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ISBN 978-85-352-5954-4
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
E48
Ashby, M. F.
Engenharia ambiental: conceitos, tecnologia e gestão/coordenadores Maria do
Carmo Calijuri, Davi Gasparini Fernandes Cunha. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-352-5954-4
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
MARCOS JOSÉ DE OLIVEIRA
FRANCISCO ARTHUR SILVA VECCHIA
O presente capítulo apresenta o que é o clima na Terra e quais são as principais mu-
danças nele observadas. Para tanto, são descritas as causas naturais e artificiais dessas
alterações, como a influência da variação dos gases do efeito estufa, aerossóis, emissões
solares, parâmetros orbitais terrestres, atividades vulcânicas, entre outras. Na sequência,
são enumerados os impactos provocados pelas mudanças climáticas nos ecossistemas
e nas pessoas. Por fim, as principais respostas para o problema são brevemente apresen-
tadas, indicando as mais importantes ações de adaptação e mitigação existentes, como
os créditos de carbono.
16.1 INTRODUÇÃO
Da mesma forma que o homem é afetado pelo clima, ele também pode alterar o clima em diferentes escalas
espaciais e temporais. No nível global e durante o último século, o aumento da temperatura média na superfí-
cie terrestre – fenômeno conhecido como aquecimento global – pode ser devido ao aumento de emissões
de gases do efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono oriundo da queima de combustíveis fósseis.
Ao homem tem sido atribuída a responsabilidade de ser o principal indutor das mudanças climáticas
recentes. Todavia, é relevante considerar que as causas de mudanças climáticas não são exclusividade da
humanidade. Ao longo de toda a história da Terra, as causas de mudanças no clima são variadas e estão
sujeitas a diversos fatores naturais que fogem do controle humano.
Muitas das causas naturais das mudanças climáticas possuem uma magnitude de influência extraor-
dinária, capazes de deflagrar eventos climáticos como as eras glaciais. Por exemplo, entre uma era glacial
fria e um período interglacial quente, a amplitude de variação da temperatura média global é da ordem
de 10 °C. A título de comparação, as mudanças observadas na temperatura, desde 1900, representam um
aumento de cerca de 0,6 °C no valor médio global.
Portanto, é imprescindível, em primeiro lugar, a compreensão dos mecanismos físicos relacionados às
principais causas das mudanças climáticas, sejam naturais ou antropogênicas, para, depois, adequadamente
empenhar esforços no combate aos impactos observados.
EIXO 3: IMPACTOS AMBIENTAIS
Portanto, o clima pode ser entendido como um conjunto de elementos estudados por meio de registros
meteorológicos ao longo de muitos anos, enquanto o conceito de tempo pode ser visto como a experiência
atual, momentânea, ou seja, que expressa os estados atmosféricos observados em um determinado instante
na atmosfera (Cunha & Vecchia, 2007).
1
A radiação solar é, por definição, considerada um fator de gênese do clima. Todavia, ela é comumente utilizada nas análises climáticas e meteorológicas,
sendo muitas vezes medida em estações meteorológicas, juntamente com os elementos climáticos.
368
Capítulo 16 — Mudanças climáticas
climáticas podem ser didaticamente divididas em três categorias de análise: QSFTFOUF QBTTBEPSFDFOUF
,
passado e futuro, descritas na sequência.2
Figura 16.1 Estimativas do aumento do nível médio do mar de 1910 a 1990. (A) Contribuições da expansão térmica,
de geleiras e calotas de gelo, Antártida e Groenlândia, que resultam das mudanças climáticas do século XX; (B) Faixa
média com limites superior e inferior da resposta do aumento do nível do mar às mudanças climáticas, representando a
estimativa do impacto antropogênico. Fonte: Adaptado de IPCC (2001a).
2
As séries temporais, sequências únicas de dados obtidos (ou estimados) representativos para determinado período, representam a base da análise do
clima. Elas descrevem tendências de aumento, redução ou manutenção dos valores antecedentes. Logo, o uso de gráficos é um recurso útil na visualização
e compreensão imediata das variações climáticas.
369
EIXO 3: IMPACTOS AMBIENTAIS
Figura 16.2 Variações da temperatura da superfície terrestre ao longo dos (A) últimos
140 anos e (B) ao longo do último milênio. Fonte: Adaptado de IPCC (2001b).
370
Capítulo 16 — Mudanças climáticas
Figura 16.3 Balanço global anual médio de energia da Terra. As setas indicam o fluxo
esquemático proporcionalmente a sua importância. Fonte: Trenberth et al. (1999).
Um forçamento radiativo positivo – por exemplo, devido ao aumento de gases do efeito estufa (GEEs)
– resulta principalmente no aquecimento relativo da superfície da Terra; e um forçamento radiativo
negativo – que pode surgir de um aumento de alguns tipos de aerossóis, por exemplo – tende a provocar
o resfriamento da superfície da Terra. A resultante positiva ou negativa no balanço de energia é expressa
pelo forçamento radiativo, que é utilizado para comparar as influências do aquecimento ou resfriamento
nas mudanças climáticas (IPCC, 2007a).
371
EIXO 3: IMPACTOS AMBIENTAIS
Figura 16.4 Distribuição proporcional setorial das emissões globais de GEEs, em 2004,
em termos de equivalência de CO2. Fonte: IPCC (2007a).
As concentrações globais de CO2, CH4 e N2O têm aumentado significativamente como resultado das
atividades humanas desde 1750 (Figura 16.5). O aumento da concentração de gás carbônico, o mais im-
portante GEE antropogênico, é devido primariamente à queima de combustíveis fósseis. As mudanças no
uso dos solos apresentam uma contribuição proporcionalmente menor, porém significativa. O aumento
na concentração do metano é causado pelas atividades agrícolas e pelo uso de combustível fóssil. O incre-
mento na concentração do N2O é devido à agricultura. Conforme pode ser observado na Figura 16.5, os
GEEs diferem-se no potencial de aquecimento (forçamento radiativo) do sistema climático devido aos seus
distintos tempos de vida na atmosfera e propriedades radiativas. Essas influências podem ser expressas por
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Capítulo 16 — Mudanças climáticas
meio de uma referência comum, baseada no forçamento radiativo do gás carbônico. Logo, o potencial de
aquecimento global do CO2 possui valor 1, enquanto o CH4 e o N2O possuem potenciais 25 e 298 vezes
maiores, respectivamente.3
Figura 16.5 Concentrações atmosféricas de (A) dióxido de carbono, (B) metano e (C) óxido nitroso ao longo dos
últimos 10 mil anos e desde 1750 (painéis internos). Os valores mostrados foram obtidos de diferentes sondagens
no gelo. As amostras observadas foram obtidas a partir da segunda metade do século XX. Os forçamentos radiativos
correspondentes são mostrados nos eixos laterais à direita. Fonte: Adaptado de IPCC (2007b).
Segundo o IPCC (2007b), o aquecimento observado desde 1950 sustenta as seguintes conclusões: é
extremamente improvável (com PO < 5%) que as mudanças climáticas globais possam ser explicadas sem
os forçamentos radiativos antrópicos; é muito provável (com PO > 90%) que esses efeitos não sejam devidos
somente às causas naturais. Durante esse período, a soma dos forçamentos das atividades solares e vulcâ-
nicas teria provavelmente (com PO maior que 66%) produzido um resfriamento, e não um aquecimento.
3
A quantidade dos GEEs é normalmente expressa em termos equivalentes da quantidade de dióxido de carbono (unidade: CO2 equivalente [CO2eq]), que
considera o potencial de aquecimento global de cada GEE.
373
EIXO 3: IMPACTOS AMBIENTAIS
rocronologia), rochas, entre outros. Por meio de diversos métodos, as condições climáticas na Terra no
passado são reconstruídas, ou seja, determinadas de modo indireto.
Figura 16.6 Média global do forçamento radiativo em 2005. Fonte: Adaptado de IPCC (2007a).
374
Capítulo 16 — Mudanças climáticas
Figura 16.7 Variações paleoclimáticas do nível médio relativo do mar. (A) Variações eustáticas durante o último ciclo
glacial-interglacial. (B) Recorte das variações ao longo dos últimos 32 mil anos. Os valores em tons de cinza foram obtidos
de diferentes testemunhos. A curva tracejada preta representa a média obtida por modelo de ajuste aos dados.
Fonte: Adaptado de IPCC (2007c).
Sob a abordagem na escala de tempo de milhões de anos, mudanças globais implicaram em amplitudes
de variação na ordem de centenas de metros, alcançando extraordinários 200 m acima do nível atual (Figura
16.8). Essas grandes variações estão relacionadas, principalmente, às mudanças provocadas pela movimen-
tação de placas tectônicas, que induzem processos mais lentos de isostasia – alterações da profundidade
das estruturas geológicas oceânicas e continentais sem alteração do volume das águas.
Figura 16.8 Variação do nível do mar ao longo dos últimos 550 milhões de anos. As grandes oscilações estão associadas
à separação dos continentes e a formação de novos sistemas de dorsais oceânicas. Fonte: Holland (2005).
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EIXO 3: IMPACTOS AMBIENTAIS
Figura 16.9 Variações da temperatura terrestre em diferentes escalas temporais. (A) Resfriamento global nos últimos
60 milhões de anos. (B) Eras glaciais periódicas nos últimos 600 mil anos. (C) Aumento da temperatura e do dióxido de
carbono ao longo dos últimos 400 anos. Fonte: Philander (2008).
376
Capítulo 16 — Mudanças climáticas
Figura 16.10 Variações estimadas do nível eustático do mar e da temperatura global durante o Fanerozoico.
Fonte: Frakes et al. (1992).
i) Emissão da radiação. Fator primário, determinado pelas variações solares, como os ciclos solares
de Schwabe e outros.
ii) Recepção da radiação. Fator secundário, determinado pelas variações da posição da Terra em
relação ao Sol, como observado nos ciclos de Milankovitch.
iii) Reflexão, absorção e reemissão da radiação. Fator terciário, determinado pelas alterações na
atmosfera e na superfície terrestre.
As variações solares referem-se às mudanças na quantidade de radiação total emitida pelo Sol e na sua
distribuição espectral. A Terra recebe do Sol, no topo de sua atmosfera, um fluxo de energia eletromagnética
de 1.365 W/m2. Anteriormente à disponibilidade de satélites de alta precisão, a radiação solar era conside-
rada constante pelos cientistas, motivo do termo constante solar.
A radiação solar medida pelos satélites durante as décadas recentes indicam que as variações se apre-
sentam de forma periódica, fenômeno conhecido como o ciclo solar ou ciclo solar de Schwabe.4 Cada
ciclo solar, com duração de aproximadamente 11 anos, é caracterizado por uma oscilação no surgimento
e desaparecimento de manchas solares. Os períodos de atividades solares elevadas são conhecidos por
máxima solar, e os períodos de atividades reduzidas são denominados de mínimo solar. A Figura 16.11
exibe os ciclos 21, 22 e 23.5
Para estudar a variabilidade da radiação solar em escalas de tempo maiores do que décadas, estimativas
foram realizadas com base em correlações comparativas a medições em testemunhos. O mais importante
método entre esses testemunhos é o registro das observações a olho nu do número de manchas solares,
que tem sido realizado desde aproximadamente 1610 (Figura 16.12). Retomando a Figura 16.11, nota-
-se que existe uma elevada correlação entre as medições de radiação (gráfico A) e o número de manchas
solares (gráfico B).
4
Homenagem a Samuel Heinrich Schwabe (1789-1875), astrônomo alemão, conhecido pela descoberta da periodicidade das manchas solares em 1843.
5
O ciclo número 1 é tradicionalmente designado para o período de 1755 a 1766.
377
EIXO 3: IMPACTOS AMBIENTAIS
Figura 16.11 Variações da: (A) radiação solar total e (B) do número de manchas solares desde 1978.
Fonte: Schöll et al. (2007).
Figura 16.12 Variação da quantidade de manchas solares desde 1610. Fonte: Beer et al. (2000).
A Figura 16.13 exibe a reconstrução, com base em datações radiométricas em anéis de árvores, do
número de manchas solares desde o ano 900 d.C., em termos de variação da concentração do isótopo
radiocarbono6 (Δ14C). Nos últimos mil anos, observam-se períodos de baixa atividade solar nomeados
de Mínimos de Maunder, Spörer, Wolf e Oort. O Mínimo de Maunder está possivelmente associado à
Pequena Era do Gelo, indicando uma correlação entre atividades solares e o clima terrestre global.
Além do ciclo de Schwabe, o Sol possui outros ciclos: ciclo de Hale,7 inversão da polarização magnética
das manchas solares a cada 22 anos; ciclo de Gleissberg, de 88 anos; ciclo de Suess, de 208 anos; e ciclos
da ordem de 2 mil anos ou mais.
A influência da radiação solar no clima é bastante significativa, responsável pelas eras glaciais e in-
terglaciais, conforme será apresentado no próximo item. Scafetta (2010), por exemplo, afirma que 60% do
6
O radiocarbono é um testemunho que permite estimar as mudanças na atividade solar. A concentração do 14C na atmosfera é baixa durante os máximos
solares e elevada durante os mínimos solares. O eixo vertical da Figura 16.13 está invertido para que o mínimo da concentração de 14C corresponda ao
máximo do número de manchas solares.
7
Homenagem a George Ellery Hale (1868-1938), astrônomo norte-americano, que junto com colaboradores elucidou as bases físicas do ciclo solar em 1908.
378
Capítulo 16 — Mudanças climáticas
aquecimento global observado desde 1970 pode ser devido a causas naturais decorrentes dos ciclos solares
de Schwabe e Hale, além do ciclo lunar de 9,1 anos e da influência dos períodos orbitais de Júpiter e Saturno.
Figura 16.13 Reconstrução das atividades solares passadas para os últimos 1.100 anos, em termos de concentração de
radiocarbono atmosférico. Fonte: Reimer et al. (2004).
8
As causas das variações orbitais terrestres estão relacionadas à influência dos movimentos dos corpos do sistema solar. Os parâmetros orbitais terrestres
oscilam de acordo com a variação dos campos gravitacionais e magnéticos do Sol, Lua e outros planetas (Júpiter e Saturno).
379
EIXO 3: IMPACTOS AMBIENTAIS
Figura 16.14 Variações orbitais terrestres: (A) excentricidade orbital; (B) inclinação do eixo terrestre;
(C) precessão dos equinócios. Fonte: Harper (2007).
A Terra gira sobre um eixo que forma atualmente um ângulo de 23,5° em relação ao plano de rotação.
O ângulo dessa inclinação axial não é constante, variando de 21,5° a 24,5° durante um período de 41 mil
anos (Figura 16.14B). A excentricidade orbital muda conforme ciclos de 100 mil anos, variando de mais
circular para mais elíptica e, depois, voltando a ser circular (Figura 16.14A). Devido ao fenômeno conhe-
cido como precessão dos equinócios, a Terra oscila sobre seu eixo em um movimento análogo ao de um
pião. O eixo de rotação oscila e forma um círculo a cada 26 mil anos (Figura 16.14C).
O efeito destas três características orbitais fica claro quando todos os extremos se combinam. Se a órbita
é a mais excêntrica possível, a oscilação coloca a Terra muito longe do Sol durante o inverno e se o ângulo
do eixo é o máximo (24,5°), então os invernos são muito frios e os verões, muito quentes. Essas variações
orbitais mudam, além da quantidade total de luz solar que atinge a superfície da Terra, a distribuição da
radiação no globo.
Milankovitch,9 ao estudar dados astronômicos e a quantidade de insolação, conseguiu prever que mu-
danças cíclicas induziriam as eras glaciais. Com menos radiação solar durante os meses de verão, ocorre a
redução do derretimento da neve de inverno nas altas latitudes, cujo acúmulo, ao longo de milhares de anos,
provoca o aumento das geleiras que, por fim, produzem uma idade do gelo. Os cálculos de Milankovitch
foram aperfeiçoados e comparados com resultados paleoclimáticos recentes. De fato, comprovou-se um
ciclo de ocorrência intercalada de eras glaciais e interglaciais, fenômenos periódicos denominados ciclos
de Milankovitch, conforme ilustrado na Figura 16.15.
Análises de perfurações no gelo na Estação Vostok, Antártida, produziram um registro de condições
ambientais do passado que remonta a 420 mil anos, abrangendo quatro períodos glaciais anteriores (Figura
16.16). É visível um padrão de repetição relativa entre o CO2 e a temperatura por quatro ciclos glacial-
-interglacial. O aumento de concentração de CO2 ocorre com atraso de 400 a mil anos após a mudança de
temperatura. Um gatilho inicial de mudança na temperatura (como pequenas mudanças na órbita da Terra,
9
O matemático sérvio Milutin Milankovitch (1879-1958) passou 30 anos pesquisando as mudanças nas características orbitais da Terra e sua influência
sobre a quantidade de radiação solar, influência que se tornou uma teoria plausível para a ocorrência das glaciações.
380
Capítulo 16 — Mudanças climáticas
por exemplo) resulta uma liberação de CO2 dos reservatórios naturais, como o oceano, para a atmosfera
com uma defasagem de alguns séculos.10
Figura 16.15 Parâmetros orbitais e ciclos de Milankovitch no passado e futuro. (A) ε é inclinação axial; (B) e é a
excentricidade; (C) ω é a longitude do periélio e esen(ω) é o índice de precessão; (D) Q-dia é a radiação média de insolação
no topo da atmosfera; (E) reconstrução do nível do mar; (F) reconstrução da variação da temperatura global. A linha
vertical cinza corresponde ao ano 2000 d.C. Fonte: Fiedler (2009).
10
Sabe-se que a solubilidade do CO2 nos oceanos varia inversamente proporcional à temperatura. Ou seja, há evidências de que o aumento (redução) de
temperatura do ar cause o aumento (redução) das concentrações de CO2 na atmosfera. Ou seja, o CO2 acompanha a temperatura e não o contrário. A con-
centração de CO2 na atmosfera é diretamente proporcional à temperatura na atmosfera: no equilíbrio químico do gás carbônico, quanto maior a temperatura
terrestre, menos gás será solubilizado nos oceanos na forma de ácido carbônico (H2CO3), e, portanto, maior será a concentração desse gás na atmosfera.
381
EIXO 3: IMPACTOS AMBIENTAIS
Figura 16.16 Ciclos de Milankovitch registrados nos testemunhos de gelo. Séries de Vostok (quatro curvas superiores)
e insolação (curva inferior). Série com relação ao tempo (escala com indicação de profundidades correspondentes no eixo
superior): (A) de CO2; (B) da temperatura isotópica da atmosfera; (C) de CH4; (D) de 18Oatm; e (E) insolação (em W/m2).
Fonte: Petit et al. (1999).
Além das causas antropogênicas, as variações das concentrações dos aerossóis também são provocadas
por eventos naturais, como as atividades vulcânicas, e pela colisão de asteroides e cometas. As atividades
vulcânicas projetam grandes quantidades de partículas e gases na atmosfera. A principal contribuição
dos vulcões é decorrente de partículas estratosféricas de ácido sulfúrico (H2SO4), que rapidamente se con-
densam e formam aerossóis de sulfato. Erupções vulcânicas podem produzir anomalias significativas na
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Capítulo 16 — Mudanças climáticas
temperatura, da ordem de décimos de graus centígrados. Grandes erupções vulcânicas – como os recentes
casos do Monte Tambora (1815), Krakatoa (1883), El Chichón (1982) e Monte Pinatubo (1991), Figura
16.17 – não são tão frequentes, porém causam efeitos climáticos significativos. Exemplos: a erupção do
Monte Pinatubo resultou no resfriamento de 0,5 °C; em consequência da erupção do Monte Tambora,
maior erupção vulcânica recente, não houve verão no hemisfério norte e o resfriamento foi tão intenso que
o ano de 1816 ficou conhecido como o “Ano Sem Verão”.
Figura 16.17 Impacto de erupções vulcânicas na temperatura, no período de 1700-2000. (A) Erupções e
variações correspondentes da profundidade ótica (medida da quantidade de radiação solar que é bloqueada
através de uma coluna da atmosfera); (B) Influências vulcânicas nas variações da temperatura média global.
Fonte: Adaptado de Bertrand et al. (1999).
Com menor frequência de ocorrência, erupções vulcânicas de elevada magnitude no passado causaram
impactos drásticos e duradouros no clima terrestre. Por exemplo, há 73 mil anos, o supervulcão Toba, lo-
calizado ao norte da ilha de Sumatra na Indonésia, representou a maior erupção dos últimos 2 milhões de
anos. Cerca de 1% da superfície terrestre ficou coberta com 10 cm de cinzas vulcânicas e o sulfato vulcânico
produzido nessa megaerupção causou a queda de 10 °C no verão em altas latitudes, além de um inverno
vulcânico de seis anos, seguido por um período de resfriamento de 1.800 anos.
Uma causa externa de mudanças climáticas que influencia a atmosfera é a colisão de asteroides ou
cometas com a superfície terrestre. Um exemplo notável é a antiga cratera de Chicxulub, soterrada ao sul
da Península de Yucatán, México. Essa cratera, de quase 200 km de diâmetro, é indício do impacto de um
grande asteroide ou cometa (com cerca de 10 km de diâmetro) que colidiu há 65 milhões de anos, causan-
do o evento mais devastador na história da vida na Terra. Mais da metade das espécies no planeta foram
extintas, pondo fim, inclusive, à era dos dinossauros. A energia do seu impacto foi um bilhão de vezes
maior que a bomba atômica de Hiroshima. Além dos efeitos colaterais imediatos ao impacto na superfície
– incêndios globais, terremotos, tsunamis de mais de 100 metros e inundações em regiões 20 km adentro
dos continentes –, efeitos ambientais catastróficos foram causados em função da alteração drástica do sis-
tema climático. Isso foi ocasionado pela escuridão prolongada gerada pela poeira e pelas cinzas liberadas
no impacto e ao inverno de impacto11 causado pelos aerossóis de sulfato. Um cenário de escurecimento
11
Além do inverno vulcânico e do inverno de impacto, a possibilidade de ocorrência de uma guerra nuclear mundial durante a Guerra Fria (retratado no
filme “O Dia Seguinte” – “The Day After”, 1983) favoreceu o surgimento do termo inverno nuclear na época. As explosões das bombas nucleares produziriam
efeitos semelhantes de resfriamento global por causa das fuligens e aerossóis. Poderiam ocorrer quedas, de curto prazo, de 15 °C a 25 °C da temperatura.
383
EIXO 3: IMPACTOS AMBIENTAIS
total da superfície pode ter durado vários meses após o impacto. A intensidade de luz pode ter sido tão
baixa que a fotossíntese cessou em grande parte da Terra. O resfriamento global pode ter durado de anos
a décadas, com a redução de 10 °C na temperatura da superfície terrestre.
12
A interrupção fictícia da Corrente do Golfo inspirou o filme “O Dia Depois de Amanhã” (“The Day After Tomorrow”, 2004). Pesquisadores da área afirmam
que as mudanças drásticas do clima retratadas no filme, em que Nova York é instantaneamente congelada, são mera fantasia.
384
Capítulo 16 — Mudanças climáticas
de anos. A Figura 16.18 ilustra essa possível correlação, que permite inferir que os modos quentes e frios
do clima na Terra podem estar associados à influência dos raios cósmicos.
Figura 16.18 Raios cósmicos e eras glaciais na Terra. (A) Passagens pelos braços espirais da Galáxia; (B) Fluxo de
Raios Cósmicos (FRC) atingindo o sistema solar; Em (C), a curva denota a temperatura na superfície oceânica tropical
relativamente aos dias atuais, e as áreas preenchidas expressam a distribuição paleolatitudinal de detritos transportados
pelo gelo; (D) e (E) Descrição qualitativa das Eras de Gelo na Terra; (F) Histograma de épocas de exposição a meteoros, que
se concentram em torno de épocas com menor fluxo de raios cósmicos. Fonte: Adaptado de Shaviv (2003).
O tectonismo, com movimentações na escala de milhões de anos, pode causar mudanças nos padrões
da circulação atmosférica e da circulação oceânica. As correntes oceânicas dependem da geometria dos
oceanos e esta é controlada pela tectônica de placas. Assim, o movimento das placas e continentes tem um
efeito profundo sobre a distribuição de massas de terra, serras e da conectividade dos oceanos, pois resulta
na formação e separação de continentes, que, ocasionalmente, formam um supercontinente contendo todas
as terras ou parte delas, configurações que constituem os ciclos de supercontinentes, com duração de 300
a 500 milhões de anos. No último bilhão de anos, foram identificadas a formação e a dissolução de três
grandes supercontinentes: Rodínia (1000-750 milhões de anos atrás – m.a.), Gondwana (650-550 m.a.) e
Pangeia (450-250 m.a.). A configuração atual provém da dissolução da Pangeia. A divisão dos continentes
geralmente induz a um processo cíclico de fechamento e reabertura dos oceanos ao longo de praticamente
as mesmas zonas. A abertura e fechamento de bacias oceânicas constituem os ciclos de Wilson.
385
EIXO 3: IMPACTOS AMBIENTAIS
Figura 16.19 Representação esquemática do espectro de variância para o sistema climático. Escala de tempo variando
entre horas e bilhões de anos. Fonte: Compilado a partir de Mitchell (1976), Ghil (2002) e Bartlein (2007).
Figura 16.20 Temperaturas simuladas no último milênio com e sem forçamentos antropogênicos e também com
forçamentos solares fracos e fortes. Forçamentos radiativos globais médios (W/m2) utilizados como condutores do
clima nos modelos climáticos: (A) atividade vulcânica; (B) variações fortes (curva tracejada) e fracas (curva contínua) da
radiação solar; e (C) todos os outros forçamentos, incluindo GEEs e aerossóis troposféricos de sulfato. (D) Intervalos dos
desvios da temperatura média anual no hemisfério norte simulada por modelos, sobreposta a reconstruções (fundo
em tons de cinza). A área hachurada branca representa o intervalo das simulações que utilizaram tanto os forçamentos
naturais quanto os antropogênicos; A área hachurada preta utilizou apenas os forçamentos naturais. Os forçamentos e
temperaturas estão expressos em termos de anomalias com referência à média do período de 1500 a 1899.
Fonte: Adaptado de IPCC (2007c).
386
Capítulo 16 — Mudanças climáticas
Figura 16.21 (A) Cenários de emissões globais de GEEs e (B) efeitos na temperatura média global para o período de
2000 a 2100. Em (A), as curvas representam os diferentes cenários; a área cinza claro e as linhas tracejadas representam o
intervalo de confiança de 80% e seus limites máximo e mínimo, respectivamente. Em (B), estão as projeções dos desvios
da temperatura média global (relativa à temperatura média no período de 1980 a 1999) para os diferentes cenários de
emissões de GEEs, mostrados como continuação das simulações do século XX. As barras à direta representam os intervalos
de confiança dos diferentes cenários, para o período de 2090-2099. As linhas no meio das barras representam a melhor
estimativa dos valores de cada cenário. Fonte: Adaptado de IPCC (2007a).
A Tabela 16.1 apresenta os aumentos estimados do nível médio dos mares para 2100, de acordo com
cada cenário. Para o cenário com maiores emissões (A1FI), os modelos estimam um intervalo de aumento
de 0,26 m a 0,59 m do nível médios dos mares, sendo que cerca de 0,17 m a 0,41 m é devido à expansão
térmica da água nos oceanos. A Figura 16.22 ilustra as projeções do aumento do nível do médio mar até
2100, segundo o cenário A1B (moderado).
Tabela 16.1 Cenários do aumento do nível médio do mar para o ano 2100
387
EIXO 3: IMPACTOS AMBIENTAIS
Figura 16.22 Nível global médio do mar no passado e projetado para o futuro, com desvio em relação à média de
1980-1999. De 1800 até 1870: incerteza das mudanças estimadas do passado. De 1870 a 2007: intervalo de variação da
curva suavizada, obtida das observações em marégrafos. A partir da década de 1980: mudanças observadas por satélites
de altimetria. De 2007 a 2100: intervalo da projeção, baseado no cenário A1B. Fonte: IPCC (2007c).
388
Capítulo 16 — Mudanças climáticas
Figura 16.23 Distribuição espacial mundial das mudanças da temperatura superficial no período
de 1970-2004. O tom de cinza mais claro (Hemisfério Sul) representa um desvio negativo (áreas com
resfriamento). As regiões em branco não possuem dados. Fonte: Adaptado de IPCC (2007a)
Figura 16.24 Mudanças, desde 1850: (A) da temperatura média na superfície terrestre; (B) do nível médio
do mar medido por marégrafos (a partir de 1870) e satélites (a partir de 1990). Curvas pretas: valores médios
decadais; Círculos: valores anuais. Áreas cinzas: intervalos de confiança das séries. Fonte: IPCC (2007a).
389
EIXO 3: IMPACTOS AMBIENTAIS
Onça (2008) relata com detalhes o histórico e os motivos das controvérsias do Taco de Hóquei. A autora indica
que os dados empregados pelos autores desse gráfico continham uma série de erros, truncagens e extrapolações injustifi-
cadas, dados obsoletos, cálculos de componentes principais incorretos, localizações geográficas incorretas, entre outros.
Segundo a autora, o formato do gráfico é devido a uma rotina na programação que dava um peso maior a séries de
dados de testemunhos de anéis de árvores nas variáveis em comparação com séries mais homogêneas. Por exemplo, uma
série de dados recebeu um peso de 390 vezes maior que o da série de menor peso. Essas manipulações estatísticas invali-
dariam as alegações de que o século XX, as décadas recentes e os últimos anos teriam sido os mais quentes do milênio.
Uma reconstrução de temperatura, com base na média de 18 testemunhos de 12 locais em todo o Hemisfério Norte
(Figura 16.25), exibe uma curva bem diferente do comportamento apresentado no Taco de Hóquei. A variabilidade na-
tural do clima observada no último milênio indica que os períodos quentes e frios coincidem com eventos conhecidos na
história humana. Ou seja, o gráfico do Taco de Hóquei ignorou o Período Medieval Quente e a Pequena Era do Gelo.
390
Capítulo 16 — Mudanças climáticas
Quente Medieval, e a magnitude das medições instrumentais é diminuída de acordo com a nova escala
de temperatura adotada. Conforme aumenta o recorte da escala temporal, percebe-se que as variações de
temperatura observadas pelos instrumentos adquirem uma magnitude menor em relação à série exibida.
Nos gráficos (C), (D) e (E), os registros instrumentais parecem estar revelando apenas oscilações normais
que o clima apresentou no decorrer do tempo passado. Nos gráficos (E), (F) e (G), essa variação torna-se
quase imperceptível diante das enormes variações de temperatura, especialmente ao analisar sob a pers-
pectiva da escala de temperatura na amplitude de cerca de 10 °C entre os períodos glaciais e interglaciais.
Nesse exemplo, fica ilustrada a relatividade da magnitude das mudanças nos valores atuais de temperatura
em comparação com mudanças que já ocorreram nas diferentes épocas pretéritas.
391
EIXO 3: IMPACTOS AMBIENTAIS
12
Na essência, as inevitáveis controvérsias em torno das mudanças climáticas são frutos da disputa de diferentes interesses nas esferas científica, política,
econômica, jornalística e midiática, aspectos discutidos por Oliveira (2010).
14
Nome dado em alusão ao escândalo político denominado Watergate, que ocorreu nos Estados Unidos, na década de 1970, resultando na renúncia do
presidente norte-americano Richard Nixon.
392
Capítulo 16 — Mudanças climáticas
do fato de que o dióxido de carbono não seja, provavelmente, o principal fator determinante das mudanças
climáticas. Os documentos do NIPCC sugerem manipulações pelos representantes governamentais com
a finalidade de transmitir a impressão de uma influência humana no aquecimento global, desvalorizando
completamente as contribuições das mudanças na atividade solar que, segundo os autores do NIPCC, são
predominantes sobre qualquer influência humana.
Longe de esgotar o tema ou de fazer um levantamento e avaliação dos argumentos com dados científicos
favoráveis ou não à questão do aquecimento global antropogênico, a intenção principal desse capítulo é
descrever componentes naturais interferentes no clima. Normalmente, as causas naturais são brevemente
citadas e, em seguida, um volume imenso de informações é dedicado à influência humana no clima. Pelo
apresentado aqui, espera-se que uma análise ponderada seja a mais sensata na discussão das mudanças
climáticas.15
15
Para os interessados em se aprofundar nas polêmicas das mudanças climáticas, recomenda-se, como leitura complementar, as publicações acadêmicas
(teses e dissertações) de Onça (2007), Oliveira (2010) e Onça (2011), além dos livros de Baptista (2009), Maruyama (2009) e Lino (2010).
393
EIXO 3: IMPACTOS AMBIENTAIS
amazônica,16 com potencial de enfraquecimento do ciclo hidrológico regional; redução da absorção líquida
de carbono pelos ecossistemas terrestres; grandes mudanças na estrutura e na função do ecossistema e
nas interações ecológicas e distribuições geográficas das espécies, com consequências predominantemente
negativas para a biodiversidade e bens e serviços do ecossistema, por exemplo, a oferta de água e alimento.
t*NQBDUPTOPTSFDVSTPTIÓESJDPT. Redução da disponibilidade de água; redução do potencial de geração
hidrelétrica; aumento das secas nas latitudes médias e nas latitudes baixas semiáridas; aumento das pessoas
expostas ao risco de escassez de água; salinização e desertificação das terras agrícolas.
t*NQBDUPTOPTBNCJFOUFTVSCBOPT17 Mortes associadas aos eventos climáticos extremos como inunda-
ções, deslizamentos de terra e consequentes desmoronamentos de terra.
t*NQBDUPTOPTBNCJFOUFTSVSBJTDiminuição da produtividade das culturas e aumento do risco de fome.
t*NQBDUPTOBTBÞEFIVNBOBAumento da propagação de certas doenças infecciosas, em especial aquelas
de transmissão vetorial (por exemplo, malária), com reservatórios animais em sua cadeia de transmissão,
e as de veiculação hídrica (por exemplo, diarreia) ou alimentar; aumento do número de casos de mortes
causadas pelas ondas de calor ou outros eventos extremos como furacões e inundações; ônus substancial
nos serviços de saúde; as mudanças climáticas podem trazer alguns benefícios, como menos mortes por
exposição ao frio.
t*NQBDUPTFDPOÙNJDPT. Aumento de perdas materiais de infraestrutura geral das cidades (alagamentos de
ruas e desmoronamentos de casas) e no campo (redução da produtividade na agricultura e na pecuária).
Além dos impactos citados, é preciso cuidado e uma leitura crítica em relação a certos efeitos ulti-
mamente divulgados. A mídia, em geral com menor rigor científico, tem difundido notícias que relacio-
nam o aquecimento global com efeitos exagerados.18 Os mais discrepantes e chamativos são: aumento do
terrorismo; queda de aviões; aumento do risco de colisões de asteroides; aumento de casos de morte por
câncer; canibalismo em massa; insônia em crianças; declínio de circuncisões; ataques de puma; aumento
da criminalidade; depressão; aumento dos suicídios; danos à saúde de cães; mudanças no eixo da Terra;
desastre no mundo da moda; mudanças genéticas; infartos; redução da fertilidade humana; indigestão;
fim das Olimpíadas; aumento da prostituição; aumento do avistamento de Objetos Voadores Não Iden-
tificados (OVNIs); onda de estupros; guerra nuclear; aumento da quantidade de lixo espacial; disfunções
sexuais; terremotos; erupções vulcânicas; tsunamis; desemprego; casamentos precoces; epidemia de AIDS,
entre outros. Portanto, qualquer mera “coincidência” nas covariações não devem ser confundidas com
correlações, que são relações de causa e efeito intrinsecamente conectadas, com variações dependentes.
16
Ver a referência Marengo et al. (2011) nas Sugestões de Leitura Complementar.
17
Ver a referência Nobre et al. (2011) nas Sugestões de Leitura Complementar.
18
O sensacionalismo – recurso geralmente utilizado para ganhar audiência e chocar os espectadores – reforçado pelo alarmismo e catastrofismo, é um
recurso bastante comum em notícias relacionadas às mudanças climáticas. Para mais detalhes sobre a interação dos meios de comunicação com a Ciência,
consultar Oliveira (2010).
394
Capítulo 16 — Mudanças climáticas
vernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change). Dois
anos depois, em 1990, foi realizada a Segunda Conferência Mundial do Clima.
Durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD),
evento realizado em 1992 no Rio de Janeiro – conhecido popularmente como “ECO-92”, “Rio-92” ou ainda
“Cúpula da Terra” – foi elaborado o tratado internacional denominado Convenção – Quadro das Nações
6OJEBTTPCSFB.VEBOÎBEP$MJNB $2/6.$
, que definiu um marco geral para as ações intergover-
namentais voltadas ao combate da mudança do clima.
Os países membros da CQNUMC passaram a realizar uma $POGFSÐODJBEBT1BSUFT $01
, anualmen-
te, a partir de 1995, sendo a mais notória a terceira edição dessas reuniões (COP-3), realizada em 1997 na
cidade japonesa de Quioto, origem do nome do Protocolo de Quioto, que constituiu a primeira iniciativa
global com metas quantitativas de redução das emissões ou captura (“sequestro de carbono”) dos gases do
efeito estufa.
O Protocolo de Quioto estabeleceu metas obrigatórias de redução de emissões de GEEs para 37 países
desenvolvidos e para a Comunidade Europeia. As metas equivalem a uma média de 5% de redução das
emissões, em comparação aos níveis de 1990, durante um período de cinco anos (2008-2012). O Protocolo
entrou em vigor em fevereiro de 2005 e, até a presente data, já foi ratificado por 182 países. A primeira fase
do Protocolo acaba em dezembro de 2012, e o segundo período de compromissos terá início em 2013, com
conclusão, a ser definida, para 2017 ou 2020.
395
EIXO 3: IMPACTOS AMBIENTAIS
estão detalhadas na Segunda Comunicação Nacional19 submetida à CQNUMC, que contém o Segundo
Inventário de GEEs do país.
A partir das políticas, planos e programas, as ações decorrentes são classificadas de acordo com duas
principais categorias, sendo elas as ações de mitigação e as ações de adaptação.
Ações de Mitigação
A PNMC conceitua mitigação como as mudanças e substituições tecnológicas que reduzam o uso de re-
cursos e as emissões por unidade de produção, bem como a implementação de medidas que reduzam as
emissões de GEEs e aumentem os sumidouros. A mitigação é uma das estratégias de resposta à mudança
do clima realizada por meio da redução de emissões.
Na PNMC, estão incluídas diversas ações específicas de mitigação (em ordem decrescente de contri-
buição relativa, em %, da redução das emissões): redução do desmatamento na Amazônia (55,5%); redução
do desmatamento no Cerrado (10,2%); recuperação de pastos e terras degradadas (9,3%); expansão da
oferta de energia por usinas hidrelétricas (8,8%); incremento do uso de biocombustíveis (5,5%); uso de
fontes alternativas de energia (3,0%); integração lavoura-pecuária (2,0%); incremento do plantio direto na
agricultura (1,8%); fixação biológica de nitrogênio na agricultura (1,8%); aumento da eficiência energética
(1,4%); e substituição do carvão de desmatamento na siderurgia (0,9%).
No âmbito mundial, nas Conferências das Partes têm sido debatidos os meios pelos quais serão atin-
gidas as metas adotadas pelo Protocolo de Quioto, discutindo-se os Mecanismos de Flexibilização como:
i) $PNÏSDJP*OUFSOBDJPOBMEF&NJTTÜFT $*&
que permite aos países que possuem metas (listados
no Anexo I da CQNUMC) a transferência do excesso de suas reduções para países Anexo I que
não atingiram.
ii) .FDBOJTNPEF%FTFOWPMWJNFOUP-JNQP .%-
e a respectiva Redução Certificada de Emis-
TÜFT 3$&
popularmente chamados de Créditos de Carbono, que incentiva países que não
possuem metas (que não estão listados no Anexo I da CQNUMC, denominados de não Anexo I)
a desenvolver projetos de redução e/ou captura dos GEEs em troca do recebimento de créditos
dos países do Anexo I, para que estes cumpram suas metas. Os créditos podem ser negociados e
vendidos no mercado financeiro, constituindo assim o Mercado de Carbono.
iii) *NQMFNFOUBÎÍP$POKVOUB *$
, mecanismo análogo ao MDL, mas com a distinção de incentivar
projetos de redução ou captura de GEEs em países Anexo I.
iv) 3FEVÎÍPEF&NJTTÜFTQPS%FTNBUBNFOUPF%FHSBEBÎÍP 3&%%
, mecanismo que visa a reduzir
os GEEs por meio da valoração e conservação dos recursos florestais e da biodiversidade.
No Brasil, o Fundo Amazônia constitui a primeira experiência internacional de acordo com os moldes do
REDD. Criado pelo Decreto no 6.527 de 1 de agosto de 2008, tem como principal objetivo captar recursos
para projetos de combate ao desmatamento e de promoção da conservação e uso sustentável no bioma
amazônico, representando, assim, uma iniciativa brasileira que contribui para a mitigação de emissões de
GEEs.
Ações de Adaptação
A adaptação é uma resposta à mudança do clima, no esforço para a prevenção a possíveis danos e ex-
ploração de eventuais oportunidades benéficas. Ao contrário do que ocorre na mitigação, os benefícios
19
Ver a referência BRASIL (2010) nas Sugestões de Leitura Complementar.
396
Capítulo 16 — Mudanças climáticas
resultantes dessa série de ajustes são locais e de curto prazo. Esse conceito está estreitamente ligado ao da
vulnerabilidade, que é o grau de suscetibilidade e incapacidade de um sistema em lidar com os efeitos
adversos da mudança do clima, entre os quais a variabilidade climática e os eventos extremos.
As principais medidas de adaptação são: o fortalecimento dos sistemas e órgãos de defesa civil; a con-
servação de ecossistemas; o gerenciamento de zonas costeiras, vedando o estabelecimento de novas zonas
residenciais em áreas sujeitas ao aumento do nível do mar; o gerenciamento de riscos na agricultura e pes-
quisas com grãos mais resistentes ao aumento da temperatura; o aprimoramento dos sistemas de vigilância
para o avanço de doenças causadas por vetores que são beneficiados pelo aumento médio da temperatura
como a dengue; e a construção de diques em áreas vulneráveis.
O 'VOEP/BDJPOBMTPCSF.VEBOÎBEP$MJNB 'VOEP$MJNB
, criado pela Lei no 12.114, de 9 de
dezembro de 2009, e regulamentado pelo Decreto no 7.343, de 26 de outubro de 2010, tem por finalidade
assegurar recursos para o apoio a projetos ou estudos, e a financiamento de empreendimentos que visem
à mitigação da mudança do clima bem como à adaptação à sua mudança e aos seus efeitos.
Tecnologias
No campo das soluções tecnológicas, as medidas convencionais de redução de emissões são baseadas na
substituição por tecnologias “mais limpas”, ou seja, menos dependentes de combustíveis fósseis e baseadas
em energias renováveis, como as fontes eólica, solar, hidráulica, geotérmica, de biomassa e das marés (para
mais detalhes, consulte o Capítulo 26). Existem também soluções tecnologicamente mais ousadas, como
o emprego de técnicas de geoengenharia:
i) Controle da radiação solar pela reflexão da luz solar. Redução da radiação por meio de insta-
lação de espelhos no espaço; uso de aerossóis estratosféricos, com aplicação de sulfatos; reforço
do albedo das nuvens; e incremento do albedo da superfície terrestre por meio da instalação de
telhados brancos nas edificações, por exemplo.
ii) Captura e armazenamento de carbono (CCS, do inglês Carbon Capture and Storage). Remoção
de dióxido de carbono por meio da captura do carbono da atmosfera, ou “árvores artificiais”; se-
questro de carbono por meio de bioenergia; fertilização do oceano com o lançamento de ferro para
estimular algas que capturam o CO2 do ar; e armazenamento de carbono no solo ou nos oceanos.
Apesar de as técnicas emergenciais de geoengenharia parecerem promissoras, elas atualmente apre-
sentam vários riscos, com efeitos colaterais potencialmente desastrosos. Por exemplo, o lançamento de
aerossóis na estratosfera poderia trazer acúmulo nos trópicos e reduzir as monções asiáticas, causando seca
na região e prejudicando a agricultura; a fertilização dos oceanos pode trazer a proliferação de algas que
produzem compostos tóxicos a outros organismos marinhos; os gases armazenados no solo e oceanos po-
deriam vazar e causar danos. Logo, pesquisas estão sendo desenvolvidas para viabilizar técnica e economi-
camente projetos em larga escala, bem como reduzir os riscos associados a essas técnicas de geoengenharia.
397
EIXO 3: IMPACTOS AMBIENTAIS
ZA causa da recente mudança climática global é atribuída às atividades antrópicas emissoras de gases
do efeito estufa, notadamente o dióxido de carbono (CO2), cuja concentração na composição da
atmosfera tem sofrido progressivo incremento, decorrente principalmente da crescente queima
de combustíveis fósseis, da prática do desmatamento e das queimadas.
ZA água é o principal GEE e representa cerca de 90% do aquecimento provocado pelo efeito estufa
natural.
ZO dióxido de carbono é o principal gás de GEE antropogênico, representando aproximadamente
8% do efeito estufa natural.
ZAs causas das mudanças climáticas podem ser tanto naturais quanto humanas. Dentre as causas
naturais, tem-se: variações das emissões solares; variações dos parâmetros orbitais terrestres; varia-
ções da atmosfera e superfície terrestre causadas por atividades vulcânicas e colisão de meteoritos e
cometas; variações no El Niño – Oscilação Sul (ENOS); variações na circulação termohalina; varia-
ções dos raios cósmicos; e tectonismo. Dentre as causas antrópicas, têm-se: aumento das emissões
de gases do efeito estufa; alteração do uso dos solos; e emissões de aerossóis.
ZAs discussões sobre as prováveis causas do aquecimento global recente ainda geram debates polê-
micos. De um lado, a visão do IPCC afirma que as causas antropogênicas são determinantes. Por
outro lado, cientistas céticos, a exemplo da visão do NIPCC, afirmam que as influências dos fatores
naturais são bastante superiores às contribuições humanas.
ZOs principais impactos as mudanças climáticas são: aumento de secas, chuvas intensas, ondas
de calor, inundações; derretimento de geleiras e calotas polares; acidificação dos oceanos e bran-
queamento de recifes de corais; perda de terras úmidas litorâneas; extinção de espécies de fauna e
flora; migração de animais; retração e savanização da floresta amazônica; diminuição da produti-
vidade agrícola; aumento da propagação de doenças infecciosas; impactos econômicos diversos,
entre outros.
ZAs principais respostas políticas de combate às mudanças climáticas: em 1992, foi criada a Con-
venção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC); em 1997, foi criado
o Protocolo de Quioto, a primeira iniciativa global de redução das emissões de GEEs; em 2009,
no Brasil, foi criada a Política Nacional sobre Mudança do Clima – PNMC (Lei no 12.187/2009).
ZAs medidas de combate às mudanças climáticas envolvem ações de mitigação (redução das emis-
sões de GEEs), como os créditos de carbono (MDL) e o REDD; e as ações de adaptação, como o
fortalecimento dos sistemas e órgãos de defesa civil e a construção de diques em áreas vulneráveis.
ZAs tecnologias em desenvolvimento têm estudado o emprego de técnicas de geoengenharia como:
a redução da radiação por meio da instalação de espelhos no espaço ou uso de aerossóis estratos-
féricos; o sequestro de carbono por meio da fertilização do oceano para crescimento de algas que
capturem o CO2 do ar; e o armazenamento de carbono no solo ou nos oceanos.
398
Capítulo 16 — Mudanças climáticas
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