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Sequência do trabalho:

1 - Exposição do referencial teórico: expor a teoria do bode expiatório de René Girard.

Início: O que é a violência? A partir dessa pergunta introduzir a teoria do Girard, partindo do
ensaio dele O sacrifício. Preciso me certificar se não há outros ensaios importantes no livro
que possam servir à minha análise. Para introduzir a pergunta, posso me utilizar de uma
citação do livro de Jaime Ginzburg.

Exposição da teoria: exponho a teoria mostrando como Girard buscou responder a minha
pergunta inicial a partir da análise da instituição primitiva do sacrifício. Devo expor suas duas
teses principais a respeito da violência, a maneira como ele liga isso ao sacrifício, a
importância que a expressão mitopoética (talvez) tem para o entendimento da violência e a
origem da violência no desejo mimético.

2 - Análise do Corpus: analisar o corpus e colocar as perguntas fundamentais

Início: começo a análise do corpus resumindo o enredo do romance, destacado o papel central
que o assassinato de Julião Tavares tem na trama. Descrevo também os aspectos centrais do
funcionamento do dispositivo literário: o uso do monólogo interior, o fluxo de consciência, a
narrativa circular, a estratificação temporal e as repetições de motivos simbólicos frequentes
na trama. A partir disso, faço duas perguntas, uma formal e outra temática. Quanto a forma,
por que o narrador retoma, ao lado das lembranças de Marina, as lembranças de sua infância?
Por que os dois fatos aparecem ligados? Quanto ao tema, retomamos a pergunta principal,
qual a origem da violência nesse caso específico? O que justifica, para Luís da Silva, o
assassinato de Julião Tavares? Sugiro nesse momento um retorno à hipótese de Girard para
resolver esses problemas.

Análise do corpus à luz da hipótese mimética: uma vez que a violência tem início no desejo
mimético, onde podemos encontrar a triangularidade do desejo no romance? Nesse ponto,
proponho que a triangularidade não se encontra entre Luís, Marina e Julião Tavares, mas
entre Luís, a imagem idealizada do avô e o poder (vou colocar desse modo apenas por não
saber que outro termo utilizar). Isso responde a pergunta sobre a forma, feita na última parte.
Luís almeja ser uma figura de poder, assim como o avô foi, mas, ao sair do campo, com sua
política oligárquica e patriarcal, para a cidade grande, Luís se percebe como alguém
impotente frente ao mundo que o cerca. As relações entre ele, Marina e Julião Tavares
aparecem como o ponto culminante dessa sensação de impotência, que o leva a ver Julião
Tavares como a vítima expiatória para onde a violência, que vai gradativamente aumentando
ao longo da narrativa, será lançada. Assim, respondemos a pergunta temática a respeito da
origem da violência.

Conclusão: (possibilidade) termino o trabalho fazendo alguns comentários acerca de como as


relações sacrificiais descritas na trama mimetizam as relações sociais violentas da época de
30, momento da passagem da república velha oligárquica para o Brasil industrial e
desenvolvimentista do regime varguista. Posso citar Antonio Candido nesse momento.

Observações importantes sobre o material da análise: preciso escolher bem quais passagens
do livro citar. Este será o trabalho mais complicado e demorado. Algumas categorias de
citações importantes:

Momentos que demonstrem a sensação de impotência de Luís da Silva: comparações com


ratos e com os vagabundos da rua; descrições dos ambientes sujos em que vive; retratos dos
momentos de pobreza da infância e momentos de baixa auto estima do personagem.

Momentos em que Luís da Silva compara sua impotência com o poderio das pessoas ao seu
redor: descrições rancorosas e coléricas da burguesia da capital; descrições de Julião Tavares
(detalhes importantes: Julião mal fala no texto e sua gordura é sempre ressaltada, isso pode
ser considerada uma marca de vitimação); descrição da força dos outros homens na cena do
bar; a comparação entre seus pés e os pés de Julião (essa cena é de suma importância, visto
que os pés constituem um motivo importante no texto, lembrando-se também dos pés do pai
dele depois de morto).

Momentos em que o avô de Luís apareça como o mediador do desejo: lembranças do avô;
destaque para o momento em que ele diz explicitamente que queria ser como o avô;
momentos em que compara o passado com o presente, vendo o passado como melhor.

Escalada da violência: mostrar que as imagens de violência aparecem de forma gradativa,


quanto mais próximo do ato sacrificial, mais essas imagens se repetem, isso também é
ressaltado pela técnica de livre associação e pelo uso do fluxo de consciência (citar Robert
Humphrey para explicar o funcionamento do fluxo). Motivos:
corda/rede/cobra/cano/arame/enforcamento/pescoço; pés/sapatos/barulho de passos;
sangue/vermelho/histórias de assassinato de Seu Ramalho e lembranças da infância; imagens
de autoritarismo; referência negativa às mulheres (lembrando que mulheres também possuem
as marcas da vitimação).

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