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5. Desenvolvimento

5.1. Área de estudo

5.1.1. Região Metropolitana de São Paulo

A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é a área territorial que abrange


39 municípios, contando com o município de São Paulo e os municípios
circunvizinhos conurbados, formando uma única mancha urbana (Figura 7) (ISA -
Whately & Diniz, 2008).

Figura 7: Imagem de Satélite da Região Metropolitana de São Paulo: no centro, em cinza, é


visível a “Mancha Urbana”, distribuída nos 39 municípios que a compõem.

Disponível em: <http://observasaude.fun dap.sp.gov.br/RgMetropolitana/ PublishingImages/RMSP_fotos/


RMSP_fotosat.JPG>. Acessado em 23/08/2013

A RMSP é a região mais populosa do Brasil, contando com 19,7 milhões de


habitantes em um território de apenas 8.051 km2 (37% urbanizados). Devido a tal
densidade populacional, a RMSP apresenta uma situação de esgotamento de seus
recursos e pressão sobre a área periurbana pela necessidade de alimentos e áreas
urbanizáveis, mas ao mesmo tempo necessita dos serviços ambientais que estas
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fornecem, com a manutenção de áreas verdes e depuração da poluição urbana,


produção de água e fornecimento de outros recursos naturais.

Apesar da pluviosidade média anual de 1.400 mm, a região enfrenta déficit de


água potável desde o século 19, em virtude das dificuldades para adaptar o sistema
de abastecimento ao ritmo elevado de crescimento demográfico (Bouzid et al.,
2005). A disponibilidade de água é sete vezes menor por habitante do que o
considerado crítico pela ONU e de cerca de 1/10 da recomendada pela World Health
Organization-WHO (Carvalho et al., 2009 e Whately & Diniz, 2008). Esta situação se
agrava com a ocupação urbana desordenada nas regiões de mananciais, causando
pressão e poluição dos reservatórios, tais como a Represa Billings e Guarapiranga
(Silva & Porto, 2003). Com seus reservatórios sendo explorados no limite, a RMSP
importava, em 2012, cerca de 20% da água potável da sub-bacia do Alto Tietê
Cabeceiras, através do Sistema de Abastecimento do Alto Tietê Cabeceiras – SPAT
(Carvalho et al., 2009; ISA 2008 e CETESB, 2012), sendo que esta porcentagem
vem aumentando substancialmente devido à a estiagem prolongada deste ano e o
esgotamento do Sistema de abastecimento Cantareira. Esta tendência demonstra o
papel estratégico da sub-bacia do Alto Tietê–Cabeceiras, historicamente
reconhecida como fornecedora de alimentos pela agricultura, mas atualmente pelo
fornecimento destes outros serviços básicos.

Entretanto, o papel dessa área como produtora de água potável compete com
duas outras funções associadas a sua localização periurbana: reserva fundiária para
a expansão da cidade, especialmente a habitação popular, e necessidade de
manutenção do espaço agrícola (Bouzid et al., 2005).

5.1.2. Sub-bacia Hidrográfica Alto Tietê Cabeceiras

A Região Metropolitana de São Paulo – RMSP está situada em sua maior


parte na Bacia Hidrográfica do Alto Tietê. Esta Bacia é subdividida em cinco sub-
bacias, sendo elas: Alto Tietê Cabeceiras, Billings-Tamanduatei, Juqueri-Cantareira,
Cotia-Guarapiranga e Pinheiros-Pirapora (Fig. 8).
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Figura 8: Municípios que compõem a Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, subdividida nas sub-bacias
hidrográficas.

Fonte: Site 5 elementos. Disponível em: <www.5elementos.org.br/site/index.php/nova-gestao-das-


aguas-no-alto-tiete-traz-forca-e-mais-tranparencia/>. Acessado em 23/08/2013

A Sub-bacia do alto Tietê Cabeceiras (BHAT-C) é, como seu próprio nome


diz, a região que abriga a nascente do rio Tietê. O rio Nasce no município de
Salesópolis, no extremo leste, e subsequentemente, atravessa completamente esta
região em direção ao oeste, permeando alguns dos seguintes municípios
pertencentes à sub-bacia, a partir da nascente: Salesópolis, Biritiba-Mirim, Mogi das
Cruzes, Arujá, Suzano, Itaquaquecetuba, Ferraz de Vasconcelos, Poá, Guarulhos e
a parte norte do Município de Ribeirão Pires e Mauá, até alcançar a sub-bacia do
Alto Tietê Penha-Pinheiros, onde está a cidade de São Paulo (Fig. 9).
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Figura 9: localização da sub-bacia do Alto Tietê Cabeceiras e seus principais municípios.

Fonte: Bouzid, 2005.

De forma geral, a urbanização e a densidade demográfica diminui de oeste


para leste. Enquanto o Município de Salesópolis, a leste da bacia, é essencialmente
rural, os Municípios de Guarulhos ou mesmo de Suzano são essencialmente
urbanos (Fig 10). Neles, as áreas inundáveis e pouco propensas à urbanização são
cultivadas ou estão em pousio. O tecido urbano é quase contínuo na parte central da
sub-bacia, desde Mogi das Cruzes, um dos mais antigos centros urbanos da bacia,
até a zona leste da cidade de São Paulo. Nas zonas mais rurais, núcleos urbanos de
crescimento rápido, como Biritiba-Mirim ou Suzano, desenvolveram-se na última
década (IBGE, 2004, citado por Bouzid et al., 2005).
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Figura 10: Distribuição do uso e ocupação do solo na Bacia do Alto Itetê Cabeceiras, em 2001.

Fonte: Moraes et al (2005), citado por Carvalho et al. (2006)

5.1.2.1. Agricultura na BHAT-C

Segundo Carvalho et al. (2006) a agricultura de Cabeceiras esteve sempre


associada ao mercado consumidor da RMSP. Inicialmente, era itinerante, baseada
na queimada e pousio. A expansão do café, no final do século XIX, promoveu o
crescimento da cidade de São Paulo, mas a crise estimulou o deslocamento de
colonos e a implantação de uma agricultura com nova base tecnológica, de produtos
altamente perecíveis e base familiar, favorecida pela proximidade e facilidade de
transporte ao mercado consumidor. A produção expandiu-se em resposta à grande
ampliação e diferenciação do mercado consumidor, incrementada pelas redes de
fast-food, supermercados e por um mercado consumidor de alta renda.

Dois grandes fatores determinantes estruturam a paisagem: a


hidrogeomorfologia e a pressão da urbanização (Fig. 11). Distinguem-se, assim,
segundo Bouzid et al. (2005), três sistemas agroecológicos:

• aluviais de várzea, exploradas quase que exclusivamente com hortaliça irrigada;


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• colinas, com disponibilidade hídrica variável, que determinam a vocação hortícola


ou frutífera;

• montanhas elevadas com solo pobre e forte declividade, ocupadas pela pecuária,
pelo cultivo de eucalipto ou por floresta.

Figura 11: Características agrícolas dos principais municípios da sub-bacia do Alto Tietê – Cabeceira.

*Taxa anual de crescimento demográfico


Fonte: bouzid et al., 2005

Em 2005, a agricultura do Alto Tietê contribuía com 35% do mercado


hortifrutigranjeiro do Estado de São Paulo, com 50% da produção de caqui e 25% da
produção de flores do Estado (Andrade; Artigiani, 2003, citado por Bouzid et al,
2005).

A grande maioria dos agricultores é descendente de imigrantes de origem


japonesa, que se instalaram na região ao longo do século 20 (Tsunechiro & Pino,
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2013), e assim, apresentam fortes laços associativistas e de participação sindical,


que é maior na região (38,9%) em relação ao resto do Estado (30,7%), segundo
Carvalho et al. (2006).

A agricultura ocupava cerca de 7.400ha em 2005 (Bouzid et al, 2005). Mais


especificamente, os dados do Levantamento das Unidades de Produção
Agropecuária – LUPA do Estado de São Paulo de 1995-96 (PINO et al..1997),
mostrou que a sub-bacia hidrográfica do Alto Tietê – Cabeceiras apresentava um
total de 61.307,5 hectares de áreas agricultáveis, dos quais 24,4% apresentam
vegetação natural, 29,7% possuíam plantio de madeira (“reflorestamento”), 12,6%
apresentavam pastagens (natural e cultivada), 12,9% com culturas anuais e o
restante com outras ocupações. As unidades de produção agropecuárias (UPAs)
com até 10,0 hectares representavam 62,8% do total e acima de 50,0 hectares,
apenas 5,8% do total, demonstrando predominância de pequenas propriedades, de
trabalho familiar, com cultivos anuais, principalmente olerícolas, e secundariamente
também frutas e flores. Nas UPAs maiores também há pastagens e reflorestamento.
A vegetação natural variou de 12,3% da área total ocupada pelas UPAS até 5
hectares, a 28,7% para as que têm mais de 50 hectares.

Carvalho et al. (2006) afirmam que o manejo da olericultura da região, em


comparação a todo o Estado de São Paulo, apresenta padrão tecnológico moderno.
Sendo a racionalidade econômica de maior intensidade do uso da terra associada à
grande disponibilidade de tratores, irrigação, preferência por cultivos de ciclo curto e
pela maior ocorrência da plasticultura. O uso da adubação verde orgânica reflete
preocupações tecnológicas e de custo, com impacto positivo para o ambiente. A
organização social existente ainda é compatível com os padrões do Estado. Assim
sendo, a pressão urbana e redução da área agrícola da região não parece estar
associada a uma precarização da tecnologia agrícola empregada, e nem mesmo a
uma desarticulação da organização social existente no meio rural.

Como pode-se perceber na tabela 4,Mogi das Cruzes é o município do sub-


bacia do Alto-Tietê Cabeceiras com maior superfície agrícola aproveitável
(22.786ha). Sendo que em 2005, a obrigação de conservação da vegetação neste
município também era bastante respeitada.
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Tabela 4: características agrícolas dos principais municípios da sub-bacia do Alto Tietê – Cabeceira.

Fonte: bouzid et al., 2005

A sub-bacia do Alto Tietê – Cabeceiras tem 64% do território protegido como


área de manancial e, devido à relevância da agricultura para a região, seu comitê
administrativo conta com representante dos agricultores. Cerca de 83% da superfície
agrícola é irrigada, o que leva ao questionamento se a agricultura na sub-bacia do
Tietê–Cabeceiras é uma usuária, uma fonte de poluição ou de proteção dos
recursos hídricos (Bouzid et al., 2005). Entretanto, a falta de manejo adequado,
associado à proximidade dos centos urbanos e industriais tem reduzido a qualidade
dos recursos de água utilizados para irrigação. Assim, há relatos de alguns irrigantes
necessitarem abandonar os rios, realizarem lavagem dos produtos com água potável
antes da comercialização, ou, ainda, preferirem cultivos pouco demandantes de
água (Bouzid et al., 2005).

Ameaças para a agricultura no Alto Tietê

O desenvolvimento da agricultura nesta região vem sofrendo ameaças por


vários fatores, segundo Carvalho et al., 2005 e PMDRS (2012-2015), a saber:

- a forte competição fundiária, que é acentuada pela urbanização (preços


multiplicados por sete, entre Mogi das Cruzes e Guarulhos), pela demanda por areia
para construção civil (disponível nas zonas aluviais, as mais propícias à agricultura)
e pela construção de reservatórios adicionais de água potável;
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- limitações oriundas da legislação ambiental, a qual proíbe a valorização agrícola de


áreas não-desmatadas e estabelece a necessidade de autorização administrativa
para as operações de manutenção dos tanques de irrigação;

- incerteza quanto às perspectivas econômicas de algumas atividades no contexto


atual, pela desvalorização do real, que afeta desfavoravelmente a relação entre
preço recebido e preço pago pela agricultura;

– Arrendamento dessas áreas para agricultores vindos do interior do Estado e de


outras regiões do País;

- desvalorização da cultura e meio de vida rural, bem como das atividades


produtivas nelas exercidas;

- aumento da violência;

- dificuldades de acesso e comunicação;

- deterioração da qualidade ou encarecimento da água para irrigação;

- Desinteresse dos jovens de origem japonesa pelas atividades agrícolas


tradicionais.

Perspectivas para a agricultura no Alto Tietê

Introdução de novos produtos – flores, cogumelo, hidroponia, etc. com maior


grau de processamento, atividades estas geralmente optadas por jovens de origem
japonesa com maior grau de instrução, fortemente capitalizados, utilizando um
modelo típico de agronegócio (PMDRS, 2012-2015).

Simultaneamente, a demanda urbana favorece o desenvolvimento de novas


atividades à margem da agricultura, como produção de matéria orgânica ou de terra
para jardins, espaços verdes e áreas de recreação. Nesse contexto, onde ocorre a
expulsão da agricultura, coexiste a consolidação de pequenos empresários agrícolas
inovadores (Bouzid et al., 2005).

A contaminação por agrotóxicos, assim como o uso das várzeas e da água,


faz com que a agricultura seja vista como atividade degradadora, a ser
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desestimulada nas áreas de mananciais. Entretanto, a agricultura pode prestar


serviços ambientais, desde que promova ajustes tecnológicos e estruture a rede
social nas áreas de baixa densidade de ocupação (Carvalho et al., 2006)

Bouzid et al. (2005) conclui que a preservação da agricultura na região do Alto


tiete Cabeceiras passa por sua transformação em agricultura do tipo empresarial,
por meio de um processo de padronização da qualidade dos produtos e da melhor
organização dos canais de comercialização. A competição com outras zonas de
produção, com terra e trabalho mais baratos e menor problema de poluição, fragiliza,
entretanto, esse modelo. De acordo com a política nacional de segurança alimentar,
certas correntes políticas defendem o modelo de pequena agricultura urbana,
eventualmente coletiva, para prover alimentos e permitir a integração social das
famílias em dificuldade econômica da periferia, sem negligenciar a questão da
preservação da qualidade sanitária dos produtos.

5.1.3. Município de Mogi das Cruzes

O Município de Mogi das Cruzes está localizado no Estado de São Paulo, no


compartimento hidrográfico do Alto Tietê - Cabeceiras, à aproximadamente 50 km da
nascente do Rio Tietê (município de Salesópolis). Situa-se à leste do município de
São Paulo, distante 63Km do centro da capital, compondo, juntamente com os
municípios vizinhos, uma grande mancha urbana contínua conhecida como região
metropolitana de São Paulo – RMSP.

Sua população, estimada pelo Censo 2010, é de 387.241 habitantes


distribuídos em uma área territorial de 725 Km2, que, após a capital, é o maior
município em área da Grande São Paulo.

História

Historicamente a região de Mogi sempre foi rota de passagem de viajantes,


seja entre Rio de Janeiro e São Paulo como do litoral para o interior do estado. As
primeiras rotas abertas na região foram realizadas pelo bandeirante Brás Cubas,
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que seguia o rio Tietê em busca de ouro. Gaspar Vaz deu origem ao povoado com a
abertura de acessos para São Paulo e cidade foi oficialmente fundada como vila em
11 de setembro de 1611, com o nome de Santana das Cruzes de Mogi-Mirim,
pertencendo ao grupo de 14 vilas existentes no territorio brasileiro até metade do
seculo XVI e sendo o 4º município mais antigo do Estado de São Paulo (Hirata, 2005
e COMPHAP, 2014).

Mesmo com a expansão da economia do café no Oeste Paulista, a região de


Mogi mantinha uma economia de vila estagnada, baseada no fornecimento de
produtos e serviços para a metrópole, sendo que na área de recursos naturais as
principais eram a madeira de lei e lenha/carvão.

Um marco histórico é a passagem do principe regente D. Pedro pelo


município em 09 de setembro de 1822, em seu retorno ao Rio de Janeiro logo após
a proclamação da Independência em São Paulo. Outro marco, agora social e
econômico, foi a instalação de uma estação da ferrovia Central do Brasil (São Paulo
– Rio), meio de transporte utilizado pela elite brasileira para se movimentar entre as
duas capitais; além de favorecer, posteriormente, o deslocamento das pessoas e o
desenvolvimento da região (Hirata, 2005).

Economia e desenvolvimento

O Índice de Desenvolvimento Humano do município (dados de 2000) é de


0,801, sendo considerado elevado. A cidade ocupa o 163º lugar no ranking dos
municípios de São Paulo classificados segundo o IDH, segundo o PMIGRS (2013).

Clima e geografia

Como em toda a Região Metropolitana de São Paulo, o clima do município é o


Cwa (Classificação Climática de Koeppen) ou clima tropical de altitude, com
temperatura média do mês mais quente superior a 22°C. O verão é pouco quente e
chuvoso; o inverno, ameno e subseco. A média de temperatura anual gira em torno
dos 20°C, sendo o mês mais frio julho (média de 15°C) e o mai s quente fevereiro
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(média de 27°C). O índice pluviométrico anual fica em torno de 1.300 mm (PMIGRS,


2013).

Segundo o Plano Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (PMDRS,


2012-1015), A região encontra-se integralmente no domínio da Província Atlântica,
na zona geomorfológica denominada de Planalto Paulistano, que caracteriza-se pela
dominância de formas de relevo suavizadas e serras localizadas, com presença de
colinas, patamares, terraços e planícies aluviais, em cotas altimétricas variando
entre 715 a 900 metros.

Ainda segundo a (PMDRS, 2012-2015), o município tem a maior parte de seu


solo classificado no grupo PVA39 (Argissolos Vermelhos-Amarelos distróficos +
Cambissolos Háplicos, Tb distróficos, ambos A proeminente textura média relevo
suave ondulado e ondulado).

Zoneamento Ambiental - Áreas protegidas

O município possui mais de 65% de seu território, cerca de 47 mil hectares,


em Unidades de Preservação Ambiental – UCs (Carvalho et al., 2007).
Semelhantemente aos outros municípios do Alto Tietê Cabeceiras, Mogi das Cruzes
apresenta uma grande área de seu território, em torno de 49%, considerado como
área de mananciais, áreas protegidas pelas leis estaduais nº 898 de 18/12/1975 e nº
1.172 de 17/11/1976. Nesta área estão contidos 2 reservatórios que abastecem a
RMSP, as represas de Jundiaí e Taiaçupeba. (fig. 12). Outros 11% de áreas
protegidas restantes enquadram-se em outras categorias de preservação, como
unidades de conservação e áreas tombadas.

Ao centro-Norte do território há a presença da Serra do Itapeti e ao sul, a


Serra do Mar (fig. 12). Entre as duas serras situa-se o Rio Tietê, com sua várzea,
cortando de leste a oeste o território, e a área urbana. Abaixo estão listadas as
Áreas de Proteção Ambiental presentes dentro do território do município (Fig. 15A),
com as respectivas legislações que a normatizam:

• APA Várzea do Tietê - Decreto Estadual nº 42.837 (03/02/1998);


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• Área de Proteção dos Mananciais - Leis Estaduais nº 898 (18/12/1975) e nº


1.172 (17/11/1976);
• Parque Estadual da Serra do Mar - Decreto Estadual nº 10.251 (30/08/1977);
• AT da Serra do Mar e Paranapiacaba – Resolução da Secretaria Estadual da
Cultura nº 40 (06/06/1985) (CONDEPHAAT);
• Estação Ecológica de ltapeti - Decreto Estadual nº 26.890 (12/03/1987)
(Reserva Estadual desde 29/04/1952, pelo Decreto Estadual nº 21.363-D);
• AIE Serra do Itapeti - Lei Estadual nº 4.529 (18/01/1985);
• Parque Municipal Francisco A. de Mello - Lei Municipal nº 1.956 (26/11/1970)
e Lei Municipal nº 3.386 de 25/12/1988 e seu anexo;
• Parque Municipal Nagib Najar.
(Emplasa, 2002)
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Figura 12: Áreas Legais de Proteção Ambiental no Município de Mogi das Cruzes.

Fonte: PDMC (2006).


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Áreas produtivas

O Plano Diretor de Mogi das Cruzes – PDMG (2006) divide o território do


município nas seguintes categorias:

I – áreas urbanas;

II – áreas de expansão urbana;

III – áreas rurais.

Como pode ser visto na figura 13 e 14, as áreas urbanas se concentram nas
partes central e noroeste do município, com alguns pequenos focos ao sul, na área
de proteção de mananciais. As áreas de expansão urbana estão situadas a
noroeste, a leste, e também ao sul da área urbana, restando a menor parte de áreas
regularmente produtivas, retirando-se a área reconhecidamente urbana (PDMC,
2006).
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Figura 13: Áreas Urbanas, de Expansão Urbana e Rurais em Mogi das Cruzes

Fonte: PDMC, 2006


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Figura 14: Mapa do Território do município de Mogi das Cruzes, apresentando áreas de Preservação
Ambiental.

Áreas de Proteção Ambiental em Mogi das Cruzes

5 - APA Várzea do Tietê 11 - Estação Ecológica de ltapeti


6 - Área de Proteção dos Mananciais 12 - AIE Serra do Itapeti
9 - Parque Estadual da Serra do Mar 16 - Parque Municipal Francisco Affonso de Mello
10 - AT da Serra do Mar e Paranapiacaba 17 - Parque Municipal Nagib Najar

Fonte: Emplasa, 2002.


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Em relação às águas subterrâneas, Mogi das Cruzes encontra-se sobre o


pequeno aquífero São Paulo (Iritani e Ezaki, 2012), delimitado pela Serra da
Cantareira ao norte e Serra do Mar ao sul. È um aquífero sedimentar, caracterizado
pela deposição de sedimentos de origem fluvial sobre a rocha cristalina, incluindo-se
os sedimentos recentes na planície do Rio Tietê. A recarga do aquífero é livre, o que
significa que facilmente é recarregado pela infiltração da água da chuva, mas
também muito susceptível ao risco de poluição. A produtividade é baixa, sendo a
vazão recomendada inferior a 10m3 por poço.

Mogi das Cruzes é ainda considerada o segundo maior pólo produtivo do


Estado de São Paulo, sendo reconhecida como a principal cidade do Cinturão Verde
da região e, assim também, um dos maiores produtores de hortaliças e frutas do
Brasil (Fig. 15B).

Figura 15: Retratos do Município de Mogi das Cruzes. (A) Área de Proteção Ambiental da Serra do Itapeti, (B)
área de horticultura irrigada com águas do rio Tietê e (C) Represa de Taiaçupeba, em Mogi das Cruzes, SP.

A B C

Fontes: foto A : Morini e Miranda, 2012. Foto B: Ayrton Vignola, disponível em


<http://blogs.estadao.com.br/olhar-sobre-o-mundo/rio-tiete/>, acessado em 18/09/2013 Foto C: André Bonacin,
disponível em <http://commons.wikimedia.org/ wiki/File:Taia%C3%A7upeba.jpg>, acessado em 24/08/2013.

Esta agricultura é realizada em geral em pequenas propriedades, e boa parte


pertencente historicamente à famílias japonesas, que possuem a tendência de
mantê-las a ao longo dos anos.
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5.1.4. Imigração Japonesa em Mogi das Cruzes e o Bairro de Cocuera

A colonização de Mogi das Cruzes e região pelos Japoneses ocorreu de


forma secundária e diferente do que a maioria das outras regiões: a região não
recebeu levas de imigrantes vindos diretamente do Japão, uma vez que não
abrigava grandes fazendas de café (como o interior paulista) e não foi sede de
nenhum loteamento oficial subsidiado pelos governos japonês e brasileiro. Ao
contrário, o relevo acidentado e muito florestado era economicamente desvalorizado
para a agropecuária, sendo dominado por colonos brasileiros que viviam da
agricultura de subsistência e venda de lenha originada do desmatamento para as
cidades. Esta foi, aliás, uma das razões para o sucesso da colonização japonesa
nesta região: o baixo custo das terras e a proximidade com a metrópole foram
fundamentais para que as famílias que chegavam como arrendatárias das terras,
dispondo de grande mão de obra familiar e trabalho árduo e focado, pudessem em
pouco tempo, adquirir as terras que cultivavam a custos muito baixos (de Moraes,
2008).

As primeiras famílias japonesas que se fixaram na região eram provenientes


do Oeste Paulista, em geral fugitivas da exploração e das péssimas condições de
vida naquela região. Ao chegarem na cidade de São Paulo para receber auxílio
médico pelo consulado japonês, o médico Sentaro Takaoka indicava a região de
Mogi das Cruzes, que não era açoitada por moléstias como a malária e apresentava
um clima temperado, mais semelhante ao Japão (Moraes, 2008; Hirata, 2005; SAC,
2000).

A primeira família a se fixar na região foi a de Shiguetoshi Suzuki, originado


da província de Akita Ken, norte do Japão. Diferentemente da maioria dos
imigrantes, Shiguetishi era formado na Escola Superior de Agricultura do Japão.
Saindo de Taquaritinga, inteiror de São Paulo, o casal inicialmente empregou-se em
lavouras de batata e cebola de imigrantes Italianos, na região do bairro de Sabaúna,
distante 20km da cidade. Entretanto, as condições desfavoráveis levaram a família a
mudar-se, em 1919, para o Bairro periférico de Cocuera, na qual arrendaram terras
de Carlos Steinberg, para cultivo de repolho e batata, para estranheza dos caboclos,
acostumados às culturas de mandioca, milho e feijão (Kuniyoshi e Pires, 1984, SAC,
2000). Após 3 anos, a família Suzuki comprou as terras a baixo custo e grande
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parcelamento. Parte destas terras foi loteada em propriedades menores e revendida


aos imigrantes compatriotas que chegavam constantemente. A instalação dos
primeiros imigrantes nos diversos bairros de Mogi ocorreu em sua maior parte, como
podemos observar na tabela 05 a seguir, nas décadas de 20 a 30.

Tabela 5: Primeiros imigrantes japoneses nos Bairros Periféricos da Cidade de Mogi das Cruzes.

Citado por Hirata, 2005

O ingresso de imigrantes nas cercanias de São Paulo foi modificador e


evolucionário, trazendo uma nova forma de agricultura, deixando de lado a
monocultura (predominante no Oeste Paulista) e a agricultura de subsistência
(predominante na região). Com novos ideais de trabalho para a ascensão social,
estes agricultores passaram a disseminar novas tecnologias, trouxeram novos
produtos e novo tipo de gestão das atividades, agora voltada para o grande mercado
que se encontrava em crescente expansão nas suas adjacências (de Moraes, 2008,
Hirata, 2005).

Na década de 30, o processo de formação da colônia japonesa em Mogi das


Cruzes se intensificou com a vinda de imigrantes provenientes das áreas de cultivo
de batatinha como Cotia, Mairiporã e Taipas e com o deslocamento de colonos e
arrendatários das terras de café e de cultura de cereais, que adquiriram nesse
município pequenas glebas (quatro a cinco hectares) para o plantio de verduras e
frutas. Fixaram-se também em Mogi lavradores vindos diretamente do Japão,
embora em menor número. Entre estes se encontra o arquiteto-carpinteiro Kazuo
Hanaoka, construtor do Casarão do Chá (Kuniyoshi & Pires, 1984).
70

Já no início da década de 30, o município é o que apresentava maior


presença de pessoas japonesas em relação à região do Cinturão Verde (Tabela 06)
e atualmente (dados de 1996-7) é o que apresenta maior quantidade de Unidades
de Produção Agropecuária (UPAs) em posse de nikkeis do Estado de São Paulo
(Tabela 07).

Tabela 6: Localização dos japoneses ao longo da estrada de ferro Central do Brasil, 1930/35/40

Citado por Hirata, 2005


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Tabela 7: Municípios com maiores percentuais de proprietários nikkeis no Estado de São Paulo
(1995/96)

Fonte: adaptado de Tsuneshiro e Pino (2013)

5.1.4.1. Associativismo e pioneirismo em Mogi das Cruzes

Pode-se observar que o espírito comunitário japonês se difere claramente da


cultura brasileira e ocidental quando se observa as associações japonesas.
Enquanto a comunidade brasileira se reúne principalmente em templos e
festividades religiosas, o associativismo japonês foi muito pragmático, surgiu para
auxiliar nas dificuldades da vida cotidiana e do mundo do trabalho, bem como na
manutenção da cultura japonesa e para a escalada social (de Moraes, 2008,
SAC,2000).

A cooperação entre as famílias era intensa e dava excelentes resultados.


Uma das formas de realizá-lo era o sistema de mutirões para plantio, construção de
moradias e colheitas, em que as famílias trabalhavam em conjunto, escalando as
propriedades em dias combinados, sob acordo mútuo (SAC, 2000).
72

Esta união cooperativa entre as famílias deu origem à 1ª associação da


colônia na região: a Associação Centro Cultural de Mogi das Cruzes, ou Associação
Cocuera Chuucho Niponjinkai, em 1926 (SAC, 2000). Como uma das primeiras
necessidades lembradas é a educação, já em 1927 foi fundada a 1ª escola rural por
estes associados. Estas escolas permitiram a socialização dos japoneses e sua
escalada social a partir da década de 50, com a entrada de muitos japoneses e
descendentes nas escolas superiores brasileiras, bem como na vida política e
facilitaram sua integração social.

Em 13 de dezembro de 1931 foi criada a Liga para venda em Cooperação de


produtos agrícolas que posteriormente, em março de 1933, transformou-se na
Cooperativa Agrícola de Mogi das Cruzes, também chamada de Cooperativa
Agrícola Mista. O primeiro presidente desta cooperativa foi Takashi Watanabe
(1883-1939), o qual foi fundamental e pioneiro em diversos aspectos na agricultura
brasileira: Watanabe defendeu a policultura na região, introduzindo também a
fruticultura e avicultura. A policultura surgiu como alternativa à crise de
superprodução de tomate e, através da produção simultânea de diversas hortaliças
e legumes tais como couve-flor, repolho, batata, etc. Esta medida propriciou à região
tornar-se abastecedora dos dois principais centros de desenvolvimento: São Paulo e
na década de 70, também o Rio de Janeiro (de Moraes, 2008).

Para a fruticultura, o presidente importou sementes de árvores frutíferas do


Japão, Estados Unidos e Europa, arcando pessoalmente com o ônus financeiro da
medida. Com este incentivo, a região tornou-se pioneira na produção de frutas tais
como caqui e Nêspera.

Pelo incentivo do Sr. Watanabe ocorreu também o surgimento da avicultura e


granjas de alta performance, sendo que até a década de 70, a região era a líder
nacional em produção de ovos, principalmente através de grandes granjas como a
Nagao, situada em Cocuera, que na época mantinha cerca de 500 empregados
(Hirata, 2005, de Moraes, 2008).

Assim, a Cooperativa Agrícola de Mogi das Cruzes atuou como laboratório de


pesquisa na agropecuária, difusão de conhecimento e novos procedimentos
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técnicos, geração de recursos financeiros para os pioneiros e também centro social


e cultural da Colônia.

Outros pioneirismos da colônia de Mogi das Cruzes no ramo da tecnologia de


produção foi na utilização de defensivos; em 1931, comenta-se que moradores da
região de Cocuera compraram dois pulverizadores costais de fabricação alemã.
Como tinham que atravessar a cidade para chegar ao Bairro, os compradores
carregaram o pulverizador nas costas, exibindo a máquina mais moderna na época
e assim, foram chamados pelos moradores da cidade de “alienígenas” (SAC, 2000;
Moraes, 2008). Em 1935, a granja Shigueno foi pioneira na utilização de chocadeira
elétrica e outras melhorias ocorreram nos processos de irrigação: a primeira bomba
de irrigação foi empregada por Fugitaro Nagao, mas em 1952, a fazenda da família
Abe já utilizava sacos de farinha remendada para transportar “terras úmidas” e
canos remendados para transportar água e também foi pioneiro na utilizalao de
tratores de esteira para preparo da terra e realização de entregas com frota própria
de caminhões (Moraes, 2008).

No ramo de desenvolvimento de variedades, houve avanço na produtividade


dos pêssegos da variedade “branco duro” e “rei de conserva”. O tomate “santa cruz”
também foi desenvolvido na região, na década de 30. Foi desenvolvida a técnica de
atrasar a safra da uva “Itália”, para aumentar os preços de venda (SAC, 2000).
Tokuji e Izumi Abe, além de pioneiros na irrigação, também produziam e
melhoravam suas próprias sementes de repolho. Por fim, um grande pesquisador de
hortaliças nasceu e desenvolveu seu trabalho na região: Prof. Dr. Hiroshi Ikuta.

Engenheiro Agrônomo, Pesquisador, Doutor e Professor Dr. HIROSHI IKUTA


de 84 anos, foi formado em Ciências Agrárias pela Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiróz de Piracicaba/SP. Fez doutoramento em Agronomia da
USP/ESALQ, onde defendeu tese sobre o melhoramento genético de hortaliças e
pós-doutorado em agronomia na Universidade de Kyoto, no Japão. Em 1954,
tornou-se docente do Departamento de Genética da ESALQ.

Em Mogi das Cruzes, o Prof. Hiroshi Ikuta planejou, instalou (em 1960) e
manejou por décadas a Estação Experimental do Setor de Melhoramento de
Hortaliças, situada no bairro de Rio Acima, vizinha de Cocuera. Por meio desta
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estação experimental, foi pioneiro na obtenção de híbridos de hortaliças, com


conquistas e benefícios que revolucionaram o setor de olericultura do Brasil. e o
grande responsável pelo lançamento de variedades melhoradas de berinjela,
repolho, alface, pepino, cenoura e pimentão, entre outras. Esta estação experimental
encerrou suas atividades em 1990 com a aposentadoria do professor.

Atualmente, na ultima década, o Prof. Ikuta dedicou-se a pesquisa com xaxim,


vegetal praticamente extinto na Mata Atlântica e de fundamental importância para a
conservação do solo e manutenção das águas subterrâneas, como também foi o
responsável pelo melhoramento da orquídea natural da Mata Atlântica denominada
“chuva de ouro”, transformando-a de tal forma que, se tornou uma das favoritas da
classe consumidora (Abe, 2013, site).

Além da Cooperativa Mista de Mogi das Cruzes merece destaque a


Associação Desportiva e Cultural – Bunkyo (Hirata, 2005)

A cultura do Bunkyô e Associações de Bairro (Kaikan)

O Bunkyô foi fundado em 1937, como Associação interbairros Rengo


Nipojinkai de Mogi das Cruzes, com a finalidade de dar assistência aos associados
através da centralização burocrática numa única entidade responsável pelas
associações formadas nas colônias que se encontram espalhadas nos bairros
mogianos (Kaikan).

No campo cultural, festas típicas da colônia como o Aki Matsuri (Festa do


Outono, promovida anualmente pelo Bunkyô de Mogi e o Furusato Matsuri (Festa da
Terra Natal, promovida anualmente pela SAC) são originárias das históricas festas
de exposição Agrícola e famosas regionalmente, com alcance em toda a grande São
Paulo. Nestas festas os agricultores montam uma exposição de flores, frutas e
verduras, concorrendo entre si e os melhores são premiados. Anualmente são
promovidos festivais esportivos nas colônias (UndoKai), onde os familiares, em um
determinado domingo participam de uma série de eventos esportivos com a
integração de todos, desde crianças a idosos. Nas referidas associações, são
promovidas festas que geralmente envolvem comidas típicas, como a festa do
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Sukiyaki ou do Sorvete, promovidas pelos jovens do bairro (Seinekai) destinadas


com o objetivo de angariar recursos para a associação.

Nos esportes, a contribuição nipônica abrangia as artes marciais, o beisebol e


o atletismo, este último bastante difundido na colônia japonesa. Vale lembrar que a
Cooperativa foi originária do Kosmo Clube, que além de encontros sociais e
políticos, tornou-se um dos mais importantes clubes de beisebol do Brasil.

Algumas colônias possuíam a escola de ensino da língua japonesa (Nihon


Gakô), um professor era contratado e pago pela associação local.

Nas associações (Kaikans) notou-se uma divisão social do trabalho


relacionada ao sexo e idade; os líderes da colônia são formados por japoneses ou
descendentes de meia idade e do sexo masculino. As esposas contribuem na
colônia através da mão-de-obra exigida num evento cultural, além de integrarem a
Associação das Senhoras (Fujinkai), onde juntamente com os homens organizam
festas das quais parte da arrecadação, previamente definida, é destinada ao Fujinkai
que direciona a verba em suas reuniões. Os jovens formam uma associação à parte,
denominada Seinenkai (Associação de Jovens), que possui uma estrutura interna e
permite a realização de eventos destinados à colônia e obviamente aos próprios
jovens. Nessas associações, atualmente, são encontrados nos cargos de chefia
jovens de ambos os sexos. O seinenkai promove atividade voltada para o público
jovem, como por exemplo, festas e bailes com o objetivo de estimular o encontro de
japoneses jovens de toda região.

5.1.4.2. O pioneirismo e o legado do bairro de Cocuera e da SAC (Sociedade


dos Agricultores de Cocuera)

Pode-se dizer que o Bairro de Cocuera possui grandes marcos


representantes da imigração japonesa de toda a região do Alto Tietê Cabeceiras.
Dentre os inúmeros marcos, podemos citar:

1º imigrantes a se fixarem na região do Alto Tietê Cabeceiras – Família de


Shiguetoshi Suzuki (1919), sendo que por este motivo, um monumento foi erguido
em homenagem a essa família pioneira numa praça no Centro de Mogi das Cruzes,
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denominada atualmente de “Praça dos Imigrantes”, e mantida pela associação


Bunkyo de Mogi (de Moraes, 2008).

Os irmãos Toyozo e Bunzo Ono chegaram em 1920 em Cocuera, onde


fundaram o sitio Santa Laudecinda. À beira da estrada, montaram um importante
comércio rural, chamado “secos e molhados”, que era o ponto de encontro dos
imigrantes. Mais tarde, participaram da fundação da Associação Cocuera Chuuoo
Niponjinkai (SAC, 2000), da Cooperativa Agrícola de Mogi das Cruzes, e com a
ajuda dos outros colonos imigrantes, a escola isolada de Cocuera e o time Futebol
Cocuera Atlético Clube. (de Moraes, 2008).

A Associação Cocuera Chuuoo Niponjinkai, futura Associação dos


Agricultores de Cocuera (SAC, ou Kaikan de Cocuera), foi a 1ª forma organizativa de
bairro do município. Fundada em 09 de maio de 1926, possuía representantes de 23
membros japoneses, incluindo o Sr. Shiguetishi Suzuki, na posição de Conselheiro
(de Moraes, 2008, SAC, 2000).

Com a associação formada, as famílias imigrantes japonesas construíram em


1927, em regime de mutirão, a 1ª escola rural primária, denominada Escola Mista de
Cocuera. Este prédio foi doado à Prefeitura do Município e funciona atualmente
como o centro de saúde do bairro.

Nos dias 7 e 8 de fevereiro de 1931, a colônia mobilizou-se para a realização


da 1ª Exposição Agrícola de Mogi das Cruzes, já com o intuito de demonstrar o
potencial agrícola da região.

A associação dos jovens em Cocuera também era muito forte: fundada em


1929 como Associação dos Jovens Seinenkai de Mogi das Cruzes, estes se
dedicavam aos experimentos agrícolas, aos estudos e à ronda noturna (segurança
do bairro) e, como recreação, especialmente ao esporte.

O 1º Undokai (festival esportivo familiar) foi realizado em 1930. Ainda na área


esportiva, os esportistas pioneiros praticavam o beisebol desde 1929 (pela
Associação juvenil Seinen-Bu) e o atletismo. Em relação ao beisebol,na década de
50 o Kosmo clube foi um dos mais importantes clubes de beisebol do país, enquanto
que em 1958, a equipe de Cocuera sagrou-se campeã regional e conquistou vaga
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para o Campeonato Brasileiro (SAC, 2000). Nos anos 60 adiante a região levou
diversos nomes para a seleção brasileira, como por exemplo, Mitsuyoshi Sato, atual
auxiliar técnico da seleção, e seus filhos, Renan e Estevan. Renan joga beisebol e
Estevan é ex-jogador e atual vice-presidente da Confederação Brasileira de Beisebol
(Moraes, 2008, Alvarenga, 2013).

Em 1943, as atividades de ensino de língua japonesa foram suspensas no


Bairro, por conta da guerra. Para suprir a carência de ensino da cultura, Shojiru
Higuchi, ex-funcionário do Consulado Japonês e judoca do quinto Dan, iniciou
oficialmente o ensino de judô em Cocuera o que levou, após a década de 60, a SAC
a torrnar-se um importante centro de judô, com a formação de campeões nacionais
e internacionais, destacando-se Masaru Saito, que em 1967 conquistou medalha de
bronze no campeonato mundial universitário e o ano de 1986, quando Ricardo
Namie, Lauro Saito e Paulo Saito conquistam medalha de ouro nos jogos Pan-
Americanos (Yaguinuma, 2000).

Na década de 50 ocorreu a 2ª ampliação da escola primaria de Cocuera e os


associados se concentraram na construção da sede da Associação. Desde a
compra do terreno até o término da construção durou 7 anos, criando uma das
construções mais raras daquele tempo para um Kaikan (SAC, 2000). Comentários
indicam que todo o material foi doado e o trabalho foi em regime de mutirão, sendo
que os forros de madeira do teto foram doados pelo Ginásio Ibirapuera (São Paulo)
provenientes de um show da cantora japonesa Misora Hibari.

No ramo cultural, um dos legados da cultura japonesa no Bairro é o Casarão


do Chá (Fig. 16A), um monumento histórico símbolo da integração Brasil-Japão.
Tombado pelo Estado de São Paulo em 1982, pelo Conselho de Defesa do
Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado (Condephat), e
nível federal pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional) em
1986, como um monumento da imigração japonesa, esta construção foi concluída
em setembro de 1942 pelo carpinteiro japonês Kazuo Hanaoka para abrigar uma
fábrica de chá (chegou a produzir 30 toneladas por ano). Cuidadosamente projetado
em dois andares, a construção apresenta traços orientais mesclados com a forma de
construção cabocla, com paredes de taipa preenchidas com treliças de bambu. Há
de se observar que nenhum prego foi utilizado, os materiais foram rigorosamente
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selecionados para a obtenção de um perfeito encaixe. A fabrica foi desativada em


1968, e depois de 13 anos de reformas, o casarão foi reaberto para visitação e
centro cultural em 1º de junho de 2014, sob direção da Associação Cultural do
Casarão do Chá (Hirata, 2005, Casarão do Chá, 2014).

As dificuldades e as necessidades dos imigrantes japoneses faziam parte de


uma demanda que necessitava ser atendida; a saída encontrada foi através do
ingresso de imigrantes e descendentes na carreira política, viabilizando recursos
para o progresso da comunidade japonesa. Os primeiros a exercerem um cargo
político no município de Mogi das Cruzes foram o Srs. Taro Konno e Minor Harada,
ambos do bairro do Cocuera (Hirata, 2005).

Em 1964 a Associação doou o terreno de 1 alqueire do bairro para o Estado


construir a escola secundária “Sentaro Takaoka”, no km 8 da estrada Mogi-
Salesópolis. Até hoje é um dos raros colégios estaduais na zona rural. Por este
passaram a maioria dos alunos descendentes, e direcionou muitos para os cursos
superiores no Brasil (SAC, 2000). Ainda na educação, a SAC manteve um programa
de financiamento de Bolsas de Estudos com a finalidade de auxiliar filhos de
associados que desejavam se formar em nível superior. Por 25 anos a partir de
1971, o Kaikan de Cocuera financiou 21 pessoas em cursos superiores, destacando-
se médicos e engenheiros, sendo provavelmente a única Associação de Bairro no
Brasil a oferecer bolsas por tão longo tempo (SAC, 2000).

Um dos momentos marcantes para a Associação foi a visita do então príncipe


regente Akihito e a princesa Michiko, atuais Imperador e Imperatriz do Japão, em 19
de junho de 1978, ano do cinqüentenário da Imigração Japonesa no Brasil. Nesta
data, foi inaugurado o Monumento ”Mãe d’água” de Manabu Mabe (Fig. 16B), um
dos mais importantes artistas plásticos do mundo. Criado em 1969, o monumento
está localizado em frente à sede da Sociedade dos Agricultores de Cocuera (SAC).
Segundo alguns estudiosos, o formato que realmente lembra uma gestante,
simboliza a fertilidade do solo e a agricultura desenvolvida pelos japoneses nessa
região.

Em 1971, foi realizada a 1ª Festa do Pêssego, na sede do SAC para divulgar


o principal produto do bairro na época, o Pêssego, fruto de pesquisas e experiências
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locais para desenvolvimento de novas variedades e introdução de novas tecnologias


na região. Assim, Cocuera ficou conhecida nas colônias Japonesas de todo o país
como modelo de agricultura hortifrutigranjeira. A festa prosseguiu por 20 anos,
algumas concomitante com a Festa da Avicultura, setor que apresentou seu maior
desenvolvimento na região na década de 70, com cerca de 1200 famílias produtoras
e as 3 maiores granjas do Brasil: Granja Nagao, Shigueno e Sakai. Após esta
década, Mogi foi superado pela região de Bastos na produção de ovos.

Na década de 80 a produção agrícola de Cocuera tinha se diversificado: do


pêssego e avicultura para outros tipos de frutas e hortaliças. Assim, no ano de 1991,
a festa do Pêssego foi alterada para “Festa da Terra Natal” ou “Furusato Matsuri”, ou
ainda o “Festival Agrícola de Mogi das Cruzes” (Fig.17). O termo “Furusato” foi
lembrado com o intuito de que os cocuerenses que se mudaram para outros locais
para estudo e trabalho viessem visitar nesta oportunidade, sustentando a ligação e
amizade (SAC, 2000). Esta festa perdura até os dias atuais, como uma das festas
de maior alcance na região (SAC, 2000, site Cultura Japonesa, 2013).

Figura 16: retratos de Cocuera: Casarão do Chá (A) e monumento Mãe d’Àgua (B) na sede do SAC.

A B

Fontes: site CONPHAP. Disponível em: http://www.comphap.pmmc.com.br/pages/roteiro.html, acessado em


10/08/2014.
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Figura 17: panfleto de divulgação do Furusato Matsuri, 2013

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