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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS

SÉRGIO WEINE PAULINO CHAVES

DISCIPLINA: HIDRÁULICA
CAPÍTULO 06 - ESCOAMENTO UNIFORME EM CANAIS

MOSSORÓ - RN
2020
6.1 Conceito de canais
Dar-se o nome de canais, condutos livres e às vezes canais abertos aos condutos em que a parte
superior do líquido está sujeita a pressão atmosférica. O movimento do líquido não depende como nos
condutos forçados da pressão interna existente, mas depende das inclinações do fundo do canal e da
superfície livre do líquido.

6.2 Tipos de canais


Nesse tipo de conduto encontram-se os cursos d’água naturais, os canais artificiais de irrigação e
drenagem, os condutos de drenagem subterrâneos, os aquedutos abertos, os condutos de esgoto e, de modo
geral, os condutos fechados onde o líquido não preenche completamente a seção transversal de
escoamento.

6.3 Formato dos canais


O estudo do escoamento nos canais é mais complexo que nos condutos forçados, em vista da grande
variedade de condições que os mesmos podem se apresentar. Os condutos forçados são geralmente
circulares e os tipos de rugosidade são poucas. Ao passo que nos canais a forma varia desde os condutos
circulares até as forma irregulares dos cursos d’água naturais e a sua rugosidade vai desde as paredes
metálicas até as correspondentes dos cursos d’água naturais, sendo por isso difícil a determinação de seus
correspondentes.

6.4 Elementos geométricos da seção dos canais


Os elementos geométricos da seção de um canal são propriedades das seções que podem ser
definidas em função da geometria da seção e da profundidade de fluxo. Esses são muito importantes e
bastante usados no cálculo de dimensionamento de um canal.
Os principais elementos geométricos dos canais são: a) profundidade de escoamento (y), distância
vertical entre o fundo do canal e a superfície livre do líquido; b) largura inferior (b), largura do fundo do
canal; c) largura superior (B), largura da superfície livre do líquido; d) área molhada (A), parte da seção
transversal do canal com fluxo do líquido normal a sua direção; e) perímetro molhado (P), comprimento
das linhas de interseção da área molhada da seção do canal com as paredes e o fundo do canal; f) raio
hidráulico (RH), relação entre área molhada e perímetro molhado; g) profundidade hidráulica (D), relação
entre área molhada e largura superior e; h) fator de seção (FS), produto da área molhada com o raio
hidráulico elevado à 2/3.
Os canais são geralmente projetados com seções e formas geométricas regulares. Os canais mais
comuns são de geometria retangular e trapezoidal. Além desses, ainda são utilizados os canais triangulares,
circulares e semicirculares ou parabólicos. A seguir, as equações dos elementos geométricos das seções
dos canais (Tabela 6.1).
6.4.1 Equações para determinação dos elementos geométricos dos canais

a) Canal retangular

𝐴 = 𝑏𝑦 1

𝑃 = 𝑏 + 2𝑦 2

𝐴
𝑅𝐻 =
𝑃

𝑏𝑦
𝑅𝐻 = 3
𝑏 + 2𝑦

𝐵=𝑏 4

b) Canal trapezoidal

B
x x

1 y
a z

(𝐵 + 𝑏)𝑦
𝐴= 𝐵 = 𝑏 + 2𝑥 𝑥 = 𝑧𝑦
2

𝐴 = (𝑏 + 𝑧𝑦)𝑦 5

𝑃 = 𝑏 + 2𝑎 𝑎2 = 𝑥 2 + 𝑦 2 𝑥 = 𝑧𝑦

𝑃 = 𝑏 + 2𝑦√1 + 𝑧 2 6

𝐴
𝑅𝐻 =
𝑃

(𝑏 + 𝑧𝑦)𝑦
𝑅𝐻 = 7
𝑏 + 2𝑦√1 + 𝑧 2

𝐵 = 𝑏 + 2𝑧𝑦 8
c) Canal triangular

B
x x

1 y
a z

𝐵𝑦
𝐴= 𝐵 = 2𝑥 𝑥 = 𝑧𝑦
2

𝐴 = 𝑧𝑦 2 9

𝑃 = 2𝑎 𝑎2 = 𝑥 2 + 𝑦 2 𝑥 = 𝑧𝑦

𝑃 = 2𝑦√1 + 𝑧 2 10

𝐴
𝑅𝐻 =
𝑃
𝑧𝑦
𝑅𝐻 = 11
2√1 + 𝑧 2

𝐵 = 2𝑥 𝑥 = 𝑧𝑦

𝐵 = 2𝑧𝑦 12

Tabela 6.1 – Elementos geométricos das seções dos canais


Seção Área molhada (A) Perímetro molhado (P) Raio hidráulico (RH) Largura superior (B)
𝑏𝑦
Retangular 𝑏𝑦 𝑏 + 2𝑦 𝑏
𝑏 + 2𝑦

(𝑏 + 𝑧𝑦)𝑦
Trapezoidal (𝑏 + 𝑧𝑦)𝑦 𝑏 + 2𝑦√1 + 𝑧 2 𝑏 + 2𝑧𝑦
𝑏 + 2𝑦√1 + 𝑧 2

𝑧𝑦
Triangular 𝑧𝑦 2 2𝑦√1 + 𝑧 2 2𝑧𝑦
2√1 + 𝑧 2
Fonte: Chow (1959).

Exemplo 01 – Um canal trapezoidal com largura de 0,30 m e inclinação lateral de 1:2, escoa com uma
altura de 0,40 m. Determine os elementos geométricos da seção.
Solução:

𝑏 = 0,30 𝑚 𝐴=? 𝑃=? 𝑅𝐻 = ?


1: 2 ⟶ 𝑧 = 2 𝐴 = 𝑦(𝑏 + 𝑧 𝑦) 𝑃 = 𝑏 + 2𝑦√1 + 𝑧 2 𝐴
𝑅𝐻 =
𝑦 = 0,40 𝑚 𝐴 = 0,4 (0,3 + 2 × 0,4) 𝑃
𝑃 = 0,3 + 2 × 0,4 √1 + 22 0,44
2 𝑅𝐻 =
𝐴 = 0,44 𝑚
𝑃 = 2,09 𝑚 2,09
𝑅𝐻 = 0,21 𝑚
Exemplo 02 – Um canal trapezoidal com largura de 1,0 m e ângulo de inclinação lateral de 60º, escoa
com uma altura de 2,0 m. Determine os elementos geométricos da seção.
Solução:

𝑏 = 1,0 𝑚 1: 𝑍 ⟶ 𝑧 = ? 𝐴=? 𝑃=? 𝑅𝐻 = ?


𝛼 = 60 1 𝐴 = 𝑦(𝑏 + 𝑧 𝑦) 𝑃 = 𝑏 + 2𝑦√1 + 𝑧 2 𝐴
𝑍= 𝑅𝐻 =
𝑦 = 2,0 𝑚 𝑡𝑔(𝛼) 𝐴 = 2,0 (1,0 + 0,58 × 2,0) 𝑃
𝑃 = 1,0 + 2 × 2,0 √1 + 0,582 4,31
1 1 2
𝑍= 𝐴 = 4,31 𝑚 𝑅𝐻 =
𝑡𝑔(𝛼) = 𝑡𝑔(60) 𝑃 = 5,62 𝑚 5,62
𝑍
1: 𝑍 ⟶ 𝑧 = 0,58 𝑅𝐻 = 0,77 𝑚

6.5 Equações do fluxo uniforme


No fluxo uniforme, a profundidade de escoamento, a área molhada, a velocidade e a vazão
permanecem constantes nas seções do canal, ao longo do trecho considerado. Além disso, a superfície
livre da água e o fundo do canal são paralelos, com mesma declividade.

6.5.1 Fórmula de Chézy


Em 1869, o engenheiro Francês Antoine Chézy desenvolveu a primeira fórmula para fluxo uniforme.
Essa fórmula foi desenvolvida baseada em duas hipóteses.
A primeira hipótese supõe que a força de resistência imposta ao fluxo por unidade de área do canal
é proporcional ao quadrado da velocidade, conforme expressão a seguir:

𝐹𝑅 = 𝐾𝑣 2 𝑃𝐿 13

onde: K = constante de proporcionalidade; v = velocidade média do fluxo no canal, m/s; P = perímetro


molhado, m; L = comprimento do canal no trecho molhado, m.
A segunda hipótese supõe que a componente efetiva da força de gravidade deve ser igual à força
total de resistência, como descrito na expressão a seguir:

𝐹𝑅 = 𝛾𝐴𝐿𝐼 14

onde:  = peso específico do líquido, kgf/m3; A = área molhada, m2 ; L = comprimento do canal no trecho
molhado, m; I = declividade do fundo do canal no trecho considerado, m/m.
Igualando as expressões de resistência:

𝐾𝑣 2 𝑃𝐿 = 𝛾𝐴𝐿𝐼

𝛾𝐴𝐿𝐼
𝑣=√
𝐾𝑃𝐿

𝛾 ⁄
𝑣=√ 𝑅 1 2 𝐼1⁄2
𝐾 𝐻
𝛾
√ =𝐶
𝐾
⁄2 1⁄2
𝑣 = 𝐶 𝑅𝐻 1 𝐼 15

onde: v = velocidade média do fluxo no canal, m/s; C = coeficiente de rugosidade de Chézy, m1/2/s; RH =
raio hidráulico, m; I = declividade do fundo do canal no trecho considerado, m/m.

6.5.2 Fórmula de Manning


Em 1889, o engenheiro Irlandês Robert Manning estabeleceu uma relação entre o coeficiente de
rugosidade de Chézy e o de Manning, conforme a expressão a seguir:

⁄6
𝑅𝐻 1
𝐶= 16
𝑛

Substituindo a expressão de Chézy-Manning (16) na Fórmula de Chézy (15):

1
𝑣= 𝑅 2⁄3 𝐼1⁄2 17
𝑛 𝐻

onde: n = coeficiente de rugosidade de Manning, s/m1/3.


Na aplicação da Fórmula de Manning a maior dificuldade está na estimativa do coeficiente de
rugosidade “n” (Tabela 6.2), pelo fato de não haver meios exatos para determiná-los, ficando sua avaliação
a critério do julgamento da experiência usual.

6.5.3 Fator de seção para fluxo uniforme


A expressão ARH2/3 é conhecida como fator de seção “FS” para o fluxo uniforme, e é um elemento
importante nos cálculos dos canais, sendo expressa da seguinte forma:

𝑛𝑄
𝐴𝑅𝐻 2/3 = 18
𝐼1⁄2

onde, Q é a vazão do canal no trecho considerado, em m3/s. A vazão também pode ser obtida isolando-a
da expressão do fator de seção (Equação 18):

𝐴
𝑄= 𝑅 2/3 𝐼1⁄2 19
𝑛 𝐻
Tabela 6.2 - Valores do coeficiente de rugosidade de Manning “n” para canais não circulares (U.S.D.A. – S.C.S)
n
MATERIAL DE REVESTIMENTO
Mínimo Máximo
- Canais revestidos:
 Semi-circular, metálico, liso 0,011 0,015
 Metal corrugado 0,023 0,024
 Canaleta de tábuas lisas 0,010 0,015
 Canaleta de tábuas não aplainadas 0,011 0,015
 Revestido de cimento liso 0,010 0,013
 Concreto 0,012 0,018
 Cimento e cascalho 0,017 0,030
 Alvenaria de tijolos revestido de cimento 0,012 0,017
 Parede de tijolos lisos, esmaltados 0,011 0,015
 Superfície de argamassa de cimento 0,011 0,015
- Canais revestidos*:
 Concreto moldado no local 0,015
 Concreto pré-fabricado 0,018 0,022
 Tijolos 0,018 0,022
 Asfalto 0,015
 Membrana plástica 0,025 0,030
- Canaletas*:
 Concreto 0,013
 Metal liso 0,015
 Metal corrugado 0,021
 Madeira 0,014
- Canais não revestidos:
 Terra, retilíneo e uniforme 0,020 0,025
 Com leito dragado 0,025 0,033
 Escoamento lento e tortuoso 0,023 0,030
 Fundo com pedras, vegetação nos taludes 0,025 0,040
 Fundo de terra e taludes com cascalho 0,028 0,035
 Canais escavados em rocha, lisos e uniforme 0,025 0,035
 Irregulares com recortes e saliências 0,035 0,045
- Canais de terra*:
 Arenoso 0,030 0,040
 Barro arenoso 0,030 0,035
 Barro argiloso 0,030
 Argiloso 0,025 0,030
 Cascalho 0,030 0,035
 Rocha 0,030 0,040
- Canais em terra, pequenos rasos com vegetação:
 Grama alta (13’’), verde 0,042 -
 Grama alta, dormente 0,035 0,28
 Grama rasteira (3’’), verde 0,034 -
 Grama rasteira, dormente 0,034 -
 Arbustos altos (16’’), verdes 0,076 0,22
 Arbustos curtos (2’’), verdes 0,033 -
- Cursos naturais:
(1) Limpos, margens retas e uniformes, leito cheio, sem desvio e sem escavações
profundas 0,025 0,033
(2) Como (1), com pedras e vegetação 0,030 0,040
(3) Curso tortuoso, limpo, com empoçamentos e bancos de areia 0,033 0,045
(4) Como (3), declive e secção irregulares 0,040 0,055
(5) Como (3), algumas pedras e vegetação 0,035 0,050
(6) Cursos muito cheios de vegetação 0,075 0,150
* FAO (1974).
6.6 Problemas hidraulicamente determinados
1º Caso: quando se quer determinar a velocidade de escoamento “v” ou a vazão do canal “Q”, torna-
se necessário conhecer a área molhada “A”, a rugosidade de Manning “n”, o raio hidráulico “RH” e a
declividade do fundo do canal “I”.

Exemplo 03 – Um canal com largura do fundo de 3,5 m e inclinação lateral de 1:1,5, escoa com uma
profundidade de 1,2 m e declividade de 1 m em 1500 m de comprimento. Determine a velocidade de
escoamento e a descarga do canal considerando duas situações: a) canal de parede de terra, retilíneo e
uniforme; e b) canal com paredes revestidas de concreto.
Solução:

𝑏 = 3,5 𝑚 𝐴 = 𝑦(𝑏 + 𝑧 𝑦) a) canal de paredes de terra, retilíneo e uniforme:


1: 1,5 𝐴 = 1,2 (3,5 + 1,5 × 1,2) 1
𝑣= 𝑅 2⁄3 𝐼1⁄2
𝑛 𝐻
𝑧 = 1,5 𝐴 = 6,36 𝑚2
𝑛 =?
𝑦 = 1,2 𝑚 𝑃 = 𝑏 + 2𝑦√1 + 𝑧 2
𝑛 = 0,020 𝑎 0,025 (𝑇𝑎𝑏𝑒𝑙𝑎 6.2)
𝐼 = 1 𝑚 𝑒 1500 𝑚
𝑃 = 3,5 + 2 × 1,2 √1 + 1,52 1
𝑣=? 𝑣= (0,81)2⁄3 (1/1500)1⁄2 = 0,90 𝑚/𝑠
𝑃 = 7,83 𝑚 0,025
𝑄 =? 𝐴 𝑄 = 𝐴 𝑣 = 6,36 . 0,90 = 5,724 𝑚3⁄𝑠
𝑅𝐻 =
𝐴=? 𝑃 b) canal com paredes revestidas de concreto:
𝑃=? 6,36
𝑅𝐻 = 𝑛 =?
7,83
𝑅𝐻 = ? 𝑛 = 0,012 𝑎 0,018 (𝑇𝑎𝑏𝑒𝑙𝑎 6.2)
𝑅𝐻 = 0,81 𝑚
1
𝑣= (0,81)2⁄3 (1/1500)1⁄2 = 1,25 𝑚/𝑠
0,018
𝑄 = 𝐴 𝑣 = 6,36 . 1,25 = 7,95 𝑚3⁄𝑠

2º Caso: quando se quer determinar a declividade do fundo do canal, torna-se necessário conhecer a
velocidade de escoamento ou a vazão do canal, a área molhada, a rugosidade de Manning e o raio
hidráulico.

Exemplo 04 – Um canal com largura do fundo de 2,5 m, escoa com uma altura de 1,0 m e descarga de 2,6
m3/s. Determine a declividade do fundo do canal, em %, sabendo que o material de revestimento é o
cimento liso.
Solução:

𝑏 = 2,5 𝑚 𝐴=𝑏𝑦 2,5 𝑛 =?


𝑅𝐻 =
𝑦 = 1,0 𝑚 𝐴 = 2,5 × 1,0 4,5 𝑛 = 0,010 𝑎 0,013 (𝑇𝑎𝑏𝑒𝑙𝑎 6.2)
𝑅𝐻 = 0,56 𝑚
𝑄 = 2,61 𝑚3⁄𝑠 𝐴 = 2,5 𝑚2 0,013 . 2,6 2
𝐴 𝐼=( )
𝐼 = ? (%) 𝑃 = 𝑏 + 2𝑦 𝑄 = 𝑅𝐻 2⁄3 𝐼1⁄2 2,5 . 0,562⁄3
𝑛
𝐴=? 𝑃 = 2,5 + 2 × 1,0 𝐼 = 0,0004 𝑚/𝑚
𝑛𝑄
𝐼1⁄2 = 𝐼 = 0,0004 × 100 %
𝑃=? 𝑃 = 4,5 𝑚 𝐴 𝑅𝐻 2⁄3
𝑅𝐻 = ? 𝐴 2 𝐼 = 0,04 %
𝑅𝐻 = 𝑛𝑄
𝑃 𝐼=( ⁄ )
𝐴 𝑅𝐻 2 3
3º Caso: quando se quer determinar a área molhada e o raio hidráulico do canal, mas só é conhecida
a largura do fundo do canal “b” ou a profundidade de escoamento “y”, além de outras variáveis, como a
velocidade de escoamento ou a vazão do canal, a rugosidade de Manning e a declividade do fundo do
canal. Nesse caso, quando se deseja dimensionar a base ou profundidade do canal é necessário utilizar
métodos numéricos, ábacos, tabelas ou tentativas.

a) Método das tentativas


Consiste em obter a largura do fundo “b” ou a profundidade de escoamento “y” atribuindo-se valor
inicial a um dos elementos geométricos da seção do canal. O cálculo pode ser realizado levando em
consideração a vazão de escoamento do canal “Q”.
Para utilizar o “Q” como parâmetro para o cálculo de “b” ou “y” é necessário conhecer a vazão
requerida do projeto. Com os valores de “b” ou “y” obtém-se a área molhada, perímetro molhado e raio
hidráulico, em função da seção do canal. Por fim, com rugosidade de Manning e declividade do canal,
determina-se a vazão calculada. A solução do problema ocorrerá quando as vazões requerida e calculada
forem iguais.

𝑦 𝑜𝑢 𝑏 = ?

𝑄(𝑟) = 𝐷𝑒𝑚𝑎𝑛𝑑𝑎 𝑑𝑒 á𝑔𝑢𝑎

𝑄(𝑐) = 𝐼𝑑𝑒𝑚 𝐸𝑞. 19

𝑄(𝑟) − 𝑄(𝑐)
𝐸𝑟𝑟𝑜 = | | 100 20
𝑄(𝑟)

𝒃 (m) 𝒚 (m) 𝑨 (m2) 𝑷 (m) 𝑹𝑯 (m) 𝑸(𝒄) (m3/s) 𝑸(𝒓) (m3/s) 𝑬𝒓𝒓𝒐 (%)

Observação: Os erros prático e teórico não devem exceder os valores de 2% e 5%.

Exemplo 05 – Dimensione um canal retangular com capacidade para atender uma vazão de 200 L/s,
sabendo que o material de revestimento é o cimento liso, a largura do fundo de 1,0 m e a declividade de
0,04%.
Solução:
𝑄 = 200 𝐿⁄𝑠 𝐴=? 𝐴 𝑃 = 1,0 + 2 × 1,0 𝑛 = 0,013 (𝑇𝑎𝑏𝑒𝑙𝑎 6.2)
𝑅𝐻 =
𝑄 = 0,200 𝑚3⁄𝑠 𝑃=? 𝑃 𝑃 = 3,0 𝑚 1,0
1ª Tentativa: 𝑄= (0,33)2⁄3 (0,0004)1⁄2
𝑏 = 1,0 𝑚 𝑅𝐻 = ? 1,0 0,013
𝑅𝐻 =
𝑦 = 1,0 𝑚 3,0 𝑄 = 0,735 𝑚3⁄𝑠
𝐼 = 0,04% 𝐴=𝑏𝑦
𝐴 = 1,0 × 1,0 𝑅𝐻 = 0,33 𝑚 0,200 − 0,735
𝑦 =? 𝑃 = 𝑏 + 2𝑦 𝐸𝑟𝑟𝑜 = | | 100
𝐴 = 1,0 𝑚2 𝐴 0,200
𝑄= 𝑅 2⁄3 𝐼1⁄2
𝑛 𝐻 𝐸𝑟𝑟𝑜 = 268 %
𝒃 (m) 𝒚 (m) 𝑨 (m2) 𝑷 (m) 𝑹𝑯 (m) 𝑸(𝒄) (m3/s) 𝑸(𝒓) (m3/s) 𝑬𝒓𝒓𝒐 (%)
1,0 1,00 1,00 3,00 0,33 0,735 0,200 268
1,0 0,20 0,20 1,40 0,14 0,083 0,200 141
1,0 0,40 0,40 1,80 0,22 0,224 0,200 12
1,0 0,35 0,35 1,70 0,21 0,190 0,200 5
1,0 0,37 0,37 1,74 0,21 0,201 0,200 0,5

6.7 Seção hidráulica de máxima eficiência


As seções de máxima eficiência (Tabela 6.3) são aquelas que têm menor perímetro molhado ou
equivalente a menor área para o tipo de seção dada. O semicírculo, por exemplo, tem o menor perímetro
entre todas as seções, com a mesma área, é hidraulicamente a mais eficiente entre as seções. Do ponto de
vista prático, deve-se notar que a melhor seção hidráulica não é necessariamente a mais econômica.
Em geral, a seção de um canal deve ser projetada para melhor eficiência hidráulica, no caso de canais
de concreto, metal etc, ou seja, não erodível. No entanto, devem ser modificados de acordo com as
dificuldades da construção e o uso do material disponível. Além disso, às vezes a forma de mínima área
não é ideal, pois sua forma é profunda e muitas vezes não se tem na prática essa possibilidade, outras
vezes, por oferecer mínima resistência ao escoamento, a velocidade é maior e suficiente para provocar
erosão nas paredes e no fundo de canais não revestidos, sendo uma variável limitante na decisão de se
adotar a seção de máxima eficiência.

Tabela 6.3 – Parâmetros hidráulicos para seções de máxima eficiência dos canais em função da profundidade de escoamento
Largura inferior Área molhada Perímetro Raio hidráulico Largura
Seção
(b) (A) molhado (P) (RH) superior (B)
1
Retangular 2𝑦 2𝑦 2 4𝑦 𝑦 2𝑦
2

1 4
Trapezoidal 1,155𝑦 √3 𝑦 2 2√3 𝑦 𝑦 √3 𝑦
2 3

1
Triangular − 𝑦2 2√2 𝑦 √2 𝑦 2𝑦
4
𝜋 2 1
Semicircular − 𝑦 𝜋𝑦 𝑦 2𝑦
2 2

4 8 1
Parabólico − √2 𝑦 2 √2 𝑦 𝑦 2√2 𝑦
3 3 2

Exemplo 05 – Dimensione um canal trapezoidal de terra com textura argilosa, cuja velocidade máxima
permitida é de 1,20 m/s, com capacidade para atender uma vazão de 5,0 m3/s à uma declividade de 1,0 m
por km. Utilizar o critério da máxima eficiência e verificar se é possível o dimensionamento.
Solução:
𝑛 = 0,030 (𝑇𝑎𝑏𝑒𝑙𝑎 6.2) 𝐼 = 1 𝑚/1000 𝑚 1 𝑣 = 0,664(𝑦)2/3
𝑅𝐻 = 𝑦 (𝑇𝑎𝑏𝑒𝑙𝑎 6.3)
𝑣𝑚á𝑥 = 1,20 𝑚⁄𝑠 1 2
⁄ 𝑄 =𝐴𝑣
𝑣= 𝑅 2 3 𝐼1⁄2
3⁄ 𝑛 𝐻 1 1 2/3
𝑄 = 5,0 𝑚 𝑠 𝑣= ( 𝑦) 0,0011⁄2 5 = √3 . 𝑦 2 . 0,664 (𝑦)2/3
0,030 2
Solução:
5 5
3/8
𝑣 = 0,96 𝑚/𝑠
𝑦 2 . (𝑦)2/3 = 𝑦=( )
0,664 √3 0,664 √3 𝑣 ≤ 𝑣𝑚á𝑥 (𝑉𝑒𝑟𝑑𝑎𝑑𝑒)
5
𝑦 (6+2)/3 = 𝑦 = 1,74 𝑚 O critério da máxima eficiência pode ser adotado, pois a
0,664 √3 2/3
𝑣 = 0,664(1,74) velocidade prevista no canal é inferior a velocidade máxima
8/3
5
𝑦 = permitida em canais de terra com textura argilosa.
0,664 √3

6.8 Velocidade de escoamento em canais


O custo de um canal é diretamente proporcional a suas dimensões e será tanto menor quanto maior
for a velocidade de escoamento. No entanto, há de se considerar que a utilização de velocidades altas está
limitada pela capacidade das paredes e do fundo do canal resistir à erosão (Tabela 6.4). Por outro lado,
velocidades baixas implicam em canais grandes, no aparecimento e crescimento de plantas aquáticas e no
seu assoreamento, pela deposição do material suspenso na água (Tabela 6.5).

Tabela 6.4 – Velocidade máxima permitida em canais


Velocidade máxima (m/s)
Material do Canal
Água limpa Água + silte
Areia muito fina, coloidal 0,45 0,75
Barro arenoso, não coloidal 0,55 0,75
Barro siltoso, não coloidal 0,60 0,90
Argila compactada 0,80 1,20
Cascalho fino 0,75 1,50
Cascalho grosso 1,20 1,80
Solo Cobertura
- Canais de terra com proteção vegetal (capim ou grama)
Nú Rala Completa
 Areia Siltosa 0,3 0,7 1,5
 Areia solta 0,5 0,9 1,5
 Areia grossa 0,7 1,2 1,7
 Solo Arenoso 0,7 1,5 2,0
 Solo Franco-argiloso 0,9 1,7 2,3
 Argila dura - - -
 Solo 1,5 1,8 2,5
 Cascalho grosso 1,5 1,8 -
 Pedras 1,8 2,0 -
- Canais de terra:
 Arenoso 0,3 – 0,7
 Barro arenoso 0,5 – 0,7
 Barro argiloso 0,6 – 0,9
 Argiloso 0,9 – 1,5
 Cascalho 0,9 – 1,5
 Rocha 1,2 – 1,8
- Canais revestidos:
 Concreto moldado no local 1,5 – 2,5
 Concreto pré-fabricado 1,5 – 2,0
 Tijolos 1,2 – 1,8
 Asfalto 1,2 – 1,8
 Membrana plástica 0,6 – 0,9
- Canaletas:
 Concreto 1,5 – 2,0
 Metal liso 1,5 – 2,0
 Metal corrugado 1,2 – 1,8
 Madeira 0,9 – 1,5
Tabela 6.5 – Velocidade mínima permitida em canais
Material em Suspensão no Canal Velocidade mínima (m/s)
Água com matéria fina em suspensão 0,25 – 0,30
Água com areia fina em suspensão 0,45 – 0,50
Água de esgoto 0,70 – 1,50

6.11 Declividade recomendada para canais


Normalmente a declividade de um canal de terra deve ficar ao redor de 0,1%, sendo que em
declividades menores que 0,05% pode ocorrer o assoreamento do canal e acima de 0,15% pode ocorrer
erosão. Vale salientar que as velocidades máximas permitidas para canais limitam a escolha da
declividade, mas também pode ser limitada em função da capacidade de escoamento do canal, conforme
a Tabela 6.6.

Tabela 6.6 – Declividade para canais em função da sua capacidade de escoamento


Capacidade do Canal Declividade (%)
Canais grandes (Q ≥ 10 m3/s) 0,010 – 0,030
Canais médios (3 ≤ Q < 10 m3/s) 0,025 – 0,050
Canais pequenos (0,10 ≤ Q < 3 m3/s) 0,050 – 0,100
Canais muito pequenos (Q < 0,10 m3/s) 0,100 – 0,400

6.12 Inclinação recomendada para os taludes de canais


A estabilidade das paredes de um canal depende basicamente do tipo de material do canal (Tabela
6.7), mas outros fatores como o método de construção, perdas por infiltração etc, também afetam a escolha.
No geral, as paredes ou taludes dos canais devem ser o mais íngreme possível.

Tabela 6.7 – Inclinação recomendada para taludes em função do material de composição do canal (Adaptado: FAO, 1974)
Tipo de Material Inclinação
(Vertical:Horizontal)
- Canais de terra:
 Barro arenoso ou Argila porosa 1:3 a 1:2
 Arenoso 1:2
 Barro arenoso 1:2
 Terra arenosa solta 1:2
 Barro argiloso 1:1,5
 Argiloso 1:1
 Terra revestida de pedra 1:1
 Cascalho 1:1
 Argila dura 1:1 a 1:0,5
 Turfa 1:0,25
 Rocha 1:0,25
 Rocha firme Vertical
- Canais revestidos:
 Concreto moldado no local 1:1
 Concreto pré-fabricado 1:1,5
 Tijolos 1:1,5
 Asfalto 1:1
 Membrana plástica 1:1,5
- Canaletas:
 Concreto Semicircular ou Elíptica
 Metal liso Semicircular
 Metal corrugado Semicircular
 Madeira Retangular
6.13 Perdas de água por infiltração em canais não revestidos
A decisão de revestir ou não um canal é tomada com base no custo de seu revestimento e no custo
da água perdida por infiltração (Tabela 6.8).

Tabela 6.8 – Perdas de água por infiltração em canais não revestidos, por metro de perímetro e por metro linear de canal
(KRAATZ, D.B. - FAO)
Solo do Canal Infiltração (m3/m2.dia)
Barro argiloso impermeável 0,075 - 0,100
Medianamente argiloso sobre um horizonte de impedimento (hardpan) 0,10 - 0,15
Barro argiloso – barro limoso 0,15 - 0,23
Barro argiloso com cascalho, barro arenoso, mistura de argila e areia 0,23 - 0,30
Barro arenoso 0,30 - 0,45
Arenoso solto 0,45 - 0,53
Arenoso com cascalho 0,60 - 0,76
Solo pedregoso 0,90 - 1,80

6.14 Dimensionamento de drenos e bueiros


A equação de Manning é também muito utilizada para o dimensionamento de drenos e bueiros. No
entanto, para esse proposito a fórmula fundamenta (Equação 19) passa por alguns ajustes, como: o novo
coeficiente de rugosidade de Manning para drenos (Tabela 6.9), a substituição do raio hidráulico (RH) pelo
diâmetro do conduto (D) e a inserção de um novo coeficiente (K).
𝐾 8/3 1⁄2
𝑄= 𝐷 𝐼 21
𝑛

onde: Q = vazão do canal no trecho considerado, m3 /s; K = coeficiente da equação de Manning para drenos,
adimensional (Tabela 6.10); n = coeficiente de rugosidade de Manning, s/m1/3 ; D = diâmetro interno, m; I
= declividade do fundo do canal no trecho considerado, m/m.

Tabela 6.9 - Valores do coeficiente de rugosidade de Manning “n” para canais circulares, drenos e bueiros
n
TIPO DE CONDUTO
Mínimo Máximo
Ferro fundido limpo, sem revestimento 0,013 0,015
Ferro fundido limpo, com revestimento 0,012 0,014
Ferro fundido sujo ou incrustado 0,015 0,035
Aço rebitado ou soldado em espiral 0,015 0,017
Ferro forjado galvanizado 0,014 0,017
Ferro fundido galvanizado 0,015 0,017
Ferro forjado preto 0,013 0,015
Latão, bronze liso, cobre 0,011 0,013
Conduto de tábuas lisas, aplainadas 0,011 0,013
Condutos de tábuas comuns 0,012 0,013
Concreto com juntas ásperas 0,016 0,017
Concreto poroso sem acabamento 0,014 0,016
Concreto bem acabado 0,012 0,014
Cimento liso 0,011 0,013
Manilhas vitrificadas, para esgotos 0,013 0,016
Manilhas de argila comum, para drenos 0,012 0,015
Metal corrugado 0,023 0,025
Rocha, sem revestimento 0,038 0,041
Aço esmaltado, laqueado 0,009 0,011
Cimento-amianto, plástico, PVC 0,009 0,011
Alumínio 0,011 0,012
Alumínio com juntas de acoplamento rápido 0,012 0,013
Plástico corrugado 0,015 0,017
Para que a Equação 21 possa ser utilizada no dimensionamento de drenos ou bueiros, é necessário
que os condutos subterrâneos escoem parcialmente cheios, conforme indicado na Tabela 6.10, onde o
coeficiente “K” da equação de Manning pode variar em função da relação entre a profundidade de
escoamento e diâmetro (y/D) ou em função da relação entre área molhada e seção transversal do conduto
(A/S).

Tabela 6.10 – Valores de K para a relação existente entre profundidade de escoamento e diâmetro do dreno (y/D) e para a
relação entre áreas molhada e seção transversal (A/S) do conduto (dreno ou bueiro)
y/D 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 0,95 1,0
K 0,156 0,209 0,260 0,304 0,331 0,334 0,311
A/S (%) 50 60 70 80 90 95 Seção Plena 100%
K 0,156 0,200 0,244 0,284 0,315 0,324 0,311

Exemplo 06 – Determine a descarga de um canal de concreto bem acabado com 2,0 m de diâmetro, onde
a profundidade de escoamento é de 1,8 m e declividade de 0,02%.
Solução:

𝑛 = 0,014 (𝑇𝑎𝑏𝑒𝑙𝑎 6.9) 𝑦 = 1,8 𝑚 𝑦 0,331


𝐾 =? → (𝑇𝑎𝑏𝑒𝑙𝑎 6.10) 𝑄= 2,08⁄3 0,00021⁄2
𝐷 0,014
𝑄 =? 𝐼 = 0,02%
𝑦 1,8 𝑄 = 5,724 𝑚3⁄𝑠
𝐷 = 2,0 𝑚 𝐾 = = 0,90
𝑄 = 𝐷8/3 𝐼1⁄2 𝐷 2,0
𝑛
𝐾 = 0,331

Exemplo 07 – Determine a diâmetro que deverá assumir um bueiro de concreto bem acabado com vazão
de 2,3 m3/s, sabendo que a declividade é de 0,02% e a seção de escoamento de 80%.
Solução:

𝐷 =? 𝐴 𝐴 0,014 . 2,3 3/8


= 80% (𝑇𝑎𝑏𝑒𝑙𝑎 6.10) 𝐾 =? → (𝑇𝑎𝑏𝑒𝑙𝑎 6.10) 𝐷=( )
𝑛 = 0,014 (𝑇𝑎𝑏𝑒𝑙𝑎 6.9) 𝑆 𝑆 0,284 . 0,00021⁄2
𝐾 𝐾 = 0,284
𝑄 = 2,3 𝑚3⁄𝑠 𝑄 = 𝐷8/3 𝐼1⁄2 𝐷 = 2,18 𝑚
𝑛
𝑛 𝑄 3/8
𝐼 = 0,02% 𝐷 = ( 1 ⁄2 )
𝐾𝐼

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