Você está na página 1de 3

Ele estava a três meses desempregado e sendo pressionado por sua namorada a arranjar um

emprego. Ela o amava mas amor nem um suportaria um peso morto. Ameaçado ele procurou
e encontrou um trabalho que lhe parecia ideal. Passou pelo período de treinamento sem
qualquer problema.

Estava sentado na sala de monitoramento, enquanto Agnes controlava os robôs lá fora


fazendo a checagem de solo, tudo que ele tinha que fazer era supervisionar o trabalho dela,
ele assistia os robôs andando de um lado para o outro espetando gravetos no chão e exibindo
as informações coletadas. No início ele achou um trabalho legal e fácil, mas depois de uma
hora sentado olhando, o tédio o atingiu em cheio. Lamentou não ter levado nada para se
distrair. Era seu primeiro dia, por isso perdoou-se pela falta.

Levantou da cadeira e resolveu caminhar pela nave. Passou pelo hangar dos robôs, tinha
espaço apenas para alguns robôs e ferramentas para manutenção e pequenos reparo. Foi ao
banheiro mijar mas ao abrir o zíper percebeu que não tinha vontade. Na cozinha comeu um
sanduiche de um presunto de marca genérica mas colocando um pouco de molho ficava com
um gosto bom, vivemos na era onde pomos gosto até no que não tem, pensou. Pôr fim chegou
a sala de navegação onde seu companheiro estava. Seu veterano era um homem de meia-
idade com um rosto cansado e com algumas rugas no rosto que lhe davam um ar de
experiência, não gostava muito de conversar com ele pois lembrava o seu falecido pai, não em
aparência mas e sim em atitude.

- Ei, é sempre chato assim?

- É, um saco né novato?

- Cara, eu pensei que esse fosse o emprego perfeito pra mim, mas não aguento mais. Não tem
nada pra fazer.

- O segredo está em como você usa esse tempo novato. Eu trabalho aqui a seis anos, se eu não
tivesse nada pra fazer ficaria louco, mas invisto esse tempo em aprender coisas nova.

- Tipo o quê?

- Bom, eu aprendi alguns idiomas, os dois de Marte, o de Titã e o de Vênus.

- Uau, você fala marciano.

- Sim, demorei um pouco pra aprender, espero usar finalmente quando estiver passando por lá
daqui a seis meses.

- Puxa acho que vou aprender também, faço qualquer coisa para matar esse tédio, o senhor
me ensina?

- Oh, sim, não posso dispensar a chance de praticar com alguém.

- Muito obrigado.

O veterano começou a dar as lições iniciais ao novato. Repetia as frases no idioma marciano,
parecia meio frustrado no início porém pegou o jeito, a língua lhe era bem estranha, haviam
alguns sons que não existiam no idioma oficial de Titânia.

- Isso é muito difícil.


- Eu disse que demorei a aprender garoto. Demorei muito a aprender os sons corretos, esse é
sempre o problema de aprender uma língua nova, os sons. Mas você é jovem e aprende
rápido.

- Sim, mas é muito difícil.

- Tudo é difícil no começo.

- Não sei se vale apena investir meu tempo nisso.

- Ora, então encontre outro meio de se distrair, eu passo meu tempo aqui aprendendo novos
idiomas. Você deve encontrar o seu jeito de passar o tempo.

- Bem vou pensar nisso, tempo eu tenho pra isso.

- Sim, mas não esqueça. Seu trabalho aqui não passar o tempo e sim monitorar Agnes.

- Eu sei, mas ela sabe fazer o trabalho dela e não tem graça nem uma conversar com ela. Só
sabe falar sobre terra – o veterano deu um gargalhada alta.

- Essa garota não tem jeito mesmo, o cara antes de você ficava fazendo charadas para ela
resolver mas não deu certo.

- Ela só é boa pra trabalhar, as vezes eu chego a ter pena dela.

- Não exagere rapaz, ela nasceu pra isso, se não fosse por esses robôs ela estaria presa na sala
dos servidores.

- Por que não deixam que ao menos se conecte a rede.

- Os superiores tem medo que ela se volte contra eles, por isso evitam ao máximo que ela
tenha contato com grandes contingentes de informações.

- É eu sei, mas mesmo assim tem outras quinze dela e há rumores de que vão fazer uma nova.
Sinceramente não entendo esses caras, e pra que precisam de tantas, duas ou três já não são o
suficiente?

- É uma boa pergunta, quem sabe o que se passa na mente dos chefões são outros chefões.

- Encarregado na manutenção, por favor comparecer a cabine de monitoramento


imediatamente – a voz meio robótica soou pelos alto falantes da nave toda.

- Bom acho que finalmente vou ter algo pra fazer.

- Quando os técnicos dizem isso quer dizer que a coisa vai ficar feia.

- Feia como?

- O cara antes de você foi demitido na primeira emergência.

- Puta merda, não posso perder esse emprego – disse o novato saindo apressadamente da sala
de navegação.

- As pessoas acham que esse trabalho é fácil só porque é tedioso – murmurou o veterano.

Sentado de frente para os monitores ele via o motivo do aviso, parecia algo normal, era bem
comum ver sondas antigas que caíram em asteroides.
- Agnes, é só uma sonda velha o quê nisso é um estado de emergência.

- Desculpe ter feito alarde com relação a isso, mas como é procedimento eu vasculhei os
destroços e me conectei a máquina.

- E?

- Não havia nada de estranho senhor, acho que me precipitei em chama-lo.

- Se precipitou? Olha acho que deve ser algum bug na sua programação, quer dizer uma IA tem
bug? Você não deveria aprender com esse erro?

- O senhor está certo, não cometerei esse erro novamente.

O novato saiu novamente da sala de monitoramento esquecendo de imediato o ocorrido Para


ele o problema estava resolvido não haveria necessidade de relatar o ocorrido, Agnes
aprenderia com esse erro e removeria os destroços da sonda.

Ele não sabia, mas aquele era o início de algo muito maior e nunca saberia que se ele estivesse
na sala de monitoramento e realizasse o procedimento que apagaria a IA Agnes os eventos
posteriores nunca aconteceriam.

Você também pode gostar