Você está na página 1de 8

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Distrito Federal
2ª Vara Federal Cível da SJDF

PROCESSO: 1048877-65.2023.4.01.3400
CLASSE: MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL (120)
POLO ATIVO: GUSTAVO GAYER MACHADO DE ARAUJO
REPRESENTANTES POLO ATIVO: GUILHERME PIMENTA DOS SANTOS -
GO63225 e THAISLA REZENDE ALVES - GO64431
POLO PASSIVO:Delegado Superintendente da Polícia Federal em Brasília/DF e
outros

DECISÃO

Trata-se de pedido de liminar em mandado de segurança


impetrado por GUSTAVO GAYER MACHADO DE ARAUJO contra ato do
Delegado Superintendente da Polícia Federal em Brasília/DF, no qual pede que
a autoridade impetrada seja compelida a emitir autorização para porte de arma
de fogo de calibre permitido, com validade no âmbito nacional.

Na petição inicial (Id 1624031348 – fls. 03 a ), o impetrante alegou


ser Deputado Federal e ter protocolado junto à Polícia Federal, pedido de Porte
de Arma de Fogo para Defesa Pessoal (Protocolo n.º 202303080516243132) no
dia 08/03/2023, fundado na “Ameaça à integridade física”, haja vista ter sido
vítima de ataques, no qual teve seu veículo depredado, além de ter recebido
outras ameaças às quais recebeu nessa semana, contra sua vida e de sua
família. Aduziu que seu pedido foi negado por ausência de comprovação
concreta das ameaças sofridas em 17/03/2023. Afirmou que recorreu
administrativamente, mas seu recurso foi indeferido. Argumentou que preenche
todos os requisitos legais para obter o porte de arma de fogo.

Atribui à causa o valor de R$ 1.320,00 (um mil, trezentos e vinte


reais).

Comprovou o recolhimento das custas judiciais (Id 1624031357


(tel:1624031357) – fl. 106).
:
É o relatório. DECIDO.

A Lei nº 12.016, de 2009, prevê que o juiz ordenará, ao despachar


a inicial do mandado de segurança, "que se suspenda o ato que deu motivo ao
pedido, quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar
a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir do
impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o
ressarcimento à pessoa jurídica" (art. 7º, III). São, portanto, requisitos para a
concessão de medida liminar em mandado de segurança: (a) fundamento
relevante ou fumus boni iuris; e (b) risco de ineficácia da medida ou periculum in
mora.

No caso em análise, os requisitos estão presentes.

A Lei nº 10.826/2003 - Estatuto do Desarmamento disciplinou a


respeito do porte de armas da seguinte forma:

"Art. 6o É proibido o porte de arma de fogo em todo o território


nacional, salvo para os casos previstos em legislação própria e
para:

I – os integrantes das Forças Armadas;

II - os integrantes de órgãos referidos


nos incisos I, II, III, IV e V do caput do art. 144
da Constituição Federal
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144i) e o
Força Nacional de Segurança Pública
(FNSP); (Redação dada pela Lei nº 13.500, de 2017)
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2017/Lei/L13500.htm#art4)

III – os integrantes das guardas municipais das capitais dos


Estados e dos Municípios com mais de 500.000 (quinhentos mil)
habitantes, nas condições estabelecidas no regulamento desta
Lei; (Vide ADIN 5538)
(http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?
base=ADI&documento=&s1=5538&numProcesso=5538) (Vide
ADIN 5948)
(http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?
base=ADI&documento=&s1=5948&numProcesso=5948) (Vide
ADC 38)
(http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?
base=ADC&documento=9442854&s1=38&numProcesso=38)
:
IV - os integrantes das guardas municipais dos Municípios com
mais de 50.000 (cinqüenta mil) e menos de 500.000 (quinhentos
mil) habitantes, quando em serviço; (Redação dada pela Lei nº
10.867, de 2004) (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2004/Lei/L10.867.htm#art6iv) (Vide ADIN 5538)
(http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?
base=ADI&documento=&s1=5538&numProcesso=5538) (Vide
ADIN 5948)
(http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?
base=ADI&documento=&s1=5948&numProcesso=5948) (Vide
ADC 38)
(http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?
base=ADC&documento=9442854&s1=38&numProcesso=38)

V – os agentes operacionais da Agência Brasileira de Inteligência


e os agentes do Departamento de Segurança do Gabinete de
Segurança Institucional da Presidência da
República; (Vide Decreto nº 9.685, de 2019)
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-
2022/2019/Decreto/D9685.htm#art3)

VI – os integrantes dos órgãos policiais referidos no art. 51, IV


(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm#51i
e no art. 52, XIII, da Constituição Federal
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm#art

VII – os integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas


prisionais, os integrantes das escoltas de presos e as guardas
portuárias;

VIII – as empresas de segurança privada e de transporte de


valores constituídas, nos termos desta Lei;

IX – para os integrantes das entidades de desporto legalmente


constituídas, cujas atividades esportivas demandem o uso de
armas de fogo, na forma do regulamento desta Lei, observando-
se, no que couber, a legislação ambiental.

X - integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita Federal do


Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal e
Analista Tributário. (Redação dada pela Lei nº 11.501,
de 2007) (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2007/Lei/L11501.htm#art12)
:
XI - os tribunais do Poder Judiciário descritos no art. 92 da
Constituição Federal
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art92) e
os Ministérios Públicos da União e dos Estados, para uso
exclusivo de servidores de seus quadros pessoais que
efetivamente estejam no exercício de funções de segurança, na
forma de regulamento a ser emitido pelo Conselho Nacional de
Justiça - CNJ e pelo Conselho Nacional do Ministério Público -
CNMP. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2012/Lei/L12694.htm#art7)

§ 1o As pessoas previstas nos incisos I, II, III, V e VI


do caput deste artigo terão direito de portar arma de fogo de
propriedade particular ou fornecida pela respectiva corporação ou
instituição, mesmo fora de serviço, nos termos do regulamento
desta Lei, com validade em âmbito nacional para aquelas
constantes dos incisos I, II, V e VI. (Redação dada pela
Lei nº 11.706, de 2008)
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2008/Lei/L11706.htm#art1)

§ 1º-B. Os integrantes do quadro efetivo de agentes e guardas


prisionais poderão portar arma de fogo de propriedade particular
ou fornecida pela respectiva corporação ou instituição, mesmo fora
de serviço, desde que estejam: (Incluído pela Lei nº
12.993, de 2014) (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2014/Lei/L12993.htm#art1)

I - submetidos a regime de dedicação exclusiva;


(Incluído pela Lei nº 12.993, de 2014)
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2014/Lei/L12993.htm#art1)

II - sujeitos à formação funcional, nos termos do regulamento;


e (Incluído pela Lei nº 12.993, de 2014)
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2014/Lei/L12993.htm#art1)

III - subordinados a mecanismos de fiscalização e de controle


interno. (Incluído pela Lei nº 12.993, de 2014)
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2014/Lei/L12993.htm#art1)”
:
“Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso
permitido, em todo o território nacional, é de competência da
Polícia Federal e somente será concedida após autorização do
Sinarm.

§ 1o A autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com


eficácia temporária e territorial limitada, nos termos de atos
regulamentares, e dependerá de o requerente:

I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de


atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade
física; (Vide ADI 6139)
(https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5698214)

II – atender às exigências previstas no art. 4o desta Lei;

III – apresentar documentação de propriedade de arma de fogo,


bem como o seu devido registro no órgão competente.

§ 2o A autorização de porte de arma de fogo, prevista neste artigo,


perderá automaticamente sua eficácia caso o portador dela seja
detido ou abordado em estado de embriaguez ou sob efeito de
substâncias químicas ou alucinógenas.

Art. 23. Caberá à Polícia Federal estabelecer os procedimentos


relativos à concessão e à renovação do porte de arma de fogo.

Art. 24. O porte de arma de fogo é deferido aos militares das


Forças Armadas, aos policiais federais, estaduais e distritais, civis
e militares, aos corpos de bombeiros militares e aos policiais da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal em razão do
desempenho de suas funções institucionais.

§ 1º O porte de arma de fogo é garantido às praças das Forças


Armadas com estabilidade de que trata a alínea “a” do inciso IV
do caput do art. 50 da Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980 -
Estatuto dos Militares
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6880.htm#art50iva).

§ 2º A autorização do porte de arma de fogo para as praças sem


estabilidade assegurada será regulamentada em ato do
Comandante da Força correspondente.
:
§ 3º Ato do Comandante da Força correspondente disporá sobre
as hipóteses excecpcionais de suspensão, cassação e demais
procedimentos relativos ao porte de arma de fogo de que trata este
artigo.

§ 4º Atos dos comandantes-gerais das corporações disporão


sobre o porte de arma de fogo dos policiais militares e dos
bombeiros militares.

Art. 24-A. O porte de arma de fogo também será deferido aos


integrantes das entidades de que tratam os incisos III, IV, V, X e XI
do caput do art. 6º da Lei nº 10.826, de 2003
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.826.htm#art6),
aos integrantes do quadro efetivo das polícias penais federal,
estadual ou distrital e aos agentes e guardas prisionais, em razão
do desempenho de suas funções institucionais. (Incluído
pelo Decreto nº 10.630, de 2021)
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2021/Decreto/D10630.htm) Vigência
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2021/Decreto/D10630.htm#art3)

Art. 25. A autorização para o porte de arma de fogo previsto em


legislação própria, na forma prevista no caput do art. 6º da Lei nº
10.826, de 2003
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.826.htm#art6),
fica condicionada ao atendimento dos requisitos previstos no inciso
III do caput do art. 4º da referida Lei”.

O STF concluiu o julgamento da ADI 6139 em setembro de 2022,


com o seguinte pronunciamento:

“Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros


do Supremo Tribunal Federal, em Sessão Virtual do Plenário de 16
a 20 de setembro de 2022, iniciada na Presidência do Ministro Luiz
Fux e finalizada na Presidência da Senhora Ministra Rosa Weber,
na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigráficas,
por maioria de votos, em referendar a decisão que concedeu o
pedido de medida cautelar, com efeitos ex nunc, para: i) dar
interpretação conforme à Constituição ao art. 4º, §2º, da Lei
10.826, de 22 de dezembro de 2003, para se fixar a tese de que a
limitação dos quantitativos de munições adquiríveis se vincula
àquilo que, de forma diligente e proporcional, garanta apenas o
necessário à segurança dos cidadãos; ii) dar interpretação
conforme à Constituição ao art. 10, §1º, I, da Lei 10.826, de 22
:
de dezembro de 2003, para fixar a tese hermenêutica de que a
atividade regulamentar do Poder Executivo não pode criar
presunções de efetiva necessidade outras que aquelas já
disciplinadas em lei; iii) dar interpretação conforme à
Constituição ao art. 27 da Lei 10.826/2003, a fim de fixar a tese
hermenêutica de que aquisição de armas de fogo de uso restrito
só pode ser autorizada no interesse da própria segurança pública
ou da defesa nacional, não em razão do interesse pessoal do
requerente; e iv) suspender a eficácia do art. 3º, II, “a”, “b” e “c” do
Decreto 9.846, de 25 e junho de 2019. Tudo nos termos do voto do
Ministro Edson Fachin (Relator), vencidos os Ministros Nunes
Marques e André Mendonça”. Grifou-se.

O Decreto nº 9.785/2019, que veio regulamentar a Lei nº 10.826,


de 2003, foi revogado logo após sua publicação pelo Decreto nº 9.847, de 25 de
junho de 2019, com o objetivo de estabelecer regras e procedimentos para a
aquisição, o cadastro, o registro, o porte e a comercialização de armas de fogo
e de munição e de dispor sobre a estruturação do Sistema Nacional de Armas –
Sinarm e do Sistema de Gerenciamento Militar de Armas – Sigma.

O referido decreto sofreu algumas alterações posteriores,


especialmente do Decreto 11.366/2023, que revogou alguns de seus artigos
(artigos 12 a 15) que tratavam de requisitos para aquisição e porte de armas,
excluindo da apreciação da Polícia Federal da condição prevista no inciso I, do
§ 1º do art. 10 da referida Lei 10.826/2003.

Como se pode depreender da referida norma, o porte de arma é


restrito aos profissionais de segurança pública, membros das Forças Armadas,
policiais e agentes de segurança privada. Portanto, inexiste autorização
específica para que Deputados Federais possam obter o porte de arma de fogo
e a regra é a proibição do porte de arma no país, como se depreende da leitura
do caput do art.6º. da Lei nº 10.826/2003. Destarte, nos termos da legislação
em vigor, a atividade de Deputado Federal não foi recepcionada como uma
atividade profissional de risco que autorize o porte de armas.

Ademais, o impetrante não demonstrou a efetiva necessidade do


porte de arma de fogo por exercer sua atividade, como exige a lei, mas de um
risco que pode emergir em certas situações. Nesse caso, em que o risco é
hipotético, não há que se falar em autorização para porte de arma, sobretudo
quando não existem informações sobre ameaças ou concretas situações de
risco à integridade física do impetrante.

Ante o exposto, INDEFIRO O PEDIDO DE LIMINAR.


:
Notifique-se para que preste informações no prazo legal de 10
dias.

Cientifique-se ao órgão de representação judicial da pessoa


jurídica interessada (artigo 7º, inciso II, da Lei nº 12.016/2009).

Em seguida, dê-se vista ao Ministério Público Federal.

Após, voltem os autos conclusos para sentença.

Intimem-se.

Datado e assinado eletronicamente.

Assinado eletronicamente por: ANDERSON SANTOS DA SILVA


03/07/2023 18:10:34
https://pje1g.trf1.jus.br:443/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam
ID do documento: 1693974471 (tel:1693974471)

23070314395329700001
IMPRIMIR GERAR PDF
:

Você também pode gostar