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Release Evandro Teixeira No CCBB RJ Aprovado
Release Evandro Teixeira No CCBB RJ Aprovado
Além dos registros feitos no Chile, a mostra traz imagens produzidas por Evandro
durante a ditadura civil-militar brasileira, em um diálogo entre os contextos históricos
dos dois países. Em monitores dispostos pelo espaço expositivo, também são
apresentados trechos de filmes que documentam o período, como “Setembro chileno”,
de Bruno Moet, e “Brasil, relato de uma tortura”, de Haskell Wexler e Saul Landau. A
mostra apresenta, ainda, livros, fac-símiles e outros objetos, como máquinas
fotográficas e crachás de imprensa.
CHILE, 1973
Evandro Teixeira viajou para o Chile em setembro de 1973, no dia seguinte ao golpe
militar de 11/9, que levou à morte do presidente eleito Salvador Allende. O fotógrafo foi
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Entre as imagens produzidas nesse período, o registro mais importante feito pelo
fotógrafo, que ele mesmo considera um dos marcos de sua carreira, foi a da morte e
enterro do poeta Pablo Neruda. Um dia depois de chegar a Santiago, Evandro soube
pela esposa de um diplomata que Neruda estava hospitalizado em uma clínica da
cidade. O fotógrafo foi até o local, mas não conseguiu registrar o escritor, que morreu
na noite daquele mesmo dia. Na manhã seguinte, retornou à clínica, já ciente da morte,
e conseguiu acesso ao interior do edifício por uma entrada lateral, chegando ao local
onde Neruda estava, em uma maca no corredor, sendo velado por sua viúva, Matilde
Urrutia. Em entrevista para o site do IMS, o fotógrafo relembra o episódio: “Estou lá,
rondando o hospital, e de repente abre uma porta lateral, olho, tiro a Leica, sempre deixo
preparada para dois metros, o que der, deu. Entro, Neruda está na maca, dona Matilde,
sua mulher, sentada com o irmão dela.”
Evandro fez a foto e, em seguida, pediu permissão para a viúva, lembrando que havia
fotografado Neruda anteriormente, em um encontro com o escritor Jorge Amado no
Brasil. Matilde não só permitiu que ele fizesse os registros como pediu para acompanhá-
la até a residência do casal, La Chascona, onde o corpo seria velado. "Dentro da clínica
fiz a maca, fiz várias fotos, apavorado. Eu olhava em volta, pensava naquele mundo de
fotógrafos em Santiago e dizia pra mim mesmo: não, não é possível, só eu aqui, só
eu?", relembra. Evandro registrou naquele dia e no seguinte detalhadamente todas as
etapas do velório e enterro do poeta, que contou com grande participação popular e se
tornou o primeiro grande ato contra o governo de Pinochet.
Evandro foi, assim, o único fotojornalista a registrar Neruda ainda na clínica, logo após
seu falecimento, que hoje, de acordo com estudos recém-publicados, parece ter sido
causado por envenenamento. O curador Sergio Burgi comenta a importância dessa
série de imagens, principal destaque da exposição: “Esta é uma documentação
excepcional e em grande parte ainda inédita, oriunda da obstinação e audácia de um
fotojornalista brasileiro que conseguiu penetrar incógnito no hospital onde se encontrava
o corpo do poeta que admirava e conhecera no Brasil”.
A exposição também traz imagens que Evandro realizou no Estádio Nacional do Chile,
local onde o governo encarcerou e torturou inúmeros presos políticos. Os
correspondentes foram levados pelos próprios militares para fotografar o local, em uma
iniciativa oficial que visava encobrir as violações de direitos humanos que aconteciam
ali. Ainda assim, Evandro e outros colegas conseguiram driblar o cerco e registrar tanto
a chegada não planejada pelos militares de novos presos políticos ao estádio como
também penetrar no subsolo do local, onde jovens estudantes foram fotografados sendo
conduzidos para áreas internas. Junto aos registros do Estádio Nacional, há também
imagens que mostram a violência militar em Santiago, como a foto do Palácio De La
Moneda bombardeado.
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A mostra também contribui para a reflexão sobre a extensa obra de Evandro Teixeira,
profissional comprometido, sobretudo, com seu ofício, como revelam suas palavras:
“Minha aventura pessoal identifica-se com a aventura vivida pelo mundo. Não tenho
méritos para isso, sou um homem manejando uma câmera. Quando bem operada, é um
fósforo aceso na escuridão. Ilumina fatos nem sempre muito compreensíveis. Oferece
lampejos, revela dores do impasse do mundo. E desperta nos homens o desejo de
destruir esse impasse."
CATÁLOGO
A mostra será acompanhada de um catálogo, que trará, além das fotografias presentes
na mostra, textos da cientista política, socióloga e professora Maria Hermínia Tavares
de Almeida, do escritor Alejandro Chacoff e do curador da exposição, Sergio Burgi, e
uma cronologia organizada pela pesquisadora Andrea Wanderley.
SOBRE O ARTISTA
Baiano nascido em 1935, Evandro saiu de Irajuba para fotografar o Brasil. Em quase 70
anos de atividade, 47 deles no Jornal do Brasil, registrou o golpe militar de 1964 e as
manifestações estudantis de 1968, o golpe no Chile em 1973 e o enterro do poeta
chileno Pablo Neruda. Eternizou em imagens icônicas Pelé e Ayrton Senna,
documentou fome e pobreza, mas também carnaval e festas populares. Política,
esporte, moda, comportamento, nada escapou às suas lentes. É dono ainda de uma
produção autoral importante, na qual se destaca o projeto sobre Canudos.
SOBRE O CCBB RJ
O Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro funciona de quarta a segunda, das 9h
às 20h, e fecha às terças-feiras. Inaugurado em 12 de outubro de 1989, o CCBB está
instalado em um edifício histórico, projetado pelo arquiteto do Império, Francisco
Joaquim Bethencourt da Silva. Marco da revitalização do centro histórico do Rio de
Janeiro, o Centro Cultural mantém uma programação plural, regular e acessível, nas
áreas de artes visuais, cinema, teatro, dança, música e pensamento. Em 33 anos de
atuação, foram mais de 3 mil projetos oferecidos ao público, e, desde 2011, o CCBB
incluiu o Brasil no ranking anual do jornal britânico The Art Newspaper, projetando o Rio
de Janeiro entre as cidades com as mostras de arte mais visitadas do mundo. O prédio
dispõe de 3 teatros, 2 salas de cinema, cerca de 2 mil metros quadrados de espaços
expositivos, auditórios, salas multiuso e biblioteca com mais de 250 mil exemplares. Os
visitantes contam ainda com restaurantes, cafeterias e loja, serviços com descontos
exclusivos para clientes Banco do Brasil.
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