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Universidade Federal da Integração Latino-Americana

Instituto Latino-Americano de Tecnologia, Infraestrutura e Território


Curso de Engenharia de Energia

EER0013 – Máquinas Térmicas

Parte 1

Aula 9 – Ciclos de Potência a Gás (Parte 1):


Ciclo Carnot a Gás, Ciclo Brayton,
Ciclo Rankine x Ciclo Brayton, Ciclo Brayton Real

Prof. Fabyo Luiz Pereira


fabyo.pereira@unila.edu.br

UNILA – ILATIT – CEEN Foz do Iguaçu / PR


Tópicos da Aula


Parte 1 – Aula 9 – Ciclos de Potência a Gás (Parte 1):

Vapor superaquecido x Gás.

Ciclo Carnot a gás.

Modelagem de ciclos de potência com turbinas a gás.

Ciclo Brayton.

Ciclo Rankine x Ciclo Brayton.

Exemplo 9.1.

Ciclo Brayton real.

Exemplo 9.2.

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Vapor Superaquecido x Gás

Vapor Superaquecido x Gás:

Quanto mais espaçadas se encontram as moléculas
de vapor superaquecido, ou seja, quanto maior for o
volume específico:

Menor a probabilidade de colidirem entre si, e
portanto menor será o intercâmbio de energia
devido à interação física.

As propriedades do vapor progressivamente passam a depender muito mais da
temperatura do que da pressão.

Quando o volume específico é suficientemente grande:

As propriedades do vapor passam a depender apenas da temperatura.

A equação de estado de gás ideal é utilizada para modelar o vapor, que por
estar muito superaquecido, passa a ser denominado apenas como gás.

No diagrama T-s acima, a linha pontilhada vermelha demarca, qualitativamente, a
região onde se deve modelar a água como vapor superaquecido ou como gás.
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Ciclo Carnot a Gás

Ciclo Carnot a Gás:

É o ciclo ideal mais eficiente que pode operar
entre dois reservatórios térmicos, sendo
aplicável tanto a ciclos a vapor quanto a gás.

Conforme a figura abaixo e os diagramas
T-s e P-v acima, é composto pelos seguintes
quatro processos em regime permanente, neste caso em um sistema fechado:

1-2 → Compressão isentrópica (s=cte).

2-3 → Adição de calor isotérmica (T=cte).

3-4 → Expansão isentrópica (s=cte).

4-1 → Rejeição de calor isotérmica (T=cte).

A eficiência térmica do ciclo Carnot a gás é:
TL
η cc=1−
TH

Problema: O ciclo Carnot a gás, assim como o a vapor, também não pode ser
aproximado por dispositivos reais, logo não é realista para ciclos de potência a gás.
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Modelagem de Ciclos de Potência com Turbinas a Gás

Modelagem de Ciclos de Potência com Turbinas a Gás:

Conforme figura, ciclos de potência com turbinas a gás podem operar num ciclo aberto ou fechado:

(a) Ciclo aberto → Modelado com câmara de combustão.

(b) Ciclo fechado → Modelado com dois trocadores de calor.

Ciclos Padrão a Ar:

Permitem estudar os motores de combustão externa ou interna como
formados por processos termodinâmicos que formam ciclos fechados.

Hipóteses assumidas:

Fluido de trabalho → Modelado como gás ideal, é uma massa
fixa de ar (não há processo de alimentação e descarga).

Processo de combustão → Substituído por um processo de
transferência de calor de uma fonte externa.

Exaustão e admissão → Substituído por um processo de
transferência de calor ao meio envolvente.

Todos os processos são internamente reversíveis.

O ar apresenta calor específico constante.

Vantagem → Permite examinar qualitativamente a influência das
variáveis no desempenho do ciclo.

Desvantagem → Resultados diferem consideravelmente dos de um motor real.
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Ciclo Brayton

Ciclo Brayton:

Proposto pelo engenheiro estadunidense George Brayton
(1830-1892).

É o ciclo ideal quando se usa um fluido de trabalho que não
sofre mudança de fase (fase gasosa), e que pode ser
aproximado por dispositivos reais.

Conforme a figura abaixo e os diagramas P-v e T-s ao lado,
é composto pelos seguintes quatro processos em regime
permanente em um sistema aberto:

1-2 → Compressão isentrópica (s=cte).

2-3 → Adição de calor isobárica (P=cte).

3-4 → Expansão isentrópica (s=cte).

4-1 → Rejeição de calor isobárica (P=cte).
Observação: Os quatro processos do ciclo
Brayton são os mesmos do ciclo Rankine.
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Ciclo Brayton

Aplicando, em cada processo, a 1ª e a 2ª leis da termodinâmica
em regime permanente para sistemas abertos, desprezando
Δec e Δep, e considerando cp constante:

1-2 → Compressão isentrópica no compressor (s=cte):

Em termos específicos: w c =h1 −h 2=c p (T 1−T 2) [ kJ / kg ]

Em termos de taxas: Ẇ c = ṁ ( h1−h2 ) = ṁ c p (T 1 −T 2 ) [kW ]

2-3 → Adição de calor isobárica no trocador de calor (P=cte):

Em termos específicos: q H =h3 −h 2=c p (T 3−T 2 ) [kJ /kg ]

Em termos de taxas: Q̇ H = ṁ ( h 3−h2 ) = ṁ c p (T 3−T 2 ) [ kW ]

3-4 → Expansão isentrópica na turbina (s=cte):

Em termos específicos: w t =h3−h 4=c p (T 3−T 4) [kJ /kg ]

Em termos de taxas: Ẇ t = ṁ ( h 3−h4 ) = ṁc p (T 3−T 4 ) [kW ]

4-1 → Rejeição de calor isobárica no trocador de calor (P=cte):

Em termos específicos: q L=h1 −h 4=c p (T 1−T 4) [kJ /kg ]

Em termos de taxas: Q̇ L = ṁ ( h 1−h4 ) = ṁc p (T 1 −T 4 ) [kW ]
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Ciclo Brayton

Observe que T2>T1 e T4>T1, o que faz com que wc e qL sejam negativos. Para
determinar a eficiência térmica, trataremos todas as transferências de calor e de
trabalho como positivas, multiplicando o lado direito das equações de wc e qL por
-1, e assim as transferências de calor e de trabalho dos processos ficam:

Em termos específicos [kJ/kg]: ●
Em termos de taxas [kW]:
w c =c p (T 1−T 2).(−1) → wc =c p (T 2 −T 1 ) Ẇ c = ṁ c p (T 2−T 1)
q H =c p ( T 3−T 2) Q̇ H = ṁc p (T 3 −T 2 )
w t =c p (T 3−T 4) Ẇ t = ṁc p (T 3 −T 4 )
q L=c p (T 1−T 4) .(−1) → q L =c p (T 4 −T 1 ) Q̇ L = ṁc p (T 4−T 1 )

A razão de consumo de trabalho é definida por:
w c c p (T 2−T 1 ) T 2 −T 1
r ct = = → r ct =
w t c p (T 3 −T 4 ) T 3−T 4

A eficiência térmica do ciclo Brayton é: q H qL

w w −wc c p (T 3 −T 4 )−c p (T 2 −T 1) ⏞ c (T −T 2 )−⏞ c p (T 4−T 1 )


η t = líq = t = = p 3
qH qH c (T −T 2 ) c p (T 3 −T 2 )
1 p 3
c p (T 3 −T 2 ) c p (T 4 −T 1 ) (T 4−T 1 )
ηt= − → η t =1−
c p (T 3 −T 2 ) c p (T 3−T 2 ) (T 3 −T 2 )
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Ciclo Brayton

Como P1=P4 e P2=P3, das relações vistas na parte 4 da revisão de termodinâmica
(aula 4), para os processos isentrópicos 1-2 e 3-4, tem-se que:

( ) ( )
P 2 k −1 k−1
T2 k P T T2 T 3 T 4 T3
= = 3 k = 3 → = → =
T1 P1 P4 T4 T1 T 4 T1 T2

Assim, a eficiência térmica do ciclo Brayton pode ser expressa:

Em termos de temperaturas:
1

η t =1−
(T 4−T 1 )
=1−
T1
( T4
T1
−1
) =1−
T1
( T3
T2
−1
) → η t =1−
T1

( ) ( )
(T 3 −T 2 ) T3 T3 T2
T2 −1 T2 −1
T2 T2

Em termos de pressões:
T1 1 1 1
η t =1− =1− =1− → η =1−

( )
k −1 t (k −1)/ k
T2 T2 P2 k rp
T1 P1

Onde rp é a razão de pressão do compressor:
P2
r p=
P1
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Ciclo Rankine x Ciclo Brayton

Ciclo Rankine x Ciclo Brayton:

Ambos são formados pelos mesmos quatro processos em regime permanente:

1-2 → Compressão isentrópica (s=cte).

2-3 → Adição de calor isobárica (P=cte).

3-4 → Expansão isentrópica (s=cte).

4-1 → Rejeição de calor isobárica (P=cte).

Ciclo Rankine: ●
Ciclo Brayton:

Ciclo ideal quando se usa um fluido ●
Ciclo ideal quando se usa um fluido
de trabalho que sofre mudança de de trabalho que não sofre mudança
fase nos processos isobáricos, se de fase nos processos isobáricos,
vaporizando (2-3) e se permanecendo sempre na fase
condensando (4-1). gasosa.

Pode ser aproximado por ●
Pode ser aproximado por
dispositivos reais. dispositivos reais.

Exemplo: Ciclo de potência a vapor. ●
Exemplo: Ciclo de potência a gás.
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Ciclo Rankine x Ciclo Brayton


Ciclo Rankine: ●
Ciclo Brayton:

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Exemplo 9.1

Exemplo 9.1 – Ciclo Brayton:

Uma usina de potência a gás opera segundo o ciclo Brayton usando uma turbina a
gás, cuja razão de pressão do compressor é 10. A pressão do gás na entrada do
compressor é 100 kPa. A temperatura do gás na entrada do compressor é 300 K, e
na entrada da turbina é 1.400 K. Modelando o gás como ar, determine:
(a) A temperatura do gás nas saídas do compressor e da turbina.
(b) O calor adicionado, o calor rejeitado, o trabalho gerado pela turbina, o
trabalho consumido pelo compressor, o trabalho líquido e a razão de consumo de
trabalho.
(c) A eficiência térmica.

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Exemplo 9.1


Solução:

Considerando que os calores específicos do ar
são constantes, as propriedades dos estados 1,
2, 3 e 4 são:

1 → As propriedades constam no enunciado:
T 1=300 K e P1 =100 kPa

2 → Da razão de pressão do compressor:
P2 P2
r p =10 → = =10 → P 2=1.000 kPa
P 1 100

Da relação entre as temperaturas e as ●
4 → Como o processo 4-1 é isobárico:
pressões para o processo isentrópico 1-2: P 4 =100 kPa

( )
k −1 Da relação entre as temperaturas e as
( )
1,4−1
T2 P2 k T2 1.000

= → = 1,4
T1 P1 300 100 pressões para o processo isentrópico 3-4:

( )
k −1

( )
T 2 =579,21 K T4 P4 k T4 100
1,4−1
= → = 1,4

3 → Do enunciado: T3 P3 1.400 1.000
T 3=1.400 K T 4 =725,13 K

Como o processo 2-3 é isobárico:
P 3=1.000 kPa

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Exemplo 9.1

(a) As temperaturas na saída do compressor e na saída da turbina são:
T 2=579,21 K e T 4 =725,13 K

(b) Considerando que cp = 1,004 kJ/kg.K, o calor adicionado, o calor rejeitado, o trabalho gerado pela
turbina, o trabalho consumido pelo compressor, o trabalho líquido, e a razão de consumo de trabalho
são:
q H =c p (T 3−T 2)=1,004(1.400−579,21) → q H =824,07 kJ / kg
q L=c p (T 4 −T 1)=1,004(725,13−300) → q L =426,83 kJ / kg
w c =c p (T 2 −T 1)=1,004(579,21−300) → wc =280,33 kJ / kg
w t =c p (T 3−T 4)=1,004(1.400−725,13) → w t =677,57 kJ / kg
w líq =w t −w c =677,57−280,33 → w líq =397,24 kJ / kg
w c 280,33
r ct = = → r ct =0,4137
w t 677,57

(c) A eficiência térmica é:
T1 300
η t =1− =1− → η t =0,4821
T2 579,21
Observação: Em algumas literaturas, exemplos como este, que tratam de fluidos de trabalho
gasosos, são resolvidos considerando que os calores específicos variam com T, o que envolve o
uso de tabelas termodinâmicas da função entropia padrão s 0(T), gerando resultados mais precisos.

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Ciclo Brayton Real

Ciclo Brayton Real:

O ciclo Brayton real difere do ciclo Brayton ideal devido aos efeitos das
irreversibilidades, conforme mostrado nos diagramas T-s abaixo:

(a) → O atrito aumenta a entropia do gás no compressor e na turbina, e causa
quedas de pressão ao passar pelos trocadores de calor.

(b) → O atrito aumenta a entropia do gás no compressor e
na turbina, mas é uma fonte de irreversibilidade secundária,
e assim as quedas de pressão são ignoradas.

As eficiências isentrópicas do compressor e da turbina são:
w h −h c (T −T 1) T −T 1
η iso , c = s = 2 s 1 = p 2 s → η iso ,c = 2 s
w r h 2 −h1 c p (T 2 −T 1) T 2 −T 1
w r h 3−h4 c p (T 3−T 4) T 3−T 4
η iso ,t = = = → η iso ,t =
w s h 3−h4 s c p (T 3−T 4 s) T 3−T 4 s

Como os processos 1-2 e 3-4 deixam de ser isentrópicos, a
eficiência térmica é:
(T 4−T 1 )
η t =1−
(T 3 −T 2 )
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Exemplo 9.2

Exemplo 9.2 – Ciclo Brayton Real:

Reconsidere o exemplo 9.1, de um ciclo Brayton ideal onde T1 = 300 K,
T3 = 1.400 K, rp = 10 e P1 = 100 kPa. Porém, agora, considere que tanto a turbina
quanto o compressor operam com eficiência isentrópica de 85%. Determine:
(a) A temperatura do gás nas saídas do compressor e da turbina.
(b) O calor adicionado, o calor rejeitado, o trabalho gerado pela turbina, o
trabalho consumido pelo compressor, o trabalho líquido e a razão de consumo de
trabalho.
(c) A eficiência térmica.

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Exemplo 9.2

Solução:

Considerando que os calores específicos do ar
são constantes, as propriedades dos estados 1,

3 → Do enunciado:
T 3=1.400 K
2s, 2, 3, 4s e 4 são:

Como o processo 2-3 é isobárico:

1 → As propriedades constam no enunciado:
P 3=1.000 kPa
T 1=300 K e P1 =100 kPa ●
4s → Como o processo 4s-1 é isobárico:

2s → Da razão de pressão do compressor:
P 4 s=100 kPa
P2 s P2 s
r p =10 → = =10 → P 2 s=1.000 kPa ●
Da relação entre as temperaturas e as
P 1 100
pressões para o processo isentrópico 1-2:

Da relação entre as temperaturas e as

( )
k −1

( )
1,4−1
T 4s P4s k T4s 100
pressões para o processo isentrópico 1-2: = → = 1,4
T3 P3 1.400 1.000
( )
k −1

( )
1,4−1
T 2s P2s k T 2s 1.000
= → = 1,4
T 4 s=725,13 K
T1 P1 300 100

4 → A pressão é a mesma do estado 4s:
T 2 s=579,21 K P 4 =100 kPa

2 → A pressão é a mesma do estado 2s: ●
Da definição de eficiência isentrópica:
P 2 =1.000 kPa T 3 −T 4 1.400−T 4

Da definição de eficiência isentrópica: η iso ,t = → 0,85=
T 3 −T 4 s 1.400−725,13
T 2 s −T 1 579,21−300
η iso , c = → 0,85= T 4 =826,36 K
T 2−T 1 T 2 −300
T 2 =628,48 K
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Exemplo 9.2


(a) As temperaturas na saída do compressor e na saída da turbina são:
T 2=628,48 K e T 4 =826,36 K

(b) Considerando que cp = 1,004 kJ/kg.K, o calor adicionado, o calor rejeitado, o trabalho gerado pela
turbina, o trabalho consumido pelo compressor, o trabalho líquido, e a razão de consumo de trabalho
são (em parênteses a comparação percentual com resultados do exemplo 9.1):
q H =c p ( T 3−T 2)=1,004( 1.400−628,48) → q H =774,61 kJ / kg (−6,0%)
q L=c p (T 4 −T 1)=1,004(826,36−300) → q L =528,47 kJ / kg ( + 23,8 %)
w c =c p (T 2 −T 1)=1,004(628,48−300) → w c =329,79 kJ / kg (+ 17,6 %)
w t =c p (T 3−T 4)=1,004(1.400−826,36) → wt =575,93 kJ / kg (−15,0 %)

w líq =w t −w c =575,93−329,79 → w líq =246,14 kJ / kg (−38,0 %)


w 329,79
r ct = c = → r ct =0,5726 (+ 38,4 %)
w t 575,93

(c) A eficiência térmica é:
(T 4−T 1 ) (826,36−300)
η t =1− =1− → η t =0,3178 (−34,08 %)
(T 3 −T 2 ) (1.400−628,48)

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