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Design de Superfície e de

Embalagem
Ingrid Borba

Curso Técnico em
Design Gráfico
Design de Superfície e de
Embalagem
Ingrid Borba

Curso Técnico em
Design Gráfico

Escola Técnica Estadual Professor Antônio Carlos Gomes da Costa

Educação a Distância

Recife

2.ed. | Agosto 2023


Professor Autor Coordenação Executiva (Secretaria de Educação
Ingrid Borba e Esportes de Pernambuco | SEE)
Ana Cristina Cerqueira Dias
Revisão Ana Pernambuco de Souza
Ingrid Borba
Coordenação Geral (ETEPAC)
Coordenação de Curso Arnaldo Luiz da Silva Junior
Lia Madureira Ferreira Gustavo Henrique Tavares
Maria do Rosário Costa Cordouro de Vasconcelos
Coordenação Design Educacional Paulo Euzébio Bispo
Deisiane Gomes Bazante
Secretaria Executiva de
Design Educacional
Educação Integral e Profissional
Ana Cristina do Amaral e Silva Jaeger
Helisangela Maria Andrade Ferreira
Escola Técnica Estadual
Jailson Miranda
Professor Antônio Carlos Gomes da Costa
Roberto de Freitas Morais Sobrinho
Gerência de Educação a distância
Diagramação
Jailson Miranda

Catalogação e Normalização
Hugo Cavalcanti (Crb-4 2129)
Sumário
Introdução .................................................................................................................................... 5

1.Competência 01 | Entender os significados e os conceitos básicos relacionados ao design de


superfície, através da observação de projetos nos mais diversos tipos de materiais ...................... 6

2.Competência 02 | Entender o desenvolvimento e o planejamento de estampas para diversos


produtos e superfícies, com base em pesquisas de referências visuais, desenho, forma e
composição, utilizando rapports.................................................................................................. 21

3.Competência 03 | Entender o universo da embalagem a partir da sua história e funções, assim


como, da embalagem como ferramenta de marketing e o comportamento do consumidor ......... 37

4.Competência 04 | Compreender a metodologia de design de embalagem: do briefing a


implantação do projeto ............................................................................................................... 52

5.Competência 05 | Conhecer a cadeia produtiva da embalagem, os materiais, os processos e os


novos desafios ambientais da embalagem................................................................................... 69

Conclusão .................................................................................................................................... 85

Referências ................................................................................................................................. 87

Minicurrículo do Professor .......................................................................................................... 88


Introdução
Olá estudante, tudo bem?
Vamos de novidade?! Eu sou a professora Ingrid Borba e estou bem animada para te
conhecer. Preparei este e-book sobre Design de Superfície e de Embalagem e espero que você
aproveite bastante esse material. Nele vamos estudar os princípios básicos do design de superfície e
tudo que se relaciona a sua concepção, produção e aplicação. Também teremos, na competência
dois, abordagens específicas para uma das áreas de maior popularidade do design de superfície: as
estampas!
Quando a gente achar que o conteúdo acabou, vamos entender as relações entre o design
de superfície e a produção de embalagens. Isso mesmo, nas competências três, quatro e cinco vamos
compreender como funciona o universo de produção da embalagem, entendendo a sua linguagem
visual, sua metodologia de projeto e os impactos sócio ambientais que a fabricação de embalagens
deve estar atenta.
Aposto que você já ficou curioso e com muita vontade de aprender tudo isso, né não?
Então, te convido para ler o e-book que está bem recheado de conteúdos, referências, imagens, links
e dicas só esperando por você!

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1.Competência 01 | Entender os significados e os conceitos básicos
relacionados ao design de superfície, através da observação de projetos
nos mais diversos tipos de materiais
Preparados? Então vamos lá! Gosto de pensar o design de superfície como sendo a pele
dos artefatos. Aquela camada de elementos que vai cobrir parte ou todo um objeto. Qualquer design,
ilustração, desenho ou estampa que for criada para ser impresso ou aplicado sobre uma superfície,
não importa qual for. Um exemplo clássico são os patterns que um designer cria a partir dos seus
projetos para uma coleção de roupa, mas veremos que é muito mais do que isso.

E para já começar, escuta o podcast preparado para nossa primeira


competência.

1.1 O Design de superfície

Desde a antiguidade o homem ornamenta e manipula os objetos com o propósito de criar


superfícies que modifiquem a aparência final deles. Utilizando elementos visuais e táteis como
texturas, cores e grafismos, as diversas culturas presente na sociedade, criaram formas de expressão
diferenciadas na confecção de seus artefatos. Essas formas refletem tanto entendimentos culturais,
como também estabelecem modos de comunicação e percepção dos sentidos.
Podemos notar nesses objetos e na natureza, modos de percepção e interação com os
cinco sentidos. Por exemplo, já notou como a textura de uma árvore faz com que a gente queira de
imediato passar a mão nela? Ou, como um perfume específico pode nos levar para lugares que
estavam esquecidos nas nossas memórias!
Pois é, esses fenômenos não se dão por acaso e as superfícies, presente nesses objetos,
podem atuar de forma apelativa para os nossos cinco sentidos. Você, que é um futuro designer
gráfico, tem que estar atento a isso para projetar superfícies que permitam uma comunicação
assertiva e sensível para o público alvo que deseja alcançar.

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Como já vimos, a manipulação e o uso de recursos gráficos para criar essas sensações
como cores, traços, pontos, texturas, repetição e espelhamento sempre foi recorrente na história,
mas foi a partir da Revolução Industrial que se desdobrou no mercado a possibilidade de explorar
mais um segmento de consumo a partir das diferenciações dos objetos.
Portanto, trabalhar as superfícies de objetos bidimensionais e tridimensionais como
mobiliários, tecidos, rótulos e embalagens foi uma forma atrativa de alcançar potenciais
consumidores e diversificar produtos formando um novo campo de atuação do design: o design de
superfície.
O design de superfície se ocupa de realizar projetos criativos para desenvolver qualidades
técnicas, funcionais, estéticas e estruturais dos processos de produção de objetos. Sempre se
adequando às necessidades e contextos exigidos nos projetos.
Esse campo de atuação tem relação com diversas áreas do conhecimento e processos de
trabalho, se confundindo, muitas vezes, com a produção têxtil, a de cerâmica e revestimentos. Tal
condição, muitas vezes, causa um pouco de confusão na hora de definir e demarcar quais seriam as
atribuições e especificidades do design de superfície, porém segundo Tatiana Freitas: “o design de
superfície é um design de interfaces, existe na pele dos produtos (seja esse de que natureza for)”
(FREITAS, p.16, 2011).
Tais achando complicado? Calma, respira, vamos juntos que eu te vou explicar melhor!
Se liga nessa ideia: o design de superfície é um projeto elaborado, por você futuro designer gráfico,
para comunicar ideias através de imagens, cores, desenhos ou texturas com o propósito de adornar,
diferenciar ou contextualizar um objeto.
Para facilitar nossa vida, vamos observar alguns exemplos práticos de projetos onde
podemos encontrar o design de superfície:

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Figura 1: Projeto de design de superfície em embalagem
Fonte: https://www.coloniaeperfume.com/linha-agua-da-natura-esta-se-despedindo-em-2021/
Descrição da figura: Na imagem se vê três embalagens diferentes de perfumes nas cores rosa, roxo e amarelo. Fim da
descrição.

Figura 2: Projeto de design de superfície para revestimentos.


Fonte: https://www.behance.net/gallery/130487661/Ceramic-tile-project-
Vivaz?tracking_source=search_projects_recommended%7Csurface%20design
Descrição da figura: Na imagem pode-se ver duas fotos lado a lado. A da esquerda é uma sala com um projeto de
design de superfície em cerâmica, no formato geométrico, na cor laranja e branco. A foto da direita também é uma sala
onde ao fundo da parede, vemos um projeto de design de superfície em cerâmica, na cor marrom. Fim da Descrição.

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Figura 3: Projeto de design de superfície para estampas
Fonte: https://www.behance.net/gallery/129502999/Estampa-
Felina?tracking_source=search_projects_recommended%7Csurface%20design
Descrição da figura: Na imagem temos uma modelo usando um design de superfície para estampa, nas cores verde e
amarela. Dos lados esquerdo e direito vemos em detalhes o desenho estampa. Fim da descrição.

Percebeu nesses exemplos como o design de superfície tem uma grande variedade de
possibilidades para a sua aplicação?
É nesse momento que você para, observa os exemplos e me diz: Oxe Ingrid, isso de design
de superfície é só uma forma de enfeitar uma peça e vender mais caro, né não?! Aí que você se
engana meu jovem designer! Os projetos que envolvem um design de superfície devem ser capazes
de transmitir informações a partir de um artefato que tem tanto um propósito criativo como cultural.
No mercado contemporâneo as superfícies, presentes nos variados produtos e
embalagens, devem agir como uma interface que relacione os usuários e as mercadorias. Essa
conexão deve existir de forma a despertar nos consumidores experiências emocionais.
Ai Ingrid, que coisa mais complicada! Como é que isso é possível? Eu vou te convidar agora
para uma viagem em processos de criação. Continua aqui comigo que vou te mostrar exemplos bem
massas de como o design de superfície impacta na nossa cultura e sociedade.
Você já parou para pensar na quantidade de processos, pessoas e materiais envolvidos
na produção de uma embalagem? Da ideia inicial ao consumidor final existe uma série de etapas que
coexistem com o processo de fabricação da embalagem. A gente vai aprofundar um pouco mais o
passo-a-passo da embalagem na competência 3, mas eu preciso que você tenha em mente agora que
o seu papel como designer, nesse percurso, não é apenas ser um criador, mas um verdadeiro
articulador das adequações, realidades e possíveis rupturas dessa produção.

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O projeto de design, seja de qual área for, tem por objetivos elaborar um produto que
seja útil e atrativo para o seu público alvo. A validação, o sucesso e a aprovação desse produto no
mercado depende de uma experiência positiva com o usuário. A experiência do usuário com um
artefato não é pensada ao acaso, ela é fruto de uma série de planejamentos, técnicas, objetivos e
direcionamentos de público discriminados em ações num documento chamado briefing.
Eu sei que você já está bem ligado no que briefing desde a disciplina Branding e Identidade
Visual, mas vale a pena a gente dar mais uma conferida no que danado é isso!

Em linhas gerais, briefing é o documento que servirá de guia para a realização


de um projeto. Ele deve traçar panoramas do que se pretende fazer, seguir
as necessidades dos clientes, informar conceitos e criar diretrizes que
auxiliem no processo criativo. Deste modo, atender o briefing é essencial
para que se conheça quem deseja atingir e de que forma.

Certo professora, mas eu ainda não entendi qual a relação entre embalagem, produto e
experiências emocionais! Pois muito bem, vou te explicar agora. Traçado o briefing, o designer possui
as ferramentas necessárias para entender como se comporta a empresa, sua marca e seu público
alvo. Nesse ponto, você, designer atento e curioso, para e observa a sociedade que esse público-alvo
vive. Além de ser composta por diversidade cultural, ela é formada por várias pessoas com
identidades diferentes, essas possuem desejos e necessidades distintas que impactam diretamente
os modos de vida e as formas de consumo.
Em vista disso, esse público alvo, membro dessa sociedade diversa, não está apenas em
busca de um produto, sem diferenciações funcionais e emocionais. Eles estão em busca de empresas
e produtos que contenham narrativas que os representem como consumidores daquela marca.
O mercado da experiência emocional é formado por dinâmicas entre empresas e clientes
proporcionando a estes um estilo de vida, que se comporte de acordo com seus desejos e valores.
Nesse fluxo de trocas entre empresas comprometidas com o social e seus clientes, a designer e
pesquisadora Renata Freitas analisou que: “A cultura da imagem evoluiu para a cultura da experiência
emocional, que atua de forma mais abrangente, explorando os sentidos humanos e a vertente
comercial da experiência” (FREITAS, p.30, 2011).

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Assim, os motivos que fazem uma pessoa escolher e adquirir um certo produto não está
mais relacionado apenas ao acúmulo de bens, mas a uma busca por sentidos que a conectem com
uma experiência única. Essa experiência positiva fará com que esse consumidor se fidelize e ateste a
qualidade da marca nos ambientes em que convive.
Tomando como exemplo uma embalagem esta, deve cumprir a função de um “vendedor
visual” despertando a atenção do cliente para os valores embutidos na marca do produto. O design
de superfície nesse ponto é fundamental para transmitir esses valores e significados. Através do uso
de padrões, cores, formas, repetições e semelhanças podemos criar uma comunicação visual que
estimule sensações e estabeleçam conexões emocionais com os usuários.
Tais vendo o que eu estava te falando desde o começo do e-book? O design de superfície
vai muito além da decoração de um artefato, ele é o responsável por transpor valores e sentimentos
imateriais para o campo da materialidade. O designer, nesse percurso, atua como articulador criativo
e tradutor dessa linguagem ao escolher elementos compositivos para o projeto de superfície.
As dimensões emocionais de um produto estão também contidas na superfície dele, ou
seja, em sua pele. A partir de uma construção de projeto para a superfície, utilizando texturas,
grafismos e cores, é possível construir uma narrativa emocional que comunica os valores daquela
marca que fazem parte da vida dos seus usuários. É a partir dessa característica que um design de
superfície funciona como um diferencial competitivo entre produtos.
Professora, eu achei tudo muito massa, mas como posso pegar essas ideias e
transformar em algo material? A gente vai passar agora para os próximos tópicos, onde eu vou te
explicar o passo a passo da superfície, dos tipos dela e as diversas áreas de atuação desse campo tão
rico e cheio de possibilidades criativas! Continua nesse e-book que ainda tem muita coisa para gente
aprender!

1.2. A superfície e suas abordagens

A gente já conceituou o que é design de superfície, viu a sua importância no mercado da


experiência emocional e seu campo de atuação dentro de um projeto de produto. Já sabemos
também que a “pele” desse produto é o primeiro canal de comunicação com os usuários. Desta
forma, projetar uma superfície para destaque e melhoria de um objeto é uma responsabilidade do
designer como um articulador criativo.

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Agora, cientes de tudo isso, precisamos conceituar e conhecer mais um pouco sobre as
superfícies, seus tipos e suas capacidades criadoras.

Nesse momento, antes de continuar a ler o e-book, quero te chamar para


assistir a videoaula preparada para o assunto.

Nela iremos conceituar de forma mais aprofundada a superfície, suas abordagens e alguns
exemplos práticos sobre o assunto, ok?
A superfície, por si só, corresponde a área ou face de um objeto e ela é geometricamente
delimitada por uma largura e um comprimento, como nas imagens a seguir.

Figura 4: Superfície de mobiliário.


Fonte: https://issuu.com/prodweb/docs/revista-arcdesign-edicao-67
Descrição da figura: Na foto temos dois móveis, um à esquerda e outro à direita. O da esquerda é uma mesa branca
com uma estampa gráfica impressa na sua superfície. O móvel da direita é um aparador de madeira com um grafismo
geométrico preto em sua superfície. Fim da descrição.

A partir das imagens dos mobiliários podemos observar a materialidade das superfícies,
mas como já foi dito anteriormente, a superfície possui características que interagem com o social, o
emocional e o cultural não se restringindo apenas a atribuições materiais. Por possuir essas
qualidades tanto materiais, como imateriais podemos classificar a superfície em três tipos de
abordagem para compreender suas principais atribuições. São elas: a (1) Representacional, a (2)
Constitucional e a (3) Relacional.

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(1) Representacional: Essa abordagem refere-se às alternativas gráficas, geométricas e volumétricas
que uma superfície pode ser representada. A atribuição representacional da superfície pode também
ser parcial ou total sendo subdividida em duas tipologias diferentes: a superfície- envoltório; a
superfície-objeto.

● Superfície-envoltório
São superfícies projetadas de modo superficial caracterizando camadas externas de um objeto
já existente.

Figura 5: Exemplo de superfície- envoltório em projeto de estamparia.


Fonte: https://www.behance.net/gallery/130997527/Woodland-Magic-textile-pattern-
design?tracking_source=search_projects_recommended%7Csurface%20design%20%20%20textile
Descrição da figura: Na foto observamos um travesseiro e um lençol sobre um fundo rosa. Podemos verificar nas duas
peças o mesmo tipo de estampa infantil. A estampa possui personagens como leões, raposas e coelhos de forma
repetitiva. Fim da descrição.

É comum em projetos de estamparia de tecidos, aplicação de texturas ou recortes e


subtração de algum objeto. O design de superfície aqui foi projetado para um ser impresso apenas
na superfície do jogo de cama infantil compondo uma estampa para o tecido.

● Superfície-objeto
É um tipo de superfície projetada de tal modo que ela constitui a própria estrutura do
objeto. Geralmente é utilizado em projetos de iluminação, técnicas de produção de cestas e módulos
que criam padrões. Como podemos observar no exemplo abaixo.

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Figura 6: Exemplo de superfície-objeto em projeto de módulos.
Fonte: https://issuu.com/prodweb/docs/revista-arcdesign-edicao-67
Descrição da figura: Na imagem é apresentada uma estante composta por vários módulos quadrados nas cores laranja
e preta. Fim da descrição

Nesse exemplo, o projeto de design de superfície se constitui a partir de vários


módulos quadrados que, ao se juntarem, compuseram uma estante.

(2) Constitucional: Nessa abordagem podemos explorar os materiais e procedimentos técnicos


envolvidos na confecção de um projeto. O design de superfície é uma área criativa que dispõe de um
leque de possibilidades materiais para a sua produção. Assim, o amplo conhecimento desses recursos
é bastante relevante.
Na elaboração de um produto devemos ter em mente que os materiais possuem
características intrínsecas como por exemplo a combustão, a elasticidade, a dureza, a resistência, a
fragilidade, a condutividade elétrica, entre outros. Deste modo, temos que levar em conta essas
questões para poder transmitir os sentidos desejados nas superfícies de forma positiva.
Vamos imaginar um exemplo hipotético para refletir como os materiais têm a capacidade
de aproximar ou afastar um cliente. Suponhamos que um restaurante trocou seu formato de
embalagens, que transportam as refeições no delivery, para um formato com material de constituição
metálica, como a que vamos abaixo:

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Figura 7: Exemplo de marmita para alimentos de alumínio.
Fonte: https://shopee.com.br/MARMITA-ALUM%C3%8DNIO-POLIDO-16-CM-1-3-L-CONTINENTAL-MEDIA-TAMPA-C-
TRAVA-P-AQUECER-E-TRANSPORTAR-REFEI%C3%87%C3%83O-i.349248333.7885207401
Descrição da figura: Imagem de exemplo de uma marmita de alumínio redonda com tampa. Fim da descrição.

Por conta do material escolhido para a nova embalagem, os clientes começam então a
avaliar a entrega ruim, porque o metal esquenta muito rápido, sendo difícil de manuseá-lo e podendo
provocar um acidente. Em termos de logística, a embalagem de metal, se torna mais pesada
necessitando de um outro tipo de transporte. Os novos custos dessa embalagem e deslocamento são
significativos para o caixa do restaurante e os clientes, insatisfeitos, não consomem mais o delivery,
pois o material da superfície da embalagem não é a opção adequada para esse tipo de serviço.
Essa é uma situação fictícia, e um pouco exagerada (risos), para que vocês prestem bem
atenção nas tecnologias adequadas dos materiais na hora de desenvolver um projeto, de modo que
possa ser cumprido exigências ergonômicas, estéticas e econômicas.
Quando se trata de materiais, a vasta diversidade de opções e combinações, pode causar
uma certa emoção para você estudante de designer super criativo e que anseia por trabalhar com
orçamentos robustos! Mas, não caia nessa tentação! Vamos lembrar que estamos atendendo a um
briefing e que os melhores resultados são aqueles que se adequam às necessidades do cliente
fornecendo resultados estéticos positivos e possuam benefício fabril.
Ain Ingrid, que chato! Perdi a vontade de criar depois dessa série de recomendações. Pois
é, triste realidade a nossa! Mas, design é sobre isso, fazer as melhores escolhas para os usuários, que
muitas vezes não somos nós, então nada de perder a vontade de produzir e propor soluções. Os
processos de inovação e invenção estão sempre de olho em quem pensa em novas maneiras de
abordar os materiais, especialmente se forem sustentáveis, com baixo custo de produção e que
possuam texturas. Sim, isso mesmo textura! Ela é um aspecto super importante na abordagem
constitucional da superfície, pois ela é um elemento próprio de todos os tipos de materiais, sendo

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uma qualidade natural ou produzida artificialmente nos objetos. Ela tem o objetivo de tornar o
acabamento das superfícies mais interessantes além de lhes conferir maior resistência e qualidade.

(3) Relacional: Por fim chegamos a última abordagem da superfície, essa de caráter relacional que
explora qualquer relação estabelecida entre o usuário, o objeto e o ambiente. Essas relações podem
ser ergonômicas, culturais, mercadológicas, emocionais, estéticas, entre outras.

Figura 10: Modelo de biquíni da Rush Praia.


Fonte: https://vivariomarrecife.com.br/moda-e-estilo/j-borges-estampa-verao-da-rush/
Descrição da figura: A modelo veste um biquíni com estampa de xilogravura. Ao fundo da imagem vemos alguns
cordéis pendurados em barbante. Fim da descrição.

Na imagem anterior podemos ver um exemplo local desse tipo de abordagem. Uma marca
de beachwear lançou uma coleção onde o design de superfície das estampas foi baseado na obra de
um famoso artista pernambucano: J. Borges. Utilizando a xilogravura e a influência da literatura de
cordel podemos ver nessas estampas as relações culturais estabelecidas entre a marca e o público
alvo consumidor.
Lembra que no início do e-book falamos sobre o mercado das experiências emocionais e
como os consumidores das sociedades contemporâneas desejam adquirir mercadorias que
representam suas identidades? Nesse sentido, a aparência visual das superfícies é importante para
comunicar emoções por meio do apelo sensorial (tato, audição, olfato, visão e paladar).
A abordagem relacional mostra que o design de superfície é uma área expandida que
pensa muito além da decoração e ornamentação dos objetos impactando a cultura, sociedade e seus
modos de vida.

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1.3. Áreas de atuação do design de superfície

Estamos chegando ao fim da nossa primeira competência e, antes de passarmos para a


próxima, estudamos o que é design de superfície, suas atribuições e os três tipos de abordagens da
superfície. Vimos também que a superfície é uma “pele” presente em diversos tipos de objetos. Desta
forma, antes de finalizar vamos observar alguns exemplos das principais áreas onde podemos
encontrar design de superfície.

1.3.1 Embalagem

Está presente em rótulos, sacolas, frascos e edições limitadas de alguns produtos.

Figura 11: Design de superfície para embalagens.


Fonte: https://www.behance.net/gallery/53602541/Design-de-Embalagem-
ARARIPE?tracking_source=search_projects%7Cararipe%20embalagem%20
Descrição da figura: Na foto temos três tipos de embalagem de um mesmo produto: lápis de cor. Podemos observar os
lápis de cor em uma embalagem retangular e cilíndrica com um design de superfície de motivo etnico. As cores da
embalagem são marrom e preto. Fim da descrição.

É interessante nós observarmos que, nessa imagem de exemplo, o design de superfície


simula em seus grafismos as pinturas corporais indígenas. Estas fazem parte tanto da inspiração para
a produção da superfície como também, do conceito de identidade visual da marca.

1.3.2 Papelaria

O design de superfície pode ser aproveitado para cadernos, livros, papelaria corporativa,
cartas, caixas, descartáveis, entre muitos outros.

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Figura 12: Design de superfície em papelaria.
Fonte: https://www.behance.net/gallery/124267911/Afra-Design-Identidade-
Visual?tracking_source=search_projects_recommended%7Cpapelaria%20
Descrição da figura: Foto de uma papelaria institucional com um design de superfície desenvolvido para o sistema de
identidade visual da marca. Podemos ver caderno, pasta, papel timbrado, envelope, caneta, cartão de visita nas cores
laranja, rosa e branco. Fim da descrição.

Nesta imagem, vemos como o designer aproveitou formas presentes no próprio


desenho da marca para compor e criar as superfícies gráficas presentes na papelaria institucional.

1.3.3 Têxtil

É umas das áreas de maior visibilidade do design de superfície sendo compreendida tanto
pela produção de estampas ou pela própria textura desenvolvida pelo entrelaçamento dos tecidos.

Figura 13: Estamparia.


Fonte: https://www.behance.net/gallery/128288961/Estampa-
Jardineira?tracking_source=search_projects_recommended%7C%20design%20de%20superf%C3%ADcie%20
Descrição da figura: Na foto observamos o motivo da estampa produzida. Uma folha nas cores rosa, azul, amarelo e
magenta. Ao vemos a aplicação da estampa em três peças de roupa: uma saia longa, uma blusa e outra saia. Fim da
descrição.

Design de superfície aplicado a estampas é o assunto da nossa próxima competência,


porém aqui a gente já pode visualizar um pouco as formas de como ele é aplicado em tecidos. No
caso da imagem, o tecido exposto não apresenta costuras, tramas ou texturas que caracterizam sua

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superfície. O exemplo nos mostra um design de superfície desenvolvido em grafismos e padrões de
estamparia para o vestuário.

1.3.4 Cerâmica e revestimento

Desenvolve-se design de superfície em revestimentos e materiais de construção como


uma forma de propor soluções inovadoras nos projetos de ambientes.

Figura 14: Design de superfície em cerâmica.


Fonte: https://www.behance.net/gallery/130937583/Azulejos-para-Vizta-Design-
Assinado?tracking_source=search_projects_recommended%7C%20design%20de%20superf%C3%ADcie%20
Descrição da figura: Foto de uma parede composta por um design de superfície geométrico na cerâmica. Vemos
também um vaso de barro com um cacto florido. Fim da descrição.

1.3.5 Decoração

Bastante comum o uso de padrões em xícaras, pratos, chaleiras, vasos e outros objetos
decorativos ou de uso doméstico.

Figura 15: Design de superfície em conjunto de louça.

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Fonte: https://www.behance.net/gallery/130440911/Estampa-Louca-
Ceramica?tracking_source=search_projects_recommended%7C%20design%20de%20superf%C3%ADcie%20embalagem
%20
Descrição da figura: Conjunto de prato e xícaras com design de superfície floral. Fim da descrição.

1.3.6 Outros artefatos

Desenvolvimento de design de superfície para impressões 3D e superfícies digitais como


aplicativos, sites, cenário de animação, jogos, entre outros.

Figura 16: Design de superfície para jogo.


Fonte: https://www.behance.net/gallery/116724429/Board-Game-Lord-of-The-
Flies?tracking_source=search_projects_recommended%7Cgame%20design
Descrição da figura: Imagem de jogo de cartas com design de superfície desenvolvido para gameficação. Fim da
descrição.

Nesse caso o design de superfície foi projetado para ser impresso na frente das cartas do
jogo.
Chegamos ao fim da nossa primeira competência sobre design de superfície! Aqui, nós
estudamos as atribuições desse campo e vimos como ele é muito mais do que apenas ornamentar. O
design de superfície tem por função diferir, contextualizar e relacionar objetos e usuários por meio
dos sentidos.
A área de atuação têxtil da superfície possui tanta história, relevância e processos que
será o tema da nossa próxima competência. Então, nada ainda de sair correndo do e-book! Dá uma
pausa, respira e vamos com tudo que ainda temos muito o que aprender.
Vamos simbora?!

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2.Competência 02 | Entender o desenvolvimento e o planejamento de
estampas para diversos produtos e superfícies, com base em pesquisas de
referências visuais, desenho, forma e composição, utilizando rapports
Olá estudante, eu espero que você esteja animado para conhecer as principais técnicas,
processos e impressões de estamparia. Eu quero compartilhar com você que esse assunto me encanta
e assim espero passar a minha animação para você!
Nessa competência, vamos estudar como o design de superfície pode ser construído para
produzir padrões de estampas. Desta maneira, nosso primeiro tópico será sobre os elementos
essenciais da estamparia e sua história. Depois abordaremos os diferentes tipos de impressão para
estampas conhecendo um pouco dos processos artesanais, industriais e digitais. Ao final
conheceremos os princípios básicos para criação de padrões que são aplicados a criação de
estampas. Muita coisa legal, né não?!

E para dar um gás nessa segunda competência, escuta o podcast preparado


para esse assunto tão maravilhoso!

Espero que você esteja gostando do material e assim tenha mais vontade de estudar.
Bora lá?!

2.1. Elementos da estamparia

O design de superfície possui diversos campos de atuação, como já vimos na competência


anterior, sendo o mais popular deles o design de superfície aplicado para estampas. Existem alguns
motivos para que isso aconteça e eu vou te explicar o porquê.
Lembra quando eu falei que o design de superfície existe para diferenciar, contextualizar
ou adornar objetos? Pois bem, no setor têxtil não é diferente. As indústrias veem no tecido
estampado formas de destacá-lo criativamente no mercado. Assim, pode-se aproveitar um tecido em
mais de uma cartela de cores ou também recuperá-lo caso haja algum erro de produção.

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Outra característica importante para o aproveitamento do design de superfície no setor
têxtil é o fato de que o primeiro é composto, muitas vezes, por um sistema de repetição. Esse sistema
não é uma característica determinante para conceber todas as superfícies, porém em algumas áreas,
como o têxtil, o sistema de repetição ou rapport é relevante para o desenvolvimento de projetos.
Eita professora, alerta de palavra nova no meu vocabulário de design de superfície… o que significa
rapport?! Calma que eu vou te explicar.

De um modo geral, o rapport é a repetição de módulos em toda a área da


superfície, comprimento e largura, de maneira contínua.

O rapport ou repetição é uma técnica comum no design de superfície têxtil e por esse
motivo, mais adiante, daremos um pouco mais de atenção a essa técnica e suas características.
A associação entre o design de superfície e a estamparia consiste no fato de que o primeiro
estuda e produz os padrões enquanto o segundo é responsável pela aplicação desses padrões nos
artefatos.
Os padrões com representação contínua são uma das soluções mais antigas existentes
como recurso de expressão e adorno. A estamparia além de dar vida aos tecidos é uma técnica
bastante antiga sendo considerada por alguns autores como uma forma de produção artística, como
nos aponta Laura Yamane “Estampar é uma das mais exigentes técnicas têxteis, e também a que mais
se aproxima da arte” (YAMANE, p.11, 2008).
A palavra estamparia tem origem no termo da língua inglesa printwork, a tradução literal
dessa palavra é trabalho pintado. Estampar significa adornar um tecido com um motivo que pode ser
único ou variado, repetido ou não. O estampado têxtil também pode ser compreendido como um
conjunto de figuras ou motivos impressos nos tecidos e que estando repetidos na superfície, formam
uma padronagem.
Na hora de construir os motivos para serem estampados é importante que o designer
tenha conhecimentos de toda a cadeia de desenvolvimento de estampas. Desde a impressão, o
acabamento, as tecnologias disponíveis e o funcionamento da produção industrial massiva para que
os motivos desenvolvidos se ajustem da melhor maneira à estampagem.

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As figuras ou motivos constituem os elementos básicos do design de superfície aplicado
para estampas. Além deste componente podemos classificar mais dois elementos como
fundamentais para esse tipo de organização: os elementos de ritmo e os elementos de
preenchimentos. Agora, vamos dar uma estudada um pouco mais detalhada do que seria cada um
desses elementos e observar alguns exemplos visuais.

2.1.1 Motivos ou Figuras

Os motivos também conhecidos como figuras são desenhos ou grafismos que comunicam
a mensagem visual da estampa. Na imagem a seguir podemos ver um exemplo visual do que é motivo:

Figura 17: Motivo de estampa floral


Fonte: https://issuu.com/amybutlerltd/docs/blossom4
Descrição da figura: Imagem de motivo floral impresso em papel vegetal nas cores verde e preto. Fim da descrição.

Na imagem de exemplo do motivo percebemos que esse elemento do design de superfície


pode ser classificado em alguns tipos que são: geométricos, figurativos, florais e étnicos.
● Geométricos
Podem ser de formato orgânico como espirais, ondas ou em formas como triângulo,
quadrado, retângulo, entre outros.

23
Figura 18: Estampa com motivo geométrico
Fonte: https://www.behance.net/gallery/121258399/Estampa-Geomtrica-Dots-
Mostarda?tracking_source=search_projects%7Cestampa%20geom%C3%A9trica
Descrição da figura: Imagem de motivo geométrico com formas orgânicas nas cores azul, verde, laranja, amarelo, beje e
branco. Ao lado vemos uma modelo vestindo macacão com a estampa. Fim da descrição.

Nesta imagem podemos compreender também, que o motivo geométrico se refere a


formas que não são reconhecidas como uma figura. Para esses casos temos os motivos do tipo
figurativos.

● Figurativos
Se refere a qualquer tipo de figura que represente o desenho dos objetos em sua
diversidade como no exemplo a seguir.

Figura 19: Estampa com motivo figurativo


Fonte: https://www.behance.net/gallery/132498221/Rapport-
fun?tracking_source=search_projects_recommended%7Cestampa%20pattern
Descrição da figura: Imagem de estampa infantil com desenhos de nuvens, arco- íris, celulares, corações, emojis e
estrelas. As cores são azul, rosa, amarelo, laranja e verde na tonalidade candy. Fim da descrição.

Como pudemos constatar a partir da imagem, os motivos figurativos possuem uma ampla
cartela de representações, porém existe uma exceção em sua classificação de figuras que são os
florais.

● Florais
São todos aqueles inspirados na natureza e seus elementos. Assim, as figuras dessa
categoria podem ser flores, folhas, galhos, entre outros componentes naturais. Na foto a seguir
podemos conferir visualmente esse conceito.

24
Figura 20: Motivos florais
Fonte: https://www.behance.net/gallery/129184455/Estampa-
Orquidario?tracking_source=search_projects%7Cestampa%20pattern
Descrição da figura: Imagem de uma estampa de flores, galhos e folhas nas cores verde, bege, violeta, vermelho, laranja
e branco. Ao lado a aplicação da estampa em um macacão vestindo a modelo. Fim da descrição.

Os motivos florais são os mais antigos tipos de estampagem e possui uma história de
reprodução realista nas técnicas de impressões em tecidos. Em muitos momentos da história do
design o motivo floral foi significativo para demarcar um movimento ou estilo como por exemplo o
art nouveau.
● Étnicos
Por fim chegamos aos desenhos que se referem e representam uma cultura em específico
que são os motivos étnicos como na foto em seguida.

Figura 21: Motivo étnico peruano


Fonte: https://www.istockphoto.com/br/vetor/peru-ikat-vetor-padr%C3%A3o-tribal-sem-costura-c%C3%B3pia-
tradicional-da-arte-do-bordado-incan-gm1183913402-333048303
Descrição da figura: Imagem de padronagem gráfica de motivos étnicos nas cores vermelho e branco. Fim da descrição.

Observando a imagem você sabe reconhecer de qual cultura ela pertence? Vou te dar
uma dica: esse tipo de motivo é comum da cultura Inca desenvolvida no Peru. As padronagens étnicas
são marcantes e carregam em si as histórias e tradições de uma civilização ou sociedade. Deste modo,

25
embora classifiquemos todos os motivos representantes de uma cultura como étnicos, vale sempre
a pena, como futuro designer, pesquisar e conhecer mais sobre as culturas de origens dos motivos e
sua diversidade.
Agora, sabendo tudo sobre os motivos ou figuras, precisamos conhecer ainda mais dois
elementos característicos do design para estampas, que são os recursos visuais e gráficos que
conferem ritmo e preenchimento à superfície.

2.1.2 Elementos de ritmo

Se refere à forma como os motivos do padrão se organizam no espaço. Podem ser um


sistema alinhado quando os motivos são posicionados lado a lado, ou não alinhados quando existe
um rompimento na organização dos motivos do padrão.

Figura 22: Sistema alinhado de motivos


Fonte: https://www.behance.net/gallery/89412939/tessellation-mc-
echer?tracking_source=search_projects_recommended%7Cecher%20
Descrição da figura: Imagem de padronagem gráfica de com motivos figurativos de caracóis nas cores rosa, amarelo,
preto, branco e azul. Fim da descrição.

Nesse exemplo podemos ver como se confere ritmo à superfície com efeitos de
organização dos motivos, no caso da imagem, um sistema alinhado de repetição.

2.1.3 Elementos de preenchimento

São as texturas e grafismos utilizados ao fundo, ou nas camadas da estampa. Podem estar
sozinhos na superfície como por exemplo as texturas que simulam água, madeira, etc.

26
Figura 23: Textura de superfície
Fonte: https://stock.adobe.com/br/images/sand-pattern-texture/25686394
Audiodescrição da figura: Imagem de uma superfície que simula areia da praia. Fim da Audiodescrição.

Os elementos de preenchimento além de simular a textura natural das superfícies


também podem interagir com o motivo criando uma composição rica de detalhes e elementos visuais.

2.2 História da estamparia

Agora vou te chamar novamente para a gente imaginar situações hipotéticas juntos.
Pensa só como deveriam ser os primeiros padrões produzidos pelo homem? Os artesãos envolvidos
nesse trabalho deveriam conhecer e desenvolver toda a cadeia produtiva com auxílio de recursos
disponíveis em cada época. Nesse caso, imagino que as mais antigas eram desenvolvidas a partir da
criação de tintas, confecção de matrizes, produção dos materiais de suporte para a gravação ou
pintura, tecelagem dos tecidos ou feitura de algum outro tipo de artefato que fosse adornado para
enfim finalizar a peça. Como podemos imaginar um trabalho intenso feito por muitas mãos e
processos.
Segundo (PEZZOLO, 2017), as primeiras estampas surgiram da necessidade humana de
colorir e adornar. Elas foram feitas utilizando o próprio corpo como suporte de expressão e
criatividade e acredita-se que elas possuíam intenções ritualísticas e de diferenciação social. Com o
passar dos anos, foi sendo incorporado aos processos de produção de estampas a técnica de pintura
à mão e posteriormente a utilização de gravura em blocos de madeira (xilogravura), metal e pedra,
como os da imagem abaixo.

27
Figura 24: Carimbos artesanais
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/336855247118257922/
Descrição da figura: Imagem de variados tipos de matrizes de estampas nas cores marrom. Fim da descrição.

As matrizes da imagem, se refere aos padrões de estampagem indiano que ganharam o


mundo com sua técnica de construção de figuras a partir da matriz de impressão em pedra. A China
também ficou conhecida pelos seus trabalhos de estamparia artesanal que remetiam a sofisticação e
perfeita execução das técnicas de estampar. Os tecidos feitos nesses dois lugares ganharam
popularidade nas cortes europeias durante o período de navegação e comércio com o Oriente. Na
Europa, a estamparia foi amplamente utilizada para demarcar diferenças sociais, sendo utilizada pela
nobreza para diferenciar famílias com o desenvolvimento de padronagens.
Os primeiros produtos estampados eram limitados e quase exclusivos, pois utilizavam
métodos de impressão artesanal, foi durante a Revolução Industrial que produção e o consumo
aceleraram e as padronagens ganharam mais diversidade e possibilidades de reprodução por serem
criadas em fábricas com procedimentos industriais.
No século XX, durante a década de 80, houve uma grande renovação no setor têxtil com
a chegada dos computadores e da estamparia digital. O advento desse tipo de estamparia permitiu
tanto a comunicação entre as etapas de produção como também o planejamento e a prototipação
das informações visuais antes de serem executadas. Isso acontece porque na estamparia digital
utilizamos como informação visual os motivos ou figuras nos formatos vetores ou bits. A inovação
na utilização de vetores como arquivo está no fato de que esse é capaz de ser reproduzido sem perder
a qualidade.
A arte de estampar padrões na superfície dos tecidos percorreu um longo caminho na
história até se transformar em uma produção industrial de larga escala e é superimportante que você

28
que está estudando design gráfico conheça as mais variadas técnicas e processos adicionando
camadas de versatilidade ao profissional que você deseja se tornar.
Então, vamos conhecer um pouco mais sobre alguns tipos de processos e técnicas
utilizados para imprimir estampas. Eu vou confessar para você que acho essa parte muito incrível
porque são muitas as possibilidades de execução! Hoje, podemos classificar os processos de
impressão de estampas em dois tipos: os artesanais e os industriais.
Mas, antes disso, confere essa matéria que eu separei para você entender um pouco
sobre a produção têxtil em Pernambuco. Nosso estado é o segundo maior produtor têxtil e todos os
anos produz mais de 800 bilhões de peças especialmente nas cidades localizadas na região agreste
do estado.

O POLO TÊXTIL EM PERNAMBUCO


https://agrestetex.com.br/entenda-a-influencia-do-polo-textil-no-agreste-
pernambucano/

Show né não?! Vamos embora agora conhecer as impressões que é como eu venho
martelando desde o começo tem muita coisa ainda para a gente aprender!

2.3 Processos de impressão de estampas

No tópico anterior vimos como se desenvolveu a história da estamparia. Da pintura


corporal passamos para utilização de matrizes em madeira, metal e pedra. Essas matrizes ainda são
utilizadas hoje para produzir os processos de impressão de estampas artesanais.
As estampas artesanais são aquelas feitas manualmente por um artesão. Nesse tipo de
confecção são criadas estampas únicas e que não podem ser reproduzidas de maneira igual. Podemos
classificar as seguintes técnicas de impressão como artesanais: tingimentos manuais como por
exemplo o tie dye, o método de isolamento batik, blocos de madeira conhecido como xilogravura,
blocos de pedra, blocos de metal, stencil ou molde vazado e telas de madeira também conhecido
como serigrafia.

29
A serigrafia também conhecida como silk-screen é uma técnica bastante antiga originária
da China que é utilizada até os dias de hoje para imprimir motivos em tecidos, cerâmicas ou papel.
Ela consiste na utilização de uma tela serigráfica que com a aplicação de tintas específicas e uma mesa
de luz grava figuras nos materiais já citados. Eu vou deixar para você, uma dica de leitura abordando
um pouco mais especificidades sobre esse tipo de impressão tão comum no campo do design gráfico.

O QUE É SERIGRAFIA
https://www.futuraexpress.com.br/blog/o-que-e-serigrafia/

A serigrafia é um exemplo de um processo artesanal que com o passar dos anos modificou
sua tecnologia inicial para abarcar métodos automáticos, mas que ainda necessitam da intervenção
humana para sua realização. Deste modo, não pode ser considerado totalmente um procedimento
de impressão industrial.
As impressões industriais são as que garantem maior velocidade, a produção em grande
escala e apresentam altos níveis de padronização e controle de qualidade. Também são as mais
utilizadas pelo mercado, pois possibilita a criação de reproduções idênticas de uma mesma peça. É
importante que o designer responsável pela criação de estampas tenha um conhecimento geral sobre
materiais e tipos de impressões, pois cada fibra de tecido (natural, sintética ou artificial) se comporta
de maneira diferente. Temos como exemplos de impressões industriais os quadros automatizados,
os cilindros rotativos, o transfer e a impressão por jato de tinta.
Na contemporaneidade, assim como a estamparia digital e introdução dos computadores
modificou a indústria têxtil, a impressão digital de estampas também modificou as técnicas de
impressão, acabamento e produção de padronagens. Por isso vamos dar um pouco de atenção, agora,
a esse tipo de impressão e seus diferenciais.
A Impressão digital de estampas é um tipo de impressão que surgiu a partir dos avanços
tecnológicos e incorporação dos computadores às indústrias. Ela é um procedimento parecido à
impressão em papel, onde a padronagem de desenhos ou imagens é preparada no software digital e
transferida para uma impressora para assim saírem os tecidos. Segundo Dinah Pezzolo a escolha da
impressão digital para estamparia garante mais fidelidade das imagens, seja em vetor ou bitmap,

30
como também a nitidez da coloração como nos mostra a autora no seguinte trecho "seis tinteiros
básicos cobrem uma ampla gama de cores, garantindo riqueza de tons bem maior que a de técnicas
tradicionais” (PEZZOLO, 2007, p.194).
Outros benefícios desse tipo de impressão é que permitem ser planejados tanto para
pequenas tiragens como para grandes, e nesse caso, por conta de sua alta fidelidade de cópia, ganha
maior valor de marcado atribuídos pelos detalhes e acabamento estético. É também considerado um
método menos poluente, pois precisa de poucos recursos naturais para ser realizado quando
comparado a outras técnicas de estampagem. Seguindo diálogo com Pezzolo (2007) a autora ressalta
que um último benefício desse método consiste no fato de que esse pode ser trabalhado com motivos
de qualquer tamanho e não fica restrito apenas a técnica do rapport.
Tais vendo só quantos benefícios! Porém, apesar dessa técnica ser menos custosa, vale
lembrar que como todo projeto de design precisamos atender o briefing e pensar qual tipo de
impressão melhor se encaixa às necessidades do cliente. Com esse propósito sempre em mente, a
gente vai agora estudar os princípios básicos para a criação de padrões em estampas.

2.4. Princípios básicos de criação de padrões

O design de superfície possui princípios básicos de criação que também são aplicados para
a criação de estampas. Apesar do advento da estamparia digital e da não obrigatoriedade desses
princípios nesse tipo de produção tais conceitos estão tão imbricados aos processos de criação têxtil
que ainda são muito relevantes e amplamente utilizados.

Aqui eu quero te chamar para, antes de continuar a ler, conferir a videoaula


preparada sobre esse assunto.

2.4.1 Módulo

O primeiro conceito básico é o de módulo que consiste na definição de um agrupamento


de motivos dentro de uma área de superfície com largura e comprimento já predeterminados. O

31
módulo além de conter a estrutura informacional da superfície, que a gente já conhece como motivo,
possui também os limites da estrutura da superfície definidos em grids.

Figura 25: Módulo


Fonte: https://br.freepik.com/vetores-gratis/conjunto-de-arte-de-linha-de-flores-silvestres-de-doodle-de-folha-
botanica_13743652.htm#&position=36&from_view=popular
Descrição da figura: Imagem de desenho de duas rosas na cor cinza. Fim da descrição.

Na figura anterior podemos observar um módulo composto por motivo floral definido em
um grid retangular. Podemos observar que os módulos também são compostos por encaixes, ou seja,
os encontros entre os módulos na vertical e horizontal. O significado da palavra módulo remete ao
fato de que ele tem por função reunir e ajustar todas as unidades da superfície de modo funcional e
reconhecível. Eles são normalmente retangulares, mas podem ser criados em outros formatos desde
que se conte o limite da unidade estabelecida.
Segundo (LUPTON; PHILIPS, 2008) a modularidade é um tipo especial de restrição e cabe
ao designer adequar-se a essas restrições para poder criar uma comunicação visual. As duas autoras
ainda comentam que “o módulo é um elemento fixo que é utilizado num interior de um sistema ou
estrutura maior” (LUPTON; PHILIPS, p. 160,2008). Essas estruturas maiores a que as autoras se
referem são os sistemas de repetição ou rapport que iremos conhecer em mais detalhes no tópico
seguinte.

2.4.2 Repetição ou rapport

O rapport é uma técnica de composição de módulos que os dispõem de forma repetitiva,


nos sentidos do comprimento e largura, em toda a área da padronagem como podemos verificar no
exemplo abaixo.

32
Figura 26: Rapport
Fonte: https://br.freepik.com/vetores-gratis/conjunto-de-arte-de-linha-de-flores-silvestres-de-doodle-de-folha-
botanica_13743652.htm#&position=36&from_view=popular
Descrição da figura: Imagem do módulo composto por duas rosas na cor cinza repetidas alinhadamente. Fim da
descrição.

Nessa imagem de exemplo podemos verificar que o rapport obedece a um tipo de


sistema de repetição que se refere às formas de organização e as malhas gráficas (grid) que o módulo
será encaixado. A unidade compositiva formada por esses elementos é o que será repetido em toda
superfície, ou seja, a unidade da repetição criada definirá como o módulo se comporta dentro do grid.
A simetria da composição corresponde aos tamanhos diferentes que o módulo pode ter dentro de
um sistema de repetição e estes últimos são classificados em três tipos: alinhados, não alinhados e
progressivos.
A gente já teve uma prévia do que são sistemas alinhados e não alinhados, quando
falamos sobre elementos de ritmo na das composições de padronagens. Agora, vamos estudar esses
sistemas de forma um pouco mais aprofundada, mas se restar alguma dúvida sobre os elementos de
ritmo, ou qualquer outro tópico já estudado, volta lá, lê, observa novamente os exemplos visuais,
confere com calma o que você tá em dúvida para gente poder seguir adiante, certo?!

● Sistemas alinhados
São aqueles que mantêm o alinhamento dos módulos sem alterar o seu ponto de origem.

33
Figura 27: Sistema alinhado de repetição
Fonte: https://br.freepik.com/vetores-gratis/conjunto-de-arte-de-linha-de-flores-silvestres-de-doodle-de-folha-
botanica_13743652.htm#&position=36&from_view=popular
Descrição da figura: Imagem um padrão composto pela repetição de duas rosas na cor cinza. Fim da descrição.

Como a gente pode notar, pela imagem, os módulos encaixados seguem apenas um
sentido de repetição e que parte de sua origem.

● Sistemas não alinhados


São aqueles que permitem o deslocamento do módulo do seu ponto de origem.

Figura 28: Sistema não alinhado de repetição


Fonte: https://br.freepik.com/vetores-gratis/conjunto-de-arte-de-linha-de-flores-silvestres-de-doodle-de-folha-
botanica_13743652.htm#&position=36&from_view=popular
Descrição da figura: Imagem um padrão composto pela repetição de duas rosas na cor cinza. Fim da descrição.

Diante desse exemplo, percebemos que o deslocamento dos módulos seguiram um


sentido horizontal, porém esse tipo de deslocamento pode ser construído tanto no sentido vertical
quanto no sentido horizontal.

● Sistemas progressivos
Esse tipo de sistema corresponde a situações onde o módulo pode ser gradativamente
distorcido ou dilatado, que pode ocorrer pela mudança de escala, como ocorre na figura abaixo.

34
Figura 29: Sistema progressivo de repetição
Fonte: https://br.freepik.com/vetores-gratis/conjunto-de-arte-de-linha-de-flores-silvestres-de-doodle-de-
folha-botanica_13743652.htm#&position=36&from_view=popular
Descrição da figura: Imagem um padrão composto pela repetição de duas rosas na cor cinza. Fim da
descrição.

Nesse exemplo vemos uma dilatação progressiva em relação ao tamanho do módulo que
foi reduzido pela metade. Nesse tipo de composição poderia ter sido feita também uma distorção de
módulo ou subtração das suas características de origem. Quando um módulo se agrupa com outro
criando um conjunto temos um outro tipo de estrutura chamada de multimódulo.

2.4.3 Multimódulo

São conjuntos de módulos que ao se repetirem tem a mesma finalidade de um único


módulo. Professora, não entendi muito bem. Módulo e multimódulo são a mesma coisa, então? Será
que você poderia desenhar? Posso sim! Se liga na imagem abaixo.

Figura 30: Multimódulo


Fonte: https://br.freepik.com/vetores-gratis/conjunto-de-arte-de-linha-de-flores-silvestres-de-doodle-de-folha-
botanica_13743652.htm#&position=36&from_view=popular
Descrição da figura: Imagem um padrão composto pela repetição de quatro rosas na cor cinza. Fim da descrição.

35
Como a gente pode notar na imagem, o multimódulo é um agrupamento de módulos, que
ao serem repetidos possuem a mesma finalidade de criar sistemas de repetições. Esse agrupamento
de módulos pode ser alinhado, não alinhado ou progressivo como já estudamos no tópico anterior.
Os princípios vistos até aqui são as bases para criação das padronagens têxteis, eles também
compõem os elementos compositivos do design que ao serem utilizados nas superfícies são capazes
de criar sensações, despertar memórias, atrair visualmente e comunicar.

Observe que muitas coisas podem ser feitas a partir de um módulo simples. Dá
uma olhada nesse vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=qK6SdbXpXwY

Eu estou ansiosa para ver quais padrões de estampas vocês já produziram!


Aqui, quero chamar a sua atenção para a fixação desses princípios estudados, pois eles
são a base para criação não apenas de estampas, mas de qualquer design de superfície que você
deseje projetar.
Os princípios de módulo, multimódulo, rapport em sistemas alinhados, não-alinhados e
progressivos são muito versáteis e podem se tornar padronagens interessantes para composição do
seu portfólio. Já parou para pensar nisso? Bom, guarda um pouco esse pensamento para outro
momento porque agora, depois de todo esse conteúdo, quero que você se prepare para estudar
sobre embalagem!
Esse é o tema da nossa terceira competência e eu sei que você é curioso e não vê a hora
de aplicar os conhecimentos de design de superfície em projetos de embalagem.
Sem mais demoras, vamos lá para nossa próxima competência.

36
3.Competência 03 | Entender o universo da embalagem a partir da sua
história e funções, assim como, da embalagem como ferramenta de
marketing e o comportamento do consumidor
Olá você mais uma vez, antes da gente começar a estudar novamente eu queria saber o
que você tá achando do material? Tudo bem até aqui? Você tá conseguindo acompanhar direitinho?
Ficou alguma dúvida? A gente pode sanar essas questões no fórum geral de perguntas e dúvidas
sobre a disciplina que está aberto no AVA.
Nessa competência vamos aprofundar conhecimentos sobre as embalagens e logo de
cara definir seu conceito, funções e atribuições. Dessa maneira, pensei em mostrar a você um pouco
da história das embalagens e suas primeiras atribuições.
A gente também vai aproveitar o embalo histórico e conhecer um pouco sobre o contexto
de produção de embalagens no Brasil, para por fim pensar nelas como artefatos de um mundo
complexo cheio de necessidades e inter relações.

Sabendo de tudo que vem por aí, eu já te convido para escutar o podcast
preparado para essa competência e em seguida ler sobre o universo da
embalagem.

Bora lá?!

3.1. O universo da embalagem

Talvez, de início, você ache um pouco exagerado o termo universo da embalagem, mas
esse nome é escolhido propositalmente para que a gente possa ter as reais dimensões que o design
de embalagem possui, não só em seu contexto de projeto, circulação e vendas, mas em todo o
impacto que sua cadeia produtiva tem em nossas vidas.
Professora, e como uma embalagem pode impactar nossas vidas? Chega mais que eu vou
te explicar! E como de costume, deixa eu te chamar para imaginarmos situações juntos só que dessa
vez de uma forma diferente. Quero que você observe os objetos ao seu redor, existe algum

37
embalado? Se não tiver nenhum logo de cara, procure na sua mochila. Tem alguma embalagem de
pipoca, doce ou água que você deixou separado para mais tarde? Agora em casa, vai no seu armário
da cozinha, quantos produtos estariam deteriorados se não estivessem embalados? E na geladeira,
como eles estariam organizados se cada um não estivesse no seu próprio recipiente. Como eles
poderiam ser conservados se não houvesse uma embalagem específica? Pensa agora comigo, como
diferenciar os líquidos, como o desinfetante do refrigerante, se não fosse as suas respectivas
embalagens e rótulos? A gente poderia passar o dia citando exemplos de quantas coisas mudariam
no nosso cotidiano se não fossem as embalagens, isso porque, o mundo contemporâneo em que
vivemos é praticamente embalado.
As embalagens podem atravessar nossas vidas de diversas formas, sejam elas mais
diretas, como quando por exemplo a gente compra alimentos no mercado, ou de forma mais sutil,
quando elas são utilizadas para transportar produtos de um local para o outro e desta forma
chegarem seguras até nós.
Instigando você a pensar nessas características iniciais do universo da embalagem, eu tô
imaginando que agora você quer saber mais sobre esse assunto e já está se perguntando quais são
as funções e sentidos das embalagens.
Em primeiro lugar, a palavra embalagem vem do verbo embalar que significa proteger,
acalentar e condicionar. Já as suas funções fazem parte de um conceito que vamos abordar ao longo
de todo o e-book e, por enquanto, eu quero que a gente se detenha nas suas duas funções primárias:
proteger e transportar.
Pensando nisso, vamos voltar um pouco na história e imaginar aquelas perguntas que
fizemos inicialmente sobre as embalagens em nossos contextos diários, aplicando-as nas primeiras
sociedades coletoras e caçadoras. Como as primeiras civilizações passaram a proteger e acondicionar
seus alimentos? Como conseguiam armazená-los e transportá-los de um local para o outro? Para
responder essas questões os autores Celso Negrão e Eleida Camargo vão nos apontar os seguintes
dados:
Sob esse ponto de vista, a embalagem tem sua origem antropológica e sociológica nos
primórdios da civilização humana, pois deriva-se da necessidade básica do ser humano
de se alimentar e de buscar formas de guardar e conservar seu alimento por mais
tempo. Com o crescimento das sociedades tribais, a atividade nômade (caracterizada
pela extração), passa a dar espaço ao sedentarismo e à fixação dos grupos em um
dado local. Como explorador, o homem passa a desbravar territórios de adversidade

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climática onde não bastava mais caçar ou colher para alimentar-se imediatamente,
era preciso armazenar e transportar (NEGRÃO; CAMARGO, p.23, 2007).

Como podemos verificar nas informações trazidas por Negrão e Camargo (2007), a
confecção e uso de embalagens advém das necessidades humanas de uma vida mais complexa.
Dentro desse contexto, as primeiras embalagens foram feitas de materiais naturais como fibras
vegetais, folhas, galhos e barro.
A ânfora é um exemplo de um tipo de vaso que é considerado como uma das primeiras
embalagens produzidas. Feita de barro, ela era muito utilizada para conservar vinhos, azeite e água
como podemos observar na imagem a seguir:

Figura 31: Ânfora de barro


Fonte: https://www.dssmith.com/pt/tecnicarton/quem-somos/noticias/2019/1/historia-da-embalagem
Descrição da figura: Imagem de seis tipos diferentes de vasos de barro agrupados em uma fila horizontal. Fim
da descrição.

As Ânforas de barro e cerâmica foram muito utilizadas pelos gregos, mas com o decorrer
do tempo, novos materiais foram sendo descobertos e desenvolvidos, como por exemplo o vidro e o
metal, trazendo mais camadas de demandas, aplicações e usos para as embalagens.
Você se lembra quando eu falei sobre a importância da ciência dos materiais e sua
pesquisa nos projetos de design durante a competência 1 do e-book? Pois é, aqui os materiais
aparecem novamente, porque estão intrinsecamente ligados à história e ao desenvolvimento
tecnológico das embalagens. Foi com a descoberta de novos materiais que se desdobraram mais
possibilidades de uso e aumento da quantidade de produtos que poderiam ser embalados. Essa
evolução material tecnológica desempenha um papel fundamental no que é a expansão da qualidade
de vida humana.

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Durante muitos séculos as embalagens eram produzidas artesanalmente, mas foi durante
a segunda metade do século XIX, no período da Revolução Industrial, que esses artefatos passaram a
ser confeccionados em série numa velocidade até então não experienciada pelo homem. Essa rapidez
fez com que surgissem mais e mais tipos de produtos que precisavam ser comercializados de maneira
segura.
Segundo Roncarelli e Ellicott (2010), durante o início do século XX, pesquisadores
observaram que produtos embalados possuíam uma durabilidade melhor, fabricantes também
perceberam que, se em seus produtos, tivessem um nome e um símbolo que os representasse eles
venderiam mais e melhor. Foi desta maneira que o design entrou no universo da embalagem para
diferenciar produtos e marcas pensando em tipografias, cores, design de superfície e posteriormente
protótipos para embalagens que mesclam materiais, formatos e recursos gráficos de forma diversa!
O design de embalagem é um campo massa, cheio de história e processos criativos que
geram grandes oportunidades para você estudante de designer se preparar para atuar. Hoje, no
Brasil, a embalagem é um dos setores que mais cresce como nos mostra os dados da ABRE,
Associação Brasileira de Embalagem, no entanto, por motivos variados, ainda não existe um
quantitativo significativo de profissionais que possam atuar nessa área e isso faz com que o nosso
país perca várias demandas de produtos, especialmente alimentos, por falta de projetos de
embalagem que sejam eficazes.
É nesse momento que você me pergunta: Ingrid, como eu posso estar preparadíssimo
para esse tipo de projeto?! Bom, para isso você precisa prestar atenção nos seguintes ponto: 1)
conhecer as metodologias para um projeto de embalagem; 2) pesquisar sobre materiais e formas
adequadas de usá-los; 3) saber criar briefings que estejam alinhados com as necessidades dos clientes
e seus produtos; 4) pensar sobre estratégias de marketing que obtenham sucesso com a embalagem;
5) estudar o e-book até o fim!
Nesse ponto, você já percebeu que a embalagem evoluiu muito e desenvolveu outras
funções para além de suas atribuições primárias de transportar e proteger. Mas antes de conhecer
as novas atribuições das embalagens, que tal saber mais sobre o contexto histórico da embalagem
no Brasil? Simbora, que esse é o nosso próximo tópico!

40
3.2 O contexto do design de embalagem no Brasil

Dando continuidade aos nossos estudos sobre design de embalagem, vamos focar um
pouco na história do design e produção de embalagens no Brasil. Esse tópico é massa e eu tenho
certeza que, em alguns momentos, você vai se identificar e trazer memórias (des)afetivas à tona.
Como assim Ingrid, o que as memórias tem haver com a história do design de embalagem no Brasil?
Vou te explicar, primeiramente, vamos relembrar. Eu tenho certeza que você já teve uma relação de
amor e ódio ao tentar abrir essa embalagem aqui:

Figura 32: Lata de leite condensado Moça


Fonte: https://br.pinterest.com/pin/77687162300842298/
Descrição da figura: Imagem de uma embalagem de leite condensado da marca Nestlé. Fim da descrição.

A foto anterior me faz pensar em duas coisas: 1) agradecer aos designers da Nestlé por
terem criado um novo design de embalagem com argolinha na lata e, desta forma, permitir que a
gente abra o produto com mais facilidade; 2) a lata de leite condensado Moça é só um, dos inúmeros
exemplos icônicos, de embalagens de produtos populares no Brasil que possuem a sua trajetória de
vendas mesclada à cultura e o desenvolvimento socioeconômico do país. Assim, podemos ter um
panorama de como essa indústria se desenvolveu e cresceu de forma a impactar a qualidade de vida
de brasileiras e brasileiros.
O Brasil é um país de tradição na produção agrícola, pois durante muitos séculos essa foi
a principal atividade econômica desenvolvida. Então, as primeiras embalagens criadas aqui se
voltavam para as finalidades de transporte e estocagem de itens agrícolas, como por exemplo o café.
As sacas que transportavam e guardavam o café eram feitas de panos, mas podemos
verificar um design tradicional e marcante produzido anteriormente ao ciclo do café, por povos

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originários brasileiros, que são as cestarias amazônicas chamadas de paneiros. Abaixo trouxe uma
imagem de exemplo para que a gente possa visualizar esse tipo de cesta:

Figura 33: Paneiro


Fonte: https://www.pinterest.cl/pin/249879479308402577/
Descrição da figura: Imagem de uma cesta tradicional de palha com um design de superfície geométrico, nas
cores preto, vermelho e marrom. Fim da descrição.

O que a imagem anterior demonstra é um tipo de tecnologia ancestral utilizada para


guardar farinha e que hoje é um dos ícones do artesanato presente na região norte. O paneiro
compõe mais uma camada de diversidade na cultura material do brasil. É interessante notarmos
também, que o design dos paneiros está ligado aos variados grupos indígenas que fazem parte do
país. Desta forma, eu vou deixar como dica, uma leitura complementar sobre como é feito esse
artefato, suas origens e histórias. Dá uma conferida atenta, pois além de serem lindos é muito
importante que você, como futuro designer gráfico, construa repertórios visuais variados.

Tipos de cestaria: paneiros e outros


https://paneiro.blogspot.com/2013/02/tipos-de-cestaria-paneiros-e-
outros.html

Seguindo nossa viagem pela história da embalagem no Brasil, vamos dar um salto para a
vinda da família real portuguesa ao nosso território. Não vamos nos deter nos detalhes e motivos
históricos dessa vinda, o que realmente nos interessa aqui, são três pontos: 1) a abertura dos portos
no Brasil para importação e exportação de produtos; 2) a criação da Impressão Régia, onde foram

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impressos rótulos e demais materiais gráficos; 3) abertura de fábricas e indústrias até então proibidas
pela coroa portuguesa. O conjunto desses fatores permitiu que o Brasil passasse pelo seu primeiro
desenvolvimento econômico fabril, que pouco a pouco foi delineando suas formas e configurações
para o que vivenciamos hoje.
Mesmo diante de tantas mudanças econômicas e sociais, durante o início do século
XX, a produção brasileira de produtos industrializados ainda era insuficiente e pouco sofisticada. Isso
impactou diretamente a produção de embalagens, pois a variedade tecnológica e material produzida
aqui era pouco diversificada contando com apenas o uso de 6 tipos de condicionamentos: sacos de
estopa, papel, potes, garrafas de vidro, latas e barris de madeira.
Outro ponto de destaque é que nesse período as embalagens, concentravam em seus
projetos, priorizar mais as características estéticas do que as funcionais. Desta forma, a produção
gráfica de rótulos para embalagem relacionava-se diretamente com os movimentos artísticos da
época. A gente pode mergulhar um pouquinho no design dessa época com a foto dos rótulos e
propagandas dos produtos na imagem abaixo:

Figura 34: Rótulos de embalagens brasileiras antigas


Fonte: https://br.pinterest.com/search/pins/?q=r%C3%B3tulos+antigos+do+brasil+
Descrição da figura: Imagem de seis rótulos diferentes do início do século XX. Na imagem podemos ver as
marcas: Granado, Elefante, Biotônico Fontoura, Toddy, Farinha Láctea Nestlé e Leite Condensado Moça. Fim da
descrição.

Podemos depreender, a partir da imagem, a influência de diferentes movimentos


artísticos como o Art Nouveau e o Art Déco. Outro ponto relevante que podemos detectar é que no

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início da produção de embalagens no Brasil não se tinha as dimensões mercadológicas agregadas ao
produto, ou seja, não se tinha o conceito de valores de marca atrelado ao processo de vendas. Isso
ocorria porque o comércio no país estava baseado em pequenos estabelecimentos onde os produtos
eram estocados, em barris ou sacos de estopa, e posteriormente pesados para serem comprados em
sacos menores pelos consumidores. O que modificou significativamente a indústria de embalagem
no Brasil foi a chegada do auto serviço, mais conhecido como supermercado.
Nesse momento as embalagens produzidas passaram a ter atribuições maiores do que
apenas armazenar e transportar. Na prateleira dos supermercados as embalagens passaram a
informar, identificar e promover os produtos e marcas, tornando-se cada vez mais necessário
aumentar o shelf life das embalagens, ou seja, a vida útil dos produtos nos pontos de venda. Assim,
as embalagens podem atuar como um “vendedor silencioso”, onde seu objetivo é captar a atenção
do consumidor. Desta forma, segundo (NEGRÃO; CAMARGO, 2007) o advento do auto serviço no
Brasil foi o grande responsável pelo design estrutural e gráfico da embalagem.
Atualmente a indústria de embalagem é relevante para os movimentos econômicos e
industriais do País, promovendo algumas inter relações que é importante estarmos ligados: 1) a
diminuição das distâncias entre produto e consumidor final; 2) desenvolvimento de tecnologias para
design de embalagem, bem como sua capacidade de produção.
Nesse último tópico, vale destacar o tradicional prêmio anual da ABRE que procura
fomentar e impulsionar o desenvolvimento de pesquisa nas ciências de materiais, da tecnologia de
fabricação e impressão, do design para melhor experiência e funcionalidade. Também busca premiar
projetos que envolvam eficiência de produção e responsabilidade sócio ambiental. Aposto que você
já se imaginou ganhando esse prêmio! E conhecendo esse desejo vou te inspirar com a foto do
ganhador do primeiro lugar da edição 2021:

Figura 35: Embalagem de sorvete

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Fonte: https://www.abre.org.br/galeria_inovacao/premio_abre_vencedores_2021.php
Descrição da figura: Imagem de duas embalagens de sorvete nas cores verde e dourado. Um dos potes é
apresentado em pé, enquanto o outro está deitado. Fim da descrição.

A embalagem anterior ganhou o primeiro lugar por inovar no quesito tecnologia de


materiais, desenvolvendo um tipo de revestimento que aumenta o shelf life do produto em 18 meses
nos pontos de venda. Além disso, a embalagem se diferencia pelas cores, dentro do setor de sorvetes,
tipo de impressão executada no projeto gráfico e utilização de material sustentável. Tudo isso é muito
maravilhoso, né não?! Eu confesso a você que acho super instigante podermos observar como os
conhecimentos da nossa área de estudo, o design gráfico, pode elaborar artefatos que criam boas
experiências além de impactos positivos no mundo.
As embalagens aqui já estão sendo vistas como artefatos complexos que desenvolvem
relações multidisciplinares com outros campos do conhecimento. No próximo tópico vamos ver como
ela se compreende nesse mundo de tantas necessidades.

3.3. As embalagens em um mundo complexo

Antes de falarmos sobre esse assunto vou te chamar para assistir a


videoaula elaborada sobre esse conteúdo.

O objetivo dela é te ajudar a entender melhor quais são as novas atribuições das
embalagens e como pensá-las em contextos complexos.
Bom, até agora pudemos perceber que o design de embalagem possui uma evolução
histórica ligada a diferentes funções, descoberta de materiais e tecnologias produtivas que estiveram
intrinsecamente ligadas aos fatos históricos da humanidade. Nesse contexto, as suas primeiras
atribuições eram transportar e proteger e com o advento de necessidades mais complexas elas
passaram a agregar outras funções se tornando um artefato multifacetado.
Desse modo, de acordo com Celso Negrão e Eleida Camargo, a embalagem hoje pode ser
definida da seguinte forma: "um sistema cuja função é técnica e comercial e tem como objetivos
acondicionar, proteger (desde o processo de produção até o consumo), informar, identificar,

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promover e vender um produto (NEGRÃO; CAMARGO, 2007, p.29). Como podemos notar a
embalagem é uma definição complexa que possui mais atribuições que apenas proteger e
transportar.
Identificar, informar, consolidar uma imagem, promover, vender e agregar valor a
produtos são outros atributos das embalagens, que ao precisarem ser executados, mesclam seus
desenvolvimentos com outras áreas do conhecimento. Em consequência disto, as embalagens criam
abordagens com a engenharia, a física, a química, a comunicação, a psicologia e pode também ser
conceituada como um tipo de “sistema multidisciplinar”.
Professora, até agora massa. Mas como eu posso entender todos esses conceitos na
prática? Agora a gente vai entrar na parte mais legal, que são os exemplos de projetos, fica atento e
pensa junto comigo. Vamos observar ponto a ponto as atribuições contemporâneas das embalagens,
em exemplos, e começaremos pelos dois primeiros atributos: proteção e deslocamento. Estas duas
primeiras funções também passaram por modificações ao longo dos anos e atualmente elas levam
em conta fatores biológicos, climáticos e físicos para garantir tanto o shelf life do produto, como a
sua integridade ao ser transportado por todo o mundo. Podemos perceber esses fatores no design
da linha orgânica de frango da Seara:

Figura 36: Embalagem de frango


Fonte: https://www.abre.org.br/galeria_inovacao/premio_abre_vencedores_2020_ouro.php
Descrição da figura: Imagem de uma embalagem verde com sobrecoxas de frango cruas no seu interior. Fim
da descrição.

Quero que você imagine, só um pouquinho, como deveria ser o acondicionamento das
carnes e frios antes dos das tecnologias de controle de qualidade. Eu nem quero nem pensar muito,
pois deveria ser extremamente desagradável! O que devemos nos ater nesta imagem é que ela
exemplifica um design que pensou em como esses tipos de produtos poderiam ser transportados,
refrigerados e comercializados de forma segura e também atrativa. Essa embalagem também informa

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aos consumidores o prazo de validade, a origem da carne, os seus componentes e como diferencial
seus tipos de uso e descarte, após o consumo do produto.
As informações contidas nessa embalagem, estão ligadas ao fato de que o
amadurecimento das necessidades e dos desejos dos consumidores também afetou as suas funções
iniciais e, neste caso, podemos observar também uma mudança de padrão de consumo e descarte,
pois essa a embalagem é composta por materiais sustentáveis e cem por cento recicláveis.
Procurando atender os interesses dos consumidores uma embalagem também deve
possuir por atributos aumentar as vendas e agregar valores aos produtos, desta forma elas
qualificam, identificam, vendem e promovem produtos e empresas para que estas possam obter
lucros ao mesmo tempo que satisfazem as necessidades dos os consumidores.
A preocupação por ser sustentável aponta para os contextos contemporâneos nos quais
as embalagens estão inseridas, agregando a suas funcionalidades inter relações que se mesclam com
ambientes culturais, políticos, étnicos, tecnológicos e ecológicos. Em síntese, o ambiente cultural é
um fator determinante para que uma embalagem seja adquirida ou não, isso porque ela é o
“vendedor silencioso” de todos os princípios e valores de uma marca, lembra? Um bom exemplo disso
que eu estou te contando foi a polêmica que a empresa de chocolates Hershey 's se envolveu ao
disponibilizar suas embalagens de chocolate em uma campanha especial veiculada por
influenciadores digitais:

Figura 37: Campanha Hershey’s no Instagram e Twitter


Fonte:https://exame.com/marketing/campanha-de-chocolate-da-hersheys-gera-polemica-e-marca-pede-
desculpas/

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Descrição da figura: Imagem de duas pessoas, uma mulher e um homem limpando uma janela de vidro. A
mulher tem no bolso de sua calça uma embalagem de chocolate da marca Hershey’s. Fim da descrição.

O objetivo dessa campanha era atrelar as imagens das embalagens de chocolate a


momentos onde, os influenciadores digitais estivessem fazendo uma atitude altruísta. O público da
internet, no entanto, achou que a campanha era oportunista, pois só fazia promover influenciadores
digitais além de reforçar estereótipos racistas. A marca sofreu então um boicote digital para que as
pessoas não adquirissem o chocolate dessa marca.
Os contextos e realidades que o público consumidor está inserido é um ponto que deve
ser pensado com extrema atenção ao se produzir uma embalagem, pois esta é um instrumento de
marketing e vendas. Deste modo, o designer precisa estar atento ao fato de que hoje os, certos
grupos sociais, não consomem apenas por necessidades biológicas, mas por desejos, valores e
crenças que são representados por marcas que as embalagens vendem.
Assim, uma estratégia de marketing deve levar em conta as paisagens culturais
considerando suas mudanças, suas problemáticas e suas possíveis tendências ao relacioná-las com
os macroambientes e o microambientes que atravessam as embalagens.
Lembra quando eu te falei aqui no e-book que o designer cria experiências emocionais?!
Com a embalagem não é diferente, porque ela ao se relacionar com ambientes políticos, legais,
econômicos, sociais, tecnológicos e ecológicos criam uma conexão com o consumidor. Esse último,
adquire um produto com base na confiança e na promessa de ele irá solucionar suas necessidades ou
tornar sua vida mais feliz.
Segundo as autoras Roncarelli e Ellicott (2010), a relação estabelecida com o público não
deve ser explícita ou óbvia, mas sim assertiva pelo uso de recursos gráficos que consigam comunicar
os hábitos, os conhecimentos, os valores e a linguagem do grupo social que se deseja atingir.
No Brasil, por exemplo, um dos mercados que possuem representatividade econômica é
o de bebidas. A cachaça de cana-de-açúcar é um tipo de bebida que possui importância cultural e
econômica, pois tem a sua história ligada ao ciclo da produção de açúcar no país. Ela foi um símbolo
de representação da nacionalidade quando brasileira, quando houveram os processos de
independência do Brasil e dessa forma, ela é produzida por todo o território nacional seguindo
costumes e especificidades de cada região.

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Pensando nessa paisagem cultural e no legado da marca de cachaça Ypióca, a empresa
decidiu criar uma embalagem promocional para as festividades juninas. O processo de design de
embalagem aqui pensou em comunicações visuais que respeitassem a diversidade de festejos juninos
no país além da história da cachaça, como podemos observar a seguir:

Figura 38: Embalagens promocionais da cachaça Ypióca.


Fonte:http://www.abre.org.br/premio_2018/vencedores_ouro.php
Descrição da figura: Imagem de uma série de embalagens de cachaça em lata. Na lata e nas caixas podemos
observar diferentes desenhos que remetem ao São João. Fim da descrição.

Para criar os rótulos dessa embalagem promocional foram convidados artistas de cada
região do Brasil confeccionando uma linha de produtos que podem ser colecionáveis. Nesse exemplo,
podemos ver como as interações entre os consumidores e a embalagem foi pensada levando em
conta seus ambientes culturais, suas atitudes, seus interesses e estilos de vida. Ou seja, o briefing do
projeto traçou diferentes perfis psicológicos de consumidores projetando, com a comunicação visual,
relações de empatia e conexão emocional entre produto e consumidor.
A dinâmica de interações entre produtos e consumidores também acontece, porque as
pessoas consomem não apenas querendo suprir suas necessidades físicas. Elas consomem porque
projetam nos produtos seus sonhos, seus desejos e fantasias. Um bom exemplo disso é a garrafa de
vidro da água mineral Perrier.

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Figura 39: Embalagem da água Perrier
Fonte: https://www.carone.com.br/agua-mineral-francesa-perrier-com-gas-330ml
Descrição da figura: Imagem de uma garrafa de vidro verde da marca Perrier. Fim da descrição.

Beber água é uma necessidade essencial do corpo humano, porém quando os clientes
compram a embalagem de água Perrier não estão apenas querendo suprir essa função biológica. A
escolha do vidro para compor a garrafa de água, como demonstra a imagem acima, remete a uma
sofisticação que a embalagem quer associar para possíveis compradores. Assim, comprar essa
embalagem significa mais do que beber água, pois expressa uma aceitação e inclusão em
determinados grupos sociais. Aqui, mais uma vez, a gente vê como o designer sempre produz
objetivando atender as demandas do seu público alvo.
Nos projetos de embalagem devemos estar atentos às dinâmicas do mercado, bem como
aos comportamentos dos possíveis compradores. Desta forma, as embalagens também devem ser
pensadas como ferramentas de vendas e por isso desta forma estarem sempre acessíveis para que
sejam visualmente reconhecíveis por aqueles que vão adquiri-las.
Ingrid, como é que eu vou conseguir pensar e executar tudo isso?! Calma, segura a
emoção, que na nossa próxima competência a gente vai ver bem direitinho como construir um
projeto para embalagem.
Agora, eu preciso que você tenha por conhecimentos adquiridos, nessa competência, os
fatos de que as primeiras atribuições das embalagens eram proteger e transportar.

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Foi o desenvolvimento complexo das sociedades e suas necessidades que fizeram com
que fossem agregadas novas atribuições às duas primeiras funções desse tipo de artefato.
A gente estudou todas elas: atribuir valor, promover, vender, ser funcional, consolidar
uma imagem, economizar e valorizar.
Sabendo de todas elas vamos passar para a parte prática do processo e eu tenho certeza
que depois que você estudar esse e-book vai estar pronto para ganhar o mundo com projetos de
embalagem!
Então, vamos pegar essa motivação e ir para nossa próxima competência?!

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4.Competência 04 | Compreender a metodologia de design de
embalagem: do briefing a implantação do projeto
Olá, estudante!
O ânimo parou por aqui e reagiu estudando metodologia projetual para embalagem. A
gente achou que seria injusto deixar você de fora e não te convidar para esse rolê do conhecimento.
Sendo assim, segura a programação da nossa quarta competência que tá recheada de mais conceitos,
definições e propósitos para as embalagens.
Primeiro, vamos estudar quais são as particularidades das embalagens e como elas devem
ser idealizadas antes de começar o projeto de embalagem. Segundo, vamos conhecer os 10 pontos
chaves para a produção de design de embalagem.
Já chegando perto do fim, vamos estudar como se constrói a metodologia passo a passo,
entendendo que ela possui linguagem visual própria que precisa ser explorada em formas, cores,
tipografia, imagem tudo junto para criar um artefato que será comprado e guardado nos corações
dos clientes.
Sei que você já correu para organizar seu material!

E enquanto faz isso, que tal dar aquela pausa e escutar o podcast elaborado
para competência quatro antes de ler o e-book?

4.1. As particularidades das embalagens

A gente já possui por entendimento a concepção de que o design, seja para qual área
for, é um campo do conhecimento que se ocupa de projetar artefatos e ideias seguindo uma
metodologia para que se possa atingir um público-alvo de forma satisfatória.
Desta forma, os projetos para embalagens seguem esses mesmos fundamentos, mas
se diferenciam dos outros campos do design por possuírem uma linguagem visual própria que foi
construída ao longo dos anos com a evolução das sociedades, das indústrias, dos comércios e do
consumo, dotando os produtos de uma roupagem para que possam ser identificados imediatamente.

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Aí, nesse momento você me pergunta: roupa para identificação imediata?! Como
assim professora? A linguagem visual das embalagens é tipo a capa do Batman? Me explica mais
sobre isso! Explico sim, e é mais ou menos por aí mesmo.
Vamos compreender essa roupagem a partir das formas. Se eu pedir para você imaginar
uma garrafa quais formatos vem na sua mente? Agora, se eu pedir para você imaginar uma garrafa
de Coca-Cola, bem gelada, tenho certeza que veio a sua mente a seguinte forma:

Figura 40: Propaganda de Coca-Cola


Fonte: https://www.sondadelivery.com.br/delivery/produto/refrccolagf250ml/1000025184
Descrição da figura: Imagem de uma garrafa de vidro com refrigerante de cola dentro. Ao redor da garrafa
vemos espirais de canudos que simulam fogos de artifício A imagem também traz o slogan da marca” abra a felicidade
em 2015”. Fim da descrição.

O design da garrafa de Coca-Cola é um tipo de produto facilmente identificado pelos


consumidores por causa de sua aparência visual. Nas palavras de Roncarelli e Ellicott, as formas
visuais das embalagens são fundamentais para caracterizar uma marca, pois “Ela transmite
mensagens sobre o produto e fornece uma base sobre o qual são definidas a memória visual e
emocional” (RONCARELLI; ELLICOTT, 2010, p. 36). No caso da Coca-Cola a linguagem visual, presente
na garrafa, fez com que seu formato de curvas se tornasse icônico, conseguindo que a marca fosse
facilmente reconhecida e lembrada. Nesse exemplo, também podemos perceber como esse design
foi tão assertivo que é identificado mundialmente há mais de 100 anos! Vou deixar para você, como
inspiração, outros formatos que foram pensados por designers do mundo todo para a garrafa de
Coca-Cola em homenagem ao seu centenário.

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Designers reimaginam garrafa da Coca-Cola em homenagem aos seus 100 anos
https://www.bluebus.com.br/designers-reimaginam-garrafa-da-coca-cola-em-
homenagem-aos-seus-100-anos/

Pensar em formas, materiais, cores, texturas e tipografia faz parte do plano para execução
de embalagem, mas segundo Mestriner (2007), podemos definir corretamente o design de
embalagem como sendo um percurso projetivo, onde a metodologia do projeto tem por meta
atender as particularidades que o mercado exige para produtos embalados.
Massa professora, mas que particularidades são essas? Vamos começar pensando a
primeira delas a partir dessa na frase "A embalagem é meio e não um fim” (MESTRINER, 2007, p.11).
Ai meu Deus, complicou tudo agora professora! O que isso quer dizer? Ele quis nos dizer é que a
embalagem é a ponte entre os consumidores e os produtos. Ela é parte componente das mercadorias,
que serão compradas e utilizadas e seu objetivo é identificar e vender.
Outras particularidades importantes sobre o projeto de embalagem é que ela é parte
indissociável dos produtos e carrega em sua linguagem visual os hábitos e as atitudes do consumidor.
Em muitos casos, os produtos nos pontos de venda, não possuem o auxílio de uma propaganda e
cabe às embalagens serem o instrumento de marketing e comunicação desses itens.
Desde a revolução industrial, como estudamos na competência 3, as embalagens são
fabricadas em ambientes industriais para posteriormente serem transportadas e comercializadas.
Desta maneira, é imprescindível que elas estejam alinhadas a regras, normas, controle de qualidade,
técnicas e leis que regem o setor industrial de cada país.
Eu quero que nesse momento você se imagine como um designer trabalhando em um
projeto de embalagem para a indústria da beleza e saúde. E projetou essas embalagens:

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Figura 41: Embalagens de produtos de banho e beleza
Fonte: https://ofwomenandwineblog.files.wordpress.com/2021/09/sallve-todos-os-produtos.jpg
Descrição da figura: Imagem de 13 embalagens variadas de produtos de beleza nas cores azul,
verde,vermelho, laranja e rosa. Todas as embalagens estão no fundo roxo. Fim da descrição.

Esses produtos possuem um forte apelo emocional e experiencial pela sua textura, cor e
odor. Geralmente, esses itens vão ser usados em espaços íntimos, como o banheiro, e os materiais
que vão compor essas embalagens precisam ser resistentes à água, fáceis de manusear e inquebráveis
para não causar acidentes. A impressão e diagramação dos rótulos precisam pensar nessas questões
como também, trazer informações sobre a marca, o número de registro do produto, a forma de uso,
o prazo de validade, o país de origem, o lote, a composição, as advertências e as informações sobre
o fabricante.
Nesse momento você pode estar pensando que tudo isso é um exagero e informação
demais para diagramar, mas já parou para imaginar os danos que os usuários podem ter ao utilizar
um produto de forma errada ou com o prazo de validade vencido?! No design, quando o usuário se
prejudica desta forma chamamos de catástrofe de usabilidade. Pois é, para que isso não aconteça
você precisa conhecer as especificidades de cada produto e suas normas técnicas. Ai Ingrid, como eu
vou saber de todas as normas de todos os produtos que existem no mundo? Socorro!! Calma, tenho
certeza que a experiência e os aprendizados em cada novo projeto que você irá realizar formará os
conhecimentos necessários para que você sempre esteja atento a essa demanda que precisa ser
cumprida e respeitada.
No Brasil, existe a ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária- que fiscaliza e regula
todas essas medidas. Um bom pontapé para que você forme seus conhecimentos sobre normas

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técnicas é ler nosso destaque desta competência e conhecer alguns dos parâmetros para produção
de rótulos de embalagem determinados pela ANVISA.
Até aqui podemos verificar que para trabalhar com embalagens precisamos seguir todas
as diretrizes técnicas e particulares desse universo do design. O projeto de embalagem de fato
acontece quando estamos trabalhando com uma metodologia que leva em conta todas essas
especificidades e é nesse ponto que o design para embalagens se diferencia dos outros tipos de
criação e projetos.
O primeiro passo para essa construção é a pesquisa. Ela é importante para orientar a
tomada de decisões corretas, assim como conhecer o mercado, o público alvo do produto e o porquê
das suas atitudes de consumo. Já parou para pensar que diferentes tipos de pessoas compram o
mesmo produto por motivos variados? Pois bem, o design bem sucedido de embalagem agrega todos
esses conhecimentos ao produzir o briefing do projeto. Na sua execução ele também responde bem
aos fatores como proteção, armazenamento, transporte, marketing e fabricação. Comunica bem os
atributos do produto e desperta atenção e desejo de compra.
Professora, eu preciso ser um gênio do conhecimento para conseguir fazer tudo isso em
um pacote! Não, precisa não. O design de embalagem tem haver com pesquisa, utilização de
metodologias para organização de processos, tomada de decisões corretas e atendimento dos
critérios dos clientes e consumidores.
Lembra quando eu falei para você que o designer é o articulador criativo de várias áreas
do saber e variáveis? Pois então, aqui funciona da mesma forma nossa matéria-prima de trabalho é
a pesquisa para melhor resolução de problemas! Então, vamos manter a empolgação e continuar
estudando metodologia e os 10 pontos para projeto de embalagem?

4.2. A metodologia e os 10 pontos chaves do projeto de embalagem

Você pode estar se perguntando por qual motivo precisamos definir o que é metodologia
para compreender o projeto de embalagem e por que ele possui tantos requisitos e protocolos? Eu
justifico que precisamos defini-los para compreender a complexidade do universo que estamos
estudando.
Primeiramente, vimos que a embalagem é um artefato multidisciplinar e para que sua
cadeia produtiva funcione ela passa por vários profissionais de áreas distintas, não se restringindo

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apenas ao design. Dito isto, acho que já deu para você sentir o tamanho da responsabilidade que terá
nas mãos, mas nada de desistir agora porque nosso trabalho só começou! E eu sei que você deve
estar se perguntando o que afinal de contas faz um projeto?
Nas palavras de Celso Negrão e Eleida Camargo (2007), projetar consiste em um conjunto
de atividades e processos cujo objetivo é o desenvolvimento de uma embalagem. O projeto
pressupõe uma demanda clara em um contexto limitado de recursos e prazos, os quais atenderão a
determinados requisitos que serão controlados e avaliados. Nessa natureza projetual utilizamos a
metodologia para organizar e instrumentalizar uma ordem de atividades que permitam que o projeto
aconteça de forma positiva levando em conta todos os requisitos do projeto.
Deste modo, o bom projeto de embalagem está centrado em 10 pontos chaves que
desenrolam a metodologia de trabalho. São eles : (1) Conhecer o produto; (2) Conhecer o
consumidor; (3) Conhecer o mercado; (4) Conhecer a concorrência; (5) Conhecer tecnicamente a
embalagem a ser desenhada (6) Conhecer objetivos mercadológicos; (7) Ter uma estratégia para
design (8) Desenhar de forma consciente; (9) Trabalhar de acordo com a indústria; (10) Fazer a revisão
final do produto.

Para que você se aprofunde nesses pontos e os entenda de forma mais


detalhada e exemplificada, te chamo para assistir a videoaula dessa
competência.

É importante que você assista ela antes da gente seguir com os estudos das fases do
projeto de embalagem, ok?

4.3 As fases do projeto de embalagem

Com base nos 10 pontos chaves vistos na nossa videoaula sabemos que a metodologia
nos fornece um roteiro de trabalho, que ao ser seguido garante que esses 10 pontos sejam
corretamente executados de forma assertiva e consistente.

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Desta maneira, a sequência de passos que o designer deve adotar, em um projeto da
embalagem, constituem-se das seguintes etapas: (1) Briefing; (2) Estudo de Campo; (3) Estratégia de
Design; (4) Desenho; (5) Implementação do projeto.
Ao seguir esses pontos estamos realmente projetando um design de embalagens e
oferecendo aos clientes consistência projetual. Segundo Fabio Mestriner, autor que teorizou essa
abordagem metodológica, no design de embalagem “O mais importante do que aquilo que
desenhamos é como desenhamos. Por isso, a importância do método é seguir procedimentos que
nos permitam agir em profundidade na realização do projeto” (MESTRINER, 2007, p. 41).
Com o método conseguimos visualizar as complexidades e particularidades de cada
produto. Assim, vamos agora estudar o que deve ser feito nessa sequência de atividades?!

4.3.1 Briefing

O primeiro passo de todo projeto é o briefing, pois ele é a documentação que mapeia
todas as informações necessárias para o seu desenvolvimento. É nesse momento que devemos
perguntar: Qual o seguimento do produto? Quais são as características técnicas? Quem o consome?
Quanto se paga por esse produto? Entre outras perguntas relevantes. Assim, o designer ao criar esse
tipo de documento deve ter em mãos uma série de questões que constituirão o “raio- x” do produto
que ele irá trabalhar.
Existem algumas dicas valiosas para construção desse documento. A primeira é que o
briefing deve ser sempre feito com calma, tomando nota de tudo que precisa ser feito. Isso significa
dizer que é preciso conversar com seu cliente e em alguns momentos até direcioná-lo e educá-lo!
Mas professora eu já tenho trabalho suficiente e ainda preciso educar meu cliente?! Pois é,
infelizmente, muitas empresas e clientes ainda não têm uma noção clara do processo de design e de
como nós apontamos soluções para problemas que vão muito além da estética. Deste modo, faz
parte das atribuições do designer conduzir uma conversa que questione os clientes sobre suas
necessidades, descrição do projeto, história da empresa e do produto a fim de que os clientes se
sintam também parte do projeto a ser executado.
A segunda dica sobre o briefing é mais animadora, porque nos aponta que quando ele é
bem estruturado, desde o início do projeto, as chances do resultado final serem de sucesso são muito

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grandes. Dificilmente haverá boas soluções para um projeto que começou com um briefing mal feito.
Então se liga! Essa parte é o nosso pé direito.

Para te ajudar vou deixar como dica o site de uma empresa brasileira
especializada em projetos de embalagem que narra um pouco o seu passo a
passo na hora de construir o briefing.
https://designdeembalagem.com.br/tag/briefing

4.3.2 Estudo de Campo

O nosso atual tópico é o desdobramento do primeiro passo que foi o briefing. Alguns
especialistas apontam que o estudo de campo é tão relevante que não existe design de embalagem
sem a pesquisa de campo.
É nessa etapa que conhecemos onde o produto será vendido, como será apresentado,
quem são os concorrentes, como ele é exposto, quais são as estratégias de vendas e como podemos
posicioná-lo em pontos de vendas. Diante desses pressupostos, é nesse momento que podemos usar
nossa criatividade para pensar estratégias de apresentar a embalagem de forma a diferenciá-la da
concorrência.
Podemos pensar em novos materiais, cores e formas diferenciadas, rótulos chamativos e
até uma nova forma de posicionar a embalagem dentro do seu espaço de venda. Um exemplo bacana
de projeto, e muito chic, disso que eu estou descrevendo para você foi a concepção da embalagem
do azeite La Favola.

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Figura 42: Azeite La Favola
Fonte: https://www.abre.org.br/galeria_inovacao/premio_abre_vencedores_2021_ouro.php
Descrição da figura: Imagem de uma garrafa de azeite dentro de uma embalagem nas cores preta e dourado.
Fim da descrição.

Trouxe esse exemplo para a gente pensar juntos. Você já deve ter passado na prateleira
do supermercado na sessão onde são vendidos os azeites e aí eu quero saber qual é a cor
predominante desse segmento de embalagens? Verde, professora! Muito bem, estudante! Sempre
que pensamos em azeite logo de cara lembramos em campos e plantações de oliva que é a matéria-
prima deste produto. Assim, essa cor sempre está presente e representa as embalagens deste tipo
de produto.
O que o exemplo que eu trouxe nos aponta, é que para essa marca se diferenciar dos
demais concorrentes foi necessário introduzir outras cores que fugissem dos verdes campos de oliva
e formatos que chamassem a atenção dos consumidores para embalagem.
Até aí tudo bem, porém o design dessa embalagem vai um pouco mais além querendo
atingir o seu público não só por diferenciação de cores e formas, mas por agregar narrativas que
caracterizem o perfil do público-alvo desse azeite. Deste modo, os designers deste projeto resolveram
incorporar a embalagem uma fábula que relaciona a produção do azeite e toda concepção dele
enquanto produto na sua embalagem. Caminhando por essa direção, esse projeto de embalagem,
diferencia essa marca de azeite das demais correntes, demarca o seu público alvo e oferece a eles
narrativas que os representem, proporcionando não só um produto, mas uma experiência a ser

60
comprada. Tais vendo como o design pode projetar coisas incríveis seguindo metodologias e
fundamentando seu trabalho em pesquisas?
A importância do estudo de campo é exatamente essa: descobrir as brechas da
concorrência e apresentar soluções diferenciadas dentro da linguagem visual dos produtos. Esse
último ponto é também muito relevante na hora do estudo de campo, pois cada categoria de
produtos possui história e linguagem visual própria que precisam ser consideradas. A gente já
percebeu isso com o exemplo anterior. Vimos que o azeite de oliva geralmente são verde e com
embalagens de vidro, os molhos de tomate são vermelhos com embalagens de caixinha, entre outros.
A partir dessas análises podemos traçar corretamente sinais que identifiquem o produto
como também inovar. Na pesquisa também podemos descobrir outras pistas que nos farão criar
estratégias de design.

4.3.3 Estratégia de Design

A estratégia de design é o plano de ações que representa a síntese de tudo que foi
encontrado nos dos processos anteriores: briefing e estudo de campo. Essa etapa é super importante
porque como já vimos o projeto de design vai muito além de desenhar uma forma ou criar um visual
estético. Segundo Mestriner no projeto de embalagem “é preciso posicioná-la por meio do design em
condições de competir para valer” (MESTRINER, 2007, p. 51).
É nesse momento que eu sei que você está com sangue nos olhos e quer fazer acontecer
com o seu projeto, mas muita calma nessa hora. Antes de começar a desenhar de fato é preciso que
as etapas anteriores, briefing e pesquisa de campo, estejam muito bem delimitadas para que a
estratégia de design seja certeira e atenda, realmente, às necessidades do projeto.

61
Para traçar a estratégia de design você pode seguir o seguinte roteiro de ações:

Repassar os principais pontos e objetivos do briefing para verificar se ele


está sendo verdadeiramente cumprido e compreendido pelo cliente;

Apresentar ao cliente os dados da pesquisa de campo como um


documento que fundamenta as ações do projeto;

Falar sobre as brechas e novas oportunidades para essa embalagem;

Destacar as necessidades básicas do produto e do projeto;

Explicar em detalhes, de preferência por escrito ou em formato de


apresentação, o que está sendo proposto como estratégia de design.

Nessa etapa é muito importante a conversa com o cliente para ser discutido o que pode
ser feito e o que pode ser descartado na proposta. Aqui vem a defesa do projeto e é muito importante
que as abordagens utilizadas para o desenvolvimento da embalagem sigam as documentações do
projeto e não critérios de gosto estético ou valor pessoal.
É uma super responsabilidade que eu tenho certeza que você irá arrasar e depois contar
para todo mundo: Tá vendo aquela embalagem ali? Foi eu quem fiz! Assim eu espero e para pensar
em estratégias bacanas e que se alinhem com questões atuais trouxe o exemplo de uma embalagem
que pensou como estratégia de design o descarte consciente de seu material. Se liga na imagem:

Figura 43: Máscara facial Pommar


Fonte: https://www.abre.org.br/galeria_inovacao/premio_abre_vencedores_2021_ouro.php
Descrição da figura: Imagem de três embalagem de plástico nas cores preta e roxa. Ao lado, a foto da
embalagem sendo utilizada como material de compostagem. Fim da descrição.

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A marca de máscaras faciais Pommar utilizou um material, em sua embalagem, que é
biodegradável, podendo ser utilizado em plantas e na composteira após o uso da máscara. Esse
produto também é vegano e a estratégia de design aqui alinhou um posicionamento do produto em
todos os seus níveis de produção e descarte. Show né?! Existem vários tipos de estratégias que
podem ser criadas a partir dos segmentos de produto.

4.3.4 Desenho

Eu sei, que passado todas essas etapas, a sua mão criativa já deve estar coçando para usar
canetas, réguas, lápis, aquarelas, tipografias, formas e softwares para criar uma embalagem linda que
já está toda desenhada na sua cabeça! Eu acho isso maravilhoso, mas desenhar para embalagens
pede algumas atenções especialmente no quesito inspiração artística.
Como assim professora eu achava que nesse momento poderia dar uma de Picasso e criar
as vanguardas das embalagens! Segura a empolgação, respira e utiliza ela com inteligência! Sabe por
quê? Eu amo desenhar, mas quando fazemos isso para embalagens não estamos criando para nosso
gosto ou satisfação pessoal. Estamos atendendo um briefing, uma pesquisa de campo e estratégias
para vender produtos. Desta forma, precisamos ter bem claro o que nos foi solicitado antes de tacar
rabiscadas violentas no papel!
Antes de desenhar a nossa linda embalagem todas as etapas anteriores a essa precisam
estar prontas. Nunca se deve desenhar por impulso ultrapassando as etapas da metodologia, pois o
resultado final pode não ser condizente com a realidade do produto.
O primeiro item obrigatório para se desenhar é ter a planta técnica da embalagem aberta
com a marcação dos vincos e dobras, da área de impressão e definição dos painéis da frente, verso,
fundo e tampa da embalagem, quando existir. Precisamos também ter o código de barras e a logo do
cliente tudo isso para criação do layout que contará com o uso de cores, tipografia, ilustrações e
imagens. Se você não conhece o formato do desenho técnico e de planificação trouxe essa imagem
para termos uma noção de como é feito esse desenho e quais elementos precisam ser evidenciados.

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Figura 44: Planificação de embalagem
Fonte: https://www.behance.net/gallery/119219665/Redesign-de-embalagem-Pacoca-Amor
Descrição da figura: Imagem de uma embalagem planificada com suas especificações técnicas de escala,
largura, altura e comprimento. A da esquerda não possui layout. Já a da direita apresenta um layout nas cores vermelho
e amarelo, É também possível ver a posição do código de barras,logo e informações sobre o produto. Fim da descrição.

Como podemos observar o desenho técnico precisa ter uma série de especificações e
detalhes porque será reproduzido pela indústria.
Deste ponto em diante já devemos ter claro quais imagens serão utilizadas na
embalagem. Elas devem ser agregadas a embalagem de forma a atribuir significados, personalidade
e valor. Podemos utilizar também elementos visuais de apoio como faixas, banners, pictogramas,
quadros, box, vinhetas e etc. Um elemento de apoio, típico da linguagem visual das embalagens é o
splash. Opa professora, alerta novo de vocabulário nas embalagens! O que é splash?

O splash é um dos elementos visuais mais característicos da embalagem, sendo


caracterizado por um desenho gráfico que é utilizado para destacar informações
importantes. Geralmente ele destaca atributos como nova fórmula, sabor,
ingredientes, perfume, etc.

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Figura 45: Embalagem com splash
Fonte: https://www.abre.org.br/galeria_inovacao/premio_abre_vencedores_2021_ouro.php
Descrição da figura: Imagem dois sacos de ração para cachorro onde podemos ver um splash no formato de
círculo com a frase super food. Fim da descrição.

Na imagem anterior podemos observar um, dos inúmeros, exemplo de como o splash
pode ser desenhado. Neste momento não devemos economizar soluções criativas para dar destaque
a esse elemento! Isso porque, ele possui uma importância visual de peso para embalagem e desta
forma, todas as vezes que a embalagem sofrer algum tipo de mudança ou alteração em seu formato
ele também deve ser modificado.
O impacto visual do desenho da embalagem precisa ser produzido de uma forma que
mostre aos clientes que ela foi elaborada como um todo. Isso significa dizer que na sua apresentação
final seja perceptível que foi realizado um projeto pensando em todos os detalhes. É assim que o
design agrega valor aos produtos, comunicando os seus atributos, suas vantagens, de forma a abarcar
todos os elementos importantes das embalagens.
Professora é muito trabalho! Como vamos conseguir tudo isso? A motivação criativa e o
ânimo, do começo da competência, precisam estar com você até ao fim! O designer consegue realizar
essas etapas porque ele tem por premissa a ideia de que a embalagem também é uma ferramenta
de marketing e vendas. Pensa só comigo, quando vemos uma embalagem pouco atrativa, sem
diferenciações, e apagadinha lá na prateleira de uma loja nós queremos comprar esse produto?
Dificilmente. Nós somos atraídos para embalagens que possuam atrativos estéticos, funcionais e
valores que sejam notados por nós, portanto fazemos toda essa maratona projetual para criar o bom
design de embalagem que irá atrair os consumidores. Nas palavras de Fabio Mestriner o design é,

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portanto, um valor genuíno que se incorpora ao produto e não um acessório estético para torná-lo
mais agradável” (MESTRINER, 2007, p. 54).
Nesse processo ainda podemos combinar texturas, tipografias e cores complementares a
fim de chamar a atenção para as outras funções da embalagem. O design de superfície, visto nas
nossas competências 1 e 2, pode ser amplamente explorado nesse momento de desenho para poder
criar as experiências emocionais e o apelo dos sentidos nos consumidores. Podemos também
trabalhar com rótulos que variam de formatos mais simples e resumidos até os mais complexos e
sofisticados. Tudo irá depender do tipo de projeto que o designer tem como missão.
Resumido todos os elementos gráficos do desenho, podemos agora diagramar e montar
nossa embalagem! A cereja do bolo do nosso projeto é a apresentação ao cliente dessa composição
visual, agora materializada.
As expectativas pela finalização do projeto são muitas e nessa etapa é importante contar
o conceito de design aplicado a esse desenho. Como assim conceito, Ingrid? O conceito é tudo aquilo
que ajudou a concretizar a ideia final e que o designer veio trabalhando desde a produção do briefing,
do estudo de campo, da estratégia de design e por fim na escolha dos recursos visuais que atribuem
significados a esse conceito.
Assim, a apresentação do projeto não pode ser algo feito improvisadamente nem de
qualquer jeito, certo? É interessante apresentar a embalagens em mockup que simule o tamanho, a
apresentação e até a posição das embalagens nos pontos de venda, como na imagem a seguir.

Figura 45: Mockup embalagem


Fonte: https://designermaodevaca.com/post/mockup-conjunto-de-embalagens
Descrição da figura: Imagem de nove embalagens de delivery com sua marca e design de superfície aplicado
em mockup. As cores são banco, vermelho e preto. Fim da descrição.

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Toda essa preocupação visa valorizar o projeto e o trabalho do designer, que como
pudemos acompanhar, não foi fácil! Nessa hora, você já está se imaginando apresentando seu projeto
bem construído, todo diagramado quando de repente bate aquele pensamento: e se não tiver ficado
bom o suficiente? Muita calma nessa hora. Segundo especialistas da área de embalagens, o projeto
que seguiu à risca todas as etapas dessa metodologia tem grandes chances de desenvolver um bom
design e garantir a aprovação do cliente. Como a gente pode ver, a partir da metodologia do projeto,
a embalagem é realmente um sistema multidisciplinar que exige bastante da nossa capacidade
criativa para resolver problemas e aceitar desafios. Nada mais instigante para um jovem designer que
almeja encontrar soluções para as nossas questões atuais não?
Bora lá, eu sei que você ainda tá animado para terminar essa competência e já sair
correndo atrás do projetos de tudo quanto é embalagem. Mas antes ainda temos uma última etapa
da metodologia! Eu prometo que é a última e ela também é bem importante!

4.3.5 Implementação do Projeto

Por fim, mas não menos importante, nossa última etapa nessa maratona produtiva da
embalagem é a implementação do projeto.
Essa etapa acontece quando o projeto da embalagem é aprovado e o designer pode
encontrar o pessoal técnico da indústria para uma pré-produção. Aqui, tudo que foi idealizado na
etapa de desenho como textos, imagens, fotos, quadros, splashes, entre outros, vão ser utilizados
para a produção final.
É interessante que o designer não largue a toalha e acompanhe a etapa da finalização
vendo se é necessário modificar algo e observar o controle de qualidade das impressões, montagem
e execução da embalagem.
Com tudo pronto, a embalagem pode seguir para o ponto de venda onde será posicionada
na prateleira, e é recomendável a participação do designer e do cliente para fazerem a conferência
final do projeto. Nessa visita, ainda é possível observar se tudo está funcionando de forma adequada
e se é necessário algum ajuste para as próximas impressões e execuções de embalagens.
Agora, eu deixo você descansar só um pouquinho, pois nosso estudo na metodologia
projetual da embalagem foi intenso! Espero que esse passo a passo tenha esclarecido como funciona
este universo tão complexo e te anime a fazer muitos projetos incríveis.

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Não se desanime, se por acaso, no seu percurso de atividades da profissão você se depare
com um projeto que tenha muitos perrengues e você não consiga elaborar tudo que vimos com a
criatividade e empenho que eu sei que você possui!
O mais importante é que o bom design de embalagens segue todas as premissas
metodológicas vistas, briefing, estudo de campo, estratégia de design, desenho e implementação do
projeto. Desta forma, é importante conhecer essa metodologia para melhor projetar e quem sabe
até concorrer a prêmios como o da ABRE!
Com todo esse conteúdo na cabeça respira um pouquinho e volta para a nossa última
competência onde iremos ver a embalagem no mundo de verdade. Depois de sair da indústria como
esse artefato se comporta no dia a dia? Quais são as suas principais categorias? E quais são os
desafios da embalagem no meio ambiente? Tudo isso na competência 5.

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5.Competência 05 | Conhecer a cadeia produtiva da embalagem, os
materiais, os processos e os novos desafios ambientais da embalagem
Olá estudante, tudo bem com você?!
Eu espero que sim e imagino que você ainda tem fôlego para estudar nossa quinta e
última competência! Nossa, a gente conheceu tantas coisas interessantes até aqui! Que tal fecharmos
o e-book agora com chave de choro, ops, de ouro?
Brincadeiras à parte, o conteúdo da nossa quinta competência é muito sério! Isso porque,
depois que projetamos a embalagem e ela está pronta para ganhar o mundo precisamos conhecer
em quais ambientes ela irá conviver e como ela será descartada.
Ai professora, nos 45 do segundo tempo, você quer me convencer que a embalagem é
tipo uma pessoa que convive com outras pessoas? Quero sim, porque é isso mesmo! Eu tenho certeza
que em algum momento da sua jovem vida você, sua mãe, tia, avó, irmã, pai, tio, amigo, guardou
uma latinha de biscoito de natal para guardar botões, por exemplo? Ou, em algum momento, você
chegou da aula louco por um sorvetinho e deu de cara com o feijão do almoço dentro da embalagem
do sorvete!
Essas coisas acontecem porque as embalagens possuem uma cadeia produtiva que se
estende para muito além dos muros das indústrias onde elas são produzidas. Elas podem esbarrar
em nossos modos de vida e cotidiano de forma positiva, como as latinhas natal, ou não, como a
tragédia do pote de sorvete com feijão.
Assim, nessa competência vamos conhecer como funciona essa cadeia e depois pensar
quais os principais desafios da embalagem para o meio ambiente já que, ela compõe parcela
significativa do lixo urbano.
Por fim, vamos conhecer algumas das principais categorias das embalagens, suas
necessidades e materiais e pensar como esse artefato mudou de cara com o aumento das vendas em
e-commerce.

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E antes de continuar com a brincadeira, vai lá e escuta o podcast preparado
para a competência 5 e depois vamos recomeçar a leitura.

5.1 A cadeia produtiva da embalagem

Nós já estudamos no e-book que a embalagem, hoje, é considerada um sistema


multidisciplinar. Aprendemos essa conceituação a partir da abordagem prática e metodológica
utilizada para criar embalagens. Desta maneira, pudemos perceber como a multidisciplinaridade
desse sistema acontece, pois para a sua produção, a embalagem, reúne uma série de profissionais de
áreas distintas do conhecimento que perpassam o campo design.
Estudamos também, na competência 3, um pouco da história da embalagem, suas
funções e atribuições como um artefato complexo para o mundo contemporâneo. Situados em todos
esses conhecimentos, ainda precisamos conhecer e pensar em mais uma faceta desse artefato: a sua
cadeia produtiva.
Ah professora, eu já sei o que é isso e é mais ou menos assim: o designer faz o briefing,
faz a pesquisa, pensa numa estratégia, desenha e manda para as lojas. Pronto, já tô ligado no que é
isso de cadeia produtiva!
Que bom que você já está com o passo a passo da metodologia fresquinho na sua cabeça,
mas sinto lhe informar que essa parte é apenas uma dentro do ciclo produtivo de uma embalagem.
Antes de tudo, devemos pensar que esse artefato é tão multifacetado que suas atribuições vão ainda
além das que já vimos no e-book.
A primeira coisa que devemos saber é que a embalagem é um importante termômetro
das atividades econômicas dos países. Com ela podemos atestar o nível de consumo, a qualidade de
vida e a realidade sócio-econômica do acesso aos bens. Sendo um artefato que é produzido em
indústrias, por muitas vezes ela representa a principal atividade deste setor econômico.
Para um pouco e pensa junto comigo como que para alguns itens a embalagem é vital. É
o caso por exemplo da água, do perfume e do sabão em pó. O que seria da vida desses produtos se

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não fossem as embalagens os protegendo, armazenando, transportando e informando suas
qualidades e materiais?
Depois de passar pela indústria, as embalagens seguem para o comércio onde são
vendidas e no processo entre o fabricante com o consumidor final a cadeia produtiva da embalagem
se relaciona com a logística, o transporte, os atacadistas e os varejistas.
No mercado, esse ciclo produtivo irá se relacionar com o marketing e é nesse ponto que
podemos ver o trabalho dos designers e de outros profissionais que fizeram a embalagem acontecer.
Ao projetar para embalagens precisamos compreender a estrutura dessa cadeia e ter em
mente que estamos lidando com um artefato complexo, pois envolve muitas variáveis e que
movimenta bilhões anualmente em todo mundo. Assim, o design de embalagens de acordo com Fábio
Mestriner “é a vitrine de um negócio mundial de grandes proporções e envolve o esforço de várias
indústrias e expectativas de empresas e consumidores” (MESTRINER, 2007, p. 4).
A cadeia produtiva da embalagem e o seu universo centra-se no mundo dos produtos e
assim, o designer, deve atribuir a eles tudo aquilo que os clientes não conseguem ver. Para ilustrar
melhor essa cadeia observe o esquema abaixo:

Figura 46: Esquema da cadeia produtiva da embalagem


Fonte: https://docplayer.com.br/docs-images/43/15605850/images/page_4.jpg

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Descrição da figura: Imagem de um fluxograma da cadeia produtiva da embalagem representada por figuras e
setas. Podemos ver a figura de um homem, embalagens, um alvo, duas fábricas, uma máquina e material para matéria-
prima. Fim da descrição.

Nesse esquema, podemos visualizar o processo que eu descrevi para você de forma
imagética. Percebemos também, na figura, a presença de mais uma etapa para a produção de
embalagem: a matéria-prima.
Esse item é essencial para a realização de uma embalagem e eu escolhi falar dessa etapa
por último, não por acaso. Quero chamar a sua atenção para um processo bem importante!
Primeiro de tudo, a gente sabe que matérias-primas correspondem às substâncias
principais para fabricação de alguma coisa.

Por definição, a matéria-prima é um produto natural ou semi fabricado que vai


passar por um processo de fabricação até se tornar um produto acabado.

Sabemos que as matérias-primas mais corriqueiras da indústria da embalagem são: a


madeira, o vidro, o plástico, o papel, a folha de flandres e os tecidos industriais. Seu ciclo começa
quando a mesma é extraída da natureza ou pré-produzida para ser enviada aos convertedores. Opa
professora, alerta de vocabulário novo na cadeia produtiva da embalagem. O que são
convertedores?!
Os convertedores são as indústrias que fabricam e imprimem as garrafas, os frascos, os
potes de vidro, os sacos, as tampas, os lacres, os cartuchos e uma grande infinidade de formatos e
soluções para as embalagens.
As indústrias dos convertedores são responsáveis por trabalhar a matéria-prima, como
por exemplo o plástico, para que esse seja enviado para empresas que o utilizem para embalar o seu
produto.
Eita professora, ficou confuso. Me mostra um exemplo para que eu possa entender
melhor o que é convertedor? Mostro sim, vamos começar pela matéria-prima e, nesse caso, eu
escolhi o plástico.

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Sabemos que o plástico é um polímero e tem origem no petróleo. Sabemos também que
o plástico possui vários tipos diferentes como o PP ou o PVC. Aqui, vamos utilizar o que todo mundo
conhece o PET, esse da imagem a seguir.

Figura 47: Garrafas de plástico PET


Fonte: https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-1974446169-garrafa-pet-plastico-2-litros-c-tampa-50-
unidades-2-l-_JM
Descrição da figura: Imagem de 11 garrafas tipo pet, transparente, sem líquido e sem rótulo. Fim da descrição.

Na imagem podemos ver vários formatos de garrafas PET sem rótulos ou produtos que as
diferencie. Essas garrafas de PET, no estado em que se apresentam na figura, foram produzidas por
uma indústria convertedora que manipulou o plástico PET e forneceu modelos às empresas para que
essas pudessem utilizá-lo em seus produtos e distribuí-los no mercado. Compreendeu a diferença?
A indústria convertedora opera em linhas de produção para fornecer a outras indústrias
e empresas a matéria-prima trabalhada para que elas possam embalar seu produto. No caso da
garrafa PET, ela é comumente utilizada em bebidas, produtos de limpeza, alimentos e perfumaria.
Podemos pensar que a indústria convertedora tem o poder de agregar três elementos da
cadeia produtiva da embalagem: 1) a matéria prima; 2) a indústria; 3) os consumidores. Deste modo,
cabe a ela a função de fechar essa cadeia produtiva relacionando esses três elementos.
Professora eu achava que meu trabalho acabava na parte que eu projetava a embalagem!
Pois é, eu venho dizendo que esse artefato é complexo e atravessa nossas vidas de muitas formas.
Ainda pensando no plástico PET sabemos que esse é amplamente utilizado e, por esse
motivo, ele está muito presente no lixo urbano, que possui uma parcela composta por embalagens.
Desta forma, a embalagem também apresenta um nova faceta que é a sua inter-relação com a
tecnologia de forma a produzir novos materiais, como o plástico biodegradável. Este estudo visa
produzir matérias-primas para as embalagens que causem menos impacto ao meio ambiente e
produzam menos lixo.

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As relações da embalagem com o meio ambiente é o assunto do nosso próximo tópico.

5.2 Embalagem, meio ambiente e legislação

As relações entre a embalagem e o meio ambiente surgem com bastante impacto


durante a década de 1990 e vem se mantendo atual ao longo do nosso século. Na competência 3
estudamos a história da embalagem e vimos como ela esteve ligada ao desenvolvimento da qualidade
de vida humana. Sem o condicionamento correto dos alimentos, por exemplo, milhões de pessoas
morreram infectadas por doenças e fome.
Desta maneira, a embalagem participou diretamente do desenvolvimento de grandes
centros urbanos e faz parte dos modos de consumo das pessoas que habitam as cidades. Como
consequência, a embalagem depois de utilizada, vira lixo. A embalagem como parte do lixo produzido
é algo que acarreta grandes impactos ao meio ambiente, pois muitos dos seus componentes
demoram anos para se deteriorar completamente.
Em face dessa realidade, setores da economia, da política, da sociedade e da cultura
começaram a pensar em boas práticas que impactem menos o meio ambiente. No que se refere às
indústrias que produzem embalagens, estas passaram a produzir com materiais que sejam recicláveis
com o objetivo que estes possam ser reutilizados.
Atualmente ainda perduram os desafios de propostas e práticas que repensem a relação
do consumo com o meio ambiente. Nesse panorama, o designer de embalagem deve aliar-se ao
conceito de design for the environment. Eita professora, além de tudo que eu já preciso fazer eu
tenho que ser bilíngue! Calma, não desanime. Não precisa correr para entender toda a gramática do
inglês porque vou te explicar o que é esse conceito.

Design for the environment são ações que preveem a utilização de processos
industriais mais limpos, a utilização de menos materiais e a preferência por
materiais recicláveis.

Vou trazer para você um exemplo real e super bacana desse conceito. A empresa
Bonafont anunciou, em 2021, o compromisso de se tornar totalmente sustentável até o ano de 2025.

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O primeiro passo para isso foi lançar no mercado uma garrafa com embalagem inovadora, que eu
mostro para você na foto a seguir.

Figura 48: Garrafas de água da marca Bonafont


Fonte: https://www.istoedinheiro.com.br/bonafont-elimina-rotulos-das-garrafas-de-1l-e-quer-producao-
sustentavel/
Descrição da figura: Imagem de dois tipos diferentes de garrafa de água. As da esquerda são 3 e possuem uma
cor laranja. As da direita são 2 e possuem rótulo apenas o rótulo e a tampa laranja. Fim da descrição.

Você acabou de olhar essa imagem e me diz o seguinte comentário: Certo professora,
para mim parece uma garrafa comum. Onde é que está a inovação disso?
A inovação dessa embalagem consiste em alguns pontos, o primeiro deles é que, em
comparação com a embalagem anterior, o design atual utiliza plástico que foi 100% reciclado de
outras embalagens plásticas da própria marca. Assim, a marca considera que criou um tipo de
“garrafa manifesto” para o meio ambiente mostrando que é possível várias outras empresas
produzirem a partir dos 3Rs.
Nem precisa você me perguntar nada, porque já senti sua curiosidade de saber o que são
os 3Rs. Eles são a síntese, para o design de embalagem, desses três fundamentos:

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Reduzir observando o que realmente é essencial para a produção da
embalagem;

Reutilizar prevendo outros possíveis usos da embalagem que não são


suas funções básicas;

Reciclar utilizando materiais alternativos que visam impactar menos o


meio ambiente.

Essas medidas não influenciam apenas o meio ambiente, elas mudam as facetas das
embalagens que por sua vez impactam o tipo de economia em que se desenvolvem. Nesse processo
a embalagem se relaciona com a economia circular.
Professora, essa competência está cheia de coisas novas que eu preciso muito saber.
Agora mais essa de economia circular!
Calma, meu objetivo é que no final deste e-book você saia um especialista em embalagem
e esteja super preparado para lidar com todas as questões referentes a esse artefato. Sabe o porquê
disso? Temos que ter em mente que a visão que o designer deve formar sobre as embalagens tem
que ser holística, ou seja, pensada em toda sua totalidade.
A embalagem nunca é um objeto com um fim em si mesmo. Ela faz parte de uma cadeia
produtiva que começa na extração da matéria-prima e termina quando, por exemplo, sua mãe guarda
a embalagem de sorvete para congelar o feijão do almoço! Eu sei que isso é uma tragédia doméstica,
comigo sempre acontece, mas pensa só como esse artefato interagiu de formas distintas em nossas
vidas. Muitas vezes, ele não vira puro descarte, podendo até se tornar de valor afetivo em nossas
casas. Na minha casa, são as latinhas que embalam o biscoito de natal que guardam fotos antigas da
minha família. Tenho certeza que alguém da sua família também tem uma caso de amor e apego com
alguma embalagem! Essa é uma das funções do designer: pensar também nos comportamentos e nos
valores dos consumidores para projetar artefatos que realizem desejos.

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Quando projetamos idealizando modos para reutilização não estamos apenas pensando
no meio ambiente e na sua preservação, mas também em modos de mudar uma cultura de consumo.
Deste modo, embalagens reutilizáveis se conectam com a economia circular porque pensam em uma
cadeia de retorno e reutilização.
Por essas palavras a gente já pode ter ideia do que é esse tipo de economia. Ela se difere
pelo pensamento e prática de explorar os recursos e produtos de forma contínua. Não os descartando
na natureza e elaborando meios de que estes possam ser recuperados e permanentemente
utilizados. A imagem a seguir mostra o fluxo desse tipo de economia.

Figura 49: Ciclo da economia circular


Fonte: https://www.veolia.com/latamib/pt/quem-somos/renovando-o-mundo/economia-circular
Descrição da figura: Imagem de um círculo dividido nas cores amarela, laranja roxa, azul escuro, rosa, azul
claro e verde. Dentro das cores podemos ver os ícones de uma planta, uma lâmpada, uma fábrica, uma caixa, um
carrinho de supermercado, um caminhão e o símbolo da reciclagem. Fim da descrição.

Como podemos depreender pela imagem, na economia circular o objetivo é a


eficiência na utilização de materiais e energia assegurando um desenvolvimento econômico menos
dependente dos recursos naturais e eliminando ao máximo a geração de resíduos.
Todo esse processo é muito massa e saber que podemos criar coisas que vão ser menos
poluente é no mínimo reconfortante. Entretanto, para que a economia circular, de fato, aconteça é
necessária a mobilização pública, política, administrativa e social para que não descartar, reciclar e
causar menos danos à natureza se torne um hábito.
Você se lembra do exemplo anterior que eu trouxe da “garrafa manifesto” da marca
Bonafont? Ela possui mais um ponto de inovação ambiental e legal. A garrafa não possui rótulo

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impresso e o seu código de barras está registrado na própria garrafa. Vou deixar aqui o link da
campanha para você acompanhar de perto e ver que além de lindo, é possível sim criar inovações em
embalagens que estejam relacionadas com o meio ambiente.

Vídeo da campanha Bonafont


Acesse o link
https://www.youtube.com/watch?v=jc3cM75V26M&ab_channel=Embalagem
Marca

Figura 50: Vídeo da campanha Bonafont


Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=jc3cM75V26M&ab_channel=EmbalagemMarca
Descrição da figura: Imagem de uma garrafa laranja num fundo rosa, com um arco-íris, duas nuvens, marca da
Bonafont. Fim da descrição.

O vídeo da campanha nos aponta para um ponto muito importante em relação às


embalagens: o código de barras que, neste caso, foi impresso diretamente na garrafa.
O código de barras faz parte das inúmeras normas e padronizações criadas para segurança de
cada tipo de embalagem. Ele existe porque para uma embalagem chegar em segurança para os
consumidores com seus produtos, ela precisa ser examinada por várias agências governamentais.

Quero te chamar agora para assistir a videoaula sobre o assunto de


padronização, normas e legislações para embalagem.

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Aqui no Brasil temos alguns órgãos regulamentadores como a ABNT, Associação Brasileira
de Normas Técnicas, o CB-23, Comitê Brasileiro de Embalagem e Acondicionamento, o Inmetro,
Instituto Nacional de Metrologia Qualidade e Tecnologia e um que a gente já viu na competência 4:
a Anvisa. O objetivo dessas organizações é regulamentar as embalagens e suas necessidades nos
diversos tipos de produtos e seus respectivos materiais.
Conhecer um pouco sobre as categorias de embalagem e algumas das suas
especificidades é o assunto do nosso tópico a seguir.

5.3 Categorias de embalagens e seus materiais

A gente já viu que pesquisa no projeto de embalagem é tudo, não foi? Ela é tão
importante que grandes empresas contratam serviços especializados para saber o perfil correto de
seus consumidores. Ela também é fundamental porque cada tipo de produto requer necessidades,
normas e regulamentações específicas para a produção do projeto de embalagem.
Aqui não vamos conseguir ver e saber de todas, pois existe uma infinidade de categorias
de produtos e suas regras. Mas podemos pincelar o pouco de alguns mais comuns e se imaginar
trabalhando com alguns deles.
● Banho, beleza e saúde

Figura 51: Embalagem de sabonete facial


Fonte:
https://www.behance.net/gallery/138955787/Vitabelle?tracking_source=search_projects%7Cembalagem%20de%20bel
eza%20
Audiodescrição da figura: Imagem de cinco embalagens, em formato de bisnaga, de sabonete líquido nas cores
laranja, amarelo, roxo, verde e rosa. Fim da Audiodescrição.

A gente já viu que essa categoria de produtos possui uma série de normas técnicas
específicas para execução de seus rótulos regulados pela Anvisa. Dessa maneira, no que diz respeito
a escolha de formas e materiais, nesse exemplo, podemos ver como o design pensou tanto na

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resistência do material a água como também, na usabilidade do produto, pois a embalagem é em
formato vertical. O que facilita a utilização do produto e otimiza sua ocupação em prateleiras.
● Tecnologia

Figura 52: Embalagem para case de celular


Fonte:
https://behance.net/gallery/115632065/Gocase?tracking_source=search_projects%7Cdesign%20de%20embalagem%20
Descrição da figura: Imagem de três embalagens em um fundo rosa e azul. As embalagens são retangulares nas
cores preto e branco. É possível ver as capas para celular dentro da embalagem nas cores azul e rosa. Fim da descrição.

Os pontos de vendas do setor de tecnologia, muitas vezes, são confusos pela quantidade
de produtos e diferentes serviços. Nesse tipo de embalagem, devemos estar atentos às estratégias
de marketing e vendas para poder competir pela atenção dos consumidores. No caso da imagem de
exemplo foi elaborado um tipo de embalagem vertical, com uma faca de corte específica e aplicação
de transparência para que os consumidores pudessem visualizar de imediato o produto e assim
comprá-lo.
● Bebidas

Figura 53: Garrafas de cerveja


Fonte: https://www.behance.net/gallery/90200617/Adaptacao-dos-rotulos-da-Ekaeut-para-picols-da-
FriSabor?tracking_source=search_projects%7Cdesign%20de%20embalagem%20
Descrição da figura: Imagem de três garrafas de cervejas Ekäut e picolés da marca Frisabor. Fim da descrição.

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Quando a gente pensa em embalagens para bebidas, temos duas grandes categorias: as
alcoólicas e as não-alcoólicas. No caso das não-alcoólicas devemos ter em mente que as bebidas não
matam apenas a sede, elas também são vistas como alimentos especiais possuindo uma grande
cartela de variedades. A embalagem para bebidas varia entre produtos que apelam para benéficos
da saúde e outros que lançam moda e estilos de vida. Já as alcoólicas devem dar destaque ao produto,
a autenticidade da marca, os aspectos emocionais, a tradição e a qualidade. Na imagem de exemplo,
podemos ver como cerveja Ekäut transpôs a identidade visual do seu rótulo para outro segmento de
embalagens criando uma edição limitada de picolés de cerveja.
● Alimentos

Figura 54: Embalagem de molho de tomate


Fonte: https://www.behance.net/gallery/79629353/PomoAdoro-Molho-de-
Tomate?tracking_source=search_projects%7Cdesign%20de%20embalagem%20
Descrição da figura: Imagem da frente e do verso de uma embalagem de molho de tomate nas cores verde,
vermelho e amarelo. Fim da descrição.

A categoria de alimentos é uma das mais importantes na área das embalagens. As


evoluções constantes de estilos de vida, formas de produção de alimentos, pesquisa de materiais e
consumo fez com que as embalagens para alimentos aprimorassem a qualidade de vida das
sociedades. Ao projetar para alimentos devemos ter em mente o apelo ao apetite, aos benefícios
desse alimento, seus ingredientes e aspectos também emocionais, pois muitas pessoas compram
alimentos para comemorar algum evento. Na imagem, a gente pode ver uma embalagem que apela
para a praticidade a partir da forma e do material de fácil manuseio na hora cozinhar.

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● Material de arte e escritório

Figura 55: Caixa de lápis da Artools


Fonte: https://www.abre.org.br/galeria_inovacao/premio_abre_vencedores_2020_ouro.php
Descrição da figura: Imagem de três caixas de lápis HB de madeira, nas cores marrom e preto. Fim da
descrição.

Materiais de escritório, na maioria das vezes, possuem finalidades diversas além da sua
função principal. A embalagem desses materiais pode atrair os consumidores para essa utilidade
criativa do produto, como foi o caso da embalagem de lápis Artools.
Ela apelou para a criatividade e a inspiração artística convidando o usuário a experimentar
os lápis com frases motivacionais na embalagem como essa da imagem “Tire o branco do papel”.
Outra estratégia utilizada pela marca foi “demonstrar” na embalagem como se comporta
os lápis, as tintas e as canetas fazendo desenhos dos traços na capa da embalagem. Assim, eles
criaram uma forma de diálogo com quem compra e usa os lápis, além de expressar uma qualidade
sobre o produto e seus efeitos.

● Infantil

Figura 56: Linha de perfumes infantis da Granado


Fonte: https://www.abre.org.br/galeria_inovacao/premio_abre_vencedores_2020_prata.php

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Descrição da figura: Imagem de quatro embalagens de perfume e um vidro. Neles é possível ver o desenho de
alguns personagens como o urso, a raposa, um guaxinim e um rato. As cores são laranja, amarelo, verde e azul. Fim da
descrição.

As linhas infantis devem ser pensadas com bastante cuidado. Além de elaborar uma
aparência que seja atrativa para as crianças é importante também ter cuidado com os materiais
utilizados nessas embalagens pensando nas faixas etárias e como elas irão se relacionar com o
produto.
A embalagem infantil é um desafio, pois as crianças podem decidir e até reconhecer em
algumas delas, por suas marcas e produtos, mas o poder de decisão final da compra está nas mãos
dos pais ou responsáveis. Desta forma, essa embalagem também deve chamar a atenção desse grupo
para os benefícios e qualidades do produto.
Foi o caso da linha infantil de perfumes da Granado. O design dessa embalagem foi
pensado todo numa linguagem para o público infantil com personagens que ilustram a caixa da
embalagem, além de serem gravados nos vidros dos perfumes. Ao final do produto é possível utilizar
a embalagem como objeto de decoração.
Tá aí mais um exemplo de empresa que pensou na cadeia produtiva da sua embalagem
e em formas dela não ser descartada possibilitando outros usos para esses artefatos.
Agora que você já conhece algumas das categorias onde pode trabalhar e suas
particularidades, vamos fechando o nosso e-book refletindo um pouco sobre as funções das
embalagem dentro do comércio tipo e-commerce? Simbora que a gente já tá quase dando tchau.

5.4 Embalagem na era do e-commerce

Estudamos no nosso e-book que o que mudou significativamente o desenvolvimento


das embalagens foi a criação dos comércios de auto-serviço. No supermercado, como são mais
conhecidos, a embalagem possui por função ser um “vendedor silencioso” dos produtos, atraindo os
clientes com o uso de elementos compositivos do design e as estratégias de marketing.
Deste modo, convido você a pensar, pela última vez nesse e-book, como essa função
tão primordial da embalagem se remodela com o advento, cada vez mais crescente, do comércio no
formato digital.

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Seja por aplicativos ou sites, vivemos em um momento do mundo que utilizamos esse
tipo de serviço e ele se tornou essencial principalmente durante a pandemia COVID-19.
Como então, as embalagens podem desenvolver a função de “vendedor silencioso” se os
consumidores não estão in loco para serem atraídos e desta forma conhecer as qualidades e
benefícios de determinados produtos?
É bem importante pensar nessas relações, pois estudamos que para alguns segmentos de
produto a embalagem é parte fundamental das vendas.
Ainda não temos as dimensões totais de como esse novo processo de compra e serviços
irá mudar os nossos modos de vida, pois como dizem na cultura popular: estamos no meio desse
furacão!
Entretanto, já existem pistas, caminhos e direcionamentos por onde você, futuro designer
gráfico, pode se ancorar. O papel primordial das embalagens no e-commerce ainda é o de manter a
integridade dos produtos.
Só que diferente das primeiras embalagem, sua função contemporânea é: promover uma
experiência única de entrega e assim fidelizar os clientes para seu comércio on-line. Existe até nome
para esse processo, que é o unboxing.
O ato de desembalar o produto ao recebê-lo em casa tem por objetivo fazer com que o
cliente se sinta como se tivesse aberto um presente e desta forma, se conectar com a marca, mesmo
que a distância.
Assim, podemos visualizar algumas diretrizes e caminhos para essa nova função da
embalagem agregando ela às atribuições já consolidadas desse artefato.
Aqui a gente vai se despedindo, por enquanto, e eu espero que você tenha gostado do
material e o aproveite muito!
Foi bacana passear com você sobre todo esse percurso da embalagem conhecendo sua
cadeia produtiva, seus desafios ambientais e normas técnicas. Como também refletir um pouco no
futuro delas diante das novas realidades do nosso mundo.
Antes de fechar tudo, dá uma lida nas conclusões para que a gente possa retomar tudo
que foi estudado aqui e assim dar tchau de verdade!

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Conclusão
Ufa, chegamos ao final do e-book! Estudamos bastante sobre design de superfície e
embalagem. Eu espero que você tenha aproveitado e já esteja animado para trabalhar nessas duas
áreas.
Aprendemos sobre a pele dos produtos, ou seja, o design de superfície. Podemos verificar
que essa área do design se ocupa de despertar os sentidos e criar conexões emocionais através de
texturas, cores e outros elementos gráficos.
Vimos ainda que, para que essas conexões emocionais aconteçam, o design de superfície
possui três diferentes tipos de abordagens: a representacional, a constitucional e a relacional.
Todas elas estão presentes nas superfícies em diversas áreas de atuação como o os
revestimentos, a decoração, a papelaria, a embalagem e as estampas têxteis.
A estamparia foi uma parte significativa das nossas leituras e vimos que ela é um processo
de criação antigo que em muitos momentos se mesclou com arte. No desenvolvimento da sua
história, pudemos conhecer os diferentes tipos de motivos: florais, geométricos, figurativos e étnicos
como também, quais ferramentas gráficas podemos utilizar para conferir ritmo e preenchimento aos
nossos padrões.
Os processos de impressão de estampas também passaram por desenvolvimentos
tecnológicos e materiais que permitiu a transformação da estamparia de uma técnica manual com
carimbos para processos industriais em larga escala.
Estudamos os princípios básicos para construção de padrões onde vimos o que é módulo,
rapport, sistemas alinhados, sistemas não alinhados, sistemas progressivos e multimódulo que
podem ser utilizados para as estampas.
Quando a gente achou que ia acabar o e-book, partimos para os estudos das embalagens
e fizemos uma viagem histórica para descobrir quais foram as primeiras atribuições das embalagens.
Proteger e transportar foram as duas primeiras funções, mas com o desenvolvimento da
economia e sociedade as embalagens viraram um artefato complexo e cheio de novas atribuições.
Por novas funções, estudamos que as embalagens além de proteger e transportar,
identificam, vendem, informam, consolidam uma imagem, promovem e atribuem valor a produtos.
Outro ponto importante foi perceber como as embalagens melhoraram a qualidade de vida humana
preservando adequadamente alimentos, frios, líquidos entre outros.

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Estudamos também que no Brasil a evolução das embalagens se mescla com os fatos
históricos e culturais do país onde esse mercado, infelizmente, ainda não é tão explorado.
E para acabar com essa realidade, a gente estudou as particularidades do projeto de
embalagem e a metodologia de projeto para essa área específica.
Eu não sei se você teve essa sensação, mas foi um processo muito legal ver todo esse
passo a passo. Primeiro a gente viu que precisa construir o briefing, depois a pesquisa de campo e a
estratégia de design. Quando a gente chega nessa parte vem a fatia mais gostosa do bolo para um
designer: desenhar e prototipar!
Estudamos que esse desenho não é artístico e que segue várias regras e padrões que
precisam ser traçados previamente no projeto para assim começarmos a desenhar.
Por fim, temos a satisfação de ver nossos projetos circulando pelos pontos de venda e sendo
comprados pelos clientes.
Por fim, aprendemos que a cadeia produtiva da embalagem não termina quando ela é
adquirida no mercado. A embalagem faz parte do lixo urbano degradando muitas vezes o meio
ambiente.
Isso pode acontecer tanto pelo descarte da mesma, ou pela extração de matéria-prima
de forma agressiva para o meio ambiente. Deste modo, refletimos sobre algumas soluções para esse
problema que tem uma escala mundial. Além de imaginar um pouco o futuro da embalagem e suas
novas funções agora que vivemos num mundo que se integra mais ao digital.
Estudamos bastante e eu espero que você se sinta pronto e confiante para os desafios
criativos que as embalagens e o design de superfície vão te trazer.

Bons estudos e até logo!

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Referências

FREITAS, Renata Oliveira Teixeira de. Design de superfície: ações comunicacionais táteis nos
processos de criação. São Paulo: Blucher, 2018.

PEZZOLO, Dinah Bueno. Tecidos: histórias, tramas, tipos e usos. São Paulo: Editora Senac São Paulo,
2007.

LUPTON, Ellen; PHILIPS, Jennifer Cole. Novos Fundamentos do Design. Tradução: Cristian Borges. São
Paulo: Cosacnaify, 2008.

YAMANE, Laura Ayako. Estamparia Têxtil. Orientador: Donato Ferrari. 2008. Dissertação (Mestrado
em Comunicação) - Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
Disponível em : https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27159/tde-20052009-
132356/publico/5281852.pdf

NEGRÃO, Celso; CAMARGO, Eleida. Design de embalagem: Do marketing à produção. São Paulo,
Novatec Editora, 2007.

RONCARELLI, Sarah; ELLICOTT, Candace. Design de embalagem: 100 fundamentos de projeto e


aplicação. Tradução: Renato Vizioli. São Paulo: Blucher, 2010.

MESTRINER, Fabio. Design de embalagem: curso básico. 2. ed. São Paulo: Pearson Makron Books,
2007.

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Minicurrículo do Professor

Ingrid Borba
Ingrid Borba é formada em Design Gráfico pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Pernambuco e em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pernambuco. É
mestranda no programa associado de pós-graduação em Artes Visuais da UFPE/UFPB. Atua como
professora, arte/educadora e designer gráfico. Nas horas vagas gosta de tomar café e fazer bordados.

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