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Asma X Odontologia

Doença exige atenção especial, inclusive, durante o atendimento


odontológico

A asma é uma doença respiratória muito comum provocada por uma


inflamação dos pequenos canais de ar dos pulmões, chamados bronquíolos. O
processo inflamatório leva à formação de edemas, aumento da produção de
muco e espasmo da árvore respiratória, dificultando a passagem de ar pelos
pulmões. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do Ministério da
Saúde e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada em
2015, a doença atinge 6,4 milhões de brasileiros acima de 18 anos.

Segundo o alergista e imunologista pela Associação Brasileira de Alergia e


Imunologia (ASBAI) e Associação Médica Brasileira (AMB), Rafael Antunes
Coelho, “por ser um processo inflamatório crônico dos brônquios – com
remodelamento estrutural –, com o passar dos meses e anos a doença
modifica fisicamente os pulmões, e os danos causados são irreversíveis.
Entretanto, o tratamento adequado pode frear essa alteração tecidual danosa e
melhorar os sintomas da doença”.

O especialista conta que os principais sintomas são: tosse, chiado no peito,


dispneia e, por consequência, comprometimento das atividades cotidianas.
Rafael ressalta ainda que a asma é uma doença multifatorial, ou seja, desde
influência genética até hábitos e ambiente de vivência determinam sua
existência, além de possuir fatores de risco que agravam a patologia. “Os
fatores de risco são todos os agentes irritantes para vias aéreas, como: cigarro,
poeira doméstica, animais domésticos com pelos, fumaça industrial, além de
diversas outras substâncias, que afetam especialmente indivíduos alérgicos”,
ressalva.

A doença pode ser classificada de várias formas. “Quanto a frequência das


crises de broncoconstricção, pode variar em quadros de leve a grave
intensidade e, diante disso, institui-se tratamento voltado ao combate às crises
e/ou à minimização da reação inflamatória. Nesse sentido, considera-se o
tratamento do portador mais como sintomático do que curativo, utilizando-se
fármacos de ação broncodilatadora e de ação anti-inflamatória, administrados
pela via inalatória, enteral ou, em casos emergenciais, injetável”, explica o
Cirurgião-Dentista Marcílio Otávio Brandão Peixoto, professor assistente de
Bioquímica da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas
(UNCISAL), professor titular das disciplinas de Farmacologia, Anestesiologia e
Farmacoterapêutica em Odontologia, no Centro Universitário CESMAC, e
orientador do trabalho científico “Terapêutica medicamentosa em Odontologia
para pacientes portadores de asma", da graduanda de Odontologia, Kyvia
Cristina de Araújo Vilela Borges.
Rafael Antunes Coelho pontua que “existem dois tipos básicos de tratamento
para asma: 1) Tratamento de crises; 2) Manutenção (prevenção das crises). O
primeiro compreende basicamente o uso de broncodilatadores de rápida ação
e glicocorticoides em doses e quantidades específicas, além de um suporte
médico adequado. Já a manutenção é o período em que o paciente saiu da
crise (tosse, falta de ar e chiado no peito), mas que diversos medicamentos
podem e devem ser usados para prevenir outras recaídas. Para esta etapa do
tratamento, o mercado disponibiliza dezenas de fármacos que podem ser
usados isoladamente ou associados, e que tem mostrado excelentes
resultados.” O especialista alerta ainda que “sabe-se que nenhuma asma é
idêntica a outra e, por isso fala-se em fenótipos da asma, em que mecanismos
diversos podem afetar o curso da doença. Sendo assim, cada organismo se
adapta melhor aos tratamentos disponíveis, de acordo com a fisiopatologia de
sua doença e dos seus sintomas apresentados”.

Coelho ressalta que a prevenção da doença começa nos cuidados ambientais,


como retirar a poeira dos móveis com pano úmido, retirar cortinas e tapetes,
em caso de aspirador de pó (utilizar o filtro HEPA) etc. Além de fazer o
acompanhamento com especialista, para definir a necessidade ou não do uso
de medicamentos.

O papel do Cirurgião-Dentista no auxílio da doença

Marcilio Peixoto salienta que “por se tratar de uma doença crônica não
transmissível muito frequente na população, cabe ao Cirurgião-Dentista, como
membro efetivo de equipes multidisciplinares em saúde, saber reconhecer os
aspectos gerais da doença, corrigir os agravos bucais oriundos da condição
clínica e/ou relacionados ao tratamento farmacológico da doença, bem como
prevenir possíveis desconfortos, agudizações ou iatrogenias, estas últimas
principalmente relacionadas à prescrição de medicamentos em Odontologia”.

Segundo Kyvia Borges, esse é o ponto mais importante para o atendimento


clínico com segurança ao portador da condição. “Por exemplo, devido à
utilização de medicamentos glicocorticoides inalatórios alguns pacientes podem
manifestar candidíase oral e/ou esofagiana, que dificulta a deglutição. Além
disso, alguns broncodilatadores reduzem o fluxo salivar, podendo provocar o
aumento da cárie, da doença periodontal e do mau hálito. Portanto, o Cirurgião-
Dentista assume significativo papel para a manutenção da qualidade de vida
dessas pessoas. Às vezes, basta apenas fazer adequações muito simples
como, por exemplo, alertar o portador a fazer uso dos medicamentos antes das
principais refeições, lavar a boca após a inalação e instituir suplementos
fluoretados na rotina de higienização bucal”.
Marcílio observa: “não há uma terapia ou intervenção odontológica
especificamente focada para o portador de asma brônquica, no entanto, a
resolução de mal oclusões e a harmonização facial podem contribuir para
melhorar a respiração (e a autoestima) do paciente”.

“É importante frisar que durante o atendimento odontológico, o Cirurgião-


Dentista deve tomar alguns cuidados com pacientes asmáticos. Determinados
produtos incluindo dentifrícios, selantes oclusais e a própria ‘poeira’ do esmalte
dentário têm sido associados à exacerbação da asma. Além disso, dependendo
da frequência e do uso de glicocorticoides o portador da condição pode ser
considerado como imunoincompetente, merecendo atenção especial durante
procedimentos com risco elevado de bacteremia”, destaca Kyvia, que
acrescenta ainda que “cuidados gerais como adequado controle de ansiedade,
criteriosa avaliação da necessidade de profilaxia antimicrobiana, agendamento
preferencial para atendimento no final da manhã ou da tarde, bem como,
adequado preparo para as crises broncoespásticas, com disponibilidade de
oxigênio e broncodilatadores, devem fazer parte da conduta do Cirurgião-
Dentista para o apropriado atendimento destes pacientes.”

Marcílio remata que “é importante ter atenção especial durante a realização da


anamnese e exame físico do paciente, pois existem diversas peculiaridades
com relação à prescrição e uso de medicamentos da rotina odontológica para o
portador da condição, com riscos do agravamento das crises. Um exemplo
clássico é a comum sensibilidade dos portadores com relação a estabilizantes
e/ou conservantes de soluções anestésicas locais utilizadas como rotina (p.ex.
sulfitos e metilparabeno) que impulsionam muitas vezes a escolha para uso de
soluções anestésicas comercializadas em cartuchos de vidro e sem o
adjuvante vasoconstrictor. Outra preocupação digna de nota é quanto ao risco
de indução de broncoconstricção em decorrência do uso de medicamentos
anti-inflamatórios não-esteroidais, preferindo-se, na maioria dos casos, a
seleção e prescrição de anti-inflamatórios hormonais”. O professor observa que
o bom conhecimento sobre a doença e seu tratamento, quanto à boa
comunicação com os demais membros da equipe de saúde, principalmente os
médicos, e o preparo frente a situações emergenciais são fundamentais para o
atendimento seguro e eficaz do portador de asma na Odontologia.

https://www.apcd.org.br/index.php/noticias/673/em-foco/16-01-2017/asma-x-
odontologia

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