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CETEPIS BRASIL – COLÉGIO E CURSO

Técnico em Edificações

FABRÍCIO DE CASTRO

CONSTRUÇÃO CIVIL
LABORATÓRIO - ENSAIOS TECNOLÓGICOS

TRAÇÃO DIRETA

RESENDE
2022
1 INTRODUÇÃO

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o Brasil tem em operação


219 usinas hidrelétricas de grande porte, as UHEs, além de 425 pequenas centrais
hidrelétricas (PCHs) e 739 centrais geradoras hidrelétricas (CGHs), responsáveis por 67%
de toda a eletricidade gerada no país.

Os processos construtivos destas barragens são muito complexos assim como


outras construções civil e exigem uma série de cálculos de diversas variáveis, sendo uma
delas a aderência do concreto com a rocha de fundação.

Para medir esta grandeza podem ser realizados ensaios de Tração Direta, que
consistem em medir a resistência à tração da interface do concreto e a rocha, utilizando
aparelhos mecânicos.

Para a execução destes ensaios no laboratório da empresa Holanda Engenharia, foi


pensada uma metodologia que utiliza um aparelho testador de pull-off automatizado,
normalmente usados em ensaios de aderência em revestimentos cerâmicos e paredes de
argamassas inorgânicas, para realização do ensaio de tração direta na interface de contato
de testemunhos de rocha com concreto, a fim de simular a condição de campo em que são
executadas as barragens de concreto.

As atividades e registros técnicos abordados neste trabalho referem-se aos ensaios


realizados em testemunhos de rocha, para os estudos do contato concreto/rocha de uma
Pequena Central Hidrelétrica, utilizando a metodologia desenvolvida no laboratório da
Holanda Engenharia.

2
2 OBJETIVO

O corrente Trabalho busca apresentar a metodologia para ensaio de tração direta


em interfaces de concreto com rocha, desenvolvida no laboratório da Holanda Engenharia
Ltda, além de demonstrar um exemplo de sua aplicação prática na construção civil voltada
para construção de barragens de concreto.

3 IDENTIFICAÇÃO DAS AMOSTRAS

As amostras obtidas a partir da extração de testemunhos, por uma empresa


qualificada de Geologia e Geotecnia, foram recebidas e identificadas conforme a tabela 1
apresenta:

Tabela 1 – Identificação das amostras / testemunhos extraídos “in situ”


Coordenadas UTM
Registro Registro do (WGS-84)
Região Profundidade
Holanda Cliente
E N

1240/21 CAC - 01 6.824,25 416,961 0,17m

1241/21 CAC - 02A 6.824,23 416,962 0,17m

1242/21 CAC - 03A 6.824,22 416,952 0,19m

1243/21 CAC - 04 6.824,22 416,949 0,17m

1244/21 CAC - 05A Região 1 6.824,21 416,947 0,19m

1245/21 CAC - 06 6.824,20 416,954 0,18m

1246/21 CAC - 07 6.824,22 416,974 0,20m

1247/21 CAC - 08 6.824,23 416,984 0,17m

1248/21 CAC - 09 6.824,25 416,977 0,17m

1249/21 CAC - 11 6.824,20 416,929 0,16m

1250/21 CAC - 12 6.824,19 416,941 0,19m

1251/21 CAC - 13 6.824,18 416,936 0,16m


Região 2
1252/21 CAC - 14 6.824,19 416,947 0,18m

1253/21 CAC - 15 6.824,18 416,947 0,19m

1254/21 CAC - 16 6.824,18 416,939 0,21m

1255/21 CAC - 18 6.824,14 416,931 0,17m

1256/21 CAC - 20 6.824,15 416,913 0,18m


Região 3
1257/21 CAC - 21 6.824,15 416,919 0,19m

1258/21 CAC - 22 6.824,16 416,92 0,19m

3
Coordenadas UTM
Registro Registro do (WGS-84)
Região Profundidade
Holanda Cliente
E N

1259/21 CAC - 23 6.824,17 416,923 0,14m

1260/21 CAC - 24A 6.824,13 416,925 0,13m

1261/21 CAC - 25 Região 4 6.824,14 416,933 0,17m

1262/21 CAC - 26 6.824,14 416,948 0,15m

4 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS

Os testemunhos de rocha foram preparados por processo de corte com disco


diamantado, sempre preservando as características da superfície (topo), de modo a obter
um testemunho de no mínimo 100 mm para moldagem, com o objetivo de formar a junta de
simulação do contato concreto/rocha.

Após o corte, os testemunhos foram lavados em água corrente, a fim de eliminar as


impurezas do processo anterior, em seguida saturados até a condição Superfície Saturada-
Seca (SSS), vide imagem 3 a seguir.

Os testemunhos foram encaixados na camisa de PVC, reforçados e vedados com


fita adesiva, conforme pode ser observado nas imagens 4 e 5 apresentadas mais adiante.

Imagem 3: Imersão dos testemunhos de rocha em água após o processo de preparação.

4
(4) (5)
Imagem 4 e 5: Exemplo da preparação do testemunho de rocha na camisa de PVC.

A etapa de moldagem ocorreu no dia 27 de janeiro de 2022, para esse fim adaptou-
se as camisas de PVC como formas para moldar o concreto aos testemunhos de rocha,
executando o processo de adensamento e posteriormente de acabamento superficial,
buscando o paralelismo entre o topo (concreto) e a base (rocha), de modo a eliminar o
processo de retífica e evitar impactos ao corpo de prova.

(6) (7)

Imagem 6, 7 e 8: Processo de moldagem dos corpos de prova.

5
Para a moldagem dos corpos de prova formulou-se 4 traços: EXP ERA 001, EXP
ERA 002, EXP ERA 003 e EXP ERA 004, com as características descritas na tabela 2 e
utilizando os materiais de mesma procedência, apenas variando o consumo de cimento. O
cimento utilizado foi do tipo CP IV 32 RS, procedente da fábrica da Ciplan em Sobradinho
- DF.

Foram formados lotes aleatórios entre as amostras, de modo a buscar a melhor


representatividade das regiões de extração com os respectivos consumos de cimento dos
traços. Também foram moldados CPs ø100x200 mm, para realizar o ensaio de
determinação da resistência à compressão axial nas idades de 7, 14 e 28 dias conforme
apresentados na tabela 2. Após a moldagem, todas as amostras foram submetidas à cura
úmida por 28 dias.

Tabela 2: Traços experimentais.


Código do Traço EXP ERA 001 EXP ERA 002 EXP ERA 003 EXP ERA 004
Data de Moldagem 27/01/2022
Registro Holanda (CPs) 130/22 131/22 132/22 133/22
3
Materiais (Kg/m )
Cimento CPIV 322 271 222 176
Água 190 189 188 198
Areia Natural 361 384 404 431
Areia Artificial 379 394 415 445
Brita 0 (9,5) 532 528 526 534
Brita 1 (19,0) 532 528 526 534
3
Aditivo (g/m )
Muraplast FK 430 2578 2170 1776 1411
PowerFlow 1180 4414 4043 3331 2645
Propriedades Diversas
Slump (mm) 140 115 50 50
Ar Incorporado (%) 4,4 5,2 5,6 3,4
Massa Específica "fresca" (kg/m³) 2305 2286 2273 2324
Agregado Miúdo em Volume (%) 41,8 43,2 44,6 45,9
a 2,297 2,868 3,687 4,967
p 3,303 3,893 4,739 6,056
m 5,600 6,761 8,426 11,022
A/C 0,59 0,70 0,85 1,12
k 0,50 0,50 0,50 0,50
H 8,953 8,974 8,994 9,331
1 + m + A/C 7,191 8,457 10,274 13,144

MFc 4,64 4,58 4,52 4,47

6
Resistência à Compressão Axial (MPa)
7 dias 24,4 19,5 13,2 7,6
14 dias 28,1 21,3 13,9 8,9
28 dias 29,9 21,7 15,5 9,5

5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS / ENSAIOS REALIZADOS

5.1 Ensaio de Tração Direta em Concreto


Os ensaios foram realizados a partir da adaptação do dispositivo DY-225 da
fabricante Proceq (Especificação técnica), ilustrado abaixo:

Imagem 9: Dispositivo DY-225 Proceq.

Imagem 10: Conceito para adaptação do Imagem 11: Dispositivo adaptado para o ensaio de
dispositivo. tração direta.

O ensaio foi realizado em corpos de prova cilíndricos ø100x200 mm, com área da
placa de ensaio de 7854 mm2 e taxa de incremento de carga de 0,025 MPa/s. Para fixação
da placa de ensaio ao corpo de prova, tanto no topo (concreto) quanto na base (rocha) foi
utilizado adesivo epóxi profissional de alto poder de adesão e resistência, antes da

7
aplicação do mesmo nas superfícies de colagem, estas foram lixadas e limpas. As imagens
12, 13 e 14 ilustram este processo.

Conforme tabela 3 é descrita as principais características da superfície do


afloramento de rocha que foi submetida ao ensaio, onde os aspectos analisados foram: as
irregularidades da superfície, classificação da rugosidade da superfície JCR1, ângulo do
plano da superfície em relação ao eixo longitudinal, grau de alteração da rocha, resistência
ao risco, planos de fraqueza e outras observações que poderiam influenciar no resultado
do ensaio.

(12) (13)

Imagens 12, 13 e 14: Exemplo colagem do corpo de prova nas placas de ensaio com adesivo epóxi.

1
Publicação JCR (Barton_77) - The Shear Strength of Rock Joints in Theory and Practice By N. Barton and V.
Choubey - October 4th, 1976

8
Tabela 3: Descrição da superfície de afloramento.
Planos de Fraqueza
Descrição da Litologia Ângulo da Seção Rugosidade da
Registro Registro Irregularidades Resistência Sub Paralelo à
Região da Superfície de Transversal Em Relação Superfície -
Holanda Cliente na Superfície ao Risco Superfície de
Contato* ao Eixo Longitudinal (°) JCR*
Contato
1240/21 CAC - 01 01 Basalto denso 10 14 - 16 Sim Sim Sim
1241/21 CAC - 02A 01 Basalto denso 10 10 - 12 Sim Sim Não
1242/21 CAC - 03A 01 Basalto denso 5 8 - 10 Sim Sim Não
1243/21 CAC - 04 01 Basalto denso 5 10 - 12 Sim Sim Não
1244/21 CAC - 05A 01 Basalto denso 5 8 - 10 Sim Sim Não
1245/21 CAC - 06 01 Basalto denso 10 10 - 12 Sim Sim Sim
1246/21 CAC - 07 01 Basalto denso 15 12 - 14 Sim Sim Não
1247/21 CAC - 08 01 Basalto denso 12 12 - 14 Sim Sim Não
1248/21 CAC - 09 01 Basalto denso 5 10 - 12 Sim Sim Não
1249/21 CAC - 11 02 Basalto denso 15 8 - 10 Sim Sim Não
1250/21 CAC - 12 02 Basalto denso 15 12 - 14 Sim Sim Sim
1251/21 CAC - 13 02 Basalto denso 5 12 - 14 Sim Sim Não
1252/21 CAC - 14 02 Basalto denso 10 14 - 16 Sim Sim Sim
1253/21 CAC - 15 02 Basalto denso 10 14 - 16 Sim Sim Sim
1254/21 CAC - 16 02 Basalto denso 5 8 - 10 Sim Sim Não
1255/21 CAC - 18 03 Basalto denso 10 14 - 16 Sim Sim Sim
1256/21 CAC - 20 03 Basalto denso 20 12 - 14 Sim Sim Não
1257/21 CAC - 21 03 Basalto denso 8 8 - 10 Sim Sim Sim
1258/21 CAC - 22 03 Basalto denso 15 14 - 16 Sim Sim Não
1259/21 CAC - 23 03 Basalto denso 15 12 - 14 Sim Sim Não
1260/21 CAC - 24A 04 Basalto denso 15 12 - 14 Sim Sim Sim
1261/21 CAC - 25 04 Basalto denso 5 12 - 14 Sim Sim Não
1262/21 CAC - 26 04 Basalto denso 5 14 - 16 Sim Sim Não

9
*As informações da descrição da litologia da superfície de contato e a classificação da rugosidade JCR do topo foram retiradas do
relatório de extração, disponibilizado pela empresa responsável por realizar as extrações dos testemunhos.

Os ensaios foram iniciados 28 dias após a moldagem, em 24 de fevereiro e finalizando em 07 de março. A tabela 4 sintetiza os
resultados obtidos.

Tabela 4: Resumo dos resultados obtidos.


Registro Registro Data do Carga Aplicada Tempo Tensão Consumo de cimento
Tipo de Ruptura
Holanda Cliente ensaio (kN) (s) (MPa) (kg/m3)
1240/21 CAC - 01 24/02/2022 ** ** ** Ruptura durante a preparação para o ensaio 176
1241/21 CAC - 02A 25/02/2022 * * * Ruptura na interface concreto rocha 222
1242/21 CAC - 03A 03/03/2022 0,30 1,4 0,04 Ruptura na interface concreto rocha 271
1243/21 CAC - 04 04/03/2022 * * * Ruptura na interface concreto rocha 322
1244/21 CAC - 05A 24/02/2022 0,27 0,6 0,03 Ruptura na interface concreto rocha 176
1245/21 CAC - 06 25/02/2022 * * * Ruptura na interface concreto rocha 222
1246/21 CAC - 07 03/03/2022 0,35 1,4 0,05 Ruptura na interface concreto rocha 271
1247/21 CAC - 08 04/03/2022 0,40 2,6 0,05 Ruptura na interface concreto rocha 322
1248/21 CAC - 09 25/02/2022 ** ** ** Ruptura durante a preparação para o ensaio 176
1249/21 CAC - 11 24/02/2022 * * * Ruptura na interface concreto rocha 176
1250/21 CAC - 12 25/02/2022 ** ** ** Ruptura durante a preparação para o ensaio 222
1251/21 CAC - 13 03/03/2022 0,78 7,8 0,10 Ruptura na interface concreto rocha 271
1252/21 CAC - 14 07/03/2022 * * * Ruptura na interface concreto rocha 322
1253/21 CAC - 15 03/03/2022 0,30 0,5 0,04 Ruptura na interface concreto rocha 222
1254/21 CAC - 16 07/03/2022 0,27 0,3 0,03 Ruptura na interface concreto rocha 322
1255/21 CAC - 18 24/02/2022 0,30 1,4 0,07 Ruptura na interface concreto rocha 176
1256/21 CAC - 20 25/02/2022 * * * Ruptura na interface concreto rocha 222
1257/21 CAC - 21 04/03/2022 0,54 6,2 0,07 Ruptura na interface concreto rocha 271
1258/21 CAC - 22 07/03/2022 0,35 2,8 0,05 Ruptura na interface concreto rocha 322

10
Registro Registro Data do Carga Aplicada Tempo Tensão Consumo de cimento
Tipo de Ruptura
Holanda Cliente ensaio (kN) (s) (MPa) (kg/m3)
1259/21 CAC - 23 04/03/2022 * * * Ruptura na interface concreto rocha 271
1260/21 CAC - 24A 24/02/2022 ** ** ** Ruptura durante a preparação para o ensaio 176
1261/21 CAC - 25 03/03/2022 * * * Ruptura na interface concreto rocha 222
1262/21 CAC - 26 04/03/2022 0,32 2,0 0,04 Ruptura na interface concreto rocha 271
*tensão menor do que a capacidade mínima de registro do aparelho.

** ruptura na interface concreto/rocha durante a preparação do CP para o ensaio.

Abaixo é apresentado o registro fotográfico de um dos corpos de prova preparados, antes e após a realização do ensaio.

Imagens 15: Exemplo de corpo de prova antes e após a realização do ensaio.

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6 CONCLUSÃO

Baseado no que foi exposto neste trabalho, é possível dizer que a metodologia
apresentada é uma alternativa eficiente para a realização dos ensaios de tração direta na
interface do concreto com a rocha em amostras de testemunhos extraídas dos locais onde
serão construídas, ou já se encontram, as barragens de concreto.

7 DOCUMENTOS DE REFERÊNCIA

Os seguintes documentos são necessários como fontes de consulta complementar


para o entendimento dos itens aqui apresentados:

✔ NBR 12655/15 - Concreto de Cimento Portland - Preparo, Controle e Recebimento -


Procedimento;
✔ NBR 12821/09 - Preparação de Concreto em Laboratório - Procedimento;
✔ CRD-C 164-92 - Standard Test Method for Direct Tensile Strength of Cylindrical
Concrete or Mortar Specimens;.
✔ ENGIE. Hidrelétricas são fundamentais para o Brasil. Disponível em:
<https://umsoplaneta.globo.com/patrocinado/engie/noticia/2022/02/17/hidreletricas-sao-
fundamentais-para-o-brasil.ghtml>.

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