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DESIGN DE

SUPERFÍCIE
Profª. Sandra Marques

INICIAR
introdução
Introdução
Nesta unidade, vamos conhecer o conceito e os principais aspectos relacionados ao
design de superfície. Vamos conhecer os diferentes tipos de superfície com ênfase
nas superfícies têxteis. Além disso, veremos seus processos de constituição e de
beneficiamento.

Em seguida, daremos início ao estudo dos aspectos técnicos e projetuais do design


de superfície. Além do histórico do design de superfícies, abordaremos as principais
técnicas de estamparia, divididas em manuais, mecânicas e digitais.

Conheceremos, também, a taxionomia em design de superfícies e como é esse


estudo na classificação e categorização das estampas, contribuindo para a melhor
compreensão dos motivos e estilos.

Por fim, destacaremos os diferentes tipos de layout empregado nos projetos de


design de superfície têxtil.
Design de Superfície

O design de superfície é uma especialidade do design relativamente recente e ainda


pouco conhecida no Brasil. Foi traduzido no País pela designer Renata Rubim, na
década de 1980 (RUBIM, 2010). Ao final dessa década, no ano de 1989, a
Universidade Federal de Santa Maria/RS criou o curso lato sensu de Especialização
em Design para Estamparia, posteriormente, chamado de Especialização em Design
de Superfície.

Contudo, somente no ano de 2005, o design de superfície foi reconhecido como


uma nova especialidade do design pelo CNPq – Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico –, por meio da publicação do relatório de
revisão da Tabela de Áreas do Conhecimento sob a Ótica do Design.

Nos Estados Unidos, existe, desde 1977, uma associação dedicada à disciplina, a
Surface Design Association, reunindo designers de superfície do mundo todo. A SDA
publica um jornal trimestral e promove conferências bienais.

Conceito
Superfície, segundo o dicionário Aurélio, é a "extensão de uma área limitada; a parte
externa dos corpos; aparência, aspecto exterior, características diretamente
observáveis." (FERREIRA, 2010, p. 719). Uma folha de papel, um tecido ou uma
cerâmica são exemplos de superfícies e o ato de estampá-los de forma a conferir-
lhes valor estético e significado é trabalho do designer de superfícies.

Evelise Anicet Rüthschilling é coordenadora do Núcleo de Design de Superfície da


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e define assim a especialidade:

Design de superfície é uma atividade criativa e técnica que se ocupa com


a criação e desenvolvimento de qualidades estéticas, funcionais e
estruturais, projetadas especificamente para constituição e/ou
tratamentos de superfícies, adequadas ao contexto sociocultural e às
diferentes necessidades e processos produtivos. (RÜTHSCHILLING, 2008,
p. 23).

Percebe-se que a definição apresentada faz a separação entre constituição de


superfície e tratamento de superfície, assim como entre qualidades estéticas,
funcionais e estruturais. Isso porque o design de superfície aplica-se a diferentes
tipos de superfícies através de diferentes técnicas. Seja na estamparia, que agrega
qualidades estéticas a uma superfície neutra, seja na própria construção estrutural
de uma superfície, como no caso da tecelagem.

O setor de superfície têxtil é aquele em que mais se aplica o design de superfície e o


que conta com maior variedade de técnicas. A própria Surface Design Association,
citada anteriormente, concentra-se exclusivamente no setor têxtil. Como prova
disso, a associação norte-americana cita em seu site, como missão: "promover a
valorização dos têxteis beneficiados pela inspiração da arte e do design" (SURFACE
DESIGN ASSOCIATION, 2019, on-line, tradução nossa).
saiba mais
Saiba mais
Conheça mais sobre o design de superfície no
conteúdo indicado, que reúne artigos muito bem
ilustrados sobre as diversas áreas desse ramo do
design e sua aplicação em diferentes áreas, como
a arquitetura.

ACESSAR

Áreas de Aplicação do Design de Superfície


Dentre os variados tipos de superfície, objeto do design de superfícies, podemos
citar as superfícies têxteis, a papelaria, a cerâmica, a porcelana, os materiais
sintéticos, emborrachados, vidros e outros. Nesse sentido, conheceremos um pouco
mais sobre a relação do design com cada um desses tipos de superfície e, mais à
frente, nos concentraremos no design de superfícies têxteis e suas subáreas.

Têxtil
As superfícies têxteis, ou tecidos, são constituídas pelo entrelaçamento de fibras e
fios. PEZZOLO (2013), descreve assim esse processo:

As fibras, antes de se tornarem fios, são preparadas para que se tornem


homogêneas e paralelas. Elas passam por uma série de máquinas que
as limpam, estiram-nas e lhes dão torção. Graças a esse processo, os fios
obtêm a coesão necessária para entrarem no tear. Quando saem, já em
forma de tecido, o chamado beneficiamento tem início. Nessa etapa, o
tecido é preparado para o tingimento e a estampagem [...] (PEZZOLO,
2013, p. 117).
O design de superfícies têxteis está presente tanto no processo de entrelaçamento
dos fios, que é o caso da tapeçaria e do jacquard, quanto no processo de
beneficiamento, com as diferentes técnicas de estamparia.

Papelaria
O design de superfície em papel aplica-se tanto em superfícies contínuas (em rolos),
a exemplo dos papéis de parede e dos papéis para presente, quanto em superfícies
limitadas, como embalagens, blocos, cadernos, guardanapos, copos e pratos de
papel. Isso quando se fala em escala industrial. Detalhando mais no campo da arte
e do artesanato, podemos citar as diversas técnicas de gravura, como a litografia, a
xilografia e o linóleo.

Cerâmica
O design de superfície cerâmica desenvolve projetos voltados ao suporte cerâmico,
como os revestimentos (azulejos e pisos), mosaicos, pastilhas de vidro e vidro
estampado. Também temos os objetos feitos com esse material, como vasos,
pratos, xícaras e louças. Sua principal destinação é a arquitetura e o design de
interiores.

Porcelana
A porcelana diferencia-se da cerâmica pelo processo de queima, que é duplo,
gerando um material com maior resistência e menor absorção. A cerâmica também
passa por duas queimas na maioria dos casos. A diferença entre os dois materiais
está na sua composição e daí o tempo e modo de queima, pigmentos, etc., ou seja,
no processo e no resultado final.

Originalmente pintadas à mão, as peças de porcelana têm como técnica de estampa


mais difundida o decalque.

Os decalques são feitos utilizando um papel base, em que se aplica uma camada
gelatinosa (colódio). A facilidade de aplicação, a perfeita adaptação à superfície a ser
impressa e a fidelidade das imagens reproduzidas são algumas das vantagens dessa
técnica. Atualmente, existem os equipamentos de impressão digital que permitem
ainda mais fidelidade na reprodução das estampas (PACHECO, 2013).

Materiais Sintéticos
Os materiais sintéticos são aqueles obtidos artificialmente, por meio da
manipulação de substâncias desenvolvidas em laboratório e não extraídas
diretamente da natureza.

Subáreas do design de superfície Têxtil


Como vimos, o design de superfície têxtil, pela grande variedade de técnicas e tipos
de superfícies, é a área de maior atuação do design de superfície. A partir disso,
conheceremos, agora, algumas de suas subáreas.

Estamparia
A estamparia é uma técnica muito antiga de mutação de superfície e se caracteriza
pela transferência, de forma artesanal ou industrial, de estampas para diversos
substratos.

Entre as principais técnicas de estamparia, podemos citar:

Transfer: A estampa pelo processo de transfer acontece por meio da


termo-transferência, ou seja, é a transferência de uma imagem impressa
em uma impressora a laser ou jato de tinta em papel especial (papel
transfer). Essa transferência ocorre pela pressão e pelo calor fornecidos
por uma prensa térmica. Exemplos de materiais que podem ser
estampados pelo transfer são camisetas, bonés, tecidos de forma geral e
outras superfícies como mouse pad, quebra-cabeça, e jogos americanos.
Serigrafia: Também conhecida como silkscreen, a serigrafia utiliza telas
com microfuros que permitem a passagem da tinta apenas nas regiões do
desenho que devem ser impressas. No caso de estampas com mais de
uma cor, usa-se uma tela para cada cor. As telas são posicionadas sobre a
superfície a ser estampada e com um rodo aplica-se a tinta da cor
desejada. O custo desse processo o torna desaconselhável para pequenas
tiragens.
Sublimação: A sublimação é a passagem de um material do estado sólido
direto para o estado gasoso. Na estamparia por sublimação, a imagem a
ser aplicada é impressa em papel especial (sublimático) por uma
impressora adaptada para tinta sublimática. A tinta no papel é sólida, e sob
pressão e calor se transforma em vapor, penetrando nas fibras do tecido
ou outra superfície preparada para receber esse tipo de estampa.
Impressão digital: A estamparia por impressão digital é um processo de
impressão por jato de tinta direta no tecido, sem a necessidade de telas ou
moldes em papel.

Tecelagem
A Tecelagem é processo de fabricação de um tecido por meio do entrelaçamento
dos fios. Na tecelagem, os fios dispostos no sentido longitudinal, chamados de
urdume, são entrelaçados com os fios no sentido transversal, chamados de trama. A
forma como os fios são entrelaçados determina a estrutura do tecido ou seu padrão
(PEZZOLO, 2013).

Existem três ligamentos ou ordens básicas de entrelaçamento dos fios de trama e


de urdume:

Ligamento tafetá: é a forma mais simples e mais usada de


entrelaçamento. Cada fio de trama passa, alternadamente, por cima e por
baixo de cada fio de urdume. Exemplos de tecidos obtidos com esse tipo
de entrelaçamento são o cretone e o musseline.

Figura 1.1 – Esquema e desenho da trama tafetá


Fonte: Pezzolo (2013, p. 154).

Ligamento sarja: nesse tipo de entrelaçamento, alguns fios de urdume,


em espaçamentos regulares, são dispostos na diagonal, formando ângulos,
geralmente de 45°. O ligamento sarja resulta em um tecido em que o lado
direito e o avesso são visivelmente diferentes.
Figura 1.2 – Esquema e desenho da trama sarja
Fonte: Pezzolo (2013, p. 154).

Ligamento cetim: nesse ligamento, os pontos de cruzamento entre os fios


de urdume e os de trama são mais dispersos, resultando em um tecido
mais liso e com os lados direito e avesso também distintos, sendo o direito
mais brilhoso.

Figura 1.3 – Esquema e desenho da trama cetim


Fonte: Pezzolo (2013, p. 154).

Jacquard
A técnica de Jacquard é bastante complexa de entrelaçamento de fios. Foi criada no
século XVIII por Joseph Marie Jacquard, um mecânico de teares. A técnica utiliza um
sistema de cartões perfurados. Essas perfurações, ligadas a cabos, comandam a
elevação dos fios de urdume, fazendo com que os fios de trama se entrelacem de
maneira a formar os desenhos, com efeito de relevo, que compõem o tecido.
Figura 1.4 – Tecido em jacquard
Fonte: Apugach / 123RF.

Malharia
A laçada é o elemento fundamental do tecido de malha. O entrelaçamento dos fios
têxteis em laçadas, que originam a malha, se dá sempre no mesmo sentido,
podendo ser no sentido da trama ou no sentido do urdume.

Figura 1.5 – Laçada característica da malharia


Fonte: Elaborada pela autora.
A Malharia se divide em

Por trama: é formada por um único fio que corre continuamente ao longo
da largura do tecido.
Por urdume: os fios são entrelaçados no sentido do comprimento do
tecido.
Mista: quando os fios entrelaçados recebem a anexação periódica de um
fio de trama, com o objetivo de dar mais resistência e firmeza ao tecido.

A principal característica da malha é a elasticidade proporcionada pelas laçadas, que


escorregam umas sobre as outras. Outra característica que torna esse produto
atraente e versátil é a porosidade, que gera conforto no uso.

Tapeçaria
A técnica de tapeçaria é manual de tecelagem, em que o tecido é produzido pelo
entrelaçar dos fios de trama sobre a estrutura de fios de urdume que são montados
em um tear. A principal característica da tapeçaria é que os fios da trama são
entrelaçados, de forma a esconder completamente os fios de urdume.

Na tapeçaria, a descontinuidade e as diferentes cores dos fios de trama formam os


desenhos que ilustram as peças.

Geralmente, a técnica emprega fios de urdume de fibra natural, como linho ou


algodão. Os fios de trama geralmente são de lã.
Figura 1.6 – Tapeçaria
Fonte: Dmitrii Bachtub / 123RF.

Feltragem
O Feltro é conhecido como o "não tecido", pois, enquanto os tecidos são formados
pelo entrelaçamento de fios, a feltragem consiste na prensagem das fibras de lã.

Existem dois tipos de processo da feltragem:

Molhada: é a mais conhecida e emprega água e sabão no processo de


fabricação. As fibras molhadas se movem e se enroscam, formando, assim,
um pano denso.
Seca: é executada com agulhas e não há a necessidade de utilizar água e
sabão em sua fabricação.

praticar
Vamos Praticar
Leia o trecho a seguir:

"Design de superfície é uma atividade criativa e técnica que se ocupa com a criação e
desenvolvimento de qualidades estéticas, funcionais e estruturais, projetadas
especificamente para constituição e/ou tratamentos de superfícies, adequadas ao
contexto sociocultural e às diferentes necessidades e processos produtivos".
(RÜTHSCHILLING, 2008, p. 23).

No trecho apresentado, a autora fala em constituição e em tratamento de superfícies.


Nesse sentido, assinale a alternativa que contenha superfícies têxteis em que o design
atua na sua constituição:

Estamparia e feltragem.
Estamparia e jacquard.
Tecelagem e jacquard.
Tecelagem e malharia.
Malharia e tecelagem.
Aspectos Técnicos e
Projetuais do Design de
Superfície

O design de superfície, compreendido como a atividade de criar um padrão visual a


ser aplicado em superfícies contínuas (padronagem), baseia-se em três conceitos
básicos:

Módulo: elemento básico da padronagem, a menor área que contém


todos os elementos visuais do desenho.
Repetição ou rapport (em francês): é a multiplicação do módulo de
forma ordenada.
Sistema de encaixe: forma como os módulos se encaixam de maneira
harmoniosa, gerando continuidade.

Histórico do Design de Superfície


Como vimos no tópico anterior, o design de superfície é uma especialidade ainda
recente. A história da estampa, entretanto, é tão antiga como a própria
humanidade. O homem pré-histórico usou como primeiras superfícies a serem
pintadas a própria pele e as paredes das cavernas (pinturas rupestres). Como tinta
usou o barro, considerado um corante natural e, para aplicá-lo, usou os dedos.

As primeiras técnicas de estamparia nasceram entre os séculos V e VI a. C., ainda


com a utilização de corantes naturais, porém com a adição de ácido.
Já entre os séculos V e XV, foram criados alguns instrumentos no auxílio da
produção de estampas sobre o linho. No século XVI, surgiu uma técnica
desenvolvida com a cera. Os produtores de estampas desenhavam com a cera que,
em seguida, recebia o tingimento. Essa técnica é conhecida como Batik.

Nesse contexto, um grande passo para a indústria têxtil foi a invenção do cilindro
para estampar, criado no século XVII. Já a serigrafia surgiu no século XX e é usada
até hoje por todo o mundo.

Em 1962, foi criado o cilindro rotativo, possibilitando o avanço das técnicas e a


automatização de todo o processo. Em 1980, os franceses desenvolveram técnicas
que usam o calor para a transferência de corantes. No fim do século XX, surgiam as
primeiras impressões feitas a jato de tinta, que é a estamparia digital.

História do Tecido
As primeiras fibras têxteis eram de origem animal, como a seda e a lã, e vegetal,
como o linho. Os primeiros tecidos vieram da manipulação dessas fibras têxteis e,
posteriormente, surgiram os primeiros instrumentos de tecelagem.

A fibra mais usada em todo o mundo é o algodão. No Egito se deu início ao trabalho
com essa fibra. Já a seda, surgiu na China cerca de 1700 a.C., e se espalhou por todo
o ocidente, tornando-se símbolo de luxo e poder. Por muitos anos, a seda foi o
vínculo mercantil entre o Ocidente e o Oriente.

Na Idade Moderna, com as grandes navegações, outros tecidos foram surgindo. A


renda, por exemplo, era muito utilizada pela nobreza. Já o surgimento do cetim
trouxe muita classe e maior caimento às roupas. Nesse período, houve um grande
avanço na indústria e no comércio de vestuário e decorações.

Um grande marco da indústria dos tecidos foi a criação do jeans em 1873. O alemão
Levi Strauss, junto com o alfaiate Jacob David, tingia o denim, que é outro nome
dado a sarja, para servir de uniforme para mineradores, dando origem ao blue
jeans, tão usado até hoje.

Na década de 1920, os fios sintéticos começam a ser usados na indústria inglesa


para a confecção de tecidos.
No final do século XIX, teve início a era da Química, pois, no período pós-guerra, a
carência de fibras naturais fez com que produtores buscassem novas soluções para
a criação de tecidos. Foi quando surgiu uma grande variedade de tecidos com fibras
artificiais.

Na atualidade, a tecnologia se volta para os chamados tecidos inteligentes, que são


tecidos com funções inovadoras, como, por exemplo, para o controle da
transpiração e propriedades antichamas, antiamarrotamento e com proteção
contra os raios UV.

reflita
Reflita
O design de superfície é uma especialidade ainda recente. A
história da estampa, entretanto, é tão antiga como a própria
humanidade. O homem pré-histórico usou como primeiras
superfícies a serem pintadas a própria pele e as paredes das
cavernas (pinturas rupestres). Como tinta, usou o barro,
considerado um corante natural e, para aplicá-lo, usou os dedos.

Fonte: Elaborado pela autora.

Os sistemas Manuais, Mecânicos e Digitais de


Estamparia
O designer de superfície têxtil tem à sua disposição uma grande variedade de
técnicas de estamparia. Ao optar por uma delas, o profissional deve considerar
diversos fatores, tais como o resultado que se espera, o tipo de tecido, a função da
estampa e a escala de produção.

A seguir conheceremos um pouco sobre algumas dessas técnicas, divididas em :


Técnicas manuais: são aquelas que estão sob a completa intervenção do ser
humano. Em tempos digitais, as técnicas manuais encontraram seu valor por
produzir peças únicas.

A pintura a mão livre é a técnica mais antiga e é usada até hoje. A princípio, se
usavam os dedos para pintar; posteriormente foram usadas cascas de árvores e
folhas e, enfim, os pincéis. Essa técnica resulta em estampas exclusivas, a matéria-
prima usada nas estampas têxteis são tintas para tecidos, que são encontradas em
diferentes especificações, conforme as características do tecido que vai receber a
pintura.

A marmorização é outra técnica bastante usada, sendo de origem japonesa.


Consiste em desenhar ou aplicar a tinta em um meio líquido ou gelatinoso em que
se mergulha o tecido para o qual o desenho é transferido.

O bloco de impressão ou carimbo é mais uma técnica considerada manual. Os


desenhos a serem transmitidos para o tecido são entalhados em blocos que
recebem tintas e são pressionadas contra a superfície a ser estampada. No bloco de
impressão, além da tinta acrílica, a matéria-prima utilizada são os blocos que podem
ser esculpidos em madeira, ferro fundido, bronze ou outros materiais.

Outra técnica manual é o stencil. Utiliza moldes vazados que recebem tinta na área
que se pretende pintar. Os moldes usados no stencil podem ser feitos de diversos
materiais, podem ser encontrados prontos em lojas específicas ou até mesmo feitos
pelo criador da obra que usam materiais, como chapas de radiografia.

Batik é uma técnica também muito antiga. Nela, utiliza-se cera, para isolar as partes
do tecido que não serão pintadas. Na retirada da cera, a peça estará parcialmente
pintada, criando um efeito muito bonito e peças exclusivas. As matérias-primas
usadas são a tinta e a cera.

A heliografia é uma técnica que utiliza moldes em papel especial chamado papel
heliográfico. Uma característica dessa técnica é reproduzir formas geométricas nos
tecidos.

Técnicas mecânicas: caracterizam-se por serem não artesanais, mas ainda


demandarem a intervenção humana no processo.

A principal dessas técnicas é a serigrafia manual que emprega equipamentos como


a bancada em que a peça a ser estampada é fixada, a tela que contém o desenho a
ser reproduzido e o rodo que o estampador utiliza para aplicar a tinta. Existe ainda
a serigrafia automática que não se encaixa como uma técnica mecânica, já que é
feita por maquinário específico.

A sublimação é também uma técnica mecânica; consiste na passagem do estado


sólido para o gasoso. O desenho a ser transferido é impresso em papel sublimático
e, sob pressão e calor, a tinha evapora e adere ao tecido. A técnica utiliza
equipamentos como a impressora sublimática, que é uma impressora jato de tinta
adaptada para utilizar tinta sublimática, além de uma prensa térmica. O estampador
prepara a impressão, posiciona-a no local a ser estampado e aciona a prensa,
programando a temperatura e o tempo de prensagem.

O transfer é uma técnica semelhante à sublimação, no sentido em que utiliza a


estampa impressa em papel especial que também é transferida para o tecido, com
o auxílio de uma prensa térmica. O tipo de papel e de tinta e o resultado obtido é
que diferenciam as técnicas.

Outra técnica mecânica é o devorê, utilizada para estamparia sobre o veludo. O


tecido passa por um processo químico que faz com que ele perca parte das fibras,
resultando em relevos nos formatos desejados. O processo exige um agente
catalisador, que é um processo químico específico para corroer o tecido.

Estampa Digital: é um processo de impressão direta no tecido, sem a necessidade


de telas ou moldes em papel.

Utilizada por meio de programas específicos de computador para a confecção de


estampas e preparação da impressão, todo o processo de estamparia é feito de
forma digital e proporciona uma ótima definição da imagem impressa, permitindo a
impressão de fotografias.

Outra técnica de impressão digital é o engineered print. Nessa técnica, não se aplica
a estampa contínua, no tecido em metro, mas se estampa dentro de moldes que, ao
se unirem pela costura, devem apresentar perfeita continuidade dos desenhos
contidos em cada molde.

Limite de Cores
Dentre as técnicas manuais, estão as que apresentam maior limitação de cores. O
bloco de impressão ou carimbo e o stencil, por exemplo, são monocromáticas. Já a
pintura à mão e a marmorização, dão liberdade ao artesão na escolha de cores.

Entre as técnicas mecânicas, a serigrafia permite a estampa em mais de uma cor. A


adição de cores, porém, encarece o processo, pois cada cor a ser impressa exige a
confecção de uma nova tela. Já a sublimação e o transfer permitem a impressão em
policromia, já que a estampa é derivada de impressão em jato de tinta, partindo do
padrão CMYK (ciano, magenta, amarelo e preto). Da mesma forma, a impressão
digital não tem limite de cores.

praticar
Vamos Praticar
Como vimos em nossos estudos, existem diversas técnicas de estamparia, cada qual com
suas características próprias. Sobre as técnicas de estamparia podemos afirmar que:

Dentre os sistemas de impressão, os manuais são os mais antigos e a técnica


manual mais usada é a serigrafia.
O batik é uma técnica que usa um molde vazado de um papel específico para pintar
de forma parcial a peça.
Sublimação é uma técnica mecânica em que o desenho a ser transferido é impresso
num papel sublimático que usa o calor e a pressão para a transferência de imagem.
Transfer é uma técnica mecânica, pois não tem a intervenção de um operador.
Dentre as vantagens da estampa digital, podemos citar a qualidade da impressão e
o baixo custo das matérias-primas.
Taxionomia em Design de
Superfície

A Taxionomia é ramo do conhecimento que se ocupa da classificação ou


categorização de determinado assunto ou disciplina. Na Biologia, se refere à
classificação dos seres vivos. No campo do design de superfície, a taxionomia
separa por categorias específicas os elementos visuais.

O objetivo de tal classificação é facilitar a comunicação entre profissionais,


estudantes e o mercado.

Os autores do design de superfície, como Pezzolo, Rüthschilling e Fantinel, usam


sistemas diferentes de categorização, não havendo ainda um padrão consolidado.

Dois conceitos, entretanto, estão presentes em qualquer abordagem: o motivo e o


estilo.

Motivo é a temática a que se refere o elemento visual básico de uma


estampa. Por exemplo, um elemento visual que retrata um botão de flor
define um motivo floral, assim como um elemento visual que faça
referência às cores e grafismos característicos de uma tribo africana
compõe um motivo étnico.
Estilo é a variação do motivo. Na arte, estilo refere-se ao conjunto de
características que permitem estabelecer uma identificação.
Os motivos podem ser de estilos diferentes. Por exemplo, uma estampa pode ter
um motivo floral, em um estilo vintage, ou romântico, ou psicodélico.

Além dos motivos e dos estilos, consideram-se também na classificação, as


subcategorias. No mesmo exemplo, o motivo floral compreende a subcategoria
orquídeas ou poderia ser rosas ou tulipas.

Classificação quanto ao Tema


De acordo com o tema que representam, Pezzolo (2013) apresenta a seguinte
classificação para os motivos:

Floral: de forma realista ou estilizada, as formas e as cores das flores são


um dos motivos mais usados nas estampas através dos séculos. Esse tipo
de motivo compreende ainda a representação de cestos, buquês e
guirlandas.
Geométrico: os motivos geométricos são marcados pela simetria, pelas
linhas retas e pelo emprego das formas geométricas como quadrados,
retângulos, círculos e semicírculos, geralmente destacados pelo contraste
entre as cores empregadas.
Animal: as estampas felinas são um dos exemplos mais comuns deste
motivo. Além da pelagem de animais, aparecem as plumagens de pássaros
e desenhos de animais inteiros, ou em detalhes, literais ou estilizados.
Abstrato: com influência da arte moderna, os motivos abstratos não têm
forma definida; são representados por borrões, manchas, respingos ou
rabiscos.
Figurativo: estampas que apresentam figuras humanas, cenas de
esportes, cenas de caçadas e paisagens são exemplos de motivos
figurativos.

Outra possibilidade é a junção de dois motivos em uma estampa. Por exemplo, uma
estampa floral sobre um fundo geométrico, ou um motivo figurativo sobre um
fundo abstrato.

Classificação quanto ao Processo de Criação


Outra forma de classificar as estampas é o processo usado pelo designer para
desenvolver o design de uma superfície. De acordo com esse critério, Fantinel (2019)
apresenta a seguinte taxionomia:

Desenho livre: quando o designer parte de desenhos manuais para


desenvolver sua estampa. A partir do desenho concebido, ele projeta a
melhor técnica de repetição e de encaixe dos módulos.
Simulação: caso em que a estampa imita ou simula a aparência e a textura
de um material diverso. Um exemplo seria uma superfície sintética que
simulasse a textura de madeira ou, para ficarmos no setor têxtil, uma
camiseta em malha que imitasse a aparência do jeans.
Apropriação: o designer se apropria de uma obra já existente e a usa
como referência para sua criação. Desenvolve um padrão visual novo, mas
que remete à obra original.
Tradução de gêneros artísticos: trabalhos que transportam para a
linguagem da estamparia obras desenvolvidas em outras áreas da arte,
como pintura, fotografia ou desenho.
Colagem/assemblagem: o designer recolhe fragmentos de obras
existentes ou de referências visuais de sua escolha e reagrupa esses
fragmentos, criando elementos de transição que formem uma estampa
original e harmônica.
Técnicas artesanais: semelhante ao desenho livre, em que o designer
parte de um desenho à mão livre. Neste caso, o designer parte de imagens
geradas em técnicas artesanais para gerar o seu design de estampas.
Algumas dessas técnicas artesanais são o carimbo, o batik, o estêncil e o
marmorizado.

praticar
Vamos Praticar
A taxionomia é a área de estudo que objetiva a classificação dos diferentes aspectos
relacionados a uma determinada disciplina. Sobre a taxionomia em design de superfície,
analise as seguintes afirmativas como verdadeiras (V) ou falsas (F).

I - ( ) O motivo se refere ao estilo visual adotado em uma estampa.

II - ( ) O objetivo da taxionomia é facilitar a comunicação entre designers, estudantes e o


mercado.

III - ( ) Os motivos figurativos são aqueles representados por manchas, borrões e rabiscos.

IV - ( ) A apropriação, a tradução de gêneros e a colagem são processos de criação em que


o designer parte de obras já existentes para desenvolver um novo design de estampa.

A sequência correta é a que consta na alternativa.

V, V, F, F.
V, F, V, F.
F, V, F, V
F, F, V, V.
V, F, F, V.
Layout

A palavra layout significa plano, esquema, design, ou seja, é um esboço ou um


rascunho do que será apresentado, seja na arquitetura seja em um projeto gráfico.
Nesse sentido, o layout engloba os elementos que serão usados no projeto e como
eles serão arranjados ou dispostos.

O layout ajuda o criador a expressar sua ideia e o cliente a entender o projeto.

O termo layout pode ser usado também para designar a organização de um


ambiente. Por exemplo, o layout de uma sala de estar vai apresentar onde ficarão o
sofá, as poltronas e as mesas de centro.

Na estamparia têxtil, o layout indica a distribuição das estampas em uma superfície.


É a organização física dos elementos visuais que vão compor uma estampa.

Tipos de Layout
Existem quatro principais tipos de layout no design de superfície:

1. Localizado: neste tipo de layout, a estampa fica restrita a uma área do


vestuário ou tecido. Independentemente da forma da aplicação, o designer
deve desenhar e apontar onde a estampa vai ficar localizada no produto.
2. Corrido: no layout corrido, a estampa ocupa toda a extensão do tecido ou
da peça através de um sistema de repetição. Este pode ser simétrico ou
não, alinhado ou desalinhado, mas o importante é a indicação do processo
de repetição sobre o tecido.
3. Engineered print: as estampas a serem aplicadas em cada parte de uma
peça de vestuário são pensadas de maneira a formar um desenho
contínuo quando essas partes são unidas. Os moldes, que delimitam cada
uma dessas partes, devem conter a porção exata da estampa que encaixe
perfeitamente na estampa do molde contíguo.
4. Sem repetição: neste caso, não existe um sistema de repetição ou uma
localização própria para a estampa. O resultado final não vai depender do
layout, mas pode ser apresentado por uma simulação que tem como
objetivo apurar se há equilíbrio visual e proporção na peça.

praticar
Vamos Praticar
Assinale a alternativa que indique, corretamente, o porquê o layout na estamparia é
importante para o cliente entender a criação e como será distribuída na peça a ser
aplicada.

O layout é um croqui feito à mão que representa a organização das estampas sobre
a superfície.
Layout é um esboço, mostra os elementos que serão usados no projeto de design
têxtil e a localização em que esses elementos vão ficar na peça.
Layout é a parte do processo de criação interna; o cliente não tem conhecimento
dessa etapa, mas, sim, do projeto final.
Layout também é conhecido como briefing.
O layout tem um padrão a ser seguido, enquanto o moodboard é mais livre, sendo
apresentado pelo designer da forma que achar mais conveniente.
indicações
Material
Complementar

LIVRO

Tecidos: história, tramas, tipos e usos


Dinah Bueno Pezzolo
Editora: Senac
ISBN: 978-85-396-0205-0434-0
Comentário: Obra bastante completa, aborda as diferentes
fibras têxteis, contextualizadas em suas regiões de origem,
suas características e seus usos, além das diferentes
técnicas de tecelagem e estamparia. Muito pertinente ao
design de superfície têxtil.
FILME

Abstract: The Art of Design


Ano: 2017
Comentário: Série disponível na Netflix traz oito episódios
com oito profissionais de diferentes áreas, como o design
gráfico, a fotografia e a arquitetura, que falam sobre seu
trabalho e seu processo criativo. A abordagem é importante
por mostrar a criatividade não como uma inspiração
espontânea, mas como resultado de trabalho árduo.
Para conhecer mais sobre a série, assista ao trailer.

TRAILER
conclusão
Conclusão
Nesta unidade, iniciamos o estudo do Design de Superfície com ênfase nas
superfícies têxteis. Como vimos, esse ramo do design atua tanto no tratamento
como na constituição das superfícies têxteis. Nesse sentido, conhecemos diferentes
técnicas de estamparia e diferentes processos de construção de superfícies, como a
tapeçaria, o jacquard e a feltragem.

Conhecemos, ainda, o estudo dos aspectos técnicos e projetuais do design de


superfície.

Sobre a taxionomia em design de superfícies, conhecemos os tipos mais comuns de


motivos e como eles podem ser classificados quanto ao seu tema e quanto ao seu
processo de criação.

Encerramos a unidade falando de layout e dos diferentes tipos usados no design de


superfície.

referências
Referências
Bibliográficas
FANTINEL, Patrícia. Taxionomia em Design de Estamparia. Disponível em:
<http://www.nds.ufrgs.br/admin/documento/arquivos/PatriciaFantinel.pdf>. Acesso
em: 25 jun. 2019.
PACHECO, Francis Marina Leitão. Padrões em design de superfície cerâmica: um
estudo exploratório a partir da linguagem Kawaii. 2013. Disponível em:
<https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/697/Pacheco_Francis_Marina_Leitao.pdf?
sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 25 jun. 2019.

PEZZOLO, Dinah Bueno. Tecidos: história, tramas, tipos e usos. São Paulo: Editora
Senac, 2013.

RUBIM, Renata. Desenhando a superfície. 2. ed. São Paulo: Edições Rosari, 2010.

RÜTHSCHILLING, Evelise Anicet. Design de Superfície. Porto Alegre: Editora UFRGS,


2008.

SUPERFÍCIE. In: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio: o dicionário da


língua portuguesa. 8. ed. Curitiba: Positivo, 2010. 719 p.

SURFACE DESIGN ASSOCIATION. Disponível em:


<https://www.surfacedesign.org/about/mission-history/>. Acesso em: 19 jun. 2019.

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