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Disciplina: Psicopatologia Psicanalítica e Dispositivos Clínicos

Professora: Dra. Deise Matos do Amparo


Estudante: Aylah Christie Beltrão Rosa1
Fichamento

Ferenczi, S. A. (1928/1992). Elasticidade da técnica psicanalítica. In S. A. Ferenczi.


Psicanálise IV. Obras Completas.

“Depois que Freud publicou seus "Conselhos sobre a Técnica Psicanalítica",


possuímos os primeiros elementos de uma investigação metódica sobre o psiquismo.
Todos aqueles que não temem o esforço de seguir as instruções do Mestre estarão em
condições, mesmo que não sejam gênios da psicologia, de ganhar acesso às profundezas
insuspeitadas da vida psíquica de outrem, seja ela saudável ou doente.” (p. 25).

“Na análise (...) trata-se de algo muito mais elevado: apreender a tópica, a
dinâmica e a economia do funcionamento psíquico, e isso sem a impressionante
aparelhagem de laboratórios, mas com uma pretensão de certeza sempre crescente e,
sobretudo, uma capacidade de rendimento incomparavelmente superior.” (p. 26).

“(...) não é dado à psicanálise poupar o paciente de todo o sofrimento; com


efeito, aprender a suportar um sofrimento constitui um dos resultados principais da
psicanálise. Entretanto, uma pressão a esse respeito, se for desprovida de tato, fornecerá
apenas ao paciente a oportunidade, ardentemente desejada pelo inconsciente, de
subtrair-se à nossa influência.” (p. 27).

“Em seu conjunto, todas essas medidas de precaução geram sobre o analisando
uma impressão de bondade, mesmo se as razões dessa sensibilidade provêm puramente
de raízes intelectuais.” (p. 27).

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Aluna especial em Programa de Pós Graduação em Psicologia Clínica e Cultura da Universidade de
Brasília
“Convém conceber a análise como um processo evolutivo que se desenrola sob
os nossos olhos, e não como o trabalho de um arquiteto que procura realizar um plano
preconcebido.” (p. 28).

“Não lhe dissimularemos, em absoluto, a existência também de outros métodos


que prometem esperanças de cura muito mais rápida e segura, e, no fundo de nós
mesmos, rejubilamos quando ouvimos os pacientes dizerem que já seguiram, durante
anos, tratamentos por métodos de sugestão, ergoterapia ou outros métodos de reforço da
vontade; quando não, deixamos ao paciente a opção de experimentar um desses
tratamentos tão promissores, antes de se entregar aos nossos cuidados.” (p. 28).

“(...) não podemos deixar passar sem resposta a objeção habitualmente levantada
pelos pacientes, a saber, que não acreditam no nosso método ou na nossa teoria.
Explicamos desde o início que a nossa técnica renuncia por completo ao presente
imerecido de tal confiança antecipada; o paciente só tem que acreditar em nós se as
experiências do tratamento o justificarem.” (p. 28).

“(...) a fé entusiástica do paciente, muitas vezes proclamada de maneira


excessivamente ruidosa, esconde quase sempre uma boa dose de desconfiança, cuja voz
o doente procura abafar mediante promessas de cura impetuosamente exigidas de nós.”
(p. 29).

“No decorrer da análise, é bom ficar sempre de olho aberto para as


manifestações encobertas ou inconscientes que revelam a incredulidade ou a recusa, e
discuti-las em seguida sem rodeios.” (p. 30).

“Todo indício de despeito, ou de sentimento de afronta por parte do médico,


prolonga a duração do período de resistência; mas se o médico não se defende, o
paciente cansa-se pouco a pouco do combate unilateral; quando já provocou o bastante,
não pode impedir-se de reconhecer, ainda que com reticências, os sentimentos
amistosos escondidos por trás da defesa ruidosa, o que permitirá eventualmente
penetrar mais a fundo no material latente, sobretudo naquelas situações infantis.” (p.
30/31).
“Nada de mais nocivo em análise do que uma atitude de professor ou mesmo de
médico autoritário. Todas as nossas interpretações devem ter mais o caráter de uma
proposição do que de uma asserção indiscutível, e isso não só para não irritar o
paciente, mas também porque podemos efetivamente estar enganados”. (p. 31).

“É evidente que não penso que o analista deva ser mais do que modesto; ele tem
todo o direito de esperar que a interpretação apoiada na experiência se confirme mais
cedo ou mais tarde, na grande maio ria dos casos, e que o paciente ceda à acumulação
de provas. Mas, em todo caso, é preciso aguardar pacientemente que o doente tome a
decisão.” (p. 31).

“Nunca se esqueça que a análise não é um procedimento sugestivo, em que o


prestígio do médico e sua infalibilidade têm que ser preservados acima de tudo. A única
pretensão alimentada pela análise é a da confiança na franqueza e na sinceridade do
médico, não lhe fazendo mal algum o franco reconhecimento de um erro.” (p. 32).

“A posição analítica não exige apenas do médico o rigoroso controle do seu


próprio narcisismo, mas também a vigilância aguda das diversas reações afetivas.” (p.
32).

“(...) só uma verdadeira posição de ‘sentir com’ pode ajudar-nos; os pacientes


perspicazes não tardam em desmascarar toda pose fabricada.” (p. 32).

“Ser parcimonioso nas interpretações, em geral, nada dizer de supérfluo, é uma


das regras mais importantes da análise; o fanatismo da interpretação faz parte das
doenças de infância do analista.” (p. 33).

“(...) a experiência ensinou-me que jamais devíamos dar ordens ou formular


interditos, mas, no máximo, aconselhar certas modificações da maneira de comportar-
se, permanecendo sempre pronto a retirá-las se se verificasse que eram um obstáculo ou
que provocavam resistências.” (p. 33).

“Se formos suficientemente pacientes, o próprio doente acabará, cedo ou tarde,


por perguntar se pode arriscar tal ou qual tentativa (por exemplo, ultrapassar uma
construção fóbica).” (p. 33).
“(...) gostaria de arriscar alguns comentários a respeito da metapsicologia da
técnica. (...) chamei a atenção para o fato de o processo de cura consistir, em grande
parte, em o paciente colocar o analista (o novo pai) no lugar do verdadeiro pai, que
ocupa tanto espaço no superego e que continua doravante convivendo com esse
superego analítico (...), mas gostaria de acrescentar que uma verdadeira análise de
caráter deve pôr de lado, pelo menos passageiramente, toda espécie de superego,
inclusive o do analista.” (p. 34).

“Mencionarei agora um problema que nunca foi suscitado até o presente


momento, ou seja, uma eventual metapsicologia dos processos psíquicos do analista
durante a análise. Seus investimentos oscilam entre identificação (amor objetal
analítico), por um lado, e autocontrole ou atividade intelectual, por outro.” (p. 34/35).

“É fácil reconhecer os analistas não analisados (selvagens) e os pacientes


incompletamente curados, pois sofrem de uma espécie de 'compulsão para analisar'.”
(p. 35).

“(...) o procedimento que aplico e recomendo, a elasticidade, não equivale, em


absoluto, a ceder sem resistência. Procuramos, é certo, colocar-nos no diapasão do
doente, sentir com ele todos os seus caprichos, todos os seus humores, mas também nos
atemos com firmeza, até o fim, à nossa posição ditada pela experiência analítica.” (p.
36).

“(...) num analista bem analisado, os processos de "sentir com" e de avaliação,


exigidos por mim, não se desenrolarão no inconsciente, mas ao nível pré-consciente.”
(p. 36).

“(...) o meu combate só se volta contra a parte do superego que se tornou


inconsciente e, desse modo, ininfluenciável; naturalmente, nada tenho a objetar a que
um homem normal continue conservando no seu pré-consciente uma quantidade de
modelos positivos e negativos. É verdade, porém, que não terá de obedecer como um
escravo a esse superego pré-consciente, como obedecia antes imago parental
inconsciente.” (p. 36).

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