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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas


Departamento de História
Textos e documentos

Decretos e resoluções da Comuna de Paris de 1871 (seleção)

A Comuna de Paris decreta:


1º – É abolida a conscrição.
2º – Nenhuma outra força militar, além da guarda nacional, poderá ser criada ou introduzida em
Paris.
3º – Todos os cidadãos válidos fazem parte da Guarda Nacional.
Câmara Municipal, 29 de março de 1871.
A Comuna de Paris

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A Comuna sendo atualmente a única autoridade,
Decreta:
Art. 1º Os funcionários dos diversos serviços públicos passarão a considerar nulas as ordens ou
comunicações emanadas do governo de Versalhes ou de seus membros.
Art. 2º Qualquer funcionário ou empregado que descumprir este decreto será imediatamente
demitido.
Câmara Municipal, 29 de março de 1871.
Pela Comuna, por delegação;
O Presidente

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A Comuna de Paris,
Considerando que o trabalho, a indústria e o comércio suportaram todos os custos da guerra e que é
justo que a propriedade ceda ao país a sua cota de sacrifícios.
Decreta:
Art. 1º – É concedida aos locatórios uma prorrogação geral dos termos de outubro de 1870, janeiro
e abril de 1871.
Art. 2º – Todas as somas pagas pelos locatários durante os nove meses serão imputáveis aos termos
do provir.
Art. 3º – Prorrogam-se igualmente as quantias devidas pelos locatários de quartos mobiliados.
Art. 4º – Todos os contratos são rescindíveis, à vontade dos locatários, durante um período de seis
meses a partir do presente decreto.
Art. 5º – Todos os despejos serão, a pedido dos locatários, prorrogados de três meses.
Câmara Municipal, 29 de março de 1871.
A Comuna de Paris

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A Comuna de Paris decreta:
A venda de objetos depositados em Casa de Penhores está suspensa,
Câmara Municipal, 29 de março de 1871.
A Comuna de Paris

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A reprodução para fins educacionais não comerciais é permitida desde que citada a fonte.
Fontes: TROTSKY, L. et al. A Comuna de Paris – Textos, documentos e uma análise sobre as repercussões no Brasil.
Rio de Janeiro: Laemmert, 1968; Journal Officiel de la La Commune, disponível em https://gallica.bnf.fr.
Os estrangeiros devem ser admitidos na Comuna?
Considerando que a bandeira da Comuna é a da República universal;
Considerando que toda cidade tem o direito de dar o título de cidadão aos estrangeiros que a
servem;
Que este uso exista há tempos nas nações vizinhas;
Considerando que o título de membro da Comuna é uma marca de confiança superior à do título de
cidadão, comportando implicitamente essa última qualidade.
A comissão é da opinião que os estrangeiros podem ser admitidos e vos propõe a admissão do
cidadão Frankel.
(...)
[Paris, 29 de março de 1871]
Pela Comissão:
O relator, Parisel.
A Comuna adotou as conclusões do relato.

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A Comuna de Paris,
Considerando,
Que, até o dia de hoje, os empregos superiores dos serviços públicos, pelos elevados ordenados que
lhes são atribuídos, têm sido procurados e concedidos como lugares de favor;
Considerando,
Que, numa república realmente democrática, não podem existir nem sinecuras, nem exageros de
vencimentos;
Decreta:
Art. Único – O máximo de vencimentos dos empregados nos diversos serviços comunais fica fixado
em 6.000 francos por ano.
Câmara Municipal, 2 de abril de 1871.

A Comuna de Paris,
Considerando que os homens do governo de Versalhes ordenaram e começaram a guerra civil,
atacaram Paris, mataram e feriram guardas nacionais, soldados de linha, mulheres e crianças,
Decreta:
Art. 1º – Os senhores Thiers, Favre, Picard, Dufaure, Simon e Pothuau são indiciados.
Art. 2º – Seus bens serão confiscados e postos sob sequestro, até que tenham comparecido perante a
justiça do povo.
Os delegados da justiça e da segurança geral ficam encarregados da execução do presente decreto.
Paris, 2 de abril de 1871.
A Comuna de Paris

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A Comuna de Paris,
Considerando que o governo de Versalhes pisoteia deliberadamente tanto os direitos da humanidade
quanto os da guerra que se tornou culpado dos horrores com os quais não se macularam nem
mesmo os invasores do solo francês;
Considerando que os representantes da Comuna de Paris têm o dever imperioso de defender a honra
e a vida dos dois milhões de habitantes que colocaram em suas mãos os cuidados de seus destinos e
que importa tomar, imediatamente, todas as medidas exigidas pela situação;
Considerando que os homens políticos e os magistrados da cidade devem conciliar a salvação
comum com o respeito das liberdades públicas;
Decreta:
Art. 1º – Toda pessoa acusada de cumplicidade com o governo de Versalhes será imediatamente
indicada e encarcerada.
Art. 2º – Será instituído um júri de acusação, dentro de vinte e quatro horas, para conhecer os
crimes que lhes serão levados.
Art. 3º – O júri decidirá dentro de quarenta e oito horas.
Art. 4º – Todos os acusados retidos pelo veredito do júri de acusações serão feitos reféns do povo de
Paris.
Art. 5º – Toda execução de um prisioneiro de guerra ou de um adepto do governo regular da
Comuna de Paris será imediatamente seguida pela execução de um número triplo dos reféns detidos
por força do artigo 4º e que serão designados por sorte.
Art. 6º – Todo prisioneiro de guerra será trazido perante o júri de acusação, que decidirá se ele será
imediatamente posto em liberdade ou retido como refém.
Paris, 5 de abril de 1871.
A Comuna de Paris.

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A Comuna de Paris,
Considerando que a liberdade de consciência é a primeira das liberdades;
Considerando que o orçamento dos cultos é contrário a esse princípio, pois se impõe aos cidadãos
contra sua própria fé;
Considerando que, na realidade, o clero foi cúmplice dos crimes da monarquia contra a liberdade,
Decreta:
Art. 1º – A Igreja é separada do Estado.
Art. 2º – É extinto o orçamento dos cultos.
Art. 3º – Os bens chamados de mão-morta, pertencentes às congregações religiosas, móveis e
imóveis, são declarados propriedades nacionais.
Art. 4º – Far-se-á imediatamente um inquérito sobre esses bens, a fim de constatar sua natureza e
pô-los à disposição da nação.
[publicado em 3 de abril de 1871]
A Comuna de Paris

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A Comuna de Paris,
Decreta:
Todo cidadão ferido pelo inimigo, na defesa dos direitos de Paris, se seu ferimento acertar em
incapacidade de trabalho parcial ou absoluta, uma pensão anual e vitalícia cuja cifra será fixada, por
uma comissão especial, dentro dos limites de 300 a 1200 francos.
8 de abril
A Comuna de Paris

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A Comuna de Paris,
Havendo adotado as viúvas e os filhos de todos os cidadãos mortos na defesa dos direitos do povo,
Decreta:
Art. 1º – à mulher do guarda nacional morto em defesa dos direitos do povo, será concedido uma
pensão de 600 francos, após inquérito estabelecer seus direitos e suas necessidades.
Art. 2º – Cada um dos filhos, – reconhecidos ou não, – receberá até a idade de dezoito anos, uma
pensão anual de 365 francos, pagáveis em duodécimos.
Art. 3º – Caso as crianças já se achem privadas de sua mãe, serão elas criadas às expensas da
Comuna, a que lhes dará instrução integral necessária para se acharem capacitadas a bastar-se na
sociedade.
Art. 4º – Os ascendentes, pai, mãe, irmãos e irmãs de todo cidadão morto na defesa dos direitos de
Paris, que provarem que o falecido era para eles arrimo necessário, poderão ser admitidos a receber
uma pensão proporcional às suas necessidades, dentro dos limites de 100 a 800 francos por pessoa.
Art. 5. — Qualquer inquérito necessário para aplicação dos artigos acima referidos será feito por
uma comissão especial composta por seis membros delegados para o efeito em cada distrito, e
presidida por um membro da Comuna pertencente ao distrito.
Art. 6. — Um comitê, composto por três membros da Comuna, centralizará os resultados
produzidos pelo inquérito e decidirá em último recurso.
[adotado em 10 de abril de 1871]
A Comuna de Paris

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A Comuna de Paris
Considerando que a coluna imperial da Praça de Vendôme é um monumento de barbárie, um
símbolo de força bruta e de falsa glória, uma afirmação do militarismo, uma negação do direito
internacional, um insulto permanente dos vencedores aos vencidos, um atentado perpétuo a um dos
três grandes princípios da República Francesa, a fraternidade,
Decreta:
Art. único – A coluna da Praça Vendôme será demolida.
Paris, 12 de abril de 1871.

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A Comuna de Paris
Considerando que uma certa quantidade de oficinas foi abandonada por aqueles que a dirigiam, a
fim de escapar das obrigações cívicas e sem levar e conta os interesses dos trabalhadores;
Considerando que, em consequência desse covarde abandono, numerosos trabalhados essenciais à
vida comunal se acham interrompidos e comprometida a existência dos trabalhadores,
Decreta:
As Câmaras Sindicais operárias são convocadas para o fim de instituir uma comissão de inquérito
tendo por fim:
1º) – Levantar uma estatística das oficinas abandonadas, assim como u inventário exato do estado
em que se encontram e dos instrumentos de trabalho que encerram;
2º) – Apresentar um relatório estabelecendo as condições práticas da pronta colocação em
exploração dessas oficinas, não mais pelos desertores que as abandonaram, mas pela associação
cooperativa dos trabalhadores que nelas estavam empregados;
3º) – Elaborar um projeto de constituição dessas sociedades cooperativas operárias;
4º) – Constituir u júri arbitral que deverá estatuir, por ocasião da volta dos referidos patrões sobre as
condições da cessão definitiva das oficinas às sociedades operárias e sobre a quota de indenização
que as sociedades terão de pagar aos patrões.
Essa comissão de inquérito deverá dirigir seu relatório à Comissão Comunal do Trabalho e do
Câmbio, que deverá apresentar à Comuna, no menor temo possível, o projeto do decreto, dando
satisfação aos interesses da Comuna e dos trabalhadores.
[adotado em 16 de abril de 1871]
A Comuna de Paris

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A Comissão Executiva:
Por proposta de Delegado da Guerra,
Decreta:
Art. 1º – As armas dos batalhões dissolvidos serão imediatamente devolvidas às administrações.
Art. 2º – Serão igualmente devolvidas às administrações as armas dos emigrados e dos refratários
julgados como tais pelo Conselho de Disciplina.
Art. 3º – As municipalidades deverão mandar fazer buscas metódicas, por rua e por casa, a fim de
assegurar, no mais breve prazo possível, a volta de todas as armas.
Art. 4º – Todas as declarações falsas feitas pelos porteiros acarretarão a sua detenção imediata.
Art. 5º – Toas as armas recolhidas pelas administrações serão devolvidas ao Arsenal de São Tomás
de Aquino.
Art. 6º – As armas assim restituídas servirão para armar os novos batalhões. Os fuzis Chassepot não
serão dados senão aos batalhões de marcha, esperando que se possa dá-los a todos.
Paris, 16 de abril de 1871.
A Comissão Executiva

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Sob as justas demandas de toda a corporação dos operários-padeiros,
A Comissão Executiva
Decreta:
Art. 1º – É extinto o trabalho noturno.
Art. 2º – São extintos os agentes de colocações instituídos pela antiga polícia imperial. Esta função
é substituída por um registro colocado em cada administração municipal, para a inscrição de
operários -padeiros. Um registro central será criado no Ministério do Comércio.
Paris, 20 de abril de 1871.
A Comissão Executiva

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A Comissão Executiva:
Considerando que certas administrações puseram em uso o sistema de multas e retenções sobre os
ordenados e salários;
Que essas multas são frequentemente infligidas sob os mais fúteis pretextos e constituem uma perda
real para o empregado e o operário;
Que, em direito, nada autoriza esses descontos arbitrários e vexatórios;
Que, na realidade, as multas disfarçam uma diminuição de salários e aproveitam os lucros daqueles
que as impõem;
Que nenhuma justiça regular preside a essa espécie de punições, tão imorais no fundo quanto à
forma;
Por proposta da Comissão de Trabalho, da Indústria e do Câmbio,
Decreta:
Art. 1º – Nenhuma administração, privada ou pública, poderá impor multas ou retenções aos
empregados e aos operários, cujos ordenados, acordados antecipadamente, devem ser integralmente
pagos.
Art. 2º – Qualquer infração desta disposição será levada aos tribunais.
Art. 3º – Todas as multas e retenções efetuadas depois de 18 de março sob o pretexto de punição,
deverão ser restituídas aos que a elas tenham direito, no prazo máximo de quinze dias, a partir da
promulgação do presente decreto.
Paris, 27 de abril de 1871.
A comissão Executiva

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A Comuna
Decreta:
Art. 1º – Toda cautela da Caixa de Penhores anterior a 23 de abril de 1871, contendo o penhor de
artigos de vestuário, móveis, roupa branca, livros, artigos de cama e instrumentos de trabalho, sem
mencionar um empréstimo superior à quantia de 20 francos, poderá ser resgatada gratuitamente, a
partir de 12 de maio corrente.
Art. 2º – Os objetos acima mencionados não poderão ser entregues senão ao portador, que provará,
estabelecendo sua identidade, que é o mutuário primitivo.
Art. 3. – O delegado de finanças será responsável por chegar a um acordo com a administração da
Mon Casa de Penhores, tanto no que diz respeito ao valor da indenização a ser concedida quanto
para a execução deste decreto.
6 de maio de 1871.
A Comuna de Paris

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A Comuna de Paris
Decreta:
Art. 1º – A Comissão de Trabalho e de Câmbio fica autorizada a revisar os contratos concluídos até
o dia de hoje pela Comuna.
Art. 2º – A Comissão de Trabalho e de Câmbio pede que os contratos sejam diretamente
adjudicados às corporações e que a preferência lhes seja sempre concedida.
Art. 3º – As condições dos livros de encargos e obrigações e os preços das propostas serão fixados
pela intendência, a Câmara Sindical da corporação e uma delegação da Comissão de Trabalho e de
Câmbio, ouvidos o Delegado e a Comissão de Finanças.
Art. 4º – Os livros de encargo e obrigações para todos os fornecimentos a serem feitos à
administração comunal, apresentarão, nas propostas dos ditos fornecimentos, os preços mínimos do
trabalho por dia ou da maneira a acordar com os operários ou operárias encarregados desse trabalho.
[votado em 12 de maio de 1871]
A Comuna de Paris

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