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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA


CAMPUS I
CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA
COMPONENTE CURRICULAR: HISTÓRIA INDÍGENA
DOCENTE: PROF. DR. JUVANDI DE SOUZA SANTOS

ANA CAROLINA DE MOURA ARAGÃO


JOSÉ GUSTAVO DE MELO C. LIMA
NATÁLIA DA SILVA SANTOS

GUERRA DO AÇU OU DOS BÁRBAROS

CAMPINA GRANDE – PB
2023
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ANA CAROLINA DE MOURA ARAGÃO


JOSÉ GUSTAVO DE MELO C. LIMA
NATÁLIA DA SILVA SANTOS

GUERRA DO AÇU OU DOS BÁRBAROS

Artigo apresentado como requisito para a


avaliação da Unidade II do componente
curricular História Indígena, ministrado pelo
professor Juvandi de Souza Santos, na
Universidade Estadual da Paraíba – UEPB.

CAMPINA GRANDE – PB
2023
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.…………………………………………………………………………….4

2 A “GUERRA DOS BÁRBAROS”: INDÍGENAS TAPUIAS X COLONIZADORES….4

3 AS RELAÇÕES DE PODER EXISTENTES NA “GUERRA DOS BÁRBAROS”…….7

4 O DESENCADEAMENTO DO FIM DA “GUERRA DOS BÁRBAROS”……………..8

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS………………………………………………………………9

REFERÊNCIAS……………………………………………………………………………..10
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1 INTRODUÇÃO

Buscamos, neste trabalho, compreender como ocorreu a “Guerra dos Bárbaros” e


explicitar questões, como o motivo dos Tapuias viverem no interior enquanto os Tupis se
localizavam no litoral, o interesse dos colonizadores no território em que viveram os Tapuias,
os conflitos internos que ocorreram entre os próprios colonizadores e, ainda, a participação dos
paulistas no conflito e como isto intensificou a resistência indígena. A priori, começaremos
fazendo um apanhado sobre os locais em que ocorreram esse conflito e as tribos que
participaram deste, formando a Confederação dos Cariris. Logo após, abordaremos um dos
contextos em que esse conflito se insere, da expansão da pecuária para o interior nordestino e,
ainda, personagens que tiveram uma grande influência na “Guerra dos Bárbaros” e, por fim,
iremos expor os resultados desse embate que devastou várias tribos indígenas no Nordeste
colonial. Para tanto, tomamos como referencial teórico a obra da historiadora Maria Idalina da
Cruz Pires, uma das pesquisadores renomadas acerca da temática, intitulada Guerra dos
Bárbaros: resistência indígena e conflitos no Nordeste colonial (1990).

2 A “GUERRA DOS BÁRBAROS”: OS INDÍGENAS TAPUIAS X OS


COLONIZADORES

Na tentativa de explorar e ocupar ao máximo o território recém "descoberto", os


colonizadores se depararam com a presença dos indígenas que habitavam originalmente essa
terra, os quais se diferenciavam em diversos aspectos, tendo como exemplo o linguístico.
Percebendo isso, os colonizadores dividiram os indígenas que habitavam o litoral e o interior,
respectivamente, em dois grupos: Tupi e Tapuia.
Os Tupis habitavam, majoritariamente, o litoral brasileiro e se caracterizavam por
falarem uma língua considerada “geral” e coletiva e, consequentemente, facilmente
compreendida pelos colonizadores durante os primeiros séculos de exploração. Enquanto os
Tapuias já eram, genericamente, denominados por esse termo, após serem expulsos pelos Tupis
da parte litorânea, partindo, predominantemente, para o interior brasileiro, por terem sido
derrotados pelos inimigos. Esse grupo falava, ainda, distintas línguas, consideradas “travadas”
pelos invasores, e eram, por isso, mais complexas e não compreendidas por eles, devido, por
exemplo, ao maior contato dos invasores com os Tupis e com a sua língua. Assim sendo,
continuaram sendo identificados por esse termo, já que eram considerados bárbaros e selvagens
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e, por conseguinte, esse nome representava, ainda, o desprezo dos colonizadores em relação aos
indígenas desse grupo.
Entre os indígenas do grupo Tapuia, estavam o Tapuias Cariris, que habitaram, no início,
o litoral da região Nordeste, entre o Maranhão e a Bahia, até serem expulsos pelos povos do
grupo litorâneo, Tupiniquins e Tupinambás. Em seguida, quando se estabeleceram no interior e
nos sertões nordestinos, estavam divididos entre tribos distintas, dentre as quais pode-se
destacar: os Surucus, os Bultrins, os Arius, os Pegas, os Panatis, os Coremas, os Paiacus, os
Janduís, os Tremembés, os Icós, os Pajokes e os Aponorijons. Diante disso, destacamos, os
Cariris dentre os povos do grupo Tapuia, pelo fato deles serem considerados protagonistas da
"Guerra dos Bárbaros", caracterizada como um conflito realizado entre os colonizadores e os
indígenas, como forma de resistência à exploração.
Em relação ao termo “Guerra dos Bárbaros”, evidenciamos que este explicita a relação
entre os colonizadores e os indígenas, mais especificamente a imagem que os europeus, tanto
os cronistas quanto os participantes desse conflito, tinham dos Tapuias, representando-os como
bravos, ferozes e indomáveis, caracterizando “uma impressão de extrema “primitividade”
(PIRES, 1990, p. 28). De acordo com Pires (1990), esse termo não apenas expressou a
consciência da valentia que os indígenas possuíam para resistirem às invasões europeias, mas
também exprimiu a noção de que a “primitividade” indígena, relacionada a não subordinação
desses povos aos colonizadores, serviria como justificativa para a aniquilação da maioria desses
indígenas.
Para além disso, cabe destacar que os colonizadores utilizaram muitas táticas para
enfraquecer a resistência indígena. Eles se aproveitavam, por exemplo, das discordâncias entre
as tribos indígenas, intensificando-as com o intuito de ocupar o seu território, por meio da
divisão e, consequentemente, da dominação dessas tribos. Pires (1990) menciona como
exemplo disso, a rivalidade entre as tribos dos Paiacu e dos Janduí, tendo em vista que os
colonizadores portugueses intensificaram a violência entre elas para desmobilizá-las do
conflito, a fim de dominá-las.
Nesse cenário, embora muitas tribos tenham resistido aos ataques dos colonizadores,
tanto isoladas quanto aliadas, algumas batalharam contra outros grupos Tapuias, em prol dos
colonizadores, confirmando que os indígenas inseridos no grupo Tapuia não era um todo
homogêneo, como defendiam os colonizadores. Entretanto, Pires (1990) menciona que as
desavenças entre as tribos já existiam antes da chegada dos europeus, mesmo que esses
desentendimentos sejam utilizados contra os próprios grupos. Por outro lado, quando aliadas,
as tribos tiveram a sua resistência ampliada, amenizando suas rixas para combaterem os
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invasores colonizadores, seus principais inimigos, formando, assim, a Confederação dos


Cariris, como é denominada, também, por muitos estudiosos, a “Guerra dos Bárbaros”.
Esta Confederação foi fortalecida pelo acordo entre os povos Tapuias, dentre os quais
estavam, de acordo com Taunay (1936, apud Pires, 1990, p. 29), as tribos Sucurus, Paiacus,
Icós, Icosinhos, Bulbuís, Ariús, Areas Pegas, Caracás, Canindés, Coremas, Caracarás, indígenas
de Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Em contrapartida, as tribos
Mongruzes, Guapurús, Tocarubas, Paraciconhas, Baibés, Carimbés, Tamanquizes e Procazes
foram utilizadas pelos colonizadores para combater os grupos que participaram da
Confederação dos Cariris.
Pires (1990) aponta que a maioria dos Tapuias sobreviviam da caça e da coleta. Assim
sendo, para eles, seria inaceitável a escravização nas lavouras que os colonizadores impuseram,
levando-os à resistirem incessantemente. De acordo com Pires (1990), essa afirmação,
possivelmente, esclarece o apontamento de Taunay, de que a entrada dos invasores nos sertões
nordestinos foi mais vagarosa em comparação com a de outros territórios, devido à resistência
dos indígenas Tapuias.
Nesse norte, a “Guerra dos Bárbaros” representou uma das mais duradouras formas de
resistência indígena, ao dificultar a expansão territorial dos colonizadores no interior
nordestino, se estendendo de meados do século XVII até a segunda década do século XVIII.
Nesse contexto, esse conflito se insere, além do mais, no período em que a pecuária estava,
gradativamente, se expandindo para o interior nordestino, devido à decadência do mercado de
açúcar, desvalorizando o valor desse produto, após a expulsão dos holandeses, no século XVII.
No entanto, para isso, os invasores precisavam conquistar o território dos Tapuias, tendo
em vista que no litoral vigorava, majoritariamente, a monocultura da lavoura canavieira,
gerando, assim, mais lucro para a Coroa. Por conseguinte, por isso, a pecuária teria que ser
levada para interior nordestino, afastando-se do litoral, considerando-se que além da criação de
gado solto gerar prejuízo para os proprietários das terras, por danificar as plantações, conforme
menciona Pires (1990), vai, ainda, fornecer alimentação para Minas Gerais, que, nesse período,
destacava-se economicamente na colônia, justificando o deslocamento do gado para essa
região.
Para além disso, Pires (1990) aponta que, em Recife, no século XVIII, a pecuária
estimulava o ofício a partir do couro, culminando em um bom negócio e na ascensão tanto
economicamente quanto socialmente dos habitantes dessa região. Por outro lado, para garantir
melhores condições financeiras, de acordo com Pires, alguns habitantes da região participavam
da "Guerra dos Bárbaros", com o intuito de ter direito às sesmarias, terras cedidas pela Coroa
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para que os habitantes pudessem construir uma fazenda e lucrarem com a criação de gado.
Nessa lógica, de acordo com Pires (1990), alguns sesmeiros que obtiveram influência, tanto
econômica quanto política, por terem, também, participado da “Guerra dos Bárbaros”, foram
Manuel Alvares de Moraes Navarro, Matias Cardoso de Almeida e Domingos Jorge Velho.
O cedimento das sesmarias, nesse contexto, tinha como propósito, para os
colonizadores, o auxílio dos habitantes para eliminar rapidamente os indígenas. Por isso,
concordamos com Pires (1990), ao dizer que o maior empecilho para a expansão e para o
desenvolvimento da pecuária foi a resistência indígena dos Tapuias, tendo em vista que o
mercado pecuarista só se fortaleceu quando teve fim a “Guerra dos Bárbaros”, sem a presença
dos indígenas, por terem sido “derrotados” neste conflito contra os colonizadores.
No que diz respeito ao alastramento das fazendas de gado, Pires (1990) indica que elas
acompanhavam as margens dos rios, tendo em vista que a água era um elemento essencial para
que houvesse a ocupação do território. Um dos rios referenciados ao se discutir acerca da
“Guerra dos Bárbaros”, além do São Francisco, do Parnaíba e do Jaguaribe, é o Açu, no Rio
Grande do Norte, pois, como indica Pires (1990), foi as margens desse rio que houveram alguns
dos principais confrontos entre os indígenas e os colonizadores, no Nordeste colonial. Por isso,
a “Guerra dos Bárbaros” pode ser denominada, também, como a “Guerra do Açu”.

3 AS RELAÇÕES DE PODER EXISTENTES NA “GUERRA DOS BÁRBAROS”

Apesar dos interesses do homem branco em possuir as terras e a mão-de-


obra indígena, faz-se necessário ressaltar alguns conflitos que existiram entre os próprios
colonizadores, os quais acabavam desorganizando os colonizadores e, dessa maneira,
fortalecendo a resistência indígena. Nesse sentido, a denominada “Guerra Branca” consistiu
em um conflito de ideais em relação aos modos de operação que eram utilizados na “Guerra
dos Bárbaros” contra os indígenas. Diante disso, trata-se de uma guerra interna que envolvia
interesses pessoais ligados à economia, à política, à ideologias e, até mesmo, à rivalidades
pessoais. Sendo assim, o lado que houvesse maior aproximação de interesses era o que mais
detinha forças e, por conseguinte, o lado perdedor era o que mais se revoltava.
Um dos principais desentendimentos entre os próprios colonizadores era o fato de não
concordarem com as violências utilizadas contra os indígenas. Por conseguinte, havia, ainda,
embates entre colonizadores e religiosos, os quais não concordavam com as opressões
praticadas pelos colonizadores com o intuito de conseguirem a mão-de-obra dos indígenas,
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tendo em vista que objetivavam, no pós-guerra, transformarem os indígenas em proletários


agrícolas, diferentemente dos colonizadores que visavam escravizar os indígenas e mantê-los
em cativeiro.
Para além dessas perspectivas, havia os colonizadores que ambicionavam obter as terras
das missões religiosas, como ocorreu em Pernambuco, em 1670, com os membros da ordem
cristã Capuchinhos, que estavam sendo perseguidos por colonizadores que queriam os
indígenas que estavam nos aldeamentos religiosos para qua realizassem trabalhos escravos.
Dessa maneira, percebesse que a “Guerra dos Bárbaros” vai muito além de um conflito entre
indígenas e colonizadores e, por isso, pode-se argumentar que a “Guerra Branca” foi um dos
motivos que auxiliaram na longa duração desse conflito, assegurando, assim, a resistência
indígena.

4 O DESENCADEAMENTO DO FIM DA GUERRA DOS BÁRBAROS

Ainda que os colonizadores possuíssem vantagens em relação à armamento, eles não


estavam conseguindo grandes avanços nesse conflito, considerando-se que com a união dos
Tapuias Tarairiús e, principalmente, por esse esse grupo adentrar nos sertões, os colonizadores
tiveram dificuldades para continuarem a caçada. Diante disso, percebendo que a “Guerra dos
Bárbaros” poderia perdurar por mais tempo, os colonizadores trouxeram os denominados
paulistas para lutarem por eles no conflito. Estes paulistas eram bandeirantes que conheciam os
sertões que os indígenas habitavam, entretanto, eram extremamente bárbaros, haja vista que
caçavam os indígenas por puro prazer e, em seguida, matavam sem qualquer resquício de pena.
Por conseguinte, apesar dos métodos utilizados pelos paulistas serem contra algumas
leis para a proteção indígena que já eram consolidadas na época, como a proibição do cativeiro
indígena e escravização dos indígenas aldeados, a Coroa fez vista grossa para os feitos desse
grupo, nomeando o paulista Manuel Álvares de Moraes Navarro para liderar a aldeia dos
Paiacus, a qual, até então, era governada por um padre, e, além dessa nomeação, Navarro
obteve algumas sesmarias na região do Rio grande do Norte. Navarro pode ser destacado por
ter sido um dos principais responsáveis pelo massacre indígena na “Guerra do Bárbaros”.
vendia indígenas considerados “mansos” e que trabalhavam na agricultura e assassinava os
indígenas que estavam resistindo em nome da “Guerra Justa”. Por fim, Navarro foi julgado
e condenado, entretanto, após um tempo, foi liberto, voltando a praticar os seus atos
clandestinamente e, até mesmo, recebendo doações de sesmarias.
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É necessário compreender que o final da “Guerra dos Bárbaros” resultou


na dizimação de muitos indígenas e na asseguração do território indígena para os
colonizadores desenvolverem a pecuária e, além do mais, houve a permanência da doação
de sesmarias, mas a participação dos paulistas no conflito, exercendo papel fundamental para a
“limpa” dos indígenas do interior, fez com que esse grupo considerado forasteiro
buscasse ascensão social através das sesmarias, o que já faziam os colonizadores
latifundiários que lutaram pelas terras indígenas e, também, os habitantes que ajudaram a
formar as primeiras vilas da colônia e viam grandes lotes de terra sem produção ou moradia.
Diante disso, começavam os clamores para que a Coroa intervisse, dividindo-as de acordo com
a necessidade de cada grupo. Entretanto, isso não se realizou, pois a Coroa favorecia os
latifundiários. Assim, a “Guerra dos Bárbaros” chegava ao fim, deixando, ainda, indícios de
descontentamentos e brechas para um novo conflito, mas, dessa vez, um embate
entre homens que se consideravam civilizados e superiores aos indígenas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De modo a concluir, depreendemos que a “Guerra dos Bárbaros” ou “Guerra do Açu”


pode ser percebida como uma disputa de poder, como um jogo de interesses, tendo em vista
que indígenas se aliaram a colonizadores para combater outros indígenas, devido às rivalidades,
e, ainda, colonizadores utilizaram as rivalidades entre as tribos indígenas para enfraquecer a
resistência indígena, com o intuito de conquistarem o poder nesta disputa territorial. Por
conseguinte, o conflitou perdurou por longas décadas e os mais interessados na colonização
acabaram tendo sucesso em seu projeto, a Coroa e as autoridades que a ela serviam atingiram
seus propósitos, estando ao lado daqueles que mais lhe favoreciam.
A Coroa jogava pela ambiguidade, utilizando-se de manobras e de artifícios, cedendo
sesmarias, por exemplo, para alcançar seu grande objetivo: a conquista território dos indígenas
do interior. Nesse sentido, faz-se importante enfatizar que esta conquista ocorreu a partir do
extermínio indígena, da escravização de povos e da extinção de culturas. Logo, para isso, vidas,
tanto europeias quanto nativas, foram dizimadas.
Nesse cenário, é a partir desses apontamentos que podemos, sobretudo, constatar a
importância de pesquisar a história dos Tapuias no Nordeste colonial e, consequentemente, a
forte, comovente e duradoura resistência indígena que constituíram com a “Guerra dos
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Bárbaros”, quando estiveram em contato com os colonizadores, os quais contaram com


mecanismos diversos para conquistarem o interior nordestino.

REFERÊNCIAS

PIRES, Maria Idalina da Cruz. “Guerra dos Bárbaros”: resistência indígena e conflitos no
Nordeste colonial. Recife: FUNDARPE, 1990.

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