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Ingrid Borba
Curso Técnico em
Design Gráfico
Design Contemporâneo
Ingrid Borba
Curso Técnico em
Design Gráfico
Educação a Distância
Recife
Revisão Diagramação
Ingrid Borba Jailson Miranda
Referências ................................................................................................................................ 39
Bons estudos!
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1.Competência 01 | Conhecer as principais questões do design no mundo
contemporâneo, com ênfase na interdisciplinaridade e no impacto da
produção atual do design no âmbito cultural, social, econômico e no meio
ambiente
Quero começar nossos estudos perguntando se já parou para pensar nas origens do
design e quais são os seus propósitos como campo do conhecimento? Sei que você é um estudante
muito ligado e, por esse motivo, vai me responder assim: Mas é claro que sim, né professora! Que
pergunta mais fácil!
A aparência óbvia dessa pergunta, é na realidade, o plano de fundo que eu quero que
você tenha em mente, pois ele irá nortear muitas das reflexões que iremos ter ao longo do e-book.
Podemos dizer que design contemporâneo são os estudos das formas como o design é
feito e se relaciona com as demandas do mundo considerado pós-moderno. Esse mundo não está em
outro planeta, ele é o mesmo que vive você, eu, seus familiares e seus amigos. Podemos também
dizer que a marca registrada desse mundo, cheio de complexidades, é a diversidade.
O design nesse universo de possibilidades pode atuar de várias maneiras, pois o horizonte
para pensar essa área do conhecimento é múltiplo. Podemos projetar interfaces virtuais, ou
superfícies que criem experiências emocionais com os usuários, ao mesmo tempo que podemos
elaborar o reaproveitamento de uma garrafa pet, por exemplo. Esses casos são apenas a pontinha do
que hoje essa profissão pode englobar. Outro ponto importante é que o design pode projetar ideias
e ações que tornem um mundo um local mais diverso e sustentável a partir da inovação.
Ai professora, que maravilhoso! Quer dizer então que tudo é design! Calma, antes que
você vire o meme da Narcisa Tamborindeguy achando que tudo é orgânico e design vamos entender
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que nem sempre essa área do conhecimento foi assim. Para chegar ao ponto de ser um campo
interdisciplinar e plural muita coisa aconteceu.
O que acontece na realidade é o fato de que o design, é uma ciência relativamente nova,
quando comparada a filosofia ou sociologia, mas desde o seu nascimento, na metade do século XIX,
até a contemporaneidade mudou bastante os seus princípios fundadores além de, acrescentar outras
interfaces de possibilidades na sua área de atuação.
O design hoje lida com as complexidades de um mundo globalizado e híbrido,
diferentemente do design que surgiu durante a Revolução Industrial. Segundo o autor e professor
Rafael Cardoso (2016, p. 234) “A grande importância do design reside, hoje, precisamente em sua
capacidade de construir pontes e forjar relações num mundo cada vez mais esfacelado pela
especialização e fragmentação dos saberes. ”
Professora, a fala desse autor foi muito massa, mas eu não entendi nada! O que tem haver
fragmentação de saberes com o design, o que eu quero trabalhar e o que eu preciso aprender? Eu
vou te explicar tudo isso, parte por parte, no e-book e como o próprio título do tópico diz: antes de
tudo vamos pelo começo!
Logo de cara, já sabemos que o design surgiu com a Revolução Industrial. Este marco
histórico e econômico acarretou grandes mudanças sociais e culturais no mundo, podemos dizer que
uma das principais transformações delas foi o aumento da produção de bens e sua aquisição. Nunca
antes, na história da humanidade, tivemos tanto acesso e produção de mercadorias que antes dos
processos de industrialização eram produzidas artesanalmente, ou seja, sem a mecanização das
etapas.
Os primeiros designers foram surgindo nesse movimento da história sendo incorporados,
de forma orgânica, aos processos de industrialização causados pela revolução das máquinas.
Muitos industriais perceberam que, ao empregar um profissional qualificado para elaborar
projetos, estes poderiam ser executados pelas linhas de produção e ainda garantir uma maior
aceitação comercial dos produtos.
Diante do contexto citado, podemos dizer que o design nasceu, inicialmente, a serviço da
organização e comercialização dos artefatos que agora eram industriais. No entanto, devemos estar
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cientes que o grande volume de produção dos artefatos do século XIX teria gerado um certo declínio
na qualidade e estética desses produtos.
Nesse momento entraram em campo artistas, arquitetos, industriais, associações
comerciais e instituições de ensino com um objetivo em comum: dar outra configuração a esses
artefatos, modificar os valores estéticos da população e assim mudar a relação desta população com
a cultura material produzida pelos processos de industrialização.
Agora você deve estar pensando assim: Professora, que B. O. da gota! Como foi que esse
povo resolveu isso e o que danado é cultura material?
Eu respondo que essa foi uma grande responsabilidade e também um dos primeiros
propósitos da profissão de designer. Essa história é um pouco longa, pois as relações entre o design,
materialidade e cultura é um pouco mais profunda e cheia de altas curiosidades.
Outra coisa que é bem importante na nossa videoaula é que vamos estudar, de maneira
mais específica, os três primeiros princípios de atuação do design. Essa aula deve ser assistida antes
de você continuar estudando o e-book, pois irá ajudar a compreender melhor como o design foi se
transformando até se tornar uma ciência híbrida e interdisciplinar.
Deste modo, nosso conteúdo da videoaula foi dividido da seguinte forma: 1) primeiro a
gente vai estudar os princípios do design relacionados à forma; 2) depois a forma em relação a
funcionalidade dos artefatos; 3) e por último a forma, a funcionalidade se relacionando com a
experiência de uso dos artefatos.
Garanto a você que será uma aula super legal, pois a gente vai falar sobre materialidade,
conhecer todos as fofocas da Bauhaus, a escola de design mais famosa em linha reta da história, e
saber quando o design se tornou um rebelde com muitas causas e começou a questionar qual seria o
papel dessa profissão, que cada vez mais se preocupava com questões ambientais e sociais.
Estando bem sabidos de todos esses conceitos, podemos passar para o próximo tópico
onde, o design, trabalha nesse mundo de mistura de culturas e identidades. Esse mundo
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contemporâneo também é marcado pelas fronteiras fluidas entre o material e o virtual. O paradigma
que mudou bastante os rumos da profissão que você estuda, mas todo esse assunto a gente aborda
no tópico a seguir.
A gente estudou, na introdução e-book, que contemporâneo é uma palavra utilizada para
caracterizar tudo aquilo que é produzido no presente. No nosso presente, os avanços da informática
e do universo digital impuseram à nossa sociedade uma maior flexibilização dos processos de
produção, consumo e uso.
Consequentemente, a realidade imaterial das redes virtuais modificou muitos dos
princípios que a gente estudou na videoaula como também, passou a agregar novos valores que estão
alinhados com as condições imateriais desse admirável mundo novo.
As relações da cultura entre o material e o imaterial aproximaram fronteiras entre as
diversas áreas de atuação do design misturando saberes numa frequência mista.
O principal princípio norteador do design, nesse contexto, é refletir a cultura da qual
fazemos parte e interagimos explorando os potenciais multiplicadores dessa relação. Deste modo, o
designer deve ampliar o seu olhar para enxergar as várias áreas do design, seja ela: moda, serviços,
produto, gráfico, UX, UI, entre outros, como um grande conjunto que funciona de forma integrada,
fluída e orgânica.
O maior lema da época em que vivemos é a diversidade e o princípio que tornou o design
hoje uma fonte potente e criativa para a resolução dos problemas do mundo é a interdisciplinaridade.
Pois é, tudo isso se reflete em uma prática de um design que é visto como um campo plural e que
tem capacidade de reunir diversas disciplinas para reflexão entre a produção, o meio ambiente e o
consumo.
Que massa professora! Achei isso bem interessante, mas será que você poderia me dar
um exemplo dessas situações?
Vamos lá, primeiro imagine que você, um futuro designer gráfico, vai projetar telas para
o aplicativo de um banco, que está pouco a pouco se tornando digital. O produto que você irá
desenvolver é mais ou menos como o da imagem abaixo:
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Figura 1: Telas de app para banco
Fonte: https://img.freepik.com/vetores-premium/design-de-interface-de-telas-de-aplicativos-bancarios_23-
2148602410.jpg?w=2000
Descrição da figura: Na imagem se vê três telas de aplicativo para celular. Dentro delas podemos observar
botões e funções para aplicativos de banco. Fim da Descrição.
Ao final do projeto, o que você entrega para o cliente é um artefato que misturou duas
áreas do design: o design gráfico e o design de produto. No entanto, esse artefato nem foi produzido
para ser um impresso, o que o caracterizaria como gráfico, nem possui características palpáveis o que
o caracterizaria como produto material.
Eita professora, minha cabeça deu um nó com esse exemplo! Ai meu deus! O que eu faço
agora? Primeiro, mantenha a calma. O que é importante observarmos com esse exemplo é como as
coisas que os designers produzem, na contemporaneidade, se tornaram tão complexas que não
podem ser classificadas como uma única coisa! Elas são híbridas, ou seja, fruto de convergências,
misturas e multiplicidades entre áreas diferentes. Conseguiu pegar a ideia?
Um aplicativo ou site é um produto que reuniu tantos processos de design que se esse
produto é totalmente um artefato gráfico ou não, essa condição não se configura como um problema
para nós!
Eu sei, estou trazendo algumas polêmicas para o e-book, mas vamos refletir um pouco
sobre o que eu acabei de falar. Talvez, para os nossos colegas de classe modernistas da Bauhaus, a
polêmica que eu levantei fosse uma questão, pois os processos projetivos de design naquela época
seguiam uma lógica necessária de que a forma que seguia a função. Porém, hoje, o maior objetivo
dos projetos que envolvem o trabalho do designer é reunir o máximo de conhecimento para projetar
artefatos que melhorem os contextos e vivências das pessoas proporcionando experiências que
estejam centradas nas necessidades delas. Assim, o que importa são os impactos que esse artefato
causará na vida de um usuário.
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Ai Ingrid, acho que agora eu fiquei um pouco mais calmo, me lembrei dos conceitos de
experiência, usabilidade e design centrado no usuário da videoaula. Acho que agora eu acho que
posso lidar com tudo isso. Porém, como é que eu vou me tornar um bom designer se eu só conheço
as práticas do meu curso? Eu vou precisar estudar todas as áreas de conhecimento que existem no
mundo!?
Essa resposta é bem ampla e super importante, porque você não precisa se tornar um
engenheiro de software para criar as telas do aplicativo do banco, por exemplo. Mas, você precisa
saber articular os vários conhecimentos, possuir repertórios que estejam além da sua área de
conhecimento e a capacidade de desenvolver o pensamento criativo para criar pontes entre
disciplinas distintas. Essa é uma das atribuições mais significativas do designer nesse mundo
complexo.
Podemos dizer então, que a maior das atribuições do designer atualmente é criar interfaces
que aproximem as pessoas e as suas narrativas nas mais diversas culturas e identidades. Isso é bem
bonito, não acha? Eu, particularmente, já estou emocionada imaginando vocês projetando soluções
incríveis para as questões ambientais, sociais e informacionais que tanto nos afetam nos dias de hoje.
A quantidade de informação que consumimos nas redes de comunicação virtuais, o lixo, os
problemas ambientais causados por ele e questões relativas à nossa consciência social são algumas
das áreas em que o design na contemporaneidade se ramificou.
Você está lembrado da especialização e fragmentação dos saberes que o professor Rafael
Cardoso nos disse no tópico 1.1? Pois é, as várias facetas de atuação do design e suas relações
interdisciplinares foi o que esse autor quis nos chamar a atenção para pensar o design
contemporâneo.
A complexidade do trabalho do designer hoje é lidar com questões que atravessam o universo
da materialidade e se dissiparam nas redes virtuais.
No nosso tempo, além das questões materiais dos artefatos, precisamos estar atentos a
atributos que são intangíveis no trabalho do design como: 1) a sustentabilidade; 2) as experiências;
3) as interações; 4) as emoções e 5) a democracia.
Esse pacote de atributos são alguns dos desafios que fragmentam o design em várias áreas
que vamos conhecer no tópico a seguir.
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1.4 As ramificações do design contemporâneo
Até agora estudamos o design como um campo integrado que com o decorrer dos séculos
XIX, XX e XXI modificou seus princípios e foi se subdividindo em várias áreas de atuação. Segundo o
professor Rafael Cardoso “Na concepção mais ampla do termo “design”, às várias ramificações do
campo surgiram para preencher os intervalos e separações entre as partes, suprindo lacunas com
projetos e interstícios com interfaces (CARDOSO, p. 23, 2008).
Isso significa dizer que, todos os propósitos que estudamos até agora e na videoaula
operam dentro desse campo total chamado design, porém a nossa área de estudo específica é o
design gráfico, que possui por atribuições a capacidade de informar, identificar, sinalizar, estimular e
persuadir através de artefatos que, hoje, podem ser tanto impressos como digitais.
No entanto, como já pudemos constatar no e-book, as fronteiras entre os campos do
design estão muito próximas emergindo umas nas outras em atividades que são complexas e
interdisciplinares. É só você se lembrar do exemplo do aplicativo que misturou duas áreas do design
para ser confeccionado.
Isso acontece porque, atualmente, os campos de atuação do designer gráfico também se
ampliaram para além do designer que lidava apenas com tipografia, direção de arte, editorial e
superfície, passando também a trabalhar com áreas mais recentes como o design de experiência, o
design de interação, o design de serviços, o design sustentável e o design social. Esses são alguns dos
campos em que podemos atuar e que conheceremos um pouco mais logo a seguir.
Quero saber como você está lendo esse e-book? Você acompanha ele pelo computador,
notebook, celular, tablet ou imprimiu todas as folhas e anda passando marca texto no que acha
interessante?
Acredito que a grande maioria dos estudantes que estão lendo esse material vai
responder que está estudando pelas telas dos seus dispositivos digitais, pois já se foi o tempo das
pessoas que amavam colorir seus materiais escolares com canetinhas coloridas! Bom, a sua
professora ainda faz parte dessa velha guarda, mas também passou a adquirir e acompanhar leituras
pelos dispositivos digitais.
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Como já estudamos, o advento do mundo digital mudou muitas das nossas relações com
os artefatos do cotidiano. Os livros e os jornais impressos são alguns exemplos desse fenômeno. No
universo de relações entre os seres humanos e os artefatos digitais podemos verificar como uma
leitura pode interagir com os usuários agregando vídeos, áudios e outras infinidades de recursos que
um livro digital pode reunir.
Esse tipo de trabalho é projetado pelo designer de interação, esse profissional,
especificamente, projeta interfaces e processos de criação para produtos que se relacionem com o
usuário.
O design de interação estabelece pontes de relação entre as pessoas e os sistemas
oferecendo assim, maior suporte para os usuários em suas diversas atividades cotidianas. Nesse tipo
de design, são projetadas ações que criem experiências que melhorem a forma como as pessoas
trabalham, se comunicam e interagem entre si e com os produtos.
Um exemplo interessante de design de interação são os óculos de realidade aumentada,
Google Glass, que foram desenvolvidos pela empresa Google e ajudam os usuários a fazerem uma
porção de coisas apenas por comandos de voz previamente programado no sistema dos óculos.
Os óculos possuem conexão com a internet e deste modo oferecem aos usuários as
possibilidades de postar fotos, vídeos, participar de chamadas, conferir datas e agendamentos no
Google Agenda e muitas outras funcionalidades apenas pelo uso dos óculos e seu comando de voz.
Muito bacana, não é?! Preciso confessar a vocês que como sou da época do mundo
analógico me sinto como um dinossauro entrando dentro de um universo em constantes big bangs!
Se você quiser conferir mais de perto o processo de ideação, criação e possibilidades de uso do Google
Glass clica no link abaixo:
Google Glass
https://www.google.com/glass/start/
O que a gente pode depreender do exemplo acima é que o design de interação está
diretamente relacionado com um termo que a gente já viu por aqui no e-book: o design centrado no
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usuário. Para esse tipo de abordagem do design acontecer é preciso estar atento às necessidades e
os vínculos emocionais que os usuários podem desenvolver ao utilizar um produto.
As respostas emocionais que um usuário pode ter em relação a um serviço ou produto é um
outro campo do design que se relaciona bastante com o da interação: o design de experiência.
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O serviço da Netflix funciona mais ou menos da seguinte forma: cada usuário paga uma
assinatura que é revertida na criação de um perfil onde, esse mesmo usuário pode, a hora que quiser,
em seus dispositivos digitais, assistir a filmes e séries contidos na plataforma.
Até então tudo bem, nada de extraordinário nesse processo. O que realmente acontece
é que cada perfil de usuário possui um sistema de recomendação de filmes diferente, pois a Netflix
se baseia em quanto tempo, ou vezes, que por exemplo, você passou assistindo um determinado
gênero de filme.
A partir de dados como esses, cada usuário terá um perfil diferente dentro do sistema de
recomendação. Este é personalizado de forma a proporcionar uma melhor experiência do usuário na
plataforma, pois se você gosta de comédias românticas, ele criará um filtro que sempre apresentará
filmes desse tipo de gênero, toda vez que você abrir o aplicativo.
O design de experiência, desta forma, atua agregando valores às mídias digitais,
aproveitando as diferentes possibilidades de interação e criação de significados com os usuários.
Professora, eu não imaginava que o design de experiência funcionava assim! Mas surgiu
agora uma dúvida aqui: será que é possível prever todas as vontades dos usuários e suas emoções
toda vez que ele simplesmente abrir o seu aplicativo?
Bom, as coisas não funcionam bem assim. No campo da experiência existem variáveis que
são tão diversas que a tecnologia disponível no mundo não dá conta de processar. Esse também não
é o foco do design de experiência e é super importante que você esteja bem atento a isso, pois o
objetivo dessa área do design não é delimitar as necessidades dos usuários em uma bolha, mas sim
entrar em contato com as várias formas de uso que uma pessoa pode ter com um artefato o tornando
cada vez mais diverso.
Na atualidade, a experiência relacionada a usabilidade de um produto com seus usuários
se tornou tão importante que modificou aquela máxima modernista das formas que seguiam a função
agregando outras estratégias de valor aos produtos. Agora o conceito de funcionalidade está muito
mais voltado para a experiência de melhorar a vida das pessoas. Esse último ponto é objeto de
trabalho e estudo de mais uma área fragmentada do design nesse mundo híbrido e cheio de
diversidade cultural: o design de serviços.
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1.4.3 Design de serviços
O design de serviços surgiu como uma área que também lida com as fronteiras entre
artefatos materiais e imateriais. Segundo (CORTEZ, 2013) esse fenômeno pode ser reconhecido como
a gradativa substituição do design tangível para a relação dos contextos dos usuários.
Já vimos que com o advento das tecnologias digitais os produtos não se restringem mais
a ideia de materialidade palpável sendo composto também por características intangíveis.
O design de serviço atua justamente nesse universo do intangível elaborando soluções
para que serviços sejam mais integrativos, multidisciplinares e que possam abranger todos os
aspectos de um projeto.
Eita professora, qual seria um exemplo de design de serviço para que eu entenda melhor
o que você está me explicando?
Vamos lá, você entra em contato com design de serviço quando compra qualquer tipo de
produto em uma plataforma de vendas online pela internet. Isso porque, o design de serviço pode
ser uma ferramenta de inovação, ou seja, uma ferramenta que promove algo novo para melhorar
condições já existentes.
O design de serviço sempre está se questionando como deve ser a experiência do
consumidor ao utilizar um serviço. Para responder essa pergunta o designer deve elaborar cenários
com os usuários e fazer pesquisas onde possa encontrar a solução para as suas questões. Um exemplo
muito bacana sobre design de serviço é o site da rede de lojas Magazine Luiza.
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Além das lojas físicas espalhadas por todo Brasil, a Magazine Luiza possui um site de
compras e um aplicativo com produtos que são comercializados pela empresa. Nas suas plataformas
digitais, a Magazine Luiza possui uma inteligência artificial que auxilia os clientes a fazerem suas
comprar no site funcionando como um vendedor virtual ao simular uma aproximação com os clientes
do site, essa inteligência artificial é chamada de Lu da Magalu.
A Magazine Luiza descobriu que o seu público alvo é composto, em sua grande maioria,
por mulheres, e lançou uma nova funcionalidade em seu site, apresentado na imagem acima, um
botão que denuncia violência doméstica.
As usuárias podem fingir que estão fazendo compras na sua conta do aplicativo e
denunciar casos de violência doméstica diretamente ao número 180 clicando em um botão do site.
No ano de 2020, os números de violência doméstica aumentaram consideravelmente por
conta da pandemia COVID-19 e suas medidas de isolamento social. Com essa funcionalidade instalada
em seu site de compras, a Magazine Luiza, não só promoveu um design de serviço para suas usuárias
aproximando as relações com os clientes como também, se engajou em uma causa social criando
pontes com outro tipo de design bastante presente no mundo contemporâneo: o design social.
A gente vai conhecer mais sobre esse design engajado com causas sociais no próximo
tópico.
O design social está relacionado à ideia de produzir conhecimento e artefatos que gerem
ações em benefício da sociedade. Essa área de atuação do design tem o intuito também de criar
consciência crítica nas pessoas.
Entre as décadas de 60 e 70 muitos designers, influenciados pelos movimentos de
contracultura, questionaram qual seria o papel do design na sociedade em que vivemos. O livro
Design for the real world, de Victor Papanek, foi um grande marco da história do design, pois trazia
críticas que buscavam colocar o design em face dos grandes desafios humanos e ambientais. Assim,
o autor conclamou que os designers voltassem sua atenção para a solução de problemas sociais e
não apenas nas demandas do mercado.
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O design social valoriza a cidadania e o bem-estar social acima dos lucros. No entanto, é
importante que você saiba que esse tipo de design não está colocando em cheque o design que
trabalha em prol de produção, vendas ou do próprio mercado. Na realidade, os objetivos que regem
esse design é propor e criar produtos e serviços que estejam alinhados às necessidades de grupos
sociais e que esses funcionem como estratégias de emancipação social.
Um exemplo massa desse tipo de ação é a campanha contra assédio no carnaval: Não é
não!
Criada pelo coletivo que recebe o mesmo nome da campanha, ela consiste em distribuir
tatuagens temporárias com o objetivo de alertar e evitar casos de assédio durante os festejos
carnavalescos. O mesmo coletivo ainda promove palestras e mesas redondas para falar desse tema
tão latente na sociedade em que vivemos.
As criadoras da campanha acreditam que existam certas lacunas e tabus ao abordar esse
tema. Deste modo, as tatuagens são formas de comunicar limites sobre os corpos femininos em
espaços públicos. A campanha já atingiu vários estados brasileiros e no carnaval pernambucano é
figura presente na maioria dos blocos, como demonstra a imagem abaixo.
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1.4.5 Design sustentável
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Figura 5: Cartão de papel semente.
Fonte: https://www.brindesverdes.com.br/produtos/brindes/papel-semente-10x10cm.html
Descrição da figura: Na imagem se vê dois cartões de papel semente sobre um fundo azul. Fim da descrição.
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mãos quem neste momento não gostaria de fazer uma pausa nos estudos para ir tomar uma garrafa
de litrão na praia!
Bom, não saia correndo para fazer isso ainda, pois agora que sabemos que design
sustentável lida com todo o ciclo de vida do produto e o seu pós-uso, ainda precisamos estudar mais
sobre o design contemporâneos nos contextos brasileiros. Falo no plural, porque o Brasil é um país
gigante com uma imensa diversidade cultural na qual o design atua de formas bem particulares.
Claro que não iremos dar conta de estudar tudo, mas vamos mergulhar nessa história e
produção incrível que é o design brasileiro.
Antes disso, vamos revisar que nessa competência estudamos os princípios fundadores
do design e vimos como esse campo do estudo se estruturou para se tornar um local diverso e
interdisciplinar.
Pontuamos também algumas áreas que o designer pode atuar e como o design de
interação, o design de experiência, o design social, o design sustentável e o design de serviços. Vimos
como essas cinco áreas estão ligadas às necessidades contemporâneas de um mundo complexo como
sustentabilidade, democracia social, experiências e informação.
Na nossa próxima competência vamos estudar como essas mesmas questões caminham
no contexto brasileiro de atuação do design. Então, se anima, guarda sua viagem a praia para o fim
do e-book que ainda tem muita coisa para estudar!
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2.Competência 02 | Conhecer o design gráfico contemporâneo no Brasil e
as questões que lhe são próprias
Olá estudante, tudo bem?
Você está conseguindo acompanhar nossa disciplina bem? Se tiver com alguma dúvida,
você pode ir no fórum de perguntas que está aberto no AVA e deixar lá suas questões. É importante
que você faça isso, pois nessa competência vamos dar continuidade aos estudos sobre o design
contemporâneo entendendo situações que são particulares ao design no Brasil.
Eu quero instigar você a refletir sobre as seguintes questões: Será que existe um design
que seja totalmente brasileiro? Se sim, como e por quem ele é feito? Quais são os seus propósitos?
Para quem ele serve? Qual será o papel do design no Brasil? Será que o design brasileiro representa
e atende as mais diversas necessidades e culturas do país?
Sei que a sua cabecinha deve estar fervendo nesse momento e louca para responder
todas essas perguntas. Vai pensando em todas elas, pois vamos refletir sobre essas questões ao longo
da competência.
Para pensar mais sobre design brasileiro escuta o podcast preparado para a
competência 2 e vamos lá!
Parafraseando o título do livro escrito por Rafael Cardoso, O Design Brasileiro Antes do
Design, eu quero começar o primeiro tópico da competência 2 propondo a você o seguinte exercício:
Pergunte a pessoa mais próxima se ela sabe o que é um designer gráfico e com o que ele
especificamente trabalha. Não vale os seus colegas de curso ou os seus tutores. Procure pessoas que
caminhem ou trabalhem diariamente no seu polo.
Depois de fazer essa pesquisa corre lá no fórum de discussão do AVA e vamos socializar
um pouco essas respostas!
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O objetivo dessa atividade é tentar observar um panorama peculiar da popularização do
design no nosso estado. Vamos tentar, aqui no e-book, manipular um pouco os dados dessa pesquisa
e imaginar algumas das possíveis respostas. Deste modo, suponhamos que a primeira pessoa que
você perguntou respondeu mais ou menos assim: Não sei bem…eu não conhecia essa profissão. Ela
faz o quê? Trabalha com desenho? Já a próxima entrevistada ou entrevistado foi mais otimista e
respondeu da seguinte forma: Conheço sim! Acabei de fazer um design de sobrancelhas! Por fim, a
terceira pessoa respondeu a sua pergunta assim: Meu sobrinho é designer e sabe mexer nos
programas que fazem logomarca!
Respostas como essas já foram ouvidas pela professora que vos fala quando ela se
aventurou a perguntar para leigos se eles sabiam o que era um designer gráfico. Imagino que uma
boa parte dos que estudam ou trabalham com design no Brasil já passou por essas situações onde,
no senso comum, não se sabe muito bem o que um designer faz, como ele pode contribuir para a
sociedade ou como ele se relaciona com as várias realidades do nosso país.
As direções que podemos tomar para desvendar as origens desse imaginário popular sobre a
profissão, que você está estudando, são inúmeras, mas podemos desvendar algumas pistas.
A primeira delas é que o design, como conhecemos hoje, começou a ser ensinado e
popularizado no Brasil no ano de 1963 com a Escola Superior de Desenho Industrial - ESDI, no Rio de
Janeiro. Esse dado nos é importante pois, o ensino do design é um dos principais campos de
transmissão dos valores e princípios que hoje regem a profissão, além de ser um marco para a
legitimidade profissional no Brasil.
O papo aqui é que o ensino do design pode e tem muito a contribuir com a popularização e
difusão do design no brasil. No entanto, como estudamos na competência 1, o design é uma ciência
relativamente nova, pois o primeiro curso de formação profissional superior tem mais ou menos 50
anos!
Segundo o professor e pesquisador Rafael Cardoso o ensino do design aliado a atuação
profissional pode esclarecer algumas questões que ainda são problemáticas para os designers
atuantes no país, como por exemplo a regulamentação da profissão. Ele nos esclarece mais sobre
esse ponto na seguinte passagem:
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A centralidade do ensino para a constituição de uma narrativa histórica do design é
um fato de importância determinante para contextualizar grande parte dos debates
políticos e ideológicos que têm regido um campo, dentre os quais a questão pendente
no Brasil é a regulamentação da profissão (CARDOSO, 2008, p.195).
A regulamentação da profissão pode ser a nossa segunda pista do porquê o design ainda
não é totalmente reconhecido pela sociedade brasileira, sua difusão nesse sentido é uma
preocupação relevante, pois essa profissão tem um papel atuante e resolutivo em muitas questões
centrais da atualidade, como o meio ambiente e equidade social como estudamos na competência 1.
No Brasil, o design contemporâneo não atua de forma diferente. Pesquisadores e
profissionais acreditam que o reconhecimento desta condição do design no país passa a ser
observado a partir do ano de 1990, quando as novas tecnologias informáticas e digitais renovaram o
design brasileiro inserindo-o em uma contemporaneidade experimental e interdisciplinar.
Ai que tudo professora! Mas eu fiquei curioso como foi que os designers chegaram a esse
entendimento? Existe uma diferença entre o design que se faz fora do Brasil? O que pode ser
considerado de fato um design brasileiro? Vamos lá, prestar bem atenção, que eu vou resumir um
pouco dessa história e te responder essas perguntas.
Vamos voltar no tempo e nos imaginar em 1960. Esse recorte do tempo é importante
porque, para muitos estudiosos, a década de 60 é o período que se considera o início do que hoje se
conhece hoje por pós-modernidade, ou seja, esse espaço-tempo globalizado permeado por mistura
de culturas e diversidades.
Aqui no Brasil, em 1964, tivemos o golpe militar e uma forte repressão cultural que
influenciou a produção do design a partir da contracultura com o movimento Tropicália. Esse
movimento é bastante conhecido pela música, mas ele teve relação direta com as produções gráficas
e artísticas feitas naquele momento como a capa do disco Panis et Circencis:
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Figura 07: Capa do CD Panis et Circencis.
Fonte: https://nuvemcritica.com/2019/01/31/tropicalia-e-as-capas-de-discos-dos-anos-1960/
Descrição da figura: Imagem de artistas da música popular brasileira reunidos em um fundo verde, preto e
amarelo. Do lado esquerdo podemos ver o nome Tropicália e do lado esquerdo o nome Panis et Circencis. Fim da
descrição.
25
Figura 08: Perfil da página Brasil Mood
Fonte: https://www.instagram.com/brasil.mood/
Descrição da figura: Na imagem de um perfil da rede social instagram com 12 imagens da cultura visual brasileira.
Fim da descrição.
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história do consumidor mostrando o poder que um design tem ao elaborar projetos que pensem na
experiência e narrativa do usuário.
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Além das Havaianas como símbolo de uma brasilidade e identidade cultural, podemos
observar essa construção visual e material nos trabalhos do designer gráfico pernambucano Aloísio
Magalhães.
Nesse momento você deve se rechear de inspiração e orgulho, pois esse pernambucano
é considerado o precursor do design moderno no Brasil, além de ter feito parte da fundação da Escola
Superior de Desenho Industrial. Os seus projetos gráficos mais marcantes foram a marca da empresa
brasileira Petrobrás, a empresa fornecedora de eletricidade Light S.A, as células de dinheiro do então
Cruzeiro Novo, entre outros. Aloísio ainda fez parte do grupo O Gráfico Amador, que reunia artistas,
designers e intelectuais, na cidade do Recife, em uma gráfica particular criando toda uma cultura
gráfica de impressos. Muito incrível, não é? Pode-se dizer que designers como Aloísio definiram
aspectos do design material e visual do Brasil, como também lhe conferiram uma identidade própria.
Podemos observar mais essa relação contextual e projetual em alguns dos seus projetos no link
abaixo.
Aloísio Magalhães
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10144/aloisio-magalhaes
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O legado do trabalho de Aloísio, assim como o do designer e arquiteto Sérgio Rodrigues
demonstram características da identidade do design brasileiro sendo este último, o grande
responsável por tornar o design feito no país ser reconhecido no mundo inteiro.
Agora eu quero saber se você, nos rolês aleatórios da vida, já viu uma poltrona como a da
foto abaixo?
Se ainda não tinha visto eu te apresento a Poltrona Mole. Certo Ingrid, mas o que essa
poltrona tem haver agora com design brasileiro? Esse modelo foi projetado por Sérgio Rodrigues e
suas intenções projetivas remetem às características históricas da cultura brasileira apenas pelo jeito
despojado que ela oferece aos usuários de se acomodarem.
Professora, eu estou pasmado(a)! Não imagina que o design brasileiro tinha todas essas
características. Pois muito bem estudante, agora que fizemos essa revisão histórica sobre as
características particulares do design brasileiro é importante que você saiba que esses dois designers,
assim como muitos outros, influenciaram e influenciam boa parte do que é produzido hoje no Brasil
e que pode ser entendido como design contemporâneo. Isso é mais ou menos o que dizia o grande
mestre Chico Science: modernizar o passado é uma evolução musical! Assim, revisitar nossas raízes
históricas pode nos fornecer os suportes para o nosso presente contemporâneo e elaborar as vistas
do futuro.
Com esse intuito e já sabendo de contextos importantes do design no Brasil vamos
entender agora o que os designers produzem hoje? Simbora!
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2.2 Yes, nós temos design!
O designer hoje trabalha com novas significações sociais e culturais que estão
relacionadas ao contexto de onde atuam e vivem.
Professora, que coisa mais complicada! Como é que eu vou conseguir criar novos
significados pelas deusas do design? Eu não sou Aloísio Magalhães e nem Sérgio Rodrigues! Calma
estudante, o mais importante é que você seja sempre curioso e atento ao seu entorno. Lembre-se
sempre que, independentemente de qualquer coisa, estamos projetando interfaces para pessoas e
essas, no mundo de hoje, querem ser vistas e representadas naquilo que elas consomem e utilizam.
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Lembra da história das Havaianas? Aquele exemplo reflete bem o que eu estou explicando
para você. Utilizamos esse tipo de calçado não só porque são confortáveis e despojadas, mas também
porque ele se tornou um objeto da cultura material do Brasil. Assim como, por exemplo, aqui no
Nordeste, em Pernambuco, utilizamos como calçado as clássicas sandálias Franciscanas, como na
imagem a seguir.
O calçado franciscano é uma tradição artesanal brasileira, que foi até copiada
pela marca internacional Prada. Vou deixar um link abaixo para você saber
mais dessa polêmica e pensar um pouco sobre a indústria e a apropriação
cultural que muitas vezes é feita sobre o design tradicional de algumas regiões.
https://www.metropoles.com/colunas/ilca-maria-estevao/apropriacao-
cultural-prada-e-acusada-de-copiar-sandalias-nordestinas
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Um belo exemplo dessa relação entre design e tradição artesanal está na parceria entre
a coleção da loja de design de estampas Farm com o artesão alagoano Jasson Silva. Ao ressignificar
os elementos da natureza onde cresceu em suas obras, o artesão Jasson Silva trabalhou em conjunto
com a empresa Farm, inspirando uma coleção de estampas. Suas obras também fizeram parte da
composição e do lançamento das estampas como podemos observar na imagem a seguir:
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Esse último ponto é outro aspecto do design contemporâneo do Brasil: o trabalho
autoral de alguns designers para lojas especializadas em produtos, como é o famoso caso da Tok Stok.
Nomes que vão de irmãos Campana, Marcelo Sommer, Gabriel Azevedo, Joana Lira, Ida
Feldman, entre outros. A parceria entre empresas, como a Tok Stok, e designers têm resultados em
um formato de produção que entrega como propostas modelos de negócios que agregam agentes
criadores, produtos e conteúdo digital nas mídias que vem gerando negócios prósperos e rentáveis.
Professora, eu já estou elaborando aqui meus cartazes e sketchbook para sair expondo e
vendendo por aí! Muito bem estudante! É isso mesmo e neste seu caminhar para ganhar o Brasil e o
mundo se lembra que você pode sempre se associar com seus colegas de curso, e quem sabe juntos
criar um estúdio, escritório, colab ou coletivo de design? Essa é outra proposta que vem criando força
e forma no design contemporâneo Brasileiro.
Desde os anos 2000, uma nova geração que entrou no mercado, vem se organizando em
duplas, trios, estúdios ou coletivos como uma nova forma de atuação profissional do design no Brasil.
É o caso do Colletivo Design, Estúdio Passeio, Visorama, Vitrola Banana Estúdio Criativo, Estúdio Bizú,
Design Ativista, entre outros.
É importante que você fique ligado que essa forma de atuação profissional além de
promover inovação traz também à tona reflexões sobre a falta da regulamentação da profissão de
designer no país.
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Vamos refletir um pouco sobre tudo que já estudamos no e-book. Já deu para você
compreender que a atuação do design foi significativa para muitos aspectos da construção da nossa
cultura e vida cotidiana, não é? Seja projetando interfaces ou peças materiais que mudem a vida das
pessoas, o designer, na contemporaneidade, tem participação ativa em propostas de cidadania,
sustentabilidade e desenvolvimento econômico do país. Deste modo, a regulamentação desse
profissional além de reconhecimento e valorização acarretará mudanças políticas e trabalhistas em
torno do pagamento desse profissional. Nada mais justo, não acha? Talvez quem sabe com a maior
popularização e reconhecimento burocrático dessa profissão não sejamos mais confundidos com o
design de sobrancelhas ou o sobrinho que faz logomarcas!
Retomando o ponto da atuação independente dos designers em grupos e coletivos,
temos também no Brasil uma forte produção editorial especialista em design. Essa atuação é
composta por revistas, livros, editoras e editoras independentes que tem como único objetivo ser
especialistas em livros e impressões que falam sobre design. Aqui, podemos trazer como exemplos
o trabalho da editora 2AB, da Blücher e até o caso da que já encerrou suas atividades a famosa Cosac
Naify.
Também podemos encontrar a mistura entre produção independente de design e design
editorial em trabalhos como os das editoras Livrinho de Papel Finíssimo e Chuvisco Editora, ambas de
Recife.
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Eu espero que com essa chuva de exemplos você se sinta motivado a desenvolver projetos
e já vá organizando as atividades desse módulo para ir compondo seu portfólio!
Como podemos perceber, umas das principais causas do design contemporâneo no Brasil
é divulgar, promover e popularizar o design como algo comum que faz parte do cotidiano, hábitos e
vida de todo mundo. Com a ressignificação de materiais, processos e tecnologia podemos pensar em
uma forma genuinamente brasileira de produzir, conhecer e difundir o design brasileiro
contemporâneo.
Muitos dos debates sobre o design no brasil giram em torno da rica cultura que possuímos
nas regiões do nosso país. Alguns pesquisadores afirmam que nossa identidade pode continuar a ter
gosto de acarajé, tacacá e pão de queijo apesar dos efeitos da globalização dos processos de
colonização que impuseram, a países como o Brasil, uma fórmula estrangeira de trabalhar.
Pesquisadores, professores e profissionais do design acreditam que essa relação pode ser
ressignificada a partir da valorização do design vernacular. Esse assunto é o tema do nosso último
tópico.
Estudamos até agora que o design brasileiro possui questões que são próprias como a sua
identidade, sua forma de trabalhar e aspectos políticos que podem contribuir muito para a exploração
do potencial transformador que essa profissão tem.
Um outro ponto que sempre foi pauta de discussão entre os profissionais da área no país
é a questão do próprio nome design. Sabemos que essa nomenclatura chegou ao Brasil importada do
idioma inglês. Ela é utilizada para caracterizar a profissão que desenvolve produtos, já o graphic
design, foi uma outra nomenclatura desenvolvida para descrever atividades de quem estrutura a
forma visual para comunicação impressa.
O caso é que uma nomenclatura não é apenas um nome em si. Ao nos intitularmos
designers gráficos estamos caracterizando a nossa identidade profissional com valores, propósitos e
fundamentos que qualificam a nossa prática profissional. Diante desses pressupostos, e de tudo que
já estudamos no e-book, o que eu quero trazer para você é a reflexão de que o nosso país tem suas
próprias formas de pensar e projetar design, mesmo que essa nomenclatura nos tenha sido
emprestada de fora. Deste modo, discussões como identidade, pertencimento, originalidade e raízes
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do design que é produzido no país é o último ponto dos nossos estudos sobre o design
contemporâneo.
Pensa aqui comigo um pouco, um país enorme e tão diverso certamente apresentaria
diferenças visuais e estruturais entre um design feito em Pernambuco de um design criado no Pará.
Essas regionalidades, podemos dizer a grosso modo assim, é o que torna as narrativas do design
brasileiro mais interdisciplinar e plural.
Profissionais, pesquisadores e professores de design acreditam cada vez mais na
importância e no fortalecimento do chamado design vernacular como forma de reconhecimento das
raízes mais profundas do Brasil.
Eita professora o que é design vernacular? Eu nunca ouvi falar nesse tipo de design.
Esse assunto é tão importante e tão legal que é o tema da nossa videoaula da
competência 2. Vamos assistir, conhecer e tirar as dúvidas sobre o que
significa esse termo vernacular.
Aqui no nosso estado temos trabalhos super bacanas em torno da pesquisa e produção
de design vernacular, que significa algo próprio do país ou região.
Um exemplo incrível desse resgate visual no nosso estado é o projeto da professora
Fátima Finizola sobre a paisagem visual do sertão de Pernambuco e sua iconografia visual, como
podemos observar na imagem a seguir.
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O projeto Abridores de Letras em Pernambuco faz uma cartografia visual de letreiros
populares das cidades do estado. O projeto teve como produto um catálogo e a criação de uma fonte
tipográfica digital, a Dingbat Carroceria, que você pode conhecer um pouco mais indo nos destaques
da competência 2.
Nosso estado possui inúmeras outras produções de design contemporâneo que não
estão só voltadas para o design vernacular. Pernambuco possui uma forte memória gráfica e visual,
além de ser um polo hoje no Brasil de design, arte e tecnologia.
Conhecemos nessa competência que o design brasileiro possui formas particulares de
existir, contribuir e trabalhar seja em coletivos, associações, no mercado editorial independente, ou
expondo em feiras produtos que bebem da fonte das nossas tradições artesanais.
Espero que você esteja saído dessa competência motivado a estudar, produzir e
conquistar seus espaços nessas diversas áreas de atuação!
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Conclusão
Chegamos ao fim do nosso e-book!
Eu espero que o estudo tenha sido legal, leve, agradável e que você saia cheio de
conhecimentos e questões, pois o mundo é daqueles que são curiosos que sempre querem aprender
mais e mais.
Começamos este estudo nos questionando quais eram os propósitos que regem a prática
profissional do design no mundo contemporâneo. Vimos que o design passou por várias
transformações históricas que permitiu que hoje ele se estruture como um campo interdisciplinar e
com fragmentação do saber.
Nesse fluxo de fragmentação, conhecemos algumas das áreas que contribuem para as
necessidades de um mundo cheio de complexidades como: o design de experiência, o design de
serviço, o design social, o design de interação e o design sustentável.
Após ficarmos bem sabidos de todas essas áreas de atuação do design, passamos nossos
estudos para o entendimento de como funciona o design contemporâneo no Brasil sil, sil, sil.
Foi bem massa porque vimos que nós possuímos uma forma particular de ser que reflete
o nosso design de uma maneira única. Vimos que nós, os pernambucanos, somos em linha reta, os
mais curiosos e criativos designers, pois foi do nosso estado que saiu um dos fundadores da primeira
escola superior de design do país, além de ser um dos grandes nomes do design no mundo.
Estudamos também que hoje os designers podem se organizar e trabalhar de várias
formas. O que mais nos caracteriza é a autoralidade, independência e criticidade em relação a nossa
cultura visual e material.
Por fim, vimos a potência do design vernacular, em específico o de Pernambuco, como
mais uma forma de valorização, integração e fortalecimento da identidade do design brasileiro.
Foi massa, né? Espero que você tenha gostado e até a próxima.
Bons estudos!
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Referências
CARDOZO, Rafael. Design para um mundo complexo. São Paulo: Ubu Editora, 2016.
CARDOZO, Rafael. Uma introdução à história do design. São Paulo: Editora Blucher, 2008.
CORTEZ, Hossein Albert. Design de serviços. In: NICOLAU, Raquel Rebouças (Orgs.).Zoom: Design,
teoria e prática. João Pessoa: Ideia, 2013.
BRAGA, Marcos da Costa. (Org.). O papel social do design gráfico. São Paulo: Editora Senac São Paulo,
2011.
MOURA, Mônica. (Org.). Design brasileiro contemporâneo: reflexões. São Paulo: Estação das Letras
e Cores Editora, 2014.
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Minicurrículo do Professor
Ingrid Borba
Ingrid Borba é formada em Design Gráfico pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Pernambuco, e em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pernambuco. É mestre
pelo programa associado de pós-graduação em Artes Visuais da UFPE/UFPB. Atua como professora
e designer gráfico. Nas horas vagas gosta de tomar café e fazer bordados.
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