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Casos de Autotutela

1) Nuno queria pertencer a um bando de adolescentes disparatados, no qual, para


ascender ao lugar de membro, havia que roubar um computador da escola.
Assim, um dia, em plena hora de almoço, pôs o seu plano em ação para assaltar a
escola. Acontece, porém, que a escola era guardada por Miguel, homem menos sensato,
que assim que avistou o pequeno meliante, atirou a matar.

2) Imagine, diferentemente, que Nuno tinha entrado na escola à noite, portando


um pau de giz na sua mão esquerda, cuja sombra parecia, aos olhos de Miguel, uma faca.

3) Uma criança de 3 anos ameaçou Miguel com uma grande faca de cozinha. Este,
sem hipótese de recorrer aos meios coercivos normais, espancou-a.

4) Salvador ia a subir a Avenida da Madeira, quando viu um carro a descer a alta


velocidade em direção a um conjunto de crianças, pelo que colocou o seu carro de modo
a colidir com o primeiro, destruindo-o quase por completo e levando-o a embater nos
carros que se encontravam estacionados.

5) Rita estava a passear com a sua mãe quando viu um senhor a ter um ataque de
coração no meio da rua. Quando ligou para os serviços médicos de urgência, estes
informaram-na que, em virtude da greve dos combustíveis estavam limitados nos
veículos, pelo que só lá conseguiriam passar no espaço de duas horas. Sem ver alternativa,
a primeira partiu o vidro de um carro que lá se encontrava estacionado, pô-lo a funcionar
e levou a vítima para o Hospital.

6) Miguel tinha um cão a morder-lhe o calcanhar, pelo que o pontapeou em


legítima defesa.

7) O Ricardo, palhaço de profissão, apontou uma faca falsa, numa demonstração,


a Martina. Esta, desconhecendo a falsidade da faca, agrediu-o violentamente.
8) O João, rapaz bem constituído, foi empurrado por uma senhora na rua porque
este a havia ultrapassado na fila. Em resposta, João aplicou-lhe 206 golpes.

9) Uma noite, 4 rapazes de mau aspeto tentaram assaltar o Sandro. No pânico do


momento, este arrancou uma pedra da calçada e partiu para a violência física, tendo
deixado os agressores entre a vida e a morte, em virtude de os ter continuado a agredir
mesmo depois de ficarem inconscientes.

10) Em plena hora de ponta no metro, Mário retira a carteira do bolso de Nancy.
Nancy só se apercebe do furto quando, na estação seguinte, Mário sai da carruagem a
passo apressado. Determinada a recuperar a sua carteira, Nancy corre atrás de Mário e
aplica-lhe um golpe de judo, conseguindo assim reaver o seu pertence.

11) Imagine que, no caso anterior, Mário foi mais rápido do que Nancy e que esta
não conseguiu reaver a carteira. No entanto, nesse mesmo dia, ao passear na rua, Nancy
vê, por acaso, a carteira dentro de um carro. Sempre determinada a reavê-la, parte o vidro
do carro e retira a carteira.

12) Orlando convidou os seus amigos para um grande jantar na sua casa. Ia
mostrar os seus dotes culinários apresentando um prato chinês flambé. No entanto, como
estava muito atarefado com os preparativos para o jantar, Orlando distraiu-se e colocou
demasiado álcool no wok, causando um violento incêndio na sua casa. Lembrando-se que
Paulo, o seu vizinho da casa do lado, guardava um extintor na garagem, Orlando resolveu
pedi-lo a Paulo. Porém, uma vez que ninguém se encontrava em casa, Orlando arrombou
a porta da garagem de Paulo, retirou o extintor e conseguiu dominar o incêndio que
ameaçava a sua casa. Paulo não é solidário com Orlando e exige uma indemnização pelos
danos causados.

13) A situação seria diferente se a porta tivesse sido arrombada por Laura,
namorada de Orlando que o ajudava nos preparativos para o jantar?

II
A CAMILINHA era uma menina muito inventiva, conhecida por andar sempre
com auriculares ouvindo música vários decibéis acima do nível normal. No final da
primavera, inspirada nas suas experiências na Finlândia, resolveu instalar uma sauna
super equipada no seu hall de entrada.

Certo dia de junho, o herói BELISSÁRIO – cuja sensibilidade nasal havia sido
perdida na guerra – voltou a casa e, quando subia as escadas para o seu 4ºesquerdo, viu-
se obrigado a parar no piso inferior, preocupado ao constatar que saía fumo pela porta de
entrada da sua vizinha CAMILINHA. Não tendo ninguém a quem recorrer para confirmar
o que os seus sentidos lhe indicavam, apressou-se a bater à porta e gritar pela vizinha,
momento no qual sentiu elevada temperatura que os braseiros da sala haviam transmitido
para os ferrolhos da porta. Aflito com a ausência de resposta e todos os sinais de perigo,
arrombou a porta com o extintor do vizinho DIMAS.

III

Clarisse estava a passear na Baixa, à noite, quando viu uma sombra a aproximar-
se. Sabendo que aquela zona era propícia a assaltos, tirou da mala uma navalha e virou-
se para trás repentinamente, deparando-se com Igor, um sujeito mal-apessoado que a
olhava fixamente. Pensando que ia ser agredida, desferiu de imediato um golpe na barriga
do sujeito e, quando este já estava caído no chão, tentou um novo golpe, mas acabou por
falhar no alvo. Nisto, ficou estarrecida quando Igor tirou uma arma do bolso do casaco e
disparou sobre a sua perna.
Miquelino, que passeava o seu cão, Brutus, por aquela zona, ouvindo o barulho
do tiro, rapidamente se apressou a ver o que se passava, deparando-se com Igor ainda
com a arma em punho. Nesse momento, Brutus começou a correr freneticamente em
direção a Igor, mas este antecipou-se e desferiu um murro em Brutus que caiu redondo
no chão.
No fim de contas, Igor veio dizer que estava apenas a passear na Baixa e que nunca
pretendeu agredir Clarisse. Clarisse, por sua vez, defendeu que achou que ia ser agredida
e Miquelino exigiu ser ressarcido pelas despesas que teve com Brutus que teve de ir para
o veterinário.
Quid juris?

IV

Às 12h, Álvaro saiu de casa para ir buscar algumas ferramentas, já que tinha
combinado assaltar uma mina de ouro com Carlos. Regressado, notou que este estava a
ter uma conversa muito animada com Bento, enquanto este apontava uma foice ao seu
interlocutor, pelo que Álvaro, que há muito tempo que procurava uma razão para se vingar
de Bento, atirou uma picareta na sua direção, que o deixou estendido no chão. Vendo isto,
o filho do caído, Daniel, apressou-se a carregar o seu revolver e a atirar, mortalmente,
sobre Álvaro.
Quando chegaram as forças de autoridade, a história toda pôde ser esclarecida e
soube-se que, naquele momento, Bento estava apenas a mostrar a sua nova foice, já que
ambos estavam fascinados com o facto de esta brilhar no escuro.

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