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FLORIANÓPOLIS, SC
2011
MARINA KURTH KINAS
FLORIANÓPOLIS, SC
2011
MARINA KURTH KINAS
Banca Examinadora
Orientadora:
Profª Gabriela Botelho Mager
UDESC
Membro:
Profª Maria Izabel Costa
UDESC
Membro:
Profª Celaine Refosco
Orbitato
1. INTRODUÇÃO 8
1.1 Objetivos 9
1.1.1 Objetivo Geral 9
1.1.2 Objetivos Específicos 9
1.2 Justificativa 9
1.3 Metodologia da Pesquisa 10
1.4 Organização do Trabalho 10
2. DESIGN DE SUPERFÍCIE 11
2.1 Campos de atuação do design de superfície 14
2.2 O designer de superfície 16
2.3 Fundamentos do design de superfície 17
2.3.1 Simetrias 19
2.3.2 Padrões 20
2.4 Processos gráficos sobre tecidos 22
2.4.1 Origens 23
2.4.2 Processos de estamparia 25
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 65
4.1 Sugestões para trabalhos futuros 66
REFERÊNCIAS 67
APÊNDICE I 72
APÊNDICE II 77
1. INTRODUÇÃO
Em 1830, na cidade de Viena, o marceneiro alemão Michael Tho-
net desenvolveu uma série de técnicas para moldar e curvar varas de
madeira com vapor e pressão. Estas peças curvadas eram aparafusadas
para formarem cadeiras e outros móveis, simples e baratos. Este método
proporcionou a criação de diversos produtos (figura 01). Em 1850, as
cadeiras dos irmãos Thonet já conquistavam o mercado mundial.1 1. CARDOSO, 2004,
P.32-33
Figura 01: Catálogo
das cadeiras
Thonet, que mostra
como a técnica de
envergar madeira
gerou inúmeras
formas diferentes de
produtos.
01
Fonte: http://lamparinadesign.blogspot.com/2011/04/classica-thonet.html
1.1 OBJETIVOS
1.2 JUSTIFICATIVA
10
2. DESIGN DE SUPERFÍCIE
Para entender o conceito do campo de conhecimento e prática pro-
fissional que é o design de superfície5, é preciso relembrar alguns con- 5. rüthschilling,
ceitos: 2008, p.11
— Design gráfico, segundo a Associação dos Designers Gráficos —
ADG, “é um processo técnico e criativo que utiliza imagens e textos
para comunicar mensagens, idéias e conceitos, com objetivos co-
merciais ou de fundo social”.6 6. www.adg.org.br/
— Superfície7 é o objeto ou parte dele que possui largura e compri- 7. rüthschilling,
mento consideravalmente maiores que a sua espessura, mas que seja 2008, p.24
resistente o suficiente para sua existência, permitindo ser projetado.
Sendo assim, design de superfície é, em sua melhor definição:
02 03 04
Figuras 05 a 07:
Estampa
“Siirtolapuutarha”
aplicada sobre toalha
de mesa, bandeja
e almofada, por
Maija Louekari para
Marimekko.
05 06 07
Figuras 08 a 10:
Canecas e tigela de
porcelana criadas
com base no padrão
“Siirtolapuutarha” por
Sami Ruotsalainen
para Marimekko.
08 09 10
Fonte: http://www.marimekko.com/
11
Fundada em 1951 pela designer têxtil Armi Ratia, a empresa iniciou
com a produção de padronagens para o vestuário, mas obteve grande
sucesso também em produtos de decoração. A Marimekko é referência
no segmento de design de superfície. Como ilustrado pelos produtos
(figuras 02 a 10), uma padronagem criada inicialmente sobre o tecido
ganhou novas dimensões sobre outros substratos, tal como o cerâmico.
O design de superfície é um área nova e fértil em pesquisas9 e recen- 9. levinbook, 2008,
tes estudos que complementam o conceito: para Minuzzi10, o campo p.371
assemelha-se ao design gráfico por trabalhar com a bidimensionalidade 10. MINUZZI, 2008, p.2
e de se voltar para a realização de estampas para suportes como papel,
tecido e cerâmica. Já Sudsilowsky11 propõe que o design de superfície 11. Sudsilowsky, 2006,
seja uma “sub-área” do design, um híbrido de design gráfico, de produ- p.6
tos e de interfaces.
No Brasil, o design de superfície abrange diversas especialidades12 e 12. rüthschilling,
pode-se dizer que o design cerâmico, de estamparia, entre outros, estão 2008, p.25
inseridos neste campo. Segundo Rüthschilling13, os projetos de design 13. Ibid., p.87
de superfície têm liberdade para interagir com a arte, artesanato e de-
sign, e se apropriam “da liberdade dos processos criativos da arte, a lin-
guagem visual, a história da arte para potencializar o projeto de produto,
artesanal ou industrial”.
[...] nos deparamos, no design de superfície, com um corpo ou objeto, que será
trabalhado para atender necessidades, independentemente de ser uma produção
em série que visa satisfazer um grupo de consumo, ou uma peça única produzida
artesanalmente. Em qualquer dos casos parte-se de um projeto que transformará,
através de seus desenvolvimento técnico-estético, a área de suporte disponível
para tratamento. (LEVINBOOK, 2008, p.372)
11 12
Fonte: http://www.albertomanuelcheung.com/Neolithic%20Machiayao%20Jar.htm
12
A autora menciona o gosto das civilizações antigas pela decoração
de superfícies, manifestando-se em utensílios domésticos, na arquitetu-
ra e nos têxteis. “[...] a tecelagem e a cerâmica, assim como, posterior-
mente, a estamparia e a azulejaria, com sua linguagem visual, carregam
o embrião do que hoje chamamos de design de superfície”.17 17. rüthschilling,
Manifestações decorativas, como as faixas decoradas e cerâmicas 2008, p.16
gregas, mosaicos romanos e bizantinos, azulejos islâmicos, hieróglifos
egípcios, caligrafia chinesa, metais celtas, jóias africanas, tapetes per-
sas, cerâmica Marajoara e cestaria brasileira são, para a autora, exemplos
dessa base para o surgimento do design de superfície.
Segundo Forty18, a indústria têxtil inglesa de 1800 separou as ativi- 18. FORTY, 2007, p.66-68
dades do desenho de estampas e o corte e gravação de blocos, tendo
cada profissional um aprendizado próprio, ao contrário dos anos ante-
riores. Com a mecanização, aumentava produção de tecidos de algodão
estampado e a necessidade de novos desenhos crescia, colocando a
ocupação de desenhar estampas em evidência.
No início do século XX, fatos importantes como o rompimento com
os motivos florais por William Morris e o Ateliê de Tecelagem da Bauhaus
(figura 13), formam a base para, na primeira metade do século, diversos
artistas realizarem padrões e projetos têxteis. É nessa época que Rüths-
chilling19 apresenta como a gênese do design de superfície. 19. rüthschilling, op.
cit., p.14
Figura 13: Tapeçaria
de parede feita
por Anni Albers
em 1926, no ateliê
de tecelagem da
Bauhaus. (DROSTE,
2006, p.151)
13
13
Assim, no Brasil foi decidido que, para não ser somente a tradução do
termo utilizado pelo SDA, “foi apropriada e transformada, no sentido de
expansão do campo de atuação, aqui estendido a todas as superfícies,
de quaisquer materiais, concretas e virtuais”.22 A divulgação da expres- 22. rüthschilling,
são como campo de pesquisa e prática profissional teve origem no Rio 2008, p.13
Grande do Sul com o 1˚ Encontro Nacional de Design de Superfície,
realizado em 1991.
Papelaria
Desenvolvimento de desenhos e padrões para papéis de presente,
embalagens, material de escritório, materiais descartáveis, blocos, ca-
dernos, papéis de parede, entre outros (figuras 14 a 16).24 24. ibid., p.31
14 15 16
Fonte: http://www.paperchase.co.uk/collections/folk-trees/icat/cfolktrees/
Têxtil
O campo têxtil é o que abrange todos os tipos de tecidos e não-
tecidos e seus métodos de beneficiamento e acabamento. No design
de superfície, é a maior área de aplicação e com maior diversidade de
técnicas.25 25. ibid., p.31
Segundo Chataignier26, tecidos são formados pela união de fios ou 26. Chataignier, 2009,
fibras — naturais ou químicas — para obter uma estrutura tridimensional. p.28
A autora classifica os tipos de tecidos de acordo com sua composição
e tratamento:27 27. ibid., p. 43
14
Tecidos de laçada: no entrelaçamento, seu processo se asseme-
lha à malha e ao tecido comum. Seus fios em certas situações,
realizam laçadas completas, como nas rendas;
Não-tecidos: não sofrem o processo de tessitura (entrelaçamen-
to dos fios). São formados pela união de camadas fibras, através
de processos químicos e/ou físicos;
Tecidos especiais: obtidos pela estrutura mista de tecido comum,
somado à malha e ao não-tecido. Grande número de moléculas
entram na composição.
Cerâmica
A partir da classificação da Associação Brasileira de Cerâmica28, o de- 28. http://www.
sign de superfície atua principalmente em cerâmica vermelha (tijolos, abceram.org.br/
telhas), materias de revestimento (azulejo, ladrilho) e cerâmica branca
(louças sanitárias, de mesa), exemplificados nas figuras de 17 a 20. Estes
produtos podem sofrer processos de acabamento como esmaltação,
serigrafia, decalcomania, pincel, entre outros.
Figuras 17 e 18:
Painel de azulejos
e detalhe, no
Congresso Nacional
desenvolvido por
Athos Bulcão. A
aleatoriedade ocorre
pela liberdade
17 18 dos colocadores
de aplicarem os
Fonte: http://www.fundathos.org.br/ azulejos sem regras
pré-estabelecidas.
(RÜTHSCHILLING,
2008, p.73)
Materiais Sintéticos
“Os materiais sintéticos consistem de moléculas gigantes que são
acumuladas durante o processo de polimerização. Suas características
especiais dependem da interconexão de suas macromoléculas”.29 Nesta 29. http://www.
lista entram nomes como acrílico, polietileno, nylon, polistreno, teflon, discoverybrasil.com/
entre outros. guia_tecnologia/
Rüthschilling30 relata que a indústria está sempre em busca e lançan- materiais_basicos/
do novos materiais sintéticos, procurando praticidade, conforto e con- materiais_sinteticos/
servação. Na área de revestimentos, o laminado melamínico, também index.shtml
conhecido como Fórmica (por causa da marca líder), é aplicado em lar- 30. RüthschillinG,
ga escala e amplamente conhecido (figuras 21 e 22). 2008, p.40
15
Figuras 21 e 22:
Lâminas melanímicas
impressas pela
empresa gaúcha
Casa Rima, através
da impressão
digital, permitem a
fabricação de móveis
21 22
e revestimentos.
Fonte: http://www.casarima.com.br
Outros materiais
Segundo Barbosa e Calza31 os suportes para o design de superfície 31. Barbosa; Calza,
podem ser também: vidros (embalagens, vitrais, mosaicos, vitrines), ma- 2010, p.9
deiras (caixas, placas, letreiros), metais (latas, recipientes, placas e letrei-
ros), entre outros.
Outra possibilidade de aplicação apontada por Rüthschilling32 é no 32. RüthschillinG,
desenvolvimento de jogos e animações: “Neste campo onde não há li- 2008, p.40
mite para imaginação, a atividade de criação de texturas assume a mes-
ma importância”.
16
[...] é importante ressaltar que, apesar da criação de imagens gráficas ser uma ati-
vidade mais explorada no design gráfico, o design de superfície pode também ser
executado por profissionais de moda, de design de produto e de design de inte-
riores. (PEREIRA, 2007, p.103)
São apontadas pela autora34 algumas competências que devem ser 34. RÜTHSCHILLING,
desenvolvidas pelo estudante de design de superfície, para que se possa 2008, P.58
desempenhar de forma satisfatória e responsável suas atividades. Den-
tre elas podemos ressaltar a capacidade de geração de idéias, de formu-
lação, de análise e de interpretar imagens; dominar elementos da lin-
guagem visual, de composição e do design de superfície; capacidade de
reflexão e conceituação; dominar os processos produtivos; ter fluência
em novas tecnologias digitais; selecionar, organizar e sistematizar infor-
mações; perceber as necessidades do usuário consumidor, do mercado
e da empresa-cliente; dominar as etapas de desenvolvimento de proje-
to; trabalhar em equipe; ter consciência e comportamento ético profis-
sional; conhecer a legislação brasileira; e ter consciência ecológica.
Levinbook35 sugere, como metodologia do projeto de design, iden- 35. levinbook, 2008,
tificar uma necessidade, coletar informações atrás de soluções e gerar p.372
idéias por processos criativos, até que seja criado um produto que aten-
da às exigências funcionais, estéticas e de usabilidade. “Interferências,
modificações e sobreposições em uma superfície preparada para rece-
ber informações visuais são ações que podem resultar em um design
de superfície”.
Para Minuzzi36, a base para a geração de alternativas está na pesqui- 36. minuzzi, 2007, p.1
sa criativa e na prática investigativa, combinando métodos manuais e
digitais. Neste caminho, recorre-se ao processo criativo individual para
acompanhar as tendências do segmento em que atua.
É na formação acadêmica onde o estudante será guiado a descobrir
seu processo criativo. Pela metodologia de trabalho, “trata-se de combi-
nar a pesquisa experimental baseada nas habilidades pessoais de cada
indivíduo e em seu know-how artístico”.
Módulo
É a unidade da padronagem, isto é, o elemento mínimo que inclui
todos elementos visuais e que, repetido, formará a padronagem. A com-
17
posição visual depende da organização dos elementos dentro do mó-
dulo e de sua articulação entre os módulos, gerando o padrão de acordo
com a estrutura pré-estabelecida da repetição.
Levinbook38 aponta a existência dos desenhos localizados, nos quais 38. levinbook, 2008,
os motivos aparecem sem repetição, como em potes de cerâmica, vi- P.374
dros com textura, garrafas térmicas, entre outros.
Sobre isso, Rinaldi39 sugere a existência de dois tipos de projetos com 39. Rinaldi, 2009, P.19
superfícies: o primeiro envolve a repetição do módulo gerando a pa-
dronagem contínua; o segundo caso não possui o padrão, apenas uma
determinada área recebe o grafismo e a repetição não é fator determi-
nante no projeto.
Tomamos como exemplo a representação de Rinaldi (figura 23):
Encaixe
É o estudo feito prevendo os pontos de encontros das formas entre
um módulo e outro. Assim, quando o módulo se repetir, terá a formação
da padronagem contínua, sem interrupção. Esta noção é regida pelos
princípios da continuidade, onde os módulos em seqüência ordenada e
ininterrupta garantem o efeito de propagação, e contiguidade, definido
pela harmonia visual formada pela repetição dos módulos, pretendendo
atingir a percepção da imagem contínua.40 40. Rüthschilling,
Abaixo, padronagens desenvolvidas por Mathilde Alexanddre para a 2008, P.64
marca francesa Mademoiselle Dimanche41, que exemplificam o encaixe, 41. perkins, 2010, P.174
a continuidade e a contiguidade: o módulo é quase imperceptível na
figura 24. Ao lado, a figura 25 mostra um módulo feito na mesma lingua-
gem da padronagem, mas sem a repetição.
Figura 24:
Padronagem “In the
Forest 2”, reproduzido
a partir de carimbos
cortados à mão.
Repetição
“É a colocação dos módulos nos dois sentidos, comprimento e largu-
ra, de modo contínuo, configurando um padrão”.42 42. Rüthschilling,
op.cit., P.67
18
É também chamado de rapport, palavra francesa que significa encai-
xe, intercâmbio, relação de concordância, que deve acontecer em todos
os lados do módulo: todo elemento que sair da área do desenho de um
lado deverá entrar do outro lado. O ideal é configurar a repetição de
modo que não se perceba um lado do desenho, mas que seja percebido
de qualquer posição do observador.43 43. Leão, 2007, p.117
Sistema de repetição
Para Rüthschilling44, chama-se sistema a maneira que um módulo vai 44. Rüthschilling,
se repetir a intervalos constantes, seguindo uma estrutura que corres- 2008, P.67
ponde à organização dos módulos no espaço. Existe uma grande possi-
bilidade de encaixes dos módulos, e eles podem ser:
26
Fonte: Adaptado de Rinaldi (2009, p.81)
27 28
2.3.1 SIMETRIAS
Para Rinaldi45, com as simetrias é possível iniciar o estudo para a forma- 45. RINALDI, 2009, P.75
ção de padrões, seja utilizando sistemas de repetição pré-determinados,
seja pelo uso de malhas geométricas para formar um plano contínuo.
19
Diferentes tipos de simetrias permitem a repetição de um módulo,
podendo ser aplicadas de forma isolada (simetrias simples) ou mistu-
radas (combinando dois ou mais tipos simultaneamente). Os autores
Schwartz, Neves e Nascimento46 abordam as simetrias simples, pois as 46. Schwartz; Neves;
combinações misturadas têm infinitas possibilidades. Nascimento, 2006, p.4
Rinaldi esquematiza as simetrias para o uso na elaboração de uma
superfície, representadas na tabela 1:
2.3.2 PADRÕES
Para Rinaldi47, combinar uma ou mais operações de simetria leva à 47. RINALDI, 2009, p.82
operações mais complexas, podendo estabelecer Sistemas de Repetição
(também chamados de repeat em inglês, ou rapport em francês). Estes
sistemas funcionam como ferramenta de auxílio à geração de padrões
gráficos. Destacam-se:
20
Tabela 2: Alguns tipos de Rapport.
21
2.4 PROCESSOS GRÁFICOS SOBRE TECIDOS
O design de superfície tem na área têxtil o maior campo de aplica-
ções e técnicas. Processos de tecelagem, tingimento, bordado e estam-
paria fazem parte do desenvolvimento de projeto, seja em um produto
de moda, decoração ou sinalização. No design gráfico, a estamparia é
uma ferramenta capaz de gerar bons resultados.
Método de beneficiamento têxtil, expressivo e carregado de diver-
sas linguagens, a estamparia tem a finalidade de tornar o tecido mais
atraente e chamar a atenção do consumidor. Questões socioculturais,
históricas e subjetivas são as que definem os motivos estampados sobre
os tecidos, e determinam a aceitação ou rejeição de uma padronagem.48 48. Chataignier, 2009,
Em uma definição mais técnica, estamparia é o processo em que a p.81
coloração de um tecido é feita por perfis ou desenhos pré-concebidos.
E no final deste processo de levar os desenhos ao tecido, é freqüente a
convergência de várias técnicas de impressão sobre um mesmo pro-
duto, algo possível pelo desenvolvimento tecnológico que gera novas
possibilidades para a estamparia.49 49. DISEÑO, 2009, P.98,
tradução nossa
Figuras 28 e 29:
Tecido com estampa
em serigrafia
rotativa e bordado
industrial com linhas
coloridas e aplicação
de lantejoulas;
e documento
para impressão
especificando as dez
cores utilizadas e
suas quantidades. Da
empresa Lissa Italia.
(DISEÑO, 2009, p.99,
tradução nossa)
29 30
Como Pereira50 afirma, apesar da palavra estamparia se definir so- 50. PEREIRA, 2007, P.106-
bre os processos de impressão, pintura e desenho sobre tecido, o visual 107
gráfico do tecido pode também abraçar outras técnicas, como borda-
dos, aplicações (patches), ou estampas criadas pela estruturação do te-
cido, como na tecelagem e no jacquard. A autora também defende a
passagem das estampas de ornamentais a conceituais, servindo como
produto de design com função simbólica específica e um propósito de
coleção dentro de uma coleção. As estampas devem reiterar o conceito
pretendido, não apenas decorando os tecidos.
O livro Diseño de Estampados51 também coloca a estampa não só 51. DISEÑO, op.cit., P.38,
como ornamento, mas como agente modificador da percepção, como tradução nossa
ao dissimular os relevos anatômicos no caso de peças do vestuário. Nos
demais terrenos do design de superfície, como na papelaria e mobiliário,
22
por exemplo, a estamparia é uma ferramenta de impressão capaz de
valorizar o tecido suporte.
2.4.1 ORIGENS
Chantaignier52 coloca o início da estamparia no final da Idade Mé- 52. Chataignier, 2009,
dia (século XV) — também chamada de Idade dos Tecidos — pois nesta p.82
época os tecidos começaram a ser produzidos na Europa e importados
do Oriente, com origem na palavra inglesa printwork. Porém, é notável
que muito antes de surgirem os tecidos, o homem já pintava seu corpo
com pigmentos minerais: realçando a beleza, distinguindo-o na classe
social e dando-lhe proteção mágica. Indícios apontam o barro como
primeiro corante e, misturando e selecionando argilas, novas gamas de
cor foram surgindo.53 53. PEZZOLO, 2007, p.183
Pezzolo54 aponta a possibilidade do homem utilizar a mão como pri- 54. ibid, p.183
meira matriz de impressão sobre o tecido. Depois, pedaços de madei-
ra, pêlos de animais formando um pincel, carimbos de conchas, argila,
madeira e metal. Na China, a impressão de caracteres tipográficos por
blocos de madeira datam de 2 mil anos atrás e esta técnica não tardou
a estampar tecidos, tanto na China quanto na Índia.
A necessidade de colorir e embelezar o meio motivou o homem a
criar as estampas, apontando como possíveis pioneiras a Índia, a Indo-
nésia e a região do Mediterrâneo. Registros mostram que nos séculos V
a.C. e IV a.C., os egípcios já dominavam as técnicas, usando substâncias
ácidas e corantes naturais.55 55. ibid., p.184
O período relatado por Chantaignier como surgimento da estampa-
ria (século XV) é colocado por Pezzolo como o início das importações
de tecidos estampados da Índia para a Europa, difundindo rapidamente
a cultura da estampa para o Ocidente. Estes tecidos eram exclusivos
das altas classes sociais e “representantes das companhias das Índias
orientavam os artesãos para que desenvolvessem estampas adaptadas
ao mercado europeu”.56 56. ibid., p.187
Dois séculos depois do início das exportações, os fabricantes euro-
peus ainda não conseguiam atingir a qualidade de impressão indiana:
obtida por métodos que utilizavam cera quente, permitiam contornos
definidos e a cobertura de áreas do tecido onde o corante não deveria
agir (pintura com reserva). A alta demanda da aristrocacia e o interesse
do povo em usar roupas mais coloridas fez com que estrangeiros co-
nhecedores das técnicas do Oriente começassem a produzir na Europa,
impulsionando a indústria têxtil de estamparia.57 57. ibid., p.185
31
Fonte: http://www.davidmus.dk/en/collections/islamic/dynasties/mughal-india/art/10-1989
23
No século XVI, a Itália já produzia tecidos estampados por gravura
em madeira, método que se espalhou para França e Inglaterra. Pezzolo
relata que o desenvolvimento da estamparia européia fez com que as
relações com o Oriente se intensificassem, pois a população desejava
peças exóticas, com cores vívidas e resistentes à luz e lavagens.
Porém, as primeiras tentativas européias de imitar as estampas india-
nas estavam longe do pretendido.58 Os pedidos por tecidos estampados 58. PEZZOLO, 2007, p.35
aumentavam mas, para proteger a produção local, governos de vários
países europeus decretaram leis proibitivas contra os tecidos indianos.
Em 1686, na França, decratou-se a proibição do comércio, da fabricação
e do uso de estampados para proteger as indústrias de seda e lã. Poste-
riormente, Inglaterra, Espanha e Prússia aderiram ao decreto.
Em 1759, Marselha era a única cidade francesa com permissão para
produzir estampados. Porém, quando quatro fábricas passaram a fun-
cionar entre 1758 e 1760, na cidade de Aix, Marselha entrou em crise e
assim os decretos restritivos foram derrubados.59 Esta região, juntamen- 59. ibid., p.186
te de outras na França, tornaram-se polos de produção têxtil de estam-
paria e o país liderou no campo, principalmente pelo toile de Jouy.
Figura 32 a 34:
Exemplos do Toile de
Jouy comercializados
no Brasil pela
Regatta Tecidos, no
modelo Soleil, nos
tons goiaba, cáqui e
mineral, sobre tecido
100% algodão.
32 33 34
Fonte: http://www.regattatecidos.com.br/
24
Em 1796, as placas gravadas em cobre foram transformadas em ci-
lindros, acabando com o problema de registro e uma peça de tecido
podia ser estampada continuamente por um processo mecânico. Como
conseqüência, a estampagem manual declinou, dificultando para os ar-
tesãos, e o grande aumento da produção de tecido estampado propor-
cionou “uma demanda crescente por novos designs, e a ocupação de
desenhar estampas, já bem estabelecida no período manual da indús-
tria, continuou a florescer”.62 62. FORTY, 2007, P.68
Designers eram mantidos pelos fabricantes por salários anuais ou
contratados com pagamentos semanais, sendo o último mais comum.
Era mais rentável possuir um grande número de desenhos preparados e
poucos designers e estampadores. Os desenhos custavam muito pouco
comparados com o preço da gravação dos cilindros e com a estampa-
gem dos tecidos.
Entretanto, como a produção industrial aumentou, aumentou tam-
bém a quantidade de tecido produzido com um único padrão, um de-
senho de sucesso tornou-se muito mais caro em relação a um desenho
estampado manualmente. Assim, em 1830 e 1840, quando a estamparia
à maquina aumentava na Inglaterra, os proprietários das fábricas come-
çaram a se preocupar com os direitos autorais, fazendo campanhas para
que as leis se estendessem aos desenhos sobre os tecidos.63 63. ibid., p.69
A impressão sobre tecidos foi evoluindo de processos artesanais às
avançadas técnicas atuais, sendo criados inúmeras técnicas para estam-
par como o batik, os blocos de madeira, rolos de madeira ou de ferro re-
cobertos com cobre, quadros, cilindros rotativos e transfers. Todos estas
técnicas são utilizadas atualmente, de acordo com o foco do trabalho,
seja artesanal ou industrial. Os métodos mais avançados tecnologica-
mente são o cilindro rotativo e a impressão digital64 e para discursar so- 64. PEZZOLO, 2007, P.186
bre este, precisamos entender todas as esferas da estamparia.
25
Figura 35: Exemplo
do método de
estamparia batik.
35 36
Fontes: http://all-batik.blogspot.com/2009/08/traditional-batik-design-sign.html (35) e
http://design.senai.br/Default.aspx?tabid=168&idMateria=327 (36)
Estêncil
Método antigo e encontrado nas vestes de fenícios, consiste em mol-
des vazados feitos de papel, plástico ou outros materiais, cortados nas
formas em que se deseja colorir. É criada uma lâmina para cada cor,
sobrepondo-as e formando o desenho (figura 37).68 68. neira, 2011
37
Fonte: http://www.makingthishome.com/2009/05/04/how-to-stencil-on-fabric/
Blocos
Feitos de diversos materiais como borrachas e metais69, inicialmente 69. NEIRA, 2011
os blocos eram esculpidos em baixo relevo sobre madeira (figura 38) e
utilizados como método de estamparia desde o século V. Depois foram
se aperfeiçoando até adqüirir uma fita de bronze, dando o contorno do
desenho.70 70. PEZZOLO, 2007, P.189
38
26
O bloco é colocado sobre a tinta e depois pressionado sobre o tecido
esticado. Repete-se o processo alinhando o bloco de madeira com o
motivo já estampado. No caso de desenhos maiores, ele é divido em
diferentes blocos, para evitar que o bloco fique muito pesado.71 71. PEZZOLO, 2007, P.189
Rolo de madeira
Criado no século XVIII para substituir o bloco, transferindo o motivo
para uma superfície cilíndrica gravada e colorizada por outro rolo, num
processo mecânico onde pode receber outras cores por outros cilindros
subsequentes. Predecessor do cilindro de cobre, este método ainda é
utilizado em técnicas artesanais.72 72. ibid., p.190
Cilindro
Pezzolo73 explica que, ao contrário dos rolos de madeira, os cilindros 73. ibid., P.191
de cobre permitiam desenhos mais miúdos e detalhados. Este método
se popularizou pela sua rapidez de produção e eficácia, sendo vinte e
cinco vezes mais rentável em relação à impressão por blocos.
A técnica consiste em um cilindro de ferro fundido e outro de cobre
gravado com o desenho. O tecido passa por ele e grava a estampa, com
o cilindro de ferro captando uma cor de tinta por vez. Devido ao alto
custo de um cilindro gravado — e cada um imprimir apenas uma cor —
este sistema está caindo em desuso.74 74. DISEÑO, 2009, P.118,
tradução nossa
Cilindro rotativo
Combinando o sistema de rolos e o de quadros, é um processo re-
cente que passou a dominar na indústria de impressão têxtil. Segundo
Pezzolo75, o tecido é colocado sobre uma esteira rolante e rolos de tela 75. PEZZOLO, 2007, p.192
de inox, alimentados com jatos de tinta aos comandos de um com-
putador, percorrem o tecido, estampando-o. Assim, não há encaixe do
quadro, a produção acelera e há maior nitidez, definição e possibilidade
de cores.
39
27
Quadro
Também chamado de serigrafia ou silk-screen76, era utilizado no 76. NEIRA, 2011
Oriente desde o século VIII inicialmente na área têxtil, o método é hoje
muito utilizado também sobre papel. Permite precisão nos desenhos e
pode ser tanto manual quanto mecanizado (figuras 39 e 40). Um tecido
muito fino (poliamida ou poliéster) é esticado e preso numa moldura em
forma de quadro.77 Aplica-se uma emulsão fotossensível na tela e uma 77. PEZZOLO, op.cit.,
transparência (fotolito) com o desenho é posicionada sobre ele. Com p.191
a aplicação de luz, a emulsão se fixa e deixa livre a malha onde se en-
contra o desenho, ou seja, onde a tinta deverá passar. Lava-se o quadro
para retirar a emulsão das áreas que serão pintadas. Cada transparência
corresponde a uma cor do desenho, assim, cada quadro será aplicado 78. DISEÑO, op. cit.,
um de cada vez.78 P.100, TRADUÇÃO
NOSSA
Figura 40 e 41: À
esquerda, impressão
da estampa “Joonas”,
da empresa finlandesa
Marimekko, em
serigrafia contínua.
À direita, detalhe da
estampa.
40 41
Fonte: AAV (2003, p.57, 127)
Flock
Efeito utilizado na tintura em quadros, onde fibras de pó triturados
são aplicados com uma cola especial, dando um aspecto aveludado (fi-
gura 41), descreve Chantaignier.79 79. Chantaignier,
2009, p.84
Figura 42: Flocado
sobre tecido.
42
Fonte: http://www.velveleen.com/flock_fabric
Devoré
Obtido pelo processo serigráfico (impressão a quadro) sobre tecidos
com fibras de diferentes grupos. A pasta devoré é uma tinta que destrói
o algodão. Assim, em um tecido de algodão e poliéster, a primeira fibra
será consumida nas áreas estampadas, e o poliéster permanece, dando
um certo relevo (figura 42). Quanto maior a porcentagem de algodão na 80. DISEÑO, 2009, p.104,
composição, mais visível será o efeito.80 tradução nossa
28
Figura 43: Estampado
com efeito devoré,
resultado da
subtração das fibras
de algodão em zonas
específicas, deixando
em evidência a base
de poliéster. (DISEÑO,
2009, p.104, tradução
nossa)
43
Impressão digital
Técnica relativamente recente, cujo princípio baseia-se na elimina-
ção das matrizes de impressão81. Apontado como o avanço mais sig- 81. neira, 2011
nificativo na tecnologia de estamparia desde a criação da serigrafia, a
impressão digital causou uma revolução no design têxtil. Agora, os de-
signers podem buscar inspiração em fontes antes inexploradas, surgin-
do assim, uma nova linguagem visual para o design de superfícies. Por
ser uma tecnologia recente e ter um alto custo, só é acessível à indústria
têxtil de nível médio a alto, mas está se unindo a empresas de con-
fecção, moda e interiores, fazendo com que os designers mudem seu
modo de trabalhar com estampas.82 82. BOWLES; ISAAC,
A estamparia digital sobre tecido se originou das técnicas de impres- 2009, p.10, tradução
são a jato de tinta sobre papel. A razão para que o desenvolvimento nossa
dessa tecnologia tenha sido mais lento veio da necessidade de produzir
tintas adaptadas às impressoras de grande formato que atendessem a
todos os tipos de tecidos.
O termo “impressão digital” diz respeito aos métodos de impressão
em que se transfere uma figura digitalizada para um substrato. Atual-
mente, existem dois tipos: o primeiro é a impressão eletrostática (la-
ser), utilizada somente sobre papel e em foto-copiadoras; o segundo
método, a impressão a jato de tinta, pode se definir como um processo
em que o desenho se constrói por pequenas gostas de tinta de cores
distintas, seguindo um padrão pré-determinado sobre uma superfície.83 83. IBID., p.172
Outros dois métodos são vistos também como impressão digital: a
impressão por utilização de papel de transferência térmica (figuras 44 e
45) e a impressão por sublimação. A primeira é o método mais simples e
consiste em imprimir com uma impressora a jato de tinta sobre papel de
transferência térmica. O tecido e o papel são posicionados sobre uma
prensa quente, fixando o desenho.
29
Figura 44 e 45: A
designer têxtil Shelly
Goldsmith usa uma
impressora comum
para imprimir suas
estampas sobre papel
de transferência
térmica. À esquerda
a peça “Batismo”,
e detalhe à direita.
(BOWLES; ISAAC,
2009, p.161, tradução
nossa)
44 45
Fonte: BOWLES; ISAAC (2009, p.161T)
A impressão por sublimação usa tintas dispersas, encontradas tanto
em impressoras de grande formato como pessoais, para imprimir sobre
poliéster (figura 46). Quanto maior a porcentagem de poliéster no teci-
do, melhores são os resultados obtidos e, por isso, é amplamente utiliza-
da para a indústria têxtil esportiva e de roupas de banho. Além disso, este
processo permite a impressão de fotografias com cores mais vivas.84 84. BOWLES; ISAAC,
2009, p.160-163,
tradução nossa
30
Figura 47: Mecanismo
básico da impressão a
jato de tinta.
Figura 48:
Impressoras digitais
a jato de tinta de
grande formato.
47 48
A impressão
Fonte: de fotografias
BOWLES; ISAAC sobre tecidos datam das décadas de 60 e
(2009, p.56)
70, com a utilização da técnica de termotransferência (como a estam-
31
pagem por sublimação) sobre tecidos sintéticos (como o poliéster) para
garantir a fixação da tinta. Hoje, com os softwares e a impressão digital,
há a possibilidade de manipular e transformar as fotografias e adaptá-las
de acordo com a natureza do material (figura 49).87 87. BOWLES; ISAAC,
Entende-se, portanto, que a liberdade no processo de criação e pro- 2009, p.13, tradução
dução nunca esteve tão aflorada no design têxtil de estamparia. Bowles nossa
e Isaac sugerem que uma nova linguagem visual está emergindo:
[...] atualmente está surgindo um estilo mais maduro de design digital graças a uma
maior experimentação por parte dos designers, cujas criações se baseiam em moti-
vos escaneados ou provenientes da fotografia digital, o que facilita os efeitos visuais,
como as ilusões de ótica, além de estilos gráficos e de ilustração que são possíveis
com o uso da manipulação digital. (BOWLES; ISAAC, 2009, p.13, tradução nossa)
50
Fonte: BOWLES; ISAAC (2009, p.76)
A tecnologia de estamparia digital ainda não permite que a própria
máquina realize o mesmo trabalho que a serigrafia faz. De qualquer for-
ma, a serigrafia é um método rápido e tradicional de impressão e que
pode complementar a peça estampada digitalmente, seja imprimindo
novas lâminas de cor, devoré, estampado por corrosão ou na aplicação
de material adesivo para aveludar e laminar. O método deve ser aplicado
em harmonia com o desenho e seguindo os limites de tamanho e qua-
lidade da impressão (figura 51).
32
Figura 51: Exemplo de
aplicação de devoré
sobre tecido com
estampa digital.
51
Fonte: http://www.flickr.com/photos/polly_taylor/5326586847/in/photostream
Há também a possibilidade de acrescentar texturas aveludadas e la-
minadas. Nos dois métodos, dispõe-se um material adesivo nas áreas
desejadas, as lâminas aveludadas ou laminadas e, com a aplicação de
calor, ocorre a fixação.
Figura 52 e 53:
Amelia Mullins
aplicou ao tecido
àreas destacadas
de laminado
dourado que
complementam sua
coleção estampada
digitalmente sobre
seda.
52 53
Fonte: http://ual-chelsea-textiles.blogspot.com/2007/06/amelia-mullins-print.html
As possibilidades são inúmeras. Além das listadas, métodos de tin-
gimento por reserva, como o batik e o tie-dye, processos de costura à
mão ou com máquina e técnicas de bordado ou embelezamento do
tecido com a impressão digital, permitem um olhar mais artesanal sobre
a peça.
No contraste com as demais técnicas de estamparia é que se per-
cebem as desvantagens do processo digital: seja na impossibilidade de
produzir efeitos como o devoré ou a impressão metálica sem recor-
rer aos métodos tradicionais, como também o preço ainda elevado de
produção digital.89 De qualquer forma, a estamparia digital mostra uma 89. BOWLES; ISAAC,
clara tendência ao crescimento à medida em que se desenvolvem im- 2009, p.179, tradução
pressoras mais rápidas e com mais possibilidades de impressão.90 nossa
90. ibid., p.186
A impressão digital é o processo de estamparia têxtil que mais cresce
atualmente, porém é a com menor índice de produção: 80% das pro-
33
dução mundial de estampados são ocupadas pela serigrafia e métodos
como os cilindros rotativos ainda possuem maior visibilidade no merca-
do de produção em massa.
Enquanto as impressoras digitais imprimem cerca de 250 metros de
tecido por hora, os métodos mais tradicionais conseguem estampar
3000 metros no mesmo período. Mas, o tempo de preparo nos proces-
sos tradicionais chega de 8 a 12 semanas para iniciar a produção em
série de uma estampa, enquanto que, na impressão digital, a preparação
é instantânea. Não há necessidade de separar cores, gerar um padrão
contínuo, nem de preparar matrizes.91 Desta redução de tarefas surge 91. BOWLES; ISAAC,
outro benefício: o designer pode dedidar mais tempo à parte criativa, 2009, p.171, tradução
apoiada na produção de amostras, pois não há restrições na impressão nossa
de pequenas quantidades.92 92. NEVES, 2011, P.4
Nos métodos tradicionais, um trabalho com muitas cores custa mais,
pois é produzida uma matriz para cada cor. Na estamparia a jato de tin-
ta, não há diferença entre o número de cores utilizadas. Os pigmentos
utilizados têm mostrado muitas vantagens sobre as outras tintas: são
mais resistentes à descoloração e às lavagens, costumam ser mais ba-
ratos, podem ser utilizados sobre variados tipos de tecidos e sua fixação
é mais simples.
Pode-se produzir todo tipo de imagens devido ao processo de qua-
dricromia (CMYK), em que se permite a reprodução de meios-tons e
trabalhar com milhões de cores. Devido à natureza fotográfica da nova
tecnologia, praticamente todas as sutilezas e matizes da imagem origi-
nal se transferem em detalhes ao tecido.
Não há mais a necessidade da repetição do desenho, pois agora
pode-se imprimir imagens de grande tamanho. A tecnologia digital co-
loca como único limite ao tamanho do impresso a capacidade do com-
putador em processar arquivos grandes. Sem a exigência de repetições
e impressão mínima, permite-se aos designers estampar superfícies
que respondam à forma da peça (seja ela uma peça do vestuário, mo-
biliário, entre outros), gerando uma relação mais íntima entre imagem
e produto.93 93. BOWLES; ISAAC, op.
Como citado anteriormente, a impressão digital acarreta em meno- cit., p.171
res danos ao meio ambiente do que os métodos de estamparia tradi-
cionais. Produz menos resíduos de tinta, permite a impressão do tecido
inteiro ou somente de áreas predeterminadas, evitando o desperdício
de tecido e consome 30% menos água e 45% menos eletricidade.94 94. ibid., p.178
Dessa forma, mesmo sendo uma tecnologia recente, onde a produ-
ção tradicional de estampas é ainda muito maior, vários são os fatores
que favorecem o crescimento da estamparia digital. É um processo que
oferece maior poder de escolha ao consumidor e as oportunidades para
aplicar a tecnologia são cada vez maiores.95 O capítulo a seguir procura 95. NEVES, op. cit., P.13
mostrar, através de projetos já realizados, exemplos destas oportunida-
des e aplicações da estamparia digital no design de superfície.
34
3. ESTAMPARIA DIGITAL E APLICAÇÕES
Para compreender a realidade da estamparia digital e as possibilida-
des deste processo, duas gráficas de Santa Catarina foram escolhidas
para serem entrevistadas, através de sugestões de profissionais do de-
sign e moda, e pelo portfólio de projetos na área da estamparia digital.
A primeira entrevista foi realizada com Murilo Pereira Júnior da
empresa Ação Fixa Comunicação Visual, em Florianópolis (Apêndice
I). A empresa iniciou suas atividades com o direito de veiculação de
propagandas em ônibus, terceirizando a impressão. Com aumento da
demanda e surgimento de novos projetos, como banners e painéis
internos, a empresa decidiu comprar sua primeira impressora digital
a base d’água em 2002. Por ainda não aplicarem um tratamento UV,
os tecidos impressos eram destinados a ambientes internos por terem
pouca durabilidade.
Atualmente a empresa conta com três impressoras, capazes de che-
gar à resolução de 1440 dpi e largura máxima de 2,2m (figura 54). Duas
delas imprimindo com cartuchos de tinta; a outra necessita de repo-
sição de tinta. Todas trabalham com bobinas, o tecido é impresso e, à
medida em que os cabeçotes o percorrem, ele é enrolado - diferente
da impressão plana, onde o tecido fica esticado por uma grande área,
semelhante a uma mesa.
Figura 54:
Impressoras digitais
na Ação Fixa.
54
56 57
Fonte: http://www.flickr.com/photos/zambol/sets/72157625856728672/
36
Dessa forma, percebe-se que o processo digital foi fundamental para
o diferencial no processo criativo e no resultado final do projeto, per-
mitindo a criação de painéis únicos de grande formato, mantendo a
qualidade gráfica.
O segundo entrevistado foi João Marcos Dalla Rosa (Apêndice II). A
Real Estúdio, em Blumenau, começou trabalhando com bordados para
outras empresas, principalmente no segmento de vestuário. Quatro
anos atrás adquiriram uma impressora digital de grande formato, com a
intenção de diversificar as atividades - mas continuando em uma mes-
ma área de produção, visto que os clientes anteriores eram clientes em
potencial para a estamparia digital. Outro fator que os motivou a utilizar
a estamparia digital foi a possibilidade de desenvolver produtos próprios,
como jogos de roupa de cama (figura 58).
58
Fonte: http://www.posthaus.com.br/lojas/posthaus?acao=produtos&loja=39&anc=41&
marc=0&ao=0
37
cido em que não se conseguia estampar era a seda, onde a tinta sequer
penetrava, deixando os desenhos borrados. Este pré-tratamento contro-
la a absorção do pigmento no tecido, melhorando a qualidade da cor.
A impressora da Real Estúdio imprime as quatro cores básicas (ciano,
magenta, amarelo e preto) juntamente das cores ciano light, magenta
light, azul e laranja, para dar maior definição às nuances e gradientes
de cor. Além da qualidade, Dalla Rosa aponta outras vantagens, como a
impossibilidade de haver desencaixe, inexistência de matrizes e a rapi-
dez de impressão — fator que muitos clientes procuram principalmente,
no caso da empresa, para impressão de peças piloto de vestuário e de
desfiles de moda.
Tendo-se em conta o tempo médio de utilização da impressora, ob-
serva-se que cerca de 40% de seus seviços são voltados à produção de
amostras e à pilotagem97 para a moda, 30% voltados à decoração e os 97. Amostra de tecido
demais 30% voltados à estampagem de seus próprios produtos. Um des- para a confecção de
tes é um tecido adesivado para superfícies, destinado principalmente à peças piloto
decoração de paredes e móveis (figura 59). Este produto foi desenvol-
vido pela Real Estúdio com a intenção de ser mais fácil de aplicar que
papéis de parede, além de poder se renovar e ser personalizado.
59
60
Fonte: http://www.dudalinafeminina.com.br/
38
Dessa forma, variadas estampas exclusivas puderam ser impressas
— se fosse utilizada a tecnologia de cilindros, a metragem mínima seria
cerca de 300 metros para a mesma estampa.
Assim, a versatilidade da estamparia digital novamente se confirma,
substituindo demais processos de impressão que para alguns projetos
seriam inexecutáveis. Segundo Dalla Rosa, a estamparia digital poderá,
no futuro, dominar grande parte do mercado de outros processos de
estamparia. Há quatro anos, sua impressora era a terceira máquina da
DuPont no País - hoje, esse número chega a quarenta exemplares. Ele
aponta, também, a existência de impressoras capazes de produzir 300
metros por hora de tecido estampado e não descarta a possibilidade de,
em um futuro próximo, as pessoas entrarem em um scanner que tire
suas medidas e lhes imprima uma camisa totalmente personalizada.
A revolução da estamparia digital já tem suas manifestações, seja
no avanço tecnológico, como na proliferação de estúdios de estampa-
ria digital. Em São Paulo, a empresa Rvalentim desenvolve produtos e
presta serviços para decoração, moda e merchandising, valorizando o
conceito de exclusividade e do cliente criar sua própria estampa graças
às facilidades da estamparia digital (figura 61).98 98. http://www.
Semelhante à Real Estúdio, suas impressoras têm largura máxima de rvalentim.com/
1,8 metros, utilizam os pigmentos a base de água da DuPont e estampam
em tecidos a base de algodão, linho, viscose, juta e poliésters. O tecido
após receber a impressão, passa por uma calandra de alta temperatura,
onde é polimerizado e fica pronto para uso.
61
Fonte: http://www.rvalentim.com/
39
No campo de decoração, imprimem estampas tanto em tecidos a
base de algodão, linho, veludo, juta, acrílico, quanto em tecidos de gra-
maturas maiores, utilizados no revestimento de estofados, na confecção
de cortinas, toalhas de mesa, almofadas, entre outros. Também criam
seus próprios produtos para comercialização (figuras 65 e 66).
65 66
Fonte: http://www.rvalentim.com/shop/
40
Figura 69: Coleção
da estilista Renata
Gomes, estampada
em digital.
69 70
Fonte: http://www.panodigital.com.br
71 72
Fonte: http://www.panodigital.com.br/
41
Figura 73: Desfile de
Ronaldo Fraga com
peças estampadas
digitalmente.
73
Fonte: http://www.criata.com.br/
74
Fonte: http://www.flickr.com/photos/danielmoraes/
42
Figura 75: Estampa
da Estúdio Graphique
desenhada em
hidrocor e short
feito com o
tecido impresso
digitalmente, para a
marca Maria Elvira.
75
Figura 76: Estampa
em aquarela e
detalhe, para a marca
Dibikini. À direita,
o tecido impresso
digitalmente.
76
Fonte: http://www.flickr.com/photos/danielmoraes/
77
Fonte: http://www.paulsmith.co.uk/shop/paul-smith-womens-t-shirts-497/paul-smith-
top-kanga-wrap-print-t-shirt-pd1p-f735-p1603-01/product.html
43
Paul Smith é considerado o pioneiro do design de superfícies digi-
tal, empregando a estamparia a jato de tinta tanto em suas coleções
femininas como masculinas. A maioria de suas estampas são de estilo
fotográfico (figura 78).107 107. BOWLES; ISAAC,
2009, p.12
78
Fonte: http://www.paulsmith.co.uk/shop/paul-smith-skirts-398/paul-smith-skirt-mini-
on-location-langar-hall-print-mini-skirt-pd1p-e173-p1622-01/product.html
Outra empresa que merece destaque é a Basso & Brooke, cujos fun-
dadores são considerados, por Bowles e Isaac108, os embaixadores da 108. ibid., p.11-12
estamparia digital. Fazem uso do grande número de cores possibilitados
pela tecnologia de jato de tinta e por apresentam peças estampadas sob
medida, em que a estampa é desenvolvida conforme as curvas do corpo
e formas da roupa.
Criada pelo brasileiro Bruno Basso e o inglês Christopher Brooke, a
empresa teve seu primeiro desfile em 2005 no London Fashion Week.
Suas estampas são baseadas em fábulas, contos-de-fada e criaturas fan-
tásticas, que se expressam através de cores sensuais e traços curvilíneos.
A empresa define suas criações como a combinação da excentricidade
britânica aliada à sensibilidade às cores vibrantes da América do Sul e ao 109. FOGG, 2006, P.120-
espírito do carnaval (figuras 79 e 80).109 124
79
Fonte: http://www.bassoandbrooke.com/
44
Figura 80: Estampa
“Wall #4”, com base
em fotografia, foi
impressa digitalmente
para a coleção
Outono - Inverno
2011.
80
Fonte: http://www.bassoandbrooke.com/
81
Fonte: http://www.woodlondon.co.uk/
45
Figura 82: Manequins
com os lenços de
Bethan Laura Wood
e seus respectivos
formatos abaixo.
82
Fonte: http://www.woodlondon.co.uk/
84
85
Fonte: http://www.sigridcalon.nl/
86
Fonte: http://www.barnbrook.net/archive/
87
Fonte: http://www.barnbrook.net/roppongihills.html
48
Figura 88: A
Barnbrook mantém a
identidade em peças
gráficas ao longo dos
anos, tais como os
banners de eventos
no local.
88
Fonte: http://www.barnbrook.net/roppongihills.html
89
Fonte: http://www.ricolins.com/exposicao-itinerante-rico-lins-um-grafica-de-
fronteira
Segundo Grunow117, o banner, através da distribuição das imagens 117. Grunow, 2009
dos projetos sobre o tecido, “discorre sobre a versatilidade intrínseca da
peça gráfica que, tratada como objeto, permite a mudança de escala, de
contextos e de vias de significação.”
49
Figura 90: Mesmo
banner na exposição
em Fortaleza.
90
Fonte: http://www.ricolins.com/exposicao-itinerante-rico-lins-um-grafica-de-
fronteira
91
Fonte: http://www.ricolins.com/exposicao-itinerante-rico-lins-um-grafica-de-
fronteira
50
A exposição reúne trabalhos da área editorial, cartazes e ilustrações
criados por Rico Lins ao longo de mais de 30 anos de carreira. O nome
“Gráfica de Fronteira” representa a situação fronteiriça em que o design
gráfico do autor se encontra em relação a outros campos visuais, como
o das artes plásticas, um dos mais importantes em seu espectro de in-
fluências e inspirações. A mostra também apresenta aplicações reais dos
trabalhos desenvolvidos por Rico Lins e vídeos que documentam seu
processo criativo.
Ainda no campo de projetos de ambientação, um destaque é o “Es-
paço Jequitinhonha”, uma sequência de painéis que ilustram as verten-
tes da arte do Vale do Jequitinhonha, como forma de promover o musi- 118. http://www.
cal “Um Lugar Chamado Recanto”. A história se passa no sertão mineiro agenciaminas.
e o vilarejo é o cenário folclórico da peça. Impresso no processo digital mg.gov.br/noticias/
sobre tecido, este espaço pôde percorrer diversas cidades, divulgando o social/28458-peca-
artesanato da região com exposição e venda de artefatos (figura 92).118 no-rio-apresenta-
artesanato-do-vale-
do-jequitinhonha
Figura 92: Painéis
em tecido
simulando casas
representando o Vale
do Jequitinhonha
e como forma de
promoção do musical
“Um Lugar Chamado
Recanto”.
92
Fonte: http://www.criata.com.br/
51
Figura 93: Capas do
livro “À Mesa com
Burle Marx”.
93
Fonte: http://www.contracapa.com.br/images/9788577400638ALL.jpg
94
Fonte: http://www.brunklaus.nl/
52
Figura 95: Demais
produtos como
pufes, almofadas
e lustres, criados
através da estamparia
digital pela designer
Nicolette Brunklaus.
95
Fonte: http://www.brunklaus.nl/
96
Fonte: http://www.dorteagergaard.dk/
97
Fonte: http://www.helenamymurray.com/
54
Alguns de seus produtos utilizam sedas impressas digitalmente,
como a cadeira “Two-headed bird” (figura 97) e o quadro “Birds and flo-
res” (figura 98). Sua combinação da impressão digital com a técnica de
gravação lhe permitiu criar uma obra autêntica e digitalmente artesanal.
Digitalizou-se um desenho feito a mão que, através de softwares
de edição de imagens, foi impresso digitalmente sobre seda e aplicado
sobre o couro, que é esculpido à mão com o auxílio de um cinzel, ga-
nhando um efeito tridimensional com detalhes, sombras, sensação de
movimento e profundidade. A impressão sobre a seda lhe permitiu uma
boa graduação da cor, dando profundidade e movimento ao desenho.124 124. BOWLES; ISAAC,
2009, P.156-157
98
Fonte: http://www.helenamymurray.com/
55
Figura 99: Instalação
“Cry Wolf”, impressa
digitalmente sobre
tecido de algodão,
12m de base por 3,5m
e detalhe ao lado.
102
Fonte: http://www.heatherujiie.com/
Ujiie diz que procura, em suas instalações feitas em tecido, criar nar-
rativas alegóricas em grande escala (figuras 99 a 102). Ela comenta que
seu processo de trabalho é uma fusão de vários métodos incluindo pin-
tura, impressão e softwares digitais, e que a impressão digital tem lhe
permitido transformar escala, cor e superfície para retratar detalhes me-
ticulosos do trabalho e das texturas.
56
Seu esposo, Hitoshio Ujiie também é designer têxtil: não somente
desenvolve padronagens com base na natureza e em desenhos requin-
tados, como também trabalha no desenvolvimento de novas tecnolo-
gias de impressão digital por jato de tinta para utilização na indústria 126. Lotozo, 2006,
têxtil.126 tradução nossa
Depois de lecionar no Parsons School of Design in New York, Ujiie
se transferiu para a Universidade da Filadélfia, onde teve a oportunidade
de descobrir o Center for Excellence of Digital Inkjet Printing of Textiles.
Apoiado por assinaturas, empréstimos e doações por parte dos fabri-
cantes, o centro realiza testes de máquinas, softwares e tintas, além de
oferecer serviços de impressão e seminários.
Ele encontra na impressão a jato de tinta uma oportunidade de de-
senvolver um novo nicho de mercado e competir no âmbito de pro-
jeto, e vê nos novos designers o início do uso das impressões únicas,
aplicadas a bolsas, roupas, móveis - o que quer que lhes inspire. “Com
a estamparia digital, qualquer coisa é possível. Não precisamos mais du-
plicar o que já foi feito. Nós devemos utilizar essa tecnologia para criar
algo novo”.
Figura 103: À
esquerda, painel
“Tulip” e, à direita,
este painel e demais
que formam a
instalação “Plants
Series”, todos feitos
de seda estampada
digitalmente.
103
Fonte: http://www.hitoshiujiie.com/
57
Figura 104: Painel
“Brunch” e detalhe,
impresso com jato de
tinta sobre seda, com
3,5 metros de altura.
104
105
Fonte: http://www.hitoshiujiie.com/
58
A flagship da Prada, em Nova Iorque, teve seu projeto de ambien-
tação desenvolvido pelos estúdios 2x4 — também de Nova Iorque — e
OMA-AMO, da Holanda. A loja possui as paredes forradas com um papel
de parede que a revista Tank aponta como um “exercício de referência
em termos de complexidade de comunicação”.128 128. http://www.2x4.
O projeto se iniciou com a criação de um site conceito pela 2x4 e org/
cresceu a ponto de a agência desenvolver os papéis de parede, vídeos,
ambientações de desfiles e diversos materiais impressos para a marca,
como convites, look books e catálogos.
A butique, aponta o estúdio OMA-AMO, é uma galeria, um espaço
de performance, um laboratório: é o resultado de uma pesquisa sobre
o consumo como a última manifestação de atividade das pessoas, e de
uma estratégia de desestabilizar qualquer noção do conceito da Prada
(figuras 106 a 108).
Museus, bibliotecas, aeroportos, hospitais e escolas cada vez mais se
parecem com shopping centers, deixando de atrair entusiastas da arte,
pesquisadores, turistas, pacientes e alunos e passando a atrair clientes.
Isto resulta numa homogeneização: o que antes eram atividades distin-
tas agora se fundem. Estes estabelecimentos abandonam a exclusivida-
de e conquistam retorno financeiro.
Figura 107: À
esquerda, papel
de parede “Parallel
106 Universe” e à direita,
papel “Cancellation”,
aplicados na mesma
parede em temas
diferentes.
107
108
Fonte: http://www.2x4.org/
59
A proposta da flagship é inverter este conceito, de modo que os
clientes não fossem identificados como consumidores, mas reconhe-
cidos como entusiastas da arte, pesquisadores, turistas, pacientes e alu-
nos. A idéia é enriquecer a experiência comercial. A loja se tornou um
espaço de exibição de filmes, performances e palestras (figura 109).129 129. http://www.oma.
eu/
Figura 109: Flagship
da Prada em Nova
Iorque, cujo espaço
também é destinado
a performances,
possuindo um palco
e escadas que atuam
como arquibancada.
109
Fonte: http://www.oma.eu/
110 111
Fonte: http://www.crinson.com/
60
Figura 112: Azulejo
“Woodit” da coleção
“Extreme”, com
detalhe ao lado.
112
113
Fonte: http://www.crinson.com/
61
Figura 114: A arquiteta
Regina Adorno diz
recorrer de um
elemento falso para
tornar o local mais
seguro, evitando
que crianças se
aproximem demais da
chama. (GUROVITZ,
2011)
114
Fonte: GUROVITZ, 2011
115
Fonte: http://www.katrin-olina.com/
62
A impressão de revestimentos de parede tem, na tecnologia digital,
a oportunidade de produção devido à impressão em grandes formatos.
Outro benefício é a possibilidade de customização, como observado no
projeto da arquiteta Renata Adorno. É um nicho de mercado e empresas
têm se especializado na produção de murais e papéis de parede para
projetos pessoais ou pequenas quantidades.
A empresa Mr Perswall, da Suécia, atua neste segmento produzindo
murais impressos digitalmente sobre um tecido-não-tecido. O cliente
pode imprimir projetos pessoais ou escolher imagens disponibilizadas
pela empresa (figura 116).134 134. http://www.
mrperswall.com/
Figura 116:
Exemplos de murais
desenvolvidos pela
empresa Mr Perswall.
116
Fonte: http://www.mrperswall.com/
63
Por fim, uma aplicação inusitada da impressão digital foi utilizada
pela agência Giovanni+Draftfcb para divulgar a Gráfica Art Center: a
impressão sobre massa de pizza (figura 117). Para propagandear a tec-
nologia avançada de imprimir sobre qualquer superfície que a gráfica
disponibiliza, mais de 400 massas de pizza foram impressas com uma
fotografia da mesma. Com o mote “Também imprimimos em papel” im-
presso na caixa, elas foram entregues nas principais agências de propa-
ganda de São Paulo.135 135. http://
comunicadores.
info/2011/05/18/
grafica-art-center-
pizza-impressa/
117
Fonte: http://comunicadores.info/2011/05/18/grafica-art-center-pizza-impressa/
64
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo inicial pesquisar novas possibilida-
des ao utilizar a estamparia digital no design de superfície, com o foco
principal sobre tecidos.
O design de superfície é um termo ainda jovem, homologado no
País em 1991, e compreende inúmeras áreas de aplicação, determinadas
a partir do material suporte trabalhado, como papelaria, cerâmica ou
têxtil. Este último é o campo com maior número de possibilidades de
criação e métodos de impressão.
Como fator limitador desta pesquisa, optou-se por trabalhar somen-
te com os tecidos e suas tecnologias de impressão, destacando-se a
estamparia digital pelo seu apelo inovador. Procurou-se identificar pro-
jetos que ilustrassem a utilização de tecidos impressos digitalmente no
design de superfície.
Inicialmente, uma dificuldade encontrada foi a escassez de bibliogra-
fia, pois tanto o design de superfície como a estamparia digital são ma-
nifestações recentes, que se encontram em pleno desenvolvimento. A
solução se apresentou em publicações acadêmicas, para retratar o atual
momento do design de superfície, e em publicações estrangeiras e en-
trevistas com empresas locais, para contextualizar a estamparia digital.
Percebeu-se que, ainda carecendo de materiais, o design de superfí-
cie está se consolidando no Brasil, e o profissional da área, ao conceituar
seu projeto, deverá sempre buscar referências, ampliar seu repertório
e pesquisar sobre os diferentes materiais e métodos. Aqui se apresen-
tam pesquisas referentes à construção da padronagem e ao estudo do
módulo e do encaixe, conhecimentos obrigatórios para o profissional
que trabalha com a estamparia contínua. Com a pesquisa de projetos
realizados com a estamparia digital, confirmou-se a perda da necessi-
dade de repetir um padrão, pois a impressão permite reproduzir grandes
formatos sem uma produção mínima, ao contrário, por exemplo, da es-
tampa por cilindros, em que, para compensar a gravação das matrizes, é
necessário imprimir uma grande quantidade de tecido.
Através da pesquisa, verificou-se que, em comparação com os de-
mais métodos tradicionais, a estamparia digital possui diversas vanta-
gens, como a redução do custo para pequenas tiragens, assim como
o tempo ganho por não ser mais necessário preparar a matriz, separar
cores e gerar uma padronagem. Outros avanços visíveis são a qualidade
fotográfica de impressão, as variações de cores e gradientes, a possibili-
dade de estampar uma peça sob medida evitando desperdício de tecido
estampado, a impressão de grandes formatos e os benefícios ambien-
tais, graças à ausência de matrizes e à existência de tratamentos pré-
vios e posteriores mais amigáveis. As desvantagens consistem do alto
custo de grandes tiragens, restringindo a produção com fins comerciais
às empresas de luxo, dos poucos materiais que permitem a fixação dos
pigmentos e da impossibilidade de estampar com tinta clara sobre fun-
do escuro ou aplicar técnicas como devoré e tintas metalizadas, sem
que se recorra à serigrafia. E é através desta análise de pontos positivos
e negativos da estamparia digital que o profissional poderá decidir pelo
processo mais adequado para o seu projeto.
65
A pesquisa procurou analisar e propor áreas de atuação do design de
superficie que obtém, no processo da estamparia digital, resultados po-
sitivos e eficientes. O desenvolvimento dessa tarefa pôde ser observado
na exemplificação dos seguintes casos de sucesso:
— Produção de acessórios: ilustrada pelas bolsas da Pano Digital,
confeccionadas à partir de banners e pelos lenços com formatos
e texturas de rochas da WOOD London;
— Elaboração de sistemas de identidade visual: como nos cases
da academia Fernando Scherer, da padaria Bakkeri van Heeswijk e
do complexo de Roppongi Hills;
— Ambientação de exposições: “Uma Gráfica de Fronteira e Espa-
ço Jequitinhonha;
— Editorial: representado pelas capas do livro “À Mesa com Burle
Marx”;
— Produtos de decoração: exemplificados pela Brunklaus, por
Dorte Agergaard, por Helen Amy Murray e pelos tecidos adesiva-
dos da Real Bordados;
— Painés em grandes formatos para exploração artística e criativa:
tendo em Heather e Hitoshi Ujiie seus maiores representantes.
66
REFERÊNCIAS
2x4, Inc. Disponível em: <http://www.2x4.org/> Acesso em junho de
2011.
67
DISEÑO de estampados: de la idea al print final. Barcelona: Parramón
Ediciones, 2009.
68
JULIANO, Luciane Nóbrega; PACHECO, Sabrina Moro Villela. Apostila
de Estamparia e Beneficiamento Têxtil: Unidade Araranguá – CEFET
SC. Disponível em: <http://wiki.ifsc.edu.br/mediawiki/images/3/30/
Apostila_Estamparia_edicao_1_revisada.pdf> Acesso em maio de 2011.
69
PEREIRA, Fernanda Camargo Guimarães. Superfícies: novas fronteiras
para o design. In: MACIEIRA, Cássia; RIBEIRO, Juliana Pontes. (org.). Na
rua: pós-grafite, moda e vestígios. Belo Horizonte: ed. Universidade
FUMEC, 2007.
70
SURFACE DESIGN ASSOCIATION. Creative Exploration of Fiber &
Fabric. Disponível em: <http://www.surfacedesign.org/>. Acesso em
março de 2011.
71
APÊNDICE I
72
— Vocês já tentaram imprimir sobre couro ou algum outro material
diferente?
Já imprimimos sobre courino, mas ele tem uma base de PVC: tudo
que tem PVC é interessante para impressão digital. Mas como não era
um produto específico para impressão, ele não tinha uma durabilida-
de muito boa, para isso tivemos que aplicar um verniz aerossol spray.
Esse courino ficava com uma impressão muito boa, mas era de caráter
promocional, não era para uma impressão permanete. Não poderia ter
muito atrito, ele estragava com facilidade. O resultado ficou bem in-
teressante. Mas por ser uma peça muito grossa, é muito provável que
ela ocasione danos às cabeças de impressão porque elas passam muito
rente ao material. Elas tem uma altura variável mas mesmo assim é mui-
to arriscado. No caso, a impressão que trabalhamos aqui, é com bobinas
e não com impressão plana, então na primeira a variação da altura é
muito pequena e acaba danificando as cabeças de impressão. Portanto,
estamos imprimindo somente sobre tecidos desenvolvidos especifica-
mente para impressão digital. Outros tipos de tecidos — no caso um
Panamá ou um outro tecido mais rústico — não imprimimos mais em
função do problema de ocasionar dano às máquinas devido também
à eletricidade estática, que faz com que soltem muitos resíduos e eles
grudem todos na cabeça de impressão, entupindo-os e, conseqüente-
mente, estragando-os. O apropriado para estes tecidos é a impressão
plana — não necessariamente sublimação — mas uma impressão UV em
que se pode regular a altura das cabeças de impressão. Na estamparia
plana a variação pode ser de até 5cm, permitindo que se imprima em
um tecido diferente, até em materiais como vidro, espelhos, madeiras,
etc., praticamente em qualquer material.
Sim, no caso jato de tinta com UV, e na impressão plana, sem bobinas
de tecidos . O impresso fica parado e a máquina quem corre por cima
imprimindo sobre uma mesa.
Foi uma necessidade que surgiu, uma evolução que ocorreu aqui
na empresa porque a Ação Fixa iniciou com propaganda em ônibus —
somos as pioneiras da Grande Florianópolis — e num dado momento
surgiu a necessidade de viabilizar a produção própria, porque só deti-
nhamos o direito de veiculação, não tínhamos o equipamento para pro-
dução da propaganda em ônibus, então percebeu-se que era necessário
ter a produção própria para ter mais controle, uma vez que a demanda
estava aumentando. Trabalhávamos com diversos fornecedores e era
difícil gerir nossa produção sendo que cada um tinha uma máquina e
determinadas especificações: era complicado ter esse controle. E a es-
tamparia digital se mostrou um nicho bastante promissor, encontrava-
-se em crescimento. Assim, adquirimos um primeiro equipamento para
fazer essa produção e naturalmente foi evoluindo. Vai se adquirindo ex-
periência e do adesivo do bussdoor, que era a único que produzíamos,
de repente surgiram banners, painéis internos, sinalzações, enfim. Tudo
isso se vai incorporando ao seu mix de produtos e acaba-se abrindo
um leque de possibilidades. O segmento de comunicação visual foi se
fixando e vários elementos foram incorporados aos produtos que a em-
presa faz. É um caminho que naturalmente foi seguido: vai se adquirin-
do experiência e trabalhando com os materiais que são solicitados. Só o
bussdoor não tinha giro suficiente para manter a parte de impressão e
a coisa ficou tão grande que fomos imprimindo sobre outros materiais.
— O que você acha que vai ser da impressão digital sobre tecido no
futuro?
74
— E ecologicamente, o que tu acha?
76
APÊNDICE II
4 anos.
Essa máquina faz, numa produção normal, entre 20-25m² por hora.
— E a largura máxima?
Até 1,8m. Justamente pela largura que se está imprimindo, que se vai
determinar a produção: quanto mais largo, mais demorado.
77
tamparia digital. Então acho que a digital tem um nicho de atuação em
que ela é imbatível e a estamparia convencional ainda vai ter o nicho
de aplicação dela, embora creio que ela vai perder uma grande parte
para a estamparia digital. Porque hoje a estamparia digital está crescen-
do, já é uma realidade tanto no Brasil e muito mais fora. Hoje, no País,
existem 40 máquinas iguais a nossa. Quatro anos atrás, a nossa era a
terceira máquina do Brasil. Então isso cresceu bastante, os profissionais
estão começando a sentir a vantagem, não só em produção mas prin-
cipalmente na velocidade: não precisa gravar cilindro, não precisa gra-
var quadro. Ganha-se muito na velocidadepara imprimir uma amostra,
ou uma pilotagem para desfile… Nesse caso os clientes deixam o rolo
de malha aqui, só mandam o arquivo e pedem “quero dois, três metros
estampados…” para os pilotos que eles fazem e vendem depois para as
grandes redes de lojas, que na produção deles não comportaria uma
grande produção em digital, mas nesse processo inicial de seleção de
produtos, a estamparia digital fica muito mais econômica. Não vai preci-
sar esperar, principalmente, gravar um quadro (ou qualquer matriz) para
fazer uma peça piloto. E além do próprio custo, do material em si e do
tempo gasto. O fato de ter uma amostra em um dia ou dez dias, pode
ser a diferença entre vender e não vender. E essa velocidade é um dos
pontos fortes da estamparia digital.
Nossa máquina trabalha com oito cores: cyan, magenta, yellow, bla-
ck, light cyan, light magenta, blue e orange. Essas cores misturadas dão
os milhões de cores - é diferente por exemplo de uma máquina CMYK
normal, que se usa normalmente em plotter e impressoras. Essas quatro
cores a mais que darão todos os tons intermediários para que você te-
nha os gradientes de cor perfeitos. A própria impressora lê, interpreta a
cor, no caso de uma fotografia por exemplo, ela mesmo que vai gerar a
mistura das 8 cores para chegar àquelas cores.
No couro imprime-se muito bem. Ele fixa a tinta de uma maneira tal
que nem é necessário polimerizar, é impressionante. E estamos traba-
lhando agora com um pré-tratamento para pigmentos que foi desen-
volvido no Japão, que permite uma qualidade de cor muito superior
do que o normal e consegue estampar sobre certas composições que
antes não tinham uma solidez muito boa — como por exemplo, tecidos
com menos de 60% de algodão na composição: a impressão fica muito
boa, mas não fixa. Como tem muito cliente que usa a estamparia digital
78
somente para amostra, a peça não vai ser lavada, como em viscose, vis-
colycra, elastano. Imprimimos as amostras — e fica lindo — mas não tem
solidez. Alguns determinados materiais que antes não dava pra impri-
mir, como — por exemplo a seda, que ficava tudo borrado — com esse
pré-tratamento dá para estampar. Alguns materiais melhoram suas no-
tas de solidez. Esse pré-tratamento é no tecido que, normalmente, para
pigmento não é necessário, mas que pode perder muito na qualidade
de brilho da cor, como num tecido base de algodão cru: ele vai chupar
muita tinta, ela vai penetrando no tecido e não vai ficar na superfície.
Então o que você vê é uma impressão fosca. O pré-tratamento inibe
essa capacidade absorção, ele deixa penetrar a tinta um pouco na fibra
e a cor permanece em cima, ou seja a qualidade da cor fica comparável
a do próprio ácido reativo. E vimos que esse pré-tratamento serve para
outros tecidos, como na seda.
— E ecologicamente?
— E a polimerização?
80
— Fale-me sobre alguns projetos.
81