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1 - INTRODUÇÃO:
pois seus frutos podem ser transformados em diversos produtos, e contribuindo assim para um
desenvolvimento sustentável e para a preservação ambiental.
Para fazermos uma análise mais profunda do tema, utilizamos primeiramente, a pesquisa
e análise bibliográfica para a fundamentação teórica. Além disto, o trabalho configura-se na
pesquisa oral, para relatar fatos e dados representativos sobre a temática, fazendo uso de
entrevistas com associados e pessoas que estão diretamente ligados ao extrativismo do coco
macaúba. Utilizamos também a pesquisa empírica, tendo como procedimentos técnicos a
coleta de dados e informações juntos à associação comunitária, a Unidade de Beneficiamento
de Coco Macaúba – UBCM, a órgãos públicos e instituições.
14
n a A m é ric a
sido a primeira denominação do gênero, que foi introduzido por Martius em 1824, essa
variedade tem sido freqüentemente associada a outras espécies sem sofrer contestações. As
razões que se alegam para as eventuais dificuldades de identificação botânica da palmeira
estão relacionadas com a carência ou pouca disponibilidade de material representativo nos
herbários. Daí, ocasionalmente, confundir-se até mesmo as variedades mais disseminadas do
País, A. sclerocarpa e A. intumescens, que segundo Arens citado pela CETEC (1983)
possivelmente são espécies polimorfas. Além da diversificação de espécies, a dispersão de sua
ocorrência em quase todas as regiões do País resultou na multiplicidade de denominações
vulgares da palmeira, embora todas sejam subordinadas ao gênero Acrocomia (Quadro 01). A
sinonímia estrangeira é também vasta: coyol (Costa Rica, Panamá), Corozo (Venezuela),
Catey (República Dominicana), Mbocaiá ou Coquito (Paraguai, Argentina).
A. sclerocarpa Mart. Macaúba, Coco Catarro, Coco Minas Gerais, Mato Grosso,
Baboso Pará,
Goiás, Rio de Janeiro
O coco macaúba ainda é uma palmeira muito utilizada em Minas Gerais. Devido suas
várias utilidades, foi necessário conhecer melhor os locais de ocorrência desta palmeira.
A CETEC realizou estudos referentes ao zoneamento preliminar dos maciços naturais de
macaúba em Minas Gerais e eles foram desenvolvidos em três regiões do Estado: Região de
18
Belo Horizonte, Região de Abaeté e Região de Brasília de Minas, conforme destacado no mapa
1.
Regiões
de grande ocorrência
do coco macaúba
em Minas Gerais
N
Região de Brasília de Minas
Região de Abaeté
100 0 100 Km
200 Kilometers
A pesquisa local nas áreas vizinhas da Grande Belo Horizonte revelou a existência de
densos povoamentos de macaúba em Betim, Igarapé, Santa Luzia, Esmeraldas, Jaboticatubas e
arredores da Serra do Cipó. As informações coletadas junto às saboarias ali existentes, ou
obtidas de moradores locais, prevêem nessa região um potencial anual de pelo menos 20 mil
toneladas de frutos. Algumas experiências de cultivo racional da macaúba, embora em escala
pouco significativa, foram realizadas em Jaboticatubas e na Serra do Cipó por duas saboarias
locais, através do transplante direto de pés nativos, com seis meses de idade, para as áreas de
teste, segundo espaçamento de 6 x 8 m aproximadamente. Outros municípios próximos de Belo
Horizonte, tais como Baldim, Santana do Riacho e Taquaraçu de Minas, possuem
adensamentos da palmeira onde se estima uma disponibilidade anual superior a 10 mil
toneladas de frutos.
A Região de Abaeté onde estão os municípios mineiros de Abaeté, Tiros, São
Gotardo e Matutina, de solos heterogêneos e sobretudo os cambissolos distróficos, latossolos
vermelho escuro e vermelho amarelo, caracteriza-se pela ocorrência abundante de densas
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formações de macaúba, certamente as maiores do Estado, cujo potencial pode atingir números
superiores a 60 mil toneladas anuais de cocos. As concentrações da palmeira, nessa região de
forte influência agropastoril, foram calculadas em 100, 50 e 25 pés por hectare. Tendo em vista
a capacidade de regeneração da palmeira, a exploração racional e sustentada desses
povoamentos nativos, de forma a comportar não mais de 100 palmeiras por hectare, implicaria
no duplo aproveitamento de solo já que a área se prestaria ainda a outras finalidades, tais como
pastagens ou cultivo de plantios intercalares.
Na Região de Brasília de Minas o levantamento preliminar dos maciços nativos da
macaúba, de tipologia de cerrado, mostrou a presença de adensamentos da palmeira próximos à
sede do município e estendendo-se a ocorrência a outras áreas, em manchas esparsas e
descontínuas, principalmente em direção a Coração de Jesus, Mirabela e Montes Claros, e cuja
disponibilidade anual de frutos foi estimada em pelo menos 10 mil toneladas.
Segundo a CETEC (1983) as observações de campo sobre as formações nativas e
homogêneas da palmeira, como as verificadas em Igarapé, Tiros e Brasília de Minas,
demonstraram a incidência média de 4 cachos por pé e 300-500 frutos por cacho, a despeito
de esses maciços espontâneos não exigirem o emprego de qualquer prática agrícola. É lógico
presumir, portanto, que mediante a introdução de pequenos melhoramentos agrícolas, obter-
se-iam maiores rendimentos nas populações da palmeira já existentes no Estado.
A adaptação da macaúba nos solos menos férteis do cerrado, freqüentemente sujeitos as
grandes oscilações climáticas e pluviométricas, para sustentar os mesmos níveis de
produtividade verificados nos solos mais privilegiados, vai depender naturalmente da
utilização de práticas agronômicas dirigidas com ênfase na preparação e correção do solo.
Neste sentido, no estudo do CETEC (1983, p.23) consta que
contudo, a introdução prévia de sistemas de captação dos frutos, como redes ou cestos,
posicionados no tronco da palmeira, a 1,5 ou 2,0 m do solo, de modo a impedir o consumo dos
frutos recém-caídos pelo gado e outros animais.
A densa ocupação do solo por vegetação diferente é um fator limitante ao crescimento da
macaúba, sendo poucos os pés que conseguem sobreviver nessas formações. Além do mais, as
possibilidades de germinação da semente são maiores nos terrenos cultivados e isentos de
plantas invasoras e que possam competir com a palmeira.
Constatou-se, além disso, nas áreas de maior concentração da palmeira, a predominância
dos cocais nas encostas elevadas e partes mais altas, enquanto nas baixadas a densidade de
palmeiras foi sempre pouco expressiva. Desta forma o CETEC (1983) afirma que conforme foi
observado nas três microrregiões visitadas, a distribuição da macaúba é bastante variável,
dependendo do grau de utilização agrícola do terreno, da fertilidade do solo e fatores limitantes
ao crescimento. Os maiores adensamentos da palmeira estão nos locais mais sujeitos ao manejo
agrícola.
Há autores como Motta, Curi, Oliveira-Filho e Gomes (2002) que afirmam que o Estado
de Minas Gerais possui outras três grandes regiões de ocorrência de macaúba: Alto Paranaíba,
Zona Metalúrgica e Montes Claros. A região de Montes Claros é relativamente mais quente e
mais seca do que as outras duas, porém as diferenças macroclimáticas regionais não chegam a
representar um fator limitante à ocorrência da macaúba.
Existe uma variedade muito grande de árvores frutíferas no cerrado brasileiro, muitas
delas inteiramente desprezadas ou mal aproveitadas, como é o caso da macaúba. Há várias
possibilidades para aproveitar o coco da macaúba e o valor econômico representado pela
macaúba pode ser avaliado em função das amplas possibilidades de seu aproveitamento
integral.
O extrativismo da macaúba deve ser incentivado, mas com a preservação do meio-
ambiente e não destruindo tudo ao seu redor.
A estrutura da macaúba é composta pelo a estirpe, as folhas, os espinhos, flores e
frutos.
A estirpe é freqüentemente utilizada no meio rural na confecção de calhas, moirões, ou
ripas e caibros para a construção civil. Além do palmito, muito consumido pelos moradores
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das regiões de grande incidência da palmeira, obtém-se do cerne do estipe uma fécula
nutritiva que, cozinhada e fermentada, produz um vinho bastante apreciado nos países da
América Central.
As folhas são empregadas como forrageiras aos animais, mormente nos períodos de
seca, ou matéria-prima na obtenção de fibras destinadas à produção de linhas, cordas e redes.
Do pecíolo das folhas, depois de separado em tiras, são feitos cestos, balaios e chapéus.
Os espinhos, duros e resistentes, prestam-se como alfinetes para rendeiras, que também
utilizam o endocarpo na confecção dos bilros. Até mesmo as flores da palmeira têm emprego
na decoração das árvores de Natal.
Figuras 05, 06, 07, 08: Coco com casca e coco sem casca, coco partido ao meio, castanha do coco e o óleo de
coco macaúba.
Autor: COSTA, 2008.
A polpa oleosa, como ração animal, tem maior emprego na engorda de suínos, aliás,
uma prática intensamente difundida nas fazendas com cocais, fato que efetivamente tem
contribuído para a preservação dos adensamentos da palmeira em Minas Gerais. Tanto o óleo
de polpa como das amêndoas têm bom mercado na indústria de sabões, podendo ambos, no
entanto, serem usados para consumo humano, desde que haja seleção de frutos, recém
colhidos e não deteriorados.
Neste sentido Nucci (2007, p.13) afirma que:
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O óleo de soja utilizado na culinária pode ser perfeitamente substituído pelo óleo de
macaúba, e os resíduos gerados podem ser usados na produção de ração para suínos,
aves e caprinos. Este óleo ainda pode ser usado como lubrificante para máquinas,
combustível, em substituição ao óleo diesel, como carvão, piche, entre outros,
reforçando que a palmeira macaúba apresenta grande potencial para produção de óleo
com vasta aplicação nos setores industriais e energéticos, com vantagens sobre outras
oleaginosas, principalmente com relação à sua maior rentabilidade agrícola e
produção total de óleo.
Figura 09: Rações de bovinos, ovinos, suínos e aves feitas da torta do coco macaúba.
Fonte: UBCM, 2008.
O endocarpo duro tem sido empregado in natura como insumo energético, nas regiões
de maior ocorrência da macaúba, para consumo doméstico nos fogões de lenha, em escala
industrial para a produção de carvão e também pode ser utilizado como brita. Silva (2001)
relata que inúmeros trabalhos já realizados revelaram que a carbonização do endocarpo de
algumas palmáceas poderá fornecer um carvão de excelente qualidade quando comparado
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com o carvão mineral, notadamente no que se refere ao seu baixo teor de cinzas, ausência de
enxofre, elevada densidade e controlável teor de carbono fixo e de matérias voláteis.
A macaúba oferece ainda outras vantagens sobre outras plantas que ocupam
hoje posição de destaque no Brasil na produção de biodiesel, como a soja e o
dendê. A macaúba, sendo uma palmeira rústica, necessita de pouca água.
Com relação à mão-de-obra, a macaúba evitará o inchaço das cidades das
regiões produtoras de cana-de-açúcar, outra matéria-prima de combustível.
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A macaúba atende a três premissas ainda pouco consideradas pela maioria dos
envolvidos com a cadeia produtora dos biocombustíveis. A primeira delas é que diante da
expectativa de uma demanda cada vez maior, provocada pelas crescentes dificuldades de
exploração dos combustíveis fósseis e também por sua utilização como arma política, um
programa para os biocombustíveis terá cada vez mais que levar em conta a utilização de
plantas de alta produtividade de matéria-prima.
Outra consideração é que assim como as fontes energéticas, a questão da água também
adquire importância cada vez maior, lembrando vários indicadores preocupantes de problemas
climáticos e escassez de água. A terceira premissa mencionada é a necessidade de frear as
correntes migratórias internas, garantindo emprego às populações em suas regiões de origem.
Como a macaúba exige trabalho manual para ser colhida, a cultura contribuiria para garantir a
fixação das famílias a terra.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC
Instituto Euvaldo Lodi/Núcleo Central - IEL/NC (2006) a pesquisa com macaúba não
avançou muito, porém tem sido priorizada nas instituições de pesquisa, sobretudo após da
criação em 2004 do Programa Nacional de Biodiesel.
Outro uso e potencialidade do coco macaúba é a fabricação da farinha, que só pode ser
obtida de frutos absolutamente frescos. A Universidade Federal do Mato Grosso do Sul –
UFMS e o Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico – CNPq (2006)
fizeram um guia completo de como se faz a farinha de macaúba. Segundo estas instituições o
processo ocorre conforme anexo 01.
De acordo com a UFMS e a CNPq (2006) a farinha pronta pode ser comercializada
nas feiras, além de ser empregada em uma série de receitas, como: vitaminas, sorvetes,
geléias, bolos, doces, cocadas em tabletes, cremes, mingaus, paçocas, pudins e licores de
macaúba.
O coco macaúba apresenta propriedades importantíssimas do ponto de vista nutritivo.
Ele possui alto valor protéico, grande quantidade de vitamina A, essencial para visão, muitos
carotenóides, elevado valor energético e ainda possui ômegas 3, 6 e 9. Adicionem-se à lista
anterior vantagens como: alto teor em fibras, excelente palatabilidade e grande concentração
de carboidratos. Por todas essas vantagens, a farinha de polpa de macaúba é muito indicada
para a alimentação infantil.
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Como foi relatado anteriormente, especificamente para a população das áreas rurais dos
países tropicais em desenvolvimento, palmeiras como a macaúba, constitui importantíssima fonte
de recursos, os quais são utilizados como alimentos, combustível, medicamentos caseiros, na
cobertura das casas ou confecção de utensílios e adornos domésticos e, em alguns casos, como
matéria-prima para as indústrias locais.
Segundo Lorenzi (2006), a exploração de produtos florestais não-madeiráveis (PFNM)
como palmeiras frutíferas, frutas, fibras, sementes, plantas medicinais e aromáticas, materiais
para artesanato, entre outros, tem se apresentado como capaz de prover mudanças
significativas na vida de muitas comunidades tradicionais. Milhões de chefes de família ao
redor do mundo dependem fortemente de PFNM para sua subsistência ou fonte de renda. Em
nível local, a exploração de PFNM também fornece matéria-prima para processamento em
larga escala industrial. Diversos registros demonstram que pequenos produtores de países em
desenvolvimento podem obter benefícios econômicos com a venda direta de PFNM e do
acesso aos mercados regionais e internacionais.
No Brasil também se registram muitos exemplos positivos neste sentido. Existem
comunidades que estão vivendo da exploração de produtos que são direcionados para a indústria
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Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (Montes Claros, MG).
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C o m u n id ad e d e R iach o D ’a n ta
Figura 11: Localização da comunidade de Riacho D’anta e dos municípios da Bacia do Rio Riachão.
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comunidade. Com isso diminui à procura aos hospitais em Mirabela e Montes Claros pelas
causas menos graves, pois são atendidos em muitos casos na própria casa.
Mesmo com algumas limitações, a comunidade representa um refúgio de tranquilidade
para aqueles que lá residem e também para aqueles que foram morar em Mirabela e Montes
Claros, pois por ser perto dessas cidades quase todos os finais de semana estão descansando
na comunidade. È um recanto onde os moradores vivem e se agregam por valores, crenças,
comportamentos e idéias que os identificam como uma coletividade.
C o m u n id a d e d o R ia c h o D ’a n ta
desenvolver, porém sem destruir o meio ambiente, algo que era tanto defendido por eles.
Assim surgiu a idéia de utilizar matéria-prima do próprio cerrado brasileiro.
Com o Programa de Pequenos Projetos Ecossociais (PPP-ECOS) que concede pequenas
doações a organizações não governamentais e de base comunitária para atividades que se
enquadrem nas áreas focais e nos programas operacionais do Programa para o Fundo do Meio
Ambiente Mundial (GEF) e que, ao mesmo tempo, resultem na melhoria da qualidade de vida
das comunidades locais, a comunidade começou se dedicar ao extrativismo do coco macaúba.
O PPP-ECOS focaliza as inter-relações entre comunidades carentes e o meio ambiente, com
ênfase nas promoções de modos de vida sustentáveis, que contribuam com benefícios
ambientais globais, conforme os acordos internacionais para os quais o GEF é o mecanismo
financeiro. O PPP-ECOS apóia projetos no Cerrado, priorizado como hot spot (ponto quente)
global por causa de sua rica diversidade biológica e as fortes pressões a que está sujeito em
função da expansão da fronteira agropecuária, das obras de infra-estrutura e do crescimento
urbano. São contemplados projetos em áreas nucleares e isoladas de Cerrado e nas áreas de
transição entre Cerrado e Caatinga, Amazônia ou Pantanal.
O PPP-ECOS possui duas categorias de apoio a projetos. Pequenos Projetos de até
US$30.000 para apoio geral dentro das áreas operacionais do GEF e Projetos de Consolidação
de até US$50.000 para beneficiar um conjunto de organizações a partir de uma
experiência/projeto que tenha resultados e impactos positivos comprovados e que podem ser
ampliados a um público maior. Os projetos de consolidação podem ser regionais/territoriais
e/ou temáticos.
A comunidade do Riacho D’anta e as comunidades vizinhas se beneficiaram muito com
os pequenos projetos do PPP-ECOS, pois foi possível a compra de máquinas novas e mais
modernas para o beneficiamento do coco macaúba. Beneficiaram-se, também com
pensamentos defendidas pelo PPP-ECOS, pois os agricultores associados ou que tinham
alguma ligação com a Unidade de Beneficiamento do Coco Macaúba - UBCM mudaram o
seu pensamento quanto ao meio ambiente, se tornaram pessoas mais conscientes e
responsáveis.
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Figura 13: Sede da Associação Comunitária e da Unidade de Beneficiamento do coco macaúba – UBCM na
comunidade de Riacho D’anta.
Fonte: COSTA 2008.
Atualmente trabalham fixos na UBCM sete pessoas, sendo que o presidente e o vice-
presidente da associação comunitária também participam diretamente em todas as etapas do
extrativismo.
O processo de extrativismo na comunidade é dividido em três etapas: a coleta, o
beneficiamento e a venda do produto.
A primeira etapa é a coleta. Nesta etapa, os catadores da comunidade e de outras
comunidades coletam os cocos macaúba existentes na sua propriedade, e os vendem à UBCM.
No início, este coco que era coletado, e levado à UBCM pelos próprios catadores, mas isso
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mudou, com a doação de um caminhão pelo Banco do Brasil à associação. Hoje, basta o
catador coletar e ligar para a UBCM que o caminhão vai até sua casa buscar o coco macaúba.
O valor aproximado da caixa do coco macaúba comprado pela UBCM está em torno de
R$4,003. Existem catadores em vários municípios vizinhos, e devido à existência do
caminhão, já estão buscando o coco macaúba em municípios mais distantes, como é o
exemplo das cidades de Japonvar-MG e São João do Pacuí-MG. A unidade de beneficiamento
informou que possuem aproximadamente 28 catadores cadastrados no município de Montes
Claros-MG, 67 catadores no município de Brasília de Minas-MG, 40 catadores em Coração
de Jesus-MG e 12 catadores no município de Mirabela-MG. Informou ainda que, no período
dos meses de março e abril de 2008 compraram desses catadores, aproximadamente 5000
caixas do coco macaúba.
Figura 14 e 15: Área de coleta do coco macaúba na comunidade de Santa Cruz - Zona rural de Montes Claros-
MG e do caminhão da UBCM usado no transporte do coco.
Fonte: Costa 2008.
despolpar 150 kilos/hora. Nesta separação o endocarpo é levado para o britador (quebrador de
castanha) que quebra o endocarpo (figura 17). Este tem a capacidade de quebrar 180
kilos/hora. Após ser quebrado o endocarpo e a semente não se separam completamente. Por
isso são levados ao tanque de separação do endocarpo (figura 18), tanque este que é feito de
cimento e tijolos e assim enche-se ele de água. As sementes que são leves flutuam na água e o
endocarpo fica no fundo do tanque, e assim se faz a separação do endocarpo e da semente.
Após serem separadas do endocarpo, as sementes são levadas a um local com uma grande tela
de pequena abertura, onde é atingida pelo sol para serem secadas. Secas as sementes, podem
ir diretamente para a prensa. Na UBCM antes de ir à prensa, elas são levadas ao tostador
(figura 19), nele as sementes são torradas, e retirando o óleo mais facilmente na prensa. Na
prensa (figura 20) é feita a separação do óleo e a massa da semente. Esta massa da semente e
a massa da polpa são utilizadas para se fazer rações para animais. Esta ração tem adição de
outros ingredientes e é misturada no misturador de rações (figura 22). Da torta da macaúba
obtida são feitas rações para aves, suínos, bovinos e ovinos.
O óleo da semente obtido da prensa ainda é levado para uma máquina de filtro de óleo
(figura 21) onde é filtrado. Obtidos os óleos da semente da polpa e da semente, estes são
armazenados em vasilhames separados, onde poderão ser vendidos ou usados para fazerem
sabão e outros produtos. Na fabricação do sabão do óleo polpa ou do sabão do óleo da
semente, os ingredientes são misturados aos óleos numa máquina chamada de reator (figura
23), logo após os ingredientes já misturados são levados a estrusora (figura 24), uma máquina,
que modela o sabão e deixa-o com aquela forma conhecida por todos.
Portanto na UBCM, é fabricado o sabão preto e amarelo feitos do óleo da polpa e o
sabão branco, o sabão pastoso e o sabão líquido são feitos a partir do óleo da semente. Do
óleo da semente obtido na UBCM ainda é feito outros produtos como o xampu capilar, xampu
automotivo, óleo capilar, óleo corporal, amaciante e o detergente. Portanto nessa etapa de
beneficiamento do coco macaúba, a UBCM obtém vários produtos que podem ser
comercializados. Assim chegamos à última etapa do extrativismo na comunidade, a venda dos
produtos do coco macaúba.
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Figura 16: Galpão de armazenamento do coco Figura 17: Despolpadeira do coco macaúba
Figura 20: Tostador de semente do coco Figura 21: Prensa de obtenção do óleo da semente e da polpa
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Figura 24: Reator- Mistura os ingredientes do sabão Figura 25: Extrusora - Processa o sabão na forma de venda
Fonte: Costa 2008.
Nesta etapa citaremos vários produtos que estão sendo vendidos pela UBCM. Entre os
produtos vendidos estão rações feitas da torta da polpa e da semente para animais bovinos,
para os suínos, para as aves e para os ovinos, que são embaladas e armazenadas em locais
ideais para a manutenção da qualidade do produto. Outros produtos como o sabão preto e
amarelo feitos do óleo da polpa e o sabão branco, o sabão pastoso, o sabão líquido, o xampu
capilar, o xampu automotivo, o óleo capilar, o óleo corporal, o amaciante e o detergente feitos
a partir do óleo da semente são vendidos pela UBCM. Estes produtos obtidos do óleo da polpa
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e do óleo da semente descritos anteriormente são embalados, empacotados com o selo com
nome da UBCM e armazenados em uma sala com ambiente ideal para os produtos.4
Os produtos do coco macaúba são vendidos na própria UBCM, em pequenos armazéns
nos povoados vizinhos. No dia 01/05/2009 foi concedido pela vigilância sanitária de Montes
Claros à UBCM o Alvará para comercialização dos produtos do coco macaúba. Estes poderão
estar sendo vendidos nos supermercados dessa cidade e de outras cidades que já
demonstraram interesse nos produtos. Está ocorrendo também à venda do próprio coco
macaúba. Segundo Agnaldo Fonseca da Costa, presidente da Associação Comunitária do
Riacho D’anta, a UBCM no final de 2008 fechou contrato com a Universidade federal de
Viçosa - UFV, e onde venderão à universidade 5000 caixas do coco macaúba. A UFV
desenvolve as mudas do coco macaúba para uma empresa alemã que mantém parceria com
ela.
Figura 26: Alguns dos produtos fabricados na UBCM Figura 27: Sabão preto feito da borra do óleo da polpa
4
Outros produtos como desinfetante e água sanitária são feitos na UBCM também, porém não leva nenhum
produto do coco macaúba.
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Coco macaúba
Despolpadeira
Castanha
Polpa do do coco
coco
Britador(quebrador
da castanha)
Filtração do óleo
da semente
Óleo da
Òleo Torta da Óleo da Torta da Carvão, brita
Endocarpo
polpa Polpa semente semente e outros
Figura 30 - Fluxograma do processamento dos produtos obtidos do coco macaúba na UBCM, na comunidade de Riacho D’anta, zona rural de
Montes Claros – MG. Fonte: Costa 2008.
Desintegrador
Reator Desintegrador Reator
Misturador
Extrusora de rações
Extrusora Misturador
de rações
Nas três etapas descritas, a etapa de vendas é o principal problema da UBCM, pois falta
organização nas vendas, pessoas especializadas em administração e no comércio. Este
problema foi detectado pelos associados, vice-presidente e presidente da associação
comunitária. O vice-presidente da associação comunitária, Waldomiro Cardoso da Silva,
relata esse problema na sua fala:
Precisamos de pessoas na fábrica que tem conhecimento, de pessoas novas,
inteligentes e que nos ajudem a desenvolver a fábrica, a nossa comunidade e
a trazer benefícios para nós produtores da agricultura familiar. Espero os
próprios filhos dos associados sejam essas pessoas nos ajude na fábrica,
também para que não precisem deixar o campo e ir para cidade em busca de
emprego. Nós não tivemos muita oportunidade de estudar, mas temos
experiência, e queremos pessoas estudadas para ajudar. (SILVA, 2008)
A associação tem buscado algumas formas de divulgar seus produtos, seu associado tem
participado de feiras no nosso estado de Minas Gerais e também em outros estados. Eles levam os
produtos feitos, vídeos mostrando o processo de extrativismo e além também de folder. Eles
também fazem explicações sobre o assunto.
Minas Gerais - IDENE, cursos para produtores rurais com o Serviço Nacional de
Aprendizagem Rural - SENAR, a Empresa Brasileira de Extensão Rural - EMATER,
pequenos empréstimos pelo PRONAF e está conseguindo também dinheiro para construção e
reformas de casas.
Pelas definições, a diferença entre as duas está na geração de renda, ou seja, enquanto a
associação não possui a finalidade de geração monetária, a cooperativa possui objetivos
econômicos. Além desta, a cooperativa é uma empresa, ao passo que a associação é apenas
uma reunião social.
Neste trabalho, será analisado o associativismo rural. Esse tipo de associação possui
uma característica particular: ela deve ser administrada pelos próprios agricultores. Para
Bezerra (2003, p. 51), “a confiança e a participação são os princípios básicos do
associativismo rural”.
Para uma associação comunitária, a confiança se faz necessária para manter a união
entre os produtores associados e a participação é o que vai garantir se os benefícios da
organização da associação serão válidos ou não.
A comunidade de Riacho D’anta tendo este pensamento criou em 14/10/1995 a
Associação Comunitária dos Pequenos Produtores de Riacho D’anta e adjacências, para que
pudessem trazer benefícios aos associados e moradores da comunidade. A associação
começou com poucos associados, mas com o passar do tempo este número aumentou, assim
como os benefícios adquiridos. As reuniões, antes da construção da sua sede e, aconteciam na
residência de Dona Carmelina, sempre todo segundo domingo do mês às 13h00min horas.
A Associação possui estatuto próprio e uma diretoria composta por: presidente, vice-
presidente, secretário, vice-secretário, tesoureiro, vice-tesoureiro e conselho fiscal, constituído
por seis membros. As exigências para participar é ser produtor rural, estar em dia com a
freqüência. Em relação ao pagamento de taxas, existe uma pequena mensalidade formal para
compra de livros de atas e para manutenção da própria associação. Todos os associados são
proprietários de terras, e os laços de amizade entre a maioria deles precedem à fundação da
associação, pois algumas pessoas já moravam na região muito antes da mesma. As relações de
troca e amizade também prevalecem entre as outras associações, que lutam por objetivos
comuns. As relações de parentesco também são fortes na comunidade, e se reproduzem com
os casamentos entre os filhos. Todos se conhecem e as histórias das famílias se misturam.
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32 33 34
35 36 37
Figuras 32: Velho britador adaptado; Figuras 33, 34: Torrador; Figura 35: Prensa; Figura 36: Óleo obtido; Figura
37: Sr Cinéias.
Fonte: UBCM 2008.
É importante mencionar também que a Associação tem vários parceiros, como por
exemplo, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba -
CODEVASF, que aprovou projeto feito pela associação. Neste projeto a associação estará
construindo um viveiro, no qual pretende produzir muda da macaúba e de outras espécies
nativas e exóticas (baru, pequi, faveira, maracujá-nativo, cagaita, panã, coquinho azedo,
acerola, manga, goiaba, cajá, tamarindo etc.). Vale lembrar que a associação tem estimulado,
55
junto aos agricultores da região, o plantio de cultivos tradicionais (milho, feijão, mandioca
etc.) consorciado com a macaúba e outras espécies nativas.
Existem também outros parceiros importantes, como um projeto da Unimontes (Universidade
Estadual de Montes Claros), liderado pelo Prof. Leonardo Monteiro Ribeiro (bolsista da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG), que vem
pesquisando os aspectos de desenvolvimento da macaúba, produção de mudas, consórcio com
outras espécies, desenvolvimento de produtos etc. Caso este projeto seja aprovado pelo PPP-
ECOS, pretende-se incrementar ainda mais essas iniciativas, com vistas à proteção e
recuperação do Cerrado como um todo.
Vale lembrar que, com a valorização do coco macaúba e ainda de outras espécies
nativas, os seus produtos adquiriram valor comercial e novos valores de uso, e os agricultores
beneficiados passaram a proteger as áreas em que ocorrem, e também a plantá-los para
recuperação de áreas degradadas.
Por isso um importante passo para a sustentabilidade econômica da UBCM é a
conquista de mercados para comercialização dos produtos da macaúba. Sabemos que esse
empreendimento deve atingir sua sustentabilidade, de forma que continue gerando renda para
a comunidade de Riacho D’anta e para as comunidades vizinhas e continue valorizando a
biodiversidade da região.
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5 - Considerações finais
Referências
ABRAMOVAY, Ricardo. O futuro das regiões rurais.- Porto Alegre: Editora da UFRGS,
2003. (Coleção Estudos Rurais).
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como resposta ao desemprego. 2ª ed.- São Paulo: Contexto, 2003- (Coleção economia).
Anexo 01:
Manual de como se faz a farinha do coco macaúba
Faça a coleta manual de quantidade suficiente dos melhores frutos, evitando aquele com
fissuras nas cascas, após leve-os em sacos plásticos para o local de processamento, neste local
lave-os em água corrente até retirar a terra e outras impurezas. Em uma vasilha grande faça a
solução para cada litro de água uma colher de água sanitária, em seguida coloque as macaúbas
nessa solução por 30 minutos, para matar todos os microorganismos que possam estar
presentes. Lave novamente as frutas em água corrente e deixe-as em uma peneira até secar.
Retire então a casca fina do fruto e retire a polpa com uma faca bem afiada. Pegue toda a
polpa retirada e coloque em uma assadeira de alumínio, esta será levada a uma estufa com
fluxo de ar, também chamado de desidratador, com temperatura que deve estar próxima de
65ºC, até secar completamente. Pode-se secar a polpa ao sol também, deixe-a
aproximadamente 5 dias até que ela esteja totalmente seca. Depois que a polpa estiver toda
seca, coloque-a em um pilão para fazer a maceração do material. Essa polpa deve ficar
totalmente triturada em pequenos grãos, o mais fino possível. Essa trituração também pode ser
feita com liquidificador. Agora é só peneirar essa farinha grossa e obter uma farinha fina, que
deverá ser conservada em sacos plásticos na falta de um sistema de embalagem a vácuo.