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INDÍGENAS NO XVIII
Prof. Dr. Tarcisio Normando
POR QUE ESTUDAR A HISTÓRIA DAS
GUERRAS E REBELIÕES INDÍGENAS
NA AMAZÔNIA DO SÉCULO XVIII?
Discutir o protagonismo das nações indígenas na
defesa de seu território, bens e cultura
Avaliar as razões da desqualificação portuguesa das
nações indígenas
Identificar nas guerras e rebeliões argumentos usados
pelas autoridades portuguesas para justificar o
insucesso administrativo da região
OS MURA
Os Mura passaram a preocupar os
colonizadores portugueses na Amazônia no
início do século XVIII.
Devido ao seu vasto conhecimento da
região e da belicosidade, os Mura foram
usados como “desculpa” para justificar o não
desenvolvimento da Capitania do Rio Negro
A expansão territorial Mura iniciou-se entre
1723 e 1725: Movimentaram-se do Madeira
para os rios Amazonas, Solimões e Negro
OS MURA
Eram o “exemplo” de índios bárbaros ou de
corso contra os quais os portugueses deveriam
mover guerra
Tapando o sol com a peneira: o Padre João
Daniel justificava o ódio dos Mura pelos brancos
por conta de um logro – eles teriam sido
enganados numa promessa de descimento e
acabaram escravizados e vendidos
Após sofrerem um ataque preventivo no rio
Madeira adotaram a tática de guerrilha: em
incursões rápidas matavam os melhores
pescadores, remeiros, lavradores
Anualmente as autoridades portuguesas
atacavam os Mura através de tropas Auxiliares e
Punitivas
TRECHO DOS ESCRITOS DO PADRE JOÃO
DANIEL SOBRE OS ÍNDIOS MURA
“A nação Mura também tem muita especialidade entre as mais. É gente sem
assento, nem persistência, e sempre anda a corso, ora aqui, ora ali; e tem muita
parte do rio Madeira até o rio Purus por habitação. Nem tem povoações algumas
com formalidades, mas como gente de campanha, sempre anda em levante, e
ordinariamente em guerras, já com as mais nações, e já com os brancos, aos quais
querem a matar, ou tem ódio mortal. E não só assaltam as mais nações, mas ainda
nas mesmas missões tem dado vários assaltos, e morto a muitos índios mansos, de
que não puderam livrar, por serem repentinas, e inesperadas as investidas: e para
as evitarem lhes é necessário fazerem cercas de pau-a-pique, e estar sempre alerta;
e tem essa contínua guerra, não porque coma gente, ou carne humana, mas por
ódio entranhável aos brancos, a que estes mesmos deram muita causa”
OS MURA
Em 1724, no rio Madeira, os jesuítas fundaram
um aldeamento. Ele teve que se mudar várias vezes
por conta de ataques Mura, até que em 1742 se
fixou definitivamente e foi chamada de Trocano,
depois Vila de Borba (1756)
No aldeamento Abacaxi (no rio do mesmo nome),
houve a mesma situação: até que foi mudado para
a margem esquerda do Amazonas quando passou
a se chamar Vila de Serpa (atual Itacoatiara)
Os portugueses calculavam a população Mura em
60 mil. Apesar de exageros portugueses para
explicar o fracasso do desenvolvimento da
Capitania, é inegável o papel de resistência Mura
OS MURA A “Pacificação” dos Mura
Os Mura surpreenderam as autoridades Ataques anuais das Tropas Auxiliares e de
quando pediram paz e amizade Expedições Punitivas
Depois da pacificação, os portugueses
nada fizeram para aldeá-los. Tentaram
enfraquece-los e dividi-los
Epidemias que ceifaram muitas vidas
Apoiaram os Mundurucu em guerras
contra os Mura
Abandonados e hostilizados, os Mura
voltaram a atacar e matar os portugueses Necessidade de consumo de medicamentos
e ferramenta dos brancos
Em pleno século XIX ainda atrapalhavam
as comunicações fluviais entre o Pará e o
Mato Grosso. Participaram da
Cabanagem nos anos 1830-1840
Guerra implacável dos Mundurucu
OS MANÁO
A cidade de Belém, na segunda metade do século XVIII,
sofria pela falta de mão-de-obra indígena. A resposta
prática para o problema seria expedições para o lado
oeste da Amazônia.
As expedições logo enfrentaram, no rio Negro, a resistência
dos Manaus. A autoridade paraense instaurou uma devassa
O resultado: os Manaus foram considerados culpados e
acusados de infidelidade para com a Coroa – estariam
fazendo comércio com os holandeses.
Em 1723 os jesuítas tentam um acordo de paz com os
Manáo, sem sucesso duradouro. As autoridades declaram
guerra justa aos Manaus, mesmo sem o consentimento da
metrópole
Os Manáo eram numericamente superiores aos portugueses,
o que os encorajou a tentar manter o domínio do médio e
alto Rio Negro – além de contar com arcabuzes
OS MANÁO
Em 1727 foi organizada uma expedição militar com tropas de guerra e de resgates
para atacar os Manáo. Os confrontos foram sangrentos. Milhares foram presos ou
morreram, como o principal Ajuricaba
Ajuricaba era um principal muito respeitado pelos Manáo. Segundo a devassa
portuguesa, ele teria feito acordo com os holandeses: invadia outras aldeias para
trocar escravos por produtos e andaria, inclusive, com uma bandeira holandesa em
sua canoa. Era tanto o flagelo dos índios quanto dos brancos
As revoltas não terminaram com a morte de Ajuricaba. Em 1727 as tropas lusas
comandadas por Belchior Mendes de Morais castigaram os Mayapenas, aliados
Manáo.
A ação foi tão violenta que foram massacradas a maioria das nações do médio e
alto Rio Negro, inclusive aquelas aliadas dos portuguesas
O resultado da guerra foi uma drástica redução da população devido as mortes e
fugas dos sobreviventes atrás de proteção, além das doenças
OS MANÁO
Através de massacres e violências, os portugueses abriram passagem pelo rio
Negro, finalmente conseguindo alcançar a região do alto Negro e de seus
principais afluentes, como o Uaupés, o Içana e o Xié, ainda muito povoados e
praticamente não atingidos pelos brancos.
Nesse período, os Carmelitas - que chegaram a apoiar a guerra contra os
Manáo - instalaram aldeamentos até o alto rio Negro, nas proximidades da atual
cidade de São Gabriel da Cachoeira
Alguns anos depois, devido à necessidade de bens dos brancos e medo de novas
incursões de resgate, eles abandonaram a estratégia de resistência, os Manáo
procuraram proteção nas missões carmelitas.
Nestes locais, os índios pescavam, cultivavam e coletavam produtos da floresta a
mando dos carmelitas. Serviam também como guias e empregados nas tropas
portuguesas de apresamento de escravos.
OS MANÁO
Em 1757, os Manáo voltaram a se rebelar. Liderados pelos principais de
Lamalonga no médio rio Negro, invadiram e destruíram a missão e incendiaram a
povoação.
Em seguida, juntaram-se aos revoltosos muitos índios do Lugar de Poiares, os
quais invadiram o Lugar de Moreira, matando o missionário carmelita e outras
pessoas e também queimando a igreja.
Em seguida, marcharam ainda contra a aldeia de Bararoá, então abandonada
pelo Destacamento Militar, queimando a povoação.
O alvo final seria a tomada de Mariuá (Barcelos), porém um reforço de 180
soldados fez frente aos índios. A punição foi violenta. 3 líderes foram decapitados
e tiveras as cabeças expostas na forca para servir de exemplo
Esta rebelião marca a revolta dos índios contra os missionários, pela ênfase dada
à destruição das igrejas e o assassinato do padre carmelita.
A REVOLTA DO RIO MARIÉ
Uma expedição partiu de Mariuá em
1755 para realizar descimento nas
aldeias dos principais Manacassari e
Aduana.
Insatisfeito com o acordo com os
portugueses, Manacassari passou a reunir
outros índios e atacou os portugueses
A vingança portuguesa demorou três
anos: o Capitão Miguel de Siqueira, 1758,
invadiu e arrasou a povoação de
Manacassari
OS MUNDURUCU
Viviam originalmente no rio Cururu, um dos afluentes
do Tapajós
As aldeias Mundurucu eram autônomas sob a
liderança dos chefes e mais velhos. Internamente eram
constituídas pelas casas-dos-homens e por três ou cinco
casas de moradia.
A guerra era o modo de vida dos Mundurucu.
Recrutavam voluntários nas aldeias - sem deixá-las
desguarnecidas.
Nas expedições de guerra, feitas no verão, levavam
suas mulheres para preparar alimentos e carregar
utensílios de uso diário
OS MUNDURUCU
Estratégia corrente: cercavam as aldeias; atacavam
de madrugada; incendiavam as casas; matavam os
homens adultos; levavam as crianças para serem
criadas como Mundurucu
Os derrotados tinham sua cabeça cortada, diminuída
e mumificada que serviam de troféus
Após os primeiros contatos, os Mundurucus passaram
a fazer parte dos relatos que se referiam à região dos
rios Madeira e Tapajós.
Desde o início dos relatos, teve-se notícias das
atividades guerreiras dos Mundurucus. Essa nação
inquietou colonizadores e vizinhos indígenas, durante
seus movimentos expansionistas.
OS MUNDURUCU
Partindo do alto rio Tapajós, dominaram uma vasta
região do Estado do Grão Pará e Rio Negro, entrando
em choque com a população de brancos e índios
Depois de cerca de 25 anos de confronto, em
meados da década de 1790, com os portugueses,
ocorreu a pacificação dos Mundurucus.
Depois de pacificados, os Mundurucus tornaram-se
aliados dos portugueses, que os usaram no descimento
de grupos tribais que resistiam ao domínio colonial
ÍNDIOS DO RIO BRANCO
As rebeliões dos índios do Rio Branco, tiveram suas origens no próprio cotidiano dos
aldeamentos: havia os maus tratos, a exploração do trabalho; a mistura de etnias; a
violação de seus códigos culturais, que iam tornando formas de verdadeiros etnocídio
O primeiro surto de rebeldia nessa região foi sentido em 1780, no aldeamento de São
Felipe: os missionários forçam os índios a largarem mulheres que não fossem suas esposas.
Inicia-se uma série de fugas, reprimidas com violência e que geram mais revoltas
Episódios que pareciam isolados acabaram gerando revoltas que se alastraram pelos
aldeamentos de Santa Bárbara e Santa Isabel
Para tentar estancar as rebeliões, Portugal concedeu anistia aos índios desde que
voltassem aos aldeamentos
A situação dos aldeamentos não mudou e outro surto de rebelião explodiu em 1790.
Dessa vez, após a repressão, o governador Lobo D’Almada evacuou todos os
aldeamentos do Rio Branco e os dispersou os índios em povoações distantes do rio
Madeira, substituindo-os por outros descidos de outras regiões