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TECNOLOGIA DO PARÁ
ÁREA PROFISSIONAL DE MINERAÇÃO
CURSO TÉCNICO DE MINERAÇÃO
2021
UNIDADE III: LAVRA ACÉU ABERTO
3.1 Generalidades sobre a Lavra a Céu Aberto
A extração de minerais úteis supera os dez mil milhões de toneladas ao ano e, aumenta
ao ritmo de 4.4 - 5.5% anualmente, aproximadamente um 75% desse volume se extraem pelo
método a céu aberto. A proporção de extração superficial é elevada devida essencialmente a
dois fatores: a dificuldade crescente em descobrir depósitos minerais que possam ser
economicamente lavrados pelo método subterrâneo e a eficiência, também crescente, na
mineração de depósitos pelo método a céu aberto, embora o custo de recuperação para uma
mina de superfície esteja aumentando continuamente.
A lavra a céu aberto compreende todos os serviços executados na superfície em
aberturas (amplas ou limitadas) ou próximo dela em profundidades limitadas, visando a
extração do minério ou substancia mineral útil da jazida. Envolve casos específicos de
aproveitamento de material subterrâneo como petróleo, gases combustíveis e sais solúveis.
O planejamento de mina e desenvolvimento são fases importantes na operação de uma
mina. Para isso, a equipe de planejamento considera as condições locais de geologia,
geoestatística, topografia, hidrogeologia, geotecnia, clima e condições ambientais. Os projetos
de mina devem considerar, além da economicidade do empreendimento, os aspectos relativos
ao desenvolvimento das operações unitárias, à segurança operacional, controle ambiental e a
reabilitação da área.
Hoje em dia, climas severos em altitudes elevadas, raras vezes, impossibilitam o
desenvolvimento de lavra a céu aberto, porém podem ser prejudiciais para a eficiência da
produção e custos de operação. Entre os fatores naturais e geológicos: terreno, profundidade,
características espaciais do depósito e presença de água são variáveis muito importantes.
Preocupações ambientais e os custos na solução de problemas ambientais aparecem entre as
mais importantes considerações no planejamento e desenvolvimento de uma mina a céu
aberto.
A galeria mineira aberta, que tem seção trapezoidal e grande extensão denomina-se
trincheira. A trincheira inclinada que serve para o decapeamento e comunica a superfície com
as bancadas de trabalho da mina é conhecida como trincheira principal. A trincheira
horizontal, empregada para a criação do frente inicial de trabalho nas bancadas se denomina
trincheira de corte. A escavação de trincheiras principais que possibilitam o tráfego desde a
superfície da jazida ou desde uma parte lavrada da jazida a outra em explotação, denomina-se
decapeamento da jazida.
Os limites do perímetro da mina a céu aberto são as superfícies que passam através do
contorno inferior e superior da mina na sua etapa final (Figura 3.1). Contorno superior
denomina-se à linha de corte das bordas da mina com a superfície. Contorno inferior
denomina-se à linha de corte das bordas da mina com o plano do fundo da mina. Fundo da
mina denomina-se à superfície inferior, geralmente horizontal da mina.
O conjunto de praças e taludes dos bancos desde a superfície até o fundo da mina se
denomina talude da mina. Quando as bancadas chegam a sua face final (posição final na
exaustão da mina) forma-se o talude inativo (i 50º). O talude ativo compreende as
diferentes bancadas donde se estão desenvolvendo trabalhos (localizam-se os diferentes
equipamentos, rede elétrica, tubulação de ar comprimido, mangueira de água, etc), é também
conhecido como talude de trabalho (t 10 - 15º).
O ângulo que se forma entre a linha do talude da mina e sua projeção sobre o plano
horizontal denomina-se ângulo do talude da mina.
Métodos de Explotação
Professora: Marlis Elena Ramírez Requelme
Talude em Talude em
recesso Limite superior da mina trabalho
5
2
Profundidade
da mina
3
4
β 1
Ângulo de talude
Limite inferior da mina
Figura 3.1 - Elementos da mina a céu aberto. 1 - bancadas, 2 - bermas (praça da bancada),
3 - face ou talude do banco, 4 - fundo da mina, 5 - talude final da mina.
APLICABILIDADE
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6. Jazidas em forma de anticlinais e sinclinais - jazidas típicas de carvão (Figuras 3.2g e 3.2h,
respectivamente).
7. Jazidas dispostas acima da cota de superfície nas pendentes (Figura 4.1i) e jazidas onde a
sua parte superior encontra-se na parte alta da montanha e sua parte inferior sob o nível da
bacia em forma de “paper” (Figura 3.2j).
Vantagens
- Aproveitamento de jazidas de baixo teor.
- Elevada escala de produção e de produtividade (flexibilidade de produção).
- Desnecessidade de suporte do céu da mina (emadeiramento, cavilhamento, enchimento,
abatimento controlado, etc).
- Fácil observação e supervisão das atividades.
- Emprego de equipamentos de grande porte (mecanização e automação das diferentes
operações).
- Menores custos de extração.
- Maior segurança do trabalho, melhor higiene e iluminação.
- Menor prazo de construção (tempo de construção).
- Ausência de problemas de ventilação.
- Melhor controle do esgotamento.
Desvantagens
- Custos operacionais diretos mais elevados (exige maior remoção e movimentação de rochas
estéreis)
- Imobilização de grandes áreas superficiais (com lavra e bota-foras, etc)
- Restrições de localização (presença de rios, lagos, pântanos, mar, cidades, construções e
edificações, terrenos demasiado valorizados, reservas ecológicas, etc)
- Certa dependência das condições climáticas (chuva, vento, neve, insolação intensa, etc)
- Lavra se limita até profundidades moderadas
- Restrições de preservação do meio ambiente (preservação e restauração do solo, disposição
de estéreis e rejeitos, preservação de bosques, restauração de urbanizações, etc).
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Métodos de Explotação
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Figura 3.2 - Tipos fundamentais de jazidas minerais úteis que se lavram a céu aberto.
A lavra de jazidas minerais pelo método a céu aberto encerra as seguintes etapas
fundamentais de trabalho e processos mineiros de produção:
1. Supressaõ vegetal;
2. Remoção do capeamento;
3. Drenagem da mina;
4. Desmonte;
5. Carregamento;
6. Transporte;
7. Disposição do estéril
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Métodos de Explotação
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INTRODUÇÃO
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Métodos de Explotação
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de estéril a serem empilhados, como também se determina o de cada material para ajuste da
configuração projetada da pilha. O estéril temporário (minério marginal) destinado ao
aproveitamento futuro deve ficar preferencialmente próximo da usina de beneficiamento para
em caso de retomada reduzir a distância de transporte. Após estes procedimentos são
projetadas pilhas que tenham capacidade para atender às necessidades levantadas,
contemplando as drenagens e acessos. Define-se uma trajetória que resulte em menor
distância de transporte, entre o ponto de origem e destino do estéril. Desta maneira, a
construção dos bota-foras leva em conta:
LOCAL DE IMPLANTAÇÃO
DIMENSÃO E FORMA
Figura 3.1 - Tipos de pilhas de estéril. Tipo 1 - geometria em vale. Tipo 2 - variante da
geometria em vale, a pilha atua como barramento. Tipo 3 - geometria em meia encosta. Tipo 4
- variante da geometria em meia encosta. Tipo 5 - geometria em altura.
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Métodos de Explotação
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GEOLOGIA E CAPACIDADE
Os bota-foras por fases proporcionam fatores de segurança mais elevados, uma vez
que os taludes finais são mais baixos. A altura total pode estar limitada por fatores associados
ao acesso aos níveis inferiores.
A construção de um dique no pé do talude com o estéril de maior dimensão e
resistência é recomendada quando os estéreis não são homogêneos e apresentam diferentes
litologias e características geotécnicas. Os materiais do dique de retenção no pé do talude
atuam como obstáculo ao escorregamento do restante material depositado.
O tipo de construção por fases ascendentes superpostas confere uma maior
estabilidade, uma vez que se diminuem os taludes finais e se obtém uma maior compactação
dos materiais. Desta maneira, constata-se que a sequência de construção de um bota-fora
incide diretamente sobre a estabilidade das referidas estruturas e sobre a economia da
operação, sendo necessário na maioria dos casos chegar-se a uma solução de compromisso
entre ambos os fatores.
CONFIGURAÇÃO DO DEPÓSITO
O estéril de mineração, de uma forma geral, é constituído por solo, rocha sã e alterada,
cujas relações recíprocas (minério ou estéril), dependem do estágio da mineração ou de
alterações no planejamento da lavra decorrente de considerações econômicas. O material
apresenta uma distribuição granulométrica ampla, com partículas de dimensões de argila
variando até matacões.
Tipos de ruptura
As rupturas observadas são condicionadas pela ação de um ou mais dos seguintes
fatores:
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a) inclinação e forma da superfície das encostas. Encostas regulares e côncavas são mais
favoráveis para deposição do que encostas convexas e irregulares. Quanto à inclinação, de
uma forma geral, encostas com 10 graus são consideradas planas, acima de 10 graus são
consideradas íngremes;
b) ocorrência de tálus e movimentos superficiais nas encostas. A sobrecarga decorrente do
lançamento de estéril sobre encostas com depósitos de tálus apresentam movimento de
rastejo, poderiam induzir ou acelerar processos de instabilização da própria pilha de estéril, e
mesmo das encostas de todo o vale;
c) surgências de água e drenagens perenes. Visto que a estabilidade é influenciada pelas
condições das pressões neutras, deve-se evitar a construção de depósitos de estéril
interceptando talvegues perenes e surgências de água significativas. Em caso alternativo, a
ação da água poderá ser minimizada através da adoção de um sistema de interceptação e
desvio dos talvegues naturais, ou através da construção de uma drenagem de base adequada;
d) porte da vegetação. Principalmente em encostas íngremes, a não remoção da vegetação
densa (mata), poderá desenvolver uma superfície mais fraca no contato do depósito de estéril
com o terreno natural. Tal superfície pode ser o condicionante de instabilidade;
e) matéria orgânica e estratos "moles". Mesmo em encostas planas a presença de camadas
fracas poderá induzir movimentações de massa ao longo da base da pilha de estéril.
Recomenda-se a remoção de solos orgânicos fracos quando estes atingem uma espessura
superior a 0,3 m. Muitas vezes, entretanto, a remoção pode representar custos elevados,
podendo ser economicamente inviável. Nesse caso a estabilidade deverá ser analisada e certos
recursos utilizados como:
- suavização de taludes e emprego de bermas de equilíbrio;
- deposição controlada em camadas de pequena espessura, minimizando-se a velocidade de
alteamento;
- deposição de material drenante sobre a fundação para facilitar o adensamento.
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S = c + ( - u ) tg
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PROCESSO CONSTRUTIVO
DESMATAMENTO
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Métodos de Explotação
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DRENAGEM DE FUNDAÇÃO
Lei de Darcy
Qi
K=
A
i = dh / l
Onde:
dh = perda de carga,
l = comprimento talvegue,
A = área em m2.
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A maioria dos depósitos de estéreis são construídos por unidades móveis com o
basculamento direto do material nas encostas (ponta de aterro). O estéril basculado flui pela
encosta assumindo um ângulo de repouso de 37º em média para materiais não-coesivos,
ocorrendo ainda uma segregação do mesmo material, onde os fragmentos grosseiros "escoam"
para a base e os finos ficam na parte superior do talude. Isto gera um ângulo ligeiramente
mais íngreme no topo do que na base do talude.
O material é lançado em ponta de aterro, sem planejamento ordem ou controle. A pilha
(bota-fora) é construída em sua altura máxima. Neste caso o material não sofre compactação e
não há preparação da base para o seu recebimento. (Figura 3.4).
Este processo é aparentemente mais econômico, porém não atende às condições
mínimas de segurança, podendo causar escorregamento e erosão. Causa danos ao meio
ambiente que não são aceitos pelas normas técnicas e padrões legais. Reduz a distância de
transporte, porém o material não adquire compactação, nem apresenta a drenagem adequada.
Nos períodos de chuva pode romper e escorregar pela ação da saturação do maciço.
Neste método não se executa a proteção superficial contra a erosão, ficando o material
da superfície fofo e solto. Portanto, durante o período chuvoso estas pilhas irão contribuir com
um volume grande de finos para os cursos de água localizados a jusante.
Desta maneira recomenda-se estes tipos de pilha, para terrenos de fundação
relativamente competentes (bastante resistente) e que demandam pouco ou quase nenhum
trabalho de preparação e o material fosse bastante granulado e permeável.
A utilização deste processo atualmente só é justificável em casos específicos, como de
pilhas com altura máxima de 10 a 15 m, ou pilhas de estéril de granulometria grosseira
(cascalho, enrocamento), implantado sobre fundação firme, e com área de segurança a jusante
reservada a rolagem de blocos isolados. Neste caso, as distâncias de transporte iniciais são
menores, fator relevante se considerado os altos investimentos iniciais de implantação de uma
mineração.
Figura 3.4 - Pilha executada por via seca pelo método descendente.
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Métodos de Explotação
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Figura 3.5 - Pilha executada por via seca pelo método ascendente (fase de lançamento).
Figura 3.6 - Pilha executada por via seca pelo método ascendente (fase de empilhamento e
compactação)
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Figura 3.7 - Pilha executada por via seca pelo método ascendente de bancada (fase de
lançamento).
RETALUDAMENTO DE BANCADAS
Entende-se por retaludamento o ato de quebrar o ângulo da face para valores inferiores
ao ângulo de repouso (Figuras 3.8, 3.9 e 3.10).
Após a conclusão de cada bancada, deverá ser executado o retaludamento, motivo pelo
qual se deve formar a pilha com bermas entre 10 e 12 metros, que consiste em quebrar a crista
de cada bancada para suavizar o ângulo de repouso. Esta operação tem por objetivo aumentar
a estabilidade da pilha através da compactação da superfície.
Em alguns casos dependendo do resultado da análise da estabilidade e do material que
está sendo empilhado, pode-se lançar o estéril em ponta de aterro, desde que se resguarde a
altura igual à da bancada e não maior, e se execute o retaludamento para favorecer a
compactação da superfície.
Figura 3.8 - Pilha executada por via seca pelo método ascendente (fase de retadulamento).
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Berma
Ângulo da face
10 metros
26º
6 metros 21º
ACABAMENTO
DRENAGEM SUPERFICIAL
Tipos de erosão
- Erosão laminar. Ocorre quando o escoamento da água, encosta abaixo, "lava" a superfície do
terreno como um todo, transportando as partículas sem formar canais definidos.
- Erosão em sulcos. Ocorre por concentração do fluxo d'água em caminhos preferenciais,
arrastando as partículas e aprofundando os sulcos, podendo formar ravinas com alguns metros
de profundidade.
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- volume d'água que atinge o terreno: o volume e sua distribuição no espaço e no tempo são
determinantes da velocidade dos processos erosivos;
- cobertura vegetal: o tipo determina maior ou menor proteção contra o impacto e remoção de
partículas de solo pela água;
- tipo solo/rocha: determina a suscetibilidade dos terrenos à erosão, em função de suas
características granulométricas, estruturais, de espessura etc;
- lençol freático: a profundidade do lençol nos solos é fator decisivo para o desenvolvimento
de voçorocas;
- topografia: maiores declividades determinam maiores velocidades de escoamento das águas,
aumentando sua capacidade erosiva; e maior comprimento da encosta implica maior tempo de
escoamento e, consequentemente, maior erosão.
REVEGETAÇÃO
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- compromisso empresarial;
- planejamento;
- preparo da área a ser lavrada;
- remoção da camada fértil do solo e estocagem;
- recomposição topográfica e paisagística;
- tratos a superfície final;
- revegetação.
CUSTOS
Os custos de disposição de estéril de mina estão concentrados no transporte, na
drenagem/proteção vegetal, na retenção de finos gerados por carreamento durante e após a
formação da pilha e na manutenção de drenagens ao longo dos anos. Destes custos, o mais
significativo em qualquer situação é o transporte do estéril da mina até a pilha e cuja
otimização depende mais dos equipamentos e perfis de transportes e menos do projeto ou do
método executivo da pilha. Porém os outros custos, apesar das pequenas incidências
percentuais, podem significar grandes montantes de desembolso ao longo e após a formação
da pilha. Estes custos podem ser minimizados através de um bom projeto de engenharia e de
métodos executivos apropriados.
A formação controlada de depósitos de estéreis é evidentemente mais onerosa ao
empreendimento mineiro que o simples basculamento do material nas encostas ou terrenos
adjacentes à mina. Entretanto, como benefícios, podem ser apontados, dentre outros, a
ocupação racional das áreas disponíveis, estabilidade dos taludes, controle da erosão e
drenagem, estética, possibilidade de recomposição da paisagem natural e reaproveitamento
futuro do material.
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Embora não haja razões técnicas que limitem a altura total da pilha, não é
aconselhável projetar maciços com altura superior a 200 m, devido às dificuldades e custos
operacionais elevados na execução de pilhas com grandes alturas, por não se tratar de uma
atividade definida e padronizada exigindo, em muitos casos, conhecimentos um pouco além
da mecânica de solos convencional e uma adequada qualificação da equipe envolvida.
Em casos excepcionais onde a magnitude dos volumes a dispor, conjugados com
restrições de espaço e topografia muito acidentada, pressione em favor de uma pilha muito
alta, deverão ser elaborados estudos muito minuciosos do sequenciamento de remoção e
lançamento de estéril, para estabelecer métodos alternativos que possam viabilizar a execução
segura da pilha.
Recomenda-se que a inclinação dos taludes entre bancos seja estabelecido para valores
próximos de 2H:1V (26,6º aproximadamente), de modo a facilitar a implantação da proteção
dos taludes, além de evitar pequenas rupturas que possam assorear as canaletas de drenagem.
As bermas dos bancos deverão ter uma largura tal que viabilizem trânsito e operação
de equipamentos para implantação e manutenção da proteção dos taludes e drenagem
superficial. Recomenda-se o valor mínimo de 6 m, em função de experiências prévias.
Poderão ser adotadas larguras maiores em uma ou mais bermas da pilha, caso o plano viário
global a ser estabelecido na mina assim o exija, ou para abater o ângulo geral da pilha, a ser
definido pelas verificações de estabilidade.
e) Declividade das bermas
Com o objetivo de conduzir as águas pluviais para fora da pilha, deverá ser previsto
uma declividade longitudinal mínima de 1% na berma, na direção do dispositivo coletor ou
dissipador. De forma a evitar o corrimento de água pelo talude, com a conseqüente erosão
superficial, deverá ser previsto uma declividade transversal mínima de 5% no sentido interno
(crista-pé do talude).
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O acesso às pilhas de estéril depende do sistema de acesso à mina, de tal forma que o
conjunto de rampas ao longo da lavra deve ser estrategicamente definido para que possa dar
rendimento, segurança e funcionalidade.
Deverá ser previsto, na geometria global da pilha, a incorporação e/ou interligação de
acessos, integrados ao plano viário da mina, que viabilizem a manutenção dos taludes. A
malha viária deve ser de tal forma dimensionada a atender as necessidades, procurando não se
abrir rampas sem necessidades para evitar aumento de poeira, ruídos, consumo de águas para
irrigação e processos erosivos.
DRENAGEM DE PILHAS
Para cada pilha é definido um sistema de drenagem (Figura 3.11). As bermas deverão
ter, para efeito de direcionamento do fluxo de água, inclinação de 1% descendente do centro
para as extremidades do depósito, suficiente para evitar erosões e para impedir empoçamento
da água. Para proteger a face do banco evitando que a água desça pela crista, na secção
longitudinal deve-se dotar a berma de um caimento de 3 a 5% descendente da crista do banco
inferior para o pé do banco superior. Poderá ser executada juntamente uma leira junto à crista.
(banqueta).
A inclinação transversal funcionará como uma valeta ao pé de cada bancada, onde se
recomenda que seja depositada uma leira de estéril. Não só levando em conta a questão da
estabilidade dos taludes, mas também considerando o percurso que água irá realizar sobre a
terra até o dreno, carreando assim material e provocando erosão. O estéril agirá como um
filtro e uma barreira para a quebra de energia do fluxo d'água. A água coletada deverá seguir
para drenos laterais ao depósito ou para drenos localizados na própria superfície do talude,
separados por distâncias fixas. Após a conclusão de cada bancada é conveniente cobrir os
taludes com uma fina camada de solo rico em compostos orgânicos, proveniente da limpeza
da fundação, para facilitar seu plantio.
O processo de formação da pilha por via seca pelo método ascendente permite ainda o
zoneamento interno dos materiais a serem dispostos, de forma a aproveitar ao máximo as
características de resistência e permeabilidade de cada material. Canaletas de drenagem com
dissipadores de energia devem ser construídas no entorno da pilha em terreno natural. A água
proveniente das bermas deverá ser conduzida para estas canaletas.
DRENAGEM INTERNA
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Se o material da fundação tenha alta erodibilidade, também será necessário forrar a superfície
de contato.
DRENAGEM SUPERFICIAL
Durante a evolução das pilhas, com o objetivo evitar as erosões, deverá ser dado o
caimento adequado às praças, a partir de pontos determinados, com declividade de 1%. Para
evitar que a água caia pelas faces dos taludes. As bermas deverão ser construídas com
caimento de 5% em direção ao pé da bancada superior.
Após a conclusão das bancadas e implantação do sistema de drenagem, deverão ser
executadas as descidas d’água com enrocamento para redução da velocidade da água que
poderão criar as erosões. A garantia para a eficiência do sistema de drenagem superficial é a
criação de canaletas nas praças que dirijam as águas para os pontos de descida. Em sua fase
final deverá ser providenciado o plantio de gramíneas e de plantas nativas para recobrimento
e maior proteção dos taludes e bermas.
DRENAGEM PERIFÉRICA
A drenagem periférica tem como objetivo receber as águas das descidas d’água e
lança-las na drenagem natural com o menor impacto possível. Prevê-se desta forma que
durante a evolução das pilhas serão preparadas áreas preferenciais para descidas d’água e
enrocamento no pé dos taludes. Será conveniente a construção do enrocamento com materiais
de granulometria mais grosseira e resistente, de maneira que atuem como um muro de
contenção estéril evitando que a ação das águas causem erosões.
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Drenagem de
fundo
Drenagem
Superficial
1%
1%
Drenagem
Periférica
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Os métodos de lavra a céu aberto não se distinguem por uma variedade tão grande
quanto os métodos de lavra subterrânea. Segundo a literatura diversas classificações são
apresentadas para os métodos de lavra a céu aberto (Hartman & Mutmansky, 2002; Bonates,
1988; Thomas, 1985; Cummins e Given, 1973), porém de uma forma geral podem ser
classificados em:
A lavra de mineral útil contido dentro dos contornos da mina, geralmente se executa
em capas horizontais separadas. No processo de explotação estas capas adquirem uma forma
de degraus ou escalões. A parte do maciço de rochas que na mina a céu aberto (na parte em
que se trabalha) adquire a forma de degrau ou escalão e se lavra separadamente com seus
próprios médios de explosão, extração e transporte denomina-se banco ou bancada (Figura
3.12a,b).
Assim BANCO ou BANCADA, define-se como o pacote de rochas compreendido
entre a linha de pé da bancada superior e a linha de pé da bancada imediatamente inferior ou
vice-versa.
Em altura, o banco que se explota com meios próprios de escavação – carregamento,
porém realiza o transporte da massa de rochas para o banco total, denomina-se sub-banco ou
BANCO DUPLO ou "double bench", ou seja, seqüência de duas bancadas onde não é deixada
berma intermediária (Figura 3.12c).
FACE ou TALUDE DA BANCADA: é a superfície vertical ou inclinada que une o topo com
a praça.
Nível de
transporte
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a) b)
Métodos de Explotação
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c)
Nível de
transporte
h1
h2
a)
Crista
Face Altura da
bancada
Praça ou berma Pé
b)
Crista
Pé
Berma
Face
Situação
atual Situação após
avanço de lavra
b)
Pé após avanço
Pé antes do
avanço
Crista antes
do avanço
Aplicação:
- jazidas de grandes dimensões;
Condicionantes:
- resistência do minério/estéril;
- forma do depósito: qualquer, de preferência maciço ou tabular;
- mergulho: qualquer, de preferência horizontal ou baixo mergulho;
- tamanho do depósito: grande espesso ou maciço;
- teor do minério;
- uniformidade do minério;
- profundidade do depósito;
- exigências ambientais.
TIPOS:
a) Em flanco
b) Em cava
Na lavra a céu aberto a dimensão dos degraus deve garantir a execução das manobras
com segurança, obedecendo às seguintes condições:
- A altura dos degraus não deve ultrapassar 15 m, mas na configuração final, antes de se
iniciarem os trabalhos de recuperação paisagística, esta não deve ultrapassar os 10 m;
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Métodos de Explotação
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- Na base de cada degrau deve existir um patamar, com, pelo menos, 2 m de largura, para
permitir, com segurança, a execução dos trabalhos e a circulação dos trabalhadores, não
podendo na configuração final esta largura ser inferior a 3 m, tendo em vista os trabalhos de
recuperação;
- Os trabalhos de arranque num degrau só devem ser retomados depois de retirados os
escombros provenientes do arranque anterior, de forma a deixar limpos os pisos que os
servem;
- Relação entre o porte da máquina de carregamento e a altura da frente não inferior a 1.
Sendo a explotação a céu aberto, feita na sua grande maioria, por degraus, é necessária a
existência, de acordo com a lei em vigor, de um plano de trabalhos contendo os seguintes
elementos:
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Vantagens:
- alta produtividade;
- baixo custo operacional;
- produção em grande escala;
- flexibilidade da produção;
- emprego de grandes equipamentos;
- permite melhor controle geotécnico;
- alta recuperação da jazida;
- maior segurança e higiene.
Desvantagens:
- profundidade limitada;
- grande investimento de capital;
- limitado pela relação estéril/minério;
- problemas ambientais;
- adequado para grandes jazidas;
- dependente das condições climáticas
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Métodos de Explotação
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Impactos ambientais:
- impacto visual; poeiras; vibrações; ruídos; ultralançamentos;
- geração de grandes volumes de estéril => rejeitos;
Mitigação:
- planejamento da lavra; plano de reabilitação;
- recuperação; monitoramento
A principal vantagem do método de lavra por tiras é o baixo custo unitário de lavra
devido a que o capeamento é depositado direto para as ares lavradas e emprego de um mesmo
equipamento para as operações de decapeamento e extração de minérios.Outra vantagem é um
ângulo de talude maior considerando que o corte fica exposto por pouco tempo.
Aplicação:
Camadas pouco profundas, sub-horizontais e com grande extensão e volume
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Métodos de Explotação
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Condicionantes:
Resistência do minério: qualquer;
Resistência da rocha: qualquer;
Forma do depósito: tabular, em camadas;
Mergulho: qualquer, de preferência horizontal;
Tamanho: grande extensão lateral;
Teor: pode ser baixo;
Uniformidade do minério: uniforme ou quase;
Profundidade do depósito: raso;
Exigências ambientais.
Dimensões típicas
- Altura da bancada: 30-60m;
- Largura de cada tira: 23 a 46m;
- Ângulo de talude: 60º - 75º ;
- Ângulo das pilhas: 30º - 45º
LAVRA DE PLÁCERES
1) manuais
2) hidráulicas
3) mecânicas
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Métodos de Explotação
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Métodos manuais
Rifles.
Figura 3.18 - Explotação manual de um plácer aurífero.
Métodos mecânicos
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Métodos de Explotação
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Inicia-se por localizar um curso de água em cota elevada, acima do corpo que se
deseja lavrar e conduzir esta água por trincheiras, canais ou canos até à câmara de carga que
alimenta os canos que conduzem aos monitores. Em geral água deve ter suficiente para
assegurar trabalho contínuo, porém em certos casos, o trabalho terá que ser intermitente. A
extração do minério se faz mediante jatos de água, com, sendo material concentrado em
sluices.
Para se obter melhores resultados, a rocha de fundo deve ter um caimento próximo do
caimento dos sluices, não menor que 1,5% e de preferência 4,5% ou mais. O espaço
disponível para o vertedouro deve ter amplitude suficiente para a área a ser lavrada. A
escavação de trincheiras na rocha de fundo permite aumentar o caimento, porém encarece o
método. Em alguns casos favoráveis, se avança uma galeria sob o aluvião e com isso
consegue-se o caimento e a área necessária para o vertedouro. Quando se trabalha em leitos
de rios ou locais com desníveis insuficientes para o uso da gravidade, são necessários
elevadores hidráulicos ou bombas.
Nas explotações de argila, areia, cascalho ou quaisquer outras massas de fraca coesão
(inconsolidadas), devem ser observadas as seguintes regras:
- Se a explotação não for feita por degraus, o perfil da frente não deve ter inclinação superior
ao ângulo de talude natural do terreno;
- Se a explotação for feita por degraus, a sua base horizontal não pode ter, em nenhum dos
seus pontos, largura inferior à altura do maior dos dois degraus que separa, e as frentes não
podem ter inclinação superior à do talude natural;
- Se o método de explotação exigir a presença normal de trabalhadores na base do degrau, a
sua altura não pode exceder 2 m.
- Os operários e os equipamentos que efetuam o desmonte devem estar protegidos por uma
distância adequada de forma que os possíveis desmoronamentos e deslizamentos do talude
não os atinjam;
- É proibida a entrada de pessoas não autorizadas nos taludes onde se realiza o desmonte
hidráulico;
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- Projeção do jato sobre o pé do talude de modo a criar uma sobreescavação do mesmo até
que se origine a queda do talude;
- O material desmontado é submetido à ação do jato de modo a promover a sua desagregação
e escoamento ao longo do canal de transporte;
- Uma vez limpa a frente, o equipamento é aproximado da nova frente de trabalho, repetindo-
se o ciclo.
a) Em direção,
b) Em contracorrente,
c) Misto.
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Lavra “in-situ”
A explotação das jazidas minerais pode ser efetuada por trabalhos a céu aberto,
trabalhos subterrâneos ou por uma combinação de ambos. Quando se emprega o método
combinado de lavra é indispensável estabelecer o limite entre os trabalhos a céu aberto e
subterrâneos, o qual ofereça o mínimo custo de extração mineral e o máximo rendimento do
trabalho.
Durante a projeção da mina resolve-se o problema de determinação dos limites entre a
lavra a céu aberto e a lavra subterrânea, sendo necessário contornar a mina e estabelecer os
contornos no plano e os perfis geológicos. Estes contornos determinam-se com base a pratica
e podem ser final, perspectivo e intermediário.
Denominam-se contornos finais, aqueles onde segundo o plano deve finalizar a lavra,
são determinados com elevado grau de precisão. O contorno perspectivo determina-se
aproximadamente e é aquele que pressupõe até onde devem chegar as diferentes operações ou
labores mineiras e é retificado durante a explotação. O contorno intermediário é aquele que se
deve alcançar num momento determinado da explotação.
O perfil do talude da mina fica determinado pelo volume total dos trabalhos de
decapeamento em correspondência às exigências de estabilidade e incide em forma
determinante sobre a tecnologia dos trabalhos mineiros.
COEFICIENTE DE DECAPEAMENTO
Na lavra a céu aberto, quanto maior seja a potência do recobrimento das jazidas
horizontais ou quanto mais profunda se encontre uma jazida mineral inclinada ou abrupta,
tanto maior é o volume de rochas estéreis que há que remover para facultar a extração do
mineral útil da jazida (Figura 3.24). O custo de extração mineral, em grande medida depende
do volume de decapeamento, porém esse custo está diretamente relacionado com o volumem
de decapeamento relativo e não com o volume de decapeamento absoluto.
O volume relativo, ou seja o volume de rochas estéreis que é indispensável remover
por unidade de mineral útil (relação estéril - minério) se denomina coeficiente de
decapeamento.
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Comumente é aceito que a igualdade dos custos de extração do mineral útil pelo
método a céu aberto e subterrâneos, determinam a base para definir o limite da profundidade
da mina. Qualquer profundização dos trabalhos a céu aberto que sobrepasem esse limite serão
de maior custo que os trabalhos subterrâneos.
CMs = CMca + Kl Ce
Donde:
CMca - custo de lavra subterrânea de 1 t de minério, incluindo os custos operacionais de
desmonte, carregamento, britagem do minério e transporte até a usina de concentração;
CMca - custo de lavra a céu aberto de 1 t de minério, incluindo os custos operacionais de
desmonte, carregamento, britagem do minério e transporte até a usina de concentração;
Kl - coeficiente de decapeamento limite;
Ce - custo de lavra do estéril, incluindo seu desmonte, carregamento, e transporte até o “bota-
fora”.
Cmp – Gm
Kl =
Ge
Donde:
Cmp - custo permissível de 1 m3 de mineral útil
Gm - gastos para a extração de 1 m3 de mineral útil
Ge - gastos para a extração de 1 m3 de estéril
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Ao nível de toda a jazida, a opção lavra será obtida através de análise das expressões:
* Teor de corte (céu aberto): entende-se por teor de corte de um bloco (t), aquele teor capaz de
pagar sua lavra, seu tratamento, bem como seus custos indiretos e financeiros, não obtendo
nenhum lucro e também não suportando a remoção de nenhum estéril associado.
* Teor mínimo ou marginal (céu aberto): teor mínimo ou marginal (tm) é aquele teor que paga
apenas os custos de beneficiamento, além dos custos indiretos e financeiros subseqüentes.
Corresponde ao bloco já lavrado que, em lugar de ser jogado ao "bota-fora", é levado à usina
de beneficiamento, extraindo se o elemento valioso, não dando nem lucro nem prejuízo.
* Teor de utilização (céu aberto): o conceito de teor de utilização (tu) tem aspectos a ver com
o estabelecimento do contorno final da cava, planejamento seqüencial da lavra,
beneficiamento do minério e fluxo de caixa da empresa.
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