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CASOS PRÁTICOS SOBRE

TUTELA PRIVADA
CASO I

Alberta, abastada proprietária rural, vive isolada no seu monte alentejano e todos os dias, ao
final da tarde, passeia, acompanhada pelos seus poderes rafeiros alentejanos, pela
propriedade. Certo dia, avista, ao longe, um vulto junto do curral. Detendo-se na observação,
constata, furiosa, que alguém conduz dois vitelos para longe do limite da propriedade. De
imediato ordena o mais veloz dos cães, Dante, a perseguir o ladrão.

Conduzindo os vitelos está, na verdade, Bruno, veterinário contratado há meses e que, tal
como lhe havia sido solicitado, afastava os dois animais para seu conforto, já que padeciam da
doença dos vitelos de leite.

Ao sentir a mordida de Dante na perna, Bruno grita tão alto quanto pode, alertando Ernesto,
proprietário do terreno vizinho. Ernesto dispara a sua caçadeira contra Dante repetidamente.
Porém, Fábio, intrépido defensor dos direitos dos animais que acompanhava Ernesto, desfere-
lhe um violento murro, fazendo cessar os disparos.

No rescaldo dos acontecimentos, Bruno pretende obter de Alberta uma indemnização.


Também Ernesto, que, na sequência da agressão de Fábio, ficou hospitalizado várias semanas,
entende que Fábio deve ser condenado a indemnizá-lo.

Qualifique as condutas de Alberta, Ernesto e Fábio e aprecie as pretensões de Bruno e


Ernesto.

CASO II

Devido a uma forte constipação, que a levou a vários dias de internamente, Liliana
apercebeu-se, já no hospital, que havia deixado aberta a torneira da sua casa de banho, pela
qual pediu ao seu sobrinho, Diogo, que a fosse fechar o quanto antes.

Eram duas e meia da manhã quando Diogo tentava com dificuldade abrir a porta da casa de
Liliana, pois desconhecia os truques de uma fechadura já bastante antiga. Foi neste preciso
momento que, Carlos, o vizinho de Liliana, pensando que se tratava de um ladrão, desferiu um
golpe na cabeça de Diogo com o cabo de uma vassoura. Da pancada resultou uma incisão com
cinco centímetros e dois dias de incapacidade para o trabalho.

Qualifique a conduta de Carlos.


CASO III

Bernardo passava de noite numa rua, quando se apercebeu de um incêndio que deflagrava
num edifício de habitação próximo. Bernardo entrou nesse edifício onde acordou os, avisando-
os da situação. Ao chegar ao apartamento de André, violinista famoso, situado no andar de
onde provinha o fumo que lhe chamara a atenção, Bernardo bateu a porta, mas ninguém
atendeu. Resolveu então arrombar a porta, partindo o violino de André que se encontrava
atrás dela. André que estava a cozinhar, sobressaltado, pensou estar a ser assaltado por
Bernardo e deu-lhe um murro que o deixou inconsciente. Mais tarde, Bernardo veio a saber
que não havia qualquer incêndio, mas que a comida de André se tinha queimado por este não
ter muito jeito para cozinhar.

Apesar de se ter enganado, Bernardo considera que André não agiu corretamente, razão pela
qual pretende ser ressarcido das despesas hospitalares que teve na sequência da agressão de
que foi vítima. Por sua vez, André pretende ser ressarcida pelos danos que lhe foram causados
por Bernardo, ou seja, pelo violino partido, bem como pelo facto de ter podido tocar num
concerto que tinha agendado para o dia seguinte e pelo qual ia ganhar 3000 euros. Pretende
finalmente, que Bernardo seja inibido de exercer a sua profissão de guarda-florestal, uma vez
que não sabe distinguir um incêndio de um cozinhado que correu mal.

Quid iuris?

CASO IV

Eurico, ao entrar no seu domicílio, verificou que o irmão, Silvino, que com ele morava, se
encontrava inanimado por intoxicação de gás de uma botija que a empregada doméstica,
Paula, deixara inadvertidamente aberta. Não dispondo nessa altura de veículo próprio e
encontrando-se estacionado proximamente o automóvel do vizinho, Rui, que se achava
ausente, Eurico arrombou a porta da casa deste e retirou as chaves do veículo, tendo
conduzido o irmão Silvino ao hospital.

Devido a esta situação o automóvel ficou seriamente danificado, pois carecia de reparações
urgentes no motor, o que Eurico ignorava. Tal facto, leva Rui a pedir-lhe uma indemnização, ao
que Eurico responde ter sido Paula a responsável pelo sucedido. Esta, por sua vez, invoca ser
pessoa de reduzidos recursos patrimoniais, ao contrário dos irmãos Eurico e Silvino.

Quid iuris?

CASO V

Ao entrar no metro, Victor verifica que Guilherme tem em seu poder um anel valioso, igual a
um anel que aquele havia comprado na joalharia do seu grande amigo Francisco, e que, dias
antes, havia sido furtado da sua casa. Victor dirige-se a Guilherme, agarrando-o para lhe tirar o
anel, sendo impedido por Guilherme que, com um forte pontapé, lhe fratura a perna.

Após estes factos, conclui-se que o anel possuído por Guilherme era propriedade deste, e
apenas semelhante ao furtado a Victor.
Quid iuris?

CASO VI

Devido a uma greve geral nos transportes públicos, Rute, após um cansativo dia de trabalho,
teve de regressar a casa a pé, e, quando passava numa rua deserta, cerca da meia noite, é
assaltada por Paulo, que lhe arranca violentamente do pescoço um fio de ouro. Rute,
apavorada, defende-se disparando sobre Paulo e atingindo-o no peito. Em consequência do
dispara, Paulo morreu alguns dias depois.

Quid juris?

CASO VII

Catarina apercebeu-se que a sua viatura estava sem gasolina, por isso, decidiu apanhar um
autocarro para se deslocar à Faculdade. Eram dezassete horas, o autocarro estava bastante
cheio e numa das paragens, mesmo antes de as portas se fecharem, Regina tira violentamente
a carteira a Catarina, saindo a correr enquanto o autocarro começa a andar. Sara, que estava
na paragem à espera de outro autocarro, e que andava sempre armada, desde que havia sido
assaltada, diante daquela situação, dispara sobre as costas de Regina.

Quid juris?

CASO VIII

Alfredo costuma queimar folhas secas nas traseiras do quintal, apesar dos protestos dos
vizinhos que temem que ele venha a provocar um incêndio. Foi exatamente o que aconteceu
naquele Domingo, as chamas ateadas pelo vento forte, rapidamente, atingiram a casa de
Alfredo sem que este conseguisse controlá-las. Quis telefonar para chamar os Bombeiros, mas
tinha o telefone cortado e o telemóvel avariado. Aflitíssimo, como os vizinhos tinham saído,
não viu outra solução senão arrombar a porta da casa de Bela – que as chamas começavam já
a ameaçar também – a fim de telefonar para os Bombeiros.

Quid juris?

a) E se o incêndio tivesse sido provocado por um raio que atingisse uma árvore no quintal
de Alfredo? Imagine agora, a mesma situação do texto, mas quem arrombou a porta
foi Celestino, morador na casa do outro lado da rua, que não tinha telefone e se
apercebeu que Alfredo, completamente desorientado, nada ia fazer. Quid iuris?

CASO IX

Artur é estudante de Bioquímica. Uma semana depois da realização do exame de Química


Orgânica, é publicada a pauta final na plataforma online, na qual consta que Artur ficou
reprovado à disciplina com 9 valores (numa escala de 0 a 20).

Estupefacto, Artur desloca-se à Faculdade e procura Bianca, docente responsável pela


disciplina. Encontrando-a, interpela-a, exigindo ver o seu exame e afirmando que, certamente,
houve erro na correção. Bianca, por sua vez, recusa facultar prova ao aluno. Artur, exaltado,
persegue-a pelos corredores da Faculdade, gritando-lhe que sofreria “graves consequências”
caso não revisse a prova. Assustada, Bianca corre em direção ao parque de estacionamento
para fugir de Artur. Porém, o segurança da Faculdade, Zeca, impede-a de aceder ao parque
sem exibição do respectivo de identificação. Bianca afasta-o com um empurrão violento que,
derrubando-o, resulta num braço partido.

Um ano depois, Zeca intenta ação contra Bianca, exigindo-lhe que pague as despesas
hospitalares em que incorreu. Já Bianca entende que nada tem a pagar; alega, ainda, que,
durante as semanas que se seguiram ao acidente, Zeca a cumprimentava de modo cordial e
meigo, nunca tendo feito qualquer referência à sua intenção de a processar.

Quid iuris?

CASO X

António, famoso pugilista, gosta de correr à beira-mar ainda de madrugada. Não prescinde,
nas suas corridas, do seu relógio Rolex e dos seus amuletos da sorte: fios e anéis de ouro e
pedras preciosas.

Certa manhã, é abordado por três indivíduos armados, que lhe exigem, sob ameaça de tiros,
que entregue os valiosos pertences. António foge até ao bar da praia, ainda encerrado, mas
junto ao qual Bento, funcionário, tinha encostado há instantes a sua mota. António sobe para a
mota com a intenção de escapar aos três assaltantes, mas é avistado por Bento, que, julgando
estar ele próprio a ser assaltado, derruba António, fracturando-lhe vários ossos. Os três
assaltantes, na confusão, conseguem levar a cabo os seus intentos.

António reclama agora, junto de Bento, o pagamento de indemnização correspondente ao


valor das despesas hospitalares e dos bens subtraídos.

Quid iuris?

CASO XI

Ao chegar à rua onde morava, já bastante tarde, Antónia avista dois vultos que,
cambaleantes, se aproximavam, falando em voz baixa e tom agressivo. Subitamente, um dos
vultos avança na direcção de Antónia, que identifica então um sujeito com expressão
ameaçadora levando a mão ao bolso do casaco.

Assustada, apercebendo-se de que se esquecera das chaves de sua casa, Antónia força a
frágil porta do seu vizinho Benjamim, introduzindo-se na sua residência, sendo seguida pelos
dois indivíduos.

Benjamim, ouvindo o rebuliço, desperta do sono e pega na arma que guarda na mesa de
cabeceira. Reconhece Antónia, mas não os dois indivíduos, que continuam a avançar na sua
direcção. Com o intuito de proteger a amiga, dispara dois tiros, matando um dos sujeitos e
deixando o outro gravemente ferido. É depois dos disparos que Antónia se apercebe de que
tinha sido seguida por dois amigos seus, apurando-se mais tarde que estes apenas tinham
querido pregar-lhe uma partida.

Quid iuris?
1) E se, em vez de Benjamim, tivesse sido Antónia quem, já no apartamento daquele,
disparara a arma?
2) E se os indivíduos fossem, efectivamente, malfeitores?

CASO XII

Às duas horas da manhã de uma sexta-feira, Marta passeava o seu cão Michi por um
descampado pouco iluminado perto do bairro onde morava. A certa altura, deteta, à sua
frente, uma ameaçadora sombra empunhando um objeto aparentemente perigoso numa das
mãos. Dá, então, a Michi o comando de ataque que haviam treinado nos meses anteriores.
Marta constata, porém, que Michi atacara uma senhora idosa, Manuela, que, passeando o seu
próprio cão, Magnum, empunhava um guarda-chuva. Marta aproxima-se dela com o intuito de
a libertar do feroz ataque, mas é surpreendida pela potente mordida de Magnum, entretanto
instruído pela sua dona a defendê-la.

Quando confrontadas pela polícia, entretanto chamada ao local por um transeunte, quer
Marta, quer Manuela negam qualquer responsabilidade pelos ataques dos seus animais.

Quid iuris?

CASO XIII

No dia do seu aniversário, Artur, que estudava na biblioteca da Faculdade para a frequência
de Introdução ao Estudo do Direito, é surpreendido pelo som do alarme de incêndio.

Aterrorizado, tenta fugir da biblioteca, deparando-se, porém, com a porta de saída trancada.
Percebendo-se rodeado de papel, Artur arromba a porta com uma cadeira.

No corredor, os alunos, em pânico, atiram cadeiras e mesas contra janelas e portas. Ao ver o
seu colega Ricardo junto a uma janela prestes a ser atingida por uma cadeira, Artur corre na
sua direção, atirando-o ao chão e partindo-lhe o braço esquerdo.

À saída da Faculdade, Artur é confrontado com uma surpresa de aniversário dos seus colegas
de turma, que tudo haviam encenado com o intuito de o fazer abandonar o estudo e juntar-se-
lhes para uma cerveja. Ricardo exige-lhe, agora, uma indemnização.

Quid iuris?

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