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APOSTILA DE

CIRCUITOS ELÉTRICOS II

Professora Ruth Pastôra Saraiva Leão


Universidade Federal do Ceará – UFC
Capítulo 1 TENSÃO E CORRENTE ALTERNADAS

No curso de Circuitos Elétricos I foram consideradas as respostas


forçada e não-forçada de circuitos. Foi verificado que a resposta
natural, ou seja, a resposta não-forçada é uma característica da rede
em questão e que é independente da função de excitação (ou
entrada). A resposta forçada, entretanto, depende diretamente do tipo
da função de excitação, que até este ponto tem sido uma constante.
No curso de circuitos elétricos II, uma forma diferente, porém
extremamente importante, de função excitante será considerada, a
função de excitação senoidal.

A função senoidal é a forma de onda dominante no sistema de


energia elétrica. O sinal disponível para alimentação de equipamentos
residenciais, de escritórios, laboratórios etc. é senoidal. Além disso,
através da análise de Fourier, mostra-se que qualquer sinal periódico
pode ser representado como a soma de senóides.

O presente curso se concentrará no estudo da resposta em regime


permanente de redes excitadas por funções senoidais. As condições
iniciais e os transitórios serão ignorados, pois tais fenômenos
eventualmente desaparecerão por completo nos circuitos
considerados. Esse procedimento é chamado de análise em regime
permanente (ou estado estacionário) de circuitos ac. Entretanto, antes
de prosseguir com essa análise, a natureza da função senoidal deve
ser completamente entendida.

2.1 Sinal Elétrico Alternado

Em circuitos elétricos uma onda alternada é um sinal elétrico que


varia no tempo e assume uma série de valores positivos, zeros e
negativos. A Figura 1.1 mostra uma onda que alterna entre valores
positivos e negativos durante a passagem pelo zero, e que se repete
em iguais intervalos de tempo.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


1-2

y
a

-a
T T

Figura 1.1: Forma de onda alternada.

Uma onda de tensão alternada muda sua polaridade e uma onda de


corrente alternada muda sua direção durante a passagem pelo zero e
em um certo intervalo de tempo.

A onda senoidal é a mais comum e fundamental dentre as ondas


alternadas, porque todos os demais tipos de ondas alternadas
(quadrada, triangular, dente de serra, etc.) podem ser decompostas
em ondas senoidais.

2.2 Fonte de Tensão Senoidal

As tensões senoidais são geradas por dois métodos: máquinas


elétricas rotativas e osciladores eletrônicos.

O princípio básico de geração de energia elétrica consiste no


movimento relativo de bobinas elétricas imersas em um campo
magnético. Como resultado, tem-se a indução de tensão alternada
nos terminais das bobinas. Ao ser colocada uma carga para ser
alimentada pelo gerador elétrico, estabelece-se uma corrente elétrica
alternada.
Os geradores eletrônicos de sinal consistem basicamente de um
oscilador que é um circuito eletrônico que produz ondas de amplitude
e freqüência controladas.

A Figura 1.2 mostra um gerador ca simplificado, o qual consiste de


uma bobina de uma espira apenas em um campo magnético
permanente. Cada terminal da bobina é conectado a um anel coletor
condutor. À medida que a bobina gira no campo magnético entre os
pólos norte e sul, o anel coletor também gira em contato com as
escovas que conectam a bobina a uma carga externa.

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1-3

Figura 1.2: Gerador elétrico ca simplificado.

Segundo o princípio de indução do eletromagnetismo, quando um


condutor move-se em um campo magnético, uma tensão é induzida
nos terminais do condutor. A Figura 1.3 mostra uma bobina de uma
espira girando em um campo magnético. A Figura 1.3 (a) apresenta o
primeiro quarto de rotação da bobina, desde a posição horizontal, em
que a tensão induzida é zero, até a posição vertical da bobina, em
que a tensão induzida é máxima. As Figuras 1.3 (b), (c) e (d)
apresentam, respectivamente, o segundo, terceiro e quarto quadrante
de um giro completo.

(a) Metade do semi ciclo positivo. (b) Semi ciclo positivo.

(c) Metade do semi ciclo negativo. (d) Ciclo completo.

Figura 1.3: Um ciclo de tensão senoidal gerada.

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1-4

A Figura 1.3 mostra uma tensão senoidal gerada por um gerador ca.
Quando o rotor do gerador completa uma rotação de 360º, um ciclo
completo de tensão é induzida. O movimento continuado do rotor faz
gerar repetidos ciclos da onda senoidal.

A magnitude da tensão induzida depende do número de espiras da


bobina e da taxa de variação do fluxo magnético no tempo.


υ ind = N (1.1)
dt

A Figura 1.4 mostra o símbolo de uma fonte de tensão alternada.

Figura 1.4: Símbolo de uma fonte de tensão alternada.

Uma onda senoidal pode ser medida em uma base temporal ou


angular. Como o tempo para completar um ciclo completo depende da
freqüência da onda, em geral é comum especificar os valores em uma
onda senoidal em termos de medida angular, expresso em graus ou
em radianos.

O ângulo de uma onda senoidal pode ser relacionado ao ângulo de


rotação de um gerador, como mostra a Figura 1.5.

Figura 1.5: Relação entre uma onda senoidal e a rotação de um gerador ca.

Um radiano é definido como a medida angular ao longo da


circunferência de um círculo, que é igual ao raio do círculo. Um
radiano é equivalente a 57,3º.

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1-5

A conversão de graus para radianos e vice-versa é obtida pelas


Equações 1.2 e 1.3:

⎛ π ⎞
rad = ⎜ o ⎟
⋅ graus (1.2)
⎝ 180 ⎠

⎛ 180 o ⎞
graus = ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ rad (1.3)
⎝ π ⎠

A letra grega π representa a relação da circunferência de qualquer


círculo por seu diâmetro e tem um valor constante de
aproximadamente 3,1416.

2.3 Polaridade de uma Onda Senoidal

Quando uma fonte de tensão senoidal é aplicada a um circuito


resistivo, como na Figura 1.6, um fluxo de corrente alternada senoidal
circula como resultado.

Figura 1.6: Circuito elétrico alimentado por fonte alternada senoidal.

Quando a tensão muda de polaridade, a corrente muda de direção


como indicado em Figura 1.7. Durante o semiciclo positivo da tensão,
a corrente flui em uma direção e muda de direção durante o semiciclo
negativo da tensão.

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Tensão (+V)
Corrente (+I)

Tensão (-V)
Corrente (-I)

Figura 1.7: Onda senoidal de tensão e corrente em circuito resistivo.

A combinação de semiciclo positivo e negativo forma um ciclo da


onda senoidal. O ciclo é a menor parte que não se repete em uma
onda periódica.

2.4 Período de uma Onda Senoidal

O tempo necessário para uma onda senoidal completar um ciclo é


denominado de período. O período de uma onda é o menor espaço
de tempo T que separa um conjunto completo de valores diferentes. A
Figura 1.8 ilustra dois períodos de uma onda senoidal. O período de
uma onda senoidal não necessariamente necessita ser medido entre
os zeros da forma de onda.

Figura 1.8: Medição de um período de uma onda senoidal.

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2.5 Freqüência de uma Onda Senoidal

A freqüência f de uma onda é o número de ciclos que a onda


completa em um segundo. O hertz (Hz) é a unidade da freqüência.
Um hertz é equivalente a um ciclo por segundo.

1 ciclo / s = 1 Hz

Como um período T, medido em segundos, equivale a um ciclo, o


número de ciclos em um segundo define a freqüência da onda. Assim

T (s) → 1 ciclo
1s → f (ciclos)

f = 1T (1.4)

T= 1 f (1.5)

Foi visto na Figura 1.3 que uma rotação completa da bobina no


campo magnético de um gerador ca gera um ciclo da tensão induzida.
A velocidade com que a bobina gira define o tempo, ou período, para
completar um ciclo. Se uma bobina completa 60 rotações em 1s, o
período da onda senoidal é de 1/60 s, que corresponde à freqüência
de 60 Hz. Assim, quanto mais rápido a bobina gira, maior é a
freqüência da tensão induzida, como ilustra a Figura 1.9.

Figura 1.9: A freqüência é proporcional à velocidade de rotação da bobina.

Uma outra forma de aumentar a freqüência é aumentar o número de


pólos magnéticos. Quando 4 pólos magnéticos são usados ao invés
de 2, como mostra a Figura 1.10, um ciclo é gerado durante metade
da rotação. Isto dobra a freqüência para a mesma velocidade de
rotação.

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1-8

Figura 1.10: Aumento da freqüência com o aumento de pólos.

A Figura 1.10 mostra que um ciclo completo do sinal elétrico ocorre


em metade de uma rotação mecânica.

Uma expressão para a freqüência em termos do número de pólos, p,


e de rotações por minuto, n, é dada por:

p n p⋅n
f = ⋅ = [Hz] (1.6)
2 60 120

2.6 Parâmetros de uma Onda Senoidal

Como apresentada pela Equação 1.1, a tensão induzida em um


condutor depende do número de espiras (N) e da taxa de variação do
campo magnético. Portanto, quando a velocidade de rotação da
bobina aumenta, não apenas aumenta a freqüência da tensão
induzida, mas também a amplitude. Como a freqüência do circuito é
normalmente constante, o método mais prático de aumentar a tensão
induzida é através do aumento do número de espiras da bobina.

As curvas ilustradas na Figura 1.11 representam valores instantâneos


de uma onda de tensão e de corrente que variam no tempo,
representadas pelas letras minúsculas v(t) e i(t), respectivamente.

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1-9

Figura 1.11: Valores instantâneos de onda senoidal.

As ondas senoidais de tensão e corrente são definidas


matematicamente por:

v(t) = Vp.sen(ωt ±ϕv) (1.7)


i(t) = Ip.sen(ωt ±ϕi) (1.8)

v(t), i(t) valores instantâneos das ondas de tensão e corrente


Vp, Ip amplitudes das ondas de tensão e corrente
ω freqüência ou velocidade angular da onda
ωt ângulo de tempo
ϕv, ϕi ângulos de fase das ondas de tensão e corrente

2.5.1. Valor de Pico

O valor de pico ou amplitude de uma onda senoidal de tensão e


corrente é o máximo valor positivo ou negativo em relação ao zero. O
valor de pico em uma onda senoidal é constante, e representado por
Vp ou Ip.

O valor pico-a-pico de uma tensão ou corrente senoidal compreende o


valor desde o pico positivo ao pico negativo. Os valores pico a pico
de tensão ou corrente são representados por Vpp = 2Vp ou Ipp= 2Ip.

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1-10

2.5.2. Velocidade ou Freqüência Angular

A velocidade angular ω ou freqüência angular de uma onda senoidal


de tensão ou corrente descreve a velocidade de uma rotação e é
definida como a relação entre um ciclo completo, expresso em
radianos, e o tempo para percorrê-lo.


ω= = 2πf [rad/s] (1.9)
T

A velocidade angular multiplicada pelo t define o ângulo de tempo, ωt,


que corresponde ao valor angular instantâneo de uma onda senoidal.
Como a onda senoidal é periódica, o ângulo de tempo será sempre
um múltiplo inteiro do conjunto de ângulos compreendido no intervalo
de 0 a 2π rad.

2.5.3. Ângulo de Fase

A fase de uma onda senoidal é uma medida angular que especifica a


posição da senóide em relação a uma referência. Duas ondas de mesma
freqüência podem apresentar diferença de fase. Isto significa que os
valores de pico e zeros das ondas não ocorrem ao mesmo tempo.

Na Figura 1.12 as ondas de tensão e de corrente estão deslocadas ou


defasadas uma em relação à outra. A onda de tensão está deslocada
para direita de 90º ou π/2 rad. Assim há um defasamento de 90º entre
v(t) e i(t). Em termos de tempo, o pico positivo da senóide v(t) ocorre
depois do pico positivo da senóide i(t). Neste caso, a onda v(t) é dita
atrasada da onda i(t) de 90º.

-ϕv

Figura 1.12: Ilustração de deslocamento angular: ν(t) deslocada para a direita.

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1-11

Quando uma onda senoidal é deslocada para a direita da referência


(atrasada) de certo ângulo ϕ, onde a referência é o eixo vertical, o
ângulo ϕ é negativo. Por exemplo, a expressão genérica da tensão
representada na Figura 1.12 é:

v(t) = Vp.sen(ωt - ϕv) (1.10)

Neste caso ϕv é igual a - 90º.

Quando a onda senoidal é deslocada para a esquerda, o ângulo de


fase ϕ é positivo. A Figura 1.13 mostra a onda de tensão deslocada
para a esquerda, portanto adiantada, ϕv = +90º.

+ϕv

Figura 1.13: Deslocamento angular de ν(t) para a esquerda.

O ângulo de fase ϕ de uma onda determina o valor da função


sinusóide em t=0; portanto o ângulo de fase fixa o ponto na onda
periódica em que o tempo começa a ser medido. A medida do ângulo
de fase em uma onda senoidal é obtida desde o ponto onde a senóide
é zero até o ponto em que o tempo é zero. Na Figura 1.12 ϕi=0o e ϕv=-
90º; na Figura 1.13, ϕi=0o e ϕv=+90º.

A Figura 1.14 mostra a onda de tensão com ângulo de fase igual a


30º, o que corresponde em t=0 a v=155,56 V.

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Figura 1.14: Onda de tensão com ângulo de fase igual a 30º.

A diferença de fase entre duas ondas senoidais de mesma freqüência


pode ser encontrada subtraindo-se os ângulos de fase das ondas.
Para tanto é necessário que:
− Ambas senóides tenham a mesma forma de onda (senoidal ou co-
senoidal).
− Ambas senóides tenham a mesma freqüência.
− As amplitudes das senóides tenham o mesmo sinal.

As relações de transformação são:


A.cos x = A.sen (x + 90º) A.sen x = A.cos (x - 90º)
- A.cos x = A.cos (x ± 1800) - A.cos x = A.sen (x - 900)
- A.sen x = A.sen (x ± 1800) - A.sen x = A.cos (x + 900)

Quando a diferença de fase entre duas ondas senoidais é igual a


zero, diz-se que as ondas estão em fase.

2.5.4. Valor Eficaz

O valor eficaz de uma corrente senoidal corresponde ao valor de


corrente ca capaz de dissipar em um resistor R uma potência média
equivalente à potência dissipada por uma corrente cc sobre o mesmo
resistor. Assim

R.i(t ) ⋅ dt
1 T
Pca = ∫
2
(1.11)
T 0

Pcc = RI 2 (1.12)

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1-13

em que T representa o período da onda senoidal de corrente, e i o


valor instantâneo da corrente.

Para Pac = Pcc, tem-se que os valores correspondentes entre as


correntes cc e ca, sob esta condição denominada de corrente eficaz
IEF:
1 T 2
T ∫0
I EF = i dt (1.13)

Note que o valor eficaz de uma onda senoidal independe do resistor.

De modo análogo o valor eficaz de tensão é definido.

V2
Pcc = (1.14)
R

.v(t ) dt
1 T1
Pca = ∫
2
(1.15)
T 0 R

e finalmente
1 T 2
T ∫0
VEF = v dt (1.16)

Para uma tensão senoidal definida como:

v(t) = Vp.sen(ωt ± ϕv) (1.17)

O valor eficaz da senóide é dado por:

Vp
VEF = = 0,707 Vp (1.18)
2
ou

Vp = 1,414VEF (1.19)

Para i = IM.sen(ωt + ϕi) tem-se que:

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1-14

2
I T

T ∫
I EF = sen 2 (ωt + ϕ i )dt
p
0

2
I [1 - cos2(ωt + ϕ )]dt
T

2T ∫
=
p
i
0

2
I ⎡ T T 2π
T

= ⎢t 0 − ⋅ t + ϕi ) ⎥
p
.sen 2(
2T ⎣⎢ 4π T ⎥
0 ⎦

Assim

I EF =
I p
= 0,707I p (1.20)
2
ou
I p = 1,414I EF (1.21)

O valor eficaz ou valor efetivo de uma onda senoidal é também


denominado de valor rms, termo derivado do inglês com o significado
da expressão matemática que o define – root mean square.

Note que o valor eficaz de uma onda senoidal independe do tempo,


sendo assim um valor constante.

2.5.5. Valor Médio

O valor médio de uma onda é o quociente da área sob a curva


correspondente a um ciclo completo dividido pelo período.

1 T
T ∫0
Vmédio = v(t)dt (1.22)

O valor médio de uma onda senoidal é sempre nulo porque a área do


semiciclo positivo é igual à área do semiciclo negativo.

Para ser útil como medida de tensão, em fontes chaveadas, o valor


médio de uma onda senoidal é definido sobre meio ciclo de uma
senóide retificada invés de um ciclo completo.

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Figura 1.15: Onda senoidal retificada.

Para v(t)= Vp.senωt, tem-se:

Vp T2

T 2∫
Vmédio = senωt ⋅ dt
0

2Vp 2π T 2
=− cos t
2π T 0 (1.23)
2Vp
=− [cos π − 1] = 2 Vp
2π π
= 0,6366 ⋅ Vp

Portanto, o valor médio de uma senóide de meio ciclo:

Vmédio = 0,637 2VEF

donde VEF = 1,11 ⋅ Vmédio (1.24)

De modo semelhante tem-se que:

I médio = 0,637I p (1.25)

I EF = 1,11 ⋅ I médio (1.26)

2.5.6. Fator de Crista

O valor crista de uma onda tensão ou corrente periódica é definido


como a relação entre o valor de pico e o valor eficaz:

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Vp
FC = (1.27)
VEF

O valor de crista é normalmente usado como medida de estresse que


um dielétrico é capaz de suportar. Para ondas senoidais o fator de
crista é igual 1,4142. Em circuitos com interruptores eletrônicos, em
que a condução de corrente ocorre apenas durante parte do ciclo
completo, o valor de crista não mais obedece à relação √2.

2.5.7 Fator de Forma

É definido como a relação entre o valor eficaz e o valor médio de uma


onda.
VEF
FF = (1.28)
Vmed

Para ondas senoidais o fator de forma é igual 1,11.

2.6. Ondas Não Senoidais

As ondas senoidais não são os únicos tipos de onda ca ou variante no


tempo. Outros tipos de formas de onda ca são comuns, como trem de
pulsos, ondas quadradas, ondas triangulares e dentes de serra.

2.6.1 Trem de Pulsos

Basicamente, um pulso pode ser descrito como uma rápida transição


no nível de uma onda de tensão ou corrente, seguida, após um
intervalo de tempo, de um rápido retorno ao seu nível original. A
Figura 1.16 mostra um pulso ideal, o qual consiste de transições ou
mudanças de níveis instantâneas opostas e de mesma amplitude.

Subida Descida Descida Subida


Base
Amplitude Amplitude
Base

Largura Largura
do Pulso do Pulso

Figura 1.16: Pulsos ideais (a) Pulso positivo (b) Pulso negativo.

Na prática, os pulsos não mudam de um nível a outro


instantaneamente. O intervalo de tempo na transição entre o nível
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mais baixo e o mais alto é denominado de tempo de subida. O tempo


de subida, ts, de um pulso é o tempo necessário para o pulso ir de
10% a 90% de sua amplitude.

O intervalo de tempo na transição entre o nível mais alto e o mais


baixo é denominado de tempo de descida. O tempo de descida, td, de
um pulso é o tempo necessário para o pulso ir de 90% a 10% de sua
amplitude.

Para um pulso não ideal a largura do pulso, tw, requer uma definição
precisa porque a subida e descida não são verticais. A largura de um
pulso é o tempo entre o ponto no lado de subida correspondente a
50% da amplitude e o ponto no lado de descida cujo valor é 50% da
amplitude do pulso.

1,0 1,0
0,9
0,5
0,1

tw
ts td

Figura 1.17: Pulso não ideal

Uma seqüência de pulsos repetidos a intervalos regulares é


denominada de trem de pulsos. A taxa em que os pulsos se repetem
define a freqüência de repetição, que pode ser expressa em hertz ou
em pulsos por segundo. O tempo de um pulso ao correspondente
ponto no próximo pulso é o período T. A relação entre freqüência e
período é a mesma da onda senoidal, f=1/T.

tw

tw
T
tw

Figura 1.18: Formas de onda de trem de pulsos

Uma importante característica de um trem de pulsos é a razão cíclica


definida como a relação da largura do pulso pelo período e é em geral
expresso em percentual.

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⎛t ⎞
d=⎜ w ⎟ ⋅ 100% (1.29)
⎝T ⎠

2.6.2 Onda Quadrada

Uma onda quadrada é um trem de pulsos com razão cíclica de 50%.


Portanto, a largura do pulso é igual à metade do período. Uma onda
quadrada é mostrada na Figura 1.19.

½T ½T

Figura 1.19: Onda quadrada.

2.6.3 Valor Médio de um Trem de Pulsos

O valor médio de um trem de pulsos é igual ao valor de base mais a


razão cíclica vezes sua amplitude.

Vmed= base+ (razão cíclica).(amplitude) (1.30)

A base de um trem de pulsos é medida pela distância do valor mínimo


do trem até a origem.
V(V)
+1
0
10 20 30 40 50 60
-1

Figura 1.20: Onda quadrada com valor de base igual a -1.

2.6.4 Ondas Triangular e Dente de Serra

As ondas triangulares e as dentes-de-serra são formadas por rampas


de tensão ou de corrente. A rampa é um crescimento ou decréscimo
linear na tensão ou corrente. A inclinação de uma rampa de tensão e
de corrente é ±V/t ou ±I/t, cujas unidades são V/s e A/s,
respectivamente.

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Figura 1.21: Onda triangular.

A Figura 1.21 mostra uma onda triangular composta de rampas


positivas e negativas de mesma inclinação. O período é medido entre
picos correspondentes. A onda triangular da Figura 1.21 é alternada e
tem valor médio nulo, no entanto, pode-se ter onda triangular não
alternada cujo valor médio é diferente de zero. A freqüência das
ondas triangulares é determinada da mesma maneira que para as
ondas senoidais.

A onda dente de serra é um caso particular da onda triangular


consistindo de duas rampas, uma de maior duração que a outra.
Ondas dente de serra são usadas em muitos sistemas eletrônicos.
Por exemplo, o feixe de elétrons que varre o monitor de TV, criando a
imagem, é controlado por tensões e correntes dentes de serra.

A Figura 1.22 é um exemplo de onda dente de serra. Note que


consiste de uma rampa positiva de maior duração, seguida por uma
rampa negativa de menor duração.

Figura 1.22: Onda alternada dente de serra.

2.6.5 Harmônicos

Harmônico é uma sinusóide, a qual tem uma freqüência que é um


múltiplo inteiro de uma determinada freqüência.

Uma onda não senoidal periódica é composta de uma série infinita de


ondas senoidais ou co-senoidais. A onda periódica não senoidal
possui uma componente denominada de fundamental que, em geral,
determina a freqüência de repetição da onda não senoidal, e um
conjunto de ondas, denominadas de harmônicos ou harmônicas.

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1-20

A componente fundamental é a onda de menor freqüência inteira do


conjunto de ondas senoidais. Cada múltiplo inteiro da fundamental é
chamado de ordem do harmônico. A fundamental é também
conhecida como a componente da onda de primeira ordem.

Os harmônicos são divididos em pares e ímpares. Os harmônicos


pares são ondas cujas freqüências são múltiplos inteiros pares da
fundamental. De modo semelhante, os harmônicos ímpares são
múltiplos inteiros ímpares da fundamental.

Qualquer variação em uma onda senoidal pura gera componentes


harmônicos. Alguns tipos de formas de onda têm apenas harmônicas
ímpares, outros somente harmônicos pares, e outras contêm ambas.
A forma da onda é determinada por seu conteúdo harmônico.

Uma onda quadrada é um exemplo de uma forma de onda que


consiste de componente fundamental e de harmônicos ímpares. A
Figura 1.23 mostra a soma das componentes fundamental, terceira,
quinta e sétima harmônicas de corrente com a forma de onda
aproximando-se de uma onda quadrada.

Figura 1.23: Harmônicos ímpares geram onda quadrada.

Para a identificação das componentes harmônicas presentes em uma


onda não sinusoidal é empregada uma ferramenta matemática,
desenvolvida em 1822, pelo matemático francês Jean Baptiste Joseph
Fourier (1768-1830), denominada de Série de Fourier.

A freqüência, a amplitude e a fase de cada sinusóide são


determinadas por meio da análise de Fourier aplicada à onda

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1-21

periódica não senoidal. A análise de Fourier é o processo de


conversão de formas de onda no domínio do tempo em suas
componentes de freqüências.

2.6.5.1. Série de Fourier

Segundo Fourier, a função f(t) pode ser representada


matematicamente pela expressão:

a0
f (t ) = + ∑ h =1 ⎡⎣ ah cos ( hω1t ) + bh sen ( hω1t ) ⎤⎦

2
a (1.31)
= 0 + ∑ h =1 ah cos ( hω1t ) + ∑ h =1 bh sen ( hω1t )
∞ ∞

em que

a0/2 valor médio de f(t), denominado de componente cc do sinal


ah, bh amplitudes das componentes da série infinita
ω1 freqüência angular fundamental de f(t)
h ordem do harmônico
ϕh ângulo de fase da componente de ordem h

Os coeficientes a0, ah e bh são calculados pelas expressões:

f (t )dt
2 T
T ∫0
a0 = (1.32)

f (t ) cos(hω1 t )dt
2 T
T ∫0
ah = (1.33)

f (t )sen(hω1 t )dt
2 T
T ∫0
bh = (1.34)

O cálculo dos coeficientes a0, ah e bh são obtidos a partir da


multiplicação da Equação 1.31 pelo termo apropriado.

a0
f ( t )dt = ∫ dt + ∑ h =1 ∫ ( ah cos ω1t + bh senω1t )dt
T T ∞ T
∫0 0 2 0

a a ⋅T
T (1.35)
= 0 ⋅t = 0
2 0 2

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1-22

Donde
f (t )dt
2 T
T ∫0
a0 =

Para o coeficiente ah:

a0
f (t ) cos(nω1 t )dt = ∫ ( ) ∑ cos(hω1 t ) cos(nω1 t )dt +
T T ∞ T
∫0 0 2
cos n ω1 t dt + h =1 h ∫0
a
(1.36)
∑h =1 b h ∫ sen(hω1 t )cos(nω1 t )dt
∞ T

f (t ) cos(hω1 t )dt
2 T
T ∫0
Donde resulta em: a h =

Para o coeficiente bh:

a0
∫ f (t )sen (nω t )dt = ∫ sen (nω1 t )dt + ∑h =1 a h ∫ cos(hω1 t )sen (nω1 t )dt +
T T ∞ T
1
0 0 2 0
(1.37)
∑h =1 b h ∫ sen (hω1 t )sen (nω1 t )dt
∞ T

f (t )sen(hω1 t )dt
2 T
T ∫0
Donde resulta: b h =

Alguma simplificação no cálculo dos coeficientes a0, ah e bh pode ser


obtida quando a função f(t) sob análise apresentar algum tipo de
simetria.
a) Simetria Ímpar: f(t) = -f(-t)
− Todos os coeficientes em co-seno são nulos, ah = 0.

f(t)

0 T/2 T t

Figura 1.24: Função com Simetria Ímpar.

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1-23

− Os coeficientes Bh são obtidos pela expressão:


4 T2 ⎛ 2π ht ⎞
bh = ∫ f ( t ) sen ⎜ ⎟ dt h=1, 2, 3, ....
T 0
⎝ T ⎠

Simetria Par: f(t) = f(-t)


− Todos os coeficientes em seno são nulos, bh = 0.
f(t)

0 T/2 T t

Figura 1.25: Função com Simetria Par

− Os coeficientes ah são obtidos pela expressão:


4 T2 ⎛ 2π ht ⎞
ah = ∫ f ( t ) cos ⎜ ⎟ dt h = 1, 2, 3, ....
T 0 ⎝ T ⎠
Note que:
1. Se a onda é simétrica em relação ao eixo horizontal, o coeficiente
a0 é nulo, o que indica que o valor médio da onda é zero.
2. Em sendo a onda de simetria ímpar, somente os coeficientes da
função seno podem ser não nulos, pois a função seno é uma
função ímpar (sen(θ)=-sen(-θ)).
3. Em sendo a onda de simetria par, somente os coeficientes da
função co-seno podem ser não nulos, pois a função co-seno é uma
função par (cos(θ)=cos(-θ)).
Existem ainda outros tipos de simetria que podem ser verificados na
literatura, os quais não serão aqui abordados.
A Equação 1.31 pode ser re-escrita como:
a0
f (t ) = + ∑h =1 c h sen (hω1 t + ϕ h )

2 (1.38)
(
= c 0 + ∑h =1 c h cos hω1 t + ϕ h − 90
∞ o
)

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1-24

A relação entre as Equações 1.31 e 1.38 é mostrada gráfica e


matematicamente. Na Equação 1.31 um harmônico de ordem h
possui componentes ortogonais:

ahcos(hω t) + bhsen(hω t) = ahcos(hω t) + bhcos(hω t – 90o) (1.39)

Os coeficientes ah e bh das co-senóides representam os catetos de


um triângulo retangular. Assim:

a0
c0 = ah
2 ϕh

c h = a 2h + b 2h
bh
ch
⎛ −bh ⎞ −1 ⎛ bh ⎞
ϕh = tg −1 ⎜ ⎟ = −tg ⎜ ⎟ Figura 1.26: Diagrama das Componentes
⎝ ah ⎠ ⎝ ah ⎠ da Série de Fourier

Semelhantemente, a Equação 1.38 pode ser definida como uma


senóide:

ahcos(hω t) + bhsen(hω t) = ahsen(hω t+90º) + bhsen(hω t)


(1.40)

a0 ah ch
c0 =
2

c h = a 2h + b 2h ϕh
bh

⎛ ah ⎞ Figura 1.27: Diagrama das Componentes


ϕ h = tg −1 ⎜⎜ ⎟⎟ da Série de Fourier.
⎝ bh ⎠

Para uma série de Fourier construída na forma apresentada pelas


Equações 1.36 e 1.37, o par formado por ch e ϕh contém toda a
informação capaz de descrever a onda.

f(t) = c0 + c1cos(ω1t + ϕ1) + ... + chcos(hω1t + ϕh) + ... (1.41)


ou

f(t) = c0 + c1sen(ω1t + ϕ1) + ... + chsen(hω1t + ϕh) + ... (1.42)

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1-25

Uma lista de freqüências ou ordem das harmônicas, amplitudes, e


ângulos de fase é denominada de espectro harmônico da onda. Esta
informação é necessária na especificação do projeto de filtros
harmônicos.

A Figura 1.28 mostra o espectro de freqüência da onda quadrada da


Figura 1.24, onde são apresentadas as componentes de freqüência
do sinal e suas amplitudes.

Figura 1.28: Espectro de freqüências.

Exercício 1.1
Determinar os coeficientes a0, ah e bh da série de Fourier para a
função abaixo:

Figura 1.29: Onda de corrente retangular.


.
Definição da função:

f(t) = I, para 0≤ t <T/2 e f(t) = -I, para T/2≤ t ≤T

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1-26

Componente a0:

a0 = (
1 T2
T ∫0
Idt −
T
∫T 2 Idt )
I ⎛T T⎞
= ⎜ −T + ⎟ = 0
T⎝2 2⎠

Componente ah:

2 T
f ( t ) cos ( hω1t )dt
T ∫0
ah =

2I ⎛ T 2 ⎛ 2π ⎞ T ⎛ 2π ⎞ ⎞
= ⎜ ∫ cos ⎜ h t ⎟ dt − ∫ cos ⎜ h t ⎟ dt ⎟
T ⎝ 0 ⎝ T ⎠ T 2
⎝ T ⎠ ⎠
2I T ⎛ ⎛ 2π
T 2
⎞ ⎛ 2π ⎞ ⎞
T

= ⋅ ⎜ sen ⎜ h t ⎟ − sen ⎜ h t⎟ ⎟
T h 2π ⎜ ⎝ T ⎠0 ⎝ T ⎠ T 2 ⎟⎠

I
= ⎡ 2sen ( hπ ) ⎤⎦ = 0 ∀h
hπ ⎣

Componente bh:

2 T
f ( t ) sen ( hω1t )dt
T ∫0
bh =

2I ⎛ T 2 ⎛ 2π ⎞ T ⎛ 2π ⎞ ⎞
= ⎜ ∫ sen ⎜ h t ⎟ dt − ∫ sen ⎜ h t ⎟ dt ⎟
T ⎝ 0 ⎝ T ⎠ T 2
⎝ T ⎠ ⎠

I ⎛ ⎛ 2π ⎞
T 2
⎛ 2π ⎞ ⎞
T

bh = ⎜ − cos ⎜ h t ⎟ + cos ⎜ h t⎟ ⎟
hπ ⎜ ⎝ T ⎠ ⎝ T ⎠ T 2 ⎟⎠
⎝ 0

4I
= h = {1,3,5,L}

O que resulta em termos de componentes de freqüência:


4I 4I 4I
f (t ) = sen (ω1t ) + sen ( 3ω1t ) + sen ( 5ω1 ) +L
π 3π 5π

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1-27

Exercício 1.2:

Seja a onda mostrada na Figura 1.29. Para Vmax=60π determinar:

a) O valor médio da tensão periódica.

b) Se T = 628,32ms, qual é a freqüência angular da fundamental em


rad/s?

c) Qual é a freqüência do 5º harmônico em Hz?

d) Escreva a série de Fourier até o 5º harmônico.

v(t)
Vmax

Vmax/2

t
0 T/4 T/2 3T/4 T 5T/4

Figura 1.30: Onda de tensão não senoidal.

Definição da função:

f(t) = Vmax, para 0≤ t <T/4 e f(t) = Vmax/2, para T/4≤ t ≤T

a) Valor médio de f(t):

Vmax ⎛ T 4 1 T ⎞
a0 = ⎜ ∫0 dt + ∫ dt ⎟
T ⎝ 2 T4 ⎠
V ⎡T 1 ⎛ T ⎞⎤
= max ⎢ + ⎜ T − ⎟ ⎥
T ⎣4 2⎝ 4 ⎠⎦
5 5 5
= Vmax = ⋅ 60π = ⋅15π
8 8 2
O valor médio da onda de trem de pulso da Fig.1.30 pode também ser
calculada pela expressão definida pela Eq. 1.30, i.e.,

ao= base+ (razão cíclica).(amplitude)

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1-28

T
Vmax 4 ⋅ Vmax
a0 = +
2 T 2
V ⎛ 1⎞ 5
= max ⎜1 + ⎟ = Vmax
2 ⎝ 4⎠ 8

b) Freqüência angular da fundamental em rad/s:

2π 2π
ω1 = = = 10 rad s
T 0, 628

c) Freqüência do 5º harmônico:

ω5 = 5ω1 = 50 rad s

ω5
f5 = = 7,96 Hz

d) Série de Fourier até o 5º harmônico. Observando a onda da


Fig.1.29 nota-se que a onda nem é par, nem é ímpar.

2Vmax ⎡ T 4 ⎛ 2π ⎞ 1 T ⎛ 2π ⎞ ⎤
ah =
T ⎣ 0⎢ ∫ cos ⎜ h
⎝ T
t ⎟ dt + ∫ cos ⎜ h
⎠ 2 T4 ⎝ T
t ⎟ dt ⎥
⎠ ⎦
V ⎡ ⎛ 2π ⎞ ⎤
T 4 T
⎞ 1 ⎛ 2π
= max ⎢sen ⎜ h t ⎟ + sen ⎜ h t⎟ ⎥
hπ ⎣⎢ ⎝ T ⎠0 2 ⎝ T ⎠ T 4 ⎦⎥
Vmax ⎛ π⎞
= sen ⎜ h ⎟
h 2π ⎝ 2⎠
Portanto,
ah = 0 h = {2,4,6,8,L}

h = {3, 7,11,L}
Vmax
ah = −
2hπ

h = {1,5,9,L}
Vmax
ah =
2hπ

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1-29

Componente bh:

2Vmax ⎡ T 4 ⎛ 2π ⎞ 1 T ⎛ 2π ⎞ ⎤
bh =
T ⎣ 0⎢ ∫ sen ⎜ h
⎝ T ⎠
t ⎟ dt + ∫ sen ⎜ h
2 T4 ⎝ T ⎠ ⎦
t ⎟ dt ⎥

−Vmax ⎡ ⎛ 2π ⎞ ⎛ 2π ⎞ ⎤
T 4 T
1
= ⎢ cos ⎜ h t ⎟ + cos ⎜ h t⎟ ⎥
hπ ⎢⎣ ⎝ T ⎠ 0 2 ⎝ T ⎠ T 4 ⎥⎦
−Vmax ⎛ ⎛ π⎞ 1 1 π⎞
= ⎜ cos ⎜ h ⎟ − 1 + cosh 2π − cosh ⎟
hπ ⎝ ⎝ 2⎠ 2 2 2⎠
−Vmax ⎛ 1 ⎛ π⎞ 1 ⎞
= ⎜ cos ⎜ h ⎟ + cos ( h 2π ) − 1⎟
hπ ⎝ 2 ⎝ 2⎠ 2 ⎠

−Vmax ⎛ 1 ⎛ π⎞ 1 ⎞
bh = ⎜ cos ⎜ h ⎟ + cos ( h 2π ) − 1⎟
hπ ⎝ 2 ⎝ 2⎠ 2 ⎠

Vmax
bh = , h = {1,3,5,7,9,L}
2hπ
= 0, h = {4,8,12,L}
Vmax
= , h = {2,6,10,L}

Tabela 1.1 Coeficientes de Fourier
h ah bh
1 Vmax/2π Vmax/2π
2 0 Vmax/2π
3 - Vmax/6π Vmax/6π
4 0 0
5 Vmax/10π Vmax/10π

A função no domínio da freqüência:

f ( t ) = Vmax + max ( cos (ω1t ) + sen (ω1t ) ) + max ( sen ( 2ω1t ) ) +


5 V V
8 2 × 1π 2π
Vmax
2 × 3π
( − cos ( 3ω1t ) + sen ( 3ω1t ) ) + max ( cos ( 5ω1t ) + sen ( 5ω1t ) ) +
V
2 × 5π
Vmax
2 × 6π
( 2sen ( 6ω1t ) ) + max ( − cos ( 7ω1t ) + sen ( 7ω1t ) ) + L
V
2 × 7π

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1-30

Exercício 1.3
Representar a onda de tensão não senoidal do exercício 1.2 na forma
compacta da série de Fourier como função co-senoidal.

Como f(t) é dada por:

f ( t ) = Vmax + max ( cos (ω1t ) + sen (ω1t ) ) + max ( 2sen ( 2ω1t ) ) +


5 V V
8 2 × 1π 2 × 2π
Vmax
2 × 3π
( − cos ( 3ω1t ) + sen ( 3ω1t ) ) + max ( cos ( 5ω1t ) + sen ( 5ω1t ) ) +
V
2 × 5π
Vmax
2 × 6π
( 2sen ( 6ω1t ) ) + max ( − cos ( 7ω1t ) + sen ( 7ω1t ) ) + L
V
2 × 7π
E a representação compacta co-senoidal é definida como:

a0
c0 = ah
2 ϕh

c h = a 2h + b 2h
bh
ch
⎛ bh ⎞
ϕ h = − tg −1 ⎜⎜ ⎟⎟ Figura 1.31: Diagrama das Componentes
⎝ ah ⎠ da Série de Fourier.

Tem-se que:

5
c0 = Vmax
8

2
⎛V ⎞ 2
c1 = 2 ⎜ max ⎟ = Vmax , ϕ1 = −45o
⎝ 2π ⎠ 2π

Vmax
c2 = , ϕ2 = −90o

2
c3 = Vmax , ϕ3 = −45o , pois –cos(3ω1t)=sen(3ω1t - 90º)

2
c5 = Vmax , ϕ5 = −45o
10π

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1-31

⎛5 ⎞
v ( t ) = Vmax ⎜⎜ +
8 2π
2
× 1
(
sen ω1t − 45o +
2
)
1
π
(
sensen 2ω1t − 90o ) ⎟⎟
⎝ ⎠

2.6.5.2 Valor Eficaz Verdadeiro

O valor eficaz de uma onda periódica qualquer é definido como:

FRMS =
1 T
∫ [f (t )]2 dt (1.43)
T 0

Ondas de tensão e de corrente não senoidais, periódicas, podem ser


representadas por uma função f(t) em uma série de Fourier com
componente cc, fundamental e os componentes harmônicos.

a0
f (t ) = + ∑ h=1 ah cos ( hω1t ) + ∑ h=1 bh sen ( hω1t )
∞ ∞
(1.44)
2
ou

f ( t ) = c0 + ∑ ch cos ( hω1t + φh ) (1.45)
h =1

Substituindo f(t) em Frms ou valor eficaz FEF, obtém-se:

1 ⎛ a02 ∞ 2 ∞ 2 ⎞
FRMS = ⎜ + ∑ ah + ∑ bh ⎟ (1.46)
2 ⎝ 2 h=1 h =1 ⎠

1 ∞
FRMS = c02 + ⋅ ∑ ch2 (1.47)
2 h =1

Considerando que ah, bh e ch são valores de pico de sinusóides


(h=1,2,3,...) e que o valor de pico de uma sinusóide é igual a 1,4142
vezes seu valor eficaz, tem-se que:

a02 ∞ 2 ∞
FRMS = + ∑ aEF ,h + ∑ bEF2
,h (1.48)
4 h =1 h =1

FRMS = c02 + ( cEF )1 + ( cEF )2 + ( cEF )3 + L + ( cEF )n


2 2 2 2
(1.49)

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1-32

Assim, valor rms verdadeiro para uma tensão e corrente, periódicas,


não senoidais é definido como:

Vrms = V + ∑ Vrms
2
2
cc ,h (1.50)
h =1


I rms = I cc2 + ∑ I rms
2
,h (1.51)
h =1

Exercício 1.4
Calcular o valor eficaz verdadeiro de uma onda retangular que oscila
entre +A e –A, com ciclo de trabalho de 50%.
A função f(t) é assim descrita:

tω 1
D= = 0,5 ∴ tω = T f(t)
T 2
A
A 0 ≤ t < T/2
f(t) =
-A T/2 ≤ t < T 0 T/2 T t
-A

Figura 1.32 Onda quadrada de amplitude A.

O valor rms verdadeiro é simplesmente A.

rms 2 =
T 0(
1 T2
∫ ( A )
2
dt + ∫
T

T 2
( − A ) dt
2
)
A2 ⎛ T T⎞
= ⎜ +T − ⎟ = A
2

T ⎝2 2⎠

Se a onda quadrada apresenta uma componente cc de nível B


adicionado ao eixo positivo, calcule o valor eficaz da onda.
A onda oscila entre B+A e B-A, e o valor rms é dado por:

rms2 = B2 + A2.

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1-33

Referências

[1] Floyd, T.L. Principles of Electric Circuits, 6th Ed. Prentice Hall,
2000. ISBN 0-13-095997-9.927p.

[2] Nilsson, James W., Reidel, Susan A., Circuitos Elétricos, LTC, 6a
Edição, 2003.

[3] Kerchner, R.M., Corcoran,G.F., Circuitos de Corrente Alternada,


Porto Alegre, Globo, 1973.

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Capítulo 2 FASORES E NÚMEROS COMPLEXOS

Os fasores e os números complexos são duas importantes


ferramentas para a análise de circuitos ca. As tensões e correntes
senoidais podem ser matemática e graficamente representadas por
fasores em termos de suas magnitudes e ângulos de fase. O sistema
de números complexos é um meio de expressar os fasores e de
operá-los matematicamente.

2.1. Fasor

Um fasor é uma representação gráfica semelhante a um vetor, mas


em geral refere-se a grandezas que variam no tempo como as ondas
senoidais.

O comprimento de um fasor representa sua magnitude, e o ângulo θ


representa sua posição angular relativa ao eixo horizontal tomado
como referência. Os ângulos positivos são medidos no sentido anti-
horário a partir da referência (0o) e os ângulos negativos são medidos
no sentido horário a partir da referência.

90º 90º
magnitude

θ
180º 0º 180º 0º
-60º
2

270º 270º

Figura 2.1: Exemplo de fasores: magnitude e direção.

A Figura 2.2 mostra um fasor de magnitude |A| que gira com


velocidade angular ω.
90º

ωt

180º 0º
|A|
Figura 2.2: Fasor girante.

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2-2

2.1.1 Representação Fasorial de uma Onda Senoidal e Co-senoidal

Um ciclo completo de uma senóide pode ser representado pela


rotação de um fasor que gira 360º. O valor instantâneo da onda
senoidal em qualquer ponto da senóide é igual à distância vertical da
extremidade do fasor ao eixo horizontal, isto é, a projeção do fasor no
eixo vertical.

Figura 2.3 Onda senoidal representada por fasor em movimento.

Figura 2.4 Onda co-senoidal representada por fasor em movimento.

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2-3

A Figura 2.4 apresenta a representação de uma onda co-senoidal por


um fasor girante. O valor instantâneo da co-senoide em qualquer
ponto da onda é igual à distância horizontal da extremidade do fasor
ao eixo vertical, ou seja, igual à projeção do fasor sobre o eixo
horizontal.

Note que a amplitude do fasor é igual ao valor de pico da onda


senoidal na Figura 2.3 (pontos 90º e 270º) e da onda co-senoidal na
Figura 2.4 (pontos 0o e 180º).

A Figura 2.5 mostra um fasor de tensão em uma posição angular


específica de 45º e o correspondente ponto na onda senoidal. O valor
instantâneo da onda senoidal neste ponto está relacionado à posição
(θ) e à amplitude do fasor (Vp). Note que quando uma linha vertical é
traçada da extremidade do fasor até o eixo horizontal é formado um
triângulo retangular. O comprimento do fasor é a hipotenusa do
triângulo, e a projeção vertical, o seu cateto oposto. Assim, o cateto
oposto do triângulo reto é igual à hipotenusa vezes o seno do ângulo
θ e representa o valor instantâneo da senóide.

Figura 2.5: Relação matemática entre a senóide e o fasor.

O período e a freqüência da onda senoidal estão relacionados à


velocidade de rotação do fasor. A velocidade de rotação do fasor é
denominada de velocidade angular, ω. Quando um fasor gira a uma
velocidade ω, então ωt representa o ângulo instantâneo do fasor que
pode ser expresso como:

θ=ωt (2.1)

2.1.2 Diagramas Fasoriais

Como visto anteriormente, uma onda senoidal periódica de freqüência


e amplitude constantes pode ser representada por um fasor girante.
Como amplitude e freqüência são constantes, tem-se que uma vez

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2-4

conhecida o valor instantâneo de uma senóide em t=0, em qualquer


tempo o valor da senóide pode ser determinado.

90º
Vp
45º
180º 0º

270º

(a) (b)
Figura 2.6: Definição de uma onda senoidal.

A onda senoidal mostrada na Figura 2.6 é definida matematicamente


como:
ν(t)= Vp.sen(ωt+45º) (2.2)

Assim, o fasor da Figura 2.6 (b) tem amplitude igual a Vp, gira a uma
velocidade angular ω, e tem um ângulo de fase igual a 45º.

Um fasor em uma posição fixa é usado para representar uma onda


senoidal completa porque uma vez estabelecido o ângulo de fase
entre a onda senoidal e uma referência, o ângulo de fase permanece
constante ao longo dos demais ciclos.

Um diagrama fasorial pode ser usado para mostrar a posição relativa


de duas ou mais ondas senoidais de mesma freqüência, pois uma vez
que o ângulo de fase entre duas ou mais ondas de mesma freqüência
é estabelecida, o ângulo de fase permanece constante ao longo dos
ciclos.

Na Figura 2.7 três ondas senoidais são representadas por um


diagrama fasorial. A senóide A está adiantada das senóides B e C, a
senóide B está adiantada em relação à senóide C, porém atrasada
em relação à senóide A, e a senóide C está atrasada em relação às
senóides A e B, como indicado no diagrama fasorial.

45º B

-60º

Figura 2.7: Exemplo de diagrama fasorial.

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2-5

2.2. Sistema de Números Complexos

Os números complexos permitem operações matemáticas com


fasores e são úteis na análise de circuitos ca.

A álgebra de números complexos é uma extensão da álgebra de


números reais. Os números reais constituem um sub-conjunto dos
números complexos.

Os números complexos são formados pelos números reais e pelos


números imaginários.

{Conjunto dos Complexos} = {Reais} + {Imaginários} (2.3)

Os números imaginários são distinguidos dos números reais pelo uso


do operador j ou i.

A representação de um número complexo é dada pela soma algébrica


da componente real, ± a, e da componente imaginária, ± jb.

y = ±a ± jb (2.4)

Se a parte real de um número complexo é zero, o número complexo


torna-se puramente imaginário: y = ± jb. Se a parte imaginária do
número complexo é nula, o número torna-se puramente real: y = ± a.

Na matemática o operador i é usado invés do j, mas em circuitos


elétricos o i pode ser confundido com o valor instantâneo da corrente,
por isso o j tem preferência.

2.2.1 Plano Complexo

Um número complexo pode ser representado por um ponto no plano


complexo. No plano complexo o eixo horizontal é denominado de eixo
real, e o eixo vertical, de eixo imaginário.

A Figura 2.8 mostra um conjunto de pontos no plano cartesiano


complexo. O número +2 é um número complexo cuja parte imaginária
é nula; o número –j2 é um número complexo negativo com parte real
nula, e representado sobre o eixo imaginário. Quando um ponto não
está situado sobre nenhum eixo, mas está localizado em um dos
quatro quadrantes, o número é definido por suas coordenadas, a

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2-6

exemplo do ponto 4+j2. Note que o número 4+j2 tem como conjugado
4-j2, pois diferem apenas no sinal da parte imaginária. O conjugado
de um número complexo é representado pelo expoente ()*.
+j Eixo Imaginário

2º quadrante 1º quadrante

j3
4 + j2
-5 + j1

2 Eixo Real
-4-j2 -j2 4 - j2

3º quadrante 4º quadrante

-j
Figura 2.8: Plano cartesiano complexo.

Uma posição angular pode ser representada em um plano complexo


como mostra a Figura 2.9.
+j
90o

2º quadrante 1º quadrante

180º 0o/360º

3º quadrante 4º quadrante

-j 270º

Figura 2.9: Ângulos no plano complexo.

2.2.2 Operador j

O operador j é denominado operador complexo e é definido como:

j= −1 (2.5)

O operador +j ao multiplicar uma grandeza real move no sentido anti-


horário a grandeza localizada no eixo real para o eixo imaginário,
rotacionando-a de +90º. De modo semelhante, multiplicando a
grandeza real por –j, a grandeza gira de -90º, sentido horário. Assim, j
é considerado um operador rotacional.

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2-7

Seja uma grandeza real positiva +2


+j2 representada sobre o eixo real. Ao ser
aplicado o operador j tem-se:

(j2)2=-2 +2 j2 2 = ( − 1)⋅ ( − 1)⋅ (2) = (− 1) ⋅ (2) = −2


(j3)2=-j2
j3 2 = ( − 1) ⋅ ( − 1)⋅ (2) = (− 1) ⋅ ( j) ⋅ (2) = − j2 (2.6)
2

Figura 2.10: Efeito do operador j


j4 2 = ( − 1) ⋅ ( − 1) ⋅ (2) = (− 1) ⋅ (− 1) ⋅ (2) = 2
2 2

Observe que o operador j2 gira de +180º a grandeza sobre qual opera


convertendo-a a um número real negativo, j3 gira de 270º, e quando
multiplicado por j4 retorna ao lugar de origem.

2.3. Forma Retangular e Polar

A forma polar e retangular são duas formas de representação de


números complexos, usadas para representar grandezas fasoriais.
Cada uma apresenta vantagens quando usadas na análise de
circuitos, dependendo da aplicação.

Como visto na seção 2.1, um fasor apresenta magnitude e fase. Em


geral, a magnitude de um fasor é representada por uma letra itálica ou
pela representação de módulo | . |.

Um fasor é representado graficamente por uma seta desde a origem


até o ponto no plano complexo.

2.3.1 Forma Retangular

Um fasor, em qualquer quadrante de um plano complexo, pode ser


completamente especificado numa forma de notação cartesiana ou
retangular como:

+j A = ± xA ± jyA. (2.7)
A +jyA A
± xA representa a projeção de A no eixo
real;
-xA +xA
± jyA. representa a projeção de A sobre o
A -jyA A eixo imaginário.

Figura 2.11: Fasor em diferentes quadrantes.

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2-8

Portanto, um fasor é uma grandeza complexa. Qualquer que seja o


quadrante em que esteja situado o fasor A, seu módulo é dado por:

2 2
|A| = x +y
A A
(2.8)

|A|
|A|
yA yA φ θ=180o -φ
θ -xA xA

xA -xA φ -θ
-yA θ=-180o+φ -yA
|A| |A|

1º quadrante 2º quadrante 3º quadrante 4º quadrante

Figura 2.12: Abertura angular do fasor no plano complexo.

A abertura angular, no 1º e 4º quadrante, que o fasor faz com o eixo


real positivo de referência é dada por:

±y
θ = arctg ( A
) (2.9)
x A

O ângulo θ no 2º e 3º quadrantes é definido como:

θ=±180º ± φ

y
θ=±180º ± tg-1( A
) (2.10)
x A

2.3.2 Forma Polar

O fasor A quando representado na forma polar consiste da magnitude


|A| e da posição angular relativa ao eixo real, expresso como:

|A|∠±θ (2.11)

Um fasor na forma retangular pode ser convertido para a forma polar


e vice-versa. Na conversão retangular → polar tem-se:

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2-9

+j
+jyA=j|A| senθ

θ
A A = ± x A ± jy A = A (cosθ ± jsenθ )
+xA=|A|cosθ −1 ⎛ ± y ⎞ (2.12)
≡ x 2A + y 2A ∠ tg ⎜⎜ A
⎟⎟ = A ∠ ± θ
⎝ ± xA ⎠
Figura 2.13: Coordenadas
cartesianas de um fasor.

A conversão polar → retangular tem-se:

A ∠ ± θ ≡ A ⋅ (cos θ ± jsenθ ) = ± x A ± jy A (2.13)

2.3.3 Identidade de Euler

Seja o fasor A representado em sua forma retangular trigonométrica:

A = ⏐A⏐.(cosθ + jsenθ) (2.14)

As funções senθ e cosθ expandidas em série:

θ2 θ4 θ6 θ3 θ5 θ7
A = ⏐A⏐[(1- + - + ...) + j(θ - + - + ...)] (2.15)
2! 4! 6! 3! 5! 7!

O fasor A pode ser re-escrito como:

( jθ)2 ( jθ)3 ( jθ)4 ( jθ)5


A = ⏐A⏐(1 + jθ + + + + + ...) (2.16)
2! 3! 4! 5!

Reconhecendo que:
jθ ( jθ)2 ( jθ)3 ( jθ)4 ( jθ)5
e = 1 + jθ + + + + + ... (2.17)
2! 3! 4! 5!
tem-se:

A = ⏐A⏐.e jθ = ⏐A⏐.(cosθ + jsenθ) (2.18)


com
e jθ = (cosθ + jsenθ) (2.19)

que representa a identidade de Euler.

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2-10

De modo análogo tem-se que:

e -jθ = (cosθ - jsenθ) (2.20)

O fasor A quando representado como A = |A|.e±jθ diz-se estar na forma


exponencial.

A forma polar é a representação concisa da forma exponencial.

A =|A|.e±jθ ≡|A| ∠ ±θ (2.21)

A Equação 2.22 apresenta as diferentes formas de representar uma


onda senoidal variante no tempo por um fasor com magnitude definida
pela amplitude da onda senoidal, que gira a uma velocidade angular
ω, e cuja representação gráfica indica a condição no instante t=0, para
um ângulo de fase que se mantém constante no tempo.

A = ± xA ± j yA = |A|.e ±jθ ≡⏐A⏐ ∠ ±θ (2.22)

Assim, ondas senoidais e co-senoidais, de amplitude e freqüência


definidas, encontram representação através de fasores.

|A|.cos(ωt±ϕ) = Re[|A|.ej(ωt±ϕ)] = |A|∠±ϕ


(2.23)
j(ωt±ϕ)
|A|.sen(ωt±ϕ) = Im[|A|.e ] = |A|∠±ϕ

Uma outra maneira de apresentar a identidade de Euler consiste na


definição do fasor como:

A = (cosθ + jsenθ) (2.24)

A derivada de A em relação a θ é dada por:

dA
= -senθ + jcosθ = j(cosθ +jsenθ) = jA (2.25)

Re-escrevendo a Equação 2.25, tem-se:

dA
= jdθ (2.26)
A

Integrando ambos os lados da Equação 2.26:

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2-11

LnA = jθ + C (2.27)

A constante complexa de integração C é obtida fazendo-se θ=0 na


Equação (2.27) onde obtém-se C=LnA. O valor de A para θ=0 é obtido
da Equação 2.24; assim, para A = 1 + j0 implica em C=0. Portanto:

LnA = jθ (2.28)
ou
A = ejθ (2.29)

O ângulo θ pode ser expresso em função do tempo: θ =ωt + ϕ.

2.4. Operação Matemática com Grandezas Complexas

Os fasores, representados por números complexos, podem ser


somados, subtraídos, multiplicados e divididos, além das operações
de potenciação, raiz, e logaritmo.

2.4.1 Soma

Seja os fasores A e B definidos como:

A = a + jb (2.30)

B = c + jd (2.31)

A soma de A e B é dada por:

C = A + B = (a + c) + j(b + d) (2.32)

A representação gráfica da soma de fasores é mostrada na Figura 2.13.

A = 3 + j1 A

B
C = 5 - j1
C
B = 2 - j2

Figura 2.13: Soma de fasores.

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2-12

2.4.2 Subtração

A subtração dos fasores A e B é dada por:

C = A - B = (a - c) + j(b - d) (2.33)

C
-B
A A
C

B B

Figura 2.14: Subtração de fasores.

2.4.3 Produto

O produto de A e B é dado por:

A.B = (a + jb).(c + jd)


= (a.c - b.d) + j(a.d + b.c) (2.34)
ou
A.B = |A|.e jθ1|B|.e jθ2
= |A|.|B|.e j( θ1+ θ2 )
= |A|.|B|∠ (θ1+θ2) (2.35)

A Equação 2.35 mostra que se sobre um fasor A=⏐A⏐.ejθ1 aplicarmos


um fasor B de magnitude |B| e ângulo θ2, i.é. B= |B|.ejθ2 = (cosθ2 +
jsenθ2), o fasor resultante:

D = |A|.|B|.e jθ1. e jθ2 = |A|.|B|[cos(θ1+θ2) + jsen(θ1+θ2)] (2.36)

O fasor D tem módulo |A|.|B|, e está avançado de θ2 desde a posição


de A formando um ângulo com o eixo de referência igual a (θ1+θ2).

Portanto, o operador ejθ = cosθ + jsenθ operando sobre um fasor A faz


este fasor girar de um ângulo +θ desde sua posição inicial. O
operador e-jθ = cosθ - jsenθ operando sobre um vetor A faz este vetor
girar de um ângulo (-θ).

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2-13

A multiplicação é mais fácil de ser operada quando as grandezas


envolvidas estão na forma polar.

2.4.4 Divisão

A a + jb (a + jb)(c − jd )
= =
B c + jd (c + jd )(c − jd )

ac + bd bc − ad
= + j (2.37)
c2 + d 2 c2 + d 2
ou
jθ1
A Ae A j( θ1− θ 2 )
= = e
B B e jθ 2 B

A A
= ∠(θ1-θ2) (2.38)
B B

Como na multiplicação, a divisão é mais fácil quando as grandezas


estão na forma polar.

2.4.5 Potenciação

Seja
An = (|A|.ejθ )n = |A| n.e jn.θ

An = |A|n.∠ n.θ (2.39

2.4.6 Raiz N-ésima

n
A = A1/n= (|A|.e jθ )1/n = |A|1/n. e jθ/n = = |A|1/n ∠ θ/n (2.40)

As outras (n-1) raízes são obtidas somando-se 2πq rad a θ antes que
se efetue a divisão por n, para q = 0, 1, 2,..., (n-1).

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2-14

n A = n A ∠ (θ + 2πq) n , q = 0,1,2,...(n - 1)

⎡ ⎛ θ + 2πq ⎞ ⎛ θ + 2πq ⎞⎤ (2.41)


= n A ⎢cos⎜ ⎟ + jsen⎜ ⎟⎥
⎣ ⎝ n ⎠ ⎝ n ⎠⎦

Cada raiz multiplicada por si mesma n vezes resulta no fasor A.

2.4.7 Logaritmo
Ln A = Ln(|A|.e jθ ) = Ln|A| + Lne jθ
= Ln|A| + jθ.Ln e = Ln|A| + jθ (2.42)

Referências

[1] Floyd, T.L. Principles of Electric Circuits, 6th Ed. Prentice Hall,
2000. ISBN 0-13-095997-9.927p.

[2] Nilsson, James W., Reidel, Susan A., Circuitos Elétricos, LTC, 6a
Edição, 2003.

[3] Kerchner, R.M., Corcoran,G.F., Circuitos de Corrente Alternada,


Porto Alegre, Globo, 1973.

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Capítulo 3 COMPONENTES ELÉTRICOS PASSIVOS

Dentre os componentes passivos básicos de um circuito elétrico


tem-se o resistor, o capacitor e o indutor. Neste capítulo ênfase
será dada aos componentes passivos, capacitor e indutor, os quais
formam a base para o estudo de circuitos reativos.

Quando um circuito elétrico é excitado por uma fonte de natureza


forçada ou permanente, a fonte causa no circuito elétrico uma
resposta forçada. A resposta natural é causada pela dinâmica
interna do circuito. A resposta natural normalmente decai após
algum período de tempo, mas a resposta forçada mantém-se
indefinidamente. Quando uma função forçada senoidal é aplicada a
qualquer tipo de circuito passivo, a resposta de tensão e corrente
em cada componente do circuito é também senoidal e tem a
mesma freqüência da tensão aplicada.

3.1. Resistores

Quando por um material condutor circula corrente, os elétrons livres


que circulam no material colidem com os átomos, perdendo energia
liberada na forma de calor. A propriedade de um material de limitar
o fluxo de elétrons é denominada de resistência. A resistência R é
expressa em ohms (Ω).

O símbolo de uma resistência é:


R

Figura 3.1 Símbolo do resistor/resistência.

Os componentes que apresentam resistências são denominados


de resistores. A principal aplicação dos resistores é para limitar
corrente (p.ex. reostato), dividir tensão (potenciômetro), e em
certos casos, gerar calor.

3.1.1 Conexão Série e Paralelo de Resistores

Quando resistores são conectados em série, a resistência total, RT,


é a soma das resistências individuais.

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3-2

R1 R2 Rn

Figura 3.2: Resistores conectados em série.

RT=R1+R2+R3+…+Rn (3.1)

Quando resistores são conectados em paralelo, a resistência total é


menor que a menor resistência individual.

R1 R2 Rn

Figura 3.3: Resistores conectados em paralelo.

O inverso da resistência total é igual à soma do inverso de cada


resistência.

1
RT = (3.2)
⎛ 1 ⎞ ⎛ 1 ⎞ ⎛ 1 ⎞
⎜⎜ ⎟⎟ + ⎜⎜ ⎟⎟ + " + ⎜⎜ ⎟⎟
⎝ R1 ⎠ ⎝ R 2 ⎠ ⎝ Rn ⎠

Considere a função forçada v(t) que alimenta um circuito resistivo


como o mostrado na Figura 3.4.

v = VP.sen(ωt + ϕ) (3.3)

A amplitude da senóide é Vp, e a freqüência angular é ω (rad/s). A


equação que rege o comportamento do circuito é dada por:

VP.sen(ωt + ϕ)=Ri(t) (3.4)

A resposta forçada para a corrente em regime permanente é da


forma:
1 1
i= .v = Vp.sen(ωt + ϕ) = Ip. sen(ωt + ϕ) (3.5)
R R
onde
1
Ip = ⋅ Vp (3.6)
R
ou

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3-3

1
I EF = ⋅ VEF (3.7)
R

Im

Re

Figura 3.4: Ondas e diagrama fasorial de tensão e corrente em circuito resistivo.

Os fasores que representam as ondas senoidais v e i são,


respectivamente, |V|∠0o e |I|∠0o. Aplicando a Lei de Ohm ao
circuito resistivo tem-se:

V ∠0 D
= R∠0 D [Ω]
VEF
= (3.8)
I EF I ∠0 D

Corrente e tensão são linearmente proporcionais, ou seja, se um


cresce ou diminui de certo percentual, o outro também cresce ou
diminui na mesma proporção, denotando que resistência é
constante.

Figura 3.5: Gráfico de tensão versus corrente em circuito resistivo.

Observa-se que a corrente através do resistor:


◊ Varia no tempo;
◊ Permanece em fase com a tensão;
◊ Mantém a mesma freqüência da tensão.

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3-4

Na Equação 3.7 o inverso da resistência é denominado de


condutância, cujo símbolo é o G, e a unidade o siemens (S). A
condutância é a medida de facilidade com que flui uma corrente.

1
G= (3.9)
R

3.1.1 Potência em um Resistor

A dissipação instantânea de potência no resistor:

p (t ) = = v(t ) ⋅ i(t )
dW dW dq
= ⋅ (3.10)
dt dq dt
em que
v (t ) =
dW
(3.11)
dq
i (t ) =
dq
e (3.12)
dt
Assim:
p(t) = Vp.sen(ωt + ϕ). Ip.sen(ωt + ϕ) = Vp. Ip.sen2(ωt + ϕ)

p(t ) = Vp . Ip (1 − cos[2(ωt + ϕ )])


1
(3.13)
2

A potência média fornecida ao resistor é expressa como:

1 t +T
p(t ) ⋅ dt
T ∫t
P=

Vp ⋅ I p (3.14)
V2
= = VEF ⋅ I EF = EF = R ⋅ I 2EF
2 R

A unidade da potência média é watt (W).

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3-5

Figura 3.6: Potência instantânea e média em circuito puramente resistivo.

Observa-se que a potência dissipada pelo resistor:


− É unidirecional;
− Apresenta o dobro da freqüência da tensão;
− O valor médio é o produto do valor eficaz da tensão e corrente.

3.2. Capacitores

Um capacitor é um dispositivo elétrico formado por placas


condutoras separadas por material dielétrico, que armazena carga
elétrica, portanto criando um campo elétrico que por sua vez
armazena energia.

Figura 3.7: Partes do capacitor e o símbolo.

Em um capacitor descarregado, suas placas ou eletrodos


apresentam o mesmo número de elétrons livres. Quando o
capacitor é conectado a uma fonte de tensão, elétrons são
removidos de uma placa A e depositados em uma placa B. À
medida que a placa A perde elétrons, e a placa B ganha elétrons, a
placa A torna-se positiva em relação à placa B. Durante o processo
de carga do capacitor, os elétrons não fluem através do material
dielétrico porque se trata de um material isolante. O movimento de
elétrons cessa quando a tensão através do capacitor se iguala à

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3-6

tensão da fonte. Se o capacitor é desconectado da fonte, ele retém


a carga armazenada por certo período de tempo – a duração
depende do capacitor – mantendo ainda tensão em seus terminais.
Um capacitor carregado opera como uma bateria temporária.

3.2.1 Capacitância

A capacitância é a medida da capacidade de um capacitor de


armazenar carga. Quanto mais carga por unidade de tensão o
capacitor poder armazenar, maior sua capacitância, expressa pela
Equação 3.15.

Q
C= (3.15)
V

C é a capacitância, Q a carga, e V a tensão.

A unidade da capacitância é farad (F), e a da carga coulomb (C).


Por definição, 1 farad é a quantidade de capacitância quando 1
coulomb de carga é armazenada com 1 volt aplicado aos terminais
do capacitor.

3.2.2 Energia Armazenada

Um capacitor armazena energia na forma de um campo elétrico


que é estabelecido pelas cargas, de polaridade oposta, em suas
placas. O campo elétrico é representado por linhas de força entre
as cargas, positiva e negativa, e concentradas dentro do dielétrico.

A força entre duas cargas é diretamente proporcional ao produto


das cargas e inversamente proporcional ao quadrado da distância
entre as cargas – Lei de Coulomb.

Linhas
de força
Q1 Q2
+ -
+ - Q1 ⋅ Q 2
+ - F=k (3.16)
d2
+ -
+ -

Figura 3.8: Linhas de força


criadas por cargas opostas.

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3-7

A força F é expressa em newtons, Q1 e Q2 são as cargas, em


coulombs, d é a distância em metros, e k é a constante de Coulomb
(k=1/4πε0) e igual a 8,98x109 N.m2/C2.

O trabalho necessário para incrementar em dq a carga do


condensador será:
dW = V ⋅ dq (3.17)
O trabalho total realizado no processo de carga de um capacitor,
enquanto esta aumenta desde zero até seu valor final Q.

1 Q 1 Q2 1
W = ∫ q ⋅ dq = = CV 2 (3.18)
C 0 2 C 2

Portanto, a energia armazenada também depende do quadrado da


tensão nos terminais do capacitor.

1
W= CV 2 (3.19)
2

Quando a capacitância C é expressa em farads (F) e a tensão V


em volts (V), a energia W é dada em joules (J).

3.2.3 Tensão de Nominal

Cada capacitor tem um limite no nível de tensão que é capaz de


suportar em seus terminais. A tensão nominal especifica a máxima
tensão que pode ser aplicada sem risco de danificar o dispositivo.
Se a tensão máxima denominada de tensão de ruptura é excedida,
o capacitor pode sofrer avaria permanente.

Tanto a capacitância como a tensão de ruptura deve ser levada em


consideração antes da aplicação do capacitor. A escolha da
capacitância é baseada nas necessidades do circuito. A tensão de
ruptura deve sempre ser superior à máxima tensão esperada em
uma determinada aplicação.

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3-8

3.2.3.1. Rigidez Dielétrica

A tensão de ruptura de um capacitor é determinada pela rigidez


dielétrica do material dielétrico usado. A rigidez dielétrica é
expressa em V/cm.

3.2.4 Coeficiente de Temperatura

O coeficiente de temperatura indica a quantidade e direção de


mudança na capacitância com a temperatura. Um coeficiente de
temperatura positivo significa que a capacitância aumenta com o
aumento de temperatura ou diminui com a diminuição de
temperatura. Um coeficiente de temperatura negativo significa que
a capacitância diminui com o aumento de temperatura ou aumenta
com a diminuição de temperatura.

Os coeficientes de temperatura são em geral especificados em


partes por milhão por graus Celsius (ppm/oC).

3.2.5 Fuga

Nenhum material isolante é perfeito. O dielétrico de qualquer


capacitor conduz uma pequena quantidade de corrente. Assim, a
carga do capacitor eventualmente será drenada. Um circuito
equivalente para um capacitor não ideal é mostrado na Figura 3.9.
O resistor paralelo Rf representa a alta resistência (várias centenas
de kΩ ou mais) do material dielétrico através da qual flui a corrente
de fuga.

C
Rf
r

Figura 3.9: Circuito equivalente de um capacitor não ideal.

Em situações reais, não há capacitância pura sem alguma


resistência r. A resistência existente em um capacitor introduz certo
tempo para carregar e descarregar um capacitor. A tensão nos
terminais de um capacitor não pode variar instantaneamente, pois é
necessário certo tempo para deslocar carga de um ponto a outro. A

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3-9

taxa com que um capacitor carrega ou descarrega é determinada


pela constante de tempo do circuito.

Figura 3.10: Curvas de carga e descarga do capacitor.

O capacitor carrega e descarrega seguindo uma curva não linear


de formato exponencial, como mostra a Figura 3.10. O percentual
de plena carga é mostrado para cada intervalo de constante de
tempo (τ=RC). São necessários 5τ para variar de 99% a tensão.
Este intervalo de 5 vezes a constante de tempo é aceito como o
tempo para plena carga ou descarga de um capacitor e é chamado
de tempo transitório.

As equações gerais para as curvas exponenciais de carga e


descarga são:

v=VF + (Vi – VF).e-t/τ (3.20)

i=IF + (Ii – IF).e-t/τ (3.21)

VF e IF são os valores finais de tensão e de corrente, e Vi e Ii são os


valores iniciais de tensão e de corrente.

No carregamento de um capacitor descarregado tem-se que Vi é


nulo, e a tensão normalizada, bem como a corrente, é expressa
como:

v=(1 – e-t/RC) (3.22)

Semelhantemente, tem-se que v durante a descarga em que VF=0


obedece à expressão:

v=e-t/RC (3.23)

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3-10

Figura 3.11: Curvas de carga e descarga do capacitor

3.2.6 Características Físicas de um Capacitor

Parâmetros como área da placa, distância entre placas e constante


dielétrica são importantes para a definição da capacitância e tensão
de ruptura de um capacitor.

A capacitância é diretamente proporcional à área das placas. A


área da placa de um capacitor com placas paralelas é a área física
de uma das placas. Se as placas são deslocadas uma em relação
à outra, a área comum às placas determina a área efetiva. Esta
variação na área efetiva é a base para certo tipo de capacitor
variável.

Figura 3.12: Capacitor com área completa – maior capacitância e capacitor


com área reduzida – menor capacitância.

A capacitância é inversamente proporcional à distância entre as


placas.

A tensão de ruptura é diretamente proporcional à separação das


placas – quanto mais separadas as placas, maior a tensão de
ruptura.

A medida da capacidade de um material dielétrico de estabelecer


um campo elétrico é denominado de constante dielétrica, ou
permissividade relativa, εr. A capacitância é diretamente
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3-11

proporcional à constante dielétrica. A constante dielétrica do vácuo


é 1 e a do ar é muito próxima de 1. Esses valores são usados como
referência, e os demais materiais têm valores de εr especificado em
relação ao vácuo ou ar. Um material com permissividade relativa
εr=8 apresenta uma capacitância oito vezes maior do que a do ar,
com os demais fatores mantidos constantes.

A constante dielétrica é adimensional, expressa como:

ε
εr = (3.24)
ε0

A permissividade do vácuo ε0 é igual a 8,85x10-12 F/m.

A capacitância expressa em termos das características físicas do


capacitor é dada por:

C=
(
Aε r 8,85 × 10 −12 ) (3.25)
d

3.2.7 Capacitores em Série

Quando capacitores são conectados em série, a capacitância total


é menor do que o menor valor de capacitância das unidades em
série porque a separação efetiva das placas aumenta. O cálculo da
capacitância série total é análoga ao cálculo da resistência total de
resistores em paralelo.

C1 C2 C3 Cn

V1 V2 V3 Vn
Figura 3.13: Circuito série de capacitores.

A corrente em um circuito série é a mesma em todos os pontos.


Como a corrente é a taxa de fluxo de carga (i=q/t), a carga
armazenada por cada capacitor é a mesma, embora as
capacitâncias e as tensões nos terminais de cada capacitor
possam ser diferentes, isto é:

QT=Q1=Q2=…=Qn (3.26)

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3-12

De acordo com a lei de Kirchhoff para as tensões, a soma das


tensões aplicadas aos terminais dos capacitores série carregados é
igual à tensão total.

VT=V1+V2+…+Vn (3.27)

Com base na Equação 3.15, V=Q/C, tem-se que:

Q T Q1 Q 2 Q
= + +"+ n (3.28)
C T C1 C 2 Cn

Resulta para a capacitância total:

1 1 1 1
= + +"+ (3.29)
C T C1 C 2 Cn

1
CT = (3.30)
1 1 1
+ +"+
C1 C 2 Cn

Pela Equação 3.30, verifica-se que se adicionando capacitores de


mesma capacitância, a capacitância resultante é simplesmente:

C
CT = (3.31)
n

Capacitores conectados em série atuam como divisores de tensão.


A tensão nos terminais de cada capacitor em série é inversamente
proporcional à sua capacitância como mostrada pela expressão
V=Q/C.

A tensão nos terminais de uma unidade qualquer de capacitor em


série é dada por:

⎛C ⎞
Vx = ⎜⎜ T ⎟⎟ ⋅ VT (3.32)
⎝ Cx ⎠

3.2.8 Capacitores em Paralelo

Quando capacitores são ligados em paralelo, a capacitância total é


a soma das capacitâncias individuais porque a área efetiva das

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3-13

placas aumenta. O cálculo da capacitância paralela total é análogo


ao cálculo da resistência série total.

I1 I2 I3 In
C1 C2 C3 Cn

Figura 3.14: Capacitores em paralelo.

Quando capacitores em paralelo são energizados, a corrente total


de carga é dividida entre os ramos em paralelo de modo que
cargas diferentes são armazenadas por cada capacitor. Pela lei de
Kirchhoff, a soma da corrente de carregamento em cada capacitor
é igual à corrente total. Portanto, a soma das cargas nos
capacitores é igual à carga total.

QT=Q1+Q2+…+Qn (3.33)

Quando a relação Q=CV é substituída em cada termo da Equação


3.33, obtém-se o seguinte resultado:

CTVT = C1V1+ C2V2+…+ CnVn (3.34)

Como
VT=V1=V2=…=Vn (3.35)

A capacitância total é dada por:

CT = C1+ C2+… +Cn (3.36)

Para o caso particular em que as capacitâncias são iguais:

CT = nC (3.37)

3.2.9 Capacitores em Circuitos CA

A corrente instantânea, i(t), é dada pela taxa de variação


instantânea da carga em relação ao tempo.

dq
i= (3.38)
dt

A carga instantânea q é igual a: q=Cv.

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3-14

A partir da derivada de q tem-se a relação para a corrente


instantânea:

dv
i=C (3.39)
dt

A Equação 3.39 demonstra que quanto mais rápido muda a tensão


nos terminais de um capacitor, maior é a corrente.

Se a um capacitor de C farads [F] é aplicada uma tensão constante


em seus terminais, após o carregamento do capacitor a carga na
placa de polaridade positiva q+ = C.V e a carga q- = - C.V na outra
placa permanecerá inalterada, e não haverá fluxo de corrente
através do capacitor (i = dq/dt = 0). É importante notar que não há
corrente através do dielétrico do capacitor durante a carga e
descarga porque o dielétrico é um material isolante.

Quando ao mesmo capacitor é aplicada uma tensão senoidal


v(t)=VM.sen(ωt+ϕ) em seus terminais, a carga q do capacitor variará
no tempo de forma senoidal

q = C.v = C.Vp.sen(ωt + ϕ) [C] (3.40)

e o capacitor carregará e descarregará periodicamente, fazendo


surgir uma corrente de carga

dq
i= = ωC.Vp.cos(ωt + ϕ) (3.41)
dt
dq
i= = ωC.Vp.sen(ωt + ϕ + 900) [A] (3.42)
dt

A relação de fase entre a corrente e a tensão em um capacitor é


mostrada na Figura 3.15.

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3-15

Ic

Vc

Figura 3.15: Relação de fase entre a tensão e corrente em um capacitor.

Note que a corrente está adiantada de 90º da tensão em um


capacitor, o que fasorialmente significa que VC=|V|∠0o e IC=|I|∠90o.

Pela Equação 3.42 nota-se que a corrente máxima do capacitor é:

Ip = ω.C.Vp (3.43)
ou
IEF=ω.C.VEF (3.44)

A relação entre a tensão e a corrente é denominada reatância


capacitiva, XC [Ω].

A reatância capacitiva é função da capacitância e da freqüência da


tensão aplicada
1
XC = [Ω] (3.45)
ωC
A variação da reatância capacitiva com a freqüência implica em
que:

f → 0 ⇒ XC → ∞ I→0 (circuito aberto)


f→∞ ⇒ XC → 0 I→∞ (curto-circuito)

A Lei de Ohm pode também ser aplicada ao circuito capacitivo.

VC V ∠0 D
= = X C ∠ − 90 D = − jX C (3.46)
IC I ∠90 D

Portanto, a reatância capacitiva é uma componente imaginária


associada a um ângulo de -90º.

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3-16

3.2.10 Potência Reativa de um Capacitor

Quando uma tensão CA é aplicada em um capacitor, energia é


armazenada pelo capacitor durante uma porção do ciclo da tensão;
então a energia armazenada é devolvida à fonte durante outra
parte do ciclo da tensão. Em um capacitor ideal não há dissipação
de energia.

A potência instantânea entregue ao capacitor C em um instante t é


resultado do produto de v(t) e i(t).

p = Vp.sen(ωt).Ipsen(ωt + 900)

p = Vp.Ip.sen(ωt).cos(ωt)

V p.I p
p= sen(2ωt) (3.47)
2

Figura 3.16: Tensão, corrente e potência em circuito puramente capacitivo.

Quando tensão ou corrente é zero, a potência instantânea p


também é nula. Quando v e i são positivos, p é também positiva.
Quando os sinais de v e i são opostos, p é negativa. Quando
ambos, v e i são negativos, a potência p é positiva. A potência flui
na forma senoidal. Valores positivos de potência indicam que a
energia é armazenada pelo capacitor. Valores negativos de
potência indicam que a energia retorna do capacitor para a fonte. A
potência flutua a uma freqüência duas vezes a freqüência da
tensão ou corrente.

A potência média consumida durante um ciclo completo é zero.


Assim, toda energia armazenada pelo capacitor durante o semi-
ciclo positivo da potência é devolvida à fonte durante o semi-ciclo

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3-17

negativo da potência, e a energia líquida é nula, assim a potência


média ou real. Em um capacitor real, um pequeno percentual da
potência total é dissipado na forma de potência real.

O capacitor é um dispositivo armazenador de energia. A energia é


armazenada em seu campo elétrico estabelecido pela carga
acumulada no material dielétrico.

A potência que o capacitor armazena ou devolve a fonte é


denominada de potência reativa. A potência reativa de um
capacitor não é nula, porque a qualquer instante o capacitor está
absorvendo energia da fonte ou devolvendo energia à fonte. A
potência reativa é definida como:

Vp ⋅ I p
Q= = VEF ⋅ I EF (3.48)
2

2
VEF
Q= (3.49)
XC

Q = I 2EF ⋅ X C (3.50)

A unidade da potência reativa é volt-ampère reativo (var).

A energia armazenada em um quarto de ciclo qualquer da tensão


ou corrente:

Vp I p
⋅ sen ( 2ωt ) dt
T 4
WC = ∫
0 2

V pI p
WC =

Como Ip = ω.C.Vp
1
WC = C.V 2p [J] (3.51)
2

Assim em circuitos capacitivos:

◊ A corrente que flui através do capacitor está em avanço de 900


em relação à tensão aplicada.
◊ A potência média consumida é nula.

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3-18

◊ A potência oscila entre o capacitor e o circuito, e recebe o nome


de potência reativa.
◊ A potência em um capacitor age em contraposição aos volt-
ampère reativos indutivos.
◊ Os capacitores atuam como fontes de reativo e a potência
associada a eles é negativa.

3.3. Indutor

Um indutor é basicamente uma bobina com certo número de


espiras ou voltas. Quando por um indutor circula uma corrente, é
estabelecido um campo magnético.

Figura 3.17: Indutor percorrido por uma corrente e o campo magnético.

A todo indutor está associada uma indutância, simbolizada por L,


cuja unidade é o henry (H).

L L
L

(a) (b) (c)


Figura 3.18: Símbolo do indutor (a) núcleo de ar; (b) núcleo de ferro;
(c) núcleo de ferrite.

Quando a corrente no indutor varia, o campo magnético também


varia. A variação do campo magnético causa uma tensão induzida
nos terminais do indutor de direção oposta à variação na corrente –
Lei de Lenz. Assim, a tensão induzida nos terminais de um indutor
pode ser expressa como:

di
v ind = L (3.52)
dt
ou

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3-19


vind = N (3.53)
dt

A Equação 3.52 indica que quanto maior a indutância (L), e quanto


mais rápido variar a corrente na bobina, maior a tensão induzida.
Se a taxa de variação é zero, isto é, a corrente é CC, a tensão
induzida é zero.

Na Equação 3.53, a tensão induzida é diretamente proporcional ao


número de espiras (N) da bobina e à taxa de variação do campo
magnético.

3.1.2 Características Físicas de um Indutor

Os seguintes parâmetros estabelecem a indutância de uma bobina:


permeabilidade do material do núcleo, número de espiras,
comprimento do núcleo, seção transversal da área do núcleo.

O material sobre o qual a bobina é enrolada é chamado de núcleo.


Bobinas são enroladas sobre material magnético ou não
magnético. Exemplos de materiais não magnéticos são: ar,
madeira, cobre, plástico, e vidro. A permeabilidade desses
materiais é próxima à do vácuo. Exemplos de materiais magnéticos
são: ferro, níquel, aço, cobalto, ou ligas. A permeabilidade dos
materiais magnéticos é centenas ou milhares de vezes maior do
que a do vácuo e são classificados como ferromagnéticos. Um
material ferromagnético oferece um melhor caminho para as linhas
de força do campo magnético e assim permite um campo
magnético mais forte.

A permeabilidade (μ) do material do núcleo determina o grau de


facilidade para se estabelecer um campo magnético. A indutância é
diretamente proporcional à permeabilidade do material do núcleo.

O número de espiras, o comprimento, e a área transversal do


núcleo são fatores que determinam a indutância. Assim, tem-se
que:

N 2 μA
L= (3.54)
l

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3-20

Figura 3.19: Parâmetros físicos de um indutor.

3.1.3 Resistência da Bobina

Uma bobina normalmente apresenta certa resistência por unidade


de comprimento. Em uma bobina com muitas espiras, a resistência
total pode ser significante. Esta resistência inerente à bobina é
denominada de resistência do enrolamento (RB). Embora a
resistência seja distribuída ao longo da bobina, sua representação
é concentrada e em série com a indutância, como mostra a Figura
3.20. Em muitas aplicações, a resistência pode ser bastante
pequena e, portanto, ignorada, e o indutor considerado ideal.
RB L

Figura 3.20: Resistência de enrolamento de uma bobina.

3.1.3.1. Fator de Qualidade de uma Bobina

O fator de qualidade (Q) é a relação da potência reativa no indutor


pela potência útil na resistência do enrolamento de uma bobina ou
a resistência em série com a bobina. É a razão entre a potência em
L e a potência em Rw. O fator de qualidade é muito importante em
circuitos ressonantes.

QL I 2 X L
Q= = 2 (3.55)
P I Rw

Em um circuito série, I é o mesmo em L e Rw, portanto:

XL
Q= (3.56)
Rw

Quando a resistência é apenas do enrolamento da bobina, o fator


de qualidade do circuito Q e o fator de qualidade da bobina Q são
iguais. Note que Q é adimensional.

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3-21

3.1.4 Capacitância da Bobina

Quando dois condutores são colocados lado a lado, existirá sempre


certa capacitância entre eles. Assim, em uma bobina existe certa
capacitância parasita, denominada de capacitância do enrolamento
(CB). Em muitas aplicações, a capacitância parasita é muito
pequena, sem nenhum efeito adverso. Em outras aplicações,
particularmente em altas freqüências, esta capacitância pode
tornar-se muito importante.

O circuito equivalente de um indutor é mostrado na Figura 3.21.

CB

RB L

Figura 3.21: Circuito equivalente de uma bobina.

3.1.5 Conexão Série e Paralelo de Indutores

Quando indutores são conectados em série, a indutância total, LT, é


a soma das indutâncias individuais.

L1 L2 Ln

Figura 3.22: Indutores conectados em série.

LT=L1+L2+L3+…+Ln (3.57)

Quando indutores são conectados em paralelo, a indutância total é


menor que a menor indutância individual.

L1 L2 Ln

Figura 3.23: Indutores conectados em paralelo.

O indutância total é igual ao inverso da soma do inverso de cada


indutância.

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3-22

1
LT = (3.58)
⎛ 1 ⎞ ⎛ 1 ⎞ ⎛ 1 ⎞
⎜⎜ ⎟⎟ + ⎜⎜ ⎟⎟ + " + ⎜⎜ ⎟⎟
⎝ L1 ⎠ ⎝ L 2 ⎠ ⎝ Ln ⎠

3.1.6 Chaveamento de um Indutor

Como a ação básica de um indutor é opor-se à variação de sua


corrente, segue-se que a corrente não pode variar
instantaneamente em um indutor. Um dado tempo faz-se
necessário para a corrente variar de um valor a outro. A taxa de
variação da corrente é determinada pela constante de tempo. Em
um circuito RL série, a constante de tempo é:

L
τ= (3.59)
R

em que τ é medido em segundos quando a indutância (L) é dada


em henries e a resistência (R) em ohms.

Em um circuito RL série, a corrente cresce para 63% de seu valor


final em um intervalo de tempo equivalente a uma constante de
tempo após a energização do circuito.

(a) (b)
Figura 3.24: Corrente durante a energização e desenergização de um indutor.

A corrente em um indutor decresce exponencialmente de acordo


com a Figura 3.24 (b).

A equação para a corrente e tensão em um circuito RL série é


similar àquela de um circuito RC.

v = VF + (Vi − VF )e − Rt L (3.60)

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3-23

i = I F + (I i − I F )e − Rt L (3.61)

em que VF e IF são os valores finais de tensão e corrente, Vi e Ii são


os valores iniciais de tensão e corrente, e v e i são os valores
instantâneos de tensão induzida ou corrente no tempo t.

Para a condição em que Ii=0, o crescimento da corrente no indutor


é dado por:

i = I F (1 − e − Rt L ) (3.62)

Para IF=0, o decaimento exponencial da corrente obedece à curva:

i = I i e − Rt L (3.63)

3.1.7 Circuito CA com Indutor

Uma corrente senoidal induz uma tensão senoidal. Para


i=Ip.sen(ωt+ϕ) tem-se que:

v = L⋅
d
(I p ⋅ sen(ωt + ϕ))
dt
= ωLI p ⋅ cos(ωt + ϕ) (3.64)
(
= ωLI p ⋅ sen ωt + ϕ + 90 D )
Note que a tensão está adiantada da corrente de 90º ou que a
corrente está atrasada da tensão de 90º. Esta condição pode ser
expressa na forma polar como VF∠0o e I∠-90o ou na forma
retangular –jI.

+j

VF

I
-j
Figura 3.25: Diagrama fasorial da corrente atrasada da tensão em um indutor.

A tensão máxima no indutor é igual a:

Vp = ωLIp (3.65)
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3-24

ou
VEF=ωL IEF (3.66)

O coeficiente ωL, denominado de reatância indutiva, cuja unidade é


ohms [Ω], oferece oposição à corrente i(t). A reatância indutiva é,
pois definida como:

XL = ωL [Ω] (3.67)

A Lei de Ohm aplica-se a um circuito com reatância indutiva em


que R é substituído por XL. Assim

VF ∠0 D ⎛V ⎞
XL = = ⎜ F ⎟∠90 D (3.68)
I∠ − 90 D
⎝ I ⎠

Isto mostra que XL tem sempre um ângulo de +90º relacionado à


sua magnitude e é escrita como XL∠90º ou jXL.

A reatância indutiva depende da freqüência:

f→ 0 ⇒ XL → 0 I→∞ (curto-circuito)
f→∞ ⇒ XL → ∞ I→0 (circuito aberto)

A relação de fase entre corrente e tensão em um circuito com


indutor ideal é mostrada na Figura 3.26.

Figura 3.26: Forma de Onda de Tensão e Corrente em Circuito Puramente Indutivo.

Note que:
◊ As ondas v e i apresentam a mesma freqüência.
◊ A onda de corrente está atrasada da onda de tensão de 90º.

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3-25

A potência instantânea armazenada por um indutor é:

p (t ) = v (t ) ⋅ i (t )
= V p I p cos (ωt ) sen (ωt )
1
= V p I p sen ( 2ωt ) (3.69)
2
= VEF I EF sen ( 2ωt )

A potência instantânea é senoidal, com freqüência o dobro da


corrente e tensão. Quando a potência armazenada no indutor é
positiva indica que o indutor armazena energia do circuito. Valores
negativos de potência indicam que a energia do indutor retorna à
fonte. Conseqüentemente, a potência média em um circuito
puramente indutivo é nula como pode ser visto na Figura 3.25.

Em um indutor ideal, toda energia armazenada pelo indutor no


semi-ciclo positivo da potência retorna ao circuito durante o semi-
ciclo negativo. Nenhuma energia líquida é consumida pelo indutor,
portanto, a potência média é nula. Na prática, devido a resistência
do enrolamento, alguma potência é dissipada, e há uma pequena
potência efetiva, a qual pode ser normalmente desprezada.

A capacidade máxima de um indutor armazenar potência é medida


pelo pico da senóide em (3.69) que é denominada de potência
reativa Q com unidade volt-ampère reativo (var). Assim,
2
VEF
Q = VEF ⋅ I EF = = I 2EF ⋅ X L (3.70)
XL

A energia armazenada pelo indutor durante um quarto de ciclo da


corrente ou tensão:

Vp I p
sen ( 2ωt ) dt
T/4
WL = ∫ (3.71)
0 2

V pIp
WL =

Como Vp = ωLIp
1
WL = L ⋅ I p2 [J] (3.72)
2

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3-26

Assim, em um circuito puramente indutivo:


◊ A corrente em um indutor está atrasada de 900 em relação à
tensão aplicada em seus terminais;
◊ A potência média consumida em um indutor ao longo de um
ciclo é zero;
◊ A potência oscila entre o indutor e o circuito, e recebe o nome de
potência reativa;
◊ A potência em um indutor age em contraposição aos volt-
ampère reativos capacitivos.
◊ Por convenção o indutor é considerado um absorvedor de
energia e a potência a ele associada é positiva.

Referências

[1] Floyd, T.L. Principles of Electric Circuits, 6th Ed. Prentice Hall,
2000. ISBN 0-13-095997-9.927p.

[2] Nilsson, James W., Reidel, Susan A., Circuitos Elétricos, LTC,
6a Edição, 2003.

[3] Kerchner, R.M., Corcoran,G.F., Circuitos de Corrente


Alternada, Porto Alegre, Globo, 1973.

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Capítulo 4 CIRCUITOS BÁSICOS EM CORRENTE ALTERNADA

Neste capítulo serão estudados circuitos reativos série, paralelo, e


série-paralelo tipo RC, RL, e RLC.

4.1. Circuitos Reativos RC Série

Quando um circuito RC série é excitado por uma fonte de tensão


senoidal, a tensão no resistor, VR, a tensão no capacitor, VC, e a
corrente I que flui no circuito são todas ondas senoidais com a
mesma freqüência da fonte. As amplitudes e deslocamentos de
fase das tensões e corrente dependem dos valores da resistência e
da reatância capacitiva. Devido à combinação de resistência e
capacitância em um circuito, o ângulo de fase entre a tensão
aplicada e a corrente não será nulo (circuito resistivo), nem igual a
90º com a corrente adiantada da tensão (circuito capacitivo), mas
estará compreendido entre 0 e 90º, dependendo dos valores
relativos da resistência e reatância.

Seja o circuito RC série como mostrado na Figura 4.1.


VR VC

R C I
VF ~

Figura 4.1: Circuito RC série.

Lançando mão da teoria dos fasores, sabe-se que a tensão em um


resistor está em fase com a corrente que por ele circula, e que a
tensão em um capacitor está atrasada de 90º da corrente.

A representação gráfica dos valores eficazes de tensão no resistor


e no capacitor deverá ser tal que, considerando-se VR no eixo
horizontal, VC estará 900 atrasado em relação à VR.

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4-2

Figura 4.2: Relação fasorial entre tensões e corrente no circuito RC série.

I VR

VF VC

Figura 4.3: Diagrama de tensões no circuito RC série.

Pela Figura 4.3 observa-se que a tensão resultante no circuito RC


série é igual à soma fasorial das tensões sobre o resistor mais a
tensão sobre a reatância capacitiva. Ainda, observa-se que a
tensão no resistor está adiantada da tensão da fonte e esta, por
sua vez, está adiantada da tensão no capacitor. Em assim sendo, o
ângulo de variação da tensão resultante está entre 0o e -90º. A
corrente do circuito está adiantada da tensão aplicada de θ.

Pela Lei de Kirchhoff aplicada ao circuito RC série da Figura 4.3,


tem-se que:
VF = VR − jVC (4.1)

A tensão no resistor e na reatância capacitiva é dada,


respectivamente, por:

VR = R∠0 ⋅ I∠0 (4.2)

VC = X C ∠ − 90 ⋅ I∠0 (4.3)

Então
VF = (R − jX C ) ⋅ I∠0 (4.4)

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4-3

O coeficiente que relaciona tensão e corrente é denominado de


impedância, e é definido como:
R
-θ Z = R − jX C (4.5)
XC
Z

Figura 4.4: Triângulo de impedância.

A impedância é uma grandeza complexa formada pela resistência e


reatância. A Figura 4.4 ilustra o triângulo da impedância, o qual é
semelhante ao triângulo das tensões. A unidade da impedância é o
ohm (Ω), e sua magnitude e ângulo de fase são definidos como:

Z = R 2 + X C2 (4.6)

⎛ XC ⎞
θ = − tg −1 ⎜ ⎟ (4.7)
⎝ R ⎠

Assim, a impedância na forma polar é expressa como:

⎛X ⎞
Z = R 2 + X C2 ∠ − tg −1 ⎜ C ⎟ (4.8)
⎝ R ⎠

4.1.1 Variação da Impedância com a Freqüência

Como visto no Capítulo 3, a reatância capacitiva varia com o


inverso da freqüência. Como Z = R 2 + X C2 , quando XC cresce a
magnitude da impedância do circuito cresce; e quando XC
decresce, a magnitude da impedância do circuito diminui. Portanto,
em um circuito RC série, a magnitude de Z é inversamente
proporcional à freqüência.

Quando a tensão na fonte é mantida constante, a tensão nos


terminais da impedância permanece constante (VF), porém se a
freqüência aumenta, a reatância capacitiva e a magnitude da
impedância diminuem, causando um aumento na corrente do
circuito. Com o aumento da corrente, a queda de tensão no resistor
aumenta (VR=RI), e conseqüentemente, a queda de tensão
reatância diminui (VC=XC.I). Raciocínio análogo se aplica para a
condição de diminuição da freqüência.

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4-4

4.1.2 Variação do Ângulo de Fase com a Freqüência

Como XC é responsável pelo ângulo de fase no circuito RC série,


uma mudança em XC provoca alteração no ângulo de fase. Quando
a freqüência aumenta, XC torna-se menor, e assim o ângulo de fase
diminui.

A Figura 4.5 ilustra através do triângulo de impedância as variações


em XC, Z, e θ com a freqüência. À medida que a freqüência cresce,
diminuem a reatância capacitiva, a magnitude da impedância e o
ângulo de fase.
R
θ3
Z3 XC3 f3
θ2
Z2
θ1 XC2 f2
Z1
XC1 f1

Figura 4.5: Variação da impedância e ângulo de fase com a freqüência.

4.2. Circuitos Reativos RC Paralelo

Seja o circuito RC paralelo conectado a uma fonte de tensão


senoidal, como mostra a Figura 4.6.

VF ~ IR R C IC

Figura 4.6: Circuito RC em paralelo.

Com base na teoria dos fasores, a corrente IR está em fase com a


tensão VF, porém a corrente IC está adiantada de 90º da tensão VF
e conseqüentemente de IR. O diagrama fasorial para as correntes
é apresentado na Figura 4.7.

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4-5

IF
jIC

IR VF, VR, VC

Figura 4.7: Diagrama fasorial de tensão e correntes do circuito RC paralelo.

A corrente total suprida pela fonte ao circuito é igual a IF. Pela Lei
de Kirchhoff para as correntes, tem-se que:

I F = I R + jI C (4.9)

A corrente IF pode ainda ser obtida por:

1 1
IF = ⋅ V∠0 + ⋅ V∠0
R∠0 X C ∠ − 90
(4.10)
⎛1 1 ⎞
= ⎜⎜ + j ⎟⎟ ⋅ V∠0
⎝ R X C ⎠

Como visto no Capítulo 3, o recíproco da resistência é a


condutância, e da reatância capacitiva é a susceptância capacitiva.
Assim:
I F = (G + jB C ) ⋅ V∠0 (4.11)

O coeficiente que relaciona corrente com tensão é denominado de


admitância cuja unidade é siemens (S).

Y=G+jBC (4.12)

Como a admitância é o inverso da impedância, a unidade da


admitância é também definida como mho (ohm ao inverso), sendo
usada a letra grega ômega maiúscula invertida como símbolo da
unidade.

Observando a admitância do circuito RC paralelo, verifica-se que


enquanto a reatância capacitiva apresenta um ângulo de -90º,
representada por uma componente imaginária negativa, a
susceptância capacitiva é positiva.

A magnitude e o ângulo de fase da admitância são dados por:

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4-6

Y jB Y = G 2 + B C2 (4.13)
θ
⎛B ⎞
G θ = tg −1 ⎜ C ⎟ (4.14)
Figura 4.8: Triângulo da admitância. ⎝ G ⎠

A impedância pode também ser obtida para o circuito da Figura


4.6. Como o circuito é formado por apenas dois componentes,
tem-se que a impedância equivalente é dada por:

Z=
(R∠0 )⋅ (X ∠ − 90
C ) (4.15)
R − jX C

Operando sobre a expressão de Z, obtém-se:

⎛ R⋅ X ⎞ ⎛ ⎞⎞
Z =⎜ C ⎟∠⎜ − 90 + tg −1 ⎛⎜ X C ⎟ ⎟⎟ (4.16)
⎜ R2 + X 2 ⎟ ⎜⎝ ⎝ R ⎠⎠
⎝ C ⎠

A magnitude da impedância equivalente é então:

R ⋅ XC
Z= (4.17)
R 2 + X C2

e o ângulo de fase entre a tensão da fonte e a corrente por ela


suprida,
⎛ XC ⎞
θ = −90 + tg −1 ⎜ ⎟ (4.18)
⎝ R ⎠
o que equivale a

⎛ R ⎞
θ = − tg −1 ⎜⎜ ⎟⎟ (4.19)
⎝ XC ⎠

4.2.1 Conversão de Paralelo para Série

Para cada circuito RC paralelo, há um circuito equivalente série.


Dois circuitos são considerados equivalentes quando ambos
apresentam uma mesma impedância equivalente em seus
terminais, i.é., a magnitude e o ângulo de fase da impedância são
idênticos.

Profa Ruth Leão Email: rleao@dee.ufc.br


4-7

O circuito equivalente série para um dado circuito RC paralelo é


obtido a partir de:

REQ
XC,EQ

VF ~ R C VF ~
REQ
-jXC,EQ
Z

Figura 4.9: Equivalência entre circuito paralelo e série.

R ⋅ XC
R EQ = ⋅ cos θ (4.20)
R 2 + X C2

R ⋅ XC
X C,EQ = ⋅ senθ (4.21)
R 2 + X C2

R, XC e θ são os valores definidos para o circuito paralelo.

A equivalência pode também ser obtida a partir da admitância.

1
Z=
G + jB C
G B
= −j 2 C 2 (4.22)
G + BC
2 2
G + BC
= R EQ − jX C,EQ

4.3. Potência em Circuitos RC

Em um circuito puramente resistivo, toda energia entregue pela


fonte é dissipada na forma de calor pelo resistor. Em um circuito
puramente capacitivo, toda a energia entregue pela fonte é
armazenada pelo capacitor durante parte do ciclo da tensão e
então devolvida à fonte durante outra parte do ciclo da tensão de
maneira que não há conversão para calor. Quando no circuito
existe resistência e capacitância, parte da energia oscila entre o
capacitor e a fonte e parte é dissipada pela resistência.

A potência instantânea é obtida como:

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4-8

p ( t ) = v ( t ) ⋅ i ( t ) = V p I p sen (ωt ) ⋅ sen (ωt + ϕ )


= V p I p ⎡⎣ sen (ωt ) ⋅ ( sen (ωt ) ⋅ cos ϕ + senϕ ⋅ cos (ωt ) ) ⎤⎦
= V p I p ⎡⎣ sen 2 (ωt ) ⋅ cos ϕ + sen (ωt ) ⋅ cos (ωt ) ⋅ senϕ ⎤⎦ (4.23)
⎡1 ⎤
= V p I p ⎢ (1 − cos ( 2ωt ) ) ⋅ cos ϕ + sen ( 2ωt ) ⋅ senϕ ⎥
1
⎣2 2 ⎦

A potência instantânea pode ser re-escrita em função dos valores


eficazes de tensão e corrente:

p ( t ) = VEF I EF ⎡⎣(1 − cos ( 2ωt ) ) ⋅ cos ϕ + sen ( 2ωt ) ⋅ senϕ ⎤⎦


(4.24)
= VEF I EF ⋅ (1 − cos ( 2ωt ) ) ⋅ cos ϕ + VEF I EF ⋅ sen ( 2ωt ) ⋅ senϕ

Notam-se em (4.24) dois termos de potência, quais sejam: a


potência ativa instantânea e a potência não ativa instantânea;
ambas variam no tempo, sendo que a primeira é unidirecional, e a
segunda bidirecional.

pativa ( t ) = P ⋅ (1 − cos ( 2ωt ) ) (4.25)

preativa ( t ) = Q ⋅ sen ( 2ωt ) (4.26)

em que

P = VEF ⋅ I EF ⋅ cos θ
Q = VEF ⋅ I EF ⋅ senθ

Note que a potência ativa instantânea é composta de um termo


constante e um termo variante no tempo cujo valor de pico é igual
ao termo constante. O valor médio de pativa(t) é dado por
VEF.IEF.cosϕ e a potência ativa instantânea oscila em torno desse
valor médio sendo unidirecional.

O valor médio da potência não ativa ou reativa instantânea é nulo.


A potência é oscilante e seu valor de pico define a capacidade de
armazenamento do componente passivo do circuito.

A Figura 4.10 mostra as curvas de potência ativa instantânea,


potência reativa instantânea e potência total.

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4-9

p(t)
pativa(t)

preativa(t)

Figura 4.10: Potência total e potências no resistor e no capacitor.

Nas seções 4.1 e 4.2 foi visto que em um circuito RC a corrente


está adiantada da tensão resultante de um ângulo θ (ver Figuras
4.3 e 4.7). Assim, tomando-se a tensão da fonte como referência
angular, |VF|∠0o e a corrente entregue pela fonte adiantada da
tensão, |I|∠θ, e considerando que potência é obtida pelo produto
entre os fasores tensão e corrente, tem-se que:

( )
S = VF ⋅ I * = VF ∠0 ⋅ ( I ∠ − θ ) = VF ⋅ I ∠ − θ (4.27)

A potência total S é denominada de potência aparente complexa, e


a unidade é o volt-ampère (VA). A magnitude da potência aparente
complexa, |S|=|V|.|I|, é denominada simplesmente de potência
aparente e sua unidade é também o volt-ampère (VA).

Transformando a potência aparente complexa para a forma


retangular, tem-se:
P

S = VF ⋅ I ⋅ (cos θ − jsenθ )

QC (4.28)
S

Figura 4.11: Triângulo de potências.

A potência total S apresenta duas componentes, real e imaginária.


A componente real representa a potência entregue pela fonte e
dissipada na resistência e é denominada de potência real, útil,
ativa, ou eficaz. A unidade da potência real é o watt (W).

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4-10

P = VF ⋅ I ⋅ cos θ = S ⋅ cos θ (4.29)

Como a potência útil é dissipada no resistor, a potência P pode ser


expressa em função de R.

VR2
P= = RI 2R (4.30)
R

A potência imaginária representa a porção da potência total S, que


oscila entre o capacitor e a fonte, portanto, não realiza trabalho, daí
ser denominada de potência reativa. A unidade da potência reativa
é o volt-ampère reativo (var).

Q C = VF ⋅ I ⋅ senθ = S ⋅ senθ (4.31)

Em um circuito RC a potência reativa está associada ao capacitor,


portanto Q pode ser expressa em função de XC.

VC2
QC = = X C ⋅ I C2 (4.32)
XC

Vale a pena lembrar que à potência reativa capacitiva foi associado


o sinal negativo, esta é a razão porque a potência total é definida
como o produto da tensão pelo conjugado da corrente. Se assim
não fosse, haveria uma contradição com a convenção de sinal
adotada para as potências reativa capacitiva (negativa) e indutiva
(positiva).

Em todos os sistemas elétricos e eletrônicos, é a potência útil que


realiza trabalho. A potência reativa é simplesmente permutada
entre a carga e o sistema. Idealmente toda potência transferida à
carga deveria realizar trabalho, entretanto, em muitas situações
práticas a carga tem alguma reatância associada, e, portanto as
duas componentes de potência estão presentes. Em assim sendo,
a corrente total apresenta a componente resistiva e a componente
reativa. Se apenas a potência útil de uma carga é levada em
consideração, significa que somente uma porção da corrente total
demandada pela fonte está sendo considerada.

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4-11

4.3.1 Fator de Potência de Deslocamento

A relação entre a potência útil e a potência aparente é denominada


de fator de potência de deslocamento, FPD. O FPD de uma carga
ou circuito representa o quanto de potência entregue é convertida
em trabalho útil. Pela Equação 4.29 tem-se que:

P
FPD = = cos θ (4.33)
S

O ângulo θ representa o defasamento angular entre a tensão e


corrente. Como a relação entre tensão e corrente resulta em
impedância, o ângulo θ é o mesmo da impedância, assim como é o
ângulo entre as potências útil e aparente.

R P
I Y BC
θ -θ XC -θ
θ QC
V S
Z G

Figura 4.12: Relação entre fator de potência e triângulos de impedância,


admitância e de potência.

Quanto maior for o ângulo θ, menor será FPD, o que indica um


crescimento na componente reativa.

O fator de potência de deslocamento pode variar de zero, para um


circuito puramente reativo, a 1 para um circuito puramente resistivo.
Em um circuito RC, o fator de potência de deslocamento é dito ser
adiantado, ou seja, a corrente está deslocada em avanço da
tensão.

4.4. Principais Aplicações de Circuitos RC

Os circuitos RC são usados em diferentes aplicações, em geral


como parte de um circuito mais complexo. As duas principais
aplicações, como circuito defasador e como filtro, serão
consideradas nesta seção.

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4-12

4.4.1 Circuito RC Atrasado

O circuito RC atrasado é um circuito que provoca um defasamento


angular, no qual a tensão de saída atrasa da tensão de entrada de
um determinado valor especificado.

VR

R
VE ~ C VS
φ=-90º+θ

VE
VS
Figura 4.13: Circuito RC atrasado e o diagrama fasorial com ângulo de fase
atrasado entre VE e VS.

A Figura 4.13 mostra um circuito RC série com a tensão de saída


VS extraída dos terminais do capacitor. A fonte de tensão é a
entrada VE. O ângulo θ é o ângulo de fase entre a corrente e a
tensão de entrada e é também o ângulo de fase entre a tensão no
resistor e a tensão de entrada porque VR e I estão em fase.

Como VC está atrasado de 90º de VR, o ângulo de fase entre a


tensão no capacitor (tensão de saída) e a tensão de entrada é a
diferença entre -90º e θ. A tensão de saída está atrasada da tensão
de entrada, criando assim um circuito de atraso. A diferença de
fase φ entre a entrada e a saída depende do valor da reatância
capacitiva e da resistência, bem como a magnitude da tensão de
saída.

Para uma tensão de entrada igual a |VE|∠0o e corrente igual a |I|∠θ,


a tensão de saída resulta em:

( ) (
VS = ( I ∠θ ) ⋅ X C ∠ − 90 = I ⋅ X C ∠ − 90 + θ ) (4.34)

Como θ=-tg-1(XC/R), o ângulo entre a entrada e a saída:

⎛ XC ⎞
φ = −90 + tg −1 ⎜ ⎟ (4.35)
⎝ R ⎠

O ângulo é sempre negativo, indicando que a tensão de saída é


atrasada da tensão de entrada, como mostra a Figura 4.13.

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4-13

Para avaliar a tensão de saída, em termos de sua magnitude, o


circuito RC deve ser visto como um divisor de tensão. Como a
tensão de interesse está sobre os terminais do capacitor, tem-se:

⎛ ⎞
VS = ⎜ ⎟⋅ V
XC
(4.36)
⎜ R 2 + X2 ⎟ E
⎝ C ⎠

A tensão de saída pode também ser calculada pela Lei de Ohm:

VS = I ⋅ X C (4.37)

Assim, o fasor tensão de saída de um circuito RC atrasado é:

VS=|VS|∠-φ (4.38)

4.4.2 Circuito RC Adiantado

O circuito RC adiantado é um circuito defasador no qual a tensão


de saída é adiantada da tensão de entrada. Quando a saída de um
circuito RC série é tomada sobre o resistor invés do capacitor, diz-
se ser um circuito adiantado.

VS
φ
C
VE ~ R VS

VE
VC
Figura 4.14: Circuito RC adiantado e o diagrama fasorial com ângulo de fase
adiantado entre VE e VS.

Em um circuito RC, a corrente é adiantada da tensão de entrada.


Sabe-se também que a tensão no resistor está em fase com a
corrente. Como a tensão de saída é tomada sobre o resistor, a
saída está adiantada da entrada, como indicado no diagrama
fasorial na Figura 4.14.

Como no circuito defasador atrasado, a diferença de fase entre a


entrada e saída e também a magnitude da tensão de saída no
circuito defasador adiantado depende dos valores relativos da
resitência e da reatância capacitiva. Quando a tensão de entrada é
tomada como referência angular, o ângulo da tensão de saída é

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4-14

igual a θ (o ângulo entre a corrente e a tensão aplicada) porque a


tensão no resistor (saída) e a corrente estão em fase. Portanto,
como neste caso φ=θ, a equação é dada por:

⎛ XC ⎞
φ = tg −1 ⎜ ⎟ (4.39)
⎝ R ⎠

O ângulo é positivo porque a saída é adiantada da entrada.

A magnitude pode ser calculada aplicando a expressão de divisor


de tensão ou a Lei de Ohm.

⎛ ⎞
VS = ⎜ ⎟⋅ V
R
(4.40)
⎜ R 2 + X2 ⎟ E
⎝ C ⎠

VS = R I (4.41)

A expressão para o fasor tensão de saída:

VS = VS ∠φ (4.42)

4.4.3 Circuito RC como Filtro

Filtros são circuitos seletivos de freqüência que permitem sinais de


certa freqüência passar entre entrada e saída e bloquear outras
freqüências. Isto é, todas as freqüências exceto as selecionadas
são filtradas.

Os circuitos RC série apresentam uma característica de


seletividade de freqüência e portanto atuam como filtros. Existem
dois tipos, os chamados filtros passa baixa e os filtros passa alta.
Nos filtros passa baixa a saída é tomada sobre o capacitor como no
circuito atrasado. Os filtros passa alta são implementados com a
saída tomada sobre o resistor, como no circuito adiantado.

4.4.3.1 Filtro Passa Baixa

Na avaliação do circuito RC como filtro, é de interesse apresentar a


variação da magnitude da saída com a freqüência. Para o circuito
da Figura 4.15 a tensão de saída depende da freqüência do sinal
de entrada.

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4-15

R
VE=10V ~ C VS

Figura 4.15: Filtro passa baixa.

Figura 4. 16: Resposta linear da tensão de saída à variação de freqüência.

Para uma freqüência igual a zero, como o capacitor bloqueia


corrente CC, a tensão de saída, VS, é igual ao valor da tensão de
entrada, VE, pois não há queda de tensão no resistor. Portanto, o
circuito deixa passar toda a tensão de entrada para a saída (VE,
VS). A Figura 4.16 mostra a variação da magnitude da tensão VS
com a freqüência. À medida que a freqüência de entrada aumenta,
a tensão de saída decresce aproximando-se de zero quando a
freqüência torna-se muito alta. Quando a freqüência de entrada
aumenta, a reatância capacitiva diminui; como a resistência é
constante e a reatância capacitiva decresce, a tensão nos terminais
do capacitor, VS, também diminui de acordo com o princípio do
divisor de tensão (Equação 4.36). A freqüência de entrada pode ser
elevada até que alcance um valor tal que a reatância seja muito
pequena comparada à resistência de modo que a tensão de saída
pode ser desprezível em comparação à tensão de entrada. A este
valor de freqüência, diz-se que o circuito bloqueia totalmente o sinal
de entrada.

Como visto na Figura 4.16, o circuito passa totalmente a freqüência


CC. À medida que a freqüência da entrada aumenta, menos da
tensão de entrada é transferida para a saída; i.é., a tensão de
saída decresce quando a freqüência aumenta. Como pode ser

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4-16

visto, as freqüências baixas passam através do circuito com muito


menos atenuação do que as freqüências altas. Este filtro RC é
portanto uma forma simples de um filtro passa baixa.

A Figura 4.17 mostra a resposta logaritmica em freqüência do


circuito de um filtro passa-baixa da Figura 4.15 com o gráfico da
magnitude da tensão de saída versus freqüência.

Figura 4.17: Resposta da tensão de saída à variação de freqüência de filtro


passa baixa.

Figura 4.18: Resposta de Filtro Passa Baixa Ideal.

4.4.3.2 Filtro Passa-Alta

No filtro passa alta a saída é tomada sobre o resistor como no


circuito defasador adiantado. Quando a tensão de entrada é CC, a
saída é zero volts porque o capacitor bloqueia corrente CC,
portanto, a tensão nos terminais do resistor é nula.

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4-17

C
VE ~ R VS

Figura 4.19: Circuito RC série como filtro passa alta.

Para o circuito da Figura 4.19, à medida que a freqüência cresce, a


tensão de saída aumenta. Para um determinado valor de
freqüência em que a reatância é desprezível comparada à
resistência, a tensão de entrada é praticamente aplicada aos
terminais do resistor. O circuito tende a impedir que baixas
freqüências surjam na saída mas permite que altas freqüências
passem da entrada para a saída. Portanto, este circuito RC é um
filtro básico passa alta.

Figura 4.20: Resposta da tensão de saída à variação de freqüência de filtro


passa alta.

A resposta em freqüência de um filtro passa-alta é mostrada na


Figura 4.20 com o gráfico da magnitude da tensão de saída versus
a freqüência. A curva resposta mostra que a saída aumenta
quando a freqüência aumenta e então estabiliza-se aproximando-
se da tensão de entrada.

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4-18

Figura 4.21: Resposta de Filtro Passa Alta Ideal.

4.4.3.3 Freqüência de Corte e Largura de Faixa de um Filtro

A freqüência que torna a reatância capacitiva igual à resistência em


um filtro RC passa baixa ou passa alta é denominada de freqüência
de corte e é designada por fC. Esta condição é expressa como:

1
=R
2π ⋅ f C ⋅ C
Portanto
1
fC = (4.43)
2π ⋅ RC

1
ou ωc = (4.44)
τ

em que τ representa a constante de tempo do circuito RC.

Quando a freqüência é igual a fC, a tensão de saída é 70,7% de


seu valor máximo. É uma prática padronizada considerar a
freqüência de corte como o limite do desempenho de um filtro em
termos de freqüências passantes ou rejeitadas. Por exemplo, em
um filtro passa-alta, todas as freqüências acima de fC ou ωc são
consideradas passantes pelo filtro, e todas aquelas abaixo de fC ou
ωc são consideradas serem rejeitadas. O contrário é verdadeiro
para um filtro passa-baixa, ele atenua as freqüências acima de uma
determinada freqüência de corte.

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4-19

Largura de Banda

fC

Figura 4.22: Resposta normalizada de um filtro passa-baixa.

A faixa de freqüências que é considerada passante por um filtro é


chamada de faixa ou banda de passagem. A Figura 4.22 ilustra a
banda e a freqüência de corte para um filtro passa-baixa.

4.5. Circuitos RL Série

A análise de circuitos RL e RC são similares. A maior diferença é


que as respostas de ângulo de fase são opostas – reatância
indutiva cresce com a freqüência, enquanto reatância capacitiva
decresce com a freqüência.

Como nos circuitos RC, todas as correntes e tensões em qualquer


tipo de circuito RL são senoidais quando a tensão de entrada é
senoidal. A indutância causa um deslocamento de fase entre a
tensão e a corrente. Tanto a magnitude como o deslocamento de
fase das tensões e correntes dependem dos valores relativos da
resistência e da reatância indutiva. Quando um circuito é
puramente indutivo, o ângulo de fase entre a tensão aplicada e a
corrente total é 90º, com a corrente atrasada da tensão. Quando
existe uma combinação de resistência e de reatância indutiva em
um circuito, o ângulo de fase da corrente em relação à tensão fica
situado entre 0o e -90º, dependendo dos valores de resistência e
reatância.

Vale lembrar que indutores reais apresentam resistência de


enrolamento, capacitância entre as espiras, e outros fatores que
tornam o comportamento do indutor diferente daquele de um
componente ideal. Em circuitos práticos, esses efeitos podem ser

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4-20

significantes; entretanto, para demonstrar os efeitos indutivos, os


indutores serão tratados como ideais.

4.5.1 Corrente e Tensão em um Circuito RL Série

Em um circuito RL série, como o mostrado na Figura 4.23, a


corrente que circula nos componentes do circuito é a mesma.
Assim, a tensão no resistor está em fase com a corrente, e a
tensão no indutor está adiantada da corrente de 90º. Portanto,
existe uma diferença de fase de 90º entre a tensão no resistor, vR,
e a tensão no indutor vL, como mostram as formas de onda na
Figura 4.24.
VR VL

R L I
VF ~

Figura 4.23: Circuito RL série.

vR
vL

Figura 4.24: Formas de onda da corrente e tensão vR e vL.

Aplicando-se a Lei de Kirchhoff para as tensões, tem-se que a


soma das quedas de tensão é igual à tensão aplicada. No domínio
dos fasores, a tensão aplicada é igual à soma fasorial da tensão na
resistência mais a tensão na reatância indutiva.

VF
VL

θ
VF=VR+jVL (4.45)
VR I
Figura 4.25: Diagrama fasorial em um
circuito RL série.

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4-21

Na forma polar, a tensão é dada por:

⎛V ⎞
VF = VR2 + VL2 ∠tg −1 ⎜⎜ L ⎟⎟ (4.46)
⎝ VR ⎠

O ângulo θ é a defasagem entre a tensão aplicada, VF, e a corrente


I no circuito.

4.5.2 Impedância e Ângulo de Fase em Circuitos RL Série

A impedância de um circuito RL série é determinada pela


resistência e retância indutiva. A impedância de qualquer circuito
RL é a oposição à corrente senoidal e sua unidade é o ohms (Ω).

No circuito RL da Figura 4.25, a relação entre a tensão aplicada e a


corrente que circula no circuito resulta na impedância do circuito.

VF ∠θ
= Z ∠θ (4.47)
I ∠0

No Capítulo 3 foi visto que a reatância indutiva é expressa como


uma grandeza complexa:

XL=jXL (4.48)

Assim, a impedância é dada pela soma fasorial de R e jXL:

Z=R+jXL (4.49)

Como a impedância é uma grandeza complexa, a representação no


plano complexo leva à formação do triângulo de impedância.

Z
XL
Z = R 2 + X 2L (4.50)
θ
R ⎛ XL ⎞
θ = tg −1 ⎜ ⎟ (4.51)
Figura 4.26: Triângulo de impedância. ⎝ R ⎠

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4-22

4.5.3 Variação da Impedância e Ângulo de Fase com a Freqüência

O triângulo de impedância é útil para visualizar como a freqüência


da fonte de alimentação afeta a resposta do circuito RL. Sabe-se
que a reatância indutiva varia diretamente com a freqüência.
Quando XL aumenta, a magnitude da impedância também
aumenta; e quando XL diminui, a magnitude da impedância diminui.
Assim, a magnitude da impedância é diretamente dependente da
freqüência. O ângulo de fase θ também varia diretamente com a
freqüência porque θ=tg-1(XL/R). Quando XL aumenta com a
freqüência, θ também aumenta, e vice-versa.

Z3 XL3 f

Z2
XL2
Z1
XL1
θ
θ1 θ2 3
R

Figura 4.27: Variação de XL, magnitude de Z e θ com a freqüência.

4.6. Circuito RL Paralelo

A Figura 4.28 mostra um circuito RL paralelo conectado a uma


fonte de tensão senoidal.

VF ~ IR R L IL

Figura 4.28: Circuito RL paralelo.

4.6.1 Relação entre Corrente e Tensão em Circuito RL Paralelo

Como mostra o circuito RL paralelo da Figura 4.28, a corrente total,


I, é dividida entre os dois ramais IR e IL. A tensão aplicada VF é a
mesma nos terminais resistivos e reativo, assim, VF, VR e VL estão
em fase e igual magnitude.

A corrente através do resistor está em fase com a tensão. A


corrente através do indutor está atrasada da tensão e da corrente
no resistor de 90º.

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4-23

IR
I=IR-jIL (4.52)

I = I 2R + I 2L (4.53)

I ⎛ IL ⎞
IL θ = − tg −1 ⎜⎜ ⎟⎟ (4.54)
Figura 4.29: Diagrama fasorial das ⎝ IR ⎠
correntes em circuito RL paralelo.

A corrente total na forma polar:

⎛I ⎞
I = I 2R + I 2L ∠ − tg −1 ⎜⎜ L ⎟⎟ (4.55)
⎝ IR ⎠

Como a corrente no resistor e a tensão aplicada estão em fase, o


ângulo θ também representa o ângulo de fase entre a corrente total
e a tensão aplicada.

-θ IR VF, VR, VL

I ∠ −θ
=Y (4.56)
IL
I VF ∠0

Figura 4.30: Diagrama fasorial de corrente e


tensão em circuito RL paralelo.

Com base no diagrama fasorial da Figura 4.30, a corrente total I


pode ainda ser obtida pela relação:

1 1
I= ⋅ VR ∠0 + ⋅ VL ∠0
R∠0 X L ∠90
(4.57)
⎛1 1 ⎞
= ⎜⎜ − j ⎟⎟ ⋅ VF ∠0
⎝ R X L ⎠

Como visto no Capítulo 3, o recíproco da resistência é a


condutância, e da reatância indutiva é a susceptância indutiva.
Assim:
I = (G − jB L ) ⋅ VF ∠0 (4.58)

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4-24

Como visto na seção 4.2, o coeficiente que relaciona corrente com


tensão é denominado admitância cuja unidade é siemens (S).

Y=G-jBL (4.59)

A admitância de um circuito RL paralelo é formada por condutância


e susceptância indutiva. O circuito da Figura 4.28 pode ser
representado em termos de sua admitância como mostra a Figura
4.31.
G

VF ~ G BL

Y
BL
Figura 4.31: Admitância em circuito RL paralelo.

Como a impedância é o inverso da admitância, tem-se que a


impedância equivalente série do circuito da Figura 4.31 é dada por:

1 1
Z= = (4.60)
Y G − jB L

G B
Z= +j 2 L 2 (4.61)
G + BL
2 2
G + BL
em que
G
R EQ = (4.62)
G + B 2L
2

e
BL
X L ,EQ = (4.63)
G + B 2L
2

REQ

VF ~ R XL VF ~ G BL VF ~
XL,EQ

Figura 4.32: Circuitos equivalentes

A impedância equivalente pode ainda ser expressa em termos de R


e XL do circuito RL paralelo.

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4-25

R ⋅ jX L R2 X 2L
Z= = +j 2 (4.64)
R + jX L R 2 + X 2L R + X 2L
em que
R ⋅ XL
Z= (4.65)
R +X
2 2
L

e
⎛ XL ⎞
θ = 90 − tg −1 ⎜ ⎟ (4.66)
⎝ R ⎠
ou
⎛ R ⎞
θ = tg −1 ⎜⎜ ⎟⎟ (4.67)
⎝ XL ⎠
Assim
R2
R EQ = (4.68)
R 2 + X 2L
e
X 2L
X EQ = (4.69)
R 2 + X 2L

4.7. Potência em Circuitos RL

Em um circuito puramente resistivo, toda energia entregue pela


fonte é dissipada pela resistência na forma de calor. Em um circuito
puramente indutivo, toda a energia entregue pela fonte é
armazenada pelo indutor em seu campo magnético durante parte
do ciclo da tensão e então é devolvida à fonte durante outra parte
do ciclo da tensão, de tal maneira que não há conversão de
energia. Quando em um circuito existe a presença de ambos,
resistor e indutor, parte da energia oscila entre o componente
armazenador de energia e a fonte e outra parte da energia é
convertida em calor. O valor da energia convertida em calor
depende dos valores relativos de resistência e de reatância
indutiva.

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4-26

S
P

QL

Figura 4.33: Potência total, potência no resistor e potência no indutor.

4.7.1 Triângulo de Potência em Circuitos RL

Como visto nas seções 4.5.1 e 4.6.1, em um circuito RL a corrente


total está atrasada da tensão resultante de um ângulo θ. Assim,
tomando-se a tensão da fonte como referência angular, |VF|∠0o e a
corrente entregue pela fonte atrasada da tensão de um ângulo θ,
|I|∠-θ, e considerando que potência é obtida pelo produto entre
tensão e corrente, tem-se que:

S = V ⋅ I * = ( V ∠0 ) ⋅ ( I ∠θ ) = V ⋅ I ∠θ = S ∠θ (4.70)

A Equação 4.70 pode ser escrita na forma retangular:

S = VF ⋅ I ⋅ cos θ + j VF ⋅ I ⋅ senθ (4.71)

A potência média da potência útil é representada pela parte real e a


potência reativa indutiva pela parte imaginária, e a potência total
pela potência aparente complexa. Assim,

P = S ⋅ cos θ (4.72)

Q L = j S ⋅ senθ (4.73)
e
S = P + jQ L = S ∠θ (4.74)

O triângulo de potência é ilustrado na Figura 4.34.

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4-27

QL
S

θ
P
Figura 4.34: Triângulo de potência de circuitos RL.

Vale salientar que se a potência em um circuito fosse calculada


simplesmente pelo produto da tensão e corrente (sem o
conjugado), o sinal da potência reativa calculada dependeria da
referência considerada, tensão ou corrente.

Tabela 4.1: Cálculo da potência complexa


Circuito indutivo S=V.I S=V.I*
Referência: Corrente
VF=|VF|∠θ S=|VF|.|IF|∠+θ S=|VF|.|IF|∠+θ
IF=|IF|∠0o
Referência: Tensão
VF=|VF|∠0o S=|VF|.|IF|∠-θ S=|VF|.|IF|∠+θ
IF=|IF|∠-θ

A mesma consideração mostrada na Tabela 4.1 ocorre para os


circuitos RC.

4.7.2 Fator de Potência de Deslocamento

O fator de potência é um importante indicador de quanto de


potência útil é transferida para a carga. O maior valor para o fator
de potência de deslocamento é 1, o que indica que toda a corrente
que alimenta a carga está em fase com a tensão. Quando o fator
de potência de deslocamento é 0, toda a corrente de carga é
defasada de 90º da tensão.

Em geral, é desejável um FPD o mais próximo da unidade pois


significa que a maioria da potência transferida da fonte para a
carga é potência útil. Potência útil é unidirecional – direção
fonte→carga – e realiza trabalho na carga em termos de conversão
de energia. Potência reativa simplesmente oscila entre fonte e
carga com um trabalho líquido nulo. Energia deve ser usada para
produzir trabalho.

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4-28

Muitas cargas têm indutância como resultado da função que


realizam, sendo essencial para sua operação, como por exemplo,
transformadores, motores elétricos, alto-falante, etc.

0,22A 20 W 0,175A 20 W

Carga Carga
120 V ~ FPD=0,75 120 V ~ FPD=0,95

Figura 4.35: Efeito do FPD sobre o sistema.

Para ilustrar o efeito do fator de potência sobre o sistema,


considere o exemplo mostrado na Figura 4.35. A figura mostra uma
representação de uma carga indutiva típica que consiste de
indutância e resistência em paralelo. As duas cargas dissipam a
mesma potência útil (20 W), como indicado pelo Wattímetro.
Portanto, a mesma quantidade de trabalho é realizado pela duas
cargas. Embora o trabalho realizado seja o mesmo, a carga com o
FPD mais baixo solicita da fonte uma maior quantidade de corrente
do que a carga com maior FPD. Portanto, a fonte da carga de mais
baixo FPD deve ter uma maior potência aparente nominal. Além
disso, os condutores que alimentam a carga de menor FPD deve ter
uma maior bitola, condição esta que se torna significante quando
longas linhas são necessárias. A ilustração demonstra que um
maior FPD é uma vantagem no fornecimento mais eficiente de
potência a uma carga.

4.7.3 Correção de Fator de Potência de Deslocamento

O fator de potência de deslocamento de uma carga pode ser


aumentado pela adição de um capacitor em paralelo, como mostra
a Figura 4.36.

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4-29

I
IR
θ
VF ~ R XL

IL I
(a)

I’ IC

VF C
~ R XL θ IR

I’

IL
(b)

Figura 4.36: Melhoria do FPD com a adição de capacitor.

O capacitor compensa o defasamento em atraso da corrente total


em relação à tensão aplicada criando uma componente capacitiva
de corrente que é 180º defasada com a componente indutiva. Isto
tem um efeito de compensação e reduz o ângulo de fase (e o fator
de potência de deslocamento) bem como a corrente total, como
ilustrado na figura.

4.8. Aplicações de Circuitos RL

As aplicações básicas de circuitos RL são como circuitos


defasadores e circuitos de seletores de freqüência.

4.8.1 Circuito RL Adiantado

O circuito RL adiantado é um circuito defasador em que a tensão


de saída está adiantada da tensão de entrada de um certo valor
especificado. A Figura 4.37 mostra um circuito RL série com a
tensão de saída tomada sobre o indutor. Note que um circuito RC
adiantado, a saída foi tomada sobre o resistor. A fonte de tensão é
a entrada, VE. Sabe-se que θ é o ângulo entre a corrente e a tensão
de entrada; θ é também o ângulo entre a tensão no resistor e a
tensão de entrada, porque VR e I estão em fase.

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4-30

VS (VL)
R
VE
L VS
VE ~ φ
θ
VR

Figura 4.37: Circuito e diagrama fasorial RL adiantado.

Como VL está adiantado de VR de 90º, o ângulo de fase entre a


tensão no indutor (tensão de saída) e a tensão de entrada é a
diferença entre 90º e θ, como mostra o diagrama fasorial da Figura
4.37. Assim, tem-se um circuito básico adiantado.

Quando as formas de onda da entrada e da saída do circuito RL


adiantado são mostradas no osciloscópio, verifica-se uma relação
similar à vista na Figura 4.38.

VE

VS

Figura 4.38: Formas de onda da tensão de saída (adiantada)


e entrada (atrasada).

A diferença de fase entre VE e VS, designada por φ, depende dos


valores relativos de reatância indutiva e de resistência, bem como a
magnitude da tensão de entrada.

X ∠90
( )
jX L X
Vs = ⋅ VE = L ⋅ VE = L ⋅ VE ∠ 90 − θ (4.75)
R + jX L Z ∠θ Z

A Equação 4.75 mostra que a tensão de saída está adiantada de


um ângulo igual a (90º - θ) com relação à tensão de entrada. Como
θ=tg-1(XL/R), o ângulo φ entre saída e entrada pode ser expresso
como:
⎛ XL ⎞
φ = 90 − tg −1 ⎜ ⎟ (4.76)
⎝ R ⎠

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4-31

⎛ R ⎞
φ = tg −1 ⎜⎜ ⎟⎟ (4.77)
⎝ XL ⎠

O ângulo φ entre a saída e entrada é sempre positivo, indicando


que a tensão de saída está adiantada da tensão de entrada.

A magnitude de VS pode ser obtida considerando o circuito da


Figura 4.37 como um divisor de tensão.

⎛ ⎞
VS = ⎜ ⎟⋅ V
XL
(4.78)
⎜ R 2 + X2 ⎟ E
⎝ L ⎠

A magnitude da tensão de saída pode também ser calculada pela


Lei de Ohm.

VS = X L ⋅ I (4.79)

O fasor tensão de saída no circuito RL adiantado é então:

VS = VS ∠φ (4.80)

4.8.2 Circuito RL Atrasado

O circuito RL atrasado é um circuito defasador em que a tensão de


saída está atrasada da tensão de entrada. Quando a saída de um
circuito RL série é tomada sobre o resistor invés do indutor, como
mostra a Figura 4.39, diz-se que o circuito é atrasado.

VE
VL VS
VE
L

VE ~ R VS
φ
VS

Figura 4.39: Circuito, diagrama fasorial e formas de onda.

Em um circuito RL série, a corrente é atrasada da tensão de


entrada. Como a tensão de saída é tomada sobre o resistor, a
saída é atrasada da entrada, como indicado pelo diagrama fasorial
da Figura 4.39. As formas de onda de VE e VS também são
apresentadas na Figura 4.39.

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4-32

Como em um circuito adiantado, a diferença de fase entre entrada


e saída e a magnitude da tensão de saída dependem dos valores
relativos de resistência e reatância indutiva. Quando a tensão de
entrada é tomada como referência angular, |VE|∠0o, o ângulo φ da
tensão de saída com relação à tensão de entrada é igual a -θ,
porque a tensão no resistor (saída) e a corrente estão em fase.

⎛ XL ⎞
φ = − tg −1 ⎜ ⎟ (4.81)
⎝ R ⎠

O ângulo é negativo porque a saída está atrasada da entrada.

A magnitude da tensão de saída é obtida por:

⎛ ⎞
VS = ⎜ ⎟⋅ V
R
(4.82)
⎜ R 2 + X2 ⎟ E
⎝ L ⎠
ou
VS = R ⋅ I (4.83)

A tensão de saída em forma polar:

VS = VS ∠ − φ (4.84)

4.8.3 Circuito RL como Filtro

Como os circuitos RC, os circuitos RL série também apresentam a


caracterísitca de seletividade em freqüência e portanto agem como
filtros.

4.8.3.1 Filtro Passa-Baixa

Um circuito RL série atrasado atua como um filtro passa-baixa com


a magnitude e ângulo da tensão de saída variando com a
freqüência.

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4-33

Figura 4.40: Resposta em freqüência de filtro RL passa-baixa.

A partir da Equação 4.82, repetida a seguir, tem-se que:

⎛ ⎞
VS = ⎜ ⎟⋅ V
R
⎜ R 2 + X2 ⎟ E
⎝ L ⎠

- Quando a freqüência do sinal de entrada é zero, o indutor atua


como um curto-circuito a uma corrente CC, e a tensão de entrada é
toda aplicada sobre o resistor, i.é., VS=VE. Portanto, o circuito deixa
passar todo o sinal de entrada para a saída.

- À medida que a freqüência do sinal de entrada aumenta, a


reatância indutiva cresce. Como a resistência é constante, a tensão
nos terminais do indutor tende a crescer e a tensão nos terminais
do resistor (saída) tende a decrescer, aproximando-se de zero
quando a freqüência é muito alta. A freqüência pode ser acrescida
até alcançar um valor em que a reatância é tão grande, comparada
à resistência, que a tensão de saída torna-se desprezível em
relação à tensão de entrada.

Pela Figura 4.39 é visto que freqüências baixas passam através do


circuito com muito mais facilidade que freqüências mais altas.

4.8.3.2 Filtro Passa-Alta

Em um filtro RL passa-alta, a saída é tomada sobre o indutor.


Quando a tensão de entrada é CC, a saída é nula porque o indutor
apresenta-se como um curto-circuito. À medida que a freqüência do
sinal de entrada aumenta, a reatância indutiva cresce. Como a

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4-34

resistência é constante, a tensão nos terminais do resistor diminui


com o aumento da freqüência e a tensão de saída (no indutor)
aumenta. Ou seja, a tensão de saída cresce com o aumento da
freqüência. Para um determinado valor de freqüência, a reatância
indutiva é tão grande, comparada à resistência, a ponto de uma
completa transferência do sinal de entrada para a saída.

Figura 4.41: Resposta em freqüência de filtro RL passa-alta.

O circuito RL com saída sobre o indutor tende a bloquear os sinais


de baixa freqüência e tendem a deixar passar para a saída os
sinais de alta freqüência. A resposta em freqüência do filtro RL
passa-alta é mostrada na Figura 4.41.

Na Figura 4.42 é apresenta a resposta em freqüência do filtro pass-


baixa e do filtro passa-alta. O ponto de interseção das curvas
corresponde à freqüência de corte em que a tensão de saída é
igual a 70,7% da tensão de entrada.

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4-35

7,07V

fC

Figura 4.42: Resposta em freqüência de filtro RL passa-baixa e passa-alta.

Quando as freqüências de corte não coincidem, então o filtro pode


ser classificado como passa faixa ou rejeita faixa. Nestes casos,
cada um dos filtros apresenta duas freqüências de corte.

Figura 4.43: Resposta em freqüência de filtro passa-faixa e rejeita-faixa ideais.

4.9. Circuitos RLC

Um circuito RLC contém ambos, indutância e capacitância. Como a


reatância indutiva e capacitiva têm efeitos opostos no ângulo de
fase de um circuito, a reatância total é menor do que cada
reatância individual.

4.9.1 Circuito RLC Série

Como visto anteriormente, a reatância indutiva (XL) causa um


atraso na corrente em relação à tensão aplicada. A reatância
capacitiva (XC) apresenta o efeito oposto, i.é., adianta a corrente
em relação à tensão. Assim XL e XC tendem contrabalançar uma a
outra. Quando são iguais, se anulam, e a reatância total é zero. A
reatância total de um circuito série é

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4-36

X T = jX L − jX C (4.85)

Quando XL>XC, o circuito é predominantemente indutivo, neste


caso embora haja a presença de ambos componentes reativos, a
corrente do circuito é atrasada em relação à tensão aplicada.
Quando XC>XL, o circuito é predominantemente capacitivo, e por
sua vez, a corrente do circuito é adiantada da tensão aplicada.

Seja o circuito RLC série mostrado na Figura 4.44 e suas formas de


onda de tensão em cada um dos componentes do circuito, vR, vL e
vC mostradas na Figura 4.45.

Figura 4.44: Circuito RLC série.

vR
vL

vC

Figura 4.45: Tensão sobre resistor, indutor e capacitor em circuito RLC série.

A Figura 4.45 mostra que a tensão no indutor e no capacitor estão


em oposição de fase, i.é., defasadas de 180º. As curvas mostram
ainda que a tensão no indutor está adiantada da tensão no resistor
que, por sua vez, está adiantada da tensão no capacitor.

Pela Lei de Kirchhoff aplicada às tensões tem-se que:

V = VR + jVL − jVC (4.86)

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4-37

Como a corrente é a mesma em todos os componentes do circuito


RLC série, a Equação 4.86 pode ser re-escrita como:

Z = R + jX L − jX C (4.87)

A impedância total de um circuito RLC série expressa na forma


polar:

⎛X ⎞
Z = R 2 + (X L − X C ) ∠ ± tg −1 ⎜ T ⎟
2

⎝ R ⎠ (4.88)
= Z∠ ±θ

O diagrama fasorial para as tensões e impedância resultam em


triângulos semelhantes. O ângulo da impedância total depende dos
parâmetros do circuito e pode ser positivo ou negativo, o que
equivale a um circuito predominantemente indutivo (corrente
atrasada) ou capacitivo (corrente adiantada), respectivamente.

jXL Z jXL
jXT R
θ -θ
-jXT
R
-jXC Z
-jXC

Figura 4.46: Diagrama fasorial de impedância para circuito RLC série.

Pela Figura 4.45, nota-se que a tensão sobre o indutor é maior que
a tensão sobre o capacitor, denotando o fato de um circuito com
característica resultante indutiva. A Figura 4.47 apresenta a
condição de um circuito predominantemente indutivo, portanto, com
a corrente atrasada da tensão aplicada.

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4-38

Figura 4.47: Tensão e corrente em circuito RLC série.

Na Figura 4.47 tem-se os valores máximos subsequentes de v, t e


i, t com os quais pode-se calcular o valor da impedância total do
circuito.
Vp 10
Z= = = 4,61Ω (4.89)
Ip 2,17

O ângulo da impedância é obtido por:

⋅ (t v − t i ) ⋅ 360
1
θ=
T (4.90)
= 60 ⋅ (0,037496 − 0,038806 ) ⋅ 360 = −28,3

O ângulo negativo, resultado da diferença de defasamento no


tempo entre a onda de tensão e onda de corrente, denota uma
corrente atrasada da tensão, ou seja, circuito predominantemente
indutivo. Assim, a impedância total do circuito da Figura 4.42 é
igual a Z=4,61∠28,3ºΩ.

Pelo gráfico das ondas da Figura 4.47 é possível também calcular a


freqüência da onda, basta conhecer, por exemplo, os tempos
correspondentes a dois valores de pico subsequentes, a diferença
entre os tempos corresponde à metade do período da onda.

T
= t max − t min (4.91)
2

1 1
f = = ≅ 60Hz (4.92)
2 ⋅ t max − t min 2 ⋅ 0,037496 − 0,045837

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4-39

As potências no circuito RLC série são mostradas na Figura 4.48.

S
P

QL
QC

Figura 4.48: Potência total, ativa, reativa indutiva e reativa capacitiva.

Pela figura nota-se que a potência total, S, entregue ao circuito não


é unidirecional, mas parte da potência entregue ao circuito é
devolvida à fonte. A potência dissipada no resitor, P, é
unidericional, no entanto, QL e QC são alternadas e fasorialmente
opostas. A potência reativa indutiva, QL, é maior que a potência
reativa capacitiva, QC, o que imprime ao circuito uma caracterísitca
predominantemente indutiva. Parte da potência absorvida pelo
indutor é suprida pelo capacitor e o restante é suprida pela fonte. A
Figura 4.49 mostra a potência suprida pela fonte (QL+QC) ao
indutor, e a potência reativa suprida pelo capacitor (QC).

S
P

QL
QC

QL+QC

Figura 4.49: Compensação de potência reativa no circuito.

A presença de dispositivos reativos de ângulos de fase opostos


contribui para a compensação de reativos no circuito, diminuindo a
contribuição da fonte.

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4-40

O fator de potência de deslocamento do circuito da Figura 4.49 é


menor do 1 e é atrasado.

Considerações:

− Em um circuito RLC série a tensão resultante está defasada de


θ em relação à corrente.

− Se ωL > 1/ωC o circuito apresenta características indutivas, a


tensão estará adiantada de θ em relação à corrente, e o ângulo
da impedância será positivo.

− Se ωL<1/ωC o circuito apresenta características capacitivas, a


tensão estará atrasada de θ em relação à corrente, e o ângulo
da impedância será negativo.

4.9.2 Circuito RLC Paralelo

A Figura 4.50 mostra um circuito RLC paralelo.

jIC jIC

VF ~ R XL XC ou
IR
IR
-jIL -jIL

Figura 4.50: Circuito RLC paralelo e o diagrama fasorial das correntes.

A corrente total é dada pela soma fasorial da corrente em cada


componente:

I = I R + jI C − jI L (4.93)

Dividindo a Equação 4.93 pela tensão, tem-se a admitância do


circuito, i.é.,

1 1 1
Y= + +
R∠0 X L ∠90 X C ∠ − 90
ou
Y = G + jB C − jB L = Y ∠ ± θ (4.94)

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4-41

A impedância total do circuito pode ser calculada por:

1 1
Z= =
Y G + j(B C − B L )

Verifica-se, portanto, que:

1
Z∠ ±θ = (4.95)
Y∠∓θ

isto é, quando o ângulo da impedância total é positivo, indica que o


circuito é predominantemente indutivo e a corrente resultante está
atrasada da tensão aplicada; nestas circunstâncias, o ângulo da
admitância é negativo. Quando o ângulo da impedância total é
negativo, o ângulo da admitância é positivo por tratar-se de
condição predominatemente capacitiva.

4.10. Fluxo de Potência

Com disseminação dos sistemas de geração distribuída torna-se


importante e necessário o entendimento do sentido do fluxo de
potência.

Lembrando que potência últil e reativa são expressas como:

P=|V|.|I|.cos(θv-θi) (4.96)
e
Q=|V|.|I|.sen(θv-θi) (4.97)

Considere as seguintes condições de operação de um circuito.

a) Ângulo de defasagem no 1o quadrante:


P
V
Circuito
I
Q

Figura 4.51: Potência ativa e reativa positiva.

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4-42

Se θ está situado no primeiro quadrante, 0o ≤ θ ≤ 90º, a potência


útil P e reativa Q são positivas. Significa dizer que há consumo de
energia ativa e reativa indutiva. A corrente está atrasada da tensão.

b) Ângulo de defasagem no 2o quadrante:

V P

Circuito
I
Q

Fig.4.52: Potência ativa positiva e potência reativa negativa.

Se θ está situado no 2o quadrante, 90o ≤ θ ≤ 180º, a potência útil P


é negativa e a potência reativa Q é positiva. Significa dizer que o
circuito exporta energia útil e consome potência reativa indutiva.
Corrente atrasada da tensão.

c) Ângulo de defasagem no 3o quadrante:

Circuito
I
V Q

Figura 4.53: Potência ativa e reativa negativa.

Se θ está situado no 3o quadrante, 180o ≤ θ ≤ 270º, a potência útil P


é negativa e a potência reativa Q é negativa. Significa dizer que o
circuito exporta energia útil e energia reativa capacitiva. Corrente
adiantada da tensão.

d) Ângulo de defasagem no 4o quadrante:

Circuito
I
V Q

Figura 4.54: Potência ativa positiva e potência reativa negativa.

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4-43

Se θ está situado no 4o quadrante, 270o ≤ θ ≤ 360º, a potência útil P


é positiva e a potência reativa Q é negativa. Significa dizer que o
circuito importa ou absorve energia útil e fornece energia reativa
capacitiva. Corrente adiantada da tensão.

Note que para a condição de corrente atrasada da tensão ocorre


sempre o consumo de potência reativa. A potência reativa
consumida é indutiva e a ela é associada o sinal positivo. Por outro
lado, para a condição de corrente adiantada da tensão a potência
reativa é fornecida, e é considerada negativa. A potência útil, por
sua vez, pode tanto ser consumida como fornecida. Quando a
abertura angular entre tensão e corrente está compreendida entre -
90º ≤ θ ≤ 90º, a potência útil é absorvida, e quando 90º ≤ θ ≤ 270º
ocorre geração de potência útil.

P- P+
Q+ Q+

P- P+
Q- Q-

Figura 4.55: Fluxo de Potência.

O fator de potência (P/|S|) para a condição de potência útil negativa


(gerando) varia entre -1 e 0.

4.11 Transformadores

Os transformadores são equipamentos normalmente usados em


aplicações como fontes de potência, na distribuição e transmissão
de energia elétrica, e para acoplamento de sinais em sistemas de
comunicação.

A operação do transformador é baseada no princípio da indutância


mútua, que ocorre quando duas ou mais bobinas são colocadas
próximas uma das outras. Um transformador em geral tem duas
bobinas denominadas de bobina de primário e bobina de secunário.
Cada bobina tem um certo número de espiras, representada por Np
e Ns, respectivamente. A bobina de primário é alimentada por uma
fonte de tensão e à bobina de secudário é conectada a carga. A
bobina do primário é acoplada eletromagneticamente à bobina do

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4-44

secundário através da indutância mútua. Como não há contato


elétrico entre as duas bobinas magneticamente acopladas, a
transferência de energia de uma bobina para outra se dá em uma
situação de completa isolação elétrica.

4.11.1 Indutância Mútua

Quando uma bobina alimentada por uma fonte c.a. é colocada


próxima a uma outra bobina, um campo magnético variável causará
uma força eletromotriz (f.e.m) induzida na segunda bobina devido
ao fluxo variável que concatena as duas bobinas.

Seja υp(t) a tensão aplicada à bobina do primário, em que Vp


representa o valor eficaz de υp(t) e ω a freqüência angular da
tensão.
υ p (t ) = 2V p sen(ωt ) (4.98)

Lp
Ls

Figura 4.56: Transformador de dois enrolamentos.

A corrente alternada ip(t) que alimenta a bobina de primário produz


um fluxo magnético φ(t) cuja variação no tempo causa uma f.e.m.
induzida nas bobinas de primário e de secundário, definidas como:


e p (t ) = − N p ⋅
dt (4.99)
= − E p ⋅ sen(ωt )

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4-45


es (t ) = − N s ⋅
dt (4.100)
= − Es ⋅ sen(ωt )

Re-escrevendo a variação do fluxo no tempo, tem-se que:

dφ dφ di
= ⋅
dt di dt
di (4.101)
= L⋅
dt

em que L representa a variação do fluxo com a corrente, definida


como indutância. O valor da f.e.m induzida nas bobinas depende
da indutancia mútua L entre as duas bobinas. A indutância mútua é
estabelecida pela indutância de cada bobina (L1 e L2) e pelo
coeficiente de acoplamento k entre as duas bobinas.

Para maximizar o acoplamento, as duas bobinas são enroladas em


um núcleo comum.

4.11.2 Coeficiente de Acoplamento

O coeficiente de acoplamento k entre duas bobinas é a razão entre


o fluxo magnético (linhas de força) produzido pela bobina do
primário que concatena a bobina do secundário (φ) pelo fluxo total
produzido pela bobina do primário (φp).

φ
k= (4.102)
φp

Note que k representa a parcela de fluxo que alcança a bobina do


secundário do transformador.

Quanto maior o valor de k maior é a tensão induzida na bobina do


secundário para uma certa taxa de variação da corrente
(freqüência) na bobina do primário. Observe que k é admensional.
A unidade de fluxo magnético é weber (Wb).

O coeficiente de acoplamento depende da proximidade física das


bobinas e do tipo de material do núcleo sobre o qual as bobinas

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4-46

estão enroladas. A construção e a forma do núcleo também tem


influência sobre k.

4.11.3 Indutância Mútua

Os três fatores que têm influência sobre a indutância mútua L são:


coeficiente de acoplamento k, e as indutâncias prórpias L1 e L2, e
estão relacionados por:

L = k L1 L2 (4.103)

4.11.4 Tipos de Transformadores

Os elementos básicos de um transformador são as bobinas e o


núcleo. A bobina de primário é a bobina de entrada e a bobina de
secundário é a bobina de saída.

O núcleo de um transformador provê a estrutura física para


colocação das bobinas e o caminho magnético de modo que as
linhas de fluxo magnético são concentradas proximas às bobinas.

Existem em geral três categorias de mateial de núcleo: ar, ferrite


material cerâmico com propriedades eletromagnéticas) e ferro.
Transformadores de núcleo de ar e núcleo de ferrite geralmente
são usados para aplicações em alta freqüência. O condutor das
bobinas é recoberto de verniz para evitar curto-circuito entre as
espiras.

A intensidade do acoplamento magnético entre os enrolamentos de


primário e secundário é definido pelo tipo de material do núcleo e
pela posição relativa das bobinas. A maioria dos transformadores
com núcleo de ferro tem alto coeficiente de acoplamento (maior
que 0,99), enquanto que núcleo de ferrite e de ar têm menor valor.
Quando as bobinas são sepadas uma da outra o acoplamento é
fraco, e quando são sobrepostas o acoplamento é forte. Quanto
maior o acoplamento, maior a tensão induzida no secundário para
uma dada corrente no primário.

Os transformadores com núcleo de ferro, em geral, são usados


para freqüência de audio e aplicações de potência. Esses
transformadores consistem de enrolamentos em um núcleo
construído de lâminas de material ferromagnético isoladas uma das

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4-47

outras por uma camada de verniz. Esta construção proporciona um


fácil caminho para o fluxo magnético e aumenta o acoplamento
entre as bobinas. As configurações básicas de transformadores de
núcleo de ferro são de núcleo envolvido, em que cada bobina é
colocada em pernas separadas do núcleo, e núcleo tipo concha,
em que as duas bobinas estão na mesma perna do núcleo.

4.11.5 Relação de Espiras

Um parâmetro de transformador que é muito importante para


entender como opera um transformador é a relação de espiras. A
relação de espiras é definida como o número de espiras (voltas) na
bobina de primário (Np) em relação ao número de espiras da
bobina de secundário (Ns).

Np
a= (4.104)
Ns

Vale salientar que não existe uniformidade na definição de relaão


de espiras de um transformador, podendo ser definida como acima
bem como pela relação entre número de espiras do secundário
pelo número de espiras do primário. As duas definições estão
corretas desde que usadas consistentemente. A relação de espiras
de um transformador não é dada nas especificações de um
tranformador. Em geral, as tensões de entrada e de saída e a
potência nominal são especificados. No entanto, a relação de
espiras é útil para estudar o princípio de operação de um
tranfromador.

4.11.6 Direção dos Enrolamentos

Um outro importante parâmetro de um transformador é a direção


em que os enrolamentos são colocados em torno do núcleo. A
direção dos enrolamentos determina a polaridade da tensão
através do enrolamento secundário com relação à tensão através
do enrolamento primário. Pontos são usados como símbolos para
indicar polaridades (+).

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4-48

Figura 4.57: Polaridade das bobinas.

4.11.7 Transformadores Elevadores e Abaixadores

Um transformador em que a tensão de secundário é maior do que a


tensão de primário é dito ser transformador elevador. Ao contrário,
quando a tensão de secundário é menor do que a tensão de
primário, o transformador é dito ser abaixador.

Pela relação entre as Equações 4.99 e 4.100 verifca-se que a


razão da tensão de primário pela tensão de secundário é igual à
relação de espiras.

Ep Np
= (4.105)
Es Ns

Desta relação tem-se que:

⎛N ⎞
Es = ⎜ s ⎟⋅ Ep = 1 ⋅ Ep (4.106)
⎜N ⎟ a
⎝ p ⎠

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4-49

Figura 4.58: Transformador abaixador.

A relação de transformação de um elevador elevador é menor do


que 1 e a de um transformador abaixador é maior do que 1.

4.11.8 Carga no Secundário

Quando uma carga é conectada ao enrolamento secundário,


circulará uma corrente através da carga.

Em um transformador ideal a potência aparente de primário, Sp, é


igual à potência aparente de secundário, Ss. Isto significa que toda
energia de primário é transferida ao secundário. Assim

S p = E p I *p = S s = E s I s* (4.107)

A partir da Equação 4.104 e 4.105 tem-se que:


Ep ⎛I ⎞ N
=⎜ s ⎟ = p =a
E s ⎜⎝ I p ⎟
⎠ Ns (4.108)

ou

⎛ Np ⎞
I s = ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ I p = a ⋅ I p (4.109)
⎝ Ns ⎠

Sejam dois transformadores com relação de transformação 1:10 e


2:1, respectivamente. Se a corrente de primário em ambos
transformadores é igual a 100 mA, qual a corrente de carga?

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4-50

No transformador com relação 1:10, a corrente através da carga é


dada por:

⎛ Np ⎞
⎟⎟ ⋅ I p = ⎛⎜ ⎞⎟ ⋅ 100 = 10mA
1
I s = ⎜⎜
⎝ Ns ⎠ ⎝ 10 ⎠

No transformador com relação 2:1, tem-se que a corrente de carga


é:

⎛ Np ⎞
⎟⎟ ⋅ I p = ⎛⎜ ⎞⎟ ⋅ 100 = 200mA
2
I s = ⎜⎜
⎝ Ns ⎠ ⎝1⎠

Note que o transformador 1:10 é elevador (tensão) e sua corrente


de secundário deve ser menor que a corrente de primário pela lei
de conservação de energia. O transformador com relação de
transformação 2:1, trata-se de um transformador abaixador
(tensão) e, portanto, a corrente no secundário é maior que no
primário.

4.11.9 Carga Refletida

Do ponto de vista do circuito primário de um transformador, uma


carga conectada através dos terminais da bobina do secundário
parece ter uma impedância que não é necessariamente igual à
impedância da carga quando no secundário.

Sabe-se de 4.106 e 4.109 que:

Np
Ep = ⋅ Es
Ns

Ns
Ip = ⋅ Is
Np

A relação Ep/Ip resulta em:


2
⎛ Np ⎞
Z p = ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ Z L (4.110)
⎝ Ns ⎠

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4-51

A Equação 4.110 indica que a impedância da carga refletida para o


primário é o quadrado da relação de transformação vezes a
impedância da carga.

4.11.10 Casamento de Impedância

Uma aplicação de transformadores é no casamento de uma


impedância de carga à impedância de uma fonte a fim de obter-se
a máxima transferência de potência. Em sistema de áudio,
transformadores para casamento de impedância são
freqüentemente usados para máxima transferência de potência do
amplificador para o microfone.

Na maioria das situações práticas, a impedância interna da fonte de


vários tipos de fontes é fixa. De igual modo, em muitos casos, a
impedância de um dispositivo que atua como uma carga é fixa e
não pode ser alterada. Se uma dada fonte é conectada a uma dada
carga pode-se usar a característica de impedância refletida de um
transformador para fazer a impedância da carga parecer ter o
mesmo valor da impedância da fonte.

Considere uma resistência de entrada típica de um televisor como


sendo 300Ω. Uma antena deve ser conectada à entrada da TV por
um cabo para recepção do sinal de TV. Nesta situação a antena e
o cabo agem como a fonte, e a resistência de entrada da TV é a
carga.

É comum para uma antena ter característica de impedância de


75Ω. Isto significa que a antena e o cabo parecem uma fonte de
75Ω. Assim, se a fonte de 75Ω é conectada diretamente à entrada
da TV de 300Ω, uma máxima transferência de potência não será
entregue à entrada da TV, e a recepção do sinal da TV é pobre. A
solução é então conectar um transformador casador de impedância
a fim de casar a impedância de 300Ω da carga à impedância de
75Ω da fonte.

Para casar a impedância, i.é., refletir a impedância da carga (ZL)


para o primário do transformador para ter um valor igual à
impedância interna da fonte, deve-se selecionar uma relação de
transformação apropriada. A Equação 4.110 pode ser usada para
calcular a relação de transformação necessária.

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4-52

2
⎛ Np ⎞
Z p = ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ Z L
⎝ Ns ⎠

Zp 75 1
a= = =
ZL 300 2

O que significa que o número de espiras do primário é a metade do


número de espiras do secundário – transformador elevador.

Referências

[1] Floyd, T.L. Principles of Electric Circuits, 6th Ed. Prentice Hall,
2000. ISBN 0-13-095997-9.927p.

[2] Nilsson, James W., Reidel, Susan A., Circuitos Elétricos, LTC,
6a Edição, 2003.

[3] Kerchner, R.M., Corcoran,G.F., Circuitos de Corrente


Alternada, Porto Alegre, Globo, 1973.

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Capítulo 5 RESSONÂNCIA

Circuitos que contêm indutância e capacitância podem apresentar


o fenômeno denominado de ressonância que é importante em
muitas aplicações. A ressonância é a base para a seletividade de
freqüência em sistemas de comunicação. A capacidade de um
receptor de rádio ou televisão selecionar certa freqüência que é
transmitida por uma estação particular e, ao mesmo tempo,
eliminar freqüências de outras estações está baseado no princípio
da ressonância. Em sistemas de potência, o princípio da
ressonância é usado na filtragem de freqüências indesejadas à
operação adequada de uma carga.

As condições em um circuito RLC que produzem ressonância e as


características de circuitos ressonantes são abordadas neste
capítulo.

A ressonância pode ocorrer em circuitos RLC de estrutura série,


paralela ou mista.

5.1. Ressonância Série

Lembrando que reatância capacitiva varia com o inverso da


freqüência e que reatância indutiva varia diretamente com a
freqüência, o efeito combinado dessas reatâncias como função da
freqüência será examinado nesta seção.

No circuito RLC série, mostrado na Figura 5.1, será avaliado o


comportamento das reatâncias XL e XC e da corrente com a
freqüência da fonte de tensão senoidal.

Figura 5.1: Circuito Ressonante Série

A impedância do circuito é dada por:

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4-2

Z = R + jX L − jX C
(5.1)
= Z ∠ ±θ

2

+ ⎜ ωL −
1 ⎞
Z = R2 ⎟
⎝ ω C ⎠ (5.2)
−1
⎡ ωL − (1 / ωC ) ⎤
θ = ±tg ⎢ ⎥⎦
⎣ R

Pela equação de Z, verifica-se que para valores baixos de f ou ω,


XC é alto e XL é baixo e o circuito assume características
capacitivas (ângulo da impedância negativo). À medida que a
freqüência cresce XC decresce e XL aumenta até que XC=XL e as
duas reatâncias se cancelam tornando o circuito puramente
resistivo. Quando em um circuito RLC série XC=XL é dito que o
circuito está em ressonância. A freqüência em que ocorre a
ressonância é denominada de freqüência ressonante, ω0. Se a
freqüência cresce ainda mais XL torna-se maior do que XC, e o
circuito é predominantemente indutivo (ângulo da impedância
positivo).

Capacitivo Indutivo:
XC > XL XL > XC

Figura 5.2: Variação da impedância com a freqüência.

Na ressonância a magnitude da impedância é mínima, Z=R, e XL e


XC têm a mesma magnitude de modo que a freqüência ressonante
é dada por:

X L =X C (5.3)

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4-3

1
fo = (5.4)
2π LC

Quaisquer que sejam os valores de L e C haverá sempre uma


frequência para a qual surge o fenômeno de ressonância,
designada por frequência de ressonância (f0).

Na frequência ressonante f0, a impedância do circuito da Figura 5.1


torna-se:

Z=R

ou seja, a impedância atinge na ressonância série o seu


valor mínimo possível, igual ao valor da sua parte real (da
sua resistência). Para um dado valor da tensão aplicada ao
bipolo a corrente será máxima à frequência de ressonância.

Considerando que a amplitude da fonte de tensão permanece


constante à medida que sua freqüência varia, a amplitude da
corrente aproxima-se de zero para valores pequenos e grandes de ω.
− O capacitor impede a passagem de corrente a freqüências
baixas.
− O indutor impede a passagem de corrente a freqüências altas.

A magnitude da corrente no circuito é dada por:

V
I= (5.5)
R 2 +(ωL − 1 / ωC )2

A corrente atingirá valor máximo quando a freqüência for tal que


ω0L=1/ω0C, sendo ω0 a freqüência ressonante do circuito. O ângulo
da corrente é definido por:
−1
⎛ ω L − (1/ ωC ) ⎞
θ = ∓tg ⎜ ⎟ (5.6)
⎝ R ⎠

Para frequências abaixo ω0 o circuito apresenta natureza capacitiva


e o ângulo da corrente é positivo - corrente adiantada da tensão.
Ao contrário, para frequências acima de ω0 o circuito apresenta
natureza indutiva e o ângulo da corrente é negativo – corrente
atrasada da tensão. O gráfico da magnitude e do ângulo da

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4-4

corrente versus freqüência assume a forma mostrada nas Figuras


5.3 e 5.4.

Figura 5.3: Amplitude da corrente variando com a freqüência.

Ângulo de Fase da Corrente


◊ (grau)

ω◊ (rad/s)

Figura 5.4: Ângulo da corrente versus a freqüência.

Para freqüências abaixo de ω0, o circuito é capacitivo (XC>XL), a


corrente é adiantada da tensão, e o ângulo da corrente é positivo.
Para freqüências acima de ω0, o circuito é indutivo, a corrente é
atrasada da tensão, e o ângulo θ é negativo.

Na ressonância a corrente é limitada somente pela resistência do


circuito como mostra a Figura 5.5. Quanto maior a resistência,
menor a corrente na ressonância, e vice-versa.

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4-5

Figura 5.5: Variação da corrente para R grande e pequeno.

Com base nas Figuras 5.2 e 5.5, um circuito ressonante série tem
impedância mínima e corrente máxima na freqüência ressonante
ω0. Assim, na freqüência ressonante a tensão de entrada é
aplicada sobre o resistor.

Embora as reatâncias indutiva e capacitiva se anulem na


ressonância, a queda de tensão sobre cada um dos componentes
RLC do circuito não é nula. Na ressonância série, as tensões sobre
o indutor e sobre o capacitor são iguais em magnitude e defasadas
de 180º.
IXL

V
I IR

IXC
Figura 5.6: Diagrama fasorial de circuito RLC série em ressonância.

A queda na resistência é obtida por divisor de tensão:

R
VR = I R = VF (5.7)
2
⎛ 1 ⎞
R + ⎜ ωL −
2

⎝ ωC ⎠

A tensão no resistor, VR, varia proporcionalmente à corrente⏐I⏐e


tem o mesmo perfil da corrente.
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4-6

De modo semelhante, as quedas na capacitância e indutância são


dadas, respectivamente, por:

VC = I
1
=
(1ωC) VF (5.8)
ωC ⎛ 1 ⎞
2

R 2 + ⎜ ωL − ⎟
⎝ ωC ⎠

ωL
VL = I ωL = VF (5.9)
2
⎛ 1 ⎞
R 2 + ⎜ ωL − ⎟
⎝ ωC ⎠

A Figura 5.7 mostra as curvas de queda de tensão na resistência,


indutância e capacitância de um circuito série em função da
freqüência. A tensão VR tem seu valor máximo na freqüência
ressonante. A curva de VR é a imagem da curva I, pois VR=RI.
|VF|
vL

vR
vC

ω0

Figura 5.7: Tensão sobre resistor, indutor e capacitor.

Note que a tensão no capacitor é igual a da fonte, VC = VF, quando


f=0 porque nesta condição o capacitor oferece oposição infinita à
passagem de corrente, ou seja, é aberto. O valor máximo da
tensão no capacitor acontece para um valor de freqüência menor
do que a freqüência ressonante. Na ressonância XC é decrescente
(XC↓, f↑), ao passo que a corrente não varia (a declividade é nula).
A queda ⏐VC⏐=⏐I⏐XC deve, portanto, ser decrescente.
Conseqüentemente, a queda tem atingido seu valor máximo antes
da ressonância.

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4-7

Figura 5.8: Tensão VR, VL e VC.

Dependendo dos parâmetros do circuito RLC série, a tensão


máxima sobre o capacitor pode ser maior que a tensão da fonte,
como pode ser visto na Figura 5.8.

Para encontrar a freqüência à qual a magnitude de |VC| é máxima,


é obtida a derivada de ⏐VC⏐ (Equação 5.8) em relação a ω e então
calculado o valor de ω que torna a deriva nula.

d VC
=−
[( )
VF (1 2) 2 1 − ω 2 LC (− 2ωLC) + 2ωR 2 C 2 ]
[(1 − ω ]
(5.10)
dω )
32
LC + ω R C
2 2 2 2 2

O valor de ω maior do que zero que torna a derivada nula é:

2
1 1⎛R⎞
ω max = − ⎜ ⎟ (5.11)
LC 2 ⎝ L ⎠

Observe que ωmax < ω0. Substituindo ωmax em ⏐VC⏐, determina-se o


valor máximo de tensão a que o capacitor é submetido, i.é.

VF
VC (ω max ) = (5.12)
R 2C ⎛ R 2C ⎞
⎜1 − ⎟
L ⎜⎝ 4L ⎟⎠

O valor de capacitância para o qual a queda de tensão no capacitor


é máxima é obtido a partir da derivada de |VC| em relação a C, i.é.

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4-8

d VC
=0
dX C
(5.13)
L
C max = 2
R +X L 2

Substituindo (5.13) em (5.8) obtém-se o valor máximo de queda de


tensão sobre o capacitor com a variação de C:

VF
VC =
XL ⎛ R 2 + X L2 ⎞
R + ⎜⎜ X L −
2
⎟⎟
R + X L2
2
⎝ X L ⎠
VF (5.14)
=
⎛ 1 ⎞
BL R 2 + ⎜⎜ X L − ⎟⎟
⎝ B L ⎠

em que BL representa a susceptância indutiva do circuito série,


definida como:

XL
BL = (5.15)
R 2 + X L2

Note também que VL tende a VF quando f tende a infinito, i.é., toda


tensão da fonte é transferida para o indutor. A queda máxima de
tensão no indutor ocorre após a ressonância. No caso de
⏐VL⏐=⏐I⏐XL, tanto ⏐I⏐ como XL são crescentes antes da
ressonância e o produto deve ser crescente. Na ressonância, ⏐I⏐
não está variando, mas XL é crescente e, portanto, a queda é
crescente. A queda continua a crescer até que a diminuição de
corrente compense o aumento em XL. Este ponto pode ser
determinado por:



d VL ⎜ L
( ⎛
ωL ωL − 1ωC ⎜ L + C

) ⎞⎞
2 ⎟⎟
(ωC) ⎠ ⎟
=⎜ − ⎟ ⋅ VF (5.16)

( ) ( )
1 2 2 32
⎛ 2 1
2
⎜⎜ ⎜ R + ωL − ωC ⎟⎞ ⎛
⎜ R + ωL − ωC ⎟
2 1 ⎞ ⎟⎟
⎝⎝ ⎠ ⎝ ⎠ ⎠

O valor de ω que torna a derivada nula, e que, portanto


corresponde ao valor máximo de ⏐VL⏐ é dado por:

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4-9

L ± L2 − 4C 2 R 2
ω max = (5.17)
2C 2 R 2

O valor de indutância para o qual a queda de tensão através do


indutor é máxima é obtido a partir da derivada de |VL| em relação a
L, i.é.

d VL
=0
dX L
(5.18)
1 ⎛ R 2 +X C 2 ⎞
L max = ⎜⎜ ⎟⎟
2πf ⎝ XC ⎠
ou
(
L max = C R 2 + X C 2 ) (5.19)

A ressonância pode ser produzida num circuito série variando-se


ou f, ou L, ou C. As características gerais de um circuito em
ressonância são as mesmas, indiferentemente de qual seja o
parâmetro variado para produzir ressonância.

5.1.1 Filtro Passa-Faixa Série

Um filtro passivo Passa-Faixa é um circuito que permite a


passagem de sinais de tensão e corrente com freqüências situadas
numa faixa intermediária, atenuando os sinais com freqüências
abaixo ou acima dessa faixa. A faixa intermediária é delimitada por
uma freqüência de corte inferior (ωCI) e uma freqüência de corte
superior (ωCS).

Em um filtro passa-faixa ideal:


− Para sinais de freqüência intermediária, ou seja, acima da
freqüência de corte inferior e abaixo da freqüência de corte
superior do filtro, o ganho é unitário, portanto, o módulo do sinal
de saída é igual ao de entrada.
− Para sinais de freqüências abaixo da freqüência de corte inferior
ou acima da freqüência de corte superior o ganho do filtro é
nulo, ou seja, o módulo do sinal de saída é totalmente atenuado.

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4-10

Figura 5.9:

Um circuito RLC como o apresentado na Figura 5.10 pode


comportar-se como um filtro Passivo Passa-Faixa real.
Vout

Figura 5.10: Circuito de um Filtro Passivo Passa-Faixa Série.

Um filtro Passa-Faixa é baseado na ressonância que ocorre entre


indutores e capacitores em circuitos CA. Como visto nas Figuras
5.7 e 5.8, na freqüência ressonante a tensão nos terminais do
resistor é igual à tensão de entrada do circuito, portanto, um circuito
RLC série com saída em R apresenta característica de um filtro
passa banda com saída máxima na freqüência ressonante.

Para sinais de freqüências baixas o indutor do circuito da Figura


5.10 apresenta baixa reatância indutiva e tende a comportar-se
como um curto-circuito, porém, o capacitor apresenta alta reatância
capacitiva e tende a comportar-se como um circuito aberto. Desta
forma, a maior parcela da tensão de entrada estará sobre o
capacitor e a tensão sobre o resistor de saída será muito baixa, ou
seja, o sinal será atenuado. Pode-se dizer que o circuito “impede a
passagem” de sinais de baixa freqüência.

Para sinais de freqüências altas o capacitor apresenta baixa


reatância capacitiva e tende a comportar-se como um curto-circuito,
porém, o indutor apresenta alta reatância indutiva e tende a
comportar-se como um circuito aberto. Desta forma, a maior
parcela de tensão de entrada estará sobre o indutor e a tensão
sobre o resistor de saída será muito baixa, ou seja, o sinal será
atenuado. Pode-se dizer que o circuito “impede a passagem” de
sinais de alta freqüência.
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4-11

Para sinais de freqüências intermediárias, ou seja, sinais cujas


freqüências estiverem numa faixa próxima à freqüência de
ressonância do circuito, o indutor e o capacitor juntos apresentarão
baixa reatância e tenderão a comportarem-se como um curto
circuito. Desta forma, a maior parcela da tensão de entrada estará
sobre o resistor de saída. Pode-se dizer, então, que o circuito
“deixa passar” sinais dentro de uma determinada faixa de
freqüência.

5.1.1.1 Ganho e Fase

Para o circuito da Figura 5.10, a tensão de saída em função da


tensão de entrada pode ser dada pela expressão:
R
Vout = ⋅Vin (5.20)
R + j ( X L − XC )

Ou ainda:

Vout R
= ⋅
(
Vin R + j ω L − 1
ωC ) (5.21)

Operando na Eq. 5.21, obtém-se:


Vout R jω RC
= =
Vin jω RC + j ω LC + 1 1 − ω LC + jω RC
2 2 2

jωC
1 (5.22)
=
⎛ 1 − ω 2 LC ⎞
1− j ⎜ ⎟
⎝ ω RC ⎠

Portanto, a função de transferência para um Filtro Passa-Faixa é


dada por:

1
H (ω ) = (5.23)
⎛ 1 − ω 2 LC ⎞
1− j ⎜ ⎟
⎝ ω RC ⎠

Sabe-se que a função de transferência é uma grandeza complexa e


que o Ganho de Tensão é dado pelo módulo da Função de

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4-12

Transferência e a Fase é o ângulo, na forma polar. Portanto, as


expressões para o Ganho de Tensão e a Fase para um filtro
Passa-Faixa Série são, respectivamente:

1
GV = (5.24)
2
⎛ 1 − ω LC ⎞
2
1+ ⎜ ⎟
⎝ ω RC ⎠

⎛ 1 − ω 2 LC ⎞
α = tg ⎜
−1
⎟ (5.25)
⎝ ω RC ⎠

5.1.1.2 Freqüência de Corte

A faixa ou banda de passagem é uma importante característica de


um circuito ressonante. A banda de passagem é a faixa de
freqüências para a qual a resposta do circuito é igual ou maior que
70,7% de seu valor de entrada. Note que no circuito da Figura 5.10
a tensão de saída Vout é a imagem da corrente no circuito RLC.

Em um circuito RLC série a tensão VR é máxima na freqüência de


ressonância e cai para freqüências inferior e superior a ω0. A Figura
5.11 ilustra a banda de passagem na curva resposta de um circuito
RLC série. Note que ω1 anterior a ω0 corresponde ao ponto em que
a corrente é 0,707Imax e é comumente chamada de freqüência de
corte inferior. A freqüência ω2 acima de ω0 onde a corrente é
novamente 0,707Imax corresponde à freqüência de corte superior.
Outras denominações para ω1 e ω2 são freqüências críticas,
freqüências de -3 dB, e freqüências de meia potência.

Figura 5.11: Banda de passagem em um circuito RLC série ressonante.

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4-13

A expressão para a banda de passagem é, pois, definida como a


diferença de freqüência correspondente a 1/√2=0,707 do valor
máximo.

β = ω 2 − ω1 = f 2 − f 1 (5.26)

Segundo a Figura 5.11, a banda de passagem β corresponde à


faixa de freqüência para a qual a amplitude da tensão de saída é
dada por:

1 V
Vout = VR ≥ VR (ω0 ) = in (5.27)
2 2

O ganho na freqüência de corte é dado por:

Vout 1
GV = = = 0, 707 (5.28)
Vin 2

Então, com base na Eq. 5.24, para um Filtro Passa-Faixa RLC


série tem-se que:

1 1
= (5.29)
2
2 ⎛ 1 − ω 2 LC ⎞
1+ ⎜ ⎟
⎝ ω RC ⎠
que resulta em
2
⎛ 1 − ω 2 LC ⎞
1+ ⎜ ⎟ =2
⎝ ω RC ⎠
1 − ω 2 LC
=± 1
ω RC

Esta igualdade fornece duas equações de 2º grau:

ω 2 LC + ω RC − 1 = 0
(5.30)
ω 2 LC − ω RC − 1 = 0

Como a expressão do ganho é de 2a ordem, obtém-se duas


equações de 2o grau, cada uma com duas soluções que
corresponderão à freqüência de corte superior e à freqüência de
corte inferior do filtro passa-faixa série:

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4-14

2
R ⎛ ⎞ R 1
ω 1= − + ⎜ ⎟ +
2L
⎝ 2L ⎠ LC
(5.31)
2
R ⎛R⎞ 1
ω 2= + ⎜ ⎟ +
2L
⎝ 2L ⎠ LC

Substituindo a Equação 5.31 em 5.26, a largura da faixa de


passagem torna-se:

R
β = ω 2 − ω1 = [rad/s] (5.32)
L

As freqüências críticas ω1 e ω2 podem então ser re-escritas em


função de β e de ω0:

⎛ββ ⎞
2
ω 1 = − + ⎜ ⎟ + ω 02
2 ⎝2⎠
(5.33)
β ⎛β ⎞
2

ω 2= + ⎜ ⎟ + ω 02
2 ⎝2⎠

5.1.1.3 Freqüência Central

A freqüência central de um filtro passa-faixa ocorre justamente na


freqüência de ressonância e é dada pela média geométrica das
freqüências de corte, i.é.

ω0 = ω1ω2 [ rad s] (5.34)

Em casos ideais (R muito pequeno) a freqüência ressonante está


centralizada e pode ser definida como:

ω1 + ω 2
ω0 = (5.35)
2

Na condição de ressonância o ganho será unitário, pois, toda a


tensão de entrada estará disponível na saída. Assim,

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4-15

1
GV (ω0 ) = =1 (5.36)
2
⎛ 1 − ω LC ⎞
2
1+ ⎜ ⎟
⎝ ω RC ⎠

O que resulta para ω0:

1
ω0 = c.q.d (5.37)
LC

5.1.1.4 Freqüências de Meia Potência

A potência do sinal correspondente à faixa de freqüência Δω = ω2 -


ω1 é dada por:
⎛ I (ω0 ) ⎞
2 2
1 Vin
P ≥ R ⋅⎜ ⎟ = ⋅ (5.38)
⎝ 2 ⎠ 2 R

que corresponde à metade da potência do circuito ressonante.

1
O ponto de operação em que Vout = Vin é denominado de meia
2
potência.

As freqüências de corte inferior e superior são também


denominadas de freqüências de meia potência. Tal denominação
advém do fato de que a potência de saída a essas freqüências é
metade da potência entregue pela fonte na condição de
ressonância, ou seja, na ressonância,

Pmax = I max ⋅ R
2
(5.39)

A potência em ω1 ou ω2 é:

Pω1 = I ω1 ⋅ R
2

= (0,707 I max ) ⋅ R = (0,707 ) ⋅ I max ⋅ R


2 2 2

(5.40)
= 0,5 ⋅ I max ⋅ R
2

= 0,5Pmax

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4-16

5.1.1.5 Decibel (dB)

O Decibel é uma medida logarítmica da relação entre duas


grandezas físicas de mesma natureza, sendo adotado para
expressar o ganho nas curvas de resposta em freqüência de
circuitos eletrônicos. O nome Decibel deriva do sobrenome de
Alexander Graham Bell. Os logaritmos são usados para comprimir
escalas quando a faixa de variação de valor é muito ampla. O
Decibel (dB) equivale a um décimo de um Bel (B).
O decibel para a relação entre potência de saída e potência de
entrada de um filtro é expresso como:

⎛P ⎞
dB = 10 log⎜⎜ out ⎟⎟ (5.41)
⎝ Pin ⎠

Na freqüência crítica ou de corte a potência de saída é 50% da


potência de entrada, como visto na Equação 5.40. Assim, os
decibéis para esta condição de operação correspondem a:

dB = 10log ( 0,5) = −3db (5.42)

A freqüência de corte ou de meia potência é também conhecida


como freqüência de -3 dB.

As potências médias de entrada e de saída são dadas por:


Vin2
Pin = (5.43)
Rin
e
2
Vout
Pout = (5.44)
Rout

Calculando o ganho de potência em dB, tem-se:

⎛ Vout
2

⎛P ⎞ ⎜ R ⎟ ⎛ Vout
2
⋅ Rin ⎞ ⎡⎛ V ⎞ 2 R ⎤
= 10 log ⎜ out ⎟ = 10 log ⎜ 2 out ⎟ = ⎜ 2 ⎟ = 10 log ⎢⎜ ⎟ ⋅ ⎥
out in
GP.dB 10 log
⎝ Pin ⎠ V
⎜⎜ in R ⎟⎟ ⎝ Vin ⋅ Rout ⎠ ⎢⎣⎝ in ⎠
V Rout ⎥

⎝ in ⎠

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4-17

2
⎛V ⎞ ⎛ R ⎞
GP ,dB = 10 log ⎜ out ⎟ + 10 log ⎜ in ⎟
⎝ Vin ⎠ ⎝ Rout ⎠ (5.45)
⎛V ⎞ ⎛ Rin ⎞
= 20 log ⎜ out ⎟ + 10 log ⎜ ⎟
⎝ Vin ⎠ ⎝ Rout ⎠

Como o ganho de tensão é a relação entre a tensão de saída e a


tensão de entrada, pode-se concluir da equação 5.45 que o ganho
de tensão em dB é calculado pela expressão:

⎛V ⎞
GV ,dB = 20 log ⎜ out ⎟ (5.46)
⎝ Vin ⎠

Em condição de operação de casamento de impedância quando se


dá a máxima transferência de potência entre entrada e saída, tem-
se que Rin=Rout, e assim os ganhos de potência e tensão serão
iguais, ou seja,

⎛ R ⎞
10 log ⎜ in ⎟ = 10 log (1) = 0 (5.47)
⎝ Rout ⎠
e
GV ,dB = GP ,dB
⎛P ⎞ ⎛ Vout ⎞ (5.48)
10 log ⎜ out ⎟ = 20 log ⎜ ⎟
⎝ Pin ⎠ ⎝ Vin ⎠

5.1.1.6 Curvas Características de Filtro RLC Série Passa-Faixa

Com a expressão do ganho e da fase, podem-se traçar as curvas


de resposta em freqüência para o ganho e a fase de um filtro
passa-faixa RLC série, como indicam as Figuras 5.12.a e 5.12.b.

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4-18

Freqüências entre ω1 e
ω2 passam através do
filtro com amplitudes
maior ou igual a 70,7%
do máximo.
Freqüências fora da
banda são reduzidas a
menos que 70,7% do
máximo e consideradas
rejeitadas.

Figura 5.12.a: Curva de Resposta em Freqüência do Filtro Passa-Faixa RLC


Série – Ganho de Tensão

Figura 5.12.b: Curva de Resposta em Freqüência do Filtro Passa-Faixa RLC


Série – Fase

Para
ω→0⇒ XC → ∞ ⇒ Vout=0 ⇒ GV=0
α=arctg(1/0)= arctg(∞)=90º
ω→∞⇒ XL → ∞ ⇒ Vout=0 ⇒ GV=0
α= arctg(-∞)=-90º
ω=ω0 ⇒ Vout=Vin ⇒ GV=1
α= arctg(0)=0º

A curva do ganho de tensão em dB para um filtro passa-faixa RLC


série é apresentada na Figura 5.13. Utilizando o Diagrama de Bode
para representar o ganho de um filtro passa-faixa obtém-se o
gráfico da Figura 5.14.

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4-19

Figura 5.13: Curva de Resposta em Freqüência do Filtro Passa-Faixa RLC


Série. Ganho de Tensão em dB – Escala Logarítmica.

Figura 5.14: Curva de Resposta em Freqüência do Filtro Passa-Faixa RLC


Série. Ganho de Tensão em dB – Escala Logarítmica
Diagrama de Bode – Aproximação por Assíntotas.

A curva de resposta em freqüência para o ganho em Decibéis pode


ser dada pela expressão já conhecida:

GV ,dB = 20 log ( GV ) (5.49)

5.1.1.7 Seletividade

Um circuito seletivo restringe sua operação para uma determinada


faixa de freqüência, i.é.
− Transmite sinais a determinadas freqüências com maior
facilidade do que em outras freqüências.
− Elimina sinais de uma faixa de freqüência indesejada.

A curva resposta da tensão, mostrada nas Figuras 5.12 e 5.13, é


também denominada de curva de seletividade. A seletividade
define quão bem um circuito ressonante responde a certa
freqüência e discrimina as demais freqüências. Quanto mais
estreita a banda de passagem, maior a seletividade.

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4-20

Normalmente assume-se que um circuito ressonante aceita


freqüências dentro de sua banda de passagem e elimina
completamente as freqüências fora da banda. Na verdade, tal não
acontece, uma vez que sinais com freqüências fora da banda de
passagem não são completamente eliminados. Suas magnitudes,
entretanto, são bastante reduzidas. Quanto mais distante a
freqüência estiver das freqüências críticas, maior é a redução na
magnitude do sinal.

Outro elemento que influencia a seletividade é a declividade da


curva resposta. Quanto maior a declividade nas freqüências
críticas, maior a seletividade do circuito, ou seja, mais estreita é a
banda de passagem, como pode ser visto na Figura 5.15.

Maior
seletividade

Menor
seletividade

β1
β2

Figura 5.15: Curvas de seletividade.

5.1.1.8 Fator de Qualidade

Por definição o fator de qualidade ou grau de seletividade de um


circuito é a relação entre a reatância na frequência ressoante e a
resistência do circuito.

ω0 L
Q= (5.50)
R

Como a banda de passagem de um filtro RLC série passa faixa é


definida como sendo β=R/L, tem-se que o fator de qualidade pode
ser re-escrito como:

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4-21

ωo
Q= (5.51)
β

i.e. a relação da freqüência ressonante ωo pela largura da faixa de


passagem β.

Nota-se que quanto maior o fator de qualidade Q menor é a largura


da banda de passagem e, portanto mais seletivo é o circuito.

Em um circuito RLC série, Q pode ser expresso como:

ω o ω0 L 1 L
Q= = = (5.52)
β R R C

As freqüências críticas ou de meia potência podem também ser


expressas em função de ω0 e Q e a Equação 5.33 por ser re-escrita
como:

2
ω0 ⎛ω ⎞
ω 1= − + ⎜⎜ 0 ⎟⎟ + ω02
2Q ⎝ 2Q ⎠
⎡ ⎛ ⎞
2⎤
1 1
= −ω0 ⎢ − 1 + ⎜⎜ ⎟⎟ ⎥
⎢ 2Q ⎝ 2Q ⎠ ⎥⎦

ω0 ⎛ω ⎞
2 (5.53)
ω 2= + ⎜⎜ 0 ⎟⎟ + ω 02
2Q ⎝ 2Q ⎠
⎡ ⎛ ⎞
2⎤
1 1
= ω0 ⎢ + 1 + ⎜⎜ ⎟⎟ ⎥
⎢ 2Q ⎝ 2Q ⎠ ⎥⎦

Em um circuito com alto grau de seletividade tem-se que:

ωo β
ω 1≈ω o − =ω o −
2Q 2
ωo β (5.54)
ω 2 ≈ω o + =ω o +
2Q 2

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4-22

A Equação 5.54 mostra que circuitos com alto grau de seletividade


a freqüência ressonante está centralizada entre as freqüências
críticas, podendo ser calculada pela média aritmética de ω1 e ω2.

A magnitude da tensão VL e VC à freqüência ressonante em função


de Q é definida como:

VF
V L = I(ω o )ω o L = ω o L = Q ⋅ VF
R
I(ω o ) VF (5.55)
VC = = = Q ⋅ VF
ω oC ω o CR

A Equação 5.55 demonstra as curvas de tensão sobre os


componentes do circuito RLC série apresentadas nas Figuras 5.7 e
5.8. Para Q<1 a tensão |VL(ω0)| e |VC(ω0)| são menores que |VF|
(Figura 5.7), e para Q>1 tem-se o contrário, |VL(ω0)|= |VC(ω0)|> |VF|
(Figura 5.8).

O valor máximo de tensão a que o capacitor é submetido pode


também ser definido em função de Q. Tem-se, a partir da Equação
5.12 que:
VF
VC (ω max ) =
R 2C ⎛ R 2C ⎞
⎜1 − ⎟
L ⎜⎝ 4L ⎟⎠
1 (5.56)
= ⋅ VF
1 ⎛ 1 ⎞
⋅ ⎜1 − ⎟
Q ⎝ 4Q 2 ⎟⎠
2 ⎜

Para circuitos com alto grau de seletividade (Q grande) |VC(ωmax)|


aproxima-se de Q.|VF|, como mostrado anteriormente, significando
que ωmax tende a ω0.

5.1.2 Filtro RLC Série Rejeita Banda

Como visto na análise dos circuitos RC e RL, o mesmo circuito


pode se comportar como dois tipos de filtros diferentes,
dependendo do local em que é retirada a tensão de saída. De
modo semelhante ocorre para o circuito RLC série. Quando a saída
em um circuito RLC série é tomada sobre R, o circuito apresenta

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4-23

comportamento como o da Figura 5.12. Quando a saída em um


circuito RLC série é tomada sobre os componentes LC como na
Figura 5.16, o circuito deixa passar todos os sinais cujas
freqüências estejam fora de certa faixa, definida por duas
freqüências de corte, e rejeita os sinais cujas freqüências estejam
dentro desta faixa.
Vout

Figura 5.16: Filtro Série Ressonante Rejeita-Faixa.

Um filtro passivo rejeita-faixa é um circuito que atenua, “impede” a


passagem de sinais de tensão e corrente com freqüências situadas
numa faixa intermediária, “permitindo” a passagem de sinais com
freqüências acima ou abaixo dessa faixa. Essa faixa intermediária é
delimitada por uma freqüência de corte inferior (ωCI) e uma
freqüência de corte superior (ωCS).

A Figura 5.16 mostra a curva resposta em freqüência de um filtro


rejeita-faixa ideal:
− Para sinais de freqüências intermediárias, ou seja, acima da
freqüência de corte inferior e abaixo da freqüência de corte
superior do filtro, o ganho é nulo, portanto, o módulo do sinal de
saída é totalmente atenuado (zero).
− Para sinais de freqüências abaixo da freqüência de Corte inferior
ou acima da freqüência de corte superior, o ganho do filtro é
unitário, ou seja, o módulo do sinal de saída é igual ao de
entrada.

Figura 5.16: Curva de Resposta em Freqüência


para um Filtro Rejeita-Faixa Ideal

Na prática, porém, não é possível obter a resposta em freqüência


de um filtro rejeita-faixa ideal. A Figura 5.17 mostra a resposta dos
filtros RLC série passa-faixa e rejeita-faixa.

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4-24

(a) (b)
Figura 5.17: (a) Filtro ressonante passa-faixa com resposta sobre R; (b) Filtro
ressonante rejeita-faixa com resposta sobre LC.

Um filtro RLC série rejeita-faixa é baseado no princípio da


ressonância que ocorre entre indutores e capacitores em circuitos
CA. Sabe-se que para ω=0 o indutor se comporta como um curto
circuito e o capacitor como um circuito aberto, enquanto que para
ω=∞ o capacitor se comporta como um curto circuito e o indutor
como um circuito aberto. Assim, nota-se na Figura 5.18 que para
baixas freqüências, a maior parcela da tensão da fonte (sinal de
entrada) estará aplicada sobre o capacitor e a tensão sobre o
resistor será muito baixa, i.é., sinal de saída será praticamente
igual ao sinal de entrada, e que para altas freqüências, a maior
parcela da tensão de entrada estará aplicada sobre o indutor, i.é,
sinal de saída praticamente igual ao de entrada.

Na faixa de freqüências entre ω=0 e ω=∞, o indutor e o capacitor


têm impedâncias finitas, diferentes de zero e de sinais opostos. À
medida que a freqüência aumenta a partir de zero, a impedância do
indutor aumenta e a do capacitor diminui. Para algum valor de
freqüência entre as duas freqüências de corte, na freqüência
ressonante, as impedâncias do indutor e do capacitor terão
módulos iguais e sinais opostos. Nesta freqüência, a combinação
em série do indutor e do capacitor se comporta como um curto
circuito e, portanto a tensão de entrada estará aplicada sobre o
resistor e a tensão de saída será nula. Esta é a freqüência central
do filtro de banda de rejeição. Pode-se dizer, então, que o circuito
“impede a passagem” (rejeita) sinais dentro de uma determinada
faixa de freqüências.

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4-25

Figura 5.18: Filtro RLC série rejeita-faixa.

Os filtros de banda de rejeição são caracterizados por parâmetros


semelhantes aos de passa-faixa: duas freqüências de corte,
freqüência ressonante, banda rejeitada e fator de qualidade. A
definição desses parâmetros é exatamente da mesma forma que
para o filtro de banda de passagem.

Os filtros de banda de passagem e os filtros de banda de rejeição


desempenham, portanto papéis complementares no domínio da
freqüência.

5.1.2.1 Ganho e Fase

Para o circuito da Figura 5.16, a tensão de saída em função da


tensão de entrada pode ser dada pela expressão:

j ( X L − XC )
Vout = ⋅ Vin (5.57)
R + j ( X L − XC )

Fatorando a expressão, obtém-se:

Vout 1
=
Vin 1 − j R
( X L − XC )
ou
Vout 1
=
Vin ⎛ ω RC ⎞
1+ j ⎜ ⎟
⎝ 1 − ω LC ⎠
2

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4-26

Portanto, a função de transferência para um filtro rejeita-faixa série,


é dada por:

1
H (ω ) = (5.58)
⎛ jω RC ⎞
1+ ⎜ ⎟
⎝ 1 − ω LC ⎠
2

O ganho de tensão e a fase para um filtro rejeita-faixa série são,


respectivamente:

1
GV = (5.59)
⎛ ω RC ⎞
2

1+ ⎜ ⎟
⎝ 1 − ω LC ⎠
2

⎛ ω RC ⎞
α = tg −1 ⎜ ⎟ (5.60)
⎝ 1 − ω LC ⎠
2

5.1.2.2 Freqüência de Corte

Sabe-se que o ganho de tensão na freqüência de corte é:

1
GV ,ωC = = 0, 707
2

Então, para um filtro rejeita-faixa RLC série tem-se que:

1 1
= (5.61)
⎛ ω RC ⎞
2
2
1+ ⎜ ⎟
⎝ 1 − ω LC ⎠
2

Elevando ao quadrado ambos os lados e operando a Eq. 5.61,


obtém-se:
ω RC
=± 1
1 − ω 2 LC

o que resulta em duas equações do segundo grau:

ω 2 LC + ω RC − 1 = 0
(5.62)
ω 2 LC − ω RC − 1 = 0

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4-27

Como a expressão do ganho é de segunda ordem, obtêm-se duas


equações de segundo grau, cada uma como duas soluções que
corresponderão à freqüência de corte inferior e à freqüência de
corte Inferior do filtro rejeita-faixa RLC série.

2
R ⎛ R ⎞ 1
ω1 = − ± ⎜ ⎟ +
2L ⎝ 2 L ⎠ LC
(5.63)

2
R ⎛ R ⎞ 1
ω2 = ± ⎜ ⎟ +
2L ⎝ 2 L ⎠ LC

A largura da faixa de passagem torna-se:

R
β = ω2 − ω1 = [rad/s] (5.64)
L

5.1.2.3 Freqüência Central

A chamada freqüência central de um filtro rejeita-faixa ocorre


justamente na freqüência de ressonância. Sabe-se que para haver
ressonância série é necessário que as reatâncias capacitiva e
indutiva do circuito se anulem e se comportem como um curto-
circuito.

Nesta situação o ganho será nulo, pois, como pode ser visto no
circuito da Figura 5.16, a reatância total da saída será zero e o seu
comportamento tenderá a um curto-circuito e a tensão de saída
será nula e toda a tensão de entrada estará sobre o resistor. Assim,
para que a expressão do ganho seja igual a zero é necessário que
o termo do denominador seja igual a um valor infinito, então:

GV = 0
1
=0 (5.65)
2
⎛ ω RC ⎞
1+ ⎜ 0 2 ⎟
⎝ 1 − ω0 LC ⎠

Para que se verifique esta igualdade, o denominador deve ser


infinito. Para tanto:

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4-28

1 − ω02 LC = 0
ω02 LC = 1 (5.66)
1
ω0 =
LC

5.1.2.4 Curvas Características

A partir das expressões do ganho e da fase, podem-se traçar as


curvas de resposta em freqüência para o ganho e a fase de um
filtro rejeita-faixa RLC série, como indicam as Figuras 5.19.a e
5.19.b.

Figura 5.19.a: Curva de Resposta em Freqüência do Filtro Rejeita-Faixa RLC


Série – Ganho de Tensão

Figura 5.19.b: Curva de Resposta em Freqüência do Filtro Rejeita-Faixa RLC


Série – Fase

Para
ω→0⇒ XC → ∞ ⇒ Vout= Vin ⇒ GV=1
α=arctg(0/1)= arctg(0)=0º
ω→∞⇒ XL → ∞ ⇒ Vout= Vin ⇒ GV=1

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4-29

α= arctg(1/∞)= arctg(0)=0º
ω= ω0 ⇒ Vout=0 ⇒ GV=0
α= arctg(ω0RC/±0)= ±90º

A resposta em freqüência para o ganho em dB é apresentada na


Figura 5.20. Na Figura 5.21 é apresentado o Diagrama de Bode
para representar o ganho em dB de um filtro rejeita-faixa série.

Figura 5.20: Curva de Resposta em Freqüência do Filtro Rejeita-Faixa RLC


Série. Ganho de Tensão em dB (Escala logarítmica).

Figura 5.21: Diagrama de Bode - Curva de Resposta em Freqüência do


Filtro Rejeita-Faixa RLC Série. Ganho de Tensão em dB (escala logarítmica)

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5.2. Ressonância Paralela

Em um circuito paralelo ideal a ressonância ocorre quando a


componente imaginária da corrente IL é igual à IC, neste caso, como
a mesma tensão é aplicada sobre L e C, tem-se que XC=XL, como
no circuito série.
I

VF ~ IL L C IC

Figura 5.21: Circuito ressonante paralelo.

Quando XC=XL, a duas correntes IC e IL são iguais em magnitude, e


defasadas de 180º. Portanto, as correntes se cancelam e a
corrente reativa resultante é nula, I=0. A freqüência a qual ocorre
ressonância é a mesma do circuito série.

1
f0 = (5.67)
2π ⋅ LC

O circuito ressonante paralelo da Figura 5.21 é comumente


chamado de circuito tanque ideal. O termo ‘circuito tanque’ refere-
se ao fato de que o circuito ressonante paralelo armazena energia
no campo magnético da bobina e no campo elétrico do capacitor. A
energia armazenada é transferida ciclicamente entre capacitor e
bobina a cada meio ciclo.

No circuito tanque ideal a corrente total da fonte na ressonância é


nula porque a impedância é infinita.

X L ⋅ XC
Z =−j (5.68)
X L − XC

Enquanto em um circuito série ressonante a impedância é mínima,


em um circuito ressonante paralelo a impedância é máxima e
decresce para pequenas e grandes freqüências como indicado na
Figura 5.22. Portanto, no circuito RLC ressonante paralelo ocorre o
contrário do circuito série ressonante, ou seja, a maior oposição
possível a passagem da corrente.

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4-31

Indutivo Capacitivo

X L < XC X C < XL

Figura 5.22: Curva da impedância total em circuito paralelo.

Para freqüências muito baixas, XL é bem pequena e XC muito alta,


e a impedância total é essencialmente igual àquela do ramo
indutivo. Quando a freqüência cresce, a impedância também
cresce, e a reatância indutiva domina (porque é menor do que XC)
até a freqüência ressonante ser alcançada. Na ressonância XC ≅ XL
(para Q>10) e a impedância é máxima. À medida que a freqüência
cresce acima de ω0, a reatância capacitiva domina (porque é menor
do que XL) e a impedância vista da fonte diminui.

5.2.1 Ressonância em Circuito Paralelo

Seja o circuito apresentado na Figura 5.23 para o qual serão


avaliados a corrente total, a corrente no ramo indutivo e capacitivo
e o fator de potência do circuito.

R2
R1 1
V1 1 5
1Vac
0Vdc L1
53.05m
C1
132.626u
2
0

Figura 5.23: Circuito paralelo.

Note que para freqüências baixas, enquanto a corrente no ramo


capacitivo é muito pequena (XC→∞ quando f→0), a corrente no
ramo indutivo é praticamente resistiva (XL→0 quando f→0) e o fator
de potência unitário. Situação análoga ocorre para freqüências bem
maiores que a freqüência ressonante, fator de potência torna-se
unitário. Na ressonância, a componente imaginária da corrente no
ramo indutivo (-jIL) é igual à do ramo capacitivo (jIC) e o fator de
potência do circuito unitário. No entanto, para o circuito da Figura
5.23 a corrente no ramo indutivo não necessariamente é igual à
corrente do ramo capacitivo na condição de ressonância.

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4-32

Considerando um circuito paralelo genérico como o mostrado na


Figura 5.23, tem-se para a admitância:

Y = Y1 + Y2
1 1
= +
RL + jX L RC − jX C
⎛ R X ⎞ ⎛ R X ⎞ (5.69)
=⎜ 2 L 2 − j 2 L 2 ⎟+⎜ 2 C 2 + j 2 C 2 ⎟
⎝ RL + X L RL + X L ⎠ ⎝ RC + X C RC + X C ⎠
⎛ R R ⎞ ⎛ X X ⎞
= ⎜ 2 L 2 + 2 C 2 ⎟+ j⎜ 2 C 2 − 2 L 2 ⎟
⎝ RL + X L RC + X C ⎠ ⎝ RC + X C RL + X L ⎠

Com a admitância Y da Equação 5.68 multiplicada por VF obtém-se


a corrente total do circuito, formada por suas componentes resistiva
e reativa. Note que tanto a condutância como a susceptância da
admitância Y variam com a freqüência. Na ressonância, a
componente reativa da corrente, e, por conseguinte, a
susceptância, é nula, i.é., a susceptância capacitiva é igual à
susceptância indutiva.
1
ωL ωC
= (5.70)
RL2 + (ω L )
2 2
⎛ 1 ⎞
RC + ⎜
2

⎝ ωC ⎠

Na ressonância a admitância do circuito é mínima e dada por:

⎛ RL
Y (ω0 ) = ⎜ 2 + 2 =
2 2
(
RC ⎞ RL RC + X C + RC RL + X L
2 2
) ( ) (5.71)
2 ⎟
⎝ RL + X L RC + X C ⎠
2
RL2 + X L2 RC2 + X C2 ( )( )
Por sua vez, na ressonância a impedância do circuito vista pela
fonte é máxima e dada por:

Z ( ω0 ) =
1
=
(R 2
L + X L2 )( R
2
C + X C2 ) (5.72)
Y ( ω0 ) (
RL R + X
2
C
2
C ) + R (R
C
2
L + X L2 )
Para RL=RC=0, a admitância na ressonância é nula e a impedância
infinita, e o circuito torna-se como o da Figura 5.21.

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4-33

5.2.2.1 Freqüência Ressonante em Circuito RLC Paralelo

Pela Equação 5.69 verifica-se que a ressonância em um circuito


paralelo pode ser obtida pela variação de ω, RL, RC, L e C.

Da Equação 5.69 tem-se que a freqüência ressonante em um


circuito RLC paralelo é dada por:

RL2C − L
RC2 C − L
ω0 = (5.73)
LC

A. Circuito Não Ressonante

Quando RL2C > L e RC2 C < L ou RL2C < L e RC2 C > L o termo sob o
radical no numerador da Equação 5.72 torna-se negativo e a raiz
imaginária e, portanto nenhuma freqüência real produzirá
ressonância. Portanto, há valores de RL, C, RC, e L num circuito
paralelo, para os quais a ressonância em paralelo é impossível,
qualquer que seja a freqüência. Isto está em oposição com os
circuitos série contendo R, L e C onde há sempre alguma
freqüência ressonante real para quaisquer valores dos três
parâmetros.

Se RL e RC são iguais ω0 na Equação 5.72 torna-se:

1
ω0 = (5.74)
LC

e igual à freqüência ressonante de um circuito RLC série. Esta


equação é também correta quando RL=RC=0 e pode,
conseqüentemente, ser usada como uma boa aproximação quando
RL e RC são muito pequenos.

B. Ressonância Independente da Freqüência

Para alguns valores dos parâmetros RL, RC, L e C conectados


como na Figura 5.23, o circuito opera em ressonância para todas
as freqüências. Pela Equação 5.69, a condição para ressonância
em paralelo é:

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4-34

1
ωL ωC
=
R + (ω L )
2 2
⎛ 1 ⎞
2
L
RC2 + ⎜ ⎟
⎝ ωC ⎠
1 ω 2C 2 ωC
= ⋅ 2 2 2 =
ωC RCω C + 1 1 + ω 2C 2 RC2
ou
1 1
2
= (5.75)
R 1
+ ω2L
L + ω 2CRC2
L C

Para ser independente da freqüência, uma inspeção da Equação


5.74 mostrará que as duas condições seguintes devem ser
impostas simultaneamente.

RL2 1 L
Condição 1: = ou RL =
L C C

L
Condição 2: CR C2 = L ou R C =
C

Portanto, para ressonância em todas as freqüências:

L
RL = RC = (5.76)
C

Como o circuito está em ressonância (susceptância resultante


nula), sua admitância deve ser a condutância resultante. Portanto:

L L
C C C
Y=G= + =
L L 1 L
+ ω 2 L2 + 2 2
C C ω C
e
L
Z= (5.77)
C

A Equação 5.76 mostra que a impedância do circuito é, também,


independente da freqüência. Assim, quando RL=RC=√L/C, uma
disposição do circuito como o da Figura 5.23 estará em
ressonância em todas as freqüências e com a mesma impedância
√L/C para todas elas.
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4-35

Em circuitos paralelos com ramo puramente resistivo, a resistência,


R, do ramo paralelo não tem influência sobre a condição de
ressonância.

RL RC

CA
R
L
C

Figura 5.24: Circuito RLC Paralelo.

Y = Y1 + Y2 + Y3
1 1 1
= + + (5.78)
RL + jX L RC − jX C R
⎛1 R R ⎞ ⎛ X X ⎞
=⎜ + 2 L 2 + 2 C 2 ⎟+ j⎜ 2 C 2 − 2 L 2 ⎟
⎝ R RL + X L RC + X C ⎠ ⎝ RC + X C RL + X L ⎠

5.2.2 Ressonância em Circuito Tanque Não Ideal

Para o circuito da Figura 5.25, com R representando a resistência


da bobina e tendo-se desprezado a resistência no ramo capacitivo,
são apresentadas as curvas de impedância total, corrente total e
fator de potência de deslocamento mostradas na Figura 5.26.

R5
V3 1 100
10Vac C3
0Vdc L3 0.05u
0.1

2
0

Figura 5.25: Circuito Paralelo com Resistência na Bobina.

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4-36

Figura 5.26: Curvas de Impedância Total, Corrente Total e Fator de Potência


de Deslocamento.

A Figura 5.26 mostra que na ressonância a impedância do circuito


é máxima e o fator de potência de deslocamento é unitário. A curva
da impedância da Figura 5.26 mostra que embora na ressonância a
impedância seja máxima, tal condição não assegura que a corrente
seja mínima na ressonância. A corrente será mínima na
ressonância quando a condutância for constante.

Os circuitos ressonantes em paralelo oferecem o máximo de


oposição à frequência de ressonância do circuito, quer isto dizer
que oferecem o máximo de oposição à frequência de ressonância
do circuito, e deixam passar, quase sem oposição, todas as outras
frequências que sejam diferentes da frequência de ressonância.

Os circuitos ressonantes em série funcionam ao contrário dos


primeiros, ou seja, oferecem o mínimo de oposição à frequência
ressonante do circuito quer isto dizer que deixam passar através
deles sem oposição quase nenhuma a frequência de ressonância e
oferecem o máximo de oposição a todas as frequências que se
afastem da frequência de ressonância do circuito. A tendência
destes circuitos em bloquear ou deixar passar todas as frequências
que não sejam as de ressonância aumenta à medida que essas
frequências se vão afastando da frequência de ressonância.

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4-37

5.2.2.1 Banda de Passagem, Freqüências de Corte e Fator Q.

Em um circuito RLC paralelo alimentado por uma fonte de tensão


senoidal, a tensão de saída sobre cada um dos ramos paralelos do
circuito é a mesma da entrada.

Ao conectarmos um circuito RLC paralelo a uma fonte de corrente


senoidal, tem-se que o circuito da Figura 5.25 torna-se como o
mostrado na Figura 5.26.

Figura 5.26: Circuito RLC Paralelo Alimentado por Fonte de Corrente.

A corrente total do circuito da Figura 5.26 é dado por:

I = (Y1 + Y2 + Y3 ) ⋅ V
⎡1 R ⎛ 1 X ⎞⎤ (5.79)
= ⎢ + 2 L 2 + j⎜ − 2 L 2 ⎟ ⎥ ⋅V
⎢⎣ R RL + X L ⎝ X C RL + X L ⎠ ⎥⎦

Na ressonância, a freqüência que anula a susceptância da


Equação 5.78 é igual a:

RL2C
L−R C 2 1−
ω0 = L
= L (5.80)
2
CL LC

A Equação 5.78 pode ser re-escrita para o módulo da tensão como:

I
V = (5.81)
G 2 + ( BC − BL )
2

Para uma fonte de corrente de magnitude constante, o


comportamento da tensão à medida que a freqüência da fonte varia
é semelhante ao comportamento da corrente no circuito RLC série
apresentado na Figura 5.3. Na ressonância, a admitância total é
mínima, puramente condutiva, e igual à G; em outras palavras, a
impedância total é máxima, puramente resistiva. A curva resposta

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4-38

da tensão é, portanto, a imagem da curva resposta da impedância,


o que indica que na ressonância a tensão nos ramos paralelos é
máxima. A Figura 5.27, que mostra a curva da impedância, é a
resposta da tensão em função da freqüência ω.

Zmax
0,0707.Zmax

ω1 ω2
Figura 5.27: Freqüência ressonante e banda de passagem da curva resposta
de Z para um circuito RLC paralelo.

Para determinar a largura de faixa, a freqüência central e o fator de


qualidade, a análise aplicada para um circuito RLC série pode, com
poucas mudanças na notação, ser empregada para um circuito
RLC paralelo. Comparando-se a Equação 5.5 para um circuito RLC
série com a Equação 5.80 de um circuito RLC paralelo, observa-se
uma correspondência que permite interpretar a Figura 5.3 como a
resposta de tensão em função de ω.

Como G na Equação 5.80 corresponde a R na Equação 5.5 e BC a


XL e BL a XC, a banda de passagem para o circuito paralelo pode
ser expressa, com a devida analogia, à largura da banda de
passagem do circuito série (Equação 5.32), como,

G
β= (5.82)
C

Considerando o circuito tanque não ideal apresentado na Figura


5.26, em que RC=0, e para condições práticas em que a resistência
da bobina RL é muito pequena quando comparada a ωL, ou seja,

RL2 << ω 2 L2 (5.83)

A banda de passagem é dada por:

1 R
+ 2L 2
β= R ω L (5.84)
C

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4-39

Para uma fonte de corrente ideal, R é infinito e a Equação 5.83 é


simplificada tornando-se igual a:

RL
β=ω L
2 2
(5.85)
C

Como mencionado anteriormente, em um circuito RLC paralelo a


impedância é máxima na freqüência de ressonância e cai para
freqüências inferior e superior a ω0. A banda de passagem em um
circuito RLC paralelo é a faixa de freqüências para a qual a
impedância no circuito é igual ou maior do que 70,7% de seu valor
ressonante, |Z(ω0)|=|Zmax|; ω1 é a freqüência crítica inferior e ω2 é a
freqüência crítica superior, como ilustra a Figura 5.27.

Assim,

Z(ω 0 ) =
1 1
Z≥ (5.86)
2 2 ⋅G

2G ≥ Y = G 2 + ( BC − BL ) (5.87)
2

Resolvendo a equação para os dois valores positivos de ω, ou


obtendo-os por analogia à Equação 5.31, têm-se as freqüências
críticas ou de corte para o circuito paralelo.

2
G ⎛G ⎞ 1
ω1 = − + ⎜ ⎟ + (5.88)
2C ⎝ 2C ⎠ LC

2
G ⎛G ⎞ 1
ω2 = + ⎜ ⎟ + (5.89)
2C ⎝ 2C ⎠ LC

As frequências de corte obtidas a partir das Equações 5.88 e 5.89


serão tanto mais precisas quanto maior for o fator de qualidade Q
do circuito.

A freqüência ressonante obtida pela média geométrica das


freqüências de corte resulta em:

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4-40

1
ω 0 = ω1 ⋅ ω 2 = (5.90)
LC

Note que a expressão de ω0 em (5.89) difere da Equação 5.80,


sendo a primeira obtida para bobinas com alto fator de qualidade
Q, ou seja, RL<<XL.

O fator de qualidade de um circuito paralelo pode então ser


calculado como:

ω0 1 C
Q= = (5.91)
β G L

Note que a Equação 5.90 é análoga à Equação 5.51.

Sabendo-se que o fator de qualidade de uma bobina é dado por:

XL
Q= (5.92)
RL

Tem-se que a freqüência ressonante em função de Q do circuito


tanque não ideal é dada por:

XL
= ωC
R + X L2
2
L

⎛ Q2 +1⎞ 1
ωL⎜⎜ ⎟⎟ = ∴
⎝ Q ⎠ ωC
2

1 Q2
ω0 = (5.93)
LC Q2 +1

Quando Q≥10, o termo em Q sob a raiz é aproximadamente igual a


1 e a freqüência ressonante paralela é aproximadamente a mesma
que para a freqüência ressonante série.

1
ω0 ≅ para Q≥10 (5.94)
LC

A expressão precisa para ω0 é raramente necessária e a equação


simplificada ω0=1/√LC é suficiente para a maioria das situações
práticas.

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4-41

Como nos circuitos RLC série, as freqüências de corte ω1 e ω2 dos


circuitos RLC paralelos podem ser expressas em função de β e ω0
e também de ω0 e Q.

β
⎛β ⎞
2

ω1 = − + ⎜ ⎟ + ω 02 (5.95)
2 ⎝2⎠

β ⎛β ⎞
2

ω 2 = + ⎜ ⎟ + ω 02 (5.96)
2 ⎝2⎠

ou
⎡ ⎛ ⎞
2⎤
1 1
ω 1 = −ω0 ⎢ − 1+ ⎜ ⎟ ⎥
⎢ 2Q ⎝ 2Q ⎠ ⎥
⎣ ⎦
(5.97)
⎡ ⎛ 1 ⎞ ⎤⎥
2
⎢ 1
ω 2 = ω0 + 1+ ⎜ ⎟
⎢ 2Q ⎝ 2Q ⎠ ⎥⎦

Para condições em que (1/2Q)2 << 1 tem-se que:

ω0
ω 1= −
2Q
(5.98)
ω0
ω 2=
2Q

e
ω0
β = ω 2 − ω1 = (5.99)
Q

Um alto valor de Q do circuito resulta em uma estreita banda de


passagem. Um valor menor de Q causa uma banda mais larga.

5.2.2.2 Equivalência de Circuitos Tanques

Considere um circuito tanque não ideal e o circuito RLC paralelo


equivalente como mostra a Figura 5.28.

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4-42

Rw 1

1
C
Rp Lp C
L

2

(a) (b)
Figura 5.28: Circuito tanque não ideal e RLC paralelo equivalente.

O fator de qualidade Q do circuito em ressonância é igual ao fator


Q da bobina.

X L ωL
Q= = (5.100)
RL RL

A equivalência entre os circuitos da Figura 5.28.a e 5.28.b é dada


por:

RL ωL 1 1
−j 2 = −j (5.101)
R +ω L
2
L
2 2
RL + ω L
2 2
Rp ωL

O ramo capacitivo é o mesmo para os dois circuitos. Assim,

RL2 + ω 2 L2 ⎛ ω 2 L2 ⎞
Rp = (
= RL ⎜ 2 + 1⎟ = RL Q 2 + 1 ) (5.102)
RL ⎝ RL ⎠

RL2 + ω 2 L2 ⎛ RL2 ⎞ ⎛ Q2 + 1 ⎞
Lp = = L ⎜ 1 + 2 2 ⎟
= L ⎜ ⎟ (5.103)
ω2L ⎝ ω L ⎠ ⎝ Q ⎠
2

Para Q≥10, implica que Lp=L. Na ressonância XLp=XC

Z=∞
1
I=0 XLp=XC
wo
Rp Lp C
⇒ wo
RL(Q2+1)
Aberto
(Z0=∞)
2

Figura 5.29: Na ressonância a parte LC paralela aparece aberta e a


impedância vista pela fonte é Rp.

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4-43

No circuito paralelo equivalente, Rp está em paralelo com uma


bobina ideal e um capacitor. Assim os ramos em L e C atuam como
um circuito tanque ideal o qual tem uma impedância infinita na
ressonância. Portanto, na ressonância a impedância total do
circuito tanque não ideal pode ser expressa como a resistência
paralela equivalente.

(
Z 0 = RL Q 2 + 1 ) (5.104)

5.2.3 Filtro Ressonante Paralelo Banda Passante

O circuito ressonante paralelo mostrado na Figura 5.30 com um


resistor em série com um circuito tanque ideal é um tipo de filtro
banda passante. O circuito atua como um divisor de tensão. Na
ressonância, a impedância do tanque é muito maior que a
resistência. Assim, a tensão de entrada é aplicada sobre o tanque,
resultando em uma máxima tensão de saída na freqüência central
ou ressonante.

R Vout

Vin ~ L C

Figura 5.30: Filtro ressonante paralelo passa banda.

Para freqüências acima e abaixo da freqüência central, a


impedância do tanque cai, e a maior queda da tensão de entrada é
sobre R. Como resultado, a tensão de saída sobre o tanque diminui
criando uma característica de passa banda.

Para sinais de freqüências baixas, o capacitor da Figura 5.30


apresenta reatância elevada e seu comportamento tende a um
circuito aberto, porém, o indutor apresenta baixa reatância e seu
comportamento tende a um curto-circuito. Desta forma, a maior
parcela da tensão de entrada estará sobre o resistor e a tensão de
saída será muito baixa, ou seja, o sinal será atenuado. Pode-se
dizer que o circuito “impede a passagem” de sinais de baixa
freqüência.

Para sinais de freqüências altas, o indutor apresenta reatância


elevada e seu comportamento tende a um circuito aberto, porém, o
capacitor apresenta baixa reatância e seu comportamento tende a

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4-44

um curto-circuito. Desta forma, a maior parcela da tensão de


entrada estará sobre o resistor e a tensão de saída será muito
baixa, ou seja, o sinal será atenuado. Pode-se dizer que o circuito
“impede a passagem” de sinais de alta freqüência.

Porém, para sinais de freqüências intermediárias, ou seja, sinais


cujas freqüências estiverem próximas ao valor da freqüência de
ressonância do circuito, o indutor e o capacitor juntos apresentarão
alta reatância e seus comportamentos tenderão a um circuito
aberto, como estudado na seção sobre ressonância paralela. Desta
forma, a maior parcela da tensão de entrada estará sobre o circuito
LC ressonante de saída. Pode-se dizer, então, que o circuito “deixa
passar” sinais dentro de uma determinada faixa de valores de
freqüências.

A freqüência central ou ressonante para o circuito dada Figura 5.30


é dada por:

1
ω0 = (5.105)
LC

5.2.3.1 Ganho e Fase

Aplicando a regra de divisor de tensão ao circuito da Figura 5.30,


obtém-se a função de transferência entre Vout e Vin.

jX L ⋅ ( − jX C ) ⎛ X L XC ⎞
− j ⎜⎜ ⎟
Vout j ( X L − XC ) ⎝ ( X L − X C ) ⎟⎠
= = (5.106)
Vin jX L ⋅ ( − jX C ) ⎛ X L XC ⎞
R+ R − j ⎜⎜ ⎟⎟
j ( X L − XC ) ⎝ ( X L − XC ) ⎠

Fatorando a Equação 106, obtem-se:

Vout 1
=
Vin R ⋅( X L − XC )
1+ j
X L XC

Ou

Vout 1
= (5.107)
Vin ⎛ ω RLC − R ⎞
2
1+ j ⎜ ⎟
⎝ ωL ⎠

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4-45

A função de transferência de um filtro RLC paralelo passa-faixa é


dada por:

1
H (ω ) = (5.108)
⎛ ω RLC − R ⎞
2
1+ j ⎜ ⎟
⎝ ωL ⎠

O ganho de tensão e a fase são respectivamente:

1
GV =
2
(5.109)
⎛ ω RLC − R ⎞
2
1+ ⎜ ⎟
⎝ ωL ⎠

⎛ ω 2 RLC − R ⎞
α = tg ⎜
−1
⎟ (5.110)
⎝ ωL ⎠

5.2.3.2 Freqüência de Corte

Na freqüência de corte o módulo da função de transferência é igual


a 1/√2, i.é.,

1
GV ,ω0 = = 0, 707 (5.111)
2

Então, para um filtro passa-faixa RLC paralelo:

1 1
2
= (5.112)
⎛ R − ω RLC ⎞
2 2
1+ ⎜ ⎟
⎝ ωL ⎠

Resolvendo a Equação 5.112 para ω encontra-se:

L
LCω 2 ± ω −1 = 0 (5.113)
R

Esta igualdade fornece duas equações. Como a expressão do


ganho é de segunda ordem, obtêm-se duas equações de segundo

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4-46

grau, cada uma com duas soluções que correspondem à


freqüência de corte superior e à freqüência de corte inferior do filtro
passa-faixa paralelo.

As freqüências de corte são então:

2
1 ⎛ 1 ⎞ 1
ω1 = − ± ⎜ ⎟ + (5.114)
2 RC ⎝ 2 RC ⎠ LC

2
1 ⎛ 1 ⎞ 1
ω2 = ± ⎜ ⎟ + (5.115)
2 RC ⎝ 2 RC ⎠ LC

A banda passante:

β = ω2 − ω1
1 (5.116)
=
RC

E o fator de qualidade:

ω0
Q=
β
(5.117)
R 2C
=
L

5.2.3.3 Freqüência Central

A chamada Freqüência Central de um Filtro Passa-Faixa ocorre na


Freqüência de Ressonância. Nesta situação o Ganho do circuito da
Figura 5.30 é unitário, então:

GV ,ω0 = 1
ou
1
=1
2
⎛ R − ω RLC ⎞2
1+ ⎜ ⎟
0

⎝ ω0 L ⎠

O que resulta para ω0:

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4-47

1
ω0 = c.q.d. (5.118)
LC

A freqüência central é a mesma obtida para o circuito tanque ideal


ou para circuitos com fator de qualidade Q≥10.

5.2.4 Filtro Rejeita-Faixa RLC Paralelo

Um circuito RLC como o apresentado na Figura 5.31 pode


comportar-se como um filtro passivo rejeita-faixa.

Figura 5.31: Circuito de um Filtro Rejeita-Faixa RLC Paralelo.

Para sinais de freqüências baixas, o capacitor do circuito da Figura


5.31 apresenta reatância capacitiva elevada e seu comportamento
tende a um circuito aberto, porém, o indutor apresenta baixa
reatância indutiva e tende a comportar-se como um curto-circuito.
Desta forma, a maior parcela da tensão de entrada estará sobre o
resistor de saída. Pode-se dizer que o circuito “permite a
passagem” de sinais de baixas freqüências.

Para sinais de freqüências altas, o indutor apresenta reatância


indutiva elevada e tende a comportar-se como um circuito aberto,
porém, o capacitor apresenta baixa reatância capacitiva e tende a
comportar-se como um curto-circuito. Desta forma, a maior parcela
da tensão de entrada estará sobre o resistor de saída. Pode-se
dizer que o circuito “permite a passagem” de sinais de alta
freqüência.

Porém, para sinais de freqüências intermediárias, ou seja, para


sinais cuja freqüência estiver numa faixa próxima à freqüência de
ressonância do circuito, o indutor e o capacitor juntos apresentarão
alta reatância e ambos tenderão a comportarem-se como um
circuito aberto, como visto na seção sobre ressonância paralela.
Desta forma, a maior parcela da tensão de entrada estará sobre o
circuito LC ressonante e a tensão sobre o resistor de saída será
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4-48

praticamente nula, ou seja, o sinal será atenuado. Pode-se dizer,


então, que o circuito “impede a passagem” de sinais (rejeita sinais)
de uma determinada faixa de freqüências.

5.2.4.1 Ganho e Fase

Para o circuito da Figura 5.31, a tensão de saída em função da


tensão de entrada pode ser dada pela expressão:

Vout R 1
= = (5.119)
Vin R + j X L ⋅ X C ⎛ ωL ⎞
1+ j⎜ ⎟
( X L − XC ) ⎝ R − ω RLC ⎠
2

A função de transferência de um filtro rejeita-faixa paralelo é então:

1
H (ω ) = (5.120)
⎛ ωL ⎞
1+ j ⎜ ⎟
⎝ R − ω RLC ⎠
2

As expressões para o ganho de tensão e a fase são


respectivamente:
1
GV = (5.121)
ωL
2
⎛ ⎞
1+ ⎜ ⎟
⎝ R − ω RLC ⎠
2

⎛ ωL ⎞
α = tg −1 ⎜ ⎟ (5.122)
⎝ R − ω RLC ⎠
2

5.2.4.2 Freqüência de Corte

1 1
GV = = (5.123)
ωL
2
⎛ ⎞ 2
1+ ⎜ ⎟
⎝ R − ω RLC ⎠
2

Operando na Equação 5.122, obtém-se:

L
ω 2 LC ± ω −1 = 0 (5.124)
R

Como a expressão do ganho é de segunda ordem, obtemos duas


equações do segundo grau, cada uma com duas soluções que
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4-49

correspondem à freqüência de corte inferior e à freqüência de corte


superior do filtro rejeita-faixa paralelo:

2
1 ⎛ 1 ⎞ 1
ω1 = − ± ⎜ ⎟ + (5.125)
2 RC ⎝ 2 RC ⎠ LC

2
1 ⎛ 1 ⎞ 1
ω2 = ± ⎜ ⎟ +
2 RC ⎝ 2 RC ⎠ LC

5.2.5.3 Freqüência Central

A freqüência central de um filtro rejeita-faixa ocorre exatamente na


freqüência de ressonância. Nesta situação, o ganho do circuito da
Figura 5.31 é nulo, então:

GV (ω0 ) = 0 (5.126)
e, portanto

1
2
=0 (5.127)
⎛ ω0 L ⎞
1+ ⎜ ⎟
⎝ R − ω0 RLC ⎠
2

Para que a Equação 5.127 seja verdadeira, implica que:

R − ω02 RLC = 0 ∴

1
ω0 = (5.128)
LC

Esta é a mesma equação já conhecida para a freqüência de


ressonância de um circuito RLC.

5.3. Quadro Resumo sobre Filtros

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4-50

Circuito Vin Vout Freq. Freqüências de Cortes Tipo de


Central Filtro
ω0 ω1 ω2
RC RC C 1 RC Passa
Série Baixa
R 1 RC Passa
Alta
RL RL L R L Passa
Série Alta
R R L Passa
Baixa
RLC RLC R 2 2 Passa
1 LC R ⎛ R ⎞ ⎛ 1 ⎞ R ⎛ R ⎞ ⎛ 1 ⎞
Série − + ⎜ ⎟ +⎜ ⎟ + ⎜ ⎟ +⎜ ⎟ Banda
2L ⎝ 2 L ⎠ ⎝ LC ⎠ 2L ⎝ 2 L ⎠ ⎝ LC ⎠
L-C 2 2 Rejeita
1 LC R ⎛ R ⎞ ⎛ 1 ⎞ R ⎛ R ⎞ ⎛ 1 ⎞
− + ⎜ ⎟ +⎜ ⎟ + ⎜ ⎟ +⎜ ⎟ Banda
2L ⎝ 2 L ⎠ ⎝ LC ⎠ 2L ⎝ 2 L ⎠ ⎝ LC ⎠
RLC R- L//C 1 LC 1 ⎛ 1 ⎞
2
1 1 ⎛ 1 ⎞
2
1 Passa
Paralelo L//C − + ⎜ ⎟ + + ⎜ ⎟ + Banda
2 RC ⎝ 2 RC ⎠ LC 2 RC ⎝ 2 RC ⎠ LC

R 1 LC 1 ⎛ 1 ⎞
2
1 1 ⎛ 1 ⎞
2
1 Rejeita
− + ⎜ ⎟ + + ⎜ ⎟ + Banda
2 RC ⎝ 2 RC ⎠ LC 2 RC ⎝ 2 RC ⎠ LC

5.4. Conclusões

− Em circuitos série a variação de qualquer um dos parâmetros f,


L ou C pode produzir ressonância.
− Em circuitos série contendo R, L e C há sempre alguma
freqüência ressonante real para quaisquer valores dos três
parâmetros.
− Na ressonância série para
ω < ω0: o circuito apresenta teor capacitivo e a corrente está
adiantada da tensão.
ω > ω0: o circuito apresenta teor indutivo e a corrente está
atrasada da tensão.
ω = ω0: o circuito tem teor resistivo, a impedância equivalente
é mínima e a corrente está em fase com a tensão. A corrente
é máxima e a tensão da fonte está toda sobre a resistência. A
potência dissipada no resistor será máxima. Há tensão no
indutor e no capacitor, iguais em módulo, porém defasadas
de 180o, anulando-se.
− Em circuitos paralelos a variação de qualquer um dos
parâmetros f, L, C, RL, ou RC pode produzir ressonância.

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4-51

− Em um circuito paralelo, podem existir valores de RL, C, RC, e L


para os quais a ressonância é impossível, qualquer que seja a
freqüência, bem como há valores em que o circuito opera em
ressonância para qualquer valor de freqüência.
− As características gerais do circuito são as mesmas quaisquer
que seja o parâmetro variado para produzir ressonância.
− Na ressonância paralela para:
o < ω0: o circuito apresenta teor indutivo e a corrente está
atrasada em relação à tensão.
o ω > ω0: o circuito apresenta teor capacitivo e a corrente
está adiantada em relação à tensão.
o ω = ω0: o circuito tem teor resistivo, a impedância
equivalente é máxima e a corrente no resistor é mínima
(igual a da fonte) e estará em fase com a tensão. A
potência dissipada será máxima. Existem correntes no
indutor e no capacitor, iguais em módulo, porém defasadas
de 180, anulando-se.
− São cinco os parâmetros que caracterizam um filtro baseado no
circuito RLC, porém apenas dois desses parâmetros podem ser
especificados livremente:
o A freqüência ressonante ou central, ω0, para a qual o
módulo da função de transferência é máxima (|I| em
circuitos série e |Z| em circuitos paralelos).
o As duas freqüências críticas ou de corte, ω1 e ω2, que
definem a banda passante.
o A banda passante, β, uma medida da largura da banda
de passagem.
o Fator de qualidade, Q, uma segunda medida da largura
da banda de passagem.
− Em um circuito RLC série a amplitude da corrente aproxima-se
de zero para pequenos e grandes valores de ω.
o O capacitor bloqueia a passagem de corrente a
freqüências baixas.
o O indutor bloqueia a passagem de corrente a
freqüências elevadas.

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4-52

− Em um circuito RLC paralelo a amplitude da impedância


aproxima-se de zero e o fator de potência aproxima-se da
unidade para pequenos e grandes valores de ω.
o Para freqüências baixas, enquanto a corrente no ramo
capacitivo é muito pequena (XC→∞ quando f→0), a
corrente no ramo indutivo é praticamente resistiva (XL→0
quando f→0) e o fator de potência unitário.
o Para freqüências bem maiores que a freqüência
ressonante (XL→∞ quando f→∞), a corrente no ramo
capacitivo é praticamente resistiva (XC→0 quando f→∞) e
o fator de potência torna-se unitário.
o Na freqüência ressonante, a componente imaginária da
corrente no ramo indutivo (-jIL) é igual à do ramo capacitivo
(jIC) e o fator de potência do circuito unitário.
− Na ressonância série a impedância do circuito é mínima (XL=XC),
na ressonância paralela, a impedância do circuito é máxima.
− Em um circuito série a corrente é máxima na ressonância; em
um circuito paralelo, a corrente mínima na ressonância quando a
condutância for constante.
− Na ressonância série e paralela o fator de potência é unitário.

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Referências

[1] Floyd, T.L. Principles of Electric Circuits, 6th Ed. Prentice Hall,
2000. ISBN 0-13-095997-9.927p.

[2] Nilsson, James W., Reidel, Susan A., Circuitos Elétricos, LTC,
6a Edição, 2003.

[3] Kerchner, R.M., Corcoran,G.F., Circuitos de Corrente


Alternada, Porto Alegre, Globo, 1973.

[4] Mussoi, Fernando Luiz Rosa. Apostila sobre Resposta em


Freqüência Filtros Passivos. Centro Federal de Educação
Tecnológica de Santa Catarina. 2004. p.86.

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Capítulo 6 TÉCNICAS DE ANÁLISE DE CIRCUITOS CA

Este capítulo é uma extensão do conteúdo apresentado sobre


teoremas aplicados na análise de circuitos elétricos cc, com ênfase
na análise de circuitos ca com elementos reativos. Embora haja
familiaridade com os teoremas de equivalência de circuitos delta ↔
estrela, transformação de fontes, e com os teoremas da
superposição, Thévenin e Norton, a reapresentação de tais
teoremas tem por objetivo auxiliar na análise de certos tipos de
circuitos. A lei de Ohm e as leis de Kirchhoff para a tensão e para
corrente, traduzidas pelos métodos de divisor de tensão e de
divisor de corrente, serão empregadas em conjunto com os demais
métodos de análise de circuitos. A partir dessas leis muitos
teoremas têm sido deduzidos para a racionalização de redes para
obter uma solução rápida, simples, para um problema ou
representar um circuito complexo por um equivalente.

6.1. Teorema de Equivalência Delta - Estrela

A conversão de conexões delta (Δ) em estrela (Y) e vice-versa


significa que a configuração Δ pode ser substituída pela
configuração Y sem que altere as condições terminais de ambas
configurações, ou seja, sem perturbar a rede externa.

As Figuras 6.1 e 6.2 mostram as configurações para as conexões


delta, triângulo ou pi e as conexões estrela, Y ou T,
respectivamente. A Figura 6.3 apresenta a conversão ou
equivalência entre os circuitos Δ e Y.

a b a b

c
c
Figura 6.1: Configuração delta ou pi.

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6-2

a b

a b

c
Figura 6.2: Configuração estrela, Y ou T.

a b
Zab Zan Zbn
a b

n
Zca Zbc
Zcn

c c

Figura 6.3: Equivalência entre as conexões Δ e Y.

Os dois circuitos da Figura 6.3 são equivalentes com relação aos


terminais a, b, c desde que:

Conversão Δ → Y:
Z an = Zab . Zca (6.1)
Zab + Zbc + Zca

Z bn = Zab . Zbc (6.2)


Zab + Zbc + Zca

Z cn = Zbc . Zca (6.3)


Zab + Zbc + Zca

Conversão Y → Δ:

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6-3

. + . + .
Z ab = Z an Z bn Z bn Z cn Z cn Z an
Z cn
(6.4)
.
= Z an + Z bn + Z an Z bn
Z cn

. + . + .
Z bc = Z an Z bn Z bn Z cn Z cn Z an
Z an
(6.5)
.
= Z bn + Z cn + Z bn Z cn
Z an

. + . + .
Z ca = Z an Z bn Z bn Z cn Z cn Z an
Z bn
(6.6)
.
= Z an + Z cn + Z an Z cn
Z bn

Dedução matemática:

i) Impedância vista dos terminais a-b nos circuitos Δ e Y:

( + )
EQ
Z ab = Zab Zca Zbc = Z an + Z bn (6.7)
Zab + Zbc + Zca

ii) Impedância vista dos terminais b-c nos circuitos Δ e Y:

Zbc ( Zab + Zca ) = Z + Z


bc =
Z EQ (6.8)
Zab + Zbc + Zca
bn cn

iii) Impedância vista dos terminais c-a nos circuitos Δ e Y:

( + )
EQ
Z ca = Zca Zab Zbc = Z an + Z cn (6.9)
Zab + Zbc + Zca

Algoritmo para obtenção de Zan como função de Zab, Zbc, Zca (Δ→Y):

(a) Subtraia Equação (6.9) – Equação (6.8)

(b) Adicione resultado de (a) à Equação (6.7)

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6-4

(c) Faça procedimento similar para obter Zbn e Zcn.

Aplicando o algoritmo acima, tem-se:

( + ) ( + )
Z an − Z bn = Zca Zab Zbc − Zbc Zab Zca
Z ab + Z bc + Z ca Z ab + Z bc + Z ca

( + ) Z (Z + Z ca ) Z ab (Z ca + Z bc )
2 Z an = Zca Zab Zbc − bc ab +
+
Zab Zbc + Z ca +
Zab Zbc + Z ca Zab + Zbc + Z ca

∴ Z an = Zab Zca
Zab + Zbc + Zca

Algoritmo para obtenção de Zab como função de Zan, Zbn, Zcn (Y→Δ).

(a) Divida Zcn /Zan e Zcn /Zbn (Equações 6.1, 6.2 e 6.3).

(b) Substitua as relações de (a) na Equação 6.7 para eliminar Zbc e


Zca e obter Zab.

(c) Faça procedimento similar para obter Zbc e Zca.

⎛ ⎞
Zcn = Zbc ∴ Zbc = ⎜⎜ Zcn ⎟⎟ ⋅ Zab
Zan Zab ⎝ Zan ⎠

Zcn ⎛ ⎞
= Zca ∴ Zca = ⎜⎜ Zcn ⎟⎟ ⋅ Zab
Z bn Zab ⎝ Zbn ⎠

Zcn + Zcn )
Zab (
Z an + Z bn = Zbn Zan
Zcn Zcn
Zab + Zab + Zab
Zan Zbn

Zan Zcn + Zbn Zcn )


Zab (
Z an + Z bn = Zan Zbn
Zan Zbn Zbn Zcn + Zan Zcn
+
Zan Zbn

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6-5

Z an + Z bn = Zab ( Zan + Zbn ) Zcn


Zan Zbn + Zbn Zcn + Zan Zcn

+ +
Z ab = Zan Zbn Zbn Zcn Zan Zcn
Zcn

Quando as impedâncias são iguais em cada conexão, i.é.,


Zan=Zbn=Zcn e Zab=Zbc=Zca, tem-se que a conversão Δ↔Y é
simplificada:

1
Z an = Z bn = Z cn = ⋅ Z ab (6.10)
3

6.2. Transformação de Fontes

Todas as fontes de tensão e corrente reais possuem impedância


interna que interfere na operação da fonte.

Para qualquer carga, exceto em circuito aberto, uma fonte de


tensão possui uma perda de tensão sobre sua impedância interna.

A impedância interna de uma fonte de tensão possui o mesmo


efeito de uma impedância em série (divisor de tensão) com uma
fonte de tensão ideal.
Impedância
Interna

Fonte
Ideal
~

Figura 6.4: Fonte real de tensão.

A impedância de uma fonte de corrente possui o mesmo efeito de


uma impedância em paralelo (divisor de corrente) com uma fonte
de corrente ideal.

Fonte Impedância
Ideal Interna

Figura 6.5: Fonte real de corrente.

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6-6

Na transformação de fontes, as duas configurações (a) e (b)


mostradas na Figura 6.6 são equivalentes com relação aos
terminais a e b se e somente se:

VF
IF = (6.11)
ZS

ZS = Z p (6.12)

ZS

VF ~ IF Zp

(a) (b)
Figura 6.6: Equivalência entre fontes de tensão e corrente.

Para provar a equivalência entre as fontes de tensão e corrente


serão analisadas a operação das fontes sob as duas condições de
cargas extremas, Z=0 (curto circuito) e Z=∞ (circuito aberto).

Na equivalência entre as fontes para Z=0, tem-se para a corrente


ICC na Figura 6.6 (a) e (b):

VF
I cc = (6.13)
ZS
e
I cc = I F (6.14)

Portanto
VF
IF = (6.15)
ZS

Na equivalência entre as fontes para Z=∞, condição de circuito


aberto, a tensão nos terminais do circuito em aberto, VOC na Figura
6.6 (a) e (b):
VOC = VF (6.16)

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6-7

VOC = Z p ⋅ I F (6.17)
Portanto
VF = Z p ⋅ I F (6.18)

Deduz-se, pois das equações em IF e VF que Zs = Zp.

A polaridade da fonte de corrente, indicado pela seta, deve estar


em direção ao terminal positivo da fonte de tensão.

6.3. Teorema de Thévenin

“Qualquer rede ativa que possa ser vista de dois terminais pode ser
substituída por uma única fonte de tensão em série com uma única
impedância. A fonte de tensão é a tensão de circuito aberto entre
os dois terminais e a impedância é a impedância da rede vista dos
terminais com todas as fontes curto-circuitadas”.

O equivalente de Thévenin é uma técnica de simplificação de


circuitos, a qual permite a substituição de um circuito complexo
(Figura 6.7.(a)), a partir dos terminais a-b em outro circuito
equivalente simples (Figura 6.7.(b)) do tipo:

a a
ZTH
Circuito ⇔ VTH
Complexo
b
b
Equivalente de Thévenin
Circuito A
(a) (b)
Figura 6.7: Equivalente de Thévenin.

O circuito equivalente de Thévenin é uma fonte de tensão


independente VTH em série com uma impedância ZTH, que substitui
qualquer circuito com elementos lineares que contenha fontes,
independentes e dependentes, e impedâncias.

Qualquer circuito que se conecte aos terminais a-b do circuito


equivalente de Thévenin é denominado de carga. A carga pode ser
uma impedância apenas, um diodo, uma antena, um aparelho
qualquer, ou mesmo um circuito complexo.

A combinação de VTH em série com ZTH é equivalente ao circuito


original no sentido em que para uma mesma carga conectada aos
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6-8

terminais a-b de qualquer dos circuitos da Figura 6.7 serão obtidas


a mesma tensão e corrente nos terminais da carga. Esta
equivalência é válida para qualquer valor de carga. Se as
condições nos terminais são as mesmas para as configurações (a)
e (b) na Figura 6.7, significa que uma carga ZL=∞ em (b), condição
de circuito aberto, é igual a:

VOC = VTH (6.19)

Portanto, para calcular a tensão de Thévenin VTH é necessário


simplesmente calcular a tensão de circuito aberto do circuito
original, ou seja, a tensão encontrada no circuito original da Figura
6.7.(a) com os terminais a-b em aberto corresponde à tensão VTH.

Para uma carga ZL=0, condição de curto-circuito nos terminais a-b,


aplicada aos terminais do circuito equivalente de Thévenin implica
que Iab é dado por:

VTH
I ab = I CC = (6.20)
Z TH

ou seja, a impedância de Thévenin é então:

VTH
Z TH = (6.21)
I CC

Portanto, para determinar ZTH, calcula-se a corrente ICC nos


terminais a-b em (a), que pela equivalência dos circuitos é a
mesma corrente ICC de (b). Conhecida VTH e ICC pode-se ter ZTH.

A impedância ZTH é o elemento passivo do circuito equivalente, a


qual deve corresponder à componente passiva do circuito original.

Para redução de um circuito ao equivalente de Thévenin:


a) O circuito A deve conter apenas elementos lineares e pode
conter fontes independentes ou controladas.

b) O circuito B pode conter elementos não-lineares e/ou que variem


no tempo. As fontes podem ser dependentes ou independentes.

c) Não deverá haver:


− Acoplamento magnético entre A e B.

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6-9

− Fontes dependentes em A com controle em B (neste caso as


fontes devem ser eliminadas para simplificação do circuito).

a a

ZTH
Carga VTH
b b

Circuito A Circuito B

Figura 6.8: Circuito total composto de equivalente de Thévenin e carga.

Como o equivalente de Thévenin é calculado para um circuito


desacoplado da carga, isto é, independente da carga, não deverá
haver ligação de dependência entre os dois circuitos A e B.

Para determinar o equivalente de Thévenin, a técnica de


transformação de fonte é recomendável quando o circuito contém
apenas fontes independentes. A presença de fontes dependentes
restringe as reduções do circuito uma vez que se faz necessário
manter a identidade dos controladores de tensão e/ou corrente.

6.3.1. Determinação de VTH e ZTH

Na descrição da obtenção do circuito equivalente de Thévenin na


seção 6.3 foi apresentado o método de obtenção genérico de VTH e
ZTH, possua ou não o circuito fontes dependentes, isto é:

VTH = VOC
VOC (6.22)
Z TH =
I CC

A tensão VTH é obtida desconectando-se o circuito A do circuito B


da Figura 6.8 e medindo-se a tensão nos terminais a-b de A na
condição de circuito aberto. A tensão VOC ou tensão de circuito
aberto é a tensão VTH da fonte do circuito equivalente. Essa tensão
é quase sempre diferente da tensão sobre os terminais a-b com a
parte A conectada.

A impedância de Thévenin quando obtida a partir da corrente de


curto-circuito ICC nos terminais a-b do circuito A implica em que as
fontes presentes no circuito A não são desativadas.

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6-10

Há situações em que alternativas à forma genérica apresentada


acima tornam mais simples a equivalência do circuito. A seguir são
descritos procedimentos usuais para o cálculo de ZTH para cada
uma das condições quanto à presença de fontes no circuito A.

6.3.1.1. Circuitos com apenas Fontes Independentes

A impedância do circuito A contendo apenas fontes independentes,


vista dos terminais designados como a-b na condição em aberto,
com todas as fontes desativadas, substituídas por suas
impedâncias internas, representa a impedância equivalente de
Thévenin ZTH.

Uma fonte de tensão é desativada quando seus terminais são curto


circuitados. Uma fonte de corrente é desativada substituindo-a por
um circuito aberto.

6.3.1.2. Circuitos com Fontes Independentes e Dependentes

Se o circuito A contém fontes independentes e dependentes, para o


cálculo de ZTH apenas as fontes independentes presentes no
circuito A são desativadas.

Para obter ZTH, os terminais a-b do circuito A são alimentados com


uma fonte teste quer de tensão ou corrente, VT ou IT. A impedância
ZTH é dada pela relação da tensão da fonte teste pela corrente
suprida pela fonte, ZTH = VT/IT.

6.4. Equivalente Norton

O circuito equivalente de Norton consiste de uma fonte


independente de corrente em paralelo com uma impedância
equivalente de Norton.

IN ZN

Figura 6.9: Equivalente de Norton.

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6-11

A corrente de Norton, IN, é obtida aplicando-se um curto-circuito


nos terminais de interesse no circuito que se deseja equivalenciar.

A impedância ZN é calculada aplicando-se o mesmo procedimento


do equivalente de Thévenin. Portanto,

ZN = ZTH (6.23)

O equivalente de Norton é dual ao de Thévenin e pode ser obtido a


partir de uma transformação de fonte.

6.5. Transferência Máxima de Potência

Quando uma carga é conectada a um circuito, a transferência


máxima de potência para a carga ocorre quando a impedância da
carga é igual ao conjugado da impedância de saída do circuito.

Deseja-se que uma carga (Rr + jXr) absorva a máxima potência


média do circuito quando é alimentada por uma fonte real ou um
circuito equivalente de Thévenin.

RTH XTH
a

Rr
VTH

Xr

Figura 6.10: Transferência máxima de potência.

Seja a potência útil do circuito definida como:

P = Rr ⋅ I
2
(6.24)
em que

VTH
I= (6.25)
ZTH + Z r

V TH
e I =
(R ) +( X )
2 2

TH
+R r TH
+X r

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6-12

Então
2
R r VTH
P= (6.26)
(R ) +( X )
2
2

TH
+R r TH
+X r

O valor máximo de P para um dado valor de Rr é obtido para


dP
= 0 . A derivada,
dR r

⎧ −1 −2

= VTH ⋅ ⎨ ⎡ R + R ) ⎤⎥⎦ − 2 ⎡( R ) ⎤⎥⎦ ( R
2 ⎪ ⎪
( ) +( X ) +( X
2 2
dP
+ Rr)Rr⎬
2 2
+Xr + Rr +Xr
dR r ⎢ TH r
⎩⎪ ⎣
TH ⎢⎣ TH TH
TH
⎪⎭

dP
Para = 0 , implica que:
dR r

( )
2
Rr = ± R TH + X TH + X r
2
(6.27)

que representa a resistência que resulta em máxima potência


dissipada.

Substituindo Rr na expressão de P, a potência máxima acontece


quando:
+ ( X TH + X r )
2 2 2
VTH RTH
PMAX = 2
(6.28)
⎛R + 2
+ ( X TH + X r ) ⎞⎟ + ( X TH + X r )
2 2
⎜ TH R
⎝ TH

Para a condição em que XTH = -Xr na Equação (6.27), tem-se que


Rr=RTH, e a equação 6.28 será maximizada, resultando em:
2
VTH
PMAX , MAX = (6.29)
4 RTH

Portanto, para a transferência máxima de potência de uma fonte


para a carga, a impedância da carga deve ser igual ao conjugado
da impedância interna da fonte.

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6-13

6.6. Teorema da Superposição

“A corrente resultante que flui em qualquer ramo de um circuito ou


rede devido à ação simultânea de várias fontes de tensão é igual à
soma algébrica das componentes de correntes devido a cada fonte
de tensão agindo sozinha com as demais curto-circuitadas”.

O teorema da superposição é usado em circuitos com múltiplas


fontes.

Quando um circuito linear, bilateral (que independe do sentido da


corrente), é alimentado por mais de uma fonte independente, a
resposta total é o resultado das ações simultâneas das várias
fontes. A resposta total é a soma fasorial das respostas individuais
de cada fonte considerada separadamente. A resposta de interesse
pode ser a corrente que flui em um ramo ou a tensão entre dois
pontos quaisquer do circuito.

Com exceção da fonte em atividade, as demais fontes


independentes do circuito são desativadas, substituídas por suas
impedâncias internas.

Quando o circuito contém fontes independentes e dependentes, as


fontes dependentes nunca são desativadas.

A grande força do princípio da superposição está na análise de


circuitos alimentados por fontes operando em freqüências
diferentes. Neste caso, a resposta total é expressa no domínio do
tempo.

O algoritmo para aplicação do teorema da superposição:

Passo 1. Deixe uma das fontes no circuito e substitua as demais


por suas impedâncias internas. Para uma fonte de
tensão ideal, a impedância interna é zero. Para fontes
de corrente ideais, a impedância interna é infinita. Este
procedimento é denominado de ‘zerar’ a fonte.
Passo 2. Encontre a corrente no ramo de interesse, produzida
pela fonte ativa.
Passo 3. Repita os passos 1 e 2 para cada fonte. Quando todas
as fontes forem consideradas, uma por vez, o número
de correntes no ramo de interesse é igual ao número
de fontes presentes no circuito.

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6-14

Passo 4. Some fasorialmente todas as correntes individuais que


circulam no ramo de interesse como resultado da
contribuição de cada fonte.

Referências

[1] Floyd, T.L. Principles of Electric Circuits, 6th Ed. Prentice Hall,
2000. ISBN 0-13-095997-9.927p.

[2] Nilsson, James W., Reidel, Susan A., Circuitos Elétricos, LTC,
6a Edição, 2003.

[3] Kerchner, R.M., Corcoran, G.F., Circuitos de Corrente


Alternada, Porto Alegre, Globo, 1973.

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Capítulo 7 SISTEMAS POLIFÁSICOS EQUILIBRADOS

Tensões polifásicas são geradas do mesmo modo que tensões


monofásicas. Um sistema polifásico é simplesmente um conjunto
de vários sistemas monofásicos interconectados e defasados entre
si de modo a resultar em sistemas polifásicos. Em geral, o
deslocamento elétrico entre fases de um sistema n-fásico
equilibrado é 360o/n graus elétricos. Sistemas trifásicos são os
mais comuns, embora para certas aplicações especiais seja usado
um maior número de fases.

7.1. Gerador Trifásico

Um típico gerador trifásico de dois pólos é ilustrado na Figura 7.1, o


qual consiste de um rotor, parte girante, com um enrolamento de
campo alimentado por uma fonte cc. A corrente contínua da fonte
cc é transferida à bobina de campo através de escovas e de anéis
coletores. A parte fixa do gerador é denominada de estator. Três
enrolamentos são posicionados espacialmente no estator de forma
simétrica, defasados de 120º entre si. Cada enrolamento do estator
constitui uma das fases do gerador. O rotor gira por ação de uma
máquina motriz primária, e a variação relativa do fluxo magnético
da bobina de campo como vista pelas bobinas de estator induz um
conjunto de três tensões nos enrolamentos do estator.

Figura 7.1: Gerador trifásico de dois pólos.

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6-2

7.2. Motor Trifásico

O tipo mais comum de motor ca é o motor de indução trifásico.


Basicamente consiste de um estator com enrolamentos de estator
e um rotor cilíndrico com barras metálicas curto-circuitadas
assumindo o formato de uma ‘gaiola de esquilo’, como ilustrado na
Figura 7.2. Quando tensões trifásicas são aplicadas aos
enrolamentos do estator, é estabelecido um campo magnético
girante. À medida que o campo magnético gira, são induzidas
correntes nas barras metálicas da gaiola de esquilo do rotor. A
interação das correntes induzidas e o campo magnético produzem
forças que levam o rotor a girar.

Figura 7.2: Motor de indução trifásico.

7.3. Sistemas Trifásicos

A característica principal de um circuito trifásico equilibrado é o fato


de que a fonte produz uma tensão trifásica equilibrada. Um
conjunto de tensões trifásicas equilibradas é constituído por três
tensões senoidais de mesma freqüência e amplitude, defasadas
entre si de 120º. As três fases são genericamente denominadas de
a, b e c; a fase ´a´ é tomada como referência.

Existem duas formas de ligar os enrolamentos de um gerador


trifásico; estas configurações, denominadas Y e Δ, são mostradas
na Figura 7.3, na qual os enrolamentos do gerador estão
representados por fontes de tensão independentes.

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6-3

a a
+
~ Va _ +
_ Vc ~ Va
~
n
_ _ Vb Vb _
Vc +
~ ~ _
b ~ + b
+ +
c c
(a) (b)
Figura 7.3: Conexões típicas de um gerador trifásico (a) ligação tipo Y
(b) ligação tipo Δ.

O terminal comum da ligação em Y é denominado de neutro do


gerador e é representado por n. O terminal neutro pode estar ou
não disponível para conexões externas; quando disponível, a
ligação é dita ser trifásica a quatro fios, ou trifásica tetrafilar. Cargas
monofásicas são colocadas entre a linha e o neutro; cargas
trifásicas são conectadas entre as linhas a, b e c. As ondas de
tensão geradas são mostradas na Figura 7.4.

T/3

Figura 7.4: Ondas de tensão senoidais de gerador trifásico.

O diagrama fasorial de um sistema trifásico tetrafilar é representado


na Figura 7.5. Deve ser observado que um diagrama fasorial de
tensões e correntes de um circuito representa relações no tempo
das fases e não relações espaciais do circuito. O diagrama fasorial
da Figura 7.5 mostra as tensões relativas ao neutro, denominadas
de tensões de fase ou tensões entre linha e neutro, e as tensões
entre os terminais externos a, b e c, denominadas de tensões de
linha. As tensões de fase são representadas pelos fasores Van, Vbn
e Vcn. É comum utilizar apenas um sub-índice quando se faz

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6-4

referência às tensões de fase, resultando em Va, Vb e Vc. As


tensões de linha são representadas por sub-índice duplo, Vab, Vbc,
Vca.

a -Vbn
+ Vcn Vcn Vab
~ Va
_ 60º
30º
n
Vc _ _ Vb Van Van
~ ~ -120º
+ + b
Vbn Vbn
c

Figura 7.5: Tensões de fase e de linha em um gerador trifásico tetrafilar.

Pelo diagrama fasorial da Figura 7.5, as tensões de fase


equilibradas são definidas fasorialmente como:

Van = Van ∠0 D
Vbn = Vbn ∠ − 120 D (7.1)
Vcn = Vcn ∠ + 120 D

Em sendo o conjunto de tensões trifásicas equilibradas, suas


magnitudes são iguais, |Van|=|Vbn|=|Vcn|, e defasadas de 120º
elétricos; isto significa que, considerando o sentido de rotação anti-
horário, a tensão Van está adiantada de 120º em relação à Vbn, ou
seja, 1/3 do período da onda, e Vbn adiantada de 120º em relação à
Vcn. Isto significa que os valores máximos positivos das tensões
acontecem a cada 5,56 ms para uma onda de 60 Hz. Os fasores de
tensão quando giram na seqüência an, bn, cn ou simplesmente
abc, é dito girar na seqüência positiva ou seqüência direta.

Para obtenção da tensão de linha Vab, tem-se que:

Vab = Van − Vbn


( ( ) (
= Van 1 − cos − 120 D − jsen − 120 D ))
⎛ 1 3⎞
= Van ⎜⎜1 + + j ⎟ (7.2)
⎝ 2 2 ⎟⎠
⎛3 3⎞
= Van ⎜⎜ + j ⎟ = 3 Van ∠30 D V

⎝ 2 2 ⎠

Como as tensões de linha são equilibradas, tem-se que:


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6-5

Vbc = Vab ∠ − 120 D


(7.3)
= 3 Van ∠ − 90 D V
e
Vca = Vab ∠ − 240 D
= 3 Van ∠ − 210 D V (7.4)
= 3 Van ∠ + 150 D V

Portanto, a tensão de linha na conexão trifásica estrela ou Y,


equilibrada, é √3 a tensão de fase e faz um ângulo de 30º com as
tensões de fase correspondentes.

O diagrama fasorial das tensões de linha de um gerador trifásico


conectado em delta é mostrado na Figura 7.6.

a
Vab

_ +
Vc ~ Va
~ Vca
+ Vb _
_ + Vbc
~ b
c

Figura 7.6: Tensões de fase e de linha em um gerador trifásico.

Às vezes a impedância dos enrolamentos é tão pequena em


comparação com as outras impedâncias do circuito que pode ser
desprezada; neste caso, o gerador pode ser representado
exclusivamente por fontes de tensão ideais, como na Figura 7.3.
Quando a impedância dos enrolamentos não pode ser desprezada,
estes são representados por impedâncias em série com as fontes
de tensão, Rw+jXw. Como os enrolamentos dos geradores trifásicos
são todos iguais, as impedâncias são as mesmas para as três
fases.

A Figura 7.7 mostra o circuito de um gerador trifásico, conectado


em Y, alimentando uma carga trifásica. No circuito do gerador é
desconsiderada a resistência em relação à reatância, e omitida a
fonte interna de tensão para simplificação da figura.

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6-6

IL1 IL1
IL2 VL1
+ IF1 IF2
+
_ +
VF1 __ VF2 VL2 VL3 IF1
Carga VF3 VF1 VL1 Carga
n _ Trifásica VL3
_ Trifásica
+ IF3 IF2 IL2
IF3 VF3
_ V +
+ IL3 F2 IL3 VL2

(a) (b)
Figura 7.7: Geradores conectados em Y e Δ alimentando carga trifásica.

As tensões nos terminais dos enrolamentos do gerador são


denominadas de tensões de fase, VF, e as correntes através dos
enrolamentos são denominadas correntes de fase, IF. As correntes
nas linhas conectando os enrolamentos do gerador à carga são
denominadas de corrente de linha IL, e as tensões nos terminais
das linhas são denominadas tensões de linha, VL. Note que em
uma conexão Y a corrente de linha IL é igual à corrente de fase IF;
observe ainda que duas magnitudes de tensão são disponibilizadas
nos terminais do sistema trifásico tetrafilar: a tensão de fase, VF, e
a tensão de linha, VL.

Assim, no gerador equilibrado conectado em estrela tem-se que:

IL = IF (7.5)

VL = 3 VF (7.6)

Aplicando-se a lei de Kirchhoff para as correntes no neutro, tem-se


que:

I n = −(I F 1 + I F 2 + I F 2 ) = −( I a + I b + I c )
( ( )
= − I a ∠θ + I b ∠ θ − 120 D + I c ∠ θ + 120 D ( ))
(
= − I a ∠θ ⋅ 1∠0 D + 1∠ − 120 D + 1∠120 D ) (7.7)
⎛ 1 3 1 3⎞
= − I a ⋅ ⎜⎜1 − − j − + j ⎟=0

⎝ 2 2 2 2 ⎠

A Equação 7.7 demonstra que em um sistema equilibrado a


corrente que circula no neutro é nula.

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6-7

Examinando a Figura 7.7.(b) é visto que as tensões de fase são


iguais às tensões de linha em um gerador conectado em Δ,
entretanto as correntes de linha diferem das correntes de fase.
Considerando as correntes de fase Iab, Ibc, e Ica, representadas por
sub-índices duplos, definidas como:

I ab = I F 1 ∠0 D = I ab ∠0 D A
I bc = I F 2 ∠ − 120 D = I bc ∠ − 120 D A (7.8)
I ca = I F 3 ∠ + 120 D = I ca ∠ + 120 D A

As correntes de linha são obtidas por:

Ia
a
I a = I ab − I ca
Ica Iab I b = I bc − I ab (7.9)
Ib I c = I ca − I bc
b
Ibc Ic c

Segue-se que:
I a = I ab − I ca
(
= I ab 1 − cos120 D − jsen120 D )
⎛ 1 3⎞
= I ab ⎜⎜1 + − j ⎟ (7.10)
⎝ 2 2 ⎟⎠
⎛3 3⎞
= I ab ⎜⎜ − j ⎟ = 3 I ab ∠ − 30 D A
⎝2 2 ⎟⎠

Como as correntes são equilibradas, resulta para Ib e Ic:

I b = I bc − I ab = 3 I ab ∠ − 150 D A (7.11)

I c = I ca − I bc = 3 I ab ∠ + 90 D A (7.12)

O diagrama fasorial para as correntes de fase e de linha é


mostrado na Figura 7.8.

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6-8

Vca Ica
Ica

Vab Iab
θ -30º
Ibc
Iab
Vbc Ibc -Ica Ia

(a) (b)
Figura 7.8: Diagrama fasorial das correntes de fase em relação às tensões de
fase (a) e das correntes de linha e de fase (b) em uma conexão delta.

Pelas Equações de 7.10 a 7.12 é visto que a magnitude da corrente


de linha é √3 vezes maior que a corrente de fase e que há um
ângulo de fase de 30º entre cada corrente de linha e a corrente de
fase mais próxima.

7.3.1. Análise de Sistema Trifásico

Como as fontes e cargas trifásicas podem ser ligadas em Y e Δ, o


circuito formado por fonte e carga pode assumir quatro diferentes
configurações básicas:

Fonte Carga
Y Y
Y Δ
Δ Y
Δ Δ

7.3.1.1. Sistema Y-Y

A Figura 7.9 mostra uma fonte conectada em Y alimentando uma


carga conectada em Y. Os blocos Z1, Z2 e Z3 representam
impedâncias da carga, as quais podem ser resistivas, reativas ou
ambos. A carga é balanceada de modo que Z1=Z2=Z3.
a IL1

+ VF1 VF2 + b IL2 Z2 Z1 +


+
IF1 _ _ IF2 VZ2 _ _ VZ1
_ _

VF3 IF3 Z3 VZ3


IL3
+ c +

Figura 7.9: Fonte conectada em Y alimentando carga conectada em Y.

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6-9

7.3.1.2. Sistema Y-Δ


IL1 a

IL2 VL1 Z1

+ VF1 VF2 + b
IZ1
IF1 _ _ IF2 VL3 IZ3
_ VL2
Z2 IZ2 Z3
VF3 IF3
IL3
+ c

Figura 7.10: Fonte conectada em Y alimentando carga conectada em Δ.

Quando uma carga equilibrada em Δ é alimentada por tensões de


linha equilibradas, tem-se que:

VL1 = VL ∠0 D
VL 2 = VL ∠ − 120 D (7.13)
VL 3 = VL ∠ + 120 D

As correntes de fase são obtidas por: I Z1 =


VL1
Z1
VL 2
I Z2 = (7.14)
Z2
VL 3
I Z3 =
Z3

A soma das correntes de fase é dada por:

VL1 VL 2 VL 3
I Z1 + I Z 2 + I Z3 = + + (7.15)
Z1 Z2 Z3

Como a carga é equilibrada, tem-se que Z1=Z2=Z3=Z, e a corrente


no interior do delta:

1
I Z1 + I Z 2 + I Z 3 = (VL1 + VL 2 + VL3 )
Z
=
1
Z
(
VL ∠0D + VL ∠ − 120D + VL ∠ − 120D ) (7.16)
V ⎛ 1 3 1 3⎞
= L ⎜⎜1 − − j − +j ⎟=0
Z ⎝ 2 2 2 2 ⎟⎠

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6-10

A equação (7.16) mostra que em condição de equilíbrio de carga e


fonte não há circulação de corrente no interior do delta.

7.3.1.3. Sistema Δ-Y


IL1 a
VF1 _ IL2
+
_ IF1 b + Z2 Z1 +
+
IF2
IZ2 _ _ IZ1
VF3 + _ VF2 _
IF3 Z3 IZ3
IL3 c +

Figura 7.11: Fonte conectada em Δ alimentando carga conectada em Y.

7.3.1.4. Sistema Δ-Δ


IL1
a
VF1 _ VL1 IL2 Z1
+
_ IF1 b
+ IZ1
IF2
VL2 IZ3
VF3 + _ VF2 VL3 IZ2
VL2 Z2 Z3
IF3
c IL3

Figura 7.12: Fonte conectada em Δ alimentando carga conectada em Δ.

7.3.2. Potência em Sistemas Trifásicos

Nos circuitos trifásicos equilibrados a potência instantânea total é


dada pela soma das potências instantâneas de cada fase. Assim,

p a = υ a ⋅ i a = Vp I p cos(ωt ) ⋅ cos(ωt − θ )
( ) (
p b = υ b ⋅ i b = Vp I p cos ωt − 120 D ⋅ cos ωt − θ − 120 D ) (7.17)
p c = υ c ⋅ i c = Vp I p cos(ωt + 120 ) ⋅ cos(ωt − θ + 120 )
D D

em que Vp e Ip representam a tensão e corrente máxima de fase.

A potência instantânea total é dada por:

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6-11

p3φ = p a + pb + p c
(
⎡cos(ωt ) ⋅ cos(ωt − θ ) + cos ωt − 120 D ⋅ cos ωt − θ − 120 D
= Vp I p ⎢
) ( )⎤
⎥ (7.18)
( )
⎢⎣+ cos ωt + 120 ⋅ cos ωt − θ + 120
D
(D
) ⎥⎦
= 1,5V p I p cos θ = 3VEF I EF cos θ

Potências pa,pb,pc,pT
6000

5000

4000

3000

2000

1000

-1000
0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0.03 0.035
tempo

Figura 7.13: Potência instantânea nas fases a, b e c e potência total.

Para uma única fase, a potência instantânea é dada por:

p1 = Vp I p cos(ωt ) cos(ωt − θ )
Vp I p Vp I p
= cos(2ωt − θ )
cos θ − (7.19)
2 2
= VEF I EF cos θ ⋅ (1 − cos 2ωt ) − VEF I EF senθ ⋅ sen 2ωt

As Equações 7.18 e 7.19 revelam que enquanto a potência


instantânea monofásica varia no tempo, com uma variação de
freqüência dupla em relação ao tempo e valor médio igual a
VEF.IEF.cosθ, a potência instantânea trifásica equilibrada, sob
condições de regime permanente, é constante no tempo, cujo valor
médio é definido como três vezes o valor médio da potência
monofásica, 3.VEF.IEF.cosθ.

7.3.2.1. Potência em Sistema Conectado em Y

Para um gerador conectado em Y, a potência entregue pela


máquina é dada por:

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6-12

Vcn
S3φ = Van I *a + Vbn I *b + Vcn I *c
Ic = Van I a ∠θ + Vbn I b ∠θ + Vcn I c ∠θ

Van = 3 Van I a ∠θ (7.20)


θ
Ib Vab
Ia =3 I a ∠θ
Vbn 3
= 3 Vab I a (cos θ + jsenθ )

Considerando que a potência aparente complexa trifásica é


definida como:

S3φ = P3φ + jQ 3φ (7.21)

tem-se que a potência útil e reativa entregue por um gerador


conectado em Y é igual a:

P3φ = 3 VL I L cos θ (7.22)

Q 3φ = 3 VL I L senθ (7.23)

em que |VL| e |IL| representam as magnitudes da tensão e da


corrente de linha do sistema equilibrado. Vale salientar que θ é o
ângulo entre a tensão de fase e a corrente de fase e não entre a
tensão de linha e corrente de linha.

A abertura angular θ entre a tensão de fase e a corrente de fase


define o sentido de fluxo da potência útil e reativa como
demonstrado no Capítulo 4, seção 4.10.

Da Equação 7.20 verifica-se que a magnitude da potência aparente


é dada por:

S3φ = 3 VL I L
(
= 3 3 VF ⋅ I F ) (7.24)
= 3 VF I F

onde |VF| e |IF| representam valores eficazes de fase.

Com base na Equação 7.22 e 7.23 tem-se que:

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6-13

P32φ + Q 32φ = ( 3 VL I L ) ⋅ (sen θ + cos θ ) = S


2 2 2

2
(7.25)

Assim,
S3φ = P32φ + Q 32φ (7.26)

7.3.2.2. Potência em Sistema Conectado em Δ

Para um gerador conectado em delta, a potência trifásica entregue


pelo gerador é calculada por:

S3φ = Vab I *ab + Vbc I *bc + Vca I *ca


a
= Vab I ab ∠θ + Vbc I bc ∠θ + Vca I ca ∠θ
Ica Iab = 3 Vab I ab ∠θ (7.27)
b Ia
= 3 Vab ∠θ
Ibc 3
c
= 3 Vab I a (cos θ + jsenθ )

Assim,
P3φ = 3 VL I L cos θ
(7.28)
= 3 VF I F cos θ
e
Q 3φ = 3 VL I L senθ
(7.29)
= 3 VF I F senθ

7.3.3. Fator de Potência de Deslocamento

O fator de potência de deslocamento de um sistema trifásico


equilibrado é definido pela relação entre a potência útil trifásica e a
potência aparente trifásica. Assim,

P3φ
FPD = (7.30)
S3φ

Pela Equação 7.24 e 7.28 tem-se que:

FPD = cos θ (7.31)

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6-14

O fator reativo é definido pela relação da potência reativa e da


potência aparente, assim,

Q3φ
FR = = senθ (7.32)
S3φ

O ângulo θ das Equações 7.31 e 7.32 representa a abertura


angular entre a tensão de fase e a corrente de fase, independente
de ser a conexão Δ ou Y.

7.3.4. Medição de Potência em Circuitos Trifásicos

O instrumento básico usado para medir potência em circuitos


trifásicos é o Wattímetro. O wattímetro eletromecânico contém duas
bobinas. A primeira, chamada bobina de corrente, é estacionária e
recebe uma corrente proporcional à carga. A segunda, chamada
bobina de potencial, é móvel e recebe uma corrente proporcional à
tensão na carga. O wattímetro acusa uma leitura proporcional ao
produto da corrente através da bobina de corrente, pela tensão
aplicada à bobina de potencial e pelo co-seno do ângulo de fase
entre a tensão e a corrente. A Figura 7.13 mostra os símbolos
básicos e a conexão de um wattímetro medindo a potência de uma
carga. O resistor em série com a bobina de tensão limita a corrente
através da bobina a uma pequena parcela proporcional à tensão
aplicada à bobina. Note na Figura 7.13 (b) que o terminal positivo
da bobina de corrente deve ser conectado na direção da fonte e o
terminal positivo da bobina de potencial deve ser ligado ao outro
terminal da bobina de corrente para que haja uma medição correta
do sentido da potência medida.

1 BC 2
BC 2
1
+
+ + 3
+3 BP
BP VF RL

4
4

(a) (b)
Figura 7.13: Esquema de um wattímetro (a) e um wattímetro medindo potência
de uma carga.

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6-15

7.4.1.1. Método dos Três Wattímetros

Com três wattímetros é possível a leitura da potência em uma


carga trifásica balanceada ou desbalanceada, conectada em Y ou
em Δ. A Figura 7.14 mostra a medição da potência em uma carga
conectada em Y e em Δ.

Figura 7.14: Medição de potência trifásica com três wattímetros em carga Y e Δ.

A potência total é determinada pela soma da medição de cada


wattímetro.

P3φ = P1 + P2 + P3 (7.33)

Para uma carga balanceada, a potência total é simplesmente três


vezes a leitura de um wattímetro.

Em muitas cargas trifásicas, particularmente cargas em Δ, não é


exeqüível interromper as fases da carga em Δ para ligação do
instrumento. Para a carga em Y, é necessário levar-se a ligação ao
ponto neutro. Este ponto não é sempre acessível. Daí ser
geralmente empregado um outro método que faz uso de apenas
dois wattímetros para medir potência trifásica.

7.4.1.2. Método dos Dois Wattímetros

Este método é aplicável para ligações trifásicas a três fios (3 fases)


equilibradas ou não. A conexão de dois wattímetros a uma carga
trifásica quer conectada em Y ou Δ é mostrada na Figura 7.15.

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6-16

IL
1 2
a
W2
3 VL Carga
4
b Y ou Δ
IL
1 VL
2
c
W1
3
4

Figura 7.15: Método dos dois wattímetros.

Note que a bobina de tensão de cada wattímetro é conectada à


tensão de linha e que através da bobina de corrente circula a
corrente de linha. A mesma recomendação apresentada em
relação à polaridade das bobinas de corrente e de potencial deve
ser observada na conexão de mais de um wattímetro, i.é.,
polaridade positiva da bobina de corrente ligada à fonte e
polaridade positiva da bobina de tensão ligada ao outro terminal da
bobina de corrente, terminal junto à carga.

Vcb

Vcn

Ic Vab
-30º

30º
Van

Ia

Vbn
Figura 7.16: Diagrama fasorial de tensões e correntes com a fase b como
referência.

Considerando que a fase b é a fase comum à ligação das bobinas


de potencial de ambos wattímetros, tem-se que:

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6-17

W1 = Vcb I c cos δ = Vcb I c cos ( −30D − ( −θ ) )


Vcb
Ic

(
= Vcb I c cos θ − 30
D

) (7.34)
W2 = Vab I a cos δ = Vab I a cos ( 30D − ( −θ ) )
Vab
Ia

(
= Vab I a cos θ + 30
D

)
O ângulo θ representa o ângulo da impedância da carga ou o
defasamento entre a tensão de fase e a corrente de fase da carga.

Como a carga é equilibrada, tem-se que:

W1 = VL I L cos θ − 30D ( )
(7.35)
W2 = VL I L cos (θ + 30 )
D

A soma das leituras dos wattímetros W1 e W2,

W1 + W2 = VL I L ( cos 30D cos θ + sen30D senθ + cos 30D cos θ − sen30D senθ )
= 2 VL I L cos θ cos 30D (7.36)
= 3 VL I L cos θ

Portanto, a soma algébrica da leitura dos dois wattímetros mede


corretamente a potência num sistema trifásico de qualquer fator de
potência.

Se a fase comum fosse a fase c, ter-se-ia como diagrama fasorial e


leitura dos wattímetros W1 e W2:

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6-18

Vcn

Ic

Van

-30º Ia
Ib -θ 30º

Vbn Vac

Vbc

Figura 7.17: Diagrama fasorial de tensões e correntes com a fase c como


referência.

W1 = Vac I a cos δ
Vac
Ia
( )
= Vac I a cos − 30 D − (− θ ) = VL I L cos θ − 30 D ( )
(7.37)
W2 = Vbc I b cos δ = Vbc I b cos(30 − (− θ )) = V (
I L cos θ + 30 D )
Vbc D
Ib L

cuja soma é igual a da Equação 7.36.

Se a fase a fosse considerada como referência, então:

Vca
Vcn

Ic
30º

Van
-30º
Ia
Ib -θ
Vba

Vbn

Figura 7.18: Diagrama fasorial de tensões e correntes com a fase a como


referência.

W1 = Vba I b cos δ = Vba I b cos(− 30 D − (− θ )) = VL I L cos(θ − 30 D )


Vba
Ib
(7.38)
W2 = Vca I c cos δ = Vca I c cos(30 D − (− θ )) = VL I L cos(θ + 30 D )
Vca
Ic

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6-19

As leituras dos wattímetros W1 e W2 resultam em valores


diferentes, na grande maioria das vezes. Em condição de equilíbrio,
somente quando o fator de potência de deslocamento da carga for
unitário, i.é., θ=0o, a leitura de W1 e W2 é igual, resultando na soma
algébrica igual à potência útil total de √3|VL||IL|.

(
W1 = VL I L cos 0 D − 30 D =
2
)
3
VL I L
(7.39)
(
W2 = VL I L cos 0 D + 30 D =
2
)
3
VL I L

Para a condição de fator de potência igual a ½, i.é., θ=60º,


adiantado ou atrasado, a leitura em um dos wattímetros será nula.
Quando FPD for igual a 0,5 adiantado, a leitura no wattímetro W2 é
nula e a potência total é simplesmente igual à leitura de W1. Por
outro lado, para um fator de potência igual a 0,5 atrasado, θ=-60º, a
leitura no wattímetro W1 é nula.
W1 = VL I L cos(60 D − 30 D ) =
3
VL I L
2 (7.40)
W2 = VL I L cos(60 D + 30 D ) = 0

Para θ=90º (fator de potência nulo), a leitura de W1 e W2 é igual,


porém de sinais contrários, resultando na soma algébrica igual a
zero para a potência útil total.

(
W1 = VL I L cos 90 D − 30 D =
1
2
)
VL I L
(7.41)
( 1
)
W2 = VL I L cos 90 D + 30 D = − VL I L
2

É essencial no método dos dois wattímetros que os sinais corretos


sejam dados às leituras dos mesmos, e que a soma seja feita
algebricamente.

7.4.1.3. Volt-ampère Reativos

Os volt-ampère reativos num circuito trifásico equilibrado podem


ser expressos por:

(
Q1 = Vab I a sen θ + 30 D )
(7.42)
Q2 = Vcb I c sen(θ − 30 )
D

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6-20

A potência reativa total,

Q 3φ = Q1 + Q 2
[
= VL I L senθ cos 30 D + sen30 D cos θ + senθ cos 30 D − sen30 D cos θ ] (7.43)
= 3 VL I L senθ

A potência pode também ser obtida a partir da diferença entre as


leituras dos wattímetros, multiplicada por √3.

Q3φ = 3 (W1 − W2 ) (7.44)

Como a relação entre os volt-ampères reativos e a potência útil é


igual à tgθ, segue-se que pela relação entre as equações que
definem a potência reativa a partir da leitura do wattímetro dividida
pela soma das leituras dos wattímetros, que define, por sua vez, a
potência útil, tem-se:

3 (W1 − W2 )
tgθ = (7.45)
W1 + W2

7.3.5. Vatagens dos Sistemas Trifásicos sobre os Monofásicos

Todos os sistemas são comparados na base de uma determinada


quantidade de potência transmitida a uma determinada distância
com a mesma quantidade de perda e para a mesma tensão
máxima entre condutores. Em todos os casos, o peso total de
cobre será diretamente proporcional ao número de fios, uma vez
que a distância é fixada e inversamente proporcional à resistência
de cada fio. Como é suposto que fator de potência e tensão são
iguais tanto para o sistema monofásico como para o trifásico, tem-
se que:

P1φ = VI1φ cos θ


(7.46)
P3φ = 3VI 3φ cos θ
Como
P1φ = P3φ
VI1φ cos θ = 3VI 3φ cos θ (7.47)
I1φ = 3I 3φ
Também,
I12φ R 1φ × 2 = I 32φ R 3φ × 3 (7.48)

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6-21

ou
R 1φ 3I 32φ 3I 32φ 1
= = = (7.49)
R 3φ 2I 2
1φ 3I × 2
2
3φ 2

N D condutores trifásicos
Cobre trifásico R 3φ
= D
Cobre mofásico N condutores monofásicos
R 1φ
N D condutores trifásicos R 1φ
= D
× (7.50)
N condutores monofásicos R 3φ
3 1 3
= × =
2 2 4

A relação acima mostra que a mesma quantidade de potência pode


ser transmitida a uma determinada distância com uma determinada
perda na linha com apenas três quartos da quantidade de cobre
que seria necessário para a transmissão monofásica ou 1/3 a mais
de cobre é necessário para a monofásica que seria para a trifásica.

Como visto na Equação 7.18 e 7.19, a potência trifásica é


constante, enquanto a monofásica é pulsante; isto significa que
máquinas motoras trifásicas apresentam um conjugado ou torque
contínuo ( τ = P ω ) e as máquinas monofásicas, conjugado pulsante
o que resulta em maior estresse para a máquina.

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Referências

[1] Floyd, T.L. Principles of Electric Circuits, 6th Ed. Prentice Hall,
2000. ISBN 0-13-095997-9.927p.

[2] Nilsson, James W., Reidel, Susan A., Circuitos Elétricos, LTC,
6a Edição, 2003.

[3] Kerchner, R.M., Corcoran, G.F., Circuitos de Corrente


Alternada, Porto Alegre, Globo, 1973.

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Capítulo 8 SISTEMAS POLIFÁSICOS NÃO EQUILIBRADOS

Neste capítulo serão desenvolvidos métodos de cálculo para


análise de circuitos polifásicos não equilibrados. Qualquer carga
polifásica em que a impedância numa ou mais fases difere das
outras fases, diz-se ser não equilibrada. Mesmo que as
impedâncias de carga das várias fases sejam idênticas, um dos
métodos de cálculo de cargas não equilibradas deve ser
empregado se as tensões aplicadas à carga forem desiguais e
diferirem em fase por ângulos diferentes.

Va

Vc

Vb

Figura 8.1: Sistema trifásico desequilibrado.

As soluções em geral desejadas no exame de um circuito são:


− As correntes nos ramos. Um ramo é considerado como sendo

o elemento em série total entre quaisquer dois pontos de


junção da rede.
− As várias tensões componentes.

− As várias potências componentes, tanto gerada como


absorvida.

Uma determinada quantidade mínima de informações concernentes


ao circuito ou rede deve estar disponível antes que as soluções
desejadas possam ser obtidas.

8.1. Cargas Não Equilibradas em Δ

Se as tensões trifásicas de linha através dos terminais de uma


carga não equilibrada em Δ forem fixadas, a queda de tensão
através de cada impedância de fase é conhecida. As correntes em
cada fase podem, portanto, ser determinadas diretamente. As

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8-2

correntes de linha podem ser determinadas somando-se


fasorialmente as duas correntes componentes que chegam ou
saem nos terminais da linha em questão.
a
+
-
Vab Zab Zca
Vbc Iab Ica
-
Ibc +
b + -

Vca Zbc
c

Figura 8.2: Carga não equilibrada em Δ.

Vab = VL ∠0 D
Vbc = VL ∠ − 120 D (8.1)
Vca = VL ∠ + 120 D

onde |VL|=|Vab|=|Vbc|=|Vca|.

A corrente que circula através de cada impedância:

Vab
I ab =
Z ab
Vbc
I bc = (8.2)
Z bc
Vca
I ca =
Z ca

Como a impedância da carga não é equilibrada, as correntes de


fase não serão equilibradas e a soma fasorial dessas correntes é
diferente de zero, o que significa que haverá corrente resultante
circulando no interior do delta como conseqüência da condição de
desequilíbrio.

I ab + I bc + I ca ≠ 0 (8.3)

As correntes de linha são:


I a = I ab − I ca
I b = I bc − I ab (8.4)
I c = I ca − I bc

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8-3

Embora as correntes de linha resultantes de uma condição de


desequilíbrio sejam desbalanceadas, a soma fasorial dessas
correntes é nula, como pode ser visto a partir da Equação 8.4.

I a + Ib + Ic = 0 (8.5)

Exemplo 8.1
É dada a carga não equilibrada, em Δ, mostrada na Figura 8.3.
Calcular todas as correntes para as tensões trifásicas equilibradas
mostradas na figura, se a seqüência das tensões for ab-ca-bc.
c’ c
Ic
+ - 4Ω
100V
20Ω
Ica Ibc 3Ω
100V
-
Iab +
Ia
a’ + -
a 6Ω 8Ω b
100V
Ib
b’
Figura 8.3: Carga não equilibrada em Δ.

A tensão de linha Vab será tomada como referência angular.


bc
Vab = 100∠0 = 100 [V ]
D ca

Vbc = 100∠ + 120D = −50 + j86, 6 [V ] ab ab

Vca = 100∠ − 120D = −50 − j86, 6 [V ] ca


bc

As correntes de fase:

Vab 100 + j 0
I ab = = = 6 − j8 = 10∠ − 53,1D [ A]
Z ab 6 + j8
Vbc −50 + j86, 6
I bc = = = −18,39 + j 7,856 = 20∠156,9D [ A]
Z bc 4 − j3
Vca −50 − j86, 6
I ca = = = −2,5 − j 4,33 = 5∠ − 120D [ A]
Z ca 20 + j 0

As correntes de linha são:


I a = I ab − I ca = ( 6 − j8 ) − ( −2,5 − j 4,33) = 8,5 − j 3, 67 = 9, 26∠ − 23, 4D [ A]
I b = I bc − I ab = ( −18,39 + j 7,856 ) − ( 6 − j8 ) = −24,39 + j15,856 = 29∠146,9D [ A]
I c = I ca − I bc = ( −2,5 − j 4,33) − ( −18,39 + j 7,856 ) = 15,89 − j12,186 = 20∠ − 37,3D [ A]

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8-4

Verifica-se que assim como as tensões de linha, as correntes de


fase e de linha apresentam seqüência negativa.

A soma fasorial das correntes de fase mostra que como resultado


do desequilíbrio haverá uma corrente resultante circulando no
interior da carga Δ.

I ab + I bc + I ca = ( 6 − j8 ) + ( −18,39 + j 7,856 ) + ( −2,5 − j 4,33)


= −14,89 − 4, 474 = 15,55∠ − 163, 28D [ A]

Vale salientar que embora as correntes de linha sejam


desequilibradas, sua soma fasorial é nula – o desequilíbrio nas
correntes de fase leva a um desequilíbrio nas correntes de linha
cuja soma fasorial é nula.

I a + I b + I c = 9, 26∠ − 23, 4D + 29∠146,9D + 20∠ − 37,3D = 0,12∠19,15D ≅ 0 [ A]

8.2. Cargas Não Equilibradas em Y

Se as tensões de carga nos terminais a, b, e c de uma carga não


equilibrada, conectada em Y, como mostrada na Figura 8.4 são
equilibradas, então as correntes de fase de um Δ equivalente, que
substitui o Y, podem ser determinadas diretamente. As correntes
de linha para o Δ equivalente são as correntes nas fases da carga
em Y.
a

Zan
Vab Zab Zca
Vbc
Zbn Zcn
b Zbc
Vca
c

Figura 8.4: Conversão de carga conectada em Y em carga equivalente


conectada em Δ.

Supondo conhecidas as tensões de linha, equilibradas:

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8-5

Vab = VL ∠ϕ
Vbc = VL ∠ϕ − 120D (8.6)
Vca = VL ∠ϕ + 120D

e as impedâncias de fase, desequilibradas, Zan, Zbn, e Zcn, as


correntes de linha Ia, Ib e Ic podem ser determinadas pelo método
de conversão do Y em equivalente Δ.

As impedâncias equivalentes em Δ podem ser expressas em


função das impedâncias em Y como segue:

Z an Z bn + Z bn Z cn + Z cn Z an S
Z ab = =
Z cn Z cn
S
Z bc = (8.7)
Z an
S
Z ca =
Z bn

em que S = Z an Zbn + Z bn Z cn + Z cn Z an .

As correntes de carga no Δ equivalente são:

Vab
I ab =
Z ab
Vbc
I bc = (8.8)
Z bc
Vca
I ca =
Z ca

As correntes de linha e de carga, no presente caso, são:

I a = I ab − I ca
I b = I bc − I ab (8.9)
I c = I ca − I bc

Conhecidas as correntes de linha Ia, Ib e Ic, que são as mesmas


correntes através das impedâncias Zan, Zbn e Zcn, pode-se
determinar as tensões de fase na carga em Y:

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8-6

Van = I a Z an
Vbn = I b Z bn (8.10)
Vcn = I c Z cn

Como a carga é desequilibrada, a tensão de fase não mais pode


ser expressa em função da tensão de linha, i.é., VF=(|VL|/√3)∠30º,
como na condição equilibrada. Como, na condição de desequilíbrio
tem-se a não simetria das tensões de fase, verifica-se que o ponto
neutro sofre deslocamento.

Exemplo 8.2
Um conjunto de tensões trifásicas equilibradas, seqüência acb, é
conectado a um conjunto de impedâncias não equilibradas que
estão ligadas em Y, como mostrado na Figura 8.5. Supõem-se
serem conhecidos os seguintes valores:

a
Ia

10Ω

n
10Ω
20Ω

10Ω
b Ib

c Ic

Figura 8.5: Carga desequilibrada conectada em Y.

Vab = 212∠90D [V ] Z an = (10 + j 0 ) = 10 [ Ω ]


Vbc = 212∠ − 150D [V ] Z bn = (10 + j10 ) = 14,14∠45D [ Ω ]
Vca = 212∠ − 30D [V ] Z cn = ( 0 − j 20 ) = 20∠ − 90D [ Ω ]

Pelo método de conversão de Y para Δ tem-se para as


impedâncias equivalentes Δ:

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8-7

S = Z an Z bn + Z bn Z cn + Z cn Z an
( ) ( )(
= 10 14,14∠45D + 14,14∠45D 20∠ − 90D + 20∠ − 90D 10 ) ( )
= 141, 4∠45D + 282,8∠ − 45D + 200∠ − 90D
= ( 99,98 + j 99,98 ) + (199,97 − j199,97 ) + ( 0 − j 200 )
= 300 − j 300 = 424, 26∠ − 45D ⎡⎣Ω 2 ⎤⎦

300 − j 300 424, 26∠ − 45D


Z ab = = = 15 + j15 = 21, 21∠45D [ Ω ]
0 − j 20 20∠ − 90 D

300 − j 300 424, 26∠ − 45D


Z bc = = = 30 − j 30 = 42, 43∠ − 45D [ Ω ]
10 − j 0 10
300 − j 300 424, 26∠ − 45D
Z ca = = = 0 − j 30 = 30∠ − 90D [ Ω ]
10 + j10 14,14∠45 D

As correntes de fase na carga equivalente Δ são:

Vab 212∠90D
I ab = = = 10∠45D [ A]
Z ab 21, 21∠45D
Vbc 212∠ − 150D
I bc = = = 5∠ − 105D [ A]
Z bc 42, 43∠ − 45D

Vca 212∠ − 30D


I ca = = = 7, 07∠60D [ A]
Z ca 30∠ − 90 D

As correntes de linha e de fase na carga Y são:

I a = I ab − I ca = 10∠45D − 7, 07∠60D = 3, 66∠15D [ A]


I b = I bc − I ab = 5∠ − 105D − 10∠45D = 14,56∠ − 125,1D [ A]
I c = I ca − I bc = 7, 07∠60D − 5∠ − 105D = 11,98∠66, 2D [ A]

Notar que o desequilíbrio faz-se presente tanto nas correntes de


fase da carga equivalente, como nas correntes de linha.

A soma das correntes de fase no delta equivalente:

I ab + I bc + I ca = 10∠45D + 5∠ − 105D + 7, 07∠60D = 12,52∠42D [ A]

O que denota circulação de corrente no interior do delta


equivalente.

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8-8

No entanto, a soma das correntes de linha que alimentam a carga


desequilibrada:

I a + I b + I c = 3, 66∠15D + 14,56∠ − 125,1D + 11,98∠66, 2D


= 4, 42 × 10−3 ∠ − 121,59D ≅ 0 [ A]

A tensão de fase na carga Y é dada por:

( )( )
Van = Z an I a = 10∠0D ⋅ 3, 66∠15D = 36, 6∠15D [V ]
Vbn = Z bn I b = (14,14∠45 ) ⋅ (14,56∠ − 125,1 ) = 205,88∠ − 80,1 [V ]
D D D

Vcn = Z cn I c = ( 20∠ − 90 ) ⋅ (11,98∠66, 2 ) = 239, 6∠ − 23,8 [V ]


D D D

Note a assimetria nas tensões de fase indicando o deslocamento


do neutro.

Em um sistema equilibrado, a conexão delta é representada por um


triângulo eqüilátero e na conexão Y o neutro é eqüidistante ao
vértice do triângulo equilátero.

Van

Vca
Vab
Vcn

Vbc
Vbn
Figura 8.6: Diagrama fasorial das tensões de fase em carga desequilibrada
conectada em Y e tensões de linha.

Embora as tensões de fase Van, Vbn e Vcn não sejam simétricas, as


tensões de linha o são, formando um triângulo eqüilátero.

Vab = Van − Vbn = 36,5∠15D − 205,88∠ − 80,1D = 212, 26∠90D [V ]

Vbc = Vbn − Vcn = 205,88∠ − 80,1D − 239, 6∠ − 23,8D = 212, 26∠ − 150D [V ]

Vca = Vcn − Van = 239, 6∠ − 23,8D − 36, 6∠15D = 212,32∠ − 30D [V ]

A potência entregue pela fonte a cada fase da carga é obtida como:

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8-9

( )( )
S a = Va I a* = 36, 6∠15D ⋅ 3, 66∠ − 15D = 133,956∠0D [VA]
Sb = Vb I b* = ( 205,88∠ − 80,1 ) ⋅ (14,56∠125,1 ) = 2997, 61∠45 [VA]
D D D

Sc = Vc I c* = ( 239, 6∠ − 23,8 ) ⋅ (11,98∠ − 66, 2 ) = 2870, 41∠ − 90 [VA]


D D D

A potência total da carga trifásica em Y:

S3φ = S a + Sb + Sc
= (133,96 + j 0 ) + ( 2119, 63 + j 2119, 63) + ( − j 2870, 41)
= 2253,59 − j 750, 78 = 2,375∠ − 18, 43D [ kVA]

O mesmo resultado seria obtido para a potência total se fossem


utilizados valores da carga equivalente em Δ.

S ab = Vab I ab
*
( )( )
= 212∠90D ⋅ 10∠ − 45D = 2120∠45D [VA]
Sbc = Vbc I bc* = ( 212∠ − 150 ) ⋅ ( 5∠105 ) = 1060∠ − 45 [VA]
D D D

Sca = Vca I ca* = ( 212∠ − 30 ) ⋅ ( 7, 07∠ − 60 ) = 1498,84∠ − 90 [VA]


D D D

A potência total da carga trifásica em Δ:

S3φ = S ab + Sbc + Sca


= (1499, 07 + j1499, 07 ) + ( 749,53 − j 749,53) + ( 0 − j1498,84 )
= 2248, 6 − 749,3 = 2,370∠ − 18, 43D [ kVA]

Observe que a potência trifásica não mais pode ser obtida a partir
de √3.|VL||IL|, mas sim a partir da contribuição individual de cada
fase.

A conversão de Y em seu Δ equivalente, juntamente com a solução


do Δ, exigirá, usualmente, igual ou maior quantidade de trabalho
que a solução direta do Y empregando duas equações simultâneas
obtidas pela aplicação das Leis de Kirchhoff.

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8-10

a
Ia
+

Malha 1 10Ω
-
- n
10Ω - 20Ω

10Ω +
Ib +
b

Malha 2
c Ic

Figura 8.7: Correntes de malha em carga desequilibrada conectada em Y

Na malha 1, aplicando-se a lei de Kirchhoff para as tensões, tem-se


ao circular a malha, a tensão da fonte Vab, seguida de uma queda
de tensão em Zan e de uma elevação de tensão em Zbn. Assim,

Vab − Z an I a + Z bn I b = 0
ou
Vab = Z an I a − Z bn I b (8.11)

Seguindo o mesmo procedimento na malha 2, tem-se:

Vbc = Z bn I b − Z cn I c (8.12)

A terceira equação pode ser obtida pela aplicação da lei de


Kirchhoff para as correntes aplicadas ao nó n. Como o neutro é não
aterrado, a soma das correntes que chegam ao nó n é nula.

Ia + Ib + Ic = 0 (8.13)

A partir do sistema de equações simultâneas e independentes é


possível calcular as três incógnitas Ia, Ib, e Ic.

Se Ic na Equação 8.13 é explicitada e substituída na Equação 8.12,


o sistema de equações reduz-se a duas equações com duas
incógnitas.

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8-11

Vab = Z an I a − Z bn I b
(8.14)
Vbc = Z bn I b + Z cn (I a + I b ) = Z cn I a + (Z bn + Z cn )I b

A Equação 8.14 pode ser escrita na forma matricial e a solução ser


obtida pela manipulação de matrizes.

⎡Vab ⎤ ⎡ Z an − Z bn ⎤ ⎡I a ⎤
⎢V ⎥ = ⎢ Z (Z bn

+ Z cn )⎥⎦ ⎢⎣ I b ⎥⎦
(8.15)
⎣ bc ⎦ ⎣ cn

As correntes Ia e Ib são calculadas pelo produto do inverso da


matriz de impedância, que é a matriz admitância, pelo vetor coluna
matricial [Vab Vbc]t.
−1
⎡ I a ⎤ ⎡ Z an − Z bn ⎤ ⎡Vab ⎤
⎢I ⎥ = ⎢Z ( Zbn + Z cn )⎥⎦ ⎢⎣Vbc ⎥⎦
(8.16)
⎣ b ⎦ ⎣ cn

Uma vez conhecida Ia e Ib, a corrente Ic pode ser obtida bem como
as tensoes de fase da carga Y.

8.3. Cargas Combinadas em Y e Δ

Cargas conectadas em Δ são algumas vezes operadas em


conjunto com cargas conectadas em Y, como mostrado na Figura
8.8.
a a

Zab Zan Zca Zab(eq) Zca(eq)


Vab Vab
Vbc Vbc
Zbn Zcn Zbc(eq)
b b
Vca Zbc
Vca
c c
Figura 8.8: Cargas em Δ e em Y no mesmo sistema de tensões.

Se as tensões trifásicas entre linhas Vab, Vbc, e Vca permanecerem


constantes, indiferentemente das condições de carga, uma solução
relativamente simples pode ser obtida convertendo-se, inicialmente,
a carga em Y numa carga equivalente Δ. Os dois Δ em paralelo
podem então ser combinados para formar uma única carga

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8-12

equivalente conectada em Δ e as correntes no equivalente


calculadas diretamente como:

Vab
I ab ( eq ) =
Z ab ( eq )
Vbc
I bc ( eq ) = (8.17)
Z bc ( eq )
Vca
I ca ( eq ) =
Z ca ( eq )

8.4. Sistema Y-Y sem conexão dos neutros

O gerador trifásico conectado em Y, mostrado na Figura 8.9, é


ligado a uma carga trifásica conectada em Y através de
impedâncias de linha.

ZL

Ia
Malha 1

ZF ZF Ib + +
ZL
+ + Zbn Zan
- -
- -
Ea Eb Malha 2
-
Ec -

+ Zcn
ZF +
Ic ZL

Figura 8.9: Rede trifásica trifilar.

Em geral, todas as f.e.m geradas em sistemas polifásicos têm


polaridades relativas e posições angulares especificadas uma em
relação às outras. Esta informação deve ser conhecida seja direta
ou indiretamente se o exame do circuito deve ser procedido. Por
exemplo, se um alternador trifásico for conectado em Y, pode ser
suposto que as fases individuais são conectadas subtrativamente
num nó comum como mostrado na Figura 8.9. É apenas por
polaridades subtrativas que uma máquina trifásica conectada em Y
pode dar tensões equilibradas entre linhas. A menos que seja
especificado em contrário, as f.e.m geradas pelas fases individuais
de uma máquina trifásica podem ser supostas estar 120º
defasadas. As condições de polaridade e defasamento angular são
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8-13

suficientes para uma especificação dos sentidos positivos de


circuito na rede.

As leis de Kirchhoff para a rede da Figura 8.9 são:

Ia + Ib + Ic = 0 (8.18)
E a − Eb = (Z F + Z L + Z an )I a − (Z bn + Z L + Z F )I b (8.19)
Eb − E c = (Z F + Z L + Z bn )I b − (Z cn + Z L + Z F )I c (8.20)

A relação

E c − E a = (Z F + Z L + Z cn )I c − (Z an + Z L + Z F )I a (8.21)

pode, sem dúvida, ser usada em lugar ou da Equação 8.19 ou da


Equação 8.20.

Se as f.e.m, E, e as impedâncias, Z, forem conhecidas seja direta


ou indiretamente é possível resolver as equações simultâneas 8.18,
8.19 e 8.20.

Se Ic for eliminado da Equação 8.18, as relações reduzem-se a:

(Z F + Z L + Z an )I a − (Z F + Z L + Z bn )I b = E a − Eb
(8.22)
(Z F + Z L + Z cn )I a + (2Z F + 2Z L + Z bn + Z cn )I b = Eb − Ec

Na forma matricial tem-se:

⎡(Z F + Z L + Z an ) − (Z F + Z L + Z bn ) ⎤ ⎡ I a ⎤ ⎡ E ab ⎤
⎢ (Z + Z + Z ) ⋅ = (8.23)
⎣ F L cn (2Z F + 2Z L + Z bn + Z cn )⎥⎦ ⎢⎣ I b ⎥⎦ ⎢⎣ Ebc ⎥⎦

O denominador comum das soluções para Ia e Ib sob forma de


determinante é:

(Z F + Z L + Z an ) − (Z F + Z L + Z bn )
D= (8.24)
(Z F + Z L + Z cn ) (2Z F + 2Z L + Z bn + Z cn )

Depois de D ter sido calculado, as soluções para as três correntes


nos ramos podem ser escritas como:

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8-14

(E a − E b ) − (Z F + Z L + Z bn )
(Eb − Ec ) (2Z F + 2Z L + Z bn + Z cn )
Ia = (8.25)
D

(Z F + Z L + Z an ) (E a − Eb )
(Z F + Z L + Z cn ) (Eb − Ec )
Ib = (8.26)
D

I c = −I a − I b (8.27)

Depois que as correntes nos ramos tiverem sido calculadas, em


qualquer caso particular, as tensões e potências componentes no
sistema trifásico trifilar podem ser determinadas em função da
teoria elementar de circuito.

Por meio de uma aplicação da Lei de Kirchhoff relativa às


correntes, ao marcar um diagrama de circuito, é possível escrever
as equações usuais das correntes para efetuar uma solução. As
únicas equações necessárias são as equações ordinárias das
malhas. Na rede re-apresentada na Figura 8.10 a corrente Ic é
substituída por Ia + Ib com direção oposta à original.
ZL

Ia
Malha 1

ZF ZF Ib + +
ZL
+ + Zbn Zan
- -
- -
Ea Eb Malha 2
-
Ec -

+ Zcn
ZF +
Ia+Ib ZL

Figura 8.10: Rede trifásica trifilar.

Há, agora, apenas duas correntes desconhecidas, e duas


equações independentes serão suficientes. As duas equações
necessárias são, portanto, as duas equações independentes de
malhas que seguem:

(Z F + Z L + Z an )I a − (Z bn + Z L + Z F )I b = E a − Eb
(8.28)
(Z F + Z L + Z bn )I b + (Z cn + Z L + Z F )(I a + I b ) = Eb − Ec
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8-15

8.5. Emprego de N-1 Wattímetros para Medir Potência N-filar

Exceto por perdas e erros inerentes aos medidores, os três


wattímetros conectados, como indicado na Figura 8.10, medirão
corretamente a potência consumida pela carga trifásica abc. Uma
prova geral disto será dada, e, então deduções importantes serão
feitas da mesma.

Figura 8.10: Medida de potência independente do potencial e da posição física


do ponto 0.

A potência média total entregue à carga trifásica mostrada na


Figura 8.10, num intervalo de tempo T, é:

1 T
(v an ia′a + vbn ib′b + vcn ic′c )dt
T ∫0
Pabc = (8.29)

A potência média total medida pelos três wattímetros mostrados na


Figura 8.10 é:

∫ (v + vb 0 ib′b + vc 0 ic′c )dt


1 T
Pmedidores = i
a 0 a ′a (8.30)
T 0

Sob qualquer condição, é evidente que:

v a 0 = v an − v0 n
vb 0 = vbn − v0 n (8.31)
vc 0 = vcn − v 0 n

A equação em Pmedidores pode, portanto, ser escrita como:

∫ (v + vbn ib′b + vcn ic′c )dt − v 0 n (ia′a + ib′b + ic′c )dt


1 T 1 T
T ∫0
Pmedidores = i
an a′a (8.32)
T 0

Como (ia′a + ib′b + ic′c ) = 0 , segue-se que:

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∫ (v + vbn ib′b + vcn ic′c )dt


1 T
Pmedidores = i
an a′a (8.33)
T 0

Está, assim, mostrado que os três wattímetros na Figura 8.10


medem a potência da carga indiferentemente do equilíbrio de
tensões ou correntes, da forma de onda, e do potencial do ponto 0.
O último fato é altamente significativo. Ele indica que as bobinas de
potencial dos wattímetros não precisam ter resistências iguais
quando empregadas como indicado na Figura 8.10. Indica,
também, que o ponto 0 pode ser colocado em qualquer uma das
três linhas, reduzindo, em conseqüência disto, uma leitura de
wattímetro a zero. Embora a prova tenha se baseado numa carga
conectada em Y, ela se adapta por inteiro igualmente bem a cargas
conectadas em Δ. Um modo simples de ampliar a prova a fim de
que abranja as cargas em Δ é recordar o fato de que qualquer
carga em Δ pode ser reduzida a uma carga equivalente conectada
em Y.

O resultado prático da colocação do ponto 0 em uma qualquer das


três linhas é que somente dois wattímetros são necessários para
medir a potência trifásica total. Este expediente é largamente
utilizado em medidas de potência trifásica trifilar, porque não possui
limitações quanto ao equilíbrio ou forma de onda. Assim, em geral,
N-1 elementos de wattímetros podem ser empregados para medir
potência N-filar.

Os dois wattímetros usados para medir potência trifásica podem


ser colocados no circuito tomando como referência para as bobinas
de potencial as linhas a, b, ou c como mostrado no Capítulo 7,
seção 7.4.1.2. As três combinações são obtidas colocando-se o
ponto 0 da Figura 8.10 nas linhas a, b e c.

Em um sistema trifásico tetrafilar são necessários três wattímetros


para a leitura da potência total. No entanto, se o sistema é senoidal
equilibrado não haverá circulação de corrente no neutro, podendo o
sistema ser considerado trifilar e como tal são necessários apenas
dois wattímetros.

Para as polaridades relativas das bobinas dos wattímetros


mostradas na Figura 8.10, os instrumentos indicarão na escala
crescente se estiver sendo medida uma potência positiva. Sob a
condição de forma de onda senoidal de corrente e tensão, é

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indicada potência positiva se a corrente através da bobina de


corrente no sentido ± estiver defasada por menos do que 90º da
tensão através do circuito de potencial no sentido ±. Se um dos
medidores indicar na escala decrescente quando conectado com a
bobina de potencial referenciada nas linhas a, b, ou c, a polaridade
relativa das bobinas é alterada para se obter leitura na escala
crescente e esta leitura entra como potência negativa na obtenção
da soma algébrica das leituras nos wattímetros.

8.6. Fator de Potência em Sistemas Trifásicos Não Equilibrados.

Fator de potência num sistema monofásico ou num sistema


polifásico de cargas equilibradas tem um significado físico definido.
É a relação dos watts por fase para os volt-ampères, também, por
fase. Sob condições de forma de onda senoidal, o fator de potência
é equivalente ao co-seno do ângulo de defasagem entre tensão e
corrente de fase.

Num sistema polifásico não equilibrado cada fase tem seu próprio
fator de potência. Daí resulta que a expressão fator de potência
quando aplicada ao conjunto do sistema polifásico não equilibrado,
pode ter apenas o significado que lhe é dado por definição. A
média dos fatores de potência das fases individuais é uma boa
indicação geral da relação dos watts totais para os volt-ampères
totais em certos casos onde as cargas por fase são todas indutivas
ou todas capacitivas. Onde são encontradas cargas tanto
capacitivas como indutivas, o efeito compensativo de volt-ampères
reativos capacitivos e volt-ampères reativos indutivos não é levado
em consideração. Uma outra restrição séria ao conceito de fator de
potência médio é que os fatores de potência individuais por fase
não são facilmente determinados em muitas instalações práticas.
Fator de potência médio não é geralmente considerado quando se
especifica o fator de potência de um sistema polifásico não
equilibrado.

O fator de potência de um sistema polifásico não equilibrado é


obtido como:

FP =
∑ V I cos θ (8.34)
( ∑ V I senθ ) + ( ∑ V I cos θ )
2 2

∑V I cos θ = Va I a cos θ a + Vb I b cos θ b + Vc I c cos θ c + " (8.35)

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∑V I senθ = Va I a senθ a + Vb I b senθ b + Vc I c senθ c + " (8.36)

Os subíndices empregados nas equações acima se referem a


valores individuais por fase. Por exemplo, θa é a defasagem entre a
tensão e a corrente de fase na fase a do sistema. Σ|V||I|cosθ é a
potência total consumida pela carga polifásica, cujo fator de
potência se deseja calcular. Σ|V||I|senθ é a soma algébrica dos volt-
ampères reativos individuais por fase. Ao se calcular Σ|V||I|senθ,
em qualquer caso particular, devem ser dadas as devidas atenções
ao sinal de cada componente.

O fator de potência, como definido na Equação 8.34, pode, agora,


ser escrito em qualquer uma das várias formas diferentes.

(∑ V I senθ )
FPD = cos arc tg (8.37)
(∑ V I cosθ )
ou

FPD =
∑V I k k cos θ k
(8.38)
∑V k Ik

sendo |Vk| e |Ik| os valores rms verdadeiros de tensão e corrente


para k pertencente ao conjunto das fases, i.e., k=⎨a,b,c⎬.

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Referências

[1] Floyd, T.L. Principles of Electric Circuits, 6th Ed. Prentice Hall,
2000. ISBN 0-13-095997-9.927p.

[2] Nilsson, James W., Reidel, Susan A., Circuitos Elétricos, LTC,
6a Edição, 2003.

[3] Kerchner, R.M., Corcoran, G.F., Circuitos de Corrente


Alternada, Porto Alegre, Globo, 1973.

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