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O tempo em aberto é considerado um dos principais requisitos de desempenho de argamassas colantes. Um dos fatores mais
importantes que o influencia é a perda de água. Ela ocorre tanto por sucção pela base quanto por evaporação para o meio ambiente.
Esta perda de água diminui progressivamente a resistência de aderência do revestimento cerâmico. Convencionou-se que o tempo em
aberto é aquele que tem resistência de aderência de 0,5 MPa.
Esta pesquisa tem como objetivo estudar a influência da perda de água da argamassa, por evaporação, na resistência de aderência
entre a argamassa colante e a placa cerâmica. Para tanto é determinada a resistência de aderência considerando diferentes intervalos
de tempo de assentamento da placa cerâmica após a aplicação da argamassa, segundo um procedimento de ensaio que elimina a
perda de água por sucção.
A argamassa é espalhada sobre uma placa de vidro de modo a impedir a sucção. Passados os intervalos de tempo especificados para o
assentamento da placa cerâmica, conforme o ensaio de tempo em aberto, o conjunto é curado durante 28 dias a 23 ºC de temperatura
e 65 % de umidade relativa. Após esse período, o conjunto argamassa/placa cerâmica é colado sobre o substrato-padrão, pela
superfície anteriormente em contato com o vidro, para posterior arrancamento, observando-se a tensão e a forma de ruptura.
Os resultados mostram que a variação na resistência de aderência das placas cerâmicas pode ser atribuída à evaporação, o que
significa que ao realizar um ensaio simples de perda de água por evaporação, pode-se determinar a resistência de aderência da
argamassa colante.
Palavras-chave: argamassa colante, tempo em aberto, resistência de aderência, perda de água por evaporação.
Open time is one of the main characteristics of dry-set mortars. Water loss by both evaporation and suction is an important factor that
influences its performance, since it may cause an adhesion failure after short ageing. It was determined that open time has a tensile
adhesion strength of 0,5 MPa.
This research aims to study the influence of water loss by evaporation in the tensile adhesion strength between dry-set mortar and
ceramic tile. A test of tensile adhesion strength is performed, considering different intervals of time of the ceramic tile application on
the mortar, according to a procedure that eliminates water loss by suction.
The mortar is spread onto a glass plate, avoiding water loss by suction. After specified intervals of time for the application of ceramic
tile according to the open time test, the system is cured for 28 days at 23 ºC and 65% relative humidity. After being cured, the dry-set
mortar/ceramic tile system is glued onto the concrete slab by the surface previously in contact with the glass, for later pull-out. The
tension and form of rupture are observed.
The results show the effect of water loss by evaporation on the tensile adhesion strength, and the analysis indicates that a simple test
of water loss by evaporation can determine the tensile adhesion strength of the dry-set mortar.
Keywords: dry-set mortar, open time, tensile adhesion strength, water loss by evaporation.
1
RILEM. Water-retention capacity of mortars (MR-4, 1982). RILEM.
Technical recommendations for the testing and use of construction
materials. London: E & FN SPON, 1994.
Influência da perda de água por evaporação na resistência de aderência entre argamassa colante e placa cerâmica 9
(a)
(b)
Figura 1 - Espessura e técnicas de aplicação: (a) com argamassa convencional; (b) com argamassa colante (WACKER, 1996)
OH H H O OH H H O
H H H H
O O
H OH CH2OH H OH CH2OCH2CH2OH
n n
CH2OCH2CH2OH H OCH3
O
H H H
H O OH −CH2−CH2 CH2−CH−
|
OH H H O
H H
m OCOCH3 n
O
H OCH3 CH2OCH2CH2OH
n
Aspectos relativos ao tempo em aberto Adicionalmente, é preciso ressaltar que HEC ou HEMC
são adicionados em teores muito inferiores aos usuais
para EVA, SBR e PAE e dificilmente seriam capazes de
Formação de película formar semelhante filme em quantidade suficiente.
Até o momento, a teoria mais difundida para justificar a Nenhum dos modelos considera qualquer influência da
progressiva redução da capacidade de aderência com o perda de água, seja por evaporação ou por sucção da base,
decorrer do tempo é a da formação de película superficial. para explicar o surgimento da película superficial, da
Algumas vezes, a formação superficial é explicada pela migração do polímero para a superfície ou da
migração do polímero orgânico, em conjunto com as coalescência do polímero.
bolhas de ar incorporado, para a superfície (BAUER,
1995; FIORITO, 1994), mas não existem estudos As evidências empíricas a sustentar a hipótese da
empíricos publicados que comprovem esta teoria. Ohama formação de película são ainda pouco consistentes:
(1987) demonstrou a formação do filme polimérico no (a) mudança da superfície do cordão de argamassa,
interior dos poros de argamassas durante o processo de tornando-o mais branco com o decorrer do tempo;
hidratação do cimento e propôs um modelo mais
(b) presença de filme polimérico na superfície das
detalhado (
argamassas;
Figura 6a). O modelo proposto por Ohama (1987) para a
(c) o fato de que o cordão de argamassa permanece
formação de película foi dividido em três etapas:
plástico. A mudança da cor superficial pode ser resultado
(a) ao misturar a argamassa com a água, as partículas do da secagem superficial. Filmes poliméricos são também
polímero ficam uniformemente dispersas na pasta de encontrados nos poros internos da argamassa (SILVA,
cimento; há o início da hidratação, que acarreta a formação ROMAN, 2001). O fato do cordão permanecer plástico
do gel de cimento e a saturação da água com hidróxido de também não exclui a secagem superficial por evaporação.
cálcio; as partículas do polímero começam a se depositar na
superfície da mistura de gel de cimento/cimento anidro; há O fenômeno da formação de película superficial da
a reação do hidróxido de cálcio da fase aquosa com a sílica argamassa colante será objeto de um estudo futuro.
do agregado, formando uma camada de silicato de cálcio. 2
Perda de água
(b) com o desenvolvimento da estrutura do gel de
cimento, as partículas do polímero ficam gradualmente A perda de água por evaporação ou absorção da base é
confinadas nos poros capilares; há o progresso da também uma explicação possível para a perda de
hidratação do cimento, reduzindo a água dos capilares e a capacidade colante da argamassa antes da aplicação da
floculação das partículas do polímero, formando uma placa cerâmica.
camada de estrutura empacotada sobre a superfície da A sucção para a base se dá devido à tensão capilar –
mistura de gel de cimento/cimento anidro ( tensão existente devido à diferença de pressão resultante
(c) Figura 6a), aderindo simultaneamente à camada de da energia livre residente na superfície líquido-gás,
silicato de cálcio formada sobre o agregado; produzindo um fenômeno de ascensão ou descensão em
um tubo capilar (ÁSSY, 1996; HOUSEL, 1950). Tensão
(d) com o consumo da água pela hidratação do cimento
superficial e diâmetro dos poros são fatores determinantes
há a coalescência da camada de estrutura empacotada
nesse fenômeno. A evaporação decorre de diferenças de
formada pelas partículas do polímero, formando uma
pressão de vapor. Temperatura, umidade relativa e
película; a película aglomera os compostos hidratados do
velocidade do ar são variáveis que controlam o processo.
cimento formando uma rede monolítica.
Este modelo não foi pensado para explicar o tempo em Détriché et al. (1985) propõem um modelo onde explicam
aberto, mas para explicar a ação de aditivos poliméricos como ocorre a perda de água por sucção. Assumem que a
em matrizes de cimento. Este modelo provavelmente não textura porosa da argamassa e da base é constituída por um
se aplica ao tempo em aberto, salientando-se dois conjunto de tubos capilares cilíndricos de diferentes
aspectos. Primeiro, o modelo de Ohama implica em diâmetros, perpendiculares à superfície livre e à base.
hidratação do cimento e os fenômenos relacionados ao Segundo este modelo, ao aplicar a argamassa convencional
tempo em aberto ocorrem antes do início de pega, fresca sobre a base, os capilares mais finos da base
portanto, antes que ocorram reações de hidratação começam a retirar a água dos capilares mais grossos da
significativas. Segundo, o estudo em que se baseia Ohama argamassa, até o momento em que o raio dos capilares da
foi realizado com os polímeros EVA, SBR (estireno argamassa diminuem, devido à formação dos produtos de
butadieno) e PAE (poliéster acrilato). Não pode, portanto, hidratação do cimento sobre suas paredes. Quando isso
ser usado para explicar o fenômeno de tempo em aberto acontece, a velocidade de absorção capilar diminui
de argamassas que não contenham estes polímeros, como consideravelmente após algumas horas, chegando a se
aquelas formuladas apenas com HEC ou HEMC. anular entre 2 e 3 horas após o assentamento da argamassa,
já que deixam de existir capilares não saturados da base de
raios inferiores aos da argamassa. A dessecação da
2 argamassa prossegue, então, apenas por evaporação.
Na verdade, esta reação é lenta e não deveria ser considerada neste
modelo.
Influência da perda de água por evaporação na resistência de aderência entre argamassa colante e placa cerâmica 11
Partícula do polímero
Água
Emulsão
Cimento hidratado
Floculação das
partículas do polímero
Formação de uma estrutura empacotada
das partículas do polímero
Cimento hidratado
Drenagem da água entre
as partículas do polímero
Coalescência das
partículas do polímero
Formação de um filme
polimérico uniforme
Cimento hidratado
(película)
(a)
(b)
Figura 6 - (a) modelo simplificado do processo de formação da película sobre o cimento hidratado (OHAMA, 1987); (b) película
formada em uma argamassa aditivada com EVA (WACKER, 1996)
A perda de água por evaporação pode levar à dessecação Os autores desenvolveram, previamente, métodos de ensaio
superficial dos cordões da argamassa colante, para analisar a perda de água de argamassas. Um primeiro
especialmente porque o HEC age produzindo uma método foi desenvolvido para determinar a perda de água
“gelificação da água”, reduzindo a sua mobilidade. Esta por sucção pela placa cerâmica e outro para determinar
evaporação pode ser responsável pela formação aparente exclusivamente a perda de água por evaporação (PÓVOAS
de uma película superficial. A absorção pela base et al., 1999; PÓVOAS, JOHN, 2000a).
provavelmente causa fenômeno similar na base do filete. Neste trabalho investiga-se se há influência da perda de
Em termos práticos, a dessecação superficial causa a água por evaporação na resistência de aderência e
diminuição da área de contato entre a argamassa e o tardoz conseqüentemente no tempo em aberto da argamassa
da placa cerâmica, embora a parte interna dos cordões colante, eliminando-se o efeito de sucção.
ainda se mantenha umedecida. Com isso, há a redução da
aderência, o que pode provocar o descolamento.
12 Povoas et al.
!
" #
(a) (b)
Figura 7 - Confecção dos corpos-de-prova (a) sem argamassa, onde ! indica a fôrma de aço inoxidável sem fundo e " indica a
chapa de aço inoxidável; (b) fôrmas preenchidas com argamassa, que é indicada por #
Influência da perda de água por evaporação na resistência de aderência entre argamassa colante e placa cerâmica 13
③
①
(b)
② (a)
Figura 8 - Confecção dos corpos-de-prova: (a) materiais a serem utilizados, onde ① indica a placa de vidro, ② indica o plástico com
vaselina no verso, ③ indica as placas cerâmicas, em número de dez; (b) placa cerâmica assentada sobre a argamassa colante
espalhada sobre o plástico
14 Povoas et al.
Os estimadores dos parâmetros E(β0) e E(β1) não de HEC + 10 % de EVA (percentuais em relação à
possuem uma fórmula explícita; são determinados de massa de cimento), sem o fenômeno de sucção
tal forma que a soma dos erros absolutos3 seja mínima. (PÓVOAS, JOHN, 2000a), a perda por evaporação da
O algoritmo utilizado nesta pesquisa para estimar os argamassa medida no presente trabalho é da mesma
parâmetros está apresentado em Tavares (1998). ordem de grandeza, mas ligeiramente menor, pois os
valores apresentados após 25 minutos foram de 1,24,
1,43 e 1,29 %, respectivamente.
Caracterização dos materiais Pode-se observar também, na Figura 9a, que em um
utilizados estágio inicial, a velocidade de perda de água é
provavelmente maior, conforme indicada pelo ângulo
A placa cerâmica utilizada apresentou absorção de α, mas diminui após um tempo em torno de 5 minutos,
água de 16 %, medida de acordo com a NBR 13818 apresentando um ângulo β < α. Este aspecto, no
(ABNT, 1997). entanto, deverá ser objeto de investigações futuras.
A argamassa colante utilizada foi a do tipo AC-I para
interiores. As características de resistência de aderência Resistência de aderência
e tempo em aberto são objeto de detalhamento deste Este ensaio, desenvolvido como descrito no item
estudo, por isso não estarão apresentados neste item. Determinação da influência da perda de água por
A caracterização da argamassa colante quanto ao evaporação na resistência de aderência, tem os
deslizamento não foi realizada devido ao ensaio ser resultados apresentados na Tabela 2. Os espaços vazios
realizado na horizontal, não precisando levar em indicam valores desprezados porque a ruptura não
consideração esta propriedade. ocorreu na interface argamassa/placa cerâmica ou na
argamassa, mas na interface argamassa/substrato.
Para o ensaio de arrancamento, a argamassa foi colada
com adesivo epóxi no verso do substrato-padrão. Como A análise dos dados é feita através da regressão robusta
não houve perda de água por sucção, não foi necessário pelo método L1, segundo a qual não se descartam os
realizar o ensaio de absorção no substrato. valores que diferem 20 % da média de cada intervalo
de tempo, conforme recomenda a NBR 14083 (ABNT,
1998c).
Apresentação e análise dos Para efetuar este tipo de regressão, foi utilizado o
resultados programa STATISTICA.
A regressão linear robusta aplicada aos dados da
Quantidade de água perdida por Tabela 2 está apresentada na Figura 10. Os resultados
evaporação individuais estão indicados, assim como a reta que
representa a evolução da queda da resistência de
Para o ensaio de medida da perda de água por
aderência em função do tempo de assentamento da
evaporação, foram produzidas duas séries com três
placa cerâmica.
corpos-de-prova cada uma para possibilitar a aplicação
de análise de variância (ANAVA) e verificar a A Figura 11a apresenta a correlação entre as estimativas
repetibilidade do ensaio a um nível de significância de de aderência média fornecidas pela equação linear
5 %. apresentada na Figura 10 (y = 0,604 – 0,014 t), aos 0, 5,
10, 15, 20 e 25 minutos, com os da perda de água por
Os resultados da perda de água para o meio ambiente,
evaporação. A correlação linear obtida é excelente,
medida através da variação de massa até 25 minutos,
sendo que 99,7 % da perda de resistência de aderência
estão apresentados na Figura 9a e na Tabela 1.
pode ser explicada pela evaporação da água. Esta
A análise de variância comprova que as duas séries não conclusão não pode ser generalizada para outra
apresentam resultados que diferem significativamente argamassa que não a colante.
em qualquer dos 5 intervalos de tempo estudados, o
Ao alcançar o tempo em aberto, a superfície do cordão
que demonstra a repetibilidade do experimento com
de argamassa se apresenta ressecada; embora sob
pequeno desvio-padrão. Sendo assim, adota-se o valor
pressão, a camada interna ainda se encontra fresca. Ao
médio de 1,11 % para a perda de água por evaporação
pressionar a placa cerâmica sobre o cordão, este
aos 25 minutos (Figura 9a).
promove a adesão da placa, mas a resistência é
Se comparada com as argamassas estudadas diminuída. Este fato deve ser o principal responsável
anteriormente (Figura 9b), que foram preparadas em pelo descolamento.
laboratório, com 0,4 % de HEC, 10 % de EVA e 0,4 %
Como os ensaios foram feitos sob condições controladas,
sem perda por sucção pela base, a perda por evaporação
foi o principal responsável pela perda de resistência de
n aderência.
∑ | Res - E(Res ) |
3
i i
i =1
Influência da perda de água por evaporação na resistência de aderência entre argamassa colante e placa cerâmica 15
Ao correlacionar os dados de Póvoas e John (2000b), Os resultados da argamassa estudada indicam que a
onde a variação da resistência de aderência com o cada 0,22 % de perda de água por evaporação, há perda
tempo foi estudada através do ensaio de determinação de resistência de aderência de 0,07 MPa, ou seja, de
do tempo em aberto (ABNT, 1998c), com os dados mais de 10 % da resistência de aderência.
constantes da Figura 9b, confirma-se a conclusão de
que a perda por evaporação foi o principal responsável
pela perda de resistência de aderência (Figura 11b).
1,6
1,2
1,0
0,8
0,6
0,4
β
0,2
α
0,0
0 5 10 15 20 25
t (min)
(a)
1,6
1,4
Perda de água por evaporação (%)
1,2 HEC
EVA
1,0 HEC+EVA
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
0 5 10 15 20 25
t (min)
(b)
Figura 9 - Resultado típico do ensaio de perda de água por evaporação: (a) argamassa tipo AC-I4, (b) resultados de Póvoas e John
(2000a)
Séries Resultados (%) Média das séries (%) Média geral (%) Desvio-padrão
1,24
1 1,02 1,15
1,20
1,11 0,14
1,25
2 0,89 1,08
1,09
4
argamassa colante para assentamento de revestimentos internos ensaiada
16 Povoas et al.
Tabela 1 - Média e desvio-padrão do ensaio de perda de água por evaporação após 25 minutos
y=0,604-0,014*t
1,0
0,8
Resistência aderência (MPa)
0,6
0,4
0,2
0,0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Tempo (min)
1,6
1,4
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
0,0 0,5 1,0 1,5
Perda de água por evaporação (%)
(a)
1,6
EVA
1,4 HEC
Resistência de aderência (MPa)
HEC+EVA
1,2
1,0
y = -0,139x + 1,229
0,8 2
R = 0,983
0,6
y = -0,704x + 1,416
2
R = 0,996
0,4
(b)
Figura 11 - Resistência de aderência versus perda de água por evaporação (a) argamassa tipo AC-I ensaiada (b) resultados de Póvoas
e John (2000b)
.
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