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FACULDADE DE TEOLOGIA
Lisboa
2021
ÍNDICE
INTRODUÇÃO……………………………………………………………………………….1
I. STO. AMBRÓSIO………………………………………………………………………….2
CONCLUSÃO.........................................................................................................................11
INTRODUÇÃO
Patrística e pretende uma breve abordagem a uma das temáticas mais preponderantes no
que toca às obras de cariz moral de Santo Ambrósio de Milão: a virgindade. Assim,
percorrer-se-á a temática supracitada, tal como ela nos é apresentada num dos escritos
A obra foi composta no século IV, por volta do ano 377, pelo próprio Ambrósio
de Milão, a pedido de sua irmã Marcelina - à data, também ela virgem consagrada -, por
quem nutria uma grande admiração. A grande finalidade do De Virginibus será, não só a
instrução pessoal de Marcelina, mas também a instrução de todas as jovens que a ela se
juntavam, com o firme propósito de consagrarem as suas vidas. Para tal, Ambrósio
estruturará a obra em três livros, sendo que no primeiro tratará de proclamar a celsitude
da virgindade, bem como as suas vantagens e, o segundo e terceiro, por sua vez,
uma sucinta contextualização sobre o autor e a sua obra. A segunda, aprofunda nos
Renânia-Palatinado, Alemanha, por volta do ano 340. Ter-se-á mudado, com 14 anos,
para a cidade de Roma com a sua mãe e irmãos, aquando da morte de seu pai. Lá,
Emilia, em 370.
novo bispo, que deveria suceder ao ariano Auxêncio. Esta foi uma eleição tumultuosa,
pelas desavenças que havia, ainda, entre os católicos mais ortodoxos e aqueles menos
ortodoxos, afetos às ideias de Ario. Assim que, inesperadamente, Ambrósio viu recair
sobre si próprio a escolha para novo bispo, sendo, ainda, catecúmeno isto devido à sua
grande popularidade.
Ora, o que sucedia era que Ambrósio nem era batizado, pelo que, no mesmo ano
Ordem e é consagrado bispo de Milão em dezembro de 374. Enfim, a rapidez com que
lhe são confiadas responsabilidades religiosas forçam-no, de certa forma, a uma maior
prontidão no conhecimento e consolidação das verdades de fé, bem como no que toca à
influência que teve o presbítero Simpliciano. Graças a ele, Ambrósio foi instruído no
pensamento e na leitura dos autores cristãos de maior notabilidade à época, tais como
aos penitentes, aos presos e aos pobres e pelo facto de ser um homem profundamente
dominante da retórica e de se ter especialmente empenhado na relação entre fé e
além do mais, merece especial destaque a sua atividade político-religiosa, no que toca às
relações entre Estado e Igreja. Por ser bispo de Milão, na altura cidade residencial do
Teodósio I (379-383).
Quanto a este aspeto da sua vida, muito nos elucida o conhecido «Episódio de
que despoleta uma ordem iníqua por parte do imperador Teodósio I. Posto isto,
crueldade da sua ordem. Como consequência, excomunga-o em 390, até que se converta
e faça penitência pública pelo seu pecado. Teodósio cumpre a penitência prevista por
constituindo quase metade do todo da sua produção escrita. Destas obras de cariz mais
Lucam, em que se denota uma certa preocupação por combater as doutrinas duvidosas
Noe; De Abraham; De Jacob et vita beata; Expositio Psalmi CXVIII; e a sua obra mais
livros, respetivamente.
cristã, isto é, uma moral que, ao contrário da moral estoica, não parte do homem, mas de
virtudes.
próprio Ambrósio de Milão e que nos fornecem dados de grande valor biográfico acerca
do santo bispo de Milão. Oferecem-nos, ainda, o panorama geral da sua relação com os
imperadores e das suas linhas de ação em relação aos erros cristológicos e trinitários
«elogio da virgindade». Com efeito, nesta primeira fase, introdutória, da sua obra,
a opção por uma vida de total oferecimento a Deus, através da castidade virginal, num
Ora, o primeiro passo deste decanto consiste, antes de mais nada, em pôr em
evidência o facto de ser um dom, e não um qualquer dom, mas um dom sobrenatural.
Logo, estamos diante de um dom cujo entendimento está para além da nossa capacidade
natural de apreensão, tanto que, aos olhos de quem, eventualmente, não tenha fé, pode
ser interpretado como algo ilógico ou, até, contranatura. A virgindade é, portanto, pura
graça concedida por Deus àqueles a quem escolhe, ultrapassando os méritos dos eleitos,
pois que, ao limite, nenhuma criatura é digna de tamanha graça, e o seu verdadeiro
sentido só em Deus se pode contemplar, pela fé. «Que inteligência humana poderá
compreender esta virtude que está fora do curso da natureza? Quem poderá dignamente
Desta forma, estabelecem-se, ainda, outros dois axiomas deveras decisivos para
1
SANTO AMBRÓSIO, Escritos sobre a Virgindade, I Vol., Edições Paulistas, Lisboa, p. 23. cf.
CAILLAU D. A. B., Collectio Selecta S. S. Ecclesiae Patrum, Sanctus Ambrosius, tomus VII, Editio
de Baco ou entre as vestais consagradas à deusa Frígia, a virgindade fora praticada. Por
«E quem poderá negar que tenha vindo do céu este género de vida, se ele era
quase desconhecido antes de Deus descer à terra para assumir a natureza humana? (…)
E depois de o Filho de Deus ter encarnado, unindo, sem confusão carnal, a natureza
divina com a humana, esta vida celeste floresceu por toda a parte» 2.
A virgindade, tal como nos é apresentada pelos evangelhos e pela tradição cristã,
é digna de louvor justamente por ser de origem divina e não por vir do mero arbítrio ou
capricho humano. Tem por pátria o Reino dos Céus e, por Autor, o próprio Deus - «Que
é, de facto, a castidade virginal, senão a integridade ilibada? E quem será dela o autor,
imune de mancha?»3. Na verdade, dela não teríamos notícia se não fosse o próprio
Senhor a no-la dar a conhecer, quer pelo Antigo Testamento quer pelo Novo
Testamento. Se hoje sabemos que a virgindade é objeto do enlevo de Deus, é porque Ele
próprio nos revelara, servindo-se do «sim» de uma virgem para fazer vir ao mundo o
«Jesus Cristo existiu antes da Virgem; Jesus Cristo nasceu de uma Virgem! Nascido do Pai
antes dos séculos, nasceu de uma Virgem para redimir os séculos. Eterno, pela sua natureza,
quis submeter-se ao tempo para vantagem nossa (…) A virgindade, de facto, pertence a Cristo,
2
Ibidem. cf. CAILLAU D. A. B., Collectio Selecta S. S. Ecclesiae Patrum, Sanctus Ambrosius, tomus
Com os versículos 10-12 do salmo 45, «As filhas dos reis, ornadas de joias, se
apresentam, e à tua direita, de pé, a rainha, em ouro de Ofir. Ouve, filha, vê e presta
atenção; esquece o teu povo e a casa do teu pai. Porque o rei se deixou prender da tua
beleza, ele é agora o teu senhor: rende-lhe homenagem!» O autor apresenta-nos alguns
dos símbolos que, segundo a sua perspetiva, exprimem tão eficazmente o significado da
virgem a uma rainha: «(…) e à tua direita, de pé, a rainha» (Sl 45, 10). Pelo facto de ter
escolhido por esposo o Rei do Universo e pela nobreza desta vocação, a virgem é dita
rainha: «Reino: seja porque esposa do Rei eterno, seja porque, com força, repeles os
«(…) e à tua direita, de pé, a rainha, em ouro de Ofir.» (Sl 45, 10). De facto, a virgem
que assim se consagra a Deus, torna-se numa fiel oblação, tão preciosa e tão pura como
o ouro purificado, torna-se na alegria do Rei: «Ouro: de facto, assim como este metal,
purificado pelo fogo, se torna mais precioso, assim o teu corpo virginal, consagrado ao
o rei se deixou prender da tua beleza» (Sl 45, 12). A beleza de uma alma pura e casta
5
Ibidem, p. 36. cf. CAILLAU D. A. B., Collectio Selecta S. S. Ecclesiae Patrum, Sanctus Ambrosius,
deteriora:
«Quem poderá, pois, encontrar uma beleza maior do que formosura daquela que
é amada pelo Rei, aprovada pelo Juiz, dedicada ao Senhor, consagrada a Deus, sempre
esposa e sempre virgem, de modo que, nela, o amor não tem fim, e o pudor não sofre
detrimento? É esta, na realidade, a verdadeira beleza, a que nada falta; a única que
merece ser louvada pelo Senhor: “És toda bela, minha amiga, e, em ti, não há mancha
do Senhor (Jo 19, 39) , compara a virgem ao aroma mais belo dentre aqueles que
estão mortos os prazeres dos membros. Tu levas para toda a parte a fragrância da pureza
As abelhas partindo da passagem do Cântico dos Cânticos que diz: «Os teus lábios, ó
esposa, destilam mel virgem» (Cat 4, 11), fazendo uma analogia com a alma virgem a
uma abelha que prepara doce alimento e, da mesma forma que se alimentam do orvalho,
também as virgem se alimentam do orvalho do alto dos Céus, das nuvens que chovem o
7
Ibidem. cf. CAILLAU D. A. B., Collectio Selecta S. S. Ecclesiae Patrum, Sanctus Ambrosius, tomus
9
Ibidem, p. 38. cf. CAILLAU D. A. B., Collectio Selecta S. S. Ecclesiae Patrum, Sanctus Ambrosius,
isto é, estimular o desejo de uma vida casta e virginal. Para tal, mais do que fazer uso de
um estilo normativo e de certa forma autoritário, expondo em lista o fazer ou não, usa
mestre deve ser superior ao discípulo, para que não pareça que eu tenha abandonado a
empresa ou pecado por presunção, julguei conveniente instruir, mais com exemplos do
que com preceitos. O exemplo, é, além disso, mais eficaz. Aquilo que já foi feito por
apresentado às jovens virgens por Santo Ambrósio; a Virgem Maria, a mãe de Jesus, a
abraçar uma vida casta, com todas as exigências que daí advêm, na certeza de que todo
o sacrifício será recompensado em glória e júbilo diante de Deus - «Ora, quem é mais
do que a Mãe de Deus? Quem mais esplêndido do que Aquela que foi eleita pelo mesmo
esplendor do Pai? Quem mais casto do que Ela, que, sem contaminação corpórea, se
sempre de S. José, o guarda da sua virgindade, o seu maior guarda era ela mesma, com
10
Ibidem, p. 53. cf. CAILLAU D. A. B., Collectio Selecta S. S. Ecclesiae Patrum, Sanctus Ambrosius,
melhor guarda era Ela mesma, com um trato e um comportamento que incutia respeito.
Não dava um passo que não avançasse no caminho da virtude.» 12. Assim, aconselha
entre os mortais, com razões mais que suficientes para exultar consigo próprio, era
Maria. Porém, não se exulta a si mesma, mas Àquele que a exultara a ela e a agraciara
com divina gravidez: «Sabendo-se eleita de Deus, cresceu de cada vez mais na
humildade e depressa se dirigiu a Isabel, não para se certificar do facto, pois tinha já
Finalmente, a sua profundidade. Tal como Maria «guardava todas estas coisas,
meditando-as em seu coração» (Lc 2, 19), assim também aquela que consagra a Deus a
sua virgindade deve cultivar, tanto quanto esteja ao seu alcance, um olhar atento e um
coração dócil:
dos Magos, a expectação de Simeão, o testemunho das estrelas – “conservava todas estas coisas
12
Ibidem, p. 56. cf. CAILLAU D. A. B., Collectio Selecta S. S. Ecclesiae Patrum, Sanctus Ambrosius,
Milão, que apesar de o horizonte da obra ser o de ensinar as jovens virgens, através da
devem, então, empreender, mas, como primeiro passo, começará por criar na alma
virgem, a admiração e o desejo de tal virtude, assim dispondo, pela via do amor, o seu
fecundos e belos que iluminaram, todas aquelas que, na santidade, nos precederam e,
agora, tendo colhido a palma da virgindade, gozam e participam das Bodas do Cordeiro,
dentre as quais resplandece, com luz mais fulgurante, a Santíssima Virgem. Desta
altíssima riqueza para a Igreja e para todos os homens e mulheres de boa vontade.
BIBLIOGRAFIA
FONTES
ESTUDOS
2016.