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-> Cotubano
● Frente à Ilha Saona, Cotubanamá, notável por sua força, tinha seus
domínios. Ligado por estreita amizade ao conquistador Juan de Esquivel,
ambos trocaram nomes seguindo o costume local, estabelecendo um vínculo
chamado guatiao. Contudo, à medida que a conquista avançava, os horrores
se desdobravam, levando os indígenas a se esconderem nas montanhas e a
caçada humana pelos invasores. Cotubanamá, homem valente, decide fugir
para a ilha vizinha de Saona com aqueles que o seguem, escapando das
atrocidades que assolam sua terra.
● Os conquistadores desembarcam em Saona, liderados por Juan de Esquivel.
Dividem-se para subir a montanha, e o grupo de Esquivel encontra dois
espiões. O capitão apunhala um e leva o outro como guia. Enquanto isso, o
segundo grupo encontra Cotubanamá, que se defende de uma espada com
as mãos, alegando ser Juan de Esquivel. Mesmo ferido, Cotubanamá luta
corpo a corpo com o espanhol, sendo finalmente detido e algemado. O plano
de levá-lo para São Domingos e realizar uma festa de tortura é impedido pelo
comendador maior, que considera a forca um castigo suficiente. Juan de
Esquivel se vangloria da captura como uma de suas maiores façanhas.
● O comendador maior ordena o povoamento de duas vilas espanholas para
manter a província segura, distribuindo os indígenas entre eles. Infelizmente,
os nativos acabam sendo consumidos pelos colonizadores, em mais um
episódio trágico da conquista.
-> Enriquillo
-> Cuba
● A ilha, inicialmente conhecida por vários nomes, era descrita como uma terra
próspera, rica e habitada por indígenas pacíficos. No entanto, após a
chegada de Colombo, os nativos tainos, que ocupavam a região, foram
submetidos a um trágico destino. Muitos optaram por enforcar-se, resultando
em uma cena devastadora com várias casas de indígenas pendurados em
um mesmo povoado. Esta atitude suicida foi interpretada pelos espanhóis
como uma suposta incapacidade para o trabalho, mas historiadores
modernos a veem como uma greve de fome coletiva e revolucionária, uma
resposta biológica diante das imposições adversas ao ritmo vital.
● Guamá, na região de Baracoa, em Cuba, é destacado como o iniciador da
guerra de guerrilhas contra os espanhóis. Ele adota táticas de surpresa e
guerrilha, atacando em pequenos grupos. Guamá lidera insubmissos em
ataques a Porto Príncipe e Baracoa, desafiando a superioridade armada dos
conquistadores. Sua resistência é marcada por combates encarniçados,
culminando em sua morte em 1533 durante um confronto contra os
espanhóis. A narrativa histórica frequentemente distorce esses eventos,
refletindo a necessidade dos conquistadores de justificar seu regime
explorador.
● Hatuey, um taíno que resistia à conquista, migrou para Cuba quando a vida
nas ilhas se tornou insustentável para os nativos. Líder na região de
Guahaba, era conhecido por sua prudência e coragem. Antevendo a chegada
dos espanhóis com armas de fogo, cachorros e cavalos, convocou seu povo
para se opor. Durante um areito, Hatuey mostrou uma canastra de ouro,
identificando-a como o deus dos espanhóis, responsável por seus
sofrimentos. Ao decidirem apaziguar esse "senhor" com festas, Hatuey,
desconfiado, sugeriu se livrar dele, temendo que os espanhóis o
arrancassem de suas entranhas.
● A chegada das hostes conquistadoras causa terror entre os indígenas, que
resistem por três meses antes de se refugiarem nas montanhas. Após gestos
familiares de apreensão e tortura para obter informações sobre o esconderijo
dos caciques, Hatuey, líder indígena, é capturado e condenado à morte.
Hatuey se recusa a ser batizado antes de sua execução, expressando
desdém pelos espanhóis que considera maus (Hatuey lhe pergunta por que
quer fazê-lo cristão, por que quer fazê-lo igual aos espanhóis que são maus?
O sacerdote lhe explica que se se batizar poderá ir para o céu "O cacique
tornou a perguntar se os cristãos iam para o céu. O padre disse que iam ser
bons". Então o cacique negou-se terminantemente a ser batizado para não se
encontrar com eles.). Em um ato de sadismo, durante uma expedição
liderada por Pánfilo de Narváez, o padre Las Casas testemunha uma
crueldade extrema em Caonao, região de Camagüey, revelando o ódio
manifesto dos conquistadores na guerra de extermínio.
● A chegada dos conquistadores a Caonao é marcada por uma recepção
cordial dos indígenas, que oferecem comida e bebida. No entanto, um ato
inexplicável de violência é desencadeado quando um espanhol, sem motivo
aparente, ataca um indígena, resultando em uma matança indiscriminada.
Panfilo de Narváez, líder da expedição, assiste passivamente à carnificina. O
padre Las Casas, indignado, responde com palavras de condenação, mas a
irracionalidade do evento é inexplicável, sendo atribuída pelo padre ao “diabo
que os guiava".
● O indigena se defendia como podia e às vezes realizava feitos incríveis,
dignos de serem transcritos, como o ocorrido em um barco na verde-azul
costa cubana:
Por este tempo, ano de 1516, os espanhóis não esqueceram que tinham a
tarefa de consumir a mansa gente de Cuba. De procurar despovoar também
outras comarcas vizinhas ou distantes, trazendo os nativos delas para Cuba,
para se integrarem a tarefa de extrair ouro, atividade com a qual iam
morrendo rapidamente Vendo que com isto acabavam rápido com os povos
vizinhos, os espanhóis promoveram armadas para saltear os que chamavam
yucayos Entre outras armadas, fizeram uma, na qual aconteceu o seguinte:
saíram do porto de Santiago de Cuba um navio e chegaram a umas ilhotas.
que se chamavam Guanajes. Chegando a elas e estando a população
descuidada, os espanhóis prendem o máximo que podem e retornam à ilha
de Cuba. Chegando ao porto de Carenas, que agora chamamos de Havana.
saíram quase todos os espanhóis do navio para descansar, deixando poucos
para vigiar os indígenas que estavam presos debaixo da escotilha, sem ver
luz alguma. Em seu infortúnio, permaneciam alertas para qualquer
acontecimento. E perceberam que, sobre a cobertura, não soavam mais
tantas pisadas como antes, nem tampouco se ou viam outros barulhos
costumeiros. Entenderam que a maioria deveria ter ido à terra, deixando
apenas uns poucos a guardar o navio. Assim, trataram de forçar a escotilha e
conseguiram romper o cadeado que a sustentava, sem que os oito ou nove
marinheiros que estavam no navio percebessem.
● Os indígenas demonstraram uma incrível habilidade marítima ao assumir o
controle do navio e navegar de volta às suas ilhas, deixando os espanhóis
perplexos e surpreendidos. Sua destreza ao manobrar o barco, utilizando
bússola e carta de navegação, impressionou os observadores. O episódio
destaca a adaptabilidade e a engenhosidade dos indígenas diante dos
desafios impostos pelos conquistadores.
● Inteirado do ocorrido, Diego Velázquez mandou o castigo em dois navios.
"Saltaram à ilha para servir a Santa Catalina, cujo nome lhe haviam posto.
Atacaram todo mundo e levaram como escravos os que não morreram". E
voltou a se repetir a façanha: os indígenas embarcados no navio começaram
a sair pela escotilha e a lutar com os espanhóis até acabar com eles e
tomarem conta da embarcação. Um outro barco veio dar-lhes combate. os
espanhóis ganham, e os ameríndios sendo exterminados, jogam-se ao mar.
Os espanhóis recolheram todas as mulheres que puderam, utilizando as
barcas, e, finalmente, recuperado o outro navio, tendo ambos cerca de 400
pessoas... que puderam prender... e mais de 20 mil pesos em ouro, deram a
volta e chegaram a Havana".
-> Boriquén
● Juan Ponce de León, antes da morte, assaltou a ilha de Boriquén, chamada
San Juan pelos espanhóis. A ilha, rica em ouro, além de ter também uma rica
terra para a agricultura, era governada por um cacique principal chamado
Agüeibana. O primeiro encontro amistoso foi coroado pelo batismo de toda a
família do cacique. A mãe, velha senhora com muita experiência, aconselha
seu filho e todo o povo. Efetivamente, morrem mãe e filho. O que herda o
comando um irmão, também chamado Agüeibana, que havia cooperado com
Cristóbal Sotomayor numa distribuição de escravos e em cuja casa já gozava
dos benefícios da civilização européia. Mas, como no dizer do cronista, "esta
gente, desde índios até a natureza, é ingrata e de más inclinações, e por
nenhum bem que lhes faça, desperta neles a memória nem a vontade para
agradecer", se propuseram a desfazer dos benfeitores não desejados e não
solicitados.
● Os caciques confederados, desconfiando da imortalidade dos espanhóis,
testaram a lenda afogando um cristão. Ao constatar a falsidade, decidiram
atacar simultaneamente os espanhóis. Em 1511, incendiaram o povoado de
Sotomayor, mataram o capitão e cumpriram o plano em seus domínios. León,
em revanche, retaliou, desestruturando os indígenas em batalhas sucessivas
e durante à noite, devastando a ilha.
● Os indígenas, incluindo o cacique Mabodomoca, resistiram até o fim. Os
sobreviventes se refugiaram em Yaguaca, determinados a lutar até a morte.
Juan Ponce de León, ao se aproximar com os espanhóis, recusou as
batalhas regulares oferecidas pelos caciques. Após uma longa guerra, os
caciques Yahureiba e Cacimar foram mortos, sendo este último elogiado
como um valente capitão indígena. A perseguição continuou, resultando na
morte ou dispersão do restante do povo.
● Em uma batalha, um soldado espanhol puxava os indígenas pelos cabelos do
cavalo, entregando-os a seus escravos. Um indígena envenenou fatalmente
o soldado, mas este, mesmo ferido, matou o indígena e vários outros. Com a
extinção dos caciques, a ilha se acalmou, mas a resistência persistiu. Um
povoado, fundado devido a indícios de ouro, foi abandonado devido às
constantes ameaças dos caribenhos, impedindo a extração do metal
precioso.
-> Urraca
● A oposição persistente dos conquistadores em Natá, Veragua, liderada pelo
cacique Urraca, destaca-se entre outros oponentes menos decididos. Urraca,
senhor da rica região de Natá, confrontou os espanhóis quando chegaram
em busca de terras. Após intensos combates e um cerco de quatro dias ao
acampamento espanhol, Urraca retirou-se para executar um plano
estratégico. Escondeu-se nas margens do Rio Atra, enviando homens que,
ao serem capturados, deliberadamente indicaram um falso esconderijo na
montanha, visando ludibriar os invasores.
● Os espanhóis, ao seguir o falso indicativo, caíram em uma cilada preparada
pelos guerreiros de Urraca. Apesar da pressão contínua dos índios, os
conquistadores encontraram uma saída estratégica e, com armas modernas,
prevaleceram. Após a repartição dos cativos, um povoado foi erguido, mas os
indígenas fugiam para se juntar a Urraca. Durante nove anos, em aliança
com Bulaba e Musa, Urraca manteve Natá em sobressalto.
● Os espanhóis, incapazes de prender um corajoso chefe indígena por meios
convencionais, recorreram ao engano. Através de falsas promessas de
negociação e segurança, atraíram o líder ao povoado, onde, confiando na
palavra dada, foi capturado em nome de Deus.
● Indignado, Urraca convocou seu povo para convencê-lo da necessidade de
confrontar aqueles que não cumpriam promessas, careciam de palavra e
recusavam a paz. Preferia morrer combatendo a viver no tormento. Após
todos concordarem, lançaram ataques. Os subjugados se rebelaram,
matando alguns espanhóis, enquanto outros realizavam incursões constantes
em Natá. Essa situação persistiu por anos, até que o cansaço os fez render
gradualmente. Apenas o rei Urraca, com poucos seguidores após tantas
mortes, recusou-se a render-se, mantendo seu aborrecimento contra os
espanhóis até a morte em sua terra.
● O cacique Dururua destacou-se entre os astutos opositores. Capturado pelos
conquistadores durante suas andanças por Veragua e Castela do Ouro, ele
fingiu colaborar ao ser solicitado ouro. Enviou vários emissários, que não
retornaram. Fingindo aborrecimento, propôs ir pessoalmente buscar o ouro,
sendo levado como se fosse um cão com coleira de ferro. Após dias de
marcha, chegaram a cabanas abandonadas, onde Dururua afirmou haver
ouro enterrado. Os espanhóis, descontentes com o resultado da escavação,
agrediram o cacique. Este prometeu riquezas na manhã seguinte, mas mais
de seiscentos guerreiros organizados derrotaram os conquistadores,
salvando Dururua das chamas das cabanas incendiadas.
● A vitória dos nativos nas ilhas ricas em pérolas foi definitiva, resistindo com
sucesso às tentativas de retorno dos conquistadores. A descoberta das
pérolas intensificou a cobiça, pois os caciques as ofereciam abundantemente,
contrastando com a visão dos recém-chegados. Contas de vidro ou tesouras
podiam ser trocadas por pérolas de forma desvantajosa.
● Um grupo enviado por Pedrarias desembarcou em uma ilha durante uma
festa, capturando mulheres e passando rapidamente para outra. Encontraram
a população armada, mas os homens entregues por caciques amigos de
Vasco Núñez influenciaram os ilhéus a oferecer pérolas como forma de evitar
ataques. Um cacique chegou a vender uma pérola do tamanho de "uma noz
pequena" por quatro mil ducados à mulher de Pedrarias.
● A paz foi efêmera, pois os abusos dos espanhóis exauriram a paciência dos
nativos. Os caciques, anteriormente colaboradores astutos de Vasco Núñez,
agora se uniram em resistência. Chucama e dezenove outros caciques
formaram uma confederação, iniciando ataques incendiários às casas dos
espanhóis. Um chefe indígena, Chiruca, foi capturado, torturado e forçado a
revelar a conspiração. Os espanhóis, usando um ardil comum, fizeram
Chiruca atrair os outros caciques, para depois prendê-los. O filho de Chiruca
organizou uma guerrilha constante contra os espanhóis, levando-os ao
desespero. Em uma tentativa de fuga noturna, os conquistadores foram
surpreendidos por uma perseguição implacável, levando-os a terras
desconhecidas e hostis.
● Chegando aos domínios do cacique Toragre, os espanhóis esperavam
descansar, mas encontraram resistência, resultando em baixas significativas
de ambos os lados. A fuga continuou, e até a criminosa ideia de matar as
mulheres indígenas que carregavam consigo para deter os perseguidores foi
ineficaz. Além do cerco, a falta de alimentos e sede agravaram a situação.
Em um momento crítico, os indígenas ironicamente ofereceram água em
troca do ouro obtido pelos espanhóis com tanta ganância. Como observou
Las Casas, essa situação ilustrou a punição merecida pela sede de ouro dos
conquistadores, que, atormentados pela falta de água, foram forçados a
trocar seu precioso metal pela necessidade básica.
● Uma vez, quando alguns capitães entraram no povoado do cacique Chagre
sem incendiar as cabanas, receberam imediato reconhecimento em um
presente avaliado em doze mil castelhanos. Essa demonstração de
humanitarismo despertou cobiça, levando os conquistadores a pressionar o
cacique por mais riquezas. Desgostoso, o cacique sugeriu que enchessem o
cesto com pedras do rio, pois não tinha ouro para oferecer.
● Enquanto passavam pelos domínios de Tubanamá, castigados pelos
conquistadores, o grupo enfrentou uma novidade. Indígenas gritaram insultos
e exibiram camisas ensanguentadas de espanhóis mortos. Gonzalo Badajoz
teve má sorte em Paris ou Pariba, onde o cacique Cutara evacuou mulheres
e crianças por precaução. Ao receber um presente de jóias de ouro, Badajoz
fingiu retirar-se, apenas para retornar dois dias depois, incendiando as casas
e obtendo um pagamento de "uns quarenta mil castelhanos" e muitas
mulheres presas.
● Infelizmente, o pagamento em mulheres era quase tão valorizado quanto o
ouro em muitas partes durante a conquista, tornando-as as primeiras vítimas.
Frei Boaventura de Salinas, referindo-se ao Peru, menciona a presença de
mestiços como testemunhos vivos de estupros, adultérios e violências. Bernal
Díaz compartilha outra monstruosidade ocorrida na Nova Espanha,
descrevendo como os conquistadores marcavam as mulheres como
escravas, apenas para muitas delas desaparecerem antes do leilão
prometido por Cortez. O tratamento cruel e desumano durante esse período é
doloroso de testemunhar, com algumas narrativas sendo escandalizadas e
outras indiferentes a esses atos hediondos.
● O roubo de mulheres enfureceu os indígenas, levando Cutara a se rearticular
e atacar o acampamento espanhol com fúria. Os conquistadores foram
forçados a se retrair na praça, formando um parapeito com os cadáveres de
sua própria gente para se defenderem. Os indígenas os cercaram até
resgatar suas mulheres, cativos e todo o ouro acumulado pelos espanhóis.
● O destino de Badajoz foi notável. Em sua retirada forçada, enfrentou o
cacique de Natá, perdendo tudo o que havia sido o objetivo de sua vida.
Chegou a Darién com poucos soldados restantes. O bispo Fonseca, de
Burgos, lamentou que Badajoz merecesse ter a cabeça cortada por perder os
castelhanos que havia tomado. Badajoz retornou a Castela, onde passou
seus dias sendo ignorado pelo bispo.
-> O Requerimento
● Pedrarias chegou com instruções do rei Fernando, o Católico, para não
atacar os indígenas sem primeiro solicitar sua submissão por meio da leitura
de um requerimento. No entanto, esse documento provocou ironia e
sarcasmo entre os conquistadores, pois sua ineficácia era evidente diante de
povos que não entendiam a língua espanhola, especialmente quando os
requerimentos eram lidos à distância. Apesar disso, o requisito legal era
cumprido de maneira demagógica, buscando silenciar protestos na península
e obter mais escravos.
● A península de Cenú, em Cartagena, era conhecida por abrigar grandes
riquezas, já que os indígenas enterravam seus mortos com jóias de ouro,
pérolas e esmeraldas. Pedrarias enviou o bacharel Enciso para reconhecer a
região, onde este fez uso do famoso requerimento. No entanto, os caciques
responderam de forma desafiadora, recusando-se a aceitar a autoridade do
papa sobre suas terras e destacando que o rei de Castela estava pedindo
algo que não lhe pertencia. A resposta provocou ameaças de guerra por
parte dos espanhóis, que, eventualmente, tomaram o lugar pela força,
enfrentando ataques com flechas envenenadas. O relato destaca a
complexidade das interações durante a conquista, incluindo diálogos de
resistência por parte dos indígenas.
● O requerimento era formalmente acatado, mas sua essência muitas vezes
era ignorada. Os ataques antes do amanhecer eram comuns, como indicado
por Cortez em sua carta a Carlos V. Ele relatou um incidente em que
invocaram a ajuda de Santiago antes de surpreender um acampamento
indígena dormindo. Cortez conhecia detalhadamente o documento,
começando e terminando com notificações formais e ameaças. Ele ressaltava
que, se os indígenas não se submetessem, seriam considerados culpados
pelas consequências, desviando a responsabilidade de suas ações. Essa
estratégia legal meticulosa explica por que Las Casas, um defensor dos
direitos indígenas, muitas vezes foi considerado paranóico ao criticar tais
práticas.
-> Nicarágua
● Dois caciques ajudam os estrangeiros, cedendo e entre gando presentes de
ouro, de prata, telas formosas e manti mentos. Seus nomes são: Nicaragua,
que chama a atenção dos frades porque tem a idéia do Diluvio, e Nicoya.
Mas exis te também Nicaroguan, senhor das altas montanhas do sul, que
contempla indignado a entrega espiritual e material de seu país. Manda dizer
aos dois caciques de sua surpresa por aceitarem "aos espanhóis como
irmãos, acolhendo a seus feios e horripilantes ritos" e lhes comunica de vez
sua de cisão de atacar a todos, tanto os invasores como os subme tidos.
Aconselha-os a se irem, abandonando seus reinos jun to com os espanhóis,
que ele só basta para governar o povo González Dávila, o chefe
conquistador, recebe o desafio e responde com hipocrisia. Enquanto manda
que Nicoya e Ni- carágua preparem um poderoso exército, responde a Ni
caroguan melosamente, dizendo que tem toda a razão, que convencido disto
pretende se retirar, que seu propósito não foi outro que o de conhecer o país,
que está somente de passagem, que "nestes mesmos dias partirei, que não
quero pro- vocar sua justa cólera".
● Nicaroguan confia na palavra dos espanhóis e suspende a formação do
grande exército que preparava, dirigindo-se para as tribos nicaráguas. Ao se
aproximar, é surpreendido por vinte e cinco ginetes reais espanhóis. O
contra-ataque dos nativos é vigoroso, com uma chuva de dardos, pedras e
objetos derrubados das ladeiras. Nicaroguan lidera um grupo de duzentos
indígenas, causando baixas nos ginetes espanhóis. A intervenção da
artilharia espanhola decide a vitória para os conquistadores.
● Nicaroguán, furioso, retira-se para as montanhas, lançando maldições aos
traidores. Os inimigos se preparam para um novo encontro. Uma tentativa de
conciliação é feita, sugerindo que, ao se redimir e adotar a fé cristã,
Nicaroguán poderia depor as armas e receber grandes presentes. Sua
resposta é enérgica, expressando ódio aos "infames criminosos e traidores".
Nicaroguán rejeita a ideia de recorrer à traição, afirmando que sua arrogância
basta sustentar-se no valor e no braço, prometendo empenhar-se durante
toda a sua vida para acabar com eles.
● As tropas europeias, apoiadas pelos chefes indígenas, avançaram para os
lugares ocupados por Nicaroguán, causando destruição em seu caminho. O
encontro foi terrível, resultando na morte de Nicoya e na derrota de
Nicaroguán, que fugiu do local do desastre chorando como uma criança.
Após dois anos e meio de aparente retiro, Nicaroguán voltou com renovado
ânimo, atacando periodicamente por nove anos antes de ser derrotado por
uma esquadra enviada de La Coruña em 1678, encerrando assim o pesadelo
para os invasores.
● O feroz caudilho Nicaroguán, ao se ver vencido e cercado, correu em direção
a um farol próximo, subindo nele como se fosse um pedestal. Gritou: "Não
me haveis vencido, infames! Não lograreis nem sequer o cadáver deste
homem que lhes infundiu pavor apesar de suas armas infernais!" E,
pronunciando essas palavras inflamadas, arrojou-se ao abismo, descendo
como um objeto lançado do alto de uma torre.
-> Xicotencatl
● Os quatro chefes de Tlaxcalla, Maxixcatzin, Xicotencatl, o Velho,
Tlahuexolotzin e Citlalpopoca, optaram por deixar passar o invasor, enquanto
Xicotencatl, o Moço, discute, se opõe, previne e augura desgraças. Vencendo
a experiência e o ressentimento, o conquistador pode cumprir mais uma
etapa em seu caminho rumo ao ansiado Tenochtitlan. No entanto, a oposição
de Xicotencatl e sua gente se faz sentir, com suas "divisas de branco e
colorado". Atacam-nos, cercam-nos, dão uma "facada em uma égua,
cortando-lhe o pescoço, caindo ali morta". Colocam-nos em tão grande perigo
que acreditavam não poder sair dali. Somente a morte de oito capitães, filhos
dos velhos caciques, permitiu-lhes deixar o campo.
● O campo espanhol experimenta curas usando o unto do índio nas feridas
depois das batalhas. As lutas continuam, de dia e de noite, para testar se era
verdade "que depois do anoitecer os misteriosos visitantes perdiam suas
forças".
● Xicotencatl, sempre seguindo-nos, enfrenta-nos, e já faltam cerca de
quarenta e cinco soldados que morreram nas batalhas. Uma cilada é armada
novamente, enviando mensageiros aos anciãos do conselho, alegando que
os conquistadores são inimigos de Montezuma e amigos dos oprimidos por
Tenochtitlan. Xicotencatl, o Moço, fica sozinho com sua bravura e coragem.
"Esse Xicotencatl era de corpo alto e grandes espaldas, de tipo bem feito e
robusto, com rosto alongado. Tinha cerca de trinta e cinco anos e
demonstrava ter uma personalidade firme."
Os velhos impõem sua autoridade: Xicotencatl recebe a missão de ser o
embaixador da paz.
Vinte e quatro dias são necessários para os teules conseguirem entrar na
cidade de Tlaxcala, devido à oposição de Xicotencatl. No entanto, a aliança é
selada de maneira indelével. Seguindo o costume, oferecem suas filhas em
casamento, estabelecendo uma amizade inalterável. Não sabiam eles que,
com isso, estavam imitando a maneira como tentavam consolidar a paz nas
cortes revoltosas da Europa naquela época.
● Tlaxcala faz uma aliança com o invasor, e o indômito Xicotencatl é
encarregado de liderar as primeiras tropas. Mais tarde, após os
conquistadores se recuperarem da derrota e retornarem a Texcoco, o jovem
tlaxcalteca, com sua altivez natural, decide abandonar o exército,
convocando alguns companheiros para ajudá-lo. Ao saber disso, Cortez
ordena sua perseguição, com instruções para prendê-lo ou, em caso de
resistência, matá-lo. O segundo foi executado, e seu cadáver foi deixado
pendente em uma árvore.
● "A família e a propriedade de Xicotencatl foram adjudicadas ao rei da
Espanha. Na propriedade, havia trinta mulheres e uma grande quantidade de
ouro, plumas e roupas finas de algodão."
● A forma como mataram o jovem invencível gerou tanto terror entre os
tlaxcaltecas e outros aliados que ninguém ousou desobedecer.
● O avanço implacável prevalece. Esgotados os meios que Montezuma tenta
interpor entre ele e seu destino, resigna-se ao que considera inevitável e
cede ao invasor. Primeiro, envia seu sobrinho Cacama, senhor de Tezcoco.
Em seguida, Cuitlahuac, senhor de Iztapalapa, onde Bernal viu "coisas nunca
ouvidas nem sonhadas antes: enormes palácios muito bem ornamentados
com cantaria de primeira qualidade, jardins com tanques de água doce e uma
peculiaridade digna de nota: grandes canoas podiam entrar no vergel, vindas
da lagoa por uma abertura que tinham feito, sem tocar em terra. Tudo era
muito branco e limpo, e não acreditava que houvesse outras terras no mundo
iguais a essas naquela época, pois o Peru ainda não era conhecido, pelo
menos na memória. Agora, tudo está destruído, perdido, sem nada restar."
● Montezuma, ricamente vestido, ostentava um manto adornado com preciosas
joias, uma coroa dourada na cabeça, sandálias douradas nos pés atadas
com cordões de couro e cobertas com pedras preciosas. Ele era conduzido
em uma liteira luxuosa, também adornada com detalhes em ouro, enquanto
um guarda-sol de plumas verdes o protegia. Acompanhavam-no centenas de
nobres bem vestidos, embora descalços. À sua frente, três nobres
levantavam as mãos segurando varas de ouro, anunciando a presença do
soberano ao povo. Uma cerimônia magnífica e uma exibição impressionante
de ouro, desde a coroa até a liteira, o que seria suficiente para saciar
qualquer avidez. No entanto, um homem vacilante, perplexo, cujos
movimentos nos parecem incompreensíveis. Apesar disso, Montezuma
estava bem ciente de tudo o que ocorria em sua vasta terra, recebendo
mantas pintadas com o relato detalhado, até mesmo dos movimentos das
acalli, as casas flutuantes. Como Bernal Díaz afirmou: "ele entendia que
nossa missão era buscar ouro". E ele deu.
● Em uma atitude flutuante, Montezuma se posiciona, enviando presentes,
recusando, recebendo e, por fim, permitindo a entrada dos ousados
aventureiros em Tenochtitlan. Gradualmente, eles se apropriam de tudo:
palácios, tesouros e até mesmo da pessoa do rei. Às carícias e à
hospitalidade real, eles respondem prontamente com imposição. Ao
descobrirem o tesouro nacional guardado em uma câmara lacrada, aumenta
a ansiedade que os consome e conseguem que Montezuma o entregue. Três
enormes montes são formados com o ouro e as joias destruídas, deixando
apenas algumas que consideram de singular beleza. A divisão resulta em
desavenças, inimizades e má vontade que persistirão ao longo da vida,
mesmo que naquele momento tenham sido dissimuladas.
● Montezuma permanece prisioneiro, algemado, sob constante vigilância.
Recebe seus súditos na presença de seus carcereiros e sai para seus
templos acompanhado por duzentos soldados espanhóis. Mesmo diante dos
protestos de seus parentes, ele pede calma. Em Vera Cruz, Quauhpopoca
ataca a guarnição deixada por Cortez, resultando em uma batalha difícil com
baixas espanholas e totonacas. Juan de Escalante, comandante da
guarnição, é morto após o incêndio da vila de Nauhtia. A cabeça cortada de
um soldado espanhol morto é mostrada a Montezuma, que, ao vê-la, fica
tomado de pavor e impede que seja oferecida aos deuses nos templos de
Tenochtitlan.
● Cortez exige o castigo para os rebeldes, resultando na entrega de um filho e
quinze nobres por Quauhpopoca, o cacique que liderou o ataque em Vera
Cruz. As armas do arsenal do palácio são queimadas em uma grande
fogueira, incluindo Quauhpopoca e seus companheiros. Cortez consegue
desfazer-se das armas indígenas e prevenir Montezuma. Cacama, senhor de
Tezcoco, reage com violência à passividade de Montezuma, decidindo lutar
contra os espanhóis por conta própria. Após tentativas falhas de
reconciliação, Cacama é preso e entregue por Montezuma.
● Cacama é feito prisioneiro e entregue por Montezuma a Cortez. Outros
senhores, incluindo os de Tlacopan, Tlatelolco, Iztapalapan e Coyohuacan,
também são capturados. Montezuma, acuado, aceita a vassalagem ao rei da
Espanha, expressando grande pesar. Seis meses após sua chegada, Cortez
deixa Tenochtitlan pela primeira vez para enfrentar Panfilo de Narváez,
enviado por Diego Velázquez para prendê-lo por rebeldia. Alvarado, deixado
no comando da cidade, realiza uma matança total dos nobres mexicanos
reunidos no Templo Maior.
● A descrição dos informantes de Sahagún sobre a cerimônia é rica em
detalhes: ao amanhecer, aqueles que planejavam descobrir o rosto do deus
se alinhavam diante do ídolo, incensando-o. Guerreiros jovens celebravam a
festa com entusiasmo, e a cerimônia iniciava com canto e dança, liderados
por aqueles que jejuaram por diferentes períodos.
● já é o baile, já é o canto, já se liga um canto com o outro e os cantos são
como um estrondo de ondas. Neste preciso momento os espanhóis tomam a
decisão de matar as pessoas.
Fecham as saidas, as passagens, as entradas nin- guém pode mais sair...
Cercam os que dançam e se lançam ao lugar dos atabalhos. Dão uma
espadada no que estava tocando, cortando-lhe ambos os braços. Em
seguida o decapitam, indo cair longe da sua cabeça.
As pessoas tentam fugir, procuram as saídas, mas ali são apunhaladas.
Outros escalaram os muros, mas não puderam salvar-se Outros se meteram
entre os mortos, fingindo- se mortos para escapar. Alguns conseguiram, mas
outros levantaram-se antes do tempo e foram decapitados.
● Diante da violência, o povo reage prontamente, cercando o palácio.
Montezuma e Itzcuauhtzin tentam acalmar a situação, mas um grito de guerra
inicia um tumulto. Flechas são lançadas, e os espanhóis usam escudos para
proteger Montezuma e Itzcuauhtzin dos ataques mexicanos. A tensão
aumenta rapidamente.
● O mercado é fechado, privando os espanhóis de comida. Montezuma envia
seu irmão Cuitlahuac para acalmar a situação, mas ele se junta à ação
reivindicatória. Cuitlahuac havia previsto as consequências das indecisões de
Montezuma, alertando sobre a possível perda do reino. Quatro dias após a
matança no templo, Montezuma e Itzcuauhtzin são encontrados mortos,
lançados fora da casa real. A profecia de Cuitlahuac se concretiza.
● Montezuma é levado a Copolco, onde é colocado sobre uma fogueira, seu
corpo consumido pelas chamas. Enquanto queimava, alguns o censuravam e
riam, enquanto outros murmuravam e sacudiam a cabeça. Itzcuauhtzin é
levado de barco a Tlatelolco, onde, apesar da aflição, ninguém o repreende.
Posteriormente, prepararam a bandeira real e jóias, honrando-o com
presentes antes de queimarem seu corpo no pátio do templo em
Quauhxicalli. Uma despedida marcada por rituais e respeito.
● A guerra persiste, com os espanhóis encurralados por vinte e três dias.
Canais são cavados, muros erguidos, e o grito de guerra ressoa pelas ruas
da cidade. Pedras e flechas chovem sobre os espanhóis, que respondem
com balas de canhão, flechas e balestras, causando baixas significativas.
Após quatro dias de intensa batalha, um grupo de guerreiros especialistas,
reconhecíveis pelas insígnias de plumas, instala uma roldana no topo do
templo para lançar grandes vigas e árvores contra os espanhóis. A luta
continua com tenacidade e estratégia.
● Os espanhóis, cientes de que os guerreiros mexicanos subiram ao templo em
forma de pirâmide, seguem atrás. Os escopeteiros avançam lentamente,
descarregando suas armas com cautela, seguidos pelos balisteiros,
portadores de espadas e escudos, e, por último, os lanceiros. Apesar da
resistência dos caciques, que lançam troncos contra eles, os espanhóis se
defendem e, ao alcançarem o topo do templo, começam a dizimar os nativos.
Os caciques tentam fugir pelas circunvoluções do templo, mas todos são
arremessados para baixo pelos espanhóis, nenhum escapa.
● Após duzentos e trinta e cinco dias da chegada de Cortez a Tenochtitlan, e
apesar do inicial recebimento amigável do chefe mexicano, os invasores se
veem forçados a sair silenciosamente numa noite chuvosa, buscando
preservar suas vidas. Envolvendo os cascos dos cavalos em trapos,
carregam o ouro que a ganância os impede de abandonar, tentando alcançar
as pontes que ligam a terra firme às calçadas do lago.
● Em meio à descoberta e ao alerta, muitos espanhóis perderam a vida nos
canais, atingidos por flechas e dardos. A batalha intensa envolveu o uso de
flechas e armas de fogo de ambos os lados, resultando em muitas baixas. O
canal ficou cheio de corpos, forçando os que chegavam por último a
atravessar sobre os cadáveres. Chimalpopoca, filho de Montezuma, e
Tlaltecotzin, príncipe dos tepanecas, morreram na fuga, enquanto os
mexicanos conseguiram um grande saque nos canais. A tentativa de
recuperar o saque atormentou posteriormente Cortez, Cuauhtémoc e seus
seguidores.
● A fuga levou os espanhóis em direção a Tepotzotlan, deixando povoados
vazios à medida que se aproximavam, marcando o caminho com incêndios.
Templos otomís e casas de ídolos foram incendiados ao longo da marcha. Os
indígenas perseguiam os espanhóis, lançando seu grito de guerra. Os
mexicanos chegaram, desencadeando uma feroz batalha onde apenas
alguns escaparam. Apesar da intensidade, os espanhóis emergiram como
vencedores. Após a matança, satisfeitos, continuaram seu caminho, seguidos
pelos carregadores locais. A cidade, apesar da dor, viu a vida renascer,
retomando os rituais e festas dos deuses. Os anos se encadearam, como se
as mãos do calendário se unissem novamente.
● Após a suposição de que os invasores nunca mais retornariam, o templo foi
reconstruído, e os deuses restaurados. No entanto, uma terrível praga de
varíola, o hueycocoliztli, assolou a cidade por sessenta dias fatais,
começando em Teotleco e terminando em Panquetzaliztli, após três vintenas
sagradas. Centenas de mexicanos, incluindo Cuitlahuac, o "senhor que nos
arrojou do México", conforme Bernal Diaz, sucumbiram. Cuitlahuac, homem
prudente e de grande discernimento, conhecido por seu magnífico palácio em
Iztapalapa, foi admirado por Cortez e outros espanhóis. O naturalista
Hernández descreveu seu notável jardim, destacando árvores e plantas de
várias partes do mundo transplantadas por ordem de Cuitlahuac.
● Cuauhtémoc, sobrinho de Montezuma e filho de Itzcoatl, é eleito rei após a
esperança de que o invasor não retornaria se mostrar vã. Cuauhtémoc, um
jovem de vinte e cinco anos, é descrito como um indígena distinto e corajoso,
senhor de Tlatelolco, com um nome evocador e profético: Águia que Cai.
● No entanto, as esperanças se desvanecem diante da determinação invasora,
que vê o país como seu, já pertencendo ao rei da Espanha. Após se
refugiarem em Tlaxcala e se reerguerem, decidem voltar. Texcoco é
escolhida como quartel-general, não apenas por sua proximidade com
Tenochtitlan, mas também por estar às margens do lago, facilitando o uso de
bergantins para atacar a cidade a partir de seu coração.
● Ixtlilxochitl, senhor de Tezcoco, agora batizado como Fernando, torna-se um
aliado crucial com traços de fervoroso neófito. Cuauhtémoc previra que "de
Ixtlilxochitl haveria de sair a ruína dos mexicanos". Com seus duzentos mil
vassalos, ele reforça as fileiras do invasor, sugerindo que não foram os
conquistadores que venceram o México, mas sim Ixtlilxochitl, com sua
influência.
● No entanto, seu fervor cristão não poupou nem mesmo sua própria mãe.
Tlacoxhuatzin, mexicana e resistente à conversão, recusou o batismo.
Ixtlilxochitl, determinado, ameaçou queimá-la viva se não aceitasse o
batismo. Com argumentos persuasivos, ele a convenceu a se dirigir à igreja
para o batismo, enquanto ele incendiava o templo onde ela havia se
refugiado. Uma história marcada por conflitos de crenças e lealdades.
● Cortez, decidindo assegurar sua retaguarda, assalta Iztapalapa para
vingar-se dela, seus habitantes e Cuitlahuac, seu antigo senhor. Encontrando
a cidade abandonada, a destrói, mas observa as águas subindo e
inundando-a, pois os habitantes de Iztapalapa romperam uma barragem para
afogar seus inimigos.
● Determinado a isolar Tenochtitlan, Cortez parte para Otumba, Mixquic e
Chalco, dividindo os antigos estados, depõe seus chefes e estabelece novos.
As alianças formadas nem sempre são duradouras, podendo falhar quando o
terror supera o amor na subordinação dos povos. O conquistador busca
cortar toda ajuda possível a Tenochtitlan, deixando-a isolada.
● Huexotzinco e Cuauhquecholan também se entregam conforme Cortez segue
sua estratégia. Ataca Xaltocan, penetra em Tenayuca, Cuauhtitlan,
Atzcapotzalco e Tlacopan, onde combates intensos duram três dias. Avança
para Huaxtepec, conhecida pelos jardins de Montezuma, e segue para
Yecapixtla, onde a resistência é tão forte que até Cortez admite a grande
matança que tingiu um pequeno rio de sangue, impedindo o consumo de
água.
● Cuauhnahuac (atual Cuernavaca) é a próxima capital tlahuica a enfrentar,
seguida por Xochimilco, de onde Cuauhtemoc envia doze mil homens para
ajudar na resistência. Combates e perdas ocorrem em ambos os lados, mas
o contingente tlaxcalteca, junto aos demais conquistadores, compensa as
baixas do lado espanhol. Uma avalanche de forças acompanha o avanço do
invasor.
● Com tudo pronto, os bergantins na água e Tenochtitlan isolada, inicia-se o
ataque à cidade. Apesar dos oferecimentos de paz previamente feitos,
Cuauhtemoc responde com galhardia. O ataque é conduzido por terra e por
água simultaneamente, e a defesa é digna de louvor por séculos. Homens e
mulheres participam da luta, contribuindo para a resistência inigualável da
cidade. A frase "É necessário que um tenochca se submeta por sua própria
vontade ou pereça por sua própria vontade" ganha significado, destacando a
valentia dos sitiados. Mesmo com a porta aberta para uma rendição honrosa
durante o cerco, eles preferem a morte corajosa à capitulação, merecendo
glórias por sua constância e valor.
● Na História de Oviedo, é destacado que durante o cerco de Tenochtitlan,
muitas coisas foram glorificadas ao longo de gerações, mas curiosamente,
nada é mencionado sobre as mulheres de Temistitan. O autor reconhece que
suas ações foram maravilhosas, demonstrando prontidão e constância ao
servir a seus maridos, cuidar dos feridos e até mesmo trabalhar as pedras
que eram lançadas com fundas, além de outras atividades que não eram
comuns para mulheres. De acordo com Durán, essas mulheres vestiam
"suas armas, espadas e escudos", desempenhando um papel eficaz na
defesa de Tlatelolco.
-> Maias
● A conquista do restante do território que viria a ser chamado de Nova
Espanha encontrou forte oposição dos legítimos habitantes, semelhante ao
que ocorreu na capital mexicana. A epopeia heróica foi marcada por traços
sombrios de tragédia, caracterizando toda a empreitada da conquista.
● Em Yucatán, entre os maias, revelam-se expressões diáfanas nas crônicas e
nos Chilam Balam, destacando a catástrofe da chegada dos estrangeiros:
● "11 Ahau é o Katun em que os maias deixaram de ser chamados homens
maias. Cristãos são todos os súditos de São Pedro e do Rei.
● Nesse dia, inicia-se a contagem da chegada dos estrangeiros do oriente,
portadores do cristianismo. O 11 Ahau marca o término do poder oriental,
entristecendo o céu e pesando sobre o pão de milho de Katun.
● Aos Grandes Itzaes foi dito: 'Alimentem-nos, vistam suas roupas, usem seus
chapéus, falem sua linguagem. Mas tratem-nos com discórdia!'
● 11 Ahau Katun, fase do nascimento do céu, marcou a chegada dos
estrangeiros de barba ruiva, filhos do sol, homens de cor clara. Ai!
Entristeceram-nos ao chegarem do oriente."
● O marco branco descerá do céu, anunciando-se ao amanhecer por todas as
partes. Ai! Entristecemo-nos pela vinda dos grandes construtores, que
empilham pedras e vigas, os que produzem fogo com os braços estendidos,
os que trazem cordas para enforcar os senhores. A palavra de Hunab Ku,
única divindade, entristecerá quando se difundir pela terra a palavra do Deus
dos céus.
● Ai! Entristecemo-nos pela chegada! Ai de Itzá, Bruxo-da-Água, pois seus
deuses nunca verão este Deus Verdadeiro do céu, cujo ensinamento será
apenas sobre pecado. Seus soldados serão inumanos, seus mastins bravos
e cruéis. Ai de nós, Irmãos Menores, no 7 Ahau Katun, pois teremos excesso
de dor e miséria devido ao tributo recolhido pela violência, mesmo entregue
rapidamente. Diferente será o tributo que teremos que pagar amanhã e
depois de amanhã. Meus olhos veem isso. Preparem-se para suportar a
carga de miséria que se aproxima, pois este Katun que se instala é o Katun
da miséria, o Katun dos pactos com o diabo.
● Ai! Muito pesada será a carga do Katun do cristianismo. Virá o poder de
escravizar, homens tornando-se escravos, a escravidão atingindo até os
líderes. Será o fim por obra da palavra de Deus. A instrução será sobre a
construção com pedras, reunindo-as como fala.
● A carga do Katun será enorme, marcando o início dos enforcamentos, do
fogo no extremo dos braços dos brancos. Cairá sobre a geração dos Irmãos
Menores o rigor da batalha, o tributo e a entrada massiva do cristianismo.
Fundamentar-se-á o princípio dos Sete Sacramentos, começará o árduo
trabalho dos povos, e a miséria se instalará na terra.
● A ciência será perdida, a verdadeira sabedoria também. Os malditos
estrangeiros mudaram as cores brancas de suas roupas. Governavam como
donos na terra dos santos homens, enquanto fazíamos guerra bebendo
amargura, pois éramos odiados pelos santos homens.
● O advento dos cristãos com o verdadeiro Deus marcou o início de nossa
miséria, do tributo, da esmola, da discórdia oculta, das lutas com armas de
fogo, dos atropelos, dos despojos, da escravidão por dívidas, do pagamento
das dívidas pelo sofrimento, da altercação contínua e do padecimento. Foi o
início da obra dos espanhóis e dos padres, utilizando os caciques, levando ao
martírio até mesmo das crianças dos povoados. Os pobrezinhos, infelizes,
não protestavam contra o martírio imposto pelos usurpadores dos indígenas,
mas chegará o dia em que as lágrimas deles alcançarão Deus, e a justiça
divina se abaterá sobre o mundo.
● Cristianizaram-nos, mas nos tratam como animais, passando-nos de uns
para outros.
● A constante queixa contra o tributo transcende das páginas dos livros
mágicos para a realidade da ação violenta. Em Valladolid, os índios se
uniram para matar os espanhóis enquanto estes se dividiam para cobrar
tributos, resultando na morte de dezessete em um único dia, ocorrido em
1546.
● Em 1527, os Montejo, pai e filho, começaram a conquista de Champotón,
persistindo na empreitada por uma década. Em 1531, quase perderam a vida
em Campeche. Em Chichén, o cacique Naabon Cupul morre em uma
tentativa de libertar-se da subjugação de Montejo filho, provocando um
levante que força o invasor a recuar. Contudo, utilizando um estratagema,
Montejo filho retorna ao ataque.
● Atam um cachorro ao badalo de um sino, deixando-o fora do alcance de um
pedaço de pão à vista. Cada salto do cão em direção ao pão fazia soar o
sino. O constante repique do sino leva os indígenas a interpretarem como
preparativos de ataque dos espanhóis. Após perceberem o engano, os
nativos os perseguem, mas, apesar disso, os invasores conseguem chegar a
Dzilan. O cacique pacificado permite que partam acompanhados por jovens
senhores de sua família, deixando-os em Campeche para embarcar rumo a
Vera Cruz. Curiosamente, os senhores acompanhantes vão em um cavalo e
dois "na coleira". Surpreendentemente, após deixarem os espanhóis ilesos, o
cavalo morre em seu retorno.
● Ah Canul, uma província sempre hostil aos invasores, resistiu até 1541. Em
1546, todas as províncias orientais se insurgiram. Os copules, tacees e
chiquincheles decidiram "não deixar que a vida permanecesse com cheiro de
espanhol". Mataram dezoito conquistadores e quatrocentos naborias (criados
indígenas a serviço do conquistador).
● A oposição maia está repleta de relatos de ações corajosas, embora os
nomes dos protagonistas frequentemente se percam, já que os cronistas
antigos evitavam nomear os heróis autóctones. Um relato descreve a mortal
inimizade entre um balisteiro espanhol e um arqueiro indígena, cujos nomes
são desconhecidos. Num momento em que o espanhol se finge distraído, o
maia lhe atira uma flecha que atravessa sua mão. A resposta do ferido é um
tiro de balista diretamente no peito do indígena. Sentindo que estava
morrendo e para evitar que dissessem que um espanhol o matou, o maia
corta um cipó e se enforca à vista de todos. O bispo Landa afirma que há
muitos exemplos dessas valentias.
● Os motivos para tanta e feroz adversidade, se fosse necessário buscá-los
nas vítimas do opróbrio da conquista, são apontados pelo próprio Landa ao
explicar um dos atos inúteis e gratuitos de sádica crueldade. Em um povoado
chamado Varey, "enforcaram duas índias, uma donzela e outra
recém-casada, não porque tivessem culpa de alguma coisa, mas
simplesmente porque eram muito bonitas e temiam que pudessem provocar
disputa entre os espanhóis. Todavia, disseram que faziam isso para mostrar
aos indígenas que as mulheres não interessavam aos espanhóis." De forma
incoerente, aparentemente esqueciam-se de que até há pouco tempo lhes
era muito caro "o bom serviço de mesa e de fêmeas".
● Os povos maias, não dispostos à submissão e contrários à mudança de
religião e aos procedimentos dos conquistadores que se viam como donos e
senhores pelo simples fato de chegarem, opõem-se à conquista,
conseguindo retardá-la por anos. Alguns resistem pela força, enquanto outros
adotam uma postura passiva. Adicionando a isso o escasso resultado
econômico da sujeição de povos em um território supostamente rico em ouro
e pedras preciosas, mas carente dessas riquezas, a conquista dos Montejo
revela-se mais como um fracasso.
● Mesmo aqueles que inicialmente os receberam pacificamente, de repente,
manifestaram hostilidade. Em Chikin-Chel, por exemplo, os caciques saíram
ao encontro de Montejo pai como se recebessem um hóspede muito
esperado. No entanto, um homem entre eles tentou atacar Montejo com um
alfanje. O Adiantado se defendeu até a chegada dos espanhóis,
compreendendo a necessidade de cautela. Talvez tenham percebido também
que os nativos não estavam dispostos a servir estrangeiros onde antes eram
senhores.
->TASCALUZA
● Um líder indígena impressionante, descrito como um gigante formoso e
severo, recepciona os espanhóis na Flórida. Sua presença imponente
destaca a ferocidade de seu caráter. Ao se aproximarem de seus domínios,
ele os recebe com uma cadeira e uma bandeira, algo inédito para os nativos
que nunca tinham visto símbolos militares. Essa descrição destaca a
complexidade das interações culturais durante a conquista espanhola na
região.
● A desconfiança entre espanhóis e indígenas cresce durante a recepção. Dois
espanhóis desaparecem, gerando suspeitas de traição. Cada gesto é
interpretado com medo e consciência pesada, ilustrando as tensões e a
desconfiança durante esse encontro entre culturas distintas.
● Tascaluza presenteia o conquistador e o conduz até o povoado Mauvila.
Contudo, a suspeita sobre os espanhóis desaparecidos gera tensões. Pouco
após a chegada, uma feroz batalha se desencadeia, com indígenas e
espanhóis lutando até o esgotamento, destacando a intensidade dos
conflitos.
● A intensa batalha resultou em considerável mortandade, sendo os indígenas
mais vulneráveis devido à falta de armas defensivas. No desfecho, os
espanhóis optaram por incendiar as casas de telhado de palha no interior do
povoado, resultando na morte de muitas pessoas, incluindo mulheres
refugiadas nas habitações em chamas.
● A batalha persistiu por nove longas horas, durante as quais as mulheres
demonstraram bravura ao lutar tanto quanto os homens, utilizando arco e
flecha e recolhendo armas deixadas pelos espanhóis. Enquanto os cavaleiros
engajavam os indígenas no campo, outros atacaram uma esquadra de índios
e índias que resistiam desesperadamente. A ferocidade do combate resultou
em mortes indiscriminadas de indígenas e espanhóis.
● No desfecho da batalha, um indígena, alheio ao que acontecia ao redor,
enforcou-se em uma árvore, evidenciando a audácia e desespero com que
lutaram. Ao final, contaram cerca de mil setecentas e setenta feridas curáveis
entre os espanhóis, a maioria no rosto ou pescoço, pois os indígenas
mudaram seu alvo ao perceberem o uso de couraças. Os mortos espanhóis
foram sepultados, e o unto dos indígenas falecidos foi utilizado como
ungüento para tratar as feridas dos sobreviventes.
● A incerteza sobre o destino de Tascaluza persiste, com relatos contraditórios
sobre sua sorte. Os espanhóis, apesar da vitória, enfrentaram perdas
significativas com a morte de oitenta e dois homens e quarenta e cinco
cavalos. O incêndio no povoado resultou na perda de seus pertences,
deixando-os sem abrigo para a noite. A situação complicou-se ainda mais ao
ficarem sem trigo e vinho para a missa, pois a dúvida sobre o uso de pão de
milho e vinho não proveniente de uvas os fez optar por prescindir da
celebração.
● A frustração diante da ausência de ouro e prata na Flórida, somada à
resistência feroz dos indígenas de Mauvila, gerou inquietação nos soldados.
Descontentes e desejando riquezas como as do Peru e do México,
planejaram fugir ao chegar à costa. Hernando de Soto, ciente do plano,
buscou evitar isso, mas a falta de resultados positivos levou-o a uma jornada
sem propósito, até sua morte.
● Os desafios persistiram após Mauvila, com indígenas hostis atacando os
espanhóis durante suas jornadas. Em Chicaza, o cacique de mesmo nome
liderou um ataque surpresa à meia-noite, resultando na vergonhosa fuga dos
espanhóis. Esses confrontos custaram aos conquistadores cavalos, homens
e porcos, além de revelar a prática dos indígenas de usar cordões para
capturar castelhanos, cavalos e porcos, causando indignação entre os
espanhóis.
● Os indígenas surpreenderam os espanhóis com sua precisão ao atirar
flechas, atravessando os corações dos cavalos. Apesar de um segundo
ataque parcialmente frustrado pela chuva, os conquistadores decidiram
levantar acampamento e prosseguir, enfrentando fome, frio e sono.
● Em Chisca, o senhor idoso exige a devolução de tudo roubado durante o
primeiro assalto antes de receber qualquer emissário dos conquistadores. Os
espanhóis atendem às exigências, garantindo assim a permissão para
ficarem e se recuperarem.
● Em sua jornada, os espanhóis cruzam repetidamente o Rio Grande,
explorando diferentes direções sem rumo definido. Aproveitam as rivalidades
entre caciques, como Casquín e Chapaca, que se envolvem em conflitos.
Durante esses episódios habituais, incluindo incêndios, roubos e ataques a
templos adornados com joias, o governador Hernando de Soto utiliza sua
estratégia habitual de demagogia para ganhar a amizade de ambos os
caciques. Em uma tentativa de apaziguamento, devolve duas mulheres feitas
prisioneiras na batalha a Capaha, que as rejeita alegando contaminação pelo
inimigo.
● Explorando ao longo do rio, os espanhóis chegam à província de Tula,
habitada por uma população ainda mais combativa, composta por homens e
mulheres dispostos a lutar até a morte. Durante uma patrulha a cavalo em
busca de inimigos, os espanhóis capturam alguns indígenas que preferem a
morte à captura, resistindo até serem mortos pelos conquistadores. Essa
atitude surpreende os espanhóis, que ficam admirados com a ferocidade dos
habitantes locais.
● Os habitantes da província de Tula se destacam por suas características
distintas em comparação com outros indígenas encontrados até então. Além
de serem feios de rosto, tanto homens quanto mulheres, adotam práticas
como alongar e pontuar as cabeças, tornando-os abomináveis aos olhos dos
espanhóis. Essa impressão negativa pode também ser influenciada pela
resistência feroz que os nativos oferecem ao serem expulsos de suas terras.
● As terras de Utiangue revelaram um povoado abandonado, mas repleto de
alimentos que os habitantes não puderam levar consigo ao fugirem da
iminente chegada dos conquistadores. Apesar das ofertas de paz e amizade
feitas repetidamente pelo governador, os nativos resistiram, enviando espiões
para vigiar o acampamento espanhol e recusando-se a aceitar as propostas
de reconciliação.
● Naguatex permanece invisível, enviando comida, boas palavras e quatro
indígenas como guias. Durante a jornada, percebem a ausência de Diego de
Guzmán, um nobre de Sevilha com vestimentas e cavalos luxuosos.
Temendo pela vida do espanhol, descobrem que ele optou por ficar
voluntariamente, atraído pela filha do cacique. A história incrível suscita
desconfiança, mas o próprio Guzmán confirma sua decisão, recusando-se a
retornar aos espanhóis. O grupo segue seu caminho após essa
surpreendente reviravolta.
● Os espanhóis, em sua errante jornada, enfrentam rios, construindo barcas
incansavelmente. A resistência dos nativos varia, desde o abandono
precipitado de povoados até a resistência passiva de líderes como Anilco,
que se limita a fazer sinais. Em outros casos, como Guachoya, há
colaboração temporária para atacar inimigos comuns. Hernando de Soto
continua a buscar alianças, enquanto os cronistas atribuem frequentemente
atrocidades aos indígenas, enfatizando a suposta intenção amistosa do
conquistador.
● Guachoya proporcionou aos espanhóis uma percepção notável da
universalidade das reações humanas. Seu espirro desencadeou uma
saudação sincronizada por parte dos senhores indígenas, levando Hernando
de Soto a comentar sobre a unidade humana. Ficou marcado entre os
espanhóis o insight de que mesmo entre povos considerados bárbaros, as
cerimônias comuns transcendem diferenças culturais. Uma revelação que,
lamentavelmente, não foi feita por todos os conquistadores desde o início de
suas jornadas.
● Quigualtanqui, do lado oposto do rio, advertiu o governador para que
enviasse representantes antes de adentrar sua terra, ameaçando mostrar o
erro cometido ao virem para aquele lugar. Jurou, diante de seus deuses, que
mataria Hernando de Soto e sua comitiva ou morreria defendendo sua
posição, caso decidissem permanecer ali.
● O governador Soto, após sucumbir a uma febre, foi sepultado secretamente à
noite. Temendo que os indígenas desenterrassem o corpo, passaram com
cavalos sobre a sepultura e a cobriram com galhos. No entanto, os nativos
perceberam o local e, na noite seguinte, os espanhóis desenterraram o
corpo, colocando-o dentro de um tronco de carvalho que afundou no meio do
Rio Mississipi, tornando-se seu túmulo final.
● Após a morte de Soto, os espanhóis, desprovidos de artilharia e pólvora,
aceleram a construção das embarcações para deixar a Flórida. Perseguidos
pelos guerreiros de Quigualtanqui em suas canoas rápidas, enfrentam uma
fuga tumultuada, marcada por emboscadas e perdas. Acompanhados por
música guerreira e gritos indígenas, os espanhóis enfrentam dezessete
embates, resultando na morte de Juan Terrón, perfurado por mais de
cinquenta flechas.
● A proximidade do mar finalmente liberta os espanhóis dos indígenas. No
entanto, apenas cerca de trezentos dos mil homens que chegaram
conseguem alcançar a terra da Nova Espanha, através de Pánuco.
-> Guaicaipuro
● Na região atual de Caracas, um jovem cacique ascendeu ao poder por
eleição popular, unindo teques, caracas e outros povos sob sua soberania,
incluindo araguas, maracayes e cumanagotas. Seu biógrafo, o abade Moulin,
o descreve como o "braço forte da brava raça", comparando-o a figuras como
Espártaco, Péricles e Carlos de Gante. Considerado original e genial, suas
ações eram sempre inesperadas, envoltas em um halo de inspiração
semelhante à auréola dos santos.
● O jovem cacique, enamorado de sua esposa Urquía, surpreendeu ao
renunciar ao harém que lhe seria concedido como chefe, desafiando os
costumes. Embora causasse estranheza, sua atitude foi aceita. Ao
questionarem o motivo, ele respondeu: "a minha vale mais que todas". Além
disso, recusou o amor de Yarúa, cacique dos maturines, o que levou esta
última a se aliar aos invasores contra ele, movida pelo despeito.
● Recém-eleito, Guaicaipuro começou a receber avisos e presságios de males
iminentes. Indivíduos com características notáveis, descritos como tendo a
cor das nuvens da manhã e pele resistente, apareceram em seu caminho.
Pedidos de auxílio chegavam de várias regiões, mas o mais urgente veio dos
maracapanes, alertando sobre invasores que tomaram a costa dos macutos.
Guaicaipuro agiu prontamente, escolhendo o vale dos caracas nas serranias
de Avila como ponto de convergência para as forças armadas. Preparou
meticulosamente para a guerra, considerando todos os detalhes e garantindo
grandes reservas de alimentos para a união daqueles que enfrentariam o
perigo comum pela primeira vez.
● Antes da batalha, o campo indígena brilhava como um arco-íris de penachos
de plumas ao sol. A impressionante cor vermelha dos guerreiros surpreendeu
até mesmo seus inimigos. Mesmo já dizimados, os indígenas decidiram
atacar as trincheiras dos espanhóis. Quando estes perceberam a iminente
investida, saíram armados de tochas, alabardas, espadas e protegidos por
malhas de aço e escudos. As flechas, por fim, sucumbiram diante das armas
de fogo. Era a segunda metade do ano de 1560.
● Guaicaipuro encarou a derrota como uma desonra pessoal, mas os
ensinamentos de um sábio sacerdote o impediram de se suicidar, chamando
isso de uma "prova caprichosa da má sorte". Com ânimo renovado, ele
incentivou seu povo a lutar contra os invasores estrangeiros, hostilizando-os
incessantemente. A resistência persistiu incansavelmente, mas a Espanha
buscava consolidar a posse das terras. Uma dura batalha, a de Antimano,
ocorreu com Guaicaipuro sendo apoiado pelos caciques Urinare, Paramacay
e Catia. Nesta batalha, Catia foi atingido no peito por uma pedra de canhão.
A "má sorte" parecia favorecer os canhões pedreiros espanhóis.
● A deserção dos aliados por medo começou, enquanto a Espanha continuava
a enviar exércitos para consolidar suas conquistas. A cidade de Santiago de
León de Caracas foi fundada. Guaicaipuro e os guerreiros leais refugiaram-se
nas montanhas, levando a Encomenda a buscar a libertação definitiva do
valente cacique que obscurecia suas vitórias como um pesadelo. Um
processo legal foi tramado contra Guaicaipuro, acusando-o de "homicídio,
roubo, assalto e violência". Uma busca liderada por um capitão partiu com
cem homens armados para capturá-lo. Guaicaipuro, com vinte e três homens,
resistiu em uma casa fortificada na montanha durante mais de três horas,
enfrentando um combate feroz. Ao ser forçado a abandonar seu refúgio
devido ao fogo provocado pelos espanhóis, Guaicaipuro lutou como um leão,
dirigindo palavras desafiadoras aos conquistadores antes de cair morto,
alvejado por balas. Agonizante, chamou seus matadores para testemunhar a
morte do último homem livre das montanhas.
● Guaicaipuro lutou pela sua terra e sua raça até a morte. Capturado conforme
os protocolos tramados por Losada na Encomenda de Caracas, foi morto.
Sua cabeça foi exposta em um local frequentado tanto por espanhóis quanto
pela população indígena, no topo de um monte.
-> RUMINAHUI
● Rumiñahui, irmão de Atahualpa, era o guardião do segredo. Após a morte do
inca, ele retirou-se para Quito, tornando-se líder supremo. Rumiñahui
desenterrou Atahualpa em Cajamarca e o levou a Quito, onde seu povo
prestou homenagens durante quinze dias.
● Alvarado, ansioso por fortuna, liderou uma expedição até o Peru com sete
embarcações, cavalos e soldados. Ao desembarcar em Guayas em busca do
caminho para Cuzco, enfrentaram uma jornada penosa através de pântanos,
bosques tropicais e montanhas nevadas. O frio e os ataques guerrilheiros
liderados por Rumiñahui causaram estragos, marcando o caminho com
cadáveres congelados e desafios constantes.
● Rumiñahui, um herói de Quito, desempenhou papéis significativos na
formação militar de Atahualpa e liderou exércitos incas. Sua bravura foi
evidente em confrontos contra os espanhóis, especialmente na batalha de
Tiocajas, onde anulou temporariamente o poder das armas espanholas.
Rumiñahui mostrou resistência em face da aliança entre Belalcázar e os
cañaris, forçando uma interrupção na batalha noturna. Sua estratégia incluiu
cortar a cabeça de um cavalo para desmistificar a suposta imortalidade
desses animais. Embora tenha enfrentado obstáculos, como a erupção do
vulcão Tungurahua, Rumiñahui permaneceu um líder valente contra a
invasão espanhola.
● Rumiñahui, desesperado com a fraqueza de sua gente, retirou-se para
Ambato, defendendo bravamente sua retirada enquanto os espanhóis
persistiam em sua matança. Seu nome, Ati, significava vencedor e invencível,
e ele fez com que os invasores pagassem um preço alto por seus triunfos. Ao
chegar a Quito, Rumiñahui protegeu seu povo, fechou os canais da cidade e
a incendiou antes de ser localizado por Belalcázar. Submetido à tortura para
revelar o paradeiro dos tesouros, resistiu com coragem, até que, diante de
sua recusa, Belalcázar o condenou à morte na fogueira.
● Herrera, o historiador, relatou: "Irruminavi (Rumiñahui) escondeu-se muito
triste, foi preso numa pequena choça, mas sem mostrar fraqueza, encerrando
assim as guerras de Quito. Belalcázar, na busca pelo ouro escondido, aplicou
tormentos cruéis, mas eles permaneceram tão firmes que ele acabou apenas
com sua cobiça e crueldade, matando-os." "Assim terminou o herói de Quito,
junto com seus bravos amigos, caciques Zopozopangui, Quinbalimbo, Razo
Razo e Nina."
● Apesar do horror desencadeado pela repressão, os quitenses mantiveram
sua oposição por muito tempo. Após a marcha dos conquistadores,
enfrentaram manifestações de rebelião. Em Quijos, Jumandi liderou uma
valente revolta durante a busca pelo país da canela. Em 1578, os povoados
de Archidona e Ávila foram atacados pelos indígenas, que não pouparam
nem as plantações dos colonos. Em Baeza, a revolta foi repelida com balas
de prata. Jumandi foi preso e levado algemado até Quito, onde sofreu uma
morte atroz. Os espanhóis, ao perseguir os rebeldes, infligiram uma punição
cruel, incendiando casas com indígenas dentro, resultando na morte de
mulheres e crianças.
● As notícias sobre a chegada de Alvarado ao Peru chegaram a Pizarro
enquanto se dirigia para Cuzco. Imediatamente, enviou Almagro para
bloquear seu caminho, instruindo-o a usar toda a astúcia possível. A
habilidade de Almagro foi notável, pois conseguiu negociar com Alvarado,
que aceitou cem mil pesos de ouro bom e, abandonando seu contingente e
recursos, retornou à Guatemala. Não sem antes enfrentar a intensa
resistência dos indígenas do Equador.
● Pizarro e Almagro perceberam a falência de suas expectativas quanto à
morte de Atahualpa para pacificar a região, ao serem repelidos durante sua
jornada rumo à capital incaica. Os senhores locais, próximos a Atahualpa,
reagiram com surpresa ao saber do assassinato enquanto se dirigiam com
ouro para pagar o resgate combinado. Titu Atauchi, irmão de Atahualpa,
atacou os espanhóis com intensidade, desbaratando-os e fazendo vários
prisioneiros, incluindo Cuéllar, que desempenhara o papel de escrivão no
julgamento e acompanhara Atahualpa até a execução.
-> QUIZQUIZ
● Quizquiz, o famoso capitão dos ministros de Atahualpa, ofereceu uma
batalha intensa aos conquistadores, retirando-se estrategicamente para o
monte e surpreendendo-os com um contra-ataque vitorioso. Com pontes
queimadas para evitar retaliações, uniu-se a Titu Atauchi e dirigiu-se a
Cajamarca. Lá, investigaram detalhadamente o que aconteceu com
Atahualpa e decidiram uma reparação simbólica: condenaram o escrivão
Cuellar a repetir, passo a passo, "a morte e enterro de Atahualpa". Outros
prisioneiros que se opuseram à execução foram perdoados. Juntos,
propuseram a Pizarro certas condições de paz, incluindo aceitar Manco
Capac como inca superior, respeitar as leis dos antigos incas em benefício de
seus vassalos e concordar com a lei cristã, além de enviar as condições a
Espanha para aprovação imperial. Comprometeram-se a não atacar os
espanhóis, aceitando-os como uma desgraça inevitável anunciada por seus
deuses, e ofereceram alimentos e serviços, excluindo escravos. Titu Atauchi
e Quizquiz retiraram-se, aguardando pacificamente uma resposta.
● Pizarro continua sua jornada, tendo capturado Calicuchima, importante
capitão de Atahualpa, acusado de matar Huascar por ordens do inca
prisioneiro. Pizarro decide levá-lo consigo como refém, mas, ao perceber a
expressão de contentamento de Calicuchima durante um ataque de Quizquiz,
supõe que ele representaria um estorvo. Calculando que o capitão seria uma
ameaça, decide queimá-lo, embora alguns considerem isso uma medida
muito drástica. Antes do suplício, oferece a Calicuchima a opção do batismo,
que permitiria uma execução menos dolorosa, mas Calicuchima, mesmo
contra sua própria religião, escolhe a fogueira em vez da degola.
● A caminho da bela capital inca, Pizarro enfrentou a última resistência fugaz
dos habitantes locais. Almagro, usando suas artimanhas, e Alvarado,
tentando tirar vantagem de seu fracasso, dirigiram-se a Cuzco para se
encontrar com Pizarro. Conscientes da presença de Quizquiz na região,
decidiram atacá-lo surpreendentemente, acelerando a marcha para pegá-lo
desprevenido à noite. Quizquiz retirou a população indefesa para uma serra
alta, enviando Huaipalica para o ataque. O confronto foi feroz, com grandes
pedras rolando escarpadas abaixo, causando estragos nos invasores.
Almagro quase foi atingido e perdeu seu cavalo. Quizquiz continuou a resistir,
apresentando batalha vitoriosa após batalha, causando significativas perdas
aos espanhóis.
● Quizquiz, audacioso e corajoso, ao testemunhar a desastrosa retirada dos
espanhóis, intensificou sua determinação de lutar contra eles até expulsá-los
do país. No entanto, outros, apesar da vitória recente, eram mais pessimistas
e consideravam o refúgio nas montanhas como a opção mais segura. A
discussão entre esses dois conceitos aparentemente alcançou um ponto de
violência extrema, resultando na perda trágica de Huaipalica, o herói da
resistência.
-> REPERCUSSÕES
● A magia do nome Tupac Amaru continua a inspirar ações heroicas, ecoando
pelas montanhas andinas até os dias de hoje. Diego Cristóbal assumiu a
bandeira da rebelião, marcada por deserções nos exércitos coloniais e
ataques tupamaros persistentes, desafiando a repressão que vitimava
crianças e mulheres. Casos de heroísmo incomparável, como guerreiros
preferindo o suicídio ao se verem perdidos, destacaram a profunda
ressonância do grito tupamaro pela liberdade contra a opressão colonialista.
● Entre mortes e deserções, o exército realista, inicialmente com 17 mil
homens contra Tupac Amaru, foi reduzido a cerca de mil e seiscentos após
enfrentar Diego Cristobal e Marino. A perseguição e ataques de pequenos
grupos de guerrilha continuaram, levando a mais baixas. Ao chegar a Cuzco,
Areche enfrentou dificuldades para controlar a situação, apesar de
promessas de perdão, pregações dos padres e castigos cruéis. Finalmente,
Areche foi obrigado a abandonar Cuzco.
● A situação tornou-se insustentável, com minas e obrajes abandonados,
comércio anulado e povoados altos vazios. Os realistas propuseram paz,
perdão e anistia geral. Diego Cristóbal, percebendo a impossibilidade de
continuar, pactuou a rendição. A cerimônia, realizada em Sicuani em janeiro
de 1782, incluiu a anulação da excomunhão de Tupac Amaru, proclamação
da anistia geral e entrega de armas. A espada de Tupac Amaru foi devolvida
como cortesia, e a bandeira de Castela foi erguida simbolicamente sobre sua
cabeça. O vice-rei em Lima publicou o juramento e o perdão, declarando o
fim da rebelião.
● A resistência continua com valentes caciques como Carlos Nina Catari,
Alejandro Calisaya, Simón Condori e Vilca Apasa. No entanto, gradualmente,
caem nas mãos dos realistas. Vilca Apasa enfrenta o mesmo destino que
Tupac Amaru, sendo desarticulado por quatro cavalos, mas também ele
resistiu bravamente. As autoridades realistas aproveitam a contínua oposição
como pretexto para executar o que haviam decidido desde o início: se livrar
definitivamente da família de Tupac Amaru "até a quarta geração". Diego
Cristóbal é acusado de fomentar rebeliões, sendo preso junto com sua mãe,
sua esposa, os filhos de Tupac (Mariano e Fernando) e André Mendeguire.
● A sentença foi redigida com alardes acrobáticos, cuja injustiça era evidente
para todos, a ponto de um ouvidor expressar que o único crime da família era
levar o nome de Tupac Amaru.
● A família foi executada em julho de 1783, e é repugnante descrever a atroz
tortura que o cacique Diego Cristóbal enfrentou, apesar do perdão solene que
lhe fora concedido. Custa transcrever os horrores do ódio e sadismo que se
desdobraram: "Quando chegou a vez de Diego Cristóbal, um braseiro com
enormes tenazes foi colocado perto da forca. O pregoeiro anunciou a
sentença, e os verdugos iniciaram o atenaceo, um castigo que envolvia
arrancar pedaços de carne do réu com tenazes em brasa. Diego Cristóbal
suportou o terrível suplício com estoicismo, demonstrando a firmeza e
desdém dos heróis. Antes de morrer, ele foi rapidamente enforcado. Depois,
foi esquartejado, e seus membros foram expostos publicamente em
diferentes lugares". O restante da família sofreu mais ou menos a mesma dor
que o herói epônimo, com algumas variações nas condenações à prisão
perpétua e desterro para a Espanha. Os filhos Mariano e Fernando foram
enviados à Espanha, com Mariano falecendo no caminho. Fernando, o
pequeno que lançou o grito que estremeceu os Andes, sobreviveu
milagrosamente a um naufrágio e acabou enfrentando um destino difícil na
Espanha, onde morreu em 1798 em condições precárias.
● No Alto Peru, hoje Bolívia, os irmãos Cata - Tomás, Dámaso e Nicolás,
destacaram-se por atos heroicos em resistência aos abusos dos
corregedores, tributos e servidão. Tomás, cacique de Chayanta, teve contato
com José Gabriel Túpac Amaru durante a preparação da insurreição mineira
em Potosí. Ele marchou a pé até Buenos Aires para se queixar dos abusos
locais, buscando uma audiência com o vice-rei Vártiz. Os três irmãos foram
mortos pelos realistas, com Tomás sendo assassinado pelos exércitos do
vice-rei, e os outros dois entregues mais tarde por um grupo local em troca
do perdão prometido pelos inimigos.
● Com a morte de Tomás Catari, Julián Apasa assumiu seu lugar, adotando o
sobrenome Túpac Catari em homenagem aos dois líderes anteriores. Sua
ação mais gloriosa foi o cerco à cidade de La Paz, onde por cento e nove
dias manteve combates quase constantes, levando os sitiados à fome e ao
desalento. Quando estavam quase dispostos a aceitar a paz, ouviram o ruído
característico dos combates: era o encontro dos homens de Catari com as
tropas que chegavam para defender a cidade.
● Enquanto a luta persistia nas frentes avançadas, o cerco à cidade foi
comandado pela esposa do líder, Bartolina Sisa, e só foi suspenso após a
derrota de uma parte do exército rebelde. Posteriormente, foi retomado em
meio a inúmeras revoltas entre indígenas e colonialistas, crioulos e
chapetones, assim como entre membros dos exércitos realistas. Houve
execução de prisioneiros, incluindo crianças e mulheres inocentes, apenas
por suspeitas de apoiar os rebeldes. Bartolina Sisa, esposa do líder, foi
capturada por meio de suborno e promessas de perdão feitas por supostos
partidários que a entregaram.
● Ao final, quando o exército realista se retirou de La Paz, Tupac Catari
reorganizou o cerco com a ajuda de Andrés Mendigure, sobrinho de Tupac. A
despeito de sua tenra idade, com apenas dezenove anos, Andrés já havia
demonstrado bravura no cerco de Sorata, que durou três meses e só foi
vencido quando ele construiu uma represa para deter as águas de degelo do
Monte Tipuani, causando a rendição da cidade.
● No novo cerco, caracterizado por combates constantes, as forças rebeldes
resistiam corajosamente nos ataques diurnos e noturnos. Contudo, com o
reforço de tropas espanholas, as vanguardas rebeldes foram derrotadas,
forçando Tupac Catari e seus companheiros a suspender o segundo cerco.
● Durante as negociações de paz, uma traição ocorreu. Um suposto amigo de
Tupac Catari foi encarregado de convidá-lo para uma festa, onde cem
soldados o prenderiam. No entanto, Catari percebeu o perigo iminente e
escapou. O traidor, chamado Tomás Inca Lipe, indicou seu paradeiro aos
soldados, que eventualmente o capturaram. Como punição, Julián Apasa,
Tupac Catari, foi esquartejado pelos cavalos. Suas irmãs, Bartolina Sisa e
Gregoria Apasa, foram enforcadas.
● A rebelião continuava em várias partes da América, incluindo o Chile, onde
franceses e espanhóis planejaram um levante para alcançar a
independência. Descoberto o complô, os líderes foram enviados ao desterro.
Em um naufrágio em Portugal, Barney e o jovem Andrés Mendigure
perderam a vida. No geral, a resistência notável também foi dominada,
incluindo a liderada pelo cacique Chicaguala.
● A rebelião se espalhou na Argentina, originando-se nos altos dos Andes.
Milícias se sublevaram contra oficiais, manifestando-se contra os abusos que
afetavam o povo. Em Rioja, abriram postos de venda de tabaco a preços
razoáveis. Em Salta, as pessoas impediram o exército de reprimir a revolta.
Jujuy, liderada por José Quiroga, testemunhou um amplo levante
tupamarista. Em Tucumán, a disseminação de ideias revolucionárias e
movimentos guerrilheiros eficazes preocupava as autoridades, especialmente
diante do levante militar, representando um desafio significativo.
● As revoltas foram reprimidas com grande violência, chegando ao ponto de
marcar os insurgentes com um ferro incandescente, um "R" de rebelde no
rosto. Essa prática extrema levantou queixas, mas as autoridades, incluindo o
vice-rei Vértiz, concederam seu apoio à crueldade, permitindo tais marcas em
outras partes do corpo.
● Em Quito, Miguel Tovar y Ugarte e frei Mariano Ortega, entusiasmados com o
movimento tupamaro, ofereceram sua colaboração por carta ao inca.
Delatados, frei Mariano não foi castigado para evitar escândalo, apenas ficou
sob vigilância. Tovar y Ugarte foi condenado a dez anos de prisão no Castelo
de Chagre, onde perdeu a visão, a saúde e, finalmente, a vida antes de
cumprir a pena. Na Colômbia, os comunais lideram os índios em uma luta
contra a miséria e a opressão causadas pelos entrepostos de tabaco e as
penas impostas aos camponeses.
● José Antonio Galán lidera a luta em Charalá, acompanhado por seus irmãos
Hilário e Nepomuceno, mulheres guerrilheiras como dona Manuela Beltrán, e
outros líderes como o cacique Ambrosio Pisco de Bogotá, Javier Mendoza
nas planícies de Casanare, entre outros. A resposta dos colonialistas é uma
luta sem escrúpulos, usando enganos hipócritas e apresentando capitulações
que são inicialmente aceitas e, posteriormente, recusadas pelo vice-rei em
Cartagena.
● O entusiasmo dos comunais é desfeito pela violação do convênio, e apenas
Antonio Galán permanece firme nas regiões do norte. Diante da oferta de
perdão geral em troca da entrega de armas e esquecimento da subversão,
Galán se recusa a se render. Traído por um de seus chefes, ele é
aprisionado, junto com três leais, e todos enfrentam uma sentença e tortura
semelhantes àquelas de Túpac Amaru. A justiça para Galán e seus
companheiros é brutal, incluindo esquartejamento, exposição pública,
demolição de sua casa e salga de suas terras cultiváveis, enquanto sua
descendência é declarada maldita.