPJ, a atividade de segurança
privada, mas começou a prover esse serviço em eventos de recepção.
Ocorreu de um vigilante se machucar seriamente após tentar conter
um conflito em um evento, e o empregador alegou que não houve
irregularidade nessa ocorrência. Avalie essa situação e responda: o
empregador está correto? Por quê?

REFERÊNCIAS
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5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
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Brasília, DF, 9 ago. 1943. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/
del5452.htm. Acesso em: 13 mar. 2020.
BRASIL. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 20 set. 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.
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BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora NR-01: disposições
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Arquivos_SST/SST_NR/NR-01.pdf. Acesso em: 13 mar. 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora NR-04: serviços
especializados em engenharia de segurança e em medicina do trabalho. Brasília: MTE,
2016. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/
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BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora NR-06: equipamento
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br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-06.pdf. Acesso em: 13 mar. 2020.
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controle médico de saúde ocupacional. Brasília: MTE, 2018b. Disponível em: https://enit.
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prevenção de riscos ambientais. Brasília: MTE, 2019b. Disponível em: https://enit.trabalho.
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GOMES, P. C. dos R.; DOMINGUES JR., L. R. P.; DIAS, G. R. Documentação para a engenharia
de segurança do trabalho. Rio de Janeiro: Universidade Cândido Mendes, 20--.
MATTOS, U. A. de O.; MÁSCULO, F. S. (org.). Higiene segurança do trabalho. 2. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2019.
NORMAS regulamentadoras – português. Escola Nacional da Inspeção do Trabalho. Disponível
em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/index.php/seguranca-e-saude-no-trabalho/sst-menu/
sst-normatizacao/sst-nr-portugues?view=default. Acesso em: 13 mar. 2020.

Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI 67


3
CIPA
Em continuação ao estudo da mitigação de riscos inerentes
ao ambiente de trabalho, apresentaremos um instrumento que
é estruturado pela experiência do trabalhador: a CIPA. Por ser
formada usualmente por operadores do processo produtivo, ela
pode subsidiar oportunidades relevantes de segurança, conforto
e bem-estar no ambiente de trabalho. Então, vamos verificar neste
capítulo o funcionamento, a base legal e as atribuições da CIPA.

3.1 O que é uma CIPA?


Vídeo A sigla CIPA significa Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
e, por vezes, seus operadores são chamados de cipeiros. Basicamente,
ela é um instrumento para a prevenção de acidentes e doenças, espe-
cialmente por meio da identificação de riscos. Outra forma de enten-
der melhor a CIPA é saber que essa é uma comissão formada por
pessoas que estão atuando no ambiente de trabalho com o objetivo
Leitura de melhorar a segurança deste.
Não há como falar de
A CIPA tem sua origem relatada no ano de 1921, inicialmente idea-
CIPA sem conhecer a
principal normatização lizada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), sendo um dos
que há no Brasil sobre o
frutos da Revolução Industrial. No Brasil, ela teve seu embrião no go-
assunto: a Norma Regu-
lamentadora 05. É muito verno Getúlio Vargas, em 1944, pelo Decreto-Lei n. 7.036, de 10 de no-
importante que você
vembro de 1944. O objetivo era estimular o interesse do trabalhador
leia a norma ao menos
uma vez para entender o em questões de segurança. Esse Decreto-Lei reformava a Lei de Aci-
processo geral de imple-
dentes do Trabalho e previa a descrição a seguir para a CIPA.
mentação da CIPA.

Disponível em: https://enit.


trabalho.gov.br/portal/images/
Arquivos_SST/SST_NR/NR-05.pdf.
Acesso em: 31 mar. 2020.

68 Análise e gerenciamento de risco


Art. 82. Os empregadores, cujo número de empregados
seja superior a 100, deverão providenciar a organiza-
ção, em seus estabelecimentos, de comissões internas,
com representantes dos empregados, para o fim de
estimular o interesse pelas questões de prevenção de
acidentes, apresentar sugestões quanto à orientação e
fiscalização das medidas de proteção ao trabalho, reali-
zar palestras instrutivas, propor a instituição de concur-
sos e prêmios e tomar outras providências, tendentes a
educar o empregado na prática de prevenir acidentes.
(BRASIL, 1944) Saiba mais
A NR 05 foi inicialmente ela-
A norma de referência da CIPA é a Norma Regulamentadora (NR) 05 – borada em 6 de julho de 1978,
passando por diversas revisões,
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. O objetivo previsto nessa sendo a última de 31 de julho de
NR quanto à CIPA é prevenir acidentes e doenças relacionados ao tra- 2019. Atualmente, ela é revisada
pelas portarias da Secretaria Es-
balho, conforme podemos ver a seguir.
pecial de Previdência e Trabalho
(SEPRT) e sua fiscalização cabe
5.1 A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – à Superintendência Regional do
Trabalho e Emprego (SRTE) local.
CIPA – tem como objetivo a prevenção de acidentes e
doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar
compatível permanentemente o trabalho com a preser-
vação da vida e a promoção da saúde do trabalhador. 1
1
(BRASIL, 2019a, p. 1)
Observe que essa citação é do
texto revisado de 2019. Sempre
verifique no site do Governo
A composição da CIPA será detalhada logo mais, mas é importante Federal a última versão das NR.
desde já pontuar que ela é formada por empregados e não por es-
pecialistas ou profissionais de Segurança e Medicina do Trabalho. Em
outras palavras, por vezes, na CIPA, não haverá a visão do especialis-
ta no processo de aperfeiçoamento da segurança, mas sim a percep-
ção daqueles que executam parte do processo produtivo. Assim, essa
comissão visa envolver e trazer a contribuição dos trabalhadores no
processo de segurança do ambiente de trabalho, especialmente na
identificação de riscos.

A identificação do risco é parte fundamental nesse processo, pois


é a base da prevenção de acidentes. Entretanto, a CIPA, certamente,
pode contribuir também para melhores condições do ambiente de tra-
balho, não somente em questão de risco, mas com outras melhorias,
como maior conforto, bem-estar e impulso na produtividade, principal-
mente pela experiência operária.

CIPA 69
Estudo de caso
Em um certo local de trabalho com gases, os empregados trocavam de roupa no trabalho e as deixavam
sempre no armário do vestiário, evitando lavar em casa, para não ocorrer eventual contaminação e risco no
ambiente doméstico. Assim, o vestiário poderia ficar insalubre e os funcionários poderiam estar sujeitos a
riscos relacionados à falta de lavagem das roupas. Percebendo a situação, um dos cipeiros sugeriu que os
armários fossem transferidos para um local arejado e fora do ambiente de repouso. Vendo ainda a importância
do tema, o empregador também instalou uma máquina industrial (profissional) de lavar roupas no trabalho,
promovendo tanto a segura doméstica quanto o uso permanente de roupas limpas no ambiente de trabalho.
Tal situação foi promovida porque a percepção de quem executa o serviço foi ouvida.

Nesse sentido, pode-se dizer que a CIPA oportuniza uma ampliação


da voz do trabalhador na segurança do ambiente de trabalho. O que
incomoda e o quanto incomoda o trabalhador é discutido dentro das
políticas de segurança da empresa, mesmo que alguns aspectos
suscitados, como demandas dos empregados, não estejam previstos
em uma lei ou NR. É, portanto, um diagnóstico informal, mas muito
válido. Apesar de ser informal, é importante lembrar que o estabeleci-
mento da CIPA é uma determinação legal e não opcional.

Além disso, a CIPA promove uma validação consensual. Ou seja,


aquilo que é implementado por especialistas ou profissionais da SESMT
– Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina
do Trabalho – pode ser ratificado ou encaminhado a aperfeiçoamento
pela voz dos trabalhadores.

3.2 Aspectos legais da CIPA


Vídeo Apresentada uma noção geral da CIPA, passa-se a apontar sua base
legal. É muito importante que o leitor entenda que ela não é apenas
uma sugestão de prática, mas sim uma determinação legal. A Consoli-
dação das Leis do Trabalho (CLT) – Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio
de 1943 – institui a obrigatoriedade da CIPA, compondo-a com duas
representações: empregados e representantes do empregador. Além
disso, prevê garantia (condicionada) do emprego e outras prescrições,
como regramento de eleição da CIPA.

Art. 163 - Será obrigatória a constituição de Comissão


Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), de confor-
midade com instruções expedidas pelo Ministério do
Trabalho, nos estabelecimentos ou locais de obra nelas
especificadas.

70 Análise e gerenciamento de risco


Parágrafo único - O Ministério do Trabalho regulamen-
tará as atribuições, a composição e o funcionamento
das CIPA (s).
Art. 164 - Cada CIPA será composta de representantes
da empresa e dos empregados, de acordo com os crité-
rios que vierem a ser adotados na regulamentação de
que trata o parágrafo único do artigo anterior.
§ 1º - Os representantes dos empregadores, titulares e
suplentes, serão por eles designados.
§ 2º - Os representantes dos empregados, titulares e
suplentes, serão eleitos em escrutínio secreto, do qual
participem, independentemente de filiação sindical, ex-
clusivamente os empregados interessados.
§ 3º - O mandato dos membros eleitos da CIPA terá a
duração de 1 (um) ano, permitida uma reeleição.
§ 4º - O disposto no parágrafo anterior não se aplica-
rá ao membro suplente que, durante o seu mandato,
tenha participado de menos da metade do número de
reuniões da CIPA.
§ 5º - O empregador designará, anualmente, dentre os
seus representantes, o Presidente da CIPA e os empre-
gados elegerão, dentre eles, o Vice-Presidente.
Art. 165 - Os titulares da representação dos emprega-
dos nas CIPA (s) não poderão sofrer despedida arbitrá-
ria, entendendo-se como tal a que não se fundar em
motivo disciplinar, técnico, econômico ou financeiro.
Parágrafo único – Ocorrendo a despedida, caberá ao
empregador, em caso de reclamação à Justiça do Tra-
balho, comprovar a existência de qualquer dos motivos
mencionados neste artigo, sob pena de ser condenado
a reintegrar o empregado. (BRASIL, 1943)

Conforme demonstrado, a CLT apresenta alguns dispositivos legais,


mas encaminha detalhes do funcionamento da CIPA para instruções e
regulamentações expedidas pelo Ministério do Trabalho, as quais for-
mam a NR 05.

Observa-se que a CIPA deve ser constituída para todos os estabele-


cimentos, com ou sem fins lucrativos, que possuem empregados sob
o regime da CLT. A NR 05 (BRASIL, 2019a) relata ainda que as seguintes
organizações devem constituir a CIPA e mantê-la em regular funciona-
mento: empresas privadas ou públicas, sociedades de economia mista,

CIPA 71
órgãos da administração direta e indireta, instituições beneficentes,
associações recreativas, cooperativas e outras instituições que admi-
tam trabalhadores como empregados CLT.

O dimensionamento (número de membros titulares e suplentes) da


CIPA está previsto no Quadro I da NR 05, o qual usa como parâmetros
de dimensionamento o agrupamento/grupo de setores econômicos
pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) e o nú-
mero de empregados do estabelecimento. É importante frisar que a
CIPA é dimensionada não pelo grupo de risco, mas sim pela atividade
econômica desenvolvida no estabelecimento (BRASIL, 2019a). Essas
informações são cruzadas, de acordo com o Quadro I, para se chegar
ao número de membros da CIPA.

Para atividades em que há um número pequeno de trabalhadores,


usualmente menos que 20, não há especificação do número de mem-
bros da CIPA. Nesses casos, a NR 05 (BRASIL,2019a, p. 1) prevê a indi-
cação, pelo empregador, “de um responsável pelo cumprimento dos
objetivos desta NR, podendo ser adotados mecanismos de participação
dos empregados, através de negociação coletiva”.

Destaca-se ainda o que Camisassa (2015, p. 147) afirma sobre esse caso:
a participação dos empregados na indicação do designado pode-
rá ser definida por negociação coletiva. Ressalto que o designado
da CIPA deve ser empregado do estabelecimento, não podendo
ser estagiário, nem o próprio empregador, uma vez que estes
não possuem vínculo celetista com a empresa. Entendo que, por
analogia, as determinações referentes à CIPA também se esten-
dem ao designado, sempre que aplicáveis.

É importante destacar alguns detalhes e interpretações da NR 05:


a CIPA deve ser constituída por estabelecimento e não por razão so-
cial, ou seja, se em uma cidade há três mercados de uma mesma rede
em diferentes localizações, cada estabelecimento deve possuir uma
CIPA. Em locais onde haja empregados celetistas e outros servidores
públicos, em regime estatutário, a CIPA será dimensionada levando em
consideração apenas a quantidade de funcionários celetistas; e caso
haja trabalhadores de diferentes empregadores no mesmo estabeleci-
mento, a CIPA ou o representante designado para fazer as funções dela
devem agir e colaborar de maneira integrada.

72 Análise e gerenciamento de risco


5.3 As disposições contidas nesta NR aplicam-se, no que
couber, aos trabalhadores avulsos e às entidades que
lhes tomem serviços [...].
[...]
5.46 Quando se tratar de empreiteiras ou empresas
prestadoras de serviços, considera-se estabelecimento,
para fins de aplicação desta NR, o local em que seus em-
pregados estiverem exercendo suas atividades.
5.47 Sempre que duas ou mais empresas atuarem em
um mesmo estabelecimento, a CIPA ou designado da
empresa contratante deverá, em conjunto com as das
contratadas ou com os designados, definir mecanismos
de integração e de participação de todos os trabalhado-
res em relação às decisões das CIPA existentes no esta-
belecimento. (BRASIL, 2019a, p. 1 e 6)

Em casos em que um estabelecimento contrata outra empresa, por


exemplo, uma prestadora de serviços, cada um deverá constituir uma
CIPA para seus empregados. Camisassa (2015, p. 148) também aborda
esse assunto:
no caso de empreiteiras ou empresas prestadoras de serviços,
considera-se estabelecimento, para fins de aplicação da NR5, o
local em que seus empregados estiverem exercendo suas ati-
vidades. Sendo assim, tais empresas devem constituir CIPA (ou
indicar designado) nos estabelecimentos onde seus empregados
prestarem serviço.

A regra é esta: estabelecimentos em que haja empregados de di-


ferentes empregadores (por exemplo, uma fábrica que terceiriza a
mão de obra de manutenção dos equipamentos), deve haver uma
CIPA para cada empregador: uma para os empregados que realizam
a atividade-fim da fábrica e uma para os trabalhadores contratados da
manutenção. Cabe ressaltar que as CIPAs devem ter coordenação e co-
laboração entre si e não planejamentos isolados.

Destaca-se ainda a previsão da NR 05 quanto ao responsável de-


signado pela CIPA para um grupo de trabalhadores com um número
menor que 20 empregados. Por vezes, as ações da CIPA em um grupo
menor de trabalhadores, especialmente contratados dentro de uma
atividade econômica maior, são executadas por um responsável desig-
nado e não por uma CIPA com diversos membros.

CIPA 73
Atenção A NR 05 também disciplina, em diversos pontos, o processo de esco-
lha dos membros da CIPA. O objetivo é que ela tenha uma composição
A garantia de emprego prevista
na CLT vale somente para os can-
paritária, isto é, um equilíbrio entre empregados e membros indica-
didatos e membros da CIPA dos dos pelo empregador. Por vezes, considerando os membros titulares
representantes dos empregados, e reservas e o dimensionamento previsto no Quadro I da NR 05, tal
e não para membros indicados composição não será exatamente igual em número, mas manterá um
pelo empregador.
equilíbrio. O processo de escolha é por votação pelo lado dos emprega-
dos, e por indicação pelo lado do empregador, conforme regras espe-
cíficas da CLT e da NR 05. Há uma garantia de emprego prevista na CLT
para os representantes dos empregados que participam do processo
de eleição e são eleitos como membros da CIPA (BRASIL, 2019a). Contu-
do, isso não ocorre de maneira absoluta, vide artigo 165 da CLT.
A NR 05 também prevê a obrigatoriedade de um treinamento para
os membros da CIPA. Nesse ponto, é importante fazer uma diferen-
ciação entre a CIPA e o SESMT, pois eles não são serviços similares ou
substitutos entre si. O SESMT é um serviço de promoção de saúde com
especialistas, tais como médicos, engenheiros ou técnicos de Segu-
rança do Trabalho, enfermeiros e auxiliares de enfermagem etc. Já os
membros da CIPA não são profissionais com especialização ou habilita-
ção em Segurança ou Medicina do Trabalho. A CIPA não se subordina
ao SESMT, mas possui com este uma relação de colaboração na pro-
moção de segurança, conforto e bem-estar no ambiente de trabalho,
podendo propor medidas de proteção para ele. Além disso, a CIPA deve
procurar assessoramento do SESMT sempre que possível e este deve
assessorar a CIPA sempre que demandado.
A NR 05 fixa as seguintes prescrições para o treinamento dos mem-
bros da CIPA, aqui expostas de maneira resumida.

Quadro 1
Treinamento dos membros da CIPA
NikWB/ MAKSIM ANKUDA/ SurfsUp /Shutterstock
Tempo do treinamento
• Realização do treinamento antes da data da posse.
• Em caso de CIPA de primeiro mandato, prazo máximo de 30 dias a con-
tar da data da posse.

Quem participa?
• Titulares e suplentes devem participar do treinamento.
• Caso seja inexistente uma CIPA, mas haja um designado, este deve pas-
sar por treinamento anual.

(Continua)

74 Análise e gerenciamento de risco


Tópicos do treinamento
• Estudo do ambiente e das condições de trabalho, bem como dos riscos
originados do processo produtivo.
• Metodologia de investigação e análise de acidentes e doenças do trabalho.
• Noções sobre acidentes e doenças do trabalho decorrentes da exposi-
ção aos riscos existentes na empresa.
• Noções sobre a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) e medi-
das de prevenção.
• Noções sobre as legislações trabalhista e previdenciária relativas à segu-
rança e à saúde no trabalho.
• Princípios gerais de higiene do trabalho e de medidas de controle dos
riscos.
• Organização da CIPA e outros assuntos necessários ao exercício das
atribuições da Comissão.

Execução do treinamento
• Deve possuir carga horária mínima de 20 horas.
• Não pode exceder 8 horas diárias.
• Deve ser durante o horário de expediente

Quem executa?
• Cabe ao empregador escolher a entidade ou profissional que ministrará
o treinamento, mas a CIPA deve ser ouvida formalmente.
• O treinamento pode ser realizado pelo SESMT da empresa.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 2019a.

Nem sempre a NR 05 será a base legal para o funcionamento da


CIPA. Em algumas atividades produtivas, há diferen-
tes especificações e até mesmo normas específicas
Saiba mais
para um plano de prevenção de acidentes e mitiga-
As seguintes atividades produtivas possuem normas setoriais
ção de riscos. A auditora fiscal do trabalho Mara
de funcionamento da CIPA ou de um planejamento similar
Camisassa (2015, p. 142) diz a respeito dessas ativi- à CIPA:
dades produtivas específicas que “a NR 5 somente • Construção civil: NR 18 – Segurança e Saúde no Trabalho na
será aplicada a esses setores nos casos de omissão Indústria da Construção;
• Mineração: NR 22 – Segurança e Saúde Ocupacional na
das respectivas normas setoriais. No caso de conflito
Mineração;
entre o disposto na NR 5 e na norma setorial, preva- • Trabalho portuário: NR 29 – Norma Regulamentadora de
lece o comando desta última. Nesses setores a NR 5 Segurança e Saúde no Trabalho Portuário;
deve ser utilizada de forma subsidiária”. • Trabalho aquaviário: NR 30 – Segurança e Saúde no
Trabalho Aquaviário;
É muito importante que a CIPA funcione confor-
• Trabalho rural: NR 31 – Segurança e Saúde no Trabalho na
me sua previsão legal e normativa. Ela apresenta um Agricultura, Pecuária Silvicultura, Exploração Florestal e
padrão mínimo de segurança que deve ser cumpri- Aquicultura.

CIPA 75
do, mas o empregador também pode adotar parâmetros mais desen-
volvidos e aperfeiçoados. Desde a sua concepção até a nova eleição
dos membros da CIPA, esta deve se basear na CLT e na NR 05, ou na NR
específica da atividade produtiva desenvolvida.

3.3 Organização e funcionamento da CIPA


Compreendidos os princípios e a base legal da CIPA, passa-se a des-
Vídeo
crever então sua organização e funcionamento. Como já foi estudado,
essa comissão compõe-se de representantes do empregador e dos
empregados, os quais são selecionados para determinados cargos na
CIPA. Os cargos são: presidente, vice-presidente, secretário, membros
efetivos e membros suplentes. As responsabilidades e tarefas de cada
cargo estão especificadas na figura a seguir.

Figura 1
Cargos, funções e tarefas da CIPA

CoolVectorStock/Shutterstock
PRESIDENTE VICE-PRESIDENTE SECRETÁRIO MEMBROS

• Indicado pelo empregador; • Eleito pelos empregados; • Indicado pelos membros • Comparecem às reuniões;
• Componente da CIPA; • Componente da CIPA; da CIPA; • Executam tarefas delegadas.
• Convoca membros para • Executa tarefas delegadas; • Não precisa ser componente
reunião; • Substitui o presidente. da CIPA, nesse caso, sua
• Coordena as reuniões da indicação precisa ser
CIPA; aprovada pelo empregador;
• Encaminha ao empregador • Acompanha reuniões;
e ao SESMT as decisões da • Redige atas;
CIPA; • Prepara correspondências
• Informa ao empregador os etc.
trabalhos da CIPA;
• Coordena e supervisiona as
atividades de secretaria;
• Delega funções ao vice-
presidente.

Fonte: Elaborada pelo autor com base em Brasil, 2019a.


Observa-se que o presidente e o vice-presidente têm as seguintes
atribuições conjuntas: cuidar para que a CIPA tenha condições ne-
cessárias para o desenvolvimento de seus trabalhos e tenha os objeti-
vos propostos alcançados; delegar tarefas; promover relacionamento
da CIPA com o SESMT; divulgar ações e decisões da CIPA; constituir co-
missão eleitoral; entre outros (BRASIL, 2019a).

76 Análise e gerenciamento de risco


Contudo, não são somente esses cargos que têm responsabilida- Leitura
des na constituição da CIPA. Além do empregador, todos os empre- O Governo Federal
disponibiliza o Manual
gados a constroem, mesmo os que não são membros. O empregador
CIPA: a nova NR 5 no site
deve, conforme item 5.17 da NR 05 (BRASIL, 2019a, p. 3), “proporcionar da Escola Nacional da
Inspeção do Trabalho
aos membros da CIPA os meios necessários ao desempenho de suas
(Enit). O texto, que data
atribuições, garantindo tempo suficiente para a realização das tarefas de junho de 2016, trata
da organização da CIPA e
constantes do plano de trabalho”.
explica as motivações e
os novos textos da NR 05,
Cabe aos trabalhadores participarem na eleição, além de colabo-
além de fazer diversos
rarem com a gestão da CIPA, indicando a ela, ao SESMT e ao empre- comentários para cada
item dela. Vale a pena a
gador situações de risco, apresentando sugestões para melhoria das
leitura.
condições de trabalho e observando as recomendações de Segurança
Disponível em: https://enit.trabalho.
do Trabalho (BRASIL, 2019a). gov.br/portal/images/Arquivos_
SST/SST_Publicacao_e_Manual/
Estudo de caso CGNOR---MANUAL-DA-CIPA.pdf.
Acesso em: 31 mar. 2020.
Em um determinado escritório, com CIPA constituída, um estagiário exerce a tarefa de transportar processos e
documentos em um carrinho. Observando a figura a seguir, podemos questionar se esse seria o caso de uma
intervenção da CIPA.

Figura 2
Estagiário transportando documentos em um carrinho

Viktoriia Adamchuk/Shutterstock

Apesar de o estagiário não ser um empregado, a situação ilustrada demonstra risco de queda e acidente em
potencial. Logo, deve ser alvo de análise e intervenção direta não somente por parte da CIPA, mas de qualquer
trabalhador que identificar o risco. O próprio estagiário deve ter acesso amplo e facilitado à CIPA e passar a
demanda para tratamento do risco.
Qualquer trabalhador, empregado ou não, pode demandar à CIPA a análise do caso e a adoção de atitudes,
e qualquer membro dessa comissão pode introduzir o assunto em uma reunião ordinária. O presidente da
CIPA pode demandar a seus membros a inspeção e vistoria dos postos e frentes de trabalho que lidam com
transportes de cargas ou de situações em que os cadarços ofereçam riscos potenciais.
Além disso, a CIPA pode indicar dicas de vestuário aos trabalhadores e sugerir a disponibilização de equi-
pamento de proteção individual (EPI) do tipo calçados de proteção, com chapa de proteção e sem cadarços,
a todos os trabalhadores para evitar que as rodas eventualmente machuquem o pé/dedos do estagiário ou
prendam parte de vestuários e para que riscos de queda sejam prevenidos.

CIPA 77
Por fim, destaca-se que a CIPA deve ter reuniões ordinárias mensal-
mente, realizadas durante o expediente, de acordo com o calendário
e plano de trabalho deliberado entre os membros. A NR 05 prevê três
casos de reuniões extraordinárias: eventual denúncia de situação de
risco grave e iminente que demande medidas corretivas emergenciais;
quando ocorrer acidente de trabalho grave ou fatal; e quando houver
solicitação expressa de uma das representações.

Mesmo sendo composta por vários membros das duas representa-


ções (dos empregadores e dos empregados), é importante destacar o
que Camisassa (2015, p. 153) esclarece com relação às reuniões da CIPA:
as decisões da CIPA serão tomadas preferencialmente por con-
senso. Caso não haja consenso, e frustradas as tentativas de
negociação direta ou com mediação, será instalado processo de
votação, registrando-se a ocorrência na ata da reunião. Vejam
então que, somente se não houver consenso na tomada de deci-
sões, será realizada votação, de forma subsidiária.

Logo, percebe-que o processo de funcionamento recomendado


para a reunião dos membros da CIPA não é de divisões, divergência ou
conflitos, mas sim de colaboração mútua, para a segurança global do
ambiente de trabalho.

3.4 Atribuições da CIPA


Vídeo Conforme explicado no início deste capítulo, a CIPA tem como obje-
tivo prevenir acidentes e doenças decorrentes do ambiente de traba-
lho. Para alcançá-lo, a NR 05 traça atribuições bem definidas no item
5.16. É muito importante que se entenda que a instituição da CIPA tem
como foco a identificação de riscos, mas não é responsável por avaliar
(quantitativamente) e implementar medidas de mitigação e tratamento
de riscos. Tais tarefas competem a um serviço profissional: a SESMT. É
importante ressaltar que a CIPA tem um relacionamento de colabora-
ção com o SESMT, devendo ambos trabalhar juntos e em sincronia para
a promoção da Segurança do Trabalho.

78 Análise e gerenciamento de risco


Figura 3
Atribuições da CIPA previstas na NR 05

Identificar riscos do processo de trabalho.

Elaborar o mapa de riscos.

Atuar assessorada pelo SESMT.

Atuar com base na participação dos trabalhadores.

Elaborar plano de trabalho.

Fomentar ações preventivas.

Participar da implementação e do controle da qualidade das medidas de prevenção.

Participar da avaliação das prioridades de ações preventivas.

Realizar verificações no ambiente de trabalho.

Realizar avaliação do cumprimento das metas do plano de trabalho.

Discutir as situações de risco identificadas.

Divulgar informações de segurança e saúde no trabalho.

Participar no planejamento de alterações no ambiente de trabalho.

Requerer ao SESMT ou ao empregador a paralisação de máquina ou setor onde


considere haver risco grave e iminente.

Colaborar na elaboração e implementação do Programa de Controle Médico de Saúde


Ocupacional (PCMSO) e Programa de Proteção de Riscos Ambientais (PPRA).

Divulgar e promover o cumprimento das NRs.

Divulgar e promover outras prescrições que visem à segurança, ao bem-estar e ao


conforto no ambiente de trabalho.

Participar de análise de causas das doenças e acidentes de trabalho.

Propor medidas de proteção.

Requisitar ao empregador e analisar informações relativas à segurança e saúde dos


trabalhadores.

Requisitar à empresa as cópias das comunicações de acidente de trabalho (CAT)


emitidas.

Promover em conjunto com o SESMT a Semana Interna de Prevenção de Acidentes do


Trabalho (SIPAT).

Participar de campanhas de prevenção da Aids

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 2019a.

O plano de trabalho a ser desenvolvido pela CIPA envolve, entre


outras prescrições, a elaboração de um cronograma de tarefas, in-
cluindo metas que fomentem ações de caráter preventivo a acidentes
e doenças decorrentes do ambiente de trabalho. Nesse sentido, o em-
pregador é responsável por prover meios e condições para que a CIPA
cumpra seu plano de trabalho (BRASIL, 2019a).

CIPA 79
Como visto na Figura 3, outra função da CIPA é participar da ela-
boração e revisão de outros programas de promoção de segurança
do trabalho, como o PPRA e o PCMSO, sempre em colaboração com o
SESMT. A CIPA deve participar da discussão dos resultados do relató-
rio analítico do desenvolvimento do PCMSO e do documento-base do
PPRA, o qual deve ser apresentado formalmente à CIPA. Além disso, ela
deve ser ouvida na recomendação de EPI, elaborada pelo SESMT.

Há ainda várias referências à CIPA nas demais NR. Veja alguns exem-
plos a seguir.

NR 04 – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em


Medicina do Trabalho
4.12 Compete aos profissionais integrantes dos Servi-
ços Especializados em Engenharia de Segurança e em
Medicina do Trabalho:
[...]
e) manter permanente relacionamento com a CIPA, va-
lendo-se ao máximo de suas observações, além de
apoiá-la, treiná-la e atendê-la, conforme dispõe a NR 5;
[...]
4.13 Os Serviços Especializados em Engenharia de Segu-
rança e em Medicina do Trabalho deverão manter en-
trosamento permanente com a CIPA, dela valendo-se
como agente multiplicador, e deverão estudar suas
observações e solicitações, propondo soluções cor-
retivas e preventivas, conforme o disposto no subitem
5.14.1. da NR 5. (BRASIL, 2016, p. 4, grifos nossos)

NR 06 – Equipamento de Proteção Individual – EPI


6.5 Compete ao Serviço Especializado em Engenharia
de Segurança e em Medicina do Trabalho – SESMT, ou-
vida a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
– CIPA e trabalhadores usuários, recomendar ao em-
pregador o EPI adequado ao risco existente em deter-
minada atividade. (BRASIL, 2018a, p. 1, grifos nossos)

NR 07 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional


7.4.6.2 O relatório anual deverá ser apresentado e dis-
cutido na CIPA, quando existente na empresa, de acor-
do com a NR 5, sendo sua cópia anexada ao livro de atas
daquela comissão. (BRASIL, 2018b, p. 4, grifos nossos)

80 Análise e gerenciamento de risco


NR 09 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
9.2.2.1 O documento-base e suas alterações e com-
plementações deverão ser apresentados e discutidos
na CIPA, quando existente na empresa, de acordo com
a NR-5, sendo sua cópia anexada ao livro de atas desta
Comissão. (BRASIL, 2019b, p. 2, grifos nossos)

NR 12 – Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos


12.11.2.1 O registro das manutenções deve ficar dis-
ponível aos trabalhadores envolvidos na operação, ma-
nutenção e reparos, bem como à Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes - CIPA, ao Serviço de Seguran-
ça e Medicina do Trabalho – SESMT e à Auditoria Fiscal do
Trabalho. (BRASIL, 2019c, p. 20, grifos nossos)

NR 20 – Segurança e Saúde no Trabalho com Inflamáveis e


Combustíveis
20.14.2 O plano deve ser revisado: a) por recomendações
das inspeções de segurança e/ou da análise de riscos,
ouvida a CIPA. (BRASIL, 2019d, p. 11, grifos nossos)

Conforme visto, a CIPA deve ter ampla participação na implantação


e nos resultados de medidas protetivas e de conforto no ambiente de
trabalho. O SESMT, como braço profissional da segurança e saúde do
trabalho, deve ter suas ações fundamentadas com subsídios prove-
nientes da CIPA. Além disso, o projeto e a implantação de EPI devem
sempre ocorrer na presença da CIPA. Por fim, toda e qualquer avalia-
ção de soluções de programas de segurança e saúde do trabalho deve
ter a CIPA como abalizador. Essas são algumas atribuições previstas em
normas da CIPA, especialmente na análise de resultados.

3.5 Mapa de risco


Vídeo O mapa de risco é um dos instrumentos que auxilia na identificação
de riscos e sua elaboração é de responsabilidade da CIPA. Ele é uma
representação gráfica dos riscos existentes em um grupo homogêneo
de trabalho, a qual é classificada e ilustrada por cada ambiente de tra-
balho. A NR 09 deixa clara a necessidade de um mapa de risco.

CIPA 81
9.6.2 O conhecimento e a percepção que os trabalhado-
res têm do processo de trabalho e dos riscos ambientais
presentes, incluindo os dados consignados no Mapa de
Riscos, previsto na NR-5, deverão ser considerados para
fins de planejamento e execução do PPRA em todas as
suas fases. (BRASIL, 2019b)

Seu objetivo é fazer com que os trabalhadores de um determinado


setor estejam cientes dos potenciais riscos derivados da atividade produ-
tiva ali existente. Os riscos são representados por círculos e classificados
em cores e tamanhos, conforme a avaliação do ambiente de trabalho
realizada pela CIPA. Assim, oportuniza-se, de forma permanente, a visua-
lização e conscientização de riscos a todo trabalhador que ali permaneça
ou passe. O mapa de risco proporciona uma conscientização e seguran-
ça e pode favorecer a diminuição de acidentes de trabalho. Pode-se ob-
servar como essa classificação é feita no quadro a seguir.

Quadro 2
Representações do risco com uma lista exemplificativa, mas não exaustiva

Grau de percepção do risco Classificação do risco

Tipo Cor Exemplo de risco

Altas temperaturas, baixas tempe-


raturas, vibrações, ruídos, pressões
Pequeno Físico Verde
anormais, iluminância inadequada
e radiações ionizantes.

Poeira, fumo, névoa, neblina, gases,


Químico Vermelho
vapor e fumaça.

Vírus, bactéria, fungo, protozoários,


Biológico Marrom
Médio animais.

Postura, execução de tarefas repe-


titivas, transporte manual de carga,
Ergonômico Amarelo jornada de trabalho, sistematização
do processo de trabalho e regula-
gem de equipamento.

Quedas, materiais perfurocortan-


tes, arranjo físico, acondicionamen-
Acidente/mecânico Azul
to de carga, incêndio e impacto em
Grande membros do corpo.

Fonte: Elaborado pelo autor.

82 Análise e gerenciamento de risco


O mapa de risco depende de um diagnóstico feito pela CIPA. Portan-
to, conhecer o ambiente e processo de trabalho é fundamental, já que
não se pode representar o risco sem antes realizar uma identificação
eficiente. Outra medida primordial no mapa é escutar os trabalhadores
envolvidos. Conforme já esclarecido, a CIPA tem como fundamento a
contribuição da experiência e vivência dos empregados. Desse modo,
garantir a participação do maior número de trabalhadores é essencial
na elaboração desse mapa, mesmo que ela seja informal e subjetiva.

A avaliação do ambiente de trabalho basicamente tem três obje-


tos: as pessoas, as tarefas e o ambiente de trabalho. A técnica básica
para avaliar as pessoas é ouvi-las, saber o que as incomoda e o que
proporciona insegurança. A avaliação das tarefas envolve saber o que
as pessoas fazem e como fazem, com uma atenção especial aos equi-
pamentos e máquinas envolvidos. Por fim, a avaliação do ambiente de
trabalho envolve verificar o mobiliário, os espaços físicos e o processo
de trabalho em si. Esses são apenas alguns exemplos ilustrativos, mas
não exaustivos, do que pode ser avaliado em cada componente do am-
biente de trabalho. Identificados os riscos, é necessário localizá-los en-
tão no espaço de trabalho e, para isso, é necessária uma planta baixa
deste. Não se usa necessariamente um projeto de arquitetura em si;
podem ser usados croquis ou desenhos dos ambientes de trabalho.
Apesar de a CIPA não ter a obrigação com a quantificação (medição e
gradação) de agentes nocivos, após a classificação dos riscos ambien-
tais, é necessário expressar o grau de percepção das ameaças. Isso é
feito por meio do tamanho dos círculos que expressam o risco. Em se-
guida, deve-se identificar e nominar os ambientes, indicar o número
de pessoas expostas àquele determinado risco e podendo, também,
especificar nominalmente o agente nocivo ou risco presente. Na figura
a seguir, é apresentado um exemplo de mapa de risco.

CIPA 83
Figura 4
Exemplo de mapa de risco

Karolinemesquita/Wikimedia Commons
SALÃO DO RESTAURANTE COZINHA

6
1

CÂMARA FRIA VESTIÁRIO

8 8
4

ÁREA EXTERNA
LEGENDA
Risco físico
Risco Pequeno
8
Risco químico
Risco Médio
Risco biológico

Risco ergonômico
Risco Grande

Acidentes

Fonte: Elaborada pelo autor.

Observe, na Figura 4, o processo de identificação de riscos. Trata-se


de uma planta baixa simplificada, ou apenas um croqui, de um restau-
rante fictício. Temos a representação de cinco ambientes: salão, cozinha,
câmara fria, vestiário e área externa. Cada um tem um círculo represen-
tando o risco. O tamanho do círculo identifica o grau de percepção do
risco. Por exemplo, na câmara fria, a CIPA identifica um risco ergonômico
maior (formas de conduzir e transportar a carga, por exemplo) para os
oito funcionários existentes no estabelecimento. Já na cozinha, em um
grau de percepção menor de risco, identificam-se quatro tipos de risco, e
há apenas um único trabalhador sujeito àquele determinado risco. Ape-
sar de ser executado pela CIPA, esse trabalho de mapeamento de risco
deve contar com o assessoramento e a colaboração do SESMT, pois o
mapa não é elaborado por especialistas em Segurança do Trabalho.

84 Análise e gerenciamento de risco


Após todo o processo, o mapa de risco deve ser fixado nos ambien-
tes de trabalho, em um local onde todos possam ter acesso à sua vi-
sualização. Com o decorrer do tempo, os trabalhadores estarão cientes
dos riscos ali existentes e, em um processo natural de validação, ab-
sorverão as noções de cuidado. Além disso, em pequenas discussões
diárias, com trocas de informações informais, os trabalhadores podem
questionar a adequabilidade do mapa de risco existente e, em consen-
so, demandar atualizações e revisões.

A implantação e a revisão são partes de um processo maior do


mapa de risco e devem envolver diversas fases, como as ilustradas a
seguir. É importante atentar que o mapa de risco é um processo contí-
nuo e permanente.

Figura 5
Exemplo de ciclo de elaboração e aperfeiçoamento do mapa de risco

Reunião de
demandas
Avaliação após Levantamento
um ano dos
ambientes de
trabalho
Levantamento
Acompanhamento do histórico de
afastamentos e
acidentes no
ano

Avaliação inicial
Entrevista com
os trabalhadores

Implementação
e fixação do
mapa Identificação
de riscos

Análise de
Apresentação
risco, com
do trabalho
participação do
Elaboração SESMT e demais
do mapa programas

Fonte: Elaborada pelo autor.

Apesar de não haver uma orientação normativa da periodicidade de


atualização do mapa de risco, sugere-se que seja revisto a cada mandato
da CIPA, ou seja, anualmente. Tal procedimento deve ser realizado sem-

CIPA 85
pre, especialmente quando há alteração no ambiente de trabalho ou na
atividade executada no local. Além disso, o próprio processo de feedback
dos trabalhadores motiva o aperfeiçoamento do mapa de risco.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este capítulo demonstrou a importância da CIPA como uma oportuni-
dade para que a voz e a percepção do trabalhador sejam valorizadas na
Segurança do Trabalho. O empregador já conta com uma equipe formada
por profissionais e especialistas para implementar medidas de segurança
e saúde do trabalho: o SESMT. Cabe lembrar que a CIPA não é uma subor-
dinada ao SESMT, nem possui a mesma função.
Os membros da CIPA não necessitam ter qualificação em Segurança
do Trabalho e são escolhidos por meio de indicação (representantes do
empregador) e de votação (representantes dos empregados). Além disso,
após formalização da escolha, eles precisam passar pelo treinamento pre-
visto em norma. Uma das oportunidades favorecidas pela CIPA é trazer a
percepção, participação e colaboração dos empregados na construção da
segurança, conforto e bem-estar no ambiente de trabalho.
O SESMT é um serviço profissional; já a CIPA é uma medida que visa
fomentar medidas de proteção e conforto àquilo que é relatado como
incômodo ao desenvolvimento das tarefas executadas pelo trabalhador.
Seu efeito direto ocorre na segurança, mas, certamente, quando bem
executada, a CIPA favorece também a produtividade e o rendimento tão
almejados pelo empregador.

ATIVIDADES
1. Considere um determinado estabelecimento, sem fins lucrativos, que
funciona como clube de lazer, representa servidores públicos dos três
órgãos do poder executivo federal e possui mais de 100 empregados
celetistas. Alegou-se que, nesse local, não há obrigatoriedade de
estabelecer uma CIPA, pelo clube ter sido feito como uma extensão
do órgão público e por não se exercer uma atividade visando lucro. Tal
alegação é válida? Por quê?

2. Considere um supermercado atacadista (CNAE 46.39-7/01), com


115 empregados. Consulte a NR 05 e dimensione a CIPA desse
estabelecimento, especificando a quantidade total de membros
efetivos e suplentes.

86 Análise e gerenciamento de risco


3. Considere o mesmo mercado atacadista da Atividade 2. O empregador
decide abrir mais dois estabelecidos, em locais distintos. Como eles
estão no início de suas atividades, terão um número menor de
empregados: apenas 25 cada um. Consulte a NR 05 e dimensione a
CIPA, especificando a quantidade de membros de cada um dos novos
estabelecimentos.

4. Ainda considerando o exemplo da Atividade 2, o sócio do atacadista


decidiu terceirizar os serviços de conservação e limpeza predial,
contratando uma outra empresa prestadora de serviço que fornece
cinco auxiliares de limpeza e um encarregado. O atacadista continuará
com seu quadro de 115 empregados inalterado. Quais são as
alterações e impactos na CIPA decorrentes dessa contratação? Como
seria dimensionada a CIPA nesse novo caso?

5. Em determinada empresa de telemarketing, um grupo de trabalhadores


assume um mandato na CIPA disposto a fazer a diferença. Considerando
as atribuições da CIPA previstas na NR 05, aponte algumas ações que
esses trabalhadores podem planejar e executar.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 9 ago. 1943. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/
del5452.htm. Acesso em: 31 mar. 2020.
BRASIL. Decreto-Lei n. 7.036, de 10 de novembro de 1944. Coleção das Leis do Império
do Brasil, Poder Executivo, Rio de Janeiro, RJ, 31 dez. 1944. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1937-1946/Del7036.htm. Acesso em: 31 mar. 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-04: Serviços
especializados em engenharia de segurança e em medicina do trabalho. Brasília: MTE,
2016. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/
NR-04.pdf. Acesso em: 19 maio 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-05: Comissão
Interna de Prevenção de Acidentes. Brasília: MTE, 2019a. Disponível em: https://enit.
trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-05.pdf. Acesso em: 19 maio
2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-06: Equipamento
de Proteção Individual – EPI. Brasília: MTE, 2018a. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.
br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-06.pdf. Acesso em: 19 maio 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-07: Programa de
controle médico de saúde ocupacional. Brasília: MTE, 2018b. Disponível em: https://enit.
trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-07.pdf. Acesso em: 31 mar. 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-09: Programa
de Prevenção de Riscos Ambientais. Brasília: MTE, 2019b. Disponível em: https://enit.
trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-09-atualizada-2019.pdf. Acesso
em: 19 maio 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-12: Segurança no
Trabalho em Máquinas e Equipamentos. Brasília: MTE, 2019c. Disponível em: https://enit.

CIPA 87
trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-09-atualizada-2019.pdf. Acesso
em: 19 maio 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-20: Segurança e
Saúde no Trabalho com Inflamáveis e Combustíveis. Brasília: MTE, 2019d. Disponível em:
https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-09-atualizada-2019.
pdf. Acesso em: 19 maio 2020.
CAMISASSA, M. Q. Segurança e saúde no trabalho: NRs 1 a 36 comentadas e descomplicadas.
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015.

88 Análise e gerenciamento de risco


4
Análise de risco
Este capítulo visa apontar algumas das estratégias e técnicas
para analisar o risco. Cada técnica possui um enfoque particular
nos aspectos do risco, apresentando oportunidades e possibilida-
des diferentes em cada processo. Cabe ressaltar que, por vezes,
é oportuno utilizar mais de um método ou ferramenta para realizar
essa avaliação.

4.1 Análise de risco


Vídeo Inicialmente, antes de apresentar técnicas e métodos, é necessário
expor alguns conceitos sobre a avaliação de risco em si. O primeiro a
ser abordado para a compreensão deste capítulo é o processo de reco-
nhecimento e avaliação de risco.

Usualmente, esse processo envolve as seguintes expressões: ava-


liação de risco e análise de risco. Muitas vezes, elas são usadas como
termos similares, mas alguns autores as diferenciam. A palavra ava-
liação envolve uma visão mais particular, um exame prático e especí-
fico, sendo uma etapa da análise. Assim, a análise de risco seria algo
mais abrangente.

Muitos autores discorrem sobre a análise de risco e seus aspectos.


São vários conceitos e ideias envolvidos. É necessário ter em mente
que qualquer análise de risco deve ser conduzida por um profissio-
nal ou equipe habilitada. Ter essa ideia em mente é mais importante
que diferenciar termos. A seguir, são apresentados alguns conceitos e
ideias sobre a análise de risco:

Análise de risco 89
As análises de risco são um Análise de risco é um método
conjunto de métodos e técni- sistemático de exame e avalia-
cas que, aplicados a operações ção de todas as etapas e ele-
que envolvam processo ou mentos de um determinado
processamento, identificam os trabalho para desenvolver e
cenários hipotéticos de ocorrên- racionalizar toda a sequência
cias indesejadas (acidentes), as de operações que o trabalhador
possibilidades de danos, efei- executa; identificar os riscos
tos e consequências. potenciais de acidentes físicos
(CAMISASSA, 2015, p. 610) e materiais; identificar e corri-
gir problemas operacionais e
implementar a maneira correta
Análise de Risco: combinação para execução de cada etapa
da especificação dos limites da do trabalho com segurança. É,
máquina, identificação de peri- portanto, uma ferramenta de
gos e estimativa de riscos. (NBR exame crítico da atividade ou
12.100). situação, com grande utilidade
[...] para a identificação e antecipa-
Avaliação de Risco: julgamen- ção dos eventos indesejáveis e
to com base na análise de risco, acidentes possíveis de ocorrên-
do quanto os objetivos de re- cia, possibilitando a adoção de
dução de risco foram atingidos. medidas preventivas de segu-
(NBR 12.100). rança e de saúde do trabalha-
(BRASIL, 2019b, p. 41-42, grifos dor, do usuário e de terceiros,
do original) do meio ambiente e até mesmo
evitar danos aos equipamentos
e interrupção dos processos
produtivos.
Para outros autores dos textos
(PEREIRA; SOUSA, 2010, p. 14)
que vimos considerando, análi-
ses seriam procedimentos que
subsidiam avaliações. De ma- Chama-se a atenção para o fato:
neira oposta, há autores para os grande parte dos estudos que
quais as avaliações ofereceriam se propõe desenvolver a Análi-
contribuições para a realização se de Riscos, na verdade, traba-
de análises. Finalmente, haveria lha com a Avaliação de Riscos,
aqueles para os quais avaliação o que geralmente é verificado
e análise são nomes diferentes na discussão. Confirma-se que
para coisas equivalentes. Avaliação de Riscos é etapa da
(FURTADO; GASPARINI, 2019, Análise de Riscos.
p. 2934) (OLIVEIRA, 20--, p. 161)

Nesta seção, foca-se a apresentação e a ilustração de técnicas de


análise de risco. Há técnicas que se voltam para a avaliação do perigo,
Glossário
enquanto outras focam o impacto e algumas abrangem o conjunto do ris-
moda: valor ou aspecto que
co. Por vezes, as análises envolvem uma abordagem quantitativa, geran-
ocorre com maior frequência na
amostra de um conjunto de da- do números, probabilidades e taxas. Já outras são de cunho qualitativo,
dos, representando, usualmente, levantando situações, representações descritivas, categorias e modas.
a categoria que mais se repete.
Basicamente, seja de maneira qualitativa ou quantitativa, a avaliação

90 Análise e gerenciamento de risco


de risco visa eliminar ou diminuir o risco. Geralmente, os processos en-
volvem: levantar informações, analisar o problema, levantar soluções e
avaliá-las. Pode-se incluir, ainda, a implantação de salvaguardas, o aper-
feiçoamento e a revisão de todo o processo avaliativo de risco.

Há duas perspectivas nas técnicas de avaliação de risco. Pode-se


utilizar uma base de fatos ocorridos, como um histórico de acidentes,
de modo a evitar “mais do mesmo”. Nesse caso, depende-se de regis-
tros corretamente colhidos e armazenados. Uma segunda forma de
conduzir avaliações de risco é de maneira prospectiva, antecipando
potenciais fatos e aspectos que conduzem a acidentes que ainda não
aconteceram. A combinação de ambas as perspectivas é favorável para
a segurança no ambiente de trabalho.

Não é preciso esperar acontecer um acidente para fazer uma análi-


se de risco, já que avaliação de acidente e avaliação de risco são pro-
cessos distintos. O correto é que todo processo, procedimento e tarefa
(ou conjunto de tarefas) tenham uma avaliação de risco realizada antes
de sua execução. Logicamente, o processo não consiste apenas no “an-
tes”, mas também no “durante” e no “depois”, pois sempre há possi-
bilidade de atualizações e aperfeiçoamento. Assim, a análise de risco
cabe em diversas fases de uma atividade produtiva, de um produto ou
de um processo de trabalho, do início ao fim, como é possível ver na
Figura 1.

Figura 1
Exemplo de processo de análise de risco

08
08
07 Encerramento

Revisão
Concepção 01
Esp

06
ecifi
caçã
o

Execução
02
Implementação Projeto ou

05 Plano de
design

implementação
03
04
Fonte: Adaptada de Oliveira, 20--, p. 111.

Análise de risco 91
Pontua-se que as avaliações de risco devem ser promovidas por
equipes e a execução dessa tarefa por um único profissional não é
adequada. O processo deve contar com a participação de uma equipe
multidisciplinar de profissionais, de pessoas familiarizadas com o pro-
cesso, incluindo executores e supervisores. Vale lembrar que a CIPA
(Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) pode contribuir nesse
momento, mas é o SESMT (Serviços Especializados em Engenharia de
Segurança e em Medicina do Trabalho) que conduz avaliações de risco
de maneira técnica e profissional. Ainda, destaca-se que a execução
formal e oficial de avaliações de risco é competência de um profissional
especializado e habilitado em Segurança do Trabalho.

Não há forma ou modelo de técnicas de avaliação de risco rigoro-


samente estabelecido. Cada equipe pode usar modelos de documen-
tos mais completos ou mais aprimorados para sua atividade. De modo
geral, as Normas Regulamentadoras (NR) não determinam a técnica a
ser utilizada, sendo a escolha a cargo do empregador. Entretanto, está
clara nas prescrições a obrigatoriedade da execução de análise de ris-
co. Algumas NR contêm prescrições e previsões de obrigatoriedade de
técnicas para certas atividades. A seguir, veja alguns exemplos de pres-
crições sem e com especificação de técnica a ser usada.

Quadro 1
Exemplos de prescrições sobre a análise de risco

10.2.1 Em todas as intervenções em instalações elétricas devem ser ado-

NR 10
tadas medidas preventivas de controle do risco elétrico e de outros riscos
adicionais, mediante técnicas de análise de risco, de forma a garantir a
segurança e a saúde no trabalho. (BRASIL, 2019a, p. 1, grifo nosso)

12.4.2 A utilização de cesto suspenso nas hipóteses previstas no subitem


acima, deve ser comprovada por meio de laudo técnico e precedida por

NR 12 análise de risco realizada por Profissional Legalmente Habilitado com


respectiva Anotação de Responsabilidade Técnica – ART. (BRASIL, 2019b,
p. 159, grifo nosso)

18.4.6.2 As tarefas envolvendo soluções alternativas somente devem ser

NR 18 iniciadas com autorização especial, precedida de análise de risco e per-


missão de trabalho. (BRASIL, 2020, p. 3, grifo nosso)

NR 18
18.7.6.2 Deve ser elaborada análise de risco específica para trabalhos a
quente. (BRASIL, 2020, p. 12, grifo nosso)

(Continua)

92 Análise e gerenciamento de risco


20.5.3 Os projetos das instalações existentes devem ser atualizados com

NR 20 a utilização de metodologias de análise de riscos. (BRASIL, 2019c, p. 4,


grifo nosso)

20.7.4 Nas instalações classes II e III, devem ser utilizadas metodologias de

NR 20
análise definidas pelo profissional habilitado, devendo a escolha levar em
consideração os riscos, as características e complexidade da instalação.
(BRASIL, 2019c, p. 5, grifo nosso)

NR 20
20.7.3 Nas instalações classe I, deve ser elaborada Análise Preliminar de
Perigos/Riscos (APP/APR). (BRASIL, 2019c, p. 5, grifo nosso)

NR 35
35.4.5 Todo trabalho em altura deve ser precedido de Análise de Risco.
(BRASIL, 2019d, p. 3, grifo nosso)

As principais metodologias técnicas utilizadas no desenvolvimento de


“análise de risco” são: Análise Preliminar de Risco – APR; análise de mo-
dos de falha e efeitos – FMEA (AMFE); Hazard and Operability Studies –
HAZOP; Análise Risco de Tarefa – ART, Análise Preliminar de Perigo – APP,
dentre outras. (PEREIRA; SOUSA, 2010, p. 14, grifo nosso)

Fonte: Elaborado com base em Brasil, 2019a; Brasil, 2019b; Brasil, 2019c; Brasil, 2019d; Brasil, 2020; Pereira e Sousa, 2010.

Portanto, a falta de especificação normativa não justifica negligen-


ciar a análise de risco no ambiente de trabalho, e as técnicas devem
ser conduzidas conforme prescrição, sempre que necessário. Por fim,
é importante destacar que análises de risco não possuem efeito apenas
na segurança, mas, quando bem conduzidas, também são benéficas à
atividade produtiva desenvolvida. Ao realizá-las, efeitos diretos podem
ser vistos na produtividade das tarefas executadas. Dessa forma, essas
análises são essenciais para fomentar o crescimento das atividades sob
responsabilidade do empregador.

4.2 Análise preliminar de risco


Vídeo Após essa introdução, pode-se passar para o primeiro exemplo de
uma técnica de análise de risco: a análise preliminar de risco (APR),
também chamada de análise preliminar de perigos (APP). Esse nome
provavelmente tem origem na língua inglesa, na técnica equivalente
chamada preliminary hazard analysis (PHA). A palavra preliminar marca
bem a caracterização dessa técnica, pois ela é especialmente designa-

Análise de risco 93
da para ser executada como primeira abordagem na prevenção de ris-
cos, ainda na fase de concepção ou projeto da atividade ou processo.

Visa-se, com a APR, levantar fontes de perigos na etapa de planeja-


mento do sistema de trabalho. Estimam-se também as consequências
da concretização do risco e se estipula medidas simples, designadas
para bloquear a materialização do risco. É uma técnica essencialmen-
te qualitativa, que geralmente não apresenta números ou taxas, mas
classifica o risco em categorias.

Conforme visto, algumas NR prescrevem a APR como técnica de


análise de risco – como a NR 20 e a NR 35. Não há legislação que es-
pecifique a forma e o conteúdo da APR, mas, usualmente, seu modelo
básico contém os campos apresentados no quadro a seguir.

Quadro 2
Campos de um modelo básico de APR

Creative Stall/Art studio G/Ralf Schmitzer Graphics/davooda/Gazlast/Farik gallery/Shutterstock


Campo Exemplo

Identificação do sistema Conservação predial

Identificação do subsistema Limpeza de janelas altas

Livro Queda de altura maior que o


Perigo descriminado
próprio corpo
O livro APR nas NR: um
estudo sobre a imposição
da Análise Preliminar de
Posicionamento inadequado
Riscos pelas Normas Regu- Causa
de escada
lamentadoras do Ministério
do Trabalho, elaborado
pelo auditor fiscal do
trabalho Willian Freitas Impacto ou dano Trauma
Miranda, possui uma
temática especializada
em APR. O livro discorre
Categorização do risco IV – Catastrófica
sobre a imposição da APR
nas Normas Regula-
mentadoras, além de Trabalhar somente em duplas,
apresentar um exemplo Medidas protetivas, corretivas e
com um operador fixando os pés
completo de APR. preventivas
da escada
MIRANDA, W. F. Jaboatão dos
Fonte: Elaborado pelo autor.
Guararapes: Edição do Autor, 2017.
A critério do empregador ou do condutor da avaliação, mais e me-
lhores campos podem ser acrescentados nos formulários.

94 Análise e gerenciamento de risco


A APR possui as seguintes vantagens: é uma técnica relativamente
simples; baixo custo; é favorável ao ser aplicada na fase de concepção
e projeto da atividade a ser executada; é aplicável a uma ampla amos-
tra de atividades; apresenta como produto tabelas de fácil consulta,
leitura e entendimento; e fomenta a elaboração de listas de verificação
(checklists).
Decorrentes dos mesmos motivos citados como vantagens, a APR
também possui limitações de aplicação: não é adequada para o controle
de riscos; não quantifica o risco; tem enfoque em riscos mais perceptí-
veis, em detrimento dos menos perceptíveis; e não é adequada a ativida-
des que demandam avaliações aprofundadas e detalhadas, devendo ser
complementada ou substituída por outras técnicas, quando necessário.
Por meio dos campos apresentados no Quadro 2, a seguir, pode-se
ver um exemplo de aplicação da APR.

Quadro 3
Exemplo de APR para sistema de corte de vergalhões de aço

Risco Causa Impacto/Dano Categoria Medidas preventivas e/ou

Ralf Schmitzer Graphics/davooda/Gazlast/Farik gallery/Kapreski/kornn/Oleh Markov/M-vector/Cube29/Shutterstock


corretivas

Choque • Instalações precárias • Equipamento danifi- IV • Fazer aterramento


(desencapada) cado • Proteger as instalações e os
• Falta de aterramento • Lesão ou morte cabos
• Excesso de umidade • Usar EPC
• Falha na operação • Manutenção dos equipa-
mentos regular
• Treinar operadores

Ruído • Falta de manutenção • Surdez temporária ou III • Usar EPC


• Isolamento inade definitiva • Manutenção dos equipa-
quado mentos regular
• Diminuir o tempo de expo-
sição
• Trocar por equipamento
moderno

Fagulhas • Contato do disco com • Queimaduras III • Usar EPC


o vergalhão • Contato com os olhos

Contato com o ponto • Falta de proteção no • Corte/amputação IV • Usar EPC


de operação ponto de operação • Treinar operadores

Postura inadequada • Altura inadequada da • Dores musculares II • A dequar equipamentos


bancada • Treinar operadores
• Manuseio inadequado
• Esforço físico

(Continua)

Análise de risco 95
I – Risco desprezível: não haverá degradação maior, sem danos funcionais ou lesões.
II – Risco marginal ou limítrofe: degradação do sistema, sem danos maiores ou lesões, podendo
ser compensada ou controlada adequadamente.
III – Risco crítico: degradação do sistema, com lesões e danos substanciais, sendo um risco
inaceitável e necessitando de ações corretivas imediatas.
IV – Risco catastrófico: severa degradação do sistema, com perdas totais, lesões e morte.
Fonte: Adaptado de Oliveira, 20--, p. 111.

Ao discutir a análise de risco, é comum que se imagine o cenário de


uma usina nuclear ou de uma atividade complexa como objeto do es-
tudo. Entretanto, ao sair de casa e optar por levar ou não um
guarda-chuva, você já está realizando uma análise
Saiba mais de risco, feita de maneira ordinária. Essa análise de-
De modo a ilustrar um exemplo mais simples, veria ser a rotina de qualquer atividade produtiva,
mas igualmente benéfico, de uma análise de risco,
pode-se imaginar uma pizzaria. Haveria riscos pois, além de promover a segurança, o conforto e o
exacerbados nessa atividade produtiva? Reflita bem-estar, fomenta a produtividade.
um pouco sobre as tarefas desenvolvidas em uma
pizzaria e aponte alguns riscos potenciais. Assim, verifica-se que a APR é uma técnica bási-
Para entender a importância da atividade de aná-
lise de risco, especificamente pela APR, recomen-
ca, que pode ser usada para diversas atividades pro-
da-se o seguinte trabalho de conclusão de curso: dutivas, especialmente para riscos convencionais.
Aplicação da análise preliminar de risco (APR) em uma
pizzaria da região metropolitana de Curitiba, desen-
Essa técnica não apresenta a quantificação do risco,
volvido pela especialista Carolina de Mattos Pellin, dado que apenas o descreve e categoriza, sendo
na obtenção do título de especialista no curso de
pós-graduação em Engenharia de Segurança do
uma abordagem essencialmente qualitativa. A APR
Trabalho. Além de exemplificar bem a condução de também não permite uma análise profunda do ris-
uma APR, ilustra-se o levantamento, a identificação
e o possível tratamento dos riscos, demonstrando
co, mas possui grande utilidade por ter uma ampla
a praticidade e os resultados da APR em um esta- abrangência, além de auxiliar a apontar quais ativi-
belecimento comercial.
dades demandam uma técnica de avaliação de risco
Disponível em: http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bits-
tream/1/8930/1/CT_CEEST_XXXIII_2017_08.pdf. Acesso em: 8 maio
mais detalhada. Sua execução é obrigatória antes de
2020. algumas atividades, como determinados trabalhos
com inflamáveis e combustíveis.

4.3 Análise What if


Vídeo Uma outra possibilidade de técnica de análise de risco é a chamada
1
What if . Ela oferece uma análise geral e qualitativa, uma primeira ins-
tância de análise de risco. Por ser de execução mais simples, é muito
útil em diversos aspectos, especialmente por ter uma ampla oportuni-
1 dade de uso.

Também pode ser usada as Essa técnica levanta riscos, especialmente omissões de projeto e
expressões Whatif ou simples- desenvolvimento de atividades, processos, normas, instalações, pro-
mente e se para denominá-la.
cedimentos e sistemas produtivos. Como o próprio nome demonstra,

96 Análise e gerenciamento de risco


ela se baseia em levantar perguntas que se iniciam com “e se” e “o que
aconteceria se”. Uma das opções de desenvolvimento da técnica pro-
Glossário
põe uma discussão entre duas equipes, em que uma é especialmente
designada para estipular questionamentos. Nesse brainstorming, é brainstorming: também
chamada de tempestade de
necessário que os envolvidos tenham amplo conhecimento dos pro- ideias, consiste em uma técnica
cessos e tarefas em discussão. Segundo Oliveira (20--, p. 100), de dinâmica em grupo, em
que os participantes são livres
os questionamentos englobam procedimentos, instalações, pro- para darem suas opiniões e
cesso da situação analisada e podem ser livres ou sistemáticos. ideias acerca de um tema, sem
No questionamento livre, as perguntas podem ser totalmente restrições ou julgamentos, para
desassociadas. Já no sistemático, o objetivo das perguntas é fo- que cheguem a uma solução
cado em pontos específicos como um martelo. A equipe ques- final construída pelos vários
pontos apresentados.
tionadora é a conhecedora e familiarizada com o sistema a ser
analisado, devendo formular uma série de quesitos com antece-
dência, com a finalidade de guia para a discussão.

É fundamental conhecer também o sistema, ou seja, a estrutura


do processo produtivo envolvido. Por exemplo, plantas, layouts, flu-
xogramas, mapeamento de processos, especificações e diagramas
devem estar disponíveis para consulta e para fomentar a elaboração
dos questionamentos. Cada pergunta oportuniza, se o processo for de-
senvolvido adequadamente, múltiplas respostas, permitindo, assim, a
proposição de uma diversidade de soluções aos riscos estimados.
O processo e a proposição de recomendações devem ser revisados por
todos ao fim. A figura a seguir mostra algumas etapas para se desen-
volver a técnica What if.

Figura 2
Khvost/Shutterstock

Proposição de etapas para


desenvolvimento da técnica
What if Etapa I
Mapeamento
dos fluxos de
macroprocessos

Etapa II
Detalhamento Etapa IV
das atividades dos Análise dos riscos
macroprocessos identificados
identificados

Etapa III
Aplicação do
questionamento da
ferramenta What If

Fonte: Adaptada de Diniz, 2019, p. 48.

Análise de risco 97
Um quadro com informações básicas da técnica What if pode conter
os dados apresentados a seguir.

Quadro 4
Campos de um modelo básico de What if

Creative Stall/Art studio G/davooda/Farik gallery/howcolour/Shutterstock


Campo Exemplo

Identificação do sistema Conservação predial

Identificação do subsistema Limpeza de janelas altas

Queda de altura maior que o


Perigo descriminado
próprio corpo

? Pergunta motivadora “e se...”


E se a janela estiver a mais de
dois metros de altura?

Uso de escada inadequada,


Impacto ou dano adoção de procedimento inade-
quado, entre outros

Fornecer escada profissional,


Recomendações elaborar procedimento para
uso de escada, entre outros

Trabalhar somente em duplas,


Medidas protetivas, corretivas e
com um operador fixando os pés
preventivas
da escada

Fonte: Elaborado pelo autor.

O acréscimo de informações – por exemplo, categorização do risco,


classificação entre medidas protetivas existentes e medidas a imple-
mentar – sempre será favorável para a análise de risco. Tais aprimo-
ramentos ficam a cargo de quem conduz a análise e do empregador.

A técnica What if é de fácil aplicação e pode ser usada na fase de


projeto e de operação. É muito favorável para fomentar informações
para outras técnicas de análise de risco, sendo prontamente usada de
maneira integrada com elas. Também é indicada para ser um primei-
ro estágio de uma análise mais ampla a ser desenvolvida.

98 Análise e gerenciamento de risco


Artigo

https://periodicos.ifpb.edu.br/index.php/rebrast/article/viewFile/2356/1051

A técnica What if pode ser aplicada em diversas áreas. O engenheiro civil


Marco Diniz, por exemplo, conduziu uma análise de risco com essa técnica
em atividades ferroviárias, produzindo um estudo denominado Identificação
de perigos e riscos em operação ferroviária com uso da técnica de análise What
If, publicado na Revista Brasileira de Saúde e Segurança no Trabalho em
2019. Vale a pena a leitura do artigo, pois nele se encontra a descrição do
processo de levantamento de risco com o uso dessa técnica, apresentando
os modelos e resultados relevantes.
Acesso em: 8 maio 2020.

Suas vantagens são: proporciona levantamento de omissões e reco-


mendações em processos e tarefas; possui aplicação fácil e execução
mais rápida, em comparação com outras técnicas; e tem um amplo es-
pectro de aplicações. Em decorrência, apresenta as seguintes limita-
ções: não apresenta resultados quantitativos; pode resultar em uma
relação menor de efeitos e impactos estimados em processos mais
complexos, em comparação com outras técnicas; e não deve ser usada
de modo isolado, necessitando ser completada por outras técnicas de
avaliação de risco.

A seguir, encontra-se um exemplo de aplicação, por meio dos cam-


pos apresentados no Quadro 4, da técnica What if.

Quadro 5
Exemplo de produto da técnica What if aplicada a uma lavanderia

Creative Stall/Ralf Schmitzer Graphics/davooda/howcolour/ Blan-k/Shutterstock


Atividade O que aconteceria Causas Consequências Observações e reco-
se mendações

?
Ativação das máquinas
Treinamento sobre
de lavar e de secar Choques elétricos e
Não as ativasse de Descuido ou falta de práticas de segurança
modo correto conhecimento lesões e primeiros socorros e
ON uso dos EPI fornecidos

Adição de solventes
ou fluidos aquosos
(lavagem a seco) Treinamento sobre
Falta de treinamento e Acidentes químicos práticas de segurança
Não utilizasse os EPI
conhecimento e alergias e primeiros socorros e
uso dos EPI fornecidos

(Continua)

Análise de risco 99
Atividade O que aconteceria Causas Consequências Observações e reco-
se mendações

?
Adição de sabão
Treinamento sobre
Falta de treinamento e Acidentes químicos, práticas de segurança
Não utilizasse os EPI
conhecimento alergias e cortes e primeiros socorros e
uso dos EPI

Adição de água
Fosse lavada pouca
Esquecimento ou Checagem dos registros
roupa em nível alto de Desperdício de água
distração por onde circulam água
água

Utilização das
Não houvesse uma
máquinas Buscar otimizar o
preocupação com a
Falta de informação Desperdício de água sistema e economizar
otimização do abasteci-
mais água
mento de água

Não houvesse uma


Consumo elevado Buscar otimizar os
preocupação com a
Falta de informação sistemas elétricos para
otimização do sistema de energia economizar energia
de energia

Geração de efluentes
líquidos
Não ocorresse o des- Poluição nos recur- Estação de tratamento
Falta de informação
carte correto sos hídricos de efluentes

Fonte: Adaptado de Lima, 2017, p. 41-42.

Novamente, deve-se evitar a ideia de que técnicas de análise de ris-

Leitura co devem ser voltadas somente a complexos siste-

O engenheiro sanitarista e ambiental Leonardo Lima


mas de trabalho. Como argumentado neste capítulo,
conduziu uma relevante análise de risco em uma essa análise deve ser uma atitude ordinária de qual-
lavanderia por meio da técnica What if. O trabalho de
conclusão de curso, denominado Aplicação do método
quer empreendedor.
“What If...”, como técnica de identificação de perigos e ope-
Como visto, a técnica What if é muito propícia para
rabilidade em uma lavanderia de Campina Grande – PB,
é muito interessante de ser lido porque elabora uma as fases iniciais de avaliação de risco. Trata-se de uma
adequada proposta de condução dessa técnica.
técnica especulativa, com levantamento de hipóteses
Seu desenvolvimento demonstra consulta a plantas,
croquis, fluxogramas de atividades, mapeamento de por meio de questões norteadoras caraterizadas pela
processos e resultados obtidos. Por fim, como produto
pergunta “e se...?”. A técnica proporciona a descoberta
da técnica, ainda apresenta um checklist com diagnós-
tico e uma proposta de intervenção. É uma excelente de potenciais falhas e omissões e deve ser desenvolvi-
referência de uso da técnica What if.
da por meio de dinâmica de grupo, com duas equipes
Disponível em: http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/hand-
debatendo ativamente. É importante lembrar que a
le/123456789/15699. Acesso em: 8 maio 2020.

100 Análise e gerenciamento de risco


técnica deve ser utilizada em conjunto com outra(s), de modo a propor-
cionar uma análise de risco mais completa e efetiva.

4.4 HAZOP
Vídeo Entre as várias técnicas de avaliação de risco, existe a chamada
HAZOP, que deriva de hazard and operability study, em língua inglesa.
Essa técnica, como o nome já diz, trabalha com as ideias de hazard (em
português, perigo) e operability (em português, operabilidade). Ou seja,
avaliam-se os perigos potenciais em operações desenvolvidas, esti-
mando os riscos.

É também uma avaliação qualitativa, sem a produção de taxas ou


números, que visa prevenir o desvio de variáveis existentes nas linhas
de processo produtivo. Utiliza-se palavras guias para perguntas, que
representam os desvios potenciais a serem prevenidos, como mais,
menos, cedo, tarde, antes, depois etc. As variáveis são parâmetros, por
exemplo, pressão, temperatura, fluxo, acionamento, nível, tempo, ven-
tilação, entre outros.

Os desvios podem ocorrer nos pontos – chamados de nós – de


tomada de decisão ou de intervenção manual ou automatizada den-
tro das operações ou dos processos. Em cada nó, analisam-se quais
desvios poderiam ocorrer ali. Quanto maior o número de nós do
processo, mais extenso será o desenvolvimento da técnica. Segundo
Oliveira (20--), essa técnica avalia os perigos para que cenários de fa-
lhas, os quais abrangem diversos eventos independentes, sejam identi-
ficados. Ainda, de acordo com Aguiar (2008, p. 9),
o principal objetivo de um Estudo de Perigos e Operabilidade
(HAZOP) é investigar de forma minuciosa e metódica cada seg-
mento de um processo (focalizando os pontos específicos do
projeto – nós – um de cada vez), visando descobrir todos os
possíveis desvios das condições normais de operação, identifi-
cando as causas responsáveis por tais desvios e as respectivas
consequências.

A técnica HAZOP, inicialmente, volta-se à análise de operações, mas


nada impede sua aplicação em processos na fase de projeto ou con-
cepção de uma atividade produtiva. Além disso, ela também possui
boa aplicação para se avaliar riscos em modificações e revisões de ope-

Análise de risco 101


rações e processos e nos potenciais desvios que levam a riscos. Um
quadro básico, com exemplos não exaustivos, da técnica HAZOP pode
conter os dados apresentados a seguir.

Quadro 6
Campos de um modelo básico de HAZOP

Creative Stall/linear_design/Gembuls/Zaur Rahimov/Ralf Schmitzer Graphics/davooda/Farik gallery/Shutterstock


Campo Exemplo

Sistema de segurança contra


Identificação do sistema
incêndio

Identificação do subsistema Sistema de chuveiro automático

Pressurização da água de
Especificação/localização do nó
incêndio

Palavra guia Menos

Variável Pressão hidráulica

Desvio Baixa pressão hidráulica

Mal funcionamento da bomba


de pressurização principal,
Causa
válvula parcialmente fechada,
entre outros

Mal funcionamento do chuveiro


automático, extinção inadequada
Efeitos ou consequências
de princípio de incêndio, entre
outros

Manutenção da bomba de pres-


surização, trava de segurança
Medidas protetivas, corretivas e
para que a válvula permaneça na
preventivas
posição completamente aberta,
entre outros

Fonte: Elaborado pelo autor.

A técnica HAZOP apresenta as seguintes vantagens: abrange um


amplo espectro de processos operacionais, de diversas áreas produ-
tivas, especialmente aqueles em que desvios mínimos têm impactos

102 Análise e gerenciamento de risco


relevantes; permite destacar as falhas de cobertura de processos, opor-
tunizando o desenvolvimento de redundâncias de segurança, ou seja,
barreiras de proteção (um backup ou reforço de segurança) que atuam na
falha de uma primeira camada de proteção, exercendo a mesma função;
e discrimina de maneira melhor os impactos e permite a eliminação de
problemas operacionais.

No quadro a seguir, pode-se observar um exemplo não exaustivo


do uso de palavras guias, seus respectivos significados e uma forma de
aplicação.

Quadro 7
Exemplo não exaustivo de palavras guias e respectivos significados

Palavra guia Campo Exemplo

Inexistência da intervenção,
NÃO/NENHUM Sem água
ação ou conteúdo

Excesso ou excedente de inter-


MAIS Muita água
venção, ação ou conteúdo

Falta ou insuficiência de inter-


MENOS Pouca água
venção, ação ou conteúdo

PARTE DE/ Processo incompleto ou execu-


Mistura feita parcialmente
PARCIALMENTE tado de maneira parcial

Água se deslocou da mistura


REVERSO Fluxo inverso ou reverso
para o tanque

Substituição ou alteração de
OUTRO/AO INVÉS Componente errado adicionado
conteúdo

CEDO Intervenção ou ação precoce Liberou água muito cedo

TARDE Intervenção ou ação tardia Demorou para liberar água

Intervenção ou ação fora da A mistura foi realizada antes da


ANTES
ordem, sequência ou fluxo adição do componente

Intervenção ou ação fora da O componente foi adicionado


DEPOIS
ordem, sequência ou fluxo depois da mistura

Fonte: Elaborado pelo autor.

Análise de risco 103


Na Figura 3, também é possível verificar alguns exemplos de parâ-
metros abordados pela técnica HAZOP.

Figura 3
Exemplos não exaustivos de parâmetros
EXEMPLO 1 VARIÁVEL / PARÂMETRO EXEMPLO 2

ankudi/Janoj/vectorlight/Flat.Icon/NikWB/Blan-k/Dolvalol/Artco/Milta/Shutterstock
FLUXO
FLUXO

Excesso de fluxo Fluxo insuficiente

PRESSÃO

Pressão alta Pressão baixa

TEMPERATURA
Alta temperatura Baixa temperatura

NÍVEL
Alto nível Nível insuficiente

TEMPO

Cedo Tarde

AGITAÇÃO

Muita agitação Agitação insuficiente

REAÇÃO

Maior grau de reação Reação inadequada

(Continua)

104 Análise e gerenciamento de risco


EXEMPLO 1 VARIÁVEL / PARÂMETRO EXEMPLO 2

FLUXO
ACIONAMENTO /
DESLIGAMENTO
Acionamento errado Desligamento errado
ON

DRENAGEM

Drenagem tardia Drenagem antecipada

VENTILAÇÃO
Muita ventilação Ventilação
insuficiente

MANUTENÇÃO
Manutenção em Manutenção
momento impróprio insuficiente

POTENCIAL
HIDROGENIÔNICO
Alto PH (PH) Baixo PH

Fonte: Elaborada pelo autor.

A técnica possui a limitação de lidar com um número restrito de


variáveis. Trata-se de uma abordagem qualitativa, que pode, em algu-
mas combinações e alguns aperfeiçoamentos, oferecer algum aspecto
quantitativo, especialmente se a quantificação de desvios puder ser
discriminada. Além disso, os impactos são analisados do ponto de vis-
ta de um único desvio, e os riscos resultantes de desvios combinados
podem ser negligenciados. Demanda-se, ainda, a participação de um
maior número de pessoas em seu desenvolvimento, sendo que elas
devem ter ampla experiência e serem profundas conhecedoras do pro-
cesso em questão. Tendo em vista que cada nó (decisão ou intervenção
no processo/operação) deve ser analisado, ela demanda um número
maior de documentos (projetos, plantas, mapeamento de processos
etc.) e mais tempo em seu desenvolvimento, em comparação com ou-

Análise de risco 105


tras técnicas. A seguir, pode-se observar um exemplo de aplicação da
técnica HAZOP, que usa alguns campos apresentados no Quadro 6.

Quadro 8
Exemplo de aplicação da técnica HAZOP em um nó de operação em caminhão tanque

Sistema: transferência de produto corrosivo do caminhão para o tanque Equipe: Data:

Parâmetros: vazão Nó: 02 Página: 2/4

Palavra Guia Desvio Causas Detecção Consequências Providências

Menos Menos • Boca de visita do Visual • Aumento do tempo


• Inspecionar a boca do
Vazão caminhão fechada Ruído de descarregamento
caminhão, o estado
• Válvulas (4) ou (3) • Entrada de ácido na
da linha e das válvulas
parcialmente fecha- linha de ar
antes de iniciar o
das • Vazamento de ácido processo
• Rotor da bomba • Geração de resí- • Testar a estanqueida-
danificado duos químicos de do sistema antes de
• Válvulas (1) ou (2) • Aumento de tempe- iniciar o processo
abertas e linha de ar ratura dos mancais • Submeter a mangueira
despressurizada da bomba e possível a testes hidrostáticos
• Mangote com vaza- incêndio periódicos
mento
• Instalar extintor de pó
• Ruptura da linha químico junto ao local
de descarregamento
• Ajustar a seletivida-
de da proteção do
motor elétrico para
sua atuação rápida sob
condições anormais
• Realizar manutenção
preventiva do conjunto
moto-bomba.

Fonte: Aguiar, 2008, p. 24.

Saiba mais
Imagine quais são os riscos que pode haver em um hemocentro, na coleta e distribuição
de bolsas de sangue. Mônica Caldeira Quintella defendeu sua tese de doutorado, intitulada
Adaptação e Aplicação da Técnica HAZOP na Identificação de Risco na Área de Serviço de Saúde:
Estudo de Caso HEMOCENTRO/UNICAMP, aplicando a técnica HAZOP em um hemocentro
na cidade de Campinas (São Paulo). Esse estudo demonstra quão complexa pode ser a
aplicação da técnica HAZOP. Na tese, há o fluxo utilizado, roteiros, mapeamento de diversos
processos relativos ao hemocentro e especificação dos nós e módulos, além dos resultados
e discussões obtidos. Por fim, no apêndice, há um bem elaborado modelo de produto da
técnica HAZOP.

Disponível em: http://taurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/266864/1/Quintella_MonicaCaldeira_D.pdf. Acesso em: 8 maio 2020.

106 Análise e gerenciamento de risco


Constata-se que a técnica HAZOP é bem favorável à análise de risco
em processos operacionais, especialmente para estimar desvios e avaliar
impactos. Sua execução depende da existência e investigação de diversos
documentos, especialmente fluxos, e as pessoas envolvidas devem possuir
ampla intimidade com a operação a ser estudada. Finalmente, por analisar
cada nó, a técnica demanda maior tempo para sua execução.

4.5 Análise de modos de falha e efeitos


Vídeo A próxima técnica a ser estudada se chama análise de modos de fa-
lha e efeitos (AMFE), também conhecida por sua sigla na língua inglesa
FMEA, originada de failure modes and effect analysis. Como o nome an-
tecipa, essa técnica trabalha uma relação entre o modo de falha e os
seus efeitos. Ela pode se voltar à avaliação de risco para cada compo-
nente, processo ou procedimento de maneira particular e individual,
privilegiando a identificação de falhas potenciais e destacando impac-
tos internos e externos. O levantamento de ações recomendadas de
segurança é um dos produtos de destaque dessa técnica.

O FMEA avalia a confiabilidade de sistemas, de modo rigoroso e


direto, a qual é analisada por meio de um cálculo de probabilidade
combinado de falhas e efeitos. Ou seja, é possível realizar uma análise
crítica de riscos. Sendo assim, a técnica tem uma abordagem quantita-
tiva, pois considera, em seu cálculo, valores que representam a cons-
tituição de um determinado risco. Assim, após quantificar os fatores
envolvidos na formação do risco, pode-se operar a combinação deles
para apresentar uma hierarquização de riscos.

Com essa técnica, há um impacto positivo direto no aumento da


confiabilidade de processos e operações, pois ela permite traba-
lhar cada um dos fatores quantificados na formação do risco para
diminuí-lo. Ou seja, pode-se modificar unicamente aquele fator ou as-
pecto que mais contribui para a formação do risco ou trabalhar em
conjunto com todos os fatores de formação de um risco.

Uma das possibilidades do FMEA é a elaboração de um quadro com-


parativo entre os controles (proteções) existentes e as ações recomen-
dadas (proteções a ser implementadas), mostrando qual é o impacto
de cada ação mitigadora dos riscos. Por vezes, o FMEA mostra que a
implementação de uma única ação, entre várias recomendadas, pode

Análise de risco 107


ser suficiente para reduzir o risco a uma condição aceitável, descartan-
do-se outras propostas. Um quadro básico, com exemplos não exaus-
tivos, da técnica FMEA pode conter os dados apresentados a seguir.

Quadro 9
Campos de um modelo básico de análise FMEA

Campo Exemplo

Creative Stall/RomanBykhalets/nexusby/Ralf Schmitzer Graphics/davooda/Mahesh Patil/Telman Bagirov/Gazlast/Farik gallery/Shutterstock


Sistema de segurança contra
Identificação do sistema
incêndio

Identificação do subsistema Sistema de chuveiro automático

Especificação/localização do Bomba principal de pressuri-


componente zação

Falha de execução, operação e


Modo de falha
acionamento

Causa da falha Pressostato não funcionar

Existência de uma bomba


Medida de controle existente
reserva

Retardo na liberação de água


Efeitos ou consequências devido à necessidade de aciona-
mento da bomba reserva

Taxa de ocorrência Baixa: 1 em uma escala de 3

Índice de detecção Difícil: 3 em uma escala de 3

Taxa de severidade Média/alta: 4 em uma escala de 5

Quantificação/coeficiente de 12 (1x3x4) em uma escala de 45


risco (3x3x5)

Manutenção da bomba de
pressurização, prover botão de
Medidas protetivas, corretivas e
acionamento/partida manual
preventivas
da bomba principal em locais
estratégicos, entre outros

Fonte: Elaborado pelo autor.

108 Análise e gerenciamento de risco


O FMEA pode ser aplicado para identificação e eliminação de pro-
blemas potenciais antes da execução de uma operação. Além disso,
sua utilização é favorável para estudar o comportamento de sistemas
projetados, mas que ainda não estão em funcionamento, por exemplo,
novos produtos ou processos a serem lançados. Contudo, não há im-
pedimentos para que o FMEA seja utilizado em operações, processos e
sistemas já em andamento, pois, em seu processo de desenvolvimento,
pode-se analisar as proteções e os controles já existentes.

A técnica também é propícia caso já se tenha uma outra técnica de


análise de risco pronta, pois é possível, assim, utilizar as informações
já existentes para compor a quantificação das variáveis que formam o
risco. Ou seja, apesar de ser uma técnica quantitativa, é necessário ter
ou fazer uma análise qualitativa para desenvolver o FMEA. Além
disso, caso haja um registro efetivo de falhas que já ocorreram, ele
pode compor um bom subsídio para a técnica. A seguir, apresenta-se
uma proposta de fluxograma para utilização do FMEA.

Análise de risco 109


Figura 4
Proposta de fluxograma para utilização do FMEA, demonstrando certa complexidade.

Inicializar o FMEA ou FMECA

Selecionar um item/componente do sistema em análise

Identificar os modos potenciais de falha do item selecionado

Selecionar um modo de falha para analisar

Identificar o efeito imediato e final do modo de falha analisado

Determinar a gravidade do efeito final

Identificar as causas potenciais do modo de falha

Estimar a frequência ou a possibilidade de ocorrência do modo


de falha durante um período de tempo pré-determinado

A gravidade e/ou a Não


probabilidade de
aparecimento necessita
de ação?

Sim

Propor as ações corretivas de atenuação ou eliminação ou


disposições de compensação

Notas, recomendações e ações

Não Existem outros


Existem mais modos de
componentes
falha para analisar?
para análise?

Sim Sim

Conclusão do FMEA
Definir data da próxima revisão

Fonte: Silva, Fonseca e Brito, 2006, p. 4.

O FMEA promove uma determinação de efeitos de falhas, gerando


bons diagnósticos de sistemas, especialmente levando em consideração
as interações de taxas de ocorrências de perigos com o alcance estima-
do de impactos. Essa técnica atende àqueles que buscam um valor de
probabilidade de riscos e uma abordagem imediata de falhas de efeito
crítico. Como há quantificações, pode-se simular a redução do risco com

110 Análise e gerenciamento de risco


as diversas recomendações sugeridas, permitindo a seleção e o descarte
de opções de design e de projeto de medidas de proteção. Além disso,
é a técnica indicada para verificar as opções para reduzir um risco a um
patamar aceitável, aumentando a confiabilidade de sistemas.

As vantagens do FMEA são: há possibilidade de revisão sistemática


de segurança e catalogação de falhas; possui uma análise bem deta-
lhada como produto; aponta falhas críticas; pode resultar em uma hie-
rarquização de falhas; e oportuniza melhorar o grau de confiabilidade
de sistemas. Além disso, pode ser aplicado em sistemas simples e mais
complexos e revela desde falhas singelas até críticas. Por fim, permite
ao empreendedor uma escolha mais personalizada de proteção, isto é,
mais exata e específica para cada fase, situação ou condição financeira
do projeto ou operação.

Artigo

https://www.fep.up.pt/disciplinas/pgi914/ref_topico3/fmea_ss_mf_jb_qic2006.pdf

Os engenheiros civis Sónia Silva, Manuel Fonseca e Jorge de Brito descrevem,


no artigo Metodologia FMEA e sua aplicação à construção de edifícios, publicado
pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil em 2006, uma forma de apli-
car o FMEA na construção de edifícios. Mesmo focando em uma orientação
teórica, suas recomendações podem ser adotadas como uma boa prescrição
para a elaboração dessa técnica, especialmente por demonstrar etapas do
processo de execução, modelos de parâmetros e tabelas/planilhas.

Acesso em: 8 maio 2020.

O FMEA depende de uma análise qualitativa anterior bem feita para


que a fase quantitativa seja adequada. Assim, possui, como limitação,
a quantidade de informação existente para subsidiar a sua execução.
Em outros termos, é necessário que estejam disponíveis dados, infor-
mações, registros, descrições, projetos, diagramas, mapeamento de
processos, especificações técnicas, detalhes de inter-relacionamentos
de subsistemas, normas, contratos, manuais etc. Sendo assim, a qua-
lidade da técnica depende diretamente das informações disponíveis.
Decorrente disso, observa-se que o FMEA pode ser trabalhoso, deman-
da maior tempo e dedicação das equipes e pode ter um custo mais alto.
Além disso, a execução de outra técnica de avaliação de risco pode ser
necessária para a sua execução. A Figura 5 apresenta um exemplo de
fluxograma na prática, usando o FMEA.

Análise de risco 111


Figura 5
Fluxograma utilizado na elaboração do FMEA para um processo de produção de carne, de-
monstrando a demanda de informações nessa técnica.

Animais em caminhões
Esterco, Urina
Água, Desinfetante Recepção Currais Caminhões lavados
Efluentes líquidos
Condução e lavagem dos Esterco, Urina
Água, Desinfetante
animais Efluentes líquidos
Vômito, Urina,
Água, Produto de limpeza, Atordoamento Efluentes líquidos
Eletricidade
Sangue
Água, Produto de limpeza Sangria Efluentes líquidos
Couro, Cabeça, Chifres,
Água, Eletricidade, Esfola Cascos
Produto de limpeza
Efluentes líquidos
Água, Eletricidade, Evisceração Vísceras comestíveis
Produtos de limpeza Vísceras não comestíveis
Efluentes líquidos
Água, Eletricidade Corte de carcaça
Gorduras, Aparos
Efluentes líquidos

Água, Sal, Intestino Gorduras, Mucosas,


Eletricidade, Conteúdo intestinal,
Produtos de Efluentes líquidos
limpeza
Tripas salgadas
Carnes – meias carcaças

Água, Eletricidade, Gases


Refrigerantes, Produtos Refrigeração Efluentes líquidos
de limpeza
Água, Eletricidade, Cortes, Desossa Ossos, Aparos, Gorduras,
Produtos de limpeza Efluentes líquidos.
Cortes e Vísceras
Eletricidade, Material de
Esticagem/Expedição
embalagem

Fonte: Rabelo, Silva e Peres, 2014, p. 4.

Saiba mais
A produção de carne para alimentação pode oferecer diversos riscos, não apenas para
quem está envolvido nas operações, mas também para a comunidade ao redor de aba-
tedouros. Você já parou para pensar nisso? De maneira simplificada, tente estimar alguns
riscos envolvidos nessa atividade produtiva. Pense também nas ameaças/perigos envolvi-
dos, nas pessoas e comunidades vulneráveis a esse perigo, na forma de detectar falhas que
levam a esse risco e no impacto gerado por ele. Há uma forma de quantificar cada variável?
Um estudo dos engenheiros Mariane Helena Rabelo, Eric Silva e Alexandre Peres, da
Universidade Federal de Lavras (UFLA), aplica o FMEA exatamente nessa atividade. Os au-
tores mostram os mapeamentos utilizados e apresentam resultados pertinentes dos riscos
levantados.

Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/esa/v19n1/1413-4152-esa-19-01-00079.pdf. Acesso em: 8 maio 2020.

O FMEA, como produto, expõe uma gradação do risco. O Quadro 10,


por exemplo, mostra como as variáveis de cada formador do risco po-
dem ser quantificadas.

112 Análise e gerenciamento de risco


Efeito do
Descrição das Causa do impacto Controles Controles ambientais – ações
Tipo impacto S O D A R
saídas – Funções ambiental atuais recomendadas
ambiental
Quadro 10

Buscar estratégias para minimizar


Utilização
Utilização de água o consumo otimizando processos
Consumo de água R dos recursos – 2 3 2 2 24
no processo Tratamento da água para reutili-
naturais
zação
Lenha prove- Construção de um local para
Utilização A lenha é utilizada
Consumo e armaze- niente de armazenamento adequado da
Exemplo de produto do FMEA

R dos recursos para alimentar a 2 3 1 3 18


namento de lenha construções lenha (local abrigado, não permi-
naturais caldeira
civis tindo ser molhada)
Água proveniente da
Descarte em lagoas Destinar às lagoas anaeróbicas
higienização de pi- Contaminação Lagoas
R próximas ao local 3 3 2 2 36 Em seguida, encaminhar para la-
sos, equipamento e da água anaeróbicas
de processamento goas de floculação
carcaças
Água proveniente
da higienização de Descarte em lagoas Destinar às lagoas anaeróbicas
Contaminação Lagoas
currais, pocilgas, cor- R próximas ao local 3 3 2 2 36 Em seguida, encaminhar para la-
da água anaeróbicas
redores, caminhões de processamento goas de floculação
e animais
Manutenção periódica nos filtros
Contaminação Descarte na atmos- Filtros nas
Fumaça de caldeira R 2 3 2 2 24 e caldeiras, troca de equipamento
do ar fera chaminés
quando necessário

Gases provenientes Contaminação Descarte na atmos- Instalação e manutenção de fil-


R – 2 3 2 2 24
dos digestores do ar fera tros

Contaminação Proveniente da
Cinzas R – 2 3 2 2 24 Aplicação em local adequado
da água queima na caldeira

Parte da sujeira é
encaminhada para
Contaminação Triagem com maior critério das
Sujeira do chão da a graxaria e a outra
R do solo e da – 3 2 2 2 24 sujeiras e filtros de retenção na

(Continua)
fábrica é carregada pela
água saída de efluentes
água de lavagens
do frigorífico

Análise de risco
Embalagens de ma- As embalagens são
térias-primas, insu- Contaminação encaminhadas à Separação das embalagens e en-
R – 2 3 1 3 18
mos, embalagens de do solo empresa coletora caminhamento para reciclagem

113
papel e plástico de lixo
Tipo R: impacto que ocorre ordinariamente – Real;
Leitura Tipo P: impacto que pode ocorrer – Potencial;
A engenheira química
S: grau de Severidade, variando de 1 a 3;
Laís Aguiar elaborou um O: taxa de Ocorrência, variando de 1 a 3;
estudo que expõe a técni- D: taxa de Detecção, variando de 1 a 3;
ca HAZOP, aplicando-a A: grau de Abrangência do impacto, variando de 1 a 3;
em um caso de descar- R: gradação do Risco, variando de 1 a 81.
regamento de ácido
Fonte: Rabelo, Silva e Peres, 2014, p. 6
sulfúrico. Ela também faz
o mesmo processo com Assim, temos o impacto real “contaminação da água” como o risco
a técnica APR (ou APP).
O documento demons- crítico evidenciado na análise exemplificada, especialmente pela se-
tra o processo de cada veridade apresentada. Já o impacto real “contaminação do solo”, por
análise de risco, com es-
quemas, roteiros e fluxos. ter uma detecção visual (fator 1) e uma severidade moderada (fator 2),
Tabelas bem elaboradas apresenta-se como um risco de menor grau, quando comparado com
ilustram os resultados e
um quadro comparativo os outros. No exemplo citado, pode-se procurar reduzir todos os fato-
entre as duas técnicas é res 3 para 2 como tentativa de mitigação de riscos, aperfeiçoando for-
exposto. A leitura vale a
pena porque demonstra mas mais fáceis de detecção e modos de redução da severidade e/ou
que a combinação de diminuindo a taxa de ocorrência. Logicamente, nem sempre é adequa-
técnicas é bem favorável
para uma análise de risco do ou possível atuar em um único fator.
mais segura, completa
e efetiva. Observa-se que o FMEA permite uma ampla discussão dos resul-

Disponível em: http://


tados. São diversas variáveis e números que podem ser trabalhados
files.visaosegura.webnode. de diferentes formas. Esse processo de selecionar variáveis e formas de
com/200000056-584dc5947a/
APP_e_HAZOP.pdf. Acesso em: 8
mudar valores de variáveis providencia ao empreendedor mais possibi-
maio 2020. lidades de lidar com o risco e sua mitigação. Por isso, o FMEA pode ser
uma oportunidade para a revisão e o aprimoramento do tratamento de
riscos em uma atividade produtiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É muito importante que se entenda que este capítulo não esgota as
possibilidades de análise de risco. Aqui, foram tratadas apenas quatro das
técnicas existentes, mas existem muitas outras, como: análise de árvo-
re de falhas; árvore de causas e efeito; análise de incidentes; técnica do
incidente crítico; análise de árvore de eventos; análise de causa e efeito;
análise de consequências.
É necessário possuir habilitação, usualmente uma especialização em
Segurança do Trabalho, para executar análises de risco de maneira formal
e oficial, para atender às prescrições das NR. Entretanto, é recomenda-
do que avaliações de riscos sejam conduzidas diariamente pelas diversas
pessoas em suas rotinas ordinárias. Apesar de o conteúdo aqui disposto
não ser uma capacitação plena para a execução de técnicas de análise de
risco demandadas pelas NR, toda análise de risco é bem-vinda, ainda mais
se realizada com o embasamento técnico existente neste capítulo.

114 Análise e gerenciamento de risco


ATIVIDADES
1. Um determinado empregador realiza atividades de conservação
predial. Entre seus serviços, ele realiza limpeza de fachada (ou seja,
trabalho em altura). A execução da análise de risco foi repassada à
CIPA. Explique se a situação relatada foi adequada ou não.

2. Considerando a Atividade 1, após a execução de uma análise de


risco formal, registrou-se um acidente na desmontagem do aparato
de trabalho em altura. Na investigação do acidente, observou-se que
foi realizada uma APR para a montagem do aparato e um checklist
para a execução da atividade. Entretanto, não havia especificações
escritas e formais para o processo de desmontagem. Discorra sobre
alguns fatores que podem estar envolvidos nesse acidente e medidas
preventivas que poderiam favorecer a segurança da operação de
desmontagem.

3. Na mesma empresa de limpeza e conservação predial das Atividades


1 e 2, o empregador, preocupado com as consequências do acidente,
deseja uma análise de risco de todos os processos, atividades e
operações desenvolvidos na empresa, mesmo aqueles que não são
realizados em altura. Ele apresentou uma demanda específica para essa
análise de risco: deseja categorizar os riscos em uma hierarquia, para
conhecer aqueles que mais têm potencial danoso, de modo a priorizar
a mitigação do risco mais grave até o tratamento do risco menos grave.
Ele deseja, ainda, que sejam estudados aspectos como potencial de
impacto, formas de detecção e probabilidade de ocorrência de cada
risco. Qual seria a técnica indicada, entre as estudadas neste capítulo,
para essa demanda?

REFERÊNCIAS
AGUIAR, L. A. Metodologias de análise de riscos APP & HAZOP. Rio de Janeiro, 2008. Disponível em:
http://files.visaosegura.webnode.com/200000056-584dc5947a/APP_e_HAZOP.pdf. Acesso
em: 23 abr. 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-10: Segurança em
Instalações e Serviços em Eletricidade. Brasília, DF: MTE, 2019a. Disponível em: https://enit.
trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-10.pdf. Acesso em: 23 abr. 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-12: Segurança no
Trabalho em Máquinas e Equipamentos. Brasília, DF: MTE, 2019b. Disponível em: https://enit.
trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-12.pdf. Acesso em: 23 abr. 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-18: Condições
de segurança e saúde no trabalho na indústria da construção. Brasília: MTE, 2020.
Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-18-
atualizada-2020.pdf. Acesso em: 23 abr. 2020.

Análise de risco 115


BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-20: Segurança e
Saúde no Trabalho com Inflamáveis e Combustíveis. Brasília, DF: MTE, 2019c. Disponível em:
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116 Análise e gerenciamento de risco


5
Medidas de controle
Não há como descrever tratamentos de risco em um único
material. Seria como elaborar um documento para tratamento
de todas as doenças existentes no mundo. Além disso, não há
como tratar doenças sem um profissional de saúde capacitado.
Por exemplo, um clínico geral não é adequado para lidar com
uma doença genética; assim também é no tratamento e mitiga-
ção de riscos. Sempre será necessário consultar um profissional
habilitado, mas nem sempre isso será suficiente. Em alguns casos,
demanda-se alguém especializado e com experiência em determi-
nado risco.
Não é possível esgotar o assunto em tão poucas páginas, con-
siderando que cada risco demanda um tratamento e estudo es-
pecífico. Por isso, este capítulo focará em técnicas de mitigação e
tratamento de riscos, os quais são diversos e de diferentes natu-
rezas, apresentando prescrições mais abrangentes e de caráter
­geral. A ideia, aqui, é apresentar o processo de tratamento de risco,
ilustrando algumas possibilidades e possíveis soluções para alguns
exemplos de risco. Importa reforçar que, para um tratamento de
risco oficial, é necessária a atuação formal de um profissional habi-
litado e especializado.

5.1 Inspeções, vistorias e perícias de risco


Vídeo Para tratar corretamente o risco, é necessário saber seu tamanho
real. Nesse sentido, inspeções, vistorias e perícias são procedimentos
válidos para conhecer o tamanho dos riscos. Tudo isso contribui para o
dimensionamento e tratamento do risco, e, por vezes, os termos con-
fundem-se, mas diferenças entre eles podem ser apontadas.

A inspeção é um procedimento mais pontual, é o ato de examinar


algo com uma abordagem específica e bem delimitada. Há diversos

Medidas de controle 117


conceitos e ideias envolvidos na inspeção, que pode ser de vários tipos
e ter diferentes profundidades. Por exemplo, em uma simples consul-
ta, podem-se encontrar 244 citações de inspeção somente nos nomes
das Normas Brasileiras (NBR) da ABNT. O projeto da NBR 16747 (Inspe-
ção predial – diretrizes, conceitos, terminologia, requisitos e procedimento)
traz a seguinte definição de inspeção, voltada à inspeção predial:
Processo de avaliação predominantemente sensorial das condi-
ções técnicas, de uso, operação, manutenção e funcionalidade
da edificação e de seus sistemas e subsistemas construtivos, em
um dado momento de sua vida útil (na data da vistoria), conside-
rados os requisitos dos usuários. (ABNT, 2018a, p. 5)

As inspeções podem: ter caráter geral, sendo executadas por ope-


radores de maneira ordinária em sua rotina de trabalho ou pela CIPA,
por exemplo; ser inspeções de rotina, feitas por encarregados; ser
inspeções oficiais, como as realizadas por equipes especializadas de
manutenção; ser inspeções especiais, executadas por fiscalizações,
companhias de seguro ou inspeções de processo de certificação. A se-
guir, pode-se observar um exemplo de inspeção.

Quadro 1
Exemplo de inspeção rotineira para operador de empilhadeiras
Item Discriminação Sim Não

1 O sistema de ignição está em ordem?

2 O óleo do cárter e o do hidráulico estão no nível?

3 O farol de segurança está funcionando?

4 A água da bateria e do radiador estão no nível?

5 Os freios estão funcionando bem?

6 A direção está boa?

7 A torre está operando normalmente?

8 A embreagem e o câmbio estão em boas condições?

9 Há vazamento no radiador?

10 Parou por falta de gás? (botijão cheio)

11 Há vazamento de gás?

12 A bandeja está limpa?

13 O estofamento está em boas condições?

14 Os pneus estão calibrados?

15 A pintura está em ordem?

Fonte: Campos; Tavares; Lima, 2006, p. 353.

118 Análise e gerenciamento de risco


A inspeção envolve as palavras verificações, procedimentos, análise,
checagem e exame. As pessoas podem possuir uma concepção de inspe-
ção já bem formada e, por isso, talvez seja importante ir além e destacar
o que ela pode proporcionar na Segurança do Trabalho. Por ser uma
medida de cuidado, além de identificar riscos, a inspeção avalia a confor-
midade de uma peça, um equipamento, um procedimento ou uma ope-
ração, levantando fatores de riscos facilmente identificáveis e evitando
que eles ocorram.

A permissão de trabalho (PT), apesar de não ser somente uma ins-


peção, apresenta procedimentos que ilustram a ideia de uma. Ela é um
documento que autoriza ao seu portador a execução de uma tarefa ou
de um procedimento durante determinado tempo. É elaborada em duas
vias, uma para ser portada pelo executor e outra para ser arquivada.
A PT aponta etapas e contém instruções e medidas para trabalhos que
oferecem riscos. Embora não tenha um modelo normalizado, a exigência Saiba mais
de PT para alguns tipos de trabalho está prevista em diversas Normas É possível verificar um
Regulamentadoras (NRs). Segundo Camisassa (2015, p. 614-615), exemplo de permissão de
trabalho (PT) no Anexo 4
a permissão de trabalho é um documento escrito que contém do Procedimento de SMS
o conjunto de medidas de segurança e controle visando a exe- (Saúde, Meio Ambiente e
Segurança) da Compa-
cução de trabalho seguro. Em geral, contém também medidas
nhia Paranaense de Gás
de emergência e resgate. [...] Também devem ser precedidas de (COMPAGAS). Nele, há
permissão de trabalho as atividades envolvendo o uso de equi- um checklist de verificação
de segurança e informa-
pamentos que possam gerar chamas, calor ou centelhas, nas
ções para processos de
áreas sujeitas à existência de atmosferas inflamáveis. fiscalização.

As NR preveem que alguns tipos de tarefa ou trabalho somente po- Disponível em: http://licitacoes.
compagas.com.br/edital.php?i-
dem ser executados após autorização manifestada por meio da PT. Al- d=7376&idev=945&show=lc.
guns exemplos são citados a seguir. Acesso em: 18 maio 2020.

NR 18 – Condições de segurança e saúde no trabalho na in-


dústria da construção
18.4.6.2 As tarefas envolvendo soluções alternativas
somente devem ser iniciadas com autorização especial,
precedida de análise de risco e permissão de traba-
lho, que contemple os treinamentos, os procedimentos
operacionais, os materiais, as ferramentas e outros dis-
positivos necessários à execução segura da tarefa.
[...]
18.10.1.19 Deve ser elaborada análise de risco específi-
ca para movimentação de cargas não rotineiras, com a
respectiva permissão de trabalho.
[...]

Medidas de controle 119


18.10.1.34 [...]
a) o trabalho sob condições de ventos com velocidade
acima de 42 km/h (quarenta e dois quilômetros por
hora) deve ser precedido de análise de risco específica e
autorizado mediante permissão de trabalho. (BRASIL,
2020, p. 3, 23 e 26, grifos nossos)
NR 35 – Trabalho em Altura
35.2.1 Cabe ao empregador:
[...]
b) assegurar a realização da Análise de Risco – AR e,
quando aplicável, a emissão da Permissão de Traba-
lho – PT;
[...]
35.4.8 A Permissão de Trabalho deve ser emitida,
aprovada pelo responsável pela autorização da permis-
são, disponibilizada no local de execução da atividade e,
ao final, encerrada e arquivada de forma a permitir sua
rastreabilidade.
35.4.8.1 A Permissão de Trabalho deve conter:
a) os requisitos mínimos a serem atendidos para a exe-
cução dos trabalhos;
b) as disposições e medidas estabelecidas na Análise de
Risco;
c) a relação de todos os envolvidos e suas autorizações.
35.4.8.2 A Permissão de Trabalho deve ter validade
limitada à duração da atividade, restrita ao turno de
trabalho, podendo ser revalidada pelo responsável pela
aprovação nas situações em que não ocorram mudan-
ças nas condições estabelecidas ou na equipe de traba-
lho. (BRASIL, 2019d, p. 1 e 5, grifos nossos)

Por meio de ações de inspeção, são produzidos checklists de confor-


midade, fomentados planos de manutenção e providas informações
para processos de auditoria e fiscalização. Por exemplo, em determi-
nada avaliação de um acidente, pode-se verificar se a inspeção prévia
para a execução da tarefa foi cumprida ou não.

As inspeções são a primeira medida de controle de risco, pois per-


mitem identificar a manifestação prévia de riscos mais visíveis, preve-
nindo sua materialização. Outra diligência de controle é a vistoria. Ela
vai além do estado aparente e visual, podendo demandar instrumentos
de medição apurados. A vistoria é composta de exames externos e in-
ternos, ensaios (como medições de parâmetros, verificação de aciona-

120 Análise e gerenciamento de risco


mento/desligamento e simulações de falha) e testes (hidrostático, de
pressurização ou de estanqueidade, por exemplo).

A Resolução n. 345, de 27 de julho de 1990, apresenta uma impor-


tante definição de vistoria, que mostra que ela também é um exame,
porém mais cuidado e criterioso (em comparação com a inspeção),
com a descrição de fatos e aspectos. Segundo essa resolução, a vistoria
“é a constatação de um fato, mediante exame circunstanciado e descri-
ção minunciosa (sic) dos elementos que o constituem, sem a indagação
das causas que o motivaram” (CONFEA, 1990, p. 1).

De maneira geral, as vistorias podem produzir relatórios ou parece-


res técnicos. Entre eles, o relatório é o produto mais simples de uma
vistoria, e seus termos contêm a descrição objetiva e direta do que se
vistoriou – um simples relatório fotográfico, por exemplo. Elas também
podem gerar um parecer técnico, sendo que, nesse caso, há mais da-
dos do que em um relatório descritivo. Usualmente, no parecer, há a
exposição de referências normativas para fundamentação técnica ou
científica, emite-se uma opinião técnica e/ou propõe-se um resultado
da vistoria. Pode-se afirmar, de modo geral, que a vistoria visa da si-
tuação presente à futura, sem focar muito nos aspectos passados de
determinado equipamento, instalação, produto ou procedimento.

No mínimo, um relatório deve ser produzido como produto da vis-


toria, diferentemente das inspeções, que nem sempre refletem a ela-
boração de algum documento. Outra diferença é que a vistoria tem um
caráter mais minucioso do que a inspeção. Além disso, ela geralmen-
te tem um objetivo definido, como atestar parâmetros e condições de
segurança.

A seguir, são apresentados alguns exemplos de prescrições de vis-


toria previstas na NR 29 (Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde
no Trabalho Portuário).

29.3.5.10 Os equipamentos terrestres de guindar e os


acessórios neles utilizados para içamento de cargas
devem ser periodicamente vistoriados e testados
por pessoa física ou jurídica devidamente registrada no
Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agro-
nomia – CREA.
29.3.5.10.1 A vistoria deve ser efetuada pelo menos
uma vez a cada doze meses.

Medidas de controle 121


29.3.5.11 A vistoria realizada por Sociedade Classifi-
cadora, que atestar o bom estado de conservação
e funcionamento dos equipamentos de guindar e
acessórios do navio, deve ser comprovada através de
certificado que será exibido pelo comandante da em-
barcação. (BRASIL, 2014, p. 15-16, grifos nossos)

Por fim, pode-se chegar a um procedimento mais aprimorado e for-


mal que a inspeção e a vistoria: a perícia. Além de conter todos os
aspectos das outras diligências, ela mede o desempenho, apura causas
e avalia impactos e consequências. Por isso, a perícia também se volta
a fatos passados e, além disso, não faz apenas uma verificação visual,
mas também inclui ouvir pessoas e verificar documentos relacionados
a determinado equipamento, instalação, produto ou procedimento pe-
riciado. Relatórios anteriores e prontuários de equipamentos também
podem subsidiar informações para perícias.

A Resolução n. 345 (CONFEA, 1990, p. 1) também traz uma definição


para perícia e laudo:

Gazlast/Art work/Shutterstock
Laudo é a peça na qual o perito,
Perícia é a atividade que envolve a
profissional habilitado, relata o que
apuração das causas que motivaram
observou e dá as suas conclusões ou
determinado evento ou da asserção
avalia o valor de coisas ou direitos,
de direitos.
fundamentadamente.

Portanto, o produto da perícia é o laudo. A perícia também pode


envolver a indicação de recomendações e soluções, bem como apon-
tar uma avaliação qualitativa (por exemplo, atestar uma condição míni-
ma de segurança) ou quantitativa (como apontar um valor numérico).
Assim, o laudo, diferentemente de um relatório ou parecer técnico,
identifica causas (anomalias, falhas ou manifestações patológicas) e/ou
atribui um valor ou grau de avaliação.

As perícias podem, também, avaliar a hostilidade de um ambiente de


trabalho, atribuindo-lhe o caráter de insalubridade a fim de, preferen-
cialmente, eliminar o agente insalubre (perigo). Caso não seja possível,
podem recomendar o uso de equipamento de proteção coletiva (EPC) ou
individual (EPI) – em último caso e na impossibilidade do uso de EPC. É

122 Análise e gerenciamento de risco


importante destacar que toda perícia – incluindo medição – de agentes
perigosos (como ruídos, gases ou temperatura) deve ser executada por
profissional habilitado e de maneira formal, em um procedimento próprio
especificado em normas e com instrumentos de medição calibrados.

Cabe ressaltar, ainda, que adotar EPI como medida primária de pro- Saiba mais
teção significa atestar que o perigo não foi eliminado, nem a exposição A NR 29 apresenta, ainda,
a prescrição de uma
de uma determinada população foi mitigada. Portanto, decide-se expor avaliação anual visando
o trabalhador a um ambiente inseguro e obrigá-lo a se proteger indi- à análise, para fins de
segurança, de um equipa-
vidualmente. Além disso, o EPI protege o trabalhador apenas se este mento ou instalação.
tomar a conduta de usá-lo corretamente. 29.3.8.6 A moega ou funil utilizado
no descarregamento de granéis
Assim, pode-se perceber que os procedimentos inspeção, vistoria ou sólidos deve ser vistoriado
perícia são formas diferentes de identificar riscos e proporcionar medi- anualmente, devendo o
responsável técnico emitir um
das de controle, pois podem prevenir e barrar a sua manifestação. Por laudo, acompanhado da respectiva
exemplo, se a inspeção detectar uma anomalia de menor dimensão Anotação de Responsabilidade Téc-
nica no CREA, que comprove que
em um equipamento, ele pode ser substituído para que o risco não a estrutura está em condições
ocorra; ou, caso uma vistoria aponte alguma irregularidade grave, uma operacionais para suportar as
tensões de sua capacidade máxima
instalação pode ser interditada pelo próprio empregador, impedindo a de carga de trabalho seguro,
materialização do risco; ainda, as perícias podem isolar ambientes para de acordo com seu projeto
construtivo. (BRASIL, 2014, p. 20,
que ali seja proibido o trânsito ou a permanência de pessoas. Cabe grifos nossos)
ressaltar que o objetivo da execução de cada procedimento deve ser
observado de maneira correta.

5.2 Mitigação e intervenção no risco


Vídeo Esta seção dedica-se a ilustrar equipamentos, produtos e instalações
para mitigar e tratar riscos. Inicialmente, é importante observar que po-
deria ser elaborado um livro diferente para cada risco ou cada medida
de controle de risco. Escrever um livro que abordasse todos os riscos
ou medidas seria como escrever um único livro para todas as doenças
e seus respectivos tratamentos – o que não é viável. Além disso, cada
risco demanda um tipo específico de avaliação e de medidas.

Como não é possível falar de todos os riscos e suas respectivas mi-


tigações, esta seção poderia abordar aqueles derivados dos acidentes
que ocorrem com maior frequência, registrados no Anuário Estatístico
de Acidentes do Trabalho (AEAT) de 2017.

Medidas de controle 123


Tabela 1
Número de acidentes de trabalho por Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE)

CNAE Descriminação da atividade 2015 2016 2017


8610 Atividades de atendimento hospitalar 57.198 55.870 53.524
Ignorado Atividades não listadas 52.280 49.063 43.794
4711 Comércio varejista não especializado 21.261 21.614 21.332
8411 Administração do estado e da política econômica e social 17.134 16.629 16.917
5310 Atividades de correio 15.425 14.738 12.580
4120 Construção de edifícios 15.075 11.917 9.178
4930 Transporte rodoviário de carga 13.814 13.135 12.729
1012 Abate e fabricação de produtos de carne 10.419 9.797 10.492

Fonte: Elaborada com base em Brasil, 2017, p. 15-24.

É necessário fazer algumas considerações para a correta interpre-


tação desses dados. Por exemplo, o número de acidentes pode ser di-
retamente proporcional às atividades econômicas que mais empregam
(em quantidade de trabalhadores). Outra possível interpretação direta
pode ser que atividades hospitalares representam um número mais re-
levante em quantidade de acidentes de trabalho. A Tabela 1 demonstra
a quantidade absoluta de acidentes de trabalho por atividade. Às vezes,
o mesmo acidente, derivado de um mesmo risco e tendo um determi-
nado impacto, repete-se em diferentes atividades.

Pode-se, também, listar os impactos no corpo humano mais recor-


rentes derivados de acidentes de trabalho (Tabela 2).
Tabela 2
Acidentes de trabalho de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), em 2017

QUANTIDADE DE ACIDENTES DO TRABALHO


Com CAT Registrada
CID 10 Motivo
Sem CAT
Total Doença
Total registrada
Típico Trajeto do
Trabalho
Total 549.405 450.614 340.229 100.685 9.700 98.791

S61 - Ferim do punho e da mão 52.172 50.461 49.005 1.403 53 1.711

S62 - Frat ao nível do punho e da mão 34.526 27.589 22.428 5.093 68 6.937

S93 - Luxac entors distens artic lig niv tornoz pé 25.327 23.595 16.110 7.437 48 1.732

S60 - Traum superf do punho e da mão 24.143 23.567 20.594 2.933 40 576

M54 - Dorsalgia 20.599 9.820 7.676 1.553 591 10.779

(Continua)

124 Análise e gerenciamento de risco


QUANTIDADE DE ACIDENTES DO TRABALHO
Com CAT Registrada
CID 10 Motivo Sem CAT
Total ­Doença registrada
Total
Típico Trajeto do
­Trabalho
S82 - Frat da perna incl tornozelo 19.648 13.852 5.985 7.832 35 5.796

S92 - Frat do pé 17.938 13.850 9.238 4.563 49 4.088

S80 - Traum superf da perna 15.633 15.025 9.068 5.932 25 608

S52 - Frat do antebraço 14.965 10.940 6.075 4.830 35 4.025

Z20 - Contato exposição a doenc transmissíveis 14.155 14.145 13.969 25 151 10

S90 - Traum superf do tornozelo e do pé 13.865 13.410 10.202 3.192 16 455

M75 - Lesões do ombro 12.834 3.453 1.246 338 1.869 9.381

S42 - Frat do ombro e do braço 10.295 7.550 2.576 4.956 18 2.745

S01 - Ferim da cabeça 9.846 9.755 8.810 928 17 91

T14 - Traum de região NE do corpo 9.715 9.585 6.710 2.858 17 130

F43 - Reações ao stress grave e transt adap-


9.767 7.266 6.393 382 491 2.501
tação

Fonte: Adaptada de Brasil, 2017, p. 536.

Percebe-se que ferimentos, fraturas e traumas no punho e na mão são


Saiba mais
os impactos mais frequentes. Em uma leitura rápida, nota-se que agra-
Diante de tantas opções
vos nos membros superiores e inferiores também são recorrentes. Além de medida de controle
que podem ser estuda-
disso, destacam-se os impactos do estresse como acidentes do trabalho.
das com mais detalhes,
Uma terceira análise seria ainda mais interessante: qual é a causa o Ministério do Trabalho
e Emprego (MTE), por
mais comum dos acidentes de trabalho? Apesar de existirem gráficos, meio da Fundacentro,
históricos e registros, há certa dificuldade em se hierarquizar as causas elaborou uma série de
materiais educativos
mais comuns. Por exemplo, na ocorrência de um trabalhador que cai chamada Recomendação
da escada, a causa seria falta de EPI, de EPC, de análise de risco, de Técnica de Procedimento,
para educação técnica e
organização do sistema de trabalho ou de todas as opções? Conforme orientação na prevenção
argumentado anteriormente, todo acidente tem diversas causas, então e tratamento de deter-
minados riscos. Nesse
todos os aspectos podem ser considerados. Assim, não é uma tarefa material, são estudadas e
tão simples classificar causas de acidente de trabalho. ilustradas as medidas de
controle de alguns riscos,
Nesse sentido, busca-se, aqui, demonstrar especialmente as como queda e instalações
elétricas.
possibilidades de eliminação da ameaça/perigo e o afastamento da
Disponível em: http://www.funda-
­vulnerabilidade (reduzir exposição e impacto do perigo), de acordo centro.gov.br/biblioteca/recomen-
com hierarquia das medidas de controle de risco. Evita-se dar destaque dacao-tecnica-de-procedimento.
Acesso em: 18 maio 2020.
ao EPI, tendo em vista que ele deve ser a última proposta de solução.

Medidas de controle 125


Figura 1
Hierarquia de medidas no controle de riscos

Não Proteger
Não Prevenir
Eliminar Sim
Sim

Fonte: Rocha; Pampalon, 2018, p. 13.

Algumas medidas de controle de risco são apresentadas a partir


dessa hierarquia. Foca-se especialmente na eliminação do perigo, no
afastamento da vulnerabilidade ou na diminuição do impacto negativo.
Caso a eliminação não seja possível, parte-se para a prevenção e, en-
tão, para a proteção.

Queda

O primeiro perigo a ser ilustrado é o trabalho em altura. A situação


ideal para eliminar o risco seria não existir esse tipo de trabalho, no
entanto nem sempre isso é possível. Então, há algumas medidas para
impedir que o trabalhador se aproxime do perigo.

Frequentemente, pensa-se que a segurança envolve grandes e dis-


pendiosas medidas, mas isso nem sempre é verdade. Porém, ações sim-
ples também podem não resolver todos os casos. Por exemplo, para
impedir choques mecânicos contra escadas temporariamente instala-
das, pode-se adotar sinalização, o que não impedirá esse tipo de aci-
dente. Uma medida mais completa seria a colocação de barreiras, que,
além de sinalizar, sofrerão o primeiro choque contra objetos e veículos,
evitando melhor a colisão de objetos e veículos contra as escadas.

Figura 2a
Instalação de barreiras para prevenir
choques contra escadas instaladas
Figura 2b
Ihar Krents/Shutterstock

A falta de barreiras pode ocasionar acidentes


Daisy Daisy/Shutterstock

126 Análise e gerenciamento de risco


Outra situação de acidente muito comum envolvendo a escada diz
respeito a modos de descolamento indesejado da sua base: ela pode
cair devido ao peso de um operador, pode haver má instalação,
excesso de angulação no posicionamento da escada, entre outros fato-
res. Uma forma de impedir o deslocamento é fixar adequadamente a
base, como na Figura 3a.

Figura 3a Figura 3b
Exemplo correto de fixação da base da Exemplo incorreto de fixação da base e
escada da parte superior da escada

Jacqui Martin/Shutterstock

Dirk Ott/Shutterstock
A altura é um perigo e, às vezes, ela não pode ser eliminada. Con-
tudo, o trabalhador pode estar sujeito à altura, mas não deve estar
exposto à queda. Essa não é uma escolha do trabalhador. Por falta de
atenção ou problema de saúde (até mesmo a má alimentação), o em-
pregado pode se colocar em situação de queda sem querer. Por isso,
é sempre necessário protegê-lo contra essa situação, tendo em mente
que, às vezes, nem ele mesmo pode impedir sua desatenção. Nesse
sentido, há diversas soluções. Um exemplo de medida que previne 1
quedas involuntárias é o guarda-corpo , uma barreira de proteção
1
Usualmente, em obras, o guar-
formada por um painel ou placas e que impede quedas. Ele deve ser da-corpo é citado como sistema
guarda-corpo-rodapé (GCR).
corretamente dimensionado e executado em um canteiro de obra, con-
forme prescrições das NR, em especial a NR 18.

Figura 4a Figura 4b
Exemplo de guarda-corpo metálico Prescrições normativas do sistema guarda-corpo-rodapé (GCR)
Travessão superior
mujijoa79/Shutterstock

IESDE

Travessão intermediário
Montante

1,20 m
0,70 m
0,20 m

1,50 m
Rodapé 0,20 m
Distância Máxima

Medidas de controle 127


A função essencial do GCR é impedir que o trabalhador se colo-
que em zona de vulnerabilidade de queda. No modelo apresentado
(­Figura 4b), o sistema possui uma travessa inferior que funciona como
rodapé para impedir que o pé de apoio do trabalhador pise fora de
plataformas, evitando desequilíbrios, torções e quedas, por exemplo. A
situação de risco pode tornar-se pior caso um GCR seja instalado sem
a proteção adequada, pois, nesse caso, o trabalhador pode acabar con-
fiando e buscando proteção em uma barreira insegura. Além disso, o
GCR deve possuir resistência mecânica suficiente e o número míni-
mo de travessas ou um painel fechado.

Figura 5a Figura 5b
Exemplo correto de guarda-corpo- Ausência de guarda-corpo-rodapé de escada
-rodapé de escada em obras em obras (exemplo incorreto).

Rainer Bokelmann/Shutterstock

Marusoi/Shutterstock
Pode-se discorrer sobre a proteção contra quedas por diversas pá-
ginas. É importante sempre considerar os perigos envolvidos das ativi-
dades produtivas. Além disso, deve-se pensar em quem está exposto
a esse risco. Observa-se que o objetivo é eliminar o perigo. Não sendo
possível fazê-lo, considera-se um modo de prevenir a exposição. A ideia
aqui é expor essa forma de pensar na mitigação de risco: planeja-se al-
guma medida de proteção cuja aplicação não dependa da escolha do
trabalhador ou que não seja possível usar inadequadamente. A seguir,
será apresentado outro risco muito comum: as descargas elétricas.

Descarga elétrica

Glossário O para-raios, ou SPDA, é um exemplo de proteção coletiva sobre

SPDA: sistemas de proteção a qual o trabalhador não tem opção de escolha de uso. Nesse caso, o
contra descargas atmosféricas. perigo é uma descarga elétrica indesejada que não pode ser evitada,
pois trata-se de um fenômeno da natureza. O foco, então, é impedir
a exposição de pessoas e animais a esse perigo. A forma de fazer isso

128 Análise e gerenciamento de risco


é captá-la propositalmente e conduzi-la ao solo de maneira segura. A
proteção, nesse caso, passa até despercebida pelas pessoas que even-
tualmente estariam expostas ao perigo da corrente elétrica da descar-
ga atmosférica.

Correntes elétricas indesejadas são um perigo frequente. Nesse


caso, o perigo ou a ameaça são bem identificados. Inicialmente,
pode-se focar em eliminar a ameaça de correntes elétricas indesejadas
não permitindo sua existência ou deslocando-as para um local seguro,
longe de animais ou humanos. Um exemplo de medida de controle de
simples execução, executada por profissional habilitado e que funciona
da maneira citada, é o aterramento. Esse também pode ser conside-
rado um EPC, pois não depende da escolha ou da utilização correta por
um operador, ao contrário do EPI. O aterramento permite eliminar o
perigo, isto é, a corrente elétrica, bem como previne a vulnerabilidade
– por vezes, a corrente indesejada pode existir, mas o trabalhador não
estará vulnerável a ela. As figuras a seguir ilustram partes de um siste-
ma de aterramento.

Figura 6a Figura 6b Figura 6c


Conexão de eletrodo de aterramento Fiação de aterramento Eletrodo de aterramento

Adaptada de DarkWeapon/Shutterstock
Adaptada de rumruay/Shutterstock

Wichien Tepsuttinun/Shutterstock

Conexão do Fiação de
eletrodo de aterramento
aterramento

Eletrodo de
aterramento

Nem sempre é possível impedir a existência da ameaça, então


­volta-se para impedir a vulnerabilidade. Separar pessoas de perigos é
uma das estratégias primárias. Uma solução simples quando bem exe-
cutada e que, por vezes, é ignorada ou negligenciada é o isolamento.
Como o nome diz, o procedimento visa separar o perigo de pessoas.
Quando correto, o isolamento elétrico possui uma emenda bem feita e
devidamente isolada com fita isolante ou outra medida. Emendas ex-
postas, não isoladas ou isoladas inadequadamente são fontes primá-
rias de descargas elétricas (choques) e curtos-circuitos.

Medidas de controle 129


Figura 7a Figura 7b
Exemplo correto de emendas e isolamento elétrico Exemplo incorreto de emendas e isolamento
elétrico

Flegere/Shutterstock

CaseyFotos/Shutterstock
Medidas de proteção bem pensadas e projetadas impedem a con-
cretização do perigo, mesmo quando ele é concretizado de modo pro-
posital e inadequado. O trabalhador, às vezes, deseja o resultado de
uma ação, mas não conhece os riscos envolvidos na sua conduta. Por
isso, a medida de proteção deve também pensar em protegê-lo de
ações deliberadas e intencionais de operação que gerem riscos. Exem-
plo disso são os dispositivos de bloqueio de disjuntores elétricos,
que impedem o acionamento indesejado de circuitos elétricos em uma
operação de manutenção.

Figura 8a Figura 8b
Travamento contra acionamento inadequado de Religação inadequada de circuito
circuito elétrico ­durante manutenção
theDirector Alan James Ager/Shutterstock

Francescomoufotografo/Sutiwat Jutiamornloes/Shutterstock

Foi apresentado apenas um pequeno número de exemplos de dois


riscos: quedas e descargas elétricas. Este livro não tem a intenção de
esgotar quaisquer medidas de controle de risco, mas sim de demons-

130 Análise e gerenciamento de risco


trar pensamentos, estratégias e opções de mitigação de risco, além do
EPI. Quando se discute segurança e bem-estar no trabalho, não deve
ser o trabalhador aquele a se adaptar ao ambiente de trabalho, mas
sim este a se adaptar para oferecer segurança ao trabalhador. Por fim,
é muito importante que qualquer medida de proteção a riscos seja
formalmente dimensionada por meio de um projeto e executada con-
forme instruções técnicas, sob responsabilidade de um profissional es-
pecializado e habilitado.

5.3 Sinalização de segurança


Vídeo Uma medida importante para a Segurança do Trabalho é a sinalização.
A sinalização de segurança, seja em um produto, equipamento ou instala-
ção, previne diversos riscos, buscando evitar que o trabalhador passe por
uma exposição desnecessária ou insegura. Essa não é uma atividade alea-
tória, portanto há regras para sua instalação e uso, 2
que deve seguir as prescrições de normas.
O Decreto n. 10.088 (BRASIL,
2
O Decreto n. 10.088 , de 5 de novembro de 2019a) “consolida atos
­normativos editados pelo
2019, afirma que as “convenções anexas a este De-
Poder Executivo Federal que
creto serão executadas e cumpridas integralmen- dispõem sobre a promulgação
te em seus termos” (BRASIL, 2019a). Dessa forma, de convenções e recomendações
da Organização Internacional do
transforma em obrigação legal a sinalização de se-
Trabalho - OIT ratificadas pela
gurança. Destacam-se, a seguir, alguns pontos rele- República Federativa do Brasil”.
vantes desse decreto.

Artigo 7
ROTULAÇÃO E MARCAÇÃO
1. Todos os produtos químicos deverão portar uma
marca que permita a sua identificação.
[...]
Artigo 8
FICHAS COM DADOS DE SEGURANÇA
1. Os empregadores que utilizem produtos químicos pe-
rigosos deverão receber fichas com dados de seguran-
ça que contenham informações essenciais detalhadas
sobre a sua identificação, seu fornecedor, a sua classifi-
cação, a sua periculosidade, as medidas de precaução e
os procedimentos de emergência.
[...]

Medidas de controle 131


PARTE IV
RESPONSABILIDADE DOS EMPREGADORES
Artigo 10
IDENTIFICAÇÃO
1. Os empregadores deverão assegurar-se de que todos
os produtos químicos utilizados no trabalho estejam
etiquetados ou marcados, de acordo com o previsto no
Livro Artigo 7, e de que as fichas com dados de segurança
foram proporcionadas, segundo é previsto no Artigo 8,
O Senai desenvolveu
e publicou o Guia de
e colocadas à disposição dos trabalhadores e de seus
sinalização de segurança representantes. (BRASIL, 2019a)
no trabalho industrial
gráfico. O material é bem
rico e mostra diversas
aplicações e exemplos A principal norma de sinalização de caráter técnico é a NR 26
ilustrados. Recomenda-se ­(Sinalização de Segurança). É uma regulação bem curta, mas com indica-
a leitura para que você
tenha uma noção abran- ções relevantes para uso de sinalização. A norma possui como escopo
gente sobre a sinalização a adoção de cores de segurança para indicação e advertência de riscos,
de segurança.
podendo ser aplicada também para indicar equipamentos, delimitar
AZEVEDO, M. A. do C. de.; MINEIRO,
E. F.; CECÍLIA, L. F. C. S. Brasília: áreas e identificar dutos e instalações hidráulicas ou de gases. Apesar
Senai/DN, 2010. Disponível em: de prescrever determinas ações e providências, a NR 26 não aponta,
https://nstnaweb.files.wordpress.
com/2013/02/guia-de-sinalizac3a- na maioria dos casos, qual regramento utilizar, sendo necessário con-
7c3a3o-industria-grc3a1fica.pdf. sultar e adotar outras normas relacionadas, como as NBRs da ABNT
Acesso em: 18 maio 2020.
(BRASIL, 2015). No quadro a seguir, é possível ver quais são as cores de
segurança indicadas e seus respectivos usos.

Quadro 2
Cores de segurança a serem aplicadas a equipamentos, mensagens, produtos, avisos e instalações.

Cor Exemplo de aplicação

Proibição, parada obrigatória, botões de emergência, mangueira de acetileno em


Vermelho equipamentos de soldagem oxiacetilênica, equipamentos e instalações de seguran-
ça contra incêndio, entre outros.

Perigo, equipamentos de salvamento aquático, partes móveis de máquinas e equi-


Laranja
pamentos, tubulações de produtos químicos não gasosos (ácido), entre outros.

Advertência, faixas e limitações de segurança, letreiros de advertência, cancelas,


Amarelo
tubulações de gases não liquefeitos (GLP), entre outros.

Condição segura, caixas de primeiros socorros, chuveiro de emergência e lava-olhos,


Verde delimitação de área segura, rota de fuga, mangueira de oxigênio em equipamentos
de soldagem oxiacetilênica, tubulações de água (exceto de incêndio), entre outros.

(Continua)

132 Análise e gerenciamento de risco


Cor Exemplo de aplicação

Sinais de ação obrigatória, mensagem de caráter mandatório, uso de EPI, tubulações


Azul
de ar comprimido, entre outros.

Perigo de radiações penetrantes, partículas nucleares, materiais radioativos ou


Roxo
radiações eletromagnéticas, entre outros.

Marcação de espaços para passagem exclusiva de pessoas e marcação de área


Branco em torno de equipamentos de emergência ou primeiros socorros, tubulações com
vapor, entre outros.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em ABNT, 2018b; ABNT, 2019.

A NR 26 (BRASIL, 2015) também prescreve a rotulagem preventiva,


que consiste em informações escritas, impressas ou ilustradas e fixa-
das ou anexadas a um determinado produto químico. Para os produtos
perigosos, deve haver os seguintes elementos:

Identificação e
composição do produto Pictograma(s) de perigo Palavra de advertência
químico Saiba mais
Conforme explicado,
às vezes é necessário
consultar outras leis e
Informações
Frase(s) de perigo Frase(s) de precaução normas para adotar cor-
suplementares
retamente um sistema de
sinalização de segurança.
Seguem alguns exemplos:
A NR 26 não especifica a forma da rotulagem, mas indica como pa- •• Resolução n. 5.232, de 14 de
drão o Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotula- dezembro de 2016: Aprova as
instruções complementares ao
gem de Produtos Químicos (GHS), da Organização das Nações Unidas. regulamento terrestre do trans-
O GHS é um critério mundial de classificação, rotulagem harmonizada porte de produtos perigosos.
•• ABNT NBR ISO 3864-1 –
e ficha de segurança de produtos químicos. De acordo com Camisassa ­Símbolos gráficos: Cores e
(2015, p. 670), o GHS apresenta as seguintes informações: classificação, sinais de segurança; Parte 1:
Princípios de design para sinais
rotulagem e ficha com dados de segurança. e marcações de segurança.
•• ABNT NBR 13434: Sinalização
A Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ) de segurança contra incêndio
é um documento que deve ser elaborado para todos os produtos quí- e pânico.
•• ABNT NBR 14725 – Produtos
micos (perigosos ou não) cujo manuseio ou armazenamento possa ge- químicos: Informações
rar riscos. A responsabilidade pela elaboração da FISPQ é do fabricante sobre segurança, saúde e meio
ambiente.
ou do fornecedor nacional do produto químico.

Medidas de controle 133


Quadro 3
Exemplos de sinalização de segurança

Cor do
Cor de Cor de
Forma geométrica Significado símbolo Exemplo de uso
segurança contraste
gráfico

• Proibido fumar;
• Proibido veículos não
Proibição Vermelho Branco Preto
autorizados;
Círculo com barra • Proibido beber.
diagonal
• Use proteção nos
olhos;
Ação
Azul Branco Branco • Use EPI;
­obrigatória
• Desligue antes do
Círculo início do trabalho.

• Perigo: superfície
quente;
Aviso Amarelo Preto Preto
• Perigo: ácido;
• Perigo: alta voltagem.
Triângulo equilátero
• Condição
segura; • Sala de primeiros
Quadrado Meios de socorros;
Verde Branco Branco
fuga; Equi- • Saída de emergência;
pamento de • Ponto de encontro.
Retângulo
segurança
• Alarme manual de
­Segurança incêndio;
Quadrado
contra Vermelho Branco Branco • Equipamento contra
­incêndio incêndio;
Retângulo
• Extintor de incêndio.

Preto ou a cor • Conforme necessário


Branco ou a Cor do símbo-
Quadrado Informação contrastante para reforçar a men-
cor do sinal de lo do sinal de
complementar com o sinal de sagem fornecida pelo
segurança segurança
segurança símbolo gráfico.
Retângulo

Fonte: Adaptado de ABNT, 2013, p. 4.


A sinalização de segurança é uma medida de controle de risco, es-
pecialmente por identificar e alertar sobre riscos no ambiente de tra-
balho. Sua implementação correta informa sobre a existência de riscos
e previne que o trabalhador ou usuário adote um procedimento inse-
guro ou que gere riscos. Conforme outras medidas, a execução dela
não é aleatória e depende de dimensionamento, projeto e correta ins-
talação, além da atuação de um profissional habilitado e especializado.

134 Análise e gerenciamento de risco


5.4 Manutenção das medidas de controle de risco
Vídeo Pensando em todo o conteúdo visto até aqui, percebe-se que, em
termos gerais, o planejamento é umas das etapas mais relevantes para
mitigação de risco. Logo após, vem a execução das medidas de c­ ontrole
de risco. Por fim, são necessárias a manutenção e a revisão das ­medidas.
Esta seção visa estudar especificamente o processo de manutenção e
apresentar as concepções envolvidas, para que seja possível entender
que essa é uma forma plena de prevenção e tratamento de riscos.
Toda pessoa tem uma ideia de manutenção formada, que pode ser
mais ou menos abrangente. Basicamente, ela está relacionada aos se-
guintes verbos e expressões: tratar, reparar, conservar, fazer funcionar,
recuperar, consertar, reparar, retornar à função original, providenciar
segurança, manter função original, adaptar para funcionar, alterar par-
tes que não funcionam para fazer funcionar um sistema, entre outras.
Algumas vantagens da manutenção de peças, equipamentos, siste-
mas e instalações são:
•• recupera o estado de uso ou de operação;
•• garante bom estado de operação;
•• faz estruturas e componentes retornarem a um ponto anterior
à fragilidade ou à debilitação da sua durabilidade, conforto, apa-
rência, funcionalidade, estética, desempenho ou funcionamento;
•• provê recomposição das partes que não estão funcionando
adequadamente;
•• assegura capacidade plena; Curiosidade
•• preserva características e o desempenho original; Até que ponto a falta de
•• mantém a funcionalidade. manutenção pode influenciar
acidentes? O que seria mais co-
O que deve ficar claro é que a manutenção tam- mum: incêndio em carros devido a
bém garante a segurança dos usuários, mantendo a colisões ou à falta de manutenção
veicular? Segundo o Corpo de
condição segura de funcionamento de uma peça, um Bombeiros Militar do Espírito
equipamento ou uma instalação. É necessário que Santo, a falta de manutenção é a
todo equipamento, instalação ou medida de prote- principal causa dos incêndios nos
veículos (ANDRADE, 2019). Em um
ção passe por manutenção. Além disso, deve ser feito
ambiente de trabalho, o processo
um planejamento da manutenção, que prevê atitu- é semelhante: na ausência de
des a serem tomadas ao longo do tempo, bem como manutenção de equipamentos e
peças a serem substituídas. instalações, as falhas pontuais de
componentes levam a acidentes
O exemplo mais claro de manutenção é a cor- relevantes.
retiva ou reparativa. Esse tipo de manutenção é
realizado após a ocorrência de falha, defeito ou de-

Medidas de controle 135


sempenho insuficiente. Na maior parte das vezes, ele depende da troca
de peça ou componente e demanda interrupção na atividade produti-
va. Essa medida, apesar de necessária, nem sempre é a melhor opção
devido aos seus altos custos e por ser reativa.
Cabe ressaltar que a manutenção não é opção, mas sim uma obri-
gação. Além disso, o empregador deve comprovar o histórico de manu-
tenções realizadas. Com base na NR 12, Camisassa (2015, p. 340, grifos
nossos) apresenta algumas prescrições normativas sobre manutenção
preventiva e corretiva. Destaca-se a obrigatoriedade do registro de ma-
nutenções e de alguns de seus dados.
As máquinas e equipamentos devem ser submetidos a manuten-
ções preventiva e corretiva. A forma dessas manutenções e sua
periodicidade devem ser determinadas pelo fabricante, con-
forme as normas técnicas oficiais nacionais vigentes e, na falta
destas, as normas técnicas internacionais. As manutenções pre-
ventivas que tenham potencial de causar acidentes do trabalho
devem ser objeto de planejamento e gerenciamento efetuado
por profissional legalmente habilitado. A atual redação da NR12
também exige o registro em livro próprio, ficha ou sistema infor-
matizado, das manutenções preventivas e corretivas, deven-
do esse registro conter os seguintes dados:
a. cronograma;
b. intervenções realizadas;
c. data da realização de cada intervenção;
d. serviço realizado;
e. peças reparadas ou substituídas;
f. condições de segurança do equipamento;
g. indicação conclusiva quanto às condições de segurança da
máquina; e
h. nome do responsável pela execução das intervenções.

A segunda possibilidade de manutenção, conforme afirmado por


Camisassa, é a preventiva, também chamada de programada ou pla-
nejada. Como o nome diz, ela cumpre um planejamento de conjunto
de operações e ações executadas de maneira antecipada à falha ou ao
defeito, dentro de um intervalo temporal. Esse tipo de manutenção ge-
ralmente depende de alguma intervenção manual, e nela são inclusos
ensaios, testes, ajustes, calibrações, limpeza, pintura, reconstituição e
substituição de componentes e peças.
Um exemplo simples de manutenção preventiva é a revisão de roti-
na em veículos. Ela apresenta uma série de diligências que um técnico

136 Análise e gerenciamento de risco


deve executar em um veículo, como alguma substituição de peça (troca
de filtro), limpezas, verificações com instrumento (como alinhamento)
e verificações visuais simples.
A manutenção preventiva nem sempre visa a um reparo, às vezes,
apenas evita que ele precise ser realizado. E nem sempre tem como
objetivo o equipamento ou um subsistema em si, mas sim algum com-
ponente acessório vulnerável. A seguir, é possível verificar um exemplo
de manutenção preventiva predial.

Quadro 4
Exemplo de etapa de planejamento da manutenção preventiva predial

Planilha de manutenção predial


Quartel Dia / / 2018 Horário :
Fiscal de quartel que acom- Fiscal de quartel que
panhou acompanhou
Telhado e cobertura
Algum
Limpeza ou rea-
Estrutura Condição da estrutura serviço
perto realizada?
a fazer?
Verificar infiltrações e umidade no teto interno Ambiente com problemas:
Verificar rachaduras e telhas quebradas RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO
Limpar todas as calhas por completo RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO
Verificar a existência de ralo tipo “abacaxi” RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO
Verificar a necessidade de podas de árvores RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO
Verificar limpeza e entupimento da queda vertical RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO
Verificar caixas que recebem água do tubo coletor
RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO
vertical
Verificar estado de rufos e platibandas RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO
Verificar desnivelamento, destacamento e desen-
RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO
caixes de calhas e de rufos
Verificar falhas e descontinuidades na impermea-
RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO
bilização ou nas mantas
Verificar pontos de ferrugem nas estruturas metá-
RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO
licas do telhado
Verificar falta ou mal aperto de parafusos de fixa-
RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO
ção das telhas
Verificar crescimento de espécies vegetais no te-
RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO
lhado, eliminando-as, se houver
Verificar limpeza de filtros e cisternas do sistema
RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO
de reaproveitamento de água
(Continua)

Medidas de controle 137


Pátio, águas pluviais e área verde
Algum
serviço
Limpeza ou rea-
Estrutura Condição da estrutura a fazer?
perto realizada?
Especi-
ficar
Verificar limpeza e entupimento de todas as
RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO
­bocas-de-lobo
Limpar todas as calhas de piso RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO
Verificar se há águas pluviais sendo direcionadas
RUIM MÉDIO BOA SIM NÃO
para a rede de esgoto

Fonte: Elaborado pelo autor.


A manutenção preventiva visa manter as condições de operação
originais de equipamentos e instalações, prevenindo falhas e defeitos
(dentro do planejamento previamente estabelecido). Ela é muito im-
portante e pode apresentar custos menores do que os da manutenção
corretiva. Entretanto, mesmo cumprindo programações de substitui-
ção de peças, pode haver verificações insuficientes, falhas antes do pra-
zo previsto e substituições desnecessárias ou excessivas caso haja um
planejamento inadequado.

A manutenção preventiva também não é opção, e o empregador


pode precisar comprovar o histórico de manutenções realizadas.
­Camisassa (2015, p. 340) faz comentários sobre essa manutenção com
base na versão anterior da NR 18, mas que ainda são válidos:
Programa de Manutenção Preventiva
As empresas usuárias de equipamentos de movimentação e
transporte de materiais e/ou pessoas deverão elaborar “Progra-
ma de Manutenção Preventiva” com base nas recomendações
fornecidas pelo locador, importador ou fabricante. Esse pro-
grama deve prever, por exemplo, os itens a serem verificados
diariamente pelo trabalhador responsável pela operação do
equipamento, bem como procedimento de verificação, confor-
me determina a redação o item 18.14.7. O Programa de Manu-
tenção Preventiva deve ser mantido junto ao Livro de Inspeção
do Equipamento.

Por fim, pode-se citar mais uma classificação de manutenção: a


preditiva. Ela demanda acompanhamento sistemático de peças, equi-
pamentos e instalações. É uma manutenção prospectiva, que visa ao
monitoramento por meios de sondagens contínuas, detalhadas, com
instrumental específico e pessoal especializado.

138 Análise e gerenciamento de risco


Figura 9
Exemplo de diligência em manutenção preventiva predial, com uso de câmera térmica para
verificação de pontos de aquecimento em quadro de distribuição de força (QDF).

Dmitry Kalinovsky/Shutterstock
A manutenção preditiva compõe-se de verificações pontuais que vi-
sam prognosticar potenciais distúrbios. Esses distúrbios representam
despesas adicionais e incidentais de manutenções corretivas. Assim, a
manutenção preditiva se propõe a detectar falhas ocultas e não per-
ceptíveis antes que gerem reparos dispendiosos. Sua execução deman-
da melhor planejamento e instrumental, mas também oferece maior
confiabilidade e, usualmente, é a mais econômica (quando comparada
às manutenções corretiva ou preventiva).

Essa manutenção também tem previsão em algumas NR. Nos comen-


tários à NR 13, Camisassa (2015, p. 364, grifos do original) ­discorre resu-
midamente sobre a diferença entre manutenção preventiva e preditiva:
A manutenção preventiva, também conhecida como Time Based
Maintenance (TBM), é realizada a intervalos predefinidos de
tempo. Essa manutenção tem por objetivo reduzir falhas ou que-
das no desempenho dos equipamentos, mantendo o sistema
em estado operacional ou disponível por meio da prevenção da
ocorrência de falhas.
A manutenção preditiva, também conhecida como Condition Based
Maintenance (CBM), corresponde a um conjunto de atividades perió-
dicas de acompanhamento das condições, variáveis e parâmetros
dos equipamentos (por exemplo, temperatura, vibração, viscosida-
de do óleo), que indicam sua performance ou desempenho, com o
objetivo de definir a necessidade ou não de intervenção.

Medidas de controle 139


É possível exemplificar situações que demonstram manutenção
inadequada: pontos de aquecimento em instalações elétricas, peças
móveis em contato quando não deveriam estar, ruídos não previstos,
desgastes e falhas em tranças de cabos, entre outros. Todas essas si-
tuações, quando mal monitoradas e sem intervenção de manutenção,
conduzem a acidentes. O ideal é que o plano de manutenção seja infor-
matizado por meios de aplicativos e sistemas de registros e controles,
de modo a reduzir o impacto da sempre presente falha humana.

Estudo de caso
Imagine determinada instalação que contém equipamentos que não podem sofrer uma variação relevante de
valores de pressão e temperatura. Qual seria uma técnica de análise de risco apropriada para tal instalação? Prova-
velmente a HAZOP, por trabalhar com desvios em parâmetros planejados. Sendo assim, qual tipo de manutenção
poderia ser favorecida nessa instalação? Cabe observar que isso não significa dizer que as outras possibilidades de
manutenção não devam ser executadas.
Uma manutenção preditiva pode ser melhor associada a uma análise HAZOP, por exemplo. A análise HAZOP, como
estudado, dedica-se à identificação de desvios de parâmetros, como temperaturas maiores, pressões menores
e misturas insuficientes. A manutenção preditiva tem foco no acompanhamento constante de desempenho de
equipamentos e instalações. Assim, harmoniza-se a manutenção com a técnica de análise de risco executada,
favorecendo a segurança.

5.5 Investigação de incidentes e acidentes


Vídeo Foram apresentadas diversas medidas de controle, mas, ainda
assim, um acidente pode ocorrer. É importante frisar que, mesmo que
ele aconteça, é possível favorecer o conforto e o bem-estar no traba-
lho, além da produtividade. Em outras palavras, podem ser extraídas
valiosas lições dos erros cometidos. O ideal é não haja acidentes, mas
sua ocorrência de maneira nenhuma pode ser menosprezada no aper-
feiçoamento da segurança.

Após a ocorrência de um acidente, é fundamental a execução de in-


vestigação. A palavra investigação, usualmente, está relacionada à apu-
ração criminal ou à responsabilização. Entretanto, é necessário destacar
que ela vai além disso. A investigação, de maneira geral, é um estudo
sério, formal e detalhado; é uma averiguação que, nesse caso, visa es-
clarecer aspectos, fatos e acontecimentos relacionados a um acidente.

O objeto da investigação de um acidente não é somente o acidente


em si, mas também o incidente, já que este é o anúncio daquele – sen-
do assim, o acúmulo de incidentes denuncia a proximidade de um aci-
dente. Dessa forma, a investigação de incidentes previne a ocorrência

140 Análise e gerenciamento de risco


de acidentes. Quando investigado o incidente, permite-se a identifica-
ção da demanda de tratamento de ameaças de perigos. O incidente
sempre demanda alguma intervenção imediata e, quando ela é negli-
genciada, favorece-se o acidente.

Estudo de caso
Apesar de não estar diretamente relacionado ao ambiente de trabalho, ilustra-se um exemplo de incidente
ignorado que levou a uma tragédia. Em determinado condomínio residencial, havia uma quadra poliesportiva.
Diversos moradores relatavam receber descargas elétricas de menor dimensão (choques elétricos leves) ao prati-
car esportes nessa quadra, especialmente ao se encostar na cerca e nas partes metálicas. Apesar ser um incidente
característico, não houve intervenção.
Em determinado dia, após ocorrência de chuva, um jovem saudável e descalço, com o corpo suado após jogar
futebol, recebeu uma forte descarga elétrica ao se encostar em uma parte metálica da quadra. Tragicamente, a
descarga foi fatal e o jovem veio a falecer. Os relatos dos moradores eram similares: “sempre teve choque, mas
nunca ninguém se machucou”.
Perceba como a ausência de investigação e a falta de intervenção imediata, mesmo em incidentes, favorece a
ocorrência de acidentes. Pare e pense: seria esse caso realmente um acidente ou uma tragédia anunciada?

Antes de falar em investigação, é necessário falar da obrigatorieda-


de da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). A lei e algumas NR
exigem a notificação de acidente de trabalho à Previdência Social e/ou
ao Ministério do Trabalho. A Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, bem
como algumas NR, como a NR 18, preveem a obrigatoriedade de comu-
nicado formal de acidente.

Art. 22. A empresa ou o empregador doméstico deve-


rão comunicar o acidente do trabalho à Previdência
Social até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência
e, em caso de morte, de imediato, à autoridade compe-
tente, sob pena de multa variável entre o limite mínimo
e o limite máximo do salário de contribuição, sucessiva-
mente aumentada nas reincidências, aplicada e cobra-
da pela Previdência Social. (BRASIL, 1991, grifos nossos)
NR 18 – Condições de segurança e saúde no trabalho na indústria
da construção
18.16.23 Em caso de ocorrência de acidente fatal, é obri-
gatória a adoção das seguintes medidas:
a) comunicar de imediato e por escrito ao órgão regio-
nal competente em matéria de segurança e saúde no
trabalho, que repassará a informação ao sindicato da
categoria profissional. (BRASIL, 2020, p. 44)

Medidas de controle 141


É importante que o empregador, ao comunicar um acidente de trabalho,
demonstre que, para aprimorar a segurança e prevenir uma nova ocorrên-
cia do acidente, adotou medidas eficientes após uma investigação apro-
priada. Entretanto, essa não pode ser a motivação principal para conduzir
a investigação. Se executada adequadamente, a investigação de acidentes
proporciona robustez à segurança de um sistema de trabalho. Além disso,
destaca-se que algumas prescrições normativas indicam a obrigatoriedade
de o empregador conduzir uma investigação de acidentes.

NR 04 – Serviços especializados em engenharia de segurança


e em medicina do trabalho
4.12 Compete aos profissionais integrantes dos Servi-
ços Especializados em Engenharia de Segurança e em
Medicina do Trabalho:
[...]
h) analisar e registrar em documento(s) específico(s)
todos os acidentes ocorridos na empresa ou estabele-
cimento, com ou sem vítima, e todos os casos de doença
ocupacional, descrevendo a história e as características
do acidente e/ou da doença ocupacional, os fatores am-
Leitura bientais, as características do agente e as condições do(s)
Embora não haja um ro- indivíduo(s) portador(es) de doença ocupacional ou aci-
teiro certo a ser seguido dentado(s). (BRASIL, 2016, p. 6, grifos nossos)
ou alguma padronização
mínima na análise de
NR 05 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
acidentes, o Ministério 5.16 A CIPA terá por atribuição:
do Trabalho e Emprego [...]
elaborou o Guia de Análise
l) participar, em conjunto com o SESMT, onde houver, ou
Acidentes de Trabalho.
Apesar de ter sido criado com o empregador, da análise das causas das doenças
para orientar auditores e acidentes de trabalho e propor medidas de solução
fiscais do trabalho (AFT),
dos problemas identificados. (BRASIL, 2019b, p. 3, grifos
ele é muito útil a todos os
profissionais que desejam nossos)
aperfeiçoar o sistema de NR 13 – Caldeiras, vasos de pressão, tubulações e tanques
trabalho e produzir um metálicos de armazenamento
ambiente mais seguro
após um acidente.
13.3.6.1 A comunicação deve ser encaminhada até o se-
gundo dia útil após a ocorrência e deve conter:
BRASIL. Ministério do Trabalho e
Emprego. Brasília: Ministério do [...]
Trabalho e Emprego; Secretaria de d) procedimentos de investigação adotados;
Inspeção do Trabalho; Departamento 13.3.6.2 Na ocorrência de acidentes previstos no su-
de Segurança e Saúde no Trabalho,
2010. Disponível em: http://www.
bitem 13.3.6, o empregador deve comunicar a repre-
sinaees-sp.org.br/arq/mtegat.pdf. sentação sindical dos trabalhadores predominante do
Acesso em: 19 maio 2020. estabelecimento para compor uma comissão de in-
vestigação. (BRASIL, 2019c, p. 5, grifos nossos)

142 Análise e gerenciamento de risco


Em caso de agravo crítico e óbitos, investigações iniciais são condu-
zidas por autoridade policial, auditores fiscais do trabalho ou outros
órgãos governamentais. Por isso, são importantes e obrigatórios a co-
municação e o isolamento imediato do local do acidente.

O modo de conduzir uma investigação não é determinado em lei


ou normas. Há prescrições gerais, mas não há a determinação de uma
forma ou método específico, tal como nas análises de risco. Entretan-
to, podemos apontar alguns princípios, diligências e aspectos a serem
analisados na investigação:

Executar a investigação o Levantar e reunir


Aguardar investigações mais rápido e breve possível documentos, licenças,
oficiais. para não perder informações protocolos, prontuários,
e vestígios. manuais, especificações,
projetos, vistorias anteriores,
análises de riscos, memoriais,
registro de acidentes e banco
Apontar: a ameaça que de dados eventualmente
gerou o acidente; as Ouvir pessoas. existentes sobre o
pessoas e demais elementos equipamento ou a instalação
vulneráveis à ameaça; em que se deu o acidente.
a forma de surgimento
da ameaça; a forma de
propagação da ameaça ante
a comunidade vulnerável Adotar uma ou mais
Reunir evidências no local do
identificada; barreiras abordagens ou técnicas de
acidente.
e medidas de controle investigação de acidentes.
existentes, bem como
aquelas previstas, mas não
instaladas; eventuais falhas
das barreiras e das medidas
de controle; e, ao máximo Tentar elaborar uma análise
Levantar e selecionar
possível, o impacto e os de tempo sobre os aspectos
adequadamente hipóteses.
prejuízos do acidente. envolvidos no acidente.

A investigação pode ser conduzida pelo SESMT, apoiada pela


CIPA, ter participação de representantes de sindicatos e/ou ser con-
duzida por profissional habilitado ou empresa especializada contra-
tada pelo empregador.

Não deve ser produzido, pela investigação de acidente, um docu-


mento a ser arquivado sem ponderações. Ele deve ser, preferencial-
mente, encaminhado ou comunicado em apresentação às partes
envolvidas. Se possível, os achados devem ser divulgados. Além disso,
dois tipos de respostas devem ser providenciados: aquelas que res-

Medidas de controle 143


pondem às indagações envolvidas no acidente, e algumas diligências a
serem implementadas para aperfeiçoar a segurança.

As possibilidades de oportunidades e resultados favorecidas em


uma investigação são infinitas, mas algumas são as seguintes:

Conhecer o mais próximo Saber onde aumentar a Oportunidade para melhorar


possível a real dimensão dos frequência de vistorias ou o projetos executivos e
impactos. rigor em inspeções. respectivas instalações.

Apontar oportunidades
de campanhas educativas Propostas para melhorar Elaboração e revisão de
internas ou oficiais para protocolos, normas e leis. recomendações.
redução de acidentes.

Aperfeiçoamento geral
Aprimoramento geral do
de conforto, bem-estar,
Aumento da confiabilidade. processo de gestão da
segurança e produtividade
atividade produtiva.
do ambiente de trabalho.

Saiba mais
É importante entender que
A cada investigação realizada, quem a conduz ou a proporciona des-
investigar significa prevenir aci-
cobre mais oportunidades. Seguem dois exemplos de investigação
de acidentes disponibilizados pela página da Fundacentro. dentes. A investigação de aciden-
O primeiro – denominado Relatório de análise de acidente fatal em tan- tes oportuniza diversas formas
ques de armazenagem de álcool etílico, por Fernando Vieira Sobrinho e
de medida de controle de risco,
José Possebon – é mais direto e trata-se de um incêndio em tanque
de armazenamento de líquido inflamável. O documento ilustra a me- desde aplicações internas até re-
dição de parâmetros e o levantamento de hipóteses. Além disso, ao
visões de leis e NR. Cabe ressaltar
final, expõe-se uma série de recomendações de medidas de controle.
que a investigação não deve ser
O segundo – Relatório de análise de acidente fatal em tanques de ar-
mazenagem de álcool etílico, por Albertinho de Carvalho, Mina Kato, conduzida, inicialmente, para apu-
­Anaide Bomfim, Mariângela Santos e Marco Rego – é mais comple-
rar responsabilidades e indicar
xo e ilustra um “acidente contínuo”. Trata-se de uma avaliação de
agentes carcinogênicos/mutagênicos em ambientes de trabalho, culpados, mas sim para permitir
com foco na exposição de trabalhadores a agentes cancerígenos e transparência no ambiente de tra-
irritantes em carvoarias não mecanizadas na Bahia. O documento
apresenta relevante fundamentação técnica, metodologia aplicada, balho e favorecer a confiabilidade
medição de parâmetros, relatório fotográfico, aspectos envolvidos do sistema de trabalho.
no risco e impactos sociais derivados da falta de segurança. Também
revela que alguns acidentes estão acontecendo sem a devida per-
cepção dos impactos pelos próprios trabalhadores. É uma situação
mais grave, que gera diversas outras decorrências.

Disponível em: http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/acervodigital/detalhe/2011/4/


relatorio-de-analise-de-acidente-fatal-em-tanques-de-armazenagem-de-alcool-etilico
e http://www.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/acervodigital/detalhe/2017/3/
exposicao-de-trabalhadores-a-agenetes-cancerigenos-e-irritantes-em-carvoarias-nao-mecani-
zadas. Acesso em: 19 maio 2020.

144 Análise e gerenciamento de risco


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este capítulo destinou-se a estudar as medidas de controle de risco,
em especial quanto às diversas formas de levantar e revisar proteções.
Como já explicado, não há como propor um material que atinja todas as
medidas existentes e, por isso, buscou-se abordar formas de fomen-
to às medidas de controle de risco. Frisa-se que o estudo deste capítulo
não habilita à prática formal da análise e tratamento de risco, mas visa à
promoção da cultura prevencionista. Por fim, é necessário ter em mente
que somente a implementação de medidas de segurança não é suficiente,
pois elas sempre devem ser criticadas e revisadas ao longo do tempo.

ATIVIDADES
1. Em uma reforma de hospital, decidiu-se ampliar um espaço destinado
às atividades de diagnóstico por imagens (raio X). Sugeriu-se
desenvolver a ampliação do espaço por meio da equipe própria de
manutenção predial sem contar com um profissional ou uma empresa
especializado no assunto. Estime eventuais ações para implementar
medidas de controle adequadas nessa situação.

2. Sobre o caso da Atividade 1, qual diligência e qual documento são


potencialmente demandados após o término da obra citada?

3. Explique por que a adoção de equipamento de proteção individual (EPI)


como medida primária não é uma medida de controle essencialmente
segura.

REFERÊNCIAS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. CB-002 002:140.002-001 referente à NBR
16.747: Inspeção predial – diretrizes, conceitos terminologia, requisitos e procedimentos.
Rio de Janeiro: ABNT, 2018a.
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6.493: Emprego de cores para
identificação de tubulações industriais. Rio de Janeiro: ABNT, 2019.
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7.195: Cores de segurança. Rio de
Janeiro: ABNT, 2018b.
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 3864-1:2013. Símbolos gráficos:
cores e sinais de segurança. Parte 1: Princípios de design para sinais e marcações de
segurança. Rio de Janeiro: ABNT, 2013.
AMARAL, A. E. P. do. et al. Recomendação Técnica de Procedimentos: escadas, rampas e
passarelas. São Paulo: Fundacentro, 2005. Disponível em: http://www.fundacentro.gov.
br/biblioteca/recomendacao-tecnica-de-procedimento/publicacao/detalhe/2012/9/rtp-04-
escadas-rampas-e-passarelas. Acesso em: 19 maio 2020.
ANDRADE, A. L. Falta de manutenção é a principal causa de incêndio nos veículos. ES
HOJE, Vitória, 24 ago. 2019. Disponível em: http://eshoje.com.br/falta-de-manutencao-e-a-
principal-causa-de-incendio-nos-veiculos/. Acesso em: 19 maio 2020.

Medidas de controle 145


BRASIL. Decreto n. 10.088, de 5 de novembro de 2019. Diário Oficial da União, Poder
Executivo, Brasília, DF, 6 nov. 2019a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2019-2022/2019/decreto/D10088.htm. Acesso em: 19 maio 2020.
BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília,
DF, 25 jul. 1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8213compilado.
htm. Acesso em: 19 maio 2020.
BRASIL. Ministério da Fazenda. Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho: AEAT 2017.
v. 1. Brasília: Ministério da Fazenda; Instituto Nacional do Seguro Social; Empresa de
Tecnologia e Informações da Previdência, 2017. Disponível em: http://sa.previdencia.gov.
br/site/2018/09/AEAT-2017.pdf. Acesso em: 19 maio 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-04: Serviços
especializados em engenharia de segurança e em medicina do trabalho. Brasília: MTE,
2016. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/
NR-04.pdf. Acesso em: 19 maio 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-05: Comissão
Interna de Prevenção de Acidentes. Brasília: MTE, 2019b. Disponível em: https://enit.
trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-05.pdf. Acesso em: 19 maio
2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-13: Caldeiras,
vasos de pressão, tubulações e tanques metálicos de armazenamento. Brasília: MTE,
2019c. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/
NR-13.pdf. Acesso em: 19 maio 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-18: Condições
de segurança e saúde no trabalho na indústria da construção. Brasília: MTE, 2020.
Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-18-
atualizada-2020.pdf. Acesso em: 19 maio 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-26: Sinalização de
Segurança. Brasília: MTE, 2015. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/
Arquivos_SST/SST_NR/NR-26.pdf. Acesso em: 19 maio 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora NR-29: Norma
Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho Portuário. Brasília: MTE, 2014.
Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-29.
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Altura, 2019d. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/
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CAMISASSA, M. Q. Segurança e saúde no trabalho: NRs 1 a 36 comentadas e descomplicadas.
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CAMPOS, A.; TAVARES, J. da C.; LIMA, V. Prevenção e controle de risco em máquinas,
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CONFEA - Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. Resolução n. 345, de 27 de julho
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ROCHA, L. C. L.; PAMPALON, G. S. Cartilha Trabalho em Altura. Brasília: Ministério do
Trabalho; Secretaria de Inspeção do Trabalho; Departamento de Segurança e Saúde no
Trabalho, 2018. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Cartilhas/
Cartilha-trabalho-em-alturas-baixa.pdf. Acesso em: 19 maio 2020.

146 Análise e gerenciamento de risco


GABARITO
1 Risco das atividades laborais
1. Um acidente nunca decorre de um único fator. A ausência, a insuficiência ou a
inadequação de barreiras também motivam acidentes. No exemplo citado, pode-se
apontar, em uma análise simplificada, os seguintes aspectos de acidente: a ausência
de equipamento de proteção individual (EPI), a ausência de guarda-corpo ou barreiras
de proteção no pavimento, a omissão ou falta de atitude do responsável (técnico)
pela segurança do trabalho, a eventual falta de treinamento ou conscientização do
trabalhador em questão, a má organização do sistema de trabalho, que permitiu
que um trabalhador permanecesse sem segurança em local de risco, entre outras
situações.

2. Não, ela é inadequada. O acidente de trabalho pode afetar pessoas, comunidades e


sistemas fora do ambiente de trabalho. Possíveis exemplos são: um vazamento de
gás cloro que dispersa para um bairro próximo; um vazamento de gás liquefeito de
petróleo (GLP) que dispersa para uma rede de esgoto, acarretando uma explosão; um
ônibus estacionado que não teve o freio de mão acionado pelo condutor, afetando
uma residência vizinha. Além da questão espacial, o acidente de trabalho pode afetar
comunidades em um espaço temporal distante do momento do acidente de trabalho,
como um vazamento de produto radioativo de uma oficina de aparelhos de raio X
que gera efeitos e agravos à saúde de pessoas, fauna e flora ao longo de vários anos.

3. Não, ela é inadequada. O risco sempre pode ser tratado e mitigado. Por exemplo, em
descargas atmosféricas, os efeitos podem ser suavizados por meio da instalação de
sistemas de proteção contra descargas atmosféricas, o chamado para-raios. Em locais
com probabilidade de terremoto, pode-se dimensionar as estruturas (pilares, vigas e
fundações) para minimizar os efeitos dos deslocamentos indesejados ou estabelecer
áreas de segurança dentro da edificação. Assim, mesmo que seja um evento da
natureza, é possível projetar barreiras de proteção.

2 Legislação brasileira de Segurança do Trabalho e EPI


1. O projeto do sistema e organização do trabalho deve ser feito de modo a mitigar riscos.
Nesse contexto, a implantação de um equipamento de proteção individual (EPI) – no
caso, o protetor auditivo – deve ser a última medida. Portanto, adotou-se a medida
errada. Inicialmente, o empregador poderia optar por uma reforma ou adaptação
do ambiente de trabalho para prevenir o ruído externo de alcançar os ambientes
internos, como por tratamento acústico ou uso de revestimentos e material de
acabamento específicos nas paredes. Isso eliminaria do ambiente interno de trabalho
o agente danoso, ou seja, o ruído. Por fim, o uso de protetores auriculares, além de
não eliminar o risco, ainda prejudica o sistema de trabalho, impedindo a comunicação
ordinária entre os empregados.

Gabarito 147
2. Os óculos podem ser considerados um equipamento de proteção individual, com
previsão na NR 04. Entretanto, tal medida é precária, pois atende apenas a um
empregado. O certo seria, às custas do empregador, a instalação de um equipamento
de proteção coletiva (EPC), como películas protetoras, persianas ou até mesmo toldos ou
outras coberturas. Assim, seria garantida a proteção não apenas de um, mas de vários
empregados, além de não depender da ação voluntária do empregado em usar o EPI.

3. O Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) apresenta as atividades produtivas ou


comerciais que a empresa planejou exercer. Assim, ele é a base para o planejamento,
a organização e a elaboração de programas de prevenção e mitigação de riscos. Logo,
uma empresa que não apresenta em seu CNPJ a programação de uma atividade,
certamente também não executou uma análise de risco eficiente. Mesmo que, na
situação citada, o empregado possa ter agido com alguma imprudência ou imperícia,
cabe à empresa a seleção e o treinamento dos trabalhadores. Entretanto, como o
empregador poderia realizar uma seleção e capacitação de qualidade se tal atividade
inicialmente nem era prevista como seu nicho comercial? Frisa-se que ele é responsável
integralmente por todas as atividades ocorridas em seu domínio comercial, inclusive o
caso apresentado. Por fim, se essa atividade não está prevista em seu contrato social
ou CNPJ, o empregador não pode executá-la.

3 CIPA
1. Cabe responder a tal questionamento considerando a norma, e não um pensamento
livre com base no que uma pessoa julga ser adequado ou não, visto que a norma é
a base de qualquer análise de risco. A NR 05 relata que as seguintes organizações
devem constituir a CIPA e mantê-la em funcionamento regular: empresas privadas
ou públicas, sociedades de economia mista, órgãos da administração direta e
indireta, instituições beneficentes, associações recreativas, cooperativas e outras
instituições que admitam trabalhadores como empregados. Sendo assim, a CIPA
deve ser constituída para todo os estabelecimentos, com ou sem fins lucrativos, que
possuem empregados sob o regime da CLT. Portanto, tal argumentação apresentada
na atividade, da forma que foi feita, não é válida.

2. Para consultar o quadro da NR 05, que informa o número de membros, é necessário saber a
atividade produtiva/econômica desenvolvida no local e o número de empregados. É importante
lembrar dos postos que não estão na tabela: presidente, vice-presidente e secretário.

Conforme informado na atividade, trata-se de um supermercado atacadista (CNAE


46.39-7/01). Observando o Quadro II da NR 05, relativo ao agrupamento de setores
pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) para dimensionamento
da CIPA, percebe-se que ela se enquadra na categoria C-20. A figura a seguir apresenta
uma parte do Quadro I da NR 05 com destaque para a C-20 e a quantidade de
funcionários entre 101 e 120.

148 Análise e gerenciamento de risco


Tabela 1
Enquadramento do exemplo de 115 trabalhadores no Quadro I da NR 05 - Dimensionamento de CIPA

Efetivos 1 1 2 2 2 3 3 4 5 6 1

C - 19

Suplentes 1 1 2 2 2 3 3 3 4 4 1

Efetivos 1 1 3 3 3 3 4 5 5 6 8 2

C - 20

Suplentes 1 1 3 3 3 3 3 4 4 5 6 1

Efetivos 1 1 2 2 2 3 3 4 5 6 1

C - 21

Suplentes 1 1 2 2 2 3 3 3 4 5 1

Efetivos 1 1 2 2 3 3 4 4 6 8 10 12 2

C - 22

Suplentes 1 1 2 2 3 3 3 3 5 6 8 9 2

Acima
N° de de
Empre- 10.000
gados no 0 20 30 51 121 para
81 101 141 301 501 1001 2501 5001
estabele- cada
a a a a a a a a a a a a a
cimento grupo
19 29 50 80 100 120 140 300 500 1000 2500 5000 10.000
N° de de
membros 2.500
da CIPA acres-
centar

Fonte: Adaptada de Brasil, 2019a, p. 8.

Portanto, conforme dados do supermercado, o dimensionamento da CIPA fica: três


membros efetivos e três suplentes para cada representação (dos empregados e do
empregador). Assim, são seis membros da representação dos empregados e seis
membros da representação do empregador, totalizando incialmente 12 pessoas.
Um dos titulares indicado pelo empregador será o presidente, um dos efetivos eleito
pelos empregados será o vice-presidente. Além disso, deve haver um secretário e um
substituto do secretário, que podem ser membros ou não da CIPA. Caso o secretário e
respectivo substituto sejam membros da CIPA, ela permanece com 12 membros. Caso
esses não sejam membros, ela ficaria com 14, por contar com duas pessoas externas
à CIPA na função de secretário.

Gabarito 149
3. A questão é igualmente resolvida por consulta aos quadros da NR 05, com uso dos
dados sobre a atividade produtiva/econômica desenvolvida no local e o número de
empregados. Como o estabelecimento se enquadra na categoria C-20, cruza-se essa
informação com o número de funcionários (25), como mostra a figura a seguir.

Tabela 2
Enquadramento do exemplo de 25 trabalhadores no Quadro I da NR 05 - Dimensionamento de CIPA

Efetivos 1 1 2 2 2 3 3 4 5 6 1

C - 19

Suplentes 1 1 2 2 2 3 3 3 4 4 1

Efetivos 1 1 3 3 3 3 4 5 5 6 8 2

C - 20

Suplentes 1 1 3 3 3 3 3 4 4 5 6 1

Efetivos 1 1 2 2 2 3 3 4 5 6 1

C - 21

Suplentes 1 1 2 2 2 3 3 3 4 5 1

Efetivos 1 1 2 2 3 3 4 4 6 8 10 12 2

C - 22

Suplentes 1 1 2 2 3 3 3 3 5 6 8 9 2

Acima
N° de de
Empre- 10.000
gados no 0 20 30 51 121 para
81 101 141 301 501 1001 2501 5001
estabele- cada
a a a a a a a a a a a a a
cimento grupo
19 29 50 80 100 120 140 300 500 1000 2500 5000 10.000
N° de de
membros 2.500
da CIPA acres-
centar

Fonte: Adaptada de Brasil, 2019a, p. 8.

Para essas duas novas filiais, o cruzamento de dados cai em um campo em branco,
indicando que não há previsão normativa do número de efetivos e suplentes para os
estabelecimentos em questão. Tal situação está prevista no item 5.6.4 da NR 05, como
visto neste capítulo.
Assim, a CIPA será desenvolvida por um responsável designado em cada
estabelecimento. É importante frisar que cada estabelecimento deve ter um
designado da CIPA, não podendo o responsável ser compartilhado por diferentes

150 Análise e gerenciamento de risco


estabelecimentos ou estar locado em posto de trabalho fora do estabelecimento em
questão.
4. Com a nova empresa contratada sendo adicionada no quadro de trabalhadores do
supermercado atacadista, haverá a atuação de duas CIPAs nesse estabelecimento,
uma para os empregados do atacadista e outra para os trabalhadores de conservação
e limpeza.
Já se tem o dimensionamento da CIPA do atacadista; passa-se então ao
dimensionamento da CIPA da empresa prestadora de serviços. Esta possui seis
trabalhadores, porém, o Quadro I da NR 05 somente prescreve uma quantidade
de membros efetivos e suplentes de CIPA para estabelecimentos com mais de
20 empregados. Desse modo, a CIPA dessa empresa prestadora de serviço será
desempenhada por um responsável designado, podendo ser, nesse caso, o próprio
encarregado local, por exemplo. Segue uma ilustração para melhor entender a
situação.

Figura 1
Dimensionamento da CIPA em um estabelecimento com uma empresa contratada prestadora
de serviços

EMPREGADOR: EMPREGADOR:
Supermercado atacadista Contratada da limpeza

CIPA 1 CIPA 2
12 MEMBROS DESIGNADO

Ambas as CIPAs atuam no


estabelecimento supermercado atacadista

Fonte: Adaptada de Camisassa, 2015, p. 148.

5. Inicialmente, os membros da CIPA podem elaborar um planejamento e um


cronograma de ações envolvendo, por exemplo, vistorias, inspeções e análise
de documentos. A vistoria e as inspeções serviriam para identificar riscos, como má
postura de operadores, cadeiras quebradas, excesso ou insuficiência de iluminação,
quantidade insuficiente de banheiros ou de bebedouros, equipamentos de informática
inadequados, entre outros riscos. Assim, pode-se fazer um diagnóstico prévio de
demandas de segurança e saúde desse ambiente de trabalho.

Vencidas as vistorias, a CIPA pode demandar ao SESMT informações dos últimos


acidentes registrados. Além disso, em um questionário informal, pode levantar junto
aos operadores, com participação voluntária, as principais reclamações de saúde e
percepções de desconforto, bem como verificar os motivos de saúde que os afastaram
do trabalho. Com base nisso, a CIPA pode apontar as principais ameaças e recorrência
de doenças no local. A partir desses levantamentos, ela pode demandar ao SESMT
ações preventivas e de tratamento dos riscos.

Gabarito 151
Por fim, é muito importante frisar que é obrigação, dever e responsabilidade do
empregador identificar, mitigar e planejar tratamento dos riscos de um ambiente
de trabalho. A CIPA é um programa que fomenta a participação do empregado para
colaborar com a construção de um sistema seguro e saudável de trabalho, mas de
maneira nenhuma deixa de ser responsabilidade do empregador a Segurança do
Trabalho na ação ou omissão da CIPA.

4 Análise de risco
1. É muito importante lembrar que a CIPA é formada por trabalhadores ordinários da
empresa empregadora. Ela é uma comissão não profissional de Segurança do Trabalho
e, por isso, deve participar e colaborar em análises de risco, mas não as conduzir ou
ser a responsável. O empregador pode optar que o SESMT conduza análises de riscos
de maneira formal e oficial ou contratar um profissional ou empresa especializada na
execução de análises de risco.

2. O empregador deve oportunizar que a análise de risco envolva desde a concepção da


atividade até seu encerramento, ou desmontagem. Assim, como relatado, percebe-se
que a análise englobou apenas o “antes” e o “durante”. Certamente, a falta de
especificações e de avaliação de risco para o processo de desmontagem do aparato de
limpeza de fachadas deixou de prevenir algum risco e teve alguma contribuição para a
ocorrência do acidente. Por vezes, a simples execução de um checklist do processo de
desmontagem pode prevenir acidentes graves.

3. A técnica indicada para categorizar riscos nesse caso é o FMEA. Essa técnica trabalha a
severidade, a detecção e a taxa de ocorrência de riscos, com atribuição de valores para
cada fator do risco. Assim, pode-se, por uma simples multiplicação, apontar quais são
os riscos mais críticos para a atividade desenvolvida, permitindo uma hierarquização
do tratamento dos riscos.

5 Medidas de controle
1. Atividades com raio X apresentam riscos para trabalhadores e ocupantes quando há
exposição constante e sem proteção. Qualquer modificação em um espaço como esse
necessita ser bem estudada, pois a exposição frequente à radiação pode trazer riscos
para pessoas sem proteção.
O ambiente em que se faz as imagens deve oferecer proteção a quem não usa ou não
está ciente dos riscos da atividade. Para oferecer uma proteção radiológica adequada,
deve-se buscar a legislação e normalização técnica específica sobre o assunto, bem
como verificar se as condições previstas nas licenças de funcionamento (alvará) e
sanitária permanecerão atendidas.
A obra deve contar com um responsável técnico de engenharia ou arquitetura,
com emissão de um documento de responsabilidade técnica, além de haver um
projeto formal. Algumas diligências devem ser obrigatoriamente realizadas: atender
às distâncias mínimas entre espaços previstas em normas; fazer levantamento
radiométrico dos aparelhos; revisar a sinalização de segurança existente e a instalar;
usar chumbo e argamassa baritada nas paredes para blindagem adequada (em
espessura prevista no projeto formal); dimensionar e elaborar laudo de radioproteção
assinado por físico especialista, entre outros.

152 Análise e gerenciamento de risco


2. Após dimensionamento, projeto e execução da obra, nesse caso, torna-se fundamental
o ateste das medidas de proteção existentes. Por isso, no mínimo um físico deve
realizar uma vistoria, com realizações de medições e emissão de parecer técnico que
ateste a condição segura das instalações.

3. Adotar EPI como medida primária de proteção significa atestar que nem o perigo
foi eliminado e nem a exposição de uma determinada população foi mitigada. É um
atestado de que não foi possível tornar o ambiente de trabalho seguro e saudável.
Dessa forma, decide-se expor o trabalhador a um ambiente inseguro e obrigá-lo a se
proteger individualmente.
Além disso, o EPI protege o trabalhador se, e somente se, ele assumir a conduta de
­­usá-lo da maneira correta. Caso o trabalhador adote algum procedimento inadequado
de uso de EPI ou o EPI seja ou esteja inadequado, ele estará em pleno risco por estar
inserido em um ambiente inseguro. A adoção preferencial de segurança sempre
será deixar o ambiente seguro ou impedir o trabalhador de estar em um ambiente
inseguro.

Gabarito 153
Análise e Gerenciamento de Risco
Análise
e Gerenciamento
Rodrigo Almeida Freitas
de Risco
Fundação Biblioteca Nacional Código Logístico
ISBN 978-85-387-6624-7

9 788538 766247 59348


Rodrigo Almeida Freitas

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