Você está na página 1de 3

“Ferenczi: a criança e o cuidado”. In: Gurfinkel, Décio. Relações de objeto.

Editora: Blucher, 2017

1) Explique a noção de adaptação e sua importância no desenvolvimento do bebê para


Sándor Ferenczi.
Sándor Ferenczi abordou a relação com o objeto – ênfase eu e o outro – campo da
intersubje�vidade. Em sua teoria, a noção de adaptação se refere às relações mais arcaicas,
propondo uma inversão na educação mais clássica e propondo um realinhamento às relações de
cuidados nas primeiras relações do bebê.
Ferenczi marca a relação de objeto quando defende a importância da adaptação nas relações entre
cuidadores e bebês, propondo que a família buscasse se adaptar à criança mais do que a criança
à família (1928).

2) Cite e explique brevemente as primeiras 3 passagens de adaptação do bebê no processo de


desenvolvimento da libido: nascimento, desmame e asseio pessoal.
Ferenczi explica o desenvolvimento da libido par�ndo de sua consideração principal: a necessária
adaptação da família à criança. Ele abordará o que há de traumá�co ou não em cada
passagem/fase: nascimento (Freud), desmame, asseio pessoal e negação de um corpo erógeno.
Ferenczi discorda de que o nascimento é necessariamente traumá�co, pois ele acredita que os
órgãos estão preparados para o funcionamento e a família imbuída em tornar esses primeiros dias
os mais parecidos com a vida intrauterina, controlando es�mulos incômodos do meio externo.
A segunda passagem, o desmame, não é necessariamente trauma�zante, tem um potencial
traumá�co, por ocorrer muito cedo, deve ser gradual, já que o ato remete à segurança, apoio,
proteção, corpo. Se mal feito, para Ferenczi, o desmame pode ser trauma�zante e pode afetar a
relação da criança com os objetos e a maneira de se relacionar com ele.
O asseio pessoal é a terceira passagem que para Freud refere-se ao desenvolvimento da
capacidade do bebê de controlar suas funções corporais, como a eliminação de urina e fezes,
controle dos es�ncteres – o desfralde. Esse controle terá uma ligação direta a educação, controle
do seu próprio corpo, maior independência e autossuficiência e autorregulação. Ferenczi
considera uma das mais di�ceis e perigosa, pois dependendo da rigidez da educação pode se
diminuir a capacidade futura de felicidade. Ferenczi propõe que tratemos com prudência e
viabilizemos a sublimação dos impulsos, possibilitando o aprendizado de canalizar as necessidades
primi�vas de uma maneira mais socializada.
Para Ferenczi, a terceira passagem traumá�ca é a negação de um corpo erógeno, a falta de
adaptação da família à criança pode formar um superego enrijecido e patológico. O homem é o
único animal que mente (Ferenczi, 1928), os adultos normalmente negam a existência dessa
necessidade eró�ca no período infan�l e coíbem suas crianças que vivenciam a culpa e a falta de
confiança em autoridades, quando são expostas ao não reconhecimento do valor eró�co dos
órgãos genitais contrapondo com o que é sen�do em seus próprios corpos.
O principal efeito nocivo dessas fases é a criação de um abismo da relação da criança com os
cuidadores.

3) Para Ferenczi, a agressividade é inata? Qual a relação do ambiente com a pulsão de morte?
Freud na obra Mal estar da Civilização traz a agressividade como ação da Pulsão de Morte inata,
inerente ao organismo, enquanto para Ferenczi, no ar�go “A criança mal acolhida e sua pulsão de
morte”, o autor considera a agressividade como um aspecto derivado da pulsão de morte e dos
cuidados recebido pela criança; a agressividade sendo parte do desenvolvimento humano que se
dará a par�r da interação do bebê e o ambiente; a agressividade surgirá como uma resposta à
frustração e à falta de sa�sfação das necessidades do bebê.
Caberá aos cuidados reconhecer e lidar de maneira adequada com a agressividade do bebê
permi�ndo sua expressão de forma controlada e auxiliando na regulação emocional.

4) Somando-se à questão anterior, responda: Ferenczi discorre sobre as “tendências


inconscientes de autodestruição” que, quando ganham predominância, podem se manifestar de
diferentes formas, como o suicídio direto ou pessimismo, falta de vontade de viver, ce�cismo e
desconfiança. É possível que a família se adapte e proporcione um equilíbrio de forças entre Eros
e Thânatos? Jus�fique.
A adaptação da família à criança ao oferecer um ambiente afe�vo, estável e seguro, para Ferenczi,
tem maior probabilidade de promover o equilíbrio entre as forças Eros e Thânatos.
As interações familiares durante a infância terão influência direta na internalização de padrões nas
relações inter e intra subje�vas e como a criança lidará com as suas próprias pulsões.

5) Explique a que se refere, na obra de Ferenczi, a seguinte afirmação em relação à criança:


“hóspedes não bem-vindos na família".
A afirmação “hóspedes não bem-vindos na família” refere-se à ideia de que algumas crianças são
tratadas, dentro do ambiente familiar, com rudeza e sem carinho, o que enfa�za a falta de
acolhimento, rejeição e negligencia e a não adaptação da família àquela criança, o que,
possivelmente, acarretará em uma estrutura psíquica vulnerável e precária.

6) Explique por que o superego é resultado da incapacidade maior ou menor da família de se


adaptar à criança.
Outras interações sociais como educação, cultura, convívio social influenciarão na formação do
superego. A família não é o único determinante do superego, mas tem um papel significa�vo na
modelagem da criança de acordo com a abordagem psicanalí�ca Ferencziana, que aborda a
importância do ambiente familiar na cons�tuição do superego da criança, argumentando que o
superego é modelado pela relação estabelecida entre a criança e os cuidadores e pela capacidade
que essa família possui de se adaptar às necessidades emocionais da criança.
A família que tende a se adaptar às necessidades da criança, estabelecendo limites adequados,
direcionando a valores sociais e é�cos respeitando a individualidade, a criança tende a desenvolver
um superego saudável.
Por outro lado, famílias rígidas, severas e puni�vas, que não se adaptam às questões infan�s, a
criança tende a desenvolver um superego crí�co, autoritário, ou um superego frágil, carente.

Você também pode gostar