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RESUMO
O presente artigo tem como objetivo a criação de estampas sob o estímulo da natureza,
demonstrando a importância e a valorização dos elementos naturais como fonte de
criatividade e inspiração no desenvolvimento de padrões para clutches de uso feminino.
Evidenciando a originalidade e a produção artesanal de peças exclusivas foi utilizada a técnica
de impressão por serigrafia. Contribuindo para o processo criativo destas padronagens, em
design de superfície, foi aplicado o estudo da biônica, analisando formas e texturas de
elementos naturais com ênfase no inseto libélula.
Palavras-chave: Design de Superfície. Biônica. Natureza. Libélula. Serigrafia.
ABSTRACT
The current article aims to create prints under the stimulus of nature, demonstrating the
importance and increasing the value of the natural elements as a source of creativity and
inspiration in the developing standard for female clutches. The technique of silk-screen
printing was used in handmade production and original trends of exclusive pieces. They
contribute to the creative process of these patterns in surface design and the bionic study was
applied, analyzing shapes and textures of natural elements with emphasis on the wings of
dragonfly.
Keywords: Surface Design. Bionics. Nature. Dragonfly. Serigraph.
1 INTRODUÇÃO
Este projeto tem por finalidade desenvolver padrões para clutches de uso feminino
com referência nos elementos naturais. O objetivo foi enaltecer a importância do meio
ambiente como inspiração na concepção de um projeto de design de superfície.
No que diz respeito a esta pesquisa, o design de superfície relaciona-se à área do
design que trata da criação e o tratamento de superfícies, podendo ser estéticas e/ou funcionais
de acordo com as necessidades de cada projeto (RÜTHSCHILLING, 2008). Ao identificar
palavras-chave sobre este tema, pode-se pensar sobre o que elas representam. Dentre elas
1
Bacharel em Design pela Universidade Luterana do Brasil (2013) e realiza Pós-Graduação em Design de
superfície pela Universidade Feevale (2018). E-mail: amanda_marcon@hotmail.com
2
Licenciada em Educação Artística (1993), Bacharel em Cerâmica (1995), Mestre em Poéticas Visuais (2000)
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Doutoranda em Processos e Manifestações Culturais (2018)
pela Universidade Feevale. Email: alexandran@feevale.br
destaca-se: superfície, tendo como significado, área externa de um elemento, que está na
superfície, área delimitada. Ainda, no que se refere à busca de definições para a expressão
design de superfície ou surface design entende-se que estas expressões remetem à criação e ao
tratamento de superfícies contínuas, que tanto podem ser bidimensionais ou tridimensionais,
de acordo com a necessidade do projeto para um produto (RUBIM, 2009).
Renata Freitas (2011, p. 1) descreve superfície de outra maneira,
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Estudo que consiste na observação e análise de elementos contidos na natureza como processo criativo.
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Processo de impressão artesanal que utiliza a tela gravada com a arte para impressão das estampas na
superfície.
2 DESIGN DE SUPERFÍCIE E SEU CONCEITO AMPLIADO
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A Revolução agrícola aconteceu nos séculos 18 e 19 na Europa, mudando a forma de produção. Seu objetivo
era o aumento da produtividade e o incremento da tecnologia às técnicas já desenvolvidas.
Entretanto, foi a partir da década de 70, após vários e longos questionamentos
ambientais, que o homem se deu por conta que os recursos fornecidos pela natureza eram
limitados e que a possibilidade de extinção de alguns recursos naturais se tornava realidade
(PEREIRA, s.d.). Constatado isto, observa-se que, cada vez mais, a indústria está
comprometida com o uso de tecnologias e o reuso de materiais sustentáveis na elaboração de
novos produtos, sendo esta uma maneira de garantir a sustentabilidade e a preservação da
natureza.
O conceito de sustentabilidade está tão presente nas áreas criativas como Arquitetura,
Engenharias e principalmente o Design, que os envolvidos no processo de criação procuram
fazer uso e se beneficiarem de materiais e tecnologias sustentáveis. O que se pode constatar a
atenta observação dos sistemas naturais para o desenvolvimento de novos projetos.
Pensamento este, refletido nas palavras de Freitas (2011, p. 54): “[...] muitos estudos estão
sendo feitos para aplicar as tecnologias encontradas na natureza em produtos industriais a fim
de agregar novas características [...]”.
A exemplo, pode-se citar a flor de lótus, que possui a sua face externa com
característica áspera, capaz de repelir pequenas gotas de água e outras substâncias em sua
superfície. A este respeito, verificamos o que a autora (FREITAS, 2011, p. 54) complementa,
“[...] propriedade autolimpante acontece graças à disposição das estruturas da rugosidade da
folha, o que lhe confere a qualidade serosa [...]”. Esta característica áspera é chamada de
Lotus Effect, através da qual é possível relacionar estética à mecânica, incluindo novas
qualidades. Com isso, a relação afetiva do usuário ao produto se fortalece, devido à
estimulação tátil e à identificação da característica aplicada, o que, sem dúvida, prolonga o
seu tempo de uso.
[...] os sistemas vivos, ou semelhantes aos vivos, para descobrir processos, técnicas e
novos princípios aplicáveis à tecnologia. Examina os princípios, as características e
os sistemas com transposição de matéria, com extensão de comandos, com
transferência de energia e de informação. Toma-se como ponto de partida um
fenômeno natural e, a partir daí, pode-se desenvolver uma solução de projeto.
Tendo em vista o conceito de biônica por Munari (2008), no decorrer do processo
criativo, procura-se solucionar problemas existentes no cotidiano, desenvolvendo e criando
produtos que auxiliem no cotidiano das pessoas, que, direta ou indiretamente, desde a pré-
história, o homem buscou a fonte de inspiração para sua sobrevivência e bem estar na
natureza.
Nesta linha de pensamento de Munari (2008), a respeito do processo criativo e o
cotidiano humano, Ostrower (2001, p.10) complementa, “[...] O homem cria, não porque quer,
ou porque gosta, e sim porque precisa; ele só pode crescer enquanto ser humano,
coerentemente, ordenando, dando forma, criando [...]”.
Ainda nesta linha de referência, pode-se dizer que Leonardo Da Vinci foi pioneiro
neste conceito. Foi ele quem primeiro aplicou o conceito da biônica para conceber seus
projetos. Dentre as inúmeras invenções, o renascentista desenvolveu o famoso Ornitóptero,
atualmente precursor da asa-delta. Inspirado no estudo do voo das aves, o homem poderia ter
a experiência de voar, no qual, representava pássaros e insetos voadores. As invenções de Da
Vinci serviram de ensinamentos para as diferentes especialidades da Engenharia, contribuindo
de forma valiosa para soluções.
Portanto, retirar informações da natureza é de grande importância na criação. A este
respeito, Arruda (s.d., p.6) complementa,
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O movimento artístico de Art Nouveau originou-se na Europa entre 1890 e 1910. A observação na natureza
dava origem a produções artísticas e arquitetônicas.
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René Jules Lalique foi mestre vidreiro e joalheiro, nasceu na França em 1860 e faleceu em 1945. Reconhecido
pelas suas criações originais de joias, frascos de perfume, taças, candelabros e relógios no estilo Art nouveau.
natureza, combinava a criação das suas joias com pedras preciosas e materiais nobres,
confiando qualidade, beleza e originalidade.
O inseto que marcou umas das suas criações foi a libélula8. Entre os anos de 1897 e
1898 Lalique criou a joia Peitoral Mulher-Líbélula, a peça tem o formato do inseto mesclado
a um bicho com grandes garras, com sua boca aberta surge o busto de uma mulher conectada
às asas da libélula, além disso, foi produzida em ouro, contendo diamantes e outras pedras. A
joia é uma peça singular e ao mesmo tempo original e belíssima.
Gulbenkian (2017) completa,
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Inseto voador. Possui asas transparentes, olhos grandes, corpo fino e alongado. Para muitos, a libélula
simboliza a transformação, a coragem e a felicidade.
era produzido em couro e pele de animais, bordado com pedrarias e fios de ouro. Até o século
XVI era utilizada tanto por homens quanto por mulheres, sempre amarrada à cintura, porém o
espaço interno era característico a cada gênero, a bolsa do homem era sempre maior que a da
mulher.
No entanto, foi a partir do século XIX que a bolsa era produzida e destinada somente à
mulher, fazendo parte da sua vida e sendo utilizada de acordo com a sua necessidade,
Segundo Dhora Costa (2010, p. 33) “[...] a bolsa feminina já era considerada um acessório
indispensável e havia se transformado em um produto importante no que diz respeito ao
consumo”.
Avançando na história, a bolsa se tornava objeto de moda no século XX; era um
complemento à vestimenta da mulher, onde o mais importante era o seu formato e os adereços
contidos do que o seu próprio significado de armazenar objetos pessoais. Com o passar do
tempo, a moda, que ditava luxo e riqueza, já não era mais vista desta maneira, o estilo de se
vestir da mulher foi mudando, devido à necessidade feminina de ter independência para
trabalhar e possuir outras atividades fora de casa.
Com novos tempos, a bolsa foi sendo modificada para atender às necessidades da nova
mulher independente. Corrobora-se da ideia de Tristante e Roim (s.d., p. 6)
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Fundada na França em 1837 por Thierry Hermés, a marca Hermés ficou conhecida no mundo pela cor laranja.
Em 1892 lançou a bolsa símbolo de sua marca.
valor agregado a cada peça. Sendo assim, possuir uma bolsa é carregar consigo valores
afetivos e apego emocional ao produto.
3 METODOLOGIA CRIATIVA
Desta forma, pensou-se em criar padronagens para superfícies de clutches para este
público, a partir da observação do inseto libélula, suas cores, formas e texturas. Neste ínterim,
para auxiliar no desenvolvimento deste projeto, foi criado um moodboard, selecionando
imagens relacionadas ao tema proposto, considerado importante para a geração de
alternativas.
Figura 5. Moodboard.
Para contribuir com o desenvolvimento das padronagens, foi necessário o inseto físico
para análise. Assim sendo, possibilitou o estudo das suas formas e texturas. Para isto, a
libélula foi posicionada de diferentes maneiras e fotografada para observação, imagens
aproximadas e detalhadas da asa foram registradas, com o propósito do auxilio na concepção
dos padrões.
Figura 8. Fotografias da textura da asa da libélula.
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O processo de gravação da matriz consiste na aplicação de uma emulsão fotossensível em ambos os lados da
tela, após a secagem da emulsão, o desenho é exposto sobre uma mesa de luz e a tela colocada por cima. A luz
endurecerá toda área livre sem qualquer ilustração, onde há grafismos, a forma é mantida para que a tinta possa
passar para superfície (CURY, 2017).
3.3 APRESENTAÇÃO DAS CLUTCHES
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Conforme a luz é exposta na superfície, a sua cor é alterada, projetando inúmeras tonalidades.
Portanto, é apresentado o produto, mostrando cada detalhe da clutch. Conforme as
imagens apresentadas abaixo, a bolsa possui dois formatos: na configuração dobrada o usuário
poderá transportá-la e na forma alongada o usuário poderá abrir e armazenar seus pertences. A
clutch no formato alongado possui a dimensão de 190x235x15mm e na forma dobrada de
190x145x15mm. Em referência aos acabamentos, o tecido sintético foi selecionado em dois
tons caramelo.
Quanto ao zíper externo, foi escolhida uma marca conceituada no mercado atual, no
qual, possui alta resistência e durabilidade ao uso. Nesse sentido, para facilitar o uso do zíper
foi colocado tiras do tecido sintético na mesma cor do acabamento junto ao puxador.
Completando, em relação à parte interna, a bolsa possui um compartimento com fecho para
pertences significativos, contudo, o tecido do forro foi combinado com a cor da estampa.
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
REDE, Blog arte na. Da vinci, monalisa, homem vitruviano, ornitoptero, cvt. 1 il. color.
Disponível em: http://artenarede.com.br/blog/index.php/da-vinci-monalisa-homem-
vitruviano-ornitoptero-cvt/. Acesso em: 27 set. 2017.
COSTA, Dhora. A história das bolsas. 1. ed. São Paulo: Matrix Editora, 2010.
CHATAIGNIER, Gilda. Fio a Fio: Tecidos, moda e linguagem. 1.ed. São Paulo: Estação
das Letras Editora, 2006.
CURY, Nathalia. Técnicas de impressão para pequenas tiragens. 2. ed. São Paulo: Meli-
Melo, 2017.
MUNARI, Bruno. Das coisas nascem coisas. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
RUBIM, Renata. Desenhando a superfície. 2. ed. São Paulo: Editora Rosari, 2010.