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“Phenology of nocturnal avian migration

has shifted at the continental scale”


ANÁLISE CRÍTICA DO ARTIGO

Filipe Borges nº 113683;


Gonçalo Bourgeois nº 110290;
João Seguro nº 113316
| Evolução Biológica |
27/11/2023

RESUMO

Este trabalho analisa criticamente a notícia "As aves estão a alterar a altura em que migram", destacando um
estudo de 24 anos sobre a migração de aves em escala continental. O estudo revela avanços no pico médio de
migração correlacionados às mudanças climáticas. A urgência de abordar as alterações climáticas para
preservar a biodiversidade é enfatizada, ressaltando o papel crucial de tecnologias avançadas na compreensão
das estratégias migratórias. Em conclusão, o estudo fornece insights sobre mudanças fenológicas induzidas
pelas mudanças climáticas nos padrões de migração de aves nos EUA.

Palavras-Chave: Migrações; Aves; Fenologia;


Índice
Introdução ....................................................................................................................................... 2
Materiais e Métodos ........................................................................................................................ 3
Resultados e Discussão ................................................................................................................... 4
Conclusão ....................................................................................................................................... 5
Bibliografia ..................................................................................................................................... 5

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Introdução
Este trabalho consiste numa análise crítica da notícia da ZAP[1] - “As aves estão a alterar a
altura em que migram (e já se sabe porquê)” - publicada a 19 de dezembro de 2019 e fundamentada
principalmente a partir do artigo publicado na revista científica Nature Climate Change - “Phenology
of nocturnal avian migration has shifted at the continental scale”[2] - referido pelos autores como “os
primeiros estudos a examinar como as mudanças climáticas afetam o tempo da migração de aves em
escala continental” de acordo com a ZAP.
Aves são um dos grupos taxonomicamente mais notáveis da biologia atual. É um grupo uma
grande diversidade, com mais de 10000 espécies descritas com uma distribuição global,
representando uma variedade de nichos ecológicos e apresentando um significante intervalo de
dimensões físicas, sendo a ave com menor dimensão o beija-flor – com aproximadamente 2 gramas
– e com maior dimensão a avestruz – com cerca de 140000 gramas. Com corpos cobertos de plumas
otimizadas para voar, as suas taxas de crescimento e metabolismo aceleradas destacam-se entre os
animais. As aves são conhecidas também por possuir cérebros grandes na escala biológica, sentidos
apurados e a aptidão de muitas espécies para reproduzir vocalizações e usar ferramentas fazem delas
uns dos organismos mais inteligentes da Terra.[3]
Abordando o conceito de migração, normalmente consiste em duas etapas principais: a
locomoção – onde há consumo de energia e distância percorrida – e a “deposição de combustível” –
onde se acumula e restaura os níveis de energia. A acumulação de energia geralmente ocorre durante
as escalas e a migração envolve, portanto, períodos alternados de escala e de transporte. Apesar disso,
muitas vezes já existe um período de deposição de energia antes do animal partir no seu primeiro
segmento de migração – abastecimento pré-migratório – termo este que pode induzir em erro, visto
que já está incluído na migração. O intervalo de valores é grande no número e na duração das escalas
e das fases de transporte, dependendo das condições ambientais ao longo das rotas dos migradores.
As migrações podem coincidir com zonas extremas com impossibilidade de reabastecimento. Em
suma, num panorama geral, a migração consiste então apenas numa etapa de movimento direto de
um ponto de partida até determinado destino e é preparada previamente por um período de
acumulação de energia.[4]
Nas aves, a migração é o movimento direcional da zona de reprodução para áreas de
alimentação e descanso numa determinada época do ano. Noutra época, as aves retornam para a sua
zona de reprodução, repetindo ciclicamente todos os anos ou mais de uma vez no mesmo ano. Este
fenómeno origina-se devido à oferta de alimentos sazonalmente disponíveis. As aves que migram são
conhecidas por aves migratórias. Existem nove principais rotas migratórias no mundo - “Flyways” –
a East Atlantic Flyway, a West Asian – East African Flyway, a Black Sea/ Mediterranean Flyway, a
Central Asian Flyway, a East Asian – Australasian Flyaway, a West Pacific Flyway, a Pacific
Americas Flyway, Mississipi Americas Flyway, Atlantic Americas Flyaway.[5], [6]
Por exemplo, as aves selvagens regressam ao local de partida durante a fase reprodutiva e no
Inverno, o sucesso do regresso depende da distância de deslocamento, do tamanho da área de vida
das aves e da capacidade para realizar voos de longa distância. As aves invernantes regressam ao seu
lugar de origem no inverno após a migração (ex.: pardais invernantes do género Zonotrichia,
deslocados através do continente americano, retornam durante o inverno seguinte).[7], [8]
As mudanças climáticas globais têm sido um tópico de interesse crescente na comunidade
científica. Cientistas estão a investigar como é que as alterações climáticas podem afetar os padrões
de migração das aves. Por exemplo, mudanças na temperatura podem influenciar a disponibilidade
de alimentos em diferentes regiões, levando as aves a ajustarem suas rotas migratórias. Um dos
grandes avanços da ciência, relativamente a este tema, é a tecnologia de rastreamento via rádio, que

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ajudou significativamente a melhorar a nossa compreensão da ecologia e da evolução das estratégias
migratórias.[9]
Dada a introdução teórica de conceitos base fundamentais, o objetivo desta análise crítica é
determinar a solidez dos argumentos do artigo publicado na revista científica Nature Climate Change
- “Phenology of nocturnal avian migration has shifted at the continental scale”.

Materiais e Métodos
• Aquisição de dados de radar meteorológico:
Foi quantificada a intensidade de migração das aves com objetivo de medir a fenologia dos
movimentos migratórios e foi ainda calculada a velocidade e a direção para analisar o tráfego durante
a noite, desde o anoitecer até ao amanhecer. Foi efetuada uma amostragem em períodos noturnos
porque se captura a maioria das espécies migratórias que se movem pela América do Norte (~80%
das espécies migratórias);
• Remoção de desordem dos dados do radar meteorológico:
Antes de se proceder à construção de perfis de altura da atividade migratória, foram criadas
máscaras binárias relativas a cada ano e radar para remover a desordem estacionária (por exemplo,
edifícios, turbinas, eólicas e bloqueios de terreno) da varredura de elevação mais baixa.
• Remoção de precipitação:
Para remover a contaminação climática, foi efetuado um treino de uma rede neural
convolucional profunda (CNN) com objetivo de segmentar regiões de precipitação da biologia em
varreduras de volume WSR e também definir a refletividade de qualquer pixel como zero se fosse
classificado como precipitação. Avaliou-se o desempenho das varreduras segmentadas manualmente
que eram histórica e geograficamente representativas. A CNN reteve 95,9% de toda a biomassa com
uma taxa de apenas 1,3% falsos positivos.
• Quantificação da atividade de migração a partir dos dados filtrados:
A partir dos dados livres de interferência e precipitação, calculou-se os perfis de altura da
intensidade, velocidade e direção da migração usando as varreduras de elevação mais baixas, a
distâncias entre 5 e 37,5 km do radar. Determinou-se a intensidade da migração através da
refletividade e da direção da trajetória do migrante. A velocidade no solo foi quantificada através da
velocidade radial de 100 a 3000 m acima do nível do solo dentro dos compartimentos altitudinais de
100 m.
• Quantificação da taxa de tráfego e data de pico de migração:
Após diversos cálculos para obter a refletividade, definiu-se a data de pico de migração como
a data em que 50% da refletividade somada foi registada para cada estação de radar. Uma única data
de pico sazonal de migração foi calculada para cada estação WSR relativa a cada ano. Foram ainda
calculadas as datas em que 10 a 90% da refletividade somada foram registadas para examinar as
respostas diferenciais à temperatura durante os períodos de migração inicial (10%), pico (50%) e
tardio (90%).
• Quantificação da mudança na data do pico de migração:
Foram examinadas as tendências fenológicas em dois níveis espaciais: (1) em todos os Estados
Unidos, para capturar uma tendência em escala continental e (2) dentro de três rotas distintas (oeste,
central e oriental). Para estimar a mudança no pico de migração dos Estados Unidos, utilizou-se um
modelo misto aditivo generalizado (GAMM). Este modelo foi construído com a data do pico de
migração como variável de resposta e utilizou-se um produto suave com interação entre latitude e ano
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e usou-se o ID da estação como um efeito aleatório para contabilizar uma variação única da estação
não capturada pela latitude. A partir deste modelo foram geradas previsões de pico de migração em
quatro faixas de latitude (30, 35, 40, 45o).
• Quantificação da mudança de temperatura do ar na superfície:
Para relacionar a variação interanual no pico de migração com o clima, extraímos dados sobre
as temperaturas diurnas do ar (oC) a 2 m acima do solo da NCEP North American Regional
Reanalysis para as mesmas datas para as quais os dados do WSR foram analisados. Para quantificar
a mudança sazonal na temperatura da superfície, calculou-se a média das temperaturas com a estação
(primavera ou outono) e foi usado um modelo linear de regressão de crista com WSR ID como efeito
fixo e uma interação entre WSR ID e ano. Isto produziu coeficientes de mudança específicos do local
para cada estação WSR.
• A temperatura como preditor da passagem da migração - anomalia anual e mudança
decenal:
Analisou-se as relações entre temperatura e fenologia de migração em dois níveis: (1)
anomalia anual e (2) mudança decenal. Calculou-se as anomalias como desvios anuais das médias
específicas da estação durante todo o período, tanto para datas de passagem quanto para temperatura.
As anomalias nesta análise foram usadas para controlar a geografia.

Resultados e Discussão
O estudo analisa a fenologia da migração de aves noturnas em escala continental e sua relação
com as mudanças climáticas. Utilizando dados de radar de vigilância meteorológica de 24 anos, os
pesquisadores descobriram que o pico médio da migração avançou tanto na primavera quanto no
outono, com mudanças mais rápidas em latitudes mais altas. As estações mais quentes são preditivas
de datas de pico de migração mais precoces, e mudanças por décadas nas temperaturas superficiais
estão relacionadas a mudanças no momento migratório. O estudo fornece evidências de mudanças
fenológicas espacialmente dinâmicas no momento da migração devido às mudanças climáticas. Os
autores enfatizam a importância de entender essas mudanças em grandes escalas espaciais e temporais
e a necessidade de dados abrangentes para estudá-las. Eles também destacam o valor de tecnologias
de sensoriamento remoto, como o radar de vigilância meteorológica, na quantificação de mudanças
fenológicas. Os resultados sugerem que os sistemas de migração estão passando por mudanças
fenológicas generalizadas, o que tem implicações para a estrutura e função dos ecossistemas. Os
autores pedem mais pesquisas para explorar as mudanças individuais na fenologia da migração e
integrar informações adicionais de estudos de ciência cidadã e rastreamento individual. No geral, o
estudo fornece insights importantes sobre os impactos das mudanças climáticas na migração de aves
e destaca a necessidade de monitoramento e pesquisa contínuos nessa área.
Do ponto de vista pessoal, o estudo reforça a urgência de abordar as alterações climáticas para
atenuar os seus efeitos na biodiversidade. As mudanças observadas nos padrões migratórios surgem
como uma consciencialização de como a evolução pode ser moldada por mudanças ambientais em
grande escala.
Além disso, o estudo destaca o papel das tecnologias avançadas, como o radar de vigilância
meteorológica, ajudou significativamente a melhorar a compreensão da ecologia e da evolução das
estratégias migratórias. Estes sistemas tecnológicos de rastreio remoto fornecem uma visão
abrangente de fenómenos em grande escala, oferecendo dados cruciais para a monitorização a longo
prazo e permite desenvolver previamente estratégias de conservação informadas.

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Por fim, esta pesquisa contribuiu significativamente para o desenvolvimento do conhecimento
relativamente aos impactos ecológicos das alterações climáticas. As mudanças observadas nos
padrões migratórios sublinham a necessidade de medidas proativas para enfrentar os desafios
ambientais e preservar a conservação dos ecossistemas. Como sociedade, é nossa responsabilidade
integrar práticas sustentáveis e defender políticas que priorizem a saúde do nosso planeta e dos seus
ecossistemas.

Conclusão
Em última análise, esta pesquisa contribui significativamente para o conhecimento dos
impactos ecológicos das alterações climáticas. Destaca-se a necessidade de ações proativas para
preservar a conservação dos ecossistemas. Como sociedade, é crucial adotar práticas sustentáveis e
defender políticas que priorizem a saúde do planeta, reconhecendo a nossa responsabilidade coletiva
na proteção ambiental.

Bibliografia
[1] “As aves estão a alterar a altura em que migram (e já se sabe porquê) - ZAP Notícias.”
Accessed: Nov. 27, 2023. [Online]. Available: https://zap.aeiou.pt/as-aves-estao-alterar-
altura-migram-ja-sabe-297569
[2] K. G. Horton et al., “Phenology of nocturnal avian migration has shifted at the continental
scale,” Nature Climate Change, vol. 10, no. 1. Nature Research, pp. 63–68, Jan. 01, 2020. doi:
10.1038/s41558-019-0648-9.
[3] S. L. Brusatte, J. K. O’Connor, and E. D. Jarvis, “The Origin and Diversification of Birds,”
Current Biology, vol. 25, no. 19, pp. R888–R898, Oct. 2015, doi: 10.1016/j.cub.2015.08.003.
[4] T. Alerstam and J. Bäckman, “Ecology of animal migration,” Current Biology, vol. 28, no. 17,
pp. R968–R972, Sep. 2018, doi: 10.1016/j.cub.2018.04.043.
[5] “As aves migratórias e seu meio ambiente - Neoenergia.” Accessed: Nov. 27, 2023. [Online].
Available: https://www.neoenergia.com/w/as-aves-migratorias-e-seu-meio-ambiente
[6] “The Flyway - Eaaflyway.” Accessed: Nov. 27, 2023. [Online]. Available:
https://www.eaaflyway.net/the-flyway/
[7] R. Wiltschko, “Navigation,” Journal of Comparative Physiology A, vol. 203, no. 6–7, pp. 455–
463, Jul. 2017, doi: 10.1007/s00359-017-1160-1.
[8] D. W. Kikuchi and K. Reinhold, “Modelling migration in birds: competition’s role in
maintaining individual variation,” Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences,
vol. 288, no. 1962, Nov. 2021, doi: 10.1098/rspb.2021.0323.
[9] P. Franchini et al., “Animal tracking meets migration genomics: transcriptomic analysis of a
partially migratory bird species,” Mol Ecol, vol. 26, no. 12, pp. 3204–3216, Jun. 2017, doi:
10.1111/mec.14108.

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