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Crescimento integral da igreja

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Texto básico: Atos 2.42-47

Leitura diária
D – Ef 1.1-12 – Bênçãos em Cristo;
S – Ef 2.1-10 – Nova vida em Cristo;
T – Ef 2.11-18 – Edificados em Cristo;
Q – Ef 3.1-13 – O mistério revelado;
Q – Ef 4.7-16 – Cresçamos em Cristo;
S – Ef 5.1-21 – Filhos da luz;
S – Ef 6.10-20 – Enfrentando a batalha

Introdução

“Oi colega! E a sua igreja como vai? Está crescendo?” Possivelmente uma das principais
marcas do ministério cristão nos nossos dias seja a ansiosa busca pelo crescimento
numérico da igreja local. Esta tem sido uma característica tanto do ministério pastoral em
igrejas já organizadas em nosso país, como do ministério missionário de plantação de
igrejas dentro e fora do Brasil (se é que, de fato, podemos dizer que sejam dois
ministérios diferentes!).

Na centralidade que o crescimento numérico tem assumido no ministério cristão torna-se


comum que pastores e missionários se dediquem a buscar, fora da própria vida da igreja,
elementos que promovam esse crescimento. É uma busca por metodologias e
estratégias que, comprovadamente, já se consagraram como grandes sucessos em
outras partes do mundo.

Normalmente, nessa busca por métodos infalíveis de crescimento, corremos o risco de


desviar os olhos da Palavra de Deus e concentrar nossa atenção nos resultados
numéricos estabelecidos e esperados por nós e por todos.

Por outro lado, devemos ter muito claro em nossa mente que o crescimento numérico
não pode ser a dimensão única do crescimento da igreja. A igreja cresce numericamente
na mesma propor­ção e na medida em que outras dimensões crescem de forma

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integrada e integral. Diante de nós, então, permanentemente, prevalece o seguinte
dilema: o crescimento legítimo da igreja é fruto de estratégias bem elaboradas e
planejadas ou é o reflexo de uma vivência cristã sadia e crescente?

A perspectiva bíblica do crescimento

Podemos ver esse dilema sendo resolvido claramente no texto de Atos 2.42-47. Embora
não haja dúvidas quanto ao lugar das metodologias bem elaboradas, vemos a crescente
importância que lhes são atribuídas como a chave do sucesso para o crescimento da
igreja, a ponto da atual missiologia estar sofrendo o domínio de uma espécie de
“metodologismo”. Entretanto, se estivermos buscando um legítimo crescimento para as
nossas igrejas, é fundamental que olhemos para o texto em questão. Vejamos, em que a
igreja necessariamente deve crescer.

1. Crescimento litúrgico
“…eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às
orações… Todos os dias continuavam a reunir-se no pátio do templo” (v. 42,46).

A dimensão da vida cúltica ou litúrgica na qual todos juntos estejamos em constante


celebração e louvor a Deus (v. 47) deve estar em permanente processo de crescimento.
O texto é claro ao mostrar que o crescimento da vida de celebração e liturgia da igreja
era caracterizado por um engajamento intencional e persistente de cada cristão no
ensino dos apóstolos, tornando a Palavra de Deus central para a vida.

Essa centralidade do ensino dos apóstolos era validada pelos sinais e prodígios que eles
realizavam (v. 43). Caracterizava-se, também, por um compromisso consistente de
comunhão e responsabilidade mútua entre os crentes, que se refletia tanto na
celebração da Santa Ceia como nas orações. Essa dimensão litúrgica do crescimento da
igreja a leva a desenvolver-se gradativamente no seu relacionamento comunitário com
Deus, buscando a partir dessa experiência de fé um crescimento que se estende a todas
as possíveis esferas da sua vida interna.

2. Crescimento pessoal
“…todos estavam cheios de temor” (v. 43).

O temor é um elemento que deve ser preservado em nosso crescimento pessoal diante
de Deus. Temer a Deus deve ser considerado como o princípio fundamental para um
relacionamento adequado com Deus e um crescimento sadio do nosso conhecimento de
Deus (Pv 1.7).

Temer o Senhor nos preserva de querer pecar contra Deus e contra o próximo, pois
sabemos de sua justiça e de sua misericórdia, além de direcionar com segurança e
pautar com a justiça as nossas decisões e atitudes ao longo da vida.

O nosso crescimento em termos de comunhão e relacionamento pessoal com Deus é


uma dimensão fundamental do crescimento de toda a igreja.

3. Crescimento comunitário

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“…os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum… partiam o pão em
suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração”
(v. 44,46).

Crer em Cristo, manter-se unido a outros que também creem e ter tudo em comum com
eles, bem como abrir nossas casas, tomar juntos as refeições com um coração alegre e
sincero são elementos que formam uma dimensão muito importante da fé cristã e da
própria vivência e crescimento eclesial. Como igreja é necessário crescer de forma
sincera em nossos relacionamentos, fortalecendo nossos vínculos por meio da unidade e
do compartilhar da nossa vida e bens. Nossa vivência comunitária como povo de Deus
se desenvolve e cresce à medida que fortalecemos os vínculos espirituais e fraternos
que nos unem e nos comprometemos uns com os outros diariamente.

4. Crescimento diaconal
“…vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua
necessidade” (v. 45).

O mais provável é que essa prática de vender os bens e distribuir o seu produto não
tenha sido generalizada naquele tempo, pois esse fato é mencionado muito poucas
vezes no Novo Testamento, além de que muitos cristãos eram de origem humilde.
Entretanto, o “tinham tudo em comum” levou a igreja a assumir posições muito arrojadas
em sua dimensão de vida diaconal e a crescer nesse sentido.

Eles cresceram em sua preocupação e em seu envolvimento concreto com as


necessidades dos demais irmãos. Eles aprenderam a dividir em partes iguais e a
distribuir em todos de forma proporcional à necessidade de todos. Nesse sentido,
devemos crescer diaconalmente, levando sempre em consideração os recursos que
temos e que podemos levantar como uma forma de Deus suprir as necessidades diárias
de todos nós.

5. Crescimento em credibilidade
“… tendo a simpatia de todo o povo” (v. 47).

Essa é uma dimensão fundamental do crescimento da igreja, pois a projeta de forma


relevante e direta para dentro da sociedade. A simpatia ou a graça de todo o povo para
com a igreja não se deve, simplesmente, por ver o quão bondosos e gentis os cristãos
são entre si. A graça do povo é fruto de uma ação concreta da igreja que chega de forma
abençoadora até ele.

O texto não descreve objetivamente como se dá essa ação da igreja para com a
sociedade, mas observamos pela estrutura do próprio texto que a presença de uma
comunidade litúrgica que valoriza o crescimento pessoal, o relacionamento comunitário e
o cuidado com os necessitados, inevitavelmente atinge a sociedade com ações
concretas que aliviam seu sofrimento, demonstram o amor redentor de Deus e gera uma
necessária credibilidade. Crescer nessa dimensão é um processo que deve ser
constante na dinâmica eclesial.

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6. Crescimento missional
“… o Senhor acrescentava diariamente os que iam sendo salvos à Igreja” (v. 47).

A adição numérica de novos discípulos à igreja deve ser esperada por nós por ser uma
das dimensões em que a igreja, de fato, deve crescer. É muito significativo observar que,
até então, o texto atribui todas as ações realizadas aos próprios discípulos. Agora, ao se
tratar da agregação de novos crentes ao corpo de Cristo, a ação é atribuída a Deus.
Entretanto, não podemos dicotomizar entre um grupo de atividades realizadas pelos
homens e outras realizadas por Deus. Na verdade, as ações humanas e a ação divina
estão em perfeita harmonia nesse texto. São realidades que se completam e se inserem
umas nas outras. Além disso, é justamente por meio de vivência completa da igreja que
Deus vai levando os homens a compreenderem e se renderem ao seu evangelho.
Portanto, isso implica que a igreja deve crescer de forma integral e constante em sua
dimensão missional e evangelística, ciente de que tanto pela proclamação (em todas as
suas formas), como pela vivência litúrgica, pessoal, comunitária, diaconal e de
credibilidade (em todas as suas formas), Deus lhe acrescenta homens e mulheres por
meio de uma conversão genuína.

Conclusão

No afã de ver a igreja crescer numericamente corremos o sério risco de negligenciar um


ministério pastoral e missionário que seja realmente integral e bíblico, passando a correr
atrás de promessas metodológicas de sucesso que lotam nossas mesas e enchem
nossos olhos de ganância, deixando de lado a verdadeira missão de Cristo para
assumirmos a postura de executivos bem sucedidos da religião. É necessário parar
diante de Deus e de sua Palavra para repensar em confissão nossos ministérios e
redirecioná-los à luz da vontade revelada do nosso Senhor. Busquemos humildemente o
crescimento integral da igreja!

Perguntas para reflexão

1. À luz da Palavra de Deus, como podemos relacionar a integralidade do


crescimento da igreja à sua vocação missionária?
2. Quais problemas poderão ser gerados na vida da igreja se a ênfase na
exclusividade do crescimento numérico se mantiver indefinidamente?
3. Quais transformações são necessárias em nossa vida pessoal e eclesial para que
o crescimento da igreja assuma uma dimensão realmente integral?

> Autor do Estudo: Carlos del Pino


>> Estudo publicado originalmente na revista Palavra Viva – Caminhos missionários da
igreja, da Editora Cultura Cristã. Usado com permissão.

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