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Fichamento do livro “A Resistência Índigêna”.

Josefa Oliva de Cool.


-> Anacoana

● Anacoana, esposa de Caonabo, refugiou-se em Xaraguá após a morte do


seu marido, partilhando o comando com seu irmão Behechio. Governando
após a morte do irmão.
● Quando Nicolás de Ovando se tornou governador de Lá Española, decidiu
visitar Xaraguá. Anacoana preparou uma recepção magnífica, incluindo um
areito com mais de treze donzelas. No entanto, Ovando, seguindo a tática de
outros conquistadores, decidiu realizar uma matança como exemplo ou aviso,
mesmo diante da hospitalidade e grandeza de Xaraguá.
● Ovando elaborou seu plano cruel: organizou um jogo de estacas entre seus
homens a cavalo, atraindo a atenção da cacique Anacaona e dos senhores
locais. Eles aceitaram o convite para assistir ao espetáculo no grande caney
dos espanhóis, onde foram surpreendidos e capturados. O ataque começou
quando Ovando tocou uma peça de ouro em seu peito. Anacaona, nobre
senhora que havia prestado serviços aos cristãos, foi manietada e colocada
perto da porta do caney, que foi incendiado, queimando vivos os senhores e
reis locais. Três meses depois, Anacaona foi enforcada em nome da "devida
honra".
● Enquanto a tragédia se desenrolava, os soldados se divertiam com o restante
da população, perseguindo os que tentavam fugir. Aqueles que alcançaram
uma ilhota chamada El Guayabo foram presos e condenados à escravidão
por Ovando. Nem mesmo a rainha Isabel, ao saber do ocorrido em seu leito
de morte, pôde impedir a atrocidade.
● Guaroa, sobrinho de Anacaona, conseguiu fugir para as serras de Baoruco,
mas foi buscado sob pretexto de rebelião e enforcado imediatamente após
sua captura. Assim, a terra outrora governada por Anacaona, uma mulher
atraente e vilipendiada por Oviedo, sofreu a fúria evangelizadora. Anacaona
foi vítima da mentalidade "ocidental e cristã", que, após explorar a inocência
natural dos nativos, julgava os eventos com os rígidos princípios morais do
confessionário.

-> Cotubano
● Frente à Ilha Saona, Cotubanamá, notável por sua força, tinha seus
domínios. Ligado por estreita amizade ao conquistador Juan de Esquivel,
ambos trocaram nomes seguindo o costume local, estabelecendo um vínculo
chamado guatiao. Contudo, à medida que a conquista avançava, os horrores
se desdobravam, levando os indígenas a se esconderem nas montanhas e a
caçada humana pelos invasores. Cotubanamá, homem valente, decide fugir
para a ilha vizinha de Saona com aqueles que o seguem, escapando das
atrocidades que assolam sua terra.
● Os conquistadores desembarcam em Saona, liderados por Juan de Esquivel.
Dividem-se para subir a montanha, e o grupo de Esquivel encontra dois
espiões. O capitão apunhala um e leva o outro como guia. Enquanto isso, o
segundo grupo encontra Cotubanamá, que se defende de uma espada com
as mãos, alegando ser Juan de Esquivel. Mesmo ferido, Cotubanamá luta
corpo a corpo com o espanhol, sendo finalmente detido e algemado. O plano
de levá-lo para São Domingos e realizar uma festa de tortura é impedido pelo
comendador maior, que considera a forca um castigo suficiente. Juan de
Esquivel se vangloria da captura como uma de suas maiores façanhas.
● O comendador maior ordena o povoamento de duas vilas espanholas para
manter a província segura, distribuindo os indígenas entre eles. Infelizmente,
os nativos acabam sendo consumidos pelos colonizadores, em mais um
episódio trágico da conquista.

-> Enriquillo

● A Ilha Española teve vários opositores, mas nenhum conseguiu organizar um


movimento de guerrilha como Guarocuya, o cacique herdeiro de Bahoruco,
conhecido como Enrique. Filho de Maxicatex, sobrevivente da festa trágica
organizada por Anacaona, foi levado a um convento franciscano por padre
Las Casas, onde se familiarizou com a cultura ocidental. Rebelando-se contra
a escravidão injusta de seus irmãos, casou-se com Mencía, filha do espanhol
Hernando de Guevara e Higuemota, a formosa filha de Anacaona.
● Enriquillo foi dado a Francisco de Valenzuela, que o tratou com respeito e
afeto. Após a morte de Valenzuela, seu filho Andrés demonstrou animosidade
contra Enrique, aumentando os maus-tratos. As tentativas frustradas de
Andrés em conquistar Mencía intensificaram a hostilidade. Enrique, após
queixar-se ao governador e enfrentar insultos, ameaças e cárcere, dirigiu-se
a pé à cidade de São Domingos para apresentar suas queixas à Audiência.
● Ali não o trataram mal, mas uma carta de favor só trouxe mais problemas,
agravando a situação da população indígena. A paciência de Enrique
esgotou-se, decidindo refugiar-se nas inexpugnáveis montanhas de
Bahoruco, antigo domínio de seu pai. Obtendo a adesão de vários caciques,
lançou-se à oposição armada com um gênio militar notável. Estimulando os
indígenas a permanecer nos povoados, adquirir armas dos espanhóis e evitar
derramamento de sangue sempre que possível, organizou uma verdadeira
guerrilha. Caciques estrategicamente posicionados nas montanhas, proteção
para mulheres, crianças e idosos em locais distantes, e grupos guerrilheiros
dispersos foram parte de seu plano meticuloso para resistir à repressão
espanhola. Enrique previa todos os detalhes, incluindo mudanças frequentes
de localização para evitar delações através da tortura.
● Preparados e estrategicamente posicionados, os nativos resistem a dois
ataques espanhóis com sucesso. Enrique, agora chamado Guarocuya,
surpreende ao soltar o tirano Valenzuela, indicando-lhe que não retorne à
montanha. A fama de Enrique se espalhou, atraindo mais indígenas
escravizados para a rebelião. Enrique proíbe matar espanhóis, buscando
apenas respeito para seu povo. A rebelião persiste por anos, custando
enormes recursos às armadas espanholas. Enrique mantém a resolução de
evitar conflitos sangrentos enquanto possível.
● Guarocuya demonstrou sua liderança ao salvar espanhóis encurralados em
uma caverna e ao dialogar com um frade franciscano que voluntariamente o
procurou para buscar a paz. Ele explicou os motivos da resistência indígena,
buscando viver livremente e se defender contra quem tentasse capturá-los.
As vitórias de Enriquillo elevaram o ânimo entre os nativos, incentivando
outros líderes, como Ciguayo e, posteriormente, Tamayo, a se unirem à
causa de Enrique para fortalecer suas forças contra as ameaças espanholas.
● O capitão vizinho de Bonao, após muitos esforços para capturar Enrique,
encontrou-se com ele nas montanhas, onde propuseram uma trégua e
negociação. O espanhol ofereceu paz, aceitando a condição de devolver o
ouro tirado pelos guerrilheiros em troca da promessa de liberdade. Uma
cobertura foi feita na praia para a entrega do ouro, mas a chegada marcial
dos espanhóis gerou tensão. No entanto, o ouro foi entregue, estabelecendo
uma trégua que durou cerca de cinco anos. Durante esse período, alguns
indígenas desceram das montanhas, mas Enrique permaneceu em seus
domínios até o fim de seus dias, morrendo em paz e triunfante.

-> Cuba
● A ilha, inicialmente conhecida por vários nomes, era descrita como uma terra
próspera, rica e habitada por indígenas pacíficos. No entanto, após a
chegada de Colombo, os nativos tainos, que ocupavam a região, foram
submetidos a um trágico destino. Muitos optaram por enforcar-se, resultando
em uma cena devastadora com várias casas de indígenas pendurados em
um mesmo povoado. Esta atitude suicida foi interpretada pelos espanhóis
como uma suposta incapacidade para o trabalho, mas historiadores
modernos a veem como uma greve de fome coletiva e revolucionária, uma
resposta biológica diante das imposições adversas ao ritmo vital.
● Guamá, na região de Baracoa, em Cuba, é destacado como o iniciador da
guerra de guerrilhas contra os espanhóis. Ele adota táticas de surpresa e
guerrilha, atacando em pequenos grupos. Guamá lidera insubmissos em
ataques a Porto Príncipe e Baracoa, desafiando a superioridade armada dos
conquistadores. Sua resistência é marcada por combates encarniçados,
culminando em sua morte em 1533 durante um confronto contra os
espanhóis. A narrativa histórica frequentemente distorce esses eventos,
refletindo a necessidade dos conquistadores de justificar seu regime
explorador.
● Hatuey, um taíno que resistia à conquista, migrou para Cuba quando a vida
nas ilhas se tornou insustentável para os nativos. Líder na região de
Guahaba, era conhecido por sua prudência e coragem. Antevendo a chegada
dos espanhóis com armas de fogo, cachorros e cavalos, convocou seu povo
para se opor. Durante um areito, Hatuey mostrou uma canastra de ouro,
identificando-a como o deus dos espanhóis, responsável por seus
sofrimentos. Ao decidirem apaziguar esse "senhor" com festas, Hatuey,
desconfiado, sugeriu se livrar dele, temendo que os espanhóis o
arrancassem de suas entranhas.
● A chegada das hostes conquistadoras causa terror entre os indígenas, que
resistem por três meses antes de se refugiarem nas montanhas. Após gestos
familiares de apreensão e tortura para obter informações sobre o esconderijo
dos caciques, Hatuey, líder indígena, é capturado e condenado à morte.
Hatuey se recusa a ser batizado antes de sua execução, expressando
desdém pelos espanhóis que considera maus (Hatuey lhe pergunta por que
quer fazê-lo cristão, por que quer fazê-lo igual aos espanhóis que são maus?
O sacerdote lhe explica que se se batizar poderá ir para o céu "O cacique
tornou a perguntar se os cristãos iam para o céu. O padre disse que iam ser
bons". Então o cacique negou-se terminantemente a ser batizado para não se
encontrar com eles.). Em um ato de sadismo, durante uma expedição
liderada por Pánfilo de Narváez, o padre Las Casas testemunha uma
crueldade extrema em Caonao, região de Camagüey, revelando o ódio
manifesto dos conquistadores na guerra de extermínio.
● A chegada dos conquistadores a Caonao é marcada por uma recepção
cordial dos indígenas, que oferecem comida e bebida. No entanto, um ato
inexplicável de violência é desencadeado quando um espanhol, sem motivo
aparente, ataca um indígena, resultando em uma matança indiscriminada.
Panfilo de Narváez, líder da expedição, assiste passivamente à carnificina. O
padre Las Casas, indignado, responde com palavras de condenação, mas a
irracionalidade do evento é inexplicável, sendo atribuída pelo padre ao “diabo
que os guiava".
● O indigena se defendia como podia e às vezes realizava feitos incríveis,
dignos de serem transcritos, como o ocorrido em um barco na verde-azul
costa cubana:
Por este tempo, ano de 1516, os espanhóis não esqueceram que tinham a
tarefa de consumir a mansa gente de Cuba. De procurar despovoar também
outras comarcas vizinhas ou distantes, trazendo os nativos delas para Cuba,
para se integrarem a tarefa de extrair ouro, atividade com a qual iam
morrendo rapidamente Vendo que com isto acabavam rápido com os povos
vizinhos, os espanhóis promoveram armadas para saltear os que chamavam
yucayos Entre outras armadas, fizeram uma, na qual aconteceu o seguinte:
saíram do porto de Santiago de Cuba um navio e chegaram a umas ilhotas.
que se chamavam Guanajes. Chegando a elas e estando a população
descuidada, os espanhóis prendem o máximo que podem e retornam à ilha
de Cuba. Chegando ao porto de Carenas, que agora chamamos de Havana.
saíram quase todos os espanhóis do navio para descansar, deixando poucos
para vigiar os indígenas que estavam presos debaixo da escotilha, sem ver
luz alguma. Em seu infortúnio, permaneciam alertas para qualquer
acontecimento. E perceberam que, sobre a cobertura, não soavam mais
tantas pisadas como antes, nem tampouco se ou viam outros barulhos
costumeiros. Entenderam que a maioria deveria ter ido à terra, deixando
apenas uns poucos a guardar o navio. Assim, trataram de forçar a escotilha e
conseguiram romper o cadeado que a sustentava, sem que os oito ou nove
marinheiros que estavam no navio percebessem.
● Os indígenas demonstraram uma incrível habilidade marítima ao assumir o
controle do navio e navegar de volta às suas ilhas, deixando os espanhóis
perplexos e surpreendidos. Sua destreza ao manobrar o barco, utilizando
bússola e carta de navegação, impressionou os observadores. O episódio
destaca a adaptabilidade e a engenhosidade dos indígenas diante dos
desafios impostos pelos conquistadores.
● Inteirado do ocorrido, Diego Velázquez mandou o castigo em dois navios.
"Saltaram à ilha para servir a Santa Catalina, cujo nome lhe haviam posto.
Atacaram todo mundo e levaram como escravos os que não morreram". E
voltou a se repetir a façanha: os indígenas embarcados no navio começaram
a sair pela escotilha e a lutar com os espanhóis até acabar com eles e
tomarem conta da embarcação. Um outro barco veio dar-lhes combate. os
espanhóis ganham, e os ameríndios sendo exterminados, jogam-se ao mar.
Os espanhóis recolheram todas as mulheres que puderam, utilizando as
barcas, e, finalmente, recuperado o outro navio, tendo ambos cerca de 400
pessoas... que puderam prender... e mais de 20 mil pesos em ouro, deram a
volta e chegaram a Havana".

-> Boriquén
● Juan Ponce de León, antes da morte, assaltou a ilha de Boriquén, chamada
San Juan pelos espanhóis. A ilha, rica em ouro, além de ter também uma rica
terra para a agricultura, era governada por um cacique principal chamado
Agüeibana. O primeiro encontro amistoso foi coroado pelo batismo de toda a
família do cacique. A mãe, velha senhora com muita experiência, aconselha
seu filho e todo o povo. Efetivamente, morrem mãe e filho. O que herda o
comando um irmão, também chamado Agüeibana, que havia cooperado com
Cristóbal Sotomayor numa distribuição de escravos e em cuja casa já gozava
dos benefícios da civilização européia. Mas, como no dizer do cronista, "esta
gente, desde índios até a natureza, é ingrata e de más inclinações, e por
nenhum bem que lhes faça, desperta neles a memória nem a vontade para
agradecer", se propuseram a desfazer dos benfeitores não desejados e não
solicitados.
● Os caciques confederados, desconfiando da imortalidade dos espanhóis,
testaram a lenda afogando um cristão. Ao constatar a falsidade, decidiram
atacar simultaneamente os espanhóis. Em 1511, incendiaram o povoado de
Sotomayor, mataram o capitão e cumpriram o plano em seus domínios. León,
em revanche, retaliou, desestruturando os indígenas em batalhas sucessivas
e durante à noite, devastando a ilha.
● Os indígenas, incluindo o cacique Mabodomoca, resistiram até o fim. Os
sobreviventes se refugiaram em Yaguaca, determinados a lutar até a morte.
Juan Ponce de León, ao se aproximar com os espanhóis, recusou as
batalhas regulares oferecidas pelos caciques. Após uma longa guerra, os
caciques Yahureiba e Cacimar foram mortos, sendo este último elogiado
como um valente capitão indígena. A perseguição continuou, resultando na
morte ou dispersão do restante do povo.
● Em uma batalha, um soldado espanhol puxava os indígenas pelos cabelos do
cavalo, entregando-os a seus escravos. Um indígena envenenou fatalmente
o soldado, mas este, mesmo ferido, matou o indígena e vários outros. Com a
extinção dos caciques, a ilha se acalmou, mas a resistência persistiu. Um
povoado, fundado devido a indícios de ouro, foi abandonado devido às
constantes ameaças dos caribenhos, impedindo a extração do metal
precioso.

-> Parte III: Pela Terra Que Chamaram Firme


● Os primeiros contatos entre os habitantes da Terra Firme e os europeus
envolveram pilhagens nas ilhas, visando explorar os recursos naturais e obter
o cobiçado ouro para atender à demanda europeia. As incursões no
continente foram autorizadas para obter metais preciosos e fornecer
mão-de-obra barata, principalmente para as plantações de açúcar. A
intensificação do cultivo de açúcar a partir de 1517, devido à perda da
produção egípcia, aumentou a necessidade de trabalhadores, resultando em
carregamentos de escravos africanos para as Antilhas. Esses escravos eram
transportados em condições precárias e utilizados especialmente nas
plantações.
● A primeira sublevação da população negra em São Domingos ocorreu em
1522, iniciando-se em uma fazenda de Diego Colombo. A rebelião se
espalhou pela ilha, resultando em encontros sangrentos e na derrota dos
negros, que fugiram para as montanhas. Os fazendeiros, temendo, iniciaram
uma perseguição, mas os espanhóis, após buscar os rebeldes, impuseram
justiça com forças. No entanto, a condenação não foi eficaz, pois os negros
continuaram se rebelando, sendo perseguidos pelos espanhóis por muito
tempo.
● A conquista do continente, cruelmente conduzida por exploradores como
Nicuesa, Vasco Núñez, Pedrarias Dávila e Ojeda, foi marcada por disputas,
intrigas, assassinatos, miséria e fome entre os conquistadores obcecados
pelo ouro. Os indígenas, para afastar os espanhóis, apontavam fictícias
montanhas de ouro e rios repletos de metal precioso. Paralelamente, cenas
de tortura, aperreamentos de caciques mesmo após entregarem ouro e
prometerem amizade, destacavam a brutalidade dos invasores. Ignorando as
consequências, alguns conquistadores destruíram povoações, causando sua
própria miséria e fome.
● O avanço daquela gente por terras desconhecidas, pantanosas e serras
abruptas, perseguidos implacavelmente por guerrilheiros indígenas,
assemelha-se a visões de pesadelo. A vingança do invasor atinge extremos
chocantes, como a morte escalonada de mulheres e jovens prisioneiras para
distrair os perseguidores. A constante tormenta da fome e sede os leva a
extremos, como matar os doentes para poder se alimentar.
● A oposição dos indígenas aos invasores é, por vezes, pacífica, como no caso
do cacique Pacra, morto sem revelar a localização do ouro. Em Veragua, um
indígena, arrependido de mostrar as minas, se lançou de um penhasco.
Contudo, frequentemente, a resistência é eficaz. Os cavalos e cães
amestrados, às vezes mais que os próprios invasores, são alvo dos
indígenas. O cachorro Leoncico, que recebia soldo por sua eficácia sobre os
nativos, foi encontrado morto por veneno, destacando a peculiaridade de os
indígenas não usarem esse método contra os homens.

-> Veragua e Darién


● No meio da confusão de intrigas, traições e assassinatos impulsionados pela
ganância pelo ouro e sede de poder, às vezes, emergem nas crônicas visões
de líderes indígenas que destacam-se por dignidade e altivez. Os cronistas,
por vezes, obscurecem as explicações, perdendo-se em insultos à vítima e a
todos os indígenas após relatos de massacres injustos, buscando justificar o
injustificável. Apesar da dificuldade em discernir a realidade dos eventos,
uma variedade de nomes destaca-se - autóctones que resistem à devastação
ou que colaboram inicialmente e se rebelam mais tarde.
● Vasco Núñez de Balboa, apoiado por uma multidão fornecida por caciques
como Ponca, Torecha e Chape, que emprestaram seus homens, alcança as
margens do Pacífico. Em um ato espetacular e teatral, toma posse
emocionado em nome dos reis de Castela. Habilidoso, Balboa utiliza as
divisões internas entre os caciques a seu favor, estabelecendo alianças,
pactos de amizade eterna e obtendo a ajuda necessária para seus
propósitos.
● A inimizade entre conquistadores levou três deles a abandonarem um barco
nas costas de Darién, internando-se nas terras do cacique Careta. Recebidos
com agrado, Careta nomeou Juan Alonso como capitão de seus exércitos.
Integrados à vida indígena por quase dois anos, pintados e desnudos,
encontraram um barco espanhol liderado por Vasco Núñez. Ao revelar sua
presença, concordaram em atacar Careta, atraídos por relatos sobre suas
riquezas. Vasco Núñez, fingindo retirada após exigir comida e ouro, atacou o
povoado à noite conforme combinado com Juan Alonso. Careta foi preso pelo
próprio Juan Alonso e entregue aos espanhóis.
● Diante da ação contundente, o cacique Careta acabou pacificando-se,
oferecendo ouro, amizade e ajuda em suas lutas internas, especialmente
contra Ponca. Em uma ação conjunta, atacaram Ponca, saqueando e
destruindo seu povoado abandonado. Comogre, outro vizinho, antecipou-se
ao ataque, oferecendo amizade e um rico presente de ouro. Nas terras de
Comogre, os espanhóis viram pela primeira vez corpos embalsamados de
antepassados, vestidos com tecidos de algodão e adornados com pérolas e
jóias de ouro em belos palácios.
● O saque acompanhava cada ação, e disputas entre conquistadores surgiram
na partilha do ouro. O filho mais velho de Comogre interveio, utilizando os
espanhóis que permaneceram anos com Careta como intérpretes. Ele os
questionou sobre brigas por tão pouco ouro e os incentivou a explorar uma
terra distante, ao sul, onde a riqueza abunda. Mencionou um cacique,
Tubanamá, com barcos de velas e remos, que bebe em taças de ouro,
alertando que precisariam de cerca de mil homens para conquistar essas
terras.
● Essa foi a primeira notícia do fabuloso Peru, que se tornaria uma obsessão
para Vasco Núñez, levando-o a pedir e obter do rei da Espanha mil homens,
custando-lhe a vida. Para avaliar sua petição, enviou ao rei o quinto,
calculado em quinze mil castelhanos de ouro, uma soma fabulosa suficiente
para minimizar a notícia de que havia matado trinta caciques. Em um
episódio de desventuras, Vasco Núñez, o bacharel Enciso e Francisco
Pizarro encalharam perto do Golfo de Urabá, onde foram recebidos com
flechas envenenadas. Diante disso, sugeriu dirigirem-se a oeste, para um rio
com um grande povoado e "terra e comida muito frescas e abundantes".
Usando barcas do navio avariado, alcançaram o Rio Darién, "outro Nilo".
Foram recebidos com flechas por Cemaco e sua gente, que previamente
haviam retirado mulheres, crianças e velhos para o interior. Diante da
determinação do povo, ajoelharam-se, rogaram a Deus e fizeram promessas
a Nossa Senhora, prometendo construir uma igreja chamada Santa Maria de
Antigua se obtivessem a vitória.
● Os cristãos cumpriram suas promessas: derrotaram Cemaco, fundaram a
cidade e enviaram o peregrino aos presentes. Descobriram abundância de
comida, roupas e jóias de ouro. Cemaco, feito prisioneiro e submetido a
torturas, finalmente indicou a localização das minas, mas conseguiu fugir
mais tarde e se refugiar, preparando-se para atacar incessantemente os
espanhóis.
● A oposição logo se manifestou em Santa Maria de Antigua de Darién. Os
indígenas, cientes da aversão dos conquistadores ao trabalho agrícola,
vislumbraram a possibilidade de vencê-los pela fome. Em qualquer
oportunidade, fugiam, queimavam plantações e ficavam à espreita,
colaborando constantemente com Cemaco, que acompanhava
detalhadamente o processo de decomposição na pequena cidade.
● Vasco Núñez enviou Francisco Pizarro, com um pequeno grupo de homens,
para reconhecimento nos arredores de Antigua. Cemaco, não muito distante,
confrontou-os com guerreiros que, usando flechas e lanças, bravamente
resistiram contra as espadas, forçando os europeus a recuar rapidamente.
Vasco Núñez saiu em seguida com um exército para punir Cemaco, mas não
o encontrou em lugar algum.
● No entanto, recebeu informações sobre o cacique Dadai ba, de ascendência
divina, que possuía um templo de ouro. Este foi o primeiro El Dorado, uma
ilusão que se repetiria frequentemente e seria buscada em diferentes lugares.
Durante a pesquisa, encontraram a desembocadura do Atrato,
denominando-o de Rio de San Juan. Subindo o rio, depararam-se com o Rio
Negro, onde o cacique Abenamachei governava em um povoado com mais
de quinhentas casas. Apesar da resistência, o cacique foi capturado. Durante
a batalha, um cacique que havia ferido um soldado teve seu braço decepado
em um único golpe quando o soldado o reconheceu entre os prisioneiros.
● Continuando sua jornada, os conquistadores depararam-se com os povoados
do cacique Abibeiba, cujas casas eram construídas sobre árvores para
protegê-las da umidade e inundações frequentes na região. Essas
residências, grandes e belas, eram construídas em árvores tão grossas que
exigiam vários homens para abraçar seus troncos. Tinham escadas de
acesso fáceis de manejar, que podiam ser recolhidas quando necessário,
isolando completamente as casas. Vasco Núñez pediu ao cacique que
descesse para falar com ele, mas Abibeiba se recusou, alegando que nada
tinha a dizer e pedindo que continuassem sua rota em paz. Ao perceber a
eficácia dos machados usados para derrubar a árvore, ele desceu. Apesar de
prometer buscar ouro, nunca retornou. Sua esposa e filhos, mantidos como
reféns, foram enviados a Darién.
● Agravados pelos eventos envolvendo Abibeiba, Cemaco, Abenamachei e
Abraiba, todos os caciques uniram forças para lutar até a morte contra os
invasores. O plano deles consistia em mobilizar toda a população do Atrato e
do Darién para atacar Antigua, visando exterminar os habitantes
estrangeiros. Uma jovem cativa, amante de Vasco Núñez, que tinha um irmão
vassalo de Cemaco, alertou sobre o perigo iminente. Após ser convencida
por Vasco Núñez, ela delatou o complô, levando à prisão do irmão.
● Sob tortura, o irmão confessou todos os detalhes do projeto e os nomes dos
conspiradores, incluindo o cacique Dadaibe, senhor do templo de ouro tão
desejado, com quem os espanhóis nunca conseguiram estabelecer contato.
Vasco Núñez decidiu antecipar-se ao plano dos caciques, realizando os
preparativos em absoluto segredo. Surpreendidos sem qualquer suspeita de
traição, os aliados foram envolvidos sem tempo para reação. O desastre foi
total, com o principal chefe morto em combate e os principais caciques
enforcados diante dos cativos como exemplo. Apenas Cemaco conseguiu
escapar e nunca foi encontrado.
● Vasco Núñez decidiu fortificar Santa Maria de Antigua para garantir maior
segurança, mantendo-a de pé até a chegada de Pedrarias Dávila, que
detinha títulos reais sobre o governo de Vasco Núñez. Com a chegada do
novo emissário do rei e seu considerável contingente, a cidade começou a
definhar até quase ser abandonada. A multidão que chegara com ilusões de
enriquecimento rápido na terra do ouro dos rios retornou à Espanha
desiludida. Pedrarias, alegando motivos de saúde, partiu para o Panamá,
deixando Fernández de Oviedo como o futuro cronista das Índias. Quando
restavam apenas algumas famílias na cidade, os indígenas a atacaram,
fazendo-a desaparecer nas chamas.
● Na "armada" de dois mil homens que acompanhava o novo governador
Pedrarias, alguns se destacavam como o protótipo do conquistador. Entre
eles, Juan de Ayora deixou sua marca de brutalidade por onde passou.
Falhando na habilidade cínica de Vasco Núñez, ele desrespeitou as alianças
estabelecidas com os caciques, levando a uma resistência constante. Careta,
maltratado, rebelou-se em certo momento, matando o capitão Diego de
Loano e outros cristãos. Comogre, Chimán e Pocorosa também mataram um
capitão quando não conseguiram mais suportar suas arbitrariedades.
● O capitão fundou a vila de Santa Cruz nas terras de Pocorosa, deixando-a
aos cuidados de Garci-Alvarez. Quando o cacique subiu as montanhas ao ver
roubos de mulheres e bens, desceu com um grande presente de ouro na
esperança de aplacar o conquistador. Contudo, Vasco Núñez manteve-o
prisioneiro como castigo, alertando os outros caciques. Secativa, famoso por
suas riquezas, orquestrou um ataque surpresa que desbaratou os
conquistadores, resultando em uma violenta reação. Atribuindo o fracasso a
Pocorosa, decidiram vingar-se, destruindo suas terras. Com a ajuda de um
amigo espanhol, Pocorosa escapou e atacou a vila de Santa Cruz, fundada
seis meses antes, resultando na morte de todos os espanhóis, incluindo o
capitão Garci-Álvarez.
● Outro caso de aversão tardia foi Tubanamá. Motivado pelo relato do filho de
Comogre sobre as vastas riquezas de Tubanamá, Vasco Núñez decidiu
prendê-lo imediatamente, antes que soubesse de sua chegada.
Capturaram-no rapidamente, incluindo suas oitenta mulheres e toda a família,
que era numerosa.
● Através de ameaças e simulações de execução, Núñez conseguiu extrair
muito ouro de Tubanamá, que percebeu a futilidade de resistir às armas dos
espanhóis e prometeu amizade. Essa paz foi mantida até a chegada de uma
nova leva de conquistadores liderada por Pedrarias. Juan de Ayora,
ignorando a recepção amigável do cacique, impôs extorsões costumeiras
sobre ele. Tubanamá, ciente da inutilidade de resistir, fugiu para reunir sua
gente e planejou um retorno para atacar os conquistadores como "leões".
Ayora, apreensivo, construiu rapidamente um forte para resistir ao iminente
ataque, mas Tubanamá, convencido da superioridade das armas espanholas,
optou por se retirar.
● Um outro cacique, Bea, que só era espectador das atro cidades que os
espanhóis cometiam e por isto era conside rado pacificado, vivia em uma
lagoa, sem intervir em nada. Um dia chegou aos seus domínios um daqueles
que acredi- tava que somente com sua presença tinha direito a tudo e
ofereceu-lhe como presente umas espadas biscaías, com a idéia de trocá-las
por objetos de ouro, Bea aceitou o presen- te e lhes ofereceu comida e,
enquanto estavam distraídos co- mendo, sacou das espadas presenteadas e
provou sua eficá cia sobre os intrusos. Em seguida arrastaram os cadáveres
ao longo do povoado e os abandonaram no campo Bea esta- va confederado
com dois caciques, Guaturo e Corobari. Uma prima deste vivia com um
espanhol, o bacharel Diego Cor- ral, com o qual tinha um filho. Na repartição
de peças indi- genas havia correspondido ao espanhol a mãe, a mulher e os
filhos de Corobari. As relações entre o cacique e o bacharel eram amistosas.
Este queria apenas sua mulher indigena e seu filho e respeitava os parentes
do cacique. Quando Fernández de Oviedo, na sua qualidade de delegado de
Pe drarias Dávila, quis fazer cair sobre o cacique Bea um exem- plar castigo,
Diego Corral o defendeu a ponto de estimu lar os demais espanhóis a
opor-se aos designios de Oviedo. Isto não lhe foi perdoado. Mais tarde,
quando se apresentou a ocasião, aproveitando a chegada de outro bacharel
inescru- puloso, abriram um processo contra Corral e conseguiram expulsá-lo
daquelas terras e enviá-lo a Castela, porque "ali tinha sua mulher, que não
via há onze ou doze anos, e por informações dos excessos que ele havia
praticado".
● O ressentido Oviedo parece incapaz de justificar sua aversão de maneira
convincente, recorrendo a escrúpulos puritanos. Sua perseguição aos
caciques, especialmente a Corobari, resultou em prisão e execução,
destacando métodos brutais como afogamento antes da queima na fogueira.
Essas ações levantam questionamentos sobre os motivos e a moralidade de
Oviedo.
● O cronista, dando a Guaturo a "honra" de buscá-lo pessoalmente, encontrou
seu povo disperso nas montanhas. Muitos foram presos, os súditos do
cacique foram divididos como escravos, e Guaturo, com seus próximos,
incluindo um capitão indígena chamado Gonzalo, foram executados. A
execução, incluindo o enforcamento de Gonzalo em um morro próximo às
lagoas de Bea, visava intimidar aliados. A ira planejada contra o cacique Bea
foi interrompida pela ordem do cronista de se deslocar imediatamente ao
Panamá, enfrentando o rancor de Pedrarias e uma tentativa frustrada de
assassinato.

-> Urraca
● A oposição persistente dos conquistadores em Natá, Veragua, liderada pelo
cacique Urraca, destaca-se entre outros oponentes menos decididos. Urraca,
senhor da rica região de Natá, confrontou os espanhóis quando chegaram
em busca de terras. Após intensos combates e um cerco de quatro dias ao
acampamento espanhol, Urraca retirou-se para executar um plano
estratégico. Escondeu-se nas margens do Rio Atra, enviando homens que,
ao serem capturados, deliberadamente indicaram um falso esconderijo na
montanha, visando ludibriar os invasores.
● Os espanhóis, ao seguir o falso indicativo, caíram em uma cilada preparada
pelos guerreiros de Urraca. Apesar da pressão contínua dos índios, os
conquistadores encontraram uma saída estratégica e, com armas modernas,
prevaleceram. Após a repartição dos cativos, um povoado foi erguido, mas os
indígenas fugiam para se juntar a Urraca. Durante nove anos, em aliança
com Bulaba e Musa, Urraca manteve Natá em sobressalto.
● Os espanhóis, incapazes de prender um corajoso chefe indígena por meios
convencionais, recorreram ao engano. Através de falsas promessas de
negociação e segurança, atraíram o líder ao povoado, onde, confiando na
palavra dada, foi capturado em nome de Deus.
● Indignado, Urraca convocou seu povo para convencê-lo da necessidade de
confrontar aqueles que não cumpriam promessas, careciam de palavra e
recusavam a paz. Preferia morrer combatendo a viver no tormento. Após
todos concordarem, lançaram ataques. Os subjugados se rebelaram,
matando alguns espanhóis, enquanto outros realizavam incursões constantes
em Natá. Essa situação persistiu por anos, até que o cansaço os fez render
gradualmente. Apenas o rei Urraca, com poucos seguidores após tantas
mortes, recusou-se a render-se, mantendo seu aborrecimento contra os
espanhóis até a morte em sua terra.
● O cacique Dururua destacou-se entre os astutos opositores. Capturado pelos
conquistadores durante suas andanças por Veragua e Castela do Ouro, ele
fingiu colaborar ao ser solicitado ouro. Enviou vários emissários, que não
retornaram. Fingindo aborrecimento, propôs ir pessoalmente buscar o ouro,
sendo levado como se fosse um cão com coleira de ferro. Após dias de
marcha, chegaram a cabanas abandonadas, onde Dururua afirmou haver
ouro enterrado. Os espanhóis, descontentes com o resultado da escavação,
agrediram o cacique. Este prometeu riquezas na manhã seguinte, mas mais
de seiscentos guerreiros organizados derrotaram os conquistadores,
salvando Dururua das chamas das cabanas incendiadas.
● A vitória dos nativos nas ilhas ricas em pérolas foi definitiva, resistindo com
sucesso às tentativas de retorno dos conquistadores. A descoberta das
pérolas intensificou a cobiça, pois os caciques as ofereciam abundantemente,
contrastando com a visão dos recém-chegados. Contas de vidro ou tesouras
podiam ser trocadas por pérolas de forma desvantajosa.
● Um grupo enviado por Pedrarias desembarcou em uma ilha durante uma
festa, capturando mulheres e passando rapidamente para outra. Encontraram
a população armada, mas os homens entregues por caciques amigos de
Vasco Núñez influenciaram os ilhéus a oferecer pérolas como forma de evitar
ataques. Um cacique chegou a vender uma pérola do tamanho de "uma noz
pequena" por quatro mil ducados à mulher de Pedrarias.
● A paz foi efêmera, pois os abusos dos espanhóis exauriram a paciência dos
nativos. Os caciques, anteriormente colaboradores astutos de Vasco Núñez,
agora se uniram em resistência. Chucama e dezenove outros caciques
formaram uma confederação, iniciando ataques incendiários às casas dos
espanhóis. Um chefe indígena, Chiruca, foi capturado, torturado e forçado a
revelar a conspiração. Os espanhóis, usando um ardil comum, fizeram
Chiruca atrair os outros caciques, para depois prendê-los. O filho de Chiruca
organizou uma guerrilha constante contra os espanhóis, levando-os ao
desespero. Em uma tentativa de fuga noturna, os conquistadores foram
surpreendidos por uma perseguição implacável, levando-os a terras
desconhecidas e hostis.
● Chegando aos domínios do cacique Toragre, os espanhóis esperavam
descansar, mas encontraram resistência, resultando em baixas significativas
de ambos os lados. A fuga continuou, e até a criminosa ideia de matar as
mulheres indígenas que carregavam consigo para deter os perseguidores foi
ineficaz. Além do cerco, a falta de alimentos e sede agravaram a situação.
Em um momento crítico, os indígenas ironicamente ofereceram água em
troca do ouro obtido pelos espanhóis com tanta ganância. Como observou
Las Casas, essa situação ilustrou a punição merecida pela sede de ouro dos
conquistadores, que, atormentados pela falta de água, foram forçados a
trocar seu precioso metal pela necessidade básica.
● Uma vez, quando alguns capitães entraram no povoado do cacique Chagre
sem incendiar as cabanas, receberam imediato reconhecimento em um
presente avaliado em doze mil castelhanos. Essa demonstração de
humanitarismo despertou cobiça, levando os conquistadores a pressionar o
cacique por mais riquezas. Desgostoso, o cacique sugeriu que enchessem o
cesto com pedras do rio, pois não tinha ouro para oferecer.
● Enquanto passavam pelos domínios de Tubanamá, castigados pelos
conquistadores, o grupo enfrentou uma novidade. Indígenas gritaram insultos
e exibiram camisas ensanguentadas de espanhóis mortos. Gonzalo Badajoz
teve má sorte em Paris ou Pariba, onde o cacique Cutara evacuou mulheres
e crianças por precaução. Ao receber um presente de jóias de ouro, Badajoz
fingiu retirar-se, apenas para retornar dois dias depois, incendiando as casas
e obtendo um pagamento de "uns quarenta mil castelhanos" e muitas
mulheres presas.
● Infelizmente, o pagamento em mulheres era quase tão valorizado quanto o
ouro em muitas partes durante a conquista, tornando-as as primeiras vítimas.
Frei Boaventura de Salinas, referindo-se ao Peru, menciona a presença de
mestiços como testemunhos vivos de estupros, adultérios e violências. Bernal
Díaz compartilha outra monstruosidade ocorrida na Nova Espanha,
descrevendo como os conquistadores marcavam as mulheres como
escravas, apenas para muitas delas desaparecerem antes do leilão
prometido por Cortez. O tratamento cruel e desumano durante esse período é
doloroso de testemunhar, com algumas narrativas sendo escandalizadas e
outras indiferentes a esses atos hediondos.
● O roubo de mulheres enfureceu os indígenas, levando Cutara a se rearticular
e atacar o acampamento espanhol com fúria. Os conquistadores foram
forçados a se retrair na praça, formando um parapeito com os cadáveres de
sua própria gente para se defenderem. Os indígenas os cercaram até
resgatar suas mulheres, cativos e todo o ouro acumulado pelos espanhóis.
● O destino de Badajoz foi notável. Em sua retirada forçada, enfrentou o
cacique de Natá, perdendo tudo o que havia sido o objetivo de sua vida.
Chegou a Darién com poucos soldados restantes. O bispo Fonseca, de
Burgos, lamentou que Badajoz merecesse ter a cabeça cortada por perder os
castelhanos que havia tomado. Badajoz retornou a Castela, onde passou
seus dias sendo ignorado pelo bispo.

-> O Requerimento
● Pedrarias chegou com instruções do rei Fernando, o Católico, para não
atacar os indígenas sem primeiro solicitar sua submissão por meio da leitura
de um requerimento. No entanto, esse documento provocou ironia e
sarcasmo entre os conquistadores, pois sua ineficácia era evidente diante de
povos que não entendiam a língua espanhola, especialmente quando os
requerimentos eram lidos à distância. Apesar disso, o requisito legal era
cumprido de maneira demagógica, buscando silenciar protestos na península
e obter mais escravos.
● A península de Cenú, em Cartagena, era conhecida por abrigar grandes
riquezas, já que os indígenas enterravam seus mortos com jóias de ouro,
pérolas e esmeraldas. Pedrarias enviou o bacharel Enciso para reconhecer a
região, onde este fez uso do famoso requerimento. No entanto, os caciques
responderam de forma desafiadora, recusando-se a aceitar a autoridade do
papa sobre suas terras e destacando que o rei de Castela estava pedindo
algo que não lhe pertencia. A resposta provocou ameaças de guerra por
parte dos espanhóis, que, eventualmente, tomaram o lugar pela força,
enfrentando ataques com flechas envenenadas. O relato destaca a
complexidade das interações durante a conquista, incluindo diálogos de
resistência por parte dos indígenas.
● O requerimento era formalmente acatado, mas sua essência muitas vezes
era ignorada. Os ataques antes do amanhecer eram comuns, como indicado
por Cortez em sua carta a Carlos V. Ele relatou um incidente em que
invocaram a ajuda de Santiago antes de surpreender um acampamento
indígena dormindo. Cortez conhecia detalhadamente o documento,
começando e terminando com notificações formais e ameaças. Ele ressaltava
que, se os indígenas não se submetessem, seriam considerados culpados
pelas consequências, desviando a responsabilidade de suas ações. Essa
estratégia legal meticulosa explica por que Las Casas, um defensor dos
direitos indígenas, muitas vezes foi considerado paranóico ao criticar tais
práticas.
-> Nicarágua
● Dois caciques ajudam os estrangeiros, cedendo e entre gando presentes de
ouro, de prata, telas formosas e manti mentos. Seus nomes são: Nicaragua,
que chama a atenção dos frades porque tem a idéia do Diluvio, e Nicoya.
Mas exis te também Nicaroguan, senhor das altas montanhas do sul, que
contempla indignado a entrega espiritual e material de seu país. Manda dizer
aos dois caciques de sua surpresa por aceitarem "aos espanhóis como
irmãos, acolhendo a seus feios e horripilantes ritos" e lhes comunica de vez
sua de cisão de atacar a todos, tanto os invasores como os subme tidos.
Aconselha-os a se irem, abandonando seus reinos jun to com os espanhóis,
que ele só basta para governar o povo González Dávila, o chefe
conquistador, recebe o desafio e responde com hipocrisia. Enquanto manda
que Nicoya e Ni- carágua preparem um poderoso exército, responde a Ni
caroguan melosamente, dizendo que tem toda a razão, que convencido disto
pretende se retirar, que seu propósito não foi outro que o de conhecer o país,
que está somente de passagem, que "nestes mesmos dias partirei, que não
quero pro- vocar sua justa cólera".
● Nicaroguan confia na palavra dos espanhóis e suspende a formação do
grande exército que preparava, dirigindo-se para as tribos nicaráguas. Ao se
aproximar, é surpreendido por vinte e cinco ginetes reais espanhóis. O
contra-ataque dos nativos é vigoroso, com uma chuva de dardos, pedras e
objetos derrubados das ladeiras. Nicaroguan lidera um grupo de duzentos
indígenas, causando baixas nos ginetes espanhóis. A intervenção da
artilharia espanhola decide a vitória para os conquistadores.
● Nicaroguán, furioso, retira-se para as montanhas, lançando maldições aos
traidores. Os inimigos se preparam para um novo encontro. Uma tentativa de
conciliação é feita, sugerindo que, ao se redimir e adotar a fé cristã,
Nicaroguán poderia depor as armas e receber grandes presentes. Sua
resposta é enérgica, expressando ódio aos "infames criminosos e traidores".
Nicaroguán rejeita a ideia de recorrer à traição, afirmando que sua arrogância
basta sustentar-se no valor e no braço, prometendo empenhar-se durante
toda a sua vida para acabar com eles.
● As tropas europeias, apoiadas pelos chefes indígenas, avançaram para os
lugares ocupados por Nicaroguán, causando destruição em seu caminho. O
encontro foi terrível, resultando na morte de Nicoya e na derrota de
Nicaroguán, que fugiu do local do desastre chorando como uma criança.
Após dois anos e meio de aparente retiro, Nicaroguán voltou com renovado
ânimo, atacando periodicamente por nove anos antes de ser derrotado por
uma esquadra enviada de La Coruña em 1678, encerrando assim o pesadelo
para os invasores.
● O feroz caudilho Nicaroguán, ao se ver vencido e cercado, correu em direção
a um farol próximo, subindo nele como se fosse um pedestal. Gritou: "Não
me haveis vencido, infames! Não lograreis nem sequer o cadáver deste
homem que lhes infundiu pavor apesar de suas armas infernais!" E,
pronunciando essas palavras inflamadas, arrojou-se ao abismo, descendo
como um objeto lançado do alto de uma torre.

-> Parte IV: A Nova Espanha.


● Tenochtitlan, sob o comando de Montezuma II, tornou-se a capital de um
vasto território que tinha subjulgado muitas nações distintas em línguas,
tradições e costumes.
● É prudente questionar a afirmação dos conquistadores de que os povos
subjugados estavam ansiosos para se libertarem do jugo asteca. Duvidamos
da veracidade quando repetem "falavam um ao outro sem se entenderem".
Se suspeitamos da eficácia de tradutores como a "Moça Marina" e Jerônimo
de Aguilar, assim como do seu real conhecimento das diversas línguas
faladas na região, é justo duvidar que viam sua salvação nesses homens
recém-chegados, brancos e barbudos. Além disso, considerando a primeira
saudação dos conquistadores com cavalos, salvas de canhões e disparos de
colubrinas, temos o direito de questionar tudo. Adicione a isso a eficácia das
espadas, as matanças "para exemplificação" diante da menor suspeita de
oposição, e teremos o quadro completo.
● A exceção da passagem por águas mexicanas de Díaz de Solís e Vicente
Yáñez Pinzón em 1508, em busca da tão sonhada passagem para os mares
da Ásia, as costas do México foram visitadas pela primeira vez em 1517 por
Francisco Hernández de Córdoba. A expedição tinha como objetivo o resgate
de indígenas. Ao tocarem o Cabo de Catoche e seguirem para Champotón,
ficaram surpresos ao encontrar edifícios "todos de pedra como nunca haviam
visto antes".
● Os indígenas não os receberam pacificamente, e houve confrontos com
mortos e feridos de ambos os lados. Hernández de Córdoba retornou
gravemente ferido a Cuba e faleceu poucos dias depois. Bernal Díaz, que
participou de todas as expedições a essa terra, afirmou que mais da metade
dos cento e cinquenta soldados que desembarcaram na "ponta de Catoche"
e em Champotón foram mortos, e nenhum escapou ileso.
● No ano seguinte, outra expedição, liderada pelo jovem Juan de Grijalva,
sobrinho do governador de Cuba, Diego Velázquez, repetiu a tentativa.
Encontraram resistência em Champotón, onde "muitos soldados foram
mortos". No entanto, ao chegarem a Tabasco, o cacique da região recebeu
Grijalva com entusiasmo, cobrindo-o de jóias de ouro durante uma cerimônia
que parecia um conto, apesar dos ferimentos que Grijalva sofreu.
● Antón de Alaminos já conhecia o caminho, acompanhando Colombo em sua
última viagem e Hernández de Córdoba. Seguiram a costa, batizando a lagoa
de Términos, e o rio Grijalva leva seu nome. Passaram pelos rios Tonalá,
Coatzacoalcos, Jamapa e Papaloapan, onde Alvarado se adiantou com
grande entusiasmo em relação a Grijalva. Chegaram às ilhas Verde e dos
Sacrifícios, assim como à ilhota com adoratórios a Tezcatlipoca, chamada
San Juan de Ulúa, considerada um refúgio seguro. Remontaram até Pánuco,
onde os indígenas roubaram um dos barcos, cortando as amarras com facas
de cobra. Nessa viagem, Bernal Díaz, membro da tripulação, plantou a
primeira laranjeira.
● Cortez chegou com sua astúcia enganadora, sem donjuanismo e
maquiavelismo levado ao extremo, trazendo quinhentos e oito homens,
dezesseis cavalos, dez canhões e quatro colubrinas, além de muita pólvora e
pelotas. Seguiram o caminho já conhecido. Em Tabasco, apesar do feitiço
esquecido de Grijalva, o cacique opôs toda a energia de sua gente.
"Estivemos nesta batalha por uma hora e não conseguimos fazê-los perder
pontos por bons guerreiros que eram, até que viessem os a cavalo".
● Antes de começar a batalha, "como queria levar todas as coisas muito
justificadas", Cortez mandou que se lesse o requerimento diante de um
escrivão do rei, mas não dos indígenas por certo. Pouco depois teve que
esquecer este requerimento prévio, o mesmo que o imperador ordenara ao
seu avô - pois vemos que em suas Cartas-Relação conta a Carlos V seus
ataques de surpresa antes do alvorecer, isto é, em plena noite. Também
deixa isto implicito quando relata seu sentimento de não poder incendiar os
povoados por temor de que os moradores despertassem antes de serem
atacados.
● Na costa de Chalchicueyehcan Veracruz se deu voo à intriga, tanto contra os
indígenas como contra os compatriotas. Cortez cortou pela raiz a primeira
dissensão que houve no grupo. A daqueles que, temerosos das represálias
de Velázquez, queriam regressar a Cuba. Mandou matar dois deles e
mandou solenemente cortar os pés de um terceiro, além de fazer sentir a
carícia de duzentos açoites sobre as costas de dois marinheiros. Ao padre
Juan Diaz, por ser de missa, se contentou em meter-lhe "farto medo".

-> Xicotencatl
● Os quatro chefes de Tlaxcalla, Maxixcatzin, Xicotencatl, o Velho,
Tlahuexolotzin e Citlalpopoca, optaram por deixar passar o invasor, enquanto
Xicotencatl, o Moço, discute, se opõe, previne e augura desgraças. Vencendo
a experiência e o ressentimento, o conquistador pode cumprir mais uma
etapa em seu caminho rumo ao ansiado Tenochtitlan. No entanto, a oposição
de Xicotencatl e sua gente se faz sentir, com suas "divisas de branco e
colorado". Atacam-nos, cercam-nos, dão uma "facada em uma égua,
cortando-lhe o pescoço, caindo ali morta". Colocam-nos em tão grande perigo
que acreditavam não poder sair dali. Somente a morte de oito capitães, filhos
dos velhos caciques, permitiu-lhes deixar o campo.
● O campo espanhol experimenta curas usando o unto do índio nas feridas
depois das batalhas. As lutas continuam, de dia e de noite, para testar se era
verdade "que depois do anoitecer os misteriosos visitantes perdiam suas
forças".
● Xicotencatl, sempre seguindo-nos, enfrenta-nos, e já faltam cerca de
quarenta e cinco soldados que morreram nas batalhas. Uma cilada é armada
novamente, enviando mensageiros aos anciãos do conselho, alegando que
os conquistadores são inimigos de Montezuma e amigos dos oprimidos por
Tenochtitlan. Xicotencatl, o Moço, fica sozinho com sua bravura e coragem.
"Esse Xicotencatl era de corpo alto e grandes espaldas, de tipo bem feito e
robusto, com rosto alongado. Tinha cerca de trinta e cinco anos e
demonstrava ter uma personalidade firme."
Os velhos impõem sua autoridade: Xicotencatl recebe a missão de ser o
embaixador da paz.
Vinte e quatro dias são necessários para os teules conseguirem entrar na
cidade de Tlaxcala, devido à oposição de Xicotencatl. No entanto, a aliança é
selada de maneira indelével. Seguindo o costume, oferecem suas filhas em
casamento, estabelecendo uma amizade inalterável. Não sabiam eles que,
com isso, estavam imitando a maneira como tentavam consolidar a paz nas
cortes revoltosas da Europa naquela época.
● Tlaxcala faz uma aliança com o invasor, e o indômito Xicotencatl é
encarregado de liderar as primeiras tropas. Mais tarde, após os
conquistadores se recuperarem da derrota e retornarem a Texcoco, o jovem
tlaxcalteca, com sua altivez natural, decide abandonar o exército,
convocando alguns companheiros para ajudá-lo. Ao saber disso, Cortez
ordena sua perseguição, com instruções para prendê-lo ou, em caso de
resistência, matá-lo. O segundo foi executado, e seu cadáver foi deixado
pendente em uma árvore.
● "A família e a propriedade de Xicotencatl foram adjudicadas ao rei da
Espanha. Na propriedade, havia trinta mulheres e uma grande quantidade de
ouro, plumas e roupas finas de algodão."
● A forma como mataram o jovem invencível gerou tanto terror entre os
tlaxcaltecas e outros aliados que ninguém ousou desobedecer.
● O avanço implacável prevalece. Esgotados os meios que Montezuma tenta
interpor entre ele e seu destino, resigna-se ao que considera inevitável e
cede ao invasor. Primeiro, envia seu sobrinho Cacama, senhor de Tezcoco.
Em seguida, Cuitlahuac, senhor de Iztapalapa, onde Bernal viu "coisas nunca
ouvidas nem sonhadas antes: enormes palácios muito bem ornamentados
com cantaria de primeira qualidade, jardins com tanques de água doce e uma
peculiaridade digna de nota: grandes canoas podiam entrar no vergel, vindas
da lagoa por uma abertura que tinham feito, sem tocar em terra. Tudo era
muito branco e limpo, e não acreditava que houvesse outras terras no mundo
iguais a essas naquela época, pois o Peru ainda não era conhecido, pelo
menos na memória. Agora, tudo está destruído, perdido, sem nada restar."
● Montezuma, ricamente vestido, ostentava um manto adornado com preciosas
joias, uma coroa dourada na cabeça, sandálias douradas nos pés atadas
com cordões de couro e cobertas com pedras preciosas. Ele era conduzido
em uma liteira luxuosa, também adornada com detalhes em ouro, enquanto
um guarda-sol de plumas verdes o protegia. Acompanhavam-no centenas de
nobres bem vestidos, embora descalços. À sua frente, três nobres
levantavam as mãos segurando varas de ouro, anunciando a presença do
soberano ao povo. Uma cerimônia magnífica e uma exibição impressionante
de ouro, desde a coroa até a liteira, o que seria suficiente para saciar
qualquer avidez. No entanto, um homem vacilante, perplexo, cujos
movimentos nos parecem incompreensíveis. Apesar disso, Montezuma
estava bem ciente de tudo o que ocorria em sua vasta terra, recebendo
mantas pintadas com o relato detalhado, até mesmo dos movimentos das
acalli, as casas flutuantes. Como Bernal Díaz afirmou: "ele entendia que
nossa missão era buscar ouro". E ele deu.
● Em uma atitude flutuante, Montezuma se posiciona, enviando presentes,
recusando, recebendo e, por fim, permitindo a entrada dos ousados
aventureiros em Tenochtitlan. Gradualmente, eles se apropriam de tudo:
palácios, tesouros e até mesmo da pessoa do rei. Às carícias e à
hospitalidade real, eles respondem prontamente com imposição. Ao
descobrirem o tesouro nacional guardado em uma câmara lacrada, aumenta
a ansiedade que os consome e conseguem que Montezuma o entregue. Três
enormes montes são formados com o ouro e as joias destruídas, deixando
apenas algumas que consideram de singular beleza. A divisão resulta em
desavenças, inimizades e má vontade que persistirão ao longo da vida,
mesmo que naquele momento tenham sido dissimuladas.
● Montezuma permanece prisioneiro, algemado, sob constante vigilância.
Recebe seus súditos na presença de seus carcereiros e sai para seus
templos acompanhado por duzentos soldados espanhóis. Mesmo diante dos
protestos de seus parentes, ele pede calma. Em Vera Cruz, Quauhpopoca
ataca a guarnição deixada por Cortez, resultando em uma batalha difícil com
baixas espanholas e totonacas. Juan de Escalante, comandante da
guarnição, é morto após o incêndio da vila de Nauhtia. A cabeça cortada de
um soldado espanhol morto é mostrada a Montezuma, que, ao vê-la, fica
tomado de pavor e impede que seja oferecida aos deuses nos templos de
Tenochtitlan.
● Cortez exige o castigo para os rebeldes, resultando na entrega de um filho e
quinze nobres por Quauhpopoca, o cacique que liderou o ataque em Vera
Cruz. As armas do arsenal do palácio são queimadas em uma grande
fogueira, incluindo Quauhpopoca e seus companheiros. Cortez consegue
desfazer-se das armas indígenas e prevenir Montezuma. Cacama, senhor de
Tezcoco, reage com violência à passividade de Montezuma, decidindo lutar
contra os espanhóis por conta própria. Após tentativas falhas de
reconciliação, Cacama é preso e entregue por Montezuma.
● Cacama é feito prisioneiro e entregue por Montezuma a Cortez. Outros
senhores, incluindo os de Tlacopan, Tlatelolco, Iztapalapan e Coyohuacan,
também são capturados. Montezuma, acuado, aceita a vassalagem ao rei da
Espanha, expressando grande pesar. Seis meses após sua chegada, Cortez
deixa Tenochtitlan pela primeira vez para enfrentar Panfilo de Narváez,
enviado por Diego Velázquez para prendê-lo por rebeldia. Alvarado, deixado
no comando da cidade, realiza uma matança total dos nobres mexicanos
reunidos no Templo Maior.
● A descrição dos informantes de Sahagún sobre a cerimônia é rica em
detalhes: ao amanhecer, aqueles que planejavam descobrir o rosto do deus
se alinhavam diante do ídolo, incensando-o. Guerreiros jovens celebravam a
festa com entusiasmo, e a cerimônia iniciava com canto e dança, liderados
por aqueles que jejuaram por diferentes períodos.
● já é o baile, já é o canto, já se liga um canto com o outro e os cantos são
como um estrondo de ondas. Neste preciso momento os espanhóis tomam a
decisão de matar as pessoas.
Fecham as saidas, as passagens, as entradas nin- guém pode mais sair...
Cercam os que dançam e se lançam ao lugar dos atabalhos. Dão uma
espadada no que estava tocando, cortando-lhe ambos os braços. Em
seguida o decapitam, indo cair longe da sua cabeça.
As pessoas tentam fugir, procuram as saídas, mas ali são apunhaladas.
Outros escalaram os muros, mas não puderam salvar-se Outros se meteram
entre os mortos, fingindo- se mortos para escapar. Alguns conseguiram, mas
outros levantaram-se antes do tempo e foram decapitados.
● Diante da violência, o povo reage prontamente, cercando o palácio.
Montezuma e Itzcuauhtzin tentam acalmar a situação, mas um grito de guerra
inicia um tumulto. Flechas são lançadas, e os espanhóis usam escudos para
proteger Montezuma e Itzcuauhtzin dos ataques mexicanos. A tensão
aumenta rapidamente.
● O mercado é fechado, privando os espanhóis de comida. Montezuma envia
seu irmão Cuitlahuac para acalmar a situação, mas ele se junta à ação
reivindicatória. Cuitlahuac havia previsto as consequências das indecisões de
Montezuma, alertando sobre a possível perda do reino. Quatro dias após a
matança no templo, Montezuma e Itzcuauhtzin são encontrados mortos,
lançados fora da casa real. A profecia de Cuitlahuac se concretiza.
● Montezuma é levado a Copolco, onde é colocado sobre uma fogueira, seu
corpo consumido pelas chamas. Enquanto queimava, alguns o censuravam e
riam, enquanto outros murmuravam e sacudiam a cabeça. Itzcuauhtzin é
levado de barco a Tlatelolco, onde, apesar da aflição, ninguém o repreende.
Posteriormente, prepararam a bandeira real e jóias, honrando-o com
presentes antes de queimarem seu corpo no pátio do templo em
Quauhxicalli. Uma despedida marcada por rituais e respeito.
● A guerra persiste, com os espanhóis encurralados por vinte e três dias.
Canais são cavados, muros erguidos, e o grito de guerra ressoa pelas ruas
da cidade. Pedras e flechas chovem sobre os espanhóis, que respondem
com balas de canhão, flechas e balestras, causando baixas significativas.
Após quatro dias de intensa batalha, um grupo de guerreiros especialistas,
reconhecíveis pelas insígnias de plumas, instala uma roldana no topo do
templo para lançar grandes vigas e árvores contra os espanhóis. A luta
continua com tenacidade e estratégia.
● Os espanhóis, cientes de que os guerreiros mexicanos subiram ao templo em
forma de pirâmide, seguem atrás. Os escopeteiros avançam lentamente,
descarregando suas armas com cautela, seguidos pelos balisteiros,
portadores de espadas e escudos, e, por último, os lanceiros. Apesar da
resistência dos caciques, que lançam troncos contra eles, os espanhóis se
defendem e, ao alcançarem o topo do templo, começam a dizimar os nativos.
Os caciques tentam fugir pelas circunvoluções do templo, mas todos são
arremessados para baixo pelos espanhóis, nenhum escapa.
● Após duzentos e trinta e cinco dias da chegada de Cortez a Tenochtitlan, e
apesar do inicial recebimento amigável do chefe mexicano, os invasores se
veem forçados a sair silenciosamente numa noite chuvosa, buscando
preservar suas vidas. Envolvendo os cascos dos cavalos em trapos,
carregam o ouro que a ganância os impede de abandonar, tentando alcançar
as pontes que ligam a terra firme às calçadas do lago.
● Em meio à descoberta e ao alerta, muitos espanhóis perderam a vida nos
canais, atingidos por flechas e dardos. A batalha intensa envolveu o uso de
flechas e armas de fogo de ambos os lados, resultando em muitas baixas. O
canal ficou cheio de corpos, forçando os que chegavam por último a
atravessar sobre os cadáveres. Chimalpopoca, filho de Montezuma, e
Tlaltecotzin, príncipe dos tepanecas, morreram na fuga, enquanto os
mexicanos conseguiram um grande saque nos canais. A tentativa de
recuperar o saque atormentou posteriormente Cortez, Cuauhtémoc e seus
seguidores.
● A fuga levou os espanhóis em direção a Tepotzotlan, deixando povoados
vazios à medida que se aproximavam, marcando o caminho com incêndios.
Templos otomís e casas de ídolos foram incendiados ao longo da marcha. Os
indígenas perseguiam os espanhóis, lançando seu grito de guerra. Os
mexicanos chegaram, desencadeando uma feroz batalha onde apenas
alguns escaparam. Apesar da intensidade, os espanhóis emergiram como
vencedores. Após a matança, satisfeitos, continuaram seu caminho, seguidos
pelos carregadores locais. A cidade, apesar da dor, viu a vida renascer,
retomando os rituais e festas dos deuses. Os anos se encadearam, como se
as mãos do calendário se unissem novamente.
● Após a suposição de que os invasores nunca mais retornariam, o templo foi
reconstruído, e os deuses restaurados. No entanto, uma terrível praga de
varíola, o hueycocoliztli, assolou a cidade por sessenta dias fatais,
começando em Teotleco e terminando em Panquetzaliztli, após três vintenas
sagradas. Centenas de mexicanos, incluindo Cuitlahuac, o "senhor que nos
arrojou do México", conforme Bernal Diaz, sucumbiram. Cuitlahuac, homem
prudente e de grande discernimento, conhecido por seu magnífico palácio em
Iztapalapa, foi admirado por Cortez e outros espanhóis. O naturalista
Hernández descreveu seu notável jardim, destacando árvores e plantas de
várias partes do mundo transplantadas por ordem de Cuitlahuac.
● Cuauhtémoc, sobrinho de Montezuma e filho de Itzcoatl, é eleito rei após a
esperança de que o invasor não retornaria se mostrar vã. Cuauhtémoc, um
jovem de vinte e cinco anos, é descrito como um indígena distinto e corajoso,
senhor de Tlatelolco, com um nome evocador e profético: Águia que Cai.
● No entanto, as esperanças se desvanecem diante da determinação invasora,
que vê o país como seu, já pertencendo ao rei da Espanha. Após se
refugiarem em Tlaxcala e se reerguerem, decidem voltar. Texcoco é
escolhida como quartel-general, não apenas por sua proximidade com
Tenochtitlan, mas também por estar às margens do lago, facilitando o uso de
bergantins para atacar a cidade a partir de seu coração.
● Ixtlilxochitl, senhor de Tezcoco, agora batizado como Fernando, torna-se um
aliado crucial com traços de fervoroso neófito. Cuauhtémoc previra que "de
Ixtlilxochitl haveria de sair a ruína dos mexicanos". Com seus duzentos mil
vassalos, ele reforça as fileiras do invasor, sugerindo que não foram os
conquistadores que venceram o México, mas sim Ixtlilxochitl, com sua
influência.
● No entanto, seu fervor cristão não poupou nem mesmo sua própria mãe.
Tlacoxhuatzin, mexicana e resistente à conversão, recusou o batismo.
Ixtlilxochitl, determinado, ameaçou queimá-la viva se não aceitasse o
batismo. Com argumentos persuasivos, ele a convenceu a se dirigir à igreja
para o batismo, enquanto ele incendiava o templo onde ela havia se
refugiado. Uma história marcada por conflitos de crenças e lealdades.
● Cortez, decidindo assegurar sua retaguarda, assalta Iztapalapa para
vingar-se dela, seus habitantes e Cuitlahuac, seu antigo senhor. Encontrando
a cidade abandonada, a destrói, mas observa as águas subindo e
inundando-a, pois os habitantes de Iztapalapa romperam uma barragem para
afogar seus inimigos.
● Determinado a isolar Tenochtitlan, Cortez parte para Otumba, Mixquic e
Chalco, dividindo os antigos estados, depõe seus chefes e estabelece novos.
As alianças formadas nem sempre são duradouras, podendo falhar quando o
terror supera o amor na subordinação dos povos. O conquistador busca
cortar toda ajuda possível a Tenochtitlan, deixando-a isolada.
● Huexotzinco e Cuauhquecholan também se entregam conforme Cortez segue
sua estratégia. Ataca Xaltocan, penetra em Tenayuca, Cuauhtitlan,
Atzcapotzalco e Tlacopan, onde combates intensos duram três dias. Avança
para Huaxtepec, conhecida pelos jardins de Montezuma, e segue para
Yecapixtla, onde a resistência é tão forte que até Cortez admite a grande
matança que tingiu um pequeno rio de sangue, impedindo o consumo de
água.
● Cuauhnahuac (atual Cuernavaca) é a próxima capital tlahuica a enfrentar,
seguida por Xochimilco, de onde Cuauhtemoc envia doze mil homens para
ajudar na resistência. Combates e perdas ocorrem em ambos os lados, mas
o contingente tlaxcalteca, junto aos demais conquistadores, compensa as
baixas do lado espanhol. Uma avalanche de forças acompanha o avanço do
invasor.
● Com tudo pronto, os bergantins na água e Tenochtitlan isolada, inicia-se o
ataque à cidade. Apesar dos oferecimentos de paz previamente feitos,
Cuauhtemoc responde com galhardia. O ataque é conduzido por terra e por
água simultaneamente, e a defesa é digna de louvor por séculos. Homens e
mulheres participam da luta, contribuindo para a resistência inigualável da
cidade. A frase "É necessário que um tenochca se submeta por sua própria
vontade ou pereça por sua própria vontade" ganha significado, destacando a
valentia dos sitiados. Mesmo com a porta aberta para uma rendição honrosa
durante o cerco, eles preferem a morte corajosa à capitulação, merecendo
glórias por sua constância e valor.
● Na História de Oviedo, é destacado que durante o cerco de Tenochtitlan,
muitas coisas foram glorificadas ao longo de gerações, mas curiosamente,
nada é mencionado sobre as mulheres de Temistitan. O autor reconhece que
suas ações foram maravilhosas, demonstrando prontidão e constância ao
servir a seus maridos, cuidar dos feridos e até mesmo trabalhar as pedras
que eram lançadas com fundas, além de outras atividades que não eram
comuns para mulheres. De acordo com Durán, essas mulheres vestiam
"suas armas, espadas e escudos", desempenhando um papel eficaz na
defesa de Tlatelolco.

-> Ataque e Defesa


● Os espanhóis, acompanhados por milhares de indígenas submetidos,
chamados de "amigos", iniciam o ataque à cidade. Cercam por terra com a
cavalaria e a infantaria, enquanto doze bergantins disparam do interior do
lago.
● Cortez descreve os combates diários, destacando estratégias como queimar
casas e utilizar tiros e cavalos para causar danos aos mexicanos. Ele relata
táticas de emboscadas e a resistência notável dos inimigos. Apesar dos
estragos, os mexicanos persistem na luta, enquanto Cortez espera que, a
qualquer momento, aceitem a paz desejada.
● Havia hesitação em avançar na cidade devido à determinação e ferocidade
dos inimigos. A entrada apresentava riscos significativos, dada a força e
resolução deles em lutar até a morte. A cena caótica na barragem mostrava
os espanhóis fugindo seguidos de perto pelos inimigos, que até se atiravam
na água para capturá-los. A estreita calçada complicava a fuga, permitindo
que os adversários alcançassem e atacassem os espanhóis e seus aliados.
● Diante da determinação feroz dos inimigos, Cortez enfrenta o dilema de
retirar seus homens com segurança. Incapaz de persuadi-los a desistir,
decide avançar pela cidade, destruindo casas para enfraquecer o inimigo.
Essa tática, mesmo após 45 dias de cerco, finalmente começa a isolar o
território conquistado, trazendo algum progresso em meio à difícil situação.
● Aproveitando o domínio das ruas e corrigindo erros anteriores, Cortez decide
realizar um ataque noturno, causando amplo dano. Os bergantins partem ao
amanhecer, enquanto Cortez, com cavaleiros e aliados, entra repentinamente
após receber sinais de espiões. O alvo, principalmente mulheres e jovens
desarmados em busca de comida, sofre graves consequências, resultando
em mais de oitocentas mortes e prisões. Os bergantins também causam
estragos significativos nas canoas dos pescadores.
● Cortez ordena a queima das casas do jovem senhor da cidade, Guatimucin,
de dezoito anos, que era o segundo após a morte de Montezuma. Essas
casas eram fortalezas bem defendidas pelos indígenas. Naquele dia, a
principal atividade nas ruas era queimar e derrubar casas, uma cena
lamentável, mas necessária de acordo com as circunstâncias. Os moradores,
testemunhando a destruição, expressam aos aliados de Cortez que
reconstruirão tudo.
● Cortez ordena a Pedro de Alvarado que ataque um grande bairro inimigo,
com mais de mil casas, enquanto ele, a pé com o exército, trava um combate
intenso. Conseguem capturar todo o bairro, resultando em uma mortandade
significativa, com mais de doze mil mortos e presos. Cercados, os inimigos
não têm para onde ir, enfrentando uma tragédia ainda maior, com mais de
quarenta mil entre mortos e capturados. O lamento de crianças e mulheres é
tão intenso que toca o coração de todos.
● Cortez inicialmente hesitava em atacar com força total, preocupado que os
habitantes, ao serem tomados à força, jogassem todas as riquezas na água
para evitar que caíssem em mãos inimigas. Temia que, no final, sobrasse
pouco da vasta riqueza da cidade para enviar a Vossa Majestade. Com o
tempo, a situação insuportável devido ao mau cheiro dos mortos nas ruas
leva à retirada das guarnições. Em uma estratégia final, Cortez ordena que,
ao ouvirem um tiro de espingarda, suas tropas entrem na última parte da
cidade, empurrando os inimigos para a água, onde os bergantins estariam
prontos para atacá-los. Especificamente, é mencionado que procurassem por
Guatimucin para encerrar a guerra. Cortez observa a cena de cima de um
terraço.
● A cena era desoladora, com muitos sobre os mortos, outros na água, alguns
nadando e muitos se afogando no extenso lago onde estavam as canoas. O
sofrimento era tão intenso devido à água salgada que bebiam, à fome e ao
mau cheiro, que a mortalidade entre eles ultrapassou cinquenta mil. As ruas
estavam repletas de montes de corpos, tornando impossível caminhar sem
pisar em cadáveres. A devastação era avassaladora.
● Os bergantins, liderados pelo capitão Garci Holguin, atravessam o lago,
surpreendendo a frota de canoas inimigas. Os guerreiros nelas não se
atrevem a lutar, e Holguin, ao flagrar uma canoa com pessoas importantes,
consegue capturá-las sem disparar. Entre essas figuras de destaque estava
Guatimucin, senhor de Tacuba. Holguin entrega-o a Cortez, que o recebe
sem demonstrar rigor. Guatimucin, resignado, pede para ser apunhalado,
mas Cortez o tranquiliza. Com a prisão de Guatimucin, a guerra chega ao fim
em 13 de agosto de 1521, terça-feira de São Hipólito.
● O cerco à cidade durou setenta e cinco dias, desde 30 de maio até a sua
conquista.
● Segundo os informantes de Sahagún, dois dias após a chegada dos
bergantins, os espanhóis se reuniram à beira de Nonohualco, expulsando as
canoas indígenas. Avançaram pelos caminhos estreitos, silenciando os
indígenas por onde passavam. No dia seguinte, os espanhóis cercaram os
mexicanos, iniciando uma batalha que se estendeu ao longo do dia,
resultando em muitas mortes de ambos os lados.
● Três poderosos caciques, Tzoyectin, Temoctzin e Tzilacatzin, destacavam-se
na resistência, buscando incansavelmente seus inimigos, os espanhóis.
Tzilacatzin, um valente cacique otomi, usava pedras de muralhas como
armas, perseguindo os espanhóis com tenacidade. Sua abordagem
estratégica e habilidade em disfarces tornavam difícil para os espanhóis
reconhecê-lo, enquanto seus inimigos se escondiam ao vê-lo, temendo sua
ferocidade.
● Tzilacatzin usava várias formas de disfarce para evitar ser reconhecido. Às
vezes, ostentava insígnias de alto cargo, pintava as orelhas de dourado e
usava um colar de contas de caracol, mantendo apenas a cabeça descoberta
para mostrar sua identidade como cacique otomi. Em outras ocasiões,
apresentava-se apenas com uma armadura de algodão e uma peça
envolvendo a cabeça do mesmo tecido. Ele também utilizava casacos de
plumas, fitas de guerreiro e correias douradas na panturrilha, demonstrando
sua versatilidade em enganar seus inimigos.
● Após abrir o caminho para a gente de Tlaxcala, Acolhuacan e Chalco, eles
encheram os canais, ladrilhos e vigas, não encontrando espaço nas ruas. Os
espanhóis, liderados pela bandeira ao som de cornetas e tambores,
avançaram lentamente. Toda a gente de Tlaxcala e das aldeias seguia em
formação atrás deles. Os tlaxcaltecas demonstravam força, sacudindo a
cabeça e batendo no peito, enquanto ambos os lados cantavam para
fortalecer-se, começando canções que recordavam.
● Os guerreiros mexicanos, ao chegarem ao bairro de Tlalhuacan, se
ocultavam, esperando a ordem para sair. Quando o grito de "Oh! gente do
México, adiante!" soou, o otomí atacou, gritando: "Guerreiros de Tlatelolco,
adiante! Quem são estes bárbaros? Que venham!" Em meio ao confronto, o
otomí derrubou um espanhol e o abateu no solo. Os espanhóis, ao vê-lo,
estavam desorientados. Muitos foram feitos prisioneiros, e uma grande
quantidade de pessoas foi morta, sendo que tanto espanhóis quanto
indígenas foram empurrados para a água.
● O caminho tornou-se escorregadio, impossível de ser percorrido, e os presos
eram arrastados. A bandeira espanhola foi capturada e, embora os de
Tlatelolco devessem cuidar dela, não lhe davam importância. A luta e
vigilância eram incessantes, pois os xochimilcas cercavam-nos com suas
canoas. Ambos os lados tiveram prisioneiros e mortos, enquanto todo o
povoado sofria com fome, escassez de água potável, e muitos foram
afetados pela disenteria, resultando em diversas mortes. A situação era
desoladora.
● A situação chegou ao ponto em que as pessoas se alimentavam de
lagartixas, andorinhas, ervas verdes, ervas ensalitradas, lírios, couro e pele
de cervo. Esses alimentos eram preparados assados, fritos, tostados ou
queimados. A fome era intensa, e os enfermos sofriam ainda mais,
contribuindo para uma mortalidade avassaladora. Gradualmente, foram
sendo pressionados contra a parede, cercados. Em um incidente, quatro
cavaleiros entraram no mercado, perseguindo os guerreiros mexicanos e
atravessando-os com lanças, resultando em muitas mortes. A desesperadora
luta pela sobrevivência continuava.
● A impetuosidade dos espanhóis foi notável quando se lançaram sobre o
mercado, surpreendendo os mexicanos. Foi a primeira vez que viram o
mercado, e após saírem, os guerreiros mexicanos os atacaram e
perseguiram. Nesse momento, sem aviso, queimaram o templo. Ao verem o
templo em chamas, os mexicanos começaram a chorar, abraçando-se uns
aos outros.
● Uma longa batalha se desenrolou na grande praça de Tlatelolco. Os
guerreiros mexicanos se protegiam nos muros, e as casas ao redor do
mercado foram transformadas em barricadas. Muitos se posicionaram nos
terraços, lançando pedras e dardos. Todas as casas da gente Quauhquechol
tiveram aberturas na parte superior para que os guerreiros pudessem pular
dentro delas ao serem perseguidos pelos soldados a cavalo. A luta pela
defesa continuava intensamente.
● O destemido guerreiro Axoquetzin destacava-se, perseguindo os inimigos,
libertando presos, forçando retrocessos e fazendo-os recuar. Infelizmente, ele
perdeu a vida durante a batalha, atingido por uma flecha que atravessou seu
coração de lado a lado.
● Apesar dos esforços dos espanhóis, não conseguiam romper as linhas dos
guerreiros de Tlatelolco, que permaneciam além da água, disparando dardos
e flechas. Não conseguiram avançar nem tomar nenhuma ponte,
encontrando forte resistência.
● A estratégia de nossos inimigos envolvia obstruir os canais, mas, assim que
partiam, retirávamos as pedras que colocavam para restaurar o acesso. Isso
se repetia diariamente, prolongando a guerra, tornando difícil a entrada deles,
já que os aquedutos funcionavam como grandes muralhas.
● As pessoas nas canoas desferiam seus dardos, resistindo ao inimigo. Dardos
com pontas dentadas caíam sobre eles, e flechas vinham em profusão,
assemelhando-se a uma serpente. Ao lançarem seus dardos, formava-se
uma espécie de manto amarelo sobre o inimigo, tornando o confronto ainda
mais desafiador.
● Os guerreiros mexicanos agiam com movimentos rápidos, indo para os lados,
nunca permanecendo imóveis. Os espanhóis frequentemente ultrapassavam
o lado hostil, disfarçando-se como indígenas e usando insígnias de guerreiro
para enganar seus adversários. No entanto, essa tática levantava suspeitas.
● Os caciques se precaviam, protegendo suas mulheres e crianças,
mantendo-os seguros nas proximidades das casas, do outro lado do canal.
Nesse contexto, as mulheres de Tlatelolco também entraram na luta,
lançando dardos e infligindo golpes tão impactantes nos invasores que
mereceram insígnias de guerra. A batalha se desenrolava com intensidade e
estratégias astutas de ambos os lados.
● Em determinado momento, todos ao nosso redor buscavam fechar o tanque
chamado Tlaixcuipan, que os incomodava bastante. Jogaram dentro dele
todo tipo de pedras, madeiras, colunas, ladrilhos, causando barulho e
levantando poeira, pois pretendiam roubar as pessoas que viviam na rua que
levava a Tepeyacac. Ao perceberem as intenções dos inimigos, os guerreiros
mexicanos decidiram como agir. Após reflexão, pegaram uma canoa,
remaram com muita cautela e atracaram perto da rua, onde se esconderam.
Outras duas canoas seguiram o mesmo procedimento, totalizando quatro
embarcações.
● Os guerreiros mexicanos, em uma astuta armadilha, utilizaram duas colunas
com águias e duas colunas com tigres. Em seguida, acionaram um jaguar e
uma águia, remando com toda a força, fazendo a canoa quase voar. Após
avançarem, tocaram os clarins, e ao perceberem, muitos inimigos tentaram
fugir. No entanto, vários caíram na água e se afogaram, alguns desmaiaram,
outros se perderam, resultando em muitas baixas. No dia seguinte, a
tranquilidade se restabeleceu.
● Com a aurora do quinto dia, os espanhóis decidiram atacar novamente.
Todos ao nosso redor entraram em movimento, cercando-nos por todos os
lados. As pessoas empurravam, colidiam umas com as outras, se
pisoteavam, e muitas morreram na confusão. Quando nos alcançaram, uma
mulher jogou água nos olhos dos inimigos, cegando-os.
● Os espanhóis nos cercaram por todos os lados e penetraram no telpuchcalli,
um grande edifício onde todos os jovens que recebiam educação especial
viviam juntos. Subiram ao terraço do telpuchcalli, onde enfrentaram a
resistência de um grande chefe chamado Huitzilhuatzin. Apesar de ser forte
como um baluarte e respeitado pelo povo, os espanhóis o capturaram,
desfizeram e destruíram. A situação se intensificava a cada investida.

-> O Presságio e a Derrota


● Apareceu como uma grande chama, e ao anoitecer chuviscou e houve
névoa. Na noite completa, novamente surgiu o fogo, como se viesse do céu,
movendo-se circularmente como um torvelinho. A chama parecia uma flor,
crescendo e diminuindo rapidamente até se tornar uma única centelha.
Agitada pelo vento, levantava-se, revitalizava-se e espalhava faíscas. Depois
de contornar a muralha de água, chegou a Coyonazco e precipitou-se para o
centro da lagoa, onde se apagou.
● Nenhum grito foi ouvido, nenhuma voz alta falou. Na manhã seguinte, nada
aconteceu. Nossos inimigos também permaneceram em suas posições, e o
capitão observava do terraço, de uma barraca de cores múltiplas e disformes,
olhando para o povo.
● Cuauhtémoc, os demais caciques e todos os príncipes reuniram-se em
Tolmayecan para deliberar sobre o tributo que poderiam oferecer e como
poderiam se submeter aos espanhóis. Cuauhtémoc foi trazido em uma canoa
acompanhado por seu servente Yaztachimal e pelo cacique Tepotztolco, com
um índio chamado Cenyaotl remando. O povo chorava ao vê-lo, dizendo que
ele estava se submetendo aos deuses e aos espanhóis.
● Ao desembarcar, os espanhóis mostravam-se surpresos, tomavam-no pela
mão e o faziam sair até o terraço. Colocaram-no em frente à casa do capitão,
que o olhava e afagava seus cabelos. Em seguida, fizeram-no sentar-se junto
a eles e dispararam os canhões, sem apontar para ninguém, com os projéteis
passando sobre as cabeças das pessoas.
● Mas depois começou a matança novamente. O éxodo teve início, a guerra
estava perdida. Em meio aos estrondos, ouvia-se: "Basta, vamos sair, vão
comer legumes, miseráveis!" Ao ouvir isso, o povo se colocou em movimento
em direção à lagoa pela grande estrada. Os espanhóis estavam revoltados
porque alguns ainda conservavam suas espadas e escudos. Aqueles que
viviam nas casas da cidade foram embora, e todos os que moravam em
lanchas seguiram pelo canal. Alguns caminhavam com água até o peito,
outros até o pescoço, e muitos se afogaram. As crianças eram carregadas
nos ombros, enquanto as pessoas se empurravam e chocavam-se umas
contra as outras ao se afastarem.
● Por todas as partes, pelas ruas, os espanhóis roubavam. Buscavam o ouro,
as pedras preciosas verdes, as plumas de quetzal e as pedras turquesas,
considerando-as de grande valor. Nós as escondíamos onde podíamos. As
mulheres as traziam no ventre e nas anáguas, e nós, os homens, na boca.
● Eles tomavam para si as mulheres bonitas, especialmente as de cor morena
clara. Algumas mulheres, ao serem atacadas, untavam-se de barro e
envolviam as cadeiras e os seios com trapos velhos para parecerem feias.
No entanto, os cristãos as atacavam da mesma forma, por todos os lados.
Tiravam-lhes os trapos e passavam as mãos por todas as partes, incluindo
suas orelhas, seios e cabelos.
● Também selecionaram alguns homens, fortes, adultos ou jovens, que
poderiam ser seus mensageiros, os quais levaram como servos. Alguns
marcavam imediatamente com o selo de queimar na região da boca. Outros
pintavam na região da mandíbula e outros mais na região dos lábios.
● Quando baixamos o escudo, sendo vencidos, foi o ano do signo Tres Casas.
E na conta dos dias, 'Um serpente'. E quando Cuauhtemoctzin se submeteu
aos espanhóis, o levaram a Acachinanco pela noite. No outro dia, quando o
sol já ia subindo, os espanhóis regressaram em grandes quantidades.
Portavam os mais modernos de seus recursos: armadura de guerreiro, malha
e elmo de ferro, porém sem suas espadas e seus escudos. Todos tapavam o
nariz com um lenço branco. Os mortos lhes causavam náuseas, pois já
estavam cheirando mal e em estado de putrefação. Todos vieram a pé.
● Tomaram de seus mantos aos reis Cuauhtemoctzin, Coanacochtzin e
Tetlepanquetzin. Todos os três seguiam de mãos dadas e foram levados
diretamente para Acactzinco, onde se encontra a casa do chefe
Coyoueuetzin de Tlacochcalcatl.
● Os espanhóis vinham em filas ininterruptas, que se estendiam ao longe.
Depois de terem chegado à casa, subiram ao terraço. Com um pano
multicolor fizeram um teto de sombra para o capitão. Ele vestia um traje
brilhante, feito de fibras, com cores distintas em ambas as metades,
decorado com plumas de colibri. O capitão tomou assento sob a proteção
solar, depois se sentou o marquês e ao seu lado Malintzin. Cuauhtemoctzin
se manteve em pé, próximo do capitão. Depois vinha Coanacochtzin, rei de
Tezcoco, que tinha atada somente uma manta de fibra, decorada com flores e
o corpo todo cheio de lodo. Seguia-se Tetlepanquetzin, rei de Tlacopan,
vestido da mesma maneira. Um terrível silêncio acompanhou a queda do
Águia. Tenochtitlan emudeceu ao baixar o escudo.
● "Choveu, relampejou e troveou desde aquela tarde até a meia-noite.
Despejou muito mais água do que em todas as outras vezes. E desde que
Guatemuz foi preso, todos nós soldados ficamos tão surdos como se recém
tivéssemos saído de um campanário com múltiplas campa nas tocando ao
mesmo tempo. Digo isto porque durante todos os noventa e três dias em que
estivemos nesta cidade, durante dia e noite, os capitães mexicanos davam
tantos gritos e ordens que deixavam todos atordoados. Eram uns
conclamando os guerreiros que deveriam batalhar nas calçadas, outros
chamando os das canoas que deveriam guerrear os bergantins e conosco
nas pontes; outros a fincar paliçadas, abrir pontes, fazer barragens; outros a
preparar arcos e flechas e as mulheres a fazer pedras roliças para serem
atiradas pelas fundas. Desde os adoratórios e torres de ídolos os malditos
tambores, cornetas e atabaques dolorosos nunca paravam de soar."
● A melancolia na narrativa do Anónimo de Tlatelolco destaca o trágico destino
dos mexicanos e tlatelolcas, deixando suas cidades e enfrentando a
escassez de recursos. A chuva que cai sobre eles simboliza não apenas as
adversidades naturais, mas também as dificuldades impostas pela invasão e
suas consequências. O relato pinta um quadro sombrio da situação, incluindo
execuções e até mesmo a prática macabra de alimentar pessoas aos
cachorros. Essa descrição detalhada revela o sofrimento e a desolação
enfrentados pelas comunidades locais.
● A história de Cuauhtémoc é marcada por uma tragédia indescritível. Mesmo
enfrentando adversidades extremas, incluindo a violência brutal contra sua
esposa, ele mantém uma dignidade notável. Seu silêncio diante do
sofrimento revela uma força interior, resistindo ao martírio com coragem.
Cuauhtémoc é um exemplo de resistência e nobreza em face de
circunstâncias cruéis e injustas.
● Após a "noite triste", o tesouro perdido na fuga dos espanhóis de Tenochtitlan
torna-se alvo de intensa busca. Caciques são interrogados e, diante de
respostas vagas, são torturados. Cuauhtemoctzin fica aleijado dos pés, mas
nem assim o tesouro é revelado. Os caciques, com admirável coragem,
suportam o tormento em silêncio.
● Os soldados demandam ouro, espalham rumores de que Cortez o distribui
para ganhar favores. Para assegurar sua posição, Cortez envia Cristóbal de
Olid às Hibueras em busca da passagem para outro mar. Olid, porém, se alia
a Diego Velázquez contra Cortez. Este, ao descobrir, parte imediatamente
para puni-lo, levando consigo espanhóis armados, escravos e os caci- ques
derrotados Cuauhtemoctzin, Coanacocht- zin, Tetlepanquetzin e
Zihuacohuatzin. Os nativos temem que Cortez os leve para matá-los, o que
se concretiza.
● O rei de Tezcoco, agora batizado como Fernando Cortez Ixtilxochitl,
acompanha os espanhóis, mas sua lealdade não abala o ânimo dos nativos.
Sua vilania não contribui para aliviar a tragédia dos prisioneiros, que
enfrentam uma morte brutal sem sua intervenção/ajuda.
● A escolha da rota sudeste revela-se desafiadora, atravessando rios e zonas
pantanosas. A expedição enfrenta desaparecimentos misteriosos, escassez
de alimentos e se transforma em um martírio de fome, sede, medo, doenças
e fadiga. Os caciques, imperturbáveis, seguem prisioneiros. Ao chegar a
Acalan, os indígenas relembram suas glórias passadas, enquanto os
caciques riem e brincam sobre o futuro. Temendo conspiração, os espanhóis
decidem eliminar todos, enforcando Cuauhtemoctzin e Tetlepanquetzin em
1525.
● Bernal Díaz, apesar de aceitar a versão de Cortez, registra as últimas
palavras de Cuauhtemoctzin, que denunciam a injustiça de sua morte nas
mãos de Cortez. Cuauhtemoctzin invoca Deus para fazer justiça, lamentando
não tê-lo feito quando se entregou a Cortez em Tenochtitlan. Díaz adiciona
que Tetlepanquetzin, senhor de Tacuba, considerou sua morte justificada ao
morrer ao lado de Cuauhtemoctzin.
● O historiador lamenta profundamente a morte injusta de Cuauhtemoctzin e
seu primo, reconhecendo neles dois grandes senhores. Essa tragédia afeta
todos na expedição, e até Cortez perde o sono. Outros senhores que
acompanhavam Cuauhtemoctzin também são mortos, alguns enforcados e
outros de maneiras similares. Dizem que oito foram enforcados, conforme
registrado na História Verdadeira.

-> Maias
● A conquista do restante do território que viria a ser chamado de Nova
Espanha encontrou forte oposição dos legítimos habitantes, semelhante ao
que ocorreu na capital mexicana. A epopeia heróica foi marcada por traços
sombrios de tragédia, caracterizando toda a empreitada da conquista.
● Em Yucatán, entre os maias, revelam-se expressões diáfanas nas crônicas e
nos Chilam Balam, destacando a catástrofe da chegada dos estrangeiros:
● "11 Ahau é o Katun em que os maias deixaram de ser chamados homens
maias. Cristãos são todos os súditos de São Pedro e do Rei.
● Nesse dia, inicia-se a contagem da chegada dos estrangeiros do oriente,
portadores do cristianismo. O 11 Ahau marca o término do poder oriental,
entristecendo o céu e pesando sobre o pão de milho de Katun.
● Aos Grandes Itzaes foi dito: 'Alimentem-nos, vistam suas roupas, usem seus
chapéus, falem sua linguagem. Mas tratem-nos com discórdia!'
● 11 Ahau Katun, fase do nascimento do céu, marcou a chegada dos
estrangeiros de barba ruiva, filhos do sol, homens de cor clara. Ai!
Entristeceram-nos ao chegarem do oriente."
● O marco branco descerá do céu, anunciando-se ao amanhecer por todas as
partes. Ai! Entristecemo-nos pela vinda dos grandes construtores, que
empilham pedras e vigas, os que produzem fogo com os braços estendidos,
os que trazem cordas para enforcar os senhores. A palavra de Hunab Ku,
única divindade, entristecerá quando se difundir pela terra a palavra do Deus
dos céus.
● Ai! Entristecemo-nos pela chegada! Ai de Itzá, Bruxo-da-Água, pois seus
deuses nunca verão este Deus Verdadeiro do céu, cujo ensinamento será
apenas sobre pecado. Seus soldados serão inumanos, seus mastins bravos
e cruéis. Ai de nós, Irmãos Menores, no 7 Ahau Katun, pois teremos excesso
de dor e miséria devido ao tributo recolhido pela violência, mesmo entregue
rapidamente. Diferente será o tributo que teremos que pagar amanhã e
depois de amanhã. Meus olhos veem isso. Preparem-se para suportar a
carga de miséria que se aproxima, pois este Katun que se instala é o Katun
da miséria, o Katun dos pactos com o diabo.
● Ai! Muito pesada será a carga do Katun do cristianismo. Virá o poder de
escravizar, homens tornando-se escravos, a escravidão atingindo até os
líderes. Será o fim por obra da palavra de Deus. A instrução será sobre a
construção com pedras, reunindo-as como fala.
● A carga do Katun será enorme, marcando o início dos enforcamentos, do
fogo no extremo dos braços dos brancos. Cairá sobre a geração dos Irmãos
Menores o rigor da batalha, o tributo e a entrada massiva do cristianismo.
Fundamentar-se-á o princípio dos Sete Sacramentos, começará o árduo
trabalho dos povos, e a miséria se instalará na terra.
● A ciência será perdida, a verdadeira sabedoria também. Os malditos
estrangeiros mudaram as cores brancas de suas roupas. Governavam como
donos na terra dos santos homens, enquanto fazíamos guerra bebendo
amargura, pois éramos odiados pelos santos homens.
● O advento dos cristãos com o verdadeiro Deus marcou o início de nossa
miséria, do tributo, da esmola, da discórdia oculta, das lutas com armas de
fogo, dos atropelos, dos despojos, da escravidão por dívidas, do pagamento
das dívidas pelo sofrimento, da altercação contínua e do padecimento. Foi o
início da obra dos espanhóis e dos padres, utilizando os caciques, levando ao
martírio até mesmo das crianças dos povoados. Os pobrezinhos, infelizes,
não protestavam contra o martírio imposto pelos usurpadores dos indígenas,
mas chegará o dia em que as lágrimas deles alcançarão Deus, e a justiça
divina se abaterá sobre o mundo.
● Cristianizaram-nos, mas nos tratam como animais, passando-nos de uns
para outros.
● A constante queixa contra o tributo transcende das páginas dos livros
mágicos para a realidade da ação violenta. Em Valladolid, os índios se
uniram para matar os espanhóis enquanto estes se dividiam para cobrar
tributos, resultando na morte de dezessete em um único dia, ocorrido em
1546.
● Em 1527, os Montejo, pai e filho, começaram a conquista de Champotón,
persistindo na empreitada por uma década. Em 1531, quase perderam a vida
em Campeche. Em Chichén, o cacique Naabon Cupul morre em uma
tentativa de libertar-se da subjugação de Montejo filho, provocando um
levante que força o invasor a recuar. Contudo, utilizando um estratagema,
Montejo filho retorna ao ataque.
● Atam um cachorro ao badalo de um sino, deixando-o fora do alcance de um
pedaço de pão à vista. Cada salto do cão em direção ao pão fazia soar o
sino. O constante repique do sino leva os indígenas a interpretarem como
preparativos de ataque dos espanhóis. Após perceberem o engano, os
nativos os perseguem, mas, apesar disso, os invasores conseguem chegar a
Dzilan. O cacique pacificado permite que partam acompanhados por jovens
senhores de sua família, deixando-os em Campeche para embarcar rumo a
Vera Cruz. Curiosamente, os senhores acompanhantes vão em um cavalo e
dois "na coleira". Surpreendentemente, após deixarem os espanhóis ilesos, o
cavalo morre em seu retorno.
● Ah Canul, uma província sempre hostil aos invasores, resistiu até 1541. Em
1546, todas as províncias orientais se insurgiram. Os copules, tacees e
chiquincheles decidiram "não deixar que a vida permanecesse com cheiro de
espanhol". Mataram dezoito conquistadores e quatrocentos naborias (criados
indígenas a serviço do conquistador).
● A oposição maia está repleta de relatos de ações corajosas, embora os
nomes dos protagonistas frequentemente se percam, já que os cronistas
antigos evitavam nomear os heróis autóctones. Um relato descreve a mortal
inimizade entre um balisteiro espanhol e um arqueiro indígena, cujos nomes
são desconhecidos. Num momento em que o espanhol se finge distraído, o
maia lhe atira uma flecha que atravessa sua mão. A resposta do ferido é um
tiro de balista diretamente no peito do indígena. Sentindo que estava
morrendo e para evitar que dissessem que um espanhol o matou, o maia
corta um cipó e se enforca à vista de todos. O bispo Landa afirma que há
muitos exemplos dessas valentias.
● Os motivos para tanta e feroz adversidade, se fosse necessário buscá-los
nas vítimas do opróbrio da conquista, são apontados pelo próprio Landa ao
explicar um dos atos inúteis e gratuitos de sádica crueldade. Em um povoado
chamado Varey, "enforcaram duas índias, uma donzela e outra
recém-casada, não porque tivessem culpa de alguma coisa, mas
simplesmente porque eram muito bonitas e temiam que pudessem provocar
disputa entre os espanhóis. Todavia, disseram que faziam isso para mostrar
aos indígenas que as mulheres não interessavam aos espanhóis." De forma
incoerente, aparentemente esqueciam-se de que até há pouco tempo lhes
era muito caro "o bom serviço de mesa e de fêmeas".
● Os povos maias, não dispostos à submissão e contrários à mudança de
religião e aos procedimentos dos conquistadores que se viam como donos e
senhores pelo simples fato de chegarem, opõem-se à conquista,
conseguindo retardá-la por anos. Alguns resistem pela força, enquanto outros
adotam uma postura passiva. Adicionando a isso o escasso resultado
econômico da sujeição de povos em um território supostamente rico em ouro
e pedras preciosas, mas carente dessas riquezas, a conquista dos Montejo
revela-se mais como um fracasso.
● Mesmo aqueles que inicialmente os receberam pacificamente, de repente,
manifestaram hostilidade. Em Chikin-Chel, por exemplo, os caciques saíram
ao encontro de Montejo pai como se recebessem um hóspede muito
esperado. No entanto, um homem entre eles tentou atacar Montejo com um
alfanje. O Adiantado se defendeu até a chegada dos espanhóis,
compreendendo a necessidade de cautela. Talvez tenham percebido também
que os nativos não estavam dispostos a servir estrangeiros onde antes eram
senhores.

-> JACINTO CANEK


● A oposição latente durante anos estourou em meados do século XVII, com a
sublevação iniciada por Jacinto UC de los Santos Canek. Adquiriu
conhecimentos sobre a cultura europeia e ao mesmo tempo sobre o mágico
mundo dos seus antepassados, no qual ainda vivia em seus conterrâneos,
acode eles para convencê-los. Acreditando nos poderes do iluminado
defensor dos seus direitos, coroaram seu rei. Dão-lhe o nome de Chicán
Montezuma.
● Querendo lutar pelos ameríndios, devido a situação que foram reduzidos.
Reunidos em Cisteil, conseguiram inflamar-los de entusiasmos com uma
pregação contra tirania e o excesso de trabalho a que os tinham submetidos.
Proclamaram a notícia de rebelião.
● De longínquas terras chegaram os herdeiros dos antigos caciques com sua
gente. Ocorrendo uma batalha de três horas com as tropas de Corana deixou
um soldado lamentável de 600 rebeldes mortos e mais 8 sacerdotes
queimados na Casa Real, onde haviam se refugiados.
● Canek, com 300 homens, se abrigou numa fazenda, a qual teve que
abandonar para poder continuar lutando, resistindo até serem vencidos.
● Canek foi torturado para poder confessar. Dois dias depois, 8 dos seus
colaboradores foram enforcados, enviando seus pedaços de corpopara os
nativos, para servir como exemplo
● A nação do norte de Petén, hoje Guatemala, sempre governada pela família
Canek, resistiu por mais tempo que nenhuma outra. Tendo tentativas de
sujeição, como de princípio religioso, algumas passivas e outras agressivas.
● Fuensalida e Órbita, residiam em 1618 no território, mas o zelo catequizador
de Órbita, o mais agressivo, decidiu derrubar seu ídolo, os ameríndios se
revoltaram e os expulsaram com violência.
● Em 1622, a expedição liderada por um capitão chamado Marones falhou. Um
ano depois, uma matança de religiosos indicou a resistência dos indígenas
em mudar de religião ou viver sob outra lei. Em 1624, outra matança durante
uma missa atrasou os esforços colonizadores por mais doze anos.
● Os nativos, usando técnicas surpreendentemente modernas, roubavam
armas dos inimigos para ataques mais eficazes. Qualquer resistência era
duramente reprimida; Ah-Kimpol, cacique-sacerdote hostil aos religiosos, foi
enforcado. Andrés Cocom, acusado de práticas religiosas recalcitrantes,
recebeu uma sentença de prisão perpétua do bispo Montalvo. Ao chegar a
Campeche, persuadiu o capitão do navio a desembarcar, fugindo para as
montanhas. Rumores de sua preparação para uma revolta o levaram à
prisão, onde, com seus seguidores, foi encontrado com uma grande
quantidade de armas em uma caverna. Todos foram enforcados.
● Apesar da perseguição fanática, as práticas da religião proscrita persistiam,
levando frequentemente à tragédia para os seguidores. Andrés Chi,
autoproclamado Moisés da nova religião, reunia adeptos em sua casa, onde
ouviam a voz do Espírito Santo encarnada em um jovem oculto. Tudo
indicava uma preparação para uma revolta em Sotuta. As reuniões drásticas
culminaram na execução de Andrés Chi.
● A justificação das repressões visava aos "pecados feios, horrorosos e
detestáveis" daqueles que mantinham costumes ancestrais, revelando as
motivações dos cristãos. A guerra resultante, que provocou milhares de
mortes, foi considerada frutífera pelos colonizadores, citando o batismo de
um bebê encontrado agonizando após ser atingido por uma flecha como um
exemplo da intervenção divina para salvar uma "Alma Predestinada".
● A repressão, às vezes sem derramamento de sangue, era tão violenta e de
alcances tão lamentáveis quanto a conduzida pelo fanático bispo Landa. Ele
admite: "Encontramos um grande número de livros destas suas letras, mas
porque não tinham outra coisa que não fosse superstição e falsidade do
demônio, os queimamos todos, o que lhes dava muita pena..." Esse
procedimento persistiu por séculos.
● Petén permaneceu indômito por século e meio, mantendo-se independente
entre as regiões submetidas da Guatemala e Yucatán, até que considerou
inútil resistir ao destino. O cacique Canek, influenciado pelas predições de
seus livros sagrados, anteviu a chegada de outras pessoas e deuses,
conhecendo a data do augúrio fatal. Em 1695, enviou uma missão de paz a
Mérida, mas quando, um ano depois, um capitão liderando um exército
espanhol apareceu em resposta, enfrentou grande resistência nas águas do
lago de Petén.
● Foi necessário esperar mais um ano até que um exército completamente
equipado, inclusive com apetrechos para construir uma embarcação,
conseguisse atacar o lago internamente e alcançar seu objetivo. Um forte foi
erguido nas margens, um pequeno galeão foi construído, e o ataque foi
iniciado. O lago encheu-se com a população local em suas embarcações
leves. Ainda relutantes em se render, não estavam preparados para o
estrondo e os efeitos das armas de fogo. A presença de ambas causou a
dispersão, permitindo que os conquistadores alcançassem a outra margem,
onde a capital Tayasal estava situada.
● Uma cena espantosa se desenrolou: homens, mulheres, crianças, príncipes,
sacerdotes e vassalos, todos os habitantes da ilha, correram desesperados
para a praia e lançaram-se à lagoa, sem considerar se teriam forças
suficientes para alcançar a margem oposta.
● Os vitoriosos dedicaram o dia à destruição dos ídolos, batizando a nova
capital com o nome de Nossa Senhora dos Remédios e São Pedro dos
Itzaes, em 13 de março de 1697. Até aquele momento, os itzaes não haviam
sido dominados.

-> TECUM UMAM


● Os principais centros de população dos maias quichua estavam nos altos
patamares da cordilheira guatemalteca. Quando Pedro de Alvarado adentrou
essas regiões em 1524 em busca de ouro e poder, os moradores locais
deram o primeiro aviso, bloqueando os caminhos com árvores cortadas. Em
seguida, abriram amplas trincheiras com paus pontiagudos, causando a
queda de muitos cavalos e cavaleiros. Isso precedeu a manifestação do
desejo de independência do povo quíchua. Enfrentaram tenaz oposição
armada e, após a subjugação, rebeliões corajosas que não escaparam dos
severos castigos do conquistador.
● Tecum Umán, líder supremo do exército quichua, enfrentou os invasores em
Quetzaltenango, acompanhado por Tepepul. Os feitos heróicos do cacique
são descritos na legenda:
● "O capitão Tecun-Tecum, neto de Quicab, chefe... com dez mil índios, todos
armados com arcos, flechas, fundas, lanças e outras armas... Antes de sair
da aldeia, o capitão Tecum demonstrou sua bravura diante dos caciques,
exibindo asas com as quais voava, cobrindo braços e pernas com penas.
Trazia uma coroa na cabeça, uma grande esmeralda no peito, parecendo um
espelho, além de outra igual descendo pelas costas. Era imponente, a figura
central, um grande líder espiritual."
● Os espanhóis começaram a lutar contra os dez mil índios liderados pelo
capitão Tecum. A batalha durou três horas, resultando em muitas mortes
indígenas, ocorrendo em Pachah.
● Em seguida, o capitão Tecum voou como uma águia, coberto por penas
genuínas. Ele trazia três coroas de ouro, pérolas, diamantes e esmeraldas.
Tecum tinha a intenção de matar Tonadiú, o Adiantado, que estava montado
no cavalo que ele próprio havia dado. Tecum arrancou a cabeça do cavalo
com uma lança feita de espelhos por encanto. Não tendo conseguido matar o
Adiantado, voou para cima para atacá-lo, mas foi perfurado ao meio pela
lança do adversário.
● Em seguida, chegaram os cachorros, sem nenhum pelo, prontos para
desmembrar o índio. Contudo, ao perceber que o capitão era imponente,
coberto com três coroas ricas, o Adiantado afastou os cachorros e observou
à distância. Devido às plumas de quetzal que cobriam o capitão, o local de
sua morte passou a ser chamado Quetzaltenango.
● As histórias dos espanhóis também se envolvem em feitiço e magia,
aceitando o nahual. Uma águia, vestida com formosas plumas verdes, voava
sobre o exército com um estranho e singular estrondo. Alvarado a atingiu
com precisão, e a águia morta foi levada ao acampamento, onde dois
cachorros de Dom Pedro de Alvarado a atacaram.
● Ao ver o pássaro estranho e maravilhoso estendido no campo, Alvarado se
voltou para seus seguidores e disse: "Não vi ainda no México um quetzal
mais estranho". Desde então, o povoado passou a ser chamado
Quetzaltenango, que significa 'Morro de Quetzal'.
● Na ocasião, encontraram o rei Tecum morto com o mesmo golpe de lança
que o pássaro recebera. Tecum era o nome próprio do rei, cujo sobrenome
na língua local era Sequechul.
● Ao final da batalha, a matança de quichuas pelas mãos dos espanhóis e
mexicanos foi espantosa. O número de mortos foi tão grande que, segundo
relatos, as águas de um rio ficaram tingidas de sangue até Olintepeque, no
outro extremo do campo de batalha. Por isso, deram-lhe o nome de Quiquel,
que significa sangue.
● Quatro dias após a morte de Tecum, um novo exército, liderado pela maioria
dos caciques quíchuas, surgiu com a intenção de vingar o "Águia". A
cavalaria os pisoteou e os soldados os atravessaram com lanças. O próprio
Alvarado relatou: "Naquele dia, muitas pessoas foram mortas e capturadas,
incluindo muitos capitães e senhores proeminentes".
● A conquista avançou até Utatlán, a capital quichua fortificada, cercada por
barrancas profundas. Receoso, o conquistador prendeu sem motivo aparente
os principais chefes locais, Oxib Queh e Beleheb-Tzii, aos quais, "para o bem
e a tranquilidade desta terra, eu os queimei. E mandei queimar também a
cidade e destruir os prédios, porque era muito perigosa e forte..." explicou o
próprio autor do crime.
● "O coração de Tonatiuh não tinha compaixão durante a guerra."
O conquistador decidiu devastar a terra dos quíchuas, inundando-a de
sangue e fogo até forçar os sobreviventes a implorar paz e perdão. Todos os
prisioneiros foram marcados e vendidos como escravos. Com isso, o povo
quichua ficou subjugado, e o quinto foi enviado ao rei. Os filhos dos caciques
Tecum e Tepepul, anteriormente encarcerados, foram libertados e
ironicamentente nomeados chefes dos remanescentes de seu povo,
ocupando cargos nominais que seus pais haviam ocupado.
● O avanço para Iximché, conhecido como Quauhtemallan (Guatemala) pelos
nahoas, foi marcado por lutas sangrentas. Nas margens do lago Atitlán, os
zutujiles aguardavam em clima de guerra. Alvarado, ciente da situação,
enviou mensageiros de paz que foram recebidos com morte como resposta.
No lago, uma fortaleza bem defendida foi conquistada pelo espanhol após
dois ataques, contando com a ajuda dos chefes cakchiqueles submetidos.
● Em Izcuintepeque, Alvarado não perdeu tempo com avisos ou pedidos.
Entrou de repente, matou, queimou, saqueou e submeteu os caciques. Essa
ação resultaria em grandes acusações durante o processo formado no
México em 1529.
● Os caciques indígenas das regiões vizinhas submetiam-se e reconheciam o
novo amo, impulsionados pelo terror espalhado pelo conquistador, resultando
na fuga do povo poucas horas após recebê-lo com presentes, como ocorreu
por todo o caminho em El Salvador. À saída de Taxisco, a retaguarda do
exército foi atacada pelos indígenas, que se apoderaram de grande parte da
carga dos escravos, causando uma notável perda ao conquistador. Apesar de
Alvarado ter enviado seus capitães duas vezes para impor castigo, não
conseguiu recuperar o que foi tirado. Quando enviou mensageiros entre os
submissos, estes não retornaram. Enfrentando oposição constante, os
conquistadores chegaram à costa do Mar do Sul, onde um exército aguerrido
os aguardava em uma planície perto do atual porto de Acajutla, em El
Salvador.
● Ao vê-los, Alvarado montou um estratagema, aproveitando a ignorância dos
indígenas sobre o potencial dos cavalos que o seguiam. Fingiu recuar para
então girar e atacar com os cavalos, massacrando-os sem misericórdia. Ele
mesmo disse: "...vinham me seguindo até chegar junto às colas dos
cavalos... dei volta sobre eles e foi tão grande o estrago que neles fizemos
que em pouco tempo não havia mais nenhum em pé. Os que permaneciam
vivos não conseguiam levantar de tão armados que estavam... A mim deram
um flechaço que me cruzou a perna, fazendo com que ficasse mais curta uns
quatro dedos." Apenas recuperados do combate, mas com muitos feridos, os
conquistadores seguiram seu caminho, encontrando um novo exército tão
decidido que fez Alvarado exclamar: "Fiquei espantado com a ousadia dos
índios que nos esperavam."
● Também ali "se fez grande matança e castigo". Os cavalos correram contra
os corpos desnudos dos autóctones. No entanto, estes aprenderam com as
derrotas e mudaram de tática. Deixaram de esperar o invasor em formação
compacta e vulnerável. Quando o inimigo se aproximava, dispersavam-se,
abandonando seus povoados inseguros e buscando refúgios mais confiáveis,
geralmente nas escarpadas montanhas onde o acesso a cavalo torna-se
mais difícil.
● Em Cuzcatlán, abandonado, Alvarado convoca os senhores locais,
recebendo a resposta de que, se queria algo, deveria buscá-los, pois
estavam prontos para lutar. O conquistador opta novamente pela legalidade
mais acessível: instaura um processo por rebeldia contra os senhores e os
condena à pena de morte por traição. Apesar de procurá-los por toda parte,
não os encontra e decide retornar a Guatemala, enfrentando uma luta contra
seres inalcançáveis. O resultado desse grande avanço em regiões tão
distantes foi um elevado número de mortos e feridos, extensas áreas
devastadas, o país em estado de guerra e o ódio palpável nos corações.

-> A Rebelião Cakchiquel


● Em 1524, o conquistador fundou Santiago de Guatemala. Os mexicanos que
o acompanharam retornaram ao seu país. Quatrocentos homens e
quatrocentas mulheres cakchiqueles foram forçados a trabalhar na
construção da cidade, enquanto outros coletavam ouro para custear os
gastos.
● Insatisfeito e diante do pouco sucesso econômico em sua campanha para o
sul, o conquistador exigiu um tributo significativo em ouro, jóias e objetos de
valor dos chefes cakchiqueles Cahí-Imox e Belehé Qat. A quantia exorbitante
não pôde ser reunida, levando os caciques a abandonar a cidade. A ira do
conquistador ditou ordens de preparação para um ataque geral dos
cakchiqueles, surpreendidos pela crueldade diante de sua submissão até
então. Até mesmo os próprios soldados espanhóis consideraram o tributo
injusto e desmedido.
● Os indígenas conheciam todos os truques usados pelo invasor, adquirindo
experiência nas batalhas de Atitlan, Izcuintepeque e Cuzcatlán. Conscientes
do impacto de cem cavalos galopando contra seres desprotegidos, utilizaram
armadilhas, como covas profundas com varas pontiagudas dissimuladas com
ramos, terra e ervas. Não enfrentavam mais batalhas de frente, forçando o
conquistador a abandonar o campo e recuar para Olintepeque, a terra de
Tecum. Os caciques Cahí-Imox e Belehé-Qat, ao que parece, não foram
alcançados.
● O retorno dos conquistadores às terras do primeiro encontro também não foi
pacífico. Vários povos resistiram. A região dos mares, com sua capital,
Huehuetenango, e seu líder Caibil Balam, opôs-se na fortaleza de Zaculeu
por vários meses. A fome e a perda de mil e oitocentos homens levaram
Caibil à rendição, destacando-se "a nobreza de seu sangue, tendo então
cerca de quarenta anos", como registrado pelo irmão do líder invasor.
● Os cakchiqueles rebelados resistiram por cinco anos até se renderem ao
invasor. A construção de navios era parte do plano de Alvarado para
conquistar terras ao longo do Mar do Sul. A tarefa envolveu os indígenas
carregando pesadas âncoras e peças de artilharia por vastas distâncias.
Alvarado montou duas armadas, abraçando as terras como se fosse fogo do
céu.

-> Hondura: Lempira


● O domínio de Honduras foi disputado entre dois conquistadores, Montejo e
Alvarado. Apesar de algumas diferenças, eles conseguiram estabelecer um
acordo e tornaram-se amigos. Nesse acordo, Alvarado concedeu a Montejo o
rico povoado de Suchimilco na Nova Espanha, além de dois mil pesos de
ouro de minas e a vila de Chiapa, que pertence à Guatemala, para que se
unisse à de Yucatán. Montejo ficou com a governança do porto de Honduras
e o cabo de Higüeras.
● Alvarado, embora tenha explorado as terras de Honduras, nunca as
governou, e aparentemente não pagou os dois mil pesos de ouro prometidos.
● Na Nicarágua, as ações dos conquistadores provocaram a oposição dos
nativos, liderada pelo herói Lempira, senhor da Serra das Neblinas. Nomeado
capitão de dois mil caciques, resistiu durante seis meses, enfrentando um
exército numeroso. Diante da recusa de Lempira em aceitar a amizade
oferecida pelos espanhóis, Alonso de Cáceres, líder das tropas, orquestrou
uma ação vergonhosa. Um soldado, instruído para atirar em Lempira se ele
recusasse a paz, conduziu uma proposta ao cacique, que respondeu que a
guerra continuaria. Quando Lempira recusou, o soldado disparou, resultando
na morte do líder indígena. Com a morte de Lempira, houve confusão entre
os índios, alguns fugindo e outros se rendendo.
● A ação detestável contra o patriota Lempira, que se recusava a conhecer
outro senhor ou aceitar outras leis e costumes, resultou na pacificação do
país. No México, a oposição contra os conquistadores se intensifica, com
reações violentas por todo o país. Em Pánuco, a reação atinge proporções
extremas, com Sandoval ordenando a execução na fogueira de quatrocentos
caciques, sendo essa ação elogiada por Cortez.
● Em Tehuantepec, a paciência dos moradores se esgotou, resultando em um
motim de enormes proporções que envolveu homens e mulheres do
mercado. O alcaide carrasco foi morto, e sua casa foi incendiada,
desencadeando uma rebelião que se estendeu por grande parte do atual
Estado de Oaxaca. O governo da Nova Espanha estava se preparando para
enviar um exército para sufocar a revolta quando o bispo de Oaxaca
interveio, conseguindo acalmar e reduzir os rebeldes, algo que certamente
não teria sido alcançado com armas. Em Nova Galicia, onde Nuño Guzmán
causou desolação e morte, Alvarado encontrou sua própria morte ao reprimir
um dos muitos movimentos de resistência da população indígena. No norte
do país, os movimentos indígenas de oposição continuaram ocorrendo muito
tempo depois da independência do México.

-> A Baixa Califórnia


● Na Baixa Califórnia, os jesuítas estabeleceram a missão de Loreto em 1697.
Até 1768, dezoito missões são fundadas, sendo que quatorze permanecem
ativas. Contudo, a lei de expulsão promulgada por Carlos III em 1768 impacta
a presença jesuíta, levando à sua substituição na região, especialmente na
Califórnia (atualmente parte dos Estados Unidos), por franciscanos oriundos
de Maiorca e Catalunha, que seguem o comando do governador Gaspar de
Portolá.
● A Baixa Califórnia é caracterizada por uma extrema aridez. Sua população,
nômade e escassa, composta principalmente pelos cochimíes ao norte,
pericúes ao sul e guaycuras no centro, enfrentava altas taxas de mortalidade
infantil. Os missionários expressavam visões negativas sobre esses grupos,
rotulando-os como "bárbaros e selvagens", descrevendo-os como andarilhos
ignorantes, muitas vezes usando termos depreciativos para descrever seu
modo de vida.
● É curioso notar que, apesar da atitude dos missionários, houve vários
levantes na Califórnia até 1750, levando os missionários a abandonarem
suas missões para buscar segurança em outras áreas. A abordagem da
conquista desses territórios era peculiar, pois os missionários frequentemente
eram acompanhados por soldados armados, cuja presença, apesar de
necessária para a segurança, muitas vezes prejudicava as ações dos
missionários. Essa dinâmica complexa refletia os desafios enfrentados
durante o processo de evangelização na região.
● Imaginar a reação dos indígenas diante de uma religião de amor pregada
com tais meios não é difícil. A participação dos soldados na jurisdição do
capitão incluía punições, com consentimento dos missionários, como açoites
ou prisão por delitos menores. Em casos mais graves, como desterro ou
pena de morte, o capitão julgava o réu. Era comum um acordo entre capitão
e missionário para apaziguar os indígenas, mas esses artifícios não
impediam os frequentes assaltos às missões devido a punições por
transgressões cometidas.
● Os nativos, ainda envolvidos em sua "idolatria feroz", atacavam os
submetidos à tutela religiosa. Esses eram usados na evangelização,
enquanto os conquistadores enfrentavam os agressores armados. Em um
episódio, missionários alemães ordenaram uma tropa "neófita" bem armada
para enfrentar os bárbaros, com a condição de não matar ninguém e conduzir
todos a Adac, o local mais próximo da missão.
● Assim foi executada rigorosamente a missão punitiva. Com cuidado e
silêncio, os nativos foram atacados, dominados, suas cabanas queimadas,
armas e móveis confiscados. Levados triunfalmente a Adac, foram
aprisionados na casa dos soldados. O cabo militar, agindo como juiz,
condenou os culpados a açoites, executados com um aparato semelhante a
outro caso na missão de Santo Inácio. Após intervenção do padre Link, os
réus tornaram-se mansos e humildes, sendo libertados após cumprirem a
pena.
● Os californianos resistiram aos missionários e à conversão por séculos. Os
sacerdotes indígenas, chamados de bruxos, lideravam frequentemente os
movimentos de oposição. Os seris, guaycuras e pericues eram grupos
especialmente resistentes, sendo os primeiros considerados guerreiros
idolatras e inimigos dos espanhóis, enquanto os últimos sofriam humilhações
pelos pescadores de pérolas em busca de fortuna nas costas do Golfo.
● Em 1733, ocorreu uma sublevação perigosa entre as nações Pericúes e
Coras, na parte sul da Califórnia. Os líderes, Boton e Chicori, planejavam
matar os missionários, destruir qualquer vestígio da religião cristã
recentemente adotada e retornar ao estilo de vida anterior, sem restrições. O
complô foi descoberto, resultando em dois anos de luta violenta, com a perda
de vidas, incluindo dois missionários. Quatro missões foram destruídas e
levantar novamente exigiu muito esforço, sangue e recursos.
● Os Pericúes, considerados os mais indóceis, chamaram a atenção do
monarca Felipe V. Em 1741, o rei ordenou o estabelecimento de um novo
presídio para defender as missões no sul da península. Consultou o
Conselho das Índias sobre os melhores meios para pacificar a Baixa
Califórnia, sugerindo a fundação de povoações de espanhóis em portos
seguros e uma no centro da península para refúgio dos missionários em caso
de rebelião. O projeto, embora útil, enfrentou obstáculos devido à esterilidade
do país e à constituição das colônias com elementos indesejados.
● As guerras, repressões e novas enfermidades resultaram em dramáticas
consequências para os indígenas do sul da península, reduzindo sua
população de cerca de quatro mil para apenas uns quatrocentos, todos ainda
afetados por doenças. Os Cochimíes se rebelaram, influenciados pelo
sucesso dos Pericúes, enfrentando armas de fogo na repressão. A estratégia
dos conquistadores incluiu fomentar conflitos entre tribos inimigas,
intensificando hostilidades antigas. As tribulações foram profundas e
duradouras para esses povos.
● Os Guaycuras, forçados à cristianização pelo padre Salvatierra e seu exército
indígena, encontraram resistência ao chegarem a La Paz. Ao fugirem dos
espanhóis, as mulheres guaycuras, alcançadas pelos cristãos,
defenderam-se com pedras. Os novos cristãos se uniram à imprudência e
crueldade, ameaçando matar as mulheres, até que o capitão espanhol
interveio, repreendeu os neófitos e tentou acalmar as Guaycuras ofendidas,
que viraram as costas e se foram com seus maridos.
● Em meio à triste guerra entre irmãos, as tribos cristãs da missão de
Kadakaaman se prepararam para o combate, buscando estimular os neófitos
e amedrontar os inimigos. Após receberem a bênção na igreja por parte dos
missionários, marcharam contra o inimigo com a insignia da Santa Cruz como
estandarte. A vitória abateu o orgulho dos idólatras, inspirando-lhes uma
elevada ideia da religião pregada pelos estrangeiros e acelerando, nos anos
seguintes, sua conversão.

-> Oeste e norte da Nova Espanha


● Ao longo de mais de duzentos anos, o norte da Nova Espanha testemunhou
inúmeras rebeliões, das quais destacamos aquelas que causaram grande
terror, persistiram por mais tempo ou tiveram um alcance mais amplo. Povos
naturalmente rebeldes, como os yaquis, resistiram firmemente à nova
autoridade, tanto civil quanto eclesiástica, sendo vítimas de extorsões até
tempos recentes. Com um espírito indômito e uma ligação mágica com a
natureza, esses grupos atacavam periodicamente os espanhóis, muitas
vezes sincronizando seus ataques com os ciclos lunares.
● Os povos indígenas, apesar de sua resistência e espírito indômito, não foram
capazes de realizar o sonho de aniquilar ou expulsar os invasores das terras
de seus antepassados. Seu feito foi, contudo, obstaculizar e retardar a
conquista por muitos anos. O espírito de insubmissão perdura até os dias
atuais, refletido nas rebeliões dos chicanos e dos sioux em território
estadunidense. O sistema de defesa espanhol no norte se apoiou em
presídios, fortificações guardadas por soldados, delimitando a área de
conquista e protegendo-a contra incursões indígenas, enquanto as missões
eram estabelecidas sob seu amparo.
● A congregação, uma variante da encomienda, reunia os nativos dispersos e
os obrigava a trabalhos temporários para as famílias espanholas. Alguns
indígenas domesticados, eleitos como capitães, tinham a tarefa de capturar
aqueles não submetidos para o trabalho forçado na congregação, causando
animosidade e receio entre os nativos, que frequentemente fugiam para as
montanhas. Essas fugas eram às vezes acompanhadas pelo roubo de vacas,
resultando em banquetes que escandalizavam os colonos.
● Um dos líderes indígenas notáveis, conhecido como Dom Diego, el Zacateco
ou Tenamaxtle, protagonizou a maior insurreição colonial na Nova Espanha,
centrada na região da Nova Galicia (atualmente parte de Jalisco, Colima e
Zacatecas). Após o governo sanguinário de Nuño de Guzman, que deixou um
rastro de ódio, os nativos, ansiosos por libertação e lembrando suas tradições
destruídas, elaboraram um plano de ataque que se espalhou pelo ocidente
do país. O movimento começou no vale de Tlaltenango, nas serras de Nayarit
e em regiões como Juchipila, Nochistlán e Teocaltiche. Principais caciques,
incluindo Xiutleque, Petacal, Tenquital e Tenamaxtle, organizaram e
motivaram a população para resistir à opressão espanhola.
● O plano dos rebeldes envolvia atrair os espanhóis da região com enganos,
eliminá-los, propagar a rebelião até Jalisco e Michoacán, estendendo-a o
máximo possível. Quando a notícia chegou a Guadalajara, seu alcaide partiu
imediatamente ao encontro dos rebeldes, conseguindo prender Tenquital em
Tlaltenango. No entanto, Tenquital foi libertado por um grupo de
companheiros, que, em represália, saqueou casas de espanhóis e igrejas.
Juntos com os rebeldes, refugiaram-se no penhasco de Nochistlán. A capital,
alarmada, organizou uma expedição com vizinhos da cidade, frades
franciscanos e indígenas submetidos, incluindo vários caciques. No caminho,
o medo típico dos conquistadores levou o capitão espanhol a suspeitar,
resultando na execução dos caciques antes de chegar aos sublevados. O
primeiro confronto, ao pé do penhasco, mostrou uma forte determinação de
resistência por parte dos indígenas, forçando a retirada dos atacantes.
● A rebelião rapidamente se espalhou, preocupando as autoridades. Cristóbal
de Oñate, governador da Nova Galícia, liderou uma força de ataque que
cercou o penhasco, mas também teve que se retirar. Na época, Pedro de
Alvarado estava ancorado no porto de Navidad, envolvido em seu projeto de
conquistar os mares do Sul. O vice-rei Mendoza pediu a Alvarado que
liderasse um ataque a Nochistlán. Alvarado deixou seus navios no porto e foi
para Guadalajara liderar um grande exército. Após vários ataques, o exército
sofreu uma derrota definitiva e foi forçado a se retirar. Alvarado, fugindo pelas
escarpas da montanha, caiu de seu cavalo, sendo arrastado penhasco
abaixo. Gravemente ferido, foi levado a Guadalajara, onde morreu poucos
dias depois, dizendo que sua dor era na "alma". Se as vítimas do Templo
Maior de Tenochtitlan o tivessem ouvido, teriam se surpreendido com sua
expressão.
● Com a vitória, a insurreição atingiu proporções enormes. Os rebeldes
chegaram a sitiar Guadalajara, enfrentando a artilharia de Oñade por três
horas. Apesar da vitória dos espanhóis, resultou em muitos indígenas mortos,
enforcados, torturados ou feitos escravos. Apesar disso, os nativos
persistiram e prepararam um novo ataque à cidade. O vice-rei partiu do
México com um exército para enfrentá-los. A resistência indígena ocorreu em
diversas montanhas escarpadas, mas gradualmente foram sendo dominados.
Com Nochistlán e Juchipila já vencidas, restava apenas a fortaleza de Mixtón,
considerada inexpugnável. O vice-rei decidiu um assalto com a artilharia,
cortando todas as saídas. Após intensa luta, o cume foi alcançado, templo e
ídolos foram destruídos. Muitos indígenas, ao verem-se vencidos, preferiram
se jogar ao precipício do que serem presos. Mais de seis mil morreram na
luta, e cerca de dois mil foram feitos prisioneiros.
● A repressão foi brutal, com o vice-rei dando permissão para atos extremos.
Mutilações, torturas, escravidão e esquartejamento foram praticados, e os
sobreviventes foram distribuídos entre o general, capitães e soldados. A vila
de Juchipila foi fundada mais tarde com os dois mil prisioneiros. Dos
principais caciques, pouco se sabe; possivelmente morreram em Mixton ou
foram exterminados na revanche. Apesar do castigo severo, os espanhóis
continuaram enfrentando aflições na região, com assaltos a fazendas e
incêndios ocorrendo esporadicamente por muito tempo.
● A Nova Galícia foi palco de várias rebeliões ao longo do tempo. Frei Juan de
Torquemada deixou o relato de uma delas, ocorrida em 1601, quando os
indígenas acaxees se sublevaram contra as injustiças e maus-tratos impostos
pelos Ministros da Justiça nas Reais Minas Comarcanas, onde eram
obrigados a trabalhar excessivamente na extração de metais. A resistência
dessas pessoas livres e cristãs refletiu a recusa em serem submetidas a
trabalhos penosos nas minas.
● A revolta dos acaxees nas Reais Minas Comarcanas foi impulsionada pelo
intenso trabalho e maus-tratos impostos pelos Ministros da Justiça. Os
indígenas cristianizados, que viviam sob o cuidado da igreja, uniram-se aos
que praticavam sua idolatria, e ambos se rebelaram contra os espanhóis,
atacando as Minas Reais e os Caminhos Reais. O confronto resultou em
mortes e na destruição de propriedades espanholas.
● As autoridades espanholas buscaram intervir na revolta, enviando uma
missão de paz liderada pelo bispo Mota y Escobar. No entanto, a ação foi
interrompida pela agressão da autoridade civil, que tentava forçar os
indígenas à submissão bloqueando suas colheitas. Essas táticas, em vez de
obterem rendição, endureciam e obstinavam os rebeldes, que preferiam
enfrentar a fome em liberdade a aceitar a paz sob serviço espanhol.
● A resposta dos rebeldes à proposta de paz foi que iriam se reunir e deliberar
entre si, comprometendo-se a dar uma resposta na próxima fase lunar,
conforme seu costume antigo. A atitude reverente dos sublevados pode ter
sido influenciada pela presença respeitosa dos espanhóis diante da mitra do
bispo. Cinco importantes caciques, que ainda não eram batizados, se
entregaram, o que gradualmente levou à redução dos demais. Para garantir
maior segurança, eles foram distribuídos em um número menor de povoados.
● Guaxicar, também conhecido como Bispo, liderou uma revolta em 1536 no
nordeste de Guadalajara, demonstrando sua aculturação. A luta contra as
tropas espanholas durou sete meses. Gogofito, líder tepehuano envolvido em
revoluções persistentes contra a colônia, participou de uma batalha que
resultou em quinze mil mortos, incluindo o cacique atingido por uma flecha.
● As revoltas se intensificam, levando ao cerco da igreja de Santiago
Papasquiaro. O terror instilado pelos rebeldes induz os habitantes de
Guadiana (Durango) a fortalecer a cidade, enquanto o pânico se espalha
para outras regiões, levando a ataques precipitados contra os espanhóis. Os
insurgentes ampliam a revolta, incendeiam conventos e enfrentam ações
punitivas do governo. Novos líderes, Tucapel e Baucomani, aderem à
rebelião, marcada por oposição religiosa. Anos de lutas resultam em mais
presídios e submissões, mas as revoltas persistem, como em 1621, quando
os tepehuanes liderados por Juan Cocle se levantam contra os invasores.
Caciques como Jerônimo Moranta, Nicolás Balupi e Hernante provocam
rebeliões em Sonora no século XVII, envolvendo os salineiros de Tizonazo.
● Caciques como Supichiochi, Tepox, Ochavarri e outros, conhecidos apenas
por dom Bartolomeu, lideram os tarahumaras que perturbam a província de
Sonora. Eles interrompem a comunicação entre Sonora e Sinaloa, levando o
governador de Nova Vizcaya a combater pessoalmente em uma montanha
fortificada perto do rio Tomochic. Os caciques são capturados, e suas
cabeças são oferecidas como prêmio.
● Em 1650, os tarahumaras se rebelaram novamente, desta vez aliados a
conchos e tobosos. O vice-rei ordena a construção de um novo presídio em
Papigochic para contê-los. Dois anos depois, o presídio é destruído, e um
jesuíta é morto.
● Caciques como Necareva e Lautario conseguem reunir oito mil yaquis no final
do século XVII. Embora tenham vencido em duas batalhas, a surpresa da
pólvora, desconhecida por eles até então, dispersa-os na terceira. Os seres
salineiros também se rebelam, marcando uma novidade na repressão: dois
indígenas são açoitados por um alferes caritativo. Em Nuevo León, Cuajuco,
inteligente e versado em vários idiomas, recebe o título de capitão dos índios,
mas em 1624 lidera uma rebelião que chegou às portas de Monterrey.
Embora não tenha atacado a cidade, levou todo o gado que encontrou,
continuando assim até ser morto por um grupo de indígenas subjugados ao
conquistador.

-> Novo México


● No Novo México, a evangelização pelos franciscanos enfrentou a ineficácia
devido à hostilidade entre eles e as autoridades civis, além da discrepância
entre a mensagem missionária e o comportamento dos cristãos. Essa tensão
culminou em um levante preparado pacientemente por vinte e cinco mil
habitantes locais. O primeiro ato foi atacar templos e monastérios, seguido
pelo assalto à capital, Santa Fé. Os nativos venceram, assustando os
colonos espanhóis que evacuaram a cidade. Entre 1680 e 1692, os nativos
mantiveram o controle do reino até serem convidados à convivência pacífica.
No entanto, os colonos, ao retornarem, iniciaram uma agressão, resultando
na expulsão violenta dos nativos. A dominação espanhola foi restaurada, mas
novas rebeliões ocorreram, evidenciando a tensão persistente entre as
comunidades.

-> Parte V: Flórida, a Inconquistável.


● A Flórida resistiu aos espanhóis, sendo conquistada apenas pelos franceses
no final do século XVII. Juan Ponce de León nomeou-a em 1512 durante sua
busca pela "fonte da juventude", perdendo-se por seis meses entre as ilhas.
No entanto, nem o nome sugestivo nem sua fé na lenda foram capazes de
evitar a tragédia que acabou com todas as suas esperanças.
● Vázquez de Ayllón, em 1523, tentou explorar terras ao norte, passando pelos
33° de latitude. No entanto, enfrentando a dificuldade de assaltar áreas mais
frias sem provisões adequadas, morreu de doença ou frio. Seu corpo,
destinado a São Domingos para sepultamento, acabou encontrando o
"grande sepulcro deste mar oceano" após um motim entre os quinhentos
homens que o acompanharam, resultando em apenas cento e cinquenta
sobreviventes. Oviedo relatou que o frio era tão intenso que um homem,
tentando tirar as calças, arrancou toda a pele das pernas, dos joelhos para
baixo.
● A expedição de Vázquez de Ayllón teve sucesso no resgate de indígenas,
mas enfrentou contratempos. Cerca de cento e trinta indígenas aceitaram o
convite para visitar os barcos, mas foram enganados quando os navios
levantaram âncora e apenas um conseguiu chegar a São Domingos devido a
uma tempestade. Os indígenas que chegaram morreram de tristeza e fome,
incapazes de suportar o engano ao qual foram submetidos após acreditarem
na amizade oferecida.
● Panfilo de Narváez, após ser deixado por Cortez em Cempola, obteve apoio
do monarca espanhol para uma expedição à Flórida. Com cinco navios e
seiscentos homens, partiu da Espanha, obtendo cavalos em Cuba. No
entanto, uma tormenta sepultou um grupo no mar antes mesmo de avistarem
a terra desejada. A expedição enfrentou dificuldades desde o início,
chegando a uma ilha onde mais pessoas morriam do que sobreviviam.
● A nova expedição, ao chegar à Flórida, encontra cabanas abandonadas e
enfrenta a resistência dos indígenas. Sua busca por comida e ouro os leva à
terra Apalache, onde a abundância do metal precioso os atrai. No entanto, os
informantes omitem a valentia indomável dos habitantes locais, obscurecida
pelo brilho do ouro.
● A expedição enfrenta desafios ao penetrar na terra, com rios intermináveis,
pântanos que engolem os cavalos, tempestades constantes e a persistente
fome. Além disso, são alvo de flechas habilmente lançadas pelos indígenas,
que demonstram especial destreza em atingir os cavalos, incluindo a trágica
morte de um senhor de Tezcuco chamado Don Pedro, que o comissário
levava consigo.
● A passagem de Panfilo de Narváez pela terra foi breve, marcada por atos
cruéis, como cortar o nariz do cacique oponente Hirrihigua e submeter sua
mãe a maus-tratos. Seus homens, em meio à fome e dificuldades,
construíram barcaças, mas enfrentaram tempestades violentas. Ao tentar
escapar, a barca de Narváez, chamada Cabeça de Vaca, não resistiu aos
ventos fortes. Enquanto sua tripulação buscava salvar a própria vida,
Narváez, junto com um piloto e um pagem, foi arrastado para o mar, e nunca
mais se teve notícias deles.
● A saga dos sobreviventes da expedição de Narváez é verdadeiramente
incrível. Cabeza de Vaca, um dos quatro homens que sobreviveram, passou
sete anos percorrendo a região, muitas vezes como servo dos indígenas.
Desnudos e submetidos a inclemências, buscavam comida onde podiam, às
vezes comendo carne de bisão ou raízes. A narrativa detalhada de Cabeza
de Vaca, registrada em "Los Naufragios", oferece uma visão impactante dos
desafios e da sobrevivência em meio a tribos nômades. A trágica situação de
alguns cristãos que chegaram ao canibalismo destaca a complexidade
desses encontros culturais e a resistência indígena contra injustiças, como
demonstrado pelos sioux.
● A reviravolta na sorte dos cativos é impressionante. Curar enfermos e, até
mesmo, ressuscitar os mortos fez com que fossem adorados como seres
sobrenaturais. A presença de Estebanico, o negro, como porta-voz durante a
jornada de retorno, destaca a diversidade cultural e linguística da região.
Avançando contra a corrente do Rio Grande, alcançaram Culhuacan e
finalmente chegaram à Cidade do México. Uma jornada incrível, marcada por
experiências extraordinárias.
● Hernando de Soto, habituado à arte de confrontar indígenas e enriquecido
em suas campanhas no Peru, assume o desafio de conquistar a Florida. O
imperador Carlos V concede-lhe títulos de governador e capitão-geral da
Florida, além de governador de Cuba. Financiando pessoalmente a
expedição, Soto parte com novecentos e cinquenta homens, incluindo
membros da igreja, marinheiros e escravos, junto com sua família. A busca
por terras inexploradas na esteira de Ponce de León continua, apesar da
maldição que parece pairar sobre essas empreitadas.
● A chegada dos espanhóis à Baía do Espírito Santo, foi marcada por um
ataque noturno dos indígenas, liderados por Irrihigua. Este senhor, marcado
pelo encontro com Pánfilo de Narváez, permaneceu oculto, e os espanhóis
não conseguiram estabelecer contato ou aceitar sua amizade. Os caciques
locais adotaram uma estratégia de abandonar os povoados, fugindo para as
montanhas. Urribarracuxi, por exemplo, realizava ataques e emboscadas,
enganando alguns espanhóis. Alguns prisioneiros, para se libertarem do
domínio espanhol, ofereciam-se como guias, levando os conquistadores por
caminhos difíceis e emboscadas.
● O cacique Acuera rejeita os chamados de paz, alegando que, com base nas
ações dos espanhóis anteriores em suas terras, conhece bem a natureza
desses conquistadores, que vivem de roubo, saque e violência. Ele expressa
uma recusa categórica à amizade ou paz, optando por uma guerra mortal e
perpétua. Acuera desdenha da ideia de se submeter ao rei da Espanha,
considerando vis aqueles que se sujeitam ao jugo alheio quando podem viver
livres. Sua resposta firme surpreende o governador pela altivez e soberania
expressas por um "bárbaro".
● Os conquistadores avançaram por caminhos cheios de atoleiros, alguns
aparentemente secos e planos, mas que de repente cediam, revelando água
e pântano por baixo. Essas condições traiçoeiras resultaram na morte de
homens e cavalos afogados durante a jornada.
● A chegada às terras do cacique Vitachuco envolveu negociações, onde Soto
respondeu afavelmente às perguntas do líder indígena sobre a estadia,
abastecimento e objetivos dos espanhóis. Vitachuco cedeu e recebeu os
conquistadores em seu povoado. No entanto, uma exibição de força se
transformou em uma sangrenta batalha, com mais de trezentos indígenas
mortos. Alguns tentaram se refugiar em uma lagoa, mas foram hostilizados
pelos espanhóis, que os cercaram, atirando com balistas e arcabuzes,
forçando-os a render-se.
● A cena ao amanhecer revelava indígenas exaustos, saindo da lagoa, alguns
arrependidos e retornando ao centro, enquanto outros, movidos pelo amor à
vida, nadavam até a margem. O estado lastimável desses indivíduos,
inchados pela água, exaustos, famintos e sonolentos, destacava a duração e
o sofrimento da experiência.
● A atitude magnânima de sete indígenas que preferiram permanecer na lagoa,
sem temer a morte, comoveu o governador. Ao cair da tarde, decidindo que
seria desumano deixar morrer homens de tal virtude, ordenou que fossem
tirados da água à força, sendo laçados e arrastados para fora pelos cavalos.
Essa notável façanha, apesar de incrível, foi certificada por diversos
cavalheiros e grandes homens das Índias e da Espanha. No final, todos os
novecentos indígenas foram presos e distribuídos entre os espanhóis para
servirem como escravos.
● O cacique Vitachuco, enfurecido por se sentir traído, concebeu um plano para
exterminar os espanhóis. Ele ordenou que, após três dias do aviso, ao
meio-dia, cada prisioneiro deveria matar o senhor que o estava cuidando, e
Vitachuco mataria Hernando de Soto. Na data marcada, durante uma
refeição em que Soto tentava apaziguá-lo, Vitachuco desferiu golpes
violentos no rosto do governador, deixando-o sem sentido. Em seguida,
tentou esmagá-lo com um banco. Os cavaleiros e soldados responderam
atacando Vitachuco com suas espadas, apunhalando-o várias vezes até que
o índio caiu morto. Soto perdeu dois dentes, sangrou pela boca e mostrou
uma máscara em vez do rosto nos vinte dias seguintes.
● Os prisioneiros, ao ouvirem a voz de Vitachuco, revoltaram-se contra seus
amos, usando objetos como bancos e pedaços de lenha. Um dos rebeldes,
após espancar seu senhor, pegou uma lança e subiu para um aposento alto
em uma escada de mão, tentando se proteger. Um espanhol chegou com
uma balista carregada e conseguiu matar o indígena.
● A reação dos espanhóis à surpresa foi rápida. A maioria dos indígenas,
salvos do lago, pereceu nas mãos de seus amos. Alguns espanhóis, que se
recusavam a matar homens rendidos, entregavam os prisioneiros à guarda
do governador, que os executava com alabardas. Após a revolta, apenas
quatro espanhóis foram mortos em comparação com novecentos prisioneiros.
O pequeno grupo da lagoa, que preferia morrer a se render, também foi
executado.
● Os conquistadores, cinco dias após o trágico acontecimento em Vitachuco,
deixaram o povoado. A revolta dos nativos era agora ainda mais intensa,
motivada tanto pelos eventos recentes quanto pelas lembranças dos
acontecimentos ocorridos uma década antes com Pánfilo de Narváez. Os
indígenas, ao serem capturados e forçados a guiar os espanhóis,
deliberadamente escolhiam os caminhos mais difíceis, fingiam equívocos, os
conduziam para armadilhas e os faziam enfrentar rios, cientes de que isso
poderia custar-lhes a vida.
● Os indígenas, seguindo seu código de honra, buscavam equilibrar o número
de combatentes em cada bando, mas os espanhóis, aproveitando a
vantagem dos cavalos, os atacavam de qualquer maneira, confiantes de que,
em igualdade de condições, venceriam. A narrativa da conquista da Flórida
destaca casos em que um único indígena, com sua destreza e firmeza,
enfrentava dois ou três homens a cavalo. Eles usavam táticas como se
esconder em troncos ocos de árvores para atingir seus alvos e permanecer
protegidos. Essas ações resultavam na morte de muitos cavalos, motivo de
pesar para os espanhóis, comparável à perda de seus próprios
companheiros. A história de um grupo de indígenas que, ao perceber a
pequena quantidade de espanhóis a pé, escolheu enfrentar apenas sete
deles, demonstra a perplexidade dos espanhóis diante dos elevados
princípios de honra mantidos pelos nativos.
● A busca pelos tesouros de Apalache custou muito aos determinados
conquistadores. Embora as flechas indígenas fossem habilmente disparadas,
muitas eram detidas pelas armaduras e escudos dos espanhóis. A sorte, no
entanto, continuava instável para aqueles que avançavam. Ao chegarem a
Apalache, uma jovem cacique os recebeu calorosamente, oferecendo uma
grande quantidade de pérolas. No entanto, sua mãe, viúva, recusa-se a
aceitar os espanhóis e critica a filha. Diante do avanço amistoso dos
castelhanos, a mãe retira-se para um local escondido para evitar ser vista. A
jovem cacique envia um parente como emissário para convencer a mãe a
aceitar os espanhóis, mas antes de alcançar o refúgio da rainha-mãe, prefere
o suicídio a ser desleal com qualquer uma das duas.
● Emocionados por esse acontecimento, os conquistadores seguem em frente,
atacando previamente o templo onde os indígenas guardam os restos de
seus antepassados, adornados com incríveis quantidades de pérolas. As
habitações dos povoados encontrados são construídas sobre elevações
naturais ou, quando não disponíveis, são feitas à mão, utilizando terra socada
para criar uma plataforma capaz de sustentar cerca de vinte casas isoladas
da umidade do solo. Geralmente, uma muralha de grandes troncos impede o
acesso a elas, com comunicação estabelecida por escadas de madeira. Em
busca do cacique Capasi, que havia fugido, os conquistadores se dirigem a
uma dessas fortalezas bem protegidas. Embora tenha sido difícil tomá-la,
conseguiram capturar o cacique, que, apesar de estar paralisado e incapaz
de andar, misteriosamente escapou durante a noite, levando os espanhóis a
admitirem que só por meio de alguma artimanha demoníaca ele poderia ter
conseguido isso.

->TASCALUZA
● Um líder indígena impressionante, descrito como um gigante formoso e
severo, recepciona os espanhóis na Flórida. Sua presença imponente
destaca a ferocidade de seu caráter. Ao se aproximarem de seus domínios,
ele os recebe com uma cadeira e uma bandeira, algo inédito para os nativos
que nunca tinham visto símbolos militares. Essa descrição destaca a
complexidade das interações culturais durante a conquista espanhola na
região.
● A desconfiança entre espanhóis e indígenas cresce durante a recepção. Dois
espanhóis desaparecem, gerando suspeitas de traição. Cada gesto é
interpretado com medo e consciência pesada, ilustrando as tensões e a
desconfiança durante esse encontro entre culturas distintas.
● Tascaluza presenteia o conquistador e o conduz até o povoado Mauvila.
Contudo, a suspeita sobre os espanhóis desaparecidos gera tensões. Pouco
após a chegada, uma feroz batalha se desencadeia, com indígenas e
espanhóis lutando até o esgotamento, destacando a intensidade dos
conflitos.
● A intensa batalha resultou em considerável mortandade, sendo os indígenas
mais vulneráveis devido à falta de armas defensivas. No desfecho, os
espanhóis optaram por incendiar as casas de telhado de palha no interior do
povoado, resultando na morte de muitas pessoas, incluindo mulheres
refugiadas nas habitações em chamas.
● A batalha persistiu por nove longas horas, durante as quais as mulheres
demonstraram bravura ao lutar tanto quanto os homens, utilizando arco e
flecha e recolhendo armas deixadas pelos espanhóis. Enquanto os cavaleiros
engajavam os indígenas no campo, outros atacaram uma esquadra de índios
e índias que resistiam desesperadamente. A ferocidade do combate resultou
em mortes indiscriminadas de indígenas e espanhóis.
● No desfecho da batalha, um indígena, alheio ao que acontecia ao redor,
enforcou-se em uma árvore, evidenciando a audácia e desespero com que
lutaram. Ao final, contaram cerca de mil setecentas e setenta feridas curáveis
entre os espanhóis, a maioria no rosto ou pescoço, pois os indígenas
mudaram seu alvo ao perceberem o uso de couraças. Os mortos espanhóis
foram sepultados, e o unto dos indígenas falecidos foi utilizado como
ungüento para tratar as feridas dos sobreviventes.
● A incerteza sobre o destino de Tascaluza persiste, com relatos contraditórios
sobre sua sorte. Os espanhóis, apesar da vitória, enfrentaram perdas
significativas com a morte de oitenta e dois homens e quarenta e cinco
cavalos. O incêndio no povoado resultou na perda de seus pertences,
deixando-os sem abrigo para a noite. A situação complicou-se ainda mais ao
ficarem sem trigo e vinho para a missa, pois a dúvida sobre o uso de pão de
milho e vinho não proveniente de uvas os fez optar por prescindir da
celebração.
● A frustração diante da ausência de ouro e prata na Flórida, somada à
resistência feroz dos indígenas de Mauvila, gerou inquietação nos soldados.
Descontentes e desejando riquezas como as do Peru e do México,
planejaram fugir ao chegar à costa. Hernando de Soto, ciente do plano,
buscou evitar isso, mas a falta de resultados positivos levou-o a uma jornada
sem propósito, até sua morte.
● Os desafios persistiram após Mauvila, com indígenas hostis atacando os
espanhóis durante suas jornadas. Em Chicaza, o cacique de mesmo nome
liderou um ataque surpresa à meia-noite, resultando na vergonhosa fuga dos
espanhóis. Esses confrontos custaram aos conquistadores cavalos, homens
e porcos, além de revelar a prática dos indígenas de usar cordões para
capturar castelhanos, cavalos e porcos, causando indignação entre os
espanhóis.
● Os indígenas surpreenderam os espanhóis com sua precisão ao atirar
flechas, atravessando os corações dos cavalos. Apesar de um segundo
ataque parcialmente frustrado pela chuva, os conquistadores decidiram
levantar acampamento e prosseguir, enfrentando fome, frio e sono.
● Em Chisca, o senhor idoso exige a devolução de tudo roubado durante o
primeiro assalto antes de receber qualquer emissário dos conquistadores. Os
espanhóis atendem às exigências, garantindo assim a permissão para
ficarem e se recuperarem.
● Em sua jornada, os espanhóis cruzam repetidamente o Rio Grande,
explorando diferentes direções sem rumo definido. Aproveitam as rivalidades
entre caciques, como Casquín e Chapaca, que se envolvem em conflitos.
Durante esses episódios habituais, incluindo incêndios, roubos e ataques a
templos adornados com joias, o governador Hernando de Soto utiliza sua
estratégia habitual de demagogia para ganhar a amizade de ambos os
caciques. Em uma tentativa de apaziguamento, devolve duas mulheres feitas
prisioneiras na batalha a Capaha, que as rejeita alegando contaminação pelo
inimigo.
● Explorando ao longo do rio, os espanhóis chegam à província de Tula,
habitada por uma população ainda mais combativa, composta por homens e
mulheres dispostos a lutar até a morte. Durante uma patrulha a cavalo em
busca de inimigos, os espanhóis capturam alguns indígenas que preferem a
morte à captura, resistindo até serem mortos pelos conquistadores. Essa
atitude surpreende os espanhóis, que ficam admirados com a ferocidade dos
habitantes locais.
● Os habitantes da província de Tula se destacam por suas características
distintas em comparação com outros indígenas encontrados até então. Além
de serem feios de rosto, tanto homens quanto mulheres, adotam práticas
como alongar e pontuar as cabeças, tornando-os abomináveis aos olhos dos
espanhóis. Essa impressão negativa pode também ser influenciada pela
resistência feroz que os nativos oferecem ao serem expulsos de suas terras.
● As terras de Utiangue revelaram um povoado abandonado, mas repleto de
alimentos que os habitantes não puderam levar consigo ao fugirem da
iminente chegada dos conquistadores. Apesar das ofertas de paz e amizade
feitas repetidamente pelo governador, os nativos resistiram, enviando espiões
para vigiar o acampamento espanhol e recusando-se a aceitar as propostas
de reconciliação.
● Naguatex permanece invisível, enviando comida, boas palavras e quatro
indígenas como guias. Durante a jornada, percebem a ausência de Diego de
Guzmán, um nobre de Sevilha com vestimentas e cavalos luxuosos.
Temendo pela vida do espanhol, descobrem que ele optou por ficar
voluntariamente, atraído pela filha do cacique. A história incrível suscita
desconfiança, mas o próprio Guzmán confirma sua decisão, recusando-se a
retornar aos espanhóis. O grupo segue seu caminho após essa
surpreendente reviravolta.
● Os espanhóis, em sua errante jornada, enfrentam rios, construindo barcas
incansavelmente. A resistência dos nativos varia, desde o abandono
precipitado de povoados até a resistência passiva de líderes como Anilco,
que se limita a fazer sinais. Em outros casos, como Guachoya, há
colaboração temporária para atacar inimigos comuns. Hernando de Soto
continua a buscar alianças, enquanto os cronistas atribuem frequentemente
atrocidades aos indígenas, enfatizando a suposta intenção amistosa do
conquistador.
● Guachoya proporcionou aos espanhóis uma percepção notável da
universalidade das reações humanas. Seu espirro desencadeou uma
saudação sincronizada por parte dos senhores indígenas, levando Hernando
de Soto a comentar sobre a unidade humana. Ficou marcado entre os
espanhóis o insight de que mesmo entre povos considerados bárbaros, as
cerimônias comuns transcendem diferenças culturais. Uma revelação que,
lamentavelmente, não foi feita por todos os conquistadores desde o início de
suas jornadas.
● Quigualtanqui, do lado oposto do rio, advertiu o governador para que
enviasse representantes antes de adentrar sua terra, ameaçando mostrar o
erro cometido ao virem para aquele lugar. Jurou, diante de seus deuses, que
mataria Hernando de Soto e sua comitiva ou morreria defendendo sua
posição, caso decidissem permanecer ali.
● O governador Soto, após sucumbir a uma febre, foi sepultado secretamente à
noite. Temendo que os indígenas desenterrassem o corpo, passaram com
cavalos sobre a sepultura e a cobriram com galhos. No entanto, os nativos
perceberam o local e, na noite seguinte, os espanhóis desenterraram o
corpo, colocando-o dentro de um tronco de carvalho que afundou no meio do
Rio Mississipi, tornando-se seu túmulo final.
● Após a morte de Soto, os espanhóis, desprovidos de artilharia e pólvora,
aceleram a construção das embarcações para deixar a Flórida. Perseguidos
pelos guerreiros de Quigualtanqui em suas canoas rápidas, enfrentam uma
fuga tumultuada, marcada por emboscadas e perdas. Acompanhados por
música guerreira e gritos indígenas, os espanhóis enfrentam dezessete
embates, resultando na morte de Juan Terrón, perfurado por mais de
cinquenta flechas.
● A proximidade do mar finalmente liberta os espanhóis dos indígenas. No
entanto, apenas cerca de trezentos dos mil homens que chegaram
conseguem alcançar a terra da Nova Espanha, através de Pánuco.

-> Parte VI: Venezuela


● A pilhagem na costa da Venezuela foi concedida à casa alemã dos Welser
por Carlos V, que tinha enormes dívidas com eles. Vários alemães, como
Ambrosio Alfinger, Espira, Huten, Dortal e Federmann, sucederam-se na
região, sem mudar a conduta habitual frente aos indígenas. A busca por
pérolas nas ilhas limítrofes acrescentou um novo incentivo à necessidade de
subjugar os nativos. A ilha de Margarida, rica em pérolas, era uma passagem
frequente dos conquistadores para a terra firme.
● Os nativos da costa da Venezuela viviam em paz com os frades dominicanos
até a chegada de Vasco de Garanda, que aprisionou vinte e duas mulheres e
dezessete homens para vendê-los na Inglaterra. Em retaliação, o cacique dos
guantas atacou o convento, resultando na morte de todos os frades. No ano
seguinte, o corsário Ojeda, munido de armas em Cubagua, retaliou na costa
de Curiana, cometendo atrocidades. Os indígenas, organizados nas
montanhas, conseguiram derrotá-lo, queimando-o vivo junto com seus
companheiros em 1520.
● Os nativos, impulsionados pela raiva e armados com as armas europeias,
atacaram fazendas no interior, incendiaram-nas e mataram religiosos. A
Audiência espanhola enviou Gonzalo de Ocampo para pacificar os nativos,
resultando na enforcamento de nove caciques e no envio de cento e
cinquenta líderes como escravos para a Espanha. O Chefe Militar fundou a
cidade de Nova Toledo (Cumaná). A perseguição constante forçou Ocampo a
retornar a La Española. Em uma nova tentativa de conquista, após aprisionar
emissários de Paramaiboa, Ocampo desembarcou, surpreendendo os nativos
em uma cruel matança. Apesar do desejo de capturar Paramaiboa, a análise
dos objetivos dos conquistadores pode parecer exagerada, mas refletia a
determinação em eliminar o cacique que devastou repetidamente a
população de Guanta.
● Diante do perigo comum, os caciques Paramaiboa e Pariaguan superaram
antigas rivalidades. Pariaguan enviou três mensageiros a Paramaiboa, mas
foram presos, torturados e dois deles queimados vivos pelos conquistadores.
O terceiro confessou, salvando a vida, mas foi detido no forte espanhol.
Paramaiboa, mesmo sem aviso direto, respondeu alinhado com o outro
cacique, ciente do destino dos mensageiros.
● Nas fazendas espanholas, os escravizados, como Arichuna, apoiavam os
caciques, mesmo arriscando suas vidas. Arichuna, seduzido por uma jovem
espanhola, recusou fugir, cumprindo seu dever na encomenda. Espionava,
aprendia segredos e armas europeias para Paramaiboa. Quando o ataque
ocorreu, a ajuda de Arichuna foi ineficaz, resultando em uma sangrenta
batalha. Paramaiboa se retirou, deixando os espanhóis em depressão. O
encomendeiro, castigando Arichuna, o levou à fogueira com quatro
companheiros. Sua amante, desesperada, pediu para ser queimada também.
Ela foi enviada à Espanha em um navio de escravos dez dias depois.
● Pariaguán atacava a encomenda de Zapoara (em Anzoátegui), realizando
seis tentativas consecutivas de assalto às fortificações em uma noite. O terror
inicial das armas de fogo nos indígenas deu lugar à indiferença, pois já as
conheciam por vinte anos. Pariaguán manteve a luta por três dias antes de
alcançar o corpo a corpo e entrar em Zapoara. Um servo colaborador
chamado Zorrilho, hábil em caçar galinhas nos bosques, colaborava
ativamente com o cacique, informando sobre a encomenda. Motivado pelo
roubo de suas mulheres, Zorrilho ameaçou seu amo no dia em que ele exibia
a cabeça de um cacique na ponta de uma lança.
● Após a vitória de Pariaguán, nada restou vivo na encomenda, e o governador
Monsalve suicidou-se momentos antes da entrada das tropas. O amo de
Zorrilho, escondido, teve sua cabeça levada como troféu por seu servo.
Apesar da vitória, as tropas indígenas foram tão dizimadas que, dois meses
depois, Ocampo, bem equipado, conseguiu desalojá-las da encomenda.
Paramaiboa e Pariaguán escaparam para os bosques com pequenos grupos.
"Assim perdurou o poder da Espanha sobre a bonita extensão do reino de
Nova Andaluzia".

-> Guaicaipuro
● Na região atual de Caracas, um jovem cacique ascendeu ao poder por
eleição popular, unindo teques, caracas e outros povos sob sua soberania,
incluindo araguas, maracayes e cumanagotas. Seu biógrafo, o abade Moulin,
o descreve como o "braço forte da brava raça", comparando-o a figuras como
Espártaco, Péricles e Carlos de Gante. Considerado original e genial, suas
ações eram sempre inesperadas, envoltas em um halo de inspiração
semelhante à auréola dos santos.
● O jovem cacique, enamorado de sua esposa Urquía, surpreendeu ao
renunciar ao harém que lhe seria concedido como chefe, desafiando os
costumes. Embora causasse estranheza, sua atitude foi aceita. Ao
questionarem o motivo, ele respondeu: "a minha vale mais que todas". Além
disso, recusou o amor de Yarúa, cacique dos maturines, o que levou esta
última a se aliar aos invasores contra ele, movida pelo despeito.
● Recém-eleito, Guaicaipuro começou a receber avisos e presságios de males
iminentes. Indivíduos com características notáveis, descritos como tendo a
cor das nuvens da manhã e pele resistente, apareceram em seu caminho.
Pedidos de auxílio chegavam de várias regiões, mas o mais urgente veio dos
maracapanes, alertando sobre invasores que tomaram a costa dos macutos.
Guaicaipuro agiu prontamente, escolhendo o vale dos caracas nas serranias
de Avila como ponto de convergência para as forças armadas. Preparou
meticulosamente para a guerra, considerando todos os detalhes e garantindo
grandes reservas de alimentos para a união daqueles que enfrentariam o
perigo comum pela primeira vez.
● Antes da batalha, o campo indígena brilhava como um arco-íris de penachos
de plumas ao sol. A impressionante cor vermelha dos guerreiros surpreendeu
até mesmo seus inimigos. Mesmo já dizimados, os indígenas decidiram
atacar as trincheiras dos espanhóis. Quando estes perceberam a iminente
investida, saíram armados de tochas, alabardas, espadas e protegidos por
malhas de aço e escudos. As flechas, por fim, sucumbiram diante das armas
de fogo. Era a segunda metade do ano de 1560.
● Guaicaipuro encarou a derrota como uma desonra pessoal, mas os
ensinamentos de um sábio sacerdote o impediram de se suicidar, chamando
isso de uma "prova caprichosa da má sorte". Com ânimo renovado, ele
incentivou seu povo a lutar contra os invasores estrangeiros, hostilizando-os
incessantemente. A resistência persistiu incansavelmente, mas a Espanha
buscava consolidar a posse das terras. Uma dura batalha, a de Antimano,
ocorreu com Guaicaipuro sendo apoiado pelos caciques Urinare, Paramacay
e Catia. Nesta batalha, Catia foi atingido no peito por uma pedra de canhão.
A "má sorte" parecia favorecer os canhões pedreiros espanhóis.
● A deserção dos aliados por medo começou, enquanto a Espanha continuava
a enviar exércitos para consolidar suas conquistas. A cidade de Santiago de
León de Caracas foi fundada. Guaicaipuro e os guerreiros leais refugiaram-se
nas montanhas, levando a Encomenda a buscar a libertação definitiva do
valente cacique que obscurecia suas vitórias como um pesadelo. Um
processo legal foi tramado contra Guaicaipuro, acusando-o de "homicídio,
roubo, assalto e violência". Uma busca liderada por um capitão partiu com
cem homens armados para capturá-lo. Guaicaipuro, com vinte e três homens,
resistiu em uma casa fortificada na montanha durante mais de três horas,
enfrentando um combate feroz. Ao ser forçado a abandonar seu refúgio
devido ao fogo provocado pelos espanhóis, Guaicaipuro lutou como um leão,
dirigindo palavras desafiadoras aos conquistadores antes de cair morto,
alvejado por balas. Agonizante, chamou seus matadores para testemunhar a
morte do último homem livre das montanhas.
● Guaicaipuro lutou pela sua terra e sua raça até a morte. Capturado conforme
os protocolos tramados por Losada na Encomenda de Caracas, foi morto.
Sua cabeça foi exposta em um local frequentado tanto por espanhóis quanto
pela população indígena, no topo de um monte.

-> O Feroz Yaracuy


● Na zona costeira do norte do Golfo de Paria, os yaracuyes enfrentaram a
presença intrusiva dos recém-chegados. Seu cacique enviou uma comitiva ao
líder das tropas espanholas, pedindo que deixassem as terras que não lhes
pertenciam. A resposta de Mencio Vargas foi desafiadora: "ide dizer ao
cacique que venha ele prender-nos". O cacique aceitou o desafio, derrotando
um destacamento de indígenas submetidos pelos espanhóis. Yaracuy
avançou, atacou a fazenda de Tocuyo na batalha conhecida como Cuycutua,
obtendo sucesso. No entanto, a vitória inicial não foi definitiva, pois as tropas
invasoras se reforçaram com mais de setecentos homens de diversas
origens. Apesar da captura de canhões e arcabuzes, a realidade era que as
tropas europeias eram numerosas e experientes, provenientes de várias
partes da Europa, calejadas por conflitos após o advento do imperador e rei.
● Após a vitória em Cuycutúa, os yaracuyes se dispersaram, mas os que
permaneceram demonstraram valentia e arrojo quando atacados novamente
na batalha de Uricagua, liderada por Diego de Losada. Após a derrota, os
indígenas vencidos fugiram para as montanhas com o objetivo de se
reorganizarem, dando origem às guerrilhas indígenas que perseguiram os
espanhóis por mais de vinte anos.
● Yaracuy foi capturado, algemado e amarrado a uma árvore. Ao final da
batalha, um capitão ordenou que o soltassem. Embora seu corpo estivesse
coberto de suor, ele avançou silenciosamente até a casa do capitão,
expressando abatimento em seu gesto. Seus olhos negros, apagados,
refletiam coragem, dor e maldição, sem desespero.
● Os espanhóis contemplaram aquele estranho personagem com admiração.
Vestindo apenas cordões vermelhos nas pernas, pulseiras coloridas nos
braços e um espesso penacho de plumas multicoloridas sobre a cabeça,
Yaracuy causou impressão. Os espanhóis, percebendo a barreira linguística,
decidiram deixar o príncipe índio detido no rancho indígena, sob a guarda de
seis soldados e um cabo. Apesar de ser indicado para sentar, Yaracuy
recusou e permaneceu em pé por um longo tempo, com os olhos baixos,
como se estivesse pensando profundamente em algo misterioso.
● Os espanhóis, inicialmente quietos, observando que o índio não mostrava
sinais de rebelião, foram surpreendidos quando, de repente, mais rápido que
o raio, Yaracuy investiu contra um dos soldados, desarmou-o e avançou para
os outros, atingindo o capitão no peito. Em um instante, pôs três soldados
fora de combate. Outros soldados responderam com uma descarga de
arcabuzes, resultando na queda sem vida de Yaracuy, que se contorceu na
terra, coberto de seu próprio sangue, como uma besta selvagem perseguida
pela matilha.

-> Parte VII: Colômbia: Nova Granada


● A partir do Cabo da Vela até o Golfo de Urabá, as terras foram divididas entre
dois governos: Santa Marta e Cartagena. Rodrigo de Bastidas, o primeiro
governador de Santa Marta, assaltou a costa e ilhas da Terra Firme em 1502,
explorando várias regiões e descobrindo o Golfo de Urabá, chamado de
Golfo Doce. Seu polpudo botim lhe trouxe problemas, resultando em sua
denúncia, prisão em La Española e posterior envio à Espanha para
julgamento. No entanto, os reis católicos decidiram que Bastidas exibisse o
ouro que possuía nas cidades e vilas por onde passasse, atraindo o interesse
pela riqueza das Índias. Isso incentivou a população a aventurar-se em busca
de fortuna. Em 1548, quarenta anos depois da determinação dos reis, as
restrições para ir às Índias diminuíram, permitindo que mais pessoas se
aventurassem. Bastidas, enriquecido, retornou à ilha de Hispaniola, povoou e
prosperou com a criação de gado. Em 1524, foi nomeado governador de
Santa Marta, mas uma conspiração de seus próprios soldados levou à sua
morte.
● Os governadores que sucederam a Rodrigo de Bastidas em Santa Marta não
tiveram melhor sorte: seu assassino, Pedro de Villafuerte, foi sentenciado a
ser arrastado e esquartejado em Hispaniola. O próximo governador
encontrou a morte em um naufrágio ao retornar à Espanha. Santa Marta teve
também um governador peculiar em García de Lerma, que surpreendeu o
cronista com um hábito incomum de "limpar os dentes depois de terminar de
comer". Apesar dessas sutilezas, sua administração deixou a terra saqueada
e destruída, semelhante aos governantes anteriores e posteriores, como
observado por Oviedo em seus momentos de franca veracidade,
especialmente quando movido por aversão pessoal.
● No alto do monte, os indígenas defendem-se lançando pedras que atingiram
alguns cristãos. Houve confrontos, resultando na morte de dois ou três
indígenas. Algumas mulheres, incluindo a líder, foram capturadas. A líder,
uma jovem negra, foi levada para Darién, mas faleceu poucos dias depois
devido a febre. Sua bravura impressionante era evidente, e sua posição de
destaque entre as mulheres capturadas era notável. Sua beleza e postura
lembravam a mulher de Castela, apesar da tragédia que se desenrolava.
● Em um ato de revolta, após ser ferido, liderando cinquenta homens, ordenei
que incendiassem uma cabana em um local saqueado. O fogo, iniciado com
a mecha, se espalhou rapidamente, destruindo todas as mais de quarenta
cabanas na área. Durante essa pilhagem, o cronista encontrou uma safira do
tamanho de um ovo de galinha, adicionando-a ao ouro saqueado de Codego
e Cartagena em 1521. A jovem caiu vítima das febres, testemunhando os
acontecimentos forçadamente.
● A costa de Caribana, erroneamente associada aos "caribes", é habitada por
pessoas indômitas que usam flechas envenenadas, causando morte mesmo
com arranhões. Os espanhóis enfrentaram forte resistência nessa região,
onde o cosmógrafo Juan de la Cosa perdeu a vida. As mulheres caribenhas
mostravam coragem equiparável aos homens. Em 1533, uma Provisão real
autorizou os conquistadores a lutar "com fogo e sangue", escravizando
nativos sob a justificativa de serem "idólatras" e ameaças aos cristãos.
● Os conquistadores, avançando de Santa Marta em direção às terras dos
chibchas, deparam-se com uma cultura esplêndida evidente na organização
do comércio de ouro e sal ao longo do Rio Magdalena. Em Turmequé, o
mercado oferecia ouro de Sorocotá, esmeraldas de Somondoco e sal de
Zipaquirá e Nemocón. Destacavam-se tecidos ricamente adornados, além de
discos de ouro nas portas de Hunza. A avançada cultura manifestava-se nos
frutos e na nobreza dos caciques, que, apesar de "grandes senhores e
delicados", enfrentaram prisões e caçadas. As mulheres indígenas, nuas mas
respeitáveis, contrastavam com algumas cristãs vestidas.
● No reino dos chibchas, Tisquesuza, em Bogotá, e Quimuinchatecha, em
Tunja, governavam. Ao perceber a presença dos espanhóis, Tisquesuza
instigou sua gente a capturá-los, confiando na habilidade em domar animais.
No entanto, desconhecia as poderosas armas dos estrangeiros. Envoltos em
esmeraldas, os chibchas enfrentaram os espanhóis, mas, derrotados, alguns
retiraram-se com o líder para Cajica, enquanto outros resistiram em Bogotá.
Um guerreiro desafiou os espanhóis para um combate singular, mas Lázaro
Fonde, natural de Cádis, interveio, capturando o guerreiro e selando a
derrota. Diante da falta de esperança, os sitiados abandonaram
silenciosamente o povoado durante a noite.
● Tisquesuza, recuando para uma "serra muito íngreme", intriga os
conquistadores. Ao saberem de uma casa toda de ouro que ele possui,
decidem persegui-lo, enfrentando danos. Emboscados perto de Facatativa
pouco antes do amanhecer, Quesada age como um caçador, envolvendo
Tisquesuza em laços e armadilhas. Sua morte sugere resistência contínua,
pois os espanhóis se retiraram sem descobrir seus tesouros fabulosos.
Mesmo com Sagipa, sobrinho e herdeiro, prometendo o ouro antes de sua
morte na prisão, a riqueza de Tisquesuza permanece oculta até hoje.
● O mesmo incidente, revisitado pelo cronista mais adiante em sua história,
apresenta uma variante: Sagipa, feito prisioneiro, lidera um exército em uma
batalha contra os panches para os conquistadores. Ao retornar vitorioso, é
acusado de esconder o tesouro de seu tio. Após um longo processo, Sagipa
é condenado ao tormento de trado de corda. Um mês depois, enfrentando
prisão e tristeza, ele morre. Em Bogotá, capital dos zipas, Jimenez de
Quesada, apesar de encontrá-la vazia, percebe sinais claros de ser uma
cidade de uma nação civilizada e rica, sendo recebido por uma chuva de
flechas das montanhas que dominavam a cidade.
● À medida que os conquistadores conheciam a língua com a ajuda de
mulheres indígenas proficientes como intérpretes, a fascinação pelo verde
brilho das esmeraldas os impelia a obter guias para locais onde eram
extraídas, seguindo rituais específicos e apenas em determinadas épocas do
ano. Em Somondoco, descobrem que a região pertence ao cacique
Quimuinchatecha, venerado como um deus pelos zaques de Tunja.
Temerosos, mas ávidos pela riqueza, enfrentam a capital-fortaleza. Uma
missão zaque tenta detê-los com presentes, pedindo paciência, mas
Quesada, impulsionado pela ganância, rompe as amarras e invade. O
cacique zaque é feito prisioneiro em sua própria casa, enquanto os
espanhóis, montados e lanças em punho, defendem a decisão de seu líder.
● A batalha inicia imediatamente. Após superar as paliçadas cinco vezes, os
chibchas são repetidamente repelidos. Com o zaque dominado, o saque
começa. O botim é tão vasto que, quando empilhado em um pátio, ultrapassa
a altura dos homens a cavalo. As mumias dos antigos zaques são
despojadas de suas ricas joias, sem nenhum respeito. Em Tunja, o costume
funerário envolvia enterrar os corpos em camas elevadas, chamadas de
"barbacoas", deixando o falecido com todas as suas riquezas.
● A mentalidade conquistadora revela-se no comentário cínico do cronista
sobre as riquezas desenterradas e saqueadas: "... foram tomados sessenta
mil castelhanos, mais ou menos, dos santuários do povo. Isso demonstra a
devoção idolátrica desta gente, pois tanto ouro foi encontrado nos santuários
de Tunja. O historiador, por mais devoto que seja, justifica o saque, alegando
que os espanhóis deveriam tê-lo, já que os nativos o tinham dado a deuses
como o Sol e o diabo. Esquece-se do cinismo ao mencionar os ossos das
múmias espalhados após arrancarem as valiosas joias."
● Encontramos aqui um eco da discussão legal provocada pelo saque dos
sepulcros de Zenú, tema que gerou debates na igreja na Espanha,
possivelmente impulsionado pelo padre Las Casas. Ao remontarem à Bíblia e
ao sepultamento de Davi, concluíram que encontrar tesouros enterrados com
o corpo de alguém implicava assumir que pertenciam a outros. Destacaram
que ninguém, sem pecado mortal de furto ou rapina, podia apropriar-se de
tesouros ou riquezas deixados por outros em qualquer lugar, inclusive
sepulcros. Além disso, violar sepulcros é uma afronta aos vivos, herdeiros
daqueles cujos túmulos são profanados, prejudicando sua honra e memória,
exigindo reparação.
● Após eventos que provocaram o debate de ideias humanitárias na Espanha,
o rei autorizava a escravidão, desde que fosse realizada "de boa consciência"
e as vítimas fossem consideradas "idólatras, nocivas ou molestas aos
espanhóis", incluindo canibais. Quesada prosseguia sua jornada pelas terras
colombianas. Em Duitama, o cacique Tundama e sua gente enfrentaram os
invasores, dando-lhes as "boas-vindas" com uma chuva de flechas.
● Em Sogamoso, encontraram o povoado vazio, o palácio do
cacique-sacerdote Sugamuxi, representante do deus Bochica, aberto com os
tesouros intactos. O templo de Itaca também estava aberto, guardado por um
ancião imóvel como uma estátua, o xeque-guardião. O templo abrigava
múmias repletas de ouro, pérolas, esmeraldas e outras joias, enquanto as
paredes reluziam de ouro e pedrarias, e o solo estava coberto por esteiras de
esparto delicado. Decidiram adiar o saque para o dia seguinte, deixando
guardas com tochas durante a noite. Contudo, o templo pegou fogo e ardeu
por várias semanas, outro sonho desfeito, outro fracasso para a ambição.
● No retorno, o cacique Tundama os aguardava no caminho, mas a desilusão
levou Quesada a alterar sua rota para evitá-lo. No entanto, envia emissários
para buscar a paz e discutir a salvação da alma do cacique. A resposta
revela o desinteresse do cacique em salvar sua alma diante do apetite voraz
dos conquistadores pelos tesouros chibchas. Em Suesca, Quesada ouve
falar do ouro no Vale de Neiva e conhece a lenda de El Dorado, o cacique
que anualmente submerge em uma lagoa próxima a Guatavita, cobrindo-se
completamente com ouro em pó.
● Jiménez de Quesada não foi o único a ser seduzido pelo canto dourado da
sereia. Dois outros aventureiros, o alemão Federmann e Sebastián de
Belalcázar, também foram enfeitiçados pela ilusão de El Dorado. Federmann
invade os territórios proibidos da Nova Granada, enquanto Belalcázar parte
de Quito em busca do mesmo tesouro. El Dorado se torna uma razão para
muitos sacrificarem não apenas suas riquezas, mas também suas
propriedades, casas e vidas. Belalcázar enfrenta resistência constante
durante sua jornada extensa, lutando contra os indígenas em batalhas
frequentes, obrigando-os a permanecer sempre alerta nas serras escarpadas
e caminhos difíceis.
● Belalcázar, em sua jornada, funda Pasto e Cali, onde os indígenas indômitos
persistem em exercitar suas armas e lutar ferozmente, tentando afastar os
estrangeiros de suas terras devido à escassez de alimentos que escondem.
Em Popayán, o cacique Calambaz oferece uma "galharda resistência". Os
três conquistadores avançam até chegarem quase simultaneamente ao
mesmo lugar, sem saber e sem desejar isso. A incerteza paira, pois, como diz
o refrão, "dois pardais em uma espiga representam uma má sina", e o que
será quando se juntam três? Dois deles vão bem providos, com Federmann
levando galinhas e Belalcázar uma magnífica manada de porcos com suas
fêmeas.
● A tripla expedição em busca de El Dorado foi um fracasso. Assim como as
lendas das Amazonas e da Eterna Fonte da Juventude, El Dorado caiu para
sempre no domínio da lenda. Meses se passaram "vagando perdidos por
aquela imensa solidão". Centenas de espanhóis, milhares de indígenas e
quase todos os cavalos foram sepultados. Alguns morreram de fome, outros
foram devorados por feras, alguns mordidos por serpentes, e outros afogados
nos rios. A maioria sucumbiu a febres incuráveis. O país sonhado nunca foi
encontrado enquanto atravessavam as selvas de Casare, os vales de
Putumayo e as montanhas de Mocoa.
● No mesmo ano em que o herdeiro assume, os "xeques da noite" começam
gradualmente a preparar seu sepulcro, em locais remotos, íngremes ou
pantanosos, sempre de forma oculta. Alguns, visando maior segurança,
escolhem um rio para realizar o sepultamento na correnteza. Dado que o
futuro defunto nada sabe, muitas vezes passa por cima de seu próprio
túmulo. Após a conclusão do sepultamento, os xeques cobrem o local com
ramos, passam por cima e procuram não deixar vestígios. Mesmo assim, a
avidez dos espanhóis foi tão intensa que encontraram, onde menos se
imaginava, grandes tesouros nessas sepulturas.
● O império inca abrangia Equador, Peru, Bolívia e partes do Chile e Argentina,
estendendo-se desde os 2º de latitude norte até os 35º de latitude sul. Antes
da morte de seu pai, o velho Huaina Capac, o vasto território foi dividido entre
seus dois filhos, com Atahualpa recebendo a Confederação quitenha e
Huáscar ficando com Cuzco. No enfrentamento com os invasores, Atahualpa
teve a pior sorte, apesar de alegações não comprovadas historicamente
sobre sua ordem para a morte de seu irmão Huáscar.
● Três aventureiros se uniram para a façanha: Francisco Pizarro, inicialmente
um porquêiro analfabeto e mais tarde marquês com a insígnia de Santiago;
Diego de Almagro, outro aventureiro menos afortunado; e o clérigo Fernando
de Luque, apoiados por Pedrarias como sócio capitalista. Enquanto
saqueavam povoados indígenas e acumulavam riquezas, foram agraciados
por "sua majestade o Imperador" com títulos de glória, como Adiantado,
capitão geral e governador. Pedrarias, governador Pedrarias Dávila,
apoiava-os, fornecendo a licença e os recursos para atacar as costas do Mar
do Sul.
● Exploração liderada por Francisco Pizarro e Diego de Almagro em 1524,
marcada por três tentativas persistentes. Os primeiros contatos com os
nativos costeiros foram pacíficos, impressionando-os com a presença
incomum dos recém-chegados. O relato de Garcilaso descreve a chegada de
Francisco de Candia, cuja aparência imponente e uma cruz de madeira
causaram grande impacto nos indígenas. A exploração, apoiada por
Pedrarias, buscava saquear as riquezas do Mar do Sul.
● Os espanhóis, ao explorarem Coaoque em busca de esmeraldas em 1524,
ficaram surpresos com a qualidade das pedras encontradas. No entanto,
devido à inexperiência dos exploradores, muitas esmeraldas foram perdidas
e quebradas. A falta de familiaridade com essas pedras preciosas levou os
espanhóis a quebrá-las, acreditando erroneamente que as esmeraldas finas
não poderiam ser danificadas com martelos, sem perceber o valor
significativo que destruíam.
● A desconfiança constante em relação aos indígenas permeava as
explorações espanholas. Suspeitas de traições, ambiguidades nas acolhidas
generosas e a justificação de castigos a supostas traições eram comuns.
Mesmo em lugares como a ilha de Puná, os espanhóis mantinham vigilância
constante, temendo possíveis ciladas. Essa desconfiança moldava o contexto
das "entradas" espanholas, onde a tensão prevalecia, levando a ações
precipitadas baseadas em suspeitas infundadas.
● Pizarro e os espanhóis estabeleceram-se em Túmbez, onde enfrentaram e
derrotaram os indígenas em um ataque. Após causar dano significativo,
Pizarro ofereceu paz ao cacique Chilimasa, garantindo sua segurança.
Outros caciques que tentaram resistir foram rapidamente subjugados,
estabelecendo um clima de temor entre os indígenas, que passaram a servir
de maneira mais submissa.
● Com Atahualpa em Cajamarca, os conquistadores enviaram um emissário
que, inicialmente relutante, concordou em agir como embaixador dos
espanhóis. Partindo de Caxas, ofereceram presentes impressionantes aos
espanhóis, incluindo tecidos finos com desenhos elaborados e figuras de
ouro. Essa obra seria considerada rica e sutil em qualquer parte do mundo.
● Atahualpa convida os espanhóis a avançarem para Cajamarca, mesmo após
violarem o Templo do Sol em Caxas. A subida pela serra apresenta desafios
íngremes, mas a palavra dada e a hospitalidade oferecida não são
compreendidas pela avidez dos conquistadores. O historiador Oviedo
estranha a hospitalidade de Atahualpa, sem considerar a possibilidade de ser
uma questão de dignidade.
● Hernando Pizarro, o irmão sinistro, vai até Atahualpa em Cajamarca para
exigir uma entrevista imediata. Atahualpa, rodeado de assessores e
mulheres, recebe os espanhóis com o protocolo usual, oferecendo-lhes
"chica" em taças de ouro fino. A entrevista é marcada para o dia seguinte,
com Atahualpa se apresentando desarmado junto aos seus homens.
● No campo espanhol, a traição é planejada nos mínimos detalhes. O
governador instrui os espanhóis para se armarem secretamente, manterem
os cavalos prontos e dividirem-se em três guarnições. O capitão de artilharia
recebe a ordem de apontar os canhões para o campo de Atahualpa. As ruas
que levam à cidade são vigiadas, e homens são posicionados em prontidão.
No momento certo, a artilharia deve ser disparada. O governador mantém
vinte homens em seu aposento, prontos para prender Atahualpa. A grande
praça fica deserta até o sinal de Santiago.
● O real cortejo de Atahualpa se aproximava, com o inca em uma liteira de ouro
que brilhava como um castelo reluzente. O solo era meticulosamente varrido
antes de sua passagem. Atahualpa era acompanhado por toda a corte,
alguns em redes e outros em liteiras, junto com todos os seus guerreiros
desarmados. Uma multidão se reuniu na grande praça.
● O embusteiro esperava escondido o momento de saltar. Urdem as histórias a
narração de um trágico enredo, uma suposta conversação teria havido entre
o chefe inca e o frei que acompanhava os pretensos cristãos. Apesar de suas
noções rudimentares de religião, esperavam que "Deus lutasse por eles",
embora admitissem mais tarde que "não houve indio que alçasse arma contra
espanhol". A realidade foi uma sinistra matança após o grito de "a eles, a
eles, Santiago", com canhões, balistas, cavalos e espadas. Pizarro, saindo de
seu esconderijo, derrubou Atahualpa da liteira real, iniciando um saque cruel
que resultou na morte de milhares de indígenas. A frase atribuída ao inca
prisioneiro, elogiando a bondade e o ânimo dos espanhóis, revela o trágico
cinismo da situação.
● O curaca máximo é encarcerado em um dos grandes aposentos de
Cajamarca. Compreende, como um dia compreendeu Montezuma, que a
exigência daqueles bárbaros era ouro, e ele oferece generosamente.
Promete encher toda a sala onde está preso com objetos lapidados e
pranchas de metais preciosos até a altura designada, concordando em não
fundir nada até que a sala esteja cheia. Fileiras de indígenas com lhamas
carregadas de peças de ouro e prata começam a chegar de todas as partes,
arrancando as chapas preciosas dos templos para cumprir rapidamente com
a exigência.
● O espanhol, impaciente com a demora, envia Hernando Pizarro a
Pachacamac e Cuzco para saquear os templos dedicados ao Sol, repletos de
ouro. As joias acumulam-se na sala designada, chegando em quantidades
impressionantes, com milhares de pesos de ouro em cântaros e folhas
grandes. A ansiedade dos soldados em obter sua parte aumenta, e a
repartição do ouro obtido no dia da prisão de Atahualpa é feita entre oito mil
pessoas, com base na avaliação do governador sobre a contribuição e
posição de cada indivíduo.
● Atahualpa explicava os motivos dos atrasos com seriedade e sabedoria,
destacando que as distâncias entre Cuzco e Cajamarca eram consideráveis,
exigindo tempo para a jornada a pé e com lhamas. Mesmo prisioneiro,
mantinha uma majestade digna de um grande príncipe, combinando
autoridade com uma expressão alegre e regozijante, como se estivesse em
liberdade.
● A impaciência, má fé e cobiça levaram à fundição imediata das peças de
ouro, ignorando o acordo feito. A tortura infligida às obras de arte causou
grande sofrimento aos indígenas, enquanto nove forjas trabalhavam
incessantemente para transformar o ouro em lingotes. A abundância
resultante elevou os preços a níveis exorbitantes, e a facilidade de obtenção
de ouro e prata era notável. O cenário chegou a um ponto em que as dívidas
eram pagas com pedaços de ouro, mesmo que valessem o dobro do débito,
sem receber nada em troca.
● Atahualpa foi condenado à morte desde o início, justificada como necessária
para o bem da terra, conquista e pacificação. A acusação de reunir guerreiros
para matar os espanhóis foi usada, e o governador ordenou que um cadeado
fosse colocado ao redor do pescoço do inca. Mesmo explicando que nenhum
guerreiro se moveria sem seu consentimento, Atahualpa foi mantido preso. O
processo contra ele foi mal elaborado, escrito por um clérigo inquieto e
desonesto, e um escrivão sem consciência, entre outros colaboradores
mal-intencionados.
● Alguns espanhóis discordaram do crime planejado. Um grupo ofereceu-se
para verificar se as informações, obtidas sob tortura, sobre um exército que
se aproximava para libertar Atahualpa eram verdadeiras. Pizarro autorizou
sua saída, mas antes que retornassem, o julgamento foi concluído. Atahualpa
foi condenado a ser queimado vivo por traição aos espanhóis e pela morte de
Huascar. Ele negou todas as acusações, lamentou a quebra da promessa de
libertação mediante resgate e pediu para ser enviado à Espanha, evitando
assim que Pizarro manchasse as mãos.
● Ao notificarem-lhe a sentença de morte, ordenaram que Atahualpa se
batizasse; caso recusasse, seria queimado vivo. A fogueira já ardia enquanto
a sentença era proclamada. Dizem que, no final, ele se batizou e foi
enforcado em um poste na praça, com uma voz de pregoeiro.
... Ficou ali até a manhã seguinte, quando o governador, os espanhóis e
todos os religiosos o levaram à igreja para ser enterrado com grande
solenidade e honra.
● A tristeza se estendeu pelo povo ao saber da morte de Atahualpa. Os oficiais
enviados por Pizarro para verificar os rumores de um exército indígena
confirmaram que não havia ameaça. Pizarro, enlutado, viu seu lamento
compartilhado. Posteriormente, índios devastaram Cajamarca, destruindo
tudo. O corpo de Atahualpa foi desenterrado, mas seu destino final
permaneceu desconhecido, apesar dos esforços do capitão Belalcázar.

-> RUMINAHUI
● Rumiñahui, irmão de Atahualpa, era o guardião do segredo. Após a morte do
inca, ele retirou-se para Quito, tornando-se líder supremo. Rumiñahui
desenterrou Atahualpa em Cajamarca e o levou a Quito, onde seu povo
prestou homenagens durante quinze dias.
● Alvarado, ansioso por fortuna, liderou uma expedição até o Peru com sete
embarcações, cavalos e soldados. Ao desembarcar em Guayas em busca do
caminho para Cuzco, enfrentaram uma jornada penosa através de pântanos,
bosques tropicais e montanhas nevadas. O frio e os ataques guerrilheiros
liderados por Rumiñahui causaram estragos, marcando o caminho com
cadáveres congelados e desafios constantes.
● Rumiñahui, um herói de Quito, desempenhou papéis significativos na
formação militar de Atahualpa e liderou exércitos incas. Sua bravura foi
evidente em confrontos contra os espanhóis, especialmente na batalha de
Tiocajas, onde anulou temporariamente o poder das armas espanholas.
Rumiñahui mostrou resistência em face da aliança entre Belalcázar e os
cañaris, forçando uma interrupção na batalha noturna. Sua estratégia incluiu
cortar a cabeça de um cavalo para desmistificar a suposta imortalidade
desses animais. Embora tenha enfrentado obstáculos, como a erupção do
vulcão Tungurahua, Rumiñahui permaneceu um líder valente contra a
invasão espanhola.
● Rumiñahui, desesperado com a fraqueza de sua gente, retirou-se para
Ambato, defendendo bravamente sua retirada enquanto os espanhóis
persistiam em sua matança. Seu nome, Ati, significava vencedor e invencível,
e ele fez com que os invasores pagassem um preço alto por seus triunfos. Ao
chegar a Quito, Rumiñahui protegeu seu povo, fechou os canais da cidade e
a incendiou antes de ser localizado por Belalcázar. Submetido à tortura para
revelar o paradeiro dos tesouros, resistiu com coragem, até que, diante de
sua recusa, Belalcázar o condenou à morte na fogueira.
● Herrera, o historiador, relatou: "Irruminavi (Rumiñahui) escondeu-se muito
triste, foi preso numa pequena choça, mas sem mostrar fraqueza, encerrando
assim as guerras de Quito. Belalcázar, na busca pelo ouro escondido, aplicou
tormentos cruéis, mas eles permaneceram tão firmes que ele acabou apenas
com sua cobiça e crueldade, matando-os." "Assim terminou o herói de Quito,
junto com seus bravos amigos, caciques Zopozopangui, Quinbalimbo, Razo
Razo e Nina."
● Apesar do horror desencadeado pela repressão, os quitenses mantiveram
sua oposição por muito tempo. Após a marcha dos conquistadores,
enfrentaram manifestações de rebelião. Em Quijos, Jumandi liderou uma
valente revolta durante a busca pelo país da canela. Em 1578, os povoados
de Archidona e Ávila foram atacados pelos indígenas, que não pouparam
nem as plantações dos colonos. Em Baeza, a revolta foi repelida com balas
de prata. Jumandi foi preso e levado algemado até Quito, onde sofreu uma
morte atroz. Os espanhóis, ao perseguir os rebeldes, infligiram uma punição
cruel, incendiando casas com indígenas dentro, resultando na morte de
mulheres e crianças.
● As notícias sobre a chegada de Alvarado ao Peru chegaram a Pizarro
enquanto se dirigia para Cuzco. Imediatamente, enviou Almagro para
bloquear seu caminho, instruindo-o a usar toda a astúcia possível. A
habilidade de Almagro foi notável, pois conseguiu negociar com Alvarado,
que aceitou cem mil pesos de ouro bom e, abandonando seu contingente e
recursos, retornou à Guatemala. Não sem antes enfrentar a intensa
resistência dos indígenas do Equador.
● Pizarro e Almagro perceberam a falência de suas expectativas quanto à
morte de Atahualpa para pacificar a região, ao serem repelidos durante sua
jornada rumo à capital incaica. Os senhores locais, próximos a Atahualpa,
reagiram com surpresa ao saber do assassinato enquanto se dirigiam com
ouro para pagar o resgate combinado. Titu Atauchi, irmão de Atahualpa,
atacou os espanhóis com intensidade, desbaratando-os e fazendo vários
prisioneiros, incluindo Cuéllar, que desempenhara o papel de escrivão no
julgamento e acompanhara Atahualpa até a execução.

-> QUIZQUIZ
● Quizquiz, o famoso capitão dos ministros de Atahualpa, ofereceu uma
batalha intensa aos conquistadores, retirando-se estrategicamente para o
monte e surpreendendo-os com um contra-ataque vitorioso. Com pontes
queimadas para evitar retaliações, uniu-se a Titu Atauchi e dirigiu-se a
Cajamarca. Lá, investigaram detalhadamente o que aconteceu com
Atahualpa e decidiram uma reparação simbólica: condenaram o escrivão
Cuellar a repetir, passo a passo, "a morte e enterro de Atahualpa". Outros
prisioneiros que se opuseram à execução foram perdoados. Juntos,
propuseram a Pizarro certas condições de paz, incluindo aceitar Manco
Capac como inca superior, respeitar as leis dos antigos incas em benefício de
seus vassalos e concordar com a lei cristã, além de enviar as condições a
Espanha para aprovação imperial. Comprometeram-se a não atacar os
espanhóis, aceitando-os como uma desgraça inevitável anunciada por seus
deuses, e ofereceram alimentos e serviços, excluindo escravos. Titu Atauchi
e Quizquiz retiraram-se, aguardando pacificamente uma resposta.
● Pizarro continua sua jornada, tendo capturado Calicuchima, importante
capitão de Atahualpa, acusado de matar Huascar por ordens do inca
prisioneiro. Pizarro decide levá-lo consigo como refém, mas, ao perceber a
expressão de contentamento de Calicuchima durante um ataque de Quizquiz,
supõe que ele representaria um estorvo. Calculando que o capitão seria uma
ameaça, decide queimá-lo, embora alguns considerem isso uma medida
muito drástica. Antes do suplício, oferece a Calicuchima a opção do batismo,
que permitiria uma execução menos dolorosa, mas Calicuchima, mesmo
contra sua própria religião, escolhe a fogueira em vez da degola.
● A caminho da bela capital inca, Pizarro enfrentou a última resistência fugaz
dos habitantes locais. Almagro, usando suas artimanhas, e Alvarado,
tentando tirar vantagem de seu fracasso, dirigiram-se a Cuzco para se
encontrar com Pizarro. Conscientes da presença de Quizquiz na região,
decidiram atacá-lo surpreendentemente, acelerando a marcha para pegá-lo
desprevenido à noite. Quizquiz retirou a população indefesa para uma serra
alta, enviando Huaipalica para o ataque. O confronto foi feroz, com grandes
pedras rolando escarpadas abaixo, causando estragos nos invasores.
Almagro quase foi atingido e perdeu seu cavalo. Quizquiz continuou a resistir,
apresentando batalha vitoriosa após batalha, causando significativas perdas
aos espanhóis.
● Quizquiz, audacioso e corajoso, ao testemunhar a desastrosa retirada dos
espanhóis, intensificou sua determinação de lutar contra eles até expulsá-los
do país. No entanto, outros, apesar da vitória recente, eram mais pessimistas
e consideravam o refúgio nas montanhas como a opção mais segura. A
discussão entre esses dois conceitos aparentemente alcançou um ponto de
violência extrema, resultando na perda trágica de Huaipalica, o herói da
resistência.

-> MANCO CAPAC


● O inca eleito e seus seguidores debatem sobre a estratégia de se
apresentarem em Cuzco para a aceitação das capitulações por parte do
conquistador. A questão em pauta é se devem ir armados ou em total sinal de
paz. Quizquiz argumenta que os estrangeiros podem ser mais influenciados
por temor às armas do que pela gratidão pelo bom tratamento, dado o
destino de Atahualpa e seus seguidores. No entanto, prevalece a ideia de
Manco, que prefere uma abordagem pacífica. Outra discussão surge sobre
se deveriam ir nas liteiras de ouro com a borda vermelha, símbolo de sua
dignidade. O inca inclina-se a ir sem elas, já que ainda não tem o
reconhecimento de Pizarro.
● Apesar do aparentemente cordial recebimento, os assuntos reivindicados por
Manco Capac não foram resolvidos. A esperança de ser aceito como chefe
supremo e de exercer o comando sem obstáculos com os forasteiros não se
concretizou, mesmo que tenha sido um dia de grande honra e contentamento
para o inca, celebrado com um arreto acreditando na paz estabelecida.
● Pizarro, após alguns dias de festejos e consultas, explicou a Manco Capac a
extensão de sua autoridade. Conduzindo-o à casa do inca, Pizarro solicitou
que tomasse logo posse de seu império, ressaltando que a distribuição seria
discutida posteriormente. Quanto à religião, deixou para mais tarde,
sinalizando sua astúcia e determinação de aproveitar-se se necessário,
destacando que a paz estava em suas mãos.
● As demandas de repartição de poder resultaram no encarceramento de
Manco Cápac quando Pizarro se retirou a Lima. Enquanto buscava provisões
reais na Cidade dos Reis, Pizarro recebeu o título de marquês e o hábito de
Santiago. Almagro, por sua vez, obteve a governança do Novo Reino de
Toledo, causando disputas pela posse de Cuzco, reivindicada por ambos.
● Manco Cápac, na prisão de Cuzco, obteve permissão de Hernando Pizarro
para participar de uma festa tradicional em Yucay, sob o pretexto de
recuperar uma estátua de ouro de seu pai Huaina Cápac. Durante o evento,
ele consultou os anciãos sábios de sua gente, que o alertaram sobre a falta
de confiança nos estrangeiros e a improbabilidade de recuperar o Império.
Preveniram-no sobre o destino semelhante ao de Atahualpa e concordaram
em organizar uma revolta para atacar todos os "adventícios de Castela" em
uma data específica.
● O levante liderado por Manco Cápac resultou em um cerco a Cuzco, com os
incas utilizando flechas incendiárias. Os espanhóis resistiram, formando um
círculo protegido por cavalos durante dezesseis dias. Os incas mantiveram o
cerco por mais de oito meses, intensificando os ataques durante as noites de
lua cheia. Quando a cidade estava prestes a ficar sem comida, ocorreu um
"milagre": Santiago, o apóstolo, montado em um cavalo branco, começou a
matar índios. O evento, interpretado como a intervenção divina, desencorajou
os indígenas, que se dispunham a atacar novamente. O cerco, no entanto,
continuou.
● A intriga de Almagro, buscando minar a confiança entre Manco Capac e os
Pizarro, incluiu uma correspondência onde expressava intenções de
regressar para ajudar e prometia restituir o que foi tomado. Manco Capac,
revelando os maus-tratos sofridos e os abusos cometidos pelos espanhóis,
pediu que, caso o quisessem matar, optassem pela forca em vez de métodos
mais cruéis.
● A intriga entre Almagro e os Pizarro continua, com Almagro reconhecendo os
maus-tratos sofridos pelo inca e prometendo auxílio. No entanto, Hernando
Pizarro envia uma carta alertando Manco Capac contra Almagro,
questionando sua confiabilidade e enfatizando que apenas os Pizarro têm o
poder de perdoá-lo se se entregar. A situação reflete a amarga rivalidade
entre os espanhóis, enquanto os incas são empurrados para lutar uns contra
os outros, sofrendo as consequências nas batalhas.
● O cerco a Cuzco perdia eficácia, com os espanhóis a cavalo fazendo
incursões e atingindo os indígenas. Manco Cápac, mantendo-se à parte,
recusou as sugestões de aceitar a oferta e preferiu deixar os espanhóis se
desgastarem entre eles. Pizarro, por sua vez, prendeu Paullu e o elegeu
chefe inca para enfrentar seu irmão. Manco Cápac, deserdado, refugiou-se
nas montanhas até ser morto por um espanhol. Paullu e o grande sacerdote
Uillac Umu também desapareceram, marcando o início de conflitos
sangrentos entre os próprios espanhóis. A cobiça, o desejo de poder e a
inclinação para o crime levaram ao desastre total.
● A estrutura feudal da colônia, com uma clara separação de castas e
imposição de tributos, incluindo a mita e os obrajes, pesava de forma
particularmente severa sobre os indígenas. Os obrajes eram oficinas têxteis
onde os nativos eram obrigados a oferecer seu trabalho, em condições tão
desumanas que Jorge Juan e Antonio de Ulloa, no século XVIII, descreveram
esses lugares como uma galera incessante que nunca alcançava o porto
desejado, com os indígenas trabalhando incansavelmente em busca de
algum descanso, sob um controle opressivo e castigos rigorosos.
● A mita, inicialmente concebida como um trabalho temporário obrigatório, mas
na prática sem limites, separava os indígenas de suas famílias, levando-os às
condições infernais das minas. Mesmo fontes não simpáticas aos nativos
reconheciam a brutalidade desse sistema. O vice-rei de Alba declarou que
"as pedras de Potosi e seus minerais estão banhados em sangue de indios",
enquanto o visitante Areche, conhecido por sua crueldade para com os
indígenas, admitiu que "não há coração suficientemente forte para
testemunhar como os indios são arrancados de suas casas, pois saem cem e
apenas voltam vinte".
● Frei Buenaventura de Salinas y Córdoba expressa indignação contra a
imposição criminosa nas minas de Guancavelica, descrevendo o sofrimento
dos indígenas subterrâneos, trabalhando em condições adversas. Ele
denuncia o rigor do trabalho, as doenças causadas pela exposição ao pó
metálico, e a tirania dos controladores das minas, destacando a exploração
desumana imposta aos nativos.
● Este trecho descreve a triste realidade da mita indígena, destacando o
sofrimento dos índios e suas famílias. Um exemplo concreto é apresentado,
onde um indígena, após encontrar sua esposa morta e incapaz de suportar a
pressão da mina, toma a decisão desesperada de enforcar seus próprios
filhos para poupá-los do mesmo destino. Isso ilustra a extrema crueldade e
desespero causados pelo sistema de mita.
● Esse trecho descreve uma situação na qual as pessoas, sob a liderança de
poderosos líderes religiosos e monarcas, sofrem opressão apesar de sua
devoção à lei de Deus. Aponta a ironia de que, após adotarem a religião
cristã, os nativos são subjugados de maneira mais severa do que sob seus
antigos governantes incas. O autor destaca a difícil condição enfrentada por
essas pessoas, fazendo referência a passagens bíblicas que ressoam com a
opressão que vivenciam.
● o autor critica a exploração dos indígenas, mencionando que a fé cristã é
imposta a eles de maneira custosa. Destaca a contradição de como aqueles
que oprimem os nativos são considerados virtuosos e servidores de Deus. O
autor, provavelmente um frade, apela ao rei para conscientizá-lo sobre a
necessidade de aliviar o sofrimento dos indígenas, expressando preocupação
com as consequências negativas da exploração. A última frase sugere que,
diante dessa situação, os deuses nativos poderiam ser vistos como melhores
do que o Deus cristão.

-> A REBELIÃO DE TUPAC AMARU


● Após as execuções de caciques e as mortes em massa durante a conquista,
os indígenas experimentaram um despertar gradual de oposição e
descontentamento. A influência dos eventos europeus e das ideias da
Revolução Francesa começou a moldar a mentalidade de muitos nativos,
incluindo parte do clero.
● Os corregedores, representantes do rei nas províncias, lidavam com
questões civis e criminais, enquanto os caciques, escolhidos entre os antigos
nobres, cobravam tributos e impunham serviços pesados aos indígenas. O
salário dos caciques aumentava a pressão sobre o povo, e as extorsões,
influenciadas pela corrupção administrativa, agravavam a miséria dos
nativos. Além disso, Fernando VI autorizou os corregedores a realizar
atividades econômicas lucrativas para si mesmos, contribuindo para o
empobrecimento dos indígenas. Essas atividades incluíam o reparto
obrigatório de mercadorias inúteis, endividando os indígenas por toda a vida.
● Os abusos sistemáticos resultaram em diversas rebeliões ao longo do século
XVII, todas reprimidas com métodos antiquados. Destaca-se a liderada por
Juan Santos Atahualpa Apu Inca, que desafiou as autoridades espanholas de
1741 a 1751. Embora a rebelião não tenha alcançado mudanças duradouras,
contribuiu para despertar a consciência e a esperança entre os oprimidos. A
resistência solitária foi personificada por José Gabriel Tupac Amaru
Condorkanki e sua colaboradora, Micaela Bastidas Puyucahua.
● O líder do cacicado de Tinta, com Surinama, Tangasuca e Pampamarca, era
herdeiro direto do último Inca legítimo, Túpac Amaru I, que foi queimado em
Cuzco em 1572 por ordem do vice-rei Toledo. Possuindo inteligência e cultura
dos descendentes dos caciques, ele sentiu profundamente o sofrimento de
seu povo e lutou para amenizá-lo dentro dos limites legais. Inicialmente
buscava a supressão da mita em Lima, ganhando amizades e seguidores,
mas ao longo do tempo radicalizou-se, planejando uma ação revolucionária,
na qual, provavelmente, apenas sua esposa participou.
● A ação guerrilheira teve início com o sequestro do corregedor da Tinta em 4
de novembro de 1780, enquanto ele saía de uma reunião para homenagear
Carlos III. O corregedor Arriaga, conhecido pela sua implacável colonização e
opressão aos indígenas, foi levado a Tungasuca. Lá, foi forçado a assinar
cartas, incluindo uma crucial que solicitava a presença do tesoureiro com as
chaves do Cabido, possibilitando a obtenção de armas e dinheiro. Outras
cartas foram enviadas aos principais povos da região, ordenando-lhes que
comparecessem imediatamente, e, ao fazê-lo, foram informados da situação
pelo cacique, sendo armados e organizados militarmente na praça.
● Diante do povo, o corregedor Arriaga é apresentado com uma suposta ordem
real que autoriza Túpac Amaru a administrar justiça. Uma sentença de morte
é executada publicamente, enforcando Arriaga por seus excessos nas
distribuições e crueldade para com os indígenas. O executor é Oblitas, um
mestiço que antes era escravo de Arriaga. Esse ato reivindicatório teve
repercussões significativas em toda a extensão do antigo Tahuantinsuyo e
além, chegando até Nova Granada, onde os Comuneros se levantaram. Uma
onda de entusiasmo e esperança pela liberdade se espalhou por toda a
América.
● Em 16 de novembro, os escravos libertados pelo "Grupo de Libertação dos
Escravos" unem-se ao cacique, tornando o grito revolucionário definitivo.
Com entusiasmo, indígenas, mestiços, nativos, sacerdotes e caciques não
corrompidos pela exploração juntam-se à causa. Inicialmente, seis mil
homens se reúnem, armados com pedras, fundas, paus e determinação.
● O saque aos obrajes locais e a distribuição do armazenado impulsionaram a
luta. A primeira ação militar ocorreu em Sagarara, onde os seguidores do rei
estavam fortificados. O povo sublevado cercou-os após intimar à rendição,
que foi negada pelos peninsulares. Mestiços, buscando perdão, tentaram
passar para o lado revolucionário, mas os realistas os impediram, resultando
em violência na igreja onde se refugiaram. A pólvora na igreja incendiou-se,
parte do teto voou. A batalha, iniciada ao amanhecer, durou até o meio-dia,
terminando com o fracasso total dos realistas. Tupac Amaru cuidou dos
feridos inimigos, doou duzentos pesos ao pároco para os enterros e libertou o
capelão da tropa derrotada.
● Ao chegar a notícia em Cuzco, causou desolação e terror, pois a cidade
estava desarmada e sem contingente militar. Era o momento de atacá-la,
mas Tupac Amaru desconhecia a situação precária dos habitantes e o
impacto psicológico da vitória em Sagarara, o que adiava o ataque imediato.
Ignorando os conselhos de Micaela, sua esposa, ele optou por seguir para o
sul, cercando povos adeptos antes de atacar o centro crucial. Cada vez mais
pessoas se uniam a eles, enquanto os párocos os recebiam com pompas.
Cuzco, por sua vez, recebeu reforços importantes em armas e guerreiros. O
medo entre os realistas os fez prometer a supressão dos impostos e o perdão
das dívidas, enquanto tentavam instigar a sedição no movimento tupamaro.
Tupac Amaru foi excomungado, e ofereceram uma recompensa de vinte mil
pesos por sua captura. Apesar disso, a correspondência constante entre
Tupac e Micaela revelava uma comunicação confiante e determinada, com
ela pedindo seu retorno e ele prometendo um ataque imediato.
● Antonio Oblitas, o mestiço ex-escravo de Arriaga, deixou um retrato de Tupac
Amaru como lembrança para os tupamaros. Na pintura, Tupac Amaru é
representado montado em um cavalo branco, vestindo trajes reais dos incas.
Embora não haja um retrato de Micaela, pode-se imaginar sua figura a partir
das cartas de Tupac Amaru. Nessas cartas, ele expressa sua preocupação
ao ver a oportunidade de vitória em Cuzco sendo perdida, relatando como a
inquietação lhe tira a vida: "já não tenho carnes nem estou em mim". Micaela,
com seu caráter indomável, clara visão estratégica e a veneração dos
caciques e prontidão de obediência dos indígenas, emerge como uma líder
nata, demonstrando uma energia excepcional.
● Outra mulher que desempenhou um papel notável na luta foi a cacique de
Acos, dona Tomasa Titu Condemayta. Mantiveram duas extensas
correspondências, e ela prestou ajuda tão eficaz e corajosa que, liderando
um grupo de mulheres, defendeu heroicamente uma ponte na luta contra os
realistas. Isso resultou em ela sofrer as mesmas torturas posteriormente
impostas a outra mulher heroica. Dona Tomasa também opinava que, com a
contramarcha após Sangarara, Tupac Amaru havia dado tempo e ímpeto aos
seus inimigos.
● Finalmente, Tupac Amaru cede às pressões e decide atacar Cuzco, a antiga
capital incaica e a segunda capital do Peru. No entanto, já era tarde. As
armas obtidas com grande dificuldade e a habilidade guerreira de suas tropas
eram muito inferiores às que enfrentariam na cidade, que estava
poderosamente equipada.
● No início de 1781, Tupac Amaru, auxiliado por sua esposa, planejou atacar
Sacsahuaman e simultaneamente cercar Cuzco com as tropas lideradas por
seu primo-irmão Diego Cristóbal Tupac Amaru. No entanto, a ação foi
impedida pela presença do cacique traidor Pumacahua, um ardente apoiador
dos opressores do povo e um inimigo feroz do Inca. Diego Cristóbal enfrentou
um exército realista considerável, impedindo sua passagem pelo Rio
Urubamba. Apesar de vários dias de combates ao redor de Cuzco, a vitória
não foi decidida para nenhum dos lados. A traição de Figueroa, um espanhol
que se fingia de partidário da causa tupamara, desviando tiros
intencionalmente, complicou ainda mais a situação. Tupac Amaru, confiante
na sorte e na justiça da causa, participava dos combates montado em seu
cavalo branco, apesar das preocupações expressas por Dona Micaela em
cartas anteriores.
● Tupac Amaru, liderando uma revolta, enfrentou oito dias de cerco desigual a
Cuzco. Após combates intensos e um último embate sob chuva torrencial,
Tupac Amaru se retirou, consciente do impacto nas vidas indígenas. Ele
retornou a Tinta, enquanto os realistas se organizaram para atacar
novamente. As tropas de Tupac Amaru, em menor número, adotaram táticas
de guerrilha contra o imenso exército realista.
● Para dificultar a comunicação entre campos, Tupac Amaru inventou um
estratagema, sugerindo um ataque ao centro do exército realista enquanto se
retirava para uma região escarpada. Contudo, a traição prevalecia, e os
espanhóis estavam bem informados sobre a situação tupamara. Cercado e
aguardando ser rendido pela fome, Tupac Amaru tentou uma ofensiva, mas
encontrou o exército inimigo preparado. Os tupamaros, apesar da coragem,
foram derrotados. Sua retirada foi marcada por traições, e a última derrota
próximo a Pampamarca resultou em sessenta e sete prisioneiros enforcados
sem julgamento. A repressão brutal intensificava-se, indicando o desfecho
iminente.
● Em 6 de abril de 1781, em Langui, Tupac Amaru foi capturado por Francisco
Santa Cruz, um mestiço traidor que inicialmente apoiava sua causa. Outro
traidor, Ventura Landacta, capturou sua esposa, dois filhos e cunhado
Antonio Bastidas, entregando-os pessoalmente a Areche, o visitador. A
cacique de Acos também foi capturada, iniciando um período de martírio.
Mesmo diante das ofertas de diminuição de penas em troca de delações,
Tupac Amaru, mantendo sua dignidade, respondeu a Areche: "Aqui não há
outros cúmplices além de tu e eu, tu, por opressor, e eu, por libertador." As
torturas se intensificaram, mas não conseguiram quebrar o silêncio do herói.
Temendo que não pudesse resistir, anteciparam a execução da sentença.
● Em 18 de maio, na praça principal de Cuzco, diante de um povo inca
silenciado pelo desalento e terror, um tablado verde destacava-se, com
quatro forcas, guardado por soldados armados. Ali ocorreu o suplício. As
vítimas, vestidas com túnicas de couro, foram arrastadas por cavalos,
encadeadas nos pés. Tupac e Micaela foram forçados a testemunhar todas
as execuções, incluindo a de seu filho mais velho. Antes de enforcarem
Hipólito e o tio de Tupac Amaru, Francisco Tupac Amaru, cortaram-lhes a
língua. O pintor Oblitas foi arrastado com uma soga antes de ser enforcado.
A cacique de Acos, dona Tomasa Titu Condemayta, "imperturbável, irônica e
indiferente", foi submetida a um garrote em um tablado com um torno de ferro
especialmente feito para esse fim.
● Depois foi a vez da notável companheira de Tupac Amaru, a "índia Micaela",
conforme os documentos oficiais. Magra, "sem carnes", como ela mesma
escrevera ao marido em um dia, ela sofreu mais intensamente o martírio.
Recusou-se a abrir a boca, e somente após sua morte o algoz pôde
cortar-lhe a língua. Sua dignidade era tão marcante que inspirou versos
anônimos, como transcreve o historiador Valcárcel:
"Na tribuna se colocava tão majestosa que admirava.
● Seu fino pescoço não permitiu que o torno a enforcasse. Os verdugos
tentaram usar uma corda, mas curiosamente não tiveram sucesso, pois
Tupac Amaru os repeliu com patadas, enquanto seu filho menor e ele próprio
testemunhavam o vergonhoso espetáculo.
● Finalmente, o líder foi sacrificado. Forçaram a abrir-lhe a boca para cortar-lhe
a língua, e com o rosto ensanguentado, olhando para o céu, foi estendido na
praça principal. Atado pelos pés e mãos a quatro cavalos para desarticulá-lo,
ninguém compreende de onde ele tirou a força para resistir ao suplício, mas
não conseguiram despedaçá-lo. O grito espantado do filho pequeno ainda
ecoa ao ler o relato. Até a natureza pareceu rebelar-se e começou a chover.
Por compaixão, o sanguinário Areche ordenou a decapitação do herói.
● Todos foram esquartejados, e seus membros foram enviados a diversas
partes do país "como exemplo e aviso a possíveis futuras rebeliões."
● Um silêncio sepulcral acompanhou o horror o tempo todo. Seis meses se
passaram desde o levante, mas nem o sadismo bárbaro da sentença
pacificou o país. A semente havia sido lançada ao vento e germinou. A
rebelião continuou e não parou mais até a libertação de todos os países da
América.

-> REPERCUSSÕES
● A magia do nome Tupac Amaru continua a inspirar ações heroicas, ecoando
pelas montanhas andinas até os dias de hoje. Diego Cristóbal assumiu a
bandeira da rebelião, marcada por deserções nos exércitos coloniais e
ataques tupamaros persistentes, desafiando a repressão que vitimava
crianças e mulheres. Casos de heroísmo incomparável, como guerreiros
preferindo o suicídio ao se verem perdidos, destacaram a profunda
ressonância do grito tupamaro pela liberdade contra a opressão colonialista.
● Entre mortes e deserções, o exército realista, inicialmente com 17 mil
homens contra Tupac Amaru, foi reduzido a cerca de mil e seiscentos após
enfrentar Diego Cristobal e Marino. A perseguição e ataques de pequenos
grupos de guerrilha continuaram, levando a mais baixas. Ao chegar a Cuzco,
Areche enfrentou dificuldades para controlar a situação, apesar de
promessas de perdão, pregações dos padres e castigos cruéis. Finalmente,
Areche foi obrigado a abandonar Cuzco.
● A situação tornou-se insustentável, com minas e obrajes abandonados,
comércio anulado e povoados altos vazios. Os realistas propuseram paz,
perdão e anistia geral. Diego Cristóbal, percebendo a impossibilidade de
continuar, pactuou a rendição. A cerimônia, realizada em Sicuani em janeiro
de 1782, incluiu a anulação da excomunhão de Tupac Amaru, proclamação
da anistia geral e entrega de armas. A espada de Tupac Amaru foi devolvida
como cortesia, e a bandeira de Castela foi erguida simbolicamente sobre sua
cabeça. O vice-rei em Lima publicou o juramento e o perdão, declarando o
fim da rebelião.
● A resistência continua com valentes caciques como Carlos Nina Catari,
Alejandro Calisaya, Simón Condori e Vilca Apasa. No entanto, gradualmente,
caem nas mãos dos realistas. Vilca Apasa enfrenta o mesmo destino que
Tupac Amaru, sendo desarticulado por quatro cavalos, mas também ele
resistiu bravamente. As autoridades realistas aproveitam a contínua oposição
como pretexto para executar o que haviam decidido desde o início: se livrar
definitivamente da família de Tupac Amaru "até a quarta geração". Diego
Cristóbal é acusado de fomentar rebeliões, sendo preso junto com sua mãe,
sua esposa, os filhos de Tupac (Mariano e Fernando) e André Mendeguire.
● A sentença foi redigida com alardes acrobáticos, cuja injustiça era evidente
para todos, a ponto de um ouvidor expressar que o único crime da família era
levar o nome de Tupac Amaru.
● A família foi executada em julho de 1783, e é repugnante descrever a atroz
tortura que o cacique Diego Cristóbal enfrentou, apesar do perdão solene que
lhe fora concedido. Custa transcrever os horrores do ódio e sadismo que se
desdobraram: "Quando chegou a vez de Diego Cristóbal, um braseiro com
enormes tenazes foi colocado perto da forca. O pregoeiro anunciou a
sentença, e os verdugos iniciaram o atenaceo, um castigo que envolvia
arrancar pedaços de carne do réu com tenazes em brasa. Diego Cristóbal
suportou o terrível suplício com estoicismo, demonstrando a firmeza e
desdém dos heróis. Antes de morrer, ele foi rapidamente enforcado. Depois,
foi esquartejado, e seus membros foram expostos publicamente em
diferentes lugares". O restante da família sofreu mais ou menos a mesma dor
que o herói epônimo, com algumas variações nas condenações à prisão
perpétua e desterro para a Espanha. Os filhos Mariano e Fernando foram
enviados à Espanha, com Mariano falecendo no caminho. Fernando, o
pequeno que lançou o grito que estremeceu os Andes, sobreviveu
milagrosamente a um naufrágio e acabou enfrentando um destino difícil na
Espanha, onde morreu em 1798 em condições precárias.
● No Alto Peru, hoje Bolívia, os irmãos Cata - Tomás, Dámaso e Nicolás,
destacaram-se por atos heroicos em resistência aos abusos dos
corregedores, tributos e servidão. Tomás, cacique de Chayanta, teve contato
com José Gabriel Túpac Amaru durante a preparação da insurreição mineira
em Potosí. Ele marchou a pé até Buenos Aires para se queixar dos abusos
locais, buscando uma audiência com o vice-rei Vártiz. Os três irmãos foram
mortos pelos realistas, com Tomás sendo assassinado pelos exércitos do
vice-rei, e os outros dois entregues mais tarde por um grupo local em troca
do perdão prometido pelos inimigos.
● Com a morte de Tomás Catari, Julián Apasa assumiu seu lugar, adotando o
sobrenome Túpac Catari em homenagem aos dois líderes anteriores. Sua
ação mais gloriosa foi o cerco à cidade de La Paz, onde por cento e nove
dias manteve combates quase constantes, levando os sitiados à fome e ao
desalento. Quando estavam quase dispostos a aceitar a paz, ouviram o ruído
característico dos combates: era o encontro dos homens de Catari com as
tropas que chegavam para defender a cidade.
● Enquanto a luta persistia nas frentes avançadas, o cerco à cidade foi
comandado pela esposa do líder, Bartolina Sisa, e só foi suspenso após a
derrota de uma parte do exército rebelde. Posteriormente, foi retomado em
meio a inúmeras revoltas entre indígenas e colonialistas, crioulos e
chapetones, assim como entre membros dos exércitos realistas. Houve
execução de prisioneiros, incluindo crianças e mulheres inocentes, apenas
por suspeitas de apoiar os rebeldes. Bartolina Sisa, esposa do líder, foi
capturada por meio de suborno e promessas de perdão feitas por supostos
partidários que a entregaram.
● Ao final, quando o exército realista se retirou de La Paz, Tupac Catari
reorganizou o cerco com a ajuda de Andrés Mendigure, sobrinho de Tupac. A
despeito de sua tenra idade, com apenas dezenove anos, Andrés já havia
demonstrado bravura no cerco de Sorata, que durou três meses e só foi
vencido quando ele construiu uma represa para deter as águas de degelo do
Monte Tipuani, causando a rendição da cidade.
● No novo cerco, caracterizado por combates constantes, as forças rebeldes
resistiam corajosamente nos ataques diurnos e noturnos. Contudo, com o
reforço de tropas espanholas, as vanguardas rebeldes foram derrotadas,
forçando Tupac Catari e seus companheiros a suspender o segundo cerco.
● Durante as negociações de paz, uma traição ocorreu. Um suposto amigo de
Tupac Catari foi encarregado de convidá-lo para uma festa, onde cem
soldados o prenderiam. No entanto, Catari percebeu o perigo iminente e
escapou. O traidor, chamado Tomás Inca Lipe, indicou seu paradeiro aos
soldados, que eventualmente o capturaram. Como punição, Julián Apasa,
Tupac Catari, foi esquartejado pelos cavalos. Suas irmãs, Bartolina Sisa e
Gregoria Apasa, foram enforcadas.
● A rebelião continuava em várias partes da América, incluindo o Chile, onde
franceses e espanhóis planejaram um levante para alcançar a
independência. Descoberto o complô, os líderes foram enviados ao desterro.
Em um naufrágio em Portugal, Barney e o jovem Andrés Mendigure
perderam a vida. No geral, a resistência notável também foi dominada,
incluindo a liderada pelo cacique Chicaguala.
● A rebelião se espalhou na Argentina, originando-se nos altos dos Andes.
Milícias se sublevaram contra oficiais, manifestando-se contra os abusos que
afetavam o povo. Em Rioja, abriram postos de venda de tabaco a preços
razoáveis. Em Salta, as pessoas impediram o exército de reprimir a revolta.
Jujuy, liderada por José Quiroga, testemunhou um amplo levante
tupamarista. Em Tucumán, a disseminação de ideias revolucionárias e
movimentos guerrilheiros eficazes preocupava as autoridades, especialmente
diante do levante militar, representando um desafio significativo.
● As revoltas foram reprimidas com grande violência, chegando ao ponto de
marcar os insurgentes com um ferro incandescente, um "R" de rebelde no
rosto. Essa prática extrema levantou queixas, mas as autoridades, incluindo o
vice-rei Vértiz, concederam seu apoio à crueldade, permitindo tais marcas em
outras partes do corpo.
● Em Quito, Miguel Tovar y Ugarte e frei Mariano Ortega, entusiasmados com o
movimento tupamaro, ofereceram sua colaboração por carta ao inca.
Delatados, frei Mariano não foi castigado para evitar escândalo, apenas ficou
sob vigilância. Tovar y Ugarte foi condenado a dez anos de prisão no Castelo
de Chagre, onde perdeu a visão, a saúde e, finalmente, a vida antes de
cumprir a pena. Na Colômbia, os comunais lideram os índios em uma luta
contra a miséria e a opressão causadas pelos entrepostos de tabaco e as
penas impostas aos camponeses.
● José Antonio Galán lidera a luta em Charalá, acompanhado por seus irmãos
Hilário e Nepomuceno, mulheres guerrilheiras como dona Manuela Beltrán, e
outros líderes como o cacique Ambrosio Pisco de Bogotá, Javier Mendoza
nas planícies de Casanare, entre outros. A resposta dos colonialistas é uma
luta sem escrúpulos, usando enganos hipócritas e apresentando capitulações
que são inicialmente aceitas e, posteriormente, recusadas pelo vice-rei em
Cartagena.
● O entusiasmo dos comunais é desfeito pela violação do convênio, e apenas
Antonio Galán permanece firme nas regiões do norte. Diante da oferta de
perdão geral em troca da entrega de armas e esquecimento da subversão,
Galán se recusa a se render. Traído por um de seus chefes, ele é
aprisionado, junto com três leais, e todos enfrentam uma sentença e tortura
semelhantes àquelas de Túpac Amaru. A justiça para Galán e seus
companheiros é brutal, incluindo esquartejamento, exposição pública,
demolição de sua casa e salga de suas terras cultiváveis, enquanto sua
descendência é declarada maldita.

-> PARTE IX: Por Terras de Prata


● O Brasil, hoje um vasto mar verde vegetal, inicialmente não testemunhou a
penetração dos conquistadores além de suas costas. A exploração casual do
Rio Amazonas por Orellana tampouco proporcionou um conhecimento
remoto do país e de suas populações. Levaria muitos anos até que os
portugueses se estabelecessem no interior dessas terras selvagens, apesar
da concessão papal que as atribuía aos espanhóis. A posse efetiva ocorreu
quando Cabeza de Vaca, em nome do rei da Espanha, pisou pela primeira
vez o solo brasileiro um pouco abaixo do Rio São Francisco.
● Em 1534, Pedro de Mendoza partiu da Espanha em direção ao sul de um
continente que estava sendo lentamente explorado por incursões
aventureiras. Fundou Buenos Aires nas margens do Rio da Prata, na terra
dos querandíes, indígenas considerados nômades. Apesar de sua vida
itinerante, os espanhóis conseguiram que os querandíes lhes fornecessem
comida por quatorze dias. Contudo, ao faltar um único dia, trezentos
guerreiros bem armados foram enviados para capturar, matar e escravizar os
rebeldes, com a ordem de ocupar seu território.
● Os indígenas se recusaram a fornecer mais comida, causando uma fome tão
intensa entre os espanhóis que três deles foram enforcados por roubar e
comer um cavalo às escondidas. Em um episódio ainda mais trágico, um
espanhol foi descoberto comendo seu próprio irmão morto. Os indígenas,
cientes do sofrimento dos invasores, queimaram seus próprios alimentos
para negá-los aos espanhóis. Após três meses de fome, os querandíes,
aliados aos guaranis, charruas e chaná-timbués, atacaram Buenos Aires,
queimando navios e incendiando a vila com flechas de pontas incendiadas no
dia de São João.
● Pedro de Mendoza, debilitado por sífilis e enfermo, decidiu retornar à
Espanha após a ruína militar, falecendo durante o trajeto. Quanto a Alvar
Núñez Cabeza de Vaca, movido pela nostalgia da aventura, continuou sua
jornada após os dissabores na Flórida. Em 1540, com a licença real e apoio
da capitania geral da terra e província, dirigiu-se ao Prata, onde acabou
sendo morto pelos paraguaios Juan de Ayolas, desencadeando disputas
entre conquistadores e nativos.
● A jornada dos conquistadores, partindo da ilha brasileira de Santa Catarina
até o Paraguai, foi marcada por desafios, desde a densidade das matas até
os encontros com os guaranis, que variavam entre a generosidade e a
escassez na oferta de alimentos. Ao chegarem ao Paraná, em direção a
Assunção, a luta se intensificou, indicando que era o primeiro contato dos
índios com os brancos. A hostilidade cresceu, especialmente em relação a
Irala, um típico conquistador. Além disso, conflitos com clérigos rebeldes e
intrigas foram evidentes, como a tentativa de frei Bernaldo de Armenta e frei
Alonso Lebrón de voltar à costa e denunciar o governador, alegando má
conduta. Isso resultou em descontentamento entre os índios, que pediram a
devolução de suas filhas, entregues aos padres para serem doutrinadas,
alegando que estavam sendo levadas à força para as costas do Brasil. O
governador, ao saber disso, enviou soldados para trazer os padres de volta.
● O episódio envolvendo as trinta e cinco moças causou alvoroço e escândalo
tanto entre os espanhóis quanto entre os indígenas locais, que protestaram
por terem suas filhas levadas. Diante disso, os conquistadores decidiram
reconstruir Buenos Aires, mas tomaram precauções, enviando espiões
cristãos e indígenas à frente para verificar a disposição dos nativos. Na
retaguarda, o governador liderava a marcha com armas prontas,
respondendo rapidamente a informações sobre inimigos guaycurues que
estavam levantando um povoado.
● Diante da iminente batalha, os conquistadores marcaram com uma cruz de
gesso o peito e as costas dos índios amigos para distingui-los na refrega.
Apesar dos esforços do governador para convencê-los a lutar contra outros
indígenas, esses aliados não se engajaram na batalha. Enquanto isso, os
guaycurúes convocavam outras nações, exaltando-se como senhores da
terra, dos ventos, dos animais e dos rios, reforçando suas crenças todas as
noites com tambores e cânticos.
● A batalha contra os guaycurúes foi intensa, com os espanhóis aproveitando
estratégias como encher os arreios dos cavalos com guizos para infundir
pavor. O governador liderou o ataque, e o som dos guizos, juntamente com a
visão dos enormes cavalos, assustou os indígenas, que fugiram para as
montanhas, incendiando seu povoado. Durante o combate, um indígena
habilidoso atingiu a égua de Álvar Núñez com três flechas. Os guaycurúes
eram descritos como grandes, ágeis e corajosos, vivendo de caça e pesca.
Tinham o costume peculiar de se renderem como escravos se derrotados,
mas as mulheres detinham o poder de libertar os capturados.
● Os agaces, considerados a melhor gente de guerra ao longo do rio, atacam o
acampamento espanhol em Assunção. Alvar Núñez, respeitando a lei,
submete os indígenas a um processo judicial, no qual são acusados de
roubos e mortes. Após examinarem o processo, os clérigos, religiosos,
capitães e oficiais de Sua Majestade concordam que a guerra a fogo e
sangue é necessária, de acordo com o serviço a Deus e à Majestade. Treze
ou quatorze indígenas são executados, resultando em um incidente violento
quando atacaram o alcaide-mor ao serem retirados da prisão, sendo dois
deles mortos antes de serem levados à forca. Este episódio serve como um
exemplo marcante da literatura legal-colonialista. Vale notar que o processo
ocorreu imediatamente após os agaces concederem a paz, e a presença de
facas nos indígenas desnudos é questionável.
● O chefe espanhol decide explorar terras acima do Rio Paraguai,
acompanhado por Aracare, um respeitado cacique indígena. Cerca de
oitocentos indígenas seguem os invasores, incendiando campos para advertir
os habitantes a não resistirem. No entanto, os guias e os indígenas desertam,
deixando os espanhóis retornarem fracassados e sozinhos.
● Pela segunda vez, os conquistadores empreendem o caminho com novos
guias indígenas. Passam pela terra de Aracare, enfrentando fome e sede
durante trinta dias. Ao retornarem, Aracare ataca, e os conquistadores,
considerando qualquer oposição como traição, iniciam um processo legal
para executar Aracare, declarando-o inimigo capital. O cacique é sentenciado
à pena de morte corporal e executado, enquanto os indígenas nativos são
informados das razões para a ação.
● Após a execução de Aracare, seu irmão Tabere liderou uma sublevação
geral, resultando na resposta de Alvar Núñez, que enviou Irala com um
contingente para reprimi-la. Irala e suas forças atacaram a cidade fortificada
de Tabere, com combates intensos durante três dias. Eventualmente,
conseguiram entrar no local antes do amanhecer do quarto dia, matando e
capturando muitos. Embora a ajuda de Deus seja mencionada, um soldado
reconhece a importância dos arcabuzes na vitória.
● Tabere e Guazani, após a repressão, são obrigados a colaborar. Guazani
garante paz em seus territórios, enquanto Tabere é levado como refém. Na
seguinte expedição, os carios utilizam flechas envenenadas com uma erva
mortal, especialmente perigosa se usada contra aqueles que não se cuidam
de maneira adequada ao serem feridos. Além disso, uma arma eficaz na
região é a "boleadeira", que custou a vida a Diego de Mendoza, irmão do
primeiro governador.
● Nas terras do Prata, como em outros países invadidos, as hostilidades entre
os indígenas eram exploradas pelo conquistador em seu próprio benefício.
Ao pretexto de auxiliá-los em suas lutas internas, eram utilizados como
peões. Milhares de acompanhantes, guias e carregadores precediam as
expedições e eram os primeiros a sucumbir em batalhas, enfrentar fome,
sede ou sofrer maus-tratos. Os guaranis, intermediários desde o início,
frequentemente eram as vítimas principais, contando-se milhares de mortos
indígenas em todas as batalhas.
● Explorando rio acima até o porto de Candelaria, onde Juan de Ayolas e seus
homens foram mortos pelos paraguaios, o conquistador enfrenta desafios ao
lidar com a falta de comida. Apesar das promessas e ameaças, não
consegue obter suprimentos suficientes. A fome se instala após um encontro
com os guaxarapos, que questionam a bravura dos cristãos. Diante da
recusa dos pescadores ribeirinhos em ajudar, os conquistadores, seguindo
ordens de Cabeza de Vaca, são instruídos a adquirir alimentos por meio da
compra ou, se necessário, pela força. No entanto, falham em ambas as
abordagens.
● A fome se torna uma ameaça enquanto exploram o Rio Paraguai. Durante
dezoito dias de navegação, não encontram nenhuma alma viva, pois os
indígenas desertaram, deixando a região desolada. A situação é tão extrema
que um soldado comenta que a sorte deles foi que os indígenas morreram de
fome, pois, sem isso, os cristãos teriam dificuldades em sobreviver.
● Ao chegarem ao porto de Los Reyes, habitado pelos xarayes, são recebidos
amigavelmente pelo cacique Camire. Contudo, ao serem aconselhados a
avançar para a terra dos inimigos dos xarayes, desistem da empreitada ao
verem a disposição de guerra e a força militar da comunidade. Decidem
então abandonar o local e iniciar o retorno.
● Os conquistadores passaram três meses no porto de Los Reyes, enfrentando
inundações, uma invasão de mosquitos e doenças generalizadas. Durante
esse tempo, o capitão geral ficou doente, e alguns soldados expressaram sua
falta de estima por ele. Enquanto isso, em Assunção, Domingo de Irala,
instigado pelos subordinados rebeldes de Alvar Núñez, prendeu-o de forma
controversa, mantendo-o isolado em condições desfavoráveis.
● As inimizades entre os conquistadores revelam documentos irrefutáveis das
brutalidades cometidas contra os indígenas. Quando a paixão atua como
impulso delator, os fatos emergem com toda a crueza, expondo práticas
como a tomada forçada de mulheres, filhas e bens, sem pagamento,
contribuindo para o despovoamento da terra e forçando os nativos a se
refugiarem nas montanhas para evitar os maus-tratos.
● A situação torna-se ainda mais caótica, com espanhóis fugindo para o Brasil
na esperança de chegar à Espanha e denunciar os horrores que ocorriam.
Aqueles que eram considerados seguidores do governador prisioneiro
enfrentavam torturas cruéis, resultando em muitos ficando aleijados das
pernas e braços devido aos tormentos.
● A viagem de Cabeza de Vaca rumo à Espanha foi marcada por uma terrível
tempestade que despertou superstições entre seus carcereiros. Suspeitando
que Deus os castigava pelos maus-tratos ao governador, libertaram-no das
correntes e pediram perdão, cessando imediatamente a tormenta. No
entanto, o castigo divino alcançou seus carcereiros, com mortes súbitas e
desastrosas. Cabeza de Vaca permaneceu preso na corte por oito anos,
despojado de seu cargo de governador e sem recompensa pelo serviço
prestado na exploração do Prata. Foi proibido de retornar àquelas terras, mas
os relatos continuam revelando os instintos selvagens dos militares na região.
A matança, aprisionamento e saque aos Surucusis foi descrito como uma
"festa patronal".

-> PARTE X: Chile, Terra Indômita.


● O Chile, estendendo-se como uma bainha de espada até os gelos austrais,
viu sua primeira invasão pelo inca Tupac Yupanqui e seu filho Huaina Capac,
que não conseguiram ultrapassar o Rio Maule. Ao sul, os indomáveis
mapuches, também conhecidos como araucanos, recusaram a subjugação a
qualquer invasor. Almagro, em 1536, tentou subjugar os mapuches à coroa
de Castela, mas a guerra se tornou inevitável, resultando na morte dos
principais responsáveis pelos crimes cometidos no Peru.
● A história de Valdivia no Chile é marcada por desafios e conflitos. Fundou
Santiago do Novo Extremo em 1540, enfrentando a resistência indígena.
Diante da dificuldade em obter ouro e do impulso indígena, Valdivia teve que
levantar um forte para proteger sua fundação. Ao enviar emissários ao Peru
para pedir reforços, o grupo foi dizimado por indígenas em Copiapó. Dois
sobreviventes, após serem capturados, foram poupados por uma cacique,
mas acabaram fugindo e iniciaram uma vida amistosa até retornarem aos
espanhóis. Os conflitos com os indígenas persistiram, e Valdivia descreveu
batalhas intensas, destacando a firmeza e destreza dos nativos no combate.
● A conquista da América do Sul trouxe desafios inesperados para os
espanhóis, confrontados por uma população indígena que, longe de se
render facilmente, demonstrou coragem e determinação. A narrativa revela
que a dominação não seria tão simples quanto entrar com cavalos, cachorros
e armas de fogo. Os nativos resistiram, desafiando a força militar dos
espanhóis e resultando em conflitos sangrentos que marcaram a história da
região. A luta constante entre as partes continuou, evidenciando a
complexidade da conquista e suas consequências.
● A tenacidade do invasor e a resistência dos nativos, exemplificadas na
semeadura de ossos e na persistência do araucano em proteger sua terra,
pintam um quadro desafiador. O período entre 1541 e 1553 é marcado por
um avanço notável do conquistador, estabelecendo diversos povoados e
fortificações ao longo do Chile. Essa narrativa revela a complexidade da
interação entre colonizadores e indígenas, moldando a história da região com
cada fortaleza erguida e cada conflito enfrentado.
● Lautaro emerge como uma figura notável, não apenas como um guerreiro
corajoso, mas também como um estrategista astuto. Sua habilidade em
adaptar as táticas de guerra, aprender com os conquistadores e engenhar
armas eficazes demonstra uma resistência formidável. O uso de
engenhosidade e o entendimento das fraquezas dos invasores destacam a
inteligência estratégica de Lautaro, que se torna uma força considerável na
resistência contra Valdivia e seus homens.
● Ainavillo e outros líderes indígenas demonstram coragem e determinação ao
resistir ao avanço dos conquistadores, mesmo diante da adversidade. O ato
simbólico de escolher o ramo mais alto da árvore durante a execução
ressalta a nobreza e o orgulho em sacrificar a própria vida pela defesa do
povo. Esses eventos ilustram a complexidade e a intensidade dos conflitos
durante esse período.

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