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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I


Turno da Noite/Turma 1 – 2008/2009

Nota: Os casos práticos que se seguem, excepto o primeiro,


elaborado pela Dra. Maria de Lurdes Pereira, são da autoria do Dr.
Pedro Múrias.

Caso prático n.º 22


António conduzia o automóvel que o seu irmão, Gabriel, lhe
havia emprestado, quando surgiu à sua frente, de forma totalmente
inesperada, Bárbara, criança de dois anos idade. António circulava
com cuidado e respeitando os limites legais de velocidade, mas, para
evitar uma colisão com a criança, de outra forma inevitável, mudou
bruscamente de direcção para a direita, vindo a embater
violentamente contra a traseira do carro de César que se encontrava
ilegalmente estacionado em segunda fila. Os automóveis ficaram
seriamente danificados e António sofreu um traumatismo craniano
profundo que o pôs em estado de coma durante dois meses. Bárbara
encontrava-se à guarda da ama, Dora, que havia sido
cuidadosamente escolhida pelos seus pais, Elsa e Fernando. No
momento do acidente, porém, Dora conversava distraidamente com
Helena, ama de outra criança, dado que esta a havia informado que
àquela hora raramente passavam carros pela rua. Na realidade,
contudo, tratava-se de uma rua bastante movimentada.
a) António pretende pedir uma indemnização pelos danos
decorrentes do acidente. A quem e em que termos poderá fazê-lo?
Considere apenas aplicáveis as regras da responsabilidade civil.
b) Isabel, mulher de António e proprietária de um pequeno
café, foi obrigada a fechá-lo durante os dois meses em que o seu
marido esteve internado. Os médicos asseguraram-lhe que a presença
de um familiar próximo auxiliaria a recuperação. Isabel pretende

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agora saber se pode exigir uma compensação pelos danos que sofreu
com o encerramento temporário do café. Que resposta lhe daria?
c) César verificou que os custos da reparação do seu carro
ascendem a 10.000,00€. Esses custos são excepcionalmente altos, já
que aquele carro, ao contrário da generalidade dos veículos da mesma
espécie, tem o motor na parte traseira. Tendo em conta que o valor
de mercado actual do automóvel é de 3.000,00€, a quem e em que
termos poderá César exigir o pagamento da reparação?

Caso prático n.º 23


O carro de Deolinda foi seriamente danificado num acidente
devido a negligência de Efigénia. O carro era muito velhinho, de modo
que Deolinda não o conseguiria vender por mais de 100 contos. Mas a
verdade é que andava e não tinha problemas mecânicos! A reparação
custa 200 contos. Como deverá Deolinda ser indemnizada por Efigénia
(ou pela sua seguradora)?

Caso prático n.º 24


Uma empresa de consultoria, a CCC, fez uma avaliação errada
do valor da sociedade comercial JJJ, L.da, cujos sócios estavam a pensar
vendê-la. A CCC agiu nos termos de um contrato com a JJJ. António
veio a comprar as quotas da JJJ, mas percebe agora que fez um
péssimo negócio. Poderá pedir responsabilidades à CCC?

Caso prático n.º 25


Gilberto é veterinário e dono de algum gado. O seu vizinho
Hélio, também criador, teve os seus animais infectados com
carbúnculo, mas não tomou as medidas necessárias para impedir a

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propagação da doença, nem sequer avisou Gilberto, de modo que


vários animais do vizinho foram afectados. Gilberto administrou-lhes o
tratamento adequado segundo os cânones da medicina veterinária,
mas, porque se tratava de uma estirpe rara e não identificada da
bactéria, esse tratamento veio a agravar a doença. Gilberto perdeu
assim 50% do gado infectado, quando as mortes não costumam
exceder 30%, se for aplicado o tratamento devido. Quid juris?

Caso prático n.º 26


Zebedeu conduzia uma camioneta do seu patrão, Xavier. Certo
dia, quando estava quase a chegar ao armazém de Xavier, aparece-
lhe subitamente, a seguir a uma curva, uma pilha de caixas de
mercadorias que um seu colega de trabalho (Vasco) ali tinha deixado,
mesmo no meio do caminho. Zebedeu travou correctamente, e tudo
teria corrido bem se os travões não tivessem avariado naquele preciso
momento.
Na verdade, veio depois a descobrir-se uma fragilidade
impensável nos discos dos travões, que se partiram com a travagem
brusca. A camioneta fora fabricada pela sociedade Automóveis de
Portugal, S.A., e os discos dos travões, pela sociedade Trava a Fundo,
Lda..
Zebedeu, contra ordens expressas de Xavier, tinha dado boleia a
um amigo seu, Sérgio, que ali ia procurar emprego.
O acidente foi sério. A camioneta despistou-se, destruindo as
ditas caixas de mercadorias, cujo conteúdo pertencia a Quirino, um
cliente de Xavier, e atropelando Rui, que ia a passar. Zebedeu ficou
incólume, mas Sérgio deu uma grande cabeçada, de modo que teve
de ser assistido no hospital, e ainda se lhe estragou a roupa nova que

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levava. A camioneta ficou seriamente danificada. Que


responsabilidade civil haverá?

Caso prático n.º 27


O Museu dos Museus, instituição particular de utilidade pública,
é de visita gratuita. Nuno é seu empregado, acompanha os visitantes
e dá-lhe explicações do que vêem. Odete, electricista, foi contratada
pelo museu para uma série de arranjos previamente definidos. Nuno
não era um moço especialmente honesto: muitas carteiras de
visitantes foram desaparecendo até se descobrir que era ele o autor
dos furtos. Odete não era muito cuidadosa: estava em cima do
telhado quando deixou escorregar a mala das ferramentas, que
atingiu um transeunte que não tinha nada a ver com o museu. Será o
museu responsável por estes danos?

Caso prático n.º 28


Isabel e Joana são vizinhas. Isabel é dona do Bobi, um cãozinho;
Joana, do Cérbero, um canzarrão. Os bichos costumavam brincar e
lutar nas cercanias — enfim, o Bobi tentava sobretudo fugir... — sem
nunca terem feito mal a ninguém.
Ali perto passa a A-13. Nos termos da lei, as «auto-estradas
devem ser vedadas, em toda a sua extensão, de modo a impedir a
entrada de animais ou pessoas», e as concessionárias devem
assegurar constantemente o bom estado de conservação das
vedações.
Kramer é dono de um terreno vizinho dos de Isabel e Joana e
contíguo à A-13, ao longo de 1 km. Kramer não costuma encontrar-se

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nesse terreno. Mesmo junto à vedação da auto-estrada, havia um


enorme e velho eucalipto que, desde o último temporal, ameaçava
claramente cair. Kramer ordenou a Manuel, seu empregado, que
abatesse a árvore, mas este, por preguiça, andava a adiar o trabalho,
dizendo ao patrão que já o fizera. Pois o eucalipto veio a cair por si,
deitando abaixo a vedação naquele sítio. A Lisa, S.A., concessionária
da A-13, exigiu a Kramer que consertasse a rede. Perante a sua
recusa, aquela propôs uma acção em tribunal pedindo que Kramer
fosse condenado à reparação. Entretanto, o buraco mantém-se, com
conhecimento de todos.
Em mais uma sessão de «morde e foge», o Cérbero perseguiu o
Bobi através do buraco aberto. O Cérbero não chegou à faixa de
rodagem, mas o Bobi entrou por ali a correr.
Nélia conduzia a cerca de 135 km/h quando o Bobi se lhe
atravessou à frente. Nélia atropelou-o antes de o ver, perdeu o
controlo do carro, bateu no carro de Patrícia, que ia a uma velocidade
semelhante, e capotou. O carro de Nélia saiu dali para o ferro-velho. O
carro de Patrícia ficou ligeiramente danificado. Patrícia seguia sem
cinto de segurança, foi cuspida do automóvel através do pára-brisas e
morreu ao bater com a cabeça numa pedra. Não há qualquer indício
de que os danos fossem menores se Nélia ou Patrícia seguissem a 120
km/h.
Onofre, médico, parou o carro na berma para socorrer Nélia.
Tirou-a do carro, que se incendiou pouco depois, e telefonou para o
112. Nesse momento, porém, Onofre lembrou-se de que estava quase
na hora do SPORTEM / Real Madrid, pelo que continuou viagem em
busca de uma televisão, deixando Nélia sozinha à espera da
ambulância.
Nélia sofreu lesões muito graves, cujos resultados finais ainda
estão por determinar.

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Patrícia não tinha parentes nem cônjuge, mas vivia com uma
amiga, Quitéria, a quem deixou todos os seus bens por testamento.
Que responsabilidade civil haverá?

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