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Elogios para CosMos

Entre num Cosmos onde você desempenha efetivamente um papel no


grande esquema das coisas! Este livro não é ficção científica; é ciência
brilhante que chama a sua atenção para o lugar criativo que você ocupa na
matriz onde toda a vida se entrelaça. Como acontece com toda grande ciência,
ela o liberta da prisão das crenças obsoletas, que servem apenas para confinar
o seu espírito criativo em mundos que estão morrendo e em becos sem saída
evolutivos.’’
— James O’Dea, presidente do Institute of Noetic Sciences

“Este livro extraordinário é um produto de profunda análise científica


que transcende o tempo e o espaço infinitos e é infundido com inspiração divina.
É uma Bíblia Cósmica para toda a humanidade. Nesta era de incerteza, este
livro é leitura essencial para os líderes mundiais e uma chave para a evolução
da consciência das pessoas. ”
— Masami Saionji, membro da Goi Peace Foundation
e da World Peace Prayer Society

“Laszlo, um dos pensadores mais notáveis do nosso tempo, e a coautora


Currivan, cosmóloga e agente de cura, descrevem o propósito mais profundo da
humanidade: ser cocriadora do futuro. Eles explicam como esse poderoso papel
humano na evolução está agora firmemente embasado nas mais recentes
pesquisas científicas nos campos da física e da cosmologia. A família humana,
que conta hoje com uma força de 6,7 bilhões de indivíduos, está literalmente
mudando a própria Terra, e a consciência humana está se expandindo à medida
que paradigmas obsoletos e míopes dão lugar a novas e mais amplas
percepções. Todas as ‘crises’ dos dias de hoje são crises resultantes da
percepção humana limitada. Este livro nos mostra novos caminhos que se abrem
à nossa frente e as rotas viáveis para uma nova civilização em harmonia com a
Terra e com o Cosmos.”
— Hazel Henderson, autora de Além da Globalização,

Construindo um Mundo Onde Todos Ganhem, Mercado Ético e


Transcendendo a Economia, publicados pela Editora Cultrix “A convergência de
ciência e espiritualidade está entre as características mais fascinantes e
esperançosas num mundo ainda despedaçado pela luta entre religiões e
ideologias. Em CosMos, Lászlo e Currivan apresentam uma visão holística das
possibilidades efetivamente revolucionárias que estão se abrindo para a
humanidade no presente milênio. Este é um livro que fascinará, encantará e,
com esperança, inspirará pensadores ao redor do mundo.”
— Karan Singh, líder interconfessional, membro do Parlamento indiano

“Quando se trata de buscar uma percepção expandida que diga respeito


ao nosso misterioso universo, nenhum pensador ou escritor internacional está
mais qualificado para apresentar essas questões e sugerir suas respostas do que
Ervin Laszlo, que neste livro escreve juntamente com a cosmóloga e agente de
cura Jude Currivan.”
— Lady Montagu de Beaulieu, embaixadora global, Clube de Budapeste

“CosMos é um dos livros mais extraordinários, fascinantes e importantes


do nosso tempo. A visão dos seus autores, segundo a qual o Cosmos é uma rede
interconectada holograficamente e ligada, para além do domínio da matéria, do
espaço e do tempo, por um campo primordial de informação — o Campo
Akáshico —, nos traz uma solução elegante para os paradoxos que atormentam
atualmente muitas disciplinas científicas. Ela também descarta o sentido de falta
de propósito e de alienação imposto sobre a humanidade pela ciência
materialista, e nos convida a ser cocriadores do universo e a dar nossa própria
contribuição individual para o significado da existência.”
— Stanislav Grof, psicólogo transpessoal
e pioneiro das pesquisas sobre a consciência

“Numa época em que nosso mundo está cada vez mais fragmentado, esse
chamado pela totalidade é um bálsamo necessário para as nossas feridas
coletivas. Na medida em que procuramos responder a esse chamado, CosMos
nos oferece, como diz o nome, um guia claro, responsável e instigante para
ajudar a curar a nós mesmos e nosso planeta. Recomendo insistentemente este
livro. ”
— Dra. Marilyn Mandala Schlitz, vice-presidente de Research and
Education,
Institute of Noetic Sciences; coautora de Living Deeply:The Art
and Science of Transformation in Everyday Life
“O Cosmos, o mundo-totalidade, infinito na abordagem extremamente
imaginativa de Ervin Laszlo e Jude Currivan, mostra que a capacidade criativa
dos seres humanos é igualmente infinita. A faculdade distintiva é a nossa
esperança, a resposta para a consciência, a visão interior da inevitável
realidade do ser, da vida humana, que por meio do espírito é capaz de pensar
sem limites no espaço. Mundo/palavra! [world/word] Obrigado, Ervin e Jude,
por abrir nossa mente para perspectivas tão importantes e originais.”
— Federico Mayor, presidente da Foundation for a Culture of Peace;
ex-diretor-geral da UNESCO

“Abrangendo, de baixo para cima, desde a estrutura última do Universo


até a consciência humana, e para a frente, até o lugar que ocupamos no
Cosmos, este livro integra esses domínios aparentemente díspares numa
totalidade una. Com isso, fica fácil ver por que nosso mundo se encontra no
lastimável estado em que está quando vemos os princípios que operam
atualmente no mundo se colocarem contra o papel dos seres humanos no
Cosmos, o que este livro revela maravilhosamente. ”
— Will Arntz, produtor/diretor de What the Bleep Do We Know ?

“Os autores do livro, num lance de genialidade, reconciliam as


complexas maneiras de entender os dois mundos da ciência e da espiritualidade.
Para aqueles que estão divididos entre o misticismo da espiritualidade e a
racionalidade da ciência, e que procuram por um propósito na vida, este livro
introduz o montra da Nova Era: ‘nós somos cocriadores deste universo’,
fornecendo ideias brilhantes e significativas para questões fundamentais da
existência. Simples e lúcido em seu estilo, este é um livro de leitura
indispensável e que todos, obrigatoriamente, precisam ter.”
— Krishna Gopala, chefe do Cafédirect PLC

“Uma extraordinária síntese de pensamento profundo sobre a natureza


do Cosmos e o papel dos seres humanos em sua coevolução com o universo. ”
— Aflan Combs, autor de The Radiance of Being
CosMos
Ervin Laszlo Jude Currivan

CosMos
Unindo ciência e espiritualidade para um novo entendimento do universo e de
nós mesmos

Tradução
ALEPH TERUYA EICHEMBERG
NEWTON ROBERVAL EICHEMBERG
Editora
Cultrix
SÃO PAULO
Título original: Cosmos-A Co-creator's Guide to the Whole-World.
Copyright © 2008 Ervin Laszlo e Jude Currivan.
Publicado originalmente por Hay House Inc, USA.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser


reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou
mecânico, inclusive fotocópias, gravações ou sistema de armazenamento em
banco de dados, sem permissão por escrito, exceto nos casos de trechos curtos
citados em resenhas críticas ou artigos de revistas.
A Editora Pensamento-Cultrix Ltda. não se responsabiliza por eventuais
mudanças ocorridas nos endereços convencionais ou eletrônicos citados neste
livro.
Esta é uma obra de consulta e informação. As informações aqui contidas
não devem ser usadas sem uma prévia consulta a um profissional de saúde
qualificado.

Coordenação editorial: Denise de C. Rocha Delela e Roseli de S. Ferraz


Preparação de originais: Lucimara Leal da Silva.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Laszlo, Ervin
Cosmos : unindo ciência e espiritualidade para um novo entendimento do
universo e de nós mesmos / Ervin Laszlo, Jude Currivan ; tradução Aleph Teruya
Eichemberg, Newton Roberval Eichemberg. — São Paulo : Cultrix, 2010.
Título original: Cosmos.
Bibliografia.
ISBN 978-85-316-1106-3
1. Consciência 2. Cosmologia I. Currivan, Jude. II. Título.
10-14044 CDD-113

Índices para catálogo sistemático:


1. Cosmologia: Filosofia 113

Ano: 2011
Edição: 1ª
Direitos de tradução para o Brasil adquiridos com exclusividade pela EDITORA
PENSAMENTO-CULTRIX LTDA.
Rua Dr. Mário Vicente, 368 — 04270-000 — São Paulo, SP
Fone: 2066-9000 — Fax: 2066-9008
E-mail: pensamento@cultrix.com.br
http://www.pensamento-cultrix.com.br
que se reserva a propriedade literária desta tradução.
Foi feito o depósito legal.
O Cosmos é tudo o que foi, é e será.

É o Uno dentro do qual é encenada a diversidade de toda a criação.

Neste livro, sugerimos um Modelo Abrangente do Cosmos, uma


compreensão que reconcilia ciência e a espiritualidade e nos oferece uma visão
revigorante que abrange todas as experiências a que chamamos realidade. Ela
nos convoca para nos relembrarmos de que somos, ao mesmo tempo, a criação
do Cosmos e seus cocriadorcs.

Nós o dedicamos a Carita e a Tony, e a todos os nossos cocriadores


desta geração e das gerações futuras.
Sumário

Introdução

PARTE I: O Mundo-Totalidade

Capítulo 1: O Que Sabemos?


Capítulo 2: Os Poderes Existentes
Capítulo 3: Relatividade
Capítulo 4: Akasha e o Mundo-Totalidade

PARTE II: A Palavra Totalidade

Capítulo 5: In-formação
Capítulo 6: Linguagem Cósmica
Capítulo 7: Coerência
Capítulo 8: Experiência
Capítulo 9: Além do Cérebro

PARTE III: O Mundo Real

Capítulo 10: Iniciando a Mudança


Capítulo 11: Realidade Integral
Capítulo 12: Colapso ou Avanço Revolucionário
Capítulo 13: Completando a Mudança
Capítulo 14: Nossa Missão Cósmica

Agradecimentos Leituras Sugeridas


Introdução

Nesta primeira década do terceiro milênio, estamos no limiar de uma


nova visão revolucionária da natureza da realidade.
Durante os três últimos séculos, a ciência moderna nos fez embarcar
numa jornada que nos levou a explorar mais profundamente e até distâncias mais
longínquas os mistérios do mundo físico. Mas o preço que pagamos pelo
aumento da clareza com que vemos o mundo exterior foi a cegueira progressiva
de nossa visão interior.
No entanto, desde a aurora do que significa ser humano, também fomos
capazes de compreender o Cosmos graças à jornada interior da experiência
sensível e à nossa percepção intuitiva profunda. Hoje, a ciência de ponta e a
sabedoria espiritual caminham juntas. Estamos obtendo uma percepção
abrangente e revigorante do Cosmos — uma percepção que respeita e reconhece
todas essas maneiras de conhecer.
Estamos começando a admitir que todo o universo é uma rede de energia
e de informação holograficamente interligada, organicamente completa e
autorreferencial em todas as escalas de sua existência. Nós, e tudo no universo,
estamos conectados não localmente uns com os outros e com todas as outras
coisas por vias que não estão obstruídas pelas limitações até agora conhecidas do
espaço e do tempo.
A percepção aguçada e profunda que está emergindo atualmente é a de
que o nosso mundo é um mundo-totalidade (whole-world) inclusivo e conectado,
para além do espaço e do tempo, da matéria e da energia, por um campo
primordial de informação: o campo A, assim batizado por causa do conceito
sânscrito de Akasha, que significa espaço que inclui tudo e que penetra tudo. O
campo A, ou campo akáshico, é o campo-de-informação holográfico, o campo
que in-forma o presente por meio do passado e abre caminho para o futuro. O
campo A é um elemento do plenum cósmico — anteriormente, e
equivocadamente, chamado de vácuo quântico — o útero do qual tudo emana,
no qual tudo se manifesta e para o qual tudo finalmente retorna. Dele surge tudo
o que é, foi e será.
Na nova visão da natureza da realidade integral, a existência humana não
é um subproduto acidental, nem o resultado do jogo cego da mutação genética e
da seleção natural, e ela também não é o mero resultado de estratégias de
autopreservação de genes egoístas. Nossa existência tem significado, e um
propósito humano, planetário e até mesmo cósmico. Somos os cocriadores do
mundo, e também a sua criação. Nossa missão humana consiste em facilitar e
potencializar a dinâmica jornada de exploração e evolução do universo: em
direção à coerência de cada um com todas as coisas, e de todas as coisas com
cada um.
Nossa consciência é a chave para a realização de nossa missão humana.
Nossa consciência é muito mais profunda e mais ampla do que a maioria de nós
pensava até agora. Até pouco tempo atrás, os cientistas geralmente consideravam
que nossa consciência estava confinada dentro de nosso corpo, e nosso sentido
do eu, dentro de nossa personalidade. Mas, se fosse assim, nosso cérebro coberto
pela pele e nossa consciência limitada pelo ego estabeleceriam o limite
definitivo da nossa percepção e da nossa capacidade para compreender o mundo.
Mas se a nossa percepção, como pesquisas científicas estão hoje nos
revelando, e como os místicos de todas as tradições discerniram, transcende a
nossa forma física e ultrapassa — em muito — nossa persona humana, então nós
temos a capacidade inata para imaginar, compreender e vivenciar o Cosmos em
níveis que vão muito além das limitações de nosso próprio ego.
Essa percepção expandida é, atualmente, mais importante do que jamais
o foi. Chegamos coletivamente à beira de um precipício de colapso global ou de
avanço revolucionário. Porém, graças à nossa nova visão da realidade, de nós
mesmos e de nossa consciência, neste ponto de mudança irreversível na história,
estamos começando a despertar, como se de um sono agitado.
Nossa percepção está se expandindo rapidamente para além das
limitações do passado. Nessa mudança de consciência em desdobramento —
uma mudança em nossa consciência individual, assim como na mente global de
nossas quase sete bilhões de consciências que agora a constituem — estamos
obtendo percepções mais profundas e aguçadas sobre a natureza e o propósito do
mundo-totalidade do que jamais havíamos obtido antes.
O modelo abrangente que compartilhamos com o leitor em CosMos é
uma visão que o capacita e, efetivamente, o convida a se tornar um cocriador
consciente e a dar sua contribuição única para o cumprimento da missão cósmica
da humanidade — a missão que dá significado e propósito à existência humana.
PARTE I

O Mundo-Totalidade

Nossos ancestrais e os povos primitivos que ainda caminham sobre a


Terra percebem o mundo como uma totalidade inter-relacionada. Todas as suas
experiências espirituais, mentais, emocionais e físicas e a sua compreensão do
que signibca ser humano estão estabelecidas no contexto de uma Cosmologia
que abrange tudo.
De fato, a palavra Cosmos vem da antiga palavra grega Kosrnos, que
significa “totalidade ordenada”.
No entanto, embora ainda possamos ver mais além e mergulhar mais
profundamente nos aspectos físicos do mundo, até um grau muito maior do que
o máximo alcançado antes, muitos de nós não têm nenhuma visão equivalente à
do mundo-totalidade do Cosmos e do significado e propósito que ele dá à nossa
vida.
Pois a visão de mundo científica que, progressivamente, dominou
durante os três últimos séculos tendia a ver o mundo como aleatório e destituído
de propósito, e ignorou ou denegriu outras maneiras de se conhecer e vivenciar
verdades.
Isso está na iminência de mudar.
Nos primeiros quatro capítulos de CosMos, introduziremos uma visão
integral que está emergindo na linha de frente da ciência, os estudos sobre a
fronteira da consciência, e a redescoberta da sabedoria antiga.
Começaremos compartilhando o exame de como a ciência convencional
é atualmente incapaz de explicar a natureza fundamental da realidade física e
como uma visão radical, nova e inclusiva do Cosmos é urgentemente necessária.
Veremos como tudo em nosso universo está relacionado de maneira inata
e como a informação está começando a ser reconhecida como mais fundamental
do que a matéria, a energia, o espaço e o tempo.
Descobriremos a compreensão, que está emergindo de todos os campos
do empreendimento científico, segundo a qual a informação que guia o universo
é holográfica — essa é uma chave para nossa percepção mais profunda de como
o mundo manifesto é cocriado.
E exploraremos o conceito de um campo akáshico de inteligência e de
memória cósmicas que forma a base, que permeia e que de fato dá origem não
apenas ao universo físico, mas a tudo o que chamamos de realidade — como o
elemento primordial de um mundo que é inerentemente consciente e
significativo.
E, ao fazermos isso, iremos sugerir uma visão abrangente da realidade
integral que transcende as barreiras até agora percebidas entre ciência e Espírito
num Cosmos unificado e significativo, onde nós somos ao mesmo tempo
criações e cocriadores.
CAPITULO 1 - O Que Sabemos?

“A ciência sem a religião é aleijada, e a religião sem a ciência é


cega.”
— ALBERT EINSTEIN

Quando éramos crianças, costumávamos nos deliciar com os suspenses


dos finais de seriados exibidos nos sábados de manhã nas salas de cinema locais.
No clímax de cada episódio, o herói parecia estar numa situação sem
nenhuma escapatória, rodeado por bandidos. Mas no início do episódio da
semana seguinte, o herói escapava milagrosamente. De alguma maneira (nós
nunca descobríamos como), “com um só pulo” ele se libertava e já estava pronto
para lutar por outro dia.
A ciência está hoje enredada num suspense de final de seriado — graças
a uma espantosa descoberta feita em 1998.
E uma vez que nós, coletivamente, confiamos na ciência para que ela
“explique” o mundo, nós também permanecemos na beira do abismo.

Noventa e Seis por Cento do Nosso Universo Está “Faltando”

Para entender quão surpreendente e problemática é essa revelação de


1998 sobre a natureza do universo, precisamos revisar rapidamente uma
descoberta anterior feita por Edwin Hubble, a quem o telescópio Hubble deve o
seu nome.
Embora devesse ser advogado — pelo menos era o que seu pai queria —
felizmente para a astronomia Hubble tinha outras ideias. No começo da década
de 1930, ele analisou a luz de 24 galáxias distantes. Duas décadas antes, em
1912, o astrônomo Vesto Slipher havia descoberto que as galáxias pareciam estar
se afastando da nossa a grandes velocidades. Durante essa pesquisa, Hubble
descobriu uma relação de importância- chave: quanto mais distante estava a
galáxia, mais rapidamente ela parecia se afastar de nós.
Percebendo que isso significava que o próprio universo estava se
expandindo, outros astrônomos foram levados à implicação lógica de que se
remontássemos no tempo, veríamos o universo se encolhendo até uma origem
primordial de temperatura e densidade enormes.
O nascimento do universo numa “grande explosão” foi então proposto e
essa acabou por se tornar a visão que atualmente é aceita pela maioria dos
astrônomos.
Há outra evidência que apoia o modelo do big bang. O campo de energia
que permeia o universo, cuja presença é constatada na faixa das micro-ondas, e
que é considerado como a assinatura de seu nascimento, é a energia residual da
explosão. E a teoria foi usada para modelar a maneira como as partículas
subatômicas que constituem o mundo material se originaram nos primeiros
minutos depois da explosão.
Mas o modelo também requer um período de inflação quase inimagi-
navelmente rápido momentos depois da “explosão”, a fim de explicar a
distribuição regular das galáxias observadas ao longo das vastas extensões do
universo. Sem tal inflação, o modelo não é capaz de mostrar como um contato
tão prolongado poderia ter ocorrido — inflação em que a causa, o mecanismo e a
razão pela qual cessou tão abruptamente quanto começara ainda permanecem
desconhecidos.
Embora rumores de inquietação começassem a questionar sua validade,
até 1998 a Teoria do big bang, modificada de modo a incluir a inflação, parecia
incontestável.
No entanto, uma premissa básica da teoria é o fato de ela supor que a
taxa de expansão do espaço irá finalmente desacelerar à medida que a força da
gravidade gradualmente superar a força da “explosão” inicial — premissa básica
que, em 1998, se descobriu estar errada. Nesse ano, duas equipes independentes
de astrônomos observaram que, na verdade, a expansão parece estar acelerando.
Não apenas isso, pois a natureza da energia associada com a aceleração é um
mistério, e atualmente não pode ser detectada diretamente. Mas ainda pior é o
fato de que essa energia, chamada energia escura, oculta no vácuo do espaço,
parece constituir cerca de três quartos de toda a matéria e energia do universo!
E se o modelo-padrão das partículas subatômicas é usado para se tentar
calcular essa energia escura, o valor teórico difere do valor medido por um
enorme fator de 10120, uma discrepância que está sendo chamada de o maior
embaraço com que a história da ciência já se defrontou.
Como se isso não fosse suficientemente desafiador, a teoria do big bang
não consegue explicar a presença e a estabilidade das galáxias sem recorrer a
uma forma de matéria ainda desconhecida e indetectável, chamada matéria
escura. E para responder pela matéria e pela densidade de energia totais do
universo, a quantidade de matéria escura precisa exceder a matéria detectável
por uma razão de cinco para um.
Portanto, a teoria atualmente aceita sobre a natureza e a história do
universo pode responder por cerca de 4% da matéria e da energia acessíveis à
observação — os outros 96% estão faltando!
Há duas outras anomalias que podem nos levar a repensar radicalmente a
história e a criação do universo. A primeira se refere aos limites que os nossos
atuais telescópios são capazes de sondar, os quais nos permitem remontar até
quando o universo era ostensivamente muito jovem. Porém, em vez de ver
estrelas e galáxias jovens, como prevê o big bang, nós inesperadamente vemos
estruturas mais velhas, semelhantes àquelas que se encontram muito mais
próximas de nós. A segunda anomalia se refere à radiação cósmica de fundo
(RCF), presente na faixa das micro-ondas e que permeia o espaço.
De acordo com a Teoria do big bang inflacionário, o padrão de energia
da RCF deveria ser uniforme e ter a mesma intensidade em todas as direções do
espaço. No entanto, seu recente mapeamento feito pelo satélite Wilkinson
Microwave Anisotropy Probe (WMAO) (Sonda Wilkinson de Anisotropia de
Micro-ondas) constatou a presença de um aparente alinhamento com nossa
galáxia Via Láctea, o qual, se for real, não pode ser previsto nem explicado pela
teoria. As análises também revelam um padrão subjacente da RCF que parece
mostrar estruturas espaciais estendidas ao longo das enormes vastidões do
espaço (em escalas da ordem de 200 milhões de anos-luz) — estruturas pelas
quais o modelo do big bang não consegue responder, mesmo com a inclusão de
um processo inflacionário que é, ele próprio, inexplicável.

Fornos Quentes e a Revolução Quântica

A ciência já esteve antes à beira de um precipício.


Há pouco mais de cem anos, pouco antes que o abismo se abrisse sob
seus pés, havia uma suposição amplamente consensual entre os cientistas.
Segundo ela, as questões fundamentais da Natureza haviam sido respondidas e
faltava apenas um trabalho de limpeza para ser feito a fim de que se pudesse
compreender totalmente suas leis.
Então, uma coisa aparentemente tão simples como entender de que
maneira os fornos quentes irradiam calor se tornou o catalisador para uma
revolução na maneira como compreendíamos o mundo físico. Pensava-se que o
calor fosse liberado como um espectro contínuo de energias. Mas quando essa
suposição deu origem à resposta absurda segundo a qual a quantidade de
radiação emitida seria infinita, os cientistas ficaram perplexos, para dizer o
mínimo.
Isso levou a genialidade do físico Max Planck a descobrir uma resposta.
Com aguçada e profunda percepção, Planck supôs que a energia, em vez de ser
contínua, é emitida em pacotes (quanta) que só podem ter valores específicos,
um entendimento que ele compartilhou com seus amigos cientistas na noite de
14 de dezembro de 1900. Havia nascido a teoria quântica.
O calor radiante compreende uma faixa de comprimentos de onda dentro
do espectro maior das radiações eletromagnéticas, que se estende desde os raios
gama e os raios x de comprimentos de onda curtos, passando pelas micro-ondas
e pela luz visível, até as ondas de rádio e além. A revolução quântica revelava
que a premissa segundo a qual essa radiação se comporta apenas como ondas
também estava incorreta. Isso porque, embora ela exiba um comportamento de
onda quando viaja desimpedida, descobriu- se que ao ser interceptada e
observada ela também exibe os atributos das partículas.
Ainda mais estranho, percebeu-se que nesses níveis diminutos, a
aparência da matéria sólida também se dissolve em campos energéticos que, em
última análise, só são capazes de ser descritos como ondas de probabilidades —
até que sejam observados.
Mas, como os físicos iriam descobrir, a quantização, a dualidade onda-
partícula e a íntima relação entre o observador e o que é observado são apenas a
ponta do estranho iceberg que é o mundo quântico. À medida que os cientistas
continuavam a sondar essa nova e revolucionária paisagem, outra revelação
virou de cabeça para baixo a certeza com que se percebia o mundo.
Isso porque, quando eles tentaram medir simultaneamente a posição e o
movimento de uma partícula quântica, descobriram que quanto maior era a
precisão com que conseguiam definir sua posição, menos informação
conseguiam obter sobre seu movimento — e vice-versa.
Isso não é um defeito do método científico utilizado ou de instrumentos
que poderiam ser melhorados. Em vez disso, é um atributo inerente à realidade
nesse nível. O que esse atributo, denominado princípio da incerteza, significa é
que há uma incerteza intrínseca no nível subatômico do universo, e que, nesse
nível, o que chamamos de realidade só pode ser considerado com referência a
probabilidades quânticas em vez de eventos deterministas absolutos.

Ação “Fantasmagórica” a Distância

A descoberta final do mundo quântico que iremos explorar aqui é um


fenômeno antecipado pelo grande pioneiro Albert Einstein, mas com o qual ele
nunca foi capaz de se reconciliar.
Einstein percebeu que uma consequência da teoria quântica era a de que
se um par de partículas gêmeas fosse criado e se em seguida as partículas fossem
separadas, independentemente do quanto elas se distanciassem uma da outra no
espaço e no tempo, elas continuariam a se comportar como uma entidade única.
E se os atributos de uma delas mudassem, sua partícula gémea espelharia
imediatamente essa mudança.
Até então os físicos acreditavam que o universo atua apenas localmente
— em outras palavras, que uma influência se espalha a partir de sua fonte e
diminui à medida que dela se afasta. Se essa influência viaja no espaço e no
tempo, isso limita o seu alcance, pois ela se reduzirá a níveis imensuráveis e
insignificantes antes de ir muito longe. E, de acordo com Einstein, não existe no
espaço e no tempo uma influência que possa ser transmitida mais depressa que a
velocidade da luz. Ele se referia a esse aparente paradoxo da não localidade
quântica como “ação fantasmagórica a distância”, e acreditava que ele era uma
prova de que a teoria quântica estava errada.
Durante muitos anos, a verdadeira resposta permaneceu além da
capacidade de experimentos que pudessem comprová-la ou refutá-la. No
entanto, na década de 1980, 30 anos depois da morte de Einstein, a realidade
experimental dessa não localidade foi categoricamente validada. Também
chamado de entrelaçamento ou “quantrelaçamento” (no original: quanglement,
neologismo para “entrelaçamento quântico”: QUANtum entanGLEMENT - N. T.), esse fenômeno é
hoje tão familiar aos cientistas que está sendo usado para desenvolver
computadores quânticos potencialmente capazes de armazenar e processar
imensas quantidades de informação, bilhões de vezes maiores e mais
rapidamente veiculadas do que nossa tecnologia atual seria capaz de conseguir.
Mas o que os experimentos revelaram é que ambos, a teoria quântica e
Einstein, estão corretos, e essa revelação nos fornece uma pista para nos levar à
natureza mais profunda da realidade, o que, temos certeza, ele teria apreciado.
Pois, embora as conexões quânticas não locais transcendam as limitações do
espaço — e também as do tempo — nenhuma informação é efetivamente
transmitida dentro do espaço-tempo a uma velocidade maior que a da luz. As
duas entidades, literalmente, se comportam como se fossem uma só.
Então, o princípio fundamental da causalidade dentro do espaço-tempo é
preservado dentro de um universo que, em última análise, só pode ser
considerado em sua totalidade.

Tudo é Relativo

Juntamente com tais descobertas sobre a natureza da matéria e da energia


em escalas subatômicas, nos primeiros anos do século XX, Einstein também
estava desvelando uma perspectiva igualmente surpreendente do espaço e do
tempo.
Até então se supunha que espaço e tempo eram panos de fundo
separados, absolutos e passivos para os eventos do mundo material. Porém,
Einstein mostrou não apenas que o espaço e o tempo são relativos e dinâmicos
com respeito à posição de um observador, mas também que eles estão
inerentemente entrelaçados pela velocidade da luz numa entidade quadri-
dimensional chamada espaço-tempo.
Sua teoria da relatividade especial, publicada em 1905, demonstrou que
no âmbito do espaço-tempo nenhum sinal podia viajar com uma velocidade
maior que a da luz. E tendo intuitivamente percebido sua natureza ao imaginar
que perseguia um feixe de luz, ele chegou à espantosa percepção de que sua
velocidade parecerá constante para quaisquer observadores, independentemente
de quão rápido eles estejam viajando e de estarem se aproximando ou se
afastando do feixe. Einstein percebeu que quanto mais depressa qualquer objeto
se movimentar — embora para um observador viajando com o objeto tudo
pareça normal — o próprio tempo desacelerara sua marcha e o espaço ocupado
pelo objeto encolherá ao longo da direção do movimento conforme é visto por
um segundo observador se movimentando relativamente ao primeiro.
Ao longo do caminho, ele descobriu a equivalência entre energia (E) e
matéria (m) unidas pela velocidade da luz (c). Essa equivalência se expressa na
equação mais famosa do mundo: E=mc2. Como se isso não bastasse, ele então
estendeu a teoria para mostrar que aceleração e gravidade são essencialmente o
mesmo fenômeno, e são expressões da geometria dinâmica do próprio espaço-
tempo.
Unificados pela luz, dentro de uma década Einstein harmonizou o espaço
e o tempo, a matéria e a energia, revolucionando nossa compreensão do mundo.
Uma revolução que, no entanto, ainda está inacabada.

Uma Revolução Inacabada

Mesmo que a teoria quântica descreva o diminuto mundo do


comportamento subatômico com incrível precisão, e que a teoria da relatividade
descreva o universo no nível macroscópico com precisão equivalente, esses dois
pilares da ciência do século XX são essencialmente incompatíveis.
A teoria quântica não responde pela maneira como o espaço e o tempo
surgem e existem — em vez disso, ela considera o ponto de vista pré- Einstein
segundo o qual o pano de fundo do espaço-tempo é passivo e absoluto.
E a teoria da relatividade supõe que o espaço-tempo é um meio contínuo
não quantizado.
A maioria dos físicos acredita que o mundo físico, em seu nível mais
fundamental, deveria ser capaz de ser compreendido no âmbito de uma teoria
que abrange tudo. E assim, durante os últimos oitenta anos, eles procuraram um
meio de unificar o universo em suas escalas menor e maior, numa procura por
uma teoria física de tudo, ou TdT.
Qualquer teoria que se proponha a fazer isso e pretenda ser uma
descrição abrangente da Natureza precisa pelo menos ser capaz de descrever
todos os campos e forças com base na teoria quântica e fazer previsões que
possam ser testadas por experimentos ou observações.
Eis o problema: ao longo de seus diferentes caminhos, tanto a teoria
quântica quanto a da relatividade estão infestadas por infinitudes.
Na escala diminuta das entidades quânticas, as infinitudes começam a
aparecer quando a mecânica do comportamento quântico é usada para descrever
campos de energia. E nas extremidades do espaço-tempo, como a que se
encontra, por exemplo, no interior de um buraco negro, o valor do campo
gravitacional aumenta teoricamente até o infinito na chamada singularidade,
presente em seu centro.
Quando uma teoria científica gera infinitudes, isso geralmente é um sinal
de que ela é incapaz de descrever a realidade nesse nível. Durante várias
gerações até agora, cientistas jovens e ansiosos esperaram que, ao se introduzir
atributos quânticos na gravidade — isto é, ao se criar uma teoria da gravidade
quântica — nossa compreensão do universo em suas escalas menor e maior seria
resolvida.
Mas apesar de enormes esforços, essa resolução ainda não aconteceu e a
gravidade permanece obstinadamente excluída de uma TdT física. Uma das
principais razões para isso está no fato de que, no ambiente benigno da Terra, e
dado o atual estado de nossa tecnologia, só fomos capazes de sondar os níveis de
energia e as escalas físicas que se encontram distanciados em muitas ordens de
grandeza daquelas em que os efeitos da gravidade quântica se manifestam. É nas
extremidades da Natureza, em meio aos ecos do nascimento do universo e nos
espasmos da morte das estrelas, que a gravidade quântica deve ser procurada.
A busca revelou uma escala de existência quase inimaginavelmente
diminuta, cujas unidades derivam naturalmente dos atributos físicos do espaço e
do tempo. Os cientistas acreditam que o chamado comprimento de Planck, IO'33
de metro — milhões de trilhões de vezes menor que os tamanhos das partículas
subatômicas — e o intervalo de tempo de Planck, IO'44 de segundo, são as
medidas do Aqui-e-Agora.
É no nível dessas escalas fundamentais que a realidade integral do
universo começa a se manifestar.
Teorias de Tudo — e de Nada?

Ao longo dos dois últimos séculos, até a atual geração de cientistas, as


teorias da física fundamental e sua validação experimental caminharam lado a
lado.
Em vez de se assemelhar à inter-relação que ocorre num bom casamento,
às vezes a teoria tomava a dianteira, para em seguida ser verificada pela
experiência. Outras vezes, os experimentos revelavam fenômenos que a teoria
conseguia explicar depois de alguns anos. Mas, durante os últimos 30 anos, não
foi isso o que aconteceu.
Entretanto, a falta de apoio experimental não reteve os esforços dos
pesquisadores que procuram uma teoria de tudo. Pelo contrário, foi proposta
toda uma pletora de conjecturas, mas, como não há experimentos ou observações
capazes de confirmá-las ou refutá-las, os físicos não sabem se elas se aplicam ao
mundo real ou se são apenas “fábulas” inteligentes ou ideias malucas.
Durante os últimos anos, o mais conhecido candidato a uma TdT é, de
longe, a chamada Teoria das Supercordas.
Os antigos filósofos descreviam o Cosmos por meio de conceitos
musicais, apreciando intuitivamente sua natureza harmônica. Com o advento da
Teoria das Supercordas, a ideia de que as partículas subatômicas poderiam ser
consideradas como cordas vibrantes reflete a antiga intuição segundo a qual o
mundo é harmonioso por virtude inata. Um dos primeiros atrativos dessa
conjectura está no fato de que, diferentemente de ideias anteriores, a presença da
gravidade quântica surge naturalmente de sua descrição das leis da Natureza.
Na física quântica, supõe-se que a força da gravidade é mediada por uma
partícula de massa zero chamada gráviton. A descoberta de que o mais baixo
nível de vibração das cordas descreve tal partícula deu um grande impulso na
teoria em desenvolvimento.
Depois de mais de 20 anos, durante os quais a teoria continuou a evoluir,
a versão mais recente é chamada de Teoria M e foi proposta por Edward Witten
em 1995. Uma exigência fundamental para as teorias das cordas é a de que as
cordas vibrem não no âmbito de nosso familiar espaço-tempo
quadridimensional, mas em várias dimensões — no caso da Teoria M, num total
de 11.
Mas, além de perceber o mundo físico como harmônico por natureza e de
reconhecer a necessidade de dimensões extra para compreendê-lo, a Teoria M
tem um atributo adicional que é revolucionário. De maneira inesperada, mas
surgindo naturalmente da matemática da teoria, constatou-se que há uma série de
superfícies chamadas membranas, ou resumidamente “branas”. Estas também
são objetos multidimensionais que podem formar o arcabouço no qual as cordas
vibram e ao qual elas estão energeticamente conectadas.

Um Universo “Brânico”

Para compreender a significação e a importância das branas, precisamos


voltar a atenção para um dos mais extremos ambientes cósmicos, o buraco
negro. Os campos gravitacionais dos buracos negros, criados pelo colapso de
estrelas maciças no final de suas vidas, são tão poderosos que nem mesmo a luz
consegue escapar.
Entretanto, descobriu-se que os buracos negros não são perfeitamente
negros, mas, por causa de flutuações quânticas, podem vazar minúsculas
quantidades de radiação. Aplicando a Teoria M aos buracos negros, conseguiu-se
explicar a temperatura da radiação com base nos estados quânticos das branas e
descobrir que ela é proporcional à área superficial do buraco.
Isso é equivalente a uma conjectura segundo a qual a quantidade total de
informação contida dentro de um buraco negro é também proporcional à área de
sua superfície. De início, essa conclusão foi extremamente inesperada, pois
deveria parecer que a informação armazenada dentro de um tal objeto
tridimensional fosse proporcional ao seu volume. É como se a quantidade de
informação incluída dentro de um livro dependesse apenas do tamanho de sua
capa. Desse modo, se a informação máxima expressa no âmbito de um espaço é
proporcional à sua área superficial, talvez os atributos dessa informação residam
fundamentalmente nessa fronteira. A possibilidade de que isso possa ser
verdadeiro para todo o universo foi discutida pela primeira vez por Leonard
Susskind e Gerard’t Hooft no início da década de 1990.
Inspirado pelas estimulantes ideias por eles levantadas, em 1997 um
jovem físico chamado Juan Maldacena usou a Teoria M e as branas para sugerir
que, de fato, talvez seja esse o caso — e que o mundo manifesto poderia ser, em
sua totalidade, uma projeção holográfica da informação contida em sua fronteira.
Veremos no próximo capítulo que a assombrosa conjectura — a de que o
universo e tudo o que ele contém (inclusive nós mesmos) é guiado por
informações que são essencialmente holográficas — está sendo validada em
todas as escalas da existência.
Mas com a própria Teoria M considerada como um arcabouço
explicativo, há questões muito importantes não resolvidas. Embora seja um
modelo intuitivamente belo do universo, ainda há pouca evidência de que, da
maneira como ele atualmente se apresenta, ele possa descrever com precisão o
mundo real. Com exceção do fato de derivar as propriedades do grávi- ton —
uma partícula considerada intrínseca à força da gravidade, mas que ainda não foi
observada diretamente —, a teoria não foi capaz de prever as massas e as
características das outras partículas fundamentais conhecidas pela física.
Como vimos, a teoria da relatividade de Einstein reconhece que o
espaço-tempo é relativo e dinâmico; sua geometria muda na presença da matéria
e da energia. Desse modo, qualquer teoria que descreva o universo manifesto
precisa reconhecer isso, e também precisa reconhecer o que os físicos chamam
de “independente do pano de fundo”, com o próprio espaço-tempo emergindo de
um nível ainda mais fundamental da realidade. Porém, decisivamente, a
formulação da Teoria M não faz isso.
No entanto, foi a descoberta da energia escura em 1998 que apresentou à
Teoria M o maior desafio com que ela já se defrontou, e que levou o próprio
Edward Witten a declarar que ele não sabia demonstrar a presença da energia
escura como um atributo do espaço-tempo nem por meio da teoria das cordas
nem pela Teoria M. Na verdade, por causa da maneira como as constantes físicas
são inseridas nos vários modelos de cordas que são subconjuntos da Teoria M,
há cerca de 10500 versões diferentes da teoria das cordas que são potencialmente
capazes de fornecer soluções alinhadas com as observações atuais da energia
escura.
Porém, mesmo que muitos teóricos das cordas continuem confiando na
esperança de que finalmente criarão uma teoria de tudo que corresponda à nossa
experiência de “tudo”, não está claro se qualquer um dos muitos cenários de
resultados possíveis tenha qualquer correlação com a realidade!

Então, Aqui Estamos...

Desse modo, um século depois do suspense da última cena do seriado


dominical, a visão de mundo científica está novamente de pé na beira de outro
precipício. Se ela permanecer lá, sozinha, assim será. Mas em nossa confiança na
capacidade da ciência para compreender o mundo, concordamos coletivamente
em acompanhá-la até esse impasse.
Agora que temos evidências de que a energia escura e a matéria escura
podem abranger cerca de 96% do universo, e que os modelos-padrão teóricos
estão, por fatores realmente esmagadores, desalinhados com o mundo real, as
questões parecem muito mais substanciais do que a anomalia aparentemente
trivial que disparou a última revolução científica — e veja aonde ela nos levou!
No entanto, tão estranha e maravilhosa era a natureza demolidora de
paradigmas da teoria quântica e da relatividade, e as descobertas experimentais
que lhes deram apoio, que muitos dos principais físicos inicialmente voltaram a
atenção para as filosofias orientais para que os ajudassem a encontrar sentido no
mundo que estavam descobrindo.
Entretanto, embora o próprio Albert Einstein considerasse o universo
como uma expressão da mente cósmica, a maioria dos cientistas, no final das
contas, se esquiva das implicações mais profundas de sua exploração do mundo.
Eles se focalizaram na aplicação do significado prático de suas descobertas para
desenvolver as tecnologias que desfrutamos atualmente — e deixaram o
significado mais profundo para aqueles poucos que buscam uma compreensão
verdadeiramente cosmológica. É crucial o fato de que, apesar da integração do
observador com o comportamento de entidades quânticas e da natureza relativa
do espaço-tempo, o papel da consciência foi, na melhor das hipóteses, ignorado,
e na pior, condenado ao ostracismo — uma situação que ainda continua na
ciência convencionalmente aceita.
Mas a atual incapacidade da teoria, da observação e do experimento para
se sustentarem mutuamente e, desse modo, para explicar as anomalias em nosso
entendimento da criação, da história e da natureza do universo produziram mais
um choque para desafiar nossa visão de mundo coletiva. É ao procurar entender
a natureza desse choque que revolucionaremos não apenas nossa percepção do
mundo físico, mas também de nós mesmos.

Realidade Integral

Já vimos como a não localidade das entidades quânticas — a natureza


entrelaçada das partículas gêmeas — nos mostra que o universo é,
inerentemente, uma totalidade.
Mesmo assim, durante muitos anos, os cientistas insistiram em que tal
entrelaçamento só se expressa nessas minúsculas escalas da existência.
Entretanto, em 1999, esse consenso começou a desmoronar quando os átomos de
um isótopo de carbono extremamente pesado, chamado buckminster-fullereno,
manifestaram atributos de onda-partícula. Desse modo, eles se revelaram
potencialmente capazes de se entrelaçar não localmente.
A escala desse possível entrelaçamento encorajou os cientistas a
consegui-lo na realidade. Em 2005, moléculas orgânicas complexas foram
entrelaçadas com sucesso, mostrando que, em teoria, não há limite de escala para
tais estados entrelaçados.
Há hoje evidências científicas de enorme amplitude e em número cada
vez maior de que nossa mente também está conectada numa base não local. De
fato, os dados acumulados a respeito de efeitos psíquicos, tais como a conexão
telepática e a visão remota, levaram o American Institutes for Research, em
meados da década de 1990, a afirmar que o investimento futuro deveria se
concentrar no entendimento e na utilização de tais fenômenos, pois seus
membros consideraram que a questão de sua existência estava plenamente
comprovada.
Em capítulos futuros, iremos explorar as pesquisas mais recentes que não
apenas apoiam esse entendimento, mas estão começando a fazer perguntas e a
revelar respostas que são revolucionárias para a nossa compreensão da realidade.

“Num Único Salto” Estamos Livres

A ciência da física que procura descrever a natureza fundamental do


universo físico está em tumulto. E como acontece com a chamada mãe de todas
as outras ciências, as implicações desse abismo explicativo reverberam através
de todo o mundo científico.
Porém, como já começamos a vislumbrar, relações harmônicas permeiam
o Cosmos. E de qualquer maneira que se descubra que a energia, a matéria, o
espaço e o tempo se manifestam, está claro que eles o fazem de modo a permitir
que todo o universo evolua como uma entidade coerente.
A natureza da informação cósmica, que permeia tudo, está rapidamente
emergindo como um valor não negociável para a nossa compreensão mais
profunda do mundo. E o conceito do princípio holográfico como o meio pelo
qual a informação se infunde no mundo manifesto é de importância crucial.
Portanto, desta vez, se devemos saltar o abismo e “num único salto”
ficarmos livres para explorar uma percepção mais profunda do Cosmos, é claro
que não podemos mais separar a mente da matéria, o corpo da alma, e nós
mesmos de uma realidade que é intrinsecamente integral.
CAPITULO 2 - Os Poderes Existentes

“Deus sempre toma o caminho mais simples.”


— ALBERT EINSTEIN

Durante o século passado, os físicos procuraram compreender a natureza


do universo em suas menores, maiores e mais extremas escalas, e implicitamente
supunham que tínhamos um bom entendimento do mundo cotidiano. Porém,
como veremos agora, esse não é o caso. As descobertas mais recentes que estão
emergindo em todas as disciplinas científicas revelam uma visão radicalmente
nova da natureza do mundo físico, a de que ele está permeado por um campo
holográfico e é in-formado por ele; desse modo, ele é por natureza inter-
relacionado, coerente e harmônico em todas as escalas da existência.
Inacreditavelmente, na escala de nossa experiência do dia a dia, as
evidências estão nos mostrando que não apenas os sistemas “naturais”, como os
padrões meteorológicos, são holográficos, mas que organismos biológicos,
ecossistemas e fenômenos “feitos pelo homem” — inclusive a incidência de
conflitos, os sistemas econômicos e sociais, e até mesmo a Web — também são.
A busca por uma teoria de tudo precisa abranger essa nova compreensão
revolucionária, pois esse princípio universal — e sobre o qual se está
progressivamente descobrindo que todos os fenômenos estão nele embutidos e
que ele é subjacente a todos os fenômenos (incluindo nós mesmos) — pode
muito bem nos fornecer a chave para descobrirmos como o mundo e tudo o que
chamamos de realidade coevoluem e são continuamente cocriados.

O Livro de Receitas Cósmico

Nossas mães eram grandes cozinheiras.


Cada uma tinha sua receita favorita, que elas preparavam tantas vezes
que não precisavam pesar ou medir quaisquer dos ingredientes. Elas
simplesmente sabiam a quantidade certa disso, punhados daquilo e pitadas
daquele outro ingrediente para criar um resultado perfeito; e nossas famílias
sempre apreciavam o amor que era o componente mais importante de cada prato.
O universo é muito semelhante à experiência culinária de nossas mães.
Assim como suas receitas misturavam todos os ingredientes em perfeito
equilíbrio, as condições iniciais do mundo físico, desde o início do tempo e do
espaço, também estavam primorosamente harmonizadas para permitir a
evolução da complexidade e a criação da vida.
No entanto, as receitas de nossas mães poderiam variar um pouco antes
que qualquer um de nós reclamasse dizendo que o resultado não era bem o que
se estava esperando. Mas o importante físico Lee Smolin estimou que desde o
seu nascimento, se as forças e os atributos físicos fundamentais de nosso
universo tivessem variado em uma quantidade maior do que o valor
inimaginavelmente preciso de uma parte em 1027 — isto é, uma parte em mil
trilhões de trilhões! — nosso complexo universo com sua química, galáxias e
vida biológica poderia não ter evoluído.
A primorosa harmonia entre essas relações cósmicas inclui as razões
fundamentais entre as forças elétrica e nuclear que ligam átomos e moléculas e a
força da gravidade, imensamente mais fraca. Suas energias balanceadas com
precisão e a natureza exata, embora diversificada, de suas interrelações, desde o
momento em que nosso universo nasceu, permitiram a formação e a interação
dos elementos químicos, o nascimento das estrelas, galáxias e planetas, e a
evolução dos organismos biológicos e das ecologias. Sem seu incrível nível de
precisão, ajustada por sintonia fina desde o princípio do espaço-tempo, o
complexo universo que experimentamos poderia não existir.
E nós não estaríamos aqui para desfrutar as refeições de nossa mãe!

Ciclos Universais

Mas como explicar esse espantoso grau de harmonia?


Uma visão sustentada por muitos cosmólogos surgiu inicialmente de suas
tentativas para explicar como a incrível exatidão de nosso universo pôde
originar-se de um processo de emergência aleatória. Sua noção é a de que
vivemos num universo pertencente a um número potencialmente imenso de
universos locais, que, essencialmente, são bolhas que exibem diferentes
características num “multiverso” ainda mais vasto.
Mas o nosso universo pode não ter surgido no multiverso por meio de um
processo de seleção aleatória. Ele pode ter sido informado no seu nascimento por
um universo que existiu antes dele. Essencialmente, nesse modelo, os próprios
universos evoluem ao longo de imensos ciclos de vida. Cada ciclo sucessivo é
in-formado pelo ciclo que o precedeu, tornando-se desse modo progressivamente
mais bem sintonizado, ou afinado, com a precisão que permite a complexidade e
o desenvolvimento da vida.
Essa visão está correlacionada com o antigo misticismo dos sábios
védicos da índia. Numa profunda percepção que antecipa em muitos milênios o
moderno modelo do multiverso, esses velhos sábios também descreviam uma
série de ciclos universais. Eles concebiam o início de cada ciclo cósmico como
uma expiração, uma bolha que era soprada e que no final se dissipava à medida
que a bolha seguinte emergia da unidade primordial da existência. Ao entender
os ciclos universais como uma expressão inata de Deus, para eles a mente
cósmica permeava tudo e estava sempre presente, e nesses vastos ciclos
cósmicos eles reconheciam um significado inerente em vez de uma encenação de
processos aleatórios.
Quaisquer que sejam nossas crenças — independentemente de quão
longe nós expandimos nossa percepção e de quão profunda possa ser a
capacidade da ciência para entender processos de emergência — mais cedo ou
mais tarde chegamos à necessidade de um ato criativo que lhe deu origem. E, no
final, chegamos ao conceito de uma mente cósmica.
Embora a ciência tenha até agora decidido ignorar essa lógica inevitável,
quanto mais profundamente mergulhamos nos mistérios fundamentais da
Natureza — como o fez Einstein — mais vemos ordem, harmonia e a mente
cósmica se manifestando em nosso universo. O que é revelado não exige que
escolhamos entre planejamento inteligente e evolução, mas sim que
reconheçamos um planejamento cocriativo para a evolução. O que vemos,
literalmente escondido entre os limites da visão plena, é o conceito de Einstein
de uma mente cósmica em ação.

Geometria Holográfica

Os antigos sábios teriam sem dúvida adotado os conceitos de um


universo in-formado holograhcamente e de uma ordem, um propósito e um
significado subjacentes para o Cosmos. Nos ensinamentos metafísicos do Antigo
Egito e na máxima hermética “assim em cima como embaixo”, eles descreviam
o espelhamento holográfico por “autossimilaridade” do mundo manifesto em
todas as escalas de existência. E a percepção que eles tinham do Um
expressando-se por meio da diversidade dos muitos é uma correlação perfeita
com os padrões da Natureza que agora estamos redescobrindo.
Sendo os primeiros a revelar essas aguçadas percepções cósmicas fora
dos confins sagrados dos templos antigos, os sábios gregos, há mais de dois
milênios e meio, intuíram verdades profundas sobre o universo nos números e
nas formas geométricas que incorporavam a harmonia idealizada do Cosmos.
Eles perceberam que as relações geométricas são universais.
No nível mais simples, por exemplo, num triângulo, sabemos que sua
forma pode ser totalmente descrita pelos seus três ângulos internos. Se as
relações entre esses ângulos permanecerem as mesmas, a forma do triângulo será
constante — ela será autossemelhante — independentemente de quão grande ou
pequeno ele seja. Tal desconsideração pelo tamanho é denominada invariância
com relação à escala.
Foi preciso que transcorressem pouco mais de 2.500 anos para que, com
o advento dos computadores, redescobríssemos quão profundo era o antigo
entendimento das relações geométricas universais, pois a capacidade analítica
dos computadores está nos permitindo atualmente reconhecer como são simples,
tão simples que nos deixam desapontados, os padrões geométricos subjacentes à
diversidade dos sistemas complexos. A autossi- milaridade e a invariância com
relação à escala de seus padrões geométricos fragmentados — os chamados
fractais — são também a base dos hologramas.
E, como veremos, os fractais — a assinatura do princípio holográfico
estão se revelando como os padrões básicos, as estruturas fundamentais
subjacentes à aparência de todo o mundo manifesto.

Fractais

Continuaremos a explorar a visão emergente de como tudo o que


chamamos de realidade, inclusive o mundo manifesto, coevolui e está
continuamente sendo cocriado. Mas a precisão e a ordem subjacente que
estavam presentes na origem de nosso universo mostram que, com certeza, ela
não foi um “bang” no sentido de uma explosão. E que, apesar de seu nome, a
teoria do big bang também reconhece que a expansão percebida do espaço-
tempo é impecavelmente ordenada. Além disso, como vimos no capítulo
anterior, há alguns problemas sérios com a teoria do big bang-, e mesmo que ela
ainda seja considerada a melhor explicação para o ato da criação do universo,
existem hoje outras opções que estão sendo propostas e que poderiam estar mais
perto da realidade.
Em 1986, uma análise de milhares de galáxias distantes, realizada pelos
astrônomos Margareth Geller e John Huchra, revelou um padrão universal —
uma estrutura que eles descreveram como uma espuma de bolhas, mas numa
escala cósmica, com cada bolha medindo centenas de milhões de anos-luz de
diâmetro. As membranas superficiais dessas bolhas abrangem galáxias, todas
elas encerrando gigantescos volumes de espaço gravitacio- nalmente ligados uns
aos outros em enormes aglomerados.
Nos últimos anos, tem-se dado muito apoio à visão de que a matéria
espalhada por todo o universo é estruturada de acordo com a análise estatística
do Sloan Digital Sky Survey, levantamento fotográfico digital que já mapeou
mais de um quarto do céu. Com base nessa análise, o físico Luciano Pietronero
sustenta que a matéria recai nos mesmos padrões, grandes ou pequenos, em
qualquer escala que for analisada. Em outras palavras, a distribuição de matéria
no universo é fractal, a geometria subjacente dos hologramas. A equipe de
Pietronero sustenta que tais estruturas são discer- níveis em — e acima de —
escalas que abrangem uma extensão de muitas centenas de milhões de anos-luz.
E, como vimos no capítulo anterior, essa imensa estruturação é um desabo que
não pode ser respondido pela teoria do big bang.
Entretanto, o astrofísico francês Laurent Nottale desenvolveu uma
alternativa para o big bang, que fornece uma tal descrição fractal do espaço-
tempo. Sua teoria sobre a chamada “relatividade de escala” pode ajudar não
apenas a explicar as observações e interpretações da aglomeração aparentemente
fractal nos níveis cósmicos, mas também poderia unir a natureza fractal do
universo desde suas escalas mais diminutas até as maiores.
Se Nottale estiver correto, então os atributos fundamentais na escala de
Planck — o nível ultraminúsculo onde se pensa que o próprio espaço- tempo é
quantizado — podem ser os fractais básicos a partir dos quais emerge a ordem
holográbca do universo.

Escuros Flashes de Aguçada Percepção

Uma vez que o ruído cósmico de fundo, presente em todo o universo na


faixa das micro-ondas, isto é, a própria radiação do RCF, parece ter natureza
fractal, as análises das butuações em seus comprimentos de onda podem fornecer
percepções mais profundas sobre a natureza dessa radiação.
A radiação do RCF é dominada por um grande pico acompanhado por
vários picos menores, harmônicos do maior. Isso revela aos cosmólogos que a
luz que permeia o universo é ressonante. E os comprimentos de onda são
interpretados como indicadores da escala na qual o universo se tornou
transparente às energias de tal luz.
A série de picos cada vez menores termina no comprimento de onda mais
longo, além do qual a ressonância se desvanece. É signibcativo, como percebeu
o físico Lee Smolin, o fato de esse comprimento de onda (que ele chama de R)
situar-se na escala associada à energia escura, que está causando a aparente
aceleração da expansão do espaço-tempo.
Smolin também assinalou que quando R é dividido pela velocidade da
luz (c), obtemos uma medida de tempo que é igual à idade de nosso universo. A
razão inversa, com c dividido por R, nos dá uma frequência — uma nota
cósmica de um ciclo que abrange a atual idade do universo. Considerando o
nível seguinte, de c2/R, essa razão nos dá uma medida de aceleração — uma
aceleração extremamente pequena. Significativamente, também acontece de essa
ser exatamente a escala da aceleração observada em todo o universo, que é
atribuída à misteriosa energia escura.
As estrelas que circulam dentro das galáxias também observam essa
mesma taxa minúscula de aceleração. E as galáxias que orbitam outras galáxias
fazem isso em taxas ainda mais lentas. Isso também pode nos fornecer uma pista
a respeito da natureza de outro grande desafio cosmo- lógico, a matéria escura,
que é necessária para explicar como as galáxias se mantém unidas.
Os astrônomos descobriram pela primeira vez o problema, que foi
atribuído à presença da matéria escura, ao observarem essas acelerações estelares
e galácticas. Eles perceberam que o problema ocorre apenas em estrelas que
orbitam abaixo de um certo limiar. No entanto, esse limiar não parece estar
associado com a distância entre tais órbitas e os centros galácticos ou, na
verdade, com a maneira como as estrelas estão aglomeradas dentro de suas
galáxias — pelo que parece, isso se deve apenas às suas acelerações. Acima da
linha de corte, a dinâmica das estrelas é explicada em alinhamento com a teoria
da gravidade de Newton e sem a necessidade da matéria escura. Mas abaixo da
linha de corte, o caso não é mais esse.
Ou a matéria escura existe em alguma forma que ainda será descoberta,
ou a teoria da gravidade de Newton desmorona nesses níveis de aceleração
muito baixos. E essa aceleração tem um valor próximo de c2/R!
Tal modificação teórica da gravidade newtoniana, denominada MOND
(Modified Newtonian Dynamics — dinâmica newtoniana modificada), foi
debatida pela primeira vez em 1981 pelo físico Mordehai Milgrom. Embora
controversa, quando correlacionada com os pontos essenciais assinalados por
Lee Smolin, parece que a energia escura e a matéria escura podem compartilhar
de uma escala universal comum (R), que é equivalente a cerca de 10 bilhões de
anos-luz — a escala de nosso universo visível. Uma escala R que, como vimos,
pode ser convertida numa aceleração baseada na velocidade da luz — e, desse
modo, igualar a expansão acelerada do universo com a expressão da atração
gravitacional dentro das galáxias.

Os Hologramas e o Fluxo do Tempo

Antes de seguirmos em frente em nosso entendimento sobre como o


mundo físico está sendo, cada vez mais, concebido pela linha de frente da
ciência como um processo holográfico, vamos dedicar um momento para
entender um pouco mais o que um holograma realmente é.
Os hologramas são criados no laboratório quando um feixe de laser é
dividido em dois. Um dos feixes secundários é refletido por um objeto
tridimensional, e em seguida os dois feixes se recombinam sobre uma chapa
fotográfica. Quando então se faz uma luz de laser atravessar o padrão de
interferência impresso na chapa bidimensional, um holograma tridimensional do
objeto é projetado.
Os hologramas são criados pela luz, e sua imensa capacidade para
armazenar e processar enormes quantidades de dados se deve, essencialmente, às
propriedades da luz. Como vimos, a luz entrelaça o espaço e o tempo, a matéria
e a energia, unindo-os. Portanto, uma compreensão mais profunda de sua
natureza e do princípio holográfico têm importância crucial para sabermos como
tudo o que chamamos de realidade se manifesta.
Num nível profundo, a extraordinária capacidade de um holograma para
reunir informação também está inextricavelmente ligada ao misterioso fenômeno
que chamamos de tempo. Para entender como, precisamos considerar outra
propriedade fundamental do mundo físico, chamada entropia.
A entropia é geralmente descrita como uma medida da ordem e da
desordem dentro de um sistema — quanto menor for a entropia, mais ordenado
será o sistema; quanto maior for a entropia, mais desordenado ele será. A
segunda das quatro leis físicas que descrevem as inter-relações de diferentes
formas de energia afirma ser estatisticamente provável que a entropia num
sistema fechado, como o nosso universo, tenda a aumentar. Isso faz sentido
quando pensamos no exemplo de um sistema, como um quarto de recreação para
crianças. A probabilidade de ele ser desordenado de inúmeras maneiras é muito
maior do que a de ele ser ordenado! Então, sua entropia ou nível de desordem
tem muito mais maneiras de ser expressa do que a ordem que nós pais possamos
preferir.
As equações da entropia, como muitas leis fundamentais da física,
operam simetricamente com relação ao tempo. Então, teoricamente, a entropia
de um sistema pode aumentar a partir de um momento presente para diante no
futuro ou para trás no passado. Mas por toda parte, em nosso universo de espaço-
tempo, esse aumento é uma via de mão única — a entropia aumenta a partir
daquilo que chamamos de passado para aquilo que chamamos de futuro. Nós
experimentamos a chamada flecha do tempo. Se seguirmos a tendência da
entropia decrescente remontando no tempo, chegaremos ao início do universo,
quando sua entropia era muito baixa — isto é, quando ele se encontrava num
estado extremamente ordenado.
Como já vimos, todas as teorias e observações confirmam que o
universo, desde a origem do que chamamos de espaço-tempo, estava de fato
nesse estado de ordem; portanto, a entropia só poderia aumentar desde o tempo
zero seguindo por uma via de mão única, dando um sentido ao próprio fluxo do
tempo.

Ordem Harmônica

Quando Claude Shannon, um dos pioneiros da tecnologia da informação,


deduziu uma equação para descrever a quantidade máxima de informação capaz
de ser incorporada dentro de um sistema, descobriu-se que sua equação era
exatamente a mesma que aquela descoberta anteriormente por Ludwig
Boltzmann para descrever a medida termodinâmica — isto é, relacionada à
energia — da entropia.
É importante observar que a equação que descreve tanto a entropia
energética como a informacional é logarítmica, o que significa,
matematicamente, que ela é harmônica e holográfica. E a informação e sua
entropia associada são tão reais quanto quaisquer aspectos materiais e
energéticos do universo físico, e quanto à entropia que descreve seus
comportamentos e estados de existência. De fato, como veremos, elas são até
mesmo mais fundamentais.
Até a época da invenção das calculadoras, tais como os computadores, a
análise matemática do mundo era limitada à velocidade dos “computadores
humanos”. No século XVni, uma equipe de oitenta pessoas desse tipo levou mais
de seis anos para computar 19 volumes de tabelas matemáticas para o governo
francês. E até mesmo durante a Segunda Guerra Mundial, os computadores
humanos eram o único meio para se calcular volumes signiücativos de dados.
Mas a análise de sistemas complexos ou aparentemente caóticos, tais
como os padrões meteorológicos, permaneceu impossível até a invenção do
computador, o qual permitiu que imensas quantidades de dados fossem
processadas numa escala de tempo razoável. Por volta da década de 1960, a
geração inicial de computadores permitiu que o matemático Benoit Mandelbrot
fosse pioneiro no estudo de tais fenômenos. Depois de estudar durante dez anos
sistemas aparentemente sem relação entre si, como as flutuações nos preços no
mercado de ações e as formas das linhas litorâneas, que são naturais, mas
aparentemente irregulares, ele foi capaz de discernir o que ninguém antes dele
havia conseguido.
Subjacente à aparente diversidade dentro desses fenômenos disparatados
e entre eles, Mandelbrot revelou padrões autossemelhantes que se repetiam em
escalas cada vez maiores e cada vez menores. Foi ele que chamou de fractais
essas formas geométricas fragmentadas. Suas descobertas foram o primeiro sinal
de que sob o aparente caos dos sistemas complexos, há uma profunda ordem
harmônica.

Terremotos e Padrões Meteorológicos

Antes do desenvolvimento da teoria da complexidade, pesquisadores se


tornavam progressivamente frustrados em suas tentativas de entender e prever o
comportamento de acontecimentos potencialmente catastróficos, como os
terremotos. Mas ao usar essas novas técnicas numa ampla variedade de
fenômenos, as mesmas relações harmônicas que revelam sua natureza
holográfica subjacente começaram a ser descobertas. No caso dos terremotos, os
sismólogos descobriram que, ao longo de uma imensa gama de variação, a
frequência dos terremotos varia de uma maneira diretamente associada com a
energia que eles liberam, mostrando que um tremor que libera o dobro da
quantidade de energia tem probabilidade quatro vezes menor de ocorrer.
No caso dos terremotos, em que a duplicação contínua da frequência de
um fator (por exemplo, a energia liberada) induz uma resposta constante na
frequência de outro fator (por exemplo, a taxa de ocorrência), a natureza
harmônica e holográfica do fenômeno se revela — e, como no caso da entropia,
essas relações harmônicas são expressas logaritmicamente.
A simplicidade inerente dessas relações desmente a complexidade dos
fenômenos que elas descrevem. As relações holográficas que elas incorporam
são denominadas leis de potência, são invariantes com relação à escala e são
autossemelhantes. Desse modo, além de sua frequência, um pequeno terremoto
não é mais nem menos típico do que um grande terremoto. Na verdade, não
existe alguma coisa que se poderia chamar terremoto típico ou, de fato, qualquer
coisa típica cujo comportamento esteja encaixado na profunda simplicidade de
uma lei de potência.
Outra característica-chave dos sistemas complexos que obedecem a essas
leis de potência é o fato de que eles são, por natureza, não lineares. Em outras
palavras, um pequeno fator pode disparar um grande resultado; igualmente, um
grande fator pode gerar apenas um efeito de menor importância. Isso se expressa
dramaticamente na escala e nas frequências dos terremotos, mas ocorre o mesmo
com todos esses sistemas. Isso significa o seguinte: considerando que tais
fenômenos tenham características gerais e incorporem o tipo de relação
harmônica vista nos terremotos, a previsão precisa de sua conduta além de um
certo nível é impossível.
Também vemos isso na previsão do tempo. Apesar da capacidade
crescente dos supercomputadores para lidar com enormes quantidades de
variáveis, a capacidade para se fazer a previsão do tempo até mesmo além de
alguns dias diminui rapidamente. Pois os mesmos fatores que podem produzir
uma brisa também podem disparar um furacão.

Atratores

No entanto, embora um dia nunca seja igual a outro, os padrões


meteorológicos tanto no nível local quanto no global permanecem estáveis
durante longos períodos de tempo. Quando analisados com as ferramentas
matemáticas que foram desenvolvidas para o estudo de tais sistemas, as mesmas
equações que produzem seus padrões fractais também explicam como eles
podem ser sempre diferentes e, no entanto, dentro de certos limites, continuar a
ser os mesmos.
Quando os muitos diferentes fatores que descrevem os padrões
meteorológicos e outros sistemas complexos são analisados, suas relações
matemáticas criam formas surpreendentemente simples e harmônicas. Chamados
de atratores, parece que somente três tipos desses padrões genéricos são
suficientes para descrever todos os fenômenos de todo o universo. No entanto,
tais padrões arquetípicos não apenas descrevem o mundo manifesto como
também são os calibres informacionais preexistentes — são os harmônicos por
cujo intermédio os fenômenos físicos são gerados no universo.
Os dois primeiros tipos, conhecidos como atratores pontuais e
periódicos, descrevem sistemas simples, ao passo que a família do terceiro tipo
— os chamados atratores estranhos — é subjacente às atividades de numerosos
sistemas complexos. E o atrator estranho subjacente ao comportamento da
meteorologia tem forma semelhante ao sinal de infinito, ∞.
Desse padrão simples — que às vezes é chamado de borboleta de Lorenz
em homenagem ao seu descobridor, e também porque sua forma é semelhante às
asas de uma borboleta — resultou toda a meteorologia que ocorreu em nosso
planeta durante os últimos 4 bilhões de anos!

Estados Críticos

Como vimos, sistemas complexos são inerentemente não lineares no


sentido de que um pequeno acontecimento pode desencadear um deslocamento
semelhantemente pequeno ou uma sublevação catastrófica. Quando tais sistemas
são lentamente afastados de uma posição de equilíbrio até o limiar entre a
estabilidade e a instabilidade, eles se encontram no chamado estado crítico. As
características de tais estados ocorrem ao longo de uma imensa gama de
fenômenos aparentemente não relacionados entre si, como a transição da água
para o gelo, o contágio por epidemias, o colapso de ecossistemas, as quebras nas
bolsas de valores e o alastramento de incêndios florestais.
Cada vez mais, estamos reconhecendo que redes de interconexões de
muitos tipos têm uma tendência para se organizarem naturalmente em tais
estados nos quais as ações de qualquer elemento individual são dominadas pelas
suas interações com outros elementos. E tal auto-organização é encontrada ao
longo de todos os sistemas evolutivos, inclusive organismos biológicos e
ecossistemas.
Experimentos usando simulação por meio de computador e observações
de sistemas reais mostram que, apesar de suas diversidades, as maneiras como se
comportam parecem depender apenas do grau de facilidade com que uma
influência ordenadora ou desordenadora, em um ponto no sistema, traz ordem ou
desordem a outro ponto na sua vizinhança. Em última análise, parece que apenas
a forma, o tamanho e a “viscosidade” dos elementos do sistema importam para
efetuar essa influência e, desse modo, afetar o comportamento do sistema — mas
nada mais.
Isso é incrível, pois revela que fenômenos cujos elementos básicos
incorporam critérios semelhantes para esses três elementos recairão no mesmo
estado crítico de organização, independentemente de quão completamente
diferentes os fenômenos possam parecer. Isso também mostra que sistemas
complexos podem ser descritos em detalhes pelo comportamento de modelos
muito mais simples, que apenas espelham as relações entre esses elementos
fundamentais.
Uma gama de fenômenos que surgem de tais similaridades é chamada de
classe universal. E, portanto, se os elementos de um exemplo numa classe
universal de fenômenos são identificados, então não apenas o exemplo pode ser
entendido, mas também todos os outros membros dessa classe de fenômenos
também podem — mesmo que pareçam tão mutuamente dessemelhantes como
as florestas tropicais e os vírus, os cristais de açúcar no mel e o lodo nos deltas
dos rios, todos os quais foram modelados com sucesso dessa maneira. E como o
estado crítico de um sistema complexo “real” depende apenas desses três
elementos básicos, uma simulação pode, efetivamente, excluir todos os outros
detalhes e ainda assim ser capaz de descrever com precisão o comportamento do
próprio sistema “real”.
Emergência

Equilibrado sobre o fio da navalha entre a ordem e a desordem, um


sistema num estado crítico descreve ciclos continuamente no âmbito de uma
fronteira de estabilidade definida pelo seu atrator subjacente.
Mas nem todas as influências internas e externas a tais sistemas são
cíclicas; muitas são irreversíveis. Nesse caso, o que acontece no futuro depende
do acúmulo do que aconteceu no passado e dos eventos que se desdobram no
presente. Tais processos assimétricos são inerentes aos sistemas críticos
encontrados em contextos que envolvem crescimento e evolução.
Suas influências eventualmente impulsionam um sistema, de maneira
gradual ou abrupta, para além do âmbito descrito pelo seu atrator subjacente, até
um ponto de mudança irreversível, chamado de bifurcação, e o sistema passa por
uma grande mudança ou sublevação. Ele pode desmoronar numa confusão
caótica, em que suas energias são desordenadas e dissipadas. Ou pode irromper
numa macromudança em direção a uma ordem de nível superior — processo que
é chamado de emergência.
Um aspecto inerente da complexidade que aumenta cada vez mais é sua
capacidade para incorporar níveis crescentes de informação. E, nesses termos, a
totalidade de um sistema é sempre maior do que a soma de suas partes.
Por exemplo, o entendimento das propriedades dos átomos de hidrogênio
e oxigênio não explica plenamente as propriedades emergentes de uma molécula
de água. E a descrição das suas propriedades moleculares é insuficiente para se
entender o comportamento da água nas escalas mais complexas dos rios e dos
lagos. Embora cada nível defina as potencialidades para o nível seguinte, entre
cada nível de complexidade crescente e o seguinte há geralmente uma lacuna
causal que não pode ser prevista em função de componentes e interações.
Tal emergência evolutiva nos leva desde os fractais mais fundamentais e
diminutos da existência para a totalidade do universo. Cada nível holográfico é,
ao mesmo tempo, um todo em si mesmo e um subconjunto do próximo nível
mais elevado de complexidade — uma entidade batizada como holon pelo
filósofo e romancista Arthur Koestler, que também descreveu as relações
aninhadas entre holons chamando-as de holarquia.

Metrópoles e Conflitos

A maioria de nós concordaria com o fato de que o desenvolvimento de


uma metrópole depende de muitos fatores, inclusive as circunstâncias de sua
paisagem; a miríade de variáveis culturais, sociais e econômicas; e as escolhas
de seus habitantes em níveis pessoais e coletivos.
Por isso, poderia parecer que o crescimento das metrópoles seria
diferente ao longo de culturas e continentes. Porém, assim como acontece em
qualquer outro sistema complexo, o crescimento das metrópoles (como foi
modelado por analistas como o planejador Jay Forrester e o linguista George
Kingsley Zapf) também reflete uma lei de potência universal de dependência e
padrões fractais subjacentes, independentemente de normas sociais, fatores
históricos ou circunstâncias econômicas.
De maneira semelhante, há muitas razões pelas quais surgem conflitos.
Às vezes, um evento aparentemente trivial pode romper uma barragem de ódios
reprimidos e desencadear uma conflagração. Ou pode ocorrer que um ataque
preventivo dissipe aparentemente qualquer resposta. Decisões que geram
conflitos são tomadas em níveis individuais e coletivos, desde assassinos
solitários a primeiros-ministros e presidentes, de governos colegiados a
autoridades ditatoriais.
Será que, enquanto tais, cada conflito menor, cada cruzada genocida e
todas as guerras precisam certamente ser únicos?
De fato, assim são eles em suas características específicas. No entanto,
uma revisão de conflitos realizada pelo analista político Jack Levy em 1983, que
variava desde pequenos conflitos locais a guerras mundiais ao longo de um
período de cinco séculos, mostrou que eles também obedecem a uma lei de
potência. Um conflito que mata um número de pessoas duas vezes maior — e
independentemente de seus motivos aparentes ou de como ele começa ou
termina — é 2,62 vezes menos frequente. Desse modo, os conflitos também são
harmônicos e holográficos. Como também o são sistemas aparentemente tão
disparatados como os processos econômicos, o fluxo do trânsito, a Web e a
Internet.
Parece que tudo o que chamamos de realidade “física” é, em última
análise, ordenado de maneira harmônica e holográfica. Não podemos nos excluir
da natureza holográfica e coerente do universo. Até mesmo quando acreditamos
que estamos fazendo escolhas que são independentes de outras, ainda
descobrimos que essas escolhas se tornam parte de padrões coletivos que, por
sua vez, são parte do mundo-totalidade coerente. Como os antigos sábios diriam,
somos os muitos expressos pelo Um — e somos o Um expresso pelos muitos.
Somos criação e somos cocriadores.
Nosso universo começou como nossas mães cozinhavam seus pratos —
todos os ingredientes meticulosamente alinhados no armário da cozinha
exatamente na ordem e nas quantidades corretas para serem usados na criação de
refeições maravilhosas!
As propriedades e os processos holográficos são o meio mais simples e
mais perfeito para permitir que a expressão da cocriatividade seja corporificada
em níveis cada vez mais complexos por meio de processos evolutivos que desde
há muito tempo seguem o seu caminho e continuam a se desdobrar.
CAPITULO 3 – Relatividade

“Quando você está cortejando uma bela garota, uma hora parece
um segundo. Quando você está sentado em cinzas ardentes, um
segundo parece uma hora. Isso é relatividade.”
— ALBERT EINSTEIN

Graças ao fato de Albert Einstein haver introduzido a ideia de


relatividade em nossa imagem do mundo, ficamos cientes da importância desse
conceito. Agora, apreciamos que não apenas o universo físico, mas tudo é
relativo. Apenas por meio da relação nós podemos experimentar e procurar
entender a realidade. E as nossas noções de realidade são relativas à nossa
perspectiva.

Yin e Yang

Os filósofos taoistas da antiga China viam o mundo surgindo da divisão


da unidade nas polaridades universais que eles chamavam de yin e yang.
Com profunda percepção, eles representaram o símbolo universal para
yin e yang sob a forma de princípios complementares em vez de opostos. E
vemos, sempre emergindo de dentro da expressão de yang, voltada para fora, e
da expressão de yin, voltada para dentro — o masculino e o feminino cósmicos
—, a presença imanente de seu parceiro. Como também o fizeram outros antigos
ensinamentos de sabedoria, os taoistas reconheciam a tensão inerente nessa
relação dual e procuraram resolvê-la no âmbito de um terceiro aspecto, o
equilíbrio dos dois. No símbolo do yin/yang, isso é realizado pela onda que flui
entre eles. E é nesse limiar fluente entre luz e sombra, positivo e negativo, que a
cocriatividade é realizada.
Os sábios védicos da antiga índia perceberam a mesma dança da criação
ainda mais explicitamente, considerando todos os fenômenos surgindo de uma
trindade de forças cósmicas entrelaçadas que eles chamavam de gunas. Essas e
muitas outras tradições espirituais compreenderam que é na interação desses
princípios cósmicos que reside o profundo mistério da existência e da
experiência. Todos esses ensinamentos de sabedoria compreendem o universo
como uma totalidade inter-relacionada, dentro da qual as relações entre esses
princípios que, embora em constante mudança, são eternos formam a base das
explorações de nossa consciência.
Entretanto, nos últimos três séculos, os métodos da ciência geralmente
procuraram neutralizar a relacionalidade (relationality) intrínseca do mundo-
totalidade percebido pelos antigos. Diferentemente deles, desde o século XVII,
mais e mais cientistas, embora nem todos, consideraram que o universo é feito
de “coisas” distintas e separadas. A aplicação de tal reducionismo, que tem
grande mérito como uma abordagem para entender a Natureza, envolve, no
entanto, um grande aspecto negativo quando se excede, como tem feito, para
perceber o mundo inteiro dessa maneira. Como apontou Deepak Chopra, é como
desmontar um aparelho de rádio e perguntar para onde foi a música.
A revolução científica do início do século XX deveria ter superado a
percepção do estado de separação e isolamento quando suas descobertas
exigiram a conversão de coisas em processos, de forças em campos de
influência, de certezas em probabilidades, e a natureza absoluta do mundo em
uma natureza onde a relatividade é inerente.
Embora haja uma busca em andamento, a qual, como já vimos, até agora
não foi bem-sucedida, por uma teoria validada experimentalmente e que unifique
a natureza fundamental do mundo, a maioria dos cientistas ainda persiste numa
visão de mundo que enfatiza a separação em vez da coerência. E embora a noção
de um observador que é capaz de ser considerado como totalmente separado do
que é observado tenha sido reconhecida como ilusória há mais de 80 anos,
mesmo assim a aceitação científica da medida em que isso verdadeiro foi
severamente refreada.
Mas o acúmulo de descobertas provenientes de estudos científicos
realizados durante os últimos 30 anos, ou perto disso, a respeito de nossas
habilidades para estarmos cientes de, e influenciarmos, eventos revelou a
relacionalidade fundamental de observadores e coisas observadas.

Relatividade

Graças ao fato de ter apreciado as perspectivas relativas de diferentes


observadores, Einstein foi capaz de unificar fenômenos aparentemente
separados.
Com a idade de ió anos, o jovem Albert decidiu perseguir um feixe
luminoso. O que o intrigava na época, e durante os 10 anos seguintes, foi que
nesse experimento de pensamento intuitivo, por mais depressa que corresse ele
nunca seria capaz de alcançar a luz. Mas ao mergulhar nas equações
estabelecidas por James Clerk Maxwell para descrever o campo eletromagnético,
Einstein descobriu a incrível resposta — uma resposta que o próprio Maxwell
não foi capaz de enxergar. Pois ele percebeu que as equações de Maxwell
exigem que a velocidade da luz seja constante quando medida por qualquer
observador, independentemente de quão devagar ou depressa ele esteja viajando.
A razão para isso fez cair por terra o entendimento científico que vigorou
durante séculos e o alicerce da suposição segundo a qual o tempo é absoluto,
pois o que Einstein entendeu é que quanto mais depressa qualquer objeto viajar,
mais o próprio tempo desacelera o seu ritmo. O tempo não é uma medida
absoluta, mas é inerentemente relativo à posição e à velocidade de um
observador.
Considere dois observadores parados juntos no mesmo ponto no espaço e
no tempo. Eles sincronizam seus relógios antes que um deles parta em viagem
numa espaçonave cuja velocidade aumenta até perto da velocidade da luz.
Para cada um deles, seus próprios relógios parecerão andar na velocidade
“normal”. Entretanto, para o observador estacionário, o relógio de seu
companheiro que viaja parece marchar num ritmo cada vez mais lento à medida
que a espaçonave acelera.
Na verdade, por volta do instante em que a espaçonave se aproximar de
90% da velocidade da luz, para o observador que permanece para trás, o tempo
para o seu amigo viajante estará transcorrendo — e é nesse ritmo que ele
envelhece — com uma velocidade de cerca de metade da sua taxa usual.
Mas Einstein também entendeu que quando qualquer objeto com massa
se aproxima da velocidade da luz, não apenas o tempo transcorrerá mais
lentamente, mas os comprimentos se contrairão no mesmo grau ao longo da
direção do movimento, a matéria ficará mais pesada e a energia aumentará.
Teoricamente, na velocidade da luz, a massa e a energia se tornam infinitas, e o
espaço e o tempo encolhem até chegar a nada. Por ser capaz de ver o mundo a
partir desses diferentes pontos de vista e ainda assim entender sua totalidade,
Einstein foi capaz de propor sua teoria da relatividade especial, unificando, em
grande escala, o espaço e o tempo, a matéria e a energia; e sua teoria geral fez o
mesmo para a gravidade e a aceleração.

Simetrias Ocultas

Cinquenta anos depois que Einstein apresentou suas ideias pioneiras, os


físicos reconheceram outra diferença evidente entre fenômenos que são
unificados num nível mais profundo.
Um exemplo disso é a maneira pela qual a água pode tomar várias
formas. Em diferentes temperaturas e pressões, ela pode ser um gás, um líquido
ou um sólido. E, no entanto, todas elas são formas distintas da mesma molécula,
designada pelos químicos como H,0, cuja simetria fundamental é quebrada em
formas aparentemente disparatadas como as de uma nuvem, um lago e um floco
de neve.
Esse tipo de quebra de simetria ocorre por toda a Natureza. De fato, foi
um entendimento a respeito das simetrias e suas quebras que levou a uma
compreensão da profunda identidade de atributos entre três das quatro forças
conhecidas da Natureza, o eletromagnetismo e as forças nucleares forte e fraca,
que descrevem o comportamento das partículas subatômicas.
Entender que as propriedades de um fenômeno podem ser descritas em
função de suas simetrias ocultas é uma percepção de importância crucial para
ajudar na busca pela unificação. Embora, em muitos casos, conhecer as simetrias
de um fenômeno não nos permite entendê-lo completamente, no nível
fundamental do universo foram descobertos casos em que, literalmente, todas as
propriedades físicas de uma força podem ser derivadas do conhecimento das
relações de suas simetrias.
Essa percepção fundamental das operações da Natureza é o chamado
princípio de gauge (ou calibre). Na busca por uma teoria que unifique o espaço,
o tempo, a matéria e a energia em todas as escalas da existência — do domínio
quântico à totalidade do universo — a presença subjacente do princípio de
gauge, as relatividades inerentes a ele e a quebra de simetria são soberanas.
Há um tipo especialmente importante de quebra de simetria, o qual
resulta em fenômenos que essencialmente espelham uns aos outros, e cuja
relatividade resulta no fato de serem descritos como “duais” uns dos outros. Um
exemplo disso é a luz. Até Maxwell, no final do século XIX, ninguém havia
compreendido a natureza mutuamente relacionada da eletricidade e do
magnetismo, ou imaginado que os dois eram na verdade expressões de um
campo eletromagnético unificado. Os fenômenos naturais que expressam um
campo elétrico — por exemplo, a carga eletrostática que se manifesta quando
penteamos o cabelo — parecem muito diferentes da manifestação do
magnetismo, tal como o padrão de limalhas de ferro ao redor de uma barra de
ímã.
Maxwell não apenas foi capaz de derivar equações simples que
descrevem o campo combinado, mas também, ao fazê-lo, mostrou que um
campo elétrico fraco é exatamente o mesmo que um campo magnético forte —
os dois são duais, espelhando-se mutuamente.
Os antigos geômetras gregos exploraram tal espelhamento nos chamados
sólidos platônicos há cerca de dois milênios e meio. Esses cinco poliedros
regulares que, conforme acreditavam, constituíam os blocos de construção
arquetípicos da matéria — os elementos clássicos da terra, água, ar, fogo e éter
— também formam duais uns dos outros. Por exemplo, o cubo de seis faces e o
octaedro de oito faces, que, na tradição esotérica, representam os arquétipos da
terra e do ar, respectivamente, são formas duais um do outro. Um cubo pode ser
gerado dentro ou fora de um octaedro, e então um octaedro menor ou maior
dentro ou fora do cubo, e assim por diante, os quais em cada escala menor ou
maior espelham holograficamente um ao outro, incessantemente.
O dodecaedro de 12 faces (éter) e o icosaedro de 20 faces (água) são
igualmente duais um do outro. E o quinto sólido “perfeito” de Platão, o
tetraedro, que representa as energias espirituais do fogo, é dual de si mesmo.
Cada sólido platônico é definido por 3 atributos: seu número de vértices
(pontos onde suas arestas se encontram), de arestas e de faces. Todos os vértices,
arestas ou faces de cada sólido são equivalentes entre si. Assim, por exemplo,
um cubo tem 8 vértices, 12 arestas de igual comprimento e 6 faces de área igual.
O número de vértices de um sólido platônico é igual ao número de faces do seu
dual. E o número de arestas de um sólido platônico é igual ao número de arestas
do seu dual, Os sólidos platônicos idealizados abrangem miríades de tais
relações harmônicas.
Não é de se surpreender que os sábios gregos vissem Deus como o
grande arquiteto do universo!

Partículas e Ondas

As reflexões intrínsecas das “dualidades” que não são aspectos


separados, mas complementares um do outro são abundantes na Natureza. Elas
encontram suas expressões na própria relação entre o espaço e o tempo, em
polaridades fundamentais, como aquela entre onda e partícula nas entidades
quânticas, e nos atributos genéricos dos princípios yin (passivo) e yang (ativo)
presentes em todo o nosso universo.
Os antigos entendiam que a semente de um complemento emerge da
expressão plena do outro numa relação em andamento. Às vezes, isso pode ser
discernido, mas em outras circunstâncias, tais relações são sutis ou estão ocultas.
Até muito recentemente, tem sido essa a visão dos físicos quânticos com relação
ao que eles chamam de “dualidade onda/partícula” quântica. Elá cerca de oitenta
anos, o físico Niels Bohr estabeleceu o princípio de que esses dois atributos não
podem ser percebidos ao mesmo tempo; com relação a um quantum de luz, por
exemplo, ele atua como uma onda ou atua como uma partícula.
Em 2004, o físico Shahriar Afshar realizou um experimento que desafiou
a teoria quântica e o argumento de Bohr e causou alvoroço na comunidade dos
físicos. O que Afshar fez foi planejar um tipo especial do chamado experimento
da dupla fenda, que originalmente havia mostrado que a luz tinha propriedades
ondulatórias e corpusculares. Entretanto, o experimento de Afshar, que ele
revisou e repetiu em 2006, permite que ambos os aspectos da luz, a partícula e a
onda, sejam percebidos conjuntamente, pois ele mede o trajeto dos fótons
(partículas de luz) enquanto, ao mesmo tempo, exibe seus padrões de
interferência ondulatórios.
Até agora, os físicos quânticos descreveram a ação de um observador
como a de “colapsar” as probabilidades quânticas ondulatórias de uma entidade
observada num estado efetivado, ou particular. Mas o que Afshar aparentemente
conseguiu foi mostrar que a função de onda é mais fundamental do que a
partícula manifesta e que, essencialmente, em vez de colapsar, a função de onda
se toma coerente por meio do ato de observação.

Três-em-um

Devemos outra percepção fundamental aos antigos que também


descobriram uma relação aparentemente simples, mas profunda que permeia o
espaço e o tempo e revela o estado três-em-um do mundo manifesto.
Os sábios chineses perceberam a presença inerente de um terceiro
princípio cósmico por meio do qual a expressão cocriadora do yin e do yang é
resolvida e se expressa. É o três-em-um dessa trindade universal por cujo
intermédio a forma e os fenômenos são cocriados.
Platão também entendeu que “duas coisas não podem ser colocadas
corretamente juntas sem uma terceira; deve haver algum laço de união entre elas.
E o laço mais justo é aquele que realiza a fusão mais completa de si mesmo e das
coisas que ele combina”. Ele reconheceu o “laço mais justo” na Natureza como a
relação que surge quando uma linha é dividida em duas, de maneira tal que a
razão entre o segmento menor e o maior é igual à razão entre o segmento maior e
o todo.
Essa relação universal e única é geralmente conhecida como razão áurea,
divisão áurea ou Φ (fi). Suas propriedades matemáticas e numéricas são as mais
surpreendentes de qualquer número já conhecido; tão importante é sua expressão
ao longo de toda a Natureza que ela foi chamada pelo matemático do século XV,
Fra Luca Pacioli, de “proporção áurea”. Ela é, disse ele, “como Deus... sempre
semelhante a si mesma”. Matematicamente, ela é chamada de número
transcendental, porque os números que se sucedem depois do ponto decimal, em
seu valor de 0,61803..., prosseguem sem se repetir, para sempre.
Antes disso, no século xui, o matemático italiano Leonardo de Pisa, mais
conhecido como Fibonacci, revelou aspectos profundos de Φ graças a uma série
de números que acabou levando o seu nome. Começando com zero, e em
seguida 1, cada termo sucessivo da série é a soma dos dois números anteriores:
0, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, e assim por diante, indefinidamente.
Emergindo do vazio do zero e do infinito da sua primeira relação (1/0), Φ
surge quando cada número da série é dividido pelo número anterior, como em
1/0, 1/1, 2/1, 3/2, 5/3, 8/5, 13/8... Ao converter essas razões para a forma
decimal e plotá-las num gráfico, emerge uma onda que pulsa aproximando-se
cada vez mais de um valor de Φ, que recua cada vez mais profundamente para
dentro do tecido da realidade. A natureza harmônica dessa relação universal
torna-se evidente quando os números progressivos da série de Fibonacci são
expressos como uma espiral que é vista ao longo de toda a Natureza, desde as
conchas nautilus e os redemoinhos, passando pelo crescimento das plantas e o
desenvolvimento de embriões de animais, e indo até a impressionante escala das
galáxias.
A presença de Φ permeia os sistemas evolutivos e biológicos. De fato,
nós mesmos incorporamos relações de Φ nas maneiras pelas quais as juntas dos
dedos das mãos e dos pés se relacionam com as mãos e os pés, e esses, por sua
vez, com os braços e as pernas, e com o corpo inteiro.
Foi Fra Luca que, segundo se acredita, teria ensinado a Leonardo da
Vinci sobre Φ. Leonardo compreendeu muito bem sua natureza cósmica, pois ele
e muitos outros artistas incorporaram essa relação em suas artes. É um equilíbrio
estético que até mesmo os criadores dos modernos cartões de crédito julgaram
apropriado copiar. Tão universal é sua presença que os pesquisadores do SETI
— Search for Extraterrestrial Intelligence — (Busca por Inteligência
Extraterrestre) recomendaram seu uso ao enviar sinais que declaram nossa
presença como espécie inteligente para quaisquer outros seres que porventura
compartilhem nossa vizinhança no espaço.

Harmonia Cotidiana

Podemos pensar que embora os harmônicos de O revelem mais uma vez


os princípios holográficos que permeiam o mundo natural, e são subjacentes a
ele, pouca influência eles têm nas escolhas que fazemos em nossa vida. Mas, se
pensamos assim, estamos errados.
Como vimos, a assinatura dos processos holográficos se revela nos
assuntos humanos, por exemplo, na frequência dos conflitos, na ascensão e
queda dos indicadores econômicos e na comunidade global que é a Internet. Mas
há uma lei universal que abrange tudo e que é tão inesperada que os matemáticos
e cientistas estão apenas começando a chegar a um acordo quanto às suas
implicações.
Batizada em homenagem ao físico Frank Benford e matematicamente
comprovada em 1996 por Theodore Hill, a lei afirma que ao longo de todo o
universo, as proporções relativas dos números de zero a nove seguem uma regra
simples e harmônica independentemente do fenômeno, do sistema ou do
processo que eles descrevem e em qualquer que seja sua escala. Apenas duas
exigências básicas são necessárias para que a lei de Benford das relações
harmônicas se manifeste em quaisquer circunstâncias: a primeira é que a amostra
de números que quantificam o fenômeno seja suficiente para permitir o
estabelecimento de proporções, e a segunda é que o conjunto de números seja
livre para tomar qualquer valor.
Essencialmente, isso representa as probabilidades inerentes do mundo
quântico fractalmente escalonado para descrever toda a realidade física. Essa lei
logarítmica de harmonia numérica se aplica a fenômenos que estão repletos de
escolhas pessoais e coletivas e são extremamente diversificados, incluindo os
dados do censo demográfico, as vendas e custos corporativos, e até mesmo o
conjunto dos números extraídos (agrupados e comparados) das páginas de
jornais.
E, numa elegante revelação final, descobrimos que essa lei harmônica de
números está entrelaçada com Φ, pois os dígitos de todos os números que
compõem a sequência de Fibonacci se conformam progressivamente com a lei
de Benford.

Harmonia Cósmica

Como vimos, Φ é inerentemente harmônico, e se autorreplica em escalas


cada vez menores e cada vez maiores. No entanto, as relações nele encaixadas
são assimétricas — elas surgem, em última análise, da divisão do todo em partes
maiores e menores, e não em partes iguais. Essa assimetria contrasta com, mas
complementa, a propriedade fundamental da música, em que, por exemplo, a
divisão simétrica de uma corda de violino em duas partes iguais cria a relação de
oitava, na qual a frequência de uma nota é duplicada ou dividida pela metade.
Mas até mesmo dentro da divisão simétrica da oitava, as assimetrias de O
estão embutidas. Pois as três principais escalas musicais cujas notas mais baixa e
mais alta e tons se estendem ao longo de uma oitava foram, ao redor do mundo e
ao longo do tempo, baseadas em cinco notas (pentatônica), oito notas (diatónica)
ou 13 notas (cromática) — todos os quais são números de Fibonacci. Assim, a
música, em seu nível mais fundamental e harmonioso, é formada de ciclos
eternos dentro dos quais as espirais da evolução, em constante mudança,
interpretam seus papéis.
As aguçadas e profundas percepções dessa sabedoria antiga estão
ressurgindo, à medida que suas verdades perenes e sua importância para a
recuperação de nosso equilíbrio, de nossa saúde e de nossa totalidade estão
sendo reconhecidas. E, à medida que a ciência vai progressivamente revelando a
coerência da natureza harmônica e holográfica do mundo manifesto, os atributos
do som e da luz estão fornecendo a base para modalidades de cura que não são
intrusivas e utilizam seus harmônicos universais. Agora, estamos entendendo
que, desde o uso tecnológico dos lasers, da formação de imagens por
ressonância magnética e do ultrassom até as práticas de agentes de cura
espiritual de todas as tradições, os aspectos harmônicos das energias — suas
ressonâncias, coerências e afinações — embasam e intensificam todo processo
de cura.
Esses mesmos aspectos harmônicos, aninhados na linguagem da música,
têm importância central para o nosso entendimento da consciência e da realidade
integral do Cosmos.

Espirais Evolutivas

Ao longo de toda a Natureza, embora haja uma multidão de simetrias


ocultas subjacentes ao mundo manifesto e miríades de simetrias que criam ciclos
de estabilidade, é, no entanto, a presença de assimetrias, tais como aquelas
embutidas em Φ, que permite às espirais dos processos evolutivos se
desdobrarem.
Uma assimetria fundamental que permeia nossas experiências da
realidade integral é o evidente fluxo do tempo. Como vimos, nosso universo
começou de uma maneira incrivelmente bem ordenada — um estado de entropia
extremamente baixa — que permitiu à flecha do tempo iniciar o seu voo.
Embora geralmente seja descrita como uma medida de ordem ou de desordem
dentro de um sistema, há duas outras maneiras de se perceber a entropia que têm
importância crucial para compreendermos não apenas como o universo é tal
como é, mas também por quê.
A segunda maneira de expressar a entropia é considerá-la como a
probabilidade de um sistema se encontrar em determinado estado energético —
sendo que a escala de qualquer um desses “sistemas” é capaz de variar desde o
minúsculo tamanho de uma entidade quântica até o tamanho de todo o universo.
E a terceira maneira consiste em considerá-la como uma medida da quantidade
de informação incorporada pelo sistema.
Essas três expressões entrelaçadas da entropia, que são, todas elas,
descritas pela mesma equação holográfica simples, revelam várias ideias
profundas.
A primeira é a de que a informação dentro de um sistema é mais
fundamental do que a energia por meio da qual ela se expressa. A segunda está
no fato de que as probabilidades que descrevem um sistema nunca são
aleatórias, como elas são, com frequência, erradamente interpretadas; em vez
disso, elas sempre incorporam informação, e esse é o caso quer elas descrevam
possibilidades quânticas ou a distribuição dos indivíduos segundo a altura. E a
terceira está no aumento inevitável da entropia — e, portanto, da quantidade de
informação —, que, a partir de seu nível mínimo, no início de nosso universo, é
o processo físico que toma possível a evolução da complexidade, e com ela, a
corporificação consciente de níveis de percepção cada vez mais altos.

Harmônicos da Cocriação

A abordagem reducionista da ciência, que se concentra em desmontar os


sistemas para sondar suas partes, ainda usa a linguagem obsoleta de “coisas” e
“materialidade”. Isso perpetua as separações ilusórias que são inerentes a essa
maneira limitada de procurar entender o mundo. Essa ainda é a ênfase da ciência
convencional, que, com toda sua inteligência técnica, divide, em vez de curar o
“desmembramento” de nossa psique coletiva e as separações entre nós e a
Natureza.
Mas está emergindo uma nova ciência holística, a qual reconhece que
tudo no universo e tudo o que chamamos de realidade estão inter-relacionados e
são partes de um mundo-totalidade coerente. À medida que esse “holismo” (no
original “wholism”, que soa como holism, mas faz trocadilho com whole [todo, totalidade] - N.T.) está
sendo redescoberto e ganhando terreno, as antigas descrições de dualidades estão
dando lugar a percepções de polaridades e de relatividades complementares.
Há mais de 2 mil anos, Buda descreveu o Cosmos como uma teia de hos
dourados unindo miríades de joias multifacetadas, cada uma delas refletindo a
luz de múltiplas nuanças de todas as outras. Sua bela e simbólica visão é aquela
que agora está sendo redescoberta na linha de frente da ciência e nos âmbitos
mais longínquos dos estudos sobre a consciência.
Os harmônicos da cocriação, revelados por meio das ressonâncias do
som e da luz, das geometrias relacionais que vão desde as formas idealizadas dos
sólidos platônicos e dos fractais subjacentes aos sistemas complexos até às
espirais evolutivas contidas em Φ, e a dinâmica, bem como a geometria
dinâmica, do próprio espaço-tempo, exibem todos eles a coerência do universo
manifesto.
Os processos que percebemos como sendo o mundo físico são,
entretanto, fundamentalmente incompletos. Pois, como vimos, eles constituem a
manifestação de causas multidimensionais mais profundas que encontram forma
pré-física nos padrões matemáticos e harmônicos subjacentes a todos os
fenômenos.
No próximo capítulo, juntaremos todas essas profundas percepções
reveladoras para delinearmos um modelo abrangente do Cosmos como uma
realidade integral. E veremos como a natureza das conexões não locais, que tudo
permeia e está além dos limites conhecidos do espaço e do tempo, está nos
chamando para reconhecer que não somos apenas a música da criação, mas
também os músicos que a tocam e os compositores que a cocriam.
CAPÍTULO 4 - Akasha e o Mundo-Totalidade

“Não há um caminho lógico para a descoberta dessas leis


fundamentais. Há somente o caminho da intuição, que é auxiliada
por um sentimento sobre a ordem que há por trás da aparência.”
— ALBERT EINSTEIN

Neste capítulo, exploraremos a visão de um Cosmos in-formado que é


totalmente integrado e coerente. Um Cosmos onde — apesar de a comunicação
entre eventos aparentemente separados no espaço-tempo estar limitada pela
velocidade da luz — a realidade mais profunda é permanente e interconectada de
maneira quase instantânea. E, para isso, redescobriremos o antigo conceito de
Akasha, o campo de informação subjacente do qual emerge tudo o que
chamamos de realidade.

Entropia e Evolução

Quando Einstein descobriu a equivalência entre energia e matéria,


correlacionadas pela velocidade da luz, reconheceu-se que a matéria “sólida” era
essencialmente formada por ondas estacionárias de energia.
Num sistema energeticamente fechado, como é o caso do nosso universo,
uma lei fundamental da física afirma que, em sua totalidade, mesmo que as
energias (e, portanto, também a matéria) possam mudar de forma, a quantidade
total de energia/matéria contida nesse sistema permanece constante — na
linguagem da física, a energia é conservada.
Ao mesmo tempo, o volume do nosso universo continua a se expandir
desde o momento da sua gênese. E, como ele é um sistema energeticamente
fechado, a física da conservação da energia exige que, à medida que ele se
expande, a temperatura total do universo caia. Mas, embora a temperatura ao
longo das imensas extensões do espaço externo tenha de fato caído, essa queda é
parcialmente compensada pelo calor fornecido por processos evolutivos, de
modo que a energia total contida em nosso universo permanece constante —
independentemente de quaisquer formas que a energia adote.
Entretanto, esse não é o caso da entropia (o nível da ordenação e da
informação) do nosso universo. Ao longo de todo o ciclo cósmico, a entropia
aumenta desde sua expressão mais baixa até sua expressão mais alta, o mesmo
ocorrendo com o nível de informação — que se desdobra desde o seu início,
num estado de alto potencial e baixa realidade, até o seu bnal, quando toda a
potencialidade será convertida em experiência real.
No exato primeiro momento do tempo, a entropia universal estava em
seu menor nível possível — equivalente ao maior nível de ordem energética. Isso
permitiu que o mundo físico se desdobrasse de três maneiras decisivas.
Primeiro, deu à “seta” do tempo o seu sentido (directionality), graças ao
qual a totalidade do universo evolui, por meio da experiência do fluxo do tempo,
do que chamamos de passado para o presente e em seguida para o futuro.
Segundo, à medida que a entropia inevitavelmente aumenta a partir de seu nível
inferior original, mais e mais informação e complexidade são capazes de ser
incorporadas ao mundo físico, e experimentadas. Terceiro, esse aumento na
informação e na complexidade ordenada é perfeitamente espelhado ao longo de
todo o ciclo de vida cósmico do nosso universo por meio de um decréscimo
balanceador na ordem total.
Esse processo — pelo qual um aumento em um aspecto de um sistema
unificado é equilibrado pela diminuição de seu parceiro complementar — é,
como descobrimos, fundamental para os princípios de gauge e da relatividade
que examinamos no último capítulo. Assim como em nossa própria vida, em que
o ganho de conhecimento e de sabedoria corresponde ao aumento da entropia de
nosso corpo que envelhece, assim, também, numa base coletiva e unificada, a
evolução do universo incorpora níveis de informação cada vez maiores. À
medida que sua ordem muda para desordem energética — ou, em vez disso, um
aumento no número de estados possíveis —, é no conteúdo informacional desses
estados energéticos que as experiências das eras são progressivamente
imprimidas.
E, no entanto, não é a expansão evolutiva da informação que incorre num
aumento de entropia e, desse modo, impulsiona o ciclo cósmico de nosso
universo para a sua dissolução final. Em 1961, o físico Rolf Landauer mostrou
como os computadores (ou cérebros ou universos) utilizam energia para realizar
processamento de informação, pensamento ou evolução. É possível somar,
multiplicar ou até mesmo negar “bits” — as unidades fundamentais de dados —
sem consumir energia ou aumentar a entropia do universo. Mas uma ação, e
apenas uma, gera calor e aumenta a entropia universal — o apagamento de
informação.
É tal ação, e somente tal ação — seja ela realizada na memória de um
computador, num cérebro humano ou no universo como um todo — que custa
energia. Operações reversíveis não aumentam a entropia; as irreversíveis sim —
e o apagamento é irreversível. É doloroso, mas é a perda que impulsiona a
evolução.

O Vácuo Quântico

Talvez o primeiro vislumbre do estado fundamental informacional do


mundo físico tenha sido a compreensão de que o vácuo do espaço está longe de
ser vazio. E até mesmo na temperatura do zero absoluto, as flutuações quânticas
corporificadas pelo vácuo são consideradas atualmente como fundamentais para
todos os campos de energia física da Natureza.
A exploração em andamento do vácuo quântico mostrou que ele é uma
matriz fervilhante de energias e partículas virtuais, como são chamadas, que
oscilam para dentro e para fora da existência física tão rapidamente que não
exercem nenhum efeito efetivo sobre na energia total do universo. Entretanto,
está se intensificando a percepção de que, no nível mais fundamental, o que dá
origem ao universo manifesto não é simplesmente esse campo primordial de
energia, mas, essencialmente, um campo de in-formação totalmente integrado —
a mente cósmica de Einstein.
Como tal, o vácuo físico — o estado fundamental do campo
eletromagnético quântico universal — é por si só insuficiente para explicar a não
localidade e a coerência do universo. Embora o estado fundamental último da
informação esteja subjacente no espaço-tempo físico do vácuo quântico, ele não
está separado do mundo natural. Na verdade, ele é o poder orientador da ordem
harmônica e holográfica da Natureza, e sua presença intrínseca permeia tudo.
As muitas teorias que competem entre si em sua procura por descrever os
fundamentos do universo físico tendem, todas elas, a descrever a natureza
manifesta desses fundamentos como excitações vibratórias, que são
essencialmente formas de onda. E é por meio da multidão dessas formas de onda
e de suas contínuas e dinâmicas interações que a informação subjacente ao
mundo e que o permeia é corporificada e expressa. Depois de um período
infecundo de muitos anos, durante o qual, como vimos, a teoria ficou muito
defasada com relação à validação experimental, pesquisas recentes estão nos
oferecendo a promessa de alguns avanços revolucionários. Um exemplo crucial
disso é a investigação de sistemas quânticos não localmente entrelaçados. As
evidências que essas pesquisas estão nos fornecendo sugerem que as partículas
elementares se comportam como vórtices energéticos entrelaçados cujas
vibrações produzem formas de onda que se comportam em conformidade com as
leis do eletromagnetismo.
Nessa visão emergente, o vácuo quântico é energeticamente um super-
fluido — um fluido em que não existe nenhum atrito e, portanto, nenhuma
resistência — permitindo que a informação e suas marcas (imprints) e padrões
subjacentes persistam como uma memória cósmica e promovam a coevolução
dinâmica do que chamamos de realidade física.

Espaço de Fase

O campo informacional subjacente está encaixado e incorporado no


chamado espaço de fase.
Esse é o plano de realidade definido matematicamente por números
complexos, que incluem componentes “reais” e os chamados componentes
imaginários, que são descritos em função da raiz quadrada de -1 (chamada de “i”
pelos matemáticos). A inclusão de tais números mostra que o plano complexo do
espaço de fase está geometricamente 90 graus fora de fase com o mundo
materializado.
No século XVIII, o matemático francês Jean Fourier nos forneceu uma
chave para compreender como a informação manifesta a realidade. Isso porque
— quando descobriu uma maneira de transformar todos os padrões e, desse
modo, todos os fenômenos numa linguagem matemática de ondas — ele foi
capaz de mostrar como as ondas podem gerar realidades universais. Foram as
profundas e aguçadas percepções de Fourier que acabaram levando ao
desenvolvimento do holograma e ao desdobramento de nossa compreensão sobre
a natureza holográfica dos processos que ocorrem no mundo dos fenômenos.
Essencialmente, a matemática das “transformadas de Fourier” é expressa na
linguagem dos números complexos e do espaço de fase.
Mais recentemente, as probabilidades quânticas, as geometrias fractais,
os atratores estranhos e todos os precursores da realidade manifesta são
descritos da mesma maneira.
Desse modo, tudo o que experimentamos pode ser matematicamente
descrito por formas de onda, representadas por números complexos, as quais são
expressas por meio dos modelos (templates) de atratores fractais. Esses
processos de informação — dos quais surge a ordem cósmica da Natureza —
são, no entanto, muito diferentes do processamento de dados que forma a base
de nossas tecnologias computadorizadas.
Os computadores de hoje operam digitalmente manipulando por meios
eletrônicos cadeias de Os e ls que são representadas pelas comutações sucessivas
de um interruptor eletrônico, que pode ser ligado (1) ou desligado (0). Todas as
linguagens e todos os números podem ser codificados dessa maneira; e mesmo
que a velocidade dos computadores tenha crescido dramaticamente, esse método
de processamento ainda é extremamente limitado. Os processos holográficos, ao
contrário, são analógicos em vez de digitais, podendo adotar uma enorme gama
de valores do zero até o um. E, portanto, eles são capazes de codificar uma
quantidade muito maior de informação e de processá-la muito mais rapidamente.
Na verdade, o holograma é capaz de codificar, em sua superfície bidimensional,
a quantidade máxima de informação necessária para a projeção do objeto
holográfico no espaço tridimensional.
No domínio manifesto do espaço-tempo, os hologramas podem codificar
e, desse modo, incorporar uma quantidade gigantesca de informações por causa
das propriedades fundamentais da luz, pois um grande número de fótons
distribuídos em muitos níveis vibratórios é capaz de ocupar exatamente o mesmo
ponto do espaço-tempo.
Os processos holográficos são, por isso, o mecanismo perfeito para o
mundo-totalidade evoluir ao longo de caminhos diversificados e, no entanto,
unificados.

Não localidade

O crescente reconhecimento pela ciência da primazia da informação — a


validação experimental de que a conectividade não local se estende ao mundo
macrocósmico e que, como veremos, ela é intrínseca à consciência humana — é
revolucionário.
O conceito de um campo de informação subjacente, que é descrito pelo
espaço de fase, campo do qual surge tudo o que chamamos de realidade, e que na
verdade é tudo o que chamamos de realidade, mudará nossa compreensão do
mundo. Desde a natureza fundamental do próprio espaço- tempo até a totalidade
dos fenômenos manifestos que evoluem e são experimentados dentro dele, toda a
realidade está começando a ser concebida como integral.
A validação científica dessa concepção deu um gigantesco passo à frente
graças a um recente experimento realizado por uma equipe austríaca liderada por
Markus Aspelmeyer e Anton Zeilinger, que relatou seus resultados em abril de
2007. Esse experimento revolucionário teve como objetivo determinar se o
universo existe independentemente de ser medido — em outras palavras, eles se
propuseram a responder à pergunta: “Existe essa coisa chamada realidade
objetiva?”.
Começando com a suposição científica, até agora convencional, de que
as coisas são da maneira como as encontramos e têm uma existência real antes
de serem medidas, Aspelmeyer e Zeilinger testaram essa premissa num
experimento quântico. Eles criaram pares de fótons entrelaçados (e, portanto,
conectados não localmente) e mediram a direção e o sentido, ou polarização, de
seus campos eletromagnéticos. O que eles descobriram foi o seguinte: ao supor
que os fótons tinham polarizações específicas antes de serem medidos, os
números que eles obtiveram não estavam em conformidade com a medição
subsequente. No entanto, ao aceitar que os fótons apenas se tornam “reais”
depois de ganharem suas polarizações específicas quando são medidos, os
resultados experimentais foram aqueles previstos pela teoria quântica.
O que esse experimento aparentemente simples faz é inevitavelmente
transferir a não localidade e a nova compreensão da natureza da realidade para o
próprio centro da busca científica por uma teoria inclusiva e integrada da
realidade física: uma “teoria de tudo”.

O campo A

A antiga percepção de Akasha está sendo redescoberta como uma


maneira de descrever o campo de “in-formação’'’ que está emergindo como o
atributo mais fundamental do universo.
Akasha é uma palavra sânscrita que significa “espaço que permeia tudo”,
e é o primeiro e mais fundamental dos elementos arquetípicos do mundo. É o
ventre do qual emergiram todas as coisas que percebemos e para o qual todas as
coisas finalmente retornarão. É o campo dinâmico de toda a realidade e o
registro de tudo o que existe, existiu e existirá. Entender a natureza do campo
akáshico, ou campo A, e de como o universo é “in-formado” está começando a
revelar percepções iluminadoras e profundas sobre a natureza da realidade
integral e a manifestação de todos os fenômenos físicos.
Agora examinaremos como uma cosmologia que se baseia num campo A
de informação nos oferece a visão mais profunda e revigorante de que dispomos
até agora sobre a natureza fundamental do Cosmos. E veremos como o universo
maximiza o fluxo de informação — e desse modo a capacidade da consciência
para explorar a si mesma — graças ao princípio holográfico e às leis físicas que
incorporam harmonia e a coerência.

Algumas Perguntas e Respostas sobre o Mundo-Totalidade

Nestes quatro primeiros capítulos de CosMos, vimos como a matéria, a


energia e o espaço-tempo se comportam holograficamente quando vistos da
perspectiva do campo Akáshico. A natureza holográfica do mundo manifesto
permite que a unicidade coerente, a totalidade integral do universo, seja expressa
por meio das muitas facetas da ordem cósmica em todas as escalas da existência.
Ela é o meio pelo qual cada aspecto do Cosmos pode se relacionar, e estabelecer
e manter interface, com todos os outros aspectos, bem como com o todo.
Desse modo, a partir da visão de um mundo-totalidade informado pelo
campo A, vamos agora procurar respostas para algumas perguntas, como a que
indaga por que o universo é como é.

Por que nosso universo foi estabelecido com um nível tão alto de ordem inicial?

Seu alto nível de ordem inicial, e portanto sua entropia incrivelmente


baixa, permitiram que dois aspectos cruciais de nosso universo se desdobrassem.
O primeiro é o fato de ele assegurar que a entropia, dentro do espaço-tempo, só
pode fluir em um sentido (do baixo para o alto, da ordem para a desordem); e
que, ao possibilitar isso, ele faz voar a flecha do tempo e, desse modo, permite o
desdobramento de experiências. E o segundo aspecto é o fato de que, quando
combinada com a conservação da energia, a espiral ascendente a partir da
entropia mais baixa possível permite que a quantidade máxima de complexidade
e evolução seja explorada ao longo de todo o ciclo universal do espaço-tempo.

Por que o espaço-tempo se expande?

À semelhança do simbólico sopro cósmico descrito pelos antigos, a


expansão do espaço-tempo é necessária para energizar termodinamicamente o
ciclo universal. Ela é intrínseca ao desempenho de todos os princípios de gauge
que acionam e inter-relacionam todo o ciclo universal. E a expansão geométrica
do espaço-tempo também declara a natureza harmônica subjacente ao mundo
manifesto — como se pode ver no fato de que, arrastada por essa expansão, uma
galáxia duas vezes mais distante de nós recua duas vezes mais depressa.

Por que as expressões da energia e da matéria são quantizadas?

Assim como as notas fundamentais da música, nas quais se baseiam as


miríades de canções e sinfonias de cada cultura humana, a quantização da
energia e da matéria permite que a quase infinita variedade da sinfonia cósmica
da cocriação realize sua expressão. Graças à quantização, as “notas” das energias
e da matéria são formadas de uma maneira que permite a emergência da
coerência, da ressonância e da afinação, por intermédio das quais todos os
fenômenos da totalidade do mundo se manifestam.
Por que apareceu a dualidade onda-partícula?

Durante muitos anos, os físicos quânticos descreveram a transformação


alquímica da onda em partícula como o colapso da onda de probabilidade —
causado, de alguma maneira, pelo fato de ela ser observada ou medida. Mesmo
que jamais se tenha fornecido uma explicação científica convincente que
justificasse por que esse chamado colapso ocorre, a complementaridade da
dualidade onda-partícula — ou alguma coisa é uma onda ou é uma partícula,
mas não ambas — foi uma pedra fundamental da física durante os últimos
oitenta anos.
Mas, como vimos, em 2004 o físico Shahriar Afshar deixou os cientistas
perplexos. Isso porque ele conseguiu observar experimentalmente o padrão de
interferência ondulatória da luz enquanto, simultaneamente, mediu os percursos
do aspecto partícula da luz: os fótons. Em 2006, Afshar refinou seu experimento
e repetiu suas descobertas iniciais. Foi dada a largada para a corrida, por parte de
outras equipes de cientistas, para replicar sua descoberta ou repudiá-la
experimentalmente.
A descoberta de Afshar, se for confirmada por outros pesquisadores, é
uma pista vital para se saber a maneira como a realidade integral se torna real.
As formas de onda quânticas das possibilidades não colapsam em consequência
do ato de observação — elas se tomam coerentes.

Por que o chamado princípio da incerteza regula o comportamento quântico?

Esse princípio quântico, como foi originalmente enunciado pelo físico


Werner Heisenberg, na verdade não descreve a incerteza, mas a indeterminação.
A incerteza descreve o comportamento aleatório. Mas o que esse
princípio fundamental da Natureza realmente faz é afirmar que, na escala do
mundo quântico, quanto mais informação nós temos sobre um aspecto de um
fenômeno, menos informação somos capazes de obter sobre outro aspecto
complementar. Em vez de sugerir que está em jogo o mero acaso, ele se mostra,
porém, como outra expressão do princípio de gauge universal em ação — o
primoroso meio pelo qual os ciclos do mundo-totalidade se inter-relacionam.
Talvez o significado mais profundo desse princípio da indeterminação
seja a maneira como ele relaciona atributos “independentes do tempo”, como a
massa, com os “dependentes do tempo”, como o momentum. Então, à medida
que continuamos a sondar a natureza misteriosa do próprio tempo, esse princípio
pode estar nos fornecendo um vislumbre da interação entre livre-arbítrio e
destino. Pois talvez seja por meio de tal indeterminação, e não apenas na escala
fundamental do quantum, mas ao longo de toda a holarquia do Cosmos, que a
consciência expressa a atuação do “livre-arbítrio” e os processos e implicações
das escolhas. É nos níveis de organização holísticos e coletivos que atua o
“destino” estatisticamente determinista. Nesse caso, podemos reconhecer como o
princípio da indeterminação permite o máximo de experiência individual no
âmbito do processo evolutivo coerente, que é o selo de qualidade do nosso
universo.

Por que os quanta são definidos como probabilidades e não como certezas?

As probabilidades quânticas (e, na verdade, todas as probabilidades) não


são “aleatórias”, ou baseadas no acaso, como são geralmente retratadas. Na
realidade, atuam de acordo com um leque de possibilidades que são dependentes
da informação que elas incorporam.
Ao longo de todos os processos holográficos que, em sua miríade de
níveis, são os atores que põem em cena o mundo-totalidade, as probabilidades
individuais se aglutinam para formar o determinismo coletivo. Por exemplo, as
alturas das pessoas variam, embora não sejam “aleatórias”, mas probabilísticas.
O padrão do biocampo de um ser humano contém informações que resultam
numa gama estatística, que vai da escala de um bebê recém-nascido até as
grandes alturas dos jogadores de basquete. Coletivamente, a gama é
determinista. Desse modo, se, por exemplo, as alturas de todas as pessoas vivas
fossem plotadas num gráfico que as confronta com suas frequências (o número
de pessoas da mesma altura), a forma da distribuição das alturas seria a de um
sino cujo pico corresponde à média global. Assim como o caso das alturas, tais
curvas em sino descrevem as distribuições normais das características de muitos
tipos de populações.

Por que o universo está conectado num nível não local?

Qualquer descrição científica detalhada do mundo-totalidade que vier a


ser apresentada precisará incorporar a realidade da não localidade. Esse
fenômeno, que Einstein chamou de “ação fantasmagórica a distância”, é a
capacidade inata dos objetos quânticos — e, como veremos em breve, dos
organismos vivos e da mente humana — para se conectarem além das limitações
do espaço e do tempo.
No âmbito do espaço-tempo, nenhuma informação pode viajar mais
depressa que a velocidade da luz, o que dá apoio à percepção da separação e da
individualidade. No entanto, a realidade comprovada da conexão imediata, não
local, torna o Cosmos um todo coerente. O que esses princípios aparentemente
paradoxais, mas, na verdade, complementares, sugerem é que nossas
experiências dentro do espaço-tempo, baseadas em nossa percepção da passagem
do tempo, nos permitem explorar escolhas e implicações individuais — os fluxos
particulares de causa e efeito. Ao passo que, no nível primordial e não local do
campo A, o mundo-totalidade recebe e transmite imediatamente informações
interconectadas.

Por que o espaço-tempo é governado pelo princípio da relatividade?

Não apenas os modernos cosmólogos, mas também os antigos sábios


compreendiam que tudo no universo é percebido e experimentado apenas com
relação a alguma coisa e, em última análise, a tudo o mais. Einstein, em sua
teoria da relatividade, mostrou que o espaço e o tempo são relativos ao
movimento, ou à posição, do observador. Assim como esse fato maximiza as
oportunidades para que diferentes perspectivas sejam experimentadas, o
princípio da relatividade também possibilita que o universo atue como uma
entidade coerente que segue as mesmas leis e princípios físicos. A razão para
isso é que, assim como tudo é relativo à nossa posição, não existe efetivamente
nenhum ponto de observação privilegiado no espaço-tempo — todos os lugares
são, por assim dizer, partes de um campo para jogos que se estende
uniformemente. Se, ao contrário, o espaço-tempo fosse absoluto, deveria haver
lugares e tempos que seriam privilegiados em comparação com outros. O que
isso significaria é que diferentes pontos no espaço-tempo poderiam estar sujeitos
a diferentes regras e leis físicas.
Em vez disso, a relatividade garante que apenas um conjunto de leis se
aplica ao longo da totalidade do espaço-tempo.

Por que existem três dimensões de espaço e não menos ou mais?

Embora nossa experiência de três dimensões espaciais para cima/ para


baixo, de lado a lado, e para trás/para a frente — pareça evidente por si mesma,
para os matemáticos e físicos a pergunta que indaga por que o mundo físico tem
três direções espaciais é profunda e misteriosa. Cada dimensão do espaço está
em ângulo reto (90 graus) com relação a cada uma das outras, e é essa relação
que nos fornece uma pista.
A resposta pode estar na maneira pela qual o campo A do espaço de fase
é descrito por números complexos. Como vimos, esses números são formados
por componentes “reais” e “imaginários que estão geometricamente defasados
de 90 graus a hm de manifestar suas formas físicas. Tais relações de 90 graus
também constituem a base para os campos eletromagnéticos cujos componentes
cio campo elétrico e magnético estão separados por 90 graus, com as ondas de
luz resultantes viajando na terceira dimensão — que também forma um ângulo
de 90 graus com relação aos dois componentes.
Os antigos geômetras gregos, talvez intuitivamente, perceberam essa
verdade profunda quando associaram o elemento arquetípico da Terra com o
cubo, cujas três dimensões estão em ângulo reto (90 graus) umas com relação às
outras.

Por que é tão difícil incluir a gravidade numa “teoria de tudo” física?

Quando Einstein formulou sua teoria especial da relatividade, ele limitou


sua aplicabilidade a objetos que viajam com velocidades fixas — e também
ignorou a gravidade. Ele precisou de mais uma década para ampliar sua teoria de
modo a incluir objetos que aumentam ou diminuem suas velocidades em outras
palavras, que se aceleram ou desaceleram. Ao fazer isso, ele compreendeu algo
extremamente importante: a aceleração é, na verdade, equivalente à gravidade,
tanto matemática quanto experimentalmente. Durante vários séculos antes de
Einstein — remontando à época de Isaac Newton, que foi o primeiro a definir
efeitos gravitacionais — os cientistas tratavam a gravidade como uma força da
Natureza. Mas Einstein nos mostrou que precisamos considerá-la de maneira
diferente.
No entanto, embora a busca por uma “teoria de tudo” precise incluir a
gravidade como um atributo básico do espaço-tempo, os físicos, em vez disso,
continuaram a considerá-la aparentada com as outras forças fundamentais da
Natureza. Por isso, os físicos têm empreendido enormes esforços, até agora sem
sucesso, para desenvolver uma teoria da gravidade quântica.
Talvez precisemos reconsiderar fundamentalmente a natureza da
gravidade e tratá-la puramente como uma consequência do movimento acelerado
no espaço-tempo. Poderemos então tentar derivar seus princípios e sua
integração com as três forças fundamentais da Natureza com base na geometria
do espaço-tempo e nos atributos da luz — os quais, por sua vez, derivam do
campo A subjacente que in-forma o universo.
O que é o tempo?

Quando lhe pediram para definir tempo, o físico John Wheeler certa vez
respondeu que o tempo é aquilo que impede que todas as coisas aconteçam de
uma só vez. Os cientistas ainda estão procurando por uma boa definição, porque
o problema do tempo é que ele parece não existir!
As teorias quântica e da relatividade usam, cada uma delas, uma
diferente noção de tempo. No mundo quântico, um relógio situado fora do
sistema que está sendo modelado mede o tempo. Na teoria da relatividade, um
relógio que faz parte do universo, que a teoria descreve, mede o tempo. E não há
nada na teoria que corresponda à nossa experiência do desdobramento do tempo
— em passado, presente e futuro. Muitos cientistas acreditam que a matemática
descreve a verdade em função de relações intemporais, permitindo que as leis da
física sejam formuladas com base na lógica que existe fora do tempo. O
problema é o desaparecimento do presente ou do vir-a-ser. Os físicos, sem fazer
muito alarde a respeito, têm eliminado o tempo dessa maneira pelo menos desde
os dias de Galileu.
Durante muitos anos, experimentos têm confirmado as previsões da
teoria da relatividade de que o tempo desacelera sua marcha à medida que um
objeto acelera (assim como a força da gravidade aumenta). O único atributo de
qualquer tipo de relógio, que sempre mede o fluxo do tempo, que permanece
inalterável, é o fato de que ele mostra as causas precedendo os efeitos. E, apesar
de uma profusão de experimentos, tanto na física quanto nas pesquisas sobre a
consciência, embora nossas noções de tempo estejam se tornando muito mais
fluidas, o alicerce da causa e efeito permanece.
Podemos rastrear a experiência fundamental da causa e efeito e a
unidirecionalidade do tempo até o início de nosso universo e de sua gênese
ordenada. Naquele instante, a entropia estava em seu nível mais baixo, e a partir
dele, passou a existir apenas uma via a partir da qual ela poderia mudar. Seu
aumento inevitável fez com que a flecha do tempo alçasse voo. Porém, com o
nosso conceito de realidade integral e com a natureza do campo A de permear
tudo, podemos agora ter condições de sugerir uma nova perspectiva para o
profundo mistério do próprio tempo — um modelo que reconhece tanto a
cumulatividade do passado como o enfoque cocriativo do presente.
A relatividade do espaço-tempo significa que não há pontos de vista
privilegiados, tanto no espaço como em toda a extensão do tempo. Em essência,
essa simetria universal significa que a realidade abrange todos os “agoras” desde
o início de nosso universo até o seu final, sem distinção de passado, presente e
futuro. Assim como acontece num DVD, cada momento do “agora” é
essencialmente um fotograma congelado, que, quando rodado em sequência,
contribui para um desdobramento contínuo da experiência.
No entanto, como vimos, o ciclo de evolução do nosso universo
incorpora um sentido no tempo — assim como o faz uma história captada em
DVD. Embora o tecido subjacente do espaço-tempo esteja sempre presente, a
informação que é incorporada em nosso universo continua a aumentar à medida
que ele evolui. Os efeitos seguem as causas, de modo que o universo seja
inerentemente diferente do passado. E o universo é constantemente recriado no
agora” fractal do tempo de Planck, o momento quase inimaginavelmente breve
de 10-44 de segundo.

A Busca Contínua

A revolução científica iniciada por Einstein e outros permaneceu


incompleta por mais de meio século.
Como vimos, descobertas recentes — sobre a maneira pela qual não
apenas o mundo na escala quântica, mas também o macromundo da nossa
experiência cotidiana, realmente é — estão levando os cientistas de ponta a
formularem as mais profundas perguntas com que já se defrontaram: a natureza
não apenas daquilo que chamamos de mundo físico, mas também da própria
realidade. As incômodas implicações da não localidade não podem mais ser
evitadas ou ser vistas como algo periférico ao mundo “real”. E a suposição de
que nós, como observadores, podemos nos separar de tudo o que observamos
não pode mais ser sustentada.
À medida que observamos atentamente as mais diminutas escalas da
existência física e a vastidão do espaço-tempo, à medida que sondamos as
expressões mais extremadas da Natureza, e à medida que discernimos a
verdadeira totalidade e a inteligência do universo, não podemos mais excluir a
presença, que tudo permeia, da informação no Cosmos. Não podemos ver”,
“sentir”, “degustar”, “ouvir” ou “tocar” a imensa matriz de energias
eletromagnéticas que, apenas um século atrás, era desconhecida para a ciência, e
que, atualmente, multidões de formas de onda e de frequências eletromagnéticas
constituam a base de nossas tecnologias globais.
Embora grande parte de nossa compreensão emergente esteja, até agora,
além da capacidade de discernimento de nossos sentidos físicos, nós dispomos,
como veremos, de outros meios de viajar pelo campo de informação subjacente,
que gera, e continuamente informa, os fenômenos para revelar os segredos do
Cosmos. Para que a nossa busca descreva plenamente o mundo físico, ela precisa
considerar realidades multidimensionais como substratos e moldes evolutivos da
realidade manifesta.

Até Onde Alcançamos

Agora que chegamos no final da primeira parte de CosMos, vamos fazer


uma pausa para obter um panorama do que podemos compreender atualmente
sobre o Cosmos e sobre nós mesmos como parte dele.

• A totalidade do mundo manifesto — inclusive nós mesmos — é


expressa por meio de processos harmônicos que incorporam a ordem
fractal e os princípios holográficos.
• A informação, na forma fisicamente efetiva de “in-formação”, é não
apenas real, mas mais fundamental do que qualquer coisa — inclusive o
espaço, o tempo, a matéria e a energia.
• Tudo o que chamamos de realidade é integral.
• Por meio da in-formação nele incorporada, a evolução pode se
desdobrar ao longo de todo o ciclo cósmico do universo.
• A velocidade da luz dentro do espaço-tempo e a realidade da conexão
não local além dele permitem que o mundo-totalidade explore suas
próprias relações internas e se construa sobre seus próprios processos.

Os cientistas estão começando a imaginar maneiras de determinar a


existência de dimensões mais altas e mais profundas da realidade física,
inclusive o meio pelo qual o campo A que in-forma o Cosmos faz com que os
domínios manifestos dessa realidade coevoluam. Uma visão abrangente do
mundo-totalidade está emergindo, um arcabouço teórico integral que revela
como a energia, a matéria, o espaço e tudo o que chamamos de realidade surge e
de fato é. Essa visão sustenta firmemente a promessa de um contexto baseado na
ciência para podermos compreender a totalidade de nossa experiência humana.
Exploraremos a natureza e a realidade dessa promessa na Parte II de
CosMos.
PARTE II

A Palavra Totalidade

Como vimos, a informação é essencial para a visão emergente do mundo-


totalidade. No nível do campo A e ao longo de todo o universo, a informação
permeia tudo e é mais fundamental do que o espaço, o tempo, a matéria e a
energia.
Nos próximos cinco capítulos de CosMos, exploraremos como as
percepções aguçadas e profundas relacionadas com a informação quântica e com
o campo A estão começando a ser reconhecidas como fundamentais para a
expressão de todos os fenômenos físicos. Também mergulharemos (no original,
whole-word. As expressões whole-world [mundo-totalidade] e whole-word [palavra-totalidade] são
extremamente “bem afinadas” em inglês, e essa instigante consonância traduz [embora seja intraduzível em
português] a coerência entre a palavra e a coisa, a in-formação e o mundo, reconhecidos como totalidades -
N.T.) mais profundamente em nossa jornada para entender a consciência e a
nossa natureza inata como cocriadores cósmicos. Veremos como as pesquisas na
linha de frente da ciência estão descobrindo a verdade da percepção não local,
que transcende o espaço e o tempo, e busca experiências que nos levam além da
percepção limitada de nossa própria persona.
E também revisaremos as evidências científicas, cujo número aumenta
rapidamente, de que nossa consciência pessoal continua após a morte do corpo
físico.
CAPITULO 5 – In-formação

“Todas as religiões, artes e ciências são ramos da mesma árvore.”


— ALBERT EINSTEIN

“No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era
Deus.” Assim começa o Evangelho bíblico segundo São João, o Evangelista.
Atualmente, a ciência está passando a concordar com as tradições
espirituais que consideram o “Verbo”, ou “Palavra” — a in-fonnação subjacente
que governa os domínios manifestos do Cosmos —, mais fundamental do que as
energias e a matéria do mundo dos fenômenos por meio dos quais o “Verbo” se
expressa.
Veremos como o universo é, desse modo, in-formado e como a interação
contínua dos campos de energia/informação abrange todos os fenômenos.
Também exploraremos como as evidências experimentais de nossa consciência
não local estão nos pedindo para perceber que estamos profundamente
interconectados uns com os outros e com o imenso Cosmos.

Mente Cósmica

Einstein, assim como muitos outros cientistas pioneiros, via o mundo


como uma totalidade integral e discernia a presença criativa, e que tudo permeia,
da mente no Cosmos. Mas o que entendemos por “mente”?
Gerações de neurocientistas se consumiram na procura de uma resposta
para essa que é a mais profunda das questões, e numerosos livros foram escritos
na tentativa de definir mente. No entanto, apesar da multidão de definições em
uso, a definição permanece evasiva e controversa.
A incapacidade dos cientistas para chegar a um acordo a respeito do que
constitui a “mente” é uma consequência inevitável da imaterialidade intrínseca
dos pensamentos, dos sentimentos e das percepções básicas da experiência.
Entretanto, a premissa sobre a qual a maioria dos neurocientistas concorda é a de
que, de algum modo, a mente imaterial — limitada, como eles em geral supõem,
aos seres humanos e aos animais de ordem superior, no máximo — surge de
cérebros materiais. Mas de que maneira essa suposição poderia possivelmente
acontecer é algo que permanece totalmente misterioso.
Embora novas tecnologias estejam permitindo aos cientistas entender
mais e mais sobre a mecânica de como a mente se expressa por meio do cérebro,
depois de muitos anos de pesquisa essa abordagem ainda não projeta nenhuma
luz em sua busca principal — uma busca que acreditamos ser infrutífera porque
a premissa sobre a qual ela se baseia está errada. Concordamos com o psicólogo
transpessoal Stanislav Grof, que durante mais de 50 anos estudou a consciência
humana. Grof comparou o esforço de se tentar descobrir como a mente surge do
cérebro a um engenheiro que tenta entender o conteúdo de um programa de
televisão somente observando quais componentes eletrônicos acendem no
interior do aparelho de TV. Se alguém bzesse tal coisa nós riríamos, e, no
entanto, é essa a abordagem que a ciência convencional adota e insiste em dizer
que é a correta, apesar de não haver nenhuma evidência para apoiá-la e grande
número delas para contradizê-la.
Entretanto, para a visão emergente da realidade integral, todos os
fenômenos do mundo físico surgem, e constituem uma manifestação, da
informação que permeia tudo no Cosmos. Os processos evolutivos que atuam no
espaço-tempo então permitem que níveis mentais progressivamente mais altos
sejam fisicamente incorporados e expressos e, desse modo, co- criem a
experiência em níveis de consciência autoperceptiva cada vez mais elevados.
Enquanto percepção individualizada, somos ao mesmo tempo criação e
cocriadores das realidades de nossa experiência. Mas assim como a informação
que guia o mundo manifesto é expressa em muitos níveis, também o é nossa
consciência humana.

Despertando

Como nesse caso das discordâncias quanto à definição de mente, também


não há nenhuma definição unanimemente aceita de consciência. Porém, ela é em
geral considerada um atributo da mente, caracterizado por uma entidade que é
ciente de si mesma.
Nossa própria consciência de vigília nos é familiar. É uma testemunha
interior dos acontecimentos de nossa vida. Como escreveu o filósofo Malcolm
Hollick: “Acontecimentos são experimentados por um experimentador,
pensamentos são pensados por um pensador, a dor é sentida por um perceptor,
imaginações são criadas por um imaginador, e escolhas são feitas por um
escolhedor”. É a parte mais acessível da persona humana, a percepção baseada
no ego, que o avatar indiano Sai Baba descreve como sendo “a pessoa que nós
pensamos que somos”.
Mas uma enorme proporção dos dados sensoriais com que nosso
ambiente nos banha é processada e influenciada não por nossa mente consciente,
mas por nosso subconsciente. Aqui, nós enterramos os traumas do passado e as
partes “inaceitáveis” de nós mesmos. E, como um iceberg com 7/8 de sua massa
abaixo da superfície da água, aqui também se acomodam nossos preconceitos e
respostas habituais culturalmente condicionados. Mas, assim como sempre
ocorreu com os místicos de todas as eras, nós também temos acesso a níveis
arquetípicos e coletivos da consciência, tais como a miríade de níveis
transpessoais que expandem nossa percepção além dos limites convencionais de
nossa personalidade.
Em suas cinco décadas de investigação de tais estados de consciência e
níveis de percepção, Stanislav Grof — um dos membros do crescente quadro de
pesquisadores que se esforçam para que tais percepções sejam aceitas no âmbito
da visão de mundo científica — registrou uma multidão de experiências em seus
livros The Cosmic Game, Psychology of the Future e When the Impossible
Happens: Adventures in Non-Ordinary Realities, que destroem o paradigma
materialista no mundo.
As tradições espirituais da antiguidade incluem tais percepções profundas
sobre a natureza do Cosmos e de nós mesmos. Mas embora forneçam muitas
verdades universais e perenes, seus ensinamentos também pertencem à sua
época e lugar de origem, e desse modo incorporam normas culturais e sociais
relacionadas ao gênero sexual e ao estilo de vida que nós coletivamente
superamos. Por isso, quando mantidas, elas não servem mais ao nosso bem
global. E embora suas percepções profundas e aguçadas tenham reconhecido a
natureza cíclica subjacente da realidade em vez de sua linearidade superficial,
elas, em geral, tendem a afirmar o status quo pertencente às suas próprias épocas
e mal levar em consideração, quando levam, os processos evolutivos.
Entretanto, estamos vivendo numa era de importância decisiva, que terá
enormes consequências, uma era em que poderosos processos evolutivos, na
verdade revolucionários, estão em ação. Nós estamos despertando, individual e
coletivamente, como se de um longo torpor de amnésia. Não apenas estamos
reconhecendo nossas capacidades inatas para perceber em níveis não locais
como também a nossa percepção está se expandindo para além das limitações de
nosso sentido do eu baseado na personalidade.

In-formação

À medida que nossa percepção individual se expande, estamos ao mesmo


tempo experimentando uma mudança coletiva, que se manifesta nas
comunicações globais, em movimentos populares organizados e nas mudanças
dramáticas nas estruturas organizacionais e sociais. No entanto, em meio a esses
desenvolvimentos coletivos, também estamos nos tornando mais diversificados
na maneira como expressamos nossas próprias singularidades. Ao nos tornarmos
coletivamente mais cocriativos, ao mesmo tempo o portal de nossa percepção
está se abrindo à nossa capacidade para manifestar nosso próprio modo de vida
translúcido. Nesse contexto, o termo translucidez é usado por Arjuna Ardagh,
autor de The Translucent Revolution, para caracterizar um sentido intensificado
de bem-estar e contentamento, uma redução do medo e um impulso sincero para
contribuir para o mundo mais amplo.
No entanto, para muitos de nós, as experiências da velocidade e do
estresse de nossa vida “ordinária” e as revelações crescentes de nossa herança e
destino cósmico “extraordinários” estão se avolumando num crescendo que
ameaça nos esmagar. Com o aumento exponencial do uso da Internet, que
ultrapassou recentemente a marca global de um bilhão de usuários, a quantidade
de informação que está, literalmente, nas pontas dos nossos dedos excede em
proporções dramáticas a que esteve disponível a cada uma das outras gerações
em toda a história da humanidade. No entanto, como um amigo certa vez
sugeriu: “Quando a informação duplica, o conhecimento é reduzido pela metade
e a sabedoria é esquartejada”. Aumentos na informação não levam
necessariamente a um aprofundamento do conhecimento ou a um ganho de
sabedoria. E na época atual, mais do que em todas as anteriores, a explosão de
informação também incorpora aquilo que desencaminha, corrompe, e que é
confuso ou falso.
Nosso uso comum da palavra informação descreve essencialmente dados
“brutos”, sem contexto ou significado. Apenas quando obtemos um
entendimento sobre como esses dados estão inter-relacionados é que eles se
tornam informados. E apenas quando um padrão é discernido dentro de tal
informação é que ela se torna conhecimento.
Dados e informações medem ou descrevem o passado, enquanto o
conhecimento que surge de tal percepção nos permite avaliar o presente e forma
um degrau, ou trampolim, para percebermos as possibilidades do futuro. Apenas
quando o acúmulo de conhecimento permite o nosso entendimento e também
permite que tenhamos aguçadas e profundas percepções dos princípios
fundamentais obtidos por meio da experiência é que somos capazes de,
sabiamente, tomar as decisões e fazer as escolhas que modelam nosso futuro
individual e coletivo. Entretanto, justamente nesta era do computador, somos
levados a conceber a informação de uma maneira limitada. Em geral,
consideramos a informação como algo factual e predominantemente
quantificável — por exemplo, uma lista de ingredientes e suas respectivas
quantidades e as instruções para preparar um bolo. Nós a concebemos em função
de símbolos, de números ou da sintaxe formal da linguagem verbal e escrita.
Porém, no sentido científico emergente, a informação é muito mais do
que isso — ela é a natureza fundamental da realidade. A informação na forma
fisicamente eficaz é “in-formação" — é o campo A, o campo akáshico, o molde
cósmico do qual o mundo manifesto deriva sua dinâmica e sua forma.

Nosso “Sétimo Sentido”

Há diferentes maneiras de acessar e conhecer tal informação cósmica.


Porém, ao longo dos três últimos séculos, no mundo ocidental e ocidentalizado,
uma dessas maneiras passou não apenas a predominar, mas também a rebaixar e
a desdenhar progressivamente outros modos de conhecimento. Esse é o
conhecimento intelectual da chamada mente lógica, ou racional.
Nosso uso atual da palavra lógica mostra o quanto distorcemos o seu
significado a partir da palavra grega original logos. Isso porque, para os antigos
filósofos gregos, essa palavra descrevia a razão divina que ordena o Cosmos —
o princípio unificador do mundo. Mas a abordagem analítica de nossa assim
chamada mente lógica é apenas um meio pelo qual nós podemos perceber e
compreender a natureza da realidade. Como veremos nos capítulos seguintes e
como os biólogos estão agora começando a perceber, nós discernimos a
informação em muitos níveis diferentes, inclusive nos níveis celulares de nosso
corpo.
Só a quantidade de dados ambientais que acessamos já é gigantesca. Mas
filtrados por um sistema nervoso autônomo que encaminha para a nossa atenção
consciente apenas uma minúscula proporção de sua riqueza, permanecemos
inconscientes de quão profundamente nós ressoamos com as nossas vizinhanças,
uns com os outros, com a Terra viva, com os ciclos do Sol e da Lua, e com o
imenso Cosmos.
Reconhecemos o input sensorial de nossos cinco sentidos, mas são os
sinais sutis que continuamente enviamos e recebemos, embora estejam abaixo do
radar de nossa mente consciente, que nos fornecem a percepção mais profunda
que chamamos de nosso sexto sentido. Nossas habilidades não locais para
acessar informação além dos limites do espaço e do tempo (chamadas pelo
biólogo Rupert Sheldrake de nosso sétimo sentido) e diferenciá-la da percepção
ambiental localizada, mas subconsciente de nosso sexto sentido revelam nossa
conexão inata com o campo A — o substrato de informação que permeia tudo e
que corresponde à nossa noção de mente cósmica.

Conhecimento Interior

Cada um de nós percebe e experimenta o mundo de uma maneira única,


embora estejamos explorando coletivamente o que significa ser humano.
Procuramos compreender a verdade sobre o Cosmos. Mas o que é a
verdade? O que são nossas verdades? As conclusões a que chegamos por meio
de nossas miríades de experiências são tecidas como uma tapeçaria a partir de
nossas perspectivas pessoais e do consenso coletivo.
Como numerosos estudos baseados em pesquisas estão nos mostrando,
até mesmo os aspectos “factuais” de nossas experiências são influenciados, ou
até controlados, pelas nossas expectativas, crenças e níveis de atenção. Nós
também tiramos conclusões a respeito de como o mundo é baseando- nos em
nossas experiências anteriores e em nossas respostas intelectuais e emocionais,
bem como nas memórias que temos delas.
De fato, quer gostemos ou não de acreditar que somos imparciais em
nossa visão da realidade e da verdade, todas as evidências mostram que nosso
entendimento se baseia em múltiplos níveis de percepção aliados a uma
interação progressiva entre atenção e intenção.
Os primeiros místicos cristãos eram chamados de gnósticos, nome
derivado da palavra grega gnosis, que significa “conhecimento interior” ou
“conhecimento por gnose” (gnowledge) (trocadilho entre gnosis [gnose] e knowledge
[conhecimento], que em inglês é consonante e sugestivo, mas em português é intraduzível - N.T.).
Conhecer por gnose talvez seja a melhor expressão que podemos usar para
descrever a complexa matriz de percepção da qual deriva nosso sentido, baseado
no ego, de quem nós somos e de como nos relacionamos com o mundo. As
limitações do conhecimento puramente racional são aprofundadas quando
obtemos o conhecimento por gnose.
No entanto, há mais um passo além do conhecimento por gnose. A
definição que o dicionário nos dá para a palavra wise (sábio) descreve a
iluminação que deriva de nossa capacidade para, e de nossa percepção em, usar
nossa experiência acumulada a hm de discernir e escolher aquilo que afirma a
vida. A palavra wyse, do inglês arcaico, da qual deriva a ortografia moderna de
wise, significa “ter poderes mágicos”, o que por si só descreve a capacidade de
influência extraordinária.
No âmbito do espaço-tempo, a atuação de nossas experiências é limitada
pela velocidade da luz, que nos permite perceber um aparente fluxo de tempo, e
a exploração e o aprendizado que advêm de nossas escolhas pessoais e coletivas
e suas implicações. Mas a consciência não local — a informação que está além
das limitações ilusórias do espaço e do tempo — é onipresente. É o
reconhecimento de que nossa percepção não local é o portal que se abre para o
conhecimento por gnose e, em última análise, para a sabedoria (no original
wysdom, outro trocadilho, dessa vez se estendendo até o nível da ortografia,
entre wyse [ter poderes mágicos] e wisdom [sabedoria] - N.T.).
Ao longo de todas as eras, os iniciados de diferentes tradições espirituais
enfatizaram em seus ensinamentos três maneiras básicas de perceber os
profundos mistérios do Cosmos. Nas culturas que valorizavam em primeiro
lugar a compreensão, aqueles que eram considerados sábios procuravam obter
percepções profundas e iluminadoras por intermédio da mente. Para outras
sociedades, as experiências emocionais dos xamãs conferiam à sua sabedoria
uma autenticidade baseada no coração. E sempre, mas com frequência na
periferia das comunidades, as iluminadas percepções místicas dos videntes
reconheciam, de maneira consistente, que nessas visões a totalidade do mundo
era revelada. No entanto, todos esses ensinamentos de sabedoria sustentavam
que o nosso “conhecer por gnose” transcende as limitações do espaço e do
tempo, permitindo que tenhamos acesso à percepção expandida de nossa própria
consciência, aos arquétipos de nossa percepção coletiva e a vislumbres da
totalidade do universo.
Apesar de milênios de evidências não científicas em favor da percepção
não local, o paradigma materialista nas culturas ocidentais, ao longo dos últimos
séculos, ridicularizou progressivamente tais experiências. No entanto, durante os
últimos 30 anos, fenômenos como a telepatia, a clarividência (ou “visão remota”,
como às vezes é chamada), a precognição, o poder da meditação e da prece, e a
capacidade para afetar, apenas pelo pensamento, o resultado de acontecimentos
aparentemente aleatórios passaram a ser objeto de uma crescente e minuciosa
investigação científica. As centenas de milhares de experimentos que foram
realizados ao longo destes últimos anos com rigor científico cada vez maior
acumularam uma imensa base de dados, mostrando que as evidências para a
percepção não local e a influência não local são agora esmagadoras.

Crer para Ver

Na década de 1990, o Congresso dos Estados Unidos pediu ao American


Institutes for Research (AIR) para empreender uma revisão das pesquisas
patrocinadas pelo governo sobre habilidades parapsicológicas, ou psi. Em 1995,
o AIR relatou suas descobertas, declarando que seus pesquisadores chegaram à
conclusão de que os efeitos psi eram reais, e sugeriram vigorosamente que, em
vez de continuar a despender recursos para obter ainda mais provas de sua
existência, o governo deveria, em vez disso, concentrar seus esforços em
pesquisas destinadas a entender como esses fenômenos operam e como
desenvolvê-los. Desde que o AIR apresentou esse relatório confirmativo, as
evidências científicas da consciência não local se tornaram ainda mais
convincentes. Somando-se a isso, durante os últimos anos, a aceitação geral da
realidade de tal percepção continua a aumentar em proporções dramáticas —
basicamente em consequência das próprias experiências diretas das pessoas.
Um levantamento em âmbito nacional, realizado nos Estados Unidos pela
National Science Foundation, em 2002, registrou que 60% dos entrevistados
concordaram, ou concordaram enfaticamente, com a proposição segundo a qual
algumas pessoas possuem poderes psíquicos ou PES (percepção extrassensorial).
E um levantamento realizado em 2007 com mil pessoas pela revista Reader’s
Digest mostrou que 60% delas acreditavam na possibilidade de tais poderes,
sugerindo que, apesar dos esforços da ciência convencional para refutar tal
percepção, para muitos ela está se tornando rapidamente uma parte aceita da
vida.
Para uma grande proporção das pessoas entrevistadas pela revista, trata-
se de um fenômeno real, e não de uma crença, pois elas próprias tiveram
experiências de pressentimento ou conexões telepáticas. Mais da metade relatou
que teve um sonho ou premonição de algo que de fato veio a ocorrer, mais de
40% disseram que às vezes ficaram cientes dos pensamentos de outras pessoas
antes que elas os formulassem ou que seus próprios pensamentos foram lidos por
outras pessoas, e um quarto dos entrevistados já sabia, antes de lhes informarem,
que alguém próximo deles estava doente ou em apuros. Entretanto, apesar da alta
proporção de pessoas que acreditavam em tais fenômenos, e que os
experimentaram, o levantamento relatou que apenas 9% delas se consideravam
“paranormais”.
Porém, como veremos, uma vez que estivermos dispostos a abrir nossa
mente para a aceitação de um Cosmos totalmente inter-relacionado e não local,
perceberemos que tais habilidades são inerentes em cada um de nós.
Estamos todos culturalmente condicionados até certo grau. Por isso, se o
nosso condicionamento inclui uma crença em que os efeitos paranormais são
impossíveis, ou em que não somos capazes de conceber sua realidade ou que
estamos fechados a essa realidade, então é improvável que as percebamos
mesmo se as evidências estiverem literalmente na frente de nossos olhos.
Pesquisas experimentais estão nos mostrando que, em vez do velho adágio “ver
para crer”, deveríamos apreciar que “crer (é o caminho) para ver”.
Um exemplo bem conhecido disso é o experimento realizado pelo Visual
Cognition Laboratory (Laboratório de Cognição Visual) da Universidade de
Illinois em 1999. Depois de filmar uma partida de basquete em quadra fechada,
os pesquisadores pediram a voluntários para assistirem ao filme e contarem o
número de vezes que a bola passava entre os times. Atentos a essa tarefa, um
número significativo de espectadores não percebeu que uma pessoa vestida de
gorila atravessara a quadra. Alguns não conseguiram ver o intruso nem mesmo
quando incitados a vê-lo. Os pesquisadores então relataram seus resultados num
artigo intitulado “Gorillas in Our Midst” [Gorilas Entre Nós].
Tal cegueira para acontecimentos inesperados ou em que não se acredita
também se estende às nossas experiências psi. A correlação entre o nosso nível
de abertura a elas e os resultados experimentais foi comentada por Robert
Morris, do Koestler Institute, em Edimburgo, na Escócia. Entrevistado pela
revista New Scientist em 2001, Morris declarou que os melhores resultados
experimentais estavam associados às pessoas criativas, especialmente artistas
visuais e músicos. Dada a natureza harmônica da informação subjacente à
realidade manifesta, esses resultados talvez não sejam surpreendentes e apontem
o caminho para a importância da música benéfica em nossa educação e em nossa
vida.
A visão de Morris da experimentação bem-sucedida consiste em “tomar
muito cuidado com a maneira como você recruta os participantes; como você
lhes dá boas-vindas no laboratório; como você os ajuda a relaxar e a sentir que
fazer tudo bem e obter um resultado favorável é o bastante nesses tipos de
procedimento. Também é importante selecionar participantes vindos de grupos
que parecem produzir melhores resultados e evitar aqueles que sentem que não
vão se sair bem”.
Não deveríamos ficar surpresos com essa observação, pois tais efeitos
foram identificados na experimentação e na observação em todas as ciências
sociais. Tanto influências positivas como negativas estão sempre presentes na
maneira como iniciamos as circunstâncias e respondemos a elas. Variando desde
a linguagem corporal inconsciente e os nossos preconceitos, bem como os dos
outros, até a pressão exercida pelos grupos de colegas e o uso da linguagem, tais
influências produzem impactos significativos em nosso desempenho consciente.

Experimentos Revolucionários

Vamos agora examinar os resultados de alguns dos experimentos que


estão revolucionando a nossa percepção do mundo ao revelar nossa capacidade
para estarmos cientes além das limitações do espaço e do tempo.
Após décadas de pesquisas, há hoje uma multidão de protocolos
experimentais para investigar fenômenos não locais. Um que é amplamente
usado chama-se método ganzfeld. Ele consiste em colocar participantes numa
sala que, em geral, é blindada eletromagneticamente para minimizar seu
ambiente sensorial, permitindo que os indivíduos aquietem o nível de ruído do
ambiente, que usualmente é elevado, e estejam mais disponíveis aos sinais sutis
de informação não local. Essa técnica é particularmente utilizada em
experimentos que investigam a telepatia e a visão remota — a identificação
mental de cenas distantes no espaço e no tempo por parte de uma pessoa que é
solicitada para percebê-las.
No que se refere à influência não local da atenção e da intenção
focalizadas, há vários protocolos experimentais amplamente usados. Um deles
emprega uma peça de equipamento denominada Random Numbers Generator
(RNG) [Gerador de Números Aleatórios (GNA)]. O GNA é uma máquina que está
inicialmente ajustada para gerar continuamente uma série aleatória de Os e ls. Os
efeitos de uma intenção específica se manifestam como um desvio com relação à
sequência aleatória. Outra metodologia popular é a DMILS, sigla para “Direct
Mental fnteraction with Living Systems” (Interação Men- tal Direta com
Sistemas Vivos). Essa expressão tão abrangente é usada para descrever estudos
que vão desde os efeitos da prece e da cura a distância até a alteração do
crescimento de plantas por influência.
A variabilidade de nosso condicionamento cultural e nossa incapacidade
para ver aquilo em que não acreditamos, ou que não conseguimos imaginar,
acabou fazendo com que no planejamento de muitos experimentos que estudam
os efeitos psi, os pesquisadores escolhessem passar por cima de nossa percepção
consciente e medir diretamente nossas respostas subliminares e corporais. Essa é
uma abordagem particularmente útil para testar as verdadeiras reações de uma
pessoa a um estímulo, pois elas não estão contaminadas pelas perspectivas
pessoais e culturais dessa pessoa. Em tais testes, os participantes são em geral
conectados a um eletrencefalógrafo, que registra a condutância elétrica de suas
peles. Assim como um detector de mentiras pode medir tais mudanças, os
experimentos podem usar leituras de EEG para determinar a verdadeira resposta
corporal de uma pessoa — mesmo que sua mente consciente pense de outra
maneira.
Os métodos ganzfeld foram usados durante muitos anos para testar a
percepção não local, em sua maior parte, de imagens remotas. E os protocolos
experimentais foram sendo mais e mais refinados, a fim de excluírem
preconceitos e inclinações, e também a possibilidade de fraude, fosse ela
acidental ou intencional. A metodologia básica usada consiste em acomodar um
participante “receptor” numa sala isolada, sentado numa poltrona confortável. O
participante usa fones de ouvido que tocam o chamado ruído rosa (pink noise)
para ajudá-lo a aquietar a mente, e os seus olhos são tampados. Um participante
“emissor” em outra sala é solicitado a olhar para uma imagem gerada
aleatoriamente e transmitir, por telepatia, o seu conteúdo para o “receptor”, ao
qual se pede para que informe em voz alta as impressões que chegaram até ele.
Em experimentos mais recentes, a imagem a ser enviada é escolhida
aleatoriamente por computador de um pool de quatro recursos visuais
intencionalmente diferentes. Após a sessão, o receptor revê com o
experimentador todas as quatro imagens vindas do pool — o experimentador não
sabe qual das quatro o “emissor” enviou — a hm de que o receptor classifique a
impressão daquilo que recebeu. Só então a imagem que foi realmente enviada é
revelada ao receptor e ao experimentador. Se o receptor escolheu a imagem
correta em quatro tentativas (ou em 25% do tempo), então a percepção do
receptor pode ser atribuída ao acaso. Mas ao longo de muitas sessões e de
centenas de estudos, várias meta-análises de tais experimentos registraram
resultados dramaticamente acima do acaso, demonstrando a realidade dessa
percepção não local.
Os estudos ganzfeld padronizados usam imagens visuais. Porém, mais
recentemente, experimentos não padronizados envolvem o envio e a recepção de
sinais (targets) musicais. É interessante observar que, até agora, enquanto os
resultados para os testes visuais estão substancialmente acima do acaso, aqueles
para os sinais musicais não padronizados não estão. Parece que — pelo menos
da maneira como os experimentos foram realizados — nossa percepção não
local ressoa com o imaginário visual, e é intensificada por ele, num grau maior
do que com o som.

Mais Experimentos Revolucionários

Outro gênero de experimentos psi envolve a intenção focalizada em


tentativas para influenciar resultados que, afora essa influência, são aleatórios.
Durante cerca de 30 anos, no Princeton Engineering Anomalies Research
(PEAR) Laboratory (Laboratório de Pesquisas de Anomalias de Engenharia de
Princeton), o engenheiro Robert Jahn, sua colega Brenda Dunne e sua equipe
investigaram se voluntários podiam afetar as sequências aleatórias de 0s e 1s
produzidas por Geradores de Números Aleatórios (GNA) eletrônicos. Os
pesquisadores pediam sequencialmente aos participantes para que tentassem
influenciar os resultados de modo que eles ficassem acima da média, do acaso,
do nível, e também abaixo desse nível; e em seguida para que parassem
totalmente de tentar influenciar a produção aleatória de números.
Os resultados mostraram conclusivamente que tal influência é real. Mas
o que é importante observar é o fato de eles demonstrarem que casais
trabalhando juntos são capazes de afetar os resultados do GNA substancialmente
mais do que cada um dos membros do casal consegue fazê-lo como indivíduo. E
para um casal que está ligado emocionalmente, os efeitos são seis vezes maiores
do que aqueles medidos para cada um deles. Resumindo o enorme arquivo de
resultados experimentais obtidos pela equipe, e que demonstram a percepção
humana não local, Jahn disse: “Se as pessoas não acreditam em nós depois de
todos os resultados que obtivemos, então elas nunca irão acreditar”.
Em 1997, vários pesquisadores, incluindo os psicólogos Dean Radin e
Roger Nelson, ligaram uma série de GNAS antes, durante e depois do funeral da
princesa Diana, acontecimento que foi transmitido ao vivo para todo o planeta.
Então eles descobriram que, num nível global, ocorreu um desvio significativo
com relação ao acaso durante o funeral. Essa resposta coletiva àquele triste
acontecimento se tornou o estímulo para a criação do GCP (Global
Consciousness Project — Projeto Consciência Global), que se mantém em
andamento e é dirigido por Nelson. Por volta de 2007, o GCP tinha cerca de 65
host sites com monitores GNAS funcionando continuamente ao redor do mundo,
graças aos quais as respostas coerentes a acontecimentos planejados ou
inesperados são monitoradas.
Em abril de 2005, o funeral do papa João Paulo II provocou uma das
respostas mais coerentes medidas pelo GCP, quando centenas de milhões de
telespectadores ao redor do mundo se juntaram aos milhares de pessoas em
prantos na Praça São Pedro em Roma. Esse fato se somou a uma crescente base
de dados de efeitos que mostram vários atributos da atenção coletiva.
O mais significativo dos acontecimentos monitorados até hoje pelo
Global Consciousness Project foi a tragédia que se desdobrou em 11 de setembro
de 2001, quando as medições da rede global de GNAS registraram seu maior
desvio com relação ao acaso em todo esse ano. Quando Nelson e seus colegas
analisaram os resultados registrados por suas máquinas, eles constataram um
desvio coletivo que atingiu o seu pico duas horas antes de o primeiro avião
sequestrado colidir com a Torre Norte do World Trade Center na cidade de Nova
York. Será que isso mostra um pressentimento que toda a família humana teve
frente ao horror que estava para acontecer naquele dia?
A análise de mais de 200 acontecimentos mundiais feita em torno de
2007 mostrou que o nível de resposta coletiva parece aumentar com intensidade
coerente. Esse fato é apoiado pelos resultados de acontecimentos que fizeram
surgir reações mistas ou que se desdobraram ao longo de um extenso período de
tempo, como aconteceu durante o tsunami de 26 de dezembro de 2004. Em seu
todo, eles mostram uma correspondência entre a intensidade da atenção e a
coerência da resposta. A análise em andamento de nossas respostas coletivas
mostrou até agora uma probabilidade cumulativa acima do acaso de um milhão
para um.

Intenções Coletivas

O impacto não local da atenção coletiva é claro, mas que evidência existe
para a influência da intenção grupai? Para responder a essa pergunta, devemos
voltar até 1966, quando Cleve Backster, um pioneiro em métodos de detecção de
mentira, decidiu testar um dragoneiro (árvore-do-dragão, ou dragoneiro, subarbusto da família
das dracenáceas, quando cultivado em interiores, não excede 1 m, mas espécimes de sua região de origem,
as Canárias, atingem proporções enormes e vivem muitos séculos; exsuda resina vermelha, o sangue de
drago - n.e.) em seu escritório.
Alguns minutos antes, e tendo, por mero capricho, conectado a planta aos
eletrodos de um dos seus detectores de mentira, ele notou que, ao regar suas
raízes, a planta manifestou aquilo que num ser humano seria interpretado como
uma reação emocional. Para despertar a reação mais intensa de que seria capaz,
Backster primeiro colocou uma folha da planta em café quente, sem que ela
manifestasse nenhuma resposta aparente. Então ele decidiu fazer uma ameaça
pior: queimar a folha. Mas tão logo ele pensou sobre a chama, houve uma
resposta instantânea da planta — sem que Backster se movesse, mas apenas por
pensar na ameaça, a planta havia reagido!
Então, quando ele, depois de deixar a sala, retornou com alguns palitos
de fósforo, houve uma segunda onda de antecipação vinda da planta. E quando
ele, relutantemente, queimou a folha, ocorreu uma reação branda, mas ainda
perceptível, do dragoneiro. Durante os 40 anos seguintes, Backster realizou uma
extensa série de experimentos, acumulando um imenso arquivo de dados que
mostravam que todos os organismos estão em contínua comunicação numa
imensa matriz de percepção dinâmica e não local.
Há hoje uma significativa riqueza de dados obtida por Backster e um
número crescente de outros pesquisadores confirmando a realidade da interação
mental direta com sistemas vivos, de micróbios a seres humanos. Eles vão desde
nossa capacidade para influenciar taxas de crescimento até o poder de cura da
prece.
Durante muitos anos, a organização Transcendental Meditation
(Meditação Transcendental) também investigou o poder da nossa intenção ao
realizar centenas de estudos que correlacionam o efeito dos grupos de cura
intencional para reduzir e resolver conflitos na comunidade.
E um acontecimento histórico realizado em 20 de maio de 2007,
denominado Global Peace Meditation and Prayer Day (Dia de Prece e Meditação
pela Paz Global) (iniciado pelo Clube de Budapeste), reuniu numa ocasião
sincronizada para ser simultânea no mundo todo mais de um milhão de pessoas
em 65 países para rezar e meditar com uma intenção: trazer paz à Terra. O nível
de coerência dessa intenção coletiva foi monitorado pelo sistema de
monitoramento global de Nelson. Independentemente dessa experiência, na
Itália, a sincronização das ondas cerebrais de dois grupos de participantes
também foi testada por Nitamo Montecucco, do Cyber Holistic Research
Institute.
Ambos os resultados, de Nelson e de Montecucco, evidenciaram uma
correlação significativa, comprovando cientihcamente a conexão não local das
consciências das pessoas que meditaram nesse dia. Essa meditação que uniu
essas muitas pessoas de várias crenças e culturas em diferentes partes do mundo
foi um ponto de partida histórico. Ela mostrou que a conexão instantânea entre
mentes humanas transcende distâncias geográficas, bem como fronteiras
nacionais, raciais e culturais. Todos esses resultados apoiam a visão de que os
efeitos da influência não local estão relacionados com a intensidade da intenção,
com o nível de coerência mental e emocional do grupo, e também com o seu
tamanho. Mas, até agora, a importância relativa desses fatores é uma questão em
aberto.
Em seguida ao Global Peace Meditation and Prayer Day, do Clube de
Budapeste, em maio de 2007, o mais extenso experimento de intenção para
encontrar respostas a essas perguntas está atualmente em andamento.
Começando em março de 2007, a jornalista e autora Lynne McTaggart e uma
equipe científica internacional convidaram voluntários para participar via
Internet de uma intenção globalmente focalizada de afetar sistemas vivos. O
propósito desse experimento, relatado no livro The Intention Experiment, de
McTaggart, é empreender experimentos para testar as realidades dessa influência
não local e entender os fatores que resultam em diversos níveis de efeitos.
Os primeiros testes foram planejados para ser intencionalmente simples,
com o objetivo de estabelecer que existe de fato um efeito a ser estudado e, dada
a envergadura global do projeto, que seria possível lidar com os desafios
tecnológicos envolvidos. O primeiro teste foi realizado numa sala com 400
delegados de conferência em Londres, os quais focalizaram sua intenção em uma
única folha de gerânio no laboratório do psicólogo Gary Schwartz, da
Universidade do Arizona, nos Estados Unidos. Os resultados foram
convincentes. Como veremos mais tarde, todos os organismos biológicos emitem
uma luz de baixo nível, fenômeno conhecido como emissão biofotônica, e esse
nível é um indicador de seu estado de saúde. A intenção dos delegados era
aumentar o nível de emissão de biofótons pela folha, que seria comparado com a
emissão por uma segunda folha equiparável, que agiria como controle. Quando
Schwartz mediu os brilhos biofotônicos das duas folhas durante e depois que a
intenção foi enviada, ele constatou que o nível de emissão biofotônica da folha
escolhida era muito maior que o de sua parceira.
Apesar de enfrentar vários problemas técnicos, experimentos
subsequentes continuaram a mostrar bons resultados, embora os pesquisadores
reconheçam que o projeto ainda se encontra nos estágios iniciais.

Um Exame Mais Aprofundado das Evidências

Graças ao número relativamente limitado de variáveis que precisam ser


levadas em consideração nas ciências da natureza, as leis universais que
governam a física e a química permitiram o planejamento de experimentos
capazes de recriar as condições que tornam possível aos experimentos ser
replicados — e às teorias ser comprovadas ou descartadas. Tal capacidade para
reproduzir e controlar condições de maneira estrita e, desse modo, testar
diretamente os resultados constituiu a base crescente da abordagem científica
durante três séculos. Mas é uma abordagem que precisa ser reconsiderada, pois,
à medida que sondamos sempre mais além a natureza fundamental da realidade
em suas mais ínfimas e mais gigantescas escalas, as inferências tiradas de
medições indiretas de fenômenos estão rapidamente se tornando a norma.
Todavia, o rigor a que tais experimentos físicos aspiram ainda se mantém, muito
embora sua aplicação precise ser inevitavelmente modificada em muitas áreas do
empreendimento científico.
Ciências como a biologia, ao procurar seguir essas restrições rigorosas,
geralmente focalizam partes específicas de um organismo a fim de reduzir o
número de variáveis a um nível manejável. Mas, ao fazê-lo, a compreensão de
um organismo em sua totalidade é seriamente comprometida, pois, como
veremos, apenas quando tal abordagem holística é adotada a natureza coerente
de tais entidades é revelada e pode ser entendida.
Além da biologia, ciências como a meteorologia — que estuda sistemas
complexos, inclusive os dos ventos e das chuvas — não podem replicar o
ambiente e, por isso, contam com o desenvolvimento de modelos que se ajustam
melhor e descrevem a realidade que medem. E as ciências que estudam os
sistemas sociais e o comportamento das pessoas — cujas atividades e
desempenhos inevitavelmente variam por causa de uma miríade de razões —
contam com metodologias que combinam a maior quantidade de dados possível
a fim de entender diferentes fenômenos e determinar sua importância. Embora
procurem controlar tanto quanto possível as variáveis externas, os cientistas
nesses campos reconhecem as incertezas intrínsecas aos fenômenos que estão
pesquisando. Por isso, eles tendem a fazer experimentos que envolvem grande
número de pessoas e utilizam métodos matematicamente comprovados para
analisar estatisticamente os resultados. Com o objetivo de continuar testando a
aplicabilidade de suas teorias, eles com frequência combinam os resultados de
uma série de diferentes experimentos naquilo que é chamado de meta-análise.
Reconhecendo que em seu campo tal variabilidade humana também é inevitável,
pesquisadores que estudam os efeitos não locais, ou efeitos psi, desenvolveram
progressivamente metodologias científicas consistentes, que permitem a
realização de tais meta-análises. De fato, é o número crescente dessas meta-
análises que corrobora conclusivamente o que o American Institutes of Research
sustenta: que tais efeitos não locais são reais.
Até sua morte, em 2004, durante 19 anos Robert Morris e seus colegas
parapsicólogos ao redor do mundo conduziram experimentos que mostraram
efeitos psi positivos com probabilidades contra o acaso de milhões para um. Em
comparação, a ciência convencional aceita como sendo significativos fenômenos
que têm probabilidades contra o acaso de apenas 20 para 1. E os resultados
obtidos por Morris e sua equipe no Koestler
Institute e outros centros de tais pesquisas, como o Princeton Engineering
Anomalies Research (PEAR) Laboratory, nos Estados Unidos, são dezenas de
milhares de vezes mais significativas do que as evidências necessárias para os
governos permitirem que uma empresa farmacêutica comercialize uma nova
droga!
CAPÍTULO 6 - Linguagem Cósmica

“Essa profunda convicção emocionai sobre a presença de uma


força racional superior, que é revelada no universo
incompreensível, forma a minha ideia de Deus.”
— ALBERT EINSTEIN

Os antigos filósofos gregos consideravam a matemática, a música e a


geometria como aspectos entrelaçados e complementares da “linguagem”
inerente ao Cosmos. E perceberam que todos os fenômenos incorporavam os
padrões arquetípicos criados e estruturados por essa linguagem informacional.
Essa linguagem cósmica é fundamentalmente harmoniosa e relacional — como
também o é a ordem holográfica por cujo intermédio a in-formação do campo A
molda os padrões das formas de onda da matéria e da energia que constituem os
domínios manifestos da realidade. A maioria de nós pode permanecer apenas em
distanciada familiaridade com as complexidades da matemática e da geometria,
mas a música dirige sua fala para alguma memória nas profundezas da alma,
dentro de muitos de nós. Seu poder de nos afetar, para o bem ou para o mal,
ressoa em um nível além da razão e dos motivos lógicos. Vamos agora explorar
como a linguagem da música está voltando a ser considerada como um domínio
que reflete a realidade integral do Cosmos.

Harmonizar

Há três atributos harmônicos da música que se aplicam igualmente a


todos os fenômenos em toda a Natureza, inclusive a nós mesmos. São a afinação
[sintonia (to attune tem os dois sentidos, ambos sugestivos e mutuamente esclarecedores, e também o de
harmonizar. Utilizaremos um ou outro, ou ambos, conforme o contexto - N.T.)], a coerência e a
ressonância. Quando olhamos para cada um deles, um depois do outro, podemos
reconhecer como a sabedoria dos sábios antigos é uma bússola de importância
crucial para uma compreensão mais profunda da maneira como a informação
cósmica cria o mundo que experimentamos.
Na música, o processo de afinação ocorre quando a frequência de um
instrumento é ajustada para harmonizá-lo com outro instrumento, ou com uma
nota-padrão, como a emitida por um diapasão. De maneira mais geral, nós nos
afinamos [sintonizamos] inconsciente ou conscientemente com outras pessoas,
com nosso ambiente e, também, num nível interior. De fato, nosso sentido de
bem-estar depende profundamente de em que medida estamos afinados
[sintonizados] com nós mesmos e com outras pessoas nos níveis físico,
emocional e mental. Reconhecemos isso, talvez sem percebê-lo plenamente,
quando dizemos que estamos “dentro” ou “fora” de sintonia (in tune, out of
tune), dentro ou fora do tom. E como os antigos compreendiam, o que
chamamos de doença é, basicamente, um estado de desarmonia. À medida que
nossa consciência cresce e se expande, nossa sensibilidade com relação ao
ambiente que nos envolve aumenta. Assim como os buscadores espirituais ao
longo de toda a história descobriram, nossa consciência expandida traz consigo
uma percepção e uma compaixão intensificadas.
Para compreender os dois outros atributos que pertencem tanto à
harmonia musical como à consciência, precisamos considerar que as formas de
onda não são definidas apenas por suas frequências, mas também por suas
amplitudes e por suas fases. Esses fatores podem ser mais bem apreendidos por
meio de um experimento simples:

Podemos criar uma onda em movimento ao segurar a ponta de um


pedaço de corda, deixando-a solta de modo que boa parte dela se estenda
pelo chão, e em seguida agitar a mão de um lado para o outro. Então,
veremos uma série de ondas que descem ao longo do comprimento da
corda. Perceberemos que cada onda se constitui numa curva três-em-um
que se ergue, atinge um pico e cai antes de começar o ciclo novamente,
erguendo-se mais uma vez. Cada estágio desse processo energético
representa uma fase de toda a onda. A amplitude da onda é a distância
entre o seu pico e o seu ponto médio, em torno do qual ela oscila, e
determina sua intensidade energética. As ondas são descritas como
coerentes quando suas fases e suas amplitudes estão alinhadas, seja
exatamente, seja em razões de números inteiros. Tal coerência na
natureza é a chave para um universo que está literalmente afinado [em
sintonia] consigo mesmo.

Ressoar

A ressonância é às vezes chamada de vibração simpática. Ela ocorre


quando alguma coisa está afinada, e, portanto, é coerente com algo mais, o que
permite às suas energias se combinarem. As energias focalizadas que a
ressonância produz são enormemente poderosas.
Por exemplo, uma lâmpada doméstica mediana usa 100 watts de
eletricidade, o suficiente para iluminar uma pequena sala. Mas a luz da lâmpada
abrange um espectro de frequências que são irradiadas fora de fase e que se
combinam umas com as outras para formar a luz branca que vemos. Quando a
mesma quantidade de energia, 100 watts, é usada para acionar um laser cuja luz
é tornada coerente, o feixe pode cortar metal. O mais longo feixe de laser até
agora testado — que se usou para uma comutação eletrônica de sinais entre uma
base na Terra e o satélite Messenger a caminho do planeta Mercúrio — se
estendeu por 24 milhões de quilômetros!
Na música, há uma relação fundamental quando a frequência de uma
nota é duplicada ou dividida ao meio, e então se diz que as duas notas estão
separadas por uma oitava. Podemos reconhecer a ressonância inerente nessa
relação quando pressionamos a tecla de uma nota grave no piano; pois então
ouviremos também, mas fracamente, suas oitavas superiores. As razões de
números inteiros entre as notas são usadas em toda a expressão musical. Cada
uma dessas razões confere coerência e ressonância a um som, enriquecendo e
dando profundidade à música.
Esses harmônicos simples, embora profundos, mostram que quando as
energias acústicas estão afinadas dessa maneira coerente, o som resultante é
amplificado e intensificado. Não apenas as energias do som, mas essencialmente
todas as energias podem ser combinadas dessa maneira.

Uma Oitava de Princípios Cósmicos

Quando aplicados à consciência e ao desenrolar de nossas experiências,


tais harmônicos eram considerados por diferentes tradições metafísicas como
princípios cósmicos. Vamos agora discutir brevemente uma oitava de oito
princípios cósmicos que reconhecemos examinando e comparando muitas
diferentes tradições de sabedoria.
Essa oitava de oito princípios cósmicos incorpora e põe em cena a
natureza harmônica do universo. Estar consciente desses princípios,
compreender o seu propósito e aprender como trabalhar em sintonia consciente
com eles melhora o nosso próprio bem-estar e o nosso bem-estar coletivo.

O Princípio da Relatividade

Já encontramos a presença do primeiro desses princípios na relatividade


da expressão universal discutida anteriormente. O princípio da relatividade nos
diz que tudo o que chamamos de realidade é mediado por relações. Vimos como
os princípios da Natureza estão permeados por tais relações. De maneira
semelhante, a dança relacional de nossas experiências humanas é compartilhada
por miríades de polaridades, cuja interação entre luz e sombra dá origem às
nossas percepções, e as reflete.

O Princípio da Resolução

Para além da aparência de tais polaridades, a aspiração máxima de uma


consciência evoluída é obter equilíbrio e totalidade. Essa busca está incorporada
no princípio da resolução.
Como já vislumbramos e continuaremos a descobrir, somos capazes de
expandir nossa percepção para além das limitações percebidas de nossa própria
pessoa e ter acesso às dimensões de uma consciência transpessoal. À medida que
nos abrimos à realização do universo in-formado, essa mudança em nossa
percepção coletiva anuncia uma resolução das separações que nos dividiram por
tanto tempo — tanto entre nós como dentro de nós. É essa odisseia cósmica que
os antigos frequentemente retratavam em seus mitos e lendas, e que seus adeptos
descreviam como a separação do Um para sua reunião final consigo mesmo.

O Princípio da Ressonância

Em seguida, a linguagem musical do Cosmos nos leva até o princípio


cósmico da ressonância, o qual guarda em si, como algo sagrado, as inter-
relações harmônicas, que constituem a assinatura do campo A holográfi- co. Nos
níveis físico, emocional e mental, somos entidades ressoantes e coerentes.
Estamos em constante comunicação com outras pessoas e com nosso ambiente,
embora não estejamos cientes da maioria dessas relações. Estamos ao mesmo
tempo afetando e sendo afetados pelo teor energético de nossas vizinhanças.
Fazemos uso da qualidade ressonante ao nosso redor, e nosso próprio estado
interior emocional e mental irradia para além de nós. Quando ressoamos com
medo, nosso corpo físico se retira e se fecha, e assim também fazem nossas
emoções. Mas quando ressonamos com amor, nosso corpo brilha e nossas
emoções são mais expansivas. Sentimentos de frequência superior, como as
expressões de amor, alegria e esperança, nos inspiram e energizam; frequências
inferiores, como medo crônico, ira ou desespero, nos drenam. À medida que
nossa percepção se expande, tornamo-nos mais coerentes — ressoamos com a
totalidade do Cosmos.
O Princípio da Reflexão

O princípio cósmico da reflexão é, em última análise, uma consequência


do princípio da ressonância pelo fato de ele descrever como as circunstâncias
externas da nossa vida refletem nosso estado interior — e vice versa.
O antigo sábio chinês Lao-tzé reconheceu essa profunda verdade há mais
de 2 mil anos, quando escreveu:

Se deve haver paz no mundo, é preciso que haja paz nas nações.
Se deve haver paz nas nações, é preciso que haja paz nas cidades.
Se deve haver paz nas cidades, é preciso que haja paz entre os vizinhos.
Se deve haver paz entre os vizinhos, é preciso que haja paz na casa.
Se deve haver paz na casa, é preciso que haja paz no coração.

O Princípio da Mudança

Uma vez que a mudança aparenta ser a única coisa que não muda em
nossa vida, o princípio cósmico da mudança pode parecer óbvio. No entanto,
quantos de nós tentam impedir a mudança e se bloqueiam emocionalmente
contra a sua presença? Muitos de nós olham com temor para as mudanças
inevitáveis em nossa vida; a mudança é vista como uma ameaça, e não como
uma oportunidade. No entanto, se aprendemos a conduzir as ondas da mudança
ao nosso redor, começamos a apreciar o propósito e o significado das lições que
elas nos fornecem.

O Princípio da Escolha e da Implicação

O princípio a que comumente nos referimos como o da causa e efeito


está entesourado na física clássica e em nossa percepção cotidiana das
experiências de nossa vida. Na física, ele foi uma pedra fundamental da teoria e
do experimento durante centenas de anos, mas a revolução que está se
desdobrando na maneira como vemos a nós mesmos e o mundo está virando o
nosso entendimento do espaço e do tempo de cabeça para baixo.
Essa profunda reinterpretação nos permite encontrar significados nas
“co-incidências”, as chamadas sincronicidades que não têm explicação no
sentido da causalidade linear. Em vez de causa e efeito, com a nossa visão
evolutiva do mundo-totalidade, podemos reenquadrar o princípio da causalidade
linear como o princípio da escolha e da implicação.
O Princípio da Conservação

O sétimo princípio é uma forma expandida da conservação da energia.


Na física, a conservação da energia afirma que, embora a energia total de um
sistema fisicamente fechado — tal como o ciclo de nosso universo — permaneça
constante, as formas que ela toma podem mudar. Há um fluxo e refluxo entre as
energias embutidas no universo e um contínuo processo de intercâmbio.
Quando se alia com o princípio anterior da escolha e da implicação, o
princípio da conservação se estende à nossa consciência e dá significado ao
antigo conceito de karma. O karma é frequentemente concebido de maneira
estreita como uma implicação “olho por olho, dente por dente” de nossas
escolhas conscientes, mas as escolhas são feitas em muitos outros níveis de
consciência e não apenas naquele da nossa percepção pessoal desperta. Embora
nossas escolhas feitas nesse nível certamente nos afetem, nós também afetamos
o mundo ao nosso redor em vários outros níveis. É somente na completude das
experiências que se desdobram ao longo do tempo e do espaço que o conceito de
karma desempenha plenamente o seu papel.

O Princípio da Concessão

O último princípio da oitava de oito princípios cósmicos é o da


concessão. Diferentemente de vários dos outros que têm uma contrapartida
física, o princípio da concessão pertence apenas à expressão da consciência
autoconsciente. Em essência, ele sustenta o aprendizado que vem de nossas
experiências. Ele nos pede para reconhecer que, ao vivenciarmos as implicações
de nossas escolhas — em quaisquer níveis que elas se manifestem — nós
aprendemos e crescemos.
Esse princípio requer que nós reconheçamos o significado subjacente das
circunstâncias de nossa vida. Ele nos pede para que reconheçamos nossa
responsabilidade por nossa escolha e aceitemos a conveniência do que delas
resulta.

A Lei da Atração

Os princípios da ressonância e da reflexão se reúnem na Lei da Atração,


a qual afirma que semelhantes atraem semelhantes — pensamento e intenção
positivos atraem resultados positivos, e vice versa.
O poder de nossa intenção e a energia que ela desencadeia dependem dos
nossos níveis de coerência e de intensidade. A afirmação de nossas intenções
positivas no pensamento, no sentimento e na ação aumenta o poder de nossas
habilidades. No entanto, é importante apreciar o fato de que a matriz dos níveis
de consciência física, emocional e mental por meio dos quais nossas intenções e
escolhas pessoais e coletivas são exploradas e experimentadas requer uma
“advertência à saúde” para que não interpretemos a Lei da Atração de maneira
muito simplista.
Há muitas razões pelas quais as circunstâncias de nossa vida são como
são. Expandir nossa percepção para entendê-las e também para entender nossos
padrões de comportamento e as crenças limitadoras nos permite ganhar a
perspectiva graças à qual podemos nos tornar mais equilibrados e completos.
Quando estamos dispostos a empreender essa busca, somos investidos de força
para “atrair” nosso propósito mais elevado a hm de que ele flua através de nós.
Essa é a jornada que nos leva a desenvolver uma coerência mais profunda. Os
fins mais coerentes são obtidos por intermédio dos meios mais coerentes. Nesse
contexto, “os meios não justificam os fins”; eles se tomam os fins.

Linguagem

Como vimos, a linguagem da harmonia musical nos permite perceber


como, em última análise, nos relacionamos uns com os outros e com o Cosmos.
Mas em nossa vida, também usamos outras formas de linguagem que
incorporam a sintonia [afinação], a coerência e a ressonância por vias que
intensificam a vida ou não.
A informação é expressa como miríades de formas de onda cujas
interações contínuas formam a matriz holográfica do mundo manifesto. E dentro
dessa teia in-formacional, tudo está conectado com tudo o mais numa totalidade
integral. E, no entanto, nas sociedades ocidentais as pessoas distanciaram
progressivamente seu eu individual dos das outras pessoas e do amplo mundo.
Num nível pessoal, nossa psique se tornou mais “desmembrada” do que jamais
acontecera antes.
Embora estudos com crianças bem novas mostrem que a cognição pode
existir sem palavras, nós aprendemos a filtrar grande parte de nossa percepção
da realidade por meio do véu de nossa linguagem culturalmente derivada. E,
portanto, como seres humanos, a linguagem que usamos tem importância central
para a maneira como vemos e interpretamos o mundo. Estudos feitos por
antropólogos nos mostram que onde uma sociedade não tem linguagem para um
conceito em particular, há pouca ou nenhuma percepção desse conceito —
mesmo que outras sociedades possam perceber sua normalidade.
Um dos muitos exemplos é o de como percebemos algo tão
evidentemente universal para a nossa espécie como a nossa experiência da cor.
Embora diferentes linguagens sejam mais ou menos ricas na maneira como
nomeiam as diversas cores, o povo zuni do sudoeste dos Estados Unidos não tem
palavras diferentes para o amarelo e o alaranjado. Quando lhes são mostradas
essas duas cores, eles não são capazes de diferenciar entre elas — não porque
eles sejam cegos à cor, mas porque não as percebem como cores diferentes.
A linguagem cientificamente focalizada que nós agora usamos
normalmente está baseada num conjunto mental que geralmente reconhece o
universo como separado e sem propósito. Desse modo, ao usar essa linguagem e
suas conotações, nós, nas sociedades ocidentais, adotamos sua visão de mundo
implícita. Apenas alguns exemplos bastam para nos mostrar quão desestimulante
e empobrecedora (disernpowering) é essa linguagem:

— O big bang, mesmo que tenha realmente ocorrido, não foi big
(grande) e nem foi um explosivo “bang”. O mundo físico se originou,
como vimos, de uma maneira incrivelmente precisa e primorosamente
ordenada.
— O chamado princípio da incerteza entesourado na teoria quântica não
descreve a imprevisibilidade que seu nome sugere. Ele na verdade
incorpora um profundo princípio de relação pelo fato de descrever as
limitações à medição de atributos complementares de entidades
quânticas.
— As probabilidades quânticas são normalmente usadas por cientistas
para sugerir que a realidade é aleatória e sem propósito. No entanto, as
probabilidades quânticas — na verdade, todas as probabilidades — não
são aleatórias. A in-formação permeia tudo, constituindo a base do
mundo físico. E, assim, as probabilidades formam um leque de
possibilidades no contexto da in-formação mantida nos níveis energéticos
que elas ocupam. Em vez de interpretar a dança de “escolhas” individuais
e de resultados coletivos como probabilística, a linguagem da ciência
reducionista tenta nos persuadir a ver o mundo como inerentemente
incerto e fragmentado.
— A expressão que é geralmente usada para descrever sistemas
complexos, como os padrões meteorológicos, é teoria do “caos”.
Paradoxalmente, essa teoria na verdade descreve a ordem subjacente a
tais sistemas. Mais uma vez, as associações remetem a um mundo
caótico incapaz de ser compreendido, e não à unidade de uma ordem
fundamental expressa por intermédio dos diversificados harmônicos do
mundo manifesto.
— A palavra vácuo é usada na física para denotar o espaço que não é
ocupado pela matéria. Ele nos traz à mente o vazio. No entanto, esse
espaço está longe de ser vazio; é mais correto concebê-lo como um
plenum. Pois ele é a sede de todas as forças da Natureza e de toda a in-
formação que estabelece seus valores e governa a maneira como as
entidades do mundo se comportam e evoluem.

Nossos pensamentos, emoções e percepções são expressos e


compartilhados por meio da linguagem que usamos. Então, quando os cientistas
fazem uso de conceitos enganadores, nós percebemos o Cosmos e nosso lugar
nele de uma maneira enganadora.
Há muitos nomes, termos e suposições com os quais estamos tão
familiarizados que não nos ocorre quão profundamente eles afetam nossa
percepção. Um deles, aparentemente simples, é o nosso próprio nome e a
maneira como nós, consciente e subconscientemente, nos sentimos a respeito
dele.
O nome que recebemos ao nascer pode conter um eco de como nos
sentimos sobre nossa educação e como nosso nome é usado pelas outras pessoas
— como um elogio ou como censura. Para muitos de nós, nosso nome foi
abreviado seja por nós mesmos ou por outros ao nosso redor. Alguns podem
mudar totalmente o seu nome quando ficam adultos, e o fazem por várias razões,
mas geralmente é porque eles acreditam que o seu nome de nascimento não
descreve mais quem eles são ou como se sentem.
As regras da linguagem escrita exigem que nomes “próprios”, como
Ervin, Jude, Nova York e Londres, comecem com uma letra maiúscula para
expressar sua importância e singularidade. No entanto, raramente escrevemos os
nomes da Terra, do Sol e da Lua — cada um deles único e certamente de
importância fundamental — como fazemos aqui, honrando-os com a letra
maiúscula. Isso pode parecer trivial, mas nosso afastamento da Natureza é uma
das separações mais sérias que há em nossa psique mutilada e é provável que
seja o relacionamento mais urgente que precisamos curar.
A fim de tornar disponíveis as evidências necessárias para que a visão do
mundo-totalidade se torne uma realidade revigorante, precisamos desenvolver
uma nova linguagem em que conceitos como os de realidade integral, cocriação,
ordem subjacente e propósito, e suas implicações se tornem enfatizadas e não
descartadas.
Coerência Cósmica

Antigos tratados metafísicos enfatizam a importância da oitava de


princípios cósmicos que delineamos há pouco. Eles ensinam diferentes maneiras
de sintonizar pensamentos e emoções, e o poder da afirmação e da intenção. De
muitas maneiras diferentes, eles compreendiam a linguagem cósmica da
harmonia e da coerência que embasa e guia o mundo das aparências.
A obtenção de tal harmonia e coerência interiores com o Cosmos dirige
algumas das tradições mais veneráveis. O caminho da ioga, desenvolvido na
cultura védica da índia há quatro milênios, deriva da mesma raiz que a palavra
inglesa yoke, que signiüca “conectar com”. Seu propósito é realizar a união entre
a psique pessoal e o Cosmos. Por meio da respiração, do movimento e do fluxo
intencional de energia, ela ensina aos seus praticantes como se afinar, e se tornar
coerente, com a natureza integral da realidade.
De maneira semelhante, as práticas chinesas do Tai Chi e do Chi Kung
— por meio de práticas de movimento e de respiração — também se destinam a
criar harmonia interior e bem-estar ao garantir que as energias vitais que se
difundem pelo nosso corpo fluam livremente e em equilíbrio. Ambas as
tradições nos percebem como seres de energia permeados por uma força vital
que os sábios védicos chamavam de prana e os chineses de chi. E ambas se
baseiam na visão de que somos microcosmos do macrocosmo de um Cosmos
totalmente integral.
A seguir, exploraremos como uma “nova” biologia está começando a
apreender o fato de que somos parte de uma totalidade integrada que abrange o
corpo, os sentimentos, a mente e a consciência — e também de que maneira
todos os organismos, incluindo nós mesmos, estão sendo, cada vez mais,
entendidos como campos coerentes de energia-informação.
CAPÍTULO 7 – Coerência

“Você me pergunta se eu mantenho um caderno de anotações para


registrar minhas grandes ideias. Eu só tive uma.”
— ALBERT EINSTEIN

A harmonia fundamental e a ordem coerente são subjacentes à


complexidade do mundo físico em todas as escalas da existência. Os físicos
quânticos se esforçam para entender o mundo em suas mais diminutas escalas
subatômicas, e os cosmólogos perscrutam as imensas regiões do espaço para
estudar as majestosas galáxias e a totalidade do universo. Nós, seres humanos,
literalmente permanecemos a meio caminho na escala entre os domínios nuclear
e galáctico — e, enquanto organismos biológicos, somos membros da forma de
vida mais complexa já descoberta no universo.

As Origens da Vida

Até muito recentemente, quase todos os biólogos consideravam que a


vida na Terra começou na Terra. Uma visão alternativa proposta pelo filósofo
grego Anaxágoras e desenvolvida pelo cosmólogo britânico Fred Hoyle e outros
na década de 1970 supõe que a vida biológica foi semeada no espaço, a chamada
teoria de panspermia. Hoje, um número crescente de cientistas está levando a
sério essa teoria.
Desde o início da década de 1950, biólogos tentam replicar as condições
que possibilitaram as origens da vida biológica. No final da década de 1990, uma
equipe de cientistas da NASA chefiada pelo astroquímico Louis Allamandola
conseguiu mostrar como moléculas orgânicas poderiam se formar na presença de
vapor de água a partir de elementos básicos — não na superfície da Terra, mas
nas condições extremas do espaço interestelar. Ao recriar essas condições no
laboratório, a equipe misturou hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e carbono (os
blocos de construção elementares da vida biológica) com vapor de água na
presença de alguns grãos de areia, que representavam a poeira interestelar.
Quando irradiaram a mistura com luz ultravioleta, tomada como fonte de
energia, complexas substâncias orgânicas — as precursoras das proteínas —
rapidamente se formaram ao redor dos grãos de areia. Mas não foi apenas isso o
que aconteceu: elas também se organizaram espontaneamente em vesículas —
pequenas bolsas de material orgânico, que são essencialmente membranas
separando e — o que é de importância crucial — protegendo os elementos
internos do ambiente externo. Modeladas como pequeninos bastões, tais
vesículas orgânicas têm outra característica crucial: umas de suas extremidades
atrai água e a outra repele água — uma forma ideal de auto-organização e uma
chave para a sobrevivência e a evolução de todas as formas biológicas
subsequentes.
O consenso dos astrônomos declara que o nosso Sistema Solar começou
como uma grande nuvem de poeira interestelar que continha esses quatro
elementos básicos da vida. Recentes descobertas de imensas nuvens de gás
interestelar ricas em vapor de água e compostos orgânicos apoia vigorosamente a
possibilidade de que as origens da vida na Terra podem ser rastreadas até
processos que já ocorriam no espaço.
Independentemente de a vida ter-se originado na Terra ou no espaço, a
pergunta permanece: “Como poderiam organismos complexos emergir no
período de tempo conhecido que estava disponível para eles neste planeta?” Isso
permanece um mistério para a ciência oficial. A maioria dos biólogos adere ao
conceito materialista do mundo, que o considera puramente físico, e da
evolução, que o considera como a expressão de forças aleatórias. Além disso,
geralmente se considera que o DNA e o código genético têm importância
primordial para a compreensão dos processos biológicos. Entretanto, Fred
Hoyle, que nos seus últimos anos teve um grande interesse pelas origens da vida
biológica, calculou que se apenas processos aleatórios levassem à formação do
DNA, seria necessário muito mais tempo para isso do que a idade atual de nosso
universo.
Porém, mesmo que o DNA se desenvolva a partir de moléculas mais
simples, que ofusquem a distinção entre o que é vida e o que não é, o argumento
de Hoyle a respeito da linha de tempo da evolução ainda se mantém. Se o
universo é de fato um processo aleatório, a evolução não poderia ter produzido
espécies complexas nos períodos de tempo conhecidos, e nós não estaríamos
aqui para discutir como isso aconteceu.
Estamos agora percebendo que é a surpreendente precisão que está
incorporada no universo desde o seu início e sua incrível ordem subjacente que
permitiram aos seus processos evolutivos se desdobrarem. O universo pode não
ter sido planejado como ele o é hoje, mas parece ter sido planejado, de alguma
maneira, para se tomar tal como é agora.

O Papel dos Genes


Em 1859, Charles Darwin publicou A Origem das Espécies. Um
bestseller imediato, o livro apresentou sua teoria de que os organismos evoluem
por meio de variações aleatórias de características, e aqueles que, graças a essas
variações, se mostram mais bem adaptados ao seu ambiente têm maior
probabilidade de sobreviver e de se reproduzir.
A visão de Darwin do mundo natural reconheceu que períodos de tempo
imensamente longos foram necessários para que a complexidade da vida na
Terra evoluísse até sua atual diversidade — embora ele não tivesse estimado
quão longos seriam esses períodos se apenas estivessem em ação processos
aleatórios. A compreensão subsequente de que nem todos os processos
evolutivos são graduais levou os biólogos a modificarem a teoria de Darwin e a
reconhecerem o chamado equilíbrio pontuado: mudança gradual pontuada por
transformações rápidas frequentemente impulsionadas por acontecimentos
catastróficos. Mesmo assim, o poder explicativo da teoria de Darwin mantém
sua influência até hoje. Isso se deve basicamente à descoberta do DNA em 1953,
pois o DNA e a existência dos genes pareciam fornecer o mecanismo
fundamental, se não o único, por meio do qual as mutações propostas por ele
poderiam ocorrer e impulsionar a evolução. Desde a descoberta crucial desse
plano genético, os biólogos se concentraram na exploração dos mecanismos
detalhados da genética.
Alguns dos adeptos da evolução darwinista ampliaram seu arcabouço
explicativo até a postura fundamentalista do “gene egoísta”, que pretende
explicar toda a vida. Mas, ao fazer isso, eles ignoraram, ou desprezaram,
evidências mostrando que nossos genes são os servos e não os mestres da
evolução; e que existe propósito, significado e organização inerentes na
Natureza. A ênfase biológica nos genes continuou predominante. Todavia, ela
pode ser radicalmente reconsiderada, em grande parte por causa do resultado
surpreendente do Projeto Genoma Humano em 2001 — cujo objetivo é mapear
toda a constituição genética da espécie humana.
Em conformidade com a visão predominante segundo a qual os genes
controlam a biologia, a expectativa da maioria dos biólogos era a de que se
descobriria que o número de genes em todo o nosso genoma poderia exceder
cem mil, de maneira a poder se correlacionar com, e gerenciar o número de
proteínas fabricadas pelo nosso corpo. Entretanto, para o grande choque da
maioria dos pesquisadores, o número final foi menor do que um terço desse
valor esperado. Na verdade, o número de nossos genes corresponde aos de
espécies mais simples. Num pequeno número de casos, incluindo o da planta do
arroz, somos nós que temos menos genes. Essa descoberta foi completamente
inesperada, e fez com que Craig Venter, um dos líderes da equipe que conduziu o
projeto, afirmasse: “Isso me diz que os genes possivelmente não são capazes de
explicar tudo o que faz de nós o que somos”.
Como se isso não fosse suficiente para causar uma reconsideração
radical, a parte do genoma que codifica as proteínas — a parte até agora
mapeada — constitui apenas uma minúscula proporção de toda a sequência
genética do DNA. Uma estimativa apresentada em 2007 sugere que ela é de
apenas cerca de 1%. Ainda é difícil entender os restantes 99% do nosso DNA.
Até muito recentemente, essa imensa maioria de todo o nosso genoma
era depreciativamente chamada de “DNA lixo” (junk DNA), ou DNA inútil.
Embora sua importância esteja começando a ser reconhecida, o que o levou a ser
rebatizado como DNA não codificado, apenas agora seu propósito está
começando a ser percebido. No Instituto Lebedev, em Moscou, os cientistas
russos Pjotr Garjajev, Vladimir Poponin e sua equipe de pesquisa é um dos
muitos grupos ao redor do mundo na corrida para desvendar as chaves desse
mistério — um mistério que reside dentro de cada célula de cada organismo, das
bactérias aos seres humanos. A abordagem da equipe russa, e o que ela descobriu
até agora poderiam revolucionar nossa compreensão do genoma e de seu
propósito. Comparando a estrutura da linguagem humana com a maneira como
estão arranjadas as bases elementares no DNA não codificado, a equipe acredita
que descobriu semelhanças. Eles estão propondo que ambas seguem regras
gramaticais para estruturar a informação que comunicam.
Outras equipes de pesquisa estão estudando as respostas vibratórias do
DNA, e sugerindo que sua forma é ideal para atuar como uma antena —
recebendo e enviando sinais para ligar ou desligar a expressão dos genes. Como
tal, em vez de ser a chave mestra de nossa forma física, nosso DNA é o kit de
ferramentas biológico que desempenha o papel de mediar nossas intenções,
volições e crenças.

Membranas e Cérebros

Os dois aspectos-chave das vesículas celulares primordiais — a inclusão


de água e a presença de uma membrana externa, sua fronteira protetora — estão
presentes em todos os organismos biológicos, dos micróbios até os seres
humanos. No entanto, as membranas biológicas não são passivas, mas fazem a
mediação ativa e contínua de processos de sinalização de duas vias entre o
ambiente e o organismo. Elas realizam isso por meio das chamadas proteínas
receptoras, que estão encaixadas dentro dessas membranas e que reconhecem
sinais, sejam eles sinais químicos, como íons eletricamente carregados, ou sinais
energéticos, como vibrações eletromagnéticas. Os receptores são tão importantes
para a construção de nosso corpo que, segundo se estima, cerca de 40% do DNA
codificado está lá para garantir que ele se reproduza perfeitamente.
Um biólogo pioneiro em reconhecer a primazia das membranas na
formação da vida biológica é Bruce Lipton. O núcleo das células individuais é
geralmente considerado como o seu “cérebro”, pois é nele que a maior parte do
DNA celular está localizada. Entretanto, Lipton e alguns outros biólogos adotam
a visão segundo a qual, em vez do núcleo, são as membranas das células que nos
sugerem funções cerebrais, pois elas não apenas percebem o ambiente, mas
também efetuam a mediação ativa das informações.
Lipton e outros pesquisadores notaram que a maneira ótima de organizar
energeticamente membranas bidimensionais no espaço tridimensional consiste
na incorporação da geometria fractal — a base dos processos holográficos. No
desenvolvimento de organismos multicelulares, as membranas do corpo todo,
que envolvem o organismo, atuam como processadores de informação para o
molde (template) energético e informacional da forma global. Lipton descreve a
complexidade crescente de tal desenvolvimento chamando-a de evolução fractal,
e, sendo biólogo celular, ele se concentra em seus processos a partir de dentro
dos organismos. O cientista sistêmico Stuart Kauffman examina a evolução por
uma perspectiva diferente, mas chega à mesma conclusão. Ele é apaixonado por
relações, o que o levou a se aprofundar em linhas de pesquisa que podem revelar
os fundamentos da forma biológica.
Como descobrimos antes, os atratores são os moldes subjacentes das
formas que eles precedem e guiam. Kauffman modelou os atratores que operam
dentro de uma rede formada por conexões nodais triplas. Quando postas a operar
a partir de qualquer padrão aleatoriamente escolhido, as redes que incorporam
essas relações particulares acomodam-se rapidamente em ciclos estáveis.
Estendendo essas ideias à constituição genética de um organismo, ele propôs que
cada um dos tipos de células especializadas dentro dele pode equivaler a um
ciclo particular de estados genéticos. Para testar isso em diferentes organismos,
Kauffman mapeou a quantidade de DNA dentro de uma célula confrontando esse
valor com o número de diferentes tipos de células. Ao fazer isso, ele conseguiu
mostrar que elas se relacionam umas com as outras sob a forma de uma lei
exponencial e, desse modo, revelam sua natureza fractal invariante com relação
à escala.
No genoma humano, Kauffman propôs que os nossos cerca de 200 tipos
de células especializadas são atratores em uma rede de dezenas de milhares de
genes que interagem uns com os outros numa base tripla. Embora em cada tipo
de célula a maioria dos genes seja inativa, uma minoria deles interage uns com
os outros num padrão repetitivo que se recicla continuamente, dependendo do
tipo de célula. Nesse modelo emergente, as variações e mutações da expressão
genética constituem uma resposta a sinais ambientais mediados pela membrana
celular, como sugere Lipton. A emissão de novas instruções para o genoma
dentro da célula mudará então as conexões nodais entre os genes e, portanto,
determinará se, e de que maneira, elas serão expressas. Tais mudanças, por sua
vez, desencadeiam alterações súbitas, conhecidas como bifurcações, na evolução
dos sistemas. No estudo de sistemas complexos, sabe-se que elas produzem
mudanças na configuração dos atratores e o surgimento repentino de novas
formas de ordem.
A estrutura do DNA como uma dupla hélice é ideal para atuar como uma
antena que recebe e transmite ondas eletromagnéticas. Ressonantemente ligadas
por meio dos receptores nas membranas das células, essas “antenas” permitem
que uma coerência contínua flua ao longo de todo o organismo e que ocorra uma
ressonância seletiva com o seu ambiente.
Uma premissa básica do paradigma centralizado no gene é a regra men-
deliana para a transmissão das características hereditárias. Ela afirma que,
embora a informação possa ser transmitida dos genes para o organismo, nada
que aconteça ao organismo durante a sua vida pode afetar os genes ou ser
transmitido às gerações futuras. No entanto, essa visão, progressivamente,
também está se revelando insustentável.
Pesquisas realizadas na Universidade da Virgínia e em outros centros de
pesquisa estão redefinindo o significado de herança genética. Cientistas
descobriram em estudos sobre gêmeos idênticos e gêmeos fraternos e seus filhos
que tendências comportamentais e de estilo de vida podem ser transmitidas.
Testes com animais de laboratório mostram que tais tendências podem ser
herdadas e transmitidas ao longo de várias gerações subsequentes. Embora o
código do DNA possa ser imutável, em alguns tipos de células surgem diferenças
na maneira como os genes se expressam. Essas diferenças são transferidas para
as células da prole — fenômeno denominado herança epigenética. Essas
características e influências epigenéticas — embora, aparentemente, não tenham
importância evolutiva de longo prazo — podem ser transferidas ao longo de
várias gerações tanto em seres humanos como em todo o reino animal.

Coerência Orgânica

O modelo predominante de evolução biológica, que dá tanta ênfase à


importância central dos genes, precisa ser radicalmente reconsiderado. Em vez
dele, precisamos reconhecer todo o organismo como uma entidade coerente em
constante e dinâmica interação multinivelada com seu ambiente.
Um dos primeiros passos na evolução de formas de vida complexas, a
conversão da energia que jorra para a Terra vinda do Sol, conhecida como
fotossíntese, exige a presença de uma notável forma de coerência nas bactérias.
O biofísico Gregory Engel e seus colaboradores relataram na revista Nature de
abril de 2007 que uma forma de coerência, que se pensava estar presente apenas
no micronível dos quanta subatômicos, está efetivamente presente nas bactérias
verdes do enxofre. Essa “coerência quântica” atua como “guia de onda” da
energia que conecta o cromossomo coletor de luz ao centro de reação da
bactéria. Sem a transferência de energia ondulatória criada por meio dessa forma
de coerência, a eficiente fotossíntese que permitiu à vida evoluir em nosso
planeta poderia não ter acontecido, e na Terra não existiria vida mais complexa
que a das bactérias.
No tecido vivo, a coerência quântica foi demonstrada por Eric Cornell,
Wolfgang Ketterle e Cari Wieman em experimentos pelos quais eles receberam o
Prêmio Nobel em 2001. Enquanto entidades biológicas, somos seres energéticos
num contínuo estado de vibração coerente. Não apenas os nossos sistemas
neurofisiológicos internos se interligam por meio do intercâmbio de energia,
mas, como veremos, nossa própria percepção da realidade depende de tal
coerência.

Biocampos

Procurar compreender o que é que vivifica a vida — que entra no corpo


físico com o seu nascimento e o deixa com a sua morte — tem sido uma busca
da humanidade desde as primeiras eras das quais temos registros.
Muitas tradições em todo o mundo perceberam a manifestação da
consciência por meio de vários níveis de frequências energéticas. Técnicas de
cura orientais continuam essa tradição holística, na qual a doença é tratada como
um bloqueio ou desequilíbrio no fluxo de uma energia denominada força vital.
Quase todas as abordagens não ocidentais da medicina falam de uma força vital,
como o prana da tradição hinduísta e o chi da tradição chinesa. Essas forças, de
acordo com essas tradições, vivificam uma entidade biológica em seu
nascimento e dela se retiram em sua morte.
A importância dos campos eletromagnéticos de energia muito baixa
associados com os fluxos de energia do corpo está sendo reconhecida, e esses
campos, progressivamente, estão sendo medidos. Esses fluxos de energia
percorrem caminhos particulares que a medicina oriental desde há muito tempo
identifica com o nome de meridianos. Assim como o sistema arterial transporta o
sangue para todo o nosso corpo, considera-se que esses meridianos transportam
os componentes sutis, e também os eletromagnéticos, dessas energias. Ao redor
de nosso corpo e distribuídos ao longo desses meridianos, existem
aproximadamente mil pontos que são os nodos para tais energias, aos quais se
pode ter acesso por meio da pele. A tradição chinesa da acupuntura usa agulhas
extremamente finas inseridas na pele, sem causar dor, nesses pontos para liberar
bloqueios energéticos, acelerar a cura de feridas, controlar a dor e estimular o
fluxo de energia no sistema de meridianos.
Na década de 1950, o médico alemão Reinhold Voll foi o pioneiro em
fazer testes eletrônico com a acupuntura. Ao mostrar que dentro de uma área de
alguns milímetros de diâmetro ao redor dos pontos de acupuntura ocorre uma
redução significativa da resistência elétrica da pele em comparação com os
pontos de não acupuntura, ele também comprovou que há diferenças
mensuráveis nos níveis de resistência nesses pontos entre corpos saudáveis e não
saudáveis. Num estudo realizado em 1992 envolvendo 300 voluntários, os
médicos Jean-Claude Darras e Pierre de Vernejoul injetaram rastreadores
radioativos sob a pele em posições de pontos de acupuntura. Eles não apenas
foram capazes de rastrear seus caminhos ao longo do corpo, mas também
mostraram que esses caminhos seguiam os meridianos tradicionais da medicina
chinesa, enquanto os rastreadores que eram injetados em pontos de não
acupuntura simplesmente se dispersavam. Também descobriu-se que a taxa de
difusão ao longo do sistema de meridianos de energia estava de acordo com a
antiga percepção de que os fluxos de energia que percorrem um corpo saudável
estão correlacionados com seus ritmos circadianos ou biorritmos diários.
A eficiência da acupuntura para o alívio da dor é atualmente apoiada por
um número crescente de estudos. O neurocientista Bruce Pomeranz foi o
primeiro a mostrar que a acupuntura dispara a produção de endorfinas — os
hormônios naturais do nosso corpo associados à nossa sensação de bem- estar. A
utilização da tecnologia da MRI funcional (fMRI - sigla para Functional Magnetic
Resonance Imaging, Formação de Imagens por Ressonância Magnética Funcional - N.T.) para
escanear os padrões cerebrais, realizada por vários pesquisadores, inclusive
Zang-Hee Cho, na Universidade da Califórnia, em Irvine, mostrou em anos
recentes que a acupuntura dessensibiliza os controles da dor em nosso cérebro.
De fato, sua capacidade para reduzir a dor é tão poderosa que ela é usada para
realizar cirurgias cardíacas sem o uso de anestésicos.
A tradição chinesa sustenta que as energias chi se originam nos ossos.
Diante disso, é interessante observar que no ano de 2000 descobriu-se que as
células-tronco (as células fundamentais indiferenciadas do corpo) se originam na
medula óssea. A dra. Eva Mezey, do U.S. National Institutes of Health,
descobriu que elas, em seguida, sofrem mutação em células imunes e, desse
modo, permanecem “inatacáveis” pelas defesas do corpo à medida que migram
através do corpo até o cérebro, onde voltam a se diferenciar como neurônios.
Isso se soma às evidências que contradizem a suposição previamente sustentada
por neurocientistas segundo a qual nascemos com um certo número de neurônios
que, progressivamente, morrem à medida que envelhecemos. Em vez disso, o
processo de regeneração continua ao longo de nossa vida, e, além disso,
descobriu-se ser esse processo responsivo à nossa disposição para aprender,
mudar e crescer em maturidade emocional, mental e espiritual.

O Corpo Elétrico

Pesquisas sugerem que o biocampo, o molde informacional-energético


causativo do organismo, é mediado na forma física por campos eletromagnéticos
coerentes. O bioquímico Albert Szent-Györgyi apontou, na década de 1960, que
a estrutura molecular de muitas partes da célula é suficientemente ordenada para
sustentar a semicondução de eletricidade. Na década de 1980, o físico Cyril
Smith e o pesquisador Simon Best compararam o conjunto ordenado das células
biológicas a uma função de Shah, que é uma versão específica da transformada
de Fourier — o meio matemático para transformar fenômenos em suas formas de
onda fundamentais, e também de transformá-los a partir dessas formas de onda.
É um fato muito conhecido que os nervos em todo o corpo humano são
polarizados energeticamente e uniformemente: positivos na extremidade da
entrada (ou dendrite) e negativos na fibra de saída (ou axônio). Isso permite que
os impulsos elétricos se movimentem apenas em um sentido, guiando-os
portanto e conferindo desse modo uma coerência eletromagnética global ao
nosso sistema nervoso. Foi o médico pioneiro Louis Pasteur que descobriu no
século XIX que é a polarização de campos elétricos dentro do corpo que
diferencia a matéria biológica viva da matéria morta, mesmo que suas
composições químicas sejam idênticas.
Os campos elétricos também estão intimamente envolvidos em estimular
os meios pelos quais as células se tornam funcionalmente especializadas.
Durante quase 30 anos, o mecanismo pelo qual elas fazem isso foi investigado
pelo médico Robert O. Becker e resumido em seu livro de 1985, The Body
Electric, em coautoria com Gary Selden. Parte da pesquisa de Becker envolveu
seu uso inovador de campos eletromagnéticos para estimular o recrescimento das
células. Para chegar a isso, ele inicialmente estudou a regeneração dos membros
nas salamandras e em outros anfíbios, como as rãs, que têm poderosas
capacidades para se regenerar naturalmente. Os organismos biológicos são
constituídos de células, algumas das quais (chamadas células-tronco) são
consideradas “in-diferenciadas”, pois elas podem sofrer mutação ou se
“diferenciar” em células especializadas, como as do fígado e dos músculos. O
que Becker descobriu é que nos anfíbios, os campos elétricos que operam no
local de uma ferida desencadeiam um processo de desdiferenciação nas células
sanguíneas adjacentes, e sua rediferenciação subsequente, para permitir a
regeneração de um membro perdido. A corrente elétrica parece interagir com a
membrana celular, apoiando a visão de Lipton de sua função inteligente. E à
medida que o processo de reparação continua, o campo elétrico, cuja intensidade
inicialmente aumenta depois que ocorre o ferimento, retorna ao seu nível normal
quando o processo de cura é completado.
A capacidade para a regeneração natural parece diminuir com o aumento
da complexidade evolutiva. Isso parece estar associado com o fato de que uma
quantidade proporcionalmente maior de tecido nervoso se concentra no cérebro,
reduzindo a quantidade de bbras nervosas disponíveis em outras partes do corpo
a valores abaixo do nível crítico necessário para estimular a regeneração. No
entanto, na fisiologia dos mamíferos parece persistir uma capacidade residual de
regeneração. E Becker descobriu que é a atividade elétrica específica da
epiderme (a camada externa da membrana da pele), que inicia o recrescimento.
Ele percebeu que depois de ocorrer um ferimento, as fibras nervosas, ao
recrescerem, estabelecem conexões singulares, que só se manifestam nessa
situação, com a camada da epiderme, criando o que foi chamado de junções
neuroepidérmicas, ou JNES. Atuando como plugues elétricos encaixados em
tomadas, eles completam o circuito elétrico exato para transportar a informação
necessária que dispara a desdiferenciação das células circunvizinhas e sua
subsequente rediferenciação em tecido saudável. Em tais ferimentos, o sentido
(polaridade) mais a amplitude e a intensidade da corrente elétrica operam como
um sistema de informação direcional que atribui valores específicos a cada área
do corpo. Isso é equivalente à maneira pela qual sistemas complexos são
mapeados matematicamente no espaço de fase, o que, como já vimos, revela os
padrões subjacentes dos sistemas fractais e dos processos holográficos em ação.
Tais pesquisas estão demonstrando como campos eletromagnéticos
coerentes e de baixa energia desempenham um papel de importância crucial na
estruturação da forma e na manutenção de nossa saúde, e da saúde de todos os
organismos.

Luz Coerente

A pesquisadora pioneira Valerie Hunt contribuiu significativamente para


a compreensão de nosso biocampo ao estudar campos de energia
eletromagnética de baixo nível. Ela identificou dois tipos principais de campos,
que se complementam mutuamente para coordenar nosso molde corporal e
nossas funções corporais. O primeiro tipo opera como um mecanismo alternado
liga/desliga, e o segundo funciona como um campo de energia direto, contínuo,
embora flutuante.
O campo elétrico alternado é bem conhecido. Ele permeia nosso sistema
nervoso causando a transmissão de impulsos nervosos, glandulares e outros
impulsos sensoriais. Operando por meio de processos digitais de sinalização
“liga” ou “desliga”, ele desencadeia uma multidão de processos somáticos que
vão desde contrações musculares, passando pelos batimentos cardíacos, até as
secreções das glândulas e a muitas de nossas impressões sensoriais. O outro tipo
é um campo eletromagnético contínuo de baixa intensidade que parece irradiar
continuamente num nível celular que Hunt e outros pesquisadores concebem
como o componente eletromagnético do molde do campo de nossa forma
corporal, associado com o campo regenerador de Becker.
Hunt também conseguiu investigar as energias mensuráveis dos vórtices
rodopiantes, os centros de energias do corpo que os antigos conheciam como
chakras. Dos sete chakras fundamentais que são considerados mediadores da
percepção e das energias de nosso campo pessoal de energia, supõe-se que cinco
deles estão alinhados ao longo dos meridianos principais que sobem pela espinha
dorsal, um deles situado entre os olhos, e num nível ligeiramente acima deles, e
o último no topo da cabeça. Associados com o plexo nervoso e com o sistema
endócrino de nosso corpo, que secreta e regula equilíbrios hormonais, os chakras
— como são concebidos pelas tradições orientais — desempenham um papel
fundamental na mediação da consciência.
Descobriu-se que os registros eletrônicos do biocampo humano são mais
intensos sobre os chakras. Quando o sinal vindo do campo alternado do sistema
nervoso é filtrado, em frequências acima de 500 ciclos por segundo, o campo
contínuo de baixa intensidade pode ser percebido. Pelo que parece, as
frequências desse campo de energia coerente são cerca de dez vezes mais altas
que as do campo por meio do qual o sistema nervoso do corpo é controlado,
embora sua intensidade seja menor do que metade da de um músculo em
repouso.
Outro investigador de ponta do biocampo humano é o biofísico
FritzAlbert Popp. Com seus colaboradores do International Institute of
Biophysics, Popp estudou durante muitos anos um outro aspecto do biocampo,
relacionado à emissão de luz, os “biofótons”. Essas emissões constituem uma
luminescência coerente de baixo nível na faixa do espectro luminoso que vai da
luz visível até a radiação ultravioleta, uma aura cuja função, pelo que parece, é a
de efetuar a regulação dos processos energéticos e de comunicação com as
células e entre as células. Trabalhando em colaboração com Popp, o físico russo
Konstantin Korotkov desenvolveu uma maneira de amplificar o nível de
emissões biofotônicas com o objetivo de medir a aura humana. Ele desenvolveu
a técnica de Visualização por Descarga em Gás (Gas Discharge Visualization —
GDV), ou Visualização de Descarga de Gás, inicialmente como um recurso
diagnóstico, uma vez que o nível de emissão varia segundo os organismos sejam
saudáveis ou não.
Mais recentemente, o uso da GDV foi estendido a pesquisas sobre a
ligação entre os biocampos e a consciência. Quando fazia leituras da aura de
agentes de cura na ocasião em que estavam enviando energias curativas,
Korotkov descobriu alterações significativas. Por outro lado, quando pediu a
voluntários para que enviassem fortes pensamentos de amor ou de ódio, o
monitor do GDV exibiu mudanças dramáticas em suas emissões de luz. E assim
como Cleve Backster o fizera muitos anos antes — quando ligou seu
equipamento a uma planta e estudou suas reações no momento em que se
enviava a ela poderosas intenções de ameaça ou de carinho —, Korotkov mediu
as respostas do organismo.
Pesquisas recentes estão mostrando que o sempre presente “ruído”
eletromagnético de fundo que ocorre nos sistemas vivos pode amplificar de
maneira significativa os campos de energia fracos por meio da ressonância. Já
vimos qual é o poder da ressonância. Aqui, ela é capaz de produzir uma grande
intensificação daqueles que, de outra maneira, seriam estímulos que ocorreriam
abaixo do limiar necessário para disparar mudanças. Sabe-se hoje que essa
ressonância, denominada ressonância estocástica, ou de fundo, ocorre numa
ampla faixa de sistemas em todo o corpo, inclusive no processamento de
informações sensoriais e na oscilação de reações químicas.

A Maravilha da Água

A profunda importância da água como condutora, transdutora e


ressonadora de energias, e da informação que essas energias transportam,
também está começando a ficar evidente.
Já sabíamos que a água é uma chave para a vida biológica, e mesmo
assim podemos não estar cientes de quão incrivelmente especial ela é. A água
dentro das células vivas é, com frequência, considerada como muito semelhante
à dos oceanos. Porém, num sentido crucial, ela é diferente. Isso porque, ao
contrário da água dos oceanos, a água em nosso corpo é altamente estruturada, e
essa ordem organizada tem importância crucial para o funcionamento saudável
de nossas células. Assim como a ressonância de fundo, produzida por campos
eletromagnéticos, ajuda a aumentar a coerência de nosso biocampo, a água como
uma condutora de tais campos também intensifica o armazenamento, a condução
e a transdução de informações e, graças a isso, facilita os processos que
permitem ao nosso corpo manter equilíbrio e harmonia. No interior de nosso
corpo, a água que bebemos passa por mudanças radicais quando se aproxima da
superfície das moléculas de DNA. Sua rede vibratória de ligações de hidrogênio
reduz seu compasso, e sua presença guia efetivamente as interações entre o DNA
e as proteínas que estão por perto.
Monika Fuxreiter, da Academia de Ciências da Hungria, e seus
colaboradores descobriram que, surpreendentemente, a água faz isso
retransmitindo informação para as proteínas. Essa informação as adverte de
problemas potenciais com o DNA e, portanto, permite que elas se desloquem para
um local potencialmente mais benéfico.
Em 2005, o cientista de materiais Rustum Roy e seus colegas
pesquisadores também projetaram luz num possível mecanismo para a eficiência
dos tratamentos homeopáticos baseados na água. Eles descobriram que a água
tem certas propriedades chamadas de epitaxiais. Graças a elas, a estrutura
atômica da água lhe permite formar, por ressonância, um molde, ou gabarito, de
outras substâncias. Isso, por sua vez, permite-lhe, essencialmente, reter a
memória da substância original, mesmo quando ela não está mais presente. A
ressonância e, portanto, a potência de um remédio homeopático é aumentada
ainda mais por meio da prática da sucussão. A água é sacudida com muito vigor,
e isso, mostram os pesquisadores, produz mudanças fundamentais em sua
estrutura.

Cristais de Luz

Na década de 1980, descobriu-se que a luz coerente pode in-formar


efetivamente o autoagrupamento (ou automontagem) de matéria. Dirigir um
feixe de laser sobre minúsculas contas de poliestireno suspensas em água causa
uma automontagem imediata desse material numa estrutura cristalina.
Escrevendo para a revista New Scientist em maio de 2006, o jornalista Justin
Mullins relatou que a própria luz “atua como o arquiteto, o pedreiro e o operário
habilitado para a construção de edifícios, transformando blocos de construção
em templos”. Ao mudar a polarização da luz (a restrição do campo
eletromagnético a direções específicas), as estruturas cristalinas, de maneira
espetacular e imediata, mudam de uma forma geométrica para outra.
Kishan Dholakia e colaboradores da Universidade de St. Andrews, na
Escócia, estão usando essas técnicas para criar arranjos ópticos de estruturas
biológicas como os glóbulos vermelhos. Ao demonstrar o poder organizacional
da luz, que nos organismos biológicos é estabilizado pela estrutura das ligações
químicas, eles nos ajudam a entender como as energias coerentes dos biocampos
criam a forma orgânica.
As maneiras pelas quais não apenas as vibrações coerentes da luz, mas
também do som podem criar padrões são estudadas num ramo da física
denominado cimática. Aqui, a aplicação de uma frequência específica de som
faz com que a areia e outras pequenas partículas se autoagrupem em estruturas
geométricas e harmônicas.

Somos Todos “Gémeos Jim”

A coerência não local de nosso corpo é surpreendente. A descoberta do


chamado bioentrelaçamento é um exemplo a mais dessa coerência e de como ela
está incorporada em nós.
Os estudos de casos de gêmeos idênticos mostram que, numa proporção
notável, toda a história da vida deles pode refletir tal entrelaçamento. Talvez o
exemplo mais conhecido disso seja o dos “gêmeos Jim”, que foram separados
quando tinham apenas quatro semanas de idade e não voltaram a se encontrar até
que atingiram a idade de 39 anos. Estudados por pesquisadores da Universidade
de Minnesota, as histórias de suas vidas apresentam semelhanças espantosas.
Embora suas alturas e seus pesos idênticos e as semelhanças em seus gostos e
antipatias pudessem ser atribuídos às suas predisposições genéticas, outros
aspectos de suas vidas mostram um nível de coerência que é mais misterioso.
Ambos os gêmeos eram chamados de Jim pelos seus pais adotivos, que não se
conheciam, e ambos quando eram meninos tinham cães chamados Toy. Cada um
deles se casou com uma mulher chamada Linda, e se divorciou, voltando a se
casar com uma mulher chamada Betty. E quando eles finalmente se encontraram,
descobriram que ambos eram bombeiros e que, antes disso, haviam trabalhado
por meio período como xerifes.
Durante os últimos 40 anos, experimentos sobre os padrões cerebrais de
pares de gêmeos idênticos mostraram repetidas vezes que havia um alto nível de
coerência não local entre eles. Em 2004, o psicohsiologista J. Wackermann
apresentou uma análise de revisões de experimentos /MRI que ilustraram a
ativação do córtex visual do cérebro de uma pessoa quando seu parceiro esteve
sujeito a um flash estroboscópico num quarto afastado. Tais experimentos de
“transferência de estímulos” podem ser repetidos, e podem ser verificados
independentemente —, mostrando, sem sombra de dúvida, a realidade da
transferência não local de um cérebro para outro.
Há cada vez mais evidências do fato de que o molde informacional, ou
biocampo informacional, de um organismo é uma parte dele que é tão real
quanto as suas células, coração ou membros. E que todos os organismos —
inclusive nós mesmos — são “sistemas quânticos macroscópicos” que não
podem ser reduzidos à soma de suas partes.
CAPITULO 8 – Experiência

“Nossa tarefa precisa ser a de nos libertarmos desta prisão [a


ilusão do espaço e do tempo] ampliando nosso círculo de
compaixão até abranger todas as criaturas vivas e a totalidade da
natureza em sua beleza.’’
— ALBERT EINSTEIN

Em 1995, o filósofo da consciência David Chalmers fez duas perguntas.


A primeira, que ele definiu como a pergunta “fácil”, indaga como o cérebro
material opera e como ele mantém interligada e coesa a superabundância de
dados sensoriais para formar nossa percepção coerente do mundo. A segunda, a
pergunta “difícil”, é: “Como pode o cérebro material ‘gerar’ a mente imaterial e
as realidades de nossa experiência?”.
As perguntas de Chalmers resumem a abordagem de uma ciência
materialista para a qual a consciência é apenas o resultado de processos
evolutivos aleatórios. No entanto, como observamos ao longo de todo este livro,
uma nova visão de realidade está emergindo. E, por isso, nós sugerimos —
juntamente com um número crescente de cientistas que pesquisam na linha de
frente da ciência — que ambas as perguntas, especialmente a segunda, precisam
ser radicalmente reformuladas.
Em sua maioria, os cientistas estão focalizados em suas próprias
especialidades. Embora isso lhes permita mergulhar cada vez mais fundo nas
características específicas de seus campos de pesquisa, isso também estreita e
limita, como consequência, seu entendimento do mundo mais amplo. Assim, por
exemplo, a maioria dos biólogos não apenas desconhece as descobertas mais
recentes nos campos da física e da ciência dos sistemas complexos como
também seu entendimento está muito defasado e, portanto, se emaranha numa
visão de mundo já ultrapassada. Eles, no entanto — assim como os cientistas, em
sua maioria, o fazem, e assim como os padres também o fazem, entrincheirando-
se em antigas ideologias —, com frequência falam com um nível de autoridade
que não se justifica dada a sua falta de um conhecimento mais amplo e
atualizado.
De fato, há muito poucos grandes cientistas que têm a amplitude de
interesses e de percepção para, ao mesmo tempo, compreender e ajudar a
desenvolver uma nova visão de mundo, que abranja descobertas que a ciência
não é capaz de acomodar no paradigma existente.
Entretanto, a visão emergente da realidade integral oferece uma visão de
mundo abrangente e aponta o caminho para se responder às duas perguntas, a
“fácil” e a “difícil”, propostas por David Chalmers. Pois, em vez de perceber a
“materialidade” separada da “imaterialidade”, e a mente da matéria, ela
reconhece que tudo o que chamamos de realidade é uma trama integrada de
processos coevolutivos e cocriativos.

Curando a Totalidade

As pesquisas pioneiras sobre a consciência estão expandindo nossa


percepção dos poderes da mente humana e nossa capacidade para perceber e
influenciar em níveis não locais — poderes de que a maioria de nós ainda não
está ciente.
Como descobrimos no capítulo anterior, nosso corpo é uma totalidade
coerente, que está continuamente ressoando com nosso ambiente numa multidão
de níveis. Nossos pensamentos e emoções são aspectos integrais de como
experimentamos a realidade. Nosso corpo, mente e sentimentos precisam ser
considerados como uma totalidade que só pode ser adequadamente
compreendida em sua completude. Não tem sido essa a abordagem da medicina
ocidental. Embora os sintomas da doença sejam identificados e tratados com
remédios específicos, suas causas mais profundas frequentemente não são
reconhecidas, como também geralmente não o são suas implicações mais
amplas. Isso se parece muito com a tentativa de entender uma peça musical
considerando apenas suas notas individuais.
As notas musicais, assim como os sintomas das doenças, podem ser
especificamente identificadas. Mas é apenas quando elas são apreciadas como
partes da composição inteira que o propósito e o significado de uma peça
musical podem ser elucidados. De maneira semelhante, apenas quando uma
doença é compreendida num contexto holístico, sua causa, em vez dos seus
sintomas, pode ser tratada e, finalmente, ela pode ser curada.

Nosso Sentido de Tempo

O cérebro humano é o sistema de processamento de dados mais


surpreendente já descoberto. Em comparação com ele, os mais poderosos
computadores construídos até hoje são mais simples do que o mais simples dos
organismos biológicos unicelulares.
Os computadores digitais codificam sinais de entrada (input) e saída
(output) como bits (sequências de Os e ls) e processam a informação por meio de
comutadores eletrônicos liga/desliga que manipulam os bits. Além disso, os
computadores têm um relógio interno que sincroniza suas operações de
processamento de dados. Embora essa abordagem seja uma base de trabalho para
muitas de nossas tecnologias, ela é totalmente inadequada para realizar o tipo de
tarefas mentais complexas que o nosso cérebro processa e que tomamos como
certas. Por exemplo, nosso reconhecimento visual de um rosto numa multidão é
uma tarefa que podemos realizar sem um momento de hesitação, mas os
computadores acham essa tarefa incrivelmente difícil. A razão dessa dificuldade
é que nosso cérebro abrange uma matriz dinâmica de cerca de cem bilhões de
neurônios — células nervosas que, como os computadores, operam
eletricamente. Mas, em vez de simplesmente disparar sinais digitais de
liga/desliga, elas se comportam de uma maneira chamada de analógica, e são
capazes de responder a inputs e de produzir outputs de voltagens que abrangem
todo um leque de intensidades de sinais.
Além disso, vimos que, diferentemente dos computadores, não há relógio
interno em nosso cérebro. Nossas percepções dos acontecimentos se acumulam a
partir de vários inputs em andamento baseados em nossos sentidos e vindos de
nosso ambiente. Eles chegam em intervalos de tempo de alguns milissegundos; e
é apenas quando ultrapassam cumulativamente um limiar de energia que um
dado neurônio envia um sinal de output, cujo disparo está correlacionado com o
fato de nos tornarmos cientes do acontecimento. Mais uma vez, diferentemente
dos computadores, que são construídos com hardwares fixos e softwares
programados, nossos neurônios são altamente flexíveis. Os canais neuronais —
as conexões entre os neurônios — estão constantemente mudando e se
adaptando, por meio de interações, com aquilo que é percebido como realidade.
E embora, durante muitos anos, os cientistas acreditassem que quando os
neurônios morriam em consequência de envelhecimento, doença ou trauma eles
não eram substituídos, como já observamos não é isso o que ocorre. Por meio de
um processo chamado neurogênese, novos neurônios são criados ao longo da
nossa vida e, em especial, como resultado de experiências intensamente sentidas.
As impressões energéticas de nossas experiências codificam não apenas
seus atributos físicos, mas também a maneira como pensamos e sentimos a
respeito delas. Na verdade, são os nossos pensamentos e emoções sobre os
acontecimentos de nossa vida que são seus aspectos mais vívidos e duradouros.
Mesmo quando não nos lembramos mais conscientemente de um acontecimento
específico, as emoções relacionadas a ele podem continuar a residir em nossa
memória subconsciente. Contribuindo para os nossos padrões de resposta
habitual, as esperanças, os medos, a raiva, o arrependimento e miríades de outros
sentimentos são aspectos do terreno sombrio do qual emerge a percepção
“ensolarada” do nosso estado de vigília.
Nosso cérebro está continuamente processando uma imensa quantidade
de impressões vindas do ambiente, às quais, de início, nós respondemos
inconscientemente. Uma enorme maioria dessas impressões permanece
inconsciente, pois apenas quando elas são energeticamente intensas o bastante é
que elas cruzam o limiar de nossa percepção consciente. A aparente continuidade
de nossas impressões conscientes é ilusória, pois, sem um “relógio” interno,
nossas percepções ficam para trás, ultrapassadas pela multidão de estímulos
onde nos banhamos e com os quais interagimos continuamente. Os processos
neuronais que respondem a tais impressões levam cerca de um quarto de
segundo para se acumular e formar uma experiência consciente — o que se deve
a diferentes atributos de estímulos, tais como suas cores, formas e texturas.
Embora ocorram simultaneamente, eles são registrados pelo nosso cérebro em
tempos diferentes.
Em nossa percepção cotidiana, essa sobreposição de impressões se torna
um todo coerente, e experimentamos nossa consciência desperta como um fluxo
unificado. É dessa maneira que se forma a nossa sensação do fluir do tempo. O
conteúdo emocional e mental que enriquece nossas experiências manipula nossa
sensação do tempo, dando-lhe um impulso de “avanço rápido” ou o reduzindo
para câmera lenta. Acontecimentos traumáticos parecem reduzir ou até mesmo
parar o tempo, ao passo que, quando estamos desfrutando algo, o “tempo voa”.

O Efeito da Mente sobre a Matéria

Tais percepções diferentes da mesma realidade constituem uma


ocorrência diária. Porém, raramente estamos cientes do quanto a nossa crença ou
descrença afeta o que nós realmente “vemos”. Em geral, nosso ego é
culturalmente condicionado. Em consequência disso, não apenas agimos de
acordo com nossas crenças e com nossa visão de mundo predominante como
também nossa identificação é tão poderosa que somos literalmente incapazes de
ver o que não conseguimos imaginar. Quando somos capazes de imaginar
alguma coisa, criamos uma imagem dela com a qual podemos nos relacionar.
Sem tal relação, não há ressonância, e, portanto, não temos meios energéticos e
informacionais de nos sintonizar com um novo fenômeno. Quando podemos
imaginar um fenômeno e acreditar em sua realidade, podemos experimentar
efetivamente essa realidade.
Durante milênios, as técnicas de meditação incluídas em tradições
espirituais ensinaram aos seus iniciados como incorporar o bem-estar maior
afinando [sintonizando] sua mente e suas emoções de maneira mais harmoniosa.
Além disso, elas nos mostraram como o poder afinado [sintonizado] de nossa
mente pode dominar a dor física. Por exemplo, ensinavam-se aos monges
tibetanos, desde há muito tempo, exercícios de visualização que lhes permitiam
reduzir ou aumentar suas batidas do coração, e alterar à vontade a temperatura
do próprio corpo. Esses exercícios, praticados ao longo de muitos anos, lhes
permitiam focalizar a mente de maneira tão coerente que há casos bem
documentados de vigílias em meio à neve, que varavam a noite, feitas por
monges que derretiam a neve ao seu redor apenas por meio do calor do corpo.
Embora possamos não ter a firmeza ou o treinamento deles, nossas crenças
também são capazes de alterar nossa biologia. No entanto, não são apenas
capazes, pois fazem isso o tempo todo.
Qual é o processo que permite aos nossos pensamentos e sentimentos ter
um tamanho poder sobre o nosso corpo? No último capítulo, introduzimos o
modelo das membranas celulares do biólogo Bruce Lipton como processadoras
de informação orgânica que estão dinamicamente conectadas com o ambiente.
As moléculas receptoras que estão encaixadas dentro das membranas ressoam e
se inter-relacionam com estímulos ambientais específicos, tanto no nível físico
quanto no informacional. Suas respostas são os disparadores que organizam o
comportamento e a condição interna da célula.
Mas, como Lipton assinala, os estímulos que disparam a atividade da
célula podem estar distorcidos; desse modo, eles, antes de tudo, representam
nossas crenças a respeito da realidade. E, portanto, os sinais ambientais, como os
nossos sentimentos e pensamentos — mesmo que eles sejam subconscientes, e,
com frequência, especialmente quando o são —, afetam o comportamento, e
desse modo, a saúde da célula, quer eles reflitam ou não uma visão “real” do
mundo. Como o bioquímico David Hamilton mostra em seu livro It’s the
Thought That Counts, a afinação de nossos pensamentos e emoções conscientes
e subliminares — ambos expressando nossas crenças sobre nós mesmos e sobre
o mundo mais amplo — afeta poderosamente a saúde de nosso corpo e nosso
bem-estar geral no nível de cada célula de nosso corpo.

O Efeito Placebo

Lima evidência significativa de como as nossas crenças e expectativas


afetam nossa biologia está no chamado efeito placebo.
Esse efeito foi descoberto durante testes com drogas farmacêuticas na
década de 1950, nos quais o efeito de uma nova droga era testado comparando-
se o seu desempenho com o de uma medicação simulada, ou placebo,
administrada a pacientes que sofriam de uma dada condição. Ao longo de muitos
estudos, descobriu-se que em média cerca de um terço dos pacientes aos quais
foram dados placebos se sentia melhor. Na verdade, vários estudos mostraram
que indivíduos sofrendo de depressão moderada respondiam aos placebos tão
bem quanto o faziam a drogas antidepressivas — e sem qualquer efeito colateral
adverso.
Durante muito tempo, os médicos tendiam a supor que o mecanismo da
resposta ao placebo era psicológico. Pesquisadores da Universidade de Michigan
testaram essa suposição escaneando a atividade cerebral de voluntários
saudáveis em cuja região maxilar fora injetada água salgada, que causava uma
pressão dolorosa. Então, os voluntários eram informados de que receberiam uma
nova droga para aliviar a dor quando, na verdade, lhes era ministrado um
placebo. Os escaneamentos mostraram que o cérebro deles respondia à sua
crença no placebo liberando endorfmas — substâncias químicas naturais que
eliminam a dor bloqueando os seus sinais entre as células nervosas — e, à
medida que elas percorriam o corpo, os voluntários se sentiam melhor.
A escala do efeito placebo pode, na verdade, estar aumentando. Em 1999,
num artigo para a revista Science, Martin Enserink relatou que os testes com
drogas criadas para aliviar o transtorno obsessivo-compulsivo revelaram que, ao
longo de mais de 15 anos, a proporção de respostas ao placebo cresceu de
praticamente zero até o ponto em que alguns testes falharam — com toda a
probabilidade, por causa do alto nível de resposta ao placebo. No ano anterior,
numa meta-análise de 19 testes com drogas antidepressivas, os psicólogos Irving
Kirsch e Guy Sapirstein mostraram que o efeito placebo era responsável por três
quartos da eficácia das drogas propostas.
O poder e o potencial de cura intencional por meio do efeito placebo está
hnalmente sendo reconhecido — embora sem causar surpresa, pois as
companhias farmacêuticas já sabiam disso. Ele parece depender da vontade que
a pessoa tem de ser curada e de sua expectativa de que o tratamento será eficaz.
Um dos pesquisadores pioneiros das conexões profundas entre nossa
mente, nossas emoções e nosso corpo é a psicofarmacologista Candace Pert,
autora de Molecules of Emotion. No início da década de 1970, biólogos estavam
tentando entender como funcionam os opiatos, por exemplo a morfina, que
alteram a mente e o humor. Teorizando que tais drogas interagem com os
receptores celulares do cérebro, Pert e seu colega Sol Snyder descobriram a
existência de tais receptores. A descoberta abriu as portas para o entendimento
de que se nosso corpo tem tais receptores, então também precisamos trazer um
opiato natural dentro de nós, que nos faça sentir bem. Identificado pelos
neurocientistas John Hughes e Hans Kosterlitz em 1975, descobriu-se que se
tratava de uma molécula chamada endorfina, que era liberada em grandes
quantidades por meio do exercício físico, entre outras coisas — e também
quando comemos chocolate!
As endorfmas fazem parte de um tipo de substâncias chamadas neuro-
peptídeos, que são produzidos pelas emoções, e por sua vez são produzidas por
meio de nosso contínuo fluxo de experiências. Envolvidas num enorme conjunto
de funções corporais, desde a maneira de lidar com a dor até a liberação de
hormônios, os neuropeptídeos e os receptores celulares com os quais eles
interagem formam uma matriz psicossomática e dinâmica que opera por meio de
nossos pensamentos, emoções e corpo.

Coração e Mente

Para a maioria de nós, durante a maior parte do tempo, nossos


pensamentos e emoções estão relacionados com o nosso sentido do eu pessoal,
baseado no ego. A separação inerente entre nós e as outras pessoas, engendrada
por tal sentido de eu separado, é a base para a palavra egoísmo. Quando não
somos capazes de ir além dessas limitações inerentes, sentimo-nos sozinhos e
excluídos, como de fato estamos quando vemos o mundo exclusivamente a partir
da perspectiva estreita do ego. Quando nosso ego é excessivamente dominante
ou, ao contrário, excessivamente frágil, tal separação aparente é, com frequência,
acompanhada pela dificuldade de sentirmos empatia com o mundo mais amplo.
É essa profunda sensação de separação, perda e solidão que, na percepção de
muitos psicólogos, está na raiz do aumento exponencial da depressão nos
últimos anos. E são as emoções negativas geradas pelas separações e temores de
nosso ego-mente que estão na raiz de tantas divisões que separam as pessoas
umas das outras. Reciprocamente, os sentimentos positivos de prazer, alegria e
amor não surgem na mente, mas são gerados pelo nosso coração. Esses
sentimentos têm capacidade para nos conectar, em níveis de percepção
progressivamente mais expandidos, com o mundo-totalidade.
Vimos como todo o nosso corpo é um sistema de energia-informação
coerente. Esse fato também se manifesta na linha de frente das descobertas de
que a inteligência e a atenção não são mediadas pelo cérebro. Pois, como nos
mostram pesquisas, o coração é capaz de perceber e tem uma inteligência
inerente.
Na década de 1970, os fisiologistas John e Beatrice Lacey descobriram
que não é só o cérebro que envia sinais para o coração, os quais o coração
considera, mas aos quais não obedece necessariamente, pois o coração também
envia sinais para o cérebro, aos quais o cérebro obedece. Subsequentemente,
descobriu-se que o coração tem seu próprio sistema nervoso, que abrange pelo
menos 40 mil células nervosas (neurônios) — número equiparável ao que se
encontra em vários centros subcorticais do cérebro. Sob o estímulo dessas novas
descobertas, agora se reconhece que entre o coração e o cérebro opera um
sistema de biocomunicação bidirecional de pensamentos e sentimentos.
Desde 1991, o pesquisador do estresse Doc Childre e seus colaboradores
do HeartMath Institute, na Califórnia, empreendem pesquisas destinadas a
demonstrar a maneira pela qual emoções negativas, por exemplo a insegurança,
a raiva e o medo, desequilibram todo o sistema nervoso e provocam ritmos
cardíacos irregulares e desordenados. Reciprocamente, eles descobriram que
emoções positivas de amor, compaixão e gratidão criam sinais de energia
coerente que aumentam e intensificam a ordem, reduzem o estresse e trazem
equilíbrio a todo o sistema nervoso. Esses sinais se refletem em ritmos
harmoniosos do coração.
O coração gera o campo eletromagnético mais intenso produzido pelo
corpo — um campo que, como a equipe do HeartMath demonstrou, é
mensurável até vários pés (um pé é aproximadamente igual a 30,5 cm - N.T.) de distância do
órgão por meio de detectores magnéticos e eletrostáticos.

O Poder das Emoções Positivas

Um dos desafios com que se defrontam pesquisadores do comportamento


humano fora do laboratório, em situações da “vida real”, é o de reduzir o número
de variáveis que eles precisam levar em consideração para descobrir evidências
num caso particular. Um projeto que se propôs a verificar se as emoções
positivas podem contribuir para uma vida mais longa conseguiu fazer isso ao
investigar a longevidade em um grupo de 180 freiras que viviam a mesma vida
ordenada, longe das distrações e dos estresses do mundo fora dos muros do
convento. Publicado no Journal of Personality and Social Psychiatry, em 2001,
a análise das palavras positivas utilizadas por toda parte em seus diários revelou
que as freiras que tinham perspectivas e pontos de vista mais positivos, e que se
sentiam mais positivas emocionalmente, não apenas eram mais felizes do que
suas irmãs como também viviam vidas significativamente mais longas. As
emoções positivas fazem uma diferença tanto no nível de nosso bem-estar como
no da longevidade que temos à disposição para desfrutar nossa vida.
O jogador de golfe francês Jean van de Velde estava liderando o campo
em 1999, em Carnoustie, Escócia, no Open Championship, quando numa tacada
crucial ele arremessou a bola na água durante o lance de desempate, e passou de
líder a segundo colocado. Quando lhe perguntaram, em 2007, quando o Open
retornou a Carnoustie, como ele então se sentira, van de Velde respondeu: “Vejo
o mundo como um copo cheio pela metade, de preferência com vinho. E tanto
melhor se eu já bebi a primeira metade”. Disse bem!

QI Emocional

Em 1996, o psicólogo Daniel Goleman examinou a importância do


coração na maneira como percebemos o mundo e interagimos com ele. Ele notou
que a medição do QI humano, que reflete o quociente de capacidades intelectuais
e cognitivas, não muda significativamente desde a infância, independentemente
de nossas oportunidades educacionais e de nossos conhecimentos e talentos.
Goleman descobriu que o sucesso na vida, conforme se reflete nas medições do
bem-estar percebido, parece depender significativamente menos do QI e mais de
nossa capacidade para desenvolver e lidar com nossa inteligência emocional. Ele
deu a essa medida relevante o nome de QE: quociente de inteligência emocional.
O QE está relacionado com a autopercepção e com a nossa capacidade para
perceber a inter-relação entre nossos pensamentos, emoções e ações e suas
consequências sobre as outras pessoas. Diferentemente de nosso QI, nosso QE
pode continuar a ser instruído, e de fato ele é reeducado ao longo de nossa vida.
O medo é frequentemente considerado como uma emoção negativa. No
entanto, ele é saudável quando nos permite estar cientes do perigo de uma
ameaça iminente, dando-nos tempo para executar a ação apropriada. O problema
surge quando nos habituamos a viver com medo, pois quando sentimos medo
nosso corpo literalmente se contrai. Biologicamente, desligamos
temporariamente todos os processos não essenciais para nos concentrarmos na
escolha evolutiva arcaica entre lutar ou fugir. Quando o perigo passa, nós
relaxamos e nosso corpo volta a um estado de equilíbrio. Mas quando nossos
medos se tornam crônicos, esse reequilíbrio biológico não consegue ocorrer; em
vez disso, nosso nível contínuo de emoções e pensamentos de medo nos mantêm
estreitamente agarrados na tensão do lutar ou fugir. Isso limita inevitavelmente
nosso comportamento, pois, como escreveu Candace Pert: “Você não consegue
apreender novas informações num estado de medo... Punições e ameaças inibem
efetivamente o processo de aprendizagem”.
Medos crônicos frequentemente surgem na infância. E, quando somos
adultos, eles se tornam parte de nossa visão do mundo. Quando somos capazes
de ficar cientes desses medos — reconhecendo suas limitações e, se isso for
necessário, procurando a ajuda de outras pessoas para superá-los — nossa vida
pode ser transformada. Quando trocamos o ressentimento, a frustração, a raiva e
a dor envolvidos em tais medos por compaixão, alegria e gratidão, nós,
literalmente, nos tornamos outra pessoa. Essa transformação não apenas é
possível, mas pode ser experimentada por qualquer um que queira tentá-la.
Às vezes, as palavras são inadequadas para expressar o que realmente
queremos dizer ou sentimos, mas a língua inglesa é notável em sua inclusão de
palavras simples que podem por si mesmas conter um significado mais
profundo. Por exemplo, cada um de nós pode ter uma diferente definição da
palavra evil (mal). Mas quando percebemos que é a palavra live (vivo, viver) lida
de trás para diante, podemos talvez reconhecer um significado que não nos
ocorreu antes: o mal é o oposto do viver. Ocupar-se com um ato mau é então um
ato de morte. E a palavra love (amor), que já transporta tantas associações, só
difere em uma letra da palavra live. Assim como o mal é morte, o amor é vida.
O estresse e a depressão que acompanham traumas mentais e emocionais
são reforçados e piorados se continuamos a nos concentrar somente em nossas
percepções de nós mesmos baseadas no ego. O velho adágio “live, love and
laugh” (viva, ame e ria) é provavelmente o mais simples e mais profundo de
todos os conselhos de autoajuda. Independentemente da maneira como está
acondicionada num linguajar sofisticado, a ciência de ponta e os estudos sobre a
consciência concordam que:

Levar uma vida fisicamente, mentalmente e emocionalmente


ativa,
amar — na ação, graças a serviços oferecidos a outros — e
rir — de preferência de si mesmo —

constituem o caminho mais eficiente e, no entanto, às vezes, o mais


desafiador capaz de nos levar à totalidade e à saúde.
É importante apreciar que nossas emoções e pensamentos são padrões
energéticos que incorporam percepção, e sua reorganização pode inibir ou
restaurar a saúde. Nossos sentimentos e crenças sobre nós mesmos e o mundo
têm importância crucial. Suas limitações são nossas limitações; suas
possibilidades são nossas possibilidades.
Não podemos mais separar nossos pensamentos e emoções de nosso
bem-estar físico.
CAPÍTULO 9 - Além do Cérebro

“Tudo o que pode ser contado não conta necessariamente; tudo o


que conta não pode necessariamente ser contado.”
— ALBERT EINSTEIN

A investigação científica de experiências de quase-morte, de


comunicação após a morte e de evidências da reencarnação está rapidamente
acumulando provas de que nossa consciência pessoal continua sua jornada além
do cérebro e do corpo. E pesquisas estão redescobrindo e facilitando nosso
acesso a percepções arquetípicas coletivas — percepções não locais que nos
fornecem uma profunda e aguçada compreensão da natureza profunda da
realidade e de nós mesmos.

Experiências de Quase-Morte

Relatos escritos de experiências de quase-morte (EQMS) remontam a


milhares de anos e estão difundidas por todas as culturas. As EQMS quase
sempre ocorrem como resultado de experiências traumáticas sérias, em geral
acidentes em que a vida é ameaçada ou durante paradas cardíacas em ataques
cardíacos. Em tais circunstâncias extremas, a percepção daqueles que as sofrem
pode ser arremessada numa experiência poderosa e lúcida.
Durante os últimos 25 anos ou mais, a pesquisa científica de tais eventos
tornou-se progressivamente mais exaustiva. Num estudo inicial realizado em
1982, o cardiologista Michael Sabom examinou e comparou cuidadosamente
cinco anos de entrevistas com pacientes que foram ressuscitados após ataques do
coração. Das 78 pessoas com as quais Sabom conversou sobre as experiências
que tiveram enquanto estavam inconscientes (e sem induzi-las em suas
declarações) mais de 40% relataram uma EQM. Entre as que tiveram uma EQM
e as que não a tiveram parecia não haver nenhuma diferença no que se referia às
convicções religiosas prévias desses pacientes. E uma vez que o número
daqueles que passaram por uma EQM e não sabiam da existência de tais
experiências era maior que o número daqueles que já sabiam do que se tratava,
Sabom concluiu que não havia nenhuma expectativa envolvida na ocorrência das
experiências.
O que Sabom descobriu, para sua grande surpresa, foi o significativo
nível de concordância, isto é, o grande número de elementos comuns, expresso
por aqueles que relataram EQMS — um nível que permaneceu consistente ao
longo de todas as pesquisas posteriores. Com frequência, a experiência envolve a
viagem da pessoa ao longo de um túnel até uma luz que abrange tudo, cuja
natureza essencial é sentida como amorosa e beatífica, e na qual eles se
encontravam com pessoas amadas e falecidas ou figuras arquetípicas ou
icônicas. Outro elemento comum é a ocorrência de uma expansão da percepção,
regularmente acompanhada por uma revisão honesta da vida, mas que não tem a
natureza de um julgamento. E às vezes — o que em alguns casos era sentido
como uma escolha pessoal e em outros como uma imposição gentil, mas firme
— a pessoa é reencaminhada à sua vida cotidiana, frequentemente com uma
profunda sensação de ter uma missão para completar.
A fim de calibrar com precisão ainda maior o nível de concordância de
tais experiências e eliminar a influência de percepções anteriores ao fenômeno,
em 1990, o médico Melvin Morse conseguiu entrevistar 12 crianças pequenas
que haviam sofrido uma parada cardíaca e que foram trazidas de volta. Oito das
12 crianças disseram a ele que quando estavam inconscientes haviam deixado
seus corpos e viajado até os reinos transcendentais relatados por adultos que
vivenciaram uma EQM.
A crítica-padrão aos estudos da EQM afirma que elas são imaginárias, e
não reais. Essa afirmação seria à prova d’água se fosse possível mostrar que a
EQM é culturalmente condicionada. No entanto, um grande estudo realizado por
Karlis Osis e Erlendur Haraldsson, publicado em 1995 e envolvendo cerca de
900 pacientes terminais dos Estados Unidos e da Índia detalharam 120 EQMS e
descobriram que elas continham elementos que eram comuns a ambas as
culturas. Não apenas as experiências centrais eram suficientemente semelhantes
para persuadir os pesquisadores de que eles estavam descrevendo eventos “reais”
e não “imaginários”, mas, em sua totalidade, as EQMS envolviam circunstâncias
que não estavam em conformidade com as crenças na vida após a morte
correspondentes às suas respectivas religiões. Assim, estavam ausentes das
EQMS dos cristãos norte-americanos as percepções de julgamento, salvação e
redenção; e faltava nos relatos das EQMS dos indianos hinduístas qualquer
notificação a respeito de reencarnação ou de dissolução da personalidade, como
ensina a tradição hinduísta.
Seriam as EQMS não apenas truques do cérebro moribundo, mas
também evidências de que nossa consciência pessoal continua após a morte do
corpo físico? Estudos em grande escala realizados no Reino Unido e na Holanda
concluíram que as experiências relatadas não podem ser explicadas apenas como
respostas corporais ao trauma que catalisou a experiência. No Reino Unido, os
médicos Sam Parnia e Peter Fenwick realizaram pesquisas sobre a EQM para a
Horizon Research Foundation em vários hospitais, orientados por um
levantamento prévio de mil médicos residentes ingleses, as quais mostraram que
10% deles tiveram experiências que deslocaram a consciência até além dos
confins de seu corpo físico. E um estudo realizado na Holanda por Pim van
Lommel entre mais de 300 pacientes cardíacos ressuscitados depois de sofrerem
morte clínica mostrou que cerca de 18% deles tiveram EQMS.
Embora as experiências que surgem do uso de medicamentos ou da falta
de oxigênio (anoxia) sejam caóticas e fragmentadas, essas pesquisas mostram
que as EQMS são quase invariavelmente coerentes. As alucinações ocasionadas
pela própria condição médica ou por drogas também tendem a ser desordenadas,
fugidias e altamente pessoais, mas as lembranças das EQMS são genéricas e
normalmente permanecem vívidas e profundamente influentes. A estimulação de
partes do cérebro por meio de correntes elétricas de baixo nível — embora às
vezes gere sentimentos de felicidade — de maneira alguma recria os
acontecimentos detalhados de uma EQM típica.
A hipótese de que a EQM é uma ilusão causada pela paralisação
progressiva de um cérebro moribundo, como David Fontana aponta em seu livro
Is There An Afterlife?, pode ser descartada em vários relatos. Primeiro, se a
EQM é a última lembrança de um cérebro que estava se desligando, a
experiência seria cada vez mais caótica, e, no entanto, se relata que as EQMS
são totalmente coerentes e, na verdade, o nível de detalhes e de lucidez com
frequência aumenta à medida que a experiência se desdobra. Segundo, se o
cérebro está morrendo, seria de se esperar que as experiências das pessoas
fossem intensamente pessoais — quando, na verdade, os muitos milhares de
relatos coletados até agora são notavelmente consistentes. E terceiro, muitas
pessoas relatam uma experiência detalhada de estar fora de seu próprio corpo, e
algumas veem e ouvem aspectos do ambiente que as circunda e que podem
subsequentemente ser confirmados.

Percepção de Quase-Morte

O que se conhece como percepção de quase-morte (PQM) é um


fenômeno amplamente difundido, familiar a médicos e enfermeiras, e também a
enfermeiros que cuidam de doentes em asilos. De acordo com uma pesquisa
realizada no King’s College, da Universidade de Londres, cerca de 10% dos
doentes terminais, inclusive, às vezes, daqueles que cuidavam deles, relataram
experiências que parecem fornecer uma percepção da vida após a morte.
Peter Fenwick, que lidera a equipe de pesquisa no King’s College,
descreve três tipos de fenômenos comumente associados com essas experiências.
O primeiro envolve visitas de pessoas amadas falecidas ou visões de luzes ou de
reinos celestiais. Às vezes, há oportunidade de manter conversas com os
visitantes desencarnados. Tais visões e encontros são profundamente
consoladores e quase sempre eliminam o medo da morte do doente terminal, e
também de qualquer pessoa que esteja testemunhando o evento transformador.
O segundo tipo se refere à ocorrência de timing e de sincronicidades com
significação pessoal. Mais uma vez, isso pode envolver o desencarnado ou o
aparecimento simbólico de alguém que morreu, com frequência sem que esse
fato seja conhecido pela pessoa que relatou a experiência.
O terceiro tipo de fenômenos envolve eventos como relógios que param
inexplicavelmente no momento da morte da pessoa (seja no mesmo quarto ou
em outro lugar), luzes que se materializam ao redor da pessoa e a visão de uma
energia translúcida que deixa o corpo enquanto ele morre. Todos esses
fenômenos têm uma linha em comum: eles são uma fonte de conforto e de paz
para aqueles que transitam da vida física, bem como para aqueles que os amam e
cuidam deles.
Tanto as PQMS como as EQMS se referem a experiências que ocorrem
nas proximidades da morte. Juntamente com a imensa base de dados que abrange
as evidências para as EFCS (experiências fora do corpo), que compartilham
características significativas e coincidentes com as EQMS, esses estados
alterados dão apoio à visão de que a consciência se estende para além das
limitações do corpo físico.
Mas, por si mesmas, tais experiências não fornecem provas científicas de
que nossa consciência continua depois da morte. Evidências importantes para
essa hipótese são fornecidas por dados experimentais relativos ao fenômeno que
veio a ser conhecido como comunicação após a morte (CAM).

Comunicação Após a Morte

Evidências não científicas da CAM existem por toda parte. São com
frequência relatadas — embora provavelmente não o sejam com frequência
maior por causa do medo do ridículo — por parentes e amigos íntimos que
percebem a existência de um relacionamento contínuo que transcende a morte
física de seus entes queridos. A maior parte das comunicações é mediada por
sensitivos e pessoas cujos dons mediúnicos são altamente desenvolvidos. Mesmo
que o estudo experimental da mediunidade remonte a pelo menos cerca de 80
anos, apenas na última década, ou pouco mais, passou-se a aplicar metodologias
mais rigorosas e estudos mais extensos.
Durante experimentos realizados na Universidade de Glasgow, na
Escócia, pelos pesquisadores de fenômenos paranormais Archie Roy e Patricia
Robertson, não apenas os médiuns e as pessoas que estavam sentadas perto delas
para acompanhá-las estavam isolados uns dos outros, mas também os próprios
médiuns não sabiam quem eram essas pessoas. Finalmente, os grupos de
participantes que eram os “sentadores” estavam divididos em subgrupos de
pessoas receptivas e não receptivas, sem que se soubesse a qual subgrupo elas
pertenciam e, portanto, se a informação coletada pouco a pouco pelos médiuns
estava destinada a eles ou não.
Sob tais condições rigorosas, Roy e Robertson descobriram que os
membros dos subgrupos de pessoas efetivamente receptivas aceitavam uma
quantidade substancialmente maior de informações dos médiuns do que os
membros dos grupos não receptivos. Quando publicaram suas descobertas em
2004, Roy e Robertson determinaram que a possibilidade de os resultados se
deverem ao acaso era da ordem de apenas um em um milhão. Uma pesquisa
semelhante realizada pelo psicólogo Gary Schwartz e sua colaboradora Linda
Russek na Universidade do Arizona novamente revelou um desvio significativo
com relação ao acaso.
Quando grande número de experimentos sobre percepção não local são
confrontados em meta-análises, a veracidade estatística desses fenômenos se
revela esmagadora. No entanto, alguns experimentos que testam tais habilidades
não se prestam a uma visão geral estatística porque, sob condições de
laboratório, alguns médiuns têm desempenho melhor do que outros.
Testado em Glasgow por Roy e Robertson, o médium britânico Gordon
Smith teve um desempenho cuja precisão ultrapassou as de todos os outros
desempenhos até então medidos nesse local. Ele atingiu uma taxa de sucesso de
98% com suas informações consideradas específicas e precisas sob o rigoroso
protocolo experimental. Smith é o sétimo filho de um sétimo filho, o que,
segundo tradicionalmente se acredita, indica poderosa sensibilidade paranormal,
e seu dom de mediunidade é relatado em cinco livros de lembranças que
mapeiam suas experiências ao longo de uma vida de comunhão entre mundos.
Quando indagado a respeito de qual foi, a seu ver, a prova mais convincente com
que se defrontou do prosseguimento da consciência humana para além do
cérebro, ele narrou um caso particular no qual esteve envolvido. Uma mulher,
Sally, o procurou, muito aflita, para perguntar se ele poderia ajudá-la a encontrar
seu filho desaparecido. Sem que ela lhe fornecesse qualquer outra informação,
Smith conseguiu contatá-lo. Ele lhe disse que seu nome era Blake e que sua mãe
“não iria gostar” do que viria a descobrir — uma mensagem que, infelizmente,
estava correta. Ele prosseguiu dizendo que havia sido um soldado em
treinamento na França quando, depois de passar uma noite fora de casa, fora
morto acidentalmente. Ele descreveu a Smith o rio onde então jazia o seu corpo.
Todos os detalhes pessoais estavam corretos. Um ano depois, um fêmur
humano foi encontrado no exato lugar onde Blake contara a Smith que ele
estaria. E quando o DNA foi testado, comprovou-se que pertencia ao filho morto
de Sally.

Transcomunicação Instrumental

Um exemplo intrigante de comunicação mediúnica com pessoas que já


morreram é o que usa instrumentos como aparelhos de rádio, TVS,
computadores e câmeras, os quais fazem uso de campos eletromagnéticos (e,
pelo que parece, também de campos mais sutis, quânticos) para receber e
transmitir sons ou imagens visuais. Essa forma de comunicação é chamada de
transcomunicação instrumental (TCI). Um pesquisador de fenômenos
paranormais que foi bem-sucedido em usar a TCI para entrar em contato com
pessoas que já morreram é o italiano Marcello Bacci. Por meio de seu antiquado
aparelho de rádio, ele e os muitos outros que regularmente se encontram para
participar de seus “diálogos com os mortos” estão convencidos de que de fato
estão tendo tal comunicação. As mensagens frequentemente contêm informações
específicas às quais o próprio Bacci não tem acesso — por exemplo, descrições
de pessoas distantes, lugares e idiomas que ele desconhece. E os diálogos não
apenas dizem respeito à época em que a voz estava fisicamente viva, mas
também incluem o conhecimento de acontecimentos atuais.
Em 1996, a autenticidade das vozes foi investigada pelo físico Mario
Festa, da Universidade de Nápoles. Na presença de pesquisadores do Il
Laboratorio, um centro de pesquisa italiano dedicado a testar tais fenômenos,
Festa mediu os campos elétricos e magnéticos presentes quando as vozes
estavam sendo ouvidas. O que Festa descobriu, em sua opinião, confundia as leis
da física conhecidas. Ele descobriu que, durante a transmissão de voz, o campo
elétrico caía para menos de um terço do seu nível de operação normal — na
verdade, quase para o nível medido do rádio quando ele estava desligado —,
enquanto uma transmissão normal faria o rádio permanecer num nível muito
mais alto. Não satisfeito com essa evidência, Festa, com a ajuda do engenheiro
eletrônico Franco Santi, removeu então algumas das principais válvulas do rádio
enquanto as vozes estavam falando. Isso teria silenciado a transmissão ao longo
de todas as faixas de onda, mas, mesmo assim, as vozes continuaram a se
manifestar sem obstáculos.
Bacci não é o único médium a transmitir tal comunicação. De acordo
com o pesquisador francês de TCIS, O Padre François Brune, há um número
estimado de 20 mil investigadores trabalhando seriamente na área da
comunicação instrumental e que utilizam aparelhos de rádio, telefone,
televisores ou gravadores de fita.

Reencarnação

As pesquisas científicas sobre reencarnação, semelhantes àquelas sobre a


CAM, foram historicamente negligenciadas e ridicularizadas até recentemente.
Como Ian Stevenson, o proeminente pioneiro de tais pesquisas, obliquamente
comentou, a maior frustração não está no fato de que as pessoas rejeitam as
teorias, mas que são muito poucas as que pelo menos se dão ao trabalho de ler
sobre as evidências que as cercam.
O conceito de reencarnação está amplamente difundido nas culturas do
mundo. Em todas as antigas tradições, egípcias, gregas, judaicas e do início do
cristianismo; no budismo; em muitas escolas de hinduísmo; no xintoísmo
japonês e no taoismo chinês. Em todas elas, esse conceito é menos uma “crença”
do que um “fato” baseado na experiência e na observação diretas. Psicólogos
como Brian Weiss, Edith Fiore e Flelen Wambach, que usaram extensamente
técnicas de regressão para investigar as lembranças de vidas aparentemente
passadas de seus pacientes, relatam um substancial alívio ou eliminação de
fobias, traumas emocionais e até mesmo sintomas físicos.
Visto que a recuperação de memórias de vidas passadas é benéfica,
independentemente do anseio por verificar sua existência, às vezes a validação é
importante para o paciente. E, de uma perspectiva científica, ela é de
importância-chave para o entendimento do fenômeno.
Até sua morte, no início de 2007, Ian Stevenson investigou mais de 3 mil
casos de memórias de vidas passadas que se manifestaram espontaneamente em
crianças pequenas. Adotando essa abordagem a hm de minimizar a influência do
condicionamento cultural, seja para promover ou para suprimir as memórias, ele
trabalhou meticulosamente para investigar, validar e registrar as memórias
pertinentes. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, assim como em países como
a Índia, onde a reencarnação é socialmente aceita, Stevenson examinou
rigorosamente cada caso e excluiu aqueles em que encontrou qualquer evidência
de manipulação — seja acidental ou deliberada. Apenas os casos em que as
evidências científicas eram mais consistentes foram incluídos em seus relatórios,
que abrangem várias centenas de estudos.
As principais memórias altamente detalhadas envolvendo vidas
anteriores permitiram que Stevenson pudesse verificar os detalhes fornecidos
pelas crianças. Eles incluíam conhecimentos precisos de seus lares, ambientes e
famílias anteriores, e se estendiam até mesmo a marcas de nascença que
correspondiam a machucados ou ferimentos fatais nas pessoas cujas vidas elas
pareciam experimentar.
Para os adultos que se submetem a uma terapia de regressão, memórias
como as dessas crianças estudadas por Stevenson revelam detalhes de vidas
específicas relembradas que podem, às vezes, estar correlacionadas e cuja
precisão tem sido frequentemente validada. Ao contrário de uma interpretação
errônea comumente feita pelos críticos, os estudos sobre regressão muito
raramente revelam que a outra vida era de alguém famoso. Pelo contrário, as
memórias adultas regularmente envolvem vidas que eram difíceis e infelizes. No
esmero bem treinado de um analista de regressão, o entendimento resultante
obtido pela pessoa com frequência fornece percepções aguçadas de fobias e
padrões de comportamento limitantes e disfuncionais. Há muitos estudos de
casos detalhando a cura emocional que pode resultar de tal terapia.
Num estudo anterior sobre as habilidades sensoriais experimentadas
durante a percepção fora do corpo, a pesquisadora Célia Green descobriu, na
década de 1970, que em algumas experiências cegos adquiriam visão; surdos
eram capazes de ouvir novamente; e aqueles com outras limitações sensoriais
descobriam não apenas que o pleno uso de seus sentidos era restaurado, mas
também que eles adquiriam capacidades para ver, ouvir e atravessar objetos
aparentemente sólidos. Em alguns casos de tal percepção expandida, as
experiências sensoriais se tornavam sinestésicas, pois os sentidos físicos da
visão, da audição e do tato se combinavam. Essa chamada visão mental é
também vivenciada em sonhos e outros estados alterados de consciência.
Quase universais nas EQMS e nas memórias de reencarnações são as
revisões da vida, que são sinceras e não têm natureza de julgamento, e são
acompanhadas por um sentido de propósito e de missão a cumprir na vida.

Percepção Expandida

A expressão experiência transpessoal descreve níveis de consciência que


vão além da percepção de nosso eu egoico e expandem imensamente nosso
sentido de identidade pessoal. Vivenciadas diretamente ao longo de milênios
pelos místicos, as experiências transpessoais abrangem uma grande variedade de
percepções não locais.
A identificação com outras pessoas, animais, plantas e forças da
Natureza, e conexões com seres arquetípicos, angelicais e extraterrestres
permeiam e fortalecem essas experiências capazes de transformar a vida.
Durante muitos anos, antropólogos que trabalharam com povos tradicionais
observaram e relataram tais experiências. Em sua busca por objetividade
científica, eles geralmente escolhem testemunhar em vez de participar das
iniciações, que são frequentemente precursoras das experiências. No entanto,
como os cientistas que trabalham em vários campos de estudo estão agora
percebendo, tais tentativas de objetividade podem excluir uma apreciação e uma
compreensão de importância vital para o que está sendo estudado. Em anos
recentes, um número cada vez maior de antropólogos passou a participar de
iniciações tradicionais e, por si mesmos, eles passaram a experimentar
diretamente as revelações. Ao fazerem isso, sua própria visão de mundo é
transformada. Coletando mais de meio século de tais experiências diretas em seu
livro When the Impossible Happens, Stanislav Grof relata como elas “me
forçaram a abandonar minha perspectiva científica cética e materialista sobre a
vida e a adotar as filosofias espirituais do Oriente e os ensinamentos místicos do
mundo”.
Com base em sua pesquisa pioneira sobre estados alterados de
consciência, o psicólogo Cari Jung identificou um imenso arquivo de
percepções, às quais todos nós temos acesso. Ao reconhecer nesse arquivo a
existência de atributos comuns na experiência humana, ele deu a isso o nome de
inconsciente coletivo e o concebeu como uma incorporação da totalidade da
herança histórica e cultural humana. Ele descobriu princípios criativos
primordiais, que ele chamou de arquétipos, cuja essência permeia nossa
percepção coletiva. Eles compõem os panteões de divindades em todas as
culturas de todos os tempos. E embora nós as experimentemos por vias que são
culturalmente específicas, a consciência delas é genérica e está disponível a
todos nós. Em estados ou percepções expandidos, podemos obter informações
que parecem memórias de vidas passadas. Podemos nos identificar com outros
seres — animais, árvores, montanhas e rios — e nos tornar profundamente
cientes de que eles também são sensíveis. E podemos vivenciar uma comunhão
com os reinos espirituais dos anjos, devas e divindades.
O acesso a experiências transpessoais é facilitado pela prática da
meditação. As formas tradicionais de meditação geralmente se destinam a
esvaziar mentes ocupadas e preocupadas com os assuntos do dia a dia. Pesquisas
comprovam que na meditação profunda alguma coisa significativa acontece.
Quando meditamos tranquilamente, nossas ondas cerebrais são geralmente
acalmadas até um baixo nível de frequência, denominado estado alfa, em que as
ondas cerebrais pulsam em torno de 8 a 12 hertz (ciclos por segundo), ou
podemos alcançar um estado teta, ainda mais profundo, de 4 a 8 hertz. Isso
contrasta com o estado de vigília normal de nosso cérebro, com frequências beta
em torno de 12 a 30 hertz. Quando meditadores ou agentes de cura experientes
se concentram numa determinada tarefa — por exemplo, enviar compaixão —
suas ondas cerebrais se tornam coerentes num âmbito de frequências
extremamente altas, denominadas gama, que se situam entre 25 e 70 hertz. O
estado cerebral associado com a meditação também envolve ondas de frequência
extremamente baixa. Günter Elaffel- der, do Instituto de Pesquisas sobre o
Cérebro, em Stuttgart, na Alemanha, descobriu algumas ondas
surpreendentemente lentas, cuja frequência não era de apenas um ou dois ciclos
por segundo, mas de um ou dois ciclos em uma hora inteira!
Pesquisas realizadas pelo neurocientista Richard Davidson, em
colaboração com o Dalai Lama, mostraram que a meditação consistente também
leva a um espessamento das células do córtex frontal do cérebro.
A ressonância, a coerência e a sintonia [afinação] são chaves para a
compreensão das operações do mundo-totalidade integral. Nossas experiências
dos estados alterados e transpessoais e as evidências de que nossa consciência
continua depois da morte de nosso corpo físico apoiam a compreensão de que
nosso cérebro e nosso corpo estão embutidos no campo A holográfico. Quando
estamos em sintonia com esse campo, isto é, quando nos afinamos com ele,
temos acesso às formas transpessoais de comunicação. Por exemplo, quando nos
sintonizamos com a consciência de outra pessoa, compartilhamos a in-formação
holográfica veiculada no campo A.
Nesta segunda parte de CosMos, exploramos as poderosas evidências de
que, individual e coletivamente, estamos expandindo nossa percepção. Como
veremos a seguir, esse não é um fato excepcional. Ao redor do mundo, uma
mudança na consciência está se avolumando e acelerando seu passo.
PARTE III

O Mundo Real

Ao longo de todo este livro, vimos como a emergente visão integral da


realidade está descrevendo um mundo-totalidade que é primorosa e
significativamente criado para permitir que a consciência explore a si mesma em
muitos níveis de experiência.
Entretanto, essa percepção revolucionária está nascendo numa época em
que nós, coletivamente, estamos de pé na beira de um abismo. Nossas escolhas
agora irão determinar qual dos dois resultados globais para a humanidade e para
a vida na Terra ocorrerá: o colapso ou o avanço revolucionário.
Estamos despertando para a compreensão de que somos parte integral do
mundo-totalidade.
Estamos reconhecendo que não precisamos mais dos gurus das
autoridades religiosas para nos dizer quem somos e como nos conectar com o
Cosmos.
Diferentemente dos iniciados do passado, poucos de nós são capazes de
cortar seus laços com o mundo, ou estão dispostos a isso — e nem precisam
fazer isso. A mudança da consciência que já está a caminho nos permitirá
incorporar tanto o extraordinário como o ordinário em nossa vida cotidiana.
E à medida que nossa jornada avança, nesta terceira e última parte do
livro consideraremos o que essa Mudança significa para nós, pessoal e
coletivamente, em nossas relações com nós mesmos, com cada pessoa, com a
Terra e com o mundo-totalidade.
Veremos quais os maiores desafios com que nos defrontamos e dos quais
não podemos nos esquivar.
Exploraremos algumas das maneiras pelas quais podemos nos tornar
cocriadores conscientes, reimaginando e transformando a nós mesmos e a nossa
relação com o Cosmos.
E descobriremos um significado mais profundo para a nossa existência:
uma missão que a humanidade está aqui para realizar nesta Terra.
CAPITULO 10 - Iniciando a Mudança

“Quando a solução é simples, Deus está respondendo.”


— ALBERT EINSTEIN

Quando éramos muito jovens, a maioria de nós constantemente


perguntava a qualquer um que nos escutasse — particularmente nossa mãe —
por que o mundo é como ele é. A pergunta que indagava o como era quase tão
insistentemente constante quanto a que queria saber o porquê, mas não tanto;
porém, mesmo então nós sabíamos, como sabem todas as crianças, que em
algum nível profundo a questão do porquê é a mais importante, e a busca pela
sua resposta é a mais necessária para o nosso bem-estar.
O que estivemos explorando ao viajar pelas páginas de CosMos é o fato
de que, agora, podemos começar a responder a essa pergunta. Cada um de nós é
um microcosmo do Cosmos. Em sua linguagem simbólica, os antigos guardiões
da sabedoria descreviam cada um de nós como uma “fagulha do fogo divino” ou
como uma “gotícula no oceano cósmico”. Embora os antigos discernissem a
universalidade dos ciclos cósmicos, suas visões de mundo os concebiam como
ciclos que se repetiam eternamente. Eloje, no entanto, nossa compreensão
coletiva, em vez de ciclos, percebe as espirais criativas dos processos evolutivos
desdobrando-se por todo o Cosmos.
Agora que estamos reunidos numa época de crise global sem precedentes
— o antigo glifo chinês para crise expressa ao mesmo tempo risco e
oportunidade — aproveitar corretamente essa última possibilidade é algo que
requer a realização de nosso potencial para um salto evolutivo da percepção. Um
salto que está se tornando conhecido com o nome de a Mudança.

Cocriadores Conscientes

Para desempenharmos nosso papel como cocriadores cada vez mais


conscientes, precisamos lidar com nossa capacidade para fazer escolhas.
Cientistas e filósofos se esforçam para entender se, como seres humanos, temos
realmente o livre-arbítrio. Eles se perguntam: “A crença segundo a qual somos
livres para fazer nossas escolhas na vida é ilusória? Ou será que, em vez disso,
somos efetivamente autômatos executando a realização de um destino
preordenado?” É uma questão fundamental que, até agora, tínhamos deixado de
lado porque sua resposta só pode ser obtida nos contextos do mundo-totalidade e
da miríade de níveis por intermédio dos quais ele está sendo continuamente
cocriado.
Um experimento-chave que é frequentemente interpretado pelos
neurocientistas como uma sugestão de que não temos livre-arbítrio foi realizado
por Benjamin Libet no final da década de 1980. Num teste simples, ele pedia a
voluntários para que flexionassem um dedo no momento preciso em que
decidiam fazê-lo, e então monitorava suas ondas cerebrais. Como era de se
esperar, ocorria uma curta defasagem de tempo entre os padrões cerebrais, que
informavam sua decisão e a flexão efetiva — o tempo para que o sistema
neuromuscular do corpo respondesse à intenção consciente. No entanto, foi
totalmente inesperado o fato de suas ondas cerebrais mostrarem atividade
neuronal cerca de um terço de segundo antes de eles tomarem suas decisões
conscientes de flexionar os dedos.
Se a intenção, que se considera intrínseca ao livre-arbítrio, não está
surgindo em nosso ego-mente consciente, será então que todo o nosso
comportamento é determinado — e, desse modo, predestinado — por processos
que ocorrem além do nosso controle consciente, como Libet e outros cientistas
sugerem?
Como já vimos, ao longo de todo o Cosmos integral, a cocriatividade das
escolhas é feita e posta em cena numa miríade de níveis de percepção. Quando
expandimos nossa capacidade perceptiva para além das limitações de nossa
percepção baseada no ego e nos sintonizamos com níveis mais elevados de
consciência, somos capazes de compreender mais plenamente a matriz e o
significado de nossas escolhas pessoais e coletivas e as implicações dessas
escolhas.
Nossa herança física é incorporada não apenas a partir da conjunção dos
DNAS de nossos pais, mas também da inclusão de influências epigenéticas mais
sutis vindas, pelo menos, de nossos avós. As marcas dos padrões de
comportamento e dos estilos de vida de nossa família tecem seus efeitos em
nossa própria vida — assim como o fazem as nossas nas de nossos filhos e de
seus filhos. Numa base comunal, nossa herança cultural e nosso
condicionamento social também fazem soar suas ressonâncias nas inúmeras
maneiras como participamos da vida e nos múltiplos níveis de percepção
associados a essa participação.
O tempo e o lugar de nosso nascimento incorporam a matriz astrológica
do Sol, da Lua e dos corpos planetários, com os quais, durante milênios, os
astrólogos trabalharam para entender os tipos de personalidades humanas — as
maneiras fascinantes que cada um de nós utiliza para responder diferentemente a
acontecimentos e circunstâncias semelhantes. Suas influências arquetípicas
foram mais tarde reavaliadas por pesquisadores como os psicólogos Cari Jung,
Richard Tarnas, Stanislav Grof e muitos outros. É por meio da interação dessas
miríades de níveis de percepção e de intenção, bem como de livre-arbítrio e de
destino, que a melodia de nossa vida individual é composta, e que a sinfonia de
nossa cocriatividade coletiva é executada.

Dinâmica da Espiral

Após os milênios durante os quais vigorou o comportamento que perdoa


e é conivente com abusos contra o bem-estar humano, o reconhecimento dos
direitos humanos básicos ganhou muito mais voz durante os dois últimos
séculos. Não obstante, como é comprovado por testemunhas globais — como a
Anistia Internacional e instituições beneficentes humanitárias como a Cruz
Vermelha e o Crescente Vermelho —, as contravenções ainda constituem a
experiência diária de muitos membros de nossa família humana. À medida que
continuamos a lutar pela evolução do nosso nível coletivo de percepção, também
precisamos reconhecer que tais direitos têm de ser equilibrados por
responsabilidades equivalentes com relação às outras pessoas. Num nível
profundo, todos nós estamos conectados. Quando ferimos alguém, ferimos a nós
mesmos; e quando ignoramos as situações em que outros se encontram, tal
ignorância nos afetará em todos os níveis, sejam eles grandes ou pequenos.
À medida que continuamos a interpretar os papéis das nossas
experiências pessoais e coletivas, o princípio cósmico da reflexão reverbera por
toda a nossa vida. Entretanto, só podemos ser responsáveis pelas nossas escolhas
no nível de percepção que temos quando as fazemos. E nossa percepção não se
desenvolve de uma maneira mecanicista ou linear, mas em ondas e espirais de
experiência, que nos trazem compreensões graduais e também repentinas. Esse é
igualmente o caso para o nível coletivo.
Em seu livro inspirador Spiral Dynamics, Don Beck e Christopher
Cowan descreveram um modelo de desenvolvimento da consciência para
culturas inteiras. Eles dividiram nossas sociedades atuais em oito níveis de
percepção, cada qual com uma visão de mundo particular a esse nível, que os
autores argumentam terem surgido historicamente em resposta às condições de
vida que vigoravam em épocas e lugares específicos e que se tornaram
progressivamente mais complexas.
Um reconhecimento crucial da teoria da dinâmica da espiral está no fato
de que a percepção e as normas sociais incorporadas em tais níveis são flexíveis
e dinâmicas, e cada nível é uma autêntica expressão de nossa experiência
coletiva. Em vez de camadas rígidas, os processos evolutivos de nossas
sociedades — como o nosso desenvolvimento pessoal — se desdobram em
ondas que se levantam, atingem um pico e voltam a cair, e, no entanto, espiralam
sempre para cima. Os primeiros seis níveis (do arcaico ao tribal, do autoritário
ao conformista, do individualista ao humanista) formam as camadas de
percepção iniciais e, essencialmente, descrevem as perspectivas históricas da
humanidade. Os dois últimos níveis formam a emergência de uma nova camada
de percepção.
O sétimo nível, como Beck e Cowan o descrevem, está orientado para a
nossa reintegração com o Cosmos. Embora seja caracterizado por uma
perspectiva global e um pensamento sistêmico para os quais o todo é maior que a
soma de suas partes, esse nível ainda tende a perceber o mundo “exterior” como
separado do eu pessoal ou “interior”. Essa visão de mundo foi chamada de
“boomeritis” pelo filósofo Ken Wilber, para quem há nela uma tensão entre o
despertar espiritual e o foco em si mesmo que é característica da geração baby-
boom •— as pessoas que nasceram nos anos que se seguiram à Segunda Guerra
Mundial.
No entanto, essa percepção que desperta é um passo fundamental rumo à
incorporação do oitavo nível, que agora está emergindo, e que veicula a visão de
mundo que estamos explorando ao longo de todo este livro. Ela está surgindo
dentro de nós em ambos os níveis, pessoal e coletivo. Quando a aceitamos,
reconhecemos a conexão intrínseca do mundo-totalidade e compreendemos que
a vida é por natureza significativa. Nossas experiências integram nosso coração,
mente e propósitos; e conseguimos ter acesso a níveis transpessoais de
experiência.
Vários mestres espirituais em todo o mundo sempre reconheceram a
existência e a ativação de chakras superiores que fazem a mediação de nossas
experiências desses reinos superiores, assim como os sete chakras por cujo
intermédio a percepção de nossa personalidade é energizada. Um consenso que
está se expandindo é o de que mais cinco desses chakras transpessoais,
associados a níveis de percepção ainda mais elevados, formam um sistema de 12
chakras, cuja totalidade completa uma “oitava” com o 13- nível de nossa
consciência. O oitavo chakra é chamado de coração universal por alguns e é a
ponte entre nossa percepção baseada no ego e uma percepção superior. A visão
do mundo-totalidade que ele nos permite perceber e experimentar é a perspectiva
holográfica do oitavo nível descrito por Beck e Cowan e outros pesquisadores.
No passado, muitas tradições espirituais nos contavam que precisamos
renunciar ao nosso próprio ego a fim de atingir a “iluminação”. Com frequência,
tal conquista é concebida como a necessidade que também temos de transcender
as necessidades físicas do corpo humano e da experiência humana. Esses
ensinamentos efetivamente excluem a possibilidade da evolução da consciência
dentro do contexto cotidiano da vida. Porém, durante os últimos anos, um
movimento revolucionário na percepção humana está crescendo
exponencialmente. Chamado de revolução translúcida por Arju- na Ardagh, ele
está literalmente permitindo que a luz brilhe através de nós.
E, à medida que o faz, tornamo-nos progressivamente mais sintonizados
dentro de nós mesmos e com o mundo-totalidade.
Quando reconectamos os aspectos fragmentados de nossa psique, nos
tornamos mais autênticos e abertos. Somos capazes de ver — sem julgamento ou
ira, mas com discernimento — através da hipocrisia, da falsidade e da
manipulação. A compaixão e clareza que, graças a tal percepção, somos capazes
de sentir e pensar, dá-nos apoio para nos tornarmos cientes dos padrões de
comportamento cujos temas circulam ao longo das experiências de nossa vida,
limitando-nos e nos impedindo de realizar nosso potencial. Mas ainda mais
significativo é o fato de que, para cada um de nós e para toda a família humana,
essa translucidez e a abertura de nosso oitavo chakra estão começando a permitir
a cura de nossos padrões limitadores. Tem se tornado possível e realizável
reconciliar as divisões aparentemente intolerantes de sexo, raça, religião e
cultura que nos mantiveram separados por tanto tempo. Embora individual e
coletivamente estivemos em pedaços, agora finalmente podemos estar em paz
(trocadilho com as palavras pieces [pedaços] e peace [paz] - N.T.).

Nosso Caminho para a Totalidade

Estamos — às vezes espontaneamente e outras vezes por meio de


práticas espirituais, como a meditação e a sintonia — entrando em alinhamento
com o Cosmos. Há vários sinais que substanciam esse caminho em direção à
totalidade. Embora tal caminho fosse trilhado por buscadores espirituais ao
longo de todas as eras, estamos agora seguindo por ele nos momentos ordinários
e extraordinários de nossa vida cotidiana.
À medida que o oitavo chakra do coração universal se abre dentro de nós,
os sentimentos de empatia que temos pelo mundo-totalidade aumentam.
Progressivamente, nos vemos livres de preocupações. O tumulto de nossa mente
encontra a paz interior: estamos confortáveis com nós mesmos e com o mundo.
Dentro de nós, inseguranças e dúvidas dão lugar a um sentido de propósito —
não com um enfoque egoísta, mas animado pelo poder e pela paixão do urgente
impulso de um serviço significativo. Embora as situações de nossa vida possam
não se transformar (pelo menos em curto prazo), nossa atitude pode e, de fato, se
transforma. A vida se torna significativa e fica repfeta com a percepção de que
estamos fazendo a coisa certa no lugar certo e no momento certo.
Talvez a compreensão mais fundamental que acompanha nossa
percepção expandida seja uma apreciação e uma experiência mais profundas do
significado de felicidade. Para muitos de nós, ela traz o entendimento de que
nossas posses materiais exteriores não equivalem necessariamente ao nosso
contentamento interior. Thom Hartmann, um dos pioneiros do modo de vida
sustentável, falou sobre o segredo do “basta”. Nas culturas ocidentais e nas
sociedades em desenvolvimento que aspiram aos estilos de vida ocidentais, um
mito perigoso se tornou uma crença central: mais “bugigangas” além das coisas
que são suficientes para satisfazer nossas necessidades nos levam a um maior
contentamento. Mas, em vez disso, os níveis de doença mental e de depressão, e
os sentimentos de descontentamento nos países industrializados estão entre os
mais altos do mundo. Como Hartmann e muitos outros perceberam — e como as
evidências reveladas por sucessivos levantamentos confirmam — obter mais
coisas materiais não nos leva à felicidade. Mais, maior, mais novo não significa
necessariamente melhor. Se riqueza exterior mascara pobreza interior, nenhuma
quantidade de “bugigangas” compensará o vazio resultante.

Curando a Affluenza

Em 2005, John de Graaf, David Wann e Thomas H. Naylor foram os


coautores da segunda edição de um livro cujo título batiza a doença do
consumismo extremo, que eles chamaram de affluenza. Focalizado basicamente
nos Estados Unidos, sua mensagem, no entanto, se aplica a todos os países que
têm, ou que aspiram ter, o mesmo nível de ênfase no materialismo e no
consumismo que os Estados Unidos.
O que o livro põe em destaque são os custos pessoais, sociais e
ambientais do superconsumismo, sua não sustentabilidade e sua incapacidade
para dar suporte à felicidade e à saúde, e para promovê-las. Em vez de
simplesmente expor os sintomas e causas da affluenza, os autores — como
quaisquer bons médicos o fariam — sugerem um tratamento efetivo.
De maneira semelhante ao tratamento de qualquer outro vício, o primeiro
passo é reconhecer que temos tal problema — aceitar que atingimos o fundo do
poço. Pois apenas então podemos começar o processo de cura. Felizmente,
milhões de pessoas nas sociedades ocidentais já chegaram a essa conclusão e
estão procurando maneiras de viver uma vida mais simples e mais sustentável,
não apenas para beneficiar a si mesmos mas também a sociedade. Tal busca pela
simplicidade não se baseia no medo nem numa percepção de escassez, mas em
uma redefinição de abundância. Viver uma existência com escassez de tempo,
riqueza de estresse e falta de segurança interior frequentemente nos impele a
tentar preencher o vazio resultante cercando-nos de coisas externas que não nos
sustentam nem ao restante do mundo. Porém, à medida que um número cada vez
maior de nós desperta para essa compreensão e começa a perceber e a
reequilibrar nossas riquezas exterior e interior, descobre uma comunhão
profunda com o mundo- totalidade.
Levantamentos internacionais sobre a felicidade, realizados ao longo de
muitos anos, têm nos mostrado de maneira consistente que, uma vez que temos
recursos materiais subcientes para suprir nossas necessidades, isto é, quando
atingimos o limiar do “basta”, o fato de termos “mais”, em vez de nos tornar
mais felizes, na verdade tem o efeito oposto. Esses relatórios deixam claro que,
independentemente da sociedade em que vivemos, o que nos torna felizes é uma
vida significativa, na qual experimentamos relações amorosas e que nos apoiam,
a busca de objetivos significativos, o prazer em acontecimentos do dia a dia e
tempo suficiente para explorar nossos campos de interesse. Nada disso o
dinheiro pode comprar.

Conferindo Poder à Mudança

Os autores de Affluenza sugerem que, quando alcançamos o ponto em


que conseguimos reconhecer as garras do vício do consumismo e a futilidade de
obter dinheiro à custa de estresse com o propósito de financiar nossa ânsia para
adquirir mais “bugigangas”, primeiro devemos parar, fazer um balanço para
avaliar a situação e dar uma oportunidade a nós mesmos. Em comum com os
métodos testados para eliminar vícios, podemos precisar de ajuda. E como
acontece com tanta frequência, os que mais podem nos ajudar são geralmente
aqueles que já foram viciados e conseguiram se recuperar. Diferentemente da
maioria dos vícios, a affluenza é ativamente apoiada por um sistema econômico
que promove o consumismo com o objetivo de uma aspiração.
Retornaremos às iniciativas que procuram mudar política e
economicamente as atuais tendências numa escala global, mas agora vamos nos
concentrar naquelas que estão fortalecendo a mudança nos níveis pessoais e nas
iniciativas populares. Tal mudança é revolucionária. Graças àquelas pessoas que
estão pondo em prática o que dizem e o que pensam sobre o modo de vida
sustentável, há recursos, ferramentas, exemplos e contatos para os quais
podemos nos voltar em busca de inspiração, ajuda prática e apoio mútuo. A
Internet e o número exponencialmente crescente de grupos de base local
espalhados ao redor do mundo estão permitindo que uma comunidade interativa
desenvolva o que veio a ser conhecido como o movimento da simplicidade
voluntária. Websites como www.simplicida- devoluntaria.com/socied.htm dão
apoio à escolha pessoal de viver um estilo de vida simples, mais saudável e
restaurador, no qual cada um de nós pode determinar o que é importante e o que
“basta”. Cecile Andrews, uma das fundadoras norte-americanas do movimento
que ajuda a fortalecer pessoas em seu propósito de viver uma vida de
simplicidade exterior e riqueza interior, disse: “As pessoas não percebem como
isso é radical. É o cavalo de Troia da mudança social”.
O movimento da simplicidade voluntária diz respeito, acima de tudo, à
celebração da vida. Não diz respeito a sacrifício e autoprivação, mas a uma
exploração e redescoberta de viver em harmonia com o mundo-totalidade. À
medida que mais e mais pessoas estão fazendo essa descoberta, a alegria de tal
despertar reside na redescoberta dos prazeres da vida comum, da vida simples.
Estamos percebendo que não precisamos romper com o mundo cotidiano para
atingir a iluminação. Há dois milênios, os grandes mestres Jesus, Buda e Lao-tzé
enfatizaram que essa é nossa verdadeira natureza e nosso destino cósmico. Em
vez de procurarmos nos livrar do ego, a Mudança que está acontecendo dentro
de nós nos permite honrar nosso ego ao mesmo tempo em que superamos nossa
sensação ilusória de separação.
A Mudança é de importância crucial para a solução das questões globais
com que nos defrontamos nestes tempos de potencial colapso ou avanço
revolucionário. Se permanecermos estagnados num nível de percepção
fragmentado e egoísta, baseado no ego, nossas respostas individuais e coletivas a
esses desafios serão baseadas no medo, e um colapso global será inevitável.
Entretanto, há sinais de que estamos despertando. Um número crescente de
pessoas está se libertando das divisões que as têm separado e a todos nós, e está
reconciliando coração, mente e propósito por vias e empreendimentos
cooperativos e cocriativos.
Nos capítulos finais deste livro, abordaremos as questões globais que
ainda nos dividem e veremos como o nível emergente de nossa percepção
coletiva é capaz de nos oferecer — e já está começando a fazê-lo — soluções
novas e revolucionárias para problemas aparentemente insuperáveis.
CAPÍTULO 11 - Realidade Integral

“Nenhum problema pode ser resolvido com base no mesmo nível


de consciência que o criou.”
— ALBERT EINSTEIN

Às vezes, os biólogos representam toda a história da Terra, de quatro


bilhões e meio de anos, comprimida na duração de um dia, ou seja, em 24 horas.
A vida biológica — embora emergisse cedo nesse dia cósmico — só às 5 horas
da manhã começou a rastejar dos oceanos nutritivos para o ambiente inóspito e
incerto da terra. Demorou um tempo adicional de 16 horas e meia, até cerca de
9h20 da noite — o equivalente a 500 milhões de anos atrás —, para que o
imenso e surpreendentemente rápido aumento da biodiversidade da Terra, a
chamada explosão cambriana, acontecesse. Durante o final da noite de nosso dia
da Terra, os dinossauros governaram o planeta. E somente depois de seu
desaparecimento, cerca de 20 minutos antes da meia-noite, os mamíferos
começaram a aparecer.
Apenas nos últimos segundos antes do hm do dia, nós, seres humanos
modernos, nos introduzimos na Terra. Nesse lapso de tempo minúsculo,
emergimos daquilo que os geneticistas acreditam que era uma pequenina
população de Homo sapiens até os nossos números atuais. E agora, neste último
momento da 23a hora, 59a minuto e 59a segundo de nosso dia da
Terra, nós infelizmente nos tornamos os responsáveis por levar a biosfera
e suas criaturas vivas à beira do desastre.

Cooperação

Os biólogos convencionais frequentemente enfatizam a natureza


competitiva dos processos evolutivos, chegando até mesmo a levar a percepção
de Charles Darwin da sobrevivência dos mais bem adaptados a uma
interpretação extrema, segundo a qual a vida é meramente um processo
destinado a perpetuar a existência de genes egoístas. A palavra adaptado (fit),
nesse contexto crucial, veio a ser entendida como referência ao maior, mais forte
e mais competitivo. Vimos não apenas a esterilidade de tal abordagem, mas as
evidências esmagadoras para a inexatidão de suas limitações autoimpostas. O
próprio Darwin não pretendeu usar a palavra “adaptação” nesse sentido. O que
ele entendia por “sobrevivência do mais bem adaptado” eram as características
que se adaptam, ou se ajustam, dentro do ambiente de uma maneira otimizada.
Quando contemplamos a surpreendente diversidade da Natureza, vemos
muito mais cooperação do que competição. E embora existam hierarquias ao
longo de todas as cadeias alimentares da vida biológica, até mesmo entre
predadores e presas há benefícios mútuos para as espécies envolvidas. Desde o
início da vida na Terra, a cooperação dentro de uma mesma espécie e entre
espécies — e não a competição — foi soberana. Na verdade, muitos organismos
unicelulares, incluindo os primitivos archaea, que foram as primeiras formas de
vida na Terra, trocam genes num grau surpreendente. Tão predominante é a
cooperação entre eles que os biólogos são incapazes de identificar fronteiras
nítidas e, desse modo, estabelecer quais são espécies diferentes.
A extraordinária diversidade de espécies nos ecossistemas é muito maior
do que seria se ela fosse impulsionada basicamente por fatores competitivos.
Ecossistemas ricos têm uma incrível variedade de criaturas, tanto vegetais
quanto animais, que dependem umas das outras de uma miríade de maneiras, e
com frequência explora nichos extremamente estreitos em seus ambientes para
produzir coletivamente abundantes manifestações de vida.
Num artigo publicado em 1981, que se transformou num marco, o
cientista político Robert Axelrod mostrou como as pessoas passam a cooperar
em vez de competir ou de ofender egoisticamente uns aos outros — um
entendimento que ele adquiriu por meio de jogos. Axelrod convidou
profissionais de teoria dos jogos para um torneio em que eles punham em ação
diferentes estratégias para a cooperação ou a competição entre dois agentes com
o desafio de encontrar o melhor resultado cumulativo, medido pelos benefícios
da harmonia e da confiança mútuas. A chave para o jogo de Axelrod estava no
fato de que, em comum com muitos cenários da vida real, os dois agentes não
podiam se comunicar um com o outro e, portanto, não conseguiam explicar suas
ações nem negociar.
O vencedor do torneio, o matemático Anatol Rapaport, foi o jogador que
planejou a mais simples das estratégias, que ele chamou de Tit For Tat (Olho por
Olho, ou Na Mesma Moeda). Suas únicas regras eram que os agentes
começassem cooperando e, em seguida, que cada um espelhasse a ação do outro.
Desse modo, contanto que nenhum dos agentes ofenda o outro, o relacionamento
permanece harmonioso, e dele resulta o benefício máximo. Axelrod descobriu
que cada estratégia que começa com a cooperação vence ou supera outra que
começa com a competição ou com o interesse egoísta. Ele tirou conclusões
importantes da estratégia vencedora, que podem ser aplicadas a organizações e
nações, bem como a indivíduos: Não seja o primeiro a ofender, sempre retribua
na mesma moeda, responda em vez de antecipar, e faça o melhor que puder para
você mesmo sem tentar sobrepujar o outro.
Axelrod mostrou claramente os benefícios da cooperação; não obstante,
há um sério aspecto negativo do “olho por olho” como uma estratégia prática
para a harmonia da vida real. Ele ocorre porque os agentes não podem se
comunicar um com o outro, e, por isso, se na estratégia do olho por olho um
agente ofende ou compete, então o outro espelha essa ação, e uma espiral
descendente é desencadeada. Mesmo que tal gesto competitivo ou ofensa não
seja intencional ou resulte de uma jogada errada, não há nenhum meio de
escapar e a relação fica travada num ciclo sem fim de desconfiança e
desarmonia. Entretanto, como os teóricos de jogos Martin Nowak e Karl
Sigmund descobriram, quando a estratégia é modificada de modo a permitir aos
agentes decidir que algumas ofensas não sejam punidas — e essencial- mente
aprendam tanto com seus próprios erros passados como com os do outro agente
— uma cooperação mais sustentável pode evoluir.
No início da década de 1990, Nowak e Sigmund usaram simulações de
computador para desdobrarem uma enorme variedade de estratégias que
envolviam diferentes padrões de cooperação e competição/ofensa — em todas
elas, a escolha entre competir ou cooperar era feita em resposta ao que o outro
agente havia feito na rodada anterior. Ao longo de centenas de milhares de
interações, eles viam o fluxo e refluxo dos ciclos de cooperação e ofensa.
Finalmente, depois de dois ciclos de cooperação nos quais cada um deles era
seguido por um declínio num tumulto de ofensas, evolui uma terceira onda de
cooperação — dessa vez sustentável.
O que esses pesquisadores mostraram é o beco sem saída do
comportamento “olho por olho” tanto no nível pessoal como no coletivo. Eles
também mostraram a possibilidade de paz e reconciliação quando os agentes vão
além das reações habituais que os haviam aprisionado, reconhecendo a
humanidade e a falibilidade daqueles com quem estavam em conflito, e quando
estão dispostos a reconhecer suas próprias ofensas. Os passos para que esse
problema seja resolvido, e que são fortalecidos por tal entendimento, quase
certamente irão precisar de negociações. Mas em vez do peso mortificador da
conciliação, uma nova fase de cooperação poderá emergir.

Felicidade

O número crescente de estudos sociais a respeito do que torna as pessoas


felizes — além de se desligar do dinheiro e do excesso de materialismo —
também constatou que ao redor do mundo as mesmas coisas apoiam o nosso
bem-estar e a nossa felicidade:

• Desenvolver boas habilidades sociais e relacionamentos significativos.


• Buscar objetivos significativos e ter prazer no que faz.
• Desfrutar as pequenas e simples coisas da vida.
• Manter-se fisicamente ativo.
• Equilibrar trabalho e lazer.
• Atuar como voluntário e ajudar outras pessoas.
• Manter o senso de humor.

Em última análise, parece que a felicidade se refere aos relacionamentos


que temos com nós mesmos e com as pessoas com as quais compartilhamos
nossa vida.
No último capítulo, discutimos como as pessoas estão se reunindo para
compartilhar, apoiar e cocriar o movimento da simplicidade voluntária. Há
muitas outras iniciativas parecidas, que, como ondas que se quebram na praia,
estão energizando uma maré de mudança.

Unidade na Diversidade

Os processos interativos e interconectados do mundo manifesto se


desdobram ao longo de todas as escalas da existência. Eles permitem que o
mundo-totalidade seja expresso por meio da diversidade de suas muitas formas
de expressão. Nos últimos anos, vimos tais processos incorporados no notável
desenvolvimento da Web e da Internet. A estrutura inicial de comunicação de
ambas, seus métodos para manipular bases de dados e sua linguagem de
computador foram elaborados separadamente por três pioneiros: o engenheiro
Paul Baran e os cientistas de computação Wesley Clark e Tim Berners-Lee. Sem
um plano mestre central, suas inovações altamente descentralizadas, flexíveis e
robustas estabeleceram as fundações da rede global que se autodesenvolveu num
ecossistema de base tecnológica. Porém, à semelhança dos ecossistemas
biológicos, a natureza fractal e harmônica da Net e da Web lhes permitiu crescer
e evoluir, retendo sua flexibilidade não hierárquica.
No início de 2007, o número de vozes globais que se comunicavam por
meio da Web ultrapassou a marca de um bilhão de pessoas. Essa comunidade on-
line tem uma linguagem fundamental: a capacidade de comunicar experiências
por meio de uma base de dados compartilhada, e a flexibilidade que provém da
padronização de hardware e software de computador. Em junho de 2007,
Stephen Cass, da revista Discover, decidiu fazer uma estimativa do peso
eletrônico total da informação contida na Net e descobriu que ela corresponde ao
menor dos grãos de areia.
Mais de dois séculos antes disso, o poeta e místico William Blake
reconheceu intuitivamente a natureza fractal do mundo-totalidade quando
escreveu em seu Auguries of Innocence: “Para ver o mundo num grão de areia”,
e prosseguiu: “E o céu numa flor silvestre, / Segure o infinito na palma de sua
mão, / E a eternidade numa hora”.
Estamos agora começando a compartilhar a profunda e aguçada
percepção de Blake. Os processos corporificados pela Net levaram a novas e
revolucionárias maneiras de comunicação e formas de experiência. Elas estão
permitindo que nos expressemos por vias mais diversificadas do que jamais
tivemos antes, e, ao mesmo tempo, que nos tornemos mais cientes da unidade
subjacente à nossa diversidade.
Ainda mais importante que as características dos novos modos de
cooperação são os valores que estamos passando a reconhecer e que
compartilhamos enquanto espécie. Esses valores — qualidades e princípios
centrais — são universais para a família humana, independentemente do sexo ou
de sistemas de crença étnicos e culturais. Eles permeiam os mitos e os arquétipos
daquilo que Carl Jung descreveu como o nosso inconsciente coletivo. Alguns
desses valores inconscientemente sustentados estão hoje se tornando
conscientes, por exemplo:

• O equilíbrio dos direitos e responsabilidades mantidas pelos seres


humanos enquanto cidadãos do mundo.
• O equilíbrio das necessidades humanas — e não dos desejos — e
necessidade de servir a um bem maior.
• A igualdade de oportunidade.
• O respeito mútuo.
• A honestidade, a abertura e a justiça em todos os procedimentos de cada
um.
• A inclusividade em vez de preconceito e exclusão.
• A compaixão e a justiça em ação; tratar os outros como gostaríamos de
ser tratados.
• A reverência por todas as formas e manifestações da vida.

Independentemente de nosso sexo, nós incorporamos os atributos


masculino e feminino cuja complementaridade e equilíbrio têm importância
crucial se devemos expressar plenamente a totalidade da vida e realizar a
promessa do compartilhamento desses valores. Porém, praticamente em todas as
culturas, durante os últimos dois milênios, as qualidades que associamos com o
feminino foram denegridas e marginalizadas. E nas nações ocidentalizadas, até
mesmo o movimento feminista do final do século XX tendeu a valorizar e
enfatizar os aspectos agressivos do feminino, quase como se fosse um substituto
masculino. Necessário é, com certeza, o reconhecimento de que todos nós temos
o elemento masculino focalizado na mente e o feminino focalizado no coração
como aspectos complementares do nosso ser e da nossa existência.
A Mudança está revelando que, em um nível coletivo, o retorno do
feminino tem importância crucial para reequilibrar e — como os antigos teriam
descrito — reconsagrar o casamento sagrado dentro e entre nós em todos os
aspectos de nossa vida. A inclusão de atributos tradicionalmente femininos —
cuidado, compaixão, empatia e cooperação — dentro de nossas organizações
coletivas é urgentemente necessária para desenvolver e sustentar a nós mesmos,
as nossas sociedades e a nossa relação com a Terra viva.
CAPITULO 12 - Colapso ou Avanço Revolucionário

“Só há duas maneiras de você viver sua vida.


Uma delas é como se nada fosse um milagre.
A outra é como se tudo fosse um milagre.”
— ALBERT EINSTEIN

O que a visão emergente da realidade integral e de nós mesmos como


cocriadores significa para nós em nossa relação com o mundo mais amplo nesta
época desafiadora e de consequências decisivas?
As culturas nativas norte-americanas, como as de todos os povos
originais, reverenciam a Natureza e reconhecem a humanidade como cocriadora
numa vasta teia da vida. Não apenas as criaturas que compartilham a Terra
conosco, mas também a própria Terra é vista e vivenciada como um ser vivo a
ser honrado e com quem devemos viver em harmonia. Essa intenção recebe voz
com uma prece tradicional de bênção dirigida a “todas as nossas relações”.
Em contraste com essa visão, a Revolução Industrial dos séculos XVIII e
XIX parecia uma ideia mais realista na época. Na verdade, ela surgiu
gradativamente à medida que empresários e inventores tentavam resolver
problemas e criar ou responder a oportunidades numa época de enorme mudança
cultural, que, como uma onda de maré, engolia tudo em seu caminho. Desde
crenças religiosas a estruturas sociais, as ideias sobre o universo e nosso lugar
dentro dele sofreram uma sublevação quando nasceu a chamada era da razão. À
medida que a nova visão de mundo crescia e amadurecia, ela passou a considerar
a humanidade como pináculo da criação e a ciência como a ortodoxia emergente,
em que a engenhosidade humana poderia — e de fato se julgou que ela tinha
esse direito — domar e controlar uma Natureza separada, passiva e dotada de
recursos ilimitados.
Embora os métodos científicos dessa revolução fossem inteligentes e
apropriados em curto prazo, eles eram profundamente limitados e, em última
análise, perigosos. Isso porque, ao conceber que o mundo nada mais é que um
pano de fundo mecanicista para a atividade humana e um recurso a ser saqueado,
as tecnologias e as indústrias nos separaram da Terra e de nossas criaturas
companheiras. Num ritmo que ainda continua a aumentar, os sistemas de
produção gerados por essa abordagem continuam a exaurir os recursos naturais
da Terra, a destruir seus ecossistemas e a despejar grandes quantidades de
materiais tóxicos na atmosfera, nos oceanos e nos solos. O sistema econômico
associado a essa atividade voraz prossegue obstinadamente com a visão de que
os recursos da Terra são efetivamente ilimitados. Esse sistema não apenas aceita,
mas planeja industrialmente a produção de enormes quantidades de resíduos com
base nessa suposição errada da inexauribilidade dos recursos do planeta. E pelo
fato de computar economicamente a poluição e as guerras como contribuintes
viáveis para as atividades nacionais, ele apoia círculos viciosos, em vez dos
virtuosos ciclos progressivos de desenvolvimento e de comportamento nas
sociedades contemporâneas.

O Ponto da Mudança Irreversível de Gaia

Quando, na década de 1970, James Lovelock e Lynn Margulis


apresentaram a ideia de que a Terra era uma entidade autorreguladora, eles foram
ridicularizados e atacados. Chamada de hipótese de Gaia em homenagem à
deusa grega da Terra, 30 anos de subsequentes pesquisas científicas mostraram
as relações profundamente interdependentes e coevolutivas que ocorrem entre os
organismos biológicos e as paisagens, a atmosfera e a água do nosso planeta.
Gaia não é passiva; ela é uma parceira coevolutiva com a vida que o planeta
sustenta. Seus recursos não são ilimitados quando são saqueados da maneira
como nossa prolífica e crescente população global continua a fazer. O perigoso
estado da mudança climática e da iminência de um ponto de mudança ambiental
irreversível paira sobre nós. Ainda assim, apenas agora estamos começando a
despertar daquilo que o escritor George Monbiot chama de nossa “negação
coletiva” de sua realidade, de sua escala e de sua urgência.
Como vimos, sistemas complexos como a biosfera se encontram num
estado crítico, equilibrando-se continuamente no limite entre a ordem e o caos.
No âmbito de uma gama de variáveis, tais sistemas são capazes de se adaptar e
evoluir, como Gaia o fez durante mais de 4 bilhões de anos, sempre em
condições de manter um ambiente sustentável para a evolução da vida. Apesar
da ocorrência, nos últimos 500 milhões de anos, de 5 eventos conhecidos de
extinção catastrófica que se estenderam sobre todo o planeta, sendo que cada um
deles destruiu as formas de vida dominantes, a abundância da Natureza permitiu
que outras novas espécies se desenvolvessem e, por sua vez, ganhassem
domínio.
Estamos agora vivendo numa época crucial em que novamente nos
encontramos num ponto de mudança irreversível — à beira de uma calamidade
global. Porém, desta vez, nós somos a causa predominante. E nós, juntamente
com muitas das nossas criaturas companheiras, podemos ser as espécies
destinadas à extinção.

Mudança Climática

O aspecto mais visível, mas não necessariamente o mais perigoso, da


ameaça do colapso global é o nível incipiente da mudança climática. Dar a tal
mudança o nome de aquecimento global é sugerir uma alteração gradual e
controlável do nosso ambiente, que as pessoas nas zonas temperadas poderiam
até mesmo interpretar como benéfica. Em vez disso, como qualquer pessoa que
estuda a complexidade sabe muito bem, tais mudanças são imprevisíveis, não
lineares e frequentemente catastróficas — sendo que o cenário mais provável é o
da ocorrência de eventos, progressivamente mais frequentes, de situações
meteorológicas extremas, que já estamos experimentando em muitas partes do
mundo.
Não há uma resposta “típica” ao ponto da mudança irreversível de Gaia;
os processos que levam a ele são inter-relacionados, complexos e não
especificamente previsíveis. Em geral, modelos climáticos e previsões
meteorológicas não são capazes de lidar com tais complexidades e suas
mudanças imprevisíveis. Eles sugerem tendências que são promediadas, e não a
realidade de mudanças repentinas, cataclísmicos e irreversíveis.
Em 2007, um consenso de mais de 600 climatologistas, sob os auspícios
do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) das Nações Unidas,
publicou um alarmante relatório que prevê mudanças globais dramáticas e
perigosas em curto e médio prazos na temperatura e no nível dos oceanos.
Apesar da gravidade de suas previsões, o relatório somente incluiu evidências
que foram consideradas irrefutáveis e obtidas por meio de modelos que
promediam as variações mais extremadas, e, no entanto, prováveis, da
meteorologia global. O que o relatório excluiu — como perigo significativo, mas
que até agora não foi capaz de ser previsto — é ainda muito mais ameaçador.
Um elemento dessa ameaça imprevisível está relacionado com os enormes
reservatórios de metano que atualmente se estendem em depósitos no subsolo
permanentemente congelado (permafrost) da Sibéria ou aprisionados sob
camadas de sedimentos frios nos leitos oceânicos que vão dos polos aos trópicos.
Evidências provenientes de núcleos geológicos mostram que, no passado,
à medida que as temperaturas da atmosfera e dos oceanos aumentavam, algumas
reservas de metano foram catastroficamente liberadas em enormes emissões de
gás. Acredita-se hoje que um evento desastroso desse tipo ocorreu há cerca de 8
mil anos num depósito de metano nas imediações da costa da Noruega, o qual
provocou um imenso tsunami com um pico de 20 metros de altura, que inundou
a região que hoje é a Escócia e a costa leste da Inglaterra. O depósito ainda está
lá. Tais clatratos de metano não são apenas potencialmente cataclísmicos em si
mesmos, pois a liberação de enormes quantidades de metano também aumentaria
exponencialmente a temperatura da atmosfera.
Há também evidências crescentes e preocupantes de que a mudança
climática — especialmente seu impacto sobre os níveis da água e sobre as
calotas polares — afetaria a frequência e a escala dos terremotos, dos
deslizamentos de leitos oceânicos e das erupções vulcânicas. Isso se deve a
variações na pressão sobre a crosta da Terra causadas pela carga e descarga de
água e de gelo, que podem, às vezes, desencadear eventos geológicos súbitos e
desastrosos, como aconteceu no final da última Era Glacial. E a alteração dos
padrões pluviais ocasionada pela mudança climática poderia transformar grandes
áreas da Terra, atualmente produtivas, em áreas improdutivas para alimentos,
que se converteriam em regiões áridas e semide- sérticas, onde nada poderia
crescer ou nada se poderia fazer para que nelas algo crescesse.
Um marco no reconhecimento da realidade da mudança climática global
foi estabelecido em dezembro de 2007, na convenção das Nações Unidas sobre a
mudança climática, realizada na ilha de Bali. O “Bali roadmap” (mapa
rodoviário de Bali) — uma plataforma de trabalho de dois anos para negociações
globais — reconheceu que as evidências do aquecimento global são
“inequívocas”, e que, quanto mais se atrasa a redução das emissões de gases
responsáveis pelo efeito estufa, mais aumenta o risco de “sérios impactos na
mudança do clima”. Embora a delegação dos Estados Unidos continuasse a
mostrar relutância em aceitar os custos econômicos e as consequências do corte
das emissões, nenhum país no mundo poderia negar por mais tempo que a
mudança climática é real, que ela é potencialmente perigosa, e que combatê-la
requer medidas nacionalmente combinadas e ajustadas e globalmente
coordenadas.
Agora, resta ver se essas necessárias medidas combinadas e coordenadas
serão efetivamente implementadas, e implementadas a tempo, não apenas pelos
governos, mas também pelas empresas comerciais e por um grande número de
pessoas na sociedade civil.

Extinções

A irrupção da mudança climática com resultados meteorológicos


extremos cada vez mais acentuados não é o único indicador de colapso iminente.
Em 2006, um relatório das Nações Unidas afirmou que, em consequência da
população e do desenvolvimento crescentes, os seres humanos são diretamente
responsáveis por taxas de extinção de animais e plantas mil vezes maiores do
que as taxas históricas. Como o relatório observa: “De fato, atualmente somos
responsáveis pelo sexto maior evento de extinção da história da Terra, e o maior
desde que os dinossauros desapareceram, há 65 milhões de anos”.
A biosfera da Terra é uma entrelaçada teia da vida onde cada ser vivo tem
o seu nicho e contribui para o todo por vias que nós mal começamos a avaliar de
modo mais preciso. E, portanto, a perda de qualquer espécie, por menor que seja,
poderia resultar numa conflagração não linear de todo um ecossistema. Muitos
animais grandes estão à beira da extinção à medida que seus habitais são
destruídos. Em agosto de 2007, o primeiro grande mamí- íero em mais de 50
anos foi declarado extinto: o golfinho do Rio Yang-tze foi condenado ao
esquecimento por causa da poluição, da pesca excessiva e das práticas de pesca
predatória que os golpearam, os emaranharam em redes e os sufocaram.
A chamada Lista Vermelha, publicada pela World Conservation Union,
inclui mais de 16 mil espécies que estão ameaçadas de extinção iminente.
O enorme crescimento da vida urbana ao redor do mundo nos anos
recentes continuou a nos separar cada vez mais da Natureza. Por isso, para
muitos de nós, salvar outras espécies e seus ecossistemas está no fundo da lista
das prioridades. No entanto, a constante negligência pelas vias intrincadas, e de
importância crucial, por intermédio das quais os ecossistemas se equilibram — e
os efeitos de sua degradação na erosão dos solos, na reciclagem do carbono e na
polinização das plantações — já está causando devastações extensamente
difundidas e irreversíveis nos países em desenvolvimento assim como no mundo
industrializado.

Esgotamento dos Recursos

Outro indicador de um colapso potencial está no fato de que, em


consequência da marcha precipitada exigida pelo desenvolvimento global,
estamos esgotando os recursos minerais da Terra — o que, até agora, era uma
possibilidade impensável.
As reservas que a Terra abriga de materiais baseados no carbono —
principalmente carvão, petróleo e gás natural — precisaram de centenas de
milhões de anos para se acumular, embora atualmente tenhamos exaurido as
reservas de petróleo e de gás natural até quantidades que muitos analistas de
energia consideram ser possivelmente menores do que metade da quantidade
contida em suas reservas. E eles também consideram que a produção de petróleo,
seja não atingiu o seu pico, o atingirá num futuro bem próximo, e depois disso
diminuirá rapidamente. Mesmo que a demanda global estacionasse, tal
perspectiva é terrível e exige investimentos maciços em tecnologias alternativas.
Mas a situação se torna ainda muito mais séria por causa das projeções que
avaliam quais serão os aumentos na demanda acionados pelo enorme
crescimento da industrialização global, especialmente em países em
desenvolvimento altamente populosos como o Brasil, a China e a índia.
Embora os combustíveis fósseis tenham alimentado grande parte das
indústrias globais, suas emissões são responsáveis pelas maiores contribuições
para a mudança climática. Formas sustentáveis de produção de energia são
urgentemente necessárias. As reservas de carvão mineral, o combustível fóssil
ambientalmente mais sujo de todos, são relativamente abundantes e, pelas
tendências atuais, parece que vão durar mais um século. Mas a queima global de
carvão já contribui com cerca de 25% das emissões de dióxido de carbono. Com
a China construindo uma média de duas usinas elétricas alimentadas pela queima
de carvão por semana, a índia tendo por meta a construção de dez por ano ao
longo da próxima década, e as corporações de energia dos Estados Unidos
buscando a aprovação de cerca de 150 novas usinas, grupos ambientalistas estão
alertando para a corrida precipitada rumo a um desastre irreversível.
Nos próximos cinco anos, cerca de 40 países pretendem construir mais
usinas elétricas alimentadas pela queima de carvão, o que alçará a produção
mundial de carvão a um pico que, segundo se estima, será atingido nos próximos
25 anos. Essa “corrida do carvão”, impulsionada pela alta lucratividade da
produção de energia baseada no carvão, tornou-se uma ameaça global.
A grande esperança dos interesses investidos na indústria de produção de
energia elétrica pelo carvão é o chamado carvão limpo. A fé que anima essa
indústria está voltada para a captura e sequestro do carbono (CSC) — forma de
armazenamento seguro com a qual elas se propõem, em última análise, a
bombear trilhões de toneladas de dióxido de carbono nas profundezas do
subsolo. Os defensores da CSC apontam para um pequeno número de esquemas
pilotos. Porém, até mesmo as avaliações mais otimistas sugerem ser altamente
improvável viabilizar a esc em escala industrial até depois de 2030. E a própria
produção de energia necessária para a esc ainda não está clara; além disso, a
grande maioria das usinas elétricas atualmente planejadas ao redor do mundo
não são sequer compatíveis com a esc.
O petróleo e o gás natural são os recursos minerais que, com mais
evidência, estão se esgotando rapidamente, mas há também outros minerais que
têm importância igualmente crucial para as nossas tecnologias atuais — e
quando essas reservas se esgotam, elas são insubstituíveis. Em maio de 2007, a
revista New Scientist empreendeu, no Reino Unido, um minucioso exame do
estado das riquezas naturais da Terra. É uma leitura que nos faz pensar. Vários
geólogos, talvez surpreendentemente pela primeira vez, estimaram os custos de
algumas tecnologias existentes em função dos minerais utilizados em sua
construção e as implicações do fato de elas estarem disponíveis para os países
em desenvolvimento. Eles foram unânimes em concluir que, com as tendências
atuais do aumento da população e da progressiva melhoria dos padrões de vida
nos países em desenvolvimento, as demandas impostas sobre os recursos
minerais insubstituíveis da Terra são insustentáveis até mesmo em curto prazo.
O suprimento de alguns minerais em todo o mundo (mesmo que a
maioria de nós não tenha ouvido falar deles), tais como o índio, que é usado na
fabricação dos LCDS para as TVS de tela plana; o tântalo, usado em telefones
celulares; e háfnio, usado em chips de computadores, têm importância crucial
para as tecnologias globalmente implementadas. No entanto, nos atuais níveis de
uso, suas reservas se esgotarão num prazo entre 5 a 10 anos. Até mesmo
minerais “comuns”, como o zinco, o níquel, o fósforo e o cobre, nas proporções
em que são usados atualmente, se esgotarão no tempo de vida de nossos filhos
ou netos.
Em um nível geopolítico, há potenciais para o conflito que se avolumam
cada vez mais. A China está investindo maciçamente na extração de minerais
africanos e comprando todas as sobras disponíveis de dispositivos de alta
tecnologia para deles tirar os minerais necessários para sustentar suas incipientes
indústrias em rápido crescimento. E a Rússia está se tornando cada vez mais
agressiva em usar seu domínio sobre o petróleo e o gás natural para aplicar
pressão política e econômica sobre as nações às quais ela os fornece. Cientistas
que estão monitorando a situação insistem em que uma ação urgente e
globalmente cooperativa é necessária para evitar uma crise de âmbito mundial,
pois o perigo de ela se concretizar se avoluma. Precisamos não apenas de uma
avaliação mais exata das reservas minerais disponíveis e de uma visão mais clara
de como elas são usadas, mas também, e acima de tudo, precisamos de um
programa de cooperação global para reduzir, reciclar, e, sempre que possível,
restaurar o uso de materiais insubstituíveis e não renováveis.

Doença e Poluição

Algumas das devastações infligidas à biosfera não resultaram de


tentativas mal orientadas para alimentar nossa população incipiente, mas de
fazer isso pagando o menor preço possível sem se preocupar com as
consequências. Pragas em plantações e doenças em animais sempre foram
desafios impostos aos agricultores e criadores desde os primórdios da
agricultura, no Oriente Próximo, há cerca de 10 mil anos. Os perigos que as
ameaçavam e as tentativas frequentemente contraprodutivas para se precaver
contra eles dispararam para o alto por causa do advento da monocultura e da
agricultura em escala industrial.
A tentativa de cultivar produtivamente terras marginais e de manter a
fertilidade em solos extremamente exauridos envolve aumentos enormes no uso
de fertilizantes químicos e de pesticidas, que destroem a imunidade natural dos
ecossistemas. E as tentativas de controlar a possibilidade de doenças
devastadoras e de estimular o crescimento entre animais de criação preparados
para o seu destino em pavorosos regimes de fazendas-fábricas envolvem saturá-
los com quantidades enormes de antibióticos, que reduzem a imunidade natural e
a saúde dos animais, bem como dos seres humanos.
Nossos oceanos, mares, rios e lagos estão densamente poluídos, com
zonas mortas privadas da proliferação de vida marinha. Eles também sofrem
com a pesca excessiva, de maneira tal que se as tendências atuais continuarem,
as populações de todas as espécies comercialmente pescadas entrarão em
colapso por volta de 2050. Potencialmente ainda mais perigoso é o aumento
dramático da acidez da água marinha. O aumento das emissões de carbono em
todo o mundo está causando um crescimento enorme da quantidade de dióxido
de carbono dissolvido nos oceanos. Ao produzir ácido carbônico corrosivo, a
acidez resultante destrói ecossistemas oceânicos matando recifes de corais e
privando muitas criaturas do mar das substâncias químicas de que elas precisam
para viver e crescer.
Devemos assinalar outro exemplo nessa litania de calamidades
ambientais: a doença assassina, cuja causa fundamental pode ser um coquetel
mortal de tensões ambientais, que dizimou a população das abelhas melíferas da
América. Por volta do verão de 2007, havia relatos, embora ainda não
confirmados, de Colony Collapse Disorder (DCC — Distúrbio do Colapso de
Colônias) se espalhando pelos campos. Sem abelhas melíferas para polinizar
frutas e hortaliças, uma dieta saudável para o mundo não é sustentável. Apesar
disso, os orçamentos governamentais para pesquisas sobre a saúde das abelhas e
de outros animais são minúsculos, e as diretrizes para regular o bem-estar animal
são irrisórias.

Erosão do Solo

Finalmente, precisamos tomar consciência de que os solos que formam a


base da vida dependente da agricultura estão desaparecendo em todo o planeta.
Em meio à Grande Depressão da década de 1930, o especialista Walter
Lowdermilk foi enviado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
para estudar terras que haviam sido cultivadas durante milênios a hm de
descobrir como as civilizações anteriores lidavam com a erosão do solo. O que
ele descobriu na Síria — uma terra que, até o século VII a.C, era uma região
próspera — foram edifícios antigos que outrora estavam cercados de
abundância, mas que agora se erguiam desoladamente assentados sobre a rocha
nua. Invasões consecutivas por países vizinhos ocorreram, práticas de
conservação que haviam sustentado a terra por muitos séculos foram
abandonadas, e o solo foi destruído. Mesmo que as populações dispersas
tivessem retornado, não haveria lugar algum para onde retornar.
Com frequência, os historiadores descobrem evidências de erosão e a
incapacidade de fornecer alimentos em quantidade suficiente ao estudarem as
razões para a morte geralmente catastrófica de sociedades anteriores.
Atualmente, o empobrecimento acelerado do solo e a erosão são os maiores
perigos. Diferentemente do que ocorria nas eras passadas, não há hoje nenhuma
nova terra para onde as populações poderiam se mudar. A ameaça está no fato de
que toda a família humana pode não ser capaz de se alimentar numa base
sustentável.
Cientistas do International Food Policy Research Institute relataram que
aproximadamente 40% das terras agriculturáveis estão gravemente degradadas.
Estima-se que os solos estão sendo destruídos numa proporção milhares de vezes
mais rápida que a velocidade com que se regeneram. Por causa da ação do
crescimento populacional e de uma combinação de des- matamento,
pastoreamento excessivo, aumento no uso de pesticidas, redução da
biodiversidade e expansão da agricultura para terras anteriormente marginais,
regiões sujeitas a secas prolongadas com tempestades de poeira e zonas mortas
estão sendo criadas numa escala sem precedentes ao redor do mundo.
As devastações da poluição, a destruição de ecossistemas e a pilhagem e
remoção de recursos naturais têm origem numa percepção ignorante e mal
direcionada de nós mesmos como seres vivos separados da Natureza e superiores
a ela. Há hoje 6,7 bilhões de pessoas caminhando na Terra, mais de duas vezes e
meia o número que havia apenas 50 anos atrás. E apesar da desaceleração da
taxa de crescimento, estima-se que a população global atinja nove bilhões de
pessoas por volta de 2050. Esse é um dos principais desafios porque se cada
pessoa no planeta tivesse o mesmo padrão de vida que o dos Estados Unidos e o
da Europa Ocidental, precisaríamos de uma dúzia de Terras para abastecer a
todos nós!
Enquanto estamos negligentemente destruindo os ecossistemas do
planeta, são, em última análise, nossos próprios suprimentos de alimento que se
equilibram à beira do desastre. A biosfera, muito provavelmente, sobreviveria a
um ponto de mudança irreversível, mas a humanidade poderia não ser capaz de
sobreviver.

Colapso ou Avanço Revolucionário (em inglês: breakdown or breakthrough - N.T.)

Agora estamos juntos no limiar de um colapso global ou de um avanço


revolucionário coletivo. Realizar uma transformação genuína requer que
reimaginemos juntos nosso relacionamento uns com os outros e com a Natureza.
Durante o último meio século, nossas populações urbanizadas, que
aumentaram numa enorme proporção, se afastaram progressivamente dos
animais e das plantas que compartilham a Terra conosco. Por exemplo, nos
Estados Unidos e no Reino Unido, nós e nossos filhos passamos muito menos
tempo ao ar livre do que nossos pais e avós o faziam, e vivenciamos muito
menos encontros com o mundo natural. Levantamentos mostram que nossa
geração atual de crianças em idade escolar não apenas sabem pouco a respeito de
onde vem o alimento que elas comem e o que ele contém, mas alguns deles nem
mesmo sabem que o leite vem da vaca e os ovos, das galinhas.
Quando nos separamos de nosso meio ambiente vivo, como disse a
psicóloga Chellis Glendenning, “ficamos sem lar, alienados do único lar que
sempre teremos”. Entretanto, poderíamos nos religar com a Natureza de uma
multidão de maneiras, desde o simples ato de passar mais tempo ao ar livre,
criando um habitat de vida silvestre em nossos jardins, até cultivar algumas das
nossas hortaliças para ingerir alimentos sazonais cultivados de maneira mais
local e acompanhando as fases da Lua. Podemos também redescobrir e começar
a entender nossas profundas relações energéticas com a biosfera. Poderosos
níveis de ressonância que, até recentemente, eram desconhecidos para a ciência
ou desacreditados como coisas sem importância estão agora se evidenciando
como reais e de importância vital para o nosso bem-estar. Estamos obtendo uma
compreensão cada vez maior não apenas de quão intimamente nosso biorritmo
pessoal ressoa não só com os ciclos e as estações da Terra, mas também com o
Sol, a Lua e o Cosmos em sua amplidão.
Começando com o trabalho pioneiro do biólogo Frank Brown — que na
década de 1950 descobriu as conexões energéticas entre os organismos vivos e o
meio ambiente — há hoje um enorme corpo de evidências para dar apoio à
constatação de que é real a sensibilidade inerente dos animais e das plantas a
energias geomagnéticas e a outras formas de energia radiantes.
Graças a pacientes trabalhos realizados ao longo de muitos anos, grande
parte deles conduzidos pelo próprio Brown, mostrou-se que os efeitos do fluxo e
refluxo do campo geomagnético do planeta em sincronismo com os períodos de
tempo dos dias solares e lunares exercem impacto sobre o sentido de
posicionamento e de navegação de várias espécies de animais na superfície da
Terra — assim como também afeta numerosos biorritmos que regulam o bem-
estar de seres vivos que vão desde plantas, lesmas e ostras até camundongos e
seres humanos.
Nos seres humanos, comprovou-se que o efeito de estar isolado de tais
influências é causa de doenças psicológicas, emocionais e físicas. Pesquisas em
andamento ao longo das últimas décadas mostram que nossos cérebro e corpo
atuam como sintonizadores biológicos que ressoam com as energias do meio
ambiente. Partes de nosso cérebro são extremamente sensíveis a esses campos, e,
graças a essa ressonância, a intensidade de baixo nível das energias é
intensificada de modo a causar efeitos biológicos. Em 1980, descobriu-se que
mudanças cíclicas no campo magnético da Terra afetam a glândula pineal, que é
responsável pela produção de hormônios em todo o nosso corpo, influenciando
nossos estados de ânimo, nossa sexualidade e o nosso nível de estresse. Mas
talvez a mais profunda e, no entanto, menos entendida dessas interações seja
aquela que ocorre por intermédio da mediação de frequências extremamente
baixas — as chamadas energias ELF, cujos comprimentos de onda igualam os
das ondas do cérebro humano.
No Max Planck Institute, na Alemanha, Rutger Wever conseguiu
identificar experimentalmente, na faixa das ondas ELF, O papel de importância
fundamental desempenhado pelos campos elétricos de 10 Hz (ciclos por
segundo) na regulação de biorritmos. Outra influência ambiental, denominada
ressonância de Schumann, é causada por descargas de relâmpagos que fazem as
energias saltarem entre a atmosfera superior e a superfície da Terra com uma
frequência fundamental situada em torno de 8 Hz. Essa correlação entre
ressonância energética do planeta e organismos biológicos levou à chamada
hipótese da ressonância planetária, segundo a qual os componentes primordiais
da vida são afinados com os harmônicos energéticos da Terra, do Sol e da Lua e
vitalizados por meio deles.
Uma ressonância cósmica ainda mais enigmática foi descoberta por meio
dos testes ganzfeld. Durante tais experimentos, como vimos, a redução do nível
de inputs sensoriais ambientais permite que voluntários estejam cientes de suas
percepções não locais. Em 1997, S. James Spottiswoode e Edwin May, do
Cognitive Sciences Laboratory, em Palo Alto, na Califórnia, foram dois dos
primeiros pesquisadores a mostrar que os níveis de sucesso de tais experimentos
aumentam significativamente quando eles ocorrem entre as 11,9 e as 13,9 horas
do Tempo Sideral Local (TSL), com um pico às 12,9 horas. (O tempo sideral é
uma medida de tempo relativa às estrelas.) O timing desse pico de sensibilidade
alinha os voluntários com a Terra e com o centro da galáxia.
Embora estejamos começando a apreciar as sintonias profundas que
ocorrem entre nós e nosso ambiente, alguns pesquisadores, como William Tiller,
estão descobrindo em que medida nós podemos influenciá-las ativamente em
níveis não locais. Já examinamos nossas capacidades para influenciar, em tais
níveis, outros organismos vivos. Mas Tiller passou muitos anos imprimindo —
ou como ele diz, condicionando — o espaço com intenções específicas. Ele e
seus colaboradores, todos eles meditadores experientes, conseguiram, por meio
de sua focalização coletiva coerente, encaixar intenções específicas em
dispositivos eletrônicos simples. Eles então usaram esses dispositivos nos quais
aplicaram impressões — e que foram distribuídos a vários laboratórios nos
Estados Unidos, e mais tarde no Reino Unido e na Itália — para condicionar o
espaço dos laboratórios e, desse modo, influenciar os resultados dos
experimentos. Durante vários anos, eles conseguiram imprimir, com sucesso,
intenções de aumentar ou de diminuir a acidez da água purificada acima ou
abaixo do seu nível anteriormente previsto. Em outros testes, eles imprimiram a
intenção de alterar a velocidade de desenvolvimento de larvas de drosófilas. Em
cada caso, e ao longo de muitos experimentos diferentes, os resultados foram
replicados e mostraram variações significativas com relação à norma — sempre
no sentido da intenção imprimida.
Em nossa ignorância, vemos a Natureza pela lente materialista e meca-
nicista de uma visão de mundo que não apenas nos permitiu, mas também nos
encorajou ativamente a “conquistá-la” e “controlá-la” com o objetivo de
demonstrar nossa suposta superioridade. Embarcamos no “desenvolvimento”
como ele é hoje definido, como um aumento do materialismo e do consumismo,
e fechamos os olhos aos seus efeitos desmedidos e violentos. No processo,
levamos nós mesmos e toda a vida na Terra à beira do desastre.
CAPITULO 13 - Completando a Mudança

“A verdadeira religião é a vida real: a vida vivida com toda a


nossa alma, com toda a nossa bondade e retidão.”
— ALBERT EINSTEIN

Ao longo deste livro, exploramos a linha de frente da ciência e a fronteira


das pesquisas sobre a consciência com o objetivo de revelar a emergência de
uma visão do mundo mais profunda do que jamais se viu antes — uma Mudança
fundamental em nossos valores, comportamentos e consciência. Há hoje sinais
inequívocos de que estamos prontos para completar a Mudança, mudando as
maneiras como pensamos, sentimos e nos comportamos. Alguns desses sinais
são:

• Estamos assumindo mais responsabilidade para com nós mesmos em


nossas escolhas pessoais e coletivas.
• Estamos, cada vez mais, ouvindo, prestando atenção e confiando em
nosso próprio “conhecimento gnóstico” (gnowing) interior.
• Estamos nos tornando mais empáticos com relação ao sofrimento
resultante da privação ou da injustiça, quer sejam pessoas, animais ou
ecologias da Terra as vítimas afetadas.
• Estamos ansiando por paz e harmonia, e trabalhando com o objetivo de
realizá-las.
• Estamos reconhecendo o que nos traz a verdadeira alegria e começando
a “seguir a nossa felicidade” (referência à famosa recomendação de Joseph Campbell
em O Poder do Mito: “Follow your bliss” [Siga a sua felicidade] - N.T.).
• Estamos decidindo incorporar o equilíbrio e a totalidade em todas as
áreas de nossa vida — tanto no nível exterior como no interior.
• Estamos nos movendo do subsistir para o viver.
• E, como a criança no conto de fadas As Novas Roupas do Imperador,
estamos nos tornando mais capazes de enxergar a verdade nua através de
mentiras e decepções — e também, como essa criança, queremos dizer e
fazer algo a respeito.

Como acontece em todas as revoluções, a mudança fundamental na


sociedade não surge da tendência atual, ou terreno central, dos interesses
organizados e bem assentados que representam o status quo. Surge, isto sim, nas
margens da sociedade, com pessoas que procuram uma nova maneira de ser.
Quando olhamos para trás, podemos reconhecer as primeiras ondas da
Mudança no clima impetuoso e inebriante da década de 1960, quando a paz, o
amor e a justiça pareciam não apenas possíveis, mas realizáveis. Embora
aparentemente obliteradas pelo materialismo das décadas de 1970 e 1980,
surgiram outras ondas, energizando uma maré crescente de mudanças. E na
década de 1990, mais pessoas começaram a perceber que a vida que estavam
vivendo não satisfazia suas verdadeiras necessidades — e, assim, chegamos ao
novo milênio.
Atualmente, o impulso do materialismo e do consumismo ainda está se
acelerando nos países em desenvolvimento, onde muitas pessoas continuam a
aspirar por esses estilos de vida obsoletos. No nível global, em vez de reduzir
nossa marcha, estamos na verdade acelerando-a. Mas, ao mesmo tempo, aqueles
que já despertaram para um sentido mais profundo de responsabilidade estão se
unindo ao longo dos últimos anos a um número cada vez maior de outras
pessoas. E a revolução, que começou como um movimento periférico, está agora
se tornando uma Mudança central para a nossa vida e o nosso futuro.
Não obstante, o reforço constante, por parte da mídia e dos governos
ocidentais, da busca por gratificação instantânea tenta manter as pessoas
coletivamente imaturas. A razão disso é simples: quando as pessoas se
comportam como crianças, elas são ao mesmo tempo consumidoras ávidas e
politicamente dóceis. Mas esses estratagemas históricos estão esgotando a força
de seu vapor e a sua credibilidade. Estamos crescendo além de sua capacidade
para controlar nossa vida.
A Mudança é agora energizada por uma multidão de iniciativas e de
movimentos populares, cujo pensamento é não hierárquico, cuja compaixão é
inclusiva, e cujo poder (e autoridade) de que são investidos é distributivo e
cooperativo em vez de centralizado e competitivo. Vamos agora examinar
algumas das áreas em que tais iniciativas e movimentos estão emergindo.

Economia Cocriativa

A primeira área é a economia — a ciência social que se ocupa da


produção e do consumo de bens e serviços e da análise das atividades comerciais
das sociedades. Praticamente em todos os países, o progresso econômico
constatado é a preocupação número um dos governos. Isso foi bem demonstrado
nos Estados Unidos na manhã seguinte aos aterradores acontecimentos de 11 de
setembro de 2001, quando o presidente Bush declarou que “a América está
aberta aos negócios”.
Nas nações ocidentalizadas, considera-se que as medidas do progresso
econômico geralmente refletem não apenas o bem-estar material, mas também,
implicitamente, a saúde emocional — uma suposição que, como vimos, está fora
de forma em relação aos sentimentos e aspirações mais profundos. O índice
principal que se usa globalmente é o PIB (produto interno bruto). É a medida do
valor total de todos os bens e serviços produzidos por um país em um ano. A
elevação e a taxa de aumento do PIB dizem aos governos, bancos e empresas
que eles estão se encaminhando na direção correta e que tudo está bem. Uma
redução no PIB, por outro lado, anuncia recessão e tempos difíceis.
Como observou o educador e ambientalista Bill McKibben, autor de
Deep Economy, para a maior parte de nossa história coletiva, a suposição
intrínseca de que “mais” é “melhor” são “dois pássaros empoleirados no mesmo
galho das atividades econômicas humanas”. É por isso que, nos mais de dois
séculos que transcorreram desde que o moderno conceito de economia passou a
ser adotado com base no livro de Adam Smith, A Riqueza das Nações, estivemos
insistentemente à procura de ambos os pássaros, e para isso passamos a
maximizar todos os modos de produção.
Com o objetivo de garantir que tenhamos medidas do que é “mais”, e,
portanto, do que se supõe ser melhor, nossos sistemas econômicos se baseiam
em formas e níveis de atividades incluídos no PIB. Mas isso significaria que os
custos mensuráveis de gastos com guerras e gastos militares em geral (que hoje
excedem globalmente um trilhão de dólares norte-americanos por ano) estão
entre os maiores impulsionadores da atividade econômica e, portanto, são
“melhores” do que os benefícios da paz, que não são medidos! E como a
poluição e a depredação ambiental geralmente não estão incluídas nos custos dos
produtos que as causam, os produtos e serviços prejudiciais são considerados
economicamente mais baratos do que os produtos e serviços orgânicos,
comprados a preço de custo, ou sustentáveis, que podem ter custos materiais
maiores, mas não incluem os prejuízos sociais e ambientais envolvidos na
compra em fornecedores externos, que podem estar em outros países, e também
em sua produção e descarte.
É amplamente reconhecido que, em economia, “o que é computado é o
que conta”. Então, se devemos cocriar uma base para a economia que seja capaz
de refletir o que queremos que conte para a nossa vida, precisamos incluir todos
os custos incorridos na aquisição de materiais de fornecedores externos, às vezes
estrangeiros, na produção e no descarte de produtos e serviços. A inclusão dos
chamados custos vitalícios garante que aquilo que é produzido e comprado é
totalmente levado em consideração. Por exemplo, produtos poluentes e opções
de limpeza precisam ser imparcialmente comparados; só então, investidores e
consumidores podem fazer escolhas bem informadas.
Em um nível mais fundamental, precisamos redefinir o que entendemos
como progresso e encontrar maneiras de incluir o invisível — e desse modo o
valor excluído de coisas que têm importância crucial para a nossa própria
qualidade de vida — em medidas e avaliações econômicas. Certa vez, Robert
Kennedy disse que o “PIB mede tudo menos aquilo que torna a vida digna de ser
vivida”. E até mesmo Simon Kuznets — o principal autor econômico do
conceito e da base para a medição do PIB (originalmente chamado de PNB, O
“produto nacional bruto”) — reconheceu isso quando afirmou que o bem-estar
de uma nação “dificilmente pode ser inferido de uma medição como o PNB”.
Além de ser impulsionado pela guerra, pela poluição e pelo consumis-
mo desenfreado, o PIB também trata de colapsos e desarranjos sociais, tais como
o crime e o divórcio, como ganhos econômicos. Mas o valor de cuidar de
dependentes, fazer serviços domésticos e realizar trabalhos voluntários não é
computado e, por isso, deixa de ser reconhecido. Em 2007, um estudo realizado
pela Universidade de Leeds estimou que só no Reino Unido a quantia que não é
computada como “custo” daqueles que cuidam de pessoas inválidas ou membros
idosos da família poupou anualmente para a economia o enorme montante de 87
bilhões de libras (177 bilhões de dólares norte-americanos).
A contribuição das mulheres nas sociedades tradicionais, e até mesmo
nas modernas, é subestimada ou efetivamente desconsiderada. No entanto, o
trabalho das mulheres, não apenas no mercado, mas no lar, tem importância vital
para a saúde e o desenvolvimento das sociedades. Relatórios das Nações Unidas
enfatizam o fato de que quando as mulheres vivem num padrão aceitável e
recebem uma parcela justa de instrução, o crescimento populacional é reduzido,
assim como também o é a produção de resíduos e a poluição do ambiente. Os
modelos econômicos precisam levar em conta a contribuição das mulheres e
integrar tanto as qualidades femininas como as masculinas na avaliação dos
valores econômicos e sociais em todas as sociedades e organizações.
Uma nova medida, denominada IPG (Indicador de Progresso Genuíno)
combina os padrões de vida materiais com outros aspectos de uma sociedade
saudável, e é uma medida do bem-estar global mais eficiente do que o PIB. O
IPG leva em consideração os custos reais ignorados pelo PIB. Desenvolvido
inicialmente nos Estados Unidos no início da década de 1990 e atualizado em
1999, ele mostra que nos Estados Unidos — mesmo que o PIB da nação, quando
rastreado a partir da década de 1950, tenha crescido exponencialmente — a
tendência medida como IPG teve o seu pico no início da década de 1970 e
passou a declinar desde essa época. Isso não apenas nos mostra que além do
estágio do “basta”, aumentos no padrão de vida material não trazem bem-estar,
mas também que a lacuna crescente entre nossa experiência efetiva e as
expectativas da prosperidade que governos, grandes empresas comerciais e a
mídia nos disseram que deveríamos estar experimentando produz estresse,
frustração e depressão.
No Reino Unido, o New Economics Forum trabalha com elaboradores de
planos de ação política nas esferas política e institucional com o objetivo de
desenvolver e implementar novas maneiras de avaliar o bem-estar e a
sustentabilidade. Isso inclui processos integrais para a contabilidade e a auditoria
sociais que reconheçam as qualidades de vida e não meramente as quantidades.
E no Butão, um dos lugares mais remotos e pacíficos da Terra, a FNB (Felicidade
Nacional Bruta) foi introduzida na década de 1970 para atuar como um guia
unificador para todas as aspirações econômicas e sociais do país.

Comércio Cocriativo

Novas abordagens do comércio também estão sendo desenvolvidas. Em


1976, em Bangladesh, Muhammad Yunus investiu a pequena quantia de 27
dólares do seu próprio dinheiro em cada um de vários minúsculos empréstimos
para algumas das pessoas mais pobres do mundo. Isso levou à fundação do
Grameen Bank, de propriedade total dos seus clientes (em sua maioria,
mulheres), aos quais foram outorgados poder e autoridade para iniciarem
atividades comerciais autossustentáveis e, portanto, para se erguerem superando
a pobreza. Por volta de 2007, o banco ofereceu serviços de microfinanciamento e
tecnologia para cerca de seis milhões de famílias em 25 países — uma realização
que foi reconhecida com o Prêmio Nobel da Paz concedido a Yunus em 2006.
Atualmente, “bancos éticos” estão surgindo em muitas partes do mundo, e o
valor global dos “investimentos éticos” está crescendo exponencialmente.
Muitas empresas comerciais em muitos setores do comércio, cujas
estruturas organizacionais e maneiras de operar incorporam princípios de
sustentabilidade, estão sendo fundadas ao redor do mundo. Elas são mais
“orgânicas” do que “organizacionais”, mais flexíveis do que rígidas, outorgam
poder e autoridade em vez de controlar, e são não hierárquicas em vez de
autoritárias. Têm por objetivo concretizar um relacionamento ganha- ganha com
todos os seus acionistas, desde investidores e fornecedores até funcionários e
clientes. E têm por enfoque fazer o melhor que podem e cooperar sempre que
possível em vez de ficarem travadas na competição.
Planejamento Cocriativo

Em nossa urgente necessidade de caminhar com mais leveza sobre o


nosso planeta, os reguladores estão procurando limitar nossa pegada de carbono
(segundo uma de suas várias definições, a pegada de carbono (carbon footprint) é “o conjunto total de
emissões de gases de estufa causadas direta ou indiretamente por um indivíduo, organização, evento ou
produto” [UK Carbon Trust 2008] - N.T.) e nos pedindo para reduzi-la, e para reutilizar e
reciclar. Embora isso seja importante, é, na melhor das hipóteses, uma estratégia
de curto prazo, que não cria uma transformação duradoura em nossas relações
uns com os outros e com a Natureza. Como apontaram o arquiteto William
McDonough e o químico Michael Braungart: “Menos mau não significa bom”.
Os recursos ainda estão se exaurindo numa taxa alarmante, a poluição e as
emissões de carbono ainda são insustentáveis, e em muitos países o nível de
desperdício é esmagador. Desacelerar o fluxo de produtos obsolescentes e seu
descarte não é suficiente.
De acordo com a visão convencional, a indústria e o meio ambiente estão
em conflito mútuo. Para os industrialistas, as preocupações ambientais
restringem sua produção e o crescimento corporativo. E aqueles que estão
preocupados com o meio ambiente fazem lobbies para que as indústrias sejam
reguladas e restringidas. Tais atitudes conflitantes deixam muitas pessoas
confusas e deprimidas. Como McDonougb e Braungart argumentam em seu livro
visionário, Cradle to Cradle, precisamos mudar completamente nossas atitudes
industriais e planejar edifícios e objetos materiais como produções que vão “do
berço para o berço”, e não “do berço para a cova”. Eles nos pedem que voltemos
os olhos para a Natureza e para os processos naturais. Nos ciclos e espirais dos
métodos da Natureza, não hã desperdício, tudo é utilizado, e em seu uso as
coisas se tornam outras coisas de valor. Porém, ao contrário disso, de acordo
com alguns relatos, mais de 90% dos materiais que são atualmente extraídos
para se converterem em bens duráveis se tornam lixo quase imediatamente.
Além disso, produtos manufaturados contêm apenas 5% das matérias-primas que
são usadas para fabricá-los e distribuí-los. E quando descartados, o planejamento
da maioria deles só os torna convenientes para uma reciclagem limitada — o
restante é encaminhado para aterros que transbordam de lixo.
Contrastando com esse planejamento “do berço para a cova” e com o
enorme desperdício que ele acarreta, McDonough e Braungart propõem uma
abordagem do planejamento e da fabricação que diferencia entre dois tipos
discretos de metabolismo, ou fluxos de energia — o biológico e o técnico. Os
processos de metabolismo biológico são encontrados em toda a Natureza;
quaisquer produtos assim planejados são biodegradáveis, e depois de usados eles
se tornam alimento para os ciclos naturais. O metabolismo técnico, ao contrário,
utiliza materiais, por exemplo, metais, que são planejados para permanecer em
ciclos técnicos fechados, onde eles continuamente circulam como “nutrientes”
valiosos para processos e produtos tecnológicos.
A fim de permanecer sustentável e saudável, o planejamento do berço
para o berço se propõe a garantir que essas formas de metabolismo sejam
mantidas separadas. Para isso, produtos e processos baseados no metabolismo
biológico não devem conter toxinas ou outras substâncias que se acumulariam e
causariam danos aos sistemas vivos. De maneira semelhante, o metabolismo
técnico não deve ser contaminado por nutrientes biológicos. Eles enfraqueceriam
a pureza dos materiais técnicos e tornariam mais difícil sua recuperação e
reutilização.

Tecnologias Cocriativas

O desenvolvimento de tecnologias que estão em harmonia com a


Natureza passa a ocupar a linha de frente na busca por alternativas à geração de
energia baseada no carbono. Enquanto a Revolução Industrial ganhou seu poder
econômico por meio dos métodos de monopolização, centralização e força bruta,
as novas tecnologias alternativas (chamadas de apropriadas) são cooperativas e
comunais, distribuem-se de modo a trabalhar em harmonia com a Terra e com os
ciclos da vida, e a isso se destinam.
A geração e o uso das energias solar, eólica, das marés e geotérmica
podem ser descentralizados. Na verdade, com a atual centralização da geração de
energia e sua distribuição subsequente, a ineficiência na geração e o vazamento
ao longo dos cabos e de todas as redes elétricas desperdiçam atualmente mais de
três quartos da energia gerada. Em contraste com isso, uma abordagem
descentralizada e diversificada modela ecossistemas, que são mais eficientes,
robustos e autorreparadores. Até mesmo a grande força da Net e a capacidade da
Web para crescer se baseiam numa inteligência distribuída: informação que é
flexível, sustentável e cocriativa.

Política Cocriativa

À medida que prosseguimos na tarefa de completar a Mudança, vemos a


nós mesmos como uma parte fundamental do mundo-totalidade. Começamos a
apreciar a necessidade de equilibrar nossos direitos pessoais com nossas
responsabilidades comunais, e nossos direitos comunais com nossas
responsabilidades pessoais.
Nossa percepção intensificada está nos proporcionando uma profunda
consciência do fato de que, se não percebermos que cada pessoa e cada coisa são
partes integrais do todo, e que aquilo que acontece com um acontece com
muitos, estaremos nos dirigindo para um colapso global. Essa compreensão e o
reconhecimento da necessidade de uma mudança urgente e revolucionária
residem no cerne de muitas das iniciativas dos grupos de base popular que agora
estão florescendo. Ao mesmo tempo, confiar em políticos e em processos
políticos atingiu provavelmente a maior baixa de todos os tempos. Governos
autoritários e corruptos em sociedades não democráticas estão sendo abalados
por movimentos democráticos nascentes.
Inversamente, em democracias estabelecidas, a desilusão política
resultou no fato de que muitas pessoas — especialmente jovens — se afastaram
da política, com a votação nas democracias ocidentais atingindo seus mais
baixos níveis já registrados desde 1945. O colapso da confiança e, às vezes, a ira,
outras vezes a apatia, que isso gera não estão limitados a partidos políticos
específicos, mas refletem um mal-estar geral. O jornalista de campanha britânico
John Pilger escreveu em 2006: “Na minha experiência, a inteligência pública
crítica e o senso moral sempre estiveram à frente daqueles que alegam falar em
defesa do povo”. Ele estava ao mesmo tempo lamentando a duplicidade dos
políticos e dando boas-vindas ao aumento do poder popular que ele via
emergindo ao redor do mundo.
Essas ondas de poder popular estão se avolumando em todo o mundo e
aumentando em força. Da América do Sul a Burma, a resistência popular aos
regimes autoritários está se expandindo rapidamente. E em toda a América do
Sul, as eleições em que líderes prometem uma parcela maior de poder para o seu
povo colocam esses líderes no poder. Só o tempo dirá se suas promessas de
envolvimento do povo se concretizarão, mas isso reflete um anseio popular
crescente de que sua voz seja ouvida. E também reflete nossa crescente
percepção e repugnância em continuar ouvindo mentiras. Como assinala Pilger, a
causa fundamental do colapso na confiança está no fato de que, enquanto na
geração que precedeu a atual os políticos podiam mentir com impunidade, e de
fato o faziam, hoje nós estamos vendo com clareza cada vez maior suas
falsidades e tentativas de manipulação. Se aqueles que aspiram a nos liderar não
forem engolidos e marginalizados pela Mudança, eles precisam falar e agir com
integridade translúcida.

Conversas Globais

As pessoas que hoje acessam a Web, e cujo número ultrapassa atualmente


um bilhão, a estão acessando como participantes ativos. Como disse o
comentarista Usama Fayyad: “Se antes a Web foi uma enorme biblioteca, agora
ela é uma imensa conversa”. Com sites globais como o YouTube, o Facebook, o
YouGov e muitos outros, a interação por meio de redes sociais e a expressão de
nossas opiniões é hoje uma razão fundamental para estar on-line. Sites de acesso
aberto, como o Wikipedia, a enciclopédia on-line, também incentivam o poder
das pessoas. Seu fundador, Jimmy Wales, está planejando uma ferramenta de
busca on-line igualmente acionada pelas pessoas para rivalizar o principal
provedor, o Google. A ideia de seu novo projeto, chamado de Search Wikia, é a
de que, em vez de a informação a que temos acesso ser decidida sem o nosso
conhecimento — como acontece com o Google — devemos decidir coletiva e
abertamente como classificá-la e organizá-la.
Em países com um alto nível de acesso à Internet, tanto os governos
como as organizações estão cada vez mais usando e-mails para reunir
informação e se comunicar. No Reino Unido, David Cameron, o líder dos
Conservadores, mantém um blog desde que foi eleito para esse cargo. Nos
Estados Unidos, os principais competidores na corrida presidencial de
2008 também usaram a Web para levar suas mensagens diretamente ao povo. Por
outro lado, uma vez que as operações bancárias on-line e outras transações
financeiras necessitaram do desenvolvimento de sistemas de segurança online,
em breve não haverá razão que impeça a maioria de eleitores nesses dois países
de poder votar on-line.
Será graças à descoberta de novas maneiras de resolver conflitos que
sejam benéficas para ambas as partes que a Mudança oferecerá talvez as maiores
oportunidades para a política do futuro. Isso porque, qualquer que seja a causa
de um conflito, cada caminho para a reconciliação e a paz envolve a
compreensão dos seguintes pontos, bem como a prontidão para dar os passos que
deles emergem:

• O inimigo é o próprio eu.


• O ódio fere mais aquele que odeia do que aquele que é odiado.
• O perdão é possível — sem esquecer, sem ser conivente com ou sem
negar o que aconteceu antes.
• As pessoas podem mudar.
CAPÍTULO 14 - Nossa Missão Cósmica

“Há um Gênio em todos nós.”


— ALBERT EINSTEIN

Como examinamos ao longo de todo este livro, vivemos num universo


essencialmente inteligente, saturado de informação — no qual todas as partes
estão interligadas de modo que, juntas, elas formam uma totalidade integral, que,
integralmente, coevolui.
Somos parte desse mundo-totalidade — somos ao mesmo tempo a
criação e os cocriadores. Participamos de sua estrutura e de sua ordem, temos
acesso à sua inteligência intrínseca e constantemente cumulativa, e contribuímos
para o crescimento de sua consciência. Por isso, nossa vida, nossa existência,
não podem ser destituídas de propósito e de significado. Mas qual é exatamente
o propósito último e o significado da existência humana? Qual é a sua e a nossa
missão e a missão da humanidade na Terra?
Em sua expressão mais simples, a missão da humanidade é promover a
evolução do Cosmos. Isso soa como um ideal abstrato, muito afastado de nossa
vida e de nossas preocupações cotidianas, mas não é. É uma missão
eminentemente concreta e prática, e a compreensão que temos dela é agora uma
necessidade urgente. Ela é importante não apenas para o futuro do Cosmos, mas
também para nosso próprio futuro iminente e o de toda a vida na Terra.

Recuperando Nossa Coerência

Somos hoje uma espécie ameaçada e estamos ameaçando outras


espécies: estamos ameaçando nosso próprio futuro e possivelmente a totalidade
da vida em nosso planeta. Podemos expressar essa ameaça recorrendo à ideia de
coerência. Não temos vivido nem agido como seres coerentes, em harmonia com
os outros ao nosso redor e com a Natureza; em vez disso, nos tornamos
coletivamente seres “fora de sintonia”, fora do tom. E uma vez que todas as
coisas estão interligadas, nossa dissonância afeta toda a vida na Terra e o mundo-
totalidade do Cosmos.
Como já examinamos em capítulos anteriores, a coerência é fundamental
para a evolução do universo. A coerência na Natureza — seja ela expressa no
nível de um quantum, de nossa própria mente e de nosso corpo, ou de toda a
biosfera — significa mais do que uma forma comum de coerência: ela é
“coerência quântica” — uma interconexão instantânea e duradoura que se
estende sobre todo o espaço e todo o tempo. Por intermédio das conexões
holográficas do campo A, o campo akáshico, o campo de in-formação cósmico
subjacente aos domínios do espaço e do tempo, o universo se torna uma
totalidade coerente de todas as suas partes — ele é o “mundo-totalidade”.
A teia da vida em nosso planeta exibe essa forma quântica de coerência.
Como observamos, até mesmo as bactérias processam a energia solar por meio
da coerência quântica; é graças a ela que as bactérias podem transformar a
energia solar com ebciência suficiente para dar início e, atualmente, sustentar os
processos da evolução no planeta. Sem a coerência quântica atuando já nesse
minúsculo nível, a vida não poderia sequer ter se iniciado na Terra.
A vida também não poderia ter evoluído sem a coerência quântica dos
organismos vivos — sejam eles criaturas unicelulares, mamíferos altamente
evoluídos ou quaisquer espécies intermediárias. Isso ocorre porque o nicho
ambiental onde uma espécie vive e do qual ela depende para o seu sustento está
sempre mudando, às vezes marginalmente e às vezes radicalmente. Os
organismos precisam se adaptar a tais condições mutáveis, e as espécies que
conseguem responder aos desafios da sobrevivência fazem isso por meio de
ajustes precisos — alguns menores, alguns dramáticos. Tal precisão não pode ser
o resultado de mudanças aleatórias que acertam a mutação exata
no código genético de uma espécie, pois é muito mais provável que
mudanças aleatórias no genoma reduzam o nível de adaptação de uma espécie
em vez de aumentá-lo.
No entanto, na história da vida na Terra, as espécies vivas conseguiram
realizar a proeza de sobreviver até mesmo a mudanças catastróficas no clima e
na ecologia — e muitas entre elas não apenas conseguiram sobreviver, mas
também evoluíram.
Há uma explicação para esse fato estupendo. Graças ao campo A, as
espécies vivas são constantemente “in-formadas” pelo ambiente em que vivem.
Por causa dessa in-formação, o genoma de espécies ameaçadas pode selecionar
precisamente as mudanças adaptativas capazes de garantir a sobrevivência da
espécie. Por intermédio das conexões dos organismos quanticamente coerentes
com o campo A, as mutações têm melhor chance de serem bem-sucedidas do
que se ocorressem por meio de alterações aleatórias — e, portanto, não
deveríamos ficar surpresos com o fato de a biosfera deste planeta ser o lar de
uma vasta e complexa superabundância de vida.
Nossa própria consciência também é quanticamente coerente; nós
também somos parte integral da rede de comunicação cósmica do campo A.
Somos por natureza coerentes com toda a vida na Terra. Nossa consciência está
conectada com a biosfera e com o Cosmos em sua imensidão.
Como vimos, nós experimentamos nossas interconexões, mas por causa
de nosso condicionamento cultural, geralmente não mais o fazemos em nosso
estado de consciência cotidiano. Nossa típica percepção desperta reprime
experiências que não vêm por meio dos sentidos corporais. Desse modo,
normalmente suprimimos as experiências que atingem espontaneamente o nosso
cérebro graças ao seu acesso ao campo A por meio da coerência quântica. Nós
não vemos porque não acreditamos que podemos ver.
Se nos convencemos de que as experiências espontâneas “místicas” ou
“transpessoais” não acontecem porque não podem existir, nós as descartamos
como fantasias mesmo quando elas penetram em nossa consciência. Ensinamos
às crianças a fazerem o mesmo. Como as pesquisas de Ian Stevenson e de outros
pesquisadores amplamente demonstram, até a idade de 4 ou 5 anos, as crianças
tendem a ter tais experiências, mas dizemos a elas para esquecê-las, pois são
apenas fantasias infantis.
Poetas, artistas e até mesmo importantes cientistas e filósofos têm
experiências espontâneas mediadas pelo campo A ao longo de suas vidas. Eles
não as reprimem, e elas comprovam ser fontes profundas de criatividade e
inspiração. Se aqueles que as experimentam são místicos e profetas, elas não são
ignoradas nem negadas; elas parecem transmitir percepções aguçadas e
profundas sobre Deus e o mundo. E as tradições xamânicas dos povos primitivos
não apenas não as suprimem, mas na verdade precisam delas e, portanto,
cultivam experiências transpessoais espontâneas.
Nós também temos acesso a essas experiências transformadoras, mas por
causa de nossos padrões mentais fixos predominantes, precisamos entrar num
estado de consciência alterado para que elas possam alcançar nossa percepção.
Em momentos emocionais intensos — traumas, entusiasmo, meditação e prece
profunda — lampejos de percepção aguçada e impactan- te, e informações, de
fato, fluem para nossa consciência desperta mesmo que não sejam mediados por
nossos sentidos corporais.
Nossa negação coletiva da in-formação espontânea que podemos acessar
por meio do campo A nos tem levado a agir como se estivéssemos desligados do
restante do mundo, fechados em nosso corpo e confinados ao nosso ego. Mas
estamos começando a despertar. E nosso despertar não chega um momento
sequer antes da hora para nos resgatar e resgatar a Terra, e para outorgar poder e
autoridade a nós e aos nossos filhos para prosseguirmos com a nossa missão no
Cosmos.
Nossa Missão

Nossa missão não consiste apenas em reparar os danos causados pela


nossa falta de coerência; ela é muito mais do que isso. Podemos promover nossa
própria evolução e a de nosso mundo para além de qualquer coisa que já foi
realizada. Isso se deve ao fato de a coerência de um ser humano ser
particularmente poderosa e promotora de poder. Ela não é inconsciente, como a
coerência de um quantum, de um átomo e de uma molécula; e não é puramente
instintiva como a coerência de outras espécies superiores. A coerência de um ser
humano é, ou pode ser, consciente. Ela pode ser intencionalmente direcionada e
potencializada; isto é, pode ser investida de poder e autoridade. Podemos
conscientemente cocriar e manter a coerência uns com os outros, com toda a
vida na Terra, e com o mundo-totalidade.
O que significaria para nós, para a biosfera e para o universo como um
todo o fato de se ter seres humanos se movendo coletivamente, e
conscientemente, em direção à coerência — esforçando-se por se “sintonizar”,
por se “afinar”, com cada uma das outras pessoas, com a biosfera e com o
Cosmos? Que tipo de “in-formação” poderia resultar de uma super-rede
consciente desse tipo? E como isso afetaria a nós, os cocriadores e participantes
da rede, e aqueles ao nosso redor e o restante do mundo-totalidade?
Não sabemos precisamente que efeito uma super-rede consciente poderia
ter. Mas sabemos que tipo de efeito ela teria: Ela nos levaria para o próximo
passo de nossa evolução, porque o próximo passo — se formos bem-sucedidos
em dá-lo — requer que conquistemos a coerência consciente uns com os outros e
com o Cosmos.
Cabe a nós aceitar e abraçar a oportunidade de coevoluirmos uns com os
outros e com o Cosmos. Essa realização não exige de nós a posse de poder e
riqueza; em vez disso, ela nos pede percepção expandida. Ela nos pede para
completarmos a Mudança que nos conecta uns com os outros e com todo o nosso
mundo integralmente coerente.
Uma pessoa conscientemente coerente não é uma exceção à coerência
cósmica: Ela está “em sintonia” com o mundo, “afinada” com ele. Ao redor de
tal pessoa, grupos de coerência se formam, crescem e se difundem. Então, chega
a hora, e mais depressa do que poderíamos imaginar, em que um grande número
de seres humanos recupera a sua coerência abrangente e realiza a interconexão.
Então, a coerência se dissemina irreversível e instantaneamente por toda a
humanidade, se espalhando da família humana para a biosfera da Terra, e dela
para a Galáxia e para o Cosmos. Desse modo, à medida que damos esse próximo
passo em nossa evolução, tornamo-nos cocriadores progressivamente mais
conscientes e damos assim o gigantesco salto que nos leva a realizar a missão da
humanidade sobre a Terra e dentro do Cosmos.
Agradecimentos

A mensagem que compartilhamos com vocês em CosMos incorpora as


vozes de muitos pioneiros que, com seriedade e determinação, se empenharam
em seus muitos campos de estudo. Ao continuarem formulando as perguntas
fundamentais que indagam por que o universo é como é, e relutando em aceitar
respostas que poderiam sentir que não são verdadeiras, vocês são conosco os
coautores deste livro. Embora o número de vocês seja demasiado grande para
que possamos nomeá-los aqui, agradecemos a todos pelas suas percepções
profundas e instigantes, pela sua coragem e perseverança — e às vezes pela sua
pura obstinação!
Somos especialmente gratos à nossa maravilhosa família Hay House por
seu apoio e orientação sempre generosos. A Louise Hay, pelo seu exemplo e
influência inspiradores. A Reid Tracy, presidente e CEO, pela sua generosa e
muita apreciada defesa do nosso trabalho. A Jill Kramer, diretora-editorial, pela
profundidade de sua experiência e pelo benefício de seu bondoso e honesto
conselho. E a Lisa Mitchell, nossa editora superlativa, pela sua compreensão e
pelo aperfeiçoamento meticuloso que proporcionou a este livro. A Jacqui Clark
nos Estados Unidos e a Jo Burgess e Jo Lai no Reino Unido: vocês e suas
equipes de marketing e de publicidade são surpreendentes e é um deleite cocriar
com vocês.
E a Michelle Pilley, editora da Hay House no Reino Unido, obrigado pela
sua integridade, percepção e generosidade de espírito. Você é verdadeiramente
uma pessoa notável, e o seu apoio e sábia orientação são sempre apreciados.
Nossa sincera gratidão a Bill Gladstone, o renomado agente literário de
Ervin. E aos seres desencarnados, e especialmente Thoth, que orientam Jude
desde o início de sua infância.
A todos vocês e aos muitos outros cocriadores cujos caminhos temos
compartilhado e por cujo apoio e companheirismo somos profundamente gratos,
pois foram vocês que inspiraram CosMos.
Acima de tudo, agradecemos aos nossos bem-amados Carita e Tony,
nossos parceiros de vida e almas gêmeas. Seu amor e seu apoio significam tudo
para nós.
Leituras Sugeridas

Eis alguns livros a que fizemos referência e dos quais esperamos que
vocês gostem e achem inspiradores.

Beck, Don Edward e Christopher C. Cowan, Spiral Dynamics.


Blackwell,
2005.
Currivan, Jude, The 8th Chakra. Hay House, 2006.
. The 13th Step. Hay House, 2007.
. The Wave. O Books, 2005.
Fontana, David. Is There an Afterlife? O Books, 2005.
Graaf, John de, David Wann e Thomas H. Naylor, Affluenza. Berrett-
Koe- hler, 2005 (2aedição).
Grof, Stanislav. The Cosmic Game. State University of New York Press,
1998.
. Psychology of the Future. State University of New York Press,
2000.
. When the Impossible Happens: Adventures in Non-ordinary Reality.
Sounds True, 2006.
Hamilton, David R. Destiny vs. Free Will. Hay House, 2007.
. It’s the Thought That Counts. Hay House, 2006.
Laszlo, Ervin. The Chaos Point. Hampton Roads Publishing e Piatkus
Books,
2006.
. The Connectivity Hypothesis. State University of New York
Press, 2003.
. Quantum Shift in the Global Brain. Inner Traditions, 2008.
. Science and theÂkashic Field. Inner Traditions, 2007. (A Ciência
e o Campo Akáshico, publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 2008.)
. Science and the Reenchantment of the Cosmos. Inner Traditions,
2006.
McDonough, William e Michael Braungart. Cradle to Cradle —
Remaking the Way We Make Things. North Point Press, 2002.
McKibben, Bill. Deep Economy: The Wealth of Communities and the
Durable Future. Times Books, 2007.
McTaggart, Lynne. The Intention Experiment. Free Press, 2007.
Myss, Caroline. Sacred Contracts. Three Rivers Press, 2003.
Pert, Candace B. Molecules of Emotion, Scribner, 1997.
Radin, Dean. Entangled Minds. Paraview Pocket Books, 2006.
Smith, Gordon. Life Changing Messages. Hay House, 2007.
Stevenson, Ian. Children Who Remember Previous Lives. McFarland,
2001.

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