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TRAUMA INFANTIL
FAMfLIA RENOVADA.
rauma é um conceito muito controverti- o primeiro passo; e tem uma dívida, pois a criança
T
Diante do nascimento
de uma criança, os pais do na história da psicanálise, e na própria lhe fornece a possibilidade de aprender algo de si
são confrontados com obra freudiana a noção sofreu profundas mesmo. O pagamento dessa dívida encontra seu
uma nova situação e o alterações. Égrande a coleção de textos e principal obstáculo, bem como a moeda com a
recém-nascido torna-se discussões entre Freud e seus íntimos colaboradores qual há de ser efetivado, no que Ferenczi assinala
figura familiar central.
e discípulos, em particular os psicanalistas Sándor como "o primeiro erro dos pais: o esquecimento
O bebê arrasta os pais
numa corrente progressiva Ferenczi e Otto Rank (ver quadros uns págs. 5i e52-3), e de sua própria infância".
de transformação e a intensa correspondência entre os autores fornece Essa observação merece uma leitura atenta.
amadurecimento afetivo. uma idéia bastante precisa dos debates em torno do Facilmente poderíamos tomá-la como frase banal
Um filho altera a maneira tema. Isto posto, como qualquer outra noção, esta se e corriqueira, mas ela não o é. Habitualmente nos
como os familiares se
relacionam, e diante
situa num detem1inado território de preocupações conformamos em achar que compreender a criança
dessa nova presença cada e elaborações assinaladas por marcos que aludem é imitá-la, numa pantomima bizana. Ferenczi aponta
parceiro tem de assumir a ao universo afetivo, intelectual e às tendências dos o esquecimento e faz apelo à memória da infância,
responsabilidade pela diversos pontos de vista. a um tempo que já passou. O adulto é chamado a
vida da criança, fruto do se lembrar de como foi e não a ficar parecendo uma
ato criador compartilhado
por eles
A DÍVIDA DO ADULTO criança que já não é. Sabemos que uma das grandes
Em A adaplaçfio dafmuaia à criança (1928), de Sándor contribuições freudianas é a idéia de que, para evitar
Ferenczi, somos imediatamente confrontados com o sofrimento, prefere-se repetir para não lembtar.
uma inve rsão de sentido de nossas cogitações, É disso que se trata aqui: o adulto deve forçar as
pois estamos habituados a pensar na adaptação portas de sua amnésia infantil, lembrar-se de sua
da criança ao mundo e não o contrário. O título infância e não repeti-la diante da criança. Tarefa
anuncia a essência do artigo: a responsabilidade aparentemente simples, porém múltiplos fatores a
primeira, a atividade pri meira, o encargo inicial é tornam difícil; por vezes, complicadíssima.
incumbência do adulto. O adul to é designado de Historicamente muito se discutiu sobre o trau-
maneira indubitável como aquele que deve, e isso ma do nasci mento. Ferenczi, acompa nhando as
tanto no sentido da obrigação quanto no sentido tendências dominantes de sua época, relativizou o
da dívida. O adulto deve, enquanto obrigado a dar achado de Rank, que, precisamente, sublinhou com
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O TRAUMA DO NASCIMENTO
O cri ad ') r desse ctJnc ~ ito foi o mérlíco e
psi canali sta austríaco Otto Rank (1884·
1939), para quem o trauma de nascer era
mais significativo que a angústia de castração
presente no complexo de Édipo - ponto de
discórdia entre ele e Freud, que acabou
levando ao afastamento de ambos. Segundo
Rank, o ato do nascimento é traumático
não apenas do ponto de vista físico, mas
principalmente psíquico, em ri'l zií o da
separação do bebê da m ãe : protótipo da
angústia mais fundamen ta l do ser humano.
POR BRUNO ZEN I, JORNAUSTA
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da família à criança, A criança mal recebida e
sua pu/são de morte e Confusão de língua entre
os adultos e a criança. Esses textos delimitam
um território em que o termo "trauma" ganha
precisão e permite entrever seu alcance em
diversos níveis: na intimidade da constituição
afetiva e intelectual de cada um, na transmissão
entre gerações, nas relações entre o mundo
adulto e o mundo da infância e, em cada
um destes aspectos, os dramas e desfechos
possíveis para os conflitos determinantes.
Os três artigos, que delimitam o território no
qual se instala a noção de trauma, fazem parte do
período final da produção de Ferenczi, quando os
pontos de vista, a avaliação da importância dos
achados clínicos e o estilo do autor consolidam-se.
No período final de sua obra, Ferenczi apresenta
uma série de conclusões de sua atividade clínica,
rica em ousadia e perspicácia, que fazem
dele um mestre ímpar da arte psicanalítica.
des Hão bem-uiHdos Ha famdia"; "um porque era o décimo para sempre submetida à infelicidade. O hóspede ESTADO ORIGINÁRIO.
filho de uma mãe claramente sobrecarregada de necessitado e dependente tem sua vida ligada à No início da vida, tanto
trabalho; o outro, filho de um pai portador de uma intra como extra-uterina,
atitude do hospedeiro por um no tênue, porém
são necessárias condições
moléstia mortal, que efetivamente morreu pouco essencial: é da atitude do hospedeiro que depende particularmente favoráveis
depois". A escolha desses dois casos tem como o gosto do recém-chegado pela vida. de proteção para que os
objetivo apresentar situações em que se torna inútil O artigo perm ite tomar contato com uma das órgãos do bebê e suas
ou impossível começar uma querela, uma abertura características marcantes do pensamento feren- funções se desenvolvam
de um tribunal imaginário sobre possíveis culpados, plenamente. Ferenczi
cziano: seu distanciamento da enraizada tradição
acreditava que a vida
ou um compadecimento piedoso e hipócrita em de separação corpo-espírito. Para Ferenczi, a hos· int ra-uterina guardava
relação a criancinhas que sofrem. Nos dois exem- pitalidade-hostilidade do hospedeiro determina relação com formas de
plos, todos merecem a mesma simpatia e assim as desde sempre e em todos os níveis o destino do vida marinha arcaicas e o
conseqüências de uma agressão implícita aparecem hóspede. Assim, podemos ler num registro, diga- nascimento seria a perda
em toda sua crueza. desse estado originário.
mos, biológico: "No início da vida, intra e extra-
Segundo o autor, a criança
Diz Ferenczi: "Gostaria de assinalar precisamente uterina, os órgãos e suas funções se desenvolvem pede acolhida como um
a probabilidade de crianças acolhidas rudemente com um vigo r e uma rapidez surpreendentes hóspede cuja vida é ligada
e sem gentileza morrerem com facilidade ou de -mas apenas nas condições part icularmente à do hospedeiro por um fio
maneira voluntária. Ou elas uti lizam algum dos favoráveis de proteção do embrião e da criança". tênue mas essencial
numerosos meios orgânicos para desaparecer rapi- Em outro registro totalmente heterogêneo, temos
damente, ou, se escapam a esse destino, resta-lhes uma observação equivalente: "A criança deve ser
um certo pessimismo e um desgosto pela vida". levada, por uma prodigiosa quantidade de amor,
O estilo ferencziano não pode ser mais claro ou de ternura e de cuidados, a perdoar os pais por
simples, mantendo-se o mais próximo possível de ter sido colocada no mundo sem terem pedido
uma linguagem corriqueira. Uma leitura um pouco sua opinião, senão suas pulsões de destruição se
mais paciente deixa entrever as decisões cruciais manifestarão imediatamente. E, no fundo, não
relacionadas à questão da hospitalidade-hostilidade, remos com o que nos espantar já que o bebê,
às obrigações devidas ao hóspede, ao estrangeiro: contrariamente ao adulto, está ainda bastante
a morte pura e simples, a vida encurtada ou a vida próximo do não-se r indi vidual, do qual ainda
HOSPITALIDADE E
- HOSTILIDADE
A proximidade inquietan-
te entre hospitalidade e
hostilidade, que qostaría-
mos de supor inexistente,
apresenta-se, porém, de
maneira tão problemática
que é possível tomá-la
como tema de debate
profundo. Referência pa-
radigmática dessa relação
está nos textos do filósofo
francê~ Jacques Oerrida
(1930-2004), que assina-
lou tal conexão ao nomear
um seminário desenvol-
vido ao longo de dois não foi afastado pela experiência da vida. Voltar atmosfera bíblica ou épica. Poder fala r por si ,
anos consecutivos criando a deslizar para esse não-ser poderia, pois, nas constituir-se em testemunha de si mesmo e de
um neologismo bastante crianças ocorrer muito mais facilmente". seu próprio mundo, e ser insubstituível como
eloqüente: "hostipitalité" Nessa última observação, vemos surgir a enor- toda testemunha, eis a nota que permite intro-
(hostipitalidade). me questão da diAcuidade do perdão, sobretudo duzir o terceiro artigo que, na obra ferencziana
Tal imbricação entre as de a criança perdoar o não ter sido consultada sobre o trauma, anuncia o território da língua
duas alternativas sublinha - consulta impossível , diga-se de passagem, e da linguagem no campo da psicanálise, e o
a importância de exami- mas mesmo assim não menos imprescindível homem como habi tante da palavra.
narmos psicanaliticamen- -sobre sua vinda ao mundo, pois, impedida de
te as rotas progressiva e falar em seu nome, não pode se exprimir como REORGANIZAÇÃO DA LINGUAGEM
regressiva diante do nasci- testemunha de si mesma. Veremos, um pouco Por sua clareza, precisão e modéstia levada ao limite
mento de uma criança. adiante, o papel fundamental da abolição da do despojamento na escolha de palavras, o texto de
posição de testemunha na constituição do trau- Ferenczi, publicado em 1933, C01ifusiio de líugun e11tre
ma, pela ausência de escuta, ou pela desatenção os adultos e n crim1çn talvez pudesse ser aparentado
à palavra daquele que teste mun ha. Talvez seja a outros textos frutos de esforço similar, como O
pertinente ressalta r a sagacidade de Ferenczi cnstelo, de Kafka, ou Os nfogndos e os so/mvive11les, de
ao exprimir a condição existencial da criança Primo Levi. Talvez, também, a classificação dessas
recém-vinda ao mundo e sua prox imidade ao três obras seja extremamente difícil. Elas resistem
não-ser, fazendo eco à célebre passagem trágica a toda tentativa de leitura burocrática ou neutrali-
shakespeariana, no monólogo de Hamlet sobre zadora, para desespero dos mais afoitos, com suas
"ser ou não ser", e assim adentrarmos um con- etiquetas pseudo-sábias, e guardam rodo o seu
texto em que a infância do homem ganha sua potencial f·undador e fertilizador, permanecendo
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CARINHO DO
HOSPEDEIRO. Derrida
e Ferenczi chamam
a atenção para a
proximidade das atitudes
hostis e hospitaleiras.
O filósofo fra ncês
criou o neologismo
"hostipitalidade" p ara
definir a temao entre as
duas condutas. Para o
psicanalista húngaro,
é do carinho do
hospedeiro, o u seja, da
acolhida do adulto, q ue
depende o gosto do
recém-chegado, frágil e
desprotegido, pela vida
e sua substituição por uma lógica de te rror e chocantes. Primeiro, a vitória do terror ao abolir
submissão. Lóg ica devida ao adu lto, na cena a palavra e as últimas forças da vítima numa cena
ferencziana, abolir a alteridade e to mar seu hermética em que só existem dois interlocutores e
interlocutor, cuja peculiaridade desapareceu, na qual um deles desaparece para reaparecer, num
por um personagem de si mesmo ou de sua último e desesperado sobressalto de sobrevivência,
própria criação, tomando a criança diante de si tendo sofrido uma metamorfose macabra. Não
como um interlocutor conveniente à satisfação sendo mais si-mesmo, e menos ainda o porta-voz
de si mesmo. de suas próprias percepções e desígnios, torna-se o
Na passagem seguinte, Ferenczi emite a mes- personagem capturado na trama da vontade exclu-
ma reserva, quanto a falar em nome das crianças, siva do outro. Segundo, a abolição do pensamento
que encontraremos em Primo Levi alguns anos e da palavra, substituídos pelo automatismo; outra
depois, ao duvidar de sua capacidade e direito de metamorfose macabra. A criança desaparece para só
tentar testemunhar em nome dos desaparecidos reaparecer como marionete do outro. Identificação
nas câmaras de gás nazistas. Ambos deixam claro com o agressor- figura que emerge da situação
que não pretendem substituir o agredido na cena traumática e que, longe de ser apenas uma figura
de testemunhar e insistem no fato de que ninguém de linguagem, é artífice de uma metamorfose que,
pode testemunhar no lugar de outrem, sobretudo se permite a sobrevivência, inaugura uma vida
se o outro é vítima de algo irremediável. amputada de suas raízes vitais, tomando-se o marco
NAS MÃOS DO OUTRO. Assim, Ferenczi escreve: "Édifícil adivinhar quais indicativo de uma agressão.
O abuso e a tortura suscitam são o comportamento e os sentimentos das crianças Tal agressão, figurada na situação acima, obriga
na criança medo intenso na seqüência de tais atos. Seu primeiro movimento a chamá-la tortum: o torturador, mestre e senhor
e transformam sua saúde seria a recusa, o ódio, o desgosto, uma resistência da cena hermética, anuncia ao torturado que não
psíquica, física e moral.
Fragillzada, e la assume um
violenta: 'Não, não, eu não quero, é muito forte, me há fímbria de espermrça de que alguém possa vir em
estado de paralisia em que machuca, deixe-me!'. Isto ou alguma coisa próxima socorro. Quanto ao torturado, já se disse que ele
é incapaz de se defender, seria a reação imediata se esta não fosse inibida por jamais abandona a sala de tortura, uma vez que
mesmo verbalmente. A um medo intenso. As crianças se sentem física e sua confiança no mundo foi definitivamente aba-
supressão do pensamento e moralmente indefesas, sua personalidade ainda é lada. Sobre o papel capital da esperança, diga-se,
da palavra e substituida pelo
muito fraca para poder protestar mesmo em pen- muito haveria a ser desenvolvido. Assi nalamos,
automatismo, e a criança
desaparece para se tornar samento, a força e a autoridade esmagadora dos contudo, que toda uma corrente de pensamento
marionete do o utro. A força adultos as deixam mudas e podem mesmo fazê-las contemporânea, baseada na reflexão sobre a SIJoah
dos adultos a deixa muda e perder a consciência. Porém, esse medo, qumrdo ati11ge seu [catástrofe, em hebraico, remete ao holocausto], instau-
pode mesmo fazê-la perder a p01rtoculmi11mrte, as obriga a se submeter mt!omaticm11wte à ra a esperança como princípio- pri11cípio espermrça
consciência. Em vetor oposto,
vo11tade do agressor. a adivi~tl}(lr o menor dos seus desejos, a -enquanto condição intrínseca não apenas ao
ternura e acolhimento se
insurgem contra o regime obedecer esquece11do-se por completo ea se ideutificnr tolalme~rte humano, mas ao vivente, e que consiste, em suma,
de submissão e terror da com o agressor" [grifo de Ferenczi]. na expectativa de poder ser auxiliado no desespero,
autoridade Essa cena breve e concisa apresenta dois fatos pois sem isso a vida se extingue.
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No modelo ferencziano, porém, somos levados do trauma instaura no campo da psicanálise prin- CONDIÇÃO DE EXISTIR.
ainda a considerar uma última cena: "Geralmente, as cípios cardinais de procedimento e teorização. O A consciência existencial
relações com uma outra pessoa de conRança - por presente artigo não deve cuidar de tais princípios, do bebê é incipiente e
lembra a célebre passagem
exemplo, a mãe- não são suficientemente íntimas mas, como cidadãos comuns, os elementos apon- shakespeariana em Hamlet:
para que a criança possa encontrar aux~io; algumas tados acima nos obrigam a uma reflexão rigorosa ele vive entre ser e não ser.
frágeis tentativas nesse sentido são repelidas pela e preocupada sobre o que é fornecido às crianças Por meio de amor, ternura
mãe como sendo bobage ns. A criança abusada e adolescentes enquanto fontes de informação e cuidados, cabe ao adulto
torna-se um ser que obedece meca nicamente ou e, sobretudo, como atitudes afetivas. Diante oferecer a ele a possibilidade
de perdoar os pais por ter sido
que se debate; mas não consegue mais dar-se conta da expansão descomunal da utili zação sexual,
colocado no mundo sem ser
das razões dessa atitude". deveríamos nos interrogar, dentro do espírito sido consultado. Essa consulta
Essa cena deve ser tomada como crucial: a crian- ferencziano, sobre a possibilidade de um trau- é impossfvel por definição, mas
ça tenta desesperada e poderosamente constituir-se matismo generalizado ou de massa? Diante da sua falta traz conseqüências às
em testemunha de si mesma, restabelecer a Rabi- violência desmesurada e do terror como forma de pulsões infantis. Se a criança
não se sente acolhida, seus
lidade de suas palavras e restaurar uma situação convencimento, deveríamos nos interrogar sobre
impulsos destrutivos se voltam
essencialmente ética- alguém, vítima, dirige- uma sideração e paralisia do pensar generalizada contra os pais
se a um terceiro a quem se queixar-, tentando ou de massa? Diante de uma retórica demagógica
encontrar uma alternativa à situação hermética de tolerância indiscriminada, deveríamos nos
a dois (torturador/torturado) e dar direito a uma interrogar sobre uma hipocrisia tornada constitu-
situação triangular, em que seu relato possa ser cional com seus efeitos de confusão e boçal idade Obras completas. Sándor FerenczJ.
recebido e considerado. No entanto, ao ter suas generalizados ou de massa? As tentativas de Martins Fontes, 1992.
palavras recebidas com uma atestação de nulidade, apoior consistentemente tais interrogações talvez Ocastelo. Franz Kafka. Companhia
o agredido despenca da rede dada pela língua e nos obriguem a certa disciplina ao considerar as das Letras, 2000.
cai das palavras. Tal queda só pode ser inRnita e leis da hospitalidade. Sobretudo se com o Rlósofo Os afogados e os sobreviventes.
resulta em obediência mecânica, cujo corolário é lituano, judeu, naturalizado francês Emmanuel Primo Levi. Paz e Terra, 2004.
ter abolida a capacidade de pensar por si mesmo. Lévinas (1906- 1995) adotarmos como interlo-
Tendo efetuado tal percurso, e de acordo com cutores os elos mais frágeis - o órfão, a viúva,
o espírito da obra ferencziana, devemos ressaltar o estrangeiro - , que tornam a obediência às leis FABIO LANDA é doutor em psica-
que toda essa configuração está longe de ser defi- da hospitalidade mais pungente. A proximidade nálise pela Universidade Paris VIl
nitiva e irremediável. Se tomarmos as precauções inqu ietante entre hospitalidade e hosti lidade e conferencista de filosofia, autor
de nos afastarmos de procedimentos mágicos ou suscitaria uma atividade crescente de reflexão de Ensaio sobre a criação teórico
em psiconalise. De Ferenczi a Nicolas
demagógicos, apresentados como alternativa, alí- sobre a responsabilidade em relação a sistemas
Abrohom e Mario Torok (Unesp/Fa-
vio ou cura, e permanecermos no âmbito da obra de pensamento que geram, estetizam e susten-
pesp, 1999). - Todas 05 traduções
ferencziana, a elasticidade da trama humana e a tam a violência . Talvez um ouvido mais atento do obra de Ferenczi sao do autor
vontade de restabelecer a vitalidade da vida são ao pólo da ternura, na oposição paixão/ternura, deste artigo, elaboradas com base na
inextinguíveis enquanto elã. permitisse discernir, dentre todos os sons e ruí- edição francesa das obrm completos
Como o leitor deve ter percebido, a temática dos, certo pranto tímido de fundo. nec do psicanalista llúngaro.